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TELA CHEIA

Copyright 2019 Futebol Interativo / Natal – RN ©

Coordenador
George Cunha

Autores
Camila Bicalho
George Klinger

Designer Editorial e Interação


José Antonio Bezerra Junior

Capa
Marcus Arboés

Para sua melhor interação clique em nossa navegação.


TELA CHEIA SUMÁRIO

SUMÁRIO

PSICOLOGIA DO FUTEBOL TENDÊNCIAS FUTURAS


Psicologia no Futebol Profissional
Atuação do Psicólogo na Avaliação do Atleta e da equipe de
Futebol: dos tempos atuais às tendências
Como avaliar os atletas de futebol?
Psicologia do Esporte e Neurociências: Uma relação possível?
EMOTIV
Conhecendo os tipos de ondas cerebrais: Delta, Theta, Alfa, Beta e
Gama
Treinamento Mental em atletas: Desafios para o Psicólogo do
esporte
Dor: não pode viver com ela, não pode viver sem ela
Implicações futuras para o trabalho do psicólogo no Futebol

REFERÊNCIAS
Sobre os autores

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA SUMÁRIO

PSICOLOGIA DO FUTEBOL
TENDÊNCIAS FUTURAS

CAMILA BICALHO
GEORGE KLINGER
TELA CHEIA SUMÁRIO

A Psicologia do Esporte é uma ciência do treinamento esportivo que se mostra


fundamental para a formação do atleta. Por exemplo, se em um jogo decisivo o
jogador de futebol acerta no final de uma partida um pênalti, mesmo sob pressão
da torcida adversária, revertendo o placar, pode-se dizer que foi forte mental-
mente para lidar com a situação. Por outro lado, se este mesmo jogador errasse
a cobrança, diriam que ele “tremeu”. Situações como esta podem ser “treinadas”?
Seria possível preparar um atleta para lidar com as emoções do contexto do
Futebol? Como otimizar o desempenho do atleta a partir da sua performance
mental? Esse e-Book abordará alguns desafios desse cenário da psicologia do
esporte aplicada no alto rendimento, iniciando com um breve histórico sobre o
trabalho do psicólogo no futebol e aprofundando nas perspectivas de trabalho
para os próximos anos.

Birgit Prinz é psicóloga (Universidade de Frankfurt)


e ex atleta da seleção alemã feminina de Futebol

Psicologia no Futebol Profissional


A atuação do psicólogo esportivo no Brasil antecedeu à regulamentação da
profissão, só ocorrida através da Lei nº 4119, de 27 de agosto de 1962. Em 1954, João
Carvalhaes inicia o trabalho da psicologia no futebol. Carvalhaes foi contratado
pela Federação Paulista de Futebol para trabalhar na avaliação, seleção e treina-
mento de árbitros de futebol (HERNANDEZ, 2011). A atuação de Carvalhaes no fute-
bol destaca o pioneirismo do Brasil na aplicação prática da psicologia esportiva,
visto que nos anos de 1970, nos EUA, predominava a pesquisa psicológica restrita
aos meios acadêmicos (HERNANDEZ, 2011). Em 1966, Bruce Ogilvie, psicólogo oriundo
da clínica psicológica, inicia nos EUA um trabalho prático de assessoramento à

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atletas e equipes esportivas, tendo sido considerado o pai da Psicologia aplicada


ao esporte na América do Norte.
O trabalho de Carvalhaes iniciou através de entrevistas e observações dos
árbitros mais experientes. A partir deste trabalho, ele identificou um conjunto de
aptidões que estariam relacionadas com as tarefas do árbitro dentro do cam-
po de futebol: personalidade, nível mental, visão estereoscópica, estimativa da
velocidade relativa, noção de espaço, tempo de reação (CARVALHAES, 1974). Foi
o sucesso dos resultados do seu trabalho com a arbitragem que o levou a ser
convidado a atuar no São Paulo Futebol Clube (SPFC). No SPFC, Carvalhaes atuou
por 17 anos, tornando-se não só o primeiro psicólogo a ser contratado por uma
equipe de futebol profissional, como também o que permaneceu por maior tem-
po nesta ocupação.

João Carvalhães foi o pioneiro da Psicologia do Esporte no Brasil com atuações na


Federação Paulista de Futebol, São Paulo FC e seleção brasileira.

