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APRESENTAÇÃO

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Na apostila número I do Módulo Básico vimos sobre a Identidade da


Renovação Carismática Católica.
Esta apostila quer refletir e aprofundar o estudo dos Carismas, pois nossos
Grupos de Oração devem ser cheios do Espírito Santo e manifestar os Carismas,
sinais claros de que Jesus ressuscitou e está vivo entre nós!
Os pontos fortes do encontro sobre os Carismas devem ser a oração, o
exercício dos carismas e a partilha.
O objetivo principal é revitalizar a experiência de vida carismática e
convencer os líderes da necessidade de conhecer e usar bem os carismas nos
Grupos de Oração, no acompanhamento das necessidades dos irmãos e no dia-
a-dia da caminhada da Renovação Carismática Católica. "A respeito dos dons
espirituais, irmãos, não quero que vivais na ignorância" (1Cor 12,1).
Há necessidade de um continuo reabastecimento: "O trabalho apostólico
de orar, de levar cura, de levar libertação, consolação às pessoas, e arrancá-las
do pecado, dos vícios, das garras do maligno, vai fazendo com que (...)
comecemos a ficar secos, porque vamos nos gastando. O próprio contato com o
mundo vai nos tornando áridos. Por isso é que a graça da efusão do Espírito Santo
não é uma bênção que acontece de uma vez por todas. A grande graça é que
podemos e devemos continuamente ser batizados na efusão do Espírito Santo"1.
A espiritualidade deste encontro é dada pelo texto: "Estendei a vossa mão
para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo nome de Jesus, vosso santo
servo! Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos
ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a palavra de Deus"
(At 4, 30-31).
A proposta para os Grupos de Oração e para a vida de seus participantes é
retornar a experiência inicial do derramamento do Espírito Santo e seus carismas.

1
ABIB, Jonas - Aspirai aos Dons Espirituais - Ed. Loyola - 4o Edição, 1998, Pg. 14-17.
CAPÍTULO 1
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CARISMAS

1. INTRODUÇÃO

Os carismas eram comuns no início da Igreja. Basta ler os Atos dos


apóstolos e as cartas de São Paulo. Depois por alguns séculos eles se mantiveram
restritos aos grandes santos. Assim, pensava-se que os carismas eram para alguns
homens e mulheres reconhecidamente santos, místicos e penitentes.
Os carismas, portanto, não são novidades trazidas pela Renovação
Carismática Católica, a não ser no aspecto do seu exercício nos tempos atuais. Os
Grupos de Oração tornaram possível a sua manifestação em maior intensidade,
percebendo sua qualidade de "Dom" para todos os que crerem, consequência
normal do Batismo no Espírito Santo. "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas
coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos
que lho pedirem" (Lc 11,13).
Foi o documento conciliar Lúmen Gentium LG que traçou as primeiras
diretrizes sobre carismas para os tempos atuais:
"... O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis (...) dirigia mediante
os diversos dons hierárquicos e carismáticos. (...) Não é apenas através dos
sacramentos e dos ministérios que o Espírito Santo santifica e conduz o povo de
Deus (...), mas, repartindo seus dons a cada um como lhe apraz (1Cor 12,11),
distribui entre os fiéis de qualquer classe mesmo graças especiais (...) estes
carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos,
devem ser recebidos com gratidão e consolação pois que são perfeitamente
acomodados e úteis as necessidades da Igreja. Uma vida mais plena no Espírito
Santo, a unção carismática do Espírito, contempla a igreja com toda uma
amplitude de Dons"2.
Os carismas estão amparados na doutrina da Igreja, além de serem
fundamentados biblicamente. Esses dons de adoração contemplativa da fé cristã
e as dádivas de serviço animam a vida de santidade. "Todos os carismas trazem
nova docilidade ao Espírito, a fé esperançosa na salvadora intervenção de Deus

2
ABIB. Jonas - Aspirai aos Dons Espirituais- Ed.Loyola-4o Edição, 1998, pg. 16-17.
nas questões humanas, acentuado zelo pelo Evangelho e o respeito pela
autoridade da Igreja"3.
Nesse sentido, é necessário afirmar a atualidade dos carismas e promovê-
los como realidades necessárias à evangelização e ao crescimento pessoal de
cada cristão. "A vida batizada no Espírito é marcada por uma experiência de união
dinâmica com Deus e também por uma experiência de carismas doados pelo
Espírito Santo"4.
São Pedro aviva a esperança: "Pois a promessa é para vós, para os vossos
filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor nosso Deus" (At
2,39). A promessa é, portanto, para todos os tempos. O exercício dos carismas é
tanto mais necessário por causa das dificuldades do tempo presente, marcado
pela indiferença religiosa e pelo abandono dos valores espirituais e morais do
cristianismo; esse tempo cobra não só um testemunho autêntico dos cristãos
convictos, como também demonstrações do poder do Espírito.
Convém fazer a diferença entre dons efusos, que é matéria deste estudo,
dos dons infusos, que também são carismas do espírito, mas que se distinguem
daqueles:
a. Dons infusos Temor de Deus, fortaleza, piedade, conselho, ciência,
entendimento e sabedoria (cf. Is 11,1-3). Num total de sete, esses dons são
concedidos para a pessoa (infundidos), aprimoram e reforçam as virtudes,
constituindo-se em benefícios para o crescimento pessoal;
b. Dons efusos Línguas, profecia, interpretação de línguas, palavra de
ciência, palavra de sabedoria, discernimento dos espíritos, cura, fé e milagres (cf.
1Cor 12, 8-10). Num total de nove, esses dons são para o serviço e o bem comum
e são concedidos como manifestações atuais, de acordo com a vontade de Deus.
Aqui serão estudados os carismas dons efusos, que são realidades
manifestas nos Grupos de Oração de Renovação Carismática Católica,
constituindo-se num dos aspectos de sua identidade5.
É importante ressaltar que "o Concilio Vaticano II apresenta os ministérios
e os carismas como dons do Espírito Santo em ordem à edificação do Corpo de
Cristo e Sua missão de salvação no mundo. A Igreja, com efeito, é dirigida e guiada
pelo Espírito que distribui diversos dons hierárquicos e carismáticos a todos os
batizados, chamando-os a ser, cada qual a seu modo, ativos e corresponsáveis",
conforme Christifideles Laici, n. 21.

3
CONFERÊNCIA CATÓLICA DOS EUA. Declaração pastoral sobre a RCC, p. 7.
4
MCDONNELL, Killian, MONTAGUE. George. Avivar a chama, p 32.
5
Cf. RENOVAÇÃO CARISMATICA CATÓLICA Identidade da Renovação Carismática Católica, p. 27-28.
2. CONCEITO

Os carismas são dons, graças, presentes, dados pelo Espírito Santo, "mas
um e mesmo Espírito distribui todos esses dons, repartindo a cada um como lhe
apraz" (1Cor 12,11).
"A palavra 'carisma' (chárisma) é oriunda da língua grega e significa 'dom
gratuito'. Ela encontra seu significado fundamental na raiz 'char' que indica tudo
aquilo que produz bem-estar; assim é que temos cháris, querendo significar
'graça', 'dom'; 'favor', 'bondade'; charízomai, no sentido de fazer um dom
gratuito, mostrar-se generoso. O sufixo 'ma' exprime na língua grega o resultado
da ação indicada pelo verbo, o seu efeito, o que pode denotar também o caráter
objetivo da concessão e da experiência da graça. Portanto, o significado geral e
fundamental de 'chárisma' poderia ser: dom concedido por pura benevolência,
que é, ao mesmo tempo, o objetivo e o resultado da graça divina, do presente
que Deus faz aos homens6'.
Em sentido restrito, os carismas são manifestações extraordinárias do
Espírito Santo para proveito comum7. Eles exercem papel fundamental na
evangelização, ou seja, na expansão do cristianismo, o que reforça sua
importância e dignidade. O padre Luís Fernando R. Santana aprofunda o assunto
e alerta:
"A maciça presença de chárisma nos escritos de Paulo já é suficiente para
mostrar o quanto o termo, em seu significado e conteúdo, era caro para a
teologia do apóstolo. Desde o início de seu apostolado, Paulo tem em alta estima
a presença e ação dos dons e carismas do Espírito na ida da Igreja e dos fiéis
batizados, até mesmo exortando a comunidade a que tivesse o cuidado de não
extinguir o Espírito, de não desprezar as profecias, mas de verificar tudo com um
discernimento sábio e sóbrio (cf. 1Ts 5,19-22). Disso inferimos que, para Paulo,
os carismas e os ministérios são os instrumentais privilegiados na edificação do
corpo de Cristo e na realização do desígnio de Deus na história; ambas as
realidades possuem igual importância e dignidade, uma vez que emanam do
Espírito e estão ordenadas, cada uma naquilo que lhe é especifico, a um mesmo
fim. Ainda podemos deduzir que existe uma interdependência no que diz respeito
à relação 'carismas ministérios', o que faz com que a dimensão carismática da
Igreja na teologia paulina seja um tema de primeira grandeza"8.
Pelo seu primeiro caráter, dom não implica santidade. Na verdade,
qualquer pessoa pode receber os presentes de Deus (cf. At 10,34). Porém, não se

6
SANTANA. Luís Fernando R.. Recebereis a força do Espirito Santo. p. 77.
7
Cf. A. VAN DEN BORN. Dicionário enciclopédico da Bíblia, p. 245.
8
SANTANA. Luís Fernando R.. Batizados no Espírito, p.42-44
pode esquecer que quem não tem vida espiritual e reta intenção de agradar a
Deus, certamente usará mal os carismas, pois não cultiva a necessária união com
Cristo (cf. Jo 15.45), para querer o que Deus quer, podendo ser contratestemunho
ou até motivo de escândalo.

3. NATUREZA E FINALIDADE DOS CARISMAS.

"Considerados pela teologia cristã de antanho como uma realidade típica


e específica dos primeiros tempos da Igreja, os carismas atravessam séculos sem
serem considerados em sua verdadeira utilidade eclesial, permanecendo assim
em uma espécie de estado de dormência não porque o Espírito estivesse
dormindo, mas porque nós, na verdade, estávamos dispersos para com Ele e para
com suas manifestações carismáticas.
A Igreja nos ensina agora que "para todos os tempos o Espírito Santo
unifica a Igreja na comunhão e no ministério, dotando-a com vários dons
hierárquicos e carismáticos" (Decreto Ad Gentes, n. 4, citando a Lumem Gentium
n. 12). E vai nos dizer ainda que "os carismas nunca estiveram ausentes da Igreja"
(Documento de Puebla, n. 207).
O Espírito não espera que nós o entendamos primeiro, para depois agir; os
Apóstolos tiveram primeiro uma experiência do dom do Espírito em Pentecostes,
e só depois veio a Igreja a ter uma doutrina, uma teologia do Espírito Santo, que,
aliás, precisou esperar até o Concílio Niceno-Constantinopolitano, em 381, para
ter sua natureza divina enunciada devidamente no credo. Como os carismas não
cessaram de vez pois são manifestações do Espírito, que é eterno e careciam de
definições, de conceituações, ficaram sujeitos à uma relativa "livre
interpretação". Alguns como São João Crisóstomo os identificavam apenas como
fenômenos extraordinários e miraculosos, e "determinavam" sua ação somente
para os albores da Igreja; outros (montanistas, Valdenses, Donatistas,
Amauricianos, Joaquinistas, os alumbrados do século XV...) equivocados quanto
a sua finalidade, enveredaram por caminhos heréticos e assumindo posturas, por
vezes, cismáticas. E assim passamos séculos, ou na quase absoluta ignorância, ou
sujeitos ao "mau uso" que deles dos carismas muitos fizeram.
(...) O Vaticano II abriu portas e janelas à brisa benfazeja do Espírito Santo...
Porque, não era apenas dos carismas que se ressentia a falta: o próprio Espírito
Santo se encontrava um pouco "contristado" (cf. Ef 4,30) em nosso meio, um
pouco (ou demasiadamente) envolto em esquemas mentais, em teorizações
especulativas, analisando de modo competente doutrinária e teologicamente,
mas sem o correspondente e necessário competente experiencial... aos
pouquinhos com a (hoje) Beata Elena Guerra, com Leão XIII, Pio XII, João XXIII...
o Espírito Santo foi ocupando espaço que sempre fora de direito, e pode provocar
o início de um Novo Pentecostes, tal qual pedido pelo papa ao convocar o Concilio
Vaticano II, que abriu o primeiro Documento a Constituição Dogmática Lúmen
Gentium, sobre a Igreja reconhecendo-se "congregada no Espírito Santo" (LG n.
I )"9.

4. QUANDO UTILIZAR OS CARISMAS

É difícil precisar em que momentos utilizarem os carismas do Espírito. O


seu exercício é quase sempre oportuno, sobretudo quando as situações o exigem.
Sendo a graça do Espírito uma realidade perene na vida humana, os carismas por
sua vez, tornam-se também profusamente inseridos na vida daqueles que foram
batizados.
No entanto, é preciso dizer que os carismas são realidades atuais e não
adquiridas por posse. É o Espírito que opera tudo em todos (cf. 1Cor 12,67), a seu
querer. Assim, “A um, o Espírito dá uma palavra de sabedoria; a outro, uma
palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, a fé no mesmo Espírito; a
outro o dom das curas, nesse único Espírito; a outro, o operar milagres; a outro,
a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o falar diversas línguas,
a outro ainda o interpretar essas línguas" (1Cor 12,8-10). Não seria justo, atribuir
a uma pessoa ou grupo de pessoas específico a contenção exclusiva de qualquer
manifestação carismática10; nem mesmo se pode dizer que alguém "tem" este ou
aquele dom, pois cada manifestação é única11, mesmo que se processe com muita
frequência através de determinadas pessoas. Talvez ao dom de línguas possa se
atribuir um caráter mais perene e sob controle, por se tratar de um dom de
oração, mais para a edificação pessoal (cf. 1Cor 14,4).
Contudo, não se pode cair no equívoco de reduzir os dons do Espírito Santo
a algumas ocasiões especiais. Eles foram dados em profusão nos tempos atuais.
Pode ser cultivada uma constante expectativa em relação à sua manifestação,
como para o derramamento do Espírito12.
A ação evangelizadora constitui um momento preciso de vivência dos
dons efusos. A missão da Renovação carismática Católica é evangelizar a partir
do batismo no Espírito Santo, formando o povo de Deus em santidade e serviço.
Para evangelizar o povo de Deus com unção e poder são necessários os carismas.
Quando utilizamos de forma livre, consciente, na hora necessária, levam as

9
REIS, Reinaldo Bezerra dos. Carismas e Ministérios na Renovação Carismática Católica.
10
Cf. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instruções sobre orações para alcançar de Deus
a cura. p. 14.
11
Cf. Ibid., p. 10.
12
Cf. SOUSA Ronaldo José de. O impacto da Renovação Carismática, p.23.
pessoas a terem uma experiência da presença real de Deus, que manifesta o seu
infinito amor.
"A 'força do Espírito Santo' (At 1,8) derramada nos corações dos cristãos,
manifestação do amor e do poder de Deus, provoca uma significativa diferença
entre a ação evangelizadora de uma pessoa que se deixa conduzir por ela e uma
que age sem ela. Aquele que evangeliza com os dons carismáticos multiplica as
possibilidades humanas. A investidura carismática em comunidades da Igreja, em
todo mundo, tem gerado e sustentado grande número de evangelistas dedicados
e eficientes, com novo vigor, com nova capacitação, nova alegria, novo júbilo,
nova exaltação e louvor; levando em si o poder transformador do Espírito (cf.
1Cor 2,1-5) que toca crianças e idosos de todo tipo de raça e cultura"13.
O uso dos carismas não é só um direito, é um dever de todos os fiéis. "Da
aceitação destes carismas, mesmo dos mais simples, nasce em favor de cada um
dos fiéis (...) o dever de exercê-los para o bem dos homens e a edificação da Igreja
dentro da Igreja e do mundo"14.
Pode-se constatar na prática apostólica que, quando a evangelização é
acompanhada dos carismas, colhem-se frutos abundantes: os carismas fazem
diferença e são eficazes na evangelização, quando exercidos na caridade.

5. OS DONS EFUSOS E A CARIDADE

Jesus deu o mandamento do amor: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos
amo" (Jo I5, 12.17). São Paulo apresenta o trabalho apostólico realizado no amor.
Não um amor qualquer, mas o amor "ágape", amor doação a Cristo e aos irmãos.
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver
caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que
eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência;
mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver
caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento
dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver
caridade, de nada valeria! A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita.
Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Por ora subsistem a
fé, a esperança e a caridade. Das três, Porém, a maior delas é a caridade" (1Cor
13,1 3.9s. 13).
Os capítulos 12 a 14 da Carta aos Coríntios, que tratam dos carismas e suas
manifestações, são verdadeiras referências para se viver a vida nova, guiada pelo

13
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. A espiritualidade da RCC. p.43
14
CONCILIO ECUMÊNICO VATICANO II. Apostolican Actuositatem. n.3
Espírito Santo, exercendo os seus dons de maneira autêntica e frutuosa. Eles
contêm regras básicas e orientações seguras. Outras recomendações podem ser
encontradas em Ef 4, 15.30; Rm 12, 68; 13,8-10; 1Tes 5, 14-15.19-21.
Jesus dá a regra para verificar o valor do trabalho: "Pelos frutos os
conhecereis" (Mt 7, 16). São Paulo também fala: "O fruto do Espírito é caridade,
alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança.
Contra estas coisas não há Lei" (Gl 5, 22-23). Dessa forma, o bom uso dos carismas
é garantido pelo amor15, que é o dom por excelência e que atribui sentido aos
outros dons16. Os carismas, portanto, são fundamentados na caridade.
"Sejam extraordinários, sejam simples e humildes, os carismas são graça
do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial,
ordenados que são à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades
do mundo. Os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que
os recebe, mas também por todos os membros da Igreja. São uma maravilhosa
riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo
de Cristo, desde que se trate de dons que provenham verdadeiramente do
Espírito Santo e que sejam exercidos de maneira plenamente conforme os
impulsos autênticos deste mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade, verdadeira
medida dos carismas" (Catecismo n. 799-800).

