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Volume 05 - Historia Da OAB - Da Redemocratiização Ao Estado Democrático de Direito (1 9 4 6 - 1 9 8 8) PDF
Volume 05 - Historia Da OAB - Da Redemocratiização Ao Estado Democrático de Direito (1 9 4 6 - 1 9 8 8) PDF
Da R e d e m o c r a t i z a ç ã o a o E s tad o D e m o c r á t ic o de Direito ( 1 9 4 6 - 1 9 8 8 )
R ubens A p p ro b a to M achado
(V \0 2 .2 0 0 1 a 3 1 .0 1 .2 0 0 4 )
R o b e rto A n to n io Busato
( d e s d e 0 2 .2 0 0 4 )
Presidentes da OAB
V E d iç ã o • 2 0 0 6
C o n s e lh o C o n s u lt iv o
Cip-brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional Dos Editores De Livros, Rj.
A presentação ______________________________________________________________ 11
4.2 O s ru m o s d a O rd em em q uestão__________________________________________232
APRESENTAÇÃO
77
História da
O rdem dos Advogados do Brasil
12 •41
Xolun-x' I ) ,l K l '(1('[T!( K I l / . K .11 , ,11 ] I s l , u l ( ) I K 1. 1: li ( > ill’ I ) l r i' i l < I
m áM 13
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
14 màM
V'olunii' 1 |),i Rcdciiii K i.ilí/.u j o ,H) I'siado I )('mo( r.itii o dc I ) i i( ‘ilo
m áM 15
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
de Mato Grosso do Sul. Tal Emenda Constitucional pelas “Diretas Já” não
obteve êxito, tendo em vista que no dia 25/04/1984 foi rejeitada pelo plenário
da Câmara dos Deputados, com o seguinte resultado: 298 deputados votaram
a favor, 65 contra, 3 abstiveram-se e 113 simplesmente não compareceram
ao plenário. Convém esclarecer que seriam necessários mais 22 votos para se
atingir o quorum de 2/3 do total. Com a rejeição da referida Emenda, a eleição
para Presidente da República de 1985 permaneceu indireta, tendo o Congresso
Nacional escolhido Tancredo Neves para próximo Presidente da República, que
nunca viria tomar posse, falecendo em 21 de abril de 1985, assumindo em seu
lugar 0 Vice-Presidente de sua Chapa lose Sarney.
Ressalte-se que o movim ento pelas “Diretas Já” mobilizou amplas
camadas da população. Já em novembro de 1983, o Partido dos Trabalhadores
iniciou a disputa Presidencial, reunindo no dia 27, cerca de 10.000 pessoas
em São Paulo e em outras cidades para pressionar o Congresso no sentido de
aprovação da Emenda do deputado Dante de Oliveira. Esse movimento cresceu
de forma espetacular. As maiores manifestações ocorreram em São Paulo> onde
em 12 de fevereiro de 1984, reuniram -se 200.000 pessoas e no Rio de Janeiro,
onde realizaram-se duas grandes manifestações, a prim eira em 21 de março,
com 300.000 pessoas, e a segunda com 1.000.000 de pessoas. O m ovim ento
se espalhou por todo País. Porto Alegre, Capital do Estado do Rio Grande do
Sul, foi às ruas em 13 de abril com 150.000 manifestantes e Vitória, Capital
do Estado do Espírito Santo, em 18 de abril, com 80.000 pessoas. A Capital do
Estado de São Paulo, um dia antes, já havia feito nova manifestação com 1,7
m ilhão de pessoas. O movim ento ficou conhecido como “Diretas Já” e teve
no deputado Ulysses Guimarães o seu mais popular defensor, reconhecido
como o “Senhor Diretas”.
A Ordem dos Advogados do Brasil teve atuação constante nesse movi
mento, quer através de notas e outras manifestações escritas, pronunciamentos e
conferências, bem como através de manifestações públicas, como, por exemplo, o
famoso comício da Praça da Candelária, onde, pela primeira vez, o Presidente da
Ordem dos Advogados à época, o ilustre advogado Mário Sérgio Duarte Garcia,
compareceu pessoalmente ao palanque onde se reuniam os líderes políticos e
da sociedade civil, usando da palavra em vibrante discurso. Também o grande
advogado Sobral Pinto empolgou os participantes do comício num a eloqüente
oração em que invocava o art. 1° §1°, da Constituição em vigor à época: “Todo
poder emana do povo e em seu nome é exercido.”
16 #àm
I ),l ls(,’(l(‘tl(.)( 1,1’ i / j ( j n ,1(1 I 'I.k Id I ) c i 1 1 ( )I 1.111( (1 ( ||' I )| I'riU )
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História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
uma bom ba de fabricação caseira em seu colo, que redundou na sua morte em
poucas horas. Esse artefato destinava-se, segundo interpretações e comentários
vários, ao Presidente do Conselho Federal, na pessoa do eminente advogado
Eduardo Seabra Fagundes, em razão da sua combatividade cotidiana em defesa
da ordem democrática e dos Direito Humanos.
Ao que se presumiu no dia do sinistro, a autoria desse crime hediondo
provinha dos setores clandestinos da repressão e da perseguição política, num a
tentativa de intimidar ou calar a voz poderosa do Presidente da OAB e de outros
líderes da advocacia que não mediam esforços na luta pela denúncia dos atos
arbitrários, manifestamente ilegais, na exigência do restabelecimento do Estado
Democrático de Direito.
Conclusão
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I ) j R<‘(l('mni t,ili/,K ,1o .H) I si.ido D c n io í i j t i , c de I )iicilo
Parte I
A Democracia na Berlinda e a Consolidação da OAB:
Entre a Denúncia e a Vigília (1946-1968)
A n d ré Vianna Dantas
Criada sob um regime de exceção, mas com o fim último de zelar pela
m anutenção da ordem democrática, como órgão de classe mas com caráter de
serviço público, impedida regimentalmente de assumir posições políticas mas
reconhecida pelo seu engajamento, a Ordem dos Advogados do Brasil carrega,
como marca indelével de nascença, o signo da contradição, no sentido mais
dialético que possa ser emprestado ao termo. Curiosamente, mas não paradoxal
mente, quanto mais se cumprem os seus propósitos fundamentais, no sentido da
m anutenção da ordem constitucional e do respeito às liberdades democráticas,
menos ela carece de despontar no cenário político como entidade guardiã do
direito. Sem a pretensão de esgotá-las, serão estas algumas das questões de fundo
perseguidas neste trabalho.
Definimos como marcos fundamentais da análise o início do processo de
redemocratização após o fim do Estado Novo (1937-1945), em 1946, e o começo
dos “anos de chum bo”, em 1968, com a instituição do Ato Institucional n<* 5 .0
foco, cambiante, ora parte da Ordem para referenciar-se na conjuntura mais
ampla, ora adota o processo inverso. Se hoje é possível reconhecer a Ordem
por seu padrão de atuação, foi em grande parte ao longo desses 22 anos que o
esqueleto institucional se estabeleceu em seus traços fundamentais.
Assim, na primeira parte do texto, veremos que desafios estavam postos
para a Ordem, já em 1946, quando se viu, ao mesmo tempo, diante da necessi
dade de estruturar-se para dentro e afirmar-se para fora, junto ao meio social,
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político e jurídico nacional. Das questões internas e externas, emerge uma outra,
que se constitui num a espécie de espinha dorsal da Ordem: onde residem as
fronteiras entre Direito e Política?
Até que ponto a defesa da dignidade da classe, de um a condição econômica
e social confortável para o advogado - que ao fim e ao cabo significa a própria
legitimação da instituição - permite eximir-se dos assuntos político-partidá-
rios, diretamente relacionados com a administração do Estado? Este é outro
ponto que abordaremos no registro ainda das questões ligadas à consolidação
da Ordem como instituição.
Caberá ainda tom ar pé de um assunto controverso e que, para a Ordem,
foi uma pedra no sapato durante pelo menos duas décadas: Brasília. “Somos
um país de improvisadores”? Veremos.
Por fim, na segunda parte do trabalho, vamos nos ater exclusivamente ao
período que vai da tomada do poder pelos militares à instituição do AI-5, acom -
panhando a trajetória tortuosa da Ordem nesse período, que vai do apoio inicial
à derrubada de João Goulart ao início da guerra de trincheiras contra o regime
militar, intensificada sob os “anos de chumbo” e que, ao fim e ao cabo, redundaria
no imenso prestígio da instituição, hoje, junto à sociedade brasileira.
20 máM
\ n lu illr > [ i\('( Ictiii u I ,i; l/.ii ,'in ,i( I i 'l,U l() i uil i( I ) (!(' I I
Capítulo I
O instável interregno democrático (1946-1964)
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História da
O rdem dos Advogados do Brasil
’ I b id e m ,p. 398-399.
* C f. A ta da sessão d a O AB , 16/4/1946.
' C f. Atos das sessões da OAB, d e 24/9 e 2 9 /10/1946.
" Cf. A tas das sessões da O A B , d e 2 3 /4 .2 8 /5 ,3 /9 ,1 0 /9 ,2 4 /9 e 19/11.
' A in d a em 1945, sob a in te n s a a ção repressiva d a d ita d u ra vargu ista, o C o n se lh o F ed eral d e te rm in o u que
to d o s os casos d e violência o c o rrid o s e m q u a lq u e r p a rte d o te rritó rio n a cio n al c o n tra a d v o g ad o s, esp e
cialm en te, fossem p r o n ta m e n te c o m u n ic ad o s. Cf. A m da sessão d a O AB , 11/9/1945.
* Cf. A ta áa sessão da O AB . 3/9/1946.
" C f A ta d a sessão da O A B , 19/11/1946.
22 •àl
V 'í) liJ )T ) <' "> | ) , i K c í J r n i o f í Mí / A i <")<> .íd D c i n i i í r.íli, d t ) f H i r r i l o
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_____________ Historia da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
□
a compreender melhor um outro padrão de atuação da Ordem, que consiste
na presença indireta em espaços políticos estratégicos através da influência de
seus integrantes ou de colaboradores próximos:
Ninguém pode viver por si epara si. O isolamento não é só uma monstruo
sidade, mas, antes de tudo, um germe de corrupção e morte. Por isso, talvez,
andem acertados os advogados que clamam por uma colaboração respeitosa
e dignificante entre eles e a magistratura. Um juiz, um magistrado, é a per
sonificação do direito e da Justiça; é o instrumento decisivo na garantia dos
interesses das pessoas físicas e jurídicas, harmonizando a vida social (...). E
0 advogado é, ao mesmo tempo, a espada e o escudo, a iniciativa e a impug-
24 máM
i Xl l\C'( k' lTH K I a l l / < U ,'li I j n I <l,1( l( ) I ' i r l l K )( m I k n ( !( ■ I ) i l ( ' i l u
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O r d e m dos Advogados d o Brasil
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\'u lu n ic ) I X ) K r d c i i i n t . r . i h / . H , u ) ,10 I ' s l . l f l o 1 ) ( ' m u ( i \ ! t i ( n (k> l l i i n ' i t o
A Ordem dos Advogados não passaria incólume por esta tensão, seja em
âmbito mais geral, no tocante ao seu posicionamento político propriamente,
ou mesmo em âmbito mais restrito, no que tange à rotina diária do exercício
do direito. Prova disso, a título de ilustração, é o telegrama de um advogado
alagoano, de nome Aristides Saldanha, recebido pelo Conselho em meados de
1948, no qual se lê:
O p . cit., p. 357-358.
Cf. A ia da sessão da O A B , 27/4/1948.
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O rd e m dos Advogados d o Brasil
Sobre o ep isó d io ver, e n tre o u tro s, C lá u d io Lacerda Paiva (o rg.), Carlos Lacerda - depoim ento. Rio d e Janeiro;
N o v a F ro n teira , 1978. p. 84, e ABREU, Alzira; B EL O C H , Israel; LAM A RÃ O , Sérgio; LATTM AN-W ELT-
M A N , F e rn a n d o (o rg .). D icionário H istórico-Biográfico Brasileiro (D H B B ) - Pôs'1930. R io d e Janeiro:
E d ito ra FGV, 2002 (c d -ro m ), (v erb ete M O R A IS , Â n g elo M en d e s de).
O p . c i t , 27/4/1948.
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\'()lu n ic ) I )ci R s ' ( I r n t D í M t i / . n c'li) , i ( ) I ) ( ( a!i< 11 ( I r I )j ( 'i|()
Ibid em .
O c o n selh eiro refere-se esp ecificam en te a d o is a rtig o s p re sen te s n o e n tã o vigen te R eg u lam e n to d a O rd e m ,
e m seu C ap ítu lo 1 ( “ D a O rd e m , seus fins e o rg a nização ” ), q u a is sejam , resp ectiv am en te: o 1® - “A O rd e m
d o s A dvogados d o Brasil, c ria d a p e lo a rtig o 17 d o D ecreto n.° 19.408, d e 18 d e n o v e m b ro d e 1930, é o
ó rg ã o d e seleção, defesa e d iscip lin a d a classe d o s ad v o g ad o s e m to d a a R ep ú b lica” e o 8° - "A d ire to ria, o
co n selh o e a assem bléia n ã o d iscu tirã o , n e m se p To nu n c iarã o so b re a s su n to im e d ia ta m e n te n ã o a tin e n te
ao s objetivos d a O rd e m ”. (Ver LOBO, E ugen io R. H a d d o c k e C O STA N E T T O , Francisco. C om entários ao
E statuto da O A B e às Regras da Profissão do Advogado. Rio d e Janeiro: E d ito ra Rio, 1978. p. 736 e 738).
“ O p . cit., 27/4/1948.
Ibidem .
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V 'o lu n ic ") I )ii K t ,ili/,u ,'i( 1 .H) I nI.ii It) [ ) (' ini )( I ,it ic 1) ( Ir I )i I ('i!()
...é certo que é de seu [do advogado] dever, nos m omentos excepcionais
de crise no direito, manifestar-se, não acudindo, apenas, a interesses
exclusivos da classe, senão, também, a reclamos da Nação, sempre que a
ordem jurídica for ofendida por excessos do poder (...).
Nessas em ergências, os interesses da classe se confundem com os
da coletividade, como brilhantemente salientou esse ilustre conselheiro
[Dario de Almeida Magalhães], nesta judiciosa observação: “Quando se
atinge, por um ato de arbítrio, a ordem jurídica ou a legalidade, o que
se está solapando ou destruindo é a própria razão de ser da profissão do
advogado e do papel do jurista e, por isso mesmo, nunca se entendeu que a
missão de um e de outro e os deveres correspondentes se confinassem num
âmbito angusto da atividade profissional cotidiana. Não é esta a tradição
da nossa profissão, nem jamais se compreendeu que de tal form a se deveria
amesquinhar 0 papel do advogado e do jurisconsulto, equiparando-os ao de
outras profissões que não têm o mesmo relevo e influência cívica, porque,
na verdade, o advogado deve interessar-se por tudo o que diz respeito
ao m eio social, no que se refere à sua organização, à sua estrutura, à
vida pública, às prerrogativas, aos direitos e aos interesses coletivos
dos cidadãos”.^’ fen/os nossos]
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Ordem dos Advogados do Brasil
propôs que o Conselho Federal fizesse seu esse voto, porque do regozijo do
povo brasileiro pelos efeitos e repercussão dessa visita do Presidente Dutra,
que projetou o Brasil, com grande prestigio, na política interamericana, de
vem também participar os juristas. Assim não havendo ao que lhe parecia,
nenhuma objeção de ordem cívica, por parte de qualquer conselheiro, esperava
fosse aprovado o seu requerimento.*^
32 màM
\ ' n l ui i i r I ) i i l \ ( ‘( l ( ' i n ( )i i , i l i / . K j ( ) ) 1 s 1, k I( ) I )( I'.il i( o ( !( ■ O i t c ' i l i
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História da
O rdem dos Advogados do Brasil
Qual 0 nauta, que fa z o ponto, a ver a posição do seu barco para prosseguir
com rumo certo, a nós, também, cumpre nessa estação evocativa, não esquecer
que 0 combate não cessou, que a estrada é para frente, que o olhar é para o
futuro...*^
Ao comemorar seus vinte anos de existência, a Ordem parece ter se dado conta
da necessidade de reorganizar-se e ganhar uma nova estrutura interna, mais
consentânea com a expansão de suas atividades e o aumento de seus quadros.
Essa passaria a ser a grande preocupação, até culminar com a promulgação
da Lei n. 4.215, em 27 de abril de 1963.''^
34 màM
V 'o iu n x ’ ’ IX i R i ’d c m o i , i \ i i i / , u . j o JO L s lado l) c m o ( r j t i i o dc D itt'ilo
O mundo social e jurídico em que V. Ex. formou o seu espírito era de ordem
e estabilidade (...) A evolução se fazia pausadamente, sem surpresas, nem
sobressaltos. (...) A terrível guerra mundial foi o primeiro tufão de insânia
que soprou sobre este mundo em aparente equilíbrio. (...) O desenvolvimento
da técnica e a expansão dos negócios criaram uma realidade nova e brutal.
(...) As lutas sociais ganharam ferocidade e extensão, suscitando problemas
agudos e inquietantes. (...) No nosso próprio país, em estágio ainda incipiente
de evolução política e social, o clima de ordem criado, e sustentado, de m a
neira talvez artificial, porém benfazeja, pela formação jurídica de suas elites
dirigentes, os abalos adquiriram extensão e profundidade desconhecidas.
Desviou-se o curso de sua evolução; submeteram-no a experiências temerárias;
fomos arrastados a agitações que destruíram o frágil arcabouço do sistema
sob 0 qual vínhamos procurando o caminho do progresso.'*'^
Vale le m b ra r q u e a G u e rra d a C o réia, q u e p o la riz o u a in d a m ais o conflito e n tre E stad os U n idos e U nião
Soviética, o c o rre u e n tre 1951 e 1933.
Cf. A ta da sessão da O A B , 22/5/1951.
" Ib id e m .
Se desd e fins de 1945, a pós a q u e d a d o Estado Novo. os casos d e violência c o n tra adv o g ad o s e n tra ra m em
c u rv a d e sc e n d en te, a p a r tir d e 1948, a d e sp e ito d a m a n u te n ç ã o d o E sta d o d e direito, h o u v e u m a u m e n to
significativo das d e n ú n cias, c e rta m e n te c o m o reflexo da tensa c o n ju n tu r a in te rn a c io n a l e d o a u m e n to
d o n ú m e ro de advogad os em atividade. Ver Aííis das Sessões da O AB, 1946-1950.
m àM 35
História da
O rdem dos Advogados do Brasil
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\ 'Illume 1 I ).i i s c ' d c n u i i I,III/.II ,1(1 a o l'^ lJ(!() D r m n i I'.ilii n d r D i U 'it o
Três meses mais tarde, o então ministro da Justiça, e também jurista, José
Francisco Bias Fortes,^’ esteve pessoalmente no Conselho Federai, onde foi
saudado e proferiu um discurso. O teor do pronunciamento revelou, por um
lado, a intenção clara do governo de não deixar sem respostas as denúncias e,
por outro, o alcance da crescente legitimidade que vinha sendo conquistada
pela Ordem. Senão, vejamos:
A Ordem dos Advogados do Brasil (...) constituí hoje um dos mais vi
gorosos esteios de um governo democrático. (...)
...corporifica os altos ideais de justiça que preocuparam tradicionalmente
os advogados e que não podem ser atingidos a não ser pela subordinação do
exercício profissional aos rigores de escrupulosa probidade. (...)
Profissão que é um múnus público, senão um sacerdócio, para cujo desem
penho a vocação é imprescindível. (...)
A independência e a altivez têm que acompanhá-lo [o advogado] como
a bússola ao nauta. E isso porque o advogado éy muitas vezes, o defensor do
fraco contra o forte, do pobre contra o rico, do oprimido contra o opressor, do
cidadão contra o Estado. (...)
Estas palavras (...) são apenas reflexões sugeridas por este contato, penhoran-
te para o ministro da Justiça de um governo que tem para com a lei um
respeito religioso. (...)
Tendes problemas a solucionar, desde o de vossa acomodação condigna até o
da reforma de vossa lei constitucional Como ministro da Justiça do governo
do excelentíssimo senhor Eurico Gaspar Dutra, eu me ponho a vossa disposição
para colaborar convosco, dentro de minhas atribuições, para a consecução
desses e de outros objetivos. Se me derdes essa oportunidade, alegrar-me-eis
0 coração, pois, lado a lado com a Ordem dos Advogados, estarei servindo ao
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_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
]
da visita, bem como algumas passagens do pronunciamento do ministro, foram
compreendidos pelos conselheiros na dimensão que tiveram, independente
mente das intenções de verdade do discurso.
Dois pontos da fala do ministro cabe destacar, no entanto, para ratificar
os “desafios da maioridade” que estavam colocados para a Ordem: a “inde
pendência e altivez” necessárias ao exercício da advocacia e a referência aos
“problemas a solucionar” que a Ordem teria, em especial, a “reforma de sua lei
constitucional”.
Se a atualização e reforma dos documentos normativos já vinham sendo
apontadas como necessidades prementes desde fins da década de 1940 - o que
culminaria, após um longo processo, com o Estatuto de 1963 a ameaça à sua
autonom ia administrativa, sobretudo financeira, ressurgia, em 1950, como
questão a ser enfrentada.”
Sintom aticam ente, na sessão solene de 21 de novem bro daquele ano,
ainda sob o clima de com em oração pelos 20 anos, o conselheiro A ntônio
Paulo Soares de Pinho, da Seccional do D istrito Federal, fez referência em
seu discurso aos “inim igos da O rdem ” referindo-se aos que a acusavam
de prom over o tolh im en to da liberdade profissional. Nas palavras do
próprio:
E ainda:
'‘Por igual sem procedência é a outra alegação principal contra a Ordem, que
seria uma organização fechada, procurando reviver as corporações de ofício
D a ta m ain d a d e m e a d o s d e 1948 as p rim e ira s investidas da C o n ta d o ria G eral d a R epública e d o T rib u n a l de
C onta s d a U n iã o p a ra q u e o C o n se lh o d a O rd e m sub m etesse à apreciação desses órgão s os seus balancetes
c ontábeis. C í.A ta s das sessões da O AB, 13/7 c 17/8/1948.
C f. A ta d a sessão d a O AB, 21 /11 /1 9 5 0 (A nexo; “D iscu rso ”, p. 9-10).
38 màM
V 'o kim c > Dti I \ ( ' c k ’i i i í K r , i t i / . u , i ( ) >i() I ‘> t < i ( l o D r m o i i J l i i o d c f^ iie ilo
Ib id e m , p. 11.
“ C f. A m da sessão íín OAB, 20/4/1950.
Sobre este a ss u n to ver, e n tre o u tro s , C aio M á rio d a Silva Pereira, c m A O A B na voz de seus presidentes,
Brasilia, OAB, 2003, p. 57-68. (Vol. 7 d a coleção H is tó ria d a O rd e m d o s A dvogados d o Brasil, c o o rd e n a d a
p o r H e r m a n n B aeta). Ver a in d a “A a u to n o m ia am e aç a d a" (boxe), In: H istória da O AB, dispon ivel em
http;//w \v w .o a b .o rg .b r/h ist_ o a b .
39
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
□
constituída: criou-lhe a lei, atendendo à velha aspiração da própria classe
que a compõe. (...)
Criada pela lei, com a missão de desempenhar a tarefa que lhe foi cometida,
e detendo o monopólio do poder específico que lhe foi conferido, a O rdem só
p o r um a o u tra lei poderá ter m odificado os seus estatutos, ou encerrada
a sua existência. (...)
