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Dr.

Jorge Facure

MUDANÇA DE VIDA
MUDANÇA DE RUMO

1ª Edição

Campinas - SP
Elo3 Digital Criação e Produção Gráfica
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Angélica Ilacqua CRB-8/7057)

Facure, Jorge
Mudança de vida : mudança de rumo / Jorge Facure. –
Campinas, SP : Elo3 Digital, 2017.
92 p.

ISBN 978-85-68488-06-5

1. Câncer 2. Espiritualidade 3. Mudança de vida


4. Terapia de vidas passadas I. Título

17-0965 CDD 158.1

Índices para Catálogo Sistemático:

1. Autoajuda : Espiritualidade

© Copyright by José Jorge Facure.

Projeto Gráfico e Diagramação


Elo3 Digital – Criação e Produção Gráfica

Capa
Elaine Aparecida de Oliveira

contato com o autor:


jfacure@terra.com.br
jj.facure@gmail.com
http://jorgefacure.blogspot.com.br/

Elo3 Digital – Criação e Produção Gráfica


contato@elo3digital.com.br
TEL.: (19) 3381-6814 | (19) 9 9692-3673

2017
Impresso no Brasil
Dedicatória

À minha mulher Elizabeth


Às minhas filhas:
Simone, Adriana e Luciana
Aos meus netos:
Antônio Augusto, Pedro, Matheus,
Vinicius, Rafael, Gustavo e Tiago
Índice
Prefácio...............................................................09
O tratamento (o sobrevivente).........................11
A espiritualidade...............................................15
Análise da ocorrência do câncer......................31
Mudança de vida...............................................35
Controle do pensamento..................................45
Sofrimento causado pelas doenças
e desemprego.....................................................51
Casos e contos....................................................55
Maria boneca......................................................57
Minha mãe..........................................................61
Sofrimento das crianças! Ou sofrimento
dos pais?.............................................................63
Regressão: terapia de vidas passadas.............69
A questão da morte...........................................79
Bendito câncer? Elevação do pensamento!....83
Última página....................................................87
Prefácio

Vejam que quando resolvi escrever este


livro, fiquei mesmo na dúvida de qual seria o
melhor título, para despertar o desejo do co-
nhecimento dos leitores.

O tema se refere a mudança que pode-


mos realizar no curso de nosso destino e que eu
mesmo dei a minha vida, após anos de vivência
intensa, sobretudo no exercício da medicina.

Esta mudança foi determinada pela


ocorrência de um câncer, que se tornou uma
enfermidade crônica e me impôs algumas limi-
tações físicas.

Ausentei me do consultório devido ao


tratamento médico cirúrgico e também, por
causa dos efeitos colaterais da quimioterapia.

Tive que me estruturar para as mu-


danças e, sempre tive a convicção de que as
Mudança de vida – Mudança de rumo

doenças, não são manifestações da vontade


do Criador. Me dediquei à leitura, ao serviço
voluntário, à família, ao tratamento contínuo
acompanhado de vários exames clínicos e la-
boratoriais para seguimento da enfermidade.

Recentemente, decorridos 1 ano e 4 me-


ses da cirurgia resolvi participar aos leitores,
sobretudo aos meus pacientes, a possibilidade
da realização das referidas mudanças, com o
objetivo de despertar em cada um, a eventual
necessidade de mudanças de rumo em suas vi-
das, sem a necessidade de sofrerem uma grave
enfermidade ou uma perda familiar.

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O tratamento
(o sobrevivente)

Em setembro do ano de 2015, recebi o


diagnóstico de câncer no intestino, de localiza-
ção na sua porção terminal, sigmoide e reto. A
extirpação cirúrgica foi programada e executa-
da no dia 12 do mês subsequente, dia de meu
aniversário. Para não fugir do dito de que em
médico é tudo mais complicado, tive no ato
operatório uma trombose mesentérica, entida-
de clínica que por si só tem alto índice de mor-
talidade. Houve a necessidade de ampliação
cirúrgica com a realização de colectomia total.
De fato, devido à gravidade da enfermidade e
às intercorrências, meu médico me chama de

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Mudança de vida – Mudança de rumo

sobrevivente. Após longo período de hospita-


lização, que durou mais de 2 meses, recebi alta
para continuidade de tratamento em domicílio.

Nos 4 meses seguintes, permaneci aca-


mado requerendo auxílio de atenciosos cuida-
dores, até mesmo para sair da cama para a pol-
trona, procedimento importante para evitar
infecções, sobretudo pulmonares.

Quase de imediato iniciei fisioterapia


motora e com 4 meses consegui dar os primeiros
passos com o auxílio de andador. Daí a começar
a andar sem apoio foi questão de alguns dias.

Um mês após o início do tratamento


domiciliar, consultei com oncologista e iniciei
a quimioterapia. Na primeira consulta, fui de
cadeira de rodas. Bem, vocês já ouviram falar
que a quimioterapia pode até matar o doente?
Exageros à parte, não sou desta opinião, mas,
realmente os efeitos colaterais são muitas ve-
zes incapacitantes.

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Dr. José Jorge Facure

Não é nosso objetivo detalhar aqui, as


fases do tratamento e muito menos os efeitos
adversos mas toleráveis da quimioterapia.

Quase um ano após a cirurgia consegui


prestar serviço médico voluntário, atendendo
uma vez por semana, somente por algumas ho-
ras no Núcleo Mãe Maria, localizado na Vila
Brandina, que é um educandário e ambulatório
do Centro Espírita Casa de Jesus. Retomei tam-
bém minha assistência como médico voluntá-
rio do lar São Vicente de Paulo, em Campinas.

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A espiritualidade

Para entendimento do melhor signifi-


cado do conteúdo deste livro, tornam-se neces-
sários alguns conceitos.

– Fé – refere-se a crença nas verdades,


confiança, acreditar em alguma ocorrência.
Pela fé, acreditamos naquilo que nos parece ló-
gico, é a chamada fé raciocinada.

– Mundo espiritual – pela fé, grande


número de pessoas, diríamos até mesmo a
maioria, acredita na existência da alma e que
após o término da vida material, a alma vol-
ta ao mundo espiritual. Acredita-se também,
que quando se nasce, a alma que habitará o
Mudança de vida – Mudança de rumo

corpo que se formou, procede do mundo es-


piritual. O mundo espiritual não é um mun-
do apenas dos espíritas, é um mundo de toda
a humanidade.

No primeiro livro recebido mediuni-


camente por Chico Xavier, que foi “Nosso
Lar”, pelo espírito de André Luiz, há a cita-
ção de que a Terra é uma cópia imperfeita do
mundo espiritual.

Interessantes observações sobre a exis-


tência da alma e sobre o mundo espiritual en-
contramos em alguns estudos sobre a chamada
experiência de quase morte.

Em primeiro lugar, gostaria de citar o


que nos relatam as pessoas que passaram pela
experiência de quase morte (EQM). Estas pes-
soas, narram algo muito semelhante, comum a
todas elas. Esta afirmação foi bastante analisa-
da por Kenneth Ring em seu livro “Lições da
Luz”: o que podemos aprender com as expe-
riências de proximidade da morte. (São Pau-

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Dr. José Jorge Facure

lo: Summus, 2001). Uma destas ocorrência, foi


narrada por Graig, um jovem que quase se afo-
gara em um acidente de raffing: “Cenas de mi-
nha vida começaram a passar diante de meus
olhos com uma velocidade incrível. Pressenti
que quando estas imagens acabassem, eu per-
deria a consciência para sempre. Tive uma sen-
sação de regredir no tempo. Me vi sentado em
um cadeirão de bebê, pegando comida com a
mão. Lembrei-me de um acidente de barco com
7 anos de idade. As imagens continuavam sur-
gindo com grande velocidade e eu sentia que
elas se aproximavam rapidamente do presen-
te. Neste ponto senti o coração parar de bater,
não há desconforto, me sentia movimentando
em um vazio, era um túnel escuro. Percebi um
ponto de luz distante e de repente, o ponto lu-
minoso aumentou de tamanho e passei a fazer
parte desta luz. Senti como se todo o mundo
estivesse em harmonia total. Tinha a sensação
de estar flutuando. Eu via meu corpo a 2,5 me-
tros abaixo da água, mas isto, não me incomo-

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Mudança de vida – Mudança de rumo

dava. Comecei a ver a figura de um homem


parcialmente transparente e 5 rostos a sua es-
querda. Estes espíritos ou almas pareciam me
conhecer muito bem, eram como uma espécie
de parentes de meu passado, mas eu não os re-
conheci. Então o homem me explicou que não
era muito tarde para eu voltar e sentia que eu
queria mesmo voltar. Senti também que queria
e que poderia voltar e, neste instante, fui lança-
do ao meu corpo como um relâmpago”.

