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Roteiro de Seminário
Sumário
1. Introdução 3
2. Exegese do texto 4
2.1. Perícope 4
2.3. Tradução 8
3. Interpretação do Texto 12
4. Conclusão 22
5. Bibliografia 24
3
1. Introdução
2. Exegese do texto
2.1. Perícope
1 Meta, tou/to ei;don te,ssaraj avgge,louj e`stw/taj evpi. ta.j te,ssaraj gwni,aj th/j gh/j,
kratou/ntaj tou.j te,ssaraj avne,mouj th/j gh/j i[na mh. pne,h a;nemoj evpi th/j gh/j mh,te evpi th/j
qala,sshj mh,te evpi pa/n de,ndron. 2 Kai. eidon a;llon a;ggelon avnabai,nonta avpo avnatolh/j
h`liou e;conta sfragi/da qeou/ zw/ntoj kai. e;kraxen fwnh/ mega,lh toi/j te,ssarsin avggeloij
oi/j evdo,qh auvtoi/j avdikh/sai th.n gh/n kai. th.n qa,lassan 3 le.gwn mh. avdikh,sete th.n gh/n
mh,te th.n qa,llassan mh,te ta. de,ndra, a>cri sfragi,swmen tou.j dou,louj tou/ qeou/ h`mw/n evpi
tw/n metw,pwn auvtw/n.
V.1
A primeira variante indica que alguns manuscritos substituem meta touto por
kai m. t., ficando o texto “e depois disso” (com tauta no Texto Majoritário
segundo o Grupo André e na versão siríaca heracleana). Essa mudança é atestada
pelo Uncial a., pelo Majoritário, pela versão siríaca, e pelo Pai da Igreja, Beato de
Liébana. O texto de Nestle-Aland é apoiado pelas Unciais A e C, nos Minúsculos
1006, 1841, 1854, 2053, 2351, alguns poucos latinos e pela leitura à margem da
versão siríaca heracleana.
V.2
V.3
Substituição de mhte por kai, atestado pelo Uncial A, pelo minúsculo 2351, e
alguns poucos outros manuscritos (o Uncial a e o minúsculo 1854 apresentam
mhde); substituição de mhte por mhde, atestado pelo Uncial a , pelos minúsculos
1854, 2329, e alguns outros poucos manuscritos. Ainda aponta para a substituição
de acri por acrij ou, segundo os minúsculos 1611, 1854, 2329, 2351, além do
Majoritário Koiné (o minúsculo 2344 atesta acrij an).
1
O A é “o melhor ms. no que diz respeito ao Apocalipse”. PAROSCHI, W. Crítica textual do Novo
Testamento, p.49.
2
“sempre que o aparato não apresentar explicitamente as testemunhas que defendem o texto,
pressupõe-se que este esteja sendo apoiado pelo conjunto de todos os demais manuscritos não
arrolados na(s) variante(s). Quanto não explicitamente citado, “txt”, é, pois, igual ao conjunto de
todas as testemunhas do texto, menos as que apóiam a variante”. WEGNER. U. Exegese do Novo
Testamento, p.59.
7
V.4
V.5
Análise: Não há motivo para optar pela mudança pela pouca força
testemunhal da variante.
V.6
V.7
V.8
2.3. Tradução
4 E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil de
todas as tribos dos filhos de Israel:
3
“(parableyij = olhar para o lado), ocorria geralmente quando duas linhas consecutivas
apresentavam palavras iguais ou semelhantes no final (=homoioteleuton) ou no início
(=homoioarchon), levando os copistas a saltar a linha”. WEGNER, U. Op.cit., p.40.
9
O vidente passa a descrever anjos que recebem ordens de não destruir nada
ainda, em função dos servos de Deus. Esses foram selados pelo anjos com o selo de
Deus. A descrição termina no verso 8. Com isso, delimitamos o fim da perícope,
pois a partir do verso 9, outra visão é introduzida, de novo com Meta. tau/to ei/don
10
[depois destas coisas]. Também esta nova visão parece ser uma resposta à pergunta
de 6,17, e faz parte de um grande interlúdio4 na abertura dos selos, iniciada em 6,1.
v.3 – A ordem de não danificar nada até que todos fossem selados
O uso do selo de Deus no interlúdio da visão dos sete selos transparece uma
continuidade de tema, o que torna essa parte uma interpolação posterior quase
inviável.5 É possível pensar nessa nova cena de 7,1-8, bem como sua continuação
de 7,9-17 como uma continuidade do sexto selo, num contexto maior, da seguinte
forma, de acordo com Richard: 6
Na terra: 6,12-7,8
No céu: 7,9-17
4
Cf. KÜMMEL, W.G. Introdução ao Novo Testamento, p. 600
5
Cf. PRIGENT, P. O Apocalipse, p.139
6
RICHARD, P. Apocalipse. Reconstrução da esperança, p.116.