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Entre as técnicas de avaliação utilizadas com os jogadores do SPFC, Carva-


lhaes (1974) afirma ter usado o Army Test, revisado para uso civil por Kellogg e
Morton (1934). Este instrumento mede o fator g, inteligência geral não específi-
ca, constituído por seis subtestes: labirintos, símbolos, reconhecimento de erros,
formas, figuras incompletas e avaliação de diferenças. Além da obtenção de
resultados por subteste, era calculado um resultado global, transformado num
valor de quociente de inteligência (QI).
De acordo com Costa (2006), Carvalhaes recebe o convite de atuar junto à
Seleção Brasileira de Futebol numa conjuntura de reestruturação da comissão
técnica após a derrota na Copa do Mundo de Futebol de 1950 para o Uruguai.
Neste período, de acordo com o autor supracitado, os atletas brasileiros foram
acusados de jogar sem fibra, o famoso “complexo de vira-latas”. Posteriormente,
durante a preparação dos jogadores para a Copa de 1958, foram aplicados o tes-
te de inteligência (Army Test), os testes de personalidade PMK e Figura Humana.
O PMK é uma técnica projetiva proposto por Mira (1958). Esta técnica consiste da
análise de traços e desenhos (linhas, círculos, “ziguezagues” e retas paralelas)
feitos com lápis para a avaliação de aspectos da personalidade. Na continui-
dade, foi incorporado ao trabalho de Carvalhaes o aconselhamento psicológico
individual, baseado no método do humanista Carl Rogers.

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Em estudos da atual frequência de uso de testes por revisão de literatura,


o Desenho de Figura Humana (DFH) aparece como o sexto instrumento mais
utilizado na avaliação da personalidade nos Estados Unidos e o terceiro
lugar no conjunto dos instrumentos de avaliação psicológica no Brasil.
Você
Sabia?

Depois de 50 anos de experiências de pesquisas e intervenções em Psicologia


do Esporte, sabe-se que testes psicológicos não devem ser utilizados para se- História da
Psicologia do Esporte
lecionar uma equipe. A aplicação de testes psicológicos deve ser considerada
para o trabalho de intervenção junto ao atleta, associado a outras medidas, tais Empregar apenas
inventários de
como, desempenho físico, avaliações do técnico e níveis reais de jogo. Ainda, o personalidade para
resultado de um teste por si só não representa o trabalho efetivo do Psicólogo do selecionar atletas
para um time ou
Esporte. É preciso interpretar, compreender e analisar cada resultado dos testes para cortá-los de um
dentro do contexto em que foi aplicado. Para conseguir um resultado otimizado, é time é um abuso de
testagem que não
o conjunto do trabalho do psicólogo na observação diária do atleta e do treinador deve ser tolerado.”
que garantirá a interpretação coerente dos resultados dos testes psicológicos. Becker Jr. (2000)

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Para Vieira, Nascimento e Vieira (2013), no que tange ao campo de intervenção


em Psicologia do Esporte, verifica-se uma grande carência de profissionais, uma Você
Sabia?
vez que a intervenção requer a formação em Psicologia, com conhecimento das
Ciências do Esporte. Nessa perspectiva, cita-se Coimbra et al. (2008) que analisou
História da
o papel do psicólogo do esporte na visão de atletas e treinadores, destacando Psicologia do Esporte
que 90,8% dos atletas e 96,6% dos treinadores reconhecem a importância do
“Em entrevista à
trabalho psicológico no contexto esportivo; por outro lado, 57,6% dos treinadores revista digital “The
e 64,3% dos atletas nunca trabalharam com um psicólogo do esporte, eviden- Tactical Room”,
em 2017, o técnico
ciando a carência desse tipo de profissional no cenário brasileiro. colombiano Juan
Atualmente, a Confederação Brasileira de Futebol, sustentada pela Lei Pelé (Lei Carlos Osorio, ex-
São Paulo, seleção
9.615/1998), reconhece a necessidade do psicólogo atuando nos clubes de formação, mexicana e Atlético
diretamente nas categorias de base. Já no cenário do futebol profissional é possível Nacional, disse:
Desgraçadamente,
identificar poucos profissionais com formação em psicologia atuando na prepara- sabemos muito
ção psicológica dos atletas. O projeto de Lei 13/2012 está tramitando no Congresso pouco sobre a mente
humana e dedicamos
Nacional com o objetivo de obrigar o cuidado com a saúde mental dos atletas pro-
muito pouco tempo a
fissionais, por meio de apoio de psicólogos. estudá-la. (...) Eu faço
um esforço genuíno
para entender que a
preparação mental
Atuação do Psicólogo na Avaliação do Atleta e da equipe de é a mais importante
Futebol: dos tempos atuais às tendências futuras. para qualquer atleta”

Uma das práticas do psicólogo do esporte é, justamente, a avaliação psicoló- Trecho retirado
da reportagem de
gica de atletas e/ou equipes. O psicodiagnóstico esportivo se refere ao levanta- Alexandre Lozetti
mento de aspectos particulares do atleta ou da sua relação com a modalidade Fonte: https://
globoesporte.
escolhida (RUBIO, 2007). Rubio (2002) destaca que esta é uma atividade de grande
globo.com/blogs/
importância e que confere visibilidade aos psicólogos esportivos, além de criar blog-do-lozetti/
grandes expectativas em comissões técnicas e dirigentes. A avaliação psico- post/2019/04/29/
tres-zagueiros-ou-
lógica é um elemento norteador do trabalho a ser desenvolvido em contextos quatro-atacantes-
esportivos. Garcia e Borsa (2016) mostram que a importância da condução de brasileirao-debocha-
dos-rotulos-na-
uma avaliação psicológica no início do trabalho foi atrelada, principalmente, à primeira-rodada.
obtenção de dados que serviram de base, direcionamento, às futuras interven- ghtml
ções do psicólogo.
Avaliação do Atleta

