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Autobiografia Intelectual Karl Popper PDF
Autobiografia Intelectual Karl Popper PDF
EDITORA CULTRIX
AUTOBIOGRAFIA
INTELECTUAL
Karl Popper
A. B rito da C un h a
(da Universidade de São Paulo)
AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL
K arl (Rainiurid) PO PPER '
Bibliografia.
1. C icncia — Filosofia 2 . Filosofia inglesa
3. Popper, K arl Raimund, 1902- I . T ítu lo .
■ 'jj-
C D D -S 2 1 .2
«192
77 -0 3 3 6 -501
AUTOBIOGRAFIA
INTELECTUAL
Tradução de
L e o n id a s H eg en berg
e
OcTANNY SlLVJEERA DA MoTTA
ED ITO RA G U L T R IX
SÃO PAULO
Título do original:
TJNENDED QUEST
A jm I n t e l l e g t u a l A u -t o b io g r a p h y
Edição Ano
A gradecim entos 1j
01; Onisciência e falibilismo 13
02. Lem branças d a infância 14
03. Prim eiras influencias 16
04. A Prim eira Grande Guerra 19
05. U m antigo problema filosófico: o infinito 21
06. M inha prim eira falha filosófica. O problema do essenciàiismo 23
07. L onga digressão a respeito do essenciàiismo: aquilo que ainda
m e separa d a maioria dos pensadores contemporâneos 24
08. U m ano im portante: marxismo, ciência e pseudociência 37
09. Primeiros estudos 45
10. Segunda digressão: pensamento dogmático e critico ; aprender
sem auxílio da indução 50
11 * Música 60
12. Especulações em torno do surgimento da música polifônica: psico-
. logia, da descoberta ou lógica da descoberta? 62
13. Dois tipos de música 67
14. Idéias progressistas em A rte, especialmente em M úsica 75
15. Ültim os anos de Universidade 79
16. T eo ria do conhecimento: Logik d er Forschung 86
1 7 . - Q uem m atou o positivismo lógico? 95
18. Realismo e teoria quântica 98
19. O bjetividade e Física 104
20. V erd ad e; probabilidade; corroboração 106
21. A guerra próxim a: o problema judeu 113
22.- E m ig ração : Inglaterra e Nova Zelândia 116
23. Primeiros trabalhos na Nova Zelândia 1 19
24. “A Sociedade Aberta” e “A Indigência do' Historicismo” 122
25. O utros trabalhos realizados na Noya Zelândia- 128
26. Inglaterra: na “ London School of Economics and Political Science” 129
27. Primeiros trabalhos na Inglaterra 134
28. Prim eira visita aos E .U .A . Encontro com Eiiistein 136
29. Problemas e teorias 140
30. Debates com Schrodinger 144
3 1 O b j e t i v i d a d e e crítica
32. Indução; dedução; verdade objetiva
3 3. Programas de pesquisa metafísica
3 4. Combatendo o subjetivismo em Física: a M ecânica Quântica
/•propensão
35. Boltzinann e a direção do tempo
•3 6 . A teoria subjetivista ‘ d a entropia
;37. O darwinismo como program a metafísico de pesquisa
i38. Mundo 3, ou o T erceiro. M undo
39. O problema corpo-m ente e o M undo 3
40. A posição dos valores num mundo dè fatos
>-t.
Notas
Principais publicações e abreviações dos títulos
Bibliografia selecionada
índice Remissivo
AGRA D E G I M E N T O S
11
to
) r Jt í
O que exclu ir e . o que incluir ? Esse é o p r o b l e m á .
H ügh L o ftin G j D o c t o T D o o lit t íe Js Z o o .
1 . Qnisciêucia e falibilismo
u
. ápénás; em dar-me eu conta mais amplamente do infinito de minha
ignórância.
Essas e outras reflexões, que se colocavam no campo da Epis-
temologia, ocupavam-me o espirito enquanto eu trabalhava com
uma. escrivaninha. Recebemos, por aquela époça> uma grande en-
, comenda de trinta escrivanilihas de mogno, com muitas gavetas.
Receio que a qualidade de algumas daquelas escrivaninhas, espe
cialmente no tocante ao envemizamento, haja deixado muito a de
sejar, em razão de minhas preocupações com a Bpístemología. Isso
mostrou a meu mestre, e a mim também, que eu era demasiado
ignorante e demasiado falível para semelhante espécie de trabalho.
Assim, decidi que, ao completar o aprendizado^ em outubro de 1924,
eu deveria procurar algo mais fácil de fazer do que escrivaninhas de
mogno. Durante um ano, dediquei-me ao trabalho social com crian
ças abandonadas, trabalho que já executara a n te s e havia conside
rado muito árduo. Mais tarde, após cinco anos devotados princi
palmente a estudar e escrever, casei-me e entreguei-me, com satis-r
fação, ao mister de professor. Isso foi em 1930.
Naquela ocasião, eu não tinha outras ambições profissionais
que nao a de ensinar, embora viesse a sentir-irie um tanto cansado
de. tal função, após ver publicada a minha Logik der Forsehung, em
fins de 1934. Foi, portanto/com satisfação que, em 1937, tive opor-
' tunidade de abandonar o ensino e tornar-me um filósofo profissional.
Eu havia quase atingido os trinta é cinco anos e julguei que, final
mente, resolvera o problema de trabalhar numa escrivaninha e, ape
sar; disso,; preocupar-me com Episteinologia.
2 . Lembranças da infância
Conquanto a maioria de nós conheça a data e lugar de nasci
mento; mo imeu caso, 28 de julho. de 1902, em Himmelhof, no
distríto=.db Obet -St; Veit, em Viena — , poucos sabem como e quan
do iniciáram;ssua? ;vida. intelectual; No que respeita a meu desen-
volvimento : filosóficoy .lembro~me- de alguns de. seus. primeiros está
gios. E não faáv duvida* de que éle éoineçou depois de principiado
meu desenvolvimento emocional e moral. :
Em criança, tenho‘ a impressão de ter sido algo severo e até
mesmo presumido, : embora: essa : atitude; ise-- temperasse com o sen-
timento de .que eu. não ,tinha. o' direito ,de. jjilg&r pessoa alguma salvo
eu próprio. Dentre as. minhas Jembranças mais recuadas, estão senr
timentos .de admiração pelos mais; velhos* ;çpmo por meu primo .Eric
Schiff, a quem eu, admirava por ser um: ano maí§ velho, por sua
aparência bem euidâda e, especialmente, pela süa beleza —- dons
que sempre considerei importantes e inatingíveis.
Hoje, ouve-se dizer com freqüência que: as crianças são' cruéis
por natureza, Não creio, Eu era. quandò criança, o que os norte-
-americanos denominariam “molenga” e a compaixão é: uma das
mais fortes emoções dè que. tenhó recordação; ^ÍPoi o componente
principal de j^ha-^pifeièirá/- amor, octírrida quaiido
eu tinha quatro ou- cinco anos. Fui leyádo a uní jardim de infância,
onde havia uma linda ijiefiàha ide dpis!;aüõs^ cega.. ’ ’Meu* coração se
dilacerou, tanto pela feelèzàvrdo sorrisQvjielfr quanto ‘ pela tragédia
de sua cegueira. -Efal ainorià- Jamàis "a 'estjueci, a^esár
de tê-la encontrado apenas uma véz é tãò^oménte por uma -hoía oü
duas. Não voltei- ao! jardiln dè irifâiiGia ; íálvi^z: ;minha ‘mãe: Jivessc
notado o quanto ali jae períurbeil " - •: ;- í
A visão ' da pobreza abjeta, em- "Viena, foi1. uih^dòkr píiiicipais.
problemas a me comoverem quando eu era1 ainda. 'Criança; >— e. a
comoção era tanta que estava sempre no fundo- dè -irietis pensa
mentos, Poucas, dentre, as pessoas que vivem atu alm en te numâ :;das
democracias ocidentais, sabem o que significava a pobreza no começo
deste século: homens, mulheres e crianças vítimas da fome, dò
frio e da desesperaria. Nós, crianças, éramos, porém, inütèis. Não
podíamos' fazer mais que pedir alguns centavos para dár a um
pobre.
So muitos anos depois vim a saber que meu pai se esforçara
longamente para pôr paradeiro a tal situação, embora jamais hou
vesse falado acerca dessas atividades. Ele trabalhava em duas co
missões que buscavam oferecer abrigo para os sem-lar: uma loja
máçônica, de que durante longo tempo ele foi Mestre, administrava
u m a casa para órfãos, enquanto a outra comissão (não-maçônica)
erigira e mantinha uma grande instituição para adultos e famílias
desabrigadas. (Um dos internados nessa instituição — o Asyl für
Obdachlose foi Adolf Hitler, quando de sua primeira passagem
por Viena.)
O trabalho de meu pai recebeu inesperado reconhecimento ao
dar-lhe o velho Imperador o título de Cavalheiro da Ordem de
Francisco José (Rièter des Franz Josef Ordens), o que deve ter cons
tituído não apenas uma surpresa, mas um problema. Com efeito,
embora, à semelhança da maioria dos austríacos, respeitasse: o Impe
rador, meu pai era um liberal radical, da escola de John Stuart
Milí e de modo algum apoiava o governo. -
Na condição de maçom, pertencia a uma sociedade que, na
ocasião, foi declarada ilegal pelo governo austríaco, embora o go-
V
^firno^íhungajio! d& Francisco José não fizesse o mesmo. Os maçons
freqüentemente se reuniam do lado de lá da fronteira húngara, em
P.ressburg:. (hoje Bratislava, na Checoslováquia). O Império Austro-
“Hungarp, apesar de ser monarquia constitucional, não era gover
nado por seus dois Parlamentos: não. tinham estes o poder de depor
os.: dois: Primeiros-Ministros ou os dois Gabinetes, e nem mesmo o
poder de emitir um voto de. censura.. O Parlamento Austríaco era,
ao. que parece, ainda mais impotente do que o Parlamento inglês ao.
tempo dè. William e Mary, se é que esta comparação tem algum
cabimento. Travaram-se lutas pelo poder e havia severa censura
política; por exemplo, uma brilhante . sátira política, Anno 1903,
que .meu pai escrevera com.; o pseudônimo de Siegmund Karl Pflug,
foi apreendida pela polícia, . quando de sua publicação em 1904, e
até 1918 permaneceu no Index de livros proibidos.
Nãò obstante tudo isso, naqueles dias anteriores a 1919 rei
nava, na Europa, a oeste da Rússia czarísta, uma atmosfera, de libe
ralismo, atmosfera: que também dominava a Áustria e que foi
destruída, para. sempre, ao que. hoje ;parece, pela Primeira Guerra
Mundial. A Universidade de Viena, com seus muitos professores
de grande eminência, gozava de elevado grau de liberdade é auto
nomia. O mesmo era verdade com relação aos teatros, importantes
na vida dê Viena — quase tao importantes quanto a música. O
Imperador se mantinha .à distância de todos os partidos políticos
e não se identificava com nenhum dos governos. Seguia, quase ao
pé . da letra, o conselho dado por Sdren Kierkegaard a Cristiano
V III,. da Dinamarca
3 . Primeiras influências
16
raçado quando ele insistiu. E a completa simplicidade, clareza e
sinceridade de seu discurso me impressionaram muito.
Meu pai trabalhava ativamente na profissão. Havia sido amigo
e .sócio do último burgomestre liberal de Viena,, o Dr. Gari Grübl, a
quein sucedera a testa de um- escritorio de advocacia. Esse escritório
se integrava ao . grande apartamento onde vivíamos, no coração de
Viena, em frente à porta principal da catedral (Stephanskirche).
Papai trabalhava no escritório por longas horas, mas, em verdade,
era antes homem de estudos que advogado- Historiador (parte - con
siderável de sua biblioteca dizia' réspeitq à H is tó ria )tin h a par
ticular interesse pelo período helenístáco e. pelos séculòs X V III e
X I X . Fez poesia e verteu para o alemão versos gregos e latinos.
(Raramente falava de tais assuntos. Fòi por acaso que^ certo dia,
descobri algumas ágeis traduções de versos de Horácío. Seus dons
característicos eram a delicadeza de trato e o forte senso de humor.)
Mostrava grande inclinação péla Füosofia. A ele pertenceram obras
que ainda possuo, de Platão, Bacon, Descartes, Spinoza, Locke,
Kant, Schópenhauer e Eduard Von Hartmann; obras escolhidas de
J. S. Mill (em versão alemã, editada por Theodor Gomperz (a
cujos Pensadores Gregos devotava grande admiração) ; a maior parte
dos livros de Kierkegaard, Nietzsche e Eucken,. e os trabalhos de
Ernst Mach, a Crítica de Linguagem, de Fritz Mauthner e Geschlecht
und Charakter, de Otto Weininger (obrais que parecem ter exercido
alguma influência sobre Wittgenstein)3; e traduções da maior parte
dos livros de Darwin. (Em seu escritório, havia os retratos de Dar-
win e de Schópenhauer!) Ali estavam também os autores consa
grados da literatura alemã, francesa, inglesa, russa e escandinava.
Uma das grandes preocupações de meu pai eram, entretanto, os
problemas sociais. Não apenas possuía as principais obras de Marx
e Engels, de Lassalle, Karl KLautsky e Eduard Bernstein, mas ainda
as dos críticos dç M arx: Bõhm-Bawerk, Gari Menger, Anton Men-
ger, P. A. Kropotkin e Josef. Popper-Lynkeus (ao que parece, dis
tante parente meu, pois nascera em Kolin, cidadezinha de origem
de meu avô paterno). A biblioteca incluía um setor dedicado ao
pacifismo, com livros de Bertha von Suttner, Friedrich Wilhêlm
Fõrster e Norman Angell.
Assim, os livros fizeram parte de minha vida muito antes que
eu pudesse lê-los. O primeiro livro a causar-me impressão forte e
duradoura foi lido, por minha mãe, para minhas duas irmãs e para
mifflj pouco antes de eu aprender a, ler. (Fui eu o último dos três
filhos.) Era um livro para crianças, da.grande escritora sueca Selma
Lagerlõf, em bela, versão alemã ( Wunderbare Reise des Kleinen
N ils:-;-.lio Igersson mii den Wildgãnsen^ dC versão inglesa se intitula
The 'Wònderful Adventures of Nils.) Durante muito e muito tempo,
relij.èsse: livro pelo menos uma vez .por ano; e, posteriormente, li
(prpyavelmente mais de uma vez) tudo quanto Selma Lagerlõf,
escreveu. Não aprecio sèu primeiro jomance, Gosta Berling, embora
ele tenha, indubitavelmente^ muitas qualidades. Todos os outros
livros, dessa escritora continuam a ser. para mim, todavia, obras-
-primas. ••
.Aprender a ler e, em menor grau, a escrever são, naturalmente,
os^acontécimentos mais significativos. no.. desenvolvimento intelectual
de ;úma pessoa. Nada há comparável, pois . poucas são as pessoas
(Heien Keller é a grande exceção) capazes de recordar, o què para
ela?;. significou aprender a falar. Serèi sempre grato a minha pro
fessora,. Emma Goldberger, que jne ensinou a ler, escrever e. contar,
Issò , é, creio eu, o que há de. essencial para ensinar a uma criança;
e, para aprendê~lo} algumas crianças nem sequer precisam ser ensi
nadas. Tudo o mais é atmosfera e aprendizado através ,de leitura
e reflexão.
Sem contar meus pais, minha professora e Selma Lagerlõf,. a
maior •influência exercida sobre os primeiros estágios de meu de
senvolvimento intelectual foi, julgo eu, a de um amigo de toda a
vida, Arthur Arndt, parente de Ernst Moritz von Arndt, um dos
famosos, patriarcas do nacionalismo alemão no período das guerras
napoleônicas V Arthur Arndt era antinacionalista ardoroso. Embora
de; ascendência alemã, nascera em Moscou, onde passou a juven
tude. Era mais velho do que eu cerca de vinte anos — ele estava
próximo; dos trinta quando o conheei em 1912. Havia estudado
engenharia .na. Universidade de Riga e fora um dos líderes estu
dantis durante a ^malograda revolução russa de 1905. Era socialista
e., ao mesmo tempo, feroz adveísárip dos bolcheviques, alguns de
eujos- chefes conhecia pessoalmente desde 1905. Descrevia-os como
jesuítas-: do í socialismo, istO' é, capazes? de- sacrificar pessoas inocentes,
mesma qüe da; -mesma, orientação, pois os: grandes fins justificavam
todos os-ineios. >Arndt não era marxista convicto, embora conside-
rasse? ;que, -atét aquelas íéppca, fora Ivíarxi o; mais importante teórico
do socialismo. Ele encontrou em mim álguétn assaz disposto a
ouvir íalar, das. idéias socialistasnada, acreditava, eu, podia ser
màis.importante do,. .que- pôr .fim à. pobreza.
Arndt também se interessava .profundamente (muito mais do
que meu pai) pelo movimento qiie os: .discípulos de Ernst Mach e
Wilhelm Ostwald haviam; iniciado,, aima sociedade cujos membros
denominavam a si próprios^ “rnonistas’.5- ( e q u e tinha ligação com
a célebre revista norte-americana The Monist, de que Maçíl era
colaborador). Os monistas. sentiam-se atraídos pela Ciência, pela
Epistemologia e pelo que hoje chamaríamos Filosofia da Ciência.
.Entre os. monistas .de.: Viena, o 'ímeío-socialistaí, Popper-Lynkeus
teve considerável número de seguidores, inclusive, Otto jNeurath.
A primeira obra, que li acerca do socialismo- (provavelmente
sob influência de meu amigo, Arndt;: meu pai. relutava em influen
ciar-me) foi Looking; Backwurd, de Edward Bellamy. -Creio que/ a
li quando tinha mais, ou menosdozeianos, e^oílivro ;muito me irnpres-
{ sionou. Arndt levava-me a passeios^promo.vidos pelos monistas nos
bosques de Viena,. e, nessas ocasiões-, expunha e discutia-marxismo
e darwinismo. A maior parte do ;que ele: .dizia.ficava* ;sem dúvida,
, além de meu alcance; Mas era interessante e estimulante.
Uma dessas excursões domingueiras dos marxistas realizou-se
no dia 28 de junho de 1914. Ao cair da noite, quando: nos aproxi
mávamos dos subúrbios de Viena, soubemos, que o arquiduque Fer-
dinando, herdeiro presuntivo da Áustria, havia sido assassinado em
Sarajevò. Cerca de uma semana dçpois, minha mãe saiu comigo e
minhas duas ■irmãs para gozar férias de verão em Alt-Aussee, aldeia
não muito distante de Salzburgo. Ali, rio meu décimo segundo ani-
| versário, recebi carta de mêu pai em que ele dizia sentir não poder
| juntar-se a nós, como pretendera, "porque, infelizmente, há guerra”
(“denn es ist leider Krieg” ). Como a carta chegou no dia em que
í houve a declaração de guerra entre a Áustria-Hungria e a Sérviaj
í. parece que meu pai dava-se conta do que estava por vir.
V 1 ' ^
4 . A Prim eira Grande Guerra
Tinha eu portanto doze anos quando começou a Primeira
\ Grande Guerra; e os anos de conflito e suas conseqüências foram,
r sob todos os aspectos, decisivos no que respeita a meu desenvolvi
mento intelectual. Tornaram-me um crítico das opiniões correntes,
* especialmente das opiniões políticas.,
Claro está que, por aquela época, poucas pessoas sabiam o que
a guerra significava. Corria por todò o país um ensurdecedor brado
de patriotismo, peío qual até. mesmo alguns membros do nosso grupo,
anteriormente alheio às provocações de guerra, foram envolvidos.
Meu pai vivia triste e deprimido. Arndt, contudo, entrevia algo
desejável. Esperava ocorresse uma revolução democrática na Rússia.
I .Posteriormente, recordei com freqüência, aqueles dias. Antes
da guerra, muitos. integrantes, de nosso grupo haviam examinado
teorias políticas de cunho decididamente pacifista que, pelo menos,
19
faziam fortes restrições ao sistema existente, e tinham dirigido críti
cas à aliança entre a Áustria e a Alemanha e à política expansio-
nista da Áustria, nos Bálcãs, especialmente na Sérvia. Desconcerta
va-me o fato de que pudessem eles transformar-se subitamente em
defensores dessa mesma política.
Hoje entendo melhor tais coisas. Não havia apenas a pressão
da opinião pública; havia também o problema das realidades divi
didas. E havia ainda o medo — o meda das medidas violentas que,
na guerra, as autoridades têm de tomar contra os dissidentes, pois
não há como traçar nítida linha divisória entre dissensao e traição.
Na época, contudo, seriti grande perplexidade. Nada sabia, natural
mente, do que tinha ocorrido com os partidos socialistas da Alema
nha e da França; nadá sabia do modo por que o internacionalismo
defendido por eles se hâvia desintegrado. (Maravilhosa descrição
desses acontecimentos pode ser lida nos últimos volumes de Os
Thibault^, de Roger Martin du Gard.)
Durante algumas semanas, sób influência da propaganda de
guerra feita em minha escola, deixei-me contaminar pela atmosfera
geral. ’ No outono de 1914, escrevi um ridículo poema, “Celebração
da Paz”, onde admitia que os austríacos e alémães haviam resistido
vitoriosamente ao ataque (acreditava, então, que "nós” tivéssemos
sido'atacados) e descrevia e louvava a restauração da paz. Conquanto
não se tratasse de um poema de caráter muito belicoso, logo me
envergonhei cóm a suposição de que; “nós” houvéssemos sido ataca
dos. Percebi que a agressão austríaca à Sérvia e a agressão alemã
à Bélgica eram coisas terríveis e que um poderoso sistema de pro
paganda estava tentando persuadir-me de que tais agressões tinha
justificativa. No inverno de 1915-16, convenci-me — sem dúvida
sob influência da propaganda socialista de pré-guerra — de que
era má a causa da Áustria e da Alemanha, de que merecíamos perder
a guerra (e de que, portanto, a perderíamos, como eu ingenuamente
argumentava).
Certo dia, penso que em 1916, abordei meu pai com o fito de
mostrar-lhe uma justificação razoavelmente bem preparada dessa
posição, mas ele foi menos receptivo do que eu esperava. Tinha
mais dúvidas do que eu acerca dos erros e acertos da guerra e de
seu resultado. Á um e outro respeito, cabia-lhe razão e, obviamente,
eu vira as coisas de maneira demasiadamente simplificada. Não
obstante, ele considerou com grande seriedade meus pontps de vista
e, depois de longo debate, mostrou-se inclinado a concordar com
eles. O mesmo ocorreu com meu amigo Arndt. Depois disso, pou
cas dúvidas me restaram.
20
A essa altura, todos os meus primos com idade suficiente com
batiam como oficiais do exercito austríaco, o mesmo acontecendo
coro muitos de meus amigos. IVtinha mae continuava a levar-nos para
férias de verão nos Alpes e, em 1916, estivemos novamente em
Salzkàmmergut —- dessa vez em Isclil, onde -alugamos uma pequena
casa que se .erguia sobre um talude de madeira. Conosco esteve a
irma de Freud, Rosa Graf, amiga de meus pais. Seu filho Hermann,
só cinco anòs mais velho do que eu,, veio visitar-nos, uniformizado,
em sua última licença, antes de partir para a frente de batalha.
Pouco depois, chegava a notícia de sua morte. O pesar da mãe
— e' da irmã, a sobrinha favorita de Freud1 — foi enorme. Fez-me
compreender o significado das longas e aterradoras listas de pessoas
mortas feridas e desaparecidas.
Logo depois, ressurgiram as questões políticas.' A :velha Áustria
havia sido um Estado multilingual: nela se reuniam checos, eslo-
vacos, poloneses, eslavos do sul (iugoslavos) e gente de . fala italiana.
Começaram a surgir boatos de estarem os checos, eslavos e italianos
desertando do exército austríaco. A desagregação começava. Um
amigo de nossa família, que vinha atuando como auditor militar,
falou-nos a respeito do movimento panreslavo, que, em razão de
suas funçoês, estava compelido a estudar, e falou-nos de Masaryk,
um filósofo saído das universidades de Viena e Praga que se tornara
líder dos checos. Soubemos de um exército checo formado na Rússia
e integrado por prisioneiros de guerra austríacos, de língua checa.
E soubemos de sentenças de morte pronunciadas em casos de trai
ção e do ambiente de terror em que as autoridades austríacas en
volviam as pessoas suspeitas de deslealdade.
n
alguma dificuldade em imaginar uma seqüência de números que
aumentasse continuamente. Disse-lhe que não. Ele me pediu então
que imaginasse uma pilha de tijolos à qual se acrescentasse mais um
tijolo, e mais outro, e assim por diante, interminavelmente; essa
pilha jamais chegaria a ocupar todo o espaço do Universo. Con
cordei, de maneira algo relutante, que se tratava de . uma resposta
conveniente, embora ela não me satisfizesse por completo. Claro
está que eu nao tinha como formular as dúvidas que ainda me
assaltavam: tratava-se da diferença, entre infinito real e infinito
potencial, e da impossibilidade de reduzir o infinito real ao poten
cial. O problema faz parte (a porção espacial) da primeira anti
nomia de Kant e é (especialmente se lhe acrescentarmos a porção
temporal) um problema filosófico difícil e ainda não resolvido6
— sobretudo depois que mais ou menos foram abandonadas as espe
ranças que Einstein teve de solucioná-lo. pela demonstração de que
o Universo é um espaço riemaniano fechado, de raio finito. Não
me ocorreu, naturalmente, que minha perplexidade dizia respeito
a um problema em aberto; muito ;aó; contrário, imaginei que se
tratasse de questão que um adultò inteligente — mèu tio, por exem
plo — deveria entender, ao passo que eu era ainda muito ignorante,
ou talvez muito jovem ou muito estúpido, pára compreendê-lo intei
ramente. Lembro-me de numerosos problemas .semelhantes — pro
blemas genuínos e nao quebra-cabeças — enfrentados mais tarde,
quando eu tinha doze ou treze anos: ò problema da origem da vida,
por exemplo, deixado em ; aberto pela teoria darwiniana, e o de
saber se a vida é simplesmente um processo químico (optei pela
teoria de que os organismos são chamas) . -
Esses, creio eu, são problemas quase inevitáveis para quem,
criança ou adulto, tenha tido contato com Darwin. O fato de o
trabalho experimental estar relacionado com eles nao os torna pro
blemas não-filosóficos. E de modo algum devemos decidir, do alto
de nossa suficiência, qué os problemas, filosóficos não existem ou que
são insolúveis (embora talvez sejam dissolúveis).
Minha atitude perante esses problemas permaneceu invariável
durante muito tempo. Sempre imaginei que as questões que me
preocupavam tivessem sido há muito resolvidas; jamais imaginei que
qualquer delas ; pudesse ser nova. Eu não duvidava de. que pessoas
como o grande Wilhelm Ostwald, editor da revista Das monistische
Jahrhundert (i. e. “O Século do Monismo” ) ; conhecessem todas as
respostas. As dificuldades, julgava eu, deviam-se, totalmente, à mi
nha compreensão limitada.
6 . Minha primeira falha filosoficá: o problema do essencialàsmo
23.
*• ^
viciosasv (quando. chegavam a dizer alguma coisa). Disso, resultou
uiria, ojeriza permanente pelas teorizações a propósito de Deus. (Á
geologia, segundo penso ainda hoje, resulta da falta de fé.) Tam
bém. percebi que a semelhança entre os procedimentos geométricos
,(a? Geometria riie Üavia fascinado, nos tempos de escola) e o more
geometrico spinoziano era superficial. Kant era diferente. Embora
eu achasse a Crítica muito difícil, pude notar que não abordava
problemas ilusórios. Após tentar ler (com .encantamento, mas, se
gundo imagino, sem clara compreensão do assunto) o “Prefácio”
dâ segunda edição da Crítica (edição. <ie Benno Erdmann), lembro-
-me de ter virado as páginas e de pérturbar-me e surpreender~me
cOm o singular arranjo das antinomias. Não compreendi o ponto
em exame. Não entendia o que Kant (ou qualquer outra pessoa)
queria dizer ao asseverar que a razão podia contradizer-se a si
mesma. Ainda assim observei, no quadro correspondente à primeira
antinomia, que alguns problemas reais estavam em pau tá; e notei,
com base no Prefácio, que era necessário compreender Matemática
e Física a fim de debater tais problemas*
Neste ponto, creio que preciso voltar-me para a questão subja
cente àquela discussão, cujo impacto sobre mim ténho presente
ainda hoje. Tratà-se de uma questão que contínua a separar-me da
maioria de meus contemporâneos e que, por haver assumido impor
tância vital em minha vida de filósofo, devo examinar pormenori
zadamente, ainda que isso exija uma longa digressão.
24
Nunca se incline a considerar seriamente problemas relativos a
palavras e seus significados. O que deve ser encarado com seriedade
sao questões de fato e asserções a propósito, de fatosx teorias e hipó
tesesf bem como os problemas que elas resolvem e.. suscitam.
No que segue, aludirei a este conselho que dei -a., mim mesmo
chamando-lhe minha exortaçao ! antiessencialista.i. Dfiscóiisidefsnclò! a
referência às teorias e às hipóteses (que deve ser;-.- provavelmente,
bem posterior), a exortação traduz, com apreciável!/ fidelidade, os
sentimentos que tive ao tomar consciência das armadilhas repre
sentadas pelas preocupações ou discussões em torno- de: palavras £
seus significados. Aí está, segundo ainda hoje me parece,. ;.a. yia
mais segura para a perdição intelectual: abandonar problemas reais
em favor de problemas verbais.
Cumpre ressaltar, porém, que meus pensamentos acerca desse
ponto estiveram, durante longo período, imersos na crença ingênua,
mas firme, de que; tudo isso devia ser bem conhecido, particular
mente pelos filósofos, desde que estivessem suficientemente atualizados.
A crença conduziu-me posteriormente, quando passei a . ler com
a devida atenção as obras filosóficas, à tentativa de localizar meu
problema — o da relativa falta de importância das palavras —
entre os problemas tradicionais da Filosofia. Disso resultou minha
decisão de que o problema estava intimamente associado ao clássico
problema dos universais. Foi um erro de julgamento. Todavia, o
erro índuziu-mè a dar atenção ao problema dos universais e à sua
história; Convenci-me bem depressa de que por trás do clássico
problema das palavras universais e de-seus significados (ou sentidos,
ou denotações) havia um problema de maior profundidade e impor
tância: o problema das leis universais e da sua verdade, isto é, o
problema das regularidades.
O problema dos universais é tratado, ainda hoje, como se fora
um problema acerca de palavras ou de usos da linguagem; ou de
similaridades que se manifestam em certas situações e de como elas
se põem em correspondência com similaridades de nossos simbo
lismos lingüísticos. Parecia-me óbvio, entretanto, que o problema
tinha muito maior, alcance; qúe ele dizia respeito, fundamentalmente,
a reações similares, em situações biologicamente similares, Uma vez
que todas (ou quase todas) as' reações, biologicamente falando,
possuem um valor antecipatório, somos levados a considerar o proble
ma da antecipação ou da expectativa e, por conseguinte, o problema
da adaptação às regularidades. -
: Em toda a minha -vida não apenas acreditei na existência do
que os filósofos denominam “mundo exterior** como também con-
ID ÉIA S
ou sèjitf
D ESIG N A Ç Õ ES ou T E R M O S ENUNCIADOS o u PROPOSIÇÕES
ou C O N C E IT O S ou TEO RIAS
padepi ser forpmlàdas
• em
PA LA V RA S 1 A SSER Ç Õ ES
que podem ser
SIG NIFICATIVAS j VERDADEIRAS
más çuja
SIGNIFICAÇÃO | VERDADE
se reduz, por rtièio de
D E F IN IÇ Õ E S . j DEDUÇÕES
à de
CONCEITOS NÃO-DEFINIDOS. |’ PROPOSIÇÕES PRIM ITIVAS
27
í? j©;-quadro é;.trivial:. está bem firmada a analogia lógica entre
a coluna àa. esquerda e a da direita. Contudo, esse quadro permite
^situai; minha exortação, que pode ser assim reformulada:
. ' • Em que pese a perfeita analogia lógica•entre a coluna da es
querda e a coluna da direita, a primeira é filosoficamente destituída
ãe~importancia, ao passo que a segunda e filosoficamente essencial9.
Isso implica que as filosofias do significado e as filosofias da
linguagem (na medida em que se preocupem com palavras) seguem
trilha errada. No que concerne àos assuntos intelectuais, os únicos
alvos dignos de perseguir são teorias? verdadeiras ou teorias que se
aproximam da verdade — isto é, que estão mais próximas da ver
dade do que outras teorias rivais, mais antigas, por exemplo.
Acredito que a maioria das pessoas concordará com o que
acabo de dizer; inclinar-se-ão essas pesSoas, porém, a argumentar
como segue. Saber se uma teoria é verdadeira, ou nova, ou intelec
tualmente signifiqatíva, é coisa que depende de seu significado; e o
significado de uma teoria (desde que formulada sem ambigüidades*
de um ponto de vista gramatical) é uma função dos significados
das palavras em que a teoria é vazada. (“Função”, neste contexto,
assim como na Matemática, é vocábulo utilizado com o objetivo de
dar conta dà ordem, dos argumentos.)
Essa maneira de conceber p significado de uma teoria parece
quase; óbvia; e amplamente acéita e, freqüentes vezes, inconsciente
mente acolhida10. Apesar disso, quase não há verdade, no que ela
sustenta. Eu: a refutaria sem descer a minúcias, com a. seguinte
fprtnulação:
A relação? entre uxn- enunciado ou uma teoria e as palavras usa
das para formulá-los e semelhante, .sob vários prismas, à relação que
vige: entre palavras,, escritas e as letras utilizadas, para escrevê-las.
Obviamente^. as., "letras^ naç^ “significado”, no sentido em
que a, têm as palavras j todavia, é indispensável conhecer as letras
(ou seja,: seus “significados”, em. algum, outro sentido) para reco
nhecer as palavras; e, assim, discemlr-lhes- os significados. Aproxi
madamente, esm ole- podè dizer de palavras e enunciados ou
teoriasv
s ’ As. letras, têm 'um papél meramente pragmático, ou técnico, na
formação das palavras, No meu. entender, as palavras também de
sempenham um : papél ^simplesmente pragmático, ou técnico, na for
mulação de teorias» Assim, ietras-^e palavras são. apenas meios para
certos fins (e fins diversificados).:- -E os únicos fins intelectualmente
importantes, são; a formulação de problemas; a apresentação, em
caráter de tentativa, de teorias que possam resolvei* esses problemas;
e a discussão crítica de teorias rivais. A discussão crítica aprecia as
teorias em termos de seu valor racional ou intelectual, como solu
ções para o problema em pauta* e no que diz. respeito. à sua verdade
ou aproximação da verdade. A. verdade é o princípio regulador
fundamental quando se efetua a crítica das teorias; outro princípio
é a capacidade que as teorias têm. :de colocar e jesolver novos pro
blemas. (Ver, meu Conjectures and. Refutations; capítulo 10.)
Há exemplos excelentes para mostrar que duas: .teorias, e X 2,
apresentadas em termos: inteiramente diversos- (termos: que não se
traduzem de maneira biunívoca), podem - ser. apesar ídisso; logica
mente equivalentes, a ponto de se poder -afirmar que se trata de
meras formulações diferentes de uma: única teoria>. Isso atesta que
é errôneo encarar o “significado” lógico dec mmà- teoria ;como algo
que se determine pelos “significados” das palavras. (A fim de esta
belecer a equivalência entre T 1 e T 2, pode ser necessário construir
uma teoria mais ampla, T 3, na qual T x e T 2 venham a ser tra-
duzíveis.' Sirva de exemplo um conjunto de axiomatiz&ções diversas
da Geometria Projetiva; outro exemplo é dado pelos formalismos da
Mecânica . Quântica, em termos de partículas ou em termos de
ondas, cuja equivalência pode ser fixada quando os dois formalismos
sao levados parà a linguagem dos operadores.)11
É óbvio, naturalmente, que a alteração de uma palavra pode
produzir alterações radicais no significado de uma teoria ou de um
enunciado, exatamente como a troca de uma letra pode modificar
de todo o significado de Uma palavra e, assim, modificar uma teoria,
fato que qualquer pessoa compreende, se já se interessou, digamos,
pela interpretação dos textos de Parmênides. Todavia, os enganos
de copistas ou de linotipistas,-conquanto fatalmente desnorteadores,
podem ser corrigidos, via de regra, pelo exame do contexto,
Quem já se tenha dado ao trabalho de traduzir trechos escritos
em outro idioma e tenha refletido sobre o tipo de esforço requerido,
sabe que não existe uma tradução gramaticalmente correta e quase
literal de qualquer texto iiiteressante. Uma boa tradução é uma
interpretação do original; eu iria mais longe, afirmando que a boa
tradução de um texto nao trivial deve ser uma reconstrução teoré-
tica. Deve incorporar até pequenos comentários. Toda boa tradu
ção tem de ser, a um tempo, próxima e livre. Incidentemente, é
errôneo supor que as considerações de ordem estética não sejam
pertinentes rias traduções de escritos de cunho teórico. Basta pensar
numa teorià como. a de Newton ou a de Einstein para notar quão
insatisfatória seria a tradução que fixasse o conteúdo da teoria se^u,
;-íoda,via^4trazer à. tona certas ; simetrias^ internas que ela apresenta.
Se alguém ;lesse uma tradução em que tais simetrias nao se fizessem
pi:esé.ntesji;,esse .alguém, ao descobri-las, “julgaria com razão que tinha
umái iG o n trib u iç ã o original a dar, que havia descoberto um teorema,
aind.á.que o teorema interessasse apenas por motivos de ordem esté
tica... (Motivos análogos: tornam preferível — mantendo-se outros
fatores em pé de igualdade — uma tradução em verso das obras de
Xenófanes, Parmênides, Empédocles ou Lucrécio, que se há de-
r e v e l a r m u it o s u p e r io r à tra d u çã o em p r o s a . ) 12
De qualquer maneira, embora uma tradução possa mostrar-se
imperfeita por não ser suficientemente precisa*, a tradução precisa
de um texto difícil simplesmente não existe. E se as duas línguas
em tela tiverem estruturas diversas, algumas teorias poderão ser quase
intraduzíyeis (como Benjamin Lee Whorf tão bem ressaltou). Ê
claro que se as duas línguas se assemelharem tanto quanto, por exem
plo, o grego e o latim, a introdução de alguns poucos vocábulos
novos tornará a tradução possível. Contudo, há casos em. que co
mentários minuciosos precisam; substituir a tradução 13.
Tendo em conta todos. essesr fatos* percebe-se quanto equívoco
existe na idéia de linguagem precisa ou de. precisão de linguagem.
Se nos, dispuséssemos a colocar “Precisão” em nosso Quadro de
Idéias; apresentado acimaj fesse- iermo: figuraria.na coluna da ésquerda
(porqueaj precisão lingiMstica de ,uxn .enunciado, dependeria inteira- ,
menter/d ^ ^ècis^ãòí;ídas palavras •utiUzadas^ vj.. ò termo teria por .cor-
respôndeiitè^na .cpluna, da direita,; algo como; “Certeza”. Todavia,
não ,po|og.uéi{.^çsse^- tennçs.. .jip:. quádro porque; desejei construí-lo de
maneir;ã: ;a:.^conservar ánte^almenteMO. y;alor da., coluna da direita; e a
pi^ççisa^ > : e z ideais; impossível alcançá-los, de
modo,;:que;,ígles sef/íomamvp^iSP5^??1^11^6 enganadores, quando aceitos,
sem; críticaj -na concÜção ^de guias. Perseguir. precisão ê o mesmo que
perseguir certezas e, ambos, os; tobjetivos deverá ser .abandonados. ■
Não estou sugerindo, é, clarp, -que lo aumento ,de. precisão nao
possa, tornar-se assazrdesejáyel. numa previsão ou
na. formulação de^.ç^tas^íMoçÕesÇ.r. - e s t o u sugerindo resume-se
nisto:, é sempre And&ejaueUéf&zer: jesforços.. no, sentido de. aumentar, a
pr.eçisãpj a bem.âela^ r—: particularmente a: precisão lingüística ■ —
porque. isso leva, d-e. .':}iabito.j._..a. uma. diminuição da clareza, a uma
perda de tempo e deílenergia..com. .aspectos secundários (que muitas
vezes são., inúteis, pois^e^yeem^supexadospelo real avanço da m atéria).
Nunca se. deve procurar rnaipr, precisão do que a exigida: pela situação.
Creio poder, formular minha posição da seguinte maneira. Cada
aumento de clareza tem, por si: mesmo, u m valor intelectual; o au
mento de precisão ou de exatidão, entretanto„ j<5 tem valor pragmá
tico, de meio: para a. consecução de - algum objetivo detérminado.
Esse objetivo, geralmente, é uma maior possibilidade de prova ou
de critica;, exigidos pela situação-problema. (que pode exigir, por
exemplo, a distinção entre duas teorias rivais que levam a previsões
qüase indiscrimináveis)14.
Está claro que estas concepções diferem grandemente das idéias
implicitamente defendidas por mm tos, filósofos da. ciência de nossos
dias. A* atitude desses filósofos, no que^ concerne à precisão, remonta,
creio eu, à época em que/Matemátiçare Físiea<erain vistas, comoas
Ciências Exatas: Cientistas £;.íü$sofjÇ>5 inclinações cientificas im
pressionaram-se muito com a.preçi$ão; ,áè»á^^iâisç!çlinas. ;Sentiram-se
obrigados a acompanhar 011 a estimular essa; ‘‘exâtidâo’ esperando
provavelmente que -a. fertilidade surgisse como. .unia. espécie de sub
produto da precisão.. Todavia, a fertilidade nãò é decorrência da
exatidão, mas da percepção de novos problemas onde ninguém os
havia' visto antes e da invenção de novas maneiras de resolvê-los.
Minhas observações a respeito da História da Filosofia contem
porânea, eu as deixo, entretanto, para o final desta digressão; vol
to-me, novamente, para a questão do sentido ou da significação de
um enunciado ou de uma teoria. ,
Em que pese minhà exortação de não me envolver em que-
relas a propósito de palavras, estou pronto a admitir (um pouco
desdenhosamente, talvez) que podem existir significados da palavra
^significado” que tornem, o significado de uma teoria inteiramente
dependente das palavras utilizadas na sua formulação. (£, possível
que a “denotaçao”, de Frege, seja um de tais sentidos, embora muita
coisa dita pelo próprio Frege contradiga a suposição.) Também
nao nego o fato de que, muitas vezes, é preciso entender as palavras
para entender úma teoria (embora isso não seja, de modo algum,
uma verdade geral, como o pode atestar a existência de definições
• implícitas). Mas o que torna interessante ou significativa uma teoria
— aquilo que procuramos entender, se desejarmos entendê-la — é
algo muito diferente. Formulando a noção de modo meramente
intuitivo e, pois, rudimentar, o que torna interessante uma teoria
é a relação lógica vigente entre ela' e a situação-problema prevale-
cénte^: a relação que mantém com teorias rivais anteriores, sua capa
cidade, de resolver problemas existentes e sugerir novòs problemas*
Em outras ..palavras, o significado ou a importância de uma teoria,
neste ; sentido,: depende de contextos muito amplos, embora, é claro,
o interesse :de tais contextos dependa, por sua vez, das várias teorias,
problemas e situações problemáticos de que se componha.
n.
É interessante notar que essa idéia aparentemente vaga (e, po-
der-se-ia dizer, “holicista”) da importância de uma teoria pode ser
analisada e consideravelmente, esclarecida em termos estritamente
lógicos — com o auxílio da noção de conteúdo de um enunciado
ou de uma teoria.
No geral, estão em uso duas idéias de conteúdo muito diversas,
aparentemente* sob um prisma intuitivo, porém quase idênticas sob
um prisma lógico, e que denominei,, algumas vezes, de “conteúdo
lógico” e “ conteúdo informativo” ; a uip caso particular deste último
tipo de conteúdo também chamei '‘conteúdo empírico”.
O conteúdo lógico dé um enunciado ou de uma teoria pode s
identificado ao que Tarski denoitxinou “classe das conseqüências”
(ou “çlasse-conseqüência” ) , isto é, a classe de todas as conseqüên
cias lógicas (mas rião-táütológicas). deduzíveis do enunciado qu. da
teoria. ■ .V
Paria, compreender o conteúdp, informativo (comò o chamei), é
preeiso considerar a noção, intuitiva, segundo a qual enunciados ou
teorias tanto mais afirmam qúantò “ mais. proíbem” ou excluem1S.
Essa idéia ihtuitiva: nos leva ã: ;uma- definição de conteúdo informa
tivo que, para niüitôs, pareccu ãbsurda:. o conteúdo informativo de
uma teoria é o conjunto de enunciados que se mostram incompatí
veis com a teoria 1B.
- Pode-se ver de imediato, pórém, que os -elementos desse con
junto, e os elementos do conteúdo lógica se' acham em correspondên
cia biunívoca: a cada elemento qüe se encontre num. dos conjuntos
corresponde um elemento que se encontra nõ outro* ‘a saber, sua
negação.
Percebemos, portanto, que se jumenta ou diminui a força lógica,
ou o poder, ou a quantidade de informação de uma teoria, aumen
tam ou diminuem cçmcomitantemente seu -conteúdo lógico e seu
conteúdo informativo. Isso mostra que as duas idéias, sao semelhan
tes; há uma correspondência biunívoca entre o .que se pode asseverar
a respeito de uma e o que se pode asseverar a respeito da outra. E
mostra também que minha definição de conteúdo informativo não
.é inteiramente absurda.
Entretanto, há diferenças. Àssim, por exemplo, vale a seguinte
regra de transxtiviàaâe, no. que; respeita ao conteúdo lógico: se b e
um elemento do. conteúdo de, a e se o é um elemento do conteúdo
de bj então, o também é elemento ./da- conteúdo de a. Embora exista,
é claro, uma, regra, similar, para o conteúdq informativo, não se trata
de uma regra de. simples transitividàde como esta17.
r
Acresce que e infinito o conteúdo de qualquer enunciado (não-
-tautológico), uma teoria t, digamos. -Gora. efeito, seja a, b, c,
urxia lista mfniitci de enunciados:mdividviülmeritc? não acar
retam t e que, aos pares, sejam contraditórios. (Para a 'maioria> .das
teorias é viável considerar, por exemplo, a>: ‘k> número . de. planetas
é 0” ; b: “o número de planetas é .1” ; e. assim. ,ppr .diànte.) Resulta
que "t ou a ou ambos31 se .deduz; ■ ; & & portanto, ao con
teúdo logico de .í; .ioutrgs..-eijun-
ciados da lista. Em decorrência; da'hipótese fonrmlacla a prppósito
de a} b, c, . . ., resulta que nãb é possiyeí deduzia, üm de outro,
qualquer dos enunciados do5.j)aresr de enunciados"jiá seqüência "t ou
a ou ambos”, ÍCt ou;; b , Em'outra-s; palavras,^rnenhum
desses enunciado^ acarreta qualquer- outro. Segue-se que o conteúdo
' lógico • : r • . - ;'
Esse iesultãdp sifcnples:.' íacerça.: do: conteúdo áógico- <de iqualquer
teoria não-tautòlógica é, naturalmente, bem conhecido. : A argur
inenta.çãoi é trivial, porque se baseia numa operação corriqueira, em
que ;se: aplica o conectivo lógico “ou” (em seu sentido não-exclu-
dente)18; daí decorre a suspeita de que talvez a questão da infini-
tude do conteúdo lógico também seja, em última análise, uma
questão trivial.— que depende apenas de enunciados como “ t ou a
ou, um bos^ resultantes de triviais maneiras de enfraquecer t. En
tretanto, em. termos de conteúdo informativo, percebe-se, de ime-
4 |álo,*5C|ue. a. .situação nao e tão banal quanto parece.
*4 . imaigine-se. que a teoria em pauta seja ,a teoria da gra-
yfta^ãosjâe^tíeiA^on;; chamemo-la N. Nesse caso, qualquer enunciado
jfifeómpátíyéli com: N pertencerá ao conteúdo informativo de N. De
signemos por E a teoria da gravitação de Einstein. De vez que as
duas, teorias sao incompatíveis, cada uma dèlas pertence ao con
teúdo informativo da outra: , uma exclui ou proíbe a outra.
1 3stOi’Eevela, de maneira intuitiva, que a asserção de o conteúdo
informativo de uma teoria t ser infinito não é nada banal: qualquer
teoria incqm^patível.. .com t e, pois, qualquer‘ teoria futura que venha
a sóbrepiifórjfr (num 'momento em que, digamos, certo experimento
crucial nôs: h^ja legado, à decisão de abandonar t) pertence, obvia
mente, ao conteúdo informativo de t. Mas é . igualmente óbvio que
não estamos eiri condições de conhecer ou de construir tais teorias
por. antecipação. Kèwton não: podia vaticinar o surgimento da teoria
de Einstein, ou das que a sucederam.
Torna-se agora possível compreender o que se passa com o
conteúdo lógico, onde a situ.ação é semelhante, embora um pouco
-menos. «cl^i^títuiti^nient^ .Jalando. Gomo E pertence ao conteúdo
informativo.^ áèrW, -resulta qúe não-E. pertence ao conteúdo lógico
de- N] òu sejav-iinSò^ií decorEe de <N, um fato que nao podia ser
conhecido, obviamente, por Nèwton oü por qualquer outra pessoa,
antés -da :fòrmulaçao de E. J’:
..' \ Esta situação curiosa eu a tenho descrito em minhas preleções,
afirmando: núnca sabemos acerca de que falamos. De fato, q u an do
forníulàmos umá teoria ou procuramos entender uma teoria, tam
bém formulamos ou tentamos compreender as suas implicações ló
gicas, isto é, todos ós enunciados que dela decorrem. Todavia, como
— sublinhamos, semelhante tarefa é impossível de concretizar: há uma
infinidade de enunciados não-triviais impredizíveis que fazem parte
do: conteúdo informativo de uma teoria e uma correspondente infi
nidade, de enunciados que fazem parte de seu conteúdo lógico. Não
é;:;p:ossível, pois, conhecer ou compreender todas as implicações de
uma teoria ou a sua plena significação.
Aí está, no que respeita ao conteúdo lógico, um resultado sur
preendente, no meu entender, embora seja, no que concerne ao
conteúdo informativo, perfeitamente natural. {Somente uma vez
ehtontrei esse resultado formulado em letra de imprensa19, mas já
me referi a ele diversas vezes, por muitos anos, em minhas preleções.)
O resultado mostra que compreender uma teoria é, entre outras coi
sas, uma tarefa interminável e que, em princípio, há uma compreen
são cada vez melhor das teorias. Mostra ele ainda que, a fim de
entender melhor uma teoria, é preciso, antes de tudó, descobrir as
relações lógicas que a teoria mantém com problemas e teorias exis
tentes e que formam o que poderíamos chamar " situação-problema”,
naquele determinado instante do tempo.
Nao se nega que também haja a tentativa de contemplar o
futuro: procuramos, em verdade, descobrir novos problemas, susci
tados por nossa teoria. Mas a tarefa é infinità e jamais poderá ser
concluída.
Percebe-se, pois, que a formulação que, como acentuei, devia
sei* ‘"meramente intuitiva e, portanto, rudimentar”, pode ser escla
recida agora. À infinitude nao-trivial do conceito dè uma teoria,
tal como aqui a descrevo, transforma a importância de uma teoria
numa questão que tem aspectos lógicos e aspectos históricos. Estes
ultlmòs'"dependem daquilo que foi descoberto, em certo instante, à
luz da situação-problema prevalecente, acerca do conteúdo da teorià;
•tratasse, por assim dizer, de uma projeção do problema histórico sobre
üXGohteúdô lógico da teoria20.
Em suma, há pelo menos um significado do “significado” (ou
da, ‘•signiücância”), de uma ;teoriá: que a. torna dependente de seu
contendo . e> por. .conseguinte,, imais^. .dependente, das relações* que'
mant^ni; tGpm:. oútrasi teoj^às do~ que - ídosi ^significados; -de quaisquer
conjuntos c le ;vocábulos* ^ wi;5 -
Jí jí<
- • 35
•7tásp, •• íquefe nos ''.espantemos'- diante de ■observações como a de
r’jÍlüfÍ0 Í:d;^Aã^Ttuesdelfc a^ respeito das leis da Termodinâmica: “Qual
quer, físico^sabe^exataménte ò que significam a primeira e a segunda
;jv]d&d^ termodinâmica; entretanto, ( . . . ) não há dois deles que se
ganham de acordo quanto a tais significados” 22.
Sabemos, hoje, que a escolha de termos nao-definidos, tal como
a ;êscolha de axiomas de uma teoria, pode ser arbitrária em grande
pàrte. Frege estava enganado no que concerne a este ponto, pelo
menos' até 1692: acreditava existirem alguns termos intrinsecamente
não^definíveis, porque “aquilo que é logicamente simples não admite
Uma definição apropriada” 23■ Todavia, o que ele imaginava ser
üiti exemplo de conceito simples — o conceito de “conceito” — reve
lou-se bem diverso do quê ele supunha. Transformou-se em conceito
que se assòcia ao de “conjunto”, e poucos se atreveriam,, atuais
mente, a e,ncará-lo como simples ou destituído de ambigüidades.
Sem émbargo, a busca ilusória prosseguiu. (Refiro-me ao inte
resse pela coluna da esquerda de minha Tabela de Idéias.) .. Ao
escrever Logik der Forschung, imaginei que a busca dos significados
de palavras estava prestes a encerrar-se. Falso otimismo, pois a
busca, em verdade, ganhava ímpeto24. A tarçfa da Filosofia era
caracterizada, cada vez mais amplamente^ como relativa a signifi
cados, sobretudo ao significado de palavras. E ninguém contestava
a. sério o dogma implicitamente aceito,, de que o significado de um
enunciado, pelo menos em sua formulação maisexplícita e desti
tuída de ambigüidades, dependia (era-; funçaò) dos significados das
palavras que encerrasse. Isto se aplicá não apenas aos analistas da
linguagem, na Grã-Bretanha, mas também a todos os que, seguindo
os passos de Carnap, sustentam caber à Filosofia a tarefa da “eluci
dação de conceitos”, ou seja, a tarefa de tornar precisos os conceitos.
Contudo, não existe o que se possa denominar “ elucidação” ou con
ceito "explicado13, ou “preciso13. .
O problema, todavia, continua de pé: que fazer, a fim de
tornar claro o significado, se se impõe maior clareza, ou a fim de
torná-lo preciso, se a precisão for necessária? Eis a diretriz principal,
à li# de minha exortação: toda iniciativa que se tome para aumen
tar a clareza ou a precisão temde ser ad hoc ou “gradual”. Imagi
ne-se que surja algum, mal-entendido em virtude da falta de clareza;
nap/ Se deve procurar fundamentos novos e sólidos sobre os quais
erigir um preciso "sistema de referência conceptual’V e sim pro
curar, ^reformulações ad hoc, que contornem esse mal-entendido já
píiesentevOU que:. visem à evitar o surgimento de mal-entendidos se-
poderão
■l^ft^.íi.Étifíí^í!r!l:c Wírfii^ií^á^wr\rríKTÁíri 0v:.:riv-*s/-Ir*-_ riã.Ó Slir^ltloS J 'citS
-evoliição da teoria pode
armas- intelectuais de que
-
.. |aGuM^|Mêsi^^^âí^i;iiè!?^itíj^Íifífear, é; quase certo que as pessoas
; o^. conceito de simultaneidade antes da
s«k* Einstein (as assimetrias nâ Eletrodinâ-
. jamais chegariam à “análise” .einstei-
MÍana^^(€^ãò'í'íS'è!. limagine que eu esteja endossando a idéia, ainda
íiojé1?iriúito freqüentemente defendida, de que a descoberta de Einstein
fqi a; (“análise operativa”. Não foi. Veja-se a página 20 de meu
SlP#!1 "Sofiiety :[;1957.>(h) ] * e edições posteriores, volume. II.)
Ò-Hiiétodo: ad hoc de tratar os problemas de clareza e precisão,
abordando-os de acordo còm as necessidades, pode ser denominado
'tt^iiali}ê^ipára dístingui*lo do método de análise, da nOção de que
Tàf^àn^íâév dá linguagem, como tal, está em condições de resolver
problémâs%:u- .de criar o arsenal de que possamos precisar no futuro.
A ‘dialiàe -nãò resolve problemas. Não pode resolvê-los, assim como a
definirão •oví a- explifcáçao ou a,, linguagem também não podem. Os
probleíriâs são- resolvidos com/ o auxílio, de novas idéias. Todavia,
èxigtem, muitas vezes, novas distinções — que serão elaboradas ad
hoCj diante ' dos objetivos imediatamente em vista.
=Esta longa digressão25 afastou-me da linha principal de minha
-narrativa, à qual agora retorno.
' iíL -- •
%v ano; Im portante: marxismo, ciência e pseudociência
•i\hJrâ- -Uà
^i óiímos^Uimos *e: terríveis; anos da guerra, provavelmente em
Al
Operário ' Decidi também que nao procuraria tornar-me influente
em ^partidos-políticos, r . • • .
,1' r rFiz, de^fato' vaiiás teritativas no ^sentido de transformar-me em
operário. ívliiiha segunda tentativa ^falhou porque eu não possuía
cójnpleíção física adequada, capaz de me permitir trabalhar dias
seguidos, com uma picareta, no asfalto das estradas. Minha última
tentativa foi de tornar-me entalhado r. Isso não requeria condições
físicas especiais, mas certas especulações teóricas interferiram no meu
trabalho.
vt??vEste. é, provavelmente, o melhor ponto para falar de minha
adrfiiração pelos operários de Viena e pelo movimento em que se
empenhavam — liderado pelo partido social-democrático — , con
quanto eu encarasse o historicismo de cunho marxista defendido pelos
líderes social-democratas como algo inteiramente errôneo 27. Os líde
res tinham o poder de inspirar, nos trabalhadores, uma fé inabalável
na missão a cumprir, que seria (nada menos!) que a salvação da
humanidade. Embora o movimento Vsocial-democrata fosse èm gran
de parte ateu (ainda que um pequeno e admirável grupo se des
crevesse como socialista religioso), o que movia seus integrantes só
pode ser descrito em termos de ardejite fé religiosa e humanitária.
O movimento era de trabalhadores ■que tentavam educar-se para
cumprir a “missão histórica” a eles■destinada; que procuravam eman
cipar-se a fim de. liberar a humanidade; que desejavam,, acima de
tudo, acabar com a' guerra. Os poucos momentos de lazer eram utili
zados pelos operários, velhos e jovens, para freqüentar cursos de
extensão ou para acompanhar as aulas das “Universidadès Populares”
(Volkshochsclíulen) . Os trabalhadores preocupavam-se com sua pró
pria educação e com a educação de seus filhos, tentando melhorar as
condições de vida, sobretudo as de moradia. O programa era admi
rável. Em suas vidas, embora houvesse aqui e ali um toque de
pedantismo, os; operários trocavam o álcool pelo alpinismo, o swing
pela música erudita, os romances policiais por leituras mais sérias.
