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Aspectos Fisiológicos e Psicológicos


do Estresse Aspectos Fisiológicos e
Psicológicos do Estresse Physiological
...
Mariana Rizato

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Nat ália Migot o

FACULDADES INT EGRADAS FAFIBE


Helloyne Barret o Cabral

Aspect os Psicológicos que influenciam na vida do Pacient e


Serviço-Escola de Psicologia, Abrafibro A B Dos Fibromiálgicos
Aspectos Fisiológicos e Psicológicos do Estresse

Aspectos Fisiológicos e Psicológicos do Estresse

Celí Teresinha Araldi-Favassa1


Neide Armiliato2
Iouri Kalinine3
Resumo

As exigências impostas às pessoas pelas mudanças da vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade de


ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor as pessoas à uma freqüente situação de conflito, ansiedade,
angústia e desestabilização emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços
adaptativos da pessoa à sua situação existencial. O estresse nem sempre é um fator de desgaste emocional e
físico, e sim, é um mecanismo natural de defesa do organismo. Recebem-se os estímulos internos e externos
através do sistema nervoso e dependendo da forma com que esses estímulos são enfrentados poderão provocar
alterações psicológicas e biológicas negativas, podendo levar ao estresse crônico. Este artigo apresenta
resultados de uma pesquisa bibliográfica que teve como objetivo verificar o comportamento fisiológico e
psicológico do organismo diante do estresse. Esta pesquisa foi desenvolvida como trabalho final da disciplina de
Aspectos Psicológicos em Saúde Humana.

Palavras-chave: Estresse; Eustresse; Distresse.

Physiological and Psychologial Effects of Stress


Abstract

The requirements imposed to people by changes of modern life, and consequently, the necessity to adjust
themselves to such changes, had just finished to expose them to a frequent situation of conflict, anxiety, anguish
and emotional run-down. The stress appears as a direct consequence of persistent adaptive efforts from the
person to one’s existential situation. It is not always an emotional factor and physical consuming, and yet, it is
an organism natural mechanism of defense. One receives internal and external stimulations through the nervous
system and depending on the form that these stimulations are faced, they will be able to provoke psychological
alterations and biological refusals, and being able to lead to a chronic stress. This article presents results of a
bibliographical research that had as objective to verify the physiological behavior and psychological of the
organism before stress. This research was developed as final paper of the course Psychological Aspects in
Human Health.

Keywords: Stress, Eustress, Distress.


Diante da vida agitada da era moderna, o estresse se úlceras, os acidentes de automóveis, o baixo
transformou em vilão, se tornou responsável pelas rendimento de uma equipe esportiva, o baixo
grandes desgraças pessoais e de saúde, como as desempenho sexual, entre outros.
1
Bióloga, Especialista em Biologia, Mestre em Ciências da Saúde Humana pela UnC - Concórdia-SC. Professora da UnC
Concórdia – SC. E-mail: celi@uncnet.br
2
Bióloga, Especialista em Biologia, Especialista em Melhoramento Genético Animal, Mestre em Ciências da Saúde Humana pela
UnC - Concórdia-SC. Professora da UnC Concórdia – SC. E-mail: neide@uncnet.br
3
Doutor em Ciências Pedagógicas pelo Instituto Superior de Pedagogia de Kazan, Rússia - Professor da UnC Concórdia – SC. E-
mail: kalinin@uncnet.br
Revista de Psicologia da UnC, vol. 2, n. 2, p. 84-92
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Segundo Rio (1995) o ser humano primitivo, apesar Para Rossi (1994) o estresse é uma palavra
de trabalhar apenas 20 horas por semana, caçando, derivada do latim, que foi popularmente usada
pescando e colhendo frutos, também sofria estresse durante o século XVII para representar
pelo medo de predadores, tempestades e tribos “adversidade” ou “aflição”. Em fins do século
inimigas, mas de uma forma reduzida em relação ao XVIII, seu uso evoluiu para denotar “força”,
que o homem sofre hoje. Na Idade Média, ainda se “pressão” ou “esforço”, exercida primeiramente
trabalhava pouco. Os países europeus tinham o pela própria pessoa, seu organismo e mente.
descanso de domingo como princípio sagrado e
cinqüenta feriados por ano. Durante séculos, a maior França & Rodrigues (1997) dizem que o termo
parte da humanidade dedicou-se apenas a trabalhos estresse vem da física, tendo como sentido o grau
braçais, que terminavam ao pôr-do-sol e depois vinha de deformidade que uma estrutura sofre quando é
o descanso. submetida a um esforço. Esta deformidade pode
ser de menor ou maior grau, conforme a dureza
A partir da Revolução Industrial, a carga horária de deste, e o esforço a que está submetido.
trabalho passou para dezesseis horas diárias e aboliu a
maioria dos feriados, também neste século, a maioria Para McGrath (1970) o estresse é um
da população abandonou o campo para viver no desequilíbrio substancial entre a capacidade de
estresse da cidade. Entramos depois na era da demanda (física ou psicológica) e a capacidade de
tecnologia e acreditava-se que o desenvolvimento resposta, condições em que o fracasso e a
tecnológico viria para facilitar a vida do homem, que satisfação de uma certa demanda tem
o mesmo teria mais tempo para o lazer e ser mais conseqüências importantes.
feliz, mas, pelo contrário, ele passou a ter uma vida
sedentária e desgastante (op. cit.).

Nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos Tipos de estresse


os níveis da sociedade passou a exigir do ser humano
uma grande capacidade de adaptação física, mental e Segundo Rio (1995) são vários os tipos de
social. Muitas vezes, a grande exigência imposta às estresse: o estresse físico; o estresse psíquico; o
pessoas pelas mudanças da vida moderna e, estresse por sobrecarga; o estresse por monotonia;
conseqüentemente, a necessidade imperiosa de o estresse crônico, que persiste por mais tempo,
ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor as sem encontrar meios que o desativem
pessoas à uma freqüente situação de conflito, eficientemente e o estresse agudo que dura alguns
ansiedade, angústia e desestabilização emocional. O momentos, horas ou dias e depois se dissipa, este
estresse surge como uma conseqüência direta dos estresse prepara o organismo para a luta ou fuga,
persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua através da ativação do sistema endócrino.
situação existencial (Ballone, 2002).
Para Selye (1956), o estímulo estressor pode
desencadear diferentes respostas em diferentes
organismos e dependendo da forma com que o
O que é estresse? indivíduo responde a este estímulo, pode se
transformar num estresse positivo ou negativo.
Segundo Selye (1965) o termo estresse significa
reação inespecífica do organismo frente a qualquer Se a pessoa reage bem, ou seja, apresenta resposta
exigência. Quando um organismo é submetido a positiva, aparece o eustresse, por exemplo, o
estímulos que ameacem a sua homeostasia, ele tende coração dispara e a respiração fica ofegante
a reagir com um conjunto de respostas específicas, quando encontra o namorado, a explosão de
que constituem uma síndrome, desencadeada alegria ao comemorar um gol, o prazer na relação
independentemente da natureza do estímulo, sexual. Se a resposta for negativa, desencadeia
caracterizando o estresse. uma resposta adaptativa inadequada, podendo
gerar derrota, medo, angústia, insegurança, não-

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criatividade, doença e morte, que é chamada de as outras através de mecanismos de feedback e


