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Pr. A. Carlos G. Bentes
DOUTOR EM TEOLOGIA
PhD em Teologia Sistemática
HOMILÉTICA
“A SUA UNÇÃO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS” 1 Jo 2.27
“A sabedoria é a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim com tudo o que possuis adquire o
conhecimento” (Pv 4.7)
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 2
Copyright © 2007 Antônio Carlos Gonçalves Bentes
Capa:
Carlos Bentes
Revisão e diagramação:
Carlos Bentes
1ª edição:
2007
O AUTOR
ISBN
CDD
CDU
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 3
EPÍGRAFE
Ambrósio
Charles H. Spurgeon
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 4
ÍNDICE
INTRODUÇÃO: A NOBREZA DA PREGAÇÃO 5
A CONTEMPORANEIDADE DA PREGAÇÃO 8
HOMILÉTICA 20
RETÓRICA 24
DISTINÇÕES CLÁSSICAS 24
ORATÓRIA 29
O CONTEÚDO DA HOMILÉTICA 36
A NATUREZA DA HOMILÉTICA 37
CLASSIFICAÇÃO DO SERMÃO 40
A ESTRUTURA HOMILÉTICA 41
DIVISÃO DO SERMÃO 42
GRANDES PREGADORES 60
BIBLIOGRAFIA 97
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 5
1
INTRODUÇÃO: A NOBREZA DA PREGAÇÃO
O pregador inglês Lan Tait zomba de quem estuda a Bíblia somente para adquirir
mais informações, crendo que sua mente esteja se desenvolvendo quando, de fato, apenas
seus ouvidos estão inchando. Conhecer simplesmente por amor ao conhecimento
“ensoberbece” (l Co 8.1). As riquezas da Palavra de Deus não são tesouros privativos de
ninguém, e quando compartilhamos esses valores estamos participando de seus mais
elevados propósitos. Esta é a razão pela qual Robert G. Rayburn ensinou por mais de um
quarto de século, aos estudantes seminaristas: “Cristo é o Único Rei dos seus estudos, mas
a rainha é a homilética”.2 Quer sejam seus estudos num seminário, num instituto bíblico
ou num programa de leitura particular, serão melhor recompensados quando você
visualiza a maneira como cada elemento o prepara para pregar com precisão e autoridade.
Cada disciplina bíblica atinge o propósito mais elevado, quando a usamos não
simplesmente para dilatar nossa mente, mas para propagar o evangelho.
Elevar a pregação a um pedestal tão sublime pode intimidar até mesmo o mais leal
estudante da Escritura. Provavelmente, nenhum pregador cuidadoso tenha incorrido em
erro ao questionar se a tarefa é maior do que o servo. Quando encaramos pessoas reais
dotadas de uma alma eterna, equilibrando-se entre o céu e o inferno, a nobreza da
pregação nos amedronta mesmo quando revela nossa insuficiência.
Sabemos serem insuficientes nossas habilidades para uma tarefa de tão amplas
conseqüências. Reconhecemos que nosso coração não é puro o bastante para guiar outros à
santidade. Uma honesta avaliação de nossa perícia inevitavelmente nos leva à conclusão
de que não temos eloqüência ou sabedoria capazes de levar as pessoas da morte para a
vida. Esta pode ser a causa de jovens pregadores fugirem de sua primeira pregação,
imposta como tarefa que precisa ser cumprida, e ainda de experimentados pastores
sentirem-se desalentados quando no púlpito.
O PODER NA PALAVRA
Em face das dúvidas relativas à eficiência pessoal numa época que questiona a
validade da pregação precisamos de uma lembrança do desígnio de Deus para a
transformação espiritual do ser humano. No final das contas, a pregação cumpre seus
objetivos espirituais não por causa das habilidades do pregador, mas por causa do poder da
Escritura proclamada. Os pregadores exercerão seu ministério com grande zelo, confiança
e liberdade quando compreenderem que Deus retirou de suas costas as artimanhas da
manipulação espiritual. Deus não está confiando em nossa destreza para a realização dos
seus propósitos. Por certo, Deus pode usar a eloqüência e deseja esforços adequados à
importância do assunto em questão, porém sua própria Palavra cumpre o programa de
salvação e santificação. Os esforços pessoais dos maiores pregadores são ainda
1
CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica.1ª ed. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2002, p.26-28.
2
Robert G. Raybyurn foi presidente fundador do Covenant Theological Seminary, e seu primeiro professor de homilética de
1956-1984. Citações de suas notas de classe, não publicadas.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 6
demasiados fracos e manchados pelo pecado para serem responsáveis pelo destino eterno
das pessoas. Por essa razão Deus infunde sua Palavra com poder espiritual. A eficácia da
mensagem, mais que qualquer virtude do mensageiro, transforma corações.
Não podemos saber precisamente como a verdade de Deus transforma vidas, mas
devemos discernir a dinâmica que nos dá esperança em nossa própria pregação. A Bíblia
torna isto claro - que a Palavra não é somente poderosa, ela é inigualável. A palavra de
Deus:
Cria: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). “Pois ele falou, e tudo se fez;
ele ordenou e tudo passou a existir” (Sl 33.9).
Controla: “Ele envia as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente; dá neve
como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas ... Manda a sua
palavra e o derrete (Sl 147.15-18).
Persuade: “mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com
verdade ... diz o Senhor. Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça
a penha?” (Jr 23.28,29).
Cumpre seus propósitos: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e
para lá não tornam, sem que reguem a terra... assim será a palavra que sair da minha boca;
não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a
designei” (Is 55.10,11).
“A pregação não discurso nem aula de retórica. Seu propósito tem de estar na
transformação de vidas. Se a mensagem não provoca mudança na vida das pessoas, não é
pregação! Ela não deve focar os planos do ser humano, e sim os propósitos de Deus,
porque estes é que prevalecerão. São eternos”.
“O propósito da pregação e da Bíblia consiste em buscar um fim corporativo para a
explanação e o ensino” (1 Tm 1.5,6; Cl 1.28).4
“O maior desafio da pregação é: Declarar verdades eternas que nunca mudam e
aplicá-las num mundo em constante mudança”.5
A CONTEMPORANEIDADE DA PREGAÇÃO
Sabemos ser improvável que Lucas tenha registrado as palavras exatas de Pedro,
mas, certamente, registrou a essência do sermão pregado pelo apóstolo. Tal sermão visou
provar tanto pela profecia de Joel como pelo salmo de Davi que Jesus era verdadeiramente
o Messias, e que este ressuscitara dentre os mortos. Tão bem sucedido foi o pregador que
os ouvintes o inquiriram acerca de que atitude deveriam tomar.
3
PAES, Carlito. COMO PREPERAR MENSAGENS PARA TRANSFORMAS VIDAS. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida, 2004,
p.21.
4
Ibid. PAES, Carlito. p. 22.
5
Ibid. PAES, Carlito. p. 23.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 9
Podemos afirmar que Pedro utilizou-se exatamente das ferramentas adequadas para
tratar com israelitas de diversas nacionalidades: ele os chama “israelitas” e não judeus,
justamente porque a segunda forma de tratamento pressupunha que habitavam em Judá;
além disso, utiliza argumentação puramente veterotestamentária para persuadi-los.
Outro fato a destacar é que o próprio Espírito Santo cooperou para que não houvesse
barreiras na comunicação da Verdade, pois Ele deu a cada israelita estrangeiro a
oportunidade de ouvir na sua própria língua o testemunho dos discípulos. No envio de
Pedro à casa de Cornélio, por obra do Espírito - que convenceu o apóstolo reticente e lhe
possibilitou compreender que o Evangelho era igualmente destinado aos gentios -
encontramos outro exemplo de que o próprio Espírito Santo ensina o caminho da
contextualização.
O material acerca da pregação do apóstolo Paulo é muito mais farto, justamente por
que o livro de Atos lhe dá especial destaque. Além disso, temos toda a sua produção
literária constituída por suas epístolas que muito nos podem auxiliar na averiguação do
estilo de pregação do apóstolo. C. H. Dodd ressalta a riqueza de informações que o Novo
Testamento nos apresenta acerca de Paulo e, com base nestas informações, enaltece a
inteligência e a versatilidade da pregação do apóstolo.
É justamente esta habilidade última observada por Dodd, de que Paulo sabia pensar
nos termos das outras pessoas, que ressalta a contemporaneidade de sua pregação.
Assim, não resta dúvidas de que um dos pontos altos da pregação de Paulo era sua
habilidade em contextualizar-se para alcançar a relevância junto a seus ouvintes. Podemos
ainda destacar com relação à pregação apostólica registrada no Novo Testamento, que era
essencialmente bíblica, referindo-se fartamente a textos do Antigo Testamento, que era
Cristocêntrica, pois a cruz de Cristo era o ponto central, além de flexível em sua forma.
Isto também é observado por Orlando Costas, ao afirmar que todo pregador
necessita ter em conta a cultura de seus ouvintes se é que deseja comunicar-se
eficazmente. Ele nota nos pregadores bíblicos a capacidade de refletir profundamente
sobre a cultura de seu tempo e cita como exemplos os apóstolos Paulo e João:
Paulo se acerca dos filósofos estóicos em Atenas fazendo uso das próprias categorias
deles, lhes fala do deus desconhecido e capta sua atenção. Daí passa ao problema básico
dos gregos: a ressurreição dos mortos, e especificamente, a ressurreição de Cristo (Atos
17). João toma emprestado um termo da filosofia clássica grega (logos) para comunicar a
fé cristã, usando, pois, os símbolos característicos de sua cultura, e expõe ante seu mundo
a mensagem cristã. Desta forma, o Novo Testamento nos oferece elementos para dizermos
que a Igreja Primitiva cumpria seu papel de pregação da Palavra eficientemente, porque
era bíblica e, ao mesmo tempo, flexibilizava a mensagem, levando em conta a realidade
dos ouvintes.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 11
1.2. A Contemporaneidade na Pregação Pós-Apostólica
Segundo G. Burt, o período que seguiu o dos pais apostólicos foi assinalado por uma
decadência. Ele afirma que o material homilético dos três séculos seguintes ao apostólico,
é muito escasso. Mesmo assim cita algumas instruções de Clemente de Roma, Ignácio e
Dionísio, no primeiro século, Aniceto no segundo e Cipriano, no terceiro.
Este freio de ouro na boca do teu cavalo, este aro de ouro no braço do teu escravo,
estes adornos dourados em teus sapatos, são sinal de que estás roubando o órfão e matando
de fome a viúva. Depois de morreres, quem passar pela tua casa dirá: “Com quantas
lágrimas ele construiu este palácio? Quantos órfãos se viram nus, quantas viúvas
injuriadas, quantos operários receberam salários injustos?” Assim, nem mesmo a morte te
livrará dos teus acusadores.
O outro grande pregador destacado neste período foi Agostinho de Hipona (354-
430).Tido por muitos como o maior teólogo da antiguidade, converteu-se em Milão em
meio a uma exortação ouvida por acaso num jardim, tirada de Romanos 13.13-14; foi
batizado por Ambrósio em 387.
Antes de sua conversão fora mestre de retórica; por isso em suas obras podem ser
encontradas muitas instruções quanto à oratória, especialmente na obra De Proferendo, um
dos quatro livros que constituem a sua Doctrina Christiana. Dela podemos retirar o
conceito de “ótimo pregador” de Agostinho: “É aquele de quem a congregação ouve a
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Verdade, compreendendo o que ouve”. Para Agostinho a vitória do pregador consistia em
levar o ouvinte a agir. A pregação atraente devia ser temperada de sã doutrina e gravidade.
Agostinho foi ordenado bispo em Hipona, no norte da África, em 395. Dentre seus
escritos merece atenção especial as suas Confissões, uma autobiografia onde o conta a
Deus, em oração, suas lutas e peregrinação. É tida como uma obra única em seu gênero na
antiguidade. Outra obra a destacar é A Cidade de Deus, escrita sob a motivação da queda
da cidade de Roma, em 410, e tida como a maior de todas as suas obras literárias. Nesta,
Agostinho responde àqueles que afirmavam que Roma tivesse caído porque se tinha
entregue ao cristianismo e abandonado os velhos deuses que a tinham feito grande.
Segundo Zórzoli, alguns fatores que contribuíram para este declínio foram a
corrupção do clero, o crescimento das formas litúrgicas (que substituíram o lugar da
pregação), a elevação da função sacerdotal sobre a do pregador, as controvérsias
doutrinais, e o declínio no conteúdo da pregação pelo uso extremo da alegorização bíblica.
O Dr. G. Burt comenta que nesta época utilizava-se a postilla, uma brevíssima
paráfrase do texto bíblico, e que apenas alguns privilegiados tinham direito a assisti-la.
Estes privilegiados eram chamados akpoumenoi na Igreja grega e audientes na latina.
Nos séculos XII e XIII houve uma recuperação no prestígio da pregação. Zorzoli
ressalta como motivos desta mudança as reformas na vida do clero, instituídas pelo papa
Gregório VII; o avivamento intelectual resultante do escolasticismo e que elevou o
conteúdo da pregação; a propagação de seitas heréticas que faziam uso da pregação - o que
constrangeu a Igreja Católica a reagir; as cruzadas, que se utilizavam da pregação na
mobilização das massas populares, e o uso crescente do idioma popular na pregação.
O mesmo autor assevera que, apesar desta recuperação, este período da história da
pregação ainda foi marcado pelos erros, dentre os quais destaca o uso do material extra
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 14
bíblico como se fosse bíblico, a interpretação e aplicação equivocados, o uso extremo da
alegoria e a freqüente falta de texto bíblico nas mensagens.
Neste período surgem obras no campo da Homilética que merecem destaque, como
a Ratio Brevissima Concionandi, de Felippe Melanchton (1517) e que em sua primeira
parte discorre sobre as várias partes do discurso (exórdio, narração, preposição,
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6
argumentos, confirmação, ornamentos, amplificação, confutação , recapitulação e
peroração), em seguida enfoca a maneira de desenvolver temas simples, depois como
trabalhar com temas complexos, e assim por diante. Constitui-se numa das principais
obras do gênero, conforme Burt.
Outra obra Homilética citada pelo mesmo autor é o Ecclesiastes, Sive Concionator
Evangelicus, de Erasmo (c. de 1466-1536), que se dividiu em quatro livros: o primeiro
sobre a dignidade, piedade, pureza, prudência e outras virtudes que o pregador deve
cultivar; o segundo sobre estudos que o pregador deve fazer; os demais sobre figuras do
discurso e o caráter do sacerdócio.
