Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Vários anos atrás, um político americano popular viajou a um país da América Latina.
Quando ele chegou ao aeroporto do país que o recebia, ele saiu da aeronave acenando
para a multidão reunida que incluía dignitários e repórteres da imprensa local. Alguém
perguntou ao político americano como havia sido sua viagem. Como resposta, ele usou
o dedo polegar e o indicador para expressar o comum “O.K.!” que, mesmo num gesto
rápido, foi capturado pelas câmeras.
Deixando o aeroporto, o político americano foi para uma rápida visita com oficiais do
governo local. Em seguida, ele foi até a principal universidade daquela região para
proferir um discurso. Ele foi acompanhado até a universidade pelo seu tradutor oficial
do governo dos Estados Unidos que por acaso era um militar e estava uniformizado. O
discurso do político americano tratou do desejo dos EUA prestarem ajuda aos países
vizinhos latino-americanos através de auxílios na economia de forma a melhorar a
condição dos mais pobres.
A viagem toda foi um desastre. Por quê? Porque apesar da comunicação verbal do
político americano ter sido satisfatória, não-verbalmente ele comunicou uma mensagem
totalmente diferente.
Quando indagado sobre como havia sido a viagem, o americano gesticulou o que pra
ele significava um simples “O.K .” Este gesto foi fotografado pelos noticiários e
impresso nas primeiras páginas dos jornais locais. Enquanto este gesto com as mãos
significa “O.K.” na América do Norte, ele representa um gesto obsceno naquela região
da América Latina.
A universidade que o político americano escolheu para proferir seu discurso havia
acabado de ser um local de manifestações violentas contra o governo. O governo havia
escolhido aquela universidade na expectativa de demonstrar uma solidariedade quanto à
manifestação dos estudantes. Estes, porém, viram o político americano como um amigo
do governo local que estaria invadindo sua universidade com um tradutor militar. Os
estudantes interpretaram a presença do militar como se o político americano estivesse
apoiando os policiais do governo local.
Qual a primeira coisa que você repara em uma pessoa? Roupa? O rosto? O “estilo”? O
que quer que seja, provavelmente não é a linguagem. Embora a linguagem não seja a
característica mais proeminente em uma pessoa, ela é certamente uma das mais
reveladoras. Até que a comunicação verbal seja estabelecida, o conhecimento sobre a
pessoa é limitado e parcial. A linguagem permite que as pessoas conheçam seus
pensamentos, interesses, sua visão da vida e, acima de tudo, a você mesmo.
Linguagem pode ser de forma escrita. Assim, não mais audível. Vários alfabetos,
incluindo hieroglífico, pictoral, ou ortografia fonética, têm sido usados ao longo da
história. A saber, nem toda sociedade tem uma forma escrita de sua linguagem falada.
Porém, toda linguagem pode ser escrita, e cada pessoa tem o potencial de escrever a
língua que fala.
Isto nos leva a definir linguagem como comunicação verbal, sistemática e simbólica.
Linguagem é sempre verbal. Linguagem falada é a base para todas as outras formas de
linguagem: linguagem escrita, linguagem de sinais, e gestos. Os símbolos escritos
servem para representar os sons.
Linguagem não é apenas algo falado. Ela também pode ser sistemática. Toda linguagem
é estruturada. Há interações entre o que age e suas ações, e seus modificadores. A
estrutura formada por estas interações é chamada gramática. Toda linguagem tem uma
gramática e o seu falante segue suas regras mesmo não estando atento a elas. Uma
criança de cinco anos pode não saber a diferença entre um substantivo e um verbo, mas
pode falar uma frase gramaticalmente correta. Gramática dá sentido à linguagem. Ela
nos informa quem é o que age e quem está sofrendo a ação.
Além de ser verbal e sistemática, linguagem também é simbólica. Nós usamos símbolos
para representar várias classes. Estes símbolos são arbitrários e não estão diretamente
ligados à classe de objetos que eles representam. Por exemplo, não há nada sobre
animal peludo, quadrúpede, que é amigo do homem, que sugira "cachorro" ou "perro"
ou "chien". São simplesmente sons que o português, espanhol e o francês concordaram
em chamar este animal em particular. Símbolos são abstratos. Ou seja, nós podemos
falar sobre um cachorro que não está presente ou mesmo sobre um que jamais existiu.
