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Abstract: The difference between explicative coordination and causal subordination is not
pacific. Studies on this subject present different approaches, most of them incompatible. The
first question to address is the distinction between coordination and subordination, and this
because the difference between explication and causality depend on the criteria used to
distinguish coordination from subordination. But the problem is not limited to this relation.
Inside this broader question it is also problematic the opposition between explication and
causality. Which are the key criteria to distinguish the above mentioned clauses’ types? For
some of them, the criteria are essentially of syntactic nature, for others, those are not enough to
embrace the reality and we need criteria of semantics’ nature to make clear the pointed out
distinctions. With this approach, we aim to go through some grammars and studies in a way to
perception the criteria developed by the several perspectives in analysis. Thus, we want not only
to describe the positions adopted in the different texts, but also to reflect critically on those
positions.
Nota Introdutória
A distinção entre coordenação Quais os critérios fundamentais de
explicativa e subordinação causal não é distinção dos tipos oracionais referidos?
pacífica. Encontramos, nos estudos Para alguns, são essencialmente
sobre a matéria, diferentes perspectivas, critérios de natureza sintáctica; para
em larga medida incompatíveis. outros, estes critérios não são
A primeira questão a equacionar é suficientes para dar conta da realidade e
a que se refere à distinção entre é preciso recorrer a critérios de natureza
coordenação e subordinação, uma vez semântica para tornar claras as
que o contraste entre explicação e distinções apontadas.
causalidade depende dos critérios Com esta abordagem, temos como
usados para distinguir coordenação e objectivo percorrer algumas gramáticas
subordinação. Mas o problema não se e estudos de forma a percepcionarmos
circunscreve a esta relação. No interior os critérios avançados pelas várias
desta questão mais ampla, é igualmente perspectivas em análise. Assim,
problemático o contraste entre pretendemos não apenas descrever as
explicação e causalidade. posições assumidas nos diferentes
textos, como também reflectir criticamente sobre essas posições
normativa, apresenta os seguintes
1. Cunha & Cintra
critérios de distinção entre coordenação
A Gramática de Cunha & Silva e subordinação (pp. 589-592):
(1989), numa perspectiva descritivo-
Critérios de distinção coordenação/subordinação
Coordenação Subordinação
2
O primeiro critério (a diferença Esta tentativa de distinção é
quanto à conjunção) é novamente um praticamente inoperacional, uma vez
círculo vicioso: explica-se a que todas as conjunções explicativas
coordenação pela existência da são repetidas nas conjunções causais o
conjunção, mas classifica-se aquela que obriga à existência de um critério
conjunção como explicativa ou causal independente do uso das conjunções
porque inicia uma oração coordenada para distinguir os dois tipos.
explicativa ou causal! A existência das A definição de conjunção
mesmas conjunções num e noutro tipo explicativa parece afastar a hipótese de
de orações torna bem mais difícil a a apresentação de uma causa ser
distinção entre ambas. justificação da “ideia contida na
É necessário verificar como é que primeira oração” e a definição de
esta Gramática distingue as conjunções conjunção causal parece afastar a ideia
coordenativas das subordinativas (pp. de “motivo”, “razão”, que este tipo de
575-592). As conjunções coordenativas orações também apresenta. Por ex.: (1)
são as que relacionam termos ou indica uma causa em sentido estrito ou
orações de idêntica função; as apenas uma condição que não é
subordinativas relacionam orações em suficiente para explicar o conteúdo
que o sentido de uma é completado pelo proposicional da primeira oração?
sentido da outra. Quanto às conjunções
2. Peres & Móia
explicativas, são as que ligam duas
orações, a segunda das quais justifica a No texto de Peres & Móia (pp.
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para reter o sujeito em casa. É o sujeito poderíamos transformar esta frase
enunciador que estipula para si próprio explicitando a condição numa oração
que esta razão é suficiente para não sair causal:
de casa, mas a razão em si mesma não (6) Ela está a rir porque está
é, do ponto de vista lógico, suficiente. contente.
