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Ricardo Antunes

O PRIVILÉGIO DA SERVIDÃO
O novo proletariado de serviços na era digital
Capítulo 4

QUEM É A CLASSE TRABALHADORA HOJE?

)
Depois de tantos autores terem decretado o fim da classe trabalha-
dora, nossa interrogação é outra: quem é a classe trabalhadora hoje?
Ela ainda detém um estatuto de centralidade nas transformações
sociais? Trata-se de questões cujas respostas não são simples. tam-
pouco fáceis, sobretudo diante da avalanche de teses. desenvolvidas
nas últimas décadas. voltadas a desconstruir tanto a noção de clas-
se quanto sua centralidade e sua potencialidade transformadora.
Nossa tese central , que aqui procuraremos desenvolver, é a de
que. no capitalismo contemporãneo. dotado de uma lógica destru-
tiva ampliada, o centro da transformação social ainda está radica-
do no coryunto da classe trabalhadora. Recusamos, desde logo, duas
teses equívocas: tanto a de que nada mudou no universo dos tra-
balhadores quanto seu oposto. a de que a classe trabalhadora não
mais seria capaz de transformar radicalmente o universo societal
do capital.
É curioso que. enquanto se amplia enormemente o conjunto de
seres sociais que vivem da venda de sua força de trabalho, em
escala planetária. tantos autores deem adeus ao proletar iado e
defendam a ideia do descentramento da categoria trabalho e do .fim
das possibilida des de emancipação humana estruturada a partir
do trabalho.
O que vou exercitar aqui é um caminho inverso. esboçar a critica
ela critica, de modo a procurar evidenciar o que venho denominando
a nova morfologia do trabalho e suas potencialidades.
Quem é e, classe t.rabalhadora hoje? • 89

_ t·r al qual é a atual conformação


estao cen · Se o trabalho abstrato (dispêndio de energia física e intelectual
,_ -..· nios ('<)Ili 11111a qu _ e· idêntica àquela de meados do
~ ,,ml"- . ? Se elanao . - para produzir mercadorias , conforme disse Marx em o capitaO per -
. .. • trnbalhadora · . de desapançao nem perdeu onto-
d:1 r 1.t:-:-< _ tá em vias . . deu . a sua força estruturante na sociedade de ho,ie
• passado. nao es . te na vida cotidiana do ser social . . , . corno sao
- pro-
,<(-cu 1o - ntido estrutu1an , d uz1dos os automove1s da Toyota , os programas da Microsoft. os
looicamenre seu ~e h ·e?
carros da General Motors e da Nissan , os tênis da Nike . os hambúr -
q~1al é sua forma de s~: E~ ~Is consideravam classe trabalhadora e
Sabemos que Mar~ . g E ue na Europa de meados do sécu- gueres do McDonald's , só para citar alguns exemplos de grandes
srnon1mos. q · . fl - empresas transnacionais?
proletariado como alariados que inspiraram a re exao de
Mas - e aqui avançamos um segundo elemento importante _ a
lo xix. os trabalhadores a~s corpórea 110 proletariado industrial, 0
classe trabalhadora incorpora também o conjunto dos trabalhadores
ambos ganhavam expressa? ção comum e mesmo indiferenciada
ossibilitava a denomma . improdutivos , outra vez no sentido de Marx. Aqueles cujas formas de
que p balhadora e proletanado. - trabalho são utilizadas como serviços. seja para uso público, como
entre classe tra . . lítico é procurar entender. então, quem é a os serviços públicos tradicionais. seja para uso capitalista. o traba-
Nosso desafio teonco e po
balh I hJJie como ela se conforma ou se configura. lho improdutivo é aquele que não se constitui enquanto um elemen-
e1asse- q ue-vive-do-tra
, o ãou de•
que ela compreend e a tota1·idade dos to vivo no processo direto de valorização do capital e de criação de
Partiremos da ,ormu 1aç
. mulheres que vivem da venda da sua força mais-valor. Ele pertence ao que Marx chamou de Jalsos custos3 . os
assalanados. homens e . -
- despossuidos dos meios de produçao, conforme quais , entretanto, são imprescindíveis para a sobrevivência do capi-
de trwalho e que sao
a definição manctana. tal e de seu metabolismo social. Por isso se diferencia do trabalho
Ela tem como núcleo central o conjunto do que Marx chamou de produtivo , que participa do processo de criação de mais-valor.
