Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 268

jPopper é / reconhecidamente, um dos maiores nomes

da Filosofia da Ciência em nossos dias. Nesta sua fas­


cinante -A U TO BIO G R AFIA IN TELEC TU A L , dá-nos ele um
estudo pessoal de suas 'próprias idéias e do ambiente
histórico onde elas se desenvolveram. Assim é que,
com sinceridade e. humor, fala~nos de Carnap, Einstein,
■Russell, Witígensteín e outros contemporâneos seus, ao
mesmo tempo em que fórmula apreciações críticas do
Círculo de Viena, do Positivismo Lógico, âõ desenvol­
vimento do nazismo e do marxismo, dos problemas do
judaísmo e do anti-semitismo, enfim, de muito do que
é intelectualmente importante na Cultura do nosso
século. Tudo isso faz, deste livro, uma excelente intro­
dução não só ao pensamento popperiano como a alguns
dos principais dilemas culturais, políticos e científicos
da atualidade.

EDITORA CULTRIX
AUTOBIOGRAFIA
INTELECTUAL
Karl Popper

Popper é o maior vulto da Filosofia da


Ciência de hoje, assim como um dos maiores
nomes da Filosofia Liberal, Esta autobiografia
focaliza o desenvolvimento das suas idéias. A
obra é na realidade um estudo pessoal da evo­
lução das idéias popperíanas e do ambiente
intelectual onde se desenvolveram. Nesse am­
biente desfilam vultos como Carnap, Einstein,
Gõdel, Polanyi, Russelí, Schrodinger, Tarski,
Wittgenstein, Woodger e outros de igual emi­
nência, suas idéias e suas relações com Popper.
Na análise da “ecologia” das idéias de Popper
figuram brilhantes histórias e apreciações d o ,
Círculo de Viena, do Positivismo Lógico, do'
desenvolvimento do nazismo e do marxismo, dos
problemas do judaísmo e do anti-semitismo, en­
fim, de muito do que é intelectualmente impor­
tante na Cultura do nosso século. As informa­
ções pessoais são apresentadas de forma humana,
sincera e com muito humor. O livro de Popper
é precioso. É um documentário do maior inte­
resse não só sobre a Filosofia neste século mas,
o que é raro, uma história da evolução das
idéias de um grande filósofo escrita por ele
mesmo. A obra, além de ser uma excelente
introdução ao pensamento popperiano e ao seu
desenvolvimento, tem o inestimável valor de
' mostrar como esse desenvolvimento ocorreu,
quais os. fatores que contribuíram para a sua
evolução e qual o ambiente em que se pro­
cessou. É, assim, ura relato precioso e raro
para a História, & Sociologia e a Psicologia no
desenvolvimento das idéias.
Esses fatos tornam a A utobiografia In ­
telectual de Popper não só indispensável para
todos os estudiosos da Filosofia, especialmente
da Filosofia da Ciência, mas também do maior
valor para todos aqueles que têm interesse pela
história social e cultural do nosso século e pela
compreensão da evolução e da “ecologia” das
idéias.

A. B rito da C un h a
(da Universidade de São Paulo)
AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL
K arl (Rainiurid) PO PPER '

Nasceu em Viena, 1902

Professor emérito, Universidade de Londres


PhJD. (Viená-):; D. L it. (L o n d re s ); possui títulos honoríficos que lhe
foram concedidos pelas Universidades de Chicago, Denver, W ar-
wiijk, Ghristchurch (N ova Z elân dia), Salford. .

F ello w . da “Royal Society” e da “British Acaderay” .Membro corres-


poiidéntè do "Institu t de F ran ce” ; méirtbro da “ International
Acadèiny íò r the Philosophy of Science” ; membro estrangeiro ho­
norário dá “American Academy of Arts and Sciences” ; membro
honorário da: “Royal Society of New Zéaland” ; fellow honorário da
“Ldridcm School of Econom ics and Political Science” ; membro
honorário do “H arvard C hapter” de Phi B eta Kappa.

Recebeu ò título de S ir em 1965.


Prêmio “GÍdade de V iena” , em 1 9 6 5 ; prêmio “ Sonning” , da U niver­
sidade de Gopenhague, 1973.

Publicações (apenas livros, que já foram traduzidos para 19 idiomas) :

Lp.gifi der Forsckung


ÍChe Õ pen Society and its Enem ies
T h e Powerty of H istoricism
Th,e L ogic of Scientific Discovery
Cofijectures and R efutai tons.
Objective K now ledge

“Autobiografia e Réplicas aos Meus Gríticos” -— incluídas em


T h e Philosophy of K arl Popper
U nended Qúest, A n Intellectual 'A utobiography .
M ■
FICHA CATALOGRÁFICA
(P rep arad a pelo Centro de Catalogação-na-Fcm tes
C âm ara Brasileira do Livro, S P )

Popper, K acl Raimund, 1902-


P 866a Autobiografia intelectual [p o r] K arl P o p p er; tra­
dução de Leônidas Hegenberg e O ctanny Silveira d a
2 . ed* M ota. 2 . e d . _ — , São Paulo, C ultríx,. 1 9 8 6 .

Bibliografia.
1. C icncia — Filosofia 2 . Filosofia inglesa
3. Popper, K arl Raimund, 1902- I . T ítu lo .

■ 'jj-
C D D -S 2 1 .2
«192
77 -0 3 3 6 -501

índices para catálogo sistemático:

1. C iência : Filosofia. 301


2. Filosofia inglesa 192
3. Filósofos ingleses.: Autobiografia 9 2 1 .2
4. G rã -B re ta n h a : Filosofia 192
KARL POPPER

AUTOBIOGRAFIA
INTELECTUAL
Tradução de
L e o n id a s H eg en berg

e
OcTANNY SlLVJEERA DA MoTTA

ED ITO RA G U L T R IX
SÃO PAULO
Título do original:
TJNENDED QUEST
A jm I n t e l l e g t u a l A u -t o b io g r a p h y

Copyright © 1974 by the Library of Living Philosophers Inc.


Copyright © 1976 by K arl R . Popper ■

Edição Ano

2- 3- 4- 5- 6- 7- 8*9 86- 87- 88- 89- 90- 9 ! - 92^93

Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade pela


EDITORA GULTRDC LTDA.
Rua D r. M ário Vicente, 374, 0 4 2 7 0 São Paulo, SP, fone 63-3141,
que se reserva a propriedade literária, desta tradução.

ímpresto nas ofitinas gráficas da Editora Pensamento.


S U M Á R I O

A gradecim entos 1j
01; Onisciência e falibilismo 13
02. Lem branças d a infância 14
03. Prim eiras influencias 16
04. A Prim eira Grande Guerra 19
05. U m antigo problema filosófico: o infinito 21
06. M inha prim eira falha filosófica. O problema do essenciàiismo 23
07. L onga digressão a respeito do essenciàiismo: aquilo que ainda
m e separa d a maioria dos pensadores contemporâneos 24
08. U m ano im portante: marxismo, ciência e pseudociência 37
09. Primeiros estudos 45
10. Segunda digressão: pensamento dogmático e critico ; aprender
sem auxílio da indução 50
11 * Música 60
12. Especulações em torno do surgimento da música polifônica: psico-
. logia, da descoberta ou lógica da descoberta? 62
13. Dois tipos de música 67
14. Idéias progressistas em A rte, especialmente em M úsica 75
15. Ültim os anos de Universidade 79
16. T eo ria do conhecimento: Logik d er Forschung 86
1 7 . - Q uem m atou o positivismo lógico? 95
18. Realismo e teoria quântica 98
19. O bjetividade e Física 104
20. V erd ad e; probabilidade; corroboração 106
21. A guerra próxim a: o problema judeu 113
22.- E m ig ração : Inglaterra e Nova Zelândia 116
23. Primeiros trabalhos na Nova Zelândia 1 19
24. “A Sociedade Aberta” e “A Indigência do' Historicismo” 122
25. O utros trabalhos realizados na Noya Zelândia- 128
26. Inglaterra: na “ London School of Economics and Political Science” 129
27. Primeiros trabalhos na Inglaterra 134
28. Prim eira visita aos E .U .A . Encontro com Eiiistein 136
29. Problemas e teorias 140
30. Debates com Schrodinger 144
3 1 O b j e t i v i d a d e e crítica
32. Indução; dedução; verdade objetiva
3 3. Programas de pesquisa metafísica
3 4. Combatendo o subjetivismo em Física: a M ecânica Quântica
/•propensão
35. Boltzinann e a direção do tempo
•3 6 . A teoria subjetivista ‘ d a entropia
;37. O darwinismo como program a metafísico de pesquisa
i38. Mundo 3, ou o T erceiro. M undo
39. O problema corpo-m ente e o M undo 3
40. A posição dos valores num mundo dè fatos
>-t.
Notas
Principais publicações e abreviações dos títulos
Bibliografia selecionada
índice Remissivo
AGRA D E G I M E N T O S

Esta autobiografia foi preparada a fim de ser incluída nos dois


volumes da obra The PhilosopHy of Karl P o p p e r editada por Paul
Arthur Schilpp, que apareceu com os números 14/1 e 14/11 na
coleção "The Library of Living Philosophers” (La Salle, Illinois:
The Open Court Publíshing Gompany, 1974). Gomo em todos os
volumes desta série, a autobiografia se deve à iniciativa do Professor
Schilpp, fundador da coleção. Sou muito grato a ele por tudo
quanto fez e pela sua infinita paciência em aguardar, a autobiografia
de 1963 a 1969. '
Muito peiihoradamente agradeço a Ernst Gombrich, Bryan
Magee, Arne Petersen, Jeremy Sheamur, Sra. Pamela Watts e, aci­
ma de tudo, a David Miller e a minha esposa pelo trabalho paciente
que. realizaram, lendo e melhorando o manuscrito.
Vários problemas surgiriam durante a fase de produção da edi­
ção original. Somente depois de prontas e revistas as provas tipo­
gráficas é que se deliberou reunir todas as notas, colocando-as ao
final — fato que não é destituído de importância, pois ò manuscrito
havia sido preparado segundo orientação previamente assentada pela
qual se deixariam as notas ao pé das páginas correspondentes. .
Foi imenso o trabalho de organização dos volumes da série “The
Library of Living Philosophers” ' executado pelo Professor Eugene
Freeman, pela Sra. Ann Freeman e seus coadjuvantes: aqui regis­
tro meus agradecimentos pela atenção que me dispensaram e pelo
cuidado com que levaram a bom termo suas atividades.
O texto da presente edição foi revisto. Introduziram-se alguns
breves adendos e uma curta passagem saiu do corpo da obra para
integrar-se à nota 20.
K. R. P.
Penn, Buçkinghamshire
Maio, 1975

11
to

) r Jt í
O que exclu ir e . o que incluir ? Esse é o p r o b l e m á .
H ügh L o ftin G j D o c t o T D o o lit t íe Js Z o o .

1 . Qnisciêucia e falibilismo

Aos vinte anos, fiz-me aprendiz de um velho mestre marceneiro


de Viena, cujo nome era Adalbert Põsch, e com ele trabalhei de
1922 a 1924, em tempos não muito distanciados da Primeira Guerra
Mundial. Ele se parecia muito com Georges Glemenceau, mas era
homem cordato e bondoso. Depois de haver-lhe ganho a confiança,
aconteceu, muitas vezes, que, sozinhos na oficina, ele me tornasse
beneficiário de sua inexaurível riqueza de conhecimentos. Certa
ocasião, disse-me que, por vários anos, se dedicara a trabalhar em
diversos modelos de máquina de movimento perpétuo, acrescentando
cismadoramente: “Dizem que não é possível construí-la, mas, depois
de construída, dirão coisa diferente!” (“Da sag’n s5 dass m a’ so
was net mach’n kann; aber wann amai eina ein’s g5machthat, dann
wer’n s’ schon anders red-n!” ). Tinha ele como hábito favorito
fazer-me tuna pergunta a respeito de História e respondê-la ele
próprio, quando ocorria eu não saber a resposta (embora eu, seu
aprendiz, fosse alüno da Universidade — fato que muito o orgu­
lhava). “Você sabe”, perguntava-me, “quem inventou as botas de
cano alto? Não sabe? Foi Wailenstein, duque de Friedlarid, du­
rante a Guerra dos Trinta Anos”. Depois de uma ou duas per-
guntas ainda mais difíceis, por ele formuladas e por ele triunfante­
mente respondidas, meu mestre dizia com modesto orgulho: “Vocé
pode me perguntar o que quiser. Eu sei tu d o ” (“Da kõnnen S5 mi
frag,n was Sie wolI’n: ich weiss alies”)
Creio que, ya respeito de teoria do conhecimento, aprendi mais
com meu querido e onisciente mestre Adalbert Pòsch do que com
qualquer outro .de meus professores. Ninguém, como ele, contribuiu
tanto para que eu me tornasse discípulo de Sócrates. Foi ele, com
efeito, quem me ensinou não apenas o quão pouco eu sabia, mas
■também que a sabedoria a que eu pudesse aspirar talvez consistisse

u
. ápénás; em dar-me eu conta mais amplamente do infinito de minha
ignórância.
Essas e outras reflexões, que se colocavam no campo da Epis-
temologia, ocupavam-me o espirito enquanto eu trabalhava com
uma. escrivaninha. Recebemos, por aquela époça> uma grande en-
, comenda de trinta escrivanilihas de mogno, com muitas gavetas.
Receio que a qualidade de algumas daquelas escrivaninhas, espe­
cialmente no tocante ao envemizamento, haja deixado muito a de­
sejar, em razão de minhas preocupações com a Bpístemología. Isso
mostrou a meu mestre, e a mim também, que eu era demasiado
ignorante e demasiado falível para semelhante espécie de trabalho.
Assim, decidi que, ao completar o aprendizado^ em outubro de 1924,
eu deveria procurar algo mais fácil de fazer do que escrivaninhas de
mogno. Durante um ano, dediquei-me ao trabalho social com crian­
ças abandonadas, trabalho que já executara a n te s e havia conside­
rado muito árduo. Mais tarde, após cinco anos devotados princi­
palmente a estudar e escrever, casei-me e entreguei-me, com satis-r
fação, ao mister de professor. Isso foi em 1930.
Naquela ocasião, eu não tinha outras ambições profissionais
que nao a de ensinar, embora viesse a sentir-irie um tanto cansado
de. tal função, após ver publicada a minha Logik der Forsehung, em
fins de 1934. Foi, portanto/com satisfação que, em 1937, tive opor-
' tunidade de abandonar o ensino e tornar-me um filósofo profissional.
Eu havia quase atingido os trinta é cinco anos e julguei que, final­
mente, resolvera o problema de trabalhar numa escrivaninha e, ape­
sar; disso,; preocupar-me com Episteinologia.

2 . Lembranças da infância
Conquanto a maioria de nós conheça a data e lugar de nasci­
mento; mo imeu caso, 28 de julho. de 1902, em Himmelhof, no
distríto=.db Obet -St; Veit, em Viena — , poucos sabem como e quan­
do iniciáram;ssua? ;vida. intelectual; No que respeita a meu desen-
volvimento : filosóficoy .lembro~me- de alguns de. seus. primeiros está­
gios. E não faáv duvida* de que éle éoineçou depois de principiado
meu desenvolvimento emocional e moral. :
Em criança, tenho‘ a impressão de ter sido algo severo e até
mesmo presumido, : embora: essa : atitude; ise-- temperasse com o sen-
timento de .que eu. não ,tinha. o' direito ,de. jjilg&r pessoa alguma salvo
eu próprio. Dentre as. minhas Jembranças mais recuadas, estão senr
timentos .de admiração pelos mais; velhos* ;çpmo por meu primo .Eric
Schiff, a quem eu, admirava por ser um: ano maí§ velho, por sua
aparência bem euidâda e, especialmente, pela süa beleza —- dons
que sempre considerei importantes e inatingíveis.
Hoje, ouve-se dizer com freqüência que: as crianças são' cruéis
por natureza, Não creio, Eu era. quandò criança, o que os norte-
-americanos denominariam “molenga” e a compaixão é: uma das
mais fortes emoções dè que. tenhó recordação; ^ÍPoi o componente
principal de j^ha-^pifeièirá/- amor, octírrida quaiido
eu tinha quatro ou- cinco anos. Fui leyádo a uní jardim de infância,
onde havia uma linda ijiefiàha ide dpis!;aüõs^ cega.. ’ ’Meu* coração se
dilacerou, tanto pela feelèzàvrdo sorrisQvjielfr quanto ‘ pela tragédia
de sua cegueira. -Efal ainorià- Jamàis "a 'estjueci, a^esár
de tê-la encontrado apenas uma véz é tãò^oménte por uma -hoía oü
duas. Não voltei- ao! jardiln dè irifâiiGia ; íálvi^z: ;minha ‘mãe: Jivessc
notado o quanto ali jae períurbeil " - •: ;- í
A visão ' da pobreza abjeta, em- "Viena, foi1. uih^dòkr píiiicipais.
problemas a me comoverem quando eu era1 ainda. 'Criança; >— e. a
comoção era tanta que estava sempre no fundo- dè -irietis pensa­
mentos, Poucas, dentre, as pessoas que vivem atu alm en te numâ :;das
democracias ocidentais, sabem o que significava a pobreza no começo
deste século: homens, mulheres e crianças vítimas da fome, dò
frio e da desesperaria. Nós, crianças, éramos, porém, inütèis. Não
podíamos' fazer mais que pedir alguns centavos para dár a um
pobre.
So muitos anos depois vim a saber que meu pai se esforçara
longamente para pôr paradeiro a tal situação, embora jamais hou­
vesse falado acerca dessas atividades. Ele trabalhava em duas co­
missões que buscavam oferecer abrigo para os sem-lar: uma loja
máçônica, de que durante longo tempo ele foi Mestre, administrava
u m a casa para órfãos, enquanto a outra comissão (não-maçônica)
erigira e mantinha uma grande instituição para adultos e famílias
desabrigadas. (Um dos internados nessa instituição — o Asyl für
Obdachlose foi Adolf Hitler, quando de sua primeira passagem
por Viena.)
O trabalho de meu pai recebeu inesperado reconhecimento ao
dar-lhe o velho Imperador o título de Cavalheiro da Ordem de
Francisco José (Rièter des Franz Josef Ordens), o que deve ter cons­
tituído não apenas uma surpresa, mas um problema. Com efeito,
embora, à semelhança da maioria dos austríacos, respeitasse: o Impe­
rador, meu pai era um liberal radical, da escola de John Stuart
Milí e de modo algum apoiava o governo. -
Na condição de maçom, pertencia a uma sociedade que, na
ocasião, foi declarada ilegal pelo governo austríaco, embora o go-

V
^firno^íhungajio! d& Francisco José não fizesse o mesmo. Os maçons
freqüentemente se reuniam do lado de lá da fronteira húngara, em
P.ressburg:. (hoje Bratislava, na Checoslováquia). O Império Austro-
“Hungarp, apesar de ser monarquia constitucional, não era gover­
nado por seus dois Parlamentos: não. tinham estes o poder de depor
os.: dois: Primeiros-Ministros ou os dois Gabinetes, e nem mesmo o
poder de emitir um voto de. censura.. O Parlamento Austríaco era,
ao. que parece, ainda mais impotente do que o Parlamento inglês ao.
tempo dè. William e Mary, se é que esta comparação tem algum
cabimento. Travaram-se lutas pelo poder e havia severa censura
política; por exemplo, uma brilhante . sátira política, Anno 1903,
que .meu pai escrevera com.; o pseudônimo de Siegmund Karl Pflug,
foi apreendida pela polícia, . quando de sua publicação em 1904, e
até 1918 permaneceu no Index de livros proibidos.
Nãò obstante tudo isso, naqueles dias anteriores a 1919 rei­
nava, na Europa, a oeste da Rússia czarísta, uma atmosfera, de libe­
ralismo, atmosfera: que também dominava a Áustria e que foi
destruída, para. sempre, ao que. hoje ;parece, pela Primeira Guerra
Mundial. A Universidade de Viena, com seus muitos professores
de grande eminência, gozava de elevado grau de liberdade é auto­
nomia. O mesmo era verdade com relação aos teatros, importantes
na vida dê Viena — quase tao importantes quanto a música. O
Imperador se mantinha .à distância de todos os partidos políticos
e não se identificava com nenhum dos governos. Seguia, quase ao
pé . da letra, o conselho dado por Sdren Kierkegaard a Cristiano
V III,. da Dinamarca

3 . Primeiras influências

Fui criado em ambiente indiscutivelmente livresco. Meu p ai,,


o Dr; Simon Siegmund- Carl Popper, era, como seus dois irmãos,
doutor em leis'- pela Universidade de Viena. Tinha uma grande
biblioteca e haviá em casa livros por toda parte — com exceção da
sala de jantar; onde> estava um majestoso^ Bõsendotfer de concertos
e muitos volumes de. Bach, Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert e
Brahms. Meu pai, que '-.tinha a mesma idade de Sigmund Freud ~
cujas obras possuía e. lera quando da publicação — trabalhava como
advogado. Acerca de minha- mãe, Jenny Popper, nêe Schiff, falarei
quando vier a ocupar-me de. música. Meu pai era um orador con­
sumado. Ouvi-o no tribunal^ apenas -uma vez, em 1924 ou 1925,
sendo eu. o réu. O caso estava, em minha opinião, bem definido2.
Por. isso mesmo, não lhe pedi que me. defendesse e senti-me emba-

16
raçado quando ele insistiu. E a completa simplicidade, clareza e
sinceridade de seu discurso me impressionaram muito.
Meu pai trabalhava ativamente na profissão. Havia sido amigo
e .sócio do último burgomestre liberal de Viena,, o Dr. Gari Grübl, a
quein sucedera a testa de um- escritorio de advocacia. Esse escritório
se integrava ao . grande apartamento onde vivíamos, no coração de
Viena, em frente à porta principal da catedral (Stephanskirche).
Papai trabalhava no escritório por longas horas, mas, em verdade,
era antes homem de estudos que advogado- Historiador (parte - con­
siderável de sua biblioteca dizia' réspeitq à H is tó ria )tin h a par­
ticular interesse pelo período helenístáco e. pelos séculòs X V III e
X I X . Fez poesia e verteu para o alemão versos gregos e latinos.
(Raramente falava de tais assuntos. Fòi por acaso que^ certo dia,
descobri algumas ágeis traduções de versos de Horácío. Seus dons
característicos eram a delicadeza de trato e o forte senso de humor.)
Mostrava grande inclinação péla Füosofia. A ele pertenceram obras
que ainda possuo, de Platão, Bacon, Descartes, Spinoza, Locke,
Kant, Schópenhauer e Eduard Von Hartmann; obras escolhidas de
J. S. Mill (em versão alemã, editada por Theodor Gomperz (a
cujos Pensadores Gregos devotava grande admiração) ; a maior parte
dos livros de Kierkegaard, Nietzsche e Eucken,. e os trabalhos de
Ernst Mach, a Crítica de Linguagem, de Fritz Mauthner e Geschlecht
und Charakter, de Otto Weininger (obrais que parecem ter exercido
alguma influência sobre Wittgenstein)3; e traduções da maior parte
dos livros de Darwin. (Em seu escritório, havia os retratos de Dar-
win e de Schópenhauer!) Ali estavam também os autores consa­
grados da literatura alemã, francesa, inglesa, russa e escandinava.
Uma das grandes preocupações de meu pai eram, entretanto, os
problemas sociais. Não apenas possuía as principais obras de Marx
e Engels, de Lassalle, Karl KLautsky e Eduard Bernstein, mas ainda
as dos críticos dç M arx: Bõhm-Bawerk, Gari Menger, Anton Men-
ger, P. A. Kropotkin e Josef. Popper-Lynkeus (ao que parece, dis­
tante parente meu, pois nascera em Kolin, cidadezinha de origem
de meu avô paterno). A biblioteca incluía um setor dedicado ao
pacifismo, com livros de Bertha von Suttner, Friedrich Wilhêlm
Fõrster e Norman Angell.
Assim, os livros fizeram parte de minha vida muito antes que
eu pudesse lê-los. O primeiro livro a causar-me impressão forte e
duradoura foi lido, por minha mãe, para minhas duas irmãs e para
mifflj pouco antes de eu aprender a, ler. (Fui eu o último dos três
filhos.) Era um livro para crianças, da.grande escritora sueca Selma
Lagerlõf, em bela, versão alemã ( Wunderbare Reise des Kleinen
N ils:-;-.lio Igersson mii den Wildgãnsen^ dC versão inglesa se intitula
The 'Wònderful Adventures of Nils.) Durante muito e muito tempo,
relij.èsse: livro pelo menos uma vez .por ano; e, posteriormente, li
(prpyavelmente mais de uma vez) tudo quanto Selma Lagerlõf,
escreveu. Não aprecio sèu primeiro jomance, Gosta Berling, embora
ele tenha, indubitavelmente^ muitas qualidades. Todos os outros
livros, dessa escritora continuam a ser. para mim, todavia, obras-
-primas. ••
.Aprender a ler e, em menor grau, a escrever são, naturalmente,
os^acontécimentos mais significativos. no.. desenvolvimento intelectual
de ;úma pessoa. Nada há comparável, pois . poucas são as pessoas
(Heien Keller é a grande exceção) capazes de recordar, o què para
ela?;. significou aprender a falar. Serèi sempre grato a minha pro­
fessora,. Emma Goldberger, que jne ensinou a ler, escrever e. contar,
Issò , é, creio eu, o que há de. essencial para ensinar a uma criança;
e, para aprendê~lo} algumas crianças nem sequer precisam ser ensi­
nadas. Tudo o mais é atmosfera e aprendizado através ,de leitura
e reflexão.
Sem contar meus pais, minha professora e Selma Lagerlõf,. a
maior •influência exercida sobre os primeiros estágios de meu de­
senvolvimento intelectual foi, julgo eu, a de um amigo de toda a
vida, Arthur Arndt, parente de Ernst Moritz von Arndt, um dos
famosos, patriarcas do nacionalismo alemão no período das guerras
napoleônicas V Arthur Arndt era antinacionalista ardoroso. Embora
de; ascendência alemã, nascera em Moscou, onde passou a juven­
tude. Era mais velho do que eu cerca de vinte anos — ele estava
próximo; dos trinta quando o conheei em 1912. Havia estudado
engenharia .na. Universidade de Riga e fora um dos líderes estu­
dantis durante a ^malograda revolução russa de 1905. Era socialista
e., ao mesmo tempo, feroz adveísárip dos bolcheviques, alguns de
eujos- chefes conhecia pessoalmente desde 1905. Descrevia-os como
jesuítas-: do í socialismo, istO' é, capazes? de- sacrificar pessoas inocentes,
mesma qüe da; -mesma, orientação, pois os: grandes fins justificavam
todos os-ineios. >Arndt não era marxista convicto, embora conside-
rasse? ;que, -atét aquelas íéppca, fora Ivíarxi o; mais importante teórico
do socialismo. Ele encontrou em mim álguétn assaz disposto a
ouvir íalar, das. idéias socialistasnada, acreditava, eu, podia ser
màis.importante do,. .que- pôr .fim à. pobreza.
Arndt também se interessava .profundamente (muito mais do
que meu pai) pelo movimento qiie os: .discípulos de Ernst Mach e
Wilhelm Ostwald haviam; iniciado,, aima sociedade cujos membros
denominavam a si próprios^ “rnonistas’.5- ( e q u e tinha ligação com
a célebre revista norte-americana The Monist, de que Maçíl era
colaborador). Os monistas. sentiam-se atraídos pela Ciência, pela
Epistemologia e pelo que hoje chamaríamos Filosofia da Ciência.
.Entre os. monistas .de.: Viena, o 'ímeío-socialistaí, Popper-Lynkeus
teve considerável número de seguidores, inclusive, Otto jNeurath.
A primeira obra, que li acerca do socialismo- (provavelmente
sob influência de meu amigo, Arndt;: meu pai. relutava em influen­
ciar-me) foi Looking; Backwurd, de Edward Bellamy. -Creio que/ a
li quando tinha mais, ou menosdozeianos, e^oílivro ;muito me irnpres-
{ sionou. Arndt levava-me a passeios^promo.vidos pelos monistas nos
bosques de Viena,. e, nessas ocasiões-, expunha e discutia-marxismo
e darwinismo. A maior parte do ;que ele: .dizia.ficava* ;sem dúvida,
, além de meu alcance; Mas era interessante e estimulante.
Uma dessas excursões domingueiras dos marxistas realizou-se
no dia 28 de junho de 1914. Ao cair da noite, quando: nos aproxi­
mávamos dos subúrbios de Viena, soubemos, que o arquiduque Fer-
dinando, herdeiro presuntivo da Áustria, havia sido assassinado em
Sarajevò. Cerca de uma semana dçpois, minha mãe saiu comigo e
minhas duas ■irmãs para gozar férias de verão em Alt-Aussee, aldeia
não muito distante de Salzburgo. Ali, rio meu décimo segundo ani-
| versário, recebi carta de mêu pai em que ele dizia sentir não poder
| juntar-se a nós, como pretendera, "porque, infelizmente, há guerra”
(“denn es ist leider Krieg” ). Como a carta chegou no dia em que
í houve a declaração de guerra entre a Áustria-Hungria e a Sérviaj
í. parece que meu pai dava-se conta do que estava por vir.
V 1 ' ^
4 . A Prim eira Grande Guerra
Tinha eu portanto doze anos quando começou a Primeira
\ Grande Guerra; e os anos de conflito e suas conseqüências foram,
r sob todos os aspectos, decisivos no que respeita a meu desenvolvi­
mento intelectual. Tornaram-me um crítico das opiniões correntes,
* especialmente das opiniões políticas.,
Claro está que, por aquela época, poucas pessoas sabiam o que
a guerra significava. Corria por todò o país um ensurdecedor brado
de patriotismo, peío qual até. mesmo alguns membros do nosso grupo,
anteriormente alheio às provocações de guerra, foram envolvidos.
Meu pai vivia triste e deprimido. Arndt, contudo, entrevia algo
desejável. Esperava ocorresse uma revolução democrática na Rússia.
I .Posteriormente, recordei com freqüência, aqueles dias. Antes
da guerra, muitos. integrantes, de nosso grupo haviam examinado
teorias políticas de cunho decididamente pacifista que, pelo menos,

19
faziam fortes restrições ao sistema existente, e tinham dirigido críti­
cas à aliança entre a Áustria e a Alemanha e à política expansio-
nista da Áustria, nos Bálcãs, especialmente na Sérvia. Desconcerta­
va-me o fato de que pudessem eles transformar-se subitamente em
defensores dessa mesma política.
Hoje entendo melhor tais coisas. Não havia apenas a pressão
da opinião pública; havia também o problema das realidades divi­
didas. E havia ainda o medo — o meda das medidas violentas que,
na guerra, as autoridades têm de tomar contra os dissidentes, pois
não há como traçar nítida linha divisória entre dissensao e traição.
Na época, contudo, seriti grande perplexidade. Nada sabia, natural­
mente, do que tinha ocorrido com os partidos socialistas da Alema­
nha e da França; nadá sabia do modo por que o internacionalismo
defendido por eles se hâvia desintegrado. (Maravilhosa descrição
desses acontecimentos pode ser lida nos últimos volumes de Os
Thibault^, de Roger Martin du Gard.)
Durante algumas semanas, sób influência da propaganda de
guerra feita em minha escola, deixei-me contaminar pela atmosfera
geral. ’ No outono de 1914, escrevi um ridículo poema, “Celebração
da Paz”, onde admitia que os austríacos e alémães haviam resistido
vitoriosamente ao ataque (acreditava, então, que "nós” tivéssemos
sido'atacados) e descrevia e louvava a restauração da paz. Conquanto
não se tratasse de um poema de caráter muito belicoso, logo me
envergonhei cóm a suposição de que; “nós” houvéssemos sido ataca­
dos. Percebi que a agressão austríaca à Sérvia e a agressão alemã
à Bélgica eram coisas terríveis e que um poderoso sistema de pro­
paganda estava tentando persuadir-me de que tais agressões tinha
justificativa. No inverno de 1915-16, convenci-me — sem dúvida
sob influência da propaganda socialista de pré-guerra — de que
era má a causa da Áustria e da Alemanha, de que merecíamos perder
a guerra (e de que, portanto, a perderíamos, como eu ingenuamente
argumentava).
Certo dia, penso que em 1916, abordei meu pai com o fito de
mostrar-lhe uma justificação razoavelmente bem preparada dessa
posição, mas ele foi menos receptivo do que eu esperava. Tinha
mais dúvidas do que eu acerca dos erros e acertos da guerra e de
seu resultado. Á um e outro respeito, cabia-lhe razão e, obviamente,
eu vira as coisas de maneira demasiadamente simplificada. Não
obstante, ele considerou com grande seriedade meus pontps de vista
e, depois de longo debate, mostrou-se inclinado a concordar com
eles. O mesmo ocorreu com meu amigo Arndt. Depois disso, pou­
cas dúvidas me restaram.

20
A essa altura, todos os meus primos com idade suficiente com­
batiam como oficiais do exercito austríaco, o mesmo acontecendo
coro muitos de meus amigos. IVtinha mae continuava a levar-nos para
férias de verão nos Alpes e, em 1916, estivemos novamente em
Salzkàmmergut —- dessa vez em Isclil, onde -alugamos uma pequena
casa que se .erguia sobre um talude de madeira. Conosco esteve a
irma de Freud, Rosa Graf, amiga de meus pais. Seu filho Hermann,
só cinco anòs mais velho do que eu,, veio visitar-nos, uniformizado,
em sua última licença, antes de partir para a frente de batalha.
Pouco depois, chegava a notícia de sua morte. O pesar da mãe
— e' da irmã, a sobrinha favorita de Freud1 — foi enorme. Fez-me
compreender o significado das longas e aterradoras listas de pessoas
mortas feridas e desaparecidas.
Logo depois, ressurgiram as questões políticas.' A :velha Áustria
havia sido um Estado multilingual: nela se reuniam checos, eslo-
vacos, poloneses, eslavos do sul (iugoslavos) e gente de . fala italiana.
Começaram a surgir boatos de estarem os checos, eslavos e italianos
desertando do exército austríaco. A desagregação começava. Um
amigo de nossa família, que vinha atuando como auditor militar,
falou-nos a respeito do movimento panreslavo, que, em razão de
suas funçoês, estava compelido a estudar, e falou-nos de Masaryk,
um filósofo saído das universidades de Viena e Praga que se tornara
líder dos checos. Soubemos de um exército checo formado na Rússia
e integrado por prisioneiros de guerra austríacos, de língua checa.
E soubemos de sentenças de morte pronunciadas em casos de trai­
ção e do ambiente de terror em que as autoridades austríacas en­
volviam as pessoas suspeitas de deslealdade.

5 . Um antigo problema lilosófico: o infinito


De há muito acredito haja problemas filosóficos genuínos que
não são meros quebra-cabeças nascidos do mau emprego da lingua­
gem. Alguns desses problemas são infantilmente óbvios. Ocorreu
que eu tropeçasse num deles quando era ainda criança, prova­
velmente áos oito anps de idade.
H a v ia m -m e falado âcerca do sistema solar e do infinito do
espaço (do. espaço newtoniano, é claro) e eu me senti perplexo:
não podia imaginar nem que o . espaço fosse finito (que existiria,
então, pára além deíe?), nem que fosse infinito. Meu pai aconse­
lhou-me a consultar um de seus irmãos, hábil, disse-me ele, para expli-
car' esse tipo de coisas. Esse tio começou por indagar se eu tinha

n
alguma dificuldade em imaginar uma seqüência de números que
aumentasse continuamente. Disse-lhe que não. Ele me pediu então
que imaginasse uma pilha de tijolos à qual se acrescentasse mais um
tijolo, e mais outro, e assim por diante, interminavelmente; essa
pilha jamais chegaria a ocupar todo o espaço do Universo. Con­
cordei, de maneira algo relutante, que se tratava de . uma resposta
conveniente, embora ela não me satisfizesse por completo. Claro
está que eu nao tinha como formular as dúvidas que ainda me
assaltavam: tratava-se da diferença, entre infinito real e infinito
potencial, e da impossibilidade de reduzir o infinito real ao poten­
cial. O problema faz parte (a porção espacial) da primeira anti­
nomia de Kant e é (especialmente se lhe acrescentarmos a porção
temporal) um problema filosófico difícil e ainda não resolvido6
— sobretudo depois que mais ou menos foram abandonadas as espe­
ranças que Einstein teve de solucioná-lo. pela demonstração de que
o Universo é um espaço riemaniano fechado, de raio finito. Não
me ocorreu, naturalmente, que minha perplexidade dizia respeito
a um problema em aberto; muito ;aó; contrário, imaginei que se
tratasse de questão que um adultò inteligente — mèu tio, por exem­
plo — deveria entender, ao passo que eu era ainda muito ignorante,
ou talvez muito jovem ou muito estúpido, pára compreendê-lo intei­
ramente. Lembro-me de numerosos problemas .semelhantes — pro­
blemas genuínos e nao quebra-cabeças — enfrentados mais tarde,
quando eu tinha doze ou treze anos: ò problema da origem da vida,
por exemplo, deixado em ; aberto pela teoria darwiniana, e o de
saber se a vida é simplesmente um processo químico (optei pela
teoria de que os organismos são chamas) . -
Esses, creio eu, são problemas quase inevitáveis para quem,
criança ou adulto, tenha tido contato com Darwin. O fato de o
trabalho experimental estar relacionado com eles nao os torna pro­
blemas não-filosóficos. E de modo algum devemos decidir, do alto
de nossa suficiência, qué os problemas, filosóficos não existem ou que
são insolúveis (embora talvez sejam dissolúveis).
Minha atitude perante esses problemas permaneceu invariável
durante muito tempo. Sempre imaginei que as questões que me
preocupavam tivessem sido há muito resolvidas; jamais imaginei que
qualquer delas ; pudesse ser nova. Eu não duvidava de. que pessoas
como o grande Wilhelm Ostwald, editor da revista Das monistische
Jahrhundert (i. e. “O Século do Monismo” ) ; conhecessem todas as
respostas. As dificuldades, julgava eu, deviam-se, totalmente, à mi­
nha compreensão limitada.
6 . Minha primeira falha filosoficá: o problema do essencialàsmo

Lembro-me perfeitamente da primeira discussão da primeira


questão filosófica que se. tòrnou decisiva para o meu desenvolvi­
mento intelectual. A questão surgiu devido à minha. rejeição da
atitude de atribuir importância a palavras, e seu significado (ou
seu. .“ verâàâeiro. ■significado” ).
Eu deviá ter quinze anos, aproximadamente. Meu pai- havia
sugerido que eu lesse alguns volumes- dà autobiografia de Strindberg.
Não me recordo quais foram as passagens que m e-levaram . a,. con­
versando com meu pai, criticar o que eu/Considerava uma. atitude
obscurantista de Strindberg: sua tentativa de extrair algo impor­
tante do “verdadeiro” significado de alguns vocábulos. Tenho lem­
brança, porém, de que me senti perturbadò em verdade; choca­
do — ao perceber que meti pai, enquanto eu formulava minhas
objeçÕes, não se dava conta de minhas posições. Q ponto me parecia
óbvio é, de fato, cada vez mais óbvio, na medida em que o expunha
no correr da^ discussão. Quando interrompemos o diálogo, tarde da
noite, compreendi que minhas idéias não tinham provocado muito
impacto; havia de fato entre nós um abismo, que concernia a uma
questão importante. Lembro-me ‘ de que depois dessa discussão pro­
curei - convencer-me a mim mesmo da. necessidade de. ter sempre
presente o princípio de jamais discutir a respeito de palavras e seus
significados, porque as discussões desse gênero, além de especiosas,
são destituídas de importância. Lembro-me ainda de haver, ima­
ginado que esse princípio simples devia ser bem conhecido e ampla­
mente aceito: suspeitei que meu pai e Strindberg tinham-se esque­
cido de acompanhar os tempos.
Verifiquei, anos depois, que fora injusto com ambos; a erença
na importância das palavras e de seus significados, particularmente
das definições, era quase universal. A atitude que mais tarde deno­
minei “essencialismo” está ainda hoje muito disseminada e a frus­
tração sentida nos anos de escola tem voltado a perseguir-me com
freqüência recentemente.
A sensação de que eu havia , falhado repetiu-se, pela primeira
vez, quando tentei ler alguns, livros de Filosofia da biblioteca de
meu pai. Descobri que a atitude de Strindberg e de meu pai. era,
em verdade, muito generalizada. Isso gerou dificuldades para mim
e certa aversão à Filosofia. Meu pai havia-me sugerido que eu
lesser obras de Spinoza (uma cura, talvez), Infelizmente, não li .as.
Cartas, mas a Ética e os Princípios Segundo Descartes, obras , que'
estão cheias de definições que me pareceram arbitrárias, inúteis ,e

23.
*• ^
viciosasv (quando. chegavam a dizer alguma coisa). Disso, resultou
uiria, ojeriza permanente pelas teorizações a propósito de Deus. (Á
geologia, segundo penso ainda hoje, resulta da falta de fé.) Tam­
bém. percebi que a semelhança entre os procedimentos geométricos
,(a? Geometria riie Üavia fascinado, nos tempos de escola) e o more
geometrico spinoziano era superficial. Kant era diferente. Embora
eu achasse a Crítica muito difícil, pude notar que não abordava
problemas ilusórios. Após tentar ler (com .encantamento, mas, se­
gundo imagino, sem clara compreensão do assunto) o “Prefácio”
dâ segunda edição da Crítica (edição. <ie Benno Erdmann), lembro-
-me de ter virado as páginas e de pérturbar-me e surpreender~me
cOm o singular arranjo das antinomias. Não compreendi o ponto
em exame. Não entendia o que Kant (ou qualquer outra pessoa)
queria dizer ao asseverar que a razão podia contradizer-se a si
mesma. Ainda assim observei, no quadro correspondente à primeira
antinomia, que alguns problemas reais estavam em pau tá; e notei,
com base no Prefácio, que era necessário compreender Matemática
e Física a fim de debater tais problemas*
Neste ponto, creio que preciso voltar-me para a questão subja­
cente àquela discussão, cujo impacto sobre mim ténho presente
ainda hoje. Tratà-se de uma questão que contínua a separar-me da
maioria de meus contemporâneos e que, por haver assumido impor­
tância vital em minha vida de filósofo, devo examinar pormenori­
zadamente, ainda que isso exija uma longa digressão.

7 . Longa digressão a respeito do essenciàiismo : aquilo que ainda


me separa da maioria dos pensadorès contemporâneos
Dois são os motivos que me levam a considerar isto uma di­
gressão. Em primeiro lügar, porque a. maneira pela. qual formulo
minha posição antiessencialista, no terceiro parágrafo logo a seguir,
é indiscutivelmente tendenciosa, pois resulta, de idéias muito poste­
riores aquelas que defendi na época a que alude, o capítulo anterior.
Em segundo lugar, porque as partes finais do capítulo não visam
propriamente a traçar a história de meu desenvolvimento intelec­
tual (embora esse aspecto não seja olvidado), mas a discutir uma
questão cujo esclarecimento me tomou praticamente a vida inteira.
Não pretendo insinuar que a formulação apresentada a seguir
estivesse presente no meu espírito quándo eü tinha quinze anos de
idade. Todavia, não vejo eomo definir1com maior precisão a atitude
que adotei após ia discussão travada còm meu pai, referida na seção
anterior.

24
Nunca se incline a considerar seriamente problemas relativos a
palavras e seus significados. O que deve ser encarado com seriedade
sao questões de fato e asserções a propósito, de fatosx teorias e hipó­
tesesf bem como os problemas que elas resolvem e.. suscitam.
No que segue, aludirei a este conselho que dei -a., mim mesmo
chamando-lhe minha exortaçao ! antiessencialista.i. Dfiscóiisidefsnclò! a
referência às teorias e às hipóteses (que deve ser;-.- provavelmente,
bem posterior), a exortação traduz, com apreciável!/ fidelidade, os
sentimentos que tive ao tomar consciência das armadilhas repre­
sentadas pelas preocupações ou discussões em torno- de: palavras £
seus significados. Aí está, segundo ainda hoje me parece,. ;.a. yia
mais segura para a perdição intelectual: abandonar problemas reais
em favor de problemas verbais.
Cumpre ressaltar, porém, que meus pensamentos acerca desse
ponto estiveram, durante longo período, imersos na crença ingênua,
mas firme, de que; tudo isso devia ser bem conhecido, particular­
mente pelos filósofos, desde que estivessem suficientemente atualizados.
A crença conduziu-me posteriormente, quando passei a . ler com
a devida atenção as obras filosóficas, à tentativa de localizar meu
problema — o da relativa falta de importância das palavras —
entre os problemas tradicionais da Filosofia. Disso resultou minha
decisão de que o problema estava intimamente associado ao clássico
problema dos universais. Foi um erro de julgamento. Todavia, o
erro índuziu-mè a dar atenção ao problema dos universais e à sua
história; Convenci-me bem depressa de que por trás do clássico
problema das palavras universais e de-seus significados (ou sentidos,
ou denotações) havia um problema de maior profundidade e impor­
tância: o problema das leis universais e da sua verdade, isto é, o
problema das regularidades.
O problema dos universais é tratado, ainda hoje, como se fora
um problema acerca de palavras ou de usos da linguagem; ou de
similaridades que se manifestam em certas situações e de como elas
se põem em correspondência com similaridades de nossos simbo­
lismos lingüísticos. Parecia-me óbvio, entretanto, que o problema
tinha muito maior, alcance; qúe ele dizia respeito, fundamentalmente,
a reações similares, em situações biologicamente similares, Uma vez
que todas (ou quase todas) as' reações, biologicamente falando,
possuem um valor antecipatório, somos levados a considerar o proble­
ma da antecipação ou da expectativa e, por conseguinte, o problema
da adaptação às regularidades. -
: Em toda a minha -vida não apenas acreditei na existência do
que os filósofos denominam “mundo exterior** como também con-

- : — ' ' ....... - ....................................................... - ........• 2 3


pjosiçãò^^GontráriÈt como indigna de: .ser encarada com
' :) ^ ^ M f e r1?Sissa'^íãb; .quer dizer que eu não tenha discutido a questão
comigo: inéàrno ou que não tenha tentado analisar, digamós5 o “mo-
:nismo neutro” e outras posições idealistas semelhantes. Contudo,
sempre :fut um adepto do realismo e isso meLpermitiu notar que o
termo s(trealismo” era empregado, no contexto da questão dos uni­
versais; com. significado bem peculiar: para indicar concepções
:opostas ao nominalismo. A fim de contornar dificuldades oriundas
dèsse* modo de entender o vocábulo, inventei o termo “essenciàiismo”
■■(que provavelmente surgiu quando èu escrevia T h e Poverty . of
Histoiicism, em 1935; ver “Nota Histórica*\ na edição em livro)
para indicar qualquer concepção (clássica) oposta ao nominalismo,
particularmente às teorias de Platão e de Aristóteles (e a “intuição,
das?.essências”, de Husserl, entre os modernos);
Pelo menos dez anos antes de escolher esse nome eu já havia
tomado, consciência .de que o: meu problema, diversamente do que
sucedia, com o clássi,co problema, dos universais (e sua variante
biológica), era ^nipToblema.-demêtoda. Com efeito, o que eu pro­
curara; gravar .na -mente, era uma, exortação, a pensar ou agir de
uma;;dada! .maneira :e ínãor de outra*. Essa ai razão pela quãl, muito
e “antiessencialisma”, eu
j^^a^a^rtquaUÊicado ;‘‘^rninaHsmo’! xomo. termo de caráter “me­
todológico”, utilizando a> expressão “nominalismo metodológico”
p^afídesignarv a^^tit)iid% caracterizada pela exortação. (Penso, hoje,
que;;:p;. nqme. ,é; uni pouco enganador. A escolha de “nominalismo”
resultou da, tentativa de comparar minha atitude com certas con-
cepções. conhecidas ou da tentativa de pelo menos encontrar seme­
lhanças entre a atitude e alguma daquelas concepções. Todavia,
nunca aceitei o “nominalismo” clássico.),
. No início da década iniciada em 1920 travei duas discussões
que tiveram certa influência nessas idéias. A primeira com o eco­
nomista e teórico político Polanyi. Karl Polanyi acreditava que
aquilo que eu chamava “nominalismo metodológico” era típico das
Giências. Naturais, mas não das Ciências Sociais. A segunda dis­
cussão, que ocorreu um pouco mais tarde, travei-a com Heinrich
Gomperz, pensador de idéias muito originais e vasta erudição, que
muito me impressionou ao descrever minha posição como “realista”,
em ambos os sentidos da palavra.
Julgo, agora, que tanto Polanyi como Gomperz estavam certos.
Polanyi, porque as Ciências Naturais estão, isentas, em grande parte,
de debates verbais, ao passo que o verbalismo. campeava (e ainda
campeia) sob muitas f o r m as nas Ciências S o cia is. Mas isso não
é tudo. Eu deveria dizer7a que as relações sociais pertencem, de
múltiplas maneiras,: ao que em épocas recentes denominei 4‘terceiro
mundo”, ou melhor, "mundo-3”, o mundo das teorias, dos, livros,
das idéias, dos problemas; mundo que desde Platão — que o via
como um universo de conceitos;— tem sido -analisado essencialistica-
mente. De outra parte,' Gomperz estava certo, porque. ,um realista
que admita a existência do “mundo.: exterior” acredita., necessaria­
mente, num cosmòs; nao em um. caos*" acredita, para dize-lò de
outro modo, em regularidades. ‘E, conquanto’ eu .combatesse mais
o essencialismo clássico do que o nòminálismo não me. dàva conta,
na ocasião, de que, substituindo o problema ;da, existênciá de simi-
laridades pelo probiqma da adaptação' biológica âs. regularidades,
eu de fato me aproximava do “reâlismò” e não do nomihalisrno.
A fim de explanar essas questões, nos moldes em que as coloco
hoje, empregarei a tabela das idéias que publiquei em “On the
Sources of Knowledge and Ignorance” 8.

ID ÉIA S
ou sèjitf
D ESIG N A Ç Õ ES ou T E R M O S ENUNCIADOS o u PROPOSIÇÕES
ou C O N C E IT O S ou TEO RIAS
padepi ser forpmlàdas
• em
PA LA V RA S 1 A SSER Ç Õ ES
que podem ser
SIG NIFICATIVAS j VERDADEIRAS
más çuja
SIGNIFICAÇÃO | VERDADE
se reduz, por rtièio de
D E F IN IÇ Õ E S . j DEDUÇÕES
à de
CONCEITOS NÃO-DEFINIDOS. |’ PROPOSIÇÕES PRIM ITIVAS

a tentativa de estabelecer {em vez de reduzir)


por iats metos seu
S IG N IFIC A D O | , VERDAD E
conduz a um â regressão
infinita

27
í? j©;-quadro é;.trivial:. está bem firmada a analogia lógica entre
a coluna àa. esquerda e a da direita. Contudo, esse quadro permite
^situai; minha exortação, que pode ser assim reformulada:
. ' • Em que pese a perfeita analogia lógica•entre a coluna da es­
querda e a coluna da direita, a primeira é filosoficamente destituída
ãe~importancia, ao passo que a segunda e filosoficamente essencial9.
Isso implica que as filosofias do significado e as filosofias da
linguagem (na medida em que se preocupem com palavras) seguem
trilha errada. No que concerne àos assuntos intelectuais, os únicos
alvos dignos de perseguir são teorias? verdadeiras ou teorias que se
aproximam da verdade — isto é, que estão mais próximas da ver­
dade do que outras teorias rivais, mais antigas, por exemplo.
Acredito que a maioria das pessoas concordará com o que
acabo de dizer; inclinar-se-ão essas pesSoas, porém, a argumentar
como segue. Saber se uma teoria é verdadeira, ou nova, ou intelec­
tualmente signifiqatíva, é coisa que depende de seu significado; e o
significado de uma teoria (desde que formulada sem ambigüidades*
de um ponto de vista gramatical) é uma função dos significados
das palavras em que a teoria é vazada. (“Função”, neste contexto,
assim como na Matemática, é vocábulo utilizado com o objetivo de
dar conta dà ordem, dos argumentos.)
Essa maneira de conceber p significado de uma teoria parece
quase; óbvia; e amplamente acéita e, freqüentes vezes, inconsciente­
mente acolhida10. Apesar disso, quase não há verdade, no que ela
sustenta. Eu: a refutaria sem descer a minúcias, com a. seguinte
fprtnulação:
A relação? entre uxn- enunciado ou uma teoria e as palavras usa­
das para formulá-los e semelhante, .sob vários prismas, à relação que
vige: entre palavras,, escritas e as letras utilizadas, para escrevê-las.
Obviamente^. as., "letras^ naç^ “significado”, no sentido em
que a, têm as palavras j todavia, é indispensável conhecer as letras
(ou seja,: seus “significados”, em. algum, outro sentido) para reco­
nhecer as palavras; e, assim, discemlr-lhes- os significados. Aproxi­
madamente, esm ole- podè dizer de palavras e enunciados ou
teoriasv
s ’ As. letras, têm 'um papél meramente pragmático, ou técnico, na
formação das palavras, No meu. entender, as palavras também de­
sempenham um : papél ^simplesmente pragmático, ou técnico, na for­
mulação de teorias» Assim, ietras-^e palavras são. apenas meios para
certos fins (e fins diversificados).:- -E os únicos fins intelectualmente
importantes, são; a formulação de problemas; a apresentação, em
caráter de tentativa, de teorias que possam resolvei* esses problemas;
e a discussão crítica de teorias rivais. A discussão crítica aprecia as
teorias em termos de seu valor racional ou intelectual, como solu­
ções para o problema em pauta* e no que diz. respeito. à sua verdade
ou aproximação da verdade. A. verdade é o princípio regulador
fundamental quando se efetua a crítica das teorias; outro princípio
é a capacidade que as teorias têm. :de colocar e jesolver novos pro­
blemas. (Ver, meu Conjectures and. Refutations; capítulo 10.)
Há exemplos excelentes para mostrar que duas: .teorias, e X 2,
apresentadas em termos: inteiramente diversos- (termos: que não se
traduzem de maneira biunívoca), podem - ser. apesar ídisso; logica­
mente equivalentes, a ponto de se poder -afirmar que se trata de
meras formulações diferentes de uma: única teoria>. Isso atesta que
é errôneo encarar o “significado” lógico dec mmà- teoria ;como algo
que se determine pelos “significados” das palavras. (A fim de esta­
belecer a equivalência entre T 1 e T 2, pode ser necessário construir
uma teoria mais ampla, T 3, na qual T x e T 2 venham a ser tra-
duzíveis.' Sirva de exemplo um conjunto de axiomatiz&ções diversas
da Geometria Projetiva; outro exemplo é dado pelos formalismos da
Mecânica . Quântica, em termos de partículas ou em termos de
ondas, cuja equivalência pode ser fixada quando os dois formalismos
sao levados parà a linguagem dos operadores.)11
É óbvio, naturalmente, que a alteração de uma palavra pode
produzir alterações radicais no significado de uma teoria ou de um
enunciado, exatamente como a troca de uma letra pode modificar
de todo o significado de Uma palavra e, assim, modificar uma teoria,
fato que qualquer pessoa compreende, se já se interessou, digamos,
pela interpretação dos textos de Parmênides. Todavia, os enganos
de copistas ou de linotipistas,-conquanto fatalmente desnorteadores,
podem ser corrigidos, via de regra, pelo exame do contexto,
Quem já se tenha dado ao trabalho de traduzir trechos escritos
em outro idioma e tenha refletido sobre o tipo de esforço requerido,
sabe que não existe uma tradução gramaticalmente correta e quase
literal de qualquer texto iiiteressante. Uma boa tradução é uma
interpretação do original; eu iria mais longe, afirmando que a boa
tradução de um texto nao trivial deve ser uma reconstrução teoré-
tica. Deve incorporar até pequenos comentários. Toda boa tradu­
ção tem de ser, a um tempo, próxima e livre. Incidentemente, é
errôneo supor que as considerações de ordem estética não sejam
pertinentes rias traduções de escritos de cunho teórico. Basta pensar
numa teorià como. a de Newton ou a de Einstein para notar quão
insatisfatória seria a tradução que fixasse o conteúdo da teoria se^u,
;-íoda,via^4trazer à. tona certas ; simetrias^ internas que ela apresenta.
Se alguém ;lesse uma tradução em que tais simetrias nao se fizessem
pi:esé.ntesji;,esse .alguém, ao descobri-las, “julgaria com razão que tinha
umái iG o n trib u iç ã o original a dar, que havia descoberto um teorema,
aind.á.que o teorema interessasse apenas por motivos de ordem esté­
tica... (Motivos análogos: tornam preferível — mantendo-se outros
fatores em pé de igualdade — uma tradução em verso das obras de
Xenófanes, Parmênides, Empédocles ou Lucrécio, que se há de-
r e v e l a r m u it o s u p e r io r à tra d u çã o em p r o s a . ) 12
De qualquer maneira, embora uma tradução possa mostrar-se
imperfeita por não ser suficientemente precisa*, a tradução precisa
de um texto difícil simplesmente não existe. E se as duas línguas
em tela tiverem estruturas diversas, algumas teorias poderão ser quase
intraduzíyeis (como Benjamin Lee Whorf tão bem ressaltou). Ê
claro que se as duas línguas se assemelharem tanto quanto, por exem­
plo, o grego e o latim, a introdução de alguns poucos vocábulos
novos tornará a tradução possível. Contudo, há casos em. que co­
mentários minuciosos precisam; substituir a tradução 13.
Tendo em conta todos. essesr fatos* percebe-se quanto equívoco
existe na idéia de linguagem precisa ou de. precisão de linguagem.
Se nos, dispuséssemos a colocar “Precisão” em nosso Quadro de
Idéias; apresentado acimaj fesse- iermo: figuraria.na coluna da ésquerda
(porqueaj precisão lingiMstica de ,uxn .enunciado, dependeria inteira- ,
menter/d ^ ^ècis^ãòí;ídas palavras •utiUzadas^ vj.. ò termo teria por .cor-
respôndeiitè^na .cpluna, da direita,; algo como; “Certeza”. Todavia,
não ,po|og.uéi{.^çsse^- tennçs.. .jip:. quádro porque; desejei construí-lo de
maneir;ã: ;a:.^conservar ánte^almenteMO. y;alor da., coluna da direita; e a
pi^ççisa^ > : e z ideais; impossível alcançá-los, de
modo,;:que;,ígles sef/íomamvp^iSP5^??1^11^6 enganadores, quando aceitos,
sem; críticaj -na concÜção ^de guias. Perseguir. precisão ê o mesmo que
perseguir certezas e, ambos, os; tobjetivos deverá ser .abandonados. ■
Não estou sugerindo, é, clarp, -que lo aumento ,de. precisão nao
possa, tornar-se assazrdesejáyel. numa previsão ou
na. formulação de^.ç^tas^íMoçÕesÇ.r. - e s t o u sugerindo resume-se
nisto:, é sempre And&ejaueUéf&zer: jesforços.. no, sentido de. aumentar, a
pr.eçisãpj a bem.âela^ r—: particularmente a: precisão lingüística ■ —
porque. isso leva, d-e. .':}iabito.j._..a. uma. diminuição da clareza, a uma
perda de tempo e deílenergia..com. .aspectos secundários (que muitas
vezes são., inúteis, pois^e^yeem^supexadospelo real avanço da m atéria).
Nunca se. deve procurar rnaipr, precisão do que a exigida: pela situação.
Creio poder, formular minha posição da seguinte maneira. Cada
aumento de clareza tem, por si: mesmo, u m valor intelectual; o au­
mento de precisão ou de exatidão, entretanto„ j<5 tem valor pragmá­
tico, de meio: para a. consecução de - algum objetivo detérminado.
Esse objetivo, geralmente, é uma maior possibilidade de prova ou
de critica;, exigidos pela situação-problema. (que pode exigir, por
exemplo, a distinção entre duas teorias rivais que levam a previsões
qüase indiscrimináveis)14.
Está claro que estas concepções diferem grandemente das idéias
implicitamente defendidas por mm tos, filósofos da. ciência de nossos
dias. A* atitude desses filósofos, no que^ concerne à precisão, remonta,
creio eu, à época em que/Matemátiçare Físiea<erain vistas, comoas
Ciências Exatas: Cientistas £;.íü$sofjÇ>5 inclinações cientificas im­
pressionaram-se muito com a.preçi$ão; ,áè»á^^iâisç!çlinas. ;Sentiram-se
obrigados a acompanhar 011 a estimular essa; ‘‘exâtidâo’ esperando
provavelmente que -a. fertilidade surgisse como. .unia. espécie de sub­
produto da precisão.. Todavia, a fertilidade nãò é decorrência da
exatidão, mas da percepção de novos problemas onde ninguém os
havia' visto antes e da invenção de novas maneiras de resolvê-los.
Minhas observações a respeito da História da Filosofia contem­
porânea, eu as deixo, entretanto, para o final desta digressão; vol­
to-me, novamente, para a questão do sentido ou da significação de
um enunciado ou de uma teoria. ,
Em que pese minhà exortação de não me envolver em que-
relas a propósito de palavras, estou pronto a admitir (um pouco
desdenhosamente, talvez) que podem existir significados da palavra
^significado” que tornem, o significado de uma teoria inteiramente
dependente das palavras utilizadas na sua formulação. (£, possível
que a “denotaçao”, de Frege, seja um de tais sentidos, embora muita
coisa dita pelo próprio Frege contradiga a suposição.) Também
nao nego o fato de que, muitas vezes, é preciso entender as palavras
para entender úma teoria (embora isso não seja, de modo algum,
uma verdade geral, como o pode atestar a existência de definições
• implícitas). Mas o que torna interessante ou significativa uma teoria
— aquilo que procuramos entender, se desejarmos entendê-la — é
algo muito diferente. Formulando a noção de modo meramente
intuitivo e, pois, rudimentar, o que torna interessante uma teoria
é a relação lógica vigente entre ela' e a situação-problema prevale-
cénte^: a relação que mantém com teorias rivais anteriores, sua capa­
cidade, de resolver problemas existentes e sugerir novòs problemas*
Em outras ..palavras, o significado ou a importância de uma teoria,
neste ; sentido,: depende de contextos muito amplos, embora, é claro,
o interesse :de tais contextos dependa, por sua vez, das várias teorias,
problemas e situações problemáticos de que se componha.

n.
É interessante notar que essa idéia aparentemente vaga (e, po-
der-se-ia dizer, “holicista”) da importância de uma teoria pode ser
analisada e consideravelmente, esclarecida em termos estritamente
lógicos — com o auxílio da noção de conteúdo de um enunciado
ou de uma teoria.
No geral, estão em uso duas idéias de conteúdo muito diversas,
aparentemente* sob um prisma intuitivo, porém quase idênticas sob
um prisma lógico, e que denominei,, algumas vezes, de “conteúdo
lógico” e “ conteúdo informativo” ; a uip caso particular deste último
tipo de conteúdo também chamei '‘conteúdo empírico”.
O conteúdo lógico dé um enunciado ou de uma teoria pode s
identificado ao que Tarski denoitxinou “classe das conseqüências”
(ou “çlasse-conseqüência” ) , isto é, a classe de todas as conseqüên­
cias lógicas (mas rião-táütológicas). deduzíveis do enunciado qu. da
teoria. ■ .V
Paria, compreender o conteúdp, informativo (comò o chamei), é
preeiso considerar a noção, intuitiva, segundo a qual enunciados ou
teorias tanto mais afirmam qúantò “ mais. proíbem” ou excluem1S.
Essa idéia ihtuitiva: nos leva ã: ;uma- definição de conteúdo informa­
tivo que, para niüitôs, pareccu ãbsurda:. o conteúdo informativo de
uma teoria é o conjunto de enunciados que se mostram incompatí­
veis com a teoria 1B.
- Pode-se ver de imediato, pórém, que os -elementos desse con­
junto, e os elementos do conteúdo lógica se' acham em correspondên­
cia biunívoca: a cada elemento qüe se encontre num. dos conjuntos
corresponde um elemento que se encontra nõ outro* ‘a saber, sua
negação.
Percebemos, portanto, que se jumenta ou diminui a força lógica,
ou o poder, ou a quantidade de informação de uma teoria, aumen­
tam ou diminuem cçmcomitantemente seu -conteúdo lógico e seu
conteúdo informativo. Isso mostra que as duas idéias, sao semelhan­
tes; há uma correspondência biunívoca entre o .que se pode asseverar
a respeito de uma e o que se pode asseverar a respeito da outra. E
mostra também que minha definição de conteúdo informativo não
.é inteiramente absurda.
Entretanto, há diferenças. Àssim, por exemplo, vale a seguinte
regra de transxtiviàaâe, no. que; respeita ao conteúdo lógico: se b e
um elemento do. conteúdo de, a e se o é um elemento do conteúdo
de bj então, o também é elemento ./da- conteúdo de a. Embora exista,
é claro, uma, regra, similar, para o conteúdq informativo, não se trata
de uma regra de. simples transitividàde como esta17.

r
Acresce que e infinito o conteúdo de qualquer enunciado (não-
-tautológico), uma teoria t, digamos. -Gora. efeito, seja a, b, c,
urxia lista mfniitci de enunciados:mdividviülmeritc? não acar­
retam t e que, aos pares, sejam contraditórios. (Para a 'maioria> .das
teorias é viável considerar, por exemplo, a>: ‘k> número . de. planetas
é 0” ; b: “o número de planetas é .1” ; e. assim. ,ppr .diànte.) Resulta
que "t ou a ou ambos31 se .deduz; ■ ; & & portanto, ao con­
teúdo logico de .í; .ioutrgs..-eijun-
ciados da lista. Em decorrência; da'hipótese fonrmlacla a prppósito
de a} b, c, . . ., resulta que nãb é possiyeí deduzia, üm de outro,
qualquer dos enunciados do5.j)aresr de enunciados"jiá seqüência "t ou
a ou ambos”, ÍCt ou;; b , Em'outra-s; palavras,^rnenhum
desses enunciado^ acarreta qualquer- outro. Segue-se que o conteúdo
' lógico • : r • . - ;'
Esse iesultãdp sifcnples:.' íacerça.: do: conteúdo áógico- <de iqualquer
teoria não-tautòlógica é, naturalmente, bem conhecido. : A argur
inenta.çãoi é trivial, porque se baseia numa operação corriqueira, em
que ;se: aplica o conectivo lógico “ou” (em seu sentido não-exclu-
dente)18; daí decorre a suspeita de que talvez a questão da infini-
tude do conteúdo lógico também seja, em última análise, uma
questão trivial.— que depende apenas de enunciados como “ t ou a
ou, um bos^ resultantes de triviais maneiras de enfraquecer t. En­
tretanto, em. termos de conteúdo informativo, percebe-se, de ime-
4 |álo,*5C|ue. a. .situação nao e tão banal quanto parece.
*4 . imaigine-se. que a teoria em pauta seja ,a teoria da gra-
yfta^ãosjâe^tíeiA^on;; chamemo-la N. Nesse caso, qualquer enunciado
jfifeómpátíyéli com: N pertencerá ao conteúdo informativo de N. De­
signemos por E a teoria da gravitação de Einstein. De vez que as
duas, teorias sao incompatíveis, cada uma dèlas pertence ao con­
teúdo informativo da outra: , uma exclui ou proíbe a outra.
1 3stOi’Eevela, de maneira intuitiva, que a asserção de o conteúdo
informativo de uma teoria t ser infinito não é nada banal: qualquer
teoria incqm^patível.. .com t e, pois, qualquer‘ teoria futura que venha
a sóbrepiifórjfr (num 'momento em que, digamos, certo experimento
crucial nôs: h^ja legado, à decisão de abandonar t) pertence, obvia­
mente, ao conteúdo informativo de t. Mas é . igualmente óbvio que
não estamos eiri condições de conhecer ou de construir tais teorias
por. antecipação. Kèwton não: podia vaticinar o surgimento da teoria
de Einstein, ou das que a sucederam.
Torna-se agora possível compreender o que se passa com o
conteúdo lógico, onde a situ.ação é semelhante, embora um pouco
-menos. «cl^i^títuiti^nient^ .Jalando. Gomo E pertence ao conteúdo
informativo.^ áèrW, -resulta qúe não-E. pertence ao conteúdo lógico
de- N] òu sejav-iinSò^ií decorEe de <N, um fato que nao podia ser
conhecido, obviamente, por Nèwton oü por qualquer outra pessoa,
antés -da :fòrmulaçao de E. J’:
..' \ Esta situação curiosa eu a tenho descrito em minhas preleções,
afirmando: núnca sabemos acerca de que falamos. De fato, q u an do
forníulàmos umá teoria ou procuramos entender uma teoria, tam­
bém formulamos ou tentamos compreender as suas implicações ló­
gicas, isto é, todos ós enunciados que dela decorrem. Todavia, como
— sublinhamos, semelhante tarefa é impossível de concretizar: há uma
infinidade de enunciados não-triviais impredizíveis que fazem parte
do: conteúdo informativo de uma teoria e uma correspondente infi­
nidade, de enunciados que fazem parte de seu conteúdo lógico. Não
é;:;p:ossível, pois, conhecer ou compreender todas as implicações de
uma teoria ou a sua plena significação.
Aí está, no que respeita ao conteúdo lógico, um resultado sur­
preendente, no meu entender, embora seja, no que concerne ao
conteúdo informativo, perfeitamente natural. {Somente uma vez
ehtontrei esse resultado formulado em letra de imprensa19, mas já
me referi a ele diversas vezes, por muitos anos, em minhas preleções.)
O resultado mostra que compreender uma teoria é, entre outras coi­
sas, uma tarefa interminável e que, em princípio, há uma compreen­
são cada vez melhor das teorias. Mostra ele ainda que, a fim de
entender melhor uma teoria, é preciso, antes de tudó, descobrir as
relações lógicas que a teoria mantém com problemas e teorias exis­
tentes e que formam o que poderíamos chamar " situação-problema”,
naquele determinado instante do tempo.
Nao se nega que também haja a tentativa de contemplar o
futuro: procuramos, em verdade, descobrir novos problemas, susci­
tados por nossa teoria. Mas a tarefa é infinità e jamais poderá ser
concluída.
Percebe-se, pois, que a formulação que, como acentuei, devia
sei* ‘"meramente intuitiva e, portanto, rudimentar”, pode ser escla­
recida agora. À infinitude nao-trivial do conceito dè uma teoria,
tal como aqui a descrevo, transforma a importância de uma teoria
numa questão que tem aspectos lógicos e aspectos históricos. Estes
ultlmòs'"dependem daquilo que foi descoberto, em certo instante, à
luz da situação-problema prevalecente, acerca do conteúdo da teorià;
•tratasse, por assim dizer, de uma projeção do problema histórico sobre
üXGohteúdô lógico da teoria20.
Em suma, há pelo menos um significado do “significado” (ou
da, ‘•signiücância”), de uma ;teoriá: que a. torna dependente de seu
contendo . e> por. .conseguinte,, imais^. .dependente, das relações* que'
mant^ni; tGpm:. oútrasi teoj^às do~ que - ídosi ^significados; -de quaisquer
conjuntos c le ;vocábulos* ^ wi;5 -
Jí jí<

Um a^ ^ U SG à:^ÍIuSGÃ S lM & lè S ^ é k tê ri S n v fp ^ ik * í á X & à r :à « in i? V rv rrt ri irrrt

dê 'hájbito^ _;ho . còntekto*prõiblema; em que


apareçam. ; -(Nofârj pofêi*i* que "30 cruzeiros” é j Còmü conceito
so&iãlv?õu %fcOriômiCO' um- conceito muito variável: seu significado,
há; /alguns^ãnos, era muito diverso daquele que possui hoje.)
;; Á òjuhiãò de Frege ê diferente. Com efeito, afirma ele: "U m a .
definirão dè úm conceito ( . . . ) deve determinar, sem ambigüida­
des, inativamente a qualquer objeto, se ele se acha ou nao subsu-
mido :;no conceito. ( . . . ) Para falar metaforicamente, cabe dizer:
0 CcòriGeito deve possuir fronteiras bem delimitadas21: É claro,
entretanto, que exigir esse gênero de precisão absoluta de um
condèitò definido requer, antes, que haja precisão nos conceitos
dei? defiríiens' ;e, mais ainda, que haja precisão nos conceitos primi­
tivosj óu- n ão -defin id os. Isso, contudo, é impossível. De fato, ou os
noésost íconceitos primitivos* não-definidos, têm significados tradicio-
naisi- Cque nunca sao* muito precisos) ou são introduzidos pelas cha-
mádàs^ “definições implícitas” — isto é, por vià da maneira por que
serão ^utilizados no contexto de uma dada teoria. Esta segunda
forrna de apresentá-los — se é que necessitam de “apresentação”
— parece a melhor. Entretanto, o ■significado dos conceitos passa a
(depender, nesse caso, do significado da teoria e a maior parte das
' teorias; admite mais de uma interpretação. -Em conseqüência, os
impHcitamente definidos (e, com eles, os conceitos expii-
;éi|ãiíièníe Sjdèfinidos. por seu intermédio) tornam-se não apenas “va-
•gSi^JÇnas-^ sisfematicamente ambíguos. E as várias interpretações
sis^maitíjsamente .ambíguas (como os pontos e as retas da Geometria
P^ojeti^a) .pod,em ser completamente distintas.
?,f ’^/l§^0 ^ a s % para.; estabelecer a inexistência de conceitos “sem
ambigüidad^síoU:'; dea conceitos “de fronteiras nítidas”. Não é pre-

- • 35
•7tásp, •• íquefe nos ''.espantemos'- diante de ■observações como a de
r’jÍlüfÍ0 Í:d;^Aã^Ttuesdelfc a^ respeito das leis da Termodinâmica: “Qual­
quer, físico^sabe^exataménte ò que significam a primeira e a segunda
;jv]d&d^ termodinâmica; entretanto, ( . . . ) não há dois deles que se
ganham de acordo quanto a tais significados” 22.
Sabemos, hoje, que a escolha de termos nao-definidos, tal como
a ;êscolha de axiomas de uma teoria, pode ser arbitrária em grande
pàrte. Frege estava enganado no que concerne a este ponto, pelo
menos' até 1692: acreditava existirem alguns termos intrinsecamente
não^definíveis, porque “aquilo que é logicamente simples não admite
Uma definição apropriada” 23■ Todavia, o que ele imaginava ser
üiti exemplo de conceito simples — o conceito de “conceito” — reve­
lou-se bem diverso do quê ele supunha. Transformou-se em conceito
que se assòcia ao de “conjunto”, e poucos se atreveriam,, atuais
mente, a e,ncará-lo como simples ou destituído de ambigüidades.
Sem émbargo, a busca ilusória prosseguiu. (Refiro-me ao inte­
resse pela coluna da esquerda de minha Tabela de Idéias.) .. Ao
escrever Logik der Forschung, imaginei que a busca dos significados
de palavras estava prestes a encerrar-se. Falso otimismo, pois a
busca, em verdade, ganhava ímpeto24. A tarçfa da Filosofia era
caracterizada, cada vez mais amplamente^ como relativa a signifi­
cados, sobretudo ao significado de palavras. E ninguém contestava
a. sério o dogma implicitamente aceito,, de que o significado de um
enunciado, pelo menos em sua formulação maisexplícita e desti­
tuída de ambigüidades, dependia (era-; funçaò) dos significados das
palavras que encerrasse. Isto se aplicá não apenas aos analistas da
linguagem, na Grã-Bretanha, mas também a todos os que, seguindo
os passos de Carnap, sustentam caber à Filosofia a tarefa da “eluci­
dação de conceitos”, ou seja, a tarefa de tornar precisos os conceitos.
Contudo, não existe o que se possa denominar “ elucidação” ou con­
ceito "explicado13, ou “preciso13. .
O problema, todavia, continua de pé: que fazer, a fim de
tornar claro o significado, se se impõe maior clareza, ou a fim de
torná-lo preciso, se a precisão for necessária? Eis a diretriz principal,
à li# de minha exortação: toda iniciativa que se tome para aumen­
tar a clareza ou a precisão temde ser ad hoc ou “gradual”. Imagi­
ne-se que surja algum, mal-entendido em virtude da falta de clareza;
nap/ Se deve procurar fundamentos novos e sólidos sobre os quais
erigir um preciso "sistema de referência conceptual’V e sim pro­
curar, ^reformulações ad hoc, que contornem esse mal-entendido já
píiesentevOU que:. visem à evitar o surgimento de mal-entendidos se-
poderão
■l^ft^.íi.Étifíí^í!r!l:c Wírfii^ií^á^wr\rríKTÁíri 0v:.:riv-*s/-Ir*-_ riã.Ó Slir^ltloS J 'citS
-evoliição da teoria pode
armas- intelectuais de que
-
.. |aGuM^|Mêsi^^^âí^i;iiè!?^itíj^Íifífear, é; quase certo que as pessoas
; o^. conceito de simultaneidade antes da
s«k* Einstein (as assimetrias nâ Eletrodinâ-
. jamais chegariam à “análise” .einstei-
MÍana^^(€^ãò'í'íS'è!. limagine que eu esteja endossando a idéia, ainda
íiojé1?iriúito freqüentemente defendida, de que a descoberta de Einstein
fqi a; (“análise operativa”. Não foi. Veja-se a página 20 de meu
SlP#!1 "Sofiiety :[;1957.>(h) ] * e edições posteriores, volume. II.)
Ò-Hiiétodo: ad hoc de tratar os problemas de clareza e precisão,
abordando-os de acordo còm as necessidades, pode ser denominado
'tt^iiali}ê^ipára dístingui*lo do método de análise, da nOção de que
Tàf^àn^íâév dá linguagem, como tal, está em condições de resolver
problémâs%:u- .de criar o arsenal de que possamos precisar no futuro.
A ‘dialiàe -nãò resolve problemas. Não pode resolvê-los, assim como a
definirão •oví a- explifcáçao ou a,, linguagem também não podem. Os
probleíriâs são- resolvidos com/ o auxílio, de novas idéias. Todavia,
èxigtem, muitas vezes, novas distinções — que serão elaboradas ad
hoCj diante ' dos objetivos imediatamente em vista.
=Esta longa digressão25 afastou-me da linha principal de minha
-narrativa, à qual agora retorno.
' iíL -- •
%v ano; Im portante: marxismo, ciência e pseudociência
•i\hJrâ- -Uà
^i óiímos^Uimos *e: terríveis; anos da guerra, provavelmente em

" "-^ ^ R é fe fâ iG ils ááf^ásícheíê^; fornos ,[1 9 5 7 ( h ) j ; álüdern às obras reuni­


das ír fb íg ia lg r -a fji
estabelecimentosv de^ensinò sécundário\da Áustria (chamados " Gim-
-^asiUtn^*},.!e^^*,ihoTmBile dictu* — Healgymnasium" ) ' era espantosa a
•pejcdade-: dempo,. embora, os professores tivessem bom preparo e ten-
XASs^lii^-poÉ^ todas as vias, fazer das escolas as melhores do mundo.
Não;te,ér;aí novidade para raim que o.,- ensino podia ser extremamente
•aborrecido — horas e horas de tortura irremediável. (Os mestres
írnuntóaram-nie; nunca mais me aborreci. Nas escolas, descobriam
•quândo os alunos pensavam em coisas diversas das que eram dis­
cutidas, de modo que era preciso estar atento. Mais tarde, porém,
se uma palestra se mostrasse monótona, podià-se ignorá-lae voltar a
atenção para os próprios pensamentos.) Apenas em uma das maté­
rias tínhamos um professor interessante e realmente inspirador. A
matéria: Matemática; o professor: Phillip Freud. (Nao sei se era
parente de Sigmund Freud.) Depois de dois meses de ausência,
motivada pela enfermidade, constatei, todavia, que minha turma
não; havia feito progressos de monta, nem mesmo em Matemática.
Isso me abriu os olhos: comecei a pensar seriamente em deixar a
escola.
A derrocada do Império Austríaco e as conseqüências da Pri­
meira Guerra — a fome, as greves salariais em Viena, a inflação
galopante — já foram descritas com : minúcias; Elas destruíram o
mundo em que eu havia crescido. -Teve início a fase da guerra civil,
que culminou com a invasão dá Áüstria pelas tropas de Hitler e deu
margem à Segunda Guerra Mundial. Eu estava com 16 anos quan­
do a guerra terminou, e a revolução incitou-me a preparar minha
própria revolução. Decidi, era fins de 1918, que deixaria a escola e
passaria a estudar por conta própria. Matriculei-me na Universidade
de Viena. Sem fazer o vestibular (“Matura” ) , foi admitido como
ouvinte; após o vestibular, que fiz em 1922, tornei-me estudante
regular da Universidade. Não havia bolsas de estudo, mas o paga­
mento da matrícula era apenas nominal. E qualquer estudante
podia acompanhar, os cursos que desejasse.
O período era de agitação, embora os levantes nao fossem ap
nas políticos.' Eu ouvi o silvar das balas quando, por ocasião da
Declaração da República Austríaca, òs soldados puseram-se a atirar
nos; membros do Governo Provisório, reunidos na escadaria do edi-
flício. do Parlamento. (Esta experiência levou-me a escrever um artigo
'acerca.;da liberdade.) Havia pouco de comer. Quanto a roupas, a
:máioria de nós só tinha recursos para adquirir velhos uniformes,
adaptando-os para o uso civil. Raros eram os que, entre nós, cogi-
^ta^am, de,, uma carreira. Aliás, quase não existiam carreiras (exceto,
;possiyelmente, numa organização bancária; mas a atividade comer-
, f i ir - < rS l- K p j ■- , r
' L>iroriavamo-nob a estudar e a
y < ív. *r
Jjnpcipaist. o social-democrático e
^ W I ^ P ^ lK á ^ ^ â ^ ^ ^ M ^ ^ ^ ^ ljÈ s ^ g ^ iig re g a n d o os nacionalistas
-posteriormente
r ^ ^ ^ i i c ^ ^ - p a r ü d q .- .d a . .Igreja
ai£s^síí?Ã}eía^oHiman têmeíi te >çatólicâ) tdenprninado^^çris-
S^âní’ ^YV~sbrr ~ -■*- +-r-
embora^fpss e, anti-sòcialista,,' Havia

__ j»í£-iR,^r;..^••••«^'•--^-••••■•^tí.'^.. -jb - . -- - ... -•- --........ ....... - _-


dasíÇrêditioes- BiÔhiSvftlãs" pelos" estudantes^ universitários socialistas.
w - • ■ ? ,.,- t .V * r r '

Ip ca^ |muito semelhantes. Aléin disso, os oradores discutiam


Os comunistas alegavam ter
^•^^j|^^^^Uis>~|ntéa|pè^;|>àd£ià'tas pondo fim à guerra na Rússia
diziam eles, era seu alvo maior. Naquela
Íuí &V‘ãm ‘ apenas em fãvor da paz como ainda, pelo
:de propaganda, contra qualquer violência “des-
Dilrante vâlgum tempo, sobretudo em função do que
“havia. dito,', suspeitei •dos comunistas. Na prima-
Çvíf’ra^'dã^l^l®,. .porém, converti-mé, juntamente com outros amigos,
4 ^ ^ ^ : ^ l á , :^px'bjga^andà que faziam. Durante uns dois ou três
méâes^consldèrêi-tne comunista.
ü l c n "■T^-Z'. h ■.■■} ■-■'-■ , _ . .
A 'deálusão. O incidente que me incitou a
^ ^ ^ ^ .q ^ m u n i s m o e logo me afastou por completo do marxismo
|^£;^m |dbs,.v.mais...iniportarrtes de minha vida. Alguns comunistas
íiãviam sido detidos e se achavam na central de polícia de. Viena,
íifôti^ádbs por comunistas, alguns rapazes socialistas, desarmados,
faziam Hiihâ. ^mariifestação de protesto, a fim de ajudar os presos a
fíififl 'Afaü ' tirõteio principiou. Vários jovens trabalhadores comu­
nistas ísòcialistás" fòrani mortos. Fiquei horrorizado e chocado com
á "brulcLÜâà^ da polícia? e preocupado com minha participação: pelo
: meiiòs èm_ ^princípio, na^ condição de marxista, parte da responsabili-
. >did|^^WítnÍLHâ.sT^ ^tèona. onarxista pede que a luta de classes se
l :|^t^Si£i|[d.%ffal£íiih;^e^sffiéleí’ar; a?-jmp]antaçã° ,d°. socialismo. A tese
":^P^Í|ü^êíJâ;3èf^É|cá^|iO^\.ia, reVòlução- possa reclamar algumas
. número maior do que as de
- s£~f- -
" — r<paE%> .-da- chamado socia-
lismp^çiefttíflço’ ^ tBèrguí}tei^fa - ^ 11% mesmo^se, esses. rcálçulos poderiam
^.ser^s^tfeiiiadps ^éientiídeiat£íeaté’’. A experiência e, era especial, essa
y iindag.açao^. provocaram no meu íntimo uma permanente reviravolta
depsentimentos. - ,
í;i« ^ ^ ô m Unismo é. um credo que promete a concretização de um
müiiclòí-ímelhor. Diz basear-se em . conhecimento: conhecimento das
; ^lêis^íido;^desenvolvimento histórico. Eu ansiava por um mundo me*
--Menos: violento e mais justo, mas tinha dúvidas quanto aò
fsàher‘ — o que eu imaginava ser conhecimento podia não passar de
dlusão; Eu tinha lido, é claro, algumas obras de Marx e de Engels.
Té^las-ia entendido, porém? Examinara-as com olhos críticos, como
•sé ?deve fazer antes de aceitar um credo que justifica seus meios tendo
eiii conta um fim algo distante?
Preocupei-me com o fato de não "só ter aceito, sem maior exame*
uma teoria complexa, como também de haver, efetivamente notado
alguns dos pontos que estão errados na teoria e na prática do comu­
nismo. Eu reprimira, todavia, essas considerações —■ em parte para
ser fiel aos amigos; em parte para ser fiel à “ca u sa ” ; em parte por­
que há uma espécie de mecanismo a nos envolver com força cres­
cente: uma vez feita determinada concessão, que sacrifique a cons­
ciência intelectual, mesmo a propósito de algum aspecto de somenos
relevância, não é fácil retroceder; procura-se então justificar a falha
em nome da fundamental grandeza da causa, que ' parece sobre­
pujar os .pequenos compromissos de ordem moral ou intelectual. A
cadá pequeno sacrifício moral ou intelectual desse gênero, afunda­
mos mais. e mais. Estam os prontos^ - nesse caso, p a ra fazer novos
ihyestimentos, a fim de não perder os investimentos morais e inte­
lectuais já feitos em favor da causa. A situação se assemelha à de
quem está preparado para empregar suas economias em busca, de
lucros não muito honestos. '
Percebi de que maneira o mecanismo atuava em mim e. issò'
me espantou. Percebi ainda de que mòdo atuava nos outros, parti­
cularmente nos meus amigos comunistas. A experiência capacitou-me
a entender mais tarde muitas coisas que, de outra forma, eu não
teria entendido.
Eu aceitara um credo perigoso; aceitara-o sem crítica, dogma­
ticamente. A reação principiou por-, tornar-me cético; depois, ainda
qucvússo acontecesse num período curto, passei a combater todos os
tipos de. racionalismo. (Essa é, segundo vim a notar posteriormente,
uma reação típica dos que ficam desapontados com o marxismo.)
’ v;Aos 17 anos, tornei-me um antimarxista. Compreendi que o
jiisrxisnio tinha cunho dogmático e que era incrível a sua arrogância,
V.^r.U*Wl^WAlJ,Vm\ -
• V
>Wi
X A
V'' VM' ÚVVJ
IUA^UV
AAA
VV^
i.MW

7 IwlUlU 1
1AL
U iVlükUd
^ UilU

f i s i c a m e n t e id êntico aos m ovim entos au to ritário s que


«reoçjapr o n om e d e fascism o. .É claro que deb ati
Sí0 ^ M ^ ti| o f c 6 m ; jp eti^ /t^ leg as. M as foi só dezesseis anos m ais ta rd e ,
emlé©Bo,'yque coffiécèi, -a. escrev er a c e rc a do m arxism o, co m a in ten -
p u b licai; è^ ítrab alh o s. E m co n sêq ü ên cia, dois livros, a p a re -
llJell^S^n^e- Jj9%$ilpi À $ 4 3 : The Poverty of. Historicism e The Open
^Wo0BiB^:£jvemies.

__ d©s?;-*rnetis amigos e colegas marxistas, que davam por


^ ^ g | S Í É ^ iíd iç ã o -d e ^ u tu r o s líderes da classe trabalhadora. Eles
rp» sabia perfeitamente.) qualificações intelectuais
que^ podiam afirmar era conhecerem, alguma
ÍÍ|||l|í|i#fcnrâ' 'marxista — que, aliás, não conheciam a fundo
-espírito crítico. A propósito da vida de um
p ^ ^ U M ã^ ísfb ía1 ainda menos do que eu. (Feio menos, eu
^ál^jfflí^Éieãfesi durante a guerra, numa fábrica.) Reagi
^|^ontra:séssa-“presunção. Seritia que estava diante de uns
^e^qi^^ièêáíê havia dado (nem sempre mereci dam ente)
ifllpipfàIÍ$j£e, por -.conseguinte, decidi que me tornaria

Al
Operário ' Decidi também que nao procuraria tornar-me influente
em ^partidos-políticos, r . • • .
,1' r rFiz, de^fato' vaiiás teritativas no ^sentido de transformar-me em
operário. ívliiiha segunda tentativa ^falhou porque eu não possuía
cójnpleíção física adequada, capaz de me permitir trabalhar dias
seguidos, com uma picareta, no asfalto das estradas. Minha última
tentativa foi de tornar-me entalhado r. Isso não requeria condições
físicas especiais, mas certas especulações teóricas interferiram no meu
trabalho.
vt??vEste. é, provavelmente, o melhor ponto para falar de minha
adrfiiração pelos operários de Viena e pelo movimento em que se
empenhavam — liderado pelo partido social-democrático — , con­
quanto eu encarasse o historicismo de cunho marxista defendido pelos
líderes social-democratas como algo inteiramente errôneo 27. Os líde­
res tinham o poder de inspirar, nos trabalhadores, uma fé inabalável
na missão a cumprir, que seria (nada menos!) que a salvação da
humanidade. Embora o movimento Vsocial-democrata fosse èm gran­
de parte ateu (ainda que um pequeno e admirável grupo se des­
crevesse como socialista religioso), o que movia seus integrantes só
pode ser descrito em termos de ardejite fé religiosa e humanitária.
O movimento era de trabalhadores ■que tentavam educar-se para
cumprir a “missão histórica” a eles■destinada; que procuravam eman­
cipar-se a fim de. liberar a humanidade; que desejavam,, acima de
tudo, acabar com a' guerra. Os poucos momentos de lazer eram utili­
zados pelos operários, velhos e jovens, para freqüentar cursos de
extensão ou para acompanhar as aulas das “Universidadès Populares”
(Volkshochsclíulen) . Os trabalhadores preocupavam-se com sua pró­
pria educação e com a educação de seus filhos, tentando melhorar as
condições de vida, sobretudo as de moradia. O programa era admi­
rável. Em suas vidas, embora houvesse aqui e ali um toque de
pedantismo, os; operários trocavam o álcool pelo alpinismo, o swing
pela música erudita, os romances policiais por leituras mais sérias.
Aswatividades eram pacíficas, mas executadas numa atmosfera po­
luída .pelo fascismo e pela guerra civil latente e. envenenada; e outros-
sirai, infelizmente, por confusas e repetidas ameaças, pois os líderes
trabalhistas insinuavam que seria preciso abandonar os métodos
democráticos e fazer uso da. violência — u m legado da ambígua
pòsiçao de Marx e Engels. Esse grande movimento e sua trágica
destruição pelo fascismo impressionou vividaínente alguns observa­
dores .ingleses e norte-americanos (por exemplo, G. E. R. Gedye 28)>
■'íf-Continuei socialista por vários anos, mesmo após rejeitar o
marxismo; E se existisse um socialismo capaz de combinar-se com
jV /’ daá^differêtrcasfiirále^istem ^entre^o Ipensamento^ dogmático e^o-pen-
^ "r - f- 3Sâ.m,eritop;cpitiBbíC- £.-***•’* - , ■ v.;.
y .-xfqfitis t S t * £ s , * i > : - ' J- - ^ e . e
íã( ^>r -Meuíj> ericontros^icom ^a, ‘-psicologia individual” 'de Alfréd Adlér
j|...^ :: ^^j|^^in^|L.Apsj[ç4ttjÍi}^e:A^e»4J^^d^^p.i^ija^.^emelhantes!. ao meu encontro
| embora tudo ocor-
‘ tJ" ’' " " " ' p||iíi£Üj$^ i(em 1919) 29.
^oi .tjuè1Ísé?£páSsou‘ ;naquèle ano, não deixo de surpre-
!pode acontecer, em tão pequeno prazo,
f Hntelfeç.tual dè uma pessoa. Com efeito, foi nessa
® fiâê^mâ^^piSc^i^jqxiéí'ent&é* em contato com as idéias de Einstein, que
X- ^^tojaia^âiiÍj!
sT" - " ■ =Vi] ■. ’ ,^ i^Èffl.ilâifeía •dominante em meu próprio pensar — a
-Y^'Y Jlông^V^r^b^E?áÈnaís importante influência, talvez. Em maio de 1919,
'^fV^tf^^e^^eâi^eS^inglfeSas'. puderam pôr à prova, com grande êxito, as
’^-ipÉieyísõès> dé: fEitisteih relativas a eclipses. Com essas provas, surgiu
I ;, ;. J' ^/siibitameiíte: innã^ -nova teoria da gravitação e. uma nova cosmologia,
m i^ - t y.àaoàGbmò” sünples' possibilidade, mas como real aperfeiçoamento das
Y;: Jideias- de? «NeAV-tonj Como melhor aproximação da verdade.
'^j^^^^ià fetèin^íez, -uma preleção era Viena a que compareci. Lem-
<Y -'blrfme*a£ienás dè que fiquei deslumbrado. O temâ estava bem acima
" - dà'-,jílíiiliá compreensão. Eu havia sido criado numa atmosfera na
u' - qjaal a. mecânica newtoniana e a eletrodinâmica de Maxwell eram
-y acéitãsj, lado-'a lado, como verdades inquestionáveis. Até Mach, que
f ^Kiüóata I^ewton,. em seu T he Science of Mechanics, combatendo a
espaçQv- absoluto e do tempo absoluto, acolhia as leis new-
é;| :'":%to^anas^ a lei da inércia, para a qual oferecera nova e
^S-T^fáse^ãnteiíinterpretação. E embora: Mach tivesse considerado a pos-

rYS- ^fedéV^tióvos^" conhecimentos, físicos e astronômicos, acerca de regiões do

- Al
çspaço ^onde ocorriam movimentos mais rápidos e. mais complexos
deívque os movimentos-encontrados em nosso próprio Sistema Solar 30.
A. mecânica de Hertz, por sua vez, também não fugia da linha newto-
niana, a não ser em sua forma de apresentação.
A idéia, de que a teoria de Newton espelhava a verdade resul-
tava, naturalmente, de seu êxito incrível, que culminara na desco­
berta do planeta Netuno. O êxito era impressionante porque (tal
como eu iria afirmar posteriormente) a. teoria de Newton reitera-
damente corrigia o material empírico que procurava explicar31.
Apesar disso tudo, Einstein conseguira apresentar uma alternativa,
real, formulando, ao que tudo indicava; sem esperar-por novos expe­
rimentos, uma teoria melhor. Tal còmo Newton, Einstein fizera
previsões acerca -de novos efeitos que s.e manifestariam no Sistema
Solar (e fora dele) . E algumas dessas - previsões, por ocasião das
provas, revelaram-se bem’ sucedidas.
• . < Tive á. sorte de ser iniciado nessas idéias graças a. um jovem e
brilhante estudante de Matemática* Max Elstêin, que viria a falecer
em 1922, quando «ontava--apenas 21 anos de idade. Meu jovem
amigo . não era- um positivista .(como Einstein. o era e continuaria
a^ér,durante, .bom, tempo),,: modq que:;se ■esforçava por sublinhar
os-aspectos, .pbjetivos -da teoriaeinsteiniàna:. o enfoque em termos de
teoria ^os^campos j .à^Eletrpdihamiça è a Mecânica e seus novos tipos
de 'conexão;- ey-,-â-.-maravilhosa idéia, de-uma nova cosmologia — um
universo finito, mas ilimitado. Mas ressaltou que o próprio Einstein
considerava^ íundamental para a "sua teoria o fato de ela acarretar
a teoria newtóniana, dando-a como boa aproximação; sublinhou que
Einstein, mesmo ao considerar sua teoria como um progresso em
relação; à de. Newton, encarava-lhe as propostas como simples passos
em direção a uma teoria ainda mais geral; e chamou minha atenção
para o fato de que Hermann Weyl havia publicado, antes das obser­
vações feitas por ocasião dos eclipses, um livro (Raum, Zeit, Ma~
terie, 1918) em que formulava uma teoria mais ampla è mais geral
que a de Einstein.
Não há dúvida de que Einstein tinha tudo isso em mente ao
descrever, mais tarde, em outro contexto, que “não pode haver me­
lhor destino para uma teoria física do que abrir inargem para uma
teoria mais. ampla, na qual sobreviva, como caso-limite” 32. Entre­
tanto, o que mais me impressionou foi a explícita asserção dè
Einstein, de que consideraria insustentável a sua teoria caso ela
viesse.) a falhar em certas provas. Einstein escreveu, por exemplo,
que “se o desvio das linhas espectrais para o vermelho devido ao

44
potencial gravitacional não ocorrer, a teoria geral da relatividade
será insustentável*’ 33.
Aí estava: Uma atitude., completamente diversa da atitude dogmá­
tica dé Marx, Frèud', Adler' e mesmo de alguns de seus. sucessores.
Einstein: procurava ;éxperífàentos Cruciais, cujb acordo com suas pre-
Y ^ £ ^ ã o ,J ; teonà relatividade, mas
^3^-;, íièèücòtpSi' ^'^roprio düiisil;hà eiii •■•aòsntüàr, revelaria a
impossibilidade <âè aceitar-se a teoríà. ■’ .""'V
Eásâ- '£ r a ^ & i ^ ,pieni#iça. Ela diferia
por completo dá atituele dògmátiga, ;q u è , gòii^
haver encontrado ^‘verifièaçoes” de , teorias ;pre|liletaS:J\ , r
Gheguei, assim, em; £ins.de 1919, à conclusao ;de que.- a atitude
científica era uma atitude crítica, em que nao importam as verifica­
ções, mas as provas cruciais — provas, que poderiam refutar a teoria
em exame, conquanto jamais pudessem estabelecê-la ou prová-la.

