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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 ESTRESSE E SAÚDE MENTAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕES ............... 4

3 ESTRESSE: MECANISMOS DE ATIVAÇÃO E IMPACTOS NO


ORGANISMO ............................................................................................................ 11

4 TRANSTORNOS RELACIONADOS AO ESTRESSE ............................... 20

5 RELAÇÃO ENTRE AMBIENTE E ESTRESSE ......................................... 27

5.1 Síndrome de Burnout ......................................................................... 29

5.2 Ações que podem reduzir casos de doença mental no trabalho ........ 35

6 COMO LIDAR COM O ESTRESSE .......................................................... 38

7 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 44

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 ESTRESSE E SAÚDE MENTAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Fonte: minhasaude.proteste.org.br

Ao longo da história, houve segundo Silva, Goulart e Guido (2018) o


reconhecimento de que o homem sofria exaustão em diferentes situações, como por
exemplo após o trabalho, a exposição ao frio ou calor, a perda de sangue, doença ou
mesmo após sentir medo, fome ou sede, o que acaba gerando variados desfechos
biológicos e psicológicos, que ficaram conhecidos hoje como estresse.
Devido as mudanças da contemporaneidade, o estresse vem se tornando tema
de muitos debates, entretanto, sua definição ainda se encontra em um campo não
consensual, uma vez que ora o estresse é considerado doença e ora é considerado
fator de risco (GARCIA et al, 2019).
Hans Selye é apontado na literatura como o primeiro a pesquisar sobre o
estresse, ainda na década de 1930, a partir de um viés biológico, apresentando-o de
acordo com Garcia et al (2019) como uma “Síndrome Geral de Adaptação”. Tal
Síndrome consiste necessariamente em um conjunto de respostas coordenadas pelo
organismo em função de alterações, de perturbações no meio interno do organismo.
Os autores apontam que essa síndrome se refere à quebra da homeostase
interna, diante de um evento estressor, o qual exige do indivíduo um esforço para
adaptação. Assim, entende-se como evento estressor, tudo aquilo que causa o

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estresse, ou seja, qualquer situação geradora de um estado emocional forte, que leve
ao desequilíbrio da homeostase interna e exija uma adaptação.
Como são várias as situações que podem ser desencadeadoras de estresse e
cada pessoa responde de determinada forma a essas situações, a literatura aponta
três tipos básicos de agentes estressores: estressores sensoriais ou físicos,
estressores psicológicos e estressores tóxi-infecciosos e traumáticos.
Os estressores sensoriais ou físicos, abrangem questões sensoriais, como a
mudança de temperatura, o ruído, bem como outros aspectos físicos, além de
esportes de aventura e exercícios físicos. Os estressores psicológicos, referem-se
aos acometimentos por exigências emocionais como falar em público, perda de
familiares, mudanças, provas e exames. Já os estressores tóxi-infecciosos e
traumáticos, são as reações de estresse causadas por cirurgias, parto, vírus,
bactérias, fungos, entre outros.
Ainda conforme publicação realizada em 2012 na Biblioteca Virtual em Saúde,
do Ministério da Saúde, o estresse refere-se a uma reação natural do organismo,
diante de situações potencialmente ameaçadoras ou perigosas, que acabam
acionando um estado de alerta ou alarme, e consequentemente, provocando
alterações emocionais e físicas. Sendo assim, a reagir ao estresse é uma atitude
biológica necessária para que o indivíduo seja capaz de se adaptar a novas situações.
O estresse então, pode ser identificado como distresse ou eustresse. O
distresse é um termo das áreas de psicologia e psiquiatria relacionado ao estresse
excessivo, ou seja, aquele em maior nível, capaz de causar sofrimento e prejudicar a
saúde e, consequentemente, outras dimensões da vida pessoal e profissional de um
sujeito. O eustresse, por sua vez, refere-se a um estresse bom e que ajuda as pessoas
a reagirem positivamente diante de desafios e mudanças. É um tipo de estresse que
leva o organismo a produzir adrenalina, dando à pessoa ânimo e energia (FARO,
2015).
Sendo assim, entende-se que o estresse pode ser negativo quando, por
exemplo, o sujeito se encontra preso no trânsito e está atrasado para um
compromisso. Porém pode em alguns casos desempenhar função positiva, servindo
de motivação para que o sujeito melhore a qualidade de sua performance em alguma
atividade, por exemplo. Por isso, o estresse pode ser considerado aspecto importante
para a realização de qualquer atividade.

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Entretanto, situações extremas podem ser prejudiciais à saúde, uma vez que a
exposição prolongada a eventos de estresse pode desenvolver quadro patológico,
originando doenças e distúrbios transitórios. A intensidade, a duração e a forma como
o indivíduo percebe o agente estressor (GARCIA et al, 2019), vão indicar também se
o estresse tende a ser positivo ou negativo.
Nesse sentido, conforme a publicação da Biblioteca Virtual em Saúde, o
estresse pode então, ser classificado como agudo ou crônico. O estresse agudo
acontece de forma mais intensa e tem curta duração, sendo normalmente causado
por situações traumáticas, porém passageiras, como por exemplo, a depressão
causada pela morte de alguém próximo, a chegada de um filho ou um acidente.
Geralmente são situações isoladas, as quais não tem efeito persistente no organismo.
Em caso de situações em que o trauma é muito elevado, como em acidentes
em que a vítima fica gravemente ferida ou quando a situação é potencialmente fatal,
desenvolve-se um quadro psiquiátrico denominado de transtorno de estresse pós-
traumático. Mas, geralmente o estresse agudo é entendido como saudável, pois
possibilita que o corpo desenvolva novas formas de reagir, diante de situações
estressantes.
Já o estresse crônico, afeta grande parte das pessoas, sendo constante no dia
a dia. Nesses casos, o estresse se torna persistente e se prolonga por grandes
períodos. Pode decorrer de experiências traumáticas que ocorrem na primeira
infância, as quais são internalizadas e permanecem presentes.
Tais experiências, podem afetar a personalidade e as percepções de mundo,
causando estresse sem fim. O estresse crônico passa a ser um problema, quando o
sujeito passa a viver em um contexto estressor e não apenas uma situação estressora,
já que vários fatores acabam gerando pressões sobre o mesmo.
O estresse também pode passar por um processo de evolução, o qual Selye
(1965, apud SILVA; MARTINEZ, 2005) descreveu em três fases: alerta, resistência e
exaustão. Todavia, Silva e Martinez (2005) destacam que Lipp acrescentou uma nova
fase denominada de quase-exaustão, que seria a fase intermediária entre a
resistência e a exaustão. Dessa forma, as fases do estresse caracterizam-se como:
Fase de Alerta: essa fase é inicia-se no momento em que a pessoa entra em
contato com o elemento estressor. Nessa fase são comuns sintomas como: Mãos e/ou
pés frios, boca seca, dor no estômago, suor, tensão e dor muscular por exemplo, na

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região dos ombros, aperto na mandíbula (ranger os dentes) ou roer unhas/ponta da
caneta, diarréia passageira, insônia, batimentos cardíacos acelerados, respiração
ofegante, aumento súbito e passageiro da pressão sanguínea, agitação.
Fase de Resistência: nessa fase o corpo tenta voltar ao seu equilíbrio. O
organismo pode se adaptar ao problema ou eliminá-lo. Problemas de memória,
formigamento nas mãos e/ou pés, mal-estar generalizado, mudança no apetite,
sensação de desgaste físico constante, aparecimento de problemas de pele,
sensibilidade emotiva excessiva, hipertensão arterial, cansaço constante, obsessão
com o agente estressor, gastrite prolongada, irritabilidade excessiva, tontura, e desejo
sexual diminuído, são alguns dos sintomas dessa fase.
Fase de quase-exaustão: fase em que o organismo está enfraquecido e não
consegue se adaptar ou resistir ao estressor. As doenças, tais como herpes simples,
psoríase, picos de hipertensão e diabete, começam a aparecer nos indivíduos
geneticamente predispostos (LIPP, 2000, apud SILVA; MARTINEZ, 2005). Quando o
estressor permanece atuante por muito tempo, ou quando muitas fontes de estresse
ocorrem simultaneamente, a reação do organismo progride para a fase de exaustão.
Fase de Exaustão: nessa fase pode haver o surgimento de diversos
comprometimentos físicos em forma de doença. São sintomas dessa fase: Diarréias
frequentes, dificuldades sexuais, formigamento nas mãos e/ou pés, insônia, tiques
nervosos, hipertensão arterial confirmada, problemas de pele prolongados, mudança
extrema de apetite, batimentos cardíacos acelerados, tontura frequente, úlcera,
impossibilidade de trabalhar, pesadelos, apatia, cansaço excessivo, irritabilidade
angústia, hipersensibilidade emotiva, perda do senso de humor.
Observa-se que o desenvolvimento do estresse varia de acordo com o quanto
o indivíduo foi afetado pelo estressor, ou seja, quando o estresse é pouco se
desencadeia um movimento do organismo para lidar com a situação. Entretanto,
quando o estresse ocorre por um período prolongado ou é mais intenso, o organismo
precisa despender muita energia, o que provoca um desequilíbrio que pode tornar o
sujeito susceptível a doenças. Dessa forma, quanto mais duradouro o período de
estresse, mais negativos os impactos na saúde.
A necessidade de pagar contas, a pressão por resultados e os malabarismos
para conciliar a vida profissional e a familiar, são exemplos de situações estressoras.
Assim, Margis et al (2003) destacam que as situações ambientais que podem provocar

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o estresse são agrupadas como: acontecimentos vitais, acontecimentos diários
menores e situações de tensão crônica.
Os acontecimentos vitais, relacionam-se com acontecimentos que marcam a
vida da pessoa e podem ou não, ser controlados por ela. Como exemplos desses
acontecimentos podem ser citados a aprovação em vestibular, o casamento, o
divórcio, o emprego novo, entre outras situações.
Os acontecimentos diários menores, estão relacionados a eventos do cotidiano
que vão influenciar de forma significativa a vida da pessoa. Um exemplo seria um
vizinho barulhento, o trânsito congestionado, a necessidade de enfrentar longas filas
ou até mesmo o latido de um cachorro. Já as situações de tensão crônica, são aquelas
que permanecem por um período de tempo maior e geram estresse intenso.
Relacionamentos abusivos, onde agressões físicas e psicológicas são frequentes, são
exemplos desse tipo de situação.
Ao entrar em contato com um evento estressor, o corpo irá gerar uma resposta,
a qual vai depender de como o sujeito entende a informação e como ele avalia a
situação ou estimulo, se é agradável, aterrorizante, relevante, entre outras
percepções. Ou seja, a percepção do sujeito sobre a situação é que vai determinar o
modo como ele vai responder ao estressor, bem como a forma como o mesmo será
afetado pelo estresse. Por isso, o impacto que cada estressor terá na vida das
pessoas será diferente.
Ademais, as respostas ao evento estressor podem se dar em três níveis, que
de acordo com Margis et al (2003) são: Nível cognitivo, Nível comportamental e Nível
fisiológico. Em nível cognitivo, os autores apontam que podem ser distinguidos quatro
componentes, os quais são:
Avaliação inicial automática da situação ou estímulo: também denominada
como reação afetiva, caracteriza a fase em que o sujeito vai avaliar inicialmente o grau
de ameaça para si, determinando um padrão de resposta do tipo defesa ou
conferência e orientação. Caso o sujeito sinta o estimulo como uma ameaça, será
ativada uma resposta do tipo defesa. Caso seja o contrário, e o mesmo não entenda
o estímulo como ameaça, será ativada uma resposta do tipo conferência e orientação.
Respostas fisiológicas diferentes serão provocadas, a depender de qual tipo de
resposta foi ativada.