trwalhadores produtivos , para lembrar especialmen_te o Capitul? VI Mas , como estão nubladas algumas das diferenças reais - basta
(inédito) . bem como inúmeras passagens de O capital nas quais a lembrar que . no mundo da produção hoje, o mesmo trabalho pode
ideia de trabalho produtivo é formulada, compreendendo os/as tra- ter simultaneamente atividades produtivas e improdutivas. realizadas
balhadores/as que são produtores de mais-valor; que são pagos por pelos/as mesmos/as trabalhadores/as -. a classe trabalhadora am-
capital-dinheiro: expressam uma forma de trabalho coletivo e social e pliada inclui. portanto. o vasto leque de assalariados improdutivos.
realizam tanto tra/Jalho material quanto imateriat2. geradores de um antivalor no processo de trabalho capitalista. mas
Nesse sentido, evidencia-se em nossa análise que a classe traba- que vivenciam situações que têm clara similitude com aquelas expe-
lhadora hoje não se restringe somente aos trabalhadores manuais rimentadas pelos/as trabalhadores/as produtivos/as.
diretos. mas incorpora a totalidade do trabalho social, a totalidade Se todo trabalho produtivo é assalariado (aqui deixando de lado
do trabalho coletivo que vende sua força de trabalho como mercado- as ··exceções". com o ressurgimento do trabalho escravo) . mas nem
ria em troca de salário. todo trabalhador assalariado é produtivo. uma noção contemporâ-
Portanto, ela ainda é (centralmente) composta pelo conjunto de nea de classe trabalhadora deve incorporar a totalidade dos traba-
trabalhadores produtivos que produzem mais-valor e que participam lhadores assalariados.
do processo de valorização do capital, por meio da interação entre Portanto, a classe trabalhadora hoje é mais ampla. heterogênea,
trabalho vivo e trabalho morto . entre trabalho humano e maquinário complexa e fragmentada do que o proletariado industrial do século XIX
científico-tecnológico. e do início do século 'XJ0.
Esse segmento constituiu um dos núcleos centrais do proletaria-
3
do moderno. Os produtos da Toyota. da Nissan, da General Motors. da Idem .
4
1BM. da Microsoft etc. são resultado da interação entre trabalho vivo Em seu escrito sobre a Comuna de Paris. A guerra civil na França (ed. bras .:
São Paulo. Boilempo. 201 J). e em vários outros escritos para a Associação Inter -
e ~rabalho morto (tornando infundadas as teses . desde Habermas nacional dos Trabalhadores (AIT) . Marx. ao tratar do conjunto de forças sociais
ate Robert Kurz · de que o tra b alho abstrato teria perdido sua força
envolvidas no processo revolucionário que se desenvolvia em Paris. faz referência
estruturante na sociedade atual). também ás "classes traba lhadoras". sinalizando para um conjunto heterogêneo
e diferenciado de atividades laboraUvas. que transcendem aquelas que vivem da
venda de suajorça d e trabalho em troca de salário e que participaram também de
i A classe de pessoas · que a .. . forma ativa da construção da Comuna de Paris e das lutas da AIT. Ver também a
dução livre) de M penas trabalha . conforme designação (com nossa tra · excelente coletânea de textos sobre a AIT em Marcello Musto (org.). Trabalhado·
arx nos Manus rü - .
2 Karl M . c os economicojilosóji.cos. cil. . p . 26. res. uni-vos: antologia política da I Internacional (São Paulo. Boi tempo. 2014) .
arx. O capital. Livro I cit O . .
• .. e capital: lwro I - Capítulo VI (inédito) . cil.
Quem é ª clas se trabalhadora hoj e? • 9 1
. ·a nosso debate : o proletartado
te questao pat od. t·· ( e na luta entre as classes.. É . na própria ma te n'alld-a d e do sistema
.
'-" u ,n:\ 1111 poru1n s i·deradas pr u was quer aque- e
,· ,r .1 . ,·dades con na .sua potenc ialid a d e subJetwa que seu
_A.,.rno que ~-xen.'<:' au, 1 . t·nmteriais. quer aquelas manuais _ _ O pa pe 1 se torna central E
m"'" ·
. _ pi~,-ak ntcmente rna
. tefiatS ou -
gi·as da informaçao, nos polos mats creio, ela so perdera essa potencialidade se e quan d o o trabalho abs- · ·
1a:,, da s tecno Io . . d . trato deixar de ser central para a reprodução do capital.