Aswatividades eram pacíficas, mas executadas numa atmosfera po
luída .pelo fascismo e pela guerra civil latente e. envenenada; e outros-
sirai, infelizmente, por confusas e repetidas ameaças, pois os líderes
trabalhistas insinuavam que seria preciso abandonar os métodos
democráticos e fazer uso da. violência — u m legado da ambígua
pòsiçao de Marx e Engels. Esse grande movimento e sua trágica
destruição pelo fascismo impressionou vividaínente alguns observa
dores .ingleses e norte-americanos (por exemplo, G. E. R. Gedye 28)>
■'íf-Continuei socialista por vários anos, mesmo após rejeitar o
marxismo; E se existisse um socialismo capaz de combinar-se com
jV /’ daá^differêtrcasfiirále^istem ^entre^o Ipensamento^ dogmático e^o-pen-
^ "r - f- 3Sâ.m,eritop;cpitiBbíC- £.-***•’* - , ■ v.;.
y .-xfqfitis t S t * £ s , * i > : - ' J- - ^ e . e
íã( ^>r -Meuíj> ericontros^icom ^a, ‘-psicologia individual” 'de Alfréd Adlér
j|...^ :: ^^j|^^in^|L.Apsj[ç4ttjÍi}^e:A^e»4J^^d^^p.i^ija^.^emelhantes!. ao meu encontro
| embora tudo ocor-
‘ tJ" ’' " " " ' p||iíi£Üj$^ i(em 1919) 29.
^oi .tjuè1Ísé?£páSsou‘ ;naquèle ano, não deixo de surpre-
!pode acontecer, em tão pequeno prazo,
f Hntelfeç.tual dè uma pessoa. Com efeito, foi nessa
® fiâê^mâ^^piSc^i^jqxiéí'ent&é* em contato com as idéias de Einstein, que
X- ^^tojaia^âiiÍj!
sT" - " ■ =Vi] ■. ’ ,^ i^Èffl.ilâifeía •dominante em meu próprio pensar — a
-Y^'Y Jlông^V^r^b^E?áÈnaís importante influência, talvez. Em maio de 1919,
'^fV^tf^^e^^eâi^eS^inglfeSas'. puderam pôr à prova, com grande êxito, as
’^-ipÉieyísõès> dé: fEitisteih relativas a eclipses. Com essas provas, surgiu
I ;, ;. J' ^/siibitameiíte: innã^ -nova teoria da gravitação e. uma nova cosmologia,
m i^ - t y.àaoàGbmò” sünples' possibilidade, mas como real aperfeiçoamento das
Y;: Jideias- de? «NeAV-tonj Como melhor aproximação da verdade.
'^j^^^^ià fetèin^íez, -uma preleção era Viena a que compareci. Lem-
<Y -'blrfme*a£ienás dè que fiquei deslumbrado. O temâ estava bem acima
" - dà'-,jílíiiliá compreensão. Eu havia sido criado numa atmosfera na
u' - qjaal a. mecânica newtoniana e a eletrodinâmica de Maxwell eram
-y acéitãsj, lado-'a lado, como verdades inquestionáveis. Até Mach, que
f ^Kiüóata I^ewton,. em seu T he Science of Mechanics, combatendo a
espaçQv- absoluto e do tempo absoluto, acolhia as leis new-
é;| :'":%to^anas^ a lei da inércia, para a qual oferecera nova e
^S-T^fáse^ãnteiíinterpretação. E embora: Mach tivesse considerado a pos-
- Al
çspaço ^onde ocorriam movimentos mais rápidos e. mais complexos
deívque os movimentos-encontrados em nosso próprio Sistema Solar 30.
A. mecânica de Hertz, por sua vez, também não fugia da linha newto-
niana, a não ser em sua forma de apresentação.
A idéia, de que a teoria de Newton espelhava a verdade resul-
tava, naturalmente, de seu êxito incrível, que culminara na desco
berta do planeta Netuno. O êxito era impressionante porque (tal
como eu iria afirmar posteriormente) a. teoria de Newton reitera-
damente corrigia o material empírico que procurava explicar31.
Apesar disso tudo, Einstein conseguira apresentar uma alternativa,
real, formulando, ao que tudo indicava; sem esperar-por novos expe
rimentos, uma teoria melhor. Tal còmo Newton, Einstein fizera
previsões acerca -de novos efeitos que s.e manifestariam no Sistema
Solar (e fora dele) . E algumas dessas - previsões, por ocasião das
provas, revelaram-se bem’ sucedidas.
• . < Tive á. sorte de ser iniciado nessas idéias graças a. um jovem e
brilhante estudante de Matemática* Max Elstêin, que viria a falecer
em 1922, quando «ontava--apenas 21 anos de idade. Meu jovem
amigo . não era- um positivista .(como Einstein. o era e continuaria
a^ér,durante, .bom, tempo),,: modq que:;se ■esforçava por sublinhar
os-aspectos, .pbjetivos -da teoriaeinsteiniàna:. o enfoque em termos de
teoria ^os^campos j .à^Eletrpdihamiça è a Mecânica e seus novos tipos
de 'conexão;- ey-,-â-.-maravilhosa idéia, de-uma nova cosmologia — um
universo finito, mas ilimitado. Mas ressaltou que o próprio Einstein
considerava^ íundamental para a "sua teoria o fato de ela acarretar
a teoria newtóniana, dando-a como boa aproximação; sublinhou que
Einstein, mesmo ao considerar sua teoria como um progresso em
relação; à de. Newton, encarava-lhe as propostas como simples passos
em direção a uma teoria ainda mais geral; e chamou minha atenção
para o fato de que Hermann Weyl havia publicado, antes das obser
vações feitas por ocasião dos eclipses, um livro (Raum, Zeit, Ma~
terie, 1918) em que formulava uma teoria mais ampla è mais geral
que a de Einstein.
Não há dúvida de que Einstein tinha tudo isso em mente ao
descrever, mais tarde, em outro contexto, que “não pode haver me
lhor destino para uma teoria física do que abrir inargem para uma
teoria mais. ampla, na qual sobreviva, como caso-limite” 32. Entre
tanto, o que mais me impressionou foi a explícita asserção dè
Einstein, de que consideraria insustentável a sua teoria caso ela
viesse.) a falhar em certas provas. Einstein escreveu, por exemplo,
que “se o desvio das linhas espectrais para o vermelho devido ao
44
potencial gravitacional não ocorrer, a teoria geral da relatividade
será insustentável*’ 33.
Aí estava: Uma atitude., completamente diversa da atitude dogmá
tica dé Marx, Frèud', Adler' e mesmo de alguns de seus. sucessores.
Einstein: procurava ;éxperífàentos Cruciais, cujb acordo com suas pre-
Y ^ £ ^ ã o ,J ; teonà relatividade, mas
^3^-;, íièèücòtpSi' ^'^roprio düiisil;hà eiii •■•aòsntüàr, revelaria a
impossibilidade <âè aceitar-se a teoríà. ■’ .""'V
Eásâ- '£ r a ^ & i ^ ,pieni#iça. Ela diferia
por completo dá atituele dògmátiga, ;q u è , gòii^
haver encontrado ^‘verifièaçoes” de , teorias ;pre|liletaS:J\ , r
Gheguei, assim, em; £ins.de 1919, à conclusao ;de que.- a atitude
científica era uma atitude crítica, em que nao importam as verifica
ções, mas as provas cruciais — provas, que poderiam refutar a teoria
em exame, conquanto jamais pudessem estabelecê-la ou prová-la.
9 . Primeiros estudos
47
com o £ ejisarjiento crítico. O que importava, a meu ver, era a idéia,
de que ;p: pensamento dogmático, por mim dado como pré-científico,
era um estágio necessário para atingir-Se o pensamento crítico^ A
crítica tem de ter, previamente, algo que criticar e isso, supunha,
eu, devia ser o resultado de um pensamento dogmático.
Direi, agora, mais alguma coisa acerca do problema da demar
cação e da solução que lhe dei.
(1) Tal como imaginei na primeira vez que,foi objeto de minha
atenção, o problema da demarcação nao era o traçar fronteiras entre
a Ciência e a Metafísica,.mas separar Ciência e pseudociência. Na
quela época, a Metafísica nao me interessava. Foi somente mais
tarde que estendi meu “ critério de demarcação” à Metafísica.
(2) Em 1919, minha concepção principal cra a seguinte; se
alguém formulasse uma teoria científica, deveria dar resposta, exata-
mente como Einstein havia feito, a esta questão; “Sob que condi
ções eu admitiria que minha, teoria era insustentável?” Em Outras
•'palavras, que fatos concebíveis' eu- aceitaria. como refutações ou fai-
seamehtos de minha teoria?
(3) Surpree;ndera-me o fátò de que os marxistas (que se consi
deravam cientistks sociais) e os estudiosos da Psicanálise' (de todas
as correntes) estivessem em condições de interpretar quaisquer acon
tecimentos concebíveis comprovações -de suas teorias. Esse fato,
associado ao meu critério-de demarcação, levou-me a pensar que
apenas as refutações intentadas, mas não bem sucedidas qua refuta
ções, é que podiam ser vistas como “verificações”.
(4) Ainda mantenho a posição indicada em (2). Mais tarde,
porém, ao prçcurar introduzir, ainda em caráter de tentativa, a no
ção de falseabilidade (ou testabilídade, ou refútabilidade) de uma
teoria, entendendo-a como critério de demarcação, verifiquei que
qualquer teoria pode ser “imunizada” (este excelente vocábulo se^
deve a Rans Albert35) contra a crítica. Permitida a imunização,,
qualquer teoria torna-se não-falseávél. Segue-se que pelo menos
algumas formas de imunização precisam ser excluídas.
De outra parte, compreendi ainda que nèm todas as imuniza
ções devem ser eliminadas, nem mesmo todas as que introduzam hi
póteses auxiliares ad hoc. Exemplificando; o movimento de Netuno
poderia ter sido visto como falseamento da teoria de Newton. Sem
embargo, introduziu-se a hipótese ad hoc de um planeta exterior,
imunizando-se assim a teoria. A idéia foi feliz: a hipótese auxiliar
.era passível de. prova ..(ainda que est^ fosse difícil) e resistiu pos
teriormente, com êxito cabal, às provâs a que foi submetida.
2** rlss©,- mòstra nãò apenas que certos dogma tísmo produz,. frutos,
,mèsmboém -Ciência;, mas>.ainda, que st, falseabilidade;.\ou.■testabilidade
rnaokjíóde.» ;ser -vista, logicamente faliandò, reóino . .critêrit»; muito preciso.
Tratet dessa: questão, de...májieira^mLnudosav no.rLo^ik^de^F.orschung.
Introduzi' graus de testabilidade' te; : estes&se •frevelaram intimamente
a^sóciados a;.:(graus -de) conteúdo.^^^urpreeà>dc^£exn^ite%:jf.érteis.^V;o
aumento: rde conteúdo transformou-se.: mmi c^it^õi>:^.^aU;safc>.er?v:se valia
a ; pena -aceitar ou nao, tentativamente^. Áumá^vdadaiihijaQtese ^uxiliar.
’ Embora-o assunto esteja; claramente'- Vèíxposto^no sLogik -der Forj-
frhung, publicado em 1934|r'm üitá¥:^ disseniiniáram.
GÓncernentes às? -iiiriàasv^oíicel^DiÊ^.'' íde^ que eu
havia introduzido, o falseamento como critério de significado, e não
como critério, de demarcação. Em segundò; .lugar^:-. a ;vde>: que eu n ão
percebera que a imunização é sempre possível^ riíeghgerifeiàndo, pois,
o fato de as teorias nao' poderem ser descritas conto-*‘f alseáveis”, já
que todas podem ser salvas do falseamento. Em outras palavras*
meus próprios resultados foram vistos^ segundo essas análises^ como
razões pãra nao acolher o enfoque por mim proposto37.
(5) Como.uma espécie de sumário, é útil mostrar, através de
. exemplos, de que maneira vários tipos de sistemas teoréticos se rela-
cionam com à testabilidade (ou com o falseamento) e os processos
de imunização. .
(a) H á teorias metafísicas, de caráter puramente existencial
(amplamente discutidas em Conjectures and Refutations38).
(b) Há teorias como as da Psicanálise, de Freud, Adler e Jung,
ou, ctigamos, semelhantes às doutrinas (suficientemente vagas) da
Astrologia39.
(c) Há teorias que poderiam ser chamadas “destituídas de so-
fisticação”, como a de que “Todos os cisnes são brancos” ou a geo-
cêntrica “Todos os corpos celestes, excetuados os planetas, movem-se
em órbitas circulares”. As leis de Kepler (embora altamènte sofis
ticadas, sob muitos aspectos) caberiam na presente categoria. Essas
teorias são falseáveis, conquanto os falseamentos sejam, está claro,
contornáveis: a imunização é sempre possível. Contudo, a evasiva
seria, de hábito, desonesta: consistiria, digamos, em negar que um
cisne negro fosse um cisne ou em negar que um corpo celeste nao-
-kepleriano fosse um corpo celeste.
(d) O caso do marxismo é interessante. Sublinhei, em meu
Open Society40, que a teoria marxista pode ser vista como teoria
refutada pelos acontecimentos que tiveram lugar durante a Revolu
ção Russa, De acordo com Marx, as mudanças revolucionárias {êm
início ná base, por asisim dizer: em primeiro lugar, alterám-se os
meios de produção; em seguida, a s ,,condições sociais de produção;
depois, o poder político; por fim, as crenças ideológicas, que são as
últimas a se alterarem. Na Revolução/ Russa, entretanto, o poder
político jfoi o primeiro a transformar-se; em seguida, a ideologia ( di
tadura mais eletrificação) produziu, alterações nas condições sociais
e nos meios de produção, partindo do topo. A reinterpretação da
teoria marxista da revolução permite contornar esse falseamento,
imunizando-se a teoria contra novos ataques; ela se transforma na
teoria marxista vulgar . (ou sócio-analitica), de acordo com a qual
os “motivos econômicos” e á luta dé classes impregnavam a vida
social.
(e.) Existem, ainda, as teorias mais abstratas, como as de Newton
ou de Einstein relativas à gravitação. São falseáveis — digamos
porque perturbações previstas não são encontradas ou porque é ne
gativo um teste feito com radar, em substituição a observações diretas
de eclipses. Essas teorias, diante do que pareceria, prima facie, um
falseamento, também podem ser salvaguardadas, não só com certas
imunizações desinteressantes mas, aindá$ por meio da introdução de
hipóteses auxiliares passíveis, de prová (como no caso de tipo Ura-
no-Netuno), que tornam o conteúdo empírico do sistema constituído
pela teoria original e pelas hipóteses auxiliares, um conteúdo maior
que o conteúdo da teoria original. Pode-se considerar isso como um
aumento de conteúdo informativo — como Um caso de aurrtento
de conhecimento. Existem também, é claro, hipóteses auxiliares que
nao passam de manobras imunizadoras evasivas. Estas diminuem o
conteúdo da teoria. Tudo isto sugere uma regra metodológica: não
efetuar manobras que conduzam ao decréscimo de conteúdo (ou
seja, para adotar a terminologia proposta por Imre Lakatos41, não
aceitar “alterações degeneradoras do problema” ).
52
A idéia de aleatoriedade é, em tese,, a p licáv eis esseí -exemplo^
de vez que há; uma seleção a fazer em cada pàSso--dé -uma^lònga
divisão, a partir de um conjunto bem delimitado de possibilidades
(os ^dígitos). Contudo, na maioria dos exemplos de. aprendizado;
biologico, pelo. método de tentativa e erro, o número de p o s sív e is
alternativas, ou sèja, o conjunto de reações possíveis (movimentos
de qualquer grau de complexidade), não é dado por antecipação; e
como não conhecemos os elementos desse conjunto, não é possível
atribuir-lhes probabilidades, o que séria indispensável para, . com
alguma clareza, falar-se em aleatoriedade.
Precisámos rejeitar, pois, a idéia de que o" método da tentativa
e do erro opera, em geral ou normalmente, através de tentativas
aleatórias; ainda que possamos, com certa habilidade, elaborar con
dições altamente artificiais (como a dos labirintos de ratos) a que
se aplique a. noção de aleatoriedade- . Ô fato de que a nóção seja
aplicávelj porém, nao basta para estabelecer que as tentativas ;sejam
de fató aleatórias; nosso computador pode perfeitamente adotar,
com vantagens, um método mais. sistemáticopara a seleção dos dígi
tos ; e um rato no labirinto pode igualmente agir com base em prin
cípios não-aleatórios.
De outro lado, em qualquer caso onde o método de tentativa
e erro seja usado para resolver problemas como o da adaptação (a
um labirinto, por exemplo), as tentativas não são, via de regra,
determinadas, ou completamente determinadas, pelo próprio pro
blema. Elas também nao podem, a nao ser acidentalmente, antecipar
uma solução (desconhecida) do problema. Na terminologia de
D. T. Campbell, podemos dizer que as tentativas devem ser “cegas”
(e eu creio preferível dizer que devem ser “ cegas em relação à so
lução do problema” 46). Não é a tentativa, mas o método crítico,
ou. seja, o método da eliminação do erro após a tentativa — o que
corresponde ao; dogma — que nos dirá qüão satisfatória foi a supo
sição; que nos dirá, em outras palavras, se a suposição foi suficien-
tejnente apropriada para resolver o problema em pauta e se pode
ser provisoriamente aceita.
Ainda assim, as tentativas nao são de todo cegas, relativamente
ao que o problema reclama: o problema determina, muitas vezes, o
âmbito em que as tentativas sao escolhidas (como no caso dos dígitos) :;
Esse ponto é muito bem descrito por David Katz: “Um animal^£% '
minto separa as coisas do ambiente em duas classes, as; comestíveis
e as não-comestíveis, Um animal em vôo distingue vias; de: íug&^e?
locais de abrigo.” 47 Além disso, o problema pode; alterár^e^erns;
certa, medida,, face às tentativas bem sucedidas; pode, por exemplo,
diminuir de âmbito. Mas há. casos diferentes, sobretudo no que
tange aos seres humanos; casos «em que tudo depende da habilidade
de. romper limites fixados por supostas fronteiras. Esses casos mos
tram que a seleção do âmbito pode ser, ela própria uma tentativa
(uma conjectura inconsciente) e que o pensamento crítico pode
consistir nao apenas na rejeição de um a. determinada tentativa ou
conjectura, mas, ainda, na rejeição do que pode ser descrito como con
jectura mais profunda — a suposição do âmbito de. -“todas as tenta
tivas possíveis”. Isso é o que acontece, creio eu, em muitos casos
de pensamento “criativo”.
O que caracteriza o pensamento criativo, a par da intensidade
do interesse pèlo problema, parece-me ser, freqüentemente, a capaci
dade de romper os limites do â m b i t o o u de alterar o âmbito —
a partir do qual'pessoas menos criativas selecionam suas alternati
vas. Essa capacidade, que constitui obviamente uma capacidade de
critica, poderia ser descrita em termos •de imaginação crítica. Muitas
vezes, ela é resultante de um conflito'4de culturas, ou seja, de um
conflito de idéias ou de esquemas de' referência em que as idéias se
localizam. Conflitos desse gênero ajudam-nos. a eliminar limitações
que nos pesam sobre a imaginação.
As observações feitas nao podem satisfazer, porém, aos que
buscam formular uma. teoria psicológica do. pensamento criativo ou
uma teoria: da investigação científica. Com efeito, o que buscam
é uma teoria do pensamento bem-sucedido..
De minha parte, acho que. nao se pode formular; uma teoria
do pensamento bem sucedido e que ela nao eqüivale à teoria do
/ pensamento criativo. O êxito depende de muitos fatores — entre
os, quais a sorte. Depende, por exemplo^ de encontrar um problema
promissor. Depende de não se repetir ó que alguém já tenha feito.
Depende da hábil divisão do tempo, a. fim de- que se possa manter
em dia os conhecimentos e, simultaneamente, burilar as próprias idéias*
No meu entender, porém, é essencial, para o pensamento “cria
tivo” ou “inventivo”, uma combinação de vários elementos: inte
resse profundo por um problema (e, portanto, vontade de tentar
uma e outra vez) com pensamento altamente crítico; aptidão para
considerar até mesmo aqueles pressupostos que determinam, para os
menos criativos, os limites dentro dos quais as alternativas (conjec
turas) devem ser escolhidas; e liberdade de imaginação, que permita
identificar fontes insuspeitas de erros: possíveis preconceitos que
reclamem exame crítico.
(Minha opinião é a de que.^uase todos os estudos acerca da
psicologia do. pensamento criativo são, estéreis— ou antes, ,mais lógi
cos do que psicológicos. Isso porque o pensamento crítico, oü a eli
minação do erro, é mais fácil de caracterizar- em^ermos; lógicos do
que em termos psicológicos.) ... •••..'•*:•. . ... -
XJma tentativa ou um novo " dogma’’ óu utna nova> “expec
tativa ç fruto, pois, em grande parte, d&Jríiecessidad^s^ina.ta.s, que
originam problemas específicos, Mas também: é, iruto^dasmecessídade
inata de criar expectativas (èm certas áreas determinadas que3 ,por
seu turno, se associam a outras necessidades) como pode ser tam
bém, em parte, resultado de expectativas anteriores frustradas. /'Não
nego, é claro, que possa haver certa habilidade pessoal* náfformação
de dogmas' ou na seleção de tentativas, mas penso que a habüidade
e a imaginação desempenham pápel mais relevante no processo
critico de eliminação de erro. Quase todas as grandes teorias, que
se colocam entrè as supremas conquistas do espírito humano, são
resultantes de dogmas anteriores somados à crítica. - •
O que se tornou claro para mim, no que concerne à formação
de dogmas, foi, em primeiro lugar, que as crianças (e especialmeriiè
as. de tenra idade) ..necessitavam urgentemente de regularidadès iéco?
nhecíveis à sua volta; havia uma necessidade inata nao só de ali
mento e de amor cómo de invariantes estruturais discerníveis do
ambiente (entre as quais estariam as “coisas” ), de uma rotina assente,
, de expectativas fixas. Esse tipo de dogínatismo infantil foi observado
por Jane Austen: “Henry e John continuavam pedindo, a cada dia,
que Se repetisse a estória de Harriet e os ciganos; e corrigiam tenaz-
mente [Emma]. . . se ela modificasse qualquer pormenor da narrativa
original.” 48 Notei que havia, particularmente entre crianças de mais
idade, certa alegria quando as variações se manifestavam, mas tais
variações deviam situar-se dentro de uma gama limitada de expec
tativas. Os jogos, por exemplo, tinham esse caráter; e as regras (os
invariantes) do. jogo não podiam amiúde ser aprendidas pela mera
observação 49.
O ponto que eu sustentava era o de que a forma dogmática
devia-se a uma necessidade inata de encontrar regularidades e ã
mecanismos inatos de descoberta, mecanismos que nos levam a buscar
as regularidades. Uma de minhas teses era a de que, ao falar um
pouco livremente de "hereditariedade e ambiente”, cornamos. .0 riscO
de subestimar o imenso papel da hereditariedade —- que, entre
outras -coisas, determina grandemente quais os aspectos do ambiente:
objetivo (o nicho ecológico) que fazem ou nao fazem, partèi ijdò
ambiente subjetivo, ou biologicamente significativo, de um; àniiiiàí;
M
aí - íDistingui três tipos principais: de processos de aprendizado, sen d o
0 ;::primeiro deles o fundamental:
56
do que os ambientais. Concordo, pois, com.; a afirmativa de. Joseph
Ghurch;^ “Embora parte da mudança que .ocorre na infância, possa
ser explicada em termos.- ..de maturaçaò -física,. sabeínos' -.que:- esta se
associa circularmente, em . processo de: realinienta.ção,-à experiência
—- aquilo que o organismofaz, isente^ei^a^que peagei.r ^Não^ se negli
gencia com isso o papel da maturação^ iinsiste^se íapenas em- que
não e possível vê-la como simples: florescimento de? HGaraçtfcrísticas
biológicas predestinadas.” 51 Discordo^. porém, de: Churçh, quándo
sustento que o processo de maturação, de tbàs.e genética, é, muito
mais complexo e tem muito miaior influência ido-:que;. .os sinais; ^defla
gradores e a experiênciá- de recebê-los, embora um ^íimmóÁde ,tais
sinais e experiências seja sem dúvida necessário para estimular o
“florescimento”. Segundo imagino, o fato de Helen. Keíler com
preender que a palavra “água” soletrada, tinha Como significado
aquilo que sentia com a mão e que já conhecia tão.bem^..-tem;..certa
similaridade com a “impríntação” ; mas há, a par disso, várias .dife
renças. A similaridade está numa inerradicável impressão ^causada
nela e na forma pela qual uma única experiência libera disposições
e necessidades enclausuradas. Uma diferença óbvia foi a gama .ex
traordinária de variações que a experiência abriu a Helen Keller e
que a levou, com o tempo, a dominar a linguagem.
À luz dessas reflexões, duvido da exatidão dos comentários de
Church: “O . bebê nao caminha porque seus ‘mecanismos de loco
moção’ hajam atingido um determinado estágio de desenvolvimento,
mas porque conseguiu uma espécie de orientação espacial em que
andar se tòrna um modo possível de . ação.” 52 Parece-me que Helen
Keller não possuía orientação nò espaço lingüístico (ou, se cKpossuía,
devia ser extremamente pobre) antes de descobrir que o toque dos
dedos de sua instrutora denotava a água e de saltar, daí, à conclu
são de que certos toques teriam significado denotativo ou referencial.
O que ali devia'haver era uma espécie de prontidão, uma disposi
ção, uma necessidade de. interpretar sinais; e uma necessidade de
uma aptidão, pára aprender a usar tais sinais pela imitação, através
do método de tentativa e erro (isto é, pelas tentativas nao-aleatórias
e pela eliminação crítica de erros no soletrar).
Parece que há disposições inatas, muito variadas e complexas,
que atuam conjuntamente neste campo: a disposição para o amor,
para a simpatia, para a imitação de movimentos, para o controle e
correção dos movimentos imitados; a disposição para usá-los e para,
com sua ajuda, comunicar-se; a disposição para empregar a. lin
guagem como veículo através do qual são recebidas ordens, adinfres1-
taçÕes, avisos; a disposição para interpretar enuriciadoís descritivos
m
é>-formulá-los. No caso de Heien Keller (em oposição ao que acon
tece _no Cáso de crianças nojmais), a maior parte de suas informações
acerca da realidade chegou-lhe através da linguagem.. Em decor
rência disso, ela não teve condições,' durante algum tempo, de dis
tinguir claramente a imaginação (mesmo sua própria imaginação)
dó que poderíamos chamar “ouvir -'dizer” e experiência: os três
elementos vinham-lhe no mesmo código simbólico53.
O exemplo do aprendizado da linguagem revelou-me que meu
esquemá de uma seqüência natural, em que uma fase dogmática
vem seguida de uma fase. crítica, era ■um esquema demasiado sim
ples. Como ocorre no caso do aprendizado1 da linguagem, esuste
claramente uma disposição inata para efetuar correções (isto é, uma
disposição que favorece a flexibilidade, a crítica e a eliminação dos
erros), que se vai enfraquecendo com o passar do tempo. A criança
aprende que o feminino de “ladrão” é “ladrona” ; se, em seguida usa
“barona” para o feminino de “barão”, èstá operando^-com base numa
disposição orientada no sentido de encontrar regularidades. A criança
logo corrigirá seu. erro, provavelmente pela influência da crítica dos
adultos. Mas parece haver uma fase, no aprendizado da linguagem,
em que as estruturas lingüísticas se: tornam rígidas ■
— possivelmente em
virtude da “automatização” a que aludimos, acima, no item 3 ( í ) . •
Escolhi o aprendizado; da linguagem apenas como um exemplo
em que se percebe de que maneira a imitação é ura caso especial do
método de tentativa e eliminação de erro Também é um exem
plo do entrelaçamento de fases. de formação dogmática de teorias,
formação de expectativas ou formação de regularidades de compor-
„tamento, de um lado, e de fases de crítica, de outro lado.
Embora seja excessivamente simplista a idéia de que existe uma
fase dogmática a que se segue uma fase crítica, nao deixa de ser
verdadeiro que não pode haver fase crítica sem uma fase dogmática
anterior, fase em que algo se forma —— uma expectativa, uma regu
laridade comportamental — de maneira que .a eliminação do erro
possa começar a atuar sobre ela.
Essa concepção levou-me à rejeitar a teoria psicológica do apren
dizado pela indução, teoria que o próprio Hume perfilhou, mesmo
depois de haver abandonado a indução, com base em considerações
estritamente lógicas, (Nao è preciso repetir aqui o que já disse, em
Conjectures and. Refutations, acerca das idéias de Hume sobre o
hábito.55) A concepção levou-me, ainda, a; notar que não existe
nada a que se possa chamar observação destituída de preconceitos.
Qualquer observação é uma atividade com um objetivo (encontrar
ou. verificar alguma, regularidade que- foi pelo menos vagamente
vislumbrada) ; trata-se de uma atividade norteada pelos problemas
e pelo contexto das expectativas, ,(q “horizonte:. ,das ..expectativas53,
como eu o chamaria mais tarde).. 3$ã.Oí há* -experiência .passiva ■ não
há recebimento passivo de idéias previamente concatenadas,, A expe
riência é resultado de uma exploração atiya executada;^pelor orga
nismo, da busca de regularidades ou.. ÍatQiie5f4^V3uriap<t^í ..Mã©;.ie?áste
outra forma de percepção que não seja, no £ oritex to7:de~ánter esses e
expectativas, e, portanto, de regularidades e “Ijèisl.V/ názz • .
Essas reflexões levaram-me à suposição de que a. conjectura ou
hipótese precede a observação ou percepção; temos;; expectativas
inatas; dispomos de conhecimentos inatos latenteSj na formá de ^ex
pectativas latentes, que hão de ser ativadas por estímulos:, aps .-quáis
reagimos, via de regra, enquanto nos empenhamos? na Jêxploração
ativa. Todo aprendizado é uma modificação (que pode assumir a
forma de'refutação) de algum conhecimento anterior, ou sêja- em
última instância, de algum conhecimento inato56.
Foi essa a teoria psicológica que tentei elaborar, numa termi
nologia não muito precisa, entre 1921 e 1926- Foi a tçoria de fbr-
mação de nosso conhecimento que me ocupou e distraiu no períòdò
em que eu trabalhava como aprendiz de marceneiro.
Um dos pontos peculiares de minha vida intelectual é o se
guinte. Embora me preocupasse, naquela época, o •contraste entre
o pensamento dogmático e o pensamento crítico; embora eu visse ò
pensamento dogmático em, termos de pensamento pré-científico (e
como “nao-científico”, no momento em que pretendesse tornar-se
“científico” ) ; e embora eu compreendesse que havia um liame entre
essas noções e o critério de falseamento, para demarcação entre Ciên
cia e pseudqciêncía, não cheguei a notar que tudo isso se ligava ao
problema da indução.. Durante anos, esses dois problemas conti
nuaram a ocupar escaninhos diferentes (e q u a s e hermeticamente fe
chados) de minha mente, conquanto eu julgasse ter solucionado o
problema da indução ao descobrir que simplesmente inexistia indução
pela repetição (como inexistia o aprendizado de algo novo pela
repetição): o.chamado método indutivo da. Ciência fora substituído
pelo método, da tentativa (dogmática) e da eliminação de erro
(crítica), que era o procedimento de descoberta usado por todos os
organismos, da ameba até Einstein.
Eu não dáva conta, evidentemente, de que as soluções por mim
propostas para os dois problemas — o da demarcação e o; da, indur;
ção — assentavam numa só idéia: ^a da separação, entre pensamentoí
:d©ginátieo e crítico. Ainda assim, os dois problemas pareciam-me di
versos-—- e a demarcação não- se assemelhava à seleção darwiniana.
Somente após alguns anos cheguei a ^compreender que havia uma
conexão estreita entre eles e que o problema' da indução decorria,
essencialmente, da solução errônea dada ao problema da demarca
ção — decorria da falsa crença de que ' a Ciência se sobrepunha à
pseudociência por força do “método científico5’ (método de obter
conhecimento verdadeiro, seguro, justificável) e de qué esse método
científico seria o indutivo: uma crença qüe estava eivada de falhas.
1 1 . Música
0 2
culos I X e X V de nossa era. Se assim é, tratar-se-á, possivelmente,
dè uma realização sem raizes anteriores, a mais original e, na veir-
dadep a mais miraculosa da civilização ocidental, sem , excluir a
Ciência.
Os fatos, são, aparentemente3 os que passarei a referir. Havia
muito canto melódico — musica ,dè dança, música folclórica e, acima
de tudo, música religiosa. As melodias — especialmente quando
lentas, çomo as cantadas na. Igreja---- eram . naturalmente cantadas,
por vezes, em oitavas paralelaá: Há referências de que eram tam
bém cantadas em quintas paralelas (que, com as oitavas, formam
também quartas, embora não a contar da nota mais grave). Essa
maneira de cantar {“organum” ) liga-se ao sétulò .X e existiu pro
vavelmente antes. O canto gregoriano era. tambéíií éní- terças-para
lelas, assim como em sextas paralelas (ambas' a Cohtar";dq baixo: -
‘'fauxbourdon”, “faburderi”) 58. Isso, ao que parece, era Cònsiderado
como uma real. inovação, como um acompanhamento ou mesmo
ornato.
Aparentemente, o passó seguinte (conquanto se diga que .suas
origens remontam ao século IX ) terá consistido no seguinte: per
manecendo inalterada a\ melodia do cantochão, as vozes de acom
panhamento deixaram de ser apenas em terças e sextas paralelas.
Permitia-se, agora, um movimento antiparalelo de nota contra nota
(punctum contra punctum, ponto contra ponto) que podia levar
não.-somente a terças e sextas, mas a quintas, a contar do baixo e,
portanto, a quartas entre este e algumas das outras vozes.
. Em rainhas reflexões, considerei este último passo, a invenção
. do contraponto, como o decisivo. Embora não haja certeza de que
ele tenha sido cronologicamente o último, foi o que levou à polifonia.
Talvez — acaso com exceção dos responsáveis pela música sacra
— nao se considerasse na época que p “ organum” fosse um acrés
cimo à melodia de uma só voz. É bem possível que ele tenha nascido
simplesmente dos diferentes níveis de voz de uma congregação que
procurava cantar, a . melodia. Assim, “ organum” talvez tenha sido a
conseqüência nao-intencionai de uma prática religiosa, a saber, a en-~
toação das respostas por parte da congregação. Enganos dessa espé
cie podem ocorrer no canto grupai. É bem sabido, por exemplo, que,
nos festivais anglicanos, onde há o cantus firmus do tenor, as con
gregações tendem a cometer o erro de acompanhar (em oitavas)
a voz mais alta, de soprano, e não a de-tenor. De qualquer modo,
enquanto o canto se mantenha em paralelas estritas, não ha> polir
fonia. Podè haver mais de uma voz, mas há uma única: melodia.
,í^i;.í.,.^.íip<
erfeitaraente concebível que a origem do canto em contra--
ponto se corcunda co m . erros cometidos pela congregação. Quando
p canto- em. paralelo levasse a voz a uma nota mais alta do que a
que poderia sustentar, a voz caía para a nota cantada abaixo,
movendo-se assim contra punctum e nao em paralelo, cum puncto.
Isso pode ter ocorrido no canto organum ou no fauxbourdon. De
qualquer modo, assim se explicaria a primeira regra básica do con
traponto simples de nota para nota; a de que o resultado do
contramovimento deva ser apenas uma oitava ou quinta ou terça
ou sexta (sempre contadas a partir do baixo) / Embora, entretanto,
possa ter sido essa a origem do contraponto, sua invenção deve
ter-se devido ao músico que pela primeira vez se ideu conta de que
áli havia a possibilidade dè uma segunda melodia* mais ou menos
independente, a ser cantada conjuntamente com a melodia original
ou fundamental, o cantus ftrmus, sem perturbá-la ou interferir com
. ela mais dò que o organum ou o fauxbourdon. E isso nos leva à
segunda-regra básica do contraponto: importa evitar oitavas e quintas
paralelas, porque destruiriàm ò pretendido efeito de uma segunda
melodia independente, Com efeito, elas levariam a um não-desejado
(embora temporário) efeito organum e, assim,; ao desaparecimento
da segunda melodia como tal, pois a segunda voz reforçaria apenas
(como no canto organum) o cantus f i r m u s T erças'a sextas’ para
lelas (como no fauxbourdon) são permitidas, contanto que pronta
mente precedidas ou seguidas por um contramovimento real (com
respeito a algumas das partes).
Assim, a idéia básica é a que sç exporá a seguir. A melodia
fundamental ou dada, o cantus firmus, põe limitações a qualquer
segunda melodia (ou contraponto), mas, á despeito dessas limita
ções, o contraponto deve aparecer como uma melodia independente,
livremente. inventada, melodiosa por si mesma e, sem embargo,
quase miraculosamente conjugada ao cantus firmus, embora, diver
samente do organum e do fauxbourdon, de maneira alguma depen
dente dele. Uma vez apreendida essa idéia básica, compreende-se
a polifonia.
Nao alongarei o assunto. Passarei, em vez. disso, a expor a
conjectura histórica por mim formulada nesse particular — con
jectura que, embora possa ser falsa, foi de grande significação para
,todo o meu posterior desdobramento^ de idéias. E consistiu no
seguinte.
Considerada a herança dos gregos e ó .desenvolvimento (e con
sagração) dos modos da Igreja, na época de Ambrósio e Gregório
o Grande, não haveria necessidade de invenção da polifonia, nem
64
estímulo para tanto, se os músicos sacros tivessem gozado da mesma
liberdade que tinham, digamos, os criadores da canção folclórica.
Minha conjectura era a de que foi a canonização das melodias litúr-
gicas e as restrições dogmáticas que sobre elas pesavám que produzi
ram o cantus firmus ^ em oposição ao. qual o contraponto encontrou
meio de desenvolver-se. Foi o cantus firmus estabelecido que pro
piciou a estrutura, a ordem e a regularidade que. tornaram possível
a liberdade inventiva sem caos.
Na música de algumas regiões não-européias, verificamos que
as melodias estabelecidas dão nascimento a variações, melódicas —
o que me parece um processo análogo ao referido. Sem embargo/ a
combinação de uma tradição de melodias cantadas em paralélo com
a segurança de um cantus firmus, que não se altera nem mesmo
com d contramovimento, abriu para nós, de acordo com a conjectura
mencionada, toda uma nova ordenação do mundo, um novo cosmos.
Uma vez exploradas até certo ponto as possibilidades- desse cos
mos —- através de tentativas audaciosas e da eliminação de erros — ,
as melodias autênticas originais, aceitas pela Igreja, podiam ser aban
donadas. Melodias novas , podiam ser inventadas para substituir o
cantuç firmus original; umas se tornariam tradicionais por algum
tempo,: enquanto outras só podiam ser usadas numa única composi
ção músicaí-----por exemplo, como tema de uma fuga.
Nos termos dessa talvez insustentável conjectura histórica foi,
assim, a canonização das melodias gregorianas, um ato de dogma-
txsmo, que proporcionou o quadro necessário ou, melhor, o vigamento
necessário para construirmos um mundo novo. Também formulei a
conjectura nos termos seguintes: o dogma fornece-nos o. sistema de
coordenadas necessário para explorar esse mundo novo, desconhe
cido e possivelmente álgo caótico e, ao mesmo tempo, fornece-nos o
necessário para criar ordem onde a ordem falte. Assim, a criação
musícái e a científica parecem. ter isto em comum: o recurso ao
dogmá ou ao mitò, como trilha construída pelo homem, ao longo
dá qual nos. dirigimos para o desconhecido], explorando o mundo
e, a um tempoj criando regularidades ou regras; e: investigando
regularidades existentes. Uma vez que -teríhamos encontrado ou
erigido alguns marcos, -passamos a ensaiarrnovas formas de ordenar
o mundo, novas coordenadas, novos modos5 de exploração e criação,
novas maneiras de construir um mundo novo, de que a Antiguidade
nao suspeitou, a rião: ser ao esboçar o mito da música das esferas.
Com efeito, uma grande composição musical (assim como uma
grande teoria científica) é um cosmos que se impõe a um caos —
com tensões e . harmonias inexauríveis áté mesmo para seu próprio
criador. Isso foi dito por Kepler59, com maravilhosa penetração,
em passagem dedicada à música dos céus i ..
74
problemas que ele se empenha, eih .solver.- (Isso é ób.vio numa; arte
como a Arquitetura, onde sempre Jiá problemas/prátiéos e : técnicos
a serem resolvidos.) Ao compor uma; fuga/vo; :probíémà rdo-^còmpoT
sitor é o de encontrar um tema interessante:,e^ um;contraponto fcon
trastante, para, então, explorar esse materiaktãol ibera ^quantó^possivel
Poderá ele orientar-se por um-íexperimentadosáerítidcíí^è^, adequação
geral, ou “equilíbrio”. O resuItadouvcoh.tinuáráí^%tálvèz; v^èndól jde
caráter emotivo;. mas pod<^>^ax*<tô^uje^nô^^#pr£dãç|lóiãs.é^ãp.óie-
nura sentimento de adequação;-— de-í^iitSeõsmos ^ ^èmérgihS.darjtjüa-:
se-caos — e não d e' percepção:de ,,umagemoção^ q u ^ ü j^ ^ ê^ esèn --
tada. O mesmo se dirá .dè ; algemas '.j-nv&açQes, de 3açhj^cjija>;|pEçp^.
cupaçao era a de proporcionar. ao:,alunq.^um ,piimeiro%sa|^£^dp^çq^;;
posição, de solução para um problema musical^>:Analpgãçqien|igi;;. „a
tarefa de compor um minueto ou um. £xio çplocàfeió^ .
um problema definido; e o problema se tornará maispespeçífiGpjãna
hipótese de exigir-se que a composição se integre númar ísúite; a; ser'
completada. Ver o músico a empenhar-se na solução dé .problemas
musicais é, claro, muito diverso de vê-lo buscando expressar . :suas
emoções (o qvie, trivialmente, ninguém pode deixar de fazer).
, Procurei dar uma idéia razoavelmente clara da diferença. entre
essas duas teorias concernentes à música, a objetivista e a subjetivista,
e busquei relacioná-las com as duas espécies de música — a de
Bach e a de Beethoven — que, na época, me pareciam muito diversas,
embora eu apreciasse ambas. .
Tornou-se de importância para mim a distinção entre a visaó
objetiva e a visão subjetiva de uma obra; e essa distinção, posso
dizê-lo, matizOu-me as concepções acerca do mundo è da vida, desde
os meus 17 ou 18 anos.
Por cérto que nao era muito justo eu considerar Beethoven res-
; ponsável pelo surgimento do expressionismo em música. Não há
dúvida de que ele sofreu influência do movimento romântico, mas
podemos verificar, por seus livros de anotações, que estava m u ito
longe de- apenas expressar os próprios se n tim e n to s òu fa n ta sia s.;
Amiúde, elè trabalhava arduamente versão após versão de uma idéiaj
procurando dar-lhe simplicidade e clareza, tal como é possíyel-ver^se^;
comparando a Fantasia Coral com as anotações relativas;v^ ^ o f e ; ::
Sinfonia. Entretanto, a influência indireta de sua- personahdade. íemblí'
pestuosa e as tentativas de emulá-Io levariam* segundò crèio,.:a-v.iini
declínio na música. Ainda me parece que, em grande parte, esse
declínio foi provocado pelas teorias musicais expressionistas. Mas eu
nao afirmaria agora que inexistam .outros credos igualmente perni
ciosos e, entre eles, alguns credos antiexpressionistas, que têm levado
a toda espécie de experimentos formalistas, desde o sefialismo até a
musique concrète. Todos esses ^movimentos, contudo, e em- parti
cular os movimentos tcanti” resultam desse ramo do “historicismo”,
que examinarei logo adiante, nesta seção e, especialmente, da atitude
histçricista em face do. "progresso”. '
Naturalmente que ; existe em Arte. algo como o progresso, no
sentido de que se podem descobrir novas possibilidades, assim como
novos problemas7&. Em música, invenções como a •do contraponto
revelaram quase que uma infinidade de novas perspectivas e de
questões novas. Além disso, há o processo púramente tecnológico
puro (por exemplo, em certos instrumentos)' que, embora abrindo ca
minhos novos, não tem significação fundamental. (Alterações do
“meio” podem afastar mais problemas do què criá-los.) Goncebivel-
mente, há progresso até mesmo no sentido do aumento dó conhecimen
to musical, isto ê, n o sen tid o de um compositor dominar as descobertas
feitas por seus grandes predecessorès; mas não creio que nada dessa
ordem haja sido alcançado por qualquer músico. (Einstein talvez
não tenha sido um físico superior a Newton, mas dominou comple
tamente a técnica newtoniána; nenhuma relação similar parece ter
jamais existido no campo da música.) Mesmo Mozart, que, mais
do que qualquer outro, se aproximou desse ponto, nao chegou a
atingi-lo e Schubert dele sequer se aproximou, Há sempre também
o perigo de que possibilidades recentemente concretizadas destruam
as anteriores: os feitos dinâmicos, a dissonância e mesmo a moduláçao,
caso utilizados demasiado livremente, podem desgastar-nos a sensi-
bilidade para os efeitos mènos óbvios do contraponto ou, digamos,
para uma alusão aos velhos modos.
A perda de possibilidades, como resultado de uma inovação,
constitui um problema, interessante. Assim, o contraponto suscitou
o perigo de se perderem, òs. efeitos monódicos e, especialmente, os
rítmicos, e por essa razão a música de tipo contrapontístico foi criti
cada, como também o foi por sua complexidade. Não há dúvida
de que: tàl ■crítica teve algumas; conseqüências salutares e de que
grandes.mestres do contraponto., Bach inclusive, tiveram o maior
interesse pelas dificuldades e contrastes que .decorrem da combinação
de recitativoSjvárias e outras alternativas, monódicas com a escrita
cóntrapontística. Muitos compositores recentes se mostraram menos
imaginosos. (Schõnberg -deu-se conta de que, num contexto de
dissonancias, as consonâncias devem ser cuidadosamente preparadas
introduzidas e, talvez, até mesmo resolvidas. Isto significava, entre
tanto, que estava, perdida a velha função que elas desempenhavam.)
Foi W agner80 quem introduziu^.,na' música uma idéia de pro
gresso que (era 1935 aproximadamente); denominei “historicista” e
éle se tomou, por isso, continuo a crer,-oprincipal vilão da peça.
Defendeu Wagner também a idéia. ,.iião-crítica, „e quase histérica do
gênio incompreendido: gênio que expressa;;nãq, só.o espírito de sua
época, mas que, na verdade, ,.está. -' -adiante; ;.de ;seu tempo’5j um líder
que, normalmente, é mal interpretado porvítodos os seus , çpntempo-
râneos, salvo uns poucos espíritos “avançados”, -■: ...... .;
Minha tese é a de que a doutrina da Arte como.'auto^èxpressão
é trivial, confusa e vazia — embora não necessariámeri te., viciosa, a -
nãò ser que tomada, a sério* pois, nesse caso, poderá levar; facilmente
a atitudes egocêntricas e à . megalomania. Mas a doutrina^ de . que o
gênio tem de estàr adiante. de seu tempo é quase inteiramente falsa
e viciosa, e expõe o universo da arte a juízos que nada têm a . ver
cora valores artísticos.
Do ponto de vista intelectual, ambas as teorias se colocara em
nível tão baixo que surpreende o fato de terem sido levadas a sério.
Com base em argumentos puramente intelectuais, e sem mesmo con
siderar de mais perto a própria Arte, a primeira dessas teorias pode
ser descartada por banal e mal orientada. A segunda — a teoria
de que a. Arte é expressão do gênio que. está adiante de sua época —
refutam-na inúmeros exemplos de gênios apreciados em seu tempo
por muitos patrocinadores das artes. A maioria dos grandes pintores
do Renaseimento foi muito apreciada. ; E também o foram muitos
.dos grandes músicos. Bach foi admirado pelo rei Frederico da Prússia
aliás, ele obviamente não estava à frente de seu tempo (tal como
esteve, talvez, Telemann) : seu filho Gari Phillip Emanuel julgava-o
passé e a ele se referia habitualmente, chamando-o de “velho imper
tinente” (“der aíte Z o p f’). Mózart, embora tenha morrido pobre,
foi admirado em toda, a Europa. Uma exceção talvez seja Schubert,
apreciado apenas por um círculo relativamente pequeno de amigos
vienenses; mas ele começava a ser conhecido mais amplamente ao
tempo de sua prematura morte. A história de que Beethoven não
e r a estimado por seus contemporâneos não passa de um mito. JMaõ
obstante, permitam-me repetir aqui (ver seção 10, atrás) o nieu
pensamento de que o êxito na vida é, em grande parle* uma questão
de sorte. Isso tem muito pouco a ver com o mérito è- erri - todòâ :os
campos da atividade humana houve sempre pessoas r; dotadas:-.de
7,7
grandes qualidades que não alcançaram êxito. Ê, pois, de esperar
que isso também tenha acontecido na esferã das Ciências e das Artes.
A teoria de que a Arte ayança com os grandes artistas é não
apenas um mito;..levou à.formação de facções e de grupos de pressão
que, com suas máquinas de propaganda, chegam quase a lembrar
um partido político ou uma seita religiosa.
Houve/ indiscutivelmente, grupos facciosos antes de Wagner.
Mas não houve algo que se.assemelhasse aos wagnerianos (a não ser,
posteriormente, os freudianos) : um grupo de pressão, um partido,
uma seita com rituais. Entretanto, nada mais direi a este respeito,
pois Nietzsche já disse tudo e muito melhor que eu 81.
Percebi de perto algumas dessas coisas na Sociedade de Con
certos Privados, de Schõnberg.. Schõnberg foi, de iníciò, wagneriano,
como. tantos ,de seus contemporâneos.. Depois de algum tempo, seu
problema e o de muitos membros do seu círculo passou a ser, como
um ; deles disse numa conferência, “Como poderemos suplantar
Wagner?” ou mesmo ''Çomo poderemos superar o que* em nós,
resta de Wagner?” Mais tarde ainda, a indagação tornou-se “Como
poderemos permanecer à vanguarda de todos os outros e, apesar
disso, suplantar-nos constantemente a nós mesmos?” Parece-me, en
tretanto, que estar adiante da própria épòca nada tem a ver com
servir à música, nada tem a ver còm a genuína dedicaçao à própria
obra. . '
Anton von Webern era, nesse ponto, uma exceção. Eoi músico
dedicado e homem simples e agradável. Contudo, tinha sido. edu
cado na doutrina filosófica da auto-expressão, de cuja verdade jamais
duvidou. ContOu-me ele, certa vez, como . havia composto seus
Orchesterstücke: ouvia apenas os sons que lhe ocorriam e lhes dava
forma escrita; quando não mais lhe ocorreram sons, parou. Essa,
dizia ele, era a explicação da extrema brevidade de suas peças. Nin
guém poderia pôr em dúvida sua pureza de coração; mas não havia
muita música , em suas modestas composições.
Talvez possa haver algo na ambição de compor uma grande
obra; talvez essa ambição seja um instrumento para criar uma
grande obra; porém,, muitas grandes obras foram produzidas sem
outra. ambição que não a de executar bem o próprio trabalho. To
davia, ã ^mbição de compor uma obra, que esteja adiante da época
: é;^úé;:; preferivelmente, não seja entendida demasiado cedo — que
vcho.qúe: o? maior número possível de pessoas -— é alheia à Arte, a
;;-:^iespéitÒv:dè:-..niuitos críticos de arte haverem estimulado e populari-
.•vzâlâiõfiSsSSÊr^Liitude'.-. ’•
Á moda, suponho eu, é tao inevitável em Arte como era muitos
outros campos. Entretanto, deveria, ser obvio •que os raros artistas
que foram não apenas mestrès de sua arte, mas também distinguidos
com o dom da originalidade, raramente se mostraram inclinados a
seguir a moda ou a criar moda. Ném Johann Sebastian Bach nem
Beethoven nem Mozart criaram, em música, uma nova moda ou
um novo “estilo”. Criou-o, porém, Gari Philiip. Emanuel Bach,
músico bem formado, que tinha talento e -graça;; e menos. origina
lidade de invenção que os grandes mestres. O ;. que - ficouf dito vale
para todas as modas, inclusive a do -prirUitivismo --^ : conquanto p
primitivismo possa, em parte, decorrer de, uma preferência pela ^sim
plicidade; e uma das mais sábias observações de Schopénhauèr *
(embora talvez nao a mais original) foi a de que "Em toda arte
( . . . ) a simplicidade é essencial ( . . . ) ; pelo menos é sempre peri
goso, esquecê-la” ®V Penso que ele pretendia referir-se ao empenho
de atingir a espécie de simplicidade que encontramos, de maneira
especial, nos temas dos grandes compositores. Como podemos ver
no Seraglio, por exemplo, o resultado será talvez complexo, mas.
apesar de tudo, Mozart pôde responder orgulhosamente ao Impera
dor José que, naquela peça, não havia sequer uma nota de mais.
Conquanto as modas sejam inevitáveis e surjam novos estilos,
devemos desdenhar ás tentativas de estar na moda. Deveria estar
claro, que o “modernismo” -— o desejo de ser original ou diferente
a qualquer preço, de estar à frente da época, de produzir A Óbra de
Arte do Futuro (título de Um ensaio de Wagner) — é algo estranho
ao que um artista deveria valorizar e esfòrçar-se por criar.
O historicismo em Arte não passa de um equívoco. Encontra
mo-lo, apesar disso, em todos ps lugares. Mesmo no campo filosó
fico ouve-se falar de um novo estilo de filosofar, de uma “Filosofia
em Nova Clave” — como se importasse a clave e não a melodia,
como se importasse o fato de a clave ser nova ou velha.
Claro que não reprovo um músico ou artista que tenta dizer
álgo novo. Aquilo que reprovo em muitos dos músicos “modernos”
é a incapacidade de amar a grande música — os grandes mestrès^ e
suas obras miraculosas, as maiores,, talvez, que o Homem ja produziu.
79
frouxamente, à Universidade. Seria autônomo, mas seus alunos fre
qüentariam cursos na Universidade, além de cursos desenvolvidos
no próprio Instituto. . Alguns cursos universitários (como o de Psico
logia) eram obrigatórios para os alunos do Instituto, enquanto outros
eram optativos. Tinha o novo Insdtüto o objetivo de facilitar e dar
apoio à reforma, èntão em processo, das' escolas primárias e secun
dárias de Viena, è alguns interessados em trabalhos de caráter social
foram admitidos como alunos; eu: estava èntre eles. Entre eles esta-
vam também alguns amigos meus de toda a vida — Fritz Kolb,
que após a Segunda Guerra Mundial fói embaixador da Áustria no
Paquistão, .e Robert Lammer, os dois meus intérlocutores em muitas
discussões fascinantes.
Isso queria dizer que, após um curto período como trabalhadores
sociais, teríamos de abandonar a ocupação (sem auxílio -desemprego
ou renda de qualquer espécie, exceto, no meu caso, a ocasional
ajuda de estudantes norte-americanos). Estávamos entretanto entu
siasmados com a reforma escolar e ansiosos por estudar —- ainda
que a experiência com crianças abandonadas tivesse tornado alguns
de nós céticos no que se referisse a- teorias educacionais, que deve
ríamos absorver em grandes doses. Essas teorias eram. importadas,
principalmente dos Estados Unidos da América (John Dewey) e
da Alemanha (Georg Kerschensteiner).
De um ponto de vista pessoal e intelectual, os ános de Instituto
foram, para mim, de grandé significação, pois ali encontrei a que
seria minha mulher. Era uma de minhas colegas e tornar-se-ia um
dos mais severos juizes de minha obra. A parte qúe lhe cabe nessa
obra, desde aquela época, é pelo menos tão ativa quanto a minha
própria. Com efeito, sem minha mulher, grandeparte demeus tra
balhos jamais teria sido escrita.
Os anos que passei no Instituto foram anos de estudos, de lei
turas e de trabalhos — embora eu nada publicasse. Foram meus
primeiros anos de docência acadêmica (nao-oficial). Ao longo de
todo esse tempo, orientei seminários freqüentados por meus colegas.
Conquanto, na época, eu não me desse conta, disso, foram seminários
proveitosos. Alguns deles eram1 despidos de qualquer formalidade
e se realizavam durante excursões, enquartto esquiávamos ou quando
passávamos o dia numa ilha, no rio Danúbio. Com os professores
do Instituto, aprendi muito pouco, porém ‘ aprendi muito com Karl
Bühler, professor d e ,Psicologia da Universidade. (Embora os alunos
do Instituto Pedagógico lhe freqüentassem asaulas, ele nãoensinava
no Instituto, nem tinha uma posição ali.)
80
^ Além dos seminários, ministrei aulas, também não-oficialmente,
a fim de preparar meus colegas para os incontáveis exames que tinha-
mos de fazer, inclusive os exames de Psicologia, propostos por
Bühler. Disse-me ele mais tarde (na primeira conversa privada que
mantive coín. um professor universitário) que aquele havia sido o
grupo mais bem preparado que ele examinara.. Bühler fora chamado
pouco antes para lecionar Psicologia, em Viena e, naquele tempo,
era. mais conhecido por seu livro O Desenvolvimento..^Mental da
Criança*?. Ele fora também um dos primeiros psicólogos; da. Gestalt.
De fundamental importância para meu desenvolvimento futuro loi
sua teoria dos três níveis ou funções da linguagem (já referida, nota
7 8 ): a função expressiva (Kundgabefunktion), a função de assina-
lamento ou liberação (Auslôsenfunktion) e em nível superior, , a
função descritiva (Darstellungsfunktion) . Esclarecia ele que as
duas funções inferiores são comuns às linguagens humana e animal
e de presença constante, ao passo que a terceira função é caracte
rística tão-somente da linguagem humana e, por vezes (como nas
exclamações) está ausente até mesmo dela.
Essa teoria tornou-se relevante para mim por várias razões. Ela
confirmava minha concepção de improcedência da teoria de que a
arte é auto-expressão. Levou-me, posteriormente, a concluir que a
teoria segundo a qual a arte é “comunicação” (isto é, liberação)84
também, era vazia, pois essas duas funções estão trivialmente pre
sentes em todas as linguagens, mesmo na linguagem animal. Le
vou-me a reforçar minha .visãó “objetivista”. E fez com que —
alguns anos depois---- , às três funções apontadas por Bühler, éu acres
centasse a que chamei função argumentativa85. A função argu-
mentativa da linguagem revestiu-se de particular importância para
m im devido ao fato de eu considerá-la a base de todo pensamento
crítico.
