Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
POLÍTICAS PÚBLICAS
Cláudia Antico
Paulo de Martino Jannuzzi
1
INDICADORES E A GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS1
Introdução
A Administração Pública, em geral, vem passando por mudanças institucionais
relacionadas à consolidação da sistemática do Planejamento Plurianual, ao
aprimoramento dos controles administrativos dos Ministérios, à mudança da ênfase da
auditoria dos Tribunais de Contas da avaliação da conformidade legal para a avaliação
do desempenho dos programas, à reforma gerencial da Gestão Pública em meados dos
anos 1990 (GARCIA 2001, COSTA e CASTANHAR 2003). O interesse crescente pelo
uso de indicadores nas atividades ligadas à gestão de políticas públicas deve-se, em
grande parte, a tais fatores, assim como ao aprimoramento do controle societal do
Estado Brasileiro nos últimos 20 anos. A mídia, os sindicatos, a sociedade civil
passaram a ter maior poder de fiscalização do gasto público, exigindo o uso mais
eficiente, eficaz e efetivo do mesmo, e a reorganização das atividades de planejamento
em bases mais técnicas.
O acesso crescentemente facilitado às informações mais estruturadas – de
natureza administrativa e estatística – que as novas tecnologias de informação e
comunicação viabilizam também tem contribuído para a disseminação do uso dos
indicadores na gestão pública. Dados cadastrais antes armazenados em armários e
fichários passam a transitar pela rede, transformando-se em informação estruturada para
análise e tomada de decisão. Dados estatísticos antes inacessíveis em enormes arquivos
digitais passam a ser “customizados” na forma de tabelas, mapas e modelos
quantitativos construídos por usuários não especializados. Sem dúvida, a Internet, os
CD-ROMs inteligentes, os arquivos de microdados potencializaram a disseminação da
informação administrativa compilada por órgãos públicos e a informação estatística
produzida pelas agências especializadas.
1
Esse texto está baseado em idéias expostas em oportunidades anteriores (Jannuzzi 2001, 2002 e em
especial Jannuzzi 2005), valendo-se, ainda, das experiências de capacitação de técnicos de ONGs e
gestores do setor público, desenvolvidas no âmbito do convênio ENCE/IBGE e Fundação FORD, nas
experiências de participação em cursos de formação e extensão da Escola Nacional de Administração
Pública, da Fundação do Desenvolvimento Administrativo, e de Gestão Pública da PUC-Campinas.
2
É com o objetivo de apresentar como essas informações estruturadas podem ser
empregadas nas diferentes etapas do ciclo de formulação e avaliação de políticas
públicas que se apresenta este texto. Em sua forma clássica, o ciclo de formulação e
avaliação de políticas públicas é composto pelas etapas de Diagnóstico, Formulação,
Implementação e Avaliação (Figura 1). Cada etapa desse ciclo envolve o uso de um
conjunto de indicadores de diferentes naturezas e propriedades, em função das
necessidades intrínsecas das atividades nelas envolvidas (Quadro 1).
Avaliação Formulação
Implementação
Este texto está estruturado em quatro tópicos correspondentes a cada uma das
etapas do ciclo, discutindo o uso dos indicadores – tipos e propriedades desejáveis – em
cada fase, assim como as ferramentas analíticas e aplicativos que podem potencializar o
uso dos mesmos na gestão das políticas públicas.
3
Indicadores na Elaboração do Diagnóstico
4
Figura 2: Cartograma produzido pelo Estatcart ilustrando diferenciais socioeconômicos ao nível
de setor censitário e mapa de um setor (com ruas e quadras)
Sumaré – SP – 2000
5
de condições de vida encontrada pelo território nacional. Ou seja, é possível encontrar
bolsões de pobreza na capital paulistana com características de alguns municípios no
Nordeste2.
