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INSTITUTO ENSINAR
CURSO SUPERIOR EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLIA E PRIVADA- GSPP-EAD

JHONATAN ALEX PANTOJA PEREIRA

SEGURANÇA PÚBLICA

Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do


Curso Superior de Gestão em Segurança
Pública e Privada do Instituto Ensinar –
GSPP/EAD, como requisito para
aprovação na disciplina de TCC em Segurança
Pública.

Orientador: Tutora Anny Souza

Barcarena/PA
Agosto de 2020
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Segurança pública

A segurança pública é um direito individual e coletivo e um dever


do Estado em prestá-lo e garanti-lo. Consequentemente,
compreender o conceito segurança pública torna-se mais
complexo considerando-se sua definição mais abrangente. Como
direito individual, insere-se no direito à viver seguramente e no
exercício seguro das liberdades fundamentais. Como direito social
(art. 6º caput, CF) impõe uma obrigação comissiva do Estado,
“comando positivo representado por um mínimo em termos de
realização de projeto social” (NETO, 2009, p. 739). A segurança
necessária para viver e ser livre perpassa o âmbito individual para
transplantar para a esfera coletiva. O que é então segurança
pública? O que ela garante? Quem a garante? Quem deve estar
por ela garantido? Podem-se buscar respostas para essas
perguntas, mas a natureza jurídica- social da segurança pública
implica em respostas incompletas, inacabáveis ou em constante
modificação. Por certo, normalmente atrela-se a segurança
pública à ordem pública, mas não as devem confundir. Em
consonância com o STF, o Superior Tribunal de Justiça - STJ
(2011) já ampliava este conceito de “ordem pública”, entendendo
não se restringir “às medidas preventivas da irrupção de conflitos
e tumultos”, no sentido de resguardar a integridade física e
psíquica das pessoas ou impedir a reiteração criminosa a, “(...)
mas abrange também a promoção daquelas providências de
resguardo à integridade das instituições, à sua credibilidade social
e ao aumento da confiança da população nos mecanismos oficiais
de repressão às diversas formas de delinquência.” Noutro
contexto, a segurança pública está intimamente ligada à
prevenção, controle e repressão da criminalidade e violência.

O diagnóstico dos problemas da segurança não é algo nada


simples. Cuida- se de tema extremamente complexo e plúrimo, e
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tratá-lo diferente é identificar uma leviandade. A sociedade por


ser mutável e não estática se encontra em constante
transformação, e como tal, os problemas relacionados à segurança
também vão se modificando, ainda que alguns sejam comuns – e
anacrônicos -, nos mais diversos momentos estudados. Problemas
de violência, criminalidade, trânsito, insegurança urbana e rural e
demais relacionada à segurança pública devem ser dimensionados
num enfoque multicausal. A multicausalidade destes problemas,
supõe-se, é algo incontroverso. Em sendo multicausal, exige-se
que sua análise também seja vista nos mais diversos enfoques,
conhecimento, de modo que possa perpassar por diversas ciências
– jurídicas, sociais, naturais e mesmo exatas. Inseridos num
ambiente de alta complexidade, entendesse a necessidade da
implantação de um raciocínio horizontalizado complementar e
transversal para o estabelecimento deste saber. A segurança
pública é plural, e assim deve ter uma pluralidade de
conhecimento, integrando o acadêmico e dogmático com a
vivência pessoal e social. A multidisciplinaridade surge como
algo essencial na compreensão e na elaboração de políticas
públicas voltadas à segurança. Por meio dela, há uma justaposição
de disciplinas (leia-se: área de conhecimento científico) onde cada
uma coopera dentro do seu saber para o estudo do elemento em
questão. Assim, cada “conhecedor” partícipe cooperar com a
problemática dentro da sua própria ótica, fazendo com que o
estudo possa ter diversos ângulos, e sem contudo, romper com os
limites e esferas de cada disciplina. Utilizando-se a justaposição
de conteúdos de disciplinas heterogêneas, o trabalho conjunto sob
várias óticas faz alcançar a integração de métodos, teorias,
experiências e conhecimentos.

Há pertinência entre a política criminal e a segurança pública.