Estava eu no segundo ano do Instituto quando conheci o pro
fessor Heinrich Gomperz, a quem. fui apresentado por Karl Po-
lanyi. Heinrich Gomperz era filho de Theodor Gomperz (autor dé
Pensadores Gregos, amigo e tradutor de John Stuart M ill). Tal
como o pai, ele e r a profundo conhecedor da Grécia; além de inte-
réssar-sè. muito por Epistemologia. Era o segundo filósofo profissio
nal e o primeiro professor universitário de Filosofia que eu conhecia.
Anteriormente, eu havia sido apresentado a Julius Kraft (de Hano-
ver, distante parente meu e discípulo de L e o n a r d Nelson)86, que
viria a tornàr-se professor de Filosofia e Sociologia em Frankfurt;
. nossa amizade perdurou até sua morte, em 196087.
Julius Kraftj à semelhança de Leonard Nelson, era um. Socialista
não-marxista, e cerca de metade das discussões havidas entre nós,
que freqüentemente se prolongavam até as primeiras horas da ma
nhã, tinham como tema central minha crítica de Marx. A outra
metade das discussões girava em torno da teoria do conhecimento,
especialmente em tórno da chamada: “dedução transcendental”, =de
Kant (em que eu via uma petição de princípio), da solução por ele
proposta, para as antinomias,. e da “Impossibilidade da Teoria do
Conhecimento”, de Nelson88. Em torno desses assuntos travamos
árdua batalha, que se prolongou de 1926 a 1956 e, até um pouco
antes de sua prematura morte, em 1960, nada anunciava que che
gássemos a um acordo. Quanto ao marxismo, logo nos pusemos em
concordância. í
Heinrich Gomperz sempre , fòi paciente comigo. Tinha a repu
tação de ser mordaz e irônico, mas nunca constatei nada disso. Mos
trava-se muito espirituoso ao falar a respeito de colegas seus famosos,
como Brentáno e Mach. De tempos em tempos, convidava-me para
visitá-lo em sua casa e deixava-me falar. Em, geral, eu lhe dava
trechos de manuscritos para. ler, mas eram poucos os seus comen
tários. Jamais criticou o que eu dizia, mas chamou-me a atenção .
com muita freqüência para concepções afins é para livros e artigos
que se ocupavam da mesma questão. Jamais deixou entrever que
julgasse importante o que eu dizia, até que lhe encaminhei, alguns
anos depois, 0 manuscrito de meu primeiro livro (ainda inédito —
ver seção 16, adiante). Nessa ocasião (dezembro de 1932), dirigiu-
-me uma carta altamente elogiosa, a primeira que recebi acerca de:
algo que escrevera.
Li todos' os trabalhos dele, que eram notáveis pela abordagem
histórica: ele sabia como acompanhar um problema histórico através
de todas as suas vicissitudes, desde Heráelito até Husserl e (pelo
menos em, conversas)' até Otto Weiniriger, que ele conhecera pes~
soalménte e considerava quase um gênio. Discordávamos quanto à
Psicanálise^ Na ocasião, ele acreditava na Psicanálise e chegou
a colaborar em Imago.
Os problemas que eu discutia còm Gomperz eram os relativos
à psicologia do conhecimento ou da. descoberta; foi durante esse
período que eu os troquei pelos problemas da lógica da descoberta.
Eu reagia mais fortemente contra qualquer enfoque “psicologista”,
inclusive contra o psicologismo de Gomperz.
O próprio Gomperz havia criticado o psicologismo — apenas
.pala recair nele89. Foi principalmente em discussões com ele que
comecei a acentuar, ò meu realismo, a convicção de que há um
mundo , real e de que o problema do, conhecimento é o problema de
saber como descobrir esse mundo. Convenci-me de que, se dese
jarmos discutir acerca do mundo, nao poderemos partir, de nossas
experiencias sensoriais (nem mesmò de nossossentimentos, como a
teoria de Gomperz reclamava) sob pena de sermos,.apanhados pelas
armadilhas do psicologismo, do idealismo, do positivismo,, do feno-
menaíismo e àte do solipsismo — concepções a que .eu me . recusava"
a atribuir importância. Meu senso de responsabilidade social-;dizia-me
que levar a sério tàis problemas eqüivalia a uma espécie de traição
do intelectual — e desperdício do tempo que devíamos dedicar a
problemas verdadeiros.,
Como eu tinha acesso aó laboratório de Psicologia, realizei
alguns experimentos que logo me convenceram de que os dados
sensoriais, idéiás ou impressões “simples”, e outras coisas dessa mesma
espécie, nao existem; são fictícios — invenções fundadas em errôneas
tentativas de transferir o atomismo (ou a lógica aristotélica — ver
adiante) da Física para a Psicologia. Os defensores da Psicologia
da Gestalt sustentavam concepções semelhantes, mas parecia-me que
estas não eram suficientemente radicais. Verifiquei que minhas con
cepções eram análogas às de Oswald Kulpe e sua escola (a Würz-
burger Schule), especialmente às de Bühler30 e de Otto Selz91.
Tinham eles concluído que não pensamos por imágens, mas em ter
mos de problemas e de tentativas de solucioná-los. Dar-me conta
de que algumas de minhas conclusões haviam sido antecipadas, em
particular por Otto Selz, foi, suspeito, uma das razões menores para
ei} me' afastar da Psicologia.
Abandonar a psicologia da descoberta e da reflexão, à qual eu
havia devotado anos, fpi um processo demorado, que veio a culminar
na seguinte introvisão: ; entendi què a Psicologia da associação — a
Psicologia de Locke, Berkeley e Hume — era simplesmente uma
tradução da lógica aristotélica de sujeito-predicado em termos
. psicológicos.
A lógica aristotélica dá atenção a enunciados como “Os ho
mens são mortais”: ‘Aqui, há dois “termos”;, e uma “cúpula” què os
liga ou associa. Traduza-se isso em termos psicológicos e dir-se-a
que pensár consiste em ter eis “idéias” de homem « de mortalidade
“associadas” uma, à'o u tra.' Basta ler as obras de Locke a partir desse
ponto de vista para perceber como o fato ocorreu: seus pressupostos
básicos são de que a íógica aristotélica é válida e de que-déscreve
. nossos processos mentais subjetivos, psicológicos. Contudo, a lógica
de sujeito-predicado é algo muito primitivo. (Pode ser encaxada
83
como Interpretação de um reduzido fragmento de álgebra booleana,
descuidadamente combinado, com uma pequena pòrçao de ingênua
teoria.dos conjuntos.) i t incrível que alguém ainda a considere uma
psicologia empírica.
Um novo passo adiante mostrou-me que o mecanismo de trans
formar uma. doutrina lógica duvidosa em psicologia supostamente
empírica ainda continuava em operação e apresentava perigos, mes
mo para um . pensador notável como Bühler.
Com efeito, ná Lógica de Kulpe82, que Bühler aceitava e muito
admirava, os argumentos eram vistos como juízos complexos (o que
é um erro do pontò de;vistayda Lógica moderna)93. Em conseqüên
cia, não podia haver úma distinção reál entre julgar e argumentar.
Outra/ícònseqüência era a de que a função descritiva da linguagem
(correspondente aos “juízos”), e a função argumèntativa eqüivaliam
à mesma coisá; assim, Bühíer deixara de perceber que elas poderiam
ser tão claramente separadas, quanto as três funções da linguagem
que ele já havia distinguido.
A função expressiva de Bühler poderia ser separada da sua fun
ção comunicativa (ou função de assinalamento, ou função de libe
ração) porque a um homem ou animal é dado expressar-se ainda
que não haja “receptor” a ser estimulado. O conjunto das funções
expressiva e comunicativa poderia distinguir-se da função, descritiva
de Bühler porque um homem ou animal pode comunicar o medo
(por exemplo) sem descrever o objeto temido. A funçãò descritiva
(função superior, ao ver de Bühler, e apanágio do homem) era,
ségUndo verifiquei então, claramente distinguível da função argu-
mentativa, pois existem linguagens, como a dos mapas, que são des
critivas, mas nao argument^tivas94. ( Isso, anotemos de passagem,
torna particularmente infeliz a analogia corrente entre mapas e teo
rias científicas. As teorias são sistemas de enunciados essencialmente
argumentativos:. seu ponto principal é explicarem de forma dedutiva.
Os mapas sao não-argumeiitativos. Está claro que toda teoria é
também descritiva, à semelhança de um mapa — e é, como todas
as linguagens descritivas, comunicativa, de . vez que pode levar as
pessoas a agir; e é também expressiva, pois se constitui em sintoma
cio . “estado” do comunicador — que poderá ser, talvez, um compu
tador,). Havia, assim, um segundo. caso, ém que um erro de Lógica
. levava •.a ?erro em Psicologia^ envolvendo, nesta hipótese, a psicologia
: idaferdispqsições lingüísticas e das necessidades biológicas inatas, sub
jacentes-: aos usos e realizações da linguagem humana.
ífe4#|FLudo;.iss6 marcava a meus olhos a prioridade do estudo da
Lógiçai.flsobre o . estudo dos processos subjetivos de pensamento. E
fez-me suspeitar dé muitas das teorias psicológicas aceitas na época.
Cheguei, por exemplo, a conclusão de que a teoria do reflexo con
dicionado e erroneà. Não há reflexo condicionado. Temos de en
tender que os cães de Pavlóv estão buscando invariantes no campo
dá obtenção de alimentos (campo que é essencialmente “plástico35, ou,
em outras palavras, suscetível de modificação por tentativa e erro)
e que estao formulando expectativas ou. antecipações- acerca de even
tos por se realizarem. A isso podeir-se-ia: chamar “condicionamento” ;
não se trata, porém, de -um- reflexo - formado como conseqüência
de um processo de „aprendizado^ mas -dei uma descoberta (equivo
cada, talvez) acerca do que antecipar 95. Assim,-até mesmo os re
sultados aparentemente empíricos obtidos por; Pavlovji e a Reflexo-
logia de Bechterev 96} e a maioria das conclusões dá moderna teoria
do aprendizado mostraram, sob esse ponto dé vista,;.ser ; interpreta
ções errôneas, de caráter lógico-aristotélico, dos próprios / fatos - por
elas verificados; pois a reflexologia e a teoria do condicionamento
não passam -de psicologia da associação, traduzida em termos neu
rológicos.
Em 1928, apresentei, uma tese de doutoramento que, embora
fosse o resultado indireto de anos de trabalho no campo da psicologia,
do pensamento, e da descoberta, assinalou finalmente meu afasta
mento da Psicologia. Deixei inacabado p trabalho relativo à esfera
psicológica; eu nao dispunha'nem mesmo de cópia decente da maior
parte do que havia escrito; e a tese "A Propósito do «Problema do
Método na Psicologia do Pénsamento” 97 era uma espécie de peça
de última hora, originalmente concebida apenas como introdução
metodológica a meu trabalho em Psicologia, embora indicativa ágora
de minha transferência para o campo da Metodologia.
A tese me desagradou muito, e nao voltei sequer a olhá-la.
Também me desagradaram muito meus dois exames “rigorosos”
(“Rigorosum3> era o nome dos exames orais públicos pára obtenção
do título de doutor em Filosofia), um de História da Música e o
outro de Filosofiá e Psicologia. Bühler,. que já me haviaex;aminado
em Psicologia, não. fez nenhuma pergunta relativa a essa matéria,
mas estimulou-me a falar de minhas ideias acerca de Logica e de
Lógica da Ciência. Schlick argüiu-me principalmente a proposito
de História dá Filosofia e me saí tão mal em Leibniz que temi uma
reprovação. Quase não acreditei em meus ouvidos quando soube
que fora aprovado- em ambos os exames com o mais alto grau,
“einstimmig mit Auszeichnung”. Sentirme naturalmente aliviado e
feliz, mas foi 'preciso que algum tempo se passasse para eu me liber
tar da sensação de que merecia ter sido reprovado.:
16. Teoria do conhecimento: “L.ogit der Forschuhg”
87
indutivistas; não havia diferença real entre as idéias de indução
e de verificação. Entretanto, de acordo com meu modo de ver, a
ciência não tinhá caráter indutivo; a indução era um mito que
havia sido destruído por Hume, (Ponto adicional, menos interessante,,
posteriormente acolhido por Ayer, era o de que parecia absurdo usar
a verificabilidade. como critério de significado: como sustentar que
uma teoria, por não ser passível de verificação, é palavreado oco?
Pois não era necessário entender uma teori^. para. julgar a possibili
dade de sua verificação? E uma teoria compreensível podia ser
palavreado oco?) Tudo isso me.levou a considerar que eu possuía,
para cada um dos principais problemas abordados pelo Círculo, res
postas melhores — respostas mais coerentes — do que as oferecidas
por eles.
O ponto principal, talvez, estava era que eles eram positivistas
e, por conseguinte, idealistas. epistemológicos, na tradição Berkeley-
-Mach. Está claro que eíes não admitiam ser idealistas. Descre
viam-se como “monistas neutros”. Em: minha opinião, porém, esse
é apenas outro nome do idealismo H- "e acresce que o idealismo
presente nas obras de Garhap39 (sob o nome de solipsismo metodo
lógico) éra mais ou ; menos abertamente aceito como hipótese de
trabalho..
Escrevi bastante acerca desses temas (sem todavia publicar o
que escrevi), estudando minuciosamente os livros. de Carnap e ide
Wittgenstein. As idéias ordenaram-se de maneira coerente, sob o
prisma das concepções a que eu tinha chegado. Havia apenas uma
pessoa a quem eu podia apresentar, essas idéias — Heinrich Gomperz.
No tocante a um dos pontos capitais de minhas concepções — o de
que as teorias científicas sempre se mantêm na condição de hipó
teses ou conjecturas ~ Gomperz recomendou que eu lesse a obra
On Assumptiòns (t)ber Ânnàhmen^ 1902) de Alexis Meinòng. A
meu ver, Méinong .mantinha-se, nessa obra, demasiado preso ao psi-
cologismo e, além disso, aceitava implicitamente — como Husserl,
nas suas Logical Inüestigations (Lôgische ZJntersuchungen, 1.900,
1901) ~ que as teorias científicas fossem verdadeiras. Durante mui
tos anos, percebi que ás pessoas tinham grande dificuldade em admi
tir que, logicamente' consideradas, teorias eram o . mesmo que hipó-
téses. A concepção prevalecente era a de que as hipóteses seriam
teorias ainda não comprovadas, e d e'que teorias, seriam hipóteses esta
belecidas ou comprovadas. Mesmo os que admitiam o caráter hipo
tético de todas as teorias acreditavam que estas necessitavam de
alguma justificação; que, se não fosse possível demonstrar-lhes a
verdade, era preciso estabelecer pelo menos sua elevada probabilidade.
7
.O ponto ^ decisivo, no que - concerne ao Caráter hipotético de
todas- as teorias, parecia*- no xneu vmodo -de. verj- vumaf consèqüência
razoavelmente trivial da revolução einstèniana, a qual-mostrara que
nem mesmo a teoria mais satisfatoriamente súbmètidá a .prova; como
a de Newton, deve ser encarada. Gomo.tralgo .,situadp -acima, -do.'íníve 1
das hipóteses, como unia..^proximaçãouÍGlà ,:-verdade,.
Poi* haver eu. perfilhado o dèpqué
as teorias sao sistem as hipa t é ticp - dé dütivos;;; e ?~dei -.qúé ^--p^"m é tò do «da
Ciência não é indutivo — ,' Çomperè?íre^tfeü-m^
Kraft, um membro do Círculo-■de.■*Vièhla^í^tò^ dè^Üín; 4iyíõ: -sóbre
'As Formas. Básicas .do Método •q^htinftainunã
descrição. muito valiosa de vários métodós -êfeüvamèhtèi;; empregados
na Ciência e acentuava que pelo menos algtitfs-" de-, tafer làétoüòs^nãor.
sao indutivos, mas dedutivos — hipotético-dedutivosr Gòmpèrz> ;déu-
-me uma apresentação para Victor Kraft (que não tem'rélaçãòíeòm
Julius Kraft) e falei com ele diversas vezes no Volksgafterij úm-;par-
que situado nas cercanias da Universidade. Victor Kraft foi o ípri-
mèiro membro do Circulo de Viena com quem tive a oportunidade
de falar pessoalmente (a nao ser que eu inclua Ziísel entre os mem
bros do Círculo, mas ele, segundo Feigl101, não era membro) . Kraft
dispôs-se à ouvir minhas criticas às idéias sustentadas pelo Círculo
— còm muito mais boa vontade que a maioria dos membros com
quem rpude falar posteriormente. Mas lembro-me de como fic ò u
chocado quando eu predisse que a filosofia do Círculo se transfor
maria numa nova f o r m a de escolasticismo e d e Verbalismo. E s s a
previsão, no meu entender, c o n c re tiz o u -s e . Refiro-me à c o n c e p ç ã o
p r o g r a m á tic a de que a tarefa d a F ilo s o fia é a “ e x p lic a ç ã o de,-
conceitos”.
Em 1929 ou 1930 {ano em que, afinal, fui designado para um
posto no magistério secundário) falei com outro membro do Círculo
de Viena; Herbert Feigl102. O encontro, preparado por meu tio
Walter Schiff, professor de Estatística e Economia na Universidade
de Viena, que sabia de meu interesse pelas questões de Filosofia, foi
decisivo em minha vida. : Eu já havia encontrado antes algum esti
mulo no interesse demonstrado por Julius Kraft, Gomperz e Victor
Kraft. Entretanto, nenhum deles animou-me a . divulgar minhas
idéias, embora soubessem que eu já escreverá muitos trabalhos (ainda
inéditos)103. Gomperz prevenira-me, na. verdade, de que era muito
difícil divulgar quaisquer idéias filosóficas. (Os tempos mudaram.)
E essa afirmação ^tinha pôr base o fato de que o grande livro de
Victor Kraft acereá dos métodos científicos só fora publicado por
contar com. o apoio dé um fundo especial.
Herbert feigl, porém, durante o nosso encontro, que se pro
longou noite adentro, disse-me que não só achava -minhas idéias im
portantes, quase revolucionárias, como achava também que eu devia
divulgá-las cm forma de livrp 104.
Nunca me havia ocorrido escrever um livro. Eu havia desen
volvido ás idéias em função do interesse-que me despertavam os pro
blemas e havia colocado muitas delas, np papel para meu próprio
uso, pois isso permitia que tornásse claras as noções discutidas e
abria margem para a autocrítica. Naquela época,, eu me conside
rava um kantiano não-ortodoxo e, ao . mesmo tempo, um realista105.
Admitia, com os idealistas, que nossas teorias, são ativamente produ
zidas pelas nossas mentes (em vez de .se. apresentarem como fruto
de impressão que a realidade exerceria sobre nós), e que as teorias
transcendem nossa ‘'experiência” ; contudo, eu sublinhava que o fal
seamento podia ser entendido como um conflito direto com a reali
dade. Também interpretava a doutrina'kantiana da impossibilidade
de se chegar áo conhecimento das. coisas em si còmo algo que cor
respon d ia ao permanente caráter hipotético de nossas teorias.* Q u a n to
ao pròhlema da Ética, eu me julgava, aí também, um kantiano.
Naquele tempo, eu costumava pensar que minha crítica ao Círculo
de Vièna resultava simplesmente do fato de ter lido Kant e com
preendido algumas de suas principais concepções.
Creio que eu nao téria escrito um livro se não fosse o estímulo
de, Herbert Feigl. Escrever livro não se coaduna com meu modo
de viver, nem com a atitude que tinha para comigo mesmo. Eu
simplesmente não me animava a crer que os outros pudessem inte
ressar-se por aquilo que me interessava1 a mim. Acresce que não
voltei a receber nenhum outro encorajamento como o de Feigl,
depois que ele viajou para os Estados Unidos; Gomperz, a quem
relatei a história de meu emocionante encontro com Feigl, desen
corajou-me de todo; e o mesmo fez meu pai, que temia viesse eu a
transformar-me em jornalista, Minha esposa opôs-se à idéia.de éu
escrever o livro, pois queria que usássemos ò tempo livre para passear
nas montanhas, esquiando e praticando alpinismo — as atividades
que nos davam, maior prazer. Entretanto, assim que iniciei a tarefa,
ela aprendeu datilografia, e passou a dátilografar tudo que dâí por
diante eu viria & escrever. (De minha parte, não consigo usar a
máquina . de escrever, pois tenho o hábito de corrigir e emendar
muitas vezes, o que registro no papel.)
O livro que escrevi focalizava dois problemas — o da indução
e o da demarcação — e suas mútuas relações.: Nasceu, desse modo, o
seu títu lo , O s D o is P ro b le m a s F u n d a m e n t a i s d a T e o r i a d o C o n h e c i
mento {Die beiden Grundprobleme der Erkenntnistheorie) , alusão a
um título de Schopenhauer, Die beiden Grundprobleme der Eth.iL
Assim que alguns capítulos ficáram prontos, dei-os a ler ao meu
amigo e ex-colega do Instituto Pedagógico, Robert Lammer. Èle foi
o leitor mais meticuloso, e mais. ;crítico de quantos encontrei: atacou
cada úm dos pontos que não achava cristalinamente claros, discutiu
cada falha de argumentação/ debateu cada. uma das: fraquezas de
minha exposição. Eu havia preparado ra primeira; versão meio às
pressas, mas graças:; aòs cornéntáridsv áè- Lammer,. g ra ç a s a o que
áprendi com sua crítica insistente, nunca mais ;ívoltei a :ésCrever assim.
Também aprendi a não defender qualquer coisa : que;; eu: escrevesse
da acusação de falta de clareza. Se. um leitor cuidadoso considera
obscura' uma passagem, ela deve ser reescrita. Adquiri, .dessa ;maneira,
o costume de escrever a mesma coisa diversas vezes, esclarecendo e
simplificando. Creio que esse costume eu o devo quase inteiramente
a Robert Lammer. Escrevo, pòr assim dizer, com alguém ao méu
lado, constantemente assinalando os trechos que não estão claros.
Sei muito bem que não se pode antecipar todas as possíveis causas
de mal-entendidos; mas penso que é viável evitar alguns deles, admi
tindo que o leitor deseja entender o que lê.
Por intermédio dè Lammer, eu havia conhecido Franz Urbach,
físico experimental qúe trabalhava no Instituto de Pesquisas de Ra-
dium da-Universidade de Viena. Tínhamos vários pontos de afini
dade (a Música era um deles) e Urbach me encorajou bastante.
Apreseiitou-me a Fritz Waismann, que formulara pela primeira vez
o famoso critério de significado — . o critério da verificabilidade de
significação — com o qual, por muitos anos, se identificou o Cír
culo de Viena. Waismann mostrou grande interesse por minhas cri
ticas. Creio, que foi por iniciativa dele que recebi o primeiro convite
para ler alguns artigos, em que criticava as concepções do Círculo,
num dos grupos “epicíclicos” que, por assim dizer, constituíam-lhe
o “halo”.
O Círculo propriamente dito, segundo depreendi, era constituído
pelos intègrantes dó seminário conduzido por Schlick, os quais se
reuniam nas noites de quinta-feira. Participavam apenas aqueles a
quem Schlick convidava. Nunca fui convidado a participar das
reuniões e nem insinuei que desejaria receber tal convite106. Con
tudo, havia outros grupos, que se reuniam em vários locais, como,
digamos, os apartamentos de : Victor Kraft ou de Edgar Zilsel; . e
havia, ainda, o . famoso matêmatisches Colloquium, de Karl Menger,
Vários desses grupos, de cuja existência eu nem ouvira falar, con-
9 1
vidàram-me a apresentar . minhas críticas às doutrinas principais do
Circulo de Viena. Foi no apartamento de Edgar Zilsel, numa sala
repleta de ouvintes, que li meu primeiro artigo. Lembro-me ainda
hoje do nervosismo que ine acometeu.
Em algumas dessas primeiras palestras, eu discutia também pro
blemas relativos à teoria da probabilidade. De todas as interpretações
existentes, a que me parecia mais convincente era a chamada “in
terpretação em termos de. freqüências” e, dentre estas, a mais satis)-
fatória parecia-me ser a de Richard von Mises. Ainda assim, ela
deixava em aberto alguns pontos difíceis, particularmente quando
vista dp prisma de que os enunciados acerca de probabilidades são
hipóteses. A questão principal era esta: são passíveis de prova?
Tentei discutir esse ponto e alguns pontos correi atos, e tenho, desde
então, aperfeiçoado, sob vários ângulos, a minha maneira de ver
o problema-*07. (Certos aperfeiçoamentos não foram divulgados até
hoje.)
' Vários, membros do Círculo, alguns dos quais haviam estado
nessas reuniões, convidaram-me a debater pessoalmente com eles çer-
. tas questões nelas, discutidas. Entre eles, Hans Hahn, qúe tanto ,me
impressionara em suas aulas, e Phillip Fraiík e Richard von Mises
(que. visitavam Viena com regularidade). : Háns Thirrirlg, o físico
teórico,, convidou-me a . proferir palestra iio seminário por ele con
duzido;. e K a r l Menger convidòu-me a . integrar ~o grupo que parti
cipava de seu colóquio. Devo a Menger a sugestão, (que me ofereceu
quando lhe pedi seus comentários) de que aplicasse a sua teoria das
dimensões à comparação dos graus de testabilidade.
Completei, no início de 1932, o que julgava ser o volume I de.
Os Dois Problemas Fundamentais da1 Teoria do Conhecimento. O
livro fora concebido, desde o princípio, como uma ampla discussão
crítica e como uma correção das doutrinas do Círculo de Viena;
longas seções eram. também dedicadas a criticar Kant e Fries. A
obra, que nao chegou aindá a: ser publicada, foi lida por Feigl e, em
seguida, por Carnap, Schlick, Frank, Hahn, Neurath e outros mem
bros do Círculo; e também por Gomperz;
Schlick e Frank aceitaram o livro èm 1933, para publicá-lo na
série Schriften zur wissenschaftlichen Weltauffassung, que dirigiam.
(A série era composta, sobretudo, de obras escritas pelos membros
do Círculo de Vièna. Gontudo, os editores .. da Sprihger Verlag, insis
tiram em que o manuscrito fosse ; radicalmente? reduzido. Na ocasião
em que o livro foi aceito,, eu já> haviam preparado quase todo o se-
' guhdo volume. Isso .queria dizer, que apenas um esboço de meu tra
balho poderia ser divulgado no número de. páginas, quéoa iSpíinger
aceitara publicar. Com a anuência de Schlick e .Fjank;;jpreparei' novo
manuscrito, que consistia de extratos dos dois volumes-, Mesmov.esse
manuscrito, foi devolvido . pelos editores por •excessivamen te longo.
A Springer insistia. num total maximò de 15 folhas (que còrresponr
dem a 240 páginas comuns) . A versão final ~ por fim publicada
com o titulo de Logik der Forschung — foi elaborada por meu ;tio,
Walter Schiff, que cortou impiedosamente cerca da metade do téxto
original108. Não creio que, téndo procurado, com tanta insistência^
tornar-me claro e explícito, eu mesmo pudesse fazer os desejados cortes.
• * 5
eu deva assumir essa responsabilidade. Todavia, não agi proposita
m in h a in te n ç ã o era apenas assinalar o que me parecia
d a m e n te :
uma série de enganos fundamentais. Passmorè afirma, corretamente
a m eu ver, q u e á dissolução do positivismo lógico d e v e u -se a um
grande número de insuperáveis dificuldades internas. A maior parte
dessas dificuldades eu as tinha sublinhado em minhas preleçÕes e
discussões e, de modo especial, no meu livro Logik der Forschung^1^
Alguns membros do Círculo perceberam a necessidade de fazer alte
rações. As sementes,, portanto, haviam sido lançadas. Elas levaram,
no curso dos muitos anos seguintes,, à desintegração. das teses defen
didas no Círculo.
Todavia,. a desintegração do Círculo antecedeu a de suas teses.
O Circulo de Viena era uma instituição admirável. Com efeito, foi
um seminário singular, em que os filósofos trabalhavam em coope
ração estreita com matemáticos e cientistas de primeira linha, muito
interessados em problemas; de Lógica e .ftos fundamentos da Ma
temática; um seminário que atraiu: alguns dos grandes inovado
res 'nessa áreà, como Kurt Gõdel e Alfred Tarski. O desapare
cimento do Círculo foi uma: perda muito séria. Pessoalmenté, tènho
uma dívida de gratidão para com alguns dos integrantes do Círculo,
especialmente Herbert Feigl, Victor Kraft e Karl Menger — sem
falar em Phillip Frank^ Moritz Schlick, que acolheram meu livro,
apesar das. críticas severas que eu lhes fazia às concepções. Acresce
que foi indiretamente através do Círculo que eu conheci Tarski,
primeiro na Conferência de Praga, em agosto dê 1934 (quando eu
levava comigo as provas tipográficas de Logik der Forschung) , de
pois em Viena, 1934-35 e, mais uma, vez, no Congresso dè Paris,
em setembro de 1935. E Tarski, mais do que qualquer outra pessoa,
foi quem mais coisas me ensinou.
O que, porém, me fascinava no Círculo de Viena era à “atitude
científica”, ou, como agora prefiro denominá-la, a atitude racional.
Essa atitude foi retratada com muita felicidade por C a rn a p nos três
últimos parágrafos do Prefácio da primeira edição de seu livro prin
cipal, Der Logische Aufbau der Welt. Discordo de muitas afirma
ções feitas por Carnap;. até mesmo nesses três parágrafos há pontos
que considero errôneos: embora concòrde com ele, quando afirma
que há alguma coisa de “deprimente” (niederdrückend) na maioria
dos sistemas filosóficos, não-penso que a "pluralidade” desses sistemas
é que deva ser condenada; também acho que é um erro exigir a
eliminação da Metafísica, como errado está dizer que ela deva ser
eliminada porque “suas teses nao podem ser racionalmente justifi
cadas’?. Conquanto a reiterada solicitação de “justificações”, por
parte de Carnap, mé tenha ..parecido (e ainda m erpareça^ fmróf .erro
grave, , esse ponto é quase insignificante no caso presénte.feífâe ^átò,
o que .Carnap pede e racionalidade, ou seja, maior responsabilidade;
intelectual, ele pede que. aprendamos a agir como os matemáticos
e os cientistas e contrapoe ao procedimento deles a maneira (depri
mente pela qual agem os filosofos; sua sabedoria p r e te n s io s a , e s u a
usurpaçao de conhecimento, que nos é apresentado sem. um m ín im o
de argumentação racional ou crítica.
Ê com respeito a essà atitude geral, atitude de esclarecimento,
e-a essa concepção crítica da Filosofia —- daquilo que ela é, infeliz
mente, e daquilo que deveria ser — que me sinto irmanado com o
Círculo de Viena e; com seu pai espiritual, Bertrand Russell. Isso
explica talvez por que os membros do Círculo, como Carnap, por
exemplo, acreditavam ser eu um aliado que exagerava as divergên
cias que nos separavam.
É claro que nunca pensei em acentuar tais diferenças. Ao
escrever o Logik der Forschung, meu desejo era o de desafiar ami-
gos1 e opositores positivistas. Nesse particular, não deixei de ter .
algum êxito. Quando Feigl, Carnap e eu nos encontramos no
TiroH15, no verão de 1 9 3 2 , Carnap leu o primeiro volume d o meu
inédito Grundprobleme e, para minha surpresa, escreveu logo após
uin artigo na revista Erkenntnis, intitulado -“Über Protokollsàtze” 116, .
em que discorria pormenorizadamente, indicando a procedência,
acerca de algumas de minhas concepções. Ele sumariou a situação
explicando que -™ e por que — admitia, ser meu “procedimento”
( Verfahren 5 ) o melhor até éntao. disponível acerca, de teoria do
conhecimento. Tratava-se do procedimento dedutivo de submeter
a prova os enunciados dà Física, um procedimento que considera
todos os enunciados, até mesmo os próprios enunciados de prova,
como hipotéticos ou conjecturais. Carnap adotoü esse ponto de vista
por um período considerável117; o mesmo aconteceu com Hempel118.
As resenhas elogiosas que ambos escreveram do Logik der Fors
chung 119 eram sinais promissores, como o eram, de o u t r a parte, os
ataques dé NéuràtH e Reichenbach120.
Uma vez que mencionei o artigo d e Passmore rio início d e s ta
seção, talvez .caiba dizer que a causa d a dissolução definitiva d ó
. Circula de Viena e do Positivismo Lógico, nó meu entender, não
foram os muitos e graves erros doutrinários ( m u it o s dos quãís apon
tei), mas a declínio do interesse por grandes problemas, qüé cedeu
lugar ao interesse por minutiae ( “enigmas” ) e, em especial, por
questões relativas a significados de palavras; ou seja, pelo e s c o la s ti-
cismo. Esse escoiasticismo foi transmitido aos sucessores dos positi- ,
vistas lógicos, na Inglaterra e nos Estados Unidos da América.
Embora meu Logik der Forschung fosse visto, por alguns leir'
tores, como crítica ao Círculo de Viena, seus objetivos principais
eram positivos. Tentei apresentar nessa obra úma teoria do co
nhecimento : llumânò; Entretanto, eu encarava esse conhecimento
de üm prisma bem divêrso do adotado pelos pensadores clássicos.
: Até Hunié, Mill e Mach, a m a iò ria d o s filósofos dava; o . conheci
mento humano como algo assentado.; Mesmo Hume, que se consi
derava um cético, e que escreveu "o Tfeatise na. esperança de revo
lucionar as Ciências- Sociais, praticaimente identificava o conheci
mento. humano aos hábitos do homem. O conhecimento humano,
era o que quase todos sabiam: que o gato dormia no tapete; que
Júlio César fora assassinado; •que a grama é. verde. Isso tudo me
parecia profundamente desinteressante. Interessante era o conheci
mento problemático, ■o aumento do conhecimento — a descoberta.
Se encararmos a teoria dp conhecimento como teoria1da desco
berta, será melhor considerá-la como- teoria da investigação, e des
coberta científica. Uma teoria do aumento de conhecimento deveria
,ter ■algo especial a dizer acerca do desenvolvimento da Física e do
conflito de opiniões entre os* estudiosos dessa disciplina.
Na época (1930) em que Feigl me estimulava a escrever meu
livro, á Física moderna atravessava um período de agitação. . A Me
cânica Quântica fora criada por Werner Heisenberg em 1925121;
mas alguns anos se passaram antes que os leigos — e mesmo alguns
profissionais da Física compreendessem que havia surgido uma
inovação importante. E as dissensÕes e confusões- surgiram desde
logo. Os dois maiores físicos, Einstein e Bohr, possivelmente os dois
maiores pensadores do século X X , discordavam entre si. E as diver-
. gências entre eles eram tao profundas íio ano da morte de Einstein,
1955, como o haviam sído ém 1927, ano da; reunião realizada em
Solvay. Consta que Bohr teria saído vitorioso em seus debates com
Einstein122; e a maioria dos físicos criativos apoiava Bohr, endos
sando esse mito da vitória sobre Einstein. Entretanto, dois dos
grandes físicos da época, de Broglie e Schrõdinger, não se mostra
vam nada contentes com as idéias defendidas por Bohr (mais tarde
conhecidas como “interpretação de Copenhague da Mecânica Quân-
tiça>)?- ve desenvolviam suas próprias concepções, em linhas indepen
dentes. Apos a Segunda Guerra Mundial, vários físícos importantes
engrossaram as fileiras dos que não concordavam com a Escola de
Copenhague, figurando entre eles, em particular, Bohm, Bunge,
Landé, Margenau e Vigier.
Os .opositores da interpretação. de Copenhague ainda constituem
pequena minoria e . assim hão provavelmente de continuar. Não há
acordo entre eles próprios. GóntudÒ,1 existem,
também na ortodoxia de Gopénhague:; Os ortodoxos não notam
esses desacordos ou, ao qúe parece, não se preocupam;com eles, assim
como não percebem as -dificuldades inerentes às suas concepções.
Mas tais divergências e tais dificuldades são claramente percebidas
pelos que vêem a situação de fora.
Estas anotações assaz superficiais explicarão, talvez, por que
me senti um tanto desorientado quando procurei, pela primeira vez,
estudar a Mecânica Quântica, naquela época denominada amiúde
“nova teoria quântica”. Eu trabalhava por conta própria, lendo
livros e artigos; o único físico com quem cheguei a falar algumas
vezes de minhas dificuldades foi Franz Urbach. Eu tentava com
preender a teoria e Urbaçh tinha suas dúvidas quanto à possibilidade
de ela ser compreensível — ao menos pelo mortal comum.
1 A luz começou a fazer-se quando percebi a importância da
interpretação estatística da teoria, devida a Born. De início, a inter
pretação de Born desagradou-me: a interpretação original, de Schrõ-
dinger, mé parecia mais apropriada, quer sob um ângulo estético,
quer na condição de explicação do assunto. Ao notar, porém, que
á interpretação de Schrõdinger não era sustentável e que a de
Born era bem sucedida, perfilhei esta última, e nao compreendia
como 'alguém que aceitasse as idéias de Born podia defender a inter
pretação que Heisenberg atribuía às suas fórmulas de indetermiriação.
ParecÍa-me óbvio que, se a Mecânica Quântiòa devia ser interpre
tada estatisticamente, assim também deviam ser, interpretadas :.ás
fórmulas de Heisenberg: tinham de ser entendidas .comov rèlaçÕes
d e . espalharàento/ isto é, como relações que indicassem::;os limites
inferiores de espalhamento estatístico, <iu ríòs limiiéS' superiores •:de
homogeneidade, em ; qualquer seqüência :dò; ;expèrimentos- dá IMêcâ-.
nica. Quântica. .Essa maneira. ,dél vèjrMéStá"íÍÍoje-icfríisider^velineníe
difundida123. (Devo 4-deixar . claro,, porémj; que de início eu nem
sempre. distinguia com clareza entre o espalhamento de resultados
de um; conjunto de experimentos, de um lado, e o espalhamento de
um; conjunto dè-partículas, ; dè outro; conquanto eu houvesse encon
trado um irieio rde contornar a dificuldade nos enunciados ‘‘formal-
mente singulares” de probabilidades, a questão só se aclarou com
pletamente com a ajuda dà noção de propensão.) 124
Um segundo problema de Mecânica Quântica era a famosa
questão da “redução do&^pacotes ,de ondas”.. Poucos estudiosos con
cordarão comigo quando , afirmo que o problema foi rèsdlvido em
1934, no meu Logik der Forschung] alguns físicos de nomeada, con
tudo, aceitaram a minha solução como correta. A solução proposta
consiste em ressaltar que as probabilidades que se apresentam nó
domínio da Mecânica Quântica são probabilidades relativas (ou
condicionais)125.
Esse segundo problema associa-se ao que erá, possivelmente, um
dos pontos básicos, de minhas considerações — a uma conjectura que
se transformou era convicção: todos os problemas da interpretação
da Mecâmca Quântica podem Ser considerados como problemas re~
látivos à interpretação do cálculo de probabilidades.
Um terceiro problema resolvido foi o dá distinção entre pre
paração de um estado e uma medida particular. Embora minha
discussão desse ponto estivesse correta -e, segundo creio, fosse real
mente importante, cometi um sério engano em. .determinado expe
rimento coriceptual (cf. seção 77 de Logik der Forschung). Esse erro
abalou-me profundainente: eu não sabia, nessa ocasião, que até
mesmo Einstein cometera enganos similiares, e a minha falha, pen
sava eu, revelava minha incoínpetçncià. Foi em 1936, em Gope-
nhague, durante o “Congresso em Prol da Filosofia Científica”, rea
lizado nessa capital,'que'oúvi falar dos enganos de Einstein. Graças
à iniciativa de Victor Weisskopf, o físico teórico, Niels Bohr. convi
dara-me a participar das discussões qúê seriam travadas, durante
alguns dias, no Instituto por ele dirigido. Eu já havia anterior?-
mente defendido meu experimento conceptual contra as críticas de
von Weizsácker e de; Héisenberg, cujos argumentos não me conven
ceram, e contra as críticas de Einstein, que lograram convencer-me.
Eu também já havia discutido d assunto com Thirring e (em Oxford)
com Schrõdinger, que me confessou seu descontentamento em rela
ção à mecânica quântica, dizendo supor que ninguém realmente a
entendia. Eu estava, póis, dominado pelo pessimismo quandó Bohr
mè falou das suas discussões com Einstein — as mesmas que, poste
riormente, descreveu no volume Einstein da série “The Library òf
Living Philosophérs”, organizada por Schílpp 126. Nao me consolou
a informação, transmitida por Bohr, de que Einstein errara tanto
quanto; eu; senti-me derrotado e não fui capaz de resistir ao tre
mendo impacto da personalidade de Bohr, (Naquela época, aliás,
ninguém resistiria.) Retraí-me, mas ainda reuni forças para de-
"92
.experimento conceptual, Hoje, todavia, embora ache natural lamen
tar qualquer engano, penso que atribuí demasiada importância a
essa falha. Somente em 1948 ou 1949, depois de algumas discussões
com Ârthur March, físico especialista em Mecânica Quântica cujo
livro sobre ela eu havia citado e.m.Logik der Forschung 12e, foi que
me senti capaz de retomar áo tema, com novo .alento.
Reexaminei, os velhos argumentos e cheguei às seguintes con
clusões129:
103
de aceitar isso como uma espécie de dado último .ou definitivo. To
davia, esse não parece ser o caso: embora ainda em oposição às
provas cruciais feitas por Compton da teoria dos fótons, de Einstein,*
Duane formulou, em 1923, muito antes da Mecânica Ondulatória
se haver desenvolvido, uma nova regra quântica140, que pode ser
vista como o correspondente, com respeito ao momento, da regra
de Planck relativa à energia, A regra de Duane parã a quanti-
zaçao do momentum aplica-se não apenas a fótons mas também
(como ressaltou Landé)1M, a partículas e fornece desse modo uma;
explicação racional (ainda que apenas qualitativa) dà interferência
de partículas. Landé levou a questão adiante, asseverando que regras
quantitativas de interferência da Mecânica Ondulatória podem ser
deduzidas de simples pressuposições adicionais.
-(5) Dessa maneira, um bom número de fantasmas filosóficos
podç ser agora exorcizado e as müitas. surpreendentes afirmações
filosóficas acerca da intromissão do sujeito ou da mente no mundo
do átomo podem ser ignoradas. Esse problema da intromissão expli
ca-se em grande parte como fruto da tradicional má compreensão
subjetivista do cálculo de probabilidades142.
'104
É curioso notar que o proprio Einstein .foi, durantei;yários anos,
um positivista e um operaçionista dogmático.. Mais áfastou-se
dessa posiçaò: ele me disse, em ; 1950, que não ; lameíitava-J-outros
prros tanto quanto lamentava esse. O erro, aliás, assumiu feição
grave no seu livro popular, Relativity: T he Special andthe-G eneral
Theory 14V Aí, à p. 22 (que corresponde à p. 14 s. da edição.original,
alema), Einstein afirma: “Peço ao leitor que não prossiga sem antes :
.convencer-se completamente da legitimidade desse aspecto.” O
aspecto, em poucas palavras, é o de. que a “simultaneidade” precisa/ .
ser definida'— e definida oper ativamente —- pois, de outra forma;
“deixo-me enganar ( . . . ) quando imagino que tenho condições de
atribuir significado ao enunciado de simultaneidade”. Em Outras
palavras, ura termo precisa ser ;definido operativamente ou entãò
não tem significado144a. (Eis, ém suma, o positivismo que seria
desenvolvido posteriormente no Círculo de Viena, de modo bem
dogmático, sob a influência do.Tractatus de Wittgenstein.)
Acontece, porém, na teoria de Einstein, que, para qualquer sis
tema inercial. (ou “sistema estacionário” ) 14^, os eventos são simul
tâneos ou não, tal qual se dá. na teoria de Newton. Acresce que
vale a seguinte lei de transitividade ( Tr) :
(T r) Em qualquer sistema inercial, se o evento a é simultâneo
de b e se b é simultâneo de c3 então a é simultâneo de c.
Todavia, { Tr) não vale, de, maneira genérica, para três even
tos distantes quaisquer, a menos que o sistema em que a e b são
simultâneos sejd o mesmo sistema em que b e c são simultâneos:
não -vale para eventos- ..distantes, alguns dos quais se manifestam em
sistemas diversos, isto é, em sistemas que se acham em movimento
relativo. Isso é decorrência do princípio de invariância da. velocidade
da luz com respeito a quaisquer ■dois sistemas (inerciais) em movi
mento relativo, isto é, do princípio que nos permite deduzir as trans
formações de Lorentz. Nao h á . necessidade sequér de mencionar a
simultaneidade, salvo para alertar os mais precipitados, de que as
transformações, de ■Lorentz são incompatíveis com uína aplicação de
(Tr) a eventos que ocorram em sistemas (inerciais) diversos146. ...
Percebe-se que não é preciso introduzir o operacionailismo e muito,
mertos insistir nele. Além disso, como Einstein não conhecia ©..expe
rimento de Morley em 1905, quando escreveu o artigo a propósito
da relatividade, dispunha de poucas comprovações em favor , da: inva
riância da velocidade da luz. '
Entretanto, não foram poucos os físicos de nom eadaq ue; se
impressionaram, com o operacionalismo einsteiniano, cònsiderando-o
fOÍ
(como o próprio Einstein considerou longo tempo) parte integrante
da teoria da relatividade. Assim, o operacionalismo tornou-se fonte
de inspiração para o artigo de Heisenberg, escrito em 1925, e para
a sua. sugestão, amplamente acolhida, de que não tinha sentido o
conceito de trajetória, ou rastro de um eléclron, còmo o não tinha
o conceito clássico de posição-cum-momentum.
A í estava, pois, uma oportunidade para eu pôr à prova minha
epistemologia realista, aplicando-a numa crítica à interpretação sub-
jetivista que Heisenberg propunha para o formalismo da Mecânica
Quântica. Acerca de Bohr pouco foi dito íio Logik dèr Forschung,
porque ele era menos explícito que Heisenberg e porque não me
anim ava a' atribuir-lhe pensamentos que ele poderia endossar. A lém
disso, fora Heisenberg quem alicerçara num programa operaciona-
Iista a nova mecânica quântica e o seu êxito é que havia convertido
a maioria dos físicos teóricos ao positivismo e ao operacionalismo.
.1 0 6
entender, seinpre foi e ainda e a ideia que o; sensor; cümum. tem,, da
verdade. ~ ’^ ;
Meus pensamentos subseqüentes iiesse campo foram, em rboa'
parte, resultado de tentativas no sentido de tornar claras para mim
mesmo as formulações de Tarski. Não que, a rigor, ele tivesse defi
nido a verdade. Decerto ele o fizera para uma linguagem formaliza
da muito simples, esboçando .métodos pára estender a definição á
uma classe de outras linguagens formalizadas. Contudo, ele deixará
patente que existiam outros meios essencialmente equivalentes dé
introduzir a noção de verdade: não por definição, mas axiomatica-
mente. Assim, o problema dè saber se a verdade devia ser introdu
zida axiomaticamente ou por meio de definição não podia ser. fun
damental. Além disso, todos esses métodos precisos confinavam-se a
linguagens fonmalizadas e não se aplicavam, como Tarski mostrara,
à linguagem comum (còm seu caráter “ universalista” ) . Não obstante, a
análise tarskiana ensinava, de modo claro, como usar com certa cau
tela a noção de verdade no discurso comum, e além disso, como usar
a noção em áua acepção corriqueira — de correspondência com os
fatos. Decidi por fim qüe o que Tarski fizera fora mostrar que não
há grande dificuldade em compreender de que modo um enunciado
podia .corresponder a um fato, desde que se tenha entendido a dife
rença entre uma linguagem-objeto e uma dada metalinguagem (se
mântica), isto é, uma linguagem em que possamos falar acerca de
enunciados e acerca de fatos. (V e r seção 32, adiante.)
A probabilidade criou-me problemas, assim como trabalho,
levando-me- a estudo agradável é estimulante. O problema funda
mental, examinado em Logik der Forschung, era o de prova dè
enunciados probabilísticos da Física. Esse problema era um desafio
importante para as minhas concepções gerais acerca da Epistémo-
logia e eu o resolvi com o auxilio de uma idéia que fazia parté
integral dessa epistemològiã e não, penso, de uma idéia ud hoM ^h:
idéia é a: de que nenhuma prova de qualquer enunciado -teoreticò
é final ou concludente, è de que a atitude empírica ou crítica requei?
adesão a certas “ regras metodológicas” , que nos levam-: não- a fugir1'
das críticas, mas a aceitar ás refutações (em bora não; com^ídéííia^
siada facilidade). As regras admitem -alguma;^flêkibiHda^e^.iSlEiíí:-.
conseqüênciaj acolher uma refutação é qüase ■tã<>.>faírisGàd6^.:^üáintcj
adotar, tentativamente, jjma hipótese: equív^è^-.aí^àèiít^^üiila
conjecturà. ■
Ò segundo problema era o da, varièdjid^d^fpà^^j^^^èr^piTB^--
taçÕes de enunciados ■■probabilísticosj;^ - d o i s
outros problemas, de cunho niàS/dè _
107
tância no meu livro. Um deles era o da interpretação da Mecânica
Quântica, que, no meu entender, se equipara à questão do papel
a atribuir aos enunciados probabilístiçòs em Física; o outro era o
problema do conteúdo das teorias.
Todavia, para poder abordar, em ■toda a sua generalidade, o
problema idos enunciados probabilísticos, era preciso desenvolver um
sistema axiomático para o cálculo da probabilidade. Isso era tam
bém necessário para Outro propósito — o de estabelecer minha tese,
proposta em Logik der Fórschung> de que a corroboração não é
uma probabilidade, no sentido do1 cálculo de probabilidades. Em
outras-palavras, era preciso .desenvolver o sistema axiomático para
estabelçcér que certos aspectos' intuitivos da corroboração tornavam
impossível identificá-lá com; a probabilidade, tal como esta aparece
no cálculo de. probabilidades 149ai,r^(Vej^se, a propósito, o texto entre
as notas 155 e 159, adiãnteV) .. . v ■
Em Logik JerForjc/iun^.eu.sublinhara que havia muitas inter->
pretaçôes passíveis .para. a:, noção de,'.probabilidade, ressaltando que
somente uma teoria. de' freqüências (como a. proposta por .von M i
ses) seria, aceitável nás:; Ciêncjas ,.Físicaá. ( Posteriormente, essa ma
neira de ver fo i; alterada, tendo, eu introduzido a interpretação em
termos de , propensÕes;,penso que von Mises "teria . concordado com
a alteração, ;pois os enunciados de propensão também sao submetidos a
prova por meio ,de freqüências). Mas, afora várias objeçoes de
menor relevo, minha principal objeção contra todas as teorias fre-
qüenciais conhecidas que operavam. com seqüências infinitas, era de
cunho técnico e pode ser formulada como segue.
Escolha-se qualquer seqüência finita, constituída por zeros e
unidades. (oú só por zeros o.u;só por unidades), de comprimento
arbitrário. Seja n o comprimento dessa, seqüência, podendo n ser
da ordem de milhares de milhões. Gontinue-se a seqüência a partir
do termo de ordem n 1 , acrescentárido-lhe uma seqüência infiriità
aleatória (um “ coletivo” ). N a seqüência assim formada, só impor
tam as. propriedades de alguma parte final ( que se inicia.com o termo
m, sendo m > n -|- 1 ) pqís uma seqüência satisfaz ps requisitos im
postos por von Mises se e somente sé qualquer parte final da seqüência
atender a tais requisitos. Isso significa, porém, que qualquer seqüênr
cia empírica é simplesmente irrelevante, para julgar qualquer se
qüência infinita, de que; a seqüência empírica é segmento inicial.
Tive ocasião de discutir esse problema ( c muitos outros) com
von Mises,. Helly e Hans Hahn. Todos eles, naturalmente, concor
daram comigo; Vón Mises, porém, não., se preocupou muito cóm
a questão. Sua concepção (que é bem conhecida) era a de que as
seqüências que satisfaziam seus requisitos — os “ coletivos” , como
ele as denominava — constituíam um conceito matemático ideal,
coinó o de esfera- Qualquer “ esfera” empírica não passaria de uma
grosseira aproximação da esfera ideal.
Eu estava inclinado a aceitar a idéia da relação entre uma
esfera matematica ideal e unia ■esfera. .empírica como uma espécie'
de modelo para a relação vigente entre uma seqüência matemática
aleatória (um “ coletivo” ) e, uma seqüência empírica infinita. Mas
acentuei que, em. sentido; plausível, nao .se poderia •dizer, de uma
seqüência f i n i t a que fosse uma aproximação grosseira de um cole
tivo, no modo dé entender de von Mises. Procurei, pois, construir
alguma coisa ideal, mas menos abstrata: . uma seqüência aleatória
infinita, ideal, com a propriedade de aleatoriedade a manifestar-se
desde o início> de modo que qualquer segmento inicial finito, de
comprimento n, fosse idealmente tão aleatório, quanto possível.
Eu havia esboçado a construção, dessa seqüência em Logik der
Forschung150, mas sem perceber claramente, então, que essa cons
trução em verdade resolvià: (a) o problema de tomar possível a com
paração entre uma seqüência infinita ideal e uma seqüência finita
empírica; (b ) o problema da construção de uma seqüência mate
mática, passível de ser usada no .lugar da definição (não-construtiva)
de aleatoriedade, devida a von Mises; e (<;) tornava supérfluo, qua
postulado, o requisito de von Mises, relativo à existência de um
limite, pois tal existência se transformava num teorema demonstrável.
Em outras palavras, não compreendi, naquela época, que minha
construção . suplantava diversas soluções aventadas em Logik der
Forschung. ■
Minhas seqüências aleatórias idealizadas não eram “ coletivos” ,
no sentido de von Mises; embora superassem quaisquer provas esta
tísticas de aleatoriedade, eram, de fato, construções matemáticas
definidas: a continuação delas podia ser matematicamente prevista
por qualquer pessoa que conhecesse o método de construção. Entre
tanto, von Mises exigira que os “ coletivos” fossem impredizíveis
( “ princípio do sistema de jogo excluído” ). Essa exigência ampla
tinha a indesejável conseqüência de tornar inviável a construção de
=exemplos concretos de coletivos, tornando impossível, também, uma
'domonstração construtiva da coerência (ou compatibilidade) da
própria exigência. A única maneira de contornar essa dificuldade
estava, naturalmente, num abrandamento da exigência. Surgia,
assirrt, uma interessante questão: qual o mínimo abrandamento que
permitiria a demonstração de coerência (ou de existência) ?
109
q^e&tã^«r4'f/inteF^S5ante, mas hão estava .nas minhas . cogita-.
ÇÕes.;, ;M principal era o da construção de seqüências
finitas, de.carátcr aleatório e comprimento arbitrário, que pudessem,
ppis, ^-expandii^se ,;em seqüências infinitas aleatórias, ideais.
No início de 1935, discorri a respeito dessé problema, num dos
“ epiciclos*’ .do-;Círculo de Viena.. .Logo após, Karl Menger convi
dou-me a'proferir uma palestra em seu famoso mate.matisches Collo*
quium. A seleta audiência, de cerca -de 30 pessoas, incluía Kurt
Godel, ■Alfred Tarskí e Abraham Wald. Segundo Menger, fui o
involuntário instrumento que: levaria Wald a interessar-se pela pro
babilidade e pela Estatística, campos1 em que ele tanto iria desta
car-se -posteriormente. Mengçr descreve o incidente da seguinte
maneira; no seu obituário de ^Wald151:
UQ,
-sentava um método geral de separar a classe de todas as seqüências
infinitas em duas subclasses, de coletivos e nãò-coletivos, ao passo
qüe méu trabalho permitia apenas a Construção de algumas se-
qüencias aleatórias, de qualquer comprimento desejado -— constru
ção, por assim dizer, de alguns modelos muito especial. Entretanto,
qualquer seqüencia finita, previamente dada, de qualquer compri
mento, podia ser sempre prolongada de maneira a transformar-se num
coletivo ou num não-coletivo, no sentido de Wald. (O mesmo se
dava com respeito às seqüências de Copeland, Reiçhenbach, Church
e outros 154.)
E u .sentira, desde há muito, que a solução que dei á meu pro
blema, embora perfeitamente satisfatória sob o prisma filosófico,
podia tornar-se matematicamente mais" intèressarité Jsè: genòráliiado,.
útilizando-se para isso o método de Wald. Discuti o assunto, com Waíd,
de;quem me tornara amigo, na; esperança de que elé se resolvesse ã
atacar a questão. A época, entretanto, era difícil: nenhum de nós
têve tempo de debater' novamente o problema, pois ambos, emigra
mos, e para diferentes cantos do mundo.
: Há outro problema que deye ser mencionado, estreitamente
associado à questão das probabilidades: o (da medida) do conteúdo
de um enunciado ou de uma. teoria. Eu mostrara, em Logik dèr
. Fòrschungj que a probabilidade de um enunciado variava inversa
mente com seu conteúdo, de :modo que a probabilidade podia ser
utilizada para medir o conteúdo. (T a l medida de conteúdo seria,
na melhor das hipóteses^ comparativa, a menos que o enunciado dis
sesse respeito a algum jogo de azar ou, talvez,, a alguma estatística.)
Isso revelava que, entre as interpretações do cálculo de proba
bilidades, pelò menos duas são de importânòia capital: ( 1 ) uma
interpretação que nos permitia falar da probabilidade de eventos
{singuláres), tais como o lançamento dé uma moeda ou a chegada
de um eléctron a um anteparo; e ( 2 ) uma interpretação que permita
falar da probabilidade de enunciados ou proposições, particularmente
de conjecturas, (de variados graus de universalidáde)155. Essa se
gunda interpretação é necessária para aqueles que sustentam ser pos
sível medir a corroboração por meio dé probabilidade; como e
necessária para aqueles ç|iue3 como eu3 sustentam o contrário.
' Quanto ao meu grau de corroboração, a. idéia era a de resumir,
riüiha. fórmula simples, um informe da maneira por que a teoria
havia (ou não havia) passado pelas provas a que fora submetida
.-—^inclusive uma estimativa da severidade de tais provas, de modo
\ á lê v a r em conta apenas as provas efetuadas com espírito crítico, ou
III
*9jâ»?aè(;{'tçntg:tiy.asj-,de^refütaçíío... Com sáíisfazer a tais provas, a teoria
“ comprova sua: têmpera” . — sua "aptidão para a sobrevivência” 156.
Estalei aro,,que~ a teoria: só po.de revelar sua "aptidão” de sobreviver
àquelas-, provas a que realmente sobreviveu. Tal como no caso de
um organismo, "aptidão’V infelizmente,( significa apenas a efetiva
sobrevivência, c o desempenho passado não assegura, de modo algum,
o têxito, do desempenho futuro.