Embora Martinho Lutero (1483-1546) não tenha escrito uma obra específica sobre a
arte de pregar, Burt destaca suas Palestras à Mesa, das quais resume os seguintes
preceitos homiléticos:
O bom pregador deve saber ensinar com clareza e ordem. Deve ter uma boa
inteligência, uma boa voz, uma boa memória. Deve saber quando terminar, deve estudar
muito para saber o que diz. Deve estar pronto a arriscar a vida, os bens e a glória, pela
Verdade. Não deve levar a mal o enfado e a crítica de quem quer que seja.
Ainda sobre ensinos de Lutero acerca da pregação, Burt destaca estas palavras do
reformador, voltadas especificamente aos jovens pregadores: Tende-vos em pé com garbo,
falai virilmente, sede expeditos. Quando fores pregar, voltai-vos para Deus e dizei-lhe:
“Senhor meu, quero pregar para tua honra, falar de ti, magnificar e glorificar o teu nome”.
E que o vosso sermão seja dirigido não aos ouvintes mais conspícuos, mas aos mais
simples e ignorantes. Ah! que cuidado tinha Jesus de ensinar com simplicidade. Das
videiras, dos rebanhos, das árvores, deduzia Ele as suas parábolas; tudo para que as
multidões compreendessem e retivessem a Verdade. Fiéis à vocação, nós receberemos o
nosso prêmio, senão nesta vida, na futura.
Com relação a João Calvino (1509-1564), que foi pastor da Église St. Pierre, em
Genebra, na Suíça, podemos destacar sua obra literária que foi amplamente distribuída e
lida em todas as partes da Europa e que influenciou grandemente o movimento
reformador.
6
Confutar. [Do lat. confutare.] Verbo transitivo direto. 1.Rebater, refutar. 2.Impugnar, contrariar; reprimir: "pregue
livremente a Fé de u'a só Divindade, confute a falsidade dos que ainda são chamados deuses imortais" (P.e Antônio Vieira,
Sermões, III, p. 196.) Verbo pronominal. 3.Dar provas contra si mesmo. [Pret. imperf. ind.: confutava, ... confutáveis,
confutavam. Cf. confutáveis, pl. de confutável.].
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 16
Como teólogo e pastor, Calvino deu prioridade ao ensino das Escrituras, tendo
escrito comentários sobre 23 livros do Antigo Testamento e sobre todos os livros do Novo
Testamento, menos Apocalipse. Suas Institutas, obra composta de 79 capítulos e
completada em 1559, é o principal de seus escritos.
Comentando 1 Timóteo 2.2, afirmou que precisamos não somente obedecer a lei e
os governantes, mas também em nossas orações suplicar pela salvação deles. Expressou
também grande preocupação com a injustiça social. Comentando Salmo 82.3, afirmou:
“um justo e bem equilibrado governo será distinguido por manter os direitos dos pobres e
dos aflitos”. Sua pregação levou a Igreja de Genebra a batalhar contra os juros elevados, a
lutar por oportunidades de empregos e tudo aquilo que era pertinente a uma sociedade
secular mais humana.
Dentre os grandes pregadores do século XVI podemos destacar ainda John Knox
(1514-1572), o reformador escocês. Uma de suas características marcantes foi sua visão
social bem esclarecida expressa na defesa da obrigação de cada cristão cuidar dos pobres e
no sistema elaborado por ele mediante o qual cada igreja sustentaria seus próprios
necessitados e administraria escolas de catequese para todas as crianças, ricas e pobres.
Para Zórzoli, no geral, os séculos XVII e XVIII foram de novo declínio, com uma
quase generalizada pobreza de púlpitos na Europa. Destaca pregadores como Baxter,
Bunyan e Taylor, na Inglaterra, e Bossuet e Fenelon, na França, como sendo exceções no
século XVII. Destaca como grandes pregadores e exceções do século XVIII, que considera
marcado pela mediocridade, John e Carl Wesley, juntamente com George Whitefield, na
Inglaterra, que produziram um avivamento centrado na pregação às multidões. Na
América do Norte destaca Jonathan Edwards. Todos estes foram pregadores que
conseguiram fazer a ponte da Palavra aos corações de multidões de pessoas.
Sobre Jonathan Edwards (1703-1758), cujo mais famoso sermão foi intitulado
“Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado”, pregado na Igreja Congregacional em
Northampton, Massachusetts, em 1741, podemos destacar o seu sermão de despedida do
pastorado daquela igreja, depois de 23 anos de ministério ali.
Como grandes pregadores do século XIX Perry e Sell destacam, dentre outros, o
norte americano Henry Ward Beecher (1813-1887). Beecher notabilizou-se pela pregação
contra os vícios sociais de sua época, tendo sido líder do movimento anti escravista.
Segundo estes autores, este pregador costumava pregar diretamente a respeito das
necessidades pessoais de seus ouvintes.
Outro grande pregador deste período destacado por Perry e Sell é Phillips Brooks
(1835-1893). Referem-se a Brooks como tendo sido um pregador “extraordinariamente
sensível para com as necessidades humanas”. Contam que ele costumava investir suas
tardes em visitas ao seu povo, especialmente os pobres, doentes e atribulados.
Transcrevem um comentário feito por um admirador, de nome Bryce: “Brooks fala ao seu
auditório como um homem fala ao seu amigo”.
Outro ilustro pregador deste período foi o célebre Charles Haddon Spurgeon (1834-
1892), um pastor batista muito influente na Inglaterra. Em 1854 iniciou um ministério de
38 anos consecutivos na capela batista na Rua New Park, em Londres e, com apenas vinte
e dois anos de idade era o pregador mais popular de Londres.
Vocês sabem de ministros que erraram a vocação e, evidentemente, não têm dons
para exercê-la. Certifiquem-se de que ninguém pense a mesma coisa de vocês. Há colegas
de ministério que pregam de modo intolerável: ou nos provocam raiva, ou nos dão sono.
Nenhum anestésico pode igualar-se a alguns discursos nas propriedades soníferas. (...) Se
alguns fossem condenados a ouvir os seus próprios sermões, teriam merecido julgamento,
e logo clamariam como Caim: “É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo.”
Oxalá não caiamos sob a mesma condenação.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 19
Esta tão bem humorada declaração de Spurgeon demonstra sua preocupação com a
relevância da pregação na vida dos ouvintes. Esta foi a característica dos ilustres
pregadores desta e das demais épocas.
Com relação ao nosso século, podemos notar algumas tendências que indicam o
desprestígio da pregação nas Igrejas e a perda da centralidade no ministério pastoral. Para
Martyn Lloyd-Jones, que enxergava este declínio da importância da pregação na Igreja do
século XX, tal desprestígio se deve, primeiramente, à perda da crença na autoridade das
Escrituras. Outra razão apontada pelo autor para este declínio é o fato de “a forma ter-se
tornado mais importante que a substância, a oratória e a eloqüência por conseguinte, coisas
valiosas por si mesmas”. Tal declínio da pregação no nosso século se acentua, porque,
segundo Lloyd-Jones, “a pregação tornou-se uma forma de entretenimento”.
O termo “homilia” tem suas raízes etimológicas em três palavras da cultura grega:
1. Homilos (o(/miloj), que significa “multidão”, “turma”, “assembléia do povo” (cf.
At 18.17);
2. Homilia (o(mili/a), que significa “associação”, “companhia” (cf. 1 Co 15.33);
7
HOMILEIN = o(milei=n. Homileō = o(mile/w. Estar com, tratar com. Encontrar-se, vir às mãos. Ter relações matrimoniais.
8
Sofista. [Do gr. sophistés, 'sábio', posteriormente 'impostor', pelo lat. sophista.] Substantivo de dois gêneros. Hist. Filos.
1.Cada um dos personagens contemporâneos de Sócrates (v. socratismo) que chamavam a si a profissão de ensinar a sabedoria
e a habilidade, e entre os quais se destacam Protágoras (480-410 a. C.), que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas,
e Górgias (485-380 a. C.), que atribuía grande importância à linguagem. Os sofistas desenvolveram especialmente a retórica, a
eloqüência e a gramática. [Cf. sofisma (1 e 2).] .
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 21
3. Homileō (o(mile/w), que significa “falar”, “conversar” (cf. Lc 24.14; At 20.11;
24.26).
Sua tarefa não se limita apenas a princípios teóricos, mas concentra-se grandemente
no treinamento prático.
a) Seu objetivo primordial
O objetivo principal da homilética desde o seu remoto princípio foi orientar os
pregadores na dissertação de suas prédicas e, ao mesmo tempo, fazer que os mesmos
adquiram princípios gerais corretos e despertá-las a terem idéia dos erros e falhas que os
mesmos em geral cometem.
São inúmeras as obras, boas e úteis, em diversos idiomas e de diferentes datas que
tratam diretamente desta disciplina. Quando as lemos, descobrimos inúmeros defeitos -
em nós mesmos e nos outros -, alguns deles até extravagantes e grosseiros. Com efeito,
porem, à medida que vamos lendo estas obras, corrigimos essas falhas que se apresentam.
Convém notar que a homilética não é a mensagem. Ela disciplina o pregador para melhor
entregar a mensagem. Não nos esqueçamos: A mensagem é de Deus (Ef 6.19, etc).
Entretanto, não devemos esquecer que para melhor compreensão e apresentação da
mensagem deve haver um certo preparo e treinamento por parte do orador.
b) A homilética e a eloqüência
A missão principal da homilética é conservar o pregador (pregador aqui tem sentido
abrangente - inclui pessoas de ambos os sexos) na rota traçada pelo Espírito Santo. Ela
ensina, onde (e como) se deve começar e terminar o sermão. O sermão tem por finalidade
convencer os ouvintes, seja no campo político, forense, social ou religioso. Por esta razão
a homilética encontra-se ligada diretamente à eloqüência.
A eloqüência é a capacidade intelectual de convencer pelas palavras. As palavras
esclarecem, orientam e movem as pessoas. O orador que consegue mover as pessoas,
persuadindo-as a aceitar suas idéias, é eloqüente, pois a eloqüência é a capacidade de
persuadir pela palavra. Fala-se de Apolo, um judeu, natural de Alexandria, que era “ ...
eloqüente e poderoso nas Escrituras” (At 18.24b).
c) Como podemos convencer
Existem várias maneiras de persuadirmos ou convencermos alguém a seguir nossa
orientação:
- Pela força moral (princípios e doutrinas) - regras fundamentais.
- Pela força social (costumes, normas e leis) - o direito.
- Pela força física (braços e armas) - a guerra.
- Pela força pessoal (exemplo) - influência psicológica.
- Pela força verbal (falada ou escrita) - retórica .
- Pela força divina (atuação do Espírito Santo) – Ele “... convence ...”.
O poder da persuasão pode convencer até o próprio Deus! Moisés, o grande
legislador hebreu, pregou para que Deus se arrependesse e conseguiu! Com efeito, Deus se
arrependeu e perdoou ao povo (Ex 32.7-14). Jonas, de igual modo, conseguiu o
arrependimento do povo ninivita e o arrependimento de Deus (Jn 3.4-10).
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 22
2. Jesus e a homilética
No ministério de Cristo, a homilética ocupou o lugar central no que diz respeito a
sua propagação plena. Embora fortemente ousado a dar primazia a outros métodos de
abordar o povo, Jesus “... veio pregando” (Mc 1.14). Na sinagoga de Nazaré, o Mestre
descreveu a si mesmo como divinamente enviado “... para evangelizar os pobres ... a
pregar liberdade aos cativos ... a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18,19).
Os evangelhos nos apresentam quadros inesquecíveis do Pregador Itinerante, nas
sinagogas, nos montes, nas planícies, à beira-mar, de vila em vila, de cidade em cidade -
finalmente em todo o lugar, trazendo após si multidões quase incontáveis, deixando o
povo fascinado com suas palavras de graça e com autoridade do seu ensino.
A pregação de Jesus continha todo o sabor da bondade divina: era um clamor
insistente por sua compaixão, e poderoso por sua urgência. A pregação direta é, sem
dúvida, um convite à consciência, à razão, à imaginação e aos sentimentos, mediante a
declaração da verdade e da graça de Deus, pois produz um efeito mais urgente e eficaz.
3. O valor da homilética
A homilética contribuiu, no sentido geral, na propagação da Palavra de Deus. Duas
coisas, contudo, influenciaram grandemente a pregação cristã, levando-a para as formas
retóricas.
a) A primeira vantagem
A primeira foi a disseminação do Evangelho entre as nações gentílicas, em cujo seio
as tradições e formas judaicas eram pouco conhecidas. Basta lembrarmos da crítica que de
Paulo fizeram alguns coríntios, e como se deliciavam em ouvir Apolo, por ser “...
eloqüente e poderoso nas Escrituras”.
b) A segunda vantagem
A segunda coisa que influiu foi a conversão de homens que já tinham sido treinados
na retórica. Muitos deles, dia-a-dia, se tomavam pregadores, e naturalmente usavam seus
dotes retóricos na proclamação do Evangelho.
Acrescentemos a essa influência o declínio dos pregadores judeus não cristãos, e
veremos como a homilia (a arte de pregar) cedeu lugar proeminente ao sermão elaborado.
Por isso, naqueles dias já se definia a homilética “como a ciência que ensina os princípios
fundamentais de discursos em público, aplicados na proclamação e ensino da verdade em
reuniões regulares congregadas para o culto divino” (Hoppin).
4. A origem da homilética
A homilética propriamente dita, nasceu muito cedo na história humana, embora não
como termo designativo homiletikós (o(milhtiko/j) (arte de pregar sermão) e homilia
(o(mili/a) (arte de falar elegantemente na oratória eclesiástica), mas como oratória
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 23
pictográfica (sistema primitivo de escrita no qual as idéias são expressas por meio de
desenhos das coisas ou figuras simbólicas).
Ela surgiu na Mesopotâmia há mais de 3000 anos a.C., para auxiliar à necessidade
que os sacerdotes tinham de prestar contas dos recebimentos e gastos às corporações a
que pertenciam e faziam suas prédicas em defesa da existência miraculosa dos deuses do
paganismo.
O sistema sumeriano viria a ser o protótipo (primeiro tipo ou exemplo) de outros
importantes sistemas de escrita, como o egípcio, por exemplo.