9 . Primeiros estudos

Embora os anos que vieram após a Primeira Grande Guerra


fossem anos sombrios para a maiòr parte de meus amigos e para
mim, a época foi estimulante. Não que estivéssemos felizes.. Quase
ninguém tinha perspectivas: ou planos para o futuro. Vivíamos num
pais muito pobre, em que a guerra, civil era endêmica, recrudescendo
cie quando „em quando: . Sentiamo-nos, freqüentemente deprimidos,
abatidos, desencorajados. Mas estudávamos e nossos espíritos-man­
tinham-se ativòs, progrediam. Liamos avidamente tudo que nos caía
sob os olhos * havia debates, mudanças de opinião, estudo, análise
crítica, meditação. Ouvíamos música, vagabundeávamos pelas belas
montanhas da Áustria e sonhávamos com um mundò melhor, mais
saudável, mais simples e mais honesto.
No inverno de 1919-1920, embora meus pais preferissem natu­
ralmente que eú continuasse a morar com éles, passei a viver numa
ala abandonada de um antigo hospital militar, transformada pelos
colegas nüma “casa de estudantes” extremamente primitiva. Não só
desejava eu independência como tentava não ser um fardo para
meu pai, que já passara dos 60 aiios e havia perdido todas as suas
economias com a grave inflação de pós-guerra.
Eu tinha, feito alguns serviços não-remunerados na clínica de
orientação de crianças de Alfred Adier; agora trabalhava de. maneira
esporádijEa, também praticamente sem receber pagamento. : Geríás
ajtijvddadesr eram árduas (pavimentação de estradasy. Mas eu auxi­
liava alguns universitários dos Estados Unidos, que . se mostravam
müito generosos. Minhas .necessidades eram ínfimas; não havia muita
coisa para comer e eu não fumava nem bébia. A dificuldade mais
difícil de contornar eram os preços das entradas para os concertos
músicais. Os ingressos não custavam: muito (especialmente pára os
que ficassem em pé), mas durante vários anos representavam uma
despesa quase que diária. à'
Na Universidade, acompanhèi cursos em diversas disciplinas:
História, Literatura, Psicologia, Filosofia, e até conferências na F a­
culdade de Medicina, Cedo, porém, deixei de freqüentar as aulas,
exceto as de Matemática e de Física teórica. A Universidade con­
tava, naquele tempo, muitos professores eminentes, mas ler-lhes os
livros era uma experiência incomparavelmente melhor do que a de
ouvir-lhes as conferências. (Os seminários destinavam-se apenas aos
estudantes mais adiantados.) Comecei também a abrir caminho por
entre a Crítica da Razão Pura e os Prolegomena, de Kant.
Aulas fascinantes só as oferecia o ‘ Departamento de Matemática.
Os professores, naqueles anos, eram wirtinger, Furtwangler e Hans
Hahn. Todos os três eram matemáticos criativos, de renome inter­
nacional. Wirtinger, que seria, segundo ’os rumores correntes, o mais
genial dos três, paYeceu-me difícil de entender. Furtwãngler era es­
pantoso, pela sua clareza e pelo seu' domínio da matéria (Álgebra
e Teoria dos Números). Mak for c<pm Hahn que aprendi mais. Suas
aulas atingiam um grau de perfeição que nunca mais me foi dado
encontrar. Cada uma delas era uma obra de arte: dramática na
sua estrutura lógica; nenhuma palavra supérflua; clareza total; lin-:
guagem bela e polida.. O tema (e, em algumas ocasiões, o pro­
blema) em foco vinha precedido' de estimulante escorço histórico.
Tudo era vivo, embora, por força mèsmo da perfeição, um poüco
distante.
Havia também o “Dozent” Helly, que ensinava Teoria das Pro­
babilidades e por intermédio de quem soube, pela primeira vez, da
existência de Richard von Mises. Posteriormente, veio da Alemanha,
mas por prazo , curto, um jovem professor, Kurt Reidemeister, com
quem estudei Álgebra Tensorial. Todos esses homens (salvo Rei­
demeister, que não se importava com às interrupções e permitia que
fizéssemos perguntas durante as aulas) eram semideuses. Estavam
infinitamente além do nosso alcance. Nao havia contato entre pro­
fessores e estudantes, a não ser os que já se houvessem qualificado
para a dissertação de doutoramento. E eu não tinha nenhuma ambi­
ção, nem mesmo esperanças, de entràr em contato mais estreito com
-aé[üè.las,?figurass .Não ipiaginava, .que, mais tarde, fosse ter relações
ípesSíàaíss: /gòiíij Hahn, l^éll)5 r...:.v:orb «Mises -e- com Hans Xhirring, que
•çhsiiiava Física* Teórica. \ . ^ . ,,
?im^ átü d ér Matemática lfevadí* só pelo desejo de saber, achando
que, nessa area, eià poderia 'aptehdér "alguma coisa acerca dos pa­
drões de verdade • dediquei-me ^ - éla porque, paralelamente, meu
interesse voltava-se para a Física Tèóricár A Matemática era um
assunto vasto e difícil e, se eu dy^esçe?: alguma pretensão de tornar-me
matemático profissional,. muitq>^ed^^ . \Mas: não cul­
tivava tal pretensão/ Se> ••phej^^*.àT:péiK^^ meu sonho
era fundar uma escola .em;;que;ps^jpvens; !pudess.ei^ jestudar sem abor-
recer-se; em que fossem; estimulados va. áorinular}^ a dis-
cuti-los* uma escola, eni -quç Jiinguem -precisafiaj .dar .atenção a
discussões indesejáveis ém torno dè qüestõèff Üesiniei;essàrites,' uma
escola em que não fosse preciso estudar com ò üriiçi>' objetivo de
passar nos exames.
Fui aprovado no exame vestibular (" Matura” ) em 1922, um
ano depois daquele em que seria aprovado se não tivesse abandonado
a escola. Todavia, a experiência ganha valeu o ano “perdido”. Tor­
nei-me, então,. estudante regular e matriculado da Universidade.
Dois anos mais tarde, consegui aprovação num segundo “Matura”;
numa Faculdade de Educação, que me habilitou a ensinar em escolas
primárias. Prestei o exame enquanto procurava aprender o oficio
de entalhador. Posteriormente, qualifiquei-me. para ensinar . Matemá­
tica, Física e Química em escolas secundárias. Entretanto, como não
havia vagas para professores, tornei-me, após concluir o aprendizado
do ofício de entalhador, assistente social (Horterzieher), atuando
junto a crianças desamparadas.

Durante essa fase, desenvolvi màis minuciosamente meus pen­


samentos acerca da demarcação entre teorias científicas (como as de
Einstein) e teorias pseudo científicas (como as de Marx, Freud e
Adler). Tornou-se claro, para mim, que a cientificidade de um
enunciado ou de uma teoria estava em sua capacidade de eliminar
ou de excluir a ocorrência de alguns acontecimentos possíveis — de
proibir ou impedir a ocorrência desses eventos: quanto mais uma
teoria proíbe, mais eía diz ..
Embora aí já estivesse, em embrião, a idéia do “conteúdo infor­
mativo” de uma teoria, com a qual se acha intimamente associada,
não levei a investigação adiante; então. Preocupava-me, porém, enor­
memente o problema do pensamento dogmático e sua. relaçao para

47
com o £ ejisarjiento crítico. O que importava, a meu ver, era a idéia,
de que ;p: pensamento dogmático, por mim dado como pré-científico,
era um estágio necessário para atingir-Se o pensamento crítico^ A
crítica tem de ter, previamente, algo que criticar e isso, supunha,
eu, devia ser o resultado de um pensamento dogmático.
Direi, agora, mais alguma coisa acerca do problema da demar­
cação e da solução que lhe dei.
(1) Tal como imaginei na primeira vez que,foi objeto de minha
atenção, o problema da demarcação nao era o traçar fronteiras entre
a Ciência e a Metafísica,.mas separar Ciência e pseudociência. Na­
quela época, a Metafísica nao me interessava. Foi somente mais
tarde que estendi meu “ critério de demarcação” à Metafísica.
(2) Em 1919, minha concepção principal cra a seguinte; se
alguém formulasse uma teoria científica, deveria dar resposta, exata-
mente como Einstein havia feito, a esta questão; “Sob que condi­
ções eu admitiria que minha, teoria era insustentável?” Em Outras
•'palavras, que fatos concebíveis' eu- aceitaria. como refutações ou fai-
seamehtos de minha teoria?
(3) Surpree;ndera-me o fátò de que os marxistas (que se consi­
deravam cientistks sociais) e os estudiosos da Psicanálise' (de todas
as correntes) estivessem em condições de interpretar quaisquer acon­
tecimentos concebíveis comprovações -de suas teorias. Esse fato,
associado ao meu critério-de demarcação, levou-me a pensar que
apenas as refutações intentadas, mas não bem sucedidas qua refuta­
ções, é que podiam ser vistas como “verificações”.
(4) Ainda mantenho a posição indicada em (2). Mais tarde,
porém, ao prçcurar introduzir, ainda em caráter de tentativa, a no­
ção de falseabilidade (ou testabilídade, ou refútabilidade) de uma
teoria, entendendo-a como critério de demarcação, verifiquei que
qualquer teoria pode ser “imunizada” (este excelente vocábulo se^
deve a Rans Albert35) contra a crítica. Permitida a imunização,,
qualquer teoria torna-se não-falseávél. Segue-se que pelo menos
algumas formas de imunização precisam ser excluídas.
De outra parte, compreendi ainda que nèm todas as imuniza­
ções devem ser eliminadas, nem mesmo todas as que introduzam hi­
póteses auxiliares ad hoc. Exemplificando; o movimento de Netuno
poderia ter sido visto como falseamento da teoria de Newton. Sem
embargo, introduziu-se a hipótese ad hoc de um planeta exterior,
imunizando-se assim a teoria. A idéia foi feliz: a hipótese auxiliar
.era passível de. prova ..(ainda que est^ fosse difícil) e resistiu pos­
teriormente, com êxito cabal, às provâs a que foi submetida.
2** rlss©,- mòstra nãò apenas que certos dogma tísmo produz,. frutos,
,mèsmboém -Ciência;, mas>.ainda, que st, falseabilidade;.\ou.■testabilidade
rnaokjíóde.» ;ser -vista, logicamente faliandò, reóino . .critêrit»; muito preciso.
Tratet dessa: questão, de...májieira^mLnudosav no.rLo^ik^de^F.orschung.
Introduzi' graus de testabilidade' te; : estes&se •frevelaram intimamente
a^sóciados a;.:(graus -de) conteúdo.^^^urpreeà>dc^£exn^ite%:jf.érteis.^V;o
aumento: rde conteúdo transformou-se.: mmi c^it^õi>:^.^aU;safc>.er?v:se valia
a ; pena -aceitar ou nao, tentativamente^. Áumá^vdadaiihijaQtese ^uxiliar.
’ Embora-o assunto esteja; claramente'- Vèíxposto^no sLogik -der Forj-
frhung, publicado em 1934|r'm üitá¥:^ disseniiniáram.
GÓncernentes às? -iiiriàasv^oíicel^DiÊ^.'' íde^ que eu
havia introduzido, o falseamento como critério de significado, e não
como critério, de demarcação. Em segundò; .lugar^:-. a ;vde>: que eu n ão
percebera que a imunização é sempre possível^ riíeghgerifeiàndo, pois,
o fato de as teorias nao' poderem ser descritas conto-*‘f alseáveis”, já
que todas podem ser salvas do falseamento. Em outras palavras*
meus próprios resultados foram vistos^ segundo essas análises^ como
razões pãra nao acolher o enfoque por mim proposto37.
(5) Como.uma espécie de sumário, é útil mostrar, através de
. exemplos, de que maneira vários tipos de sistemas teoréticos se rela-
cionam com à testabilidade (ou com o falseamento) e os processos
de imunização. .
(a) H á teorias metafísicas, de caráter puramente existencial
(amplamente discutidas em Conjectures and Refutations38).
(b) Há teorias como as da Psicanálise, de Freud, Adler e Jung,
ou, ctigamos, semelhantes às doutrinas (suficientemente vagas) da
Astrologia39.
(c) Há teorias que poderiam ser chamadas “destituídas de so-
fisticação”, como a de que “Todos os cisnes são brancos” ou a geo-
cêntrica “Todos os corpos celestes, excetuados os planetas, movem-se
em órbitas circulares”. As leis de Kepler (embora altamènte sofis­
ticadas, sob muitos aspectos) caberiam na presente categoria. Essas
teorias são falseáveis, conquanto os falseamentos sejam, está claro,
contornáveis: a imunização é sempre possível. Contudo, a evasiva
seria, de hábito, desonesta: consistiria, digamos, em negar que um
cisne negro fosse um cisne ou em negar que um corpo celeste nao-
-kepleriano fosse um corpo celeste.
(d) O caso do marxismo é interessante. Sublinhei, em meu
Open Society40, que a teoria marxista pode ser vista como teoria
refutada pelos acontecimentos que tiveram lugar durante a Revolu­
ção Russa, De acordo com Marx, as mudanças revolucionárias {êm
início ná base, por asisim dizer: em primeiro lugar, alterám-se os
meios de produção; em seguida, a s ,,condições sociais de produção;
depois, o poder político; por fim, as crenças ideológicas, que são as
últimas a se alterarem. Na Revolução/ Russa, entretanto, o poder
político jfoi o primeiro a transformar-se; em seguida, a ideologia ( di­
tadura mais eletrificação) produziu, alterações nas condições sociais
e nos meios de produção, partindo do topo. A reinterpretação da
teoria marxista da revolução permite contornar esse falseamento,
imunizando-se a teoria contra novos ataques; ela se transforma na
teoria marxista vulgar . (ou sócio-analitica), de acordo com a qual
os “motivos econômicos” e á luta dé classes impregnavam a vida
social.
(e.) Existem, ainda, as teorias mais abstratas, como as de Newton
ou de Einstein relativas à gravitação. São falseáveis — digamos
porque perturbações previstas não são encontradas ou porque é ne­
gativo um teste feito com radar, em substituição a observações diretas
de eclipses. Essas teorias, diante do que pareceria, prima facie, um
falseamento, também podem ser salvaguardadas, não só com certas
imunizações desinteressantes mas, aindá$ por meio da introdução de
hipóteses auxiliares passíveis, de prová (como no caso de tipo Ura-
no-Netuno), que tornam o conteúdo empírico do sistema constituído
pela teoria original e pelas hipóteses auxiliares, um conteúdo maior
que o conteúdo da teoria original. Pode-se considerar isso como um
aumento de conteúdo informativo — como Um caso de aurrtento
de conhecimento. Existem também, é claro, hipóteses auxiliares que
nao passam de manobras imunizadoras evasivas. Estas diminuem o
conteúdo da teoria. Tudo isto sugere uma regra metodológica: não
efetuar manobras que conduzam ao decréscimo de conteúdo (ou
seja, para adotar a terminologia proposta por Imre Lakatos41, não
aceitar “alterações degeneradoras do problema” ).

10. Segunda digressão: pensamento dogmático e crítico;


aprender sem auxílio da indtição

Kònrad Lorenz é o aútor dé uma bela teoria no campo da


Psicologia Animal, por ele denominada imprinting (“imprintação” ) .
Diz ela que os filhotes de animais possuem um mecanismo inato
para chegar a conclusões inabaláveis. Assim, por exemplo, o ganso
recém-nascido considera “mãe” o primeiro objeto móvel que per­
cebei' Q mecanismo ajusta-se bem a circunstâncias normais, apesar
dei. ser um pouco perigoso para o animalzinho. (E pode ser peri­
goso para o pai adotivo, como Lorenz também assinala.) Todavia,
e um; mecanismo que da, bons resultados -em condições normais,' >e
que também dá bons resultados em certas circunstâncias não; intek
ramente normais.
São importantes os seguintes pontos acerca da “impríntação”
de Lorenz:

(1) Trata-se de um processo — mas nao o único — de apren­


dizagem por meio de observação.
(2) O problema resolvido pelo estímulo da observação ,é um
problema inato; isto é, o gánsinho está geneticamente condicionado
a procurar a mãe: espera vê-la.
(3) A teoria ou expectativa que resolve o problema também é,
até certo ponto, geneticamente condicionada: tem alcance maior
que o da simples observação efetiva^ que se limita (por assim dizer)
a deflagrar a adoção de. unia teoria que está, em grande parte, pré-
-formada no organismo.
(4) O processo de aprendizado é não-repetitivo, embora requeira
cèr.to intervalo de tempo (um prazo curto 42) e exija alguma ativida­
de normal, ou “esforço5^ por parte do organismo; pode envolver,
portanto, uma situação que não se afasta em demasia da situação
encontrada usualmente. Direi, de tais processos de aprendizado não-
-repetitivos, que são “nao-indutivos”, encarando a repetição como
traço característico da “indução”. (A teoria do aprendizado não-
-repetitivo pode ser descrita como seletiva ou darwiniana, ao passo
que a teoria do áprendizado repetitiyo ou indutivo é uma teoria de
aprendizado pela instrução, e é lamarckiana.) A questão, natural­
mente, é de terminologia, simplesmente: se alguém insistir em con­
siderar a impríntação como processo indutivo, eu terei apenas de
alterar os termos escolhidos.
(5) A observação atua como 6 girar de uma. chave na; fecha­
dura. O papel da observação é importante, mas o resultado alta­
mente complexo está quase todo pré-formado.
(6 ) A im p rín tação é u m processo irreversível de ap ren d izad o :
n ão está sujeito a co rreções ou revisões.
Está claro que eu nada sabia, em 1922, acerca das teorias de
Konrad Lorenz (embora o tivesse conhecido^ menino, em Alten-
berg, onde. tínhamos vários amigos comuns) . Usarei aqui a teoria
■da impríntação como mero veículo para a exposição de ininhas con­
jecturas que são similares, mas no entanto diferentes dela. Minhas
conjecturas não diziam respeito a animais irracionais (embora eu
tivesse sofrido influência de G. Lloyd Morgan e, ainda mais acen-
tuadameíite, de II. S. Jennings.43) , mas aos seres humanos, parti-
cularmehte às crianças. Eram as seguintes.
Os processos dê aprendizado, na maioria das vezes (ou sempre,
talyez)^ consistem na formação de teorias, ou seja, na formação de
expectativas. A formação de umà teoria ou de uma conjectura atra­
vessa, invariavelmente, uma fase “dogmática” e., amiúde, uma fase
“crítica”. A fase dogmática partilha com a imprintação os fraços
típicos (2) a (4) e, muitas vezes, os traços (1) e ( 5 ) normalmente,
porém, não possuí o traço (6 ). A fase crítica, por sua vez, corres^
ponde a abandonar a teoria dogmática, em virtude de expectatiyas
não-concretizadas (ou refutações), paràíàcolher novos idogmas. Notei
qüe certos dogmas se enraizavam de taí maneira que ás refutações não
os abalavam. É claro que, neste caso — e somente neste caso — , a
formação dogmática de teorias se apróxiina bastante da imprintação,
cujo traço típico é o (ô )44.- Entretanto, eu estava inclinado a enca­
rar (6) como uma espécie de aberração neurótica (ainda que as
neuroses não me interessassem particularmente, pois. meu objetivo
era a psicologia da invenção). Essa atitude para còm o item (6)
mostra que aquilo que eu tinha em. mente nao era exatamente a
imprintação, embora se assemelhasse a esta.
Eu via esse método de formação de teorias como um método
de aprendizagem através de tentativas .e erros. Entretanto, ao con­
siderar “tentativa” a formação de um dogma teorético, eu não a
encarava como uma tentativa aleatória.
É de intèi;esse examinar, o problema da aleatoriedade (ou não-
-aleatoriedade) das tentativas — no procedimento de tentativas e
erros. Tomemos um exemplo simples de Aritmética: a divisão de
um número por outro, no caso em que tais números não figurem nas
tabuadas que conhecemos de cor. A divisão é feita por tentativa e
erro, mas isso não quer dizer que as tentativas sejam aleatórias,
pois conhecemos a tabuada e sabemos, por exemplo, os resultados
das multiplicações45 dos números de 1 a 10 por 7 ou por 8, Está
claro que um computador poderia ser programado para dividir por
via de um método de seleção aleatória' de um dígito -qualquer, dé
0 a 9, como tentativa e, havendo erro, passar para outro dígito
aleatoriamen te escolhido (após iexcluir I o dígito qüe levou a erro) V
Esse procedimènto, entretanto, seria obviamente menos adequado que
um procedimento mais sistemático: na pior das hipóteses, teríamos
de fazer com que o computador verificasse'o tipo de erro cometido
na primeira tentativa; se o errosed jéyia à escolha de um dígito
muito grande ou dé um dígito muito* pequeno, com o que se redu­
ziria a gama de escolhas para a segunda tentativa.

52
A idéia de aleatoriedade é, em tese,, a p licáv eis esseí -exemplo^
de vez que há; uma seleção a fazer em cada pàSso--dé -uma^lònga
divisão, a partir de um conjunto bem delimitado de possibilidades
(os ^dígitos). Contudo, na maioria dos exemplos de. aprendizado;
biologico, pelo. método de tentativa e erro, o número de p o s sív e is
alternativas, ou sèja, o conjunto de reações possíveis (movimentos
de qualquer grau de complexidade), não é dado por antecipação; e
como não conhecemos os elementos desse conjunto, não é possível
atribuir-lhes probabilidades, o que séria indispensável para, . com
alguma clareza, falar-se em aleatoriedade.
Precisámos rejeitar, pois, a idéia de que o" método da tentativa
e do erro opera, em geral ou normalmente, através de tentativas
aleatórias; ainda que possamos, com certa habilidade, elaborar con­
dições altamente artificiais (como a dos labirintos de ratos) a que
se aplique a. noção de aleatoriedade- . Ô fato de que a nóção seja
aplicávelj porém, nao basta para estabelecer que as tentativas ;sejam
de fató aleatórias; nosso computador pode perfeitamente adotar,
com vantagens, um método mais. sistemáticopara a seleção dos dígi­
tos ; e um rato no labirinto pode igualmente agir com base em prin­
cípios não-aleatórios.
De outro lado, em qualquer caso onde o método de tentativa
e erro seja usado para resolver problemas como o da adaptação (a
um labirinto, por exemplo), as tentativas não são, via de regra,
determinadas, ou completamente determinadas, pelo próprio pro­
blema. Elas também nao podem, a nao ser acidentalmente, antecipar
uma solução (desconhecida) do problema. Na terminologia de
D. T. Campbell, podemos dizer que as tentativas devem ser “cegas”
(e eu creio preferível dizer que devem ser “ cegas em relação à so­
lução do problema” 46). Não é a tentativa, mas o método crítico,
ou. seja, o método da eliminação do erro após a tentativa — o que
corresponde ao; dogma — que nos dirá qüão satisfatória foi a supo­
sição; que nos dirá, em outras palavras, se a suposição foi suficien-
tejnente apropriada para resolver o problema em pauta e se pode
ser provisoriamente aceita.
Ainda assim, as tentativas nao são de todo cegas, relativamente
ao que o problema reclama: o problema determina, muitas vezes, o
âmbito em que as tentativas sao escolhidas (como no caso dos dígitos) :;
Esse ponto é muito bem descrito por David Katz: “Um animal^£% '
minto separa as coisas do ambiente em duas classes, as; comestíveis
e as não-comestíveis, Um animal em vôo distingue vias; de: íug&^e?
locais de abrigo.” 47 Além disso, o problema pode; alterár^e^erns;
certa, medida,, face às tentativas bem sucedidas; pode, por exemplo,
diminuir de âmbito. Mas há. casos diferentes, sobretudo no que
tange aos seres humanos; casos «em que tudo depende da habilidade
de. romper limites fixados por supostas fronteiras. Esses casos mos­
tram que a seleção do âmbito pode ser, ela própria uma tentativa
(uma conjectura inconsciente) e que o pensamento crítico pode
consistir nao apenas na rejeição de um a. determinada tentativa ou
conjectura, mas, ainda, na rejeição do que pode ser descrito como con­
jectura mais profunda — a suposição do âmbito de. -“todas as tenta­
tivas possíveis”. Isso é o que acontece, creio eu, em muitos casos
de pensamento “criativo”.
O que caracteriza o pensamento criativo, a par da intensidade
do interesse pèlo problema, parece-me ser, freqüentemente, a capaci­
dade de romper os limites do â m b i t o o u de alterar o âmbito —
a partir do qual'pessoas menos criativas selecionam suas alternati­
vas. Essa capacidade, que constitui obviamente uma capacidade de
critica, poderia ser descrita em termos •de imaginação crítica. Muitas
vezes, ela é resultante de um conflito'4de culturas, ou seja, de um
conflito de idéias ou de esquemas de' referência em que as idéias se
localizam. Conflitos desse gênero ajudam-nos. a eliminar limitações
que nos pesam sobre a imaginação.
As observações feitas nao podem satisfazer, porém, aos que
buscam formular uma. teoria psicológica do. pensamento criativo ou
uma teoria: da investigação científica. Com efeito, o que buscam
é uma teoria do pensamento bem-sucedido..
De minha parte, acho que. nao se pode formular; uma teoria
do pensamento bem sucedido e que ela nao eqüivale à teoria do
/ pensamento criativo. O êxito depende de muitos fatores — entre
os, quais a sorte. Depende, por exemplo^ de encontrar um problema
promissor. Depende de não se repetir ó que alguém já tenha feito.
Depende da hábil divisão do tempo, a. fim de- que se possa manter
em dia os conhecimentos e, simultaneamente, burilar as próprias idéias*
No meu entender, porém, é essencial, para o pensamento “cria­
tivo” ou “inventivo”, uma combinação de vários elementos: inte­
resse profundo por um problema (e, portanto, vontade de tentar
uma e outra vez) com pensamento altamente crítico; aptidão para
considerar até mesmo aqueles pressupostos que determinam, para os
menos criativos, os limites dentro dos quais as alternativas (conjec­
turas) devem ser escolhidas; e liberdade de imaginação, que permita
identificar fontes insuspeitas de erros: possíveis preconceitos que
reclamem exame crítico.
(Minha opinião é a de que.^uase todos os estudos acerca da
psicologia do. pensamento criativo são, estéreis— ou antes, ,mais lógi­
cos do que psicológicos. Isso porque o pensamento crítico, oü a eli­
minação do erro, é mais fácil de caracterizar- em^ermos; lógicos do
que em termos psicológicos.) ... •••..'•*:•. . ... -
XJma tentativa ou um novo " dogma’’ óu utna nova> “expec­
tativa ç fruto, pois, em grande parte, d&Jríiecessidad^s^ina.ta.s, que
originam problemas específicos, Mas também: é, iruto^dasmecessídade
inata de criar expectativas (èm certas áreas determinadas que3 ,por
seu turno, se associam a outras necessidades) como pode ser tam­
bém, em parte, resultado de expectativas anteriores frustradas. /'Não
nego, é claro, que possa haver certa habilidade pessoal* náfformação
de dogmas' ou na seleção de tentativas, mas penso que a habüidade
e a imaginação desempenham pápel mais relevante no processo
critico de eliminação de erro. Quase todas as grandes teorias, que
se colocam entrè as supremas conquistas do espírito humano, são
resultantes de dogmas anteriores somados à crítica. - •
O que se tornou claro para mim, no que concerne à formação
de dogmas, foi, em primeiro lugar, que as crianças (e especialmeriiè
as. de tenra idade) ..necessitavam urgentemente de regularidadès iéco?
nhecíveis à sua volta; havia uma necessidade inata nao só de ali­
mento e de amor cómo de invariantes estruturais discerníveis do
ambiente (entre as quais estariam as “coisas” ), de uma rotina assente,
, de expectativas fixas. Esse tipo de dogínatismo infantil foi observado
por Jane Austen: “Henry e John continuavam pedindo, a cada dia,
que Se repetisse a estória de Harriet e os ciganos; e corrigiam tenaz-
mente [Emma]. . . se ela modificasse qualquer pormenor da narrativa
original.” 48 Notei que havia, particularmente entre crianças de mais
idade, certa alegria quando as variações se manifestavam, mas tais
variações deviam situar-se dentro de uma gama limitada de expec­
tativas. Os jogos, por exemplo, tinham esse caráter; e as regras (os
invariantes) do. jogo não podiam amiúde ser aprendidas pela mera
observação 49.
O ponto que eu sustentava era o de que a forma dogmática
devia-se a uma necessidade inata de encontrar regularidades e ã
mecanismos inatos de descoberta, mecanismos que nos levam a buscar
as regularidades. Uma de minhas teses era a de que, ao falar um
pouco livremente de "hereditariedade e ambiente”, cornamos. .0 riscO
de subestimar o imenso papel da hereditariedade —- que, entre
outras -coisas, determina grandemente quais os aspectos do ambiente:
objetivo (o nicho ecológico) que fazem ou nao fazem, partèi ijdò
ambiente subjetivo, ou biologicamente significativo, de um; àniiiiàí;

M
aí - íDistingui três tipos principais: de processos de aprendizado, sen d o
0 ;::primeiro deles o fundamental:

(1) Aprendizado nó sentido de descoberta,: formação (dogmá­


tica) de teorias ou expectativas,, ou comportamento regular, con­
trolado pela eliminação (crítica) de erros. . -
(2) Aprendizado pela imitação. Pode-se mostrar que esse apren­
dizado é um caso especial de (1 ).
(3) Aprendizado por “repetição” ou “prática”, tal como ocor­
re quando se aprende a tocar um instrumento ou a dirigir um carro.
Minha tese, aqui, é a de qüe {a) não^háj “repetição” genuína50, mas,
em vez disso, (b ) alterações devidas à eliminação, dos erros (após
fa formação de teorias), e (c) um processo qué ajuda a tornar auto­
máticas certas ações ou reações, permitihdo assim, que se mantenham
em nível meramente fisiológico e sejàm realizadas sem requerer
atenção. .'
A importância dé disposições o u . necessidades inatas para des­
cobrir regularidades e. regras, pode ser avaliada num processo bas­
tante estuaado: o aprendizado, He. uma língua pela criança. Tem-se,
aqui, naturalmente,. um tipo; de aprendizado por imitação; o que
mais surpreende nesse aprendizado preòoce é o fato de que se trata
de processo, de tentativa e eliminação de erro pela crítica, em que.
tal eliminação crítica desempenha papel de grande relevância. O
poder de necessidades e disposições inatas/ nesse desenvolvimento,
pode ser mais bem observado nas crianças que, em virtude da surdez,
não participam naturalmente das situações, de fala que ocorrem em
seus ambientes. Os casos, mais convincentes são, talvez, os de crianças
surdas e cegas (como Laura Bridgman ou Heien Keller) de que só
ouvi falar mais tarde.. Reconhecidamente, mesmo nestes casos, há
contatos sociais — como o de Héleh K.ellèr com sua professora -—
e também a imitação está presente. Mas a imitação de Heien
Keller, soletrando o que sua professora lhe soletrava na mão, difere
muito da imitação das crianças comuns, que repetem sons ouvidos
durante largos intervalos de tempo, sons cuja função comunicativa
pode ser compreendida e assinalada até por um cão.
As grandes diferenças entre as línguas humanas atestam que
deve haver, um importante elemento ambièntal no aprendizado da
linguagem. Acresce que o aprendizado* de uma linguagem, por parte
da criança, é quase todo elé ; um exemplo ~de. aprendizado por imi­
tação. Contudo, a reflexão acerca dos ^'aspectos biológicos da lingua­
gem mostra que os fatores genéticos devem ser muito mais relevantes

56
do que os ambientais. Concordo, pois, com.; a afirmativa de. Joseph
Ghurch;^ “Embora parte da mudança que .ocorre na infância, possa
ser explicada em termos.- ..de maturaçaò -física,. sabeínos' -.que:- esta se
associa circularmente, em . processo de: realinienta.ção,-à experiência
—- aquilo que o organismofaz, isente^ei^a^que peagei.r ^Não^ se negli­
gencia com isso o papel da maturação^ iinsiste^se íapenas em- que
não e possível vê-la como simples: florescimento de? HGaraçtfcrísticas
biológicas predestinadas.” 51 Discordo^. porém, de: Churçh, quándo
sustento que o processo de maturação, de tbàs.e genética, é, muito
mais complexo e tem muito miaior influência ido-:que;. .os sinais; ^defla­
gradores e a experiênciá- de recebê-los, embora um ^íimmóÁde ,tais
sinais e experiências seja sem dúvida necessário para estimular o
“florescimento”. Segundo imagino, o fato de Helen. Keíler com­
preender que a palavra “água” soletrada, tinha Como significado
aquilo que sentia com a mão e que já conhecia tão.bem^..-tem;..certa
similaridade com a “impríntação” ; mas há, a par disso, várias .dife­
renças. A similaridade está numa inerradicável impressão ^causada
nela e na forma pela qual uma única experiência libera disposições
e necessidades enclausuradas. Uma diferença óbvia foi a gama .ex­
traordinária de variações que a experiência abriu a Helen Keller e
que a levou, com o tempo, a dominar a linguagem.
À luz dessas reflexões, duvido da exatidão dos comentários de
Church: “O . bebê nao caminha porque seus ‘mecanismos de loco­
moção’ hajam atingido um determinado estágio de desenvolvimento,
mas porque conseguiu uma espécie de orientação espacial em que
andar se tòrna um modo possível de . ação.” 52 Parece-me que Helen
Keller não possuía orientação nò espaço lingüístico (ou, se cKpossuía,
devia ser extremamente pobre) antes de descobrir que o toque dos
dedos de sua instrutora denotava a água e de saltar, daí, à conclu­
são de que certos toques teriam significado denotativo ou referencial.
O que ali devia'haver era uma espécie de prontidão, uma disposi­
ção, uma necessidade de. interpretar sinais; e uma necessidade de
uma aptidão, pára aprender a usar tais sinais pela imitação, através
do método de tentativa e erro (isto é, pelas tentativas nao-aleatórias
e pela eliminação crítica de erros no soletrar).
Parece que há disposições inatas, muito variadas e complexas,
que atuam conjuntamente neste campo: a disposição para o amor,
para a simpatia, para a imitação de movimentos, para o controle e
correção dos movimentos imitados; a disposição para usá-los e para,
com sua ajuda, comunicar-se; a disposição para empregar a. lin­
guagem como veículo através do qual são recebidas ordens, adinfres1-
taçÕes, avisos; a disposição para interpretar enuriciadoís descritivos

m
é>-formulá-los. No caso de Heien Keller (em oposição ao que acon­
tece _no Cáso de crianças nojmais), a maior parte de suas informações
acerca da realidade chegou-lhe através da linguagem.. Em decor­
rência disso, ela não teve condições,' durante algum tempo, de dis­
tinguir claramente a imaginação (mesmo sua própria imaginação)
dó que poderíamos chamar “ouvir -'dizer” e experiência: os três
elementos vinham-lhe no mesmo código simbólico53.
O exemplo do aprendizado da linguagem revelou-me que meu
esquemá de uma seqüência natural, em que uma fase dogmática
vem seguida de uma fase. crítica, era ■um esquema demasiado sim­
ples. Como ocorre no caso do aprendizado1 da linguagem, esuste
claramente uma disposição inata para efetuar correções (isto é, uma
disposição que favorece a flexibilidade, a crítica e a eliminação dos
erros), que se vai enfraquecendo com o passar do tempo. A criança
aprende que o feminino de “ladrão” é “ladrona” ; se, em seguida usa
“barona” para o feminino de “barão”, èstá operando^-com base numa
disposição orientada no sentido de encontrar regularidades. A criança
logo corrigirá seu. erro, provavelmente pela influência da crítica dos
adultos. Mas parece haver uma fase, no aprendizado da linguagem,
em que as estruturas lingüísticas se: tornam rígidas ■
— possivelmente em
virtude da “automatização” a que aludimos, acima, no item 3 ( í ) . •
Escolhi o aprendizado; da linguagem apenas como um exemplo
em que se percebe de que maneira a imitação é ura caso especial do
método de tentativa e eliminação de erro Também é um exem­
plo do entrelaçamento de fases. de formação dogmática de teorias,
formação de expectativas ou formação de regularidades de compor-
„tamento, de um lado, e de fases de crítica, de outro lado.
Embora seja excessivamente simplista a idéia de que existe uma
fase dogmática a que se segue uma fase crítica, nao deixa de ser
verdadeiro que não pode haver fase crítica sem uma fase dogmática
anterior, fase em que algo se forma —— uma expectativa, uma regu­
laridade comportamental — de maneira que .a eliminação do erro
possa começar a atuar sobre ela.
Essa concepção levou-me à rejeitar a teoria psicológica do apren­
dizado pela indução, teoria que o próprio Hume perfilhou, mesmo
depois de haver abandonado a indução, com base em considerações
estritamente lógicas, (Nao è preciso repetir aqui o que já disse, em
Conjectures and. Refutations, acerca das idéias de Hume sobre o
hábito.55) A concepção levou-me, ainda, a; notar que não existe
nada a que se possa chamar observação destituída de preconceitos.
Qualquer observação é uma atividade com um objetivo (encontrar
ou. verificar alguma, regularidade que- foi pelo menos vagamente
vislumbrada) ; trata-se de uma atividade norteada pelos problemas
e pelo contexto das expectativas, ,(q “horizonte:. ,das ..expectativas53,
como eu o chamaria mais tarde).. 3$ã.Oí há* -experiência .passiva ■ não
há recebimento passivo de idéias previamente concatenadas,, A expe­
riência é resultado de uma exploração atiya executada;^pelor orga­
nismo, da busca de regularidades ou.. ÍatQiie5f4^V3uriap<t^í ..Mã©;.ie?áste
outra forma de percepção que não seja, no £ oritex to7:de~ánter esses e
expectativas, e, portanto, de regularidades e “Ijèisl.V/ názz • .
Essas reflexões levaram-me à suposição de que a. conjectura ou
hipótese precede a observação ou percepção; temos;; expectativas
inatas; dispomos de conhecimentos inatos latenteSj na formá de ^ex­
pectativas latentes, que hão de ser ativadas por estímulos:, aps .-quáis
reagimos, via de regra, enquanto nos empenhamos? na Jêxploração
ativa. Todo aprendizado é uma modificação (que pode assumir a
forma de'refutação) de algum conhecimento anterior, ou sêja- em
última instância, de algum conhecimento inato56.
Foi essa a teoria psicológica que tentei elaborar, numa termi­
nologia não muito precisa, entre 1921 e 1926- Foi a tçoria de fbr-
mação de nosso conhecimento que me ocupou e distraiu no períòdò
em que eu trabalhava como aprendiz de marceneiro.
Um dos pontos peculiares de minha vida intelectual é o se­
guinte. Embora me preocupasse, naquela época, o •contraste entre
o pensamento dogmático e o pensamento crítico; embora eu visse ò
pensamento dogmático em, termos de pensamento pré-científico (e
como “nao-científico”, no momento em que pretendesse tornar-se
“científico” ) ; e embora eu compreendesse que havia um liame entre
essas noções e o critério de falseamento, para demarcação entre Ciên­
cia e pseudqciêncía, não cheguei a notar que tudo isso se ligava ao
problema da indução.. Durante anos, esses dois problemas conti­
nuaram a ocupar escaninhos diferentes (e q u a s e hermeticamente fe­
chados) de minha mente, conquanto eu julgasse ter solucionado o
problema da indução ao descobrir que simplesmente inexistia indução
pela repetição (como inexistia o aprendizado de algo novo pela
repetição): o.chamado método indutivo da. Ciência fora substituído
pelo método, da tentativa (dogmática) e da eliminação de erro
(crítica), que era o procedimento de descoberta usado por todos os
organismos, da ameba até Einstein.
Eu não dáva conta, evidentemente, de que as soluções por mim
propostas para os dois problemas — o da demarcação e o; da, indur;
ção — assentavam numa só idéia: ^a da separação, entre pensamentoí
:d©ginátieo e crítico. Ainda assim, os dois problemas pareciam-me di­
versos-—- e a demarcação não- se assemelhava à seleção darwiniana.
Somente após alguns anos cheguei a ^compreender que havia uma
conexão estreita entre eles e que o problema' da indução decorria,
essencialmente, da solução errônea dada ao problema da demarca­
ção — decorria da falsa crença de que ' a Ciência se sobrepunha à
pseudociência por força do “método científico5’ (método de obter
conhecimento verdadeiro, seguro, justificável) e de qué esse método
científico seria o indutivo: uma crença qüe estava eivada de falhas.

1 1 . Música

Em meio a tudo isso, especulações acerca da música desempe^


nharam um papel importante, especialmente durante meu período
de aprendizagem.
A música, tem sido tema dominante em minha vida. Minha mãe
tinha grande pendor musical: tocava piano excelentemente. Parece
que a música é como que um dom de família, embora seja difícil
explicar por que isso acontece. ■A música. européia é invenção dema­
siado recente para que tenha, fundamento genetico e a música pri­
mitiva desagrada a muitas pessoas que apreciam a música escrita
a partir de Dunstable, Dufay,: Josquin des Prés, Palestrína, Lassus e
Byrd.
Seja como for, a família de minha mãe era “musical”. Talvez
a inclinação se devesse à minha avó má terna, née Schlesinger. (Bruno
Walter pertencia à família SchlesingferV Èu não o admirava, espe­
cialmente após haver cantado/sob sua direção, A Paixão Segundo
São Mateus, de B ach). Meus avós •Schiff eram ambos membros
fundadores da famosa Gesellschafti der Musikfreunde, que> em Viena,
construiu o belo Musikvereinssaal. Ambas as irmãs de minha mãe
tocavam piano muito bem. A mais velha era pianista profissional e
seus três filhos, músicos prendados, tal como o eram três outros
primos meus, do lado de minha mãe. Ú m dos irmãos desta foi, du­
rante muitos anos, o primeiro violino; de um excelente quarteto.
Criança, recebi umas poucas lições de violino, mas não fui muito
adiante. Não tive lições de piano e, embora gostasse de tocar, tocava
(e ainda toco) muito mal. Aos dezessete anos, conheci Rudolf Ser-
kin. Tornamo-nos amigos e a vida toda continuei a ser admirador
ardente de sua incomparável maneira de tocar; éle fica inteira­
mente absorvido pela obra que executa e esquecido de si mesmo.
Por algum témpo — entre o outono de 1920 e, talvez, .1922 __
pensei, muito seriamente, em dedicar-me à música. Todavia, tal
como se dera com varias outras coisas — a Matemática, a Física, a
marcenaria - senti, no fim, que nao tinha dotes bastantes. Ao
longo da vida, compus algumas peças, tomando composições de Bach
à guisa de 'modelos platônicos, porém jamais me enganei a mim
próprio quanto ao inérito dessas composições.
Em música, sempre fui c o n s e rv a d o r, Achava q u e S c h u b e rt
fora o último dos grandes compositores e, conquanto eu .a p fe cia sse
e admirasse Bruckner (especialmente, suas três* últimas sih fo n ia s) e
certo Brahms (o Requiem ), desagradava-me Richard Wagner, mais
como autor da letra do Ring (letra que, francamente^. rsó; posso-, con­
siderar ridícula) •do que nà condição de compositor, i j^üitor me de­
sagradava também-a música de Richard Strauss, embora.;eu reco­
nhecesse que ele e Wagner eram músicos de alta. categoria. (Qual­
quer pessoa pode imediatamente perceber que Der Rosenkavalier
pretendia ser um Fígaro escrito para os tempos modernos; mas, des­
considerando o fato de que essa intenção historicista foi mal conce­
bida, como poderia um músico da estatura de Strauss ser tão pouco
perceptivo, a ponto de pensar, ainda que fosse pqr um minuto, que
sua intenção se havia concretizado?) Sem embargo, sob a influência
de algumas composições de Mahler (influência que nãó ç£urou) e do
fato dê ele haver defendido Schõnberg, pensei que eu devia fazer
um esforço; sincero pará chegar a conhecer e apreciar a música de
nosso tempo. Filiei-me à “Sociedade de Concertos Privados” ( Verein
fü f -Musikalische Privataufführungen), que era p re sid id a p o r A rn o ld
Schõnberg e se dedicava à execução de obràs de Schõnberg, Alban
Berg, AntOn von Weberh e de outros compositores contemporâneos
“avançados”, como Ravel, Bartok e Stravinsky. •Por algum tempo,
fui aluno de um discípulo de Schõnberg, Erwin Stein, mas com ele
só. tive pouquíssimas lições; ajudei-o, entretanto, em seus ensaios
p a i a concertos da Sociedade. Dessa maneira, vim a conhecer, de
perto, músicas de Schõnberg, especialmente a Kammersymphonie
e o Pierrot Lunaire. Eu também ia a audições de Webern, especial­
mente os, de sua Orchesterstücke, e de Berg.
Depois de dois anos, concluí que conseguira chegar a saber
algo — acerca de um tipo de música que eu, e n tã o , apreciava m en o s
que no começo. Por isso, passei a freqüentar, durante um ano, uma
escola ,de música muito diferente: o departamento de música sacra
do Konservatorium (“Academia de Música” ) de Viena. Fui admi­
tido graças a uma fuga composta por mim. No fim desse anoj tomei
a decisão já mencionada: de que eu não tinha dotes suficiferítes
par.aj/ser músico. Tudo isso fala, entretanto, em prol de um amor
péla jcnúsica. ‘‘clássica” e de minha admiração sem limites, pelos gran­
des, compositores do passado.;
A conexão entre a música e méu desenvolvimento intelectual,
em sentido estrito, está em que, de me?u interesse por ela, surgiram
pelo menos três idéias que me infliiènciaram a vida toda. A pri­
meira estava estreitamente ligada às minhas idéias sobre o pensa­
mento dogmático e crítico e os dogmas e tradições. A segunda tinha
a ver com a distinção entre duas espécies de" composição musical,
distinção a que eu atribuía então enôrme importância e que fazia
empregando, para meu próprio uso, os termos “objetiva” e “sub­
jetiva”. A terceira idéia traduzia a compreensão da pobreza intelec­
tual e do poder destruidor qué têm as idéias historicistas no. campo
da música e das ' artes em geral. Passarei a examinar essas três
idéias 57.

12. Especulações em torno do surgimento da música polifôuica:


psicologia da descoberta ou lógica da descoberta?

As especulações que agora recordarei rapidamente relaciona-


vam-se de perto com as especulações, já referidas, acerca do pensa­
mento dogmátito e crítico. Creio que foram uma das primeiras
tentativas que fiz no sentido de aplicar essas idéias psicológicas a
outro setor; mais tarde, elas me levaram a uma interpretação do
nascimento da ciência grega. Ás idéias acerca da ciência grega
pareceram-me historicamente proveitosas; as idéias acerca do apare­
cimento da polifonia talvez estivesçem erradas. Tempos depois es­
colhi, como segunda disciplina para meu exame de doutoramento,
a História da Música, na. esperança de que isso me oferecesse opor­
tunidade para saber se naquelas idéias, havia algo de aproveitável,
mas a nada cheguei e, . dentro em poúco, minha atenção se voltava
para outros problemas. Hoje, estou esquecido da maior. parte das
coisas que, nesse caso, cheguei a aprender. Não obstante, essas idéias
muito infhúram posteriormente na i^nha reinterpretação de Kant
e na mudança do méu interesse, da- psicologia da descoberta, para
uma Epistemologia objetivista, ou seja, para a lógica da descoberta.
Meu problema era o seguinte.: a polifonia, como a Ciência, é
peculiar à civilização ocidental. (Estou empregando o termo "po­
lifonia” para denotar não apenas o contraponto, mas também a
harmonia musical própria do Ocidente..) Diversamente da Ciência,
a polifonia não parece ter tido origem grega, surgindo entre os sé­

0 2
culos I X e X V de nossa era. Se assim é, tratar-se-á, possivelmente,
dè uma realização sem raizes anteriores, a mais original e, na veir-
dadep a mais miraculosa da civilização ocidental, sem , excluir a
Ciência.
Os fatos, são, aparentemente3 os que passarei a referir. Havia
muito canto melódico — musica ,dè dança, música folclórica e, acima
de tudo, música religiosa. As melodias — especialmente quando
lentas, çomo as cantadas na. Igreja---- eram . naturalmente cantadas,
por vezes, em oitavas paralelaá: Há referências de que eram tam­
bém cantadas em quintas paralelas (que, com as oitavas, formam
também quartas, embora não a contar da nota mais grave). Essa
maneira de cantar {“organum” ) liga-se ao sétulò .X e existiu pro­
vavelmente antes. O canto gregoriano era. tambéíií éní- terças-para­
lelas, assim como em sextas paralelas (ambas' a Cohtar";dq baixo: -
‘'fauxbourdon”, “faburderi”) 58. Isso, ao que parece, era Cònsiderado
como uma real. inovação, como um acompanhamento ou mesmo
ornato.
Aparentemente, o passó seguinte (conquanto se diga que .suas
origens remontam ao século IX ) terá consistido no seguinte: per­
manecendo inalterada a\ melodia do cantochão, as vozes de acom­
panhamento deixaram de ser apenas em terças e sextas paralelas.
Permitia-se, agora, um movimento antiparalelo de nota contra nota
(punctum contra punctum, ponto contra ponto) que podia levar
não.-somente a terças e sextas, mas a quintas, a contar do baixo e,
portanto, a quartas entre este e algumas das outras vozes.
. Em rainhas reflexões, considerei este último passo, a invenção
. do contraponto, como o decisivo. Embora não haja certeza de que
ele tenha sido cronologicamente o último, foi o que levou à polifonia.
Talvez — acaso com exceção dos responsáveis pela música sacra
— nao se considerasse na época que p “ organum” fosse um acrés­
cimo à melodia de uma só voz. É bem possível que ele tenha nascido
simplesmente dos diferentes níveis de voz de uma congregação que
procurava cantar, a . melodia. Assim, “ organum” talvez tenha sido a
conseqüência nao-intencionai de uma prática religiosa, a saber, a en-~
toação das respostas por parte da congregação. Enganos dessa espé­
cie podem ocorrer no canto grupai. É bem sabido, por exemplo, que,
nos festivais anglicanos, onde há o cantus firmus do tenor, as con­
gregações tendem a cometer o erro de acompanhar (em oitavas)
a voz mais alta, de soprano, e não a de-tenor. De qualquer modo,
enquanto o canto se mantenha em paralelas estritas, não ha> polir
fonia. Podè haver mais de uma voz, mas há uma única: melodia.
,í^i;.í.,.^.íip<
erfeitaraente concebível que a origem do canto em contra--
ponto se corcunda co m . erros cometidos pela congregação. Quando
p canto- em. paralelo levasse a voz a uma nota mais alta do que a
que poderia sustentar, a voz caía para a nota cantada abaixo,
movendo-se assim contra punctum e nao em paralelo, cum puncto.
Isso pode ter ocorrido no canto organum ou no fauxbourdon. De
qualquer modo, assim se explicaria a primeira regra básica do con­
traponto simples de nota para nota; a de que o resultado do
contramovimento deva ser apenas uma oitava ou quinta ou terça
ou sexta (sempre contadas a partir do baixo) / Embora, entretanto,
possa ter sido essa a origem do contraponto, sua invenção deve
ter-se devido ao músico que pela primeira vez se ideu conta de que
áli havia a possibilidade dè uma segunda melodia* mais ou menos
independente, a ser cantada conjuntamente com a melodia original
ou fundamental, o cantus ftrmus, sem perturbá-la ou interferir com
. ela mais dò que o organum ou o fauxbourdon. E isso nos leva à
segunda-regra básica do contraponto: importa evitar oitavas e quintas
paralelas, porque destruiriàm ò pretendido efeito de uma segunda
melodia independente, Com efeito, elas levariam a um não-desejado
(embora temporário) efeito organum e, assim,; ao desaparecimento
da segunda melodia como tal, pois a segunda voz reforçaria apenas
(como no canto organum) o cantus f i r m u s T erças'a sextas’ para­
lelas (como no fauxbourdon) são permitidas, contanto que pronta­
mente precedidas ou seguidas por um contramovimento real (com
respeito a algumas das partes).
Assim, a idéia básica é a que sç exporá a seguir. A melodia
fundamental ou dada, o cantus firmus, põe limitações a qualquer
segunda melodia (ou contraponto), mas, á despeito dessas limita­
ções, o contraponto deve aparecer como uma melodia independente,
livremente. inventada, melodiosa por si mesma e, sem embargo,
quase miraculosamente conjugada ao cantus firmus, embora, diver­
samente do organum e do fauxbourdon, de maneira alguma depen­
dente dele. Uma vez apreendida essa idéia básica, compreende-se
a polifonia.
Nao alongarei o assunto. Passarei, em vez. disso, a expor a
conjectura histórica por mim formulada nesse particular — con­
jectura que, embora possa ser falsa, foi de grande significação para
,todo o meu posterior desdobramento^ de idéias. E consistiu no
seguinte.
Considerada a herança dos gregos e ó .desenvolvimento (e con­
sagração) dos modos da Igreja, na época de Ambrósio e Gregório
o Grande, não haveria necessidade de invenção da polifonia, nem

64
estímulo para tanto, se os músicos sacros tivessem gozado da mesma
liberdade que tinham, digamos, os criadores da canção folclórica.
Minha conjectura era a de que foi a canonização das melodias litúr-
gicas e as restrições dogmáticas que sobre elas pesavám que produzi­
ram o cantus firmus ^ em oposição ao. qual o contraponto encontrou
meio de desenvolver-se. Foi o cantus firmus estabelecido que pro­
piciou a estrutura, a ordem e a regularidade que. tornaram possível
a liberdade inventiva sem caos.
Na música de algumas regiões não-européias, verificamos que
as melodias estabelecidas dão nascimento a variações, melódicas —
o que me parece um processo análogo ao referido. Sem embargo/ a
combinação de uma tradição de melodias cantadas em paralélo com
a segurança de um cantus firmus, que não se altera nem mesmo
com d contramovimento, abriu para nós, de acordo com a conjectura
mencionada, toda uma nova ordenação do mundo, um novo cosmos.
Uma vez exploradas até certo ponto as possibilidades- desse cos­
mos —- através de tentativas audaciosas e da eliminação de erros — ,
as melodias autênticas originais, aceitas pela Igreja, podiam ser aban­
donadas. Melodias novas , podiam ser inventadas para substituir o
cantuç firmus original; umas se tornariam tradicionais por algum
tempo,: enquanto outras só podiam ser usadas numa única composi­
ção músicaí-----por exemplo, como tema de uma fuga.
Nos termos dessa talvez insustentável conjectura histórica foi,
assim, a canonização das melodias gregorianas, um ato de dogma-
txsmo, que proporcionou o quadro necessário ou, melhor, o vigamento
necessário para construirmos um mundo novo. Também formulei a
conjectura nos termos seguintes: o dogma fornece-nos o. sistema de
coordenadas necessário para explorar esse mundo novo, desconhe­
cido e possivelmente álgo caótico e, ao mesmo tempo, fornece-nos o
necessário para criar ordem onde a ordem falte. Assim, a criação
musícái e a científica parecem. ter isto em comum: o recurso ao
dogmá ou ao mitò, como trilha construída pelo homem, ao longo
dá qual nos. dirigimos para o desconhecido], explorando o mundo
e, a um tempoj criando regularidades ou regras; e: investigando
regularidades existentes. Uma vez que -teríhamos encontrado ou
erigido alguns marcos, -passamos a ensaiarrnovas formas de ordenar
o mundo, novas coordenadas, novos modos5 de exploração e criação,
novas maneiras de construir um mundo novo, de que a Antiguidade
nao suspeitou, a rião: ser ao esboçar o mito da música das esferas.
Com efeito, uma grande composição musical (assim como uma
grande teoria científica) é um cosmos que se impõe a um caos —
com tensões e . harmonias inexauríveis áté mesmo para seu próprio
criador. Isso foi dito por Kepler59, com maravilhosa penetração,
em passagem dedicada à música dos céus i ..

Assim, os movimentos celestes n ã é f!passam de uma espécie de con-


- certo perene, racional, embora nãõ sonoro ou audível. Os corpos
celestes se movem em meio à tensão de dissonâncias, •que são como
síncopés ou suspensões, com suas resoluções (através, das quais os
homens imitám as correspondentes dissonâncias da natureza) que atin­
gem fechos seguros e predetenninádos, cada um deles encerrando seis
termos, como um acorde formado- de seis vozes. E por meio dessas
marcas apartam e articulam a imensidade do tempo. Assim, não há
maravilha maior ou mais sublime do que as regras do canto conjunto
em harmonia, regras desconhecidas ,dos antigos mas, afinal, descober­
tas pelo homem, m acaco de seü C riad or; de sorte que, através da
engenhosa sinfonia de muitas vozes, pudesse ele evocar, na breve por­
ção de uma hora, a visão da total perpetuídade do mundo no tem po;
e que, no m a is . grato sentido da beatitude alcançada através da M u-,
sica, eco de Deus, ele deve quase atingir a alegria que Deus, o Criador,
encontra em Suas Próprias obras.

São essas algumas, das idéias que me distraíam e perturbavam o,


trabalho qüe eu executava naquelas escrivaninhas, durante meus
tempos de aprendiz de marceneiro60. Era a época em que eu lía a
primeira Crítica de Kant repetidas vezes. Desde, logo concluí, que
sua idéia central era a de que as teorias científicas constituem um
produto humano que tentamos impor ao mundo: “Nosso intelecto
nao deriva suas leis da Natureza, mas impõe suas leis à Natureza”.
Combinando isso com minhas idéias, cheguei ao que passo a relatar.
Nossas teorias, a começar-dos mitos primitivos e até chegar às
teorias da Ciência, são indiscutivelmente um produto humano, como
disse Kant. Tentamos impô-las; .ao mundo e sempre p od emos aderir
a elas dogmaticamente, se assim o . desejarmos, ainda que sejam
falsas (como o são, ao que. parece, a maioria dos mitos religiosos,
mas também a teoria de Newton,. que era a que Kant tinha em
mente)61. Embora tenhamos a. princípio de apegar-nos a nossas
teorias — sem teorias não podemos^nem mesmo começary pois não
há outra coisa capaz de guiar.-nos. cabe, com o tempo, adotarmos
uma atitude mais crítica em relação a, elas. Podemos tentar substi­
tuí-las por algo, melhor, se tivermos aprendido, com o auxílio delas,
em que ponto deixam de nos ser úteis. È surgirá assim a fase
científica ou crítica da reflexão^ necessariamente precedida por uma
fase não-crítica.
Kant, julgava eu, acertara aò afirmar ser impossível que o co­
nhecimento fosse, por assim dizer, uma cópia ou impressão da reali-
dade. E acertara ao afirmar que oiícofíhecitaentGi -è ^0tieiicamente
ou psicologicamente "a priori”, ’
nhecimento pudesse ser válido “a priôíilf^-r^òssàsH^âàshsãôkin^ehJ
ções nossas; mas podem não passar de xonjectuíâs^^ál^ndadâs,.
conjecturas audaciosas, hipóteses. A pàrtir, :d d asxií# i^ õ s^ ^ :;iíiüM §f'
não o mundo real, mas nossas próprias X€des^«aâ5\qüiãijí|-p^c.ü^dósí'’
colher o mundo real, •<
Se assim era, o que eu originalmente considfeíáWC çòiiio: a^sico^';
logia da descoberta assentava sua base na Lógica:: por^motivpsMogif
cos, não havia outro caminho capaz de levar ao desçÕfíhéGidoí ? ‘í"'

13 . Dois tipos de música /t

.Meu interesse por música, levou-me ao que eu então supusílsérf.


uma descoberta intelectual de menor importância (isso ocorreu-- erru
1920, antes de eu dar atenção à psicologia da descoberta, fato a: que-
aludi na. seção precedente, e na seção 10). Posteriormente, essa
descoberta muito influenciou meu pensamento filosófico e, em últimá
análise, mé levou à distinção que estabeleci entre mundo 2 e mundo
3, distinção que desempenha importante papel na filosofia desenr
volvida nà minha idade madura. De começo, as coisas assumiram a
forma de uma interpretação da diferença entre a música de Bach
e a de Beethoven, ou da maneira de eles abordarem a música.
Ainda penso haver algo de aproveitável na idéia que me ocorreu,
embora, segundo refleti depois, minha interpretação particular exa­
gerasse demasiado a difeíença entre ambos. Contudo, a origem dessa
descoberta intelectual está de tal forma ligada a esses dois grandes
compositores, que a relatarei nos termos em que, na ocasião, me
ocorrèu. Não pretendo sugerir, entretanto, que minhas observações
façam justiça a eles ou a outros compositores, ou que acrescentem
algo de, novo às muitas coisas, boas e más, que vêm sendo escritas
a respeito da música: minhas observações têm caráter essencialmente
autobiográfico.
* :s A descoberta foi, para mim, um grande choque. Eu admirava,
tanto? JBach quanto Beetlioven — não apenas a música de.. um e
outíojvinas; as personalidades de ambos que, julgava eu, tornavam-se
rVisívèis -através da música por eles ^composta. (Não se dá o mesmo
feüm^l&bzart: há alguma coisa de inatingível, atrás de sua fasci-
3iâ^ã@0^ í(|)i choque se deu quando me ocorreu que eram diferéntéS:
'âs^elà^es de- Bach e Beethoven com as respectivas obras e -que*
tímbbra^íòssei admissível tomar Bach por modelo, era inadmissível
adotar ásrriesma atitude em relação a Beethoven. •
Beethoven, a meu ver, fizera da música, um instrumento de
auto-expressão. Para ele, em seu desespero, talvez tenha sido essa
a única maneira de continuar vivo. (Creio que tal idéia é sugerida
em seu Heiligenstddter Testament, de 6 de outubro de 1802.). Não
há obra mais comovente do que o Fidelio ; não há expressão mais
comovente da fé de um homem, de suas esperanças, de seus sonhos
e de sua heróica luta contra o desespero. Todavia, a pureza de
coração, a capacidade dramática, os singulares dons criadores de
Beethoven permitiram-lhe trabalhar de' maneira que, achava eu,
não era acessível a outros, pareciarine que nao poderia haver perigo
maior para a música do que tentar transformar a maneira de ser de
Beethoven num ideal, ou padrão, ou modelo.
Foi com o propósito de estabelecer uma distinção entre as ati­
tudes de Bach e dè. Beethoven para; com as suas composições que
introduzi — para meu uso?-apenas —- os termos “objetivo” e “subje­
tiva”. Talvez esses termos: nao tenham sido bem escolhidos (o que
nao importa muito) e, num contexto como este, talvez pouco signi­
fiquem para um filósofo; .entretanto, causou-me satisfação, muitos
anos mais tarde, saber que Albert -Schweitzeros tinha usado, em
1905* na abertura, do seu grande livro: sobre Bach ^ Para mim, o
contraste entre uma abordagem õu atitude objetiva e uma abordagem
ou atitude subjetiva, especialmente em, relação à própria obra, tornou-
-se de importância decisiva. E, dentro em breve, começou a influenciar
concepções minhas no campo da Epistemologia. (Considere-se, por
exemplo, os títulos de alguns de meus artigos mais recentes^ “Epis­
temologia sem um Sujeito Cognoscente”, “A Propósito da Teoria da
Mente Objetiva”, “A Mecânica Quântica sem 'o Observador’.” ) 64
Tentarei agora explicar o que tenho tido em mente ao falar
(até hoje, apenas de mim para comigo e, talvez, para uns poucos
amigos) acerca ;de música ou arte “objetiva” e “subjetiva” . Para
explicar melhor , algumas de minhas primeiras idéias, recorrerei a
formulações de que dificilmente teria " sido capaz naquela época.
Talvez eu devesse começar criticando uma teoria de arte que
é amplamente aceita: a teoria de que a arte é uma auto-expressão
da personalidade do artista ou, quiçá, uma expressão de suas emoções.
(Croce e Collingwood são dois dos muitos: defensores dessa teoria.
Meu ponto de vista antiessencialista implica em que as indagações
do tipo que é?, tal como a indagação “Qué é arte?’5, jamais cor­
respondem a problemas genuínos.)65 . A crítica principal que dirijo
a essa teoria é simples :r a teoria expressionista da arte. é vazia. Com
efeito, tudo o que um. homem ou animal faz é (entre outras coisas)
expressão de um estado intimo, de.. emoçoes-.e de uma. personalidade.
Essa é uma verdade -trivial, váMda .para^ iodas, as espécies de lingua­
gens- humanas e animais. .' . Aplica-se à. maneira como caminha um
homem ou um leão, à maneira como o homem tosse ou a s s o a o
nariz, à maneira como o homem ou o leaò ;olha ou ignora alguém.
Vale para a maneira como o pássaro constrói ovninho, a aranha tece
a . teia ou o homem ergue uma. casa. í^n/outxas palavras, não e . um
traço característico da Arte. Por essa.: razãoyf.-à^J,|eoriàs ^pres^ionistas
ou emotivas da linguagem são ■
banais, f.não-esclareoédorás
í í " ,FH 3' 'VJ
-e. ; •:inúteis
i .-. • •• <■
65ü.
Claro está que nao me proponho.. -responder u^?qufeSíãòs dowttiipó
que é, traduzida Ha indagação "Que e arte?ny,mas; 4esej^ su^er.ir que
o que torna uma obra de arte interessante: ou. .#ígç>.
rauito diferente da auto-expressão. Do ponto de vistà> psicológico,
há certos dotes que o artista precisa possuir e :qüe ^ptídbríarriòb cha
mar de imaginação criadora, talvez huihor; gosto •e^^^piYqüe e de
alguma ■importância : — integral devoção, ao própHb'*•trtbalho A
obra deve ser tudo para ele, deve transcendèr-lhè a ;>pHrsòhahdade
Isto não passa, todavia, de um ângulo psicológico do ?assuhtO e,
exatamente por esse motivo, é de alcance reduzido; O importante
é a obra de arte. E, neste ponto, quero dizer, primeiramente, algumas
coisas negativas.
Pode haver grandes obras de arte sem muita originalidade. Di­
ficilmente haverá grande obra de arte que o artista haja pretendido,
acima dè qualquer outra coisa, fazer original ou “diferente” (exceto,
talvez, num sentido jocoso). O primeiro propósito do verdadeiro
artista é a perfeição da" obra. A originalidade é dom dos deuses ■
como a ingenuidade, não pode ser obtida por desejo ou alcançada
por busca. Tentar seriamente ser diferente ou original, assim como
tentar exprimir a própria personalidade, é coisa que deve interferir
com o que tem sido denominado “integridade” da obra de arte. O
artista não procura incorporar suas rasteiras ambições pessoais a
umã grande obra de arte, mas recorre a essas ambições pará servir
a sua obra. Dessa maneira,. poderá desenvolver-se, como pessoa,
através da interação com o que faz. Por via de uma espécie de
realimentaçao, ele pode ganhar habilidade artesanal e òutras capa-
cijdades. que fazem um artista66.
• : , O que eu acabei de dizer terá talvez indicado qual a diferença
.rqaie. existia entre Bach e Beethoven e que tanto me impressionou.;
,-^ach ise; esquece de si em sua obra, é servo dela. Claro está que< -não
-deixa dim prim ir-lhe sua personalidade: isso é inevitável.. Contudo,
•ele; .não se mostra, como por vezes o faz Beethoven, consciente-;;de
estar-se ^expressando a si mesmo e aos seus modos de ser. Por essa
razão é que eu os via como. a encarnação de duas atitudes opostas
frente à música.
Assim, ao ditar a seus alunos instruções concernentes à maneira
de tocar o contínuo, Bach disse: “O contínuo deve compor uina
harmonia eufônica, para a glória dè Deus e o permitido prazer do
espírito; e, como toda a música, seu finis è causa final jamais devem
ser outra coisa que nao a glória de Deus e o deleite da alma.
Quando nao se dá atenção a isso, deixa de existir música; só há
bulha, estardalhaço e execráveis ruídos.” 67
Penso que Bach desejava excluir, como causa final da música,
a produção de ruídos pára a maior glória do músico,
Tendo citado Bach, devo deixar claro que a diferença que tenho
em mente não é a que se pode estabelecer entre arte religiosa e arte
secular. A Missa em Ré, de Beethoven, evidencia esse ponto. Ali
se lê “Partindo do coração, esta,,música pode chegar de novo ao
coração” ( “Vom Herzen .—- mõge es wierder — zu Herzen gehen” ).
Devo também dizer que a ênfase por. mim colocada nessa diferença
nada tem a, ver com a negação do conteúdo emocíon-al ou do impacto
emocional da música. Um oratório .dramático, tal como A Paixão
Segundo São Mateus, de Bach, retraia emoções fortes e assim, por
afinidade, desperta emoções fortes — talvez mais fortes que as pro­
vocadas pela Missa em Ré, de Beethoven. Não há razão para duvidar
que o compositor também tenha sentido essas emoções; julgo, po­
rém, que as sentiu porque a música por ele inventada causou um
impacto sobre ele (de outro modo, ele teria sem dúvida deitado fora
a peça, dando-a por mal sucedida) e nao pòrque o compositor
estivesse de início numa disposição emocional que veio a expressar
na música.
A diferença entre Bach e Beethoven reveste aspectos técnicos
característicos. Exemplificando: o papel estrutural do elemento dinâ­
mico (forte versus piano) é diferente. Existem, é claro, . elementos
dinâmicos em Bach. Nos concertos, há as mudanças de tutti para
solo. Há o brado “Barrabaml” na Paixão Segundo São. Mateus. Bach
é freqüentes vezes, altamente dramático. Sem embargo, émbora
ocorram surpresas e contrastes dinâmicos, raramente constituem de­
terminantes significativos da estrutura da composição. Via de regra,
surgem longos períodos sem maiores •contrastes dinâmicos. E algo
semelhante pode ser dito de Mozart. V'Mas não pode ser dito, por
exemplo, da Appassionata de Beethoven, onde os contrastes dinâ­
micos são quase tão importantes quanto os harmônicos.
. Schopenhauer disse que, numa sinfonia de Beethoveri, “falam
todas as paixões e emoções humanas: dor e alegria, amor e ódio,
temor e esperança ( . . . ) em. incontáveis e delicados matizes” 68; e
ele apresentou da seguinte forma a teoria da expressão e ressonância
emocionais: “A maneira como nossos corações são tocados pela mú­
sica ( . . . ) prende-se ao fato dè ela refletir todos os impulsos de
nossa mais profunda essência.” Caberia dizer que a, teoria, elabor.ada
por Schopenhauer, a propósito da música e da arte em .geral, só
escapa ao subjetivismo (se é que o consegue) porque, segundo ele,
“nossa mais profunda essência” — nossa vontade — é também obje­
tiva, pois constitui a essência do mundo objetivo.
Retornemos, porém, à musica objetiva. Sem colocar uma inda­
gação do tipo que é?, examinemos as Invenções, de Bach, 'e á pági­
na de título, um tanto longa, em que deixa claro tê-làs escrito para
pessoas que desejem tocar piano. Aprenderão elas, assegura Bàch,
“como tocar de forma clara, com duas e três partes ( . . .) e de ma­
neira melodiosa” 69; e serão estimuladas a mostrar-se inventivas e,
assim, “eventualmente, a sentir um primeiro gosto pela composição” .
Aqui, a música deve ser aprendida a partir de exemplos. Por assim
dizer, o músico terá de desenvolver-se na oficina de Bach. Ele
aprende uma disciplina, mas é também encorajado a utilizar suas
próprias idéias musicais, sendo-lhe mostrado como desenvolvê-las clara
e proficientemente. As idéias do músico podem, sem dúvida, ganhar
corpò. Através do trabalho, ele pode, à semelhança de um cientista,
aprender por tentativa e erro. E com o progresso do trabalho, o
juízo e gosto musicais poderão também aguçar-se — e talvez, ao
mesmo tempo, haja proveito para sua imaginação criadora. Esse
aperfeiçoamento dependerá, todavia, de esforço, empenho, dedicação
ao próprio trabalho, sensibilidade para o trabalho dos outros e auto­
crítica. Haverá constante interação entre o artista e a obra e nao
um “dar” unilateral. — mera expressão da personalidade artística na
obra.
O exposto deve deixar claro que estou longe de sugerir que o
grande músico, e a grande arte em geral, não possam causar pro­
fundo impacto emocional. E muito menos sugiro que o musico não
possa ser profundamente comovido pelo que executa ou compõe.
Todayia, admitir o impacto emocional da música nao é, evidente-
mejntéj.íaceitar o expressionismo musical, que é uma teoria a propór
silo^da musica (e teoria que levou a certas práticas musicais). O
expressionismo, segundo penso, é uma teoria errônea acerca, da
rèía^ão 'entre. emoções humanas de um lado, e a música, a Arte
em geral,,.dó outro.
T A relação entre as emoções humanas e. a música pode ser enca-
( rada; por diferentes ângulos. Uma das primeiras e mais fecundas
| teorias é a teoria da inspiração divina,: que se traduz na divina
j loucura ou no divino arrebatamento do poeta ou do músico: o
| poeta é possuído pór um espírito, mas um espírito benigno, não ma-
[ ligno. Uma clássica formulação dessa maneira de ver encontra-se
; no íon 70, de Platão. As concepções que Platão ali exprime são mul-
{ tifacetadas e incorporam várias teorias diferentes. Em verdade, o
! tratamento que ela dá ao tema pode ser usado çomo base para um
^ exame sistemático:

(1) O que o músico ou poeta compõe não ,é obra própria, mas


uma mensagem ou dote dos deuses, : |?árticularmente das Musas; O
póeta ou músico é apenas instruméiito através do qual falam as
Musas, é porta-voz de um deus e. “para p rová-lo,a’ divindade cantou
; • a màis bela das canções através do mais insignificante dos poetas” 71.
(2) O artista (seja criador ou executante) que é possuído por
um espíritoj entra em delírio, isto é, toma-se emocionalmente super-
j excitado; e o estado em que se encontra comunica-se à audiência
| por um processo de ressonância simpática (que Platão compara' ao
[ magnetismo).
í (3) Quando o poeta oü átor compõe ou recita, ele se emociona
í fortemente e deixa-se possuir (não apenas pela divindade, mas. tam-
! bém) pela mensagem; pela cena que descreve, por exemplo. E a
| obra; mais que o estado emocional do artista, induz no auditório
| emoções semelhantes.
| (4) Devemos distinguir entre a mera habilidade ou engenho ou
| “arte”, adquiridos por exercício ou estudo, e a inspiração divina;
J só esta última faz o músico ou o poeta.

| Importa assinalar que, expondo l essas concepções, Piá tão esta


| Jongç de falar seriamente: brinca. Uma pilhéria, em especial, é
| significativa e engraçada. À observação de Sócrates, de que o rapsodo,
| quando possuído pela divindade, se transforma ostensivamente (treme
í de medo, por exemplo, embora não esteja em perigo) e transmite à
í audiência as mesmas emoções absurdas, o rapsodo íon responde:
! “Exatamente: quando olho do palco os espectadores, vejo como cho-
) ram. e me contemplam com olhos aterrados ( . . . ) E sou obrigado
f a obseírvá-los muito cuidadosamente: se eles; chorarem, eu rirei pelo
I dinheiro que irei receber e, se rirem, chorarei pelo dinheiro per-
É dido.” 72 Claro está que Platão pretende dar-nos a entender qué,
] se o rapsodo observar a audiência, ;,;à fim de, porsuas reações,
regular o próprio comportamento, está possuído por essas p r e o c u p a ­
ções mundanas e muito pouco “transtornadoras”, então n ã o pode
estar falando a sério quando sugere, (como faz fon naquela mesma
passagem) que o efeito produzido pelo artista sobre o auditório de­
pende, inteiramente de sua sinceridade — isto é, do fato de estar
completa e genuinamente possuído pela divindade, de estar fora
de si. (O gracejo de Platão é, tipicamente, urá gracejo dirigido a
si próprio — uma auto-referência quase paradoxal. ) 73 Com e fe ito ,
Platão insinua enfaticamente74 que todo conhecimento ou habilidade
(capaz de, por exemplo, manter a platéia fascinada) será um embuste
ou prática desonesta, pois interferirá necessariamente; com a men­
sagem divina. E) sugere que o rapsodo (ou músico ou ppp.tá}' .ç, pelo
menos algumas vezes, um trapaceador habilidoso e não um,; verdadeiro
intérprete dos deuses.
Passarei a utilizar agora a relação que fiz dás teorias (1) , -a . (4)
de Platão, para construir uma teoria moderna da arte- como: expres­
são. Minha; afirmação básica é a de que, se tomarmos a tcpçia da
inspiração e aírebatamento e dela afastarmos a fonte divind, chega­
remos, de imediato, à moderna teoria da arte como auto-expressão
ou, mais precisamente, como auto-inspiração e como expressão e
comunicação, de emoções. Em outras palavras, a teoria moderna
é uma espécie de teologia sem Deus — a essência ou natureza oculta
do artista assume o lugar dos deuses: o artista inspira-se a si mesmo.
Evidentemente, esta doutrinasubjetivista tem de afastar ou
contestar o ponto (3 ), a concepção de que o artista e seu auditório
sejam emocionalmente atingidos pela obra de arte. Sem embargo,
a meu ver, esse ponto (3) traduz precisamente a teoria que exprime
de modo correto a relação entre a Arte e as emoções. Trata-se de
uma teoria objetivista, a afirmar que a música e a poesia descrevem
ou retratam ou dramatizam cenas de significação emocional e que
podem, inclusive,. descreveiou retratar emoções como tais. (Note-se
que não está implícito na teoriaseja essa a única maneira de a
Arte se tornar significaiíte,)
Essa teoria objetivista acerca da relação entre a Arte e as
emoções pode ser entrevista no trecho de Kepler citado na seçãò
anterior.
* Desempenhou eia importante papel no surgitnento da ópera e
-dpiioratório. Bach e Mozart, por certo, tê-la-iam aceito. Notemos, de
passagem^ que ela é perfeitamente compatível com a teoria, de Platão.,
•exposta^., por exemplo, na República e também nas Leis, teoria ;ser
gundo .qual a música tem o poder de despertar emoçõesy; .d^:zafialr
má-las (como se dá com uma canção de ninar) e até mesmo de
formar o caráter de um homem: algumas espécies de música, podem
torná-lo ousado, enquanto outras o farão covarde -— teoria que,
para dizer o menos, exagera o poder da músicá75.
De acordo.com minha teoria objetivista (que não nega a auto-
-expressão, mas sublinha sua total trivialidade) , a função realmente
importante das emoções do compositor não é a de que devam elas
ser expressas, m as. a de que podem servir de crivo para avaliar o
êxito ou adequação do impacto. da -obra (objetiva) ; o comgósitor
pode utilizar-se a si mesmo como corpo.de ensaio e modificará ou
refará sua obrá (como tantas vezes se deu com Beethoven) quando
lhe paréça insatisfatória sua própria reação ■a fc esse trabalho, ou a
abandonará inteiramente. (Seja ou nao seja a composição basica­
mente emocional, o artista recorrerá dessa maneira às suas próprias
reações — áo seu ''bom gosto”, o que implica em outra aplicação
do método de tentativa e erro.)
Note-se que a teoria (4) de Platão, em sua forma não-teológica,
dificilmente se compatibiliza com uma teoria objetivista que afere a
sinceridade da obra menos pelo caráter genuíno da inspiração do
artista do que pelo resultado da autocrítica1realizada, por este. Não
obstante, uma concepção expressionista, como a teoria (4) de Pla­
tão, veio à tornar-se, informa-me Ernst Gombrich, parte da tradição
clássica da doutrina retórica é poética. E foi até o ponto de sugerir
que a descrição ou pintura bem sucedida das emoções depende da
profundidade de emoção de que o artista seja capaz76. Talvez tenha
sido esta última e dúbia concepção, forma secularizada da teoria (4)
de Platão, que considera “falso” 77 o u . “insincero” tudo quanto não
seja auto-expressão pura, a que levou à moderna teoria expressionista
da Música e da A rte78.
Em resumo: (1 ), (2) e (4 ), afastada a divindade, podem ser
encaradas como formulação da teoria subjetivista ou expressionista
da Arte e de sua relação com as emoções, enquanto (3) pode ser
vista como a formulação parcial de uma teoria objetivista dessa
relação. De acordo .com tal teoria objetivista, a obra é a principal
responsável pelas emoções do músico, e iíão o contrário.
Pássando, agora, à concepção objetivista da música, fica claro
que (3) nao basta, pois se ocupa tão-somente da relação entre a
música e as emoções, que não constituem o elemento único, nem o
principal elemento a tornar a Arte significativa: O músico pode
ter como propósito retratar emoções e aliciar nossa simpatia, como
nA- Paixão Segundo São Mateus; mas há, a par desse, muitos outros

74
problemas que ele se empenha, eih .solver.- (Isso é ób.vio numa; arte
como a Arquitetura, onde sempre Jiá problemas/prátiéos e : técnicos
a serem resolvidos.) Ao compor uma; fuga/vo; :probíémà rdo-^còmpoT
sitor é o de encontrar um tema interessante:,e^ um;contraponto fcon­
trastante, para, então, explorar esse materiaktãol ibera ^quantó^possivel
Poderá ele orientar-se por um-íexperimentadosáerítidcíí^è^, adequação
geral, ou “equilíbrio”. O resuItadouvcoh.tinuáráí^%tálvèz; v^èndól jde
caráter emotivo;. mas pod<^>^ax*<tô^uje^nô^^#pr£dãç|lóiãs.é^ãp.óie-
nura sentimento de adequação;-— de-í^iitSeõsmos ^ ^èmérgihS.darjtjüa-:
se-caos — e não d e' percepção:de ,,umagemoção^ q u ^ ü j^ ^ ê^ esèn --
tada. O mesmo se dirá .dè ; algemas '.j-nv&açQes, de 3açhj^cjija>;|pEçp^.
cupaçao era a de proporcionar. ao:,alunq.^um ,piimeiro%sa|^£^dp^çq^;;
posição, de solução para um problema musical^>:Analpgãçqien|igi;;. „a
tarefa de compor um minueto ou um. £xio çplocàfeió^ .
um problema definido; e o problema se tornará maispespeçífiGpjãna
hipótese de exigir-se que a composição se integre númar ísúite; a; ser'
completada. Ver o músico a empenhar-se na solução dé .problemas
musicais é, claro, muito diverso de vê-lo buscando expressar . :suas
emoções (o qvie, trivialmente, ninguém pode deixar de fazer).
, Procurei dar uma idéia razoavelmente clara da diferença. entre
essas duas teorias concernentes à música, a objetivista e a subjetivista,
e busquei relacioná-las com as duas espécies de música — a de
Bach e a de Beethoven — que, na época, me pareciam muito diversas,
embora eu apreciasse ambas. .
Tornou-se de importância para mim a distinção entre a visaó
objetiva e a visão subjetiva de uma obra; e essa distinção, posso
dizê-lo, matizOu-me as concepções acerca do mundo è da vida, desde
os meus 17 ou 18 anos.

14. Idéias progressistas em Arte, especialmente em Música

Por cérto que nao era muito justo eu considerar Beethoven res-
; ponsável pelo surgimento do expressionismo em música. Não há
dúvida de que ele sofreu influência do movimento romântico, mas
podemos verificar, por seus livros de anotações, que estava m u ito
longe de- apenas expressar os próprios se n tim e n to s òu fa n ta sia s.;
Amiúde, elè trabalhava arduamente versão após versão de uma idéiaj
procurando dar-lhe simplicidade e clareza, tal como é possíyel-ver^se^;
comparando a Fantasia Coral com as anotações relativas;v^ ^ o f e ; ::
Sinfonia. Entretanto, a influência indireta de sua- personahdade. íemblí'
pestuosa e as tentativas de emulá-Io levariam* segundò crèio,.:a-v.iini
declínio na música. Ainda me parece que, em grande parte, esse
declínio foi provocado pelas teorias musicais expressionistas. Mas eu
nao afirmaria agora que inexistam .outros credos igualmente perni­
ciosos e, entre eles, alguns credos antiexpressionistas, que têm levado
a toda espécie de experimentos formalistas, desde o sefialismo até a
musique concrète. Todos esses ^movimentos, contudo, e em- parti­
cular os movimentos tcanti” resultam desse ramo do “historicismo”,
que examinarei logo adiante, nesta seção e, especialmente, da atitude
histçricista em face do. "progresso”. '
Naturalmente que ; existe em Arte. algo como o progresso, no
sentido de que se podem descobrir novas possibilidades, assim como
novos problemas7&. Em música, invenções como a •do contraponto
revelaram quase que uma infinidade de novas perspectivas e de
questões novas. Além disso, há o processo púramente tecnológico
puro (por exemplo, em certos instrumentos)' que, embora abrindo ca­
minhos novos, não tem significação fundamental. (Alterações do
“meio” podem afastar mais problemas do què criá-los.) Goncebivel-
mente, há progresso até mesmo no sentido do aumento dó conhecimen­
to musical, isto ê, n o sen tid o de um compositor dominar as descobertas
feitas por seus grandes predecessorès; mas não creio que nada dessa
ordem haja sido alcançado por qualquer músico. (Einstein talvez
não tenha sido um físico superior a Newton, mas dominou comple­
tamente a técnica newtoniána; nenhuma relação similar parece ter
jamais existido no campo da música.) Mesmo Mozart, que, mais
do que qualquer outro, se aproximou desse ponto, nao chegou a
atingi-lo e Schubert dele sequer se aproximou, Há sempre também
o perigo de que possibilidades recentemente concretizadas destruam
as anteriores: os feitos dinâmicos, a dissonância e mesmo a moduláçao,
caso utilizados demasiado livremente, podem desgastar-nos a sensi-
bilidade para os efeitos mènos óbvios do contraponto ou, digamos,
para uma alusão aos velhos modos.
A perda de possibilidades, como resultado de uma inovação,
constitui um problema, interessante. Assim, o contraponto suscitou
o perigo de se perderem, òs. efeitos monódicos e, especialmente, os
rítmicos, e por essa razão a música de tipo contrapontístico foi criti­
cada, como também o foi por sua complexidade. Não há dúvida
de que: tàl ■crítica teve algumas; conseqüências salutares e de que
grandes.mestres do contraponto., Bach inclusive, tiveram o maior
interesse pelas dificuldades e contrastes que .decorrem da combinação
de recitativoSjvárias e outras alternativas, monódicas com a escrita
cóntrapontística. Muitos compositores recentes se mostraram menos
imaginosos. (Schõnberg -deu-se conta de que, num contexto de
dissonancias, as consonâncias devem ser cuidadosamente preparadas
introduzidas e, talvez, até mesmo resolvidas. Isto significava, entre­
tanto, que estava, perdida a velha função que elas desempenhavam.)
Foi W agner80 quem introduziu^.,na' música uma idéia de pro­
gresso que (era 1935 aproximadamente); denominei “historicista” e
éle se tomou, por isso, continuo a crer,-oprincipal vilão da peça.
Defendeu Wagner também a idéia. ,.iião-crítica, „e quase histérica do
gênio incompreendido: gênio que expressa;;nãq, só.o espírito de sua
época, mas que, na verdade, ,.está. -' -adiante; ;.de ;seu tempo’5j um líder
que, normalmente, é mal interpretado porvítodos os seus , çpntempo-
râneos, salvo uns poucos espíritos “avançados”, -■: ...... .;
Minha tese é a de que a doutrina da Arte como.'auto^èxpressão
é trivial, confusa e vazia — embora não necessariámeri te., viciosa, a -
nãò ser que tomada, a sério* pois, nesse caso, poderá levar; facilmente
a atitudes egocêntricas e à . megalomania. Mas a doutrina^ de . que o
gênio tem de estàr adiante. de seu tempo é quase inteiramente falsa
e viciosa, e expõe o universo da arte a juízos que nada têm a . ver
cora valores artísticos.
Do ponto de vista intelectual, ambas as teorias se colocara em
nível tão baixo que surpreende o fato de terem sido levadas a sério.
Com base em argumentos puramente intelectuais, e sem mesmo con­
siderar de mais perto a própria Arte, a primeira dessas teorias pode
ser descartada por banal e mal orientada. A segunda — a teoria
de que a. Arte é expressão do gênio que. está adiante de sua época —
refutam-na inúmeros exemplos de gênios apreciados em seu tempo
por muitos patrocinadores das artes. A maioria dos grandes pintores
do Renaseimento foi muito apreciada. ; E também o foram muitos
.dos grandes músicos. Bach foi admirado pelo rei Frederico da Prússia
aliás, ele obviamente não estava à frente de seu tempo (tal como
esteve, talvez, Telemann) : seu filho Gari Phillip Emanuel julgava-o
passé e a ele se referia habitualmente, chamando-o de “velho imper­
tinente” (“der aíte Z o p f’). Mózart, embora tenha morrido pobre,
foi admirado em toda, a Europa. Uma exceção talvez seja Schubert,
apreciado apenas por um círculo relativamente pequeno de amigos
vienenses; mas ele começava a ser conhecido mais amplamente ao
tempo de sua prematura morte. A história de que Beethoven não
e r a estimado por seus contemporâneos não passa de um mito. JMaõ
obstante, permitam-me repetir aqui (ver seção 10, atrás) o nieu
pensamento de que o êxito na vida é, em grande parle* uma questão
de sorte. Isso tem muito pouco a ver com o mérito è- erri - todòâ :os
campos da atividade humana houve sempre pessoas r; dotadas:-.de

7,7
grandes qualidades que não alcançaram êxito. Ê, pois, de esperar
que isso também tenha acontecido na esferã das Ciências e das Artes.
A teoria de que a Arte ayança com os grandes artistas é não
apenas um mito;..levou à.formação de facções e de grupos de pressão
que, com suas máquinas de propaganda, chegam quase a lembrar
um partido político ou uma seita religiosa.
Houve/ indiscutivelmente, grupos facciosos antes de Wagner.
Mas não houve algo que se.assemelhasse aos wagnerianos (a não ser,
posteriormente, os freudianos) : um grupo de pressão, um partido,
uma seita com rituais. Entretanto, nada mais direi a este respeito,
pois Nietzsche já disse tudo e muito melhor que eu 81.
Percebi de perto algumas dessas coisas na Sociedade de Con­
certos Privados, de Schõnberg.. Schõnberg foi, de iníciò, wagneriano,
como. tantos ,de seus contemporâneos.. Depois de algum tempo, seu
problema e o de muitos membros do seu círculo passou a ser, como
um ; deles disse numa conferência, “Como poderemos suplantar
Wagner?” ou mesmo ''Çomo poderemos superar o que* em nós,
resta de Wagner?” Mais tarde ainda, a indagação tornou-se “Como
poderemos permanecer à vanguarda de todos os outros e, apesar
disso, suplantar-nos constantemente a nós mesmos?” Parece-me, en­
tretanto, que estar adiante da própria épòca nada tem a ver com
servir à música, nada tem a ver còm a genuína dedicaçao à própria
obra. . '
Anton von Webern era, nesse ponto, uma exceção. Eoi músico
dedicado e homem simples e agradável. Contudo, tinha sido. edu­
cado na doutrina filosófica da auto-expressão, de cuja verdade jamais
duvidou. ContOu-me ele, certa vez, como . havia composto seus
Orchesterstücke: ouvia apenas os sons que lhe ocorriam e lhes dava
forma escrita; quando não mais lhe ocorreram sons, parou. Essa,
dizia ele, era a explicação da extrema brevidade de suas peças. Nin­
guém poderia pôr em dúvida sua pureza de coração; mas não havia
muita música , em suas modestas composições.
Talvez possa haver algo na ambição de compor uma grande
obra; talvez essa ambição seja um instrumento para criar uma
grande obra; porém,, muitas grandes obras foram produzidas sem
outra. ambição que não a de executar bem o próprio trabalho. To­
davia, ã ^mbição de compor uma obra, que esteja adiante da época
: é;^úé;:; preferivelmente, não seja entendida demasiado cedo — que
vcho.qúe: o? maior número possível de pessoas -— é alheia à Arte, a
;;-:^iespéitÒv:dè:-..niuitos críticos de arte haverem estimulado e populari-
.•vzâlâiõfiSsSSÊr^Liitude'.-. ’•
Á moda, suponho eu, é tao inevitável em Arte como era muitos
outros campos. Entretanto, deveria, ser obvio •que os raros artistas
que foram não apenas mestrès de sua arte, mas também distinguidos
com o dom da originalidade, raramente se mostraram inclinados a
seguir a moda ou a criar moda. Ném Johann Sebastian Bach nem
Beethoven nem Mozart criaram, em música, uma nova moda ou
um novo “estilo”. Criou-o, porém, Gari Philiip. Emanuel Bach,
músico bem formado, que tinha talento e -graça;; e menos. origina­
lidade de invenção que os grandes mestres. O ;. que - ficouf dito vale
para todas as modas, inclusive a do -prirUitivismo --^ : conquanto p
primitivismo possa, em parte, decorrer de, uma preferência pela ^sim­
plicidade; e uma das mais sábias observações de Schopénhauèr *
(embora talvez nao a mais original) foi a de que "Em toda arte
( . . . ) a simplicidade é essencial ( . . . ) ; pelo menos é sempre peri­
goso, esquecê-la” ®V Penso que ele pretendia referir-se ao empenho
de atingir a espécie de simplicidade que encontramos, de maneira
especial, nos temas dos grandes compositores. Como podemos ver
no Seraglio, por exemplo, o resultado será talvez complexo, mas.
apesar de tudo, Mozart pôde responder orgulhosamente ao Impera­
dor José que, naquela peça, não havia sequer uma nota de mais.
Conquanto as modas sejam inevitáveis e surjam novos estilos,
devemos desdenhar ás tentativas de estar na moda. Deveria estar
claro, que o “modernismo” -— o desejo de ser original ou diferente
a qualquer preço, de estar à frente da época, de produzir A Óbra de
Arte do Futuro (título de Um ensaio de Wagner) — é algo estranho
ao que um artista deveria valorizar e esfòrçar-se por criar.
O historicismo em Arte não passa de um equívoco. Encontra­
mo-lo, apesar disso, em todos ps lugares. Mesmo no campo filosó­
fico ouve-se falar de um novo estilo de filosofar, de uma “Filosofia
em Nova Clave” — como se importasse a clave e não a melodia,
como se importasse o fato de a clave ser nova ou velha.
Claro que não reprovo um músico ou artista que tenta dizer
álgo novo. Aquilo que reprovo em muitos dos músicos “modernos”
é a incapacidade de amar a grande música — os grandes mestrès^ e
suas obras miraculosas, as maiores,, talvez, que o Homem ja produziu.