6. OS CARISMAS DEVEM SER PEDIDOS COM FÉ E EXERCIDOS NA HUMILDADE

É exatamente por causa do amor que os dons efusos devem ser almejados.
“Empenhai-vos em procurar a caridade", encoraja São Paulo (cf. 1Cor 14,1a); e
acrescenta: “aspirai igualmente os dons espirituais, mas sobretudo ao da
profecia" (1Cor 14,1b). A motivação deve ser o uso em benefício dos outros, para
ajudar ao povo de Deus a alcançar a santidade.
Por isso, os carismas devem ser pedidos com fé e sem temor. Embora eles
sejam distribuídos conforme apraz ao Espírito, nada impede que o crente aspire
e peça os dons, para que seu testemunho seja permeado de sinais (cf. 1Cor
2,45)."Só aqueles que reconhecem o valor dos dons na vida cristã, e no serviço
aos irmãos, são impulsionados a pedi-los ao Pai, como Jesus mesmo nos ensinou:
'Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele
que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater se lhe abrirá' (Lc 11,9-
10)"17. Para o exercício prático dos carismas, não se deve esquecer três coisas
fundamentais:

15
Cf. a propósito. SOUSA. Ronaldo José de. Pregador ungido, p 41.
16
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. Carismas, p 39.
17
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓUCA Carismas, p. 41.
a. Humildade
É preciso vigiar para não cair na tentação de achar que os dons são méritos
alcançados, recompensas de Deus por esforços desmedidos. A humildade faz
perceber que o cristão é um administrador dos bens do Senhor (cf. Lc 16, 13) e
que nenhum "carismático" se basta a si mesmo.
Deus constituiu a Igreja como um corpo (cf. 1Cor 12, 12-29), de tal maneira
que um carisma só se plenifica no conjunto da comunidade. "Exercer os carismas
na humildade é exercê-los sem exibicionismo, sem buscar prestígio, honra, poder.
(...) É também exercê-los sem autossuficiência (cf. Mt 18, 34), sem individualismo,
sabendo que necessitamos da ajuda dos irmãos para confirmar ou discernir a
vontade de Deus para o seu povo..."18.
b. Harmonia
O exercício dos carismas, sobretudo nas reuniões de oração, deve
obedecer a um ritmo harmônico, jamais exaltado ou demasiadamente
estrondoso (cf. 1Cor 14,26-27). A força de um carisma não consiste na tonalidade
que lhe é imposta ou no tipo de expressão que o acompanha, mas na utilidade
objetiva que tem para a comunidade.
Assim, embora marcados pela espontaneidade e expressividade, os
carismas se inserem na vida cristã sem causar escândalos. "Portanto, Deus não é
Deus de confusão, mas de paz" (1Cor 14, 33).
O uso dos carismas será tanto mais saudável e útil, quanto as pessoas que
a eles se abrirem forem equilibradas emocionalmente e orantes o suficiente para
saber distinguir a ação do Espírito de eventuais devaneios da pessoa humana 19.
É necessário ter respeito pelos dons de Deus; "não podemos exercê-los
irresponsavelmente e indiferentemente, com desprezo, de forma inconsequente,
olhando os nossos próprios interesses, ou dando aos carismas um relevo tão
singular e único como se fossem bens totais e absolutos sobre os quais não há
nada mais excelente e primeiro"20.
c. Ordem
A ordem no exercício dos carismas é uma extensão da harmonia, mas
supõe autoridade e obediência. O cristão pode ser instrumento da manifestação
autêntica do Espírito Santo, mas não deve esquecer que até o espírito dos
profetas deve estar-lhes submisso (cf. 1Cor 14 ,32).

18
Ibld.p.44
19
Cf. SOUSA Ronaldo José de. Pregador ungido, p. 21 -21
20
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓUCA. Carismas. p. 43.
São Paulo esclarece nos seguintes termos: "Quanto aos profetas, falem
dois ou três e os outros julguem. Se for feita alguma revelação a algum dos
assistentes, cale-se o primeiro. Todos, um após o outro, podeis profetizar, para
todos aprenderem e serem todos exortados" (1Cor 14, 29-31). O mecanismo que
garante a ordem na manifestação dos carismas é, portanto, a confirmação, de
maneira que os carismas individuais sejam abonados comunitariamente. Dessa
forma, os dons são ordenados para a obediência, saindo do plano meramente
individual, compondo a realidade conjunta do povo de Deus.
Portanto, os carismas devem ser exercidos na obediência a Cristo e às
autoridades constituídas. "Mas faça-se tudo com dignidade e ordem" (1Cor
14,40).

7. PALAVRA DA IGREJA

É oportuno destacar algumas declarações do Magistério da Igreja em


relação aos carismas e seu uso:
a. "O Espírito Santo, ao confiar à Igreja comunhão os diversos ministérios,
enriquece-a com outros dons e impulsos especiais, chamados carismas. Podem
assumir as mais variadas formas, tanto como expressão da liberdade absoluta do
Espírito que os distribui, como em resposta às múltiplas exigências da história da
Igreja. A descrição e a classificação que os textos do Novo Testamento fazem
desses dons são sinal da sua grande variedade..."21.
b. "Os carismas, sejam extraordinários ou simples e humildes, são graças
do Espírito Santo que têm, direta ou indiretamente, uma utilidade eclesial,
ordenados como são à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades
do mundo. Também em nossos dias não falta o florescer de diversos carismas
entre os fiéis leigos, homens e mulheres. São dados ao indivíduo, mas também
podem ser partilhados por outros, e de tal modo perseveram no tempo como
uma herança preciosa e viva, que geram uma afinidade espiritual entre as
pessoas"22.
c. "Para (os leigos) exercerem este apostolado, o Espírito Santo, que opera
a santificação do povo de Deus por meio do ministério e dos sacramentos,
concede também aos fiéis dons particulares (cf. 1Cor 12,7),'distribuindo-os pois
cada um conforme Lhe apraz' (cf. 1Cor 12,7-11), a fim de que 'cada um ponha ao
serviço dos outros a graça que recebeu', e todos atuem 'como bons
administradores da multiforme graça de Deus' (1Pd 4, 10), para edificação, no

21
JOÃO PAULO II. Christfideles Laici.n.24.
22
Ibid. n. 24.
amor do corpo todo. (Cf. Ef 4, I6). (...) Nenhum carisma está dispensado de sua
referência e dependência dos Pastores da Igreja. O Concílio escreve com palavras
claras que o juízo acerca da sua (dos carismas) autenticidade e reto uso pertence
aqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não
extinguir o Espírito, mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. 1Ts 5,12; 19-21),
de modo que todos os carismas concorram, na sua diversidade e
complementaridade, para o bem comum"23.
As palavras da Igreja tiram o medo e as dúvidas quanto à necessidade e
utilidade dos carismas, bem como o direito que os fiéis leigos têm de usá-los para
o bem comum.
O Catecismo da Igreja Católica n. 798 segue a mesma firme orientação:
"O Espírito Santo é 'o Princípio de toda ação vital e verdadeiramente
salutar em cada uma das diversas partes do Corpo'. Ele opera de múltiplas
maneiras a edificação do Corpo inteiro na caridade: pela palavra de Deus, (...)
pelas virtudes, que fazem agir segundo o bem, e enfim, pelas múltiplas graças
especiais (chamadas de 'carisma'), através das quais 'torna os fiéis aptos e
prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios que contribuem para a
renovação e maior incremento da Igreja'."

8. CONCLUSÃO

É importante tomar consciência de que todo o bem, todo o dom, todo o


serviço prestado ao reino de Deus em nome de Jesus, acontece sob a ação do
Espírito Santo. Sem Ele nada é eficaz para o reino de Deus. "Nunca será possível
haver evangelização sem a ação do Espírito Santo"24.

9. PROPOSTA DE DINÂMICA

• Oração com a Assembleia pedindo o Batismo no Espírito Santo com seus


Frutos e seus Dons, para que esta graça seja movimentada e liberada nos
corações.
• Grupos de três ou quatro pessoas. Uma se ajoelha e/ou se senta e as demais
rezam pedindo o Batismo no Espírito Santo. Vão se revezando até que todas
tenham recebido oração.
• Quando há servos suficientes, podem rezar de dois em dois pelos
participantes.

23
Ibid., n. 24. Cf. CONCILIO ECUMÊNICO VATICANO II, Lúmen Gentium, n. 12.
24
PAULO VI. Evangelii Nuntiandi. n. 75.
• Conclui-se com um grande louvor.
CAPÍTULO 2
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DOM DE LÍNGUAS
A outro, a variedade das línguas (1Cor 12,10d)

1. INTRODUÇÃO

Trataremos nesta Apostila dos chamados carismas paulinos,


principalmente os nove nomeados por São Paulo na 1Cor 12, 8-10, que são os
mais exercidos nos Grupos de Oração e demais atividades da RCC. Para fins
didáticos, podemos dividi-los em três grupos, a saber: Carismas de Inspiração,
Carismas de Revelação e Carismas de Obras (Poder).
Dons Carismáticos de Inspiração: Profecia, Línguas e Interpretação das
línguas.
Dons Carismáticos de Revelação: Discernimento dos espíritos, Palavra de
Ciência e Palavra de Sabedoria.
Dons Carismáticos de Obras (Poder): Fé, Cura e Milagres.
Iniciaremos nosso estudo sobre o grupo dos Dons Carismáticos de
Inspiração, composto pelo Dom de Línguas, Profecia e Interpretação de Línguas.
Serão vistas e estudadas as três modalidades do carisma da variedade de
línguas que são: o orar, o falar e o cantar em línguas. Além disso, serão abordados
os principais aspectos de sua manifestação e o fundamento bíblico e doutrinário.
Algumas pessoas pensam e dizem que o dom de línguas é o menor e o mais
insignificante de todos. Porém, São Paulo escreve: "Aquele que fala em línguas
não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas
misteriosas, sob a ação do Espírito" (1Cor 14, 2). Ora, o Espírito orando no homem
será pouca coisa? "Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza: porque
não sabemos o que devemos pedir, nem orar com convém, mas o Espírito mesmo
intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações
sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus" (Rm
8, 26-27).
Talvez o mais difícil para algumas pessoas seja o abandono e a entrega da
voz, para que o Espírito ore com "gemidos inefáveis". Alguns precisam renunciar
a autossuficiência e submeter-se à ação do Espírito Santo. Mas vale a pena! O
gozo inefável que o mesmo Espírito traz com sua presença, a paz profunda que
só Deus pode dar, a certeza de que Ele ora da melhor forma, são benefícios certos
e imprescindíveis para o crescimento espiritual.
O grande desejo de S. Paulo é manifestado assim: "De minha parte,
desejaria que todos falásseis em línguas..." (1Cor 14, 5). Esta oração contém um
caminho de enriquecimento espiritual, um título da graça. Na medida em que
cresce a oração, modifica-se a vida pela ação amorosa e misteriosa de Deus.
No Pentecostes aconteceu a primeira manifestação do dom de línguas de
que se tem conhecimento. São Lucas anunciou com muito entusiasmo: "Ficaram
todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme
o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (At 2, 4). Depois do Pentecostes, o
dom de línguas difundiu-se também entre todos os cristãos: "Os fiéis da
circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram vendo
que o dom do Espírito Santo era derramado também sobre os pagãos: pois eles
os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus" (At 10, 45-46). "E quando
Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em
línguas estranhas" (At 19, 6).

2. CONCEITO

O dom de línguas é uma oração feita por meio de sons emitidos, motivados
por inspiração e que o Espírito Santo lhes dá o sentido. Não se trata de língua, no
sentido que se apresenta à linguística, porque não há conceitos humanos, mesmo
desconhecidos. Consiste em dizer palavras sem conhecer-lhes o significado.
Proferir palavras que não são, propriamente, manifestação de um pensamento
formulado pela mente. Usar a língua, a voz, para expressar ao Senhor os
sentimentos que vem do Espírito Santo.
"Quanto ao formal deste carisma e ao seu significado profundo, o dom de
línguas:
• É, em primeiro lugar, um carisma para glorificar a Deus (cf. At 2, 4.11;
10,46);
• É um carisma em virtude do qual o crente fala com Deus ao impulso do
Espírito (cf. 1Cor 14, 2.28);
• É um carisma de oração e de louvor (cf. 1Cor 14, 14-15);
• É um carisma de benção e de ação de graças (cf. 1Cor 14,16-17)"25.

25
ALDAY. Salvador Carrila A Renovação no Espírito Santo. p. 90.
Para se ter uma ideia mais clara acerca do dom de orar em línguas, veja-se
como ele aparece em algumas passagens da Sagrada Escritura: At 2, 1-13; 10, 44-
48; 1Cor 12, 10; 14, 4.13.18.39. Ressalte-se, ainda que em Mc 16,17 ele está
relacionado como um dos milagres que acompanham os que crerem, como uma
grande promessa de Jesus. É um "milagre" porque é extraordinário, fora do
comum da linguagem humana.
A Igreja indica que a oração em línguas é, verdadeiramente, ação do
Espírito; é um dom que provém do Senhor, tem por meta o bem da Igreja e acha-
se a serviço da caridade:
"...São, além disso, as graças especiais, chamadas também 'carismas',
segundo a palavra grega, empregada por S. Paulo e que significa favor, dom
gratuito, benefício. Seja qual for seu caráter, às vezes extraordinário, como o dom
dos milagres ou de línguas, os carismas se ordenam à graça santificante e têm
como meta o bem comum da Igreja. Acham-se a serviço da caridade, que edifica
a Igreja" (CIC nº2003).

3. FINALIDADE DO DOM DE LÍNGUAS

O dom de línguas é uma oração que se faz a Deus, é uma forma de glorificá-
lo. Quem ora em línguas não ora aos homens, mas a Deus (cf. 1Cor 14, 2); aquele
que se abre ao dom de línguas tem o Espírito Santo orando nele, por ele e com
ele (cf. Rm 8,26-27). O Espírito Santo sabe do que o orante tem necessidade, faz
ao Pai o pedido certo na hora certa, do jeito que Deus quer. Por isso pode-se dizer
com fundamento que orar em línguas é "orar no Espírito", pois é emprestar a
mente e a voz para que o Espírito Santo ore. "Assim, ainda que nós não
entendamos os gemidos inefáveis (...), Deus sabe o que deseja o Espírito. Apesar
da inteligência não assimilar nada, de não compreendermos o que falamos,
cantamos ou oramos, sentimos que algo nos toca profundamente (...), sentimos
que o mais profundo do nosso ser comunga de maneira especial com Aquele que
nos criou e ao qual pertencemos"26.
O dom de línguas aprofunda a oração e a união com Deus. Trata-se de uma
oração individual, mesmo se feita em assembleia. "Aquele que fala em línguas
edifica-se a si mesmo" (1Cor 14, 4). Uma ou outra vez, porém, pode assumir a
forma de mensagem à comunidade; neste caso necessita de interpretação, como
se verá mais adiante, no capítulo quatro. "Segundo afirmação de 1Cor 14, 4, o
dom de línguas é um carisma que o Espírito Santo dá para a edificação pessoal;
no entanto, esta não exclui a finalidade comum que tem todos os carismas, a

26
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. Carismas, p.77.
saber: a edificação mútua, a construção do corpo de Cristo (cf. 1Cor 12, 7.27-
30)27.
O dom de línguas é um dom, principalmente para a santificação pessoal.
Para orar em línguas, muitas vezes devem ser rompidas as barreiras do medo, da
dúvida, da incredulidade, do respeito humano, do apego à autoimagem, à boa
fama, entre outras. Embora não se compreenda o significado, verifica-se uma
nova dimensão da oração. Poucas frases bastam para que aquele que recebe o
dom se sinta envolvido pelo ministério e possuído por um profundo sentimento
de alegria e paz. Desta forma, a presença de Deus se torna aconchegante,
indiscutível, quase palpável. O dom de línguas favorece a manifestação dos
demais dons.
Ao orar em línguas, a pessoa não fica estática, nem entra em transe, mas
continua no pleno domínio de suas faculdades, sabendo o que está fazendo,
podendo perfeitamente controlar o tom da voz, para estar em harmonia com as
demais. A pessoa é livre, podendo começar e terminar quando quiser.
Esta oração não suprime a oração formal, antes a completa e enriquece.
Ela exige a atitude de render-se ao Espírito Santo; é como uma porta baixa pela
qual só passa quem se curva um pouco. É a esta oração misteriosa, inarticulada,
que a pessoa se une, deixando ao próprio Deus o cuidado de glorificar-se por um
amor que supera todo o conhecimento.

4. TIPOS DE ORAÇÃO EM LÍNGUAS

Há variedade de manifestações do dom de línguas. Duas delas são:


a. Glossolalia
"Um fenômeno que se deu sobretudo na comunidade cristã de Corinto
(1Cor 12, 10; 14,2-19), mas também nas de Cesareia e Éfeso (At 10,46; 19, 6); não
é a mesma coisa que o 'falar outras línguas' (o milagre de Pentecostes), mas
consistia nisso que a pessoa(...) proferia sons ininteligíveis e palavras sem nexo,
que se tornavam compreensíveis apenas para quem possuía o carisma de
interpretação (1Cor 14, 10) (...) Também o milagre de Pentecostes pode ser
interpretado como uma manifestação de g. como indica, p. ex., a impressão que
causou nos presentes (At 2, 13) e a citação de Jl 3, 15. O próprio S. Pedro identifica
os fenômenos com os de Cesareia (At 10, 47; 11, 15; 15, 80). (...) S. Lucas vê no
milagre o símbolo da universalidade do Evangelho (cf. At 2, 5) que se adapta à

27
ALDAY. Salvador Carrilo. A Renovação no Espirito Santo. p. 90.
natureza de cada um (cf. At 2, 8). Talvez tenha considerado como inverso da
confusão de línguas em Babel"28.
No dia de Pentecostes houve a manifestação de dois fenômenos do Dom
de Línguas. O primeiro, semelhante ao que ocorre nos grupos de oração e nos
eventos da RCC, hoje: "Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a
falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem"
(At 2, 4). S. Pedro comparou este o fenômeno com o de Cesareia (cf. At 10, 47;
11, 15; 15, 8). Enquanto que o segundo é um fato único na Bíblia, não era o 'falar',
e sim o 'ouvir': "Achavam-se em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações
que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e
maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua.
Profundamente impressionados, manifestavam a sua admiração: 'Não são,
porventura, galileus todos estes que falam? Como então todos nós os ouvimos
falar, cada um em nossa própria língua materna?" (At 2, 5-8).
b. Xenoglossia
É uma oração em línguas desconhecida de quem ora, mas que existe ou já
existiu e ainda é do domínio humano, como o latim, por exemplo. Robert
DeGrandis diz que" durante uma reunião de oração em Nova Orleans, cidade
norte-americana, ouviu uma moça orar em latim, embora não conhecesse esta
língua. Ele também registra o fato de uma senhora norte-americana que ao orar
em línguas, nela fez a seguinte oração: (Ó Maria, que ascendeste ao mais alto dos
céus, ajuda-nos a conhecer o teu Filho)"29. Quando à tonalidade, a oração em
línguas normalmente se apresenta como:
a. Louvor - oração sequenciada, de palavreado frequente, onde a pessoa
fica "mergulhada" como criança diante de Deus;
b. Júbilo - oração transbordante, jubilosa e extremamente alegre, quase
interminável e sem pausas;
c. Súplica - oração compassada e em tonalidade penitencial, que leva
frutos de contrição;
d. Canto (cf. 1Cor 14, 15) - é também uma espécie de louvor, sendo que
em tonalidade musical.