RETÓRICA
1. Noção e definição
O vocábulo retórica (do grego, “rhētōr” (r(h/twr), - orador numa assembléia) tem
sido interpretado como a arte de falar bem ou arte de oratória, isto é, a arte de usar todos
os meios e recursos da linguagem com o objetivo de provocar determinado efeito nos
ouvintes. A retórica é a técnica (ou a arte, como preferem alguns) de convencer o
interlocutor através da oratória, ou outros meios de comunicação.
Os gregos sofistas a dividiam em três grupos:
• Política
• Forense
• Epidítica9 (demonstrativa).
DISTINÇÕES CLÁSSICAS10
O termo “sofista” tem uma conotação pejorativa nos dias de hoje mas, na Grécia
antiga, os sofistas eram profissionais muito bem remunerados e respeitados por suas
habilidades.
Tísias tornou-se o discípulo mais famoso de Córax. Quando Córax lhe cobrou as
aulas ministradas, Tísias recusou a pagar, alegando que, se fora bem instruído pelo mestre,
estava apto a convencê-lo de não cobrar, e, se este não ficasse convencido, era porque o
discípulo ainda não estava devidamente preparado, fato que o desobrigava de qualquer
pagamento. O resultado é que Tísias ganhou a questão.
11
GONÇALVES, Delmo. HOMILÉTICA “A arte de pregar sermões”. Apostila do SEBEMGE.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 27
a) As regras do discurso
Córax formulou uma série de regras para dividir o discurso em cinco partes:
• Proêmio (prólogo)
• Narração
• Argumentação
• Observações adicionais
• Peroração (epílogo).
As regras estabelecidas por Córax tinham por finalidade orientar os advogados que
se propunham a defender as causas das pessoas que desejavam reaver seus bens e
propriedades tomados pelos tiranos. Os sofistas foram os primeiros a dominar com
facilidade a palavra modulada nestes princípios; entre os objetivos que possuíam, visando
a uma completa formação, três eram procurados com maior intensidade: adestrarem-se
para julgar, falar e agir. Seu aprendizado na arte de falar consistia em fazer leituras em
público, comentários sobre poetas famosos, improvisar e promover debates.
A partir daí, a palavra retórica passou a ser usada no campo da comunicação para
descrever o discurso persuasivo, quer escrito ou falado.
b) As qualidades exigidas
Os oradores sofistas, entre eles, Górgias, Isócrates (que viveu de 436 a 338 a.C., e
implantou a disciplina da retórica no currículo escolar dos estudantes atenienses) e muitos
outros, exigiam várias habilidades dos oradores. Entre todas, quinze são consideradas
imprescindíveis: memória, habilidade, inspiração, criatividade, entusiasmo, determinação,
observação, teatralização, síntese, ritmo, voz, vocabulário, expressão corporal,
naturalidade e conhecimento.
Filósofos destacados como Platão (430-347 a.C.), Aristóteles (382-322 a.C.) e
Cícero (106-44 a.C.) deram muita atenção aos princípios a serem seguidos por quem
desejasse levar os homens a crerem e agirem.
Paulo, pelo que parece, observou que estes princípios retóricos levaram alguns
oradores cristãos aos extremos, firmando-se apenas em “... sublimidade de palavras ou de
sabedoria...” (1 Co 2.1). Era esta a época em que os “... gregos buscavam sabedoria”.
c) O Retor (r(h/twr)
O retor, entre os gregos, era o orador de uma assembléia. Entre nós, entretanto, a
palavra rhetor veio a ter o significado pomposo de mestre de oratória. O objetivo do retor
(orador retórica) era, através de seu discurso laureado, o de persuadir os sentimentos nas
discussões e nas deliberações sobre os problemas na democracia grega.
As reuniões eram processadas nas praças ou no Areópago. Logo se percebeu que os
cidadãos falantes, de fácil verbo, se expressavam mais adequadamente, dominavam a
situação, sentiam-se sempre vitoriosos, tornavam-se admirados pelas multidões e
galgavam os melhores postos na comunidade. Não demorou para que todo o mundo
desejasse conquistar os segredos dessa nova arte.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 28
2. A divisão da retórica
Entre os gregos e os romanos, os discursos retóricos deviam ser modulados em
cinco pontos, a cada um dos tais foram associadas muitas sugestões para o bem falar.
a) Invenção. A invenção consistia na coleta e planejamento do uso dos materiais e
idéias, a fim de influenciar aos ouvintes. Três tipos de apelo que o orador pode
fazer. São:
• Apelos lógicos baseados na evidência e no raciocínio.
• Apelos emocionais baseados nos impulsos e sentimentos.
• Apelos éticos baseados no caráter, personalidade, experiência e reputação do
orador.
b) Disposição. Consistia no arranjo do material na ordem destinada a servir melhor o
propósito do orador.
c) Estilo. Nesse sentido Aristóteles foi o maior deles. Consistia no uso de palavras
para transmitir a mensagem da maneira mais eficaz.
d) Memória. Consistia em lembrar a mensagem a ser transmitida.
e) Entrega. Consistia no uso correto da voz e do corpo para apresentar a
mensagem aos ouvintes.
Depois, com a grande influência do Cristianismo, passou-se a distinguir a retórica
da homilética e alguns princípios éticos foram incorporados a esta última.
1. Sua extensão
Convém que o leitor saiba que a retórica inventada pelos gregos passou para o
mundo romano com o nome de oratória e para o campo religioso com o nome de
homilética. Entretanto, a partir do IV século d.C., a retórica e a oratória tornam-se
sinônimos usados para identificar o discurso profano, e a homilética identifica o discurso
sacro, religioso, cristão. A homilética, a partir daí, passou a ser a arte de pregar o
Evangelho.
Assim, a oratória (de oris, boca) passou a indicar mais a parte técnica do sermão;
enquanto que a homilética, as partes práticas e dogmáticas cristãs, que vão do sermão à
celebração do culto.
12
filípica. Do gr. philippiké, pelo lat. philippica.] Substantivo feminino. Discurso violento e injurioso.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 30
• A determinação
Ao iniciar sua preparação, isolou-se num local onde ninguém pudesse perturbá-lo.
Para que a sua concentração e meditação fosse completa... a sua dicção foi corrigida com
seixos que colocava na boca e com os quais procurava pronunciar as palavras da forma
mais correta possível. Outros maus hábitos, entre eles o de levantar um ombro quando
falava, foi também corrigido com disciplina rígida.
• A força de vontade
Demóstenes parece ter tido um início difícil e sido filho do próprio esforço.
Entretanto, superou todas essas dificuldades. Empregou todas as técnicas e meios
engenhosos para conseguir ser o maior orador da antiguidade (declamar diante da praia
vencendo com a voz o ruído e barulho das ondas; correr, subindo montanhas íngremes,
recitando trechos de autores gregos para desenvolver o fôlego, etc.). O resultado de seu
esforço foi gratificante. Ele conseguiu aquilo que almejava!
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 31
A palavra de Deus afirma que “a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de
Cristo” (Rm 10.17). Como é possível, então, que surjam dificuldades quando esta palavra
é proclamada?
O problema não está na palavra em si, porque “a palavra de Deus é viva e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a ponto de dividir alma
e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”
(Hb 4.12).
O problema não está na Palavra de Deus, mas em sua proclamação, quando feita
por pregadores que não admitem suas imperfeições homiléticas pessoais! Atualmente, as
dificuldades mais comuns da pregação bíblica encontram-se nas seguintes áreas:
Falta de preparo adequado do pregador. Na maioria das vezes, a pregação pobre
tem sua raiz na falta de estudo do orador. Muitos julgam ter condições de preparar uma
mensagem bíblica em menos de seis horas, sem o árduo trabalho exegético e estilístico.
Pensam que basta ter um esboço de três ou quatro pontos para edificar a igreja, ou acham
suficiente manipular as Quatro Leis Espirituais para levar um indivíduo perdido à
obediência a Cristo.
Falta de unidade corporal na prédica. Os ouvintes do sermão dominical perdem o
interesse pelo recado do pastor quando este apresenta uma mensagem que consiste numa
mera junção de versículos bíblicos, às vezes até desconexos pulando de um livro para
outro, sem unidade interior, sem um tema organizador. A falta de unidade corporal na
prédica leva o ouvinte a depreciar até a mais correta exposição da Palavra de Deus.
Falta de vivência real do pregador na fé cristã. O pior que pode acontecer ao
pregador do evangelho é proclamar as verdades libertadoras de Cristo e, ao mesmo
tempo, levar uma vida arraigada no pecado e em total desobediência aos princípios da
Palavra de Deus. Por isso, Paulo escreveu: “... esmurro o meu corpo, e o reduzo à
escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”
(1 Co 9.27).
Em outras ocasiões, o pregador talvez esteja vivendo em santificação, mas ainda
assim, quando suas mensagens são apresentadas de forma muito teórica, empregando
termos técnicos, latinos e gregos que o povo comum não entende, elas se tornam
enfadonhas. No fim do culto, o rebanho admite que seu pastor falou bem e bonito, mas se
queixará de não ter entendido nada.
Falta de equilíbrio na seleção dos textos bíblicos. A maior parte das Escrituras foi
praticamente abandonada na pregação eficiente do evangelho. Mais de 95% dos sermões
evangélicos pregados no Brasil baseiam-se no Novo Testamento e em geral, limitam-se a
textos evangelísticos, tais como: Lc 19.1-10; Jo 1.12; 3.16; 14.6; Rm 8.28; 2 Co 5.15-21
etc.
Prega-se a verdade, mas não toda a verdade! O alvo do apóstolo Paulo era pregar “o
evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8).
É bom lembrar que os apóstolos, e com eles a primeira geração da igreja primitiva,
utilizavam quase sempre o Antigo Testamento. Eles baseavam suas mensagens naqueles
39 livros, que constituem mais de dois terços de nossa Bíblia atual.
AS CARACTERÍSTICAS DA HOMILÉTlCA
a BÍBLIA w
PREGADOR OUVINTE OU COMUNIDADE
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 36
Para os evangélicos, Cristo é o centro da Bíblia. Lutero ensinou enfaticamente: “A
Escritura deve ser entendida a favor de Cristo, não contra Ele; sim, se não se refere a
Ele não é verdadeira Escritura... Tire-se Cristo da Bíblia, e que mais se encontrará nela?”.
O CONTEÚDO DA HOMILÉTICA
A igreja viva de nosso Senhor Jesus Cristo origina-se, vive e é perpetuada pela
Palavra de Deus (Rm 10.17). Pregar o evangelho significa despertar, confirmar, estimular,
consolidar e aperfeiçoar a fé (Ef 4.11ss.). Por essa razão, a prédica é a característica
marcante do cristianismo. “Nenhuma outra religião jamais tornara a reunião freqüente e
regular de massas humanas para ouvir instrução religiosa e exortação uma parte integrante
do culto divino”. Para o seminarista e futuro pregador do evangelho, “a homilética
constitui a coroa da preparação ministerial”, porque para ela convergem todas as
matérias teológicas a fim de originar, vivificar, caracterizar, renovar e perpetuar o
cristianismo autêntico.
Além de importante, a homilética é também nobre, “porque se interessa
exclusivamente pelo bem das almas”, que são objeto do amor infinito, da graça remidora e
do poder renovador de Jesus Cristo. Durante o COMIBAM 87 (Congresso Missionário
Ibero-Americano), o líder evangélico René Zapata (El Salvador) disse: “A pregação é o
principal meio de difusão do cristianismo mais poderosa do que a página escrita, mais
efetiva do que a visitação e o aconselhamento, mais importante do que as cerimônias
religiosas. É uma necessidade sobrenatural, convence a mente, aviva a imaginação, move
os sentimentos, impulsiona poderosamente a vontade. Mas, depende do poder do Espírito
Santo. É um instrumento divino; não o é resultado da sabedoria humana, não descansa na
eloqüência, não é escrava da homilética”.
A homilética é importante devido a seu conteúdo (a proclamação do evangelho
como característica fundamental do cristianismo autêntico), seu lugar central na
preparação do ministro evangélico e seu objeto (o bem-estar do homem, criado por Deus).
A NATUREZA DA HOMILÉTICA
I. khru/ssw),
Kērysso (khru/ sw proclamar, anunciar, tornar conhecido (61 ocorrências
no Novo Testamento). Está relacionado com o arauto (kēryx - kh=ruc), “que é
comissionado pelo seu soberano ... para anunciar em alta voz alguma notícia, para assim
torná-la conhecida”.
Assim, pregar o evangelho significa fazer o serviço e cumprir a missão de um
arauto. João Batista era o arauto de Deus. Para sua atividade, os sinóticos empregam o
termo kērysso: Mt 3.1; Mc 1.4; Lc 3.3. Jesus, por Sua vez, era arauto de Seu Pai: Mt 4.17,
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 38
23; 11.1; e os doze discípulos, Paulo e Timóteo, arautos de Jesus: Mt l0.7,27; Mc 16.15;
Lc 24.47; At 10.42; Rm 10.8; 1 Co 1.23; 15.11; 2 Co 4.5; Gl 2.2; 1 Ts 2.9; 1 Tm 3.16; 2
Tm 4.2.
13
Is 52.7: Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam (mebassēr) boas novas, que proclamam a paz, que trazem
boas notícias, que proclamam (mebassēr) salvação, que dizem a Sião: “O seu Deus reina!”. Mebassēr - r"&b
a m
: , na Septuaginta é
eu)aggelizome/nou e eu)aggelizo/menoj de eu)aggeli/zw.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 39
evangélica. Por isso, a testemunha do Novo Testamento testifica para outras pessoas
aquilo que apropriou pela fé. “E o que de minha parte ouviste, através de muitas
testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a
outros” (2 Tm 2.2).
dida/skein - dida/skw),
IV. Didaskein (dida/ kw ensinar. Encontramos este verbo 95
vezes no Novo Testamento. Seu significado é sempre ensinar ou instruir. O Novo
Testamento apresenta-nos Jesus como um grande educador: “Quando Jesus acabou de
proferir estas palavras [o Sermão do Monte], estavam as multidões maravilhadas da sua
doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas” (Mt
7.28, 29). “É o testemunho unânime de todos os escritores sinóticos, que sem dúvida
coincide com a realidade histórica, que Jesus ensinava publicamente, i. e., nas sinagogas
(Mt 9.35; 11.54; Mc 6.2; 1.21 e passim), no templo (Mc 12.15; Lc 21.37; Mt 26.55; Mc
14.49); (cf. Jo 18.20) ou ao ar livre (Mt 5.2; Mc 6.34; Lc 5.3; e passim). Somente Lucas
4.16ss dá detalhes acerca da forma externa de Seu ensino, ficava em pé para ler um trecho
dos profetas”.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 40
CLASSIFICAÇÃO DO SERMÃO
O sermão é classificado por duas formas, a saber: pelo assunto ou pelo método,
podendo ser discursivo ou expositivo.
