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TCC Procrastinação
TCC Procrastinação
2013•9(1)•pp.34-41
Artigos de Revisão | Review Articles
Resumo
A procrastinação diz respeito ao atraso de tarefas e decisões comumente associada a um
sofrimento psicológico significativo. É um comportamento prevalente e considerado com-
plexo por envolver componentes cognitivos, emocionais e comportamentais que fornecem
ao procrastinador um conforto temporário diante de uma tarefa aversiva. Visto que a tera-
pia cognitivo-comportamental (TCC) dá prioridade à modificação de crenças para produzir
mudanças nos comportamentos, este estudo teórico realizou uma revisão integrativa da
literatura nacional e internacional em TCC sobre procrastinação com o intuito oferecer um
panorama atual dos estudos acerca da procrastinação na abordagem cognitivo-comporta-
mental. A revisão foi realizada nas bases PsycINFO e PEPSIC a partir do descritor procrasti-
nação, dos seus derivados e dos correspondentes em inglês e espanhol. A partir dos critérios
de inclusão/exclusão, foram recuperados 16 artigos publicados em periódicos no período de
1999 a 2013. A revisão indicou um interesse escasso, embora crescente, sobre o tema, reve-
lando fatores relacionados à procrastinação, como as metacognições, que podem fornecer
importantes subsídios para o tratamento de procrastinadores crônicos. Sugere-se que pes-
1
Especialista em TCC pela WP - Centro de quisas futuras diversifiquem a amostra de participantes, a fim de estudar a procrastinação
Psicoterapias Cognitivo-comportamentais.e entre outras populações e não somente entre universitários.
Mestre em Psicologia Social e do Trabalho
pela Universidade Federal da Bahia - Palavras-chave: crenças procrastinatórias, procrastinação, terapia cognitivo-comportamental.
Professora - Salvador - BA - Brasil.
2
Doutorado em Psicologia do
Desenvolvimento (2008) pela Universidade Abstract
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Especialista em Psicoterapias Cognitivo -
Procrastination relates to the delay of decisions and tasks commonly associated with
comportamentais pela Unisinos (2004). significant psychological distress. It is a prevalent behavior and considered complex
Professora e supervisora do Instituto da because it involves cognitive, emotional and behavioral components that provide the
Família de Porto Alegre (INFAPA) e professora
convidada da WP - Centro de Psicoterapias procrastinator temporary comfort front of an aversive task. Cognitive behavioral ther-
Cognitivo-comportamentais. apy (CBT) emphasizes the modification of beliefs to produce changes in behavior, so
WP - Centro de Psicoterapias Cognitivo -
this theoretical study conducted an integrative review of national and international lit-
comportamentais. erature on CBT about procrastination in order to provide a current overview of studies
in the cognitive behavioral approach. The review was conducted in the PsycINFO and
Correspondência:
Fernanda de Souza Brito. PEPSIC databases from the descriptor procrastination, its derivatives and correspon-
Rua dos Bandeirantes, 761 - Matatu dences in English and Spanish. Using the inclusion/exclusion criteria, sixteen journal ar-
Edf: Alto dos Bandeirantes, Ap 403.
Salvador - BA.
ticles were retrieved from the period 1999-2013. Review indicated a scarce but growing
CEP: 40.260-001. interest in the topic, revealing factors related to procrastination, as metacognitions,
E-mail: fernandadesouzabrito@gmail.com which can provide important insights for the treatment of chronic procrastinators. It
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema is suggested that future research diversify the sample of participants in order to study
de Gestão de Publicações) da RBTC em 01 de procrastination among other populations and not only in the university.
dezembro de 2013. cod. 228.
Artigo aceito em 18 de novembro de 2014. Keywords: cognitive behavioral therapy, procrastination, procrastinatory beliefs.
DOI: 10.5935/1808-5687.20130006
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Tabela 1. Artigos pesquisados nas bases de dados PEPSIC e PsycINFO sobre procrastinação em periódicos relacionados à abordagem
cognitivo-comportamental.
Título do Artigo Autor(es), Ano Periódico, Volume (nº), Páginas
Procrastinação: descrição de comportamentos de estudantes e
Enumo e Kerbauy (1999) RBTCC, 1(2), 125-133.
transeuntes de uma capital brasileira.
