Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
aplicações mais recentes do modelo skinneriano. Apesar de Skinner não ter sido terapeuta e de não
comportamental a uma nova compreensão e intervenção junto a seus clientes. Diversos aspectos da
sua influência nos demais comportamentos humanos, contribuíram para a superação das propostas
Skinner para elaborarem modelos de intervenção clínica com adultos. Esses modelos, de forma
geral, têm sido aplicados aos problemas clínicos provendo uma linguagem e uma conceituação na
ambiente natural (Kohlenberg & Tsai, 1987). Embora sigam rumos diferentes em termos
estratégicos, ambos têm objetivos terapêuticos congruentes. Hayes adota um enfoque que visa
1
MOURA, C. B. & CONTE, F. C. S. (1997). A psicoterapia analítico-funcional aplicada a terapia comportamental
infantil: A participação da criança. Torre de Babel (UEL), 4, 131-144.
problema específico do cliente. Kohlenberg toma o próprio comportamento-problema como
unidade, e como ponto de partida para uma análise funcional abrangente e ampla. Uma vez que o
comportamento ocorre no contexto clínico, a relação terapêutica é vista como instância apropriada
Apesar de nenhum destes dois grupos de autores citados ter delineado uma prática
clínica específica com crianças, o conjunto de estratégias desenvolvidas por Kohlenberg e Tsai
contexto da psicoterapia infantil. No restante deste artigo tentaremos analisar como, no nosso
ponto de vista, a proposta de Kohlenberg e Tsai, pode ser utilizada na prática clínica com crianças
e desta forma também legitimar uma atuação behaviorista radical do terapeuta comportamental
infantil. Embora consideremos fundamental a ação do terapeuta de crianças junto aos pais ou
outros adultos por ela responsáveis, excluiremos propositalmente, qualquer discussão neste
O enfoque da PAF baseia-se, em grande parte, de uma reflexão sobre como aplicar
contexto típico de tratamento clínico. Um destes limites é estabelecido pelo fato de que o contato
impossível, o terapeuta observar e interagir com o cliente fora da sessão. Estas condições também
2
se aplicam, em muito, ao contexto da psicoterapia infantil, e assim torna-se relevante considerar
como as características principais da abordagem de Kohlenberg & Tsai (1987) podem ser aplicadas
ao trabalho com crianças de forma a intensificar os resultados que podem ser obtidos no processo
psicoterapêutico.
direta através do reforçamento diferencial dos repertórios requeridos, durante a realização das
sessões terapêuticas. Um aspecto bem conhecido do reforçamento é que, quanto mais próximo no
controle exercido por elas, isto é, o efeito que as conseqüências terão sobre o comportamento em
questão. Este conceito é fundamental para o trabalho do terapeuta comportamental infantil, pois
requeridos de uma criança, e desejáveis à superação de seus problemas, na medida em que eles
torna-se responsabilidade dos pais ou professores, nem sempre suficientemente prontos para tal
tarefa.
natural, a partir do relato ou da representação da criança, o terapeuta pode agir de forma alternativa,
quebrando possíveis percepções e relações entre eventos, oportunizando à criança vivenciar novas
3
O psicoterapeuta de crianças pode dispor de muitos recursos artificiais para
reforçamento, porém Kohlenberg e Tsai ressaltam que reforçadores naturais, isto é, ações e reações
espontâneas entre cliente e terapeuta, normalmente são potencialmente mais poderosos para gerar
reforçadas pela responsividade positiva recíproca entre as pessoas envolvidas na interação. Assim,
por exemplo, se a expressão de afeto por parte da criança for um comportamento-alvo e o terapeuta
também tiver uma reação espontaneamente afetiva quando ela o emitir, o reforçamento, muito
na terapia infantil. Ele pode favorecer o aumento da sensibilidade do cliente aos estímulos
ambientais mais rapidamente, e facilitar ao terapeuta realizar análises com o cliente sobre o seu
próprio comportamento, mais concretamente. Mas se faz necessário que o terapeuta tenha
determinados cuidados para garantir que os reforçadores naturais assumam o controle principal do
possibilidade dos reforçadores naturais virem a ganhar controle sobre o comportamento (Ferster,
1979). A experiência, porém, tem mostrado que rapidamente as crianças “dispensam” o uso de
Mudança
4
habilidoso, pois é a partir de observações cuidadosas que os CRBs são definidos
observado diretamente, a menos que aconteça na presença do terapeuta, mesmo que este possa
obter uma boa descrição dele por meio do relato dos pais ou de outros observadores. Desta forma,
comportamentos-problema apresentados pela criança forem de tal natureza que também possam
ocorrer durante a sessão. Assim, baseando-se neste critério, o enfoque analítico-funcional conduz à
focalização daqueles problemas do mundo exterior que também acontecem durante a sessão.
