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Sociedade Brasileira de Psicanálise Clínica

O TRANSTORNO DO PÂNICO SOB O OLHAR PSICANALÍTICO

Carolina do Prado Zonaro


Jundiaí/SP. 2022
O Transtorno do Pânico sob o olhar Psicanalítico

1. O Transtorno do Pânico

Nesses últimos tempos, a humanidade vem passando por um acelerado processo de


transformação nas quais mudanças de valores, condições de procriação, de
configuração familiar, bem como a forma de educar os filhos e a visão para os
princípios, ética e moral atravessam uma crise de referência produzindo efeitos
transformadores.

Essas transformações são questões que nos trazem questionamentos do papel da


sociedade, bem como da família como entidade de formação e desenvolvimento.

Freud (2006), em “o mal estar na civilização” (trabalho original publicado em 1930),


destacou que o contexto social era muito repressor, gerador de neuroses, no entanto,
esse contexto, hoje, se mostra bastante permissivo, prejudicando o processo de
instalação e manutenção da lei e essa falha desampara o indivíduo,
consequentemente, uma vez o ambiente desamparado favorece o surgimento de
sentimentos de pânico.

Justamente esse estado de desamparo oferece o perigo do qual o psiquismo foge. Essa
condição independe de qualquer situação ou realização. Uma vez que o nível de
angústia se eleva, se torna incontrolável e invade o ego, então o indivíduo se sente
sozinho, sem recurso, desprotegido, consequentemente, desamparado. Neste
momento surge então a síndrome do pânico ou também conhecida como, transtorno
de pânico.

Sabe-se que a síndrome do pânico, também conhecida como Transtorno do Pânico, é


uma das mais crescentes doenças, considerada uma psicopatologia da atualidade em
busca de tratamento terapêutico. No entanto, antes de transcrever o olhar
psicanalítico sobre esse transtorno, é fundamental a sua compreensão.

2. Os sintomas

O olhar psiquiátrico trata essa psicopatologia como um transtorno de ansiedade


intenso no qual se dá através de ataques súbitos e repentinos, acompanhados com
sensação de morte, loucura e até mesmo perda de controle de determinadas
situações. Para a psiquiatria, a atuação sobre este cenário é embasado através de seus
fenômenos, ou seja, exclusivamente ao que foi observado.

De acordo com a OMS (1995), o transtorno do pânico tem como característica ataques
recorrentes de uma grave ansiedade que acontece de forma imprevisível e não em
situações específicas. Durante estes ataques alguns sintomas físicos aparecem e faz
com que o indivíduo desenvolva um medo excessivo equiparado ao medo da morte
ou, até mesmo ao de enlouquecer e perder o controle. Estes sintomas são ocasionados
devido à presença de um estado de desamparo causado pela angústia e sentimentos
que ameaçam a integridade física.

Vale ressaltar que, ainda segundo a OMS (1995), um ataque de pânico não determina a
existência do transtorno de pânico. Uma característica comum que auxilia no
diagnóstico é o aparecimento do pânico de forma inesperada, independente de
situações que geram angústia. Esses ataques devem se apresentar frequentemente e
com características particulares.

Outros ataques de pânico podem ocorrer e por este motivo as pessoas têm uma
preocupação única com as possíveis implicações. Após o primeiro ataque o indivíduo
se sente desencorajado, envergonhado, cansado, ansioso e infeliz, tornando-se difícil
seguir com sua habitual rotina. Isso causa angústia justamente pelo medo de ser
surpreendido novamente com outro ataque. Esse medo afasta o indivíduo das
atividades simples do dia a dia e compromete seu comportamento e sua qualidade de
vida.

Resumidamente, o transtorno do pânico é caracterizado por episódios inesperados de


desespero e medo, o indivíduo tem a sensação que vai morrer naquele momento
decorrente a um ataque cardíaco, uma vez que sintomas como coração disparado,
falta de ar e sudorese aguda são, realmente, sentidos. O indivíduo com essa
psicopatologia sofre não só durante as crises, mas também nos intervalos dessas
crises, pois não consegue identificar quando terá outra, ocasionando, geralmente (pois
não é uma regra), o aparecimento da agorafobia, ou seja, o medo do medo.

3. A Perspectiva Psicanalítica

Não há um discurso único e homogêneo para o tema sob o olhar psicanalítico, ainda
assim o assunto é bastante fundado embasado nos textos de Freud.

Na psicanálise, o interesse por este transtorno aparece quando o assunto envolve os


estados ansiosos e extremos, uma vez que os próprios textos freudianos mostram que
os ataques de pânico eram criados como diferentes das outras formas de ansiedade.

Segundo Freud (1926), o ataque de ansiedade pode ser provocado por uma afetação,
começando bruscamente e repentinamente na consciência, sem ser despertada pela
imaginação, sendo assim, indivíduos que sofrem com o transtorno do pânico estão
sujeitos a crises agudas de medo de forma inesperada e recorrente.