Em (3), estamos perante aquilo que Mas neste caso, a condição deixa
Aristóteles chamava uma “causa final”. de ser apenas possível para ser
Trata-se do motivo explicativo da sua necessária.
ida para casa e a finalidade da mesma. Resumindo, para os autores, a
De facto, facilmente poderemos causa (eficiente ou final, na
transformar esta frase noutra com o nomenclatura aristotélica), o motivo, a
mesmo sentido mas claramente final: razão ou justificação correspondem
(4) O Paulo foi para casa para sempre a subordinadas causais porque
fazer um trabalho.
explicam o conteúdo proposicional da
oração subordinante. Mas se o conteúdo
Os autores, ao referirem a
da oração explicativa for apenas a
coordenação explicativa, oferecem o
manifestação do que é afirmado na
seguinte exemplo:
primeira oração, mas não a causa, o
(5) Ela deve estar contente,
porque está a rir. motivo ou a razão, então estamos
“Estar a rir” não é o motivo, a
perante a coordenação explicativa. Esta
razão pela qual ela está contente, é
justifica o que o sujeito enunciador
apenas a sua manifestação. O sujeito da
afirma na oração “coordenante”, ou
enunciação conhece a possível alegria
seja, justifica o conhecimento do sujeito
da pessoa de quem falam porque ela se
enunciador acerca de uma determinada
está a rir, mas o facto de rir não
realidade, mas não justifica essa mesma
constitui uma condição, mas a simples
realidade.
manifestação de um estado psicológico.
Enquanto as orações causais constituem 3. Mateus et alii
condições de verificação do conteúdo Comecemos por apresentar os
das orações principais, as explicativas critérios de diferenciação entre
não o são. Bem pelo contrário, é a coordenação e subordinação que a
oração “coordenante” que é condição presente gramática avança (pp. 551ss;
(possível) da verificação do facto texto de Gabriela Matos).
expresso pela explicativa. Deste modo,
4
Critérios de diferenciação
coordenação vs subordinação
Coordenação Subordinação
5
Os critérios enunciados, uma relação de causa-efeito entre dois
merecem-nos alguns comentários. O elementos de natureza oracional, sendo
primeiro, não nos é de grande ajuda, a função de causa atribuída à oração
uma vez que, tanto nas explicativas encabeçada pelo conector (pois, que,
como nas causais, estamos perante um porque, porquanto). Explicita de
mesmo tipo de categoria sintáctica seguida um conjunto de aspectos que
(orações). aproximam estes conectores dos
Quanto ao segundo critério, já nos complementadores subordinativos (o
pronunciámos acima. Acrescentamos o que equivale a dizer que se esbate a
seguinte, já que se refere não só a diferença entre coordenadas explicativas
mesma função sintáctica mas também e subordinadas causais):
semântica: se, para a coordenação, a • Instauram uma relação
função semântica das duas orações é a assimétrica causa-efeito (do
mesma, não parece que muitas das ponto de vista semântico
explicativas possam ser classificadas parece uma subordinação); a
desta maneira, porque a razão ou explicativa assumiria a função
motivo dependem semanticamente do de um adjunto de causa da
conteúdo daquilo que pretendem primeira.
explicar. • Só podem conectar frases.
O terceiro critério parece ser • Só são compatíveis com frases
bastante operativo para a distinção entre finitas.
os dois tipos de oração, mas fá-los Isto sugere que os conectores
depender do uso de determinadas explicativos sejam complementadores
conjunções e não do sentido das que introduzem frases causais.
orações. De facto, é o uso de Ainda na mesma gramática, a
determinadas conjunções que permite parte relativa às orações causais (pp.
ou não a mobilidade dos termos. 711ss), escrita por Ana Maria Brito,
O quarto critério pode ser de explicita duas características destas
grande ajuda na referida distinção, mas orações.
a sua aplicação parece esbater a A primeira consiste na relação de
distinção entre causais e explicativas. dependência semântica entre duas
A mesma autora (pp. 569 e 572) proposições. A segunda consiste nos
aborda a questão dos conectores vários valores semânticos que estas
explicativos, referindo que exprimem orações apresentam. Assim, o primeiro
6
valor estabelece a relação entre causa e primeiras poderem mover-se, enquanto
consequência, em que a causa é as segundas não apresentam essa
condição suficiente da consequência: possibilidade. A diferença não é
(7) Houve seca em Portugal em semântica mas simplesmente sintáctica.
1981, porque não choveu.
As explicativas que iniciam com pois e
O segundo valor semântico
explicita o motivo ou razão de um que (explicativo) não se podem mover.
determinado facto:
(10) O narciso pertence ao reino
(8) O João foi ao cinema porque
vegetal, pois é uma flor.
não lhe apetecia estudar.