infantil, pois os problemas que as crianças apresentam podem ocorrer na sessão tanto de forma
criança com queixas de agressividade, por exemplo, não precisa, necessariamente, agredir o
terapeuta para que este possa lidar com o problema (aliás, é mais confortável que isto não ocorra,
embora possa eventualmente acontecer), mas pode demonstrar esse padrão de conduta através de
fornecer ao terapeuta uma boa oportunidade para investigar melhor as contingências que o mantém.
Durante esta análise, ele pode, ainda, levantar junto à criança, tanto as similaridades existentes
apropriado. Essas informações também servirão como subsídios importantes para a orientação aos
facilitadas se ele tiver desenvolvido, em seu repertório pessoal, os comportamentos-meta que quer
atingir com a criança. Isto parece ser óbvio, mas na prática não o é. Significa ter desenvolvido em
5
si mesmo habilidades consideradas adequadas e conseguir observar reações semelhantes na
criança. Segundo Conte (1993) é necessário ainda que o psicoterapeuta infantil tenha capacidade
para permanecer relaxado frente à criança, que goste e saiba brincar, tenha habilidade para fazer
coisas que as crianças gostem, seja flexível e criativo, saiba lidar com pressões, e não seja ansioso
em relação à obtenção de resultados positivos imediatos. Tal condição ajuda a criança a adaptar-se
mais fácil e rapidamente ao ambiente clínico e a apresentar as suas reações mais típicas e
somente ao observável, isto é, não envolvam inferências. Na prática, é quase impossível atingir tal
suas hipóteses; se elas se confirmarem, suas estratégias de atuação podem ser mantidas, caso
contrário, outras devem ser implementadas. O importante é que o terapeuta seja guiado e reforçado
pelas melhoras e progressos da criança, melhoras estas verificadas também fora do ambiente
clínico.
progressos obtidos pelo cliente seria realizar a terapia no mesmo ambiente onde acontece o
problema. Porém, Kohlenberg e Tsai acreditam que, normalmente, há uma similaridade funcional
entre o contexto terapêutico e o ambiente diário do sujeito, pois na maioria das vezes os
6
este conceito muda radicalmente sua prática, pois ele pode, por meio de seu relacionamento com a
criança, avaliar diretamente, tanto os problemas que precisam ser trabalhados, quanto às melhoras
para a PAF infantil é a possibilidade de sua ocorrência durante a sessão terapêutica. Esta conclusão
baseia-se nos seguintes pressupostos: 1) os efeitos específicos da terapia resultam de eventos que
acontecem durante a sessão; 2) os únicos eventos controladores que podem acontecer durante a
sessão, são eventos reforçadores, discriminativos e eliciadores; e 3) estes eventos ocorrendo dentro
da sessão terão efeitos mais acentuados sobre o comportamento que também acontece dentro da
sessão, assim, as melhoras podem ser naturalmente reforçadas pelas contingências fornecidas pelo
terapeuta ou pelas condições arranjadas em terapia. Ainda, a maior parte dos reforçadores
da criança.
acontecer durante a sessão, e que são de particular relevância para o processo terapêutico. Apesar
de toda descrição se referir ao contexto clínico com adultos, as crianças parecem demonstrar, mais
observar.