Interessante citar que no livro referi-


do, há vários relatos de crianças que passa-
ram pela EQM. De um modo geral, há uma
certa constância na referência a um túnel ou
ambiente escuro, o registro de uma luz inten-
sa, sensação de bem estar, ausência de medo,
diálogo com pessoas, visão direta do corpo e
compreensão de que houve uma saída e uma
volta para o corpo.

Há no livro a narração de uma criança


sobre o que ela pensa sobre a morte, fortale-

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Dr. José Jorge Facure

cendo muito a crença na possibilidade da so-


brevivência após a morte do corpo e da exis-
tência do mundo espiritual.

– “Eu acho que quando morremos, não


está acabado. Tudo continua. Nós apenas vol-
tamos para a casa onde estávamos antes de es-
tar nesta vida. E a vida é apenas alguma coisa
com a qual precisamos aprender algo. Quan-
do aprendemos, voltamos para casa, onde es-
távamos antes”.

Para analisarmos estas ocorrência, pre-


cisamos acreditar em primeiro lugar, na exis-
tência da alma. É preciso aceitar o fato de que
o ser humano possui um componente além da
matéria. Este fato é aceito pela fé, uma vez que
a ciência ainda não tem os meios necessários
para a sua comprovação.

O médico Inácio Ferreira, em seu livro


“Psiquiatria em Face da reencarnação” escrito
na década de 40 reeditado em 2001: Edições FE-
ESP, relata importantes observações de como a

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Mudança de vida – Mudança de rumo

existência da alma era aceita por diversos po-


vos e por renomados filósofos.

“Os Incas admitiam a existência de dois


seres em um só: um de carne propenso a fadi-
ga e a dor e outro, semelhante ao carnal mas
que não se fadigava, não sofria e se transfor-
mava facilmente – era a alma e essa seria a sua
vida definitiva. Os Egípcios, há 40.000 anos,
registraram através de inúmeros monumentos
a crença na existência após a morte, sobretudo
pelas suas múmias a espera do renascimento.
Os Astecas acreditavam que após a morte do
corpo, as almas que vivem virtuosamente vão
para além das altas montanhas, onde se encon-
traram com a alma dos avós.

Aristófanes e Sófocles sob a denomi-


nação de as esperanças da morte, ensinavam,
além das existências sucessivas das almas, a
Unidade de Deus e a pluralidade dos mundos.
Sócrates, Apolônio de Thyana, Empédocles,
Platão, ensinavam que a alma, desembaraçada
de suas imperfeições, não volta mais a Terra”.

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Dr. José Jorge Facure

Paramahansa Yogananda, em seu livro


“Autobiografia de um Yoga (Los Angeles CA,
USA), relata que no ano de 1936, durante exer-
cício de meditação, teve uma visão de seu guru,
Sri Yukteswar, já falecido, que lhe revelou fatos
surpreendentes. Estou habitando um planeta
astral. Seus habitantes estão melhor capacita-
dos que a humanidade terrena para seguir os
meus elevados padrões. Você e seus entes que-
ridos que alcançaram a elevação, para lá irão
algum dia”. Paramahansa Yogananda, fundou
em 1920 nos Estados Unidos a Self Realization
Fellowship, para difundir em escala mundial
a ciência da meditação Yogue, a arte da vida
equilibrada e a unidade fundamental de todas
as grandes religiões.

A doutrina espírita, fornece informa-


ções precisas sobre a espiritualidade, contidas
no “Livro dos Espíritos,” escrito por Allan Kar-
dec em 18 de abril de 1857. (632 edição – São
Paulo – LAKE, 2002). Extraímos desse livro al-
gumas perguntas pertinentes ao nosso estudo:

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Mudança de vida – Mudança de rumo

Pergunta 134 – O que é a alma?


Resposta: um espírito encarnado

Pergunta 134a – O que era a alma antes


de se unir ao corpo?
Resposta: Um espírito.

Pergunta 135 – Há no homem outra


coisa mais que a alma e o corpo?
Resposta: Há o laço que une a alma ao
corpo

Pergunta 135a – Qual é a natureza des-


te laço?
Resposta: Semi material, ou seja, de
natureza intermediária entre o espíri-
to e o corpo.

Pergunta 149 – Em que se torna a alma


após a morte?
Resposta: Volta a ser espírito, ou seja,
retorna ao mundo dos espíritos, que
havia deixado temporariamente.

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Dr. José Jorge Facure

Diversos livros de cunho espiritual


nos dão a informação de que a Terra é a cópia
do mundo espiritual. Há a afirmação atribu-
ída a diversos autores que algumas pessoas
demoram muito tempo para entenderem que
passaram para a espiritualidade, pois, tão
grande é a semelhança.

André Luiz/espírito, conta no livro de


sua autoria, médium/Chico Xavier “Os Men-
sageiros”, ed FEB, pp 106-108, 1944, que ao vi-
sitar um posto de socorro espiritual, deparou-
-se com um enorme quadro emoldurado em
uma parede, que já havia visto quando na terra
em um museu em Paris. A Tela representa o
martírio de São Dinis, rudemente sacrificado
nos primeiros tempos do Cristianismo. Trata-
va-se da tela do pintor Francês Bonnat. Perce-
beu André Luiz que a cópia do posto socorrista
era bem mais bela. Retratava o apóstolo com a
cabeça decepada e trazia o corpo semi nu, au-
reolado de intensa luz. Do alto via-se descer

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Mudança de vida – Mudança de rumo

um mensageiro Divino trazendo ao servo do


Senhor a coroa e a palma da vitória.

Todos os que nos visitam admiram esta


tela, relatou o acompanhante do visitante, ao
que ele aduziu: a original pode ser vista no
Panteão de Paris. Engana-se, respondeu o in-
terlocutor. Este quadro não é originariamente
da Terra. Ele foi pintado em uma cidade espi-
ritual muito próxima da França. O célebre pin-
tor Bonnat, a visitou durante o sonho e mergu-
lhou nos detalhes da pintura reproduzindo-a
em sua plenitude na Terra. A Cópia terrestre, e
nem mesmo a que estamos contemplando, tem
a luminosidade e a beleza da original, que re-
presenta visões gloriosas do homem na luz dos
mundos superiores.

Embora em um futuro não muito dis-


tante, provavelmente teremos a prova cientí-
fica da existência da alma e da continuidade
da vida na espiritualidade, não podemos con-
siderar indispensável esta constatação para as-
segurarmos a própria evolução.

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Dr. José Jorge Facure

É preciso lembrar que já recebemos


todos os ensinamentos necessários para esta
marcha evolutiva. O conhecimento científico
confirmando de onde viemos e para onde va-
mos, é desejável, porém, não é indispensável
para o aprimoramento de nós mesmos.

3 – Reencarnação – provavelmente,
nosso ponto mais polêmico. Quero conceituar
apenas o seu significado. A prova de sua exis-
tência não é nosso objetivo no momento. Devo
afirmar que acredito na ocorrência, através da
lógica, da fé raciocinada.

Admitimos portanto que ao nascer o


corpo recebe um espírito que habitava o mun-
do espiritual. A este espírito habitando este
corpo, denominamos alma. Portanto, acredi-
tamos nas vidas passadas, na dimensão trans-
cendental da vida terrena.

No livro “Terapia de Regressão”, de


Mauro Kwitko, 2ª. Ed. Porto Alegre, 2016, en-
contramos citações expressivas sobre a reen-

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Mudança de vida – Mudança de rumo

carnação, feitas, por grandes expoentes da hu-


manidade. Apresentaremos algumas.

