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Copyright @ Edições Hipótese by Cazulo 2020

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EDIÇÕES HIPÓTESE é nome fictício da coleção de livros digitais de distribuição gratutita


editados e publicados, desde 2020, pelo coletivo Cazulo – Itapetininga/SP/Brasil.

Edição: Rapahel Moura Rolim

LIVRO AVALIADO POR PARES


E-BOOK DE DISTRIBUIÇÃO LIVRE E GRATUITA disponível em:
https://hipotesebooks.wixsite.com/cazulo

Conselho editorial voluntário

Prof. Dr. Agustín de la Herrán Gascón (Univ. Autónoma de Madrid)


Prof. Dr. Claudio Luis de Camargo Penteado (UFABC)
Prof. Dr. Cosimo Laneve (Società Italiana di Pedagogia)
Profa. Dra. Maria do Rosário Silveira Porto (FE-USP)
Prof. Dr. Juan José Mena Marcos (Univ. Salamanca)
Prof. Dr. Tiago Vieira Cavalcante (UFC)

R748p Rolim, Raphael Moura.


Psicologia do esporte e emoções: aspectos atuais / Raphael Moura Rolim (org.). –
Itapetininga: Edições Hipótese, 2020.
86p.

Bibliografia
ISBN: 978-65-87891-04-0

1. Psicologia. I. Título.
CDU – 159.9

O Cazulo não se responsabiliza pelo conteúdo dos capítulos aqui publicados, uma vez que os
textos são de autoria única e exclusiva dos(as) autores(as) e não traduzem, necessariamente, a
opinião do coletivo.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por proporcionar estar perto de pessoas incríveis e capazes de


transformar esse projeto em realidade.

Aos meus amados filhos, Davi Souza Rolim e Victor Souza Rolim, razões pelas
quais me mantenho motivado e acreditando em um mundo melhor.

Aos meus pais, Ruy Silva Rolim e Dilma Moura da Silva, e a minha irmã,
Priscilla Moura Rolim, por todo amor, conforto e segurança.

Aos meus queridos amigos de estudos, pesquisas e intervenções em


Psicologia do Esporte em Natal/RN e Rio Claro/SP.
SUMÁRIO

AUTORES .......................................................................................................................... 2
AS APLICAÇÕES DA PSICOLOGIA NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO: as
preocupações tradicionais e contemporâneas ............................................................... 5
O SILÊNCIO NO ESPORTE: atenções da psicologia do esporte ..................................... 18
TÉCNICAS DE REGULAÇÃO EMOCIONAL NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO .......... 32
ESPORTE PERFORMANCE, PARTICIPAÇÃO E EDUCACIONAL: uma análise das emoções
nos respectivos contextos ............................................................................................. 41
Alegria no Esporte .......................................................................................................... 55
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E ATLETAS DE GINÁSTICA AERÓBICA DO ENSINO
FUNDAMENTAL .............................................................................................................. 67
AS EMOÇÕES E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESEMPENHO DA PRÁTICA
ESPORTIVA ..................................................................................................................... 78
SOBRE O ORGANIZADOR .................................................................................... 86

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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AUTORES

Afonso Antonio Machado


Docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre
docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia,
editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

Aline Lima Dierschnabel


Licenciada em Ciências Biológicas pela UFRN. Mestre e doutora em
aprendizado e memória pelo programa de pós graduação em Psicobiologia
pela UFRN.

Alisson de Oliveira Santos


Bacharel em Psicologia pela UNIFACEX. Psicoterapeuta, escritor e poeta.
Docente em escolas técnicas.

André Luis Aroni


Pós-doutor e Doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela UNESP,
com bolsa CAPES no país e PDSE na Florida State University - Estados
Unidos; Mestre em Treino Desportivo pela ULHT de Lisboa - Portugal; MBA em
Gestão Educacional e Docência no Ensino Superior pela UniMetrocamp;
Especialista em Fisiologia do Exercício e Atividade Motora Adaptada pela
UNICAMP; Licenciado pleno em Educação Física pela PUCCAMP; Graduando
em Psicologia. Membro do Laboratório de Psicologia do Esporte da UNESP
desde o ano de 2011. Tem interesse na área de Psicologia, principalmente nos
temas: pico de desempenho humano; novas tecnologias e impactos no
comportamento humano.

Bruna Feitosa de Oliveira


Licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2018). Bacharela em Educação Física pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2016). Mestranda no Programa de
Pós Graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho".

Carla Lopes de Albuquerque


Psicóloga Clínica e Esportiva. Doutoranda em Psicologia. Especialista em
Psicologia do Esporte e Terapia Cognitivo Comportamental. Docente da
UNIBRA.

Felipe Dantas Florêncio


Bacharel em Psicologia pela Universidade Potiguar – Natal/RN. Especialista
em Psicologia do Esporte (Faculdade UNYLEYA). Especializando em
Psicologia Escolar e Educacional (FAVENI). Membro do Laboratório de
Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte de Natal/RN (LEPPEN).

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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Guilherme Bagni
Bacharel em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, campus de Rio Claro/SP, Mestre em Desenvolvimento Humano
e Tecnologias pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
campus de Rio Claro/SP e Doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Rio
Claro/SP com período sanduíche na University of Central Lancashire – Reino
Unido.

Kauan Galvão Morão


Bacharel em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2012). Licenciado em Educação Física pela mesma
universidade citada anteriormente (2014). Mestre em Desenvolvimento
Humano e Tecnologias pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (2017), sendo bolsista CAPES (2015-2017). Doutorando na Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, no Programa de Pós Graduação em
Desenvolvimento Humano e Tecnologias.

Lilian Pereira da Silva


Mestra em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(PPGEF-UFRN). Graduada em Educação Física Licenciatura pelo Centro
Universitário Facex (UNIFACEX). Membro pesquisadora do Grupo de Estudos
Corpo e Cultura de Movimento (GEPEC-UFRN).

Patrícia Silva Modesto de Oliveira


Bacharel em Turismo pela UERN. Bacharel em Psicologia pela UNIFACEX.
Pós-graduanda em Ensino de Língua Inglesa e Psicomotricidade Clínica e
Relacional pela Universidade Cândido Mendes. Graduanda em Licenciatura em
Letras - Português e Inglês. Psicoterapeuta. Docente em escola particular.

Raphael Moura Rolim


Bacharel em Psicologia pela UNIFACEX. Mestre em Desenvolvimento Humano
e Tecnologias pela UNESP – Rio Claro/SP. Especialista em Psicologia do
Esporte (UNINTER) e Terapia Cognitivo Comportamental (UFRN).
Coordenador do curso de graduação em Psicologia pela Faculdade Maurício
de Nassau – Natal/RN. Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas
em Psicologia do Esporte de Natal/RN (LEPPEN).

Raquel Amorim de Oliveira


Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Facex (UNIFACEX).

Rosália Duarte Bandeira


Psicóloga pela Faculdade Maurício de Nassau - Natal/RN.

Rosângela Vieira Dornelas Câmara Paes


Escritora, Professora e Psicóloga. Psicóloga Clínica e Esportiva. Mestre em
Ciências da Religião. Especialista em Treinamento Esportivo e Terapia
Cognitivo Comportamental. Professora da FACHO e FPS. Psicóloga da
Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno. Coordenadora do curso de pós
graduação em Terapia Cognitivo Comportamental pela FACHO.

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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Rosivaldo Alves Gonçalves


Graduando em Psicologia pelo Centro Universitário Facex (UNIFACEX).
Membro do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte de
Natal/RN (LEPPEN).

Vivian de Oliveira
Bacharela em Educação Física pelo Instituto de Biociências da Universidade
Estadual Paulista ''Júlio de Mesquita Filho'' (UNESP), campus de Rio Claro.
Realizou intercâmbio acadêmico na Faculdade de Motricidade Humana
(Universidade de Lisboa) em Lisboa, Portugal, cursando Ciências do Desporto.
Mestra em Desenvolvimento Humano e Tecnologias (UNESP-Rio Claro).
Membra do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte
(LEPESPE) desde 2010.

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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AS APLICAÇÕES DA PSICOLOGIA NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO:
as preocupações tradicionais e contemporâneas
André Luis Aroni
Vivian de Oliveira

INTRODUÇÃO

Os aspectos psicológicos no esporte são temas que sempre acabam


gerando discussão. As emoções dos atletas são motivos de interesse, seja por
parte dos treinadores, dos comentaristas e apresentadores de programas
esportivos que analisam os resultados da rodada, ou ainda entre amigos,
torcedores e leigos. Porém, cresce também a discussão científica sobre a
Psicologia do Esporte no Brasil, uma área cada vez mais consolidada no país,
apesar dos desafios.
Cada vez mais, com a profissionalização crescente dos esportes, a
paridade tática, técnica e física das equipes se torna evidente. Com esse
aumento da competitividade, inúmeros autores afirmam que são os aspectos
psicológicos que garantem a superioridade de uma equipe sobre a outra,
decidindo jogos e campeonatos (CASAL; BRANDÃO, 2007; ARONI, 2016;
FILHO; ARONI; BAGNI, 2017).
Samulski (1992) caracteriza quatro campos de atuação do Psicólogo do
Esporte, especificamente no Brasil: esporte de rendimento, esporte escolar,
esporte recreativo e esporte de reabilitação. O esporte de rendimento, é aquele
em que o objetivo principal é garantir o rendimento. O Psicólogo do Esporte
que atua neste cenário deve analisar os fatores psicológicos que agem sobre o
desempenho do atleta ou da equipe e melhorá-los.
Rubio (2007a) afirma que o esporte de alto rendimento é a maior vitrine
para a Psicologia do Esporte, ou seja, é onde mais facilmente conseguimos
entender a sua aplicação. Para a autora, a busca pelo resultado faz com que
os atletas e equipes procurem todos os recursos necessários para garantir um
bom desempenho. Além disso, o esporte de alto rendimento conta com a
cobertura midiática, e a produção do espetáculo esportivo permite essa
visibilidade.

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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Além disso, a chegada de novas tecnologias faz com que, assim como
em outras áreas, a Psicologia do Esporte mude seu foco e tenha que renovar
suas abordagens e instrumentos. Com isso, o objetivo que pretendemos
alcançar ao longo deste capítulo é apresentar as preocupações e as possíveis
aplicações da Psicologia aplicada ao Esporte de alto rendimento, sejam elas
relacionadas aos temas tradicionais ou contemporâneos, tendo o atleta como o
foco principal.

UMA BREVE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA DO ESPORTE NO ALTO


RENDIMENTO

A Psicologia do Esporte não é uma área tão nova como pode parecer.
Embora a preocupação com os aspectos psicológicos parece ser algo atual, os
primeiros estudos envolvendo esporte e Psicologia foram conduzidos no final
do século XIX. Em seus primeiros anos, a Psicologia do Esporte apresentava
uma íntima relação com a área do Comportamento Motor, com foco nos
estudos sobre os efeitos das variáveis psicofisiológicas sobre o desempenho
esportivo dos indivíduos.
Foi em 1897 que George Fitz publicou o estudo “Play as a factor in
development” (em português, algo como “O jogo como um fator no
desenvolvimento”), onde o autor relatou sobre a importância que a prática
esportiva exerce na vida do praticante. Para Fitz, o esporte ajuda no
desenvolvimento da capacidade de julgamento, da habilidade de percepção e
reação frente a um ambiente em transformação (VIEIRA et al., 2010). Um ano
depois, em 1898, Norman Triplett, psicólogo e professor da Universidade de
Indiana, nos Estados Unidos, estudou a atuação de ciclistas e o impacto sobre
o desempenho da prática em grupo (WEINBERG; GOULD, 2017).
Foi nos primeiros anos do século XX que começaram a surgir textos
sobre os aspectos psicológicos e esporte, escritos por alguns professores, os
próprios atletas e profissionais das mídias, relacionando o sucesso de um
esportista com o controle emocional. Mas, segundo Vieira et al. (2010), é na
década de 1920 que a Psicologia do Esporte ganha forma, acompanhada de

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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um aumento das publicações na área em países como Alemanha, a União
Soviética e Estados Unidos.
Em 1925 é criado o laboratório de Psicologia do Esporte por Coleman
Griffith, professor da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. A partir de
então, Griffith criou uma série de testes, publicou diversos artigos científicos
sobre o tema e foi o primeiro a oferecer um curso sobre a Psicologia do
Esporte dentro de sua universidade. Por todos os seus feitos e reconhecida
importância para a área, Coleman Griffith é considerado o pai da Psicologia do
Esporte (VIEIRA et al., 2010; WEINBERG; GOULD, 2017).
No período pós-guerra, a Psicologia do Esporte continua crescendo,
especialmente nos Estados Unidos, que conta com um aumento de
laboratórios especializados. A partir dos anos 50 a Psicologia do Esporte
começa a separar-se da área do Comportamento Motor, ganhando uma base
sólida para os futuros estudos da área. Outro marco importante ocorreu em
1965: a criação da Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP).
Em 1966, é criada também a Sociedade Norte-Americana para a Psicologia do
Esporte e Psicologia da Atividade Física (NASPSPA). Já o primeiro periódico
científico da área, o International Journal of Sport Psychology, surge em 1979.
Todas estas novidades garantiram a consolidação e o desenvolvimento da
Psicologia do Esporte quanto área de estudo e intervenção (VIEIRA et al.,
2010; WEINBERG; GOULD, 2017).
Já no Brasil, os primeiros passos da Psicologia do Esporte foram dados
por João Carvalhaes, profissional que fazia parte do São Paulo Futebol Clube,
e que também trabalhou com a Seleção Brasileira de Futebol que disputou a
Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Carvalhaes era um profissional com
grande experiência em Psicometria, e que acabou criando um mal-estar ao
dizer que acreditava que Garrincha e Pelé não estavam em perfeitas condições
para competir o mundial daquele ano (RUBIO, 2007b).
A Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte (SOBRAPE) foi criada
em 1979. Em 1981 se organizou em Porto Alegre o primeiro Congresso
Brasileiro de Psicologia do Esporte. Como os países da Europa e da América
do Norte foram onde a Psicologia do Esporte teve um desenvolvimento mais
rápido, muitos profissionais brasileiros realizaram intercâmbio para estas

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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regiões. Brandão (2000) afirma que foi então que, no final dos anos 80, com a
volta destes indivíduos que foram ao exterior em busca de conhecimentos, um
importante avanço da Psicologia do Esporte aconteceu no Brasil, com a criação
de novos laboratórios e grupos de estudo.
A Psicologia do Esporte no Brasil segue em constante evolução. O total
de publicações e eventos científicos na área continuam crescendo, e com isso,
cresce também o número de profissionais que atuam em seus diversos
contextos, em especial no esporte de alto rendimento como em outros
contextos. Porém, a literatura também aponta alguns desafios, como o
pequeno número de grupos de pesquisa de Psicologia do Esporte nas regiões
norte, nordeste e centro-oeste do Brasil (VIEIRA; NASCIMENTO JUNIOR;
VIEIRA, 2013; VILARINO et al., 2017).
Atualmente, as publicações científicas brasileiras na Psicologia do
Esporte focam no futebol e no voleibol (VILARINO et al., 2017). Temas como a
ansiedade, motivação, estresse, liderança, influência dos pais sobre a pratica
esportiva de jovens, imagem corporal e outros aspectos emocionais que
interferem sobre o esporte e a prática profissional são apontados como os mais
estudados no país. (VIEIRA, NASCIMENTO JUNIOR; VIEIRA, 2013;
ANDRADE et al., 2015; VILARINO et al., 2017).

OS TEMAS CLÁSSICOS DA PSICOLOGIA DO ESPORTE

Antes de pontuar os temas clássicos da Psicologia do Esporte em nosso


país, existem duas considerações importantes para que o leitor possa melhor
compreender a nossa visão sobre o tema. A primeira é que o método descritivo
ainda está muito presente no âmbito acadêmico e aplicado da Psicologia do
Esporte no Brasil, e esse fato explica parte do atraso nas pesquisas e
intervenções da área. Como exemplo, podemos citar estudos que buscam
compreender os motivos de atletas ao treinar sob certas condições, ou até
mesmo em uma longa bateria de testes psicométricos e projetivos em atletas
de alto nível.
A questão é que o momento atual pede por trabalhos experimentais ou
estudos de casos, buscando soluções para o desenvolvimento do processo de

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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treino esportivo. Assim, ao compartilhar soluções e resultados dentro da
comunidade, muitas práticas psicológicas poderão ser potencializadas em meio
as periodizações físicas, técnicas e estratégicas/táticas.
A segunda consideração é sobre as linhas de pensamento da
Psicologia, que na maior parte dos casos, se opõem. Por exemplo, um
psicólogo comportamental dificilmente aceitará realizar uma intervenção
Gestaltiana em um grupo de atletas, por julgar “errado” ou “pouco eficiente”.
Neste sentido, o processo de intervenção psicológica depende exclusivamente
da abordagem do profissional, e se muita energia “é gasta” no processo de
convencimento do que é o correto, pouca atuação resta no auxílio aos atletas.
Ao contrário da Psicologia Clínica, o objetivo da Psicologia do Esporte é
desenvolver o processo de treino e potencial do atleta no que tange os
aspectos emocionais e cognitivos (MARTIN, 2001).
Entre as linhas de pensamento da Psicologia tradicional se destacam o
comportamentalismo, a psicanálise, a Gestalt, as abordagens humanistas e a
perspectiva sócio histórica. Segundo Martin (2001), o comportamentalismo é a
linha que melhor “se encaixa” no contexto esportivo. Essa abordagem foi
desenvolvida por nomes como John Watson, Ivan Pavlov e B.F. Skinner, em
oposição ao estruturalismo e funcionalismo da época, e se apoia na ideia que o
contexto em que a pessoa vive possibilita a previsão e controle do
comportamento humano. Neste sentido, o próprio processo de treino esportivo
caminha a favor desse condicionamento humano.
Por outro, a Psicanálise busca a compreender o “mundo interno” da
pessoa, com foco nos impulsos, forças internas e desejos. O nome mais
importante dessa escola foi Freud e Jung, que atribuiu boa parte dos processos
psíquicos ao inconsciente, quase sempre dominado pelos desejos sexuais. No
âmbito esportivo, está pouco presente.
A Psicologia da Gestalt diz respeito ao entendimento do todo, para
depois perceber as partes - o todo é diferente da soma das partes
(STERNBERG, 2000; FRAZÃO; FUKUMITSU, 2013). Como área, a Gestalt
surgiu no início do século XX em oposição aos pensadores do campo da Física
e seus estudos sobre os átomos. Os primeiros experimentos foram liderados

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por Wertheimer, Koffka e Kohler. No esporte, é possível atribuir inúmeros
benefícios aos esportes coletivos e dinâmicas em grupos de atletas.
No caso da abordagem humanista e a sócio histórica, elas adotam o
pressuposto do homem livre, que pode alterar suas decisões frente ao mundo
em qualquer momento. Entre os principais nomes estão Maslow, Murphy,
Allport e Carl R. Rogers – que buscaram uma visão do homem que ultrapassa
os determinismos. Ambas as linhas não se encontram presentes na área
esportiva, apenas na terapia clínica com atletas. Entretanto, podem contribuir
bastante durante o esporte de formação e nas transições de fases esportivas
durante a carreira dos atletas, principalmente na aposentadoria esportiva.
Desta forma, e direto para os bons exemplos de intervenções clássicas,
indicamos o excelente texto de Hardy, Jones e Gould (1996), onde apontam
quatro habilidades psicológicas básicas para se desenvolver em atletas:
relaxamento, definição de metas, imagem mental e auto conversa.
O relaxamento é uma das técnicas mais utilizadas por atletas de elite ao
lidar com a auto regulação emocional, principalmente a ansiedade. Neste caso,
o psicólogo auxilia o atleta a encontrar o seu estágio de ótimo desempenho
esportivo, de acordo com as características da modalidade (HANIN, 1997;
KAMATA; TENENBAUM; HANIN, 2002). O instrumento tecnológico mais
utilizado nesses casos é o biofeedback, e a respiração é uma das boas formas
de auxiliar na regulação (FILHO, 2015; FILHO; ARONI; BAGNI, 2017). Os
autores Weinberg e Gould (2017) destacam que não são todos os estudos com
o dispositivo que demonstram evolução no desempenho de atletas, entretanto,
a técnica tem se mostrado eficaz ao reduzir os sintomas da ansiedade e tensão
muscular.
A segunda habilidade indicada por Hardy et al. (1996) é a definição de
metas. Neste caso, apesar de possuir um conceito simples de ser
compreendido, o terapeuta trabalha com o atleta e seu treinador no
desenvolvimento das metas de treino e prova/jogo, facilitando assim a
motivação e outros estados emocionais positivos para os atletas. A medida
está em encontrar algo desafiador e possível de ser alcançado, trabalhando
nas tarefas a serem realizadas ao longo do processo previsto na periodização.

