Você está na página 1de 14

FISIOTERAPIA

Alinhamento postural, ansiedade


e estresse em adultos jovens
Ellen Cristina Gesse de Freitas
Pesquisadora

Elizabeth Alves Gonçalves Ferreira


Orientadora

Resumo
Introdução: A postura pode ser considerada posição ou atitude do corpo ou representação somática das emoções. O
objetivo deste estudo foi avaliar o alinhamento postural e os níveis de ansiedade e de estresse em adultos jovens. Método:
Estudo analítico observacional transversal, com 20 adultos jovens do sexo feminino, com média de idade de 25 anos,
alunos de uma instituição de ensino superior em São Paulo. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Escla-
recido, os sujeitos responderam questionários de avaliação de ansiedade e de estresse. A avaliação postural foi realizada
com trajes de praia e os avaliados foram fotografados nas vistas anterior, posterior e lateral. As fotografias digitais foram
analisadas com o software de análise postural (SAPO). Os resultados foram submetidos à análise estatística descritiva.
Resultados: verificou-se que a assimetria postural é predominante na população, com predomínio de pequena inclinação
de cabeça à esquerda, ombro à direita e pelve à esquerda em vista anterior. Na vista posterior, a assimetria observada en- 81
tre as escápulas foi de 7,3% e na vista lateral constatou-se anteriorização da cabeça e do tronco. Em relação à ansiedade
verificou-se maior ocorrência de ansiedade traço com média de 46,65 pontos, sendo indicador de ansiedade média, 85%
da amostra considerou-se estressado com média no questionário de estresse de 58,8 pontos. Conclusão: Conclui-se que a
assimetria esteve presente na amostra com predomínio de inclinação da cabeça e pelve à esquerda e ombro à direita em
vista anterior. Na vista lateral observou-se anteriorização da cabeça e tronco. Os indivíduos pesquisados relataram maior
sensação de ansiedade do que de estresse.
Palavras-chave: Alinhamento postural. Ansiedade. Estresse.

Abstract
Introduction: The posture can be considered as a position or body’s attitude or a somatic representation of emotions.
The purpose of this study was to evaluate the postural alignment and levels of anxiety and stress in young adults.
Method: Analytical, observational, transversal study with 20 young female adults with a medium age of 25 years,
students of a higher education institution in Sao Paulo. After signing the Terms of Free and Informed Consent, the
subjects answered questionnaires, assessment of anxiety and stress. The posture evaluation was performed in beach
costumes and the individuals were photographed in the anterior, posterior and lateral views. The digital photos were
analyzed with the software for posture analysis (SAPO). The results were submitted to descriptive statistical analysis.
Results: it was found that the asymmetry posture is prevalent in the population with the predominance of small head tilt
to the left, shoulder to the right and pelvis to the left in anterior view. In posterior view the asymmetry observed between
the shoulder blades was 7.3% and in the side view there was a head and trunk’s anteriorization. Regarding anxiety there

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Ellen Cristina Gesse de Freitas

was greater incidence of anxiety trait with an average of 46.65 points being indicator of average anxiety, 85% of the
sample considered themselves stressed with an average of 58.8 points of stress. Conclusion: It was concluded that the
asymmetry was presented in the sample with predominance of head and pelvis tilt and to the left, shoulder to the right
in anterior view. In the side view there was head and trunk’s anteriorization. Individuals surveyed reported greater sense
of anxiety than stress.
Key words: Postural alignment. Anxiety. Stress.

Introdução Estresse

Postura A terminologia estresse pode ser definida como a


mobilização química coordenada do corpo humano
A postura pode ser definida como posição ou ati-
para atender às exigências da luta de vida ou morte
tude do corpo, com arranjo relativo das partes do
ou de uma rápida fuga frente a um evento que ame-
corpo para uma atividade específica ou uma manei-
dronte ou ameace o organismo (ROSA et al 2004;
ra característica de alguém sustentar seu corpo (KIS-
LIMA; CIASCA, 2008).
NER; COLBY, 1987).
O estresse pode ser originado de dois estímulos:
Em estudo realizado em 1999, Schmidt e
o negativo, chamado de distresse, e o positivo, cha-
Bankoff descrevem a postura como amplo grau de
mado de eustresse (CAMPOS et al 1996; BOMBAZAR
uma representação somática das emoções internas,
82 et al 2002).
podendo ser considerada somatização da psiquê.
Dessa forma o indivíduo pára e se locomove de O estresse pode ou não levar ao desgaste geral do