5. A IMPORTÂNCIA DO DOM DE LÍNGUAS

28
A. VAN DEN BORN. A Renovação no Espirito Santo. p. 90.
29
O dom das línguas, p. 15.
O dom de línguas tem, Portanto, importância fundamental no
enriquecimento espiritual. Ele contribui para a renovação da vida da pessoa, na
medida em que se constitui em ação misteriosa e amorosa de Deus. É possível
indicar alguns benefícios do dom de línguas:
a. Favorece a intimidade com Deus, sem necessidade de pensar, formular
preces, mas, num abandono confiante, mergulhar nas profundezas do Espírito.
"Outras vezes, ao começarmos a orar, também não sabemos como devemos
pedir ou dizer a Deus (...). O Espírito Santo, através do dom de línguas, vem em
nosso auxílio corrigindo toda essa imperfeição, que existe em nós pelo
pecado..."30.
b. Abre a pessoa para os demais carismas, porque mantém o espírito em
alerta para o que Deus quer falar ou fazer. Geralmente a palavra de profecia ou
a interpretação de línguas vêm durante ou após a oração ou cântico em línguas.
Da mesma forma a palavra de ciência, o dom de cura e assim por diante.
c. Ajuda a orar por determinadas coisas das quais a pessoa foge de colocar
na presença de Deus, problemas interiores nos quais prefere não tocar;
d. É também um dom de unidade entre os cristãos: "Achavam-se então em
Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo
aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia
falar em sua própria língua" (At 2, 56).
Acima de tudo, o dom de línguas auxilia no processo de santificação
pessoal, pois submete o espírito ao Espírito, proporcionando uma oração certeira
e eficaz.

6. COMO RECEBER O DOM DE LÍNGUAS

O dom de línguas é para todos os que crerem (cf. Mc 16,17). Pelo modo
como se manifesta, ele pode apresentar-se sem sentido às mentes mais racionais.
Mas na medida em que se aceita o dom e abre-se o coração e a mente, as
dificuldades vão desaparecendo e o dom se torna um modo a mais de como rezar.
Também é necessário que o receptor colabore como Doador o Espírito
Santo. Ao Espírito cabe a moção e a inspiração das palavras enquanto que à
pessoa, o desejo, a aceitação e a decisão de orar: abrir a boca, mover a língua,
movimentar os lábios, produzir sons. Diante deste dom, como dos outros, a
pessoa deve fazer um ato de fé, ceder à ação do Espírito Santo, pois, sob Sua ação
a língua proferirá palavras ininteligíveis.

30
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. Carismas, p. 75-76.
"No dom de línguas, você solta os sons, e o Espírito Santo dá o conteúdo.
Esta é a sua parte. Por isso, a melhor maneira de orar em línguas é soltar-se no
meio dos outros. Se há um grupo orando em línguas, faça o mesmo. Não é assim
que o passarinho aprende a voar? Não é assim que aprendemos a nadar? Há
muito tempo, peço a Deus que conceda às pessoas a efusão do Espírito Santo. De
que forma? Convido a pessoa a orar comigo, da mesma maneira que estou
orando. Começo a orar, e a pessoa me acompanha. Não se pode imitar. Cada um
deve se soltar, a fim de deixar que o Espírito Santo ore em si. É algo muito fácil e
simples"31.

7. CONCLUSÃO

O dom de línguas foi um dom abundante no início da Igreja. É normal um


católico exercê-lo. Ele traz muitos frutos para a vida de oração e de santificação
pessoal, favorecendo a intimidade e a comunhão com Deus. A oração em línguas
pode se manifestar de várias formas; o mais importante não é O que Se diz e sim
O que há no coração do orante em relação a Deus. "Ninguém falando sob a ação
divina, pode dizer: 'Jesus é o Senhor', senão sob a ação do Espírito Santo" (1Cor
12, 3).

8. PROPOSTA DE DINÂMICA

Assim como toda criança aprende a falar soltando um som ou uma única
sílaba, necessária no início, também muitos precisam desta decisão e esforço
inicial. Pode-se começar repetindo "aleluia" para ir se abandonando ao Espírito e
depois unir-se à oração da assembleia que está orando ou cantando em Línguas.
Outra forma que pode ajudar é esta: no momento do canto de louvor
convida-se para que cada pessoa escolha uma vogal todas as vogais devem ser
cantadas e continue louvando o Senhor naquele mesmo ritmo, cantarolando esta
vogal. Ex: Uns vão escolher o “a a a", outros o "é é é" etc., forma um lindo coral e
as pessoas vão se soltando no louvor, então, o que está dirigindo a oração, a certo
momento, inicia o canto em línguas. O mais é com o Espírito Santo.
• Levar a assembleia a um grande clamor ao Espírito Santo pedindo seu batismo
e seus dons, especialmente o Dom de Línguas.
• Conduzir a assembleia a um grande momento de louvor até que não haja mais
palavras na mente para louvar o Senhor pode seguir o louvor com as vogais;
em seguida levá-los a uma profunda oração em línguas.

31
ABIB. Jonas. Aspirai aos dons espirituais, p.58.
• Chamar as pessoas que ainda não possuem o Dom de Línguas e pedir à
assembleia para lhes imporás mãos pedindo ao Senhor que lhes conceda esse
Dom ou se possível, cada dois servos rezam por uma pessoa.
CAPITULO 3
//////////////////////////////

DOM DE PROFECIA E DOM DE


INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS
A um é dada pelo Espírito ... a outro, a profecia... a outro, a interpretação das línguas.
Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como lhe apraz
(1Cor I2,10b. e).

1. INTRODUÇÃO

Estudaremos mais dois Dons de Inspiração: O dom de Profecia e


Interpretação das Línguas.
O carisma de Profecia é um dos meios que o Senhor tem para comunicar-
se com o seu povo, encorajando, exortando, instruindo, dando novo rumo ao
trabalho apostólico, indicando a direção certa e levando à conversão, enfim,
manifestando sua santa vontade em tudo (cf. 1Cor 14, 3).
Deus sempre quer falar, mas nem sempre o seu povo está pronto para
escutá-lo. Quando o faz e, em seguida, Lhe obedece, faz a coisa certa, na hora
certa, do jeito certo. Quando faz por sua própria conta, por sua vontade, algumas
vezes acerta, mas na maioria delas erra, sofre ou fracassa. É necessário ouvir o
Senhor sempre (cf. Dt 6,4).
Que maravilha poder ouvir a Deus e por ele ser orientado. Que povo há,
com efeito, que tenha seu Deus tão próximo de si cada vez que o invoca com
sinceridade (cf. Dt 4,7).

2. DOM DE PROFECIA

2.1. Conceito
"A profecia é um carisma em virtude do qual o inspirado, em nome de
Deus, é movido pelo Espírito, fala à assembleia para exortá-la, estimulá-la ou
corrigi-la. E um carisma que contribui muito para edificar a Igreja. Não comunica
revelações sensacionais, mas é uma palavra inspirada que manifesta a vontade
de Deus em circunstâncias do momento e manifesta os sentimentos ocultos do
coração. A palavra profética geralmente suscita fortemente um movimento de
conversão, de agradecimento ao Senhor por suas intervenções de amor, um
sentimento de paz. Ocasionalmente o profeta recebe uma luz particular
predizendo o futuro (cf. 1Cor 14, 34.24-25)"32.
Por vezes, confirma-se na profecia o que já se está fazendo, encorajando a
continuar. "Numa noite, o Senhor disse a Paulo, em visão: ‘não temas!' Fala e não
te cales. Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal,
pois tenho um numeroso povo nesta cidade" (At 18,9-10). Ela pode também
prever uma missão para a Igreja dentro de algum tempo: "Enquanto celebravam
o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: ‘Separai-
me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado'" (At 13,2).
São Paulo aconselha a aspirar aos dons "mas sobretudo ao dom da
profecia" (cf. 1Cor 14,1); e explica a importância deste dom: "Aquele, porém, que
profetiza fala aos homens, para edificá-los, exortá-los e convolá-los" (1Cor 14, 3).
O dom de profecia "edifica a assembleia" (cf. 1Cor 14,4); por isso o apóstolo
manifesta seu desejo: "Ora, desejo que todos faleis em línguas, porém muito mais
desejo que profetizeis" (1Cor 14, 5). Este dom "instrui também os outros
(ouvintes)" (cf. 1Cor 14, 19), e é um sinal "para os fiéis" (cf. 1Cor 14, 22), quanto
para os infiéis, sendo para estes, motivo de adoração e proclamação da presença
de Deus em meio à comunidade (cf. 1Cor 14,24-25).
É desejo ardente do apóstolo que na comunidade se manifeste este dom
do Espírito: "Não desprezeis as profecias" (1Tes 5, 20). "Aquele que tem o dom
da profecia, exerça-o conforme a fé" (Rm 12, 6), pois, segundo a medida do dom
de Cristo, alguns foram constituídos profetas para o aperfeiçoamento dos
cristãos (cf. Ef 4,7-12).
A profecia pode trazer uma sugestão sobre algo que deve ser mudado:
pode trazer uma confirmação do amor de Deus, do seu poder, um sentido
profundo de sua presença. A profecia é um dom que todos podem ter: "Todos,
um após o outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e serem todos
exortados" (1Cor 14, 31).
Em Números 11, 29 lê-se: "Prouvera a Deus que todo o povo profetizasse,
e que o Senhor lhes desse o seu Espírito". Ora, o profeta Joel predissera que o
Senhor iria derramar o seu Espírito sobre todo o ser vivo. Tal profecia, no Novo
Testamento, é lembrada pelo apóstolo Pedro, logo no dia de Pentecostes, como
"cumprimento do que foi dito pelo profeta Joel" (cf. At 2, 16-21). Assim, a profecia
é uma consequência do derramamento do Espírito Santo na Igreja, pois quem

32
ALDAY, Salvador Carrillo. A Renovação no Espirito Santo, p. 87.
tem o Espírito do Senhor e se deixa conduzir por Ele, torna-se um instrumento
apto para profetizar na assembleia.
2.2. O exercício do dom de profecia
O dom de profecia é a faculdade de acolher no íntimo (pensamento) e
transmitir em palavras inteligíveis, as revelações de Deus. Está no campo das
revelações particulares e, como tal, não pode contradizer o que foi revelado
através da Bíblia e da Tradição e que é explicado pelo Magistério da Igreja
(revelação pública).
A manifestação da profecia deve ser com "dignidade e ordem" (cf. 1Cor
14, 40), e com o critério de julgamento sobre a mesma (cf. 14,29), pois "Deus não
é Deus de confusão, mas de paz" (1Cor 14,33).
Assim sendo, o exercício da profecia acontece quando o profeta fala sob a
influência sobrenatural do Espírito,33 abrindo o seu ser para isso, transformando-
se em "porta-voz" de Deus, para a verbalização de Suas palavras.
A profecia não se refere necessariamente ao futuro, muito embora isso
tenha sido o caso em algumas ocasiões, como evidencia a Bíblia. Pela profecia,
Deus utiliza-se de alguém para dizer aos homens o que Ele pensa sobre a situação
presente, ou qual é sua intenção para o futuro. Numa reunião de oração, a
profecia tem o efeito de aprofundar o senso da presença de Deus. É um meio
eficaz de o povo ser conduzido por Deus. Neste sentido, o profeta transmite o
pensamento de Deus. E essa transmissão vem de Deus e não da mente daquele
que fala.
O profeta fala sob inspiração divina, sendo instrumento ativo desta
inspiração e comunicação; o que importa é a mensagem, e não tanto o
transmissor da mensagem. É preciso ter cuidado para não se deixar levar pela
fraqueza humana, não aceitando uma profecia divina porque esta veio por este
ou aquele membro da comunidade.
O Espírito Santo é livre para que haja profecia onde, como e quando Ele
quiser; nas reuniões de oração, normalmente, há certa sequência em relação à
profecia, como segue: oração, louvor (cânticos ou preces), oração e cântico em
línguas seguido de bom tempo de silêncio para ouvir o Senhor. Assim se cria o
clima favorável para a manifestação do carisma de profecia, que deve ser
desejado por todos (cf. 1Cor 14,1). Após acolher a profecia, a comunidade louva
e exulta de alegria pela palavra que o Senhor deu. É importante que haja
confirmação da profecia.

33
Cf. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. Grupo de Oração, p. 54.
A profecia pode ser dada em vernáculo (língua falada no local) ou em
línguas estranhas, sendo que essa necessita de interpretação, como se verá a
seguir.
2.2.1 A acolhida da profecia
Ninguém profetiza sem o consentimento da vontade, mas acolhe as
palavras de Deus em sua mente e, se não as pronunciar por medo, insegurança
ou respeito humano, deixa de profetizar. Deus, não violenta, não força a mente
humana contra a sua vontade e consentimento.
É o Senhor quem escolhe, chama e capacita o profeta (cf. Ef 4, 11). É Ele
que suscita o desejo de profetizar, vai derrubando as barreiras que impedem a
entrega plena do ser da pessoa ao seu Espírito Santo, embora respeite o seu livre
arbítrio, sua liberdade. A profecia é geralmente precedida pela unção, que é um
'senso da presença do Senhor', um movimento no íntimo do espírito, é um
impulso para anunciar a mensagem de Deus; com frequência, a unção é a chave
que permite saber que o Senhor quer falar34.
Assim sendo, são combinadas a ação do Espírito e a adesão da pessoa. O
Espírito unge o profeta e inspira-lhe as palavras a serem ditas. A pessoa deve
entregar-se a Deus, acolher as palavras no íntimo e pronunciá-las
destemidamente. O profeta não precisa mudar a voz ou imprimir uma tonalidade
discursiva, mas apenas pronunciar o que lhe é revelado na sua própria maneira
de falar. Neste sentido. Deus se utiliza da cultura e do vocabulário da pessoa.
O essencial para acolher a profecia e proclamá-la é crer que Deus quer falar
naquele momento e dispor-se a ser o seu instrumento. A pessoa recebe na mente
uma palavra ou frase e, à medida que as pronuncia, outras seguirão. Também
pode acontecer de ser dada, primeiro em pensamento ou por meio de imagem.
Qualquer que seja a forma de receber a profecia, a pessoa deve dar um
passo na fé para pronunciá-la, sem se deixar impregnar por dúvidas e
inseguranças. Por vezes, a pessoa se acostuma a ficar esperando pelos que mais
costumeiramente profetizam. Os que agem assim, dificilmente serão usados com
o dom de profecia. Para ouvir o Senhor, é necessário um ato de entrega ao
Espírito e não apenas de passividade.
O profeta deve manter uma expectativa de escuta. A escuta é a capacidade
dada pelo Espírito Santo para ouvir a voz de Deus no coração e discernir, dentre
todas as vozes que chegam, qual é de Deus (cf. Jo 12,27-29).