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Avaliação da demanda da situação ou avaliação primária: caracteriza o
momento em que o sujeito vai avaliar a situação estressora a partir das suas
experiências e história pessoal. Nesse momento, o relevante é a forma como o sujeito
vai vivenciar a situação de estresse.
Avaliação das capacidades para lidar com a situação estressora ou
avaliação secundária: refere-se a fase em que o sujeito vai avaliar a situação a partir
das suas capacidades e recursos para enfrentar a situação e manejá-la.
Organização da ação ou seleção da resposta: momento em que a partir das
avaliações realizadas nas fases anteriores, o sujeito vai elaborar suas respostas às
demandas percebidas.
Margis et al (2003) ressaltam que as respostas podem ser específicas para a
situação ou também podem não haver respostas, cabendo ao sujeito decidir se arrisca
uma resposta nova ou se irá suportar de forma passiva a situação de estresse. É
importante destacar que os recursos comportamentais, bem como os fisiológicos que
serão mobilizados vão depender geralmente, de tal escolha.
Em nível comportamental, os autores afirmam que as respostas básicas frente
a um estressor são de enfrentamento, evitação e passividade. A habilidade de
responder de forma adequada a cada estressor, vai depender das experiências
prévias e se em situações prévias e similares, a emissão de tal resposta recebeu
reforço.
Já em nível fisiológico, percebe-se que as situações de estresse produzem de
modo geral, um aumento na ativação do organismo, com intuito de que o indivíduo
possa reagir, uma vez que diferentes mecanismos neurais e endócrinos estão
envolvidos na resposta ao estresse, os quais podem ser ativados seletivamente.
Labrador e Cols (1994 apud MARGIS et al, 2003) distinguem três eixos de atuação da
resposta fisiológica ao estresse: o eixo neural, o eixo neuroendócrino e o eixo
endócrino.
O eixo neural, ativa-se imediatamente diante de uma situação de estresse. O
mesmo implica principalmente, na ativação do sistema nervoso autônomo e do
sistema nervoso periférico, tendo como efeitos o aumento do ritmo cardíaco e da
pressão arterial, sensação de boca seca e de “nó” na garganta, sudorese intensa,
formigamento nos membros, dificuldade de respirar e dilatação das pupilas.

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O eixo neuroendócrino possui uma ativação mais lenta e carece de condições
de estresse mais prolongadas. Seu disparo ativa a medula das suprarrenais, o que
provoca a secreção da adrenalina e noradrenalina, auxiliando no aumento e
manutenção da atividade adrenérgica somática, proporcionando efeitos semelhantes
aos gerados pela ativação simpática.
Por preparar o organismo para uma atividade muscular intensa, caracteriza-se
como um eixo de luta e fuga, tendo como efeitos o aumento da pressão arterial, do
aporte sanguíneo para o cérebro, do ritmo cardíaco, da estimulação muscular, dos
ácidos graxos, triglicerídeos e colesterol no sangue, secreção de opioides endógenos
e diminuição do fluxo sanguíneo nos rins, no trato gastrointestinal e na pele. Tal
resposta aumenta o risco de desenvolvimento da hipertensão, da formação de
trombos e de dores no peito em pessoas propensas, além de aumentar a
probabilidade de arritmias, elevando também a probabilidade de morte súbita.
O eixo endócrino é caracterizado por um disparo mais lento e por efeitos mais
duradouros, quando comparado aos eixos anteriores. Além disso, necessita que a
situação de estresse seja mantida por tempo prolongado.
Tal eixo é disparado quando o sujeito não possui estratégia de enfrentamento
para a situação de estresse. Entre os efeitos estão o aumento da glicogênese, da
produção de corpos cetônicos, da produção de ureia, da liberação de ácidos graxos
livres no sistema circulatório, da suscetibilidade a processos ateroscleróticos e da
necrose miocárdica, exacerbação de lesão gástrica, supressão de mecanismos
imunológicos e redução do apetite.
Assim, pode-se perceber que os impactos do estresse no corpo humano podem
causar prejuízos diversos a saúde do sujeito, sejam eles físicos ou mentais. Além
disso, instabilidade dos tempos modernos faz com que o estresse se torne algo
inevitável, uma vez que constantemente o ser humano está diante de situações que o
tiram da zona de conforto, expondo-o a adaptações frequentes.
É a partir desse fluxo intenso de mudanças e necessidade de adaptações que
o estresse impacta na saúde mental dos seres humanos, pois as pessoas passam a
se sentir mais cansadas, irritáveis ou incapazes de se concentrar.
A Saúde e a saúde mental têm de acordo com Gaino et al (2018), conceitos
complexos e historicamente influenciados por contextos sócio-políticos e pela
evolução das práticas em saúde. Os autores destacam que a Organização Mundial

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da Saúde – OMS, define saúde mental como um estado de bem-estar no qual um
indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos,
pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade.
Ou seja, a saúde mental não envolve apenas problemas psiquiátricos mais
graves, como quadros psicóticos que é o caso da esquizofrenia, como depressão,
ansiedade ou transtornos bipolares. Mas, refere-se também a capacidade de lidar com
situações simples que podem levar ao estresse.
A saúde mental não sofre influência apenas de fatores biológicos, mas também
é influenciada pela qualidade das diferentes relações que o sujeito estabelece ao
longo da vida, sejam familiares, de trabalho ou no ambiente de lazer e também de
como ele lida com o estresse.
Algumas pessoas devido à alta exposição ao estresse, acabam lançando mão
de hábitos negativos como o aumento do consumo de álcool e o tabagismo, para lidar
com as tensões. Além disso, o estresse pode funcionar como gatilho para alguns
transtornos mentais.
Quando o sujeito passa por grandes momentos de estresse, enquadrando-se
em um caso de estresse crônico, doenças como esquizofrenia, síndrome do pânico,
depressão, ansiedade, as quais podem estar latentes, acabam emergindo. Dessa
forma, saber identificar fatores estressores, bem como controlá-los torna-se
fundamental para preservar a saúde mental dos sujeitos, pois quando a exposição a
episódios de estresse acontece por períodos prolongados, ele provavelmente se
tornará um problema crônico, a menos que o sujeito tome alguma atitude.

3 ESTRESSE: MECANISMOS DE ATIVAÇÃO E IMPACTOS NO ORGANISMO

É possível dizer que o estresse se refira muito mais a uma reação, do que um
sentimento ou emoção, que prepara o indivíduo para situações que exigem mais foco
mental ou intensidade muscular do que o normal. Por isso, o estresse pode em alguns
casos ser positivo, já que é a partir dele, que se torna possível a ativação da resposta
de luta ou fuga, diante de determinadas situações.
Esse tipo de resposta foi bastante útil aos nossos antepassados, uma vez que
essa capacidade de resposta, possibilitou que um indivíduo que, por exemplo,
avistasse uma onça, pudesse correr, se esconder ou até mesmo lutar pela

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sobrevivência. Na atualidade, a necessidade de lidar com predadores é muito
pequena, entretanto, somos submetidos a outras situações como provas, trabalho,
contas, que como já mencionado, são potenciais causadoras de estresse.
O estresse é comumente definido como uma condição ou estado em que a
homeostase do organismo é perturbada, como resultado de estímulos estressores. É
uma constelação de eventos, envolvendo a participação de diferentes sistemas do
organismo em resposta a agentes estressores, como fatores climáticos,
hiperpopulação, infecções, exercício físico intenso, desnutrição, ruído, odor, entre
muitos outros.
Sabe-se que quando um agente estressor atua sob o organismo, ocorre uma
série de reações que resultam na interação dos sistemas endócrino, imunológico e
nervoso através de mediadores químicos. Tais reações, que nada mais são do que
respostas do organismo ao estímulo estressor, visam fornecer ao indivíduo condições
para que ele possa lidar com tais situações estressoras, o que por vezes, acaba
levando o organismo a colocar suas variáveis acima dos níveis normais, ou seja,
ocasiona o aumento da pressão arterial, aumento da glicemia, entre outros.
Essas reações que são responsáveis pela ativação da resposta de luta ou fuga
necessária quando o indivíduo se encontra em uma situação estressora. Através
dessa resposta, o indivíduo altera a forma como o organismo funciona, com intuito de
se adaptar ao meio externo inconstante e com possíveis surpresas.
Importante mencionar, que o estresse também pode ser entendido como uma
condição fisiológica, uma vez que ele pode causar um aumento na capacidade
metabólica quando o indivíduo está diante de uma situação potencialmente perigosa.
Embora o estresse atualmente esteja associado a algumas doenças,
normalmente o mesmo não é considerado uma condição patológica, visto que ele
acontece para condições de sobrevivência. Entretanto, ele deixa de ser uma condição
fisiológica, tornando-se patológico, quando passa a ser constante, podendo levar a
problemas cardiovasculares, aumentando a probabilidade de desenvolvimento de
diabetes, obesidade, depressão, entre outras patologias. Sendo assim, quando o
estresse não apresenta um quadro crônico, o mesmo assume uma condição
fisiológica e necessária para a manutenção da vida.
Ao ser exposto a um evento estressor, o corpo produz respostas tanto neurais,
quanto hormonais. Essas respostas são coordenadas pelo hipotálamo (Figura 1), via

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Sistema Nervoso Autônomo Simpático – SNAS e via secreção de alguns hormônios
específicos que são controlados pelo eixo Hipotálamo-Hipófise e suas glândulas alvo,
especialmente as adrenais.