O encargo que lhe foi atribuído envolve, inegavelmente, o desempenho de um
serviço público federal.^^ [grifos nossos]
40 màM
V 'o lu in c 1 I )<i l\(‘( li’iiK i( t . i l i / j i j ( ) ,1(1 [ sIckIo I H r,ili( 1> (l( ■ Hii Í 'ilo
Ibid.
Ibid.
m áM 41
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
42 màM
I )j K c ( i ( ' n i ( ) ( , r . i t i / . n <1(1 a o l - ^ - l . u i o l l r m o i i \ i l i c o c I c f l i r c i l u
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História da
O rdem dos A dvogados d o Brasil
44 màM
l)<i l\( ' ( Ic ‘ni( ) ( i ' a l i / , u I jn l-^l.ido D imiioc I'.i li i n t l r D i r e i t o
Trecho c o n tid o e m re lató rio d e atividades d o C on selho n o a n o de 1955, pelo secretário-geral A lberto Barreto
d e M eio, te c en d o c o m p a ra çõ e s c o m a situ a çã o d a advocacia a n te s d a cria ç ão d a O rd e m d o s A dvogados
d o Brasil. Cf. A ta da sessão da O A B , 3/4/1956.
C f. A ta da sessão d a O A B , 26/8/1947.
^ Em q u e pese este p o s ic io n a m e n to c o n trá rio aos interesses d a O rd e m , as re c o rre n te s c o n su ltas e acatos
das d e m a n d a s d a in s titu iç ã o p o r p a rte d o s p o d e re s c o n stitu íd o s, o q u e m ais u m a vez dava m o s tra s d o
seu p restígio alcançado, re n d e ra m u m a g ra d e c im e n to fo rm a l d o p re s id e n te H a ro ld o Valladão, e m seu
discu rso d e d e sp e d id a d a p resid ência da O rd e m , e m 1952; “Q u e ro d e sta c a r o esp írito d e c o m p re e n sã o e
d e real c o o p eraç ã o q u e re in o u n a s relações d a O rd e m e d o C o n se lh o F ederal c o m os P o deres d o Estado,
ludiciário, Executivo e, p a rtic u la rm e n te , Legislativo, q u e so lic ita ra m nosso m o d o de ver e c o la boração
e m assu n to s atin e n te s a o exercício d a profissão e aos serviços d a justiça, e a c a ta ra m nossos p o n to s de
vista”. Cf. Ara da sessão da O AB, 11/8/1952.
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_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Como apontou Venâncio Filho, ao longo de todo o ano de 1951, esta foi a
“principal atividade do Conselho”.®*’Na sessão do dia 10 de julho, os conselheiros
que compunham a comissão fizeram a entrega formal, ao Conselho, do projeto
““ Cf. A ta da sessão da O AB, 17/8/1948.
Cf. A ta da sessão áa OAB, 31/8/1948.
C f- A ta da sessão da O A B , 5/10/1948.
“ Cf. Afa da sessão da O A B , 11/8/1948.
Cf. Afa da sessão da O A B , 18/8/1950.
Cf. A ta da sessão da O AB, 19/12/1950.
O p. cit., p. 81.
46 máM
\'()lu n 'i(' ') n.i l\('(l('nio( r,iti/,u .,u ) iio I ■'liulo D i'iiiiK uilii n fic D i i r i l o
ttàl 47
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
48 máM
\'n lu iil(’ I I )ci r.ili/a ( j o ,K i H riiK x i , i t i ( (: i l r I l i m t , ,
. ..0 anteprojeto visou dotar a classe e nossa atividade profissional de uma le
gislação orgânica, sem o caráterfragmentário e circunstancial das leis vigentes,
e ao mesmo tempo em consonância com a atual configuração da advocacia.
O p . cit., p. 98.
Cf. A ta da sessão da O AB, 20/9/1955.
C f. A tas das sessões da O A B , d e 9/11, 1 6 /1 1 ,2 3 /1 1 ,6 /1 2 /1 9 5 5 e 8/5/1956.
™ Ver D H B B , op. cit. (v erb ete K U BITSC H EK , /usceiino.)
Cf. A ta da sessão da OAB, 8/5/1956.
m àB 49
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
mister que a Ordem, relegando para segundo plano suas funções de Tribunal
de Disciplina, [ressarcisse] para com os advogados 100% advogados, a velha
dívida que está para com eles.'°^
C f. A ta da sessão da O A B , 3/4/1956.
C f. A ta da sessão da O AB, 25/5 /19 54 (A nexo 3 - “ In d ic a ç ão ”, p. 2.)
Ib id e m , p. I.
Ibid., p. 2.
50 màM
\ '( ) lu n iu 1 l ) j l \ c c l c i i i ( ] ( r , i l i / . u , . i i ) a o l .s ta d o [')('niD( u (If O iirilo
™ I b id .,p .3 - 4 . '
Boris Fausto, op. cit., p. 409.
“ “ Cf. A ta d a sessão da O AB, 11/8/1934.
•àl 51
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil □
Vale ressaltar que o mesmo Seabra Fagundes, dois anos mais tarde, reagiria,
isoladamente, ao tom das críticas dirigidas à Ordem que, pelo menos em parte,
acatara em 1954:
C f. A ta da sessão da O A B , 11/8/1956.
' O R eg ulam ento vigente à época, e m seu C a p ítu lo 1 (D a O rd e m , seus fins e org a n iz a çã o ), a rtig o 7°, p a rá
grafo 1°, previa: “ E m c ada seção d a O rd e m será fo r m a d o u m f u n d o d e assistência pela q u a rta p a rte da
re n d a líq u id a a p u ra d a , a fim d e aux ilia r seus m e m b ro s necessitados, q u a n d o inválidos o u en fe rm o s”. Cf.
Eugênio H . Lobo e Francisco Costa N etto, op. cit., p. 738.
A referida lei foi re g u la m e n ta d a pe lo d e c re to n ." 11.051, ta m b é m d e 1942.
Cf. A ta da sessão da OAÕ, 25/5/1948.
C f. A ta da sessão da O A B , 1 1/8/1948.
52 màM
\o ln m i' > I )<) K’ c í ! ( ' ) i i i ) ( ,'ui , ! ( ) l ' s l , ) ( J o ! ) ( ’ i ) ' i o i t . i l i i Í) t J i ‘ t l n r i l n
53
________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
54
V n ltiin c ’) D .t R ( ‘( l ( ' i i i o ( . i \ i l i / a ( . , à ( ) ,111 K s l . u l o rálK .o d e i ‘) i r t n t o
absoluta entre uma e outra, respondendo assim, ao que parece, como aponta
Venàncio Filho, às objeções que Vivácqua teria sofrido quando do lançamento
de sua candidatura, pelo fato de, à época, presidir o Partido Republicano.'^’
Vejamos:
55
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
]
renovados estudos, encontram-se dois importantes projetos de reforma, um do
Regulamento da Ordem e outro do Regimento Interno do Conselho FederaV^^
56 màM
\ ' ( ) l u i 1 l c ■) I X l l \ ( ‘( l ( ’i l l i i ( r , I I I / , I I ,'i() cH) [ s K u l c ) O i ' i i K )( I , i t i ( ( I l i e l l i i r
■
Se ao longo de boa parte do segundo governo Vargas, as medidas contra o
agravamento da crise econômica, no sentido da defesa da dignidade da classe,
foram um dos temas de conjuntura mais candentes no âmbito do Conselho
Federal da Ordem, a crescente tensão dos acontecimentos políticos do ano de
1954 trouxe de volta o eixo das discussões para o terreno do respeito às liber
dades civis. Tentando desempenhar, mais um a vez, o papel de árbitro perante
os conflitos entre as diversas forças políticas, Vargas via-se forçado a “m anobrar
em um m ar de correntes contraditórias”.'^'^
Para além das medidas impopulares de contenção da inflação, provocada,
entre outros fatores, pela conseqüência da forte alta dos preços internacionais
do café, em 1949, pelo crescente endividamento externo com vistas ao financia
mento das importações e pelos pesados investimentos na expansão industrial'^'
e a conseqüente elevação dos preços finais dos produtos,'^^ a ferrenha oposição
da União Democrática Nacional (UDN) ao governo - carreando setores im
portantes da classe média urbana as divisões no Exército e o fracasso parcial
da política trabalhista de cooptação das lideranças sindicais, contribuíram para
que se estabelecesse um a atmosfera de tensão, própria dos m omentos em que
se coloca em suspenso a legitimidade da ordem institucional.
A nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho, ainda em
junho de 1953, como forma de tentar conter a influência comunista sobre os
sindicatos, ao contrário do aliviamento das tensões esperado pelo governo,
significou farta munição para a oposição, que passou a denunciar um a suposta
tentativa de se instaurar no país uma “república sindicalista”, à m oda do peronis
mo argentino.'” Com a sua base de apoio político severamente comprometida,
Getúlio “se equilibrava no poder”.'^-*
Sob este vendaval, em abril de 1954, estudantes paraenses foram agredidos
por tropas do Exército, a mando do general Veríssimo, comandante da 8®Região
Militar, enquanto realizavam uma manifestação pública. Tal incidente indignou
m á» 57
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
a Seccional do estado, que encam inhou o caso ao Conselho Federal para que
fossem tomadas as providências cabíveis. A 4 de maio, o conselheiro Oswaldo
de Souza Valle, representante da seccional do Pará, proferiu um discurso no qual
denunciava o que entendia como um clima de ameaça ao Estado de direito:
58 màM
\'()iu n u ‘ > I ) , I R c ’d c m o i l a l i z o L . K ) a o l . s U u l o D c' i i k h i . i t i e o d c D i i e i t o
m àã 59
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
60 Aàl
\ ' n l u n i c ■> I ) . I R(' íI(. 'm<K l a l í / a i . ã o , u i R l . i d u n c n i o c r á t n o « I r D i i c i l t )
como ministro, tal como havia ocorrido com Raul Fernandes em situação idên
tica, em 1946. Em seu lugar, assumiu o cargo, interinamente, o então presidente
do Conselho Seccional do Distrito Federal, Arthur Possolo, como determinava
o Regulamento.''”
Em meio à tensa conjuntura, o problema da sucessão presidencial roubou
a cena política desde fins de 1954. Com o lançamento, pelo Partido Social
Democrático (PSD), da candidatura do então governador de Minas Gerais,
Juscelino Kubitschek, a UDN de Carlos Lacerda, além de significativos setores
militares, passou a defender a necessidade de uma candidatura única, de “união
nacional”, posto que consideravam a democracia ameaçada pela candidatura
pessedista, já que Juscelino era identificado com as forças getulistas apeadas
do poder em agosto daquele ano. Em janeiro de 1955, foi entregue ao pre
sidente Café Filho um a nota assinada pelos três m inistros militares onde se
reforçava o coro udenista. Fortemente pressionado. Café Filho decidiu divulgar
o docum ento em cadeia nacional de rádio e televisão - o que não inibiu a
homologação da candidatura de Kubitschek, no mês seguinte a despeito da
frontal discordância do seu m inistro da Justiça. Seabra Fagundes, em função
do episódio, demitiu-se do cargo em fevereiro, reassumindo em seguida a
presidência da Ordem.''**
Eleito Juscelino no pleito de outubro de 1955, com mais de 3 milhões
de votos, os udenistas, liderados por Lacerda, passaram, de imediato, não só
a questionar a legitimidade das eleições, bem como a defender, abertamente,
uma solução militar golpista para o caso. O discurso proferido pelo coronel
Jurandir Mamede, em nome do Clube Militar, no dia 1^ de novembro, por
ocasião do sepultamento do general Canrobert Pereira da Costa, incitando os
chefes militares a impedir a posse do candidato eleito, desencadeou uma grave
crise política. Decidido a punir seu subordinado pela manifestação política
considerada inapropriada, o general Henrique Teixeira Lott, então ministro
da Guerra, não encontrou apoio para tal junto ao presidente Café Filho, que
adoeceu repentinamente no dia 3, tendo sido substituído na presidência pelo
presidente da Câmara, Carlos Luz - simpatizante das posições udenistas, ainda
que m embro do PSD. Desprestigiado, Lott demitiu-se do ministério no dia
10, sendo substituído imediatamente pelo general Álvaro Fiúza de Castro, que
havia aderido ao movimento golpista. Mas ainda na madrugada do dia 11, Lott
•àl 67
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
62
V o l u m e > 1),1 [ \ c d ( ‘ tii()c , 111 I ' s l . u l o l) ( 'in ( i( r.ilK o r ic l')ii'('ito
m á# 63
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Por que me escolhestes? Sou dos mais novos, no sentido dos que convivem
convosco há menos tempo. Quando indago a m im mesmo, a que devo tão
imerecida homenagem, tão elevado prêmio, só uma razão me acode, além da
fidalguia e munificência do vosso coração: elegeste-me porque sou advogado,
tão somente advogado, com a paixão e o entusiasmo da atividade e dos pro
blemas profissionais.'^’’
Pouco mais de um ano após sua posse, por ocasião da abertura dos
trabalhos do Conselho em 1958, o secretário-geral, Alberto Barreto de Melo
- habitualmente pouco dado a manifestações que não dissessem respeito estri
tamente à Ordem apresentando relatório acerca das ações desenvolvidas pelo
Conselho no ano anterior, ratificou o ponto, reescrevendo, à luz do presente, a
história pregressa da Ordem:
C f. A ta d a sessão da O A B , 11/8/1956.
Cf. A ta d a sessão da O A B , 1/4/1958.
64 màM
O c i R c ( I ( ’ [i h h M t i / , u Tk ) . h ) [ ' s l a d o í l r i n t i i t j l l i i > d e l l i i n l o
#àm 65
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
66 màM
V'okn iiL' 1 n , i R c ( k ‘ii i o ( r j l i / i K , ã ( ) JO h s ic u lu D c i n o i i j l i i n dc' D i r u i t o
67
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
E ainda:
68 •àl
\'(iluinr > Dll l\<'(l(’iiio( j o j o 1-s |,k I() i X ' D K x uilu í) (k ‘ l^íirito
a “recom endação” encam inhada e acatada prontam ente pela O rdem - foi
ninguém m enos que o renom ado jurista e político, San Tiago Dantas, ex-
assessor pessoal de Vargas em seu segundo governo e im portante quadro
do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) - pelo qual se elegeria, inclusive,
deputado federal, ainda naquele ano de 1958.'^" A despeito, portanto, dos
tolhim entos à partidarização dos debates, nunca estiveram de todo interdi
tados - e as Conferências ajudam a confirm ar esta tese - canais alternativos
através dos quais atores e manifestações, inclusive de cunho mais partida-
rizado, pudessem se colocar.
Assim, no mesmo ano de 1958, Nehemias deixaria a presidência da Ordem
levando consigo os créditos pela idealização das Conferências que, sobretudo
dos anos 1960 em diante, “representariam um dos principais instrumentos que
viabilizariam a participação da Ordem no processo de democratização nacio-
nal”,'*^' politizando crescentemente a sua atuação e colocando a instituição num
plano que se encontra m uito além meramente de suas funções regimentais de
órgão de classe, se comparada a outros do mesmo gênero.
Realizadas as eleições para o biênio 58-60, Alcino de Paula Salazar'^^ foi
eleito presidente e Alberto Barreto de Melo reelegeu-se secretário-geral,'’^
Os dois, na direção e sistematização dos trabalhos» teriam como principal
problem a a equacionar nos anos finais da conturbada década, o complicado
processo de transferência da capital federal para Brasília, com todos os seus
desdobram entos de ordem política, técnica e estrutural. Avizinhava-se assim
mais um “desafio da m aioridade” a colocar novamente à prova a capacidade
da instituição de absorver e reagir aos impactos externos m antendo, em pa
ralelo, a sua integridade.
Os anos JK (1956-1961), se comparados ao segundo governo Vargas,
podem ser considerados de razoável estabilidade política e franco otimismo,
manifestado por amplos setores da população, especialmente a classe média
urbana. O êxito do Programa de Metas, de matriz nacional-desenvolvimentista,
69
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
...a advocacia, como toda profissão chamada liberal, tem os seus problemas
específicos; mas, além destes, sofre o condicionamento dos problemas gerais
“D e 1957 a 1961, o PIB cresceu a u m a taxa a n u a l de 7% , c o rre s p o n d e n d o a u m a taxa per capita d e quase
4 % . Se c o n sid e ra rm o s to d a a d éca d a de 1950, o c re sc im e n to d o PIB brasileiro p e r cap ZM foi a p ro x im a
d a m e n te trcs vezes m a io r d o q u e o d o resto d a A m é ric a Latina”. Boris Fausto, op. cit., p. 427. Sobre o
n a cion al-d esen vo lv im entisto, c o n su lta r as p á g in a s 4 26 -430 d a o b ra citada e ta m b é m SING ER, Paul.
“ Inte rp retaç ã o do Brasil: u m a exp eriên cia h istó rica d e desenvolvim ento", In: História C eralda Civilização
Brasileira. Rio d e laneiro: B e rtra n d Brasil, 1995, 3® ed. (t. 3, v. 4). p. 225-230.
Boris Fausto, op. cit., p. 422.
Id e m , 429-430. Ver ain d a , so b re a co n stru ç ã o de Brasília, A H istória de Brasília - Parte I (p á gina d a Web).
D isponível e m h ttp ;//w v \'w ,info bra silia .c o m .br/b sb _h ip.h tm # H istó ria. C o n su lta d o e m nov/2005.
O p. cit., p. 422.
70 màM
V'oki[iU' I 1 )ci R i ' d f i i i i n ) , H ) l .st.ulc) I II r . i l i i < i ( I f l u c i l o
•àl 77
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Quase um ano mais tarde, diante do pouco ou nenhum avanço dos debates
em torno da questão, o mesmo conselheiro apresentou indicação similar:
72 •àl
\ ' i l l u m e ’> D e l l \ c ( k ' [ l K )( I , i l i / , i ( ,11) ,11) 1s l . i í In [ K I , it i( I I I I r I ) i i ' c i l n
interna da Ordem, era dela também que se ocupava a arenga, elucidando parte
dos motivos sobre os quais se calcavam a resistência do Conselho Federal à
mudança de domicílio da capital federal.-*^^ Assim manifestou a sua declaração
de voto o citado conselheiro:
(...) Tribunais existem, como o Federal de Recursos, que poderão adiar sua
transferência, ou até mesmo evitá-la, bastando que se organize, dentro da
faculdade constitucional, outro ou outros, conforme a necessidade o aconselhe.
O Supremo Tribunal Federal, cúpula do Poder Judiciário, entretanto, não po
derá aqui permanecer, assistindo à partida dos outros Poderes. Os argumentos
que justificariam a procrastinação seriam: a) inamovibilidade dos ministros
daquela Corte; b) ameaça de aposentadoria em massa com as conseqüências
apontadas no parecer Salazar. Quanto ao primeiro, a Constituição Federal
é taxativa: determina que na Capital Federal esteja localizada a sede do
Supremo Tribunal Federal, art. 98, e no art. 4° e seus parágrafos do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias dispõe sobre a mudança, deferida a
data à lei ordinária que já afixou; a segunda justificativa merece repelida, e
com veemência, data vênia. Significaria uma ameaça que não se ajustaria às
excelsas qualidades exigidas pela Constituição para a investidura e, por isso
mesmo, não autoriza acolhimento. As respeitáveis razões de ordem pessoal
não podem justificar o desrespeito à lei, ou a exceção. Se Brasília não ofe
recer, no tempo previsto, acomodação compatível, o problema é do legislativo
que, frente ao fato comprovado, deverá tomaras providências que o tirocínio e
patriotismo dos seus membros indicar. Salvo imprevisto, portanto, o Supremo
Tribunal Federal deverá instalar-se em Brasília à data da lei (...). Só pela
educação poderemos aspirar modificações para melhor em muitos setores da
vida pública. O trabalho educativo exige, porém, afora o decurso do tempo,
os bons exemplos que devem vir de cima. Ora, convenhamos em que seria
um mau, um péssimo exemplo, se o mais alto Tribunal de Justiça resistisse,
sem motivo plausível, ao cumprimento da lei ou reivindicasse, atendendo
a interesses pessoais, embora respeitáveis, uma posição excepcional (...). O
interesse dos advogados residentes no futuro Estado da Guanabara (...)
deve harmonizar-se com o interesse dos outros advogados brasileiros,
Sobre o a ss u n to ver. e n tre o u tro s , H e r m a n n Assis Baeta, e m A O A fí n a voz de seus presidentes, Brasília,
OAB, 2003, p. 180-184. (Vol. 7 d a coleção H istó ria d a O r d e m do s A dvogados d o Brasil, c o o rd e n a d a p o r
H e r m a n n Baeta.)
•ál 73
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
74 máM
V o l u n u ' •> ID .) R e d c i i i o t r . i t i / j i <ui ,10 h s liu lo D u n i o t r j t i u ) ( k ' D i t c i l u
Voto por que este Conselho atenda à indicação do eminente Senhor Presi
dente Alcino Salazar, mas apenas para o efeito de autorizá-lo a continuar
tomando empenhos junto aos Poderes Públicos no sentido de precatar os
altos interesses da Justiça no que diz, sobretudo, com a missão dos advogados
no novo Distrito Federal (Brasília), impossibilitados que ficam não somente
eles advogados, m a s , também, este Conselho, bem como 0 da futura Seção
de Brasília, de se instalarem na nova Capital Federal, quando se afirma que
inexistem condições de habitabilidade, inclusive, para os altos Órgãos Judi
ciários que já se pronunciaram sobre a matéria.'^^'^ [grifo nosso]
•àl 75
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
dem (...). Esta atitude (...) vem, como conseqüência irreprimível, dos termos
em que ficou posta a questão e do desfecho que teve ela (...). Da minha parte,
manifestei a Arme convicção de que será profundamente prejudicial ao
serviço da Justiça, e aos altos e respeitáveis interesses que dela dependem,
a transferência do Supremo Tribunal Federal e dos demais altos Tribunais
do país agora (...). Invoquei manifestações do Tribunal Superior do Trabalho,
do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior Eleitoral e de eminentes
ministros do próprio Supremo Tribunal no sentido da inoportunidade daquela
transferência (...). Entendeu, porém, o Conselho que esse problema (...)
não o deveria levar a apelar para o mais alto Tribunal no sentido de um
pronunciamento formal que dirimisse dúvidas e desfizesse perplexidades
(...) Afigura-se-me inútil mesmo o contato, nos termos indicados pelo substi
tutivo aprovado, com o próprio Supremo Tribunal Federal visando à solução,
que 0 Conselho já aprovou, da permanência provisória dos tribunais superiores
nesta cidade. Creio - e digo-o respeitosamente e com pesar - que o colendo
Supremo Tribunal tem sido omisso e irresoluto diante do grave e delicado
problema, mostrando-se desatento aos legítimos interesses e aos respei
táveis direitos que a malsinada mudança inapelavelmente significará. Por
isto mesmo pareceu-me que ao Conselho cumpria intervir objetivando a
solução que seria a decorrente já das declarações veementes dos ministros
Gallotti e Ribeiro da Costa (...) O argumento, por demais simplista, de que
não há sobre que deliberar porque se trata apenas de lei a ser cumprida não
resiste à óbvia consideração de que muitas vezes, como no caso ocorre, as leis
pressupõem necessariamente condições, instrumentos ou meios materiais sem os
quais não pode operar^''^ (...) Como quer que seja, o Conselho, apesar de se
ter pronunciado já contra a mudança imediata dos Tribunais, ditou outro
rumo que não posso seguir sem incoerência e constrangimento.^"
A pen as a títu lo d e re a firm ar o c aráter c o n tro v e rso d a qu e stã o , vale n o ta r q u e o m e s m o AJcino Salazar,
m eses an te s da ap re se n ta ç ão d e sua re n ú n c ia , n ã o p arecia m u ito afeito à relativizações - q u a isq u e r q u e
fossem - q u a n to a o c u m p r im e n to d a d e te rm in a ç ã o legal d e tra n sfe rê n cia d a capital. S o bre as palavras
q u e n a o casião p ro fe riu , n o s c o n ta a ata: “O Sr. P resid e n te (...) de cla ro u a in d a q u e a m u d a n ç a d a Capital,
q u a n to a o seu m é rito , é a ssu n to ultrapa ssa d o: há lei d e te r m in a n d o a tran sferência. C u m p r e a o C o n se lh o
e x a m in a r a re fo rm a legislativa de c o rre n te d o fato, q u e é a m u d a n ç a d a C apital d o País”. C f A ta d a sessão
da O A B , 10/4/J959.
