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O Culto A Ibeji No Batuque PDF
O Culto A Ibeji No Batuque PDF
Rudinei Borba
Pesquisador Independente e
Autodidata
Março / 2013
RESUMO
PALAVRAS CHAVES: Ìbejì, Batuque, gêmeos, yorùbá, Òrìsà, Sàngó, Aganjú, àbíkú.
ABSTRACT
The purpose of our work is to study the cult of Ibeji Batuque and their survival
in the Rio Grande do Sul, drawing a parallel with the traditional Yoruba religion to
understand the origin of our worship and also its relationship with Orisa Sango African
descent in the diaspora.
B’èjì b’èjì‘re
B’èjì b’èjì‘là
B’èjì b’èjì‘wó
Ìbà ìbejì’re.
2
O Culto Ìbejì no Batuque do Rio Grande do Sul - Rudinei Borba
SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................................5
3
O Culto Ìbejì no Batuque do Rio Grande do Sul - Rudinei Borba
SUMÁRIO DE IMAGENS
Imagem 1.........................................................................................................................23
Estatueta demonstrando a relação de Sàngó como pai e protetor dos gêmeos sagrados
artist: Duga (birth date unknown)
Imagem 2.........................................................................................................................24
Sacerdotisa de Sàngó em frente ao altar de sua família, este com diversas estatuetas de
Ìbejì devido o culto de geração após geração dos gêmeos em sua família, 1950.
Foto disponível (pg. 104) em: NEIMARK, Philip John. The Way Of The Orisa, Harper,
1993.
Imagem 3.........................................................................................................................25
Um grupo de mulheres yorùbá no festival de imagens ere ìbejì
Fotografia de William Fagg
Imagem 4.........................................................................................................................26
Mãe yorùbá segurando seus gêmeos
Foto tirada por Deborah Stokes (1980)
Imagem 5.........................................................................................................................27
Mãe yorùbá com estatuetas de seus gêmeos falecidos
Foto tirada por Deborah Stokes (1980)
Imagem 6.........................................................................................................................28
Filhote do macaco Colobus, nascido 20 de maio de 2011, no Zoológico de Saint Louis,
onde sai com sua mãe, de 23 anos de idade, durante o tempo de alimentação em 21 de
junho de 2011.
Fotografado por Stephanie S. Cordle do Post-Dispatch
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O Culto Ìbejì no Batuque do Rio Grande do Sul - Rudinei Borba
INTRODUÇÃO
Nosso trabalho 1 tem o objetivo de demonstrar que o culto dos ìbejì ainda
permanece vivo dentro do nosso Batuque afro-gaúcho, onde seu ritual é conhecido
popularmente como “mesa de ìbejì”.
• Os Àbíkú
1. Dedicamos este trabalho a todos os irmãos religiosos do Batuque Afro-Sul que são ou foram
gêmeos. Em especial a meu afilhado religioso, o Sr. Olívio A. Silva que é iniciado em Sàngó Aganjú
D’ìbejì.
2. Literalmente traduzido como: Ìbí: nascimento + èjì= dois, querendo dizer “nascimento duplo”
(gêmeos).
5
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Stoll & Stoll (1980, pg. 47) informa a importância dos ìbejì na sociedade
yorùbá, relatando:
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(a tradução é nossa).
Através da fala dos autores, entendemos que o Batuque preservou a crença nos
ìbejì, estando estes relacionados à fartura, prosperidade, alegria, etc. Pensamos que o
fato do yorùbá atribuir o nascimento de gêmeos a esses aspectos positivos é devido sua
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O Culto Ìbejì no Batuque do Rio Grande do Sul - Rudinei Borba
crença na descendência, onde ter numerosos filhos faria com que tivessem grandes
alegrias, pois os mesmos poderiam ajudar seus pais nas plantações, colheitas, etc.
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(a tradução é nossa).
Através do relato do autor, percebemos que foi no reinado de Dàda Àjàká que
provavelmente teve o fim aos sacrifícios dos ìbejì, devido ao mesmo ter tido também
gêmeos como filhos.
Entendemos que anterior ao governo de Àjàká, os gêmeos eram vistos como uma
abominação da natureza, onde as pessoas acreditavam que os mesmos poderiam ter sido
concebidos por pais diferentes.