34
Cf. ABIB. Jonas. Aspirai aos dons espirituais, p.56.
A oração do discípulo de Jesus é mais do que falar no vazio, ler no vácuo,
sofrer na solidão, contemplar um túnel sem fim. A oração do discípulo de Jesus
Ressuscitado é muito mais do que tatear na escuridão. Ela não é tampouco um
salto no abismo. O discípulo de Jesus foi levado à posição de amigo do Mestre (cf.
Jo I5, 14). Sendo amigo de uma das Pessoas da Santíssima Trindade, goza,
automaticamente, da amizade das outras. Por isso sua oração é, antes de tudo,
aproximar-se de Deus (cf. Hb 11, 6), é um inclinar de ouvido na direção dos lábios
da Trindade Santíssima (cf. Is 50, 4b-5) para saborear seu canto de amor.
2.2.2. O ciclo carismático
Nas reuniões de oração, cria-se assim o que é denominado "ciclo
carismático", composto de louvor, oração e profecia. A assembleia se dirige a
Deus pela oração, que é o diálogo com o Senhor. Ele responde pela profecia,
usando as mentes e vontades daqueles que se rendem a Ele para edificar a
comunidade. No ciclo carismático, encontram-se assim estes elementos:
1. Oração, louvor (cântico ou preces);
2. Oração em línguas;
3. Seguido de um bom tempo de silêncio, que na verdade é o momento
da escuta de Deus, da unção (que geralmente precede a profecia);
4. Profecia;
5. Acolhimento, momento da resposta que damos a Deus após a qual a
comunidade louva e exulta de alegria pela palavra que o Senhor lhe
dirigiu.
É olharmos para estes momentos do ciclo carismático e percebermos que
cada momento nos prepara para ouvirmos a voz de Deus e que dentre todos os
momentos, a escuta ou o silêncio, se faz necessário, pois é o momento em que
Deus nos fala. Na medida em que a comunidade se habitua com o ciclo
carismático, torna-se mais aberta ao Senhor e ao cumprimento de Sua vontade.
Em continuidade, falando ainda sobre o ciclo carismático, podemos refletir
no que o papa Bento XVI nos ensina na exortação apostólica Verbum Domini n.14
"Consequentemente, recomendou que «se ajudassem os fiéis a bem distinguir a
Palavra de Deus das revelações privadas», cujo «papel não é (...) 'completar' a
Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa
determinada época histórica». O valor das revelações privadas é essencialmente
diverso do da única revelação pública: esta exige a nossa fé; de fato nela, por
meio de palavras humanas e da mediação da comunidade viva da Igreja, fala-nos
o próprio Deus. O critério da verdade de uma revelação privada é a sua orientação
para o próprio Cristo. Quando aquela nos afasta d'Ele, certamente não vem do
Espírito Santo, que nos guia no âmbito do Evangelho e não fora dele. A revelação
privada é uma ajuda para a fé, e manifesta-se como credível precisamente porque
orienta para a única revelação pública. Por isso, a aprovação eclesiástica de uma
revelação privada indica essencialmente que a respectiva mensagem não contém
nada que contradiga a fé e os bons costumes; é lícito torná-la pública, e os fiéis
são autorizados a prestar-lhe de forma prudente a sua adesão. Uma revelação
privada pode introduzir novas acentuações, fazer surgir novas formas de piedade
ou aprofundar antigas. Pode revestir-se de um certo carácter profético (cf. 1Ts
5,19-21) e ser uma válida ajuda para compreender e viver melhor o Evangelho na
hora atual; por isso não se deve desprezá-la."35
Ocorre, por vezes, que vários membros da comunidade tenham a mesma
profecia num só momento; quando a primeira profecia é anunciada, os outros,
tendo-a também recebido, podem confirma-la, dizendo em bom tom: "eu
confirmo". Isto dá certeza da profecia quanto à sua autenticidade. Deve-se falar
o que se recebe tão logo se recebe. Após o anúncio de uma ou mais profecias, é
oportuno que o dirigente da reunião conduza a assembleia a louvar o Senhor que
ali está se comunicando com ela. É importante que um servo fique encarregado
de anotar as profecias, pois, recordá-las ajuda a vivência das mesmas.
2.3.Tipos de profecia
Além da profecia verdadeira, pode acontecer de ser proclamada numa
reunião de oração ou fora dela, outros tipos de mensagens assim conhecidas:
a. Não profecia
Quando as palavras vêm da mente humana; são sentimentos, às vezes
bastante piedosos, mas que não vêm de Deus e sim da pessoa que, movida por
seus anseios ou mesmo por problemas emocionais, tenta comunicar os próprios
sentimentos como se fossem mensagens do Espírito;
b. Falsa profecia
É uma mensagem influenciada pelo Demônio; pode ocorrer.
Normalmente, ela contradiz a Escritura ou a Tradição e o ensinamento da Igreja.
A falsa profecia é detectada pelos seus frutos: ela causa um mal estar espiritual
junto à comunidade; vê-se logo que não procede do Espírito Santo pelos efeitos
negativos que produz.
Pode acontecer também que inspirações autênticas se mesclem à
subjetividade do indivíduo que, espontaneamente, vai introduzindo outros
elementos e misturando-os com o que Deus está relevando. Seria o caso de:

35
Exortação Apostólica Verbum Domini n. 14.
a. Profecias longas - a pessoa recebe a inspiração e, depois que feia o que
sentiu de Deus, permanece comentando ou acrescentando coisas que, nas mais
das vezes, ela mesma tem vontade de dizer à comunidade ou a algumas pessoas
que ali estão presentes. A profecia se torna longa e um pouco confusa,
dificultando o entendimento dos ouvintes quanto ao que realmente é mensagem
de Deus. Apesar disso, o fato de uma profecia ser um pouco mais alongada, não
quer dizer que estejam sendo feitos acréscimos pelo profeta;
b. Profecias repetitivas – A pessoa pronuncia as palavras inspiradas e, na
ânsia de continuar ensinando, fica repetindo as mesmas palavras ou com
pequenas variações;
c. Profecias influenciadas por devoções pessoais – Quando uma pessoa tem
ligação muito estreita com algum tipo de devoção (Coração de Jesus, Nossa
Senhora, algum santo etc.), poderá se sentir impulsionada a mesclar a profecia
com esses sentimentos pessoais; às vezes, a mensagem é transmitida
estritamente com elementos de tais devoções, o que constitui numa não
profecia.
É necessário recorrer ao indispensável dom do discernimento, pelo qual
Deus dá uma convicção interior da autenticidade ou não da profecia. O
discernimento, portanto, torna-se também um exercício espiritual. No entanto,
ao ser proclamada uma profecia, seria oportuno:
a. Observar se ela não contradiz a Bíblia ou a doutrina da Igreja;
b. Perceber as impressões que ela causa da assembleia (paz, alegria,
contrição, medo, angústia, ansiedade etc.);
c. Esperar que ela seja confirmada por outras pessoas.
É bom que se diga que o Demônio não tem poder e autoridade para
interferir numa oração humilde e aberta ao Espírito. Quanto mais louvor, menos
espaço para Satanás. Ele necessita de um tipo de "brecha" para influenciar as
pessoas, que pode ser causada por presunção, desespero, altivez ou algum
pecado grave que esteja de alguma forma, influenciando fortemente o momento
da oração.
Quanto aos destinatários, uma profecia pode ser:
a. Pessoal - dirigida diretamente a uma pessoa, na oração pessoal ou
através de alguém que ora por ela; mais raramente, mas também pode acontecer
numa oração comunitária;
b. Comunitária - dirigida a todas as pessoas reunidas em oração.
Pode-se pedir uma profecia para alguém particularmente ou para uma
necessidade da comunidade como um todo. Na profecia podem ser revelados
planos a se realizar e que estão sendo amadurecidos dentro de cada um
individualmente ou na comunidade.
Quanto à forma, uma profecia pode ser:
a. Direta - pronunciada em língua compreensível (vernáculo), na primeira
pessoa do singular, como se fosse o próprio Deus falando;
b. Indireta - em línguas, por meio de visualização, recordação de trechos
bíblicos ou fetos ocorridos, entre outros; nesses casos, o profeta normalmente
comunica o que Deus está falando, como se estive expondo. Também é possível
que profetize enquanto profere uma pregação ou ensino.

3. DOM DE INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS

Ocorre muitas vezes numa assembleia carismática reunida, a oração ou o


canto em línguas, numa harmoniosa alegria pela presença de Deus naquele lugar.
Durante a oração ou canto em línguas ou no silêncio que se segue, uma voz
destaca-se das demais. Outras vozes se calam porque sentem que o Espírito está
agindo, dando uma profecia em línguas. Faz-se silêncio para a escuta da
interpretação.
A interpretação pode vir pela mesma pessoa ou por outra, de forma direta,
como uma palavra de profecia. Pode ocorrer também a interpretação indireta,
por meio de visualização, recordação de versículos bíblicos ou fatos, entre outras
formas.
Da mesma maneira que a profecia, o dom de interpretação das línguas
pode ocorrer durante o "ciclo carismático": louvor silêncio profecia em línguas e
interpretação louvor a Deus.
O carisma de interpretação das línguas é a faculdade de perceber o sentido
da oração ou da profecia em línguas. Não se confunde com tradução (ou versão).
Nesta, o tradutor entende cada palavra. É por isso que ele, utilizando palavras de
um dos idiomas conhecidos, reescreve o texto em outra língua qualquer. A
tradução é a substituição de palavras, termos ou períodos de uma língua pelos de
outra.
O dom de interpretação das línguas é um impulso, através de uma unção
espiritual, por meio do qual a pessoa capta o sentido da mensagem e comunica-
a para torná-la compreensível aos membros da comunidade. É, portanto, uma
profecia motivada e antecedida pelo dom de línguas:
"Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém
o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito. Ora, desejo que
todos faleis em línguas, porém muito mais desejo que profetizeis. Maior é quem
profetiza do que quem fala em línguas, a não ser que este as interprete, para que
a assembleia receba edificação. Quem fala em línguas, peça na oração o dom de
as interpretar" (1Cor 14, 2.5.13).
Tanto "o falar" como "o orar" e "o cantar" em línguas só se tornam
mensagem profética quando houver interpretação.
3.1. O exercício de interpretação das línguas
Segue os mesmos princípios que norteiam o dom de profecia. De forma
pessoal ou comunitária, a interpretação ocorre após a emissão da uma
mensagem em línguas.
A mensagem em línguas pode ter duração diferente, podendo ser longa ou
breve; contudo, a interpretação deve ser concisa, denotando com clareza a
mensagem do Senhor. Quem recebe o dom da interpretação percebe que as
palavras lhe vêm à mente de forma abundante, e deve dizer o que o Senhor lhe
inspira.
Assim como há uma unção para profetizar, uma mensagem em línguas
também é precedida por uma unção. O intérprete recebe um impulso interior
para a interpretação. Aliás, a unção do Espírito caracteriza o exercício dos dons.
Quanto mais a pessoa se habitua com ela, mais facilmente identifica o modo
como o Senhor lhe "dita" as palavras.
Por que Deus utiliza o dom de línguas para comunicar sua mensagem
quando pode fazê-lo "diretamente" através da profecia? Dom João Evangelista
Martins Terra procura responder:
"Falar em línguas numa assembleia cultural cria uma atmosfera de audição
interior e uma expectação atenta da palavra do Senhor. Esse dom alerta os que
profetizam no grupo, a fim de estarem mais preparados para receber uma
inspiração sobre o que o Senhor quer comunicar ao grupo, e coloca também o
grupo inteiro alerta para escutar o que se vai dizer. Essa interpretação não é uma
tradução, mas um carisma diferente que não acontece na oração particular, mas
só quando o Espírito suscita alguém a falar em línguas na assembleia, enquanto
todos os outros guardam silêncio, preparando assim o clima para a intervenção
do carisma profético que interpreta exortando, consolando e corrigindo"36.

36
Os Carismas em São Paulo, p. 19
Por vezes, acontece que várias pessoas recebem a mesma interpretação
da mensagem ouvida. Neste caso, o senso de que a interpretação ouvida é
correta, é ratificado. Como na profecia, deve-se dizer em voz alta: "eu confirmo!".
Após receber uma ou mais mensagens em línguas com interpretação, o
procedimento do dirigente da reunião deve ser como após a profecia de deixar
algum tempo para o louvor e resposta ao Senhor, de acordo com o conteúdo da
mensagem. E quando o Senhor fala, quer por meio da interpretação das línguas,
quer por profecias, sua palavra traz sempre frutos poderosos sobre todos.
A diferença entre a Profecia e a Profecia em Línguas: a Profecia é dada na
própria língua (vernáculo) e é entendida por quem a ouve, ao passo que a
Profecia em Línguas necessita de interpretação.
Uma vez interpretada, a manifestação das línguas tem todas as utilidades
da profecia, a saber: edificar, exortar, consolar (cf. 1Cor 14,3).
Frequentemente podem ocorrer profecias com substrato bíblico,
composta de frases bíblicas, justamente porque naquele momento. Deus quer
relembrar à comunidade orante. Esta ou aquela mensagem ou verdade da fé
contida na Escritura. Neste contexto, a profecia, é "uma ação de Deus mediante
a qual alguém proclama uma mensagem de Deus, a qual focaliza uma verdade já
conhecida, mas que precisa naquele momento, ser lembrada"37. As passagens
bíblicas vêm ao pensamento naturalmente.
No entanto, é preciso que se diga que a mera recordação de versículos
bíblicos sem uma conotação atual não é profecia. Quando alguém apenas emite
supostas mensagens tais como; "Meus filhos, eu sou o caminho, a verdade e a
vida", não se trata de uma profecia no sentido escrito; na maioria dos casos, é um
pensamento da própria pessoa, porque recordou aquela palavra naquele
momento, motivada ou não pelo clima da oração. Pelo dom do discernimento é
possível saber se as palavras bíblicas têm uma conotação atual.
Por fim, é importante lembrar que "Um carisma sobretudo de ordem
profética não é infalível e o seu início pode ser marcado pelo fracasso, pelo erro,
pela falta de confirmação, sem que ele tenha de ser imediatamente questionado.
Tudo isso é uma fase de ensaios às cegas, legítima e necessária para assentar esse
carisma. Mas ela não deve, obviamente, prolongar-se, excessivamente..."38.

4. PROFECIA E OBEDIÊNCIA

37
RENOVAÇÃO CARISMATICA CATÓLICA Grupo de oração, p. 48
38
MADRE. Philippe. Aspirai aos carismas, p. 48.
As profecias são dadas como orientações para serem obedecidas. Quando
não se presta atenção e não se vive o que o Senhor fala, Ele pode calar-se. É
importante levar bem a sério as profecias: são palavras de Deus, palavras de vida,
que levam a comunidade e as pessoas a terem vida em abundância (cf. Jo 10, 10).
"O grupo deve levar a sério a palavra de profecia, porque, por ela, o Senhor
nos fala. Ela pode mudar o rumo das coisas, o rumo da própria Igreja, e é assim
que a Igreja, que somos nós, se mantém em ação"39.

5. CONCLUSÃO

O objetivo da profecia é edificar, exortar, consolar (cf. 1Cor 14, 3). Seu
conteúdo deve estar de acordo com a Bíblia e o ensino da Igreja, levar à
glorificação de Deus, ressaltar o crescimento de Cristo no amor fraterno, na
edificação da Igreja e na busca da santidade.
O profeta é o porta-voz de Deus. Deus é o centro mostrando o Cristo vivo
e ressuscitado agindo, por seu Espírito. São Paulo convida à confiança quando diz:
“Todos podeis profetizar" (1Cor 14, 31). A Igreja precisa de profetas que
encorajem, animem, instruam e exortem o seu povo (cf. Cl 3, 16).

6. PROPOSTA DE DINÂMICA

• Levar a assembleia a um grande clamor ao Espírito Santo pedindo seu batismo


e seus dons, especialmente o Dom de Profecia. Preparar o ambiente na
confiança de que o Senhor quer falar aqui e agora. Explicar como as pessoas
devem entregar-se ao Senhor, deixar a mente livre para receber a mensagem
em Profecia.
• Conduzir a assembleia a um grande momento de louvor até que não haja mais
palavras em vernáculo para louvar o Senhor e já iniciar a oração em línguas.
• Após um profundo momento de oração em línguas silenciar completamente
para ouvir o Senhor.
• Um servo anota as profecias.
• Fazer um grande louvor e ação de graças pela Palavra que o Senhor dirigiu a
seu povo.
• Analisar as Profecias e salientar o tipo de Profecia que o Senhor deu: em
vernáculo; em línguas; por visualização; confirmou com a Palavra etc.? Houve
confirmação? Alguém mais sentiu algo diferente?
• A Profecia foi de consolação? Exortação? Orientação?

39
ABIB. Jonas. Aspirai os dons espirituais, p. 87.
• Concluir salientando a Palavra de Profecia dada pelo Senhor conclamando a
que todos vivam intensamente o que o Senhor falou.
CAPITULO 4
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DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS


A outro, o discernimento dos espíritos (1Cor 12,10c).

1. INTRODUÇÃO

Começamos com o Dom de Discernimento dos Espíritos o estudo dos dons


de revelação que, como vimos, são Discernimento dos Espíritos, Palavra de
Ciência e Palavra de Sabedoria.
Revelar significa tirar o véu, deixar vir a claro, mostrar o real, fazer
conhecer o que era ignorado ou secreto, manifestar a verdade. Discernir deriva
do latim discernere significa separar, distinguir; dele provém o substantivo
discretio, o qual designa a capacidade de discernir, a faculdade de distinguir. O
substantivo grego: discernir (diacrisis) significa perceber claramente, conhecer
distintamente entre o bem e o mal, perceber claro por qualquer dos sentidos40.
O dom de discernimento dos espíritos é uma graça que provém da
presença e ação do Espírito Santo, como um carisma que nos permite examinar,
discernir, perceber e identificar, em nós mesmos, nos ambientes, nas outras
pessoas, nos momentos do grupo de oração, nos objetos, o que é de Deus, o que
é da natureza humana ou o que é do maligno.
Jesus usou muito o carisma de discernimento dos espíritos em sua vida
diária. Também os homens e as mulheres, pais e mães, servos com grande
responsabilidade, precisam desse carisma para saber distinguir qual espírito está
agindo em cada situação: o Espírito de Deus, o espírito humano ou espírito do
mal, o diabo.
O carisma de discernimento dos espíritos é um dos dons mais necessários
a quem coordena um grupo de oração, preside uma reunião de oração, ora por
alguém, é pai ou mãe de família, exerce alguma função na comunidade paroquial
ou na RCC. É bom estudar com carinho este carisma.

2. CONCEITO

40
Cf. MADRE. Philippe. Discernimento dos Espíritos. Ed. Santuário.
Discernimento dos Espíritos é o "Dom do Espírito Santo através do qual
uma pessoa percebe, intuitiva e instantaneamente, quais espíritos estão
presentes e operantes em uma palavra, ação, situação ou pessoa (santo,
demoníaco, humano, ou a mistura destes)"41.
Este dom permite identificar qual espírito está impulsionando ou está
influenciando uma: ação, situação, desejo, decisão, palavra, proposta,
oferecimento.
"O discernimento é o dom que nos abre os olhos para o mundo invisível,
onde agem tanto os espíritos bons como os maus. O discernimento é luz
sobrenatural que nos mostra a origem e a causa última de certos fenômenos
misteriosos, humanamente inexplicáveis. Portanto, não se trata, em hipótese
alguma, de um juízo temerário que fazemos sobre as pessoas. As próprias
palavras 'discernimento dos espíritos' deixam claro que tratamos dos espíritos e
não dos homens e da sua conduta"42

3. TIPOS DE DISCERNIMENTO

a. Reflexivo (bom senso)


É o discernimento conseguido pela inteligência, pelo raciocínio lógico, pela
experiência de vida, pela experiência que se tem sobre alguma coisa, pelo estudo,
pela formação, pela observação.
b. Doutrinal
É o discernimento adquirido pelo conhecimento da Sagrada Escritura, da
Sagrada Tradição e da Doutrina da Igreja; algo que se aprende, se desenvolve. No
Evangelho, Jesus indica: “Pelos seus frutos, os conhecereis" (Mt 7, 16-20).
Contudo, surgem no mundo os falsos profetas que vêm disfarçados de ovelhas (e
mesmo disfarçados de pastores), mas por dentro são lobos arrebatadores (cf. Mt
7, 15).
c. Carismático (cf. 1Cor 12, 10)
É a capacidade que o Espírito Santo dá para distinguir, interiormente, por
um movimento do Espírito no íntimo, que espécie de espírito está movendo uma
pessoa ou uma comunidade.