15- •Últimos anos de Universidade

Em 1925, quando eu trabalhava com crianças •abandonadás, a


! Cidade de Viéna fundou um novo instituto de^educáçãó;. denòmi-
nado Instituto Pedagógico. O Instituto deveria- vincular-se, um tanto

79
frouxamente, à Universidade. Seria autônomo, mas seus alunos fre­
qüentariam cursos na Universidade, além de cursos desenvolvidos
no próprio Instituto. . Alguns cursos universitários (como o de Psico­
logia) eram obrigatórios para os alunos do Instituto, enquanto outros
eram optativos. Tinha o novo Insdtüto o objetivo de facilitar e dar
apoio à reforma, èntão em processo, das' escolas primárias e secun­
dárias de Viena, è alguns interessados em trabalhos de caráter social
foram admitidos como alunos; eu: estava èntre eles. Entre eles esta-
vam também alguns amigos meus de toda a vida — Fritz Kolb,
que após a Segunda Guerra Mundial fói embaixador da Áustria no
Paquistão, .e Robert Lammer, os dois meus intérlocutores em muitas
discussões fascinantes.
Isso queria dizer que, após um curto período como trabalhadores
sociais, teríamos de abandonar a ocupação (sem auxílio -desemprego
ou renda de qualquer espécie, exceto, no meu caso, a ocasional
ajuda de estudantes norte-americanos). Estávamos entretanto entu­
siasmados com a reforma escolar e ansiosos por estudar —- ainda
que a experiência com crianças abandonadas tivesse tornado alguns
de nós céticos no que se referisse a- teorias educacionais, que deve­
ríamos absorver em grandes doses. Essas teorias eram. importadas,
principalmente dos Estados Unidos da América (John Dewey) e
da Alemanha (Georg Kerschensteiner).
De um ponto de vista pessoal e intelectual, os ános de Instituto
foram, para mim, de grandé significação, pois ali encontrei a que
seria minha mulher. Era uma de minhas colegas e tornar-se-ia um
dos mais severos juizes de minha obra. A parte qúe lhe cabe nessa
obra, desde aquela época, é pelo menos tão ativa quanto a minha
própria. Com efeito, sem minha mulher, grandeparte demeus tra­
balhos jamais teria sido escrita.
Os anos que passei no Instituto foram anos de estudos, de lei­
turas e de trabalhos — embora eu nada publicasse. Foram meus
primeiros anos de docência acadêmica (nao-oficial). Ao longo de
todo esse tempo, orientei seminários freqüentados por meus colegas.
Conquanto, na época, eu não me desse conta, disso, foram seminários
proveitosos. Alguns deles eram1 despidos de qualquer formalidade
e se realizavam durante excursões, enquartto esquiávamos ou quando
passávamos o dia numa ilha, no rio Danúbio. Com os professores
do Instituto, aprendi muito pouco, porém ‘ aprendi muito com Karl
Bühler, professor d e ,Psicologia da Universidade. (Embora os alunos
do Instituto Pedagógico lhe freqüentassem asaulas, ele nãoensinava
no Instituto, nem tinha uma posição ali.)

80
^ Além dos seminários, ministrei aulas, também não-oficialmente,
a fim de preparar meus colegas para os incontáveis exames que tinha-
mos de fazer, inclusive os exames de Psicologia, propostos por
Bühler. Disse-me ele mais tarde (na primeira conversa privada que
mantive coín. um professor universitário) que aquele havia sido o
grupo mais bem preparado que ele examinara.. Bühler fora chamado
pouco antes para lecionar Psicologia, em Viena e, naquele tempo,
era. mais conhecido por seu livro O Desenvolvimento..^Mental da
Criança*?. Ele fora também um dos primeiros psicólogos; da. Gestalt.
De fundamental importância para meu desenvolvimento futuro loi
sua teoria dos três níveis ou funções da linguagem (já referida, nota
7 8 ): a função expressiva (Kundgabefunktion), a função de assina-
lamento ou liberação (Auslôsenfunktion) e em nível superior, , a
função descritiva (Darstellungsfunktion) . Esclarecia ele que as
duas funções inferiores são comuns às linguagens humana e animal
e de presença constante, ao passo que a terceira função é caracte­
rística tão-somente da linguagem humana e, por vezes (como nas
exclamações) está ausente até mesmo dela.
Essa teoria tornou-se relevante para mim por várias razões. Ela
confirmava minha concepção de improcedência da teoria de que a
arte é auto-expressão. Levou-me, posteriormente, a concluir que a
teoria segundo a qual a arte é “comunicação” (isto é, liberação)84
também, era vazia, pois essas duas funções estão trivialmente pre­
sentes em todas as linguagens, mesmo na linguagem animal. Le­
vou-me a reforçar minha .visãó “objetivista”. E fez com que —
alguns anos depois---- , às três funções apontadas por Bühler, éu acres­
centasse a que chamei função argumentativa85. A função argu-
mentativa da linguagem revestiu-se de particular importância para
m im devido ao fato de eu considerá-la a base de todo pensamento
crítico.
Estava eu no segundo ano do Instituto quando conheci o pro­
fessor Heinrich Gomperz, a quem. fui apresentado por Karl Po-
lanyi. Heinrich Gomperz era filho de Theodor Gomperz (autor dé
Pensadores Gregos, amigo e tradutor de John Stuart M ill). Tal
como o pai, ele e r a profundo conhecedor da Grécia; além de inte-
réssar-sè. muito por Epistemologia. Era o segundo filósofo profissio­
nal e o primeiro professor universitário de Filosofia que eu conhecia.
Anteriormente, eu havia sido apresentado a Julius Kraft (de Hano-
ver, distante parente meu e discípulo de L e o n a r d Nelson)86, que
viria a tornàr-se professor de Filosofia e Sociologia em Frankfurt;
. nossa amizade perdurou até sua morte, em 196087.
Julius Kraftj à semelhança de Leonard Nelson, era um. Socialista
não-marxista, e cerca de metade das discussões havidas entre nós,
que freqüentemente se prolongavam até as primeiras horas da ma­
nhã, tinham como tema central minha crítica de Marx. A outra
metade das discussões girava em torno da teoria do conhecimento,
especialmente em tórno da chamada: “dedução transcendental”, =de
Kant (em que eu via uma petição de princípio), da solução por ele
proposta, para as antinomias,. e da “Impossibilidade da Teoria do
Conhecimento”, de Nelson88. Em torno desses assuntos travamos
árdua batalha, que se prolongou de 1926 a 1956 e, até um pouco
antes de sua prematura morte, em 1960, nada anunciava que che­
gássemos a um acordo. Quanto ao marxismo, logo nos pusemos em
concordância. í
Heinrich Gomperz sempre , fòi paciente comigo. Tinha a repu­
tação de ser mordaz e irônico, mas nunca constatei nada disso. Mos­
trava-se muito espirituoso ao falar a respeito de colegas seus famosos,
como Brentáno e Mach. De tempos em tempos, convidava-me para
visitá-lo em sua casa e deixava-me falar. Em, geral, eu lhe dava
trechos de manuscritos para. ler, mas eram poucos os seus comen­
tários. Jamais criticou o que eu dizia, mas chamou-me a atenção .
com muita freqüência para concepções afins é para livros e artigos
que se ocupavam da mesma questão. Jamais deixou entrever que
julgasse importante o que eu dizia, até que lhe encaminhei, alguns
anos depois, 0 manuscrito de meu primeiro livro (ainda inédito —
ver seção 16, adiante). Nessa ocasião (dezembro de 1932), dirigiu-
-me uma carta altamente elogiosa, a primeira que recebi acerca de:
algo que escrevera.
Li todos' os trabalhos dele, que eram notáveis pela abordagem
histórica: ele sabia como acompanhar um problema histórico através
de todas as suas vicissitudes, desde Heráelito até Husserl e (pelo
menos em, conversas)' até Otto Weiniriger, que ele conhecera pes~
soalménte e considerava quase um gênio. Discordávamos quanto à
Psicanálise^ Na ocasião, ele acreditava na Psicanálise e chegou
a colaborar em Imago.
Os problemas que eu discutia còm Gomperz eram os relativos
à psicologia do conhecimento ou da. descoberta; foi durante esse
período que eu os troquei pelos problemas da lógica da descoberta.
Eu reagia mais fortemente contra qualquer enfoque “psicologista”,
inclusive contra o psicologismo de Gomperz.
O próprio Gomperz havia criticado o psicologismo — apenas
.pala recair nele89. Foi principalmente em discussões com ele que
comecei a acentuar, ò meu realismo, a convicção de que há um
mundo , real e de que o problema do, conhecimento é o problema de
saber como descobrir esse mundo. Convenci-me de que, se dese­
jarmos discutir acerca do mundo, nao poderemos partir, de nossas
experiencias sensoriais (nem mesmò de nossossentimentos, como a
teoria de Gomperz reclamava) sob pena de sermos,.apanhados pelas
armadilhas do psicologismo, do idealismo, do positivismo,, do feno-
menaíismo e àte do solipsismo — concepções a que .eu me . recusava"
a atribuir importância. Meu senso de responsabilidade social-;dizia-me
que levar a sério tàis problemas eqüivalia a uma espécie de traição
do intelectual — e desperdício do tempo que devíamos dedicar a
problemas verdadeiros.,
Como eu tinha acesso aó laboratório de Psicologia, realizei
alguns experimentos que logo me convenceram de que os dados
sensoriais, idéiás ou impressões “simples”, e outras coisas dessa mesma
espécie, nao existem; são fictícios — invenções fundadas em errôneas
tentativas de transferir o atomismo (ou a lógica aristotélica — ver
adiante) da Física para a Psicologia. Os defensores da Psicologia
da Gestalt sustentavam concepções semelhantes, mas parecia-me que
estas não eram suficientemente radicais. Verifiquei que minhas con­
cepções eram análogas às de Oswald Kulpe e sua escola (a Würz-
burger Schule), especialmente às de Bühler30 e de Otto Selz91.
Tinham eles concluído que não pensamos por imágens, mas em ter­
mos de problemas e de tentativas de solucioná-los. Dar-me conta
de que algumas de minhas conclusões haviam sido antecipadas, em
particular por Otto Selz, foi, suspeito, uma das razões menores para
ei} me' afastar da Psicologia.
Abandonar a psicologia da descoberta e da reflexão, à qual eu
havia devotado anos, fpi um processo demorado, que veio a culminar
na seguinte introvisão: ; entendi què a Psicologia da associação — a
Psicologia de Locke, Berkeley e Hume — era simplesmente uma
tradução da lógica aristotélica de sujeito-predicado em termos
. psicológicos.
A lógica aristotélica dá atenção a enunciados como “Os ho­
mens são mortais”: ‘Aqui, há dois “termos”;, e uma “cúpula” què os
liga ou associa. Traduza-se isso em termos psicológicos e dir-se-a
que pensár consiste em ter eis “idéias” de homem « de mortalidade
“associadas” uma, à'o u tra.' Basta ler as obras de Locke a partir desse
ponto de vista para perceber como o fato ocorreu: seus pressupostos
básicos são de que a íógica aristotélica é válida e de que-déscreve
. nossos processos mentais subjetivos, psicológicos. Contudo, a lógica
de sujeito-predicado é algo muito primitivo. (Pode ser encaxada

83
como Interpretação de um reduzido fragmento de álgebra booleana,
descuidadamente combinado, com uma pequena pòrçao de ingênua
teoria.dos conjuntos.) i t incrível que alguém ainda a considere uma
psicologia empírica.
Um novo passo adiante mostrou-me que o mecanismo de trans­
formar uma. doutrina lógica duvidosa em psicologia supostamente
empírica ainda continuava em operação e apresentava perigos, mes­
mo para um . pensador notável como Bühler.
Com efeito, ná Lógica de Kulpe82, que Bühler aceitava e muito
admirava, os argumentos eram vistos como juízos complexos (o que
é um erro do pontò de;vistayda Lógica moderna)93. Em conseqüên­
cia, não podia haver úma distinção reál entre julgar e argumentar.
Outra/ícònseqüência era a de que a função descritiva da linguagem
(correspondente aos “juízos”), e a função argumèntativa eqüivaliam
à mesma coisá; assim, Bühíer deixara de perceber que elas poderiam
ser tão claramente separadas, quanto as três funções da linguagem
que ele já havia distinguido.
A função expressiva de Bühler poderia ser separada da sua fun­
ção comunicativa (ou função de assinalamento, ou função de libe­
ração) porque a um homem ou animal é dado expressar-se ainda
que não haja “receptor” a ser estimulado. O conjunto das funções
expressiva e comunicativa poderia distinguir-se da função, descritiva
de Bühler porque um homem ou animal pode comunicar o medo
(por exemplo) sem descrever o objeto temido. A funçãò descritiva
(função superior, ao ver de Bühler, e apanágio do homem) era,
ségUndo verifiquei então, claramente distinguível da função argu-
mentativa, pois existem linguagens, como a dos mapas, que são des­
critivas, mas nao argument^tivas94. ( Isso, anotemos de passagem,
torna particularmente infeliz a analogia corrente entre mapas e teo­
rias científicas. As teorias são sistemas de enunciados essencialmente
argumentativos:. seu ponto principal é explicarem de forma dedutiva.
Os mapas sao não-argumeiitativos. Está claro que toda teoria é
também descritiva, à semelhança de um mapa — e é, como todas
as linguagens descritivas, comunicativa, de . vez que pode levar as
pessoas a agir; e é também expressiva, pois se constitui em sintoma
cio . “estado” do comunicador — que poderá ser, talvez, um compu­
tador,). Havia, assim, um segundo. caso, ém que um erro de Lógica
. levava •.a ?erro em Psicologia^ envolvendo, nesta hipótese, a psicologia
: idaferdispqsições lingüísticas e das necessidades biológicas inatas, sub­
jacentes-: aos usos e realizações da linguagem humana.
ífe4#|FLudo;.iss6 marcava a meus olhos a prioridade do estudo da
Lógiçai.flsobre o . estudo dos processos subjetivos de pensamento. E
fez-me suspeitar dé muitas das teorias psicológicas aceitas na época.
Cheguei, por exemplo, a conclusão de que a teoria do reflexo con­
dicionado e erroneà. Não há reflexo condicionado. Temos de en­
tender que os cães de Pavlóv estão buscando invariantes no campo
dá obtenção de alimentos (campo que é essencialmente “plástico35, ou,
em outras palavras, suscetível de modificação por tentativa e erro)
e que estao formulando expectativas ou. antecipações- acerca de even­
tos por se realizarem. A isso podeir-se-ia: chamar “condicionamento” ;
não se trata, porém, de -um- reflexo - formado como conseqüência
de um processo de „aprendizado^ mas -dei uma descoberta (equivo­
cada, talvez) acerca do que antecipar 95. Assim,-até mesmo os re­
sultados aparentemente empíricos obtidos por; Pavlovji e a Reflexo-
logia de Bechterev 96} e a maioria das conclusões dá moderna teoria
do aprendizado mostraram, sob esse ponto dé vista,;.ser ; interpreta­
ções errôneas, de caráter lógico-aristotélico, dos próprios / fatos - por
elas verificados; pois a reflexologia e a teoria do condicionamento
não passam -de psicologia da associação, traduzida em termos neu­
rológicos.
Em 1928, apresentei, uma tese de doutoramento que, embora
fosse o resultado indireto de anos de trabalho no campo da psicologia,
do pensamento, e da descoberta, assinalou finalmente meu afasta­
mento da Psicologia. Deixei inacabado p trabalho relativo à esfera
psicológica; eu nao dispunha'nem mesmo de cópia decente da maior
parte do que havia escrito; e a tese "A Propósito do «Problema do
Método na Psicologia do Pénsamento” 97 era uma espécie de peça
de última hora, originalmente concebida apenas como introdução
metodológica a meu trabalho em Psicologia, embora indicativa ágora
de minha transferência para o campo da Metodologia.
A tese me desagradou muito, e nao voltei sequer a olhá-la.
Também me desagradaram muito meus dois exames “rigorosos”
(“Rigorosum3> era o nome dos exames orais públicos pára obtenção
do título de doutor em Filosofia), um de História da Música e o
outro de Filosofiá e Psicologia. Bühler,. que já me haviaex;aminado
em Psicologia, não. fez nenhuma pergunta relativa a essa matéria,
mas estimulou-me a falar de minhas ideias acerca de Logica e de
Lógica da Ciência. Schlick argüiu-me principalmente a proposito
de História dá Filosofia e me saí tão mal em Leibniz que temi uma
reprovação. Quase não acreditei em meus ouvidos quando soube
que fora aprovado- em ambos os exames com o mais alto grau,
“einstimmig mit Auszeichnung”. Sentirme naturalmente aliviado e
feliz, mas foi 'preciso que algum tempo se passasse para eu me liber­
tar da sensação de que merecia ter sido reprovado.:
16. Teoria do conhecimento: “L.ogit der Forschuhg”

Doutorei-me em 1928 e no ano seguinte qualifiquei-me para o


ensino de Matemática e Física em escolas secundárias*. Para obter
essa qualificação, preparei uma tese sobre problemas de axiomati-
zação em Geometria, na qual havia também um capítulo devotado
às geometrias nao-euclidianas. ”;
Só após o exame d e : doutoramento foi que consegui coordenar
meus pensamentos e colocar minhas antigas idéias em seus devidos
lugares. Compreendi .por que se havia enraizado fortemente, desde
Bacon, uma errônea .teoria dá ;Ciência — . a de que as Ciências Na­
turais eram ciências indutivas e que a indução era um processo de
estabelecimento: ou justificação de teorias, mediante observações ou
experimentos repetidos. ' O :motivo què/levava essa concepção a do­
minar .estava em que os cientistas procuravam demarcar suas. ativida­
des, separando-as da pseudociência, bem como da Teologia e da
Metafísica, e usando como critério de demarcação o método indutivo
proposto por Bacon. (De outra, ‘parte, eles ansiavam por justificar
suas teorias valendo-se de fontes de. conhecimento comparáveis, quanto
à fidedignidade, às fontes religiosas). Entretanto, eu tinha em mãos,
havia vários anos, um critério de demarcação mais satisfatório: tes-
tabilidade ou falseamento.
Era-me possível, pois, deixar de ladò a indução, sem com isso
envolver-me em dificuldades relacionadas com a demarcação. Além
disso, eu estava em condições de aplicar os resultados do método de
tentativa e erro de manieira tal que toda a .metodologia indutiva fosse
substituída p o r. metodologia dedutiva. A refutação oü. falseamento
de teorias, através de refutação ou falseamento de suas conseqüên­
cias dedutivas, era, obviamente, uma inferência dedutiva (modus
tollens). De acordo com essa concepção, as teorias científicas, se
não forem refutadas, devem continuar com o caráter dè hipótese
ou conjecturas.
Esclareceu-se, portanto, dessa maneira, toda a questão do mé­
todo científico e, com ela, a questão do progresso científico. O
progresso consistia num movimento em direção a teorias que nos
dizem.< sempre mais —- teorias de conteúdo sempre maior. Entretanto,
quanto, mais uma teoria afirma, tanto mais ela exclui ou proíbe,
dé ..modo que crescem as oportunidades para seu falseamento. Assim,
avrteoria de maior conteúdo é a que admite as provas mais severas.

^Primeiro" nível, que eqüivale no Brasil ao antigo ginásio, isto é, aos


^uaüòtíúltimos anos do atual curso de primeiro grau (N . dos T . ) .
Tais considerações levaram a uma teoria era que-iO íprogresso^èntífiÊÒ
demonstrou consistir, não em acumulação de -observações, mas;?ern
superação de teorias menos satisfatórias, e sua substituição porHço-
.rias melhores, ou seja, em particular, por teorias de maior .:éonteúdò.
Havia, portanto, competição entre as teorias — uma espécie ;de,'iuta
darwiniana pela sobrevivência.
Está claro que teorias que pretendemos sejam simples còrijèctütàâ
ou hipóteses dispensam justificativas (e dispensam, sobretudo^ ; justi­
ficativas baseadas num inexistente “método indutivo”, que nuncá
chegou a ser adequadamente descrito). Contudo, é possível aprer •
sentar muitas vezes razões que nos levam a preferir uma das conjec^
turas, em luta, à luz da discussão critica delas ®®.
Tudó isso era claro e, se me permitem dizê-lo, muito coerente,.
Mas diferia fundamentalmente do que sustentavam os positivistas
machianos e os wittgensteinianos do Círculo de Vièna. Eu ouvira
falar do Círculo em 1926 ou em 1927. A primeira vez,, num artigo
de Otto Neurath, divulgado em jornal; a segunda, numa palestra
. feita pelo próprio Neurath a um grupo de jovens do partido social-
-democratâ. (Esta foi, aliás,, a única vez em què participei de uma
reunião de partido; e compareci porque já havia ouvido falar de
Neurath, a quem conhecia ligeiramente desde 1919 ou 1920.) Eu
havia lido à produção programática do Círculo e do F erein Ernst
M ach; em particular, um panfleto preparado por meu professor, o
matemático Hans Hahn. Também já conhecia o Tractatus, de
Wittgenstein, arios antes da preparação de minha tese de^ doutora­
mento; e lia os livros de Carnap, à medida em que e r a m publicados.
Pareçia-me qüe todos esses estudiosos procuravam ura critério
de demarcação qúe separasse, não tanto a Ciência da pseudociência,
mas, antes, a Ciência da Metafísica. Também me parecia claro
que meu velho critério de demarcação era melhor do que o proposto
por eles. Com efeito, eles; procuravam encontrar, antes de tudo, um
critério que tornasse, a Metafísica um contra-senso destituído de sig­
nificado, mero palavreado vazio, e qualquer critério desse gênero
tendia a suscitar dificuldades, uma vez que as idéias metafísicas saò
com freqüência as precursoras de idéias científicas. Além disso,; a
demarcação feita em termos de significado e nao-significado limita-
va-se a postergar o problema.. Como o Círculo re c o n h e c e u , essà
demarcação criou a necessidade de um novo C ritério, capaz de dis­
tinguir o que tem do que nao tem significado. Tal critério, oâ -mém1-
bros do Círculo o encontraram na verificabilídade, entendida/como
comprobabilidade por via de enunciados de observação^. Isso;' ^;po­
rém, era apenas outra maneira de formular o v e n e r á v e l .critério idos

87
indutivistas; não havia diferença real entre as idéias de indução
e de verificação. Entretanto, de acordo com meu modo de ver, a
ciência não tinhá caráter indutivo; a indução era um mito que
havia sido destruído por Hume, (Ponto adicional, menos interessante,,
posteriormente acolhido por Ayer, era o de que parecia absurdo usar
a verificabilidade. como critério de significado: como sustentar que
uma teoria, por não ser passível de verificação, é palavreado oco?
Pois não era necessário entender uma teori^. para. julgar a possibili­
dade de sua verificação? E uma teoria compreensível podia ser
palavreado oco?) Tudo isso me.levou a considerar que eu possuía,
para cada um dos principais problemas abordados pelo Círculo, res­
postas melhores — respostas mais coerentes — do que as oferecidas
por eles.
O ponto principal, talvez, estava era que eles eram positivistas
e, por conseguinte, idealistas. epistemológicos, na tradição Berkeley-
-Mach. Está claro que eíes não admitiam ser idealistas. Descre­
viam-se como “monistas neutros”. Em: minha opinião, porém, esse
é apenas outro nome do idealismo H- "e acresce que o idealismo
presente nas obras de Garhap39 (sob o nome de solipsismo metodo­
lógico) éra mais ou ; menos abertamente aceito como hipótese de
trabalho..
Escrevi bastante acerca desses temas (sem todavia publicar o
que escrevi), estudando minuciosamente os livros. de Carnap e ide
Wittgenstein. As idéias ordenaram-se de maneira coerente, sob o
prisma das concepções a que eu tinha chegado. Havia apenas uma
pessoa a quem eu podia apresentar, essas idéias — Heinrich Gomperz.
No tocante a um dos pontos capitais de minhas concepções — o de
que as teorias científicas sempre se mantêm na condição de hipó­
teses ou conjecturas ~ Gomperz recomendou que eu lesse a obra
On Assumptiòns (t)ber Ânnàhmen^ 1902) de Alexis Meinòng. A
meu ver, Méinong .mantinha-se, nessa obra, demasiado preso ao psi-
cologismo e, além disso, aceitava implicitamente — como Husserl,
nas suas Logical Inüestigations (Lôgische ZJntersuchungen, 1.900,
1901) ~ que as teorias científicas fossem verdadeiras. Durante mui­
tos anos, percebi que ás pessoas tinham grande dificuldade em admi­
tir que, logicamente' consideradas, teorias eram o . mesmo que hipó-
téses. A concepção prevalecente era a de que as hipóteses seriam
teorias ainda não comprovadas, e d e'que teorias, seriam hipóteses esta­
belecidas ou comprovadas. Mesmo os que admitiam o caráter hipo­
tético de todas as teorias acreditavam que estas necessitavam de
alguma justificação; que, se não fosse possível demonstrar-lhes a
verdade, era preciso estabelecer pelo menos sua elevada probabilidade.

7
.O ponto ^ decisivo, no que - concerne ao Caráter hipotético de
todas- as teorias, parecia*- no xneu vmodo -de. verj- vumaf consèqüência
razoavelmente trivial da revolução einstèniana, a qual-mostrara que
nem mesmo a teoria mais satisfatoriamente súbmètidá a .prova; como
a de Newton, deve ser encarada. Gomo.tralgo .,situadp -acima, -do.'íníve 1
das hipóteses, como unia..^proximaçãouÍGlà ,:-verdade,.
Poi* haver eu. perfilhado o dèpqué
as teorias sao sistem as hipa t é ticp - dé dütivos;;; e ?~dei -.qúé ^--p^"m é tò do «da
Ciência não é indutivo — ,' Çomperè?íre^tfeü-m^
Kraft, um membro do Círculo-■de.■*Vièhla^í^tò^ dè^Üín; 4iyíõ: -sóbre
'As Formas. Básicas .do Método •q^htinftainunã
descrição. muito valiosa de vários métodós -êfeüvamèhtèi;; empregados
na Ciência e acentuava que pelo menos algtitfs-" de-, tafer làétoüòs^nãor.
sao indutivos, mas dedutivos — hipotético-dedutivosr Gòmpèrz> ;déu-
-me uma apresentação para Victor Kraft (que não tem'rélaçãòíeòm
Julius Kraft) e falei com ele diversas vezes no Volksgafterij úm-;par-
que situado nas cercanias da Universidade. Victor Kraft foi o ípri-
mèiro membro do Circulo de Viena com quem tive a oportunidade
de falar pessoalmente (a nao ser que eu inclua Ziísel entre os mem­
bros do Círculo, mas ele, segundo Feigl101, não era membro) . Kraft
dispôs-se à ouvir minhas criticas às idéias sustentadas pelo Círculo
— còm muito mais boa vontade que a maioria dos membros com
quem rpude falar posteriormente. Mas lembro-me de como fic ò u
chocado quando eu predisse que a filosofia do Círculo se transfor­
maria numa nova f o r m a de escolasticismo e d e Verbalismo. E s s a
previsão, no meu entender, c o n c re tiz o u -s e . Refiro-me à c o n c e p ç ã o
p r o g r a m á tic a de que a tarefa d a F ilo s o fia é a “ e x p lic a ç ã o de,-
conceitos”.
Em 1929 ou 1930 {ano em que, afinal, fui designado para um
posto no magistério secundário) falei com outro membro do Círculo
de Viena; Herbert Feigl102. O encontro, preparado por meu tio
Walter Schiff, professor de Estatística e Economia na Universidade
de Viena, que sabia de meu interesse pelas questões de Filosofia, foi
decisivo em minha vida. : Eu já havia encontrado antes algum esti­
mulo no interesse demonstrado por Julius Kraft, Gomperz e Victor
Kraft. Entretanto, nenhum deles animou-me a . divulgar minhas
idéias, embora soubessem que eu já escreverá muitos trabalhos (ainda
inéditos)103. Gomperz prevenira-me, na. verdade, de que era muito
difícil divulgar quaisquer idéias filosóficas. (Os tempos mudaram.)
E essa afirmação ^tinha pôr base o fato de que o grande livro de
Victor Kraft acereá dos métodos científicos só fora publicado por
contar com. o apoio dé um fundo especial.
Herbert feigl, porém, durante o nosso encontro, que se pro­
longou noite adentro, disse-me que não só achava -minhas idéias im­
portantes, quase revolucionárias, como achava também que eu devia
divulgá-las cm forma de livrp 104.
Nunca me havia ocorrido escrever um livro. Eu havia desen­
volvido ás idéias em função do interesse-que me despertavam os pro­
blemas e havia colocado muitas delas, np papel para meu próprio
uso, pois isso permitia que tornásse claras as noções discutidas e
abria margem para a autocrítica. Naquela época,, eu me conside­
rava um kantiano não-ortodoxo e, ao . mesmo tempo, um realista105.
Admitia, com os idealistas, que nossas teorias, são ativamente produ­
zidas pelas nossas mentes (em vez de .se. apresentarem como fruto
de impressão que a realidade exerceria sobre nós), e que as teorias
transcendem nossa ‘'experiência” ; contudo, eu sublinhava que o fal­
seamento podia ser entendido como um conflito direto com a reali­
dade. Também interpretava a doutrina'kantiana da impossibilidade
de se chegar áo conhecimento das. coisas em si còmo algo que cor­
respon d ia ao permanente caráter hipotético de nossas teorias.* Q u a n to
ao pròhlema da Ética, eu me julgava, aí também, um kantiano.
Naquele tempo, eu costumava pensar que minha crítica ao Círculo
de Vièna resultava simplesmente do fato de ter lido Kant e com­
preendido algumas de suas principais concepções.
Creio que eu nao téria escrito um livro se não fosse o estímulo
de, Herbert Feigl. Escrever livro não se coaduna com meu modo
de viver, nem com a atitude que tinha para comigo mesmo. Eu
simplesmente não me animava a crer que os outros pudessem inte­
ressar-se por aquilo que me interessava1 a mim. Acresce que não
voltei a receber nenhum outro encorajamento como o de Feigl,
depois que ele viajou para os Estados Unidos; Gomperz, a quem
relatei a história de meu emocionante encontro com Feigl, desen­
corajou-me de todo; e o mesmo fez meu pai, que temia viesse eu a
transformar-me em jornalista, Minha esposa opôs-se à idéia.de éu
escrever o livro, pois queria que usássemos ò tempo livre para passear
nas montanhas, esquiando e praticando alpinismo — as atividades
que nos davam, maior prazer. Entretanto, assim que iniciei a tarefa,
ela aprendeu datilografia, e passou a dátilografar tudo que dâí por
diante eu viria & escrever. (De minha parte, não consigo usar a
máquina . de escrever, pois tenho o hábito de corrigir e emendar
muitas vezes, o que registro no papel.)
O livro que escrevi focalizava dois problemas — o da indução
e o da demarcação — e suas mútuas relações.: Nasceu, desse modo, o
seu títu lo , O s D o is P ro b le m a s F u n d a m e n t a i s d a T e o r i a d o C o n h e c i ­
mento {Die beiden Grundprobleme der Erkenntnistheorie) , alusão a
um título de Schopenhauer, Die beiden Grundprobleme der Eth.iL
Assim que alguns capítulos ficáram prontos, dei-os a ler ao meu
amigo e ex-colega do Instituto Pedagógico, Robert Lammer. Èle foi
o leitor mais meticuloso, e mais. ;crítico de quantos encontrei: atacou
cada úm dos pontos que não achava cristalinamente claros, discutiu
cada falha de argumentação/ debateu cada. uma das: fraquezas de
minha exposição. Eu havia preparado ra primeira; versão meio às
pressas, mas graças:; aòs cornéntáridsv áè- Lammer,. g ra ç a s a o que
áprendi com sua crítica insistente, nunca mais ;ívoltei a :ésCrever assim.
Também aprendi a não defender qualquer coisa : que;; eu: escrevesse
da acusação de falta de clareza. Se. um leitor cuidadoso considera
obscura' uma passagem, ela deve ser reescrita. Adquiri, .dessa ;maneira,
o costume de escrever a mesma coisa diversas vezes, esclarecendo e
simplificando. Creio que esse costume eu o devo quase inteiramente
a Robert Lammer. Escrevo, pòr assim dizer, com alguém ao méu
lado, constantemente assinalando os trechos que não estão claros.
Sei muito bem que não se pode antecipar todas as possíveis causas
de mal-entendidos; mas penso que é viável evitar alguns deles, admi­
tindo que o leitor deseja entender o que lê.
Por intermédio dè Lammer, eu havia conhecido Franz Urbach,
físico experimental qúe trabalhava no Instituto de Pesquisas de Ra-
dium da-Universidade de Viena. Tínhamos vários pontos de afini­
dade (a Música era um deles) e Urbach me encorajou bastante.
Apreseiitou-me a Fritz Waismann, que formulara pela primeira vez
o famoso critério de significado — . o critério da verificabilidade de
significação — com o qual, por muitos anos, se identificou o Cír­
culo de Viena. Waismann mostrou grande interesse por minhas cri­
ticas. Creio, que foi por iniciativa dele que recebi o primeiro convite
para ler alguns artigos, em que criticava as concepções do Círculo,
num dos grupos “epicíclicos” que, por assim dizer, constituíam-lhe
o “halo”.
O Círculo propriamente dito, segundo depreendi, era constituído
pelos intègrantes dó seminário conduzido por Schlick, os quais se
reuniam nas noites de quinta-feira. Participavam apenas aqueles a
quem Schlick convidava. Nunca fui convidado a participar das
reuniões e nem insinuei que desejaria receber tal convite106. Con­
tudo, havia outros grupos, que se reuniam em vários locais, como,
digamos, os apartamentos de : Victor Kraft ou de Edgar Zilsel; . e
havia, ainda, o . famoso matêmatisches Colloquium, de Karl Menger,
Vários desses grupos, de cuja existência eu nem ouvira falar, con-

9 1
vidàram-me a apresentar . minhas críticas às doutrinas principais do
Circulo de Viena. Foi no apartamento de Edgar Zilsel, numa sala
repleta de ouvintes, que li meu primeiro artigo. Lembro-me ainda
hoje do nervosismo que ine acometeu.
Em algumas dessas primeiras palestras, eu discutia também pro­
blemas relativos à teoria da probabilidade. De todas as interpretações
existentes, a que me parecia mais convincente era a chamada “in­
terpretação em termos de. freqüências” e, dentre estas, a mais satis)-
fatória parecia-me ser a de Richard von Mises. Ainda assim, ela
deixava em aberto alguns pontos difíceis, particularmente quando
vista dp prisma de que os enunciados acerca de probabilidades são
hipóteses. A questão principal era esta: são passíveis de prova?
Tentei discutir esse ponto e alguns pontos correi atos, e tenho, desde
então, aperfeiçoado, sob vários ângulos, a minha maneira de ver
o problema-*07. (Certos aperfeiçoamentos não foram divulgados até
hoje.)
' Vários, membros do Círculo, alguns dos quais haviam estado
nessas reuniões, convidaram-me a debater pessoalmente com eles çer-
. tas questões nelas, discutidas. Entre eles, Hans Hahn, qúe tanto ,me
impressionara em suas aulas, e Phillip Fraiík e Richard von Mises
(que. visitavam Viena com regularidade). : Háns Thirrirlg, o físico
teórico,, convidou-me a . proferir palestra iio seminário por ele con­
duzido;. e K a r l Menger convidòu-me a . integrar ~o grupo que parti­
cipava de seu colóquio. Devo a Menger a sugestão, (que me ofereceu
quando lhe pedi seus comentários) de que aplicasse a sua teoria das
dimensões à comparação dos graus de testabilidade.
Completei, no início de 1932, o que julgava ser o volume I de.
Os Dois Problemas Fundamentais da1 Teoria do Conhecimento. O
livro fora concebido, desde o princípio, como uma ampla discussão
crítica e como uma correção das doutrinas do Círculo de Viena;
longas seções eram. também dedicadas a criticar Kant e Fries. A
obra, que nao chegou aindá a: ser publicada, foi lida por Feigl e, em
seguida, por Carnap, Schlick, Frank, Hahn, Neurath e outros mem­
bros do Círculo; e também por Gomperz;
Schlick e Frank aceitaram o livro èm 1933, para publicá-lo na
série Schriften zur wissenschaftlichen Weltauffassung, que dirigiam.
(A série era composta, sobretudo, de obras escritas pelos membros
do Círculo de Vièna. Gontudo, os editores .. da Sprihger Verlag, insis­
tiram em que o manuscrito fosse ; radicalmente? reduzido. Na ocasião
em que o livro foi aceito,, eu já> haviam preparado quase todo o se-
' guhdo volume. Isso .queria dizer, que apenas um esboço de meu tra­
balho poderia ser divulgado no número de. páginas, quéoa iSpíinger
aceitara publicar. Com a anuência de Schlick e .Fjank;;jpreparei' novo
manuscrito, que consistia de extratos dos dois volumes-, Mesmov.esse
manuscrito, foi devolvido . pelos editores por •excessivamen te longo.
A Springer insistia. num total maximò de 15 folhas (que còrresponr
dem a 240 páginas comuns) . A versão final ~ por fim publicada
com o titulo de Logik der Forschung — foi elaborada por meu ;tio,
Walter Schiff, que cortou impiedosamente cerca da metade do téxto
original108. Não creio que, téndo procurado, com tanta insistência^
tornar-me claro e explícito, eu mesmo pudesse fazer os desejados cortes.

Dificilmente -poderei dar aqui um esboço daquele esboço que


se tornou a minha primeira obra publicada. Há, entretanto, um òu
dois pontos que desejo mencionar* O livro devia oferecer uma teoria
do conhecimento e, ao mesmo tempo, pretendia ser um tratado
acerca do método — o método da Ciência. Tal combinação era
viável porque, no meu entender, o conhecimento humano consiste
em teorias, hipóteses e conjecturas que nós formulamos como pro­
duto de nossas atividades intelectuais. Há, é claro, outra maneira
de encarar o “conhecimento” : pode-se considerá-lo como um “es­
tado de espírito” subjetivo, como um estado subjetivo de certo orga­
nismo. Para mim, contudo, o conhecimento era um sistema; de
enunciados — teorias' apresentadas à discussão. O “conhecimento15,
neste sentido, é objetivo; e é hipotético ou conjectural.
Essa maneira de ver o conhecimento permitia-me reformular o
problema da indução, de Hume. Nessa reformulação objetiva, ele
deixava de ser um problema acerca de nossas crenças -— ou da
Nacionalidade delas — para transformar-se num problema acerca
das relações lógica;s entre enunciados singulares (descrições de fatos
singulares “observáveis” ) e teorias universais.
Dessa fotma, o problema dà indução torna-se resolvível103; não
há indução, porque teorias universais não são deduzíveis de enun­
ciados singulares. Mas elas podem .sêr refutadas por enunciados
singulares, pois estes podem conflitar com descrições de fâtos
observáveis. r
Acresce que é possível, em sentido objetivo, falar de teorias
“melhores” e “piores”, mesmo antes de submetê-las a prova: teorias
melhores são as de conteúdo maior e de maior poder explicativo
(conteúdo e poder vistos sob o ângulo do problema que tentamos
resolver). E as teorias melhores são, como pude m o s tra r, as téòíiás
mais suscetíveis de prova; e — quando resistem a ela —--aá tèónas
mais bem testadas. '
Esta solução do problema da indução dá, origem a uma novà
teoria do: método da Ciência, dá origem a uma análise do método
crítico, o método da tentativa e erro: o método da apresentação de
hipóteses ousadas, com o fito de submetê-lás a severas críticas que
permitirão identificar os pontos em que erramos.
Sob o prisma dessa metodologia, i iniciamos nòssas investigações
partindo de problemas. Sempre nos encontramos numa situação pro­
blemática e escolhemos um problema que esperamos poder solucio­
nar. A solução, que sempre tem o caráter de tentativa, consiste
numa teoria, numa hipótese, ‘niimá, conjectura. As várias teorias
rivais sao comparadas e discutidas criticamente, a fim de identifi­
car-se suas deficiências; os resultados permanentemente cambiantes,
sempre inconcludentes, dessa discussão - crítica, formam o que poderia
ser denominado “a ciência do momento”;
Não há, pois, indução: núnca argumentamos passando dos fatos
para as teorias — a não ser com o objetivo de refutar ou “falsear”
as teorias. Essa maneira dè ver a Ciência pode ser descrita como
seletiva, ou darwiniana. Èm oposição, teorias do método que asse­
veram procèderinps .por indução, òu seja, què enfatizam a verifica­
ção (em .vez. do: falseamento), são tipicamente lamarckianas; elas
realçam, a instrução, provinda do ambiente, em vez de realçar a
seleção, feita pelo ambiente.
Cabe lembrar (embora esta nao fosse uma tese do Logik der
Forschung) que a solução proposta para o problema da indução
mostra, paralelamente, que há solução para um problema ainda
mais antigo — o problema d a . racionalidade de nossas crenças. Com
efeito podemos, de iníçio, substituir a idéia de crença pela idéia de
ação; a seguir, podemos dizer que os atos (ou os não-atos) são
“racionais” quando praticados , em consonância com o estado atingido,
no momento, pela discussão científica e crítica. Nao há melhor
sinônimo para “racional” do que “crítico”. (A crença, naturalmente,
nunca é “racional” : racional é ia suspensão da crença; conferir nota
^226. adiante.)
Minha solução para o problema da indução tem sido em grande
parte mal compreendida. Acerca desse' ponto, ver as “Réplicas a
meus: críticos” 109a. . 1
17. Quem matou o positivismo lógico?

O positivism o lógico, p o rtan to , está m o rto ; tao


m o rto q u an to pode estar m ó rto u m m ovim ento
filosófico.
J o h n : P a ssm o re

Em virtude da maneira pela qual nasceu, meu livro Logik der


Forschung, publicado em fins de 1934, tomou, em parte, a forma
de crítica ao positivismo. A mesma forma tomaram o livro prece­
dente, não publicado, de 1932, e minha breve carta aos editores,
enviada em 1933 aos responsáveis pela revista Erkenntnis 111. Entre­
tanto, uma vez que minhas concepções eram, nessa época, ampla­
mente discutidas pelos membros do Círculo, e uma vez que o livro
apareceu na série dirigida por Frank e Schlick, série destinada emi­
nentemente a divulgar o, pensamento positivista, esse aspecto do
Logik der Forschung teve curiosas conseqüências. Uma delas foi a
de filósofos ingleses e norte-americanos (com raras exceções, como
é o caso de J. R. Weinberg m ) situarem-se entre os positivistas lógi­
cos — ou, na melhor das hipóteses, como um membro dissidente do
positivismo lógico, que apenas sugeria uma substituição do critério
de verificabilidade pelo critério de falseabilidade113. O mal-enten-
dido perdurou até a publicação da versão inglesa de meu livro, em
1959, com o título Logic of Scientific Discovery. Os próprios posi­
tivistas lógicos, lembrando que o livro havia sido publicado na série
editada por Frank e Schlick, preferiram ver-m e. antes como aliado,
do que crítico113a. Eles imaginavam que podiam esquivar-se à mi­
nha crítica mediante algumas concessões---- preferivelmente mútuas
— e com auxílio de certos estratagemas verbais114. (Assim, por
exemplo, persuadiram-se a si mesmos de que eu concordaria em subs­
tituir verificação por falseamento como critério de significatividade.)
Uma vez que não voltei à carga (pois lutar contra o positivismo
lógico nao era um de meus interesses principais), os positivistas lógi­
cos hão sentiram que sua doutrina estivesse sèriaménte ameaçada.
Antes da Segunda Guerra Mundial (e mesmo depois dela) conti­
nuaram a surgir livros e artigos em que estava patente o processo
de concessões e pequenos ajustes. Contudo, nessa ocasião o posi­
tivismo lógico já estava morto.
Todos sabem, atualmente, que o positivismo lógico está morto.
Mas poucos se lembram de que há uma questão a propor a q u i-----a
pergunta “Quem é o responsável?”, o u antesJ:, cíQuem matou: o . po­
sitivismo lógico?” (O excelente artigo de cunho histórico, escrito por
Passmore e citado em n. 110, não suscita a pergunta.) Receio , que

• * 5
eu deva assumir essa responsabilidade. Todavia, não agi proposita­
m in h a in te n ç ã o era apenas assinalar o que me parecia
d a m e n te :
uma série de enganos fundamentais. Passmorè afirma, corretamente
a m eu ver, q u e á dissolução do positivismo lógico d e v e u -se a um
grande número de insuperáveis dificuldades internas. A maior parte
dessas dificuldades eu as tinha sublinhado em minhas preleçÕes e
discussões e, de modo especial, no meu livro Logik der Forschung^1^
Alguns membros do Círculo perceberam a necessidade de fazer alte­
rações. As sementes,, portanto, haviam sido lançadas. Elas levaram,
no curso dos muitos anos seguintes,, à desintegração. das teses defen­
didas no Círculo.
Todavia,. a desintegração do Círculo antecedeu a de suas teses.
O Circulo de Viena era uma instituição admirável. Com efeito, foi
um seminário singular, em que os filósofos trabalhavam em coope­
ração estreita com matemáticos e cientistas de primeira linha, muito
interessados em problemas; de Lógica e .ftos fundamentos da Ma­
temática; um seminário que atraiu: alguns dos grandes inovado­
res 'nessa áreà, como Kurt Gõdel e Alfred Tarski. O desapare­
cimento do Círculo foi uma: perda muito séria. Pessoalmenté, tènho
uma dívida de gratidão para com alguns dos integrantes do Círculo,
especialmente Herbert Feigl, Victor Kraft e Karl Menger — sem
falar em Phillip Frank^ Moritz Schlick, que acolheram meu livro,
apesar das. críticas severas que eu lhes fazia às concepções. Acresce
que foi indiretamente através do Círculo que eu conheci Tarski,
primeiro na Conferência de Praga, em agosto dê 1934 (quando eu
levava comigo as provas tipográficas de Logik der Forschung) , de­
pois em Viena, 1934-35 e, mais uma, vez, no Congresso dè Paris,
em setembro de 1935. E Tarski, mais do que qualquer outra pessoa,
foi quem mais coisas me ensinou.
O que, porém, me fascinava no Círculo de Viena era à “atitude
científica”, ou, como agora prefiro denominá-la, a atitude racional.
Essa atitude foi retratada com muita felicidade por C a rn a p nos três
últimos parágrafos do Prefácio da primeira edição de seu livro prin­
cipal, Der Logische Aufbau der Welt. Discordo de muitas afirma­
ções feitas por Carnap;. até mesmo nesses três parágrafos há pontos
que considero errôneos: embora concòrde com ele, quando afirma
que há alguma coisa de “deprimente” (niederdrückend) na maioria
dos sistemas filosóficos, não-penso que a "pluralidade” desses sistemas
é que deva ser condenada; também acho que é um erro exigir a
eliminação da Metafísica, como errado está dizer que ela deva ser
eliminada porque “suas teses nao podem ser racionalmente justifi­
cadas’?. Conquanto a reiterada solicitação de “justificações”, por
parte de Carnap, mé tenha ..parecido (e ainda m erpareça^ fmróf .erro
grave, , esse ponto é quase insignificante no caso presénte.feífâe ^átò,
o que .Carnap pede e racionalidade, ou seja, maior responsabilidade;
intelectual, ele pede que. aprendamos a agir como os matemáticos
e os cientistas e contrapoe ao procedimento deles a maneira (depri­
mente pela qual agem os filosofos; sua sabedoria p r e te n s io s a , e s u a
usurpaçao de conhecimento, que nos é apresentado sem. um m ín im o
de argumentação racional ou crítica.
Ê com respeito a essà atitude geral, atitude de esclarecimento,
e-a essa concepção crítica da Filosofia —- daquilo que ela é, infeliz­
mente, e daquilo que deveria ser — que me sinto irmanado com o
Círculo de Viena e; com seu pai espiritual, Bertrand Russell. Isso
explica talvez por que os membros do Círculo, como Carnap, por
exemplo, acreditavam ser eu um aliado que exagerava as divergên­
cias que nos separavam.
É claro que nunca pensei em acentuar tais diferenças. Ao
escrever o Logik der Forschung, meu desejo era o de desafiar ami-
gos1 e opositores positivistas. Nesse particular, não deixei de ter .
algum êxito. Quando Feigl, Carnap e eu nos encontramos no
TiroH15, no verão de 1 9 3 2 , Carnap leu o primeiro volume d o meu
inédito Grundprobleme e, para minha surpresa, escreveu logo após
uin artigo na revista Erkenntnis, intitulado -“Über Protokollsàtze” 116, .
em que discorria pormenorizadamente, indicando a procedência,
acerca de algumas de minhas concepções. Ele sumariou a situação
explicando que -™ e por que — admitia, ser meu “procedimento”
( Verfahren 5 ) o melhor até éntao. disponível acerca, de teoria do
conhecimento. Tratava-se do procedimento dedutivo de submeter
a prova os enunciados dà Física, um procedimento que considera
todos os enunciados, até mesmo os próprios enunciados de prova,
como hipotéticos ou conjecturais. Carnap adotoü esse ponto de vista
por um período considerável117; o mesmo aconteceu com Hempel118.
As resenhas elogiosas que ambos escreveram do Logik der Fors­
chung 119 eram sinais promissores, como o eram, de o u t r a parte, os
ataques dé NéuràtH e Reichenbach120.
Uma vez que mencionei o artigo d e Passmore rio início d e s ta
seção, talvez .caiba dizer que a causa d a dissolução definitiva d ó
. Circula de Viena e do Positivismo Lógico, nó meu entender, não
foram os muitos e graves erros doutrinários ( m u it o s dos quãís apon­
tei), mas a declínio do interesse por grandes problemas, qüé cedeu
lugar ao interesse por minutiae ( “enigmas” ) e, em especial, por
questões relativas a significados de palavras; ou seja, pelo e s c o la s ti-
cismo. Esse escoiasticismo foi transmitido aos sucessores dos positi- ,
vistas lógicos, na Inglaterra e nos Estados Unidos da América.

18 . Realismo e teoria quãiiticã

Embora meu Logik der Forschung fosse visto, por alguns leir'
tores, como crítica ao Círculo de Viena, seus objetivos principais
eram positivos. Tentei apresentar nessa obra úma teoria do co­
nhecimento : llumânò; Entretanto, eu encarava esse conhecimento
de üm prisma bem divêrso do adotado pelos pensadores clássicos.
: Até Hunié, Mill e Mach, a m a iò ria d o s filósofos dava; o . conheci­
mento humano como algo assentado.; Mesmo Hume, que se consi­
derava um cético, e que escreveu "o Tfeatise na. esperança de revo­
lucionar as Ciências- Sociais, praticaimente identificava o conheci­
mento. humano aos hábitos do homem. O conhecimento humano,
era o que quase todos sabiam: que o gato dormia no tapete; que
Júlio César fora assassinado; •que a grama é. verde. Isso tudo me
parecia profundamente desinteressante. Interessante era o conheci­
mento problemático, ■o aumento do conhecimento — a descoberta.
Se encararmos a teoria dp conhecimento como teoria1da desco­
berta, será melhor considerá-la como- teoria da investigação, e des­
coberta científica. Uma teoria do aumento de conhecimento deveria
,ter ■algo especial a dizer acerca do desenvolvimento da Física e do
conflito de opiniões entre os* estudiosos dessa disciplina.
Na época (1930) em que Feigl me estimulava a escrever meu
livro, á Física moderna atravessava um período de agitação. . A Me­
cânica Quântica fora criada por Werner Heisenberg em 1925121;
mas alguns anos se passaram antes que os leigos — e mesmo alguns
profissionais da Física compreendessem que havia surgido uma
inovação importante. E as dissensÕes e confusões- surgiram desde
logo. Os dois maiores físicos, Einstein e Bohr, possivelmente os dois
maiores pensadores do século X X , discordavam entre si. E as diver-
. gências entre eles eram tao profundas íio ano da morte de Einstein,
1955, como o haviam sído ém 1927, ano da; reunião realizada em
Solvay. Consta que Bohr teria saído vitorioso em seus debates com
Einstein122; e a maioria dos físicos criativos apoiava Bohr, endos­
sando esse mito da vitória sobre Einstein. Entretanto, dois dos
grandes físicos da época, de Broglie e Schrõdinger, não se mostra­
vam nada contentes com as idéias defendidas por Bohr (mais tarde
conhecidas como “interpretação de Copenhague da Mecânica Quân-
tiça>)?- ve desenvolviam suas próprias concepções, em linhas indepen­
dentes. Apos a Segunda Guerra Mundial, vários físícos importantes
engrossaram as fileiras dos que não concordavam com a Escola de
Copenhague, figurando entre eles, em particular, Bohm, Bunge,
Landé, Margenau e Vigier.
Os .opositores da interpretação. de Copenhague ainda constituem
pequena minoria e . assim hão provavelmente de continuar. Não há
acordo entre eles próprios. GóntudÒ,1 existem,
também na ortodoxia de Gopénhague:; Os ortodoxos não notam
esses desacordos ou, ao qúe parece, não se preocupam;com eles, assim
como não percebem as -dificuldades inerentes às suas concepções.
Mas tais divergências e tais dificuldades são claramente percebidas
pelos que vêem a situação de fora.
Estas anotações assaz superficiais explicarão, talvez, por que
me senti um tanto desorientado quando procurei, pela primeira vez,
estudar a Mecânica Quântica, naquela época denominada amiúde
“nova teoria quântica”. Eu trabalhava por conta própria, lendo
livros e artigos; o único físico com quem cheguei a falar algumas
vezes de minhas dificuldades foi Franz Urbach. Eu tentava com­
preender a teoria e Urbaçh tinha suas dúvidas quanto à possibilidade
de ela ser compreensível — ao menos pelo mortal comum.
1 A luz começou a fazer-se quando percebi a importância da
interpretação estatística da teoria, devida a Born. De início, a inter­
pretação de Born desagradou-me: a interpretação original, de Schrõ-
dinger, mé parecia mais apropriada, quer sob um ângulo estético,
quer na condição de explicação do assunto. Ao notar, porém, que
á interpretação de Schrõdinger não era sustentável e que a de
Born era bem sucedida, perfilhei esta última, e nao compreendia
como 'alguém que aceitasse as idéias de Born podia defender a inter­
pretação que Heisenberg atribuía às suas fórmulas de indetermiriação.
ParecÍa-me óbvio que, se a Mecânica Quântiòa devia ser interpre­
tada estatisticamente, assim também deviam ser, interpretadas :.ás
fórmulas de Heisenberg: tinham de ser entendidas .comov rèlaçÕes
d e . espalharàento/ isto é, como relações que indicassem::;os limites
inferiores de espalhamento estatístico, <iu ríòs limiiéS' superiores •:de
homogeneidade, em ; qualquer seqüência :dò; ;expèrimentos- dá IMêcâ-.
nica. Quântica. .Essa maneira. ,dél vèjrMéStá"íÍÍoje-icfríisider^velineníe
difundida123. (Devo 4-deixar . claro,, porémj; que de início eu nem
sempre. distinguia com clareza entre o espalhamento de resultados
de um; conjunto de experimentos, de um lado, e o espalhamento de
um; conjunto dè-partículas, ; dè outro; conquanto eu houvesse encon­
trado um irieio rde contornar a dificuldade nos enunciados ‘‘formal-
mente singulares” de probabilidades, a questão só se aclarou com­
pletamente com a ajuda dà noção de propensão.) 124
Um segundo problema de Mecânica Quântica era a famosa
questão da “redução do&^pacotes ,de ondas”.. Poucos estudiosos con­
cordarão comigo quando , afirmo que o problema foi rèsdlvido em
1934, no meu Logik der Forschung] alguns físicos de nomeada, con­
tudo, aceitaram a minha solução como correta. A solução proposta
consiste em ressaltar que as probabilidades que se apresentam nó
domínio da Mecânica Quântica são probabilidades relativas (ou
condicionais)125.
Esse segundo problema associa-se ao que erá, possivelmente, um
dos pontos básicos, de minhas considerações — a uma conjectura que
se transformou era convicção: todos os problemas da interpretação
da Mecâmca Quântica podem Ser considerados como problemas re~
látivos à interpretação do cálculo de probabilidades.
Um terceiro problema resolvido foi o dá distinção entre pre­
paração de um estado e uma medida particular. Embora minha
discussão desse ponto estivesse correta -e, segundo creio, fosse real­
mente importante, cometi um sério engano em. .determinado expe­
rimento coriceptual (cf. seção 77 de Logik der Forschung). Esse erro
abalou-me profundainente: eu não sabia, nessa ocasião, que até
mesmo Einstein cometera enganos similiares, e a minha falha, pen­
sava eu, revelava minha incoínpetçncià. Foi em 1936, em Gope-
nhague, durante o “Congresso em Prol da Filosofia Científica”, rea­
lizado nessa capital,'que'oúvi falar dos enganos de Einstein. Graças
à iniciativa de Victor Weisskopf, o físico teórico, Niels Bohr. convi­
dara-me a participar das discussões qúê seriam travadas, durante
alguns dias, no Instituto por ele dirigido. Eu já havia anterior?-
mente defendido meu experimento conceptual contra as críticas de
von Weizsácker e de; Héisenberg, cujos argumentos não me conven­
ceram, e contra as críticas de Einstein, que lograram convencer-me.
Eu também já havia discutido d assunto com Thirring e (em Oxford)
com Schrõdinger, que me confessou seu descontentamento em rela­
ção à mecânica quântica, dizendo supor que ninguém realmente a
entendia. Eu estava, póis, dominado pelo pessimismo quandó Bohr
mè falou das suas discussões com Einstein — as mesmas que, poste­
riormente, descreveu no volume Einstein da série “The Library òf
Living Philosophérs”, organizada por Schílpp 126. Nao me consolou
a informação, transmitida por Bohr, de que Einstein errara tanto
quanto; eu; senti-me derrotado e não fui capaz de resistir ao tre­
mendo impacto da personalidade de Bohr, (Naquela época, aliás,
ninguém resistiria.) Retraí-me, mas ainda reuni forças para de-

'M i '- - m - ' ........ ■ ...


fender minha explanação da “redução do pacote de ondas”. Weiss-
kopf pareceu inclinado a aceita-la, mas Bohr, inteiramente dominado
pelo desejo de expor sua teoria da complementaridade, não tomou
conhecimento de meus débeis esforços, orientados no sentido de
fazê-lo ouvir o que tinha a. dizer; não insisti e contentei-me com
aprender, em vez. de ensinar. Deixei as reuniões vivamente impres­
sionado com a bondade, o brilho e o entusiasmo de Bohr; não du­
videi de que ele estivesse certo ^ eu errado. Àinda assim, não consegui
persuadir-me de que entendera a "complementaridade” de Bohr, e
passei a duvidar de que os demais a houvessem compreendido,
embola alguns parecessem convencidos do contrário. Minhas dú-
vidaá foram partilhadas por Einstein, como ele próprio me disse mais
tarde, e por Schrõdinger.
Isso me levou a cogitar dá “compreensão”. Bohr afirmava, de
certa maneira, que a Mecânica Quântica não era compreensível;
que tão-somente a Física clássica o era; e que devíamos resignar-nos
com o fato de que á Mecânica Quântica era apenas em parte com­
preensível ç, mesmo assim só através da Física,, clássica. Parte da
compreensão era. alcançada por via do clássico “modelo de. partículas5’
e parte, por via do clássico “modelo ondulatório” ; os dois modelos
eram incompatíveis e. constituíam o que Bohr chamava complemen­
taridade. Não havia esperanças de chegar a uma compreensão mais
Completa ou mais direta da teoria; exigia-se “renúncia” à qualquer
. tentativa de compreensão mais cabal.
Suspeitei que a teoria de. Bohr assentava numa compreensão
muito estreita acerca de qual compreensão se pode atingir. Bohr,
áo que. parece, imaginava a compreensão em termos de figuras e
modelos — em termos de uma espécie de visualização. Isso, pen­
sava eu, era muito limitado; e, com o passar do tempo, desenvolvi
uma concepção inteiramente diversa. Segundo ela, o que importa
é não a compreensão desfiguras mas da força lógica de um a teoria:
seu poder explicativo, as relações que mantém com outras teorias
■e com problemas relevantes. Elaborei tai concepção ao lóngo de
muitos anos, no decurso de minhas prelèçoes. Iniciei o trabalho,
se não me engano, em Alpbach (1948), para desenvolvê-lo, depois,
em Princeton (1950), em Cambridge (1953 ou 1954), quando ali
falei da Mecânica. Quântica, em Minneapolis (1962) e novamente
em Princeton (1963), bem como em outros locais (inclusive, é cla­
ro, em Londres). A concepção pode ser encontrada, embora de
maneira sumária, em alguns de meus artigos mais recentes127.
No que respeito à Física Quântica, senti-me assaz desenco-
rajado por vários anos. Nao conseguia esquecer o erro do meu

"92
.experimento conceptual, Hoje, todavia, embora ache natural lamen­
tar qualquer engano, penso que atribuí demasiada importância a
essa falha. Somente em 1948 ou 1949, depois de algumas discussões
com Ârthur March, físico especialista em Mecânica Quântica cujo
livro sobre ela eu havia citado e.m.Logik der Forschung 12e, foi que
me senti capaz de retomar áo tema, com novo .alento.
Reexaminei, os velhos argumentos e cheguei às seguintes con­
clusões129:

(A) O problema, do determinismo e do indeterminismo.


(1) Não existe algo que se possa considerar um argumento
específico da Mecânica Quântica Contra ° determinismo. A Mecâ­
nica Quântica é, naturalmente, uma teoria estatística e não,. prima
facie, uma teoria determinista, sem que isso queira dizer que ela
seja incompatível com uma teoria- determinista prima facie. (Em
. especial, não é valida — pomo o revelou, recentemente, por vias
mais diretas, John S. Bell —r a famosa prova de incompatibilidade,
devida a von Neumann e endossada por David Bòhm e outros., em
que se estabeleceria a inexistência de “variáveis ocultas”..)130 A
conclusão a que eu tinha chegado em 1934 era a de que nada, na
Mecânica Quântica., justificava a tese de que o determinismo estaria
refutado pór ser incompatível com ia;<Mecânica Quântica. Desde
entao, porém, minhas opiniões a esse tespeito mudaram várias vezes. .
David Bohm mostrou, em 1951, nó seu modelo, que ã existência
de uma .■teoria prima facie determinista é formalmente compatível
com os resultados da Mecânica Quântica. (As idéias subjacentes da
demonstração de Bohm já haviam sido antecipadas por De Broglie.)
(2) De outra parte, nao há razão legítima que permita asse­
verar que o determinismo tenha base na Física; em verdade, há
muitas razões para supor o contrário, como foi salientado por G. Si
Peirce13i, Franz Exner, Schrõdinger 132 e von Neumann133, os quais
chamaram á atenção para o fato de que o caráter determinista da
mecânica de Newton é compatível com o indèterminismo134. Além
disso, embora seja possível explicar a existência de teorias determi­
nistas prima facie como macroteorias com hase em microteorías inde­
terministas e probabilísticas, o inverso nao é possível: conclusões
prçbabilisticàs não-triviais só podem ser deduzidas (e, pois, explica­
das) com auxílio de premissas probabilisticas135. (A esse respeito,
. alguns argumentos muito interessantes de Lande devem ser objeto
de consulta.)136 ;
(B) Probabilidade. .
N a Mecânica Quântica, precisamos dé uma interpretação do
cálculo de probabilidade que
(1) seja física e objetiva (ou “realista” )
(2) leve a hipóteses probabilísticas, passíveis de .prova estatística.
Além disso,
(3) as hipóteses devem, ser aplicáveis a casos singulares; e
(4) devem ser relativas ao arranjo experimental.

No Logik der Forschung desenvolvi uma interpretação “forma-


lista” do cálculo de probabilidades que satisfazia a todos esses requi­
sitos. Depois disso, porém, aperfeiçoei essa interpretação e substi-
tuí-a por uma “interpretação em termos de propensão” 137.
(G) Teoria quântica*
(1) Realismo. Embora èu não tivesse objeçoes a apresentai con­
tra a s '“ondículas” ou “portondas” (partículas-cum-ondas) * ou enti­
dades nao-clássicas similares, não percebi (como não percebo hoje)
motivo para nos afastarmos da concepção clássica, intuitiva e realista,
de que os eléctronis e demais partículas são apenas isso: partículas.
Em outras palavras, acham-se localizadas e possuem um momentum.
(É claro que ulterior, desenvolvimento da teoria poderá mostrar que
a razão,, está com aqueles que não concordam com essa maneira
de v er.)138
(2) O chamado “princípio da indeterminação”, de Heisèn-
berg é uma interpretação: errônea de certa fórmula, que afirma o
espalhamenio estatístico.
(3) As fórmulas de Heisenbérg não se referem a mensur ações;
o que implicá que toda a atual “teoria da medida quântica” está
cheia' de. mal-entendidos. Medições “proibidas” pelas interpretações
usuais das fórmulas de Heisenberg são, de acordo com meus resul­
tados, n ão apenas permissíveis como efetivamente exigidas para -a
prova dessas mesmas fórmulas139. Todavia, as relações derespâlha-
mento referem-se à preparação dos estados de sistemas da Mécanica
Quântica. Ao preparar um estado, sempre se introduz urir: espálhà-
mento (conjugado)139*. \
(4) O que é de fato pèculiar à teoria quânticra é a iritèrférência
de probabilidades (que depende da fase). Ê possível que tènhámòs

* No original, wavicles (N . dos T - ) .

103
de aceitar isso como uma espécie de dado último .ou definitivo. To­
davia, esse não parece ser o caso: embora ainda em oposição às
provas cruciais feitas por Compton da teoria dos fótons, de Einstein,*
Duane formulou, em 1923, muito antes da Mecânica Ondulatória
se haver desenvolvido, uma nova regra quântica140, que pode ser
vista como o correspondente, com respeito ao momento, da regra
de Planck relativa à energia, A regra de Duane parã a quanti-
zaçao do momentum aplica-se não apenas a fótons mas também
(como ressaltou Landé)1M, a partículas e fornece desse modo uma;
explicação racional (ainda que apenas qualitativa) dà interferência
de partículas. Landé levou a questão adiante, asseverando que regras
quantitativas de interferência da Mecânica Ondulatória podem ser
deduzidas de simples pressuposições adicionais.
-(5) Dessa maneira, um bom número de fantasmas filosóficos
podç ser agora exorcizado e as müitas. surpreendentes afirmações
filosóficas acerca da intromissão do sujeito ou da mente no mundo
do átomo podem ser ignoradas. Esse problema da intromissão expli­
ca-se em grande parte como fruto da tradicional má compreensão
subjetivista do cálculo de probabilidades142.

19. Objetividadè e Física


Na seção precedente, comentçi, da Logik der Forschung e de
trabalhos posteriores que decorreram dessa obra, aspectos que nada
tinham a ver com minha crítica do positivismo. Todavia, essa crítica
desempenhou um papel subsidiário, mesmo nas minhas concepções
da teoria quântica. Creio que, pela rejeição do positivismo de
Einstein, eu me imunizara contra o antigo positivismo de Eisenberg. .
. Tal. como referi atrás "(seção 8, texto entre as notas 31 e 33),
foi M ax; Elstein quem me "fez entrar em . contato com as teorias de
Einstein. Ele não acentuava nem criticava o ponto de vista obser-
vacionai, mas ajudou-me a compreender o problema; da relatividade
especial (receio que da usual maneira, não histórica, em termos de
problema colocado pelo, experimento de Michelson e Morley) e .
discutiú comigo a forma da solução apresentada por Minkowski.
Talvez tenha sido essa maneira de iniciar o estudo , da teoria da rela­
tividade que me impediu de jamais levar a sério o enfoque operaciona-
lista da simultaneidade: pode-se ler, o artigo de Einstein143 de 1905,
adotando uma posição realista, sem dar atenção ao “observador” ou
al ternativamente, pode-se ler o mesmo artigo adotando lima posição
positivista ou operacionista, tendo sempre em ■conta o observador e
suas açÕes. . •

'104
É curioso notar que o proprio Einstein .foi, durantei;yários anos,
um positivista e um operaçionista dogmático.. Mais áfastou-se
dessa posiçaò: ele me disse, em ; 1950, que não ; lameíitava-J-outros
prros tanto quanto lamentava esse. O erro, aliás, assumiu feição
grave no seu livro popular, Relativity: T he Special andthe-G eneral
Theory 14V Aí, à p. 22 (que corresponde à p. 14 s. da edição.original,
alema), Einstein afirma: “Peço ao leitor que não prossiga sem antes :
.convencer-se completamente da legitimidade desse aspecto.” O
aspecto, em poucas palavras, é o de. que a “simultaneidade” precisa/ .
ser definida'— e definida oper ativamente —- pois, de outra forma;
“deixo-me enganar ( . . . ) quando imagino que tenho condições de
atribuir significado ao enunciado de simultaneidade”. Em Outras
palavras, ura termo precisa ser ;definido operativamente ou entãò
não tem significado144a. (Eis, ém suma, o positivismo que seria
desenvolvido posteriormente no Círculo de Viena, de modo bem
dogmático, sob a influência do.Tractatus de Wittgenstein.)
Acontece, porém, na teoria de Einstein, que, para qualquer sis­
tema inercial. (ou “sistema estacionário” ) 14^, os eventos são simul­
tâneos ou não, tal qual se dá. na teoria de Newton. Acresce que
vale a seguinte lei de transitividade ( Tr) :
(T r) Em qualquer sistema inercial, se o evento a é simultâneo
de b e se b é simultâneo de c3 então a é simultâneo de c.
Todavia, { Tr) não vale, de, maneira genérica, para três even­
tos distantes quaisquer, a menos que o sistema em que a e b são
simultâneos sejd o mesmo sistema em que b e c são simultâneos:
não -vale para eventos- ..distantes, alguns dos quais se manifestam em
sistemas diversos, isto é, em sistemas que se acham em movimento
relativo. Isso é decorrência do princípio de invariância da. velocidade
da luz com respeito a quaisquer ■dois sistemas (inerciais) em movi­
mento relativo, isto é, do princípio que nos permite deduzir as trans­
formações de Lorentz. Nao h á . necessidade sequér de mencionar a
simultaneidade, salvo para alertar os mais precipitados, de que as
transformações, de ■Lorentz são incompatíveis com uína aplicação de
(Tr) a eventos que ocorram em sistemas (inerciais) diversos146. ...
Percebe-se que não é preciso introduzir o operacionailismo e muito,
mertos insistir nele. Além disso, como Einstein não conhecia ©..expe­
rimento de Morley em 1905, quando escreveu o artigo a propósito
da relatividade, dispunha de poucas comprovações em favor , da: inva­
riância da velocidade da luz. '
Entretanto, não foram poucos os físicos de nom eadaq ue; se
impressionaram, com o operacionalismo einsteiniano, cònsiderando-o

fOÍ
(como o próprio Einstein considerou longo tempo) parte integrante
da teoria da relatividade. Assim, o operacionalismo tornou-se fonte
de inspiração para o artigo de Heisenberg, escrito em 1925, e para
a sua. sugestão, amplamente acolhida, de que não tinha sentido o
conceito de trajetória, ou rastro de um eléclron, còmo o não tinha
o conceito clássico de posição-cum-momentum.
A í estava, pois, uma oportunidade para eu pôr à prova minha
epistemologia realista, aplicando-a numa crítica à interpretação sub-
jetivista que Heisenberg propunha para o formalismo da Mecânica
Quântica. Acerca de Bohr pouco foi dito íio Logik dèr Forschung,
porque ele era menos explícito que Heisenberg e porque não me
anim ava a' atribuir-lhe pensamentos que ele poderia endossar. A lém
disso, fora Heisenberg quem alicerçara num programa operaciona-
Iista a nova mecânica quântica e o seu êxito é que havia convertido
a maioria dos físicos teóricos ao positivismo e ao operacionalismo.

20 . Verdade; probabilidade; corroboração

Quando Logik der Forschung foi publicado, achei que três


problemas precisavam ser por mim ^investigados mais minuciosa­
mente: a verdade, a probabilidade e ;a comparação de teorias, sob
o prisma do conteúdo e da corroboração.
Embora a noção de falsidade —: ou seja, de inverdade — e,
por implicação, a nòçao de verdade -— desempenhasse relevante
3
papel em Logik der Forschung eu a utilizara de maneira ingênua,
discutindo-a apenas na seção 84, intitulada “ Observações Acerca d o .
Uso dos Conceitos de ‘Verdade* e de ‘ Corroboração’ ” ( Bemerkun-
gen über éen Gebrauch der Regriffe rfwahr” und “ bewãhrtw) .
Nessa ocasião eu aindà. não conhecia os trabalhos de Tarski, ou
a distinção entre duas espécies de teorias metalingüísticas (úma
delas chamada “ Sintaxe” por Garnãp, ' e á outra, “ Semântica55,
por Tarski, claramente distinguidas, depois,, nas discussões de Marja
Kokoszynska)147; apesar disso, minhás idéias a propósito das relações
entre verdade e corroboração 148 disseminaram-se no Círculo e aí se
tornaram mais ou menos ' comuns - pelo menos entre aqueles
membros149 que, como Carnap, aceitavam a teoria tarskiana da
verdade.
Quando Tarski, em 1935, me èxplicòu (no Volksgarten de
Viena) a idéia de sua' definição do conceito de verdade, compreendi
quão importante ela era e percebi que Tarski, finalmente, havia
reabilitado a controvertida teoria da correspondência que, no meu

.1 0 6
entender, seinpre foi e ainda e a ideia que o; sensor; cümum. tem,, da
verdade. ~ ’^ ;
Meus pensamentos subseqüentes iiesse campo foram, em rboa'
parte, resultado de tentativas no sentido de tornar claras para mim
mesmo as formulações de Tarski. Não que, a rigor, ele tivesse defi­
nido a verdade. Decerto ele o fizera para uma linguagem formaliza­
da muito simples, esboçando .métodos pára estender a definição á
uma classe de outras linguagens formalizadas. Contudo, ele deixará
patente que existiam outros meios essencialmente equivalentes dé
introduzir a noção de verdade: não por definição, mas axiomatica-
mente. Assim, o problema dè saber se a verdade devia ser introdu­
zida axiomaticamente ou por meio de definição não podia ser. fun­
damental. Além disso, todos esses métodos precisos confinavam-se a
linguagens fonmalizadas e não se aplicavam, como Tarski mostrara,
à linguagem comum (còm seu caráter “ universalista” ) . Não obstante, a
análise tarskiana ensinava, de modo claro, como usar com certa cau­
tela a noção de verdade no discurso comum, e além disso, como usar
a noção em áua acepção corriqueira — de correspondência com os
fatos. Decidi por fim qüe o que Tarski fizera fora mostrar que não
há grande dificuldade em compreender de que modo um enunciado
podia .corresponder a um fato, desde que se tenha entendido a dife­
rença entre uma linguagem-objeto e uma dada metalinguagem (se­
mântica), isto é, uma linguagem em que possamos falar acerca de
enunciados e acerca de fatos. (V e r seção 32, adiante.)
A probabilidade criou-me problemas, assim como trabalho,
levando-me- a estudo agradável é estimulante. O problema funda­
mental, examinado em Logik der Forschung, era o de prova dè
enunciados probabilísticos da Física. Esse problema era um desafio
importante para as minhas concepções gerais acerca da Epistémo-
logia e eu o resolvi com o auxilio de uma idéia que fazia parté
integral dessa epistemològiã e não, penso, de uma idéia ud hoM ^h:
idéia é a: de que nenhuma prova de qualquer enunciado -teoreticò
é final ou concludente, è de que a atitude empírica ou crítica requei?
adesão a certas “ regras metodológicas” , que nos levam-: não- a fugir1'
das críticas, mas a aceitar ás refutações (em bora não; com^ídéííia^
siada facilidade). As regras admitem -alguma;^flêkibiHda^e^.iSlEiíí:-.
conseqüênciaj acolher uma refutação é qüase ■tã<>.>faírisGàd6^.:^üáintcj
adotar, tentativamente, jjma hipótese: equív^è^-.aí^àèiít^^üiila
conjecturà. ■
Ò segundo problema era o da, varièdjid^d^fpà^^j^^^èr^piTB^--
taçÕes de enunciados ■■probabilísticosj;^ - d o i s
outros problemas, de cunho niàS/dè _

107
tância no meu livro. Um deles era o da interpretação da Mecânica
Quântica, que, no meu entender, se equipara à questão do papel
a atribuir aos enunciados probabilístiçòs em Física; o outro era o
problema do conteúdo das teorias.
Todavia, para poder abordar, em ■toda a sua generalidade, o
problema idos enunciados probabilísticos, era preciso desenvolver um
sistema axiomático para o cálculo da probabilidade. Isso era tam­
bém necessário para Outro propósito — o de estabelecer minha tese,
proposta em Logik der Fórschung> de que a corroboração não é
uma probabilidade, no sentido do1 cálculo de probabilidades. Em
outras-palavras, era preciso .desenvolver o sistema axiomático para
estabelçcér que certos aspectos' intuitivos da corroboração tornavam
impossível identificá-lá com; a probabilidade, tal como esta aparece
no cálculo de. probabilidades 149ai,r^(Vej^se, a propósito, o texto entre
as notas 155 e 159, adiãnteV) .. . v ■
Em Logik JerForjc/iun^.eu.sublinhara que havia muitas inter->
pretaçôes passíveis .para. a:, noção de,'.probabilidade, ressaltando que
somente uma teoria. de' freqüências (como a. proposta por .von M i­
ses) seria, aceitável nás:; Ciêncjas ,.Físicaá. ( Posteriormente, essa ma­
neira de ver fo i; alterada, tendo, eu introduzido a interpretação em
termos de , propensÕes;,penso que von Mises "teria . concordado com
a alteração, ;pois os enunciados de propensão também sao submetidos a
prova por meio ,de freqüências). Mas, afora várias objeçoes de
menor relevo, minha principal objeção contra todas as teorias fre-
qüenciais conhecidas que operavam. com seqüências infinitas, era de
cunho técnico e pode ser formulada como segue.
Escolha-se qualquer seqüência finita, constituída por zeros e
unidades. (oú só por zeros o.u;só por unidades), de comprimento
arbitrário. Seja n o comprimento dessa, seqüência, podendo n ser
da ordem de milhares de milhões. Gontinue-se a seqüência a partir
do termo de ordem n 1 , acrescentárido-lhe uma seqüência infiriità
aleatória (um “ coletivo” ). N a seqüência assim formada, só impor­
tam as. propriedades de alguma parte final ( que se inicia.com o termo
m, sendo m > n -|- 1 ) pqís uma seqüência satisfaz ps requisitos im­
postos por von Mises se e somente sé qualquer parte final da seqüência
atender a tais requisitos. Isso significa, porém, que qualquer seqüênr
cia empírica é simplesmente irrelevante, para julgar qualquer se­
qüência infinita, de que; a seqüência empírica é segmento inicial.
Tive ocasião de discutir esse problema ( c muitos outros) com
von Mises,. Helly e Hans Hahn. Todos eles, naturalmente, concor­
daram comigo; Vón Mises, porém, não., se preocupou muito cóm
a questão. Sua concepção (que é bem conhecida) era a de que as
seqüências que satisfaziam seus requisitos — os “ coletivos” , como
ele as denominava — constituíam um conceito matemático ideal,
coinó o de esfera- Qualquer “ esfera” empírica não passaria de uma
grosseira aproximação da esfera ideal.
Eu estava inclinado a aceitar a idéia da relação entre uma
esfera matematica ideal e unia ■esfera. .empírica como uma espécie'
de modelo para a relação vigente entre uma seqüência matemática
aleatória (um “ coletivo” ) e, uma seqüência empírica infinita. Mas
acentuei que, em. sentido; plausível, nao .se poderia •dizer, de uma
seqüência f i n i t a que fosse uma aproximação grosseira de um cole­
tivo, no modo dé entender de von Mises. Procurei, pois, construir
alguma coisa ideal, mas menos abstrata: . uma seqüência aleatória
infinita, ideal, com a propriedade de aleatoriedade a manifestar-se
desde o início> de modo que qualquer segmento inicial finito, de
comprimento n, fosse idealmente tão aleatório, quanto possível.
Eu havia esboçado a construção, dessa seqüência em Logik der
Forschung150, mas sem perceber claramente, então, que essa cons­
trução em verdade resolvià: (a) o problema de tomar possível a com­
paração entre uma seqüência infinita ideal e uma seqüência finita
empírica; (b ) o problema da construção de uma seqüência mate­
mática, passível de ser usada no .lugar da definição (não-construtiva)
de aleatoriedade, devida a von Mises; e (<;) tornava supérfluo, qua
postulado, o requisito de von Mises, relativo à existência de um
limite, pois tal existência se transformava num teorema demonstrável.
Em outras palavras, não compreendi, naquela época, que minha
construção . suplantava diversas soluções aventadas em Logik der
Forschung. ■
Minhas seqüências aleatórias idealizadas não eram “ coletivos” ,
no sentido de von Mises; embora superassem quaisquer provas esta­
tísticas de aleatoriedade, eram, de fato, construções matemáticas
definidas: a continuação delas podia ser matematicamente prevista
por qualquer pessoa que conhecesse o método de construção. Entre­
tanto, von Mises exigira que os “ coletivos” fossem impredizíveis
( “ princípio do sistema de jogo excluído” ). Essa exigência ampla
tinha a indesejável conseqüência de tornar inviável a construção de
=exemplos concretos de coletivos, tornando impossível, também, uma
'domonstração construtiva da coerência (ou compatibilidade) da
própria exigência. A única maneira de contornar essa dificuldade
estava, naturalmente, num abrandamento da exigência. Surgia,
assirrt, uma interessante questão: qual o mínimo abrandamento que
permitiria a demonstração de coerência (ou de existência) ?

109
q^e&tã^«r4'f/inteF^S5ante, mas hão estava .nas minhas . cogita-.
ÇÕes.;, ;M principal era o da construção de seqüências
finitas, de.carátcr aleatório e comprimento arbitrário, que pudessem,
ppis, ^-expandii^se ,;em seqüências infinitas aleatórias, ideais.
No início de 1935, discorri a respeito dessé problema, num dos
“ epiciclos*’ .do-;Círculo de Viena.. .Logo após, Karl Menger convi­
dou-me a'proferir uma palestra em seu famoso mate.matisches Collo*
quium. A seleta audiência, de cerca -de 30 pessoas, incluía Kurt
Godel, ■Alfred Tarskí e Abraham Wald. Segundo Menger, fui o
involuntário instrumento que: levaria Wald a interessar-se pela pro­
babilidade e pela Estatística, campos1 em que ele tanto iria desta­
car-se -posteriormente. Mengçr descreve o incidente da seguinte
maneira; no seu obituário de ^Wald151:

Naquela ocasião, ocorreu um segundo acontecimento que se revelaria


:de importância fundamental para a vida e o trabalho posterior de
.,.Wald. O filósofo vienense Karl Popper ( . . . ) procurou tornar precisa
”:v ' à' idéia de seqüência aleatória, para contornar aasiní a* óbvias defi-
.. ciências, da definição de coletivos, .formulada por von Mises. Depois
de ouvir (no Círculo Filosófico de SchHçk) uma exposição semítécnica
i .: das: idéias de Popper, convidei-o' a apresentar. a importante questão,
com todos os pormenores, no Gòlóquio de Matemática. Wald inte-
: ; ressou-se vivamente pelo assunto e daí resultou-o seu magnífico artigo
a propósito d a . aiitocoerência da noçaò de coletivos. ( . . . ) Wald ba-...
seou sua demonstração da existência para os coletivos numa dupla
relativizâção dessa noção. '

; Menger prossegue, caracterizando sua descrição da definição que


Wald havia proposto para a noção de coletivo, e conclui com estas
palavras152:

’" Embora a relativização de Wald torne mais restrita a idéia original


ilimitada (mas impraticável), de coletivos, essa relátiviáaçao é bem mais
.1 : -fraca do que os requisitos de irregularidades propostos por Copelandj
. Popper e Reichenbach. N a verdade, ela abrange esses requisitos como
: casos ■particulares.

Isso é bem verdade e fiquei muito impressionado com a brilhante


solução, de Wald para a questão do abrandamento mínimo dos requi­
sitos de von Mises153. Todavia, como tive oportunidade de mostrar*
a: Wald,. a sua solução não resolvia ó .meu problema: um “ coletivo
de-j Wald” , com iguais probabilidades para o zero e para a unidade,
:■p.õdia -ainda prin cipiar com um bloco de milhares de milhões de zeros,
jáj; que a; albatoriedade era apenas uma questão de como a seqüên­
cia se’í comportava no limite. É certo que o trabalho de Wald apre-

UQ,
-sentava um método geral de separar a classe de todas as seqüências
infinitas em duas subclasses, de coletivos e nãò-coletivos, ao passo
qüe méu trabalho permitia apenas a Construção de algumas se-
qüencias aleatórias, de qualquer comprimento desejado -— constru­
ção, por assim dizer, de alguns modelos muito especial. Entretanto,
qualquer seqüencia finita, previamente dada, de qualquer compri­
mento, podia ser sempre prolongada de maneira a transformar-se num
coletivo ou num não-coletivo, no sentido de Wald. (O mesmo se
dava com respeito às seqüências de Copeland, Reiçhenbach, Church
e outros 154.)
E u .sentira, desde há muito, que a solução que dei á meu pro­
blema, embora perfeitamente satisfatória sob o prisma filosófico,
podia tornar-se matematicamente mais" intèressarité Jsè: genòráliiado,.
útilizando-se para isso o método de Wald. Discuti o assunto, com Waíd,
de;quem me tornara amigo, na; esperança de que elé se resolvesse ã
atacar a questão. A época, entretanto, era difícil: nenhum de nós
têve tempo de debater' novamente o problema, pois ambos, emigra­
mos, e para diferentes cantos do mundo.
: Há outro problema que deye ser mencionado, estreitamente
associado à questão das probabilidades: o (da medida) do conteúdo
de um enunciado ou de uma. teoria. Eu mostrara, em Logik dèr
. Fòrschungj que a probabilidade de um enunciado variava inversa­
mente com seu conteúdo, de :modo que a probabilidade podia ser
utilizada para medir o conteúdo. (T a l medida de conteúdo seria,
na melhor das hipóteses^ comparativa, a menos que o enunciado dis­
sesse respeito a algum jogo de azar ou, talvez,, a alguma estatística.)
Isso revelava que, entre as interpretações do cálculo de proba­
bilidades, pelò menos duas são de importânòia capital: ( 1 ) uma
interpretação que nos permitia falar da probabilidade de eventos
{singuláres), tais como o lançamento dé uma moeda ou a chegada
de um eléctron a um anteparo; e ( 2 ) uma interpretação que permita
falar da probabilidade de enunciados ou proposições, particularmente
de conjecturas, (de variados graus de universalidáde)155. Essa se­
gunda interpretação é necessária para aqueles que sustentam ser pos­
sível medir a corroboração por meio dé probabilidade; como e
necessária para aqueles ç|iue3 como eu3 sustentam o contrário.
' Quanto ao meu grau de corroboração, a. idéia era a de resumir,
riüiha. fórmula simples, um informe da maneira por que a teoria
havia (ou não havia) passado pelas provas a que fora submetida
.-—^inclusive uma estimativa da severidade de tais provas, de modo
\ á lê v a r em conta apenas as provas efetuadas com espírito crítico, ou

III
*9jâ»?aè(;{'tçntg:tiy.asj-,de^refütaçíío... Com sáíisfazer a tais provas, a teoria
“ comprova sua: têmpera” . — sua "aptidão para a sobrevivência” 156.
Estalei aro,,que~ a teoria: só po.de revelar sua "aptidão” de sobreviver
àquelas-, provas a que realmente sobreviveu. Tal como no caso de
um organismo, "aptidão’V infelizmente,( significa apenas a efetiva
sobrevivência, c o desempenho passado não assegura, de modo algum,
o têxito, do desempenho futuro.
'--•Eu considerava (e ainda considero) o grau de corroboração de
uma» teoria simplesmente como um informe crítico da qualidade do
desempenho passado: esse grau não poderia ser utilizado para pre­
dizer, urn desempenho futuro. (A teoria, evidentemente, pode aju-
,dar-nos a prever eventos futuros.) O grau vinha associado, pois, a
urn víhdice temporal: só se podia falar do grau-de corroboração de
uma teoria: em determinado estágio de sua discussão crítica. Em
alguns casos, o grau fornecia bom indício para julgar os méritos rela­
tivos de dúas. ou mais teorias rivais, à luz de discussões passadas.
Diante da necessidade de ação, com base. nesta ou naquela teoria,
a escolha racional séria a da ação que se guiasse pela teoria (se
existisse) que melhor houvesse suportado as críticas. Não há noção
mais apropriada para caracterizar a racionalidade que a da sua
presteza em aceitar críticas; isto é, críticas que debatam os méritos
de teorias rivais, sqb o prisma da idéia reguladora da verdade. Con­
seqüentemente, o grau de corroboração de uma teoria é um guia
racional para a ação. Embora não possamos justificar uma teoria —
ou seja, não possamos justificar nossa crença na verdade dela — é
possível, às vezes, justificar nossa preferencia por uma teoria, em
desfavor de outra; isso acontece,- por exemplo, quando o grau de
corroboração da teoria preferida é maior do que o grau de corrobo­
ração das demais teorias157.
.. Eu consegui mostrar, sem dificuldade, que a teoria de Emstein
(pelo menos no instante em que escrevia) era preferível à de
New.ton,. pois sèu grau de corroboração era mais elevado158.
- : : Pontò decisivo, na questão do Jgrau de corroboração, eira o de
que, por aumentar com a severidade das provas, ele só podia ser
elevado ;no caso de teorias com alto grau de testabilidade ou con­
teúdo. Isso significava, porém, que o grau de corroboração associa-
va-se à. improbabilidade da teoria, não à sua probabilidade. Era im-
. possível identificar, o grau de corroboração com a probabilidade
(embora' fosse possível defini-lo em termos de probabilidade — como
é;possível definir á improbabilidade). .
Todos esses_ problemas foram colocados ou discutidos em Logik
der F,arichuiígy. jsias eu sentia que era preciso analisá-los muito mais
meticulosamente, e a axiomatízação jdo cálculp de.prpbabilidade era
a-questão de que eu devia jcuidar-primeiramente 159 - -

2 1 . A guerra próxim a: ò pirotlema judeu ‘


Foi em julho. de .19-27, após; ò grándeVtiroteio Qeorridoí étii; Viena^
a.diante descrito, que passei a esperar O pior: os bastiões “democrá­
ticos da E u ro p a Central r u i r i a m e um a Alem anha-'totalitária, provo­
caria uma nova guerra mundial. Por volta xle 1929j tomei''consciênciá
de que, entre os políticos do Ocidente, apenas GhurGhilis5mã 5Ifiglaterra:
— ura estranho que ninguém levava muito a sério -"-^-'compreendia
a ameaça alema. Imaginei entao que a guerra começaria dentro de
poucos anos... Enganava-me: tudo se desenvolveu "muito mais lenta­
mente do que eu julgara possível, considerando -a ló g ic a ’davsitUaçao;
Obviamente, eu era um alarmista. Mas, no essencial," havia
apreciado corretamente o estado de coisas. Compreendi1 que‘ os ‘ so-
cial-democratas (o único partido político remanescente que tinha
um forte elemento democrático) eram incapazes de"' rfeistir^ãòs^patfí';:
tidos totalitários da Áustria e da Alemanha. Esperei, a ' partir dé
1929, a ascensão de Hitler ;1 antecipei que Hitler, por está: ou aquela
forma, faria a anexação da .Áustria; e aguardei a guerra' contra õ .
Ocidente {A Guerra Contra o Ocidente é o título de uiri .excelenle .
livro de Aurel K o ln a i). Para essas expectativas concorreu conside­
ravelmente minha maneira de ver o problema judeu.
Mèus pais nasceram na fé judia, mas foram batizados na Igreja
Protestante (Luterana), antes do nascimento de seus filhos. Após
íonga reflexão, meu pai havia decidido que viver numa sociedade
predominantemente cristã impunha a obrigação de afrontá-la o me­
nos possível — de assimilar-se. Isso, entretanto, importou em afrontar
o judaísmo organizado. Importou em ser èle denunciado por co­
vardia, como homem temeroso do anti-semitismo. Era compreensí­
vel que assim fosse. O fato, entretanto, era o de que o anti-semitismò
constituía um mal a ser temido tanto por judeus quanto por não-ju­
deus, e o de quê incumbia1 a todos os de origem judia fazer: ojpos-:.
sível para não provocar esse mal: muitos judeus se mesclaram,*#
assimilação teve lugar. Ê fácil entender que pçssoas desprezadas
em virtude da origem racial reajam, afirmando que se- orgulham
déla. Entretanto,, o orgulho da própria raça não é apenas .^estúpido.*
mas errôneo, ainda que provocado. É mau todo nacionalismo:e todo
racismo, e o nacionalismo judeu não. constitui exceção. • y - :.:-v
Creio que, antes da Primeira Guerra Mundial>íi:a hÂustri^^a^
Alemanha tratavam bem os judeus. Tinham ;elès^íqu^se^tfrdpf^
direitos, embora houvesse algumas barreiras impostas pela tradição,
especialmente no exército. Numa sociedade perfeita, nãò há dúvida
de que os judeus seriam tratados, em quaisquer circunstâncias, como
iguais. Mas, à semelhança, de todas as sociedades, aquelas estavam
longe de ser perfeitas: embora judeus e pessoas de ascendência judia
fossem considerados iguais aos outros perante a lei, não eram tratados
comò iguais aos outros sob todos os aspectos. Creio, entretanto, que
os judeus eram tão bem tratados quanto, se poderia razoavelmente
esperar. ; Certo membro de uma família judia convertida ao Cato­
licismo chegara inclusive a ser Arcebispo (o Arcebispo K oh n ,. de
Olmutz), conquanto, por causa de uma intriga em que se recorreu
ao anti-semitismo popular, ele tivesse tido de renunciar em 1903.
A proporção de judeus ou de homens de.. ascendência judia entre os
professores universitários, os médicos e os advogados era elevada e o
ressentimento aberto contra isso veio a surgir tão-somente após a
Primeira Guerra Mundial. Judeus batizados podiam galgar as mais
altas posições no serviço público. ,
O jornalismo atraía muitos judeus, e alguns deles certamente
pouco fizeram para elevar os padrÕès profissionais. A espécie de jorr
nalismo sensacionalista a-que se .entregavam foi,,;por longo tempo,
severamente criticada — especialmente {por-outros judeus, comò Karl
Kraus,. ansiosos por défender. uma diretriz civilizada. O pó levan­
tado por essas querelas não tornou populares os disputantes. , Havia
também, entre os líderes do Partido Social-Democrata, judeus proe­
minentes e por serem, como líderes,.alvos de ataques vis, contribuíam
para que a tensão crescesse.
A í estava, claramente, um problema. Muitos judeus diferiam,
patentemente, da população ^autóctone” . Havia maior número de
judeus pobres do que ricos, porém alguns dós ricos eram tipicamente
nouveaux fiches.
. Anotemos, de passagem, que, enquanto na Inglaterra o anti-
-semitismo se liga à idéia de que os judeus são (ou foram, em certa
época) “ agiotas5’ — tal como no O Mercador de Veneza, em Dickens
ou Trollope — nunca ouvi o >mesmo ser dito na Áustria, pelo menos
anteriormente à ascensão dos nazistas. Havia uns poucos judeus que
eram banqueiros, como os Rothschilds austríacos, mas nunca ouvi refe­
rência a que se houvessem envolvido \na espécie de empréstimos a
particulares de que se toma conhecimento em romances ingleses.
Na Áustria, o anti-semitismo era basicamente uma expressão de
hostilidade para com os considerados estranhos ou forasteiros — sen­
timento explorado não apenas pelo Partido Nacionalista Germânico
da Áustria, como também pelo Partido Católico Romano. E, ca-
racteristicamente, essa reprovável^oposlçao ...aos^estrangeiros^ ;(atitude;,
ao que parece, quase universal) ^ era á p a c tiliià te ^ ^
de ascençao. judia. Durante , a Pnmèira?Ã(ÍruercájJíMTmdiM^':^
refugiados procuraram Viena* <^egad©s>^^fclh^ítópéiâo;^uStífecój
então invadido pela Rússia. Esses, “ judeus^orientais?*; > eon tóeram
chamados, tinham vindo; diretamente de güètds vir,tüaisB^er. contra
eles se erguia o ressentimento dos judeus que ;'sèr&^iamseste^
em Viena, dos assimilacíonistas, dos muitos jü.deus ortG,dó^òs e mesmo '
dos sionistas, que se envergonhavam daqueles que encarávam conipSv:
seus parentes pobres. '
Do ponto d e .vista legal, a situação melhorou,h,GÓ^
do Império Austríaco, ao fim da Primeira Gi^erra'^?í i l ^ ^ ^ t m a s j .. :
como qualquer pessoa dotada de algum senso poderia.:tgr;;predito,:- a | -
situação se deteriorou socialmente: muitos judeus,,, sentindo;|:qué^ã:j^p
liberdade e a igualdade total se haviam tornado reaisy;-dçdiè^am-se,
de maneira compreensível, mas não sábia, à política e ._ao jornalismo.-
A maioria deles tinha boas intenções, mas o ingresso de .judeus .em:.
partidos de esquerda contribuiu para a derrocada desses partidos;
Parecia óbvio que, diante do latente anti-semitismo popular,-<;o ser-
viço que iim socialista que fosse também judeu poderia prestar a
seu partido era o de não pretender desempenhar um papél na: ;açãò. • :
partidária. Estranho , é que poucos havam percebido essa diretriz
evidente, .. ,
Como conseqüência, a .luta entre a direita e a esquerda, que
foi, quase desde o início, uma espécie de guerra civil fria, travou-a
a direita mais e mais sob a bandeira do anti-semitismo.. Iiavia. fre­
qüentes manifestações anti-semitas na Universidade e constantes .pro­
testos contra o excessivo número de judeus entre os professores. Tor?
nou-se impossível, a uma pessoa, de origem judia, ser professor; uni- :
versitário. E os partidos direitistas rivais esforçavam-se por ,superar
mn ao outro, em sua hostilidade contra os judeus. •, ; ;.
Outras razões que me levavam a esperar a derrota do -Partido. :
Social-Democrata — depois de 1929, pelo menos — podem ser ieh^
contradas em' algum as notas de pé de págin a que figuram em meu
Open Society161. Prendiam-se, em essência, ao marxismo -—. :.mais -
especialmente à política (formulada por Engels) de recurso , à^viòf ; ;
lênçia, ao menos como ameaça. A ameaça de violência foi desculpaj:
em Viena, em julho dé 1927, para que a polícia abatesse.a .tiros-uma^
‘ vintena de transeuntes e cie trabalhadores social-democratas,;;;paGÍfi^:;
eos e desarmados. Minha mulher e eu (não estávamos ainda casados); :
figuramos entre as incrédulas testemunhas da cena.,,: Parfi6eUrmerl.<4àr%:Jjv.
que a política dos líderes social-democratas era irresponsável- ^sü i-
cidaf.embora eles agissem com boas intenções. (Quando, ainda em
jullió' de •-1927, uns poucos dias .após o massacre, encontrei Fritz
Àdler, tfilho do renomado líder dos social-democratas de Viena, amigo
de .Einstein e tradutor de Duhem, verifiquei que ele era da mesma
opinião,) Mais de seis anos deveriam passar-se, entretanto, antes
que o suicídio final do Partido Social-Democrata pusesse fim à de­
mocracia na Áustria.