7
Cf. MAZZAROLO, I. O Apocalipse, p.24.
11
8
MAZZAROLO, I. O Apocalipse, p.17.
9
Como atesta Koester em sua obra. Cf. KOESTER, H. Introdução ao Novo Testamento. 2. História
e literatura do cristianismo primitivo. Pp. 261-280.
12
3. Interpretação do texto
Quando o espírito da chuva quer sair da sua câmara aparecem os Anjos, abrem
a câmara e deixam-na sair; e quando ela se derrama sobre toda a terra une-se com as
águas terrestres.11
No próprio Apocalipse encontramos o anjo do fogo (14,18) e o anjo das
águas (16,5), o que indica que a natureza e seus elementos são controlados por
Deus através de anjos, segundo a tradição apocalíptica.
10
Cf. PRIGENT, P. O Apocalipse, p.140.
11
RODRIGUES, C.J.A. (Trad.) Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia, p.287.
12
Cf. RUSCONI, C. anemoj. In: Dicionário do grego do Novo Testamento, p.49.
13
Pode haver certa correlação também com a cultura grega, que tinha contato com a cultura Persa,
que considerava a estrutura universal do cosmos a partir do quatro, por ex, em Parmênides. Aliás, o
quatro também é uma grandeza simbólica muito trabalhada no Apocalipse.
14
Cf. PRIGENT. P. O Apocalipse, p.140; BALLARINI, T (org.) Introdução à Bíblia, p.506.
15
IMSCHOOT, vento. In: Van den Born, A. (Org.). Dicionário Enciclopédico da Bíblia, col.1547.
13
O anjo que sobe do oriente tem nas mãos um selo, identificado como sendo
do Deus Vivo. O selo – sfragij - representava para o mundo antigo o mesmo que
uma assinatura representa hoje em nossa sociedade, onde cada um tinha o seu,
intransferível e que indicava que alguma coisa pertencia a ele, ou mesmo era de sua
16
MAZZAROLO, I. O Apocalipse, p.128.
17
Cf, BALLARINI, T (org.) Introdução à Bíblia, p.506.
14
18
Sêlo, in: BAUER. J.B. Dicionário de Teologia Bíblica, p.1060.
19
Cf. BAUER. J.B. Dicionário de Teologia Bíblica, p.1060.
20
Ao contrário das traduções correntes no português, o grego não tem necessidade de explicitar o
termo selo, pois a ação divina já é de selar com seu selo.
21
BAUER, J.B. Dicionário de Teologia Bíblica, p.1061.
22
Essa interpretação é atestada no texto de Clemente (2 Clem 7,6; 8,6, Cf. BAUER, J. B.
Dicionário de Teologia Bíblica, p.1061.) e no Pastor de Hermas (Sim.,9,16,4, Cf. PRIGENT, P. O
Apocalipse, p. 142.)
15
Na trama dos selos, o ato de selar os servos de Deus se coaduna com certa
prática nesse sentido, realizado na Antigüidade, quando “soldados, escravos, servos
de templos traziam no corpo sinais atestando a sua dependência ou consagração”.24
O sinal na fronte do qual o anjo brada tem ligação com o sinal que Deus faria no
povo de Jerusalém, segundo a profecia de Ezequiel (9,4),25 um wt', que é a última
letra do alfabeto hebraico, mas também serve como marca, assinatura.26 Esse sinal,
que no alfabeto arcaico lembra uma cruz, pode ter sido o sinal que, junto com o
batismo, indicam essa pertença.27
23
Cf. MAZZAROLO. I. O Apocalipse, p. 113.
24
BALLARINI, T (org.) Introdução à Bíblia, p.506.
25
De acordo com MAZZAROLO, I. O Apocalipse, p.51; BALLARINI, T (org.) Introdução à
Bíblia, p.506.
26
wt'. In: VVAA. Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português, p. 264.
27
Cf. PRIGENT, P. O Apocalipse, p. 142.
28
RIENECKER, F. ROGERS, C. Chave lingüística do Novo Testamento grego, p. 617.
16
que irão perecer) por estarem comprometidos com o projeto de Deus para o mundo,
resistindo ao avanço do Anticristo. Dessa forma, o selo do livro também é o selo da
vida das pessoas que servem a Deus, que o buscam e adoram, e que não adoraram a
Besta (Ap 20,4).