41
DEGRANDIS. Robert. Carismas, dons do amor de Deus. p. 47.
42
FALVO. S.. O despertar dos carismas, p. 171.
Os discernimentos: carismáticos, doutrinal e reflexivo, completam-se um
ao outro. O melhor é caminharem juntos. Em algumas vezes, o discernimento
reflexivo, baseado somente na razão, foge completamente da vontade de Deus.

4. UTILIDADE DO DISCERNIMENTO CARISMÁTICO

a. Aumenta a margem de acerto em tudo o que se faz;


b. Permite a descoberta da vontade de Deus revelada por meio de outros
carismas;
c. É um dom precioso para quem exerce todas as funções, principalmente
a de coordenação, pregação e animação;
d. Protege os outros dons. Assim, por ele é possível saber quando e como
orar em línguas, profetizar, orar por cura, entre outras coisas: "O dom do
discernimento, podemos considerá-lo como protetor dos demais dons. De fato,
ele aí está pronto para proteger a autenticidade dos dons do Espírito, das
possíveis adulterações inventadas pelo demônio'43.

5. DOM DO DISCERNIMENTO NA VIDA DE JESUS

Jesus usou o dom do discernimento para encontrar orientação correta em


certas ocasiões. Este dom parece estar presente na vida de Jesus de forma muito
original; alguns exemplos podem servir de inspiração:
a. Quando atribuíram a Ele um espírito imundo, Ele discerniu: "Se Satanás
se levanta contra si mesmo, está dividido e não poderá continuar, mas
desaparecerá" (Mc 3,22-27; Mt 12,28).
b. Na questão da cura no dia de sábado, Ele concluiu: "É permitido, pois,
fazer o bem no dia de sábado" (Mt 12, 12; Mc 3,1-16).
c. Na primeira predição de sua paixão, repreendeu Pedro dizendo que os
sentimentos dele não eram de Deus, mas dos homens (cf. Mc 8, 31-33).
d. Na discussão sobre a ressurreição (com os Saduceus, que negavam),
Jesus orientou: "Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus"
(Mt 22,29; Mc 12,24).
e. No caso do cego de nascença, Jesus não atribuiu a cegueira nem aos
pais, nem ao próprio homem cego, como perguntavam os discípulos, mas
discerniu como ocasião de manifestação da Glória de Deus (cf. Jo 9,1ss).

43
Ibid. p. 173
f. Diante da atitude de Tiago e João, pedindo fogo do céu para consumir os
samaritanos que lhes negavam pousada. Jesus orientou: “Não sabeis de que
espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos
homens, mas para salvá-las" (Lc 9,51-56).
Alguns trechos da Sagrada Escritura revelam as consequências da falta de
discernimento. Por exemplo:
a. Gn 3, 17 - Eva não parou para discernir se a proposta que a serpente lhe
fazia era coisa de Deus ou não;
b. 2Sm 11, 1-17 - Davi criou, por falta de discernimento, situações
desastrosas para ele e para os outros.

6. DINÂMICA DA MANIFESTAÇÃO DO DISCERNIMENTO CARISMÁTICO

Como fazer para ter discernimento?


Não existe receita, pois o discernimento dos espíritos é um dom. Porém,
uma coisa é importante: conhecer Deus e Sua Palavra.
"Uma maneira corretíssima de sabermos se algo vem da vontade de Deus,
do inimigo ou de nós próprios é a Palavra de Deus. Muitas vezes, em
discernimento dos espíritos não temos tempo nem de raciocinar. Daí esta palavra
precisa estar tão enraizada em nós que faça parte já do nosso próprio ser. Desta
forma, e alimentados pela oração, nossa vontade e inteligência estarão sempre
abertas à ação do Espírito Santo, que nos revelará, pelo carisma de discernimento
dos espíritos, o que vem de Deus, o que vem de nós, o que vem do maligno"44.
Pedir com fé o Espírito Santo, pedir o dom do discernimento, acolhê-lo, ir
analisando suas manifestações: é, pois, um aprendizado. Sua manifestação se
parece com a intuição. Assemelha-se também com "a voz da consciência".
Discernir segundo Deus gera bons frutos. Jesus dá uma regra infalível:
“Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Pelos seus
frutos os conhecereis" (Mt 7, 1620). Os que são guiados pelo Espírito Santo, terão
frutos espirituais; os que são guiados pela carne, da carne colherão corrupção (cf.
Gal S, 166,9).

7. CONCLUSÃO

Jesus discerniu com poder e ensinou a vigiar (cf. Mt 4,1-10; 7, I5). Todos
devem pedir a Deus e buscar com empenho o dom de discernimento dos

44
RENOVAÇÃO CARISMATICA CATÓLICA. Carismas, p 123-12-4.
espíritos. Ele é necessário, importante, pode-se dizer, indispensável na
comunidade que reza, no grupo de oração, na família. Ele permite distinguir
fenômenos, manifestações de todo tipo.
É necessário perseverar nas orações, no grupo de oração, na vida
sacramental, no estudo da Bíblia, na docilidade ao Espírito Santo, na devoção
mariana e na Doutrina da Igreja para crescer no conhecimento de Deus e estar
cada vez mais aberto ao carisma de discernimento dos espíritos.
Quão necessário se torna o dom do discernimento nas várias situações de
vida pessoal e comunitária! Esse dom é muito importante na orientação pastoral,
na percepção da ação de Deus e sua vontade, ajudando enfim, a "examinar se os
espíritos são de Deus" (1Jo 4,1).

8. PROPOSTA DE DINÂMICA

• Promover um forte momento de oração com toda a assembleia pedindo


ao Senhor o derramamento do Espírito Santo e a manifestação do dom de
Discernimento dos Espíritos, para que ele aconteça nas especificidades,
realidades e necessidades da vida de cada um.
CAPITULO 5
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PALAVRA DE CIÊNCIA
A outro, uma palavra de ciência (1Cor 12,8b).

1. INTRODUÇÃO

O dom da ciência, outro dos dons de revelação, é uma grande ferramenta


de trabalho na edificação do reino de Deus, pois leva as pessoas à conversão e à
glorificação de Deus. A palavra de ciência é percebida como uma certeza interior
que chega à mente.
Geralmente, após uma oração em línguas, a mente está aberta e livre para
receber a comunicação do Senhor. Por vezes, vem à mente uma palavra somente,
ou um quadro, uma cena. O Senhor mostra, assim, o que está curando,
realizando, transformando.

2. CONCEITO

O carisma da palavra de ciência é uma revelação sobrenatural de algo que


Deus conhece. Ele comunica fatos, acontecimentos, problemas, feridas ou
qualquer outra matéria que não é do conhecimento de quem ora, mas que é
necessário saber naquele momento de oração pessoal, comunitária ou quando
se reza por alguém, impondo as mãos. Não depende de informação, de bagagem
cultural, não é filosofia ou teologia: é dom gratuito do Espírito Santo.
O dom da ciência é o diagnóstico de Deus. É o carisma pelo qual o Espírito
Santo revela uma situação, um fato ou uma lembrança dolorosa relativa a
acontecimentos passados ou presentes. Este dom faz com que a mente penetre
nas verdades divinas sem que empregue o esforço do raciocínio (cf. 2Rs 6,8-10).
Através do dom da ciência o Espírito Santo faz com que a pessoa entenda as
coisas como Deus entende. Faz com que se penetre na raiz do acontecimento,
fato, sentimento, situação, estado de espírito. É um fragmento da onisciência de
Deus.
Pode-se, ainda, dizer que a palavra de ciência "é um conhecimento
sobrenatural que se recebe, devido a graça, por meio da qual a inteligência do
homem se ilumina com a ação do Espírito Santo, para conhecer e ver a raiz de um
problema ou o que Deus está fazendo ou vai fazer entre suas criaturas"45.
Neste mesmo sentido, sobre o dom da ciência, escrevem Emiliano Tardif e
José H. Prado flores: "É um dos dons carismáticos, muito belo, por meio do qual
Deus revela e comunica o que já houve ou o que está acontecendo na história da
salvação das pessoas. Por esta revelação, pode-se chegar à raiz de um problema
ou à causa de um cativeiro (dependência de um trauma) ou ao conhecimento de
uma cura"46.
Pelo dom da ciência. Deus revela as curas que está realizando no meio da
comunidade; então, comunica-se a toda a assembleia o que o Senhor está
realizando.
A palavra de ciência distingue-se da ciência humana e do dom infuso da
ciência. Assim:
a. Ciência: desenvolvimento das aptidões naturais da pessoa através do
estudo, pesquisa, conhecimento. É a formação adquirida. É também associada a
toda tecnologia que o homem conhece e utiliza para o desenvolvimento humano.
b. Dom infuso da ciência: é um dom crismai que ajuda a julgar de maneira
correta as coisas criadas, em suas relações com Deus e mostra o valor e a
importância que têm as criaturas aos olhos de Deus (cf. Is 11,2; Hab 2,14).
c. Palavra de ciência: revelação particular e momentânea sobre um fato
singular e determinado; é uma revelação interior compreensível para quem a
recebe (cf. 1Cor 12,8b).

3. O EXERCÍCIO DO DOM DA CIÊNCIA

A palavra de ciência não é necessariamente uma palavra piedosa (amor,


paz, paciência etc.), mas diz respeito ao que Deus quer revelar. Pode ser uma
palavra simples e corriqueira. Por exemplo: tesoura, anel, carta, carro, cabeça etc.
A palavra vem à mente, sem que a pessoa se tenha preparado ou pensado.
O dom da ciência pode vir acompanhado do dom da sabedoria. O primeiro revela
a situação (o diagnóstico), o segundo revela como agir (o tratamento).
O dom da ciência também pode se manifestar por meio de um
entendimento, um sentimento, uma imagem interior (chamada no ambiente da
Renovação Carismática Católica de "visualização"), uma percepção acerca de

45
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de oração, p. 42.
46
Jesus está viva p. 41.
determinadas realidades. Nesse caso, não seria uma "palavra" no sentido estrito,
mas outro modo de compreensão espiritual que é também dom da ciência.
Podem ser referidos, a título de exemplo, dois episódios bíblicos:
a. Lc 7, 36-47 - Aqui, Jesus teve um entendimento espiritual acerca da
situação daquela mulher;
b. Mc 5, 25-34 - Nesse episódio, Jesus teve uma percepção da força que
dele saíra.
Quanto à ocasião, o dom da ciência pode se manifestar principalmente:
a. Na oração pessoal
O "diagnóstico" será referente a própria pessoa ou acontecimento que lhe
diz respeito, fazendo com que ela penetre na raiz do fato, do sentimento, da
situação ou estado de espírito relacionado com o passado ou o presente dela
mesma. Nesse sentido, o dom da ciência ajuda no processo de santificação
pessoal. Deus deseja que o homem compreenda como e porque Ele está agindo
de determinada maneira. Deus ensina ao homem sobre as suas verdades, para
que o homem possa ter a liberdade de optar pelo bem.
b. Na imposição de mãos
É comum haver manifestação da palavra de ciência quando se está orando
por alguém, por meio da imposição de mãos. Por exemplo: quando alguém sofre
de algum mal cuja causa é desconhecida, pode-se pedir ao Senhor uma palavra
de ciência. Reza-se em línguas por alguns instantes, e aguarda-se a comunicação
do Senhor em silêncio. A pessoa por quem se ora poderá dar o significado da
palavra de ciência, associando-a a algum fato de sua vida. Após a emissão e
compreensão da palavra de ciência, reza-se de acordo com o objeto revelado.
c. Na reunião de oração
Numa assembleia de oração, uma ou mais pessoas podem receber
palavras de ciência, geralmente relacionadas a uma ação de Deus naquele
momento. Em alguns casos, quando se anunciam curas por meio do dom da
ciência, a pessoa pode perceber que a ela se refere a palavra, por meio de uma
sensação física ou sentimento, entre outras coisas. O Espírito Santo tem
diferentes maneiras de se revelar às pessoas.

4. UTILIDADE DO DOM DA CIÊNCIA

A finalidade primeira deste dom é levar a cura das lembranças dolorosas,


que ainda incomodam as pessoas, fazem sofrer e tiram a felicidade. O Espírito
Santo penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus (cf. 1Cor 2, 10; Rm 8, 27).
Ora, penetra também as profundezas do homem, revelando-lhe, por meio do
dom da ciência, o que deve ser ou está sendo curado.
O dom da ciência é também, em parte, um dom associado ao dom de curar
doenças (cf. 1Cor 12,9), e deve ser usado com sabedoria e discernimento. "O
carisma da palavra de ciência está sempre a serviço de outro dom: de cura,
palavra de sabedoria, de profecia"47.

5. FUNDAMENTOS BÍBLICOS DO DOM DA CIÊNCIA

• João 1,47-51: a palavra de Jesus a Natanael;


• João 4,16-19: revelação da vida da Samaritana;
• João 11,11-15: conhecimento da morte de Lázaro;
• Mateus 16,16: definição de fé do apóstolo Pedro, por inspiração do Pai;
• Atos 5,1-11: Pedro denuncia o roubo de Ananias e Safira;
• Atos 10,9-16: visão de Pedro e a palavra que lhe é comunicada;
• Lucas 1,39-45: O Espírito Santo revela a Isabel a gravidez divina de Maria:
• Mateus 1,18-25: O anjo revela, em sonhos, a José, a gravidez divina de Maria.

6. A IMPORTÂNCIA DO TESTEMUNHO

Em qualquer hipótese de manifestação do dom da ciência, é importante o


testemunho das pessoas que receberam alguma graça. O que é testemunhado
prova a veracidade da palavra de ciência. Pelos depoimentos se conhece se houve
a ação de Deus ou não, anunciada pela palavra de ciência (cf. Mt 7,16-20).
Assim, pelos testemunhos se confirmam não somente as curas, mas a
própria palavra da ciência. O importante, após os testemunhos, não é bater
palmas, mas deixar a assembleia louvar e agradecer ao Senhor com
espontaneidade.

7. COMO REZAR POR PROBLEMAS DESCONHECIDOS

É muito comum encontrar pessoas com problemas cujas causas não se


conhecem: sejam problemas de ordem física, emocional ou mesmo espiritual. A
pessoa pode estar vivendo em estado doentio (depressão, doença física, pânico
etc.) e não sabe explicar o porquê de tal estado; às vezes não há nenhum motivo
aparente. Como fazer neste caso?

47
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 142.
a. Tentar o diálogo com a pessoa, procurando reunir todos os elementos
possíveis: início da enfermidade (há quanto tempo), possíveis causas; levar em
conta a interdependência dos campos físico, emocional e espiritual.
b. Ver em que nível a enfermidade se situa: se no campo somático (se é
algo simplesmente de origem biológica); se no campo emocional (das lembranças
dos fatos traumatizantes, conscientes ou inconscientes); se no campo espiritual
(se é caso de confissão sacramental, possíveis contaminações etc.). Muitos casos
de doenças físicas têm sua origem nos problemas emocionais; em outros casos,
os problemas de ordem espiritual moral repercutem no psicológico.
c. Pedir ao Senhor que venha em auxílio com o dom da ciência. Neste caso,
ora-se em línguas por alguns minutos; após o silêncio, aguarda-se a palavra de
ciência, comunica-se à pessoa a mesma palavra. A pessoa expressa a ressonância
da palavra em sua vida. Por vezes, a palavra de ciência corresponde a um fato
acontecido há muito tempo; outras vezes, refere-se a casos acontecidos
recentemente. Após a palavra de ciência, reza-se pela cura, de acordo com o que
foi revelado. O processo vai se repetindo, enquanto cheguem palavras de ciência.
Por fim faz-se um louvor ao Senhor e conclui-se com alguma oração espontânea
ou mesmo bíblica.
Caso não se receba nenhuma palavra de ciência ou se a pessoa que recebe
a oração não associá-la a nenhum fato de sua vida, mesmo assim deve-se rezar e
entregar o caso à misericórdia do Senhor. Ele que tudo conhece haverá de
manifestar, no momento oportuno, o seu amor para com aquela pessoa.

8. AUXILIARES DO DOM DA CIÊNCIA

a. Sabedoria - dom do Espírito Santo que revela como agir diante daquilo
que o dom da ciência esclareceu.
b. Discernimento - este carisma ajuda a descobrir o sentido das revelações
dadas pelo Espírito Santo através do dom da ciência.
c. Prudência - a prudência ajudará a descobrir o momento e a forma certa
de proclamar ou não as palavras de ciência.
d. Sigilo - quem ora por outra pessoa deve manter sigilo em relação ao que
o Senhor revelou ou curou (casos particulares ou situações secretas), respeito à
privacidade das pessoas.

9. CONCLUSÃO
O dom da ciência não depende do conhecimento, de bagagem cultural,
não é filosofia ou teologia: é dom gratuito do Espírito Santo.
Palavra de ciência: diagnóstico de Deus. Faz com que a mente penetre
numa verdade (ou na raiz de um problema) sem esforço humano. Manifesta-se
através de: uma palavra ou frase, imagem (visualização), sensação ou sentido.
Atitudes cristãs: sigilo, prudência, sabedoria, discernimento.