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Seguindo a lista, temos a técnica de imagem mental, que foi bastante
desenvolvida ao longo dos últimos anos (MURPHY, 1990; MURPHY; NORDIN;
CUMMING, 2008). O objetivo da técnica está na utilização de imagens
positivas e vitoriosas em determinados momento da rotina do atleta. Hardy et
al. (1996) ressaltam que a técnica parece ser mais eficiente quando aplicada
junto da simulação física. Na intervenção, um dos primeiros passos é conhecer
se o atleta prefere se imaginar em primeira ou terceira pessoa, para que
consiga praticar de forma mais “natural” durante os treinos. As características e
a dinâmica da modalidade devem ser bem observadas também.
Na auto conversação, assim como a imagem mental, ela deve ser
construída de forma positiva, porém de forma racional. Essa técnica deve ser
praticada por um longo período, em uma abordagem mais cognitiva e aplicada
ao contexto competitivo. O foco é fazer com que o atleta reestruture sua
cognição em momentos difíceis do jogo ou prova, fazendo com que
pensamentos irracionais e negativos não perturbem os processos de
concentração. Sternberg (2000) explica a importância e impactos da
representação mental e compreensão positiva do significado das palavras no
processo cognitivo.
Todas essas indicações são pontos comuns na literatura da Psicologia
do Esporte, contudo é importante destacar que o sucesso nessas práticas
envolve muitas horas de treino, com boa parte delas em trabalho conjunto aos
aspectos técnicos e físicos.

AS NOVAS DEMANDAS DA PSICOLOGIA PARA UM UNIVERSO


ESPORTIVO CONECTADO

A Psicologia do Esporte muitas vezes é lembrada por seus temas


considerados mais tradicionais, como o estresse, a ansiedade e a motivação,
por exemplo, mas ao longo dos anos a contemporaneidade traz a necessidade
de um olhar mais atento para outras temáticas.
A relação entre esporte e mídia sempre foi muito próxima, embora nem
sempre a relação dos atletas com ela tenha sido amistosa. Hoje, existem as
novas mídias, que alteram um pouco esse vínculo. O termo “novas mídias” foi

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criado para representar a junção entre as novas tecnologias e métodos de
comunicação, na intenção de diferenciá-los dos meios de comunicação
tradicionais (TV, imprensa e rádio). Dentre as chamadas novas mídias, se
estabelecem as redes sociais.
A expressão “rede social”, por sua vez, é usualmente empregada para
definir as grandes plataformas de interação virtual, como Facebook, Twitter,
Instagram, etc (PIZA, 2012). Consideram-se as redes sociais como espaços
dinâmicos, com um intenso fluxo de sujeitos e informações, trocando
conhecimentos, ideias, interesses, contatos, etc (TOMAÉL; ALCARÁ; DI
CHIARA, 2005).
Para os atletas, o uso das novas mídias traz vantagens: permite uma
maior proximidade com os seus fãs e apoiadores, possibilita a sua exposição
como alguém “normal”, promove a sua figura, facilitando também a vinculação
com novos patrocinadores, permite ao atleta conseguir apoio moral e social,
viabiliza a comunicação direta com seu público, sem a intermediação de
profissionais da mídia ou canais de comunicação, que podem eventualmente
distorcer um fato que se tornará manchete (SANDERSON, 2013; DE
OLIVEIRA, 2016; TEIXEIRA, 2016; DAVID et al., 2018; MORÃO, DE
OLIVEIRA, 2018).
Mas é claro que, assim como o uso das redes sociais pode ser bastante
vantajoso, ele também tem potencial para acarretar problemas. Se as redes
sociais, assim como outros espaços na internet parecem volúveis e em
constante mudança, é ingênuo imaginar que é possível voltar atrás sobre uma
decisão mal tomada, ou uma postagem malfeita, assim como também é
impossível crer que há controle sobre isso.
Para Rebustini (2012) é infactível assegurar que aquilo que um dia foi
reproduzido na rede possa desaparecer totalmente, de acordo com a vontade
de quem o fez. Mesmo após a exclusão de uma mensagem, imagem ou
qualquer outro tipo de conteúdo que foi postado nas redes sociais, é bastante
provável que existam cópias destes arquivos vagando pelo ciberespaço.
Também é impossível antecipar até que ponto (ou a quem) uma postagem
chegará, assim como contabilizar os danos que pode causar. Se levarmos em
consideração que os esportistas mais famosos possuem um grande número de

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seguidores em suas redes sociais, as consequências de uma postagem errada
podem ser devastadoras.
Para Smith e Sanderson (2015), se por um lado as mídias sociais
permitem que os atletas expressem suas personalidades de forma mais livre,
isto também pode promover julgamentos particulares, trazendo consequências
negativas. Muitas vezes os comentários feitos por torcedores, seguidores, ou
os chamados haters (algo como odiadores, termo que é utilizado para definir os
usuários de internet que escrevem comentários, críticas e mensagens de ódio
no perfil de outras pessoas, muitas vezes sem motivo aparente) influenciam de
forma negativa sobre o estado emocional e o desempenho dos atletas, sendo
este um dos principais aspectos negativos das mídias sociais relatados pela
literatura (KASSING; SANDERSON, 2015; DAVID et al., 2018).
Muitas vezes, os atletas e usuários das mídias sociais não estão cientes
de todos os problemas e riscos que estão envolvidos com o fato de estarem
presentes nesses ambientes. Além dos comentários “perversos” feitos por
outras pessoas que citamos acima, a repercussão negativa de uma atitude
tomada por um indivíduo na rede, ou ainda outras situações envolvendo o uso
das redes sociais podem ocasionar neste indivíduo estados de ansiedade,
sensação de nervosismo, insegurança, medo. Além disso, o uso descontrolado
das redes sociais virtuais pode fazer com que o usuário ou o atleta tenha
problemas de concentração, ocasionando danos ao rendimento, além da
possibilidade do desenvolvimento de uma dependência virtual (KITTINGER;
CORREIA; IRONS, 2010; MOIOLI, 2013; PICON et al., 2015).
Morão et al. (2016) buscaram verificar quais são as possíveis
consequências que o uso das redes sociais virtuais pode trazer ao estado
emocional de jovens atletas. Para isso, entrevistaram 160 jogadores de futebol
do sexo masculino, pertencentes a categorias de base de equipes brasileiras,
com média de idade de 19,02 anos. Algumas alterações apontadas pelos
atletas como ocasionadas por este uso foram a vergonha ou constrangimento
(apontado por 37% da amostra), a sensação de medo e insegurança (30%), um
aumento do sentimento de tristeza (14%), além de estresse (13%) e a
ansiedade (6%).

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Edições Hipóteses, 2020.
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Outros achados interessantes são de Bagni et al (2018), que
investigaram como os atletas enxergam a relação entre esporte e as novas
mídias. O estudo, realizado com 211 jovens atletas de 10 equipes,
pertencentes a categoria sub-20 de equipes brasileiras e com média de idade
de 18,0 anos, encontrou que a maior parte dos atletas (54%) considera que a
utilização de aparatos eletrônicos como smartphones pode prejudicar a
concentração, apontando como principais motivos a diminuição do foco
atencional, a utilização desenfreada do aparelho, a leitura de notícias
desagradáveis e os prejuízos ao descanso. Porém, é interessante notar que,
mesmo assim, a maioria dos entrevistados (44%) discorda da retirada ou da
proibição do uso destes aparatos por parte dos treinadores ou comissão
técnica, alegando principalmente que isso poderia trazer um sentimento de
solidão (pela ausência de contato com os familiares e amigos), além de gerar
uma falta de opção de entretenimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Psicologia do Esporte é sim uma área em crescimento no Brasil, e por


mais que tenhamos abordado o “alto rendimento” esportivo, esse contexto não
pode ser confundido como exclusivo do âmbito profissional. O que queremos
dizer é que países como os Estados Unidos da América, Reino Unido, China e
outras potências mundiais trabalham a Psicologia de forma preventiva, ou seja,
estimulando jovens atletas da forma adequada desde cedo, oferecendo
instrumentos e preparos para que tenham autonomia (quando adultos) no
processo de tomada de decisão esportiva e na auto regulação afetiva. No
Brasil, o Psicólogo do Esporte continua a ser chamado em processos
emergenciais, na contramão de quem segue na vanguarda esportiva mundial.
Com relação a geração conectada que abordamos, é importante que os
profissionais que atuam na área da Psicologia do Esporte, assim como de
outras áreas do esporte, discutam e levem em consideração fatores como a
presença de seus atletas nas redes, e o uso que tem sido feito destas
ferramentas. David et al. (2018) ressaltam que as redes sociais fazem com que
as implicações práticas necessitem incluir o aprimoramento do treinamento em

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Edições Hipóteses, 2020.
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mídias sociais por parte dos profissionais, além do desenvolvimento de
melhores práticas, mais contemporâneas, para garantir o apoio aos atletas no
uso responsável das redes sociais, especialmente para os mais jovens.
Dessa forma, embora as intervenções pareçam estar mais baseadas na
proibição do uso de tecnologias, ela deve ser pautada pensando nesses
indivíduos que levam seus celulares para os treinos, para a competição, para a
concentração, pensando além da restrição. Além disso, essas ferramentas
podem ser aliadas importantes para as novas formas de trabalho destes
profissionais, que também precisam se atualizar. Alguns exemplos disso
seriam: o uso de aplicativos para avaliação de desempenho dos atletas, em
diferentes aspectos, incluindo também a possibilidade de avaliação de equipes
adversárias; a utilização de aparatos tecnológicos para a troca de informações
e compartilhamentos de sessões de treinamentos, exercícios, entre outros; o
uso de aplicativos de troca de mensagens, para manter a conversa entre o
psicólogo e outros profissionais com os atletas, entre outros usos possíveis.
Por fim, outros temas parecem estar em grande evidência no momento,
especialmente ligados também as questões sociais do esporte. As questões de
gênero no esporte têm ganhado bastante destaque, incluindo a discussão
sobre os atletas transexuais. Outra questão bastante importante, e que
(infelizmente) ainda continua atual, é o racismo e os atletas que com ele
sofrem, assim como o preconceito sofrido por esportistas de algumas
nacionalidades e que atuam fora de seus países, que cresce de maneira
proporcional ao aumento do número de refugiados e expatriados ao redor do
mundo. Todas estas condições e fenômenos devem ser vistas com
preocupação não só pela Psicologia, mas também por outras ciências do
esporte, para que, de forma multidisciplinar, seja possível entender e cuidar do
atleta de forma integral.

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O SILÊNCIO NO ESPORTE: atenções da psicologia do esporte

Afonso Antonio Machado

“Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol


Quando você entrou em mim como um Sol no quintal
Aí um analista, amigo meu, disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito...”

Numa mostra pouco usual, esta angustia a que se refere Belchior, em


uma de suas músicas, lança olhares ao silêncio inquietante e até
constrangedor vivido por um goleiro em momento decisivo de sua trajetória
esportiva. Ampliando o foco. Na possibilidade dele se sair vitorioso diante da
bola, será uma vitória efêmera; diferente da proposta em que ele deixe vazar o
gol: isso poderá acarretar final de carreira. É assim que funciona este
fascinante mundo esportivo, onde os silêncios ganham proporções gigantescas
e pouco valorizadas e estudadas (TAYAC, 2019).
Desde os primórdios dos tempos temos ciência de que toda nossa
existência é pautada em aproximação com nossos semelhantes, seja uma
aproximação física corporal, ou uma aproximação gestual ou mesmo um olhar
ou uma palavra. Garantir uma relação agradável e sensível, com todas suas

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modulações, esteve sempre a requerer que estivéssemos próximos, visíveis e
falantes. Somos considerados sujeitos sociais, pois nos relacionamos com o
mundo por meio do contínuo contato com o outro. Ainda que em silêncio.
Convivemos em grupos, interagindo entre si, de uma forma ou de outra,
adotando formas diferentes, pessoais e irresistíveis; cada um de nós, sozinhos
ou em grupamentos, temos hábitos característicos para nos expressar
(BERNARD, 2017). Esses grupos podem ser nossos familiares, equipes
esportivas, os amigos, os colegas de trabalho, ou até mesmo pessoas
desconhecidas que estejam ocasionalmente em um mesmo ambiente, com
quem travamos contato.
Quando consideramos que as relações interpessoais são processos
reflexivos e que apresentam como premissa a troca intensa de informações, ou
seja, o convívio, as trocas de informações entre os indivíduos; acredita-se que,
na presença do outro, os sujeitos interajam, buscam se comunicar, de uma
maneira ou de outra, de forma mais ou menos acalorada, só dependendo do
tipo de relação e de contexto.
Quando pensamos no contexto esportivo, a comunicação é vital para
que se atinja o resultado esperado nos treinamentos ou nas longas temporadas
de aprendizado. Professores e técnicos esportivos buscam transmitir seus
conhecimentos e retroalimentar seus liderados de modo que cada palavra,
gesto ou silêncio tenha um significado interativo e uma comunicação eficiente
ao ponto de promover a união do grupo (BROHM, 2015), a perseguição aos
objetivos e a avaliação do conjunto de elementos que promoveu aquela
interseção.
Interessa, então, perceber que comunicar remete à noção de
compartilhar, trocar, de somar, de tornar comuns as informações, ideias e
sentimentos entre duas ou mais pessoas, favorecendo a troca de informações
e carinhos; então, é possível afirmar que neste contato inter-relacional, existe o
emissor, aquele que transmite algo, e o receptor, aquele que capta a
informação, mas que também se torna emissor por partilhar igualmente de
algum conteúdo ou por responder, como dito antes: uma ação reflexiva.
Quando pensamos na interação necessária para que o momento
esportivo aconteça, temos estes dois personagens agindo num equilíbrio quase

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que perfeito, favorecendo uma fala e uma escuta sincronizada e
orquestradamente organizada, diante das necessidades e direcionamentos
previstos na prática da modalidades, seja ela individual ou coletiva, com
discursos e silêncios compatíveis com o contexto criado ou pré-existente (LIMA
FILHO, 2017).
Vale a premissa de que nem sempre o emissor é aquele que exerce
função ou posição de liderança, em especial no contexto esportivo, quando um
atleta ou um aluno do grupo emite um sinal sonoro que altera toda a conduta
do grupo. Muitas são às vezes em que apenas um assobio ou um olhar (sem
um único som) muda o ritmo das jogadas ou altera o sistema tático da equipe;
tais acontecimentos atendem às necessidades do momento esportivo e são
comuns, neste cenário, ainda que pouco estudados.
Muito usual a proposta de ensinamentos por meio de discursos e
aplicações, mas é inegável que muitas das ênfases dadas no processo
interacional ocorrem em sintonia com silêncios e emissões sonoras
balbuciadas, sem que haja a formulação de uma só palavra; desta maneira
temos uma troca de informações que se completa com olhares, gestos,
sorrisos, caras feias e palavras não ditas, que assumem uma força de diálogo
consensual.
Os estudiosos do contexto esportivo sabem que, durante os confrontos,
um simples grito da torcida ou um som diferente na arquibancada, consegue
incendiar o momento esportivo, promovendo um conjunto de ações táticas que
fora orquestrada do exterior para o interior, confirmando a possibilidade de
comunicação entre os sistemas de articulação daquela modalidade.
Percebemos que grandes equipes trazem para seus jogos várias torcidas
organizadas, mas é evidente que existe certa interferência de uma sobre as
outras e destas sobre a equipe, como se o jogo fosse orquestrado de fora para
dentro do campo.
Esse processo de transmissão de informações pode ocorrer de
diferentes maneiras, considerando-se as formas verbais e não-verbais da
comunicação, conforme ensinam as teorias de comunicação e apontadas
acima. Há sempre espaço para as duas e elas surgem sempre em função do
contexto, da situação e do assunto a ser manifestado. Claro está que cada

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proposta de transmissão e recepção envolve um canal emocional a ser
avaliado de forma personalizada, vista a natureza das pessoas envolvidas e o
tema.
Assim, a comunicação verbal é a mais estudada e conhecida, sempre
associada à fala, com objetivo de transmitir um conteúdo por meio das palavras
pronunciadas, ou outra forma qualquer de verbalização. Podemos tratar da
mesma comunicação, desde que esteja atuando com palavras escritas, que
possibilitem o entendimento Temos ainda outra forma de comunicação verbal:
a utilização da palavra na forma gráfica e podemos dizer que, junto com a fala
torna-se um canal de transmissão da ideia que se busca levar a cabo.
Todo e qualquer canal de comunicação é um desafio a ser enfrentado
pelos dois grupos (HASTIE, 2015): o emissor e o receptor; esta afirmação
confere a necessidade de um conhecimento prévio entre as partes e uma
aliança diante dos objetivos a que os participantes se comprometem e
avançam, no decorrer da convivência estimada para tal. As variações de
modos de comunicação obedecem a um desenrolar previsto mas nem sempre
exequível, em especial diante da riqueza de variáveis em que o ambiente
esportivo está imerso.
Os escritos e desenhos são canais alternativos entendidos como
expressões não-verbais; neste grupo incluímos os gestos, posturas,
expressões faciais, olhar, a aparência, o lúdico (desenho, argila, pintura, jogos,
dramatizações, etc), o choro, riso, a agressividade, o silêncio. Toda forma que
possibilita a comunicação, menos a fala; assim, temos que esses dois modos
de comunicação, o verbal e o não-verbal, podem estar presentes juntos, como
uma maneira de reforçar ou manifestar a comunicação para alguém.
No contexto esportivo, em especial, a comunicação não-verbal é
demasiadamente usada e suscita olhares de especulação e até treinamento,
de modo a fortalecer e favorecer o recurso: nem tudo é para ser falado tanto
que muitas das emoções são negligenciadas ou omitidas, afim de não explicitar
alguns estados emocionais que poderiam despertar olhares de dúvidas ou de
afrontas, situações não bem entendidas no contexto. Como explicar a raiva que
o atleta sente do técnico, ao obedecer suas informações e não atingir a meta
supostamente proposta? Ou como encarar o adversário, após sofrer o ponto ou