C f. A ta da sessão da O A B , 1/12/1959.
76 màM
\'()kitiic 1 n ,i R f'(Icinoí ,'n I , i( I I s | , k I( ) l ) ( ’ i t i ( ) i i , í ti c ( I ( k ‘ I)ÍK 'il()
Nosso voto é, pois, no sentido de que o Conselho Federal da OAB deve trans-
ferir-se para o novo Distrito Federal, tão logo a futura capital do Pais ofereça
condições para a mudança, e os poderes competentes, pelo exato cumprimento
da lei, embora tardiamente, possibilitem o pleno exercício das altas funções
do advogado, inseparáveis da distribuição da justiça, base e fundamento da
ordem jurídica. Deve o Conselho Federal, por intermédio de seu Presidente, a
quem é renovada a confiança da classe, perseverar nas suas providências junto
aos poderes competentes, objetivando a mudança no menor prazo possível.
Que cada um assuma a responsabilidade das suas ações e omissões.-'^
[grifo nosso]
Ao fim e ao cabo, entre outros, dos dois principais tribunais federais, o STF
e o Tribunal Federal de Recursos, decidiram por suas transferências dentro do
™ Cf. A ta da sessão da O A B , 15/12/1959.
Cf. A m da sessão da O A B . 8/4/1960.
C f A ta da sessão da O A B , 12/4/1960.
m àM 77
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
78 màM
\'()lutiu‘ ) D ll I',iti/ii(.õ() .K l I sl.ulo [')('[ll(K r.ílii ( I ( I r D iiuilo
expender esforços para obter a rápida tramitação legislativa, nas duas Casas
do Congresso, para o projeto de lei em referência, a fim de que em 11 de
agosto próximo possa ser sancionada a lei disciplinadora do exercício da
advocacia.-^''
•àl 79
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
tanto, primeiro porque as atas do Conselho Federal não oferecem subsídios para
tal afirmação e, segundo, porque as tentativas de se promover a atualização do
projeto ao longo de um período relativamente largo partiram, também, mesmo
que em m enor escala, de dentro da própria Ordem.
Mas de uma maneira ou de outra, os intermináveis debates em torno
de questões consideradas nevrálgicas, a busca da perfeição das filigranas e os
descontentamentos quanto às alterações sofridas pelo projeto original só vêm
reforçar o fato de que
A lei consagrava não apenas a aspiração de uma classe, mas fundam en
talmente uma imposição social em que a tônica era a necessidade de re
gulamentar-se harmonicamente a advocacia, para que esta pudesse, como
profissão, ser exercida com a altivez, independência e a autonomia que são
0 seu apanágio.^^^
60 máã
V 'o lu n ic > I ) , i l \ ( ’( I c i i K H I'.il i / i i ( à o ,i () I s | , i i | ( ) I ) ( ‘n i ( )( i \ i ! K () ( ! ( ’ D i r e i t o
81
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
j
82 máM
\ '( ) lu n H ' ) D a [s i'd c u K K l o t i/ . K ÒO ,1(1 I X . k I o D c i n o c i\ilK o i lc llirrilo
Ibid.
Ibid.
83
_____________ História da
|~ O rd e m dos Advogados d o Brasil
Este Conselho vai principiar as suas funções, tendo já à vista a Lei que vai
dispor sobre o novo ESTATUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL, cujos preceitos, em sua quase totalidade, são os m esmos que
nós sugerimos ao Congresso Nacional, após longos estudos e prolongados
debates, em que cada qual trouxe a sua contribuição (...)à nossa Organização,
propugnando-lhe melhor estrutura, mais amplos objetivos, maior vigilância
quanto ao exercício da projjssão, melhor tratamento para a nobre classe dos
advogados e maior atenção para a nossa Ordem Jurídica, que cumpre de
fender, para que subsista. A redação final do Projeto de Lei (...) nos mostra
como vão ser trabalhosas as sessões deste Conselho, naporfía de segura
interpretação da nossa Lei Maior para que a sua aplicação colime os fins
que tivemos em vista, ao pugnar pela reformulação dos preceitos até agora
vigentes (...) A começarpela nossa própria organização administrativa, eis que
teremos que preencher os novos cargos de Vice-Presidente, de Sub-Secretário
e de Tesoureiro, criados pelo novo Estatuto. Mas o que, sem dúvida alguma,
vai dar maior relevo às funções deste Conselho, nesta hora in tranqüila,
a exigir definições, é a sua competência para*'defender a ordem jurídica
e a Constituição da República, pugnar pela boa aplicação das leis e pela
rápida administração da justiça e contribuir para o aperfeiçoamento das
instituições jurídicas” (...) Força desses oportunos e salutares preceitos
do nosso Estatuto, as nossas sessões não se vão esgotar, apenas, no exame
84
I"),! )C l\ll i/,l(, • .in I s|,ul( ) I )cni(K r,l! II ( ) í l r 1)il'cíl( ]
dos processo e dos recursos que tem constituído, até agora, o cerne de
nossas atividades e a nossa rotina. Vamos ter um campo de ação muito
mais amplo. E, via de conseqüência, responsabilidades m uito maiores
perante a Classe [grifos nossos].
Como esperado, ainda no mês de abril, sob o núm ero 4.215, a lei que
punha em vigência o novo Estatuto da OAB foi assinada pelo então presidente
da República, João Goulart. Tempos difíceis se avizinhavam. Posta mais um
vez diante do desafio de não se abster das questões do seu tem po sem herdar
o prejuízo da obsolescência de ideais e propósitos, a Ordem, como entidade
representativa de uma classe que é, por definição, produto da contradição - na
acepção dialética do termo - , se veria cada vez mais presente no cotidiano da
sociedade civil organizada, em parte por se propor mesmo a isto, em parte pela
cobrança social que o reconhecimento crescente de sua importância im punha
como exigência quase natural.
•àl 85
_____________ H istória da
Ordem dos Advogados do Brasil
Capítulo 2
O Golpe e a quebra
da ordem constitucional (1964-1968)
86
V olum e 1 I),I R(,‘(l(’i n o t r.itiz.K j o a o h ^ ta rl o P i ' m o t r,iti( o d r Dirc'ilo
87
História da
O rdem dos Advogados do Brasil
a . A ta da sessão da O A B , 29/8/1961.
™ Ver so b re o assu nto : T O L E D O , C aio N a v arro de. O governo G o u la n e o golpe de 64. São Paulo: Brasiliense,
1994. p. 7-21 (C oleção Tudo é História, vol. 48 - 14* edição).
C í.A ta da sessão da O A B , 5/9/1961.
C aio N a v arro d e Toledo, op. cit., p. 7.
88 •àM
\'(il(,inic I kcrlciiHH i.ili/.'i ,ii> ,i() 1 i.ilii n fic I )iicitn
Goulart era, tal como seus críticos de direita, um fiel defensor do capitalis
mo. No entanto, asseverava ele, sua diferença em relação a estes residia na
sua aspiração a um capitalismo mais ‘'humanizado” e “patriótico”, ou seja,
Jango dizia opor-se àquilo que hoje se convencionou chamar de ‘‘capitalismo
selvagem”.'*^
•ál 89
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
teceu considerações sobre a subversão dos costumes políticos, com grave risco
de quebra da ordem jurídica e das garantias constitucionais, protestando
formalizar indicação que contenha um protesto do Conselho Federal contra
a tentativa de se colocar o país em caos político^^'’
Passada boa parte do prim eiro ano de mandato, sob a intenção clara
de uma coalizão de forças para governar^"***, fazia-se notória, já a partir de
maio do ano seguinte à posse, a m udança de rum os cum prida pelo governo
90 màM
11.1 l \ ( ' c I o n i ( > c r , i l Í 7 > K , ã ( ) <1(1 I s i , I t I o D c n i o c r á i i i o d c D i r t ' i l d
Ibidem .
A in d a e m n o v e m b ro d e 1961, o Brasil restabeleceu relações d ip lo m á tic a s c o m a U nião das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (U R SS), ro m p id a s , c o m o v im o s, e m 1947, d u r a n te o g o v e rn o D u tra . E a in d a , à
m e sm a ép o ca , re c h aç o u as sanções e co n ô m ica s im p o sta s à C u b a, p o r p ro p o s ta dos E stados U n idos da
A m érica. Ver D H B B , op. cit,, idem .
Por suas ligações c o m setores p olítico s da esqu e rd a , o C o ngresso N acional rejeitou o n o m e d e San Tiago
D a n tas, in d ic a d o p o r G o u la rt c o m o p rim e ir a o p ç ã o p a ra a sucessão d o g ab in e te T an c re d o Neves. Ver
. D H B B , op. cit., idem,
Ibidem .
Pelo a rtig o 141 d a C o n stitu iç ã o d e \94ft, to d a e q u a lq u e r te rra que, p o r interesse público, precisasse ser
d e sa p ro p riad a , ao seu p ro p r ie tá r io deveria ser paga, e m d in h e iro , u m a in d e n iz aç ã o “ju sta e antecipada".
As forças d e esqu e rd a , capitan e a d a s p o r G o u la rt, reivin dicavam a m u d a n ç a dos te rm o s d o artigo, através
d e e m e n d a c o n stitu cio n al, d e fo rm a a p e rm itir o p a g a m e n to das ind en iz aç õ e s c o m títu lo s da dívida
pú b lic a . C o m o in tu ito d e p ro m o v e r-se u m e stu d o c u id a d o so so b re o assu n to , m as ta m b é m de criar
u m falo politico e m to rn o d o tem a, foi in s titu íd o , p o r ato govcrnam etU aU e m a b ril d e 1962, o C on se fh o
N acional d e R eform a Agrária, Ver D H B B , op. cit., idem .
•41 97
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
]
país.^^** Na sessão seguinte, o relator nom eado para a matéria, Themístocles
Brandão Cavalcanti, ofereceu o seguinte parecer sobre a questão, sacramentando
a tomada de posição da Ordem diante da difícil conjuntura:
Parece-me que a Ordem não deve ficar indiferente aos fetos narrados na
indicação, dentro de limites ponderados mas bem definidos. Não podemos
ficar indiferentes a essa deterioração do processo democrático e constitucional,
afetando uma falsa discrição ou assumindo uma pretensiosa posição de
eqüidistânda, em um problema que afeta a classeporque interessa às instituições
que lhe servem de alicerce efundamento. Estou de acordo com a indicação, senão
em todos os seus termos, pelo menos em sua finalidade, para que a Ordem afirme
as suas apreensões diante da profundidade da propaganda e da preparação para
a subversão do regime, como também contra o processo de deterioração da ordem
legal que poderá conduzir às mesmas conseqüências.-^^ Igrijbs nossos]
92 màã
I ) j R ( ‘( l c ’ i t i ( ) ( r .iti/.K ,' io iH ) f-stii(l() D c i i k m t . i l i i o ( k ' I l i t c i l o
Dois dias depois, em seu discurso de despedida. Prado Kelly propôs uma
análise do momento político vivido pelo país, referenciado na conjuntura ex
terna, reforçando a posição antiextremista aparentemente inflexível da Ordem,
mas fazendo coro com o canto geral anticomunista, embora já fossem notórias
também, há algum tempo, as articulações golpistas por parte de consideráveis
segmentos das forças contrárias ao governo:
93
_____________ H istória da
O rd e m dos Advogados do Brasil
Não nasci com a vocação de Cassandra, mas só os cegos não vêm que os ho
rizontes estão carregados de maus presságios” (...) Não nos arreceiemos de
contrariar a própria opinião pública, se verificarmos que ela está enve
nenada pela paixão e pela ira (...) Não sopro hipérboles a fim de dilatar
prerrogativas da nossa classe. Reconheço que os nossos horizontes não
estão limitados à singela defesa de imediatos interesses profissionais,
na modesta área das nossas necessidades, por assim dizer, domésticas.
Creio na maior amplitude na nossa ação^^^ [grifos nossos]
94 má#
V o k in ic > l')<i I'Ji.'ilt’i n o i i . U i / . K j « i l i o 1-^1,1(1(1 l ) ( ‘ n i o ( i'.i I'k I I ( ! ( ’ n i r c i t o
•àB 95
____________História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
96
V 'b k im c ) IX i l\ ( '( i( 'iii( K I '. H i/ a t ,)ii J O I D í m i k k i á ) K o ( I f ’ I )ii'('it(i
97
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
98 •àl
V o k i i i K ' " ['),! R c h Íc i i i o i i J l i / J L j n . 11) |-v|,u|() H c 'tn o c i.ilit o d l' D i r e i t o
™ C f A ta da sessão da O A B , 15/10/1964.
•àl 99
História da
O rdem dos Advogados do Brasil
700 #à#
\''íilu n i(' ) I ).t 1, r , i t i / , u , i o , i ( ) 1 - ^t cul o [ ) ( ' n i n i t , í l i ( ( i (l i > l ) i ! ' ( ' i i o
^^^'a.AtadasessãodaOAB,imim5.
P o u co s m eses a p ó s to m a r posse n o c o m a n d o d o C o n se lh o Federal d a O rd e m , T h e m ísto c le s M a rco n d e s
Ferreira viria a falecer. E m seu lugar, a p a r tir d e ju n h o d aq uele ano, A lb erto B arreto d e M elo a ss u m iu a
p residência d a O r d e m d o s A dvogados, te n d o sido eleito p a ra a vice-pre sid ên c ia o con se lh e iro Luiz Lyra.
Cf. A ta s das sessões da O AB, 15 e 29/6/1965.
C ria d o pela lei 4.319, d e 16 d e m a rç o d e 1964, o C D D P H só foi re g u la m e n ta d o n o en ta n to , e m n o v e m b ro
d e 1968. E seg u n d o o e x -p re sid en te d a O rd e m , José C avalcanti Neves, seu fu n c io n a m e n to efetivo só se
d e u a p a r tir d o início d a dé ca d a d e 1970. O p. cit., p. 46.
Cf. A tas das sessões da O A B , 3 0 /1 1 ,1 3 e 17/12/1965.
•àl 101
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
de 1966 Castelo Branco baixou o AI-3, que tornava indiretas, também, as eleições
para governadores dos Estados, a cargo desde então das assembléias estaduais.
Partindo de vez para a ofensiva, Sobral Pinto rebateu com veemência um
discurso proferido por Castelo, no Maranhão, no mês de maio, onde este afir
mava que no Brasil não havia presos políticos, nem muito menos uma ditadura.
Embora extensa a citação, própria da eloqüência do célebre jurista, mais uma
vez, compensa-nos pelo valor histórico e documental. Diz-nos Sobral:
102 màM
V o l u m e ’> I),I R ( ’r l í ' m o ( I \ ili/ a ( cio ,1(1 I's t.u lo [■)('in o ( r j l i i n ilo D u u i l o
(...) Pois bem (...), fechando os olhos a esta realidade que nos humilha e
desprestigia (...), acaba de pronunciar um discurso em que nega todos estes
fatoSy chegando ao extremo de afirmar que não existe nenhum preso político
nas prisões do País (...). Revoltado contra este atentado à verdade, dirigi ao
Presidente Castelo Branco o seguinte telegrama: ‘(...) Não devo, não posso e
não quero ouvir silenciosamente sua inacreditável afirmação que só saudosos
corrupção e subversão ousarão dizer, que estamos em ditadura (...). Não sou
saudoso da corrupção e subversão (...) Informo, então, Vossência existem, nos
cárceres estado, numerosos presos políticos (...). Comunico ainda que no dicio
nário político universal instituições postas em prática governo Vossência são
denominadas ditaduras. É de lamentar que Chefe Estado Nação de oitenta
m ilhões habitantes não saiba o que seja ditadura. (...) Dicionário político
universal define como ditadura o regime em que o Chefe Poder Executivo
cassa mandatos de representantes do povo, com assento Congresso Nacional,
Assembléias Legislativas Estaduais e Câmaras Municipais; demite e aposenta
magistrados federais e estaduais para impedi-los enfrentar arbítrio esse Chefe
Poder Executivo e seus agentes; suspende, abusiva e violentamente, direitos
políticos cidadãos brasileiros sem forma nem figura processo (...), arrancou
do povo brasileiro direito impostergável eleger, em comícios públicos e através
voto secreto, seu Presidente República... Este é regime vigora Brasil atual.
Seu nome no dicionário politico-universal é Ditadura. Desafio prove o
contrário. Respeitosamente, seu compatriota amargurado.-^-
Se até então, os rum os tom ados pelo governo não mobilizavam as aten
ções dos conselheiros de forma sistemática, no sentido da crítica, doravante
veríamos o início de um a polarização. Um clima de embate instalou-se no
Conselho Federal após o duro pronunciam ento de Sobral Pinto. No mês se
guinte, um outro fato político iria mexer com os nervos dos conselheiros. Aos
5 dias de junho, o então governador eleito de São Paulo, Ademar de Barros,
em franco embate com o governo Castelo Branco em função do isolamento
político a que se viu subm etido em face do novo desenho das forças políticas
Ibidem .
•àl 1 03
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
]
após o Al-2, teve anulado o seu m andato e cassados, por 10 anos, os seus
direitos políticos-".
Ao protesto veemente de Sobral contra o que classificou de “ato pre
potente e violento”, o conselheiro M ário Guimarães reagiu, tom ando para
o seu entendim ento a tradicional questão da proibição às manifestações
políticas previstas em e s t a t u t o . E m sua réplica, na sessão de 28 de junho,
Sobral não só rechaçou a “acusação” como ofereceu impressões p orm eno
rizadas, a respeito dos prim eiros m ovim entos dos militares tão logo haviam
assum ido o poder, que podem nos ajudar na com preensão dos espaços de
crítica ao regime que gradativam ente foram sendo construídos dentro da
O rdem dos Advogados do Brasil - e, evidentem ente, tam bém na sociedade
- pelo acúm ulo dos debates. É correto afirm ar que enxergamos o passado
com os olhos do presente, seja ele rem oto ou recente. Deixemos agora o
p róprio Sobral se manifestar:
104 màM
\ b l u t i i c I I )j K ( ‘( l ( ’ n i o ( t . i t i / . i i j o cio 1s t . u l o I ) ( ' i n n i i . i t i i o ( I c |')it t ' i l o
Em resposta, Gaston Luiz do Rêgo faria o que seria, ao menos até o fim da
década de 1960, a última defesa explícita do regime em plenário do Conselho
Federal. Daqui em diante, repeti-la significaria cair em contradição de princípios
quase que absolutamente:
Três meses mais tarde, em outubro de 1966, o governo lançou mão de uma
medida até então inédita e que contribuiria para a dissipação de possíveis dúvi
das ainda existentes acerca do caráter do regime. Posto em recesso o Congresso
Nacional, vítima que fora de novas cassações, só seria reaberto no mês seguinte,
reconvocado pelo AI-4. A nova carta, aprovada em janeiro de 1967, incorporaria
ao texto legal muito da legislação de exceção produzida desde 1964, ainda que
não mantivesse “os dispositivos excepcionais que permitiriam novas cassações
de mandatos, perda de direitos políticos etc"^^
Incapaz de fazer seu sucessor, a despeito de todo “aprofundam ento” da
“revolução” que prom oveu de outubro de 1965 até o fim do seu mandato,
Castelo Branco daria posse, em m arço de 1967, ao general Artur da Costa
e Silva, na presidência da República. Com Costa e Silva, a “linha dura” che
gava ao poder. Contra ela a Ordem iniciaria, em bloco, o seu movim ento de
trincheira sob a eterna bandeira do respeito à norm alidade democrática e às
liberdades civis.
Ainda em março, eleições foram realizadas tam bém para a escolha da nova
diretoria da Ordem, para o biênio 1967-1969. De volta à candidatura única, o
Cf. A ta da sessão da O A B , 28/6/1966.
^ C Í .A ta da sessão da O A B , 12/7/1966.
B oris Fausto, op. cit., p. 475.
•àl 105
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Conselho Federal decidiu pelo nom e de Samuel Duarte'*®, seguido de Luiz Lyra
para a vice-presidência.^*^ Em seu discurso de posse, Duarte já embutia na “fala”
institucional as preocupações que antes pareciam individualizadas, à espera do
que pudesse vir a ser o governo Costa e Silva:
Para azar (ou sorte) da“linha dura”, o governo Costa e Silva foi palco da rearticu-
lação da oposição, do retomo sistemático das manifestações de rua e da intensificação
da luta armada. A UNE, mesmo na clandestinidade, reapareceu na organização dos
estudantes. No cenário político, Lacerda, Jango e Juscelino formaram a Frente Ampla,
para lutar pela redemocratização. Para além disso, toda a agitação do ano de 1968^',
sob a revolução de costumes promovida pela juventude em várias partes do mundo,
inclusive no Brasil, forneceria todos os argumentos e mais um pouco para um regime
conservador e autoritário apresentar as garras afiadas que vinha guardando.
De todos os episódios notórios ocorridos neste ano e que contribuiriam
para elevar a tensão da cena política nacional à estratosfera, sem dúvida, a morte
do estudante secundarista, Edson Luís, de 18 anos, pela Polícia Militar, em março
- em meio a um protesto contra o fechamento do restaurante do Calabouço,
que atendia sobretudo estudantes pobres oriundos de outros estados e a
mobilização de milhares de pessoas, em junho, nas ruas do centro da cidade
do Rio - a “Passeata dos 100 mil” que term inou por catalisar a revolta e os
protestos contra o regime, foram os de maior peso.
^**Samuel D u a rte p a rtic ip o u d o m o v im e n to revo lu c io n á rio d e 1930 e e m 1934 elegeu-se d e p u ta d o federal pelo
P a rtid o Progressista (P P ), exercendo o m a n d a to até 1937, q u a n d o d o g o lp e q u e in stitu iu o E sta d o Novo.
A in d a assim , o c u p o u , d e 1940 a 1945, os cargos d e secretário d o In te rio r e S e gurança P ú blica d u r a n te a
in te rv e n to ría d e R ui C a rn e iro n a P a raíba e, p o u c o a n te s d a q u e d a d e Vargas, o d e in te rv e n to r d o m e sm o
Estado. E m seguida, c o m a re d e m o c ra tiz aç ã o , elegeu-se p a ra a A ssem bléia C o n stitu in te pela legenda d o
P a rtid o Social D e m o crático (PSD ) e, n a seqüência, o m a n d a to o rd in á rio até 1950. R eeleito d e p u ta d o
federal neste a n o , pela C oligação D e m o c rá tic a P araib ana, fo rm a d a pelo PSD e P artid o Libertador, r e n u n
cio u a o m a n d a to e m 1954 p o r te r sid o n o m e a d o a v aliador d o s Feitos d a Fazenda. Em 1959 foi n o m e a d o
assistente d o gab in e te d o m in is tro d o Trabalho, F e rn a n d o N ó b rega, e n o a n o seguin te a ss u m iu a d ire to ria
d a C arte ira Agrícola d o B anco d o Brasil p a ra a zo n a n o r te d o país, d e ix a n d o o carg o ap ó s a s u b id a dos
m ilitares a o p o d e r, e m m a rç o /a b ril d e 1964. Cf. D H B B , op. cit. {verbete DUARTE, Sam uel).