Figura 1 - Fonte: www.sanarmed.com


As glândulas Adrenais, também conhecidas como suprarrenais (Figura 2),
localizam-se sobre o topo dos rins e ocupam um papel de destaque nesse processo
de resposta ao estresse.

Figura 2 - Fonte: www.sanarmed.com

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Além disso, as adrenais compreendem duas regiões distintas (Figura 3): uma
parte interna ou medular e uma camada externa ou córtex.

Figura 3 - Fonte: www.todamateria.com.br

A região medular, secreta Adrenalina e Noradrenalina, enquanto que a região


do córtex, secreta mineralocorticóides e glicocorticoides. Os hormônios presentes em
ambas as regiões participam efetivamente da resposta do corpo ao estresse e por
isso, as adrenais são tão importantes nesse processo.
As respostas neurais, que são vinculadas ao SNAS, fazem parte de uma reação
de alarme, sendo então caracterizada como uma reação a curto prazo, enquanto que
as respostas hormonais, que acontecem através do eixo hipotálamo-hipófise,
relacionam-se a uma reação de resistência ao estímulo estressor, o que a caracteriza
como uma reação de longo prazo.
Sendo assim, quando um evento estressor age sobre o corpo, o mesmo é
processado pelo hipotálamo que, em uma resposta neural, ativa o Sistema Nervoso
Autônomo Simpático – SNAS. Os nervos simpáticos, via ativação das glândulas
adrenais, vão liberar adrenalina sistemicamente ou então a atividade dos vários
nervos simpáticos, vão coordenar uma gama de respostas entre as quais estão:
 O aumento da frequência cardíaca e da força de contração cardíaca
 Vaso constrição dos vasos sanguíneos na maioria das vísceras e na pele

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 Dilatação dos vasos sanguíneos especialmente no coração, pulmão,
encéfalo e músculos esqueléticos que são regiões que vão
eventualmente, participar de uma resposta emergencial,
 Contração do baço
 Conversão de glicogênio em glicose, ou seja, fornecimento extra de
energia para esse organismo
 Dilatação das vias aéreas, facilitando e potencializando a oxigenação do
organismo
 Diminuição das atividades digestivas, ou seja, o fluxo sanguíneo e a
atividade do organismo é direcionada para as regiões que vão participar
efetivamente da resposta a esse estímulo estressor.
Vale lembrar que essas respostas são dadas a curto prazo, são rápidas, então
são acionadas diante de um estímulo estressor momentâneo.
Quando o evento estressor é duradouro, ou seja, é persistente, outras
respostas são ativadas e são aquelas que estão relacionadas ao eixo hipotálamo-
hipófise, envolvendo as glândulas adrenais, e até mesmo o fígado e a tireoide,
caracterizando então, a reação de resistência.
A participação do fígado na resposta ao estresse, se dá através do aumento
dos triglicerídeos e de glicogenólise, ou seja, a quebra de glicogênio em glicose, uma
vez que o hormônio de crescimento – GH, que foi estimulado pelo eixo hipotálamo-
hipófise, vai ocasionar no fígado o aumento nos níveis de triglicerídeos e de
glicogenólise, que irão posteriormente, fornecer energia extra para o organismo.
Os hormônios tireoidianos, que foram estimulados pela hipófise, também
participam da resposta ao estresse, atuando no aumentando do catabolismo da
glicose para produzir ATP, disponibilizando também, energia extra para que o
organismo consiga lidar com o evento estressor.
Os hormônios presentes no córtex das glândulas adrenais são estimulados pelo
hormônio da hipófise, chamado de Adrenocorticotrófico – ACTH, que por sua vez, foi
estimulado pelo Fator Liberador de Corticotrofina – CRF que é uma a resposta
hormonal do Hipotálamo. A Adrenocorticotrófico – ACTH, é quem estimula as adrenais
a liberar mineralocorticoides e glicocorticoides.
O principal mineralocorticoide secretado pelas adrenais é a aldosterona, a qual
estimula a retenção de sódio. Por estimular a retenção de sódio, a aldosterona,

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indiretamente, contribui para a retenção de água, aumentando assim, o volume
sanguíneo e eventualmente a pressão arterial.
Como principal glicocorticoide, a literatura aponta o cortisol, o qual é
considerado o hormônio do estresse, sendo ele o hormônio que desencadeia variadas
respostas de resistência frente a um evento estressor. Entre algumas respostas estão:
 Gliconeogênese: nada mais é do que a formação de glicogênio a partir
de outros derivados que não a glicose, como por exemplo os ácidos
graxos e aminoácidos. Esse glicogênio, posteriormente vai ser quebrado
em glicose e fornecerá energia extra ao organismo.
 Catabolismo proteico: aumento da quantidade de aminoácidos
disponíveis para a gliconeogênese
 Sensibilização dos vasos sanguíneos: principalmente em agentes
vasoconstritores, uma vez que ocorre o aumento da pressão arterial em
consequência do aumento da resistência periférica
 Redução da inflamação, já que o cortisol é um potente anti-inflamatório
Observa-se então que, junto com outros hormônios, o cortisol ajuda a tornar
disponível mais energia para uso imediato, estimulando a gliconeogênese no fígado,
o catabolismo das proteínas no músculo e, no tecido adiposo a lipólise, fornecendo
mais ácidos graxos para uma eventual gliconeogênese.
A gliconeogênese hepática é uma das principais ações metabólicas do cortisol
no organismo, uma vez que ele atua protegendo o organismo contra a hipoglicemia.
No sistema cardiovascular, o cortisol apresenta efeitos positivos, aumentando o débito
cardíaco, podendo aumentar tanto o volume sistólico, quanto a frequência cardíaca,
além de aumentar também a pressão arterial.
O cortisol estimula também a síntese de eritropoietina que é um hormônio que
estimula a produção de hemácias, ou seja, as células vermelhas. Em uma situação
em que não há cortisol, aumentam-se as chances de desenvolvimento de anemia.
Entretanto o acesso de cortisol, pode acarretar no desenvolvimento da policitemia,
que é o aumento nos níveis de hemácias.
Em relação ao sistema reprodutor, sabe-se que a reprodução, demanda um
alto gasto energético no organismo. Sendo assim, o comportamento e a função
reprodutora ficam diminuídos em situações de estresse, uma vez que o cortisol diminui

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a função reprodutiva no eixo hipotálamo-hipófase-gonadal, tanto no homem, quanto
na mulher.
Somado a isso, um outro efeito do cortisol no corpo é a diminuição da absorção
intestinal de cálcio, ou seja, o cálcio ingerido na alimentação não é bem absorvido
pelo intestino. O cortisol também diminui a reabsorção renal de cálcio, ou seja, existe
uma maior eliminação de cálcio na urina. Ambos os mecanismos contribuem para a
queda nos níveis de cálcio no sangue, o que pode tornar o tecido ósseo mais fraco e
propenso a fraturas e ao desenvolvimento de osteoporose.
Sobre o tecido conjuntivo, o cortisol inibe a proliferação de fibroblastos e
colágeno, que são substâncias que dão viscosidade e boa aparência à pele. Por isso,
altas concentrações de cortisol podem tornar na pele mais fina e mais propensa a
lesões. A rede de tecido conjuntivo que dá suporte aos capilares sanguíneos, também
fica comprometida em casos de alta concentração de cortisol, o que pode levar a
equimose, que se refere a ruptura de pequenos vasos sanguíneos que podem resultar
em manchas arroxeadas na pele.
No tecido muscular, quando há aumento nos níveis de cortisol, ocorre fraqueza
muscular e dor. Essa fraqueza tem várias origens, sendo a proteólise excessiva, a
qual é induzida pelo cortisol, a principal delas. Além disso, esse aumento dos níveis
de cortisol, pode levar a um quadro de hipocalemia, ou seja, as células vão ficar menos
excitáveis o que também contribui para a fraqueza muscular.
No trato gastrointestinal – TGI, sabe-se que o cortisol exerce efeito estimulante
positivo sobre a mucosa do mesmo, e que a ausência desse hormônio faz com que a
mobilidade do TGI fique diminuída, assim como diminui a produção de ácidos e
enzimas, ocorrendo também a degeneração da mucosa. Contuso, o excesso de
cortisol aumenta o apetite, estando frequentemente associado ao aumento de peso.
Ademais, o excesso de cortisol estimula o aumento da secreção de ácido gástrico o
que aumenta as chances de desenvolvimento de úlcera gástrica.
A elevação, bem como a deficiência nos níveis de cortisol, também possui
associação com distúrbios psiquiátricos. Inicialmente, níveis aumentados de cortisol
podem promover a sensação de bem-estar. Porém, a exposição excessiva a níveis
elevados de cortisol, podem provocar uma instabilidade emocional e até mesmo
depressão.

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O cortisol está associado também a regulação do sono. Conforme a literatura,
o aumento nos níveis de cortisol, principalmente nas primeiras horas da manhã,
estimula o despertar, ou seja, promove um aumento na pressão arterial e dos
batimentos cardíaco que nos leva a acordar. Ao longo do dia, os níveis de cortisol vão
diminuindo, alcançando os seus níveis mais baixos no período noturno. Sendo assim,
caso haja o aumento nos níveis de cortisol no período noturno, pode-se gerar insônia
e diminuição do sono profundo, o que impacta diretamente na qualidade de vida do
indivíduo.
Vale ressaltar que o excesso de cortisol prolongado, aumenta também a
atividade e o número de conexões entre neurônios nas amídalas cerebrais que são
encarregadas de nos despertar medo e raiva, tornando o indivíduo mais medroso e
agressivo. Um dos principais efeitos do estresse no cérebro é a alteração no
funcionamento e diminuição do tamanho de algumas partes, como o córtex pré-frontal
e o hipocampo (Figura 4).