Quem não sabe o que


procura, não entende
o que encontra”
(p. 27). Assef e
Grupenmacher (2011)

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É recomendado que a avaliação psicológica esteja presente em todas as


etapas do planejamento da temporada, envolvendo inclusive os períodos pré e
pós-competitivo (FLEURY, 2002; GARCIA; BORSA, 2016). Considerando o modelo de
planejamento do treinamento do futebol, as capacidades psicológicas tendem a
ser avaliadas no início da temporada e monitoradas no decorrer do ano, de acor-
do com as demandas dos treinos e dos jogos. Na perspectiva de Fleury (2002) é
preciso considerar, além de mudanças no próprio atleta, diferenças inerentes a
cada etapa da temporada: início, meio e final.

Como avaliar os atletas de futebol?


Garcia e Borsa (2016) analisaram uma lista de testes psicológicos aplicados
em atletas e observaram a inexistência de instrumentos com evidências de vali-
dade e favoráveis pelo Satepsi com aplicação no esporte. Por essa razão, alguns
psicólogos tem optado por utilizá-los com os atletas testes validados com pare-
cer favorável para outros contextos (alguns exemplos no Quadro 1). Entretanto, é
preciso ter cautela na seleção destes instrumentos uma vez que, o uso de testes
não validados para a avaliação dos parâmetros psicológicos no contexto es-
portivo são criticados por desconsiderar as especificidades do comportamento
e do desempenho cognitivo do atleta.

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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Quadro 1: Testes psicológicos com parecer favorável do


Satepsi utilizados por psicólogos do esporte.

Teste Objetivo Autores


Bateria fatorial de Avaliação da Nunes; Nunes; Hutz e
personalidade (BFP) Personalidade Nunes (2010)
Inventario Fatorial de Avaliação da Azevedo; Pasquali e
Personalidade (IFP) Personalidade Ghesti (1997)
Avaliação da intensidade
Inventario Beck de Ansiedade
dos sintomas de Cunha (2001)
(BAI)
ansiedade
Inventário de Expressão de Avaliação da expressão
Raiva com Expressão e traço da raiva com estado e Spielberger (1992; 2010)
(STAXI-2) traço
Inventário de sintomas de
Identificação de quadros
Stress para adultos de Lipp Lipp (2000)
característicos do stress
(ISSL)
Avaliação da capacidade
geral da atenção, e
de tipos de atenção
Bateria Psicológica para
específicos (Atenção Rueda (2013)
Avaliação da Atenção (BPA)
concentrada, atenção
dividida e atenção
alternada.
Composto de duas
escalas distintas de
auto-relatório para medir
Inventário de Ansiedade dois conceitos distintos Biaggio; Natalício e
Traço-Estado (IDATE ) de ansiedade: estado de Spielberger (1977)
ansiedade (A-estado)
e traço de ansiedade
(A-traço)
Realizar uma avaliação
da capacidade geral de
atenção, assim como uma
avaliação individualizada
Bateria Psicológica para
de tipos de atenção Rueda (2012)
Avaliação da Atenção - BPA
específicos, quais sejam,
atenção concentrada
(AC), atenção dividida (AD)
e atenção alternada (AA).

Fonte: Adaptado de Garcia e Borsa (2016).


Nota: Neste quadro foram incluídos outros testes já publicados e utilizados no esporte.

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No quadro 2 são exemplificados alguns testes validados para aplicação no


contexto esportivo, porém não consta parecer do Satepsi.

Teste Objetivo Autor (validação)


Avaliação de diferentes
Athletic Coping Skills Inventory
estratégias para lidar com o Miranda et al (2018).
28 (ACSI-28)
estresse no esporte.
Avalia a frequência de
Questionário de Burnout para
sentimentos relativos ao Pires et al.(2006).
atletas
burnout.
Mensuração da frequência do
Questionário de Estresse e estado de estresse atual junto Costa; Samulski
Recuperação (Rest-Q) à frequência de atividades de (2008)
recuperação associadas.
Avalia aspectos das diferentes
variáveis relacionadas à
Questionário de Sintomas Bara Filho et al
síndrome do overtraining
Clínicos de Overtraining (2010).
em diferentes fases do
treinamento.
Mede as diferentes formas de
enfrentamento da dor e o uso
Meyers, Bourgeois,
Inventário da Dor ou não de estratégias mentais,
Stewart; Leunes,
para o Esporte - SIP tais como imaginação, nas
(1992)
situações onde é necessário
lidar com a dor.
Escala de Ansiedade-traço
Avaliação da ansiedade-traço
competitiva (Sport Competition De Rose (1985, 1997)
competitiva.
Anxiety Test – SCAT)
Escala de Motivação para o Avaliação da motivação do
COSTA et al (2011)
Esporte (SMS) atleta no esporte.
Avalia as razões, motivos,
Motivos para Atividade Física - Albuquerque et al
que levam os indivíduos a
Medida Revisada (MPAM-r) (2017)
praticarem atividade física.