Para que estas sejam objetos de estudo, devem integrá-las com a
sociologia, a ciência política, a psicologia, a antropologia, a
pedagogia e muitas vezes com as ciências naturais, como a
biologia, devendo adentrar por outras, nas ciências exatas, como a
estatística; dentre outros áreas afins que reportem a referentes
teóricos e metodológicos para adotar como conteúdo a análise
multidisciplinar do controle punitivo do Estado frente à
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criminalidade e a preservação da ordem pública. Na análise das


ciências jurídicas, não cabe mais apenas reportar-se à dogmática
penal, à criminologia, às políticas criminais e à processualística.
Há uma necessidade em acrescer os conceitos da vitimologia, do
garantismo penal e de uma execução penal. Cita-se, por exemplo,
o caráter interdisciplinar da lei que alterou as regras de prisões
provisórias no Brasil. Definir políticas para sua melhor
implementação depende não apenas em saber “o quê” prender
(dogmática), “porquê” prender (políticas criminal) ou “como
prender” (processual), sem também – multiciplinariamente – não
adentrar no conhecimento da vitimologia (quando da aplicação da
medida cautelar, diferente da prisão), da como será executada esta
prisão (âmbito execucional), ou mesmo invadir questões sob a
ótica sociológica e psicológica. A multiciplinariedade ajuda na
identificação e aproximação de conceitos e elementos para uma
definição de política de segurança pública, como reação jurídica e
social, que tem como fim essencial o respeito aos direitos
fundamentais dos cidadãos. Auxilia ainda a multiciplinariedade
na prescrição de princípios reitores, assim como os referenciais
jurídicos e políticos, a fim de observar uma visão real sobre as
funções dos mecanismos de controle formal e informal. Ela ajuda
ainda em conviver com a demo diversidade, tida como a
coexistência pacífica ou conflituosa de diferentes modelos e
práticas democráticas, bem como na ampliação do
experimentalismo democrático (SANTOS & AVRITZER, 2002,
p. 77-78). Num primeiro momento, em face de ensinos clássicos e
a ideologia da especialização, a multidisciplinaridade vem
instituir o início do fim da especialização do conteúdo. No
entanto, a grande dificuldade resulta na “Inter articulação” entre
as diferentes ciências. Ressalta-se que suas linguagens devem ser
postas a conhecimento acessível a todos, de modo que possa
traduzir a linguagem particularizada e conceitos próprios que cada
disciplina possui. Do conceito de multidisciplinar surge um novo
dilema. Não basta que as diversas disciplinas se integrem, se não
interagem nem dialogam.

Aparece assim o conceito de interdisciplinaridade, também


indispensável na implantação do processo inteligente de
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construção da segurança pública, de maneira informal, realística e


integrada. A partir de um conhecimento setorizado, a
interdisciplinaridade o transforma em um conhecimento integrado
onde as disciplinas interagem entre si. Portanto, a
interdisciplinaridade consiste numa relação de reciprocidade,
fundada na interação, quando possível o diálogo, fazendo
substituir a concepção fragmentária das diversas áreas pela
unitária. Exemplificando, a formação dos operadores da
segurança pública encontra-se no campo da multiciplinariedade
por exigir diversas áreas de conhecimento. Entretanto, não se
pode dissociar esta formação com a interação destes operadores
com a sociedade e suas próprias instituições, relacionada
intimamente com a intersubjetividade. Pretende-se com a
interdisciplinaridade superar a fragmentação do conhecimento,
visando interações recíprocas entre as disciplinas, trocando-se
dados, resultados, informações e métodos. Nesta
contextualização, a interdisciplinaridade faz transcender a
justaposição das disciplinas, por meio de processos de
coparticipação, mutualidade, reciprocidade e diálogo. Estes
processos, por sua vez, correspondem a processos discursivos,
interativos e intimamente ligados a um “agir comunicativo”. A
expressão ‘agir comunicativo’ “indica aquelas interações sociais
para as quais o uso da linguagem orientado para o entendimento
ultrapassa um papel coordenador da ação” (HABERMAS, 2012,
p. 70-71). Nesse particular, a segurança pública também deve ser
vista como um processo linguístico. A linguagem tem destacada
importância para Jürgen Habermas, por exemplo, uma vez
fundada na ideia de que a linguagem não é somente uma, mas é
constituída de variados jogos de linguagem, que por sua vez,
desempenham as diversas funções da linguagem, suas
potencialidades. Por conseguinte, a segurança também é
constituída por variados jogos, funções e potencialidades. A
segurança pública, portanto, como fenômeno heterogêneo e
multicausal implica que seja estudada numa sob um enfoque
multidisciplinar, interdisciplinar e até mesmo transdisciplinar3. A
mera constatação de que a segurança pública encontra limites nos
direitos e nas garantias fundamentais e seus contrastes, por si só,
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já é suficiente para abranger diversos conhecimentos e variadas


linguagens.

Neste aspecto, efetivar uma segurança participativa nada mais é do que


ampliar as várias áreas de conhecimentos e fomentar processos linguísticos,
de modo que possam cooperar entre si, integrar, interagir e dialogar. A
segurança participativa passa a ser vista não apenas como algo democrático
ou simples cumprimento de formalidades, mas, sobretudo, ganha um
caráter científico em sua formação e organização.

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