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choque cultural
e a lacuna
expectativa /
realidade
teoria do populismo
2018?
1964
1988
15. Ruptura populista se dá em contextos de crise, real e/ou
construída, e tem como contrapartida algum nível de fragilização
institucional
- pioneirismo
- escala
- sistematicidade
- eficácia
sem precedentes no
uso populista das
mídias digitais, no
Brasil e talvez no
mundo
hipótese:
campanha digital do candidato foi estruturada em
torno dos eixos centrais da mecânica populista
• construção do “povo” (eleitorado) através da demarcação de fronteira
nós-eles, amigo-inimigo (antipetismo)
• “povo” se mantém mobilizado durante período eleitoral através da
produção de uma atmosfera de ameaça constante
• ambas as técnicas operam através de significantes vazios, que são
facilmente adaptados conforme o contexto: flexibilidade e rapidez
extremas propiciadas pelo formato digital
• investe em técnicas de inversão de acusações e neutralização de críticas
-> relação cismogênica (Bateson) com o oponente
• teve como condição de possibilidade a deslegitimação ativa e o
deslocamento bem sucedido das mídias tradicionais (em especial, o
jornalismo profissional) e sua substituição por um sofisticado aparato
digital que permite à liderança monopolizar a disseminação de conteúdo
e produzir bolhas que apartam o eleitorado do contraditório ->
“bolsoesfera”
a digitalização da cadeia de referência
redes sociais tornam-se o “corpo digital do rei”
Corpo de “marketeiros” digitais substitui corpo físico debilitado da
liderança carismática:
Formato digital possibilitou fractalizar o mecanismo populista -> replicá-lo em todas as
escalas da rede via imitação (Gabriel Tarde)
Flexibilidade do digital permite a qualquer um replicar uma técnica extremamente
simples que segue poucos comandos muito básicos -> vontade de “viralizar”?
arquitetura da
bolsoesfera
primeira camada:
oficial
- conteúdo compartilhado
unilateralmente pelos admins
- fonte diária de conteúdo novo,
disseminado em resposta imediata aos
acontecimentos no mundo on e offline
- chips estrangeiros (EUA)
- sistematicidade e padrão na produção e
distribuição do conteúdo
- zona cinzenta entre campanha
espontânea e dirigida
terceira camada:
grandes grupos de
whatsapp
- até 256 membros, em boa parte
desconhecidos entre si
- tendem a ser aglomerar por região
- compartilhamento significativo de
conteúdo fake ou distorcido
- coordenação de ações digitais e
manifestações de rua
- socialidade emergente entre os membros
- índices de identidade comum e
pertencimento a um grupo
- aproveita habitus de amizade, parentesco
e comunidade cultivado nos grupos
pessoais de whatsapp
quarta camada: redes e grupos
pessoais, comunicação dois a dois
• espaços seguros
• confiança
• ceticismo moderado
• sociabilidade: quotidiana e ritual
• cultivo das relações
• mobilização de afetos
espontaneidade, sem
“papas na língua”
~ 10% do eleitorado
original de “bolsominions
raiz” (votavam no
Bolsonaro “antes de virar
modinha”)
maio 2018
o cidadão de bem acuado pela bandidagem e o
brasileiro médio acuado pelo politicamente correto:
dois eixos originais ao longo dos quais a cadeia de
equivalência foi sendo construída e modificada
com a proximidade das eleições, torna-se necessário estender
a cadeia de equivalência:
antipetismo ocupa o lugar do significante vazio - do bandido
ao “PT” no esquema binário amigos-inimigos
é “fácil” escolher; não precisa debater
ampliando o
conteúdo
“positivo” da
cadeia de
equivalência
onde buscar?
na bandeira!
ordem,
progresso,
valores morais,
nação
adaptação fractal do
mecanismo
corrupção: bandidos tornam-se todos
aqueles da “velha política” (eles)
liderança populista se coloca como
salvação vinda de fora do sistema
(nós)
construindo a atmosfera de ameaça constante
corruptos + caos = venezuelização
requentando a ameaça comunista
(desde 1848)
estendendo a cadeia de equivalência da ameaça
através do significante vazio “terroristas”:
comunismo, Hezbollah, Irã, Farcs, estado islâmico, Venezuela...