(9) Choveu, porque as ruas
estavam molhadas. A distinção é, portanto, puramente
sintáctico-formal (movimento da
Regressando ao critério de Peres
oração) e não semântica, ficando assim
& Móia, (9) é uma forma de
afastado um critério importante de
coordenação explicativa porque o facto
distinção. Para além disso, a distinção
de a rua estar molhada não é motivo,
depende apenas do tipo de conector
mas manifestação que dá ao enunciador
usado, porque a sua capacidade de
possibilidade de conhecer o que afirma
movimento parece depender
na oração anterior. A explicativa
exclusivamente do conector. Se
aumenta o conhecimento do enunciador,
alteramos (10) para (11), transformamos
mas não explica o fenómeno
uma oração coordenada numa oração
atmosférico acontecido. A autora não
subordinada, apesar do conteúdo
refere nenhuma distinção entre (8) e (9);
semântico se manter inalterado!
mas, em (8), a segunda oração é motivo
(11) Porque é uma flor, o narciso
(embora não suficiente) para o conteúdo pertence ao reino vegetal.
do que está dito na primeira oração, ao 4. Terminologia Linguística para os
contrário do que acontece em (9) que é Ensinos Básico e Secundário
revelação de um dado oculto ao sujeito (TLEBS)
enunciador que ele pode inferir a partir
A TLEBS define coordenação
dessa manifestação verificável.
como o “processo sintáctico que
Estando ainda ao que refere a
consiste na junção de duas ou mais
mesma autora (aliás, em desacordo com
unidades linguísticas com a mesma
o que havia sido referido na mesma
categoria e/ou com a mesma função
gramática por Gabriela Matos), o que
sintáctica”. Não procede à definição de
distingue as subordinadas causais das
subordinação, mas define subordinante
coordenadas explicativas é o facto de as
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como “palavra, constituinte ou frase de (13) O Zé tem febre, porque se
constipou.
que depende uma oração subordinada” e
oração subordinada como “oração,
A oração sublinhada em (12) é
contida numa frase complexa, que
apresentada como um exemplo de
desempenha uma função sintáctica na
oração explicativa — e, por isso
frase em que se encontra” e esclarece
mesmo, encabeçada por uma conjunção
ainda que “as orações subordinadas
coordenativa explicativa — e a oração
podem desempenhar a função sintáctica
sublinhada em (13) uma oração
de sujeito, complemento ou modificador
subordinada causal — e, por isso
(da frase, do grupo verbal ou do
mesmo, encabeçada uma por conjunção
nome).” Os elementos de distinção entre
subordinativa adverbial causal. Mas que
coordenação e subordinação, expressos
diferença existe entre as orações
nas definições, não são suficientes para
sublinhadas em (12) e (13)? Apenas a
se estabelecer um critério distintivo
existência de uma conjunção diferente,
claro entre coordenadas explicativas e
pois, do ponto de vista lógico-
subordinadas causais, como já referimos
semântico, exprimem as duas orações
nos comentários aos textos anteriores.
exactamente o mesmo significado.
A base de dados da TLEBS, na
Assim, por um lado, a TLEBS faz
parte referente à definição e
depender a classificação das conjunções
exemplificação das conjunções,
do tipo de oração em que estão inseridas
distingue as conjunções coordenativas
e, por outro, como vemos nos exemplos
explicativas das conjunções
dados, faz depender a classificação das
subordinativas adverbiais causais
orações do tipo de conjunção
remetendo para o tipo de oração que
seleccionado. Estamos, pois, perante um
encabeçam. Assim, só a definição
círculo vicioso que em nada esclarece o
relativa ao tipo de oração nos esclarece
sentido do que se pretende explicar.
sobre o significado de cada tipo de
Quando analisamos a parte
conjunção.
referente às orações, verificamos que a
Os exemplos registados na base
distinção, dada pelas definições, entre
de dados, no capítulo referente às
coordenadas explicativas e
conjunções, são também pouco
subordinadas causais não é
esclarecedores.
suficientemente clarificadora. De facto,
(12) O Zé tem febre, pois
de acordo com a base de dados, é
constipou-se.
8
explicativa uma “oração coordenada em para a distinção. Mais acima referimos
que se apresenta uma justificação ou que a única diferença entre uma e outra
explicação para que se torne legítimo o oração era a presença de uma conjunção
acto de fala expresso pela frase ou diferente. Parece, por isso, que nos
oração com que se combina” e é causal estamos a contradizer, ao apontarmos,
uma “subordinada adverbial que agora, o critério da mobilidade
exprime a razão, o motivo (a causa) do sintáctica para as distinguir. Na
evento descrito na subordinante ou que realidade, este aspecto sintáctico parece
apresenta uma justificação para o que é simplesmente depender das
expresso na subordinante.” Não propriedades do conector e não da
definindo, nem distinguindo as noções oração enquanto tal, pelo que a
de razão, motivo, causa, explicação e distinção verdadeiramente relevante é a
justificação, a diferença entre os dois presença de um conector com
tipos de oração não só não se esclarece, propriedades sintácticas diferenciadas.
como ainda alguns dos conceitos usados Nenhuma das orações sublinhadas
numa definição são repetidos na outra (é em (12) e (13) parecem obedecer ao
o caso do conceito de justificação). critério de Peres & Móia, podendo ser,
Ficamos, por isso, com a sensação de de acordo com estes autores,
estarmos perante um jogo de palavras classificadas como subordinadas
algo arbitrário, porque não causais.