10. PROPOSTA DE DINAMICA

• Preparar a assembleia para que não tenha medo.se acalme, confie no Espírito
Santo, explicando como deixar a mente livre, como observar-se para perceber
como está seu corpo, o que está sentindo antes da oração, e assim poder
distinguir depois, as sensações que podem ser manifestações pelo dom da
ciência.
• Oração com a Assembleia pedindo o Batismo no Espírito Santo com o Dom da
Ciência.
• Formam-se duplas com as pessoas mais desconhecidas possíveis. De mãos
dadas pedem juntas com toda a assembleia, mais uma vez o Dom da Ciência.
• Explicar que a pessoa que recebe a oração fica de mãos abertas para receber
a graça, entrega-se ao Senhor, mergulha no amor do Senhor. Não reza, recebe
a oração.
• Em seguida, uma se ajoelha e/ou se senta e a outra reza por ela. Conduzir a
assembleia para um momento de entrega e oração em línguas. Tempo de
silêncio e escuta para perceber a manifestação do dom. A que rezou partilha
o que sentiu. Rezam de acordo com a revelação. Mesmo que não tenho
percebido nada, rezam juntas entregando tudo ao Senhor.
• Revezam-se e repete-se o mesmo procedimento.
• É importante que haja tempo para a partilha, o testemunho. Quem está
conduzindo deve observar e esclarecer o tipo de manifestação: foi uma
palavra? Uma visualização, que talvez necessite de interpretação? Foi uma
sensação de medo, aperto no coração, calor, dor...?
• É importante esclarecer as dúvidas.
• Conclui-se com um grande louvor.
CAPITULO 6
//////////////////////////////

PALAVRA DE SABEDORIA
"A um é dada pelo Espirito uma palavra de sabedoria" (1Cor 12,8a).

1. INTRODUÇÃO

A Palavra de Sabedoria é também um dom de revelação.

Num mundo tão difícil como este todos precisam urgentemente do


carisma da palavra de sabedoria. A sabedoria que vem do Espírito Santo ilumina
o caminho, dá a direção certa, leva a decisão conforme a vontade de Deus e
conduz à santidade. Como é importante este carisma!

2. CONCEITO

A palavra de sabedoria é uma "ação de Deus, movendo uma pessoa a


ensinar ou explicar verdades religiosas, a fim de que a presença e o amor de Deus
sejam experimentados, e para que ela seja movida a procurar Deus"48. Exemplos
de palavra de sabedoria: Mt 7,28-29: Lc 2,47; 4,22; 12,22ss; 24,32.

Pelo dom da sabedoria, a pessoa sente que o Senhor a está guiando para
fazer alguma coisa ou dizer algo em determinado momento. Portanto, palavra de
sabedoria é uma palavra, frase, atitude ou ação a fim de que as pessoas percebam
a verdade que antes não conheciam. Inspira o homem como agir, falar ou se
comportar em situações concretas da vida, levando-o a decidir acertadamente,
de acordo com a vontade de Deus (cf. 1Cor 12,8).

É oportuno fazer a seguinte distinção:

a. Sabedoria humana: adquirida pelo esforço do conhecimento humano e


pelas ciências. Ela depende de esforços, capacidades e tendências pessoais, além
de outros fatores externos.

b. Sabedoria diabólica: “Mas, se tendes no coração um ciúme amargo e


gosto pelas contendas, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Esta não

48
RENOVAÇÃO CARISM ATIÇA CATÓLICA. Grupo de oração, p. 41.
é a sabedoria que vem do alto, mas é uma sabedoria terrena, humana, diabólica"
(Tg 3, 14-15).

c. Sabedoria divina: dom crismai, dom do Espírito Santo para o crismando,


para santificação de sua vida pessoal. Este dom faz aprender as realidades
espirituais e suas consequências na vida prática; desperta o sabor das coisas de
Deus (cf. Tg 1,5).

d. A palavra de sabedoria: dom carismático do Espírito Santo, dom gratuito


de Deus, para orientar situações concretas; não depende de méritos pessoais,
nem é fruto de dedução racional ou científica: é puro dom da graça divina (cf.
1Cor 12,8a).

3. UTILIDADE DO DOM DA SABEDORIA

O dom da sabedoria manifesta a vontade de Deus em situações concretas.


É o socorro de Deus para momentos de crise (o estudo de algum tema difícil,
debates, discussões, situações de confusão etc.).

A palavra de sabedoria é, portanto, apropriada para testemunhar a


presença de Deus em momentos difíceis (cf. Mt 22, 15-22). O dom da sabedoria
tem intima ligação com o dom da ciência. O dom da ciência revela uma situação,
um problema (dá o diagnóstico); o dom da sabedoria revela como agir (indica o
remédio, o tratamento). A sabedoria também ilumina a profecia, para que seja
entendida e vivida.

4. A PALAVRA DE SABEDORIA NA ESCRITURA

Várias passagens da Sagrada Escritura revelam a utilização do dom da


sabedoria como recurso para mostrar a vontade de Deus ou intervir em situações
concretas. Pode-se, ao exemplificar, apontar o uso da palavra de sabedoria:
a. Em situações embaraçosas: I Rs 3,16-28; Lc 12,11-12;
b. Como fonte de entendimento espiritual: Lc 12, 13-21; Lc 12,22-34;
c. Como atitude. At 9, 23-25.
Sempre que Jesus e os apóstolos davam aos seus ouvintes noções práticas
de como viver segundo Deus, segundo o ideal cristão, transmitiam palavras de
sabedoria. Alguns textos importantes: Mt 10, 57; 11, 25-30; Mc 10, 1-31; Lc 6, 20-
49; 12, 22ss; Jo 10,13.34; 15,12-27; Cl 3,1 3; Ef 4,1ss; Gl 5,16ss; 1Pd 1, 13-16; Fl 2,
1-16.
A palavra de sabedoria foi usada pelos apóstolos em várias ocasiões, nos
momentos de pregação, como também antes de tomarem decisões práticas para
a Igreja (cf. At 2, I4ss; 3, I2ss e 4, 8ss). Para a eleição dos sete diáconos, os
apóstolos pediriam à Assembleia que escolhessem homens de boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria (cf. At 6,1ss). Os que discutiam com
Estevão, "Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava"
(At 6, 10). São Paulo agiu movido por este dom, quando deixou cego a Élimas o
mago, que procurava desviar da fé o Procônsul Sérgio Paulo (cf. At 13,4-12).

5. O EXERCÍCIO DO DOM DA SABEDORIA

A abertura para o dom da sabedoria obedece aos mesmos princípios que


para os outros dons. Para receber e manifestar o dom da sabedoria ajuda: vida
de oração, estudo, reflexão, humildade e simplicidade.
O dom da sabedoria pode estar vinculado a certos momentos decisivos na
vida pessoal e comunitária, quando o cristão é chamado a tomar decisões
importantes e precisa do auxílio divino, de uma orientação de Deus sobre esse
determinado momento ou problema. É o dom divino que leva a agir
corretamente diante de uma situação difícil.
Por este dom, a comunidade sente mais profundamente a presença do
Espírito Santo. Os participantes de uma reunião, ao ouvirem palavras de
sabedoria, percebem o próprio Deus a lhes falar. Por este carisma, Deus se serve
de alguém para transmitir um conhecimento mais profundo da sua palavra ou da
direção de Deus sobre a vida deles.
A palavra de sabedoria é frequentemente dada no aconselhamento de
outros, em resposta a seus problemas, dando-lhes clareza e direção pela ação do
Espírito Santo. Todos podem e devem aspirar esse dom; devem, outrossim, rezar,
pedindo-o, desejando-o ardentemente, como exorta São Tiago em sua carta: "Se
alguém de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus que a todos dá liberalmente,
com Simplicidade e sem recriminação e lhe será dada. Mas peça-a com fé, sem
nenhuma vacilação" (Tg I, 56; cf. Eclo 6,37; 43,37).
Salomão pediu-a assim: "Deus de nossos pais, e Senhor de misericórdia,
que todas as coisas criastes pela vossa palavra, e que, por vossa sabedoria,
formastes o homem para ser o senhor de todas as vossas criaturas, governar o
mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na retidão de sua
alma, daime a sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis como
indigno de ser um de vossos filhos. Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa
serva, um homem fraco, cuja existência é breve, incapaz de compreender vosso
julgamento e vossas leis; porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os
homens, não será nada, se lhe faltar a sabedoria que vem de vós. Mas ao vosso
lado está a sabedoria que conhece vossas obras; ela estava sempre quando
fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às vossas
ordens. Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono de vossa
glória, para que, junto de mim, tome parte em meus trabalhos, e para que eu
saiba o que vos agrada" (Sb 9,1 6.9-10).

6. CONCLUSÃO

A sabedoria é um precioso dom do Espírito Santo que está ao alcance de


todos; basta pedi-la com fé, para vivê-la e levá-la aos irmãos "O mundo necessita
de homens que, iluminados pela sabedoria de Deus, saibam agir e falar
inteligentemente, obedecendo assim a lei de Deus escrita no seu coração, a única
lei capaz de elevar sua dignidade de homem e assim enriquecer o mundo”49.

7. PROPOSTA DE DINÂMICA

• A sabedoria é um precioso dom do Espírito Santo que está ao alcance de


todos; basta pedi-lo com fé, para vivê-lo e levá-lo aos irmãos.
• Levar a assembleia a um grande clamor ao Espírito Santo pedindo seu
batismo e seus dons, especialmente o Dom da Sabedoria.
• Concluir com louvor e ação de graças.

49
RENOVAÇÃO CARISMATIÇA CATÓLICA. Carismas, p. 108.
CAPITULO 7
//////////////////////////////

CARISMA DA FÉ50
"A outro, a fé, pelo mesmo Espirito" (1Cor 12,9a).

1. INTRODUÇÃO

Com o Dom da Fé iniciamos o estudo sobre os dons das obras, dons de


poder, que são: Dom da Fé, Dom de Curas e Dom de Milagres, pois manifestam o
poder de Deus agindo em nosso meio, aqui e agora.
O cristão pode ter ousadia em sua vida sabendo que é uma pessoa de fé.
Pode reivindicar a fé necessária para qualquer situação. Que benção é poder ter
certeza que a fé é dom derramado! "Porque é gratuitamente que fostes salvos
mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus" (Ef
2,8).

2. CONCEITO

A carta aos Hebreus apresenta em seu capítulo 11 um dos textos mais


expressivos a respeito da fé. Diz o texto sagrado: "A fé é o fundamento da
esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos
nossos antepassados. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela
palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível. (...) Ora, sem
fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se
creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram" (Hb 11, 13.6).
A fé, em última análise, é um dom que o Espírito Santo colocou à
disposição do homem para que ele possa experimentar concretamente da
onipotência de Deus.
A fé, no mundo de hoje, é um grande desafio, pois muitos só creem em si
mesmos, nas suas próprias capacidades, nos seus próprios talentos, no seu
dinheiro, nos seus planos. Já não acreditam nos outros irmãos e a fé em Deus está

50
Este conteúdo composto originalmente na Apostila do Grupo de Oração da Escola Paulo apóstolo (1999.
p. 28 e 29) e foi adaptado para esta apostila.
muito fragilizada. Algumas vezes trata-se de uma fé tradicional, vaga, subjetiva,
superficial, fria, indiferente.
A fé é como um raio de luz que parte de Deus para a alma. O Espírito Santo,
que é o autor da fé, vem ao mundo de hoje reavivar, dando assim sentido à vida
cristã de muitos batizados que viviam indiferentes ao seu estado.
Para compreender bem o que é o dom carismático da fé, é necessário fazer
a distinção entre; a fé teologal ou doutrinal, a fé virtude ou fruto do Espírito Santo
e o dom carismático da fé:
a. Fé teologal ou doutrinal (fé que acredita)
Por ela o cristão acredita nas verdades reveladas por Deus sobre si mesmo
e sobre o homem e que são definidas pela Igreja.
E fé teologal faz o homem crer firmemente em Deus como seu Pai, que se
importa com a sua vida. Crer em Jesus Cristo como o enviado do Pai, o Filho de
Deus, o salvador do mundo. Crer também no Espírito Santo que edifica a Igreja
de Cristo e a santifica. Crer que o Espírito Santo é o poder de Deus. E porque crê
nas três pessoas da Santíssima Trindade, o homem não só crê intelectualmente,
mas adere profundamente às suas verdades, que se tornam luz e amor para seu
caminho. Essa fé teologal é necessária para a salvação (cf. Gl 2, 15s).
A fé teologal vem em consequência do batismo, do anúncio de Cristo, do
testemunho, da catequese. É ela que aprofunda a esperança e faz o homem agir
na caridade (cf. Gl 5,6). Fundamentada na Palavra de Deus, nos sacramentos, na
vida de oração e na vida comunitária, a fé teologal é um grande sustento para o
cristão do mundo de hoje, onde os homens "não suportam a sã doutrina" (cf.
2Tim 4,34).
b. Fé virtude (fé que confia)
Leva o homem a confiar plenamente na realidade das promessas de Deus.
Impulsiona-o a ir além do ato de aderir às promessas de Deus, conduzindo-o a
uma entrega total a Deus e à sua providência (cf. Mt 6,25).
Pela fé virtude, o homem se abandona à providência divina, pratica a
Palavra de Deus, vive segundo a mentalidade de Jesus Cristo; não só conhece os
mandamentos com sua inteligência, mas interioriza os no coração, vive os
ensinamentos de Deus não como obrigação, mas por amor, experimenta e crê na
bondade e na misericórdia de Deus.
Por esta fé o homem prova a si mesmo e ao mundo que a Palavra de Deus
não é uma utopia, mas forte impulso interior, ao qual adere sua vontade, uma
vez que a fé está gravada no mais profundo do seu coração (cf. Rm 1, 17; 4, 19-
21).
Esta fé virtude leva o homem a crer e experimentar a bondade, a
misericórdia e o amor de Deus na sua vida (cf. 1Jo 4, 16), tornando sua oração um
ato confiante: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8,3134).
"Porque nele se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à
fé, como está escrito: O justo viverá pela fé. Abraão não vacilou na fé, embora
reconhecendo o seu próprio corpo sem vigor pois tinha quase cem anos e o seio
de Sara igualmente amortecido. Ante a promessa de Deus, não vacilou, não
desconfiou, mas conservou-se forte na fé e deu glória a Deus" (Rm 1,17; 4, 19-
21).
c. O dom carismático da fé (fé expectante)
A fé carismática se manifesta quando uma pessoa é movida a ter uma
confiança íntima de que Deus agirá de forma atual. Essa confiança leva a uma
oração convicta, a uma decisão, a uma firmeza de atitude ou a algum ato que
libera a bênção de Deus51 (cf. Mc 11, 22-23; Ex 14, 13-14; 1Rs 18,20-40).
Essa certeza é tão especial que Deus age, e o resultado manifesta a glória
de Deus. O padre Ovila Melançon52 ensina que este dom é dado em vista de
ajudar a orar "com absoluta confiança e sem duvidar".
O dom carismático da fé consiste em crer incondicionalmente no poder de
Deus; crer é saber que Ele agirá "aqui e agora" para o bem de seu povo, curando,
libertando e realizando milagres que levem à edificação do Reino.
Não é preciso "fazer força" para ter fé, nem "forçar" Deus agir com
"palavras de fé". A fé é um dom gratuito e o cristão deve, com muita
tranquilidade, sempre crer que Ele faz o melhor e nunca decepciona quem nele
confia.

3. O DOM DA FÉ NA PALAVRA DE DEUS

Na palavra de Deus existem vários episódios que descrevem a ação


poderosa de Deus movida pela fé:
• Rm 4,23-24 - Abraão o pai da fé.
• Ex 14, 10 - Moisés diante das murmurações do povo, ao ver os egípcios
se aproximarem.

51
Cf. RENOVAÇÃO CARISMATICA CATOUCA. Carismas, p. 150.
52
Cf. Perguntas e respostas. Jesus Vive e é o Senhor, n. 68:413.
• Ex 14, 13-14 - resposta de Deus.
• Ex 14,16-21 - Moisés estendeu a mão sobre o mar, confiante que Deus
iria operar maravilhas.
• 1Rs 18, 20-40 - Elias e os profetas de Baal usou Elias o dom carismático
da fé, pois agiu com muita autoridade e confiança. A fé deu-lhe a certeza
antecipada de que o Senhor agiria em seu favor.
Milagres realizados por Jesus em razão do dom carismático da fé:
• Mt 8,5-13 - Centurião,
• Mt 15,21-28 - Cananéia,
• Mc 5,25-34 - Hemorroísa,
• Lc 5,21-26 - paralítico e os amigos,
• Jo 11,1-44 - ressureição de Lázaro.

4. CONCLUSÃO

O dom da fé é um presente que Deus dá para o bem da comunidade, assim


como os demais dons. Nunca é demais notar que esse dom está profundamente
associado com a caridade. Como os dons são dados para o bem comum, sua
prática reflete a caridade. Assim também acontece com o dom da fé.
Portanto, como diz São Paulo, o cristão deve se empenhar em procurar a
caridade, mas deve também aspirar igualmente aos dons espirituais (cf. 1Cor 14,
I). Assim, é bom e necessário pedir com insistência ao Pai o dom da fé expectante,
para realizar as obras que constroem o Reino e edificam a Igreja.

5. PROPOSTA DE DINÂMICA

• Promover um forte momento de oração com toda a assembleia pedindo


ao Senhor o derramamento do Espírito Santo no dom da Fé crente e expectante,
fé carismática.
CAPITULO 8
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DOM DE CURA E DOM DE MILAGRES


A outro a graça de curar as doenças, no mesmo Espírito; a outro, o dom de milagres
(1Cor I2,9b-10a).