1. Pelo assunto:
1.1. Doutrinário. É aquele que expõe uma doutrina. (Ensinamento). Sua finalidade é
instruir os crentes sobre as grandes verdades da fé e como aplicá-las, portanto, é didático.
O dom de ensino era muito difundido no cristianismo nascente. Jesus era intitulado de
“Mestre” e os seus seguidores de “discípulos”. O sermão doutrinário atende quatro
funções na vida da igreja:
2. Pelo método (James Braga. COMO PREPARAR MENSAGENS BÍBLICAS, Pág. 17-
76).
14
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HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 42
DIVISÃO DO SERMÃO
O Sermão deve possuir divisões, que permitem um bom aproveitamento do assunto
que vai ser apresentado.
TÍTULO 15
O pregador não deve se preocupar com o título no início do preparo de seu sermão,
pois geralmente o título, assim como a introdução, é um dos últimos itens a ser preparado.
CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO
O título deve ser interessante e atraente a fim de despertar a atenção dos ouvintes.
Para ser interessante ele deve relacionar-se as situações específicas e às necessidades das
pessoas que ouvem o sermão.
1. O título deve ter relação com o tema do sermão ou com o texto bíblico.
2. O título deve ser decente e digno. Devem ser evitados títulos rudes que ofendem
e causam apatia.
3. O título deve ser preferencialmente breve.
4. O título pode ser uma citação breve de um texto bíblico.
PROPOSIÇÃO OU TEMA16
15
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16
Ibid.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 43
O texto de Gálatas 3:13 nos servirá de exemplo: “Cristo nos resgatou da maldição
da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado no madeiro”.
Fazendo a pergunta “sobre o que fala este texto?”, descobriremos o sujeito da
sentença, ou seja, “a maldição da lei”. O complemento é tudo aquilo que a passagem relata
acerca da maldição da lei, isto é, que ela foi realizada quando Cristo a tomou sobre si,
sendo pendurado no madeiro. Uma vez tendo descoberto o sujeito e o complemento
podemos formular a idéia exegética do texto: “Nossa redenção da maldição da lei foi
realizada por Cristo, o qual recebeu a maldição por nós”.
A proposição deve preferencialmente estar na afirmativa. A frase “Devemos honrar
a Cristo obedecendo aos seus mandamentos” é melhor do que “Não devemos desonrar a
Cristo desobedecendo aos seus mandamentos”.
A proposição difere da idéia exegética. A idéia exegética é a afirmativa de uma
única sentença; é a verdade principal da passagem, enquanto que a proposição é a verdade
espiritual ou princípio eterno, transmitido por toda a passagem.
Tomemos como exemplo a passagem de Marcos 16.1-4: “1 Ora, passado o sábado,
Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. 2
E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, ao levantar do sol. 3 E
diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4 Mas,
levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida.”
A idéia exegética desta passagem é: “... as mulheres, a caminho do túmulo para
ungir a Jesus, preocupavam-se com um problema grande demais para elas, porém já
resolvido antes de elas terem de enfrentá-lo”. Esta idéia exegética nos leva à seguinte tese:
“Deus é maior do que qualquer problema que tenhamos de enfrentar”. Note que a idéia
exegética é uma verdade fundamental da sentença, mas a tese extraída da idéia exegética é
uma verdade eterna e universal, aplicável a tudo e a todos.
A proposição deve ser formulada no tempo presente; não deve incluir referências
geográficas ou históricas; não deve fazer uso de nomes próprios, exceto os nomes divinos.
Uma tese com alguma dessas características ficaria muito embaraçosa: “Assim como o
Senhor chamou a Abrão de Ur dos Caldeus para ir para uma terra que desconhecida, da
mesma forma Ele chama alguns de nós para irmos pregar aos estrangeiros”.
TIPOS DE TEMAS
TEXTO
É trecho lido pelo orador, podendo ser um capítulo, uma história, uma frase ou até
mesmo uma palavra.
O texto bíblico é a passagem bíblica que serve de base para o sermão.
Esse texto deverá fornecer a idéia ou verdade central do sermão. Nunca se deve
tomar um texto somente por pretexto, e logo se esquecer dele.
Segundo Jerry Stanley Key, existem algumas vantagens no uso de um texto bíblico:
1. O texto dá ao sermão a autoridade da palavra de Deus.
2. O texto constitui a base e alma do sermão;
3. Através da pregação por texto o pregador ensina a palavra de Deus;
4. O uso do texto ajuda os ouvintes a reter a idéia principal do sermão;
5. O texto limita e unifica o sermão;
6. Permite uma maior variedade nas mensagens;
7. O texto é um meio para a atuação do Espírito Santo.
A INTRODUÇÃO 17
Introdução. Tem por finalidade chamar a atenção dos ouvintes para o assunto que
vai ser apresentado e também para o pregador.
A introdução, também chamado de exórdio, deve ser elaborado por último, como
acontece com o título. Deve ficar claro que a introdução não é o mesmo que as
preliminares que os pregadores costumam proclamar. As preliminares consistem de
observações gerais que não se relacionam com o sermão. Geralmente é uma apresentação
do pregador ou um testemunho para que este seja conhecido do povo.
A introdução é o processo pelo qual o pregador procura conduzir a mente dos
ouvintes para o tema de sua mensagem. Na introdução o pregador procura prender a
atenção dos ouvintes acerca do tema que pretende proclamar.
CARACTERÍSTICAS DA INTRODUÇÃO
17
Ibid.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 45
18
SENTENÇA INTERROGATIVA E SENTENÇA DE TRANSIÇÃO
A proposição deve ser ligada ao sermão através de uma pergunta, e esta por sua vez
através de uma sentença de transição.
Para ligar a proposição ao sermão, usa-se qualquer um dos cinco advérbios
interrogativos: “por que”, “como”, “o que”, “quando” e “onde”. Vejamos alguns
exemplos: Na proposição “A Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa” podemos incluir a
seguinte interrogativa: “Quais são os motivos que nos levam a considerar que a Vida
Cristã é uma Vida Vitoriosa?” (ou Como se faz da Vida Cristã uma Vida Vitoriosa?) Este
tema poderia nos levar a uma resposta baseada em Romanos: “Por que todas as coisas
concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” ou “Por que em todas essas coisas
somos mais do que vencedores”.
A sentença de transição faz a transição entre a interrogativa e o corpo do sermão. A
transição para a interrogativa acima, por exemplo, poderia ser: “Vejamos cinco motivos
pelos quais podemos afirmar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa”.
A palavra motivo é a palavra-chave da transição, pois toda transição deve possuir
uma palavra-chave que caracterize os pontos principais do sermão. Vários são os motivos
que classificam a vida cristã como sendo uma vida vitoriosa, e em cada divisão do sermão
deve expressar claramente esses motivos.
18 18
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HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 46
19
AS DIVISÕES PRINCIPAIS
O corpo. É a parte mais linda porque aqui se revela a Mensagem como Deus que
dar. É o mesmo que desenvolvimento do sermão.
As Divisões são o corpo do sermão. São as verdades espirituais divididas em partes
seqüenciais, distintas, mas interligadas à verdade principal que é a proposição.
19
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HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 47
A CONCLUSÃO 20
CARACTERÍSTICAS DA CONCLUSÃO
20
Ibid.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 48
APLICAÇÃO
Deve ser dirigida a todos, com muito entusiasmo apelando à consciência e aos
sentimentos dos ouvintes.
A aplicação é o processo mediante o qual o pregador aplica a verdade espiritual do
sermão à vida dos seus ouvintes, a fim de persuadi-los a uma reação favorável à
mensagem. Em outras palavras a aplicação é e persuasão das palavras do pregador; é a
palavra dirigida ao coração. Na pregação o pregador fala a mente das pessoas, a fim de
que meditem nas palavras que estão ouvindo, mas na aplicação o pregador fala ao coração,
a fim de que pratiquem as palavras ouvidas. A aplicação é a meditação posta em prática.
ILUSTRAÇÃO
TIPOS DE SERMÕES21
Há 4 tipos de sermões:
1. SERMÃO TEMÁTICO OU TÓPICO;
2. SERMÃO TEXTUAL;
3. SERMÃO EXPOSITIVO;
4. SERMÃO BIOGRÁFICO.
SERMÃO TEMÁTICO
É aquele onde a divisão faz-se pelo tema. Todas as divisões devem derivar do tema.
A melhor forma é fazer perguntas ao tema escolhido, tais como: Por que? Como? Quando?
O Que? Onde? É aquele em que toda a argumentação está amarrada em um tema, divide-
se o tema e não o texto, o que permite a utilização de vários textos bíblicos. Isso não quer
dizer que o tema não seja bíblico, mas sim que o sermão gira em torno do tema e não de
uma passagem específica. Porém para que o sermão temático seja bíblico, o tema deve ser
extraído da Bíblia.
Um tema, por exemplo, poderia ser a fé evangélica. O sermão, então não se basearia
em apenas um texto bíblico, mas em diversos versículos da Bíblia, pois a palavra fé se
prolifera por toda a Escritura. O sermão baseado neste tema poderia expor a fé dos
patriarcas, a fé dos mártires, a fé dos apóstolos, e assim por diante.
21
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HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 51
Uma Idéia de um Sermão Doutrinário:
Tema : Os Sinais indica m, Jesus está vo ltando !
Texto : Mt 24
Introdução:
I. Os s ina is na natureza:
I I. Os s ina is político -sociais :
III. Os s ina is religiosos:
SERMÃO TEXTUAL22
É aquele em que toda a argumentação está amarrada no texto principal que, será
dividido em tópicos. No sermão textual as idéias são retiradas de um texto escolhido pelo
pregador. O tema é extraído do próprio texto, e por isso o esboço das divisões deve
manter-se estritamente dentro dos limites do texto. É um método muito bom, pois oferece
aos ouvintes a oportunidade de acompanhar, passo a passo a exposição do sermão.
As divisões do sermão textual podem ser feitas de acordo com as declarações
originais do texto. Ou se utilizar de uma análise mais apurada baseando-se em perguntas
como: Onde? Que? Quem? Por que? Que deverão ser respondidas pelas declarações ou
frases do texto. E ainda pode-se dividir por inferência, as orações textuais são reduzidas a
expressões sintéticas que encerra o conteúdo.
22
Ibid.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 52
SERMÃO EXPOSITIVO23
23
Ibid.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 53
Modelo (Textual Expositivo)
TEMA: O ANDAR DO POVO DE DEUS
TEXTO: Ef 5.1-15:
INTRODUÇÃO: Sadu Sing na Inglaterra; Richard Wumbrant.
FRASE DE TRANSIÇÃO: O POVO DE DEUS DEVE ANDAR:
I. ANDAR EM AMOR: Ef 5.2; 1Co 13.4-8; Rm 5.5; 1Jo 3.11-18; Jo 13.34.
1. Amor requer aproximação: Rm 12.9-21;
2. Amor requer respeito: Gl 5.13-15;
3. Amor requer confiança: Jo 19.26,27
4. O Amor requer Renúncias: Mt 5.38-48;
Ilustração. Richard Wumbrant
FRASE DE TRANSIÇÃO: O POVO DE DEUS DEVE ANDAR:
II. ANDAR COMO FILHOS DA LUZ: “... andai como filhos da luz”.
1. É andar em comunhão com Deus: Gn 5.22-24;
2. É não partilhar das obras das trevas: 1Jo 2.15-17; Sl 1.1-8; Tg 4.4; 1Co 5.7-13.
3. É provar sempre o que é agradável ao Senhor: Ef 5.10; Rm 12.2
FRASE DE TRANSIÇÃO: O POVO DE DEUS DEVE ANDAR:
III. ANDAR EM SABEDORIA: Ef 5.15; Tg 1.5,6;
1. Remindo o tempo: Ef 5.16; Cl 4.5;
2. Procurar entender a vontade Deus: Ef 5.17; Rm 12.2;
3. É ser cheio do Espírito Santo: Ef 5.18; Gl 5.16;
4. É dar sempre graças a Deus: Ef 5.20; 1Ts 5.18.
CONCLUSÃO:
O POVO DE DEUS DEVE ANDAR EM AMOR, NA LUZ E EM SABEDORIA.
Pr. A. Carlos G. Bentes
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 54
EXEMPLO 1
TEMA: OS ATRIBUTOS DE JESUS
TÍTULO: NOSSO SENHOR SINGULAR
TEXTO: Mt 14.14-22
I. A COMPAIXÃO DE JESUS
1. Demonstrada em seu interesse pela multidão (v.14)
2. Demonstrada em seu serviço à multidão (v.14)
II. A TERNURA DE JESUS
1. Demonstrada em sua resposta graciosa aos discípulos (vv.15,16)
2. Demonstrada em seu trato paciente com os discípulos (vv.17,18)
III. O PODER DE JESUS
EXEMPLO 3
TÍTULO: RESOLVENDO NOSSOS PROBLEMAS
TEMA: “nossos problemas”
TEXTO: Mt 14.14-22
INTRODUÇÃO:
I. ÀS VEZES NOS CONFRONTAM OS PROBLEMAS
1. Problemas de grandes proporções (vv.14,15);
2. De natureza imediata (v.15);
3. De solução humana impossível (v.15).
II. CRISTO É ABUNDANTEMENTE CAPAZ DE SOLUCIONAR NOSSOS
PROBLEMAS
1. Sob a condição de que lhe entreguemos nossos recursos limitados (vv.16-18);
2. Sob a condição de que lhe obedeçamos sem questionar (vv.19-22).
EXEMPLO 4
TÍTULO: RELACIONANDO A FÉ COM A NECESSIDADE HUMANA
TEMA: “A fé em relação com a necessidade humana”
TEXTO: Mt 14.14-21
INTRODUÇÃO:
I. O DESAFIO DA FÉ
1. O motivo do desafio (vv.14,15);
2. A substância do desafio (vv.14,15)
II. A OBRA DA FÉ
1. O primeiro ato de fé (vv.17,18);
2. O segundo ato de fé (vv.19)
III. A RECOMPENSA DA FÉ
1. A bem-aventurança da recompensa (v.20);
2. A grandeza da recompensa (vv. 20,21).
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 56
No sermão textual as divisões principais oriundas do texto são usadas como uma
linha de sugestão, isto é, indicam a tendência do pensamento a ser seguido no sermão,
permitindo ao pregador extrair as subdivisões ou idéias de qualquer parte das Escrituras.