29
MAZZAROLO, I. O Apocalipse, p. 21.
30
Cf. MAZZAROLO, I. O Apocalipse, p. 17; RICHARD, P. Apocalipse. Reconstrução da
esperança, p.75-76.
31
Cf. PRIGENT, P. O Apocalipse, p. 52.
32
No âmbito do cristianismo em geral, mesmo as tendências fundamentalistas trabalham com esse
número como sendo uma grandeza simbólica. A divergência está no entendimento sobre a
identidade dos 144.000. Já o grupo dos Testemunhas de Jeová tem toda uma interpretação própria,
baseada num método de interpretação literalista, que nega a interpretação simbólica do texto.
33
CHEVALIER, J. GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos, p. 348.
17
34
BALLARINI, T (org.) Introdução à Bíblia, p.507.
35
Cf. Tribo. In: Van den Born, A. (Org.). Dicionário Enciclopédico da Bíblia, col. 1529
36
CHEVALIER, J. GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos, p. 348.
37
Como diz RICHARD, P.: “Temos aqui uma reconstrução simbólica do Povo de Deus. Seis vezes
repete-se o número 12, que expressa totalidade ou perfeição social. Os nomes das 12 tribos
simbolizam o povo de Deus em suas origens: os nomes dos 12 Apóstolos simbolizam o Povo de
Deus, reconstruído pela morte e ressurreição de Jesus (cf. 7,1-8 e 14,1-5). Sobre essa tradição se
constrói agora a nova Jerusalém, o novo projeto transcendente de Deus”. Apocalipse. Reconstrução
da esperança, p. 278.
18
A ordem das tribos não tem paralelo na Bíblia. Trataremos esse aspecto
com mais vagar, para uma melhor análise e compreensão.
38
Cf. Tribes, The, In: ACHTEMEIER, P.J. Harper’s Bible Dictionary, p. 1096-97.
39
O texto de Crônicas deve ter recebido influência da tradição pré-sacerdotal, pois tem uma
preocupação de formar uma lista de epônimos.
19
A lista do Apocalipse está mais próxima desse último grupo, primeiro porque
nele José, Levi e Manassés estão juntos. Além disso, a única mudança em relação
às tribos epônimas - do tipo pré-sacerdotal – está na ausência de Dan, que se
explica pelo fato da tribo de Dan ter incorrido em idolatria, segundo Js 18. O
apócrifo Testamento dos Doze Patriarcas, parte VII. Testamento de Dan, V,3,
informa que
J. Wesley (sec. XVIII) interpreta como sendo uma parte fiel dos israelitas, e
não de todo o povo indistintamente, mas para o qual se juntarão uma multidão das
nações de todo o mundo (cf.v.9). Ele indica a proeminência de Judá como resultado
do Messias ser procedente dessa nação, enquanto o fato de Levi ter voltado a
constar na lista das tribos indica o fato das cerimônias levíticas terem sido
abolidas.41
I. Mazzarolo aponta para este grupo como sendo “uma primeira parte dos
redimidos, os do AT, pois são os redimidos e fiéis de cada uma das tribos de Israel.
40
RODRIGUES, C.J.A. (Trad.) Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia, p.371. Ballarini aponta a
mesma questão em sua nota no. 26. Cf. Introdução à Bíblia, p.507. Além disso, Prigent informa que
W. Bousset “apresentou uma quantidade considerável de textos patrísticos que provam que essa
interpretação era tradicional na Igreja Primitiva”. PRIGENT, P. O Apocalipse, p. 144.
41
Cf. WESLEY, J. Explanatory notes upon the New Testament, p.970.
20
Este número de salvos não são os salvos pelo Cordeiro, pois estão numa
complexidade numérica fechada, com significado mais para a Cabala judaica”.42
Nessa posição, o grupo refere-se a Israel, não num sentido político-social, mas
histórico-espiritual, isto é, tem a ver com o povo de Deus histórico, mas não
historicamente identificável, pois eles estão ocultos pelo selo de Deus.
42
MAZZAROLO, I. O Apocalipse, p. 51.
43
PRIGENT, P. O Apocalipse, p.143.
44
PRIGENT, P. O Apocalipse, p.143.
45
BALLARINI, T (org.) Introdução à Bíblia, p.506-507.
46
JAMIERSON, R. FAUSSET, A.R. BROW, D. Comentario Exegetico com Explicativo de La
Biblia, p. 787.
21
simbólico, bem como explica a ausência da tribo de Dan da mesma maneira. Para
ele se trata do Israel político, remanescente fiel, que será restaurado e enfrentará as
hostes do Anticristo numa grande batalha, após a grande tribulação. O selo seria
para eles como o foi para os antigos israelitas quando estavam no Egito, e cujas
casas foram marcadas para evitar a morte (Ex 12).