distresse (Selye, 1956). termina junto aos efetores da periferia do corpo. O
sistema das glândulas endócrinas influencia os
No eustresse, o esforço de adaptação gera sensação de órgãos efetores, pela corrente sangüínea, através
realização pessoal, bem-estar e satisfação das dos hormônios. A produção hormonal é regulada
necessidades, mesmo que decorrente de esforços e estimulada por áreas importantes do cérebro,
inesperados, é um esforço sadio na garantia da mostrando a dependência entre o sistema nervoso
sobrevivência. Se ocorrer o contrário onde o esforço e sistema endócrino.
de adaptação não traz realização pessoal, bem-estar e
nem satisfação, gera-se um distresse (França & Estes sistemas apresentam formas diferentes de
Rodrigues, 1997). adaptação, o sistema nervoso depende de uma
rápida e objetiva estimulação e o processo
De acordo com Rio (1995), no eustresse, predomina a hormonal depende de uma ação global e de efeito
emoção da alegria, há um aumento da capacidade de duradouro. No centro do mecanismo do estresse
concentração, da agilidade mental, as emoções aparecem os hormônios, os quais são classificados
musculares são harmoniosas e bem coordenadas, há por Mason em Samulski (1996), de acordo com o
sentimento de vitalização de prazer e confiança. Já no tipo de ação. Estes podem ser de ação catabólica
distresse, predomina as emoções de ansiedade ou ação anabólica do mecanismo energético. Em
destrutiva, do medo, da tristeza, da raiva, a relação as funções hormonais, destaca-se o
capacidade de concentração é diminuída e o hormônio como mensageiro de informações e
funcionamento mental se torna confuso, ações como regulador dos processos orgânicos.
musculares são descoordenadas e desarmônicas,
predomina o desprazer e a insegurança e aumenta a Segundo Nitsch em Samulski (1996), existem
probabilidade de acidentes. duas possíveis reações fisiológicas do estresse no
organismo: eixo hipotálamo-hipófise-córtex da
O estressor pode ser um fator externo como, o frio, o supra-renal e o eixo hipotálamo – medula supra-
calor, as condições de insalubridade ou ainda do renal.
ambiente social e interno, o mundo que temos dentro
de nós, como os pensamentos e as emoções (Rio, Para Selye (1965), a reação hormonal do estresse
1995). é acentuada, sobretudo no eixo hipotálamo-
hipófise-córtex da supra-renal. Um grupo de
Nos extremos é fácil distinguir o eustresse do células do hipotálamo libera uma substância
distresse, por exemplo, uma relação sexual prazerosa denominada fator, que é um hormônio de
é claramente diferente da perda de um filho. Mas em liberação ou inibição, este é transportado para o
muitas situações não é tão fácil essa distinção, pois a lobo anterior da hipófise. O fator que irá estimular
experiência vivida pode ser confusa, ambígua, adeno-hipófise, será o hormônio de liberação da
tornando difícil qualquer conclusão. Os efeitos variam corticotropina (CRF). O CRF induzirá a adeno-
de indivíduo para indivíduo, dependendo da forma hipófise a liberação do hormônio adrenocortico-
com que enxerga o mundo (Rio, 1995). tropina (ACTH) e este estimula a liberação de
hormônios pelo córtex da supra-renal em especial
os glicocorticóides, dentre esses se acentua o
cortisol.