Mahatma Gandhi, (1868-1948). “Não


posso pensar em inimizade permanente entre
homem e homem e, acreditando como acredito
na teoria do renascimento, vivo na esperança
de que, se não nesta existência, mas em algu-
ma outra, poderei abrir os braços a toda a hu-
manidade, num amplexo amigo”.

Gauguin, pintor francês (1848-1903).


“Quando o organismo físico falece, a alma so-
brevive. Depois toma conta de outro corpo”.

Pitágoras, matemático grego, (572 aC. –


492 aC.). “A alma nunca morre, mas recomeça
uma nova vida, ela nada mais faz do que mu-
dar de domicílio”.

Platão, filósofo grego (427-347 aC.).” ó


tu, moço ou jovem que te julgas abandonado
pelos deuses, saiba que, se tornares pior, irá ter
com as piores almas, ou, se melhor juntar-te às
melhores almas, e em toda sucessão de vida

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Dr. José Jorge Facure

e morte, farás e sofrerás o que um igual pode


merecidamente sofrer nas mãos de iguais. É
essa a justiça dos céus.”

Sócrates, filósofo grego (469-399 aC.).


“Estou convencido que vivemos novamente
e que os vivos emergem dos que morreram e
que as almas dos que morreram estão vivas”.

Henry Ford, industrial americano (1863-


1947). “Os gênios são almas mais velhas. Alguns
pensam que se trata de uma benção ou de um
talento, mas na verdade é o fruto de uma longa
experiência em muitas vidas passadas”.

Mais uma vez, reafirmo que não quero


impor a aceitação destes conceitos, que expres-
sam a minha opinião. Meu objetivo é tornar
mais compreensível o conteúdo que quero ex-
por a todos. A aceitação dos mesmos, eviden-
temente pertence a cada um.

4 – Meu testemunho – Permaneci inter-


nado na UTI por 22 dias. Recordo muito pou-
co deste período, nem mesmo tinha noção do

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Mudança de vida – Mudança de rumo

tempo que lá permaneci. Quando cheguei no


quarto após a alta da UTI, perguntei se havia
permanecido lá por dois dias apenas. Como
médico, tinha a noção de que este fato, a falta
de lembranças, é comum e se deve em parte ao
uso de medicamentos utilizados para a seda-
ção necessária.

Mas, neste período, recordo-me de um


fato marcante: a minha enfermidade somada
às intercorrências foram deveras de acentua-
da gravidade. Creio que isto me fez vivenciar
imagens descritas como frequentes do fenôme-
no de quase morte.

Lembrei me que em um destes dias


que passei na UTI, durante o sono, percebi
a imagem de minha mãe, já falecida há 20
anos, caminhando junto a um homem, que
não identifiquei quem seria, estando ambos
na companhia de Adolfo Bezerra de Mene-
zes, médico brasileiro, bastante atuante na
espiritualidade e referido como médico dos

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Dr. José Jorge Facure

pobres. Ele me disse que eu estaria salvo e


deveria dedicar-me ao atendimento dos po-
bres. Os três se afastaram de mim, caminhan-
do por uma estrada iluminada por uma luz
branca de grande intensidade.

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Análise da ocorrência
do câncer

Quando discutimos a possibilidade da


origem de enfermidade grave, geralmente crô-
nica, que impõe grande sofrimento ao enfermo e
até mesmo aos familiares, não trataremos aqui,
dos fatores individuais, genéticos ou ambientais
possíveis de causar o próprio câncer. Tratare-
mos tão somente das possibilidades do desenca-
dear das doenças ou agravamento das mesmas
relacionadas ao fator espiritual, com base nos
argumentos da chamada fé raciocinada.

No livro “Saúde e Espiritualidade” de


Clayton Levi, médium e Augusto, espírito. Ed.
Allan Kardec, Campinas,2008, os autores nos
Mudança de vida – Mudança de rumo

lembram que a doença não se expressa apenas


pela dor, pela limitação e pelo sofrimento, mas,
também possibilita a experiência reeducativa e
a oportunidade do amadurecimento.

Creio ter sido Hipócrates, 370 a.C. que


afirmou: as doenças do corpo provêm da alma.
Não se pode curar um sem curar o outro.

A literatura médica sobre o que gene-


ricamente chamamos de stress ou estresse nos
instrui de que este estado orgânico, na sua ex-
pressão crônica e intensa pode causar altera-
ções bioquímicas e fisiológicas no organismo,
sendo capazes de provocar ou agravar enfer-
midades. O estresse é determinado sobretudo
por um desajuste emocional. Este desajuste é
o ódio, a raiva, a falta do amor a si mesmo e
ao próximo, o sentimento de vingança, o medo
excessivo, etc. Estes fatores causariam altera-
ções no ritmo cardíaco, na pressão arterial, na
respiração, podendo levar a grande desconfor-
to e até mesmo ao óbito, sobretudo nos casos
de existências de doenças pré-existentes.

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Dr. José Jorge Facure

Os autores enfatizam que nem todas


doenças endógenas são consequência de atos
de vidas passadas. Os conflitos internos quan-
do mantidos ao longo da vida poderão esta-
belecer a desarmonia na alma dando origem a
manifestações de enfermidades.

Quem pensa sistematicamente em uma


doença pode atraí-la, pois, pode fragilizar as
defesas do organismo e se dispõe a receber o
agente causal da enfermidade.

De acordo com os autores acima cita-


dos, as correntes eletromagnéticas oriundas
das emoções desequilibradas podem transmi-
tir propriedades negativas que dariam origem
a estados degenerativos orgânicos.

A literatura espírita pertinente rela-


ta casos de provas e expiações relacionados à
vida espiritual de cada um, como fatores de-
sencadeantes ou agravantes de enfermidades
crônicas como é o caso do câncer.

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Mudança de vida – Mudança de rumo

Quando uma aflição não é consequên-


cia dos atos da vida atual, é preciso procurar a
sua causa em uma vida anterior.

Acredito que estes dois fatores possam


coexistir, o fator emocional determinando stress,
agindo em um estado de possível desajuste espi-
ritual, contribuindo para o agravamento ou para
o desabrochar de enfermidades graves.

Para que não haja a cristalização do


pensamento negativo, recomenda-se a mudan-
ça de rumo em nossas vidas.

34
Mudança de vida

Gostaríamos de orientar aos leitores o


exercício da prevenção das dissonâncias cau-
sadas pelo estresse e pelo desequilíbrio espi-
ritual, pela prática do combate à estas disso-
nâncias com o objetivo de modificar o padrão
vibratório espiritual, com base na mudança do
comportamento. Mas uma vez, reafirmamos
que não é preciso adoecer para efetivar mu-
danças em nós mesmo.

Assisti a alguns pacientes em meu con-


sultório, em tal desespero emocional aos quais
aconselhei literalmente a mudar de rumo:
mude de cidade meu caro amigo. Procure um
lugar mais calmo e adote um sistema de vida
Mudança de vida – Mudança de rumo

mais simples. Recentemente realizei uma revi-


são em meu arquivo médico e constatei que já
atendi mais de 100 mil pacientes. Hoje conto
com 50 anos de exercício profissional e somen-
te nos últimos 10 anos orientei para alguns en-
fermos a prática da oração, para agradecimen-
to a Deus pelo dom da vida. Sempre orientei
a buscar a Jesus Cristo, em qualquer religião
escolhida pelos mesmos. Neste número enor-
me de pacientes que consultei em apenas 1
atendimento o acompanhante do doente pediu
a secretária para falar comigo uma vez que ele
não quis entrar na consulta. Doutor, disse ele,
minha esposa foi trazida por mim para consul-
ta médica e não para o senhor conversar com
ela sobre religião. Expliquei a ele que apenas
orientei à mesma que além de tomar os medi-
camentos deveria nas suas orações agradecer
a Deus por tudo que já havia conseguido. Esta
ocorrência me alertou para maior zelo ao dia-
logar com os pacientes e continuei a dizer a to-
dos para não se esquecerem de Jesus.