Já no sermão expositivo o pregador é forçado a extrair todas as subdivisões e, é claro, as
divisões principais, da própria passagem que pretende explicar ou expor.
O SERMÃO BIOGRÁFICO24
É um tipo específico de sermão que tem por objetivo expor a vida de algum
personagem bíblico como modelo de fé e exemplo de comportamento.
SERMÃO BIOGRÁFICO
PERSONAGEM: ABRAÇÃO
ÊNFASE: MISSÕES E CONSAGRAÇÃO DE VIDA
No mês de missões nada melhor do que falarmos no ‘pai de missões’ (assim ele é
chamado por vários missiólogos.
1. IDENTIFICAÇÃO
INTRODUÇÃO
Minha história está registrada em Gênesis 12-25. A Bíblia fala sobre mim 233 vezes, não
apenas no Antigo Testamento mas também no Novo. Jesus Cristo falou sobre mim. Os
24
laferraz@uninet.com.br
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 57
apóstolos Paulo, Pedro e Tiago também fizeram menção a mim em seus livros. Apareço
também no livro de Hebreus.
ABRÃO
Nome inicial do personagem.
SIGNIFICADO DO NOME: “antepassado famoso”
ABRAÃO
Seu nome foi mudado aos 99 anos de idade.
SIGNIFICADO DO NOME: “pai de muitas nações” (Genesis 17.5)
LUGAR DE NASCIMENTO: Ur dos Caldeus. A Caldéia é a parte Sul da Babilônia, um
local muito fértil naquela época. Um povo idólatra e pagão vivia ali. Havia já avanços
científicos e o povo era de cultura avançada.
FAMÍLIA: Filho de Terá e descendente de Sem
OCUPAÇÃO: Proprietário de gado abastado
ÉPOCA: Viveu cerca de 1920 anos antes de Jesus Cristo.
IDADE: 175 anos de vida.
Minha história começa em uma época de muita fartura e riqueza. Eu tinha muito gado,
vários empregados e gozava boa saúde. Apesar de viver em um lugar pagão sempre fui
temente a Deus. Tinha uma esposa, Sara, a quem amava de todo o meu coração. Nossa
única tristeza é que não podíamos ter filhos. Eu já estava velho e ela também e nós
continuamos firmes em Deus.
PRIMEIRA APLICAÇÃO: você pode ser fiel a Deus mesmo debaixo das mais
diferentes circunstâncias. Mesmo na prosperidade material, mesmo diante de uma
sociedade corrupta e pagã e mesmo quando alguns de seus sonhos não se realizam.
Certo dia Deus falou comigo. Eu não esperava. Estava entretido com tantos afazeres. Deus
me deu uma ordem dizendo: “sai da tua terra e do meio dos teus parentes e vá para uma
terra que eu te mostrarei.” Me lembro até hoje daquelas palavras. Eu não pensei duas
vezes. Chamei Sara, meu sobrinho Ló, contei tudo que Deus me dissera e parti sem saber
para onde. Deixei a estabilidade e segui confiando apenas em Deus. Não foi fácil confesso.
Mas como é bom obedecer ao Senhor. Foi a maior experiência de minha vida, ir sem saber
qual será o destino final, movido apenas pela confiança.
Apesar da minha fé e coragem tive meus erros e com vergonha hoje os reconheço. Um dos
meus problemas sempre foi a mentira. Logo depois de ter obedecido ao Senhor houve
fome na terra e tive que levar Sara e meus empregados para o Egito. Sara sempre foi uma
mulher muito bonita. Eu fiquei com medo de que os Egípcios me matassem para tomar a
Sara como mulher. Então eu menti. Combinei com Sara que ali no Egito ela seria minha
irmã e não minha esposa. E o pior: não foi só dessa vez. Depois desse episódio de novo eu
menti. Me arrependo disso.
Quando eu ia completar cem anos de idade Deus me disse que Sara, minha esposa, ficaria
grávida. Confesso que eu fiquei achando aquilo engraçado. Pudera, que mulher
engravidaria com a idade de Sara? Mas assim aconteceu. Deus cumpriu sua promessa para
comigo. E eu aprendi que sempre vale a pena confiar no Senhor, esperar Nele. Nasceu
nosso lindo filho Isaque. O filho da promessa. E por causa do nascimento dele eu despertei
para um novo momento em minha vida.
QUARTA APLICAÇÃO: Deus sempre cumpre o que promete mesmo quando eu acho
que está demorando. Creia totalmente em Deus. Ele não falha nunca. Sempre cumpre as
suas promessas.
6. A OBEDIÊNCIA
Meu filho foi crescendo. Um grande garoto. Aí veio a maior surpresa de minha vida. Deus
pediu meu único filho em sacrifício a Ele. Pediu que eu tirasse a vida de meu filho e
oferece um holocausto ao Senhor. Minhas pernas tremeram, meu coração bateu mais forte.
Me lembro daquele dia em que chamei Isaque e fomos para o monte. Ele não entendendo
nada. Busquei a lenha para o sacrifício vendo-o com aquela fisionomia de perguntas sem
resposta. Então, no momento em que já tinha amarrado meu filho e tirado o cutelo para
matá-lo Deus disse para que eu parasse. Ele provou minha obediência. E eu nunca mais fui
o mesmo depois disso.
QUINTA APLICAÇÃO: obedeça a Deus mesmo se for para perder, para sofrer ou se a
obediência parece em um primeiro momento insensata. Deus sabe porque pede as coisas.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 59
não abra mão da obediência. Seja fiel ao Senhor de todo o seu coração. Confie no Senhor
sempre. Faça o que puder para obedecer e você será aprovado pelo Senhor.
Deus me preparou para que eu fosse o pai de uma grande nação, o povo de Israel. Deus
trabalhou em minha vida para que eu abençoasse os povos. Você também pode ser uma
bênção nas mãos de Deus. Mas é preciso obedecer, permitir ser uma bênção.
GRANDES PREGADORES
JONATHAN EDWARDS (1703-1758)
O sermão foi interrompido pelos gemidos dos homens e os gritos das mulheres;
quase todos ficaram de pé ou caídos no chão. Durante a noite inteira a cidade de Enfield
ficou como uma fortaleza sitiada. Teve início um dos maiores avivamentos dos tempos
modernos na Nova Inglaterra.
Depois de uma viagem rápida para a Alemanha para visitar a povoação morávia de
Herrnhut, voltou para a Inglaterra e, juntamente com George Whitefield, começou a pregar
a salvação pela fé. Essa “nova doutrina” era considerada redundante pelos
sacramentalistas da Igreja Oficial que achavam que as pessoas já eram suficientemente
salvas em virtude de seu batismo na infância.
Em 1739, John Wesley foi a Bristol, onde surgiu um reavivamento entre os mineiros
de carvão em Kingswood. O reavivamento continuou sob a liderança direta dele durante
mais de cinqüenta anos. Viajou cerca de 400.000 km, por todas as partes da Inglaterra,
Escócia, País de Gales e Irlanda, pregando cerca de 40.000 sermões. Sua influência se
estendeu à América do Norte. O metodismo veio a tornar-se uma denominação após a
morte de Wesley.
Um ano depois de afixar as teses, Lutero era o homem mais popular em toda a
Alemanha. Quando a bula de excomunhão, enviada pelo Papa, chegou a Wittemberg,
Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leão X, exortando-o, no nome do
Senhor, a que se arrependesse. A bula do Papa foi queimada fora do muro da cidade de
Wittemberg, perante grande ajuntamento do povo.
Lutero era um erudito em hebraico e grego, o que facilitou sua grande obra, a
tradução da Bíblia para o alemão. Ele mesmo escreveu para o seu povo: Jamais em todo o
mundo se escreveu um livro mais fácil de compreender do que a Bíblia. Comparada aos
outros livros, é como o sol em contraste com todas as demais luzes. Não vos deixeis levar
a abandoná-la sob qualquer pretexto. Se vos afastardes dela por um momento, tudo estará
perdido; podem levar-vos para onde quer que desejam. Se permanecerdes com as
Escrituras, sereis vitoriosos.
Depois de abandonar o hábito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida
monástica, casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, e
geraram seis filhos.
Nasceu de uma família descrente e se criou num lugar onde os membros da igreja
conheciam apenas a formalidade fria dos cultos. Tornou-se um advogado que, ao
encontrar nos seus livros de jurisprudência muitas citações da Bíblia, comprou ume
exemplar com a intenção de conhecer as Escrituras. Eis um trecho de sua biografia: Ao ler
a Bíblia, ao assistir às reuniões de oração, e ouvir os sermões do senhor Galé, percebi
que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei impressionado especialmente com o
fato de as orações dos crentes, semana após semana, não serem respondidas. Li na Bíblia
“pedi e dar-se-vos-á”. Li, também, que Deus é mais pronto a dar o Espírito Santo aos que
lho pedirem, do que os pais terrestres a darem boas coisas aos filhos. Ouvia os crentes
pedirem um derramamento do Espírito Santo e confessarem, depois, que não o receberam.
Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um derramamento do
Espírito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a conversão de
pecadores... Foi num domingo de 1821 que assentei no coração resolver o problema
sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. (...) Fui vencido pela convicção do
grande pecado de eu envergonhar-me se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus,
e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e
todos os demônios do inferno me cercassem. O pecado parecia-me horrendo, infinito.
Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 63
iluminou: “ Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-
eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração”.
Eis o segredo dos grandes pregadores, nas palavras do próprio Finney: Os meios
empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em secreto,
intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos interessados. Eu tinha o
costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem cessar.
Achei, também, grande proveito em observar freqüentemente dias inteiros de jejum em
secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me
fechava dentro do templo.
Conta-se acerca deste pregador que depois de ele pregar em Governeur, no Estado
de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos.
Calcula-se que somente durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil pessoas foram
ganhas para Cristo pelo ministério de Finney. Na Inglaterra, durante nove meses de
evangelização, multidões também se prostraram diante do Senhor enquanto Finney
pregava.
Descobriu-se que mais de 85 pessoas de cada 100 que se convertiam sob a pregação
de Finney permaneciam fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada cem, das que
professaram conversão nos cultos de algum dos maiores pregadores, se desviavam. Parece
que Finney tinha o poder de impressionar a consciência dos homens sobre a necessidade
de um viver santo, de tal maneira que produzia fruto mais permanente.
Conhecido como o “príncipe dos pregadores”, aos 19 anos já era pastor na Park
Street Chapel, em Londres. A princípio um luar muito amplo, para mil e duzentas pessoas,
porém freqüentado por um pequeno grupo de fiéis. Em poucos meses o prédio não
comportava mais a multidão e eles se mudaram para um outro auditório que comportava
quatro mil e quinhentas pessoas! A Igreja então resolveu alugar o Surrey Music Hall, o
prédio mais amplo, imponente e magnífico de Londres, construído para diversões
públicas. O culto inaugural deu-se em 19 de outubro de 1856. Quando o culto começou, o
prédio no qual cabiam 12.000 pessoas estava superlotado e havia mais 10.000 fora que não
puderam entrar!
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 64
Uma terrível catástrofe ocorreu neste dia. Ao início do culto, pessoas diabólicas se
levantaram gritando “ Fogo! Fogo!”, provocando um grande alvoroço e um saldo de sete
pessoas mortas e vinte e oito gravemente feridos. Isto não impediu que o interesse pelos
cultos até aumentasse. Em março de 1861 sua Igreja concluiu a construção do
Metropolitan Tabernacle, local que comportava uma média de 5.000 pessoas a cada culto
dominical, isto perdurando pelos próximos 31 anos. Pregou em cidades de toda a
Inglaterra e noutros países: Escócia, Irlanda, Gales, Holanda e França. Pregava ao ar livre
e nos maiores edifícios, em média oito a doze vezes por semana!
Um total de quinhentas mil almas ganhas para Cristo, é o cálculo da colheita que
Deus fez por intermédio de seu humilde servo. Moody nasceu em 5 de fevereiro de 1837,
o sexto filho de nove, numa pobre família do Connecticut, EUA. Sua mãe ficou viúva com
os filhos ainda pequenos, o mais velho tinha 12 e ela estava grávida de gêmeos quando o
marido morreu. Sua mãe foi uma crente fiel e soube instruir seus filhos no Caminho.
Aos vinte e quatro anos, logo após casar-se, em Chicago, Moody deixou um bom
emprego para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter promessa de receber um
único centavo. Tendo trabalhado com Escolas Bíblicas e evangelização em Chicago, atuou
também junto aos soldados durante a Guerra Civil.
Retornou aos EUA em 1875, sendo reconhecido como o mais famoso pregador do
mundo, continuando a ser um humilde servo de Deus. Durante um período de 20 anos
dirigiu campanhas com grandes resultados nos Estados Unidos, Canadá e México. Em
diversos lugares as campanhas duraram até seis meses.
EVANGELHO
A Palavra evangelho ocorre 72 vezes no Novo Testamento, das quais 54 se
encontram nos escritos de Paulo.
O termo provém do grego euanguelíon (eu)aggeli/on), que significa literalmente:
“boas-novas” (Mc 1.1,15; 16:15). Este é o substantivo. Em Lc 2.10, encontramos o
euanguelíon em ação: “eu anuncio boas-novas”. [eu)aggeli/zomai - eu)aggeli/zw].
O correspondente em hebraico (mebassēr) quer dizer “proclamar boas-novas”,
“trazer novas de vitória”.
Na Septuaginta, principalmente nas referências a Isaías 52.7-9; 41.27; 40.9,
encontramos a mesma idéia.
Is 52.7: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia (mebassēr -
r”&ab:m) as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia (mebassēr - r”&ab:m) coisas boas,
que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!”.