'--•Eu considerava (e ainda considero) o grau de corroboração de
uma» teoria simplesmente como um informe crítico da qualidade do
desempenho passado: esse grau não poderia ser utilizado para pre
dizer, urn desempenho futuro. (A teoria, evidentemente, pode aju-
,dar-nos a prever eventos futuros.) O grau vinha associado, pois, a
urn víhdice temporal: só se podia falar do grau-de corroboração de
uma teoria: em determinado estágio de sua discussão crítica. Em
alguns casos, o grau fornecia bom indício para julgar os méritos rela
tivos de dúas. ou mais teorias rivais, à luz de discussões passadas.
Diante da necessidade de ação, com base. nesta ou naquela teoria,
a escolha racional séria a da ação que se guiasse pela teoria (se
existisse) que melhor houvesse suportado as críticas. Não há noção
mais apropriada para caracterizar a racionalidade que a da sua
presteza em aceitar críticas; isto é, críticas que debatam os méritos
de teorias rivais, sqb o prisma da idéia reguladora da verdade. Con
seqüentemente, o grau de corroboração de uma teoria é um guia
racional para a ação. Embora não possamos justificar uma teoria —
ou seja, não possamos justificar nossa crença na verdade dela — é
possível, às vezes, justificar nossa preferencia por uma teoria, em
desfavor de outra; isso acontece,- por exemplo, quando o grau de
corroboração da teoria preferida é maior do que o grau de corrobo
ração das demais teorias157.
.. Eu consegui mostrar, sem dificuldade, que a teoria de Emstein
(pelo menos no instante em que escrevia) era preferível à de
New.ton,. pois sèu grau de corroboração era mais elevado158.
- : : Pontò decisivo, na questão do Jgrau de corroboração, eira o de
que, por aumentar com a severidade das provas, ele só podia ser
elevado ;no caso de teorias com alto grau de testabilidade ou con
teúdo. Isso significava, porém, que o grau de corroboração associa-
va-se à. improbabilidade da teoria, não à sua probabilidade. Era im-
. possível identificar, o grau de corroboração com a probabilidade
(embora' fosse possível defini-lo em termos de probabilidade — como
é;possível definir á improbabilidade). .
Todos esses_ problemas foram colocados ou discutidos em Logik
der F,arichuiígy. jsias eu sentia que era preciso analisá-los muito mais
meticulosamente, e a axiomatízação jdo cálculp de.prpbabilidade era
a-questão de que eu devia jcuidar-primeiramente 159 - -
llí
quisas do Ciclo de Comércfo {tConjunkturforsehUng)^,•êu^ :iéíiQò^$& 3‘$§
pelà primeira vez na L. S. F .163 Lionel Robbins: (hoje'Lorde
estava presente ao seminário e ali . também estava Ernst;:^ ò íh fe c ^ !i':Í
historiador de Arte. Anos depois, G. L. S. Shackle,;o eGOnomistapdis'- ' ; 1
se-me: que também havia comparecido.
Em Oxford, conheci Schrodinger e .com ele mantive longas ifpay
íestras. Sentia-se infeliz em Oxford. Tinha vindo de BeHim,; •onde;
fora presidente de um grupo de estudos de Física teóricá; prováyel-
mente sem similar em toda a história da Ciência: Einstèin, von
Laue, Planck e Nernst figuravam entre os membros habituais desse
grupo. Em Oxford, Schrodinger fora muito bem recebido. ^Ele não
poderia, é claro, esperar um grupo de estudos formado por talèntos.
excepcionais, mas o que realmente lhe pesava èra não encontrar,
de parte de professores e alunos, um interesse apaixonado pela 'Física
teórica.' Discutimos à interpretação estatística por mim dada às fórf .
mulas de indeterminação, de Heisenberg. Schrodinger mostrou-se
interessado, mas cético àté mesmo- no que se referia à situação :dá .
Mecânica Quântica. Deu-me algumas separatas de artigos, nos quàis _;
expressava dúvidas a propósito da interpretação de Gopenhague; :
é bem sabido que jamais acolheu — isto é, jamais aceitou a “ coiii^
plementaridade” de Bohr. Schrodinger disse-me que talvez voltasse,
à Áustria. Procurei disauadi-lo, porque, ao deixar a Alemanha, éle ;;
nao havia feito segredo de sua posição antinazista e isso poderia sét :
usado contra ele, caso o nazismo alcançasse o poder na Áustria.
Contudo, no finãl do outono de 1936, ele efetivamente retornou.
Uma cátedra havia vagado em Graz e Hans Thirring, professor dé
Física teórica em Viena, fez a sugestão de qúe ele próprio deixasse ' ;
Viena, passando para Graz, de sorte que Schrodinger viesse a ocupar
a cátedra do próprio Thirring, em Viena. Todavia, Schrodinger
nao admitiu que isso fosse feito: viajou para Graz e ali permaneceu
durante dezoito meses. Depois da invasão da Áustria por Hitler,
Schrodinger e sua mulher, Annemarie, escaparam por um tris. • Elá
dirigiu o carro até um ponto próximo do território italiano e ali Jo
abandonaram. Apenas com bagagem de mão, cruzaram a frori- .
teira. De Roma, onde chegaram quase sem vintém, conseguiram,
telefonar a De Valera, Primeiro-Ministro Irlandês. (e matemático j
que, por acaso se encontrava em Genebra, o qual disse-lhes que sé
reunissem a éle naquela cidade. N a fronteira entre Itália e Suíça,
os guardas italianos suspeitaram dos Schrodinger, pois que * estes
quáse não dispunham de bagagem e só tinham dinheiro equivalente a
menos de uma libra. Foram retirados do trem, que, sem -eles,; deixòú
a estação da fronteira. Por fim, foi-lhes permitido émbarcar .-pãra- iâ . ' :
Stiíça.. no;. trem seguinte. E assim Schrõdingèr sé tornou o “ Senior
Professor-’ do "Institute of Advanced Studies” , em Dublin, instituto
que, , naquela época, não existia. (E continua a nâo existir entidade
semelhante na Inglaterra.) . .
Uma das experiências que tive durante a visita de 1936 e de qué
muito bem me recordo foi a .de Ayer, levar-me a uma reunião da
“Aristotelian Society” , durante' a qual falou Bertrand Russell, talvez
o maior, filósofo já surgido depois de]’K.ant.
Russell leu um trabalho acerca d’“ Os Limites do Empirismo” 164.
Admitindo que o conhecimento empírico se originasse da indução e,
ao mesmo tempo, muito impressionado com as críticas dirigidas por
Hume contra a indução, Russell sugeriu que devêssemos adotar
algum princípio, de indução que não se baseasse, por suá vez, na
indução. A adoção desse princípio, marcaria òs limites do empirismo.
Ora, em Grundprobleme e, mais resumidamente, em L o g ik . der
Forschung, eu havia atribuído a Kant precisamente esses argumentos
e assim me pareceu que a posição de Russell era, sob esse prisma,
idêntica à que .lèvara Kant a seus a prioris.
Após. a exposição, houve debates e. .Ayer ,encorajou-me a falar.
Eu disse, de início, que absolutamente não acreditava na indução,
embora acreditasse no aprendizado. a partir, d a . experiência e no
empirismo ps limites kantianos que Russell propunha. Essa de
claração^ que, formulei tão breve e . diretamente quanto me permitia
o claudicante inglês de que era capaz, foi bem recebido pelos pre
sentes que, aparentemente, o tomaram, como uma, pilhéria e riram.
Numa segunda intervenção, sugeri que ioda a dificuldade se prendia
à errônea, suposição de gue o conhecimento científico seja uma
espécie de conhecimento — Conhecimento no sentido comum de que,
se eu sei que está chovendo, há de ser verdade que está chovendo,
de sorte que conhecimento implica verdade. Entretanto, acrescentei,
o que chamamos “ conhecimento5 científico” é hipotético e, muitas
vezes, não verdadeiro, já para não falar em certamente verdadeiro
ou provavelmente verdadeiro (no sentido do cálculo de probabili
dades). De novo, o auditório tomou a. minha manifestação como
uma brincadeira, ou um paradoxo e houve risos e palmas. Pergunto-mé
se ali haveria àlgjuém que suspeitasse de que eu não apenas falava
seriamente, como também a seu devido^tempo, de que minhás con
cepções viriam a ser encaradas como' lugar-comum.
Foi Woodger quem sugeriu que eu respondesse a um anúncio
em que se oferecia um lugar de professor de Filosofia na Universidade
da Nova Zelândia (no “ Canterbury University College” , como se
chamava, na época, a atual “ Canterbury University’5), Alguém —
118
talvez Hayek — apresentou-me ao P r . Walter Adams (futuro diretor
da “ London School of Economics” ) e à Srta;. Esther Simpson, que
vinham dirigindo o .Academic Assistance Gouticil- ^^-.qual procurava
auxiliar muitos dos cientistas fugidos da ■Alemanha^e-' -começava a-
dar auxilio a alguns fugidos da Áustria.
Em julho de 1936, viajei de Londres a Copenhagüè
Gombrich foi despedir-se de mim — para comparecer à um7 con/
gress9 165 e para encontrar!Niels Bohr, encontro a que fiz referência
na seção 18. De Copenhague retornei a Viena, atr^esáandoJ^Alèv
manha de Hitler. N o fim de novembro, recebi uma "carta ’dó" í)r;
A. G. Ewing, oferecendo-me hospitalidade em. nome'Má “ Moraí
Sciences Faculty” da “ Cambridge University” , e uma carta complè- ;
mentar, subscrita por Walter Adams, do “ Academic AssistancérGòurv-
cil” ’ pouco depois, na véspera do natal de 1936, recebi um telé-
grama, oferecendo-me posição de conferencista no “ Cantérbury ;;Upi- .
versity College” , em Christchurch, Nova Zelândia. Esse era um..èm*:
prego normal, aa passo que a hospitalidade oferecida por Gambridge
destinava-se a refugiados. Tanto minha esposa quanto eu 'teríamos
preferido ir para: Cambridge, mas imaginei qúe a oferta de hospita^
lidade poderia Ser estendida a uma outra pessoa. Assim, aceitei , o
convite da Nova Zelândia e pedi ao “ Academic Assistance Gounçil” .
e: a Cambridge que, em vez de mim, levassem para a Inglaterra
Fritz Waissmann, do Círculo de Viena. Eles acederam a meu pedido;
Minha esposa e eu renunciamos às posições de ensino que
ocupávamos e, dentro de um mês, deixávamos Viena, dirigindo-iios á
Londres. Depois de cinco dias em Londres, embarcamos para a N ó vá
Zelândia, chegando a Christchurch na primeira semana de março
de. 1937, exatamente quando se iniciava o ano letivo. .
Eu estava certo de que, dentro em pouco, deveria ajudar refu
giados austríacos, fugidos de Hitler. Entretanto, um outro anó se
passaria antes de Hitler invadir a Áustria e de com eçarem os >gritos
de auxílio. Em Christchurch, formou-se um comitê com o objètiyò de
obter permissão para que os refugiados entrassem, ria Nova Zelândia;
alguns desses refugiados foram resgatados .■de campos de concen
tração òu de prisões graças à energia do fir.. R. M. Garnpbell, qué
integrava a “ New Zeland High Commission” , em. Londres.
11*?
- ... : ,;v* ' # *
ráÇao. A, honestidade e decência do povo, aliados a seu forte senti-
riientò de responsabilidade política, produziram em mim fortíssima
impressão. Entretanto, até mesmo òs professores universitários que
vim a conhecer estaVam completamente mal informados acerca da
Alemanha de Hitler e. limitar-se a esperar o melhor era a atitude
geral. Eu me encontrava na Inglaterra, quando a lealdade popular
às idéias da Liga das Nações destruiu o plano Hoare-Laval (que
poderia ter impedido Mussolini de júntar suas forças às de H itlç r);
e me encontrava na Inglaterra quando Hitler entrou na Renânia., ,
ato apoiado por um movimento dá opinião popular inglesa. Ouvi
também Neville Ghamberlain falar a favor de uma subvenção para
rearmamento e procurei confortar-me com a idéia de que ele não
passava de Ministro do Tesouro, não sendo, portanto, necessário
que soubesse contra o qüe se estava armando, nem quao urgente era .
esse rearmamento. Convençi-me de que a democracia inclusive
a democracia britânica —; não era uma instituição capaz de enfren
tar o totalitarismo; e era triste perceber que, aparentemente, um
único homem — Winston Churchili —-- se dava conta do que vinha
acontecendo e não. encontrava nenhum apoio.
Na Nova Zelândia, a situação era semelhante, mas . com os
traços .acentuados; Não havia agressividade no povo; tal como os
ingleses,;? bs neozelandeses. eram decentes, fraternais, bem dispostos.
Mas o continente europeu achava-se a uma. distância infinita. Na
quele tèmpo, a Nova Zelândia não tinha contacto com o mundo, a
não .ser através da Inglaterra, a cinco. $emanas de viagem, Inexistia
ligação aérea e não cabia esperar que uma carta fosse respondida
em menos de três meses. Durante a Primeira Guerra Mundial,, o
país havia sofrido perdas terríveis, mas. tudo estava, esquecido. Os
alemães eram apreciados e não se pensava, em guerra.
Tive a impressão de que a Nova. Zelândia era o país mais bem
governado no mundo e o mais fácil dé governar.
Sendo á atmosfera de trabalho maravilhosamente plácida e
agradável, acomodei-me rapidamente e dispus-me a continuar tare
fas interrompidas há vários meses. Fiz numerosos amigos, quê se
interessaram por minha obra e muito por me encorajarem. Hugh
Parton, físico-químico, Frederick White, físico, è Bob Allan, geólogo,
foram os primeiros. E, depois, Golin Simkin, economista, Alan Reed,
advogado, George Roth, físico de radiações, e Margaret Dalziel, então
estudante de Letras Clássicâs e ínglês. Mais ao sul, em Dunedin,
Otago, viviam John Findlay, filósofo, e John Eccles, neurofisiolo-
gista. Deles me tornei amigo para toda: a vida.
120
Além de lecionar (eu me encarregava, sozinho, do ensino de
Filosofia)1*6, concentrei atenção na teoria da probabilidade, espe
cialmente no tratamento axiomático do cálculo de probabilidades e
na relaçaó entre, o calculo dé probabilidades -e a álgebra booleana;
e logo concluí um trabalho, que reduzi ao mínimo de extensão. Foi
eíe posteriormente publicado em M in d 16T. Continúernésse trabalho
por varios anos: era um grande arrimo, sempre qütf éu-vâpàrihava
um resfriado. Estudei um pouco de Física e ref 1etí aterca da- Teoria
Quântica. (Li, entre outras coisas, a apaixonaiitè e ::perturbadora
carta 16s; enviada, a Nature, por Halban, Joliot é Kowaíski,:^igéütiri-
do. a possibilidade dé . uma explosão de Urânio, algumas ' cartas a
propósito do mesmo assunto em.. The Physical Redieií^^.Xi^^axúgp
de Karl K . Darrow no Arínual Report. of the B o d rd ^ f:rRégè^iits of
the Smithspnian Institution.) 169 ^
Por longo tempo, eu me. havia ocupado dos métodos-dás Ciên
cias Sociais; afinal de contas, tinha sido, em parte* umá £rítica ao
marxismo, que me colocara, em 1919, no caminho-dè^X-ógíA:^ dèr
Forschung. Eu havia discorrido, no seminário dé Hàyek, á respeito
de “ A Indigência do Historicismo” , exposição em se continha
(ou assim julgava eu) uma como que aplicação das idéiàs desen
volvidas em Logik der Forschung aos métodos das Ciências Sociâis.
Discuti essas idéias com Hugh Parton e com o Dr. H. Larsen, que,
na época, lecionava no Departamento de Economia. Nao obstante,
eu relutava muito em publicar qualquer qoisa contrária ao marxismo:
onde continuavam à existir nò continente europeu, os social-demò-
crátas eram, apesar de tudo, a única força política a ainda se opor
à tirania. Parecia-me que, nas circunstâncias daquele momento, nada
se devia escrever contra eles. Embora eu considerasse suicida a po
lítica por eles adotada,, não era de supor que. sè pudessem reformar
por força dà publicação de um trabalho: qualquer crítica só poderia
enfraquecê-los.
Foi quando, em inarço de 1938, chegaram notícias de que Hitler
tinha ocupado a Áustria. Havia agora uma necessidade urgente de
auxiliar os austríacos a fugir. Julguei também que não mais podia
manter inédito o conhecimento de problemas políticos que eu adqui
rira a partir de 1919; resolvi dar forma d e fin itiv a s UA Indigênçia
do Historicismo” . DaÚ brotaram dois trabalhos mais ou menos com-
plementares: The Poverty of Historicism e The Open Society ::and
Its Enemies (que, de início pensei em denominar “ False Prophéts:
Plato-Hégél-Marx” ) . ; ^ y--;:.-
-i S ociedad e A b e rta ” è S*A In d ig ê n c ia do H isto ric is m o ,,'
•V— ’ v/- . .'’’■ •.
i ' - • . •
'■!Originalmente, eu pensara apenas em elaborar e colocar em
inglês aceitável a exposição que havia feito, no seminário de Hayek
( inicialmente conduzido em alemão, na cidade de Bruxelas, em casa
de meti amigo Alfred Braunthal) 17°, mostrando, mais de perto, como
o “ histcricismo” fora a inspiração tanto do marxismo quanto do
fascismo. De maneira. clara, e u .antevia o trabalho concluído diante
de mim: um artigo bem longo, mas facilmente putlicável de uma.
só vez; .'
Minha dificuldade maior foi a de escrever num inglês passá-
vel.“ Eu escrevera, anteriormente, algujns’ trabalhos em inglês, mas,.
do ponto de vista lingüístico eram muito maus. Meu estilo alemão,.
em Logik der Forschung, parecera, razoavelmente leve — para lei
tores alemães; mas eu descobrira que os padrões ingleses. de estilo
eram completamente diferentes e muito mais elevados que os ale
mães. Nenhum leitor, alemão se importa, por exemplo, com polissí-
labos; em inglês, temos de aprender a sentir-nos incomodados com
eles. Entretanto, para alguém que se empenha ainda por evitar os
erros; mais comuns, esses, altos objetivos se põem muito/ distantes,
conquanto, possam continuam desejáveis,.
The P. o verty of Historicism é, segu.ndo. creio, um de meus traba
lhos mais indigestos. Além disso, após haver escrito as dez seções que
compõem o primeiro capítulo, todo ^ ò plano do livro . mostrou-se
falho: a seção 10 , a respeito do essencialismo, causou tanta perple
xidade a .meus amigos que me pus a revê-la; e, a partir dessa
revisão e de umas poucas observações que eu havia feito acerca das
tendências, -totalitárias da República de Platão — observações tam
bém julgadas obscuras por meus amigos, especialmente por Henry
D an Broádhéad e Margaret Dalziel — brotou, õu melhor, explodiu,
sem qualquer plano e contra todos os planos, uma conseqüência
verdadeiramente inesperada, T h e O p e n Society, Depois que esta
começou a tomar forma, eu a retirei de The Poverty, que ficou assim
reduzido mais ou menòs à extensão originalmente prevista.
Houve um fator menor que contribuiu para o surgimento de
The Open Society: irritava-me o obscurantismo de algumas ques
tões propostas nos exames acerca de “ o um e os muitos” na Filosofia
grega, e eu queria pôr a claro as inclinações políticas. ligadas a essas
idéias metafísicas.
Depois de The Open Society desligar-se de The Poverty, termi
nei primeiramente os três capítulos iniciais desta última obra. O
122
quarto capítulo, que até aquele
rascunho (sem qualquer exame do qué:rdepois^;:denómi^i^^lógtòlíí
situacional” ) só foi completado, penso eu3 depois^de^tériliiliadQêtt^
esboço do volume que, em The Open S o c ie t y é dedlcadò-;a, Platão^
O fato de as duas obras haverem surgido ‘ desà-'""'máneiiryfàí|$ã
confusa deveu-se em parte, indubitavelmente, ao desénvolviitténtõ;
interno de meu pensamento, mas em parte deveu-se,. creio ••:é ü ,a i)
pacto Hitler-Stalin, ao início do conflito e ao estranho' içursòíi dá
guerra. Gomo todos, eu teinia que, após a rendição da irançayiíiUèrv
invadisse a Inglaterra. Senti-me aliviado quando, em vez. disso, ele
invadiu, a Rússia, muito embora eu receasse o colapso dosí russos;
Sem embargo, e como diz Churchill em seu livro sobre a Primeira
.Guerra Mundial, as guerras não são ganhas, são perdidas: e a^Se-
gunda Grande Guerra foi perdida pelos tanques de Hitler na Rússia
e pelos bombardeiros japoneses em Pearl Harbor. ; ;
The Poverty e The Open Society foram meu esforço de guerra;
Eu entendi que a liberdade poderia colocar-se, outra vez, como pro
blema central, especialmente sob a renovada influência do mar
xismo e da idéia de “ planejamento” , (ou “ dirigismo” ) em larga
escala; assim, esses livros pretendiam ser uma defesa da liberdade
çohtra as idéias. totaUtárias e autoritárias e uma advertência contra
o perigo das superstições historicistas. Ambos os livros e, especial
mente, The Open Society (sem dúvida,, o mais importante) podem
ser vistos como dobras de filosofia política.
Brotaram ambos da teoria do conhecimento exposta em Logik
der Forschung . e de minha convicção de que nossas concepções, fre
qüentes vezes inconscientes, acerca de teoria do conhecimento e; de
seus problemas centrais ( “ Que podemos saber?” , “ Até que ponto é
certo nosso conhecimento?”.) são decisivas para orientar nossa ati^
tude em relação a nós mesmos e à política171.
Em Logik der Forschung, tentei mostrar que o conhecimento é
conseguido através da. tentativa e eliminação do erro, e que a prin
cipal diferença entre seu desenvolvimento pré-científico e seu desen
volvimento científico está ligada ao nível científico por nós conscien
temente buscado para nossos erros: a adoção consciente do método
crítico torna-se o instrumento principal de desenvolvimento; .Apa
rentemente, já por aquela época eu tinha uma visão clara - d e. que
o método crítico .■—- òu a abordagem crítica — consiste, ^em -termos
gerais, na procura de dificuldades ou contradições e. na: tentãtiya de
resolvê-las, e que esse enfoque poderia ser levado ,muitov-'àlém ~da-
Ciência, para a qual são características as provas críticas: \Escrevi^
éõm;: efeito: "N a presente obra, releguei a segundo plano o método,
crítico — ou, se quiserem, ‘dialético’ -— de resolver contradições,
para preocupar-me com a .tentativa de expor aspectos metodoló
gicos práticos de minhas idéias. Em trabalho ainda inédito, procuro
seguir o caminho crítico (. . . ) ” 172. (Eu fazià alusão a. Die beiden
Grundprobleme.)
Em The Open Society, acentuei que o método crítico, embora,
sempre que possível, recorra a provas e, de preferência, a provas
práticas, pode ser generalizado naquilo a que chamei atitude crítica
ou racional173. Sustentei que uma das melhores acepções a atribuir
a “ razão” e “razoabilidade” é a de abertura à crítica — disposição
de ser criticado e ; empenho em criticar-se; e procurei mostrar íque
essa atitude crítica de razoabilidade déveriá ser ampliada tanto quanto
possível174. Sugeri que a exigência de ampliar tanto quanto pos
sível a atitude crítica poderia ser chamada “ radonalismo crítico” ,
-sugestão posteriormente endossada jpoí? Adrienne K o c h 175 e Hans
Albert176. '
Implícito nessa atitude está o reconhecimento de que teremos
sempre de viver: numa sociedade imperfeita. Isso hão é assim apenas
porque até mesmo ás pessoas boas são imperfeitas, nem porque, obvia
mente, erramos com freqüência, por não sabermos o bastante. Mais
importante do que qualquer dessas duas razões '€ o fato de que sempre
existirão ^insolúveis conflitos de valores: há muitos problemas morais
. insolúveis, porque pode existir conflito entre princípios morais.
Nãó pode. existir sociedade humana sem conflitos: umã socie
dade que tal não seria uma. sociedade’ de homens,, mas de formigas.
Ainda que ela fosse çoisá realizável, essa; realização destruiria valores
humanos da ijaaior importância • e . tais valores deveriam, portanto,
impedir-nos de tentar a realização. Por outro: lado, deveríamos, de
certo, conseguir, uma redução dos conflitos. Assim, já temos aqui
um exemplo de choque de valores ou princípios. Esse exemplo mos
tra, ao mesmo tempo, que choques de valores e princípios são impor
tantes e,, na verdade, essenciais nuihá sociedade aberta.
Um dos principais argumentos desenvolvidos em The Open So
ciety dirige-se contra o relativismo moral. G fato. de valores ou prin
cípios morais poderem entrar em choque nao os invalida. Valores
ou princípios morais podem ser descobertos ou inventados. Podem
ser relevantes em umas e irrelevantes em outras situações. Podem ser
acessíveis a alguns e inacessíveis a outros. Tudo isso, entretanto, é
muito diverso do relativismo, ou seja, da doutrina, segundo a qual
é possível defender qualquer conjunto de valores 177.
Nesta autobiografia intelectual, uma série de idéias filosóficas
expostas em !T/ieSociety, (algumas concernentes à ,História da
Filosofia, outras à Filosofia da. História) deveriam ser mencionadas
em numero maior, • alias, do que seria possível -examinar aqui.
Entre elas, uma exposição "razoavelmente ampla:, ;de íjDüii^a^pQs;ção
antiessencialista e, penso eu, o primeiro enunciado :déÍiüm .;antiiessen-
cialismo que não é de feição nóminalista nem observácionál. Rela
cionada com essa exposição, The Open Society . continha algum as
críticas ao Tractatus. de Wittgenstein, críticas que tem sido quase
completamente esquecidas, pelos comentadores -desse autor. -
Em contexto similar, escrevi também acerca dos : paradoxos ló
gicos e formulei alguns novos paradoxos. Examinei õutrossim' a
relação entre élès e o paradoxo da democracia (exame que déu mar
gem ao aparecimento de ampla literatura) e aos mais gerais para
doxos da soberania. :‘ ;í >
Numerosos trabalhos ijue, a mèu ver, pouco contribuírain para
a solução do problema, surgiram a partir de equivocada ^crítica às
.minhas idéias sobre explicação histórica. N a seção 12 de. Logik der.
discuti o que denominei “ explicação causai” 178, oü expli
cação dedutiva, discussão que fora antecipada, sem que eu me hou
vesse, dado contai disso, por J. S. Mill, embora talvez um tanto vaga
mente (por não distinguir ele entre uma condição inicial e uma lei
universal)11®. Quando li pela primeira vez The. poverty of Histo-
ricism em Bruxelas, um antigo aluno meu, o Dr. Karl Hilferding 180
leyantou üm ponto interessante, assim como fizeram observações
importantes os filósofos Carl Hempel e Paul Oppenheim. Hilferding
assinalou uma rèlação entre algumas de minhas observações acerca
da explicação histórica e a seção 12 de Logik der Forschung. (Essas
observações vieram, depois,- a ' converter-se nas páginas 143-46 da
" edição em. livro. [1957 (g )] de The Poverty. O que Hilferding fez
notar, com respeito à Logik der Forschung, levou a alguns pontos
que figuram* agora, rias páginas 123-24 e 133 de [1957 ( g ) ] 181, pontos
parcialmente ligados à relação lógica entre explicação è predição e,
parcialmente, à trivialidádé; das leis universais tão invocadas em expli
cações históricas — lei? quase sempre despidas de interesse, simples
mente porque, no contexto, são. nãp-problemáticas.)
Nao. considerei, entretanto, essa . análisè especialmente impor
tante para a explicação histórica, t o-.;que tive •;como importante: exi
giu mais algnrís anos pára amadurecer. ' Tratava-se ;do problema; da
racionalidade (ou ‘‘princípio da racionalidadè” * •ioui>/‘método ■^izero” ,
ou “ lógica da situação” ) 182. Entretanto, durante anos^..a tese banal
_^ 5êml5v4fcsão>-lnal -interpretada — deu margem, sob o título ,de. "mo-
delovrdedutivo” , ao aparecimento de larga bibliografia.
- - © ••âspecto realmente importante do problema, o método da
análise ^situacional, que acrescentei a. T h e Poverty 183 em 1938 e
depois esclareci mais amplamente no capítulo 14 de The Open So
ciety 184, desenvolveu-se a partir do que eu havia anteriormente cha
mado “ método zero” . O importante, no caso, éra a tentativa de
generalizar o método. da teoria econômica ( teoria da utilidade mar
ginal), de sorte a torná-lo. aplicável às outras' ciências sociais teoréti-
cas. Nas formulações que posteriormente lhe dei, esse método con
siste em construir üm modelo da situação, social que inclua especial
mente a situação institucional em que o agente está. atuando, de modo
a explicar a racionalidade (o caráter zero) dé sua ação.. Tais mo
delos são, nas Ciências Sociais, as hipóteses suscetíveis de comprova
ção e os modelos que sejam “ singulares” , máis especialmente, cor
respondem às hipóteses, singulares. da . História (hipóteses. em prin
cípio comprováveis).
Ao longo das mesmas linhas, devo talvez referir-me à teoria da
sociedade abstrata, pela primeira vez incluída na edição norte-ame
ricana de The Open Society 18S.
Para mim, The Opéh Society marca ürriâ virada, pois levou-me
a escrever' a respeito de História (em termos algo especulativos), o
que, até certò ponto, proporciohóu-me .desculpa para escrever acerca
de inétodos de pesquisa histórica186. Anteriormente, eu havia feito
e mantido inéditas algumas pesquisas no cámpo da História da
Filosofia, mas só agora, pela primeira vez, publicava algiíma coisa
nesse campo. Penso que, para dizer pouco, provoquei.grande número
de novos problemas históricos — todo um vespeito de problemas,
O primeiro volume de The Open Society, que intitulei O : En
canto de Platão, nasceu, como já referi,. de uma ampliação da seção
10 de The Poverty. N o primeiro esboço dessa ampliação, figuravam
uns poucos parágrafos a propósito do totalitarismo de Platão, na suà
conexão com a teoria historicista platônica do declínio ou degenera-
ção,, assim como parágrafos acerca de Aristóteles. Esses parágrafos
baseavam-se na minha leitura da República, do Político, do Gór~
gias, de alguns livros das Leis e nos Pensadores Gregós, de Theodor
Gomperz, obra muito apreciada desde os meus dias de escola se
cundária. As reações hostis que esses parágrafos provocaram em
meus amigos neozelandeses acabaram por levar-me a O Encanto de
Platão e daí a. The Open Society. Voltei ao estudo das fontes, por
que desejava oferecer prova ampla de minhas concepções. Reli
Platão, intensivamente; li Diels, Grote ( cuja opinião, verifiquei, era
em essencia igual a minha) e muitos outros-..-..cpinenteores_fc "histo
riadores do período. (Referências completas/.encontram-se em'\The
Open Society.) O que li foi; em grande parte, função .do, que pude
encontrar na Nova Zelândia: durante a guerra, nao havia como
receber livros de além-mar. Por essa ou aquela rázão,.,foi-me impos
sível, por exemplo, conseguir a edição Loeb da República ■-{tradução
de Shorey), conquanto o segundo volume, soube eu depois da guerra,
tivesse sido publicado era 1935. , O fato foi lamentável, pois trata
va-se da melhor tradução, como eu viria a descobrir. As traduções
de que eu dispunha eram tão insatisfatórias que, auxiliado pela
maravilhosa edição Adam, comecei eu próprio a traduzir, apesar
do meu grego deficiente, que eu procurava melhorar recorrendo a
uma gramática escolar trazida da Áustria. Nadá resultaria do longo
tempo dedicado a essas traduções: eu descobrira que tinha de rees
crever várias vezes traduções do latim e até do alemão, se dêséjassè
imprimir clareza a uma idéia interessante e vazá-la em inglês razoa
velmente vigórosó. Fui acusado de tendenciosídade em minhas tirà-
duções e, com efeito, elas são tendenciosas. Mas nao há traduções
não-tendenciosas de Platão e penso que não pode haver. A tradução
de Shorey é uma das poucas onde: não há desvios liberais, porque ele
aceitou a política de Platão no mesmo sentido/ aproximadamente,
em que a rejeitei.
. Enviei The Poverty a M ind e fox recusado; imediatamente após
completar The Open Society, em fevereiro de 1943 (reescrevi-o mui
tas vezes) enviei-o para ser publicado nos Estados Unidos dá Amé
rica. O. livro fora escrito em circunstâncias penosas: as bibliotecas
eram 'extremamente limitadas e eu tivera dé ajustar-me aos livros
que encontrara à mão. Minha carga de ensino era pesadíssima e- òs
administradores universitários não só deixavam de ajudar-me como
tentavam ativamente criar-me dificuldades. Disseram-me qüe seria
avisado eu nada publicar enquanta estivesse na Nova Zelândia e que
todo o tempo dedicado a pesquisas era tempo roubado ao trâbàlhò
do ensino, pelo qual eu estava sendo pago187. A situação assumiu
feições tais que, sem o apoio moral de meus amigos da Nova Ze
lândia, eu dificilmente teria sobrevivido. Nessas circunstâncias, "a
reação daqueles amigos dos Estados Unidos da América, aos quais
eu havia enviado o original do livro, foi um golpe terrível. Durante
meses, eles nada disseram; e, depois, em vez de submeter o trabalho
a. um editor, solicitaram a opinião de uma autoridade famosa, aos
olhos de quem o livro, devido à sua irreverência para com Aristóte
les' (não Platão), foi considerado não adequado para ,apresentação
;a um editor.
; - Passado quase uni ano, encontrando-me eu sem saber o que
fazer e terrivelmente deprimido, obtive, por acaso, o endereço inglês
de meu amigo Ernst Gombriçh, com : o qual. eu havia perdido con
tacto durante a guerra. Ele e Hayek, que se ofereceu generosamente
para^ ajudar-me ( eu nao havia ousado. aborrecê-lo, pois só o tinha
visto umas poucas vezes), encontraram um editor. Ambos me escre
veram a respeito do livro, mostrando ..muita simpatia. O alívio foi
imenso. Achei que essas duas pessoas, me haviam salvo a vida e
assim continuo a pensar.
130
ruas genuínos, mas tao-somente charadas lingüis ticas: - Hljna vez que
essa tese estava entre minhas aversões prediletas, decidii?fàlar' a prtK
põsito de “ Existem .problemas filosóficos?” Comecei meu .trabalho
(lido na sala de R. B. Braithwaite, no “ King’s College” , no dia -Í26
de' outubro de 1946) exprimindo surpresa por ter sido convidado,
pelo secretário para falar “ a propósito de alguma charada filosófica’
e assinalei que, negando implicitamente a existência de problemas
filosóficos, quem fizera o convite tomara posição, talvez inadverti
damente, num debate gerado por um genuíno problema filosófico.
Desnecessário dizer que, com isso, eu pretendia apenas fazer
uma introdução provocadora e leve do meu tema. Mas, a essa
altura, Wittgenstein pulou da cadeira e disse, alto e, ao que me
pareceu, em tom zangado: “ O Secretário fez exatamente o que lhe
foi dito que fizesse. Observou instruções minhas.” Não dei atenção
e prossegui; mas, como ficou claro, alguns dos admiradores de
Wittgenstein, ah presentes, .deram atenção às suas palavras. e, em
conseqüência, tomaram miriha observação, que pretendia , ser uma
brincadeira, como uma queixa sériá contra o Secretário. E assim
parece ter entendido o pobre Secretário, como se vê da ata em que
ele refere o incidente, acrescentando em nota de pé de página:
“ Essa foi a forma de convite usada pelo Clube.” m
„ Fui adiante, apesar de tudo, para dizer que, se eu não acre
ditasse na existência de problemas filosóficos genuínos, eu não seria
por certo filósofo; e que ò fato de muitas, talvez todas as pessoas
acolherem irrefletidamenté soluções insustentáveis para muitos, tal
vez para todos os problemas filosóficos, propiciava a única justifi
cação para ser-se filósofo. Wittgenstein ergueu-se de novo, interrom
peu-me, e falou longamente acerca de charadas e da inexistência
de problemas filosóficos. Em momento que me pareceu adequado,
ihterrompi-o, apresentando uma lista de problemas filosóficos, por
mim preparada, onde figuravam questões como “ Conhecemos as
coisas átravés de nossos sentidos?1’, “ Há conhecimento por indução?” .
Wittgenstein rejeitou essas indicações, dizendo tratar-se de questões
-lógicas e não filosóficas. Mencionei então o problema de saber se
ékistem infinitos potenciais ou talvez mesmo atuais, o que ele con
siderou uma questão de Matemática. (Isso consta da ata.) Aludi,
erfi ’ seguida, aos problemas ’ morais e ao problema da validade das
regras' morais. A essa altura, Wittgenstein, que estava sentado junto
à^areira e brandia nervosamente o atiçador de fogo, que por vezes
1 usavamcomo batuta de maestro, para sublinhar suas afirmações, lan-
çôufmev.um desafio: “ Dê-me um exemplo de regra moral.” Res*
pondii “ Não ameaçar conferencistas visitantes com atiçadores de
fògo /^-Wittgenstein, com raiva, atirou longe o atiçador e precipi-
tóu^se :pâra fora da' sala, batendo a porta atrás de si.
O incidente me aborreceu muito., .Confesso que fui a Gambrid-
ge com a esperança de obrigar Wittgenstein ã defender a idéia de
que existem problemas filosóficos genuínos e com o propósito de
contestá-lo quanto a este ponto. Jamais* porém, pretendi irritá-lo;
e foi uma surpresa ver que ele se mostrava incapaz de compreender
uma brincadeira. Mais tarde, dei-me conta de que ele percebeu a
brincadeira e foi isso que o ofendeu. Entretanto, embora desejasse
tratar a questão em tom leve, eu falava seriamente •— talvez mais
seriamente que o próprio Wittgenstein, pois ele não acreditava que
existissem problemas filosóficos genuínos.
Depois da saída de Wittgenstein, travou-se debate agradável,
em que teve destacada participação Bertrand Russell. E, mais tarde,
Braithwaite fez-me um cumpriment^f (cumprimento talvez dúbio) ,
dizendo ter sido eu a única pessoa capaz de interromper Wittgens
tein da maneira como Wittgenstein interrompia a todos.
No dia seguinte, no mesmo compartimento do trem que me
levava de volta a Londres, estavam dois estudantes sentados um
defronte do outro, o rapáz a ler um livro, e a moça a ler uma revista
de esquerda. De repente, a moça perguntou: “ Quem é esse Karl
Popper?” E o rapaz respondeu: “ Jamais ouvi falar dele.” Assim
é a fama. (Descobri mais tarde que a revista fazia um ataque a The
Open Society.) :
A reunião do Clube de Ciências Morais tornou-se quase imedia
tamente o tema de rçlatos despropositados. Dentro de tempo sur
preendentemente curto, recebi uma carta da Nova Zelândia per
guntando se era verdade que eu e Wittgenstein havíamos trocado
golpes, ambos armados com atiçadores de fogo. Mais próximo de
nós. os relatos eram menos exagerados, mas não muito menos.
O incidente deveu-se, em parte, *a meu hábito de, sempre ique
aceito falar, esforçar-me por tirar de; minhas concepções conseqüên
cias que espero sejam inaceitáveis para aquele determinado audi
tório. Com efeito, acredito , que, para uma palestra, só há uma
desculpa: desafiar. Só nesse sentido o falar pode avantajar-se ao
escrever. Foi por isso que escolhi o tópico já referido, além do que
a controvérsia com Wittgenstein tocava em questões fundamentais.
Afirmo que existem problemas filosóficos; e chego até a afirmar
que solucionei alguns. Sem embargo, como tive oportunidade de
escrever em outra ocasião, “ aparentemente, nada é menos desejado
que uma solução simples para um velho problema filosófico”.182 A
concepção de muitos filósofos . ;;especialmentej a o ; que,, parece, dos
wittgensteinianos é a de que, sendo solúvel, o problema não terá sido
filosófico. Há, naturalmente,, outros modos,,de .evitar o , escândalo de
um problema resolvido. Pode-sç. dizer,que se ;trata de^lus^nou .que
o problema permanece insolvido. :£,;rafmalíjdeG 'pro
posta deve estar errada, não é .verdade^fc(Ssto.us pronto ^a^ reconhecer
qué, muito freqüentemente, esta atitude-;é-mais, ..constrytiya-. que- a
excessiva concordância*) ^
' s * ■ ' ••
Uma das coisas que naquele teíüpô^^-eü^ còhsideíava^ difícil de
entender era a tendência que tinham osfilósbfds' ingleáesdef namo
rar as epistemologias não-realistas: o fénômehismo/vo} positivismo, o
idealismo de Hume, de Berkeíey ou de MacHl ( “ monismo/neutró” ) ,
o sensismo, o pragmatismo; esses brinquedos :de -filósofos eram/~na
época, mais apreciados que o realismo. Depois de uma guerra -cruel,
que se prolongará por seis anos, essa atitude era surpreendenteslei
admito:que.me parecia um tanto “ antiquada5’ (para Usar iüina;pálàvra
de feição historicista). Assim, ao ser convidado em 1946-47 pará. léf . üm
trabalho em Oxford, apresentei um com o título de “ UmasRèfu^
tação do Fenomenismo, do Positivismo, do Idealismo e do Subjeti-
vismo” . Nq debate, a defesa das posições que eu havia atacado ;fOi
tão frágil que causou pouca impressão. Sem embargo, os frutos da
vitória (se os houve) foram colhidos pelos filósofos da linguagem
comum, pois a filosofia da linguagem passou, dentro em pouco, a
dar apoio ao senso comum. Em verdade, suas tentativas de aderir
ao senso comum e ao realismo constituem, ao meu ver, o aspecto
mais favorável da Filosofia da linguagem, comum. Entretanto, .o
senso comum, embora muitas vezes acerte (especialmente em seu
realismo), nem sempre está correto. E exatamente quando:ele falha
é que as coisas passam a tornar-se interessantes. Evidencia-se, nes
sas ocasiões, . que estamos terrivelmente necessitados de esclareci
mento. São também essas as ocasiões em que os usos da linguagem
comum não nos podem valer. Em outras palavras, a linguagem
. comum, e com ela a filosofia da linguagem comum, é conservadora. Ê
em questões de intelecto (no que se opõem, talvez à Arte ou a
.Política) nada é menos criador e mais chão do que o conservadorismo.
Ao que me parece, Gilbert Ryle deu a tudo isso uma formulação
muito adequada: “ A racionalidade do homem consiste não em não
ser, inquiridor em questões de princípio, mas em nunca deixar de ser
inquiridor; não em aderir a axiomas admitidos, mas em nada aceitar
eorao assentado.” 193
27:i Priíaeiros trabalhos na Inglaterra
Embora eu tenha conhecido- a aflição e a tristeza, como acon
teceu com todos, não creio que tenha tido, como filósofo, sequer
uma hora infeliz, desde que retornei à Inglaterra. Trabalhei muito
e muitas vezes enfrentei dificuldades insolúveis. Mas tenho sido
muito feliz em encontrar problemas novos, enfrentá-los e conseguir
algum progresso. Isso, tenho parà mim, é a vida ideal. Parece-me
infinitamente superior à vida de mera. contemplação (para não falar
da vida de divina autocontemplação) ^ne Aristóteles apontava como
a melhor. É uma vida de inquietúdes, mas, em grande proporção,
auto-suficiente — autárquica, no sentido de Platão, embora, como
é claro, vida .alguma possa ser auto-suficiente. ‘ À- minha mulher e a
mim não agradava viver em Londres; entretanto, desde que nos
mudamos para Penn, em Buckinghamshire, em 1950, tenho sido,
segundo creio, o mais feliz dos filósofos que conheci.
Isso não é sem importância para meu desenvolvimento intelec
tual, pois tem ajudado imensamente o meu trabalho. E cumpre
levar em conta a realimentação: uma das grandes fontes de felici
dade é conseguir, aqui e ali, um vislumbre de um aspecto novo do
incrível mundo em que vivemos e do incrível papel que nele nos
cabe.
Antes de nos mudarmos para Buckinghamshire, meu trabalho
estava principalmente voltado para a “ dedução natural” ., Eu o tinha
iniciado rça Nova Zelândia, onde um de meus alunos de Lógica,
Peter Munz (hoje professor de História na Universidade de V itó ria ),
muito me estimulou, graças à sua compreensão e à sua excelente
capacidade de dar desenvolvimento independente a um argumento 194.
(Ele não se recorda do fato.) Depois de minha volta à Inglaterra,
discuti . o assunto com Paul Bernays, o teorizador dos conjuntos e
certa vez falei dele a Bertrand Russell. (Tarski não estava interessa
do, o que eu compreendi miiito bem, pois ele tinha idéias mais im
portantes com que se ocupar; mas Evert Beth manifestou real inte
resse pela questão.) Trata-se de uma teoria elementar, porém estra
nhamente bela — muito mais bela e simétrica do que as teorias
lógicas como eu jamais conhecera.,
O interesse que inspirou essas investigações nasceu de um artigo
de Tarski, “ On the Concept of Logical Consequence” 195 que eu o
ouvira ler num congresso realizado emyParis no outono.de 1935. Esse
artigo e, em particular, certas dúvidas nele expressadas196, levaram-
-me a dois problemas: (1) até que ponto é possível formular a Lógica
em termos de verdade ou deduzibilidade, ou seja, transmissão de
134
verdade e retransmissão de falsidade? ; e, ( 2 ). até,que pon to ,é possível
caracterizar as constantes lógicas de uma linguagem-objeto como
símbolos cujo funcionamento pode ser inteiramente descrito em ter
mos. de dedüzibilidade (transmissão de verdade) iMuitos:prqblemas
brotavam desses dois e de minhas tentativas..,de írpsolye^los,^7. V:Con
tudo, por. fira, apos varios anos d e .'esfo£çò^,desi^£;.râ0j ^
engano que havia cometido, apesar de nao -jserj^is^iòj- éss^^iengànó,
e ;apesar de. ao corrigí-lo, eu ter sido levado - a - álguns;::resultados
interessantes que, todavia, jamais publiquei 1S8. , a. ., ^
Em companhia de Fritz Waísmann, fui à Holanda-•em 1946,
convidado a participar de um congresso da Sociedade.. ^Internacional,
de Significs. Foi esse o começo de uma estreita ligação ^com a ;Ho-.
landa, ligação que se prolongou por vários anos. (Anteriormente,
eu havia sido visitado na Inglaterra pelo físico J. Çláy5 qüe ^lérá
minha Logik der Forschung e com quem èu compartilhava, ^muitas
maneiras de ver.) Foi nessa ocasião que pela primeira vez encontrei
Brouwer, o criador da interpretação intuicionista da Matemática,
e Heyting, seu mais distinto discípulo, A. D. De Groot, o psicólogo: e
metodologia ta, e os irmãos Justus e Herman Meijer. Justus muito
se interessou pela The Open Society e, quase de imediato, iniciou ò
preparo da primeira versão do livro para a língua holandesal98.
Em 1949, fui feito professor de Lógicã e Método Científico na
Üníversidade de Londres. Talvez a título de reconhecimento, eu
usualmente iniciava minhas exposições acerca do método científico
explicando porque tal assunto não existia — era mais inexistente do
que alguns outros assuntos inexistentes. (Contudo, eu não me irepètia
"muito em minhas exposições; nunca utilizei mais de uma vez as
mesmas notas de aula.)
■' As pessoas còm quem mais aprendi nesses primeiros tempos
■vividos na Inglaterra foram Gombrich, Hayek, Mêdawar e Robbins
nenhum deles filósofo; havia também Terence Hutchinson, que
^inha escrito com grande penetração a respeito dos métodos da
' fÈconomia. Mas aquilo de que mais eu sentia falta, na época, era
■'poder conversar longamente com um físiCo, embora eu houvesse
/reencontrado Schrpdinger em Londres e tivesse uma proveitosa con
versa, com Arthur Marcfc em Alpbach, no Tirol, e outra com Pauli,
.r.enx Zurique.
28. Prim eira visita aos Estados Unidos da América.
•w>.:>Eficonlro •'co m E in stein V.
• Em 1949, recebi convite para proferir as Conferências William
James, em Harvard. Esta foi a razão da minha primeira visita aos
Estados Unidos da América e muito influiu sobre minha vida. Quan
do recebi a inesperada carta-convite do Professor Donald Williams,
imaginei que houvesse engano, imaginei que me tivessem tomado
por Joseph Popper-Lynkeus.
Eu desenvolvia, na ocasião, três trabalhos: uma série de artigos
sobre dedução natural, várias axiomatizações1 da probabilidade e a
metodologia da Ciência Social, O único assunto que me pareceu
adequado para uma série de seis ou oito conferências foi o último
e, assim, dei às exposições, o título de “ O Estudo da Natureza e da
Sociedade” .
Embarcamos em fevereiro de 1950. Dos . membros do Departa
mento de Filosofia de Harvard, eu só conhecia Quine. Agora, pas- .
sava a conhecer C. I. Lewis,. Donald Williams , e Morton White.
E voltei a encontrar, pela primeira vez depois de 1936, velhos ami-
gos; o matemático Paul Boschan, Herbert Feigl, Phillip Frank (que
me apresentou ao grande físico Percy Bridgman, de quem logo me
tornei amigo), Julius Kraft, Richard Von Mises, Franz Urbach,
Abraham Wàld e Victor Weisskopf. Conheci também Gottfried von
Haberler que, segundo soube depois. por Hayek, foi, aparentemente,
o primeiro economista á se interessar por minha teoria do método; e
conheci também George Sarton e I. Bernard Cohen, historiadores
da Ciência e James Bryant . Conant, reitor de Harvard.
Gostei dos Estados Unidos da América desde logo, talvez por
que tinha algum preconceito contra,- eles. Havia ali, em 1950, um
sentimento de liberdade, de indepçjadência pessoal, que não existia
na Europa e que, pareceu-me, era álnda inais forte do qúe na Nova
Zelândia, o país mais livre que pudé conhecer, Eram os dias iniciais
do macartismo — do hoje parcialmente esquecido cruzado anticomu
nista, Senador Joseph McCarthy mas, a julgar pela atmosfera
geral, supus que o movimento, que se alimentava do medo, terminaria
por destruir-se a si próprio. Voltando à Inglaterra, tive, com Ber-
trand Russell, uma discussão acerca do assunto.
Reconheço que as coisas se desenvolveram de maneira muito
diferente. “ Isso não acontecerá aqui” é sempre errado: uma dita-?
dura pode instalar-se em qualquer i lugar.
O maior e mais duradouro impacto recebido, durante a visita
foi o causado por Einstein. Convidado a . ir . a Princeton, li, num
seminário, uma artigo intitulado “ Indeterminismp na^Fisica Quân
tica e na Física Glassica’ , esboço de trabalho muito inais longo 2°°.
Nos debates, Einstein disse umas poucas palavras de concordância
e Bohr estendeu-se; em considerações (em verdade,^^té^jfícáírnos
só os dois na sala), afirmando, com'recurso, ao i ^ o s o * ^ ^ im e ft íò ;
dás duas fendas, que a situação que se apresentayá„vHp. ,jcampo da"
Física Quântica era completamente nova e '
com a ’ da Física classica. O fato de Einstein e HòhtViíéreni^ coiiipa-
irecido a minha palestra foi, a meu ver, ò rriaior, cumprimento 'que
já recébi. '''' ’’ ; '.‘v.
Eu conhecera Einstein antes dessa palestra,, ,atravésKr derrPàul
Oppenheim, em cuja- casa estávamos hospedados. E, .conquantòvieu
relutasse muito em tomar o tempo de Einstein, ele fez-mé.. procurá-lo
de novo. Ao todo, encontramo-nos três vezes. O principal/;tópico :de
nossa conversa foi o indeterminismo. Tentei persuadi-lo,ú&^abando^
nar o seu determinismo, que q levava a conceber o mundoVcoiho um
universo compacto, parmenídico, de quatro dimensões, onde a mu-;
dànça não passava de uma ilusão humana, ou quase isso. (Ele
. concordou 'com que essa havia sido sua visão e, em meio à conversa,
chamei-o de “ Parmênides” .) Sustentei que se os homens e outros
orgáhisraos podem ter a experiência da mudança e da genuína
süCessão no tempo, então isso era real e não poderia ser invalidada
:0 ; : por uma teoria do sucessivo acesso a nossa consciência de porções
- dé ;tèmpo que, em certo sentido, coexistem, pois esse tipo de “ acesso
^ ^ ^X^orisc^ nc^a” teria precisamente o mesmo caráter daquela sucessão
de-jmudanças, qüe a teoria procura rejeitar. Invoquei também alguns
^;-U;;.; aicgUmentos biológicos óbvios:, a evolução da vida e a maneira de os
íSC^i/otgânismos se comportarem, especialmente no caso dos animais su-
l^^^fâdtícres, nao podem ser verdadeiramente compreendidos com base
qualquer teoria que irilerprete o tempo como se este fosse algo
^^~S§ífíelhante a uma outra coordenada (anisotrópica) do espaço. Afi-
^ í v n á & d e ■contas, nãò temos experiência, de. coordenadas espaciais. E
b isso; porque elas simplesmente nao existem: devemos acautelar-nos
^ ^ í jGpiçbraífa. hipòstasiá-lasj elas são construções quase inteiramente arbi-
llplj: tr^áFi^s?^.: Por.- que teríamos, então, a experiência da coordenada, de.
''1^'tèitípo -— sem dúvida, a apropriada para o nosso sistema inercialt=—r.
p|i^ãp^j 5enas tcomo aigo real, mas também como algo absoluto, ou^seja>.
^independente de tudo quanto podemos fazer,^excetò^;
‘l^o^^iGafí- nosso. .estado de movimento) ?
v A realidade do tempo e da mudança parecia-me o cerne do rea
lismo. (Continuo a ver as coisas desse modo, e assim elas têm sido
vistas por alguns idealistas que se opõem ao realismo, como Schrõ-
dinger e Gõdel.)
Quando visitei Einstein, o volume Einstein, editado por Schilpp
e integrado em The Library of Living Philosophers, acabava de ser
publicado; o volume continha uma passagem, hoje famosa, de Gõdel,
que utilizava, contra a realidade do 'tempo e da mudança, argu
mentos colhidos nas duas teorias da>urelatividade elaboradas por
EinsteinZ01. Einstein aparecia no livio como alguém decididamente
favorável ao realismo. E ele discordava, sem dúvida, do idealismo
de Gõdel; ele sugeria, em sua réplica, que poderiam ser “ rejeitadas,
por motivos de ordem física” , as soluções godelianas das equações
cosmo lógicas.
Procurei ainda apresentar ao Einstein-Parmênides, tão vigorosa
mente quanto possível, minha convicção de que se deveria tomar
clara posição contra qualquer concepção idealista do tempo. Bus
quei também mostrar que, embora a concepção idealista fosse com
patível tanto com o determinismo quanto com o indetermínismo,
importava tomar .posição a favor de um universo "aberto” — uni
verso em que o futuro de maneira alguma estivesse contido no pre
sente ou no passado, conquanto estes lhe imponham severas restri
ções. Argumentei que não devemos ser governados por nossas teorias,
até o ponto de facilmente abandonar o senso comum. Einstein não
queria abandonar o realismo (e a favor deste os argumentos mais
fortes são Ds que se fundam no senso comum), mas penso que estava,
como eu também estava, pronto a admitir que poderíamos, um dia,
ver-nos forçados a repudiá-lo, se argumentos poderosos (do tipo dos
de Gõdel, digamos) se erguessem contra ele. Argumentei por issó
que, no concernente ao tempo, e também ao índeterminismo (ou
seja, ao caráter incompleto da Física), a situação era exatamente
semelhante à situação relativa ao realismo. Recorrendo à maneira
que tinha Einstein de expressar-se em termos teológicos, eu disse:
se Deus tivesse querido colocar todas as coisas no mundo desde o
começo, Eie teria criado um universo sem mudança, sem organismos
nem evolução, sem o homem e sem a experiência que o homem tem
da mudança. Aparentemente, entretanto, Ele achou que um uni
verso vivo, com acontecimentos inesperados até para Ele próprio;
seria mais interessante que um universo morto.
Procurei também deixar claro a Einstein que tal posição não.
implicaria em perturbar a atitude crítica por ele tomada diante da%
afirmativa, feita por Bohr, de que a Mecânica Quântica era com-
138
pleta; pelo contrário, tratava-se de uma -posição para -.a quai sempre
é possível levar mais adiante os nossos projbIemas e que, - de modò
geral, cabia esperar que a Ciência.^seç. revelasse incompleta; . (neste
ou naquele sentido).
Com efeito, sempre podemos continuaríVcórn.? ós nossos por^quês.
A despeito de acreditar na verdade
ditava que ela proporcionasse uma explicação1 última .'te,- pí&EÍsáSsoí
tentou apresentar uma explicação teológica. iHa^íaçâo^ííàiüdistânciai
Leibniz não acreditava que o impulso meeâmGO|d(íaçãoíáíadistânCiá‘‘'
-zero) fosse a última palavra a dizer e buscava^umartexpHcàiçã^ièiii
termos de forças de repulsão, explicação que,;^osteriç>^én|;é,fívèifc>
a ser dada pela teoria elétrica da matéria. Uma ^explicação^ é algo
sempre incompleto203: sempre podemos suscitar um outro <rpor ;quê..;-
E esse novo por quê talvez leve a uma nova teoria, que.^ não,^:só:
“ explique” , mas também corrija a- anterior204. :
Esse é o motivo por que é possível enxergar a evolução, dà
Físíca em termos de um interminável processo de correção e de:
maior aproximação. E ainda que venhamos a alcançar ^uíh..^eStág;iò•■■.•'1'
em que nossas teorias não mais estejam sujeitas a correções,: pela
circunstância de serem simplesmente verdadeiras, elas continuarão
a não ser completas — e saberemos disso. Pois viria à baila o famoso
teorema da incompletude, de Gõdel, e, tendo em vista o fundamento
matemático da Física, far-se-ia necessária, na melhor das hipóteses,
uma seqüência infinita dessas teorias verdadeiras para dar resposta
aos problemas que, em qualquer teoria dada (formalizada), seriam
indecidíveis. ” ••
Essas considerações não provam que o mundo físico objetivo
seja incompleto ou indeterminado: mostram apenas a essencial7in
completude de nossos esforços2043. Mostram, além disso, que é reiúòta
•a possibilidade (se é que essa possibilidade existe) dè a Ciência vir .á
alcançar um estágio em que possa oferecer fundamento real à con
cepção de que o mundo físico é de cunho determinista. Por; que não
aceitarmos, então, o veredito do. senso comum — pelo menos até
.que estes argumentos sejam refutados ?205
Tal a substância do argumento com que procurei converter o
r Einstein-Parxnênides. Além disso, discutimos, de maneira mais breve,
:problemas como os do operacionalismo206 e do positivismo, os posi
tivistas e o estranho temor que experimentam diante da Metafísica,
-a,verificação em face do falseamento, a falseabilidade e a simplici-
dadeiK Surpreendeu-me saber que Einstein pensava que tinha sido
universalmente aceitas minhas sugestões concernentes à simplicidade
(feitas &ín:fEogik der Forschung) , de $orte que todos soubessem que
•èrá&ipreférivel a teoria mais. simples,Sem razão de seu maior poder
de excluir- estados de coisa possíveis; ou seja, em razão de sua me
lhor testabilídade 201.
