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Procedimento de Ensaio de
Adensamento
Unidimensional

Elaborado por:
Profa: Graziella Maria Faquim Jannuzzi

Versão 1
Outubro de 2016

 
 

Índice:

1 Introdução 1
2 Moldagem dos corpos de prova 2
3 Realização dos ensaios 13
4 Parâmetros a serem determinados 19
5 Comentários finais 26
6 Referências 27

ii 
 
 

1 Introdução

O presente procedimento de ensaio de adensamento unidimensional é baseado na norma


brasileira NBR 12007 de dezembro de 1990, intitulada Solo- Ensaio de Adensamento
Unidimensional; nas notas de aula de Adensamento do Professor Ian Schumann
Marques Martins (2007) e nas teses e dissertações de Aguiar (2008), Andrade (2009),
Jannuzzi (2013) e Soares (2016).

Cabe salientar a importância das definições de adensamento e compressibilidade.


Segundo Martins (2016), adensamento é o processo de redução de volume ao longo do
tempo, de um solo saturado, ocasionado pela saída de uma quantidade de água igual à
redução do volume de vazios, como resultado da transferência gradual do excesso de
poro-pressão, gerado por um carregamento, para a tensão efetiva. Já a compressão de
um elemento de solo, é a redução de volume do referido elemento relacionada à
variação do estado de tensões efetivas a que foi submetido, sem levar em consideração o
tempo.

No presente documento será abordado o procedimento de adensamento unidimensional


de um solo saturado. Recomenda-se a dissertação de Soares (2016) para o procedimento
de moldagem e realização de ensaio de compressão de um solo tropical.


 
 

2 Moldagem dos corpos de prova

Uma etapa preliminar à realização dos ensaios de adensamento é a moldagem dos


corpos de prova. Os corpos de prova podem ser moldados de forma indeformada e
completamente amolgada. As duas formas de moldagem serão abordadas neste
procedimento.

2.1 Procedimentos de moldagem do corpo de prova indeformado

O processo de moldagem dos corpos de prova descrito a seguir tem sido usado por anos
no Laboratório de Reologia da COPPE/UFRJ, e pode ser visto por exemplo também em
Aguiar (2008), Andrade (2009) e Jannuzzi (2013), sendo semelhante à sugestão de Ladd
e Degroot (2003).

A amostra é colocada sobre uma bancada em um dispositivo com roletes que são
fixados em uma peça de madeira, de modo a facilitar o corte da seção do tubo
amostrador. Normalmente corta-se uma seção de 4 cm de comprimento para se moldar o
corpo de prova, cuja altura é aproximadamente 2 cm. O processo de corte é realizado
girando-se o tubo amostrador à medida que se efetua o corte (figura 1). Enquanto isto
ocorre a seção já cortada é protegida com filme plástico, conforme se observa na figura.
Após a conclusão do corte do tubo amostrador, a amostra é cortada com um fio de
violão, a fim de se evitar o amolgamento. Em seguida coloca-se filme plástico na outra
extremidade da amostra, para não se permitir que a amostra perca umidade.


 
 

Figura 1 – Procedimento de corte do tubo amostrador (Jannuzzi, 2013).

O passo seguinte é a utilização de uma agulha com corda de violão para desprender a
amostra da seção do tubo, passando-se a corda ao longo da geratriz da seção do tubo
(quatro vezes), conforme ilustra a figura 2.

Figura 2 – Utilização de uma agulha com corda de violão para desprender a amostra da
seção do tubo (Jannuzzi, 2013).

Em seguida passa-se silicone na parte interna do anel, a fim de diminuir o atrito e evitar
a perturbação do corpo de prova, e crava-se o anel de adensamento na amostra. Sugere-
se que este procedimento seja realizado através de um torno, conforme ilustra a figura 3,
para que a cravação ocorra perfeitamente na vertical.

 
 

Figura 3 – Procedimento de cravação do anel com um torno (Jannuzzi, 2013).

Após a cravação do anel na amostra, passa-se novamente a agulha com fio de violão ao
longo da geratriz da seção do tubo (quatro vezes) a fim de permitir a extrusão da
amostra mais facilmente. Em seguida, extruda-se a amostra, conforme ilustra a figura 4.


 
 

Figura 4 - Amostra extrudada após a cravação do anel de adensamento (Jannuzzi,


2013).

Molda-se o corpo de prova, retirando-se o excesso de solo do anel de adensamento


conforme ilustra a figura 5. Uma parte do material restante da moldagem  da parte
central da amostra  é colocada em cápsulas para determinação da umidade natural,
conforme ilustra a figura 6.