2 2 . Emigração ; Inglaterra e Nova Zelândia


Meu -Lggik der Forschung alcançou êxito surpreendente, que
se projetou muito além de Viena. Mereceu mais resenhas, em maior
número de línguas, do que, vinte e cinco anos mais tarde, mereceria
The Logic of Scientific Discovery; e resenhas mais amplas, inclusive
em inglês. Em conseqüência, recebi muitas cartas, de vários países
da Europa, e muitos convites para proferir conferências, inclusive um
convite da Professora Süsah. Stebbing, que lecionava nò Bedford Col-
lege, em Londres. Fui à Inglaterra no outono de 1935 para .fazer
duas conferências no Bedford College. ; Eu havia sido convidado para
falar :de'' minhas idéias, más: estava- tao profundamente impressiona­
do pelas reálizaçoès de Tarski; entao de-todo desconhecidas na Ingla­
terra, que às tòrribi comò assunto. Minha primeira exposição teve
por tema “ Sintaxe e Semântica” (a semântica de Tarski) e, a segunda,
a teoria da verdade, do mesmo Tarski. Creio que foi nessa ocasião
. que, pela primeira vez, despertei no Professor Joseph Henry Woodger,
biólogo e filósofo da Biologia, interesse pela obra de Tarski162. No
total, fiz, em 1935-36, duas longas visitas à Inglaterra, mediando,
entre elas* uma curta permanência em Viena. Eu estava afastado,
sem remuneração, de meu posto de ensino, ao passo que minha mu-,
lher continuava a ensinar e a ganhaf;
Durante essas visitas, proferi não apenas essas duas conferências
no Bedford College, mas também três outras, acerca da probabili­
dade, no Imperial College, por convite conseguido por Hyman Levy,.
professor d e . Matemática nesse colégio; e li dois trabalhos em Cam-
bridge (com a presença de G. E. Moore e, na segunda ocasião, de
C. H. Langford, o filósofo norte-americano, que teve esplêndida
participação no debate) e Ü um trabalho em Oxford, onde Freddie
Ayer me havia anteriormente apresentado a Isaiàh Berlin e a Gilbert
Ryle. L i também um trabalho acerca de “ A Indigência do Histo-
ri cismo” <.no seminário do professor Hayek, na “ London School of
Economics and Political Science” (L. S. E .). Embora Hayek tivesse
vindo de Viena, onde fora professor e diretor do Instituto de Pes-

llí
quisas do Ciclo de Comércfo {tConjunkturforsehUng)^,•êu^ :iéíiQò^$& 3‘$§
pelà primeira vez na L. S. F .163 Lionel Robbins: (hoje'Lorde
estava presente ao seminário e ali . também estava Ernst;:^ ò íh fe c ^ !i':Í
historiador de Arte. Anos depois, G. L. S. Shackle,;o eGOnomistapdis'- ' ; 1
se-me: que também havia comparecido.
Em Oxford, conheci Schrodinger e .com ele mantive longas ifpay
íestras. Sentia-se infeliz em Oxford. Tinha vindo de BeHim,; •onde;
fora presidente de um grupo de estudos de Física teóricá; prováyel-
mente sem similar em toda a história da Ciência: Einstèin, von
Laue, Planck e Nernst figuravam entre os membros habituais desse
grupo. Em Oxford, Schrodinger fora muito bem recebido. ^Ele não
poderia, é claro, esperar um grupo de estudos formado por talèntos.
excepcionais, mas o que realmente lhe pesava èra não encontrar,
de parte de professores e alunos, um interesse apaixonado pela 'Física
teórica.' Discutimos à interpretação estatística por mim dada às fórf .
mulas de indeterminação, de Heisenberg. Schrodinger mostrou-se
interessado, mas cético àté mesmo- no que se referia à situação :dá .
Mecânica Quântica. Deu-me algumas separatas de artigos, nos quàis _;
expressava dúvidas a propósito da interpretação de Gopenhague; :
é bem sabido que jamais acolheu — isto é, jamais aceitou a “ coiii^
plementaridade” de Bohr. Schrodinger disse-me que talvez voltasse,
à Áustria. Procurei disauadi-lo, porque, ao deixar a Alemanha, éle ;;
nao havia feito segredo de sua posição antinazista e isso poderia sét :
usado contra ele, caso o nazismo alcançasse o poder na Áustria.
Contudo, no finãl do outono de 1936, ele efetivamente retornou.
Uma cátedra havia vagado em Graz e Hans Thirring, professor dé
Física teórica em Viena, fez a sugestão de qúe ele próprio deixasse ' ;
Viena, passando para Graz, de sorte que Schrodinger viesse a ocupar
a cátedra do próprio Thirring, em Viena. Todavia, Schrodinger
nao admitiu que isso fosse feito: viajou para Graz e ali permaneceu
durante dezoito meses. Depois da invasão da Áustria por Hitler,
Schrodinger e sua mulher, Annemarie, escaparam por um tris. • Elá
dirigiu o carro até um ponto próximo do território italiano e ali Jo
abandonaram. Apenas com bagagem de mão, cruzaram a frori- .
teira. De Roma, onde chegaram quase sem vintém, conseguiram,
telefonar a De Valera, Primeiro-Ministro Irlandês. (e matemático j
que, por acaso se encontrava em Genebra, o qual disse-lhes que sé
reunissem a éle naquela cidade. N a fronteira entre Itália e Suíça,
os guardas italianos suspeitaram dos Schrodinger, pois que * estes
quáse não dispunham de bagagem e só tinham dinheiro equivalente a
menos de uma libra. Foram retirados do trem, que, sem -eles,; deixòú
a estação da fronteira. Por fim, foi-lhes permitido émbarcar .-pãra- iâ . ' :
Stiíça.. no;. trem seguinte. E assim Schrõdingèr sé tornou o “ Senior
Professor-’ do "Institute of Advanced Studies” , em Dublin, instituto
que, , naquela época, não existia. (E continua a nâo existir entidade
semelhante na Inglaterra.) . .
Uma das experiências que tive durante a visita de 1936 e de qué
muito bem me recordo foi a .de Ayer, levar-me a uma reunião da
“Aristotelian Society” , durante' a qual falou Bertrand Russell, talvez
o maior, filósofo já surgido depois de]’K.ant.
Russell leu um trabalho acerca d’“ Os Limites do Empirismo” 164.
Admitindo que o conhecimento empírico se originasse da indução e,
ao mesmo tempo, muito impressionado com as críticas dirigidas por
Hume contra a indução, Russell sugeriu que devêssemos adotar
algum princípio, de indução que não se baseasse, por suá vez, na
indução. A adoção desse princípio, marcaria òs limites do empirismo.
Ora, em Grundprobleme e, mais resumidamente, em L o g ik . der
Forschung, eu havia atribuído a Kant precisamente esses argumentos
e assim me pareceu que a posição de Russell era, sob esse prisma,
idêntica à que .lèvara Kant a seus a prioris.
Após. a exposição, houve debates e. .Ayer ,encorajou-me a falar.
Eu disse, de início, que absolutamente não acreditava na indução,
embora acreditasse no aprendizado. a partir, d a . experiência e no
empirismo ps limites kantianos que Russell propunha. Essa de­
claração^ que, formulei tão breve e . diretamente quanto me permitia
o claudicante inglês de que era capaz, foi bem recebido pelos pre­
sentes que, aparentemente, o tomaram, como uma, pilhéria e riram.
Numa segunda intervenção, sugeri que ioda a dificuldade se prendia
à errônea, suposição de gue o conhecimento científico seja uma
espécie de conhecimento — Conhecimento no sentido comum de que,
se eu sei que está chovendo, há de ser verdade que está chovendo,
de sorte que conhecimento implica verdade. Entretanto, acrescentei,
o que chamamos “ conhecimento5 científico” é hipotético e, muitas
vezes, não verdadeiro, já para não falar em certamente verdadeiro
ou provavelmente verdadeiro (no sentido do cálculo de probabili­
dades). De novo, o auditório tomou a. minha manifestação como
uma brincadeira, ou um paradoxo e houve risos e palmas. Pergunto-mé
se ali haveria àlgjuém que suspeitasse de que eu não apenas falava
seriamente, como também a seu devido^tempo, de que minhás con­
cepções viriam a ser encaradas como' lugar-comum.
Foi Woodger quem sugeriu que eu respondesse a um anúncio
em que se oferecia um lugar de professor de Filosofia na Universidade
da Nova Zelândia (no “ Canterbury University College” , como se
chamava, na época, a atual “ Canterbury University’5), Alguém —

118
talvez Hayek — apresentou-me ao P r . Walter Adams (futuro diretor
da “ London School of Economics” ) e à Srta;. Esther Simpson, que
vinham dirigindo o .Academic Assistance Gouticil- ^^-.qual procurava
auxiliar muitos dos cientistas fugidos da ■Alemanha^e-' -começava a-
dar auxilio a alguns fugidos da Áustria.
Em julho de 1936, viajei de Londres a Copenhagüè
Gombrich foi despedir-se de mim — para comparecer à um7 con/
gress9 165 e para encontrar!Niels Bohr, encontro a que fiz referência
na seção 18. De Copenhague retornei a Viena, atr^esáandoJ^Alèv
manha de Hitler. N o fim de novembro, recebi uma "carta ’dó" í)r;
A. G. Ewing, oferecendo-me hospitalidade em. nome'Má “ Moraí
Sciences Faculty” da “ Cambridge University” , e uma carta complè- ;
mentar, subscrita por Walter Adams, do “ Academic AssistancérGòurv-
cil” ’ pouco depois, na véspera do natal de 1936, recebi um telé-
grama, oferecendo-me posição de conferencista no “ Cantérbury ;;Upi- .
versity College” , em Christchurch, Nova Zelândia. Esse era um..èm*:
prego normal, aa passo que a hospitalidade oferecida por Gambridge
destinava-se a refugiados. Tanto minha esposa quanto eu 'teríamos
preferido ir para: Cambridge, mas imaginei qúe a oferta de hospita^
lidade poderia Ser estendida a uma outra pessoa. Assim, aceitei , o
convite da Nova Zelândia e pedi ao “ Academic Assistance Gounçil” .
e: a Cambridge que, em vez de mim, levassem para a Inglaterra
Fritz Waissmann, do Círculo de Viena. Eles acederam a meu pedido;
Minha esposa e eu renunciamos às posições de ensino que
ocupávamos e, dentro de um mês, deixávamos Viena, dirigindo-iios á
Londres. Depois de cinco dias em Londres, embarcamos para a N ó vá
Zelândia, chegando a Christchurch na primeira semana de março
de. 1937, exatamente quando se iniciava o ano letivo. .
Eu estava certo de que, dentro em pouco, deveria ajudar refu­
giados austríacos, fugidos de Hitler. Entretanto, um outro anó se
passaria antes de Hitler invadir a Áustria e de com eçarem os >gritos
de auxílio. Em Christchurch, formou-se um comitê com o objètiyò de
obter permissão para que os refugiados entrassem, ria Nova Zelândia;
alguns desses refugiados foram resgatados .■de campos de concen­
tração òu de prisões graças à energia do fir.. R. M. Garnpbell, qué
integrava a “ New Zeland High Commission” , em. Londres.

23. Prim eiros trabalhos na Nova Zelândia


Antes de viajar para a Nova Zelândia, eu havia passado - em
Londres, ao todo, nove meses, que foram uma revelação e uma inspi-

11*?
- ... : ,;v* ' # *
ráÇao. A, honestidade e decência do povo, aliados a seu forte senti-
riientò de responsabilidade política, produziram em mim fortíssima
impressão. Entretanto, até mesmo òs professores universitários que
vim a conhecer estaVam completamente mal informados acerca da
Alemanha de Hitler e. limitar-se a esperar o melhor era a atitude
geral. Eu me encontrava na Inglaterra, quando a lealdade popular
às idéias da Liga das Nações destruiu o plano Hoare-Laval (que
poderia ter impedido Mussolini de júntar suas forças às de H itlç r);
e me encontrava na Inglaterra quando Hitler entrou na Renânia., ,
ato apoiado por um movimento dá opinião popular inglesa. Ouvi
também Neville Ghamberlain falar a favor de uma subvenção para
rearmamento e procurei confortar-me com a idéia de que ele não
passava de Ministro do Tesouro, não sendo, portanto, necessário
que soubesse contra o qüe se estava armando, nem quao urgente era .
esse rearmamento. Convençi-me de que a democracia inclusive
a democracia britânica —; não era uma instituição capaz de enfren­
tar o totalitarismo; e era triste perceber que, aparentemente, um
único homem — Winston Churchili —-- se dava conta do que vinha
acontecendo e não. encontrava nenhum apoio.
Na Nova Zelândia, a situação era semelhante, mas . com os
traços .acentuados; Não havia agressividade no povo; tal como os
ingleses,;? bs neozelandeses. eram decentes, fraternais, bem dispostos.
Mas o continente europeu achava-se a uma. distância infinita. Na­
quele tèmpo, a Nova Zelândia não tinha contacto com o mundo, a
não .ser através da Inglaterra, a cinco. $emanas de viagem, Inexistia
ligação aérea e não cabia esperar que uma carta fosse respondida
em menos de três meses. Durante a Primeira Guerra Mundial,, o
país havia sofrido perdas terríveis, mas. tudo estava, esquecido. Os
alemães eram apreciados e não se pensava, em guerra.
Tive a impressão de que a Nova. Zelândia era o país mais bem
governado no mundo e o mais fácil dé governar.
Sendo á atmosfera de trabalho maravilhosamente plácida e
agradável, acomodei-me rapidamente e dispus-me a continuar tare­
fas interrompidas há vários meses. Fiz numerosos amigos, quê se
interessaram por minha obra e muito por me encorajarem. Hugh
Parton, físico-químico, Frederick White, físico, è Bob Allan, geólogo,
foram os primeiros. E, depois, Golin Simkin, economista, Alan Reed,
advogado, George Roth, físico de radiações, e Margaret Dalziel, então
estudante de Letras Clássicâs e ínglês. Mais ao sul, em Dunedin,
Otago, viviam John Findlay, filósofo, e John Eccles, neurofisiolo-
gista. Deles me tornei amigo para toda: a vida.

120
Além de lecionar (eu me encarregava, sozinho, do ensino de
Filosofia)1*6, concentrei atenção na teoria da probabilidade, espe­
cialmente no tratamento axiomático do cálculo de probabilidades e
na relaçaó entre, o calculo dé probabilidades -e a álgebra booleana;
e logo concluí um trabalho, que reduzi ao mínimo de extensão. Foi
eíe posteriormente publicado em M in d 16T. Continúernésse trabalho
por varios anos: era um grande arrimo, sempre qütf éu-vâpàrihava
um resfriado. Estudei um pouco de Física e ref 1etí aterca da- Teoria
Quântica. (Li, entre outras coisas, a apaixonaiitè e ::perturbadora
carta 16s; enviada, a Nature, por Halban, Joliot é Kowaíski,:^igéütiri-
do. a possibilidade dé . uma explosão de Urânio, algumas ' cartas a
propósito do mesmo assunto em.. The Physical Redieií^^.Xi^^axúgp
de Karl K . Darrow no Arínual Report. of the B o d rd ^ f:rRégè^iits of
the Smithspnian Institution.) 169 ^
Por longo tempo, eu me. havia ocupado dos métodos-dás Ciên­
cias Sociais; afinal de contas, tinha sido, em parte* umá £rítica ao
marxismo, que me colocara, em 1919, no caminho-dè^X-ógíA:^ dèr
Forschung. Eu havia discorrido, no seminário dé Hàyek, á respeito
de “ A Indigência do Historicismo” , exposição em se continha
(ou assim julgava eu) uma como que aplicação das idéiàs desen­
volvidas em Logik der Forschung aos métodos das Ciências Sociâis.
Discuti essas idéias com Hugh Parton e com o Dr. H. Larsen, que,
na época, lecionava no Departamento de Economia. Nao obstante,
eu relutava muito em publicar qualquer qoisa contrária ao marxismo:
onde continuavam à existir nò continente europeu, os social-demò-
crátas eram, apesar de tudo, a única força política a ainda se opor
à tirania. Parecia-me que, nas circunstâncias daquele momento, nada
se devia escrever contra eles. Embora eu considerasse suicida a po­
lítica por eles adotada,, não era de supor que. sè pudessem reformar
por força dà publicação de um trabalho: qualquer crítica só poderia
enfraquecê-los.
Foi quando, em inarço de 1938, chegaram notícias de que Hitler
tinha ocupado a Áustria. Havia agora uma necessidade urgente de
auxiliar os austríacos a fugir. Julguei também que não mais podia
manter inédito o conhecimento de problemas políticos que eu adqui­
rira a partir de 1919; resolvi dar forma d e fin itiv a s UA Indigênçia
do Historicismo” . DaÚ brotaram dois trabalhos mais ou menos com-
plementares: The Poverty of Historicism e The Open Society ::and
Its Enemies (que, de início pensei em denominar “ False Prophéts:
Plato-Hégél-Marx” ) . ; ^ y--;:.-
-i S ociedad e A b e rta ” è S*A In d ig ê n c ia do H isto ric is m o ,,'
•V— ’ v/- . .'’’■ •.
i ' - • . •
'■!Originalmente, eu pensara apenas em elaborar e colocar em
inglês aceitável a exposição que havia feito, no seminário de Hayek
( inicialmente conduzido em alemão, na cidade de Bruxelas, em casa
de meti amigo Alfred Braunthal) 17°, mostrando, mais de perto, como
o “ histcricismo” fora a inspiração tanto do marxismo quanto do
fascismo. De maneira. clara, e u .antevia o trabalho concluído diante
de mim: um artigo bem longo, mas facilmente putlicável de uma.
só vez; .'
Minha dificuldade maior foi a de escrever num inglês passá-
vel.“ Eu escrevera, anteriormente, algujns’ trabalhos em inglês, mas,.
do ponto de vista lingüístico eram muito maus. Meu estilo alemão,.
em Logik der Forschung, parecera, razoavelmente leve — para lei­
tores alemães; mas eu descobrira que os padrões ingleses. de estilo
eram completamente diferentes e muito mais elevados que os ale­
mães. Nenhum leitor, alemão se importa, por exemplo, com polissí-
labos; em inglês, temos de aprender a sentir-nos incomodados com
eles. Entretanto, para alguém que se empenha ainda por evitar os
erros; mais comuns, esses, altos objetivos se põem muito/ distantes,
conquanto, possam continuam desejáveis,.
The P. o verty of Historicism é, segu.ndo. creio, um de meus traba­
lhos mais indigestos. Além disso, após haver escrito as dez seções que
compõem o primeiro capítulo, todo ^ ò plano do livro . mostrou-se
falho: a seção 10 , a respeito do essencialismo, causou tanta perple­
xidade a .meus amigos que me pus a revê-la; e, a partir dessa
revisão e de umas poucas observações que eu havia feito acerca das
tendências, -totalitárias da República de Platão — observações tam­
bém julgadas obscuras por meus amigos, especialmente por Henry
D an Broádhéad e Margaret Dalziel — brotou, õu melhor, explodiu,
sem qualquer plano e contra todos os planos, uma conseqüência
verdadeiramente inesperada, T h e O p e n Society, Depois que esta
começou a tomar forma, eu a retirei de The Poverty, que ficou assim
reduzido mais ou menòs à extensão originalmente prevista.
Houve um fator menor que contribuiu para o surgimento de
The Open Society: irritava-me o obscurantismo de algumas ques­
tões propostas nos exames acerca de “ o um e os muitos” na Filosofia
grega, e eu queria pôr a claro as inclinações políticas. ligadas a essas
idéias metafísicas.
Depois de The Open Society desligar-se de The Poverty, termi­
nei primeiramente os três capítulos iniciais desta última obra. O

122
quarto capítulo, que até aquele
rascunho (sem qualquer exame do qué:rdepois^;:denómi^i^^lógtòlíí
situacional” ) só foi completado, penso eu3 depois^de^tériliiliadQêtt^
esboço do volume que, em The Open S o c ie t y é dedlcadò-;a, Platão^
O fato de as duas obras haverem surgido ‘ desà-'""'máneiiryfàí|$ã
confusa deveu-se em parte, indubitavelmente, ao desénvolviitténtõ;
interno de meu pensamento, mas em parte deveu-se,. creio ••:é ü ,a i)
pacto Hitler-Stalin, ao início do conflito e ao estranho' içursòíi dá
guerra. Gomo todos, eu teinia que, após a rendição da irançayiíiUèrv
invadisse a Inglaterra. Senti-me aliviado quando, em vez. disso, ele
invadiu, a Rússia, muito embora eu receasse o colapso dosí russos;
Sem embargo, e como diz Churchill em seu livro sobre a Primeira
.Guerra Mundial, as guerras não são ganhas, são perdidas: e a^Se-
gunda Grande Guerra foi perdida pelos tanques de Hitler na Rússia
e pelos bombardeiros japoneses em Pearl Harbor. ; ;
The Poverty e The Open Society foram meu esforço de guerra;
Eu entendi que a liberdade poderia colocar-se, outra vez, como pro­
blema central, especialmente sob a renovada influência do mar­
xismo e da idéia de “ planejamento” , (ou “ dirigismo” ) em larga
escala; assim, esses livros pretendiam ser uma defesa da liberdade
çohtra as idéias. totaUtárias e autoritárias e uma advertência contra
o perigo das superstições historicistas. Ambos os livros e, especial­
mente, The Open Society (sem dúvida,, o mais importante) podem
ser vistos como dobras de filosofia política.
Brotaram ambos da teoria do conhecimento exposta em Logik
der Forschung . e de minha convicção de que nossas concepções, fre­
qüentes vezes inconscientes, acerca de teoria do conhecimento e; de
seus problemas centrais ( “ Que podemos saber?” , “ Até que ponto é
certo nosso conhecimento?”.) são decisivas para orientar nossa ati^
tude em relação a nós mesmos e à política171.
Em Logik der Forschung, tentei mostrar que o conhecimento é
conseguido através da. tentativa e eliminação do erro, e que a prin­
cipal diferença entre seu desenvolvimento pré-científico e seu desen­
volvimento científico está ligada ao nível científico por nós conscien­
temente buscado para nossos erros: a adoção consciente do método
crítico torna-se o instrumento principal de desenvolvimento; .Apa­
rentemente, já por aquela época eu tinha uma visão clara - d e. que
o método crítico .■—- òu a abordagem crítica — consiste, ^em -termos
gerais, na procura de dificuldades ou contradições e. na: tentãtiya de
resolvê-las, e que esse enfoque poderia ser levado ,muitov-'àlém ~da-
Ciência, para a qual são características as provas críticas: \Escrevi^
éõm;: efeito: "N a presente obra, releguei a segundo plano o método,
crítico — ou, se quiserem, ‘dialético’ -— de resolver contradições,
para preocupar-me com a .tentativa de expor aspectos metodoló­
gicos práticos de minhas idéias. Em trabalho ainda inédito, procuro
seguir o caminho crítico (. . . ) ” 172. (Eu fazià alusão a. Die beiden
Grundprobleme.)
Em The Open Society, acentuei que o método crítico, embora,
sempre que possível, recorra a provas e, de preferência, a provas
práticas, pode ser generalizado naquilo a que chamei atitude crítica
ou racional173. Sustentei que uma das melhores acepções a atribuir
a “ razão” e “razoabilidade” é a de abertura à crítica — disposição
de ser criticado e ; empenho em criticar-se; e procurei mostrar íque
essa atitude crítica de razoabilidade déveriá ser ampliada tanto quanto
possível174. Sugeri que a exigência de ampliar tanto quanto pos­
sível a atitude crítica poderia ser chamada “ radonalismo crítico” ,
-sugestão posteriormente endossada jpoí? Adrienne K o c h 175 e Hans
Albert176. '
Implícito nessa atitude está o reconhecimento de que teremos
sempre de viver: numa sociedade imperfeita. Isso hão é assim apenas
porque até mesmo ás pessoas boas são imperfeitas, nem porque, obvia­
mente, erramos com freqüência, por não sabermos o bastante. Mais
importante do que qualquer dessas duas razões '€ o fato de que sempre
existirão ^insolúveis conflitos de valores: há muitos problemas morais
. insolúveis, porque pode existir conflito entre princípios morais.
Nãó pode. existir sociedade humana sem conflitos: umã socie­
dade que tal não seria uma. sociedade’ de homens,, mas de formigas.
Ainda que ela fosse çoisá realizável, essa; realização destruiria valores
humanos da ijaaior importância • e . tais valores deveriam, portanto,
impedir-nos de tentar a realização. Por outro: lado, deveríamos, de­
certo, conseguir, uma redução dos conflitos. Assim, já temos aqui
um exemplo de choque de valores ou princípios. Esse exemplo mos­
tra, ao mesmo tempo, que choques de valores e princípios são impor­
tantes e,, na verdade, essenciais nuihá sociedade aberta.
Um dos principais argumentos desenvolvidos em The Open So­
ciety dirige-se contra o relativismo moral. G fato. de valores ou prin­
cípios morais poderem entrar em choque nao os invalida. Valores
ou princípios morais podem ser descobertos ou inventados. Podem
ser relevantes em umas e irrelevantes em outras situações. Podem ser
acessíveis a alguns e inacessíveis a outros. Tudo isso, entretanto, é
muito diverso do relativismo, ou seja, da doutrina, segundo a qual
é possível defender qualquer conjunto de valores 177.
Nesta autobiografia intelectual, uma série de idéias filosóficas
expostas em !T/ieSociety, (algumas concernentes à ,História da
Filosofia, outras à Filosofia da. História) deveriam ser mencionadas
em numero maior, • alias, do que seria possível -examinar aqui.
Entre elas, uma exposição "razoavelmente ampla:, ;de íjDüii^a^pQs;ção
antiessencialista e, penso eu, o primeiro enunciado :déÍiüm .;antiiessen-
cialismo que não é de feição nóminalista nem observácionál. Rela­
cionada com essa exposição, The Open Society . continha algum as
críticas ao Tractatus. de Wittgenstein, críticas que tem sido quase
completamente esquecidas, pelos comentadores -desse autor. -
Em contexto similar, escrevi também acerca dos : paradoxos ló­
gicos e formulei alguns novos paradoxos. Examinei õutrossim' a
relação entre élès e o paradoxo da democracia (exame que déu mar­
gem ao aparecimento de ampla literatura) e aos mais gerais para­
doxos da soberania. :‘ ;í >
Numerosos trabalhos ijue, a mèu ver, pouco contribuírain para
a solução do problema, surgiram a partir de equivocada ^crítica às
.minhas idéias sobre explicação histórica. N a seção 12 de. Logik der.
discuti o que denominei “ explicação causai” 178, oü expli­
cação dedutiva, discussão que fora antecipada, sem que eu me hou­
vesse, dado contai disso, por J. S. Mill, embora talvez um tanto vaga­
mente (por não distinguir ele entre uma condição inicial e uma lei
universal)11®. Quando li pela primeira vez The. poverty of Histo-
ricism em Bruxelas, um antigo aluno meu, o Dr. Karl Hilferding 180
leyantou üm ponto interessante, assim como fizeram observações
importantes os filósofos Carl Hempel e Paul Oppenheim. Hilferding
assinalou uma rèlação entre algumas de minhas observações acerca
da explicação histórica e a seção 12 de Logik der Forschung. (Essas
observações vieram, depois,- a ' converter-se nas páginas 143-46 da
" edição em. livro. [1957 (g )] de The Poverty. O que Hilferding fez
notar, com respeito à Logik der Forschung, levou a alguns pontos
que figuram* agora, rias páginas 123-24 e 133 de [1957 ( g ) ] 181, pontos
parcialmente ligados à relação lógica entre explicação è predição e,
parcialmente, à trivialidádé; das leis universais tão invocadas em expli­
cações históricas — lei? quase sempre despidas de interesse, simples­
mente porque, no contexto, são. nãp-problemáticas.)
Nao. considerei, entretanto, essa . análisè especialmente impor­
tante para a explicação histórica, t o-.;que tive •;como importante: exi­
giu mais algnrís anos pára amadurecer. ' Tratava-se ;do problema; da
racionalidade (ou ‘‘princípio da racionalidadè” * •ioui>/‘método ■^izero” ,
ou “ lógica da situação” ) 182. Entretanto, durante anos^..a tese banal
_^ 5êml5v4fcsão>-lnal -interpretada — deu margem, sob o título ,de. "mo-
delovrdedutivo” , ao aparecimento de larga bibliografia.
- - © ••âspecto realmente importante do problema, o método da
análise ^situacional, que acrescentei a. T h e Poverty 183 em 1938 e
depois esclareci mais amplamente no capítulo 14 de The Open So­
ciety 184, desenvolveu-se a partir do que eu havia anteriormente cha­
mado “ método zero” . O importante, no caso, éra a tentativa de
generalizar o método. da teoria econômica ( teoria da utilidade mar­
ginal), de sorte a torná-lo. aplicável às outras' ciências sociais teoréti-
cas. Nas formulações que posteriormente lhe dei, esse método con­
siste em construir üm modelo da situação, social que inclua especial­
mente a situação institucional em que o agente está. atuando, de modo
a explicar a racionalidade (o caráter zero) dé sua ação.. Tais mo­
delos são, nas Ciências Sociais, as hipóteses suscetíveis de comprova­
ção e os modelos que sejam “ singulares” , máis especialmente, cor­
respondem às hipóteses, singulares. da . História (hipóteses. em prin­
cípio comprováveis).
Ao longo das mesmas linhas, devo talvez referir-me à teoria da
sociedade abstrata, pela primeira vez incluída na edição norte-ame­
ricana de The Open Society 18S.
Para mim, The Opéh Society marca ürriâ virada, pois levou-me
a escrever' a respeito de História (em termos algo especulativos), o
que, até certò ponto, proporciohóu-me .desculpa para escrever acerca
de inétodos de pesquisa histórica186. Anteriormente, eu havia feito
e mantido inéditas algumas pesquisas no cámpo da História da
Filosofia, mas só agora, pela primeira vez, publicava algiíma coisa
nesse campo. Penso que, para dizer pouco, provoquei.grande número
de novos problemas históricos — todo um vespeito de problemas,
O primeiro volume de The Open Society, que intitulei O : En­
canto de Platão, nasceu, como já referi,. de uma ampliação da seção
10 de The Poverty. N o primeiro esboço dessa ampliação, figuravam
uns poucos parágrafos a propósito do totalitarismo de Platão, na suà
conexão com a teoria historicista platônica do declínio ou degenera-
ção,, assim como parágrafos acerca de Aristóteles. Esses parágrafos
baseavam-se na minha leitura da República, do Político, do Gór~
gias, de alguns livros das Leis e nos Pensadores Gregós, de Theodor
Gomperz, obra muito apreciada desde os meus dias de escola se­
cundária. As reações hostis que esses parágrafos provocaram em
meus amigos neozelandeses acabaram por levar-me a O Encanto de
Platão e daí a. The Open Society. Voltei ao estudo das fontes, por­
que desejava oferecer prova ampla de minhas concepções. Reli
Platão, intensivamente; li Diels, Grote ( cuja opinião, verifiquei, era
em essencia igual a minha) e muitos outros-..-..cpinenteores_fc "histo
riadores do período. (Referências completas/.encontram-se em'\The
Open Society.) O que li foi; em grande parte, função .do, que pude
encontrar na Nova Zelândia: durante a guerra, nao havia como
receber livros de além-mar. Por essa ou aquela rázão,.,foi-me impos­
sível, por exemplo, conseguir a edição Loeb da República ■-{tradução
de Shorey), conquanto o segundo volume, soube eu depois da guerra,
tivesse sido publicado era 1935. , O fato foi lamentável, pois trata­
va-se da melhor tradução, como eu viria a descobrir. As traduções
de que eu dispunha eram tão insatisfatórias que, auxiliado pela
maravilhosa edição Adam, comecei eu próprio a traduzir, apesar
do meu grego deficiente, que eu procurava melhorar recorrendo a
uma gramática escolar trazida da Áustria. Nadá resultaria do longo
tempo dedicado a essas traduções: eu descobrira que tinha de rees­
crever várias vezes traduções do latim e até do alemão, se dêséjassè
imprimir clareza a uma idéia interessante e vazá-la em inglês razoa­
velmente vigórosó. Fui acusado de tendenciosídade em minhas tirà-
duções e, com efeito, elas são tendenciosas. Mas nao há traduções
não-tendenciosas de Platão e penso que não pode haver. A tradução
de Shorey é uma das poucas onde: não há desvios liberais, porque ele
aceitou a política de Platão no mesmo sentido/ aproximadamente,
em que a rejeitei.
. Enviei The Poverty a M ind e fox recusado; imediatamente após
completar The Open Society, em fevereiro de 1943 (reescrevi-o mui­
tas vezes) enviei-o para ser publicado nos Estados Unidos dá Amé­
rica. O. livro fora escrito em circunstâncias penosas: as bibliotecas
eram 'extremamente limitadas e eu tivera dé ajustar-me aos livros
que encontrara à mão. Minha carga de ensino era pesadíssima e- òs
administradores universitários não só deixavam de ajudar-me como
tentavam ativamente criar-me dificuldades. Disseram-me qüe seria
avisado eu nada publicar enquanta estivesse na Nova Zelândia e que
todo o tempo dedicado a pesquisas era tempo roubado ao trâbàlhò
do ensino, pelo qual eu estava sendo pago187. A situação assumiu
feições tais que, sem o apoio moral de meus amigos da Nova Ze­
lândia, eu dificilmente teria sobrevivido. Nessas circunstâncias, "a
reação daqueles amigos dos Estados Unidos da América, aos quais
eu havia enviado o original do livro, foi um golpe terrível. Durante
meses, eles nada disseram; e, depois, em vez de submeter o trabalho
a. um editor, solicitaram a opinião de uma autoridade famosa, aos
olhos de quem o livro, devido à sua irreverência para com Aristóte­
les' (não Platão), foi considerado não adequado para ,apresentação
;a um editor.
; - Passado quase uni ano, encontrando-me eu sem saber o que
fazer e terrivelmente deprimido, obtive, por acaso, o endereço inglês
de meu amigo Ernst Gombriçh, com : o qual. eu havia perdido con­
tacto durante a guerra. Ele e Hayek, que se ofereceu generosamente
para^ ajudar-me ( eu nao havia ousado. aborrecê-lo, pois só o tinha
visto umas poucas vezes), encontraram um editor. Ambos me escre­
veram a respeito do livro, mostrando ..muita simpatia. O alívio foi
imenso. Achei que essas duas pessoas, me haviam salvo a vida e
assim continuo a pensar.

25. Outros trabalhos realizados na Nova Zelândia

Os trabalhos referidos nao fòram os únicos por mim realizados


na Nova Zelândia. Trabalhei -também nò càmpo da Lógica — em
verdade, inventei para meu uso alg0* que é atualmente denominado
“ dedução natural” 188 —; e estudei é proferi muitas conferências
acerca d e. lógica da investigação científica, dedicando-me inclusive
à História da Ciência. Este último ,trabalho consistiu principalmente
em fazer aplicações a descobertas. réãis de minhas idéias lógicas a
respeito da descoberta. A par disso, procurei esclarecer, em meu pró­
prio benefício, a imensa importância de teorias: errôneas, como. a
teoria do mundo elaborada por Parmênides.;
Na Nova; Zelândia, proferi cursos de. conferências, sobre os
métodos não-indutivistas, na seção de Christchurch da “ Royal So-
-ciety. of New Zealand” e ná Escola de Medicina de Dünedin. Tais
cursos haviam sido iniciados pelo Professor (depois, 'Sir) John Eccles.
N os últimos dois anos. passados eín Christchurch, fiz palestras de
hora de almoço para os professores e alunos dos departamentos de
Ciência do “ Canterbury University College” Tudo isso era trabalho
penoso (hoje nao consigo imaginar como cheguei a realizá-lo), mas
extremamente agradável. Em anos posteriores e por todas as partes
do mundo, tenho encontrado antigos participantes desses cursos, que
me asseguraram ter-lhes eu aberto òs òlhos; entre eles, figuram cien­
tistas de nomeada.
Gostei muito da Nova Zelândia, ap esar .da hostilidade .para com
minha obra mostrada por alguns dirigentes universitários, e dispu-
nha-me a permanecer lá até o fim da; vida.. Em começos de 1945,
recebi um convite da Universidade de Sidney. A esse convite segui­
ram-se críticas, publicadas em jornais- da Austrália, em torno do ofe­
recimento de emprego à um estrangeiro, sendo levantadas questões
nò Parlamento. Em razão disso, telegrafei agradecendo é declinei do:
convite. Logo depois — a Europa vivia os últimos-períodos de guerra
— chegou um cabograma assinado por liayek, oferècendo-ine uma
posição na Universidade de Londres, com exercicio na-; <cLondon
School of Economics” e agradecendo 9 envio que-eu fizèra,? de .Po­
verty a Economica, de que ele era o editor encarregado;;;, Senti; que
Hayek me havia salvo a vida uma segunda ^Vezi^v^í■sAr%Jàrtir■■:.'■dessé
instante, fiquei impaciente por deixar a Novas Zelândia.

26. Inglaterra; na “ London School of. Economics .


and Political Science’*
Ao deixarmos a Nova Zelândia, imperavam ainda .condições cíe
guerra e nosso navio recebeu ordem de. rocíéàr o •
fantástica e inesquecivelmente bela. Chegamos à Inglaterra.:em co­
meço de janeiro de 1946 e comecei a trabalhar na “ Lòndon::School
of Economics” . :
Naqueíes dias imediatamente posteriores à guerra, a L.S.É. èrá
■uma instituição maravilhosa. De proporções reduzidas, permitia que
todos que lá trabalhavam se conhecessem.. O corpo, docente, eiíibora
em número limitado, era de alto nível e de alto nível eram Os estu­
dantes. Havia muitos alunos — classes maiores que as de tempos
mais tarde — interessados, amadurecidos, cheios de compreensão,
.constituindo um desafio para o professor. Entre esses alunos, estava
um . antigo oficial de carreira, da Marinha Real, que agora me su-
. cede na L.S.E.
Eu voltara da Nova Zelândia em luta com muitos problemas
em aberto, alguns, questões puramente lógicas, outros, questões rela­
tivas ao método, inclusive ao método das Ciências Sociais; e, estando
eu agora numa escola de Ciências Sociais, pareceu-me que estas últi­
mas questões deveriam ter — por algum tempo — prioridade sobre
questões de método no campo das Giênciais Naturais. Não obstante,
, ias Ciências Sociais nunca exerceram sobre mim a mesma atração
áque às Ciências Naturais teoréticas. Em verdade, a única Ciência
"Rociai que me despertava interesse era a Economia. Entretanto, à
Semelhança de muitos que me haviam precedido, atraía-me. a idéia
y=\de cpmparar as Ciências Sociais com as Naturais do ponto de vista
dos métodos de que se valem, o que era até certo ponto continuar o
X: trabalho feito em The Poverty.
;JJma das idéias pof mim examinadas em The Poverty dizia
:e|peito à influência da predição sobre o evento predito. A isso eu
4 ^ iá 'r chamado “ efeito de Édipo” , porque o oráculo desempenhou
relevante .papel na seqüência de acontecimentos que levaram ao
cumprimento de sua profecia. (Tratava-se tâmbém de uma alusão'
aos psicanalistas, que se haviam mostrado estranhamente cegos para
esse fato interessante por mim apontado, embora o próprio Freud
admitisse que os próprios sonhos sonhados por pacientes eram colo­
ridos ' artiiúde pelas teorias de seus analistas; Freud chamava-os "so­
nhos obsequiosos” .) Por algum tempo* julguei que a existência do
efeito de Édipo fosse capaz de seryir como critério de distinção entre
as Ciências Naturais e as Sociais. Contudo, na Biologia — e mesmo
na Biologia molecular — as expectativas desempenham um papel no
realizar aquilo que é esperado. De qualquer modo, minha refutação
da idéia de que isso pudesse servir como marco distintivo entre
Ciência Natural e Ciência Social constituiu-se no germe de ineu
artigo “ Indeterminism in Quantum Physics and Classical Physics” l89.
Para chegar a esse ponto, foi preciso, entretanto, que decorresse
algum tempo. O primeiro artigo por mim publicado após o retomo
à Europa originou-se do gentil convite que recebi para colaborar
num simpósio sobre “ Por que os cálculos da Lógica e da Aritmética
são aplicáveis à realidade?” 190, que se realizou durante uma reunião
conjunta da “ Aristotelian Society” e da “ Mind Association” , em
Manchester, em julho dç 1946. Encontro interessante^ onde fui
recebido com a maiòr cordialidade pelos filósofos ingleses, e especial­
mente por Ryle com interesse considerável. N a verdade, meu Open
Society merecera boa acolhida na Inglaterra, acolhida que ia além
do que eu poderia esperar; mesmo um platonista que detestou o
livro, comentou a “ fertilidade das idéias” ali expostas, dizendo que
“ quase todas as sentenças nos dão algo em que pensar” — o que,
naturalmente, me agradou mais do que uma concordância fácil*
E, apesar disso, não havia dúvida de que meus modos de pen­
sar, meus interesses e os problemas de que me ocupava eram intei­
ramente avessos aos de muitos filósofos ingleses. Não sei por. que
isso ocorria. Em alguns casos, talvez se devesse a meu interesse pela
Ciência. Em outros, talvez se devesse à minha atitude crítica em
relação ao positivismo e à filosofia da linguagem, o que me lembra
o encontro que tive com Wittgenstein, sobre quem eu ouvira os
relatos mais variados e absurdos.
No início do ano letivo de 1946-47, o secretário do “ Clube de
Ciências Morais” de Cambridge, convidóu-me a fazer uma expo­
sição acerca de alguma “ charada filosófica” . Estava claro que se
tratava de uma formulação devida a Wittgenstein, por trás da qual
estava a sua tese filosófica de que, em Filosofia, não existem proble-

130
ruas genuínos, mas tao-somente charadas lingüis ticas: - Hljna vez que
essa tese estava entre minhas aversões prediletas, decidii?fàlar' a prtK
põsito de “ Existem .problemas filosóficos?” Comecei meu .trabalho
(lido na sala de R. B. Braithwaite, no “ King’s College” , no dia -Í26
de' outubro de 1946) exprimindo surpresa por ter sido convidado,
pelo secretário para falar “ a propósito de alguma charada filosófica’
e assinalei que, negando implicitamente a existência de problemas
filosóficos, quem fizera o convite tomara posição, talvez inadverti­
damente, num debate gerado por um genuíno problema filosófico.
Desnecessário dizer que, com isso, eu pretendia apenas fazer
uma introdução provocadora e leve do meu tema. Mas, a essa
altura, Wittgenstein pulou da cadeira e disse, alto e, ao que me
pareceu, em tom zangado: “ O Secretário fez exatamente o que lhe
foi dito que fizesse. Observou instruções minhas.” Não dei atenção
e prossegui; mas, como ficou claro, alguns dos admiradores de
Wittgenstein, ah presentes, .deram atenção às suas palavras. e, em
conseqüência, tomaram miriha observação, que pretendia , ser uma
brincadeira, como uma queixa sériá contra o Secretário. E assim
parece ter entendido o pobre Secretário, como se vê da ata em que
ele refere o incidente, acrescentando em nota de pé de página:
“ Essa foi a forma de convite usada pelo Clube.” m
„ Fui adiante, apesar de tudo, para dizer que, se eu não acre­
ditasse na existência de problemas filosóficos genuínos, eu não seria
por certo filósofo; e que ò fato de muitas, talvez todas as pessoas
acolherem irrefletidamenté soluções insustentáveis para muitos, tal­
vez para todos os problemas filosóficos, propiciava a única justifi­
cação para ser-se filósofo. Wittgenstein ergueu-se de novo, interrom­
peu-me, e falou longamente acerca de charadas e da inexistência
de problemas filosóficos. Em momento que me pareceu adequado,
ihterrompi-o, apresentando uma lista de problemas filosóficos, por
mim preparada, onde figuravam questões como “ Conhecemos as
coisas átravés de nossos sentidos?1’, “ Há conhecimento por indução?” .
Wittgenstein rejeitou essas indicações, dizendo tratar-se de questões
-lógicas e não filosóficas. Mencionei então o problema de saber se
ékistem infinitos potenciais ou talvez mesmo atuais, o que ele con­
siderou uma questão de Matemática. (Isso consta da ata.) Aludi,
erfi ’ seguida, aos problemas ’ morais e ao problema da validade das
regras' morais. A essa altura, Wittgenstein, que estava sentado junto
à^areira e brandia nervosamente o atiçador de fogo, que por vezes
1 usavamcomo batuta de maestro, para sublinhar suas afirmações, lan-
çôufmev.um desafio: “ Dê-me um exemplo de regra moral.” Res*
pondii “ Não ameaçar conferencistas visitantes com atiçadores de
fògo /^-Wittgenstein, com raiva, atirou longe o atiçador e precipi-
tóu^se :pâra fora da' sala, batendo a porta atrás de si.
O incidente me aborreceu muito., .Confesso que fui a Gambrid-
ge com a esperança de obrigar Wittgenstein ã defender a idéia de
que existem problemas filosóficos genuínos e com o propósito de
contestá-lo quanto a este ponto. Jamais* porém, pretendi irritá-lo;
e foi uma surpresa ver que ele se mostrava incapaz de compreender
uma brincadeira. Mais tarde, dei-me conta de que ele percebeu a
brincadeira e foi isso que o ofendeu. Entretanto, embora desejasse
tratar a questão em tom leve, eu falava seriamente •— talvez mais
seriamente que o próprio Wittgenstein, pois ele não acreditava que
existissem problemas filosóficos genuínos.
Depois da saída de Wittgenstein, travou-se debate agradável,
em que teve destacada participação Bertrand Russell. E, mais tarde,
Braithwaite fez-me um cumpriment^f (cumprimento talvez dúbio) ,
dizendo ter sido eu a única pessoa capaz de interromper Wittgens­
tein da maneira como Wittgenstein interrompia a todos.
No dia seguinte, no mesmo compartimento do trem que me
levava de volta a Londres, estavam dois estudantes sentados um
defronte do outro, o rapáz a ler um livro, e a moça a ler uma revista
de esquerda. De repente, a moça perguntou: “ Quem é esse Karl
Popper?” E o rapaz respondeu: “ Jamais ouvi falar dele.” Assim
é a fama. (Descobri mais tarde que a revista fazia um ataque a The
Open Society.) :
A reunião do Clube de Ciências Morais tornou-se quase imedia­
tamente o tema de rçlatos despropositados. Dentro de tempo sur­
preendentemente curto, recebi uma carta da Nova Zelândia per­
guntando se era verdade que eu e Wittgenstein havíamos trocado
golpes, ambos armados com atiçadores de fogo. Mais próximo de
nós. os relatos eram menos exagerados, mas não muito menos.
O incidente deveu-se, em parte, *a meu hábito de, sempre ique
aceito falar, esforçar-me por tirar de; minhas concepções conseqüên­
cias que espero sejam inaceitáveis para aquele determinado audi­
tório. Com efeito, acredito , que, para uma palestra, só há uma
desculpa: desafiar. Só nesse sentido o falar pode avantajar-se ao
escrever. Foi por isso que escolhi o tópico já referido, além do que
a controvérsia com Wittgenstein tocava em questões fundamentais.
Afirmo que existem problemas filosóficos; e chego até a afirmar
que solucionei alguns. Sem embargo, como tive oportunidade de
escrever em outra ocasião, “ aparentemente, nada é menos desejado
que uma solução simples para um velho problema filosófico”.182 A
concepção de muitos filósofos . ;;especialmentej a o ; que,, parece, dos
wittgensteinianos é a de que, sendo solúvel, o problema não terá sido
filosófico. Há, naturalmente,, outros modos,,de .evitar o , escândalo de
um problema resolvido. Pode-sç. dizer,que se ;trata de^lus^nou .que
o problema permanece insolvido. :£,;rafmalíjdeG 'pro­
posta deve estar errada, não é .verdade^fc(Ssto.us pronto ^a^ reconhecer
qué, muito freqüentemente, esta atitude-;é-mais, ..constrytiya-. que- a
excessiva concordância*) ^
' s * ■ ' ••
Uma das coisas que naquele teíüpô^^-eü^ còhsideíava^ difícil de
entender era a tendência que tinham osfilósbfds' ingleáesdef namo­
rar as epistemologias não-realistas: o fénômehismo/vo} positivismo, o
idealismo de Hume, de Berkeíey ou de MacHl ( “ monismo/neutró” ) ,
o sensismo, o pragmatismo; esses brinquedos :de -filósofos eram/~na
época, mais apreciados que o realismo. Depois de uma guerra -cruel,
que se prolongará por seis anos, essa atitude era surpreendenteslei
admito:que.me parecia um tanto “ antiquada5’ (para Usar iüina;pálàvra
de feição historicista). Assim, ao ser convidado em 1946-47 pará. léf . üm
trabalho em Oxford, apresentei um com o título de “ UmasRèfu^
tação do Fenomenismo, do Positivismo, do Idealismo e do Subjeti-
vismo” . Nq debate, a defesa das posições que eu havia atacado ;fOi
tão frágil que causou pouca impressão. Sem embargo, os frutos da
vitória (se os houve) foram colhidos pelos filósofos da linguagem
comum, pois a filosofia da linguagem passou, dentro em pouco, a
dar apoio ao senso comum. Em verdade, suas tentativas de aderir
ao senso comum e ao realismo constituem, ao meu ver, o aspecto
mais favorável da Filosofia da linguagem, comum. Entretanto, .o
senso comum, embora muitas vezes acerte (especialmente em seu
realismo), nem sempre está correto. E exatamente quando:ele falha
é que as coisas passam a tornar-se interessantes. Evidencia-se, nes­
sas ocasiões, . que estamos terrivelmente necessitados de esclareci­
mento. São também essas as ocasiões em que os usos da linguagem
comum não nos podem valer. Em outras palavras, a linguagem
. comum, e com ela a filosofia da linguagem comum, é conservadora. Ê
em questões de intelecto (no que se opõem, talvez à Arte ou a
.Política) nada é menos criador e mais chão do que o conservadorismo.
Ao que me parece, Gilbert Ryle deu a tudo isso uma formulação
muito adequada: “ A racionalidade do homem consiste não em não
ser, inquiridor em questões de princípio, mas em nunca deixar de ser
inquiridor; não em aderir a axiomas admitidos, mas em nada aceitar
eorao assentado.” 193
27:i Priíaeiros trabalhos na Inglaterra
Embora eu tenha conhecido- a aflição e a tristeza, como acon­
teceu com todos, não creio que tenha tido, como filósofo, sequer
uma hora infeliz, desde que retornei à Inglaterra. Trabalhei muito
e muitas vezes enfrentei dificuldades insolúveis. Mas tenho sido
muito feliz em encontrar problemas novos, enfrentá-los e conseguir
algum progresso. Isso, tenho parà mim, é a vida ideal. Parece-me
infinitamente superior à vida de mera. contemplação (para não falar
da vida de divina autocontemplação) ^ne Aristóteles apontava como
a melhor. É uma vida de inquietúdes, mas, em grande proporção,
auto-suficiente — autárquica, no sentido de Platão, embora, como
é claro, vida .alguma possa ser auto-suficiente. ‘ À- minha mulher e a
mim não agradava viver em Londres; entretanto, desde que nos
mudamos para Penn, em Buckinghamshire, em 1950, tenho sido,
segundo creio, o mais feliz dos filósofos que conheci.
Isso não é sem importância para meu desenvolvimento intelec­
tual, pois tem ajudado imensamente o meu trabalho. E cumpre
levar em conta a realimentação: uma das grandes fontes de felici­
dade é conseguir, aqui e ali, um vislumbre de um aspecto novo do
incrível mundo em que vivemos e do incrível papel que nele nos
cabe.
Antes de nos mudarmos para Buckinghamshire, meu trabalho
estava principalmente voltado para a “ dedução natural” ., Eu o tinha
iniciado rça Nova Zelândia, onde um de meus alunos de Lógica,
Peter Munz (hoje professor de História na Universidade de V itó ria ),
muito me estimulou, graças à sua compreensão e à sua excelente
capacidade de dar desenvolvimento independente a um argumento 194.
(Ele não se recorda do fato.) Depois de minha volta à Inglaterra,
discuti . o assunto com Paul Bernays, o teorizador dos conjuntos e
certa vez falei dele a Bertrand Russell. (Tarski não estava interessa­
do, o que eu compreendi miiito bem, pois ele tinha idéias mais im­
portantes com que se ocupar; mas Evert Beth manifestou real inte­
resse pela questão.) Trata-se de uma teoria elementar, porém estra­
nhamente bela — muito mais bela e simétrica do que as teorias
lógicas como eu jamais conhecera.,
O interesse que inspirou essas investigações nasceu de um artigo
de Tarski, “ On the Concept of Logical Consequence” 195 que eu o
ouvira ler num congresso realizado emyParis no outono.de 1935. Esse
artigo e, em particular, certas dúvidas nele expressadas196, levaram-
-me a dois problemas: (1) até que ponto é possível formular a Lógica
em termos de verdade ou deduzibilidade, ou seja, transmissão de

134
verdade e retransmissão de falsidade? ; e, ( 2 ). até,que pon to ,é possível
caracterizar as constantes lógicas de uma linguagem-objeto como
símbolos cujo funcionamento pode ser inteiramente descrito em ter­
mos. de dedüzibilidade (transmissão de verdade) iMuitos:prqblemas
brotavam desses dois e de minhas tentativas..,de írpsolye^los,^7. V:Con­
tudo, por. fira, apos varios anos d e .'esfo£çò^,desi^£;.râ0j ^
engano que havia cometido, apesar de nao -jserj^is^iòj- éss^^iengànó,
e ;apesar de. ao corrigí-lo, eu ter sido levado - a - álguns;::resultados
interessantes que, todavia, jamais publiquei 1S8. , a. ., ^
Em companhia de Fritz Waísmann, fui à Holanda-•em 1946,
convidado a participar de um congresso da Sociedade.. ^Internacional,
de Significs. Foi esse o começo de uma estreita ligação ^com a ;Ho-.
landa, ligação que se prolongou por vários anos. (Anteriormente,
eu havia sido visitado na Inglaterra pelo físico J. Çláy5 qüe ^lérá
minha Logik der Forschung e com quem èu compartilhava, ^muitas
maneiras de ver.) Foi nessa ocasião que pela primeira vez encontrei
Brouwer, o criador da interpretação intuicionista da Matemática,
e Heyting, seu mais distinto discípulo, A. D. De Groot, o psicólogo: e
metodologia ta, e os irmãos Justus e Herman Meijer. Justus muito
se interessou pela The Open Society e, quase de imediato, iniciou ò
preparo da primeira versão do livro para a língua holandesal98.
Em 1949, fui feito professor de Lógicã e Método Científico na
Üníversidade de Londres. Talvez a título de reconhecimento, eu
usualmente iniciava minhas exposições acerca do método científico
explicando porque tal assunto não existia — era mais inexistente do
que alguns outros assuntos inexistentes. (Contudo, eu não me irepètia
"muito em minhas exposições; nunca utilizei mais de uma vez as
mesmas notas de aula.)
■' As pessoas còm quem mais aprendi nesses primeiros tempos
■vividos na Inglaterra foram Gombrich, Hayek, Mêdawar e Robbins
nenhum deles filósofo; havia também Terence Hutchinson, que
^inha escrito com grande penetração a respeito dos métodos da
' fÈconomia. Mas aquilo de que mais eu sentia falta, na época, era
■'poder conversar longamente com um físiCo, embora eu houvesse
/reencontrado Schrpdinger em Londres e tivesse uma proveitosa con­
versa, com Arthur Marcfc em Alpbach, no Tirol, e outra com Pauli,
.r.enx Zurique.
28. Prim eira visita aos Estados Unidos da América.
•w>.:>Eficonlro •'co m E in stein V.
• Em 1949, recebi convite para proferir as Conferências William
James, em Harvard. Esta foi a razão da minha primeira visita aos
Estados Unidos da América e muito influiu sobre minha vida. Quan­
do recebi a inesperada carta-convite do Professor Donald Williams,
imaginei que houvesse engano, imaginei que me tivessem tomado
por Joseph Popper-Lynkeus.
Eu desenvolvia, na ocasião, três trabalhos: uma série de artigos
sobre dedução natural, várias axiomatizações1 da probabilidade e a
metodologia da Ciência Social, O único assunto que me pareceu
adequado para uma série de seis ou oito conferências foi o último
e, assim, dei às exposições, o título de “ O Estudo da Natureza e da
Sociedade” .
Embarcamos em fevereiro de 1950. Dos . membros do Departa­
mento de Filosofia de Harvard, eu só conhecia Quine. Agora, pas- .
sava a conhecer C. I. Lewis,. Donald Williams , e Morton White.
E voltei a encontrar, pela primeira vez depois de 1936, velhos ami-
gos; o matemático Paul Boschan, Herbert Feigl, Phillip Frank (que
me apresentou ao grande físico Percy Bridgman, de quem logo me
tornei amigo), Julius Kraft, Richard Von Mises, Franz Urbach,
Abraham Wàld e Victor Weisskopf. Conheci também Gottfried von
Haberler que, segundo soube depois. por Hayek, foi, aparentemente,
o primeiro economista á se interessar por minha teoria do método; e
conheci também George Sarton e I. Bernard Cohen, historiadores
da Ciência e James Bryant . Conant, reitor de Harvard.
Gostei dos Estados Unidos da América desde logo, talvez por­
que tinha algum preconceito contra,- eles. Havia ali, em 1950, um
sentimento de liberdade, de indepçjadência pessoal, que não existia
na Europa e que, pareceu-me, era álnda inais forte do qúe na Nova
Zelândia, o país mais livre que pudé conhecer, Eram os dias iniciais
do macartismo — do hoje parcialmente esquecido cruzado anticomu­
nista, Senador Joseph McCarthy mas, a julgar pela atmosfera
geral, supus que o movimento, que se alimentava do medo, terminaria
por destruir-se a si próprio. Voltando à Inglaterra, tive, com Ber-
trand Russell, uma discussão acerca do assunto.
Reconheço que as coisas se desenvolveram de maneira muito
diferente. “ Isso não acontecerá aqui” é sempre errado: uma dita-?
dura pode instalar-se em qualquer i lugar.
O maior e mais duradouro impacto recebido, durante a visita
foi o causado por Einstein. Convidado a . ir . a Princeton, li, num
seminário, uma artigo intitulado “ Indeterminismp na^Fisica Quân­
tica e na Física Glassica’ , esboço de trabalho muito inais longo 2°°.
Nos debates, Einstein disse umas poucas palavras de concordância
e Bohr estendeu-se; em considerações (em verdade,^^té^jfícáírnos
só os dois na sala), afirmando, com'recurso, ao i ^ o s o * ^ ^ im e ft íò ;
dás duas fendas, que a situação que se apresentayá„vHp. ,jcampo da"
Física Quântica era completamente nova e '
com a ’ da Física classica. O fato de Einstein e HòhtViíéreni^ coiiipa-
irecido a minha palestra foi, a meu ver, ò rriaior, cumprimento 'que
já recébi. '''' ’’ ; '.‘v.
Eu conhecera Einstein antes dessa palestra,, ,atravésKr derrPàul
Oppenheim, em cuja- casa estávamos hospedados. E, .conquantòvieu
relutasse muito em tomar o tempo de Einstein, ele fez-mé.. procurá-lo
de novo. Ao todo, encontramo-nos três vezes. O principal/;tópico :de
nossa conversa foi o indeterminismo. Tentei persuadi-lo,ú&^abando^
nar o seu determinismo, que q levava a conceber o mundoVcoiho um
universo compacto, parmenídico, de quatro dimensões, onde a mu-;
dànça não passava de uma ilusão humana, ou quase isso. (Ele
. concordou 'com que essa havia sido sua visão e, em meio à conversa,
chamei-o de “ Parmênides” .) Sustentei que se os homens e outros
orgáhisraos podem ter a experiência da mudança e da genuína
süCessão no tempo, então isso era real e não poderia ser invalidada
:0 ; : por uma teoria do sucessivo acesso a nossa consciência de porções
- dé ;tèmpo que, em certo sentido, coexistem, pois esse tipo de “ acesso
^ ^ ^X^orisc^ nc^a” teria precisamente o mesmo caráter daquela sucessão
de-jmudanças, qüe a teoria procura rejeitar. Invoquei também alguns
^;-U;;.; aicgUmentos biológicos óbvios:, a evolução da vida e a maneira de os
íSC^i/otgânismos se comportarem, especialmente no caso dos animais su-
l^^^fâdtícres, nao podem ser verdadeiramente compreendidos com base
qualquer teoria que irilerprete o tempo como se este fosse algo
^^~S§ífíelhante a uma outra coordenada (anisotrópica) do espaço. Afi-
^ í v n á & d e ■contas, nãò temos experiência, de. coordenadas espaciais. E
b isso; porque elas simplesmente nao existem: devemos acautelar-nos
^ ^ í jGpiçbraífa. hipòstasiá-lasj elas são construções quase inteiramente arbi-
llplj: tr^áFi^s?^.: Por.- que teríamos, então, a experiência da coordenada, de.
''1^'tèitípo -— sem dúvida, a apropriada para o nosso sistema inercialt=—r.
p|i^ãp^j 5enas tcomo aigo real, mas também como algo absoluto, ou^seja>.
^independente de tudo quanto podemos fazer,^excetò^;
‘l^o^^iGafí- nosso. .estado de movimento) ?
v A realidade do tempo e da mudança parecia-me o cerne do rea­
lismo. (Continuo a ver as coisas desse modo, e assim elas têm sido
vistas por alguns idealistas que se opõem ao realismo, como Schrõ-
dinger e Gõdel.)
Quando visitei Einstein, o volume Einstein, editado por Schilpp
e integrado em The Library of Living Philosophers, acabava de ser
publicado; o volume continha uma passagem, hoje famosa, de Gõdel,
que utilizava, contra a realidade do 'tempo e da mudança, argu­
mentos colhidos nas duas teorias da>urelatividade elaboradas por
EinsteinZ01. Einstein aparecia no livio como alguém decididamente
favorável ao realismo. E ele discordava, sem dúvida, do idealismo
de Gõdel; ele sugeria, em sua réplica, que poderiam ser “ rejeitadas,
por motivos de ordem física” , as soluções godelianas das equações
cosmo lógicas.
Procurei ainda apresentar ao Einstein-Parmênides, tão vigorosa­
mente quanto possível, minha convicção de que se deveria tomar
clara posição contra qualquer concepção idealista do tempo. Bus­
quei também mostrar que, embora a concepção idealista fosse com­
patível tanto com o determinismo quanto com o indetermínismo,
importava tomar .posição a favor de um universo "aberto” — uni­
verso em que o futuro de maneira alguma estivesse contido no pre­
sente ou no passado, conquanto estes lhe imponham severas restri­
ções. Argumentei que não devemos ser governados por nossas teorias,
até o ponto de facilmente abandonar o senso comum. Einstein não
queria abandonar o realismo (e a favor deste os argumentos mais
fortes são Ds que se fundam no senso comum), mas penso que estava,
como eu também estava, pronto a admitir que poderíamos, um dia,
ver-nos forçados a repudiá-lo, se argumentos poderosos (do tipo dos
de Gõdel, digamos) se erguessem contra ele. Argumentei por issó
que, no concernente ao tempo, e também ao índeterminismo (ou
seja, ao caráter incompleto da Física), a situação era exatamente
semelhante à situação relativa ao realismo. Recorrendo à maneira
que tinha Einstein de expressar-se em termos teológicos, eu disse:
se Deus tivesse querido colocar todas as coisas no mundo desde o
começo, Eie teria criado um universo sem mudança, sem organismos
nem evolução, sem o homem e sem a experiência que o homem tem
da mudança. Aparentemente, entretanto, Ele achou que um uni­
verso vivo, com acontecimentos inesperados até para Ele próprio;
seria mais interessante que um universo morto.
Procurei também deixar claro a Einstein que tal posição não.
implicaria em perturbar a atitude crítica por ele tomada diante da%
afirmativa, feita por Bohr, de que a Mecânica Quântica era com-

138
pleta; pelo contrário, tratava-se de uma -posição para -.a quai sempre
é possível levar mais adiante os nossos projbIemas e que, - de modò
geral, cabia esperar que a Ciência.^seç. revelasse incompleta; . (neste
ou naquele sentido).
Com efeito, sempre podemos continuaríVcórn.? ós nossos por^quês.
A despeito de acreditar na verdade
ditava que ela proporcionasse uma explicação1 última .'te,- pí&EÍsáSsoí
tentou apresentar uma explicação teológica. iHa^íaçâo^ííàiüdistânciai
Leibniz não acreditava que o impulso meeâmGO|d(íaçãoíáíadistânCiá‘‘'
-zero) fosse a última palavra a dizer e buscava^umartexpHcàiçã^ièiii
termos de forças de repulsão, explicação que,;^osteriç>^én|;é,fívèifc>
a ser dada pela teoria elétrica da matéria. Uma ^explicação^ é algo
sempre incompleto203: sempre podemos suscitar um outro <rpor ;quê..;-
E esse novo por quê talvez leve a uma nova teoria, que.^ não,^:só:
“ explique” , mas também corrija a- anterior204. :
Esse é o motivo por que é possível enxergar a evolução, dà
Físíca em termos de um interminável processo de correção e de:
maior aproximação. E ainda que venhamos a alcançar ^uíh..^eStág;iò•■■.•'1'
em que nossas teorias não mais estejam sujeitas a correções,: pela
circunstância de serem simplesmente verdadeiras, elas continuarão
a não ser completas — e saberemos disso. Pois viria à baila o famoso
teorema da incompletude, de Gõdel, e, tendo em vista o fundamento
matemático da Física, far-se-ia necessária, na melhor das hipóteses,
uma seqüência infinita dessas teorias verdadeiras para dar resposta
aos problemas que, em qualquer teoria dada (formalizada), seriam
indecidíveis. ” ••
Essas considerações não provam que o mundo físico objetivo
seja incompleto ou indeterminado: mostram apenas a essencial7in­
completude de nossos esforços2043. Mostram, além disso, que é reiúòta
•a possibilidade (se é que essa possibilidade existe) dè a Ciência vir .á
alcançar um estágio em que possa oferecer fundamento real à con­
cepção de que o mundo físico é de cunho determinista. Por; que não
aceitarmos, então, o veredito do. senso comum — pelo menos até
.que estes argumentos sejam refutados ?205
Tal a substância do argumento com que procurei converter o
r Einstein-Parxnênides. Além disso, discutimos, de maneira mais breve,
:problemas como os do operacionalismo206 e do positivismo, os posi­
tivistas e o estranho temor que experimentam diante da Metafísica,
-a,verificação em face do falseamento, a falseabilidade e a simplici-
dadeiK Surpreendeu-me saber que Einstein pensava que tinha sido
universalmente aceitas minhas sugestões concernentes à simplicidade
(feitas &ín:fEogik der Forschung) , de $orte que todos soubessem que
•èrá&ipreférivel a teoria mais. simples,Sem razão de seu maior poder
de excluir- estados de coisa possíveis; ou seja, em razão de sua me­
lhor testabilídade 201.
Outro ponto discutido foi Bohr e a complementaridade -— topi-
co inevitável depois do que Bohr dissera durante os debates da noite
anterior; e Einstein repetiu, com os mais vigorosos termos, o que ele
havia assinalado no livro de Schilpp: que, a despeito dos maiores
esforços, nao conseguia enténder o que Bohr pretendia dizer quando
falava em complementaridade208.
Lembro-me também de algumas observações mordazes que Eins-
tein fez acerca da trivialidade ( do ponto de vista de üm físico) da
teoria da bomba atômica, o que me; pareceu um tanto exagerado, .
considerando que Rutherford havia julgado impossível a utilização
da energia atômica, -• Talvez essas observações estivessem algo mati­
zadas pela sua aversão à bomba e tudo quanto se relacionava a ela,
porém não há dúvida' de que^ele tinha perfeita consciência do que
dizia e sem dúvida estava, no essencial, certo.
É difícil transmitir a impressão ('causada pela personalidade de
Einstein: Talvez se possa descrevê-la . dizendo que, ao lado dele, as
pessoas se sentiam imediatamente à 1vontade. Era impossível nao
aceitá-lo3 deixar de implicitamente confiar em sua retidão, bondade,
bom senso, sabedoria*. e~ simplicidade quase infantil. Diz alguma coisa
em favor do murfdo ;e dos. Estados Unidos da América o fato de um
homem tão desligado do ‘ riiundo ter nao apenas sobrevivido, mas ter
sido apreciado e glorificado.
Durante a visita à Princeton, voltei a encontrar Kurt Gõdel e
discuti çom ele a sua contribuição para o livro sobre Einstein e
alguns aspectos da possível significação de seü teorema da incom-
pletude para a Física. ■. '

Após a primeira visíta aos Estados Unidos da América foi que ;


nos mudamos para Penn, em Buckinghamshire, que era, então, um íi
lugarzinho tranqüilo e belo. Ali pude trabalhar meihòr do que
em qualquer ocasião anterior.

29. Problemas e teorias

Já em 1937, quando eu procurava entender a famosa “ Tríade ^


dialética” [tese: antítese: síntese) } interpretando-a como uma forma ‘í
do metodo de tentativa e eliminação de erro, sugeri que toda dis- [í
cussao científica partisse de um problema- (i?x.) , aoqu al .se oferècesse
uma espécie de solução prpvisórâ,.vuig& Uoria-tentativa^ ( £ 77) *. pas­
sando-se depois a criticar a soIução, com rvistas à ír/zmínfZftío do .erro
{E E ) ; e, tal como no caso da dialctÍca, es>se procèsso se renpyaria
a si mesmo, dando surgimento a novos
Posteriormente, condensei o. exposto '^rio;segui^ecvçsqupmaí
P t . —» T T EE'
esquema que freqüentemente usei em conferênciaésv^lc-íiík; iV+vwh
Eu gostava de resumir esse esquema, dizendo q u e a c i ê n c i a ç o -
meça com problemas e termina com problemas:■•■■:Ehtrètàntò}-\èu’'sem^-
pire me sentia algo insatisfeito com esse sumário, .^isl^^qiiproblemà;^
científico surge, por sua vez, num contexto teoréti(^/t%^.êi^J^^idõ---:-
de teoria- Por isso, eu costumava dizer que podemos tomar o esqjaemã
a qualquer altura: começar com T T 1 é terminar com
EEr e terminar com E E Z. Todavia, acrescentava éu hàbitüàlríientè,
em geral o desenvolvimento teorético tem como ponto de partida Um
problema prático; e, apesar de toda formulação de um prdblemà
prático levar inevitavelmente à teoria, o problema prático, èm si
mesmo, pode ser apenas “ sentido” : pode ser “ pré-lingülstitib” ; nós
— ou üma ameba -— talvez sintamos frio ou experimentemos qual­
quer outra irritação, e isso nos induzirá talvez, ou induzirá a arriêba,
a movimentos exploratórios — quiçá, movimentos teoréticos —- paíã
nos livrarmos da irritação.
A despeito disso, a interrogação: “ O que surge primeiro, o pro­
blema ou a teoria?’* não tem resposta fácil210. Na verdade, JJÜde
verificar que se trata de questão inesperadamente promissora e difícil.
Com efeito, os problemas práticos aparecem porque alguma
coisa correu mal, em razão de algum acontecimento com qúe não
se contava. Isso quer dizer, entretanto, que o organismo,! seja;; hòmcm
pu seja ameba, ajustou-se previamente (e, talvez, inadequadamente) ao
meio, desenvolvendo álguma expectativa ou alguma outra estrutura
.(um órgão, digamos). T al ajustamente é ã;iorm a pré-consciente da
' elaboração de uma teoria; e como todo problema prático aparece
com referência a' algum ajustamento desse tipo, os problemas pra­
ntos, estão, em essência, penetrados de teoria.
Chegamos, assim, a um resultado que tem conseqüências de
|urpreendente interesse: 1 as primeiras teorias — isto ê, as primeiras
tsoluçjões exploratórias para os problemas — e os primeiros problemas
rfep#mt de alguma forma, ter. surgido ao mesmo tempo.
• ' outras conseqüências:
; Estruturas orgânicas e problemas aparecem ao mesmo tempo.
Ou; em outras palavras, estruturas orgânicas são estruturas que-in-
corporam-teoria, bem como estruturas que-resolvem-problemas.
Mais tarde (especialmente na seção 37 desta Autobiografia),
voltarei a ocupar-me da Biologia e da teoria evolucionista. Aqui,
assinalarei apenas que há apenas algumas questões sutis em torno
das várias distinções que se estabelecém entre, de um lado, pro­
blemas formulados e problemas teoréticos e, de outro, problemas
apenas “ sentidos” e problemas práticos.
Dentre essas questões, estão' as seguintes:
(1) A relação entre um problema formulado e a solução (explo­
ratória) formulada pode ser vista, em essência, como uma rçlação
lógica.
(2) A relação entre um problema “ sentido” (ou um problema
prático) e uma solução é, entretanto, uma relação fundamental da
Biologia. Talvez se revista de importância para a descrição do com­
portamento de cada; organismo, ou para a teoria da evolução de
uma espécie Ou filo. (Os problemas, em sua maior parte — e,
talvez, em sua totalidade — são mais do que “ problemas de sobre- .
vivência” : são problemas concretos, suscitados por situações muito
específicas.)
(3) A relação entre problemas e soluções desempenha, evidente­
mente, papel importante rias histórias dos organismos individuais,
especialmente na dos organismos humanos; e desempenha um papel
particularmente importante na história das realizações intelectuais,
como a História da Ciência. Toda história deve ser, sugiro eu, uma
história de situaçÕes-problema.
(4) De outro lado, essa relação, ao que parece,' não desempe­
nha nenhum papel na história da evolução inorgânica do universo
ou de suas partes inorgânicas (na história,; digamos, da evolução das
estrelas ou da “ sobrevivência” dos elementos estáveis ou dos com­
postos estáveis, e na história da conseqüente raridade dos instáveis).
É igualmente de muita importância úm ponto algo diverso:
(5) Sempre que dizemos que um ■organismo tentou resolver um
problema P l5 estamos apresentando um^conjectura histórica mais ou
menos arriscada. Conquanto seja uma conjectura histórica, é pro­
posta à luz de teorias históricas; ou biológicas. A conjectura é .a
tentativa de resolver um problema histórico, P (P 1) digamos, que é,
muito diferente do problema P x atribuído pela conjectura ao orgá-

142
nismo em causa211. Assim, é possível que um cientista como- Kepier
. tenha julgado haver resolvido um problema ao passo .que o. his­
toriador da Ciência tentará resolver (^ 11) : “ K.epler
resolveu o problema P 1 ou um outro pròbÍémá? :Qüâí uerá; á rèal
situação-problema?” E a solução dó p rob lèii^^^^?i:)^^od e Vsér
(como penso que seja) a de Kepler resolveu7Cii^7í^rpbÍem^^êni!
diverso daquele que acreditou haver retômdÒ’. :':# --^ •
No nível animal, a solução sempre é, claro/^ conjeGtural
ta-se de uma construção de elevado grau teoréfíGÒí^ \ !^\^jattãJs.ej;: ‘
dá quando um cientista conjectura, a propósito d e .u m :.^ r-y
vidualizado ou de uma espécie (a propósito, digámOS,;.;de^úm;ímicro
bio tratado com penicilina) que o animal ou'-á es^éde-v^e^çõui^.^
uma solução (a de tornar-se, digamos, resistente à penicilina) , para ::
o problema que está enfrentando. Essa maneira de colocaiiaíqüest^fe;:
poderá parecer metafórica, e mesmo antropomórfica, mas ^alyêzJJaaq
sejà: talvez simplesmente mostre que tal era a situação dò nièio qué,y -;
se a espécie (ou população de organismos) nã<* tivesse mudado dè ; ;
certo modo (alterando, por exemplo, a distribuição de süa? popula- v
çao de genes), sobreviriam dificuldades para ela! .''"'.y —
Dir-se-á que tudo isso é óbvio: a maioria de nós sabe que. ,é;
difícil formular claramente um problema e que, freqüentes vezes,
falha-se na tentativa. Os problemas não são fáceis de identificar,,
ou descrever, a menos, é claro, que algum problema adrede preparado,
nos seja proposto, como se dá num exame; ainda assim, entretanto,,
podemos achar que o examinador não formulou bem o problema e
que sabemos formulá-lo melhor. ■Déssa maneira, surge, com muitís­
sima freqüência, o problema de formular o problema — e o problema
de saber se era realmente esse o problema a ser formulado.
Assim, os problemas, inclusive os problemas práticos, são sem­
pre teóricos. As teorias, de outro lado, só podem ser entendidas
coma tentativas de solução de problemas e em relação, com as situa-;
:- ções-problema.
Com o objetivo de evitar mal-entendidos, desejo acentuar que
a& relações aqui discutidas entre problemas e teorias não são relações
; . entre as palavras “ problema” e “ teoria” : não me preocupei com usosJ
ou conceitos. Preocupei-me com relações entre, problemas e teorias
^ especialmente as teoria^ que precedem os problemas: problemas
tjue ^surgem das teorias ou com elas nascem; e teorias que são tenta-.,
tivas de solução de certos problemas. ' "í
ciíníí-Schxôdm ger
Foi; ém 1947 ou 1948 que Schrõdinger me avisou de que estava
chegando a Londres e eu o encontrei na casa de campo de um de
seus' amigos. A partir daí, mantivemos contacto regular, através
de cartas e encontros pessoais em. Londres e, depois, em Dublin, em
Alpbach, no Tirol e em Viena.
Em 1960, eu achava-me hospitalizado em Viena e, como ele
estivesse demasiado doente para visitar-me, eu era diariamente visi­
tado por sua mulher, Annemaria Schrõdinger. Antes' de voltàr à
Inglaterra, visitei-os no apartamento que ocupavam em Pasteurgasse.
Foi a última vez que o vi.
Nossas relações haviam sido algo tempestuosas. Ninguém que
o conhecesse se surpreenderá com isso. Discordávamos violentamente
acerca de muitas coisas. De início, eu tinha imaginado que ele, com
a admiração que dedicava a Boltzmann, não defenderia uma epis-
temoiogia positivista, mas nosso conflito mais violento surgiu do fato
dê eu, certo dia (por volta de 1954 ou ,1955), haver criticado a con­
cepção de Mach, hoje usualmente denominada “ monismo neutro”
— muito embora nós ambos concordássemos ém que, ao arrepio das
intenções de Mach, essa doutrina era uma forma de idealismo312.
Schrõdinger se embeberá dé idealismo em Schopénhauer. Mas
eu havia esperado que ele percebesse as fraquezas dessa filosofia,
filosofia acerca da qual Boltzmann dissera palavras ásperas e contra
a qual Churchill, por exemplo, que nunca se pretendeu um filó­
sofo, produziu excelentes argumentos213. Mais ainda me surpreendi
quando Schrõdinger expressou opiniões sensualistas e positivistas,
como a de que “ todo conhecimento ( . . . ) se apóia inteiramente na
percepção sensorial imediata” 214.
Tivemos outra violenta discordância a propósito de meu artigo
“ A Direção do Tempo” 215, onde afirmei a existência de processos
físicos irreversíveis, independentemente de qualquer crescimento de'
entropia estar ou não relacionado com eles. O caso típico é o
de uma onda luminosa esférica em expansão ou um processo (como
uma explosão) que envia partículas ao infinito (do espaço newto-
niano). O oposto — uma onda congruente, esférica, em contração a
partir do infinito (ou uma implosão do infinito) não pode ocorrer — ,
não porque seja contrário às leis universais de propagação da luz
ou do movimento, mas porque seria fisicamente impossível concre­
tizar as condições iniciais 21e. ^
Schrõdinger havia escrito alguns artigos interessantes, procurando
preservar a teoria de Boltzmann, de acordo com a qual a direção dò

144
aumento de entropia determinaria inteiramente a <direção^ dô tempo ' '
(ou “ definiria” tal direção ponto que deixaremos''de-lado.).^Insistia,
ele em que essa teoria cairia por terra, se houvesse Uni-método, como
o que eu sugerira, por via do qual pudéssemos decidir* *acerca da,
direção do tempo independentemente do aumento da entropia?17.
Até ai, pusemo-nos de acordo. Entretanto, quando lhe perguft1-
tei onde estava meu erro, Schrodinger acusou-me de destruir cruel­
mente a mais bela teoria da Física — uma teoria de profundo eon-
teúdo filosófico, uma teoria que nenhum físico ousaria ferir. © fato
de um não-físico atacar a teoria era, a seu ver, uma presunção, se
não um sacrilégio. Ele desenvolveu o ponto inserindo (entre parên-,
teses) uma nova passagem em M ind and M a tter: “ Isso tem^mo-f
mentosa conseqüência para a metodologia do físico. Nunca ,dev?e.
ele introduzir qualquer coisa que decida, independentemente, acerca,
da direção do tempo, sob pena de a bela construção de Boltzmann;
entrar em colapso” 218. Continuo a pensar que Schrodinger estava
embalado pelo entusiasmo: se um físico ou qualquer outra pessoa-
pode, independentemente, decidir acerca da direção do tempo e se
isso tem a conseqüência que Schrodinger (acertadamente, penso eu)
lhe atribui, então, goste-se ou não, ter-se-á de aceitar o colapso dá
teoria de Boltzmann-Schrõdinger e do argumento em prol do idea­
lismo, que se fundamenta na teoria. Schrodinger recusava-se a pro­
ceder assim, e estava errado — a menos que pudesse encontrar outra
solução. Mas ele acreditava que não existisse •alternativa.
Outra discordância surgiu de uma tese por elé ; defendida -—■
tese sem importância, mas a que ele atribula grande importância —
em seu admirável livro What is Life? Trata-se de uma obra dè
gênio, especialmente no que diz respeito à breve seção denominada
“The Hereditary Code-Script” , que, no próprio título, encerra uma
das mais significativas das teorias biológicas. O livro é realmente
. maravilhoso: escrito para o.leigo culto, veicula idéias científicas novas
e vatiguardeiras. ^ ;. : v
K , E, não obstante, a obra contém, em resposta à indagação priri-
Ivcipal, “ Que é a Vida?” , uma sugestão que ihè parece evidentemente
errônea. N o capítulo 6, há uma seçao que se inicia com ás seguintes
jpalavras: “ Qual o traço característico da vida? Quando se diz que
é viva certa porção de matéria?” A essa indagação Schrodinger
Viresponde no título da seção seguinte: “ Alimenta-se de Entropia Ne-
.;fgativa” 21®. A primeira sentença dessa seção é a seguinte: “ Ê por
í^vitar. a .rápida desintegração para o estado inerte de ‘equilíbrio’ que
^umírrorganismo se afigura tão enigmático. ( . . . ) ” E, depois d e . exa-
■fminar brevemente á teoria estatística da entropia, Schrodinger -pèr^
gunta: "Como expressaríamos, em termos da teoria estatística, a .
maravilhosa faculdade de que dispõe o organismo vivo e através
da qual- retarda a queda no equilíbrio termodinâmico (m orte)?
Dissemos antes: ‘ Ele se alimenta de entropia negativa’, atraindo para
si, pór assim dizer, o fluxo da entropia negativa ( . . . ) 220 E acres»
centa: “ Assim, o meio pelo qual um organismo se conserva estacio­
nário, em nível razoavelmente alto de organização (*= nível razoa­
velmente baixo de entropia) consiste, de fato, em ele estar conti­
nuamente absorvendo a organização. de seu meio.” 221
Ora, os organismos agem reconhecidamente assim. Mas rejeitei
e continuo a rejeitar a tese de Schrõdinger232, de que essa é a
característica da vida ou dos organismos, pois que vale também para
qualquer máquina a vapor. Com efeito, qualquer caldeira a óleo
e qualquer relógio automático pode 'ser considerado como “ con­
tinuamente absorvendo a organização de seu meio” . Assim, a res­
posta que Schrõdinger dá à pergunta não pode estar correta: ali­
mentar-se de entropia negativa não é “ o traço característico da vida” .
Expus, aqui, alguns de meus desacordos com Schrõdinger, mas
tenho para com ele um imenso débito pessoál: a despeito de todas
as nossas querelas, que, mais de uma vez, pareceram um rompimento
definitivo, ele sempre voltou, para. renovármos nossas discussões —
discussões mais interessantes e, sem dúvida, mais emocionantes que
as que mantive com : qualquer outro físico. Os tópicos que discutía­
mos eram tópicos em torno dos quais *eu procurava trabalhar. E o
fato de ele ter proposto a indagação Ú que ê a Vida no esplêndido
livro que referi, deu-me coragem para eu próprio colocar a questão
(embora tentando evitar uma pergunta da forma que é? ) .

No restante desta Autobiografia, pretendo reportar-me antes a


idéias do que a acontecimentos, embora possa fazer observações de
caráter histórico onde isso pareça importante. Estou procurando é
chegar a um levantamento das várias idéias e questões em que tra­
balhei durante estes últimos anos e em .que continuo trabalhando.
Ver-se-à que algumas delas se relacionam com problemas que tive
a afortunada oportunidade de discutir com Schrõdinger.

31. Objetividade e crítica

Boa parte d e . meus trabalhos recentes foi elaborada com o


intuito de defender a objetividade, atacando ou contra-atacando po­
sições subjetivistas. •

146
Inicialmente, devo deixar; ;ibemi:;;.claro.i^q.ue/inão.;: aGeito,^,.ov. behayio-
rismo e que minha defesa da. ;objetividade^jnada ttem^a; v,er com -a
negação dos "métodos dé intróspecção^-^sá.dps ^m^^ÍGpIogiaí:^Iííãó
nego a existência de experiências subjetivas,
inteligências ê de mentes; ao contrário,racho-íque-itydoiyisso é .de
grande importância. Todavia,, penso que nossas;jtèòriás ^al^^^sssas
experiências subjetivas, ou a propósito dessas '^/mentes,'. devem: ser
tão objetivas como quaisquer ou trás. Por , teoria’;';.^bjetiva;j\entencio
uma teoria passível de discussão, que ’ |>6ssa:'se$./iíu^ •
da crítica racional; preferentemente uma teoria;.pássíyerde^prova^
não uma teoria que se limite a apelar para nossas ihtuiçõès;si^
Gomo exemplo de algumas leis simples, comproyáyeis^ . relativas
a experiências subjetivas, posso mencionar as ilusões ó ticas3l?tais,como.,.
digamos, a de Müller-Lyer. Interessante caso de ótica me foi apon­
tado, recentemente, pelo meu amigo Edgar Tranekjaer Rasmussén/
se um pêndulo em movimento ondulatório — um pesó'^que; .oseilà ,
suspenso por um fio) for examinado com um vidro escuro diante
de um dos olhos, ele parecerá na visão, binocular, movér-sé aò longo
de um círculo horizontal, e nao sobre um plano vertical; é séfo
vidro escuro for colocado diante do outro olho, o movimenío áindà
parecerá circular, mas efetuado no sentido oposto.
Tais experiências podem ser submetidas a prova utilizando-se
sujeitos independentes (que, incidentalmentê, sabem e viram o pên­
dulo oscilar num plano). Também podem ser submetidas a prova
usando-se sujeitos que habitualmente (e comprovavelmente) só se
valem da visão monocular: estes sujeitos não afirmam ter percebido
o , movimento horizontal.
Um efeito como o descrito pode gerar várias espécies de teorias.
Por exemplo, a teoria de que a visao binocular é utilizáda ;pelo
nosso sistema central dé descodificação para interpretar distâncias
espaciais e de que tais interpretações atuam, em alguns .casos, inde­
pendentemente de “ nosso conhecimento real” . Essas interpretações
parecem desempenhar um sutil papel biológico. Não há dúvida de
que funcionam muito bem e quase inconscientemente, sob condições
normais; mas o sistema central de descodificação pode enganar-se,
em condições anormais.
As. observações precedentes sugerem que nòssos órgãos dos sen­
tidos contêm vários dispositivos sutis de descodificação e interpreta­
ção — ou seja, de adaptação ou de elaboração de teorias. Tais
dispositivos não são comparáveis a teorias “ válidas” ( “ válidas” ^poír:
.que,- digamos, se impõem necessariamente a todas as nossas .expe-
riências) -;comparam-se, mais apropriadamente, a conjecturas, porque
podem; provocar enganos, em particular sob condições inusitadas.
Gòriscqüência disso e a de qu.e inexistem dados sensoriais visuais não-
-interpretados, inexistem sensações, ou “ elementos” , no sentido de
Mach: qualquer coisa que nos é “ dada” já aparece interpretada,
descodificada.
Nesse sentido, pode-se construir uma teoria objetiva da percep­
ção subjetiva. Será uma teoria biológica, que descreve a percepção
normal, não como fonte subjetiva ou base epistemológica subjetiva
de nosso conhecimento subjetivo, mas Como conquista objetiva do
organismo, mediante a qual ele resolve certos problemas de adapta­
ção. E esses problemas, pelo menos conjecturalmente, podem ser
especificados.
Note-se quão distante está do behaviorismo o enfoque acima
sugerido. Quanto ao subjetivismo, embora o enfoque sugerido admita
as experiências subjetivas (e experiências subjetivas relativas ao
“ saber” ou ao “ acreditar” ), é inteira&iente objetivo e passível de
prova o seu objeto de estudo, isto é, as teorias e conjecturas com
as quais opera.
Aí está apenas . um exemplo do enfoque objetivista que venho
defendendo, na Epistemologia, na Física Quântica, na Mecânica
Estatística, na téoria dá probabilidade, na. Biologia, na Psicologia
e na História 223.
Talvez o ponto mais importante do enfoque objetivista esteja
em reconhecer ( 1 ) problemas objetivos, ( 2 ) conquistas objetivas, ou
seja, soluções de problemas, ( 3 ) conhecimento em sentido objetivo,
(4) críticas que pressupõem conhecimento objetivo na forma de
teorias lingüisticamente formuladas.
(1) Conquanto possamos sentir-nos perturbados diante de um
problema, e experimentar um desejo ardente de resolvê-lo, o pro­
blema em si é algo objetivo — exatamente como o é o mosquito
que nos aborrece e do qual pretendemos livrar-nos. Que se trate
de um problema objetivo, que esteja diante de nós, com um papel ja
desempenhar em certos acontecimentos, isto são conjecturas (como
é conjectura a presença do mosquito).
(2) A solução de um problema, via de regra encontrada por
meio de tentativas e erros, é uma conquista, um êxito, no sentido
objetivo. Que alguma coisa seja uma conquista, pode não pas: 1
de conjectura, e possivelmente de conjectura discutível. A- .ar.^
mentaçao terá de referir-se ao problema (proposto em forma \
conjectura), já que a conquista. v©u o êxito,assim còmo a solução,
dependem sempre do problema* ^
(3) Devemos estabelecer uma' distinção entre conquistas ou so­
luções em sentido objetivo, de um lado, e sentimentos -subjetivos de
conquista, ou de saber, ou de crença, de outro lado. Qualquer .con­
quista pode ser vista como solução de uni ^prôblem ai^poisj^conío
uma teoria, em sentido, generalizado; nèssa condição,^ ela pertence
ao mundo do conhecimento em sentido óbjetivo “ que é, precisa­
mente, o mundo dos problemas e de suas soluções provisórias, e dos
argumentos críticos que lhes dizem respeitõíí^Wêõrias ^geométricas
e teorias físicas, por exemplo, pertencem a estè tnundo do^cónhéci-
mento em sentido objetivo ( “ mundo 3” ). São^ ^habitualmentè^íçòn-
jecturas, em estágios diversos de sua discussão crítica." r ^ ? r
(4) Pode-se dizer que a crítica continua o trabalho . da seleçãò . :
natural, operando num nível não-genético (exossomáücò)^^ela :gresf
supõe a existência de conhecimento objetivo, na ’ forma r ’
já formuladas. Assim, é somente através da linguagem rque:; à^icríticá
consciente torna-se possível. IVtinha conjectura, é de que .esta^é/;a
principal razão da importância da linguagem; e imagino ,que-a.vlrnè
guagem humana seja responsável pelas peculiaridades do Homem
(inclusive-até suas. conquistas nas artès não-lingüísticas, tal como -a
música).