acordo como ele se sente. A postura torna-se a organismo dependendo da sua intensidade, duração,

somatização de todo o seu passado, do cotidiano,da vulnerabilidade do indivíduo e habilidade de admi-

forma de se posicionar diante das situações de lazer, nistrá-lo. O desgaste ocorre, quando a homeostase in-

trabalho, repouso, estado emocional, dentre outros. terna do organismo é perturbada por períodos longos
ou de modo muito agudo (LIPP; MALAGRIS, 1998).
Dessa forma, é difícil estabelecer uma padroniza-
ção do que seria a boa postura, devido à complexi- Ansiedade
dade do tema e por existir dependência muito grande
Uma outra reação psicológica, dentre tantas ou-
entre postura e individualidade, que é determinada
tras típicas do estresse é a ansiedade. O termo ansie-
pela relação particular de suas estruturas corporais
dade refere-se a um estado de tensão ou apreensão
(FERNANDES, 1996).
associada à expectativa de alguma coisa que pode
No entanto, nenhuma doença ou condição é ca- acontecer em futuro próximo, o que acaba sendo um
paz de produzir interação tão grande entre o corpo e dos sintomas de estresse (ROSA et al 2004).
a mente como o estresse. As reações de origem psi-
A reação de ansiedade pode provocar uma série
cológica acabam se manifestando no corpo e vice-
de sintomas, tanto na área psicológica como na fí-
versa (LIPP; MALAGRIS, 1998).

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Alinhamento postural, ansiedade e estresse
em adultos jovens

sica; o indivíduo além de sentir medo e desânimo, sionais relacionados com o corpo e profissionais re-
apresenta também taquicardia, mãos ou pés suados, lacionados com a mente. Entretanto, mente e corpo
e tensão muscular (LIPP; MALAGRIS, 1998). formam uma unidade indivisível. A não separação
tem como vantagem possibilitar melhor conheci-
As manifestações de ansiedade e estresse são
mento da influência psicossomática em doenças fí-
consideradas normais, até o ponto em que come-
sicas, o que reflete melhor aplicação das técnicas de
çam a provocar sofrimento ao indivíduo. Nesses dois
tratamento.
casos os ajustes fisiológicos extrapolam o âmbito
do sistema nervoso autônomo e atingem o sistema Material e método
endócrino e imunológico, tornando-se duradouros
(LENT, 2004). 3.1 Tipo de estudo

Para Brito (2007), os fatores emocionais podem Estudo analítico observacional transversal, de
alterar ou mesmo colaborar para a regularização da abordagem quantitativa e qualitativa, realizado no
postura, sendo importante o conhecimento do pró- período de fevereiro de 2007 a fevereiro de 2008.
prio corpo pelo paciente. O quadro emocional reflete
freqüentemente padrão postural de um indivíduo; 3.2 Sujeitos

em geral indivíduos confiantes, positivos apresen-


Foram avaliados nesse estudo 20 pessoas do sexo
tam padrão postural adequado, ocorrendo o contrá- 83
feminino com as seguintes características:
rio com indivíduos deprimidos e insatisfeitos.
- Faixa etária entre 18 a 40 anos;
Muitos sociólogos e psicólogos tendem a acredi-
tar que mudanças do estado físico normal do indi- - Ausência de doenças crônicas, ortopédicas e
víduo, como as alterações posturais, podem aparecer neurológicas;
pelo corpo sem que a pessoa esteja lesionada ou ma-
- Cooperantes, com capacidade de realizar as eta-
chucada, além de se determinarem principalmente
pas contidas no estudo;
pela manifestação somática das angústias e das tris-
tezas vividas pelas pessoas (SIVIERO, 2002). - Ausência de dor intensa em qualquer parte do
corpo (escala de dor maior do que 7);
Levando-se em conta que a mente e o corpo fun-
cionam em uníssono, é fundamental a relação entre - Residentes da cidade de São Paulo.

personalidade e postura, pois que a melhora do esta-


3.2.1 Situação
do emocional aprimora a postura, assim como a pos-
tura influencia o estado emocional (HALL; BRODY, A coleta de dados foi realizada no laboratório de
2001; KOCK; KIES, 2004). Recursos Terapêuticos Manuais I (RTM I) do curso
de fisioterapia do UNIFIEO – Centro Universitário
Oliveira (1998) em seu estudo relata que o grande
FIEO.
equívoco gerador da fragmentação é que há profis-