racionalmente estabelecido. Quanto aos exemplos de orações
Se recuperarmos os exemplos (12) causais avançados na base de dados,
e (13), vemos o motivo por que as tanto no que se refere às orações finitas
definições têm de permanecer numa como às não finitas (infinitivas,
zona obscura. De facto, as definições participiais e gerundivas), estamos
pretendem dar conta da distinção perante situações diferenciadas do ponto
semântica entre os dois tipos de oração, de vista lógico-semântico.
mas o único critério de distinção destas (14) [Como a Maria estava
doente], o João não quis sair.
duas orações é exclusivamente
(15) Vem depressa para casa,
sintáctico, ou seja, a mobilidade das [porque o jantar está na
mesa].
orações subordinadas por oposição à
(16) Eles não vêm à festa [visto
imobilidade das coordenadas. estarem com sarampo].
(17) [Por perder o comboio],
Há, assim, uma incongruência
chegou três horas atrasada.
entre as definições e o critério adoptado
9
(18) [À força de insistir], consegui (21) O João está com medo, que
a informação.
estou a vê-lo a tremer
(19) [Descoberta a epidemia de
sarampo], a população foi E refere-se a este propósito que “o
posta de sobreaviso. (= a
facto de o falante ver o João a tremer é
população foi posta de
sobreaviso, visto ter sido apresentado como o factor que justifica
descoberta a epidemia de
a afirmação de que o João tem medo.”
sarampo)
(20) [Estando os miúdos com Ou seja, esta frase é perfeitamente
sarampo], é possível que os
compatível com o critério de Peres &
pais não venham à festa. (= é
possível que os pais não Móia para as orações explicativas. Mas
venham à festa, visto que os
este exemplo não é compatível com a
miúdos estão com sarampo)
distinção evidenciada em (12) e (13).
Assim, (14) evidencia o motivo, a
Conclusão
razão que justifica o comportamento do
João. Não se trata, pois, de uma causa Tendo em conta as várias
Maria estava doente”) e B (“o João não que precisam de ulterior reflexão.
por A (é sempre possível que o locutor semânticos devem ter prioridade sobre
o seguinte:
10
relação às “coordenantes” e sujeito a partir dos dados
conhecidos e expressos na
subordinantes.
subordinada; por exemplo,
Parece, portanto, necessário fazer “nevou durante a noite porque a
estrada está intransitável”.
o levantamento das diferentes relações
Referências Bibliográficas
lógico-semânticas quando estamos
perante orações destes dois tipos e CUNHA Celso & CINTRA Luís Filipe
classificar as orações a partir do tipo de Lindley. [1984] 199713. Nova
relações evidenciado. Numa primeira Gramática do Português
abordagem, podemos distinguir os Contemporâneo. Edições João Sá da
seguintes tipos de relações lógico- Costa. Lisboa.
semânticas:
• Causa eficiente: quando se MATEUS Maria Helena Mira, BRITO
exprime uma relação de causa e Ana Maria, DUARTE Inês, FARIA
efeito entre os estados de coisas
expressos nas duas proposições; Isabel Hub & FROTA Sónia, MATOS
a causal é uma condição Gabriela, OLIVEIRA Fátima,
suficiente e necessária
(fenómenos externos aos VIGÁRIO Marina, VILLALVA Alina.
sujeitos livres); por exemplo, “as 20035. Gramática da Língua
casas desabaram porque não
tinham os alicerces Portuguesa. Colecção Universitária.
suficientemente robustos”; Série Linguística. Editorial Caminho.
• Causa final: quando se exprime
o motivo, a razão, a justificação Lisboa.
do conteúdo proposicional da
oração subordinante, não sendo
esse motivo da ordem da causa e PERES João Andrade & MÓIA Telmo.
efeito, uma vez que a condição 19952. Áreas Críticas da Língua
que exprime não é suficiente
para ocorrer o que está expresso Portuguesa. Colecção Universitária.
na subordinante (razões internas Série Linguística. Editorial Caminho.
ao sujeito livre, que explicam o
agir humano); por exemplo, “o Lisboa.
João foi ao cinema porque TLEBS. In http://tlebs.dgidc.min-
queria descansar”;
• Inferência: quando o edu.pt/ (dados extraídos a 1 de
conhecimento de um dado Dezembro de 2008)
estado de coisas permite ao
sujeito enunciador formular
determinadas afirmações,
porque o estado de coisas
conhecido lhe oferece vestígios,
manifestações daquilo que ele
afirma na subordinante e que é
resultado de uma inferência do
11