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o gol, que culminaria com a derrota, sem usar o olhar ou o silêncio como
estratégia de comunicação?
Diante de todos os aspectos da comunicação, temos que o silêncio
atende a uma forma de comunicação bastante conhecida: ele é usado quando
não se quer desvendar segredos ou particularidades; o silêncio me possibilita
recusar a me comunicar com expressão verbal, preservando-me. Porém
coloca o interlocutor numa emissão silênciosa de algo que lhe pertence ou que
apenas ele tenha conhecimento, ainda que todos possam perceber sua
expressão. O silêncio é enigmático e atende às propostas de ampliação da
potencia da palavra ou à pausa da conversação.
Em Filosofia, o uso do silêncio aparece como uma parada estratégica,
geralmente precedendo o ataque verbal, que foi preparado com intensidade e
ênfase suficiente. Neste caso, o silêncio possibilita uma reestruturação na fala
e amplia meu campo de atuação, por meio de um retorno mais profundo e mais
certeiro, impactando o receptor. Esse silêncio favorece a comunicação e amplia
o enfoque suficiente para que os canais de comunicação sejam fortalecidos e
ampliados: desperta a curiosidade ou dispersa a atenção focada ou criou o
clima ideal para a conversação.
Nessa questão do silêncio e da palavra como contrapontos, pode-se
pensar que a palavra explode e o silêncio implode, porém, apesar do silêncio
esconder as palavras, os pensamentos e sentimentos, tal fato não significa que
ele retenha os significados e a expressão deles por outras vias, já que é e
sempre foi considerado uma contensão de afeto, sensações, representações e,
por isso, ele se torna, em si, comunicante (BRONFENBRENNER, 2016). Há de
se reconhecer que ele encerra mais de mil palavras, uma vez que seu impacto
é tão ou mais significativo que um discurso ácido ou dócil, diante de uma
proposta ou acontecimento.
No meio esportivo, muitas vezes o silêncio se faz necessário, em função
de regras culturais impostas aos grupos: a hierarquia existente em equipes e
grupos de iniciação esportiva modela os participantes de modo a mascarar
algumas formas de relação humana (RIOUX, 2018). Assume-se uma ordem ou
uma atitude, sem refletir ou questionar, dependendo do emissor: técnicos
autoritários, dirigentes pouco flexíveis e informações conflitantes estabelecem

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uma regra subjacente que passa a vigorar por meio do silêncio, mesmo que
num futuro isto ocasione uma cisão grupal ou uma ruptura e conspiração contra
a autoridade posta.

“...Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno


Viver a divina comédia humana onde nada é eterno...
... Ora, direis ouvir estrelas, certo perdeste o senso
Eu vos direi, no entanto
Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não
Eu canto.”

Ainda, voltando à mesma canção, de Belchior, que faz o prenúncio de


nosso trabalho, viver a divina comédia humana, onde nada é eterno, retrata
com palavras um significado pesado e duro do silêncio: nada é eterno. Nem o
momento trágico nem o momento feliz. Isso ilustra os momentos esportivos,
onde a fugacidade é pouco observada até por estudiosos. Tem-se a idéia de
uma eternização, esquecendo-se de que atletas e feitos são flashes de tempos,
são cortes muito rápidos que deixam marcas (estas sim podem ser
eternizadas) (JEU, 2017; HILL, 2019). Perde-se o senso e descuida-se da
memória que armazena a cena e o fato que possibilitou o enquadramento
silencioso e pesado.
Estudos apontam para o poder do silêncio; dizem que representa muitas
de nossas intenções, ainda que calada as pessoas continuam emitindo sinais
de interesse, afeto, saber; sem se utilizar da interação verbal (por ser a
negação dela), no entanto o silêncio não nega a existência de nenhum destes
fenômenos humanos tão imprescindíveis e genuínos da nossa existência.
Podemos dizer que o silêncio chega a ser saudável, inteligente e necessário,
quando bem empregado.
Entendamos que esta forma de expressão não traz a palavra como foco
da atenção, mas facilita e possibilita abrir o olhar para a pessoa em si, como
um todo: corpo, postura, gestos e olhares. É algo inusitado, pois o silêncio
possibilita buscar a compreensão do sujeito na sua integralidade e, ao mesmo
tempo, na sua singularidade (HASTIE, 2015; SIEDENTOP, 2018). Favorece
que entendamos o fato de cada um de nós termos uma forma de nos
silenciarmos, o que transforma este silêncio numa comunicação personal,

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ímpar justamente porque cada um de nós tem uma forma de se expressar
única, utilizando-se de diversos recursos pessoais.
No momento de uma cobrança de pênalti, num saque, num arremesso
de dardos, num lance de precisão, numa preleção anterior ao embate o clima e
a ação posterior cobra silêncio. É imprescindível que tenhamos este espaço
para preparar a tomada de decisão, que fechará o círculo e incidirá numa ação
tática de alto nível e de uma precisão absoluta. Ressoa como uma preparação
para esta tomada de decisão: um momento de organização ideal frente ao
esmero técnico-tático decisivo. Justifica-se sua aplicação e recomenda-se tal
uso, como proposta educativa.
Entretanto, nem sempre o silêncio assume esta posição: muitas são as
vezes em que ele apenas reflete a insegurança ou o medo, quando não a raiva,
o ódio e a angustia subjacente do contexto competitivo esportivo. Analisar este
conjunto de informações (e vivenciá-lo) favorece compreender o cadinho de
emoções existentes desde a iniciação esportiva, passando pelo treinamento e
especialização e atingindo o alto nível, ainda que profissionais destes vários
segmentos não atribuam ao contextos esportivo a possibilidade das coisas não
fluírem de modo tão suave e humano (FERREIRA, 2019) (mesmo diante de
uma cobrança inexplicável ou de um sofrimento além da medida, num
fenômeno sociocultural que merece olhares mais críticos e pontuais, sem
censura e sem avaliações profundas sobre as relações humanas e as formas
de cobranças de resultados em cada uma das etapas).
Partindo dessa perspectiva de comunicação individual, considera-se o
silêncio como possibilidade de diferentes e variados significados a serem
transmitidos e a serem interpretados; dependendo do contexto e das
necessidades vivenciadas: ele manifestará exatamente o que foi planejado
JEU, 2017. Muito além disso, sabemos que o silêncio não expressa nosso
agitado mundo interno: mesmo em silêncio, nosso cérebro está agitado,
conectando-se numa velocidade incalculável e se preparando para o próximo
momento a ser vivido, de maneira objetiva e inteligente: ele é estratégico (KIRK
, 2018). Muito bem colocada a expressão: o maior grito é o silêncio de nossa
consciência.

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Diante de uma entrevista, ao final de um jogo, independente do
resultado, o atleta estrategista tem no silêncio um aliado e uma forma de se
comunicar; nesta situação, cada inflexão e cada parada e recusa está um
repertório expressivo que valoriza toda a pergunta formulada. Ainda que a
situação seja favorável ao atleta ou dirigente, manter o silencio é falar muito
sobre o momento em questão.
O choro sem verbalização é uma prova de que existe comunicação
silenciosa, valendo observar as premiações e as cerimonias de entregas de
medalhas: ali temos a manifestação e a comunicação de todo o sufoco vivido
até aquele instante (LIMA FILHO, 2017). Diz-se que passa um filme sobre
todos os momentos anteriores, em que se preparou com afinco e rigor para a
consecução do feito, mesmo que tenha havido reclamações e discussões no
caminho que termina na medalha. Apenas quem o percorreu sabe o que sentiu;
então, o silêncio expressa toda esta trajetória não dita.
Nesse contexto relacional, então, o dirigente esportivo precisa realizar
uma comunicação autêntica com o participante, seja aluno ou atleta, assim
como facilitar que o mesmo se sinta acolhido de tal maneira que consiga se
expressar livremente. Isto implica em garantir a possibilidade de falar o que
pensa, de silenciar diante de situações constrangedoras ou de extrema alegria:
significa ter liberdade de expressão, seja ela qual for. Tal autenticidade
possibilita uma relação verdadeira e de confiança entre os participantes,
favorecendo uma melhor qualidade técnica, pedagógica e de resistência
psicológica, oferecendo e possibilitando uma maior liberdade de ambas as
partes para expor suas percepções, vivências e emoções (McNAMEE, 2019),
conforme as experiências subjetivas de cada indivíduo e de cada relação
estabelecida.
Aqui fica implícita que a relação estabelecida está firmada num contrato
de relações interpessoais e que atende aos interesses daquele(s) par(es)
afetivo(s), mesmo que hajam momentos de muita cobrança, de ambas partes,
e que nem sempre os objetivos continuam sendo comuns, ainda que se esteja
vivendo um único fenômeno esportivo: tal percepção depende da leitura e
interpretação do momento, feita pelo sujeito da ação.

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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A expressão desses conteúdos pode ser em nível verbal e/ou não-
verbal, ou até mesmo através do silêncio. Considerando esse contexto, a díade
professor-aluno, técnico-atleta, dirigente-técnico, arbitragem-atleta, arbitragem-
técnico pode apresentar desestrutura emocional, e cabe ao líder, nesse
momento, acolher, escutar, sondar a resistência psicológica e trabalhar essas
questões mobilizadoras de forma individual ou em grupo (HILL, 2019).
Dessa maneira, percebe-se como foco de atenção cada um dos
personagens do contexto esportivo, apesar das divergências e posições
hierárquicas muito sedimentadas no cenário em questão. Cada um deles,
tanto o aluno/atleta quanto seus familiares, professores/técnicos, dirigentes e
árbitros precisam ser observados e entendidos como uma unidade de cuidado.
Assim, o atendimento psicológico, a partir da relação interpessoal e do vínculo
estabelecido, pode facilitar a expressão desses personagens, bem como sua
forma de comunicação, neste espaço hierarquizado, ainda que as normas não
sejam explícitas.
A comunicação entre as partes sejam elas quais forem, geralmente é
compreendida pela verbalização. No entanto, as demais outras formas de
comunicar os pensamentos e sentimentos, conhecidas como expressões não-
verbais, que podem acontecer por meio dos gestos, do desenho, ou mesmo do
silêncio, ocupam espaço grande e potente no meio esportivo, configurando-se
como uma das maneiras mais presentes e instigantes da interação social. Num
mundo em que os códigos de comunicação são rígidos e seus significados
atingem valores de dimensões extremadas, calar-se pode parecer fugir de
compromissos ou omitir-se diante do novo, o que não representa uma
totalidade de verdade.
O calar-se traz consigo um envolvimento afetivo de grande monta e
promove sérias transformações internas, acarretando escolhas e decisões que
terão repercussões futuras, como o caso de aceitar o indesejável ou
desagradar os líderes do grupo. Então, o silêncio tem significados semelhantes
as mais duras palavras ou as mais amargas constatações (BARTHOLOMEU et
al, 2016). Diante desta perspectiva, observa-se que durante a ocorrência de
respostas silenciosas a rotina no aluno/atleta e de seus pares afetivos pode ser
modificada por diversos fatores que dependerão das limitações intelectuais e

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Edições Hipóteses, 2020.
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afetivas das partes envolvidas e das elaborações de tarefas a serem
desenvolvidas pelos participantes da proposta.
As regras do grupo, na vivencia esportiva e no grupo de apoio, sua
rotina nas tarefas habituais, por vezes, exercem um papel limitador e até
mesmo castrador, promovendo no participante a sensação de perda de
autonomia pelas restrições impostas e necessárias à convivência, acarretando
comprometimentos emocionais futuros, que surgem em função do silêncio
apresentado diante de uma indagação ou de uma proposta inovadora (JEU,
2017; McNAMEE, 2019). Uma vez instalada esta situação, é necessário que se
adote um tipo de escuta especializada e sintonizada com o dilema vivido, visto
que se trata de uma dor psíquica que se transforma em comportamento de
esquiva ou agressivo e tomará rumo desconhecido, uma vez que não seja
sinalizado que fora ouvido ou percebido: talvez tudo o que o aluno/atleta ou
professor/técnico ou dirigente ou árbitro mais queira seja que seu silêncio seja
ouvido.
Essa escuta do participante deste contexto esportivo em sua
completude, como um ser complexo, precisa ser feito por todos os profissionais
envolvidos, de modo a oferecer-lhe o suporte existencial mais adequado e,
quando necessário, encaminhá-lo para as devidas especialidades, a exemplo,
a Psicologia do Esporte(FERREIRA, 2019). Cada uma das escutas, cada uma
das observações, possibilitarão a compreensão daquilo que não é um simples
mosaico, mas um comprometimento que dificulta a relação interpessoal
daquela história de vida. Significa que olhares atentos e aguçados e ouvidos
sensíveis conseguiram ouvir este silêncio inominável.
Percebe-se que a Psicologia do Esporte ocupa um espaço peculiar no
ajuste e intercâmbio das relações interpessoais dos personagens do contexto
esportivo, como um todo, incluindo as mídias, as torcidas, os familiares e
demais componentes que orbitam os meandros da prática em si, trabalhando
as questões emocionais envolvidas nos processos d superação, de
fortalecimento psicológico ou de adoecimento e recuperação, existente nos
ambientes que perpassam da iniciação ao alto nível. Cabe aqui ressaltar a
atenção ao silêncio escolhido ou imposto naquele espaço de convivência
social.

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Sábio é que as pessoas envolvidas trabalhem de forma cooperativa,
apresentando disponibilidade para tal, assim como tenham elementos inerentes
à relação humana, como empatia, autenticidade e congruência, para que uma
aliança terapêutica seja efetivada e o trabalho seja significativo. No contexto
esportivo atual, o psicólogo especializado precisa considerar os conteúdos
emocionais e todos os demais aspectos físicos e fatores sociais, familiares e
espirituais, que circundam o atleta, em cada um de seus sistemas (micro,
meso, endo e macro) (BRONFENBRENNER, 2016), oferecendo um suporte
lógico e seguro a quem se destina, em especial levando em conta os
processos cognitivos deste atleta.
A junção das peças do mosaico oferecem pistas que colaborarão para a
compreensão, aceitação e disponibilidade mútuas para um vínculo terapêutico
autêntico. A melhor estratégica é que o psicólogo do esporte se utilize da
escuta atenta e dos olhares seletivos como ferramentas de trabalho, em sua
atuação terapêutica. Estudos apontam que estas propostas investigativas
atuam como vias de acesso ao outro e, assim, a relação terapêutica passa a
ter o objetivo de favorecer o atleta, favorecendo a possibilidade de manejar
emoções, pensamentos, atitudes e comportamentos considerados
desadaptativos. (BARTHOLOMEU; MONTIEL; MACHADO; GOMES; COUTO,
2016).
Mais profundo, indica que os silêncios possam vir a se transformar em
falas e ações significativas, que rumem aos relacionamento humanos mais
explícitos e fortes, de modo a garantir uma coesão grupal e uma liderança mais
pontual, naquele contexto. Tal consideração possibilita enxergar um sistema de
interação bastante rico, levando-se em conta que os sistemas exercem discreta
atração, conforme descrição de Bronfenbrenner (2016) nos estudos da
bioecologia do desenvolvimento humano.
Aquele silêncio em quadra, ou no vestiário, ou campo ou piscina,
reverberará na família, na festa, na entrevista: são sistemas relacionais que
merecem olhares e análises específicas, mas que trazem significados
especiais quando se tem certeza de que ele é parte de um todo, e esta precisa
ser a ideia da Psicologia do Esporte moderna, de analisar o todo e não apenas
a hora da competição ou a hora do preparo físico. Bioecologicamente as

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interações assumem papéis de suma importância e atendem aos
compromissos dos atores do contexto esportivo.
Como se tem insistido, o silêncio não é uma particularidade daquele
atleta; ele existe neste contexto com peso e determinação gritante. Muitos
técnicos e professores são silenciosos, em suas ações e compromissos
profissionais, sem que alterem suas rotinas. Bandura (1996) ensina que a
modelagem social faz adeptos em sua imensidão, o que sugere que muitos
atletas se moldam a um tipo de relação onde o silêncio é parte inerente
daquele espaço social.
Analisemos a relação existente (e quase imposta) entre comissão
técnica, atletas e arbitragem: é uma forma silenciosa de se atender aos
ditames e hierarquias das modalidades, sem que se dirija a palavra e se acate
todos os apontamentos, sejam notas, sejam resultados ou interpretações. A
comunicação silenciosa diante desta ação é geradora de um silêncio nem
sempre digerido e compreendido por quem recebeu o julgamento desfavorável
e isto carece de um apoio terapêutico contundente.
O contexto esportivo traz consigo seus meandros pouco claros e pouco
analisados por profissionais inexperientes da Psicologia do Esporte, que não se
atentam para as relações existentes no ambiente subjacente ao exposto no
momento competitivo: um altar, no camarim do toureiro ou na ante sala do grid
de largada da Formula 1 tem um significado específico para “aquele” toureiro e
para “aquele” piloto. O olhar perdido no horizonte, de cima do trampolim de
saída, para “aquele” nadador, é algo a ser observado e receber seu significado
(FERREIRA, 2019). Estes exemplos são explorados por Tayac (2019) em seus
estudos sobre rituais e símbolos esportivos e merecem nossos atentos olhares
e profundas compreensões, caso a Psicologia do Esporte seja nossa proposta
de atuação.
Silêncios que gritam são aqueles dos olhares vazios no momento da
cortada ou do bloqueio, no Voleibol; divide-se a importância com o golpe fatal
no MMA ou na imobilização do Judô. Mas como extravasar tamanha emoção?
Qual momento será utilizado para colocar para fora e dar voz àquilo que se
sente e sufoca, no espaço esportivo? Qual a colaboração a psicologia do
Esporte moderno está trazendo para cada uma destas situações que ecoam e

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Edições Hipóteses, 2020.
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aumentam nos demais espaços ocupados pelos personagens do cenário
esportivo?
É urgente que os silêncios sejam ouvidos e transformados em propostas
proativas e de satisfação, nos contextos esportivos, pela sua visibilidade e pela
importância que ocupam na civilização contemporânea (FERREIRA, 2019).
Que mais e mais atletas, professores, dirigentes, árbitros e todos os demais
envolvidos com o fenômeno esportivo utilizem desta forma de comunicação
numa maneira indolor e intensa, crescendo e possibilitando novas relações
humanas consistentes e edificantes, menos silenciosas e sofridas é o que se
espera de uma Psicologia do Esporte atenta às necessidades do ser humano
que tem nas atividades físicas sua maneira de expressão cultural.
Esta consistência será resultado das interações estabelecidas com base
na sinceridade e reconhecimento das naturezas humanas envolvidas. O
gestual esportivo atende às necessidades técnicas e táticas da modalidade,
mediante treinamentos específicos, mas as habilidades afetivas e sociais
merecem destaque e atenção, visto o fato que são as responsáveis pelos
nossos envolvimentos interpessoais e são percebidas pelos espectadores e
mídia; o complemento da performance (BRONFENBRENNER, 2016), expresso
na plenitude do atleta, por meio de uma verbalização ou silencio, merece nosso
olhar atencioso, se estivermos atuando na Psicologia do Esporte.
Não existe segredo: basta entender que o silêncio fala mais que mil
palavras e buscar entender o significado delas; assim a intervenção será
pontual, atenderá aos objetivos a que se propôs e os personagens deste
misterioso contexto fluirão como seres humanos completos, que já o são.