Podemos manipular os símbolos. Linguagem é possível porque seres humanos são
capazes de atividade simbólica.
O FENÔMENO DA LINGUAGEM
Linguagem serve como uma ponte entre os aspectos biológico e cultual da vida.
Malinowski percebeu sete necessidades biológicas cruciais da vida humana:
metabolismo, bem-estar, segurança, crescimento, reprodução, movimento e saúde.
Seres humanos, respondendo a estas necessidades biológicas, formam e perpetuam
estruturas sociais e instituições projetadas para preencher estas necessidades.
Evolucionistas têm tentado explicar a linguagem como tendo sido desenvolvida das
formas simples para as mais complexas, ou de acordo com Otto Jespersen, das mais
complexas para formas mais simples, e então uma expressão mais eficiente. Talvez, o
grande equívoco foi que eles distinguiram entre linguagens ‘primitivas’ e ‘verdadeiras’.
As primeiras não se qualificam como linguagens totalmente desenvolvidas. As últimas
são basicamente as linguagens européias.
Na realidade, todas as linguagens conhecidas são expressões adequadas da cultura na
qual ela funciona. Toda linguagem tem uma regularidade de estruturas, potencial de
expressar conceitos abstratos, e características geralmente associadas com linguagens
‘verdadeiras’. Deve-se considerar que algumas linguagens são mais avançadas, mas não
superiores, do que outras em áreas de presença tecnológica e filosófica. As linguagens
menos avançadas podem ser chamadas de ‘locais’, e as mais avançadas, linguagens
‘mundiais’. Apesar de todas as linguagens terem recursos para expressarem as mesmas
coisas, a linguagem diretamente associada com o crescimento industrial e urbano
desenvolveu um vocabulário adicional e flexibilidade sintática.
Recentes tentativas de explicar a linguagem em sua forma mais científica afirmam que
houve uma transição ou desenvolvimento das formas sistemáticas de comunicação para
a linguagem apropriada (do gemido para palavras, por exemplo). Lingüistas
trabalharam na tentativa de ver como essa transição teria dado lugar. Edward Sapir
lidou com a transição da linguagem a partir da função expressiva para a referencial. Ele
entendeu que a linguagem teria começado como uma reação espontânea à realidade.
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Com base nestas três observações, Chomsky concluiu que há um fator imediato
envolvido na aquisição da linguagem. Ele postulou que seres humanos têm uma
habilidade inata para linguagem.
Evolucionistas têm dificuldades com o esquema de Chomsky, pois segundo ele não há
evidências para a evolução da linguagem. Isso, claro, estaria em harmonia com a
posição criacionista bíblica.
LINGUAGEM NA CULTURA
Torna-se necessário, então, mudar o conceito de linguagem como sendo uma expressão
da cultura, para um de comunicação através do uso da linguagem. A linguagem presta
serviço à cultura que a originou. Não há nenhuma consagração da linguagem à parte do
grande contexto de significados estabelecidos em uma cultura. Desta forma, estudantes
de cursos de língua estrangeira são geralmente incapazes de falar aquela língua quando
entram num grupo cultural da mesma. Os estudantes aprenderam a língua em relação a
suas próprias perspectivas e valores sócio-culturais e não como aquelas pessoas que
falam aquela língua tendo-a como materna. Fluência em uma segunda língua está
geralmente prejudicada por hábitos incorretos aprendidos previamente.
Reaprendizagem da prática da língua leva tempo. Alguns não conseguem quebrar os
maus hábitos, e então, não ganham fluência.
Pelo fato da linguagem ser um comportamento aprendido, ela vem a ser parte da
cultura. Adaptação a um aspecto cultural começa até antes do nascimento. Os horários,
por exemplo, são culturais. O feto está sujeito ao tempo da mãe antes do nascimento.
Após o nascimento, se alimentar, dormir, e outras atividades são umas das primeiras
experiências vividas pelo bebê. Cada cultura faz os seus próprios horários. Pessoas em
algumas culturas acordam cedo, pessoas em outra dormem tarde. O poder desta rotina é
sentido somente quando uma pessoa deixa a sua cultura ou subcultura e se muda para
outra com uma rotina radicalmente diferente. O nosso ciclo é algo tão internalizado que
uma alteração forçada nos horários é emocionalmente perturbador e destruidor.