Fonte: activepharmaceutica.com.br

Todavia, essas regiões são fundamentais para lidar com fatores estressores, já
que estão relacionados com a capacidade de autocontrole e aprendizagem. Sendo
assim, a tendência é que indivíduos que são expostos a situações estressoras de
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forma persistente e frequente, piorem as suas condições, uma vez que com o passar
do tempo, vão perdendo a capacidade de regular emoções e lidar com novos eventos
estressores, já que passam a perder o controle sobre o eixo Hipotálamo – Hipófise –
Adrenais.
Como já mencionado, os efeitos do estresse também impactam o sistema
imunológico, uma vez que o desequilíbrio nas respostas ao estresse, que como já
apresentado são coordenadas pelo Sistema Nervoso Autônomo Simpático – SNAS e
pelo eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais, têm como consequências o desenvolvimento
de enfermidades, como depressão, câncer e doenças inflamatórias crônicas, além de
maior susceptibilidade a infecções causadas por microrganismos. Assim, especial
atenção tem sido dada ao estudo dos denominados “hormônios do estresse” e à
regulação do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais.
Tais consequências decorrem da alta concentração dos hormônios liberados
no organismo, em um estado de estresse crônico, o que acaba fazendo com que o
corpo “relaxe” as suas defesas, tornando difícil a resposta do sistema imunológico.
Assim, devido a essa inibição do sistema imunológico, o corpo perde a capacidade de
combater, com a mesma eficiência, os vírus, bactérias, o câncer, entre outras
doenças.
Segundo Pagliarone e Sforcin (2009) tanto o excesso quanto a inadequação da
resposta dos hormônios do estresse, estão associados com doenças, levando à
suscetibilidade a infecções e a doenças inflamatórias crônicas, autoimunes e
alérgicas. Assim, a ativação crônica do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais durante o
estresse pode afetar a susceptibilidade ou o grau das doenças infecciosas através do
efeito imunossupressivo dos glicocorticóides. Em contraste, a diminuída ativação do
eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenais está associada com alta suscetibilidade a doenças
autoimunes e inflamatórias crônicas.
Normalmente a reação de resistência é efetiva, ou seja, ela consegue auxiliar
o organismo a passar por um evento estressor e fazer com que o mesmo
posteriormente seja capaz de voltar ao estado inicial. Entretanto, pode ser que as
reservas energéticas do indivíduo se esgotem e nesse caso, o indivíduo entre em um
estado de exaustão.
Por isso, quando um corpo é submetido a eventos estressores prolongados,
acumulando altas concentrações de cortisol por muito tempo, aumenta-se a

19
predisposição para o desenvolvimento de patologias como hipertensão, diabetes,
osteoporose, entre outras, uma vez que começa a se observar uma diminuição da
massa muscular, da massa óssea, a supressão do sistema imunológico, bem como a
elevação da glicemia por tempo prolongado como foi apresentado acima.
Sendo assim, pode-se dizer que o problema com o estresse não está em um
caso isolado durante a semana, mas sim no somatório constante de situações
estressantes que se acumulam durante a rotina, sendo então, o estresse crônico o
verdadeiro problema para o organismo e para a saúde humana.

4 TRANSTORNOS RELACIONADOS AO ESTRESSE

Fonte: learningsg.com

Como se sabe, eventos estressantes são muito frequentes considerando a


sociedade em que vivemos na atualidade. Além disso, a alta exposição a esses
eventos, bem como a durabilidade dos mesmos, pode funcionar como gatilho para
alguns transtornos mentais, uma vez que o sofrimento psicológico após esses eventos
também tem sido frequente.
Dessa forma, Martins-Monteverde, Padovan e Juruena (2017) destacam que
devido a relevância do trauma no desencadeamento de psicopatologias na vida
adulta, lançou-se em 2013 a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-5), no qual consta uma seção específica para caracterizar

20
os quadros psiquiátricos relacionados a traumas, denominado de Transtornos
Relacionados a Traumas e a Estressores.
Conforme o manual, nessa categoria incluem-se: Transtorno de apego reativo,
Transtorno de Interação Social Desinibida, Transtorno de Estresse Pós-Traumático,
Transtorno de Estresse Agudo, Transtornos de Adaptação, Transtorno Relacionado a
Trauma e a Estressores Não Especificado e o Transtorno Relacionado a Trauma e a
Estressores Especificado. Como transtornos relacionados diretamente ao estresse
estão o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtorno de Estresse Agudo e o
Transtornos de Adaptação.

Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT

Refere-se a uma patologia mental que está englobada na esfera de ansiedade,


caracterizando-se por um conjunto de sintomas físicos, psíquicos e emocionais, os
quais decorrem da pessoa ter sido vítima ou testemunha de situações traumáticas,
que em geral representaram ameaça a própria vida ou a vida de terceiros.
A literatura tem mostrado que as memórias afetivas têm papel fundamental no
desenvolvimento humano, uma vez que as emoções impactam o processo de ensino
aprendizagem. Sendo assim, o indivíduo tende a gravar com mais força as
informações, quando as mesmas estão acompanhadas de estímulos afetivos. As
memórias negativas, no entanto, podem ser ainda ser mais marcantes, o que pode ter
relação com a secreção de hormônios durante o estresse, como é o caso do cortisol,
que ajuda a consolidar essas novas memórias, podendo inclusive, apagar memórias
antigas. É por isso, que algumas pessoas ao vivenciarem situações extremas, podem
desenvolver Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT.
Ao ser exposta a uma situação potencialmente traumática, o corpo e a mente
da pessoa entra em um estado de choque. Contudo, após um período de tempo,
quando a pessoa consegue compreender o ocorrido, e processar as emoções,
geralmente ela consegue sair dessa condição.
No entanto, em casos de TEPT, a pessoa permanece em estado de choque,
onde as memórias e as lembranças não possuem muita conexão, sendo necessário
que a pessoa enfrente as emoções para que consiga sair desse estado.

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Pessoas que passam por algum tipo de violência urbana ou doméstica, abuso
sexual, tortura, terrorismo, desastres naturais, assalto, sequestro, acidente, guerra,
entre outros eventos potencialmente traumáticos, podem desenvolver esse
transtorno. Entre os sintomas estão:

 Reexperimentação do evento traumático: A pessoa acaba lembrando ou


revivendo o evento traumático. Muitas vezes a pessoa tem pesadelos e
flashbacks, fazendo com que a mesma fique frequentemente nervosa, ansiosa
e se assuste facilmente.
 Evitação: A pessoa tenta evitar pensar ou lembrar do trauma vivenciado, ou
até mesmo, evitar trajetos, situações ou objetos que a faça relembrar o trauma.
A pessoa começa a fugir de tudo aquilo que a faça reviver o trauma.
 Hiperexitabilidade psíquica e psicomotora: refere-se a sensações físicas
como o aumento da frequência cardíaca, dor de cabeça, tontura, sudorese,
insônia, dificuldade de concentração e hipervigilância. Esses episódios podem
ocorrer a qualquer momento ou quando a pessoa se depara com um fator que
serve de gatilho.

São encontradas também algumas alterações nos aspectos cognitivos e no


humor da pessoa com TEPT. A nível cognitivo, além da dificuldade de concentração,
a pessoa pode apresentar amnésia ou lapsos de memória. Além disso, a pessoa
começa a desenvolver crenças negativas, passando a se culpar ou culpar terceiros o
que desencadeia um estado emocional negativo.
Segundo Soares, Santos e Donadon (2021) na população em geral,
prevalência do TEPT pode variar de 1% a 14%, atingindo principalmente as mulheres,
podendo essa porcentagem variar, dependendo da fase de desenvolvimento. Os
autores ainda mencionam que a etiologia do TEPT pode estar associada a um
conjunto de variáveis multifatoriais, a saber: componentes genéticos, ambientais ou
sociais e psicológicos.
O TEPT, de acordo com Martins-Monteverde, Padovan e Juruena (2017), pode
ter três formas de apresentação clínica, sendo a primeira a forma aguda, na qual os
sintomas duram de um a três meses após o evento traumático, a segunda à forma
crônica, onde os transtornos têm mais de três meses de duração e a última a forma

22
tardia, quando os sintomas começam a se manifestar a partir de seis meses após o
evento traumático.
Além disso, os autores afirmam que os fatores de risco do TEPT podem ser
divididos em pré-traumáticos, peritraumáticos e pós-traumáticos. Os fatores pré-
traumáticos possuem associação com problemas emocionais desenvolvidos na
infância durante os seis primeiros anos de vida, principalmente abusos, violência e
negligência na infância, transtornos mentais prévios, situação socioeconômico
desfavorável, problemas emocionais e ser do sexo feminino. Os fatores
peritraumáticos, incluem fatores associados ao evento desencadeante do transtorno,
ou seja, referem-se à gravidade do trauma, ameaça à vida e dissociação durante o
evento. Já os fatores pós-traumáticos, são aqueles que vão influenciar o transtorno
após o evento traumático como por exemplo, baixo apoio social, o desenvolvimento
de transtorno de estresse agudo, avaliações negativas do trauma e eventos
traumáticos adicionais.
Somado a isso, estudos tem apontado que a prevalência de comorbidades
para o TEPT varia entre 60 a 88,3% (MARTINS-MONTEVERDE; PADOVAN E
JURUENA, 2017), sendo as mais comuns a depressão, o transtorno por abuso de
substâncias, transtornos ligados a ansiedade, bem como o transtorno de conduta. Já
entre as doenças clínicas estão a hipertensão, doenças respiratórias e úlcera péptica.
Dessa forma, as comorbidades psiquiátricas representam um importante fator de risco
para gravidade e cronicidade do TEPT.
O tratamento medicamentoso pode ser favorável para o alívio de alguns
sintomas, como agitação, ansiedade, insônia e depressão (SOARES; SANTOS;
DONADON, 2021). Já os tratamentos psicoterápicos têm objetivo de evitar que a
memória traumática seja validada, sendo fundamental que o diagnostico seja feito o
mais rápido possível.