Stoll & Stoll (1980, pg. 54) também informa o mesmo que Johnson, quando
relata os sacrifícios de gêmeos naquela época remota:
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7
O Culto Ìbejì no Batuque do Rio Grande do Sul - Rudinei Borba
Entendemos que assim como Johnson, Stoll & Stoll também informam que os
sacrifícios tiveram fim durante o reinado de Àjàká, mas pensamos que esta mesma visão
dos autores seja devido à informação apresentado primeiro por Johnson, e que mais
tarde Stoll & Stoll usaram para escrever seu livro.
Ainda estudando o texto de Johnson (1960, pg. 25), notamos que sendo Aganjú o
filho e sucessor do trono de Àjàká, poderia este ter tido um irmão gêmeo? Se tivéssemos
relatos confiáveis dessa informação, entenderíamos porque o culto ìbejì dentro do
Batuque está associado ao Òrìsà Aganjú, onde este é chamado de Aganjú dìbejì4.
O relato do autor também nos traz uma forte evidência que talvez um dos
gêmeos que foi escondido, juntamente com sua mãe, no “local secreto do palácio”,
poderia ser Òrìsà Aganjú.
Corroborando esse nosso pensamento, Wolff (2011, pg. 16) informa este local
com nome do nosso Òrìsà em questão:
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O Culto Ìbejì no Batuque do Rio Grande do Sul - Rudinei Borba
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Sàngó também está intimamente ligado aos ìbejì através de sua descendência,
onde encontramos importante texto 5 relatando sua ligação com os gêmeos sagrados,
onde diz:
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Entendemos que mesmo Sàngó não ter tido filhos gêmeos durante sua vida,
ainda assim este seria o representante dos ìbejì, pois como relata o texto, seu
descendente teria ganhado essa dádiva de nascimentos duplos, sendo agraciado do òrun
pelo mesmo.
Outro texto6 nos fornece agora o nome deste descendente de Sàngó, como segue:
9
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Através da fala do atual Aláààfin de Òyó, obtivemos o nome do rei e pai dos
muitos filhos gêmeos, fazendo com que pesquisássemos outras fontes de informação.
Johnson relata que após a morte de Aganjú, seu neto Kori assume o trono logo
que ganha maior idade e Oluaso lhe sucederia assim que acabasse seu reinado. Através
da informação de Johnson, pensamos que o culto ìbejì estaria associado a toda família
ancestral de Sàngó e talvez este relato explicasse a relação destes Òrìsà com os ìbejì no
nosso culto do Batuque.
As estatuetas de ìbejì são figuras simbólicas, não sendo figuras de crianças, pois
sempre são de adultos, mas com tamanho menor. Existe uma grande variedade de
modelos de ìbejí que dependem da tribo ou família a que pertenceram os pais dos
gêmeos, identificados pelas marcas tribais e o tipo de penteado. As marcas e os
penteados demonstram certas características típicas das regiões, como de Abeokuta,
Kwara, Osogbo, Òyó e Ibadan, entre outros.
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Para explicar melhor as estatuetas dos ìbejì, elegemos um texto8 apresentado por
Buckles & Trentin no seminário sobre gêmeos yorùbá da Universidade de Iowa 9 ,
relatando precisamente o estudo das estatuetas, como segue:
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Ao ler o texto, podemos ter uma melhor noção de como são esculpidas as
estatuetas dos ìbejì dependendo da região. Pensamos que o fato de serem diferentes por
localidade é devido ao estilo da família para qual será confeccionada a estatueta do
irmão morto. O Batuque Gaúcho foi uma das poucas religiões afrodescendentes a
preservar cultuar as estatuetas dos ìbejì.
Courlander (1973, pg. 72) nos faz entender o motivo dos yorùbá confeccionarem
estatuetas, informando:
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Estas estatuetas deverão ser carregadas pela mãe do filho que morreu durante
toda sua vida. Encontramos este relato, conforme segue:
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' & (Wagner, 2005, p. 17). A
tradução é nossa.
Perani & Smith (1998, pg. 147) escrevem que “[...] após a morte de um gêmeo,
a mãe encomenda uma estatueta antes, para proporcionar um local de descanso para à
alma gêmea falecida [...]”. Os autores dizem acreditar que “[...] a alma do morto
poderá buscar vingança, trazendo infelicidades para o outro gêmeo, ou toda a família
[...]”.
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Chappel (1974, pg. 250-265) informa que o bàbáláwo “[...] é capaz de expulsar
os espíritos malignos que podem ameaçar os gêmeos recém-nascidos. [...]”.
OS ÀBÍKÚ
Verger (1983, pg. 01) explica melhor a sociedade Egbé òrun dos àbíkú,
informando:
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Entendemos que esta sociedade àbíkú serve para causar tristeza no âmbito
familiar, repetindo nascimentos e causando a morte prematura. Pensamos que estes são
diferentes dos ìbejì, mas estão intimamente ligados no culto.