Fonte: Adaptado de Garcia e Borsa (2016).


Nota: Neste quadro foram incluídos outros testes já publicados e utilizados no esporte.

Psicologia do Esporte e Neurociências: Uma relação possível?


As pesquisas na área da psicologia do esporte têm estudado temas em geral
voltados para a avaliação da ansiedade, motivação e concentração (VILARINO et
al., 2017; VIEIRA; NASCIMENTO; VIEIRA, 2013). A década de 90 representou um marco
no que diz respeito ao início da história científica e tecnológica sobre o funciona-
mento do cérebro e os avanços na compreensão do comportamento humano
através de novos estudos da Neurociência Cognitiva e Comportamental (TAKASE,
2005). Para Takase (2005) a Neurociências se aproxima da Psicologia do Esporte
com o intuito de melhor compreender as funções neurais nas diversas situações
de tarefas cognitivas e emocionais dos atletas em situações de treinamento e

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competição. O objetivo da aproximação destas duas áreas é auxiliar os pesqui-


sadores e profissionais a construir novas alternativas no treinamento/desenvol-
vimento das habilidades físicas e psicológicas, a fim de melhorar a performance
e o equilíbrio mente-corpo dos atletas.

Cientistas analisam
a habilidade de Neymar Junior
Dentro do cérebro de um craque! Conheça mais acerca de Veja ao vídeo
clicando aqui
estudo realizado com o atleta da seleção brasileira.

Os estudos sobre o comportamento do atleta em situações de pressão têm


sido cada vez mais analisados pelo viés cognitivo da Neurociências. Os atletas
são avaliados em parâmetros como ansiedade, ativação, autoregulação, cog-
nição a partir de equipamentos e testes desenvolvidos por neurocientistas es-
pecializados no comportamento humano.
O comportamento visual é um aspecto perceptivo-cognitivo relevante no
contexto esportivo do futebol, principalmente no que tange o foco de atenção
na busca de sinais relevantes (WILLIANS; FORD, 2008). A partir dos dados do com-
portamento visual, é possível analisar de que forma o atleta usa o seu sistema
visual para extrair informações do ambiente (AFONSO; MESQUITA, 2013). Por exem-
plo, numa situação ofensiva, como o atleta realiza a leitura dos seus adversários?

Ergoneers: Eye-Tracking
Cristiano Ronaldo Veja ao vídeo
clicando aqui
Qual o comportamento visual de Cristiano Ronaldo?

Para se medir o comportamento visual foi desenvolvida uma tecnologia de-


nominada eyetracking (Figura 1), em português rastreamento visual (DUCHOWSKI,
2007). Eyetracking refere-se a um conjunto de tecnologias que permite medir e
registar os movimentos oculares de um indivíduo perante a amostragem de um
estímulo em ambiente real ou controlado, por meio de sinais infravermelhos (DU-
CHOWSKI, 2007). A partir do rastreamento ocular, é possível identificar variáveis
importantes para se entender o comportamento visual de um indivíduo durante

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uma cena ou tarefa, como: o número, duração e local das fixações visuais (SÁEZ-
-GALLEGO et al., 2013). No esporte esta tecnologia vem sendo usada em investiga-
ções para se entender, através do comportamento visual, a expertise de atletas,
como por exemplo no futebol (NORTH et al., 2009; LEVRINI et al., 2019).
O movimento dos olhos dos participantes é rastreado por um sistema de la-
ser infravermelho acoplado a um óculo. O óculo é conectado a um smartphone
que envia informações e imagens para um notebook. Os softwares acoplados
iViewETG® BeGaze 3.4® fazem a leitura e armazenamento dos dados.
É possível fazer análises de número de fixações visuais, duração das fixações
visuais, local das fixações visuais.

Figura 1 - desenvolvido por SensoMotoric Instruments®.


Foto: Mobile Eyetracking® (rastreamento ocular móvel),

O estudo de Levrini et al. (2019) analisou a performance de atletas profissio-


nais de futebol chutando pênaltis, previamente influenciados ou estimulados
emocionalmente antes da sessão chutes a gol. Para avaliação, foi utilizado o
eyetracking, combinado com o autorelato dos atletas, buscando diferenças de
perfis e padrões de eficácia e conversibilidade dos pênaltis em gols. Os autores
concluíram que o comportamento visual do atleta possibilita avaliar padrões de
eficácia na conversão dos pênaltis em gols. A utilização do eyetracking, possibi-
litou analisar o padrão visual do atleta e sua eficácia na conversão dos pênaltis
em gols. Levrini et al (2019) também confirmaram que a prévia estimulação dos
neurônios proporciona um aumento de conversibilidade dos pênaltis, de modo
que o grupo estimulado demostrou um desempenho maior na conversão de
gols. Os atletas expostos a técnicas de motivação, atenção e concentração se
demostraram mais eficientes, convertendo 57 gols em 60 possíveis, enquanto
que o grupo controle conseguiu apenas 37 gols.