Cf. A ta da sessão da O A B , 31/3/1967.
Cf. Afa da sessão da O A B , 7/4/1967.
U m a das célebres o b ra s q u e h á so b re o te m a é V EN T U R A , Z uenir. 1 9 6 8 - o ano que não term inou. Rio de
Janeiro-. N ov a F ro n teira , 1988.
106 màM
V o lu n u ' 1 D.i Kc'(i(.'ni()( ra tiZ c U ã o uo [ \l,u lo D o i i k h r.ú iid dc [direito
107
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Mais uma vez, artimanhas da história, por obra do que ainda estaria por
vir, esta Conferência não lograria a triste m emória de ter encerrado os seus
trabalhos no mesmo dia da instituição de um a das peças de arbítrio mais seve
ras da história republicana brasileira. Ao contrário, marcaria o início da virada
definitiva da Ordem no seu posicionamento contrário ao regime.
Assim, a 13 de dezembro daquele ano, junto à sociedade civil organizada,
tinha início o que mais tarde viria a ser a consagração da Ordem dos Advogados
do Brasil, com o fim do regime, a restauração democrática da Nova República
e a promulgação da Constituição de 1988.
108 màM
I ),i l\('c I c i i i i )( I,ili/,u ,1(1 ,i() I sl.uli I H c t u i)( IalK () lie D i i c i l n
Parte II
Dos Anos de Chumbo à
Democracia Consolidada (1969-1988)
#àm 109
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
110 m àm
V 'o iu ilH ' " I ) j k c i i r i i K )c iMl i/,»(. ,HI ,U) 1 sLitln I I n l K )(. r.il ii n d r Oirciti i
Capítulo I
Anos de chumbo (1969-1974)
máM 111
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
^ Id e m , ib.
^ Cf. A ta da sessão d a O AB, 30/9/1969.
* Presidente: L a u d o d e A lm eid a C a m a rg o (19) x Luiz Lyra Í2); e m b ra n c o (1); n u lo (1).
Vice: Joaq u im G o m e s N o rõ e s Santos (19); Ivo A q u in o (1); C arlos A lberto Laco m be (1); e m b ra n c o (1);
n u lo (1).
Secretário-geral: Alfio P on z i (19); A g e n o r M agalhães (2); Alcy A m o rim C ru z (1); n u lo (1).
Subsecretário; R aul d e Souza Silveira (22); n u lo (1).
Tesoureiro: D a n ilo M a rco n d e s d e S ouza (19); João d e A zeredo Bastos (2); Jo aq u im G o m e s d e A lm eid a
( l ) ; e m b ra n c o (1); n u lo (1).
M i a da sessão da O A B , 1/4/1969.
‘ C ita d o p o r A lberto V enâncio Filho, N oticia histórica da O rdem dos A dvogados do Brasil (1930-1980)., Rio de
Janeiro. Folha C ario c a E dito ra . 1982, p. 145._________________________________________________________
112 màM
\'()lu n i(‘ 1 I),I k ( ’( l c m o ( I'cili/ai.cH) , ) i ) I ‘. l . u l o n c i i K K ia!i ( o i l f D u c i l o
Tive notícia de que havia uma ordem impedindo a nossa saída de Brasília,
sem atendermos a certas exigências das autoridades militares e policiais.
’ Ver L a u d o C am a rg o , c m A O A B n a voz d c seus presidentes^ Brasíiia, OAÜ, 2003, p. 30. (Vol. 7 d a coleção
H istó ria d a O rd e m d o s A dvogados d o Brasil, c o o rd e n a d a p o r H e r m a n n Baeta.)
' O discu rso foi tra n s c rito n a in te g ra n a ^ f a da sessão da O A B , 1/4/1969.
’ M arcu s F. Figueiredo, A política de coaç ã o n o Brasil p ó s-6 4 , in Lucia K lein e M a rc u s F. Figueiredo, Legiti
m id a d e e coação no Brasil pós-64, Rio d e Janeiro, Forense-U n iversitária, 1978, p. 142.
E van d ro Lins e Silva, H e rm e s Lim a e V ictor N u n e s Leal fo r a m c o m p u ls o ria m e n te a p o se n ta d o s c o m base
n o A I-5 e m 16 d e ja n e iro d e 1969. O s o u tro s d o is m in istro s, A n tô n io C arlos Lafayette d e A n d ra d a e
A n tô n io G onçalves d e O liveira, so lic ita ra m a a p o se n ta d o ria , s a in d o d o STF re sp ec tiv a m e n te e m 17 de
ja n e iro e 3 d e fevereiro d e 1969.
113
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Era tênue o limite entre o que poderia e 0 que não poderia ser negociá
vel com o regime que cassava e prendia advogados. Por um lado, a Ordem se
mostrava disposta a colaborar na revisão do Código Penal Militar e do Código
Penal Brasileiro. Conforme proposta do conselheiro Oscar Dias Correia (MG),
o Conselho Federal solicitou ao governo a remessa dos citados anteprojetos
para que, dentro de três meses, ouvidas as seções estaduais e colhidas sugestões,
pudesse colaborar no intuito de que os novos textos legais incorporassem os
estudos efetuados pelo órgão máximo da OAB.'-'
Ao mesmo tempo, no entanto, decidiu que magistrados aposentados com-
pulsoriamente pelo AI-5 não precisariam aguardar o prazo de dois anos para
se inscreverem na Ordem, conforme estabelecido no artigo 86 de seu Estatuto.
O relator da matéria, o ex-presidente Povina Cavalcanti (1962-65), foi incisivo
em defender a “desobediência” do Estatuto, já que “nem lhe poderia ocorrer 0
caso excepcional de uma aposentadoria compulsória, por ato do poder revo
lucionário”. E acrescentou:
‘' E v a n d ro Lins e Silva, O salão dos passos perdidos: depoim entos ao C P D O C , R io d e Janeiro, N o va Fronteira:
E d ito ra FGV, 1997, p. 402.
Cf. A ta da sessão d a OAB, 8/4/1969.
A t a d a sessão d a OAB, 24/6/1969.
114
V o kim c ) l).i k i'f lc m o i a o l ' ‘' U u l o D c m o i r . i t u o d c O iic itu
máM 115
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
776
\''( ' > ! ). i K c d c i t i i )( , i ( ) ,1(1 I - - l . u l í I ! ^ r i i K n I ' . i t i u ) ( ;( ■ [ ' ) i K ' i t ( )
#à# 117
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
na época, teria sido redigido pelo próprio Samuel Duarte [então presidente
da Ordem j. O Regulamento foi assinado, em solenidade realizada no Palácio
Guanabara, com a presença de membros do governo e de líderes da classe
dos advogados, entre os quais, além do próprio Samuel Duarte, inúmeros
conselheiros federais e presidentes de conselhos seccionais. Não obstante o
Regulamento estabelecer que o CDDPH deveria reunir-se “ordinariamente,
duas vezes por mês”, somente foram realizadas, até 1970, sete sessões^”
118 9áM
\'i)ln n K ' " D j R(.’( I t ' l l i o ( l a l i / a t à o ,1() ü si.icld I k - i n u i l á i i c n cl(.‘ D i k .m I o
•àl 119
______________ História da
^ O r d e m dos Advogados do Brasil
sair o mais rapidam ente possível. É evidente, nesse caso, a tentativa de pre
servar o “m ovim ento de 64”, até m esm o como possibilidade de encontrar
interlocução com setores militares que viam com desconforto a radicalização
política im plantada pela “linha-dura”.
Estudos sobre os “anos de chum bo” da ditadura militar no Brasil desta
cam alguns aspectos desse período que o diferençaram do anterior." Um deles
foi a ampliação dos limites da repressão política, atingindo dirigentes, líderes
e, até mesmo, m embros de instituições legalmente estabelecidas. Políticos,
sindicalistas, padres, professores, advogados, foram cassados e, alguns deles,
processados, seqüestrados, presos, torturados e mortos. O outro aspecto é
que, ao contrário do consenso em relação à atuação militar em 1964, a cor
poração enfrentou problemas internos em função da dinâm ica da repressão.
O complexo sistema de segurança então m ontado, que, para além da luta
contra a oposição arm ada, visava tam bém a controlar e direcionar a própria
sociedade, foi resultado da ação da “linha-dura” e de ferrenhos anticomunistas,
civis e militares.^*
A cronologia da criação da estrutura da chamada “comunidade de infor
mações” m ostra bem o investimento que foi feito na montagem de um a rede
de repressão, a qual, para ser “eficiente”, acabou conseguindo uma razoável dose
de autonomia. De 1969 a 1971, foram criados ou reformulados os centros de
informação das três Armas: o Cisa (Aeronáutica); o Cenimar (Marinha) e o
CIE (Exército). Ao lado deles, surgiram outros órgãos, como a Operação Ban
deirantes (Oban), vinculada ao II Exército, e ainda os Centros de Operações de
Defesa Interna (Codi), aos quais estavam subordinados os Destacamentos de
Operações de Informações (DOI). A essa estrutura explicitamente repressiva,
juntava-se um arcabouço legal-institucional restritivo às liberdades públicas
- a censura prévia, a suspensão do habeas corpus, a remodelação da justiça
militar para abranger um núm ero mais vasto de delitos antes submetidos à
justiça comum, entre outros parecendo indicar que o país se preparava para
enfrentar uma guerra.
Nessa “guerra”, a OAB teve suas baixas. A mais conhecida delas foi a prisão
dos advogados Heleno Fragoso (vice-presidente da OAB-GB), Augusto Sussekind
de Moraes Rego (conselheiro federal do Paraná) e George Tavares, no dia 1° de
120 máM
Da [ \ í ' ( l ( ' i i K H 1,111/ , H ,1(1 ,111 I s K k I o I ) ( ' i n ( K t ,i t i l l i ( I c D u e l l o
Chegou-me ligação telefônica de São Paulo, do dr. José Carlos Moreira Alves,
posteriormente ministro do Supremo Tribunal Federal e então assessor ime
diato do ministro da Justiça, dr. Alfredo Buzaid, transmitindo-me, em nome
do titular, a surpresa pela situação surgida. Em face das insistências várias,
minutamos, eueo dr. Miguel Seabra, um pedido de habeas-corpus, deixando-
0 em mãos do dr. Edmundo Rêgo, para apresentá-lo a quem de direito, se, nas
Não se pode dizer que este tivesse sido o presente sonhado pela Ordem
na comemoração de seus 40 anos. No entanto, a moção registrada na Ata da
ttàl 121
História da
O rdem dos A dvogados do Brasil
722 #à#
V o kin K .' 1 í^.i R('d(‘ni()( r a l i / a u K ) .io Lsr.ulo o de llim io
A ta da sessão tin O AB. 22/9/1970. S obre a p a rtic ip a ç ão d e José N eves n a III C o n fe rê n cia N a cio nal ver sua
e n trevista pub lic a d a n o livro A O A B na voz c k seus presidentes, op. cil., p.42-3.
“ A la da sessão da O AB, 29/9/1970.
A ta da sessão da OAB, 13/10/1970.
Presidente: José C avalcanti Neves
Vice: loà o N icolau M à d e r Gonçalves
Secretário-geral: Sylvio C u ra d o
Subsecretário: Luiz C arlos d o Valle N og ueira
Tesoureiro: José Tavares d e C u n h a Mello
123
História da
O rdem dos A dvogados do Brasil
124 màM
V 'o lu n u ' 1 13,1 K ( ‘ ( l ( ' i i i t K i ' , i l i / . u , )( ! ,10 I \!,Kln D cm oi 11 d c I )iri'ilti
1 25
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil 1
726
V 'o lu n u ' 1 I).I R c ’d c n K K l a l i / a i .'in j u 1 ‘. l . u l o I X m i k k i.ilit o d r D in 'ito
havia votado pelo arquivamento porque tinha sido advertido, por um coronel
do Exército, de que se o processo do Rubens Paiva não fosse arquivado seria
decretado um ato institucional pior do que o AI-5 - versão que lhe teria sido
confirmada pelo professor Pedro Calmon. '^
•àl 727
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
1 28 má»
V 'n lu iiK ' ' I ) , i K ( ‘( i c i t K )( i . i t i / . i i , i ( ) ,i( I [ 1 It r , i t i ( <1 f i c I ‘) i r c i l o
Id e m , ib.(grifo n o original).
Id e m , ib.
José Neves, op. cit., p. 48.
•àl 129
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
130 máM
V'dlunic ) D a R ( ‘f k ' i n ( n r . i t i / j i ã o ,i(, l.st.u lf) ik ' m i x i\itn o fl(> I ) ir ( 'ito
•àl 737
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
” A ta da sessão da 0 -4 0 ,2 9 /5 /1 9 7 3 .
^ 'I d e m .ib .
E m n o v e m b ro de 1971, o m in is tro d a A e ro n á u tic a, M árcio d e S o uza e M elo, deixa o carg o ap ó s acusações
e n v o lvend o a A e ro n á u tic a e m casos d e to rtu ra . N o m ês seguinte, o c o m a n d a n te d a III Z o n a A érea, b rig a
d e iro João P au lo B urnier, e o chefe d o Cisa, C arlo s A fon so D e lla m o ra , fo r a m afa stados d e suas funções.
Ver M aria C elina D ’A raiijo, G táucio A ry D illo n Soares e Celso C astro , op. cit., p. 311.
132 màM
V n liim c '> I l\('(l('iii(K i.ili/.ii >11) 1 s t a d o O í-iH íK (1 ( I c l l u r i l o
màM 133
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
134 màM
\''()lui1lc ) I K i ' d i ' i n o c , r a t I / . K ,11) , 1 0 l - ' - l . u l o I ) c n i o ( r . i t i t o d c [ ) i r <> i t ( i
“ Idem , ib.
“ Id e m , ib.
Ver A ta da sessão da O A B , 25/9/1973.
" S ob re as relações e n tre os sistem as d e re pressão d o C o n e Sul n o s a n o s 1970, v er S a m a n th a Viz Q u a d ra t,
O s p o rõ e s in te rn a c io n a is d a repressão, e m 19 6 4-2 00 4:40 anos do golpe - ditad ura m ilita r e resistência no
Brasil, Rio de Janeiro, 7 Letras, 2004.
“ Id e m ,ib .
Ver Ara da sessão da O AB, 23/10/1973.
màM 135
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Dada a palavra ao dr. Welington Rocha Cantai, fez este minucioso relatório de
sua prisão ocorrida à porta de seu escritório em São Paulo, por indivíduos que
logo 0 conduziram, sob espancamento, para um outro carro, onde o encapu-
zaram, permanecendo preso em estabelecimento militar, sem culpa formada,
136 ttàl
Volume 5 Da Redemocratização ao Estado Democrático de D ireito
137
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
nem ordem judicial, durante 21 dias, passando também pelo DOPS da capital
paulista. No referido estabelecimento militar, que conseguiu identificar como
sendo o DOI-Codi/II Exército, permaneceu vários dias sem comer, nem beber,
alifoi espancado e obrigado a permanecer durante longos períodos de pé. Nessas
ocasiões foi vítima ainda de choques elétricos, tendo por duas vezes desmaiado,
tal 0 sofrimento e debilitação. Na última vez, foi levado ao Hospital das Clínicas
de São Paulo por haver sofrido uma parada cardíaca. O objetivo das autorida
des era indagar sobre supostas vinculações do declarante com subversivos, que
não existem, afirmou (...). Está disposto a levar avante a sua representação ao
procurador-geral da Justiça Militar.^
138 máM
V o I lI I I K ' i f ‘) a K f'fl( 'n n )( r . i li / . it . i o ,io l-s t,i(io I ) i'n i( )c r .iti( o d c D i i i 'i f o
máM 139
História da
O rdem dos A dvogados do Brasil
1. Não pode haver efetiva proteção e tutela dos direitos humanos, senão no
Estado de direito, onde o primado da lei ponha as liberdades fundamentais
a salvo do arbítrio e da preponderância dos governantes, através de regime
de segurança jurídica.
2. No aperfeiçoamento, defesa e efetiva realização dos direitos do homem,
destaca-se a responsabilidade dos advogados. Essa responsabilidade não pode
ser eficazmente desempenhada senão com respeito às prerrogativas profissio
nais e independência no exercício da profissão (...).
4. O Ato Institucional n^ 5 é incompatível com o Estado de direito. A defesa
da ordem pública e da segurança nacional pode e deve ser realizada sob o
império da lei, inclusive com o exercício de poderes excepcionais em situações
de emergência, por tempo limitado, com as garantias da lei.
5. Não pode haver defesa eficaz dos direitos do homem sem que estejam
asseguradas a independência e a imparcialidade do Poder Judiciário.
6. É essencial à defesa dos direitos humanos a existência do Poder Legislativo
livre, respeitado e independente, sendo imprescindível o retorno das imuni-
dades parlamentares para assegurar a livre manifestação do pensamento,
elementar ao exercício de mandato pelos membros do Congresso.
7. Constitui exigência inadiável a revogação imediata do art. 10 do Ato
Institucional n'^ 5, que suspende a garantia constitucional do habeas corpus,
instrumento essencial à defesa dos direitos de liberdade contra a prisão ou
detenção arbitrárias.
8. Deve ser fielmente observada a norma da comunicação obrigatória de
toda e qualquer prisão ou detenção, tendo em vista os repetidos e constantes
abusos praticados.
9. A liberdade de imprensa é de suma importância na luta pelos direitos
do homem e em sua defesa e proteção, devendo cessar o regime de censura,
exercitado à margem da lei.
10.A recomendaçãoproscrita da censura à imprensa não exclui a reprovação
de outros tipos de censura das comunicações públicas e particulares.
11. A plena realização dos direitos econômicos, sociais e culturais não pode ser
alcançada simplesmente através da tutela jurídica formal, mas no contexto
de uma ordem social justa, cuja criação é dever do Estado.^^
140 •àM
\'n lu [1 1r > IXi K t , i l i / , i ( .'k ) , i ( ) I ) I ) c n K )( I , i l i i ( I ( I r [ ' ) i i ( ‘ i l i )
Pelo teor das teses expostas na Conferência, não é difícil entender, por
um lado, a ausência de várias autoridades convidadas - o ministro da Justiça
e o presidente da Câmara dos Deputados enviaram telegramas justificando a
ausência em função de compromissos assumidos anteriormente e, por outro,
o convite feito por várias faculdades de direito da Guanabara aos conselheiros
para discorrerem sobre os temas apresentados na Conferência/*
As negociações com os ministros do Trabalho e da Justiça em favor da
m anutenção da autonom ia da Ordem comprom etida pelos dois decretos do
governo, bem como as denúncias sobre a situação de presos políticos e desapa
recidos, pautaram a agenda das sessões do Conselho Federal ocorridas até o fim
de 1974.'^ Apesar das nuvens sombrias que ainda cobriam o panoram a político,
a transição democrática, aguardada por muitos, estava a caminho...
141
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
Capítulo II
Idas e vindas da distensão (1975-1978)
142
\'()k in ic ■) I ) ,i K ( ' i l ( ‘ n i( ) ( I'll! I / c l ( , ) ( ' i i n I s t . u l o I ) c n i ( )(, r , i t i ( o d c [ ' ) i i ( ‘ i l o
” Ver, e n tre o u tro s, Jennifer H e rm a n n , R eform as, e n d iv id a m e n to e x terno e o “m ilagre” eco n ô m ico (1964-1973),
em Fabio G iam biagi, A n d ré Villela, Lavínia B arros d e C astro e Jen n ifer H e rm a n n , Econom ia brasileira
contem porânea (1945-2004), Rio de Janeiro, Elsevier, 2005; Luiz A ra n h a C o rrê a d o Lago, A re to m a d a do
c re sc im e n to e a s distorções d o “m ila g re ”: 1967-73, e m M arcelo Paiva A b re u ( o r g .) , ^ ordem do progresso
- cem an o s d e política re p u b lic a n a (1 889-198 9), Rio d e Janeiro, C a m p u s, 1989,
Ver Ernesto G eisel o rg a n iz a d o p o r M aria CeJina D ’A ra u jo e C elso C astro , Rio de Janeiro, E dito ra FGV,
1997, p. 369.
•àl 143
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Ver T h o m a s Skidm ore, op. cit., p. 3 2 9 .0 caso d o seq ü e stro e to r t u r a d e C a n ta i foi n o tic ia d o n o jo rn a l N ew
York Tim es, fo n te u tilira d a p o r Skidm ore.
144 máM
\ ' n l u n i c 1 I ),i K c i l f ’ U K )( i ' . i l i / , u , ' i( ) d o I ' ^ l . u l o I ) ( ' i n ( K r , ! l i ( 11 d c O i r c i k
màM 145
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
Esse fracasso nas urnas teria um forte impacto sobre o projeto de distensão
do governo. Atingido pelo que considerava “tom virulento das manifestações da
oposição”, Geisel resolveu dar uma no cravo, e m ostrar à oposição que deveriam
ser comedidos, “porque tinha poder para reprim ir”:
146 màM
V o lu m e 5 D a R edem ot ratizacão ao Estado D e m o c rá tic o de D ireito
máM 147
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
148 màM
V o l u m e ' I ) ,! R c d l ' I l l o i t , ! l l / , K j ( ) JO [ ' - l . l d o I ) ( 'i 1 l o ( i M l i i o tic l l l t r l l o
149
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
entidade ou órgão público que fosse. Quis saber por que razão eu era contra a
subordinação da Ordem. Eu novamente respondi, cordialmente, dizendo que
no momento em que a Ordem se subordinasse financeiramente ao Tribunal de
Contas ela perderia a sua independência. ‘'Mas esea independência financeira
da Ordem for mantida?” insistiu ele de novo. Eu me mantive inflexível^'
150 màM
\'()lu itK ' 1 I)a R { ‘( l ( ' n u ) i , ao [ l l c i i i u i r,iti( u d e Iliiiilo
D istensão, a palavra-chave d e Geisel n a TV, citado e m M arly Silva d a M otta, Teotônio Vilela, op. cit., p. 90.
757
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
]
jornalista - com muitos contatos no exterior, já que trabalhara por cerca de três
anos na BBC de Londres - havia sido encontrado enforcado em uma das celas
do DOI-Codi de São Paulo.
A manifestação de indignação do ex-presidente Ribeiro de Castro quanto
à m orte de Herzog acabou desembocando na conclamação à Ordem para “con
tinuar se batendo pela normalidade jurídica”, aí incluindo o direito de visita aos
presos, o restabelecimento pleno do habeas corpus e da autonom ia judiciária.
A constatação da vulnerabilidade do preso em virtude do cerceamento a que
estavam submetidos os advogados no exercício de sua profissão levantou uma
série de manifestações de vários conselheiros, como a de Clóvis Ramalhete, sobre
a obtenção de m andato de segurança contra decreto da Secretaria de Segurança
do Rio de Janeiro que só permitia os advogados se entenderem com seus clientes
detidos nas penitenciárias do estado em horário previamente determinado.’" A
preocupação com o fato de a Ordem estar se envolvendo em “matéria de ordem
política”, o que feriria suas normas estatutárias, mereceu manifestação “pessoal”
do conselheiro Claudionor de Andrade Junior (RN), imediatamente rebatida por
Sylvio Curado, que não via “nenhum cunho político” nos temas tratados.’'