Será o comportamento de procrastinar um problema de saúde? Hamasakie Kerbauy (2001) RBTCC, 3(2), 35-40.
Worry, procrastination, and perfectionism: Differentiating amount of
Stöber e Joormann (2001) CTR, 25(1), 49-60.
worry, pathological worry, anxiety, and depression.
Metacognitions, Emotions, and Procrastination. Spada, Hiou, Nikcevic (2006) JCP, 20(3), 319-326.
Metacognitions about procrastination: A preliminary investigation. Fernie e Spada (2008) BCP, 36(3), 359-364.
Tackling procrastination: An REBT perspective for coaches Neenan (2008) JRECBT, 26(1), 53-62.
Metacognitive beliefs about procrastination: Development and Fernie, Spada, Nikčević, Georgiou
JCP, 23(4), 283-293.
concurrent validity of a self-report questionnaire. e Moneta (2009)
Procrastination and self-regulatory failure: An introduction to the
Pychyl e Flett (2012) JRECBT, 30(4), 203-212.
special issue.
Content analyses of the beliefs of academic procrastinators. McCown e Blake e Keiser (2012) JRECBT, 30(4), 213-222.
Procrastination automatic thoughts as a personality construct: An Flett, Stainton, Hewitt, Sherry e Lay
JRECBT, 30(4),: 223-236.
analysis of the Procrastinatory Cognitions Inventory. (2012)
The complexity of the relation between fear of failure and Haghbin, McCaffrey e Pychyl
JRECBT, 30(4), 249-263.
procrastination. (2012)
The perceived credibility of two rational emotive behavior therapy
Dryden e Sabelus (2012) JRECBT, 30(1), 1-24.
rationales for the treatment of academic procrastination.
Lost in the moment? An investigation of procrastination, mindfulness,
Sirois e Tosti (2012) JRECBT, 30(4), 237-248.
and well-being.
Dealing with procrastination: The REBT approach and a demonstration
Dryden (2012) JRECBT, 30(4), 264-281.
session.
Reducing academic procrastination through a group treatment
Uzun Ozer, Demir e Ferrari (2013) JRECBT, 31(3), 127-135.
program: A pilot study
Academic procrastination, academic life satisfaction and academic
Balkis (2013) JCBP,13(1) 57-74.
achievement: The mediation role of rational beliefs about studying.
RBTCC: Revista Brasileira de Terapia Comportamental-cognitiva; CTR: Cognitive Therapy and Research; JCP: Journal of Cognitive Psychotherapy; BCP: Behavioral
and Cognitive Psychotherapy; JRECBT: Journal of Rational-Emotive & Cognitive-Behavior Therapy; JCBP: Journal of Cognitive and Behavioral Psychotherapies.
A quantidade relativamente pequena de artigos sobre definida como uma escassez de conscienciosidade (traço que
procrastinação nos periódicos de abordagem cognitivo- inclui características como autodisciplina, cumprimento de
comportamental pode ser observada na Tabela 1 e revela uma deveres e determinação). Pychyl e Flett (2012) retomam a questão
produção escassa sobre o tema, especialmente em nível nacional, da preferência da TCC por estudos relacionados a diagnósticos
onde apenas dois artigos foram encontrados. O desinteresse e afirmam que os traços relacionados à procrastinação têm sido
nacional pelo tema é corroborado pelo fato de que os artigos estudados no âmbito dos transtornos da personalidade, mas
nacionais foram os mais antigos dentre os selecionados (Enumo que há muito a ser aprendido no que se refere às diferenças
& Kerbauy, 1999; Hamasaki & Kerbauy, 2001). individuais quanto à tendência a procrastinar.