Outro ponto discutido foi Bohr e a complementaridade -— topi-
co inevitável depois do que Bohr dissera durante os debates da noite
anterior; e Einstein repetiu, com os mais vigorosos termos, o que ele
havia assinalado no livro de Schilpp: que, a despeito dos maiores
esforços, nao conseguia enténder o que Bohr pretendia dizer quando
falava em complementaridade208.
Lembro-me também de algumas observações mordazes que Eins-
tein fez acerca da trivialidade ( do ponto de vista de üm físico) da
teoria da bomba atômica, o que me; pareceu um tanto exagerado, .
considerando que Rutherford havia julgado impossível a utilização
da energia atômica, -• Talvez essas observações estivessem algo mati
zadas pela sua aversão à bomba e tudo quanto se relacionava a ela,
porém não há dúvida' de que^ele tinha perfeita consciência do que
dizia e sem dúvida estava, no essencial, certo.
É difícil transmitir a impressão ('causada pela personalidade de
Einstein: Talvez se possa descrevê-la . dizendo que, ao lado dele, as
pessoas se sentiam imediatamente à 1vontade. Era impossível nao
aceitá-lo3 deixar de implicitamente confiar em sua retidão, bondade,
bom senso, sabedoria*. e~ simplicidade quase infantil. Diz alguma coisa
em favor do murfdo ;e dos. Estados Unidos da América o fato de um
homem tão desligado do ‘ riiundo ter nao apenas sobrevivido, mas ter
sido apreciado e glorificado.
Durante a visita à Princeton, voltei a encontrar Kurt Gõdel e
discuti çom ele a sua contribuição para o livro sobre Einstein e
alguns aspectos da possível significação de seü teorema da incom-
pletude para a Física. ■. '
142
nismo em causa211. Assim, é possível que um cientista como- Kepier
. tenha julgado haver resolvido um problema ao passo .que o. his
toriador da Ciência tentará resolver (^ 11) : “ K.epler
resolveu o problema P 1 ou um outro pròbÍémá? :Qüâí uerá; á rèal
situação-problema?” E a solução dó p rob lèii^^^^?i:)^^od e Vsér
(como penso que seja) a de Kepler resolveu7Cii^7í^rpbÍem^^êni!
diverso daquele que acreditou haver retômdÒ’. :':# --^ •
No nível animal, a solução sempre é, claro/^ conjeGtural
ta-se de uma construção de elevado grau teoréfíGÒí^ \ !^\^jattãJs.ej;: ‘
dá quando um cientista conjectura, a propósito d e .u m :.^ r-y
vidualizado ou de uma espécie (a propósito, digámOS,;.;de^úm;ímicro
bio tratado com penicilina) que o animal ou'-á es^éde-v^e^çõui^.^
uma solução (a de tornar-se, digamos, resistente à penicilina) , para ::
o problema que está enfrentando. Essa maneira de colocaiiaíqüest^fe;:
poderá parecer metafórica, e mesmo antropomórfica, mas ^alyêzJJaaq
sejà: talvez simplesmente mostre que tal era a situação dò nièio qué,y -;
se a espécie (ou população de organismos) nã<* tivesse mudado dè ; ;
certo modo (alterando, por exemplo, a distribuição de süa? popula- v
çao de genes), sobreviriam dificuldades para ela! .''"'.y —
Dir-se-á que tudo isso é óbvio: a maioria de nós sabe que. ,é;
difícil formular claramente um problema e que, freqüentes vezes,
falha-se na tentativa. Os problemas não são fáceis de identificar,,
ou descrever, a menos, é claro, que algum problema adrede preparado,
nos seja proposto, como se dá num exame; ainda assim, entretanto,,
podemos achar que o examinador não formulou bem o problema e
que sabemos formulá-lo melhor. ■Déssa maneira, surge, com muitís
sima freqüência, o problema de formular o problema — e o problema
de saber se era realmente esse o problema a ser formulado.
Assim, os problemas, inclusive os problemas práticos, são sem
pre teóricos. As teorias, de outro lado, só podem ser entendidas
coma tentativas de solução de problemas e em relação, com as situa-;
:- ções-problema.
Com o objetivo de evitar mal-entendidos, desejo acentuar que
a& relações aqui discutidas entre problemas e teorias não são relações
; . entre as palavras “ problema” e “ teoria” : não me preocupei com usosJ
ou conceitos. Preocupei-me com relações entre, problemas e teorias
^ especialmente as teoria^ que precedem os problemas: problemas
tjue ^surgem das teorias ou com elas nascem; e teorias que são tenta-.,
tivas de solução de certos problemas. ' "í
ciíníí-Schxôdm ger
Foi; ém 1947 ou 1948 que Schrõdinger me avisou de que estava
chegando a Londres e eu o encontrei na casa de campo de um de
seus' amigos. A partir daí, mantivemos contacto regular, através
de cartas e encontros pessoais em. Londres e, depois, em Dublin, em
Alpbach, no Tirol e em Viena.
Em 1960, eu achava-me hospitalizado em Viena e, como ele
estivesse demasiado doente para visitar-me, eu era diariamente visi
tado por sua mulher, Annemaria Schrõdinger. Antes' de voltàr à
Inglaterra, visitei-os no apartamento que ocupavam em Pasteurgasse.
Foi a última vez que o vi.
Nossas relações haviam sido algo tempestuosas. Ninguém que
o conhecesse se surpreenderá com isso. Discordávamos violentamente
acerca de muitas coisas. De início, eu tinha imaginado que ele, com
a admiração que dedicava a Boltzmann, não defenderia uma epis-
temoiogia positivista, mas nosso conflito mais violento surgiu do fato
dê eu, certo dia (por volta de 1954 ou ,1955), haver criticado a con
cepção de Mach, hoje usualmente denominada “ monismo neutro”
— muito embora nós ambos concordássemos ém que, ao arrepio das
intenções de Mach, essa doutrina era uma forma de idealismo312.
Schrõdinger se embeberá dé idealismo em Schopénhauer. Mas
eu havia esperado que ele percebesse as fraquezas dessa filosofia,
filosofia acerca da qual Boltzmann dissera palavras ásperas e contra
a qual Churchill, por exemplo, que nunca se pretendeu um filó
sofo, produziu excelentes argumentos213. Mais ainda me surpreendi
quando Schrõdinger expressou opiniões sensualistas e positivistas,
como a de que “ todo conhecimento ( . . . ) se apóia inteiramente na
percepção sensorial imediata” 214.
Tivemos outra violenta discordância a propósito de meu artigo
“ A Direção do Tempo” 215, onde afirmei a existência de processos
físicos irreversíveis, independentemente de qualquer crescimento de'
entropia estar ou não relacionado com eles. O caso típico é o
de uma onda luminosa esférica em expansão ou um processo (como
uma explosão) que envia partículas ao infinito (do espaço newto-
niano). O oposto — uma onda congruente, esférica, em contração a
partir do infinito (ou uma implosão do infinito) não pode ocorrer — ,
não porque seja contrário às leis universais de propagação da luz
ou do movimento, mas porque seria fisicamente impossível concre
tizar as condições iniciais 21e. ^
Schrõdinger havia escrito alguns artigos interessantes, procurando
preservar a teoria de Boltzmann, de acordo com a qual a direção dò
144
aumento de entropia determinaria inteiramente a <direção^ dô tempo ' '
(ou “ definiria” tal direção ponto que deixaremos''de-lado.).^Insistia,
ele em que essa teoria cairia por terra, se houvesse Uni-método, como
o que eu sugerira, por via do qual pudéssemos decidir* *acerca da,
direção do tempo independentemente do aumento da entropia?17.
Até ai, pusemo-nos de acordo. Entretanto, quando lhe perguft1-
tei onde estava meu erro, Schrodinger acusou-me de destruir cruel
mente a mais bela teoria da Física — uma teoria de profundo eon-
teúdo filosófico, uma teoria que nenhum físico ousaria ferir. © fato
de um não-físico atacar a teoria era, a seu ver, uma presunção, se
não um sacrilégio. Ele desenvolveu o ponto inserindo (entre parên-,
teses) uma nova passagem em M ind and M a tter: “ Isso tem^mo-f
mentosa conseqüência para a metodologia do físico. Nunca ,dev?e.
ele introduzir qualquer coisa que decida, independentemente, acerca,
da direção do tempo, sob pena de a bela construção de Boltzmann;
entrar em colapso” 218. Continuo a pensar que Schrodinger estava
embalado pelo entusiasmo: se um físico ou qualquer outra pessoa-
pode, independentemente, decidir acerca da direção do tempo e se
isso tem a conseqüência que Schrodinger (acertadamente, penso eu)
lhe atribui, então, goste-se ou não, ter-se-á de aceitar o colapso dá
teoria de Boltzmann-Schrõdinger e do argumento em prol do idea
lismo, que se fundamenta na teoria. Schrodinger recusava-se a pro
ceder assim, e estava errado — a menos que pudesse encontrar outra
solução. Mas ele acreditava que não existisse •alternativa.
Outra discordância surgiu de uma tese por elé ; defendida -—■
tese sem importância, mas a que ele atribula grande importância —
em seu admirável livro What is Life? Trata-se de uma obra dè
gênio, especialmente no que diz respeito à breve seção denominada
“The Hereditary Code-Script” , que, no próprio título, encerra uma
das mais significativas das teorias biológicas. O livro é realmente
. maravilhoso: escrito para o.leigo culto, veicula idéias científicas novas
e vatiguardeiras. ^ ;. : v
K , E, não obstante, a obra contém, em resposta à indagação priri-
Ivcipal, “ Que é a Vida?” , uma sugestão que ihè parece evidentemente
errônea. N o capítulo 6, há uma seçao que se inicia com ás seguintes
jpalavras: “ Qual o traço característico da vida? Quando se diz que
é viva certa porção de matéria?” A essa indagação Schrodinger
Viresponde no título da seção seguinte: “ Alimenta-se de Entropia Ne-
.;fgativa” 21®. A primeira sentença dessa seção é a seguinte: “ Ê por
í^vitar. a .rápida desintegração para o estado inerte de ‘equilíbrio’ que
^umírrorganismo se afigura tão enigmático. ( . . . ) ” E, depois d e . exa-
■fminar brevemente á teoria estatística da entropia, Schrodinger -pèr^
gunta: "Como expressaríamos, em termos da teoria estatística, a .
maravilhosa faculdade de que dispõe o organismo vivo e através
da qual- retarda a queda no equilíbrio termodinâmico (m orte)?
Dissemos antes: ‘ Ele se alimenta de entropia negativa’, atraindo para
si, pór assim dizer, o fluxo da entropia negativa ( . . . ) 220 E acres»
centa: “ Assim, o meio pelo qual um organismo se conserva estacio
nário, em nível razoavelmente alto de organização (*= nível razoa
velmente baixo de entropia) consiste, de fato, em ele estar conti
nuamente absorvendo a organização. de seu meio.” 221
Ora, os organismos agem reconhecidamente assim. Mas rejeitei
e continuo a rejeitar a tese de Schrõdinger232, de que essa é a
característica da vida ou dos organismos, pois que vale também para
qualquer máquina a vapor. Com efeito, qualquer caldeira a óleo
e qualquer relógio automático pode 'ser considerado como “ con
tinuamente absorvendo a organização de seu meio” . Assim, a res
posta que Schrõdinger dá à pergunta não pode estar correta: ali
mentar-se de entropia negativa não é “ o traço característico da vida” .
Expus, aqui, alguns de meus desacordos com Schrõdinger, mas
tenho para com ele um imenso débito pessoál: a despeito de todas
as nossas querelas, que, mais de uma vez, pareceram um rompimento
definitivo, ele sempre voltou, para. renovármos nossas discussões —
discussões mais interessantes e, sem dúvida, mais emocionantes que
as que mantive com : qualquer outro físico. Os tópicos que discutía
mos eram tópicos em torno dos quais *eu procurava trabalhar. E o
fato de ele ter proposto a indagação Ú que ê a Vida no esplêndido
livro que referi, deu-me coragem para eu próprio colocar a questão
(embora tentando evitar uma pergunta da forma que é? ) .
146
Inicialmente, devo deixar; ;ibemi:;;.claro.i^q.ue/inão.;: aGeito,^,.ov. behayio-
rismo e que minha defesa da. ;objetividade^jnada ttem^a; v,er com -a
negação dos "métodos dé intróspecção^-^sá.dps ^m^^ÍGpIogiaí:^Iííãó
nego a existência de experiências subjetivas,
inteligências ê de mentes; ao contrário,racho-íque-itydoiyisso é .de
grande importância. Todavia,, penso que nossas;jtèòriás ^al^^^sssas
experiências subjetivas, ou a propósito dessas '^/mentes,'. devem: ser
tão objetivas como quaisquer ou trás. Por , teoria’;';.^bjetiva;j\entencio
uma teoria passível de discussão, que ’ |>6ssa:'se$./iíu^ •
da crítica racional; preferentemente uma teoria;.pássíyerde^prova^
não uma teoria que se limite a apelar para nossas ihtuiçõès;si^
Gomo exemplo de algumas leis simples, comproyáyeis^ . relativas
a experiências subjetivas, posso mencionar as ilusões ó ticas3l?tais,como.,.
digamos, a de Müller-Lyer. Interessante caso de ótica me foi apon
tado, recentemente, pelo meu amigo Edgar Tranekjaer Rasmussén/
se um pêndulo em movimento ondulatório — um pesó'^que; .oseilà ,
suspenso por um fio) for examinado com um vidro escuro diante
de um dos olhos, ele parecerá na visão, binocular, movér-sé aò longo
de um círculo horizontal, e nao sobre um plano vertical; é séfo
vidro escuro for colocado diante do outro olho, o movimenío áindà
parecerá circular, mas efetuado no sentido oposto.
Tais experiências podem ser submetidas a prova utilizando-se
sujeitos independentes (que, incidentalmentê, sabem e viram o pên
dulo oscilar num plano). Também podem ser submetidas a prova
usando-se sujeitos que habitualmente (e comprovavelmente) só se
valem da visão monocular: estes sujeitos não afirmam ter percebido
o , movimento horizontal.
Um efeito como o descrito pode gerar várias espécies de teorias.
Por exemplo, a teoria de que a visao binocular é utilizáda ;pelo
nosso sistema central dé descodificação para interpretar distâncias
espaciais e de que tais interpretações atuam, em alguns .casos, inde
pendentemente de “ nosso conhecimento real” . Essas interpretações
parecem desempenhar um sutil papel biológico. Não há dúvida de
que funcionam muito bem e quase inconscientemente, sob condições
normais; mas o sistema central de descodificação pode enganar-se,
em condições anormais.
As. observações precedentes sugerem que nòssos órgãos dos sen
tidos contêm vários dispositivos sutis de descodificação e interpreta
ção — ou seja, de adaptação ou de elaboração de teorias. Tais
dispositivos não são comparáveis a teorias “ válidas” ( “ válidas” ^poír:
.que,- digamos, se impõem necessariamente a todas as nossas .expe-
riências) -;comparam-se, mais apropriadamente, a conjecturas, porque
podem; provocar enganos, em particular sob condições inusitadas.
Gòriscqüência disso e a de qu.e inexistem dados sensoriais visuais não-
-interpretados, inexistem sensações, ou “ elementos” , no sentido de
Mach: qualquer coisa que nos é “ dada” já aparece interpretada,
descodificada.
Nesse sentido, pode-se construir uma teoria objetiva da percep
ção subjetiva. Será uma teoria biológica, que descreve a percepção
normal, não como fonte subjetiva ou base epistemológica subjetiva
de nosso conhecimento subjetivo, mas Como conquista objetiva do
organismo, mediante a qual ele resolve certos problemas de adapta
ção. E esses problemas, pelo menos conjecturalmente, podem ser
especificados.
Note-se quão distante está do behaviorismo o enfoque acima
sugerido. Quanto ao subjetivismo, embora o enfoque sugerido admita
as experiências subjetivas (e experiências subjetivas relativas ao
“ saber” ou ao “ acreditar” ), é inteira&iente objetivo e passível de
prova o seu objeto de estudo, isto é, as teorias e conjecturas com
as quais opera.
Aí está apenas . um exemplo do enfoque objetivista que venho
defendendo, na Epistemologia, na Física Quântica, na Mecânica
Estatística, na téoria dá probabilidade, na. Biologia, na Psicologia
e na História 223.
Talvez o ponto mais importante do enfoque objetivista esteja
em reconhecer ( 1 ) problemas objetivos, ( 2 ) conquistas objetivas, ou
seja, soluções de problemas, ( 3 ) conhecimento em sentido objetivo,
(4) críticas que pressupõem conhecimento objetivo na forma de
teorias lingüisticamente formuladas.
(1) Conquanto possamos sentir-nos perturbados diante de um
problema, e experimentar um desejo ardente de resolvê-lo, o pro
blema em si é algo objetivo — exatamente como o é o mosquito
que nos aborrece e do qual pretendemos livrar-nos. Que se trate
de um problema objetivo, que esteja diante de nós, com um papel ja
desempenhar em certos acontecimentos, isto são conjecturas (como
é conjectura a presença do mosquito).
(2) A solução de um problema, via de regra encontrada por
meio de tentativas e erros, é uma conquista, um êxito, no sentido
objetivo. Que alguma coisa seja uma conquista, pode não pas: 1
de conjectura, e possivelmente de conjectura discutível. A- .ar.^
mentaçao terá de referir-se ao problema (proposto em forma \
conjectura), já que a conquista. v©u o êxito,assim còmo a solução,
dependem sempre do problema* ^
(3) Devemos estabelecer uma' distinção entre conquistas ou so
luções em sentido objetivo, de um lado, e sentimentos -subjetivos de
conquista, ou de saber, ou de crença, de outro lado. Qualquer .con
quista pode ser vista como solução de uni ^prôblem ai^poisj^conío
uma teoria, em sentido, generalizado; nèssa condição,^ ela pertence
ao mundo do conhecimento em sentido óbjetivo “ que é, precisa
mente, o mundo dos problemas e de suas soluções provisórias, e dos
argumentos críticos que lhes dizem respeitõíí^Wêõrias ^geométricas
e teorias físicas, por exemplo, pertencem a estè tnundo do^cónhéci-
mento em sentido objetivo ( “ mundo 3” ). São^ ^habitualmentè^íçòn-
jecturas, em estágios diversos de sua discussão crítica." r ^ ? r
(4) Pode-se dizer que a crítica continua o trabalho . da seleçãò . :
natural, operando num nível não-genético (exossomáücò)^^ela :gresf
supõe a existência de conhecimento objetivo, na ’ forma r ’
já formuladas. Assim, é somente através da linguagem rque:; à^icríticá
consciente torna-se possível. IVtinha conjectura, é de que .esta^é/;a
principal razão da importância da linguagem; e imagino ,que-a.vlrnè
guagem humana seja responsável pelas peculiaridades do Homem
(inclusive-até suas. conquistas nas artès não-lingüísticas, tal como -a
música).
' 151
; i3 ?aiSf■leis -são fundamentais para a teoria da dedução e o uso
■.qu©áq.üi- se faz das expressões “ verdade” e “ são verdadeiras” (que .
podem- ser substituídas pelas expressões “ correspondência com os
fatos”, e “ correspondem aos fatos” ) está, obviamente, longe de ser
redundante.
A teoria de correspondência da verdade,' què Tarski redimiu,
é uma teoria que encara a verdade como algo objetivo: como pro
priedade das teorias, não como experiência òu crença ou algo de
cunho assim subjetivo. Também é absoluta, e não relativa a algum
conjunto de pressupostos (ou crenças); com efeito, diante de qual
quer grupo de pressupostos,, podemos sempre colocar em tela a sua
verdade^ ,
Volto-me, agora, para a dedução. Uma inferência dedutiva pode
ser vista como válida, ou legitima, se e somente se ela invariavel
mente transmitir k verdade das premissas à conclusão; ou. seja, se e
somente se todas as inferências que têm a mesma forma lógica trans
mitirem a verdade. Isto pode ser explicado em outras palavras: uma
inferência dedutiva é legítima (ou válida) se e somente se não
admitir contra-exemplos. Contra-exemplo, neste caso, é uma infe
rência da mesma fprma, com premissas verdadeiras e. conclusão falta,
tal como. em:
. Todos os homens são mortais. Sócrates é mortal.
Logo, Sócrates é um homem.
m
trar . que muitas inferências são legltimaéi? ^o<MF®Í8^tiáSig|Siiyariáyel-
mente transmitem, a verdade); ainda- --^âiixÍ5®^çfiS’^:'iÍílÍâí'*é^Véirior«.géra.I.■
de legitimidade — nem mesmò se nos limitarmosí aílenunciàdus arit
méticos. Em conseqüência, nao temos um ^critériÓ; geíiái.’ipãm^deeidir'
se algum enunciado aritmético decorre
axiomas da Aritmética. Apesar disso, podemos/^dé^èr^èr^liMa^
dadè de regras de inferência (de múltiplos =gíaus^ev^mpl^idadéí)/--:
das quais é possível provar a legitimidade; .oii-';
contra-exemplos. Ê falso, portanto, dizer
apóia-se em \ossa intuição. Se ainda não estabátèGeiii^^
dade de uma inferência, èntão é lícito naturalmente.jUsàfc'^>M4üi§ã^-:
como guia; não podemos dispensar a intuição, maSrCdnvémV
que ela,, com freqüência, leva-nos ao erro. ( Isso^.^ási;-;:* é/s >•
sabemos, pela História da Ciência, que as teorias
mais numerosas que as boas.) Acresce que pensar intuiti^amèriie :
é algo muito diverso de apélar para a intuição, como se),isstí.;:eqúj-,
valesse a apelar para um argumento.
Como já disse em muitas de minhas preleções, coisas rGpmq'^a;í
intuição ou a sensação de que algo é evidente por si mesmà tàiyéz
possam ser explicadas pela verdade ou legitimidade, mas hãòT reci
procamente. Nenhum enunciado. é verdadeiro e nenhuma inferêneik
é legítima porque sentimos (não importa com que convicção) ; .que
assim seja. Admite-se, decerto, que nosso intelecto ou nossa facul
dade de raciocinar oú de julgar (ou como for que a chamemos) se
acham de tal modo ajustados que somos levados, em circunstâncias
normais, a aceitar, a julgar ou a acreditar naquilo que é verdadeiro;:
isto se deve, em grande parte, ao fato de que existem em nós certas
disposições inatas para o exame crítico das coisas. Contudo^ as ilur
soes de ótica, para tómar um exemplo comparativamente simples,
atestam que não podemos confiar demasiado na intuição, mesmo
quando ela se aproxime de uma espécie de compulsão. u ií- y";
A possibilidade de explicar eventualmente os sentimentos^sübje?
tivos ou a intuição com base no fato de havermos deparado tom ,a
verdade e a legitimidade ou de termos efetuado alguns exames.
críticos, nao permite inverter a situaçaò e dizer: este enunciado^é.
verdadeiro ou esta inferência é legítima, porque eu acreditoV-nisso,
ou porque me sinto compelido a acreditar nisso, ou porque ; isso é :
evidente pór si mesmo, ou porque o oposto é inconcebível. ; Nao
obstante, por centenas de anos, esse tipo de discurso : foi'í>utilizãdo;
pelos filósofos subjetivistks em lugar da argumentação.■■.-..l.-,,
Ainda hoje está amplamente disseminada a idéia ’ dé
Lógica se deve fazer apelo à intuição, pois, sem ciipilá|Í^a^^M^|;
vppdeí'.existir argumento a favor ou contra as regras da Lógica De-
jdutiya: --todos os argumentos pressupõem lógica. É certo que todos
os argumentos fazem uso da Lógica e, se quiserem, “ pressupõem” a
Lógica, embora haja muito que; dizer contra essa forma de colocar
a questão. Apesar disso, é fato estabelecido que se pode estabelecer a
legitimidade de algumas regras de inferência sem fazer uso delas 225,
Em resumo, a dedução ou a legitimidade dedutiva é objetiva, assim
como é objetiva a verdade.. A intuição ou um sentimento de crença
ou de compulsão podems às vezes, dever-se ao fato de que certas
inferências são legítimas ■ mas a legitimidade é objtetiva e não pode
ser explicada, quer em. termos psicológicos, quem em termos beha-
vioristas, quer em termos pragmáticos.
Expressei essa atitude em muitas ocasiões, dizendo: “ Não sou
um filósofo da crença.” De fato, as crenças são destituídas de impor
tância para uma teoria da verdade,. ou da dedução, ou do “ conheci
mento” , no sentido objetivo. A chamada "crença verdadeira” é
crença numa teoria verdadeira; trata-se de questão de fato — e não
de crença — saber se a teoria é ou não verdadeira. Analogamente,
uma '‘crença racional” , se é lícito usar a expressão, consiste em dar
preferência ao que é preferível, à luz de argumentação crítica. Assim,
não. se trata, mais uma v.ez, de questão de crença, mas de argu
mentos . e do estado objetivo do debate crítico226.
Quanto à indução (ou lógica indutiva, ou comportamento indu
tivo, ou aprendizado por indução, por repetição ou por “ instrução” ),
afirmo que não existe. Se estou certo, isso resolve então, natural
mente, o problema da indução227. (H á vários problemas remanes
centes que também podem ser chamados problemas da indução, tais
como o de o futuro assemelhar-se ao passado, por exemplo. Este
problema, todavia, que julgo ser muito pouco estimulante, também
pode ser resolvido: o futuro será, em parte, semelhante ao passado
e, em parte, não-semelhante.)
Qual é, hoje, a resposta mais em voga para Hume? Ê a de
que a indução nao pode ser evidentemente “ legítima” , porque a
palavra “ legitimidade” significa “ legitimamente dedutiva” ; assim, a
não-legitimidade (no sentido dedutivo) dos argumentos indutivos
não levanta problemas: existe o raciocínio dedutivo e existe o ra
ciocínio indutivo; conquanto ambos tenham vários aspectos em co
mum — ambos consistem de argumentação realizada em consonância
com regras ordinárias, bem experimentadas, razoavelmente intuitivas
— são.numerosos os pontos em que divergem22S.
Em particular, o que a indução e a dedução têm em comum
poderia ser assim descrito: a legitimidade da dedução não é passível
U4
de ser legitimamente demonstrada, pois isso eqüivaleria-1a- ‘deititínstrar
a Lógica mediante uso da própria Lógica," caindo^ef ~jiunT: Círculo
vicioso. Ainda assim, segundo se costuma díifer^ esse argumento
vicioso está em condições de esclarecer nossas conceições fortale
cer nossa confiança. O mesmo vale para a indução. A -Indução " pode
estar talvez além da justificação indutiva; ainda assim, o-Yacjpêmio
indutivo acerca da indução é útil, se nao indispensável 22^ tAcresce
que, tanto na teoria da dedução quanto na teoria da. indução^; fatotes
como a. .intuição, •o.. hábito, a convenção ou o êxito, nofeçampoiadas?;
prática podem ser invocados; e, às vezes, precisam ser invocados;-C
Para criticar essa concepção muito em voga, repetirei o que já_ -
disse atrás, nesta mesma seção: uma inierência dedutiva é .legítima [
se não admite contra-exemplo. Dispomos, . pois, de um mé.todo' eri^
tico e objetivo de prova; para qualquer regra de dedução que,nos
seja apresentada, podemos tentar elaborar um contra-exemplo.' :Se
o conseguirmos, a inferência, ou a regra de inferência, será ilegítima,
seja ou não considerada intuitivamente legátima por algumas pessoas
ou por todo mundo. ( Brouwer pensou ter feito exatamente ? isso
— ter apresentado um contra-exemplo pata as deduções indiretas —v
explicando que tais deduções eram erroneamente vistas como legíti?
mas porque existiam só contra-exemplos infinitos, o que fazia, supôr
legítima a dedução indireta em casos finitos.) Uma vez que. provas:
objetivas e, em muitos casos, demonstrações objetivas estão ao nossò
alcance, tornam-se totalmente irrelevantes, para á nossa questão,
considerações de ordem psicológica, convicções subjetivas, hábitos-
e convenções. ' ( -ü
E que acontece com a indução? Quando é indutivamente “ in
correta” (para usar outro termo que nao " ilegítima” ) uma in fe
rência indutiva? A única resposta sugerida foi esta;, quando lèvá :á.
'freqüentes enganos práticos no comportamento indutivo. Cõnttidó,
afirmo que cada uma das regras de inferência indutiva, de quantas
já foram propostas por quem quer que seja, leva com freqüência a
tais enganos práticos quando alguém se dispõe a utilizá-la. 1
O ponto a ressaltar é o de que não existe regra de inferência
indutiva — inferência que conduza a leis ou teorias universais —
jamais proposta que possa ser levada a sério, por um minuta sequer.
Carnap, ao que parece, concorda com isso, pois escreve230:
1 Í5
abijiçiades ; e ,,;não. em fazer inferências, ele deveria antes pedir exem-
.,V ; !pjòs : de/princípios para atribuição de probabilidades. Tal solicitação,
que nao foi feita, mas seria razoável, eu a antecipei e atendi.
--- 1 ------ .. ’ ÍÉ
__ ___ ____ _
$-
162
Note-se que as duas posições têm um elèmento^è<)piumfe:ambas
admitem que uma teoria pròbabilística ou estatísüca sutiltóayíde-íalgumaí
forma, nosso conhecimento subjetivo, ou nossa fáltá de.còiÃériínehto;
Esse fato pode ser bem compreendido^ s é ^ :
única interpretação objetiva da probabilidàáè\^4 ^§u|idap^
altura (final da década de 1920) era a teoria -das
tinha sido elaborada* em variadas versões, por
Reichenbach e, mais tarde, por mim próprio;) Orai -ps pa^tida^ :
da teoria da freqüência sustentam que há questõeá óbjétiyas'; Cón*- •
cernentes aos fenômenos de massa e que taís questões pbssueiíi Res
postas objetivas. Entretanto, são compelidos a admitir quèMa^òbje^ •
tividade torna-se discutível sempre que se fala da. probabilidade
de um evento isolado, qua elemento de um fenômeno de massa; V :
cabe asseverar, portanto, que, relativamente a acontecimentos espe
cíficos, tais como a emissão de um fóton, as probabilidades áperias
avaliam a nossa ignorância. Com efeito, a probabilidade objetiva
limita-se a fornecer informações acerca do que acontece em média,
supondo que essa espécie de acontecimento se repita muitas vezes;
a probabilidade estatística objetiva nada informa acerca do acon
tecimento individual.
Foi dessa maneira que o subjetivismo penetrou na Mecânica
Quântica, segundo as concepções de Einstein e as de seus opositores.
E foi aí que procurei combater o subjetivismo, formulando a inter
pretação da probabilidade em termos de propensões. A formulação
nao foi ad hoc; ao contrário, resultou de meticulosa revisão dos
argumentos subjacentes a., interpretação freqüentisía.
A idéia principal era a de que as propensões podiam ser vistas,
como realidades físicas. Eram medidas de disposições. Disposições
físicas mensuráveis ( “ potenciais” ) haviam sido introduzidas na Física
por meio da teoria dos campos. Existia, pois,, um precedente para
encararem-se as disposições como algo dotado de realidade física^
dé modo que a sugestão de que deveríamos ver as propensões como
algo fisicamente real, nao era tão insólita. Ela abria margem tam?
bém para o indeterminismo, evidentemente.
K A fim de colocar melhor o problema de interpretações quenas,.
propensões visavam a resolver, ..reportar-me-ei a uma carta que
. Einstein enviou a Schrõdinger24s. Nessa carta, Einstein ..alude a.
um . bem conhecido experimento conceptuai , que Schrõdinger/havia
- divulgado em publicação em 1935 247. Schrõdinger assinalara a? pos-,
sibilidade de dispor um material radioativo de forma a, com o auxílio-
dó . contador Geiger, disparar uma bomba. O dispositivo pode. ser
'que ou a bomba explode dentro de certo
&ti^^;àloiiMéfíaiípo. ou então é desativada. . Seja a probabilidade de
uüiaf%explosãó ,fa: 1./2.. Sçhxpdinger sustentou que, se um gata for
gost^perto rda bomba, a probabilidade.de que ele venha a ser morto
e^tambem igual a 1/2. Todo o. arranjo pode ser descrito em termos
" Quântica.’" e,. nessa descrição,^ haverá uma superposi-
çãalde 'dois estados do gato — o estado vivo e o estado morto. Assim,
^ídescrição em termos de Mecânica Quântica. —-■ a função i|/ —
nada descreve de real, pois. o gato real estará ou vivo ou morto.
VvV;;Einstein afirma na carta a Schrõdinger que isso significa que
a. Mecânica Quântica- é subjetiva e . incompleta:
:; I ' ' •Se tentarmos interpretar a função 4> como uma descrição completa
[do processo físico real por ela referido] ( . . . ) significaria isso que,
. no momento em pauta, b gato não estaria nem vivo nem despedaçado,
Contudo, uma ou oütra dessas condições seria comprovada peia
observação.
Se rejeitarmos essa maneira de ver I a completude da função i]/l,
teremos de admitir que a função ^ não descreve um estado de coisas
real, mas a totalidade de nosso conhecimento .com respeito ao estado
de coisas. Essa a interpretação. de.Behr que, segundo parece, é hoje
aceita pela maioria dos físicos2*8. ■
166
cional da desordem com. o tempo. Poincaré^:
lou Zermelo 2S6, já tinha demonstrado anteriormente>quê~ cadàj' sistéma
fechado (um gás, por exemplo) volta, após
de 'tempo, às vizinhanças de qualquer estado em^qüe|estêg)j|!fahtfepi^
(E a demonstração de Poincaré jamais foi contes^da-^lgiil^êjÈlí^lfl
mann.) Assim, todos os estados são (de forma apíòxiitládâ)íí
namente recorrentes; e se o gás esteve alguma vez emUéstàdòí©t$i|fej:
nado, retornará a esse estado depois de algum tempo.v.siEm iie^nse^;!
qüência, não pode existir algo assim como uma direção privilegiada-':
no tempo — uma “ seta de tempo” — que se associaria ao -aumenta :
de entropia. ; li
A critica de Zermelo, penso eu, foi decisiva. Revolucionou as
próprias concepções de Boltzmann, fazendo com que a Tcrmodi- .
nâmica e a Mecânica Estatística se tornassem, particularmente aipós
1907 (o ano em que saiu publicado o artigo dos Ehrenfests ■ 25?-),
estritamente simétricas com respeito à direção d o tempo; e até. o
momento, , elas permanecem simétricas. A situação está no seguinte
pé: todo sistema.fechado (um gás, digamos) permanece quase todo
o tempo em estados desordenados (estados de equilíbrio). Haverá
flutuações, relativamente ao estado de equilíbrio, mas a freqüência
com que se manifestam decresce rapidamente com o aumento das
dimensões do sistema. Assim, quando encontramos um gás em certo
estado de flutuação (ou seja, num estado de maior ordem do que a
que se manifesta no estado de equilíbrio), podemos concluir que esse
estado foi provavelmente precedido por um estado mais próximo do
equilíbrio ( desordem) e que a ele se seguirá, também provavelmente'}
outro estado, mais próximo do equilíbrio. Conseqüentemente, se pre
tendemos prever o futuro do sistema, cabe dizer (com elevada
probabilidade) que haverá aumento de entropia; e uma retrodição
precisamente análoga pode ser feita com . respeito ao passado do
sistema. É curioso notar que raramente se percebe que Zermelo
provocou uma revolução na Termodinâmica: seu nome é lembrado
com restrições ou mesmo totalmente omitido
Infelizmente, Boltzmann não se deu conta, de imediato, da
importância da objeção de Zermelo; sua primeira réplica foi insa
tisfatória, como Zermelo ressaltou. E, com a segunda réplica, ini^
ciou-se o que vejo como a grande tragédia: Boltzmann caminhou
para o subjetivismo. Com efeito, nessa segunda réplica,
(a) Boltzmann abandoiiou sua teoria de uma direção .-temporal
objetiva e sua teoria . de que a entropia tende a aumentar nessa
direção; em outras palavras, abandonou o que hávia sido um de
.seus-pontos capitais;
^introduziu, 'ad /íob, uma hipótese cosmológica, muito bela,,
mas^descabi dá;! :
'^iiátÊódtaãriii' uma teoria subjetiva acerca da direção da tem-
.po, ;tèória que dáva caráter tautológico à lei do aumento da entropia.
A Jnterconexão desses três pontos da segunda réplica dè Boltz-
inann pode ser mais bem explicada nos termos seguintes259:
Sfè: (a) Comecemos por admitií que o tempo não possui objetiva
mente uma direção, uma. seta, ou seja, que se com porta nesse. par
ticular como uma coordenada espacial; admitamos, ainda, que o
" universo” objetivo seja totalmente simétrico em relação às duas
direções do tempo.
(b) Admitamos, em seguida, que o universo globalmente co
siderado é um sistema (como o é, digamos, um gás) que se acha -
èm equilíbrio térmico (desordem máxima). Nesse universo, existirão
flutuações de éntropia (desordem), ou seja, regiões^ no espaço e no
tempo, em què se manifesta alguma ordem. Tais regiões de baixa
entropia são muito raras — tanto mais raras qüanto mais baixo o
vale da entropia; e, de acordo com nossa hipótese ’de simetria, o vale
subirá ■de maneira análoga!, nos. dois sentidos do tempo, achatando-se
na direção/ da entropia máxima. Suponhamos, ainda, que a vida
seja /possível; apenas ^nos lados de vales profundos da entropia; e
chamemos -“ inundos” . a essas regiões de entropia variável.
;(c) Agòra, basta apenas supor que, subjetivamente, nós (è,
conòsco, os: outros animais) percebemos a. coordenada temporal como
se ela tivesse um sentido — uma seta — apontando para locais em
que a entropia aumenta. Isso. quer dizer que a coordenada tempo
pénetra-nos a consciência de modo sucessivo ou seqüencial, revelan
do-se como um aumento de entropia do “ mundo” (a região èm que
vivemos), • 1
Se valem (a ), (b) e (c ), então, claramente, a entropia sempre
crescerá com o decorrer do tempo, ou seja, com o tempo de nossa
consciência. Segundo a hipótese biológica de que apenas no seio da
èxpèriencia animal é que o tempo admite uma seta, e que a seta
aponta só na direção do aumento da éntropia, a lei do aumento da
entropia transforma-se numa lei necessária — legítima, porém, ape-
riàs subjetivamente. .
>. , O seguinte diagrama poderá facilitar a compreensão do as
sunto. (Ver Fig. 1.)
Seta do tempo . S e t a ■:í i - : -i
(apenas para este ^ '"iB B èh aá ^ à fá :eÍitÍ*Ç ^ s.S W ii> í■
intervalo de tempo)
■ 'xt- : : : " ^ í T t e f a l S * " ^ ■’ '■••'■
*:’*.T•’■"■••'•
í/.NiveLde^j:.,.,
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C u rv a d e en trò jiiíií-"' V: •’
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Fio. 1
F ig . 3 i
M — está só de um dos lados do pistão; e de que, assim sendo, eíê
empurrará o pistão. Admitamos, porém, que existam duas molé
culas no gás; nesse caso, elas talvez se encontrem de lados diferentes
e o pistão'não poderá ser impelido por elas: Isso mostra que o uso
de uma: só molécula M desempenha um papel essencial na resposta
que dou a Szilard (tal como desempenha um papel importante m o
argumento de Szilard) e mostra ainda que, se pudéssemos dispor de
um gás consistente de uma só e poderosa molécula Af; sem dúvida
que ele violaria a segunda lei* Isso, porém, não surpreende" de vez que
a segunda lei descreve um efeito essencialmente estatístico. '
Examinemos mâis de perto este segundo experimento^ mentais
— o caso de duas moléculas. A informação de que ambasíse^en^
,contram íBa=iinetad&-iesquerdàí,do cilindro nos habilitaria em verdade
colocando assim o pistão em posição de operar,
j^odavia,, ::ó que impulsiona o ^pistão para a direita nao é o nosso
Gjòj^eQ^en.to.i;fde que ambas as moléculas estão à esquerda. Sao,
antes, os^momentos das duas moléculas — ou, se preferirem, o fato
de^o^gási.; encontrar-se em estado de baixá entropia.
Assim, esses meus experimentos mentais não demonstram que
sejafpossível a_existência de uma máquina de movimento perpétuo
cie segunda ordem275; mas dé vez que, como vimos, o uso de uma
única ,molécula é essencial ao próprio experimento mental de Szilard,
os meus experimentos mentais mostram a improcedência do argu
mento de Szilard e, em conseqüência, á improcedência da tentativa
de fundamentar a interpretação subjetivista da segunda lei num
experimento mental desse tipo.
, edifício construído com base nq argumento (inaceitável, a
liiéu ver) de Szilard e em argumentos similares de outros autores,
continuará, creio eu, a crescer; e receio que continuaremos a ouvir
dizer que a “ entropia — como a probabilidade — mede a falta de
informação’* e que as máquinas poderão ;ser acionadas pelo conhe
cimento, como se dá com a máquina de Szilard. Bazófia e entropia,
suponho eu, continuarão a ser produzidas: enquanto houver algum
subjetivista disposto a proporcionar o equivalente da insciência, .
178
Se é aceitável a concepção-jda .íteoria rdatwihiafía^íEOHio lógica
situacional, então poderemos explicar -af-:estranha'~^presençacentre
minha teoria acerca do crescimento^ do saber .e- ô darwinismo: ambas
seriam exemplos de lógica situacional; ^elemento’ nóvo especial
dò enfoque científico consciente do. sabét^— ^Aa^ :jcrítica^=consciente
das conjecturas exploratórias e da construção conscientes da^pressão
seletiva sobre essas conjecturas (através. de&críÜGasT^-^ela^vdmgidás,)'
— seria uma conseqüência do aparecimentou detsuma^inguagem ;des?
critiva e argumentatíva, ou seja, de uma linguagem-'descritiva ^cujas
descrições admitem crítica. - • ->, *j,
O aparecimento de tal linguagem nos levaria ^ à^dèfrotitaf/^ de
novo, uma situação altamente improvável e possivelmente."’ 'única,
talvez tão improvável quanto a própria vida. Contudo; ; dada' tàl
situação, a teoria do crescimento exossomático do saber' atrâvés„de -um
processo consciente de conjectura e refutação seguir-se-ia *‘quasey logij
camente: torna-se parte da situação, bem como parte. do r,darwinismo.
180
formas de vida 203. Em outros campos,; seu.^poder *pf editivof oü^ixg
cativo é ainda mais desapontador. ConcentTemo-nosrna^“ adaptaçãò>t^
À primeira vista, a seleção natural parece explÍGá-la~ei 'em certo,
sentido, isso realmente ocorre ■ mas nao de maneira que ‘ sè possa
considerar científica. Dizer que uma espécie hoje viva £stá adaptada
á seü meio é, em verdade, quase tautológico. Com efeito, empre
gamos os termos “ adaptação” e “ seleção” de modo tal que se Ktorna
cabível afirmar- que, se a espécie nao se houvesse adaptado, ela teria
sido eliminada por seleção natural. De outra parte, se uma espécie
foi eliminada,. isso devèrá ter ocorrido pelo fato de ela se adaptar
mal às condições. A adaptação (ou aptidão) é definida pelos mò1
demos evòlucionistas como um valor de sobrevivência, e pocle ser;
medida em termos de êxito efetivo quanto à sobrevivência; : dificil
mente havèriá possibilidade de submeter a prova uma teoiia tão
frágil quanto essa?84.
À despeito disso, entretanto, a teoria é de importância inestimá
vel. Sem ela, não vejo- como nosso conhecimento poderia ter-se de
senvolvido tanto quanto se desenvolveu depois de Darwin. Procúrándo
explicar experimentos com bactérias que se adaptam, digamos, à
penicilina; é evidente que somos grandemente auxiliados pela teoria
da seleção natural. Embora esta seja metafísica, lança muita-luz
sobre pesquisas de caráter concreto e prático. Permite-nos estudar,
de maneira- racional, a adaptação a um ambiente. novo (tal-xoirio
um meio infestado pela penicilina) : ela sugere a existência deoum
mecanismo de adaptação e ‘chega a permitir-nos estudar, em pormenor*
o mecanismo em ação. Até agora, esta é a única teoria capaz disso
tudo. tv
Essa, naturalmente, a razão pela qual o darwinismo foi quase
universalmente aceito. Sua teoria da adaptação fói a primeira-teoria;
não-teísta que se demonstrou convincente, e, o teísmo era pior queia
clara admissão de insucesso, pois criava a impressão, de que se havia
alcançado uma explicação* última.
Ora, na médida em que crie a mesma impressão o darwinismo
não é muito/superior à concepção/ teísta da adaptação; importa,, pois,
mostrar que o darwinismo não é uma teoria científica, mas mejtafí-
sica. Contudo, seu valor, pára a Ciência, como programa- der pesquisa
metafísica, é enorme, especialmente se admitirmos que ele pode ser
criticado e aperfeiçoado. ■
. Passemos agora a examinar ura pouco m a is aprofundadarnenté;
& programa de pesquisa do darwinismo, tal como foi formulado
acima, nos pontos ( 1 ) e ( 2 ).
> : Em primeiro lugar, assinalemos que, embora o ponto. (2 ), isto
é, a teoria da evolução elaborada por Darwin nao tenha poder expli
cativo suficiente para explicar a, evolução de uma grande variedade
de formas de vida existentes sobre a Terra, a teoria certamente
sugere tal explicação e, por esse motivò, atrai a atenção para ela.
E prevê que, se tal evolução octírrer, será gradual.
A não-trivial predição de .gradualídade é importante e decorre
imediatamente de ( 2 ) ( a ) - ( 2) (c.); e (a) e (b ), e pelo menos o
caráter limitado das mutações não só encontram bpm apoio experi
mental como são por nós conhecidos em minúcia.
A gradação é assim, do ponto de vista lógico, a predição cen
tral feita pela teoria^ . (Creio que é a unica predição.) Além disso,
enquanto as alterações da base genética das formas vivas forem
graduais, elas serão — pelo menos “ erii princípio” — explicadas
pela teoria, pois esta prediz a ocorrência de pequenas alterações
devidas à mutação. Sem embargo, a "explicação em princípio” 385
é algo muito diferente do tipo de explicação que exigimos em Física.
Embora possamos explicar determinado eclipse prevehdo-o, não po
demos predizer ou explicar, nenhuma alteração evolutiva determi
nada, (salvo, talvez, 'certas mudanças da população genética no
âmbito; de uma espécie) ; tudo quanto podemos dizer é que, não se
tratando de mudança pequena, deverão.ter existido estágios inter
mediários —: importante sugestão de pesquisa: urçi programa de
pesquisa.
A par disso, a teoria prediz mutações acidentais e, em conseqüên
cia, mudanças acidentais. Se alguma “ direção” é indicada pela teoria,
é a de que mutações reversas serão relativamente freqüentes, Assim,
devemos esperar seqüências evolutivas do tipo. “ caminhar a esmo” . .
(O caminhar a esmo corresponde, por exemplo, à trajetória descrita
por um homem que, a cada passo, consulta uma roleta para dar o
passo seguinte.)
A está altura, coloca-se uma questão importante. Por que os
passos a esmo não parecem relevantes na árvore da evolução? A
indagação teria resposta se o darwinismo pudesse explicar o que,
por vezes, recebe o nome de “ tendências ortogenéticas” , ou seja, se
qüências de alterações evolutivas que se processam numa mesma
“ direção” (passos não a esmo). Vários pensadores, como Schrõdin-
ger e Waddington e, especialmente, Sir Alister Hardy, procuraram dar
uma explicação darwiniana das tendências ortogenéticas e eu próprio
busquei fazê-lo em minha conferência “ Spencer” .
Minhas sugestões para um enriquecimento do darwinismo^ que
tòrnaria capaz de explicar a ortogênese são, em resumo, as seguintes:
(À ) Distingo entre pressão externa, òú de seícçao ambiental, e
pressão interna .de seleção. A pressão. seletivá •interna provém, do
próprio organismo e, conjecturp, porém* em ajltirna' instãncia/^de suas
preferências (ou “ finalidades” ) e m b o í a 1;estás; :pòs5ainjT naturalmente,
mudar em resposta a mudanças exteriias>^ > - j* •
(B) Admito a existência'' dé "cüfèrènte&r;fclàsséè^e:;genés^
controlam principalmente" à anatohiiã' è q u è rdéHormnarei genes ; á;
e os que còntròiam
minarei genes b. .=Nao. considerarei^ aqui - ' (émborã ^ apárèntemérite •
existam) os genes intermediários (inclusive os dé -funções mistas).
Os genes b podem, por. sua vez, sér divididos em genes p .\que con
trolam preferências ou “ finalidades” ) e genes s (que còntroíáni
habilidades). ■ ?'
Admito, ainda, que alguns organismos, sob .pressag ^çletiva, Jexf;.
terna, desenvolveram genes e, em especial, genes b que possibilitam:
ao organismo certa variabilidade. O escopo da variação coniporta-.i
mental será, de alguma forma, controlado pela estrutura genética^61
Contudo, como as circunstâncias externas variam, uma determiúaçãò
não muito. rígida de comportamento comandada pela estrutura b
pode alcançar tanto êxito, quanto uma determinação genética não
multo rígida imposta pela hereditariedade, vale dizer, pelo escopo
da variabilidade do gene. (V er (2 ) (d ) acima.) Cabe, assim, falar
de alterações “ puramente comportamentais” do comportamento, ou de
variações de comportamento que não implicam mudanças hereditá
rias no âmbito do escopò ou repertório de variabilidade genetica
mente determinado; e podemos contrastar essas mudanças com alte
rações comportamentais geneticamente fixadas ou determinadas.
. Procede, agora, afirmar que certas mudanças ambientais podem
conduzir a novos problemas e, assim, à adoção de novas preferências
ou finalidades (por haverem desaparecido, por exemplo, certos tipos
de alimento). As preferências ou finalidades novas aparecerão, ini
cialmente, sob a forma de ;um novo comportamento exploratório
(permitido,.mas nao fixado pélos genes b ) . Dessa, maneira, o animal
tenta adaptar-se à situação nova3 sem alteração genética. Todavia^
essa alteração puramente comportamental e exploratória, caso bem
sucedida, eqüivalerá à adoção ou descoberta de um nóvo nicho. ecoB
lógico. Desse modo, favorecerá indivíduos cuja estrutura ,genéticá
p (isto é, suas preferências ou “ finalidades” instintivas) mais ou me-
nos antecipa.ou fixa o novo padrão comportamental de preferências;
Stc pá%ssç3 :0 :ipa5sü decisivo pois, agora, serão favorecidas as alterações
iiar- esjtrutura de habilidades, (estruturas j ) que se conform em com " as
nòVas preferências: habilidades para Conseguir o alimento, por
exemplo.
p s.-* a,
A teoria esboçada sugere algo que sei parece a uma solução para
o problema de saber como a evolução leva ao que podemos chamar
de formas “ superiores” de vida. O darwinismo, tal como habitual
mente apresentado, não dá semelhante explicação. Pode, quando
muito explicar algo assim como o aperfeiçoamento do grau de adap
tação. As bactérias, entretanto, devem adaptar-se pelo menos tão
bem quanto o homem. De qualquer modo, elas existem há mais
tempo e há razão para temer que sobrevivam ao homem. Todavia,
o que pode ser talvez identificado com as formas superiores de vida é
uma estrutura de preferências còmportamentalmente mais rica —
de escopo mais amplo; e se a estrutura de preferências deve ter (de
modo geral) o papel dominante que lhe atribuo, a evolução para
formas superiores se tornará compreensível2®9. Minha teoria tam
bém pode ser apresentada nos termos, seguintes: formas superiores
surgem através da hierarquia primária p -» a} isto é, sempre e
enquanto a estrutura de preferências for a dominante. A estagna
ção e a reversão, inclusive a superespecialização, constituem o resul
tado' de uma inversão devida à realimentaçao no âmbito dessa
hierarquia primária.
A teoria sugere também uma possível solução (entre muitas
outras, talvez) para o problema da separação das espécies. O pro
blema é este: só cabe esperar que as mutações, por si mesmas,
levem a uma alteração dos genes de uma espécie, não a uma nova
espécie. Assim, tem-.se de invocar a separação de locais para” explicar
o aparecimento de novas espécies. Normalmente, pensa-se em sepa
rarão geográfica 290. Creio, porém, que separação geográfica é ape
nas um caso especial de separação devida, à adoção de novo compor-
taníento e ,. conseqüentemente, de novo nicho ecológico; se a prefe
rencia por um nicho ecológico — por certo tipo de localização —
186
se tornar hereditária, poderá levar a uma separação -local suficiente
para suspender o cruzamento,- >embora: tíste: ‘Gpntiniiè r^^eorfisiologi-
camente possível. Assim, duasV-espé^es.^poâe|u:^eparâr-jsé>-.^'amdà .que
habitando a mesma. região -^gráíficá^^^^-mesihi^^ü^ip^â^^re^Q
tenha apenas a extensão de. uma árvore-tóah^è^ tG.Omo^|Lrèéè;i pcòrfer
no caso de certos moluscos africanos*-: ^ãi^séleçãò^
conseqüências semelhantes. • ‘;:í -ví'?*: .
A descrição dos possíveis mecanismòsíígehétiGÓs>Ç':àübjaçentés às..'.',
tendências ortogenéticas, tal como foi esqüéinatiiadoV àcima; corres
ponde a uma típica análise situacional,-' ^fáèjãY-^sòmehté^
de as estruturas desenvolvidas serem do tipô; qdé 4ptídefI:smiülar os^;:
métodos de lógica situacional terão elas valor.,. d e , sobrevivência. ,
1R7
condições de recriar coisas vivas a partir de coisas nao-vivas. Embora,
por si mesmo, isso seja extremamente .<emocionante282 (assim como
q é dó ponto de vis tá rêducipnista) não,, èstabeleceria que a Biologia
pode ser “ reduzida” à Física ou à Química, pois não traria uma
explicação física para o aparecimento de problemas — assim como
nossa capacidade de produzir compostos químicos através de meios
físicos nao acarreta uma teoria física das ligações químicas e nem
mesmo a existência de. tal teoria.
Pode-se portanto descrever minha posição como a que sustenta
uma teoria da irredutibilidade e da emergência, que pode ser resu
mida nos. termos seguintes:
' ■•(1) Penso que não existe um processo biológico que não possa
ser visto como correlacionado, em pormenor, com um processo físico
ou que nao póssa ser progressivamente analisado em termos físico-
-químicos, Mas não há teoria físieo-química em condições de explicar
o surgimento de um problema novo e não há. processo físico-quimico
em condições de, como tal, solucionar um problema. (Os princípios
de variação em Física, assim como o . princípio da ação mínima, ou
princípio de Fermat,serãò talvez semelhantes, mas nao constituem
solução de problemas. O método, tefeticp de Einstein tentà recorrer
a Deus para objetivos similares.)
(2.) Se esta conjectura é sustentável, éla conduz áo estabeleci
mento de certo número de distinções. Devemos distinguir
^ ■ um problema físico — um problema de físico;
um problema biológico == um problema de biólogo;
npl problema de organismo = um problema do tipo;
Gomo posso sobreviver? Gomo propagar-me? Como
alterar-me? Comò adaptar-me?
um problema criado pelo homem um problema do tipo:
Como posso controlar o desperdício?
- 191 :
..7b'^|âírâpéssp;-jrientál e-õ :conteúdo de pensamento (como o denominou
■^ege^èjnis^u sêntido lógico ou de nçuiido 3.. '
' Pessoalmente, só consigo conceber, imagens visuais vagas: en
contro, em geral, grande dificuldade de colocar diante da mente
tim quadro claro, minucioso e vivido» (Dá-se coisa diferente em
relação à música.) Eu penso, antes, em termos de esquemas, de
disposições para seguir. certa “ linha” de raciocínio e, muito fre
qüentemente, em termos de palavras, especialmente quando me pre
paro para registrar por escrito algumas idéias. Percebo muitas vezes
que, erroneamente, estou supondo que “ consegui” , que apreendi de
modo claro um pensamento: quando tento dar-lhe forma escrita,
dou-me conta de que não o alcancei ainda. Esse “ o” , esse algo que
talvez eu não tenha alcançado, quê não posso estar certo de haver
apreendido antes de tê-lo escrito òu traduzido claramente em lin
guagem, de modo que posso contemplá-lo criticamente de vários
ângulos — esse. “ o” é o pensamento no sentido objetivo, o objeto do;
mundo 3, que estou procurando compreender.
O ponto decisivo é> ao que julgo, o de podermos colocar à nossa
frente pensamentos objetivos <— isto é, teorias — de maneira tal
que. tenhamos como criticá-los e. discuti-los. Para tanto, impÕe-se que
lhe demos úma forma (especialmente lingüística) mais ou menos
permanente^ A forma escrita será preferível à oral; e melhor ainda
será a forma impressa. É significativo que possamos distinguir entre
a crítica da mera formulação de um pensamento —r .um pensamento
pode ser hem ou menos bem form ulado----e os aspectos lógicos do
pensamento em si mesmo; sua verdade ou sua verossimilhança frente
a alguns de seus competidores; ou sua compatibilidade com certas
outras teorias.
Uma vez chegado a esta altura, achei que tinha de povoar meu
mundo 3 com habitantes outros que não os enunciados; e, a par
dos enunciados ou teorias, coloquei nele problemas e argumentos,
em particular argumentos críticos. Com efeito, as teorias devem ser
sempre discutidas sem que se percam de vista os problemas que élas
possam resolver.
Livrosj revistas e cartas podém ser vistos como objetos típicos
"do mundo 3, especialmente quando neles se desenvolve e sé discute
uma teoria. Naturalmente, a forma física do livro não tem impor-
tancia e nem mesmo a não-existêiicja física impede a existência do
mundo 3: pensemos em todos os livros “ perdidos” , na influência
que exercem e na busca de que são alvo. Freqüentes vezes, nao
importa muito a formulação de um argumento. O que importa
são os 'conteúdos no sentido lógico ou no sentido *do 'mundo 3 ,:
Claro está que todos os interessados na /Giênciá ^Haó 'de'., ter
interesse pelos objetos do mundo ;3* Um físicòpjj^ócle^^jjdev^níció^estar
principalmente interessado. em objetos. do;.j r i u n d o -^cristais ' e
raios-x, digamos. Logo, entretanto, ..elè .'^^
depende de nossa interpretação dos : fatps^/òu^;séyà;-nossas teorias
e, portanto, dos objetos do mundo 3. -Analogamente/^
dor da Ciência e um filósofo mtetfêssãdo?:nélafVtê^dé|ser;.[erri^graiidè
parte, estudiosos dos objetõsv-d0^;.múhdò5?3 ^;lí5RèGoj^eáé^séí; que;; èlès
também podem estar interessados -na rélação^entrè téõriasr do': inundo
3 e processos mentais do mundo ;2 ;';.inaíS-'-.^steS^U^os^!ós^.i'n-te^és^:ãp;V'
principalmente pela relação que tenham .GÓni:. aíMéÒrias/^stò^éj com
objetos próprios do inundo 3. •
198.
