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ANSIEDADE
RESUMO
Neste artigo são revisados o conceito de ansiedade e os instrumentos utilizados para a sua avaliação. São
comparadas as características das escalas clínicas e de auto-avaliação de ansiedade mais utilizadas, tendo
como referência os tópicos avaliados: humor, cognição, comportamento, estado de hiperalerta, sintomas
somáticos e outros, além da separação ansiedade, traço e estado. O modelo de três partes de Watson e
Clark (1984), e os conceitos de afeto negativo e afeto positivo são apresentados como uma proposta para
entender a superposição e correlação entre escalas para avaliação de ansiedade e depressão.
ABSTRACT
The authors reviewed the anxiety construct and instruments design to assess it. Comparisons of the
features of self and clinical rating scales currently in use with reference of topics as mood, cognition,
behaviour, hiper arousal, somatic symptoms and others, as well as the trait-state constructs. The tripartite
model proposed by Watson e Clark (1984) and the concepts of negative and positive affects are presented
to better understand the correlation of anxiety and depression assessment instruments.
Key words: Rating Scales; State- Anxiety; Trait- Anxiety; Positive Affect; Negative Affect
O QUE É ANSIEDADE
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Além disso, Lewis (1979) salienta que existem manifestações corporais involuntárias,
como secura da boca, sudorese, arrepios, tremor, vômitos, palpitação, dores abdominais
e outras alterações biológicas e bioquímicas detectáveis por métodos apropriados de
investigação. Esse mesmo autor lista alguns outros atributos que podem ser incluídos na
descrição da ansiedade. A ansiedade pode:
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Quando uma determinada escala for escolhida para medir a ansiedade, deve-se ter em
conta quais aspectos a escala em questão estará medindo. Existem escalas que medem a
ansiedade normal e escalas que medem a ansiedade patológica. Uma outra distinção
importante está entre escalas ou instrumentos com finalidade diagnóstica e escalas de
quantificação de intensidade ou gravidade em sujeitos já diagnosticados, utilizadas para
avaliação de tratamentos. A interpretação dos resultados pode ser muito diferente se
uma escala ou outra for utilizada. É necessário dispor-se das informações básicas a
respeito dos valores normativos em diferentes grupos (idade, sexo, grupo étnico,
presença ou não de diagnóstico) e sensibilidade da escala a mudanças. Porém, em
muitos estudos a escolha das escalas é feita aleatoriamente, sem qualquer referência ao
que se pretende medir e às propriedades psicométricas das escalas utilizadas.
Além disso, tanto em sujeitos normais, como em pacientes, é útil a distinção entre
ansiedade–traço e ansiedade–estado. A concepção dualística de ansiedade como traço e
estado foi proposta primeiramente por Cattell e Scheier (1961) e é a base do Inventário
de Ansiedade Traço-Estado de Spielberger et al. (1970). A distinção entre ansiedade
traço e ansiedade estado pode ser feita tanto em normais como em pacientes. É de
particular importância que se determine se uma escala vai medir traço, i.e., uma
condição mais permanente, característica do indivíduo, ou se a avaliação do estado
ansioso será feita em um determinado instante, diante de determinada situação. As
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Convém lembrar que os autores que trabalham com essa distinção consideram o
construto ansiedade unidimensional. Numerosos estudos utilizando o IDATE
confirmaram a presença dos dois fatores ansiedade–traço e ansiedade–estado, tanto em
amostras clínicas, como em não-clínicas (Oei et al., 1990). Por outro lado, Tenenbaum
et al. (1985), usando um modelo de variável latente, não encontraram uma diferenciação
precisa entre traço e estado devido à alta correlação de determinados itens que compõem
as escalas.
B. escalas de auto-avaliação:
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Uma outra possibilidade é que essa superposição seja devida a limitações psicométricas
das escalas utilizadas. Por exemplo, Endler et al. (1992), aplicando várias escalas de
ansiedade e depressão em uma amostra de 605 estudantes universitários, encontraram
uma alta correlação entre depressão e ansiedade medidas pelo Inventário de Depressão
de Beck (BDI) e o IDATE (correlação variando de 0,35 a 0,70). Por outro lado,
utilizando uma escala multidimensional de ansiedade (EMAS—ver abaixo) e o BDI, a
correlação foi consideravelmente menor (correlação variando de – 0,4 a 0,4). Outros
autores, replicando os achados de Gotlib (1984), concluem que essa superposição é
devida a um terceiro fator, um fator inespecífico presente nos dois construtos.
