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Jornal da Matemática – nº 9 – outubro de 2011

MATEMÁTICA E... ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Quando utilizamos frações para expressarmos quantidades de alguma coisa que


estamos trabalhamos ou produzindo já estamos, estabelecendo um significado
matemático na produção. Por exemplo, "já completei “dois terços” do programado ou
mais "um terço" de aumento da demanda e teremos problemas!
Essas expressões e a motivação ditada pela necessidade prática de obter uma
interpretação dessas "quantidades" geram " um resultado” tipicamente matemático, o
que também contém um significado de quantidade e que é compatível com a
realidade do ambiente físico ou econômico em questão.

O uso da matemática em administração, economia, sociologia, engenharias e ciências


são reconhecidas como necessário. Nem por isso os profissionais dessas áreas deixam
de se valerem da experiência e da intuição profissional para analisar seus problemas.
Na confluência de conhecimentos, onde quantificação e ordenação são noções
essenciais à análise de problemas, a matemática é recurso necessário, mas não
suficiente, uma vez que a formalização matemática é precedida e sucedida de recursos
lingüísticos e princípios profissionais para caracterização do problema em foco e para
encaminhamento de suas soluções. Este processo de articulação de conhecimentos é
chamado de "modelagem e solução de problemas". A "modelagem matemática" é
parte ou não da modelagem e solução de problemas, conforme os aspectos de
quantificação e ordenação sejam mais ou menos complexos.

Hoje essa situação ficou tão complexa que antes mesmo de tentarmos “modelar” um
problema. Damos um passo antes esse passo é chamado de estruturação de
problemas complexos.

Na área de gestão da produção a modelagem matemática exerce um papel de


importância crescente, por várias razões:
1. Abundância de informações propiciadas pela capacidade dos computadores de
adquirir, armazenar e processar dados.
2. Maior integração de processos produtivos em cada empresa e entre empresas
(gerenciamento da cadeia produtiva).
3. Conscientização sobre qualidade e produtividade, com necessidade de análises
estatísticas das relações de causa e efeito e com a construção de sistemas de apoio a
decisões estratégicas, táticas e operacionais.
4. Reestruturação de responsabilidades gerenciais para maior fluência de decisões
interfuncionais (vendas, produção, logística, suprimentos).
5. Revisão de sistemas de custos cujas distorções são evidenciadas pelas mudanças das
relações entre mão-de-obra e tecnologia. Fez algumas áreas da matemática firmar
raízes na fábrica.
6. E, principalmente pela complexidade dos processos integrados que envolvem os
sistemas produtivos.

Acredito que uma das áreas da matemática mais importante na produção seja dada
pelas técnicas de modelagem ditadas pela pesquisa operacional, que dispõe de um
conjunto de abordagens e ferramentas algébricas, em particular a programação
matemática que engloba a programação linear, a programação não linear, e a
programação inteira. A otimização combinatória inclui a programação inteira, assim
como técnicas evolutivas de busca de soluções como algoritmos genéticos,e de simples
busca. Simulação de processos em sistemas produtivos, teoria de filas, análise de
envoltória de dados, são também freqüentemente utilizados. A estatística é parte
fundamental do acervo de conhecimentos requeridos.

Ainda sobre a questão sobre como resolver, ou pelo menos buscar uma solução, das
questões que envolvem a dinâmica dos processos num complexo sistema produtivo. A
que chamamos Análise de Estruturação de Problemas, Numa simples abordagem
temos exemplos que iniciam pela otimização da utilização de recurso gasto com a
administração da saúde pública, e vão até a concessão de serviços fundamentais para
a sociedade, como transporte de massa ou o abastecimento de água e de energia
elétrica. Nesses casos, a principal questão não é o modelo a ser usado, mas sim, a
identificação dos atores relevantes e decisores que podem desviar completamente as
trajetórias desses complexos sistemas com suas intenções não - explicitas. Nesses
casos a modelagem vem depois!

Dois exemplos clássicos podem ser citados:


(I) Controlamos e planejamos muito bem a produção de automóveis a nível de
controle que chega a qualidade de um tipo de parafuso utilizado nele com
técnicas matemática muito precisa e amigável por meio da computação,
todavia ignoramos os impactos que isso causa ao trânsito das cidades ou
ao meio ambiente.
(II) Podemos igualmente determinar qual o nível preciso de desconto de
previdência social adequado para um trabalhador em qualquer parte do
mundo. Mas ignoramos completamente como otimizar essa receita para
manter e melhorar a qualidade de vida de um trabalhador já aposentado. O
déficit do INSS continua aumentando.

A modelagem matemática nas empresas trabalha tipicamente com a representação de


processos decisórios. Por exemplo: Quanto produzir de cada produto, em cada fábrica,
para atendimento mais lucrativo das demandas previstas nos próximos dias e meses,
nas vária região atendida pela empresa? Como equilibrar suprimento e demanda sem
incorrer em altos custos de estoques de matéria-prima, produtos intermediários e
produtos acabados? Como abastecer os centros de com o volume correto de
mercadorias? Para citar alguns exemplos.
Para finalizar diríamos que a sociedade moderna não poderia existir sem os métodos
matemáticos empregados hoje na produção de bens e serviços.

PDSc Nilo Koscheck

Professor de Física da Universidade Gama Filho


COPPE/UFRJ - Engenharia de Produção

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