Parece que o problema ?corpormente^coíitinua-Ka. ser;< visto e
discutido, de. modo geral,:-em. termos i das vrárias; relações'; possíveis
(identidade, paralelismo, interação) ^enti^e*-estados:• de -consciência" e
estados* corporais. Como eu- próprio -~so.u,>partidário-,,da interação,
creio que parte do problema adimtefmm^e^am^Âqb j^se^ângulo^mas
continuo a duvidar de que a discussão Tseja-í compensadora. 'E m ^eu
lugar, proponho que adotemos uma abojrdagfem-x.biológica e-m esm o
evolucionista do problema. , Áív- i - * < ’ 1
Como expliquei na seção 37, não me^fio^müitbs; no; poder-;teo-
rético ou explicativo da teoria da evolução* Penso,- ~porém, que é
inevitável uma abordágem evolucionista dos* problemas -biológicos' e
penso, ainda, que, diante de tão desesperadora^ituação^problema,
devemos agarrar-nos, agradecidos, até mesmo -a -umà palha.- Pro
ponho assim, de início, que encaremos a mente humana, Gom -grande
simplicidade, como se ela fosse um órgão corporal^ altamente'^desen
volvido, e que nos perguntemos, como nos perguntaríamos com
respeito a um órgão sensorial, em que contribui ela parada; economia
geral do organismo.
Para essa pergunta há uma resposta típica e fácil, que proponho
seja rejeitada. É a de que . a consciência nos habilita a ver: Ôü^’à?
perceber coisas. Rejeito essa resposta porque, para tais fins*; temóV
olhos e outros órgãos sensoriais. Creio que se deve ao enfoque5obser-
vacionai' do conhecimento o fato de a consciência ser tão amplamente
identificada com a visão ou a percepção.
Sugiro que olhemos antes o espírito humano, primeiro que tudo,
como um órgão que produz objetos do humano mundo 3
(uo sén-
tido mais geral) e que. com eles interage. Proponho, assim, qüé
considéremos o espírito humano essencialmente como o produtor da
linguagem humana, para a qual nossas aptidões básicas (tal corrio
foi explicado anteriormente303) são inatas; e como produtor'-üe
teorias, de argumentos críticos e de muitas outras coisas, tais Coihó
erros, mitos, relatos, anedotas, ferramentas e obras dè arte.
Talvez seja difícil introduzir uma ordem nessa confusa mistura
e talvez nem valha a pena; mas não é difícil conjecturar acerca-do
que surgiu primeiro. Entendo que foi a linguagem e que ;a lin
guagem é quase o único instrumento exossomático de uso inato no
homem, ou melhor, de base genética.
Parece-me que essa conjectura encerra algum poder ,explicativo,
embora seja naturalmente difícil submetê-la a prova. vSugiroj que , o
aparecimento da linguagem descritiva está na raiz do Tpoder .humano
d a :jimaginação, da inventividade humana e, portanto, ,do,;acareei-
rnentò do^mundo 3. Pode-se admitir, com efeito, que a primeira (e
qüastr humana) função da linguagem descritiva como instrumento
foi a de servir exclusivamente para adescrição verdadeira, para infor
mes verdadeiros. Mas chegou o tempo em que a linguagem veio a
ser usada para mentiras, para “ inventar! histórias” . Entendo que foi
esse o passo decisivo, o passo que tornou-a linguagem verdadeiramente
descritiva e realmente humana. Isso levou/ sugiro eu, à invenção de
histprias do tipo explicativo, à geração do. mito;, ao exame crítico
dos relatos e das descrições e, assim, à Ciência; à ficção imaginativa
e. sugiro eu, à arte ■— à invenção de histórias sob a forma de figuras.
Seja como for, a base fisiológica da mente humana deve ser
procurada, se estou certo, no centro da fala; e talvez não seja aci
dental ó fato de parecer existir nos dois hemisférios do cérebro apenas
um centro de controle da fala; pode ser o mais alto na hierarquia
dos centros de controle304. (Tento reviver aqui, conscientemente, o
problema da sede da consciência proposto por Descartes, chegando
a retomar parte do argumento que o lévóu à conjectura, provavel
mente errônea, de que tal sede se ^ficontra na glândula pineal.
Talvez essa teoria se torne suscetível de prova em experimentos sobre
a divisão do cérebro.)305
Sugiro que façamos, uma distinção entre . estados de “ consciên
cia” : em geral e os estados altamente organizados que parecem carac
terísticos da mente humana, do humano mundo 2 , do eu humano.
Pènso que os animais têm consciência. (Essa conjectura se tornará
passível de prova se, com o auxílio do eletroençefalógrafo, constatar
mos nos animais, à semelhança do que acontece com os homens, a
típica ocorrência do sono povoado de sonhos.) Mas penso também
que os animais são desprovidos do “ eu” . Quanto à “ plena consciência
do eu” (como podemos denominá-la), minha sugestão básica é a de
que, taí como o mundo 3 é um produto do mundo 2 , o especifica
mente humano mundo 2 , a plena consciência do eu é um produto
de realimentação da elaboração de teorias.
A consciência como tal (em suas formas inferiores) parece ter
emergido e ter alcançado organização antes da linguagem descritiva.
De qualquer modo, ..desenvolvem-se personalidades entre os a.nimais
e desenvolve-se uma espécie de conhecimento ou compreensão de
outras personalidades, especialmente no caso de animais sociais. (Os
cães chegam a ter compreensão intuitiva das personalidades hu
manas.) Contudo, a plena consciência do eu só pode surgir, segundo
entendo, através da linguagem: só depois de se ter desenvolvido
nosso conhecimento acerca de outras pessoas; só depois que nos tor
namos conscientes da extensão de nosso corpo no espaço e, princi-
100
palmente, no tempo.; só depois de nos. ^a\^i^os,:í< M
das regulares interrupções de nossa consciência durante o; sono, e
desenvolvido uma teoria acerca da continuidadc .de nossos ^corpos
— e, portanto, de nossos eus — no período de ,sono.
. Assim, o problema corpo-inente -divíde^SK-.em^pelò -menos dois
problemas distintos: o problema da ’ estreitíssima relação -entrei esta
dos fisiológicos e certos estadosii;dè:tconáciênèia,^e1~o^pr;oblemai muito
diverso, do surgimento do ,eu e s.uayrelaçã.o^çom-^ .corpo. iKò iproblema-
do surgimento do eu só^poderser .resolyido^ sçgundpípenso/ 1seHeyar-
mos cm conta a ..linguagem: r?e.; o l ^objetos do-vmundo;p3,,‘ a par - da- ,
dependência em que o eu seí poJoca' em relação a eles;. A ?consciência
do eu envolve, entref. ontrasj^coisás^? uma.'distijnção, ; por=j vaga que
seja, entre corpos vivos .e não-viyos-e, conseqüentemente/vuma teoria
rudimentar. a propósito . das .características .principais da* fvida^e, ule
alguma forma, envolve também uma distinção eritre corpos ^dotados,
de consciência e corpos não dotados de consciências Envolve, - ainda,
a projeção do eu no futuro: a expectativa mais ou menqs^consciente
que a. criança tem de, com o tempo, vir a transformar-se^em, adulto ;
e a consciência de, por algum tempo, ter existido no vpassado,;;.v;JE.
envolve, assim, problemas que levám a uma teoria d o . nascimento;
e, talvez, a uma teoria da morte.
Isso tudo só se torna possível através de uma linguagem des
critiva altamente desenvolvida — linguagem que tenha levado não’
só à produção desse mundo 3, mas que se tenha modificado por
força de ação realimentadora provinda do mundo 3.
Todavia, ao que penso, o problema corpo-mente não se exaure
nos dois mencionados subproblemas: o problema dos estados dè
consciência e o problema do eu. Conquanto, sob a forma de dispo
sição, a plena consciência do eu sèmpre esteja presente nos adultos,
as disposições nem sempre são ativadas; . Aò contrário, com freqüência
vivemos um estado mental intensamente ativo, ' encontrando-nos, ao
mesmo tempo, completamente esquecidos de nós mesmos, embora
sempre sejamos capazes de voltar a nós prontamente.
Esse estado de intensa atividade mental não-consciente é alcan
çado dè modo particular no trabalho intelectual ou artístico: ten
tando compreender umà teoria ou um problema, f ruindo uma absor
vente obra de ficção qu talvez tocando piano ou jogando uma pár.tida
de xadrez3053. ' : •!
.^ . Vivendo tais estados, podemos esquecer onde estamos “ ^ o ^ q ^
é, sempre umà indicação de que nos esquecemos de nós
;v: que ocorre é que nossa mente está empenhada, coin a.v;naáxima,; ç^ni..
éentração; na -tentativa de apreender ou de produzir um objeto do
mundo 3.
Penso que este é um estâdò de espírito mais interessante e mais
característico do que a percepção de uma nódoa redonda de cor
alaranjadá. E parece-me importante assinalar que, embora somente
a mente humana os atinja, encontramos estados de concentração
semelhantes em animais caçadores, por exemplo, e em animais que
buscam fugir a um perigo. E surge a conjectura de que é nesses
estágios de alta concentração numa tarefa ou problema que a mente
humana ou animal serve melhor a seus propósitos biológicos. Em
momentos de menor tensão de consciência, o órgão mental pode,
com efeito, estar apenas divagando, - repousando, recuperando-se ou,
numa palavra, preparando-se, carregándo-se para o período de con
centração. (Não surpreende que a auto-obsérvaçao nos apanhe com
muito maior freqüência perdidos em fantasieis do que, por exemplo,
pensando intensamente.)
Ora, parece-me claro que as tarefas da mente exigem um órgão
dessa espécie, com seus peculiares poderes de concentração num
problema, com seus poderes lingüísticos, seus poderes de antecipação,
inventividade e imaginação; e ; com seus poderes exploratórios de
aceitação e rejeição. Aparentemente, ò que executa tudo isso não
6 um . órgao físico: parece que algo diverso, como a consciência,
fazia-se.necessário e teve de ser utilizado como parte do material
de construção da mente. Apenas como parte, indubitavelmente:
muitas atividades mentais são inconscientes; muito é t involuntário
e muito é apenas fisiológico. Entretanto, grande parte do que é
fisiológico e “ automático” (tocar piano ou dirigir um automóvel)
foi previamente executado com a concentração de consciência carac
terística da mente que descobre — da mente que se defronta com
um problema difícil. . Assim, tudo fala em favor da indispensabi-
lidade da mente na economia dos organismos superiores e da necessi
dade de permitir que os problemas resolvidos e as situações “ apren
didas” refluam ao corpo, com o fim presumível de libertar, a mente
para novas tarefas. ■
Uma teoria dessa ordem é claramente interacionista: há interação
entre os vários órgãos corporais e também entre esses órgãos è a
mente. Além disso, entretanto, penso qüe a interação com o mundo
3 sempre requer a mente em seus estágios relevantes — embora os
exemplos do aprender a falar, a ler e a escrever mostrem que boa
parte do trabalho mecânico de codificar e descodificar pode ser exe
cutado pelo sistema fisiológico, que executa um trabalho similar no
caso dos órgãos sensoriais.
Creio que a abordagem objetivista e-biológicâ^ esboçadas; per
mite-nos Ver o problema corpo-méhte. sob inova/ífuz§^Greiajainda,-
que essa abordagem se combina extremamente -]aem-4éoirL±,falgumas
investigações recentes no campo da psicologia «■ajümal3/eSpe^GÍ4Ènen te
com as de Konrad Lorenz. E mostra, ao que me parece^ um' estreito
parentesco com algumas idéias de D. T . Campbell) açprcaj/da^episte-
mologia evolucionista e com algumas idéias de SchrõjdmgeE^
*04 r" ~ 1 ~
O núcleo central do mundo 3*..tal. como/o vejo, é o inundo
dos problemas, das teorias e d^;--ci»ÜGa^'',.^E5se^;náélé^^não uml ugar
de valores; mas é dominado.,.por .^umhr;ysd©r3fô; o :.#âlor; da: verdade
objetiva e seu desenvolvimento^9. JEin*;cértó sdiilído, >poüemòs :dizeí
que, através desse mundo. 3 humano :e .intèlectualj^taíííValòri-se -põe
como o mais elevado de todosjUemboiia^devámos xadimtirtrquev.outros
valores fazem parte do-., mundo >3.'.*-Diànte.vdèíicadaiyalor^proposto^
surge O problema: é yerrJacíe.Hqu^isto^éfeumiivalor^ È^ é. vetatatíéíqub
ele tem seu lugar próprio na hierarquia^dós.. v;alores;í.=,.é^verdaclç* que a
bondade é um valor, supçriqr.yâ; ;justiça: .,ou, cqm^aráyel . à justiça^.
(Assim, eu me confessoJ.em^;c oiiip^a_^p 9siçãp^à^U!EÍes^que:,temèm^ a,,
verdade — que pensam qüe ..foi una ,pecado,, ’ comer., . ^ . árvpre do. .
conhecimento.) .. ... r
206
As abreviações usadas nestas Notas refèrem^se;.ài:BÍbÍÍo^^ajj:u/^./';//:Vjiy/'
Selecionada que as 'acorií&Èútóa”
/V;{^rr_:'-'j;^
18
{ibid.). Ironicamente, Frege prossegue, dizendo com muita, correção, que
nao faz diferença, para qualquer confceúdo;jde pensamento, qual dos quatro
sinônimos alemães de “cavalo” (.Pferd^Rossy-Gaul, Mãhre:::—- são diferentes
um do outro apenas no conteúdo emocional; ;Mãhrey em:> particular, não
precisa ser, em todo contexto, um aégua) seja^sadokem-squalquer formulação.
Não obstante, esse pensamento...deEnege, ^(ÊonGeitd^BiniÉles -e destituído de
caráter emocional, é, segundo parede, rimpQSSíyer;4detí;tíadüzir paráív.a,.Jíngua
inglesa, porque, .no inglês, nao hávfferês jb0hsv:isittôhiinp.sv.ipàras! a«palavra /lorrâ
( “cavalo” ). O tradutor teria,..portanto, .de^sè^tEarisfò^
procurando alguma palavra j^iesa-fç09nutn4^üè::-'^diâitísse<^très^mô|umò)s:4i'ader.-
quados — preferivelmente com.; ^^'ciaçõ«5;.£^c[j|[v^.^u^:^c^ü^^.daramên.te.:
diversas. ■=
14. Cp., por exemplo,- seção 37 de mirihá' LidíF: ’|jÍ934 (b )], [1966
(e)3 e edições posteriores; e, aiiida^iLv Sei ”Iíil'Il:959í'”,(--ái)'’!lv'e<,fedii5Ões 'postèfíò'4- .
res. O exemplo que eu tiiiha em. ,mente eraó£dò?;.desvioírgfáyitaG.ionál::=;parà
o vermelho. . ■. :Sí'. - ■ :
15. Para essa idéia e para a citação; , ver -seção’: 6 ’!de: mmhá^ L.d.^í
[1934 (b )]j p. 13; [1966 (e)J, p. 15: “Sie^ sagên úm sò mèhr,Tjè'.melir siej
verbieten” ; L. Sc. D. [1959 ( a )] e edições posterioiièSí^p^í^l^^^ièwántoV^máMV
proíbem, mais dizem.” A idéia foi acolhida por Camápj\rià'íseçaé'-S2à}: de;>sua/
IntToduction to Semantics (Gambridge, Mass.: Harvard\■ ■Ürii versii,y Press^
1942); ver, espec., p. 151. Nesse livro, Carnap atribui tal idéiâ:ía WiUgeri si
tein, “devido a um engan.o de memória” , como ele próprio : diz riá !éeção -7.3:
de suas Logical Foundations of Probability (Chicago: University of -Chicago
Press, 1950), p. 406, onde a atribui a mim. Ali escreve Carnap: ‘XKpòdér
assertivo de uma sentença consiste em ela excluir certos casos possíveis*”
Devo agora acentuar que esses “casos” , na Ciência, são teorias ( hipóteseii):
de maior ou menor grau de universalidade. (Mesmo aquilo que em L. Sc . D.
denominei “enunciados básicos” são, como ali sublinhei, hipóteses, embora
de baixo grau de universalidade.) ’ *
16. Ao subconjunto de conteúdo informativo que consiste em enun
ciados básicos (enunciados empíricos) denominei, em L. Sc. D., a classe dós
“falseadores potenciais” da teoria, ou seu “conteúdo empírico”.
17. Com efeito, não-a pertence ao conteúdo informativo de a, e a aò
conteúdo informativo de não-a,: mas a não pertence a seu próprio contèúdó
informativo (a menos que seja uma contradição).
18. A demonstração (que, na forma específica aqui apresentada, me
foi referida por David Miller) é assaz direta. Com efeito, o enunciado
“ b oii t ou ambos” decorre de “a ou t ou ambos” se e somente se decorre
de a; ou seja, se e somente se a teoria í decorre de “ae n ã o - b Contudo,
como a e b se contradizem (por hipótese), este último enunciado diz o
mesmo que c. Assim, “ 6 ou t ou ambos” decorre de “aou t ou arnbos” se
e somente se í decorre de d; e isso, por pressuposição, nãoacontece.
• 19. J. W . N. ‘ Watkins, Hobbes3s System of Ideas (Londres: Hut-
chinson, 1965), pp. 22 e s.; 2.a ed. 1973, pp. 8 e s.
20. (Esta nota achava-se originalmente integrada ao texto. Tudo
isso pode ser facilmente enunciado, mesmo que nos venhamos a--restringir
a apenas uma das duas idéias de conteúdo até agora exami nad as, Tó rriâ-se
ainda mais claro em termos de uma terceira idéia de conteúdo, .fouseja, a
• idéia do conteúdo-problema de uma teoria.
Acòmpanhando uma sugestão de Frege, podemos introduzir a noção de
um problema sim-ou-não, oii, abreviadamente;, um problema y: dado um
enunciado a digamos, “A grama é verde” ), o problema y correspondente
( “É a grama verde?” ) pode ser denotado por “ }/ (« )”- Vê-se, de imediato,'
que y (a ) = y( não- a) : o problema de saber se a grama é verde eqüivale,
qua problema, ao de saber se não é verde, ainda que as duas perguntas se
apresentem diferentemente formuladas e ainda que a resposta “sim”, a uma
delas, corresponda à resposta “não” à outra.
Àquilo que proponho denominar de conteúdo-problema de uma teoria t
pode ser definido de uma de duas maneiras equivalentes: (1 ) é o conjunto
de todos aqueles y{ a) para os quais a é um elemento do conteúdo lógico de
t\ (2 ) é o conjunto de todos aqueles y{ a) para os quais a é um elemento
do conteúdo informativo de t. Assim, o conteúdo-problema relaciona-se, de
idêntica maneira, aos dois outròs conteúdos, V/'
Em nosso exemplo anterior, N (a teoria’ de Newton) e E (a teoria de
Einstein) , . y ( E ) pertence ao conteúdo-problema de N e y { N ) aò de E. Se
denotarmos por K (== Ki e K 2 e K 3) o enunciado que formula as três
leis de Kepler, restritas ao problema dos dois corpos, então Kt e Kt decorrem
de N, mas contradizem E, enquanto K\ e, portanto, K, contradizem tanto N
quanto É. (V er meu artigo [1957 (i.)], [1969 (k )j, agora cap. 5 de [1972 ( a ) ] ;
e, ainda, [1963 (a )], p. 62, n. 28.) Entretanto, y ( K ) e y{ K\) , y { K i ) f y ( Ki )
pertencem todos ao conteúdo-problema tanto de N quanto de E e y ( N ) e
y ( E ) pertencem.ambos ..aos conteúdos-problema de K, de Ki, de K% ê de K*.
•:.. A circunstancia^ de y(E),:'- o problem ada verdade ou. falsidade da teoria
dei.. Einstein, :pertencer ao-conteúdorproblemâ de X e de N ilustra o fato de
nãóií poder haver :aqui transitívidade. Gom efeito, a questão de saber se a
teoria/.do^ efeitos ótico :.Doppler é verdadeira — ou seja, y ( D ) — pertence
ao conteúdo-problema de E, mas não. ao de N. ou de K.
•■Conquanto não haja transitívidade, pode haver um liame: os conteúdos-
-problema de a e de b podem ser vistos como ligados por y (c ), se y ( c ) per
tencer ao conteúdo-problema de a e também ao de b. Obviamente, os con
teúdos-problema de quaisquer. a e b podem ser sempre ligados por meio da
escolha de algum . c apropriado (talvez c — a ou b ) ; assim, o mero fatQ
de a e b estarem associados é trivial, mas o fato de estarem associados por
algum problema particular y{ c) (que nos interessa, ’ por esta ou aquela
razão) talvez não seja trivial e acrescente algo à significância dè a} de b
ou de c. A . maior parte dos liames, naturalmente, é desconhecida em qual
quer época dada.
21. „ Gottlob Frege, Grundgesetze der Arithmetik (Iena; H. Pohle,
1903) ,’ vol. II, seção 56.
22. Clifford A. Truesdell, “Foundations of Gontinuum •Mechanics5,J
inDelaivare Seminar in ihe FQundations of Physics, org. por Mario Bunge
(Berlim, Heidelberg, Nova Iorque: Sp
ver espec. p. 37.
23. Gottlob Frege, “Über Begriff und Gegenstand” , Viertelja.hrssch.rift
f. wissenschaftliche Philos., 16 (1892), 192-205. Cp. p. 43 de Geach e
or5s,‘j Phiiosophical IVritings of Gottlob Frege, pp. 42-55 (ver n. 10,
acima).
24. Ver n. *1 à seção 4 [1959 (a).] e edições posteriores, p. 35;
[1966 (e )] e edições posteriores, p. 9; e também tneüs dois prefácios.
25. Os problemas aqui abordados são discutidos .1(embora talvez nãõ
integralmente) nos vários prefácios. a L. d. Jfv e. X . Se.. D. Talvez se revista
de algum interesse o fato de eii criticar .aüi ;;.qorni_aIgum .pormenor, todo o
enfoque da análise da linguagem, o... quer sequeriWseímencionou quando esse
livro foi resenhado em M ind (ver ainda minha .0réplica...av essajresenha, em
n. 243, da seção 33, adiante), embora .:essá ...jrevista 1não.í.jfosse...ò,. lugar, ade
quado para fazer a crítica e dar4he ..resposta; .a. crítica;,jtaitfepoucb.. .foi .men
cionada em outra, publicajção. Pará outras discussões vácé£éá, deJvrproblemas
relacionados com o tópico desta digressao,^ver ;as 'referências^ da jn..:‘7, ;na
sfeção 6, e minhas várias discussões!" dàs;^Iui>^ês/;.!:d^^fíHvà-«efir\argliíriéritatíV.a
da linguagem, em C. 6? R. [1963 ( a ) ] ,e:. ed^ões:V;,|í6s,teriòres; e/’ ainda^
[1966 ( f ) ] s [1967. ( k ) l , [1968 (r.)] :e ^^E"1968.^"(s)Xíi:;r:(:Á-- primeira dêstas
constitui agora o cap. 6 e as duas >'últimás:>tté' ‘(a*) Jv$‘5^
Interessante exemplo de uma palaVrã-iÉhaVé:.('êphexés,,,:Tíóf Tíimeü’(;Í?5A'
de Platão) que foi mal interp^etáda (c ô ^ ? ?^jsúèeMÍvá,\;.]^/^j^ptó:^iife‘-igílári3'-
deza”, em vez d e - “sucessiva, èm ordem de tempo’5 ou, talyèz;,' “êm^ordém
adjacente” ) porque a teoria não foi entendida^^è qué' piodèí. set rmtêfj^rètada
em dois sentidos diferentes ( “sucessivamente”;, -no _ teitipój -0U-;vadjaçéátéá^
quando aplicada a ângulos planos) sem afétar >a íeorteiísdé:^Íát:ãoj^féncontriâ^e .
em meu artigo “Plato, Timaeus 54 E-55 • A ”M 2 950 -\ (d ^ ^ a r á -e x e m p lo s
similares, ver a terceira edição de C. & Ri: [i969%£hyj^âespeci-;.’pp*í-í'65'é
408-12. Em suma, não é possível traduzir - sèm :tér'òònstantemehtèv%ó ;;espíritò
a situação-problema. C. T;:
26. V er seção I V ao cap. 19 de minha O."Si [1945 (c),3^ [19^50 ( a ) l
e edições posteriores, em torno, da arnbigüidade. da violência; ver também,
no. índice, “violência” . . ' • . " 'Ti'.’'
27. Ver, para comentários em :torno de;; todós esses - pontos, The Po
verty [194.4 (a ) e (b ) ] e [1945; ' ( a ) ] e- Í195-7 (g ) ],re .: ainda éspec. caps.
17 a 20 de O. S. [1945 (c).], e [1966- (a ) 3- As observações acerca dos traba
lhadores de Viena que aparecem■;a: seguir jrio ,texto, .repetem, no fundamental,
o que registrei em O. S. in nn. -18 a 22, do cap. 18 e n. 39 do cap. 19.
Ver, ainda, as referências feitas em n. 26, acima,acerca de ambigüidade da
violência.
28. G. E. R. Gedye, Fallen Bastions (Londres: Victor Gollancz, 1939).
29. Cp. [1957 ( a ) ] , republicado como cap. 1 de C. ® R. [1963 ( a ) ]
e edições posteriores.
30. Gp. Ernst Mach, The Science of Mechanics, 6.a ed. inglesa, com
uma Introdução de Karl Menger (L a Salle, Illinois: Open Court Publishing
Co., 1960), cap. 2, seção 6, subseção 9.
31. A frase sublinhada surgiu pela primeira vez e sua significância
foi discutida em [1949 ( d ) ] , agora traduzida' para formar o Apêndice a
. [1972 ( a ) ] ; ver também [1957 (i) e ( j ) 3, [1969( k ) 3, agora^cap.
5 de [1972 (a ) 3.
32. Albert Einstein, Über die spezielle und die. algemeine relativitãts-
iheorie, 3.a ed. ( Braunschweig: Vieweg, 1918) ; ver espec. cap. 22^ Utilizei
minha própria tradução, mas a passagem correspondente aparece na p.' <77
da tradução inglesa a que faço alusão na próxima nota;. Importa .acentuar
que a teoria de Newton permanece çomo caso-limite da . teoria;.;;des Einstein
acerca dà. gravitação. (Isso to^na-se particularmente claro quandó a -teoria
de Newton é formulada de maneira “relativística geral”- ou “coyariánte”y
<0,1 1
tomando- a velocidade da luz como infinita [c = oo].' Isso foi demonstrado
por Péter Havas, “Four-Dimensional Formulations òf Newtonian Mechanics
and Their Relation to the Special and General Theory of Relativity”, Review s
of M o d e m Physics, 36 [19641, p. 938-65.) '
33. Albeft Einstein, Relatiuity: T h e § 0 ^ ia l and the General Theory.
A Popular Exposition (Londres: Methuen &:T Co., 1920), p. 132. (Melhorei
ligeiramente a tradução.)
34. L . d. F. [19.34, ( b ) ] , p. 13; [1966 ( e ) l e edições posteriores, p.
15; e L . Sc. D ., [1959 (a )] e edições posteriores, p. 41; ver n. 15 à seção
7, acima.
í 35. Cp. Hans Aíbert, Marktsoziologie und Entscheidungslogik (Neuwied
e Berlim: Hermah Luchterhand Verlag, 1967) ; ver espec. pp. 1'49, 227 e" s.,
309, 341 e s. A expressão imprópria que utilizei, “ estratagema convenciona-
lista”, foi substituída por “imunização” ( “imunização contra a crítica” ) nos
escritos .de Albert.
(Acrescentado durante as provas.) David Miller chamou-me a aten
ção, agora, para a n. 1, na p. 560, de Arthur Pap, “Reduction Sentences
and Dispositional Concepts”, in T h e Philosophy of R udolf Carnap, org. por
Paul Arthur Schilpp (L a 5alie, Illinois, Open Court Publishing Co., 1963),
pp. 559-97, que antecipa este uso de “imunização” .
36. Gp. cap. 1 de C . & R . [1963 ( a ) ] e edições posteriores.
37. Para uma discussão muito máis ampla, ver seções 2, 3 e 5 de
minhas Replies.
38. Ver C. & R ., [1963 (a )] e ediçoçs posteriores, cap.- 10, espec. o
Apêndice, pp. 248-50; cap. U, pp. 275-77; cap. 8, pp. 193-200; e cap. 17,
p. 346. O problema foi discutido pela primeira vez por mim na Seção 15 de
L. d. F. [1934 ( b ) ] , pp. 33 e s.; [1966 ( e ) ] e edições posteriores, pp.
39-41; L . Sc. D. [1959 ( a ) ] e edições posteriores, p. 69 e s. Um a discussão
razoavelmente ampla de certas teorias metafísicas (em tórno do determinismo
e indeterminismo metafísicos) encontra-se em meu artigo “Indeterminism in
Quantum Physics and in Classical Physics” [1950 (b ) ] ; ver espec. pp. 121-23.
39. Ver pp. 37 e s. de C . & R . [1963 ( a ) ] e edições posteriores.
40. Ver [1945 ( c ) ] , pp. 101 e s.; [1962 ( c ) ] e edições posteriores, *
vol. II, pp. 108 e s .
41. Ver Imre Lakatos, “Changes in the Problem of Inductive Logic
in T h e Problem of Ind uctive Logic, org. por I. Lakatos (Amsterdã; North-
Holand Publishing Co., 1968), pp. 315-417, ,espec. p. 317.
42. Não parece haver qualquer depèridência-tempp sistemática, como
há no aprendizado de sílabas sem significado^'^ ■
43. Cp. C. Lloyd Morgan, Introduciion to Comparative Psychology
(Londres: Scott, 1894) e H. S. Jennings, T h e Behaviour of the L o w er
Organisms (Nova Iorque: Colurabia University Press3 1906).
44. Minha idéia da formação de hábitos pode ser ilustrada por um
informe sobre a gansa Martina em Konrad Lorenz, O n Aggression (Londres:
Methuen & Co., 1966), pp. 57 e s. Martina .adquiriu um hábito consistente
em fazer certo desvio na direção de uma janela antes de subir as escadas
para o primeiro andar da casa dé Lorenz, em Altenberg. Esse hábito se
originou ( i b i d p. 57) como típica reação de escape à luz (a janela). Embora
essa primeira reação se “repetisse”, “o desvio habitual ( . . . ) tomou-se cadâ
vez mais curto”. Assim, a repetição não criou tal hábito; e, no caso, tendeu
-inclusive a fazê-lo desaparecer lentamente. (T al vez r.isso fosse algo como. um
aproximar-se da fase crítica.) -Note-se, de passagem, qué muitas alusões de
Lorenz parecera vir em apoio de minha concepção .-de - qüê^os ^cientistas usam
o método crítico — - o método de conjectútas téntativas - de\ jefutãção; Es
creve elej por exemplo (ibid., p. 8 ) “É um bom., exerdciomatutino, para
um . cientista pesquisador, afastar todos'^os^ dias,- antéSpd&-:^C4 fi^-RtÍa-!^rianhã,
uma hipótese de sua predileção/VGontudo^v-a- de'spêitò?:Mi^o^;.|Çiorèâz:!f:parecè.
continuar sob a influência do■■:indutivisifio*'^Vel:>''pT ■eXtfj|fit'èí'£/;yf?p;:;-;62.-£^‘Tô-
davia, talvez uma série completaideiihúinèras' rfipetiçÕès^i^i- /)\- fosáé.rièc es-
sária” ; para outra passagem-'em ^qitfevfètiste •‘‘üM-.-tlàrò r^ro^^itòSâoáêt^SlégiGoi:
.ver Konrad Lorenz^ Überr-,^UfUci^^.Mnd^MèfáthlU^U^^.èfÍíálúH>^yLxiiÂ-'
que: R. Piper & Co*; 196535'pí^388'^^émi-seinprè'J -:pàreG'è-éíe^dàt-sé^conta.
de que, em Ciência, -repetições”- dé^ obsèiVaçõés ' nao Mão:; cohftriíiá^õès 4indu^,
tivas, mas tentativas críticas= deVerificar-se. ò''-'próprÍQ''“eomppM^ènto - — : dè
surpreender-se a pessoa em erioi. V ê f ainda íadiante, etè x tò .'
correspondente. ' - •••7 f- V7 .:?£• •. 7 -i.;•••7 ;
45. -Segundo o O x ford English Dictionary, á expressão “rule, o f trial.
and error35 originou-se em ariünética (ver t r i a l ’4 ) . \Nòté;se-'~!qu^
Morgan nem Jennings usaram- a expressão nó sentido' dé\rtOTtaUvM/$àleátpr2^*' •'
(Este último uso parece dever-se a Edward Thorndikè.') r; V. .0
46. A retirada, cega de uma esfera de uma urga não asségüra a àlêà-
■toriedade, a menos que as esferas tenham sido bem misturadas na urna. IE
cegueira com respeito à solução não precisa, obrigatoriamente, envolvér ce
gueira com respeito ao problema; pode-sè perfeitamente saber3 por exemplo^
que o problema ê ganhar num jogo retirando uma bola branca.
47. D . Katz, Animais and M en (Londres: Longmans, 1937), p. 143.
48. Jane Austen, Em m a (Londres: John M u rray , 1816), vol. III,
Hnal do cap. 3 (Gap. 39- de algumas edições posteriores). Cp. p.336 de
R. W. Ghapman, org., T h e N ovels of Jane Austen, 3.a ed. (Oxford Univer
sity Press, 1933), vol. IV .
49. Acerca dos jogos e seu desenvolvimento, ver Jean Piaget, T h e
M o ra l Judgem ent of the Child (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1932),
espec. p. 18, no tocante aos dòis primeiros estágios dogmáticos e ao “terceiro
estágio” crítico; ver, ainda, pp. 56-69. Também, Jean Piaget, Play Dreams,
and Im itation in Childhood (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1962).
50. Algo que* se assemelha a esta concepção encontra-se em S </>rén
Kierkegaard, Repetition (Princeton: Princeton University Press; Oxford
Oxford University Press, 1942), espec. p. ex., pp. 77.e s.
51. Joseph . Qhurch, Language and- the Riscovery of Reàlity (Nova
Iorque: Random House, 1961), p. 36. .
52. Ib id . . . .
53. Parece ser essa a explicação óbvia do trágico incidente relativo
ao alegado plágio de Helen Keller, ocorrido quando ela era ainda--criãriçã-
e que muito a impressionou e talvez tenha contribuído para quê elaíJseléèi#;-
nasse as diferentes fontes, de , mensagens que lhe chegavam todas 5fio mesmo.'
código. • .
54/ W . H. Thorpe escreve numa passagem (para': afrquàl' Arné Re-f:
tersen chamou-me a atenção) de‘ seu interessante livro Learning- .and '^1üsiinci
m AnÍ7neils (Londres: Methuen & Co.,. 1956),^.p. 122 (2.® ed. rev., 1963, p.
135) >.V,*‘Èntende-se por . imitação verdadeira copiar um romance ou outro
ato ou enunciado igualmente .improvável, ou um ato para o qual não haja,
claramente, uma tendência instintiva.” (Grifado no original.) Não pode ha
ver imitação' sem apuradas tendências instintivas para a cópia em. geral e
mesmo para a espécie específica de ato de imitação. Nenhum gravador de
fita pode funcionar sem a sua capacidade própria (inata, por assim dizer)
de aprender por imitação (imitação de vibrações); e se não lhe fornecemos
um substitutivo para a necessidade ou o impulso de usar-lhe as capacidades
(talvez sob a forma de um operador humano que deseje que a máquina
faça uma gravação e a reproduza), ela não imitará. Isso parece verdadeiro
até mesmo rio caso das formas mais passivas de aprendizado por imitação
que me ocorrem. É naturalmente correto dizer' que só devemos falar de imi
tação caso o ato a ser imitado não seja umUi daqueles que o animal A
realizará pór simpies instinto, sem que o mesr^o ato haja sido realizado ante
riormente por outro animal B, na presença de A. Haverá casos, entretanto,
em que teremos razões de suspeitar de que A poderia praticar. o ato —
talvez num estágio posterior — sem imitar B. Deveremos afastar a idéia
de imitação verdadeira no caso de o ato de B ter levado à prática do ato de
A. (muito) mais cedo do que teria ocorrido em outras circunstâncias?
55. C. & R. [1963 (a ) 3 e edições posteriores, cap. I, espec. pp. 42-52-
Alí faço referência, na p. 50, n. 16, a uma tese “Gewohnheit und Gesetzerleb-
nis” [Acerca, do Hábito e da Crença nas Leis] que apresentei (inacabada)
em 1927 e onde sustento, contra a idéia de Hume, qtie o- hábito .é simples
mente o resultado' (passivo) de associação repetitiva.
56. Isto, até. certo ponto, é semelhante à teoria, do conhecimento
exposta por Platão em Meno 80 B-86 C, mas, naturalmente, apresenta
dessemelhanças, .
57. Penso que este, melhor do que qualquer outro, é o lugar para
registrar ò auxílio que recebi, ao longo deste trabalho, de meus amigos Ernst
Gombrich e Bryan Magee. Talvez não tenha sido tão difícil para Gombrich,
pois, embora ele não concorde com tudo quanto digo acerca de música,
pelo menos encara com simpatia minha atitude. Mas Bryan Magee, decidi
damente, não a encara assim. Ele é um admirador de Wagner (a respeito
de quem escreveu um livro brilhante, Aspects of. .Wagner [Londres: Alan
Ross,. 1968; Nova Iorque: Stein &. Day, 19693). Assim, ele e eu estamos,
neste ponto, separados tanto quanto duas pessoas .possam estar. Menos im
portante é o fato de, a seu ver, as seções 13 e 14 conterem reconhecidas
confusões e algumas das concepções por mim atacadas serem infantis. N a
turalmente não concordo com isso; entretanto, o ponto que desejo acentuar
é o de que nossa discordância não o impediu de ajudar-me enormemente,
nao apenas no que diz respeito ao resto deste esboço autobiográfico, mas
tam.bém com respeito às duas seções onde se referem pontos de vista acerca
dos quais temos divergido seriamente por múitós anos.
58. Há longo tempo abandonei esses estudos e não posso me lembrar
de pormenores. Entretanto, parece-me mais que provável que houvesse certa
quantidade de canto paralelo no estágio do Organum, que continha terças e
quintas (contadas a partir do baixo). Suponho que isso dfeva ter precedido
o canto Fauxbourdon.
59. Ver D. Perkin Walker, “Kepler’s Gelestial Music”, Journal of the
Wqrburg and Courtauld Institute} 30 (1967), 228-50. Sou grato ao Dpi
214
Walker por me haver chamado a atenção para ra passagem citada no texto.
Ela foi colhida em Kepler, Gesammelte .Werkef org. por M áx Caspar (M u
nique, 1940), vol. V I, p. 328. A . passagem é citãdá; eirfâ latim por Walker,
“Keplers Gelestial Music”, pp. 249 e da»dáiele^üiha^vtradução inglesa.
A tradução que utilizo é minha, (Traduztii y.utu m irüm arrtplius non . sit __
“there is no marvel greater or more sublima” ,* ut, ludeçetb [ — .that he shouíd
enact”] = “ that he should conjure; up^ a^jvision : o quadqmtenus de-
gusterat — “that he should almost” [ “ taste;=?or touch orrií^reach” .') -De pas
sagem, não posso concordar em que ^ ;.hâimonia;.das,:ies£ejai/i:dei PIatão,‘;-fosse
monódica e consistisse “tão-sorriehte^.em escalãs”,-;1(cpi2uyV5alIter^ “Kepler’s Ce
lestial Music”, n. 3 e texto); Vko contrário,? PlatãcP esíorçárse pórr evitar que
seja dada essa interpretação às 'suas :p:alàvrâsl -fflkr;'; p.éx;^ República, ’6Í’7Jfiy-
onde cada uma das oito sèféiàé cantarümaimelodiã única, tàl: que,~;d o‘ conjunto
das oito, “emerge a concórdia defumai: hármoniàHimca^íTtmeu; 35B-36B e
90D, devem'ser i n t e r p r e t a d o s lu z ': desáâ. passagem/>Relevànte s é táinbém
Aristóteles, D e Sensu, V I I , 448 a 20! e ss^r.onde“?sao 'examinadas ■fasc^ôneeE>çõès: .
de “alguns autores a respeito de concórdia”/ .escritores' que r-"dizem-:V.qué1'as
sons não chegam simultaneamente, mas apenas- parece:, qué ocorre'-íãssím” ,)
Ver também, a respeito, do canto em oitavas, os Problem as .de Aristóteles,
918 b 40, 919 b 33-35 ( “mistura” ;, “consonância” ), e 9 2 1 - -(verrèspec.
921 a 27 e s.). '
60. Aludi, a esse relato no cap. 1 dé C . & R . t l 963 ( a ) '3; e èdições
posteriores, £im da seção V I, p. 50. :,í ■' T :í; :
61. Só anos depois dei-me conta d e . que, indagando “como épossíVel
a Ciência?”, Kànt tinha era mente a teoria de Newton, à qual acrescentava
sua própria e interessante forma de atomismo .(que lembrava a de Boscovich);
cp. C . & R ., cps. 2, 7 e 8, e meu artigo “ Philosophy and Physics” [1961 (h ) l ;
62. Para essa distinção (e para uma distinção mais sutil, ver C. & R :
[1963 (a )J , cap. 1, sec. v, pp. 47 e s.
63. Albèrt Schweitzer, J. S. Bach (Leipzig: Breitkopf und Hartél,
1908);. publicado inicialmente em francês, 1905; 7.a ed., 1929; e nòvà edi
ção inglesa (Londres: A. & G- Black, 1923, voi. I, p. 1). Schweitzer aplica
o termo “objetivo” a Bach e “subjetivo” a Wagner. Eu concordaria em que
Wagner é muito mais “subjetivo” do que Beethoven. Não obstante, talvez
eu deva dizer qúe, embora admire muito o livro d e . Schweitzer (especial-:
merite seus excelentes comentários acerca do fraseado dos temas de Bach),
não posso absolutamente concordar com uma análise do contraste entre
músicos “objetivos” e “subjetivos” em termos da relação do músico para
com seu “tempo” ou “época” . Parece-me quase certo que, nesse, ponto,
Schweitzer está sob a influência de Hegel, cuja opinião a respeito de Bach
o impressionou. (V e r ibid., pp. 225 e s. e n. 56, nap. 230. N a p. 225 ÍYol.
I, p. 244, da edição inglesa], Schweitzer relata, com base nas memórias de
Therèse Devrient, um encantador incidente envolvendo Hegel e que não lhe
é muito lisonjeiro.)
64. O primeiro [1968 ( s ) l foi uma exposição feita em 1967 e inicial*
mente publicada em L o g ic , M e th o d o lo g y ' and Philosophy of Science , vol; III,
pp. 333-73; o segundo ÍÍ968 ( r ) ] foi publicado pela primeira vez em ^Fro-
ceedings of the X í V t h International Congress of Philosoph)>, Viena, 2 - ,a 9
de setembro de 1968, vol. I,' pp. 25-53. Esses dois artigos são agora, respec->:
tivamehte, os caps. 3 e 4 de [1972 ( a ) ] . O terceiro ártigò [Í967 (k)Oylcita--
do no texto, figura em Quantum T eory and Reality. 'Vérptambémj -meus
livros L . d. F . e L . Sc. D ., seções 29 e 30 [1934 ( b ) ] , pp. 60-67; [1966 (e)ü
e edições posteriores, pp. 69^6; [1959 ( a ) ] e edições posteriores, pp. 104-11;
e meu livro C . & R . [1963 (a ) ], espec. pp. 224-31; bem como meu artigo
“A Realíst View of Logic, Physics and History:x.^[ 1970 (1 )], rn Physics, L o g ic
and, History, agora cap. 8 de . [1972 ( a ) ] .
65. Ver meu livro O. S., vol. I [1945 (b)3 , pp. 26, 96; vol. II [1945
( c )], pp. 12 e S. ; Ü952 ( a ) ] , pp. ,35, 108, 210-12; 11962 (c )],' [1963 ( í ) ]
e edições posteriores, vol. I, pp. 3,2, 109; vol. II, pp. 13 e s.
65a. (Acrescentada em 1975). O mesmo vale para as teorias exp.res-
sionistas ou emotivas de moral e, de juízos morais.
66. Ver também a última seção de meu artigo “Epistemology Without
a Knowing- Subject” [1968 (s ) ], pp. 369-71; [1972 ( a ) ] , pp. 146-50.
67. C itado p or Schweitzer, /. S. Bach, p. 153.
68. Arthur Schopenhauer, D ie W elt ais W ille und Vorstellüng [O
Mundo Como Vontade e. Representação], vol. I I (1844), cap. 39; a se
gunda citação é do vol. I (1818 [1819]), seção 52. Note-se que. a palavra
alema “ Worstellung” é. simplesmente a traduçãodo vocábulo “ Id e a ” de. John
Lockc.
69. Em alemão: “ eine cantable A rt im Spielen zu erlangen” .
70. Platão, I o n ; cp., espec., 533D-536D.
71. Ibid.., 534E.
72. Platão, j o n j 535E; cp. 535C.
73. Ver também -mèu artigo “Self-Reference and Meaning in Ordinary
Language” [1954 (c)Í-# que agora constitui o ca!p. 14 de C. & R . [1963 ( a ) ] ;
e o texto correspondente à n. 163 de meu Replies, in Schlesinger, org., T h e
philosophy of K arl P op p er: La Saile, 1974! (Argumentos no sentido de
mostr.ar que anedotas a respeito de si mesmos são impossívéis encontram-se
em Gilbert Ryle, T h e C o n c e p t o f M in d [Londres: Hutchinson, 1949], p-
ex., nas pp. 193-96; Peregrin Books ed. (Harmondswórth: Penguin Rooks,
1963), pp. 184-88. Penso que a observação de Ion é (ou implica em) “uma
critica de si mesma”, o que, segundo Ryle, p. 196, não seria possível.)
74. Platão, Io n , 541E-542B.
75. Ver O. S. [1945 (b ) e ( c ) ] e edições posteriores, nn. 40 e 41
ao cap. 4, e texto correspondente.
76. Ernst Gombrich lembrou-me o “para fazer-me chorar, você mesmo
deve sofrer, primeiro” (Horácio, A d Pisones, 103 e s.). Naturalmente, é
admissível que Horácio tenha pretendido apresentar, não uma concepção
expressionista, mas a idéia de que somente o -âftista que, já sofreu é capaz
de julgar criticamente o impacto de sua obra. Parece-me provável que H o
rácio não tinha consciência da; diferença entre essas duas interpretações.
77. Platão, /òn, 541E é s.
78. No que toca a grande parte deste .parágrafo e a alguma crítica
aos paragrafos anteriores, .sou devedor de meu amigo Ernst Gombrich.
Veremos que as teorias platônicas secularizadas (da obra de arte como
expressão e comunicação subjetivas e como descrição objetiva) correspondem
às. tres funções da linguagem definidas por Karl Bühler: cp. meu [1963 (a ) 3,
pp. 134 e s. e 295 e. seção 15.
79. Ver E. H. Gombrich, Art and Illüsión. (Londres: Phaidon Press;
Nova Iorque: Panthéon Books, 1960; última edição, 1972), passim.
: 80. Veremos que minha- atitude em relação àniúsica assemelha-se às
teorias de Eduard Hanslick (caricaturado r•ppTv'íWâgíieí':-::cbind-VBêcktóêsi5et1'),
um crítico de música de grande-influência ^m :Viêna, : ^Ué -escrèVeüf íuró’ liVro
contra Wagner : ( Vom Musikalisch-SckÔnèh^ rtliéipízagí; ^ Weigèíy ;^;1854]
traduzido por G. Cohen, da rev-^; «éb-^>'-"tí£Üiió-...-dl^^fté: iBéÜúlifúfriin
Music [Londres: Novello and Co.? 1891j;);. Não1 cóndòrtfoV'.porém; com a
condenação que Hanslick faz de Brucknér,: o. qua], embora àdmirasse ^Wagner,
era, a seu modo, um músico tão; admirávelPquantO^Beethovèn (que é,T;por
vezes, erroneamente acusado de :i,desêtièstida:de )-.ríí Interessante^’é que "fWagner
se tenha deixado impressionar,.ígrandemente;t.j3or^Sçhopenjhauer^-!-— . por O
Mundo Como Vontade e- Represent.áção^—^e^que; Sfchopenhauer -tenha, escritó.j
em Parerga, vol. II, seção 224' (originalmerité/jJubHcado.Vem' 185.1, quando
Wagner começava a trabalhar na música ^deJ/O Ànél) ]' ^Podèjse ' dizer que
a Ópera tem sidò a' pèfdiçaõ^ .dá ^música^f rÉlé -se;?féferia^;natoral^ente,'- a
ópera recente, emborà séuá^Wgüínèritos pareçam- múitó ' gérais^^^íha^Verdacle,
demasiado gerais.) ■ - -■ --
81- Friedrich Nietzsche, Der Fali Wagner [O Gaso ' de; Wagnér] • (JLelp-
zig: Í888) e Nietzsche contra Wagner, ambos traduzido'srfe?.inclmdos ;em. .The
Complete Works of F. Nietzsche; org. por Oscar. Levy (Ediniburgo^e. Lònr
dres: T. N. Foulis, 1911), vol. V I I I . ' ~
82. Arthur Schopenhauer, Parerga, võl. II, seção 224. '
83- Karj Bühler,X>ie Geistige Entwicklung des Kindes(Iena: ;.Fischer,
1918; 3.a ed., 1922); versão inglesa, The Mêntal Development of the ,. Chiíd
(Londres; Kegan Paul, Trench Trubner & Co., 1930). Para as funções, da
linguagem, ver também a sua Sprachtheorie (Iena: Fischer, 1934); ver espec.
pp. 24-33.
..84. Talvez caiba dizer aqui uma palavra acerca da teoria higiênica da
arte, elaborada por Aristóteles. A arte tem, sem dúvida, uma função biológica
ou psicológica, como catarse; nao nego que a grande música possa, em algum
. sentido, purificar nossos’ espíritos. Entretanto, estará a grandeza de uma
obra de arte resumida no fato de ela purificar mais do que uma obra menor?
Creio que nem mesmo Aristóteles teria dito isso.
85. Cp. C.. <S? Ü., T>p. 134 e s., 295; O f Clouds and Clocks [1966 (f)3 ,
agora cap. 6 de [1972 (a ).], seções’ 14-17 e n, 47; “Epistemolôgy Without
a Knowing Subject” [1968 ( s ) ] , espec. sec. 4, pp. 345 e s. ([1972 ( a ) ] ,
. cap. 3, pp. 119-22) .
• 86. Leonard Nelson foi uma personalidade marcante, um dos mem
bros do pequeno grupo de kantianos da Alemanha que se opôs à Primeira
Guerra Mundial e que' sustentou a tradição kantiana de racionalidade.
87. Ver meu artigo “Július Kraft, 1898-1960” [1962 (QJ.
88. Ver Leonard Nelson, “Die Unmõglichkeit der Erkenritnisthéorie”,
Proceedings of the IV th International Congress of Philosophy; Bolonha, 5 a TI
de abril de 1911 (Gênova: Formiggini, 1912), vol. I, pp. 255-75; veí^;tam
bém L. Nelson, Über das Sogennanté Erkenntnisproblem (Gõttingen: Vãn-
dènhoeck & Ruprecht, 1908). .
•89. Ver Heinrich Gomperz, Weltanschauungslehre (Iena ;e.: Leipzlg;:
Diederichs, 1905 e 1908), Vel. I e Vol. II, parte 1. Gompei&vâissè^e-.-qiie
havia completado a segunda parte do Vol. II, mas que decidif^iião;^jv$ãd
publicá-la, como abandonar os planos de publicáção de diitrosíi Volúmeá/í^jíDs
^piumês^pubjieadós^jforám .frniagixificametjte planejados e executados e não
•• trabalho, cerca de 18 anos antes de eu
:\c^nhei^U0^ (||í^ãiiiéntè^.«|er. tiyera uma. experiência trágica. Num de seus
: ú j i i n i o à Sinn und Sinngebtlde- Verstehen und Erklãren (Tübin-
gen: Mohr, -19.29);; refere-se à sua anterior teoria dos sentimentos, esp.
p. í206 .Ve-.-s. ÍPara seu enfoque psicológico — que ele denominava “patémpi-
TÍ5ÍjS”i${pa.tjkêpipÍTÍsmus) e què dava ênfase ao papel dos sentimentos ( Ge-
.fühíeip: no ..conhecimento — ver espec. Weltanshauungslehre, seções 55-59
(voL ríl, pp. 220-93). Cp. também seções 36-39 (vol; I, pp. 305-94).
90. Karl Bühler, “Tatsachen und Probleme zu einer Psychologie der
Benkvorgãnge”, Archiv f. d. gesamte Psychologie, 9 (1907), 297-365; 12
(1908), 1-23, 24-92, 93-123.
. 91. Otto Selz, Uber die Gesetze des geordneten Derikverlaufs (Stut-
tgart: W. Spemann, 1913), vol. I (Bonn: F. Gohen, 1922), vol, II.
92. Oswald Kiilpe, Vorlesungen über Logik, org. por Otto Selz (Leip-
zig: S. Hirzel, 1923).
93. Erro semelhante encontra-se mesmo nos Principia Mathematica, ,
pois Russell deixou de estabelecer, às vezes, distinção entre uma inferência
(implicação lógica) e um enunciado condicional (implicação material). Esse
ponto cònfundiu-me durante vários anos. Entretanto, a questão básica — a
de. que uma inferência era um conjunto ordenado de sentenças — já estava
suficientemente clara pará mim em 1928, a ponto de eu mencioná-la a Biihler
por ocasião de’ minha defesa pública da dissèrtação doutorai. Bühler, de
maneira muito delicada, afirmou que não havia pensado a. respeito da questão.
94. Ver C. & R. [1963 ( a ) ] , pp. 134 e s.
95. Encontro agora argumento similar em Konrad Lorenz: “ ( . . . )
ocorrem modificações ( . . . ) apenas em ( . . . ) locais onde mecanismos inatos
de aprendizagem se acham filogeneticamente. programados para a execução
dessa precisa função”. (V er Konrad Lorenz, Evolution and Modification of
Behaviour [Londres: Methuen & Co., 1966], p. 47.) Mas Lorenz não pa
rece retirar daí a . conclusão de que as teorias da reflexologia e do reflexo
condicionado não são válidas: ver especialmente ibid., p. 66. Ver também
seção 10 acima, espec. n. 44. poder-se-ia enunciar a principal diferença entre
psicologia da associação ou teoria . do reflexo condicionado, de um lado, e
descoberta por tentativa e erro, de outro, dizendo que a primeira é essencial
mente lamarckiana (ou “instrutiva” ) e a última darwiniana (ou “seletiva” ).
Ver, por exemplo, as investigações de Melvin Cohn, “Rèflections on a Dis-
cussion with Karl Popper: The Molecular Biology of Expectatioris", Bulletin
of the All-India Jnstitute of Medicai Sciences, 1 (1967), 8-16 e trabalhos
posteriores do mesmo autor. Quanto ao. darwinismo; ver seção 37.
9 6 .' W . von Bechterev, Objektive Psychologie oder Psychoreflexologie
( l , a ed. 1907-12), edição alemã (Leipzíg^ e: Berlim: Teubner, 1913); e
AUgemeine Grundlagen der Reflexologie des Menschen (1.® ed., 1917), ed.
alemã (Leipzig e Viena; F. Deuticke, 1926); ed. inglesa, General Principies
of Human Reflexologie (Londres: Jarrolds, 1933).
.97. O título de minha dissertação (inédita) era “Zur Methodenfrage
der Denkpsychologie” [1928 ( a ) ] .
•■■■ 98. Comparar esse parágrafo com algumas de minhas observações em
■PPos*Ç.ão - à Reichenbach, feitas em conferência realizada em 1934 ([1935
(a )], republicada em tl966 (e )], [4969 '25í) ; ' há^=uma tíadução:
em L . Sc. D ., [1959 (a )] e ediç5es postferic>i:ès,::ppí315^ '"As teorias''cientificai
nunca podem ser 'justificadas' .p^j.^ye-i^icadas^Mas (-*.-_) uma- hipótese
pode ( . . . ) abranger mais _dof.>:quêvv.u m ^ íij^ te ^ ^ .lí(...'. .t ) ‘«SX3.. jm^lhoç^que*- •
podemos dizer acerca de uma.vhipótese-é\\qUé//.atéjí^:..inolmentò«j^:'.:''*ir)^.:^ÍiadseV’
tem mostrado superior a outras r-
ser justificada, verificada ou mesmos demoiistrádà^^sua^
ainda, o fim da seção 20 (texto contepondéiite;;;às
seção 33, mais adiante. ,; :-r. .. '' - -
99. Rudolf Garnap, Der, .logisch'e.;:Auf,b,uu;;jd e.rl.W
in der philosopkie : das. 'Fremâp^chüchei^unãêldèY^^xài^p^^jssjtrjsii^ áaity)sem/O
primeira edição (Berlim :.Wéltkreis-Verlag^ :;íl# jl8 )j^ - dois^. 'Íiyrósí
reunidos num volume (HãiftSuigo-^.' F “' i
T h e Logical Structuré- o f t f c e W o r l d Je ■
dres: Routledge ;& .Kegan;- Paúl,.„. 19.6.7.) v=í
100. Victor Kraftj D iè Grundform en der itímensiHa^lichéhi^M^thòdeTiv.^Á
(Viena: Academia de Ciências, 1925) / . • r •£;, ' "V; '
101. Ver p. 64t do encantador e informativoensaÍ0 jvdè%HéjrbCTft^^
“The Wiener Krejs in America”, in Perspectives in AMeric<irv:&istoi$ yfâhèvv;^:
Charles Warren Center for Studies in American History, •Harv«rd-''''Uriivfe£sityãti'...''
1968). Vol, II, pp. 630-73; e também n. 106, abaixo. [Dépóis' dêfindàgkr,;.
Feigl sugere que Zilsel talvez se tenha tornado membro, depois .da :emigràçãòv ': '
dele, Feigl, para, os Estados Unidos da América.] '' d ^ í V v
102. Herbert Feigl diz (ibid ., p. 642) que isso deve ter ocorrido éra
1929 e, sem dúvida, ele está certo.