 
 

Figura 5 – Moldagem do corpo de prova (Jannuzzi, 2013).

Figura 6 – Porção da amostra destinada à determinação do teor de umidade (Jannuzzi,


2013).

Pesa-se o corpo de prova dentro do anel (figura 7), após a moldagem, para a
determinação do peso específico natural (n).


 
 

Figura 7 – Pesagem do corpo de prova (Soares, 2016).

Posiciona-se posteriormente o anel com o bisel voltado para cima na célula de


adensamento (conforme figura 8), a qual contém um elemento poroso na parte inferior.

A seguir coloca-se a parte superior da célula de adensamento sobre o corpo de prova,


que contém o elemento poroso na parte superior. A parte superior é que recebe o
carregamento para o ensaio (figura 9).


 
 

Figura 8 – Colocação do corpo de prova na célula de adensamento (Jannuzzi, 2013).

Figura 9 –Parte superior da célula de adensamento sendo colocada sobre o corpo de


prova (Jannuzzi, 2013).

2.2 Procedimentos de moldagem do corpo de prova amolgado

O corpo de prova na condição completamente amolgada é moldado da seguinte forma:


inicialmente, e tal como no caso da amostra indeformada, corta-se uma seção do tubo


 
 

amostrador de 4 cm de comprimento. Removem-se as partículas remanescentes na


amostra, conforme ilustra a figura 10. A seguir a amostra é retirada do tubo tal como
anteriormente descrito, sendo removida uma pequena fatia das partes inferior e superior
e um anel de pequena espessura (volume) da lateral da amostra, conforme ilustra a
figura 11.

Figura 10 – Remoção das partículas remanescentes do processo de corte do tubo


(Jannuzzi, 2013).


 
 

Figura 11 – Remoção de fatia superior de pequena espessura (Jannuzzi, 2013).


.
Com o emprego de um saco plástico remolda-se a amostra até se destruir totalmente sua
estrutura, conforme ilustram as figuras 12 e 13.

Figura 12 – Colocação da amostra no interior de saco plástico para amolgamento


(Jannuzzi, 2013).

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Figura 13 – Amolgamento da amostra (Jannuzzi, 2013).

Após o amolgamento o solo é colocado no anel de adensamento, com o auxílio de uma


espátula, conforme pode ser visto nas figuras 14 e 15.

Figura 14 – Colocação do solo no anel de adensamento (Jannuzzi, 2013).

11 
 
 

Figura 15 – Corpo de prova amolgado, antes da limpeza final (Jannuzzi, 2013).

Pesa-se o corpo de prova amolgado dentro do anel e adotam-se os mesmos


procedimentos anteriores para colocá-lo na célula de adensamento.

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3 Realização dos ensaios

3.1 Realização do ensaio

Com o intuito de se iniciar o ensaio, coloca-se a célula de adensamento na prensa de


adensamento (figura 16) e realizam-se os devidos ajustes e nivelamento da prensa
(figura 17), incluindo a inundação da célula de adensamento para não permitir que a
amostra, que é saturada, perca umidade.

Figura 16 - Posição da célula de adensamento na prensa de adensamento (Soares, 2016).

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Figura 17 - Nivelamento da prensa (Soares, 2016).


 

Após os ajustes realiza-se a leitura inicial no extensômetro (figura 18). A carga de ajuste
é então colocada e o cronômetro é acionado no mesmo instante (figura 19). Esta carga
de ajuste deve permanecer por cerca de 12 horas, o que é geralmente feito à noite
(figura 20).

14 
 
 

Figura 18 - Leitura zero do extensômetro (Soares,2016)..

Figura 19 - Disparo do cronômetro Figura 20 - Carga inicial de ajuste


(Soares, 2016). (Soares, 2016).

No dia seguinte inicia-se o ensaio de adensamento incremental, com estágios de 24


horas de duração cada. Recomenda-se que cada estágio de carregamento seja da ordem

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do dobro do anterior. Uma sequência de estágios de carregamento recomendada é:


3,25 kPa, 6,50 kPA, 12,50 kPa, 25 kPa, 50 kPa, 100 kPa, 200 kPa, 400 kPa, 800 kPa e
de descarregamento: 800-400 kPa, 400-200 kPa e 200-100 kPa. Em alguns ensaios um
estágio intermediário pode ser introduzido, visando determinar com mais acurácia a
tensão de sobreadensamento. O primeiro dos carregamentos, de 3,25 kPa, é entendido
como uma carga de ajuste do sistema (como mencionado anteriormente), que pode
permanecer menos do que 24 horas.

Recomenda-se a realização do ensaio com temperatura controlada de 20°C± 1°C.