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Dr. José Jorge Facure

Do livro, “Esculpindo o Próprio Desti-


no”, pelo espírito Lucius, psicografia do médium
André Luiz Ruiz (ed. IDE, 2008), há a narrativa
da ocorrência de câncer de mama em pacien-
te, cujo desencadeamento pode ser atribuído a
desajustes ocorridos em vidas passadas. Conta-
-se que a paciente serviu-se de seus volumosos
e atraentes seios para a prática da sedução. Na
existência atual, estaria expiando seu desatinos.

É oportuno dizer, que Deus não pune


seus filhos queridos. Existem as leis Divinas,
que nos impõem correção na conduta moral.
Quando tocada pelo remorso, pelo sentimento
de culpa ou pela vontade de melhora espiritu-
al, a própria criatura costuma aceitar sem pro-
testar a nova situação a ser vivenciada.

Deus permite aos sofredores, a assis-


tência espiritual pelos “espíritos protetores”,
para o alívio do sofrimento da criatura.

No livro anteriormente citado, a pes-


soa que contraiu o câncer, entabulou interes-

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Mudança de vida – Mudança de rumo

sante diálogo durante o sono, com um espíri-


to protetor.

Quer dizer que serei uma cancerosa? Ao


que ele respondeu: “não, você está se preparan-
do para deixar de ser a cancerosa que, até hoje,
tem sido. Seu corpo adoecerá, mas seu espírito
recobrará a saúde para sempre. Sare por den-
tro, que o câncer de fora acaba mais depressa”.

Registramos do mesmo livro a seguinte


recomendação espiritual:

“As vezes, a sombra interior é tamanha


que tens a ideia de haver perdido o próprio rumo.

Entretanto, não esmoreças.

Abraça o dever que a vida te assinalaste.

Serve e ora.

A prece renovará energias.

O trabalho te auxiliará.

Deus não nos abandona.

Faze silêncio e não te queixes.

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Dr. José Jorge Facure

Alegra-te e espera, porque o céu te so-


correrá. Por meios que desconheces, Deus per-
manece agindo.

Recentemente, em fevereiro de 2017,


o Papa Francisco pronunciou importante ho-
milia sobre a cura espiritual, desenvolvendo o
tema, “Família, lugar de perdão”.

“Não existe família perfeita. Não temos


pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos
casamos com uma pessoa perfeita nem temos
filhos perfeitos. Temos queixas uns dos outros.
Decepcionamos uns aos outros. Por isso, não
há casamento saudável nem família saudável
sem o exercício do perdão. O perdão é vital
para nossa saúde emocional e sobrevivência
espiritual. Sem perdão a família se torna uma
arena de conflitos e um reduto de mágoas. Sem
perdão a família adoece. O perdão é a assepsia
da alma, a faxina da mente e a alforria do co-
ração. Quem não perdoa não tem paz na alma
nem comunhão com Deus. A mágoa é um ve-

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Mudança de vida – Mudança de rumo

neno que intoxica e mata. Guardar mágoa no


coração é um gesto autodestrutivo. É autofa-
gia. Quem não perdoa adoece física, emocional
e espiritualmente. E por isso que a família pre-
cisa ser lugar de vida e não de morte; território
de cura e não de adoecimento; palco de perdão
e não de culpa. O perdão traz alegria onde a
mágoa produziu tristeza; cura onde a mágoa
causou doença”.

Não me recordo de ter lido em livro


algum a referência que o exercício do perdão
e do amor incondicional seja fácil, principal-
mente quando da ocorrência de uma doença
grave. Um número considerável de seres hu-
manos costumam afirmar: fulano diz que de-
vemos amar e perdoar, mas, isto para ele que
não está doente é fácil.

Para o enfermo, não é fácil. Precisamos


nos instruir para compreender as verdades que
estamos, de forma limitada, expondo neste li-
vro. Algumas pessoas procuram uma forma

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Dr. José Jorge Facure

imediatista de mudança de rumo em suas vi-


das, mas, não com um sentimento verdadeiro
da necessidade de mudar, mas, tomadas pelo
sentimento do medo.

Seguramente, Deus não sai por aí distri-


buindo doenças para seus filhos queridos. Ele
nos dá a fé, a razão, a esperança e a misericór-
dia. O sofrimento é de nossa responsabilidade.

“Vinde a mim, todos vós que estais afli-


tos e sobrecarregados, que eu vos ali-
viarei, pois é suave o meu jugo e leve o
meu fardo.”
Mateus cap. XI, vv. 28 a 30

Acreditamos que o próprio Cristo nos


convoca à oração e à reflexão quando precisa-
mos de uma ajuda especial e muito maior do
que uma ajuda comum.

A medicina contemporânea começa a


crer na relação entre a saúde física e a vivência
espiritual através da oração. Universidades de

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Mudança de vida – Mudança de rumo

várias partes do globo terrestre têm estudado o


valor da oração na melhoria da vida física. Na
Universidade de Florença, Itália, há uma pes-
quisa demonstrando que a oração aumenta os
limiares da dor física e a melhoria dos efeitos
dos medicamentos. O mecanismo desta ação, é
atribuído à emoção desencadeada pelo senti-
mento de fé. A emoção provocaria a liberação
no organismo de substâncias como as endorfi-
nas, que produzem o alívio da dor.

Uma pesquisa da Universidade da Ca-


lifórnia, Berkeley, revelou em um estudo com
5000 indivíduos, que aqueles que vão a missa
uma ou mais vezes por semana, têm uma mor-
talidade de 25 a 35% mais baixa dos que não
vão à missa.

Um estudo sobre envelhecimento, rea-


lizado na Carolina do Norte, Estados Unidos,
revelou em 4000 idosos, que a tristeza e a de-
pressão, são menos frequentes na pessoas que
professam uma fé religiosa.

42
Dr. José Jorge Facure

Pesquisadores da Universidade de São


Paulo (USP), confirmaram que a fé exerce fator
positivo na relação cérebro, mente e saúde.

Citamos também a ocorrência de pes-


quisas que demonstram que a oração com fé em
qualquer credo religioso tem a sua ação eficiente.

Há a noção de que estamos engatinhan-


do nesta questões, mas a neurociência começa
a oferecer algumas respostas sobre a biologia
do funcionamento cerebral, quando, o indiví-
duo se encontra no estado de fé absoluta.

43
Controle do pensamento

O controle do pensamento, sobretudo


quando pensamos em atos que nós mesmos
repudiamos, é extremamente difícil. Muitas
vezes até não os repudiamos, pelo contrário,
podemos pensar que o nosso próximo merece
o tratamento por nós desejado.

Durante toda a minha vida sempre


procurei métodos para não emitir pensamen-
tos desagradáveis que poderiam alimentar ví-
cios como o ódio, a vingança, a maledicência,
a leviandade, etc. Instintivamente deixava de
pensar no assunto e após determinado tempo
o tal pensamento desaparecia.
Mudança de vida – Mudança de rumo

Hoje podemos dar uma interpretação


mais ampla do que pode ocorrer. Cumpre-nos
dizer, que o ser humano, por ser um ente em
evolução está sujeito aos pensamentos consi-
derados como impróprios por nós mesmos ou
pela moral determinada pela sociedade. As-
sim, creio que a fórmula para evitar estes pen-
samentos, é compreender que eles são ineren-
tes a maioria dos seres humanos e que a sua
“cura” é não perseverar neste tipo de pensa-
mento, procurar não sedimenta-lo. Creio que
os conhecimentos sobre a memória confirma
esta possibilidade, nos permitindo administrar
estes pensamentos.

De acordo com a pesquisa dos estudio-


sos da memória, com destaque aos trabalhos
do prof. lván Izquierdo, publicado no livro “A
arte de esquecer” (ed Vieira&lent casa edito-
rial Ltda, Rio de Janeiro, 2004), no momento
da elaboração do pensamento ativamos nossa
memória de curta duração. Estas lembranças
são de 2 a 3 horas. Persistindo o estímulo que

46
Dr. José Jorge Facure

gerou o fato, há a formação da memória de lon-


ga duração. Segundo os especialistas há 2 fases
na formação da memória de longa duração. A
primeira, durante e logo após a aquisição e a
segunda 3 a 6 horas após a persistência da lem-
brança do fato. Após este período, geralmente
ocorre a consolidação, mas, se não fixarmos o
fato no pensamento, a memória pode declinar
espontaneamente. Nosso próprio cérebro nos
induz ao esquecimento e mudamos de rumo
de acordo com a nossa vontade.