O silêncio de Geisel no episódio Herzog trouxe o tem or de que a distensão
estivesse seriamente ameaçada, mesmo porque, ao longo desse mês de outubro,
havia sido efetuada a prisão de outros militantes do PCB, inclusive do advogado
Orlando Bomfim, amigo pessoal de Caio Mário que, preso no Rio de Janeiro,
nunca mais foi encontrado.’^ Uns achavam que o presidente fraquejara diante
dos extremistas militares; outros consideravam que ele nunca havia assumido
um real compromisso com a abertura. De um m odo ou de outro, estava longe
de ser otimista o ambiente político reinante no final de 1975.
O ano de 1976 trouxe de volta o fantasma da linha-dura refratária à dis
tensão que, mais um a vez, insistiu em desafiar a autoridade de Geisel. Dessa
feita, a vítima foi o operário Manuel Fiel Filho, que, em janeiro, teve o mesmo
fim de Herzog nas celas do DOI-Codi de São Paulo. No entanto, ao contrário
da passividade demonstrada no “suicídio” do jornalista, o presidente resolveu
reagir e dar uma na ferradura, ou seja, nos “bolsões radicais” que tentavam
inviabilizar a abertura, ainda que lenta e gradual. O tenso processo de decisão,
que acabou levando à exoneração do general-comandante do II Exército, foi
narrado em detalhes por Geisel:
” Ver A ta d a sessão da O A B , 29/10/1975.
Ver A ta d a sessão da O A B , 25/11/1975.
" Ver C aio M á rio d a Silva P ereira, op. cit., p. 62.
152 máM
V 'd kiiiu - 1 I ).i Ui'drm* K i',ui/.u ,u i ,ui 1 i i )rn v x t.lliiu (!<■ Oil ciU i
A minha cassação foi decidida aqui na Vila Militar, não foi decidida no Pa
lácio do Planalto. Esses militares que eu citava, Zamith, Bandeira, Burnier,
se reuniram e disseram: “Ou o governo dá um jeito nesse cara ou nós vamos
dar.” (...). Efoi o próprio Geisel quem aconselhou que eu caísse fora do país,
quem disse que podia garantir que eu não ia ser preso, mas não podia garantir
a minha incolumidade. Quer dizer, rigorosamente, entre nós, quem salvou
minha vida foi o Geiseh'
" V e r Lysâneas M aciel, e m M arieta d e M o ra es Ferreira, D o ra R ocha e A m érico Freire (orgs.). Vozes da oposição,
Rio d e Janeiro, G rafline, 2001, p. 42-3.
153
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
]
Apesar da sinalização clara de que o chamado “Sistema” se encontrava vivo
e forte - malgrado a “derrota” no caso Ednardo a OAB, por seu lado, deu de
monstração explícita de que não pretendia se acovardar diante das pressões. Um
bom exemplo desse tipo de postura foi a decisão tomada pelo Conselho Federal
em relação à representação formulada pelo preso político César Queiroz Benjamin
contra a ilegalidade de sua permanência indefinida na prisão. Contrariamente
ao voto do relator, conselheiro Fernando Eugênio dos Reis Perdigão (MA), com
a indicação de não se tomar conhecimento da representação “por não ser o in
teressado advogado”, venceu a proposta do vice-presidente, Heleno Fragoso, de
que “a Ordem conheça da representação e se manifeste de forma categórica às
autoridades competentes de que nos crimes previstos na Lei de Segurança Na
cional se aplica subsidiariamente as normas do Código Penal e não as do Código
Penal Militar”.’^
Embora precisasse ter o Exército a seu lado, Geisel não descuidava da arena
política. Nesse sentido, as cassações do início de 1976 teriam tido um duplo ob
jetivo: dar “pasto às feras”, e colaborar para o “aperfeiçoamento democrático”, na
medida em que servissem de advertência à oposição para evitar radicalizações
no processo eleitoral de novembro, já que a aposta nas eleições municipais,
associada ao ferrenho desejo de vencê-las, era meta importante de seu projeto
político.” Daí o tom enfático do ministro Armando Falcão, em discurso para
300 prefeitos mineiros:
1S4 má»
V o l u m e ") I").) R e i l i . ' i t n n r . i t i / > K 0 ( ) . K ) F s t i u l o D r i i i i x rálit o (le D i r r i l o
Ver, e n tre o u tro s , Sebastião C. Velasco e C ru z , Em presariado e Estado na transição brasileira: u m estudo
so b re a e c o n o m ia política d o a u to rita ris m o (1974-77], C am p in as : E d ito ra d a U nic am p ; São Paulo:
hapcsp, 1995.
755
História da
O rdem dos Advogados do Brasil
discussão política.’" Não por acaso, 1976 foi um ano que registrou seguidos atos de
violência contra o clero. Além dos assassinatos dos padres Rodolfo Lunkenbein e
João Bosco Penido Burnier na região amazônica, em setembro houve o seqüestro,
seguido de espancamento, de dom Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu, na
Baixada Fluminense.
A Ordem também recebeu um “recado” dos porões da ditadura, por meio
da colocação de uma bom ba no prédio onde se reunia a seccional de Mato
Grosso. Depois de intenso debate, acabou prevalecendo a posição de que a OAB
não interviria oficialmente no inquérito, mas acompanharia atentamente todos
os seus trâmites.”
Três foram as questões mais importantes debatidas na VI Conferência
Nacional da Ordem dos Advogados, realizada entre os dias 17 e 22 de outubro,
na cidade de S a lv a d o r.A primeira delas dizia respeito à independência e au
tonomia do advogado, obviamente ligada às pendências que a Ordem tinha em
relação à prestação de contas ao TCU e à vinculação ao Ministério do Trabalho.
A necessidade de se “reestruturar a democracia brasileira” foi outra preocupação
dos conferencistas e debatedores, como ficou patente no discurso de encerra
mento do presidente Caio Mário:
Sobre a a tu a çã o das CEBs, ver, e n tre o u tro s , C â n d id o P ro có p io Ferreira C am arg o, A n tô n io Flávio d e O liveira
P ierucci e B eatriz M u n iz d e Souza, C o m u n id a d e s eclesiais d e base, e m V inícius C ald eira B ra n t e Paul
Singer, São Paulo: o po vo em m o v im en to , P e tró polis, Vozes, 1980.
” Ver AW d a sessão d a O AB, 24/8/1976.
Ver A n a is d a V I C onferência N acional d a O rdem dos A dvogados do Brasil, Salvador, 1976.
Id e m , ib.
756 m á»
\ ’í ) l l H l U ‘ 1 ),1 K t,I I I / , I I ,'l( ) cH ) I ' s I , k I( ) I )('ni( K l.ilil I I (Ir I )íí i ’ilo
máM 157
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
'"'V er D ion ísio Dias C arn eiro , C rise e esperança: 1974-1980, e m M arcelo d e Paiva A breu A ordem do
progresso: c em an os d e p olítica re p u b lic a n a - 1889-1989, Rio d e laneiro. C a m p u s, 1989.
O o tim is m o (social, n ã o p o lítico) a in d a te m lugar, ap esar d e tu d o , Correio Braziliense, 14/01/1977, citado
e m M arly Silva d a M o tta, Teotônio Vilela, op. cit., p. 119.
158 màM
R e d e 1111 n i \ i l i / . u j o , n ) ! [ ) c m í H I ' . il k o rir llí ir ito
U m a análise parcial, O Estado de S. Paulo. 17/03/1977, c ita d o e m M arly Silva d a M o tta , Teotónio Vilela,
op. c i t , p. 120.
má» 159
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Na sessão em que foi julgado o caso Stuart Angel ele [Faoroj compareceu e
assinou o livro de presença, mas se retirou antes do término da sessão, não
participando da decisão pelo arquivamento do caso. Daí por que as noticias
divulgadas na imprensa, no sentido de que o único voto contra o arquivamen
to teria sido o meu, deram margem à dúvida quanto ao comportamento de
Faoro no episódio. No dia seguinte à reunião, Faoro renunciou ao seu lugar
no CDDPH e me telefonou dizendo que havia se retirado da reunião porque
logo entendeu que tudo aquilo era uma farsa. Esclareceu que a minha situação
era diferente da dele, pois eu participava do CDDPH por imposição da lei,
enquanto ele não estava obrigado a aceitar a indicação.'"
Em seu discurso de posse, Faoro elegeu como ponto central a conexão que
deveria haver entre legalidade, legitimidade e liberdade como bases efetivas do
Estado de direito:
160 máM
\ ' n k i i i l ( ' i O . i I \ f ( l ( > i n o ( i j l i / . i c ,')() , H) [ ' " t . u l n [ ' ) ( ’ i n ( K t , í l i ( n f i c H i r c i l o
O Estado de direito não está todo, nem na sua substância, no conjunto das leis,
da Constituição, e das medidas do poder. A lei, a lei ordinária, a lei magna
valem, porque são legítimas, porque respondem à vontade do povo na sua
soberania necessária. Para realizá-la, para que ela seja a verdade de todas as
horas, na atividade diária e nos prédios forenses, só um caminho é possível,
a estrada de mil bifurcações, de mil desvios, de mil enganos, a estrada real
da liberdade. Liberdade com todos os adjetivos, sem nenhum adjetivo que a
tolha, na palavra, no livro, na imprensa, no tribunal e no lar, para que a face
viril do homem se afirme, se eleve e se dignifique."^
•àl 161
Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil
Nessa mesma seção do dia 19 de abril, depois de um aceso debate entre Godoy
Bezerra e os dois conselheiros responsáveis pelo duro parecer contra as medidas
autoritárias impostas pelo governo, foi decidido, por unanimidade, o arquiva
mento da proposição que aquele havia apresentado “aplaudindo o propósito de
distensão política então manifestado pelo senhor Presidente da República”.
Mantendo a estratégia do m order e soprar, testando, nessas idas e vindas,
a resistência e as adesões ao projeto de distensão, o governo resolveu reativar a
chamada Missão Portela, indicando a intenção de destravar as pesadas portas
que insistiam em m anter o regime fechado. Nesse sentido, é interessante a nota
publicada no jornal Folha de S. Paulo de 17 de maio;
762 •àl
V o lu m e > I R c't'k'iinx r,iti/cU,,i(i a o F s U u l o D c n u x ij t i i o d r D irc itn
Aindaem junho,entre os dias 12e 14, realizou-se, em São Paulo, mais uma
reunião de presidentes das seccionais da Ordem. Tomando como referência a
Declaração de Curitiba de cinco anos atrás, Faoro, em seu discurso inaugural,
clamou pela restauração do habeas corpus como “o meio único de restaurar o
prestígio e o respeito à autoridade pública, que, com a medida, espancará a falsa
e nociva atmosfera de suspeição que a envolve”."" A Declaração de São Paulo,
resultado final dos debates, veio reiterar o tom de urgência em relação à volta das
prerrogativas da cidadania plena, condição indispensável para a reconciliação
entre Estado e sociedade:
163
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
O Globo relatos das torturas que Aldo Arantes e Haroldo Lima, então militantes
do PC do B> haviam sofrido nos DOls de São Paulo e do Rio de Janeiro.''"
O segundo semestre de 1977 foi marcado pela entrada em cena da suces
são presidencial, em que se jogavam, ao mesmo tempo, a definição do sucessor
de Geisel e, sobretudo, os rumos da distensão no caminho da efetiva abertura
política. Em meados de julho, Humberto Barreto, presidente da Cabca Econômica
Federal e um dos homens mais próximos de Geisel, concedeu uma longa entre
vista à revista Veja anunciando a candidatura do general João Batista Figueiredo,
ministro-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI). Figueiredo fizera
boa parte de sua carreira militar dentro dos órgãos de informação. Em 1964,
como coronel, chefiou a agência do SNI no Rio de Janeiro, sob as ordens de
Golbery do Couto e Silva. Depois de uma rápida passagem pelo comando da
Força Pública de São Paulo (1966), foi promovido a general em 1969 e tornou-se
chefe do Estado-Maior do III Exército, então comandado pelo general Emílio
Garrastazu Médici. Presidente da República, Médici o nom eou para a chefia
do Gabinete Militar. Com a posse de Geisel, em 1974, foi para a chefia do SNI,
onde se encontrava por ocasião de sua indicação à sucessão presidencial.'"
A antecipação do lançam ento da corrida presidencial, prevista para o
início de 1978, deveu-se à intensa movimentação do m inistro do Exército,
general Sílvio Frota, no intuito de garantir apoios à sua aspiração de suceder
a Geisel. No m inistério desde maio de 1974, Frota era dono de um discurso
violentam ente anticomunista, o que o tornava um dos principais represen
tantes da ala mais conservadora das Forças Armadas.'" Em aberto desafio ao
expresso desejo presidencial, começou a adotar um a nítida postura de can
didato. Os efeitos dessa movimentação se fizeram sentir com o surgim ento
na Arena de um grupo de parlamentares que se apresentava como “frotista”,
no qual se destacavam os deputados Sinval Boaventura, José Wilson Siqueira
Campos, Jorge Arbage, Alexandre Machado, Geraldo Freire, Vasco Azevedo
Neto e Carlos Alberto de Oliveira.
Nos dois meses que se seguiram ao lançamento do nom e de Figueiredo,
a disputa pela indicação presidencial se acirrou. Em agosto e setembro, Geisel
e Frota, paralelamente às manobras de convencimento junto aos militares.
164 màM
\n lu ilir i I )a R c d c n ii k (.iti/.u, j i i i [•■-t J ( l ( ) O i - n K )( t , í ti c o ilc Ilirn lu
màM 165
______________ História da
^ O rd e m dos Advogados do Brasil
]
O alevantado ideal democrático que, nesta quadra promissora da dinâmica na
cional, inspira vontade e reanima corações, exige definição mais realista de seus
contornos, para que se venha a alcançar a base do consenso indispensável à melhor
construção do modelo adequado e atual das instituições políticas do país.‘^“
766 #àm
\ '( ) lu n i( ' "> n , i R(,’c l i ‘ n i n i I ' a l i / . u . r i o o n l A l . u t o H c m i k k I ' j l K n (1(- O l r c i l o
O sinal verde para a transição política havia sido dado por Geisel em
seu discurso de Anal de ano. Louvado por influentes comentaristas como “o
mais im portante, mais denso e o mais direto e abrangente pronunciamento
político dirigido ao país”,'^' o presidente anunciava a m orte próxima do AI-5,
prometendo
767
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
S e g u n d o A lb e rto V enâncio, op. cit., p. 201, D a lm o D allari critic o u a ida d e Faoro a o Planalto.
A ín tegra d a D eclaração d e C u ritib a está e m A n a is da VII Conferência N acional d a O rdem dos Advogados
do Brasil, C u ritib a , 1978.
168 màM
V 'n iu in c ) 0,1 R ( ' ( l ( ‘tit()i Ij l i / j i J M i ,i() Isl.ulo l l c n i o i Ltiii I ] ([(' D ii'c ito
Sobre o s u rg im e n to dessa c o rre n te d o sin d ic alism o brasileiro, ver, e n tre o u tro s , M aria H e rm ín ia Tavares
d e A lm eida, O sin dicalism o brasile iro e n tre a c o n se rv a ç ão e a m u d a n ç a , e m M aria H e rm ín ia T. A lm eida
e B ern a rd o Sorj (org.), Sociedade e política ko Brasil pós-64, São Paulo, Brasiiiense, 1983; Leôncio M a r
tin s R odrigues, T endências fiituras d o sin d ic alism o brasileiro, e m H e n riq u e R a ttn e r (o rg .), Brasil 1990,
cam inhos alternativos do desenvolvim ento, São Paulo, Brasiiiense, 1979; José Á lvaro Moisés, Q u a l é a
estratégia do novo sindicalismo?, Rio d e Janeiro, ILDES, 1980 (m im e o ); R ic ard o A n tu n e s (o rg .). P o r u m
n o v o sindicalism o. C aderno de D ebate 7. São Paulo. Brasiiiense, 1980; M arcelo B adaró d e M atto s, Novos
e velhos sindicalism os no Rio de Janeiro (1955-1988), Rio d e Janeiro, V ício d e L eitura, 1998.
màM 169
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
170 •àM
V o kiiiii' 1 13, i R i 'd c m o i i.iti/.K , ò o JO I's U id o O c n io c r.itii o (!c I ) ire iti)
Capítulo III
Caminhos da abertura (1979-1984)
171
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
172 màM
WiUinií' ", 1 K r i l r n n k r , i 1 i / a ( m i , i ( ) 1 ' - h i d o 1D c n u )( i ,il k ( i d r I V i i c i l o
173
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
Id e m , ib .,p . 78.
Idem , ib .,p . 79.
' " Id em , ib., p. 79.
174 màM
V'oIuilH' > D , I K c r l c i ii o i I n il l-s i.u lo I I m i o t I'dlii <> d r I ) ir t'iin
A in te g ra d a D eclaração d e Flo ria n ó p o lis está e m A lb e rto Vcnãncio, op. cit., p. 210.
O s tra b a lh o s d o se m in á rio fo ra m p u b lic a d o s e m B olivar L a m o u n ie r, Francisco W effort e M aria V ictoria
Benevides, Direito, cidadania e participação, São Paulo, T. A. Q u e iro z , 1981.
Ver A lb erto V enâncio, op. cit., p . 2 11.
S ob re a estratégia de liberalização d o reg im e a d o ta d a pelo g o v e rn o Figueiredo , ver, e n tre o u tro s , Bolívar
L a m o u n ie r e José E d u a rd o F arias (org s.), O fu tu r o da abertura: u m debate, São Paulo, C o rte z Editora,
1981; Eli D iniz, A tra n siç ão po lítica n o Brasil: u m a reavaliação d a d in â m ic a d a a b e r tu ra . D ados, XXVIII
( 3 ): 329 - 46 , 1985 .
•àl 775
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
176 màM
V o l u m e ' I ) . i k ( ‘ ( ! ( ’ i i I I K i , i l i / , i ( , ' i( ) ,1() I ' - l . i d o 1 ^ c n i o i I , i l i ( n ( I c l ) i t f ‘ il(
màM 177
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Eu não imaginava tanta violência, mas não podia ignorar que alguma reação
haveria, como freqüentemente ocorre em períodos de quebra de garantias
constitucionais. Agora, acho que a Ordem não podia faltar, naquela ocasião,
aos perseguidos, aos desaparecidos e suas famílias.'^
178 máM
V ulu tiic ) I),i Rc(l('iii(ii M t i/ .K . ã o ,t() [^st,1(1(1 n c n i u i ! j t i i u (l(‘ D i r c i l o
máM 179
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
semana que chegara ao fim a longa greve de 41 dias efetuada pelos metalúrgicos
liderados por Lula, que resultara em violenta repressão policial ao movimento,
e em prisão dos líderes sindicais e dos advogados José Carlos Dias e Dalmo
Dallari, da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo:
A liberdade que viemos discutir nessa VIII Conferência não pode ser com
preendida senão como produto final que tem como componentes imprescin
díveis vários direitos e liberdades, entre os quais avultam a liberdade sindical, o
direito de greve, o direito de expressão do pensamento, inclusive pelos meios de
comunicação de massa, o direito de participação ativa e o direito da formação
dos órgãos do Estado, a liberdade de organização partidária a liberdade de
propaganda política.
180
V 'o l u n i r 1 I ),1 l \ f ■( Icilli H I,|ti/,l( ,'li I , H I [ ' s | , U l l ) I')cni( K l j l i ( ( ) ( Ir O i U 'il( )
Ver A n a is da V III C onferência N acional da O rdem dos A dvogados do Brasil, op. cit.
181
História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
182 màM
\'() k iin » ' 1 1 1 1 R ( ’( [(‘i i K)( I ã ( ) .1(1 I ' s l . i d o I I alii o ilr Direito
seguramente não tinha nada a ver com aquilo (...). O corpo dela foi levado
a pé numa passeata daqui até o Cemitério São João Batista, mas eu não tive
condições psicológicas de acompanhar o cortejo. Fui direto para o cemitério,
onde havia uma multidão, uma coisa espantosa. Foi a demonstração de que o
povo havia sido atingido também por aquela agressão terrível. A passeata foi
uma coisa realmente impressionante (...) . A missa de sétimo dia, celebrada
pelo cardeal dom Eugênio Salles, foi um espetáculo emocionante. A Igreja
da Candelária cheia, a pregação, tudo foi muito tocante. Se ela não tivesse
morrido talvez a opinião pública recebesse com menos emoção o ocorrido.
Mas a morte de dona Lyda contribuiu para maximizar o episódio e, de certa
forma, proteger a Ordem. Ela era uma senhora afável, que não tinha nada
a ver com as atitudes da Ordem, uma funcionária com 42 anos de serviço.
Ela abria toda a correspondência, salvo as que tinham as notas de “pessoal”
e “confidencial”. Foi essa circunstância que a matou e que me preservou. '^
màM 183
_____________ Historia da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
□
o ministro Portela, um a vez que esses “bolsões de resistência” continuaram a
dispor de razoável autonom ia de atuação. Ainda segundo Seabra Fagundes, o
presidente Figueiredo, no dia do atentado contra a OAB, teria feito um a via-
gem-relâmpago a São Paulo com o intuito de enquadrar os setores extremistas.
Missão fracassada, já que em maio de 1981 ocorreria um novo atentado cujo
alvo seria um show de música no Riocentro.'^'
A repercussão dos atentados terroristas, em especial o que havia atingido
a Ordem, obrigou Figueiredo a vir a público manifestar seu compromisso com
a apuração das responsabilidades e punição dos culpados, mas, sobretudo, com
o prosseguimento, a qualquer custo, do processo de normalização democrática.
Essa manifestação do Presidente da República provocou acirrado debate, durante
a sessão de 9 de setembro, entre aqueles conselheiros, Calheiros Bomfim (MS)
à frente, que apresentaram indicação no sentido de que o Conselho Federal se
solidarizasse com os propósitos do governo, e os que, como Sylvio Curado, re
comendaram que a Ordem não se deixasse envolver em “assuntos políticos” ao
manifestar apoio ao presidente. No fundo, o que estava em questão era a opção
pelo melhor caminho a seguir no rum o da consolidação da abertura ameaçada:
apostar no governo Figueiredo ou dele manter distância?
A vitória da proposta de Calheiros Bomfim - por 14 votos contra 4 - não
deve ser entendida como uma tomada de posição definitiva da Ordem, sobretudo
porque a ela se associou a mensagem de Sepúlveda Pertence, então substituindo
Seabra Fagundes que se encontrava depondo no Congresso Nacional. Em tom
duro e incisivo, o vice-presidente, ao mesmo tempo que procurou isentar o
governo de envolvimento no atentado, cobrou um a atuação eficaz do poder
constituído, sem o que a postura de “repulsa moral ao terrorismo” seria de
pouca valia:
O que a nação não quer é ser forçada a acreditar na vigência, ainda hoje, de
um pacto de silêncio solidário entre o poder legale os porões de uma ditadura,
que se diz e que preferimos reputar ultrapassada. O que se espera é não ser
levado a crer, ainda agora, na veracidade de murmuradas transações, nas
quais a cessação dos atos de terror custaria não apenas a impunidade dos
crimes praticados, mas também a parada ou a reversão do processo político
da democratização jurada deste país.’‘^
Id e m , ib., p. 97.
Ver A ta da sessão d a O A B , 9/9/1980.
184 màM
\'()lliin r > i ),i l \ ( ' ( l ( ' i i i ( )( ,11) c i u I ' . i c u l o I ) ( ' n i o ( r . i t i i ' i d e D i k m Io
ttàl 185
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
Ver B ern ard o C abra!, e m A O A B na voz de seus presidentes, op. cit., p. 111.
