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O DIA DO SENHOR

- Livro de Sofonias -

por Abel Saraiva

Monografia para a disciplina de

Livros Proféticos

do professor Vieito Antunes

FANHÕES
2015-2016
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................1
I. CONTEXTO HISTÓRICO E RELIGIOSO ............................................................................2
II. O DIA DO SENHOR PREFIGURADO (1.2-3.7) .................................................................2
1. Num juízo universal (1.2-3) ..........................................................................................2
2. No julgamento de Judá e Jerusalém (1.4-18)................................................................2
3. Na chamada ao arrependimento e julgamento das nações (2.1-3.7).............................3
III. O ESTABELECIMENTO DO REINO FUTURO (3.8-20) .................................................3
1. Julgamento final e adoração universal (3.8-13) ............................................................3
2. O remanescente jubiloso e o Reino do Messias (3.14-20)............................................3
CONCLUSÃO ............................................................................................................................5
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................6
ANEXO 1....................................................................................................................................7
ANEXO 2....................................................................................................................................8
INTRODUÇÃO
Após o reinado impio de Manasses e Amom, que levaram o povo a desviar-se de Deus, Josias
leva a efeito várias reformas espirituais motivadas pela descoberta do “Livro da Lei” (2Rs 22.8;
2Cr 34.14-15). As práticas pecaminosas descritas sobre Judá, dão indícios de que Sofonias terá
profetizado antes da reforma de Josias (621 a.C.). A pregação de Sofonias “(…) deu apoio a
Jeremias quando juntos ajudaram a lançar as reformas de Josias.”1

A mensagem de Sofonias era claramente teocêntrica, pois referia-se inúmeras vezes ao Dia do
Senhor, como referência à Sua soberania e juízo (1.14). Ainda, seria o próprio Deus o Salvador,
Guerreiro e Rei do seu povo eleito (3.15-17). O conceito do Dia do Senhor é o núcleo das
profecias de Sofonias, envolvendo duas facetas – juízo e bênção:

Ambos os aspetos do Dia de Iavé partilham de dois planos temporais. A mensagem


imediata a Judá é de que ele e as nações receberão punição num futuro bem próximo
(1.4-18), mas que a esperança também é uma possibilidade a curto prazo (2.3).
Entretanto, a mensagem expande-se (…) para o cumprimento escatológico. Num
futuro não especificado, tanto Judá quanto as nações não apenas enfrentarão o juízo
(3.11 e 8, respetivamente), mas também desfrutarão benefícios (3.13-17 e 9,
respetivamente)2

Notamos no estilo literário de Sofonias um hábil jogo de palavras, assim como uma “(…)
extensa dependência da fraseologia do livro de Deuteronómio.3 (…) E bastante eficaz o
amontoado de imagens emprestadas, particularmente quando descrevem a vinda do Dia do
Senhor”4 (1.15-16). Estruturalmente, é mais tradicional: O dia de juízo para Jerusalém e
diversas nações (cap. 1 e 2) e o dia futuro de esperança de salvação (cap. 3). Em 3.14-17 lemos
um salmo de louvor usando paralelismo concêntrico.5

Sofonias descrever a sua linhagem por quatro gerações, sendo a mais longa genealogia dos
profetas (1.1). É nos dito que Sofonias descendia de Ezequias, o rei de Judá, logo era da nobreza.
O seu nome “que tem o sentido de ‘Iavé escondeu/protegeu’, pode ser uma indicação do favor
divino sobre uma criança nascida durante o sangrento e perigoso reinado de Manassés (686-
642 a.C.; cf. 2 Rs 21.16; 24.3-4).”6 Foi contemporâneo de Jeremias, Naum e Habacuque.