REFERÊNCIAS
BARTHOLOMEU, D; MONTIEL, J.M.; MACHADO, A.A.; GOMES, A.R.;
COUTO, G. Relações interpessoais: concepções e contextos de intervenção
e avaliação. Campinas: Vetor, 2016.
BANDURA, A. Social cognitive theory of human development. Oxford:
Pergamon Press, 1996.
BERNARD, M. L’ expressivité du corps. Paris: J-P. Delarge, 2017.
BRONFENBRENNER, U. Bioecologia do desenvolvimento humano. Porto
Alegre: ARTMED, 2016.
BROHM, J-M. Critiques du sport. Paris: Christian Bourgois, 2015.
FERREIRA, J.B. Palavras do Silêncio. Cadernos de Psicanálise, 31(22): p 13-
36, 2019.

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Edições Hipóteses, 2020.
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HASTIE, P. An ecological analysis of a sport education season. Journal of
Teaching in Physical Education, v.19, p.355-373, 2015.
HILL, E.J. Workplace flexibility, work hours and work-life conflict. Journal of
Family Psychology, v.24, n.3, p.349-358, 2019.
JEU, B. Le sport, I’ émotion, l’ espace. Paris: Vigot, 2017.
KIRK, D. Physical education futures. London: Routledge, 2018.
LIMA FILHO, A.P.. Quando o silêncio aprisiona. Boletim de Psicologia,
57(126), 77-87, 2017.
McNAMEE, M. The nature and values of physical education. Oxon:
Routledge, 2019.
RIOUX, G. La cohésion de l´équipe sportif. Paris; Vrin, 2018.
SIEDENTOP, D. Junior sport and the evolution of sports culture. Journal of
Teaching in Physical Education, v.21, p.392-401, 2018.
TAYAC, J-Y. Symbolique et rituels sportifs. Paris: Dervy, 2019.

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Edições Hipóteses, 2020.
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TÉCNICAS DE REGULAÇÃO EMOCIONAL NO ESPORTE DE ALTO
RENDIMENTO

Carla Lopes de Albuquerque


Rosângela Vieira Dornelas Câmara Paes

INTRODUÇÃO
As emoções são sensações e reações repentinas que apresentam
conteúdo intenso, frequente e real. Estão presentes na vida de todas as
pessoas e podem promover comportamentos adaptativos ou não na dinâmica
de cada indivíduo. Apresentam elementos fisiológicos, cognitivos, sociais e
culturais.
Todas as emoções são necessárias e exercem uma função ativa no
nosso cérebro, por isso é essencial à valorização dessas sensações, sendo
boas ou funcionais, e/ou ruins ou disfuncionais; é preciso aceitar, compreender
e saber lidar com cada uma delas.
E é justamente esse o desafio mais complexo para os atletas de esporte
do alto rendimento: regular as emoções no contexto profissional e pessoal,
bem como, desenvolver a consciência emocional. Dessa maneira, pensamos
em elaborar um capítulo para possibilitar a psicoeducação emocional de todas
as pessoas envolvidas no contexto esportivo, não só atletas, mas
principalmente especialistas, familiares, torcida, dirigentes, entre outros.
Na visão de Cury (2015), a gestão emocional é à base de todos os
treinamentos psíquicos: profissional, educacional e interpessoal. Ela pode,
inclusive, contribuir muito para o melhor desempenho de atletas. Como já
comentei com esportistas de renome mundial, o jogo se ganha primeiro na
mente.
No ambiente esportivo do alto rendimento, o atleta que alcança a
consciência emocional obtém a capacidade de gerir as próprias emoções e se
adaptar as emoções de outras pessoas. Para isso, precisa aprender e treinar
as habilidades socioemocionais para conseguir autonomia e bem-estar.
Sendo assim, elaboramos um material científico e técnico, de regulação
das emoções no esporte de alto rendimento, a fim de ajudar o atleta a

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potencializar suas ações e decisões assertivas, nos períodos de preparação ou
pré-competição, competição e pós-competição.
1. CONTEXTUALIZANDO AS EMOÇÕES

As emoções são temas de vários estudos, desde a Grécia antiga já se


buscava compreender o comportamento humano, e como as emoções
interferiam no desenvolvimento do indivíduo. Alguns filósofos gregos defendiam
que as emoções deveriam ser desvalorizadas, pois influenciava no modo do
ser humano agir, assim sendo, exercia controle no cérebro razão, tão
valorizado pelo povo grego.
Na atualidade têm-se muitos conceitos de emoções, tais como: emoções
são reações físicas aos eventos do cotidiano; emoções tem curta e intensa
duração, e em geral se manifesta fisiologicamente, modificando o
comportamento dos indivíduos; e as emoções são reações psicofisiológicas
que auxiliam os indivíduos a se adaptarem aos eventos ambientais
(BROCKETE & BRAUN, 1998). No geral os conceitos são semelhantes entre
si, ou seja, que as emoções modificam o comportamento do ser humano, e que
a emoção pode gerar um descontrole no indivíduo que afeta suas relações
pessoais, seu desempenho profissional e suas percepções. É importante
ressaltar que cada indivíduo tem uma reação emocional diferente diante da
mesma situação, pois vai depender das experiências de cada um, já que está
reação envolve a subjetividade humana, como por exemplo: um assalto a
banco, cada envolvido terá um comportamento diferente, pois reagirá de
acordo com seu estado emocional.
De acordo com Ballone (2005) as emoções podem ser divididas em:
emoções primárias são tidas como inatas ou básicas, são comuns a todos os
seres humanos independentes do ambiente social e cultural, fazem parte deste
grupo: raiva, medo, alegria, nojo, tristeza e surpresa, o surgimento destas
emoções não necessita de aprendizagem; emoções secundárias ou sociais são
mais complexas que as primárias, e dependem dos fatores culturais e sociais,
as emoções secundárias variam de acordo com a cultura e a sociedade que o
indivíduo está inserido, fazem partem deste grupo: a culpa, a vergonha, a
gratidão, a simpatia, a compaixão, o orgulho, a inveja, o desprezo, o espanto;

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são desenvolvidas a partir das emoções básicas e aprendidas a partir do
contexto sociocultural do ser humano.
Segundo Damasio (2009) as emoções auxiliam no comportamento
adaptativo e assim na sobrevivência humana, já Newen (2009) entende que as
emoções têm várias funções na adaptação humana, que são: nos motiva para
as ações; permite o indivíduo analisar os estímulos ambientais de forma rápida,
facilita a interação nas relações sociais e possibilita as expressões típicas que
mostram as nossas intenções, e as dos outros, exemplo, um sorriso indica
simpatia. Assim, as emoções são importantes para nossa sobrevivência,
comunicação, tomada de decisão e ajuste de limites, nos dando possibilidades
de lidar com os eventos do dia-a-dia de forma saudável emocionalmente.
De acordo com as pesquisas, as emoções interferem no pensamento e
consequentemente no comportamento dos indivíduos em qualquer área de sua
vida, em muitas ocasiões as pessoas têm atitudes extremas em função do
desequilíbrio emocional, chegando inclusive a comprometer seu desempenho e
suas funções psíquicas, pois as emoções desreguladas elevam a ansiedade,
estresse, agressividade, e reduz principalmente a capacidade do indivíduo de
raciocinar (pensar). No ambiente esportivo não poderia ser diferente já que as
emoções podem influenciar o atleta ou equipe esportiva a ter um desempenho
positivo ou negativo.
Na visão de Samulski (2009), no ambiente esportivo as emoções terá
um papel importante, pois auxilia no controle da ansiedade, do estresse, da
motivação entre outras emoções que podem interferir no desempenho dos
atletas. Para Samulski (2009), quando as emoções são funcionais e expressas
na equipe ajudam a desenvolver emoções positivas nos colegas de equipe.
Ainda de acordo com o autor citado, o modo como cada atleta lida com suas
emoções pode contribuir de maneira funcional ou disfuncional no seu
desempenho.
No ambiente esportivo do alto rendimento têm-se diferentes fases que
ocasiona as alterações (elevação ou redução) dessas emoções, são elas: os
períodos pré-competitivo, competitivo e pós-competitivo. No pré-competitivo em
geral as emoções estão em equilíbrio, e são mais funcionais do que
disfuncionais. No competitivo as emoções são alteradas muitas vezes em

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função de uma preocupação antecipada pelo resultado, com isso, eleva o nível
de ansiedade e estresse, em consequência ocorre uma redução da
concentração, motivação, autoestima entre outras emoções. No pós-
competitivo o atleta ainda está sujeito a desenvolver emoções funcionais ou
disfuncionais independente do desempenho.

1.1 A INFLUÊNCIA DAS EMOÇÕES NO DESEMPENHO DOS ATLETAS


DE ALTO RENDIMENTO

O esporte de alto rendimento ou esporte competitivo teve sua origem na


Grécia Antiga onde deram início a competição, que para muitos atletas é a
competição mais importante da sua carreira esportiva, os jogos olímpicos; os
atletas passam 04 anos (o clico olímpico) treinando exaustivamente e
participando de competições em busca de uma classificação para os jogos
olímpicos, e durante esses 04 anos vivem oscilações nas suas emoções, pois
enfrentam constantemente vitórias e derrotas, o que os levam do estado de
alegria para o de tristeza muito rápido; também sentem outras emoções como:
raiva, ansiedade, frustração, medo, vergonha, prazer, segurança entre outras.
Como vimos no parágrafo anterior o ambiente esportivo gera muitas
emoções que podem auxiliar ou prejudicar o desempenho dos envolvidos.
Porém, quando pensamos no esporte de alto rendimento, várias pesquisas
revelam que as emoções comprometem o desempenho dos atletas de maneira
funcional ou disfuncional. No contexto esportivo existe não só as emoções dos
atletas, mas também, das comissões técnicas, dirigentes, torcidas e familiares,
entretanto de todas essas pessoas, os atletas são os que sofrem pressões
externas mais intensas na busca por um desempenho eficiente, sem contar a
pressão interna que altera as emoções destes, de forma positiva ou negativa.
De acordo com Samulski (2009), as emoções no alto rendimento tem um
papel importante, pois em equilíbrio auxiliam os indivíduos a ter motivação, a
ampliar sua atenção e concentração, na redução da ansiedade e o estresse,
fortalece a segurança e ainda nos esportes coletivos atletas emocionalmente
equilibrados ajudam seus companheiros de equipe a superarem momentos de
dificuldades. Sendo assim a maneira como os atletas e equipes gerenciam

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suas emoções podem ter um desempenho efetivo durantes treinos e
competições.
As alterações das emoções estão diretamente ligadas à percepção que o
atleta ou equipe tem do evento (competição) a ser enfrentado, como por
exemplo, enfrentar um adversário que já venceu sua equipe, se a equipe
percebe esse adversário como imbatível, vai gerar várias emoções
disfuncionais entre eles, desconfiança na capacidade da equipe, insegurança,
irritabilidade, que terá como consequência a elevação da ansiedade, do
estresse, a redução da atenção, concentração, motivação, e as consequências
geradas pelas alterações das emoções interferem no desempenho das equipes
e atletas (Samulski 2009).
No ambiente esportivo as emoções podem sofrer alterações em três
fases: pré-competitiva – na preparação que antecede as competições e jogos,
ou seja, durante os treinos; competitiva – ocorre durante jogos e competições,
ou seja, durante a ação das equipes e atletas, e pós-competitiva – após as
competições e jogos onde os atletas podem manifestar essas emoções até
mesmo de maneira agressiva ou de tristeza profunda.
No cenário esportivo do alto rendimento há uma carga emocional intensa
e frequente que influencia o desempenho das equipes e atletas de forma direta,
sendo assim, é primordial estes grupos aprenderem a gerenciar suas emoções,
para que adquira uma estabilidade psicológica na busca de um melhor
desempenho, possíveis resultados positivos e alcance de metas, ressaltando
que o gerenciamento das emoções pode e deve ser realizado por todos os
envolvidos no contexto esportivo, comissões técnicas, familiares, torcidas,
arbitragem, dirigentes.

1.2 TÉCNICAS DE REGULAÇÃO EMOCIONAL PARA ATLETAS DE


ALTO RENDIMENTO

No esporte de alto rendimento todas as especialidades envolvidas no


desenvolvimento dos atletas realizam intervenções baseadas em princípios
científicos, teóricos e técnicos. Na psicologia também é necessário estruturar
etapas de desenvolvimento no acompanhamento individual e de grupo. Esse

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planejamento ocorre a partir do calendário esportivo das modalidades, e das
necessidades de cada equipe. Dessa forma, organizamos um programa
psicológico para auxiliar os atletas no equilíbrio das suas emoções, afim de que
os mesmos consigam ter uma adaptação mais regulada, satisfação
pessoal/profissional, e fortalecimento das suas estruturas psíquicas no
ambiente esportivo. Abaixo, encontram-se algumas técnicas de regulação
emocional que foram estruturadas para o alcance desses objetivos.

1.2.1 – TÉCNICA DA CONSCIÊNCIA EMOCIONAL:


• Descrição do problema...
• Análise do problema...
• Emoções envolvidas...
• SOS: pessoas que podem auxiliar você...
• Possibilidades de resolução...

1.2.2 – PROBLEMA X PREOCUPAÇÃO:

PROBLEMA PREOCUPAÇÃO
(PRESENTE) (FUTURO)

1.2.3 – O SEMÁFORO:

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VERMELHO: PARE

AMARELO: RESPIRE FUNDO

VERDE: EXPLIQUE O PROBLEMA, COMO SE SENTE E RESOLVA...

1. Em primeiro lugar, pense na luz vermelha e PARE. Não grite, não


insulte, nem agrida. REFLITA POR ALGUNS SEGUNDOS;

2. Em segundo lugar, pense na luz amarela dos semáforos, nesse


momento, você deve RESPIRAR ATÉ QUE POSSA PENSAR COM
CLAREZA. Quando conseguir, você passa para a luz verde;

3. Nessa cor, você deve dizer a você mesmo, QUAIS SÃO OS SEUS
PROBLEMAS E ENCONTRAR A SOLUÇÃO. Nesse ponto, você
poderá pedir ajuda (SOS), a outras pessoas.

1.2.4 – EU ME AMO:

EU ME AMO...

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
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Imagine que diante de você tem UM ESPELHO, você irá olhar para o espelho e
pensar em uma imagem positiva e boa de si mesmo! Comece a falar com você
mesmo mentalmente, dizendo para si coisas agradáveis a seu respeito.
EU _______________________________________________, quero dizer
para mim mesmo que sou...

Assinatura: __________________________________________________

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na vida de todo indivíduo as emoções estão relacionadas com


experiências subjetivas, apresentam respostas não só fisiológicas, como
também, cognitivas, somáticas e comportamentais. No esporte as
interpretações das emoções e suas respostas, ocorrem em uma dimensão
ampla e intensa, pois o atleta lida com pressões de tempo e exigências

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Edições Hipóteses, 2020.
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altíssimas de performance, além de ter que desenvolver habilidades mentais e
equilíbrio para enfrentar as complexas situações que fazem parte da sua vida.
Quando o atleta aprende a treinar seus aspectos psicológicos, e regular
a carga emocional que recebe do ambiente esportivo, automaticamente
fortalece as estruturas internas, e nos períodos de treinamento e competição,
consegue elevar suas capacidades cognitivas, de tomada de decisão,
resolução de conflitos, seleção de estímulos relevantes e percepção adaptativa
dos fatos. Pensando em auxiliar o atleta de alto rendimento no treinamento
psicológico, elaboramos esse capítulo para que de maneira científica e prática,
o mesmo realize sua autoanálise e aprenda a treinar a mente de forma efetiva.
As técnicas de regulação emocional são utilizadas como recursos
teóricos e técnicos permitindo ao atleta leituras mais leves e saudáveis do
ambiente no qual está inserido, assim como, o fortalecimento de maneira mais
sólida das suas estruturas internas, cada técnica desenvolvida tem objetivos
específicos e precisam ser praticadas regularmente para que promova a
evolução psicológica do atleta, dessa maneira, quando o treino de regulação
emocional torna-se um hábito, potencializa as variáveis físicas, técnicas e
biomecânicas do movimento, fazendo com que exista um aumento no nível de
autoconfiança, concentração e motivação durante as práticas esportivas.

REFERÊNCIAS

BROCKETT, S. BRAUM, G. Inteligência Emocional - Teste o Seu Qe.


Editora: Record, 1998.
CAMINHA, R.; CAMINHA. M. (2011). Baralho das emoções: acessando a
criança no trabalho clínico. 3ª ed – Porto Alegre: Sinopsys, 2011.
CURY, A. Gestão emocional: técnicas de coaching emocional para gerenciar
a ansiedade, melhorar o desempenho pessoal e profissional e conquistar uma
mente livre e criativa. São Paulo: Saraiva, 2015.
DAMÁSIO, A. R. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
MACHADO, T. A.; PAES, M. J.; ALQUIERE, S. M.; OSIECKI, A. C. V.; LIRANI,
L. S,; STEFANELLO, J. M. F. Ansiedade estado pré-competitiva em atletas de
voleibol infanto-juvenis. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte,
v.30, n.4, p.1061-67, 2016.
NEWEN, A.; ZINCK, A. O jogo das emoções. Revista Mentes & Cérebro,
n.195, p.38-45, 2009.

40
ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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SAMULSKI, D. Psicologia do esporte: conceitos e novas perspectivas. 2ª. ed.
– Barueri/SP: Manole, 2009.
WEINBERG, R. S.;GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do
Exercício. Porto Alegre: Artmed, 2001.
WILSON, E. Sociobiology. Harvard University Press, Boston, 1975.

