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Catedral Metodista de Piracicaba, Escola Dominical, Classe Alternativa 13/09/2020

Anotações de condução da aula, por Luis de Souza Cardoso

INTRODUÇÃO

o Revisão da Unidade 1 “Viver com fé”

o Estamos iniciando a Unidade 2 “Viver com sabedoria”

o Título da Lição “Viver com sabedoria”

o OBJETIVO da lição é refletir sobre o conceito de sabedoria na Bíblia. Reafirmar sua importância
e valor para a vida e no exercício da fé.

o Provérbios 1.1-33

o O livro de Provérbios ainda que seja muito lido, é pouco estudado e poucas vezes são pregados
sermões baseados nos textos do livro.

o Inclusive, procurei bibliografia na minha biblioteca e me dou conta que tenho somente um livro na
área de Bíblia que trata do tema Sabedoria.

▪ Provavelmente o tema esteja presente em outros livros, mas especificamente sobre o tema, só
tenho um livro. Não tenho nenhum comentário de Provérbios, por exemplo.

▪ Claro que nesse sentido ajudam as bíblias comentadas, como a Bíblia de Jerusalém, Bíblia
Pastora, Bíblia Vida Nova, Bíblia com as notas de Wesley e outras, que estão disponíveis.

o Leitura de Provérbios 1.1-33

✓ Qual é a diferença entre INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO e SABEDORIA?

o Compartilhar quadro comparativo

✓ INFORMAÇÃO – De forma bem genérica, podemos dizer que informação tem a ver com fatos que
acontecem e que são repassados.

✓ CONHECIMENTO é o que fazemos com as informações coletadas, como as tratamos e as


transformamos em algo útil, sabendo inclusive renunciar àquilo que seja desnecessário.

✓ SABEDORIA – o dicionário diz de sabedoria: justo conhecimento das verdades, natural ou


adquirido; prudência e moderação no modo de agir, temperança e reflexão.

✓ Em nossa cultura a sabedoria é mais valiosa que o conhecimento e ambos são mais importantes do
que apenas o acesso à informação.

✓ Perguntas: E o que a Bíblia nos ensina sobre Sabedoria? Como age alguém com sabedoria vinda de
Deus? (para responder ao final)

✓ CONTEXTO bíblico e literário


o Sabedoria é também um gênero literário na Bíblia. Os chamados livros sapienciais. Não
apenas o livro dos Provérbios de Salomão faz parte desse gênero, mas também Jó, Salmos,
Eclesiastes, Cantares de Salomão.

o Esse gênero de sabedoria proverbial era comum no antigo oriente em outros povos, antes do
povo israelita.

▪ Egípcios – com o “Ensinamento para o Vizir Ptah-hotep” de 2.450 a.C., “Os Ensinos
para o Rei Meri-ka-re” de aproximadamente 2.200 a.C., ou “A Sabedoria de
Amenemopet”, de aproximadamente 1.200 a.C., que aliás é muito similar a Pv 22.17 –
24.22.

▪ Mesopotâmios / Babilônicos / Assírios, por exemplo, com os textos proverbiais de


“Nippur”, ou os ensinamentos de Ahiqar, conselheiro de Senaqueribe (700 a.C.).

▪ Fenícios - As descobertas em Ugarite têm mostrado a relação próxima entre a


sabedoria fenícia e a hebraica, especialmente em relação a métrica utilizada. Muitas
das formas incomuns e palavras raras na Literatura de Sabedoria bíblica são agora
compreensíveis a partir das descobertas arqueológicas em Ras Shamra (Ugarite).
Cantares é muitíssimo parecido com canções de casamentos fenícios, chamadas wasps
e escritas em aproximadamente 600 a.C.

▪ Mesmo na Canaã pré-israelita, Edom, conforme revelou William Albright, arqueólogo


e linguista, encontram-se muitas similaridades entre a literatura de sabedoria cananéia
e a hebraica.

• muitas vezes as mesmas palavras aparecem como pares

• presença do quiasmo (figura de linguagem onde os elementos são dispostos de


forma cruzada, onde a segunda linha repete a primeira de forma invertida.
Ex.: Salmo 51.1 “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade;
e segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas
transgressões.” Ou 1Pe 1,24 “Porque toda carne é como erva, e toda a glória
do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor”)

• os textos contêm sobrescritos

• e contêm notações musicais

▪ Alguns exemplos de escritos de Sabedoria semítica não israelita são: Jó de Edom;


Agur de Massá; Lemuel de Massá.

▪ CÂNON

▪ Além dos livros de sabedoria que conhecemos em nosso cânon protestante (Jó,
Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares), há outros que estão também no cânon
católico romano e nos diferentes cânones ortodoxos do oriente.