Com a realização do ensaio seguindo-se a sequência dos estágios acima citados, cada
ensaio tem a duração de pelo menos doze dias.

Os ensaios de adensamento são geralmente realizados com as medidas de


deslocamentos levadas a efeito com extensômetros mecânicos, sendo as leituras
efetuadas visualmente e anotadas.

As leituras recomendadas pela norma brasileira são: leitura inicial (tempo zero), 1/8min,
1/4min, 1/2min, 1 min, 2 min, 4min, 8min, 15min, 30min, 1h, 2h, 4h, 8h, e 24 horas,
contatos a partir do instante de aplicação do incremento de carga.

As leituras recomendadas por Martins (2012) são: leitura inicial (tempo zero), 6s, 15s,
30s, 45s, 1 min, 1,5min, 2min, 3min, 4min, 6min, 8min, 10min, 12min, 15min, 20min,
30min, 40min, 50min, 60min, 90min, 120min, 150min, 240min, 300min 400min,
500min, 600min e 1440min, contados a partir do instante de aplicação do incremento de
carga.

A Figura 21 ilustra quatro ensaios no último estágio de carregamento.

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Figura 21 - Prensas no último estágio de carregamento (Soares, 2016).

3.2 Desmontagem

Após a realização dos ensaios a célula de adensamento é retirada da prensa e


desmontada, conforme ilustrado na figura 22. Recomenda-se realizar uma inspeção do
corpo de prova para se verificar a eventual presença de conchas ou outros materiais
(figura 23).

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(a) (b)
Figura 22 – a) Desmontagem da célula; b) Retirada do corpo de prova (Jannuzzi, 2013).

(a) (b)
Figura 23 – a e b) Inspeção do corpo de prova após o ensaio de adensamento (Jannuzzi,
2013).

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4 Parâmetros a serem determinados

4.1 Parâmetros empregados

a) Coeficiente de compressibilidade (av) dado por:

𝒅𝒆
𝒂𝒗
𝒅𝝈𝒗

b) Coeficiente de variação volumétrica (mv) dado por:

𝒅 𝒗
𝒎𝒗
𝒅𝝈𝒗

c) Módulo de compressão edométrica (D) dado por:

𝒅 𝒗
𝑫
𝒅 𝒗

4.2 Índices de compressibilidade em termos do índice de vazios.

Traça-se a curva de compressibilidade (índice de vazios versus log ’v ) e determinam-


se os índices de compressão, recompressão e descompressão, que Terzaghi introduziu
para indicar as inclinações da curva.

Figura 24 - Índices de compressibilidade (Martins, 2011).

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4.3 Coeficiente de adensamento (cv)

O coeficiente de adensamento pode ser calculado tanto pelo método de Casagrande


(logaritmo do tempo) quanto pelo método de Taylor (raiz de t).

O cálculo do coeficiente de adensamento varia para cada incremento de carga. Portanto,


seu cálculo é feito para cada estágio de carregamento e os resultados são apresentados
em função do intervalo de pressão a que correspondem. Em problemas reais adotam-se
os coeficientes correspondentes às tensões envolvidas.

4.3.1 - Método de Casagrande (logaritmo do tempo)

1) Determina-se a altura do corpo de prova correspondente ao início do


adensamento primário, hi (que não é necessariamente a altura antes da aplicação
da carga, em função da compressão inicial). Toma-se a ordenada para um tempo
qualquer no trecho inicial, t, verifica-se sua diferença com a ordenada para um
tempo 4t e soma-se essa diferença à ordenada do tempo t, obtendo-se assim a
ordenada correspondente ao início do adensamento primário.

2) Estima-se a altura do corpo de prova correspondente ao final do adensamento


primário, h100, pela ordenada da interseção da tangente ao ponto de inflexão da
curva com a assíntota ao trecho final da curva que, em escala logarítmica, é
linear e corresponde ao adensamento secundário.

3) Determina-se a altura do corpo de prova quando 50% do adensamento tiver


ocorrido, que é a média dos dois valores obtidos anteriormente.

4) Verifica-se, pela curva, o tempo em que teriam ocorrido 50% dos recalques por
adensamento primário.

5) Calcula-se o coeficiente de adensamento pela equação

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Onde :

T= 0,197 é o fator tempo correspondente a 50% do adensamento primário;

t50 é o tempo correspondente a 50% de recalque;

Hd é a metade da altura média do corpo de prova.

Figura 25 – Exemplo de cálculo de cv pelo Método de Casagrande (Pinto, 2006).

4.3.2 -Método de Taylor (raiz de t)

1) Os dados dos ensaios são colocados em função da raiz quadrada do tempo.

