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Introdução

A ansiedade sempre permeou a existência humana, porém, nos últimos anos, a sua
incidência vem se intensificado demasiadamente e, via de consequência,
apresentando maior relevância para os pesquisadores que investigam os efeitos
desse estado sobre o organismo e o psiquismo humanos. O advento da
globalização, o avanço da tecnologia e as inovações do mundo moderno ensejaram,
como consequência direta, o aumento das exigências, das expectativas e das
pressões existentes sobre o ser humano, fazendo com que o indivíduo tenha
dificuldades para adaptar o seu comportamento a este novo panorama que se
apresenta (Sadock, Sadock & Ruiz, 2017).

O período contemporâneo é definido por alguns autores como a Idade da


Ansiedade, devido à vinculação desse transtorno com o ritmo de vida
experimentado nos dias hodiernos, uma vez que frente a esta nova realidade,
exige-se um comportamento diferenciado do ser humano. No decorrer de sua
existência, o ser humano experimenta maiores ou menores graus de ansiedade, de
preocupação, de raiva ou de medo, dependendo das circunstâncias fáticas
vivenciadas em determinado período da vida, como por exemplo, antes de uma
prova muito importante, de um primeiro encontro ou de uma entrevista de
emprego. Nestes casos, trata-se de uma característica normal da vida dos
indivíduos, ou seja, diante das situações difíceis, importantes ou novas é normal as
pessoas apresentarem diferentes graus de ansiedade (Lucena-Santos, Pinto-
Gouveia & Oliveira, 2015).

Deste modo, a ansiedade é uma manifestação fisiológica inerente ao ser humano e


até necessária para a sobrevivência social, assim sendo, é necessário reconhecer o
valor positivo e adaptativo dela, pois desempenha um papel motivador na vida das
pessoas, impulsionando os sujeitos a se prepararem para confrontar as situações
da vida.

Breve histórico sobre ansiedade

A primeira descrição de ansiedade como uma disfunção da atividade mental data do


início do século XIX. Augustin-Jacob Landré-Beuvais (1772-1840), em 1813,
descreveu a ansiedade como uma síndrome composta por aspectos emocionais e
por reações fisiológicas. Em 1844, Jean Baptiste Félix Descurate (1795-1872)
relacionou ansiedade com as enfermidades em seu livro A medicina das
paixões. Em 1850, foi descrito pela primeira vez, por Otto Domrich, o que se
denomina hoje transtorno de pânico. Em 1871, Jacob Mendez da Costa (1833-
1900) relatou novos casos de pânico, atribuindo-lhe o nome de "síndrome do
coração irritável". Já em 1880, Karl Westphal (1833-1890) descreveu os sintomas
presentes em fobias específicas e no transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
(Landeira- Fernandez & Cruz, 2007).

Entretanto, foi através dos trabalhos clínicos desenvolvidos por Sigmund Freud
(1836-1939), que os transtornos de ansiedade começaram a ser classificados de
forma mais sistemática. Freud descreveu de maneira objetiva quadros clínicos que
causavam disfunções relacionadas com a ansiedade, denominando-os crise aguda
de angústia, neurose de angústia e expectativa ansiosa - atualmente, estes
quadros recebem os nomes de ataque de pânico, transtorno de pânico e transtorno
de ansiedade generalizada, respectivamente. Todavia, em função do sistema de
classificação psicanalítico ser baseado em pressupostos teóricos que não se
sustentam por dados empíricos, tornou-se necessário o desenvolvimento de novos
modelos de classificação pautados no método científico (Landeira-Fernandez &
Cruz, 2007).

Emil Kraeplin (1856-1926) deu início à criação de um sistema de classificação dos


transtornos mentais análogo ao já existente para "doenças físicas", pautado na
diferenciação das enfermidades a partir de suas etiologias, sintomatologias,
evoluções e prognósticos. Em 1948, a Classificação Internacional de Doenças, em
sua sexta edição (CID-6), publicada pela Organização Mundial de Saúde, dedicou
uma seção específica aos transtornos mentais. Por julgar insatisfatória a descrição
presente na CID 6, a Associação Americana de Psiquiatria, publicou em 1952, de
forma independente, o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais
(DSM).

Ademais, a ansiedade mobiliza os recursos físicos e psicológicos, estabelecendo


atitudes de defesa e ataque para enfrentamento de situações que ameacem ou
desafiem os sujeitos. Ela é um sinal de alerta sobre perigos iminentes e capacita o
indivíduo a tomar medidas necessárias para enfrentar as ameaças (Barlow, 2016).