32. Indução; dedução; verdade objetiva

Cabem aqui algumas palavras acerca do mito da indução e a


> propósito de certos argumentos que tenho ápreseritadò contra a
indução. Uma vez que, de momento, as formái mais coiíiuns; dò
■ mito associam a indução a uma insustentável filosofia subjètivista
;• da dedução, devo dizer algò mais sobre a teoria objetiva da iiife-
B rê n c ia dedutiva e sobre a teoria objetiva da verdade.
l'i: - Eu não pretendia, de inicio, explanar nesta autobiografia a
Jv. ícoria da verdade objetiva, formulada por Tarski; mas após abordar
|v::;li^èiramente o tema, na seção 20, apresentaram-se-me alguns indícios
g-í |jué: tornam claro que certos lógicos não entenderam a teoria dé
l^jTárski da maneira como me parece que ela deve ser entendida^
pfl^Ojmõ a teoria tarskiana é indispensável para explicar a diferença
pLfjindamental existente entre inferência dedutiva e míticá irifé^-
^•Tjíência indutiva, vale a pena comentá-la, ainda que brevemente,
||||ánÍGÍarei a exposição com um problema.
compreender o que significa dizer-se
que,, uiu renunciado (ou uma ‘'sentença significativa” , como Tarski
o -denomina.)224 corresponde aos fatos? Com efeito, parece impossível
falar; (ide^correspondência entre um enunciado e ura fato, a menos
qu eseadiiiita alguma coisa análoga à teoria afigura tiva da lingua­
gem (como o fez Wittgenstein, em seu. Tractatus). Mas a teoria
..da-^âiigúrá^o' está. completa e irremediavelmente errada, de modo
que não parece haver perspectivas favoráveis para explicar a cor­
respondência entre enunciado e fato.
. Poder-se-ia considerar este o problema fundamental da chamada
.‘‘teoria de correspondência da verdade” — ou seja, a teoria que
explica a verdade em termos de correspondência com os fatos. A
dificuldade, compreensivelmente, levou os filósofos a suspeitarem que
a teoria devia estar errada ou — pior do que isso — destituída de
sentido. O mérito filosófico de Tarski nesse domínio, creio eu, foi
o de provocar uma reviravolta n a . situação, o que ele conseguiu
observando muito simplesmente que uma teoria que estude qualquer
tipo de relaçaó entre um enunciado e um fato deve estar em con­
dições de falar acerca de (a ) enunciados e -(b) fatos. Para poder
falar de enunciados, a teoria precisa usar nomes de enunciados, ou
descrições de enunciados e, possivelmente, palavras como “ enuncia­
do” ; isto é, a " teoria deve estar vazada numa metalinguagem, numa
linguagem em que se possa falar de òutra linguagem. E para poder,
falar de fatos e de fatos alegados, a teoria precisa empregar nomes
ou descrições de fatos e, possivelmente, palavras como “ fato” . Desde
que tenhamos uma metalinguagem desse gênero, em que seja pos­
sível falar de enunciados e fatos, torna-se fácil fazer afirmações a
propósito da correspondência entre um enunciado e um fato. Com
efeito, podemos dizer:
O enunciado em língua alemã .que ■consiste das três palavras
“ Gras” y “ ist” e “ griin” , nessa ordem, ê um enunciado que corres­
ponderá aos fatos se e somente se a grama for verde.
A primeira parte é a descrição de um enunciado em alemão
(essa descrição é ,dada em português *, que aqui atua como nossa
metalinguagem, e consiste, em parte, da citação portuguesa de pala­
vras alemãs) ; e a segunda parte contém uma descrição (também
em português) de um fato (alegado), de um estado de coisas (pos­
sível) . E o enunciado completo assevera a correspondência. A
situação pode ser apresentada de maneira mais genérica: façamos

* Em inglês no original (N . dos T -).


cora que “ X ” abrevie algum nome. português, ou aigumáCdéSGriÇí
em . português de um enunciado da linguagem L ; e façamos*^ com1,
que indique a tradução de X para o-:português 4( que ^serv.e4dè(':;.
metalinguagem de L ) ; isto posto, podemos dizer (ém ;portugüês£i2
ou seja, na metalinguagem de L ) , com toda a generaüdádé; C
(-J-) O enunciado X na linguagem Lj correspóndè- áóslfatfià 0
. se e somente se x. ■

É possível assim, e mesmo trivialmente possível, falar numa metalin^/,


guagem adequada dá correspondência entre enunciado e ‘^fôto^?
enigma fica resolvido: correspondência não envolve similaridade ' és^:
trutural entre Um enunciado e um fato, como não envolve qualquer-
coisa que se assemelhe à relação entre uma afiguração.- e ^a vcena '
figurada. Pois uma vèz que estejamos de posse de uma metálingua-r
gem adequada, é fácil explicar, còm auxílio de ( + ) 5 o que enten- .
demos por “ correspondência com os fatos” .
Explicada assim a correspondência com os fatos, podemos suUs-
tituir “ corresponde aos fatos” por “ é verdadeiro (em L ) • Cumpre’
notar que “ é verdadeiro” é um predicado metalingüístico, aplicável
a enunciados. Deve ser precedido por nomes metalingüísticós. de
enunciados — por exemplo, citações — e se distingue claramente,
portanto, de frases como “ Ê verdade que” . Exemplificando: “ É; verr
da de que a neve é vermelha” não contém um predicado metalin­
güístico de enunciados; pep^pce à mesma linguagem a que per­
tence “ A neve é vermelha” , e não à metalinguagem dessa linguagem.
A inesperada trivialidade do resultado de Tarski parece ser ,um
dos principais motivos que lhe tornam difícil a compreensão* De.
outro lado, a trivialidade podia ser razoavelmente esperada, ;poisj
afinal de contas, todos sabem o que significa “ verdade” , desde, v,que
não se ponhatn a pensar (incorretamente) nela.
A aplicação mais notável da teoria da correspondência não c a
enunciados específicos como “ A grama é verde” ou “ A grarna ;é
vermelha” , mas a descrições de situações lógicas gerais. Por exem­
plo, desejamos dizer coisas como: se uma inferência é legítima,'
então, se as premissas são todas verdadeiras, a conclusão" deve ser
verdadeira; isto é, a verdade das premissas (se elas são todas verda­
deiras) se transmite invariavelmente à conclusão; e a falsidade da
conclusão (caso ela seja falsa) retransmite-se invariavelmente a-pelo ’
menos uma, das premissas. (Batizei essas leis respectivamente^'corn­
os nomes de “ lei da transmissão da verdade” e “ lei da rêtransmissão-
da falsidade” ). , 3’<*<=•

' 151
; i3 ?aiSf■leis -são fundamentais para a teoria da dedução e o uso
■.qu©áq.üi- se faz das expressões “ verdade” e “ são verdadeiras” (que .
podem- ser substituídas pelas expressões “ correspondência com os
fatos”, e “ correspondem aos fatos” ) está, obviamente, longe de ser
redundante.
A teoria de correspondência da verdade,' què Tarski redimiu,
é uma teoria que encara a verdade como algo objetivo: como pro­
priedade das teorias, não como experiência òu crença ou algo de
cunho assim subjetivo. Também é absoluta, e não relativa a algum
conjunto de pressupostos (ou crenças); com efeito, diante de qual­
quer grupo de pressupostos,, podemos sempre colocar em tela a sua
verdade^ ,
Volto-me, agora, para a dedução. Uma inferência dedutiva pode
ser vista como válida, ou legitima, se e somente se ela invariavel­
mente transmitir k verdade das premissas à conclusão; ou. seja, se e
somente se todas as inferências que têm a mesma forma lógica trans­
mitirem a verdade. Isto pode ser explicado em outras palavras: uma
inferência dedutiva é legítima (ou válida) se e somente se não
admitir contra-exemplos. Contra-exemplo, neste caso, é uma infe­
rência da mesma fprma, com premissas verdadeiras e. conclusão falta,
tal como. em:
. Todos os homens são mortais. Sócrates é mortal.
Logo, Sócrates é um homem.

Imaginemos que “ Sócrates” seja o nome de um cão. Nesse


caso, as premissas são verdadeiras er a conclusão falsa. Tem-se, pois,
um contra-exemplo e a inferência é ilegítima.
A inferência dedutiva, tal como a verdade, é objetiva è também
absoluta. Objetividade não quer dizer, naturalmente, que possamos
sempre apurar se um enunciado é ou não é verdadeiro. Tampouco
pedemos apurar sempre se uma inferência é legítima. Se concordar­
mos em usar o termo “ verdade” somente em sentido objetivo, então
haverá muitos enunciados cuja verdade pode ser demonstrada; con­
tudo, não podemos dispor de um critério geral de verdade. Se tal
critério existisse, nós seriamos pelo menos potencialmente oniscientes,
o que não acontece. De acordo com o trabalho de Tarski e de Godel,
inexiste um critério gerai de verdade, áté mesmo para os enunciados
da Aritmética, embora estejamos naturalmente em condições de des­
crever conjuntos infinitos de enunciados aritméticos que são verda­
deiros. Da mêsma forma, se concordarmos em usar a expressão “ in­
ferência legítima” em sentido objetivo apenas, será possível demons-

m
trar . que muitas inferências são legltimaéi? ^o<MF®Í8^tiáSig|Siiyariáyel-
mente transmitem, a verdade); ainda- --^âiixÍ5®^çfiS’^:'iÍílÍâí'*é^Véirior«.géra.I.■
de legitimidade — nem mesmò se nos limitarmosí aílenunciàdus arit­
méticos. Em conseqüência, nao temos um ^critériÓ; geíiái.’ipãm^deeidir'
se algum enunciado aritmético decorre
axiomas da Aritmética. Apesar disso, podemos/^dé^èr^èr^liMa^
dadè de regras de inferência (de múltiplos =gíaus^ev^mpl^idadéí)/--:
das quais é possível provar a legitimidade; .oii-';
contra-exemplos. Ê falso, portanto, dizer
apóia-se em \ossa intuição. Se ainda não estabátèGeiii^^
dade de uma inferência, èntão é lícito naturalmente.jUsàfc'^>M4üi§ã^-:
como guia; não podemos dispensar a intuição, maSrCdnvémV
que ela,, com freqüência, leva-nos ao erro. ( Isso^.^ási;-;:* é/s >•
sabemos, pela História da Ciência, que as teorias
mais numerosas que as boas.) Acresce que pensar intuiti^amèriie :
é algo muito diverso de apélar para a intuição, como se),isstí.;:eqúj-,
valesse a apelar para um argumento.
Como já disse em muitas de minhas preleções, coisas rGpmq'^a;í
intuição ou a sensação de que algo é evidente por si mesmà tàiyéz
possam ser explicadas pela verdade ou legitimidade, mas hãòT reci­
procamente. Nenhum enunciado. é verdadeiro e nenhuma inferêneik
é legítima porque sentimos (não importa com que convicção) ; .que
assim seja. Admite-se, decerto, que nosso intelecto ou nossa facul­
dade de raciocinar oú de julgar (ou como for que a chamemos) se
acham de tal modo ajustados que somos levados, em circunstâncias
normais, a aceitar, a julgar ou a acreditar naquilo que é verdadeiro;:
isto se deve, em grande parte, ao fato de que existem em nós certas
disposições inatas para o exame crítico das coisas. Contudo^ as ilur
soes de ótica, para tómar um exemplo comparativamente simples,
atestam que não podemos confiar demasiado na intuição, mesmo
quando ela se aproxime de uma espécie de compulsão. u ií- y";
A possibilidade de explicar eventualmente os sentimentos^sübje?
tivos ou a intuição com base no fato de havermos deparado tom ,a
verdade e a legitimidade ou de termos efetuado alguns exames.
críticos, nao permite inverter a situaçaò e dizer: este enunciado^é.
verdadeiro ou esta inferência é legítima, porque eu acreditoV-nisso,
ou porque me sinto compelido a acreditar nisso, ou porque ; isso é :
evidente pór si mesmo, ou porque o oposto é inconcebível. ; Nao
obstante, por centenas de anos, esse tipo de discurso : foi'í>utilizãdo;
pelos filósofos subjetivistks em lugar da argumentação.■■.-..l.-,,
Ainda hoje está amplamente disseminada a idéia ’ dé
Lógica se deve fazer apelo à intuição, pois, sem ciipilá|Í^a^^M^|;
vppdeí'.existir argumento a favor ou contra as regras da Lógica De-
jdutiya: --todos os argumentos pressupõem lógica. É certo que todos
os argumentos fazem uso da Lógica e, se quiserem, “ pressupõem” a
Lógica, embora haja muito que; dizer contra essa forma de colocar
a questão. Apesar disso, é fato estabelecido que se pode estabelecer a
legitimidade de algumas regras de inferência sem fazer uso delas 225,
Em resumo, a dedução ou a legitimidade dedutiva é objetiva, assim
como é objetiva a verdade.. A intuição ou um sentimento de crença
ou de compulsão podems às vezes, dever-se ao fato de que certas
inferências são legítimas ■ mas a legitimidade é objtetiva e não pode
ser explicada, quer em. termos psicológicos, quem em termos beha-
vioristas, quer em termos pragmáticos.
Expressei essa atitude em muitas ocasiões, dizendo: “ Não sou
um filósofo da crença.” De fato, as crenças são destituídas de impor­
tância para uma teoria da verdade,. ou da dedução, ou do “ conheci­
mento” , no sentido objetivo. A chamada "crença verdadeira” é
crença numa teoria verdadeira; trata-se de questão de fato — e não
de crença — saber se a teoria é ou não verdadeira. Analogamente,
uma '‘crença racional” , se é lícito usar a expressão, consiste em dar
preferência ao que é preferível, à luz de argumentação crítica. Assim,
não. se trata, mais uma v.ez, de questão de crença, mas de argu­
mentos . e do estado objetivo do debate crítico226.
Quanto à indução (ou lógica indutiva, ou comportamento indu­
tivo, ou aprendizado por indução, por repetição ou por “ instrução” ),
afirmo que não existe. Se estou certo, isso resolve então, natural­
mente, o problema da indução227. (H á vários problemas remanes­
centes que também podem ser chamados problemas da indução, tais
como o de o futuro assemelhar-se ao passado, por exemplo. Este
problema, todavia, que julgo ser muito pouco estimulante, também
pode ser resolvido: o futuro será, em parte, semelhante ao passado
e, em parte, não-semelhante.)
Qual é, hoje, a resposta mais em voga para Hume? Ê a de
que a indução nao pode ser evidentemente “ legítima” , porque a
palavra “ legitimidade” significa “ legitimamente dedutiva” ; assim, a
não-legitimidade (no sentido dedutivo) dos argumentos indutivos
não levanta problemas: existe o raciocínio dedutivo e existe o ra­
ciocínio indutivo; conquanto ambos tenham vários aspectos em co­
mum — ambos consistem de argumentação realizada em consonância
com regras ordinárias, bem experimentadas, razoavelmente intuitivas
— são.numerosos os pontos em que divergem22S.
Em particular, o que a indução e a dedução têm em comum
poderia ser assim descrito: a legitimidade da dedução não é passível

U4
de ser legitimamente demonstrada, pois isso eqüivaleria-1a- ‘deititínstrar
a Lógica mediante uso da própria Lógica," caindo^ef ~jiunT: Círculo
vicioso. Ainda assim, segundo se costuma díifer^ esse argumento
vicioso está em condições de esclarecer nossas conceições fortale­
cer nossa confiança. O mesmo vale para a indução. A -Indução " pode
estar talvez além da justificação indutiva; ainda assim, o-Yacjpêmio
indutivo acerca da indução é útil, se nao indispensável 22^ tAcresce
que, tanto na teoria da dedução quanto na teoria da. indução^; fatotes
como a. .intuição, •o.. hábito, a convenção ou o êxito, nofeçampoiadas?;
prática podem ser invocados; e, às vezes, precisam ser invocados;-C
Para criticar essa concepção muito em voga, repetirei o que já_ -
disse atrás, nesta mesma seção: uma inierência dedutiva é .legítima [
se não admite contra-exemplo. Dispomos, . pois, de um mé.todo' eri^
tico e objetivo de prova; para qualquer regra de dedução que,nos
seja apresentada, podemos tentar elaborar um contra-exemplo.' :Se
o conseguirmos, a inferência, ou a regra de inferência, será ilegítima,
seja ou não considerada intuitivamente legátima por algumas pessoas
ou por todo mundo. ( Brouwer pensou ter feito exatamente ? isso
— ter apresentado um contra-exemplo pata as deduções indiretas —v
explicando que tais deduções eram erroneamente vistas como legíti?
mas porque existiam só contra-exemplos infinitos, o que fazia, supôr
legítima a dedução indireta em casos finitos.) Uma vez que. provas:
objetivas e, em muitos casos, demonstrações objetivas estão ao nossò
alcance, tornam-se totalmente irrelevantes, para á nossa questão,
considerações de ordem psicológica, convicções subjetivas, hábitos-
e convenções. ' ( -ü
E que acontece com a indução? Quando é indutivamente “ in­
correta” (para usar outro termo que nao " ilegítima” ) uma in fe­
rência indutiva? A única resposta sugerida foi esta;, quando lèvá :á.
'freqüentes enganos práticos no comportamento indutivo. Cõnttidó,
afirmo que cada uma das regras de inferência indutiva, de quantas
já foram propostas por quem quer que seja, leva com freqüência a
tais enganos práticos quando alguém se dispõe a utilizá-la. 1
O ponto a ressaltar é o de que não existe regra de inferência
indutiva — inferência que conduza a leis ou teorias universais —
jamais proposta que possa ser levada a sério, por um minuta sequer.
Carnap, ao que parece, concorda com isso, pois escreve230:

A propósito, Popper acha "interessante” que eu apresente r na - minha


conferência um exemplo de inferência dedutiva, mas nao •um ■exemplos.
de inferência indutiva. Um a vez que, no meu entender, ' o raeiocínio
probabilístico ( “indutivo” ) consiste essencialmente^em^atribui^íjstor.^

1 Í5
abijiçiades ; e ,,;não. em fazer inferências, ele deveria antes pedir exem-
.,V ; !pjòs : de/princípios para atribuição de probabilidades. Tal solicitação,
que nao foi feita, mas seria razoável, eu a antecipei e atendi.

Todavia, Garnap desenvolveu apenas um sistema em que a


probabilidade associada a todas as leis universais é igual a zero 231.
Embora Hintikka (e outros autores) tenham posteriormente erigido
sistemas que permitem associar probabilidade diferente de zero a
enunciados universais, não há dúvida de ,que tais sistemas parecem
essencialmente confinados a linguagens muito pobres, em que uma
Ciência da natureza (mesmo que primitiva) não poderia ser for­
mulada. Acresce que esses sistemas se restringem aos casos em que
existe apenas um número apenas finito de teorias, num dado instan­
te 232. (Tais limitações, contudo, não evitam a assustadora compli­
cação dos sisterpas.) Seja como for, creio que as leis — das quais
sempre existe, praticamente, um número infinito — devem ter “ pro­
babilidade” zero (no sentido do cálculo de probabilidades), embora
o seu correspondente' grau de corroboração admita valores maiores
do que zero. Entretanto, mesmo que adotemos um sistema novo
—• um sistema que associe a certas leis uma dada probabilidade,
digamos 0,7 — que lucramos? 'Ele nos diz que uma lei tem ou não
bom apoio indutivo? Por certo que não;, tudo quanto nos diz é que,
de acordo, com algum sistema novo (não importando quem o Haja
formulado e .sendo que sua margem de arbitrariedade é •considerá­
vel) , nós devemos acreditar na lei, como um grau de crença igual
a 0,7, desde que desejemos ver nossos sentimentos de crença ajustados
ao sistema. Ê difícil avaliar os méritos de uma regra desse gênero 233.
Ainda que ela tenha importância, seria igualmente difícil imaginar
em que termos criticá-la, saber o que ela exclui e entender por que
ela deveria tomar o lugar das regras de Camap ou de minhas razões
para associar probabilidade zero às leis universais.
Regras sensatas para a inferência indutiva simplesmente não
existem. (Esse fato é reconhecido, ao que parece, pelo indutivista
Nelson Goodman234.) A melhor espécie de regra que eu pude
formplar, com base na lèitura dos trabalhos de indutivistas, tomaria
mais ou menos esta forma:
“ O futuro tende a não diferir muito do passado

Eis uma regra que todos aceitam, na prática; regra semelhante


tambem precisa ser aceita em teoria, caso queiramos ser realistas
(e eu acredito que todos somos realistas, digam o que disserem). A
regra, porém, é tão vaga, a ponto de tornar-se desinteressante. Apesar
de sua vaguidade, a regra pressupõe demais*- .muito-maisyspor certo, do
que nós (e, portanto, quaisquer tipos-de^egrasi^dütivas) ^deveríamos
pressupor antes da formação dè ’ teoria^^ela^rêsstâpÕeií^iGoiB!h'«£eito,
uma teoria do tempo. . ^ ,
Isso, porém, era de esperar. Uma vez :qúfe:.nãò ■;,:ba-"òbséryaçãq
independente de teorias e uma vez que i n e j t i s P Í 1; inde­
pendente de teorias, claro está que não pode.^existir,-;cegífà'^òürÃprin.T
cípío de indução independente de teorias.: nao-liá^;^
em que todas as teorias pudessem basear-se.'.-.
■ A indução, por conseguinte, é um mito. Não h ^
tiva” . E conquanto exista uma interpretação..'‘lógica^Vdp,^; cálculo !
de probabilidades, não há boas razões para supor qué.J^e^iagíÇa.;
generalizada” (como poderia ser denominada) sejà; um
“ lógica indutiva” 235. ..■ :
Não se deve lamentar a inexistência da indução: podemos ,per-; v
feitamente dispensá-la -— admitindo que as teorias são eonjectü.ras
ousadas, que as criticamos e . submetemos a provas da maneira - mais
severa possível e com toda a engenhosidade que possuímos. .;; V. :

Está claro que se esta é uma boa prática — um procedimento


coroado de êxito — , então Goodman e outros poderão dizer qüef-ela
é uma regra de indução “ indutivamente legítima” . O ponto, que.
desejo acentuar, porém, é o de que a prática é boa não porque; c
bem sucedida, ou merecedora de confiança, ou algo semelhante, Itias
porque tende a levar ao erro e, dessa maneira, suscita em nós a
consciência de que os erros devem ser procurados e tanto quanto :
possível eliminados.

33. Programas de pesquisa metafísica

Após a publicação de The Open Society em 1945, minha esppsaj.


assinalou que esse lívro não retratava meus principais interesses ÍÜÒt.
sóficos, pois eu-não me dedicava à Filosofia política. Isso/aliásp^eir-
deixara claro na Introdução da obra. Ainda assim, ela nãorse -rnos-
trou satisfeita com a declaração e não aprovou inteiramente ió meu
retorno aos velhos assuntos preferidos, como, por exemplo^. a '.teoraa
do conhecimento. Salientou que o livro Logik der Forschung. desa­
parecera havia muito do mercado e estava praticamente esquecido;-
lembrou ainda que como éu tomava resultados fixados í ali vcoraq
ponto dè partida para muitas discussões, tornava-se Jmpèíativa;^jtà;a,
versão inglesa dele. Concordei com ela, mas eu tem-.íp^y^yáE^nj|ê.
esquecido ó £assunto não fossem os seus constantes reclamos, ao longo
déívvàfiõs^àriós. Ainda assim, quase uma década e meia se passou
ariteâvdè. aparecer The Logic of Scientific Discovery (em 1959) e
mais sete anos precederam a publicação da segunda edição de Logik
der Forschung.
Nesse período, preparei numerosos trabalhos, que deveriam com­
por uma espécie de suplemento pára The Logic of Scientific Dis­
covery. Em 1952, aproximadamente, deliberei que o volume com­
plementar deveria chamar-se Postscript', After Twenty Years, e
alimentei a esperança de vê-lo entregue ao publico em 1954.
O manuscrito foi enviado à editora em 1956, junto com o texto
(em inglês) de Logic of Scientific Discovery. Recebi as provas tipo­
gráficas dos dois livros no início de 1957. A correção dessas provas
transformou-se num pesadelo. Completei só a correção dò primeiro
volume, que foi publicado em 1959, e então tive de sofrer uma inter­
venção cirúrgica nos dois olhos. Não pude, pois, rever o Postscript ■

que até agora não foi dado a lume, com exceção de um ou dois
pequenos trechos236. A obra, porém, foi lida por vários colegas e
discípulos.
Nesse Postscript, reexaminei e desenvolvi alguns dos principais
problemas e algumas das soluções discutidas no Logik der Forschung.
For exemplo, sublinhei que havia recusado todas as tentativas no
sentido de justificar teorias, e havia substituído a justificação pela
crítica231.. Não é possível justificar uma teoria; mas é possível, às
vezes, 4-justificar” (em outro sentido) a. preferência que manifestamos
por uma teoria, tendo em conta o estágio do debate crítico; pois
uma teoria pode bem resistir às críticas que contra elas se dirijam,
melhor que suas rivais. Talvez se possa levantar a objeção de que
um crítico deve sempre justificar sua posição teorética. Minha res­
posta é a seguinte: o crítico não precisa justificar sua posição, pois
pode criticar de modo significativo uma teoria se consegue denunciar
uma inesperada contradição no seio dela ou entre a teoria em exame
e outras teorias interessantes, embora, naturalmente, esta última
forma de crítica não seja via de regra decisiva 238. N o passado, a
maioria dos filósofos pensava que qualquer alegação de racionalidade
significava uma justificação racional (das crenças da pessoa) ; minha
tese, pelo menos . desde Open Society, é a de que racionalidade
eqüivale a crítica racional (de nossas teorias e de teorias rivais).
A antiga filosofia vinculava, pois, o ideal de racionalidade a um
conhecimento final, último, demonstrável (ou pró ou anti-religioso,
ja que. a religião era o problema de maior relevo) ; quanto a mim,
vinculava-o à ampliação do conhecimento: cpn.je,çtural. Esteaumento
de conhecimento eu o associava, por seu turno, a idéia de :uina pro­
gressiva aproximação, à verdade, ou seja, ao ' aumento dk. verossimi­
lhança (ou dè veracidade)239. De o
que o -cientista procura é elaborar teorias
da verdade; o objetivo da Ciência é ' sab^./:fcá4à:£y^ .
implica o aumento do conteúdo de nossas: ieõháiy^o^auméhto!^idé
'•iJr^vVv- - :lá*«ítf&í# * V < W - ' <* .••
nosso conhecimento do mundo.
Afora a reformulação de minha teoria do tconhéçim^
dos meus objetivos, no Postscript, era o de mosti&r rTq!ãèl‘^ r^ ia ^ m d ?;V
de Logik der Forschung era passível de debate ou dexrííiça.^Aèen^;^
tuei que Logik der Forschung era o livro de um reàlistaiq.^
ocasião, não ousara dizer muita coisa acerca do realismòV}..^vjtóo^Ô'^
estava em que, ao escrever a obra, eu não havia cóm prê^diâó;;i^e^
uma. posição metafísica, embora não passível de prova, :pó^aihserv ^
criticada e debatida racionalmente. Eu confessara miribáíipòsiçaõi:
realista, mas imaginava que isso correspondesse apenas a uma’; con-:
fissão de fé. Com efeito* eis o que afirmei a propósito de um dqs •
meus argumentos realistas: “ exprime a fé metafísica na exiíftenôiá>.-;
de regularidades em nosso mundo (uma fé que partilho e sem â
qual a ação prática torna-se inconcebível)ss 24°.
Em 1958 publiquei duas palestras, parcialmente baseadas nó
Postscript, com o título de “ Acerca do Status da Ciência e da M e­
tafísica” (e que se acham no livro Conjectures and Refutations241).
N a segunda dessas palestras procurei mostrar qüe as teorias, metafí­
sicas pódem ser submetidas ao crivo da crítica e da argumentação,
já que são- tentativas feitas no sentido de resolver problemas — pro­
blemas talvez passíveis de receberem soluções mais ou menos apro­
priadas. Essa idéia foi utilizada na segunda palestra e aplicada a
cinèo teorias metafísicas: o determinismo, o idealismo (e o subje-
tivismo), o irracionalismo, o voluntarismo (de Schopenhauer) e o
niilismo (a Filosofia do nada, de H eidegger). Apresentei então
motivos para rejeitar essas teorias como malogradas tentativas de
: solução dos problemas que elas procuravam abordar.
N o último capítulo de Postscript, argumentei de modo seme­
lhante contra o indeterminismo, o realismo e o objetivismo. Pro­
curei mostrar que estas três teorias metafísicas são compatíveis e, a
fim de mostrar a compatibilidade, através de uma espécie de modelo,
propus que se admitissea realidade das disposições (como osvpoten-
- ciais ou os campos) e, em especial, das propensões. (Essa é uma
forma de argumentar em favor da interpretação das probabilidades
'
^■r em^ftèrmosvvde propensões. Outra maneira será mencionada na pró-
ximà- .seçãoi) .
Um dos pontos básicos do- capítulo, porém, era uma descrição
e apreciação do papel desempenhado pelos programas de pesquisa
metafísica 242. Mostrei, cora. base em breve escòrço histórico, que
houve, ao longo do tempo, mudanças em nossas idéias acerca do
que constituiria uma explicação satisfatória. Essas idéias variaram
em virtude da pressão exercida pela crítica. Segue-se que as idéias
eram criticáveis, embora nao passíveis de prova. Tratava-se de idéias
metafísicas — e, na verdade, idéias metafísicas de grande importância.
Ilustrei o fato com algumas observações históricas acerca do9
vários ‘‘programas de pesquisa metafísica que influíram no desenvol­
vimento da; Física desde os dias de Pitágoras” ; e apresentei uma
nova concepção metafísica do mundo e, com ela, üm novo programa
de pesquisa, assentado na idéia da realidade das disposições e na
interpretação da probabilidade em termos de propensões. (Essa con­
cepção, segundo creio agora, também é útil quando se cogita de
teorias evolutivas.)
Mencionei esses desenvolvimentos, por dois motivos.
(1) Porque o realismo de cunho metafísico •— a concepção se­
gundo a qual existe um mundo real a ser descoberto — resolve
alguns dos problemas que ficam em aberto com a solução que dei
ao problema da indução.
(2). Porque pretendo sustentar que a teoria da seleção natural
não é uma teoria científica passível de prova, mas um programa de
pesquisa metafísica; e embora esse programa seja, no momento, o
melhor de que dispomos, ele pode ser talvez ligeiramente aperfeiçoado.
Não há necessidade de comentar mais longamente o ponto (1) ;
basta dizer o seguinte: quando pensamos que nos havíamos apro­
ximado da verdade, formulando uma teoria científica, ou seja, que
resistiu, melhor do que as teorias rivais, à crítica, então, como rea­
listas, nós aceitaremos essa teoria para nortear a atividade prática
simplesmente porque não dispomos de guia melhor (ou algo que
se aproxime mais da verdade). Mas não será preciso admitir que a
teoria seja verdadeira: não precisamos acreditar nela (o que eqüiva­
leria a acreditar na sua verdade)*43.
Acerca do ponto (2 ), direi mais alguma coisa quando for discutir
a teoria da. evolução na seção 37 .
34?. Combatendo o subjetivismo em F ísic a :.
a Mecânica Quântica e a propensão - .

Poucos grandes homens rivalizam com Érnst Mach^ auando ..se


pensa no impacto de suas idéias sobre o pensamento !hdo -jsecüIõ^X^:
Ele exerceu influência sobre a Física, a ' Fisi61o.gja^~aíj^
Filosofia da Ciência e a Filosofia pura. (ou especulativa^v-^íufluen-
ciòu Einstein, Bohr, Ileisenberg, William Jamês/rBç£frá^ /
—: para citar apenas alguns -nomes. Mách não erá 'urii^f^iéoiHe^liíSilS 1
meada, mas era dono de uma grande personalidade, érfoij^im graúde'
filósofo e historiador da Ciência. N a condição de fílólogoÍ^sÍGÓl^go?/
e filósofo da Ciência, advogou inúmeras concepções originaiseimpoix:/
tantes, que eu, particularmente, não hesito em endbâsan ^ÍFõiy por "J
exemplo, evolucionista, na teoria do conhecimento è nò ^cam^ov dá
Psicologia e dá Fisiologia, particularmente no quç réspéitá;ftao^estudò ?;
dos sentidos.. Foi crítico da Metafísica, mas era suficientemérité :
tolerante para admitir, è até postular a necessidade de idéias ^.mè-;
tafísicas como guias para o físico, mesmo em sua atividadeívcâqién- .
mental. Eis, por exemplo, o que escreveu em seus Princípios da
' Teoria do Calor, referindo-se a Joule 244:

Quando chegamos às questões gerais de Filosofia [que M ach,: -no


parágrafo anterior, denomina “metafísicas”!; Joule praticamente se
cala. Quando se manifesta, porém, seus pronunciamentos leriibrain
muito os de Mayer. E, na verdade, não se pode duvidar de que invés-
íigações experimentais de tal envergadura, todas, voltadas para um
único objetivo, só podem ser lévádas a bom termo por um homem
que seja inspirado por uma grande, e filosoficamente muito profunda,
.concepção do mundo. X- ' )i-

Passagens desse gênero tornam-se ainda mais notáveis quando


se recorda que Mach havia publicado anteriormente um livfo, A
Análise das Sensações, onde registra que “ meu enfoque elimina iodas
. as questões metafísicas” e que “ tudo quanto podemós conhecer à
; respeito do mundo se expressa necessariamente nas sensações” (ou
; -dados sensoriais, " Sinnesempfmdungen” )
Lamentavelmente, nem ò enfoque biológicp. nem a tolerância
yw- de Mach tiveram grande repercussão no pensamento do século X2Í j
fr
r? o que repercutiu — particularmente sobre a Física Atômica ^ foi. .a.
lípi"' sua intolerância antimetafísica, associada , à sua teoria das; sensações >
O fato de a influência de Mach sobre os físicos, da noVa. geração
;;.:ter-íSe tornado tão significativa é uma dessas freqüentes .iránias sdà
História. Em verdade, ele se opunha veementemente >ao ;atomismo.

--- 1 ------ .. ’ ÍÉ
__ ___ ____ _
$-

èiflà ^teoria “ corpuscular’’ da matéria, que, como Berkeley245, consi­


derava metafísica.
Ó impacto filosófico do positivismo de Mach foi difundido em
grande parte pelo jovem Einstein. Este, ' entretanto, acabou por ^
afastar-se do positivismo de Mach, em parte porque ficou chocado
áo compreender o alcance de certas conseqüências desse positivismo. V'
Tais conseqüências, a nova geração de físicos brilhantes, entre os
quais se contam Bohr, Paull e Heisenberg, não só descobriu como
defendeu com entusiasmo — e esses físicos tornaram-se subjetivistas.
Mas a retirada de Einstein foi demiàsiado tardia: a Física tornou-se
um esteio da filosofia subjetivista, cpndiçao que até hoje conserva.
Na base desses desenvolvimentos, porém, havia dois graves pro­
blemas, associados à Mecânica Quântica e à teoria do tempo, bem
como um terceiro problema, de menor gra.vidade no mèu entender,
que é a teoria subjetivista da entropia..

Com o advento da Mecânica Quântica, muitos jovens físicos


se convenceram de que ela (ao contrário do que se dá com a M e­
cânica Estatística) não era uma teoria de conjuntos, mas de par­
tículas fundamentais isoladas. (Depois de alguma hesitação, eu
também aceitei semelhante concepção.) De outro lado, esses físicos
se convenceram de: que a Mecânica Quântica, tal como se dá com a
Mecânica Estatística, era uma teoria probabilística. Gomo teoria
mecânica de partículas fundamentais, possuía um aspecto objeüvo;
como. teoria probabilística, pensavam èles, possuía igualmente um
aspecto subjetivo. Trata-se, pois, de um tipo completamente novo
de teoria fundamental, combinando aspectos objetivos e subjetivos.
A í estaria o seu caráter revolucionário.
As concepções de Einstein foram um pouco diferentes. Pará
ele, as teorias probabilísticas, tal como a Mecânica Estatística, eram
extremamente interessantes, importantes e belas. (Nos primeiros ^
tempos, ’ Einstein contribuíra decisivamente para o desenvolvimento
de teorias desse gênero.) Contudo, elas não eram nem teorias obje­
tivas, nem teorias físicas fundamentais; eram, antes, teorias subjeti- ^
vistas a que tínhamos de recorrer em virtude do caráter fragmentário !
de nossos conhecimentos. Segue-se que a Mecânica Quântica,
que pese a sua excelência, não é. uma teoria fundamental, mas uma
teoria incompleta (porque seu carátei: estatístico atesta que ela opera
com conhecimento incompleto) ; segue-se ainda que a teoria objetiva
e completa que devemos elaborar não teria cunho probabilístico,
mas determinista.

162
Note-se que as duas posições têm um elèmento^è<)piumfe:ambas
admitem que uma teoria pròbabilística ou estatísüca sutiltóayíde-íalgumaí
forma, nosso conhecimento subjetivo, ou nossa fáltá de.còiÃériínehto;
Esse fato pode ser bem compreendido^ s é ^ :
única interpretação objetiva da probabilidàáè\^4 ^§u|idap^
altura (final da década de 1920) era a teoria -das
tinha sido elaborada* em variadas versões, por
Reichenbach e, mais tarde, por mim próprio;) Orai -ps pa^tida^ :
da teoria da freqüência sustentam que há questõeá óbjétiyas'; Cón*- •
cernentes aos fenômenos de massa e que taís questões pbssueiíi Res­
postas objetivas. Entretanto, são compelidos a admitir quèMa^òbje^ •
tividade torna-se discutível sempre que se fala da. probabilidade
de um evento isolado, qua elemento de um fenômeno de massa; V :
cabe asseverar, portanto, que, relativamente a acontecimentos espe­
cíficos, tais como a emissão de um fóton, as probabilidades áperias
avaliam a nossa ignorância. Com efeito, a probabilidade objetiva
limita-se a fornecer informações acerca do que acontece em média,
supondo que essa espécie de acontecimento se repita muitas vezes;
a probabilidade estatística objetiva nada informa acerca do acon­
tecimento individual.
Foi dessa maneira que o subjetivismo penetrou na Mecânica
Quântica, segundo as concepções de Einstein e as de seus opositores.
E foi aí que procurei combater o subjetivismo, formulando a inter­
pretação da probabilidade em termos de propensões. A formulação
nao foi ad hoc; ao contrário, resultou de meticulosa revisão dos
argumentos subjacentes a., interpretação freqüentisía.
A idéia principal era a de que as propensões podiam ser vistas,
como realidades físicas. Eram medidas de disposições. Disposições
físicas mensuráveis ( “ potenciais” ) haviam sido introduzidas na Física
por meio da teoria dos campos. Existia, pois,, um precedente para
encararem-se as disposições como algo dotado de realidade física^
dé modo que a sugestão de que deveríamos ver as propensões como
algo fisicamente real, nao era tão insólita. Ela abria margem tam?
bém para o indeterminismo, evidentemente.
K A fim de colocar melhor o problema de interpretações quenas,.
propensões visavam a resolver, ..reportar-me-ei a uma carta que
. Einstein enviou a Schrõdinger24s. Nessa carta, Einstein ..alude a.
um . bem conhecido experimento conceptuai , que Schrõdinger/havia
- divulgado em publicação em 1935 247. Schrõdinger assinalara a? pos-,
sibilidade de dispor um material radioativo de forma a, com o auxílio-
dó . contador Geiger, disparar uma bomba. O dispositivo pode. ser
'que ou a bomba explode dentro de certo
&ti^^;àloiiMéfíaiípo. ou então é desativada. . Seja a probabilidade de
uüiaf%explosãó ,fa: 1./2.. Sçhxpdinger sustentou que, se um gata for
gost^perto rda bomba, a probabilidade.de que ele venha a ser morto
e^tambem igual a 1/2. Todo o. arranjo pode ser descrito em termos
" Quântica.’" e,. nessa descrição,^ haverá uma superposi-
çãalde 'dois estados do gato — o estado vivo e o estado morto. Assim,
^ídescrição em termos de Mecânica Quântica. —-■ a função i|/ —
nada descreve de real, pois. o gato real estará ou vivo ou morto.
VvV;;Einstein afirma na carta a Schrõdinger que isso significa que
a. Mecânica Quântica- é subjetiva e . incompleta:
:; I ' ' •Se tentarmos interpretar a função 4> como uma descrição completa
[do processo físico real por ela referido] ( . . . ) significaria isso que,
. no momento em pauta, b gato não estaria nem vivo nem despedaçado,
Contudo, uma ou oütra dessas condições seria comprovada peia
observação.
Se rejeitarmos essa maneira de ver I a completude da função i]/l,
teremos de admitir que a função ^ não descreve um estado de coisas
real, mas a totalidade de nosso conhecimento .com respeito ao estado
de coisas. Essa a interpretação. de.Behr que, segundo parece, é hoje
aceita pela maioria dos físicos2*8. ■

Acolhida minha . interpretação em termos de propensão, esse


dilema desaparece e a Mecânica Quântica, ou seja, a função i|/,
passa a descrever um estado de coisas real -— uma disposição real —
cònquanto nao um estado de coisas determinista. Embora o carátei
não-determinista do estado de coisãs possa ser encarado como indício
de uma incompletude, essà incompletude não será devida a uma
falha da teoria — ou da descrição — mas a um reflexo do caráter
indeterminista da realidade, do próprio estado de coisas.
Schrõdinger sempre. achara que [i|j ^ '*] devia descrever algo
fisicamente real, como, digamos,. uma .densidade real. Tinha cons­
ciência, além disso, da possibilidade249 de a própria realidade sei
indeterminada. Segundo a interpretação em termos de propensão,
essas intuições estavam corretas.
Nao aprofundarei a discussão da teoria dá probabilidade em
termos de propensão, nem examinarei o papel que lhe é possível
desempenhar no esclarecimènto da Mecânica Quântica, porque de
tais -.assuntos já me ocupei densamente em outro local 25°. Lembro
que,.. a teoria não foi bem recebida, o que não me surpreendeu nem
me; desanimou. Desde então, porém, muitas coisas mudaram e alguns
críticos (defensores de Bohr) que de início rejeitaram m inha teoria,
. dizéhdo-a incompatível como a . Mecânica- Quântica, afirmam agora
que se trata de coisa consabida. e, em verdade,^idêntica àtconcepçãq
de Bohr. . .• • / .
Considerei-me amplamente recompensado por '-ináis^d^^4d;líàn<âs.'',;'
de pesquisa quando recebi uma carta de B. L. van •dér ^^áerdeU, ^
matemático e historiador da Mecânica Quântica, àidércà^dò^meii.-.!.
artigo de 1967, “ A Mecânica Quântica sem ‘ o Observador’ , :em
que ele dizia concordar inteiramente com as treze teses dèférididas
nesse meu trabalho e também com a interpretação. da probabilidade
em termos de propensão^51. vv^v

35. Boltzmann e a direção do tempo

. O subjetivismo começou a penetrar na Física — e, em especiál.


na teoria do tempo e na entropia — muito antes do advento dá
Mecânica Quântica. Essa penetração estava intimamente associada
à tragédia de Ludwig Boltzmann, um dos grandes físicos do século
X I X e ao mesmo tempo um ardente defensor do realismo e dó
objetivismo. *
Boltzmann e Mach foram colegas na Universidade de Viena.
Boltzmann era professor de Física nessa Universidade quando Mach
foi para lá em 1895* convidado a ocupar uma cadeira.de Filosofia
da Ciência, criada especialmente para ele. Deve ter sido a primeira
cátedra desse tipo em todo o mundo. Moritz Schlick viria a ocupá-Ià
mais tarde, sendo Victor K raft o seu sucessor 252. Em 1901, quando
Mach deixou a Universidade, Boltzmann encarregou-se. de lecionar
a matéria, sem abandonar, porém, a sua cátedra de Física. Mach,
seis anos mais velho que ele, continuou a viver em Viena até quase
a data dá morte de Boltzmann, ocorrida em 1906. Nesse intervalo
de tempo, e por um período que ainda se prolongaria bastante,
influência de Mach cresceu constantemente. . Mach e Boltziiiáriri
eram físicos, mas. este último, sem favor, era o mais brilhante5 é
inventivo253; ambos eram também filósofos. Mach fora-chamado
para Viena por dois filósofos, e na condição de filósofo. (Depois
de Boltzmann ter sido convidado, para sutéder Stefán na cátèdraV de
Física — para a qual, na verdade, Mach esperava ser' convidado
á: idéia de oferecer a este, em substituição, uma cadeira dé iFHõsòfiá
partiu de Heinrich Gomperz, que só contava na ocasião'-:viiíté'. -evití»:
anos e que atuou através de seu pai.)254 Acerca dos méritoá;;filosá1;
ficos de Mach e Boltzmann, meu julgamento é francamente, ten­
dencioso. Boltzmann não é muito conhecido.como filósofo; .eu^pratir
camente lhe desconhecia o pensamento até há bem >^0.úpoA e;í.^^âa;
àgôjça^éÜQ -que •sei muito menos do que devia saber a propósito dele.
Entretanto, concordo com o que dele conheço; muito mais do que
concordaria talvez com qualquer outra posição filosófica. É grande,
pois, minha preferência por Boltzmann, em detrimento de Mach,
não apenas como físico e filósofo, mas ainda, devo admiti-lo, como
pessoa. Não nego que a personalidade de Mach é extremamente
atraente; e, embora discorde por completo de sua “ análise das sen­
sações” , concordo com seu enfoque biológico. do problema do co­
nhecimento (subjetivo).
Boltzmann e Mach tinham ambos muitos adeptos entre os físicos
e^estavam envolvidos numa luta feroz. Esta travava-se em torno do
programa de pesquisa da Física e da hipótese “ corpuscular” , ou seja,
em torno do atomismo e da teoria cinética ou molecular dos gases
e do calor. Boltzmann defendia o atomismo, assim comó a teoria
cinética de Maxwell sobre gases e o calor. Mach, de sua parte,
opunha-se a essas hipóteses “ metafísicas” , advogando- uma “ termo­
dinâmica fènomenológica” , da qual pretendia excluir todas as “ hi­
póteses explicativas” . Esperava ainda estender o método “ fenome-
nológico” , ou “ puramente descritivo” , a toda a Física.
Em todos os pontos referidos, minhas simpatias estão voltadas
para Boltzmann. Devo admitir, porém, que ele, em que pese o seu
maior domínio dá Física e (no meu entender) a sua melhor Filosofia,
perdeu a batalha. A derrota deveu-se a uma questão de importância
fundamental: a sua ousada derivação pròbabilística da segunda lei
da Termodinâmica, a lei do aumento da entropia, a partir da teoria
cinética (ó teorema-H, de Boltzmann). Ele foi derrotado, creio eu,
por ter sido ousado j em demasia.
Süa derivação, sob o prisma intuitivo, é convincente: Boltz­
mann associa a entropia à desordem;, mostra, correta e convincen­
temente, que os estados de desordem de um gás num recipiente são
mais “ prováveis” (num sentido perfeitamente adequado e objetivo
de “ provável5’) do que os estados de ordem. Ele concluiu daí (mas
esta conclusão veio a mostrar-se ilegítima266) que existe uma lei
mecânica geral que assegura que sistemas fechados (gases em reci­
pientes fechados) tendem a atingir estados cada vez mais prováveis;
significa- isso que os sistemas ordenados, na medida em que envelhe­
cem, tendem a tornar-se cada vez mais desordenados, ou seja, que
a entropia de um gás tende a aumentar com o tempo.
Tudo isso é mui to/convincente; todavia, lamentavelmente errado,
na forma em que se. apresenta. Boltzmann, de início, havia consi­
derado o teorema-H como. algo que demonstraria aumento unidire-

166
cional da desordem com. o tempo. Poincaré^:
lou Zermelo 2S6, já tinha demonstrado anteriormente>quê~ cadàj' sistéma
fechado (um gás, por exemplo) volta, após
de 'tempo, às vizinhanças de qualquer estado em^qüe|estêg)j|!fahtfepi^
(E a demonstração de Poincaré jamais foi contes^da-^lgiil^êjÈlí^lfl
mann.) Assim, todos os estados são (de forma apíòxiitládâ)íí
namente recorrentes; e se o gás esteve alguma vez emUéstàdòí©t$i|fej:
nado, retornará a esse estado depois de algum tempo.v.siEm iie^nse^;!
qüência, não pode existir algo assim como uma direção privilegiada-':
no tempo — uma “ seta de tempo” — que se associaria ao -aumenta :
de entropia. ; li
A critica de Zermelo, penso eu, foi decisiva. Revolucionou as
próprias concepções de Boltzmann, fazendo com que a Tcrmodi- .
nâmica e a Mecânica Estatística se tornassem, particularmente aipós
1907 (o ano em que saiu publicado o artigo dos Ehrenfests ■ 25?-),
estritamente simétricas com respeito à direção d o tempo; e até. o
momento, , elas permanecem simétricas. A situação está no seguinte
pé: todo sistema.fechado (um gás, digamos) permanece quase todo
o tempo em estados desordenados (estados de equilíbrio). Haverá
flutuações, relativamente ao estado de equilíbrio, mas a freqüência
com que se manifestam decresce rapidamente com o aumento das
dimensões do sistema. Assim, quando encontramos um gás em certo
estado de flutuação (ou seja, num estado de maior ordem do que a
que se manifesta no estado de equilíbrio), podemos concluir que esse
estado foi provavelmente precedido por um estado mais próximo do
equilíbrio ( desordem) e que a ele se seguirá, também provavelmente'}
outro estado, mais próximo do equilíbrio. Conseqüentemente, se pre­
tendemos prever o futuro do sistema, cabe dizer (com elevada
probabilidade) que haverá aumento de entropia; e uma retrodição
precisamente análoga pode ser feita com . respeito ao passado do
sistema. É curioso notar que raramente se percebe que Zermelo
provocou uma revolução na Termodinâmica: seu nome é lembrado
com restrições ou mesmo totalmente omitido
Infelizmente, Boltzmann não se deu conta, de imediato, da
importância da objeção de Zermelo; sua primeira réplica foi insa­
tisfatória, como Zermelo ressaltou. E, com a segunda réplica, ini^
ciou-se o que vejo como a grande tragédia: Boltzmann caminhou
para o subjetivismo. Com efeito, nessa segunda réplica,
(a) Boltzmann abandoiiou sua teoria de uma direção .-temporal
objetiva e sua teoria . de que a entropia tende a aumentar nessa
direção; em outras palavras, abandonou o que hávia sido um de
.seus-pontos capitais;
^introduziu, 'ad /íob, uma hipótese cosmológica, muito bela,,
mas^descabi dá;! :
'^iiátÊódtaãriii' uma teoria subjetiva acerca da direção da tem-
.po, ;tèória que dáva caráter tautológico à lei do aumento da entropia.
A Jnterconexão desses três pontos da segunda réplica dè Boltz-
inann pode ser mais bem explicada nos termos seguintes259:
Sfè: (a) Comecemos por admitií que o tempo não possui objetiva­
mente uma direção, uma. seta, ou seja, que se com porta nesse. par­
ticular como uma coordenada espacial; admitamos, ainda, que o
" universo” objetivo seja totalmente simétrico em relação às duas
direções do tempo.
(b) Admitamos, em seguida, que o universo globalmente co
siderado é um sistema (como o é, digamos, um gás) que se acha -
èm equilíbrio térmico (desordem máxima). Nesse universo, existirão
flutuações de éntropia (desordem), ou seja, regiões^ no espaço e no
tempo, em què se manifesta alguma ordem. Tais regiões de baixa
entropia são muito raras — tanto mais raras qüanto mais baixo o
vale da entropia; e, de acordo com nossa hipótese ’de simetria, o vale
subirá ■de maneira análoga!, nos. dois sentidos do tempo, achatando-se
na direção/ da entropia máxima. Suponhamos, ainda, que a vida
seja /possível; apenas ^nos lados de vales profundos da entropia; e
chamemos -“ inundos” . a essas regiões de entropia variável.
;(c) Agòra, basta apenas supor que, subjetivamente, nós (è,
conòsco, os: outros animais) percebemos a. coordenada temporal como
se ela tivesse um sentido — uma seta — apontando para locais em
que a entropia aumenta. Isso. quer dizer que a coordenada tempo
pénetra-nos a consciência de modo sucessivo ou seqüencial, revelan­
do-se como um aumento de entropia do “ mundo” (a região èm que
vivemos), • 1
Se valem (a ), (b) e (c ), então, claramente, a entropia sempre
crescerá com o decorrer do tempo, ou seja, com o tempo de nossa
consciência. Segundo a hipótese biológica de que apenas no seio da
èxpèriencia animal é que o tempo admite uma seta, e que a seta
aponta só na direção do aumento da éntropia, a lei do aumento da
entropia transforma-se numa lei necessária — legítima, porém, ape-
riàs subjetivamente. .
>. , O seguinte diagrama poderá facilitar a compreensão do as­
sunto. (Ver Fig. 1.)
Seta do tempo . S e t a ■:í i - : -i
(apenas para este ^ '"iB B èh aá ^ à fá :eÍitÍ*Ç ^ s.S W ii> í■
intervalo de tempo)
■ 'xt- : : : " ^ í T t e f a l S * " ^ ■’ '■••'■

*:’*.T•’■"■••'•
í/.NiveLde^j:.,.,
üllíbrlov' •/;f ,'

:^ 00
Ê Ê !tíÊ ii
;í p # l l l # l l
C u rv a d e en trò jiiíií-"' V: •’
•■■.**.'■ V;' V.-;/

Fio. 1

A linha superior é o eixo do tempo; a inferior indica urriá fhi-


tuação de. entropia. As setas apontam para regiões em que a vidà
pode manifestar-se e onde o tempo é experienciado como se tivèsse
a direção ali marcada. ' •'
Boltzmann sugeriu — e Schrodinger também — que â direção
voltstda para o . “ futüro” poderia ser fixada por definição, .que
se repreende do trecho seguinte, retirado da ségxirídá: réplica 'á,
Zermelo 260: ‘ ■ ' •' .
Podemos fazer duas escolhas na. figura,; Qu -adiiutimòsírque^o "universo
está, presentemente, num estado altame.nte ixap^royável j ,^ou, -supomos
que os “aBonsV. (enquanto perdure, este; ^estadòu.jinj)rõYáyel); e„;,a^dis-.^
tância que mèdeia. a Siriüs ^ão diminütpi^^se^còmparadòs“ -com a
idade ê o taíríanhó dé'rtbdó o üííiVêrsò. ■ v“1^ü^"?rai^ferao:7:!':dèsse-';::-gênero].-'
que, glòbalmentéi coüsidêradb, está^éih
mortoj encontraremos aqui . e .ali , regiÕes . relatiyamente v pequenas,;. e ás
dimensões de nossa galáxia (e que podem ser . chamados “íiiundos” ),
que se desviam significátivamentè dò equilíbrio térmico^ ão longci de
períodos relativamente breves desses “aeons” de teittpò. Nesses mun­
dos, as probabilidades de seus estados [isto é, a entropia] crescerão/
tantas vezes quantas decrescerem. No universo, como um. todo, as
duas direções do tempo serão indistinguíveis, exatamente como . não .,
há “para'cima” ou :“para baixo?’ no espaço. Entretanto, num detér^
minado ponto da superfície terrestre, podemos chamar “para- -baixo”,!
a direção .rumo ao centro da Terra; da mesma forma, um. organismo
vivo que se encontre num dos mundos em determinado- períodor^dei
tempo pode definir a “direção” do tempo, entendendo-o como-ruma
passagem do estado menos provável para o estado mais provávelSl(o'>
primeiro receberá o nome de “passado” ; o outro será o “futuro” ). 'Em
virtude dessa definição (s ic )t o organismo imaginará que -íua-‘ própria
pequena região, isolada do resto do universo, sempre -se encontra,
“inicialmente”, num estado improvável. Párbce-me que .esta -maneiras;
de ver é a única pela qual se compreende a 'legitimidade â a ”seguftda*,;
lei e a morte térmica de cada mundo- individual, sem^nécessidade-ídefo
apelo a uma mudança unidirecional, do , universo,,,,como ^umiyjtpdo, cl è '
um estado inicial definido, para um estado final. , ^

—. - - _ ' ----. ..■


^S:.vS ffiftgfô,-s’/ lfX'-
Creio-que a idéia, de. Boltzmann é surpreendente, em sua ousadia
e belezáí^Más também creio que é insustentável, pelo menos sob o
enfoque i realista. A variação unidirecional aparece, aí, como ilusória.
Isso toraa; ilusória a catástrofe de Hiroshima. Torna ilusório o nosso
mundo; :poiiseqüentemeiite, passam. a ser ilusórias todas as nossas
tentativas de saber mais acerca do mundo. A posição é autodes-
trutiva (como .se. dá com as muitas formas do idealismo). A hipó­
tese idealista ad hocy de Bpltzmann, cònflita com a sua Filosofia
realista, contraria a sua posição antiidèíalista, defendida quase apai­
xonadamente, assim como o seu ardente desejo de saber.
Acresce que a hipótese ad hoc de Boltzmann também d.estrói,
em considerável medida, a própria teoria, física que çle desejava
saívar. Com efeito, falha completamente a sua ousada tentativa de
0
deduzir a lei do aumento da entropia (dSjdt ^ ) a partir de
pressupostos, mecânicos e ! estatísticos — seu teorema-H. Fàlha em
relação ao séu tempo objetivo (isto é, ao tempo sem direção), uma
vei que, para este, a entropia decresce tantas vezes quantas au­
menta;261. E tainbém falha em relação ao seu tempo subjetivo (isto
é, ao tempò dotado de uma seta direcional), tuna vez que, neste
segundo caso, é uma definição ou uma ilusão que faz crescer a
entrópia^e 'não:ihá, ,(e;.fném poderia;..ser,:exigid^). uma prova cinética,
dinâmica, .eslatísticà;Ou mecânica capãz de estabelecer tal fato. Assim,
é •?dtótmída^aH^^ ã téoria cinética da entropia — que
Boltzmann..tentou..defender contra os ataques de Zermelo. Foi inútil
o.-sacrifício da^sua .filosofia realista em benefício do teorema-H.
.. ! Imagino qüe Boltzmann, com o passar do tempo, compreendeu
tudo.issó e ai está a causa de sUa depressão e do seu suicídio, que
cometeu em 1906.

Embora eu admire a beleza e a ousadia intelectual da hipótese


idealista ad hoc de Boltzmann, vê-se que ela não foi “ ousada” ,
quando vista do prisma da metodologia que advogo; nada acrescen­
tou aos nossos conhecimentos, não era de conteúdo crescente. Ao
contrário, destruía qualquer conteúdo. (Está claro que a teoria do
equilíbrio e das flutuações não foi afetada; ver, a propósito a nota
256!)
Essa é a razão pela qual não senti, remorsos (embora sentisse
muita pena de Boltzmann) ao compreender que meu exemplo de
processo, físico não-entrópico, dotado de seta de tempo262, destruía
a-í-hipótese idealista ad hoc de Boltzmann. Admito que destruía algu-
ma coisa; de notável — um a.rgumento em favor do idealismo, que
parecia pertencer à Física pura: Mas eu não me inclinava, ao con-
trário do que acontecia com Schrõdinger,.. ao uso da Mecânica
Quântica em apoio do subjetiyisã^^„;Jiqu!^:.;satis^f;o poder..=ata-
car-Ihe uma das mais antigas fortalezas na Física263. E creio que
o próprio Boltzmann teria aprovado..^sas;:idéias? ,(^ b o m .tal>^Z| não
lhe aprovasse os resultados). ^ >vv.:r.-r’-x r
A história das relações "!éHtrèl^BôlÊüraãnn-.>é:v ílàS
mais estranhas da História da Ciência ,• é nelá ^sè :réveíá : :o ;póder
histórico de que se revestem^os^modisáios J:BA#i?m©dâsi!èãp^ ■:pórém>
tolas e cegas, particularmente _.as ^filo s ó fíè ^ ^ xòr-:••
a idéia de que a História^ser£ ;ftossò^ u ^
À luz da História ou3 quem ■'jj[ãt)e^à^orô^ -‘ •
Boltzmann foi derrotádòj. Tse^n ^; >todos: ,-os .ipadr^ês iisüâis4 de Vj^lga--
mento, ainda que todos lhe. recbhheçááòd?;os ,!
efeito, ele .jamais chegou a elucidar o 'staiús' d&cs.eü1# P & e ^
chegou a explicar o aumento de entropia.... (Em ^yezj disso^cHou .
novo problema — ou melhor, diria eu3 um novor; pseudópiébléma: .
a seta do tempo decorre do aumento de entropia?) -i;BôítiqÉià^;SA.ajB'fv.
bém foi derrotado como filósofo. Na última parte dé :súa yVida, o
positivismo de Mach e a “ energética” de Ostwald, ambos ,dccaráter
antiatomista, tornaram-se tão influentes que Boltzmann sehtiü-sé .jde-
saçorçoado (como se percebe em suas Lições Sobre a Teoria dos
Gases). À pressão foi tanta que ele perdeu a fé em suas idéias e riá
realidade dos átomos. Ele sugeriu que a hipótese corpuscular po­
deria não passar de artifício, heurístico (e não uma hipótese acerca
da réalidade física); a essa sugestão, Mach retrucou, afirmando
que se tratava d e ,“ lance nao muito nobre neste debate” {eiri niâhi
ganz rítterlicher polemischer Zu g) 354.
Até o presente, o realismo e o . objetivismo de Boltzmann nao
foram vingados nem por ele próprio nem pelá História. (Tanto pior
para a História.) Conquanto o ' atomismo de Boltzmann ganhasse
sua primeira grande vitória com á ajuda de süa idéia da flutuação
estatística (refiro-me ao artigo de Einstein, de 1905, a respeito .de
movimento browniano), a filosofia de Mach — a filosofia do maiòí
opositor do atomismo — foi, na verdade, a que se tornou credo
. aceito do jovem Einstein e, através dele, pelos fundadores da.,Meca?
nica Quântica. Ninguém negou * é claro, a grandeza de Boltzmann
como físico e, em especial,. como um dos. fundadores da Mecânica
Estatística. Mas seja qual for a maneira como voltemf,a renascer
suas idéias, elas parecem estar ligadas ou com a teoria subjeiivista :
da direção do tempo (Schrõdinger, Reichenbaòh,ri,(3^ünbaum),ijvrou. ..
com uma interpretação subjetivista da Estatística e„ ,do tteoremar H .
•(Bor&^&yiiés). deusa -da História —: yenerada como nosso ,juiz —
còntiiiüâíSa^jiíòs pregar ,suas peças. •

Kèlatei o episódio, aqui, porque ele ilumina a teoria idealista


dê que a direção do tempo é uma ilusão subjetiva e porque a luta
contra essa. teoria me tem ocupado bastante nos últimos anos.

36V.A teoria sübjetivista da entropia


Por teoria: subjetivista da entropia26^ entendo aqui não a teoria
de Boltzmann, ria qual a direção dò tempo é subjetiva é a entropia,
objetiva.. Entendo, antes, uma teoria devida a Leo Szilard 266, se­
gundo a qual a. entropia de um sistema cresce sempre que decresce
nossa informação a respeito dele — e vice-versa. De acordo com a
teoria - de Szilard, todo ganho de informação ou conhecimento há
dè ser interpretado como jreduçao de entropia; nos termos da segunda
leij o ganho deve ser compensado por; ,um crescimento pelo menos
igual de entropia 29\
Reconheço que existe algo intuitivamente satisfatório nessa tese
ém particular, naturalmente, para: um subjetivista. : Indubitavel­
mente/ a:•iriformaçao ‘ :(òu.:‘‘conteúdo-:•informativo’ ’ ) pode ser -medida
pélaíiinprbbàbilidadej.^cómò assinalei em 1934 em Logik der Fors-
chühg268, A ehtíopiàf de -oütra parte, pode ser igualada à probabi­
lidade/. doJ estado dó- sistema em causa. Assim, parecem válidas as
seguintes equações:
...informação ===== negentropia
entropia ===== falta de informação = ausência de conhecimento

Essas equações, entretanto, devem sér usadas com a maior cau­


tela: tudo .quanto se demonstrou foi que entropia e falta de infor­
mação podem ser medidas por probabilidades ou interpretadas como
probabilidades. Não se demonstrou que sejam probabilidades dòs
mesmos atributos do mesmo sistema.
Consideremos um dos iriais simples casóS de aumento de entro­
pia: a expansão de um gás que impulsiona um pistão. Admitamos
que haja um pistão nâ metade de um. cilindro (ver fig. 2). Admi­
tamos que o cilindro seja conservado á uma temperatura elevada
constante por meio de uma fonte de calor, de sorte que qualquer
perda-:térmica seja imediatamente compensada. Se, na porção esquer­
da, Houver um gás que desloque 0 pistão para a direita e, dessa
forma, -nos habilite a. obter,, trabalho (levantamento de um peso)
vèremos que isso custará um aumento da entropia do gás.
Suponhamos,
de mna única molécula* M ,^ ^ ss a ^ ú p ò s i£ ;^
meus oponentes. S^U^dc-iOu,: Ik
sível adotá-la *??, s^á^;>poE.étní^discutida^crit‘ÍGamèrite^&^ ;;
Podemos então: dizer- qüe:■.■<?*aum entofdà^en^opià^i^è^^hid^^uinã’-"
perda de informação. Com efeito^ antes da ^pahsão/vsabíámos ^úib; ,
o gás (isto é, a molécula -M ) achava-se à esquj^á^|;4 ô^ U j | ^ ^ '■'•’
Após a expansão, e depois de executado o trabalho ^quje^jhè^abiãy
nao sabemos se o gás está na porção esquerda ou na ,porção direita
do cilindro, pois que o pistão se encontra na extremidade.^direitaadp
mesmo cilindro: o conteúdo iiíformativo de nosso conhecimento oé
claramente muito reduzido270.
Estou, naturalmente, disposto , a aceitar esse ponto. O qué não
estou disposto a aceitar é o. argumento mais geral de Szilard, em
que ele procura estabelecer o teorema segundo o qual o conhecimento
ou informação acerca da posição da molécula M pode ser conver­
tido em negèntropia, é vice-versa. Vejo esse pretenso teorema, siri to
dizê-lo, como puro absurdo subjetivísta.
O . argumento de Szilard consiste num experimento mental
idealizado; e pode ser apresentado — com algum aperfeiçoarhentoj
segundo creio — da seguinte form a271:
Admitamos sàber que, no momento £0, o gás — ou seja, a mo*
lécula singular M — encontre-se na metade esquerda do cilindro.
Podemos, nesse momento, introduzir um pistão na metade do cilin­
dro (por exemplo, através de uma fresta na parede do riiesinÕ
cilindro)272 ê aguardar até que a éxpansaò do gás, ou o mómerito
de M , haja empurrado o pistão pará a direita, levantando um peso.--
A energia necessária é, obviamente, fornecida pelo banho de calo^rA-:-^
negentropia necessária, e perdida, adveio de nosso conh^iróentô.i'
o conhecimento se perdeu quando a negentropia se. consumiu,:isto, é;. ..
no processo de expansão e durante o movimento -do^pista^^f^i^í^^.
direita; ^quando o' pístãò; alcançada extrepiidade direita do cilindro
estát perdido, todo nosso conhecimento acerca da parte do cilindro
em que\M esteja: situada. Se. invertermos o processo, fazendo recuar
o pistão, .haverá necessidade da mesma quantidade de energia ( e
esta.se acrescentará ao banho de calor) 6 a mesma quantidade de
negentropia há de provir de algum lugar; e isso porque chegamos
à mesma situação d e. que partimos, inclusive o conhecimento de
que oi gás — ou M — está na metade esquerda do cilindro^
Szilard sugere, dessa maneira, que a negentropia e o conheci­
mento*: podem converter-se, reciprocamente, um no outro. (Ele fun- .
damenta isso numa análise — .espúria, a meu ver — da medida
direta, da posição de M ; entretanto, eomo ele apenas sugere, mas
não.:afirma, que essa análise é de validade geral, nao argumentarei
contra ela. Penso, além disso, que a apresentação aqui feita reforça,
de algum modo, a posição de Szilard — seja como for, torna-se a
mais-plausível.)
v t Passo, agora, à crítica. É essencial, para o propósito de Szilard,
que se opere com uma molécula singular M e nao com ura gás de
muitas moléculas 273. Se tivermos um gás de várias moléculas, o
conhecimento da posição dessas moléculas absolutamente nao nos
ajuda (não é, pois, suficiente), a menos que ocorra encontrar-se o
gás em estado muito negentrópico, como por exemplo, com a maioria
de suas moléculas no lado esquerdo do cilindro^ Mas então será
obviamente esse estado negentrópico ôbjêtivp (e não o conhecimento
subjetivo que dele tenhamos) que irèmos utilizar; e se, desconhe­
cendo-o, pudermos deslocar o pistão no momento exato, teremos de
novo como utilizar esse estado objetivo (e o conhecimento, portanto,
não ê necessário) .
Operemos, inicialmente, da maneira sugerida por Szilard, usan­
do apenas uma molécula M . Em tal caso, assevero eu, não necessi­
tamos de conhecimento algum com respeito à localização de M ;
tudo quanto precisamos é fazer o pistão correr no cilindro. Se ocorrer
que M se ache à esquerda, o pistão será impulsionado para a direi tá
e •poderemos erguer o peso. E se M estiver à direita, o pistão será
impulsionado para a esquerda, e também poderemos erguer o peso:
riàda. é mais fácil do que dotar o aparelhamento de uma engre­
nagem, de sorte que o peso seja erguido em qualquer caso, sem
que .precisemos saber qual das duas possíveis direções tomará o
movimento.
-;íPe?se -uaòdo, nenhum conhecimento se faz aqui necessário para
^o aumento'de entropia; e a análise de Szilard revela-se
um equívoco: ele não ofereceu nenhum argumehto^válido ;p arará .-
intrusão do conhecimento no campo da Física. -.v’"'
Entretanto, parece-me necessário dizer algd mais acerca: do:
experimento mental dé Szilard e do meu próprio. Com efeito^’ cólo^i ■
ca-se a pergunta: pode esse meu particular experimento ' ser úsadp -
para refutar à segunda lei da Termodinâmica (lei do aumento dà
entropia)?
Não penso que possa, embora acredite que a segunda lei; está,
em verdade, refutada pelo movimento browniano 274. .
A razão é a seguinte: admitir que um gás seja representadò
por uma única molécula, M , não é apenas uma idealização (õ qué
nãò viria ao caso), mas equivalé a supor que, objetivamente, ò gás Se
encontre constantemente num estado de entropia mínima. Trata-sé
de gás que, devemos admitir, ainda que expandido, não ocupa urn
apreciável 'subespaço do cilindro: essa a razão porque ele sempre se
encontrará apenas de um dos lados do pistão. Podemos, por exem­
plo, ligar um flap ao pistão, . colocando-o, digamos, em posição
horizontal (ver Fig. 3), de sorte que o pistão volte, sem resistência,
ao centro, onde o flap . retorna à sua posição de operação; assim
procedendo, poderemos estar certos de que todo o gás — toda a

F ig . 3 i
M — está só de um dos lados do pistão; e de que, assim sendo, eíê
empurrará o pistão. Admitamos, porém, que existam duas molé­
culas no gás; nesse caso, elas talvez se encontrem de lados diferentes
e o pistão'não poderá ser impelido por elas: Isso mostra que o uso
de uma: só molécula M desempenha um papel essencial na resposta
que dou a Szilard (tal como desempenha um papel importante m o
argumento de Szilard) e mostra ainda que, se pudéssemos dispor de
um gás consistente de uma só e poderosa molécula Af; sem dúvida
que ele violaria a segunda lei* Isso, porém, não surpreende" de vez que
a segunda lei descreve um efeito essencialmente estatístico. '
Examinemos mâis de perto este segundo experimento^ mentais
— o caso de duas moléculas. A informação de que ambasíse^en^
,contram íBa=iinetad&-iesquerdàí,do cilindro nos habilitaria em verdade
colocando assim o pistão em posição de operar,
j^odavia,, ::ó que impulsiona o ^pistão para a direita nao é o nosso
Gjòj^eQ^en.to.i;fde que ambas as moléculas estão à esquerda. Sao,
antes, os^momentos das duas moléculas — ou, se preferirem, o fato
de^o^gási.; encontrar-se em estado de baixá entropia.
Assim, esses meus experimentos mentais não demonstram que
sejafpossível a_existência de uma máquina de movimento perpétuo
cie segunda ordem275; mas dé vez que, como vimos, o uso de uma
única ,molécula é essencial ao próprio experimento mental de Szilard,
os meus experimentos mentais mostram a improcedência do argu­
mento de Szilard e, em conseqüência, á improcedência da tentativa
de fundamentar a interpretação subjetivista da segunda lei num
experimento mental desse tipo.
, edifício construído com base nq argumento (inaceitável, a
liiéu ver) de Szilard e em argumentos similares de outros autores,
continuará, creio eu, a crescer; e receio que continuaremos a ouvir
dizer que a “ entropia — como a probabilidade — mede a falta de
informação’* e que as máquinas poderão ;ser acionadas pelo conhe­
cimento, como se dá com a máquina de Szilard. Bazófia e entropia,
suponho eu, continuarão a ser produzidas: enquanto houver algum
subjetivista disposto a proporcionar o equivalente da insciência, .

( 37. 0 darwinismo como programa metafísico de pesquisa

Sempre tive enorme interesse pelà teoria da evolução e a dis­


posição de aceitá-la como ura fato. Sinto-me fascinado por Darwin
e pelo darwinismo — embora, até eerto pohtò, pouco me impresione a
maioria dos filósofos evolucionistas, com umà grande exceção: a de
Sàmuel ' Butler 27e.
Minha Logik der Forschung apresentou uma teoria do crescia
mento do saber por meio da tentativa; e da eliminação de erro,
ouseja, por seleção darwiniana e não por aprendizado lamarckiano;
esse „ ponto (que . insinuei no citado livro) fez aumentar, natural-
mente, -meu interesse, pela teoria da evolução. Algumas das obser­
vações que passarei a fazer constituem uma tentativa de utilizar
ininha metodologia e sua semelhança com o. darwinismo para lançar
luz sobre a teoria da evolução proposta por Darwin.
h ‘*1lhe Poverty of Historicism277 corresponde, ao meu primeiro e
- brçv.e^tentame; de enfrentar algumas questões epistemológicas rela-
cionadas com a teoria da evolução. Gontinuei..-a...,,trabalhar, nesses
problemas e senti-me deveras .estimulado quandp, •:;posteriormente,
verifiquei que havia atingido resultados :muitò; sèifiei harites a alguns
dos de Schrõdinger278. .. ^ f/pi.. -.r-
Em 1961, proferi a conferência do “ Herbert; Spéncer~ Memorial” ,
ern Oxford, intitulando-a “ A ■; EvoluçãcrV e- ^arJÁrvòré’í" do-?X3õnheci-
mento” 279. Nessa conferência íu^-segundo 'tfreiô^tíiíiglípòUcò ;“àlém
das idéias de Schrõdinger ; e; .a^partirí-dessEU^époGà, í-jdèr "maior de­
senvolvimento áo que considerôifetiriiJ’ hgeirÉf"í apeíféi^Giàliiento idã
teoria darwiniana ?80, conquanto ^Jtsáè- cõhsèrvasise^stritâmèííte' denfcrõ
das fronteiras do darwinismo^çe em?-opOáiçãõ tap? •íamai;Gkismo
dentro da seleção>;nataralyKíémVícõnirápqsi’çãor'aq 'apr-ehdisadò. \i v.
Em minha ■:cortferêriciá: ; --Coinptdh’-’: >(1966) 2801> prócü.r(ei tamb érb
esclarecer váriãs qüestÕès /çonèxas, como/ pôr' exemplo/ a lquéstãb
do status científico do darwinismo. Parece-me quê darwihismo èstá
para Iamarckismo exatamente como _ - '.
dedutivismo para indutivismo ' ■ v ■: ■
seleção para aprendizado pela repetição,'
eliminação crítica do erro para justificação. t

A insustèntabilidade lógica das idéias referidas no lado direito


dessã tabela funda uma espécie de explicação lógica do darwinismo
(isto é, do lado esquerdo). Poderíamos considerá-lo como algo
‘ £quase-tautológico’ ’ ; ou desçrevê-lo como lógica aplicada — e, de
qualquer modo, como lógica situacional aplicada (o que veremos
adiante)
Desse ponto de vista, a questão do status científico do darwi­
nismo — no sentido mais amplo, a teoria da tentativa e eliminação
de erro — torna-se interessante. Cheguei à conclusão de que o
darwinismo não é uma teoria científica passível de prova, mas um
programa de pesquisa metafísica — um possível sistema de referência
para teorias científicas coinprováveis281.
E mais ainda; encaro o darwinismo como umã aplicação do
que denomino “ lógica situacional” . O darwinismo como lógica
situacional pode ser entendido como segue. . ;
Admitamos qüe haja um mundo, um sistema de referência -de
constância limitada, no qual existam entidades de variabilidade, ilimi^.
tada. Então, algumas das entidades resultantes da variação ^aquelas
que “ se adaptam” às condições do sistema) podem “ sobreviver’^ : ao
passo que outras (as que entram em conflito com a. situação)>;podern
ser eliminadas.
;v'-Acrescentemos a isso o pressuposto da existência de um sistema
dé referência especial — um conjunto de condições talvez raras e
altamente individualizadas — onde possa desenvolver-se a vida ou,
mais . especialmente, corpos capazes de se a u to-repro duzirem, séndo,
não obstante, variáveis. Surge, então, uma situação em que a idéia
da tentativa e da eliminação de erro, ou do darwinismo, se torna
não apenas aplicável, mas quase que logicamente necessária. Isso não
quer dizer que o sistema de referência ou a origem da vida seja
necessária. Pode existir um sistema em que a. vida seja possível,
mas em que não ocorreu a, tentativa que conduz à vida, ou em que
todas as tentativas capazes de conduzir à vida foram eliminadas.
(Esta última não é mera possibilidade, mas algo que pode ocorrer a
qualquer momento: há mais de um meio de destruir toda a vida
sobre a Terra.) Pretende-se com isso dizer que., ocorrendo uma
situação que permita a vida, e surgindo, esta, tal situação global
tornará a idéia darwiniana uma idéia de lógica situacional.
Para evitar qualquer mal-entendido: nao é em toda situação
possível que a teoria darw iniana alcançaria êxito ; é antes, ' numa
situação muito especial e talvez mesmo única. Entretanto, mesmo
numa situação onde a. vida não exista, a seleção darwiniana pode, até
certo, ponto, aplicar-se: os núcleos atômicos que são relativamente
estáveis (na situação em causa) tenderão a ser mais abundantes do
que instáveis; e o mesmo pode valer para compostos químicos.
Nao me parece que o darwinismo.âlcance explicar a origem da
vida. Penso que a vida é tão extremamente improvável que nada
pode “ exjplicar” por que ela apareceu; e a explicação estatística tem
de operar, em última instância, com altíssimas probabilidades. T o ­
davia, se nossas altas probabilidades são apenas baixas probabilida­
des que se tornaram altas devido à imensidade do tempo, disponível
(como na “ explicação” de Boltzmann; ver texto correspondente à
nota 260, seção 35) não devemos esquecer que, dessa maneira, é
possível explicar quase tudo 282. Ainda assim, são poucas as razões
que temos para conjecturar que uma explicação desse tipo seja
aplicável à origem da vida. Isso, entretanto, nao afeta a concepção
do darwinismo em termos de lógicá situacional, pois admite-se que a
vida e seu sistema de referência constituem a nossa “ situação” .
Penso que, em prol do darwinismo, podemos dizer mais do que
simplesmente considerá-lo um dentre os vários programas de pes­
quisa metafísica. Com efeito, sua estreita semelhança com .a lógica
situacional explica-lhe o êxito, a despeito do caráter quase tautoló-
gico inerente à formulação darwiniana dela e em razão da circuns­
tancia de que até àgora não teve de enfrentar um rival sério.

178
Se é aceitável a concepção-jda .íteoria rdatwihiafía^íEOHio lógica
situacional, então poderemos explicar -af-:estranha'~^presençacentre
minha teoria acerca do crescimento^ do saber .e- ô darwinismo: ambas
seriam exemplos de lógica situacional; ^elemento’ nóvo especial
dò enfoque científico consciente do. sabét^— ^Aa^ :jcrítica^=consciente
das conjecturas exploratórias e da construção conscientes da^pressão
seletiva sobre essas conjecturas (através. de&críÜGasT^-^ela^vdmgidás,)'
— seria uma conseqüência do aparecimentou detsuma^inguagem ;des?
critiva e argumentatíva, ou seja, de uma linguagem-'descritiva ^cujas
descrições admitem crítica. - • ->, *j,
O aparecimento de tal linguagem nos levaria ^ à^dèfrotitaf/^ de
novo, uma situação altamente improvável e possivelmente."’ 'única,
talvez tão improvável quanto a própria vida. Contudo; ; dada' tàl
situação, a teoria do crescimento exossomático do saber' atrâvés„de -um
processo consciente de conjectura e refutação seguir-se-ia *‘quasey logij
camente: torna-se parte da situação, bem como parte. do r,darwinismo.

Quanto à própria teoria darwiniana, devo agora esclarecer- que


Utilizo o termo “ darwinismo” para indicar-lhe as versões modernas*
que recebem denominações diversas, tais como “ neodarwinismo” ou
(dada pôr Julian Huxley) “ Nova Síntese” . Ela envolve, em essência,
os seguintes pressupostos ou conjecturas, a que adiante me referirei:

(1 ) A grande variedade de formas-de vida sobre a Terra ori­


gina-se de um número reduzido de formas, talvez de um único orga­
nismo: há uma árvore evolutiva, uma história da evolução. • •
(2 ) H á uma teoria evolucionista que explica isso. Consiste
.sobretudo nas hipóteses abaixo:
(a) Hereditariedade: o descendente reproduz os organismost
-pais, de maneira bastante fiel.
(b ) Variação: há (entre outras, talvez) “ pequenas” variações;
As mais importantes dentre elas são as mutações “ acidentais” ;-:.e
hereditárias.
(c ) Seleção natural: há vários mecanismos através dos quais*
não apenas as variações, mas todo o material hereditário é contror
lado por eliminação. Entre eles, estão os mecanismos que. só permitem
a disseminação das “ pequenas” mutações; as “ grandes” 'mutações
( “ monstros possíveis” ) sãó, via de regra, letais e, por isso, elimiiiadasi
(d ) Variabilidade: embora, em certo sentido :— presença, de
diferentes competidores — , sejam as variações por .motivos sóbvioái
anteriores à seleção, pode bem ocorrer que a variabilidadeí
eatíopbijla^varíação -— seja controlada por seleção natural^ com
respeito*por, exemplo, à freqüência e extensão das variações. Uma
teoria?-genética da hereditariedade e da variação pode chegar a
adraitir genes especiais a controlar a variabilidade dos demais genes,
Podemos assim, chegar a uína hierarquia ou, talvez, a estruturas de
,interação aindá mais complexas. (Não devemos recear as comple­
xidades; sabemos que elás estão aí. Exemplificando; do ponto de
vista de um . adepto da teoria da seleção, somos compelidos a admitir
que algo como o método do código genético de controle da heredi­
tariedade é, por si mesmo, um produto inicial da seleção, e um
produto altamente sofisticado.) -
Os pressupostos (1). e (2) são, a meu ver, essenciais para o dar­
winismo (de par com alguns pressupostos acerca de uni ambiente
mutável, dotado de algumas reg u la rid a d e s)O ponto (3 ), a seguir,
é uma reflexão que faço em torno do( ponto ( 2 ).
(3) Ver-se-á que existe uma estreita analogia. entre os princí­
pios “ conservadores” (a) e (d ) e aquilo que denominei de pensa­
mento dogmático; e, de modo. semelhante, uma analogia entre os
pontos (b) é (c ) e aquilo que denominei .pensamento, crítico.
Quero, agora apresentar algumas das TrazÕes que me levam a
ver o darwinismo.em termos de metafísica e de programa de pesquisa^
É metafísico por não ser suscetível de prova. Póder-se-ia pensar
o contrário. Parece que ele assevera que., se algum dia encontrarmos
nalgum planeta vida que satisfaça às condições (a) e ( b ) . então (c)
surgirá e trará, com o correr do tempò, uma rica variedade de formas^
distintas. O darwinismo, porém, não assevera tanto. Com efeito,
admitamos . que em Marte haja uma vida que consista em exata­
mente três espécies de bactérias com equipamento genético seme­
lhante ao de três espécies terrestres. Estaria refutado o darwinismo?
De modo algum. Diremos que essas três espécies, dentre as muitas
formas de mutação, eram as únicas suficientemente bem ajustadas
para sobreviver. E asseveraríamos o mesmo, se houvesse apenas uma
especie (ou nenhuma). Desse modo, acórre que o darwinismo real­
mente não prevê a evolução da variedade. E, portanto, nao pode
explica-lã.: Quando muito, pode prever a ev.Qlução da variedade
“ sob condições favoráveis” . Entretanto, dificilmente se poderá des­
crever, em. termos gerais, o que sejam condições favoráveis — só se
poderá dizer que, estando elas presentes, surgirão formas várias.
Entendo, todavia, que focalizei a teoria por seu melhor aspecto
quase pelo aspecto em que ela é mais suscetível de prova. Po-
der-se-ia dizer que ela “ quase prevê” uma grande variedade de

180
formas de vida 203. Em outros campos,; seu.^poder *pf editivof oü^ixg
cativo é ainda mais desapontador. ConcentTemo-nosrna^“ adaptaçãò>t^
À primeira vista, a seleção natural parece explÍGá-la~ei 'em certo,
sentido, isso realmente ocorre ■ mas nao de maneira que ‘ sè possa
considerar científica. Dizer que uma espécie hoje viva £stá adaptada
á seü meio é, em verdade, quase tautológico. Com efeito, empre
gamos os termos “ adaptação” e “ seleção” de modo tal que se Ktorna
cabível afirmar- que, se a espécie nao se houvesse adaptado, ela teria
sido eliminada por seleção natural. De outra parte, se uma espécie
foi eliminada,. isso devèrá ter ocorrido pelo fato de ela se adaptar
mal às condições. A adaptação (ou aptidão) é definida pelos mò1
demos evòlucionistas como um valor de sobrevivência, e pocle ser;
medida em termos de êxito efetivo quanto à sobrevivência; : dificil­
mente havèriá possibilidade de submeter a prova uma teoiia tão
frágil quanto essa?84.
À despeito disso, entretanto, a teoria é de importância inestimá­
vel. Sem ela, não vejo- como nosso conhecimento poderia ter-se de­
senvolvido tanto quanto se desenvolveu depois de Darwin. Procúrándo
explicar experimentos com bactérias que se adaptam, digamos, à
penicilina; é evidente que somos grandemente auxiliados pela teoria
da seleção natural. Embora esta seja metafísica, lança muita-luz
sobre pesquisas de caráter concreto e prático. Permite-nos estudar,
de maneira- racional, a adaptação a um ambiente. novo (tal-xoirio
um meio infestado pela penicilina) : ela sugere a existência deoum
mecanismo de adaptação e ‘chega a permitir-nos estudar, em pormenor*
o mecanismo em ação. Até agora, esta é a única teoria capaz disso
tudo. tv
Essa, naturalmente, a razão pela qual o darwinismo foi quase
universalmente aceito. Sua teoria da adaptação fói a primeira-teoria;
não-teísta que se demonstrou convincente, e, o teísmo era pior queia
clara admissão de insucesso, pois criava a impressão, de que se havia
alcançado uma explicação* última.
Ora, na médida em que crie a mesma impressão o darwinismo
não é muito/superior à concepção/ teísta da adaptação; importa,, pois,
mostrar que o darwinismo não é uma teoria científica, mas mejtafí-
sica. Contudo, seu valor, pára a Ciência, como programa- der pesquisa
metafísica, é enorme, especialmente se admitirmos que ele pode ser
criticado e aperfeiçoado. ■
. Passemos agora a examinar ura pouco m a is aprofundadarnenté;
& programa de pesquisa do darwinismo, tal como foi formulado
acima, nos pontos ( 1 ) e ( 2 ).
> : Em primeiro lugar, assinalemos que, embora o ponto. (2 ), isto
é, a teoria da evolução elaborada por Darwin nao tenha poder expli­
cativo suficiente para explicar a, evolução de uma grande variedade
de formas de vida existentes sobre a Terra, a teoria certamente
sugere tal explicação e, por esse motivò, atrai a atenção para ela.
E prevê que, se tal evolução octírrer, será gradual.
A não-trivial predição de .gradualídade é importante e decorre
imediatamente de ( 2 ) ( a ) - ( 2) (c.); e (a) e (b ), e pelo menos o
caráter limitado das mutações não só encontram bpm apoio experi­
mental como são por nós conhecidos em minúcia.
A gradação é assim, do ponto de vista lógico, a predição cen­
tral feita pela teoria^ . (Creio que é a unica predição.) Além disso,
enquanto as alterações da base genética das formas vivas forem
graduais, elas serão — pelo menos “ erii princípio” — explicadas
pela teoria, pois esta prediz a ocorrência de pequenas alterações
devidas à mutação. Sem embargo, a "explicação em princípio” 385
é algo muito diferente do tipo de explicação que exigimos em Física.
Embora possamos explicar determinado eclipse prevehdo-o, não po­
demos predizer ou explicar, nenhuma alteração evolutiva determi­
nada, (salvo, talvez, 'certas mudanças da população genética no
âmbito; de uma espécie) ; tudo quanto podemos dizer é que, não se
tratando de mudança pequena, deverão.ter existido estágios inter­
mediários —: importante sugestão de pesquisa: urçi programa de
pesquisa.
A par disso, a teoria prediz mutações acidentais e, em conseqüên­
cia, mudanças acidentais. Se alguma “ direção” é indicada pela teoria,
é a de que mutações reversas serão relativamente freqüentes, Assim,
devemos esperar seqüências evolutivas do tipo. “ caminhar a esmo” . .
(O caminhar a esmo corresponde, por exemplo, à trajetória descrita
por um homem que, a cada passo, consulta uma roleta para dar o
passo seguinte.)
A está altura, coloca-se uma questão importante. Por que os
passos a esmo não parecem relevantes na árvore da evolução? A
indagação teria resposta se o darwinismo pudesse explicar o que,
por vezes, recebe o nome de “ tendências ortogenéticas” , ou seja, se­
qüências de alterações evolutivas que se processam numa mesma
“ direção” (passos não a esmo). Vários pensadores, como Schrõdin-
ger e Waddington e, especialmente, Sir Alister Hardy, procuraram dar
uma explicação darwiniana das tendências ortogenéticas e eu próprio
busquei fazê-lo em minha conferência “ Spencer” .
Minhas sugestões para um enriquecimento do darwinismo^ que
tòrnaria capaz de explicar a ortogênese são, em resumo, as seguintes:
(À ) Distingo entre pressão externa, òú de seícçao ambiental, e
pressão interna .de seleção. A pressão. seletivá •interna provém, do
próprio organismo e, conjecturp, porém* em ajltirna' instãncia/^de suas
preferências (ou “ finalidades” ) e m b o í a 1;estás; :pòs5ainjT naturalmente,
mudar em resposta a mudanças exteriias>^ > - j* •
(B) Admito a existência'' dé "cüfèrènte&r;fclàsséè^e:;genés^
controlam principalmente" à anatohiiã' è q u è rdéHormnarei genes ; á;
e os que còntròiam
minarei genes b. .=Nao. considerarei^ aqui - ' (émborã ^ apárèntemérite •
existam) os genes intermediários (inclusive os dé -funções mistas).
Os genes b podem, por. sua vez, sér divididos em genes p .\que con­
trolam preferências ou “ finalidades” ) e genes s (que còntroíáni
habilidades). ■ ?'
Admito, ainda, que alguns organismos, sob .pressag ^çletiva, Jexf;.
terna, desenvolveram genes e, em especial, genes b que possibilitam:
ao organismo certa variabilidade. O escopo da variação coniporta-.i
mental será, de alguma forma, controlado pela estrutura genética^61
Contudo, como as circunstâncias externas variam, uma determiúaçãò
não muito. rígida de comportamento comandada pela estrutura b
pode alcançar tanto êxito, quanto uma determinação genética não
multo rígida imposta pela hereditariedade, vale dizer, pelo escopo
da variabilidade do gene. (V er (2 ) (d ) acima.) Cabe, assim, falar
de alterações “ puramente comportamentais” do comportamento, ou de
variações de comportamento que não implicam mudanças hereditá­
rias no âmbito do escopò ou repertório de variabilidade genetica­
mente determinado; e podemos contrastar essas mudanças com alte­
rações comportamentais geneticamente fixadas ou determinadas.
. Procede, agora, afirmar que certas mudanças ambientais podem
conduzir a novos problemas e, assim, à adoção de novas preferências
ou finalidades (por haverem desaparecido, por exemplo, certos tipos
de alimento). As preferências ou finalidades novas aparecerão, ini­
cialmente, sob a forma de ;um novo comportamento exploratório
(permitido,.mas nao fixado pélos genes b ) . Dessa, maneira, o animal
tenta adaptar-se à situação nova3 sem alteração genética. Todavia^
essa alteração puramente comportamental e exploratória, caso bem
sucedida, eqüivalerá à adoção ou descoberta de um nóvo nicho. ecoB
lógico. Desse modo, favorecerá indivíduos cuja estrutura ,genéticá
p (isto é, suas preferências ou “ finalidades” instintivas) mais ou me-
nos antecipa.ou fixa o novo padrão comportamental de preferências;
Stc pá%ssç3 :0 :ipa5sü decisivo pois, agora, serão favorecidas as alterações
iiar- esjtrutura de habilidades, (estruturas j ) que se conform em com " as
nòVas preferências: habilidades para Conseguir o alimento, por
exemplo.