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Ellen Cristina Gesse de Freitas

3.3 Materiais se sempre, em que cada indivíduo assinala em


cada afirmação aquilo que ele acha adequado;
Para o estudo foram utilizados os seguintes ma-
posteriormente cada número assinalado de cada
teriais:
afirmação será somado, dando um valor abso-

- Software “Sapo” para avaliação postural, que luto, que corresponderá a uma classificação de

consiste em programa de computador gratuito ansiedade;

para avaliação postural com banco de dados e


- Questionário de lista de sintomas de estresse
fundamentação científica com acesso pela inter-
(LSS/VAS) validado, composto por 59 afirmações
net (FERREIRA, 2005);
que avaliam a freqüência de estresse na vida dos

- Computador; sujeitos, por meio de uma escala de 0 a 3 corres-


pondendo a nunca, raramente, freqüentemente e
- Câmera fotográfica digital;
sempre, em que cada sujeito assinala em cada
- Tripé; afirmação a freqüência do sintoma. As freqüên-
cias assinaladas serão somadas, resultando em
- Fio de prumo;
valor absoluto, que corresponderá a uma classi-
- Pequenas bolas de isopor (0,8 mm); ficação de estresse.

84 - Fita dupla face; 3.4 Procedimentos

- Cartolina branca; Os sujeitos foram orientados a respeito do objeti-

- Caneta esferográfica azul e preta; vo e do procedimento da pesquisa e os que estiveram


de acordo assinaram um termo de consentimento, de
- Termo de consentimento;
que estavam cientes da preservação de sua identida-

- Ficha para anamnese modificada da original de de, de acordo com a resolução n. 196/96 do Conse-

(FERREIRA, 2005); composta por dados pessoais, lho Nacional de Saúde (CNS). Após o consentimento,

questões referentes a partes do corpo e ao grau os sujeitos responderam aos protocolos da anamnese

de dor, histórico de doenças; e aos questionários de Spielberger e de estresse.

- Questionário de Spielberger, sendo um questioná- Após a assinatura do consentimento solicitou-se

rio validado, composto de 40 afirmações, dentre dos avaliados que permanecessem em traje de praia

as quais as 20 primeiras referem-se a uma ten- e então foram identificados vários pontos anatômi-

dência da personalidade e as outras 20 indicam o cos e demarcados com pequenas bolas de isopor, fi-

estado emocional no presente momento (SPIEL- xadas no corpo com fita crepe dupla face.

BERGER et al 1979). Cada afirmação contém uma


Os pontos anatômicos demarcados foram:
escala de 1 a 4 correspondendo respectivamente
a quase nunca, às vezes, freqüentemente e qua-

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Alinhamento postural, ansiedade e estresse
em adultos jovens