Sabe-se que muitos manuais de tratamento cognitivo- Do total de publicações encontradas, o Journal of Rational-
comportamental têm sido escritos, com frequência, para categorias Emotive Cognitive-Behavior Therapy (JRECBT) é responsável por
de diagnóstico cada vez mais específicas, e, de acordo com D. nove artigos, sendo que seis deles fizeram parte de uma edição
Dobson e K. S Dobson (2010), esses manuais são desenvolvidos especial sobre a procrastinação, publicada em dezembro de 2012.
de maneira rigorosa e testados em clientes cuidadosamente Esse periódico especifica em seu título uma abordagem em TCC,
selecionados em clínicas especializadas. Obviamente, a TCC é denominada terapia racional emotiva, desenvolvida por Albert Ellis,
útil para uma ampla variedade de problemas, e não somente para sendo assim, é esperado que tenha uma maior quantidade de
transtornos diagnosticáveis. No entanto, diante da preferência da publicações sobre o tema do que os demais, uma vez que Albert
área pelo estudo e o desenvolvimento de protocolos específicos Ellis, juntamente com Knaus, iniciou o estudo da procrastinação
para esses transtornos, não é coincidência o número reduzido de na literatura em TCC com o seminal trabalho “Superando a
artigos sobre procrastinação, já que esse é um problema que não procrastinação” (Overcoming Procrastination), de 1977.
perfaz um transtorno em si e pode estar associado a questões Os artigos selecionados foram classificados como
caracterológicas ou de personalidade. teóricos ou empíricos. Os três artigos teóricos pertencem ao
Lay (1997) complementa essa ideia afirmando que a JRECBT e foram ilustrados com a apresentação de casos clínicos
procrastinação sob a perspectiva da personalidade pode ser tratados a partir da terapia racional emotiva. O primeiro artigo
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a ser analisado é o prefácio da edição especial do JRECBT, Hamasaki e Kerbauy (2001) buscaram descrever razões ou opiniões
escrito por Pychyl e Flett (2012), que trata a procrastinação dos participantes sobre a procrastinação e explorar que tipo de
como um tipo de fracasso autorregulatório relacionado a tarefas as pessoas costumam adiar de modo mais amplo, Fernie
características de personalidade, com impacto significativo na e Spada (2008) e McCown e colaboradores (2012) fizeram isso de
vida do procrastinador e das pessoas ao seu redor. Em geral, a maneira mais específica utilizando construtos teóricos como crenças
literatura mais abrangente sobre o tema corrobora essa visão de e metacognições procrastinatórias. Nesse sentido, os primeiros
que a procrastinação é resultado de um fracasso autorregulatório: artigos, por serem nacionais, contribuem para entender o fenômeno
um fracasso na capacidade das pessoas em regularem seus da procrastinação entre brasileiros, em especial o de Hamasaki
pensamentos, emoções e comportamentos (Steel, 2007). e Kerbauy (2001), que enfatiza o impacto da procrastinação na
Os artigos teóricos de Neenan (2008) e Drydens (2012) prevenção da saúde; já os últimos revelam aspectos cognitivos
buscaram aplicar os princípios dessa abordagem terapêutica para fundamentais relacionados à procrastinação em si.
tratar a procrastinação, enfatizando a importância de conscientizar- Fernie e Spada (2008), ao descreverem crenças
se da procrastinação, de substituí-la por engajamento na tarefa por metacognitivas (informações que os indivíduos mantêm sobre
meio da identificação e da modificação de crenças procrastinatórias suas cognições e sobre as estratégias de enfrentamento para
irracionais e, principalmente, de tolerar o desconforto de curto lidar com elas), encontraram que metacognições positivas (“adiar
prazo a fim de obter ganhos de longo prazo. No entanto, o mais tarefas permite fazê-las depois com mais criatividade”) e negativas
antigo, publicado em 2008 por Neenan, aplica e sistematiza esses (“adiar tarefas produz sentimentos ruins o tempo todo”) estão
princípios ao treinamento para desenvolvimento profissional relacionadas à procrastinação e têm como meta regular cognições
(coaching), sendo mais inovador, visto que a procrastinação é e afetos negativos. Esse estudo selecionou indivíduos com
altamente relacionada às questões acadêmicas, em especial elevados escores em procrastinação, de acordo com escalas de
às dificuldades do indivíduo jovem na adaptação aos deveres procrastinação geral e procrastinação decisional, que participaram
do ambiente universitário, e muito pouco explorada em outros do estudo quantitativo de Spada e colaboradores (2006).
domínios da vida adulta (Klingsieck, 2013). Dentre os estudos descritivos encontrados, o de McCown
No que diz respeito aos artigos empíricos, foram encontrados e colaboradores (2012) foi o único com desenho comparativo.
