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ATIVIDADE - DOMÍNIO DA ESCRITA

Elabore uma síntese, entre 196 e 260 palavras, do seguinte texto composto por 782 palavras.

Consulte a pág. 350 do manual.

No final, deve indicar o número de palavras.

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Sobre a expressão «és mesmo um galego»


É de origem segura a expressão «trabalhar como um galego», significando «escravo de
trabalho» (Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões) ou
«trabalhar muito mais do que o habitual» (Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando
Neves).

O atributo galego ocorre simultaneamente com valor positivo, para significar o trabalho
árduo, estrénuo, incansável, daquele que se esforça, mas também negativo, o trabalho baseado
apenas na força física, equiparável ao do animal de tração. Expressões como «anda, galego», de
incitamento ao trabalho, «filho d’um galego», «parece que pariu a galega», utilizada como
fórmula de espanto ou de admiração em ajuntamentos de pessoas, ou simplesmente «à
galega», ou seja, à bruta ou de qualquer maneira, são exemplos dessa forte carga negativa.

Registem-se ainda as expressões «galegada» ou «galeguice», significando «grosseria»,


«incivilidade» ou algo de difícil compreensão por ser dito muito depressa, ou o facto de o
vocábulo «labrego», no sentido de rude ou grosseiro, significar originalmente o camponês
galego. Tudo expressões ou vocábulos de forte conotação pejorativa resultantes de uma antiga
tradição de cariz negativo em relação aos galegos, com raízes na História.

Devido ao facto de a Galiza ser uma região rural e pobre ou como modo de fugir ao serviço
militar, aliado à proximidade fronteiriça e às afinidades linguísticas, fizeram de Portugal um
destino de emigração galega. Desde a Reconquista Cristã e dos primórdios da nacionalidade que
há registo da presença de galegos no território português. De forma mais expressiva, porém, a
partir do século XVII, favorecido pela dominação filipina, recrudescendo no início do séc. XVIII,
para os meios rurais, sobretudo em ocupações sazonais ligadas à agricultura, e de forma mais
permanente para as cidades, sobretudo Lisboa e Porto, que chegaram a ter significativas
comunidades galegas.

Dedicavam-se às mais variadas profissões e ofícios, mas sobretudo aos trabalhos mais
pesados e humildes, tais como taberneiros, carvoeiros, moços de fretes, amoladores,
proprietários de casas de pasto e de hospedarias. É, no entanto, a profissão de aguadeiro aquela
que, até ao início do séc. XX e à introdução da água canalizada, mais se associa aos galegos. Os
aguadeiros eram licenciados pelo município e estavam organizados em companhias. Percorriam
as cidades de Lisboa e Porto vendendo, de forma «avulsa» ou «por assinatura», a água que
carregavam em barris e de que se abasteciam nos chafarizes e fontanários públicos em bicas
que lhes estavam destinadas. Em Lisboa, os panos brancos nas janelas sinalizavam a necessidade
de água, que eles transportavam até às cozinhas das casas, vazando-a nos potes de barro
colocados nos poiais. Cabia-lhes também, por inerência, o combate aos incêndios. Nos séc. XVIII
e XIX, os aguadeiros galegos eram olhados pela população de Lisboa como cobrando
excessivamente pela água, havendo mesmo legislação a estabelecer limites de preço, e pelo
facto de acorrerem aos incêndios recebendo por isso, sendo vistos como gente que lucrava com
os infortúnios.

A própria informalidade do mercado de mão de obra galega em muitas daquelas profissões,


em que as transações eram feitas no momento, de forma arbitrária e muitas vezes de acordo
com a cara e a necessidade do cliente, podem ter criado a ideia do galego como pessoa pouco
confiável. Mas desde pelo menos o séc. XIV que há registo, em documentação escrita, de
referências pejorativas em relação aos galegos, estereótipos que a literatura, a literatura de
cordel e depois a caricatura consagraram e amplificaram. Eram vistos como aforradores que,
lucrando em Portugal, levavam o que amealhavam para a Galiza. E criticava-se-lhes a forma
rústica de vestir, de falar e a rudeza dos modos.

Apesar de o português provir do galego, com a diferenciação linguística, a língua e a modo


de falar galegos vão sendo, sobretudo a partir do séc. XVI, percecionados e julgados pelos
portugueses como arcaicos e provincianos. É possível que esteja em todo este constructo de
séculos, ligado a estes estereótipos, a origem da expressão que refere – «És mesmo um galego»
– no sentido de «pessoa pouco confiável» e também de pessoa grosseira ou rude. Há ainda
residualmente, e «a contrario sensu», a expressão galego associada à indolência e à paciência,
o que se radica na venda, em grande parte a cargo dos galegos, dos fósforos, inicialmente feitos
de enxofre e que tinham de ser mergulhados em ácido sulfúrico. A demora do processo fez com
que os fósforos de enxofre ficassem conhecidos por «fósforos de espera-galego» ou
simplesmente «espera-galegos».

De salientar, por último, que, por antonomásia, o uso depreciativo de «galego» se


generalizou no sul de Portugal aos naturais do Norte e mesmo das Beiras, e no Brasil aos
portugueses, e, entre 1835 e 1845, no Rio Grande do Sul, na chamada Guerra dos Farrapos ou
Revolução Farroupilha, aos partidários do imperador, cujo partido os republicanos apodaram de
Galegada. (782 palavras)

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-


iul.pt/consultorio/perguntas/sobre-a-expressao-es-mesmo-um-galego/31369 [consultado em
27-02-2023]

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