Sugiro, portanto, que só depois de se haver alterado a estrutura


s é que serão favorecidas certas alterações da estrutura a, ou seja, as
alterações da estrutura anatômica que favorecem o aparecimento
de novas habilidades. A pressão seletiva interna será, nesses casos,
‘'dirigida”, e conduzirá assim a um tipo de ortogênese.
A sugestão que faço, a propósito desse mecanismo interno de
seleção pode ser apresentado esquematicainente da seguinte formai

p s.-* a,

isto é, a estrutura de preferência e suas variações controlam a seleção


da estrutura de habilidades e suas váriaÇÕes; e esta, por sua vez, con­
trola a seleção da estrutura puramente anatômica. e suas variações.
Entretanto, essa seqüência pode. ser cíclica: a nova. anatomia
por seu turno,..pode favorecer mudanças de. preferência, e assim por
diante.
O que Darwin chamou “ seleção sexual” seria, do ponto de
vista aquií rexposto, .um caso especial da pressão seletiva interna. por
mim descrito, ou seja, de um ciclo que. parte de novas preferências.
É ;característico o fato de a pressão seletiva interna levar a um
ajustamento relativamente mau ao meio. Após Darwin, isso foi fre­
qüentemente percebido e a esperança de explicar certos desajustes
notáveis (desajustes do ponto de vista de sobrevivência, como a do
pavão exibindo suá cauda) foi um dos principais motivos: que leva­
ram Darwin a apresentar sua teoria: da “ seleção sexual” . T alvez a
preferência original estivesse bem ajustada, mas a pressão seletiva
interna e a realimentaçao que, a partir da anatomia alterada pode
conduzir às preferências alteradas de (a para p) levará a formas
exageradas, tanto formas comportamen tais (ritos)} quanto ana­
tômicas.
Gomo exemplo de seleção não-sexual, caberia citar o pica-pau.
Razoavel suposição parece ser a de que a especialização começou
com uma mudança de gosto (preferência) por novos alimentos,
que levou a alterações comportamentais genéticas e a novas habili­
dades., de acordo com õ esquema
só ao fita surgindo as alterações anatômicas286. É de esperar-se que
um pássaro que sofra mudanças anatômicas em. séu bico: e -língua,
sem sofrer mudanças de gosto •e =habilidadeí^yenha>;aírseru,prontamente
eliminado por seleção hatural-^: m ^ -^ão>--Liice^e^: á (Análoga é :iião
menos obviamente : um pássaio^ veom:Vüm^, nova^habilidgtdej mas sem
preferências novas a que essaf/hajriüdade ; possa servir^ >não;?, tepa
vantagens.) ; i V. •••
Em todos os estágios, haverá3^ naturalmênte;í;itiUitá'"‘Téalimenta-
çao: o estágio p —>s levará ía- realiiheátãçãof^ou^eja^ j-ifayorecerá
ulteriores alterações, inclusiveí> :alteraç0es^. gebétfeàs? Wnó^m&mo sen­
tido de. p ), assim como á agirá- ‘règreáâi^menteT|òbrè \s e'£;-/tár<comô .
indicado. Essa realimêntaçãoyV. cabe:;imaginai^ ~-é à^jDriilcipàl' respon­
sável pelas formas è rituais mais exagerados2?T.
Para explicar a questão recorrendo a òutro -exêrriplò/ admitamos
que, em certa situação, , ã pressão externa - de- 'sélèçãa -favoreça,-o
tamanho avantajado. Nesse, caso, a mesma pressão favorecerá'' tam­
bém a preferência sexual pelo avantajado: as preferências; :podfem
ser, qomo no caso do alimento, resultado de pressão -externa Entre­
tanto, uma vez que surjam novos, genes p, todo um ciclo se instalará:
são as mutações p que deflagram a ortogênese. :^ ^
Isso nos leva a um princípio geral de reforço mútuo: íèntos,
de um lado, na estrutura de preferência ou finalidade, um controle
hierárquico primário,, que age sobre a estrutura de habilidades e,
além disso, sobre a estrutura anatômica; mas temos também umâ
espécie de interação ou realimentação secundária. Julgo que esse
sistema hierárquico de mútuo reforço opera de tal modo que, na
maioria dos casos, o controle da estrutura de preferência ou finali­
dade domina, amplamente os controles inferiores, ao longo . de toda
a hierarquia 28ff. '
Exemplos poderão ilustrar ambas , essas idéias. Se distinguirmos
as alterações genéticas (mutações) no que denomino “ estrutura de
preferência” ou “ estrutura de finalidade” das alterações genéticas na
“ estrutura de habilidades” e na “ estrutura anatômica” , então, no que
se refere à interação entre a estrutura de finalidade e a estrutura
anatômica3 surgirão as seguintes possibilidades:

(a) Açao das mutações da estrutura de finalidade sobre a estru1


tura anatômica: quando ocorre unia alteração de gosto, como-no
caso do pica-pau, a estrutura anatômica relevante para a obtenção
do alimento pode permanecer inalterada, caso em que será de ^esperaf
a eliminação da espécie, por seleção natural (a menòs que sejam
usadas habilidades extraordinárias) ; ou a espécie podèrá 'adaptar-se
desenvolvendo uma nòva especialização anatômica, análoga à de um
órgão;como o olho: o maior interesse em ver (estrutura de finali­
dade) por parte de uma espécie, leva à seleção de uma mutação
favorável aó aperfeiçoamento da anatomia do olho.
(b) Ação das . mutações da estrutura anatômica sobre a estru­
tura de finalidade: quando a anatomia relevante para a obtenção de
alimento se altera, a estrutura de finalidade concernente a alimentos
corre o perigo de se ver paralisada ou ossificada por seleção natural,
o que por sua vez pode conduzir a outras especializações 'anatômicas.
Dá-se algo. similar ao. que se passa no caíso do olho: uma mutação
favorável ao aperfeiçoamento da anatomia aumentará a intensidade
do interesse por ver (isto é semelhante, ao efeito oposto).

A teoria esboçada sugere algo que sei parece a uma solução para
o problema de saber como a evolução leva ao que podemos chamar
de formas “ superiores” de vida. O darwinismo, tal como habitual­
mente apresentado, não dá semelhante explicação. Pode, quando
muito explicar algo assim como o aperfeiçoamento do grau de adap­
tação. As bactérias, entretanto, devem adaptar-se pelo menos tão
bem quanto o homem. De qualquer modo, elas existem há mais
tempo e há razão para temer que sobrevivam ao homem. Todavia,
o que pode ser talvez identificado com as formas superiores de vida é
uma estrutura de preferências còmportamentalmente mais rica —
de escopo mais amplo; e se a estrutura de preferências deve ter (de
modo geral) o papel dominante que lhe atribuo, a evolução para
formas superiores se tornará compreensível2®9. Minha teoria tam­
bém pode ser apresentada nos termos, seguintes: formas superiores
surgem através da hierarquia primária p -» a} isto é, sempre e
enquanto a estrutura de preferências for a dominante. A estagna­
ção e a reversão, inclusive a superespecialização, constituem o resul­
tado' de uma inversão devida à realimentaçao no âmbito dessa
hierarquia primária.
A teoria sugere também uma possível solução (entre muitas
outras, talvez) para o problema da separação das espécies. O pro­
blema é este: só cabe esperar que as mutações, por si mesmas,
levem a uma alteração dos genes de uma espécie, não a uma nova
espécie. Assim, tem-.se de invocar a separação de locais para” explicar
o aparecimento de novas espécies. Normalmente, pensa-se em sepa­
rarão geográfica 290. Creio, porém, que separação geográfica é ape­
nas um caso especial de separação devida, à adoção de novo compor-
taníento e ,. conseqüentemente, de novo nicho ecológico; se a prefe­
rencia por um nicho ecológico — por certo tipo de localização —

186
se tornar hereditária, poderá levar a uma separação -local suficiente
para suspender o cruzamento,- >embora: tíste: ‘Gpntiniiè r^^eorfisiologi-
camente possível. Assim, duasV-espé^es.^poâe|u:^eparâr-jsé>-.^'amdà .que
habitando a mesma. região -^gráíficá^^^^-mesihi^^ü^ip^â^^re^Q
tenha apenas a extensão de. uma árvore-tóah^è^ tG.Omo^|Lrèéè;i pcòrfer
no caso de certos moluscos africanos*-: ^ãi^séleçãò^
conseqüências semelhantes. • ‘;:í -ví'?*: .
A descrição dos possíveis mecanismòsíígehétiGÓs>Ç':àübjaçentés às..'.',
tendências ortogenéticas, tal como foi esqüéinatiiadoV àcima; corres­
ponde a uma típica análise situacional,-' ^fáèjãY-^sòmehté^
de as estruturas desenvolvidas serem do tipô; qdé 4ptídefI:smiülar os^;:
métodos de lógica situacional terão elas valor.,. d e , sobrevivência. ,

Outra sugestão concernente à teoria evolucionista •e , talye? digna:/v


de menção e a que se relaciona com as idéias de 'Valor det.sobrevi­
vência” è também com a de teleologia. Penso qúe tais. idéias podem
ser apresentadas, de modo muito mais claro, em termos de solução .
de problemas. . - "
Todo organismo e toda espécie está constantemente sob a ameaça,
de extinção j mas èssa ameaça assume a forma de problemas con­
cretos, que ele ou ela tem de. resolver. Muitos désses problemas conr
eretos nao são, como tais, problemas de sobrevivência. O problema:
de encontrar bom lugar para o ninho será ura problema concreto
para um casal de pássaros, sem ser um problema de sobrevivência para
eles, embora possa tornar-se um problema dessa ordem para a cria; e
talvez a espécie seja muito pouco atingida pelo êxito que tenham
esses pássaros no resolver, aqui e agora, o problema que os afeta..
Imagino eu que a maioria dos problemas seja. suscitada nao tanto
pela sobrevivência, como pelas preferências, especialmente pelas pre­
ferências in s tin tiv a s e ainda que os instintos em questão (genes p)
tenham evolvido sob pressão externa de seleção, os problemas por
eles colocados nao são, via de regrá, problemas de sobrevivência.
Por motivos dessa ordem é que me; parece melhor encarar os
organismos como. solucionadores de problemas do que em termos
de perseguidores de fins: como procurei mostrar em “De Nuvens e
Relógios” 291, . é dessa maneira que podemos oferecer uma versão
racional — “ em princípio” , é claro — de evolução emergente. , ,
Greio que a origem da vida e a origem dos problemas /coinci­
dem. Isso não é irrelevante para a questão de saber se cabe/.esperar
"que a Biologia venha a ser: redutível à Químicà e depois .^Física.
Considero não . apenas possível, mas provável que um dia ^tenhamos

1R7
condições de recriar coisas vivas a partir de coisas nao-vivas. Embora,
por si mesmo, isso seja extremamente .<emocionante282 (assim como
q é dó ponto de vis tá rêducipnista) não,, èstabeleceria que a Biologia
pode ser “ reduzida” à Física ou à Química, pois não traria uma
explicação física para o aparecimento de problemas — assim como
nossa capacidade de produzir compostos químicos através de meios
físicos nao acarreta uma teoria física das ligações químicas e nem
mesmo a existência de. tal teoria.
Pode-se portanto descrever minha posição como a que sustenta
uma teoria da irredutibilidade e da emergência, que pode ser resu­
mida nos. termos seguintes:
' ■•(1) Penso que não existe um processo biológico que não possa
ser visto como correlacionado, em pormenor, com um processo físico
ou que nao póssa ser progressivamente analisado em termos físico-
-químicos, Mas não há teoria físieo-química em condições de explicar
o surgimento de um problema novo e não há. processo físico-quimico
em condições de, como tal, solucionar um problema. (Os princípios
de variação em Física, assim como o . princípio da ação mínima, ou
princípio de Fermat,serãò talvez semelhantes, mas nao constituem
solução de problemas. O método, tefeticp de Einstein tentà recorrer
a Deus para objetivos similares.)
(2.) Se esta conjectura é sustentável, éla conduz áo estabeleci­
mento de certo número de distinções. Devemos distinguir
^ ■ um problema físico — um problema de físico;
um problema biológico == um problema de biólogo;
npl problema de organismo = um problema do tipo;
Gomo posso sobreviver? Gomo propagar-me? Como
alterar-me? Comò adaptar-me?
um problema criado pelo homem um problema do tipo:
Como posso controlar o desperdício?

A partir dessas distinções, chegamos à tese seguinte: os- proble­


mas dos organismos não são físicos*, não são coisas físicas, nem leis
físicas, nem fatos físicos. São realidades, biológicas específicas: são
reaíf} no sentido de que sua existência pode ser a causa de efeitos
biológicos.
(3) Admitamos que certos corpos físicos tenham “ resolvido” sèus
problemas de reprodução: que se podem reproduzir; quer exatamente,
quer como os cristais, com Apequenas falhas, quimicamente (ou ines-
m0 funcionalmente). sem importância, Ainda assim* poderiam nao

m ......... .... ..........


ser “ vivos” ( em sentido amplo),; caso. nao. .consigam: ..adaptar-se:
para consegui-lo, precisam deí; reprodução mais vgenuína í^variabilidade.
(4) A "essência” da questão é, sugiro
(Não devemos, entretanto, falar erri '“ essência^’ :;e ò;:?teímo^é' acjUi
usado metaforicamente.) A vida/ tàL cómo"táteonhecéiuos^ ^òtisísté
de "corpos” físicos (mais pretísàifoüte^^é cápàzés^de'
solucionar problemas. As •váiias-\:èsíiéiciéí^ ’ faiê-lb
por seleção natural, ou seja, pelò k^êiíodaéà^réi)iíMu$ãõ^-máis |vãriá-
ção, que, por sua vez, foi aprèndidò atràvésf^tié^füétodo :5 ,dêntièò. ;
Essa regressão não é necessariamente^^infinitá^^.-^iu^è4dad^:ppdé :
remontar a algum momento âéij eixtêrgencia:

Assim sendo, homens como B.utler. .e iBergson^^mbóra^elaborassem


teorias que tenho por completamente enrônea5,.;,úés^i^a^:^éTtõ#%^ /
suas intuições. A força vital (o engenho) indubitavelmente éxis.te
— mas é, por seu turno, um produto da vida, da seleção é .não algo
como a “ essência” da vida. São, sem dúvida, as pref erênciak qUe
abrem, caminho. N o entanto, esse caminho não é lamarckiano- inas.
darwiniano.
A ênfase que minhas teorias concedem às preferências (que, sen­
do disposições, nao estão muito longe das propensões) é, claro, uma
questão puramente “ objetiva” ; não é necessário admitir que éssas
preferências sejam conscientes. Mas elas podem tornar-se conscien­
tes; inicialmente, segundo imagino, sob a forma de bem-estar ou de
sofrimento (prazer e d o r ).
A abordagem que proponho conduz portanto, quase necessa­
riamente, a um programa de pesquisa que busca uma explicação, em
termos biológicos objetivos, da emergência de estados de consciência.

Voltando a ler essa seção ,depois de. decorridos seis anos292a,


sinto-me compelido a fazer novo sumário para mostrar, de maneira
mais. simples e mais clara., comò uma teoria puramente seletiva (a
teoria da “ seleção orgânica” , de Baldwin e Lloyd Morgan) pode ser
utilizada para justificar certós aspectos intuitivos da evolução (su­
blinhados por Lamarck, ou Butler, ou Bergson), sem que se faça
qualquer concessão à doutrina lamarckiana da transmissão de carac­
teres adquiridos. (Para a história da seleção orgânica, ver especial­
mente The Living Stream o grande livro de Sir Alister Hardy.)
À primeira vista, o darwinismo (em contraposição ao; lamarMii^
mo) não parece atribuir qualquer efeito evolucionário; àsV: irióyações
comportamentais adaptatívas (preferências, desejos, escolhas) de cada
organismo, Essa impressão, entretanto, é apenas superficial. Toda
inovação comportamental a que chega o organismo individual mo-,
difica a relação entre esse organismo ;é o meio: isso eqüivale à
adoção ou à criação de um novo nicho ecológico pelo organismo.
Sem embargo, um novo nicho ecológico significa um novo conjunto
de prçssões de seleção sobre o nicho escolhido. Assim, ò organismo,
através de suas açÒes e preferências, em parte seleciona as pressões
de seleção que irão agir sobre ele e sua descendência. Dessa maneira,
o organismo pode influir ativamente np^curso a ser adotado pela
evolução. A adoção de um novo modb de agir ou de uma nova
expectativa (ou “ teoria” ) eqüivale a abrir um novo caminho evo­
lutivo. E a diferença entre darwinismo e lamarckismo não é, como
sugeriu Samuel Butler, a diferença entre sorte e engenho: não rejei­
tamos o engenho, quando optamos por Darwin e pela seleção.

38. O Mundo 3, ou o Terceiro Mundo

Em Wissenschaftslehre} Bolzano falóu em ‘Verdades em si mes­


mas” e, de maneira mais geral, era “ enunciados em si' mesmos” ,
çontrapondo-os. aos processos mentais (subjetivos) pelos quais um
homem pensa ou apreende verdades; ou, de modo màis geral, apreen­
de enunciados verdadeiros ou falsos.
. A distinção estabelecida pòr Bolzano entre enunciados em si
mesmos e processos mentais subjetivos sempre-me pareceu da maior
importância. Os enunciados em si mesmos podem manter relações
lógicas uns com os outros: um enunciado pode ser decorrência de
outro e os enunciados podem ser logicamente compatíveis ou incom­
patíveis. De outra parte, os processos mentais subjetivos só podem
manter entre si relações psicológicas. Eles nos inquietam ou nos
confortam, lembram-nos certas experiências ou nos sugerem certas
expectativas; induzem-nos a., agir de certo modo ou a não concre­
tizar certa ação planejada.
São inteiramente diversas as duas espécies de relação. Os pro­
cessos mentais de um homem nao podèm contradizer os de outro,
nem podem contradizer seus próprios processos mentais em outra
ocasião. Entretanto, os conteúdos dos seus processos, mentais — ou
seja, os enunciados em si mesmos —— podem evidentemente contra­
dizer os . conteúdos de processos ;mentais -de outro homem. De outro
lado, os conteúdos ou enunciados em si mesmos, já ó fizemos notar
não podem manter entre si-relações de ordem, psicológica: pensa-
mentos no sentido de conteúdos, ou enunciados; em ^si;. mesmos, e
pensamentos no sentido de processos mentais pertencem a ^oú ífm«n-
dos” inteiramente diversos. ^
Se denominarmos primeiro m«n^c^^r.o.yirnundò;:das!'^'coisas5,
dos objetos físicos 1
—- e de •
subjetivas (tais como os
de tèrceiro mundo o mundo dc»:úenuhüa!^ ^r\i^:f ;»>;%ej^
ménte, prefiro falar em **mvindo;..-:l ” £ \-a .
este último, Frege denom inou,,^i^;ve:^Sy-;:‘^ e i^ ir p ^ v^V "■•
O que quer que penseiiiqs:.fda:^;coíi(^ç^^ dèssés^;tíêãs;iÃúridois •
tenho em, mente “ questões” - taás ^omo '^js^des-saber; seí^lés^fei^m^
existem ou. não, se o mundp >--3- podè^sèFí^réclijÍ&^
ao mundo 2 e, talyez o mundo 2 aO Itnúúdò?^.-'-. — vpar^^imé^dê^pri-^.---.; :
meirísskna importância, áhtes de tudo, caracterizar. > cada ::uiii ; déles
tao clara e marcadamente quanto possível. (Um a /crítica posterior :
dirá se nossas distinções são demasiado incisivas.) : '
De momento, cumpre tornar nítida a distinção entre o inundo
2 e o mundo 3 • empenhando-nos nessa tarefa, defrontaremos è ; teré- :
mos. de enfrentar argumentos como os que abaixo se colocam.
Quando penso num quadro que conheço bem, pode ser neces­
sário certo esforço para que eu o relembre e o coloque “ diante dos
olhos da mente” . Posso distinguir entre (a) o quadro real, (b) o
processo de imaginá-lo, que envolve certo esforço e (c) o resultado
mais ou menos bem sucedido, ou sèja, o quadro 'imaginado. Claro
está que o quadro imaginado (c) pertence exatamente como (b ),
ao mundo 2 e nao ao mundo 3. Não obstante, posso dizer dele
coisas análogas às relações lógicas entre enunciados. Posso, por.
exemplo, dizer que á imagem que fáço do quadro no tempo tx é
incompatível com a imagem que dele faço no tempo f 2 e até mesmo
com u m enunciado tal como: “ N o quadro, só são visíveis a cabeça
e os ombros, do homem pintado.5’ Além disso, pode-se dizer, que o
quadro imaginado é o conteúdo dó processo de imaginar. Tudo isso
é análogo ao conteúdo mental e ao processo de pensar. Quem nega­
ria, porém, que a imagem pertence ap mundo 2, ou seja, que ela é
mental e faz, sem dúvida, parte do processo de. imaginar?
Esse argumento parece-me válido e muito importante: concordo
em que, no processo do pensamento, é possível distinguir algumas:
partes qué talvez possamos denominar conteúdo desse processo,,.('pü/-
pensamento ou objeto do mundo 3) tal como foi apreendido.
precisamente por esse motivo, parece-me importante disünguki éntre^^^^

- 191 :
..7b'^|âírâpéssp;-jrientál e-õ :conteúdo de pensamento (como o denominou
■^ege^èjnis^u sêntido lógico ou de nçuiido 3.. '
' Pessoalmente, só consigo conceber, imagens visuais vagas: en­
contro, em geral, grande dificuldade de colocar diante da mente
tim quadro claro, minucioso e vivido» (Dá-se coisa diferente em
relação à música.) Eu penso, antes, em termos de esquemas, de
disposições para seguir. certa “ linha” de raciocínio e, muito fre­
qüentemente, em termos de palavras, especialmente quando me pre­
paro para registrar por escrito algumas idéias. Percebo muitas vezes
que, erroneamente, estou supondo que “ consegui” , que apreendi de
modo claro um pensamento: quando tento dar-lhe forma escrita,
dou-me conta de que não o alcancei ainda. Esse “ o” , esse algo que
talvez eu não tenha alcançado, quê não posso estar certo de haver
apreendido antes de tê-lo escrito òu traduzido claramente em lin­
guagem, de modo que posso contemplá-lo criticamente de vários
ângulos — esse. “ o” é o pensamento no sentido objetivo, o objeto do;
mundo 3, que estou procurando compreender.
O ponto decisivo é> ao que julgo, o de podermos colocar à nossa
frente pensamentos objetivos <— isto é, teorias — de maneira tal
que. tenhamos como criticá-los e. discuti-los. Para tanto, impÕe-se que
lhe demos úma forma (especialmente lingüística) mais ou menos
permanente^ A forma escrita será preferível à oral; e melhor ainda
será a forma impressa. É significativo que possamos distinguir entre
a crítica da mera formulação de um pensamento —r .um pensamento
pode ser hem ou menos bem form ulado----e os aspectos lógicos do
pensamento em si mesmo; sua verdade ou sua verossimilhança frente
a alguns de seus competidores; ou sua compatibilidade com certas
outras teorias.
Uma vez chegado a esta altura, achei que tinha de povoar meu
mundo 3 com habitantes outros que não os enunciados; e, a par
dos enunciados ou teorias, coloquei nele problemas e argumentos,
em particular argumentos críticos. Com efeito, as teorias devem ser
sempre discutidas sem que se percam de vista os problemas que élas
possam resolver.
Livrosj revistas e cartas podém ser vistos como objetos típicos
"do mundo 3, especialmente quando neles se desenvolve e sé discute
uma teoria. Naturalmente, a forma física do livro não tem impor-
tancia e nem mesmo a não-existêiicja física impede a existência do
mundo 3: pensemos em todos os livros “ perdidos” , na influência
que exercem e na busca de que são alvo. Freqüentes vezes, nao
importa muito a formulação de um argumento. O que importa
são os 'conteúdos no sentido lógico ou no sentido *do 'mundo 3 ,:
Claro está que todos os interessados na /Giênciá ^Haó 'de'., ter
interesse pelos objetos do mundo ;3* Um físicòpjj^ócle^^jjdev^níció^estar
principalmente interessado. em objetos. do;.j r i u n d o -^cristais ' e
raios-x, digamos. Logo, entretanto, ..elè .'^^
depende de nossa interpretação dos : fatps^/òu^;séyà;-nossas teorias
e, portanto, dos objetos do mundo 3. -Analogamente/^
dor da Ciência e um filósofo mtetfêssãdo?:nélafVtê^dé|ser;.[erri^graiidè
parte, estudiosos dos objetõsv-d0^;.múhdò5?3 ^;lí5RèGoj^eáé^séí; que;; èlès
também podem estar interessados -na rélação^entrè téõriasr do': inundo
3 e processos mentais do mundo ;2 ;';.inaíS-'-.^steS^U^os^!ós^.i'n-te^és^:ãp;V'
principalmente pela relação que tenham .GÓni:. aíMéÒrias/^stò^éj com
objetos próprios do inundo 3. •

Qual o status ontolcgico desses objetos dò múndo 3? Óú, para


usar linguagem menos empolada, os problemas, as teorias, os argu-;;:
mentos são “ reais” , como as mesas e as cadeiras? Quando, há: inais
ou menos quarenta anos, Heiurich Gomperz preveniu-me de que eu
era, potencialmente, um realista, não apenas no sentido de acreditar
na realidade de mesas e cadeiras, mas também no sentido de Platão,
que acreditava na realidade das Formas ou Idéias — de conceitos e
de seus significados ou essências -— não gostei disso e continuo a nao
incluir o lado esquerdo da tabela de idéias (ver seção 7, acima) entre
os cidadãos do méu mundo 3- Todavia, tornei-me um realista com
respeito ao mundo 3 dos problemas, das teorias e dos argumentos
críticos. .
Bolzano tinha dúvidas, creio eu, acerca do status on tológico de
seus enunciados em si mesmos, e Frege, ao que parece, era idealista
ou estava muito próximo dessa posição. Também eu, como Bolzano,
por longo tempo tive dúvidas e nada publiquei acerca do mundo
3, até chegar à conclusão dé que seus elementos são reais; tão reais,
aproximadamente, quanto os objetos físicos, as mesas e cadeiras.
Ninguém põe isso em dúvida, no que se refere a livros e outros
materiais escritos. T al como as mesas e as cadeiras, eles são feitos
por nós, embora não para que neles nos sentemos, mas para que ós
leiamos.
Isso parece bastante fácil; mas, que dizer das teorias em si
mesmas? Admito que elas nao são tão “ reais” quanto mesas e ca­
deiras. *Estou pronto a aceitar algo assim como um ponto, de partida
materialista segundo o qual somente coisas físicas — mèsas-:è: cà^
déjcasj-...pedras e laranjas — devera ser chamadas “ reais” . Esse,
entretantOi é apenas o ponto dè partida; logo a seguir, somos obri­
gados a estender radicalmente o alcance do termo: gases e correntes
elétricas podem matar-nos; não devemos chamá-los reais? O campo
de um ímã pode tornar-se visível graças a limalhas de ferro. E
quem duvidará, depois que a televisão se tornou um fenômeno co­
mum, que alguma espécie de realidade’ tem de ser atribuída às ondas
de Hertz (ou de M axwell)?
Devemos dizer qúe sao “ reais” aa ..imagens Vistas na televisão?
Penso que sim, pois podemos fotografá-las com. diferentes câmaras
e as imagens concordarão, como testemunhas diferentes294. Contudo,
as únagens de televisão correspondem ao resultado de um processo
pelo qual o aparelho descodifica mensagens altamente complexas e
“ abstratas” , transmitidas com o auxílio de ondas; em razão disso,
devemos, creio eu, chamar de “ reais” essas mensagens codificadas,
“ abstratas” . Elas podem ser decifradas e o resultado dessa decifração
é “ real” .
Talvez não nos encontremos agora tão afastados da teoria em
si mesma — a. mensagem abstrata codificada num livro e descodifi­
cada por nós quando lemos o livro. Contudo, talvez se faça preciso
um argumento mais geral.
Todos os exemplos dados encerram uma coisa em comum. Pa­
rece que nos dispomos a chamar real tudo quanto seja capaz de
agir sobre coisas físicas, tais como cadeiras e mesas (e filmes foto­
gráficos, acrescentemos), e sobre que possam agir coisas físicas295.
Entretanto, nosso mundo de coisas físicas foi grandemente alterado
pelo conteúdo de teorias como as de Maxwell e Hertz, ou seja, por
-objetos do mundo 3. Assim, esses objetos devem ser chamados
reais .
(Cabem aqui duas objeções: ( 1 ) Nosso mundo físico foi alte­
rado, não pelas teorias em si mesmas, mas antes pela incorporação
física dessas teorias a livros e outros elementos; e os livros pertencem
ao mundo 1 . ( 2 ) O mundo físico foi alterado, não pelas teorias
em si mesmas, porém pela nossa compreensão delas, pelo fato de as
apreendermos, ou seja, por estados mentais, por objetos do mundo 2 .
Aceito ambas as objeções, mas replico a (1) dizendo que a
alteração foi provocada, nao pelos aspectos físicos dos livros, mas
tão-somente pelo fato de que eles, de alguma forma,, “ transporta­
ram uma mensagem, um conteúdo informativo, uma teoria em si
mesma. Respondendo a ( 2 ), que. considero uma- objeção de muito
maior peso, admito mesmo que sonienteH&trauésydo&múhdü: r como 2
intermediário entre o mundo 1 e o mundo r3y-J que o mundo. .e o 1
mundo 3podem interagir. -
Esse é um ponto importante, comosé-Vvèrá quando^ eu passar
a me ocupar do problema corpo-espírito../ Issp .,;quér^Tdi2 è r . que o
mundo 1 e o mundo 2 podem interagir,^bem./ como p , mundo
2 e o mundo 3, mas que o mundo 1 e o,jnun<do :13\nãq.podem, iiir
teragir diretamente, sem alguma açãointermediária'exercida/; pelõ\
mundo 2. Assim, embora somente o mundo/i% pj3?saV„ãtua£;:ihje^ià|
tamente sobre o mundo 1, ,o mundo 3, pode agir „;sòbrè-vò ; ^ l ’1
de maneira indireta, devido à influência ,„que ,',teiii^sqbre :;p mundo,.
Com efeito, a “ incorporação” de uma têòria a üin livro ^ 'é,-í-
portanto, a um objeto físico — é exemplo,r:díásb; 4;:Pará>; -ser' lido#
o livro requer a intervenção de uma mente 4umària/:.do 'múndof 2^;
Mas requer também ,a própria teoria. Eu possó,'!pòrfexéniplò,'; incidíf
em erro: minha mente pode deixar de entêndèr : còrfètamenté-r;..ã
teoria. Contudo, a teoria em si mesma sempre permanece/e; alguma
outra pessoa poderá entendê-la e corrigir-me." Pode facilmente hão- ser
um caso de diferença de opiniões, mas de-erro. indisfarçáyel e ’féal ,
uma falha no compreender a teoria. E isso poderá-acontecer até. m^smO,
com o elaborador da teoria. (Aconteceu ^mais/ de;í-uma^vezí^çom^
Einstein.)296 -• \< -y • i .‘
Toquei aqui num aspecto abordado -em-•alguns/ de meus ,'ar.tigos
. a propósito desse assunto e de assuntos correlatos, ; como - õitda
(parcial) autonomia do mundo 3 291. .. ;'/ ... •/
Com isso, pretendo dizer que, embora..~ppssamos,;.inventar uma
teoria, poderá haver nela (e numa boa teqriav'sçmpr;e i haverá) ;-Conr
seqüências não pretendidas e não ^antecip&das.. 5Exejnpljfjcand°.:' ^os
homens podem ter inventado os números/naturais,„pu,; digamos,^ o
método de avançar infindayelmente -;na,, série/.- cfe jiúmerps. naturais.
Contudo, a existência de números primos..^ ,ê ^a,tvalidade, ,do téorerna
de Euclides, segundo . o qual. nãoj épdsjte^úm ^ maior )
é algo que descobrimos. A í está .e não há como alterá-la. Trata-se
de uma conseqüência/hãÔ:'prètéridida^é nãa^ásitécipadâ, decorrente
dessa invenção. E. tráta-sé' dé !iama f conséqüericiá: tiéciéssáriá: não há
como contorná-la. Coisai- comorhúmeros^ prirnos' e. quadrados per­
feitos e muitas outras^sãõ}" assmlf^“ produzidas” J pelo mundo 3, sem
necessitarem de auxílio adicional:'de nossa parte. Nessa medida,
podemos dizer que ta l: mündò SéJ:“ áutônpmo” .
D e-algum modo;; réiãGiònâdò riCóm o problema da autonomia,
mas adredito eu, meiios^mipbrtahtè,.é ò problema da in temporal idadé
do mundo 3. Se um éíiunciado de formulação clara hoje é verda-
deirò, é vèrdàdeiro para sempre e semprç foi verdadeiro: a verdade
ê irifeinporal ( como também a falsidade). As relações lógicas, ■tais
como as da contraditoriedade ou compatibilidade, também são intem-
porais, e o são de um m odo. mais óbvio.
Seria fácil, por esse motivo, considerar int.emporal todo o mundo
3, -tal como Platão sugeriu a respeito de seu mundo de Formas ou
Idéias. Bastaria admitir que jamais criamos uma teoria; que sempre
a descobrimos. Dessa maneira, teríamos um mundo 3 intemporal,
que existe antes do aparecimento da vida e que existirá depois que
a vida tiyer desaparecido; mundo de que, aqiii e ali, os homens
descobrem pequenas porções.
Essa.é uma concepção possível; mas não me agrada. Ela nao só
deixa sem solução o problema do status ontológico do mundo 3,
como torna esse problema insolúvel, de um ponto de vista racional.
Com efeito, embora ela nos permita “ descobrir” objetos do mundo
3, deixa de esclarecer se, ao descobrir esses objetos, interagimos com
eles ou se eles apenas agem sobre nós ; e como agem sobre nós — ■
especialmente se nao pudermos agir ,sobre eles. . Essa concepção,
penso eu, leva a um intuicionismo platônico ou neoplatônico e
coloca-nos diante de uma série de dificuldades. Ela se baseia,, com
efeito, segundo me parece, no mal-entendido de que o status das
relagóes lógicas entre os objetos do mundo 3 deve ser partilhado
com esses objetos.
Proponho uma concepção diferente — concepção que, verifi­
quei, é surpreendentemente compensadora. Eu encaro , o mundp 3
como sendo, essencialmente, um produto da mente humana. Somos^
nós que criamos os objetos do mundo 3. O fato de esses objetos
terem suas próprias leis, inerentes ou autônomas, leis que dão lugar
a conseqüências nao pretendidas e antecipadas, ê apenas um
exemplo (embora interessantíssimo) dé^Üma regra mais geral, a regra
de que todas as nossas ações têm conseqüências dessa ordem.
Vejo, pois, o mundo 3 como um produto da atividade humana
e um mundo cujas repercussões sobre nós sao tão grandes ou maiores
que as do meio físico. Há uma espécie de realimentação em todas
as atividades humanas; ao agir, sempre agimos, indiretamente, sobre
nós mesmos.
Mais precisamente, direi que vejo o mundo 3, o dos problemas,
dos argumentos críticos e. das teorias, como resultado, da evolução da
linguagem humana e como âlgo que, pôr sua vez, atua sobre essa
evolução.
Isso é perfeitamente compatível com. a intempprálidade da ver­
dade e das relações lógicas; e torna;.compreensível,,a realidade do
mundo .3. Ele é tao real quanto outros produtos :;hümanos, tão real
quanto um sistema de codificação,—r .uma^Iingüagemj.tao real (talvez,
mais real) quanto uma instituição social, a. exemplo de uma uni­
versidade ou .de um. destacamento de> polícia.
. E o mundo 3 tem uma liistória. a história *;de;: nossas:, idéias;
não apenas a história da descoberta -dessas idéi as,, âiúás ;tamb érii r a
história de como as inventamos: de ;como as elabor-áínòsj^deCoiiio
reagiram sobre nós e de como reagimos diante^ desses -produtos de
nossa própria elaboração.'
Essa maneira dé ver o mundo 3 pèrmite-nós colocá-lo dentro
do escopo de lima teoria evolucionista, que èhcaxa ib homem :'Cómo
animal. H á produtos animais (os ninhos, por;exemplo)>íque,,pòdem
ser olhados como precursores do mundo 3 humano. ;
E, em última análise, tal concepção sugere uma generalização
noutro sentido. Podemos considerar o mundo dos problemas^ das
teorias e dos argumentos críticos como um caso especial, como um
mundo 3 em sentido estrito, ou como uma província lógica òu
intelectual do mundo 3; e cabe incluir, no mundo 3 em sentido mais
geral/ todos os produtos do espírito humano, tais como as ferramen­
tas; as instituições e as obras de arte.

39 . 0 problema corpo-mente e o Mundo 3

Penso que sempre fui um dualista cartesiano (embora eu nunca


tenha pensado que devamos falar em “ substâncias”.298) e, se não
um dualista, inclinei-me certamente mais para o pluralismo do que
para o monismo. Julgo tolo ou, pelo menos arbitrário, negar a
existência de experiências. mentais, estados mentais ou estados de
•consciência; ou negar que os estados mentais estão, via de regra,
estreitamente relacionados a estados corporais, especialmente a esta­
dos fisiológicos. Também parece claro que os estados mentais são
produto da evolução da vida e que pouco se ganha procurando
ligá-los .mais à .Física que à Biologia f " .
Meti. primeiro '• encòntrd1. coin>- o probleirta.; corpo-mênte;: fez-me
' íséhtii>^ór:müifàs; an ò^qu é-S e-íU tàtavádè^
Psicologia', qua' ciência■;d o ! ^ '‘f^'dé4'áuas experiênciasji-pfâticamerite
x^atsom-reray-uma:- reação
:^apresentava; algumas
v a n t^ g e ^ .? ^ ^ 4^^^á^^|^i^ii^^ntas-;á'O iit^as «-teGvçias ^que . negam
o que são; incapazes de explicar. Em termos de tese filosófica, ela'
era patentemente falha, embora irrefutável. Que sentimos alegria
e tristeza, esperança e medo (para não falar em dor de dente), que
pensamos por meio de palavrás e por meio de esquemas, que' lemos
um livro com maior ou menor atenção e interesse — tudo isso me
parecia evidentemente verdadeiro^ embora facilmente negado, e
extremamente importante, embora obviamente não-demonstrável.
Parecia-me óbvio também o fato de sermos eus ou mentes (ou almas)
encarnadas. Mas como compreender racionalmente a relação entre
nossos corpos (ou estados fisiológios) e nossas mentes (ou estados
mentais)? Essa indagação parecia dar forma ao problema corpo-
-mente; e, tanto quanto me era possível perceber, não havia espe­
rança de fazer algo capaz de tornar mais próxima uma solução.
Em Erkenntnislehre, de Schlick, encontrei uma discussão do
problema corpo-mente, que-foi, depois das de Spínoza e Leibniz, a
primeira a fascinar-me. Ela era esplendidamente clara e rica em
pormenores. Foi brilhantemente examinada e mais desenvolvida por
Herbert Feigl. Entretanto, embora parecesse fascinante, a teoria
não me satisfazia- e durante muitos anos continuei a pensar, que
nada era possível fazer com relação ao problema, salvo talvez, por
via de critica; criticando, por exemplo, as concepções dos que supu­
nham que todo o problema se devesse a alguma “ confusão lingüís­
tica ” 3^°. (Não há dúvida de que, por vezes, nós próprios criamos
problemas^ por falar confusamente a respeito do mundo; mas por
que nao abrigaria o mundo alguns seguedos realmente profundos,
talvez impenetráveis? Mistérios podem é&istir^01; e acho que existem.)
Sem embargo, eu acreditava que a linguagem desempenha um
papel; que, conquanto caiba imaginar que a consciência é pré-lin-
güística, procede também dizer que o que eu chamo de plena cons­
ciência doi eu é especificamente humano e depende da linguagem.
Essa idéia, porém, me pareceu de pouca importância até que, tal
como descrevi na seção anterior, eu desenvolvi certas concepções de
Bolzano (e como verifiquei depóis, também de Frege) numa teoria
do que denominei o “ terceiro mundo” ou “ mundo 3” . Só então me
ocorr,eu que o problema corpo-mente poderia alterar-se completa­
mente se pedirmos.o auxílio da teoria d o .mundo 3 302. Com efeito,
essa teoria permite que desenvolvamos, pelo menos os rudimentos de
uma teoria objetiva — uma teoria biológica ■— não apenas dos estados
subjetivos de consciência, mas também dos eus.
Assim, o qüe de novo pòssa eu dizer acerca do problema corpo-
-mente estará relacionado com minha maneira de conceber o mundo 3.

198.
Parece que o problema ?corpormente^coíitinua-Ka. ser;< visto e
discutido, de. modo geral,:-em. termos i das vrárias; relações'; possíveis
(identidade, paralelismo, interação) ^enti^e*-estados:• de -consciência" e
estados* corporais. Como eu- próprio -~so.u,>partidário-,,da interação,
creio que parte do problema adimtefmm^e^am^Âqb j^se^ângulo^mas
continuo a duvidar de que a discussão Tseja-í compensadora. 'E m ^eu
lugar, proponho que adotemos uma abojrdagfem-x.biológica e-m esm o
evolucionista do problema. , Áív- i - * < ’ 1
Como expliquei na seção 37, não me^fio^müitbs; no; poder-;teo-
rético ou explicativo da teoria da evolução* Penso,- ~porém, que é
inevitável uma abordágem evolucionista dos* problemas -biológicos' e
penso, ainda, que, diante de tão desesperadora^ituação^problema,
devemos agarrar-nos, agradecidos, até mesmo -a -umà palha.- Pro­
ponho assim, de início, que encaremos a mente humana, Gom -grande
simplicidade, como se ela fosse um órgão corporal^ altamente'^desen­
volvido, e que nos perguntemos, como nos perguntaríamos com
respeito a um órgão sensorial, em que contribui ela parada; economia
geral do organismo.
Para essa pergunta há uma resposta típica e fácil, que proponho
seja rejeitada. É a de que . a consciência nos habilita a ver: Ôü^’à?
perceber coisas. Rejeito essa resposta porque, para tais fins*; temóV
olhos e outros órgãos sensoriais. Creio que se deve ao enfoque5obser-
vacionai' do conhecimento o fato de a consciência ser tão amplamente
identificada com a visão ou a percepção.
Sugiro que olhemos antes o espírito humano, primeiro que tudo,
como um órgão que produz objetos do humano mundo 3
(uo sén-
tido mais geral) e que. com eles interage. Proponho, assim, qüé
considéremos o espírito humano essencialmente como o produtor da
linguagem humana, para a qual nossas aptidões básicas (tal corrio
foi explicado anteriormente303) são inatas; e como produtor'-üe
teorias, de argumentos críticos e de muitas outras coisas, tais Coihó
erros, mitos, relatos, anedotas, ferramentas e obras dè arte.
Talvez seja difícil introduzir uma ordem nessa confusa mistura
e talvez nem valha a pena; mas não é difícil conjecturar acerca-do
que surgiu primeiro. Entendo que foi a linguagem e que ;a lin­
guagem é quase o único instrumento exossomático de uso inato no
homem, ou melhor, de base genética.
Parece-me que essa conjectura encerra algum poder ,explicativo,
embora seja naturalmente difícil submetê-la a prova. vSugiroj que , o
aparecimento da linguagem descritiva está na raiz do Tpoder .humano
d a :jimaginação, da inventividade humana e, portanto, ,do,;acareei-
rnentò do^mundo 3. Pode-se admitir, com efeito, que a primeira (e
qüastr humana) função da linguagem descritiva como instrumento
foi a de servir exclusivamente para adescrição verdadeira, para infor­
mes verdadeiros. Mas chegou o tempo em que a linguagem veio a
ser usada para mentiras, para “ inventar! histórias” . Entendo que foi
esse o passo decisivo, o passo que tornou-a linguagem verdadeiramente
descritiva e realmente humana. Isso levou/ sugiro eu, à invenção de
histprias do tipo explicativo, à geração do. mito;, ao exame crítico
dos relatos e das descrições e, assim, à Ciência; à ficção imaginativa
e. sugiro eu, à arte ■— à invenção de histórias sob a forma de figuras.
Seja como for, a base fisiológica da mente humana deve ser
procurada, se estou certo, no centro da fala; e talvez não seja aci­
dental ó fato de parecer existir nos dois hemisférios do cérebro apenas
um centro de controle da fala; pode ser o mais alto na hierarquia
dos centros de controle304. (Tento reviver aqui, conscientemente, o
problema da sede da consciência proposto por Descartes, chegando
a retomar parte do argumento que o lévóu à conjectura, provavel­
mente errônea, de que tal sede se ^ficontra na glândula pineal.
Talvez essa teoria se torne suscetível de prova em experimentos sobre
a divisão do cérebro.)305
Sugiro que façamos, uma distinção entre . estados de “ consciên­
cia” : em geral e os estados altamente organizados que parecem carac­
terísticos da mente humana, do humano mundo 2 , do eu humano.
Pènso que os animais têm consciência. (Essa conjectura se tornará
passível de prova se, com o auxílio do eletroençefalógrafo, constatar­
mos nos animais, à semelhança do que acontece com os homens, a
típica ocorrência do sono povoado de sonhos.) Mas penso também
que os animais são desprovidos do “ eu” . Quanto à “ plena consciência
do eu” (como podemos denominá-la), minha sugestão básica é a de
que, taí como o mundo 3 é um produto do mundo 2 , o especifica­
mente humano mundo 2 , a plena consciência do eu é um produto
de realimentação da elaboração de teorias.
A consciência como tal (em suas formas inferiores) parece ter
emergido e ter alcançado organização antes da linguagem descritiva.
De qualquer modo, ..desenvolvem-se personalidades entre os a.nimais
e desenvolve-se uma espécie de conhecimento ou compreensão de
outras personalidades, especialmente no caso de animais sociais. (Os
cães chegam a ter compreensão intuitiva das personalidades hu­
manas.) Contudo, a plena consciência do eu só pode surgir, segundo
entendo, através da linguagem: só depois de se ter desenvolvido
nosso conhecimento acerca de outras pessoas; só depois que nos tor­
namos conscientes da extensão de nosso corpo no espaço e, princi-

100
palmente, no tempo.; só depois de nos. ^a\^i^os,:í< M
das regulares interrupções de nossa consciência durante o; sono, e
desenvolvido uma teoria acerca da continuidadc .de nossos ^corpos
— e, portanto, de nossos eus — no período de ,sono.
. Assim, o problema corpo-inente -divíde^SK-.em^pelò -menos dois
problemas distintos: o problema da ’ estreitíssima relação -entrei esta­
dos fisiológicos e certos estadosii;dè:tconáciênèia,^e1~o^pr;oblemai muito
diverso, do surgimento do ,eu e s.uayrelaçã.o^çom-^ .corpo. iKò iproblema-
do surgimento do eu só^poderser .resolyido^ sçgundpípenso/ 1seHeyar-
mos cm conta a ..linguagem: r?e.; o l ^objetos do-vmundo;p3,,‘ a par - da- ,
dependência em que o eu seí poJoca' em relação a eles;. A ?consciência
do eu envolve, entref. ontrasj^coisás^? uma.'distijnção, ; por=j vaga que
seja, entre corpos vivos .e não-viyos-e, conseqüentemente/vuma teoria
rudimentar. a propósito . das .características .principais da* fvida^e, ule
alguma forma, envolve também uma distinção eritre corpos ^dotados,
de consciência e corpos não dotados de consciências Envolve, - ainda,
a projeção do eu no futuro: a expectativa mais ou menqs^consciente
que a. criança tem de, com o tempo, vir a transformar-se^em, adulto ;
e a consciência de, por algum tempo, ter existido no vpassado,;;.v;JE.
envolve, assim, problemas que levám a uma teoria d o . nascimento;
e, talvez, a uma teoria da morte.
Isso tudo só se torna possível através de uma linguagem des­
critiva altamente desenvolvida — linguagem que tenha levado não’
só à produção desse mundo 3, mas que se tenha modificado por
força de ação realimentadora provinda do mundo 3.
Todavia, ao que penso, o problema corpo-mente não se exaure
nos dois mencionados subproblemas: o problema dos estados dè
consciência e o problema do eu. Conquanto, sob a forma de dispo­
sição, a plena consciência do eu sèmpre esteja presente nos adultos,
as disposições nem sempre são ativadas; . Aò contrário, com freqüência
vivemos um estado mental intensamente ativo, ' encontrando-nos, ao
mesmo tempo, completamente esquecidos de nós mesmos, embora
sempre sejamos capazes de voltar a nós prontamente.
Esse estado de intensa atividade mental não-consciente é alcan­
çado dè modo particular no trabalho intelectual ou artístico: ten­
tando compreender umà teoria ou um problema, f ruindo uma absor­
vente obra de ficção qu talvez tocando piano ou jogando uma pár.tida
de xadrez3053. ' : •!
.^ . Vivendo tais estados, podemos esquecer onde estamos “ ^ o ^ q ^
é, sempre umà indicação de que nos esquecemos de nós
;v: que ocorre é que nossa mente está empenhada, coin a.v;naáxima,; ç^ni..
éentração; na -tentativa de apreender ou de produzir um objeto do
mundo 3.
Penso que este é um estâdò de espírito mais interessante e mais
característico do que a percepção de uma nódoa redonda de cor
alaranjadá. E parece-me importante assinalar que, embora somente
a mente humana os atinja, encontramos estados de concentração
semelhantes em animais caçadores, por exemplo, e em animais que
buscam fugir a um perigo. E surge a conjectura de que é nesses
estágios de alta concentração numa tarefa ou problema que a mente
humana ou animal serve melhor a seus propósitos biológicos. Em
momentos de menor tensão de consciência, o órgão mental pode,
com efeito, estar apenas divagando, - repousando, recuperando-se ou,
numa palavra, preparando-se, carregándo-se para o período de con­
centração. (Não surpreende que a auto-obsérvaçao nos apanhe com
muito maior freqüência perdidos em fantasieis do que, por exemplo,
pensando intensamente.)
Ora, parece-me claro que as tarefas da mente exigem um órgão
dessa espécie, com seus peculiares poderes de concentração num
problema, com seus poderes lingüísticos, seus poderes de antecipação,
inventividade e imaginação; e ; com seus poderes exploratórios de
aceitação e rejeição. Aparentemente, ò que executa tudo isso não
6 um . órgao físico: parece que algo diverso, como a consciência,
fazia-se.necessário e teve de ser utilizado como parte do material
de construção da mente. Apenas como parte, indubitavelmente:
muitas atividades mentais são inconscientes; muito é t involuntário
e muito é apenas fisiológico. Entretanto, grande parte do que é
fisiológico e “ automático” (tocar piano ou dirigir um automóvel)
foi previamente executado com a concentração de consciência carac­
terística da mente que descobre — da mente que se defronta com
um problema difícil. . Assim, tudo fala em favor da indispensabi-
lidade da mente na economia dos organismos superiores e da necessi­
dade de permitir que os problemas resolvidos e as situações “ apren­
didas” refluam ao corpo, com o fim presumível de libertar, a mente
para novas tarefas. ■
Uma teoria dessa ordem é claramente interacionista: há interação
entre os vários órgãos corporais e também entre esses órgãos è a
mente. Além disso, entretanto, penso qüe a interação com o mundo
3 sempre requer a mente em seus estágios relevantes — embora os
exemplos do aprender a falar, a ler e a escrever mostrem que boa
parte do trabalho mecânico de codificar e descodificar pode ser exe­
cutado pelo sistema fisiológico, que executa um trabalho similar no
caso dos órgãos sensoriais.
Creio que a abordagem objetivista e-biológicâ^ esboçadas; per­
mite-nos Ver o problema corpo-méhte. sob inova/ífuz§^Greiajainda,-
que essa abordagem se combina extremamente -]aem-4éoirL±,falgumas
investigações recentes no campo da psicologia «■ajümal3/eSpe^GÍ4Ènen te
com as de Konrad Lorenz. E mostra, ao que me parece^ um' estreito
parentesco com algumas idéias de D. T . Campbell) açprcaj/da^episte-
mologia evolucionista e com algumas idéias de SchrõjdmgeE^

40. A posição dos valores num mundo de fatos 1 ~

O título desta seção aproxima-se muito do de unr livro escrito


pelo grande psicólogo e grande homem Wolfgang K õh ler306, Con--
sidero a formulação que ele dá ao problema, no primeiro capítulo
de seu livro, não apenas admiravelmente bem colocada, mas : iam-
bém tocante; e tocará, creio eu, não apenas aqueles que lembram
os tempos em que o livro foi escrito?07. Todavia, fiquei desapon­
tado com a solução que o próprio Kõhler deu ao problema por ele
proposto: "Q ual a posição dos valores no mundo dos fatos; e como.
puderam eles ter entrada nesse mundo de fatos?3’ Não me convencê
a sua tese de que a psicologia da Gestalt tem meios de contribuir,
de inaneira relevante, para a solução desse problema. /
Kõhler explica muito claramente por que poucos cientistas f'ê
pouços filósofos com preparo científico dão-se ao trabalho de escre­
ver a respeito dos valores. A razão é simples: muito do que se diz
a respeito dos valores é mera algaravia. Muitos de nós tememos
que só conseguiríamos produfeir algaravia, ou, quando muito, algo que
dela não se distinguísse facilmente. Entendo que esses temores. sao
bem fundados, a despeito dós esforços de Kõhler para convencer-nos
de que devemos ser ousados e correr o risco. Pelo menos no campo da
teoria ética (nãó incluo o Sermão da Montanha), com sua biblicn
grafia quase infinita, não me lembro de ter lido nada bom e marcante,
exceto a Apologia de Sócrates, de Platão (onde a teoria ética tem
papel secundário), algumas obras de Kant, especialmente Funda­
mentos da Metafísica da M ora l (que não alcançou grande êxito)
e os dísticos elegíacos de Friedrich Schiller, que criticam' espirituo­
samente o rigorismo de K a n t308. Talvez eu pudesse acrescentar ;a
essa lista os Dois Problemas Fundamentais da Ética, , :de Schópe-
nhauer. Exceto a Apologia e a graciosa reductio de Kanty; Jeita por
Schiller, nenhuma dessas obras chega a aproximar-se /doji|0j&tivoí
almejado. _
; Conseqüentemente, não afirmarei senão ^-.que
recem conjuntamente com os problemas; .quévgyajlQr^jfi^o^O^è^';
existir sem problemas; e que nem valores nem problemas podem
derivar ou ser de outra maneírá obtidos a partir dos fatos,;a despeito
de, freqüentes vezes, concernirem aos fatos ou com eles se relacio­
narem. No qué - respeita a problemas, : podemos, observando uma
pessoa (ou algum. animal ou vegetal), imaginar que ela (ou ele)
estã procurando resolver determinado problema, embora talvez não
tenha consciência desse problema. Ou-pode ocorrer que um proble­
ma tenha sido descrito e descoberto, crítica ou objetivamente, em
suas relações, digamos, com algum outro problema ou com algumas
soluções intentadas. Nossa conjectura histórica pertence ao mundo 3
apenasv,no primeiro caso; no segundo, o problema pode ser. encarado
como um dos elémentos: do mundo 3- Algo semelhante sé passa
com os valores. Uma coisa, ou uma idéia, ou. uma teoria, ou uma
abordagem pode ser considerada objetivamente valiosa ao mostrar-se
de ajuda para a solução de um problema ou como solução de um
problema, seja ou nao seu. valor conscientemente apreciado por
quem luta para solucionar essè probletf|%. Contudo, se nossa con­
jectura, f o r , formulada, e-f or submetida'-a discussão, pertencerá ao
mundo. 3. Ou.eritão um valõr (relativo a certo problema) pode ser
criado ou descoberto e discutido em ^suas relações com outros valores
e com outros problemas; também nesse caso, muito diferente, dos
anteriores, o valor poderá transformar-se em elemento do mundo 3.
Assim, se estamos certos ao presumir que houve tempo em que
o mundo físico era desprovido de v id a ,;tal mundo teria sido, julgo
eu, um mundo sem problemas e, conseqüentemente, sem valores, Já se
sugeriu muitas vezes que os valores só surgiram no mundo com o
aparecimento da consciência. Nao penso dessè modo. Entendo que
os valores surgem com o aparecimento da vida; e se há vida sem
consciência - (e creio que pode haver, mesmo no caso de animais,
pois aparentemente existe o sono sém sonhos), entendo que existirão
valores objetivos, mesmo sem a consciência.
Há, pois, duas espécies de valor: valores criados pela vida, por
problemas inconscientes, e valores criados pelo espírito humano,
com base em soluções prévias, na tentativa de resolver problemas que
podem ser mais bem ou menos bem entendidos.
Essa é a posição que atribuo aos valores num mundo defatos:
uma posição no mundo 3 dos problemas e tradições historicamente
emergentes, o que é parte do mundo dos fatos — mas não dos fatos
do mundo 1 e sim de fatos parcialmente produzidos pela mente
humana. O mundo dos valores transcende o mundo dos fatos sem
valor — o mundo dos fatos brutos, por assim dizer.

*04 r" ~ 1 ~
O núcleo central do mundo 3*..tal. como/o vejo, é o inundo
dos problemas, das teorias e d^;--ci»ÜGa^'',.^E5se^;náélé^^não uml ugar
de valores; mas é dominado.,.por .^umhr;ysd©r3fô; o :.#âlor; da: verdade
objetiva e seu desenvolvimento^9. JEin*;cértó sdiilído, >poüemòs :dizeí
que, através desse mundo. 3 humano :e .intèlectualj^taíííValòri-se -põe
como o mais elevado de todosjUemboiia^devámos xadimtirtrquev.outros
valores fazem parte do-., mundo >3.'.*-Diànte.vdèíicadaiyalor^proposto^
surge O problema: é yerrJacíe.Hqu^isto^éfeumiivalor^ È^ é. vetatatíéíqub
ele tem seu lugar próprio na hierarquia^dós.. v;alores;í.=,.é^verdaclç* que a
bondade é um valor, supçriqr.yâ; ;justiça: .,ou, cqm^aráyel . à justiça^.
(Assim, eu me confessoJ.em^;c oiiip^a_^p 9siçãp^à^U!EÍes^que:,temèm^ a,,
verdade — que pensam qüe ..foi una ,pecado,, ’ comer., . ^ . árvpre do. .
conhecimento.) .. ... r

Generalizamos a: idéia do mundo. 3 humano, dé;/sorte. J^que -essé


mundo 3, em sentido .lato, compreende não apenas * os .produtos^-jde
nosso intelecto, a par das imprevistas' -conseqüências que deles; emer-.
gem, còmo também os prôdutos de nosso espirito em termos- ,de
maior abrangência, incluindo,. por exemplo, os produtos" ide nossa
imaginação. Até mesmo as teorias, produtos de hossõ. intelecto,/
resultam da crítica aos mitos, que são produtos de nossa imaginação:
elas nao seriam possíveis sem os mitos; e, por outro. lado, a crítica
nao seria possível sem a descoberta da diferença entre fato e ficção,
ou verdade e falsidade. T al o motivo por que mitos ou ficções não
devem ser excluídos do mundo 3. E, dessa maneira, somos levados
a incluir nele a arte e, na verdade, todos os produtos humanos em
que tenhamos injetado algumas de nossas idéias e que incorporem
o resultado da crítica (em sentido mais amplo que o de crítica me­
ramente intelectual). Nós próprios podemos ser incluídos nele,
por termos absorvido e criticado idéias de noSsos predecessores e por
termos procurado formar-nos- e no mundo 3 podem também ser
incluídos nossos filhos e discípulos, nossas tradições e instituições,
nossos modos de vida, nossos propósitos e nossas finalidades.
Um dos grandes equívocos da Filosofia contemporânea é o de
não reconhecer que essas coisas — nossos filhos — , embora produtos
de nossa mente e embora se apoiem em nossas experiências, subjetivas^
apresentam, a par disso, um lado objetivo. Um modo de vida pode
ser incompatível com outro, quase no mêsmo sentido em que umâ
teoria possa ser logicamente incompatível com outra. Essas -incom­
patibilidades aí estão, objetivamente, ainda que nao demostípôrQelas*-
E^rtambém nossos propósitos e finalidades, à semelhan^aíii?ae|4nóssasíi
teorias, podem conflitar e serem comparados e discutidos .criticámèftté? •
•i ,Die sua parte, a abordagem subjetiva, especialmente a teoria
subjetiva do conhecimento, trata os objetos do mundo 3 — mesmo
aqueles em sentido mais restrito, como problemas, teorias e argu­
mentos críticos — em . termos* de meros enunciados ou expressões
do sujeito cognoscente. Essa abordagem aproxima-se muito da teoria
expressíonista da arte. De modo geral, eficara a obra de um homem
inteiramente ou principalmente como expressão de seu estado íntimo ;■
e coloca, a auto-expressão como objetivo.
Procuro substituir essa maneira de ver a relação entre o homem
e sua obra por uma concepção muito diferente. Admitindo que o
mundo 3 surge conosco, acentuo sua considerável autonomia e a
enorme influência que tem sobre nós. ; Nossas mentes, nossos eus,
não podem existir sem o mundo 3 ; estão enraizados nele. À intera­
ção com o mundo 3 devemos nossa racionalidade, a prática do
pensamento crítico e autocrítico, e o agir: Devemos-lhe nosso desen­
volvimento mental. E devemos-lhe nossa relação com nosso trabalho,
com nossa obra, e as repercussões que isso tem sòbre nós mesmos.
Sègundo a concepção expressionista, nossos talentos, nossos dons,
talvez a maneira Como fomós criados e, pois, “ nossa personalidade
integral’? determina o que fazemos. O resultado é bom ou mau,
conforme sèjamos ou não personalidades bem dotadas òu interessantes.
Em contraposição, sugiro que tudo depende do toma-lá-dá-cá
entre nós próprios e nossas tarefas, nossa obra, nossos problemas,
nosso mu?>do 3; da repercussão desse vjpundo sobre nós; da reali-
mentação que pode ser ampliada pela trítica do que . tivermos feito.
Ê através da tentativa de encarar objetivamente a obra realizada
— isto é, de vê-la criticamente — e de aperfeicoá-la, através da
interação entre nossas ações e seus resultados objetivos, que podemos
transcender nossos talentos e transcender-nos.
O que se dá com nossos filhos dá*sé com nossas teorias e, em
última análise, com toda obra por nós realizada1 : os produtos se
tornam independentes > de quem os fez. De nossos filhos ou de
nossas teorias podemos retirar mais conhecimento do que o que lhes
comufiicamos. E é assim . que podemos libertar-nos do pântano de
nossa ignorância; e. contribuir para o mundo 3.
Se estou cèrtoyem minha, conjectura de que só nos desenvol­
vemos e nos tornamos ;nós próprios em interação com o mundo 3,
então o fato. de que todos nós podemos contribuir para ele, ainda
que pouco, servirá de confprto para - quantos sintam que, lutando
com as idéias, encontraram mais felicidade do que teriam jamais
merecido.

206
As abreviações usadas nestas Notas refèrem^se;.ài:BÍbÍÍo^^ajj:u/^./';//:Vjiy/'
Selecionada que as 'acorií&Èútóa”
/V;{^rr_:'-'j;^

1. Faz-se alusão à conversa na qual Cristiano. VIII<s


as opiniões de Kierkegaard a respeito de como deve/„íçon4^ifr|e4i,uin;B^ii?:.
Kierkegaard disse coisas tais como: “Em primeiro lu g a r^ é ^ â b ^ X ^ u ç ifrõ r^
rei fosse feio." (Gristiano V I I I tinha muito boa aparências); fl-Mèpóisjbiele^
deveria ser surdo e cego, ou pelo menos comportar-se, çomo.; se ;,o jfasse^--.pois ;
que isso afasta muitas dificuldades; ( . . . ) Enfim, não. .dev^ri^f al^r.^demá-,.
siado, mas recorrer a um pequeno discurso-padrão, que pudesse •[ser. . usadò
em todas as ocasiões, um discurso, portanto, sem conteúdo.” (Franciseoi jé.sé..
costumava dizer “Foi interessante, agradou-me . muito.” — “Es -^aryíséhr.
schon, es hat ipich sehr gefreut.” ) - ' V^T-s;
2. O caso- surgiu quando eu trabalhava com crianças. Um : .dos me­
ninos pelos quais eu era responsável h avia sofrido uma queda.de um,andaime!
fraturando o crânio. Fui. absolvido porque tive como provar que, por meses,
havia pedido às autoridades que removessem o andaime, ao qual eu,,consi/t
derava perigoso. (As autoridades teptaram culpar-me, procedimento que o
juiz. verberou com palavras severas.)
3. Ver Otto Weininger, Geschlecht und Charakter (Viena: Braumii.1.7
lér, 1903), p. 176: “Todos os teimosos, de Bacon a Fritz Mauthner, foràiri
.críticos da linguagem.” (Weininger acrescenta que deveria pedir desculpas
a Bacon por associá-lo, nesses termos, a Mâuthner.) Comparar esse ponto
com Tractatus, 4.0031.
4. Cp. n .-57 ao cap. 12 de O. S. Í1945 ( c ) ] , p. 297; [195Ò- (a)J ,
p. 653; [1962 (c )], [1963 (1)3 e edições posteriores, p. 312.
5. Roger Martin du Gard, JJÊtè 1914; versão inglesa de StuartínGil-
bert, Summer, 1914 (Londres: John Lane, The Bodley Head,. 19.40). '
6. O problema alcançou recentemente um novo estágio, graças :à obra
de Abraham Robinson acerca do infinitamente pequeno; ver .Abrahâm-vRo^
binson, Non-standard .Ancdysis (Amsterdã: North-Holland PubliáKing^lâomr
pany, . 1966).
7. O termo “essencialismo” (hoje de ainplo uso) .e^pçejalméi^.4f|ugs.
aplicações a definições (**definições essencidlistas” ) foram,itMto-^quantp^iêUf
saiba, pela primeira vez empregados ná seção 10 -de.-
ver,, espec., pp. 94-97; [1957 ( g ) ] e edições .p 0 stenoi^£í p j p j ^
meu O. S., vol. I [1945 ( b ) ] , pp. 24-27; e volv II [1945 ( c ) ] , pp. 8-20, 274-86;
[1950 (a )], pp. 206-18, 621-38; [1962 (c )], [1963 (1)], e posteriores edições:
vol. I, pp. 29-32; vol. II, pp, 9-21, 287-301. H á uma referência, na página
202, de Definition, de Richard RobiriSon (Oxford: Oxford University Press,
1950), à edição de 1945 de meu O. 5. [1945 ( c ) ] , vol. II, pp. 9*20; e o que
ele diz, por exemplo, nas, pp. 153-57 (cp. os "enunciados” na p. 158) e
também nas pp.; 162-65, é, sob alguns aspectos, muito semelhante ao que
digo nas páginas de meu livro, á que ele se: refere (embora a observação
que ele faz na p. 71, acerca, de Einstein e da simultaneidade, não esteja de
acordo com o que digo em [1945 (c )], pp. 18 e s., 108 e s.; [1950 (a )],
pp. 216 e s., 406; [1962 (c)J e [1963 (1 )], vol. II, pp. 20, 220). Ver ainda
Paul Edwards, org., The Encyclopedia of phílosopky (Nova Iorque: Mac-
millan Company e Free Press, 1967; Londres: Go
vol II, pp. 314-17. O “ èssencialismo" é aí longamente examinado no verbete
principal Definição (na Bibliografia faz-se referência á Robinson).
7a. (Acrescentada durante as provas.) Por sugestão de Sir John
Eccles, introduzi recentemente uma alteração na terminologia,, passando, a
falar em mundo 1, mundo 2 e mundo 3, em vez de primeiro, segundo e ter­
ceiro mundòs. Quanto à minha terminologia anterior, ver [1968. ( r ) ] e [1968
( s ) ] ; qüanto à sugestão de Sir John, ver seugFacing Reality (Nova Iorque,
Heidelberg •. e Berlim: Springer-Verlag, 1970}p A sugestão ' chegou demasiado
tarde para ser incorporada ao texto original deste livro* só tendo sido pos­
sível acolhê-la em um ou dois pontos. (Acrescentado em 1975: tornei a exa­
minar a ‘questão até .certo aponto.) Ver, ainda, n. 293, adiante.
8. Atínual phitbsòphícal Lecturè, British Açademy, 1960 [1960 (d)3,
[1961 ( f ) ] ; republicado'éni C. & /?: [1963 ( a ) ] ; ver, espec., pp. 19 e s. e,
também, p. 349, de meu “Épistemology Without a-Knowing Subject” [1968
(s)], agora cap. 3 de meu [1972 (a )j. (A tabela aqui reproduzida é uma
ligeira modificação da original.)
9. Cp. a 3.a ed. de C. & R. [1969 ( h ) ] , p. 28, o ponto 9 ali inserido.
(O ponto 9 das edições anteriores recebe agõra o número 10.) .- '
10. Nem mesmo Gottlob Frege o enuncia explicitamente, embora sua
doutrina esteja por certo implícita em seu “Sinn und Bedeutung” ; ele chega
mesmo a oferecer, ali, argumentos em apoio dela. Cp. Peter Geach e Max
Black, orgs., Translations from the Philosophical Writings of Gottlob Frege
(Oxford: Blackwell, 1952), pp. 56-78.
1.1/ Cp. meu artigo “Quantum mechasics without 'theObserver ”
[1.967 (k )]; ver espec. pp. 11-15, onde esse problema é examinado, (Assi­
nale-se, de passagem, que, ali, essa equivalência particular é questionada.)
12. Dificilmente se poderia dar uma. tradução em prosa (Parmênides,
Fragmentos 14-15): *
‘ Brilhando na noite, com luz alheia, em torno da Terra, vai vagando
sempre melancolicamente em busca dos raios do Sol.
13,. Gottlob Frege sugere — erroneamente, creio eu — em “Der Ge-
danke” , Beitrãg zur Philos. d. deutschen Idealismus, 1 (1918-19), 58-77
(excelentemente vertido para o inglês por A: M. e Marcelle Quinton, sob o
título “The Thought: a Logical Enquiry”, Mind, n. s., 65 [1956], 289-311,
que somente dos aspectos emocionais da fala é “quase impossível uma tra­
dução perfeita {vollkommene) ” (p. 63; p. 295 da versão) e que “quanto
mais estritamente científica uma apresentaçãü, tanto mais fácil de traduzir”

18
{ibid.). Ironicamente, Frege prossegue, dizendo com muita, correção, que
nao faz diferença, para qualquer confceúdo;jde pensamento, qual dos quatro
sinônimos alemães de “cavalo” (.Pferd^Rossy-Gaul, Mãhre:::—- são diferentes
um do outro apenas no conteúdo emocional; ;Mãhrey em:> particular, não
precisa ser, em todo contexto, um aégua) seja^sadokem-squalquer formulação.
Não obstante, esse pensamento...deEnege, ^(ÊonGeitd^BiniÉles -e destituído de
caráter emocional, é, segundo parede, rimpQSSíyer;4detí;tíadüzir paráív.a,.Jíngua
inglesa, porque, .no inglês, nao hávfferês jb0hsv:isittôhiinp.sv.ipàras! a«palavra /lorrâ
( “cavalo” ). O tradutor teria,..portanto, .de^sè^tEarisfò^
procurando alguma palavra j^iesa-fç09nutn4^üè::-'^diâitísse<^très^mô|umò)s:4i'ader.-
quados — preferivelmente com.; ^^'ciaçõ«5;.£^c[j|[v^.^u^:^c^ü^^.daramên.te.:
diversas. ■=
14. Cp., por exemplo,- seção 37 de mirihá' LidíF: ’|jÍ934 (b )], [1966
(e)3 e edições posteriores; e, aiiida^iLv Sei ”Iíil'Il:959í'”,(--ái)'’!lv'e<,fedii5Ões 'postèfíò'4- .
res. O exemplo que eu tiiiha em. ,mente eraó£dò?;.desvioírgfáyitaG.ionál::=;parà
o vermelho. . ■. :Sí'. - ■ :
15. Para essa idéia e para a citação; , ver -seção’: 6 ’!de: mmhá^ L.d.^í
[1934 (b )]j p. 13; [1966 (e)J, p. 15: “Sie^ sagên úm sò mèhr,Tjè'.melir siej
verbieten” ; L. Sc. D. [1959 ( a )] e edições posterioiièSí^p^í^l^^^ièwántoV^máMV
proíbem, mais dizem.” A idéia foi acolhida por Camápj\rià'íseçaé'-S2à}: de;>sua/
IntToduction to Semantics (Gambridge, Mass.: Harvard\■ ■Ürii versii,y Press^
1942); ver, espec., p. 151. Nesse livro, Carnap atribui tal idéiâ:ía WiUgeri si
tein, “devido a um engan.o de memória” , como ele próprio : diz riá !éeção -7.3:
de suas Logical Foundations of Probability (Chicago: University of -Chicago
Press, 1950), p. 406, onde a atribui a mim. Ali escreve Carnap: ‘XKpòdér
assertivo de uma sentença consiste em ela excluir certos casos possíveis*”
Devo agora acentuar que esses “casos” , na Ciência, são teorias ( hipóteseii):
de maior ou menor grau de universalidade. (Mesmo aquilo que em L. Sc . D.
denominei “enunciados básicos” são, como ali sublinhei, hipóteses, embora
de baixo grau de universalidade.) ’ *
16. Ao subconjunto de conteúdo informativo que consiste em enun­
ciados básicos (enunciados empíricos) denominei, em L. Sc. D., a classe dós
“falseadores potenciais” da teoria, ou seu “conteúdo empírico”.
17. Com efeito, não-a pertence ao conteúdo informativo de a, e a aò
conteúdo informativo de não-a,: mas a não pertence a seu próprio contèúdó
informativo (a menos que seja uma contradição).
18. A demonstração (que, na forma específica aqui apresentada, me
foi referida por David Miller) é assaz direta. Com efeito, o enunciado
“ b oii t ou ambos” decorre de “a ou t ou ambos” se e somente se decorre
de a; ou seja, se e somente se a teoria í decorre de “ae n ã o - b Contudo,
como a e b se contradizem (por hipótese), este último enunciado diz o
mesmo que c. Assim, “ 6 ou t ou ambos” decorre de “aou t ou arnbos” se
e somente se í decorre de d; e isso, por pressuposição, nãoacontece.
• 19. J. W . N. ‘ Watkins, Hobbes3s System of Ideas (Londres: Hut-
chinson, 1965), pp. 22 e s.; 2.a ed. 1973, pp. 8 e s.
20. (Esta nota achava-se originalmente integrada ao texto. Tudo
isso pode ser facilmente enunciado, mesmo que nos venhamos a--restringir
a apenas uma das duas idéias de conteúdo até agora exami nad as, Tó rriâ-se
ainda mais claro em termos de uma terceira idéia de conteúdo, .fouseja, a
• idéia do conteúdo-problema de uma teoria.
Acòmpanhando uma sugestão de Frege, podemos introduzir a noção de
um problema sim-ou-não, oii, abreviadamente;, um problema y: dado um
enunciado a digamos, “A grama é verde” ), o problema y correspondente
( “É a grama verde?” ) pode ser denotado por “ }/ (« )”- Vê-se, de imediato,'
que y (a ) = y( não- a) : o problema de saber se a grama é verde eqüivale,
qua problema, ao de saber se não é verde, ainda que as duas perguntas se
apresentem diferentemente formuladas e ainda que a resposta “sim”, a uma
delas, corresponda à resposta “não” à outra.
Àquilo que proponho denominar de conteúdo-problema de uma teoria t
pode ser definido de uma de duas maneiras equivalentes: (1 ) é o conjunto
de todos aqueles y{ a) para os quais a é um elemento do conteúdo lógico de
t\ (2 ) é o conjunto de todos aqueles y{ a) para os quais a é um elemento
do conteúdo informativo de t. Assim, o conteúdo-problema relaciona-se, de
idêntica maneira, aos dois outròs conteúdos, V/'
Em nosso exemplo anterior, N (a teoria’ de Newton) e E (a teoria de
Einstein) , . y ( E ) pertence ao conteúdo-problema de N e y { N ) aò de E. Se
denotarmos por K (== Ki e K 2 e K 3) o enunciado que formula as três
leis de Kepler, restritas ao problema dos dois corpos, então Kt e Kt decorrem
de N, mas contradizem E, enquanto K\ e, portanto, K, contradizem tanto N
quanto É. (V er meu artigo [1957 (i.)], [1969 (k )j, agora cap. 5 de [1972 ( a ) ] ;
e, ainda, [1963 (a )], p. 62, n. 28.) Entretanto, y ( K ) e y{ K\) , y { K i ) f y ( Ki )
pertencem todos ao conteúdo-problema tanto de N quanto de E e y ( N ) e
y ( E ) pertencem.ambos ..aos conteúdos-problema de K, de Ki, de K% ê de K*.
•:.. A circunstancia^ de y(E),:'- o problem ada verdade ou. falsidade da teoria
dei.. Einstein, :pertencer ao-conteúdorproblemâ de X e de N ilustra o fato de
nãóií poder haver :aqui transitívidade. Gom efeito, a questão de saber se a
teoria/.do^ efeitos ótico :.Doppler é verdadeira — ou seja, y ( D ) — pertence
ao conteúdo-problema de E, mas não. ao de N. ou de K.
•■Conquanto não haja transitívidade, pode haver um liame: os conteúdos-
-problema de a e de b podem ser vistos como ligados por y (c ), se y ( c ) per­
tencer ao conteúdo-problema de a e também ao de b. Obviamente, os con­
teúdos-problema de quaisquer. a e b podem ser sempre ligados por meio da
escolha de algum . c apropriado (talvez c — a ou b ) ; assim, o mero fatQ
de a e b estarem associados é trivial, mas o fato de estarem associados por
algum problema particular y{ c) (que nos interessa, ’ por esta ou aquela
razão) talvez não seja trivial e acrescente algo à significância dè a} de b
ou de c. A . maior parte dos liames, naturalmente, é desconhecida em qual­
quer época dada.
21. „ Gottlob Frege, Grundgesetze der Arithmetik (Iena; H. Pohle,
1903) ,’ vol. II, seção 56.
22. Clifford A. Truesdell, “Foundations of Gontinuum •Mechanics5,J
inDelaivare Seminar in ihe FQundations of Physics, org. por Mario Bunge
(Berlim, Heidelberg, Nova Iorque: Sp
ver espec. p. 37.
23. Gottlob Frege, “Über Begriff und Gegenstand” , Viertelja.hrssch.rift
f. wissenschaftliche Philos., 16 (1892), 192-205. Cp. p. 43 de Geach e
or5s,‘j Phiiosophical IVritings of Gottlob Frege, pp. 42-55 (ver n. 10,
acima).
24. Ver n. *1 à seção 4 [1959 (a).] e edições posteriores, p. 35;
[1966 (e )] e edições posteriores, p. 9; e também tneüs dois prefácios.
25. Os problemas aqui abordados são discutidos .1(embora talvez nãõ
integralmente) nos vários prefácios. a L. d. Jfv e. X . Se.. D. Talvez se revista
de algum interesse o fato de eii criticar .aüi ;;.qorni_aIgum .pormenor, todo o
enfoque da análise da linguagem, o... quer sequeriWseímencionou quando esse
livro foi resenhado em M ind (ver ainda minha .0réplica...av essajresenha, em
n. 243, da seção 33, adiante), embora .:essá ...jrevista 1não.í.jfosse...ò,. lugar, ade­
quado para fazer a crítica e dar4he ..resposta; .a. crítica;,jtaitfepoucb.. .foi .men­
cionada em outra, publicajção. Pará outras discussões vácé£éá, deJvrproblemas
relacionados com o tópico desta digressao,^ver ;as 'referências^ da jn..:‘7, ;na
sfeção 6, e minhas várias discussões!" dàs;^Iui>^ês/;.!:d^^fíHvà-«efir\argliíriéritatíV.a
da linguagem, em C. 6? R. [1963 ( a ) ] ,e:. ed^ões:V;,|í6s,teriòres; e/’ ainda^
[1966 ( f ) ] s [1967. ( k ) l , [1968 (r.)] :e ^^E"1968.^"(s)Xíi:;r:(:Á-- primeira dêstas
constitui agora o cap. 6 e as duas >'últimás:>tté' ‘(a*) Jv$‘5^
Interessante exemplo de uma palaVrã-iÉhaVé:.('êphexés,,,:Tíóf Tíimeü’(;Í?5A'
de Platão) que foi mal interp^etáda (c ô ^ ? ?^jsúèeMÍvá,\;.]^/^j^ptó:^iife‘-igílári3'-
deza”, em vez d e - “sucessiva, èm ordem de tempo’5 ou, talyèz;,' “êm^ordém
adjacente” ) porque a teoria não foi entendida^^è qué' piodèí. set rmtêfj^rètada
em dois sentidos diferentes ( “sucessivamente”;, -no _ teitipój -0U-;vadjaçéátéá^
quando aplicada a ângulos planos) sem afétar >a íeorteiísdé:^Íát:ãoj^féncontriâ^e .
em meu artigo “Plato, Timaeus 54 E-55 • A ”M 2 950 -\ (d ^ ^ a r á -e x e m p lo s
similares, ver a terceira edição de C. & Ri: [i969%£hyj^âespeci-;.’pp*í-í'65'é
408-12. Em suma, não é possível traduzir - sèm :tér'òònstantemehtèv%ó ;;espíritò
a situação-problema. C. T;:
26. V er seção I V ao cap. 19 de minha O."Si [1945 (c),3^ [19^50 ( a ) l
e edições posteriores, em torno, da arnbigüidade. da violência; ver também,
no. índice, “violência” . . ' • . " 'Ti'.’'
27. Ver, para comentários em :torno de;; todós esses - pontos, The Po­
verty [194.4 (a ) e (b ) ] e [1945; ' ( a ) ] e- Í195-7 (g ) ],re .: ainda éspec. caps.
17 a 20 de O. S. [1945 (c).], e [1966- (a ) 3- As observações acerca dos traba­
lhadores de Viena que aparecem■;a: seguir jrio ,texto, .repetem, no fundamental,
o que registrei em O. S. in nn. -18 a 22, do cap. 18 e n. 39 do cap. 19.
Ver, ainda, as referências feitas em n. 26, acima,acerca de ambigüidade da
violência.
28. G. E. R. Gedye, Fallen Bastions (Londres: Victor Gollancz, 1939).
29. Cp. [1957 ( a ) ] , republicado como cap. 1 de C. ® R. [1963 ( a ) ]
e edições posteriores.
30. Gp. Ernst Mach, The Science of Mechanics, 6.a ed. inglesa, com
uma Introdução de Karl Menger (L a Salle, Illinois: Open Court Publishing
Co., 1960), cap. 2, seção 6, subseção 9.
31. A frase sublinhada surgiu pela primeira vez e sua significância
foi discutida em [1949 ( d ) ] , agora traduzida' para formar o Apêndice a
. [1972 ( a ) ] ; ver também [1957 (i) e ( j ) 3, [1969( k ) 3, agora^cap.
5 de [1972 (a ) 3.
32. Albert Einstein, Über die spezielle und die. algemeine relativitãts-
iheorie, 3.a ed. ( Braunschweig: Vieweg, 1918) ; ver espec. cap. 22^ Utilizei
minha própria tradução, mas a passagem correspondente aparece na p.' <77
da tradução inglesa a que faço alusão na próxima nota;. Importa .acentuar
que a teoria de Newton permanece çomo caso-limite da . teoria;.;;des Einstein
acerca dà. gravitação. (Isso to^na-se particularmente claro quandó a -teoria
de Newton é formulada de maneira “relativística geral”- ou “coyariánte”y

<0,1 1
tomando- a velocidade da luz como infinita [c = oo].' Isso foi demonstrado
por Péter Havas, “Four-Dimensional Formulations òf Newtonian Mechanics
and Their Relation to the Special and General Theory of Relativity”, Review s
of M o d e m Physics, 36 [19641, p. 938-65.) '
33. Albeft Einstein, Relatiuity: T h e § 0 ^ ia l and the General Theory.
A Popular Exposition (Londres: Methuen &:T Co., 1920), p. 132. (Melhorei
ligeiramente a tradução.)
34. L . d. F. [19.34, ( b ) ] , p. 13; [1966 ( e ) l e edições posteriores, p.
15; e L . Sc. D ., [1959 (a )] e edições posteriores, p. 41; ver n. 15 à seção
7, acima.
í 35. Cp. Hans Aíbert, Marktsoziologie und Entscheidungslogik (Neuwied
e Berlim: Hermah Luchterhand Verlag, 1967) ; ver espec. pp. 1'49, 227 e" s.,
309, 341 e s. A expressão imprópria que utilizei, “ estratagema convenciona-
lista”, foi substituída por “imunização” ( “imunização contra a crítica” ) nos
escritos .de Albert.
(Acrescentado durante as provas.) David Miller chamou-me a aten­
ção, agora, para a n. 1, na p. 560, de Arthur Pap, “Reduction Sentences
and Dispositional Concepts”, in T h e Philosophy of R udolf Carnap, org. por
Paul Arthur Schilpp (L a 5alie, Illinois, Open Court Publishing Co., 1963),
pp. 559-97, que antecipa este uso de “imunização” .
36. Gp. cap. 1 de C . & R . [1963 ( a ) ] e edições posteriores.
37. Para uma discussão muito máis ampla, ver seções 2, 3 e 5 de
minhas Replies.
38. Ver C. & R ., [1963 (a )] e ediçoçs posteriores, cap.- 10, espec. o
Apêndice, pp. 248-50; cap. U, pp. 275-77; cap. 8, pp. 193-200; e cap. 17,
p. 346. O problema foi discutido pela primeira vez por mim na Seção 15 de
L. d. F. [1934 ( b ) ] , pp. 33 e s.; [1966 ( e ) ] e edições posteriores, pp.
39-41; L . Sc. D. [1959 ( a ) ] e edições posteriores, p. 69 e s. Um a discussão
razoavelmente ampla de certas teorias metafísicas (em tórno do determinismo
e indeterminismo metafísicos) encontra-se em meu artigo “Indeterminism in
Quantum Physics and in Classical Physics” [1950 (b ) ] ; ver espec. pp. 121-23.
39. Ver pp. 37 e s. de C . & R . [1963 ( a ) ] e edições posteriores.
40. Ver [1945 ( c ) ] , pp. 101 e s.; [1962 ( c ) ] e edições posteriores, *
vol. II, pp. 108 e s .
41. Ver Imre Lakatos, “Changes in the Problem of Inductive Logic
in T h e Problem of Ind uctive Logic, org. por I. Lakatos (Amsterdã; North-
Holand Publishing Co., 1968), pp. 315-417, ,espec. p. 317.
42. Não parece haver qualquer depèridência-tempp sistemática, como
há no aprendizado de sílabas sem significado^'^ ■
43. Cp. C. Lloyd Morgan, Introduciion to Comparative Psychology
(Londres: Scott, 1894) e H. S. Jennings, T h e Behaviour of the L o w er
Organisms (Nova Iorque: Colurabia University Press3 1906).
44. Minha idéia da formação de hábitos pode ser ilustrada por um
informe sobre a gansa Martina em Konrad Lorenz, O n Aggression (Londres:
Methuen & Co., 1966), pp. 57 e s. Martina .adquiriu um hábito consistente
em fazer certo desvio na direção de uma janela antes de subir as escadas
para o primeiro andar da casa dé Lorenz, em Altenberg. Esse hábito se
originou ( i b i d p. 57) como típica reação de escape à luz (a janela). Embora
essa primeira reação se “repetisse”, “o desvio habitual ( . . . ) tomou-se cadâ
vez mais curto”. Assim, a repetição não criou tal hábito; e, no caso, tendeu
-inclusive a fazê-lo desaparecer lentamente. (T al vez r.isso fosse algo como. um
aproximar-se da fase crítica.) -Note-se, de passagem, qué muitas alusões de
Lorenz parecera vir em apoio de minha concepção .-de - qüê^os ^cientistas usam
o método crítico — - o método de conjectútas téntativas - de\ jefutãção; Es­
creve elej por exemplo (ibid., p. 8 ) “É um bom., exerdciomatutino, para
um . cientista pesquisador, afastar todos'^os^ dias,- antéSpd&-:^C4 fi^-RtÍa-!^rianhã,
uma hipótese de sua predileção/VGontudo^v-a- de'spêitò?:Mi^o^;.|Çiorèâz:!f:parecè.
continuar sob a influência do■■:indutivisifio*'^Vel:>''pT ■eXtfj|fit'èí'£/;yf?p;:;-;62.-£^‘Tô-
davia, talvez uma série completaideiihúinèras' rfipetiçÕès^i^i- /)\- fosáé.rièc es-
sária” ; para outra passagem-'em ^qitfevfètiste •‘‘üM-.-tlàrò r^ro^^itòSâoáêt^SlégiGoi:
.ver Konrad Lorenz^ Überr-,^UfUci^^.Mnd^MèfáthlU^U^^.èfÍíálúH>^yLxiiÂ-'
que: R. Piper & Co*; 196535'pí^388'^^émi-seinprè'J -:pàreG'è-éíe^dàt-sé^conta.
de que, em Ciência, -repetições”- dé^ obsèiVaçõés ' nao Mão:; cohftriíiá^õès 4indu^,
tivas, mas tentativas críticas= deVerificar-se. ò''-'próprÍQ''“eomppM^ènto - — : dè
surpreender-se a pessoa em erioi. V ê f ainda íadiante, etè x tò .'
correspondente. ' - •••7 f- V7 .:?£• •. 7 -i.;•••7 ;
45. -Segundo o O x ford English Dictionary, á expressão “rule, o f trial.
and error35 originou-se em ariünética (ver t r i a l ’4 ) . \Nòté;se-'~!qu^
Morgan nem Jennings usaram- a expressão nó sentido' dé\rtOTtaUvM/$àleátpr2^*' •'
(Este último uso parece dever-se a Edward Thorndikè.') r; V. .0
46. A retirada, cega de uma esfera de uma urga não asségüra a àlêà-
■toriedade, a menos que as esferas tenham sido bem misturadas na urna. IE
cegueira com respeito à solução não precisa, obrigatoriamente, envolvér ce­
gueira com respeito ao problema; pode-sè perfeitamente saber3 por exemplo^
que o problema ê ganhar num jogo retirando uma bola branca.
47. D . Katz, Animais and M en (Londres: Longmans, 1937), p. 143.
48. Jane Austen, Em m a (Londres: John M u rray , 1816), vol. III,
Hnal do cap. 3 (Gap. 39- de algumas edições posteriores). Cp. p.336 de
R. W. Ghapman, org., T h e N ovels of Jane Austen, 3.a ed. (Oxford Univer­
sity Press, 1933), vol. IV .
49. Acerca dos jogos e seu desenvolvimento, ver Jean Piaget, T h e
M o ra l Judgem ent of the Child (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1932),
espec. p. 18, no tocante aos dòis primeiros estágios dogmáticos e ao “terceiro
estágio” crítico; ver, ainda, pp. 56-69. Também, Jean Piaget, Play Dreams,
and Im itation in Childhood (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1962).
50. Algo que* se assemelha a esta concepção encontra-se em S </>rén
Kierkegaard, Repetition (Princeton: Princeton University Press; Oxford
Oxford University Press, 1942), espec. p. ex., pp. 77.e s.
51. Joseph . Qhurch, Language and- the Riscovery of Reàlity (Nova
Iorque: Random House, 1961), p. 36. .
52. Ib id . . . .
53. Parece ser essa a explicação óbvia do trágico incidente relativo
ao alegado plágio de Helen Keller, ocorrido quando ela era ainda--criãriçã-
e que muito a impressionou e talvez tenha contribuído para quê elaíJseléèi#;-
nasse as diferentes fontes, de , mensagens que lhe chegavam todas 5fio mesmo.'
código. • .
54/ W . H. Thorpe escreve numa passagem (para': afrquàl' Arné Re-f:
tersen chamou-me a atenção) de‘ seu interessante livro Learning- .and '^1üsiinci
m AnÍ7neils (Londres: Methuen & Co.,. 1956),^.p. 122 (2.® ed. rev., 1963, p.
135) >.V,*‘Èntende-se por . imitação verdadeira copiar um romance ou outro
ato ou enunciado igualmente .improvável, ou um ato para o qual não haja,
claramente, uma tendência instintiva.” (Grifado no original.) Não pode ha­
ver imitação' sem apuradas tendências instintivas para a cópia em. geral e
mesmo para a espécie específica de ato de imitação. Nenhum gravador de
fita pode funcionar sem a sua capacidade própria (inata, por assim dizer)
de aprender por imitação (imitação de vibrações); e se não lhe fornecemos
um substitutivo para a necessidade ou o impulso de usar-lhe as capacidades
(talvez sob a forma de um operador humano que deseje que a máquina
faça uma gravação e a reproduza), ela não imitará. Isso parece verdadeiro
até mesmo rio caso das formas mais passivas de aprendizado por imitação
que me ocorrem. É naturalmente correto dizer' que só devemos falar de imi­
tação caso o ato a ser imitado não seja umUi daqueles que o animal A
realizará pór simpies instinto, sem que o mesr^o ato haja sido realizado ante­
riormente por outro animal B, na presença de A. Haverá casos, entretanto,
em que teremos razões de suspeitar de que A poderia praticar. o ato —
talvez num estágio posterior — sem imitar B. Deveremos afastar a idéia
de imitação verdadeira no caso de o ato de B ter levado à prática do ato de
A. (muito) mais cedo do que teria ocorrido em outras circunstâncias?
55. C. & R. [1963 (a ) 3 e edições posteriores, cap. I, espec. pp. 42-52-
Alí faço referência, na p. 50, n. 16, a uma tese “Gewohnheit und Gesetzerleb-
nis” [Acerca, do Hábito e da Crença nas Leis] que apresentei (inacabada)
em 1927 e onde sustento, contra a idéia de Hume, qtie o- hábito .é simples­
mente o resultado' (passivo) de associação repetitiva.
56. Isto, até. certo ponto, é semelhante à teoria, do conhecimento
exposta por Platão em Meno 80 B-86 C, mas, naturalmente, apresenta
dessemelhanças, .
57. Penso que este, melhor do que qualquer outro, é o lugar para
registrar ò auxílio que recebi, ao longo deste trabalho, de meus amigos Ernst
Gombrich e Bryan Magee. Talvez não tenha sido tão difícil para Gombrich,
pois, embora ele não concorde com tudo quanto digo acerca de música,
pelo menos encara com simpatia minha atitude. Mas Bryan Magee, decidi­
damente, não a encara assim. Ele é um admirador de Wagner (a respeito
de quem escreveu um livro brilhante, Aspects of. .Wagner [Londres: Alan
Ross,. 1968; Nova Iorque: Stein &. Day, 19693). Assim, ele e eu estamos,
neste ponto, separados tanto quanto duas pessoas .possam estar. Menos im­
portante é o fato de, a seu ver, as seções 13 e 14 conterem reconhecidas
confusões e algumas das concepções por mim atacadas serem infantis. N a ­
turalmente não concordo com isso; entretanto, o ponto que desejo acentuar
é o de que nossa discordância não o impediu de ajudar-me enormemente,
nao apenas no que diz respeito ao resto deste esboço autobiográfico, mas
tam.bém com respeito às duas seções onde se referem pontos de vista acerca
dos quais temos divergido seriamente por múitós anos.
58. Há longo tempo abandonei esses estudos e não posso me lembrar
de pormenores. Entretanto, parece-me mais que provável que houvesse certa
quantidade de canto paralelo no estágio do Organum, que continha terças e
quintas (contadas a partir do baixo). Suponho que isso dfeva ter precedido
o canto Fauxbourdon.
59. Ver D. Perkin Walker, “Kepler’s Gelestial Music”, Journal of the
Wqrburg and Courtauld Institute} 30 (1967), 228-50. Sou grato ao Dpi