cinco artigos de caráter descritivo (Enumo & Kerbauy, 1999; Fernie & Os autores buscaram comparar procrastinadores e não
Spada, 2008; Hamasaki & Kerbauy, 2001; McCown, Blake, & Keiser, procrastinadores utilizando um programa de computador para
2012; Uzun Ozer, Demir, & Ferrari, 2013), cinco correlacionais (Flett análise de conteúdo e diagnóstico psiquiátrico com o intuito de
et al., 2012; Haghbin et al., 2012; Sirois & Tosti, 2012; Spada et al., elucidar o que procrastinadores crônicos pensam e sentem quando
2006; Stöber e Joormann, 2001), um com desenho experimental suas crenças são ativadas por uma situação que resulta em
(Dryden & Sabelus, 2012), e por fim, um específico sobre validação adiamento da tarefa. A análise de conteúdo foi realizada com base
de instrumento (Fernie et al., 2009). As especificações dos estudos no preenchimento de uma redação on-line sobre pensamentos e
descritivos podem ser observadas na Tabela 2. sentimentos no momento em que os participantes percebiam que
Observe na Tabela 2 que, em geral, a amostra dos estavam procrastinando. Os autores encontraram que, nesses
estudos descritivos foi composta por universitários, com indivíduos, a procrastinação está relacionada a afirmações
proporção relativamente equilibrada entre homens e mulheres. autodepreciativas, depreciação do valor, da qualidade e da
Em sua maioria, os estudos apresentaram uma faixa etária utilidade de diversos aspectos da vida, e hostilidade direcionada
correspondente a uma população jovem adulta. Esse fato é a outros, bem como ao grau de aversividade da tarefa.
bastante coerente, visto que é esperado que a procrastinação O quinto estudo descritivo, publicado por Uzun Ozer e
tenha um efeito mais nocivo para esse público, pois é quando colaboradores (2013), foi o mais atual sobre o tema, e propõe uma
os projetos profissionais começam a ser delineados e as perspectiva grupal para o tratamento da procrastinação. O objetivo
demandas sociais exercem maior pressão sobre os indivíduos. do tratamento seguiu o foco das TCCs, que é identificar crenças
Os estudos descritivos diferenciaram-se no grau de irracionais e distorções cognitivas relacionadas à procrastinação,
utilização do referencial teórico das abordagens cognitivas. Por e obteve eficácia. Inclusive, uma das etapas consistiu em
exemplo, enquanto, em seus artigos, Enumo e Kerbauy (1999) e identificar pensamentos e sentimentos associados a tipos de
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procrastinadores (decisional, evitativo e hedônico), indicando que cognições procrastinatórias obtiveram poder preditivo sobre
categorizar estilos de procrastinação pode ser útil no tratamento, estresse e sofrimento psicológico. Em geral, essas cognições
apesar de existirem evidências empíricas na literatura mais ampla refletiam pensamentos automáticos negativos sobre si e sobre a
que não sustentam essa distinção (Steel, 2010). necessidade de ser perfeito e o medo do fracasso. Na literatura
Quanto aos estudos correlacionais, todos buscaram sobre procrastinação, o medo do fracasso é considerado
relações entre procrastinação e um conjunto de conceitos, como bastante impor tante. Haghbin e colaboradores (2012)
crenças, metacognições, pensamentos automáticos, medo do investigaram sua relação com a procrastinação e constataram
fracasso e perfeccionismo, na tentativa de compreender o impacto que a competência percebida pela pessoa é um importante
dessas relações sobre diversas formas de sofrimento psicológico. moderador dessa associação. Desse modo, o procrastinador
As especificações dos seis estudos correlacionais encontrados teme o fracasso, percebe não ter competência para lidar com
são apresentadas na Tabela 3 e descritos a seguir, considerando isso sozinho e, então, evita a tarefa.