H.Douglas Brown afirma que suas hipóteses podem ser demonstradas pela
forma como várias línguas dividem o espectro das cores. Todo humano, com
visão normal, vê a mesma escala de cores. Todas elas se diferenciam nos
mesmos comprimentos de onda da luz. Se as categorias da linguagem ou
lingüística fossem o resultado do pensamento, nós esperaríamos que o
espectro fosse dividido nas mesmas faixas de cores em todas as línguas. E não
é o que acontece. Em Inglês o espectro está dividido em sete categorias
básicas: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta e roxo. Em Shona,
linguagem da Rodésia, o espectro está dividido em três categorias básicas:
cips uka (vermelho e roxo nas duas extremidades), citema (vai do azul até o
verde) e cicena (verde e amarelo). Em Bassa, língua da Libéria, o espectro
está em duas categorias básicas: hui (a extremidade azul-verde do espectro)
e ziza (a extremidade vermelho-laranja do espectro). Os índios Zuni do
sudoeste da América vêem vermelho e laranja como uma categoria básica, e
os índios Taos do Novo México vêem amarelo e laranja como uma categoria
básica. Em Madagascar, o idioma ali falado distingue mais de cem categorias
básicas para as cores.
Mapa lexical das cores do espectro em três [duas] diferentes línguas.
Inglês
Shona
O Esquimó tem seis nomes para a neve, todas as quais nós chamaríamos neve. Nós
distinguimos entre Ford Mustang, Chevrolet Vega, e tantos outros fabricantes e
modelos de autos, enquanto o Hanunoo e o Esquimó chamam-nos todos de ‘carros’.
Roger Brown conclui: os achados da etnociência e semântica comparativa sugerem que
é uma coisa rara encontrar uma palavra em uma língua que seja exatamente equivalente
em referência a uma palavra em uma outra língua. Se cada palavra é tida como um
modelo imposto em uma realidade comum, estes modelos não perduram. Ao nível de
gramática, diferenças de significado entre linguagens são mais evidentes e
provavelmente de maior significância. Benjamin Whorf descreveu algumas diferenças
fascinantes e ele afirmou que elas resultam em formas atípicas de pensamentos.
Se a realidade fosse diretamente imposta na mente das crianças, se poderia esperar que
ela tivesse sido imposta da mesma forma que as linguagens do mundo. A ubiqüidade da
não-equivalência lingüística sugere que a realidade pode ser diversamente interpretada,
e então, que as manipulações e observações da criança não são como se fosse pra
produzir um estoque de conceitos que prevalecem nesta sociedade infantil... Para cada
conceito que seja cultural em vez de natural, o problema que pode vir a existir pela
necessidade de dominar a expressão lingüística é suficiente para causar o conceito a ser
aprendido.
A identidade de uma pessoa é manifestada e definida parcialmente pela forma como
esta pessoa responde à linguagem dentro do contexto sócio-cultural. Identidade é
expressa em três formas primárias: pela língua falada, pela forma como se usa a fala e o
silêncio e, pelo uso das atividades não-verbais comportamentais. A língua e o dialeto da
língua que alguém fala identificam aquela pessoa, e talvez até um local específico, pelo
menos se estão dentro ou fora da área daquele dialeto. Um nativo que fala inglês
americano pode facilmente reconhecer os vários dialetos de Boston, do Sul do país, do
centro-oeste ou do Texas. Pessoas também tendem a identificar outras pela língua que
elas falam, dizendo que alguém, por exemplo, é o que fala espanhol.
A sociedade norte-americana é uma sociedade que ‘fala’. O silêncio é desconfortável. É
difícil, para uma parte dos americanos, passar um pequeno momento juntos, em
silêncio. Uma situação não pode ser negligenciada ou subentendida pelas ações. As
ações têm que ser explicadas.
Aprender estas dicas não-verbais pode trazer problemas. O mesmo símbolo pode
transmitir mensagens opostas em duas diferentes culturas, ou dois símbolos opostos
podem significar a mesma coisa em duas culturas. Balançar os dedos pra cima e pra
baixo pode significar ‘tchau’ para alguém nos EUA, mas significar ‘vem cá’ para
Latino-americanos. Ainda, o símbolo Latino-americano para ‘tchau’ é quase idêntico ao
símbolo norte-americano para ‘vem cá’. Obviamente, isto pode ser confuso e frustrante.