Segundo Guyton (1988), 95% de toda a atividade


Estresse e o corpo glicocorticóide é representada pelo cortisol, sendo
um indicador de estresse, que pode ser verificado
Segundo Samulski, Chagas & Nitsch (1996) a reação
através do sangue ou urina.
fisiológica do estresse está ligada a dois sistemas: O
sistema nervoso e o sistema de glândulas endócrinas. De acordo com estudos realizados por Levi em
O caminho neural inicia com os receptores do sentido, Samulski (1996), a medula supra-renal esta
abrangendo diversas áreas do cérebro acopladas umas
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relacionada ao sistema nervoso simpático (SNS) e Segundo França & Rodrigues (1997), a reação de
secreta os hormônios adrenalina e noradrenalina em alarme é caracterizada pelo aumento da
resposta a estimulação simpática. freqüência cardíaca e da pressão arterial, para
permitir que o sangue circule mais rapidamente e,
O organismo ao receber um estímulo (estressor), portanto, chegue aos tecidos mais oxigênio e mais
reage imediatamente, disparando uma série de reações nutrientes; aumento da freqüência respiratória e
via sistema nervoso, sistema endócrino e sistema dilatação dos brônquios, para que o organismo
imunológico, através da estimulação do hipotálamo e possa captar e receber mais oxigênio; dilatação
do sistema límbico. Estas estruturas compõem o da pupila com exoftalmia, para aumentar a
sistema nervoso central (SNC) relacionadas com o eficiência visual; aumento no número de
funcionamento dos órgãos e regulação das emoções linfócitos na corrente sangüínea, para reparar
(Samulski, 1996). Uma das funções básicas do SNC é possíveis danos aos tecidos e pela ansiedade.
a regulação, mantendo a estabilidade do organismo
por meio de diversas funções, sendo uma delas as Estas alterações fisiológicas ocorrem devido a
funções vegetativas que asseguram sua organização e atuação dos hormônios andrenérgicos (adrenalina)
funcionamento (Guyton,1989). da medula supra-renal e do hormônio
noradrenalina, que atuam em fibras pós-
O estresse por si só não é o suficiente para ganglionares do SNS. Conforme alguns estudos
desencadear uma enfermidade orgânica ou para realizados com seres humanos, verificou-se que a
provocar uma disfunção significativa na vida da adrenalina está ligada a depressão e ansiedade e a
pessoa. Para que isso ocorra é necessário que outras noradrenalina está relacionada a raiva dirigida
condições sejam satisfeitas, como uma para fora (cólera) (Funkeistein em Braga, 1999).
vulnerabilidade orgânica ou uma forma inadequada
de avaliar e enfrentar a situação estressante (França &
Rodrigues, 1997).
Fase de resistência
Segundo os mesmos autores, o conceito de estresse
deve ser repensado, ele não pode mais ser definido De acordo com França & Rodrigues (1997) esta
apenas como estímulo ou resposta e sim como a fase ocorre caso o agente estressor mantenha sua
pessoa avalia e enfrenta este estímulo, levando em ação. É caracterizada pela reação de
consideração o tipo de pessoa e o tipo de ambiente no hiperatividade do córtex da supra-renal sob
qual a mesma se encontra. Desta forma o estresse é imediação diencéfalo-hipofisiária. A hipófise tem
uma relação particular entre uma pessoa, seu ligação direta com os sinais desta fase, pois em
ambiente e as circunstâncias as quais está submetida, experimentos realizados com animais, onde a
que é avaliado como uma ameaça ou algo que exige hipófise foi retirada, esta fase não ocorreu. Neste
dela mais que suas próprias habilidades ou recursos e estágio o sangue encontra-se em rarefação
que põe em perigo o seu bem-estar (França & (diluição-sedimentação) e ocorre o anabolismo.
Rodrigues, 1997).
A fase de resistência é caracterizada pelo aumento
Alterações biológicas ligadas ao estresse do córtex da supra-renal; pela atrofia do timo,
baço e todas as estruturas linfáticas,
Selye (1965) denominou ao conjunto de reações não hemodiluição, aumento do número de glóbulos
específicas do estresse de Síndrome da Adaptação brancos, diminuição do número de eosinófilos;
Geral (SAG). A SAG é dividida em três fases: reação ulcerações no aparelho digestivo; aumento da
de alarme, de resistência e de exaustão. secreção de cloro na corrente sangüínea;
irritabilidade; insônia; mudanças de humor (como
depressão); diminuição do desejo sexual (França
& Rodrigues, 1997).
Reação de alarme
Fase de exaustão

