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Entrevista a Carlos Figueiras, porta-voz do Movimento Defesa da Língua (MDL)

Compostela, Galiza, fev. 2006.

A repórter afirma: o galego, a língua que falamos, tem muitos séculos de história, mas pouco
mais de duas décadas com uma norma oficial.

Nem todo mundo está de acordo com as regras que a Academia Galega elaborou e o Instituto
da Língua.

Há cerca de dois anos (por volta de 2004, então) foram feitas algumas modificações que
aproximam o galego do português.

MDL pretende que o galego e o português sejam praticamente a mesma coisa (diz o repórter).

Porta- voz:

Defendem um galego com ortografia própria, mais próxima da portuguesa.

Essa proximidade implicaria vantagens para a normalização linguística, porque isso significa
acesso aos mercados de 200 milhões de falantes, o que pode facilitar a recuperação real da
língua.

Parece ter fugido da pergunta, quando a repórter perguntou se a reestruturação da língua se


resume a uma questão quantitativa, o porta-voz afirmou que é preciso estabelecer uma
diferença entre língua e norma.

Pergunta o repórter sobre o fato do galego e do português não serem a mesma língua por
terem se distanciado evolutivamente ao longo do tempo.

O porta-voz fala da necessidade de reflexão, pois galego e português fazem parte do mesmo
sistema linguístico. Um sistema linguístico tem sentido pelas suas variações, e não pela sua
identidade plena.

O porta-voz tenta explicar que o movimento defende o não isolamento da Galícia em relação
ao bloco econômico dos países de língua portuguesa. Afirma que as variantes continuarão a
existir, se adotarem a grafia comum proposta por Brasil e Portugal.

Por que não propor uma língua diferente do castelhano e diferente do português?

Porta-voz: Considero que não é uma questão de influências. A língua portuguesa nasceu na
Galícia. E depois não podemos esquecer que estamos falando de vários séculos de
apagamento na escrita. No momento de recuperar uma norma escrita, uma norma culta, uma
norma literária, o mais razoável é estarmos próximos da nossa história, que é essa, e não
outra. Depois, durante o século XX, a norma reestruturou-se a partir do castelhano e da norma
castelhana, porque era mais simples trabalhar assim com uma população que não estava
alfabetizada ou, se estava, estava alfabetizada em castelhano. Os tempos agora são outros.
Aguardamos que nesse sentido mudem as vontades, procuremos os caminhos não mais fáceis,
mas melhores para a Galícia e para o galego.

Comentário:

Parece que o MDL quer que os cidadãos galegos assumam a identidade lusófona, para
aproveitar as vantagens econômicas que isso lhes traria. O castelhano parece ser a referência
de língua de prestígio para a Galícia. Parece que houve um movimento de aproximação da
grafia do castelhano. As características do português seriam o que os aproxima da
marginalidade, do ponto de vista do castelhano. São essas características que o MDL parece
afirmar, para afirmar seu próprio passado, sua própria história, através do galego, como língua
de onde nasceu o português. Parece uma busca por assumir seu passado.

Que tipo de relação o Brasil terá, enquanto potência econômica, com essa comunidade de
países x?

O Brasil desconhece a realidade dos países lusófonos.

Sá, Saavedra, Rodrigues, Fernandes, guarda, luva, íngreme, sala, fato, gavião – vocábulos de
origem germânica (visigodos, suevos que habitaram a Galicia entre os séculos V e VII).

A língua galega, por razões políticas, foi proibida de ser escrita, durante os
chamados "séculos escuros", (do século XV ao XIX), ficando limitada à zona
rural e à forma oral da língua.

Qual é a noção de língua para os galegos, para os portugueses e para os mirandeses?


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Euro 2012: Galegos de condiçom ou


macacos de repetiçom?
Assistindo ao jogo de ontem entre Portugal e Espanha, nas meias-finais
do Euro 2012, foi curioso dar umha vista de olhos aos apelidos ou
sobrenomes dos jogadores de ambas equipas.
Por Maurício Castro | | 28/06/2012

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Se bem me lembro, Pereira, Veloso, Costa, Viana, Oliveira, Varela... jogárom contra
Casillas, Iniesta, Busquets, Arbeloa, Negredo, Fábregas...
Os primeiros, apelidos (sobrenomes) clara e inequivocamente galegos, ou galego-
portugueses se preferirmos. Os segundos, castelhanos, cataláns, bascos... nomes de
família tam respeitáveis como afastados dos nossos.

É lamentável o espetáculo que umha parte significativa do nosso povo, do povo


galego, está a dar polas ruas das nossas cidades, vilas e aldeias, coreando "Yo soy
espanhol", pintando-se com o 'rojo y gualda' do fascismo e identificando-se com umha
nacionalidade que, por princípio, exclui o nosso ser nacional. É lamentável e fai pensar
no poderoso que pode chegar a ser o aparelho de poder ideológico de um Estado e o
necessário que para a Galiza seria poder construir um que fosse alternativo a toda
essa ideologia opressiva que nos nega, esse Estado que na atualidade padecemos.