Quando um membro de uma cultura visita ou mora em outra cultura, ele deve dominar
estes sinais percebendo a intenção da outra pessoa.
Um jovem índio Mayan, ao ver um elefante pela primeira vez no zoológico, se mantém
confortável atrás da cerca até que o elefante se aproxime. Por um movimento
inconsciente, o Mayan dá um passo pra trás da cerca até que o elefante se afaste. Então
o jovem se reaproxima da cerca. Ele estava totalmente inconsciente de suas ações. Ao
descrever este encontro, o Mayan nem menciona qualquer ‘medo’ pelo animal gigante.
Padrões de posição têm sido descritos por Edward T. Hall como íntimo, pessoal e
público. O espaço íntimo de um norte-americano se estende até aproximadamente 60
cm; o do latino americano se estende 30 cm. Este limite de espaço íntimo-pessoal
define o espaço no qual uma pessoa se sente desconfortável durante uma conversa
pessoal, mas não íntima. Assim, o latino fica totalmente confortável conversando com
uma pessoa a apenas 30 cm da sua face. Porém, conversar assim com um norte-
americano é como se estivesse invadindo o espaço íntimo desta pessoa. Esta invasão
leva o norte-americano a reagir defensivamente com visível tensão muscular,
descoloração da pele e até movimentos corporais para “recuar”.
O texto abaixo de Helen Keller ilustra o processo frustrante e hilariante pelo qual
alguém descobre a relação entre experiências verbal e não-verbal. Para a maioria de
nós, este processo ocorre gradualmente quando somos muito novos para apreciá-lo.
Helen Keller já tinha idade suficiente para lembrar desta experiência mais tarde.
Conosco acontece um processo semelhante, embora numa escala bem menor, quando
nos tornamos fluentes em uma segunda língua.
Na manhã seguinte em que minha professora veio, ela me levou na sua sala e me deu
uma boneca. A criança cega do Instituto Perkins doou e Laura Bridgman a enfeitou.
Mas eu não sabia disso até um tempo depois.
Um dia, enquanto eu brincava com minha nova boneca, Sra. Sullivan colocou minha
velha boneca de pano sobre o meu colo e também soletrou “b-o-n-e-c-a” e tentou me
mostrar que boneca se aplicava às duas. Mais tarde, no mesmo dia, nós tivemos uma
discussão sobre a palavra “c-a-n-e-c-a” e “á-g-u-a”. Sra. Sullivan tentou me convencer
de que caneca era caneca e água era água, mas eu insistia em confundir as duas coisas.
No desespero, ela deixou para voltar a explicar os sentidos em uma melhor
oportunidade. Isso me deixou revoltada, segurei a nova boneca e a joguei contra o
chão...
Em uma subseqüente oportunidade, minha professora colocou uma de minhas mãos sob
a torneira, e à medida que a água caía, ela escrevia em minha outra mão ‘água’,
primeiro devagar e depois rapidamente. Fiquei atenta aos movimentos de seus dedos.
Rapidamente algo me veio à mente – foi emocionante; e de alguma forma o mistério da
linguagem foi revelado a mim. Eu, então, sabia que “á-g-u-a” significava aquela coisa
fria maravilhosa que estava caindo sobre minhas mãos. Esta palavra viva despertou
minha alma, me deu luz, esperança, alegria, liberdade! Ainda havia barreiras, mas,
barreiras que agora poderiam ser quebradas. A partir daquele instante eu estava ansiosa
para aprender mais. Tudo tinha nome e cada nome dava origem a um novo pensamento,
e as coisas em que eu tocava pareciam vibrar com vida. Tudo por causa da nova forma
como eu estava enxergando as coisas.
Logo depois, lembrei-me da boneca que eu havia quebrado. Catei os pedaços e tentei
montá-la novamente. Meus olhos se encheram de lágrimas pois eu percebi o que havia
feito, e pela primeira vez, me senti arrependida e triste.