Is 52.7: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia
(euanguelizoménou - eu)aggelizome/nou) as boas-novas, que faz ouvir a paz, que
anuncia (euanguelizómenos - eu)aggelizo/menoj) coisas boas, que faz ouvir a salvação,
que diz a Sião: O teu Deus reina!” (LXX).
Thayer procura conceituar o termo euanguélion como: “As notícias alegres de
salvação através de Cristo; a proclamação da graça de Deus garantida em Cristo”.
Estudos históricos do significado do termo indicam que entre os antigos gregos a
Palavra euanguélion era usada para “boas notícias de campos de batalha”. A notícia
poderia vir por navio, a cavalo ou por um mensageiro a pé, e era proclamada à cidade, que,
ansiosa, esperava pelas novas. O mensageiro era o euanguélos, que queria dizer: “o
mensageiro sagrado”.
A Septuaginta, algumas vezes, traz a idéia de um corredor ou batedor que traz a
notícia da vitória.
Não há dúvida de que a figura que a história desta palavra pinta é fascinante e foi
muito bem empregada pelos anjos, no dia do Natal. E é este espírito que precisa dominar o
sentido do evangelho ainda hoje para todos nós.
25
FERREIRA, Damy. EVANGELISMO TOTAL. Rio de Janeiro. JUERP, 1990, p. 33-67.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 67
Mas evangelho é mais do que boas-novas. Delcyr de Souza Lima, em seu livro
Doutrina e Prática da Evangelização, comenta: “Em outras palavras, para Jesus, o
evangelho tinha o sentido de sua presença real entre os homens, cumprindo os desígnios
de Deus, com o fim de salvá-los”.
Podemos arriscar uma definição simples mais abrangente à luz de tudo quanto temos
abordado: Evangelho é Jesus, tudo quanto ele fez e ensinou, visando à salvação do
pecador perdido.
Para fins práticos, podemos resumir o evangelho em quatro palavras, que formam
quatro frases:
1. Jesus veio ao mundo para buscar e salvar o que se havia perdido. Este é o sentido
histórico de Jesus.
2. Jesus morreu por nossos pecados. Este é o sentido teológico de Jesus (1 Tm
1.15).
3. Jesus ressuscitou (1 Co 15.1).
4. Jesus voltará a este mundo (At 1.9-11). É o sentido escatológico do evangelho.
Estes são os fundamentos do evangelho, que se traduzem em fatos da vida de
Jesus. Esses fatos foram registrados em livros que são chamados Evangelhos. De
um registro para outro, pode haver variação e até problema de tradução, mas
esses fatos fundamentais são inconfundíveis e essenciais para tornar alguém
sábio para a salvação (2 Tm 3.15).
EVANGELlZAÇÃO
EVANGELISMO
Mas isto não é tudo o que queremos saber sobre o conceito de evangelismo. Vamos
percorrer brevemente algumas definições chamadas clássicas, que são usadas pelos
autores.
1. Definição Anglicana de 1918: “Evangelizar é apresentar Cristo Jesus no poder
do Espírito Santo, para que homens possam vir a pôr sua confiança em Deus através dele,
aceitá-lo como seu salvador, e servi-lo como Rei na fraternidade de sua igreja”.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 69
2. Definição do Concílio Internacional Missionário, em 1938: Esta definição
adotou a mesma anglicana de 1918, torcendo-a para um sentido ecumênico e trocando a
palavra “Rei” pela palavra “Senhor”.
3. D. T. Niles, em 1951: “Evangelizar é um mendigo dizer a outro mendigo onde
encontrar alimento”.
4. Definição do Congresso Internacional para a Evangelização do Mundo, realizado
em Lausanne, Suíça, em 1974. É o chamado Pacto de Lausanne:
“Evangelizar é espalhar as boas-novas de que Jesus morreu por nossos pecados e foi
levantado da morte de acordo com as Escrituras, e que, como Senhor que reina, ele agora
oferece perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todo aquele que se arrepende
e crê. Nossa presença cristã no mundo é indispensável para o evangelismo, e este é o tipo
de diálogo cujo propósito é fazer com que se ouça cuidadosamente a mensagem a fim de
entendê-la. Mas evangelismo por si mesmo é a proclamação do Cristo histórico e bíblico
como Salvador e Senhor, com vistas a persuadir pessoas a virem a ele, pessoalmente, e
serem reconciliadas com Deus.
Em publicar o convite do evangelho, nós não devemos ocultar a necessidade do
discipulado. Jesus ainda chama todos quantos o seguem para negarem a si mesmos,
tomarem sobre si sua cruz e identificarem a si mesmos com sua nova comunidade. Os
resultados do evangelismo incluem obediência a Cristo, integração à sua igreja e serviço
cristão responsável no mundo”.
Seria por demais exaustivo uma análise de cada definição acadêmica aqui
apresentada. A meu ver, todas elas são válidas para fins didáticos e acadêmicos, mas não
batem em cheio no significado de evangelismo.
Para início de conversa, a definição de evangelismo tem que ser calcada no conceito
de evangelização e de evangelho. Algumas definições aqui apresentadas confundem
evangelização com evangelismo e vice-versa. Já mencionei que evangelismo tem a ver
com sistematização. Evangelismo tem a ver com métodos, estratégias e técnicas pelos
quais se comunica o evangelho ou se realiza a evangelização.
À luz do que temos dito, desejo arriscar uma definição que mais se aproxime da
realidade do termo:
Evangelismo é o sistema baseado em princípios, métodos, estratégias e técnicas
tirados do Novo Testamento, pelos quais se comunica o evangelho de Cristo a todo
pecador, sob a liderança e no poder do Espírito Santo, visando persuadi-lo a aceitar a
Cristo como seu salvador pessoal, de acordo com o comissionamento de Jesus dado a
todos os seus discípulos, levando, ao final, os que crerem, a se integrarem à igreja pelo
batismo, preparando-os para a volta de Cristo.
Vamos analisar brevemente esta definição.
Pelo evangelismo, nós fazemos o evangelho - o conteúdo dos ensinos e das
motivações de Cristo - chegar ao pecador e atuar nele. Os métodos são apenas dois: evan-
gelismo pessoal e evangelismo de massa. De qualquer maneira, o indivíduo será atingido.
Dependendo do contexto em que esteja o indivíduo ou indivíduos a serem a alcançados,
vamos estudar uma estratégia. Por exemplo, a estratégia do Espírito Santo em alcançar o
eunuco, ministro da rainha Candace, foi ir ao caminho de Gaza, por onde ele passava. A
estratégia de Jesus em alcançar a mulher samaritana e várias outras pessoas de sua aldeia
foi passar por aquele poço e ficar ali assentado, para entabular conversação com ela.
Dependendo, ainda, do tipo de pessoa, das circunstâncias que a cercam, o evangelista
usará uma técnica adequada, A técnica de Filipe com o Eunuco foi aproximar-se do carro
e começar a conversa, partindo do ponto em que homem estava: lendo o profeta Isaías. A
técnica que Jesus usou com a mulher foi pedir água, porque estava com sede. A técnica é o
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 71
recurso material que usamos. Tudo isso é trabalhado pelo Espírito Santo que usa homens
que usam recursos dados por Deus. Se a pessoa crê em Cristo como Salvador, ela é
integrada e o caminho é o batismo; ela aceita incluir-se na igreja, corpo de Cristo. E daí
para frente, sem desprezar a estrutura global do evangelho, o discípulo será preparado para
a volta de Cristo.
Notamos, portanto, que é o evangelismo que disciplina e organiza todo este
movimento operacional. Ele supre a evangelização dos recursos de que necessita para
alcançar o pecador com a mensagem do evangelho. Portanto, evangelismo não é mera
proclamação do evangelho, mas todo um sistema que permite a proclamação do
evangelho.
A esta altura, chamamos a atenção do leitor para o uso dos termos evangelismo e
evangelização neste livro.26 Como tenho demonstrado, evangelismo refere-se mais à
sistematização, à metodologia de ação de evangelizar, enquanto que evangelização, ação
de evangelizar, busca no evangelismo seu auxílio para se realizar. Os autores, no entanto,
empregam os dois termos indistintamente. Assim, não obstante fazermos distinção entre
evangelismo e evangelização em nossa exposição desta matéria, fizemo-lo mais para fins
acadêmicos. No decorrer dos capítulos subseqüentes, portanto, usamos os dois termos sem
qualquer preocupação com este detalhe que, em termos práticos, não fará muita diferença.
Em alguns casos, a nossa preferência por evangelização em vez de evangelismo será
apenas por comodidade da pronúncia do tema.
EVANGELISTA
26
FERREIRA, Damy. Evangelismo Total. Rio de Janeiro. JUERP, 1990.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 72
Este é o sentido estrito do termo.
Um outro sentido do termo é extensivo a todos os crentes. Todos os crentes são
testemunhas de Cristo e pregam o evangelho na tentativa de levar pessoas a Cristo.
Mas o que mais queremos enfatizar neste capítulo é sobre a pessoa do evangelista;
que características ou qualificações deve ele ter e cultivar. É isto que veremos a seguir.
EXPERIÊNCIA DE CONVERSÃO
Parece absurdo mencionar este fato, mas um evangelista tem que ter,
inequivocadamente, a consciência de que é uma pessoa convertida. É muito fácil alguém
nascer numa família cristã, engajar-se na igreja e no seu sistema, aprender educação
religiosa, e pensar que por isso está salva. Isto é tremendo engano. Cada pessoa tem que
ter sua experiência com Deus. Pode ser que as experiências variem de pessoa para pessoa,
mas haverá um convicção inconfundível de que ela é convertida, é salva. Se alguém não
nasceu de novo, não pode contar nada a outrem. Não importa que essa experiência tenha
vindo na infância, na adolescência, na juventude ou na vida adulta. Importa que cada um
que evangeliza possa dizer com convicção que Cristo o salvou e que ele é uma nova
criatura (2 Co 5.17).
O EVANGELlSTA E A SANTIFICAÇÃO
O EVANGELlSTA E A BÍBLIA
O evangelista tem que conviver com a Bíblia de tal maneira que possa, por ela,
apropriar-se da Palavra de Deus. Ele precisa não só ter um vasto conhecimento dela, como
também deve alimentar-se dela. Para tanto, aconselho cinco expedientes que devem ser
levados a sério pelo evangelista em relação à Bíblia.
1. O evangelista deve ler constantemente a Bíblia (Ap 1.3; 1 Tm 4.13). Existe
hoje muita gente que tem pouco convívio com a Bíblia, e muitos crentes nunca leram a
Bíblia toda pelo menos uma vez. O evangelista deve dar-se à tarefa de ler, pelo menos
uma vez, a Bíblia toda. O ideal seria o evangelista ler a Bíblia toda uma vez por ano.
Durante muitos anos, tive o privilégio de fazê-lo assim, competindo com meu pai, e foi
muito salutar.
2. O evangelista deve ouvir a leitura da Bíblia (Rm 10.17; Ap 2.29; Ec 5.1).
Quando lemos, podemos estar desligados na nossa atenção ou até podemos ler sem ênfase
um ponto que deveria ser ressaltado. Quando ouvimos, podemos ser despertados, para
aspectos nunca notados por nós. A leitura da Bíblia em alta voz deve ser cultivada nos
cultos. Seria bom até haver fitas gravadas com voz solene e fundo musical, para que se
pudesse ouvir a mensagem bíblica. A igreja pode elaborar programas de leitura da Bíblia
de maneira a torná-la mais viva. Grupos lendo a Bíblia em estilo de jogral podem tornar o
momento altamente edificante.
3. O evangelista, ainda mais, precisa memorizar a Bíblia (Sl 119.11; Dt 6.6; Pv
7.1-13). O evangelista deve saber muitos textos de cor, não só para servir-se deles na
evangelização em certas circunstâncias, como também para lançar mão deles em
momentos de lutas e conflitos espirituais. No passado, os pais crentes costumavam ensinar
longos textos a seus filhos e tinham orgulho de exibir, a qualquer visitante do lar, a
capacidade das crianças em recitar textos bíblicos. Hoje este hábito tão salutar está
desaparecendo das famílias. De qualquer maneira, o evangelista deve primar por fazer
isso. Antes de mais nada, ele deve decorar todos os versículos que possam expor o plano
de salvação de maneira prática e simples. Tenho tido a experiência de falar aos ouvido de
pacientes terminais em circunstâncias que não daria nem para abrir uma Bíblia. Em casos
assim, ajudará muito ter o plano de salvação de cor e ir recitando pausadamente ao ouvido
do paciente que, não obstante em estado de coma, pode receber a mensagem.
4. O evangelista, sobretudo, deve estudar a Bíblia (At 17.11; 2 Tm 2.15). Evi-
dentemente, o estudo bíblico será mais proveitoso quando o estudante já tiver lido por
completo, pelo menos uma vez, a Bíblia. A noção do todo ajuda na compreensão das
partes. Na minha experiência pessoal, tenho começado meus estudos bíblicos usando
referências (no rodapé) e concordâncias. Este é o meu primeiro expediente de estudo. É o
hábito de estudar a Bíblia. Se a pessoa está capacitada para os originais, então deve ir a
eles primeiro. Mas isso não é essencial. As traduções, geralmente, são confiáveis. Também
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 74
o estudante deverá recorrer a outras versões e fazer um estudo comparativo. Só depois é
que se deve ir a um comentário. Às vezes supervalorizamos os comentários. Eles são bons,
mas grandes comentaristas, aqui e ali, cometem erros e até heresias. Temos que nos
habituar a estudar a Bíblia pela Bíblia. O evangelista tem que conhecer a Bíblia e para
tanto deve estudá-la sob todos os aspectos. Depois de conhecê-la razoavelmente bem, o
evangelista deve estudá-la em relação a outros ramos de conhecimento humano e religiões
comparadas.
5. O evangelista deve meditar na Palavra de Deus (Sl 1.2; Js 1.8; Sl 119.48), A
meditação é uma arte e devemos desenvolvê-la. A melhor ilustração que conheço para
explicar a meditação é a do boi que remói. Durante algum tempo, o boi colhe seu
alimento. Depois ele pára, o alimento é trazido de volta à boca a fim de ser devidamente
triturado e aproveitado pelo organismo. Na meditação, a pessoa procura trazer à mente
tudo quanto sua memória acumulou durante um dia ou durante dias passados. E aí ela põe
tudo “na mesa”, para revisão e comparação, tirando as lições. A nossa própria inteligência
está preparada para fazer comparações e tirar conclusões.