214
Walker por me haver chamado a atenção para ra passagem citada no texto.
Ela foi colhida em Kepler, Gesammelte .Werkef org. por M áx Caspar (M u ­
nique, 1940), vol. V I, p. 328. A . passagem é citãdá; eirfâ latim por Walker,
“Keplers Gelestial Music”, pp. 249 e da»dáiele^üiha^vtradução inglesa.
A tradução que utilizo é minha, (Traduztii y.utu m irüm arrtplius non . sit __
“there is no marvel greater or more sublima” ,* ut, ludeçetb [ — .that he shouíd
enact”] = “ that he should conjure; up^ a^jvision : o quadqmtenus de-
gusterat — “that he should almost” [ “ taste;=?or touch orrií^reach” .') -De pas­
sagem, não posso concordar em que ^ ;.hâimonia;.das,:ies£ejai/i:dei PIatão,‘;-fosse
monódica e consistisse “tão-sorriehte^.em escalãs”,-;1(cpi2uyV5alIter^ “Kepler’s Ce­
lestial Music”, n. 3 e texto); Vko contrário,? PlatãcP esíorçárse pórr evitar que
seja dada essa interpretação às 'suas :p:alàvrâsl -fflkr;'; p.éx;^ República, ’6Í’7Jfiy-
onde cada uma das oito sèféiàé cantarümaimelodiã única, tàl: que,~;d o‘ conjunto
das oito, “emerge a concórdia defumai: hármoniàHimca^íTtmeu; 35B-36B e
90D, devem'ser i n t e r p r e t a d o s lu z ': desáâ. passagem/>Relevànte s é táinbém
Aristóteles, D e Sensu, V I I , 448 a 20! e ss^r.onde“?sao 'examinadas ■fasc^ôneeE>çõès: .
de “alguns autores a respeito de concórdia”/ .escritores' que r-"dizem-:V.qué1'as
sons não chegam simultaneamente, mas apenas- parece:, qué ocorre'-íãssím” ,)
Ver também, a respeito, do canto em oitavas, os Problem as .de Aristóteles,
918 b 40, 919 b 33-35 ( “mistura” ;, “consonância” ), e 9 2 1 - -(verrèspec.
921 a 27 e s.). '
60. Aludi, a esse relato no cap. 1 dé C . & R . t l 963 ( a ) '3; e èdições
posteriores, £im da seção V I, p. 50. :,í ■' T :í; :
61. Só anos depois dei-me conta d e . que, indagando “como épossíVel
a Ciência?”, Kànt tinha era mente a teoria de Newton, à qual acrescentava
sua própria e interessante forma de atomismo .(que lembrava a de Boscovich);
cp. C . & R ., cps. 2, 7 e 8, e meu artigo “ Philosophy and Physics” [1961 (h ) l ;
62. Para essa distinção (e para uma distinção mais sutil, ver C. & R :
[1963 (a )J , cap. 1, sec. v, pp. 47 e s.
63. Albèrt Schweitzer, J. S. Bach (Leipzig: Breitkopf und Hartél,
1908);. publicado inicialmente em francês, 1905; 7.a ed., 1929; e nòvà edi­
ção inglesa (Londres: A. & G- Black, 1923, voi. I, p. 1). Schweitzer aplica
o termo “objetivo” a Bach e “subjetivo” a Wagner. Eu concordaria em que
Wagner é muito mais “subjetivo” do que Beethoven. Não obstante, talvez
eu deva dizer qúe, embora admire muito o livro d e . Schweitzer (especial-:
merite seus excelentes comentários acerca do fraseado dos temas de Bach),
não posso absolutamente concordar com uma análise do contraste entre
músicos “objetivos” e “subjetivos” em termos da relação do músico para
com seu “tempo” ou “época” . Parece-me quase certo que, nesse, ponto,
Schweitzer está sob a influência de Hegel, cuja opinião a respeito de Bach
o impressionou. (V e r ibid., pp. 225 e s. e n. 56, nap. 230. N a p. 225 ÍYol.
I, p. 244, da edição inglesa], Schweitzer relata, com base nas memórias de
Therèse Devrient, um encantador incidente envolvendo Hegel e que não lhe
é muito lisonjeiro.)
64. O primeiro [1968 ( s ) l foi uma exposição feita em 1967 e inicial*
mente publicada em L o g ic , M e th o d o lo g y ' and Philosophy of Science , vol; III,
pp. 333-73; o segundo ÍÍ968 ( r ) ] foi publicado pela primeira vez em ^Fro-
ceedings of the X í V t h International Congress of Philosoph)>, Viena, 2 - ,a 9
de setembro de 1968, vol. I,' pp. 25-53. Esses dois artigos são agora, respec->:
tivamehte, os caps. 3 e 4 de [1972 ( a ) ] . O terceiro ártigò [Í967 (k)Oylcita--
do no texto, figura em Quantum T eory and Reality. 'Vérptambémj -meus
livros L . d. F . e L . Sc. D ., seções 29 e 30 [1934 ( b ) ] , pp. 60-67; [1966 (e)ü
e edições posteriores, pp. 69^6; [1959 ( a ) ] e edições posteriores, pp. 104-11;
e meu livro C . & R . [1963 (a ) ], espec. pp. 224-31; bem como meu artigo
“A Realíst View of Logic, Physics and History:x.^[ 1970 (1 )], rn Physics, L o g ic
and, History, agora cap. 8 de . [1972 ( a ) ] .
65. Ver meu livro O. S., vol. I [1945 (b)3 , pp. 26, 96; vol. II [1945
( c )], pp. 12 e S. ; Ü952 ( a ) ] , pp. ,35, 108, 210-12; 11962 (c )],' [1963 ( í ) ]
e edições posteriores, vol. I, pp. 3,2, 109; vol. II, pp. 13 e s.
65a. (Acrescentada em 1975). O mesmo vale para as teorias exp.res-
sionistas ou emotivas de moral e, de juízos morais.
66. Ver também a última seção de meu artigo “Epistemology Without
a Knowing- Subject” [1968 (s ) ], pp. 369-71; [1972 ( a ) ] , pp. 146-50.
67. C itado p or Schweitzer, /. S. Bach, p. 153.
68. Arthur Schopenhauer, D ie W elt ais W ille und Vorstellüng [O
Mundo Como Vontade e. Representação], vol. I I (1844), cap. 39; a se­
gunda citação é do vol. I (1818 [1819]), seção 52. Note-se que. a palavra
alema “ Worstellung” é. simplesmente a traduçãodo vocábulo “ Id e a ” de. John
Lockc.
69. Em alemão: “ eine cantable A rt im Spielen zu erlangen” .
70. Platão, I o n ; cp., espec., 533D-536D.
71. Ibid.., 534E.
72. Platão, j o n j 535E; cp. 535C.
73. Ver também -mèu artigo “Self-Reference and Meaning in Ordinary
Language” [1954 (c)Í-# que agora constitui o ca!p. 14 de C. & R . [1963 ( a ) ] ;
e o texto correspondente à n. 163 de meu Replies, in Schlesinger, org., T h e
philosophy of K arl P op p er: La Saile, 1974! (Argumentos no sentido de
mostr.ar que anedotas a respeito de si mesmos são impossívéis encontram-se
em Gilbert Ryle, T h e C o n c e p t o f M in d [Londres: Hutchinson, 1949], p-
ex., nas pp. 193-96; Peregrin Books ed. (Harmondswórth: Penguin Rooks,
1963), pp. 184-88. Penso que a observação de Ion é (ou implica em) “uma
critica de si mesma”, o que, segundo Ryle, p. 196, não seria possível.)
74. Platão, Io n , 541E-542B.
75. Ver O. S. [1945 (b ) e ( c ) ] e edições posteriores, nn. 40 e 41
ao cap. 4, e texto correspondente.
76. Ernst Gombrich lembrou-me o “para fazer-me chorar, você mesmo
deve sofrer, primeiro” (Horácio, A d Pisones, 103 e s.). Naturalmente, é
admissível que Horácio tenha pretendido apresentar, não uma concepção
expressionista, mas a idéia de que somente o -âftista que, já sofreu é capaz
de julgar criticamente o impacto de sua obra. Parece-me provável que H o­
rácio não tinha consciência da; diferença entre essas duas interpretações.
77. Platão, /òn, 541E é s.
78. No que toca a grande parte deste .parágrafo e a alguma crítica
aos paragrafos anteriores, .sou devedor de meu amigo Ernst Gombrich.
Veremos que as teorias platônicas secularizadas (da obra de arte como
expressão e comunicação subjetivas e como descrição objetiva) correspondem
às. tres funções da linguagem definidas por Karl Bühler: cp. meu [1963 (a ) 3,
pp. 134 e s. e 295 e. seção 15.
79. Ver E. H. Gombrich, Art and Illüsión. (Londres: Phaidon Press;
Nova Iorque: Panthéon Books, 1960; última edição, 1972), passim.
: 80. Veremos que minha- atitude em relação àniúsica assemelha-se às
teorias de Eduard Hanslick (caricaturado r•ppTv'íWâgíieí':-::cbind-VBêcktóêsi5et1'),
um crítico de música de grande-influência ^m :Viêna, : ^Ué -escrèVeüf íuró’ liVro
contra Wagner : ( Vom Musikalisch-SckÔnèh^ rtliéipízagí; ^ Weigèíy ;^;1854]
traduzido por G. Cohen, da rev-^; «éb-^>'-"tí£Üiió-...-dl^^fté: iBéÜúlifúfriin
Music [Londres: Novello and Co.? 1891j;);. Não1 cóndòrtfoV'.porém; com a
condenação que Hanslick faz de Brucknér,: o. qua], embora àdmirasse ^Wagner,
era, a seu modo, um músico tão; admirávelPquantO^Beethovèn (que é,T;por
vezes, erroneamente acusado de :i,desêtièstida:de )-.ríí Interessante^’é que "fWagner
se tenha deixado impressionar,.ígrandemente;t.j3or^Sçhopenjhauer^-!-— . por O
Mundo Como Vontade e- Represent.áção^—^e^que; Sfchopenhauer -tenha, escritó.j
em Parerga, vol. II, seção 224' (originalmerité/jJubHcado.Vem' 185.1, quando
Wagner começava a trabalhar na música ^deJ/O Ànél) ]' ^Podèjse ' dizer que
a Ópera tem sidò a' pèfdiçaõ^ .dá ^música^f rÉlé -se;?féferia^;natoral^ente,'- a
ópera recente, emborà séuá^Wgüínèritos pareçam- múitó ' gérais^^^íha^Verdacle,
demasiado gerais.) ■ - -■ --
81- Friedrich Nietzsche, Der Fali Wagner [O Gaso ' de; Wagnér] • (JLelp-
zig: Í888) e Nietzsche contra Wagner, ambos traduzido'srfe?.inclmdos ;em. .The
Complete Works of F. Nietzsche; org. por Oscar. Levy (Ediniburgo^e. Lònr
dres: T. N. Foulis, 1911), vol. V I I I . ' ~
82. Arthur Schopenhauer, Parerga, võl. II, seção 224. '
83- Karj Bühler,X>ie Geistige Entwicklung des Kindes(Iena: ;.Fischer,
1918; 3.a ed., 1922); versão inglesa, The Mêntal Development of the ,. Chiíd
(Londres; Kegan Paul, Trench Trubner & Co., 1930). Para as funções, da
linguagem, ver também a sua Sprachtheorie (Iena: Fischer, 1934); ver espec.
pp. 24-33.
..84. Talvez caiba dizer aqui uma palavra acerca da teoria higiênica da
arte, elaborada por Aristóteles. A arte tem, sem dúvida, uma função biológica
ou psicológica, como catarse; nao nego que a grande música possa, em algum
. sentido, purificar nossos’ espíritos. Entretanto, estará a grandeza de uma
obra de arte resumida no fato de ela purificar mais do que uma obra menor?
Creio que nem mesmo Aristóteles teria dito isso.
85. Cp. C.. <S? Ü., T>p. 134 e s., 295; O f Clouds and Clocks [1966 (f)3 ,
agora cap. 6 de [1972 (a ).], seções’ 14-17 e n, 47; “Epistemolôgy Without
a Knowing Subject” [1968 ( s ) ] , espec. sec. 4, pp. 345 e s. ([1972 ( a ) ] ,
. cap. 3, pp. 119-22) .
• 86. Leonard Nelson foi uma personalidade marcante, um dos mem­
bros do pequeno grupo de kantianos da Alemanha que se opôs à Primeira
Guerra Mundial e que' sustentou a tradição kantiana de racionalidade.
87. Ver meu artigo “Július Kraft, 1898-1960” [1962 (QJ.
88. Ver Leonard Nelson, “Die Unmõglichkeit der Erkenritnisthéorie”,
Proceedings of the IV th International Congress of Philosophy; Bolonha, 5 a TI
de abril de 1911 (Gênova: Formiggini, 1912), vol. I, pp. 255-75; veí^;tam­
bém L. Nelson, Über das Sogennanté Erkenntnisproblem (Gõttingen: Vãn-
dènhoeck & Ruprecht, 1908). .
•89. Ver Heinrich Gomperz, Weltanschauungslehre (Iena ;e.: Leipzlg;:
Diederichs, 1905 e 1908), Vel. I e Vol. II, parte 1. Gompei&vâissè^e-.-qiie
havia completado a segunda parte do Vol. II, mas que decidif^iião;^jv$ãd
publicá-la, como abandonar os planos de publicáção de diitrosíi Volúmeá/í^jíDs
^piumês^pubjieadós^jforám .frniagixificametjte planejados e executados e não
•• trabalho, cerca de 18 anos antes de eu
:\c^nhei^U0^ (||í^ãiiiéntè^.«|er. tiyera uma. experiência trágica. Num de seus
: ú j i i n i o à Sinn und Sinngebtlde- Verstehen und Erklãren (Tübin-
gen: Mohr, -19.29);; refere-se à sua anterior teoria dos sentimentos, esp.
p. í206 .Ve-.-s. ÍPara seu enfoque psicológico — que ele denominava “patémpi-
TÍ5ÍjS”i${pa.tjkêpipÍTÍsmus) e què dava ênfase ao papel dos sentimentos ( Ge-
.fühíeip: no ..conhecimento — ver espec. Weltanshauungslehre, seções 55-59
(voL ríl, pp. 220-93). Cp. também seções 36-39 (vol; I, pp. 305-94).
90. Karl Bühler, “Tatsachen und Probleme zu einer Psychologie der
Benkvorgãnge”, Archiv f. d. gesamte Psychologie, 9 (1907), 297-365; 12
(1908), 1-23, 24-92, 93-123.
. 91. Otto Selz, Uber die Gesetze des geordneten Derikverlaufs (Stut-
tgart: W. Spemann, 1913), vol. I (Bonn: F. Gohen, 1922), vol, II.
92. Oswald Kiilpe, Vorlesungen über Logik, org. por Otto Selz (Leip-
zig: S. Hirzel, 1923).
93. Erro semelhante encontra-se mesmo nos Principia Mathematica, ,
pois Russell deixou de estabelecer, às vezes, distinção entre uma inferência
(implicação lógica) e um enunciado condicional (implicação material). Esse
ponto cònfundiu-me durante vários anos. Entretanto, a questão básica — a
de. que uma inferência era um conjunto ordenado de sentenças — já estava
suficientemente clara pará mim em 1928, a ponto de eu mencioná-la a Biihler
por ocasião de’ minha defesa pública da dissèrtação doutorai. Bühler, de
maneira muito delicada, afirmou que não havia pensado a. respeito da questão.
94. Ver C. & R. [1963 ( a ) ] , pp. 134 e s.
95. Encontro agora argumento similar em Konrad Lorenz: “ ( . . . )
ocorrem modificações ( . . . ) apenas em ( . . . ) locais onde mecanismos inatos
de aprendizagem se acham filogeneticamente. programados para a execução
dessa precisa função”. (V er Konrad Lorenz, Evolution and Modification of
Behaviour [Londres: Methuen & Co., 1966], p. 47.) Mas Lorenz não pa­
rece retirar daí a . conclusão de que as teorias da reflexologia e do reflexo
condicionado não são válidas: ver especialmente ibid., p. 66. Ver também
seção 10 acima, espec. n. 44. poder-se-ia enunciar a principal diferença entre
psicologia da associação ou teoria . do reflexo condicionado, de um lado, e
descoberta por tentativa e erro, de outro, dizendo que a primeira é essencial­
mente lamarckiana (ou “instrutiva” ) e a última darwiniana (ou “seletiva” ).
Ver, por exemplo, as investigações de Melvin Cohn, “Rèflections on a Dis-
cussion with Karl Popper: The Molecular Biology of Expectatioris", Bulletin
of the All-India Jnstitute of Medicai Sciences, 1 (1967), 8-16 e trabalhos
posteriores do mesmo autor. Quanto ao. darwinismo; ver seção 37.
9 6 .' W . von Bechterev, Objektive Psychologie oder Psychoreflexologie
( l , a ed. 1907-12), edição alemã (Leipzíg^ e: Berlim: Teubner, 1913); e
AUgemeine Grundlagen der Reflexologie des Menschen (1.® ed., 1917), ed.
alemã (Leipzig e Viena; F. Deuticke, 1926); ed. inglesa, General Principies
of Human Reflexologie (Londres: Jarrolds, 1933).
.97. O título de minha dissertação (inédita) era “Zur Methodenfrage
der Denkpsychologie” [1928 ( a ) ] .
•■■■ 98. Comparar esse parágrafo com algumas de minhas observações em
■PPos*Ç.ão - à Reichenbach, feitas em conferência realizada em 1934 ([1935
(a )], republicada em tl966 (e )], [4969 '25í) ; ' há^=uma tíadução:
em L . Sc. D ., [1959 (a )] e ediç5es postferic>i:ès,::ppí315^ '"As teorias''cientificai
nunca podem ser 'justificadas' .p^j.^ye-i^icadas^Mas (-*.-_) uma- hipótese
pode ( . . . ) abranger mais _dof.>:quêvv.u m ^ íij^ te ^ ^ .lí(...'. .t ) ‘«SX3.. jm^lhoç^que*- •
podemos dizer acerca de uma.vhipótese-é\\qUé//.atéjí^:..inolmentò«j^:'.:''*ir)^.:^ÍiadseV’
tem mostrado superior a outras r-
ser justificada, verificada ou mesmos demoiistrádà^^sua^
ainda, o fim da seção 20 (texto contepondéiite;;;às
seção 33, mais adiante. ,; :-r. .. '' - -
99. Rudolf Garnap, Der, .logisch'e.;:Auf,b,uu;;jd e.rl.W
in der philosopkie : das. 'Fremâp^chüchei^unãêldèY^^xài^p^^jssjtrjsii^ áaity)sem/O
primeira edição (Berlim :.Wéltkreis-Verlag^ :;íl# jl8 )j^ - dois^. 'Íiyrósí
reunidos num volume (HãiftSuigo-^.' F “' i
T h e Logical Structuré- o f t f c e W o r l d Je ■
dres: Routledge ;& .Kegan;- Paúl,.„. 19.6.7.) v=í
100. Victor Kraftj D iè Grundform en der itímensiHa^lichéhi^M^thòdeTiv.^Á
(Viena: Academia de Ciências, 1925) / . • r •£;, ' "V; '
101. Ver p. 64t do encantador e informativoensaÍ0 jvdè%HéjrbCTft^^
“The Wiener Krejs in America”, in Perspectives in AMeric<irv:&istoi$ yfâhèvv;^:
Charles Warren Center for Studies in American History, •Harv«rd-''''Uriivfe£sityãti'...''
1968). Vol, II, pp. 630-73; e também n. 106, abaixo. [Dépóis' dêfindàgkr,;.
Feigl sugere que Zilsel talvez se tenha tornado membro, depois .da :emigràçãòv ': '
dele, Feigl, para, os Estados Unidos da América.] '' d ^ í V v
102. Herbert Feigl diz (ibid ., p. 642) que isso deve ter ocorrido éra
1929 e, sem dúvida, ele está certo.
103. Os únicos artigos por mim publicados antes de encontrar Feigl
— . e durante os quatro anos seguintes — versavam tópicos de educação. Com
exceção do primeiro [1925 ( a ) 3, (publicado na revista de educação Schul-
refoTtn) foram todos ([1927 ( a ) ] , [1931 ( a ) ] , [1932 (a )3 ) escritos ,á convite
do Dr. Eduard Burger, editor da revísta de educação D ie Qu elle.
104. Feigl refere-se ao encontro em “Wiener Kreis in America” . Des­
crevi rapidamente o começo de nossa discussão em C. & R . [1963 ( a ) ] , pp.
262 e s.; ver n. 27, na páginá 263. V er também “A Theorem on Tíuth
Content” [1966 ( g ) ], minha contribuição ao Festschrift de Feigl.
105. Durante essa primeira conversa, Feigl fez objeções a meu rea­
lismo. (Nessa época, ele era favorável ao chamado “ monismo neutro” , que
eu encarava como idealismo berkeleyano; e assim continuo a pensar.) Ale­
gra-me pensar que Feigl se tenha tornado também um realista.-
106. Escreve Feigl, “Wiener Kreis in America”, p. 641, que tanto
Edgar Zilsel como eu tentamos preservar nõssa independência, “permane­
cendo fora do Círculo” . O fato, porém, é que eu ter-me-ia sentido muito/:
honrado se tivesse recebido convite para ingressar nele e jamais me haveria.
ocorrido que a participação no seminário de Schlick pudesse ameaçar, n o .
mínimo que fosse, minha independência. (Assinalo, de passagem, que ãntes-
de ler essa observação de Feigl, eu não me dera conta de que Zilsel :não;
integrava o Círculo. Sempre imaginei o contrário, e Victor Kráft‘7apontará;
como um dos membros do Círculo, em seu livro D e r W iener Kreis '0Viena:
Springèr Verlag, 19501; ver p. 4 da tradução T h e Viena Circle ;[NòVa-Iorque:
Philosophical Libraiy, 1953]. Ver também n. 101, acima;); -v<-' ♦-
107. Ver minhas publicações relacionadas na p. 44doartigo “Quan­
tum Mechanics AVitHòut ‘The Òbserver'” [1967 (k ) ]. ■■
108. O manuscrito do primeirovolume ê partes do manuscrito dessa
versão deL . d . F. cortados por meu tio, ainda existem. O manuscrito do
segundo volume, com exceção de • algumas seções, parece qüe se perdeu.
(Acrescentado em 1976. O material restante (em alemão) está sendo atual­
mente preparado por Troels Eggers HanSen para publicação pòr J. C. B.
Mohr ein ‘Tubinga.)
109; Ver, em especial, meu [1971 (i) 1, republicado, com pequenas
alterações, como cap. 1de [1972 (a )].; e também seçãò 13 de meu Replies.
109a. Ver seções 13 e 14 de meu Replies.
MO. Ver o artigo de John Passmore, “Logical Positivism”, in E n c y -
clopedia of Philosophy, org. por Paul Edwards^ vol. V , p. 5G (ver n. 7 acima).
111. Essa carta [1933 ( a ) ] , foi, publicada pela primeira veze
Erkenntnis, 3, ns. 4-6 (1933), 426 e s. Ê novamente publicada, em veFsão
inglesa, no meu livro L. Sc. D. [1959 ( a ) ] e ediçõfes posteriores, pp. 321-14,
e em alemão, na 2.a e em edições. posteriores.da L. d. F. [1966 ( e )l , [1969
(e )], etc., pp. 254-56.
112. J. R. Weinberg, A n Examination of Logical Positivism (Londres,
Kegpin Paul, Trench, Trubner & Co., 1936).
113. Para discussão muito mais longa desta lenda, vér seções 2 e 3
de meu Replies.
113a. (Acrescentada em 1975.) Suponho que esta frase foi um eco
de John Laird, R ecent Philosophy (Londres: Thornton, Butterworth, 1936),
que me descreve como “crítico, mas também •aliado” do Círculo de Viena
(ver p. .187 • e também pp. 187-90).
114-.: . Cp. Arne Naess, Moderne filosofer (Estocolmo* Almqvist & Wik-
sell/Gebers Fõrlag AB, 1965); tradução inglesa intitulada Foúr Modern
philosóphers (Chicago e Londres: University of Chicago Press, 1968). Naess
escreve, em n. 13, pp. 13 e s., da tradução, “minha experiência foi muito
similar à de Popper. ( . . . ) A polêmica [num livro inédito de Naess] ( . . . )
travada ( . . . ) entre 1937 e 1939, pr-etendia. dirígir-se contra teses e tendências
fundàmentais do Círculo, mas foi entendida por Neurath como propostas de
modificações que já estavam aceitas ein princípio, e deveriam tomar-se oficiais
em publicações futuras. Tendo7me sido assegurado isso, abandonei, os planos de
publicar a obra.”
114a. Para avaliar o impacto de todas essas discussões, ver nn, 115 a
120.
115. Cp. C . & R . 11963 ( a ) ] , p. 253 e s.
116. Rudolf Çarnap, “JJber. Protokollsãtze”, Erkenntnis , 3 (1932),
215-228; ver espec., 223-28.
117. Cp. Rudolf Garnap, Philosophy and Logical Syntax, Psyche M i­
niatures (Londres, Kegan Paul, 1935), pp. 10-13, que correspondem a
Erkenntnis , 3 (1932), 224 e ss. Garnap fala, aí, de “verificação”, ao passo
que antes se havia referido (corretamente) a mim como falando de “teste” .
118. Cp. G. G. Hempel, Erkenntniss , 5 (1935), espec. 249-54, ònde
ele descreve (com referência ao artigo de Gamáp “Über Protokôllsãtze” )
meu procedimento em termos muito semelhantes aos empregados por Carnap.

',0
119. Rudolf Carnap, £r*enntoifiy£p$l«3;i li^
à crítica de Reichenbaçh de LJ d. >F .) ífC.% ^em pel^
tung, 58 (1937), '309-14. ( Houve !
Hempel.) Menciono aqui. apenas •asvr&sénHas1 .=•
feitas por membros .do Círculo. ' ■■:":•
120.. Hans Réichenbkch, Erkenntniss,1S;'}
plica à resenha de L» ;d. F., preparada •‘po r^a in *á p ^ ã | :.q íi^ ^ a ^ | ^ ^ \ á ^ é ü -:i
lado, respondeu, de maneira bréve). Ottoí;?^citià»:Üt^:5^^A^íi;feÍt2^^55‘Jíí-êí-9*35i.õ*S'-T -
353-65. •’ •.
121. Werner Heisenberg, '*Uber quantentheói-etisfe|jLe^^
nematischer und mechanischer Beziehxmgen”, Zèâiè'hri^f^r'\JP-&^s0^ò^^í92$')’i■\
879-93; Max Bom e Pascual Jordan, t(Zur Qüaiké^meciiâM^^ .--.
(1925), 858-88; M ax Bòm, Wemer Heisenberg ; é : Pàscu^'i|[órâ^j.df;“èufc v
Quantenmechanik I I ”, ibid.'3 35 (1926), '557-615. ;Essès^t^^í^ti§ós^aj}kréf-
cem traduzidos em Sources of Quantum. Machanics, •org'. ‘ |kii^B:^È::,;f^hvder:V
Waerden (Amsterdã: North-Holand Publishing Co., •4.96
122. Para um relatório do debate, ver Niels Bohr^>‘®^u^iôfi;fwitKr ‘
Einstein on Epistemological Problems in Atomic Physics” , '^ibeT^EinsjiM^'
Philosopher-Scientist, org, por Paul Arthur Schilpp ( EvanstonjV; lílmòis-Í.Li1^
brary of Living Philosophers, 1949); 3.a ed. (L a Salle, 1 1 1 O p e n 4 Co/art
Publishing Co., 1970), pp. 201-41.. Para uma crítica dás afirmações.;!íéitas-r
por Bohr, durante esse debate, ver meu L. Sc, D. [1959 ( a ) ] , novo ApêndiGé
* xi, pp. 444-56, L . d. F. [1956 ( e ) l e [1969 ( e ) ] , pp. 399-441
123. James L. Park e Henry Margenau, “SimultaneousMe.asurability
■ in Quantum Theory” , International Journal of Theoreticál Physicsl 1 (1968),
211-83.',' '
124. . Ver [1957, (e).] e [1959 (e ) J.
125. V er [Í934 ( b ) ] , pp.171 e s., [1959 ( a ) ] , pp. 235 e s., [1966 (e )!,
pp. 184 e s., [1 9 6 7 .( k ) 3, pp. 34-38.- '\-v.
126. Albert Einstein: Philosopher-Scientist, pp. 201-41 (ver n. 122,
aciina).
127. Ver espec. [1957 ( Í ) ] , [1969 (k)J, agora cap. 5 de [1972 (a)-].-;
[1963 ( h ) ] ; [1966 (£ )], agora cap. 6 de [1972 ( a ) ] ; [1967 (:kj] é
.[1968 ( s ) ], agora cap. 3 de [1972 ( a ) ] , onde é também republicado,, como.
. cap. 4 [1968 ( r ) ] , em que se, pode encontrar um tratamento mais porme­
norizado da matéria. /
128. Arthur March, Die-, Grundlagen der Quantenmechanik (Leipzíg::
Bar th, 1931); cp. o índice de [1934 (b )],,.[1 9 5 9 ( a ) ] , ou [1966 (e )
129. Os resultados aqui apresentados são, em parte, de data posterior
e, em parte, de data anterior. Quanto às-minhas mais recentes, concepções,
ver minha contribuição ao Festschrift de Landé, “Particle Annihilatiprí ^and
the Argument of Einstein, Podolsky and Rosén”, - [1971 (n) ].y ■ ;.:/f;
130. Cp. John von Neumann, Mathematische Grundlagen <derí “ a?l-
. tenmechanik (Berlim: Springer Verlag, 1931), p. 170; ou •a ••irádiição •
thematical Foundations of^ Quantum Mechanics (Princeton: ^Pnricèton^^niV;
•versity Press, 1955), p. 323. Assim, ainda que o ai^üinentó';^é'^Wâf!-'^tiifiãunni
fosse válido, elé não refutaria o determinismo. Mais^;-AÍnda5-;;-^-?(r^ii^^?;4 ;if!è;
II, pòr ele admitidas, nas pp. .313 e s. (cp,. p; 225--' e.r 'Si):5?r^.-;iê^^o|.^é#Qãí
p,i'l67 (cp. p. 118) — são incompatíveis com as relações de comuta tividadé,
talTcomo foi pela primeira vez demonstrado por G. Texnpie, "The Funda­
mental Paradox of. the Quantum Theory”, Nature, 135 (1935), 957. (Que
as regras I e II de von Neumanit fossem incompatíveis com a Mecânica
Quântica foi claramente apontado por R. E. Peierls, "The Fundamental
Paradox of the Quantum Theory”, Nature, 136 [19351, 395. Ver ainda
Park e Margenau, “Simultaneous Measurability in Quantum Theory” [ver
n. 123, acima),) O artigo de John F. Bell é “On the Problem of Hidden
Variables in Quantum Mechanics”, Reviews of M odem Physics, 38 (1966),
447-452. '
131. C. S. Peirce, Collected Papers of^Charles Sanders Peirce, org.
por Charles Hartshorne e Paul Weiss (Cambridge, Mass.: Harvard University
Press, 1935),' vol. V I ; ver item 6.47 (inicialmente publiçado em 1892),
P- 37.
132. Segundo Schrõdinger, Franz Exner fez a sugestão era 1918: ver
Erwin Schrõdinger, Science, Theory and Man (Nova Iorque: Dover Publi-
carions, 1957), pp, 71, 133, 142 e s. (originalmente publicado sob o título
Science and Human Temperament [Londres: Allen and Unwin, 1935]; ver
pp. 57 e s., 107, 114); e Die N aturwissenschaften, 17 (1929), 732.,
133. Von Neumann, Matkematical Foúndations of Quantum Mecka-
nics, pp. 326 e s. (ed, alemã, p. 172): “ ( ; . . ) a aparente ordem causai do
mundó, de modo geral ( . . . ) [quanto aos] objetivos visíveis a olho nu)
não tem, por certo, outra causa senão a 'lei dos grandes ; números’ e, é com--
pletamente independente de serem causais ou , não as leis naturais que gover~.
nam ós processos elem entares, (Grifo meu; von Neumann. refere-se a
Schrõdinger.) É claro que tal situação não. tem ligação direta com a Me­
cânica Quântica.
134. V e r também meu [1934 ( b ) ] , [1959 ( a ) ] e edições posteriores,
seção 78 (e também 67-70); [1950 (b ) e (c .)]; [1957 ( g ) ] 3 Prefácio;
[1957 ( é ) ] j [1959 ( c ) ] ; [1966 ( f ) ] , espec. seçao iv ([.1972 ( a ) ] , cap. 6 );
[1967 ( k ) ].
135. Essa a concepção que sempre -sustentei. É referida, creio, por
Richard von Mises.
136. Alfred Landé, “Determinism versus Continuity in Modern Scien­
ce” , Mind, n.s. 67 (1958), 174-81, e From. Dualism to Unity in Quantum
Physics (Cambridge: Cambridge University Press, 1960), pp. 5-8. (A esse
argumento denominei “lâmina de Landé” .) Acrescentado em 1975: ver tam­
bém o artigo de John Watkins, “The unity of Popper's thought”, in The
Philosophy of Karl Popper, org. por Paul Arthur Schilpp, pp. 371-412.
Í37. Cp. [1957 ( e ) ] , [1959 (e).] e [1967 ( k ) ] .
138. Por què as partículas não seriam partículas, pelo menos em pri­
meira aproximação, explicáveis talvez por uma teoria de campo? (U m a
teoria unificada dos campos, do tipo, digamos, de Mendel Sachs.) A única
objeção que me ocorre deriva da interpretação em termos “difusos” das fór­
mulas de indeterminação de Heiaenberg; se as'^‘partículas” são sempre “di­
fusas”, hão são partículas * reais. Entretanto,-' ’èssa "objeção não é cogente:
há uma interpretação estatísticá da Mecânica Quântica.
(Depois de escrever o que está acima, redigi uma contribuição para o
Festschrift dz Landé [1971 (n ) l , a que.me referi na n. 12.9, acima. Ê, depois
disso, li duas notáveis obras, escritas , em. defesa-^da; interpretação estatística-da
Mecânica Quântica: Edward. Nelson,, Dynamic<á..-%heoTÍ€p<wf&&fôtoftiàn*--Md*
tion [Princeton: Princeton University. Press, vl96;7J,.pe^&'iE.,:Ballèminêi **‘Tilé
Statistical Interpretation of Quantum Mechanics”»-Revietvs iof typdetu^Physicü,
42 [1970], 358-81. Estimulante é encontrar ^aigumqapoio^.a^ós^ -ümã-. luta
solitária de 37 anos.) r‘~r V", ’ ’ ' '
139. Ver espec. [1967 (k )]. - - -, - ,
139a. Essá frase foi acrescentada em 1975. .
149. W . Duane, "The Transfer : in; Quanta of 1Radiation Momentum
to Matter”, Proceedings of the National Âcademy^of ' Sciences fWashingtón) -
9 (1923), 158-64. Póde-se expressar á- íegra -<nos: teíanos^seguirites^ . '
A 'p x '~ :Znh / jAj j:To"1 V'- '' ' (n^inteiro)
Ver Werner Heisenberg, The ‘Physical Principies of Quantum Theo/y ' (Nova
Iorque: Dover, 1930), p. 77. ’ ' ^ ; ^ Tls . ‘ - 7
141. Landé, Dualism. to Üniíy in ,Quantum Physics^ p p . ^ 9,’ 10,2 (ver
n. .136, acima), e Néw Foundations of Quantum .Mephanics. :(Gaixibàdge.:
Cambridge University Press., 1965), pp. 5-9. , , " t ,
142. Ver espec. [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] 3novo. Apêndicej* xij;e,.i[1967:(k).Ív, ^.
143. Albert Einstein, “Zur Elektrodynamik bewegter Kõrper’*, Annalen
der Physik, 4-a série, 17, 891-921; inserido sob o título. ‘'Ono.the- Electro- . .
dynamics of Moving Bodies”, em Albert Einstein et al., The jPriúcipté^op ^
Relativity, trad. por W . Pennett e G. B. Jeffrey (Nova Iorque: Dover^lÍ923:)/
pp.. 35-65. "
144. Einstein, Relatiuity: Special and General Theory (192Ò e édi-
ções posteriores). O original alemão intitula-se Über die spezielle und dié
allgemeine Relativitãtstheoriè (Brunswick: Vieweg & Sohn, 1916)/ (V er
nn. 32 e 33 acima.)
144a. (Acrescentada em 1975.) Essa interpretação positivista e ope-
racionista da definição de súnultaneidade de Einstein foi por mim rejeitada.
em O. S. [1945 (.c)], p. 18 e, mais fortemente, em [1957 ( h ) ] e edições
posteriores, p. 20.
145. V er o artigo de Einstein, seção 1, em Principie of Relatiuity,
pp. 38-40 (ver n. 143, acima). -
146. Aplicando erroneamente o assaz intuitivo princípio da transi ti-
vidade (T r ) a eventos que se colocam além do sistema, pode-se facilmente
demonstrar que quaisquer dois eventos são simultâneos. Isso. contradiz, poréra,
a presunção axiomática de que, no interior de qualquer sistema inerciál,.. há
uma ordem temporal, ou seja, que, para quaisquer dois eventos, dentro de
um mesmo sistema, vigora uma e apenas uma das três relações: a e b são
simultâneos; a precede b; b precede a. Isso foi esquecido num artigo de
C. "W. Rietdijk, “A Rigorous Proof of Determinism Derived from the Special
Theory of Relativity”, Philosophy of Sciènce, 33 (1946), pp. 341-44.-
147. Cp. M arja Kokoszenska, “Über den Absoluten Warheitsbègriff
und einige andere semantische Begriffe”, Erkenntniss, 6 .(1936), 143-65;
cp. Carnap, Introduction to Semantics3 pp.. 240, 255 (ver n. 15, acima)-, -r
148. [1934 ( b ) ] , seção 84, "Wahrheit und Bewàhrung” ; cp/'Rudolf'
Garnap, ‘Wahrheit und Bewàhrung”, Proceedings of the... IV t h / International-
Congréss for Scientific Philosophy, Paris, 1935 (Paris: Hermann,* 1936), voL -
::«Í^j>^p'áM8-23> ^ uma adaptação aparece em versão inglesa, sob o título
. “Ííu th -and Gonfirmation”, em Readings in philòsophical AnalysiSj org. por
. Hèrbert Feigl e Wilfrid Sellars (Nova ;íorque; : Appleton-Century-CroftSj
Inc., 1949), pp. 119-27.
149 i Muitos membros do Círculo, deinício, se recusaram a operar
com. a noção de verdade: cp. Kokoszynska, "Über den absoluten Wahrheits-
begriff” (ver n. 147, acima). \ ■
149a. (Acrescentada çm 1975.) Ver espec. L. Sc. D . 11959 ( a ) ] e
edições posteriores, pontos 4 a 6, nas pp. 396 e ss. ( ~ L . d. F ., [1966 ( a ) ] ,
pontos 4 a 6, nas pp. 349 e s . ) .
150. Cp. Apêndice iv de 11934 ( b ) ] e ■11959- ( a ) ] . Após a guerra,
uma demonstração da validade da construção foi dada por L. R. B; Elton fe
por mim. ( Receio que f o i; culpa minha, o artigo nunca ter sido publicado.)
N a resenha que fez de L . Sc. D . ( Mathem atical R eview , 21 [1960], rese­
nha 6318) I. J. Good menciona um artigo dele próprio, “Normal Recurring
Decimais”, Journal of the L on d on Mathematical Societyj 21 (1946), 167-69.
Das considerações feitas nesse artigo, segue-se facilmente — como David
Miller me fez notar ;—- que minha construção é legítima.
151. Karl Menger, “The Formative Years of Abraham Wald atid
His Work in Geometry” , T h e Annals of Mathematical Statistics, 23 (1952),
14-20; ver espec. p. 18.
152. Kárí Menger, ibid., p. 19.
153. Abraham Wald, “Die Widerspruchsfreiheit.des Kollektivsbegriffes
der Wahrscheinlichkeitsrechnung”, Etgebnissé eines mathematischen K ò llo -
quiumsj 8 (193?), 38-72.
154. Jean Ville, entretanto, que leu um trabalho no Colloquium de
Menger, mais ou menos na mesma época em que Wald, ofereceu uma solu­
ção semelhante à minha “seqüência aleatória ideal” ; elé construiu uma se­
qüência matemática que, desde o início, era bernoulliâna, ou seja, aleatória.
(Era uma seqüência algo “mais longa” do que a minha; em outras palavras,
não se tomava tão rapidamente indiferente à seleção do predecessor quanto
a minha.) Cp. Jean A. Ville, Êtude critique de la notion de collectíf. M o -
nographies des Probabilitési calcul des probabilitês et ses applications, org.
por Êmile Borel (Paris; Gauthier-Villars, 1939)..
155. Para as várias interpretações da probabilidade, ver espec. [1934
( b ) ] , [1959 ( a ) ] e [1966 ( e ) ] , seção 4 8 re j'[1967 ( k ) ] , pp. 28-34.
156. Ver a Introdução, anterior à seção 79 de [1934 ( b ) ] , [1959 ( a ) ] ,
[1966 ( e ) ]. •.
157. Comparar isso com n. 243 à seção 33, abaixo, e texto; ver ainda
seção 16, texto correspondente à n. 98.
158. Ver [1959 ( a ) ] , p. 401, n. 7; [1966 ( e ) ] 3 p, 354.
159. Parte desse trabalho está incorporada aos novos apêndices de
L . Sc. D . [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] e edições posteriores.
160. Só li doís ou três (interessantíssimos) livros acerca da vida no
gueto, especialmente Leopold Infeld, Quest. T h e Evolution of a. S£Íentist
(Londres; Victor Gollancz, 1941).
161. Cp. [1945 (c) ] e edições posteriores, cap. 18, n. 22; cap. 19,
nn. 35-40 e texto correspondente. Gap. 20, n. 44 e texto, correspondente.

24 T
162. 'Ver John R. Gregg ,e F. T. G. Harris, orgs., Form and S trategy
in Science.' Studies Dedicated toJoseph Henry Wóodger (Dordrecht- D
Reidel, 1964), p. 4. .N '
163. Muitos anos depois, Hayek .disse-me que foi Gottfried von Ha-
berler (posteriormente professor em- Hârvárd) queih3 no ano de 1935, cha­
mou-lhe a atenção para L .-d . ÍV...
164. Gp. Bertrand . :H&thpineism” ,&Proceedings
of the Aristotelian Society, '36.::(1936)3 131-50;'; M m ^ dizem
respeito especialmente às ,pp.vl46^e ss:- i- <■ ' -u .-■*
165. No Congresso dé Cojiieniiàge y-— oim ^ôongressoí de filosofia í -cien­
tifica -— um senhor norte-àínéricáíib, 'muito agradável,' mostrou grande inte^
resse por mim. Disáè-mè élè\ qüe era., o .representante :^d&\iRbçkeféller Fòün-
dation e deu-me seu cartão: “ Warrén^Wéaver,/^he: íiufopean -of the Roòke-
feller Foundation” (sic)~ I sso nâda :significou para5mimpeu nunea tinha
ouvido falar de fundações e. do trabalho a que se "dedicam. (Eu era, apa­
rentemente, muito ingênuo.) Só anos mais tarde dei^me-GOnta-deque^se
houvesse entendido o significado daquele encontro*;talvez ^ivésse^ido^para:
os E.U.A., em vez de viajar para a Nova Zelândia. ; ”
166. Minhas palavras iniciais, proferidas íio .
realizei na Nova Zelândia, fòram publicadas p o s t e r i o n n e n í p "
( a ) ] e formam agora o cap. 15 de C . & R. [1963 ( a ) ] é ediçôés posteriores.
167. Cp. [1938 ( a ) ] ; [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] , Apêndice•'* i i . :r
168. Gp. H. voa Halban Jr., F. Joliot e L. Kowarsky, “Liberation of
Nêutrons in the Nuclear Explosion of Uranium”, Nature, 143. (1939), 470 e s.
1969. K.arl K. Darrow, “Nuclear Fission”, Annual- Report of the Board
of Regents of the Smithsonian Tnstitution ("Washington, D.C.: Government
Printing Office,. 1941), pp. 155-59. .
170. Ver nota histórica em The Poverty of Historicism [1957 ( g ) ] ,
p., iv;, ed. .norte-americana [1964 ( a ) ] , p. v.
171- Essa relação ,é brevemente descrita em palestra feita por mim
na British Academy [1960 ( d ) j , ‘ agora-Introdução a. C. & R. [1963 ( a ) ] ;
ver seçõevll e III.
. 172. Ver L. df F.. [1934 ( b ) l , pp. 227 e s:; [1959 ( a ) ] , p. 55, n . 3 à
seção 11; [1966 ( e ) ] , p. 27. V er ainda [1940 ( a ) ] , p. 104 ,[1963 ( a ) ] , p-
313, onde o método. de prova é apontado como essencialmente çrítico, isto
é, referido em termos de método de encontro de erro.
173. Usei, com freqüência maior do que a necessária, a feia paiavrà
“racionalista” (como em “atitude racionalista” ) onde “racional” seria mç-
lhor e mais claro. A (m á) razão disso foi, segundo creio, o fato de estar
argumentando em defesa do “racionalismo”.
174. V er O. S.,
vol. II [1945 (c)3 e edições posteriores, cap. 24
(cap. 14 da edição alemã, [1958 (i)'J ).
-175. Adrienne Koch usou “Criticai Rationalism” como título de excer­
tos de O, S., por ela selecionados para seu livro Philosophy for a Tirrie of
Crisis, An Interpretation witk Key Writings by Fífteen Great, Modérti:
T h in k e r s Nova Iorque: Dutton & Co., 1959), [1959 (k.)]. .
176. Hans Albert, “Der kritisçhe Rátionalismus Karí Raimund -Pop-:/
pers”, Archiv für Rechts und Sozialphilosophie, 46 (1 9 6 0 )3 9f-415. ' Hans;
Albert, Traktat über kritische Vernunft (Tübingen; Mohr, 1968 e ediçQes
posteriores).
177. Na quarta edição de O . S., [1972 (c)3, [1963 (1) e (m )] e em
edições posteriores, figura um * importante Âddendum ao segundo volume:
“Facts, Standards, and Truth: A Further Griticism òf Relativism” (pp.
369-96), que, pelo que sei, tem sido ignorado por. quase todos.
178. Hoje, encaro a análise da explicação causai, dada na seção 12 de
L. d. F. (e, conseqüentemente, as observações feitas em T h e P overty e em
outros escritos) como superada por uma análise que se baseia em minha
inteipretação da probabilidade em termos de propensão, [1957 (e) ], [1959
(e )l , [1967 (k) L Essa interpretação, que ‘ ‘pressupõe a áxiomatização por
mim feita do cálculo de probabilidades (ver, por exemplo, [1959' (e)3, p.
40; [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) ] , apêndices * iv e , . * v j , permite-nos pôr de
lado o modo formal de falar, colocando as coisas, de maneira mais realista.
Entendemos que
(1) p ( a, b ) — r
significa: “a propensão de o estado de coisas (ou condições) b produzir a é
igual a r.” (r é um número real.) Um enunciado como (1 ) pode ser uma
conjectura; ou ser deduzível de alguma conjectura; será, por exemplo, uma con­
jectura acerca de leis da Natureza.
Podemos então explicar casualmente (num sentido generalizado e mais
fraco de “explicar” ) a como devido à ; presença de b, ainda . que r não
seja igüal a 1. O fato de b ser causa clássica ou completa ou determinista
de a pode ser asseverado através de. uma conjectura como
(2) p ( a, bx) — 1 para todo x
onde x abrange todos os possíveis estados de coisas, inclusive estados incom­
patíveis com b. (Nem é preciso excluir “impossíveisJ> estados'de coisas. )■ Isso .
mostra as1vantagens de uma axiomatização como a que propus, na qual o
segundo argumento pode ser incongruente.
Essa maneira de colocar o assunto é,. claramente, uma generalização de
minha análise de explicação causai. Permite, além disso, enunciar os "c o n ­
dicionais nômicos” de vários tipos — do tipo (1 ), comi r menor do que a
unidade; do tipo (1 ), com r = 1; e do tipo (2 ). (Oferece, portanto, uma
solução para o chamado problema dos condicionais contrafactuais.) Habi­
lita-nos a resolver o problema.de Kneale (ver [1959 ( a ) ] , [1966 ( e ) 3,
Apêndice * x ) , que consiste em distinguir entre enunciados acidentalmente
universais e conexões naturalmente ou fisicamente necessárias, tal como foi
apontado por (2 ). Note-se, entretanto, que podem existir conexões fisica­
mente não-necessárias que, a despeito disso, não são acidentais, como (1 )
com um r não muito distanciado da unidade. Ver, ainda, a réplica a Suppes,
em minhas Replies.
179. Ver, •também, T h e Poverty , [1957 (^ ) í , p* 125. Cumpre fazer
alusão a J, S. MilI, A System of L o g ic , B.a ed., Livro III, cap. X II, seção I.
180.Ver Karl Hilferding, “Le fondement empirique de la science”,
R evu e 110 (1936), 85-116. Nesse- artigo, Hilfer­
des questions scientifiques,
ding (um físico-quimico) explica longamente minhas -concepções, das quais
se aparta por admitir probabilidades indutivas, no sentido de Reichenbach.
181. Ver também Hilferding, “Le fondement empirique de la science-”,
p. 111, com uma referência à p. 27 (ou seja, seção 12> da l A ,ed. de
L . d . F., [1934 ( b ) L •

226
182. Ver The Poverty, [1957 (g)J , pp. 140 e s , , e. 149 :.e s.-y mais
amplamente desenvolvidas no cap.: 14 de >0. S., [1962^(ç) e :(d )];í [1963^ (1)
e'-(m )3 ; [1966 (i)3 ; [1967. (d)J-; [1968>;l(r )'] .(agora, C1972’ cap. 4)_;
[1969 ( j ) ] e em várias conferências nãorpubHcadaSj:ipmferidas íínavLòndon
‘ School of Economics e ém outros -centros. -^ = ; ,r/•'
183. Ver [1957 (g) 3, seções 31'j e;/21, jespec^Típp;-i49i/e'->154i e-s* •.
184- Ver vol. I I de [1962 (c ) ],'[1 9 6 3 " (1)7 e (n i )]^ pp. 93-99 é éspec.
pp. 97 e s. . • ’ * y f .-“-m ^
185.. Ver [1950' s! í I Ú 9 5 2 ' X a ) X - V í W ' P P ~ * ; •
186. V e r [1957 ( g ) 3,. seções 30-32:-'[-1962 (c-)‘]"'.e;; mais '.recentemente,
[1968 (r)3 e [1969 (j)3 . - > - — - ~ 1
187. Foi tal situkção. que, em? 1945, levou-mè;;'à publicação' de um
panfleto, Research and thé JUhivérsity; ' ' [1945 (é)T/~ esb'ô£adô~ por^mim em
colaboração com Robin S;.AÍIan' fe Hugh"Partonr:‘è ;assihãdóf depois vdé .aigumàs
pequenas, alteraçõe.s, por Henry Fordér "e“outros.':AT:'situàção- logo f-sé -^alterou
na Nova Zelândia, mas, no eniretempo, eu havia deixàdo^ aquele^pais^^yiájãhdò
para a Inglaterra. (Acrescentado em 1975: um relato ■acerca: desse‘/pãrífíeto
é feito por: E: T. Beardsley, in A History of the University of rCanterbury,
18f3-1973, obra editada por "W. J. Gardner et al. ( Ghristchurch, N.IZ.i U rii-
versity of Canterbury, 1973).) ' ’ v; ;
188. V er espec. [1947 (a ) 3 e [1947 (b )3 . Fui levado a realizar: esse
tçabalbp ém parte devido a problemas de teoria das probabilidades: as regras
de “dedução natural” , estão estreitamente associadas às definições cúmuns.da
Álgebra booleaná. Ver também artigos, escritos por À. Tarski em 1935 e
1936, que agora constituem os caps. X I e X I I de seu livro Logic, Semantics,
Metamathematics, trad. de J, H. Woodger (Londres e Nova Iorque: Oxford
University Press, 1956).
189^ [1960 (b ) e (c)3.
190. [1946 (b )3 ; cap. 9 . de [1963 ( a ) 3 e edições posteriores.
191. As atas da reunião nãosão inteiramente dignas de, crédito. Por
exemplo, indica-se como título de meu artigo (e assim. figurou na listá im­
pressa das reuniões), “Methods in Philosophy”, em vez de “Are there Philo-
sophical Problems?”, que foi o título dado por mim. Além disso, o secre­
tário. julgou que eu me estivesse^ queixando de o seu convite ser para um
brevé artigo, que serviria de introdução a um debàte — o^ que, em verdade,
considerei muito conveniente. O secretário nao me entendeu (enigma versus
problema).
192. Ver C. & R., [1973. ( a ) ] , p. 55.
193. Ver p. 167 da resenha dé O. S., feita por G. Ryle, em Mind,
56 (1947), 167-72.
194.Logo no princípio do curso, ele ;formulou ' e . demonstrou a vali­
dade da regra metalingüistica de demonstração indireta (ou por absurdo):
Se a decorre logicamente de não-o, entãó
a é demonstrável.
195. Agora em Tarski, Logic, Semanticsj Metamathematics, pp. 409-
-20 (ver^ n. 188, acima).
... : .196. . Ib.id., pp. 419: e s.

227
':í>l-.197.-;:-Vèr [1947 (a)3, [1947 ( b ) ] } [1947 ( c ) ] , [1948 (b ) 1, [1948
(c) ], [1948 ( e ) ] [1948 (f ) ]. O assunto fdí agora mais bem estudado por
Lejewski. Ver o artigo “Popper s Theòry of Formal or Deductive Interference” ,
in The philosophy of Karl Popper^oig. por Paul Arthur Schilpp, pp. 632-70.
198- O erro rèlacionava-se com as regras de substituição ou de repo­
sição de expressões: erradamente, pensei que bastasse formular essas regras
em termos de interdeduzibilida.de, enquanto, ná verdade, fazia-se necessária
uma identidade (de expressões). Para explicar esta observàçãp: postulei, por
exemplo, que se num enunciado a duas. subexpressÕes (disjuntas) x e y
são passíveis, onde quer que ocorram, de reposição por uma expressão z, en­
tão a expressão resultante (contanto que seja um enunciado) será interde-
duzível, resultando na reposição de #, onde quer que ocorra, por y e, ã
seguir, d e . y, onde quer que ocorra, por z. Eu deveria ter postulado que
o primeiro resultado é idêntico ao segundo. Dei-me conta de que isto seria
mais forte; erroneamente, julguei que . a regra ■mais fraca bastaria. A inte­
ressante (e até agora inédita) conclusão a que fuiposteriormente levado,
ao repaíar esse erro, foi a de que havia uma diferença-essencial entre a lógica
prpposicional e a lógica dos predicados: enquanto à lógica proposicional
pode ser construída com uma teoria de conjuntos de enunciados, eujos ele­
mentos são parcialmente ordenados: pela relação de deduzibilidade, a lógica
funcional requer, além disso, uma abordagem especificamente morfológica,
poJ rquanto deve referir-se à subexpressão de uma expressão, empregando um
conceito como o de identidade (com resppito a expressões). Entretanto, nada
mais é necessário além das noções de identidade e dç subexpressão; não se
requer uma descrição ulterior,.. especialmente ;íio que Se refere à forma, das
expressões.
199. [1950 (d )].
200. [1950 (b ) e ( c ) ] .
201.. Ver Kurt Godel, “A Remark Abóut the Relationship Between
Relativity Theory and Idealistic Philosophy”, hi Albert Einstéini Philosopher-
-Scíjéniisi, pp. 555-62 (ver n. 122, acima). O.S argumentos dê Gpdel eram
(a) filosóficos, (b ) baseados nateoria especial (ver, em particular, sua n. .5 ),
e ( c■) baseados em suas novas soluções cosmológicas das equações de c
de Einstein, ou seja, na possibilidade de existirem órbitas quadridimensio-
nais fechadas, num universo godeliano (em revolução) tal como por ele
descrito em “An Example of a New Type of Gosmological Solutions of
Einstein’s Field Equations of Gravitation”, Reuiew of Modern Physics, 21
(1949), 447-50. (Os resultados (c )- foram contestados por S. Ghandrasekhar
e James P. Wiright, “The Geodesics in Godel's Universe”, Proceedings of the
National Acadèmy of Sciences, 47 (1961), 341-47. Note-se, porém,, que ainda
que não sejam geodésicas as órbitas.fechadas de Godeí, isso não constitui, por
si só, uffla refutação de suas concepções; uma órbita gõdeliana nunca pre­
tendeu ser inteiramente balística ou gravitacionaJ: mesmo a,, órbita de um
foguete qué se dirige para a Lua só o ; é parcialmente.)
202. Gp. Schijpp, org., Albert Einstein: Philosopher-Scientist, p. 688
(ver n. 1.22, acima). Nao só concordo com Einstein, mas iria mais longe,
dizendo o seguinte: Fosse a existência (em sentido físico) das órbitas de
Gòdel uma conseqüência da teoria de Einstein (o que não se dá), esse fato
deveria ser contraposto à teoria. Não seria, por certo, um argumento con­
clusivo: isso não existe. E talvez tenhamos de a.ceitar as órbitas gõdelianas.
Penso, porém, que, em tal caso, deveríamos buscar alguma outra alternativa.

'7 8 ............... •- r--~- ■ ... - — ........-


203. Harald Hoffding escreveu (in : D e n ^Tnenneskeligèi 0 a n k e A^Gop^
nhague: Nordisk Verlag, 1910, p. 303;: :na:.::verSãOívMêm^;^^^^níií/t/iífcA^.
Gedanke [Leipzig: O. Rieslánd, 1911] 5 p.^ 333) : ^O^tenh^m^nfôJ.v-.qíie
deve descrever e explicar-nos o mundoj^semp^fp^^^íãüi^^dô^inuriáòrOéxíi^
tentei por esse motivo, podem ’'ãemprê'-'Sul^'M^o^4^Hâaâé»y^M^(|dè'~rèle'..
terá de haver-se. ( . . . ) Não temos '.'
cia; mas, em momento algum, é^tamos^áiít&fizadds-í-á-^cbrisidêiràr^cònipletàiívà /
. experiência. Dessa maneira,. o conhéeij^ ^èmlleugraú:^iÉíaiâ^áitb>
nada mais nos proporciona ; ^üe ^ üiii ^ tiíjjiiídfc^^iàknj^^
realidade, verificamos, ê «íií si' itoesma. ^^rtê^d^^umá^^'i^aíidadé^ili^sMeunplaii^ ^ .
(Devo esta passagem -a Arne ;'Péteráêrfi)^A:'mè]hÒr%idéiáímtuitiyàvüessa- incòm-
pletude é a de um mapa que-mostre-a-meêâiifem^qúe^está^íséndb^désenháâp:-
e o mapa na medidaemque vá sendo .desenhadò. ^^yer.i tarnbém; a répliea^à :-
Watkins, em minhas-jRèplié&J) \. *.f - J -V- :'V> .
204. Ver meu . artigo tÍ94í8 ! .(dj 3, •agõró)v%1^63K\:^:ÍÍp^tap.--46"-éV
mais extensamente, .[.1957- (i) 3 !'t - [1969-^(t) ] ‘^:. agora[4&|.-2^? (&)'Ir- 5.- :
204a. (A.cresceniâdó èin 19751 vèr àgòrá- xnéu ^E19V - ' ' y r: ' j-.7"í
205. H á um artigo interessante, de. impacto,.-^escrito.; por..,.Williaiii
Kneale, "Scientifiç Revolution for Ever?”, The BfcfíME.*:.
Philosophy of Science, 19 (1968), 27-42, nó qual o áütÒr' pâxêce,; atê^cèrto
ponto, partilhar , a posição esboçada acima , e criticá-la. (Em muitos., pontos
de pormenor, ele, porém, me entende mal; por exemplo, na p. 36: “ Pois, se
não há verdade, nao pode haver qualquer aproximação da verdade ( . . . )
Isso é certo. Mas Onde sugeri eu que não haja verdade? O conjunto de
enunciados teoréticos verdadeiros . da Física talvez nao seja [finitamente]
axiomatizável; à vista do teorema de-•Gõdel, quase certamente não o é.
Contudo, a seqüência de nossas tentativas de produzir axioinatizações pro­
gressivamente melhores pode bem. revelar-se uma seqüência revolucionária,
na tqual criemos, constantemente, meios teoréticos e matemáticos novos para
mais nos aproximarmos daquele inatingível fim.
206. Ver C. & R [1963 ( a ) ] , p. 114 (n. 30 ao cap. 3 e texto) e o
terceiro parágrafo da seção 19 desta Autobiografia.
207. Em carta a mim dirigida, no dia 15 de junho de 1935, Einstein
aprovou minhas contepções concernentes a “falseabilidade, como propriedade
decisiva de qualquer teoria a propósito d a . realidade”.
2Ó8. Ver A lbert Einstein: Philosophçr-Scientist , p. 674 (ver n. 122,
acima) ; também relevante é a carta de Einstein, que aparece na p, 29 de
Schrodinger et aL, Briefe ?ur Wetlenmèchanik, org. por K. Przibram (Viena:
Springer Verlag, 1963); na versão inglesa, Letters on W ave Mechanics (Lon­
dres: Vision, 1967), a carta aparece na pp. 31 e s.
209. Ver meu artigo . “What is Dialectic?”, agora cap. 15 de C . & R.,
[1963 (a)J . Trata-se de uma forma estilisticamente. revista de [1940 ( a) J,
com o acréscimo de várias notas de pé de págiiia. A , passagéiini aqülrésú--
mida é de C. & R., p. '313, primeiro parágrafo ,novo...Tal como .se vê da
n. 3, deste capítulo (n. 1 de [1940.. ;eur^ncamva^aqueÍàf4^p|S^P.'-.'{'^-
qual eu acentuava qúe.*ubntet:ef ã.:j>rova, umà^teoria
a ela se^laz, ,pu.,seja, de.>E K ) .<:t»mq:>i«súmo^.âo;^rp^ãüyE^n|ü »d^micò.^dé^criv
t6'
,-fi >- f - í ■■'■ir - Í - - v ■- - ' 'f il. ' \ 1 W '

•^10;í?f Compàrém-se'-?.a-- isso;> Os- píoblemas rs-olífquéF-surge primeiro,, a., gãr.


linha (H ) ; ou o- ovo (O)'*?” --.e “ o .que surge- primjBÍro^^^hipótêsè'-rr-(Ál.)#ou''-ía
© discutidos na p. 47 de C. & R., [1963 (a)3 . Ver tam-
béhii#1949 ( d ) ] , agora em inglês, apare,cendo como Apêndice a [1972 ( a ) ] ;
:/;é5pèc/'vpp; 345- e s . ‘
• 211. Ver por exemplo [1968 (r)3 , espec. pp. 36-39; [1972 (a )3 ,,p p .
170-78,
212- Schrõdinger defende essa concepção como forma de idealismo oú
panpsiquismo, na segunda parte de seu livro póstumo, Mein Weltbild (Viena:
Zsolnay, 1961),, cap. I, pp. 105-14; versão inglesa, M y View of the. World
(Cambridge: Gambridgê University Press, 1964, pp. 61-67).
213. Estou aludindo a Winston Ghurchill, M y Early Life (Londres,
1930). Os argumentos podem ser encontrados no cap. IX ( “Education at
Bangaiore” ), ou seja, nas pp. 131 e s. da edição de Keystone Lihrary (1934)
ou. da edição da Maçmillan (1934). Citei extensamente a passagem na
seção 5 do cap. 2 de [1972 (a ) 3; vet pp. 42-43.
214., A citação não é de memória, mas'do primeiro parágrafo do cap.
6 de Emin Schrõdinger, Mind and Matter (Cambridge: Cambridge Univer­
sity Press, 1958), p. 88, e de Erwin Schrõdinger, What is Life? & Mind
and Matter (Cambridge: Cambridge University Press, 1967; dois livros
publicados num volume, brochura), p. 166.. As concepções que Schrõdinger
defendeu, em nossos diálogos foram muito semelhantes.
215. £1956 (b)J .
216. ‘ Notemos, de passagem, que a substituição aqui de “impossível”
por "infinitamente improvável” (substituição talvez dúbia) não afetaria o
ponto principal destas considerações, pois, embora a entropia se relacione
com a probabilidade, nem toda referência à probabilidade envolve entropia.
21?.. Ver Mind and Matter, p. 86_, ou What is Life? & Mind and
Matter, p. 164.
218 - Ver Mind and Matter ou What is .Life?& Mind and Matter,
loc. cit. Ele usou a expressão “metodologia >do físico” provavelmentepara
afastar-se de uma metodologia da Física proposta por um filósofo.
219. What is . Life?, pp. 74 e s.
220. Ibid., p. 78.
221. ibid., p. 79.
222. Ver meu [1967 (b ) e (h )L .
223. Ver, p. ex., "Quantum Mechanics without ‘The Observer ” ,
[1967 ( k ) ] ; “Of Clouds and C lod s”,[1966 (f)3 , [197.2 (a)3 , cap. 6;
“Is there an Epistemological Problem of Perceptioii?”, [1968 ( e) 3; “On
the Theory of the Objective Mind”, [1968 ( r ) 3; “Epistemology Without a
Knowing Subject^^ [1968 (s)3, (respect. caps. 4 e 3 de Obj. Kn., [1972
( a ) ] ) ; e “A Pluralist Approach to the Philosophy of History”, [1969 ( j ) 1-
224 Tarski foí criticado muitas vezes por atribuir verdade a sentenças:
uma sentença, costuma-se dizer, é uma mera seqüência de palavras sem
significado; assim, não pode ser verdadeira. Contudo, Tarski fala de “Senten­
ças significativas” e, dessa maneira, sua critica, tal como tantas outras críticas
filosoficas, não é apenas improcedente, mas simplesmente irresponsável. Ver
Logic, Semantics, Metamathematics, p. 178 (definição 12) e p. .156, « . 1
(ver n, 188 acima); e, para comentário, méu [1955 ( d ) 3 (agora um aden­
do ao cap. 9 de meu [1972 ( a ) 3 e [1959 ( a ) 3, [1966. (e)3 , e edições pos­
teriores, n. * 1 à seção 84.

230
225. Isso se aplica também à validade de:s algumas.; régraç.i muito , sínir
pies, regras cuja validade tem sido. n^ada^por^alguns>filósofos,.em * b »* -'
intuitiva (espec. por.G. E. Moore).; áv.inaist;5Íinplè^^die7:;:tódas}íiesàas regrás=.é:
de qualquer enunciado a podemos legitiriiàméntè deduzir o próprio « k Aqui
se pode mostrar facilmente a impossibilidade.-de construir íüm^contra^exem-
.pio. É uma questão particular a ;, pessoa- aceitar jSil^não este argumento;
Quem não aceitar, estará, simplesmente-errádo.^,Ver também ^rneu^t 19,47 (a );].
226. JEu disse coisas como éssa'répètidas -vezes,' a partir*KlJil-'tí934'i-í(b)!l ,
seções 27 e 29, e [1947 ( a ) 3 ' ^ ;yeF tl â68:^ " . ( ? £ ? ) , ! ' 3 . ) ^ ' P; ‘
ex.; e sugeri que aquilo que chàméi- d é ^ ^ r a u de . corròboraçao " d e u n i à
hipótese h, à. luz de provas òu”dà^fevidêhcia\ e'J, [pòdé /$er/'mtér£retado como ...
um informe abreviado' das aátefioreV discussões"f críticas" dátWpótése h, à
luz" das provas e. (C p:'J'rin. ' 156^150^ da;'1"seção 20' acima, '"e /tekto.')/' Assim/'
escrevi, p. ex:, em X,. S c .D ^ X . 1959 p/'41.4:v “ .Ir. /- (?(/i;£)í'"’só 'pódeijser
adequadamente/ mtctpfetàtíò"'coiriâi^grau^ de corroborkçãò" \ d ^ . k ; ôá>
racionalidade de ■riòssâ' creriçá trn .Hy k luzJde. testéã — se •'é'JcÒnsistir - cie ihfòr^
mes do resultado de sinceras tentàtivas de refutar A. .^ ’^'Em 'butfas palavràá,
só um informe de discussão sinceramente critica’-pode •serí.èorisidêradcT^detet^:- '
minante, ainda qüe parcial, do grau de racionalidade' . ( de^nòssan crença ;ãemk
/i). N a passagem citada (diversamente da terminologia empregada noçtekto),.
usei as palavras “grau de racionalidade de nossa crença^: queXdevenàmsen
ainda mais claras do' que “crença racional” ; ver também -"
explico esse ponto e torno suficientemente clara minha atitude' ..objetivista^
creio eu (tal como fiz ç.d nauseam em outros locais). Não obstante, a passa­
gem referida foi interpretada (pelo prof. Lakatos, “Ghanges in the. Problem
o£ Inductive Logic”, in Problem of índuetive Logic, org. por Lakatos, n. 6, p.
412 e s. [ver n. 41, acima] como um sintoma do abalo de jméü objetivismo
e como indicação de que estou sujeito a lapsos subjetivistas. Greiò que é
impossível evitar todos os mal-entendidos. Fico a imaginar como serão inter­
pretadas minhas observações atuais acerca da falta de significação da crença.
227. V er espec. meu. 119.71 ( i ) ] , agora cap. 1 de [1972 ( a ) ] .
228. . Ó que denominei “ concepção da moda” remonta a J. S. Mill.
Para formulações modernas, ver P.- F. Strawsori, Jntroduction to Logical
Theoiy (Londres: Methuen & Go,, 1952; Nova Iorque; John "Wiley & Sons,
1952), pp. 249 e s.; Nelson Goodman, Fact, Fiction and Forecast (Cám-
bridge, Mass.: Harvard University Press, 1955), pp. 63-66;' e Rudolf Gar­
nap, “Inductive Logic and Inductive Intuition”, ih Problem of Inductive
Logic, org. por Lakatos, pp. 258-67, paríiculaçmente p. 265 (ver n: 41
acima).
229. Essa me parece uma redação mais cuidadosa de um dos argu­
mentos de Garnap; ver Garnap, “Inductive Logic and Inductive Intuition”,
p. 265, uma passagem . com o seguinte início: “Creio que apelar para o
raciocínio indutivo, em defesa do raciocínio indutivo, é não apenas legítimo,
mas indispensável” .
230. Ibid.i p. 311. .
231.. Para o “caso confírmador” de Garnap, ver meu £7. & i? t l 96 3
( a ) 3, pp. 282 e s. O que Carnap; s'derioinihà><“eáso: íconfirmádc(F, de^uma
lei (ou de uma hipótese universal) veqüivMe,:( vd e :ífá{ò,^" áoíí:,§:rãü' ':íde "•confir^ :
mação (ou probabilidade) do caso seguinte dà. l d f isso tèiide pára 1/2, óü
0,99, contanto que a freqüência relativa dos casós^.'favbráyéb'i-^^iyáã&s -.'se"'
aproxime, respectivamente, de 1/2 ou de 0,99. Como conseqüência, uma lei
que! é refutada por iim em cada dóis casos seguidos (ou por um em cada
cem casos) tem um a' confirmação (por casos), que se aproxima de 1/2 ou
de 0,99; o que, naturalinente," é absurdo. Expliquei isso pela primeira vez
em [1934 ( b ) ] , p. 191, ou sèja, [1959 ( a ) ] , p.-. 257, muito antés de Carnap
cogitar de casos de confirmação, numa discüssão acerca .das várias possibi­
lidades, de atribuir' “probabilidade” a uma jhipótese; eu disse, então, que
essa conseqüência era “devastadora” para tal idéia de probabilidade. Pertur­
ba-me a resposta dáda r por Carnap à minha observação, em Problem of
Inductive Logic, org. por Lakatos,: pp. 309. e s. (ver n. 41 acima). Aí,*
falando acerca de easo confirmador, Carnap diz que seu valor numérico “é
( . . . . ) uma importante característica da lei. No exemplo de Popper, a lei
que se vê em média satisfeita por metade dos casos tem, com base em
minha, definição, não a probabilidade 1/2, como P o p p e r erroneamente acre­
dita, mas a probabilidade zero.” Mas embora tenha o. que Carnap (e eu),
chamamos “probabilidade zero”, tem também o que Carnap denomina “con-v
firmação por casos igual a 1/2” ; e esse era o pontó em discussão (embora
eu tenha usado, em 1934, o termo "probabilidade” na crítica da fundação
que Carnap, muito depois, denominou “caso confirmador” ).
232. Sou grato a David Miller por apontar-me essa. característica de
todos os sistemas de Hintikka. O primeiro antigo de Jaakkb Hintikka a res­
peito do assunto. f o i. "Towards of a Theòrj^of Inductive Genefalizatiqn” in
Logic, Mèthodológy and Philosophy of Science, org. por. Yehoshua Bar-
-Hilleí (Amsterdã: North-Holand Publishing Co,, 1964), vol. II, pp. 274-88.
Amplas referências - podem ser .encontradas, em Risto Hilpinen, “Rules of
Acceptance and Inductive Logic”, Acta Philosóphica Fennica, 21 (1968).
233. Segundo a posição adotada por- Carnap, em aproximadamente
1949-56 (pelo menos), a Lógica Indutiva é analiticamente verdadeira. Se
assim acontece, entretanto, não sei como d suposto grau racional da crença
há de sofrer transformações tão radicais como de zero (descrença extrema)
a0,7 (crença média). De acordo com as últimas teorias de Carnap, “a
intuição indutiva” atua como um tribunal de apelação. Apresentei razões
para mostrar quão irresponsável e tendencioso . é esse tribunal. de apelação;
ver meu [1968 (i)J , espec. pp. 297-303.
234. Cp. Fact, Fiction, and Forecast, p: 65 (ver n. 228 acima).
235. 1Ver [1968 ( i ) ] . Para minha teoria positiva da corroboração, ver
final da seção 20 acima e, ainda, o final da seção 33, espec.. n. 243 e texto
correspondente.
236. Ver [1957 ( i ) ] e [1969 (k )], agora reimpresso como cap. 5 de
[1972 ( a ) ] e [1957 (1)].'
237. Ver [1959 ( a ) ] , fim da seção 29 e p. 315 da tradução de
[1935 ( a ) ] , aí em Apêndice; * i, 2, p.p. 315-17; ou [1963 ( a ) ] , Introdução;
e, abaixo, n. 243 e texto. . (■
238. Pronunciei um ciclo de palestras a respeito desse problema espe­
cífico — crítica sem justificação---- no Instituto de Estudos Avançados de
Viena, em 1964.
239-, Ver espec. [1957 (i) ] e [1969 (k)l7'agora cap. 5 de [1972 ( a ) ] ;
cap.10 de [1963 ( a ) ] ; e cap. 2 de [1972 ( a ) ] . Ver n.165a em minhas
Replies.
240.. Ver [1934 (b)3, p. 186; [1959 ( a ) ] , /p. .252 (seção 79).

232
241. Cp. [1958| ( c ) ] , , 11 9 5 & **•;(y í a ■ ^ í 2 ^ i ^ ^ a p s K ? H 8 : ^ . j d e
[1963 ( a ) ] . .]. - . • .
242. A expressão “programa dê'-'"pesquisa'' fhetafísica” " ' for^üsada em
minhas conferencias, ■aj partir, de" 1949;Tr,se flãó:í'.antès^^DiasiShãò^SapáreGéli em-
lçtra de forma até 1^58, embora •
capítulo de posfscript i(em provas ' t í i k > g r á £ { e á ^ ' ] ^ é á d ^ ! ^ ^ r
a', conhecer a meus colegas e o p rofessor" Làk atos^Vrfeçí)íiheeevf;qüe''o ^ q iiés:e1e^-
chama de "programas j de pesquisa científicá” fcólòéa^se^na; ^tradi^ãb^dqvVque
eu chamei “programa^ de pesquisa metáfísicà?J^(í^^^
-falseável); Ver p. 183 de seu artígò •
Scientifíc Research Programmes”, in •Critieisrri
org. p or Im re Lakatos e A la n M usgrave ( C am bridge: í; r<É^^B.||dgé^'.!yriiyÉr-/-'
sity. Press, 1970).
243. Note-se, .dtj passagem, que os realistas ^acreditaim;®^
verdade (e os que iaçreditam na verdade
Cl063 (a ) 3, p. 116) -I—: chegam a saber que há f*tantesV-:l!eHlm^aã^^vé^^^.
deiros quantos os falsòs. (Para o que vem a. seguir, -vercljwhjd)^ ■
seção 20 acima.) Um a vez que o propósito deste
discussão entre meus críticos e mim, caberá, talvez aludir, brevei^nt^àí-^se^ú
nha de minha L. Jcj D. feita em Mind, 59 (1960), 99--Jl0.1"íi ;G-\ jt
Warnock (ver também' n. 25 .à seção 7 acima). Lemos, . ali, Vna]vp.í: 100,,
a respeito de minhas j concepções quanto ao problema dà irtdüçãòl^“C)ra,
Pbpper d iz . enfaticamente que esse. tradicional problema . é insòluVeÍ. ^ ’ ,r
Estou seguro de que jjámais disse isso e muito menos enfaticamêhtéiVfíSérapre;
tive a pretensão de. realmente ter resolvido o problem a no livro ':quéyfíéra:
objeto da resenha. Máis adiante, na mesma página, Iemòs uI.Popper] afirnia,
acerca de suas própriajs concepções, não que elas oferecem uma solução pára
o problema-de Hume,| mas que elas não permitem que ele exista”. Isso :'am-
flita cora'a sugestão, feita no .início de meu livro (espec. nas seções 1 e 4),’
segundo a qual aquilo que denominei problema da indução, de Hümé‘ é
um do? dois’ problemas fundamentais da teoria do conhecimento. Posterior^
mente, chegamos a uma versão bastante boa de minha maneira de . formular
esse problema: “como ( . . . ) podemos justificadamente dar como verdadeiros*
ou mesmo como provavelmente verdadeiros, os enunciados gerais de .« (...:) ;
uma teoria científica” . Minha resposta direta a essa questão foi: não Kâtfús*.
tificativa, {Contudo, por vezes, há justificativa pará preferirmos uma teoria,
ém vez de outra teoria rival; ver o texto a que esta nota se refere. );N ã ó
obstante, a resenha prossegue, afirmando: “Nao há, su&tenta Popper»; .espe­
rança de responder a essa pergunta, pais ela requer que resolvamos o insó-
lúvel problema da indução. Diz ele, entretanto, que é desnecessário e : eríôriéo
formular a pergunta.” Nenhuma das passagens por mim citadas .préténde
ser crítica; pretende, antes, relatar o que eu “disse enfaticamente” ; ‘‘tiès6jo
afirmar” ; “sustento” e “afirmo”. Pouco mais adiante, na resenha," a:.critica
principia com as palavras: “Ora, elimina isso o 'insolúvel' problema-.-daiinâtiT:
ção?” . . .
Já que se fala do assunto, mencione-se, ainda, que o comentarista’: còn-,
centra a crítica que faz a meu livro na tese seguinte, que aqui ^registro rtém-
. grifo (p. .101; a palavra “confiar” significa, tal como o cohtextòí^mostrài-
“confiar para o futurò” ) : “Popper evidentemente admite, o que^stá,Sàliásj4inisí
plícito em suas expressões, que estamos autorizados a confiarei-pará" 'ò^futúro]';
numa teoria bem corroborada.” Eu jamais admiti qualquer coisa^lsigirnÈlHá^èí!'
A s s e v e r o apenas que uma teoria bem corroborada
(que foi criticamente dis­
cutida e comparada com suas rivais e que, até agora, “sobreviveu” ) é racio­
nalmente preferível a uma teoria menos bem corroborada; e qué (a menos
que se proponha uma nova teoria «rival) não há, para nós, melhor caminho,
aberto senão preferi-la e agir com apoio nela, ainda que saibamos que pode
deixar-nos na mão em alguns casos futuros. Assim, tenho de rejeitar
a crítica
do resenhador, dando-a por baseada num coippleto desentendimento de meu
texto, provocado pelo fato de ele ter colocado seu próprio problema da
indução (o problema tradicional) no lugar do meu (que é muito diferente).
Ver agora também [1971 ( i ) l , republicado como cap. 1 de [1972 (a )],.
244. Ver Ernst Mach, Die Prinzipien der Wãrmelehre (Leipzig: Barth,
1896), p. 240; na p. 239, a expressão “filosófico geral” é identificada a
“metafísico” ; e Mach sugere que Mayer (a quem muito admirava) foi inspi­
rado por instituições “metafísicas”.
245. Ver “A Note on Berkeley. as Precursor of Mach” ( [1953 ( d ) ] ;
agora. cáp. 6 de [1963 ( a ) ] .
246. Ver Schrodinger et> al., Briefe zvr W ellenmechanik, p. 32; utili­
zei rainhas' próprias traduções, mas a carta pode ser encontrada, em; inglês,
na ed. inglesa, Letters on Wave Mechanics, pp. 35 e s. (ver n. 208 acima),
A carta de Einstein é datada de 9 de agosto de 1939.
247. Gp. Erwin Schrodinger, “Die gegenwàrtige Situation ín der Quan-
tenmechanik, Die. Naturwissenschaften, 23 (1935), 807-12, 823-28, 844-49.
248. (Grifo meu.) Ver a carta de Einstein a que se alude na n. 246
acimá e sua carta, em termos bem semelhantes, de 22 de dezembro de -1950,
no mesmo livro, pp. 36 e s. (tradução pp. 39 e s.). (Note-se qúe Einstein dá
por assente que uma teoria^ probabiíística há de ser interpretada subjetiva­
mente se referir-se a um caso único; esse é um ponto a . respeito do qual
ele e eu discordámos desde 1935. Ver [1959 (a).3, p. 459, e minha nota
de pé de página.) *
249. Ver espec. ás referências às concepções, de Franz Exner, em
Schrodinger, Science, Theory and Man, pp. 71, 133, 142 e s. (ver n.' 132
acima).
250.' Cp. meu artigo “Quantum Mechanics withoüt *The Obsérver’ ”,
[1967 (k)3, onde se encontram referências a óutros escritos meus, concer­
nentes ao mesmo assunto (especialmente [1957 (e)3 e E1959 (c )3 ).
251. A carta de Van der Waerden está datada de 19 de outubro
de 1968. (Trata-se de uma cartà em que ele inclusive me critica por mo­
tivo de uma errônea referência a Jacob Bemoulli, na p. 29 dè [1967 (k )3 .)
• 252. De vez que esta é uma autobiografia, talvez caiba mencionar que.
em 1947, ou em 1948, recebi uma carta de Victor Kraft que, escrevendo em
nome da Faculdade de Filosofia da Universidade- de Viena, indagou-me se eu
estaria preparado para assumir a cátedra de. Schlick. Respondi que não
deixaria a Inglaterra. .
253. Max .Planckquestionou a competência de Mach como. físico,
mesmo dentro do seu campo favorito, a teoria fenomenológica do calor. Ver
M . Planck, 1Zur Machschen Theorie der physikalischen Erkenntnis”, Physi-
kalische Zeitschrifty 11 (1919), 1186-90. (Ver, ainda, o artigo anterior de
Planck, “Die Einheit des physikalischen Weltbildes”, Physikalische Zeitsckrift,
10 [1909J, 62-75; e a replica de Mach, “Die Leitgedanken .meiner wissens-

■;'2M
chaftlichen Erkenntnislehre und ihre Aufnahme durch die Zeitgenossen” ,
Physikalische Zeitschrift, 11 tliJIO], 599-606.')'. • ;<►
.•......... .
254. V er Joseph. Meyeiihôfer^^Eimsf-^-Machs^^Bifüfúhg^ráh^-diê^^iéheil
Universitat, 1895”, in Symposiurtt ‘~áus ' Ahlàss âès " 50':rPTòdestãgèY' v o n E r m í‘
Mach (Ernst Mach Institut, Frfeiburgjí^inffífiréi^au^^ô&JfE^p^J^^Sí^íiJrná^
encantadora biografia, (alema)-.. de..v.Bdltómãhrif;:>é^'àV.^
Boltzmann (Viena* Frani--'Deutíékè^^l^SS1) ss/ T ’/M t ! - ; ' -
255.. Ver n. 256 e .íL. 2í>l fàbaixo;',^,::;v ''';^ ' Yv':'V-
256. Ver E..“Zermelpi' '■■itíeciha*
-nische Wãrmetheorie”,: .JViédétnànnsàkèifânnaleh;} fs5%\
(1896),' 485^94. Vinte- ;. a h o s a rite s ^ d é v Z è rrá í^ © ^ £ L o ^ h m id t^ ^ ^ ^ ig ò ^ d e ;í;
manri, hayia -assinalado^que, .invertendo; 'tofl^/^^ye^õ^d-^â.és iunüi^?gá«i-y'p^érS%V-: ‘
fazer còiri.. que esse'‘gás£ésç<^?fo,,Avessas, : r é s t à b é l é p è n i ^ j è s t a d o ?dê-
' ordem do qual•.présüimveimraté;;.partíu:^ài&t^hèg^^kílèrôrdêBtt^^^
de Loschraidt. é denominada “ objeção^; dá^^^i^ibjiÜdadé^^iHlu^tD^-vav^de -‘í v.
Zermelo é chamada “objeção da ^re<»rrèncià?^'^'V> :.
257. Paul e Tatiana Ehrenfest, “Über zwei^t bèkahnte y’Ein\Vànde^^gegen; :.
das Boltzmannsche . H-Theorem51, Physikalische Zeitsehrifty Ji ' ;-(:i:907 )y; •3 Ulfl 4v-
258. Ver, p. ex., M ax Bom, Natural' Piiüosoph:^':;6ff:Gàüàjè-{'and-!'Ckinpe •:.
(Oxford: Oxford University Press, 1949), quê escreve, à jj. ôSj ^.Zerrneio^
m atemático alem ão que se ocupou de problemas abstratos, comò os .da tebíiá.
dos conjuntos e dos números transfinitos, de Cantor, aventurou~se: ao campo
da Física, vertendo para o alemão a obra de Gibbs acerca dè Mecânica ;ÉÍtaj
tística.” Notem-se, contudo, as datas: Zermelo criticou Boltzmann em 1896 ;
publicou a versão de Gibbs, a quem elé muito admirava, em 1905; escreveu
seu primeiro artigo a respeito dé teoria dos conjuntos em 1.904 e o segundo
soraente em 1908. Assim, era um físico, antes de tornar-se um matemático
“abstrato” .
259.- Gp. Erwin Schrõdinger, “ Irreversíbility” , Proceedings of the Royal
Irish Âcademy, 53A (1950), 189-95.
260. Ver Ludwig Boltzmann, “Zu Hrn. Zermelo’s Abhándlung: 'Über
die mechanische Erklãrung irreversibler Vorgánge’ ” , Wiedmannsche Annaíen
( Annalen der Physik), 60 (1897), 392-98. O ponto central da passagem' é
repetido em seu Vorlesungen über Gasiheoriè ( Leipzig: J. A. Barth, 1898),
vol. I I , pp. 257 e s.; aqui também utilizei minha própria tradução, mas a
passagem correspondente pode ser encontrada era L. Boltzmann, Lectures
o7i. Gas Theory, tradução de Stephen G, Brush (Berkeley e Los Angeles:
University of Califórnia Press, 1964), pp. 446 e s .
262. A melhor demonstração que Boltzmann ofereceu de d S /d t^O
baseou-se na chamada integral de colisão. Esta representa o efeito mêdiò
exercido sobre uma só molécula do sistema de todas as outras moléculas' do
'gás. Minha sugestão é que: (a ) nao são as colisões que levam ao resultado
de Boltzmann, mas a média' como tal; a coordenada de tempo desempenha
üm papel, porque nao havia média antes da colisão e, assim, o aumento ;da
entropia.parece ser o resultado de colisões físicas. Minha sugestão é, além
disso, que, à parte a derivação de Boltzmann, (b ) as colisões entre as mo­
léculas do gás não são decisivas para um aumento de entropia, embora o.
pressuposto de desordem molecular (que se faz presente através .da. tomada
da média) o seja; Admitamos, com efeito, que um gás ocupe*. em ítdado - •:
momento, a metade de um recipiente; dentro em pouco, éie “encherá” ^todo

235
o recipiente — inesmo que a rareíaçao seja tão grande que (praticamente)
as únicas colisões se dêem contra as parèdes. (As paredes são essenciais: ver
ponto (3 ) de [1957 ( g ) L ) Sugiro, ainda, que (c) é possível interpretar a
derivação de Boltzmann como’ significando què um sistema ordenado X
se torna quase certamente (ou seja, còm r. probabilidade 1) desordenado por
colisão com qualquer sistema Y (digamos, as paredes) que esteja em estado
aleatoriamente escolhido ou, mais . precisamente, um estado não correspon­
dente, em todos ds-: pormenores, âo estado de'A!-,. Nos termos desta interpreta­
ção, o teorema é, naturalmente, válido. Pois a “objeção da reversibilidade”
(ver.n, 256 acima) mostraria apenas q u e,p ara sistemas como X , em seu
estado desordenado, existe pelo menos Um outro sistema ( “correspondente” )
}' que, por colisão (inversa), faria o sistema X retornar a seü ■estado1 orde­
nado. A mera existência matemática. (mesmo em sentido construtivo) deste
sistema Y, que “corresponde” a X , não cria- dificuldade, pois a probabilidade
de que X venha a colidir com um sistema correspondente a ele próprio será
igual a zero. -Assim,- o teorema-H, dS/dt 0 vale quase certamente para
todos os sistemas em c o lis ã o (Isso .explica por que a segunda. lei se aplica
a todos os sistemas fechados.) A “objeção da recorrência” (ver n. 256
acima) é válida, mas não significa que a probabilidade de uma recorrência
— de o sistema voltar a um estado'em que'anteriormente se encontrava -—
seja apreciavelmente superior a zero, para ^ p i sistetna de qualquer. grau
de complexidade. Continuam a existir, entretg.ilto, problemas em aberto* (Vjer
minha série de notas em Nature, [1956 ( b ) ] , Í1956 ( g ) l , [1957 (d )3 ,
[1958 ( b ) ] , . 11965 (f)J , [1967 (b ) e., (h )j e minha nota [1957 ( f ) ] , em
The British Journal for the Philosophy of Science.)
262. Ver. [1956 ( b ) j e seção 30 (a propósito de Schrodinger) acima,
espec, o texto correspondente às nn. 215 \e 216.
263. V er acima, seção 30. Fiz uma conferência a esse respeito,1para
a Oxford University Science Society, no dia 20 de outubro de 1967.Néssa
ocasião, apresentei também breve crítica do significativo artigo' de Schrodin­
ger, “Irreversibility” (ver n. 259 acima); escreve ele à p. 191: “Gostaria
de reformular as leis da ( . . . ) irreversibilidade ( . . . ) de maneira tal que a
contradição lógica que aparentemente está presente em toda derivação de tais
leis a partir de modelos reversíveis seja afastada de uma vez para sempre.”
A reformulação de Schrodinger consiste numa engenhosa maneira (método
posteriormente denominado “método de sistemas de ramificação” ) de intro­
duzir setas de tempo boltzmannianas por meio de uma espécie de definição
operativa; o resultado é o alcançado por Boltzmann. E o método, como o
de Boltzmann é poderoso demais: não resguarda (cómo pensa SchrÔdingèr)
a derivação de Boltzmann — ou seja, sua explicação 'física do teorema H ;
em vez disso, proporciona uma definição (tautológíca) da qual decorre
imediatamente a segunda lei. Dessa forma, torna redundante toda explicação
física da segunda lei.
264. Die Prinzipiender Wãrmelehrej p. 363 (ver -n. 244 acima).
Boltzmann nao é mencionado aí pelo nome (seú nome aparecé, com mo­
derado elogio, na. p. seguinte), mas a' descrição do “movimento” ( “Zug” )
é inconfundível: elè descreve claramente a hesitação de Boltzmann. O ataque
de Mach nesse capítulo ( “The - Opposition betweenMechanistic and Phe-
nomenological Physics” ), se lido nas entrelinhas, é severo; e combina-se com
um fundo de auto-elogio e -comuma fé confiante em que o juízo da História
estará do seu lado; cómo, de fato, estava.

T
265. A presente. seção foi aqui acrescentada porque, segundo creio,
é significativa para. .a compreensão de meu desenvolvimento intelectual e,
mais especialmente, pâra a compreensão de.. jaainha xecente luta. contra o sub-
jetivismo na Física. ^
26.6. Ver Leo Szilard, “Über diè':Aüsdehiíutig dér:\PhãhòmenologÍschen
Thermodynamik auf die Schwaiâtungsièí^^êiáUii^è^^^i^ÀH/t'?''7ttr-- Phy-
sik, 32 (1925), 753-88 e “Ü ber' diê5'Eritrtípieve^Ítídérlüíí^;iri^%in£mVr;thermo-
..dynainischen System bei Émgiifífen ‘-MtéUièénteif .<ÍVéSfen4,> 53 ■(1929),
840-56; este segupdo :ai1igú^'Ítít''^^diMâ^iòdin^-^fiíljcr'?.de *'Òn';>t:lfé Décreàse
of Entropy in a Thei;modynainic Systêm^fb^iííie^.Intéi^ehtiòn^- ót Ihtelligetit
Beings”, B ehavioural ^cien ce, í9:- f(1?64^);|;K3Ol^iO^As". -concépções'; de 1.^Szilard
foram aprofundadas. ppr:.’ Brillouin V:Uncéríaihtyriand^ ^Information
(Nova Iorque: . Academic PressjU;1 :9 6 4 }Gréio£..entretanto, ^què: ^todas^-êssas
concepções foram clara-: e pròcedentementk; critifcádas^ípofc?; J.%J3v. -Fast, - En­
tropy, reimpressão revista e. aUraentada .dar ;ZiS:.-Vfed’..r (iiondresí-^fMacmilíártj
1970), Apêndice 5. Devo esta referência ;'.a/:i5CÍTíéls'5,EggferS-í Hansén;*;” vv - ■■
267 . " Norbert Wienéí, Cyberneticsi or " Còhlrol'?& ^Communieation'-- mr
the Animal & the Maehine" (Gambridge, Mass.: MJ;T:^ vPrêss^-1948'), ' pp.'
44 e s., tentou combinar essa- teoria à. teoria de Boltzittarih|:^às'/ilão - creio
que as duas partes se tenham realmente conjugado no espaço lógicòí ^^ nem
mesmo no do livro de "Wiener^, onde se confüiatn a contextos: estritamente
diversos. (Poderiam conjiígar-se através do postulado de què aquilo quê - ^se
denomina dè consciência é essencialmente aumento de conhecimento, -ou sej a,
acréscimo de informação; mas não desejo encoraj ar uma especulação: idealista
e muito me atemoriza a fertilidade dessa conjugação.) Entretanto, a teoria
subjetiva da entropia relaciona-se estreitamente com o famoso demônio de
Maxwell e com o teorema H de Boltzmann. Max Born, por exemplo, que
acredita ■na interpretação original do teorema H, atribui-lhe um significado
(parcialmente?) subjetivo,. interpretando a colisão integral e “o estabeleci­
mento de. média” (ambos discutidos na n. 261, seção 35, acima) como
"mistura de conhecimento, mecânico com a ignorância. de pormenor” ; essa
mistura de conhecimento e ignorância, diz ele, “leva à irreversibilidade”.
Cp. Bom, Natural philosophy of Cause and Chance, p. 59 (ver n. 258 acima).
268. Ver, p. ex., seções 34-39 e 43 de L. d. F. [1934 (b“)3, [1966 ( e ) ]
e de L. Sc. D., X1959 ( a ) ] .
2691 Ver espec. - [1959 (a)3 , novo Apêndice * xi (2 ), p- 444; [1966
(e) 3, p. 399.
270. Para a medida e sua função de aumento de conteúdo (ou de
aumento de informação), ver seção 34, de [1934 (b)3 e El959 ( a ) ] .
271. Pata uma crítica geral dos experimentos mentais, ver meu novo
Apêndice #xi de L. Sc. D., [1959 (a ) 3, espec. pp. 443 e s.
2.72. Tal como o pressuposto de que o gás consiste numa só molécula
M, o pressuposto de que, sem gasto de energia ou negentropia, podemos
introduzir, no cilindro* a partir de um de seus lados, um pistão, é livremente
usado . por meus opositores, nas suas demonstraçãos da convertibílidade: dè
conhecimento e negentropia. Aqui, ele é inofensivo; e não chega a . ser n e -:
cessário: ver n. 274 abaixo.
273:. David Bohm, Quànlum Theory (Nova Iorque, Prentice-Hall,
1951), p. 608, refere-se a Szilard, mas opera com muitas^ moléculas. íEIfc^não
se apóia, entretanto, nos argumentos de Szilard, mas, antes, na idéia geral de
que o demônio dç Maxwell é incompatível com a lei de aumento da entropia.
274. , Ver meu artigo. "Irreversibility,- or Entropy sinçe 1905”, [1957
( f ) ], artigo em que fiz espéciâi referência ao famoso- trabalho, de Einstein,
datado. dé 1905, acerca do movimento brownianò. Naquele artigo, também
critiquei, entre outros, Szilard^ embora não através do experimento mental
aqui usado. Eu : desenvolvera esse experimento mental algum tempo antes
de 1957 e ele fòi objeto de uma conferência, onde observei as mesmas linhas
do atual texto, conferência feita a convite do professor E. L. Hill, no Depto, die
Física da Universidade de Minnesota,
275. Ver P. K. Feyerabend, “On the Possibility of a Perpetuum M o­
bile, of the Second Kind”, ín Mind, Matter, and Method; - Essays in Honor
of Herbert Feigl, org. por P. K. Feyerabend e G. Maxwell (Mínneapolis:
University of Minnesota Press, 1966), pp. 409-12. (Devo mencionar que a
idéia de . adaptar um fláp ;ao pistão (ver fjgura 3, no texto), para’ evitar
a dificuldade de ter de introduzi-lo por um dós lados, é uin aperfeiçoamento
que Feyerabend . . acrescentou à análise original que fiz do experimento-
mental de Szilard.
276. Samuel Butler. sofreu muitas injustiças dos evolucionistas, inclu­
sive uma séria injustiça do próprio Charles Darwin que, embora muito abor­
recido com isso, jamais a corrigiu. Ela foi corrigida, tanto quanto, possível,
pelo filhó, de Darwin, Francis,, após a morte de Butler. A história, que é algo
complexa, merece ser recontada. Ver pp. 167-21 & de Nora Barlow, org.,
The Autobiography of Charles Darwin (Londres: Goliins, 1958), espec. p.
217, onde se encontram alusões à maioria dos outros assuntos relevantes.
277. Ver [1945 ( a ) ] , seção 27.; cp. [1957 (g ) ] e edições posteriores,
espec. pp. 106-8.
278. • Estou aludindo às observações a; respeito da teoria evolucionista
feitas por Schrõdinger em Mind and Matert.,Especialmente as que ele designa
com as palavras "lamarckisrao disfarçado”’^ - ver Mind ■ and Matter3 p. 26.
e p. 118 da reimpressão., combinada, referida acima, n. 214.
279. A conferência C1961 ( j ) I foi feita no . dia 31 de outubro de
1961 e o manuscrito entregue no mésmo dia à Bodleian Library. Figura agora,
em versão revista, acompanhada de um Adendo, tomo cap. 7 de meu
[1972 ( a ) ] . •>.,
280. Ver [1966 ( f )3 ; agora cap. 6 dé' [1972 ( a ) ] .
280a. Ver [1966 (f ) J.
281. Ver seção 33 acima, espec. n. 242.
282. Ver L. Se.. D.} seção 6?.
283. Para o problema dos “graus de previsão”, ver F. A. Hayek,
“Degrees of Explanation", inicialmente publicado em 1955 e constituindo
agora o cap. 1 de seus Studies in Philosophy, Politics and Economics (Lon­
dres: Routledge & Kegan Paul, 1967); ver espec. n. 4, à p. 9. Quanto ao
darwinismó e à produção de “uma grande variedade de estruturas»”, e quanto
à sua irrefutabjlidade, ver espec. p. 32. .
284. A teoria da seleção sexual, elaborada por Darwin, é, em parte,
uma tentativa de explicar exemplos falseadores de. sua teorià, coisas tais
como, p. ex., a cauda do pavão ou as galhadas do veado. Vér o texto que
antecede a n. 286, abaixo.

