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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MCP PROCESSO Nº 31.809/17


ACÓRDÃO

SV “DOUGLAS”. Morte de passageiro, ocorrido durante pescaria enquanto o


barco estava fundeado nas proximidades da fazenda Zé de Aroeira, entre os
Rios Guarapuá e Boipeba, município de Cairu - BA. Sem ocorrência de
danos materiais, tampouco registro de poluição ao meio ambiente hídrico.
Imprudência da própria vítima. Arquivamento.

Vistos os presentes autos.


Tratam os presentes autos de inquérito instaurado pela Capitania dos Portos
da Bahia, por força da Portaria nº 8/CPBA, de 25 de janeiro de 2017, para apurar as
circunstâncias do fato da navegação, tipificado no artigo, 15, alínea “e”, da Lei Orgânica
deste Tribunal (Lei nº 2.180/54), caracterizado com a morte do menor S.Z.O., passageiro
no saveiro “DOUGLAS”, com 8,20m de comprimento, 4.30 AB, registrado, sob o nº da
281024534-7 no Porto de Salvador, classificado para atividade de pesca, em área de
navegação interior, de propriedade do Sr. Lourival Figueiredo de Souza, ocorrido em 12
de janeiro de 2017, enquanto o barco estava fundeado nas proximidades da fazenda Zé de
Aroeira, entre os Rios Guarapuá e Boipeba, município de Cairu - BA. Com pedido de
arquivamento pela D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls. 79 e 80), pelos
seguintes fatos e fundamentos.
Consoante aos autos, que na madrugada do dia 12 de janeiro a embarcação
“DOUGLAS” suspendeu de Valencia com destino a Cairu para realizar uma pescaria.
Estavam a bordo, o Sr. Lourival Figueiredo de Souza, proprietário e condutor e mais 3
passageiros: o Sr. Euflozino Souza Santos, Wanderson da Conceição Santos e o menor
S.Z.O.
Durante a navegação, ao se aproximarem da fazenda Zé de Aroeira, o Sr.
Euflozino percebeu que a maré estava de vazante e decidiu fundear a embarcação até que
pudessem seguir viagem. Após fundear a embarcação os Srs. Euflozino e Lourival,
resolveram descansar um pouco e pegaram no sono, quando repentinamente, foram
acordados pelos gritos do Sr. Wanderson e se depararam com o jovem S.Z.O. se afogando
próximo à embarcação.
O Sr. Euflozino se jogou ao mar na tentativa de salvar o jovem, que se
debatia muito, porém a tentativa foi em vão, pois a vítima acabou sendo levada pela
correnteza e sumiu.
O Sr. Euflozino e Lourival fizeram uma busca incessante no local, com a
intenção de achar o menor, porém sem sucesso. Então comunicaram o fato à Capitania
dos Portos da Bahia para que fossem tomadas as providências cabíveis.
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(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.809/2017...........................................)
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O corpo da vítima foi encontrado no dia 13 de janeiro por volta das 12h no
rio Taingá, na entrada de Garapuá, próximo ao município de Cairu.
Os Peritos em Laudo de Exame Pericial, (fls. 15 a 20), ilustrado com fotos
atestaram que a embarcação apresentava o costado e o convés bastante danificados pela
ação do tempo e uso, configurando assim um mau estado de conservação. A
Documentação estava em dia.
Concluíram durante as entrevistas com os outros tripulantes, que o fator
humano contribuiu para o acidente pois a vítima, conforme relato de um passageiro, no
dia do acidente pulou na água. E apontam como a causa determinante do acidente a
consequência da ação deliberada da vítima, de saltar do saveiro “DOUGLAS”
provavelmente para banhar-se, vindo a óbito por asfixia, causada por afogamento e
submersão de acordo com a Declaração de Óbito nº 24722534-7 (fl. 42).
Inobstante o óbito do menor, inexistiram danos materiais e tampouco registro
de poluição hídrica no ambiente marinho.
No relatório (fls. 65 a 69), o encarregado do inquérito após descrever,
características da embarcação, analisar e transcrever resultado da perícia, resumir o
depoimento, sequência e consequências do fato, em uniformidade de entendimento com
os peritos concluiu que causa determinante do fato da navegação foi a imprudência e
negligência do passageiro menor S.Z.O. ao pular do saveiro “DOUGLAS” na água,
provavelmente para nadar ou banhar-se, sem que soubesse nadar, sendo levado pela
correnteza e tendo se afogado vindo a óbito por asfixia, sendo a própria vítima
responsável direto pelo fato.
Juntados aos autos documentos de praxe, inclusive CD com as principais
peças do IAFN.
Após análise dos autos, a D. Procuradoria Especial da Marinha em
manifestação (fls. 79 e 80) requereu o arquivamento dos presentes autos, com
entendimento que “em que pese as considerações da prova técnica e do Encarregado do
IAFN, dando conta de que a causa do fato da navegação foi a ação do passageiro
vitimado, que se lançou às águas, sem saber nadar e sem utilizar o equipamento
individual de salvatagem, esta Procuradoria entende que as provas coligidas nos autos se
mostraram desprovidas de aptidão a demonstrar, acima de qualquer dúvida, que essa foi,
de fato, o fator determinante do incidente. De qualquer forma, mesmo que restasse
evidenciado que o comportamento da vítima foi o que ensejou o evento, não haveria
como se falar em sua responsabilização, já que, em razão do falecimento, restou
evidentemente extinta a sua punibilidade”.
Publicada nota de arquivamento, os prazos foram preclusos sem que
interessados se manifestassem.
Decide-se.

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(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.809/2017...........................................)
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De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e
extensão do fato da navegação sob análise, tipificado no art. 15, alínea “e” da Lei nº
2.180/54, caracterizadas como morte de passageiro, ocorrido durante pescaria enquanto o
barco estava fundeado nas proximidades da fazenda Zé de Aroeira, entre os Rios
Guarapuá e Boipeba, município de Cairu - BA. Sem ocorrência de danos materiais,
tampouco registro de poluição ao meio ambiente hídrico.
E que as provas colhidas em sede de inquérito e não destruídas por prova
contrária dão conta de demonstrar que a causa determinante para o evento foi a provável
culpa exclusiva da própria vítima, o menor S.Z.O. pela atitude de pular no mar por
vontade própria sem a utilização de equipamento individual de salvatagem, constata-se
que o fato ocorreu em decorrência de imprevidência da própria vítima.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: morte de passageiro, ocorrido durante pescaria
enquanto o barco estava fundeado nas proximidades da fazenda Zé de Aroeira, entre os
Rios Guarapuá e Boipeba, município de Cairu - BA. Sem ocorrência de danos materiais,
tampouco registro de poluição ao meio ambiente hídrico; b) quanto à causa determinante:
imprudência da própria vítima; e c) decisão: julgar o fato da navegação, previsto no art.
15, alínea “e” da Lei nº 2.180/54, como imprudência da própria vítima, mandando
arquivar os autos.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 13 de junho de 2019.

MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA


Juíza Relatora

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Dados: 2019.10.02 10:45:38 -03'00'

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