Eu aprendi várias palavras naquele dia. Eu não lembrava o que todas elas significavam,
mas eu sabia que mãe, pai, irmã e professora estavam entre elas – palavras que
tornavam meu mundo mais colorido “como o bordão de Arão com flores”. Seria difícil
encontrar uma criança mais feliz do que eu naquele dia, que pela primeira vez, demorou
tanto a passar...
Eu tinha agora a chave para toda a linguagem, e eu estava ansiosa para aprender a usá-
la. Crianças que escutam adquirem a linguagem sem qualquer esforço particular. As
palavras chegam aos seus ouvidos naturalmente, enquanto uma criança surda tem que
captá-las através de um processo lento e doloroso. Contudo, independente do processo,
o resultado é maravilhoso. Começamos nomeando objetos e avançamos passo a passo
até atravessarmos a vasta distância entre nossas primeiras sílabas pronunciadas e
meditar em textos de Shakespeare.
Novamente pensei. O calor do sol estava refletindo sobre nós. “Não é isto o amor?” eu
perguntei apontando para a direção da qual vinha o calor. Parecia para mim que não
havia nada mais bonito do que o sol cujo calor faz todas as coisas crescerem. Mas sra.
Sullivan balançou negativamente sua cabeça, e eu fiquei confusa e decepcionada. Eu
achei estranho a minha professora não conseguir me mostrar o amor.
Salas de estar são geralmente projetadas de acordo com a relação que há entre o espaço
pessoal e a cultura. Pessoas se sentem mais confortáveis sentando perto lado a lado do
que face a face. Já uma sala de estar de um Mayan é projetada para sentar ou ficar em
pé próximo às paredes. A sala de estar de um norte americano é projetada de tal forma
que ninguém fique mais que três metros distante um do outro. Se a sala for maior que
isso, a área de conversação será arrumada de forma que as pessoas estejam mais
próximas dentro do perímetro total que a sala oferece.
Distância pública inclui o espaço no qual uma pessoa se sente confortável em uma área
pública ou uma reunião. O tamanho deste espaço vai variar de acordo com a situação.
Por exemplo, quando pessoas estão em um elevador, elas vão invadir o que seria
normalmente considerado espaço íntimo de cada um. Porém, uma redução do
movimento corporal compensa esta intrusão. O limite externo de um espaço público é a
distância máxima que uma pessoa sente que ela pode estar e ainda se sentir dentro do
contexto. Isto geralmente significa estar de acordo com o som da atividade. Mais perto
em um discurso público, ou mais longe em uma apresentação musical.
Padrões de caminhada também são parte do espaço público envolvendo horário, direção
e distância. Certas leis hebraicas foram baseadas na distância que alguém poderia andar
a partir de sua propriedade em determinado dia. Um limite era colocado em jornadas de
Sábado, com esta distância sendo chamada, logicamente, “jornada de um dia de
Sábado”. Os hebreus logo cedo aprendiam a carregar alguns de seus bens com eles para
que os deixassem a cada final de jornada (aproximadamente 1km) e então eles
poderiam andar uma distância adicional a partir da propriedade.
TRANSLAÇÃO
Como cristãos, nós acreditamos que a Bíblia é a palavra inspirada por Deus.
Acreditamos ser a revelação de Deus para a humanidade. É a mensagem de Deus sobre
a salvação. Cremos que é importante tornar a palavra de Deus acessível a todas as
pessoas em sua própria língua. O trabalho de colocar a Bíblia na linguagem das outras
pessoas é a tarefa de um tradutor. A tradução da mesma é a parte mais importante do
empreendimento missionário. Etnociência e lingüística podem ser ferramentas inválidas
no trabalho de tradução.