Vista anterior: glabela, lóbulo da orelha direita, uma posição confortável, sobre uma cartolina onde
lóbulo da orelha esquerda, mento, acrômio direito, marcaram-se os contornos do pé direito e esquerdo.
acrômio esquerdo, manúbrio do esterno, espinha Os sujeitos ficaram paralelos ao fio de prumo que
ilíaca ântero-superior direita, espinha ilíaca ântero- estava posicionado ligeiramente anterior ao maléolo
superior esquerda, trocânter maior do fêmur direito, lateral. No fio de prumo foram coladas duas marca-
trocânter maior do fêmur esquerdo, linha articular ções com distância de 1 metro entre elas para pos-
do joelho direito, linha articular do joelho esquerdo, sibilitar a calibração da foto posteriormente. O fio
centro da patela direita, centro da patela esquerda, de prumo e o sujeito estavam num mesmo plano
tuberosidade da tíbia direita, tuberosidade da tíbia perpendicular ao eixo da câmera. A câmera estava
esquerda, maléolo lateral direito, maléolo lateral es- a aproximadamente 3 metros de distância do sujei-
querdo. to e a uma altura de cerca da metade da estatura
do sujeito da pesquisa. Estabelecidos os parâmetros,
Vista posterior: ângulo inferior da escápula di-
iniciou-se a tomada de fotos da vista anterior, pos-
reita e esquerda, ponto de transição entre a margem
terior, lateral direita e lateral esquerda, sempre man-
medial e a espinha da escápula direita e esquerda,
tendo o mesmo apoio do sujeito, rodando a cartolina
processos espinhosos C7, T3, T5,L2; espinha ilíaca
e pedindo para o individuo posicionar-se adequada-
póstero-superior direita e esquerda, calcâneo direito
mente sobre a marcação dos pés previamente feita.
e esquerdo.
As fotografias geradas foram transferidas da câ- 85
Vista lateral direita: lóbulo da orelha direita,
mera para o computador, e depois para o programa
acrômio direito, epicôndilo lateral direito, espinha
de análise postural computadorizada “SAPO”, com
ilíaca ântero-superior direita, espinha ilíaca póste-
o qual foi realizada a análise postural, utilizando o
ro-superior, trocânter maior do fêmur direito, linha
protocolo SAPO; com o objetivo de quantificar as
articular do joelho direito, tuberosidade da tíbia di-
alterações posturais presentes nos indivíduos da
reita, maléolo lateral direito.
pesquisa. Após avaliação postural foi impresso um
Vista lateral esquerda: lóbulo da orelha esquerda, relatório de cada avaliação.
acrômio esquerdo, epicôndilo lateral esquerdo, pro-
Para a avaliação postural foram selecionados al-
cesso espinhoso C7,T3,T5,L2; espinha ilíaca póstero-
guns itens do relatório do SAPO em cada vista, que
superior esquerdo, trocânter maior do fêmur esquer-
correspondem a alterações posturais que podem ter
do, linha articular do joelho esquerdo, tuberosidade
mais relação com aspectos emocionais.Foram eles:
da tíbia esquerda, maléolo lateral esquerdo.
Vista anterior: alinhamento horizontal da cabeça,
Ao total foram demarcados 36 pontos anatômicos,
alinhamento horizontal dos acrômios, alinhamento
a referência para a análise postural posteriormente.
horizontal das EIAS, ângulo entre os dois acrômios
Após a demarcação dos pontos anatômicos, os e as EIAS, ângulo Q direito e esquerdo.
sujeitos foram orientados a permanecer em pé, em

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Ellen Cristina Gesse de Freitas

Vista posterior: Assimetria horizontal da escápu- 3.5 Análise dos dados


la em relação à T3.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise
Vista lateral direita e esquerda: alinhamento ver- estatística descritiva.
tical da cabeça em relação ao acrômio, alinhamento
vertical do tronco, alinhamento horizontal da pélvis, Resultados

ângulo do joelho.
Fizeram parte do estudo 20 sujeitos do sexo fe-
Os relatórios foram analisados juntamente com a minino (n=20), a média de idade foi de 25,35 anos,
anamnese e os questionários de cada indivíduo. variando entre 19 a 40 anos (Tabela 1).
Tabela 1- Ocorrência em número dos indivíduos pesquisados em relação à idade e índice de massa corpórea.

IMC (índice de massa corpórea)

Observa-se na tabela 2, que levando em consi- Na questão referente a auto-percepção de estres-


86 deração o membro dominante, o membro superior se e de ansiedade, verificou-se que 85% conside-
direito é dominante em 90% dos entrevistados, e em ram-se estressados, 15% referiram não ter estresse e
10% o membro é o superior esquerdo. 100% afirmaram apresentar sintomas de ansiedade,
Tabela 2 – Ocorrência em número e percentagem portanto, considera-se que dentre os indivíduos pes-
dos indivíduos pesquisados em relação
ao membro dominante quisados há maior sensação de ansiedade do que de
estresse (tabela 3).

% (Percentagem), N (Número)

Tabela 3 – Ocorrência em número e percentagem dos indivíduos pesquisados em relação à auto-percepção de estresse
e ansiedade.

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Alinhamento postural, ansiedade e estresse
em adultos jovens

Em relação à auto-avaliação de estresse e de an- média de ansiedade foi de 5,77, variando de 1,3 a
siedade, pelo auxílio de uma escala visual analógica, 10. Observa-se também através desses dados que os
valendo de 0 a 10, observou-se que a média referente sujeitos da pesquisa se consideram mais ansiosos do
ao estresse foi de 4,77, variando entre 1,4 a 10. A que estressados, por uma diferença de 1,0 (tabela 4).

Tabela 4 – Ocorrência em número dos indivíduos pesquisados em relação à auto-avaliação de estresse e de ansiedade,
de acordo com escala visual analógica de 0 à 10.

A grande maioria, 75% referem possuir algo que físicas e apenas 10% estavam realizando tratamento
os incomoda na postura, 25% referem não ter algo fisioterápico, expresso na tabela 5.
que os incomode, 35% são praticantes de atividades

Tabela 5 - Ocorrência em número e percentagem dos indivíduos pesquisados em relação a incômodo na postura,
prática de atividade física e a tratamento fisioterápico.