Nosso mundo de hoje não tem parado para meditar. A tônica dos nossos dias é a
emoção e não a razão; o barulho, e não o silêncio. Até mesmo nossos cultos são
barulhentos e emocionais, o que gera o bloqueio da linha de transmissão ao espírito,
impedindo-o de ser alimentado. Na meditação, a mente fica repousante e o canal do
enriquecimento espiritual fica livre para deixar passar tudo de quanto a alma necessita. É
por isso que a própria Palavra de Deus recomenda meditação. O evangelista precisa
dedicar tempo à meditação, sem o que a Palavra de Deus pouca atuação terá em sua vida.
É no silêncio, e não no barulho, que Deus fala (1 Rs 19.8-15). Era exatamente por isso
que Jesus gostava de orar no monte, no deserto e em lugares silenciosos como o Horto de
Getsêmane.
A oração deve fazer parte da vida do evangelista. Ele deve ter um programa pessoal
de oração, juntando este programa com o seu programa de santificação. O evangelista
deve conservar uma mente de oração. É pela oração que estamos na presença de Deus e,
no convívio com ele, vamos assimilando a sua maravilhosa maneira de ser. O evangelista
deve fazer da oração o seu estilo de vida. Como ele vai enfrentar o poder das trevas ao
evangelizar, deve estar devidamente reforçado espiritualmente para a luta. E é pela oração
que o reforço vem. Não somente o evangelista deve cultivar uma vida de oração para
manter seu poder espiritual, mas ele deve orar pelas pessoas que pretende alcançar para
Cristo e também orar por aquelas que está evangelizando. E sua vida de oração vai passar
para aqueles que ele ganhar para Cristo. Eles serão seus imitadores.
A CONDUTA DO EVANGELISTA
O evangelista deve ter vida irrepreensível. Aliás, esta é a exigência para todo servo
de Deus (1 Co 1.8; Ef. 1:4; Fl 2.15; 1 Ts 3.13; Cl 1.22). Isso quer dizer que evangelista
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 75
deve ter vida moral equilibrada. Naturalmente, não se exige que seja perfeito, porque isso
seria impossível. Mas o evangelista deve ser uma pessoa digna, de caráter firme, de
hábitos puros. Não deve ser dado a bebidas alcoólicas e a outros vícios; não deve ser
mundano; deve conviver bem com a família e portar-se de tal maneira que não cause
escândalo (1 Co 10.31,32; 2 Co 6.1-3). O que mais tem prejudicado o evangelho tem sido
a conduta de evangelistas e ministros de um modo geral. O povo cobra muito do líder.
Todos esperam que ele seja perfeito. É claro que isso é cobrar demais, Mas o líder, aquele
que prega a Palavra, deve ter vida equilibrada, para que ninguém tenha motivos para
acusar um servo de Deus.
O EVANGELISTA E A ORAÇÃO
Esta era uma das qualidades de Filipe, o evangelista, juntamente com os demais
diáconos (At. 6.3). Sabedoria, todavia, não pode ser confundida com escolaridade. Uma
pessoa pode ter vários diplomas universitários e não ser sábia. Esta é a sabedoria vem de
Deus. A presença do Espírito Santo na vida dá ao crente capacidade para fazer juízos de
valores, analisar bem todas as experiências e ficar com o que é bom. Como recomendou
Paulo: “Mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom” (1 Ts 5.21).
Mas este aspecto de sabedoria do evangelista o levará também a ser um observador
da vida para tirar aprendizado. A Bíblia diz que Salomão foi o homem mais sábio do seu
tempo (1 Reis 4.31), realmente, foi o que ele pediu a Deus: sabedoria. Mas notamos como
o sábio Salomão fazia: ele era um observador do mundo em redor. Constantemente vamos
notar nos seus escritos, como é o caso de Provérbios e Eclesiastes, a expressão: “E vi ( ...
)”. Isto indica observação (Pv 24.32; Ec 2.13,14; 4.15). O evangelista deve ser um
observador da vida. É aí que Deus lhe dará material, argumentos e portas abertas para o
trabalho de evangelização.
MÉTODOS
A palavra método vem do grego metá (meta) e hodós (o(do/j), que significa no
caminho. Daí, “direção que se imprime aos próprios pensamentos a fim de investigar e
demonstrar a verdade”.
Em termos práticos, método é o caminho que se usa para se chegar a um
determinado objetivo; é a maneira de se fazer algo. Assim, se quero atingir pessoas
com a mensagem de Cristo, posso fazê-lo de pessoa em pessoa, e então tenho evangelismo
pessoal, ou posso fazê-lo a um grupo de uma só vez, e terei evangelismo de massa.
Para fins didáticos, é melhor que nos fixemos em dois métodos de evangelismo:
evangelismo pessoal e evangelismo de massa. Em assim fazendo, estamos distinguindo
método de estratégia e de técnica.
Como sabemos, existem dois métodos básicos em toda ciência:
1. O Dedutivo (a priori). Trabalha a partir de dados existentes. De uma proposição
(afirmação) ou uma série de proposições deduz ou infere uma série de fatos.
Dedução é tirar inferências e conclusões lógicas dos dados.
2. O Indutivo (posteriori). Ele parte do particular e chega a um enunciado ou
afirmação geral.
Em qualquer dos dois métodos, podemos empregar duas formas de raciocínio pura o
trabalho de evangelização: o método dedutivo e o indutivo.
O método dedutivo de abordagem evangelística é aquele que começa do geral para o
particular. No caso, o evangelista começa por falar do plano de salvação, para aplicá-lo ao
problema particular que o pecador está enfrentando. Exemplo: o pecador está deprimido e
não tem paz. Neste caso, para argumentar dedutivamente, o evangelista começará falando
do plano de salvação. Se o pecador o aceitar, poderá livrar-se da sua falta de paz, que deve
ser conseqüência do pecado em sua vida.
Na argumentação indutiva, o evangelista começa pelo problema da pessoa até
chegar ao plano de salvação, que, uma vez aceito, pode ajudar a pessoa no seu problema.
Um caso típico deste exemplo é o diálogo de Jesus com a mulher samaritana. Ele começou
com os problemas daquela mulher: a sede, os pecados que ela tinha, e partiu para
apresentar-lhe a água da vida (João 4).
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 77
ESTRATÉGIA
TÉCNICA
A técnica é o recurso material que usamos para executar o método. A maneira como
abordo a pessoa, como arranjo o plano de salvação; se uso o argumento dedutivo ou
indutivo, tudo isto são técnicas. Contar histórias em flanelógrafo para crianças é uma
técnica. Usar slides ou Data Show para uma palestra evangelística é uma técnica. Usar
folhetos como: Como Possuir uma Vida Feliz, ou As Quatro Leis Espirituais, e outros
semelhantes, é uma técnica. Jesus começou a conversar com a mulher samaritana usando a
água: “Dá-me de beber”. Foi a técnica.
27
Estratégia vem da palavra soldado (stratiōtēs - stratiw/thj) em grego.
28
Colimar. [Do lat. collimare, dos astrônomos seiscentistas; errônea, originária de má leitura de collineare, 'visar'.]. 1.Observar
com instrumento adequado. 2.P. ext. Mirar, visar, observar. 3.Fig. Ter em vista; visar a; objetivar, pretender.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 78
É talvez dentro deste entendimento que o grande e renomado autor Michael Green,
em seu livro Evangelismo na Igreja Primitiva (Evangelism in the Early Church), assim se
expressa:
CONCEITOS
A palavra comunicação vem do latim comunicare, que quer dizer: tornar comum.
Daí vem a conceituação de que “comunicação é o processo pelo qual um indivíduo
transmite estímulos a outros indivíduos, a fim de modificar seu comportamento”. Em
seu sentido mais amplo, comunicação sugere a idéia de comunhão, de estabelecimento de
um campo com as outras pessoas, de divisão de informações, de idéias, de sentimentos.
Como se vê, isso tudo coincide com a natureza do evangelismo da pregação.
Aqui se encaixa a voz humana, seja qual for o meio pelo qual ela se propague. É o
caso da pregação tradicional, em que o pregador usa a sua voz. É o caso da conversa
evangelística.
Nesta divisão, encontraremos talvez uma parte que é muito útil ao evangelista. As
outras, nem tanto. Mas damos a divisão clássica para que o leitor tenha uma idéia do todo.
Remeteremos o assunto para autores especializados, se necessário.
2. Comunicação Persuasiva
3. Entretenimento
Agora entramos na parte que será mais útil ao evangelista. Nesta quero me demorar
um pouco mais.
1. O Emissor ou Fonte
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 81
O emissor, no nosso caso, é o evangelista (ou o pregador). Ele é o comunicador. Ele
é a fonte de onde a mensagem vai fluir e alcançar os seus objetivos. Neste particular,
quero ressaltar algumas habilidades comunicativas que o emissor deve possuir e
desenvolver.
1) Habilidades comunicativas
(1) Escrita - O comunicador que se comunica por escrita deve saber escrever bem.
Evidentemente, nem todos os evangelistas costumam escrever seus sermões ou suas
palestras. Mas é usual; foi usado no passado e pode ser muito útil hoje. Livros de sermões
podem ter uma grande utilidade. Folhetos, panfletos e outros similares podem ser usados
pelos evangelistas. O evangelista deve desenvolver sua habilidade de comunicar pela
palavra escrita. Principalmente para aqueles que pregam pelo rádio, o sermão deverá ser
escrito. Dificilmente alguém fará bons programas pelo rádio se não escrever seus sermões.
E para colocar uma mensagem no coração do ouvinte, o evangelista tem que desenvolver
certa habilidade para reunir palavras dentro do seu adequado sentido e conteúdo.
(2) A palavra - A palavra é algo muito importante na vida do evangelista. Ele deve
primeiramente saber usar a palavra certa em cada raciocínio, em cada pensamento.
Palavra, inclusive, que seja bem conhecida pelos seus ouvintes. Não adianta usar palavras
difíceis, se seu auditório não vai entendê-las. Há atualmente uma certa preocupação de
alguns evangelistas em usar palavras difíceis. Isso não é de boa regra. A melhor maneira é
usar a palavra que o povo está usando, sem descer, é claro, à gíria e ao ridículo. Por outro
lado, a palavra deve ser pronunciada com clareza e corretamente. Há evangelistas e
pregadores que têm o hábito de “engolir” a última sílaba de certas palavras. Outros
diminuem a intensidade de voz no meio da palavra para frente, de modo que ninguém
entende ou precisa ficar adivinhando o que ele disse. Isso prejudica o entendimento e a
comunicação. O evangelista, portanto, deve articular bem as palavras. Também é
importante a tonalidade da voz, a altura em que se pronuncia as palavras. Esta deve ser
audível e agradável. Alguns evangelistas cultivam o hábito de pregar gritando palavra por
palavra. Tal método cansa os ouvintes. Os momentos de entusiasmo na pregação devem
acontecer naturalmente. No entanto, se um evangelista grita o tempo todo na mesma
intensidade e no mesmo nível, o sermão se torna insuportável para o auditório. O tom de
voz do evangelista deve ser agradável. E, dentro deste aspecto, o pregador deve procurar
desenhar com a tonalidade o sentimento da palavra. Quando se fala “amor”, deve haver
uma expressão de amor na voz do evangelista. Esta é uma habilidade que muito ajuda o
evangelista.
(3) Leitura - O evangelista deve saber ler bem, se vai fazê-lo para pregar. Mesmo
que não vá ler o seu sermão, a leitura da Bíblia muitas vezes significa um bom começo
para o sermão. Pregadores há que não sabem ler a Bíblia. Não dão expressão à leitura, não
dão vida ao seu sentido; tropeçam aqui e acolá, e às vezes pronunciam dubiamente certas
palavras de que não se certificaram antes como são pronunciadas, como é o caso de
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 82
“alimaria”, “Samaria” e outras semelhantes. A leitura da Bíblia deve refletir seu
sentimento, e as palavras devem ser lidas com clareza e expressão. Assim também deve
acontecer com a leitura de um sermão de rádio, que deve ser feito naturalmente, não como
se estivesse lendo, mas como se estivesse realmente falando.
(4) Audição - A audição do comunicador deve ser boa. Se ele ouve pouco, pode
falar baixo demais ou pode tentar falar alto demais. Não sabendo controlar o nível do seu
volume de voz, ele pode criar problemas para o seu auditório.
2) Atitudes
Outro aspecto muito importante do emissor é a sua atitude como tal. Podemos
abordar o assunto sob três aspectos:
(1) Atitude para consigo mesmo - O comunicador deve ser otimista e acreditar em si
mesmo. O comunicador comunica pela sua própria presença. Se ele é uma pessoa
confiante, cônscia do que ele é e faz, naturalmente irá transmitir segurança aos seus
receptores. No fundo, isso significa que ele deve saber o que faz. Ele deve ter consciência
de que sabe fazer o que está fazendo. Por isso mesmo, o evangelista jamais deve pedir
desculpas por ter pregado mal. Ele sempre prega bem, mesmo que não tenha se sentido
assim. Houve dias na minha vida em que, em virtude de cansaço físico e mental, senti-me
extenuado durante todo o sermão, Ao final, estava quase não fazendo apelo porque achava
que não haveria resultado. Mas fiz o apelo. E vi então um grande número de pessoas lá na
frente. O evangelista, mais do que qualquer outro comunicador, deve ter certeza de que vai
conseguir resultados porque “tudo posso naquele que me fortalece”.
(2) Atitude para com o assunto - O comunicador deve acreditar no assunto que
assunto que está passando adiante. Imagine um pregador que não crê na mensagem que
está entregando. Nos Estados Unidos, às vezes ocorre que um pastor de outra
denominação vai pastorear uma igreja de denominação diferente, por certo tempo. Ouvi,
certa ocasião, o testemunho de um pastor batista que estava ajudando uma igreja
presbiteriana. Ele estava tendo problemas com a sua congregação por causa do batismo,
Imaginem aquele homem batista, imersionista, tendo que batizar por aspersão. A minha
colocação neste exemplo não é de crítica ao presbiterianismo, mas nas emoções de alguém
que crê de uma maneira, mas que, por circunstâncias especiais, tem que fazer ao contrário
da sua fé. O comunicador cristão precisa crer na mensagem que prega.Quando prega sobre
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 83
o céu, por exemplo, deve alimentar em si mesmo a certeza de que ele também irá para o
céu um dia.