Transtorno de Estresse Agudo – TEA

O Transtorno de Estresse Agudo – TEA, surge quando o sujeito passa por uma
situação traumática, assim como na anterior. Caracteriza-se de acordo com Martins-
Monteverde, Padovan e Juruena (2017) pelo desenvolvimento de sintomas de medo
intenso ou sensação de impotência, típicos da reação mediante à exposição

23
traumática, envolvendo uma resposta de ansiedade, que também inclui a
reexperimentação do evento traumático, seja através de sonhos, pensamentos,
objetos e imagens, o que acarreta prejuízos significativos.
A principal diferença entre esse transtorno e o TEPT é o fator tempo. No TEPT
os sintomas precisam estar recorrentes por pelo menos um mês, enquanto no TEA os
sintomas devem ser recorrentes a menos de um mês. Ou seja, no TEA, os sintomas
surgem em até 4 semanas do evento estressor inicial, os sintomas duram pelo menos
3 dias e não duram mais de um mês.
De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais – DSM – 5, a manifestação clínica do transtorno de estresse agudo pode
variar dependendo do indivíduo, mas na maioria dos casos envolve uma resposta de
ansiedade que inclui formas de reviver o evento traumático.
Algumas pessoas podem apresentar um quadro dissociativo ou de
distanciamento, embora essas pessoas também apresentem geralmente forte
reatividade emocional ou fisiológica em resposta a lembranças do trauma. Contudo,
em outros casos, a pessoa pode apresentar uma resposta de raiva intensa na qual a
reatividade é caracterizada por respostas irritadiças ou possivelmente agressivas.
Sendo assim, é necessário que os sintomas estejam presentes por pelo menos
três dias após o evento estressor, além disso o diagnóstico só pode ser feito em até
um mês depois do trauma. Vale ressaltar que sintomas que ocorrem logo após o
evento traumático, mas desaparecem anteriormente aos três dias, não atendem aos
critérios para ser considerado transtorno de estresse agudo.
Para ser caracterizado como TEA, o evento precisa ser de natureza violenta ou
acidental, incluindo acidentes ou lesão grave e ataque pessoal violento. A
probabilidade de desenvolvimento do transtorno de estresse agudo aumenta, à
medida que a intensidade, bem como a proximidade física ao estressor aumentam.
Entre os sintomas estão: sentimento de anestesia ou embotamento emocional,
aumento de distração, sensação de estar fora da realidade, sentimento de
despersonalização, ou seja, sentir como se o evento não fosse com a pessoa e
amnésia de detalhes importantes do evento. São frequentes também o sentimento de
evitação, aumento de pensamentos negativos e da sensação de aflição, bem como
do estado de hipervigilância.

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É bastante comum também, que indivíduos com TEA apresentem problemas
de insônia, o que pode ter relação com os pesadelos ou excitação elevada que acaba
impedindo o sono adequado. Além disso, esses indivíduos acabam se irritando mais
facilmente, podendo apresentar comportamentos agressivos diante da menor
provocação.
Também conforme o DSM – 5, o transtorno de estresse agudo é
frequentemente caracterizado como uma hipersensibilidade a ameaças potenciais,
incluindo as relacionadas à experiência traumática, como é o caso de pessoas vítimas
de acidentes de trânsito, que podem ficar muito sensíveis a ameaças causadas por
qualquer automóvel, ou mesmo experiências se qualquer relação ao trauma.
Ademais, as pessoas em estado de TEA, comumente relatam dificuldades para
lembrar de eventos corriqueiros, como esquecer o próprio número de telefone, bem
como apresenta dificuldade em realizar atividades que exigem concentração. Elas
também podem ser bastantes reativas a estímulos inesperados, apresentando
comportamentos exagerados ao se assustarem.
Entre as principais comorbidades existente no TEA, o DSM-5 menciona que é
relativamente comum que indivíduos com TEA sofram ataques de pânico dentro do
primeiro mês após o evento traumático, sendo desencadeado pelas lembranças do
trauma ou até mesmo de maneira espontânea.
É importante salientar que o TEA pode ainda predispor ao desencadeamento
de TEPT. Deste modo, a pessoa com TEA apresenta graves prejuízos funcionais,
sociais, interpessoais e profissionais, já que os níveis extremos de ansiedade
interferem no sono, nos níveis de energia e consequentemente na capacidade de
realizar tarefas (MARTINS-MONTEVERDE; PADOVAN E JURUENA, 2017).
Dessa forma, a pessoa começa a se afastar de qualquer situação que
apresente um grau de ameaça, o que a leva a se ausentar de consultas médias, ao
trabalho, ou seja, ela passa a evitar até mesmo compromissos importantes.

Transtornos de Adaptação

São sinais e sintomas comportamentais ou emocionais que se manifestam nos


três primeiros meses após um evento estressor. Assim, conforme a DSM – 5, a

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presença de sintomas emocionais ou comportamentais em resposta a um estressor
identificável é o aspecto essencial dos transtornos de adaptação.
Nesse tipo de transtorno ocorre um desgaste mental que está associado a
mudança de rotina. Mudar de emprego ou de turno de trabalho e mudar de país são
exemplos de situações que podem gerar esse estresse e que acabam exigindo que a
pessoa passe por um processo de adaptação. Martins-Monteverde, Padovan e
Juruena (2017) afirmam que podem haver um ou múltiplos estressores, os quais
podem ser recorrentes ou contínuos e podem também afetar um único sujeito, uma
família ou um grupo como um todo, como é o caso de desastres ambientais.
O DSM-5 ressalta que o transtorno de adaptação pode ser diagnosticado em
casos em que a pessoa perde um ente querido, quando a intensidade, a qualidade e
a persistência das reações de luto acabam excedendo ao esperado normalmente,
considerando a cultura, religião e a idade do sujeito.
O manual ainda aponta que a perturbação nos transtornos de adaptação inicia-
se dentro de 3 meses do início do evento estressor e sua duração não é maior do que
6 meses, após o fim do evento e de suas consequências. Os prejuízos causados por
esse transtorno manifestam-se por meio da queda do desempenho profissional ou
acadêmico e por meio de mudanças temporárias nas relações sociais (MARTINS-
MONTEVERDE; PADOVAN; JURUENA, 2017).
Somado a isso, o DSM-5 aponta que o transtorno de adaptação pode
acompanhar grande parte dos transtornos mentais e qualquer distúrbio médico,
podendo ser diagnosticado junto a algum outro transtorno mental e também ser a
principal resposta psicológica a um distúrbio médico.
O transtorno de adaptação, pode apresentar sintomas depressivos, onde o
sentimento de tristeza, desânimo, desmotivação e choro fácil são frequentes.
Sintomas de ansiedade como a preocupação, nervosismo, tensão e inquietude,
também podem se manifestar, além de poder ocorrer um misto entre os sintomas
depressivos e de ansiedade.
Ainda conforme o manual, os transtornos de adaptação são comuns, embora a
prevalência possa variar de acordo com a população estudada e os métodos de
avaliação utilizados. A porcentagem de indivíduos em tratamento ambulatorial de
saúde mental com um diagnóstico principal de transtorno de adaptação vai de

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aproximadamente 5 a 20%. Em serviços de consultoria psiquiátrica hospitalar, com
frequência é o diagnóstico mais comum, chegando muitas vezes a 50%.
É importante lembrar que caso o estressor e suas consequências persistam, o
transtorno de adaptação pode manter-se presente e evoluir para a forma persistente.

5 RELAÇÃO ENTRE AMBIENTE E ESTRESSE

Fonte: vittude.com

Fontes de tensão e estresse, podem ser encontradas na rua, no ambiente de


trabalho, nos meios de comunicação, em casa e em variados outros espaços. Rotinas
cada vez mais intensas, trânsito caótico, falta de dinheiro, excesso de trabalho e a
baixa qualidade nos momentos de descanso e lazer são potencialmente fatores
estressores comuns no dia a dia da população mundial. Nesse sentido Sadir, Bignotto
e Lipp (2010) afirmam que diferentes autores acreditam que as mudanças no estilo de
vida têm deixado as pessoas debilitadas e vulneráveis ao estresse, principalmente por
não saberem como lidar com o mesmo.
Um dos ambientes em que o sujeito se encontra mais exposto a agentes
estressores é no trabalho. O profissional da era globalizada se encontra
frequentemente em situações que exigem do mesmo uma adaptação rápida. Além
disso, tem se observado que profissionais em que a atividade laboral demanda um
alto grau de responsabilidade, tomada rápida de decisões ou qualquer outro elemento

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que exija níveis satisfatórios de resultados, tem frequentemente renunciado ao
descanso e ao lazer, os quais são fundamentais para o corpo e a mente.
A competitividade, o medo de perder o emprego e a cobrança excessiva por
resultados, tem deixado o colaborador sob um estado constante de pressão. Devido
a essa pressão, ocorre um desgaste físico e emocional que se torna fator significativo
no desenvolvimento de transtornos de saúde relacionados ao estresse, como
depressão, ansiedade, síndromes e fobias.
O estresse ocupacional corresponde a um estado em que ocorre um desgaste
do organismo humano e/ou redução da capacidade de trabalho. Segundo Prado
(2016) são considerados agentes estressores os fatores extraorganizacionais e
organizacionais, individuais e de grupo. Além disso, a autora afirma que o diagnóstico
dos sinais e sintomas do estresse ocupacional é essencialmente clínico, baseado no
rastreamento individual e do risco nas situações de trabalho.
Entre as causas de estresse no ambiente de trabalho estão:
Competitividade exagerada: em ambientes onde a competitividade é
frequentemente incentivada, acaba se desenvolvendo uma atmosfera nociva aos
trabalhadores, uma vez que ao se exigir que os sujeitos atinjam metas, os mesmos
começam a enxergar uns aos outros como inimigos e não como parceiros.
Pressão excessiva: embora seja importante o estabelecimento de metas, bem
como objetivos que incentivem os colaboradores a trabalharem, torna-se fundamental
que as mesmas não ultrapassem os limites e passem a exigir demais dos
colaboradores, a ponto de também se tornarem nocivas.
Sobrecarga de trabalho: quando a pessoa precisa cumprir horário além
daquele que está previsto em lei ou também devido ao acumulo de funções, exigindo
que a pessoa tenha um maior desgaste físico e mental.
Metas inalcançáveis: quando as empresas não traçam e distribuem seus
objetivos e metas de forma inteligente, acaba sendo desencadeado um sentimento de
frustração e angustia em seus colaboradores, pois mesmo que eles se esforcem as
metas apresentam-se muito distantes da realidade, o que é pouco motivador.
Ausência de flexibilidade: ambientes muito rígidos também podem ser fonte
de estresse, uma vez que os sujeitos possuem vida fora do ambiente de trabalho o
que demanda que os mesmos tenham responsabilidades e necessidades pessoais.
Em ambientes onde a flexibilidade é reduzida, os colaboradores acabam se sentindo