87

Os dados obtidos com os questionários de ansie- a 54 o resultado. Por meio desses dados verificou-se
dade apresentou média de 46,65, variando os resul- que os sintomas de ansiedade dessa população está
tados entre 34 a 61 em relação à ansiedade traço. A mais associado ao traço do que ao estado de ansie-
ansiedade estado teve média de 44,8 variando de 38 dade (tabela 6).
Tabela 6 - Ocorrência em número dos indivíduos pesquisados em relação ao questionário ansiedade-traço (Idate-T)
e ansiedade-estado (Idate-E).

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Ellen Cristina Gesse de Freitas

O questionário de lista de sintomas de estresse riando de 13 a 117 a freqüência entre os sujeitos de


demonstrou uma média de freqüência de 58,8 va- acordo com a tabela 7.
Tabela 7 – Média, Desvio Padrão, Valor mínimo e Valor máximo, dos sintomas de estresse pesquisados com o
questionário de avaliação do estresse (VAS).

Com referência aos dados posturais, os números esquerda na vista anterior. O alinhamento horizon-
acompanhados de sinal negativo (-) referem-se a um tal dos acrômios apresentou média de 0,89° para a
desvio postural para o lado esquerdo; os números direita, variando de 0 a 7,3°. Nos dados referentes
sem sinal, referem-se a um desvio postural para o à espinha ilíaca ântero superior ocorreu média de
lado direito. 1,04° para a esquerda. No posicionamento do joelho
(ângulo Q) verificou-se que a média do ângulo do
O alinhamento horizontal da cabeça teve média
joelho direito foi de 20,09° variando entre 8° a 38,4°;
de 0,4° para a esquerda, variando de 0° a 9,5° de-
o ângulo do joelho esquerdo teve média de 22,95°
monstrando que o posicionamento da maioria dos
variando entre 0,2° e 58,7° (tabela 8).
sujeitos da pesquisa apresentam inclinação para a

88 Tabela 8 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para
as variáveis da postura em vista anterior.

AHC – Alinhamento horizontal da cabeça


AHA – Alinhamento horizontal dos acrômios
AHEIAS – Alinhamento horizontal das EIAS
AQD – Ângulo Q direito
AQE – Ângulo Q esquerdo

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Alinhamento postural, ansiedade e estresse
em adultos jovens

No alinhamento horizontal das escápulas em da com variações de 0 a 52,6% na vista posterior


relação à T3 observou com os dados que a média (tabela 9).
encontrada foi de 7,3%, de assimetria para a esquer-
Tabela 9 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para
as variáveis da postura em vista posterior.

AHERT3 – Alinhamento horizontal das escápulas em relação à T3

Os dados observados na tabela 10, na vista late- Em relação ao alinhamento horizontal da pelve ob-
ral direita mostraram que o alinhamento da cabeça servou-se média de 15° para a esquerda, e o Ângulo
tende para anteriorização com média de 17,93°, com do joelho direito apresentou média de 0,21° para a
valores variando entre 9,3 a 29,6°. O tronco apre- direita, com variações de 0,2 e 13,4°.
sentou inclinação para frente com média de 0,64°.

Tabela 10 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para
as variáveis da postura em vista lateral direita.

89

AVCA – Alinhamento vertical da cabeça em relação ao acrômio direito


AVT – Alinhamento vertical do tronco
AHP – Alinhamento horizontal da pélvis
AJ – Ângulo do joelho direito

Os dados observados na tabela 11, na vista lateral a esquerda. Em relação ao alinhamento horizontal
esquerda mostraram que o alinhamento da cabeça da pelve observou-se média de 13,9° para a esquerda
teve média de 16,75°, com valores variando entre e o Ângulo do joelho esquerdo apresentou média de
5,6 e 32,7°. O tronco apresentou média de 2,23° para 0,97° para a direita com variações de 0,7 e 11,8°.

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Ellen Cristina Gesse de Freitas

Tabela 11 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para
as variáveis da postura em vista lateral esquerda.