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França & Rodrigues (1997) afirmam que quando os linha do que está sendo ensinado ou dito é perdida
estímulos estressores continuarem a agir ou se com freqüência, mesmo no meio de frases;
tornarem crônicos e repetitivos a resposta se mantém. deteriora-se a memória de curto e longo prazo:
Ocorre o retorno a fase de alarme; falha dos reduz-se a amplitude da memória; a lembrança e o
mecanismos de adaptação; esgotamento por reconhecimento diminuem, mesmo a respeito de
sobrecarga fisiológica; morte do organismo. materiais familiares; a velocidade de resposta
torna-se imprevisível: a velocidade real de
De acordo com Selye em Samulski (1996), os resposta reduz-se, as tentativas de compensação
estágios da SAG podem ser diferenciados da seguinte podem levar a decisões apressadas; aumenta o
forma: na reação de alarme, o organismo mostra índice de erros: como conseqüência de todos os
características para a primeira ação do estressor. Ao itens anteriores, os erros aumentam em tarefas
mesmo tempo abaixa a sua resistência e se o estressor manipulativas e cognitivas, as decisões tornam-se
for suficientemente forte, pode até levar a morte. O suspeitas; deterioram-se os poderes de
estágio de resistência aparece se for compatível a organização e planejamento a longo prazo: a
ação prolongada do estressor com uma adaptação. Os mente não pode avaliar com exatidão as condições
sinais corporais característicos da reação de alarme existentes nem prever as conseqüências futuras;
desaparecem totalmente, e a resistência eleva-se aumentam as ilusões e os distúrbios de
acima das condições normais. O estágio de pensamento: o teste da realidade torna-se menos
esgotamento se desenvolve quando a ação do eficiente, a objetividade e os poderes de crítica
estressor, ao qual o organismo adaptou-se, são reduzidos, os padrões de pensamento tornam-
permanecer por um longo período até finalmente se confusos e irracionais.
esgotar sua energia de adaptação. Não é necessário
que a fase se desenvolva até o final para que haja o
estresse, e somente em situações mais graves é que se
atinge a fase de exaustão. Efeitos emocionais do excesso de estresse