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infelizes e acuados e a dificuldade em conciliar a vida pessoal e profissional, acaba
tornando-se um fator estressor.
Infraestrutura inadequada: considerando que o colaborador passa a maior
parte do dia no ambiente de trabalho, é importante que as condições materiais e
organizacionais do local sejam adequadas, uma vez que se torna difícil trabalhar em
locais onde a ventilação e a iluminação não estejam apropriadas, o que pode gerar
mal-estar e consequentemente, deixar o colaborador mais estressado.
Assédio e indelicadeza: ambientes onde prevalece uma conduta hostil e
indesejada, onde comentários e gestos acabam minando a dignidade do colaborador
também devem ser observados, uma vez que o assédio moral, bem como o sexual,
pode acarretar danos psicológicos e físicos a pessoa que sofre.
Autoritarismo do chefe: chefes ou líderes despreparados, que trabalham de
forma autoritária, desenvolvendo um relacionamento abusivo com seus
colaboradores, acabam gerando adoecimento nos membros da equipe e na empresa
de forma geral.
As consequências dos altos níveis de estresse podem ser percebidas de
acordo com Sadir, Bignotto e Lipp (2010) pelas licenças médicas e absenteísmo,
queda de produtividade, desmotivação, falta de envolvimento com o trabalho e a
organização, excesso de visitas ao ambulatório médico e farmacodependência. O
estresse organizacional é considerado como um dos riscos mais sérios ao bem-estar
psicossocial do indivíduo e é uma fonte constante de preocupação, pois coloca em
risco a saúde dos trabalhadores de uma organização, ambiente no qual a maioria das
doenças é de fundo psicossomático ou estão relacionadas ao estresse.
Os excessos que decorrem da rotina intensa podem levar o colaborador a um
estado de esgotamento, chamado de síndrome de burnout, que decorre de um estado
de estresse prolongado.

5.1 Síndrome de Burnout

Essa síndrome, caracteriza-se como um distúrbio emocional que possui


sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico que são resultados de
situações de trabalho desgastantes, que demandam muita competitividade ou

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responsabilidade. Assim, o excesso de trabalho é apontado como a principal causa
da doença.
O termo burnout, traduzido do inglês significa queimar lentamente, até o fim, e
tem relação com o desgaste emocional que impacta nos aspectos físicos e emocionais
do indivíduo. A síndrome de burnout foi descrita por Freudenberger como um distúrbio
psíquico relacionado ao esgotamento profissional, acarretado por condições de
trabalho desgastantes e em excesso e por conflitos interpessoais com os colegas de
trabalho e demais pessoas envolvidas nele (1974 apud ROSSI et al., 2010). É uma
síndrome considerada no mundo organizacional como um grande problema e
responsável, dentre outras coisas, pela diminuição do interesse em trabalhar.
Dessa forma, a síndrome de burnout é uma síndrome psicológica que envolve
uma reação prolongada à tensão emocional crônica e que se dá em três dimensões,
cujas reações são exaustão devastadora, sensação de ceticismo e desligamento do
trabalho, sensação de ineficácia e falta de realização. Essas dimensões (LEITER;
MASLACH, 2005), caracterizam-se como:
Dimensão da exaustão: os trabalhadores sentem-se esgotados, sem energia
e reclamam de estarem sobrecarregados de trabalho. Essa exaustão tem como fontes
principais a sobrecarga de trabalho e o conflito pessoal no trabalho.
Dimensão do ceticismo: refere-se à sensação negativa e insensível aos
diversos aspectos do trabalho. Normalmente, desenvolve-se como uma resposta à
sobrecarga de exaustão emocional, ou seja, atua como uma proteção emocional.
Diante da carga excessiva de trabalho, o trabalhador começa a se retrair e a reduzir
o que está fazendo. Esse desligamento do trabalho pode incorrer na perda do
idealismo e na desumanização dos outros, ou seja, com o passar do tempo, essa
proteção e a diminuição do trabalho se transformam em uma reação negativa do
trabalhador em relação às pessoas e ao trabalho. Conforme o ceticismo vai se
desenvolvendo, o trabalhador vai deixando de fazer o melhor para fazer o mínimo, isto
é, diminui o tempo que passa no trabalho e o esforço e a dedicação a ele. Com isso,
o desempenho cai e o trabalhador acaba fazendo o mínimo para garantir seu salário.
Dimensão da ineficácia: refere-se ao sentimento de incompetência, de falta
de realização profissional e de produtividade no trabalho. Esse sentimento é disparado
pela falta de recursos para a execução do trabalho e pela falta de apoio social e de
oportunidades para se desenvolver profissionalmente. Os indivíduos que vivenciam

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essa dimensão do burnout sentem-se como se tivessem cometido um erro na escolha
de sua carreira e passam a se autocriticar e a ter uma ideia negativa de si mesmo e
dos outros.
Uma importante questão a ser abordada é que a ocorrência de burnout em um
indivíduo depende de diferentes fatores individuais, que incluem a maneira como ele
enxerga o seu trabalho, além de características culturais e da organização do trabalho.
Isso significa que cada trabalhador tem sua individualidade, ou seja, nem todos que
são expostos à sobrecarga excessiva desenvolverão burnout, pois depende, ainda,
de como o trabalhador percebe o seu trabalho e de como os fatores estressores
podem influenciar na rotina.
Alguns estudos têm demonstrado que a doença tende a se desenvolver em
pessoas com baixa autoestima, baixos níveis de resistência, comportamento de risco
e que apresentam traços de ansiedade, hostilidade, depressão, insegurança e
vulnerabilidade, ou seja, aspectos relacionados ao neuroticismo. Essas pessoas
encaram as situações estressantes de forma passiva e defensiva e são
emocionalmente instáveis e passíveis de distresse psicológico, ou seja, são pessoas
que correm maior risco de desenvolver a síndrome de burnout. Os sintomas da
síndrome de burnout podem ser físicos ou psíquicos, como, por exemplo, dores no
corpo, cansaço, desânimo, apatia, desinteresse, irritabilidade, alterações no sono e
no apetite, além de tristeza excessiva.
É importante destacar que a síndrome foi identificada no mundo do trabalho,
mais precisamente nas áreas de assistência, como saúde, saúde mental, assistência
social, sistema judiciário penal, profissões religiosas, de aconselhamento e no ensino.
Nessas áreas de atuação, a necessidade dos outros é colocada em primeiro lugar, e
isso exige muito trabalho, abnegação, contato pessoal e emocional intenso e fazer o
que for preciso para ajudar o outro. Assim, profissionais da área de saúde, professores
e policiais possuem grande propensão a desenvolver a síndrome (LEITER;
MASLACH, 2005).
Outro aspecto que deve ser destacado é que o problema que causa a síndrome
não surge em decorrência de falha pessoal, e, sim, da falta de afinidade do indivíduo
com aspectos de seu trabalho, como a sobrecarga de trabalho, falta de controle,
recompensas insuficientes, ruptura na comunidade, falta de justiça e conflitos de valor.
Dessa forma, o acúmulo de atividades e de responsabilidades, bem como o alto nível

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de exigências e pressões por parte das empresas, pode desencadear os primeiros
sintomas da síndrome. Nesse contexto, três aspectos principais se manifestam: o
esgotamento físico e mental, a sensação de impotência e a falta de expectativas.
Cabe destacar que, quanto maior for a incompatibilidade entre o trabalhador e
seu trabalho, maior é a probabilidade de desenvolver burnout. Por outro lado, quanto
menor for essa incompatibilidade, maior será o nível de comprometimento com o
trabalho (ROSSI et al., 2010). Como fatores de incompatibilidade destacam-se:
Sobrecarga de trabalho: é um dos principais preditores da dimensão de
exaustão do burnout. O trabalhador sente que tem muito trabalho a realizar e pouco
tempo e recursos para isso. Pessoas com sobrecarga de trabalho, normalmente
sentem um desequilíbrio entre tal sobrecarga de trabalho e a vida pessoal, uma vez
que, muitas vezes, acabam sacrificando momentos em família para concluir o
trabalho.
Falta de controle: o trabalhador não tem controle sobre diversos aspectos que
podem interferir no trabalho, como por exemplo, demissão, mudanças na gerência,
alterações do quadro funcional, necessidade de trabalhar fora da empresa, de viajar,
de trabalhar fora do horário de expediente, entre outros. Essas situações causam
impactos significativos sobre os níveis de estresse e burnout.
Recompensas insuficientes: o trabalhador acredita que não está sendo
adequadamente recompensado pelo trabalho exercido e pelo desempenho
apresentado. Isso se refere não somente ao salário e aos benefícios recebidos, mas
também ao reconhecimento pela qualidade do trabalho e o esforço empreendido para
a sua realização. O reconhecimento positivo sobre o trabalho realizado é fundamental
para prevenir o bunout.
Ruptura na comunidade: refere-se às relações entre as pessoas no ambiente
de trabalho, como a falta de apoio e confiança e conflitos não resolvidos. A quebra do
senso de comunidade gera hostilidade e concorrência, dificultando a resolução dos
conflitos, o que eleva os níveis de estresse e burnout, dificultando a realização do
trabalho.
Falta de justiça: refere-se à falta de justiça e igualdade no local de trabalho,
situações que levam a raiva e hostilidade, fazendo com que o trabalhador se sinta
tratado com desrespeito.