103. Os únicos artigos por mim publicados antes de encontrar Feigl
— . e durante os quatro anos seguintes — versavam tópicos de educação. Com
exceção do primeiro [1925 ( a ) 3, (publicado na revista de educação Schul-
refoTtn) foram todos ([1927 ( a ) ] , [1931 ( a ) ] , [1932 (a )3 ) escritos ,á convite
do Dr. Eduard Burger, editor da revísta de educação D ie Qu elle.
104. Feigl refere-se ao encontro em “Wiener Kreis in America” . Des
crevi rapidamente o começo de nossa discussão em C. & R . [1963 ( a ) ] , pp.
262 e s.; ver n. 27, na páginá 263. V er também “A Theorem on Tíuth
Content” [1966 ( g ) ], minha contribuição ao Festschrift de Feigl.
105. Durante essa primeira conversa, Feigl fez objeções a meu rea
lismo. (Nessa época, ele era favorável ao chamado “ monismo neutro” , que
eu encarava como idealismo berkeleyano; e assim continuo a pensar.) Ale
gra-me pensar que Feigl se tenha tornado também um realista.-
106. Escreve Feigl, “Wiener Kreis in America”, p. 641, que tanto
Edgar Zilsel como eu tentamos preservar nõssa independência, “permane
cendo fora do Círculo” . O fato, porém, é que eu ter-me-ia sentido muito/:
honrado se tivesse recebido convite para ingressar nele e jamais me haveria.
ocorrido que a participação no seminário de Schlick pudesse ameaçar, n o .
mínimo que fosse, minha independência. (Assinalo, de passagem, que ãntes-
de ler essa observação de Feigl, eu não me dera conta de que Zilsel :não;
integrava o Círculo. Sempre imaginei o contrário, e Victor Kráft‘7apontará;
como um dos membros do Círculo, em seu livro D e r W iener Kreis '0Viena:
Springèr Verlag, 19501; ver p. 4 da tradução T h e Viena Circle ;[NòVa-Iorque:
Philosophical Libraiy, 1953]. Ver também n. 101, acima;); -v<-' ♦-
107. Ver minhas publicações relacionadas na p. 44doartigo “Quan
tum Mechanics AVitHòut ‘The Òbserver'” [1967 (k ) ]. ■■
108. O manuscrito do primeirovolume ê partes do manuscrito dessa
versão deL . d . F. cortados por meu tio, ainda existem. O manuscrito do
segundo volume, com exceção de • algumas seções, parece qüe se perdeu.
(Acrescentado em 1976. O material restante (em alemão) está sendo atual
mente preparado por Troels Eggers HanSen para publicação pòr J. C. B.
Mohr ein ‘Tubinga.)
109; Ver, em especial, meu [1971 (i) 1, republicado, com pequenas
alterações, como cap. 1de [1972 (a )].; e também seçãò 13 de meu Replies.
109a. Ver seções 13 e 14 de meu Replies.
MO. Ver o artigo de John Passmore, “Logical Positivism”, in E n c y -
clopedia of Philosophy, org. por Paul Edwards^ vol. V , p. 5G (ver n. 7 acima).
111. Essa carta [1933 ( a ) ] , foi, publicada pela primeira veze
Erkenntnis, 3, ns. 4-6 (1933), 426 e s. Ê novamente publicada, em veFsão
inglesa, no meu livro L. Sc. D. [1959 ( a ) ] e ediçõfes posteriores, pp. 321-14,
e em alemão, na 2.a e em edições. posteriores.da L. d. F. [1966 ( e )l , [1969
(e )], etc., pp. 254-56.
112. J. R. Weinberg, A n Examination of Logical Positivism (Londres,
Kegpin Paul, Trench, Trubner & Co., 1936).
113. Para discussão muito mais longa desta lenda, vér seções 2 e 3
de meu Replies.
113a. (Acrescentada em 1975.) Suponho que esta frase foi um eco
de John Laird, R ecent Philosophy (Londres: Thornton, Butterworth, 1936),
que me descreve como “crítico, mas também •aliado” do Círculo de Viena
(ver p. .187 • e também pp. 187-90).
114-.: . Cp. Arne Naess, Moderne filosofer (Estocolmo* Almqvist & Wik-
sell/Gebers Fõrlag AB, 1965); tradução inglesa intitulada Foúr Modern
philosóphers (Chicago e Londres: University of Chicago Press, 1968). Naess
escreve, em n. 13, pp. 13 e s., da tradução, “minha experiência foi muito
similar à de Popper. ( . . . ) A polêmica [num livro inédito de Naess] ( . . . )
travada ( . . . ) entre 1937 e 1939, pr-etendia. dirígir-se contra teses e tendências
fundàmentais do Círculo, mas foi entendida por Neurath como propostas de
modificações que já estavam aceitas ein princípio, e deveriam tomar-se oficiais
em publicações futuras. Tendo7me sido assegurado isso, abandonei, os planos de
publicar a obra.”
114a. Para avaliar o impacto de todas essas discussões, ver nn, 115 a
120.
115. Cp. C . & R . 11963 ( a ) ] , p. 253 e s.
116. Rudolf Çarnap, “JJber. Protokollsãtze”, Erkenntnis , 3 (1932),
215-228; ver espec., 223-28.
117. Cp. Rudolf Garnap, Philosophy and Logical Syntax, Psyche M i
niatures (Londres, Kegan Paul, 1935), pp. 10-13, que correspondem a
Erkenntnis , 3 (1932), 224 e ss. Garnap fala, aí, de “verificação”, ao passo
que antes se havia referido (corretamente) a mim como falando de “teste” .
118. Cp. G. G. Hempel, Erkenntniss , 5 (1935), espec. 249-54, ònde
ele descreve (com referência ao artigo de Gamáp “Über Protokôllsãtze” )
meu procedimento em termos muito semelhantes aos empregados por Carnap.
',0
119. Rudolf Carnap, £r*enntoifiy£p$l«3;i li^
à crítica de Reichenbaçh de LJ d. >F .) ífC.% ^em pel^
tung, 58 (1937), '309-14. ( Houve !
Hempel.) Menciono aqui. apenas •asvr&sénHas1 .=•
feitas por membros .do Círculo. ' ■■:":•
120.. Hans Réichenbkch, Erkenntniss,1S;'}
plica à resenha de L» ;d. F., preparada •‘po r^a in *á p ^ ã | :.q íi^ ^ a ^ | ^ ^ \ á ^ é ü -:i
lado, respondeu, de maneira bréve). Ottoí;?^citià»:Üt^:5^^A^íi;feÍt2^^55‘Jíí-êí-9*35i.õ*S'-T -
353-65. •’ •.
121. Werner Heisenberg, '*Uber quantentheói-etisfe|jLe^^
nematischer und mechanischer Beziehxmgen”, Zèâiè'hri^f^r'\JP-&^s0^ò^^í92$')’i■\
879-93; Max Bom e Pascual Jordan, t(Zur Qüaiké^meciiâM^^ .--.
(1925), 858-88; M ax Bòm, Wemer Heisenberg ; é : Pàscu^'i|[órâ^j.df;“èufc v
Quantenmechanik I I ”, ibid.'3 35 (1926), '557-615. ;Essès^t^^í^ti§ós^aj}kréf-
cem traduzidos em Sources of Quantum. Machanics, •org'. ‘ |kii^B:^È::,;f^hvder:V
Waerden (Amsterdã: North-Holand Publishing Co., •4.96
122. Para um relatório do debate, ver Niels Bohr^>‘®^u^iôfi;fwitKr ‘
Einstein on Epistemological Problems in Atomic Physics” , '^ibeT^EinsjiM^'
Philosopher-Scientist, org, por Paul Arthur Schilpp ( EvanstonjV; lílmòis-Í.Li1^
brary of Living Philosophers, 1949); 3.a ed. (L a Salle, 1 1 1 O p e n 4 Co/art
Publishing Co., 1970), pp. 201-41.. Para uma crítica dás afirmações.;!íéitas-r
por Bohr, durante esse debate, ver meu L. Sc, D. [1959 ( a ) ] , novo ApêndiGé
* xi, pp. 444-56, L . d. F. [1956 ( e ) l e [1969 ( e ) ] , pp. 399-441
123. James L. Park e Henry Margenau, “SimultaneousMe.asurability
■ in Quantum Theory” , International Journal of Theoreticál Physicsl 1 (1968),
211-83.',' '
124. . Ver [1957, (e).] e [1959 (e ) J.
125. V er [Í934 ( b ) ] , pp.171 e s., [1959 ( a ) ] , pp. 235 e s., [1966 (e )!,
pp. 184 e s., [1 9 6 7 .( k ) 3, pp. 34-38.- '\-v.
126. Albert Einstein: Philosopher-Scientist, pp. 201-41 (ver n. 122,
aciina).
127. Ver espec. [1957 ( Í ) ] , [1969 (k)J, agora cap. 5 de [1972 (a)-].-;
[1963 ( h ) ] ; [1966 (£ )], agora cap. 6 de [1972 ( a ) ] ; [1967 (:kj] é
.[1968 ( s ) ], agora cap. 3 de [1972 ( a ) ] , onde é também republicado,, como.
. cap. 4 [1968 ( r ) ] , em que se, pode encontrar um tratamento mais porme
norizado da matéria. /
128. Arthur March, Die-, Grundlagen der Quantenmechanik (Leipzíg::
Bar th, 1931); cp. o índice de [1934 (b )],,.[1 9 5 9 ( a ) ] , ou [1966 (e )
129. Os resultados aqui apresentados são, em parte, de data posterior
e, em parte, de data anterior. Quanto às-minhas mais recentes, concepções,
ver minha contribuição ao Festschrift de Landé, “Particle Annihilatiprí ^and
the Argument of Einstein, Podolsky and Rosén”, - [1971 (n) ].y ■ ;.:/f;
130. Cp. John von Neumann, Mathematische Grundlagen <derí “ a?l-
. tenmechanik (Berlim: Springer Verlag, 1931), p. 170; ou •a ••irádiição •
thematical Foundations of^ Quantum Mechanics (Princeton: ^Pnricèton^^niV;
•versity Press, 1955), p. 323. Assim, ainda que o ai^üinentó';^é'^Wâf!-'^tiifiãunni
fosse válido, elé não refutaria o determinismo. Mais^;-AÍnda5-;;-^-?(r^ii^^?;4 ;if!è;
II, pòr ele admitidas, nas pp. .313 e s. (cp,. p; 225--' e.r 'Si):5?r^.-;iê^^o|.^é#Qãí
p,i'l67 (cp. p. 118) — são incompatíveis com as relações de comuta tividadé,
talTcomo foi pela primeira vez demonstrado por G. Texnpie, "The Funda
mental Paradox of. the Quantum Theory”, Nature, 135 (1935), 957. (Que
as regras I e II de von Neumanit fossem incompatíveis com a Mecânica
Quântica foi claramente apontado por R. E. Peierls, "The Fundamental
Paradox of the Quantum Theory”, Nature, 136 [19351, 395. Ver ainda
Park e Margenau, “Simultaneous Measurability in Quantum Theory” [ver
n. 123, acima),) O artigo de John F. Bell é “On the Problem of Hidden
Variables in Quantum Mechanics”, Reviews of M odem Physics, 38 (1966),
447-452. '
131. C. S. Peirce, Collected Papers of^Charles Sanders Peirce, org.
por Charles Hartshorne e Paul Weiss (Cambridge, Mass.: Harvard University
Press, 1935),' vol. V I ; ver item 6.47 (inicialmente publiçado em 1892),
P- 37.
132. Segundo Schrõdinger, Franz Exner fez a sugestão era 1918: ver
Erwin Schrõdinger, Science, Theory and Man (Nova Iorque: Dover Publi-
carions, 1957), pp, 71, 133, 142 e s. (originalmente publicado sob o título
Science and Human Temperament [Londres: Allen and Unwin, 1935]; ver
pp. 57 e s., 107, 114); e Die N aturwissenschaften, 17 (1929), 732.,
133. Von Neumann, Matkematical Foúndations of Quantum Mecka-
nics, pp. 326 e s. (ed, alemã, p. 172): “ ( ; . . ) a aparente ordem causai do
mundó, de modo geral ( . . . ) [quanto aos] objetivos visíveis a olho nu)
não tem, por certo, outra causa senão a 'lei dos grandes ; números’ e, é com--
pletamente independente de serem causais ou , não as leis naturais que gover~.
nam ós processos elem entares, (Grifo meu; von Neumann. refere-se a
Schrõdinger.) É claro que tal situação não. tem ligação direta com a Me
cânica Quântica.
134. V e r também meu [1934 ( b ) ] , [1959 ( a ) ] e edições posteriores,
seção 78 (e também 67-70); [1950 (b ) e (c .)]; [1957 ( g ) ] 3 Prefácio;
[1957 ( é ) ] j [1959 ( c ) ] ; [1966 ( f ) ] , espec. seçao iv ([.1972 ( a ) ] , cap. 6 );
[1967 ( k ) ].
135. Essa a concepção que sempre -sustentei. É referida, creio, por
Richard von Mises.
136. Alfred Landé, “Determinism versus Continuity in Modern Scien
ce” , Mind, n.s. 67 (1958), 174-81, e From. Dualism to Unity in Quantum
Physics (Cambridge: Cambridge University Press, 1960), pp. 5-8. (A esse
argumento denominei “lâmina de Landé” .) Acrescentado em 1975: ver tam
bém o artigo de John Watkins, “The unity of Popper's thought”, in The
Philosophy of Karl Popper, org. por Paul Arthur Schilpp, pp. 371-412.
Í37. Cp. [1957 ( e ) ] , [1959 (e).] e [1967 ( k ) ] .
138. Por què as partículas não seriam partículas, pelo menos em pri
meira aproximação, explicáveis talvez por uma teoria de campo? (U m a
teoria unificada dos campos, do tipo, digamos, de Mendel Sachs.) A única
objeção que me ocorre deriva da interpretação em termos “difusos” das fór
mulas de indeterminação de Heiaenberg; se as'^‘partículas” são sempre “di
fusas”, hão são partículas * reais. Entretanto,-' ’èssa "objeção não é cogente:
há uma interpretação estatísticá da Mecânica Quântica.
(Depois de escrever o que está acima, redigi uma contribuição para o
Festschrift dz Landé [1971 (n ) l , a que.me referi na n. 12.9, acima. Ê, depois
disso, li duas notáveis obras, escritas , em. defesa-^da; interpretação estatística-da
Mecânica Quântica: Edward. Nelson,, Dynamic<á..-%heoTÍ€p<wf&&fôtoftiàn*--Md*
tion [Princeton: Princeton University. Press, vl96;7J,.pe^&'iE.,:Ballèminêi **‘Tilé
Statistical Interpretation of Quantum Mechanics”»-Revietvs iof typdetu^Physicü,
42 [1970], 358-81. Estimulante é encontrar ^aigumqapoio^.a^ós^ -ümã-. luta
solitária de 37 anos.) r‘~r V", ’ ’ ' '
139. Ver espec. [1967 (k )]. - - -, - ,
139a. Essá frase foi acrescentada em 1975. .
149. W . Duane, "The Transfer : in; Quanta of 1Radiation Momentum
to Matter”, Proceedings of the National Âcademy^of ' Sciences fWashingtón) -
9 (1923), 158-64. Póde-se expressar á- íegra -<nos: teíanos^seguirites^ . '
A 'p x '~ :Znh / jAj j:To"1 V'- '' ' (n^inteiro)
Ver Werner Heisenberg, The ‘Physical Principies of Quantum Theo/y ' (Nova
Iorque: Dover, 1930), p. 77. ’ ' ^ ; ^ Tls . ‘ - 7
141. Landé, Dualism. to Üniíy in ,Quantum Physics^ p p . ^ 9,’ 10,2 (ver
n. .136, acima), e Néw Foundations of Quantum .Mephanics. :(Gaixibàdge.:
Cambridge University Press., 1965), pp. 5-9. , , " t ,
142. Ver espec. [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] 3novo. Apêndicej* xij;e,.i[1967:(k).Ív, ^.
143. Albert Einstein, “Zur Elektrodynamik bewegter Kõrper’*, Annalen
der Physik, 4-a série, 17, 891-921; inserido sob o título. ‘'Ono.the- Electro- . .
dynamics of Moving Bodies”, em Albert Einstein et al., The jPriúcipté^op ^
Relativity, trad. por W . Pennett e G. B. Jeffrey (Nova Iorque: Dover^lÍ923:)/
pp.. 35-65. "
144. Einstein, Relatiuity: Special and General Theory (192Ò e édi-
ções posteriores). O original alemão intitula-se Über die spezielle und dié
allgemeine Relativitãtstheoriè (Brunswick: Vieweg & Sohn, 1916)/ (V er
nn. 32 e 33 acima.)
144a. (Acrescentada em 1975.) Essa interpretação positivista e ope-
racionista da definição de súnultaneidade de Einstein foi por mim rejeitada.
em O. S. [1945 (.c)], p. 18 e, mais fortemente, em [1957 ( h ) ] e edições
posteriores, p. 20.
145. V er o artigo de Einstein, seção 1, em Principie of Relatiuity,
pp. 38-40 (ver n. 143, acima). -
146. Aplicando erroneamente o assaz intuitivo princípio da transi ti-
vidade (T r ) a eventos que se colocam além do sistema, pode-se facilmente
demonstrar que quaisquer dois eventos são simultâneos. Isso. contradiz, poréra,
a presunção axiomática de que, no interior de qualquer sistema inerciál,.. há
uma ordem temporal, ou seja, que, para quaisquer dois eventos, dentro de
um mesmo sistema, vigora uma e apenas uma das três relações: a e b são
simultâneos; a precede b; b precede a. Isso foi esquecido num artigo de
C. "W. Rietdijk, “A Rigorous Proof of Determinism Derived from the Special
Theory of Relativity”, Philosophy of Sciènce, 33 (1946), pp. 341-44.-
147. Cp. M arja Kokoszenska, “Über den Absoluten Warheitsbègriff
und einige andere semantische Begriffe”, Erkenntniss, 6 .(1936), 143-65;
cp. Carnap, Introduction to Semantics3 pp.. 240, 255 (ver n. 15, acima)-, -r
148. [1934 ( b ) ] , seção 84, "Wahrheit und Bewàhrung” ; cp/'Rudolf'
Garnap, ‘Wahrheit und Bewàhrung”, Proceedings of the... IV t h / International-
Congréss for Scientific Philosophy, Paris, 1935 (Paris: Hermann,* 1936), voL -
::«Í^j>^p'áM8-23> ^ uma adaptação aparece em versão inglesa, sob o título
. “Ííu th -and Gonfirmation”, em Readings in philòsophical AnalysiSj org. por
. Hèrbert Feigl e Wilfrid Sellars (Nova ;íorque; : Appleton-Century-CroftSj
Inc., 1949), pp. 119-27.
149 i Muitos membros do Círculo, deinício, se recusaram a operar
com. a noção de verdade: cp. Kokoszynska, "Über den absoluten Wahrheits-
begriff” (ver n. 147, acima). \ ■
149a. (Acrescentada çm 1975.) Ver espec. L. Sc. D . 11959 ( a ) ] e
edições posteriores, pontos 4 a 6, nas pp. 396 e ss. ( ~ L . d. F ., [1966 ( a ) ] ,
pontos 4 a 6, nas pp. 349 e s . ) .
150. Cp. Apêndice iv de 11934 ( b ) ] e ■11959- ( a ) ] . Após a guerra,
uma demonstração da validade da construção foi dada por L. R. B; Elton fe
por mim. ( Receio que f o i; culpa minha, o artigo nunca ter sido publicado.)
N a resenha que fez de L . Sc. D . ( Mathem atical R eview , 21 [1960], rese
nha 6318) I. J. Good menciona um artigo dele próprio, “Normal Recurring
Decimais”, Journal of the L on d on Mathematical Societyj 21 (1946), 167-69.
Das considerações feitas nesse artigo, segue-se facilmente — como David
Miller me fez notar ;—- que minha construção é legítima.
151. Karl Menger, “The Formative Years of Abraham Wald atid
His Work in Geometry” , T h e Annals of Mathematical Statistics, 23 (1952),
14-20; ver espec. p. 18.
152. Kárí Menger, ibid., p. 19.
153. Abraham Wald, “Die Widerspruchsfreiheit.des Kollektivsbegriffes
der Wahrscheinlichkeitsrechnung”, Etgebnissé eines mathematischen K ò llo -
quiumsj 8 (193?), 38-72.
154. Jean Ville, entretanto, que leu um trabalho no Colloquium de
Menger, mais ou menos na mesma época em que Wald, ofereceu uma solu
ção semelhante à minha “seqüência aleatória ideal” ; elé construiu uma se
qüência matemática que, desde o início, era bernoulliâna, ou seja, aleatória.
(Era uma seqüência algo “mais longa” do que a minha; em outras palavras,
não se tomava tão rapidamente indiferente à seleção do predecessor quanto
a minha.) Cp. Jean A. Ville, Êtude critique de la notion de collectíf. M o -
nographies des Probabilitési calcul des probabilitês et ses applications, org.
por Êmile Borel (Paris; Gauthier-Villars, 1939)..
155. Para as várias interpretações da probabilidade, ver espec. [1934
( b ) ] , [1959 ( a ) ] e [1966 ( e ) ] , seção 4 8 re j'[1967 ( k ) ] , pp. 28-34.
156. Ver a Introdução, anterior à seção 79 de [1934 ( b ) ] , [1959 ( a ) ] ,
[1966 ( e ) ]. •.
157. Comparar isso com n. 243 à seção 33, abaixo, e texto; ver ainda
seção 16, texto correspondente à n. 98.
158. Ver [1959 ( a ) ] , p. 401, n. 7; [1966 ( e ) ] 3 p, 354.
159. Parte desse trabalho está incorporada aos novos apêndices de
L . Sc. D . [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] e edições posteriores.
160. Só li doís ou três (interessantíssimos) livros acerca da vida no
gueto, especialmente Leopold Infeld, Quest. T h e Evolution of a. S£Íentist
(Londres; Victor Gollancz, 1941).
161. Cp. [1945 (c) ] e edições posteriores, cap. 18, n. 22; cap. 19,
nn. 35-40 e texto correspondente. Gap. 20, n. 44 e texto, correspondente.
24 T
162. 'Ver John R. Gregg ,e F. T. G. Harris, orgs., Form and S trategy
in Science.' Studies Dedicated toJoseph Henry Wóodger (Dordrecht- D
Reidel, 1964), p. 4. .N '
163. Muitos anos depois, Hayek .disse-me que foi Gottfried von Ha-
berler (posteriormente professor em- Hârvárd) queih3 no ano de 1935, cha
mou-lhe a atenção para L .-d . ÍV...
164. Gp. Bertrand . :H&thpineism” ,&Proceedings
of the Aristotelian Society, '36.::(1936)3 131-50;'; M m ^ dizem
respeito especialmente às ,pp.vl46^e ss:- i- <■ ' -u .-■*
165. No Congresso dé Cojiieniiàge y-— oim ^ôongressoí de filosofia í -cien
tifica -— um senhor norte-àínéricáíib, 'muito agradável,' mostrou grande inte^
resse por mim. Disáè-mè élè\ qüe era., o .representante :^d&\iRbçkeféller Fòün-
dation e deu-me seu cartão: “ Warrén^Wéaver,/^he: íiufopean -of the Roòke-
feller Foundation” (sic)~ I sso nâda :significou para5mimpeu nunea tinha
ouvido falar de fundações e. do trabalho a que se "dedicam. (Eu era, apa
rentemente, muito ingênuo.) Só anos mais tarde dei^me-GOnta-deque^se
houvesse entendido o significado daquele encontro*;talvez ^ivésse^ido^para:
os E.U.A., em vez de viajar para a Nova Zelândia. ; ”
166. Minhas palavras iniciais, proferidas íio .
realizei na Nova Zelândia, fòram publicadas p o s t e r i o n n e n í p "
( a ) ] e formam agora o cap. 15 de C . & R. [1963 ( a ) ] é ediçôés posteriores.
167. Cp. [1938 ( a ) ] ; [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] , Apêndice•'* i i . :r
168. Gp. H. voa Halban Jr., F. Joliot e L. Kowarsky, “Liberation of
Nêutrons in the Nuclear Explosion of Uranium”, Nature, 143. (1939), 470 e s.
1969. K.arl K. Darrow, “Nuclear Fission”, Annual- Report of the Board
of Regents of the Smithsonian Tnstitution ("Washington, D.C.: Government
Printing Office,. 1941), pp. 155-59. .
170. Ver nota histórica em The Poverty of Historicism [1957 ( g ) ] ,
p., iv;, ed. .norte-americana [1964 ( a ) ] , p. v.
171- Essa relação ,é brevemente descrita em palestra feita por mim
na British Academy [1960 ( d ) j , ‘ agora-Introdução a. C. & R. [1963 ( a ) ] ;
ver seçõevll e III.
. 172. Ver L. df F.. [1934 ( b ) l , pp. 227 e s:; [1959 ( a ) ] , p. 55, n . 3 à
seção 11; [1966 ( e ) ] , p. 27. V er ainda [1940 ( a ) ] , p. 104 ,[1963 ( a ) ] , p-
313, onde o método. de prova é apontado como essencialmente çrítico, isto
é, referido em termos de método de encontro de erro.
173. Usei, com freqüência maior do que a necessária, a feia paiavrà
“racionalista” (como em “atitude racionalista” ) onde “racional” seria mç-
lhor e mais claro. A (m á) razão disso foi, segundo creio, o fato de estar
argumentando em defesa do “racionalismo”.
174. V er O. S.,
vol. II [1945 (c)3 e edições posteriores, cap. 24
(cap. 14 da edição alemã, [1958 (i)'J ).
-175. Adrienne Koch usou “Criticai Rationalism” como título de excer
tos de O, S., por ela selecionados para seu livro Philosophy for a Tirrie of
Crisis, An Interpretation witk Key Writings by Fífteen Great, Modérti:
T h in k e r s Nova Iorque: Dutton & Co., 1959), [1959 (k.)]. .
176. Hans Albert, “Der kritisçhe Rátionalismus Karí Raimund -Pop-:/
pers”, Archiv für Rechts und Sozialphilosophie, 46 (1 9 6 0 )3 9f-415. ' Hans;
Albert, Traktat über kritische Vernunft (Tübingen; Mohr, 1968 e ediçQes
posteriores).
177. Na quarta edição de O . S., [1972 (c)3, [1963 (1) e (m )] e em
edições posteriores, figura um * importante Âddendum ao segundo volume:
“Facts, Standards, and Truth: A Further Griticism òf Relativism” (pp.
369-96), que, pelo que sei, tem sido ignorado por. quase todos.
178. Hoje, encaro a análise da explicação causai, dada na seção 12 de
L. d. F. (e, conseqüentemente, as observações feitas em T h e P overty e em
outros escritos) como superada por uma análise que se baseia em minha
inteipretação da probabilidade em termos de propensão, [1957 (e) ], [1959
(e )l , [1967 (k) L Essa interpretação, que ‘ ‘pressupõe a áxiomatização por
mim feita do cálculo de probabilidades (ver, por exemplo, [1959' (e)3, p.
40; [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] , apêndices * iv e , . * v j , permite-nos pôr de
lado o modo formal de falar, colocando as coisas, de maneira mais realista.
Entendemos que
(1) p ( a, b ) — r
significa: “a propensão de o estado de coisas (ou condições) b produzir a é
igual a r.” (r é um número real.) Um enunciado como (1 ) pode ser uma
conjectura; ou ser deduzível de alguma conjectura; será, por exemplo, uma con
jectura acerca de leis da Natureza.
Podemos então explicar casualmente (num sentido generalizado e mais
fraco de “explicar” ) a como devido à ; presença de b, ainda . que r não
seja igüal a 1. O fato de b ser causa clássica ou completa ou determinista
de a pode ser asseverado através de. uma conjectura como
(2) p ( a, bx) — 1 para todo x
onde x abrange todos os possíveis estados de coisas, inclusive estados incom
patíveis com b. (Nem é preciso excluir “impossíveisJ> estados'de coisas. )■ Isso .
mostra as1vantagens de uma axiomatização como a que propus, na qual o
segundo argumento pode ser incongruente.
Essa maneira de colocar o assunto é,. claramente, uma generalização de
minha análise de explicação causai. Permite, além disso, enunciar os "c o n
dicionais nômicos” de vários tipos — do tipo (1 ), comi r menor do que a
unidade; do tipo (1 ), com r = 1; e do tipo (2 ). (Oferece, portanto, uma
solução para o chamado problema dos condicionais contrafactuais.) Habi
lita-nos a resolver o problema.de Kneale (ver [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) 3,
Apêndice * x ) , que consiste em distinguir entre enunciados acidentalmente
universais e conexões naturalmente ou fisicamente necessárias, tal como foi
apontado por (2 ). Note-se, entretanto, que podem existir conexões fisica
mente não-necessárias que, a despeito disso, não são acidentais, como (1 )
com um r não muito distanciado da unidade. Ver, ainda, a réplica a Suppes,
em minhas Replies.
179. Ver, •também, T h e Poverty , [1957 (^ ) í , p* 125. Cumpre fazer
alusão a J, S. MilI, A System of L o g ic , B.a ed., Livro III, cap. X II, seção I.
180.Ver Karl Hilferding, “Le fondement empirique de la science”,
R evu e 110 (1936), 85-116. Nesse- artigo, Hilfer
des questions scientifiques,
ding (um físico-quimico) explica longamente minhas -concepções, das quais
se aparta por admitir probabilidades indutivas, no sentido de Reichenbach.
181. Ver também Hilferding, “Le fondement empirique de la science-”,
p. 111, com uma referência à p. 27 (ou seja, seção 12> da l A ,ed. de
L . d . F., [1934 ( b ) L •
226
182. Ver The Poverty, [1957 (g)J , pp. 140 e s , , e. 149 :.e s.-y mais
amplamente desenvolvidas no cap.: 14 de >0. S., [1962^(ç) e :(d )];í [1963^ (1)
e'-(m )3 ; [1966 (i)3 ; [1967. (d)J-; [1968>;l(r )'] .(agora, C1972’ cap. 4)_;
[1969 ( j ) ] e em várias conferências nãorpubHcadaSj:ipmferidas íínavLòndon
‘ School of Economics e ém outros -centros. -^ = ; ,r/•'
183. Ver [1957 (g) 3, seções 31'j e;/21, jespec^Típp;-i49i/e'->154i e-s* •.
184- Ver vol. I I de [1962 (c ) ],'[1 9 6 3 " (1)7 e (n i )]^ pp. 93-99 é éspec.
pp. 97 e s. . • ’ * y f .-“-m ^
185.. Ver [1950' s! í I Ú 9 5 2 ' X a ) X - V í W ' P P ~ * ; •
186. V e r [1957 ( g ) 3,. seções 30-32:-'[-1962 (c-)‘]"'.e;; mais '.recentemente,
[1968 (r)3 e [1969 (j)3 . - > - — - ~ 1
187. Foi tal situkção. que, em? 1945, levou-mè;;'à publicação' de um
panfleto, Research and thé JUhivérsity; ' ' [1945 (é)T/~ esb'ô£adô~ por^mim em
colaboração com Robin S;.AÍIan' fe Hugh"Partonr:‘è ;assihãdóf depois vdé .aigumàs
pequenas, alteraçõe.s, por Henry Fordér "e“outros.':AT:'situàção- logo f-sé -^alterou
na Nova Zelândia, mas, no eniretempo, eu havia deixàdo^ aquele^pais^^yiájãhdò
para a Inglaterra. (Acrescentado em 1975: um relato ■acerca: desse‘/pãrífíeto
é feito por: E: T. Beardsley, in A History of the University of rCanterbury,
18f3-1973, obra editada por "W. J. Gardner et al. ( Ghristchurch, N.IZ.i U rii-
versity of Canterbury, 1973).) ' ’ v; ;
188. V er espec. [1947 (a ) 3 e [1947 (b )3 . Fui levado a realizar: esse
tçabalbp ém parte devido a problemas de teoria das probabilidades: as regras
de “dedução natural” , estão estreitamente associadas às definições cúmuns.da
Álgebra booleaná. Ver também artigos, escritos por À. Tarski em 1935 e
1936, que agora constituem os caps. X I e X I I de seu livro Logic, Semantics,
Metamathematics, trad. de J, H. Woodger (Londres e Nova Iorque: Oxford
University Press, 1956).
189^ [1960 (b ) e (c)3.
190. [1946 (b )3 ; cap. 9 . de [1963 ( a ) 3 e edições posteriores.
191. As atas da reunião nãosão inteiramente dignas de, crédito. Por
exemplo, indica-se como título de meu artigo (e assim. figurou na listá im
pressa das reuniões), “Methods in Philosophy”, em vez de “Are there Philo-
sophical Problems?”, que foi o título dado por mim. Além disso, o secre
tário. julgou que eu me estivesse^ queixando de o seu convite ser para um
brevé artigo, que serviria de introdução a um debàte — o^ que, em verdade,
considerei muito conveniente. O secretário nao me entendeu (enigma versus
problema).
192. Ver C. & R., [1973. ( a ) ] , p. 55.
193. Ver p. 167 da resenha dé O. S., feita por G. Ryle, em Mind,
56 (1947), 167-72.
194.Logo no princípio do curso, ele ;formulou ' e . demonstrou a vali
dade da regra metalingüistica de demonstração indireta (ou por absurdo):
Se a decorre logicamente de não-o, entãó
a é demonstrável.
195. Agora em Tarski, Logic, Semanticsj Metamathematics, pp. 409-
-20 (ver^ n. 188, acima).
... : .196. . Ib.id., pp. 419: e s.
227
':í>l-.197.-;:-Vèr [1947 (a)3, [1947 ( b ) ] } [1947 ( c ) ] , [1948 (b ) 1, [1948
(c) ], [1948 ( e ) ] [1948 (f ) ]. O assunto fdí agora mais bem estudado por
Lejewski. Ver o artigo “Popper s Theòry of Formal or Deductive Interference” ,
in The philosophy of Karl Popper^oig. por Paul Arthur Schilpp, pp. 632-70.
198- O erro rèlacionava-se com as regras de substituição ou de repo
sição de expressões: erradamente, pensei que bastasse formular essas regras
em termos de interdeduzibilida.de, enquanto, ná verdade, fazia-se necessária
uma identidade (de expressões). Para explicar esta observàçãp: postulei, por
exemplo, que se num enunciado a duas. subexpressÕes (disjuntas) x e y
são passíveis, onde quer que ocorram, de reposição por uma expressão z, en
tão a expressão resultante (contanto que seja um enunciado) será interde-
duzível, resultando na reposição de #, onde quer que ocorra, por y e, ã
seguir, d e . y, onde quer que ocorra, por z. Eu deveria ter postulado que
o primeiro resultado é idêntico ao segundo. Dei-me conta de que isto seria
mais forte; erroneamente, julguei que . a regra ■mais fraca bastaria. A inte
ressante (e até agora inédita) conclusão a que fuiposteriormente levado,
ao repaíar esse erro, foi a de que havia uma diferença-essencial entre a lógica
prpposicional e a lógica dos predicados: enquanto à lógica proposicional
pode ser construída com uma teoria de conjuntos de enunciados, eujos ele
mentos são parcialmente ordenados: pela relação de deduzibilidade, a lógica
funcional requer, além disso, uma abordagem especificamente morfológica,
poJ rquanto deve referir-se à subexpressão de uma expressão, empregando um
conceito como o de identidade (com resppito a expressões). Entretanto, nada
mais é necessário além das noções de identidade e dç subexpressão; não se
requer uma descrição ulterior,.. especialmente ;íio que Se refere à forma, das
expressões.
199. [1950 (d )].
200. [1950 (b ) e ( c ) ] .
201.. Ver Kurt Godel, “A Remark Abóut the Relationship Between
Relativity Theory and Idealistic Philosophy”, hi Albert Einstéini Philosopher-
-Scíjéniisi, pp. 555-62 (ver n. 122, acima). O.S argumentos dê Gpdel eram
(a) filosóficos, (b ) baseados nateoria especial (ver, em particular, sua n. .5 ),
e ( c■) baseados em suas novas soluções cosmológicas das equações de c
de Einstein, ou seja, na possibilidade de existirem órbitas quadridimensio-
nais fechadas, num universo godeliano (em revolução) tal como por ele
descrito em “An Example of a New Type of Gosmological Solutions of
Einstein’s Field Equations of Gravitation”, Reuiew of Modern Physics, 21
(1949), 447-50. (Os resultados (c )- foram contestados por S. Ghandrasekhar
e James P. Wiright, “The Geodesics in Godel's Universe”, Proceedings of the
National Acadèmy of Sciences, 47 (1961), 341-47. Note-se, porém,, que ainda
que não sejam geodésicas as órbitas.fechadas de Godeí, isso não constitui, por
si só, uffla refutação de suas concepções; uma órbita gõdeliana nunca pre
tendeu ser inteiramente balística ou gravitacionaJ: mesmo a,, órbita de um
foguete qué se dirige para a Lua só o ; é parcialmente.)
202. Gp. Schijpp, org., Albert Einstein: Philosopher-Scientist, p. 688
(ver n. 1.22, acima). Nao só concordo com Einstein, mas iria mais longe,
dizendo o seguinte: Fosse a existência (em sentido físico) das órbitas de
Gòdel uma conseqüência da teoria de Einstein (o que não se dá), esse fato
deveria ser contraposto à teoria. Não seria, por certo, um argumento con
clusivo: isso não existe. E talvez tenhamos de a.ceitar as órbitas gõdelianas.
Penso, porém, que, em tal caso, deveríamos buscar alguma outra alternativa.
230
225. Isso se aplica também à validade de:s algumas.; régraç.i muito , sínir
pies, regras cuja validade tem sido. n^ada^por^alguns>filósofos,.em * b »* -'
intuitiva (espec. por.G. E. Moore).; áv.inaist;5Íinplè^^die7:;:tódas}íiesàas regrás=.é:
de qualquer enunciado a podemos legitiriiàméntè deduzir o próprio « k Aqui
se pode mostrar facilmente a impossibilidade.-de construir íüm^contra^exem-
.pio. É uma questão particular a ;, pessoa- aceitar jSil^não este argumento;
Quem não aceitar, estará, simplesmente-errádo.^,Ver também ^rneu^t 19,47 (a );].
226. JEu disse coisas como éssa'répètidas -vezes,' a partir*KlJil-'tí934'i-í(b)!l ,
seções 27 e 29, e [1947 ( a ) 3 ' ^ ;yeF tl â68:^ " . ( ? £ ? ) , ! ' 3 . ) ^ ' P; ‘
ex.; e sugeri que aquilo que chàméi- d é ^ ^ r a u de . corròboraçao " d e u n i à
hipótese h, à. luz de provas òu”dà^fevidêhcia\ e'J, [pòdé /$er/'mtér£retado como ...
um informe abreviado' das aátefioreV discussões"f críticas" dátWpótése h, à
luz" das provas e. (C p:'J'rin. ' 156^150^ da;'1"seção 20' acima, '"e /tekto.')/' Assim/'
escrevi, p. ex:, em X,. S c .D ^ X . 1959 p/'41.4:v “ .Ir. /- (?(/i;£)í'"’só 'pódeijser
adequadamente/ mtctpfetàtíò"'coiriâi^grau^ de corroborkçãò" \ d ^ . k ; ôá>
racionalidade de ■riòssâ' creriçá trn .Hy k luzJde. testéã — se •'é'JcÒnsistir - cie ihfòr^
mes do resultado de sinceras tentàtivas de refutar A. .^ ’^'Em 'butfas palavràá,
só um informe de discussão sinceramente critica’-pode •serí.èorisidêradcT^detet^:- '
minante, ainda qüe parcial, do grau de racionalidade' . ( de^nòssan crença ;ãemk
/i). N a passagem citada (diversamente da terminologia empregada noçtekto),.
usei as palavras “grau de racionalidade de nossa crença^: queXdevenàmsen
ainda mais claras do' que “crença racional” ; ver também -"
explico esse ponto e torno suficientemente clara minha atitude' ..objetivista^
creio eu (tal como fiz ç.d nauseam em outros locais). Não obstante, a passa
gem referida foi interpretada (pelo prof. Lakatos, “Ghanges in the. Problem
o£ Inductive Logic”, in Problem of índuetive Logic, org. por Lakatos, n. 6, p.
412 e s. [ver n. 41, acima] como um sintoma do abalo de jméü objetivismo
e como indicação de que estou sujeito a lapsos subjetivistas. Greiò que é
impossível evitar todos os mal-entendidos. Fico a imaginar como serão inter
pretadas minhas observações atuais acerca da falta de significação da crença.
227. V er espec. meu. 119.71 ( i ) ] , agora cap. 1 de [1972 ( a ) ] .
228. . Ó que denominei “ concepção da moda” remonta a J. S. Mill.
Para formulações modernas, ver P.- F. Strawsori, Jntroduction to Logical
Theoiy (Londres: Methuen & Go,, 1952; Nova Iorque; John "Wiley & Sons,
1952), pp. 249 e s.; Nelson Goodman, Fact, Fiction and Forecast (Cám-
bridge, Mass.: Harvard University Press, 1955), pp. 63-66;' e Rudolf Gar
nap, “Inductive Logic and Inductive Intuition”, ih Problem of Inductive
Logic, org. por Lakatos, pp. 258-67, paríiculaçmente p. 265 (ver n: 41
acima).
229. Essa me parece uma redação mais cuidadosa de um dos argu
mentos de Garnap; ver Garnap, “Inductive Logic and Inductive Intuition”,
p. 265, uma passagem . com o seguinte início: “Creio que apelar para o
raciocínio indutivo, em defesa do raciocínio indutivo, é não apenas legítimo,
mas indispensável” .
230. Ibid.i p. 311. .
231.. Para o “caso confírmador” de Garnap, ver meu £7. & i? t l 96 3
( a ) 3, pp. 282 e s. O que Carnap; s'derioinihà><“eáso: íconfirmádc(F, de^uma
lei (ou de uma hipótese universal) veqüivMe,:( vd e :ífá{ò,^" áoíí:,§:rãü' ':íde "•confir^ :
mação (ou probabilidade) do caso seguinte dà. l d f isso tèiide pára 1/2, óü
0,99, contanto que a freqüência relativa dos casós^.'favbráyéb'i-^^iyáã&s -.'se"'
aproxime, respectivamente, de 1/2 ou de 0,99. Como conseqüência, uma lei
que! é refutada por iim em cada dóis casos seguidos (ou por um em cada
cem casos) tem um a' confirmação (por casos), que se aproxima de 1/2 ou
de 0,99; o que, naturalinente," é absurdo. Expliquei isso pela primeira vez
em [1934 ( b ) ] , p. 191, ou sèja, [1959 ( a ) ] , p.-. 257, muito antés de Carnap
cogitar de casos de confirmação, numa discüssão acerca .das várias possibi
lidades, de atribuir' “probabilidade” a uma jhipótese; eu disse, então, que
essa conseqüência era “devastadora” para tal idéia de probabilidade. Pertur
ba-me a resposta dáda r por Carnap à minha observação, em Problem of
Inductive Logic, org. por Lakatos,: pp. 309. e s. (ver n. 41 acima). Aí,*
falando acerca de easo confirmador, Carnap diz que seu valor numérico “é
( . . . . ) uma importante característica da lei. No exemplo de Popper, a lei
que se vê em média satisfeita por metade dos casos tem, com base em
minha, definição, não a probabilidade 1/2, como P o p p e r erroneamente acre
dita, mas a probabilidade zero.” Mas embora tenha o. que Carnap (e eu),
chamamos “probabilidade zero”, tem também o que Carnap denomina “con-v
firmação por casos igual a 1/2” ; e esse era o pontó em discussão (embora
eu tenha usado, em 1934, o termo "probabilidade” na crítica da fundação
que Carnap, muito depois, denominou “caso confirmador” ).
232. Sou grato a David Miller por apontar-me essa. característica de
todos os sistemas de Hintikka. O primeiro antigo de Jaakkb Hintikka a res
peito do assunto. f o i. "Towards of a Theòrj^of Inductive Genefalizatiqn” in
Logic, Mèthodológy and Philosophy of Science, org. por. Yehoshua Bar-
-Hilleí (Amsterdã: North-Holand Publishing Co,, 1964), vol. II, pp. 274-88.
Amplas referências - podem ser .encontradas, em Risto Hilpinen, “Rules of
Acceptance and Inductive Logic”, Acta Philosóphica Fennica, 21 (1968).
233. Segundo a posição adotada por- Carnap, em aproximadamente
1949-56 (pelo menos), a Lógica Indutiva é analiticamente verdadeira. Se
assim acontece, entretanto, não sei como d suposto grau racional da crença
há de sofrer transformações tão radicais como de zero (descrença extrema)
a0,7 (crença média). De acordo com as últimas teorias de Carnap, “a
intuição indutiva” atua como um tribunal de apelação. Apresentei razões
para mostrar quão irresponsável e tendencioso . é esse tribunal. de apelação;
ver meu [1968 (i)J , espec. pp. 297-303.
234. Cp. Fact, Fiction, and Forecast, p: 65 (ver n. 228 acima).
235. 1Ver [1968 ( i ) ] . Para minha teoria positiva da corroboração, ver
final da seção 20 acima e, ainda, o final da seção 33, espec.. n. 243 e texto
correspondente.
236. Ver [1957 ( i ) ] e [1969 (k )], agora reimpresso como cap. 5 de
[1972 ( a ) ] e [1957 (1)].'
237. Ver [1959 ( a ) ] , fim da seção 29 e p. 315 da tradução de
[1935 ( a ) ] , aí em Apêndice; * i, 2, p.p. 315-17; ou [1963 ( a ) ] , Introdução;
e, abaixo, n. 243 e texto. . (■
238. Pronunciei um ciclo de palestras a respeito desse problema espe
cífico — crítica sem justificação---- no Instituto de Estudos Avançados de
Viena, em 1964.
239-, Ver espec. [1957 (i) ] e [1969 (k)l7'agora cap. 5 de [1972 ( a ) ] ;
cap.10 de [1963 ( a ) ] ; e cap. 2 de [1972 ( a ) ] . Ver n.165a em minhas
Replies.
240.. Ver [1934 (b)3, p. 186; [1959 ( a ) ] , /p. .252 (seção 79).
232
241. Cp. [1958| ( c ) ] , , 11 9 5 & **•;(y í a ■ ^ í 2 ^ i ^ ^ a p s K ? H 8 : ^ . j d e
[1963 ( a ) ] . .]. - . • .
242. A expressão “programa dê'-'"pesquisa'' fhetafísica” " ' for^üsada em
minhas conferencias, ■aj partir, de" 1949;Tr,se flãó:í'.antès^^DiasiShãò^SapáreGéli em-
lçtra de forma até 1^58, embora •
capítulo de posfscript i(em provas ' t í i k > g r á £ { e á ^ ' ] ^ é á d ^ ! ^ ^ r
a', conhecer a meus colegas e o p rofessor" Làk atos^Vrfeçí)íiheeevf;qüe''o ^ q iiés:e1e^-
chama de "programas j de pesquisa científicá” fcólòéa^se^na; ^tradi^ãb^dqvVque
eu chamei “programa^ de pesquisa metáfísicà?J^(í^^^
-falseável); Ver p. 183 de seu artígò •
Scientifíc Research Programmes”, in •Critieisrri
org. p or Im re Lakatos e A la n M usgrave ( C am bridge: í; r<É^^B.||dgé^'.!yriiyÉr-/-'
sity. Press, 1970).
243. Note-se, .dtj passagem, que os realistas ^acreditaim;®^
verdade (e os que iaçreditam na verdade
Cl063 (a ) 3, p. 116) -I—: chegam a saber que há f*tantesV-:l!eHlm^aã^^vé^^^.
deiros quantos os falsòs. (Para o que vem a. seguir, -vercljwhjd)^ ■
seção 20 acima.) Um a vez que o propósito deste
discussão entre meus críticos e mim, caberá, talvez aludir, brevei^nt^àí-^se^ú
nha de minha L. Jcj D. feita em Mind, 59 (1960), 99--Jl0.1"íi ;G-\ jt
Warnock (ver também' n. 25 .à seção 7 acima). Lemos, . ali, Vna]vp.í: 100,,
a respeito de minhas j concepções quanto ao problema dà irtdüçãòl^“C)ra,
Pbpper d iz . enfaticamente que esse. tradicional problema . é insòluVeÍ. ^ ’ ,r
Estou seguro de que jjámais disse isso e muito menos enfaticamêhtéiVfíSérapre;
tive a pretensão de. realmente ter resolvido o problem a no livro ':quéyfíéra:
objeto da resenha. Máis adiante, na mesma página, Iemòs uI.Popper] afirnia,
acerca de suas própriajs concepções, não que elas oferecem uma solução pára
o problema-de Hume,| mas que elas não permitem que ele exista”. Isso :'am-
flita cora'a sugestão, feita no .início de meu livro (espec. nas seções 1 e 4),’
segundo a qual aquilo que denominei problema da indução, de Hümé‘ é
um do? dois’ problemas fundamentais da teoria do conhecimento. Posterior^
mente, chegamos a uma versão bastante boa de minha maneira de . formular
esse problema: “como ( . . . ) podemos justificadamente dar como verdadeiros*
ou mesmo como provavelmente verdadeiros, os enunciados gerais de .« (...:) ;
uma teoria científica” . Minha resposta direta a essa questão foi: não Kâtfús*.
tificativa, {Contudo, por vezes, há justificativa pará preferirmos uma teoria,
ém vez de outra teoria rival; ver o texto a que esta nota se refere. );N ã ó
obstante, a resenha prossegue, afirmando: “Nao há, su&tenta Popper»; .espe
rança de responder a essa pergunta, pais ela requer que resolvamos o insó-
lúvel problema da indução. Diz ele, entretanto, que é desnecessário e : eríôriéo
formular a pergunta.” Nenhuma das passagens por mim citadas .préténde
ser crítica; pretende, antes, relatar o que eu “disse enfaticamente” ; ‘‘tiès6jo
afirmar” ; “sustento” e “afirmo”. Pouco mais adiante, na resenha," a:.critica
principia com as palavras: “Ora, elimina isso o 'insolúvel' problema-.-daiinâtiT:
ção?” . . .
Já que se fala do assunto, mencione-se, ainda, que o comentarista’: còn-,
centra a crítica que faz a meu livro na tese seguinte, que aqui ^registro rtém-
. grifo (p. .101; a palavra “confiar” significa, tal como o cohtextòí^mostrài-
“confiar para o futurò” ) : “Popper evidentemente admite, o que^stá,Sàliásj4inisí
plícito em suas expressões, que estamos autorizados a confiarei-pará" 'ò^futúro]';
numa teoria bem corroborada.” Eu jamais admiti qualquer coisa^lsigirnÈlHá^èí!'
A s s e v e r o apenas que uma teoria bem corroborada
(que foi criticamente dis
cutida e comparada com suas rivais e que, até agora, “sobreviveu” ) é racio
nalmente preferível a uma teoria menos bem corroborada; e qué (a menos
que se proponha uma nova teoria «rival) não há, para nós, melhor caminho,
aberto senão preferi-la e agir com apoio nela, ainda que saibamos que pode
deixar-nos na mão em alguns casos futuros. Assim, tenho de rejeitar
a crítica
do resenhador, dando-a por baseada num coippleto desentendimento de meu
texto, provocado pelo fato de ele ter colocado seu próprio problema da
indução (o problema tradicional) no lugar do meu (que é muito diferente).
Ver agora também [1971 ( i ) l , republicado como cap. 1 de [1972 (a )],.
244. Ver Ernst Mach, Die Prinzipien der Wãrmelehre (Leipzig: Barth,
1896), p. 240; na p. 239, a expressão “filosófico geral” é identificada a
“metafísico” ; e Mach sugere que Mayer (a quem muito admirava) foi inspi
rado por instituições “metafísicas”.
245. Ver “A Note on Berkeley. as Precursor of Mach” ( [1953 ( d ) ] ;
agora. cáp. 6 de [1963 ( a ) ] .
246. Ver Schrodinger et> al., Briefe zvr W ellenmechanik, p. 32; utili
zei rainhas' próprias traduções, mas a carta pode ser encontrada, em; inglês,
na ed. inglesa, Letters on Wave Mechanics, pp. 35 e s. (ver n. 208 acima),
A carta de Einstein é datada de 9 de agosto de 1939.
247. Gp. Erwin Schrodinger, “Die gegenwàrtige Situation ín der Quan-
tenmechanik, Die. Naturwissenschaften, 23 (1935), 807-12, 823-28, 844-49.
248. (Grifo meu.) Ver a carta de Einstein a que se alude na n. 246
acimá e sua carta, em termos bem semelhantes, de 22 de dezembro de -1950,
no mesmo livro, pp. 36 e s. (tradução pp. 39 e s.). (Note-se qúe Einstein dá
por assente que uma teoria^ probabiíística há de ser interpretada subjetiva
mente se referir-se a um caso único; esse é um ponto a . respeito do qual
ele e eu discordámos desde 1935. Ver [1959 (a).3, p. 459, e minha nota
de pé de página.) *
249. Ver espec. ás referências às concepções, de Franz Exner, em
Schrodinger, Science, Theory and Man, pp. 71, 133, 142 e s. (ver n.' 132
acima).
250.' Cp. meu artigo “Quantum Mechanics withoüt *The Obsérver’ ”,
[1967 (k)3, onde se encontram referências a óutros escritos meus, concer
nentes ao mesmo assunto (especialmente [1957 (e)3 e E1959 (c )3 ).
251. A carta de Van der Waerden está datada de 19 de outubro
de 1968. (Trata-se de uma cartà em que ele inclusive me critica por mo
tivo de uma errônea referência a Jacob Bemoulli, na p. 29 dè [1967 (k )3 .)
• 252. De vez que esta é uma autobiografia, talvez caiba mencionar que.
em 1947, ou em 1948, recebi uma carta de Victor Kraft que, escrevendo em
nome da Faculdade de Filosofia da Universidade- de Viena, indagou-me se eu
estaria preparado para assumir a cátedra de. Schlick. Respondi que não
deixaria a Inglaterra. .
253. Max .Planckquestionou a competência de Mach como. físico,
mesmo dentro do seu campo favorito, a teoria fenomenológica do calor. Ver
M . Planck, 1Zur Machschen Theorie der physikalischen Erkenntnis”, Physi-
kalische Zeitschrifty 11 (1919), 1186-90. (Ver, ainda, o artigo anterior de
Planck, “Die Einheit des physikalischen Weltbildes”, Physikalische Zeitsckrift,
10 [1909J, 62-75; e a replica de Mach, “Die Leitgedanken .meiner wissens-
■;'2M
chaftlichen Erkenntnislehre und ihre Aufnahme durch die Zeitgenossen” ,
Physikalische Zeitschrift, 11 tliJIO], 599-606.')'. • ;<►
.•......... .
254. V er Joseph. Meyeiihôfer^^Eimsf-^-Machs^^Bifüfúhg^ráh^-diê^^iéheil
Universitat, 1895”, in Symposiurtt ‘~áus ' Ahlàss âès " 50':rPTòdestãgèY' v o n E r m í‘
Mach (Ernst Mach Institut, Frfeiburgjí^inffífiréi^au^^ô&JfE^p^J^^Sí^íiJrná^
encantadora biografia, (alema)-.. de..v.Bdltómãhrif;:>é^'àV.^
Boltzmann (Viena* Frani--'Deutíékè^^l^SS1) ss/ T ’/M t ! - ; ' -
255.. Ver n. 256 e .íL. 2í>l fàbaixo;',^,::;v ''';^ ' Yv':'V-
256. Ver E..“Zermelpi' '■■itíeciha*
-nische Wãrmetheorie”,: .JViédétnànnsàkèifânnaleh;} fs5%\
(1896),' 485^94. Vinte- ;. a h o s a rite s ^ d é v Z è rrá í^ © ^ £ L o ^ h m id t^ ^ ^ ^ ig ò ^ d e ;í;
manri, hayia -assinalado^que, .invertendo; 'tofl^/^^ye^õ^d-^â.és iunüi^?gá«i-y'p^érS%V-: ‘
fazer còiri.. que esse'‘gás£ésç<^?fo,,Avessas, : r é s t à b é l é p è n i ^ j è s t a d o ?dê-
' ordem do qual•.présüimveimraté;;.partíu:^ài&t^hèg^^kílèrôrdêBtt^^^
de Loschraidt. é denominada “ objeção^; dá^^^i^ibjiÜdadé^^iHlu^tD^-vav^de -‘í v.
Zermelo é chamada “objeção da ^re<»rrèncià?^'^'V> :.
257. Paul e Tatiana Ehrenfest, “Über zwei^t bèkahnte y’Ein\Vànde^^gegen; :.
das Boltzmannsche . H-Theorem51, Physikalische Zeitsehrifty Ji ' ;-(:i:907 )y; •3 Ulfl 4v-
258. Ver, p. ex., M ax Bom, Natural' Piiüosoph:^':;6ff:Gàüàjè-{'and-!'Ckinpe •:.
(Oxford: Oxford University Press, 1949), quê escreve, à jj. ôSj ^.Zerrneio^
m atemático alem ão que se ocupou de problemas abstratos, comò os .da tebíiá.
dos conjuntos e dos números transfinitos, de Cantor, aventurou~se: ao campo
da Física, vertendo para o alemão a obra de Gibbs acerca dè Mecânica ;ÉÍtaj
tística.” Notem-se, contudo, as datas: Zermelo criticou Boltzmann em 1896 ;
publicou a versão de Gibbs, a quem elé muito admirava, em 1905; escreveu
seu primeiro artigo a respeito dé teoria dos conjuntos em 1.904 e o segundo
soraente em 1908. Assim, era um físico, antes de tornar-se um matemático
“abstrato” .
259.- Gp. Erwin Schrõdinger, “ Irreversíbility” , Proceedings of the Royal
Irish Âcademy, 53A (1950), 189-95.
260. Ver Ludwig Boltzmann, “Zu Hrn. Zermelo’s Abhándlung: 'Über
die mechanische Erklãrung irreversibler Vorgánge’ ” , Wiedmannsche Annaíen
( Annalen der Physik), 60 (1897), 392-98. O ponto central da passagem' é
repetido em seu Vorlesungen über Gasiheoriè ( Leipzig: J. A. Barth, 1898),
vol. I I , pp. 257 e s.; aqui também utilizei minha própria tradução, mas a
passagem correspondente pode ser encontrada era L. Boltzmann, Lectures
o7i. Gas Theory, tradução de Stephen G, Brush (Berkeley e Los Angeles:
University of Califórnia Press, 1964), pp. 446 e s .