Haddad se estabiliza nas
pesquisas: ameaça é
transferida para o próprio
sistema eleitoral
“todos atentos”
ameaça
permanente
gera
mobilização
permanente:
está em jogo a
própria vida do
mito
“meta-ameaça”: contra a própria mídia
inofensivo vítima
rumores e a mobilização antecipada do voto útil
neutralizando o #EleNão e a rejeição feminina
“As mulheres de direita são muito mais bonitas do que as de esquerda. Não mostram o peito na rua e não defecam para
protestar. Ou seja, as mulheres de direita são muito mais higiênicas que as da esquerda.“ (Eduardo Bolsonaro, 30/09/2018)
contraposição
estética gera
repulsa
conteúdo para o público masculino: o
“macho acuado” e o direito de definir
o que é uma mulher de verdade
dividindo a comunidade LGBT:
os “gays de direita” e a anti-militância
http://mentiramparamimsobreojair.com/
líder é como o “povo”:
humilde e sem preconceitos
neutralizando a luta antiracista:
movimento negro é vitimista e divide a sociedade
outro articulador (neo)liberal da cadeia de
equivalência: a “mamata”
deslegitimando a opinião dos artistas:
artistas são bandidos; Lei Rouanet
ataques digitais coordenados
deslegiti-
mando o
jornalismo
profissional
cabinalização do oponente; mamata; ironia; deslocamento
“doutrinação” no sistema educacional:
deslegitimando a universidade pública e os intelectuais
Parece meme mas é plano de governo! (Fonte: Plano de governo registrado no TSE)
escola: doutrinação comunista ou o Estado
botando ordem na família?
jogando pais contra professores
dividindo a juventude: “geração sem limites”
TEXTO DEDICADO À GERAÇÃO "ELENÃO“ (autoria desconhecida) "E o pior para mim...é a juventude - representada
pela figura de Manuela D´Ávila...Juventude da classe média ou média alta, que foi educada em colégios particulares,
que mora em casas confortáveis, desfruta de comida de qualidade na mesa, possui celulares tops, que aos 18 anos
ganha um carro dos pais, que já foi para a Disney várias ou algumas vezes, que, aos 14 anos, já tem em seu currículo
viagens para a Europa e outros países, que cresceu no banco traseiro do carro dos pais, sem nunca passar o aperto de
um ônibus lotado, que fez natação, ballet, judô, inglês, hipismo, violão, bateria e muitas outras coisas mais... Que viveu
na casa de seus pais, fortalecida pelos direitos que sempre reivindicou... Que faz a unha em salão, que escolheu entre
viagem e festa de quinze anos... mas que agita a bandeira do comunismo de Marx...Seres extremamente capitalistas
que afrontam nossa geração agitando a bandeira comunista...Então, é para vocês que falo, com a autoridade e o
respeito de mãe de vocês todos – jovens de 2018.Foi nas escolas públicas de qualidade, onde hasteávamos a bandeira
nacional, cantávamos o nosso hino, onde reinava o respeito, onde todos pertenciam ao mesmo grupo, que nos
criamos... Nunca soubemos o que era negro, branco, mestiço, homo, hétero... Éramos todos da mesma turma, do
mesmo grupo, da mesma escola... Éramos vizinhos do mesmo bairro...Fomos NÓS, com o nosso mundo simples, com
a nossa forma natural de encarar as diferenças, com as nossas dificuldades, com a nossa falta de luxo, QUE PARIMOS
VOCÊS, que lhes proporcionamos os celulares da Apple, as escolas particulares, as viagens para Disney, as aulas de
esportes, música e idiomas... Fomos nós que levamos vocês de carro ou que contratamos transporte escolar para que
não corressem nenhum risco... Fomos nós que, através de muuuuito estudo e trabalho, pudemos galgar um passo
acima de nossa origem...Não foi o socialismo que deu a vida burguesa de cada um de vocês - com festas, faculdades,
piscinas, viagens, roupas de marca, comida e bebida boas... Foi o capitalismo que, com vocês dentro de suas casas
confortáveis ou passando férias em sua casa de praia, tornou vocês os socialistas de boutique que hoje são. Onde
erramos? Podem nos responder? Demos o exemplo de que lutando, estudando, trabalhando - através do mérito
individual, da amizade, da tolerância, alcançamos um lugar neste país e no mundo. E hoje vocês flertam com o
socialismo de Lula, com direito a aceitação do roubo, da mentira, da negação de que, enquanto ele fazia acordos de
poder e riqueza, brasileiros morriam nas filas de hospitais...enquanto ele e seus amigos fiéis afundavam a Petrobras e
ganhavam triplex, sítios, milhões, as universidades em que vocês queriam estudar caíam aos pedaços... Que causa
vocês defendem? Vocês se tornaram tudo aquilo que vocês mesmos combatem: radicais, intolerantes e
preconceituosos... Vocês viraram FAKE NEWS de si próprios, hipnotizados por uma causa da qual não fazem parte e da
qual, na prática, nunca fizeram. Vocês e aquilo que pregam são como água e óleo: não se misturam! Me digam, onde
foi que erramos?"
Por que a teoria explica tão bem a realidade?
O quanto da campanha digital de Bolsonaro é horizontal, espontânea e gratuita?
Houve um padrão preestabelecido, que passou a ser replicado pelos usuários?
BINGO!
As eleições
brasileiras são
parte deste
experimento?
Efeitos da digitalização do processo eleitoral:
- populismo “pós-moderno”: pastiche e simulacro
- aprofundamento da agenda e hegemonia econômica neoliberal
- vácuo criado pela construção artificial do “povo” é
preenchido por miríade grupos de interesse heterogêneos