. ·tas n~,s cha ma exercendo at1v1da es consideradas
d n"t ~ 0 11 . . b . s modernas, 'd d Portanto, a classe trabalhadora • em sentid o amp1o. mcorpora•
.iY,l.nç-actos das ta_ n ca .. ainda tem papel de centrah a e n~s lutas . a
totalidade
_. daqueles/as que vendem sua força de tr a balh o em troca de
mais -intelect u aHzadas l· . gerar valores de troca. mms-valor?
an ürap1.tal1.stas. exata mente . por pliado que co nfi gura o pro1etartado salano.. como . .o proletariado rural , os chamados 001·as -fri as d as regioes
•-
. . o conjunto am agrom~ustriais d~ Brasil do etanol. Incorpora também O proletariado
ou ao contran° - . do trabalho em sua heterogeneidade
· 1 -que-vwe- - · p~ecanzado, fabril e de ser_viços. part time, que se caracteriza pelo
moderno ou a e asse _ a ão / eração/ampliação do valor, bem como
vinculo de trabalho temporario, pelo trabalho precarizado. em expan-
_ inclusive na particip çl . . g política _ não tem mais nenhum polo
em sua concretude ideo og1co- . são na totalidade do mundo do capital.
· te central? O exemplo dos imigrantes talvez seja o mais emblemático: com 0
necessanamen tr · odo· nos embates desencadeados pelos/as enorme incremento do novo proletariado i.Tiformal, do subproletariado
F0 rmulando de ou o mundo m . tem presenciado, e- poss1vel - detectar
trabalhadores/as. que O . •
fabril e de serviços, novas atividades laborativas são exercidas pelos
•al'd d e até mesmo centralidade nos estratos mais imigrantes que circulam em escala global. A classe trabalhadora.
maior potenc1 1 a e • · ' . .
trabalhadora naqueles que Vivenciam uma portanto , é composta - e isso é decisivo hoje - da totalidade dos
qualificados d a c1a Sse ' . . .
. - · "está·ver e que têm, consequentemente, maior partic1- trabalhadores assalariados . em todas as suas distintas modalidades
s1tuaçao mais . - .
pação no processo de criação de valor? Ou. pelo contrano, o polo de inserção no mundo do trabalho, incluindo aqueles subempregados.
mais fértil da ação se encontra exatamente naqueles segmentos so- na informalidade e desempregados.
ciais mais subproletarizados? Em nossa concepção ampliada estão excluídos da classe traba-
Sabe-se que os segmentos mais qualificados , mais intelectu_al~a- lhadora os gestores do capital, que são parte constitutiva da classe
dos , que se desenvolvem mais próximos do avanço tecnolog1co- dominante , pelo papel central que têm no controle. na hierarquia,
-informacional-digital. pelo papel que exercem no processo de criação no mando e na gestão do capital e de seu processo de valorização.
de valores de troca. poderiam estar dotados , ao menos objetivamen- bem como os pequenos empresártos, a pequena burguesia urbana e
te . de maior potencial de rebeldia. Mas, por outro lado , e de modo rural , que é detentora - ainda que em menor escala - dos meios de
contraditório, esses setores mais qualificados são os que vivenciam sua produção. Estão excluídos também aqueles que vivem de juros
um sistemático processo de manipulação e "envolvimento" (em ver - e da especulação.
dade . trata-se das formas contemporâneas de fetichismo e estranha- Então , compreender a classe trabalhadora hoje, de modo abran-
mento) no interior do espaço de trabalho . gente , implica entender esse conjunto heterogêneo. ampliado.
Em contrapartida, o enorme leque de trabalhadores precários, complexo e fragmentado de seres sociais que vivem da venda da
parciais, temporários etc., o chamado subproletariado moderno, jun- sua força de trabalho , que são assalariados e desprovidos dos meios
tamente com o imenso contingente de desempregados , pelo seu maior de produção.
distanciamento do processo de criação de valores , poderiam ter, no Durante a vigência do taylorismo/fordismo no século XX, ostra-
plano da materialidade , um papel de menor relevo nas lutas antica- balhadores por certo não eram homogêneos; sempre houve homens
pitalistas. Porém. sua condição de despossuídos os faz confrontar-se trabalhadores . mulheres trabalhadoras . jovens trabalhadores, qua-
lificados e não qualificados, nacionais e imigrantes etc., isto é . as
~~!idi31:~e~te ~om a ~rdem destrutiva , uma vez que esses segme~-
múltiplas clivagens que configuraram a classe trabalhadora. É evi-
. sociais nao tem mais nada a perder no universo da (des)sociabi-
dente ainda que no passado também já havia terceirizaçào (em geral.