(3) Atitude para com o recebedor - O recebedor, que está na outra linha de co-
municação, é o ponto mais importante de sua tarefa de comunicar. Ele deve ser levado a
sério e deve ser considerado de muito valor. Assim, o evangelista deve levar em
consideração seu status, sua cultura - pouca ou muita - suas necessidades, sua capacidade
de receber sua comunicação. O evangelista não deve ser fingido, simulando que o acha
importante. Do contrário, algum detalhe vai escapar da sua dinâmica pessoal, e ele não
será atingido.
3) Nível de conhecimento
4) Contexto sócio-cultural
2. O Receptor ou Recebedor
2) Contexto cultural
Por contexto cultural, quero dizer o tipo de vida que o povo leva; o que se faz
naquela cidade. A vida está mais voltada para a agricultura? Se se empregar uma
ilustração sobre plantação, semente, ceifa, o povo vai entender? Ou a vida está mais vol-
tada para a pecuária? Será que vão entender ilustrações e pensamentos sobre boi, cavalo,
ovelhas? Ou, então, seria um tipo de vida industrial? É gente realmente de cidade grande?
Conhecem linguagem de problemas econômicos? Ou será que estão numa Beira-mar, vida
de pescadores? É importante conhecer o nível médio cultural ou tipo de vida do
recebedor.
O bom comunicador começa sua mensagem onde o recebedor está. É ele mesmo
que o comunicador quer. Não importa onde ele esteja. Jesus foi a Zaqueu. Deixou a
multidão e descobriu Zaqueu lá na árvore e dali falou com ele. Com a mulher samaritana,
começou exatamente no ponto em que ela estava tirando água. Dali, progrediu sua
argumentação até alcançar o mais íntimo do seu coração. Filipe foi enviado ao deserto,
onde estava um homem buscando a verdade. Chegou à carruagem, conversou com o
homem exatamente sobre o seu ponto de interesse no momento, que era a leitura do
profeta Isaías, e, a partir dali, lhe anunciou Jesus. É muito importante ao comunicador do
evangelho saber achar o seu recebedor; saber localizá-lo, tanto física como mentalmente.
3. A Mensagem
1) Conteúdo
É a essência do que se quer passar para o recebedor. Por exemplo: quero dizer ao
meu auditório que Jesus é o Salvador. Tenho que ter cuidado para que o conteúdo seja
bem definido. O que eu quero dizer é exatamente isto e nada mais. Às vezes o conteúdo se
torna complexo, e aí exige melhor cuidado ainda. Mas parece que o conteúdo não é tanto o
problema.
2) Código
Para passar o meu conteúdo, que até então está apenas na minha mente e no meu
domínio, eu preciso de certa preparação. Nesta fase, o fator mais importante chama-se
código. Esse código é o símbolo ou grupo de símbolos que vou usar. Esse código pode ser
representado pela escrita, por meio da mímica ou através de sinais luminosos. No entanto,
devo saber se o meu código é comum ao meu recebedor, isto é, se o meu recebedor
entende os símbolos que estou querendo usar. Se alguém conhece o código Morse, usado
na telegrafia, então eu posso bater sinais e serei imediatamente entendido. Se alguém sabe
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 87
ler, eu posso escrever e o meu recebedor vai entender. Se alguém conhece mímica de
surdo-mudo, eu serei entendido se a usar para me comunicar. Isto é codificação. A minha
codificação deve ser de acordo com o meu recebedor, para que ele possa “decodificar”,
isto é, interpretar a minha mensagem.
Descendo um pouco mais a detalhes: mesmo usando palavras oralmente, devo
construir idéias que possam fazer sentido na mente do povo. Se alguém vai a uma tribo de
índios que ainda não conheça televisão, não poderá empregar a idéia que envolva
televisão. Ou se vamos ao interior, onde nunca alguém ouviu falar de computador, não
podemos dizer que “todos os nossos pecados estão registrados no sistema de computação
de dados de Deus”. Mas se estou falando com algum piloto de avião mecânico ou gente
que trabalha na área, posso falar que meu carro “entrou em pane”, que todos vão entender.
O comunicador deve ser cuidadoso na sua codificação para que a mensagem chegue
ao recebedor clara e cristalina.
3) Tratamento
4. O Canal
Já vimos o emissor, que está no ponto inicial, e o recebedor, que está na outra ponta.
Para ser alcançado, o recebedor precisa de um canal.
O canal pode ser visto do ponto de vista do emissor e do ponto de vista do
recebedor.
Vou apenas dar o esboço da matéria, uma vez que, por si, as palavras explicam o
assunto.
(1) Exclusivamente orais: voz humana, rádio, telefone.
(2) Exclusivamente visuais: escrita, sinais luminosos, sinais manuais, música.
(3) Orais e visuais: teatro, televisão, conversação, cinema, discurso ao vivo. Todos
estes são meios que o emissor pode usar para enviar sua mensagem. O assunto não exige,
para o nosso caso, maiores comentários. No entanto, do ponto de vista do receptor, na
ponta de chegada da mensagem, os canais assumem outras características, porque são de
outra natureza.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 88
2) Canal do ponto de vista do recebedor
Aqui os canais estão todos na própria natureza humana, e podem ser assim enu-
merados:
(1) Audição - Este é um dos principais canais de comunicação. Se alguém não
ouve, então se terá que usar o método da mímica. O comunicador deve saber se o seu
recebedor está ouvindo bem. Pode ser que ele tenha bom ouvido, mas o ambiente apre-
senta algum problema. Ou está distante demais do ponto do emissor, ou há alguma
interferência à sua volta que não lhe permite ouvir. Para o comunicador é muito
importante certificar-se de que o recebedor está ouvindo bem.
(2) Visão - A visão é outro importante canal de comunicação. Mesmo que esteja
ouvindo, a pessoa entende melhor a mensagem do seu emissor quando ela o pode ver.
Assim, o local em que a pessoa está sentada é muito importante e fundamental para a boa
comunicação. Por isso mesmo, um ligeiro declive no piso e a posição da plataforma do
púlpito, no caso do pregador, ajudam muito na visibilidade.
A combinação da audição com a visão dá o processo chamado audiovisual, de
grande ajuda na comunicação. Nele se baseia, por exemplo, a televisão. Na mesma linha
de recurso, está o uso de slides(Data show) e de flanelógrafos.
Exclusivamente visual é o método de mímica. O surdo-mudo desenvolve uma
rapidez muito grande de ver e captar os sinais feitos com a mão do comunicador que, na
verdade, usa várias partes do corpo, além das mãos e dos dedos, para comunicar sua
mensagem.
(3) Tato - Este é um canal também muito importante. O tato é para o cego o que a
visão é para o surdo-mudo. É pelo tato que o cego consegue ler o sistema Braille. E com
grande número de cegos no mundo, este é um canal muito importante para essa população
de recebedores. Naturalmente, o cego pode usar o ouvido também. Nele, esse canal se
desenvolve para compensar a falta de visão.
(4) Olfato e paladar - Dois canais menos importantes são o olfato, que nos habilita
a captar o cheiro, e o paladar, que nos habilita a sentir o gosto das coisas. A comunicação
aqui só se dá em casos muito peculiares. Pelo olfato, você pode reconhecer certa pessoa
que usa sempre o mesmo perfume, ou notar que alguém está cozinhando carne. Pelo
paladar, você apenas pode reconhecer certa qualidade de alimento ou de líquido, Não é
muito importante para o nosso caso.
INTERFERÊNCIA
Se o leitor quiser mais detalhes sobre esta matéria, deve consultar David Berlo.
Atualmente, várias faculdades incluem esta matéria em seus currículos. No entanto, estou
inserindo a matéria aqui apenas como uma pequena ajuda ou auxílio ao estudante de
evangelismo.
GRÁFICOS EXPOSITIVOS
Antes de mais nada, o crente precisa ter consciência da presença do Espírito Santo
na sua vida. Não quero discutir aqui como isso acontece, que é assunto de área doutrinária.
Mas é importante que o crente e, conseqüentemente, o evangelista tenham consciência da
presença definitiva do Espírito Santo na sua vida. O seguinte esquema abreviado mostrará
algumas características dessa presença:
Em Atos 2.1-13 temos a narrativa da vinda do Espírito Santo, “para ficar para
sempre conosco”, conforme a promessa. Em Atos 2.37-39, temos a orientação de Pedro
sobre como receber o dom do Espírito Santo que, segundo o próprio texto, para “quantos
Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39b). Esta idéia é reforçada pelo entendimento de João
7.37-39. O crente, portanto, precisa entender que, se ele é realmente um crente, ele tem o
Espírito Santo.
2. O Penhor Selado.
Penhor = arrabōna (a)rrabw=na);
Selo = sfraguisámenos (sfragisa/menoj.
Uma das passagens mais significativas neste sentido é a de Efésios 1.13,14. É bom
transcrevê-la, para que o leitor não deixe sua leitura para depois: “em quem também vós,
depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele
também crido, fostes selados (sfraguisámenos - sfragisa/menoj) com o Santo
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 93
Espírito da promessa; o qual é o penhor (arrabona - a)rrabw=na) da nossa herança, até
ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória”.
O crente tem que entender que ele está selado, lacrado para Deus. Esta é a garantia
de que ele está salvo. É o penhor da sua herança eterna. E o apóstolo Paulo continua,
agora na Primeira Epístola aos Coríntios, a falar dessa condição do crente: “Ou não sabeis
que o vosso corpo é o santuário do Espírito Santo, que habita em vós, O qual possuís da
parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço;
glorificai pois a Deus no vosso corpo” (1 Co 6.19,20).
Em resumo: o crente tem o Espírito Santo, no qual está selado, e que lhe é dado
como garantia da vida eterna. O Espírito Santo que lhe foi dado habita nele, e o crente
pode ter consciência desse fato, pois é Paulo também que nos informa: “O Espírito mesmo
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). É, portanto, o penhor
selado, e do qual temos plena consciência.
Pode parecer uma repetição da mesma idéia anterior, mas logo o leitor perceberá a
diferença. Vimos, de modo geral, a condição em que o Espírito Santo se relaciona com
todos os crentes. Nesta oportunidade agora queremos focalizar a atuação específica do
Espírito Santo no crente como evangelista ou na atividade evangelística.
Em Atos 1.8 temos a grande promessa: “Mas recebereis o poder, ao descer sobre vós
o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e
Samaria, e até os confins da terra”. A palavra grega para “virtude” é dýnamin (du/namin),
que vem de dýnamis (du/namij), que quer dizer “poder”. A nossa palavra dinamite vem de
dýnamis.
Testemunhar de Cristo, evangelizar, fazer discípulos são atividades especiais que
exigem poder especial. Só o Espírito Santo pode providenciar esse poder, e, se o crente já
recebeu o Espírito Santo, já tem o poder: “Recebereis o poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo” - e o Espírito Santo já veio, se o evangelista é, realmente, um crente. O
evangelista precisa crer no poder do Espírito para sua tarefa. Ele não deve tentar substituir
isso por nada neste mundo.
2. Motivação
3. Direção
Também o evangelista é guiado pelo Espírito Santo. Ele guia na verdade (João
16.13), e guia também nos empreendimentos evangelísticos e missionários (At 16.6-
8,9,10). Em Trôade, notamos como o Espírito Santo atuou no entendimento de Paulo para
guiá-lo à Macedônia, pela expressão: “( ... ) concluindo que o Senhor nos chamava para
lhes anunciarmos o evangelho” (At 16.10). O grande evangelista Filipe foi guiado pelo
Espírito para encontrar aquele eunuco no caminho de Gaza. O Espírito Santo nos guia no
dia-a-dia da evangelização. E deve ser assim, e devemos aprender a fazer assim, a
depender dele. Neste caso, ele nos conduzirá nos planejamentos, na elaboração de
estratégias e técnicas, de acordo com a sua multiforme sabedoria. O evangelista deve estar
consciente disso.
HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 95
O TRABALHO DO ESPÍRITO SANTO NO PECADOR
O apóstolo Paulo muito acertadamente diz que o homem natural “não aceita as
coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucuras” (1 Co 2.14). Por isso mesmo, o
Espírito Santo trabalha por instrumentalidade do crente, do evangelista, que compreende
as coisas do Espírito de Deus.
Uma linda passagem bíblica neste sentido é a de Atos 16.14, que diz que “( ... ) o
Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia”. O evangelista precisa
dessa ajuda, sem o que não haverá resultado. Nota-se, mais uma vez, que o Espírito Santo
trabalha com o entendimento das pessoas.
O Espírito Santo abre às pessoas a capacidade para crer nas Escrituras. Não há
evangelização, e muito menos evangelismo, sem o trabalho da Palavra de Deus. Em Lucas
24.45, Jesus abriu o entendimento dos discípulos para compreenderem as Escrituras. E
essa compreensão precisa vir. Enfatizo este assunto porque há muita gente trabalhando
num evangelismo meramente emocional, e a emoção não é tudo; a razão precisa estar
presente no processo.
Em Beréia, muitos judeus foram examinar nas Escrituras a mensagem que Paulo e
Silas pregavam, para ver “se estas coisas eram assim” (At 17.11). É o trabalho mental de
confronto, comparação, para levar ao juízo de valores e à compreensão.
3. O Trabalho de Persuasão
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HOMILÉTICA Criado por Pr. Bentes 98
Biografia do autor
O pastor Antônio Carlos Gonçalves Bentes é capitão do Comando da Aeronáutica,
Doutor em Teologia pela American Pontifical Catholic University (EUA), conferencista,
filiado à ORMIBAN – Ordem dos Ministros Batistas Nacionais, cuja matrícula é 745,
professor dos seminários batistas: STEB, SEBEMGE e Escola Teológica Koinonia e
também das instituições: Seminário Teológico Hosana, UNITHEO, Escola Bíblica Central
do Brasil e JAMI (Junta Administrativa de Missões da CBN) atuando nas áreas de
Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Apologética, Escatologia, Pneumatologia,
Teologia Bíblica do Velho e Novo Testamento, Hermenêutica, e Homilética. Reside
atualmente em Lagoa Santa, Minas Gerais. Exerce o ministério pastoral na Igreja Batista
Getsêmani em Belo Horizonte - Minas Gerais. É casado com a pastora Rute Guimarães de
Andrade Bentes, tem três filhos: Joelma, Telma e Charles Reuel, e duas netas: Eliza
Bentes Zier e Ana Clara Bentes Rodrigues.