1. DOM DE CURA

1.1. Introdução
Os dons da fé, cura e milagres podem ser chamados "dons sinais", como já
vimos, também chamados carismas das "obras, de poder", porque sinalizam algo
de extraordinário realizado pelo poder de Deus. Diante do poder de Deus que se
manifestou em Jesus e nos apóstolos, muitos se converteram à fé, ao
presenciarem uma cura, um milagre, um prodígio sobrenatural, uma ressurreição
etc.
Esses dons continuam sendo manifestados na Igreja. Não foram
necessários somente no início do cristianismo, para sua expansão. E próprio da
Igreja, testemunhar, pela manifestação dos dons carismáticos, a ação poderosa
do Senhor em meio a seu povo. Pelos carismas, a evangelização é confirmada.
"Os discípulos partiram e pregaram por toda a parte. O Senhor cooperava com
eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam" (Mc 16,
20).
1.2. As enfermidades e a cura
"Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos" (Lc 9,2).
Antes de entrar propriamente no dom de cura convém tecer alguns
comentários a respeito da questão das enfermidades, de sua relação com a vida
cristã e o plano da salvação.
O entendimento da Igreja a respeito dessas realidades é de que a
enfermidade e o sofrimento sempre estiveram entre os problemas mais graves
da vida humana: “Na doença, o homem experimenta sua impotência, seus
lim1Tes e sua finitude" (CIC 1500).
O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Salvifici Doloris “O sentido
cristão do sofrimento humano” procura responder ao sentido da dor e do
sofrimento. Segundo ele, "poder-se-ia dizer que o homem sofre por causa de um
bem do qual não participa, do qual é, num certo sentido excluído, ou do qual ele
próprio se privou"53.
1.3. Conceito de saúde (equilíbrio) x doença (desequilíbrio)
Deus criou o homem em harmonia perfeita com todas as coisas. O Espírito
de Deus governava o espírito do homem; este governava a alma e a alma
governava o corpo. E o homem gozava de um dom chamado imortalidade
corporal, além da imortalidade do espírito. Havia harmonia equilíbrio entre o
espírito, a alma e o corpo. Quando o homem saiu, voluntariamente, do plano
original de Deus, pelo pecado das origens, entraram no mundo o sofrimento, a
doença (desequilíbrio, desarmonia) e a morte.
A doença (que é um desequilíbrio) pode ter início em um dos elementos
constitutivos do ser humano e atingir os outros, secundariamente. Por exemplo:
uma doença que comece no espírito (pneuma) pode se exprimir na mente
(psiquê) e no corpo (soma). Então, é uma doença pneumopsicossomática, uma
doença do homem total. Exemplificando: um pecado, que é uma doença do
espírito (ou do pneuma), pode gerar um sentimento de "remorso"54 (na alma ou
psiquê), levando à doenças ósseas (no corpo ou no soma).
O homem em desequilíbrio (doente) precisa ser curado, restaurado,
regenerado em todo o seu ser para voltar à harmonia inicial. A cura é isto: a
restauração do equilíbrio, da harmonia do plano de Deus.
1.4. O exercício do dom de cura
Se a doença é no corpo, precisa-se de cura física; se na mente, é necessária
uma cura psíquica; adoecem as emoções, a carência é de uma cura interior. Caso
o problema seja espiritual (libertação). Em qualquer hipótese, o dom de cura
geralmente se manifesta por meio da oração de cura.
Para orar por cura, a única prerrogativa é invocar o nome de Jesus. É
preciso deixar de lado o medo e os enganos e orar pelos enfermos, sabendo que
Deus os cura pelos méritos de Jesus Cristo e não porque a pessoa sabe orar, tem
experiência ou é santa. Todos podem exercitar o dom de orar por cura de
doenças.
O propósito de Deus é que os seus filhos sejam totalmente sadios, curados,
restaurados, regenerados e libertos. Para isso Ele enviou o Seu Filho para morrer

53
JOÃO PAULO II apud RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. Oração pela cura, p. 14.
54
O "remorso" distingue-se da "contrição" pelo seu caráter altivo: a pessoa sente-se atingida no orgulho,
ao se deparar com sua imperfeição. A contrição é uma atitude de humildade, por meio da qual a pessoa
se reconhece pecadora e solicita a misericórdia de Deus.
pela humanidade. Pelas suas chagas Jesus trouxe a cura total e a libertação (cf. Is
53,45).
O Papa João Paulo II diz que "O homem é destinado à alegria, mas todos
os dias experimentam variadíssimas formas de sofrimento e de dor"55. E a
Congregação para a Doutrina da Fé, em recente publicação56, se manifesta
dizendo que exatamente por que o homem é destinado à alegria, o Senhor, nas
suas promessas de redenção, anuncia a alegria do coração ligada à libertação dos
sofrimentos.
1.5. Deus quer o homem saudável
No "Diálogo"57, encontram-se registros primorosos de como Deus vê a
separação do homem e a sua necessária reconstrução:
"Ó filha bondosa e querida, a humanidade não foi leal e fiel para comigo.
Desobedeceu à minha ordem (Gn 2, 17) e achou a morte. De minha parte mantive
a fidelidade, conservei a finalidade para a qual a criara, com a intenção de dar ao
homem a felicidade. Uni a natureza divina, tão perfeita, à mísera natureza
humana, resgatei a humanidade, restituí-lhe a graça pela morte de meu Filho. Os
homens sabem de tudo isso, mas não acreditam que sou poderoso para socorrê-
los, forte para auxiliá-los e defendê-los dos inimigos, sábio para iluminar suas
inteligências (...). A natureza divina uniu-se com poder meu (o Pai), com a
sabedoria do Filho e com a clemência do Espírito Santo. Todo o abismo da
Trindade, uniu-se à vossa humanidade".58
Jesus veio ao mundo para dar ao homem vida em plenitude, manifestando
o amor de Deus Pai (cf. Jo 3, 16) para torná-lo participante da natureza (cf. 2Pd
1,4) e do amor divino (cf. 1Jo 4,9; 5,11).
Se Jesus deu a vida pelo homem, se "fomos trasladados da morte para a
vida" (1Jo 3,14), Ele o quer cheio de vida, de saúde, de felicidade, pois ele é o
Deus da vida; Ele "é o Deus que nos cura" (cf. Ex 15,26), "que sara as nossas
enfermidades" (cf. Dt 32,39; SI 102,3; 146,3). As doenças encontram sua causa no
próprio homem, no seu pecado, orgulho, ambição; em sua desarmonia consigo
mesmo, com os outros, com a natureza e, por fim, com o próprio Criador. Mas
esta é uma verdade bíblica: Deus quer o homem saudável!
1.6. Dom de cura e sofrimento humano

55
Christifideles Laici, n. 53.
56
Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura. p. 5.
57
Principal obra de Santa Catarina de Sena, a obra-prima dessa doutora da Igreja. Foi escrito na forma
original de "revelação divina" de Deus Pai à santa por volta do ano de 1.377.
58
Idem p. 315.
No Antigo Testamento percebe-se que o povo de Israel tinha o
entendimento de que as enfermidades estavam misteriosamente ligadas ao
pecado e ao mal; mas elas atingiam também os justos, o que levava o homem a
interrogar-se o porquê (cf. Jo 9,2). O Papa João Paulo II esclarece sobre isso: "Se
é verdade que o sofrimento tem um sentido de castigo quando é ligado à culpa,
já não é verdade que todo o sofrimento seja consequência da culpa e tenha um
caráter de castigo. A figura de Jó é disso uma prova convincente no Antigo
Testamento (...). Se o Senhor permite que Jó seja provado pelo sofrimento, fá-lo
para demonstrar a sua justiça. O sofrimento tem caráter de prova"59.
A partir da vinda de Jesus Cristo é que se encontra uma resposta mais
completa para a questão das enfermidades. Quando Jesus se depara com os
enfermos, e isto é uma constante na narrativa de todos os evangelistas, a sua
atitude é sempre de curar e de libertar de todos os males. A esse respeito diz a
Congregação para a Doutrina da Fé: "As curas são sinais de sua ação messiânica
(cf. Lc 7,20-23). Manifestam a vitória do Reino de Deus sobre todas as espécies
de mal (...), servem para mostrar que Jesus tem o poder de perdoar os pecados
(cf. Mc 2, 1-12) e são sinais dos bens salvíficos"60. O mesmo pode ser observado
ao longo dos Atos dos Apóstolos. São frequentes as curas e as libertações por
meio deles e dos discípulos. A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé
acrescenta: "Eram prodígios que não estavam ligados exclusivamente à pessoa
do Apóstolo, mas que se manifestavam também através dos fiéis"61.
1.7. Enfermidades no Antigo Testamento
Ao longo do Antigo Testamento, após a narrativa do pecado e das
consequências que ele trouxe para o homem, começa a surgir, especialmente nos
salmos e através dos profetas, uma visão nova da doença diante de Deus: elas se
tornaram caminho de conversão (cf. SI 38,5 e 39, 9.12) e o perdão de Deus
inaugura a cura (cf. CIC 1502). Chega-se a momentos de uma compreensão
extraordinária da dor e da redenção a serem manifestadas plenamente no
Cordeiro de Deus, o Justo, o Servo: "Ele tomou sobre si nossas enfermidades, e
carregou os nossos sofrimentos... E ainda: “fomos curados graças às suas chagas"
(Is 53,4a.5c).
O Messias teria em si a plenitude do Espírito Santo; seria consagrado pela
unção, e "enviado a levar a Boa Nova aos humildes, a curar os corações doloridos,
a anunciar aos cativos a redenção e aos prisioneiros a liberdade." (Is 61,1), como

59
JOÀO PAULO II apud CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução sobre as orações para alcançar
de Deus a cura. p. 5.
60
Ibid. p. 6.
61
Ibid., p. 7.
alguém que viria "pensar a chaga de seu povo e curar as contusões dos golpes
que recebeu" (Is 30,26).
1.8. O Novo Testamento: Jesus e os enfermos
No Novo Testamento, vê-se Jesus cumprindo as profecias. Um dos textos
claros, neste sentido, é Lucas 7,22: "Ide anunciar a João o que tendes visto e
ouvido: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos
ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho" (E Jesus
acabara de fazer muitas curas: cf. v. 21).
Fundamentalmente, os evangelistas se esforçam por transmitir aos seus
leitores e ouvintes, a verdade que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas, o
Filho de Deus, que devia vir ao mundo para realizar o plano do Pai: a salvação dos
homens e a manifestação do Reino definitivo (cf. Mt 1,21-22; 16, 16; Mc 1,1-15;
15,39; Lc 7.18-23; Jo 4,25-26; 11,27 etc.). Jesus anunciava o Reino de Deus (cf. Lc
9,11) presente n'Ele e em sua obra (cf. Mt 12,28; Lc 11,20).
A Encarnação do Verbo, na plenitude dos tempos, quando "se fez carne, e
habitou entre nós" (cf. Jo 1, 14), é salvífica, pois Ele veio ao mundo "para salvar o
seu povo de seus pecados" (cf. Mt 1,21); veio para "expiar os nossos pecados" (cf.
1Jo 4, 10); veio "para salvar os pecadores" (cf. 1Tm 1,15); veio "para nos resgatar
de toda a iniquidade e nos purificar" (cf. Tt 2,14); veio, enfim, para que todos
tivessem vida plena (cf. Jo 10,10).
No início de seu ministério público, "Jesus percorria toda a Galileia,
ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as
doenças e enfermidades entre o povo... e Ele curava a todos" (Mt 4, 23-25). Não
somente Jesus curava, mas dava aos discípulos o poder de fazê-lo: “Curai os
doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios..." (Mt
10,8).
Uma palavra pode definir o relacionamento de Jesus com os enfermos:
compaixão. Diversas vezes os evangelistas se referem à sua compaixão. O
Catecismo, n. 1503, diz que "sua compaixão para com todos aqueles que sofrem
é tão grande que ele se identifica com eles: 'Estive doente e me visitastes'." Ele é
o divino médico e quer curar o homem total (cf. Mt 8,3; Mc 1.41; Lc 13,32).
1.9.A Igreja e o poder de curar doenças
Após a ressurreição, Jesus apareceu aos apóstolos e lhes disse: "Como o
Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). A missão que Jesus
recebeu do Pai, de tornar presente entre os homens o seu amor salvífico, Ele o
transferiu à sua Igreja. A missão de Jesus e da Igreja é a salvação dos homens, e
esta é a vontade do Pai (cf. 1Tm 2,4).
Ao despedir-se dos apóstolos, Jesus ordenou: "Ide por todo o mundo e
pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas
quem não crer será condenado. Estes milagres acompanharão os que crerem:
expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão
serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as
mãos aos enfermos e eles ficarão curados" (Mc 16,16-18). Eles obedeceram:
a. Pedro cura um coxo de nascença, com mais de quarenta anos de idade
(cf. At 3,1-11; 4,22);
b. A sombra de Pedro, passando por sobre os doentes os curava; Deus fazia
milagres extraordinários por intermédio de Paulo (cf. At 5, 12-16; 19,11-12);
c. Na Samaria, com o Diácono Filipe, acontecem prodígios e curas (cf. At
8,48);
d. Pedro, em Lida, cura o paralítico Enéias e em Jope, ressuscita Tabita, o
que suscita a fé em muitos corações, que se voltam ao Senhor (cf. At 9,32-43);
e. Em Icônio, o Senhor opera prodígios por meio de Paulo e Barnabé (cf. At
14,1ss);
f. Em Listra, Paulo cura um homem aleijado das pernas, coxo de nascença
(cf. At 14,8-10); em Trôade, ressuscita um moço (cf. At 20.7-10); em Malta, cura
o pai de Públio e os doentes da ilha (cf. At 28,8-9).
Se Jesus associou a evangelização aos sinais visíveis de seu poder presente
na Igreja, não se pode separar evangelização e sinais sem deturpar sua intenção.
Após a era apostólica, a Igreja continuou a exercer estes dons de cura e milagres;
é conhecida a fama dos santos e dos místicos, por seus milagres em favor do
povo. Esta ideia da santidade unida a fatos prodigiosos, manteve-se firme, por
vários séculos na Igreja: ser santo era operar prodígios e curas.
Depois do Concílio do Vaticano II, mais precisamente a partir da
experiência de Duquesne, em fevereiro de 1976, marco do início da RCC, surgiram
na Igreja Católica grupos de oração que retomaram o uso dos dons carismáticos.
Consequentemente, o dom de cura começou a expressar-se com mais frequência
no meio do povo, como o aspecto de um Pentecostes renovado.
O Catecismo, n. 1508, atesta essa vontade de Deus em curar o seu povo e
reconhece: "O Espírito Santo dá a algumas pessoas um carisma especial de cura
para manifestar a força da graça do ressuscitado". Dessa fonte maravilhosa, os
grupos de oração da Renovação Carismática Católica têm bebido e é possível
testemunhar as maravilhas que o Senhor tem feito neles.
2. O DOM DE MILAGRES

2.1. Introdução
Para o Dom de Milagres, seguem-se os mesmos critérios que para o Dom
de Curas. Milagres sempre estiveram presentes na história da salvação, provando
a presença viva de Deus junto ao seu povo eleito. Muitos milagres foram
operados através dos profetas (cf. Ex 7, 8-13; I Rs 17, 7ss; 18, 20ss; 2Rs 2, 19ss).
Eram sinais e prodígios que confirmavam a fé do povo no único Deus verdadeiro.
2.2. Conceito
O dom de milagres pode ser definido como uma ação do poder de Deus
intervindo extraordinariamente em determinada situação. Algumas curas são
milagres, mas esse dom não se limita à ação de Deus na restauração da saúde.
Quando acontece uma cura instantânea, é milagre porque o fator intervenção de
Deus é óbvio a ponto de não ser refutado.
"O milagre é um acontecimento ou evento sobrenatural, ou a execução de
algo que seja contrário às leis da natureza; é um fenômeno sobrenatural, que
desafia a razão e transcende as leis naturais; este dom é simplesmente a
habilidade dada por Deus de cooperar-se com Ele, enquanto Ele executa os
milagres através de um ato cooperativo com os homens"62.
Os milagres são intervenções diretas de Deus na natureza do homem ou
na ordem da criação. Os milagres provam o poder de Deus agindo na vida dos
homens, levando-os a uma fé mais viva e expectante.
2.3. Diferença entre o Dom de Curas e o Dom de Milagres
A cura pode ocorrer também através da medicina, de maneira gradativa.
Acontece em nossos dias, que pessoas com doenças graves, até desenganadas
pelos médicos, vão ao grupo de oração e clamam por cura. Fazem o tratamento
médico e é atestada a cura. Pode também acontecer que haja cura instantânea,
como por exemplo, um tumor maligno exposto que desaparece. Então é milagre.
Frequentemente, Jesus operava milagres, deixando-se levar pela
compaixão diante do sofrimento humano. Ao presenciar a cura de um cego em
Jericó (cf. Lc 18, 35-43), o povo deu glória a Deus; diante da cura do paralítico em
Cafarnaum (cf. Mt 9, 1-8), o povo glorificou a Deus por ter dado tal poder aos
homens; ante o espetáculo dos mudos que falavam, dos aleijados que eram
curados, dos coxos que andavam dos cegos que viam (cf. Mt 15, 29-31), o povo
glorificava o Deus de Israel.