Bem, e como efetivamente nos livramos


destas memórias desagradáveis?

Existem vários mecanismos. No referi-


do livro há uma citação de que Freud, admitia
que a repressão do pensamento causaria uma
obliteração geral e voluntária determinando
a supressão de memória ruim ou prejudicial.
Este seria um método excelente para nos livrar
dos maus pensamentos. Outra possibilidade é
a chamada extinção da memória, em que ocor-

47
Mudança de vida – Mudança de rumo

reria uma redução gradual da resposta a um


estímulo condicionado. De modo mais simples
podemos considerar que fisiologicamente, po-
demos perder memórias por falta de uso, para
dar lugar a memórias novas. Assim, podemos
afirmar que os maus pensamentos não são
eternos e que podemos eliminá-los mais rapi-
damente de nossa mente; até mesmo logo após
a sua elaboração.

Lembramos que o pensamento é o que


existe de mais ágil no universo. Possui veloci-
dade maior do que a da luz.

Interessantes observações a respeito


do pensamento, encontramos no livro “No Li-
miar do Abismo” de Inácio Ferreira – espíri-
to/Carlos Baccelli – médium. Livraria Espírita
Edições “Pedro e Paulo”– Uberaba-MG 2007.
Refere o autor que o pensamento em determi-
nadas circunstâncias pode plasmar criações de
natureza superior ou de natureza inferior. São
as chamadas “formas-pensamento”, elas são

48
Dr. José Jorge Facure

transitórias, podendo em alguns casos perdu-


rarem por tempo indeterminado.

No referido livro (pp. 175 a 178), há o


relato de uma doente que via e sentia nume-
rosos parasitas em seu couro cabeludo. Al-
guns deles eram descritos como pulgões e até
mesmo como filhotes de serpentes. Seriam as
“formas pensamento”. Elas podem se formar
a partir da mente humana tomada pelo ódio,
pelo sentimento de vingança ou simplesmen-
te pelo prazer que algumas pessoas têm de
fazer o mal.

O autor refere que as “formas-pensa-


mento” em determinadas circunstâncias po-
dem tomar a forma de um punhal, de um soco,
endereçados ao ser humano por uma mente
humana voltada a prática do mal.

Alguns doentes têm algum tipo de


ideias repentinas e estranhas sugestões cere-
brais com certa periculosidade, que se colo-
cadas em prática poderiam gerar consequên-

49
Mudança de vida – Mudança de rumo

cias extremamente desagradáveis para si ou


para o próximo. Precisamos agir rápido para
não deixar que estas ideias se cristalizam pela
sua duração.

Seguramente, quem pensa em causar o


mal, responderá pelos seus atos de acordo com
a Lei Divina. O melhor meio de nos livrarmos
destes pensamentos negativos, é através da
prática do bem e da oração.

Seria então possível e recomendado


para o nosso próprio bem que nos livremos do
pensamento improdutivo e prejudicial a nós
mesmos e ao próximo.

50
Sofrimento causado pelas
doenças e desemprego

Eis aí um tema de difícil abordagem,


de difícil administração da vida. A pessoa que
perdeu o emprego, isto é, perdeu o seu direi-
to ao trabalho e a seguir recebeu a notícia de
que se desenvolveu em seu organismo uma
enfermidade grave e crônica, em um primei-
ro momento se desespera. Há aqui um trans-
torno de toda a família. Aqueles pacientes que
possuem um plano de saúde para o seu trata-
mento, terão um conforto melhor em suas vi-
das. Mas há uma grande parte da população
que só tem a assistência médica oferecida pelo
governo e que sabidamente apresenta falhas.
Mudança de vida – Mudança de rumo

Como médico, reconheço que a assistência ofe-


recida pelo serviço único de saúde (SUS) aos
pacientes, tem melhorado no correr dos anos,
mas está longe de uma assistência adequada às
necessidades de nosso povo.

Qual a razão da abordagem deste


tema neste livro? É devido à oportunidade
de dizer aos leitores que estamos diante de
uma situação onde podemos exercitar o amor
ao próximo, a compaixão consciente e com o
cuidado para não causar constrangimento ao
enfermo. Caso não exercitávamos estas quali-
dades estamos diante de grande oportunida-
de de mudança de rumo em nossas vidas. O
amor ao próximo é um dos pilares dos ensi-
namentos do Cristo.

Enfatizo que não devemos considerar a


dor causada por enfermidades como punição
Divina. Não estamos sendo castigados e mui-
to menos condenados para sempre. Considero
que o enfermo em grave situação, precisa con-

52
Dr. José Jorge Facure

fiar no tratamento médico e dirigir o seu pen-


samento com o otimismo de quem está saindo
de um conflito físico e espiritual para uma con-
dição de melhoria física e espiritual.

Diante de tantos problemas, é natural


que alguns pacientes se sintam com a resis-
tência comprometida, podendo ir rapidamen-
te para o fracasso. Lembramos que a derrota
aparece quando desistimos de lutar e não pela
existência de um percalço importante. É im-
perioso que aprendamos a enfrentar os golpes
para nos reerguermos rapidamente.

Quanto à assistência ao enfermo, devo


testemunhar que nosso povo é bastante ge-
neroso neste particular. Vejo filhos voltando
para a casa dos pais, avôs e avós repartindo
o dinheiro de suas aposentadorias, e vizinhos
prestando solidariedade ao enfermo.

Creio também, que Deus inspira seus


filhos para que se entreajudem, para que se
amparem mutuamente.

53
Casos e contos

Os casos narrados são verdadeiros e al-


guns nomes dos personagens são fictícios.

Frederico, um jovem de 19 anos foi ao


meu consultório queixando-se de dor de cabe-
ça, náuseas e tonturas. Meu exame neurológi-
co e a tomografia computadorizada do crânio,
confirmaram tratar-se de um tumor cerebral.
O mesmo estava localizado na área frontal
direita e era possível de uma retirada ampla.
A cirurgia foi realizada com êxito e o tumor
foi classificado como grau II, sendo a patolo-
gia de maior gravidade neste tipo de tumor, a
de grau IV. O paciente foi encaminhado para
radioterapia. Durante 5 anos a enfermidade
Mudança de vida – Mudança de rumo

estava sob controle e o mesmo teve boa qua-


lidade de vida. Após este período apresentou
recidiva do tumor, foi reoperado e sobreviveu
apenas por mais dois anos.

Este moço exibia um semblante de gran-


de tranquilidade e de confiança no médico. Era
trazido ao consultório pelo pai, que demons-
trava preocupação e amor ao filho. Me relatou
que ambos além de suas atividades habituais
estavam se dedicando ao serviço voluntário.
O pai era diretor da Santa Casa da localidade
onde moravam. Seguramente, não encaravam
a enfermidade como qualquer castigo, continu-
aram na segurança da fé e aceitaram o destino,
modificado como podiam, com naturalidade.

Creio que o trabalho no bem e, o amor


ao próximo permitiram ao jovem e à família
uma existência sem outros conflitos.

56
Maria boneca

Em Uberaba, conhecemos uma moça


de pouca idade, que perambulava pelas ruas
do centro da cidade. Apresentava visivelmen-
te um retardamento mental e trazia junto ao
peito uma boneca de pano. As crianças a cha-
mavam de Maria Boneca e ela corria atrás dos
mesmos que disparavam em algazarra. Ela fa-
leceu jovem. Recentemente através do espírito
de Epiphanio Leite, conhecemos a sua história.

– (Versos dedicados à dama feudal


que abraçamos por devotada amiga, há três
séculos, e que hoje expia, na via pública, sob
a alcunha de Maria Boneca, o delito de haver
Mudança de vida – Mudança de rumo

exterminado o filho jovem que lhe estorvava a


existência de irresponsabilidade e prazer.)