Assim, a ansiedade prepara o organismo para tomar as providências adequadas, no


sentido de impedir a concretização desses possíveis prejuízos, ou pelo menos, para
tentar diminuir as suas consequências. Ela é uma reação natural e necessária à
autopreservação do ser humano. Contudo, a ansiedade pode perder a sua função
adaptativa, o seu papel protetor e motivador, e tornar-se patológica. Este
sentimento estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz
exatamente o contrário, impedindo as reações (Hales, Yudofsky & Gabbard, 2012).

A ansiedade patológica surge de uma inquietação e de uma preocupação


desproporcional à situação ou ameaça, originando-se com intensidade e duração
consideráveis, acarretando sofrimento e prejuízos de ordem funcional,
organizacional e social (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais:
DSM-5, 2014).

Segundo Braga et al. (2010), dentre o grupo dos transtornos mentais, as


descrições da ansiedade patológica são mais recentes, datando as primeiras
pesquisas a seu respeito do século XIX. De modo sistematizado, tomando como
base um artigo de Clark e Beck (2012), existirá uma "preocupação normal", que é
moderada, passageira, geralmente de âmbito limitado, e experimentada pela
maioria dos indivíduos, e uma "preocupação patológica", que é excessiva, crônica,
penetrante, incontrolável, e experimentada apenas pelos indivíduos com ansiedade
patológica.

Tipos de transtornos ansiosos

Transtorno de ansiedade generalizada: tem como principal


característica a preocupação excessiva e generalizada sem motivos
óbvios em situações do dia a dia. Ou seja, o paciente fica sempre
antecipando que algo de ruim vai acontecer, permanecendo em um
estado de constante preocupação.
Transtorno de pânico: tem como principal característica uma sensação
de medo intensa e repentina seguida por sintomas físicos (aceleração
dos batimentos cardíacos e da respiração, suor frio, falta de ar, tontura,
tremores, entre outros). Esses episódios podem acontecer a partir de
qualquer momento, durando até 30 minutos.

Transtorno de ansiedade social: quem tem transtorno de ansiedade


social, ou fobia social, tem intensa dificuldade em interagir com outras
pessoas. Isso pode se referir desde a uma conversa com um grupo ou
até mesmo a apresentação de um trabalho para a turma em ambiente
de ensino. Dessa forma, o gatilho para o surgimento dos sintomas
típicos da ansiedade costuma transitar na área da socialização. Dessa
forma, a fobia social contribui pra que o paciente busque se isolar cada
vez mais, evitando as suas fontes de angústia.

Agorafobia: é o transtorno de ansiedade relacionado a estar em


situações ou locais sem uma maneira fácil de escapar. Em geral, trata-se
de casos sem um perigo iminente óbvio, mas, mesmo assim, a pessoa
se sente angustiada em busca de uma saída. Um dos casos mais
comuns de agorafobia costuma ser o de não suportar ficar em locais
lotados ou muito fechados, como dentro de um ônibus ou avião. Quem
sofre com esse transtorno também costuma não se sentir bem em
elevadores e demais espaços pequenos.

Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): tem como principal


característica as lembranças recorrentes e intrusivas de um
acontecimento que foi altamente angustiante para o paciente. Esse
episódio traumático pode ser desde um acidente até a morte de um
ente querido. O que diferencia o TEPT de um quadro de choque ou
tristeza convencional é a prevalência dos seus sintomas, que vão de
dificuldades para dormir até hipervigilância.

Transtorno de estresse agudo: a principal diferença do transtorno de


estresse agudo para os demais tipos de ansiedade é que ele geralmente
ocorre a partir da vivência ou testemunho de um evento traumático
específico. Assim, o paciente fica revivendo aquele acontecimento e se
angustiando com ele de maneira constante. Por ser um quadro agudo,
ele não costuma durar muito tempo. Em até um mês, os sintomas
geralmente se amenizam. No entanto, ainda assim é válido obter o
diagnóstico de um especialista para avaliar o caso e contar com o
tratamento adequado.

Mutismo seletivo: se caracteriza principalmente pela incapacidade de se


comunicar verbalmente em situações sociais. O caso é diferente da
fobia social, ou transtorno de ansiedade social, porque geralmente
costuma cessar antes da adolescência ou vida adulta.

Transtorno de ansiedade de separação: aquela sensação de ter


saudades de casa pode se manifestar de maneira muito mais grave na
forma do transtorno de ansiedade de separação. Nesse caso, o paciente
passa por sensações de angústia e desespero ao se separar de um
ambiente que considera familiar e agradável.

Transtorno de ansiedade induzido por substância: o uso de substâncias


específicas também pode ocasionar quadros de transtorno de
ansiedade. Isso vale desde o caso de medicamentos convencionais até
drogas perigosas, como é o caso de cocaína, heroína, maconha, entre
outras.

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