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TRIBUNAL MARÍTIMO

JN/SBM PROCESSO Nº 31.801/17


ACÓRDÃO

L/M “RENATO E REBECA”. Acidente da navegação. Naufrágio de


embarcação brasileira em águas interiores, sem registro de danos pessoais e
nem ambientais. Baía de Sepetiba, Mangaratiba, RJ. Causa não apurada.
Infrações ao RLESTA. Arquivamento.

Vistos e relatados os presentes Autos.


Consta dos Autos que no dia 04/09/2016, cerca de 10h, ocorreu o naufrágio
da embarcação “RENATO E REBECA”, quando navegava nas proximidades da ilha do
Martins, baía de Sepetiba, Mangaratiba, RJ, caracterizando o acidente da navegação
capitulado no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54. Não houve registro de danos
pessoais e nem ambientais.
A embarcação “RENATO E REBECA” do tipo lancha a motor é de
propriedade de Renato Dias, entretanto Adailton da Silva Barcelos declarou-se
proprietário de fato (fl. 29), era por este conduzida, possui casco de fibra de vidro, 5
metros de comprimento e está classificada para a atividade de esporte e recreio e
navegação interior.
No Inquérito instaurado pela Delegacia da Capitania dos Portos em Itacuruçá
foram prestados dois depoimentos, elaborado o Laudo de Exame Pericial e anexados os
documentos de praxe.
No Laudo de Exame Pericial, fls. 10 a 14, efetuado no dia 03/10/2016, os
Peritos concluíram que a causa do acidente não foi determinada.
Dos depoimentos colhidos, em síntese, extrai-se que Adailton da Silva
Barcelos declarou (fls. 29 e 30) que ao saírem do rio São Francisco rumo à ilha dos
Martins, fundearam a Lancha; que começou a entrar a água, e depois de meia hora entrou
água muito rápido e só deu tempo de colocar os coletes e entrar em contato com a
Capitania; que a lancha naufragou e ficaram na água por um período de uma hora e meia,
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quando apareceu uma traineira e os resgataram; que é o proprietário da embarcação; que
não é habilitado; que havia seis passageiros e um condutor; que o tempo estava bom e o
mar tranquilo; que havia coletes salva-vidas para todos que estavam a bordo; que a
lancha foi encontrada na praia de Coroa Grande já reflutuada, com um desconhecido; que
a embarcação estava operando normalmente, havia bomba de esgoto automático e este
sistema estava funcionando normalmente; e que provavelmente a lancha colidiu com
algum obstáculo, pois após a reflutuação a mesma se encontrava com um furo no fundo.
No Relatório de IAFN, fls. 44 a 49, o Encarregado concluiu que apenas o
fator operacional contribuiu para o acidente, pois houve excesso de lotação.
Apontou Adailton da Silva Barcelos como possível responsável pelo acidente
da navegação.
Notificado da conclusão do Inquérito (fl. 58), o Indiciado não apresentou
defesa prévia.
A D. Procuradoria Especial da Marinha, após análise dos Autos, ofereceu
representação em face de Adailton da Silva Barcelos, com fulcro no art. 14, alínea “a”, e
no art. 15, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54, fundamentando às fls. 66 a 68.
Na Sessão Ordinária nº 7.284ª, do dia 01/11/2018, o Tribunal, por
unanimidade, decidiu publicar Nota para Arquivamento.
Publicada Nota para Arquivamento em 13/12/2018. Prazos preclusos sem
manifestações de terceiros interessados, conforme a certidão à fl. 78.
É o Relatório.
Decide-se.
Diante dos elementos trazidos aos Autos, verifica-se que a causa
determinante do acidente da navegação não foi apurada com a devida precisão, conforme
a conclusão dos Peritos.
Os Peritos apontaram que “(...) havia rachaduras no casco da Lancha
visualizadas após a sua re-flutuação, mas não sendo possível determinar essa a causa do
acidente, uma vez que a mesma ficou naufragada por alguns dias e foi achada nas
proximidades da margem da praia em Coroa Grande” (fl. 12). Ademais, concluíram pela
indeterminação da causa do acidente.
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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 31.801/2017........................................)
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O Encarregado do Inquérito discordou dos Peritos, concluiu que o fator
operacional contribuiu para o acidente, pois houve excesso de lotação (excesso de um
passageiro) (fl. 48) e apontou o Condutor não habilitado como possível responsável pelo
acidente, por imperícia.
A PEM concordou em parte e representou em face do condutor Adailton da
Silva Barcelos (fl. 68), por imprudência, por não possuir habilitação para a função e ter
navegado com um passageiro em excesso.
Verifica-se que o naufrágio ocorreu, possivelmente, em razão da entrada
descontrolada de água pelas rachaduras apontadas na Perícia, porém estas não tiveram a
causa determinada. Portanto, não foi possível apurar a causa determinante do naufrágio.
Embora o Condutor não possuísse habilitação e transportasse um passageiro
em excesso, tais infrações devem ser sancionadas pela aplicação do RLESTA.
Desta forma, a representação não deve ser recebida, arquivando-se os Autos.
Constatou-se, ainda, que o proprietário de fato não formalizou a transferência
da propriedade na Capitania dos Portos, conduziu a lancha sem possuir habilitação e
transportou um passageiro em excesso. Embora tais fatos não guardem relação de
causalidade com o acidente da navegação, configuram infrações aos art. 11, art. 16,
inciso I, e art. 22, inciso II, do RLESTA, que devem ser oficiadas ao agente da
Autoridade Marítima.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: naufrágio da L/M “RENATO E
REBECA”, quando navegava nas proximidades da ilha do Martins, baía de Sepetiba,
Mangaratiba, RJ, sem registro de danos pessoais e nem ambientais; b) quanto à causa
determinante: não apurada com a devida precisão; c) decisão: não receber a representação
em face de Adailton da Silva Barcelos, por insuficiência de provas e julgar o acidente da
navegação, capitulado no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54, como de origem
desconhecida, mandando arquivar os Autos; e d) medidas preventivas e de segurança:
oficiar à Delegacia da Capitania dos Portos em Itacuruçá, agente da Autoridade
Marítima, as infrações aos art. 11, art. 16, inciso I, e art. 22, inciso II, do RLESTA,
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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 31.801/2017........................................)
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cometidas por Adailton da Silva Barcelos, para as providências cabíveis, com
fundamento no art. 33, parágrafo único, da Lei nº 9.537/97.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 08 de agosto de 2019.

SERGIO BEZERRA DE MATOS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 15 de outubro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.11.17 16:29:12 -03'00'

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