terapêutica e que são ocorrências do problema clínico. Estes comportamentos devem diminuir em
7
esquiva que, na vida diária do cliente, estão sob o controle de estímulos aversivos, que
comportamentos emitidos pelas crianças na fase inicial de terapia que, acreditamos, são bons
exemplos do que Kolemberg e Tsai denominaram CRB1s. Segundo estas autoras, as crianças que
chegam à terapia com alguma queixa de transtornos de comportamento, também apresentam baixa
mesmas, e não se acham capazes de obter ou reconhecer o êxito e a aprovação social em suas
realizações. Elas podem relacionar-se com o terapeuta do modo como se relacionam com outras
experiências, elas tendem a, gradualmente, adquirir maior auto-controle. A terapia pode propiciar à
criança a sensação de ser entendida e apoiada, e assim cria um contexto menos aversivo para o
força no curso do tratamento, para que indiquem progressos ou melhoras. Durante os primeiros
estágios do tratamento, estes repertórios não costumam ser observados, e sua ausência ou pouca
8
Possíveis comportamentos CRB2s incluem repertórios de comportamentos assertivo e mais
progressivamente, a criança começa a usar mais e melhor as palavras para se comunicar com o
terapeuta, o qual pode, gradualmente, introduzir intervenções verbais mais diretivas. Neste
momento a criança pode se tornar mais consciente de seus padrões comportamentais abertos e
CRB2s durante a sessão, também favorecem a generalização dos ganhos terapêuticos para
às crianças falando de seu próprio comportamento e do que parece causá-lo. Mais especificamente,
discriminativos e eliciadores associados. Esta descrição das relações funcionais pode ajudar a
criança a fazer a generalização de seus progressos e obter reforçamento na vida diária. Segundo
funcionais que indicam similaridades entre a situação-estímulo presente durante a sessão e aquelas
De acordo com esta definição, desenvolver o CRB3 parece ser uma tarefa grande,
ou mesmo impossível às crianças. A experiência tem mostrado que, pelo contrário, respeitados os
útil. Nem sempre, porém, é possível aos terapeutas, observarem as crianças alcançando este
9
estágio, não porque não sejam capazes, mas porque quando progressos começam a ser obtidos,
muitos pais interrompem a terapia, por se sentirem ou satisfeitos com os resultados parciais
comportamento do terapeuta, que segundo eles, se seguidas, resultam em efeitos reforçadores para
bom repertório de observação, como um pré-requisito, para que o terapeuta identifique possíveis
instâncias de CRBs que acontecem durante a sessão, e assim possa reagir apropriada e
A segunda regra também é muito utilizada por psicoterapeuta infantis. Ela consiste
muito mais complexo trabalhar apenas a nível verbal, e torna-se necessário utilizar-se da
linguagem lúdica, própria das crianças. Segundo Conte (1993), ao atender crianças, o terapeuta
deve utilizar estratégias que interessem a elas, como desenho, gibis, livros de histórias, pintura,
música e outros recursos lúdicos. Algum dos objetivos do uso destes recursos em terapia segundo
criança sobre suas relações como o mundo, suas reações públicas e privadas; 2) a explicitação para
10
identificar a ocorrência de comportamentos semelhantes dentro e fora da sessão; e 3) o
levantamento com a criança de alternativas mais adaptativas para o problema que ela enfrenta,
da própria situação clínica, presume-se que as melhoras também podem e devem ter lugar dentro
da sessão e assim serem valorizadas e fortalecidas pelo terapeuta. Para que o reforço ocorra
apropriadamente, o terapeuta deve ter clareza de qual comportamento incompatível deve ser
reforçado para que possa então estar sensível às pequenas alterações comportamentais rumo à
por elas, é uma habilidade terapêutica importante e para ajudar os terapeutas a adquirirem-na
Kohlenberg e Tsai propuseram uma quarta regra. Segundo ela, é importante que o terapeuta
terapeuta, para que este possa discriminar durante o processo terapêutico quais reações suas
seus recursos pessoais de forma mais consciente e terapêutica, tendo sempre em mente que uma
11
A quinta regra colocada por Kohlenberg e Tsai enfatiza o desenvolvimento de um
da criança, comportamento este prioritário a uma boa atuação terapêutica, pois seria incongruente
segundo Conte (1993) necessita-se entender as relações estabelecidas entre a criança e sua família,
membros da escola, amigos, e agentes de outras instituições sociais, para o planejamento de uma
intervenção mais abrangente e que traga resultados positivos o mais cedo possível.