1
(LASOR, HUBBARD, & BUSH, p. 339)
2
(BAKER, AKEXANDER, & STURZ, p. 370)
3
Ver anexo 1.
4
(ROBERTSON, p. 44)
5
Ver anexo 2.
6
(BAKER, AKEXANDER, & STURZ, p. 368)

1
I. CONTEXTO HISTÓRICO E RELIGIOSO
O povo de Judá tinha ficado fortemente influenciado pela idolatria de Manassés, mesmo depois
do seu arrependimento durante o cativeiro Assírio e tentativa de fazer algumas reformas em
Judá, estas mostraram-se claramente infrutíferas no seio do povo (2Cr 33.12-19). “Quando
Amom reverteu aos piores traços do pai, foi selado o destino de Judá.”7 O rei Josias vai tentar
retroceder Judá das influências de Manassés e Amom, contudo este avivamento vai durar
poucos anos, sem nunca ter conseguido eliminar completamente a idolatria de Judá.

A profecias de Sofonias, surgem então com um aviso do iminente juízo de Deus sobre Judá,
mais concretamente Jerusalém – a cidade que os judeus pensavam que nunca iria ser destruída
(1.4ss). Possivelmente, Sofonias quererá referir-se à Babilónia8 como sendo o instrumento que
Deus usaria para castigar o seu povo, assim como a Assíria (2.13-15). Cerca de 20 anos após a
profecia de Sofonias, Nínive caiu, Josias foi morto no Megido, e Nabucodonosor conquista a
Síria e a Palestina, após ter derrotado Faraó-Neco, do Egito em Carquêmis (2Rs 23.29; 2Cr
35.20-25).

II. O DIA DO SENHOR PREFIGURADO (1.2-3.7)


1. Num juízo universal (1.2-3)
O profeta começa por anunciar um juízo de caracter universal, cujos efeitos serão devastadores,
tal como o foi no dilúvio (Gn 6). As sentenças são tão semelhanças que percebemos que o
julgamento altamente eficaz, demonstra que este é completo sobre todas as nações. A garantia
é do próprio Javé: “diz o SENHOR; disse o SENHOR.”

2. No julgamento de Judá e Jerusalém (1.4-18)


Após iniciar com um juízo universal, Sofonias afunila para chegar ao foco do destinatário da
sua mensagem – Jerusalém e seus habitantes (vv.4-6). O povo era adorador do falso Baal e
Milconm, como tal, a profecia era contra a idolatria, mas também contra pecados sociais. “O
distúrbio social insinuado em 1.9 é ampliado em 3.1-7, onde a acusação é lançada diretamente
contra os lideres.”9 Sofonias então, descreve a ira de Deus avassaladora face a tais pecados e
apatia espiritual e moral do povo (1.12). “Temos de concluir que este dia do Senhor foi

7
(LASOR, HUBBARD, & BUSH, p. 341)
8
Alguns estudiosos afirmam que Sofonias se refere aos citas por causa de uma descrição das hordas citas que
Heródote fez, contudo, existe uma grande falta de apoio de outras fontes, sendo pouco plausível.
9
(LASOR, HUBBARD, & BUSH, p. 342)

2
inicialmente realizado junto com a conquista babilônica do Oriente Próximo logo após a
profecia de Sofonias.”10

3. Na chamada ao arrependimento e julgamento das nações (2.1-3.7)


O juízo no Dia do Senhor estende-se à Filístia, Moabe, Amom, Cuxe (Etiópia) e Assíria. “Os
oráculos de Sofonias contra nações específicas focam a totalidade da destruição prestes a
ocorrer nos inimigos de Deus (2.5, 9, 13-15).”11 Por isso, os ímpios são avisados, abrindo-lhes
uma oportunidade de escape naquele dia, demonstrando misericórdia e graça para com os
gentios também. Contudo, é evidente um apelo ao arrependimento do remanescente fiel. A
secção termina com o veredito de que Jerusalém não escaparia do juízo, visto não ter dado
ouvidos aos alertas do Senhor.