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EMOTIV

O Emotiv (EPOC; Figura 2) foi desenvolvido pela Emotiv Systems e validado por Veja ao vídeo
clicando aqui
Badcock et al. (2013). O equipamento consiste em um capacete com 14 eletro-
dos, e é capaz de traduzir sinais neurais em 30 possíveis formas, detectando a
atividade cerebral de maneira não invasiva com a eletroencefalografia (EEG). A
EEG mede ondas cerebrais por meio de sensores externos ao longo do couro ca-
beludo, que captam as ondas elétricas em várias partes da superfície do córtex
cerebral, uma região que gera a maior ordem de pensamentos. Uma típica saída
dos resultados do EMOTIV é apresentada na figura 3.

Figura 2 – Emotiv EPOC


Fonte: Manual Emotiv.

O EMOTIV usa sensores para sintonizar sinais elétricos produzidos pelo cérebro
para detectar pensamentos, sentimentos e expressões do usuário.
Pensamentos conscientes (Cognitiv suite): 13 tipos de movimento, sendo: 6
direções (esquerda, direita, para cima, para baixo, para frente e “puxar/zoom”), 6
rotações (rotação [anti-horária], vire à esquerda e à direita e balanço para trás
e para frente); visualização (“desaparecer”).
Emoções (Affectiv suite): Excitação, Engajamento, Frustração.

Figura 3 (A) capacete neural; (B) saída do software Emotiv Testbench: Emotiv EPOC grava
sinais de eletroencefalografia (EEG) de 14 posições do sensor de acordo com o Sistema
Internacional 10-20. Os sinais EEG brutos são então “traduzidos” e classificados em
diferentes estados emocionais e (C) saída do painel de controle do Emotiv e “Affectiv suite”
(Fonte: ASPINALL et al, 2013)

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A dinâmica do cérebro está na base da realização de alto desempenho no es-


porte (CHERON, et al. 2016). Como perspectivas futuras os autores propõem que os
ritmos cerebrais unificados e a continuidade entre estados de vigília e sono devem
fornecer um modelo funcional para biomarcadores de EEG no esporte. Ainda, es-
tudos que relacionaram o desempenho cognitivo com as cargas de treinamento
ainda são escassos, especialmente no que se trata de atletas do futebol.

Conhecendo os tipos de ondas cerebrais: Delta, Theta, Alfa, Beta e Gama

O eletroencefalógrafo, ou EEG, é capaz de monitorizar mudanças nas frequên-


cias e padrões das nossas ondas cerebrais. O cérebro produz ondas de correntes
que fluem através das ligações neurais (TIMO-IARIA; PEREIRA, 1971). O tipo de onda
cerebral é definido pela frequência que pulsa e este tipo particular de pulsação
influenciará o estado mental do indivíduo. Existem 5 tipos de ondas cerebrais
(figura 4) que em conjunto são capazes de formar uma sintonia harmônica na
qual os pensamentos, as emoções e as sensações podem alcançar um equilíbrio
perfeito, com o qual é possível sentir-se mais equilibrado e receptivo a tudo o que
nos rodeia. É a predominância de um padrão sobre os outros que determina o
estado de consciência do indivíduo.

Figura 4: Tabela das Ondas Cerebrais (Fonte: Expandir a mente)

Assim, uma área emergente e que está em pleno desenvolvimento é a


neuropsicológica esportiva. Para a realização do melhor desempenho no esporte,
Cheron et al. (2016) afirmam que a dinâmica cerebral precisa ser levada em
conta, pois determina tanto o controle motor quanto fatores psicológicos cruciais
para o desempenho esportivo. Após uma densa análise da literatura, os autores
apresentaram um direcionamento para os biomarcadores de desempenho
do EEG (Figura 5). A conjunção de conclusões fisiológicas adotadas graças ao
desenvolvimento de pesquisas básicas realizadas (tanto em animais quanto

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em humanos) fora do domínio esportivo e as investigações mais práticas


podem permitir a definição de uma linha básica de biomarcadores de EEG, a
fim de explorar a atividade cerebral associada ao esporte. É ainda uma área
com muito a se descobrir, com palavras dos próprios autores, “Em uma visão
otimista, estamos, portanto, no início de uma nova era exploratória, para a qual
o estabelecimento de uma metodologia sólida e abrangente será útil para
entender melhor o funcionamento do cérebro no desempenho esportivo.”

Figura 5: Cinco biomarcadores de EEG organizados hierarquicamente seguindo o


número de funções correspondentes (Fonte: CHERON et al (2016);
Figura sem autorização para tradução.)