ESPORTE PERFORMANCE, PARTICIPAÇÃO E EDUCACIONAL: uma


análise das emoções nos respectivos contextos

Rosivaldo Alves Gonçalves


Raquel Amorim de Oliveira
Lilian Pereira da Silva
Raphael Moura Rolim

1. INTRODUÇÃO

Atividades atreladas ao esporte ganham o status de cultura e se


destacam por incrementarem essa prática como um elemento no
desenvolvimento social (ZENHA; RESENDE; GOMES, 2009). Sabe-se que, ao
olhar a partir de uma perspectiva historicista, as práticas esportivas
mobilizavam fortemente as pessoas na Grécia antiga, não somente atuando na
cultura dos povos, mas construindo sua participação em um viés político e

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ideológico. Essa modernização, consolidou no século XIX, um sistema de
regras que vai estruturar o panorama desse contexto (DE SOUZA, 2019).
Diante disso, desde os primórdios, vê-se que o esporte foi estruturado
de acordo com cada categoria, sendo assim, este estudo objetiva analisar as
emoções em três contextos: performance, participação e educacional.
Trazendo conceitos e suas respectivas áreas de atuação, e ainda rememorar o
contexto histórico do esporte para entender a evolução e sua estrutura no
contemporâneo.
Por consequência, essa estrutura é vista como um tripé dentro do
esporte e se direciona em três sentidos: o primeiro, procura manifestar o
contexto social do esporte a partir de teorias que estudam o desporto; o
segundo, se apoia em um conceito formalizado dentro das políticas públicas,
apresentando uma forma de intervenção alinhada aos setores estatais, porém,
dentro do espaço comunitário; e o terceiro, apresenta-se de forma pedagógica,
e sua intervenção parte de uma organização particular com a participação de
agentes que vão executar esse trabalho, respondendo a uma construção
baseada em política pública (GONZÁLEZ; MOREIRA; DARIDO, 2014)
Muito tem-se conquistado nas áreas esportivas no que se refere ao
envolvimento social e os avanços científicos, pois o meio acadêmico vem se
debruçando em temas relacionados aos esportes, principalmente nas três
áreas vista nesse capítulo. Assim sendo, além de ser um forte influenciador, o
esporte constitui-se como um patrimônio da sociedade e ganha um viés cultural
pelo seu importante status (ZENHA; RESENDE; GOMES, 2009).
É importante ressaltar a presença das emoções nesse processo,
diferente de épocas antigas que não se dava o determinado apreço a essa
causa. Citações trazidas por Ribeiro e Baptista (2018), abrangem o preparo
mental como um elemento que participa diretamente das questões desportivas,
trabalhando situações adaptativas e aumentando o nível de organização
psicológica antes, durante e depois de treinos e competições. Independente da
modalidade ou área, é possível perceber no esporte vários meios de
aprendizagem, pois as formas existentes de prática esportiva, possuem em sua
estrutura, uma intenção educativa, direta ou indiretamente manifestada (REIS
et al., 2015).

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2. ESPORTE, BREVE HISTÓRICO E CONTEMPORANEIDADE

Conforme as variáveis perspectivas históricas do esporte, Tubino (2017)


afirma que há duas formas de interpretar a origem desse evento, sendo que,
em primeiro plano, considerando uma era primitiva, este vínculo associou-se as
questões educativas, como o aprendizado para a sobrevivência. A segunda
forma é vista a partir de um olhar biológico e desconsidera sua construção
histórica e mesmo que haja discordância dessa origem, é possível notar um
paralelo entre ambas, fator que não é possível ver separado do esporte: a
competição. E este autor ainda ressalta que, “[...] para que haja esporte, é
preciso haver competição” (p. 04).
Entretanto, considera-se uma outra forma para distinguir o esporte, e
essa distinção possibilita voltar os olhares para os jogos gregos, visto como o
maior evento daquele tempo, mais a frente, por volta do século XIX, o esporte
moderno vai ganhando evidência também na Inglaterra. Para tanto, o esporte
moderno sempre vai carregar os traços históricos da sua origem, entretanto,
terá que acompanhar o ritmo acelerado das suas mudanças. Nos estudos de
Ribeiro e Baptista (2018), são encontrados argumentos indicando que, durante
um treino, é possível observar que os atletas buscam evoluir suas funções
orgânicas, melhorar as habilidades, além de desenvolverem traços psíquicos,
que dão condições do enfrentamento de determinadas tarefas que exigem
esforços.
Diante do exposto, há uma obviedade que durante o percurso na história
do esporte, não houve uma preocupação com as questões emocionais, de
certo que, De Souza (2019), mostra que o esporte manteve relação somente
ao preparo físico e biológico, adaptando suas regras junto a cultura onde iria
sendo praticado. Uma das primeiras formas de trabalho psicológico aparece na
Grécia antiga, onde os atletas eram expostos a longos sofrimentos, com o
objetivo de adaptarem-se as dificuldades enfrentadas nas competições
(RIBEIRO; BAPTISTA, 2018). Em contrapartida, no cotidiano, as emoções são
trabalhadas de forma muito diferente das explicitadas no parágrafo anterior.

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Visto isso, não somente as emoções são trabalhadas para o esporte,
mas o esporte é trabalhado em benefício das emoções, e para exemplificar,
Weinberg e Gould (2016), relatam que é possível confirmar os benefícios do
esporte para diminuir os sintomas da ansiedade e da depressão. Vale ressaltar
que as emoções são trabalhadas de diferentes formas dentro do esporte, e
para melhor especificação, serão aprofundados de acordo com três categorias,
dentre elas, esporte performance, esporte participação e esporte educacional.

2.1 ESPORTE PERFORMANCE

Diante dos variados conceitos, foi possível verificar que é dado um


sentido novo ao esporte performance, e isso não está relacionado somente
com o que o atleta pode desempenhar, nem com aquilo que se sabe
teoricamente sobre performance, mas sim, com a junção de ambas as partes
formando a performatividade esportiva. Mas vale lembrar que a
performatividade esportiva, faz a junção da manutenção do rendimento do
atleta, com o processo utilizado por ele, para verificar como este sujeito domina
os conhecimentos que possui sobre o esporte que pratica (OLIVEIRA, 2016).
Diante disso Simões, Moreira e Pellegrinotti (2017), argumentam que é
imprescindível a elaboração de instrumentos que ajudem o atleta a
compreender os limites e significados do próprio corpo. Outro fator colocado
pelos mesmos autores, é a atenção para tudo o que o atleta traz em seu
discurso, possibilitando melhor avaliação sobre as práticas relacionadas ao
esporte performance. Essas práticas fazem um paralelo com dois elementos,
são eles: a cooperação e a competição.
A cooperação dentro do contexto esportivo está diretamente ligada ao
ato de colaborar, assim como trabalhar em equipe com um único objetivo, além
de ter um forte vínculo educativo, trabalha o bem-estar emocional dos atletas
(PAES, 2018). Para fortalecer o conceito de cooperação no esporte, nos
estudos deste mesmo autor, são citados estudos que fazem a ligação do tema
e criam um paralelo com um processo social, valorizando a coletividade e é
nesse viés que o atleta é avaliado para se obter o processo do seu
desempenho, pois o grupo possibilita a busca de resultados de forma coletiva.

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Este autor ainda acrescenta outros conceitos, como: disputa,
campeonato, jogabilidade, oponente, vitória, derrota, superação. Contudo, vale
lembrar que durante o desenvolvimento humano, existe algum tipo de
competição, seja familiar ou social. No entanto, Weinberg e Gould (2016),
mostram em seus estudos que competição se define como sendo a
comparação com esforços do adversário esportivo, que busca o mesmo
objetivo, estando ambos, almejando alcançar metas iguais.

2.1.1 Manifestação das emoções

Em meio a esse processo é possível o desencadear das emoções de


formas variadas antes, durante e depois das competições. Ao selecionar
algumas das emoções mais comuns entre os atletas, Paes (2018, p. 55),
aponta 6 delas como as mais vivenciadas, “são elas: medo, ansiedade, raiva,
tristeza, culpa e decepção”. Esse mesmo autor, enfatiza que a variância das
manifestações dessas emoções, dependem do dinamismo identificado na vida
corporativa e particular desses indivíduos, tanto quanto, a forma como o
comportamento vai variar, e isso depende de como os atletas vão perceber os
acontecimentos a sua volta.
Sendo assim, pode-se considerar que já está fazendo parte da natureza
esportiva a expressão de que o atleta não trabalhou as emoções ou o seu
controle para determinado objetivo dentro do esporte. No entanto, é possível
definir as emoções numa base composta por três elementos, sendo as
manifestações fisiológicas, as reações emocionais, e a forma como essas
emoções serão percebidas. Nesse sentido, o benefício em gerir essas
emoções através de um preparo psicológico, dando ênfase diretamente a
performance esportiva e ajudando a organizar os elementos psíquicos que
envolvem a personalidade e as questões sensoriais relacionadas ao atletismo
(RIBEIRO; BATISTA, 2018).
Em meio as exigências do esporte performance, é possível remodelar o
comportamento para obter ganhos emocionais diante dos variados desfechos
que o ambiente esportivo pode proporcionar ao atleta, do mesmo modo, Paes
(2018), argumenta sobre o bem-estar que o atleta pode obter ao valorizar sua

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educação emocional e alcançar resultados eficazes em momentos que precise
tomar decisões a curto prazo.

2.2 ESPORTE PARTICIPAÇÃO

O esporte enquanto fenômeno social, incorpora inúmeros elementos que


legitimam sua relação com as manifestações humanas. A partir do seu caráter
plural, o esporte-participação traz consigo possibilidades para a construção de
valores sociais, popularização das práticas corporais, socialização, além de se
apresentar como veículo de formação humana, revelando-se como uma
atividade que resgata singularidades que dissociam traços do esporte-
performance e do esporte-educacional.
No percurso histórico das práticas esportivas, por volta dos anos 1900,
apenas pessoas de posses tinham acesso ao esporte. Porém, Silva, Da
Silveira e Borges (2010, p. 05), dizem que, “durante seu processo de expansão
por todo o mundo, o fenômeno esportivo foi permeado por mudanças e
interferências relativas aos diferentes contextos socioeconômicos e políticos
que o acolheram e perpetuaram” expandindo assim este cenário. Contudo,
apesar da democratização do esporte, o mesmo carrega consigo elementos
que, por vezes, acabam por limitar o acesso à sua prática.
Nessa perspectiva, o esporte-participação, proposto por Turbino (2010)
como uma das dimensões sociais do esporte, surge como uma das
manifestações esportivas, sendo esta marcada pelo caráter lúdico e prazeroso,
priorizando “o bem estar social dos praticantes, buscando a descontração, a
diversão, o desenvolvimento pessoal e as relações entre pessoas” (TUBINO,
2010, p. 38), oportunizando a participação de indivíduos com menor aptidão
esportiva e contribuindo também para a massificação das práticas esportivas.
O esporte-participação é marcado por sua uma natureza despretensiosa,
cujas preocupações com relação ao desempenho e a competitividade são
descartadas. Considerando esses aspectos, podemos citar os projetos sociais
como principais espaços onde o esporte-participação é praticado. A esse
respeito, Vasconcelos (2007) aponta que os objetivos dos projetos sociais
estão intimamente ligados à inclusão e ao senso de coletividade de seus

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participantes, bem como a intenção de inserir essas pessoas em ambientes
saudáveis.
Apesar das diferenças conceituais entre as manifestações esportivas,
reconhecemos que há interação entre elas e que em certos aspectos, as
mesmas acabam sendo tratadas como equivalentes. No entanto, destacamos,
que de modo geral, a literatura traz contribuições que reforçam a importância
de se desenvolver práticas esportivas formais ou informais, que englobem o
aspecto lúdico e a não obrigatoriedade da realização das mesmas, as quais
também estão relacionadas às compreensões holísticas do ser humano, sendo
amparado por diferentes áreas como significativo componente para a saúde
pública (PROVENZANO et. al, 2014).
Diante desse contexto, é necessário compreender que o principal
objetivo do esporte-participação é proporcionar uma vivencia prazerosa e
satisfatória, que gere auto realização, relaxamento, sentimento de
pertencimento, automotivação e interação para os participantes, mesmo que
em alguns momentos, independente do público alvo, elementos e
comportamentos característicos do esporte-performance e do esporte-
educacional sejam manifestados.

2.2.1 Manifestação das emoções

Pensar em práticas esportivas realizadas sem pretensão de superar


resultados alheios, onde o ser humano procura apenas sentir-se satisfeito pela
convivência com as pessoas e com o ambiente que frequenta, nos leva à
pressupor que as emoções vivenciadas ganham maior conotação, devido ao
caráter pluralista destas atividades. Para Miguel, Brandão e Souza (2009), o
esporte produz uma expressiva riqueza nos processos emocionais, e estas
podem ser as mais variadas possíveis.
Nas atividades esportivas em que as escolhas são baseadas em seus
desejos e interesses o esporte-participação, segundo Silva, Da Silveira e
Borges (2010), tem características que valorizam o voluntariado, apresentando
objetivos para promover a saúde e mostrando o lado educativo do esporte com
a intenção de inserir todas as pessoas disponíveis à praticá-lo, além do mais,

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esses fatores desencadeiam uma série de emoções que influenciam o bem
estar dos participantes.
Por outro lado, lembramos que “cada modalidade esportiva constitui uma
arte corporal, marcada por exigências, normas, regras e convenções sócio-
culturais (BENTO, 2017 p. 46)”, e por mais que as práticas do esporte-
participação sejam voltadas ao lazer, os esportes carregam em si princípios
que estão imbricados na cultura e são reproduzidos, na sua dimensão mais
marcante, o rendimento. Nisto, há uma aproximação possível que podemos
fazer com a compreensão apresentada por Almeida e De Rose (2010), ao
explicarem que, as imagens veiculadas ao esporte, bem como um aparato
midiático de grande proporção leva a alimentação do sentido da participação
da prática, e quanto mais pessoas colocam o esporte no seu cotidiano mais
espetacularizado ele fica. Este processo histórico, complexo, oferece uma
pequena base para entender o esportivização da sociedade e, como ele está
presente na vida das pessoas, simbolizando competição, originalidade, beleza,
frustração, vitória, reciprocidade ou alegria, tornando as relações sociais
repletas de valores esportivos (ALMEIDA; DE ROSE, 2010, p. 14-15).
Nesse contexto, as emoções que são comumente vivenciadas no
esporte performance e educacional, também podem se manifestar no esporte-
participação. De acordo com Miguel, Brandão e Souza (2009, p. 751), as
emoções interferem diretamente nas ações do indivíduo, estas podem
desencadear “alterações fisiológicas, psicológicas e motoras. O atleta que, por
exemplo, experienciar alegria e satisfação, pode na próxima atuação ter a
expectativa de repetição da mesma atuação, e quando esta, não se concretiza,
pode sentir frustração e decepção”.
Numa visão geral, é claramente possível ver no ambiente esportivo a
expressão de muitos sentimentos, principalmente emoções negativas como
raiva, medo, ansiedade, lamentação e vergonha. “Estas emoções alteram o
nível de atenção, concentração e, como consequência, modificam a
coordenação motora (MIGUEL, BRANDÃO e SOUZA, 2009, p. 749) de seus
praticantes. Desse modo, as emoções podem levar os esportistas a se
manterem na prática ou a abandoná-la.

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Acreditamos, portanto, que uma prática sensível que busque perceber e
compreender tais demandas, pode favorecer a realização de uma prática
esportiva que elimine diferenças biológicas e sociais entre os participantes, se
apresentando como espaço voltado ao lazer, bem estar e como veículo de
fortalecimento de relações pessoais, além de colaborar com o popularização
dessa dimensão esportiva.

2.3 ESPORTE EDUCACIONAL

A divisão de conceitos do esporte nas dimensões educacional, de


rendimento e participação constitui-se como uma base para concretizar, no
setor esportivo brasileiro, as políticas públicas e sugestões pedagógicas
inclusivas, pois, verifica-se que os processos pedagógicos e as ações políticas
fundamentadas de maneira obstinada na performance favorecem as práticas
excludentes, assim, ao reconhecer as dimensões educacional e de
participação, denota-se como um passo importante para a democratização e
garantia de participação no esporte constituindo-se como um direito social
(NOGUEIRA, 2014).
O esporte educacional, segundo o artigo 217 da constituição federal de
1988, regulamentado pela lei n. 9.615/98 - Lei Pelé, configura-se como: 1.
esporte educacional – praticado no sistema de ensino e em formas
assistemáticas de educação, evitando a hipercompetitividade de seus
praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do
indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer
(BRASIL, 1998, p.2).
O esporte educacional possibilita a mobilização de crianças,
adolescentes, suas famílias, escolas e comunidade, ressaltando assim a sua
notabilidade para a vida e para a cidadania, contribuindo para a aprendizagem
e o desenvolvimento saudável, como também para a redução da violência e
qualquer tipo de discriminação, promovendo a visão do esporte e lazer como
direito das crianças e adolescentes (CORRÊA, 2013).
Quanto ao ensino, o jogo é visto como uma metodologia privilegiada
para a formação esportiva, tanto para a educação física escolar como para o

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esporte educacional, pois enfatiza a necessidade de respeitar às
individualidades dos estudantes, levando em consideração seus contextos e
realidades sociais, dessa forma, preocupam-se com a compreensão dos alunos
sobre suas limitações e capacidades, assim como priorizam os entendimentos
relacionados ao esporte (VENDITTI JR; SOUSA, 2008).
Enquanto Torri, Albino e Vaz (2007) caracterizam o esporte escolar
como um exemplo da existência das atividades esportivas nos ambientes
escolares, sendo destinado a crianças e jovens através da aprendizagem e
treinamentos sistêmicos de uma determinada modalidade esportiva,
objetivando ainda o desempenho em competições.
Para que o esporte esportivo contribua para a formação integral do
estudante, deve-se ressaltar que a aprendizagem dos movimentos possa ser
além dos conteúdos esportivos específicos, possibilitando assim que o aluno
seja capaz de compreender o motivo de cada movimento, adquirindo também
conhecimentos nas dimensões conceitual e atitudinal, não evidenciando
apenas a dimensão procedimental (DA SILVA; SCOSS, 2017).
Para trabalhar com o esporte educacional é necessário o compreender
com base nas oportunidades educativas do esporte direcionadas para um
panorama de formação que evidencia o homem e não o atleta, o cidadão
enquanto um ser participativo, emancipado e benevolente, e não o homem que
corre sem saber para onde está indo, que arremessa, porém sem saber o que,
que joga sem alegria ou por um conceito de prazer que o foi imposto
(NOGUEIRA, 2014).