Um dos recursos que tem auxiliado na elaboração e apresentação de
Diagnósticos Sociais é a proposição de Tipologias, Agrupamentos ou Arquétipos,
usados para classificar unidades territoriais segundo um conjunto específico de
indicadores sociais e, portanto, apontando os déficits de serviços públicos, de programas
específicos etc. O Índice Paulista de Responsabilidade Social é um exemplo neste
sentido, ao classificar os municípios paulistas em cinco grupos, de acordo com os níveis
observados de indicadores de saúde, escolaridade e porte econômico municipal
(SEADE 2002).
Além dos indicadores multitemáticos para “retratar” as condições de vida,
referentes à saúde, habitação, mercado de trabalho etc, também devem fazer parte de um
Diagnóstico Social os indicadores demográficos, em especial, aqueles que permitem
apresentar as tendências de crescimento populacional passado e as projeções
demográficas futuras, para dimensionamento de públicos-alvo dos diversos programas
em termos de idade e sexo. As mudanças demográficas foram bastante intensas no país
nos últimos 30 anos, com impacto significativo e regionalmente diferenciado sobre a
demanda de vagas escolares, postos de trabalho etc (MARTINE et al. 1994).
2
De fato, é o que o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social – calculado por setor censitário – permite
6
que oferecem ao gestor uma medida-síntese das condições de vida, vulnerabilidade,
desenvolvimento social de municípios, estados ou outra unidade territorial de
implementação de programas. O IDH-Municipal foi, por exemplo, o indicador
empregado pelo Programa Comunidade Solidária para selecionar os municípios para
suas ações, o que certamente representou um avanço em termos de critério técnico-
político de priorização. Contudo, a escolha desse indicador acabou por excluir do
programa todas as cidades médias e populosas do Sudeste, já que suas medidas sociais
médias – calculadas para a totalidade do município – eram sempre mais altas que as dos
municípios do Norte e Nordeste. Se fosse usado um indicador calculado para domínios
sub-municipais (setor censitário, bairros, áreas de ponderação etc), os municípios do
Sudeste certamente teriam bolsões que se enquadrariam entre os públicos-alvo
prioritários do programa.
Esse exemplo deixa claro a importância do diagnóstico micro-espacializado
comentado anteriormente, em especial o realizado ao nível de setor censitário. Ë
possível, desta forma, não só garantir maior precisão e eficiência na alocação dos
programas que devem ser focalizados, como também acompanhar, posteriormente, os
seus efeitos. Além disso, o uso do setor censitário (ou área de ponderação) garante, em
alguma medida, a compatibilização dos quantitativos populacionais de cada pequena
área, amenizando os efeitos potencialmente destoantes da tomada de decisão baseada
em indicadores expressos em termos relativos. Dois municípios podem ter, por
exemplo, percentual similar de famílias indigentes, mas totais absolutos de indigentes
muito distintos. Municípios populosos podem apresentar cifras relativamente mais
baixas de indigentes, mas ainda assim podem reunir totais absolutos bastante
significativos. Em qual município deve se priorizar as ações de Programas de
Transferência de Renda: naquele em que a intensidade de indigência é elevada ou
naquele em que o quantitativo de indigentes é maior? Quando se têm indicadores
calculados para áreas com totais populacionais mais compatíveis, rankings de
priorização baseados em indicadores relativos ou absolutos diferem pouco3.
A diferença na focalização com uso de indicadores relativos e absolutos fica
evidente na Figura 3, em que se representa, à esquerda, a proporção de responsáveis
7
sem rendimento ou com até um salário mínimo, e à direita, o total de responsáveis com
mesma característica. Se é fato que a intensidade relativa de pobreza é alta nos
pequenos municípios do Sertão Nordestino, também é verdade que nos municípios
médios e grandes do Sudeste (e em todo território nacional) os quantitativos
populacionais nesta situação são muito expressivos. A adoção do setor censitário como
unidade de representação territorial dos indicadores – pelo fato de garantir certa
compatibilidade dos totais populacionais – eliminaria, em larga medida, este problema
na identificação de públicos-alvo baseados em medidas relativas e absolutas.