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10. Aworìsà e escritor Obalufon: Osvaldo Omotobàtálá que efetuou pesquisas mais em territórios da
Rep. Pop. do Benin, explicando o culto Yoùbá Nàgó em diversos de seus livros editados pela editora
Lulu. O mesmo tem atualmente seu sacerdote localizado na Rep. Pop. do Benin.
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nestes dois grupos, eles são opostos em sua força. Por um lado os ìbejì simbolizariam a
fartura e a prosperidade, do outro lado os àbíkú seriam aqueles que causariam tragédia e
tristeza para todo o âmbito familiar.
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Dentro dos rituais do Batuque do Rio Grande do Sul, temos a mesa de ìbejì, a
qual sempre é feita com seis, doze ou vinte e quatro crianças. Estes números simbolizam
que este ritual está vinculado ao Òrìsà Aganjú, este cultuado como um caminho12 de
11. O nome "colobus" é derivado da palavra "mutilado", porque ao contrário de outros macacos, o
Colobus não tem os polegares. Sua pele contrasta fortemente com o longo manto branco, com
bigodes e barbas brancas ao redor do rosto e da cauda espessa. Para saber mais, disponível na
INTERNET, ver in: <http://www.awf.org/content/wildlife/detail/colobusmonkey>
12. Para saber mais sobre o assunto, ver: A Descendência do Òrìsà e sua Sobrevivência na Iniciação no
Batuque do RS, São Paulo, 2012 in, Internet, Revista Olorun, n. 11, Novembro de 2012,
<http://www.olorun.com.br>
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Sàngó, convertido em ìbejì, sendo conhecido na nossa diáspora como Sàngó Aganjú
D’ìbejì.
Verger (1983, pg. 158) descreve um ritual tradicional para àbíkú em conjunto
com ìbejì, realizado em Porto Novo. O relato de Verger faz com pensamos que nossa
mesa de ìbejì no Batuque ainda não teve um estudo mais aprofundado de seu
significado, mas que podemos através do relato entender melhor, como segue:
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13. Dependendo do lado religioso, a canja não é servida, onde a mesma é substituída pelo Àmàlà de
Sàngó, que para nós seria o mais correto.
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Podemos agora entender porque se colocam sempre uma mulher que esteja
grávida junto às crianças na mesa de ìbejì no nosso Batuque, pois teria o significado de
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fazer com que essa criança, no ventre da mãe, venha ao mundo com saúde e não tenha
uma morte prematura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final percebemos que o culto àbíkú, mesmo que não conhecido em sua
totalidade, está presente dentro do Batuque, sendo estes agradados e homenageados
através da mesa de ìbejì para que não retornem a sua sociedade no òrun, permanecendo
aqui no àiyé, onde acreditamos ser o melhor lugar para viverem.
Temos a esperança que um dia nosso Batuque possa ter uma melhor notoriedade,
pois quer nos parecer que o mesmo possa ser até desconhecido por autores tradicionais
yorùbá, quando estes citam apenas o Candomblé no Brasil como uma única religião
afrodescendente. Nosso papel é tentar mostrar quanto nossa religião teve uma herança
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cultural muito rica e que merece ser mais bem estudada. Quem sabe não chegou a hora
de ambas as culturas, Batuque e Candomblé, realinharem e quem sabe, criarem uma
aliança forte e sólida?
Àse!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Twin Figures of the Yoruba, Privately published, Munich, 1980.
VERGER, Pierre. “A Sociedade Egbé Òrun dos Àbíkú, as Crianças Nascem para
Morrer Várias Vezes”. In: Revista Afro-Ásia, n. 14, 1983, p. 158.
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WAGNER, Kate. Art of Africa, Saint Louis Art Museum, St. Louis, 2005. Disponível
em <http://www.slam.org/africa/African_book.pdf>
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IMAGENS
Imagem 1- Estatueta demonstrando a relação de Sàngó como pai e protetor dos gêmeos
sagrados
artist: Duga (birth date unknown)
Yoruba peoples
Nigeria
1900-1950
Accession Number: 1989.736
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Imagem 2- Sacerdotisa de Sàngó em frente ao altar de sua família, este com diversas
estatuetas de Ìbejì devido o culto de geração após geração dos gêmeos em sua família,
1950.
Foto disponível (pg. 104) em: NEIMARK, Philip John. The Way Of The Orisa, Harper,
1993.
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