Samulski (1996) faz uma analogia entre as fases da Os efeitos emocionais do excesso do estresse
SAG aos ciclos da vida, onde a infância relaciona-se citados por Fontana (1994) são o aumento das
com a fase de alarme, já a idade adulta pode ser tensões físicas e psicológicas: reduz-se a
comparada com a fase de resistência e a velhice é capacidade de relaxamento do tônus muscular, de
caracterizada por uma perda da capacidade de se sentir bem e de se desligar das preocupações e
adaptação. ansiedades; aumenta a hipocondria: queixas
imaginárias acrescentam-se aos males reais do
estresse, desaparecem as sensações de saúde e de
bem-estar; ocorrem mudanças nos traços de
Alterações psicológicas ligadas ao estresse personalidade: pessoas asseadas e cuidadosas
podem se tornar desleixadas e relaxadas, pessoas
Segundo Fontana (1994), os efeitos psicológicos carinhosas podem ficar indiferentes, as
podem ser divididos em efeitos cognitivos, ligados ao democráticas transformam-se em autoritárias;
pensamento e ao conhecimento; efeitos emocionais, crescem os problemas de personalidade
ligados aos sentimentos, emoções e personalidade; existentes: pioram a ansiedade, a
efeitos comportamentais gerais, relacionados supersensibilidade, a defensiva e a hospitalidade
igualmente a fatores cognitivos e afetivos. já existentes; enfraquecem-se as restrições de
ordem moral e emocional: os códigos de
Efeitos cognitivos do excesso de estresse comportamento e de impulso sexual enfraquecem,
aumentam as explosões emocionais; aparecem a
De acordo Fontana (1994), os efeitos cognitivos do
depressão e a sensação de desamparo: o
excesso de estresse são o decréscimo da concentração
entusiasmo cai ainda mais, surge um sentimento
e da extensão da atenção: a mente encontra
de impotência para influenciar os fatos ou os
dificuldades para permanecer concentrada, diminuem
próprios sentimentos a respeito deles; a auto-
os poderes de observação; aumenta a desatenção: a
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estima diminui de forma aguda: desenvolvem-se estressor for muito potente e/ou prolongado,
sentimentos de incompetência e de inutilidade. poderá haver, como conseqüência, o
desenvolvimento de doença ou uma maior
Efeitos comportamentais gerais do excesso de predisposição ao desenvolvimento de doença, pois
estresse a Síndrome provoca uma série de reações no
organismo e estas situações podem debilitar e
Os efeitos observados, segundo Fontana (1994) são o deixar o indivíduo mais suscetível a enfermidades.
aumento dos problemas de articulação verbal: Levy em França & Rodrigues (1997) diz que o ser
aumentam os problemas já existentes de gagueira e humano é capaz de adaptar-se ao meio ambiente
hesitação, podendo surgir em pessoas até então não desfavorável, mas esta adaptação não acontece
afetadas; diminuem os interesses e o entusiasmo: os impunemente.
objetivos de vida podem ser abandonados,
passatempos podem ser esquecidos, objetos de A síndrome geral de adaptação é comprovada
estimação vendidos; aumenta a absenteísmo: atrasos naquelas doenças onde notoriamente há um
ou falta no trabalho por doenças reais ou imaginárias componente de esforço, de adaptação, como por
ou por desculpas inventadas tornam-se um problema; exemplo, nas gastrites e úlceras digestivas
cresce o uso de drogas: torna-se mais evidente o resultantes de estresse, crises de hemorróidas,
abuso de álcool, cafeína, nicotina e medicamentos ou alterações de pressão arterial, artrites reumáticas e
drogas; abaixam os níveis de energia: os níveis de reumatóides, doenças renais, afecções
energia caem ou podem variar de forma marcante de dermatológicas de cunho inflamatório,
um dia para outro, sem razão aparente; rompem-se os dificuldades emocionais, alterações metabólicas,
padrões de sono: ocorre dificuldade para dormir ou perturbações sexuais, alergia, infecções, entre
para permanecer adormecido por mais de quatro outras (França & Rodrigues, 1997).
horas; aumenta o cinismo a respeito dos clientes e
colegas: desenvolve-se a tendência de jogar a culpa O surgimento de determinadas doenças em uma
sobre os outros; ignoram-se novas informações: são pessoa e não em outras, depende das diferenças
rejeitadas até mesmo novas regulamentações ou individuais que são determinadas pela história de
novos acontecimentos potencialmente úteis; vida da pessoa e de suas vulnerabilidades
responsabilidades transferidas para outros: são condicionadas pela genética e pela sua
adotadas soluções paliativas e de curto prazo, e constituição (França & Rodrigues, 1997).
abandonadas as tentativas de aprofundamento e de
acompanhamento, em algumas áreas, ocorrem Conforme já mencionado, as reações de estresse
“desistências”; surgem padrões bizarros de são naturais e necessárias para a própria vida, mas
comportamento: surgem maneirismos estranhos, às vezes podem tornar-se prejudiciais ao
imprevisibilidade e comportamentos não funcionamento dos sistemas orgânico e
característicos, podem ocorrer tentativas de suicídio: psicológico do indivíduo.
surgem frases como “acabar com tudo” e “é inútil
continuar”. Avaliação

Fontana (1994) destaca que e a incidência desses Os estímulos estressores podem ser potentes o
efeitos negativos pode variar de um indivíduo para suficiente para desencadear o distresse em muitas
outro. Poucas pessoas apresentam todos eles e que o pessoas, e em outras não, depende se o estímulo
grau de severidade também varia de pessoa para implica ou não em ameaça ou em desafio (Nitsch
pessoa. em Samulski, 1996; França & Rodrigues, 1997).

Estresse e doença Para a avaliação de um estímulo estressor, há uma


atividade mental, que é em parte racional e em
Para França & Rodrigues (1997) as reações ligadas ao parte emocional, onde a pessoa avalia pela sua
estresse resultam dos esforços de adaptação. Se a própria experiência, o que é de fundamental
reação ao estímulo for muito intensa ou se o agente importância, pois é baseado nisso que a pessoa