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Conflitos de valor: acontece quando há uma incompatibilidade entre os
valores da empresa e os valores pessoais. Ou seja, há um conflito, por exemplo, entre
o que o trabalhador quer fazer e o que ele tem que fazer. Assim, o trabalhador precisa
agir de uma forma com a qual não concorda para realizar o trabalho, havendo, assim,
um conflito de valores.
Além das problemáticas apresentadas acima, a síndrome torna-se preocupante
porque pode gerar custos não só para os funcionários, mas também para as
empresas. Muitas vezes, os gerentes não dão a devida importância para os sintomas
de estresse e esgotamento apresentados pelo trabalhador. De modo geral, ao
identificar tais sintomas, os gerentes pensam que se trata de um dia ruim na vida do
trabalhador, considerando que esse é um problema seu, e não da empresa.
Muitas pesquisas revelam que o estresse no trabalho indica uma piora no
desempenho do trabalhador, problemas nos relacionamentos com a família e de
saúde. Por exemplo, o auge da síndrome pode causar uma crise física e emocional
que, muitas vezes, requer um atendimento médico com intervenção medicamentosa
e psicoterapia. Um funcionário com burnout apresenta padrões mínimos de trabalho,
passa a ter um desempenho bem abaixo da média e queda na qualidade da
produtividade. Além disso, comete mais erros, torna-se menos cuidadoso e apresenta
baixo nível de criatividade na resolução de problemas, aspectos que podem gerar
altos custos para as empresas (ROSSI et al., 2010).
Os problemas emocionais e psíquicos relacionados ao trabalho, como é o caso
da síndrome de burnout, acabam desencadeando outras doenças, causando sintomas
como dores no corpo, cansaço, desânimo, apatia, desinteresse, irritabilidade,
alterações no sono e no apetite, tristeza excessiva, entre outras. Entre os prejuízos
gerados a empresa estão o absenteísmo (falta ao trabalho), alta rotatividade (grande
fluxo de entrada e saída de profissionais na empresa), afastamento por doenças,
conflitos interpessoais, acidentes de trabalho, e outros (ROSSI et al., 2010).
Não existe receita pronta para resolver o problema das doenças do trabalho.
Cada organização é única e conta com estruturas e processos diferenciados. No caso
de identificação de estresse e burnout, por exemplo, é preciso avaliar os seus
impactos e consequências na saúde do trabalhador e nos resultados da organização,
com a participação dos gestores de pessoas, psicólogos, médicos do trabalho, entre
outros, pois, como apontam Rossi et al (2010) para cada caso, haverá uma solução

33
ou ação específica que deve ser buscada com a participação do trabalhador
envolvido.
É importante que seja dada uma atenção maior ao comportamento e ao
desempenho do trabalhador, ou seja, a como ele está se relacionando com seu líder,
com seus colegas e seus clientes, se a sua relação com os outros é respeitosa, se
está conseguindo executar suas atividades diárias dentro do prazo estabelecido, se
cumpre normalmente seu horário de trabalho, se participa com contribuições
significativas nas reuniões com seu líder e equipe, se consegue atingir as metas
estabelecidas, entre outros.
Observar esses fatores facilita na identificação de situações de estresse, pois
cabe destacar que, se a empresa cobra tanto do profissional, deve estar atenta a
esses e outros aspectos. Por sua vez, Rossi et al (2010) mencionam que é preciso
avaliar se a empresa oferece boas condições de trabalho e disponibiliza os recursos
necessários para a sua realização, como ela remunera, recompensa e valoriza seus
trabalhadores, se as metas estabelecidas para os trabalhadores são factíveis, se o
trabalho é significativo para o trabalhador e se este possui autonomia e
responsabilidade para sua execução, se a empresa investe e estimula relações
pessoais saudáveis, se gerencia os níveis de estresse no ambiente de trabalho, se a
comunicação com os trabalhadores é clara e transparente, entre outros.
Nesse mesmo sentido Prado (2016) destaca que práticas gerenciais do
ambiente de trabalho, colaboram para que os níveis de estresse sejam controlados,
uma vez que quando bem elaboradas, podem melhorar a comunicação, a seleção
adequada de funcionários para o cargo, além de estimular a participação e
capacitação dos funcionários.
Assim, podemos concluir que a manutenção da saúde do trabalhador dentro da
empresa é fundamental, pois, além de oferecer ao trabalhador maior qualidade de
vida no trabalho, traz para a empresa maior produtividade e obtenção dos resultados
esperados, uma vez que trabalho e saúde não se dissociam. Nesse sentido, o
psicólogo organizacional atua na prevenção de adoecimentos relacionados ao
trabalho.

34
5.2 Ações que podem reduzir casos de doença mental no trabalho

Devido à alta prevalência de doenças relacionadas ao trabalho, instituições e


empresas tem se atentado para a promoção de um ambiente de trabalho adequado
como forma de prevenir essas doenças. É necessário que colaboradores, gestores e
patrões se sensibilizem sobre a importância da promoção de um ambiente de trabalho
saudável, com a menor quantidade de estressores possível, pois, além de prevenir
doenças, esse cuidado ao trabalhador pode reduzir impactos na previdência e na
economia das próprias instituições, o que influencia no desenvolvimento do país.
Em relação ao Poder Púbico, a atenção à saúde do trabalhador é garantida na
Constituição Federal de 1988, em seu art. 200, o qual define (BRASIL, 1988,
documento on-line):

Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos


da lei: [...] II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem
como as de saúde do trabalhador; [...] VIII – colaborar na proteção do meio
ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Nesse sentido, cabe ao Poder Público investigar e apresentar a situação de saúde


dos trabalhadores no país e, a partir desses dados, desenvolver e garantir a
implementação de políticas e programas capazes de garantir o direito à saúde do
trabalhador, uma vez que o adoecimento dessa população causa fortes impactos na
economia do país.
Para que se crie e propicie um ambiente de trabalho saudável e favorável ao bem-
estar do trabalhador, é necessário que se desenvolvam estratégias e políticas
institucionais e governamentais sobre a temática. Um ambiente adequado de trabalho
só pode ser construído com a colaboração de gestores, trabalhadores e todos os
envolvidos nesse meio.
Em guia publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WORLD ECONOMIC
FORUM, 2016, documento on-line), são sugeridas três grandes áreas de abordagem
a serem realizadas pelas instituições/organizações para que se garanta a saúde
mental dos trabalhadores:
Proteção da saúde mental, por meio da redução dos fatores de risco para
problemas de saúde mental relacionados ao trabalho: essa abordagem pode ser
realizada com intervenções para proteger a saúde mental, as quais abrangem desde
políticas organizacionais que reduzem a pressão no local de trabalho, por exemplo,
35
por meio do aumento do controle do trabalho para os funcionários, até intervenções
individuais com o intuito de reduzir o estresse e aumentar a resiliência.
Promoção da saúde mental: isso pode ser feito por meio do desenvolvimento
dos aspectos positivos do trabalho, bem como as forças do trabalhador e suas
capacidades positivas, a estimulação de práticas positivas no local de trabalho como
forma de assegurar que o trabalho é significativo, a implementação de práticas de
liderança positivas ou a criação de um clima organizacional positivo.
Abordagem dos problemas de saúde mental entre os trabalhadores,
independentemente da causa: as instituições e organizações podem implementar
programas que aumentem o conhecimento em saúde mental dos funcionários, de
modo que aprendam a reconhecer os problemas de saúde mental, além de promover
a busca por auxílio quando algum sinal ou sintoma for identificado.
Walton (1973) propõe que a promoção da saúde mental no trabalho depende da
qualidade de vida que o trabalhador apresenta. O Modelo de Qualidade de Vida no
Trabalho proposto por Walton, apresenta oito categorias, as quais, quando garantidas
ao trabalhador no seu processo de trabalho, tornam-se um norte para a elaboração e
implementação de ações para melhoria da qualidade de vida no trabalho e
consequente redução do acometimento por doenças mentais (MÔNACO;
GUIMARÃES, 2000). Tais categorias são:
 Compensação justa e adequada: compreende a oferta de remuneração
condizente com as atividades exercidas pelo trabalhador. Os critérios que
compreendem essa categoria incluem a renda adequada ao trabalho, a
equidade interna e a equipe externa. Ações que podem ser feitas nesse
âmbito incluem oferecer remuneração digna aos trabalhadores, adequada
às funções exercidas e à carga horária de trabalho.
 Condições de trabalho: essa categoria aborda as condições às quais o
trabalhador está submetido. Aqui se inserem ações com a finalidade de
garantir jornada de trabalho compatível com as atividades exercidas, além
da oferta de condições que favoreçam bem-estar e saúde e reduzam o
risco de doenças ou acidentes.
 Uso e desenvolvimento de capacidades: tal categoria se traduz nas
oportunidades que o trabalhador tem para empregar seus conhecimentos
e suas habilidades. Pode ser fortalecido por meio da promoção da

36
autonomia do indivíduo, além de oferecer possibilidades para que ele
possa usar sua capacidade.
 Oportunidades de crescimento e segurança: são as oportunidades de
crescimento e desenvolvimento do trabalhador dentro da instituição/
organização. Estratégias que ofereçam oportunidade de crescimento na
carreira, além da oferta de segurança no trabalho, são algumas ações a
serem desenvolvidas.
 Integração social na organização: compreende a promoção do sentimento
de igualdade entre os trabalhadores, evitando estruturas hierárquicas e
discriminações, além de fortalecer o relacionamento e o companheirismo
entre os trabalhadores.
 Constitucionalismo: visa a garantir o respeito aos direitos dos
trabalhadores. O respeito às leis e aos direitos do trabalhador, além da sua
privacidade pessoal e liberdade de expressão, é uma ação que pode ser
realizada.
 O trabalho e o espaço total da vida: essa categoria defende a existência de
um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, como fator primordial para
garantir a qualidade de vida, uma vez que se deve considerar, que o
trabalhador tem necessidades de lazer e convivência em família.
 Relevância social da vida no trabalho: aborda a percepção do trabalhador
sobre o local onde trabalha, já que uma imagem positiva estimula o
indivíduo a ir todos os dias ao trabalho. Assim, a promoção de uma imagem
positiva da empresa é fundamental, no entanto, é necessário que a
empresa se responsabilize socialmente por suas ações, pelos seus
empregados, além dos serviços e dos produtos por ela oferecidos.
Alguns outros exemplos de ações que as empresas têm desenvolvido para
promover a saúde mental no local de trabalho incluem, ainda, parceria com
instituições e empresas relacionadas a cultura e lazer como academia, clubes
recreativos, cinemas, dentre outros locais. Gestores das grandes empresas já
perceberam que o investimento em ações que promovam a qualidade de vida resulta
em melhorias nas taxas de absenteísmo por adoecimento, o que, consequentemente,
melhora o desempenho da empresa.

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6 COMO LIDAR COM O ESTRESSE

Fonte: www.vittude.com

Como se sabe, fugir de situações estressoras é quase impossível,


considerando a realidade em que nos encontramos. Dessa forma, alguns fatores vão
influenciar na forma de enfrentamento do estresse. Um dos fatores, refere-se à
prevalência de experiências pregressas que o indivíduo teve com o fator estressor.
Um bom exemplo é a realização de provas, onde algumas pessoas sentem-se
preparas para lidar com tal situação, por já terem sido submetidas a processos
avaliativos por um determinado período de tempo, então já sabem identificar os
processos de realização da mesma. Entretanto, existem também pessoas que pouco
se submeteram a processos avaliativos e sentem-se assustadas ao realiza-los ou não
desenvolveram formas de lidar com essa situação.
Outro fator, refere-se as habilidades de enfrentamento, ou seja, a habilidade de
se defender psicologicamente em momentos de estresse ao longo da vida. A força
dos sistemas fisiológicos para defender o corpo contra o estresse que a pessoa não
consegue enfrentar psicologicamente, também se apresenta como um fator, uma vez
que a pessoa pode adoecer mais ou menos, dependendo das condições imunológicas
e físicas em que se encontra.