Como área proeminente na psicologia esportiva, alguns estudos têm mostra-


do o efeito de funções cognitivas sobre os aspectos psicológicos e performance
de atletas em diferentes modalidades esportiva (Quadro 3). Especificamente
no futebol, o estudo de Greenlees, Eynon, Thelwell (2013) fornece a primeira evi-
dência de que o resultado real de um confronto esportivo pode ser influenciado
pela cor do uniforme dos jogadores. Neste estudo os autores mostraram o efeito
dos uniformes vermelhos sobre o desempenho esportivo da equipe adversária.
Os resultados deste estudo fortalece a crescente hipótese de que os uniformes
vermelhos podem estar associados a resultados esportivos. Outras evidências
podem ser encontradas nos estudos de Greenlees et al.(2008), Feltman e Elliot
(2011), Allen e Jones (2012).

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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Quadro 3: Fatores Psicológicos avaliados sob a perspectiva


da Neurociências no esporte.

Fatores Psicológicos Modalidade Indicativos


O estudo comparou a atividade cerebral de ado-
lescentes com ou sem burnout a uma versão
computadorizada do Stroop Test. Os resultados
Atletismo, indicaram que os atletas sem burnout exibiram
Burnout (RYU et al, 2015) Futebol, uma precisão significativamente maior do que
Voleibol. seus colegas com burnout. Os atletas sem bur-
nout também apresentaram maiores amplitudes
de potência teta, alfa e beta nas áreas frontais do
cérebro do que os atletas com burnout.
Uniformes vermelhos foram comparados com
Efeito da cor do uma variedade de uniformes alternadamente
uniforme sobre o coloridos. Os resultados mostraram que jogado-
desempenho do atleta. res que enfrentam goleiros vestidos de vermelho
(GREENLEES; EYNON; Futebol pontuam com menos chutes de pênalti do que
THELWELL 2013) aqueles que enfrentam goleiros vestidos de azul
ou verde, mas não houve diferenças na expecta-
tiva de sucesso. Os atletas que vestem vermelho
podem ter uma vantagem sobre seus oponentes.
O desempenho da habilidade de salto das ginas-
tas, assim como de outras habilidades é reforça-
do por um foco de atenção externo. Além disso,
Atenção seletiva
os resultados fornecem evidências de que uma
(ABDOLLAHIPOUR et al., Ginástica
instrução relativamente simples pode afetar po-
2015)
sitivamente tanto o resultado do movimento (au-
mento da altura do salto) quanto a qualidade do
movimento (menos erros).
O biofeedback de VFC informa o índice de expres-
são emocional a partir da interação existente en-
tre os sistemas simpático e parassimpático. Uma
baixa VFC está associada a uma menor atividade
do nervo vago e aumento da atividade do sistema
nervoso simpático. Intervenções que aumentem a
Biofeedback na VFC e melhorem o tônus vagal podem diminuir a
redução da ansiedade Basquete ansiedade. O VFC reduziu a ansiedade antes dos
(PAUL; GARG,2012) jogos e melhorou o desempenho dos atletas, que
foi medido a partir dos itens: passe, arremesso e
drible da bola. Foram utilizadas técnicas de ma-
nejo de estresse como RMP, respiração profunda
e visualização, durante 10 dias consecutivos asso-
ciados ao biofeedback (Biograph Procomp Infinity
5.0), por 20 minutos diários.
Estudo de O estudo identificou várias teorias de tomada de
Tomada de decisão
revisão no decisão e relacionou à regulação do trabalho du-
(RENFREE et al., 2014)
esporte rante o exercício individualizado.

Fonte: Autoria própria.

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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Treinamento Mental em atletas: Desafios para o Psicólogo do esporte

Uma das técnicas mais buscadas para o trabalho com os atletas é o Treina-
mento Mental. Para os atletas que chegam ao mais alto nível de competição esse
pode ser o grande diferencial, que irá distinguir o primeiro do segundo colocado
em momentos de decisão ou ao longo da preparação nas diferentes etapas da
periodização do treinamento (RUBIO, 2018).
Existem diferentes conceitos e visões sobre o Treinamento Mental no espor-
te. Descobertas anteriores sugerem que capacidades mentais específicas são
necessárias para atingir o desempenho máximo, incluindo controle de atenção,
foco, relaxamento e afeto positivo. Samulski (1997) entende por Treinamento Men-
tal a imaginação de forma planejada, repetitiva e consciente de habilidades
motoras, técnicas esportivas e estratégicas táticas.