III. O ESTABELECIMENTO DO REINO FUTURO (3.8-20)


1. Julgamento final e adoração universal (3.8-13)
As sanções de juízos terminam como começam, ou seja, aludindo a um julgamento universal
(v.8). Conforme já vimos, o Dia do Senhor teria aplicabilidade imediata, contudo, a profecia
aponta para um julgamento final (Ap 20.12). “(…) O julgamento declarado contra Judá não era
visto de forma isolada, mas como parte do programa geral de Javé articulado no conceito do
dia do SENHOR.”12 Tal como o juízo, a bênção e adoração futura é apresentada como sendo
universal. Archer, Jr. afirma: “A era futura será de fé universal, e todas as nações, inclusive as
de além dos rios de Etiópia, servirão ao Senhor com consentimento comum, falando a mesma
linguagem da fé (3.9-10).”13 Essa adoração será caracterizada por lábios puros, sem mentira e
enganos (v.9, 13), do geral (os povos) para o particular (remanescente de Israel).

2. O remanescente jubiloso e o Reino do Messias (3.14-20)


Apesar de Sofonias ver um juízo divino drástico, este não era o fim. Como tal, seguido da
promessa de bênçãos, há incentivos ao louvor e regozijo, “não somente pelo que Iavé fez no
passado (v.15a) e também pelo livramento futuro (v.17), mas pela própria presença de Iavé no
meio da nação como o rei amoroso que inspira confiança (vv.15-17).”14 O términos da profecia
lembra-nos que aquele dia está cheio da Graça de Deus, deixando o pecado de existir.

10
(ZUCK & MERRIL, p. 451)
11
(ZUCK & MERRIL, p. 450)
12
(HILL & WALTON, p. 583)
13
(ARCHER, Jr., p. 294)
14
(BAKER, AKEXANDER, & STURZ, p. 406)

3
Claramente trata-se de uma referência ao Reino do Messias. Este reino será caracterizado por
um povo de lábios puros (sem pecado) (v.9, 13); fieis de várias partes do mundo (v.10);
confiança no nome do Senhor (v.12); o Messias será o Rei (v.15); um povo sem medo (v.16);
onde o Senhor estaria presente (v.17); os afligidos durante a vida receberão um louvor e serão
conhecidos em toda a terra (v.19) e ainda será caracterizado pela recolha dos fieis para a
presença do Senhor.

4
CONCLUSÃO
No fim do estudo, notamos que na profecia de Sofonias existe graça e misericórdia. “O
julgamento divino é retratado principalmente pela imagem do dia do Senhor, enquanto a graça
divina, em particular motivo do remanescente e da restauração.”15 Assim podemos destacar
alguns aspetos teológicos principais de Sofonias:

1. O Dia do Senhor como tema central. Trata-se de um dia em que o Senhor fará justificar
a Sua honra, ao aniquilar o pecado entre gentios e judeus (2.4-15; 1.14-2.3). A ideia
de o universo voltar ao ponto de partida (1.3), alude-nos para um futuro escatológico
em que o pecado será abolido da terra, através da criação de novos céus e na terra (Ap
21.1-8).
2. A identificação do remanescente fiel, fala-nos da existência do povo de Deus e como
este é concentrado neste remanescente santo, puro e herdeiro das bênçãos e promessas
divinas, que mais uma vez usufruirão. Para estes, há promessa de esconderijo naquele
dia (2.3b). “A fúria divina que Sofonias antecipa purgará a nação, de forma que um
remanescente sem pecado surgirá (3.13); esse remanescente será reunido a partir das
nações, restabelecido à terra e à graça divina (2.7; 3.19-20).”16
3. Por último, Sofonias relembra que o Senhor é o Deus universal, e não apenas da nação
israelita. O domínio e governo universal é evidente; Ele é o criador, e sempre teve uma
intensão graciosa com todas as nações (Gn 12.3; 22.18); reunirá as nações para os seu
juízo (Sf 3.8), receberem graça (v.9); e o nome do SENHOR será invocado,
pressagiando o reino estabelecido de Cristo.