▪ No cânon católico romano, além dos já mencionados, encontramos: Eclesiástico


(Sirácida ou Sabedoria de Ben Siraque), Livro da Sabedoria de Salomão e certas
passagens do livro do livro de Tobias (que é mais bem considerado entre o gênero
histórico). E Sirácida capítulo 52 aparece em algumas liturgias antigas da Missa.
▪ Nos diferentes cânones do Oriente, como o ortodoxo grego e outros, além dos livros já
mencionados, aparecem outros livros de sabedoria, tais como Salmos 151-155, os
Salmos de Salomão (ortodoxo sírio e da igreja assíria do oriente), um segundo livro de
Provérbios (na tradição Ortodoxa Etíope)

▪ Além disso o gênero literário sapiencial aparece espalhado em todos os demais livros
do cânon, em diversas passagens, inclusive no novo testamento e nos ditos de Jesus.

✓ Mas o que é e como compreender a SABEDORIA? O livro “As Raízes da Sabedoria” VVAA,
menciona que “A sabedoria é uma realidade complexa e enigmática e pode-se dizer que ela é
fundamentalmente a arte do discernimento para se fazer aparecer o que favorece a vida ou, ao
contrário, o que leva à morte”.

✓ Oferece uma comparação para melhorar o entendimento do que seja a SABEDORIA: compara o
sábio ao timoneiro experiente que dirige o seu barco com habilidades e tirocínio, apesar da
tempestade, dos bancos de areia ou dos recifes. O sábio, para viver do melhor modo possível e evitar
ao máximo os insucessos, observa a realidade com paciência e prudência, procura discernir o
verdadeiro do falso, o útil do inútil, a vida da morte. De sua experiência pessoal e da experiência
daqueles que o antecederam tira lições que o orientam em seu comportamento e na sua jornada.

✓ E esse esforço por discernir, se aplica a todos os domínios da realidade, do mundo que o cerca aos
segredos da existência humana, situa-se numa perspectiva filosófica e religiosa.

✓ O livro dos Provérbios, por exemplo, orienta diversos temas, tais como família, relacionamento
intrafamiliar, relacionamento entre o rei e os súditos, honestidade nos negócios, ética,
comportamento social, comportamento moral, prosperidade na vida, prática da justiça e do direito.

✓ Seu principal objetivo é EDUCATIVO, como já fica claro no primeiro capítulo:

o Para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter
o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples prudência e
aos jovens, conhecimento e bom siso. (Pv 1.2-4) siso = tino, capacidade de análise

o Um versículo muito conhecido e citado é a expressão do verso 7: O temor do Senhor é o


princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino. E que espelha esse
propósito educativo do livro. Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de
tua mãe. (v.8)

✓ Então há toda uma discussão sobre a “sabedoria inata” ou o “aprendizado da sabedoria”. Más nós já
ouvimos falar que “ninguém nasce sabendo!” (em geral para justificar erros cometidos). Bem,
embora não se possa descartar certos aspectos da sabedoria inata (aquela que parece que já nasce com
a gente), na sua mais ampla expressão a sabedoria pode (e deve) ser aprendida ao longo da vida.

✓ Então podemos dizer que ela é uma arte em desenvolvimento. Ela pode ser ensinada e aprendida!
Então a nossa lição menciona que:

o O ensino é uma ferramenta que pode gerar conhecimentos necessários para a vida, que
somados à experiência, gera a sabedoria.

o E menciona um estudo do Bispo Josué, publicado na Revista Caminhando, da Faculdade de


Teologia, que se refere aos Quatro Pilares da Educação, do famoso Relatório Delors
(organizado por Jacques Delors, que foi presidente da Comissão Europeia), apresentado à
UNESCO pela Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (1996), intitulado:
“Educação, um Tesouro a descobrir”. Os pilares são os seguintes:

▪ Aprender a conhecer: cabe a cada pessoa empenhar-se na busca do conhecimento


fundamental para promover transformação, libertação das pessoas e das sociedades.
Aprender a conhecer significa também a disposição para aprender a aprender.

• Na tradição protestante e particularmente na tradição metodista isso é


fundamental. Wesley organizou em 1750 a chamada “Biblioteca Cristã”,
originalmente composta por 50 livros, além da bíblia (e depois ampliada), de
leitura obrigatória para os pregadores metodistas. a internet encontramos uma
edição completa em 30 livros de 1821. O irmão João Wesley Dornelas, da
1ªRE, de saudosa memória, cunhou uma frase inspirado na famosa frase do
Hamlet de Shakespeare “Ser ou não ser, eis a questão”. Dornelas dizia
“Metodista, ler ou não ser”. Há uma boa história da carta de Wesley a um
pregador chamado John Trembath (17 de agosto de 1760). (contar a história)
Ele conclui escrevendo:

• O que tem lhe prejudicado excessivamente nos últimos tempos e, temo que seja
o mesmo atualmente, é a carência de leitura. Eu raramente conheci um
pregador que lesse tão pouco. E talvez por negligenciar a leitura, você tenha
perdido o gosto por ela. Por esta razão, o seu talento na pregação não se
desenvolve. Você é apenas o mesmo de há sete anos. É vigoroso, mas não é
profundo; há pouca variedade; não há sequência de argumentos. Só a leitura
pode suprir esta deficiência, juntamente com a meditação e a oração diária.
Você engana a si mesmo, omitindo isso. Você nunca poderá ser um pregador
fecundo nem mesmo um crente completo. Vamos, comece! Estabeleça um
horário para exercícios pessoais. Poderá adquirir o gosto que não tem; o que
no início é tedioso, será agradável, posteriormente. Quer goste ou não, leia e
ore diariamente. É para sua vida; não há outro caminho; caso contrário, você
será, sempre, um frívolo, medíocre e superficial pregador. Faça justiça à sua
própria alma; dê-lhe tempo e meios para crescer. Não passe mais fome.
Carregue a sua cruz e seja um cristão no verdadeiro sentido da palavra.

▪ Aprender a fazer: para alcançar o conhecimento não basta apenas aprender a


aprender, mas é necessário agir a partir do que aprendeu. Ou seja, é necessário a
prática. Ou a práxis que é o aprender à medida que faz.

▪ Aprender a conviver: a sabedoria se manifesta e se desenvolve por meio da inclusão,


da comunicação com o outro, do respeito às pessoas diferentes, da humanização e do
serviço ao próximo. Na Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire escreve que “Ninguém
educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo.” Lendo somente a primeira parte da frase, parece estranho,
mas na segunda parte se compreende o que o mestre quis dizer, ou seja, que nós nos
educamos à medida que convivemos e intercambiamos com os outros. Martim Buber,
filósofo de origem judaica, em seu livro Eu e Tu, menciona que nós não existimos se
não for em relação ao outro. O Eu não existe sem o Tu. Ou seja, o melhor meio para
se aprender é no conjunto do Nós, que Levinás vai trabalhar na filosofia da
Alteridade.
▪ Aprender a ser: a sociedade moderna capitalista e individualista promove e valoriza
mais o ter do que o ser. Mas, todo conhecimento, educação e ensinos transmitidos pela
Palavra de Deus, pelo Evangelho de Jesus, nos desafiam a sermos seguidores do
Reino de Deus, onde o que importa é o que somos, não o que temos em termos
materialistas. Nesse sentido, viver com sabedoria implica viver bem consigo mesmo,
com as pessoas ao nosso redor e principalmente com Deus.

• Lembram da advertência de Jesus em Lucas 12, para aquele homem que dizia
ter tudo, que encheria os seus celeiros e depois de acumular tanto dizia a si
mesmo: “tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come,
bebe e regala-te.” Mas Jesus respondeu: “Louco, esta noite te pedirão a tua
alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si
mesmo e não é rico para com Deus.” (Lc 12:20-21)

✓ Então, apenas para recalcar a ideia: Sabedoria pode e deve ser aprendida ao longo da vida,
acumulando o melhor para nos tornarmos cada vez melhores em termos qualitativos da vida, conosco
mesmo, com os outros e com Deus.

✓ Por último, queria mencionar um conceito chave, que a lição menciona e que aparece em todo o
Antigo Testamento (e no Novo Testamento), que é a SABEDORIA como TEMOR DO SENHOR

✓ Temor aqui não se confunde com “ter medo”. No português “temor” pode adquirir uma conotação
negativa. O problema é que a palavra hebraica YIR’AR, é de difícil tradução para as línguas
ocidentais em uma só palavra, uma vez que encerra em si um conceito, que precisa ser em certo
sentido explicado para ser compreendido.

✓ Embora o termo hebraico também pode ser empregado para uma classe de temor no sentido de medo,
ela vai além disso. Por exemplo, a palavra é utilizada no episódio do encontro de Jacó e Esaú, onde
se refere que Jacó “temeu” quando se preparou para se encontrar com seu irmão Esaú.

✓ YIR’AR – TEMOR DO SENHOR, geralmente e mais comumente significa respeito, reverencia,


reconhecimento da superioridade, da transcendência. Também expressa o reconhecimento de
autoridade de pessoa de posição mais elevada, de alguém que deve ser considerado com deferência e
respeitado.

✓ Nesse sentido o TEMOR DO SENHOR está intimamente relacionado com CONFIANÇA, pois
podemos respeitar e reverenciar verdadeiramente a Deus quando cremos que Ele é, de fato, tudo o
que sua Palavra, a Bíblia, diz sobre o que Ele é.

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