Figura 3: Responsáveis por domicílio sem rendimento ou com rendimento até 1 salário mínimo,
representado como proporção e total populacional
Brasil 2000
Proporção de chefes sem rendimento ou Total de chefes sem rendimento ou
até 1 salário mínimo até 1 salário mínimo
8
simultâneo de diversos critérios, representando a proporção dos domicílios particulares
permanentes que não têm escoadouros ligados à rede geral ou fossa séptica, não são
servidos de água por rede geral, não têm coleta regular de lixo, seus responsáveis
(chefes) têm menos de 4 anos de estudo e rendimento médio mensal até 2 salários
mínimos. Este indicador pode ser calculado também por áreas de ponderação do Censo,
e tem se mostrado com grande poder de discriminação e validade em representar
situações de carências de serviços públicos básicos pelo território nacional.
Em alguns casos de programas inter-setoriais, que envolvem esforços de equipes
de diferentes áreas e o alcance de vários objetivos, pode ser interessante tomar a decisão
acerca das áreas prioritárias de implantação dos programas a partir da combinação de
vários critérios (indicadores). Neste caso, pode-se empregar a Análise Multicritério,
técnica estruturada para tomada de decisões em que interagem vários agentes, cada um
com seus critérios e juízos de valor acerca do que é mais importante considerar na
decisão final (ENSSLIN et al. 2001). A vantagem do uso dessa técnica em relação a
outras, como o emprego de Indicadores Sintéticos, é que ela permite que a decisão seja
pautada com base nos critérios (indicadores) considerados relevantes para o programa
em questão pelos agentes decisores, e que a importância dos critérios seja definida pelos
mesmos, em um processo de interatividade com outros atores técnico-políticos. Alguns
algoritmos que implementam a técnica produzem soluções hierarquizadas – como um
Indicador Sintético – e robustas, não dependentes da escala de medida ou dispersão das
variáveis.
Há diferentes formas de implementar de forma estruturada o processo coletivo
de tomada de decisão, entre os quais, o implementado computacionalmente no software
Programa para Apoio à tomada de Decisão baseada em Indicadores (PRADIN)4. Na
forma como foi implementada a técnica no programa, é necessário especificar quem são
os decisores, o poder de influência de cada um, os indicadores usados como critérios de
avaliação, os pesos e valores destes indicadores para cada alternativa considerada,
possíveis escolhas a serem avaliadas como programas alternativos ou municípios-alvo
de um programa (Quadro 2). Deve-se, também, escolher a função de preferência e seus
4
Este programa foi desenvolvido para a ANIPES – Associação Nacional de Instituições de Planejamento,
Pesquisa e Estatística – e SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – como
ferramenta para uso por gestores na seleção de públicos-alvo de programas sociais. Está disponível como
recurso de capacitação em técnicas multicritério em www.anipes.org.br. Para aplicações práticas há
vários softwares disponíveis na Internet.
9
parâmetros, o nível de indiferença, relacionado à confiabilidade dos indicadores e ao
que se considera como padrão normativo esperado (ou boas práticas) –, que definirão a
regra de comparação, duas a duas, entre as alternativas, para cada indicador ou critério
definido.