47
RICHARD, P. Apocalipse – Reconstrução da esperança, p. 130.
48
RICHARD, P. Apocalipse – Reconstrução da esperança, p. 130.
49
ROLLOF, J. A Igreja no Novo Testamento, p. 267.
50
ROLLOF, J. A Igreja no Novo Testamento, p. 200.
51
ROLLOF, J. A Igreja no Novo Testamento, p. 200.
52
Cf. RICHARD, P. Apocalipse – Reconstrução da esperança, p. 60.
22
Conclusão
A perícope deve ter sido escrito tendo em vista cristãos vindos do judaísmo,
mas que conviviam com dificuldades no ambiente helênico. Com certeza judeus
helênicos também faziam parte da comunidade, mas essencialmente tinham a
tradição judaica como fundamento da sua fé. Desse modo o texto realmente trata de
um grupo específico, que enfrenta perseguições e que precisa ser estimulado a
permanecer firmes. Para eles Deus promete um selo, uma marca, que os confirmará
e identificará, desde que eles permaneçam fiéis. Para tanto, devem tomar cuidado
para não seguir os “balaamitas” (2,14), “nicolaítas” (2,15), os “seguidores de
Jezabel” (2,20) e os da “sinagoga de Satanás” (2,12; 3,9), e não tenham o mesmo
fim de Dan, que ficou de fora da lista.
A lista contém uma condição: não basta ser judeu, é preciso estar aberto a
Jesus como Messias. Por isso a lista é encabeçada por Judá, para que aqueles que
servem ao “Leão da tribo de Judá”, mas que na verdade é o “Cordeiro” (cf. 5,5-6).
Com isso, ela também se abre àqueles e àquelas que não nasceram dentro do povo
de Israel, mas que pela fé aderiram a esse povo, como uma grandeza espacial e
temporal, um povo de Deus escatológico, em que judeus e gentios se unem em um
só povo (Ef 2,11-22). Há uma intenção de diálogo entre as duas parte: os judeus
que se converteram ao cristianismo e também os cristãos helênicos, em relação aos
judeus da sinagoga que viviam na diáspora, em meio ao ambiente helênico
vinculado ao culto ao imperador e à idolatria.
23
O fato de terem um número e uma ordem serve como um estímulo para que
não pensem que estão abandonados à própria sorte, sem orientação. Pelo contrário,
as testemunhas de Jesus são motivadas a continuar, pois Deus está controlando a
sua igreja, e ela vencerá todas as tribulações e a Besta. A própria história confirma
como a igreja passou de um movimento informal dentro do judaísmo, cresceu no
império romano de forma clandestina e superou todas as perseguições, até mesmo
adquirindo estado de organização influente na política do Ocidente (às vezes com
resultados desastrosos).
Mesmo com toda a crítica que se possa fazer, a Igreja se coloca no quadro
daqueles que estão organizados por Deus. Por outro lado, esse texto representa para
nós hoje um alerta, em meio à ruína dos projetos políticos que se fazem de
cordeiro, mas que são lobos vorazes, oprimem e exploram o povo sofrido de nossa
realidade latino-americana e especialmente brasileira. Aqui, como lá, é preciso
manter-se fiel ao projeto de Deus, e não entregar-se às facilidades que o sistema da
Besta proporciona para aqueles que o seguem. O preço é alto: trata-se de desfazer-
se de valores como solidariedade, justiça, igualdade, compaixão, afetividade, e
deixar-se levar pela fome de conquista, de lucro a qualquer preço, das coisas que a
nada acrescentam, e que transgridem o projeto de Deus para a humanidade.
O selo dos 144.000 serve para nós, então, como estímulo a continuar um
evangelho aparentemente fraco, em meio a poderosas estruturas dominadoras; e
advertência sobre o resultado de nos deixarmos envolver pelos esquemas que
favorecem a morte, quando somos chamados a defender a todo custo, o valor da
vida e do bem comum a todas as pessoas.
24
Bibliografia
ACHTEMEIER, P.J. (Ed.). Harper’s Bible Dictionary. San Francisco: Harper &
Row, Publishers, 1985. [s/n.]
BAUER, Johannes B. Dicionário de Teologia Bíblica. Vol II. São Paulo: Ed.
Loyola, 1973. [s/n.]
Bíblia Sagrada. Antigo e o Novo Testamento. Trad. em port. por João Ferreira de
Almeida. Revista e Atualizada. 2ª ed. 1988.