A Galiza é radicalmente negada inclusive no plano simbólico. O atual escudo


constitucional espanhol, que inclui as barras catalás e aragonesas, as cadeias
navarras, os castelos castelhanos e os leons leoneses... exclui qualquer referência ao
mais antigo dos reinos peninsulares: o da Galiza. A nossa história foi completamente
apagada dos seus livros de história, os livros que os galegos e galegas temos que
estudar até hoje. Também no plano musical, até hoje tem sido o sofrido povo andaluz
que viu como utilizavam, desnaturalizando-a, a sua música popular para construir esse
código nacionalizador chamado "cançom espanhola". No caso da Galiza, o desprezo
pesa inclusive mais que a manipulaçom.

Desprezam-nos tam claramente que convertem o nosso nome nacional, 'galego', em


apelativo insultante quando querem indicar que alguns ilustres renegados, como o
atual presidente do governo espanhol, apesar dos seus esforços, mostram algum traço
de caráter identificável, no código espanhol, como "gallego", o que é pouco tolerável
para eles.

O mesmo poderíamos dizer até da nossa forma de falar a língua deles. Os atores e
atrizes galegas devem seguir estritas pautas de dicçom para banir qualquer rasto da
fonética, da curva tonal, do vocalismo identificador das falas galegas, se quigerem ter
algum sucesso em Madrid e no mercado espanhol. É isso ou ficarem reduzidos a
personagens marcados com o sinal de "galegos", antes para mal do que para bem.

Conseguírom há séculos cooptar a classe dirigente galega, daí a força atual da direita
cavernícola espanhola entre a burguesia galega. Descabeçárom as nossas
possibilidades de desenvolvimento endógeno e vendêrom-nos a incorporaçom forçada
do nosso país ao seu projeto nacional, num processo de espólio nacional inacabado.
Ainda hoje, quando alguns ousamos discutir a nossa suposta nacionalidade
espanhola, respondem-nos que som eles que nos dam de comer e que, sem Espanha,
morreríamos de fame. Que galego ou galega consciente nom tem ouvido esse
"argumento" por parte dos defensores do statu quo atual dependente do nosso país?

Se bem a extorsom secular só tem vindo a incrementar-se nas últimas décadas, o


forte aparelho de propaganda representado nestes dias polo culto a "La Roja" (nome
de invençom recente, como invençom recente é a própria Espanha) tem demonstrado
nestes anos umha grande efetividade na incorporaçom do resistente povo galego à
normalidade plana do sistema mesetário. Conseguírom dar continuidade ao nom
menos efetivo trabalho realizado polo franquismo.

É verdade que, ainda hoje, o sentimento nacional espanhol nom se vive nas ruas
galegas com a intensidade que se aprecia em qualquer cidade ou 'pueblo' da Espanha
profunda. É verdade que subsiste um contraditório sentimento nacional galego e até
um minoritário independentismo. Porém, as distáncias reduzem-se ao ritmo que a
nossa língua é liquidada, a memória histórica esquecida e a integraçom do nosso
nacionalismo no seu regime jurídico-político um facto palpável.
Em condiçons normais, a Galiza olharia mais para o sul e teria relaçons de irmandade
plena com Portugal. Torceria por Varela, Veloso e Pereira, mais que por Busquets,
Casillas e Iniesta. Nom andaria tanto galego exaltado a insultar os negros da equipa
contrária e a presumir de umha seleçom que, por nom ter, nom tem um só galego nas
suas fileiras.
De facto, Portugal sempre foi, e continua a ser, um bom espelho em que observarmos
o nosso próprio estado de descomposiçom ou regeneraçom coletiva como povo. Os
preconceitos contra Portugal, alter ego da Galiza histórica e autêntica, som só umha
manifestaçom do bem estudado e conhecido auto-ódio que se manifesta em povos
colonizados como o galego.
 

De resto, e voltando para o Euro 2012, em condiçons de normalidade hoje


inexistentes, a Galiza teria as suas próprias seleçons. Teria os seus próprios Varelas,
Velosos e Pereiras, e nom se importaria com a cor da pele de nengum deles. Nem
sequer com a forma do apelido.

Teríamos um Estado próprio, democrático, socialista, republicano; e seríamos


-acredito que ainda seremos- galegas e galegos com legítimo orgulho da própria
condiçom, e nom como os que nestes dias andam por aí fora pintados do insultante
'rojigualda', que nom passam de espanhóis por imitaçom ou macacos de repetiçom.
 

Maurício Castro

Fonte:

http://galiciaconfidencial.com/nova/10861.html

Livro do autor:

http://www.primeiralinha.org/subsidios/subsidios.htm

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