Embora esse transtorno tenha característica da falta de preparo submetendo o


indivíduo a um estado de angústia arrasadora, ou seja, a angústia pode ser tanto uma
reação como uma antecipação ao perigo e, dependendo da intensidade, a defesa pode
ser impossível, paralisando o indivíduo, deixando-o incapaz de se defender, uma vez
que se desenvolve a ponto de invadir o mundo afetivo do ego e, consequentemente,
tornando-se incontrolável, a antecipação ao perigo não tem hora e o ego fica
desamparado, ocasionando então o pânico.

Para Freud (1926) o perigo ganha nova proporção, uma vez que o perigo do qual o
indivíduo precisa se defender é o desamparo. Essa é uma condição que não há
recursos para a autodefesa, precisando assim da ajuda de outra pessoa para
sobreviver. Sendo assim, sobreviver significa ser amparado.

Embora o desamparo acompanhe qualquer pessoa desde o nascimento, pois é uma


condição fundamental, Freud (1926) aponta sendo uma experiência estruturante, uma
vez que o indivíduo exprime um pedido de socorro ao outro. Isso o leva a abrir mão
das próprias ambições, da autossuficiência para sobreviver.

No âmbito clínico, a síndrome representa um quadro fóbico moderno por apresentar


sintomas fóbicos, uma relação da fragilidade com o desamparo, uma angústia
exacerbada que invade o ego incontrolavelmente. É tão intenso que se perde o caráter
de autoconservação e de alerta ao perigo. Transfere a angústia para sensações
corporais, apresentando, inclusive, sintomas físicos, como: tremores, calafrios,
distúrbios digestivos, suor, dor cardíaca intensa e vertigem. A sensação de morte
paralisa o indivíduo, o coloca em um enfrentamento emocional interno e a ansiedade.
No entanto, embora a síndrome do pânico tenha caráter fóbico, o objeto em si
praticamente inexiste, prevalecendo a reação psicossomática.

A mistura dos sintomas físicos e emocionais podem confundir o processo diagnóstico,


uma vez que há ausência de limites entre o somático e o psíquico em casos de
transtorno do pânico.

4. Considerações Finais

O que mais angustia quem sofre com o transtorno do pânico é não saber o porquê.
Quando o indivíduo é questionado sobre o que aconteceu anteriormente ou quais as
causas do seu mal-estar ele não faz ideia do que o levou a esta crise.

A abordagem psicanalítica, que trabalha o inconsciente, auxilia o indivíduo a construir


um saber sobre si a partir de suas próprias falar e também da devolução da escuta do
psicanalista, desenvolvendo então algumas dessas respostas, afinal, se existe algo no
inconsciente ocorrendo e se o inconsciente é um local sem acesso direto, a resposta do
indivíduo é sempre a correta.
A psicanálise trabalha um tempo diferente do relógio, ela coleta os sinais do
inconsciente, elabora e constrói um saber para que então entre em contato com
questões das quais podem ser angustiantes, mas que ao serem tratadas são vistas com
mais clareza, desta forma, o tempo se torna próprio do indivíduo, respeitando a
vontade dele de saber.

A singularidade é uma preocupação da psicanálise, a terapêutica busca entender qual


a condição que colocou o indivíduo nesse estado angustiante, pois não vê o transtorno
do pânico como uma doença, mas como uma de expressar ansiedade e medos
intensos causados pela sensação de que está perdendo o controle.

Para a psicanálise não existe uma lista de possíveis sintomas que definem a
portabilidade do transtorno do pânico, entender a importância terapêutica
psicanalítica no tratamento da síndrome é um meio de prevenir o risco de se atentar
apenas para os sintomas fisiológicos e cognitivos, partindo em busca das causas.

No entanto, vale ressaltar que um trabalho multidisciplinar oferece mais qualidade de


vida ao indivíduo, levando-o a um estado de melhora evolutivo.
Bibliografia

Freud, S. (2006) O mal-estar na civilizaçăo, In Ediçăo standard brasileira das obras


psicológicas completas de Sigmund Freud. (J. Salomăo, trad., Vol. 21,). Rio de Janeiro:
Imago (Trabalho original publicado em 1930)

Freud, S. Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, análise leiga e


outros trabalhos (1925-1926). Edição Standard. Volume XX. Editora Imago

Bernik, M. (2012). Síndrome do pânico | Entrevista. [Weblog].


https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/sindrome-do-panico-entrevista/

Organização Mundial de Saúde. (1995). DSM-IV, Manual Diagnóstico e Estatístico de


Transtornos Mentais (4a ed). Porto Alegre: Artes Médicas.

O olhar psicanalítico para o Transtorno de Pânico: um estudo de caso. Paola Carloni.


http://pepsic.bvsalud.org/pdf/analytica/v5n8/07.pdf

Psicanalista fala sobre transtorno do pânico.


https://comportese.com/2013/10/04/psicanalista-fala-sobre-transtorno-do-panico/

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