AVCA – Alinhamento vertical da cabeça em relação ao acrômio esquerdo


AVT – Alinhamento vertical do tronco
AHP – Alinhamento horizontal da pélvis
AJ – Ângulo do joelho esquerdo

Discussão Porém, o padrão ideal, pregado por Kendall, é


uma forma subjetiva do que seria a postura ideal,
Os dados do presente estudo referentes à avalia-
não sendo portanto a assimetria, em si, suficiente
ção postural apontam para um aspecto comum entre
para dizer que um individuo possui má postura.
todos os indivíduos estudados, que é a assimetria de
segmentos corporais. A postura está condicionada aos aspectos de
90 vida do ser humano, recebendo características desde
As principais ocorrências das alterações posturais
a genética, até às influências psicossociais; ela vai
foram: inclinação da cabeça para a esquerda, com
se moldando para proporcionar o melhor posiciona-
anteriorização, elevação do ombro direito, aumento
mento ao individuo, portanto pequenas alterações
da espinha ilíaca ântero-superior esquerda, joelhos
físicas da postura, sem comprometimento funcional
valgos, escápula esquerda assimétrica, tronco incli-
do movimento, nada mais são do que as alterações
nado para a frente.
adaptativas.

Segundo (KENDALL, 1995) o padrão de postura


Sacco et al (2003), com a finalidade de analisar
ideal consiste em modelo no qual a postura em vista
quantitativamente as alterações posturais, adotadas
lateral deve ser como segue: a linha de prumo deve
em determinadas posições, como sentado, deitado,
estar ligeiramente posterior ao maléolo lateral e ao
por fotografia digital, chegou à conclusão de que há
eixo da articulação do joelho; a articulação do qua-
inúmeros fatores ambientais que influem no desen-
dril, bem como, os corpos da vértebras lombares, à
volvimento e na manutenção da boa postura. Essas
articulação do ombro; a maioria dos corpos das vér-
influências ambientais devem ser tornadas favorá-
tebras cervicais e o meato auditivo externo, deverão
veis à boa postura, prevenindo dessa forma o desen-
estar ligeiramente anteriores ao fio de prumo.
volvimento de alterações posturais que possam ser
prejudiciais à saúde e ao bem estar do ser humano.

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Alinhamento postural, ansiedade e estresse
em adultos jovens

No estudo de Ferreira (2005) que avaliou o ali- Holderbaum et al. (2002) avaliaram as posturas
nhamento postural e o controle postural em 122 su- no ambiente de trabalho de 19 indivíduos, com a
jeitos de ambos os sexos, adultos jovens de 19 a 45 finalidade de detectar se as más posturas adotadas
anos, observou ele que houve simetria em alguns podem favorecer o surgimento de desvios posturais.
segmentos, porém não se pode afirmar que foi o pa- Os dados coletados mostraram que 100% dos fun-
drão predominante no estudo, sugerindo que há um cionários apresentaram, pelo menos, um tipo de
padrão de similaridade para o alinhamento postural, desvio postural e sugerem que a prática de ativida-
mas não pode afirmar que a simetria postural seja de profissional em posturas inadequadas favorece a
esse padrão. instalação de desvios posturais.

O estudo de Carneiro et al (2005) observou que a Em relação aos estados emocionais no presente
maioria dos entrevistados apresentou algum tipo de estudo, observou-se,por meio de questionário,que a
alteração postural, sendo essas mais predominantes maior ocorrência de ansiedade foi a ansiedade-tra-
em homens. ço, com níveis considerados de ansiedade média. A
auto-percepção de ansiedade em escala de 0 a 10,
Concordando com os estudos de Ferreira e Car-
obteve-se média de 5,77, também evidenciando ní-
neiro (2005), o estudo de Detsh e Tarrago, realizado
veis de ansiedade média pelos próprios indivíduos
com 154 meninas de 6 a 17 anos, para avalia a inci-
participantes do estudo, confirmando os resultados
dência de desvios posturais, concluiu que é comum 91
do questionário.
a ocorrência de desvios posturais, principalmente a
partir dos 10 anos, quando passa a ocorrer um per- Rosa (1998), em seu estudo sobre o assunto com
centual maior de assimetrias entre medidas do lado finalidade de verificar o efeito do sexo,do nível so-
direito e esquerdo da cintura escapular e pélvica. cioeconômico e da ordem de nascimento em an-
siedade traço-estado, em 437 estudantes de ambos
As principais alterações encontradas no estu-
sexos, verificou que as mulheres apresentaram es-
do foram: a presença de anteriorização de cabeça
cores mais altos que os homens, tanto em ansieda-
(66,23%), a protusão de ombros (47,40%), a abdução
de-traço, como em ansiedade-estado. Além de que o
escapular (80,52%) a hipercifose dorsal (10,39%),
sexo pode ter importância nos níveis de ansiedade
a hiperlordose lombar (31,7%) e a cifolordose
traço-estado.
(29,22%).
Segundo a revisão de literatura de Kenrys e Wy-
O estudo de Martelli e Traebert (2006), com 420
gant, 2005, as mulheres apresentam risco significan-
crianças de 10 a 16 anos de idade, encontrou maior
temente maior, comparado ao dos homens, para o
ocorrência de alterações na coluna vertebral em indiví-
desenvolvimento de transtorno de ansiedade ao lon-
duos destros, sendo a maioria no quesito dominância.
go da vida, concordando com os resultados obtidos
Observou-se também que o IMC dos sujeitos estavam,
por Rosa (1998).
em sua maioria, dentro dos padrões de normalidade.