Os benefícios da imagética mental vão desde a simples elaboração cognitiva


das melhores estratégias para lidar com as situações, até o
treinamento mental de para o tratamento de questões adversas

O Treinamento Mental é orientado para dois objetivos no esporte: movimentos


e situações (SAMULSKI, 2002). Como movimentos Samulski (2002, p.253) define as
habilidades motoras específicas desenvolvidas nos esportes (técnicas) e como
situações as ações táticas e estratégicas esportivas inseridas no contexto da
modalidade. Dessa forma, a natureza da tarefa e o nível de habilidade do atleta
afetam a forma como o treinamento mental melhorará o seu desempenho. A
literatura tem mostrado que os atletas que usam o treinamento mental em ta-

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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refas cognitivas apresentam efeitos mais positivos (WEINBERG; GOULD, 2016). Para
Godtsfriedt, Andrade e Vasconselos (2014) praticar treinamento mental é explorar
o ilimitado potencial que existe dentro do atleta.
Com os avanços da neurociências, Dekker et al. (2014) mostraram que em uma
situação de treinamento mental, a atividade cerebral do eletroencefalograma
(EEG) alfa tem sido associada à inibição neural durante processos de atenção
seletiva por melhorar a eficiência no processamento de informações. Os auto-
res testaram em ginastas uma técnica de aprendizado de autoregulação. Eles
dividiram as atletas em dois grupos e disponibilizaram para cada atleta um fone
de ouvido para ouvirem suas músicas favoritas.
As atletas sentavam em uma cadeira de relaxamento e na primeira sessão
de treinamento permaneceram por 50 minutos, começando com 5 minutos de
olhos abertos e 5 minutos de olhos fechados. Posteriormente, três períodos de 8
minutos de treinamento de força alfa foram dados, alternados por duas tarefas
cognitivas (Mental Rotation e Stroop task). Para evitar que as ginastas adorme-
cessem e para aumentar a sensação de alegria durante o experimento foi apli-
cado a alternância do treinamento de potência alfa com tarefas cognitivas. Ao
mesmo tempo, o “grupo A” recebia treinamento de força alfa, o “grupo controle
(B)” recebeu treinamento de força beta aleatória (atividade beta está associada
a função cognitiva executiva de alta ordem).
Assim, ambos os grupos receberam treinamento de atividade cerebral real e
podem ter experimentado sucesso percebido no controle da qualidade da mú-
sica e de sua atividade cerebral. A atividade cerebral foi controlada e a técnica
mostrou aumentar o poder das ondas alfa, melhorando assim as capacidades
mentais como focalizar a atenção. Esta abordagem de treinamento aumentou
significativamente a satisfação das atletas participantes. Os resultados deste
procedimento também indicaram pequenas melhorias na qualidade do sono,
na forma mental e física das atletas foram alcançadas.

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA SUMÁRIO

A rotação mental é a capacidade de girar representações mentais de objetos


bidimensionais e tridimensionais, pois está relacionada à representação visual dessa
rotação na mente humana.

Em psicologia, o efeito Stroop (efeito Jaensch) é uma demonstração de inter-


ferência no tempo de reação de uma tarefa. Por exemplo, quando uma palavra
como azul, verde, vermelho, etc, é impressa numa cor que difere da cor expressa
pelo significado semântico (exemplo: a palavra vermelho impressa com tinta
azul), ocorre um atraso no processamento da cor da palavra, causando tempos
de reacção mais lentos e um aumento de erros.
Rubio (2018) mostrou através de um relato de experiência como um atleta
medalhista olímpico, de uma modalidade individual, assimilou e organizou o trei-
namento mental ao longo de sua carreira esportiva, tanto em situações de treino
como de competições. Dentre os focos de discussão, foi destacado a imaginação

21
TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA SUMÁRIO

e a mentalização. O recurso da imaginação foi utilizado como a capacidade de


criação de imagens mentais relacionadas com a prática esportiva, tanto na-
quilo que se refere a simulação mental de habilidades motoras como também
na criação de situações que o atleta pode experimentar tanto em momentos
de treinamento como de competição. O termo mentalização estava associado
à criação ou recriação mental de uma situação esportiva já vivida ou desejada
para o futuro.

Dor: não pode viver com ela, não pode viver sem ela

O último tópico deste e-Book visa abordar um dos desafios do Psicólogo do


esporte com os atletas: o ensino do manejo da dor. A dor é um sentido importan-
te, alguns diriam o mais importante. Um atleta sem dor é surpreendentemente
fácil sofrer lesões e desconhecer o seu próprio limite. A IASP, International Asso-
ciation for the Study of Pain, define a dor como “como uma experiência sensitiva
e emocional desagradável, associada a dano real ou potencial dos tecidos ou
descrita em termos de tal lesão”. Ao falar da dor no esporte, estamos tratando de
um fenômeno completamente diferente da dor representada na vida cotidiana
(SILVA; RABEL; RUBIO, 2010). Para as autoras, no esporte, por exemplo, um atleta
suportará silenciosamente a dor, afirmando valores culturais como coragem,
lealdade e masculinidade tão fortemente associados à pratica esportiva.
Como estratégia de intervenção o reconhecimento da dor pelo atleta é a
primeiro passo. Silva, Rabel e Rubio (2010) mostram que identificar as diferentes
formas de dor é fundamental. A dor do treinamento é aquela necessária para que
existam adaptações fisiológicas e a dor da lesão aquela que retira os atletas da
rotina de treinamento. Para muitos atletas, a diferenciação da dor é uma linha
muito tênue, e acaba sendo ultrapassada invariavelmente durante a carreira
esportiva.
Como segundo passo é indicado a elaboração de estratégias de enfreta-
mento. No estudo de Silva, Rabel e Rubio (2010) as estratégias mais utilizadas são
as que envolvem ações cognitivas. Ao criar um conjunto de técnicas mentais, o
atleta faz jogos consigo mesmo, tentando afastar o pensamento da dor e pode,
dessa maneira, concentrar-se na tarefa que precisa executar e desempenhar
da melhor forma possível seu papel dentro da equipe.