Ver Seabra F agundes, op. cit., p. 101-2.
186 màã
\ ' o l u n u ’ > l"),i R ('(k 'm o (, i\itiZ c K 'ã () .10 I- s I.k I() D c m o t rá li( o ric Direito
187
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
188 máM
V o klI lK - ■> D a )( I j l i / . i i à i ) ,111 i X ' l i i n i I j li ( (1 I I f I l i r c i l d
gueiredo saiu pela porta dos fundos e não passou a faixa presidencial a seu
sucessor, José Sarney.
Apesar de a OAB ter aventado a hipótese da ocorrência de outros atentados,
0 do Riocentro caiu como uma bom ba sobre ela, mesmo porque, como diz o
velho ditado, gato escaldado tem medo de água fria. Relacionando a im puni
dade e o descaso das autoridades na apuração do atentado contra a OAB como
motores dessa nova manifestação do terror, a nota oficial emitida pela Ordem
chamava a atenção para a gravidade política de que se revestia o episódio do
Riocentro, que não só ameaçara a vida da multidão presente ao show-, como
atentara contra a sociedade e o Estado. Não mais seriam toleradas manobras de
“escamoteamento da verdade” e, apenas à medida que o Presidente da República
tomasse providências para a identificação, desarticulação e punição dos grupos
radicais que agiam à sombra do poder, contaria ele com o “decidido apoio da
Ordem"'"
O fato de não terem mais ocorrido atentados terroristas não significou,
no entanto, que houvessem cessado as ameaças, conforme o depoimento de
Cabral:
Eu recebi muitas ameaças, pela madrugada, via telefone. Minha mulher ficava
bastante assustada. Nós tínhamos uma neta de dois anos e as ameaças recaiam
sobre ela. Diziam que iriam estuprá-la e seqüestrá-la. Eu recebia também
ameaças por escrito, assinadas por um tal '‘Comando Delta”. Quando eu me
queixei à autoridade competente, a única coisa que eu ouvi foi a recomenda
ção para andar sempre em carro de praça e nunca fazer o mesmo percurso.
Durante os dois anos que fu i presidente da OAB, só andei em táxi e nunca
fiz 0 mesmo trajeto (...). Eu nunca revelei isso publicamente. Eu poderia ter
revelado para alguns colegas as ameaças do “Comando Delta” mas nunca
dei entrevistas para que não pudessem pensar que havia ali uma exploração
política do episódio. Eu sempre tive o cuidado de não transformar isso num
palco iluminado.'^”
màM 189
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
Ainda em junho, a OAB ganhou matéria na revista Veja por ter se negado
a comparecer à cerimônia de homenagem ao ex-presidente do STF, Antônio
Néder, que se aposentava. Presença atuante nas articulações político-militares
que culminaram no golpe de 1964, Néder foi nomeado para o Tribunal Federal
de Recursos em novembro desse mesmo ano e, sete anos depois, indicado para
o Supremo pelo presidente Médici. Sobre a ausência da Ordem na festividade
para a qual havia sido expressamente convidada, Cabral foi lacônico: “Ninguém
quis ir.”'*’
Revogado o Al-5, o emprego da Lei de Segurança Nacional se transformou
no principal instrumento pelo qual o regime buscava enquadrar os movimentos
sociais emergentes e a imprensa, que lutavam para se livrar das amarras que
durante tanto tempo haviam cerceado sua atuação. A Ordem teve um papel
190 màM
\n liim r 1 I K t ' d r i n i K i'c U i/.k .h ) j n I'^l.ulo l)(,‘nto( r.itiu : d r D iiX 'itn
ttàl 191
_____________ Historia da
O rd e m dos Advogados do Brasil
192 máM
I ) j R c d c n n n [ , i l i / , n . ,h i ,k > ! ' - I . i d i ) I ) í ‘i h ( )c r / i l K o d e 1 ) i i c i l i i
Ver, e n tre o u tros, D ionísio D ias C arn eiro e E d u a rd o M o d ian o , A juste e x terno e d e sequ ilíbrio inte rn o : 1980-
84, e m M arcelo Paiva A breu (o rg .), op. cit.; Jennifer H e rm a n n , Auge e declínio do m odelo de crescimento
com endividam ento: o II P N D e a c r i s e da d ívid a ex te rn a (1974-1984), e m F a b io G ia m b ia g i, A n d ré Villela,
Lavínia B arros d e C astro e Jennifer H e r m a n n (o rg .), op. cit.
Ver Affl da sessão d a O AB, I 6 / 1 1/1981.
màM 193
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
194 #à#
D<) r j!i/.)L ,')!J j o }:s !,k Io O c in t tt I'.iln o (k' D in 'ilo
isto como homenagem indevida. Eu nao fiz homenagem nenhuma, nem muito
menos a OAB. A Ordem não ficou dividida em função deste episódio.'^'
Consegui fechar uma faculdade de fim de semana. Não consegui que se tor
nasse obrigatório o Exame de Ordem, à época, embora hoje seja. Consegui
acabar com algo danoso, que eram uns estágios que não recomendavam nada
ao estudante que chegasse ao quarto ano, mas lhe franqueavam a inscrição
na Ordem. Acho que melhorei também a adequação curricular (...). Hoje,
em todo 0 Brasil, avulta um número enorme de faculdades particulares sem
a menor estrutura e condição de estarem formando bacharéis em direito. Nós
conseguimos, atualmente, que a OAB se pronuncie quando da criação de
novas faculdades. Este foi um ganho cuja semente foi plantada lá na minha
gestão. Se eu tivesse de fazer um balanço da época em que a dirigi, diria que
foi favorável.''^‘
màM 195
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
196 màM
V 'd lu n ic ’ I X i k ( ’ ( k ‘ m o t i \ i l i / i U >'i(i .U) I ' s L u l o I i \ ) l i i () ( Í í - D i i c i t o
Ver M ario Sergio D u a rte G arcia, e m A OAB na voz de seus presidentes, o p . cit., p. 128.
Ver B e rn a rd o C a b ra l, o p . cit., p. 123; e H e r m a n n B aeta, e m A O A B na vo z d e seus presidentes, o p . cit.,
p. 159.
Ver H e rm a n n Baeta, op. cit., p. 159.
màM 197
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
198 máM
V 'o lL in ic ■> IX i R ( ’( l c n i ( )( i \ i l i / , u . J O ,1(1 I sl.ul() D c n i o i r.itic o i l r H i r c i l i >
máM 199
História da
O rdem dos Advogados do Brasil
Não menos importante do que o debate ideológico, era a disputa pelo voto
das seccionais, como fica evidente no depoimento acima citado. Cada seccional
tinha três representantes, mas apenas um voto, o que implicava a necessidade
de o candidato obter pelo menos o apoio de dois conselheiros para ter o voto
da seccional. Segundo Seabra Fagundes, a partir da sua sucessão as eleições da
Ordem passaram a se definir pela conquista de votos nas representações esta
duais, tanto que um dos “segredos” da vitória de Bernardo Cabral teria sido a
visita que fez a praticamente todas eias.^^
Por isso mesmo, é fácil entender a atração eleitoral que representava a pro
messa feita pelo candidato Alcides Munhoz de custear as passagens dos conselhei
ros das seccionais. Ora, se a diferença entre vitória e derrota estava na conquista
dos estados, este foi o alvo da estratégia empregada por Mário Sérgio:
Comecei então a me locomover por todo o Brasil em busca dos 12 votos que
ele não havia conseguido. Ocorre que, em alguns dos estados que haviam
decidido votar em favor do Alcides Munhoz, havia conselheiros que gostariam
de votar em mim. E como pelo sistema eleitoral antigo votavam em bloco os
três conselheiros federais de cada estado, prevalecendo a vontade da maioria,
eu alimentei esperanças de vir a conseguir o apoio de parte dos estados com
prometidos com o meu adversário. Alcides M unhoz havia convidado para
concorrerá vice-presidência na sua chapa o dr. DoranySá Barreto Sampaio, de
200 #àm
\'() lu itU ' ) I X i l \ i ‘c ! ( - i i i i n i . i l i / . u j í ) , n ) 1 ■'K u l() 1) ( ’m ( K i',ili( () ( I c O i f i ' i t f
mim foi uma surpresa. A essa altura, Pará e Sergipe, onde eu tinha, igual
mente, um voto de cada estado, mudaram de lado e, embora Amapá tivesse
cedido à pressão para modificar seu voto, eu acabei vencendo a eleição que
parecia perdida.^°^
201
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
conselheiro Francisco Costa Neto, que derrotou Sérgio Ferraz por 14 votos a
10, e dois nulosy»"
É claro que uma campanha tão acirrada, envolvendo o comando de uma
das instituições da sociedade civil mais respeitadas do país e a participação de
figuras de expressão nacional, transbordaria para o público externo. Já que
os principais trunfos da Ordem eram a sua unidade e coesão internas, foram
preocupantes as matérias da imprensa que ressaltaram a cisão ocorrida durante
o processo eleitoral, associando-a - o que era pior para a imagem da Ordem
- a figuras emblemáticas da instituição: “Candidato de Seabra Fagundes der
rota candidato de Faoro”. A análise mais incisiva sobre o processo eleitoral foi
feita por um artigo da revista Senhor, de 13 de abril, intitulado “OAB, traição e
racha”. Além de enfatizar a dissensão interna - existiriam agora “26 Ordens, e
não apenas uma” denunciava a prática de corrupção eleitoral, já que algumas
seccionais teriam m udado seu voto em troca de “auxílio financeiro” recebido
do Conselho Federal.-'^
A dura resposta da OAB veio por intermédio de uma carta do presidente
recém-eleito à diretora de Senhor, Cátia Azugaray, solicitando que fosse publi
cada com o mesmo destaque dado à matéria sobre a eleição na OAB:
202 máã
\'(llui1K- 1 n < ) R ( ’( l t ' n i ( ) ( i ' a l i / , i ( . , à o ,1(1 1' s l . i f l o r .ilic o clr D i i i ' i l o
203
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
□
3.5 "Grupo de pressão para desestabilizar o poder tecnobu-
rocrático"
204
\n iu in c > IX) R r t k - n t o i .'lo , t n [ ' s t a t l o D c i t i u i r j t i , u i l c l ^ i r r i l o
•àl 205
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
206 màM
n . t R(’(lí'nio( I\UI/.K j i i .!() n c t n o c r.iln n de I l í r c i t i i
baixado em junho, era limitar os reajustes a 80% do INPC para todas as faixas
salariais. Na sessão do dia 29 de agosto, a Ordem apelou ao Congresso Nacio
nal pela rejeição desse Decreto-Lei “por sua manifesta inconstitucionalidade e
inconveniência”.
D errotado no Congresso pela prim eira vez em 18 anos, por ocasião da
votação do Decreto-Lei 2.024 em setembro, o governo se cercou de medidas
extraordinárias para dobrar os parlamentares e aprovar o Decreto 2.045. Sob
forte pressão popular, o presidente Figueiredo recorreu à suspensão parcial
das liberdades públicas por meio do Decreto 88.888, colocou a capital federal
em “estado de emergência”, e encarregou o general Newton Cruz, com an
dante m ilitar do Planalto, da aplicação das medidas coercitivas que julgasse
necessárias para a m anutenção da ordem. Uma dessas medidas foi a invasão
da sede da OAB de Brasília, onde se realizava o I Encontro de Advogados do
Distrito Federal.
Coube ao presidente Mário Sérgio fazer o relato do episódio. Programado
havia mais de um ano, os organizadores do Encontro foram surpreendidos por
nota firmada por Newton Cruz em 21 de outubro, alertando que estava proibida
a realização de reuniões, “com caráter contestatório”, em recintos fechados na
área de Brasília. Entendendo não se encaixar na restrição feita pelo general,
o presidente da OAB-DF, Maurício Correia, manteve a data prevista, dia 23.
Presente ao Encontro, Mário Sérgio lembrou que chegara a falar sobre as m e
didas de emergência, “não com objetivo contestatório ao regime, mas visando a
definir a posição da Ordem de vanguardeira na luta pela plena democratização
do país”. De volta a São Paulo, tendo em vista o clima de absoluta tranqüilidade
em que se desenvolvia o evento, fora surpreendido por telefonema do vice, Her
m ann Baeta, de que a seccional de Brasília fora invadida por forças policiais e
interditada, o vigia detido, as fitas de gravação apreendidas, e Maurício Correia
ameaçado de ser preso."’
O sentimento de revolta que tom ou conta dos conselheiros pode ser ex
presso na frase do conselheiro José Júlio Cavalcante de Carvalho: “Foi outra
bom ba contra a OAB”. O u como disse Maurício Correia, contra a “República
Livre dos Advogados do Brasil”:
màM 207
História da
O rdem dos A dvogados do Brasil
não correspondia àquilo que nós queremos. Porque o que nós queremos é
exatamente o contrário: um ordenamento jurídico que seja expressão do povo
através de uma Assembléia Nacional Constituinte'.^^°
208 màM
V o l u n i c 1 l"),t R r i k ' n i i ;i ü ( » . n i I s l , t i l< i I x t ,il n ( i ( I r H i r r i l i i
màM 209
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
V e r ^ í a àa sessão da O A B , 20/12/1983.
210 màM
V olum e ■) I),I ls('(k'ni()c r , i t i / j ( . j o jo K u d o i')(‘n i o ( I'.itii o c ic [ ) Í K ' i t o
màM 211
História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
272 màM
Vnluitic ’> I )j K í ‘( l c n i i ) ( f , i t i / , k , H) , i t ) 1 - . t c u l o [ ) ( ' i t i ( K r . i l K () ( I f 1 l i i c i l o
(...) isso seria um grande escândalo, pelo fato de contratar o escritório do ad
vogado Mário Sérgio Duarte Garcia, justamente o presidente da OAB, que por
acaso é uma entidade profundamente ligada à luta pelas liberdades democrá
ticas, coisa da qual o grupo de Paulo Salim M aluf não pode ouvir falar sem ter
profundas crises de desinteria. Mas o pior é o seguinte: trata-se de uma denúncia
falsa, uma vez que o escritório só será beneficiado com a importância caso vença
a causa. Caso contrário terá apenas a compensação de custos. A í surge uma
coisa estranha: do outro lado, o lado dos acionistas, os advogados levarão com
a causa ganha contra o estado e os interesses da população, nada menos do que
60 bilhões de cruzeiros (...). Vejamos a história do deputado. Ele é, desde que
eleito, em 1968, presidente da Comissão de Transportes da Assembléia Legislativa
- uma grande dedicação à causa dos transportes coletivos estaduais que não se
vê, apenas com um senão: ele é também dono da empresa Andorinha, uma das
forças maiores que este país tem em matéria de transporte rodoviário. Além do
mais, responsável por um lobby de empresas em São Paulo. Vai dai que não
gosta de trens, é um direito que lhe cabe. Querem mais coincidência? Pois aí vai
outra: sendo representante da região de Presidente Prudente, Walter conversou
muito com M aluf sobre as inconveniências do transporte ferroviário na Alta
Sorocabana. Mais acasos? É ele, Walter, que detém o monopólio das linhas ro
doviárias da região. Epara dar aos estranhos casos, por hoje, findos, foi então
que Maluf, que hoje conta com o apoio de Walter para a presidência, desativou
praticamente todos os trens que serviam à região a custos rentáveis.-^^
213
História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
No mês seguinte, a Ordem foi novamente atingida; dessa vez, o alvo visado
foi mais físico do que moral. O prédio da OAB-DF sofreu um incêndio, avaliado
pelo presidente Maurício Correia como de “origem criminosa”, que destruíra
completamente o terceiro andar do prédio e danificara o quarto. A suspeita de
“crime” residia no fato de que o sinistro ocorrera três dias depois de o general
Newton Cruz ter sido citado para contestar a ação movida pela seccional de
Brasília, concernente ao episódio anterior da invasão do mesmo prédio. A as
sociação com fatos do passado recente não pôde deixar de ser feita, tal como
enfatizou o conselheiro Moacir Belchior:
214 màM
Y 'o lu in r 1 l')<i k t'd c m u i, i . i t i / . n ,t(i do I ^l.id o D c iiio c I'.ilii o d c [D iri'ilti
Tancredo era um sábio. Sabia conversar, sabia ler, sabia rezar, sabia comer
e beber, sabia rir, sabia ironizar, sabia não ter medo (...), sabia ser suave
na forma e forte na ação. Forte como uma linha reta e doce como a curva
do rio. Pelo bem e pela verdade foi implacável no cumprimento da terrível
sentença: não se faz política sem fazer vítimas (...): eu amava, admirava e
temia Tancredo.^'^
máM 215
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
216 màM
\oluilH ' 1 [ ),i K c ílr iiK H i.iii/a i .u I .in I '^l.uli) D c i i k k i\iln <i ( i c [ )iic itn
277
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Capítulo IV
Por uma constituinte livre e soberana (1985-1988)
218 màB
V d i u i i i c ■) il l R c d c n n II. t j t i / j (. j i i j ( I h \ t J ( l i ) D l ’I I K l u J l Í K i d e [ ) i i c i l o
O passo inicial dessa caminhada - e aqui também estavam de acordo - teria que
ser a “convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana”.
Segundo o ministro, a expectativa do governo em relação à atuação da Ordem
era “a do crivo, da fiscalização perm anente”.-'"
Em seu discurso de posse, Baeta traçou um roteiro dos passos necessários
para o país atingir “a consolidação das conquistas democráticas”:
Não é mais possível uma Carta Magna elaborada nos gabinetes dosjuristas e dos
supostos sábios, imposta à nação. A Constituição de que necessitamos terá de ser
fruto de um amplo diálogo nacional (...). Torna-se imperiosa a derrogação ou a
alteração de dispositivos do residual da legislação autoritária ainda vigorante,
como a Lei de Segurança Nacional Lei de greve, Lei de imprensa, Lei Falcão, Lei
dos Estrangeiros, CLT e, sobretudo, a reformulação geral da legislação eleitoral
e da Lei Orgânica dos partidos, para que todas as classes, grupos, camadas e
segmentos sociais possam manifestar-se livremente e organizar-se em partidos
políticos, sem qualquer discriminação de ordem política, filosófica ou ideológica
(...). A Lei de Anistia, dita ampla, geral e irrestrita, deixou à sua margem mi
lhares de oficiais e praças (...) e algumas dezenas de civis (...). Temos de lutar e
encontrar instrumentos que impeçam a revoltante e inconcebível prática que
tem resultado na morte e na perseguição de pequenos posseiros, garimpeiros e
trabalhadores rurais, bem como de seus advogados, colegas nossos, no processo
de reivindicação de seus direitos (...).[Compromisso] de dirigir a entidade em
direção a uma sociedade democrática em que haja igualdade e liberdade reais
para todo o povo brasileiro.--"
%áM 219
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
□
acordo nacional que saísse “dos gabinetes dos sábios” e tomasse o pulso da popu
lação. Uma Constituinte exclusiva e soberana, dotada de amplos poderes, eleita
especialmente para esse fim, ainda em 1985, parecia a muitos, à OAB inclusive,
como o formato institucional ideal para a realização do “amplo diálogo nacional”,
indispensável para se liberar o fluxo em direção à democracia plena.
Democracia plena que, como foi exaustivamente debatido na X Conferência,
não deveria se limitar à recuperação da liberdade, mas cobrar também a instau
ração dos princípios da igualdade social. Nesse ponto, muito precisava ser feito,
especialmente em relação à estrutura fundiária do país, já que a sempre prometida,
e nunca realizada, reforma agrária acabou gerando um clima generalizado de
conflito no campo, resultando, como enfatizou Baeta, “na morte e na perseguição
de pequenos posseiros, garimpeiros e trabalhadores rurais, bem como de seus
advogados”. Igualdade que também pressupunha uma melhor distribuição de
renda, seriamente comprometida pela grave crise econômica legada pelo regime
militar, que misturava, em uma mesma fórmula explosiva, inflação, recessão, de
semprego e dívida externa crescentes. Convenhamos que, para um presidente que
nasceu fraco, - político nordestino oriundo da Arena/PDS, herdara o ministério
de Tancredo - essa agenda, tanto política quanto econômica, era muito pesada.
Ficaria mais leve se o presidente fosse capaz de atrair “amigos” para seu campo.
Daí, entre outros motivos, a concessão, em maio, da Ordem do Rio Branco, no
grau de Grã-Cruz, para a OAB, “pelos assinalados serviços prestados à causa do
aprimoramento e preservação das instituições jurídicas^'"
O presidente H erm ann Baeta, ao contrário de Sarney, tivera tempo de
construir e consolidar suas relações na Ordem, principalmente desde a época
em que exercera a vice-presidência. No entanto, sabedor de que a instituição
enfrentaria uma conjuntura nacional delicada, para o que seria fundamental a
existência de elementos suficientes de coesão, buscou aparar as poucas arestas
que ainda subsistiam, deixando sua vaga no Conselho Federal pela bancada de
Alagoas para Sobral Pinto.'"' Certamente ainda estava fresca na memória da O r
dem a querela da Medalha Ruy Barbosa, quando, discordando da proposta feita
por Baeta de mudança no processo de escolha dos agraciados, Sobral, seguido
por Ribeiro de Castro, acabou devolvendo a medalha recebida.'"
220 màM
Xnl uil K' 1 I ) .l k ( ' ( l ( ’ll)<K I'.ltl/Jl .Ml J l ) 1' - k u l o l)i'm o ( O (Ic l ‘) l t t ‘ ltO
221
_____________ Historia da
Ò rd e m dos Advogados do Brasil
222 máM
V ' d l u n i f ') l ) j ls( ‘( k ’n i ( K t . i t i / . i i , Ò1) cio l - ' t i u l o 1 )('iTi () ( I'.itit II ( I c l l i t r i l o
de ele conviver com todos os sistemas politicos deste pais. Eu não conseguiria
isso. Mas eu o admiro”.^'"
•ál 223
História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
224 màM
\n lu n ic 1 I \ i K<‘(k'i)ii II t . i i i / . H ,11) . Ml I I K i/iiii (I (ir
Parece que nós ainda não despertamos para o fato âe que lutar contra o
regime discricionário e autoritário era uma postura de denúncia, mas que,
no momento em que se abre para este país uma perspectiva de construção
de um sistema democrático, a simples postura contestatória (...) já não é a
melhor das contribuições.^^’
22 5
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
226
V ulunu' ' n . i i', \ t i / a ( , ã u a o F < ta < k ) r . í Ü K x k H i i c i U )
227
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
228 má»
V o lu in c ' 1 ) a l \ C ( k ' i H ( )( i , 1 l i / , n ,)() , i t ) [ s | a d < I I )rni( n i ,il k o I Ir I ) i r e i Io
máM 229
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
uma, incumbida da parte material, ficou por conta de Moacir Belchior; a outra,
encarregada do temário, foi coordenada pelo conselheiro Lamartine Corrêa, para
quem, tendo em vista que o objetivo do Congresso seria oferecer sugestões para
a elaboração da futura Constituição, o encontro deveria ocorrer no plenário em
detrimento do sistema de comissões. Os trabalhos se desenvolveriam em seis
unidades: Problemas pré-Constituinte; Direitos do ser humano; Poder político;
Ordem econômica e social; Poder Judiciário; e Direitos dos trabalhadores.