2) Traça-se uma reta pelo trecho inicial do ensaio.

3) A interseção da reta com o eixo das ordenadas indica a altura do corpo de prova
no início do adensamento. A diferença entre esse ponto e a altura do corpo de
prova antes do carregamento indica a compressão inicial.

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4) Do início do adensamento primário, traça-se uma reta com abscissas iguais a


1,15 vezes as abscissas correspondentes da reta inicial.

5) A interseção da reta com a curva do ensaio indica o ponto em que teriam


ocorrido 90% do adensamento.

6) Definido o ponto correspondente a 90% de recalque, o tempo que isso ocorreu,


t90, é determinado, e pode-se calcular o coeficiente de adensamento.

Onde :

T= 0,848 é o fator tempo correspondente a 90% do adensamento primário;

t90 é o tempo correspondente a 90% de recalque;

Hd é a metade da altura média do corpo de prova.

Figura 26 – Exemplo de cálculo de cv pelo Método de Taylor (Pinto, 2006).

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4.4 Tensão de sobreadensamento

A tensão de sobreadensamento (σ’vm) pode ser calculada pelo Método de Casagrande


(1936) e pelo Método de Pacheco Silva (1970).

4.4.1 – Cálculo da tensão de sobreadensamento (σ’vm) pelo método de Casagrande


(1936)

Procedimento:

1) Determinar sobre a curva de compressão o ponto onde a curvatura é máxima (raio


mínimo);

2) Traçar por este ponto uma reta horizontal;

3) Traçar uma reta tangente pelo ponto de curvatura máxima;

4) Traçar a bissetriz do ângulo formado pelas retas horizontal e tangente ao ponto de


curvatura máxima;

5) Traçar o prolongamento do trecho de compressão virgem;

6) Determinar σ’vm pela interseção da reta de prolongamento do trecho de compressão


virgem com a reta bissetriz do ângulo.

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Figura 27 – Determinação da tensão de sobreadensamento pelo método de Casagrande


(Pinto, 2006).

4.4.2 – Cálculo da tensão de sobreadensamento (σ’vm) pelo Método de Pacheco


Silva (1970)

1) Traçar uma reta horizontal pelo índice de vazios inicial da amostra (e0);

2) Prolongar o trecho de compressão virgem até que o prolongamento toque a reta


horizontal;

3) Traçar pelo ponto de interseção uma reta vertical até que a curva de compressão seja
interceptada.

4) Traçar pelo ponto de interceção com a curva de compressão uma reta horizontal e
determinar σ’vm na interseção da horizontal assim traçada com o prolongamento do
trecho de compressão virgem.

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Figura 28 – Determinação da tensão de sobreadensamento pelo método de Pacheco


Silva (1970) (Pinto, 2006).

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5 Conclusões e comentários finais

Este documento foi elaborado incialmente para ser um procedimento de realização do


ensaio de adensamento unidimensional. Futuramente a autora tem a intenção de
aprimorá-lo para torná-lo um manual de ensaios de adensamento e de
compressibilidade.
Vale ser salientado que a norma brasileira de adensamento da ABNT NBR 12007 foi
cancelada em 20/07/2015.

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6 Referências

ABNT NBR 12007, 1990, Solo – Ensaio de adensamento unidimensional (norma


cancelada).
AGUIAR, V.N., 2008, Características de adensamento da argila do canal do porto de
Santos na região da ilha Barnabé. Dissertação de mestrado, COPPE/UFRJ.
ANDRADE, M.E.S., 2009, Contribuição ao estudo das argilas moles da cidade de
Santos. Dissertação de mestrado, COPPE/UFRJ.
JANNUZZI, G.M.F., 2013, Inovadoras, modernas e tradicionais metodologias para a
caracterização geológico-geotécnica da argila mole de Sarapuí II. Tese de
Doutorado, COPPE/UFRJ.
MARTINS, I.S.M., 2007, Notas de Aula da Disciplina de Adensamento, Curso de
Mestrado em Engenharia Civil, COPPE/UFRJ.
MARTINS, I.S.M., 2012, Comunicação pessoal.
MARTINS, I.S.M., 2016, Sobre algumas grandezas, suas unidades e suas definições. In:
Willy Lacerda - Doutor no saber e na arte de viver. Outras letras, Rio de Janeiro,
pp. 283-296.
PINTO, C. de S., 2006, Curso Básico de Mecânica dos Solos. Oficina de Textos, São
Paulo.
SOARES.C.S.M., 2016, Caracterização de um solo tropical colapsível de Mato Grosso
a partir de ensaios de campo. Dissertação de mestrado, COPPE/UFRJ.

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