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terá sua percepção do estresse, como irá enfrentá-lo e mudar a medida que a pessoa avalia e reavalia a
no tipo e intensidade da resposta a ser produzida situação estressante (Samulski, 1996; França &
(Nitsch em Samulski, 1996; França & Rodrigues, Rodrigues, 1997).
1997).
Cita-se um exemplo de uma pessoa que perde o
É a avaliação que dá ao indivíduo o significado do emprego abruptamente, no primeiro momento
momento que está vivendo, pois um mesmo pode ter um choque, “isto não é possível”, pode
acontecimento estressante pode ser vivido com ter raiva e/ou buscar freneticamente outra
alegria por uma pessoa, enquanto está sendo vivido atividade, nos momentos seguintes a pessoa passa
com sofrimento por outra. por um período de tristeza, às vezes depressão e
mais tarde volta ao seu cotidiano. Com outra
Conforme França & Rodrigues (1997), os fatores que pessoa o enfrentamento poderia ser totalmente
influenciam nos processos de avaliação são os diferente, diante das suas características de
compromissos, aquilo que é importante para a pessoa; personalidade e o momento de vida que estão
as crenças são as convicções, as premissas; fatores do passando (França & Rodrigues, 1997).
ambiente, mudança de rotina, casamento, morte,
divórcio, demissão, aposentadoria. Percebe-se que as pessoas necessitam, para a sua
sobrevivência, de um certo grau de estresse. No
Ainda como processo de interferência na avaliação, entanto, se a pressão for muito intensa ou ao
tem o componente situacional, como: novidade de contrário, o resultado será um desempenho
situação, possibilidade de predizer o acontecimento, ineficiente ou a doença.
incerteza do acontecimento, iminência do
acontecimento, duração do episódio estressante,
incerteza de quando vai acontecer o evento,
ambigüidade (França & Rodrigues, 1997). Relação entre estresse e doenças

Enfrentamento
Doenças digestivas: Conforme Cabral et al.
A partir do momento que se observa o estresse pela (1997), o sistema gastrointestinal é especialmente
perspectiva relacional, este deixa de ser observado sensível ao estresse geral. A perda de apetite é um
por apenas um prisma, estímulo externo, mas também dos seus primeiros sintomas, devido a paralisação
através do significado que este estressor, externo ou do trato-gastrointestinal sob ação simpática, e
interno, vai ter para a pessoa e como ele vai ser pode ser seguido de vômitos, constipação e
avaliado e manejado (Nitsch em Samulski, 1996; diarréia, no caso de bloqueios emocionais.
França & Rodrigues, 1997). Estudos realizados por Gray em Cabral (1997),
demonstraram que pacientes sob estresse secretam
Segundo França & Rodrigues (1997) o enfrentamento uma quantidade considerável de hormônios
é o conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve digestivos pépticos na sua urina, isso indica que
para manejar ou lidar com as solicitações externas ou os hormônios do estresse aumentam a produção
internas, que são avaliadas por ela como excessivas de enzimas pépticas, ou seja, a úlcera parece ser
ou acima de suas possibilidades. produzida com o aumento do fluxo dos sucos
ácidos causado pelas tensões emocionais, no
O enfrentamento é uma estratégia da pessoa (pode ser estômago, que se encontra desprotegido do muco
consciente ou não), para obter o maior número de protetor secretado em estado de homeostase, sob
informações sobre o que está acontecendo e ação do sistema autônomo parassimpático
condições internas (psíquicas) para o processamento (SNAP).
de informações, mantendo-se em condições de agir e
assim diminuir a resposta distresse e manter um Depressão: Braga et al. (1999) diz que a depressão
equilíbrio de seu organismo. É aquilo que o indivíduo é, em geral, classificada como uma doença
realmente pensa e sente, o que faz ou faria em funcional, ou seja, que não tem causas físicas
determinadas condições. Estes processos podem
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palpáveis, o que leva à suposição de ter origem sistema nervoso autônomo simpático (SNAS)
psicológica. Isto tem sido questionado porque dentro sobrepõe-se ao SNAP e o resultado é, dentre
dos limites normais reduziram-na a experiências outros, a vasoconstrição sangüínea, o que
subjetivas de desconforto, de sofrimento e de impossibilita a atividade sexual em ambos os
vulnerabilidade. Mas a falha desse mecanismo de sexos devido à diminuição da irrigação dos órgãos
defesa se relaciona principalmente com a elevação da genitais. Estudos com animais demonstram que as
produção de cortisol. A depressão causada pelo glândulas sexuais ingurgitam-se e tornam-se
estresse prolongado se dá devido à ativação constante menos ativas em relação à dilatação e aumento
da supra-renal, levando-a a atingir seu nível máximo das supra-renais. A pituitária produz grande
de produção de noradrenalina, a partir da qual se quantidade do hormônio adrenocorticotrófico
torna incapaz de satisfazer a demanda. Ocorre a (ACTH) para manter a vida, ativando as supra-
liberação de adrenalina, que lhe é precursora na renais e, ao mesmo tempo, reduzindo a produção
síntese, e desenvolve sintomas de fuga mais do que de de outros hormônios que são menos urgentes em
enfrentamento (Funkeinstein em Braga et al., 1999). condições de emergência, como os
No entanto, o indivíduo pode entrar em depressão gonadotróficos. Outros estudos confirmam nos
aguda devido ao estresse de exaustão que libera logo seres humanos que estas reações produzem a
cortisol (Mendels em Braga et al., 1999). impotência sexual.