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Ellen Cristina Gesse de Freitas

No estudo de Baldassin et al., 2006, realizado se; são escassos os estudos que têm como objetivo
com adultos jovens, evidenciou-se que um em cada avaliar os três temas de uma só maneira, pois en-
cinco sujeitos entrevistados apresentou mais de 49 contram-se muitos estudos isolados,o que dificulta a
pontos no Inventário de Ansiedade Traço de Spiel- comparação de resultados.
berger, o que segundo o Inventário é forte indício de
Portanto, pesquisas que relacionam os três temas
ansiedade alta.
seria de grande utilidade para pesquisadores que
Nas questões referentes ao estresse, no presente queiram relacionar postura, ansiedade e estresse.
estudo, observou-se que a auto percepção de estresse É necessário estudar maior número de indivíduos,
por meio de escala analógica de 0 a 10, obteve-se abordando-se ambos os gêneros para maior confia-
média de 4,77, evidenciando que os sujeitos da pes- bilidade dos resultados obtidos.
quisa consideram-se mais ansiosos do que estres-
Conclusão
sados. Os dados obtidos no questionário de estresse
apontam para um grau de estresse médio, dado esse
As principais alterações encontradas na avalia-
também obtido através da escala analógica.
ção postural foram de cabeça e pelve na vista ante-

Costa et al. (2007) entrevistou 264 policiais numa rior e de cabeça e tronco na vista lateral. Os achados

capital brasileira e observou que 47,4% dos entre- posturais demonstram que a assimetria é a caracte-

vistados evapresentaram sintomas de estresse, com rística mais evidente, presente entre os participantes
92
maior ocorrência no grupo feminino. da pesquisa.

Em estudo semelhante ao de Costa et al., 2007, Em relação aos níveis de ansiedade, observou-se

realizado com juízes, Lipp e Tanganelli, 2002, obti- que a maior ocorrência de ansiedade, por meio do

veram como resultado nível 8 em escala de 0 a 10 questionário, foi a ansiedade-traço, com níveis con-

de estresse ocupacional, estando mais presente em siderados de ansiedade média; a auto-percepção de

mulheres do que em homens os níveis de estresse. ansiedade também evidenciou níveis de ansiedade
média pelos participantes do estudo, confirmando os
Calais et al. (2003) pesquisaram sintomas de es-
resultados sugeridos como referência para o ques-
tresse em 295 estudantes adultos, jovens de 15 a 28
tionário.
anos, relacionando-os com o sexo e ano escolar em
curso, e concluíram que há correlação significativa Os níveis de estresse encontrados no presente

entre sexo e nível de estresse, sendo que as mulheres estudo, tanto por meio do questionário de estresse,

apresentaram maiores níveis de estresse. quanto pela auto-percepção do indivíduo, sugerem


níveis de estresse médio.
Apesar de haver vastos estudos que visam a ex-
plicar as tendências a assimetrias corporais e formas
de incentivar melhor percepção corporal, bem como,
de quantificar e avaliar níveis de ansiedade e estres-

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Alinhamento postural, ansiedade e estresse
em adultos jovens

Referências Bibliográficas

BALDASSIN, S et al. Traços de ansiedade entre estudantes de medicina. Arquivo médico ABC. v. 31, n.1, p.
27-31, 2006.

BOMBAZAR, L; FIAMONCINI, R.L; FIAMONCINI, R.E. O estresse. Sprint Magazine, Rio de Janeiro. n.123,
p.46-8, nov/dez, 2002.