hdade do capital. Sua subjetividade poderia ser, portanto . mais
propensa à rebeldia. os restaurantes, a limpeza e o transporte eram terceirizados). Mas
pudemos presenciar, nestas últimas décadas . uma enorme intensi-
_ Ndeunca é _demais lembrar que a classe trabalhadora é uma condi- fica ção desse processo. o que alterou sua qualidade . fazendo aumen-
çao parttcularidade d .
inelimin • . ' um mo O de ser com claros, intnnsecos e tarem e intensificarem-se as clivagens anteriores .
1
Mas a alve1s e ementos relacionais de objetividade e subjetividade. Também a o contrárto do taylorismo e do fordismo (que, é bom
c asse trabalhad .
pelo papel fundamental ora , para Marx, é ontologicamente decisiva le mbrar, continuam vigentes em vártas partes do mundo . ainda que
que exerce no processo de criação de valores
cl ,,:n ad tl<J Quem é a classe trabaUladora hoj e? • 9 3
1,2 • o pn1~lt'!71v " ·
esclada) . no toyotismo ou nas
il,ridH Oll nl / - Dada a nova morfologia d o trabalho, com sua e norme gama d e
niitas , ·t>t t'S l 11 / s trabalhadores as sao lnterio-
clt' fonn:1 11 )ação os a . . trabalhadores/as invisíveis, vem ocorrendo uma potencialização dos
':\.in •is dt' ,1n11nt1 · · ·nar déspatas de si proprios/as.
fonnas 11t - d . ., - a se 101 - . . mecanismos geradores do valor, utilizando-se de novos e velhos me-
-/ ·~-- e ill$li.g"R os1':s · trabalho?. eles sao mstigados a
ru a d os , - ·1· . em Adeus ao - - t· . canismos de intensificação (quando não de autoexploração do traba-
. • ·t• que 11U 1ze1 sua produçao nao a mg1r as fa-
N:t :;1n 1" '" _ punir se a • . lho) . Menos do que perda de validade da teoria do valor. nossa
_ :iutorn'<'rirninar e :se . nados a ser despatas de st mesmos.
,-e , - sendo press10 d od - hipótese é que a invisibilidade do trabalho é uma expressão aparente
m•dPntdas --rnetas · . times ou células e pr uçao e , se
ot-·. - um coleuvo. em lh . .. b d que encobre a real geração de mais-valor em praticamen te todas as
t-:le:; u-ab.<llham n _ parece ao traba o . e co ra o/a" esferas do mundo laborativo em que ocorre exploração. Portanto. con-
1 iro/a nao com . .
um/ a compan ,e t rmam sua equipe. E assim. por exem-
pd os próprios membro: que
.d à.rio do toyotismo.
:S
resistências. as rebeldias. as recusas
trariamente aos que formulam a desconstrução da teoria do valor.
h á um importante elemento de a mpliação. potencialização e mesmo
pio. no 1 e h das pelos gestores como a titu d es contrá- realização do mais-valor.
sã.o completamente rec aça ..
- d mpenho da empresa . Particularmente nos serviços. com a privatização das telecomu-
nas -ao bom ese . ta fordista tirtha uma concepção na qual a nicações em escala global, a busca pela maior rentabilidade dos
~ .º s!Sle:c!ª~1
gerencia c1en ~
1
:;ra~a
e O trabalhador manual executava, o
d flovihilidade liofilizada incorporaram a ideia
ativos nessas empresas a carretou um processo intensificado de ter-
ceirização do trabalho. comportando múltiplas formas de precariza-
wyotismo e as iormas ªJ'·C,A,- l do t balh fl
· • d ixar que O saber intelectua ra o ores- ção e de intensificação dos tempos e movimentos no a to laborativo.
de que era preciso e . . d l .