Epiphanio Leite
Reencontrei-te, por fim, esmolando na rua.
Nada recorda em ti a dama do castelo.
Lembro-me!... Dás a fossa o filho louro e belo,
Esqueces, goza, ris... E a festa continua...

Depois, a morte vem... A memória recua...


Escutas em ti mesmo o trágico libelo,
Choras, nasces de novo e trazes por flagelo
A sede de ser mãe que a demência acentua! ...

Como dói ver-te agora os tristes olhos baços!


Guardas, louca de amor, um boneco nos
braços,
Em torno há quem te poupe a trilha me-
rencória
Mas bendizes, senhora, a lei piedosa e
austera,
Alguém vela por ti: o filho que te espera

58
Dr. José Jorge Facure

E há de levar-te aos céus em cânticos de


glória!...

Para os que creem nas vidas passadas e


portanto na reencarnação, este é um exemplo
claro de expiação em que a senhora envolvi-
da, através de enfermidade congênita severa
resgatou débitos existenciais, tendo recebido o
perdão do filho que ela sacrificara.

59
Minha mãe

Meu irmão, Dr. Nubor desenvolveu


quando professor da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp, uma disciplina, em nível
de pós graduação para estudo cérebro-mente.
Convidava vários médicos ou cientistas para
ministrar seus ensinamentos. Em uma ocasião
recebeu conceituado médico espírita, também
médium, de respeitabilidade inquestionável e
que por ser contemporâneo de faculdade de-
senvolveu sólida amizade com nossa família.
Após sua brilhante exposição na Unicamp, foi
visitar minha mãe que se encontrava acamada
com uma doença, considerada por nós, bastante
severa, por se tratar de câncer ósseo. O colega
Mudança de vida – Mudança de rumo

conversou bastante tempo com ela, lhe transmi-


tindo palavras de estímulo. Dois dias após a sua
partida para a cidade de residência, telefonou ao
meu irmão:

– Nubor, visitei a sua mãe durante o


sono esta noite, a examinei e constatei que ela
não tem nada grave.

Dois a três meses após este fato ela veio


a falecer por complicações da doença.

No caso em questão, o colega, aliás já fa-


lecido, era de inquestionável lhaneza de caráter.
O que teria acontecido para a interpretação er-
rônea do mesmo? Não temos a resposta precisa.

Dei este exemplo de minha própria


mãe, para reafirmar que não podemos acredi-
tar em tudo que as pessoas possam atribuir aos
espíritos e que cada pessoa tem o seu histórico,
um verdadeiro prontuário de vida. Nenhuma
enfermidade, nenhuma situação de vida tem o
mesmo significado para todas as pessoas.

62
Sofrimento das crianças!
Ou sofrimento dos pais?

Há vários anos operei uma criança para


tratamento de hidrocefalia e mielomeningoce-
le lombo sacra. A hidrocefalia se refere a um
acúmulo de líquido no crânio e a mielomenin-
gocele é uma malformação medular, que geral-
mente se acompanha de paraplegia. As duas
cirurgias se transcorreram bem. Restou como
sequela da enfermidade a paraplegia pré-exis-
tente. Ela foi operada por mim na Unicamp e
não realizei o seguimento pessoalmente. Quan-
do a enferma completou 17 anos fui procurada
por ela no consultório. Perguntou-me se seria
possível lavar a termo a gravidez que ostenta-
Mudança de vida – Mudança de rumo

va. Pedi a mãe que a carregava, para colocá-la


na mesa de exames.

Para surpresa minha, a mãe a colocou


no chão e rapidamente ela se arrastou até a es-
cada e subiu com um pulo a mesa de exame.
Examinei a válvula colocada no crânio para tra-
tamento da hidrocefalia e constatei que estava
tudo bem. Clinicamente, a paciente não apre-
sentava sintomas da hidrocefalia, o perímetro
cefálica era apenas ligeiramente aumentado.

Confirmei que poderia levar a gravidez


a termo e que esta criança que carregava no
ventre, seria sua protetora futuramente.

Durante toda a consulta, a enferma


manteve-se sorrindo. Jamais se queixou da pa-
ralisia. Saíram contentes mãe e filha com o sor-
riso transmitindo a alegria de ser futura mãe
e futura avó. Ela não voltou para o desejado
seguimento clínico.

Tenho assistido também a várias crian-


ças vítimas de traumatismos craniano e medu-

64
Dr. José Jorge Facure

lar. Estas crianças nos primeiros dias do tra-


tamento, são admitidas na UTI (Unidade de
Tratamento intensivo), para melhor acompa-
nhamento médico. Há cerca de 10 a 15 anos,
confirmou-se que na UTI, quando acompanha-
das pelos familiares, o pequeno enfermo fica
mais tranquilo e o tratamento é melhor aceito.

Existe um sentimento muito intenso


quando o eventual acidente ocorre na vigilân-
cia dos pais. Um abalroamento de veículo, que-
da de brinquedos, algum objeto do lar como
móveis, tanque de lavar roupa caindo sobre a
criança, constituem ocorrência doméstica, sob
a vigilância dos pais. Nestes casos, sofre o pa-
ciente, os pais e o médico, sobretudo nos casos
graves, por vezes fatais.

Quando estes acidentes ocorrem, exis-


te um verdadeiro sentimento de culpa do fa-
miliar e nada o faz de imediato compreender
o que de fato foi a causa do ocorrido. Geral-
mente aflora nos parentes um sentimento de

65
Mudança de vida – Mudança de rumo

solidariedade e sobretudo de religiosidade.


Toda a família muda a sua rotina de vida em
função do doente.

Importante notar que existe algo


apoiando os pequenos enfermos, pois, eles
não costumam se queixar de nada. Quando
recuperam a consciência, ficam brincando no
leito. Fazem desenhos no gesso do braço, be-
xigas com as luvas dos enfermeiros. Quando
permitido andam pela enfermaria toda. É uma
alegria contagiante.

Mas, há os casos de evolução desfavo-


rável que desperta sentimento de tristeza em
todos, familiares e médico ou médica. Nestes
casos o que costumo recomendar além do trata-
mento médico, é a oração. Por esta prática, o fa-
miliar fica concentrado no bem estar do doente.

Mudança radical do rumo de suas vi-


das testemunhei no caso de uma menina mar-
cada por uma fatalidade. O pai descansava
em uma rede e a garota pulou em seu colo. O

66
Dr. José Jorge Facure

pilar que sustentava a rede se rompeu e caiu


em cima das costas da menina. Teve como re-
sultado uma fratura vertebral e uma paralisia
imediata das pernas. Nós a operamos, fixamos
a vértebra no lugar certo, mas nada resolveu
quanto a paralisia. Após algum tempo do tra-
tamento fisioterápico, o pai saiu do emprego e
se dedicou inteiramente ao tratamento da filha.
Acompanhei esta jovem até quando comple-
tou 17 anos. Ia ao consultório com o pai. Nunca
se queixaram de nada. Como vai? perguntava
eu, e ela respondia: muito bem, obrigado. A
seguir o pai me narrava pequenos progressos
conseguidos com a fisioterapia. Quando saíam
do consultório, eu percebia que quem mais se
beneficiou com a consulta fui eu. Aprendi so-
bre a paciência, a resignação, a fé, a esperança
e sobretudo sobre o imenso amor que aquele
pai dedicava a filha querida.

67
Regressão: terapia de
vidas passadas

Este tema se refere à uma ativação de


memórias inconscientes, adquiridas há algum
tempo atrás, podendo ser este tempo de alguns
meses, alguns anos e até mesmo em vidas pas-
sadas em outras existências.

Trata-se de tema de estudo relativa-


mente recente, da década de 60 e 70, tendo
sido seu pioneiro, o psicólogo norte america-
no, Morris Netherton.

Não é um fenômeno espírita, não de-


pende de credo religioso e não é necessário a
Mudança de vida – Mudança de rumo

quem se disponha a realizar a regressão, acre-


ditar em vidas passadas.