BRITO, C.A. Alterações posturais. p. 181-196. In: LIANZA, S. Medicina de reabilitação: associação brasileira
de medicina física e reabilitação. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

CAMPOS, L.F; ROCHA, R.L; CAMPOS, P.R. Estresse em estudantes universitários: um estudo longitudinal.
Psicologia Argumento. a.14, n. 19, novembro 1996.

CARNEIRO et al. Predominância de desvios posturais em estudantes de educação física da universidade


estadual do sudoeste da Bahia. Revista Saúde.Com. v.1, n.2, p.118-123, 2005.

COSTA, M et al. Estresse: diagnóstico dos policiais militares em uma cidade brasileira. Revista Panamericana
de Salud Pública. v. 21, n.4, abril 2007.

FERNANDES, E; MOCHIZUKI, L; AMADIO, A.C. Análise comparativa dos métodos de avaliação postural. II
congresso de iniciação científica. São Paulo: escola de educação física da universidade de São Paulo, 1996.

FERREIRA, E.A.G. Postura e controle postural: desenvolvimento e aplicação de método quantitativo de 93


avaliação postural. São Paulo, 2005.

HALL, C; BRODY, L. Exercício terapêutico na busca da função. Tradução: Giuseppe Taranto. 1 ed. Rio de
Janeiro: Guanabara koogan, 2001. 708p. Título original: Therapeutic exercise: moving foward function.

HOLDERBAUM et al. Relação da atividade profissional com desvios posturais e encurtamento musculares
adaptativos. Movimento. v.8, n.1, p.21-29, Jan/Abr 2002.

KENDALL, Florence; McCREARY, E.K; PROVINCE, P.G. Músculos provas e funções. Tradução de Lilia Ribeiro.
4 ed. São Paulo: Manole, 1995. 422p. Titulo original: Muscles, testing and function.

KENRYS, G; WYGANT, L. Transtornos de ansiedade em mulheres: gênero influência o tratamento? Revista


Brasileira de Psiquiatria. v. 27 (supl II), p. 543-50, 2005.

KISNER, C; COLBY, LAA. Exercícios terapêuticos. São Paulo: Manole, 1987.

KOCK, Kelser. S; KIES, Lilian. A influência da personalidade na postura. Fisioterapia Brasil, v. 5, n. 2, p. 92-7,
março/abril. 2004.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. Atheneu: São Paulo, 2004.

LIMA, R.F; CIASCA, S.M. Relações entre estresse e depressão. Psicologia Brasil. a.4, n.34, setembro, 2006.

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94


Ellen Cristina Gesse de Freitas

LIPP, M; MALAGRIS, L. Manejo do estresse. p.279. In: RANGÉ, Bernard. Psicoterapia comportamental e
cognitiva: pesquisas, prática, aplicações e problemas. São Paulo: Psy, 1998. 367p.

LIPP, M.E.N; TANGANELLI, M.S. Estresse e qualidade de vida em magistrados da justiça do trabalho: diferenças
entre homens e mulheres. Psicologia reflexão e Crítica. v.15, n.3, p. 537-548, 2002.

MARTELLI, R.C; TRAEBERT, J. Estudo descritivo das alterações posturais de coluna vertebral em escolares de
10 a 16 anos de idade. Tangará SC, 2004. Revista Brasileira de Epidemiologia. v.9, n.1, p. 87-93, 2006.

OLIVEIRA, K.M. A contribuíção da fisioterapia no tratamento das tensões musculares de origem psicossomática.
Fisioterapia em movimento. v.10, n. 2, p. 128-32, outubro 97/ março 98.

ROSA, J.L. Ansiedade, sexo, nível sócio-econômico e ordem de nascimento. Psicologia Reflexão e Crítica.
v.11, n.1, 1998.

ROSA, G.M; SOUZA, W.C; PINTO, L.D; GABAN, G.A; SERAFIM, A.D, FARIA, E.T. Análise da influência do
estresse no equilíbrio postural. Fisioterapia Brasil. v. 5, n.1, Jan/Fev 2004.

SACCO et al. Análise biomecânica e cinesiológica de posturas mediante fotografia digital: estudo de casos.
Revista Brasileira Cinesiologia e Movimento. v.11, n.2, p. 25-33, Junho 2003.

SCHMIDT, A; BANKOFF, A.D. Análise postural. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.21, n.1, setembro.
1999.
94
SIVIERO, Evanize. K. A influência de exercícios físicos suaves sobre a relação estados emocionais e tensão
muscular. Revista Hispeci e Lema. Bebedouro, v.6, p.56-66. 2001/2002.

Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94

Você também pode gostar