. ti ·dade operária fosse tambem apropna a pe o capital. Deu-se. então, uma clara confluência entre a terceirização do traba -
cesse e a su b~e VJ •
É evidente que. desse processo que se expande e :'e
complexifica lho e sua precarização. dentro da lógica da mercadorização dos ser-
nos setores de ponta do processo produtivo (o que_ na~ Pº~: s~r ~e- viços que foram privatizados.
neralizado em hipótese alguma hoje) , resultam maqmnas mais m- Vale lembrar que o trabalho nas TICs é pautado por uma proces-
teligentes-. que por sua vez precisam de trabalh~dores mais sualidade contraditória. uma vez que articula tecnologias do sêculo
-qualificados· . mais aptos a operá-las. E, na processualidade desen- XXI com condições de trabalho herdeiras do século XX. Do mesmo
cadeada. novas máquinas. · mais inteligentes", passam a executar modo, combina estratégias de intensa emulação e envolvimento, ao
atividades outrora feitas pela atividade exclusivamente humana. modo da flexibilidade toyotizada. com técnicas gerenciais tayloristas-
desencadeando-se um processo de interação entre trabalho vivo di- -fordistas de controle sobre o trabalho prescrito.
ferenciado e trabalho morto mais informatizado. Portanto, ao contrârio das formulações desconstrutoras do tra-
Tais alterações levaram Habermas a afirmar, erroneamente, que balho (e da lei do valor como fundamento da sociedade capitalista).
a ciência transformava-se em prillcipalforça produtiva, tornando su- as novas modalidades la borativas (incluindo o chamado trabalho
pérflua a teoria do valor-trabalho5 . Ao contrário, conforme indicamos imaterial) são expressões do trabalho vivo, participes. em m aior ou
em capítulos anteriores, penso que há uma nova forma d e interação menor escala, do processo de valorização do valor. Em nossa análise ,
do trabalho vivo com o trabalho morto, que há um processo de tec- a forma imaterial do trabalho ou da produção, quando ocorre, não
nologizaçã.o da ciéncia6 que. entretanto, não pode eliminar o trabalho leva à extinção da lei do valor. mas acrescenta coágulos d e trabalho
vivo na geração do valor. Ao contrário, há evidências razoáveis de vivo na lógica da acumulação de capital em sua materialidade.
que existem, hoje. em paralelo à ampliação da s formas de trabalho, inserindo-os no tempo socia l médio de um processo de trabalho cada
novas modalidades de vigência da lei do valor. vez mais complexo. Ao contrário da chamada descompensação do
_ Em verdade, estamos presenciando uma intensificação e amplia- valor, somos obrigados a descortinar os novos mecanismos geradores
çao dos modos de extração do sobretrabalho, das formas geradoras do valor, próprios da esfera informacional daforma-mercadoria7 . A
do valor. resultado da articulação de um maquinário altamente avan- enorme expansão do proletariado na China e na Índia. especialmen-
çaddo (de)que são exemplo as TlCs que invadiram o mundo das roer- te nas últimas décadas. ancorada na incorporação d as tecnologias
ca onas , com a exig- . i . informacionais. parece. isto sim. nega r a tese da perda de relevo do
·qualtficacões" .. enc~a, eita pelos capitais, de busca r maiores
, e competencias" da força de trabalho.
7 Ver também J ean-Marie Vlncent. "Les autom a tismes sociaux et le •gén éral in -
5
Jürgen Habermas T, . ..
G lsl ván M . - . . écntea e ciencia como "ideologia", cit. tellect'". cil .. e "Flexibilité du travai! et plasticlté huma!ne". clt.: e André Tosei.
t ~,=os. O poder da ideo . - "Centralité et-non centralité du travai! ou la passlon des hommes s uperflus· . clt.
logta (Sao Paulo, Boitempo, 2004) .
-
u.i b._llho d rn 110 11 111 ndo da produção de valor, o que fragiliza ainct
maJ s l ~ ,lf'!.!"llmt·nt o-s dos d~fensores. da imaterialidade como forrn:
ck sap,:m(úo ou inadequaçao do mais-valor.
r: eS&l. portanto. a nova moifologia do trabalho e do novo prole-
tnriacio hoje. Compreender sua forma de ser. suas rebeldias e re SIS
. -
t~ncias . é vital para que possa haver uma melhor percepção d
múltiplas e polissêmicas lutas anticapitalistas de nosso tempo. M as
do mesmo modo. é vital apreender suas alienações e seus estra.u:s,
mentos. os seus distintos exercícios de subjetividade. É desse as a -
to crucial que trataremos no capítulo seguinte. pec-

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