1a.etapa
Definição do programa, agentes envolvidos e poder de
influência dos mesmos (com base na posição hierárquica,
recursos aportados etc)
2a.etapa
Explicitação dos indicadores que serão tomados como
critérios para decisão, bem como a importância que cada
agente confere ao mesmo
3a.etapa
Etapa recorrente
Definição dos parâmetros do algoritmo de comparação das
Simulações
alternativas segundo os critérios como a função de
segundo avaliação
preferência, níveis de indiferença e preferência
coletiva dos
resultados
4a.etapa
Cômputo do Indicador Multicriterial
5a.etapa
Análise de Sensibilidade para validação do Indicador
Multicriterial
6a.etapa
Geração dos Agrupamentos de Soluções
10
Com o emprego do programa, as alternativas são hierarquizadas pelo resultado
líquido entre superações e subordinações, definidas pelas comparações, duas a duas das
alternativas, para cada indicador, usando a função de preferência. Ao final da aplicação
do algoritmo, tem-se o conjunto de alternativas classificadas por um indicador-síntese –
indicador multicriterial –, ordenando as alternativas, da menor para aquela de maior
potencialidade, segundo os critérios e pesos estabelecidos (Figura 4).
Um aspecto interessante no uso desta técnica para a tomada de decisão é que ela
permite a simulação de soluções, mediante variações nos pesos, introdução ou retirada
de indicadores e alternativas, ou ainda troca de parâmetros e funções usadas para
comparação das alternativas a serem avaliadas.
Na forma em que a técnica foi implementada no PRADIN é possível, ainda,
validar a solução encontrada através de uma Análise de Sensibilidade, avaliando o
impacto na solução final de pequenas variações nos pesos dos indicadores, no poder de
11
influência dos decisores ou ainda da retirada de algumas alternativas. Implementou-se
também no programa o recurso de definição de clusters – Análise de Agrupamentos –
por proximidade do indicador multicriterial, para situações em que se busca não apenas
uma hierarquização das alternativas, mas também grupos de alternativas similares
segundo os critérios usados.
Para ilustrar o uso da Análise Multicritério na identificação de públicos-alvo
prioritários a atender, seguindo o Quadro 2, suponha a existência de um programa
público que envolva diferentes Ministérios ou Secretarias – Saúde, Desenvolvimento
Social, Infra-estrutura Urbana, Habitação, cada um com volume de recursos específicos
para o programa (Etapa 1 do Quadro 2). Suponha, ainda, que tal programa está voltado à
diminuição do Déficit Social mais básico nos municípios brasileiros, expresso, por
exemplo, pela demanda não atendida de ensino básico para crianças e adolescentes, de
programas de assistência social de transferência de renda e proteção ao risco de
desemprego de chefes de família, de serviços básicos de prevenção à saúde pública
(minimamente garantidos pelo acesso a serviços de infra-estrutura urbana como
abastecimento de água, saneamento básico adequado, coleta de lixo) e programas de
habitação popular.
Considerando a natureza intersetorial deste programa, seus objetivos e a
disponibilidade de informações estatísticas municipais, é possível que o processo de
busca, discussão e seleção dos indicadores acabe resultando no conjunto apresentado no
Quadro 2 (Etapa 2 do Quadro 2). Esses indicadores podem ser computados por meio das
informações do Censo Demográfico 2000, dimensionando, para cada município, a
parcela da população que não reside em uma moradia adequada, não tem acesso a
serviços básicos de infra-estrutura urbana, não tem acesso a oportunidades educacionais,
ou não dispõe de rendimentos suficientes provenientes do seu trabalho, aposentadoria
ou programas públicos de transferência de renda para manutenção de um padrão
adequado de vida.
12
Quadro 3: Possível conjunto de Indicadores analíticos usados na construção do Indicador
Multicriterial de Déficit Social no Brasil
Critério normativo de
Dimensão do Déficit Indicadores
adequação (em %)
13
Essa proposta metodológica de construção de indicadores de priorização através
da Análise Multicritério é certamente mais interessante que a oferecida pelos
Indicadores Sintéticos mais gerais, já que permite a computação de uma medida
específica para cada programa público, considerando seus objetivos, públicos-alvo
específicos e escolhas técno-políticas dos gestores públicos encarregados de tomar as
decisões.