262. A melhor demonstração que Boltzmann ofereceu de d S /d t^O
baseou-se na chamada integral de colisão. Esta representa o efeito mêdiò
exercido sobre uma só molécula do sistema de todas as outras moléculas' do
'gás. Minha sugestão é que: (a ) nao são as colisões que levam ao resultado
de Boltzmann, mas a média' como tal; a coordenada de tempo desempenha
üm papel, porque nao havia média antes da colisão e, assim, o aumento ;da
entropia.parece ser o resultado de colisões físicas. Minha sugestão é, além
disso, que, à parte a derivação de Boltzmann, (b ) as colisões entre as mo
léculas do gás não são decisivas para um aumento de entropia, embora o.
pressuposto de desordem molecular (que se faz presente através .da. tomada
da média) o seja; Admitamos, com efeito, que um gás ocupe*. em ítdado - •:
momento, a metade de um recipiente; dentro em pouco, éie “encherá” ^todo
235
o recipiente — inesmo que a rareíaçao seja tão grande que (praticamente)
as únicas colisões se dêem contra as parèdes. (As paredes são essenciais: ver
ponto (3 ) de [1957 ( g ) L ) Sugiro, ainda, que (c) é possível interpretar a
derivação de Boltzmann como’ significando què um sistema ordenado X
se torna quase certamente (ou seja, còm r. probabilidade 1) desordenado por
colisão com qualquer sistema Y (digamos, as paredes) que esteja em estado
aleatoriamente escolhido ou, mais . precisamente, um estado não correspon
dente, em todos ds-: pormenores, âo estado de'A!-,. Nos termos desta interpreta
ção, o teorema é, naturalmente, válido. Pois a “objeção da reversibilidade”
(ver.n, 256 acima) mostraria apenas q u e,p ara sistemas como X , em seu
estado desordenado, existe pelo menos Um outro sistema ( “correspondente” )
}' que, por colisão (inversa), faria o sistema X retornar a seü ■estado1 orde
nado. A mera existência matemática. (mesmo em sentido construtivo) deste
sistema Y, que “corresponde” a X , não cria- dificuldade, pois a probabilidade
de que X venha a colidir com um sistema correspondente a ele próprio será
igual a zero. -Assim,- o teorema-H, dS/dt 0 vale quase certamente para
todos os sistemas em c o lis ã o (Isso .explica por que a segunda. lei se aplica
a todos os sistemas fechados.) A “objeção da recorrência” (ver n. 256
acima) é válida, mas não significa que a probabilidade de uma recorrência
— de o sistema voltar a um estado'em que'anteriormente se encontrava -—
seja apreciavelmente superior a zero, para ^ p i sistetna de qualquer. grau
de complexidade. Continuam a existir, entretg.ilto, problemas em aberto* (Vjer
minha série de notas em Nature, [1956 ( b ) ] , Í1956 ( g ) l , [1957 (d )3 ,
[1958 ( b ) ] , . 11965 (f)J , [1967 (b ) e., (h )j e minha nota [1957 ( f ) ] , em
The British Journal for the Philosophy of Science.)
262. Ver. [1956 ( b ) j e seção 30 (a propósito de Schrodinger) acima,
espec, o texto correspondente às nn. 215 \e 216.
263. V er acima, seção 30. Fiz uma conferência a esse respeito,1para
a Oxford University Science Society, no dia 20 de outubro de 1967.Néssa
ocasião, apresentei também breve crítica do significativo artigo' de Schrodin
ger, “Irreversibility” (ver n. 259 acima); escreve ele à p. 191: “Gostaria
de reformular as leis da ( . . . ) irreversibilidade ( . . . ) de maneira tal que a
contradição lógica que aparentemente está presente em toda derivação de tais
leis a partir de modelos reversíveis seja afastada de uma vez para sempre.”
A reformulação de Schrodinger consiste numa engenhosa maneira (método
posteriormente denominado “método de sistemas de ramificação” ) de intro
duzir setas de tempo boltzmannianas por meio de uma espécie de definição
operativa; o resultado é o alcançado por Boltzmann. E o método, como o
de Boltzmann é poderoso demais: não resguarda (cómo pensa SchrÔdingèr)
a derivação de Boltzmann — ou seja, sua explicação 'física do teorema H ;
em vez disso, proporciona uma definição (tautológíca) da qual decorre
imediatamente a segunda lei. Dessa forma, torna redundante toda explicação
física da segunda lei.
264. Die Prinzipiender Wãrmelehrej p. 363 (ver -n. 244 acima).
Boltzmann nao é mencionado aí pelo nome (seú nome aparecé, com mo
derado elogio, na. p. seguinte), mas a' descrição do “movimento” ( “Zug” )
é inconfundível: elè descreve claramente a hesitação de Boltzmann. O ataque
de Mach nesse capítulo ( “The - Opposition betweenMechanistic and Phe-
nomenological Physics” ), se lido nas entrelinhas, é severo; e combina-se com
um fundo de auto-elogio e -comuma fé confiante em que o juízo da História
estará do seu lado; cómo, de fato, estava.
T
265. A presente. seção foi aqui acrescentada porque, segundo creio,
é significativa para. .a compreensão de meu desenvolvimento intelectual e,
mais especialmente, pâra a compreensão de.. jaainha xecente luta. contra o sub-
jetivismo na Física. ^
26.6. Ver Leo Szilard, “Über diè':Aüsdehiíutig dér:\PhãhòmenologÍschen
Thermodynamik auf die Schwaiâtungsièí^^êiáUii^è^^^i^ÀH/t'?''7ttr-- Phy-
sik, 32 (1925), 753-88 e “Ü ber' diê5'Eritrtípieve^Ítídérlüíí^;iri^%in£mVr;thermo-
..dynainischen System bei Émgiifífen ‘-MtéUièénteif .<ÍVéSfen4,> 53 ■(1929),
840-56; este segupdo :ai1igú^'Ítít''^^diMâ^iòdin^-^fiíljcr'?.de *'Òn';>t:lfé Décreàse
of Entropy in a Thei;modynainic Systêm^fb^iííie^.Intéi^ehtiòn^- ót Ihtelligetit
Beings”, B ehavioural ^cien ce, í9:- f(1?64^);|;K3Ol^iO^As". -concépções'; de 1.^Szilard
foram aprofundadas. ppr:.’ Brillouin V:Uncéríaihtyriand^ ^Information
(Nova Iorque: . Academic PressjU;1 :9 6 4 }Gréio£..entretanto, ^què: ^todas^-êssas
concepções foram clara-: e pròcedentementk; critifcádas^ípofc?; J.%J3v. -Fast, - En
tropy, reimpressão revista e. aUraentada .dar ;ZiS:.-Vfed’..r (iiondresí-^fMacmilíártj
1970), Apêndice 5. Devo esta referência ;'.a/:i5CÍTíéls'5,EggferS-í Hansén;*;” vv - ■■
267 . " Norbert Wienéí, Cyberneticsi or " Còhlrol'?& ^Communieation'-- mr
the Animal & the Maehine" (Gambridge, Mass.: MJ;T:^ vPrêss^-1948'), ' pp.'
44 e s., tentou combinar essa- teoria à. teoria de Boltzittarih|:^às'/ilão - creio
que as duas partes se tenham realmente conjugado no espaço lógicòí ^^ nem
mesmo no do livro de "Wiener^, onde se confüiatn a contextos: estritamente
diversos. (Poderiam conjiígar-se através do postulado de què aquilo quê - ^se
denomina dè consciência é essencialmente aumento de conhecimento, -ou sej a,
acréscimo de informação; mas não desejo encoraj ar uma especulação: idealista
e muito me atemoriza a fertilidade dessa conjugação.) Entretanto, a teoria
subjetiva da entropia relaciona-se estreitamente com o famoso demônio de
Maxwell e com o teorema H de Boltzmann. Max Born, por exemplo, que
acredita ■na interpretação original do teorema H, atribui-lhe um significado
(parcialmente?) subjetivo,. interpretando a colisão integral e “o estabeleci
mento de. média” (ambos discutidos na n. 261, seção 35, acima) como
"mistura de conhecimento, mecânico com a ignorância. de pormenor” ; essa
mistura de conhecimento e ignorância, diz ele, “leva à irreversibilidade”.
Cp. Bom, Natural philosophy of Cause and Chance, p. 59 (ver n. 258 acima).
268. Ver, p. ex., seções 34-39 e 43 de L. d. F. [1934 (b“)3, [1966 ( e ) ]
e de L. Sc. D., X1959 ( a ) ] .
2691 Ver espec. - [1959 (a)3 , novo Apêndice * xi (2 ), p- 444; [1966
(e) 3, p. 399.
270. Para a medida e sua função de aumento de conteúdo (ou de
aumento de informação), ver seção 34, de [1934 (b)3 e El959 ( a ) ] .
271. Pata uma crítica geral dos experimentos mentais, ver meu novo
Apêndice #xi de L. Sc. D., [1959 (a ) 3, espec. pp. 443 e s.
2.72. Tal como o pressuposto de que o gás consiste numa só molécula
M, o pressuposto de que, sem gasto de energia ou negentropia, podemos
introduzir, no cilindro* a partir de um de seus lados, um pistão, é livremente
usado . por meus opositores, nas suas demonstraçãos da convertibílidade: dè
conhecimento e negentropia. Aqui, ele é inofensivo; e não chega a . ser n e -:
cessário: ver n. 274 abaixo.
273:. David Bohm, Quànlum Theory (Nova Iorque, Prentice-Hall,
1951), p. 608, refere-se a Szilard, mas opera com muitas^ moléculas. íEIfc^não
se apóia, entretanto, nos argumentos de Szilard, mas, antes, na idéia geral de
que o demônio dç Maxwell é incompatível com a lei de aumento da entropia.
274. , Ver meu artigo. "Irreversibility,- or Entropy sinçe 1905”, [1957
( f ) ], artigo em que fiz espéciâi referência ao famoso- trabalho, de Einstein,
datado. dé 1905, acerca do movimento brownianò. Naquele artigo, também
critiquei, entre outros, Szilard^ embora não através do experimento mental
aqui usado. Eu : desenvolvera esse experimento mental algum tempo antes
de 1957 e ele fòi objeto de uma conferência, onde observei as mesmas linhas
do atual texto, conferência feita a convite do professor E. L. Hill, no Depto, die
Física da Universidade de Minnesota,
275. Ver P. K. Feyerabend, “On the Possibility of a Perpetuum M o
bile, of the Second Kind”, ín Mind, Matter, and Method; - Essays in Honor
of Herbert Feigl, org. por P. K. Feyerabend e G. Maxwell (Mínneapolis:
University of Minnesota Press, 1966), pp. 409-12. (Devo mencionar que a
idéia de . adaptar um fláp ;ao pistão (ver fjgura 3, no texto), para’ evitar
a dificuldade de ter de introduzi-lo por um dós lados, é uin aperfeiçoamento
que Feyerabend . . acrescentou à análise original que fiz do experimento-
mental de Szilard.
276. Samuel Butler. sofreu muitas injustiças dos evolucionistas, inclu
sive uma séria injustiça do próprio Charles Darwin que, embora muito abor
recido com isso, jamais a corrigiu. Ela foi corrigida, tanto quanto, possível,
pelo filhó, de Darwin, Francis,, após a morte de Butler. A história, que é algo
complexa, merece ser recontada. Ver pp. 167-21 & de Nora Barlow, org.,
The Autobiography of Charles Darwin (Londres: Goliins, 1958), espec. p.
217, onde se encontram alusões à maioria dos outros assuntos relevantes.
277. Ver [1945 ( a ) ] , seção 27.; cp. [1957 (g ) ] e edições posteriores,
espec. pp. 106-8.
278. • Estou aludindo às observações a; respeito da teoria evolucionista
feitas por Schrõdinger em Mind and Matert.,Especialmente as que ele designa
com as palavras "lamarckisrao disfarçado”’^ - ver Mind ■ and Matter3 p. 26.
e p. 118 da reimpressão., combinada, referida acima, n. 214.
279. A conferência C1961 ( j ) I foi feita no . dia 31 de outubro de
1961 e o manuscrito entregue no mésmo dia à Bodleian Library. Figura agora,
em versão revista, acompanhada de um Adendo, tomo cap. 7 de meu
[1972 ( a ) ] . •>.,
280. Ver [1966 ( f )3 ; agora cap. 6 dé' [1972 ( a ) ] .
280a. Ver [1966 (f ) J.
281. Ver seção 33 acima, espec. n. 242.
282. Ver L. Se.. D.} seção 6?.
283. Para o problema dos “graus de previsão”, ver F. A. Hayek,
“Degrees of Explanation", inicialmente publicado em 1955 e constituindo
agora o cap. 1 de seus Studies in Philosophy, Politics and Economics (Lon
dres: Routledge & Kegan Paul, 1967); ver espec. n. 4, à p. 9. Quanto ao
darwinismó e à produção de “uma grande variedade de estruturas»”, e quanto
à sua irrefutabjlidade, ver espec. p. 32. .
284. A teoria da seleção sexual, elaborada por Darwin, é, em parte,
uma tentativa de explicar exemplos falseadores de. sua teorià, coisas tais
como, p. ex., a cauda do pavão ou as galhadas do veado. Vér o texto que
antecede a n. 286, abaixo.
238
285. Para o problema da “explicação em princípio” (ou - “do princi
pio” ), em oposição à “explicação em pormenor”,; ver Hayek, Philosophy,
Politics and. Economics, espec. cap.; =1; sec; V I, pp. 11-1.4:.
286. David Lack assinala esse ponto em seú .fascinante livro Darwin3s
Finches' (Cambridge: Cambridge. Univer,sity .Press^ l947)j p. . 72: “ ( . . . )
quanto aos. tentilhões estudados por Darwin/ todas as--:,prinGÍpais ; diferenças
de bico, entre as espécies, podem sèr-■■■;encaradas .íddmoy.^clàptáções.;-a,, dife
renças de alimentação.” (Devo as notas de pé de -'-página^r;alusivas; ao cõmr
portamento dos pássaros, a Am e Petersen.) _
r.. • " , 's
287.Como Lackdesereve; tão Vividamente, pp. - 58- é, s., a_ ausência
de uma longa língua nò .bico-doSi .tenültíQesísestudadosi ponvDarwàn ^ : que . se
aproximam de uma espécie - de . pÍGà-pau;-; ;não: ;impede:;íi^uéí‘ :esseS'. pássaros
perfurem troncos e ramos à prbcürá - de ,insetos;— - ou:rséj a,, o pássâro /se man
tem fiel a seu gostó; entretanto, em .razão:, déssa ' particular - ■desvah tagem .
anatômica, ele desenvolveu a cápâcidãdê de 'conforná-lai-^“UmàV; vez:, feita
uma escavarão, .ele àpánha üiii pequeiio ;ramor:ou espiíiho;; de -rcactus: dè ;uma
ou duas polegadas dé corüpriinentò é, ~seguraridò-o" com ciJ bico, empúrra-o
para dentro da fenda, deixando cair o esjpinho, para.apanhado, inseto "qúando
este surgir.” Essa surpreendente tendência ’Ü e. •cbínpõirtamímtô^^
ponder a uma “tradição” nao-genética que se déséftVblVcu'\'iüa^''íêspéciê"Cícôm
ou sem ensino entre os seus membros;, pode tratar-sè também de;>um;:;padrão
■de comportamento com raiz genética. Isso quer dizer que úmà; f/genUihâ
invenção de comportamento póde assumir o lugar de uma alteração ánktô-
mica. Seja como for, o exemplo mostra de quê modo o comportairíenia
dos organismos pode ser “uma ponta de lança” da evolução: um tipo de
solução de problema biológico que pode levar à. emergência de formas e
espécies novas.
288. Ver meu Adendo, 1971, “A Hopeful Behavíoural. Monster”, à
minha Spençer Lecture, cap. 7 de Í1972 ( a ) } e Alister Hardy, The Living
Stream: a Restatement of Évolution Theory and its Relation to the Spirit
of Man (Londres: Collins, ’ 1965), V I conferência.
289. Essa é uma das principais idéias veiculadas em minha Spencer
Lecture, agora cap. 7 d e '[1972 ( a ) ] .
290. A teoria da separação- geográfica ou o processo geográfico de.
formação de espécies foi inicialmente apresentado por Moritz Wagner em,
.Die Darwinische Theorie un‘d das Migrationsgesetzs der Organismen (Leip-
zig: Duncker und Humblot, 1868); versão inglesa, J. L. Laird, The Dar-
ivinian Theory and the Law of Migration of Organisnts (Londres: Édward
Stanford, 1873). . Ver também Theodosius Dobzhansky, Genetics and the
Origin of Species, 3.„ ed. rev. (Nova Iorque: Columbia University Pressj
1951), pp. 179-211.
291. Ver [1966 ..(f)], pp. 20-26, espec. pp. 24 e s., ponto (11). Agora,
[1972 ( a ) ] , p. 244.
292. V e r -[1970 (1)1, espec. pp. 5-10; [1972 ( a ) ] , pp. 289-95.
292a. Este e os parágrafos seguintes do texto (bem como as notas cor
respondentes) foram inseridos em 1975.
292b. Ver Sir Alister Hardy, The Living Stream (cp. n. 288 acima).
Em especial, ver Conferências V I . e V i l . Ver, ainda, W. H. Thorpep ^tEhe
Evolutionary Significance of .Habitat Selection”, The Journal of A.-Anirhal
Ecology, 14 (1945), 67-70.
■ ' 293: Depois de ter completado esta Autobiografia, aceitei uma sugestão
de John. Eccles, para^ denominar o terceiro inundo “mundo 3” ; ver J. C.
EccleSj...Facing Reality (Nova Iorque, Heidelbei^ e Berlim: Springer-Verlag,
^370).,;Ver também a nota 7a, acima, . ' '
294. Este argumento pelo qual se atribui realidade a alguma coisa
— de que seja possível tomar “relações cruzadas” concordantes — deve-se,
penso eu, a Winston Churchill. Ver p. 43; do cap. 2 de meu Obj. Kn.,
[19.72 (a )].
295. Cp. p. 1.5 de [1967 (k )3 : de modo geral, considero exce
lente a sugestão de Landé nó sentido de denominar fisicamente real aquilo
que possa ser tocado (e seja capaz de reagir ao. toque, se tocado).”
296. Tomemos, p. ex., o mal-entendido de Einstein acerca de seu
próprio requisito , de covariância (inicialmente contestado por K.retschmann),
que teve uma longa história antes de ser esclarecido, o que se deveu sobretudo
(em minha opinião) aos esforços de.Fock e Peter Havas. Os artigos impor
tantes são Erich Kretschmann, “Uber den physikalischen Sinn der Relati-
vitatspostulate, A. Einstein neue und seine ursprüngíiche Relativitãtstheorie”,
Annalen der Phyúk, 4.a série, 53 (1917), 575-614; e a réplica de Einstein,
“Prinzipielles zur allgemeihen Relativitâtsthteo^e”, ibid., 55 (1918), 241-44.
Ver ainda - V . A. Fock, The Theory, of S^frce, Time and Gravitation (Lon
dres: Pergamon Press, 1959; 2.a ed. rev., Oxford, 1964) e Havas, “Four-Di-
rrtensional Formulations of Newtonian; Mechanifcs , and Their Relation to
Relativijy” (ver n. 32, acima). 1
297. Ver- [1968 ( r ) ] , [1968 (s ) 3 ver também “A Re^Iist View of
Logic, : Physics and History”, [1970 (1) ], [1966. ( f ) 3. (Esses artigos são
agora respectivamente os caps. 4, 3, .8 e 6. ..de. [1972 ( a ) ] . )
298. A alusão a “substância” surge do problema da modificação ( tlO que
pfermanece constante na ■/alteração ?” ) e da tentativa de responder a per*-
gunltas do tipo que è? A velha brincadeira com que a avó de Bertrand
Russell o importunava: “What is mind? No matterl What is matter? Nèver
mind!” .— parece-me não apenas procedente como perfeitamente adequada.
Melhor, indagar “What does mipd?” . [N . T .: Foram mantidas em inglês
as três frases desta nota porque envolvem jogo de palavras cuja tradução
desfiguraria a intenção do original.]
299. As duas últimas sentenças podem ser vistas como encerrando um
argumento contra o panpsiquismo.. O argumento, naturalmente, não é con
clusivo (üma vez que é irrefutável o panpsiquismo) e assim se conserva, ainda
que fortalecido pela seguinte observação: mesmo que atribuamos estados
conscientes a (digamos) todos os átomos, o problema de explicar os estados
de consciência (como sejam, a lembrança òu a antecipação) de animais su
periores continua a ser tão difícil quanto; antes, sem essa atribuição.
300. Ver meüs artigos “Languàge and the Body-Mind Problem”, [1953.
( a ) ] e “A Note on the . Body-Mind Problem” , [1955 ( c ) ] ; agora caps.
12 e 13 de [1973 ( a ) ] . ’
301. Wittgenstein ( “O enigma não existe” : Tratactus 6 .5 ) exagerou
o abismo entre o mundo do ;descritível ( “enunciável” ) e o mundo daquilo
que e profundo e não pode ser dito. Há gradações j além disso, o mundo
do enunciável nem sempre carece de profundidade. E se pensarmos ém prot-
fundidade, há um abismo no interior daquelas coisas que podem ser ditas
24C
— entre ura livro de receitasnè
abismo éntre aquelas coisas c|üè:-
de arte sem graça e um retrato
ser muito mais profundos do que;
242
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ÍN D IC E R E M IS S IV O
ação, 51, 56, 59, 90, 93, 94, 112, argumento, 81, 84, 97, 146-7, 148-9,
126, 156-157* 159-160, 190, 193- 153, 159, 179, 191-193, 196-7,1139,
-196, 201, 206, Nn 243. 206. Nn 25.
aceitação, 39-40, 107,. 153, 160, 202, Aristóteles, 26, 83, 85, 126-7, 134.
Nn 225. Nn 59, 84.
Adam, J., 127. Amdt, A., 18-19, 20, 39.
Adams, Sir "Walter, 119-. Arndt, E. M . von, 18.
ad hoc, 36-37, 48, 107, 163, 167-168, arte, 62, 67-79, 81, 117, 133, 149,
170. 197, 199-200, 206. Nn 76, 78, 84,
Adler, A., 43-45, 47, 49. 301.
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Adler, V., 116. átomos, 83, 104, 161-2, 166, 171, 178.
Albert, H., 48, 124. Nn. 35, 176. Nn 61, 299.
aleatoríedade, 51-4, 57, 108-110, 182- Austen, Jane, 55. Nn 48.
-3. Nn 45-6, 150, 154. Áustria, 15-16, 19-21, 38, 41, 45, 113-
alemão, 17-18, 20, 112-4, 118-123, -116, 119, 121.
127. Nn 13, 68, 86. autonomia, 134, 195, 206.
AUan, R. S., Nn. 187. auto-referêncía, 73. Nn. 73.
ambiente, 55-6, 94, 141, 146, 179- axiomas, 29, 36, 86, 108, 112-3, 121,
-184, 190, 196. 136-7. N n 159, 178, 205; ver prú-v
Angell, N., 17. babilidade.
aprendizado, 50-60, 84-85, 118, 154, Ayer, Sir Alfred, 88, 116-118.
189, 202. N n 42, 44, 54, 93, 95.
a priori, 66-67, 118. Bach, C. P. E., 77, 79.
aproximação, 44, 88-89, 109, 139, Baeh, J; S., 16, 60-1, .67-71, 73-77,
158-160. Nn 138. 205. 79. Nn 63, 67. .
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147, 161, 166, 168, 176-189, 197- Church, J., 57. Nn 51.
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Bohr, N., 98-101, 106, 117-119, 137-8; 59r6Ò, 62-3, 65-67, 77, 84-88* 92-
161-2, 164-5. Nn 122, -1Ò6, 116-118, 123-4, 128-130, 136-
Boltzmann, L., Í44-5, 165-172; 178. -149, 153, 157, 159-190, 192-4,
Nn 254, 256-8, 260-1, 263-4, 267. 200, 203.. Nn 15, 44, 61, 98, 209,
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r Burger, E., Nn 103. -4. 193,
condições iniciais, 125, 144. .-.v..--:; Darrow, K., 12 L. Nn i 169." a -r.
confirmação, Nn 44, 231. Dàrwin, uG.r ' 19f ;5 2^^^4 60,^87/ 94,
Conhecimento, 40, 58-60, 66-7, ,7.3* 142, 176-18V - l 89=90.' Ntt-95H276;
76, 82, 86-94, 98, 117-118, ,123-4, 4283-4, 286-7r:i290:- *>-• J
131, 144, 147-8, 157-9, 162, 164,. dedução/í84; íS6>íí'88-9;-93.-4, 97,. 125*-
169-170, 172-6, 178, 199-200, 205, H 2 8 r 134-5, ;'143-450^-5352-5^ ^ 7 7 .
206. Nn 89, 203, 272; — conjec ã;Nn 197-6, -225- ^ -X : ^
tural, 86-94, 96-7, 107, 118, 142- deimições, J23,-'V24j' 127', ,.‘31/' 35, 37,'
-3, 153-4, 158-9; crescimento de 105.-7', 112; T^n:,7^'263.â^í
— , 49-50, 76, 86, 98, 123, 158-9, De GrooC A. Nn-305a'. ‘í -
176-7, 181. Nn 267; — objetivo, demarcação, ,47^5,0^-59x60, 8,6.t9,í 90-
93-95, 146-50, 154, 179. Nn 226. 159-160, 1 8 0 ^ , 3 . ' ^ ' -
conjecturas, ver hipóteses. democracia, 15^H2j51:Í3’:'115í6íí? 120, -
Conjeciures & Refutations, 29, 49, 125. y*?<
58, 159. N n 210. demonstração* ^87 -8p-"vl 0 109~110^.
conjuntos, 32, 36, 83, 99-100, 152. 153, 155. Nn 18, - '
Nn 20, 198, 205, 258. Descartes, R.,. 17,V23-4p- 197^i200;■
consciência, 54, 123, 137, 149, 179. descoberta, 51-57, 62,-67, 82-.3| !85,
189, 197-202, 204. Nn 267, 299, 98, 124, 128, 183-4,"".ii 95^7,:t-[202r
304-5. . 204. Nn 95. - — ,
conseqüências não pretendidas, 122, determinismo, 102, 137-9/ :159, 162;,
195-6, 205. 164. Nn 38, 130, 136,: 146, 17.8V .
conservadorismo, .61, 133, 180. Deus, deuses, 24, 66, 69*70, 572-3,
conteúdo, 29, 32-4, 47-51, 86, 93, 138, 181-2, 187-8. - .
106, 108, 111-2, 139, 159, 170, De Valera, E., 117.
190-4/Nn .15-17, 20, 270? Devrient, Therèse, Nn 63: :í
convenção, 155. Nn 35. Dewey, J., 80.
Copeland, A. H., 110-111. dialético, 123-4, 140-1. Nn 209> :
Copenhague, 98-9, 117-9. Nn 165. diálise, 37. ;
Copémico, N., N n 301. Dickens, C., 1.14.
correspondência, 106-7, 150-2. Diels, H., .126.
corroboração, 48, 106, 108, 111-3, direção do tempo (A .O .T .), 144-6,
156. Nn 226, 235, 243. 165-172.
cosmologia, 44, 138, 167-8. Nn.201. discussão, 28, 94-5, 111-3, 149, 204-5.
crença, 93-4, 113, 149, 152-6, 158, • Nn 226, 248.
160. Nn 226, 233, 243. disposição, 55-8, 152-3, 159-160, 163-
crescimento, 69, 71, 205-6; ver conhe -4, 189, 192, 201-2.
cimento. ditadura, 49-50, .136.
crianças, 14-15, 18, 47, 51-2, 55, 58, Dobzhansky, T., Nn 290.
79-80, 205-6. Nn 2. dogmatismo, 40-1, 42, 45, 47-8, 50-65
criatividade, 54-5, 65-6, 68-9, 71-2, 58-60, 62, 64-6, 104, 107, 179-80-,
78, 190, 204. Nn 49.
Criticismo, 28-30, 39-41, 42-43, 44-5, Duane, W., 104. Nn 140. . í:.'.tíV;
48, 51-60, 62, 66-67, 71, 74, 76, Dufay, G., 60. * ^:;;.
81, 87, 89-94,. 97, 107, 111-112, Duhem, P., 116.
123-4, 140-1, 146-9, . 153-4, 156- Dunstable, J,, 60. 'Vs-.lr.cVv
-160, 176-7, 178-180, 192-3, 196-
-200, 204-206. Nn 35, 44, 4&, 172, Eccles, Sir John, 120, 128. Nri:;í'7,áj
209, 224, 226, 238, 243. 293, 305,
Groce, B.} 68. educação, escolas, ensino,l 4-15/;18]^
37-8, 42-3, 45-8, 55-8, 61^2, 79-81,
dados, 83, 147-8. 85, 89-90, 116, 11;.9L120; 1-32,r 135-
Dalziel, Margaret, 120, 122. -6, 140. Nn 103; ver úriivèrsidádes.
Edwards, P., Nn 7, 110. estímulo, 51. Nn 304.
Ehrenfest, Paul & Tatiana, 167. Nn estrutura, 142, Í82-7, 189.
257. ética, 14, 40-1, 90, 124, 131, 203-6,
.Einstein, A., 22, 29, 33, 37, 44-5,- 306, 308. N n 65a.
' .48, 50, 59, 76, 98-100, 104-5, 112, ■ eu, 60-1, 67-75, 77-8, 81, 89-90, 123,
116-7, 135-140, 161-4, 171,. 188, 152-3, .197-202, 205-6.
195. Nn .7, 20, ,32-3, 122, 126,. Eucken, R., 17.
129, 143-5, 201-2, 207-8, 246, 248, Euclides, 86, 195.
274, 296. ' evolução, 36, 137-8, 141-2, 149, 160-
.elétrons, 103, 106, 111. -1, 176-90, 196-7, 199.- Nn 276, 278,
Elstein, M., 44, 104, 287-8, 290.
Elton, L. R. B., Nn 150. "A Evolução e a Arvore do Conhe
emergência, 187-90, 196, 199, 200-1, cimento”, 177, 183. N n 279, 288-9.
203-5. Nn 203, 287. Ewxng, A. C., 119.
emoções, 68-75. Nn 13. êxito, 54, 77-8, 148-9, 155, 157, 178,
Empédocles, 30. 180-1. Nn 98.
empírico, 84-5, 108-9, 117-9. Nn 16, Exner, F., 102: Nn 132, 249,
164. - expectativas, 25, 50-2, 55-6, 58-9, 85,
Engels, F.,, 17, 40, 42, 115. 128, 141, 190.-1, 201. Nn 95.
ensino (ver educação), experiência,. 44, 57-9, 82-3, 90, 118,
entropia, 144-5, 162, 165-76. Nn 216, 131, 133, 137-9, 144-8, 161, 166,
261, 266-7, 272-4. 168, 190, 197, 199, 202, 205. Nn
enunciados, 27-34* 36-7, 47-8, 49, 203, 304.
57-8, 87, 93, 97-98, 100, 107-108, experimento, 33, 45, 86, 100, 102-4,
111, 148-9, 156, 19Ò-2. Nn 15-16, . 163, 173-5. Nn 2?1, 274-5,
18, 93, 224, 243. explicação, 43-4, 84,' 93-4, 101, 104,
enunciados básicos, 93, 97-8. Nn 15- 125, 138-9, 160, 166, 178-183, 185-
-16. -6, 188, 197, 200. Nn 178, 203,
epistemologia, 13-14, 25-7, 62, 68, 81'
283, 285.
-2, 85.-95, 96-7, 106-7, 111, 123, expressão, 67-78, 81, 84, 206. Nn
133, 143-4, 148, 157-9, 161, 166, 65a, 76, 78.
176, 178, 202-3, 205-6. Nn 243.
“Epistemologia sem um Sujeito Cog-
noscente”, 68. Nn 8. fala. 5.6* 56, 200, 202. Nn 13, 305.
Erdmann, B., 24. falibilidade, 13-4, 42-&; ver conheci
erro, 52, 55-6, 58, 94, 123, 128, 140- mento.
-1, 157, 177; ver tentativa, falseamento, 44-5, 47-52, 58-59, 86,
erros, 60, 63-4, 10Q-2, 105, 122, 135, 89-90, 93-5, 102, 107, 111-2, 123,
195, 199-200. 139-43, 151-2, 174. Nn 16, 35, 44,
escolas, 14-15, 18, 37-9, 42, 45-8, 201, 207, 231, 242, 284.
61-2, 79-81, 85, 89, 115-7, 119- falsidade, 106, 134, 151-2, 190, 196,
-121, 132, 140. Nn 103. 200, 205, Nn 20.
escolha, 111-3, 189,-90. fascismo, 41-2, 122.
espaço, 21-2, 43, 57, 137, 144-5, .Fast, J- D., Nn 266.
167-8, 200. fatos, 25, 93, 107, 149-52, 203-6. Nn
espírito, 104, 147, 190-5, 197-2Ó6. 306.
Nn 298-300, 304-5. fé, 41, 68, 159.
essência, 23-37, 68-9, 71, 73, 122, Feigl, H., 89-91, 92, S6-8, 136, 198.
124, 147, 189, 193. N n 7, 298. Nn 101-5, .148, 275.
Estados Unidos da América, 90, 95, felicidade, 45, 1334, 206..
98, 101, 126-7, 135-40. Nn 165. fenomenalismo, 83, 133, 166.
estatística, 99, 102-3, 110, 116-7,- 162, Fermat, P, de, 188.
170-1, 176. Nn 138. Feyerabend, P, K., Nn 275.
254
Fidedignidade, 8 6 , 157. Nn 243. guerra, 13, 17-21, 38-9, 42, 45, 113-
Filosofia, 14, 17, 19-26, 28, 31, 36, -15, 119-120, 123, 127, 129, 133,
.46, 67, 79, 81, 85, 96-98, 104, 118, 159; Primeira Guerra Mundial, 13,
120, 122, 125, 130-5, .149, 153.-4, 16, 19, 21, 37-8, 45, 113-15, 120,
157-161, 165, 169-70, 193, 203, 123. Nn 8 6 ■ Segunda Guerra
205. Nn 191, 218, 224, 244, 30.1. Mundial, 38, 80, 95, 99, 123.
Findlay, J. N., 120.
fins, 28-9, 40, 59, 158-59* 183.^8, 203-
Haberler, G. von, 136. Nn 163.
- 6 . Nn 205. , habilidades, aptidões, 73, 183-7. Nn
■ física, 24, 29-31, 33, 43-47, 50, 61,
: 287v- ,
83, 98t106, 116-7, 135-140, 144,
147-49, 160-176,. 182, 187-89. Nn hábitòy 58, 98,'. 155. Nn 44, 55.
Halin, H., 47*87, 92, 108-
14, 32, 201, 218, 25.3, 258, 263-5.
Habbati, H. von, 121. Nn 168.
Fock, V . A., Nn 296.
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255
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• ' 212, 267. 158?, 177, 189. Nn 238, 243.
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ignorância, 14, 22j 33-4, 40-2, 172, 92, 118, 203. Nn 61, 86.
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imprintaçao, 50-1, 57. K.erschensteiner, G., 80.
imunização, 48-50. Nn 35. Kierkegaard, S., 17. Nn 1, 50.
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203. r
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Kokoszinska, Marja, 106. Nn 147,
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Kolbj< F. A,, 80.
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Kolnai, A., 113.
indução, 16, 50-51, 58-60, 86-9, 90,.
Kowarski, L., 121. Nn 168.
93-4, 118, 128,: Í31, 149, 154-7,
Kraft, J., 81-2, 89, 136. Nn, 87.
160, 177. Nn 44, 180, 228-9, 231-
Kraft, V., 89, 91, 96, 165. Nn 100,
-2, 243.
105, 252.
Infeld, L., Nn 160.
Kraus,:K., 114.
inferência, 86, 149-157. Nn .93, 197, Kretschmann, E., Nn 296. ■
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infinito, 21-22, 131, 144. Nn 32. Külpe, O., 83-4., Nn 92.
informação, 32-4, 50, 58, 172-6, 194.
Nn 16-17, 23, 26.6-7, 270. Ver
conteúdo. - Lack, D., Nn 286-7.
Lagerlõf, Selma, 17-18.
Inglaterra, inglês, 16-17, 95, 98, 113,
Laird, J., Nn 113a.
114-123, 128, 129-135. Nn 13, 187,
Lakatos, I., 50. Nn 41, 226, 228,
252.
231, 242.
instrução, 51, 94, 154, 177. Nn 95.
Lammer, R., 80, 91.
interação, 191-6, 199, 206.
Landé, A., 99, 102-4. Nn 129, 136,
interpretação, 29-, 35, 100, 147, 193.
138, 141, ,295.
Nn 25, 305. . Ver probabilidade,
Langford, C. H., 116.
intuição, 26, 136, 147, 153-55, 164,
Larseri, H., 121. .
190, 196. Nn 225, 229, 233, 244..
Làssalè, F., 17.
invariantes, 55, 58, 85. Lassus, O. de, -60.
invenção (descoberta), 63-67, 71, 79, Laue, M : von, 117.
124, 19Ó, 196-7/ Nn 287. Lêibniz, G. W . -von, 85, 139, 198.
irracionalismo, 40, 159. leis, 25, 39, 59, 66, 125, 147, 155-6,
irrefutabilidade, 197. Nn 283, 299. 189, 196. Nn 133, 178, 231.
irreversibilidade, 144. Nn 267, 274. Lejewski, C., N n 197.
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Lewis, C. I-, 136. 257, 273.
liberdade, 38, 45, 54, 65, 114,^123, Mayer, J.- R., 161. Nn 244.
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linguagem, 21, 25, 28-30, 36-7, 55-8, McCarthy,i J 136.
69, 81, 84, 107, 121-2, 13Ó-1., mecâniciai quântica,: 68, 165. Nn 11,
133-4, 148-52, 157, 178-9, 192, 251. : • ; . ...
196, 198-202. N n 3, 13, 25; Fun Medawarj.^ir^èterj.t:! 35
.
ções da — , 56-7, 69, 71, 84, 178-9, mèditia, 31,> Í ÓÒ, Í03. Nn 270.
19.9-201. N n 25, 78, 83. ......
Locke, J., 17, 83. N n 68.
Lofting, H., 13. Meinbiigyj;Aai;;\88V;-0r•. - r - ? ^ ;
lógica, 35-7, 55, 58, 67, 82-6, 88-9, Menger, Áh-LI-7. :;=••/ / u C ; ;y
95-6, 101, 106-7, 128, 131, 134-5, Menger, C., 17., " ; . V:■'‘ ''::J» i X'...:■
141, 149-55, 157, 177-8, 190-1, Menger, iÒ ^ N n ; 30,
195-6, 205. Nn 93, 188, 194, 197-8, 151-2, 1 5 % ^ * § :
225. metafisica, 4 8 ,4 9 , ...86-7,: 96-7, i l 22,
, 138, 159-162^^íi .38, .242,' Z ^ .;. :• .
Logik der Forschung, 14, 36, 49, 93-
método, 26, 44, .5ly' 53j- 58-;603 r;74,
-98, 100, 102-4, 106-9, 111-2, 116,
85-90, 92-6, 107, :121;,, 123-24, 1^6,
118, 121-2, 123, 125, 135, 140,
128-29, 135-36, I4tíb-445^:Í7d,.: ■
157-9, 172, 176. Nn 14-15, 24, 38,
178, 197. Nn 44, A92s> .2Í8},-.263. :
98, 108, 111, 122, 150, 161, 178,
209, 226, 231. mé tbdo cien tífico; ver;-: método^viv^jf- .
Michelson, A. A., 104.
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Mill, J. S., 15, 17, 81, 98, 125i';m
158. Nn 14, 16, 24, 38, 98, 111,
179, 228.
122, 150, 178, 226, 231, 243, 248.
Miller, D., 11. Nn 18, 35, 150,'232,;-
Lorentz, H. A., 105.
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Lórenz, K. Z., :50-l, 203. Nn 44,
Minkowski, H., 104.
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Mises, R. von, 46-7, 92, 108-110, '136,
Loschinidt, J., Nn 256. 163. N n 135, 301. :
L. S. .E., 116, 119, 129-33, 135. Nn misticismo, Nn 301. . ^
182. mito, 65-7, 199-200, 205.
Lucrécio, 30. modelos, 61, 71, 101-102, 111, 126,
• 159.
Mach, E., 17-8, 43, 82, 87-8, 98, 133, modismo, 78-9, 171.
144, 148, 161-2, 165-6, 171. Nn monismo, 18-9, 22, 26, 88, 133, 144,
30, 244-5, 253-4, 264. 197. Nn 105.
Magee, B., 11. N n 57. Moore, G. E., 116 Nn 225.
Mahler, G., 61. moralidade, ver ética.
mapas, 84. Nn 203. Morgan, G. L., 51-2, 189. Nn 43, 45.
March, A., 102, 135. N n 128. Morley, F. W ., 104.
Margenau, H., 99. Nn 123, 130. movimento browniano, 171, 175. Nh .
Marx, K., 17-8, 39-43, 45, ,47-50, .274.
. 81-2, 115, 121, 123, Mozãrt, W . A., 16, 68, 70, 73, -76,-77,
Masaryk, T. G-, .21: • 79. ' ^
matemática, 24, 31, 38, 46-7, 61, mudança, 137-38, 169. Nn 298. ' '
87, 91, 95-7, 109-111, 131, 135, Müller-Lyer, F., 147.
139, 152-3, 165, 195. N n 45, 150-1, mundo, 26-7, 65-7, 71, 75, 82*3, 128,.
154, 205, 258. 134, 137-39, 159-160, 169-70, 98.
matéria,. 44-5, 98-100, 138-9,’ 161,. Nn 203. Mundo 1, 191, 193-Í95,
163, 1«94. Nn 61, 138, 298. 198-99, 201-202, 204. Nn '7-a,'302.
Mauthner, F., 17. Nn 3. . Mundo 2, 67, ■191-95J:Sl98*202^'Nn-
: Í7a,- 302. Mundo 3, 57, 67, 71, 149, Pap, A., Nn 35.
190-206. Nn 7a, 293, 302. paradoxos, 22, 24, 73, 82, 125.
Munz, P., 134. Nn 194. Park, J. L., Nn 123, 130.
Munsgrave, A. E., Nn 242. Parmênides, 29-30, 128, 137-9. Nn 12*
música, 16, 45-6, 56, 60-79, 85, 91, Parton, H. N., 120-21. Nn 187.
149, 192. Nn 57-9, 80, 84. passado, 22, 33-4- 43-5, 50-1, 77, 79,
Mussolini, B.j 120. 112, 137-8, 145, 154, 156-7, 162,
mutação, 179-182, 185-6. 165-171, 195-6, 200-202. Nn 20,
25, 42, 63, 243,
nacionalismo, 18-9, 39, 113* Passmore, J., 95-6, 97. Nn 110.
Naess, A., Nn 114. Pauli, W . Jun., 135, 162
Nelson, G., Nn 138. Pavlov, I. P., 85.
Nelson, L., 81-2. Nn 86, 88. Peierls, R. G., Nn 130.
Nemst, W . H., 117. Peirce, G. S., 102- Nn 131.
Neumann, J. von, 102. Nn 130, 133. pensar, 42, 47-8, 50-60, 62, 65-7, 81,
Neurath, O., 19, 87, 92, 97. N n 114, 83-5, 100, 174, 180, 190-192, 197-
. 120 . 202 .
Newton, I., 21, 29, 33, 43-4, 48-9, percepção, 58-9, 147-8, 199, 202. Nn
66, 76, 89, 105, 112, 139, 144. 304-5.
Nn 20, 32, 61. personalidade, 68-9, 71, 200-201,, 205-
nicho ecológico, 55, 183, 186, 190. -206.
Nietzsche, I. W ., 18, 78. Nn 81. Petersen, A. F., 11. Nn 54, 203, 286.
nominalismo, 26-7, 125. Piaget, J , Nn 49.
Nova Zelândia, 118-120, 127-29, 132, Planck' M., 104, 117. Nn 253.
134, 136. Nn 165-6, 187, 226. Platão, 17, 26-7, 82-4, 121, 126-27,
193, 196, 203, Nn 25, 56, 59, 70-8.
objetivo, 44-5, 62, 67-75, 81, 92-5, pluralismo, 97, 197. N n 306.
103-6, 146-9, 152-5, 159, 162-5, pobreza, 15, 18, 77.
172, 178, 189, 198, 202-3, 204-6. Podolsky, B-, Nn 129*
Nn 63, 78,' 226. Poincaré, H., 167,
objetivos e fins, 28-9, 39-40, 59, 158- Polanyi, K., 26, 81.
-9, 183-8, 203-6. Nn 205. políticá;* 15-16, 18-21, 38-43, 49-50,
observação, 51-2, 55, 58-9, 86-7, 125, 113-15, 120-124, 127, 133, 136,
157, 201-2. Nn 44, 210. 157.
onisciência, 13, 152. Popper, Jenny, nêe Schiff, 15, 17, 19,
ontologia, 193-7. 45, 60, 113.
Open Society, 37, 41, 49, 115, 121-7, Popper, Simon.S. C., 15-21, 23, 25,
130, 132, 135, 157-8. Nn 7, 144a, 45, 90, 113.
177. Popper Lynkeus, J., 17, 19, 136,
operacionismo, 37, 104-6, 139. N n Põsch, A., 13-14.
144a. positivismo, 83, 87-93, 95, 97, 104-
Oppenheim, P., 137. ! -106, 130, 133, 139, 144, 162, 171.
originalidade, 69-70, 78-9. Nn 144a, 301. ■
ortogênese, 182-7. positivismo lógico, 87-93, 95, 97, 104-
Ostwald W ., 18, 22, 171. -106. N . 110, 112, 301.
ousadia, 94, 157, 166, 190-1, 203.
PostScript, 158-9. Nn 242-
Oxford, 100, 116-7, 133. N n 263.
Poverty of Historicism/ 26, 41, 116,
121-3, 125-9, 176. N n 7, 178.
palavras, .23-9, 31, 34-7, 83, 97, 143, pragmatismo, 133, 154.
'192. prática, 75, 111-12, 141-2, 143, 155-
Palestrina, G. P. da, 60. -7, 159, 184.
pànpsiquisino, 197. N n 212, 299. precisão, 30-1, 34-8, 107.
preferência, 85-7, 93-5, 112, 154, racionalidade, 24, 40* 93-5, 96-7, 112,
158-9, 183-190, 202. Nn 243. 124-26, .133, 154-5, 158-9, 182,
preparação, 100, 103, . 196, 206. Nn 86, 173, 175, 226,
Prés, J. des,. 60. 233, 243.
pressupostos, 54-5, 124* 154.. racionalismo crítico, 124, Nn 175-6.
previsão, 31, 41, 44, 50, 111-2, 125, Rasmussen, E. T., 147.
129-130, 167, 180-2. N n 283. Ravel, M. J., 61.
probabilidade, 46-7, 88, 92, 98-9, 1Ó2- realimentaçao, 69, 184, 186, 196, 201,
-4, 106-113, 116, 118, 120-1, ‘147-8, 206.
156-7, 159-160, 162-7, 169, 172, realismo, 26-30, 58; 67, 82-4, 89^90,
176-7, 178. Nn 98, 154-5, 178, 180, 98-104, 106, 133-4,. 138, 156, 159-
188, 216, 231, 243, 248, 261; axio- -160, 163-65, 170-171, 189, 193-
matização de — , 108, 112-3, 120, 195. Nn 105, 178, ‘203, 207, 243,
136. Nn 159, 178; interpretação 294-5.
de — , 92, 100, 102-4, 107-8, 111, redução, 187-9, 191.
157, 159-160, 162-5. Nn 155, 178. Reed, A. A. G., 120. .
problema, 21-2, 25, 28-9, 31, 46-8, reflexão, 84-5. N n 95-6.
50-5, 59-60, 67, 75, 82-3, 87-8, 89-
refutação, 45, 47-52, 58-9, 86, 89-90,
-90,. 93-4, 98, 129-135, 140-3, 147- 93-4, 102, 107, 112, 123, 139-142,
-150, .163, 176-7, 184, 186-9, 192- 152, 175. Nn 16, 35, 44, 201, 207,
-3, 196-9, 201-6. Nn 20, 46, 191, 231, 242, 284.
243;- situação — , 30-1, 34, 93-4,
regras, 55^, 65, 107, 131, 154-7,
142-4, 198. Nn 25; resolução de
196.
— , 51,5, 74-5, 140-4, 147-9, 186-90.
regularidades, 25-7, 55-9, 65, 159, 180.
Nn 287; — Vs. enigmas, 21-22, 97-
-8, 130-3. N n 191. Reichenbach, H., 97, 110, 163, 171.
Nn 98, 119-20, 180.
problema corpo-mente, 195j 197-203.
Nn 212, 298-300, 304-5. Reidemeister, K., 46.
problemas inatos, 50-1, 50-2, 54-59, Reininger, R., Nn 301.
198. N n 54, $5. relações de espalhamento, 99, 103.
programas de pesquisa, 157, 160, 167, relatividade, 43-5, 48, 50, 104-5, 138.
176-182, 189. Nn 242. Nn 32-3, 143-6, 201-2, 296.
programas metafísicos de pesquisa, relativismo, 124, 152. Nn 177.
157, 160, 166, 176-182, 189. Nn religião, 24, 38-9, 42-3, 63-6, 73, 76,
242. 86, 114, 158.
progresso, 76-9, 86-7, 134. responsabilidade, 83, 96-7; — por
propensão, 100, 103, 108, 159-161, outros,^40.
163-65, 189. Nn 178. revolução, 18-9, 38-40, 49-50j 88,
Przibram, K., Nn 208. 167. Nn 205.
pseudociência, 39-45, 47-51, 59-60, Riemann, G. F. B., 22.
86-7, . . Rietdijk, C. "W., Nn 146.
psicanálise, 43-4, 48, 49, 82, 130. Rilke, R. M., N n 301.
psicologia, 43, 46, 47-60, 62, 65-7, 69, Robbins Lord, 117, 135.
. 80-5, 88, 147-8, 154-5, 161, 190-92, Robinson, A., Nn 6.
197, 201-205. Nn 84, 89, 95. Robinson, R., Nn 7.
Pitágoras, 160. Rosen, N . Nn 129.
Roth, G .E . , 120.
questão judaica, 113-116. N n 160. Russell, Earl (Bertrand), 97, 118, 132,
questões: que é?, 23-37, 68-9, 71, 73, 134, 136, 161. Nn 93, 164, 296. ;
122, 124, 146, 189, 1&3. N n 7, 298. Rússia, 16, 18, 39, 49-50, 123. -
Quine, W . V . O., 136. Rutherford, E., 140. ; :
Quinton, Anthony & Marcelle, Nn 13. 'Ryle, G., 1.16, 130, 133. Nn 73, 193.
259
.Sàèh^üMí jíííNn^ .138. soluções, 25, 28, 36-8, 53, 75, 83* 93-
Sáaòn^G/jr 136. / >4,'100, 131-3, 140-3, 148-9, 160,
Schiff,; E., 14. 187-9, 204.
-Schiff, W., 89, 93. Nn 108. . Spencer, H., 177, 182. Nn 288-9.
rSchiller, F., 203. N n 308. Sperry, R. W., Nn 305.
Schilpp, P. A., 11, 100, 138, 140, 242. Spinoza, B., 17, 23-4, 198.
Nn 35, 122, 136, 197, 201-2, 208. Staliríj J., 123.
Schlick, M., 85, 92, 95-6, 110, 165, Status da ciência e da metafísica, 159.'
198. Nn 106, 252. Stebfeing, Susan, 116.
Schònberg, A., 61, 78. Stefan, J>} 165.
Schopenhauer, A., 17, 71, 79, 91, 144, Stein,: E., 61.
159, 203. ?Nn 68, 80, 82. Strauss, R., 61.
Schrodinger, Anna Marià, 117, 144. Stravinsky, I., 61.
Schrodinger, E., 98-102, 117-8, 135, Strawson, P. F., Nn 228.
138, 144-6, 163-4, 169-171, 177, Strindherg, A., 23.
203. Nn 132-3, 208, 212, 214, 219- - subjetivismo, 62, 66-75, 133, 146-9,
-21, 24.6-7, 249, 259, 262-3, 278. . 152-4, 159, 161-2, 165^ 167, 170-6,
Schubert, E., 16, 61, 76-7. 205-6.' Nn 63, 226; — e física, 104-
Schweitzer, A., 68.- Nn 63, 67. ;-6, 160-177. Nn 248, 265-7; — e:
probabilidade, 104, 163-4. Nn 248. .
seleção, 50-4, 58-60, 94, 140-2, 14&,
subjetivo, 62,. 83-4, 92-4, 98,' 146-8,
160, 177-181, 183-190. Nn 95, 284L
seieção natural, ver seleção. 153-4, 162, 166, 173, 190-2, 198,
2G5-&. Nn 63. •'
Selz, O., .91. Nn 91-2.
substancia, 197. Nn 298.
senso comum, 107, 133, 138-9.
Suppes, P., Nn 178.
sentidos, 43-4, 57-9, 82-3, 89-90, 118,
Suttner, Bertha von, 17,
132, 133, 137-8, 144-48, 161, 166,
Szilard, L., 172-6. Nn 266, 273-5.
168, 190, 197, 199, 202, 205. Nn
203, 304. ,
Serkin, R., 60. Tarskí, A., 32, 96,. 106-7, 110, 116,
Shackle, ÇJ. L. S.,: 117. 134, 149-152. Nii 188, 195, 224.
Shearmur, J. F. G., 11. Telemann, G. P., 77.
significado, 23-5, 27-9,„ 31-7, 48r9, Témple, G., Nn 130.
57, 87, 92, 95-6, 97, 105-6, 150, tempo, 22, 33-4, 43-5, 51, 77, 79,
193. Nn 7, 13, 25, 42. 111-2, 137-8, 145, 154, 156-7, 162,
Simkin, G. G. F., 120. - 165-172, 195-7, 201-2. N n 20, 25,
simplicidade,, 79, 140. 42, 63, 243.
tentativa e erro, 51-60, 65, 71, 74,
Simpson, Esther, 119.
84-6, 94, 123-4, 140-3, 148, 176-8.
. simultaneidade, 36-7, 104-6. Nn 7, Nn . 45-6, 95, 209:
144a, 146.
teorias, 25, 27-9, 31-6, 39-40, 43-4,
sistemas, 39-40, 48-50, 88-9, 93, 96, 47-52, 53-56, 58-9, 66-7, 71, 84-
105, 166-7. Nn 261. -90, 92.-4, 96-98, 101, 111-2, 140-3,
situações, 25, 30-1, 34, 94, 113, 122, 147.-9, 155-160, 192-201, 203-6. Nn
124-6, 142-3, 177-9, 183, 187. 20, 25, 98, 205, 207, 209, 243.
sobrevivência, 87, 112, 142, 177, 181, teoria quântica, 29, 98-104, 106-8,
1B7-9. Nn 243. 117, 121, 137-8, 148, 162-5, 171.
socialismo, 18-20, 38-43, 81, 113, Nn 121-3, 128-30, 133, 138, 140-1,
114-6, 1,21. 246-8, 250.
sociedade, 17, 38r9, 41-3, 49-50, 83, (teorias) rivais, 28-9, 31, 86-7, 93-4/
113-5, 122-7, 196-7, 205. 112, 158-160, 179, 192. Nn 243.
Sócrates, 13, 43, 72, 152, 203. termodinâmica, 35-6, 146, 166-176.
solipcismo, 82, . 88. Nn 253, 256-63, 266-7, 272-5.
teste, testabilidade, 30-1, 42, 44-5, Nn 252; trabalhadores de — , 42,
47-51, 74, 86-7, 147, 155, 157, 159- . 115. Nn 27. .
-60/ 178, 180. Nn 117, 172, 209, Vigier, J. P., 99.
226. ' Ville, J. A., Nn 154.
Thirring, H., 47, 92, 100, 117. violência, 20, 38-41, 42, 115. Nn
Thomdike, E., N n 45. 26-7.
Thorpe, W . H., Nn 54, 292b.
Timeu, de. Platão, N n 25. Xenófanes, 30,
totalitarismo, 113, 119-123, 126. -
tradição/62, 64-5, 205. Nn 242, 287.
tradução, 29-30, 122, 127. N n 13, 25, Waddington,. C. H., 182.
59- Waerden, B. I. van der, 165. Nn 121,
transcendência, 69/206. ■ 251. • ’
Trollope, A./ 114. ■ Wagner, M.,,Nn.,.290.
Trotsky, L., 41. Wágriéf,1 R ^ G i y '’77-9.':‘N n 57, 63,
Truesdell, C. A.j 36. Nn 22: o 80^U,.:-.
. Waismann,. F^ \9.1.,. 119, >-135.
W a ld ,Ã .5 110-111, 136/Nni51, 153-4.
universal, 25r6, 93, 164. Nn 15, 178. Waíker, D / P.,^Nri> 59^’:;::^;rv'
universidades, 13, 16, 21, 38-9, 42,- ' Walter, B., .60. •/•/•. .-.v. .. 3.
45-7; 79-85, 89, 91, 114, 116-121, Wamack, G. J., Nn 25,' !^42.
. 127-9. Watkins, J. W .' N., 129. NÍÍ 19, -135,
Urbach, F., 91, 99, 136. 203. , ■-i...
Watson, J. B., 197.
valxdades, 67, 147, 152-5. Watts, Pamela, 11.
valores, 124, 203-6. Nn 306. Weaver, W . Nn 165.
variação, 55/57, 177, 179-180, 183- Webern, A . von, 61, 78.
-4, 188-9. Weinberg, J. R., 95. Nn 112.
Venn, J., 163. Wèininger, O., 17, 82- Nn 3.
verdade, 25, 27.9, 43-4, 47, 60, 89, Weisskopf, V., 100, 136.
106-7, 112, 116, 118, 134, 139, 149- Weyl, H., 44. .
.-154, 159-160, 190, 192, 195-7, 200, Weizsacker, G. F. von, 100.
205. Nn 20, 149, 205, 233, 243, White, _M., 136.
verificação, 45, 48, 87, 91, 93-6, 139-. White, Sir Frederick, 120.
Nn 98/117. Whorf, B. L., 30. .
verossimilhança, 158-9. Wiener, N., N n 267.
vida, 22, 137-8, 141-2, 145-6, Í68- 'Williams, D. C., 136.
'-9, 178-182, 186, 187-9, 196, 201, Wirtinger, W ., 46.
204-6. Wittgenstein, L., 17, 87-8, 105, 125
Viena, 13-7, 19/38-9, 41-3, 45, 60-2, . 130-32, 150. Nn. 8, 15, 101.
77, 79-81, 91r2, 96, 113, 115-9, Woodger, J-. H., 116, 118. Nn 162
144, 196. Nn 27, 80, 238/301; Cír 188.
culo de — , 87-93,. 94-7, 105, 110. Wright, J. P., Nn 201.
Nn 101, 104, 106, 113a, 114, 119,
149; Instituto Pedagógico d e ---- , Zermelo, E., 167, 169-170. Nn 256
79-81, 90-91; Universidade de — , 258, 260.
16, 21/ 38, 45-7,. 79-85, 91, 165. Zilsel, E., . 89, 91-2. Nn 101, 106.
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