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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Você
Sabia?

Técnicas da
terapia cognitiva
comportamental no
esporte? Clique aqui e
acesse esses estudos!

Treinamento
psicológico desportivo
em atletas corredores
de revezamento: Um
relato de experiência

Dor no esporte de alto rendimento é muito comum. Boas estratégias de enfrentamento


auxiliarão atletas a manejar o desconforto.

Para Nascimento (2018) as terapias cognitivas são formas alternativas de ge-


renciamento de dor. No seu estudo de revisão, a autora identificou que a TC reduz
a dor ao abordar as influências psicológicas através de técnicas como a modi-
ficação da forma como atendemos a um estímulo (distração) ou a forma como
interpretamos o significado de um estímulo (reavaliação) ou concentrando-se
na própria sensação. Ainda que não aplicados diretamente com atletas, em in-
divíduos saudáveis, a técnica da meditação apresentou eficácia sobre o manejo
da dor. No entanto, os mecanismos neurais pelos quais modulam a dor ainda
não foram totalmente elucidados. Por ser uma área pouco pesquisada, muitos
psicólogos esportivos atuam com base nas suas experiências clinicas deixando
um caminho aberto para os estudos aplicados na área do esporte.

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
TELA CHEIA SUMÁRIO

Implicações futuras para o trabalho do psicólogo no Futebol


É crescente o interesse das interações das áreas da psicologia com a neuroci-
ência (NCC), especialmente no entendimento de como surge os pensamentos e
emoções, bem como, quais as influências desses na saúde mental do atleta. Para
TAKASE (2005) a formação de psicólogos do esporte e do exercício com enfoque
em NCC fará diferença nos próximos anos, pois negar as contribuições da NCC
é impedir o desenvolvimento ou atrofiamento de novas teorias psicológicas. Se-
gundo o atuor, os psicólogos do esporte e exercício a médio prazo serão influen-
ciados e motivados a introduzir a NCC nos seus trabalhos e disciplinas porque:
a) na maioria das modalidades esportivas, a competitividade está sendo de-
cidida cada vez mais pelo lado mental;
b) no desenvolvimento físico e psicológico das crianças, o enfoque em neu-
rociências é fundamental na educação;
c) na área da saúde, quanto mais cedo introduzirmos o trabalho mental à
atividade física, melhores serão os benefícios a longo prazo.
A busca por biomarcadores neurais de desempenho continua sendo um
desafio na ciência do movimento e na psicologia do esporte. A natureza não
invasiva da gravação de eletroencefalografia de alta densidade (EEG) tornou
a via mais promissora para fornecer feedback quantitativo aos profissionais e
treinadores.
Por fim, neste e-Book foi apresentado alguns aspectos da Neurociências que
associada ao trabalho do psicólogo podem desencadear importantes mudan-
ças na sua atuação nos próximos anos. Sabe-se que muito há que se discutir
como campo de tendências futuras para o trabalho do psicólogo no futebol,
assim como diz Al-Chalabi, Turner e Delamont (2006) “os cérebros humanos são
especiais e surpreendentes e que, embora saibamos muito sobre eles, ainda
resta muito a aprender.”

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Psicologia: conheça o trabalho feito no


futebol do Cruzeiro Veja ao vídeo
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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
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Sobre os autores
Camila Bicalho, Professora do Departamento de Ciências do
Movimento Humano da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Mestre e Doutoranda em Treinamento Esportivo pelo Programa
de Ciências do Esporte da UFMG. Atualmente é supervisora do
setor científico da equipe de Psicologia do Esporte do Centro de
Treinamento Esportivo da UFMG.

George Klinger, Psicólogo e Mestre em Psicologia. Durante seu


mestrado (2014-2016) mergulhou de cabeça em sua dissertação
com atletas de futebol. Realizou período sanduíche por 6 meses
na Universidade Autónoma de Nuevo León com estágio no clube
Tigres UANL, ambos em Monterrey, México. Foi instrutor e consultor
da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol na Federação
Norteriograndense de Futebol e na Federação Mineira de Futebol (FMF). Foi
ainda assistente de comitê olímpico nacional nos Jogos Olímpicos (TIME Malásia)
e Paraolímpicos (TIME Emirados Árabes Unidos) Rio 2016, dentro da Vila Olímpica.
Em 2017 se iniciou o maior dos desafios: fundar o Futebol Interativo.

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TREINAMENTO MENTAL NO FUTEBOL
d uc a ç ã o
E
par a u m
fut eb o l
a in da
mel h o r !

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