14
existência de equipamentos específicos de comércio, serviços da indústria cultural e
lazer como bibliotecas públicas, livrarias, jornais locais, ginásios de esporte. Essa
pesquisa permite, pois, construir indicadores que possibilitam retratar o grau de
participação e controle popular da ação pública, e caracterizar o estágio de
desenvolvimento institucional das atividades de planejamento e gestão municipal pelo
país.
A PNSB complementa esse quadro informacional sobre os municípios
brasileiros com a coleta de dados sobre Abastecimento de Água, Esgotamento sanitário,
Limpeza Urbana e Sistema de Drenagem urbana. Pode-se dispor de outros indicadores
mais informativos sobre a estrutura e qualidade dos serviços de infra-estrutura urbana,
que não se limitam a apontar o grau de cobertura populacional atendida. Com os dados
levantados nessa pesquisa, é possível construir indicadores de volume de água ofertada
per capita, do tipo de tratamento e volume da água distribuída à população, de volume e
destino do esgoto e lixo coletado, entre outros aspectos.
Há também esforços louváveis de várias instituições públicas, além do IBGE,
em disponibilizar informações de seus cadastros e registros de forma mais periódica,
fato que se deve não só a necessidade de monitoramentos da ação governamental, mas
também das facilidades que as novas tecnologias de informação e comunicações têm
proporcionado. Os órgãos estaduais de estatística, o Ministério da Saúde, da Educação,
do Trabalho, do Desenvolvimento Social, da Previdência Social, das Cidades, a
Secretaria do Tesouro Nacional disponibilizam pela Internet informações bastante
específicas – em escopo temático e escala territorial- a partir de seus registros e sistemas
de controle internos, que podem ser úteis para construção de indicadores de
monitoramento de programas (Quadro 3).
15
Quadro 3: Algumas das fontes oficiais para atualização periódica de indicadores
Fonte Sítio Conteúdo
Estatísticas sócias e econômicas diversas, em diferentes
IBGE www.ibge.gov.br níveis de atualização e desagregação territorial,
acessíveis nas publicações, no @Cidades, Sidra e BME
Pelo sítio da Associação Nacional das Instituições de
Órgãos estaduais
www.anipes.org.br Planejamento, Pesquisa e Estatística pode-se acessar os
de estatística
órgãos estaduais e as informações dos mesmos
Estatísticas de mortalidade por causas
Ministério da
www.datasus.gov.br Atendimentos no SUS
Saúde
Registro de Vacinações
Estatísticas educacionais
Ministério da
www.inep.gov.br Docentes e equipamentos
Educação
Avaliação de desempenho educacional
Estatísticas mensais do Cadastro Geral de Empregados e
Ministério do
www.mte.gov.br Desempregados
Trabalho
Relação Anual de Informações Sociais
Ministério do
Indicadores de Pobreza e Indigência
Desenvolvimento www.mds.gov.br
Acesso aos Programas de Transferência de Renda
Social
Ministério da Benefícios e Auxílios concedidos
Previdência www.mpas.gov.br Contribuintes
Social Acidentes de Trabalho
Ministério das Indicadores urbanos e saneamento
www.cidades.gov.br
Cidades Déficit habitacional
Transferências de recursos
Secretaria do
www.stn.fazenda.gov.br Execução orçamentária
Tesouro Nacional
Receitas e Despesas municipais
16
e forma de implementação dos programas (indicadores de monitoramento) e dos
resultados e efeitos almejados (indicadores de avaliação).
Em muitas situações, pode ser interessante dipor de um Paniel de Indicadores de
Monitoramento, construído a partir da seleção de 5 a 10 indicadores do Sistema de
Informações elaborado. Painéis de Indicadores são apostas mais pragmáticas, em geral
voltadas para monitoramento de programas mais específicos, envolvendo um conjunto
mais reduzido de informações que podem ser produzidas de forma mais regular, sem a
pretensão de abarcar as múltiplas facetas da realidade, mas aquelas mais impactadas
pelas ações governamentais ou que mais interessa enfocar. Os indicadores dos Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio e os indicadores do Radar Social do IPEA são
exemplos de propostas de conjuntos de indicadores organizados na forma de painéis de
monitoramento.