Câncer: Segundo Braga et al. (1999), no câncer há um Crescimento: Conforme Cabral et al. (1997), os
colapso da imunidade e resistência do organismo. O denominados hormônios de adaptação ou
fato dos tumores crescerem ou não está relacionado hormônios do estresse, são também importantes
com a eficiência dos processos de imunidade. Então, reguladores do crescimento em geral. ACTH e
se o sistema imunológico encontra-se COL são poderosos inibidores de crescimento e o
“desequilibrado”, a probabilidade do STH ativador que é realmente denominado
desenvolvimento da doença aumenta. Como o sistema hormônio do crescimento. Estes hormônios têm
imunológico é também controlado pelo sistema efeitos opostos poderosos. Portanto se uma
límbico, pode-se acreditar que o paciente com câncer criança é exposta a estresse excessivo, seu
apresenta todo um conjunto de elementos crescimento é prejudicado, sendo tal inibição,
psicossomáticos. Pesquisas realizadas constataram pelo menos em parte, conseqüência do excesso de
que o lado psicológico da doença é tão importante secreção de ACTH.
quanto o físico e o biológico. Segundo os resultados
da pesquisa realizada por Simonton et al. em Braga et Considerações finais
al. (1999), supôs-se que o câncer de mama tem a ver
com a vivência, pela mulher, de relações conjugais Baseado nas reflexões apresentadas, foi verificado
empobrecidas e insatisfatórias. O perfil psicológico que o estresse nem sempre é um fator de desgaste
do paciente também é importante quando se considera emocional e físico, e sim, é um mecanismo
a evolução da doença. Diante de sua maior ou menor natural de defesa do organismo. Recebem-se os
resistência psíquica e ainda por sua maior ou menor estímulos internos e externos através do sistema
disposição de lutar pela vida. nervoso e dependendo da forma com que esses
estímulos são enfrentados poderão provocar
Impotência sexual: Braga et al. (1999) diz que em alterações psicológicas e biológicas negativas,
condições normais, o sistema nervoso autônomo podendo levar ao estresse crônico. Nesse caso,
parassimpático (SNAP), participa da regulação das ocorrem alterações fisiológicas que poderão
atividades sexuais em ambos os sexos, no homem desencadear vários tipos de doenças
provoca ereção e na mulher entumescimento da psicossomáticas.
genitália. Mas, em situação de conflito e estresse, o

Referências Bibliográficas

Revista de Psicologia da UnC, vol. 2, n. 2, p. 84-92


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Aspectos Fisiológicos e Psicológicos do Estresse 93

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Recebido em: 5/10/2004

Aceito em: 15/6/2005

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