comportamental infantil normalmente começa com uma identificação do problema junto aos pais
da criança (Keefe, 1980), tentando definir operacionalmente as muitas queixas trazidas por eles, de
modo que se possa selecionar qual o problema a ser trabalhado. Os pais não são ouvidos apenas
como pais; o terapeuta procura vê-los como pessoas, com suas próprias dificuldades pessoais, as
quais normalmente possuem íntima relação com o problema que eles atribuem à criança (Conte,
1993). É comum que o terapeuta também tenha contato com a escola, os professores, e outros
12
coletadas são analisadas pelo terapeuta que levanta outros dados, formula hipóteses, e intervém,
testando suas hipóteses também em parceria com a criança, sob a mediação da relação terapêutica
(Conte, 1987). Para Nalin (1993), o terapeuta deve efetuar uma análise do comportamento público
e encoberto da criança para poder identificar as variáveis ambientais das quais o comportamento é
função, para, em seguida, propor intervenções que possuam alta probabilidade de provocar
mudanças no comportamento.
que certas circunstâncias ou condições adversas normalmente geram nas crianças e é certo que a
análise funcional o auxilia em muito nesta tarefa. Porém há situações nas quais o conhecimento de
observações empíricas, levam o terapeuta a formular hipóteses mais apropriadas e assim planejar
comportamento em seu ambiente. Além disso, a terapia tem como finalidade contribuir não apenas
instituições, mas também para minimizar o impacto que o transtorno familiar gera sobre a criança.
Aspectos importantes merecem consideração neste sentido e referem-se à participação dos pais no
tempo, de outra forma e sob outras bases teóricas, por psicoterapeutas de várias abordagens. Por
exemplo, Oaklander (1980), atuando dentro de uma abordagem gestáltica, descreve em seu livro
13
um trabalho psicoterapêutico com crianças, baseado principalmente nas experiências que ocorrem
durante a sessão e na sua relação com a criança. Seu enfoque bem poderia ser considerado uma
forma prática e muito funcional de aplicação das estratégias decorrentes da PAF na clínica infantil.
Embora tecnicamente útil, tal obra não tem como propósito e, portanto, não contém a base
aplicada à situação clínica. Este é o grande ganho para os terapeutas comportamentais, que podem,
cada vez mais, ampliar e intensificar a sua intervenção de forma consistente e científica e criarem
Finalmente, cabe uma palavra sobre o terapeuta. Estar pronto para este tipo de
e apoio, se possível, por meio da psicoterapia pessoal ou de supervisões terapêuticas. Sem isso, a
análise da relação terapêutica pode ser algo complexo, custoso e arriscado, mesmo se trabalhando
com crianças. E a proposta da PAF é que esta relação seja usada como o principal veículo de
mudança terapêutica, pois, como afirmou Greben citado por Kohlenberg e Tsai (1987), ...a relação
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Conte, F.C.S. (1993). A Terapia Infantil na Clínica Comportamental. In: Encontro de Terapeutas
Comportamentais de São Paulo: USP. Palestra proferida e não publicada. Versão ampliada
para fins didáticos.
Conte, F.C.S. (1987). Procedimentos e Metas em Terapia Comportamental: Implicações Éticas. In.
Neri, A.L. (Org) Modificação do Comportamento Infantil. Campinas: Papirus.
Ferster, C.B. (1979). Psychotherapy from the Standpoint of a Behaviorist. In: Keehn, J.D. (Ed).
Psychopathology in Animals: Research and Clinical implications. Academic Press: New
York
14
Hayes, S.C. (1987). A Contextual Approach to Therapeutic Change. In: Jacobson, N.S. (Ed).
Psychotherapist in Clinical Practice: Cognitive and Behavioral Perspectives. New York:
Guilford Press.
Keefe, F.J.; Steven, A.K.; Gordon, S.B. (1980). Manual Prático de Avaliação Comportamental. v.
2, São Paulo: Manole.
Kohlenberg, R. J.; Tsai, N. (1987). Functional analytic psychotherapy. In: Jacobson, N. S. (Ed.).
Psychotherapist in clinical practice: cognitive and behavioral perspectives. New York:
Guilford.
15