38
Além disso, a forma como a pessoa lida com a doença quando ela ocorre,
também diz de um fator de enfrentamento de estresse, a qual pode referir-se a um
comportamento de recuperação ou da busca por ajuda médica. Quando uma pessoa
percebe que algo não vai bem com o corpo, como por exemplo uma queimação no
estômago e resolve realizar mudanças alimentares ou procurar um médico com
intuído de tratar o mal-estar, dificilmente ela vai desenvolver uma úlcera, por exemplo.
Todavia, se a pessoa ignora os sintomas e continua com hábitos prejudiciais, a
presença do estresse contribui para o adoecimento.
Entre algumas medidas que podem ser adotadas para uma melhor
administração do estresse, a identificação do fator estressor, apresenta-se como uma
das principais ações. Entender qual é o fator estressor, reconhecer os sintomas,
identificar seus limites de resistência, ou seja, saber o que tem causado o problema,
bem como a necessidade de intervenção médica é um importante passo para lidar
com o estresse e suas causas.
Ao identificar uma situação de limite é importante que a pessoa procure um
profissional de saúde mental, e relate ao mesmo, possíveis situações causadoras de
estresse, para que o mesmo possa auxiliar na identificação dos estressores e indicar
o melhor tratamento, os quais podem ou não envolver fármacos.
Uma outra medida para lidar com o estresse é iniciar práticas e técnicas de
relaxamento, como meditação, yoga ou qualquer outra prática relaxante. Esse tipo de
prática, nada mais é do que um exercício de foco, de atenção. Ao realizá-la a pessoa
consegue prestar atenção na respiração, no próprio corpo e também controlar os
pensamentos. Ao conseguir acalmar os pensamentos, a pessoa consegue organiza-
los e passa a enxergar as situações com maior clareza.
A prática regular de outras atividades físicas, também proporcionam benefícios
ao organismo, melhorando as funções cardiovasculares e respiratórias, queimando
calorias, ajudando no condicionamento físico e induzindo a produção de substâncias
naturalmente relaxantes e analgésicas, como a endorfina.
Dedicar-se a algum robby que demande atenção, também pode ser positivo
para administrar o estresse, uma vez que destinando um tempo para realizar algo que
goste, a pessoa pode se levada a esquecer dos fatores e situações que lhe causam
estresse. Vale ressaltar que essas válvulas de escape devem ser saudáveis, pois
muitas vezes as pessoas acabam aumentando o consumo de álcool, drogas, jogos,

39
que acabam se tornando um novo vício e contribuindo para o aumento dos níveis de
estresse.
Entender o poder da respiração é também uma ferramenta importante para
conseguir administrar o estresse. Em situações de estresse elevado, mesmo que sem
perceber, a pessoa passa a respirar de forma mais ofegante, chamada de
hiperventilação. Dessa forma, quando a pessoa consegue controlar a respiração é
como se fosse enviado ao cérebro uma mensagem de que a pessoa está calma.
Sendo assim, ao notar que os níveis de estresse estão aumentando, a pessoa deve
policiar a respiração, fazendo-a de forma mais lenta para que consiga se
reestabelecer os níveis normais de frequência cardíaca e pressão arterial, bem como
regular as toxinas liberadas no sangue.
Outra medida importante é cultivar uma nova forma de olhar para os problemas
do dia a dia. Como já mencionado, a forma como a pessoa interpreta o fator estressor
está relacionada com os impactos que o mesmo terá sobre ela. Por exemplo: o sujeito
pode enxergar uma reunião com um cliente como um momento de provação, ou pode
enxergar como uma oportunidade de mostrar suas habilidades e conhecimentos. Na
primeira, ele está cercado de sentimentos negativos e estressantes, enquanto na
segunda encontra-se mais tranquilo e otimista. Dessa forma, desenvolver a habilidade
de ter uma visão mais positiva sobre os acontecimentos do dia a dia torna-se um
aliado no controle do estresse, ressaltando que muitas vezes, tudo é questão de ponto
de vista e que fatores estressores podem ser positivos.
Aceitar o que não pode ser mudado, também é uma forma de lidar com fatores
estressores, uma vez que lutar mentalmente contra o que não pode ser mudado não
vai trazer benefício, mas sim, contribuir para um desgaste desnecessário.
A qualidade do sono também influencia nos níveis de estresse, tornando-se por
vezes, alimento para situações estressoras, uma vez que os altos níveis de estresse
podem desencadear insônia, pois os pensamentos ficam latentes, impedindo que a
pessoa consiga relaxar e adormecer. Assim, ficar atento a qualidade do sono torna-
se uma forma de lidar com o estresse, já que dormir bem e dormir o suficiente, o que
corresponde a sete ou oito horas dormidas, muitas vezes pode ser a solução para
variados problemas do cotidiano.
Prestar atenção na alimentação também é um fator importante, principalmente
porque durante o processo de estresse, o organismo pode perder variados nutrientes

40
e vitaminas. Dessa forma, adotar hábitos de alimentação saudáveis eleva a
imunidade, ajudando a pessoa a se tornar mais resistente aos fatores estressores.
Outra dica para administrar o estresse é abandonar o perfeccionismo, uma vez
que isso acaba exigindo muito do sujeito, levando-o a trabalhar constantemente no
limite, o que ao longo do tempo acaba se tornando tóxico. Falhar é algo comum e
importante para o desenvolvimento humano, assim, é fundamental que não se
confunda perfeccionismo com o desejo de dar o melhor de si, pois muitas vezes o
perfeccionismo envolve metas irreais, enquanto o desejo de dar o seu melhor, embora
também exija esforço, acontece dentro dos limites do sujeito.
Aprender a gerenciar o tempo é uma outra medida a ser adotada para
administrar os níveis de estresse. Assumir muitos compromissos ou querer realizar
muitas tarefas simultaneamente, dificilmente vai contribuir para que a pessoa se
mantenha calma e focada. Além disso, a pessoa tende a abandonar práticas
saudáveis que auxiliam na manutenção do controle de estresse como atividades
física, sono adequado, alimentação saudável, entre outros. Nessa perspectiva, evitar
agendar muitos compromissos no mesmo dia, priorizar compromissos mais urgentes,
fracionar os projetos e delegar funções a terceiros são algumas estratégias para
gerenciar melhor o tempo.
Cuidar das relações sociais também é um passo importante para aprender a
gerenciar o estresse, uma vez que frequentemente as pessoas tem se submetido a
relacionamentos abusivos em diferentes âmbitos da vida. Assim, priorizar bons
relacionamentos no ambiente familiar, de trabalho, social, é importante para que os
momentos de interação sejam prazerosos e não desgastantes, bem como o
afastamento de pessoas que são fontes de estresse e desgaste emocional.
No ambiente de trabalho, como já tratado, a cobrança e a necessidade de lidar
com prazos são alguns dos principais fatores estressores. Nesse sentido, estabelecer
uma boa comunicação com os gerentes, líderes e colegas de equipe, visando
esclarecer as expectativas, podem melhorar significativamente o trabalho de uma
forma geral, o que impacta positivamente nos níveis de estresse. O gerenciamento de
tempo e atividades também deve ser realizado no ambiente de trabalho, para evitar
que o serviço se acumule e que a pessoa acabe se sentindo ainda mais pressionada
a entregar as suas atividades.

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É importante também que a pessoa desenvolva um ambiente propicio para o
trabalho, priorizando um ambiente organizado, selecionando os itens que são
necessários e quais podem ser removidos, mantendo um espaço limpo e conservado.
Essa medida é válida também para a organização de ambientes virtuais, considerando
o aumento crescente de trabalho com as novas tecnologias. Nesses casos é
fundamental que a pessoa identifique não apenas as ferramentas que estejam
auxiliando no trabalho, mas também aquelas que estejam atrapalhando e consumindo
a energia e atenção do mesmo.
Outro passo importante para melhor gerir o estresse no ambiente de trabalho é
encontrar harmonia com as pessoas ao seu redor. Se a pessoa trabalha melhor em
silêncio é importante que ela identifique isso e converse com o seu líder ou gestor
para que possam encontrar uma solução em conjunto. Mas caso, seja uma pessoa
que trabalhe melhor em grupo é importante que mantenha um bom relacionamento
com os demais.
Essa questão das relações no ambiente de trabalho vale também para planejar
os momentos de descanso. As pausas ao longo do período de trabalho, são muito
importantes para que a pessoa consiga se manter no controle, tornando o dia mais
produtivo e também diminuindo os níveis de estresse, uma vez que essas pausas
funcionam como momentos de autocuidado.
Dessa forma, pode-se entender que entre os elementos que ajudam a lidar com
o estresse estão:
Físicos: Técnicas de relaxamento, alimentação adequada, exercícios físicos
regulares, repouso, lazer, diversão, medicação se necessário.
Psíquicos: Métodos psicoterapêuticos, processos de autoconhecimento,
tempo livre de qualidade com atividades prazerosas, avaliação periódica da qualidade
de vida, reavaliação dos limites, tolerâncias e exigências, busca de convivência menos
conflituosa com pares.
Sociais: Revisão e redimensionamento das formas de organização de
trabalho, maiores informações sobre os problemas médicos e sociais, planejamento
econômico, social e de saúde.
De modo geral, aprender a administrar o estresse traz benefícios significativos
para a vida das pessoas no mundo moderno, uma vez que o estresse é um subproduto

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da vida cotidiana e eliminá-lo definitivamente é impossível. Sendo assim, aprender a
lidar com o estresse permite que a pessoa:
 Ganhe mais controle sobre os acontecimentos diários
 Controle suas reações aos eventos estressores
 Desenvolva seu lado criativo
 Aprenda a focar e se concentrar para finalizar tarefas de forma mais
eficiente
 Aprenda a focar nas coisas que ela pode mudar, diminuindo os efeitos
negativos do estresse no dia a dia.
 Fique menos propensa a adoecimentos oriundos do estresse
 Tenha relacionamentos mais saudáveis dentro e fora do ambiente de
trabalho

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