É um método, realizado por médicos


ou terapeutas especializados, quase sempre da
área de psicologia clínica. Baseia se no princí-
pio de que se conhecendo a causa do conflito o
mesmo poderá ser mais facilmente resolvido.
Tem algo a ver com a psicanálise de Freud que
se baseia na descoberta da causa para se con-
trolar o efeito. Tem sido utilizada no tratamen-
to de transtornos da ansiedade, da síndrome
do pânico, alguns casos de cefaleia, asma e de
vários traumas emocionais. Assim, podemos
dizer que a metodologia visa impedir através
do conhecimento do passado, que o mesmo
atue negativamente na vida da pessoa.

O terapeuta com o paciente acordado


vai induzindo o mesmo a regredir até às lem-
branças de algum tempo atrás..., até a vida in-
trauterina e a seguir em vidas passadas. O pa-
ciente permanece consciente, em casos excep-

70
Dr. José Jorge Facure

cionais dependendo do terapeuta, recorre-se à


hipnose. Após a regressão, o doente se lembra
do ocorrido e, costuma recordar dos fatos com
a orientação do terapeuta.

Trata-se também de um campo fértil


para as fantasias dos doentes. Por esta razão
deve ser feita por terapeuta de grande compe-
tência, capaz inclusive de identificar eventual
narrativa fantasiosa.

Vou narrar, primeiramente, para os que


acreditam em vidas passadas dois episódios
registrados no livro “Arigó, 0 13º Profeta” de
Leida Lúcia de Oliveira, ed. Mythos, São Pau-
lo, 2010. Para os que não acreditam peço-lhes
uma reflexão sobre as narrativas. São episódios
que podem impressionar, e muito, a todos.

Uma jovem senhora procurou o setor


de triagem das consultas de Arigó, em Con-
gonhas do Campo e solicitou, se possível uma
consulta em particular com o médium e por
conseguinte, com o Dr. Fritz. Arigó, já mediu-

71
Mudança de vida – Mudança de rumo

nizado respondeu: peça-lhe para aguardar no


final da fila. Assim foi feito. Quando chegou a
sua vez, ela narrou com grande timidez: tenho
um grande problema desde que nasci e, só
meus pais sabem de minha deficiência. Quan-
do bebê usava touca e roupas de gola alta, dei-
xando crescer os cabelos, para ocultar a aber-
ração, que era um terceiro olho funcionante
em minha nuca. Após esta narrativa Dr. Fritz
esclareceu que esta foi a minha escolha. Orien-
tou-me a ter fé, a orar e aceitar os desígnios
do Cristo. Completando sua narrativa, ela dis-
se que o sofrimento maior era o fato de estar
noiva, com casamento marcado para seis me-
ses e não ter coragem de contar ao noivo. Dr.
Fritz disse que o noivo, em uma encarnação
anterior, fora seu filho. A mesma não cuidou
da formação do filho, até que ele se entregou
aos vícios e ao crime. Vieram a desencarnar,
mãe e filho e durante o processo de reencarna-
ção você pediu, por acréscimo da misericórdia
Divina, a oportunidade de corrigir o erro do

72
Dr. José Jorge Facure

passado. Foi, portanto, um pedido seu para


nascer com três olhos, para maior vigilância
sobre o filho, que nesta nova vida seria o seu
esposo. A sua culpa foi tão grande que você
pensou que, nascendo com três olhos exerce-
ria uma vigilância maior sobre aquele que foi
o seu filho. Dr. Fritz recomendou que a mesma
voltasse à consulta com o seu noivo. Após um
mês, o retorno foi feito e Dr. Fritz esclareceu
o problema para o noivo, dizendo que ambos
poderiam ter uma família maravilhosa. Pouco
antes do casamento, Arigó recebeu um auspi-
cioso convite para as bodas.

Há também um relato de um médico


que solicitou orientação à Arigó sobre a enfer-
midade de sua filha. A mesma nasceu muda.

– Procurei vários médicos no Brasil,


nos Estados Unidos e na Europa, todos confir-
maram que ela não iria falar, mas, não sabiam
o motivo. É a isso que vim buscar aqui: a res-
posta ao porquê da ocorrência.

73
Mudança de vida – Mudança de rumo

Dr. Fritz, calmamente perguntou: você


se lembra do baile de sua formatura? O médico
consultante respondeu:
Sim, mas o que tem a ver isto?
Dr. Fritz respondeu: você deixou sua
noiva em casa e foi sozinho para o baile, dan-
çando com outra moça. Sua noiva sabendo do
ocorrido, desesperou-se e num momento de
fraqueza suicidou-se, passando uma faca na
garganta. Dr. Fritz disse ainda: você tem den-
tro de seu relógio o retrato de sua ex amada.
Muito emocionado o médico confirmou a re-
velação. Nesta ocasião, Dr. Fritz disse que a
lei de causa e efeito existe para todos. Todo
prejuízo causado terá que ser reparado. Você
indiretamente, foi o responsável por esta tra-
gédia, e agora, a ex noiva volta como sua filha,
como oportunidade de resgate. Triste, e em lá-
grimas, mas satisfeito com os esclarecimentos,
o médico retornou a sua cidade.

Estes relatos, não se referem à regres-


são, porém, é o que ocorre quando, na regres-

74
Dr. José Jorge Facure

são o próprio doente consegue reorganizar os


pensamentos, pelo conhecimento do passado.
Não há um médium comunicando os fatos e
sim, um conhecimento próprio.

Interessantes observações sobre a ética


na regressão, encontramos no livro “Terapia
de Regressão”, de Mauro Kwitko 2ª. Ed. Porto
Alegre BesouroBox, 2016. O autor refere que o
principal fato a se considerar, é o cumprimen-
to da Lei do Esquecimento, que se refere ao
completo esquecimento de nosso passado por
ocasião do nascimento. A maioria dos terapeu-
tas auxiliam o paciente revelando a ocorrência
do passado de uma forma geral. Por exemplo,
se um doente sofre de claustrofobia, que é o
medo de lugares fechados, pode ser que no
passado encontre a ocorrência do fato de que
foi mantido em cativeiro por alguém, que na
vida atual poderia ser um parente seu. A éti-
ca considerada adequada no caso, seria o te-
rapeuta não induzir a lembrança do nome do
referido parente.

75
Mudança de vida – Mudança de rumo

Os terapeutas considerados sérios,


não realizam o desejo de simples curiosidade,
como saber em casos de suspeita de traição,
se em uma vida passada havia amor entre os
cônjuges. Se os litígios com os familiares, ge-
ralmente pais ou irmãos, se devem a litígios
graves do passado, podendo ter ocorrido até
mesmo um assassinato.

No livro já referido, há o relato de


uma cliente que fez regressão com outro te-
rapeuta, relatando que seu filho a odeia des-
de a infância. Na terapia ela referiu que em
uma vida passada, havia matado um homem.
Conta que o terapeuta a induziu a descobrir
o nome do mesmo e ela o reconheceu como o
próprio filho.

O autor do livro, opina, que jamais fa-


ria isto, pois, seria uma notória infração à Lei
do Esquecimento. Refere que no referido caso,
seria fácil para ela acreditar que o homem do
passado seria o seu filho atual.

76
Dr. José Jorge Facure

– E se não for? Questiona o terapeuta. E


se ela não matou, mas, criou apenas uma justi-
ficativa? Vai se culpar para o resto da vida por
um ato que não teria praticado.

Creio que apenas o conhecimento de


que teria matado um homem, poderia auxiliá-
-la a compreender a possibilidade de ser odia-
da por um familiar tão próximo.

Compreendemos que a regressão é


um método exequível, possível de benefícios,
mas, também, é um método muito fértil aos
desajustes, quando ultrapassa os limites do
bom senso e da ética.

77
A questão da morte

Já ouvimos frases feitas sobre a questão


da morte. “A morte é a única certeza da vida”.
Também, com o desenvolvimento da medici-
na, tanto, no quesito do diagnóstico quanto no
quesito do tratamento, alguns médicos prefe-
rem a frase: “hoje a medicina dá um jeito para
tudo, exceto para a morte”.

Não concordo! Temos jeito para a mor-


te, pois, ela não existe. Grande parte da huma-
nidade acredita que a morte é uma passagem
para a vida espiritual. Após a morte do corpo
material, a alma passa a habitar um mundo pa-
ralelo ao que vivemos atualmente, constituído
por energia diferente desta que experimenta-
Mudança de vida – Mudança de rumo

mos. A minha impressão pessoal é a de que a


física quântica provará estas afirmações.

