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Estética e Vieses No Processo Penal PDF
Estética e Vieses No Processo Penal PDF
Mas o que a pergunta, feita pelo “Poeta da Vila”, ainda em 1930, tem a ver
com o processo penal? Contextualmente, pouco. Afinal, o processo penal brasileiro não
é samba (ou, pelo menos, não deveria ser). Todavia, lá como cá, inúmeros aportes
semióticos integram o contexto particular de cada discurso, sendo certo que, tanto no
samba quanto no processo, o poder simbólico figura como um elemento comunicativo
determinante.
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O que não se diz também comunica algo, sempre.
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MORAIS DA ROSA, Alexandre. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. 3.ed.
rev. atual. e amp. Florianópolis: Empório do Direito, 2016. p. 122-123, aliás, assinala que “Desde as
abordagens policiais até no ambiente de interação da audiência de instrução e julgamento, boa parte da
comunicação não verbal opera nos sentidos atribuídos os contextos, muitas vezes sem que percebamos.”
Pois então. “Com que roupa” vai o acusado à audiência para a qual fora
intimado?!
Bom, estando solto, a escolha fica por conta do gosto ou do bom senso do
próprio acusado, preferencialmente atendendo aos conselhos do mais indicado personal
stylist para a ocasião: o seu defensor. E se a defesa técnica julga irrelevante a
apresentação “estética” do acusado em audiência, bem... Parafraseando MORAIS DA
ROSA, provavelmente se trata de um jurista “baunilha”. Um amador, e não de um
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player n o jogo que é o processo.
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https://www.conjur.com.br/2018-out-19/limite-penal-superar-cabeca-jurista-baunilha-processo-penal
que inconscientemente, o julgador? Estaria infenso fosse ele cego, apenas. Sendo
humano e oftalmicamente hígido, não estará!
O autor traz a teoria da dissonância cognitiva para o campo do processo penal, aplicando-a diretamente
sobre o juiz e sua atuação até a formação da decisão, na medida em
que precisa lidar com duas ‘opiniões’ antagônicas, incompatíveis
(teses de acusação e defesa), bem como com a ‘sua opinião’ sobre o
caso penal, que sempre encontrará antagonismo frente a uma das
outras duas (acusação ou defesa). Mais do que isso, considerando que
o juiz constrói uma imagem mental dos fatos a partir dos autos do
inquérito e da denúncia, para recebê-la, é inafastável o pré-julgamento
(agravado quando ele decide anteriormente sobre prisão preventiva,
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https://www.conjur.com.br/2014-jul-11/limite-penal-dissonancia-cognitiva-imparcialidade-juiz
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https://canalcienciascriminais.com.br/dissonancia-cognitiva-primeira-impressao/
medidas cautelares, etc). É de se supor – afirma Schünemann – que
‘tendencialmente o juiz a ela se apegará (a imagem já construída) de
modo que ele tentará confirmá-la na audiência (instrução), isto é,
tendencialmente deverá superestimar as informações consoantes e
menosprezar as informações dissonantes”.
https://www.conjur.com.br/2016-abr-29/limite-penal-quando-juiz-sabia-importancia-originalidade-cogn
itiva-processo-penal
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https://www.conjur.com.br/2018-mar-16/limite-penal-processo-penal-brasileiro-primitivo-inquisitorio
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Cf. MORAIS DA ROSA, Alexandre. Guia compacto do processo penal conforme a teoria dos jogos. 3.ed.
rev. atual. e amp. Florianópolis: Empório do Direito, 2016. p.p. 116-124, para quem “O efeito da
observação altera a atribuição de qualidades da testemunha, do acusado, sendo poderoso mecanismo
cognitivo, queiramos ou não. Os cuidados com a roupa, o cabelo, o modo como se porta na audiência,
então, passam a compor o jogo processual. [...] basta um único sinal, certa arrogância, risinho de canto
de boca, roupa fora do contexto, postura, contato visual, para que tenhamos um julgamento sobre o
sujeito, naquilo que a psicologia cognitiva denomina de heurística e vieses, com os quais, diminuímos a
carga de trabalho mental e manejamos melhor o dia a dia.”.
E é assim que, por imperiosa observância à asseguração da dignidade da
pessoa presa (art. 1º, inc. III; art. 5º, inc. XLIV, da CF), bem como pelo princípio do
estado de inocência (art. 5º, inc. LVII, CF), ao preso deve ser assegurado o direito de
trajar-se como roupas “civis” para a participação da audiência, desvencilhando-o, ainda
que minimamente, do pré-formatado arquétipo do criminoso, do condenado, do pária.
Em circunstâncias excepcionais, sempre que um recluso obtenha licença para sair do estabelecimento,
deve ser autorizado a vestir as suas próprias roupas ou roupas que não
chamem a atenção.
A própria Lei de Execução Penal (Lei n.º 7.210/84), em seu art. 41, inc.
VIII, assegura à pessoa presa o direito de “proteção contra qualquer forma de
sensacionalismo”, assim como a Constituição da República de 1988 veda “tratamento
desumano ou degradante” e assegura aos presos “respeito à integridade física e moral”
(art. 5º, incs. III e XLIX).
Da leitura do dispositivo supratranscrito, é possível inferir que há uma certa exigência no sentido de se
garantir que todos os suspeitos sejam submetidos ao procedimento de
reconhecimento em situação mais isonômica possível.
Portanto, visando alcançar a imparcialidade daqueles que realizarão o reconhecimento dos suspeitos na
audiência designada, a dispensa do uso da vestimenta de presidiário
pelo impetrado in casu é medida que se impõe.
[...] A exposição de presos viola a idéia de presunção de inocência, viola a idéia de dignidade da pessoa
humana, mas vamos ter oportunidade, certamente, de falar sobre isto.
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http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumulaVinculante/anexo/SUV_11_12_13__Debates.
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