62
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. Grupo de Oração, p. 37.
Neste sentido, o milagre não apenas revelava a bondade de Deus e sua
compaixão pelos homens ao curá-los, mas "efetuava também a salvação de Deus.
É um ato de força, de poder, para repelir os adversários de Deus: uma irrupção
do divino neste mundo, e ao mesmo tempo um sinal do mundo vindouro"63.
Sinalizava-se deste modo a presença salvífica de Deus em meio aos homens e a
implantação do seu Reino (cf. Mc 6,7; 7,26; Lc 7, 18.22; 9, I 6; Mt 12,28).
Assim como Jesus, ao fazer o milagre em Caná da Galileia, "manifestou a
sua glória, e os seus discípulos creram n'Ele" (Jo 2, 11), na comunidade cujos
membros se deixam guiar pelo Espírito Santo (cf. Rm 8, 9.14; Gl 5, 16.25), os
milagres se tornam presentes, pois são promessas de Jesus a toda sua Igreja:
"Quem crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do
que estas, porque vou para junto do Pai" (Jo 14, 12).
Cabe, pois, a cada cristão, abrir-se sempre mais a esse dom que é também
necessário nos dias de hoje, pois Jesus prometeu sua presença. "Se dois de vós
se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, o conseguirão de meu Pai que
está no céu" (Mt 18, 19). Onde está a Igreja reunida na fé, na esperança, no amor,
no louvor, na ação de graças, Jesus se torna presente como Aquele sobre o qual
o Pai coloca a sua complacência (cf. Mt 3, 17).
Toda vez que se reúnem em nome do Senhor Jesus, "tendo por Ele acesso
junto ao Pai num mesmo Espírito" (Ef 2, 18), os milagres podem ocorrer de forma
natural, fortalecendo a fé de todos.
2.4. E quando as curas não acontecem?
Essa questão é intrigante e inquieta muitos dos que se dedicam a orar
pelos enfermos. Existe sempre um mistério em torno da vontade de Deus. Por
que uns são curados e outros não?
Embora seja da vontade de Deus curar o seu povo, é bom lembrar que
"mesmo as orações mais intensas não conseguem obter a cura de todas as
doenças" (Catecismo n. 1508). São Paulo mostra que os sofrimentos fazem parte
da caminhada: "Agora, me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta
às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja"
(Cl 1,24).
Assim, pode-se sempre rezar com muito amor pela cura, mas cabe ao
Senhor curar segundo a Sua vontade.
2.5. A oração de cura

63
RENOVAÇÃO CARISMATICA CATÔUCA. Grupo de oração, p 38.
As orientações expressas a seguir têm um caráter introdutório e servem
como um rumo geral a todos os cristãos. Quando o dom de cura começa a se
manifestar com frequência na vida do servo do grupo de oração, isto é um sinal
que ajuda a caracterizar um serviço específico ou ministério. Nesse caso torna-se
necessária uma formação mais aprofundada.
Jesus assegura que é possível obter o que se pede na oração (cf. Mc 11,
24). A oração de cura está intimamente unida à fé no poder de Deus, a quem nada
é impossível. O dom de cura, ou a graça de curar as doenças no poder do Espírito
Santo, é tratado na Sagrada Escritura de uma forma bastante simples, no
conjunto dos demais dons carismáticos: "... a outro, a graça de curar as doenças,
no mesmo Espírito"; "Mas um e o mesmo Espírito distribui todos esses dons,
repartindo a cada um como lhe apraz" (1Cor 12,9b.11).
É Deus quem cura sempre, servindo-se de instrumentos humanos. Por
isso, todo cristão pode pedir o dom de cura e, na medida em que rezar pelos
doentes começará a constatar que as curas ocorrem.
Para rezar pela cura, outros dons podem se manifestar, como a Palavra de
Ciência, que fornece um "diagnóstico" ou a causa da doença. Também para ter
orientação sobre como orar e o que dizer à pessoa por quem se ora, pode se pedir
e obter uma Palavra de Sabedoria ou o dom do Discernimento.
O padre Dario Betancourt64 usa o texto do Eclesiástico 38, 912 para indicar
os passos para a cura:
a. Orar pedindo a cura: v.9 “eu filho, se estiveres doente não te descuides
de ti, mas ora ao Senhor, que te curará".
b. Arrepender-se e confessar os pecados (confissão sacramental): v.10
“Afasta-te do pecado, reergue as mãos e purifica teu coração de todo o pecado".
c. Ir à missa e oferecê-la pela cura: v.11 "Oferece um incenso suave e uma
lembrança de flor de farinha; faze a oblação de uma vítima gorda".
d. Procurar o médico e tratar-se: v.12 “Em seguida dá lugar ao médico, pois
ele foi criado por Deus; que ele não te deixe, pois sua arte te é necessária".
2.6. A oração de cura interior no grupo de oração65

64
Cf. Venho para curar. p. 36.
65
O conteúdo desse item, bem como do item 7.2, foi tomado de Alírio José PEDRINI. Grupos de Oração:
como fazer a graça acontecer, passim. O padre Alírio faz uma abordagem prática da oração de cura, tal
como deve ser ministrada nas reuniões de oração. Não se trata de um modelo único e fechado, mas
orientações aplicáveis total ou parcialmente nas reuniões ou na dinâmica de grupo de oração, de acordo
com o discernimento e planejamento do núcleo de serviço. O leitor observará uma mudança de estilo de
linguagem.
a. Considerações
Em todo Grupo de Oração, há pessoas com problemas. Pessoas que
passaram por momentos dolorosos e ficaram marcadas, feridas, abaladas,
traumatizadas.
Os traumas podem ser de múltiplas espécies: traumas de rejeição de vida,
de amor ou de sexo, de medos compulsivos e inquietadores: de sexualidade; de
experiências marcantes em doenças graves, acidentes, cirurgias e mortes de
entes queridos; traumas de separações matrimoniais, sempre tão dolorosas;
escravidão e vícios; frustrações diversas; complexos nos relacionamentos
humanos e tantos outros.
Coordenador, você não pode omitir-se no cuidado da cura do psiquismo
dos participantes! Ela é necessária e imprescindível para que as pessoas tenham
sua natureza interior sadia e estejam em boas condições psicoemocionais, a fim
de que o Espírito Santo de Deus possa nelas realizar a sua obra. A graça de Deus
para a santificação supõe a natureza apta e preparada. Isto é, se a pessoa está
ferida, marcada, escravizada, amortecida interiormente, o Espírito terá
dificuldades de agir nela.
A oração de cura acontece no decorrer da reunião de oração e, conforme
a necessidade dos participantes. É preciso discernimento no Espírito, para
enfocar os pontos sensíveis para aquele momento. As reuniões específicas para
cura física e cura interior, em outros momentos, poderão ser mais extensas e
detalhadas. Na reunião do grupo, se houver oração de cura, voltar logo ao louvor.
b. Quando orar para a cura interior
A necessidade de cura interior é evidente. O povo de Deus é ferido. Por
isso, a partir da realidade de seu Grupo, você programa o processo necessário de
cura dos seus irmãos. Você pode utilizar-se de diversas oportunidades como: o
transcurso da própria reunião de oração; uma ou mais reuniões programadas
para a oração de cura interior; um retiro de fim de semana todo dedicado à cura
dos participantes.
c. Como orar
Deve-se motivar a oração de cura interior:
1. Criar clima da presença de Jesus, invocando o e adorando-o,
2. Apresentar e entregar o problema a Jesus,
3. Se for necessário, realizar os passos do perdão,
4. Orar pela cura interior, interceder, pedir a cura em nome de Jesus. Pelo
poder do seu sangue. Orar em línguas,
5. Pedir os frutos do Espírito Santo de Deus para criar nova realidade
psicológica e emocional,
6. Agradecer e louvar pela cura.
Analise cada um destes passos e perceba a sequência lógica e necessária
existente entre eles. Na oração de cura interior não seja imediatista. Não pule
degraus. Não passe de imediato a realizar o passo número cinco, sem preparar os
corações feridos. Faça bem feito, com fé viva, sabedoria e confiança, para que a
cura possa acontecer.
d. Oração de cura interior por etapas
Você pode programar uma caminhada de cura interior realizando-a por
etapas ou área de relacionamento. Reserve vinte a trinta minutos da reunião de
oração para fazer a graça acontecer. Em cada reunião, faz-se oração de cura
interior por uma determinada área da vida das pessoas.
Você pode programar orações de cura interior dos problemas:
1. Da fase da vida intrauterina, pré-natal,
2. Do nascimento até 3 ou 4 anos,
3. Da meninice, dos 5 aos 10 anos,
4. Da adolescência,
5. Da juventude até o casamento,
6. Da vida matrimonial,
7. Da fase escolar,
8. Do tempo de trabalho.
Nessas etapas, orar sobre todos os possíveis acontecimentos dolorosos
ocorridos como: problemas de relacionamento em família, rejeições, desamores,
enfermidades, mortes, traumas de acidentes, problemas de sexualidade etc.
2.7. Oração de cura física no grupo de oração
Dentre os participantes de seu grupo de oração há sempre portadores de
problemas de saúde física, menos ou mais graves. Jesus ressuscitado continua
amando e tendo compaixão dos enfermos e doentes que participam de seu
Grupo de Oração. Quem é doente sofre. Quem sofre necessariamente procura
solução para os seus males. É preciso compreender a realidade de quem sofre. E
preciso sentir o que sentem e aliar-se a eles para a solução de suas doenças e
sofrimentos.
Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre. Sabemos do número cada vez
maior de pessoas que são curadas nos nossos grupos de oração.
São diversas as ocasiões e possibilidades de se interceder pelos
necessitados de saúde:
• Criar um serviço carismático permanente de oração pelos doentes, um
ministério de oração pelos enfermos, animado por algumas pessoas maduras,
esclarecidas e acolhedoras dos carismas, que se dispõem a rezar pelos
necessitados de saúde física.
• Grande oração de cura física fora da reunião de oração: realize
periodicamente, a cada mês ou dois meses, uma grande oração de cura física fora
da reunião de oração. Nesta reunião programada, os cantos, a Palavra de Deus
escolhida, os testemunhos, tudo seja direcionado para despertar a fé na presença
e no poder de Jesus vivo e preparar os corações para receberem as bênçãos da
saúde.
• Oração de cura física nas reuniões de oração: outra oportunidade para
rezar pedindo saúde é aproveitar as chances que se apresentam naturalmente,
durante as reuniões de oração.
Para a eficácia da oração pedindo cura física, é útil levar em consideração
três passos: Criar clima favorável à oração de cura física, orar ao Senhor pedindo
a cura e agradecer e testemunhar a cura recebida.
2.8. Motivos que impedem ou dificultam a cura
Sabe-se que Deus quer a cura de seus filhos; se ela acontece num
momento ou noutro, ou mesmo se não acontece, cabe somente a Deus conhecer
os últimos motivos ou razões. Contudo, observa-se que algumas razões ou
motivos podem impedir ou dificultar a cura. Francis Macnutt66 chega a numerar
11 dessas causas, admitindo ainda que outras devam existir. Algumas parecem
fundamentais e mais comuns:
a. A falta da fé
Muitos procuram a cura como tal, sem um interesse maior em melhorar
sua vida espiritual, em participar dos sacramentos, da vida comunitária eclesial.
Procuram a cura em si, e não o Senhor que cura. Procuram a cura como um ato

66
É Jesus que cura. p. 245ss.
pelo qual se livrarão de suas enfermidades ou problemas emocionais. Buscam a
cura nos grupos de oração, tanto quanto no espiritismo ou curandeirismo.
Jesus ensina que a fé em sua Pessoa, como Filho de Deus, revelador do
amor do Pai, salvador do homem, é necessária para a vida em todos os momentos
e não somente por ocasião das enfermidades. Ao convidar Pedro para que este
caminhasse sobre as águas, exigiu dele um ato de fé, e fé firme! E ao estender-
lhe a mão e segurá-lo lhe disse: "Homem de pouca fé, por que duvidaste?" (Mt
14,31).
Se por um lado, Jesus notava a falta de fé nos ouvintes, por outro lado,
curava porque via a fé presente nos pedidos de cura: "Vai, seja-te feito conforme
a tua fé" (Mt 8, 13). Ele curou o paralítico, “vendo a fé daquela gente" (Mt 9,2). À
Hemorroísa Ele disse: “filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal"
(Mc 5, 34). À mulher pecadora, na casa de Simão, disse: "Tua fé te salvou; vai em
paz" (Lc 7,50).
O cristão de hoje precisa, como sempre, se aproximar de Jesus com toda a
fé do coração; se ainda não a tem, pode rezar pedindo, como fizeram os
apóstolos: "Senhor, aumenta-nos a fé" (Lc 17, 5); pois Jesus é o "autor e
consumador de nossa fé!" (Hb 12, 1).
b. A falta de perdão
Jesus coloca um acento especial no perdão como condição para a cura;
insiste que se reze por aqueles que causaram mal a outrem e até que se amem
os inimigos (cf. Mt 5,43-48). A falta de perdão parece ser uma das causas mais
constatáveis do porquê de muitos não receberem a cura. Constata-se que "o ódio
e os maus relacionamentos provocam todas as espécies de enfermidades, e essa
enfermidade habitualmente permanece, até que a causa originária seja
removida"67. Quanto mais se perdoa de coração, mais facilmente acelera-se o
processo curativo. Jesus deu o exemplo, estando pregado na cruz, pedindo ao Pai
que perdoasse os seus algozes (cf. Lc 23,43).
Após ensinar o "Pai nosso", Jesus acrescentou: "Porque, se perdoardes aos
homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não
perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará" (Mt 6, 14-15).
Numa pregação, Dom Murilo Krieger, ensinou: "Perdão não é sentimento,
é decisão. Posso continuar lembrando o fato tenho boa memória não significa
que não perdoei. Seguindo o exemplo de Jesus, na cruz, eu decido perdoar. Eu
perdoo em nome de Jesus, mesmo se meus sentimentos são contrários e rezo

67
RENOVAÇÃO CARISMATICA CATÓLICA, Carismas no grupo de oração, p. 36.
por quem me feriu. Quando eu rezo, de coração, por quem me feriu e peço que
seja abençoado, eu perdoei, minha dor vai desaparecendo".
A falta de perdão poderá impedir a cura; o perdão oferecido de coração
sincero acelerará a cura. Perdoar pode não ser fácil, humanamente falando. É
preciso fé, decisão da vontade e confiança em Deus! "Orai pelos que vos
maltratam e perseguem" (Mt 5,44). Quando se reza por alguém se deseja todo o
bem. E o perdão virá!
c. O pecado
O pecado é uma doença espiritual e bloqueia a comunhão de vida com o
Senhor. Muitas enfermidades provêm da falta de observância da lei de Deus, que
é fundamentalmente amor a Deus e aos irmãos. Jesus, ao curar o paralítico,
perdoou primeiro o seu pecado e a seguir o curou de sua paralisia (cf. Lc 5, 17-
26). Para Jesus, nesse caso, a paralisia estaria de alguma forma relacionada com
o pecado. Em Marcos 11, 25, Jesus recomenda o perdão antes da oração para
que esta seja ouvida. Ele também recomenda a reconciliação antes da oferta
sacrificai (cf. Mt 5, 23-24).
Jesus veio libertar e salvar o homem do pecado. O perdão pode ser obtido
pelo sacramento da reconciliação. Jesus se tornou "a expiação de nossos
pecados" (cf. 1Jo 3, 5). "Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos
purificar de toda iniquidade" (1Jo 1,9).
Um fato real: "Certa ocasião, uma pessoa estava desesperada: não dormia,
não se alimentava direito, vivendo sob calmantes. Ao conversar com o sacerdote
constatou-se a violação de uma lei moral. A pessoa foi confortada e recebeu o
sacramento da reconciliação. E ela se refez física, emocional e espiritualmente. O
perdão de Deus traz calma, serenidade, equilíbrio, saúde e cura! O pecado é algo
que destrói o equilíbrio da personalidade humana".
Ao rezar por alguém em favor de sua cura, é sempre aconselhável pedir a
Jesus que perdoe seus pecados. E, sendo possível, levá-lo à confissão
sacramental, lembrando que é um Sacramento de cura.

3. CONCLUSÃO

Os dons de Curas e de Milagres estiveram sempre presente na Igreja,


manifestando a santidade de Deus e sua ação no mundo, provando seu amor.
Deus continuará agindo de forma extraordinária, como agiu no Antigo
Testamento, no Novo Testamento com Jesus e sua Igreja. Ele quer operar hoje,
por meio de cada batizado. Sua vontade não mudou. E quando se reúnem
pessoas para louvar a Deus e proclamar sua glória, não é de estranhar que
milagres aconteçam realmente.
Em alguns casos é necessário que se reze várias vezes, até que a cura total
seja constatada. Pode acontecer que o empecilho para a cura esteja no ministro
e não no "paciente"; por isso, antes de rezar por alguém, cada um deve verificar
suas condições espirituais, e assim, com muito amor, rezar com fé no amor
miser1Cordioso de Jesus.

4. PROPOSTA DE DINÂMICA

• Conduzir um profundo momento de oração com a assembleia pedindo


ao Senhor que se realizem curas, milagres e prodígios. Se possível, ter a presença
do Santíssimo ou fazer esse momento na Capela, desde que seja apenas para as
pessoas participantes do encontro.
• Curas e milagres geralmente vêm acompanhados de Palavras de Ciência,
Profecia e Palavras de Sabedoria, podendo ter confirmações bíblicas.
• É também um bom momento para os iniciantes exercitarem os dons de
revelação que receberam.
• Convidar as pessoas a se aproximarem do Senhor entregando seus males
e pedindo a cura e a libertação.
• Propor um plenário com testemunhos de curas e milagres ao final deste
momento, como de todo o encontro.
• Concluir com grande louvor e ação de graças.
BIBLIOGRAFIA
//////////////////////////////

1. ALMEIDA, João Carlos, Cantar em Espirito e verdade, p. 88.


2. Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, Edição Claretiana - 2010 - Revisada.
3. Catecismo da Igreja Católica, Edição Típica Vaticana, Edições Loyola.
4. CHAGAS, Dom Cipriano, OSB. Grupos de Oração Carismáticos, I. Rio de Janeiro: Ed.
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5. CNBB, Documento 62, n. 87
6. CNBB. Documento final da V Conferência / geral do Episcopado Latino Americano e
do Caribe, n. 362.
7. CNBB, Documento, Missão e Ministério dos cristãos leigos e leigas, ns. 84-85.
8. CONCILIO ECUMÊNICO VATICANO II, Apostolican Actuositatem.
9. CONFERÊNCIA CATÓLICA DOS EUA, Declaração pastoral sobre a RCC.
10. CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA Lúmen Gentium, do Concílio Vaticano II.
11. DEGRANDIS, Robert, Vem e segue-me. P.63
12. Flores, J. H. Prado, As Reuniões de oração, p. 12-13. Renovação Carismática do Brasil
- RCCBRASIL I
13. João Paulo II apud RCC, Liderança na RCC, p. 54
14. MANSFIELD, Patti, Publicai os seus feitos maravilhosos, p.94.
15. MOHANA, João, Como ser um bom pregador, p.24. Cf., a propósito, Ronaldo José de
SOUSA, Uma voz clama no deserto. In. Pregador ungido, pp.60-68.
16. NÉSPOLI, Luís Virgílio, Subsídios para ser Igreja no novo milênio, p.38.
17. NOGUEIRA, Maria Emmir, Grupo de Oração, p.7.
18. PAULO VI, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, n. 41.
19. PEDRINI, Alírio José, Grupos de oração: como fazer a graça acontecer, pp.25-26.
20. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLI-CA. Grupo de Oração, p. 51. 20. SOUSA, Ronaldo
José, O impacto da Renovação Carismática. O Espírito Santo na vida da Igreja, pp. 13-24.
21. SUENNES, Cardeal, Orientações Teológicas e Pastorais da Renovação Carismática
Católica. S. Paulo: Ed. Loyola, 1975, pp. 19.
22. VALSH. Vicent M., Conduzi o meu povo, p.20.

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