Apesar da importância dos dois congressos constituintes como espaços
de reflexão e de explicitação do pensamento da Ordem, seria no XI Congresso
Nacional, realizado de 4 a 8 de agosto de 1986, que, de maneira mais clara, se re
velaria 0 posicionamento da entidade em relação a questões fundamentais para a
elaboração da nova Carta Magna do país. O temário se organizou em torno de três
grandes temas - 1. Organização do Estado; 2. Sistema de propriedade; 3. Direitos
do homem os quais, por sua vez, abrangeram, respectivamente, os seguintes sub
temas: 1. Poder e a sociedade; Federação e organização tributária; Poder Judiciário;
2. Poder e propriedade; Reforma agrária; Reforma urbana; 3. Direitos da pessoa
humana; Família, educação, saúde e cultura; Direitos do trabalhador.
Se as questões jurídico-políticas mantiveram um lugar de destaque no
temário da Conferência, é certo que as preocupações “com uma genuína e ra
dical democratização da sociedade brasileira”, aí incluindo a conquista da plena
cidadania e de um acesso mais justo “aos frutos do trabalho”, deram o tom do
posicionamento da Ordem em relação ao novo arcabouço constitucional do
país. Como seria de se esperar, dada a importância que a questão fundiária
ocupava na agenda da Ordem - e tam bém da sociedade, é bom que se diga - o
mais extenso parágrafo da Declaração de Belém foi a ela dedicado:
promovido não através da concentração crescente, mas por sua ampla disse
minação, sob várias modalidades, como veículo por excelência de incrementos
230
I "),i Kc' di’iiK K r,i!i 7 .U ã ( ) <111 l.si.icln ["Icmi K r , i l íi u cir D i i c i t u
O Rio de Janeiro, por ter sido a capital da República, era o centro para o qual
convergiam grandes nomes da intelectualidade e da advocacia, o que se refletia,
evidentemente, no cotidiano da política interna da Ordem (...). A presença de
figuras como Victor Nunes Leal, Evandro Lins e Silva, Miguel Seabra Fagundes,
Sobral Pinto, José Ribeiro de Castro, Eduardo Seabra Fagundes, Raymundo
Faoro e outros, que compareciam às sessões, abrilhantavam as deliberações
do Conselho. Muitas vezes as deliberações eram absolutamente inesperadas,
màM 231
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
O primeiro passo foi pedir uma audiência ao José Aparecido, que era o go
vernador do Distrito Federal. Fui acompanhado de Moacir Belchior (...) e
tomamos um chá de cadeira. Quando finalmente nos atendeu, foi seco, disse
que não tinha autonomia para fazer a doação de um terreno, e nos propôs
a compra do terreno por um preço reduzido em 40% do valor original. Eu
respondi que lamentava muito, mas que a Ordem não tinha condição de
arcar com um investimento dessa monta, e que, de acordo com o Estatuto,
que é instituído por lei, competia ao Poder Executivo arcar com as “condições
condignas” de instalação da Ordem. Ele examinou o Estatuto, disse que iria
232 màM
I ) , ) R ( ' í l ( ' i i i í u M l i / , u ,'l< ) ci( I [ ' i t . i í l i ) | ) ( ' i i i ( )( I , i l n () r l ( ' I ) i i c í l ( I
acordo com a doação e me pediu apenas que apresentasse uma solução para o
problema jurídico da doação de um terreno da União para uma entidade da
sociedade civil com fins públicos, como a OAB. Por acaso, o consultorjurídico
do Distrito Federal, que era quem deveria oficialmente responder por essa
questão burocrática e jurídica, tinha sido meu colega nos tempos de faculdade,
no Rio, 0 dr. Humberto Gomes de Barros. Nós então conversamos e chegamos
rapidamente a um consenso sobre os termos da doação. Fizemos o expediente
e levamos para o Sarney despachar. Lembro-me até hoje do despacho, que
historiava rapidamente a questão, mas com certa malícia. Ao final, antes da
assinatura, ele lançou um “Como pede” (...). O lançamento da pedra fu n
damental foi no dia 16 de fevereiro de 1987, porque eu deixaria o cargo em
abril e só sobraria o mês de março para a realização da mudança.^^
^“ I d e m . ib .p . 182-3.
màM 233
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
234 máM
I UK- ' 0,1 Rc'dc'nioc m li/.K .!() ,to l;sl,irlo D cinoc i. i l i i u ilc n irc ilo
•àl 235
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
236 màM
\'()luilic 1 13,1 l\(’(Icmo( ui :i /ai j <' j o I I )(>ini)( i.ili( o (Ir I i
Eu, particularmente, tinha uma relação muito próxima com o dr. Ulysses.
Ele foi deputado estadual constituinte junto com meu pai, em São Paulo,
em 1946. Eu cresci vendo-o na minha casa. Essa amizade nos aproximou e
facilitou muito nosso intercurso. Ele foi um amigo da OAB.^'"
237
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
238 màM
[).l R c d c i l K )( I M l i / c U à<) ,1() I sl.uío n c i l K H KÍ! i u ) (Ic O ir c ílí)
màM 239
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
mento para “não fornecer pretexto para o tum ulto do processo de legitimação
democrática do país”.
O tema voltou à pauta na sessão de 14 de julho, quando Thomaz Bastos
pediu o consentimento do Conselho para “afirmar o mandato de transição do
presidente Sarney”, afastando, assim, a possibilidade deste se alongar por cinco
ou seis anos. Em seguida à sugestão do conselheiro João Luiz Pinaud (RJ) para
a realização de um ato público da OAB em favor de eleições diretas em 1988, o
presidente da Ordem anunciou que havia marcado entrevistas para os jornais
Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil quando, aprovando a indicação de Pinaud,
pretendia deixar clara a posição da Ordem: “O mandato do atual presidente da
República não poderia ultrapassar o marco de redemocratização do país, que
era a Assembléia Nacional Constituinte, tendo legitimidade somente como
mandato de transição”.
Mesmo em tempos de Nova República, a Ordem continuou a ter uma
relação difícil com o Poder Executivo, principalmente em função da postura
que a instituição adotou em relação à duração do mandato presidencial. Daí
decorreu o distanciamento entre os dois presidentes: ao contrário de seu an
tecessor, que negociou a cessão do terreno para a construção da sede da OAB
em Brasília, Thomaz Bastos se manteve afastado de Sarney: “Os contatos insti
tucionais que nós precisávamos fazer eram com o ministro da Justiça, o Paulo
Brossard, e algumas vezes com o Sepúlveda Pertence, que era o procurador-geral
da República” ’*"
O acirramento do embate com o Planalto ocorreu no início de março de 1988,
por ocasião da prisão do presidente da seccional da Paraíba, Álvaro Vital do Rego,
durante manifestação, ocorrida por ocasião de visita de Sarney ao estado, em favor
da realização de eleições diretas para presidente ainda naquele ano. Seu depoimento,
transcrito na íntegra na Ata da sessão de 15 de março, registra a humilhação a que
fora submetido pelo comandante-geral da Polícia Militar estadual:
Ele tomou meu braço direito, apertando e dizendo: “Retire-se e cale-se, ad-
vogadozinho. Eu não reconheço qualquer poder, nem qualquer autoridade,
nem qualquer dignidade, na condição de presidente da OAB. Retire-se e
tire esses canalhas” (...). Passei diante de meu algoz que me mandou ficar
postado entre dois tanques de guerra e entre dois soldados da polícia por 15
Id em , ib., p. 203.
240 #à#
V'n Iu ilK l),i i \( '( k ’l l i o ( i , i l i / , i c , i n cK) [ s K k l ( ) 1 )( I ,i t i( 1) ( k' i ) i^ f ‘ifo
A reação veio rápida. Para avaliar de perto a situação, seguiu para João
Pessoa o secretário-geral, Luiz Carlos Madeira. De imediato, foi feito contato
com o ministro da Justiça, Paulo Brossard, e disparado o aviso de que a Ordem
não admitiria o enquadram ento de um presidente de seccional na LSN, ainda
mais que Vital do Rego cumprira uma determinação do Conselho Federal que,
por unanimidade, havia autorizado sua presença na praça pública dentro da
campanha pró-diretas 88.
O aspecto transitório do governo Sarney, dem onstrado pela evidência
de suas raízes no Estado autoritário, foi o mote das duras críticas de Miguel
Seabra Fagundes:
Adm itir que o mandato perdure ainda por dois anos é o mesmo que dizer que
serão mais dois anos sob a vigência do regime militar, contra o qual a nação
se levantou, em uma revolução à brasileira, indo para as praças públicas em
multidões espantosas. É preciso cinismo para se pretender, para se pleitear que
a Assembléia Nacional Constituinte não tenha poder para reduzir o mandato
do presidente da República, para fixar o seu termo, o final do regime militar
e 0 início da era democrática brasileira.^^"
màM 241
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
242 màM
V' o I l i I11í ‘ '« llo K i x i c m i i i M t i z . u ,'i() a o [ staclo D c n x x r.ílii o di» f l i i c i i o
•ál 243
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
244 màM
\'()lunir > 1 ) ,i l \ f ‘d c i n i )( c . i t : / , i i ,i( i , h i I > l , u l ( ) I I c i i K n t , i l u o t I r I l i i r i k ,
Ver Affl da sessão d a OAB, 21/11/1988. Sobre o pap el d o s m ilitares n a N o v a R epública, ver Celso C astro e M a
ria C elin a D ’A ra u jo {ot§s.}. M ilitares e p o lític a na N o va República, R io d e Janeiro, E d ito ra FGV, 2001
245
_____________ História da
r O rd e m dos Advogados do Brasil
]
em relação ao evento de Volta Redonda. O conselheiro Milton M urad (ES), por
exemplo, sugeriu que se incluísse na nota oficial um a referência ao fato de que
empregados de uma empresa não tinham o direito de tomá-la, impedindo a
entrada daqueles que a dirigiam tal como ocorrido na CSN. Arthur Lavigne, por
seu lado, lembrou que o coronel que comandou a invasão o fez com autorização
do Judiciário. De todo modo, a resposta mais eloqüente foi dada pelo eleitorado
paulistano, que, em 15 de novembro, elegeu a candidata do PT, Luíza Erundina,
para a prefeitura da m aior cidade do país.:"'
O ano de 1989 guardava desafios especiais para a Ordem, para o país e
para o mundo. A primeira, teria que encontrar seu lugar institucional em uma
democracia consolidada, depois de duas décadas dedicadas ao bom combate
contra o regime militar e empenhadas na transição política. O Brasil elegeria de
forma direta, depois de quase 30 anos em jejum, o sucessor de Sarney. O m undo
veria, com um misto de surpresa e esperança, a queda do Muro de Berlim e o
fim do regime comunista na União Soviética. O século XX chegava ao fim antes
mesmo de acabar...
246 9áM
\'c > lu n ir > IX ) R ( ‘( k ' n i i ) ( . i . i t i x ^ u õ (i a o N l . i d o D c i i k x r.itii o di D i t c i l o
FONTES E BIBLIOGRAFIA
IMPRESSOS
LIVROS E ARTIGOS
9áM 247
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
248 màM
I ),i Rcdciiii i( , '] ( I .1(1 I - - I ct di ] [ ) ( 'l1 ln i h i:i< () ( i f I ) i i c i t n
GÓES, Walder de. O Brasil do general Geisel. Rio de Janeiro, Nova Fron
teira, 1978.
249
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
250 #à#
V o lu m e 1 111 R ( 'c lc n i( K r . i l i / j t ã o , i o F s U d o D c ü k k r . i l i t . o cIc [ d i r e i t o
257
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
TOLEDO, Caio Navarro de. O governo Goulart e o golpe de 64. São Paulo:
Brasiliense, 1994 (Coleção Tudo é História, vol. 48 - 14= edição).
252 #àm
[ ) , t I \ C' (I (' I 11 ( )( ,'h ) ,t( I ( -.111 r i o 1 ) c i 11 ( )( t i l l l l u i l r I ) i l ' c i l ( )
ÍNDICE O NO M ÁSTICO
màM 253
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
]
Arantes, Aldo, 164
Araújo, Gil Soares de, 80, 81, 82
Araújo, Olga Cavalheiro, 237, 238
Araújo, Paulo Barreto de, 131
Arbage, Jorge Wilson, 164
Arinos, Afonso, 222, 223
Arns, (Dom) Paulo Evaristo, 181
Arraes, Miguel, 17
Assumpção, (general), 58
Azevedo Neto, Vasco, 164
Azugaray, Cátia, 202
254 màM
V 'o lu n io •) 1)ii Kcdc’Hii K i. ili/ . H ,Hi . 1(1 f'siado I ) ('iiio ( n dc D ii'c ito
c
Cabral, Bernardo, 172,183,185,186,187,189,190,193,194,195,196,197,
200,203, 204,238, 242
Café Filho, João, 60, 61, 62
Caldas, (professor), 173
Calmon, Pedro, 118,126,127, 173
Câmara, (Dom) Helder, 211
Camargo, Laudo de Almeida, 111,112,113,117,118,119,121,122,123,131
Camargo, Laudo Ferreira de, 34,
Camargo, Manoel Moreira, 202
Camious, Aristides, 193
Campos, José Wilson Siqueira, 164
Campos, Milton Soares, 68, 78, 79,101, 148
Cândido, Raymundo, 172
Cantai, Welington Rocha, 136,143
Cardoso, Adauto Lúcio, 22
25 5
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
256 •ái
\ ’n l v i i i i c 1 1),i R i ’d m i i )( ; ,'iu j o t 't.u lt I 1^ c n u >( i . n n ( ) d r 1 "l i I ( ' l i t I
E
Elbrick, Charles Burke, 116
Erundina, Luiza, 246
F
Fagundes, Eduardo Seabra, 17, 18, 171, 172, 173, 174, 177,178, 179, 180,
182,183,184,185,186,194,195,197,199, 200,201,202,210,218, 231
Fagundes, Miguel Seabra, 49, 51, 52, 59, 60, 61, 62,63,121,123,139,171,
183, 190, 194, 195, 196, 197,201,206, 210, 214,221, 231, 234, 237, 241,243
Falcão, Armando Ribeiro, 143,146,150,154,173
257
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Faoro, Raymundo, 131, 150, 159, 160, 163, 166, 167, 168, 171, 172, 173,
175,183,191,197, 201,202, 231
Farah, Anuar, 30
Fernandes, Florestan, 244
Fernandes, Raul, 21, 26, 36, 54,61
Ferraz, Rubens, 148
Ferraz, Sérgio, 194,201, 202,206, 226, 236
Ferreira, José Oscar Pelúcio, 150
Ferreira, Themístocles Marcondes, 29,46,48, 58,101
Fiel Filho, Manuel, 152
Figueiredo, Euclides, 171
Figueiredo, João Batista de Oliveira, 153,164,169,171,175,179,183,184,
188,191,207, 208,216
Fiquene, José Ribamar, 226
Fleury, Sergio, 133
Fonseca, Arnoldo Medeiros da, 33
Fontoura, Carlos Alberto, 135
Fragoso, Heleno Claudio, 120,121,129,130,132,135,139,148,154,191,217
Freire, Geraldo, 126
Freire, Marcos, 17
Freitas, Guaracy, 237, 239
Freitas Neto, Antônio de Almendra, 209
Frota, Sílvio Couto Coelho da, 153,164,165,166
Furtado, José Alencar, 162,176
Furtado, Reginaldo Santos, 200,203
G
Galloti, Luís, 76
Garcia, Luiz, 160
Garcia, Mário Sérgio Duarte, 16,17,181,185,190,200,201,202,203,204,
205, 207, 208,210, 211,212, 213,215,216, 218,231
Gaspari, Elio, 160,163
Gato, Alberto Marcelo, 153
Geisel, Ernesto, 15, 119, 135, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150,
151,152,153,154,155, 157,159,164,165,167,168,169,170,171, 174,188
258 •41
I ).i R(,‘(i(’iii() ( . 1 1 ) l-siadfi O c i i i o i () (l(‘ n i i x ’ilo
J
Jansen, Letácio, 50, 52, 53, 58
João Paulo II, Karol Wojtyla, papa,181
Jobim, Danton, 118, 126, 128
Jobim, Nelson, 238, 242
Jones, Stuart Angel, 127,129,160
Jordão, Haryberto de Miranda, 139
Jul, Ana Maria, 206
•àl 259
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
260 •ái
I ),l ,ii ' . I I I I ' I . K I II I ) ( ' i n i
#àm 261
_____________ História da
j~ O rd e m dos Advogados d o Brasil
J
262 màM
V 'u lu m t' > I ),i l\('( l i ' M K )(, l c i : i / . K Jil ) , 1(1 I ‘v l . l d o D r U K )C I ' . i l i l ( ) ( I c [litl'ill
Nunes, Petrônio Portela, 145, 150, 158, 160, 163, 165, 167, 170, 171, 173,
174,178,184
•àl 263
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Q
Quadros, Jânio da Silva, 86,87,176
264 màM
V n liin ic 1 I ),1 | \( '( !( 'M il K I I / .:i ) , 111 I <!,1(1(1 | 1 ( ’1)11 K I'.il't !(' [ ) i t ( ‘ il(
màB 265
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
V
Valente, Gilberto, 59
Valladão, Haroldo Teixeira, 33,44,45,46, 54, 55
266 màM
\'( t lu iiir 1 11,1 lsC‘( l i ’i l H ) ( r . t t i x j c ,1(1 , i n S t i U l í ) D r i n i » r.ítiui d e [ ‘) i t c i t n
w
Waters, Ronald, 187
Weffort, Francisco Correia, 179
Wilhelm, Jorge, 179
X
Xausa, Leônidas Rangei, 221, 222
z
Zamith (militar), 153
Zveiter, Waldemar, 174
•ál 267
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
268 má»
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico d e D ire ito
ANEXO I
Exposição de motivos do anteprojeto que
acompanhou o Projeto r f 1.751 de 1956,
transformado, afinal, na Lei número 4.215
de 27 de abril de 1963
•àM 269
________ Históriada
O rd e m dos Advogados do Brasil
270 máM
Vo lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
V m a revisão indispensável
máM 271
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
272 má»
Vo lum e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o de Direito
Técnica de elaboração
273
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
Previdência social
274 màM
V o lu m e 5 D a Roclem ociatização ao Estado D e m o c rá tic o de D ireito
I.
275
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
276 #àm
Volume 5 Da Redemocratização ao Estado Democrático de Direito
277
História da
Ordem dos Advogados do Brasil □
NEHEMIAS GUBmOS
278
•àl
V o lu m e 5 Da Redemocratização ao Estado Dem ocrático de Direito
279
___________ História da
Q Ordem dos Advogados do Brasil
280
\o l u m c 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
281
História da
P Ò rd e m dos Advogados do Brasil
püna dos seus membros. Foi aumentado o elenco das Infrações dis-
ciplinares, considerando-se como faltas pxmíveis várias práticas que
antes escapavam à disciplina corporativa. Assim, constitui, agora
infração disciplinar: l) transgredir preceito do Código de Ética Pro
fissional; 2) exercer a profissão quando impedido de fazê-io, ou fa
cilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não inscritos ou im
pedidos; 3) m anter sociedade profissional fora das normas e precei
tos estabelecidos na lei; 4) valer-se de agenciador de causas, median
te participação nos honorários a receber; 5) angariar ou captar cau
sas, com ou sem a intervenção de terceiros; 6) assinar qualquer es
crito destinado a processo judicial ou para efeito extrajudicial, que
ttao tenha feito, ou em que nã o ten ha colaborado; 7) advogar contra
literal disposição de lei, presumida a boa fé e o direito de fazê-lo com
fundamento na Inconstitucionalidade, na injustiça da lei, ou em pro
nunciamento judicial anterior; 8) violar sigilo profissional; 9) pres
tar concurso a clientes ou terceiros para a realização de ato contrário
à lei ou destinado a fraudá-la; 10) solicitar ou receber do constituin
te qualquer importância para aplicação ilícita ou desonesta; 1 1 ) re
ceber provento da parte contrária ou de terceiro, relacionado com o
objeto do mandato, sem expressa autorização do constituinte; 1 2 )
aceitar honorários,quando funcionar por nomeação da Assistência
judiciária, da Ordem ou do Juízo, salvo nos casos enumerados na
Lei; 13) estabelecer entendimento com a parte adversa, sem auto
rização do cliente, ou ciência ao advogado contrário; 14) locupletar-
se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa, por si
Ou por interposta pessoa; 15) prejudicar, por cWpa grave, interesse
confiado ao seu patrocínio; 16) acarretar, conscientemente, por ato
próprio, a anulação ou a nulldade do processo em que funcione; 17 )
fazer requerimento temerário de férias; 18) abandonar a causa sem
motivo justo, ou antes de decorridos dez dias da Intimação ao m an
dante para constituir nôvo advogado, salvo se antes dêsse prazo fôr
ju nta aos autos nova procuração; 19) recusar-se a prestar, sem jus
to motivo, assistência gratuita aos necessitados no sentido da lei,
quando nomeado pela Assistência Judiciária, pela Ordem, ou pelo
juízo; 20) recusar-se, injustificadamente, a prestar contas aos clien
tes de quantias recebidas dêle, ou de terceiro por conta dêle; 21) re
ter, abusivamente ou extraviar autos recebidos com vista ou em con-
fiança[ 22 ) fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente,
alegações forenses ou relativas a causas pendentes; 23) reve
lar negociação confidencial para acôrdo ou transação, entabola-
do com a parte contrária ou seu advogado, quando tenha sido enca
minhada com observância dos preceitos do Código de Ética Profis
sional; 24) deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutriná
ria on de julgado, bem como de depoimentos, documentos e alega
ções da parte contrária, tentando confundir o adversário ou iludir o
juiz da causa; 25) fazer Imputação a terceiro, de fato definido como
crime, em nom e do constituinte sem autorização escrita dêste; 2 6 )
praticar, no exercício da atividade profissional, qualquer ação ou
omissão definida como crime ou contravenção; 27) não cumprir, no
prazo estabelecido, determinação emanada de órgão ou autoridade
da Ordem, em m atéria de competência desta, depois de regular-
282 màB
\ Illu m e 5 D a R edem ocratização a o Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
(36) A rt. 103 do E statuto. (ExcWMo o direito a férias, excluiu-se, igualm ente, a 1b -
fraçfio referid a no item 17, s u p r a ).
(37) A m . 105 a 118 do E statuto.
(38) A rts. 115 e 116 do E statuto.
(39) A rts. 119 a 124 do E statuto.
(401 A rts. 125 e 126 do E statuto.
(41) A rL 132 do E sta tu to .
(42) A rts. 133 e 135 do E statuto.
(43) A rt. 137 do E statuto.
(44) A n . 1.®, § 1.® do E statuto.
màM 283
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
284 #àm
V o lu m e 5 D a Reclemocratização a o Estado D e m o c rá tico de D ireito
II — JURISPBÜDâNCIA
a) Acórdãos do Supremo Tribunal Federal:
máM 285
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
286 mà#
X'olume 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
m — DOUTRINA
a) Nacional:
287
_____________ Historia da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
“Rev. Dir. Adm.”,; 20.340; 30) Luiz Silveira Melo. “O Drama das
Profissões Liberais”, 1951, in “Rev. Jur. Bras.”, 93.98; 31) Fernando
Rudge Leite, “A Liberdade de Profissão e a Ordem dos Advogados”,
1951, In “Rev. F or.”, 133-25; 32) Sebastião de Souza, “Honorários
de Advogado”, 1952 ; 33) Djaclr Menezes, “A Formação Profissional
do Advogado”, 1952, 34) Dario de Almeida Magalhães, “A Função
do Advogado n a Sociedade Contemporânea”, in “Rev. For.”, 139.497;
35) Haroldo Valadão, “Advocacia, Exercício por Estrangeiros, Consti-
tuclonalidade da Exigência Legal de Reciprocidade”. 1952, In “Rev.