a ordem cronológica e/ou aproximação dos conteúdos abordados. Dentre os estudos correlacionais, o de Sirois e Tosti
Os estudos correlacionais, em comparação aos (2012) propôs especificamente uma abordagem terapêutica da
descritivos, envolvem uma quantidade mais elevada de TCC a partir do estudo das associações entre procrastinação,
participantes, o que viabiliza a condução das análises estatísticas atenção plena (mindfulness) e bem-estar. Os autores concluíram
correspondentes ao escopo de cada estudo. Na Tabela 3 que, para procrastinadores, a baixa atenção plena pode ser
também se observa uma predominância de participantes do sexo um fator de risco para baixo bem-estar físico e emocional.
feminino, em sua maioria no início da vida adulta. Nesse sentido, propõem que abordagens que incidem sobre a
Sabe-se que a preocupação é fonte de sofrimento e aceitação de estados e pensamentos desagradáveis podem ser
angústia significativos, sendo esse o foco do estudo de Stöber benéficas para reduzir o estresse relacionado à procrastinação.
e Joormann (2001). Os autores concluíram que a procrastinação A TCC baseada em atenção plena (mindfulness) em particular
e o perfeccionismo relacionam-se a quanto uma pessoa se é conhecida por promover uma maior consciência dos
preocupa (independentemente de como ela se sente, ansiosa pensamentos e dos sentimentos difíceis, reduzir o estresse,
ou deprimida, sobre a sua preocupação). Logo, a preocupação aumentar a persistência em tarefas e melhorar a saúde.
do perfeccionista sobre erros e dúvidas pode ser responsável Para finalizar os estudos correlacionais encontrados
pela procrastinação. Além disso, a preocupação relacionou- nessa revisão, temos o recente estudo de Balkis (2013), que teve
se com expectativas e críticas dos pais, corroborando o objetivo de analisar relações entre procrastinação acadêmica,
descobertas da literatura mais ampla sobre a procrastinação crenças racionais sobre estudar, satisfação e realização
(Frost et al., 1991; Pychyl et al., 2002). No entanto, Spada e acadêmica. Conforme esperado, a procrastinação acadêmica se
colaboradores (2006) chegaram a um resultado complementar correlacionou negativamente com as demais variáveis. Por meio
trabalhando com o conceito de metacognição: ela contribui da modelagem de equações estruturais, o autor constatou o
para a procrastinação independentemente das emoções papel mediador das crenças racionais sobre estudar na relação
negativas (ansiedade e depressão). Dentre as metacognições entre procrastinação, satisfação e realização acadêmica.
pesquisadas, cabe destacar crenças sobre confiança cognitiva e Esse resultado apoia a premissa básica das abordagens
crenças positivas sobre preocupação: quanto mais uma pessoa cognitivo-comportamentais de que nossas crenças medeiam
confia nas próprias cognições e se preocupa com uma decisão, nossas emoções e comportamentos tanto funcionais como
considerando que a preocupação ajuda a enfrentar dificuldades, disfuncionais. Logo, quando modificamos crenças irracionais
mais ela tende a procrastinar. e acentuamos crenças racionais, aprendemos estratégias mais
Flett e colaboradores (2012) também investigaram as adaptativas para enfrentar os eventos estressantes da vida.
cognições procrastinatórias controlando traços de personalidade O penúltimo artigo analisado nessa revisão tem como
que têm relação com o adiamento de tarefas ou decisões, foco o tratamento da procrastinação, sendo o único com
como o elevado neuroticismo e a baixa conscienciosidade. desenho experimental. O estudo de Dryden e Sabelus (2012)
Os autores, ao isolarem esses traços, concluíram que as avaliou a percepção de credibilidade de duas versões da terapia
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dando, assim, menor ênfase às crenças que podem afetar e Fernie, B. A., & Spada, M. M. (2008). Metacognitions about procrastination:
controlar o processamento cognitivo de procrastinadores (as a preliminary investigation. Behavioural and Cognitive Psychotherapy,
metacognições) (Fernie et al., 2009; Spada et al., 2006). 36(3), 359-364 DOI: http://dx.doi.org/10.1017/S135246580800413X
Outras abordagens em TCC também podem ser úteis Fernie, B.A., Spada, M.M., Nikcevic, A.V., Georgiou, G.A., & Moneta, G.B.
tanto para auxiliar a formulação do caso como para o tratamento (2009) Metacognitive beliefs about procrastination: development
em si dos procrastinadores, como a terapia do esquema, and concurrent validity of a self-report questionnaire. Journal
proposta por Jeffrey Young (Young, Klosko, & Weishaar, 2008). of Cognitive Psychotherapy, 23(4), 283-293. DOI: http://dx.doi.