2.3.1 Manifestação das emoções

Quando o esporte é implementado como uma estratégia pedagógica,


fazer-se possível a formação de cidadãos que serão capazes de refletir sobre
suas atitudes e valores, não limitando o aluno a apenas saber realizar, ou seja,
para isso é imprescindível que a prática da educação física escolar vá além da
mera repetição de gestos (BARROSO; DARIDO, 2006).
Considerando que, a aprendizagem emocional durante a formação dos
indivíduos para a vida adulta, torna-se indispensável para seu sucesso pessoal

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e convivência social, pois, quanto mais os sujeitos apreendem sobre suas
próprias emoções e a dos seus colegas, de maneira mais tranquila irá
desenvolver alternativas que visem a solução dos problemas no seu processo
de educação (DE OLIVEIRA; KERKOSKI; AFONSO, 2019).
Dessa forma, compreendemos a importância do esporte educacional,
visto que tem como princípio a participação, a coeducação, a colaboração,
como também a co-responsabilidade e a inclusão social, possibilitando assim o
desenvolvimento sócio educativos dos alunos participantes (TUBINO, 2010).
Ademais, salientam ainda De Oliveira, Kerkoski e Afonso (2019) que
conforme as alterações na estrutura psíquica do indivíduo, com o decorrer do
tempo, considerando também os procedimentos metodológicos dos
profissionais, o ambiente escolar pode promover o desenvolvimento do
autodomínio emocional, e assim, possibilitando a formação íntegra do aluno.
Com a prática do esporte educacional, as crianças aprendem a respeitar
os limites individuais, considerando que essa dimensão não possibilita apenas
que os melhores, em atribuições técnicas participem, mas, que haja um
trabalho em grupo, pautado no respeito, e com isso, possibilita também o
desenvolvimento em conjunto, dessa maneira, as aulas necessariamente
precisam ter um enfoque mais educativo ao invés de competitivo (DA SILVA;
SCOSS, 2017).
Assim, o foco da escola, de formar os alunos em pessoas capacitadas
para lidar com a sociedade, entra em consonância com o objetivo principal do
esporte educacional, pois, ao ser aplicado como uma estratégia pedagógica,
torna possível a formação de indivíduos capazes de meditar sobre suas ações
e valores, mas para isso é necessário descartar de forma definitiva da
educação física escolar a reprodução de gestos de maneira repetitiva e
contínua (BARROSO; DARIDO, 2006).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, sob a análise feita, considera-se que os esportes


performance, participação e educacional, tornaram-se uma base fundamental
para compreender as dimensões do desporto, delineando a priori, por uma

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linha que expressa de forma clara, a largura e a profundidade, daquilo que
cada área pode oferecer.
Com a evolução do desporto, foi percebido que as variâncias esportivas
não se pautavam apenas em condições de sobrevivência, ou na adequação de
mecanismos de defesa proporcionados pela prática de movimentos hábeis dos
nossos ancestrais, mas também em medir forças ou mostrar a superioridade
para assumir determinada posição no grupo.
Adiante, viu-se que essa explosão acultura-se na Grécia antiga, que
apesar da brutalidade envolvida nas competições, percebia-se uma estrutura
condicionada por regras, modalidades, grupos, equipamentos, vestimentas,
grandes arenas e o que não poderia faltar, um público fazendo a torcida.
Condições totalmente extremas para aqueles que eram os atores principais de
todo o processo, sem contar na preparação psicológica dos atletas, a qual
eram submetidos à longos sofrimentos para lidarem com os desafios
encontrados nas competições (RIBEIRO; BAPTISTA, 2018).
Em suma, diante de todos os acontecimentos, deu-se a forma que o
esporte tem hoje e não somente isso, mas também a importância do preparo
físico, assim como, a necessidade do preparo psicológico do atleta, baseado
na importância de definir as práticas de desporto em modalidades alcançáveis
por todos os públicos, gêneros e idades diferentes, distribuídos em condições
de performance, participação e educacional.
Assim sendo, o esporte performance, como um fator primário para os
atletas, se caracteriza pelos árduos treinos, quebra de recordes e superação,
onde a elite esportiva concentra suas forças e seus investimentos. O esporte
participação, conforme, Turbino (2017), é aquele que propõem o bem-estar
daqueles que participam e tem como principal fator, a inclusão e a participação
da comunidade. Por fim, o esporte educacional possui uma forma pedagógica,
objetivando o desenvolvimento dos participantes. No que diz respeito ao lazer e
a cidadania, como complemento, Nogueira (2014), enfatiza a necessidade de a
aprendizagem sobrepor a competição.
Vale complementar que o estudo trouxe também as condições
emocionais que envolvem os três processos, afinal, não se pode ignorar a
estrutura completa do atleta, sendo assim, nota-se por meio da aculturação que

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jargões como “o atleta precisa trabalhar as emoções”, estão muito presentes no
dia a dia do esportista, e isso parte de uma mudança de cultura e a
possibilidade de reestruturação de comportamento diante das mudanças do
ambiente esportivo.

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Edições Hipóteses, 2020.
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Alegria no Esporte

Afonso Antonio Machado


Bruna Feitosa de Oliveira
Guilherme Bagni
Kauan Galvão Morão
Raphael Moura Rolim

O cenário esportivo é composto por diversas situações imprevisíveis,


tanto em modalidades esportivas individuais, quanto coletivas. Por isso, o pilar
psicológico precisa estar em equilíbrio para que um atleta saiba lidar com as
adversidades que podem surgir, manejando suas emoções, apresentando
níveis adequados de ativação para alcançar o melhor rendimento possível,
mesmo ao passar por situações vistas como estressoras.
Desta forma, é evidente que o contexto esportivo pode fazer com que o
atleta vivencie uma gama de emoções e sentimentos diante dos momentos
pelos quais passa (SILVA, 2018) em um curto período de tempo, seja durante
uma partida, um round, uma prova, levando o esportista da vitória à derrota, do
sucesso ao fracasso, das conquistas às perdas, de um desempenho ótimo à
uma lesão. Assim, a psicologia do esporte e os profissionais envolvidos com a
mesma, tentam minimizar as situações de imprevisibilidade, fazendo com que o
atleta tenha suporte para enfrentar os mais variados momentos que pode
experienciar durante uma partida ou durante toda uma competição.
Devido a essas possíveis alterações emocionais pelas quais os
esportistas podem passar, Rathschlag e Memmert (2013) realizaram uma
pesquisa que revelou que os atletas possuem capacidade de induzir emoções,
sendo que algumas delas podem beneficiar o próprio atleta por meio da
melhora do desempenho, como é o caso da raiva e da alegria, enquanto
outras, como ansiedade e tristeza, são consideradas negativas por
possibilitarem certa redução no rendimento esportivo. Weinberg e Gould (2017)
citam que atletas qualificados buscam vivenciar momentos de pressão, pois
sentem prazer, possuindo tendência em demonstrar que estão se divertindo e
experienciando tal situação com alegria.

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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A alegria é um fator emocional considerado positivo, no entanto pode ser
afetada por outros fatores que a influenciam (FRAZZETTO, 2014), dentre eles
estão a autoconfiança, a motivação, a coesão de grupo que, por sua vez, pode
gerar bom desempenho da equipe e, a partir disso, acarretar maior satisfação
pessoal e grupal, elevando os níveis de alegria, prazer e outros aspectos que
estão direta ou indiretamente ligados à alegria (WEINBERG; GOULD, 2017).
É válido ressaltar que no contexto esportivo as emoções podem ser
julgadas como positivas e negativas. Aquelas entendidas como positivas
proporcionam sensação de prazer aos indivíduos e, de certa forma, são
consideradas como facilitadoras. Já as negativas deixam os atletas com
sentimentos desestabilizadores, como se prejudicassem a performance
esportiva.
No entanto, Hanin (2007) explica pelo modelo IZOF (zonas
individualizadas de desempenho ideal) que o rendimento é dependente dos
níveis de diversos fatores emocionais, variando de atleta para atleta. Os
esportistas podem apresentar zona de funcionamento ideal com baixo nível de
determinada emoção, seja ela vista como positiva ou negativa, outros em
níveis intermediários e outros ainda podem ter rendimento ideal com elevados
níveis desse mesmo fator, dependendo da particularidade de cada um.
Portanto, mesmo emoções “negativas” podem estar associadas positivamente
a performance de certos indivíduos, precisando estar em níveis ideias para que
o atleta apresente bom desempenho. Por isso, encontrar as zonas
individualizadas de desempenho ideal é tarefa desafiadora para técnicos e
psicólogos do esporte.
Para ilustrar a situação descrita acima, pode-se pensar em fatores
positivos como a alegria, autoconfiança e motivação que, em níveis elevados,
podem gerar euforia, acarretando em alterações dos níveis de ativação,
prejudicando gestos técnicos, por exemplo, implicando em queda de
rendimento. O esportista com elevada autoconfiança pode se mostrar
displicente em determinados momentos, já o atleta extremamente motivado
pode vivenciar uma situação de frustração profunda diante do insucesso
pessoal ou coletivo, além de alterações na ativação também (WEINBERG;
GOULD, 2017). Diante de emoções vistas como negativas, como é o caso do

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Edições Hipóteses, 2020.
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medo, da ansiedade e da agressividade, os níveis ideais desses fatores podem
ser essenciais à performance, pois o medo serve como um regulador das
atitudes que um atleta pode ter durante a prática esportiva, enquanto a
ansiedade é necessária para ativação, corroborando com os níveis de
concentração, atenção e foco na tarefa, além da agressividade poder ser
essencial pensando em alta intensidade, nível de esforço, relacionada a parte
assertiva da agressividade.
Assim, é evidente que diversos fatores emocionais são vivenciados
pelos atletas durante a prática de sua modalidade esportiva, precisando de
preparo para que não existam desequilíbrios, acarretando em danos como a
queda de rendimento ou outros distúrbios emocionais/psicológicos que possam
afetar a carreira do esportista em questão. Frazzetto (2014) ainda cita que o
cenário acadêmico possui maior foco em estudar as emoções consideradas
negativas (medo, ira, irritação, tristeza), por isso, existe necessidade de
maiores pesquisas relacionadas com emoções positivas, como foi buscado
neste capítulo que versa sobre a alegria no esporte.
Aqui são abordados tópicos buscando esclarecer pontos acerca da
alegria, passando pela relação existente entre atividade física e alegria, citando
inclusive um fator denominado de “barato do corredor”, explicando a sensação
descrita por atletas durante praticarem corridas. Posteriormente é feita uma
abordagem sobre o momento esportivo até chegar em possíveis intervenções a
serem feitas com os atletas (por exemplo, estratégias de autorregulação e
mentalização). Por fim, é realizado um fechamento do capítulo contendo
algumas considerações sobre a temática.

Atividade Física e Alegria


Como a alegria pode então ser otimizada por meio da prática da
atividade física? Pessoas mais alegres tendem a permanecer mais tempo
naquela atividade? São essas e algumas outras perguntas que buscaremos
responder neste tópico por meio da análise de estudos científicos.
Inicialmente, é válido compreender a questão contextual. Para isso,
Buss (2000) trata acerca da importância do entendimento da perspectiva
histórica em relação a alegria. Desta forma, a alegria varia conforme o contexto

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Edições Hipóteses, 2020.
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(ex.: cultural, geográfico, histórico, dentre outros). A compreensão do contexto,
pode então propiciar uma otimização da alegria humana. Huang e Humphreys
(2012) analisaram que a atividade física pode propiciar um aumento da alegria
em homens e mulheres e notaram que questões econômicas, culturais ou
ambientais podem influenciar esta relação entre alegria e atividade física.
Zhang e Chen (2019) realizaram uma revisão sistemática analisando
estudos entre 1980 e 2017 para examinar a relação entre atividade física e
alegria. Todos os estudos observacionais analisados pelos autores verificaram
associações positivas entre atividade física e alegria, sendo que menos de 10
minutos de atividade física por semana ou 1 dia de prática por semana pode
resultar em aumento dos níveis de alegria. Os autores fazem a ressalva de
que, devido ao pequeno número de estudos encontrados nesse período (1142,
porém apenas 23 atenderam aos critérios de inclusão), ainda não é possível
tirar conclusões precisas acerca da relação entre atividade física e alegria,
sendo necessários mais estudos para explorar o mecanismo de como a
atividade física influencia a felicidade, bem como determinar o tempo e o tipo
de atividade física necessário para tal. Ainda nesse âmbito Veenhoven (2008)
analisou 90 estudos para verificar se existe relação entre alegria e longevidade
e encontrou que a alegria não auxilia na longevidade em populações doentes,
porém prediz longevidade em populações saudáveis
Stenseng, Forest e Curran (2015) afirmaram que atletas mais felizes em
suas modalidades permanecem por mais tempo, bem como tem maior
frequência na prática esportiva. Dessa maneira, esses autores levantaram a
hipótese de que a paixão harmoniosa prediz positivamente emoções positivas
por meio de um pertencimento mais elevado. Para isso, investigaram 402
participantes de esportes recreativos adultos e encontraram resultados que
confirmaram a hipótese. Desta forma, a prática esportiva harmoniosa pode
trazer diversos benefícios aos praticantes, visto que atletas com paixão
harmoniosa têm maior probabilidade de se sentir socialmente conectados no
esporte, por meio do pertencimento e, portanto, exibem níveis mais altos de
emoções positivas.
Weinberg e Gould (2017) relatam que indivíduos que realizam exercício
físico sentem melhorias nas dimensões psicológica, emocional e espiritual. Tal

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Edições Hipóteses, 2020.
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fato é mais evidente entre corredores, particularmente os de longa distância,
tanto que este fenômeno é denominado barato do corredor e, além de propiciar
ao indivíduo uma maior consciência mental, também está ligado intimamente
com a sensação de alegria. Entretanto, Stoll (2019) alerta para as poucas
evidências de pesquisa acerca deste fenômeno, visto que é algo que ocorre de
maneira inesperada e durante a prática. Assim, apesar de ser similar em
algumas questões com o flow, o barato do corredor possui características
diferentes e ainda precisa ser mais estudado.
Por outro lado, Stoll (2019) afirma haver uma correlação entre alegria e a
experiência de flow. Entretanto Stoll (2019) ressalta que o indivíduo no estado
de flow não tem essa percepção de alegria no momento, porém,
posteriormente isso pode levar o indivíduo a sentir alegria, visto que o flow é
uma sensação gratificante.
Assim, nota-se que a atividade física e alegria estão relacionadas, sendo
que a atividade física pode propiciar aumento nos níveis de alegria e isso pode
fazer com que os indivíduos permaneçam mais tempo em uma determinada
atividade. Tendo em vista que a atividade física não é a única ferramenta que
propicia alterações nos níveis de alegria, no próximo tópico será abordado
como é a relação entre a alegria e o momento esportivo.

Momento esportivo
Dentro do contexto esportivo as oscilações de emoções são bastante
frequentes e isso se deve, em grande medida, por seu dinamismo e sua grande
capacidade de estimular estados emocionais de forma intensa. Dentro deste
tema, temos inúmeros exemplos de situações em que os atletas são
beneficiados ou prejudicados em função desta oscilação, o que gera
curiosidade para entender de que forma, por que isso acontece e como
organizar essas situações de forma favorável ao atleta.
Um tipo particular de situação que ilustra este tipo de dinâmica é o
momento esportivo. Trata-se de uma força positiva ou negativa que muda a
forma de como o evento é vivenciado e quando essa situação acontece se
sente que tudo conspira a favor ou contra a intenção do indivíduo. Em geral,
deseja-se que ocorra o momento esportivo positivo, pois geralmente esse

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Edições Hipóteses, 2020.
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evento culminará em um bom desempenho, entretanto também é possível
identificar situações em que o momento esportivo negativo pode ser decisivo
para os resultados (BRIKI et al., 2014).
Este momento esportivo pode ser compreendido a partir de duas
perspectivas: do atleta que o vivencia e do torcedor que acompanha esse
momento. Existem algumas diferenças sobre como cada um desses grupos
enxerga e reage a estes momentos e isso influencia na avaliação final do
evento. Em seu estudo, Briki et al. (2014) avaliaram como os torcedores
percebiam os momentos esportivos positivos e negativos em uma competição
simulada de ciclismo. Esperava-se que, assim como aconteceu com os atletas
no estudo de Briki et al. (2013), os momentos negativos seriam mais fáceis de
estimular e mais difíceis de reverter. Entretanto, o que se observou foi que os
momentos positivos foram mais intensos e mais fáceis de serem estimulados.
Segundo Briki et al. (2013) e Briki et al. (2014), essa diferença pode ser
explicada pela avaliação que cada grupo faz dos eventos e pelo histórico que
possuem. Torcedores costumam alimentar uma visão mais esperançosa dos
acontecimentos, esperando sempre que o melhor dos cenários aconteça,
apesar das adversidades. Por outro lado, os atletas tendem a temer que não
sejam capazes de superar seu adversário, como já pode ter acontecido
anteriormente, o que reforça o momento esportivo negativo e dificulta que a
situação seja revertida.
Embora os momentos esportivos negativos tenham um impacto grande
sobre os atletas, é possível treinar aspectos que favorecerão o momento
esportivo positivo, mas antes disso é importante ter em mente o que é
necessário para que isso aconteça. Para isso, vamos utilizar como exemplo o
estado de flow, que é associado a um desempenho superior ou até mesmo o
pico de desempenho dos atletas. Este evento ocorre quando o indivíduo é
desafiado até próximo de seus limites e, ainda assim, percebe que consegue
suprir essas demandas satisfatoriamente. Em geral, os indivíduos que
vivenciam o estado de flow relatam um estado psicológico de concentração
intensa, capacidade de realizar suas ações de forma automática e forte senso
de controle. A partir das características mencionadas é possível relacionar o

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momento esportivo positivo com o estado de flow (JACKMAN; SWANN;
CRUST, 2016).
Ainda que não seja possível treinar essas situações em específico,
podemos trabalhar elementos que estão presentes nas dimensões do estado
de flow e que podem favorecer que ele e o momento esportivo positivo
aconteçam. É possível treinar a capacidade de concentração e imersão de um
atleta, tornar seus fundamentos esportivos automáticos e instruí-lo bem o
suficiente para que ele saiba como lidar com as diferentes adversidades que
possam surgir, especialmente durante competições. Sem a devida atenção
prévia para estes elementos, atingir o momento esportivo positivo e o estado
de flow ficam à mercê do acaso.
Além do desempenho esportivo satisfatório, ou em função dele, a alegria
é frequentemente mencionada por atletas que vivenciam o estado de flow e o
momento esportivo positivo, o que a coloca em uma posição de emoção pós
desempenho. Isso significa que, embora importante, não é uma emoção que
afeta diretamente o desempenho de uma forma prévia, tal como a raiva,
tristeza ou ansiedade, e sua incidência tende a ser maior após o evento.
Embora seja uma emoção que proporciona altos níveis de satisfação para os
indivíduos, a alegria pode não agir de forma a impulsiona-lo a um objetivo,
especialmente se este não for de grande relevância para si mesmo, e por isso
compreende-se que é uma emoção vivenciada após um bom desempenho
(WOODMAN et al., 2009).
De forma geral, seja por meio de bons desempenhos em competições
ou em conquistas de pequenos objetivos durante a atividade física, a alegria
apresenta-se como um resultado dessas ações. Entretanto, é importante estar
atento ao fato de que a alegria também pode ser uma emoção vivenciada
durante a prática esportiva simplesmente pelo prazer em fazer parte daquele
grupo ou realizar uma atividade que agrada. Deste modo, torna-se relevante
estar atento para o fato de que é importante estabelecer objetivos e alcançar
resultados, mas o processo para chegar até esse ponto também pode ser
prazeroso e mais saudável. Para tanto, existem meios para orientar atletas e
praticantes sobre como lidar com adversidades e eles serão descritos a seguir.