T rib.”, 201.69; 36) Carvalho Neto, “Advogados”, 1952; 37) Cândido
de Oliveira Neto, “Advogado, Ingresso nos Cancelos dos Juízos e
Tribunais”, 1954, in “Rev. For.”, 156.94; 38) Nélio Reis, “A Ordem
dos Advogados e a Representação Sindical”, 1954; 39) Rubem No
gueira, “Rui Barbosa e a Técnica da Advocacia”, 1954, In “Rev.
For.” 152.467; 40) Ruy de Azevedo Sodré, “Código Americano de
Normas Mínimas de Ética Profissional”, 1954; 41) Aguinaldo Mi
randa Simões, “Assistência e Previdência Social dos Advogados”,
1954, in “Arquivos do Instituto de Direito Social”, 11.87; 42) Ruy
de Azevedo Sodré, “A Obrigatoriedade do Estágio para o Exercí
cio da Advocacia”, 1955; 43) Albertino Moreira, “Apoaentadofrla
e Pensão”, 1956, In “Anais da 1.® Convenção Nacional de Advo
gados”, São Paulo, págs. 22-61; 44) Ruy de Azevedo Sodré. “Am
pliação do Campo da Advocacia — Exclusão dos quadros da Or
dem de todos que não exerçam a Advocacia — Pagamento de honorá
rios e advogados de réus pobres em processos criminais”, 1956, In
“Anais da 1.® Convenção Nacional de Advogados”, S. Paulo, págs. 72-
89; 45) João Paulo Bittencourt, “A situação do advogado em face da
Legislação Trabalhista, 1956, In “Anais da 1.* Convenção Nacional de
Advogados”, São Paulo, pgs. 90.97; 46) Walfrido Prado Guimarães, “O
Tabelamento de Honorários de Advc^ados” 1956, in “Anais da 1.» Con
venção Nacional de Advogados”, São Paulo, págs. 97-102; 47)
Claudionor Telógio de Andrade, “A Advocacia pelos Juizes, em dis
ponibilidade e pelos Aposentados”. 1956, in “Anais da 1.» Convenção
Nacional de Advogados", S. Paulo, pgs. 102-108; 48) João de Oliveira
Filho, “Estágio dos Advogados”, 1956. in “Anais da !.■ Convenção Na
cional de Advogados”, S. Paulo, pgs. 154-157; 49) Noe Azevedo, “Estágio
Profissional”, 1956, In “Anais da 1.* Convenção Nacional de Advoga
dos”, S. Paulo, pgs. 201-206; 50) Camilo Gonçalves Bertl, “Pro
blema das Escolas de Direito”, 1956, In “Anais da 1.^ Convenção Na
cional de Advogados”, São Paulo, pgs. 216.221; 51) Mário Neves Bap-
tlsta. “Prova de Habilitação Profissional do Advogado”, 1956, in
“Anais da 1.» Convenção Nacional de Adv%ados”, S. Paulo, pgs.
227-229.
b) Estrangeira:
52) André Perraud-Charmantler, “Le Secret Professlonel, ses Li
mites. ses Abus”, 1926; 53) Jean Appleton, “Traité de Ia Profession
D’Avocat”, 1928; 54) Ary dos Santos, “Nós, os Advogados”, 1934; 55)
Fernand Payen e Gaston Dubeau, “Les Règles de la Profession D'Avocat
et les Usages du Barreau de Paris”, 1936; 56) Robert Fosse, “La Res-
288 máM
V o lu m e 5 D a Redem ocratízação a o Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
máM 289
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
290 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o de D ireito
IV — PERIÓDICOS
1) “Boletim do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil”; 2) “Revista da Ordem dos Advogados”, São Paulo; 3) "Re
vista do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros” (atualmen
te Instituto dos Advogados Brasileiros); 4) “Le Barreau de France”;
5) “Bulletin de L’Association Natlonale des Avocats”; 6) “American
Bar Association Journal” ; 7) “New York State Bar Bulletin”; 8) “Il
linois Bar Journal”; 9) “Journal of the State Bar of California";
10) “Los Angsles Bar Bulletin”; 11) “Washington Law Reviev and
State Bar Bulletin” .
V — ANTEPROJETOS
1) Demosthenes Madureira de Pinho, 1951; Evandro T.lr>« @
Silva. 1954.
VI — SUBSTITUTIVOS
1) Carlos Alberto Dunshee de Abranches, 1955 2) José Maria
MacDowell da Costa, 1955.
Emendas
Conclusão
291
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
292 màM
\'o lu m e 5 D a R edem ocratizaçào a o Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
ANEXO II
Lei r f 4.215 de 2 7 de abril de 1963 que dispõe
sobre o Estatuto de Ordem dos Advogados do Brasil
e regula o exercício da profissão do advogado.
293
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
294 màM
V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
O Presidente da República:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
iinfA T.ol •
TÍTULO I
Da Ordem dos Advogados do B ra sil
CAPÍTULO I
Dos fin s , organização e p a trim ô n io
295
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
I — ordinárias:
a) a percentagem sôbre a receita liquida arrecadada em cada
Seção e Subseção (art. 141);
b) a renda patrimonial;
n — extraordinárias:
a) as contribuições voluntárias;
b) as subvenções e dotações orçamentárias.
Art. 6.0 O patrimônio de cada Seção é constituído por:
1 — bens móveis e Imóveis adquiridos;
n — legados e doações;
111 — quaisquer bens e valõres adventícíos.
9 1.0 Constituem receitas de cada Seção e Subseção:
I — ordinárias:
a)as contribuições obrigatórias, taxas e multas (arts. 140 e
141):
b) a renda patrimonial;
296 mà»
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o de D ireito
H — extraordinárias:
a) as contribuições voluntárias;
h) ãs subvenções e dotações orçamentárias.
5 2.0 Considera-se liquida a receita total, deduzidas as despe
sas de psssoal e expediente.
S 3.0 A receita liquida arrecadada em cada Subseção será reme
tida mensalmente ao Tesoureiro da Seção respectiva.
CAPITULO n
D a D ire to ria da Ordem
297
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
298 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
299
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
300 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratizaçâo ao Estado D e m o c rá tico d e D ire ito
301
__________História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
302
V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá tico d e D ire ito
303
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
(2) Ê ste artigo era , n a lel sancionada o d e o.* 31, o a rt. 30 e ra o de n."* 29, e o atu al
31 era o d e n.o 30. A tro ca explica-se p ela ordem lógica que deve te r a m a tiria mele* tra tad a :
a ) p nm eiro, a faculdade de o* Conseilios Secionais constituírem um T ribunal de Ê tica; b )
depois, a disposIçSo a le r observada, n a hipótese de n io haver T ribu nal d e fitica con stituído;
c ) íin aliren te , e p o r n io te r n ad a com o assunto, o dispositiva que cuida d a rem uneração do
advogado indicado p ara defender réu pob re, que n io deve fic ar entrem eando a m a ttr ia
sdbre ític a .
(3) V. nola anterior, n.® 2.
(4> V. n o ta n.® 2.
304 màM
V o lu m e 5 D a Redem ocratizaçào ao hslado D e m o c rá tic o de ü ir e ito
305
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
308 màM
V o lu m e 5 D a Rf ( l ci n( ) ( ào ao Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
CAPÍTULO I
D a legitim ação e dos atos prívativo s
309
História da
Ordem dos Advogados do Brasil
310 máM
V o lu m e 5 D a Redom ocratização ao Estado D e m o c rá tico d e D ire ito
311
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
312 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização a o Estado D e m o c rá tic o d e D ire ito
313
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
314 màM
Volume 5 Da Redemocratização ao Estado D em ocrático de D ireito
CAPITULO IV
Dos deveres e direitos
•áM 315
História da
I Ordem dos Advogados do Brasil
1
316 máã
V o lu m e 5 Da Redemocratização ao Estado D em ocrático de D ireito
317
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
318 •àM
A ADVOCACIA E O SEU ESTATUTO 275
320
V o lu m e 5 D a R edem ocralizaçào ao Estado D e m o c rá tic o de D ire ito
321
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
322
V o lu m e 5 D a R edem ot iiitizaçao ao Estado D e m o c rá tic o de D ire ito
in — multa;
IV — exclusão do recinto;
V — suspensão do exercício da profissão;
VI — eliminação dos quadros da Ordem.
Art. 106. A pena de advertência é aplicável nos casos das In
frações definidas no art. 103 Incisos I — n — m — IV — V — VI —
v n — x v n — XXI — x x ii — xxvi — x x v n e xxvm .
Parágrafo único. Apüca-se, igualmente, a pena de advertên
cia ao descumprimentiO de qualquer dos deveres prescritos no arti
go 87 guando para a infração não se tenha estabelecido pena maior.
Art. 107. A pena de censura é aplicável:
I — nos mesmos casos em que cabe a pena de advertência,
quando não h aja circunstância atenuante, ou não se trate da pri
meira infração cometida;
n — às infrações primárias definidas no artigo 103, incisos
v m — x n — TTTiT __ XV —' x v i — x vm — x x n e x x m .
Art. 108. A pena de m ulta é aplicável, cumulativamente com
& outra pena igualmente cabível, nos casos das infrações definidas
nos artigos 103, Incisos II — III — VI — IX — X — XI — XII —
x n i — XV — XVI — x v n i — x x m — x x v n e xxvm , e 124 .
? 4.0.
Art. 109. A pena de exclusão do recinto e aplicável à infração
definida nos artigos 118, 5 4.°, e 121, ! 2.°.
Art. 110. A pena de suspensão é aplicável:
I — nos mesmos casos em^ que cabe a pena de censura, quan
do h a ja reincidência;
II — nos casos de primeira incidência, nas infrações definidas
nos artipos 103. incisos IX, X, XI. XIV, XIX XX. 111 parágrafo
•único e 124, 5 4.° (arts. I l l , inciso I, 112, i l 1 ® e 2.®);
III — aos que deixarem de pagar as contribuições, taxas e
multas (arts. 140 e 141) depois de convidados a fazê-lo por edital
com 0 prazo de trinta dias, sem menção expressa da falta de pa
gamento mas com a citação dêste dispositivo;
IV — aos que incidirem em erros reiterados que evidenciem
inépcia profissional, e até que prestem novas provas de habilitação;
V aos que m antenham conduta incompatível com o exercício
d a profissão.
Parágrafo único. Considera-se conduta incompatível com o
exercício da profissão:
a ) a prática reiterada de jôgo de azar, como tal definido
«m lei;
b) a incontinência pública e escandalosa;
c) a embriaguez habitu al.
323
1
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
324 máM
V o lu m e 5 D a R e d e m ocralização ao Estado D e m o c rá tic o de D ire ito
325
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
326 ttàl
V o lu m e 5 D a Reclcmoc fcitizaçao ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
CAPÍTULO r x
Dos Becursoí
I Art. 132. Cabe recurso oara o Conselho Federal de tôdas as
v c ü o e s proferidas pelo Conselho Seclonal sôbre:
327
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
TITULO III
Disposições O erais e T ra n sitó ria s
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
328 màM
V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá lic o de D ire ito
329
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
CAPÍTULO n
Diaposições T ra n sitó ria s
(5) Êste artigo foi vetado pelo Presidente d a R epública, m as teve o veto rejeitado
p o r esmagadora m aioria de votos, contribuindo decisivam ente p ara essa rejeição o pre*.
^ l e “ k e y i n g ” desenvolvido pessoalm ente pelo Presidente do ro m telh n Ha rtr.
f m .f e r n a nibtfco. dr. Jo sA .C avalcanti N eves, fbnto aos mcTAbros <io C o n g r ^ o Nacio»
Uai. ao s quais distribuiu um sucinfò e 'T u ^ f o s o mem orial in titulado "U m V eto fnconsti-
lucíonal e D iscrim inatório” . O Presidente Povina C avalcanti, em nom e de tôda a classe,
dingiu-se, U m bém , ao Congresso N acional, postulando a rejeição do veto, d e acftrdo com
a Comissão elaboratJora do P rojeto (V . expediente reproduzido à pág 302)
330 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização a o Estado D e m o c rá tic o d e D ire ito
JOAO GOULART
João M angabeira
331
História da
O rd e m cios Advogados do Brasil
332 màM
V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o dc D ireito
ANEXO III
Advogados seqüestrados e encapuzados
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
334 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratízação a o Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
iàM 335
História da
O rdem dos Advogados d o Brasil
3. George Tavares
336
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o de D ireito
ANEXO IV
Presidentes de 1946 a 1988
337
História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
1. Raul Fernandes
Gestão: 11/08/1944 a 11/08/1948
338 ttàl
V o lu m e 5 D a R edem ocratização a o Estado D e m o c rá tic o d e D ire ito
ÊàM 339
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
3. Odilon de Andrade
Gestão: 14/09/1948 a 11/08/1950
340 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
4. Haroldo Valladão
Gestão: 11/08/1950 a 11/08/1952
341
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
5. Attílio Vivácqua
Gestão: 11/08/1952 a 11/08/1954
342 màM
V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ire ito
343
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
7. Nehemias Gueiros
Gestão: 11/08/1956 a 11/08/1958
V o lu m e 5 D a R edem ocralizaçào a o Estado D e m o c rá tic o d e D ire ito
8. A lc in o de Paula Salazar
Gestão: 11/08/195 8 a 11/08/1960
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
346 màM
V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ire ito
348 •41
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
349
)
_____________ História da____________
O rd e m dos Advogados d o Brasil
350 màM
\ n lu m e 5 D a R edem ocratizaçao ao Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
máM 353
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
354 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico d e D ireito
355
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
356 máM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ire ito
357
História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
358 màM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o d e D ireito
359
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
23. M á rc io T h o m a z Bastos
Gestão: 0 1/04/198 7 a 01/04/1989
360 máM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ire ito
ANEXO V
Prédios da sede da OAB
m àM 361
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
362
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
%àM 363
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
364 #à#
j V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o d e D ire ito
ANEXO VI
Áta da primeira sessão ordinária do Conselho Pleno,
após a mudança da OAB para Brasília
365
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
]
^(ojoín
DA O . A. B..
366 má»
V o lu m e 5 D a Redem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o de D ire ito
5S!íí»f’^ 2 _
t^a/n»or<r.
e Paulo Kreitchmann (RS>; Celso Medeiros.e Hélio Saboya(RJ);
Sérgio Leonardo Darwlch (RO); Carlos Alberto Silveira Lenzi,
Sadi Lima e Carlos Adauto Vieira (SC); Ruy Homem de Melo La
cerda e Paulo Sérgio Leite Fernandes (SP); Carlos Augusto
res de Freitas Brito (SE) , Antônio Evarlsto de Moraes Filho
e Guaracy da Silva Freitas (AP) e Eugênio Roberto Haddock Lo
bo (RR). Ainda, presentes o Presidente da OAB/DP Dr.Maurício
Corrêa, e os Conselheiros Juvenal Almeida Sena, de Roraima ,
João Frederico Ribas, do M ato Grosso do Sul, Milton de Melo,
do Distrito Federal, Jorge Neves, de Pernambuco e Serralva
Santos, Vice-Presidente da OAB/DF. - AUSÊNCIAS J U S T I FI CA DAS ;
Arnoldo W ald (AC) , Marcelo Lavenère Machado (AL) , 'líjemístocles
Caldas Pinho (AM), Milton Tavares e Joselito de Abreu (BA) ,
José Barbosa Clerot (DF), Milton Murad e José Ignácio Ferrei
ra (ES) , Wanderley de Medeiros (GO), José Antônio Figueiredo
de Almeida Silva e Doroteu Soares Ribeiro (MA) , JoséEustãqulo
Oswaldo (MT), Celso Gabriel de Rezende Passos (MS), Gerson
de Brito Melo Boson e Alberto Deodato Haia Barreto Filho(MG),
Jackson Smith Lisboa (PB), Corintho de Arruda Falcão e Syl
vio Cu ra d o (PE), Evandro Lins e Silva, José Rocha Leal e Re
ginaldo Santos Furtado (PI), Leônidas Rangel Xausa (RS),
cardo Cesar Pereira Lira (RJ), José Silvário Fontes e welling
ton Mangueira Marques (SE ) , Mário de Souza Figueiredo (AP),
Sérgio do Régo Macedo e Luiz Rosalvo Indrusiak Pin (RR) e o
Membro Nato Mário Sérgio Duarte Garcia. - Havendo número le
gal o Presidente Hermann Assis Baeta declarou aberta a ses
são ordinária - a primeira a ser realizada na Capital da Re
pública Em seguida, solicitou aos presentes que, de pé,
observassem um minuto de silêncio e m memória de D» Lyda Mon
teiro da Silva. Quanto ãs atas das sessões plenárias do mês
de julho, já distribuídas com antecedência aos Conselheiros,
ficaram para discussão e aprovação na reunião do dia seguin
te. - A seguir, deu posse ao novo representante do Conselho
Secional do Paraná Dr. Newton José de Sisti em substituição
ao ex-Conselheiro Oto Luiz Sponholz, que fora nomeado Desem
bargador do Tribunal de Just iç a daquele Estado, Co nvidou o
•àl 367
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
368 má»
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tic o d e D ire ito
'iSonyA*^ » ^ 4 —
369
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil
- 5 -
370 m áM
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ire ito
3^1»^ —6—
nifestasse o pensamento daquela. Após, as ponderações e ex -
p U c a ç õ e s do Presidente da Comissão, foi concedida a palavra
ao Relator Dr. Moaclr Belchior. Este votou pela transferên
cia Imediata para Brasília. Apôs o voto do Relator o Presi
dente passou à discussão da matéria. Falaram: o Presidente
da OAB/PB, Antônio Vital do Rego,os Conselheiros Araaury Vas-
concellos. Munir Feguri, Carlos Adauto Vieira, Celso medei
ros, este para apresentar projeto de Provimento determinando
a data da transferência para 19 de abril de 1987 e aspectos
assegurando os direitos dos funcionários do C.F.; o Conse
lheiro Sérgio F e r r a z , para declarar que o Estatuto não pre
via Provimento para esta matéria; Hesmone Saraiva Grangeiro,
B. Calheiros Bomfim, Guaracy da Silva Freitas, apresentando
proposta, Sylvlo Braz Presidente da OAB/CE, Paulo Sérgio Lei
te Fernandes, Joaquim Corrêla de Carvalho Jr., este d e c laran
do que a mudança só seria efetivada no dia em que a Direto
ria e a administração estivessem em Brasília, fixando a data
para a mudança para 31 de março de 1987; Francisco Guedes de
Amorim, Sidney Safe Silveira, Presidente da OAB/MG, José La
martine Corrêa de Oliveira, este solicitando que ficasse re
gistrado em ata que a mudança só alcançaria seus objetivos
no dia em que as Secionais elegessem seus delegados ,residen
tes e m seus respectivos Estados; o Conselheiro Lulz Cruz de
Vasconcelos, sugerindo que a data ficasse em aberto à deijL
beraçâo da Diretoria. Os Conselheiros Celso Medeiros e Gua
racy d a Silva Freitas retiraram suas propostas. - Retomando
a palavra o Relator declarou que iria incorporar a seu voto
a proposta de Joaquim Correia de Carvalho, fixando a data,f^
cando da áeguinte maneira a conclusão de seu voto: "voto no
sentido de que o Conselho Federal aprove a realização de
suas sessões na Capital da República a partir desta d a t a ,ut^
lizando-se as instalações cedidas, em comodato, pela OAB/DF,
a£e que o Conselho tenha sua própria sede, ficando a Direto
ria autorizada a tomar as medidas necessárias para a mudança
definitiva da administração, dos funcionários, dos móveis e
m àM 371
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
APROVADA
372 m áM
V o lum e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico d e D ire ito
ANEXO VII
Escritura pública de doação do im óvel para a instalação
da OAB /C F em Brasília, feita pela União Federal,
através da Companhia Urbanizadadora
da nova Capital do Brasil - NOVACAP
m áM 373
_____________ História da
O rd e m dos Advogados do Brasil
LIVRO 1384
ESCRI TURA P U B L I C A DE DOAÇÃO DE
IMÓVEL QUE ENTRE S I FAZEM ACOMPA
N H I A URBANIZAOORA DA NOVA C A P I T A L
DO B R A S I L - NOVACAP E 0 CONSELHO
FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS
DO B R A S I L , NA FORMA A B A I X O : — :
374 má»
V o lu m e 5 D a R edem ocratização ao Estado D e m o c rá tico de D ireito
f u M - a 6 0 4 ' « I. A lo l* >8 - F s n a i 2 7 S -2 I 5 0
' c a r t ó r i o do 1 9 0 F l t l 0 DE NOTAS;
A w W 9n«: g TQ3 »l A - W 35
375
História da
O rd e m dos Advogados d o Brasil J
DZi.nl;iA
_________________ TABELIÃO MAUWi Ct O O O M E ^ S y " l E M O ' ^ *
LIVRO FOLHA
o ■ hl »■ lol« 35 f tt- SW
do C o n se lh o P le n o do C o n s e lh o F e d e ra l, de 1» de a b ril de 1985 .
O e ixa de ser pago o im p o s to de tra n s m is s ã o ” in te r-v iv o s ", d e
acordo c om o a rtig o 139 da Lei 4 .2 1 5 , de 2 7.0 4.63 , e in c is o III,
le tra "a” , a rtig o 19, da C o n s titu iç ã o F e d e ra l. Foram -m e apresen
ta d o s e aqui fic a m a rq u iv a d o s os s e g u in te s d ocu m e n to s: C e rtid ã o
de Ações R e a is e P e s so a is R e ip e rs e c u tó ria s , e de Onus R e a i s , so
bre 0 im ó v e l doado, como p re c e iiu a o p a rá g ra fo 3=, in c is o V, ar
tig o 10, do D e c re to 93240, de 0 9 .0 9 .8 6 ; C e rtid õ e s dos F e ito s
A ju iz a d o s , de que tra ta a Lei 7433, de 1 8.1 2.85 ; C e rtid ã o N eg a te
va de T r i b u t o s Im o b iliá rio s núm ero 0 47 -3 7 .2 2 9 /8 7 , e x p e d id a p e lo
GDF a 2 3 . 0 1 . 8 7 , v á lid a a té 2 8.0 2.87 . Eu, M A U R Í C I O GOMES OE LEMOS
T a b e liã o , a fiz d a tilo g ra fa r sob m in u ta , l i, encerro e subscrevo
0 p re se n te a to , c o lh e n d o as a s s in a tu ra s , (a) M a u ríc io Go me s d e -
Lemos. Hermann A s s is B a eta . Noel B a tis ta . Noel B a tis ta . M a u ríc io
D utra de M o r a e s . NADA M A I S . E x tra íd a por c e rtid ã o n a me sma d a t a .
Eu , V a lte r T ó to li de M i r a n d a , A u x ilia r J u d lc iã
r-íí, a d a tilo g ra fe i. E eu ^ ,
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frste livro alirange um dos p(’ríoHos mais complexos da
história cio Brasil, no qual a Ordem dos Advogados se envolveu
de forma vibrante e construtiva.
Alguns destaques devem ser feitos no sentido de
despertar a atenção dos leitores, especialmente dos
profissionais do Direito, para fatos singulares ocorridos, dos
({uais já extraímos algumas lições e que poderão produzir
novos ensinamentos. Ei-los: Edição do Estatuto de 1963; Golpe
de Estado de 1964; Mudança da OAB para Brasília; Campanha
pelas Diretas já e Constituinte; e Explosão da bomba na OAB.
Ressalte-se que, neste período conturbado, a Ordem dos
Advogados sempre exerceu o seu papel político-institucional,
não só porque não se omitiu, mas, ao contrário, pelo fato
do ter protagonizado açÕes corretas e justas à frente dosÀ
acontecimentos.