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da depressão:
O modelo que parece melhor explicar a superposição (alta correlação e baixa validade
discriminante) entre escalas que quantificam ansiedade e depressão é o modelo de três
partes proposto por Watson e Clark (1984), que pressupõe os conceitos de afeto
negativo e afeto positivo:
Afeto positivo representa o quanto uma pessoa sente entusiasmo, energia e prazer pela
vida. A ausência de afeto positivo pode ser representada por sintomas como perda de
energia e prazer, apatia, cansaço e desesperança.
De acordo com o modelo de Watson e Clark (1984), a ansiedade pode ser diferenciada
da depressão pela presença de sintomas de hiperestimulação autonômica. Já a depressão
pode ser discriminada da ansiedade pela presença de anedonia ou ausência de afeto
positivo. O afeto negativo estaria presente nos dois construtos, portanto inespecífico, o
que explicaria a alta correlação encontrada. A gravidade dos quadros depressivos e
ansiosos e a comorbidade interagem de forma que os quadros mais leves apresentam
maior superposição devido ao fator inespecífico, enquanto casos de maior gravidade se
diferenciam pela predominância dos fatores específicos. Os autores utilizam esse
modelo para propor a inclusão do diagnóstico de transtorno misto depressivo–ansioso
nas classificações. Esses pacientes apresentariam sintomas inespecíficos como
desmoralização, irritabilidade, alterações leves de sono e apetite, distração e sintomas
somáticos leves, sendo muito comum encontrá-los em atendimentos de cuidados
primários.
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MASQ (Mood and Anxiety Symptom Questionnaire –Watson e Clark, 1991; tradução
para o português: Andrade e Gorenstein, em preparação)
PANAS-X: Positive and Negative Affect Schedule (Watson e Clark, 1994) – Expanded
form
Esta escala baseia-se em dois amplos fatores gerais: afeto positivo (PA) e afeto negativo
(NA). Esses fatores emergiram de forma consistente em vários estudos como as duas
dimensões dominantes da experiência emocional. A PANAS-X mede 11 afetos
específicos: medo, tristeza, culpa, hostilidade, acanhamento, cansaço, surpresa,
jovialidade, autoconfiança, atenção e serenidade. É uma escala de auto-avaliação.
Estudos com análise fatorial (validade de construto) demonstraram dois fatores: 1. afeto
negativo (medo, tristeza, culpa, hostilidade e acanhamento, cansaço e surpresa); 2. afeto
positivo (jovialidade, autoconfiança, atenção, surpresa, serenidade; fadiga é um
marcador de afeto positivo baixo)
Esta escala foi desenvolvida para avaliar ansiedade traço e estado, como construtos
multidimensionais. A EMAS-T (EMAS Trait Anxiety Scale) tem quatro subescalas para
avaliar a predisposição a experienciar o estado de ansiedade em quatro tipos de situação:
avaliação social, perigo físico, ambigüidades e rotinas diárias. Os itens de ansiedade
(por exemplo: taquicardia, sentir-se incomodado) são idênticos para cada tipo de
situação. A EMAS-S (EMAS State Anxiety Scale) tem duas subescalas (sintomas
autonômicos emocionais e cognição-preocupação). Estudos com análise fatorial dessas
duas escala, em populações não-clínicas confirmam a separação traço-estado e a
multidimensionalidade desse dois sub-componentes (Endler e Parker, 1991).
Esta escala é composta por três subescalas, medindo aspectos específicos de ansiedade e
depressão e sintomas relacionados ao estresse. A subescala depressão mede perda de
auto-estima e incentivo, associada a uma baixa percepção da probabilidade de serem
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Já para o fator 2 (humor-preocupação) nossa hipótese não pode ser confirmada, pela
própria estrutura da escala IDATE – traço. Dos 20 itens do IDATE – traço, nenhum
avalia sintomas específicos de ansiedade: dois medem sintomas inespecíficos de
ansiedade, 10 medem sintomas inespecíficos que podem estar presentes tanto na
ansiedade como na depressão, 3 medem sintomas depressivos inespecíficos e 5 medem
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