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Edições Hipóteses, 2020.
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Regulação Emocional no Esporte
Recentemente, a atenção aos cuidados referentes a saúde mental tem
crescido em todas as áreas de atuação profissional, para Verardi et al. (2012),
neste âmbito são necessárias diferentes abordagens que visem proporcionar
condições adequadas de trabalho, vislumbrando aumento de produtividade,
qualidade de vida e saúde. Partindo deste pressuposto, ressalta-se o esporte
profissional como uma atividade de permanente busca da excelência física,
técnica, tática e psicológica e, ao mesmo tempo, com a frequente preocupação
e responsabilidade em evitar ou controlar complicações que retardem ou
interrompam a vida profissional do atleta.
Para Monteiro e Scalon (2008), o treinamento psicológico vem
alcançando cada vez mais atenção na área esportiva, seja para atuar como
mediador de fatores psicológicos, quanto para aperfeiçoar habilidades físicas
de atletas. Treinadores e psicólogos trazem evidências científicas que vão além
do treinamento físico, demonstrando que o treinamento psicológico também é
imprescindível para a obtenção de resultados positivos no esporte.
Bueno e Marchi Jr. (2020) ao estudarem emoções no cenário esportivo,
consideram que estas podem estar inseridas em diversos momentos inerentes
à dinâmica da modalidade esportiva, por exemplo: ao celebrar uma vitória ou
desanimar em uma derrota, raiva e medo do adversário, sentir-se nervoso ao
realizar uma ação que exige tensão, como em um pênalti ou na tensão que
antecede uma competição. Situação semelhante também pode ser observada
para quem assiste o esporte e acompanha o atleta.
Segundo Sanchez e Días (2008), é importante que o atleta permita-se
contrabalancear os sentimentos, além de desenvolver habilidade de solucionar
impasses, de modo a atuar frente às adversidades naturais da prática
esportiva. Neste sentido, Filgueiras e Hall (2017) enfatizam que não há
dissociação entre parâmetros físicos e emocionais no âmbito do esporte, uma
vez que estes influenciam diretamente nos efeitos cognitivos e motivacionais
imprescindíveis para o sucesso no rendimento esportivo.
Para preservar equilíbrio emocional, outro aspecto importante trata-se da
compreensão do ambiente e realidade nas quais os atletas estão inseridos,
avaliando que situações os deixam vulneráveis ao descontrole emocional. De

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acordo com Ribeiro et al. (2018) a busca por padrões impostos pela sociedade,
tais como um corpo perfeito e uma exaustiva concorrência, pode desencadear
danos psicológicos concernentes ao estresse, ansiedade e transtornos
alimentares. Portanto, é essencial que o atleta esteja inserido em terapêuticas
que promovam um olhar holístico, sobretudo observando o contexto cultural e
social no qual está inserido.
O atleta contemporâneo necessita contemplar a sua preparação para o
esporte preenchendo aspectos que envolvem o desenvolvimento técnico,
tático, físico e psicológico, no qual, neste último, o trabalho deve ser baseado
no processo de regulação emocional. Por meio da regulação emocional o atleta
estará melhor preparado para tomada de decisões de modo a alcançar e
potencializar o estabelecimento de metas, a identificação de pensamentos que
atuam como gatilhos para sentimentos e comportamentos inadequados, além
de contribuir para a compreensão das necessidades da equipe. O processo de
regulação emocional é enfatizado por Rodrigues e Gondim (2014) como sendo
um processo que consiste em administrar emoções a fim de que o atleta
corresponda aos anseios esportivos, com capacidade para controlar a emoção
quanto aos seguintes aspectos: período e severidade. Dessa forma, é possível
acompanhar o desdobramento das dificuldades, evitando sofrimentos com o
intuito de preservar o seu bem-estar.
Uma das técnicas de regulação emocional utilizada é a mentalização,
considerada por Trichês e Takase (2010) como um recurso para concentração,
desenvolvimento da autoconfiança, no controle das respostas emocionais
capazes de obter mecanismos de melhora de comportamento. A percepção
para identificar oscilações nas emoções é de fundamental importância para
transformar um comportamento indesejado. Segundo Weinberg e Gould
(2017), essa técnica é uma forma de simulação, semelhante a uma experiência
sensorial real, porém toda a experiência ocorre na mente.
Na conjuntura esportiva, a capacidade de manejar as emoções acontece
em diversas situações de treinos e jogos. Os atletas são constantemente
submetidos à estímulos distintos que podem torná-los mais suscetíveis a um
desequilíbrio de ordem psicológica. A regulação emocional proporcionará uma
retomada de condição favorável requerida para o atleta, e sobretudo, para uma

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resposta emocional positiva, esta possibilitaria um aumento no estímulo e
vontade de participação contínua em disputas, oportunizando lances de alegria
e bem-estar (SANTOS et al., 2013).

Considerações Finais
Notório perceber que a prática esportiva está sempre contextualizada e
isso já oferece pistas do encaminhamento a que ela está sendo levada e a que
ela leva a todos os seus envolvidos. Trata-se de um movimento concêntrico e
que ao mesmo tempo extrapola os limites contextuais do templo esportivo onde
está sendo arquitetado, deixando explícito que trará consequências boas e
más, dependendo dos olhares dos participantes.
Embora a alegria seja baseada nas percepções subjetivas que cada
membro do grupo tem de sua própria situação, no olhar do conjunto ela
também se manifesta de modo a amealhar questões comuns que reflitam nesta
postura alegre e de contentamento. O objetivo e motivação perseguidos pela
equipe oferecem o clima final da ação esportiva; a confiabilidade, a segurança
e os relacionamentos pessoais exercem grande impacto na alegria individual e
do grupo. São consequentes.
Analisar a alegria no evento esportivo remete a analisar a alegria na
composição da vida, fora do contexto esportivo; o autoconhecimento e o
momento decisório adequado são elementos de grande alegria dos
participantes daquele momento esportivo, por consequência comporão elos de
vivacidade no grupo e no contexto onde este grupo se apresenta e se
manifesta, por meio de suas habilidades motoras e suas táticas aprimoradas.
De maneira contagiante, a alegria surge como uma onda que arrebata a todos
os que participam daquele contexto, mesmo sem ter as mesmas habilidades
sociais e motoras, como é o caso dos fãs e espectadores.
É comum a informação midiática de que a equipe entrou leve e
comprometida, chegando a emitir a ideia de que está alegre e compenetrada
diante de um forte adversário. De certa maneira, sobra a impressão que estar
ou ser alegre não combina com a seriedade do ofício; isso é uma dicotomia a
ser firmemente analisada. Visto está que ser alegre é um estado de leveza
íntima e pessoal, que pode ser percebida entre os atletas engajados e

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responsáveis por suas obrigações, transbordando, no grupo, sintonizando-o
aos demais elementos do microssistema esportivo.
Ao pensarmos no desenvolvimento do gosto e do hábito da prática do
esporte, acompanhado do desenvolvimento de uma atitude positiva de
participação e persistência, possibilita a orientação adequada das expectativas,
sem pensar que cada ação implica num conjunto de questões que remetam às
construções individuais e sociais, dependentes entre si. Ecobiologicamente
observando, a alegria é captada e canalizada por e entre todos os sistemas
encadeados na prática do esporte ou do movimento humano sistematizado.
Viver a potencialidade humana possibilita transitar por entre as
características da personalidade do participante, as características dos
membros do grupo e as características do contexto esportivo (ou outro) onde
as atividades acontecem. Este equilíbrio afetivo favorece a estabilidade do
ambiente e de todo o contexto, de modo a garantir um apoio entre os sistemas
e bem-estar na convivência dos envolvidos, possibilitando um maior
engajamento nas atividades físicas e uma possibilidade de maximizar o
rendimento esportivo.

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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E ATLETAS DE GINÁSTICA AERÓBICA DO


ENSINO FUNDAMENTAL

Aline Lima Dierschnabel


Alisson de Oliveira Santos
Patrícia Silva Modesto de Oliveira

1 INTRODUÇÃO

O contato inicial com as emoções de modo a nomeá-las e identificá-las,


não é fácil e claro como se imagina; em especial quando este contato com algo
total ou parcialmente desconhecido é realizado pela primeira vez. Considerar
os primeiros anos de vida como momentos importantes da formação humana,
convoca lançar o olhar sobre as emoções experimentadas nessa fase,
concomitantemente, com a descoberta do mundo das modalidades
desportivas.

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Edições Hipóteses, 2020.
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Por essa razão, o presente capítulo trata de uma revisão de literatura e
objetiva apresentar reflexões dos autores sobre o contato inicial de estudantes
do ensino fundamental dois com as emoções na prática de ginástica aeróbica.
Realizando uma mescla entre o que traz a literatura com a experiência dos
autores com estudantes nesse primeiro contato com o esporte. Possibilitar que
haja um espaço para debater tal temática é de fundamental importância, tendo
em vista a pouca produção acadêmica sobre o tema, o que torna este trabalho
relevante e necessário no meio científico.
A necessidade em abordar e trabalhar o tema emoções, principalmente,
no contato inicial dentro da formação humana, e, nas práticas desportivas,
contribui para o manejo e administração das mesmas, pois, essa lida é de
suma importância para o desenvolvimento e desempenho dos estudantes
dentro de uma determinada modalidade. Ressalta-se a importância de
evidenciar tanto o contato inicial com as emoções, como seus desdobramentos
nas práticas desportivas, tendo em vista que é no ambiente da prática que
pontos importantes que constituem sua autoimagem estarão em
desenvolvimento.

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Edições Hipóteses, 2020.
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2 DESENVOLVIMENTO
2.1 ENSINO FUNDAMENTAL
Após passar por um processo de modificação, o atual ensino
fundamental tem por objetivo
Assegurar a todas as crianças um tempo mais longo no convívio
escolar, mais oportunidades de aprender e um ensino de qualidade.
Essa é a proposta do MEC com a implantação do ensino fundamental
de nove anos. A intenção é fazer com que aos seis anos de idade a
criança esteja no primeiro ano do ensino fundamental e termine esta
etapa de escolarização aos 14 anos (MEC, 2007).

Apesar de o ensino fundamental ter passado a ocorrer em um período


maior nas escolas, com o passar do tempo é cada vez mais perceptível a
migração destes alunos, principalmente nos primeiros anos, das aulas de
educação física para a realização de alguma modalidade esportiva. Essa
migração contribui cada vez mais para que essas crianças iniciem mais cedo o
gosto pelo esporte. As aulas de educação física, assim como as modalidades,
têm como proposta proporcionar aos alunos a interação visando e trabalhando
o lado social, emocional e psicomotor, ampliando novos conhecimentos de uma
forma lúdica.
Ainda sobre o ensino fundamental, de acordo com a BNCC, Base
Nacional Comum Curricular
O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais
longa da Educação Básica, atendendo estudantes entre 6 e 14 anos.
Há, portanto, crianças e adolescentes que, ao longo desse período,
passam por uma série de mudanças relacionadas a aspectos físicos,
cognitivos, afetivos, sociais, emocionais, entre outros. (MEC, 2010)

2.2 EMOÇÕES E ESPORTE


O esporte está presente na vida das pessoas desde a antiguidade, e
com o passar do tempo vem se modernizando, assim como vem surgindo
novas modalidades cada vez mais desafiadoras, e com elas novos atletas cada
vez mais dispostos a se superar em algo novo experimentando novas
sensações e emoções. Para lidar com todas essas novas sensações e
emoções, os atletas podem contar com a ajuda de áreas diversas, dentre elas
a Psicologia do Esporte que de acordo com Rubio e Samuski (2009) apud
Trevelin e Alves (2019).

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Edições Hipóteses, 2020.
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[...] é uma subárea que compõe as ciências do esporte, juntamente
com outras áreas, como medicina, biomecânica, história, sociologia,
pedagogia e filosofia do esporte. O conjunto dessas áreas, demonstra
a importância da interdisciplinaridade, pois relacionam-se de forma a
cuidar da saúde e da qualidade de vida de quem pratica esporte,
promovendo o bem-estar do atleta.

Quando pensamos em emoções, logo nos deparamos com um turbilhão


de informações sobre as mesmas, de maneira que a compreensão sobre elas
acabe por nublar-se. As emoções são expressões da natureza humana que, a
partir de uma interpretação da realidade em que o indivíduo se insere, reage
com o interesse de adaptar-se ao contexto ambiental e garantir sua
integridade. Ou seja, as emoções são respostas adaptativas ao cotidiano, que
resultam num comportamento produto final das reações neuroquímicas
(GOLEMAN, 2012).
Ainda sobre as emoções, podemos falar que as mesmas são
provocadas por um estímulo que geram respostas psíquicas e físicas
subjetivas a ele, por isso ser um processo tão complexo. Àquelas são
classificadas em primárias e secundárias, sendo as primárias medo, raiva,
tristeza e alegria e as secundárias são o resultado dos processos de
aprendizagem e socialização, tais como: ciúmes, inveja e vergonha.
(TREVELIN e ALVES, 2019, p. 548)
Aproximar-se das emoções é uma tarefa que convoca a capacidade de
poder identificá-las e nomeá-las de modo producente. Pensar o contato inicial
de estudantes do ensino fundamental com as emoções, na prática das
modalidades desportivas dentro da disciplina de educação física, é convite a
pensar no paralelo entre o manejo produtivo das mesmas, e, o interesse por
continuar a exercê-la com exercício de interesse pessoal.
Ter habilidade e/ou ferramentas para lidar com as emoções no dia a dia
é pensar em uma capacidade específica de maneja, ou seja, uma determinada
inteligência. Sobre esse aspecto humano, como aponta a literatura, não
devemos compreendê-las com uma visão estática e linear, muito menos com a
concepção de meritocracia de alcance de níveis elevados em uma determinada
solução.
Antunes (2012) apresenta em suas reflexões sobre o assunto, que
inteligência nada mais é que a capacidade “pela qual conseguimos penetrar na

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compreensão das coisas e escolher o melhor caminho” (ANTUNES, 2012, p.
11), ou seja, as inteligências são capacidades de escolher, dentre as
possibilidades, respostas comportamentais que melhor se adaptem ao
contexto. Atrela-se a esta concepção o entendimento de que, não há uma
inteligência geral, a ser alcançada, mas sim um fluxo de informações,
habilidades e experiência que rumam para a construção de uma resposta à
uma problemática, em sua maioria, específica.
Pensar uma Inteligência Emocional é aproximar-se das emoções com o
interesse de construir a capacidade de poder identificá-las e nomeá-las de
modo producente. Pensar o contato (inicial) de estudantes do ensino
fundamental com as emoções, na prática de esportes em especial na ginástica
aeróbia, é convite a pensar no paralelo entre o manejo produtivo das mesmas,
principalmente no que diz respeito à construção de uma compreensão pessoal,
com base nas vivências emocionais.
Observando o desempenho das atletas em momentos de treinos e
apresentações, foi possível notar que as atletas experimentam um estado de
estranhamento em relação às emoções vividas durante a prática do esporte
que as paralisam a partir de não saber. Há desconexão entre a emoção
vivenciada e a identificação da mesma, como possibilidade de manejo para
uma melhor experiência com a prática desportiva.
O primado para a construção desse manejo está na captura perceptiva
das emoções, identificar o início, manutenção e cessação; pois, como afirma
Santos (2007, p.177) “as emoções consistem em reações automáticas”.
Considerando as emoções como um fluxo de informações, decorrentes de uma
interpretação do meio ambiente, na qual tomar consciência da mesma, auxilia
na integração – e construção – de mecanismo mediadores entre as emoções e
suas expressões (SANTOS, 2007).
A possibilidade de conectar a compreensão emocional com a prática da
ginástica aeróbica, é um ponto fundamental a ser aprofundado como
oportunidade de ampliar o leque funcional do aprendizado. Além da função
adaptativa, as emoções também possuem uma função relacional, que permite
a constituição do sentimento de pertença em relação à aceitação dos pares aos
comportamentos emocionais.

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Concomitantemente ao desenvolvimento humano as emoções vão
dando-se numa trama complexa e de configuração peculiar. A potência
existente nas emoções é muito bem representada na infância, como ilustra
Oliveira e Rego (2003) ao citar Vygotstky:
O medo e a ira de um cão são mais fortes e expressivos que a ira de
[ser humano] selvagem; esses mesmos sentimentos são mais
impulsivos em um selvagem que em uma criança; e, na criança são
mais fortes que no adulto.

A força que as emoções têm na vida das pessoas, pode ser transcrito
em quanta energia cinética é expressa nos comportamentos emocionados.
Pensar as emoções como parte da composição humana, é navegar contra a
corrente do pensamento dicotômico ventilado por Descartes, que traz a cisão
entre mente e corpo, ao postular cogito ergo sum1. As animalidades presentes
nas compreensões sobre as emoções estão bem delimitadas e fincadas nas
compreensões revolucionárias de Darwin e dos estudos que o sucederam
sobre o primado das emoções. Em contrapartida, essas mesmas raízes,
acabam por sedimentar a compreensão de modo dicotômico e cindido, o que
auxilia na fragmentação da análise sobre as emoções.
Com o desenvolvimento de todas as pessoas, em especial o período
inicial da vida, naturalmente há uma transformação da relação com as
emoções, saindo de uma vertente mais visceral para o interpretativo ambiental.
Novos significados e significantes vão sendo apresentados e constituídos no
processo de descoberta de mundo e construção pessoal (ARANTES, 2003).
Conforme esse processo de transformação, a linguagem tem papel
fundamental na vida emocional, por apresentar categorias aos seres viventes,
categoria de definições que auxilia na nomeação dos conteúdos vividos e nas
experiências de vida (IBID, 2003). A definição dos conteúdos, a partir de
categorias, com base nas experiências promove o movimento da trama de
constituição das emoções mais complexas, resultante da combinação de
interpretações acumuladas nas diversas relações experimentadas ao longo da
vida.
Não obstante, é de suma importância considerar os ambientes cultural e
social (micro, meso e macro) na construção das emoções e suas

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Penso logo existo.