A alusão que Sofonias faz do Dia do Senhor, é estendido ao Novo Testamento. Paulo faz alusão
ao Dia do Senhor, antecipando o final da história pela presença e justiça de Deus. Também,
João descreve O Senhor como um Guerreiro vindo com o Seu exército para juízo (Ap 19.11-
16).

Junto com outros profetas, Sofonias vislumbrou um dia quando todas as nações
reconheceriam e adorariam o Deus de Israel (3.9-1 O). Para a igreja, o novo Israel
composto igualmente de judeus e gentios (Gl 3.8-9,14,26-29), essa é a realidade
atual. A igreja também vive com o conhecimento e a esperança de que o mundo
ainda reconheça a lei de seu verdadeiro Rei (Fp 2.9-11).17

15
(DILLARD, p. 400)
16
(DILLARD, p. 401)
17
(DILLARD, p. 401)

5
BIBLIOGRAFIA

Archer, Jr., Gleason L. (1984). Merece confiança o Antigo Testamento? (3ª ed.). São Paulo:
Edições Vida Nova

Baker, D. W., Alexander, T. D., & Sturz, R. J. (2001). Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque e Sofonias introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova.

Dillard, R. B. (2006). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova.

Hill, A. E., & Walton, J. H. (2007). Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida.

Lasor, W. S., Hubbard, D. A., & Bush, F. W. (1999). Introdução ao Antigo Testamento (1a ed.).
São Paulo: Edições Vida Nova.

Pearlman, Myer (2006). Através da Bíblia livro por livro (2ª ed. rev. e atual.). São Paulo: Editora
Vida.

Robertson, P. (2011). Comentário do Antigo Testamento: Naum, Habacuque e Sofonias (1a


ed.). São Paulo: Cultura Cristã.

Zuck, R. B., & Merrill, E. H. (2009). Teologia do Antigo Testamento (1a ed.). Rio de Janeiro:
CPAD.

6
ANEXO 1
1. ‘Por isso, serão saqueados seus bens e assoladas suas casas; e edificarão casas, mas não
habitarão nelas’ (Sf 1.13)

‘Edificarás casa, porém não morarás nela’ (Dt 28.30)

2. ‘Plantarão vinhas, porém não lhes beberão o vinho’ (Sf 1.13) ‘Plantarás vinha, porém não a
desfrutarás’ (Dt 28.39)

3. ‘Aquele dia é dia de indignação, dia de angústia’ (Sf 1.15)

‘Na angústia e no aperto com que teus inimigos te apertarão’ (Dt 28.53,55,57)

4. ‘Um dia de trevas e negrume, dia de nuvens e densas trevas’ (Sf 1.15)

‘O monte... e havia trevas e nuvens e escuridão’ (Dt 4.11)

5. ‘Eles andarão como cegos’ (Sf 1.17)

‘Apalparás... como o cego apalpa’ (Dt 28.29)

6. ‘Pelo fogo de seu zelo a terra será consumida’ (Sf 1.18)

‘A zelos me provocaram... um fogo se acendeu em meu furor... consumirá a terra e suas messes’
(Dt 32.21-22)

7. ‘O Senhor é justo... ele não comete iniquidade’ (Sf 3.5) ‘Deus... não há nele injustiça; é justo
e reto’ (Dt 32.4)

8. ‘Regozijar-se-á em ti com júbilo’ (Sf 3.17)

‘Assim como o Senhor se alegrava... em fazer-vos o bem... o Senhor se alegrará em vos fazer
perecer e vos destruir’ (Dt 28.63) ‘O Senhor tomará a exultar em ti para te fazer bem’ (Dt 30.9)

9. ‘E farei deles um louvor e um nome’ (Sf 3.19)

‘Farei de vós um nome e um louvor entre todos os povos da terra’ (Sf 3.20)

‘Para, assim, te exaltar em louvor, renome e glória sobre todas as nações’ (Dt 26.19).18

18
(ROBERTSON, p. 322)

7
ANEXO 2

Ilustração 1 Paralelismo concentrico em Sofonias19

19
(BAKER, AKEXANDER, & STURZ, p. 372)

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