17
Quadro 4: Exemplo de Painel de Indicadores de Monitoramento
18
Indicadores na Avaliação de Resultados e Impacto
19
alocados, mas considerando as dificuldades ou potencialidades existentes na região em
que os programas estão operando. O que torna essa técnica particularmente interessante
é que se pode considerar os recursos e resultados como vetores de indicadores em suas
escalas originais, e não variáveis representando valores monetários de custos e
benefícios.
Como ilustra a Figura 6, a DEA permite identificar as “boas práticas” ou
benchmarks reais, isto é, unidades de implementação de programas – municípios,
escolas, hospitais – em que os resultados são, de fato, compatíveis com o nível de
esforço e recursos empreendidos. Com tal identificação é possível ter referências
específicas – em termos de porte e características socioeconômicas – para que outras
unidades de implementação de programas possam avaliar qual e em que intensidade
devem ser efetuados esforços corretivos.
Resultados Envoltória
+ +
+
R max +
Esforço
+ + + necessário
Boas + +
Práticas + +
+ + +
+
+ +
Média
I1 Recursos
20
os produtos e resultados gerados no âmbito dele possam ser imediatamente impactantes
sobre a sociedade. Programas de Transferência de Renda ou Distribuição de Leite ou
Cestas Básicas em periferias de grandes cidades do Sudeste proporcionam impactos
sociais comparativamente menos intensos e rápidos que Programas de Investimento em
Saneamento Básico, por exemplo, no que diz respeito às condições de mortalidade
infantil. Contudo, ao longo do tempo, a transferência de renda ou distribuição de
produtos contribuirá para melhoria na nutrição de crianças, garantindo ganhos
adicionais contra mortalidade infantil, assim como, mais a médio prazo, na melhoria do
desempenho escolar das mesmas. Esse exemplo revela, pois, a dificuldade de se atribuir
os efeitos de programas específicos sobre as mudanças estruturais nas condições sociais,
dificuldade que, paradoxalmente, cresce à medida em que tais transformações – e os
impactos – tendem a se tornar mais evidentes. A dificuldade é ainda maior quando se
observa problemas de descontinuidades e de implementação nos programas públicos.
Para perceber de forma mais clara os impactos dos programas deve-se buscar
medidas e indicadores mais específicos e sensíveis aos efeitos por eles gerados. Uma
das formas de se operacionalizar isso é avaliando efeitos sobre grupos específicos da
população, seja em termos de renda, idade, raça, sexo ou localização espacial. Se os
programas têm públicos-alvo preferenciais, localizados em determinadas regiões ou
estratos de renda, deve-se buscar indicadores de impacto que privilegiem a avaliação
dos mesmos, não do conjunto da população, que pode estar, inclusive, sob o risco de
efeitos estruturais mais gerais (que podem não afetar o público-alvo na mesma
intensidade). Deve-se procurar também desenvolver estratégias metodológicas
avaliativas de natureza qualitativa, com pesquisas de opinião ou grupos de discussão,
incorporando indicadores subjetivos na avaliação. Neste sentido, os impactos podem ser
avaliados em uma perspectiva mais restrita ou mais ampla, considerando o tamanho da
população afetada, o espaço de tempo considerado para a referência dos indicadores e a
natureza mais objetiva ou subjetiva dos impactos percebidos pela população.
21
Considerações Finais
22
Bibliografia
JANNUZZI, P.M. Considerações sobre o uso, mau uso e abuso dos indicadores sociais
na formulação e avaliação de políticas públicas municipais. Revista de
Administração Pública, Rio de Janeiro 36 (1):51-72. Jan/Fev. 2002.
ROCHE, C. Avaliação de impacto dos trabalhos de ONGs. São Paulo: Cortez, 2002.
23