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interpretações, destacado que a vivencia de cada pessoa e perpassada por
questões que não permite homogeneizar o processo. Assim, “o ser humano
aprende, por meio do legado de sua cultura e da interação com outros
humanos, a agir, a pensar a falar e também a sentir” (ARANTES, 2003, p.23); a
cultura e sociedade são grandes instrutores no processo de intermediador das
emoções. O trato que se tem com as emoções deriva de uma proximidade com
a linguagem, no que diz respeito ao ato consciente de percebê-la, o que é
diretamente influenciado pela matriz cultural do indivíduo, pois, “dispor de
palavras para dar nome às emoções nos permite identificá-las, controlá-las,
compartilhá-las com os outros” (ARANTES, 2003, p.29).
Voltar o olhar para o contexto social é pode evidenciar a velocidade
desenfreada que é ditada como a mais adequada. Santos e Maux (2019) que
comentam de modo especial este aspecto do momento pós-moderno, apontam
que

A sociedade contemporânea imprime um ritmo ultra acelerado, com


valorização da técnica e dos instrumentos que a favoreçam. Desta
forma, estabelece uma tessitura compreensiva que é internalizada de
maneira muito intensa, que coloca o ser humano como senhor e
empregado de si mesmo. Este cenário coloca em evidência uma nova
necessidade de configuração presente na sociedade contemporânea,
que é o desempenho. A busca por desempenho estabelece um novo
patamar para o homem da contemporaneidade: não basta produzir,
há de ser o melhor no que está sendo feito. Um alto desempenho é
solicitado, interna e externamente (SANTOS e MAUX, 2019, p.62)

Atrelando esse raciocínio, ao debate sobre inteligência emocional,


propor o desaceleramento como possibilidade e criar o espaço para
manifestação das emoções e afetos vivenciados no cotidiano são perceber
esse indivíduo que se sobrecarrega com uma cobrança auto infligida,
esmagando o fluxo de espontaneidade da experiência ao ponto de provocar um
infarto psíquico (HAN, 2017) como uma pessoa cansada correndo e dopada.
As formas como as relações com o subjetivo acontecem na sociedade,
na atual modernidade, quiçá pós-modernidade, não consegue estabelecer-se
como tempo de qualidade, por exemplo. A busca desenfreada por potência e
visibilidade faz com que a vivência subjetiva seja desacreditada de valor e
importância. Os vários tempos que perpassam a vivência cotidiana, não se
voltam para o que não é objetivo, fazendo com que o estranhamento seja uma

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possibilidade mais concreta quando nos deparamos com as emoções dentro
das ações dia a dia.
Dispor-se ao movimento que as situações subjetivas ocorridas nas
práticas de esporte geram, é aproximar-se da compreensão que todas as
partes componentes da vivência humana, estarão atuando de modo mais ou
menos mobilização e satisfação, em relação ao que é vivido. De maneira que
as descobertas feitas durante o processo de praticar o esporte, será entendido
como uma vivência emocionada que desencadeia emoções, pensamentos e
sentimentos. Encontrar sua maneira de poder lidar com as situações e poder
encontrar-se enquanto possibilidade de ser melhor consigo mesmo, não
significa que não estar nesse estado é o contrário e se torna culpado por isso.
Entender que é um processo de aproximação do vivido com as reações
subjetivas é um momento de dar novo sentido, assim, não cabe o peso e a
responsabilidade unilateral, de modo a gerar culpa.
Pensar essa problemática é refletir em como as atletas constroem a
forma de perceberem suas emoções e de como, por consequência, suas
habilidades e competências são interpretadas no dia a dia. Nessa perspectiva,
torna-se indispensável à reflexão sobre a inteligência emocional, partindo do
pressuposto do desenvolvimento de uma lida com as emoções que favorece o
descobrimento pessoal.
Um aspecto que se faz importante, diz respeito ao acolhimento das
emoções em sua constituição pura, ou seja, em seu caráter de experiência; de
modo a trazer à tona a reflexão de que as emoções negativas podem ser
vividas sem demérito, ou, diminuição de sua constituição como pessoa. O que
permite instalar uma forma de pensar que não prioriza a resolutividade de uma
situação problema que envolva emoção (a emoção não é uma problemática), e
sim, uma oportunidade de conhecer-se de modo equânime.
Observar os estados emocionais, como oportunidade de aprendizagem
reconfigura a vivência para uma melhor aceitação de si, auxiliando na
nomeação das mesmas e permitindo o desempenho mais produtivo, em
conjunto com o desenvolvimento de conhecimentos sobre si mesmo.
Poder criar um ambiente de desenvolvimento de proximidade com as
emoções é pensar em um lugar para elas, de maneira a construir uma

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oportunidade de conhecimento de si, que por consequência auxilia a conhecer
o outro e dessa forma impacta as condições de vida, bem-estar e desempenho
nas atividades desportivas.
Pensar o mundo subjetivo como um trampolim propulsor de benefícios à
vida cotidiana contribui para o entendimento que os modos de ver o mundo,
como também, de viciá-los, diz de uma relação que se estabelece entre as
emoções e sentimentos, com a prática em si de esportes. Ressignificar é
reconstruir a ponte que liga esses dois pontos de modo que possam ser
compreendidos como uma unidade indivisível, assim, merecedora de atenção e
que precisa de cuidados e ações que possam valorizar sua existência.
Gerando afinidade, deste modo, favorecendo as habilidades e competências
importantes para um traquejo emocional.
Favorecer uma atmosfera que amplie o acolhimento das emoções e
sentimentos para que seja possível o estabelecimento do entendimento sobre
elas, permitindo que a essência da vivência humana surja como parte natural
do processo vivido na prática de esportes. Desta forma a relação se estabelece
de maneira fluida desvelando o que se permitirá produzir melhoras nas
relações com os afetos. Diminui assim os estranhamentos decorrentes das
vivências do cotidiano, dentro do contexto de vida esportiva.
O movimento que acontece desses pontos de desencontro entre as
emoções e as práticas de esporte nos permite refletir sobre como estamos
lidando com o aspecto subjetivo da vida cotidiana. Estabelecendo a reflexão de
que o movimento moderno é forte e acaba por delimitar uma nova zona de
entendimento sobre o assunto, de maneira que as emoções ficam fora desse
novo limite.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto pode-se perceber que a qualidade de vida e o bem-
estar dos atletas são de suma importância para um desenvolvimento físico e
psíquico saudável no processo de desenvolvimento enquanto atleta dentro da
modalidade escolhida. Identificar, entender e lidar com as emoções é uma das
principais formas para que esse desenvolvimento seja trabalhado de forma a

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contribuir, positivamente, nas diversas situações que o atleta passará no
decorrer da sua vida esportiva.
Tendo em vista as possíveis apresentações e competições que os
atletas vivenciam somado a um período de descobertas que não se resumem
somente à sua vida acadêmica e/ou esportiva, administrar as questões
emocionais e trabalhar a inteligência emocional diante de situações contrárias
a que se esperam, acabam por ser uma vantagem não somente quando uma
determinada situação acontece, mas também acaba por polir o atleta para
situações futuras, sejam elas situações de vitória ou de derrota.
Com isso, criar espaços para o dialogo sobre as emoções e vivências
decorrentes das atividades como atleta, possibilita acolher o aspecto subjetivo
de cada pessoa que não se exclui pelo fato de ser atleta, ou, que não é
importante a subjetividade para o desenvolvimento de suas atividades.
O interesse não foi esgotar as possibilidades de reflexão sobre essa
corelação entre esporte e emoções, mas sim, provocar a comunidade
acadêmica a ser voltar para essa população, com o interesse de desenvolver
reflexões e poder gerar a oferta de posturas e acolhimentos que possam
auxiliar na criação de estados de melhoras e bem-estar.

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Edições Hipóteses, 2020.
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AS EMOÇÕES E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESEMPENHO DA


PRÁTICA ESPORTIVA

Felipe Dantas Florêncio


Raphael Moura Rolim
Rosália Duarte Bandeira

A psicologia do esporte está integrada a diversas áreas de


conhecimento, das atividades práticas programadas associadas à
compreensão, a explicação e a influência de comportamentos de indivíduos e
grupos que estejam envolvidos na prática esportiva, da alta competição ao
esporte recreativo, exercício físico e outras atividades (VIEIRA et al, 2010).
É compreensível que a mesma pode ser divulgada explicitando os
benefícios para os que estão inseridos no contexto esportivo e em conjunto
com outros profissionais trabalhar questões relacionadas a tomada de
decisões, hábitos alimentares, relacionamento, comportamento e controle
emocional (FLÔRES, 2018).
Percebe-se que nem todas as pessoas sabem a importância das
emoções para as vivências esportivas na sua prática. Desse modo, valem
ressaltar que durante a prática esportiva as emoções se fazem presentes, em
algumas situações elas podem impulsionar a pessoa a alcançar seu objetivo ou
interferir na conclusão do mesmo. Assim, ao praticar um esporte a pessoa
precisa tomar consciência das suas emoções (MACHADO, FACCI, BARROCO,
2011).
Encontram-se muitas nomenclaturas “emoções básicas” para distinguir
diversas classes desse fenômeno, mas segundo o autor não se define ainda

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quantas são e quais seriam essas emoções devido sua complexidade nos
estudos e nas compreensões como podemos observar. A maioria dos autores
costuma citar: alegria, medo, surpresa, tristeza, nojo e raiva, as mesmas sendo
denominadas de emoções básicas. "Por esta razão, deve salientar que, quando
se diz que uma emoção é básica, não estar se referindo a um fenômeno único
e isolado, cujas características são exatamente as mesmas" (MIGUEL, 2015
p.159).
Dessa maneira abrimos para a discussão de uma melhor compreensão
sobre as emoções, o seu papel e contribuições na vida do ser humano e as
relações com as práticas esportivas. É imprescindível destacar o papel do
esporte e do exercício físico em nossa cultura, esse fenômeno expõe e coloca
em aberto as nossas emoções e sentimentos, deixando muito claro a sua
magnitude nessas atividades lúdicas e competitivas que proporcionam gastos
de energia, tempo e o trabalho da motricidade corporal. Da mesma forma é
nítido que essas atividades nos proporcionam elementos da nossa vivência e
prática, gerando e transformando as emoções e os sentimentos, que podem se
apresentar como positivas ou negativas, existindo inúmeras como, ansiedade,
medo, agressão, realização, prazer, alegria, dentre outras que estarão
entrelaçados a prática esportiva (GONÇALVES, BELO, 2007).

EMOÇÕES, SUAS RELAÇÕES E DESENVOLVIMENTO AO SER HUMANO

Segundo Miguel (2015, p.153) para entender melhor a definição de


emoção ele traz como uma “condição complexa e momentânea que surge em
experiências de caráter afetivo, provocando alterações em várias áreas do
funcionamento psicológico e fisiológico, preparando o indivíduo para a ação”.

Ampliando o pensamento acerca das emoções e de sua relação com o


ser humano, podemos ver que o homem está relacionado a um meio social e
que o mesmo aprende com ele, dessa forma “As emoções são situadas em
relação à história individual e social, passíveis de transformação e
desenvolvimento; são funções superiores que partilham de componentes
biológico-instintivos e histórico-sociais” (MACHADO, FACCI, BARROCO, 2011,
p. 653).

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É interessante observar as emoções não apenas de modo particular,
mas incorporada ao funcionamento da inteligência e de outras características
como: a motricidade e o meio social. Essa integração é necessária para a
sobrevivência do homem para suas relações pessoais. A emoção é visível,
através das variações ao qual ocorrem na mímica e no semblante facial
(ALEXANDROFF, 2012).
Corroborando com o pensamento sobre a importância das emoções e
suas relações entre mente e corpo, Miguel (2015) enfatiza em sua discussão
que eventos vivenciados pelo sujeito podem ser conscientes e inconscientes, e
que cada um irá realizar sua interpretação do determinado acontecimento
ocorrido, sendo seu contexto histórico o diferencial para a sua compreensão
individual, podemos observar também as impressões subjetivas e afetivas,
como as mudanças corporais e alterações fisiológicas, alteração dos
batimentos cardíacos, aumento da sudorese dilatação das pupilas, entre outros
que são apresentadas individualmente nesse contexto, apresentando
alterações diferentes para cada pessoa perante determinada situação.
Diante de todo contexto sobre o entendimento e as contribuições das
emoções relacionadas ao desenvolvimento, vale ressaltar que para sua
atuação ao ser humano, a emoção é repleta de uma serie de variáveis, como
por exemplo, o que o atleta vai sentir no físico e no psicológico, como interpreta
aquele momento ou situação, a sensação corporal que ele pode expressar, e
seu comportamento motor, apresentando-se difusa e complexa (TRAVELIN,
ALVEZ, 2018).
As reações emocionais são percebidas em ambiente esportivo, e
expressadas tanto pelos atletas quanto pela equipe técnica. São estados
emocionais que podem se tornar riscos e fatores psicológicos negativos, onde
na maioria das vezes são causadas pelas exigências do esporte e
competições, como auto cobrança, pressão, medo, equilíbrio emocional entre
outros. Considera-se que o sujeito inserido nesse contexto, apresenta também
emoções voltadas ao seu cenário, e a depender dos aspectos, essas emoções
podem ser indispensáveis para seu avanço pessoal e rendimento esportivo, por
exemplo, uma pessoa em iniciação esportiva, que apresenta vergonha e
ansiedade poderá ter melhor desempenho com menos pessoas ao seu redor,

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Edições Hipóteses, 2020.
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ou pessoas que tem baixo nível de motivação conseguir melhor execução
realizando atividades em grupo (LAVOURA, MELLO, MACHADO, 2007).
As emoções são reguladores das ações humanas, e por apresentarem
essa particularidade podem influenciar positivamente ou negativamente, é de
suma importância conhecê-las, para que não se chegue a interpretar algumas
delas apenas como negativas, e a partir desse conhecimento, compreender
sua apresentação ao corpo, atrelando assim para um melhor desempenho
(MORAES, OLIVEIRA, 2006).
As pessoas envolvidas nas práticas esportivas desenvolverão suas
emoções dependendo do modo que cada um venha a interpreta-la, nesse
aspecto o esporte auxilia e contribui significativamente para ajudar o sujeito no
controle de suas emoções, sendo assim um suporte terapêutico para a
aprendizagem de suas sensações e afetos. Por exemplo, uma pessoa que não
consegue lidar com a frustração de perder uma partida de futebol, precisa
enfrentar as suas emoções e afetos como a raiva, tristeza, e a própria
frustração, desenvolvendo assim habilidades cognitivas e afetivas para encarar
essas situações que de imediato podem ser negativas, mas que são capazes
de se tornar positivas com o passar do tempo (TRAVELIN, ALVEZ, 2018).
Dessa maneira, a prática esportiva, atividade ou exercício físico se
configura de forma ampla e complexa, se apresentando em contextos
diferentes e suas adversidades. Tanto a atividade física quanto o exercício
físico são caracterizadas pelo movimento do corpo e dos músculos
proporcionando gasto de energia, desde atividades simples, lavar louça,
caminhar, alongamento, ate atividades mais complexas como: corrida;
musculação; dançar e a prática de esportes, o que as diferencia será a
intencionalidade do movimento, atividade física requer um menor gasto de
energia sem levar a exaustão, já o exercício físico precisa ser planejado,
repetitivo, ao qual tem como objetivo um melhor condicionamento físico, uma
melhor aptidão ao corpo, força, flexibilidade, habilidades de adaptação
(ARAÚJO, ARÁUJO, 2000). As emoções sempre estarão presentes, se
configurando em todos os envolvidos na prática da atividade e exercício físico,
no movimento perfeito, em todas as fases do desenvolvimento humano ou na

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ROLIM, R. M. (org.). PSICOLOGIA DO ESPORTE E EMOÇÕES: ASPECTOS ATUAIS. São Paulo:
Edições Hipóteses, 2020.
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prática para uma melhor qualidade e desempenho de alto rendimento. (VIEIRA
et al., 2010).
Diante de alguns entendimentos a cerca da dimensão e da compreensão
sobre as emoções, é interessante perceber o papel da emoção não apenas
como negativo como colocado por alguns autores, mas defender também uma
desmistificação de que a emoção está ligada a doença ou adoecimento, e a
partir dai ter uma nova compreensão e olhar a cerca da “emoção” “Neste
sentido, a emoção desempenha o papel de mediadora, que conecta realidade
imediata e imaginação, e não é só a imaginação que é rica em momentos
emocionais, mas também é o pensamento realista” (MACHADO, FACCI,
BARROCO, 2011, p. 649).
Entrando em outras discussões, Sanches e Dosil Días (2008),
consideram que as intervenções psicológicas no ambiente esportivo não
devem focar tão somente nos aspectos que interferem negativamente no
rendimento, mas buscar promover um ambiente que o individuo se desenvolva,
dando oportunidade para que ele possa se manifestar de forma integral,
sentindo-se confortável e com total liberdade de expressão, onde as relações
entre os membros da equipe sejam saudáveis e que os mesmos sejam vistos
como uma pessoa em sua totalidade, com defeitos e qualidades.
Outro ponto em destaque é ressaltado por Santos (2007) ao colocar que
o aprendizado e a cultura alteram a expressão das emoções, atribuindo novos
sentidos para o homem, ainda afirma sobre duas vertentes importantes, os
processos biológicos e os fatores sócios culturais das emoções voltados ao ser
humano, atribuindo assim um novo olhar para essa compreensão do homem
no ambiente esportivo.
Cada vez mais se nota a dimensão das emoções, e suas
desorganizações psíquicas atreladas ao ser humano, é fundamental no período
contemporâneo as habilidades e conhecimentos sobre suas regulações e
autoconhecimento pessoal como já foi abordado, assim a prática esportiva
poderá ser encarada de uma maneira mais saudável e terapêutica. Outro ponto
relevante é conseguir observar ao final de suas execuções esportivas o que te
faz levar a essa ação, para muitos será o prazer, a recompensa, ou satisfação,
fazendo com que situações de extremas condições e desafios se tornem ao

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final, um autoconhecimento, reflexão e bem estar. (MORAES, OLIVEIRA,
2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É relevante a compreensão sobre a importância das emoções na vida e


no desenvolvimento do ser humano desde o seu nascimento, ao qual fornecem
características individuais e subjetivas para sua sobrevivência e para seus
comportamentos, as emoções serão diferenciais para o nosso entendimento do
mundo e interação no meio social.
Como observado, as emoções são compreendidas de maneira muito
distintas e complexas por toda sua dimensionalidade, suas características entre
emoções e sentimentos, e sobre sua configuração de apresentação além de
sua ligação direta entre mente e corpo, expressões corporais e apresentação
subjetiva, assim é fundamental compreender a existência delas e suas
funcionalidades além de sua relevância para a evolução humana.
Consideramos que as experiências ou as emoções negativas e positivas
são inerentes ao esporte, é quase impossível excluir qualquer uma delas. No
entanto, é importante o atleta e a equipe entenderem que para desfrutar de um
bom rendimento ou desempenho sem ter que passar por esse sofrido
processo, o suporte psicológico é fundamental.
Sendo assim, faz-se necessário olhar para as emoções como um dos
fatores fundamentais e imprescindíveis no meio esportivo, principalmente no
cenário atual de cobranças pela perfeição, seja ela no esporte ou em outros
contextos. A busca por um corpo perfeito pode ser apenas um dos múltiplos
exemplos de cobranças que a sociedade apresenta e impõe no cotidiano e na
vida das pessoas, fazendo com que automaticamente, venha a interferir na
mudança e no comportamento emocional dos seres humanos.
A evidência que é percebida sobre as emoções é algo que precisa ser
falado para a sua compreensão, assim como também a psicologia esportiva
como um meio para trabalhar e auxiliar o atleta a lidar com os sentimentos e
emoções de forma correta, o mais cedo possível, pois, como citado no texto, as
emoções já se apresentam desde seu nascimento. Esse suporte proporcionará

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um bom desenvolvimento das habilidades psicológicas, estendendo-se as
questões de coesão grupal, concentração, motivação, ativação, assertividade,
comunicação efetiva, auto eficácia entre outras que são fundamentais para os
praticantes de esportes e exercícios físicos.
A melhor compreensão individual de suas emoções, o trabalho
adequado e novos estudos acerca das emoções poderão trazer benefícios para
o desenvolvimento e entendimento das práticas esportivas, fazendo com que
os atletas e praticantes de exercícios físicos desfrutem de uma boa qualidade
de vida social e esportiva.

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sujeito. Constr. psicop., São Paulo, v. 20, n. 20, p. 35-56, 2012. Disponível
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Edições Hipóteses, 2020.
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SOBRE O ORGANIZADOR

Raphael Moura Rolim, Prof. Me.

 Bacharel em Psicologia pela UNIFACEX


 Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela UNESP – Rio
Claro/SP
 Especialista em Psicologia do Esporte (UNINTER)
 Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (UFRN)
 Coordenador do curso de graduação em Psicologia pela Faculdade
Maurício de Nassau – Natal/RN
 Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do
Esporte de Natal/RN (LEPPEN)

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