À primeira vista, pode parecer que tradução envolve pouco mais do que aprender outra
língua e então substituir palavras para essa nova língua no texto. Isto pode até significar
trocar algumas palavras para ajustar à nova gramática, mas basicamente este é um
processo mecânico. Eugene Nida, um tradutor da sociedade Bíblica Americana, ilustra
o perigo de uma tradução mecânica:
O tradutor deve estar constantemente se perguntando: “o que esta expressão significa na
linguagem nativa?” Sem esta atenção ao real conceito de uma tradução, ele pode se
encontrar dizendo coisas que não eram sua intenção dizer. Por exemplo, em uma
recente investigação de três traduções feitas para índios da América Latina, foi
encontrado que a tradução literal de Atos 9:1 foi interpretada em um caso como sendo
que o espírito de Saulo havia morrido. No segundo caso, o nativo falou que isto
significava que o espírito de Saulo estava saindo para amedrontar os discípulos. No
terceiro caso, o informante, que era um dos tradutores nativos, disse que a passagem
significava que Saulo estava com medo de morrer. O americano está acostumado com a
expressão “respirando ameaças e morte contra” que assumimos o fato de que se esta
expressão for ser traduzida para outra língua o significado será óbvio. Mas este não é o
caso.
Outro problema é encontrado na tradução de “graça sobre graça” (João 1:16). Em uma
linguagem indígena da América Latina, a tradução literal seria “favor em troca de um
favor”. Isto também induz que Deus somente concede um favor em troca de um favor
garantido a ele pela pessoa. Então, uma tentativa de tradução literal acabou negando a
própria graça.
A tradução literal de “não andar segundo a carne” (Romanos 8:4) significa em uma
tradução “não andar como comida”. A palavra usada para traduzir “carne” significa
apenas “carne de comer”. Uma palavra diferente é usada para identificar carne humana.
Além disso, mesmo o uso do termo como carne humana seria inapropriado e sem
sentido. Seria melhor nesta hora traduzir por “corpo”. Porém, a expressão “andar
segundo o corpo” não tem sentido metafórico como tem no inglês. Assim, a tradução
deve ser mudada para “não faça o que o corpo faz”. Esta é a expressão equivalente
nativa e totalmente compreensível.
Estas ilustrações mostram a importância de entender o que a linguagem significa para
seu falante. Tradutores têm que enxergar o mundo com olhos sociolingüísticos da
pessoa que fala aquela língua à qual eles estão traduzindo a Palavra. Alguns vão se opor
a não tradução literal sugerida por Nida. Eles devem dizer que nós deveríamos ensinar
às pessoas o sentido correto da linguagem. Nida, antecipando esta objeção, diz: Certos
missionários não realizam a tradução literal da passagem, insistindo que pelo próprio
ensinamento eles podem instruir pessoas ao significado correto e ao mesmo tempo
recusar práticas nativas. Tais hipóteses são grandes ilusões. Pessoas podem e vão
entender os termos apenas nos padrões da sua situação cultural na qual estas palavras
são usadas por eles. Muita explicação é necessária para corrigir sentidos falsos. Em
vários casos, nem muita explicação é capaz de mudar um significado incorreto para um
outro significado adequadamente correto.
Nida pensa ser muito importante que o tradutor evite as ‘ciladas’ da tradução literal e
tradução da paráfrase. Na tentativa de evitar problemas na paráfrase e no literalismo,
Nida trouxe uma abordagem sobre a tradução, que ele denominou “equivalência
dinâmica”. É a contribuição de uma passagem quando o efeito produzido no coração e
mente do leitor na segunda língua é igual ao produzido no coração e mente do leitor na
língua original, de acordo com as seguintes explicações:
A correção final de uma tradução deve estar baseada em três principais fatores:
1. A exatidão com a qual o receptor entende a mensagem original (ou seja, se está
“fidedigno ao original”).
2. A facilidade de compreensão.
3. O envolvimento das experiências da pessoa como resultado da adequação da forma
de tradução.
Talvez, não há alegria maior para um tradutor do que alguém dizer “Eu não sabia que
Deus falava a minha língua”.
O trabalho de um tradutor da bíblia é levar a Palavra de Deus para a língua nativa. Uma
boa compreensão dos princípios antropológicos, uma vasta habilidade lingüística, e
enorme conhecimento bíblico não garantem uma boa tradução. O Espírito Santo é o
autor da Bíblia. O tradutor deve pedir ao Espírito Santo por sabedoria. O tradutor é um
instrumento através do qual o Espírito Santo pode trabalhar. Porém, o tradutor também
deve ser um instrumento preparado, trabalhando em harmonia com a criação de Deus,
que inclui diferentes línguas e culturas.
Que implicações o conceito relatado por Roger Brown tem para o trabalho de tradução?
Relacione isto com o que o Nida afirma.