Na primeira situação, entender qual esquema desadaptativo org/10.1891/0889-8391.23.4.283
está associado à procrastinação pode ajudar a visualizar os Flett, G. L., Stainton, M., Hewitt, P. L., Sherry, S. B., & Lay, C. (2012).
funcionamentos cognitivo, emocional e comportamental do Procrastination automatic thoughts as a personality construct: An
paciente. Em seguida, o tratamento baseado em esquemas analysis of the Procrastinatory Cognitions Inventory. Journal of
pode ser útil por agregar técnicas experienciais e interpessoais Rational-Emotive and Cognitive-Behavior Therapy. 30(4), 223-236.
às cognitivo-comportamentais, enfatizando uma confrontação DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s10942-012-0150-z
mais ativa de padrões rígidos de funcionamento (McGinn & Frost, R., Lahart, C., & Rosenblate, R. (1991). The development of
Young, 1996). perfectionism: A study of daughters and their parents. Cognitive Therapy
Por fim, a procrastinação é um comportamento and Research, 15, 469-490. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/BF01175730
que tem prevalência relativamente alta em alguns países,
Haghbin, M., McCaffrey, A., & Pychyl, T. A. (2012). The complexity of
no entanto, estudos brasileiros sobre o tema são escassos.
the relation between fear of failure and procrastination. Journal of
Compreender como a procrastinação ocorre entre brasileiros
Rational-Emotive and Cognitive-Behavior Therapy, 30(4), 249-263.
pode ser promissor; inclusive, Hamasaki e Kerbauy (2001) DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s10942-012-0153-9
encontraram, entre as justificativas para adiar tarefas, o fato
de ser brasileiro. Logo, a procrastinação seria uma estratégia Hamasaki, E. I. M., & Kerbauy, R. R. (2001). Será o comportamento de
valorizada pelos brasileiros? Estudos que enfatizem o poder procrastinar um problema de saúde? Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, 3(2), 35-40.
da cultura sobre a procrastinação podem produzir resultados
igualmente interessantes. Harrington, N. (2005). It’s too difficult! Frustration intolerance beliefs and
procrastination. Personality and Individual Differences, 39, 873–883.
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Pychyl, T., Coplan, R., & Reid, P. (2002). Parenting and procrastination: Steel, P. (2007). The nature of procrastination: A meta-analytic
Gender differences in the relations between procrastination, and theoretical review of quintessential self-regulatory
parenting style and selfworth in early adolescence. Personality and failure. Psychological Bulletin, 133, 65–94. DOI: http://dx.doi.
Individual Differences, 33, 271-285. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/ org/10.1037/0033-2909.133.1.65
S0191-8869(01)00151-9
Steel, P. (2010). Arousal, avoidant and decisional procrastinators: Do they
Sirois, F. M., & Tosti, N. (2012). Lost in the moment? An investigation of exist? Personality and Individual Differences, 48(8), 926-934. DOI:
procrastination, mindfulness and well-being. Journal of Rational- http://dx.doi.org/10.1016/j.paid.2010.02.025
Emotive and Cognitive-Behavior Therapy, 30(4), 237-248. DOI: http://
Stöber, J., & Joormann, J. (2001). Worry, procrastination, and
dx.doi.org/10.1007/s10942-012-0151-y
perfectionism: Differentiating amount of worry, pathological worry,
Souza, M.T., Silva, M. D., & Carvalho, R. (2010). Revisão integrativa: o que anxiety, and depression. Cognitive Therapy and Research, 25(1), 49-
é e como fazer. Einstein, 8(1), 102-106. 60. DOI: http://dx.doi.org/10.1023/A:1026474715384
Spada, M. M., Hiou, K., & Nikcevic, A. V. (2006). Metacognitions, emotions, Young, J., Klosko, J. S., & Weishaar, M. E. (2008). Terapia do esquema:
and procrastination. Journal of Cognitive Psychotherapy, 20(3), 319- Guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto
326. DOI: http://dx.doi.org/10.1891/jcop.20.3.319 Alegre: Artmed.
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