238
285. Para o problema da “explicação em princípio” (ou - “do princi­
pio” ), em oposição à “explicação em pormenor”,; ver Hayek, Philosophy,
Politics and. Economics, espec. cap.; =1; sec; V I, pp. 11-1.4:.
286. David Lack assinala esse ponto em seú .fascinante livro Darwin3s
Finches' (Cambridge: Cambridge. Univer,sity .Press^ l947)j p. . 72: “ ( . . . )
quanto aos. tentilhões estudados por Darwin/ todas as--:,prinGÍpais ; diferenças
de bico, entre as espécies, podem sèr-■■■;encaradas .íddmoy.^clàptáções.;-a,, dife­
renças de alimentação.” (Devo as notas de pé de -'-página^r;alusivas; ao cõmr
portamento dos pássaros, a Am e Petersen.) _
r.. • " , 's
287.Como Lackdesereve; tão Vividamente, pp. - 58- é, s., a_ ausência
de uma longa língua nò .bico-doSi .tenültíQesísestudadosi ponvDarwàn ^ : que . se
aproximam de uma espécie - de . pÍGà-pau;-; ;não: ;impede:;íi^uéí‘ :esseS'. pássaros
perfurem troncos e ramos à prbcürá - de ,insetos;— - ou:rséj a,, o pássâro /se man­
tem fiel a seu gostó; entretanto, em .razão:, déssa ' particular - ■desvah tagem .
anatômica, ele desenvolveu a cápâcidãdê de 'conforná-lai-^“UmàV; vez:, feita
uma escavarão, .ele àpánha üiii pequeiio ;ramor:ou espiíiho;; de -rcactus: dè ;uma
ou duas polegadas dé corüpriinentò é, ~seguraridò-o" com ciJ bico, empúrra-o
para dentro da fenda, deixando cair o esjpinho, para.apanhado, inseto "qúando
este surgir.” Essa surpreendente tendência ’Ü e. •cbínpõirtamímtô^^
ponder a uma “tradição” nao-genética que se déséftVblVcu'\'iüa^''íêspéciê"Cícôm
ou sem ensino entre os seus membros;, pode tratar-sè também de;>um;:;padrão
■de comportamento com raiz genética. Isso quer dizer que úmà; f/genUihâ
invenção de comportamento póde assumir o lugar de uma alteração ánktô-
mica. Seja como for, o exemplo mostra de quê modo o comportairíenia
dos organismos pode ser “uma ponta de lança” da evolução: um tipo de
solução de problema biológico que pode levar à. emergência de formas e
espécies novas.
288. Ver meu Adendo, 1971, “A Hopeful Behavíoural. Monster”, à
minha Spençer Lecture, cap. 7 de Í1972 ( a ) } e Alister Hardy, The Living
Stream: a Restatement of Évolution Theory and its Relation to the Spirit
of Man (Londres: Collins, ’ 1965), V I conferência.
289. Essa é uma das principais idéias veiculadas em minha Spencer
Lecture, agora cap. 7 d e '[1972 ( a ) ] .
290. A teoria da separação- geográfica ou o processo geográfico de.
formação de espécies foi inicialmente apresentado por Moritz Wagner em,
.Die Darwinische Theorie un‘d das Migrationsgesetzs der Organismen (Leip-
zig: Duncker und Humblot, 1868); versão inglesa, J. L. Laird, The Dar-
ivinian Theory and the Law of Migration of Organisnts (Londres: Édward
Stanford, 1873). . Ver também Theodosius Dobzhansky, Genetics and the
Origin of Species, 3.„ ed. rev. (Nova Iorque: Columbia University Pressj
1951), pp. 179-211.
291. Ver [1966 ..(f)], pp. 20-26, espec. pp. 24 e s., ponto (11). Agora,
[1972 ( a ) ] , p. 244.
292. V e r -[1970 (1)1, espec. pp. 5-10; [1972 ( a ) ] , pp. 289-95.
292a. Este e os parágrafos seguintes do texto (bem como as notas cor­
respondentes) foram inseridos em 1975.
292b. Ver Sir Alister Hardy, The Living Stream (cp. n. 288 acima).
Em especial, ver Conferências V I . e V i l . Ver, ainda, W. H. Thorpep ^tEhe
Evolutionary Significance of .Habitat Selection”, The Journal of A.-Anirhal
Ecology, 14 (1945), 67-70.
■ ' 293: Depois de ter completado esta Autobiografia, aceitei uma sugestão
de John. Eccles, para^ denominar o terceiro inundo “mundo 3” ; ver J. C.
EccleSj...Facing Reality (Nova Iorque, Heidelbei^ e Berlim: Springer-Verlag,
^370).,;Ver também a nota 7a, acima, . ' '
294. Este argumento pelo qual se atribui realidade a alguma coisa
— de que seja possível tomar “relações cruzadas” concordantes — deve-se,
penso eu, a Winston Churchill. Ver p. 43; do cap. 2 de meu Obj. Kn.,
[19.72 (a )].
295. Cp. p. 1.5 de [1967 (k )3 : de modo geral, considero exce­
lente a sugestão de Landé nó sentido de denominar fisicamente real aquilo
que possa ser tocado (e seja capaz de reagir ao. toque, se tocado).”
296. Tomemos, p. ex., o mal-entendido de Einstein acerca de seu
próprio requisito , de covariância (inicialmente contestado por K.retschmann),
que teve uma longa história antes de ser esclarecido, o que se deveu sobretudo
(em minha opinião) aos esforços de.Fock e Peter Havas. Os artigos impor­
tantes são Erich Kretschmann, “Uber den physikalischen Sinn der Relati-
vitatspostulate, A. Einstein neue und seine ursprüngíiche Relativitãtstheorie”,
Annalen der Phyúk, 4.a série, 53 (1917), 575-614; e a réplica de Einstein,
“Prinzipielles zur allgemeihen Relativitâtsthteo^e”, ibid., 55 (1918), 241-44.
Ver ainda - V . A. Fock, The Theory, of S^frce, Time and Gravitation (Lon­
dres: Pergamon Press, 1959; 2.a ed. rev., Oxford, 1964) e Havas, “Four-Di-
rrtensional Formulations of Newtonian; Mechanifcs , and Their Relation to
Relativijy” (ver n. 32, acima). 1
297. Ver- [1968 ( r ) ] , [1968 (s ) 3 ver também “A Re^Iist View of
Logic, : Physics and History”, [1970 (1) ], [1966. ( f ) 3. (Esses artigos são
agora respectivamente os caps. 4, 3, .8 e 6. ..de. [1972 ( a ) ] . )
298. A alusão a “substância” surge do problema da modificação ( tlO que
pfermanece constante na ■/alteração ?” ) e da tentativa de responder a per*-
gunltas do tipo que è? A velha brincadeira com que a avó de Bertrand
Russell o importunava: “What is mind? No matterl What is matter? Nèver
mind!” .— parece-me não apenas procedente como perfeitamente adequada.
Melhor, indagar “What does mipd?” . [N . T .: Foram mantidas em inglês
as três frases desta nota porque envolvem jogo de palavras cuja tradução
desfiguraria a intenção do original.]
299. As duas últimas sentenças podem ser vistas como encerrando um
argumento contra o panpsiquismo.. O argumento, naturalmente, não é con­
clusivo (üma vez que é irrefutável o panpsiquismo) e assim se conserva, ainda
que fortalecido pela seguinte observação: mesmo que atribuamos estados
conscientes a (digamos) todos os átomos, o problema de explicar os estados
de consciência (como sejam, a lembrança òu a antecipação) de animais su­
periores continua a ser tão difícil quanto; antes, sem essa atribuição.
300. Ver meüs artigos “Languàge and the Body-Mind Problem”, [1953.
( a ) ] e “A Note on the . Body-Mind Problem” , [1955 ( c ) ] ; agora caps.
12 e 13 de [1973 ( a ) ] . ’
301. Wittgenstein ( “O enigma não existe” : Tratactus 6 .5 ) exagerou
o abismo entre o mundo do ;descritível ( “enunciável” ) e o mundo daquilo
que e profundo e não pode ser dito. Há gradações j além disso, o mundo
do enunciável nem sempre carece de profundidade. E se pensarmos ém prot-
fundidade, há um abismo no interior daquelas coisas que podem ser ditas

24C
— entre ura livro de receitasnè
abismo éntre aquelas coisas c|üè:-
de arte sem graça e um retrato
ser muito mais profundos do que;

admirador dó poeta místico Rilke.


302. David Miller sugere
ere que eu in v o q u e i
lecer o equilíbrio entre os mundos 1 è
303 . Ver seções 10 e 15 acima. ■ • ' ^ A'"''' ''
304. Depois de cscrever esse trecho, tomei' cóühecimeht^^
volume dos trabalhos reunidos de Konrad Lorenz" ^ ( ..
menschlisches Verhalten. Gesammelte Abhandlungen tMuniqueíI'^Rví ' 71
Co. Verlag, 19673, vol. I I ; ver espec. pp. 361 e s.). Nesses--'artigos,vjjtíretó
critica, fazendo referência a Erich von Holst, a concepção segunúo;' a ' cjuàlr' ,,
a delimitação entre o mental- e o físico é também a que existe \entrelas
funções superiores e inferiores de controle: alguns processos relaüyãménte- . f >
primitivos (como uma forte dor de dentes) são intensamente consçientes^apr' ' :
passo que alguns processos altamente controlados (como a refinãda;;riiiStè^^;-;;í:;.3;j
pretação de estímulos sensoriais) são inconscientes, de tal sorte que 6 Jrésúl^f . 1;,. ; ;.
tado deles — percepção — - parece-nos (erroneamente) apenas “ijado”. : Isso: . '
me parece- um vislumbre importante que não deve ser esquecido em nenhuma ’ .; •' "
teoria do problema corpo-espírito. (D e outra parte, não posso imagiliár: que • '
o caráter absorvente de uma forte dor de dentes, causada por um nèrvo
expostó, tenha qualquer valor biológico em termos de função de contrple;
e aqui estamos interessados no caráter hierárquico de controles.)
305. R. W . Sperry ( “The Great Cerebral Gommissure”, Scieritific
American, 210, 1964, 42-52; e “Brain Bisection and Meçhanisms of Cóhs-:
ciougnéss”, in Brain and Conscious Experiences, org. por J. C. Eccles [Berlim,
Heidelberg e Nova Iorque, Springer Verlag; 1966, pp. 298-313] previne-nos
de que não cabe imaginar seja absoluta a separação.: há certa parcela de ;
transbordamentó para o outro lado do cérebro. Não obstante, escreve ele
no segundo artigo» mencionado, p. 300: “A mesma espécie de separação
mental direitò-esquerdo [relatada em relação a pacientes què manipulam...
objetos] aparece em testes que envolvem a visão. Lembremos que a metade .
direita do campo visual, a par da mão direita, é representada no hemisfério
esquerdo e vice-versa. Estímulos visuais, tais como figuras, palavras, números
e formas geométricas, projetados numa tela, diretamente à frente do sujeito, e
do lado direito de um ponto de fixação central, de sorte que sejam lançados '
para os hemisférios de fala dominantes, são descritos e relatados corretamente ;
sem qualquer dificuldade especial: D e . outra parte, material similar, projetado
no lado esquerdo do campo visual e, conseqüentemente, nò hemisfério; secun­
dário, perde-se para o hemisfério da fala. Estímulos projetados na'metade ‘
de um campo parecem nao ter qualquer influência, segundo testes -â ié k h o je ;
realizados, sobre a percepção e interpretação de estímulos que se -.apresentem'
na outra, metade do campo.” . .
305a. (Acrescentada era 1975.) V e r ó interessantíssimo livro de A. D.
X)e Gitjote, Thought and Choice in Chess (H aia; Mouton, 1965; Nova Iorque:
Basic Books, 1966).
306. Woífgang Kõhler, The Piace of Value in a World of Fact (N o ­
va Iorque: Liferight, 1938). Substituí “Valor” e “Fato” por “Valores” e
“Fatos” para indicar que acentuo, o pluralismo.
307. Ver, para isso, o fim da réplica a Ernst Gombrich, em minhas
Replies. (Acrescentado depois de completada esta autobiografia.)
308. Schiller diz algo semelhante:
Amigos, que prazer servi-los! Faço-o, porém, espontaneamente.
Assim, não há virtude de minha parte e isso muito me aborrece.
Que fazer? Devo ensinar-me a detestá-los,
e, com desgosto na aima, servi-los eotiuj ,o dever me impõe.
309. Ver o Addendum, “Facts, Standards, and Truth” , in O. S., 4»a
ed., [1972 (c )l e edições posteriores, vol. II.

242
PRINCIPAIS PLi 151JíCAÇÕES E;
ABREVIAÇÕES ,

As seguintes abreviações foram :‘u tiÍiz a d ^ ;n ^ $ tfíto :';p ^ a ;^


cipais publicações dò Aútor.. ;Re£écênfcias \'èm~ colçhètes ,_rèiüè.tem;:^
a Bibliografia Seleciónada. %ÍQ

L. d. F. — Logik der Forschung 1934; 6.a ed. (baseada em L. Sc. D .) 1.976.


Ver [1934 (b )J e [1976 ( a ) ] ; ver também L . Sc< D. .
O. S. — The Open Society and. Its Enemies, vol. 1, The Speíl of Plàto;
vol. 2j The High Tide óf prophecy: He gel, Marx, and The .Aftermath*
1945; Í 0.a impressão 1974.
Ver [1945 (b ), ( c ) ] , [1950 ( a ) ] , [1974 (z8) ] . Traduções para o ho­
landês, finês, alemão, italiano, japonês, português, espanhol, < turco; a
sair: tradução francesa.
■The Poverty = The Poverty of Historicism 1944/45; 1957, 8.a impressão
1974. Ver [1944 . (a ), ( b ) ] , [1945 ( a ) ] , [1957 ( g ) j , [1974 (* ,)].
Traduções para o árabe* holandês, francês, alemão, italiano, japonês,
norueguês, espanhol.
L. Sc. D. = The Logic of Scientific Discovery 1959; 8.a impressão 1975.
(Incorporando uma tradução inglesa de L. d. F. [1934 ( b ) ] . Ver
[1959 ( a ) 3, [1975 (u )3 .
Traduções para o francês, alemão, italiano, japonês, português, servo-
-croata, espanhol; a sair: traduções polonesa e rumena.
C. & R. = Conjectures and Refutations: The Growth of Scientific. Know-
ledge 1963; 5.a impressão 1974. V er [1963 ( a ) ] , [1974 {zi)3-
Traduções para o italiano e espanhol; a sairr traduções para o alemão
è japonês.

O bj.. Kn. ~ Objective Knowledge: an Evolutionary. Approach 1972; 4.?


impressão 1975. Ver [1972 (a )3 , [1975 ( r ) ] .
Traduções para o alemão, italiano, português, espanhol e japonês.
Replies — “Replies to my Critics” em. Paul A. Schilpp (org.), Thie Philosophy; .
of Karl Popper, vols. 14/1 e 14/11 em The Library of Living Philoso* \
phers (L á Salle, 111.: Open Court Publishing Co., 1974), pp. 961 a 1197. /
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

A presente bibliografia acompanha, quanto à numeração (como, diga-


mos, ao escrever-se "[1945 ( a ) ] ” ), a “Bibliografia dos Escritos de Karl
Popper”, organizada por Troèls Eggers Hansen para .a obra The philosophy
of Karl Popper, volumes 14/1 e 14/11 da coleção The Lihrary of Living
Philosophers organizada por Paul A. Schilpp • (L a Salle, Illinois: Open Gourf
Publishing Co-, 1974), pp. 119971,287. Alguns itens foram omitidos e novos
itens foram acrescentados.

1925 (a ) “Über die Stellung des Lehrers zu Schule' und Schüler. Schulre-
forrn (Viena), 4á pp. 204-208.
“Gésellschaftliche oder individualistiche Erziehung?” .
1927 (a ) “Zur Philósophie des Heimatgedankens”, Die Quelle (Viena), 77,
pp. 899-908.
(b ) “ 'Gewohnheitf und ‘Gesetzerlebnis’ in der Erziehung”, tese iné­
dita apresentada (inacabada) ao Instituto Pedagógico da cidade
de Viena.
1928 (a). Zur Methodenfrage der Denkpsychologie, inédito; dissertação sub­
metida para um doutoramento na j ?acuidade de Filosofia da Uni­
versidade de Viena.
. 1931 (a ) “Die Gedachtnispflege unter dem Gesichtspunkt der Selbsttátigkeit” ,
Die Quelle (Viena), 81, pp. 607,7619. .
1932 (a ) Pãdagogische Zeitschriftenschau”, Die Quelle (Vienà), 28, pp.
301 -303; 580-582;, 646-647;.,7.12-713; : 77.8-781; 846r849; 930-931.
1933 (a ) “Ein Kriterimn des empirischen-Chárákters theoretischer Systeme”,
uma carta ao editor, Erkenntnis, ;3j'pp. 426-427.
1934 (b ) Logik der Forschung, - Julius Springer Verlag, Viena (com a datà
“ 1935” ).
1935 (a ) “ ‘Induktionslogik’ und 'Hypothesenwarhrscheinlichkeit' ”, Erkennt­
nis, 5, pp. 170-172.
1938. (a ) “A Set of Independent Axioms fór Probability” . M ind. 47, pp.
275-277. . : :
1940 (a ) “W h a t is Dialectic?”, Mind, 49, pp. ,403-426.
1944 (a ) “The Poverty, of Historícism, I ”, Ecpnomica, l í , pp. 86-103.
(b ) The Poverty pf Historicism, II,. A Griticism of Historicist Me-
thods”, Economica, 11, pp. 119-137.

'44
1945 (a ) “The Poverty of Historicism, I I I ”, Economica, 12, pp. 69-89.
(b ) The^ Open Society and Its Enemies, volume I, The Speil of Plato,-
George Routledge & Sons, Ltd., Londres.
(c ) The Open, Society and lis Enemies^ volume II, The High Tide
of Prophecy: Hegel, Marx, and. The Aftèrmath, George Routledge.
& Sons Ltd., Londres.
(e ) “Research and the University: A Státement by a Group of Tea-
chers in the University of ^N.ew Zealand”. The Caxton Press (Christ-
church, Nova ZeÍândia);; áesdatò^remV^coôpèração com R. S. AIlan,
J. Gi Eccles, H. G. F òi^èr^j. P ^kc^ e 4lvv;N/; Partori.
1946 (b ) "W hy are the Gáltúluses■«òf.-.Lógib ;fánd.:;ÀriÍÉHiní:tib Ápplicable tõ
Reality?”, Aristotelian So(áety0Suppléinehtary-’ Volume X X : Lo~
gic .jmd Reality, Harriisòn and^SònS" Ltd01 Londres, pp* 40-60.
1947 ( a ) r “ííew Foundations for Logic.”, Mind; '56pc pp> ,193-235. .-■■■■■■
(b ) “Logic Without Assumptioris5,fp*Pròceedingsof íhê ^Aristotelian .So­
ciety, X L V I I , pp. 251-292; • • ; '■- ' -
(c) "Functional Logic without" Axioms or Primitiva Tí-ules of' Infe-
rence”j Koninklijke Nederlandsche Ákàdemié^ván Wètênichappen,
Proceedings of the Section of Sciences : (Àmsterdã)y 50}: pp. -1214-;
-1224, e Indagationes Mathematicde, 9, pp;561-571í ' ~
1948 (b ) “On the Theory of Deduction, Part I, Detivation and its Gene-
ralizations”. Koninklijke Nederlandsche Akadêmie vàn Wetenscháp-
pen, Proceedings of the Section of Sciences (Amsterdã), 51, pp.
173-183, e Indagationes Mathematicae, 10, pp. 44-54.
(c) “On the Theory of 'Deduction, Part II. The Definitions of Glassical
and Intuitionist Negation” , Koninklijke Nederlandsche Akademie
van Wetenschappen, Proceedings of the Section of Sciences (Amster­
d ã ), 51, pp. 322^331, e Indagationes Mathematicáe, 10, pp. 111-120.
(d ) “Prediction and Prophecy and their Significance for Social Theory”,
Library of the Tenth International Coiigress of Philosophy,. 1: Pro­
ceedings of the Tenth International Congress of Philosophy, org. por
E. W . Beth, H. J. Pos e J. H. A. Hollak, North-Holland Publishing
Gompany, Amsterdã, pp. 82-91.
(e). “The Trivialization of Mathematical Logic”, ibid., pp. 722-727.
(f ) “What can Logic do for Philosophy?” , Aristotelian Society, Supple-
mentary Volume X X I I : Logical Positivism and Éthics, Harrisoij.
and Sons Ltd., Londres, pp. 141-154.
1949 (d). “Naturgesetze und theoretische Systeme”, Gesetz und Wirklichkeit, ■
org. por Simon Moser, Tyrolia Verlag, Innsbruck e Viena, pp. 43-60.
1950- (a ) The Open Society and Its Enemies, Princeton University Press.
(b ) “Indeterminism in Quantum Physics and in Glassical Physics, Part
I ”, The British Journal for the Philosophy o f Science, 1, pp. 117-133.
(c) “Indeterminism in Quantum Physics and in Glassical Physics, Part
I I ” , The British Journal for the Philosophy of Science, 1, pp.
173-195.
(d ) De Vrije Samenleving en Haar Vijanden, F. G. Kíoonder, Bussum,,
Holanda.
1952 (a ) The Open JSociety and Its Enemies, segunda edição inglesa, R out-:
ledge & Kegan Paul, Londres.
1953 ( a ) “Language and the Body-Mind Problem”, Proceedings of the XJth
International Congress of Philosophy^ 7, North-Holand Publishing
Gompany, Amsterdã; pp. 101-107.
(d ) “A Notè on Berkeley as “Precursor of Mach” , The British Journal
for the Philosophy of Science, 4, pp. 26-36.
1954 (c) “Seif-Reference and Meaning iri Ordinary Language”, Mind, 63,
pp. 162-169. .
1955 (c) “A Note on the Body-Mind Problem, Reply to Professor Wílfrid
Sellars”, Analysis, 15, pp. 131-135.
(d ) “A Note on Tarski’s Definition of Truth”, Mind, 64, pp. 388-391.
1956 (b ) “The Arrow of Time”, Nature, I77í : p. 538.
(g ) “Irreversibility and Mechanics”, Nüture, 178, p. 382.
1957. (a ) “Philosophy of Science; A Personál Report”, British philosophy in
the Mid-Century: A Cambridge Symposium, org. por C.. A. Mace,
George Allen e Unwin, Londres, pp. 155-191.
(d ) “Irreversible Processes in Pbysical Theoíy”, Nature, 179, p. 1297.
(e) “The Propensity Interpretation of the Calculus of Probability, and
the Quantum Theory” , Observation and Interpretation; A Sympo­
sium of Philosophvrs and Physicistsi Proceedings of the Ninth Sym­
posium of the Colston Research Society held in the University of
Bristol, April I$t~April 4th, 1957, org. por S. Komer, em colabora­
ção com M , H. L. Pryce, Butterworths Scientific Publications, Lon­
dres, pp. 65-70, 88-89.
( f ) “Irreversibility; or Entropy since 1905”, The British Journal for
the Philosophy of Science, 8, pp. 151-155.
(g ) The Poverty of Historicism, Routledge & Kegan Paul, Londres, e
The Beacon Press, Boston, Mass.
(h ) The Open Society and Its Enemies, 3.® edição, Routledge & Kegan
Paul, Londres. ' %
(i) “The Aim of Science”, Ratio (O xford), 1, pp. 24-35.
(j ) “Über die Zielsetzung der Erfahrungswissenschaft”, Ratio (Frank­
furt a,M .), 1, pp. 21-31.
(k ) Der Zauber Platons: Die offene Gesellschaft und ihre Feinde, Band
I, Francke Verlag, Bema.
(I) “Probability Magic or Knowledge out of Ignorance”, Dialectica, 11,
' pp. 354-372.
195EI (b ) “Irreversible Processes in Physical Theory’1, Nature, 181, pp. 402-403.
(c) “Das Problem der Nichtwiderlegbarkeit von Philosophien”, Deuts­
che Universitâtszeitung (Gottingen), 13, pp. .7-13.
(f ) “On the Status of Science and of Methaphysics. Two Radio Talks:
(i) Kant and the Logic of Experience. (ii) The Problem of the
Irrefutability of Philosophicai Theories”, Ratio (O xford), 1, pp.
97-115.
(g ) “Über die Mõglichkeit der Erfahrungswissenschaft und der Metaphy-
sik, Zwei Rundfunkvortrãge: (i) Kant und die Mõglichkeit der
Erfahrungswissenschaft. (ii) Über die Nichtwiderlegbarkeit philo-
sophischer Teorien” . Ratio (Frankfurt a.M .), 2, pp. 1-16.
(i) Falsche Fropheten: Hegei, Marx und die Folgen, Die offene Ge­
sellschaft und ' ihre Feinde, Band II, Francke Verlag, Berna.

'246
1959 (ja.)The Logic of Scientific Discovery, Hutchinson & Co,, Londres; B a ­
sic Books Inc., Nova Iorque.
(e) “The Propensity Interpretation of Probability”, The British Journal
fòr the philosophy of Science, 10, pp.. 25-42.
(g ) “Woran glaubt der Westen?”, em Erziehung zur Freiheit, org. por
Albert Hunold, Eugen Rentschi VerJag, Stuttgart, pp. 237-262.
(k ) “Criticai Rationalism”j ;em Philosophy for a Time of Crisisi An
Interpretation with Key. Writings by Fifteen Great M odem Thin-
kers, org. por Adrienn e'K òch ^D & Co., Nova Iorque, pp.
; 262-275., /
1960 (d ) “On the Sources of;J^oWledge;.and^òf ^Ignòrance’^ Proceedings of
the. JBritish Academy, ^ .
1961 (d ) “Selbstbefreiung durch:. dasvJWisSe^y.vém^^iSler Sinny der .Geschtchte,
org. por l^nharà.•;^eimsch,.^^Ci'^^Hv,i'£ed^|yerlag).-:rMunique,. 1961,
pp. 100-116. (Tràduçao inglesa. El968^(t)3.) , „ . ^ :r.
(£) On the Sources of Knowledge-^ ahd of Ignorance,-Antvna.l Philo-
sophical Lecture, Henriette Hertz Trust, British Academy, Oxford
University Press, Londres. ..
(h ) “Philosophy and Physics”, Atti dei X I I ■ Congressó- Internazionale
di Filosofia, 2, G. G. Sansoni Editore, Florènça, pp. 367-374.
( j ) Èvolution and the Tree of Knowledge, Hefbert Spèncer Lecture,
pronunciada a 30 de outubro de 1961, em Oxford. (Agora capítulo.
7 de E197.2 ( a ) ] . )
1962 (c ) The Open Society and Its Enemies, 4.a edição, inglesa, Routlédge
& Kegan Paul, Londres.
(d ) The Open Society and Its Enemies, Routíedge Paperbacks, Rout-
ledge & Kegan Paul, Londres.
(f ) “Juüus Kraft 1898-1960”, Ratio (O xford), 4, pp. 2-10.
(k ) “Die Logik dér Sozialwissenschaften”, em KÕlner„ Zeitschrift für
Soziologie und Sozialpsychologie, Heft, 2, pp. 233-2,48. (Ver tam­
bém E1969 (m )3 e El97(j (b )3 .)
1963 (a ) Conjectures and Refutationsi The Growth of Scientific Knowledge,
Routlédge & Kegan Paul, Londres; Basic Books Inc., Nova Iorque,
(h ) “Science; Problems, Aims, Responsibilities”, Federation Proceedings
(Baltiroore), 22, pp. 961-972.
(1) The Open Society and Its Enemies, Princeton University Press,
Princeton,. N.J.
(m ) The Open Society and Its Enemies, The Academy. Library, Harper
& Row, Nova Iorque e Evanston.
1964 (a ) The Poverty of Historicism, The Academic Library, Harper & Row,
Nova Iorque e Evanston.
1965 (f ) “Time’s Arrow and Entropy”, N ature, 207, pp. 233-234.
1966 (a ) The Open Society and Its Enemies, 5.a edição inglesa, Routíedge
Paperbacks, Routíedge & Kegan Paul, Lòndres. :■>
(e) Logik der Forschung, 2.a edição, J. C. B. Mohr (Paul Siebeck),
Tübingen.
( f ) O f Clouds and Clocks: An Approach to the Problem of Ratiohality
and the Freedom of. Man, “Washington University Press, St.- Louis,
Missouri. (Agora em E1972 (a )3 .) ' ’

247 ,
(g) ‘.'A Theorem on Truth-Gontent”, Mind, Matter and Method; Essays
in Philosophy and: Science in Honor of Herbert Feigl, organizado'
por Paul K. Feyerabend e Grover Aíaxwell, 'University of Minnesota
Press, Minneapolis, Mimiesota, pp^;Í';343-353.
(i) “Historical Explanation: An InterView with Sir Karl Popper5’, Uni­
versity of D enver Magazine, 3, pp. 4-7.
1967 (b ) “TiineJs Arrow and Feeding on Negentropy”, Nature, 213, p. 320.
(d ) “La rationalité et le statut du príncipe de rationaiité”, Les Fonde-
ments Philosophiqu.es des Systemes Economiques: Textes de Jacqués
Rueff et essays rédigéf en son. honneur 23 aoút 1966, org. por Emil
•M. Glassen, Payot, Paris, pp. 142^150.
. (e) “Zum Thema Freiheit”, em Die Philosophie und die Wissenschaf-
tem Simon Moser zum 65. Geburtstag, org. por Ernst Oldemeyer,
Anton Hain, Meisenheím am Glan, pp. 1-12.
(h ) “Structural Information and the Arrow of Time”, Nature, 214,
p. 322.
(k) “Quantum Mechanics without ‘The . Observer ”, Quantum Theory
and Realiiy, qrg. por Mario Bunge, Springer-Verlag, Berlim, Hei-
delberg, Nova Iorque, pp. 7-44.
(t) “Einstein's Influence on M y View of Science: An Interview”, em
E in stein T h e Man and his Achievement, org. por G. J. Whitrow,
B.B.C., Londres, pp. 23-28.
1968 (e) “Is there an Epistemblogical Problem of Perception?”, Proceedings
of the International'Colloquium in- the Philosophy of Science, 3:
Problems in the Philosophy of Science, org. por Im re' Lakatos e
Alan Murgrave, North-Holland Publishing Company (Amsterdã),
pp. 163-164.
(i) “Theories, Experience, and Probabilistic Intuitions”, Proceedings of
the International Colloquium in the Philosophy' of Science, 2; The
Problem of Inductive Logic, org. por Imre Lakatos,' North-Holland
Publishing Company (Amsterdã), pp. 285*303.
(r) “On the Theory of the Objective Mind”, Akten des JClV Interna-
tionalen Kongresses für Philosophie, : 1, Universidade de Viena, Ver-
lag Herder, Viena, pp. 25-53.
(?) “Epistemology Without a Knowing Subject”, Proceedings of the
Third International Congress for:. Logic, Methodology and Philoso-
■phy óf Science: Logic, Methodologyr and Philosophy of Science I I I ,
org. por B. van Rootselaar e J. F. Staal, North-Holland Publishing
Company, Amsterdã, , pp. 333-373.
(t) “Emancipation through Knowledge”, em The Humanist Outlook,
editado por A. J. Ayer, .Pemberfon .Publishing Company, Londres,
ppp. 281-296.
1969 (e) Logic der Forschung, ,3.a édiçãó, J. C. B. Mohr (Paul Siebeck),
. Tubirtgen.
(h) Conjectures and Refütations, The Growth of Scientific Knowledge,
3.a edição, Routledge & Kegan Paul, Londres.
(j ) .“A Pluralist Appròach to : the Philosophy of History”, Roads to
Freedom: Essays in Honour of Friedrich A. von Hayek, org. por

2 48
Erich Streissler, Gpttfried Haberler, Friedrich A. Lutz e Fritz
Machlup, Routledge & Kegan Paul, Londres, pp. 181-200.
(k ) “The Aim of : Science”, Cpniemporary Philosophy: A Survey, org.
por Raymond Klibafisky, I I I :. M-etaphysics, Phenomenology, Langua-
ge and Structure, LájNuova Italia .;Editrice, Florènça, pp. 129-142.
(m) "Die Logik der Sozialwissenschaften”, em D er Positivismusstreit in
der deutscheii Sozio.logiey-prgi por-JL Maus e F. Fürstenberg, Her-
mann Luchterhand '.Verlag,^:.. Neuwied;;ie Berlim, pp. 103-123. (V er
também [1976: (b).]„) ■.. ......
1970 (d ) “Plato, Timaeus 54E-55A”*' T he Classical- Review, X X , pp. 4-5.
(1) “A Realist View of Logic, Physjcs- árid-Histéry” ^ Physics, Logic and
History, org. por Wolfgang Yóiifgraü íe- Alleh-D . Bréck, Plenum
Press, Nova Iorque « -Lotidres* ppr1í?3Ò è; 35^37. • :í
(w ) "Normal Science and Its Bangers”, ':Ciittcistn ..úkdiÜlhé&Growth of
Knowledge,. org. por. Imre .Lakatos:iè :,\Alan /s;MUsgráve^.Cambridge
University Press, Londres, pp. 51-58.; , .-.^v
1971 ,(g) “Revolution. oder Reform?”, em. Revolation^íódèriJ^éiotmP.ytíerbert ::
Marcuse und Karl "Popper — Eijie .•ÍC»n/ro^tafi>írivOj^:vfp%-VFraiiz';-,
Stark, Kosel-Verlag, Munique^, pp. 3, 9-10, ; 22-2^..'34í39^41k: (T ra- - :
duçao inglesa [1972 ( f )'].)• .. .■>
(i) "Conjectural Knowledge: M y Solution of the Problem ,of Iriduction”,
Révue Internationale de Philosophie, N.° 95-96, 25, fàsç. ;l-2, :pp: .
167-197.. '
(1) “Gonversation with Karl Popper”, em Modem British .Philosophy,
de Bryan Magee, Secker & Warburg, Londres, pp. 68-82.
(n ) “Particle Annihilation and the Argument óf Einstein, Podohky, ánd
Rosen”, Perspectives in Quantum Theory: Essays in Honor of Alfred
Landê, org. por “Wolfgang Yourgrau e Alwyn van der Merwe,
M J .T . Press, Cambridge, ‘ Mass., e Londres, pp. 182-198.
1972 (a ) Objective Knowledge: An Evolutionary Approach, Clarendon Press,
Oxford.
(f ) “On Reason & the Open Society: A Gonversation”, Encounter, 38,
N.° 5, pp. 13-18.
1973 (a ) "Indeterminism is Not Enough”, Encounter, 40, N.Q 4, pp. 20-26.
(n ) Die offeneGesellsçhaft und ihre Feinde, volumes I e II, 3.a edição,
Francke Verlag, Berna e Munique.
1974 (b ) "Autobiography of Karl Popper” , em 'The Philosophy of Karl
Popper^ era The Library of Living Philosophers, org. por P. A.
Schilpp, volume I, Open Gourt Publishing Co., La Salle, pp. 3-181.
(c) “Replies. to my Gritics”, em The Philosophy of Karl Popper, em
The Library of Living Philosophers, org. por P. A. Schilpp, volume
II, Open-Coujr|*. Publishing Co., La Salle, pp. 961-1197.
j(z2) “Scientific Reduction and the Essential Incompleteness of Ali Scien­
ce”, em Studies in thè Philosophy of Biology, org. por F. J. Ayala
e T . Dobzhansky, Macmillan, Londres, pp. 259-284.
(z<i) Conjectures and Refutations, 5,a edição, Routledge & Kegan Paul,
Londres.
(z7) The Poverty of Historicism} 8.a impressão, Routledge & Kegan Pàúlj1.
Londres. ' ..

____ , _____ _____ _ • ..____ .... . ... ...... .249 /


(zs) The Open Society and Its Enemies, 10.“ impressão, Routíedge &
Kegan Paul, Londres.
1975 (o ) “How I See Philosophy”, em The Owl of Minerva, Philosophers on
philosophy, org. por C. "T. Bontempo e S. J. Odell,. McGraw-Hilí,
Nova Iorque, pp. 41-55. ' ;
(p ) “The Rationality of Sciénti£Íc Revolutions”, eni Problems of Scien-
. ■ tific Revolution, Scientific Progress and Obstacles to Progress in
th# Sciences. ' The Herbert Spencer Lecturès 1973, org. por Rom
'Harré, Glarendon Press, Oxford, pp. 72-101.
(r ) Objetive Knowledge; An Evolutionary Approach, 4^a impressão,
Clarendon Press, Oxford.
(t) “AVissenschaft und Kritik”, em Idçelund WirkUchkeit: 30 Jahre Eu-
• ropâuches Forum Alpbach, Springer-Verlag, Viena e Nova Iorque,
pp. 65-75.
(u ) The Logic of Scientific Discovery, 8.a impressão, Hutchinson, Londres.
1976 (a ) Logik der Forschung, 6.a impressão revisada,. J. G. B. Mohr (Paul
Siebeck)., Tübingen.
(b ) “The Logic of the Social Sciences”, em The Positivist Dispute in
German Soriology, Heinemann Educational, Londres, pp. 87-104.
(c) “Reasori or Revolution?”, em The Positivist Dispute in Germàn So- ■
ciology, Heinemann Educational, Londres, pp. 288-300.
(g ) Unended Qjuest: An Intellectual Autobiography,- l.a impressão, Fon-
tana/Collins, Londres.
(h ) “A Note on Verisimilitude”, em The British Journal for the Philo~
sophy of Sçience, 27, 1976, pp. 147-59.
(m ) Unended Quest.: An Intellectual Autobiography, Open Court, La
Salle, Illinois, 1976.
(o ) “The MytK of the Framework,,} em The Abdication of Philosophy:
Philosophy and the Public Good. Ensaios em honra de Paul Arthur
Schilpp, org. por Eugene Freeman, Open Court, L a Salle, Illinois,
pp. 23-48. ‘
(p ) “A racionalidade das revoluções científicas”, em Problemas da Re­
volução Científica; Incentivos e Obstáculos ao Progresso das Ciências,
org. por R. Harré, Editora Itatiaia/Editora da Universidade de
São Paulo, Belo Horizonte, pp. 91-122.
(s) The Poverty of Historicism, 9.a impressão, Routíedge and Kegan
Paul, Londres. .
(t) Conjectures and Refutations, 6.a impressão, Routíedge. and Kegan
Paul, Londres.
(u ) Unended Quest: An Intellectual Autobiography, '2.a impressão, Fon-
tana/Gollins, Londres.

EM P R E P A R A Ç Ã O :

Die beiden Grundprobleme der Erkenntnistheorie, J. C. Bl. Mohr (Paul Sie-


bèck), Tübingen, 1977.
The Self and the Brain, com Sir John Eccles.

230
ÍN D IC E R E M IS S IV O

Compilado por J. SHeámur

Para economia de espaço, v aparecem reuiiidos os itens concernentes a


assuntos correlatas. Assim, para “falseabilidade”, vejá-sè .“fálséamènto”, páíá
“materialismo”, yèja-se “matéria”, para “r üàj ^smp”, - é :âsiitó
por diante. Alusão às obras de Popper é 'feita còrn tltiúõisíésíii^
“Open Society” .

Nh indica, número de nota.

ação, 51, 56, 59, 90, 93, 94, 112, argumento, 81, 84, 97, 146-7, 148-9,
126, 156-157* 159-160, 190, 193- 153, 159, 179, 191-193, 196-7,1139,
-196, 201, 206, Nn 243. 206. Nn 25.
aceitação, 39-40, 107,. 153, 160, 202, Aristóteles, 26, 83, 85, 126-7, 134.
Nn 225. Nn 59, 84.
Adam, J., 127. Amdt, A., 18-19, 20, 39.
Adams, Sir "Walter, 119-. Arndt, E. M . von, 18.
ad hoc, 36-37, 48, 107, 163, 167-168, arte, 62, 67-79, 81, 117, 133, 149,
170. 197, 199-200, 206. Nn 76, 78, 84,
Adler, A., 43-45, 47, 49. 301.
Adler, F., 116. associação, 59, 83, 85. Nn 55, 95-
Adler, V., 116. átomos, 83, 104, 161-2, 166, 171, 178.
Albert, H., 48, 124. Nn. 35, 176. Nn 61, 299.
aleatoríedade, 51-4, 57, 108-110, 182- Austen, Jane, 55. Nn 48.
-3. Nn 45-6, 150, 154. Áustria, 15-16, 19-21, 38, 41, 45, 113-
alemão, 17-18, 20, 112-4, 118-123, -116, 119, 121.
127. Nn 13, 68, 86. autonomia, 134, 195, 206.
AUan, R. S., Nn. 187. auto-referêncía, 73. Nn. 73.
ambiente, 55-6, 94, 141, 146, 179- axiomas, 29, 36, 86, 108, 112-3, 121,
-184, 190, 196. 136-7. N n 159, 178, 205; ver prú-v
Angell, N., 17. babilidade.
aprendizado, 50-60, 84-85, 118, 154, Ayer, Sir Alfred, 88, 116-118.
189, 202. N n 42, 44, 54, 93, 95.
a priori, 66-67, 118. Bach, C. P. E., 77, 79.
aproximação, 44, 88-89, 109, 139, Baeh, J; S., 16, 60-1, .67-71, 73-77,
158-160. Nn 138. 205. 79. Nn 63, 67. .

251
Bacón, F., 17, 86. Nn 3. Butler, S., 176, 189-190. Nn 276.
Baidwin, J, M., 189. Byrd, W ., 60.
Ballentine, L. E., Nn 138,
Bartok, B., 61. Cambridge, 101, 116, 119, 130-2. Nn
Beardsíey, E. T., Nn 187, 191.
Bechterev, ”W. von, ^5. Nn 96.
Campbell, D. T., 53, 203.
Beethoven, L. van, 16, 67-71, 74-78. Campbell, R. M:, 119,
Nn 63, 80.
Cantor, G,, Nn 258.
Bell, J. S., 102- Nn 130. Carnáp,. R., 36, 87-8, 92,96-7,106,
Bellamy, E-, 19. 155-6. Nn 15, 35, .99, 116-20, 147-
Bèrg, A., 61. -8, 228-9, 231, 233.
Bergson, H., 189.
Caspar, M., Nn 59. .
Berkeley, G., 83, 88, 133, 162. Nn causalidade, 125. Nn 133,178.
105, 245.
certeza, 30, 123.
Berlih, Sir ISaiah, 116.
Çhamberlain, N., 120.
Bernays, P., 134.
Ghandrasekhar, S., Nn 201.
Bernoulli, J., Nn 154, 251.
Christchuích, N. Z., 119-121, 1 2 8 .
Bernstèin, E .j 17.
'N n 187.
Beth, E., 134.
biologia, 25-28, 50-53, 56-57, 84, 111- Gristiano V I I I , 16. Nn 1.
-1Í2, 129-13Òr>Í37-8, 141-3, 145-6, Church, A:, 111.
147, 161, 166, 168, 176-189, 197- Church, J., 57. Nn 51.
-203. Nn 84, 284, 286-7, 290, 304. Churchill, W . S., 113, 120, 123, 144.
Bõhm-Bawerk, E., 17. Nn 213, 294.
Bohm, D., 98-102. Nn 273. ciência. .26-7, 31, 39-40, 44-5, 47-50,
Bohr, N., 98-101, 106, 117-119, 137-8; 59r6Ò, 62-3, 65-67, 77, 84-88* 92-
161-2, 164-5. Nn 122, -1Ò6, 116-118, 123-4, 128-130, 136-
Boltzmann, L., Í44-5, 165-172; 178. -149, 153, 157, 159-190, 192-4,
Nn 254, 256-8, 260-1, 263-4, 267. 200, 203.. Nn 15, 44, 61, 98, 209,
Bolzano, B., 190, 193, 198. 243.
Boole, G., 83-4, 121. Nn 188. ciências sociais, 26-7, 47-8, 98, 121,
Borel,. É., Nn 154. 125*6, 129-130, 136.
Bom, M., 99, 171-2. Nn 121, 258, clareza, 30-1, 36-7, 90.
267. Clay, J., 135, .
Boschan, P., 136. Glemenceau, G., 13.
Boscovich, R. J-, Nn 61. “De Nuvens e Relógios”, 187.
Brams, J., 16, 61. codificação, 58, 147, 194, 196, 202.
Bráithwaite,; R. B., 131, 132. Np 53.
Braunthal, A., 122. Gohen, B., 136.
I.
Brentano, F., 82. Cohn.,>',3Sl., Nn 95.
Bridgman, Laura, 56. coletivos,' 108-110.
Bridgman, P. W ., 136. Collmgwood, R. G., 68.
Brillouin, L., 173. Nn 266. complementaridade, 101, 117, 140.
Broadhead, H. D., 122. complexo (efeito) de Êdipo, 129-130.
Broda, E., Nn 254. comportamento, 58, 145-8, 154, 182-
Broglie, L. V. de, 98, 102. -6, 189-190, 197. Nn 286-7.
Brouwcr, L. E. J., 135, 155. compreensão, 31-4, 36-7, 87-8, 90-2,
Bruckner, A. J., 61. Nn 80. 99-102, 104, 107, 143-4, 194, 200-1.
Brush, S. G., Nn 260. Compton, A. H., 104, 177.
Buhler, K., 80-1, 83-5. Nn 78, 83, 90, comunismo, 38-42, 136.
93. Cónant, j . B., 136. '
Bungè, M., 99. Nn 22. conceitos, 27, 34-7, 89-90, 106, 143-
r Burger, E., Nn 103. -4. 193,
condições iniciais, 125, 144. .-.v..--:; Darrow, K., 12 L. Nn i 169." a -r.
confirmação, Nn 44, 231. Dàrwin, uG.r ' 19f ;5 2^^^4 60,^87/ 94,
Conhecimento, 40, 58-60, 66-7, ,7.3* 142, 176-18V - l 89=90.' Ntt-95H276;
76, 82, 86-94, 98, 117-118, ,123-4, 4283-4, 286-7r:i290:- *>-• J
131, 144, 147-8, 157-9, 162, 164,. dedução/í84; íS6>íí'88-9;-93.-4, 97,. 125*-
169-170, 172-6, 178, 199-200, 205, H 2 8 r 134-5, ;'143-450^-5352-5^ ^ 7 7 .
206. Nn 89, 203, 272; — conjec­ ã;Nn 197-6, -225- ^ -X : ^
tural, 86-94, 96-7, 107, 118, 142- deimições, J23,-'V24j' 127', ,.‘31/' 35, 37,'
-3, 153-4, 158-9; crescimento de 105.-7', 112; T^n:,7^'263.â^í
— , 49-50, 76, 86, 98, 123, 158-9, De GrooC A. Nn-305a'. ‘í -
176-7, 181. Nn 267; — objetivo, demarcação, ,47^5,0^-59x60, 8,6.t9,í 90-
93-95, 146-50, 154, 179. Nn 226. 159-160, 1 8 0 ^ , 3 . ' ^ ' -
conjecturas, ver hipóteses. democracia, 15^H2j51:Í3’:'115í6íí? 120, -
Conjeciures & Refutations, 29, 49, 125. y*?<
58, 159. N n 210. demonstração* ^87 -8p-"vl 0 109~110^.
conjuntos, 32, 36, 83, 99-100, 152. 153, 155. Nn 18, - '
Nn 20, 198, 205, 258. Descartes, R.,. 17,V23-4p- 197^i200;■
consciência, 54, 123, 137, 149, 179. descoberta, 51-57, 62,-67, 82-.3| !85,
189, 197-202, 204. Nn 267, 299, 98, 124, 128, 183-4,"".ii 95^7,:t-[202r
304-5. . 204. Nn 95. - — ,
conseqüências não pretendidas, 122, determinismo, 102, 137-9/ :159, 162;,
195-6, 205. 164. Nn 38, 130, 136,: 146, 17.8V .
conservadorismo, .61, 133, 180. Deus, deuses, 24, 66, 69*70, 572-3,
conteúdo, 29, 32-4, 47-51, 86, 93, 138, 181-2, 187-8. - .
106, 108, 111-2, 139, 159, 170, De Valera, E., 117.
190-4/Nn .15-17, 20, 270? Devrient, Therèse, Nn 63: :í
convenção, 155. Nn 35. Dewey, J., 80.
Copeland, A. H., 110-111. dialético, 123-4, 140-1. Nn 209> :
Copenhague, 98-9, 117-9. Nn 165. diálise, 37. ;
Copémico, N., N n 301. Dickens, C., 1.14.
correspondência, 106-7, 150-2. Diels, H., .126.
corroboração, 48, 106, 108, 111-3, direção do tempo (A .O .T .), 144-6,
156. Nn 226, 235, 243. 165-172.
cosmologia, 44, 138, 167-8. Nn.201. discussão, 28, 94-5, 111-3, 149, 204-5.
crença, 93-4, 113, 149, 152-6, 158, • Nn 226, 248.
160. Nn 226, 233, 243. disposição, 55-8, 152-3, 159-160, 163-
crescimento, 69, 71, 205-6; ver conhe­ -4, 189, 192, 201-2.
cimento. ditadura, 49-50, .136.
crianças, 14-15, 18, 47, 51-2, 55, 58, Dobzhansky, T., Nn 290.
79-80, 205-6. Nn 2. dogmatismo, 40-1, 42, 45, 47-8, 50-65
criatividade, 54-5, 65-6, 68-9, 71-2, 58-60, 62, 64-6, 104, 107, 179-80-,
78, 190, 204. Nn 49.
Criticismo, 28-30, 39-41, 42-43, 44-5, Duane, W., 104. Nn 140. . í:.'.tíV;
48, 51-60, 62, 66-67, 71, 74, 76, Dufay, G., 60. * ^:;;.
81, 87, 89-94,. 97, 107, 111-112, Duhem, P., 116.
123-4, 140-1, 146-9, . 153-4, 156- Dunstable, J,, 60. 'Vs-.lr.cVv
-160, 176-7, 178-180, 192-3, 196-
-200, 204-206. Nn 35, 44, 4&, 172, Eccles, Sir John, 120, 128. Nri:;í'7,áj
209, 224, 226, 238, 243. 293, 305,
Groce, B.} 68. educação, escolas, ensino,l 4-15/;18]^
37-8, 42-3, 45-8, 55-8, 61^2, 79-81,
dados, 83, 147-8. 85, 89-90, 116, 11;.9L120; 1-32,r 135-
Dalziel, Margaret, 120, 122. -6, 140. Nn 103; ver úriivèrsidádes.
Edwards, P., Nn 7, 110. estímulo, 51. Nn 304.
Ehrenfest, Paul & Tatiana, 167. Nn estrutura, 142, Í82-7, 189.
257. ética, 14, 40-1, 90, 124, 131, 203-6,
.Einstein, A., 22, 29, 33, 37, 44-5,- 306, 308. N n 65a.
' .48, 50, 59, 76, 98-100, 104-5, 112, ■ eu, 60-1, 67-75, 77-8, 81, 89-90, 123,
116-7, 135-140, 161-4, 171,. 188, 152-3, .197-202, 205-6.
195. Nn .7, 20, ,32-3, 122, 126,. Eucken, R., 17.
129, 143-5, 201-2, 207-8, 246, 248, Euclides, 86, 195.
274, 296. ' evolução, 36, 137-8, 141-2, 149, 160-
.elétrons, 103, 106, 111. -1, 176-90, 196-7, 199.- Nn 276, 278,
Elstein, M., 44, 104, 287-8, 290.
Elton, L. R. B., Nn 150. "A Evolução e a Arvore do Conhe­
emergência, 187-90, 196, 199, 200-1, cimento”, 177, 183. N n 279, 288-9.
203-5. Nn 203, 287. Ewxng, A. C., 119.
emoções, 68-75. Nn 13. êxito, 54, 77-8, 148-9, 155, 157, 178,
Empédocles, 30. 180-1. Nn 98.
empírico, 84-5, 108-9, 117-9. Nn 16, Exner, F., 102: Nn 132, 249,
164. - expectativas, 25, 50-2, 55-6, 58-9, 85,
Engels, F.,, 17, 40, 42, 115. 128, 141, 190.-1, 201. Nn 95.
ensino (ver educação), experiência,. 44, 57-9, 82-3, 90, 118,
entropia, 144-5, 162, 165-76. Nn 216, 131, 133, 137-9, 144-8, 161, 166,
261, 266-7, 272-4. 168, 190, 197, 199, 202, 205. Nn
enunciados, 27-34* 36-7, 47-8, 49, 203, 304.
57-8, 87, 93, 97-98, 100, 107-108, experimento, 33, 45, 86, 100, 102-4,
111, 148-9, 156, 19Ò-2. Nn 15-16, . 163, 173-5. Nn 2?1, 274-5,
18, 93, 224, 243. explicação, 43-4, 84,' 93-4, 101, 104,
enunciados básicos, 93, 97-8. Nn 15- 125, 138-9, 160, 166, 178-183, 185-
-16. -6, 188, 197, 200. Nn 178, 203,
epistemologia, 13-14, 25-7, 62, 68, 81'
283, 285.
-2, 85.-95, 96-7, 106-7, 111, 123, expressão, 67-78, 81, 84, 206. Nn
133, 143-4, 148, 157-9, 161, 166, 65a, 76, 78.
176, 178, 202-3, 205-6. Nn 243.
“Epistemologia sem um Sujeito Cog-
noscente”, 68. Nn 8. fala. 5.6* 56, 200, 202. Nn 13, 305.
Erdmann, B., 24. falibilidade, 13-4, 42-&; ver conheci­
erro, 52, 55-6, 58, 94, 123, 128, 140- mento.
-1, 157, 177; ver tentativa, falseamento, 44-5, 47-52, 58-59, 86,
erros, 60, 63-4, 10Q-2, 105, 122, 135, 89-90, 93-5, 102, 107, 111-2, 123,
195, 199-200. 139-43, 151-2, 174. Nn 16, 35, 44,
escolas, 14-15, 18, 37-9, 42, 45-8, 201, 207, 231, 242, 284.
61-2, 79-81, 85, 89, 115-7, 119- falsidade, 106, 134, 151-2, 190, 196,
-121, 132, 140. Nn 103. 200, 205, Nn 20.
escolha, 111-3, 189,-90. fascismo, 41-2, 122.
espaço, 21-2, 43, 57, 137, 144-5, .Fast, J- D., Nn 266.
167-8, 200. fatos, 25, 93, 107, 149-52, 203-6. Nn
espírito, 104, 147, 190-5, 197-2Ó6. 306.
Nn 298-300, 304-5. fé, 41, 68, 159.
essência, 23-37, 68-9, 71, 73, 122, Feigl, H., 89-91, 92, S6-8, 136, 198.
124, 147, 189, 193. N n 7, 298. Nn 101-5, .148, 275.
Estados Unidos da América, 90, 95, felicidade, 45, 1334, 206..
98, 101, 126-7, 135-40. Nn 165. fenomenalismo, 83, 133, 166.
estatística, 99, 102-3, 110, 116-7,- 162, Fermat, P, de, 188.
170-1, 176. Nn 138. Feyerabend, P, K., Nn 275.
254
Fidedignidade, 8 6 , 157. Nn 243. guerra, 13, 17-21, 38-9, 42, 45, 113-
Filosofia, 14, 17, 19-26, 28, 31, 36, -15, 119-120, 123, 127, 129, 133,
.46, 67, 79, 81, 85, 96-98, 104, 118, 159; Primeira Guerra Mundial, 13,
120, 122, 125, 130-5, .149, 153.-4, 16, 19, 21, 37-8, 45, 113-15, 120,
157-161, 165, 169-70, 193, 203, 123. Nn 8 6 ■ Segunda Guerra
205. Nn 191, 218, 224, 244, 30.1. Mundial, 38, 80, 95, 99, 123.
Findlay, J. N., 120.
fins, 28-9, 40, 59, 158-59* 183.^8, 203-
Haberler, G. von, 136. Nn 163.
- 6 . Nn 205. , habilidades, aptidões, 73, 183-7. Nn
■ física, 24, 29-31, 33, 43-47, 50, 61,
: 287v- ,
83, 98t106, 116-7, 135-140, 144,
147-49, 160-176,. 182, 187-89. Nn hábitòy 58, 98,'. 155. Nn 44, 55.
Halin, H., 47*87, 92, 108-
14, 32, 201, 218, 25.3, 258, 263-5.
Habbati, H. von, 121. Nn 168.
Fock, V . A., Nn 296.
Lamarck, 51, 94,: ,176-7, 189.190.
Forder, H : G , N n 187.
N n ' 95, 27:B. - y
Forster, F; W., 17.
Francisco José,. Imperador, 15-16. Hansen, T. E., 242. Nn d08, .266.
' Nn 1 . Hanslick, E., N n r:80.
Frank, P., 92, 95-96, 136. Hardy, Sir Alister, 182, ,189. .Nn 288,
Freeman, Eugene & Ann, 11. 292b. . /;
Frege, G., 32, 35-6, 191-3, 196. Nn Hartmann, E. von, 17.
10-13, 20-1, 23. Havas, P., Nn 32, 296. ... ........
Freud, P., 38. Haydn, J., 16.
Freud, S., 16, 21, 38, 43-5, 47, 49, Hayek, F. A. von, 116, 119, 121,
78, 130, 197. 129, 135-6. Nn 163, 283, 285. .,
Fries, J. F., 92-. Hegel, G. W . F.* 121. Nn 63.
Furtwanger, P.j 46. Heidegger, M., 159.
futuro, ver tempo. Heisenberg, W., 98-100, 103-4, 106,
117, 161. Nn 121, 138, 140.
Gard, R. M . du, 20. Nn 15. Helly, E., 47, 108.
Gedye, G. E. R., 42. N n 28. Hempel, G. G., 97, 125. Nn 118-19.
Geiger, H-, 163. Herácíito,, 82.
, genética, 51, 60, 6 6 7 ?, 180, 182-8. Hertz, H., 194.
geometria, 24, 29, 35, 8 6 , 149. Heyting, A.,_ 135.
Gibbs, J. W., Nn 258. Hilferding, K., 125. N n 180-1.
Godel, K., 96, 110, 138-140, 152. Hill, E. L., Nn 274.
Nn 201-2, 205. Hilpxnen, R., Nn 232.
Goldberger, Emma, 18. Hintikka, J., 156. Nn 232.
Gombrich, Sir Emst, 14, 74, 117. hipóteses, 25, 48-50, 54, 59, 64-5,
119, 128, 135. N n 57, 76, 78-9. 67, 86-90, 92-:4, 100, 107, 1 U ,
307. 126, 143, 148-9, 157, 166-8, 179,
Gomperz, H., 26-7, 81-3, 88-90, 92, 200, 204. Nn 15, 44, 178, 210, 226.
165, 193. Nn 89. hipóteses auxilíares, 48-50.
Gomperz, T., 17, 81, 126, 165. história, 17, 34, 39,. 46, 62-5^ 82,
Goòd, I. J., N n 150. 85, 125-6, 128, 142-3, 148, 160,
Goodman, N., 156-7. Nn 228, 234. 171-2, 193, 197, 204.
Graf, H., 2i. historicismo, 37, 42, 61-2, 76,; 79,
Graf, Rosá, 21. 116, 121-2, 124, 126, 133. Nn 264.
Grote, G., 126. Hitler, A., 15, 113, 117-19, 121-23.
Grubl, C., 17. Hoffding, H., Nn 203. . .
. Grünbaum, A., 171. Holsbeiri, H., Nn 301.
“Grundproblem”, 82, 89-91, 92, 94' Holst, E. von, Nn 304. .
-5, 97, 118, 124. Nn 108. . Horácio, 17. Nn 76. j

255
H u k e ;fD :,f5 8 ,'83, 88. 93, 98, 118, James, W., 136, 161.
1:33^1,54. Nn 55, 2.43. Jaynes/E. T., 172.'
Hussét-i^: E.y 26, &§, 88. ; Jennings, H. S., 52. Nn 43, 45.
ilutchinson, T ,, 135. Joliot,’ F., 121. Nn 168.
Huxley, Sir Julian, Í79. Jordan, P., Nn 121.
Joule, J. P., 161.
idealismo^, 26, 83, 88-9, 133, 138, Jung, C. G.j 49.
144-5, 159, 170, 193... Nn 105, 201, justificação, 60, ;86-88, 96, 112, 155,
• ' 212, 267. 158?, 177, 189. Nn 238, 243.
idéias, 27, 83, 193, 196-7. Nn 68;
tabela de — , 27, 30, 36, 193. Kant, I., 17, 22, 24, 62, 66, 82, 90,
ignorância, 14, 22j 33-4, 40-2, 172, 92, 118, 203. Nn 61, 86.
176, 206. Nn 267. Katz, D., 53. Nn 47.
igualdade, 43, 115. Kàutsky, K., 17.
imaginação, 54-5, 58, 69, 71, 191, Keller,; Helert, 18, 56-8. Nn 53.
200, 202, 205. Kepler, J., 49, 66, 73, 143.. Nn 20, 59.
imprintaçao, 50-1, 57. K.erschensteiner, G., 80.
imunização, 48-50. Nn 35. Kierkegaard, S., 17. Nn 1, 50.
Kneale,* W . -C., Nn 178, 205.
inccfrnpletude da ciência. 138-9. Nn
Koch, Adrienne,. 124. Nn 175.
203. r
Kõhler, W., 203. Nn, 306. '
indeterminismo, 99, 102-4, 117, 130,
Kokoszinska, Marja, 106. Nn 147,
137-9, 159, 163-4. Nn 38, 138.
indeterminismo na física quântica, 149. f '
Kolbj< F. A,, 80.
í 30, 137. Nn 38.
Kolnai, A., 113.
indução, 16, 50-51, 58-60, 86-9, 90,.
Kowarski, L., 121. Nn 168.
93-4, 118, 128,: Í31, 149, 154-7,
Kraft, J., 81-2, 89, 136. Nn, 87.
160, 177. Nn 44, 180, 228-9, 231-
Kraft, V., 89, 91, 96, 165. Nn 100,
-2, 243.
105, 252.
Infeld, L., Nn 160.
Kraus,:K., 114.
inferência, 86, 149-157. Nn .93, 197, Kretschmann, E., Nn 296. ■
225. Kropotkin, P. A., 17.
infinito, 21-22, 131, 144. Nn 32. Külpe, O., 83-4., Nn 92.
informação, 32-4, 50, 58, 172-6, 194.
Nn 16-17, 23, 26.6-7, 270. Ver
conteúdo. - Lack, D., Nn 286-7.
Lagerlõf, Selma, 17-18.
Inglaterra, inglês, 16-17, 95, 98, 113,
Laird, J., Nn 113a.
114-123, 128, 129-135. Nn 13, 187,
Lakatos, I., 50. Nn 41, 226, 228,
252.
231, 242.
instrução, 51, 94, 154, 177. Nn 95.
Lammer, R., 80, 91.
interação, 191-6, 199, 206.
Landé, A., 99, 102-4. Nn 129, 136,
interpretação, 29-, 35, 100, 147, 193.
138, 141, ,295.
Nn 25, 305. . Ver probabilidade,
Langford, C. H., 116.
intuição, 26, 136, 147, 153-55, 164,
Larseri, H., 121. .
190, 196. Nn 225, 229, 233, 244..
Làssalè, F., 17.
invariantes, 55, 58, 85. Lassus, O. de, -60.
invenção (descoberta), 63-67, 71, 79, Laue, M : von, 117.
124, 19Ó, 196-7/ Nn 287. Lêibniz, G. W . -von, 85, 139, 198.
irracionalismo, 40, 159. leis, 25, 39, 59, 66, 125, 147, 155-6,
irrefutabilidade, 197. Nn 283, 299. 189, 196. Nn 133, 178, 231.
irreversibilidade, 144. Nn 267, 274. Lejewski, C., N n 197.
“Irreversibilidade”, Nn 274. Lenine, V . I., 41. .
Levy, H., 116. Maxwell, J. C., 43, Í66, 194. Nn
Lewis, C. I-, 136. 257, 273.
liberdade, 38, 45, 54, 65, 114,^123, Mayer, J.- R., 161. Nn 244.
136. Mayerhoferj. J ;, Nn 254.
linguagem, 21, 25, 28-30, 36-7, 55-8, McCarthy,i J 136.
69, 81, 84, 107, 121-2, 13Ó-1., mecâniciai quântica,: 68, 165. Nn 11,
133-4, 148-52, 157, 178-9, 192, 251. : • ; . ...
196, 198-202. N n 3, 13, 25; Fun­ Medawarj.^ir^èterj.t:! 35
.
ções da — , 56-7, 69, 71, 84, 178-9, mèditia, 31,> Í ÓÒ, Í03. Nn 270.
19.9-201. N n 25, 78, 83. ......
Locke, J., 17, 83. N n 68.
Lofting, H., 13. Meinbiigyj;Aai;;\88V;-0r•. - r - ? ^ ;
lógica, 35-7, 55, 58, 67, 82-6, 88-9, Menger, Áh-LI-7. :;=••/ / u C ; ;y
95-6, 101, 106-7, 128, 131, 134-5, Menger, C., 17., " ; . V:■'‘ ''::J» i X'...:■
141, 149-55, 157, 177-8, 190-1, Menger, iÒ ^ N n ; 30,
195-6, 205. Nn 93, 188, 194, 197-8, 151-2, 1 5 % ^ * § :
225. metafisica, 4 8 ,4 9 , ...86-7,: 96-7, i l 22,
, 138, 159-162^^íi .38, .242,' Z ^ .;. :• .
Logik der Forschung, 14, 36, 49, 93-
método, 26, 44, .5ly' 53j- 58-;603 r;74,
-98, 100, 102-4, 106-9, 111-2, 116,
85-90, 92-6, 107, :121;,, 123-24, 1^6,
118, 121-2, 123, 125, 135, 140,
128-29, 135-36, I4tíb-445^:Í7d,.: ■
157-9, 172, 176. Nn 14-15, 24, 38,
178, 197. Nn 44, A92s> .2Í8},-.263. :
98, 108, 111, 122, 150, 161, 178,
209, 226, 231. mé tbdo cien tífico; ver;-: método^viv^jf- .
Michelson, A. A., 104.
Logic of Scientific Discovery, 95, 116,
Mill, J. S., 15, 17, 81, 98, 125i';m
158. Nn 14, 16, 24, 38, 98, 111,
179, 228.
122, 150, 178, 226, 231, 243, 248.
Miller, D., 11. Nn 18, 35, 150,'232,;-
Lorentz, H. A., 105.
302. ;
Lórenz, K. Z., :50-l, 203. Nn 44,
Minkowski, H., 104.
. 95, 304.
Mises, R. von, 46-7, 92, 108-110, '136,
Loschinidt, J., Nn 256. 163. N n 135, 301. :
L. S. .E., 116, 119, 129-33, 135. Nn misticismo, Nn 301. . ^
182. mito, 65-7, 199-200, 205.
Lucrécio, 30. modelos, 61, 71, 101-102, 111, 126,
• 159.
Mach, E., 17-8, 43, 82, 87-8, 98, 133, modismo, 78-9, 171.
144, 148, 161-2, 165-6, 171. Nn monismo, 18-9, 22, 26, 88, 133, 144,
30, 244-5, 253-4, 264. 197. Nn 105.
Magee, B., 11. N n 57. Moore, G. E., 116 Nn 225.
Mahler, G., 61. moralidade, ver ética.
mapas, 84. Nn 203. Morgan, G. L., 51-2, 189. Nn 43, 45.
March, A., 102, 135. N n 128. Morley, F. W ., 104.
Margenau, H., 99. Nn 123, 130. movimento browniano, 171, 175. Nh .
Marx, K., 17-8, 39-43, 45, ,47-50, .274.
. 81-2, 115, 121, 123, Mozãrt, W . A., 16, 68, 70, 73, -76,-77,
Masaryk, T. G-, .21: • 79. ' ^
matemática, 24, 31, 38, 46-7, 61, mudança, 137-38, 169. Nn 298. ' '
87, 91, 95-7, 109-111, 131, 135, Müller-Lyer, F., 147.
139, 152-3, 165, 195. N n 45, 150-1, mundo, 26-7, 65-7, 71, 75, 82*3, 128,.
154, 205, 258. 134, 137-39, 159-160, 169-70, 98.
matéria,. 44-5, 98-100, 138-9,’ 161,. Nn 203. Mundo 1, 191, 193-Í95,
163, 1«94. Nn 61, 138, 298. 198-99, 201-202, 204. Nn '7-a,'302.
Mauthner, F., 17. Nn 3. . Mundo 2, 67, ■191-95J:Sl98*202^'Nn-
: Í7a,- 302. Mundo 3, 57, 67, 71, 149, Pap, A., Nn 35.
190-206. Nn 7a, 293, 302. paradoxos, 22, 24, 73, 82, 125.
Munz, P., 134. Nn 194. Park, J. L., Nn 123, 130.
Munsgrave, A. E., Nn 242. Parmênides, 29-30, 128, 137-9. Nn 12*
música, 16, 45-6, 56, 60-79, 85, 91, Parton, H. N., 120-21. Nn 187.
149, 192. Nn 57-9, 80, 84. passado, 22, 33-4- 43-5, 50-1, 77, 79,
Mussolini, B.j 120. 112, 137-8, 145, 154, 156-7, 162,
mutação, 179-182, 185-6. 165-171, 195-6, 200-202. Nn 20,
25, 42, 63, 243,
nacionalismo, 18-9, 39, 113* Passmore, J., 95-6, 97. Nn 110.
Naess, A., Nn 114. Pauli, W . Jun., 135, 162
Nelson, G., Nn 138. Pavlov, I. P., 85.
Nelson, L., 81-2. Nn 86, 88. Peierls, R. G., Nn 130.
Nemst, W . H., 117. Peirce, G. S., 102- Nn 131.
Neumann, J. von, 102. Nn 130, 133. pensar, 42, 47-8, 50-60, 62, 65-7, 81,
Neurath, O., 19, 87, 92, 97. N n 114, 83-5, 100, 174, 180, 190-192, 197-
. 120 . 202 .
Newton, I., 21, 29, 33, 43-4, 48-9, percepção, 58-9, 147-8, 199, 202. Nn
66, 76, 89, 105, 112, 139, 144. 304-5.
Nn 20, 32, 61. personalidade, 68-9, 71, 200-201,, 205-
nicho ecológico, 55, 183, 186, 190. -206.
Nietzsche, I. W ., 18, 78. Nn 81. Petersen, A. F., 11. Nn 54, 203, 286.
nominalismo, 26-7, 125. Piaget, J , Nn 49.
Nova Zelândia, 118-120, 127-29, 132, Planck' M., 104, 117. Nn 253.
134, 136. Nn 165-6, 187, 226. Platão, 17, 26-7, 82-4, 121, 126-27,
193, 196, 203, Nn 25, 56, 59, 70-8.
objetivo, 44-5, 62, 67-75, 81, 92-5, pluralismo, 97, 197. N n 306.
103-6, 146-9, 152-5, 159, 162-5, pobreza, 15, 18, 77.
172, 178, 189, 198, 202-3, 204-6. Podolsky, B-, Nn 129*
Nn 63, 78,' 226. Poincaré, H., 167,
objetivos e fins, 28-9, 39-40, 59, 158- Polanyi, K., 26, 81.
-9, 183-8, 203-6. Nn 205. políticá;* 15-16, 18-21, 38-43, 49-50,
observação, 51-2, 55, 58-9, 86-7, 125, 113-15, 120-124, 127, 133, 136,
157, 201-2. Nn 44, 210. 157.
onisciência, 13, 152. Popper, Jenny, nêe Schiff, 15, 17, 19,
ontologia, 193-7. 45, 60, 113.
Open Society, 37, 41, 49, 115, 121-7, Popper, Simon.S. C., 15-21, 23, 25,
130, 132, 135, 157-8. Nn 7, 144a, 45, 90, 113.
177. Popper Lynkeus, J., 17, 19, 136,
operacionismo, 37, 104-6, 139. N n Põsch, A., 13-14.
144a. positivismo, 83, 87-93, 95, 97, 104-
Oppenheim, P., 137. ! -106, 130, 133, 139, 144, 162, 171.
originalidade, 69-70, 78-9. Nn 144a, 301. ■
ortogênese, 182-7. positivismo lógico, 87-93, 95, 97, 104-
Ostwald W ., 18, 22, 171. -106. N . 110, 112, 301.
ousadia, 94, 157, 166, 190-1, 203.
PostScript, 158-9. Nn 242-
Oxford, 100, 116-7, 133. N n 263.
Poverty of Historicism/ 26, 41, 116,
121-3, 125-9, 176. N n 7, 178.
palavras, .23-9, 31, 34-7, 83, 97, 143, pragmatismo, 133, 154.
'192. prática, 75, 111-12, 141-2, 143, 155-
Palestrina, G. P. da, 60. -7, 159, 184.
pànpsiquisino, 197. N n 212, 299. precisão, 30-1, 34-8, 107.
preferência, 85-7, 93-5, 112, 154, racionalidade, 24, 40* 93-5, 96-7, 112,
158-9, 183-190, 202. Nn 243. 124-26, .133, 154-5, 158-9, 182,
preparação, 100, 103, . 196, 206. Nn 86, 173, 175, 226,
Prés, J. des,. 60. 233, 243.
pressupostos, 54-5, 124* 154.. racionalismo crítico, 124, Nn 175-6.
previsão, 31, 41, 44, 50, 111-2, 125, Rasmussen, E. T., 147.
129-130, 167, 180-2. N n 283. Ravel, M. J., 61.
probabilidade, 46-7, 88, 92, 98-9, 1Ó2- realimentaçao, 69, 184, 186, 196, 201,
-4, 106-113, 116, 118, 120-1, ‘147-8, 206.
156-7, 159-160, 162-7, 169, 172, realismo, 26-30, 58; 67, 82-4, 89^90,
176-7, 178. Nn 98, 154-5, 178, 180, 98-104, 106, 133-4,. 138, 156, 159-
188, 216, 231, 243, 248, 261; axio- -160, 163-65, 170-171, 189, 193-
matização de — , 108, 112-3, 120, 195. Nn 105, 178, ‘203, 207, 243,
136. Nn 159, 178; interpretação 294-5.
de — , 92, 100, 102-4, 107-8, 111, redução, 187-9, 191.
157, 159-160, 162-5. Nn 155, 178. Reed, A. A. G., 120. .
problema, 21-2, 25, 28-9, 31, 46-8, reflexão, 84-5. N n 95-6.
50-5, 59-60, 67, 75, 82-3, 87-8, 89-
refutação, 45, 47-52, 58-9, 86, 89-90,
-90,. 93-4, 98, 129-135, 140-3, 147- 93-4, 102, 107, 112, 123, 139-142,
-150, .163, 176-7, 184, 186-9, 192- 152, 175. Nn 16, 35, 44, 201, 207,
-3, 196-9, 201-6. Nn 20, 46, 191, 231, 242, 284.
243;- situação — , 30-1, 34, 93-4,
regras, 55^, 65, 107, 131, 154-7,
142-4, 198. Nn 25; resolução de
196.
— , 51,5, 74-5, 140-4, 147-9, 186-90.
regularidades, 25-7, 55-9, 65, 159, 180.
Nn 287; — Vs. enigmas, 21-22, 97-
-8, 130-3. N n 191. Reichenbach, H., 97, 110, 163, 171.
Nn 98, 119-20, 180.
problema corpo-mente, 195j 197-203.
Nn 212, 298-300, 304-5. Reidemeister, K., 46.
problemas inatos, 50-1, 50-2, 54-59, Reininger, R., Nn 301.
198. N n 54, $5. relações de espalhamento, 99, 103.
programas de pesquisa, 157, 160, 167, relatividade, 43-5, 48, 50, 104-5, 138.
176-182, 189. Nn 242. Nn 32-3, 143-6, 201-2, 296.
programas metafísicos de pesquisa, relativismo, 124, 152. Nn 177.
157, 160, 166, 176-182, 189. Nn religião, 24, 38-9, 42-3, 63-6, 73, 76,
242. 86, 114, 158.
progresso, 76-9, 86-7, 134. responsabilidade, 83, 96-7; — por
propensão, 100, 103, 108, 159-161, outros,^40.
163-65, 189. Nn 178. revolução, 18-9, 38-40, 49-50j 88,
Przibram, K., Nn 208. 167. Nn 205.
pseudociência, 39-45, 47-51, 59-60, Riemann, G. F. B., 22.
86-7, . . Rietdijk, C. "W., Nn 146.
psicanálise, 43-4, 48, 49, 82, 130. Rilke, R. M., N n 301.
psicologia, 43, 46, 47-60, 62, 65-7, 69, Robbins Lord, 117, 135.
. 80-5, 88, 147-8, 154-5, 161, 190-92, Robinson, A., Nn 6.
197, 201-205. Nn 84, 89, 95. Robinson, R., Nn 7.
Pitágoras, 160. Rosen, N . Nn 129.
Roth, G .E . , 120.
questão judaica, 113-116. N n 160. Russell, Earl (Bertrand), 97, 118, 132,
questões: que é?, 23-37, 68-9, 71, 73, 134, 136, 161. Nn 93, 164, 296. ;
122, 124, 146, 189, 1&3. N n 7, 298. Rússia, 16, 18, 39, 49-50, 123. -
Quine, W . V . O., 136. Rutherford, E., 140. ; :
Quinton, Anthony & Marcelle, Nn 13. 'Ryle, G., 1.16, 130, 133. Nn 73, 193.

259
.Sàèh^üMí jíííNn^ .138. soluções, 25, 28, 36-8, 53, 75, 83* 93-
Sáaòn^G/jr 136. / >4,'100, 131-3, 140-3, 148-9, 160,
Schiff,; E., 14. 187-9, 204.
-Schiff, W., 89, 93. Nn 108. . Spencer, H., 177, 182. Nn 288-9.
rSchiller, F., 203. N n 308. Sperry, R. W., Nn 305.
Schilpp, P. A., 11, 100, 138, 140, 242. Spinoza, B., 17, 23-4, 198.
Nn 35, 122, 136, 197, 201-2, 208. Staliríj J., 123.
Schlick, M., 85, 92, 95-6, 110, 165, Status da ciência e da metafísica, 159.'
198. Nn 106, 252. Stebfeing, Susan, 116.
Schònberg, A., 61, 78. Stefan, J>} 165.
Schopenhauer, A., 17, 71, 79, 91, 144, Stein,: E., 61.
159, 203. ?Nn 68, 80, 82. Strauss, R., 61.
Schrodinger, Anna Marià, 117, 144. Stravinsky, I., 61.
Schrodinger, E., 98-102, 117-8, 135, Strawson, P. F., Nn 228.
138, 144-6, 163-4, 169-171, 177, Strindherg, A., 23.
203. Nn 132-3, 208, 212, 214, 219- - subjetivismo, 62, 66-75, 133, 146-9,
-21, 24.6-7, 249, 259, 262-3, 278. . 152-4, 159, 161-2, 165^ 167, 170-6,
Schubert, E., 16, 61, 76-7. 205-6.' Nn 63, 226; — e física, 104-
Schweitzer, A., 68.- Nn 63, 67. ;-6, 160-177. Nn 248, 265-7; — e:
probabilidade, 104, 163-4. Nn 248. .
seleção, 50-4, 58-60, 94, 140-2, 14&,
subjetivo, 62,. 83-4, 92-4, 98,' 146-8,
160, 177-181, 183-190. Nn 95, 284L
seieção natural, ver seleção. 153-4, 162, 166, 173, 190-2, 198,
2G5-&. Nn 63. •'
Selz, O., .91. Nn 91-2.
substancia, 197. Nn 298.
senso comum, 107, 133, 138-9.
Suppes, P., Nn 178.
sentidos, 43-4, 57-9, 82-3, 89-90, 118,
Suttner, Bertha von, 17,
132, 133, 137-8, 144-48, 161, 166,
Szilard, L., 172-6. Nn 266, 273-5.
168, 190, 197, 199, 202, 205. Nn
203, 304. ,
Serkin, R., 60. Tarskí, A., 32, 96,. 106-7, 110, 116,
Shackle, ÇJ. L. S.,: 117. 134, 149-152. Nii 188, 195, 224.
Shearmur, J. F. G., 11. Telemann, G. P., 77.
significado, 23-5, 27-9,„ 31-7, 48r9, Témple, G., Nn 130.
57, 87, 92, 95-6, 97, 105-6, 150, tempo, 22, 33-4, 43-5, 51, 77, 79,
193. Nn 7, 13, 25, 42. 111-2, 137-8, 145, 154, 156-7, 162,
Simkin, G. G. F., 120. - 165-172, 195-7, 201-2. N n 20, 25,
simplicidade,, 79, 140. 42, 63, 243.
tentativa e erro, 51-60, 65, 71, 74,
Simpson, Esther, 119.
84-6, 94, 123-4, 140-3, 148, 176-8.
. simultaneidade, 36-7, 104-6. Nn 7, Nn . 45-6, 95, 209:
144a, 146.
teorias, 25, 27-9, 31-6, 39-40, 43-4,
sistemas, 39-40, 48-50, 88-9, 93, 96, 47-52, 53-56, 58-9, 66-7, 71, 84-
105, 166-7. Nn 261. -90, 92.-4, 96-98, 101, 111-2, 140-3,
situações, 25, 30-1, 34, 94, 113, 122, 147.-9, 155-160, 192-201, 203-6. Nn
124-6, 142-3, 177-9, 183, 187. 20, 25, 98, 205, 207, 209, 243.
sobrevivência, 87, 112, 142, 177, 181, teoria quântica, 29, 98-104, 106-8,
1B7-9. Nn 243. 117, 121, 137-8, 148, 162-5, 171.
socialismo, 18-20, 38-43, 81, 113, Nn 121-3, 128-30, 133, 138, 140-1,
114-6, 1,21. 246-8, 250.
sociedade, 17, 38r9, 41-3, 49-50, 83, (teorias) rivais, 28-9, 31, 86-7, 93-4/
113-5, 122-7, 196-7, 205. 112, 158-160, 179, 192. Nn 243.
Sócrates, 13, 43, 72, 152, 203. termodinâmica, 35-6, 146, 166-176.
solipcismo, 82, . 88. Nn 253, 256-63, 266-7, 272-5.
teste, testabilidade, 30-1, 42, 44-5, Nn 252; trabalhadores de — , 42,
47-51, 74, 86-7, 147, 155, 157, 159- . 115. Nn 27. .
-60/ 178, 180. Nn 117, 172, 209, Vigier, J. P., 99.
226. ' Ville, J. A., Nn 154.
Thirring, H., 47, 92, 100, 117. violência, 20, 38-41, 42, 115. Nn
Thomdike, E., N n 45. 26-7.
Thorpe, W . H., Nn 54, 292b.
Timeu, de. Platão, N n 25. Xenófanes, 30,
totalitarismo, 113, 119-123, 126. -
tradição/62, 64-5, 205. Nn 242, 287.
tradução, 29-30, 122, 127. N n 13, 25, Waddington,. C. H., 182.
59- Waerden, B. I. van der, 165. Nn 121,
transcendência, 69/206. ■ 251. • ’
Trollope, A./ 114. ■ Wagner, M.,,Nn.,.290.
Trotsky, L., 41. Wágriéf,1 R ^ G i y '’77-9.':‘N n 57, 63,
Truesdell, C. A.j 36. Nn 22: o 80^U,.:-.
. Waismann,. F^ \9.1.,. 119, >-135.
W a ld ,Ã .5 110-111, 136/Nni51, 153-4.
universal, 25r6, 93, 164. Nn 15, 178. Waíker, D / P.,^Nri> 59^’:;::^;rv'
universidades, 13, 16, 21, 38-9, 42,- ' Walter, B., .60. •/•/•. .-.v. .. 3.
45-7; 79-85, 89, 91, 114, 116-121, Wamack, G. J., Nn 25,' !^42.
. 127-9. Watkins, J. W .' N., 129. NÍÍ 19, -135,
Urbach, F., 91, 99, 136. 203. , ■-i...
Watson, J. B., 197.
valxdades, 67, 147, 152-5. Watts, Pamela, 11.
valores, 124, 203-6. Nn 306. Weaver, W . Nn 165.
variação, 55/57, 177, 179-180, 183- Webern, A . von, 61, 78.
-4, 188-9. Weinberg, J. R., 95. Nn 112.
Venn, J., 163. Wèininger, O., 17, 82- Nn 3.
verdade, 25, 27.9, 43-4, 47, 60, 89, Weisskopf, V., 100, 136.
106-7, 112, 116, 118, 134, 139, 149- Weyl, H., 44. .
.-154, 159-160, 190, 192, 195-7, 200, Weizsacker, G. F. von, 100.
205. Nn 20, 149, 205, 233, 243, White, _M., 136.
verificação, 45, 48, 87, 91, 93-6, 139-. White, Sir Frederick, 120.
Nn 98/117. Whorf, B. L., 30. .
verossimilhança, 158-9. Wiener, N., N n 267.
vida, 22, 137-8, 141-2, 145-6, Í68- 'Williams, D. C., 136.
'-9, 178-182, 186, 187-9, 196, 201, Wirtinger, W ., 46.
204-6. Wittgenstein, L., 17, 87-8, 105, 125
Viena, 13-7, 19/38-9, 41-3, 45, 60-2, . 130-32, 150. Nn. 8, 15, 101.
77, 79-81, 91r2, 96, 113, 115-9, Woodger, J-. H., 116, 118. Nn 162
144, 196. Nn 27, 80, 238/301; Cír­ 188.
culo de — , 87-93,. 94-7, 105, 110. Wright, J. P., Nn 201.
Nn 101, 104, 106, 113a, 114, 119,
149; Instituto Pedagógico d e ---- , Zermelo, E., 167, 169-170. Nn 256
79-81, 90-91; Universidade de — , 258, 260.
16, 21/ 38, 45-7,. 79-85, 91, 165. Zilsel, E., . 89, 91-2. Nn 101, 106.
A LÓGICA DA PESQUISA CIENTIFICA
KarlPopper

Neste livro, um dos mais importantes filósofos da Ciência em


nosso século traça um quadro impressionante do carãter lógico
da pesquisa científica, quadro que faz. <plena justiça à revolução
einsteiniana na- Física e ao seu enorme impacto sobre o pensa­
mento científico em geral. A q u i não se apresenta a Ciência com o.
empenhada em fabricar engenhocas ou em coletar observações
para correlacioná-las por via de processos dedutivos ou indutivos.
Ela é apresentada, antes, como uma tentativa de formular uma
teoria do mundo com base em conjecturas audaciosas, discipli­
nadas por uma crítica penetrante , Ã simples idéia de que o de­
senvolvimento da Ciênçia dependa de audácia intelectual e de
crítica racional demonstra-se surpreendentemente fecunda no
decorrer do livro, em que ela é usadaüpara resolver alguns dos
problemas clássicos da teoria do conhecimento e para elucidar
alguns dos mais importantes aspectos. da. Ciência. Esta edição de
A L Ó G IC A D A PESQUISA C IE N T ÍF IC A apresenta o texto integral
da obra, sem cortes desfiguradores, razão pela qual constitui lei-
tura obrigatória para estudantes e estudiosos de Lógica e F ilo ­
sofia da Ciência.

EDITORA CULTBIX
AS IDÉIAS DE POPPER
Bryan Magee

N ascido em V ien a em 19 0 2, K a rl Popper, um dos mais


notáveis filósofos da Ciên cia em nossa época, fo i marxista na
juventude, tendo-se tornado m ais tarde mtn ardoroso sócial-demo-
crata . Seu interesse'-pela ativiâ&ãe*pòlitÍçU'' éffôèõntfàbjzlançado
por igual interesse pela Filàsofia. -'assitòyèómpjsè. \i$táb0%Òu'},;
como um dos mais importantes críticos do marxismo;. P opper,
ir ia também d issen tird a moda filosófica dominante n á V ié n ã dè
então — o positivism o lógico, ao qual d irigiu fundadas críticas,
embora os positivistas lógicos, como também os filósofos da
linguagem , achassem que Popper abordava os mesmos problemas
- que eles, À verdade, porémi ê que a obra de Popper se carac­
teriza sobretudo como uma obra crítica. Para ele, só através da
crítica pode o conhecimento progredir, e é através do exame
crítico das idéias de outros autores que Popper vai constituindo
seu próprio pensamento, cuja unidade sistemática Bryan Magee
soube admiravelmente destacar em AS ID É IA S DE. POPPER,
mostrando que elas, tanto no campo das ciências naturais como
no das ciências: sociais, são partes de uma única filosofia —
uma filosofia que se contrapõe às demais do nosso tempo e
cuja influência, ao que tudo- indica, só fará crescer com o correr
dos anos .

EDITORA CULTRIX
A M IS É R IA DO H IS T O R IC IS M O

Karl R. Popper

Este, livro ê uma. crítica arrasadora da crença em leis da História,


ou leis.do desenvolvimento. so cia l/o u leis de progresso, Todavia, além de .
expor ‘-doutrinas .tanto mais inffuéntes, quanto perniciosas, e as perigosas
ideologias que sobre 'elas: se erigem, ■A M IS É R IA D O H IS T O R IC IS M O
também contém uma exposição-sistemática, do que devam ser o caráter
e os métodos.das Ciências Sociais^ bem \com o : uma indicação do tipo
de planejamento político " minucioso '-q u it a is métodos sugerem.- O s
tópicos aqui abordados ' incluem: á distinção entre predições e profe­
cias; a idéia de . tendências;- a expUcáçao histórica;, racionalidade e
“método zero”; ó papei das instituições, planificadas ou m o. N a opi­
nião de Jsaiah Berlin, em seu livro acerca dà inevitabilidade histórica,
" ninguém demonstrou isso com ' maior ou mais devastadora precisão
de que. o Prof. K a rl Popper. E m seu A AÍÍSÉR1A D O H IS T O R IC IS M O
expôs o ‘históricismo’ com tanto vigor e precisão, tornando tão. clára
sua incompatibilidade com qualquer tipo de empirismo -científico ,. q u e '
não há mais desculpa para confundir um e outro” . Â tal juízo acerca
de uma: dás obras fundamentais desse que é considerado um dos mais
importantes teóricos dá Ciência e pensadores políticos da atualidade,
podem-se acrescentar estas: palavras de M aurice Cranston: cfA obra
de Popper tem valor-muito maior que o valor acadêmico; tem imediata
e manifesta pertinência às âecisÒesi políticas que -cumpre a cada pessoa
tomar.** ' '■ .

E D IT O R A C U L T R IX

E D IT O R A D A U N IV E R SID A D E DE SÃO PA U LO
Outras obras de interesse:
A L Ó G IC A D A PESQUISA C IE N T IF IC A *
.— Karl Popper
AS ID EIAS D E P O P P E R * — Bryan Magee

AS ID ÉIAS D E W IT T G E N S T E IN * —
David Pears

AS ID ÉIAS D E BERTRAND RUSSELL * —


A. J. Ayer
AS ID ÉIAS D E E IN S T E IN * ^ Jeremy
Bernstein

IN T R O D U Ç Ã O À FILO SO FIA D A
C IÊ N C IA * — Lambert e Brittan

FILO SO FIA D A C IÊ N C IA * — Sidney


Morgenbesser (org.).

IN IC IA Ç Ã O A L Ó G IC A E À
M E T O D O L O G IA D A C IÊ N C IA —
Diversos autores

DEFINIÇÕES: TERMOS TEÓRICOS E


S IG N IF IC A D Q * — Leônidas Hegenberg

.W IT T G ENST EIN, L IN G U A G E M E
FILOSOFIA* — Warren Shibles
ESCOLHA E ACASO: Uma Introdução à
L ó g ic a Ind u t iv a * — Bryan Skyrms

EN SAIO S FILOSÓFICOS — Susanne K.


Langer

* Co-edição com a Editora da U SP

Peça catálogo gratuito à

E D IT O R A CU LTTU X
. Rua Dr. Mário Vicente, 374 — Fone: 63-3141
04270 São Paulo, SP

Você também pode gostar