Também não acredito pela divulgação


feita pelos filósofos, psicólogos e por médicos,
de que a morte seria um fenômeno corriqueiro,
usual e simples.

Acredito que se trata de um fenômeno


extremamente desagradável, principalmente por
dois fatores: o desconhecimento de como iremos
morrer e a separação dos entes queridos.

A morte precedida por sofrimento lon-


go, às vezes por alguns anos, é extremamente
severa. Tenho que acreditar que a Providência
Divina tem um propósito para esta ocorrência.
Mas seguramente, isto traz desgaste emocional
para toda a família.

Não temos uma receita única para


cada paciente ou para cada família de como
enfrentar a questão da morte. Já assisti como
neurologista à vários pacientes em estado de
doença chamado de terminal. Alguns prefe-

80
Dr. José Jorge Facure

riam permanecer no domicílio e outros pre-


feriam o hospital. Nunca ouvi de um único
paciente nessa situação, a afirmação de que
seria preferível morrer a ser mantido em uma
situação de saúde bastante desfavorável. Pelo
contrário, vários doentes me disseram que vi-
ver, ainda que por apenas mais um minuto,
seria prazeroso.

A minha vivência de perto com esta


questão me autoriza a afirmar: lutem contra a
morte! Não se entreguem, vamos aproveitar o
último minuto.

Afirmo também, que sou favorável ao


que estamos chamando de cuidados paliati-
vos ao enfermo. Mais uma vez, me baseio no
grande avanço tecnológico da medicina, que
permite diagnósticos precisos das condições
clínicas dos pacientes.

Quero compartilhar a afirmação do que


li em alguns livros, de que o fenômeno da mor-
te, é menos complexo do que o do nascimento.

81
Bendito câncer?
Elevação do pensamento!

Seguramente você já compreendeu que


é preciso viver a vida para frente. A que pas-
sou, já se foi! O passado poderá nos trazer re-
cordações agradáveis mas, na maioria da ve-
zes, nos traz lembranças tristes.

Escrevi neste capítulo, alguns conceitos


já enumerados, com a finalidade de realizar
um resumo e para fixação da memória através
da repetição.

Pequenas coisas do dia a dia, podem


mudar a nossa vida e a do próximo.
Mudança de vida – Mudança de rumo

Ao dar uma moeda para um pedinte,


pergunte o nome dele. Este simples gesto irá
aumentar a autoestima de ambos. Pratique o
voluntariado, visite uma pessoa em casa de
acolhimento, apenas para conversar. Habitue
a ler jornais, livros ou, peça a alguém que leia
para você. Estude o que lhe for agradável.

Caso tenha adquirido uma doença


grave e crônica, faça um esforço para não vi-
ver em função desta doença. Lembre-se que o
que você aprender nesta vida, lhe será útil na
vida futura.

Aprendi com vários pacientes, aos


quais prestei assistência, a valorizar a vida
através do trabalho.

Há aproximadamente 20 anos, opera-


mos um jovem contador para extirpação de
um tumor cerebral, de caráter benigno porém,
recidivante. Nós retirávamos o tumor e ele re-
aparecia novamente, em um período de 3 a 4
meses, até um ano. A cada período de melho-

84
Dr. José Jorge Facure

ra ele voltava ao trabalho. Jamais pensou em


aposentadoria. Informou que pelo trabalho,
se sentia revigorado e apto a continuar a lutar
pela vida.

Uma professora, na qual retiramos um


tumor cerebral, logo ao recuperar a consciência
após a cirurgia, nos perguntava: poderei lecionar
na próxima semana? Tenho que aplicar provas.

E o exemplo das crianças? A qualquer


melhora clínica procuram sair do leito, em
busca de brincadeiras que modificam o pensa-
mento sofredor dos pais.

Hoje, estamos em maio de 2017, época


em que a mídia, sobretudo a televisiva, noti-
ciou a ocorrência de doenças graves em canto-
res, apresentadores e atores. Todos relataram
mudanças de rumo em suas vidas. A grande
maioria passou a cultivar a religiosidade com
mais intensidade.

No livro já citado, “Esculpindo o Pró-


prio Destino” (pag. 463), há o relato do desen-

85
Mudança de vida – Mudança de rumo

volvimento de câncer de mama em uma per-


sonalidade que recebeu de volta em sua casa,
para auxiliá-la no tratamento, uma filha que
morava em outra cidade. Desenvolveu-se entre
ambas um novo sentimento de um amor mui-
to forte e também, de amor ao próximo, tra-
duzidos por confissões de apreço e de auxílio
aos semelhantes. Em determinado momento
de conversa descontraída entre ambas, a filha
referiu que a mudança para este novo padrão
de pensamento se deu graças à enfermidade e
fez a seguinte exclamação: “bendito câncer que
nos uniu”! Confesso que isso não me agradou.
Acredito ser um exagero bendizer uma enfer-
midade de tamanha gravidade. Mas, creio que
o câncer foi melhor compreendido por ambas,
que encararam a adversidade, aprendendo a
valorizar a vida e que a mesma deve ser tocada
para a frente.

86
Última página

Existem leitores que iniciam a leitura


de um livro, pela análise da última página.
Desta forma, preciso lhes informar que este li-
vro é para dizer que em algumas ocasiões pre-
cisamos dar novo rumo em nossas vidas para
melhor aproveitarmos esta existência.

Relatamos a ocorrência do tratamento


do câncer que me comprometeu, discutindo
aspectos de vida profissional e de vida espiri-
tual, modificados, na decorrência da enfermi-
dade. Tenho a convicção de que o indivíduo
e a família, mantendo o credo religioso, preci-
sam partir para a prática.
Mudança de vida – Mudança de rumo

“Muito se pedirá àquele que muito recebeu.”


S. Lucas, cap.XII, vv. 47 e 48

Não precisamos sofrer alguma enfer-


midade grave e crônica para aprendermos a
modificar a energia de nosso pensamento.

Quando no desespero, diante de uma


vivência desagradável, recomendamos não es-
quecer do perdão, da caridade e da oração.

Quando faço minhas orações ao Cria-


dor me vejo projetado na frente de um enor-
me portão fechado. Permaneço, ali, ajoelhado,
com a fronte do chão e de olhos fechados para
não tentar ver a luz do Criador, que poderia
me cegar.

Recomendamos que quando fizerem as


orações façam uma projeção mental qualquer,
por exemplo uma paisagem que tenham pre-
senciado, pois, ela aumenta a concentração.

Uma das orações que gosto de pronun-


ciar é a mensagem extraída do livro “Parnaso de

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Dr. José Jorge Facure

Além – Tumulo”, recebido pelo médium Fran-


cisco Cândido Xavier, Ed. FEB – 6ª. ed., 1955.

Autor: José Silvério Horta


Pai nosso que está nos céus,
Na luz dos sóis infinitos
Pai de todos os aflitos
Deste mundo de escarcéus

Santificado, Senhor,
Seja o seu nome sublime,
Que em todo o universo exprime
Ternura, concórdia e amor.

Venha ao nosso coração


O teu reino de bondade,
De paz e de claridade,
Na estrada de redenção.

Cumpra-se o teu mandamento,


Que não vacila nem erra,

89
Mudança de vida – Mudança de rumo

Nos Céus, como em toda a terra


De luta e de sofrimento.

Evita-nos todo o mal.


Dá-nos o pão no caminho,
Feito na luz, no carinho
Do pão espiritual.

Perdoa nos, ó Senhor,


Os débitos tenebrosos
De passados escabrosos
De iniquidade e de dor.

Auxilia nos também,


Nos sentimentos cristãos
A amar nossos irmãos
Que vivem longe do bem.

Com a proteção de Jesus,


Livra a nossa alma do erro,
Sobre o mundo de desterro,
Distante da tua luz.

90
Dr. José Jorge Facure

Que a nossa ideal igreja


Seja o altar da Caridade,
Onde se faça a vontade
Do teu amor... Assim seja.

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Impresso na
Print Master Gráfica Editora
Campinas/SP

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