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Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 1

2 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann


Autores : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Fábio José Pereira da Silva
Paula Natalie Arraes Guedes Macedo Dieckmann

Colaboradora: Daniela Gonçalves Joca


Edição Gráfica : Tiago Cabral
Ilustradora: Angelina Mirine Yu

QUASE TUDO QUE VOCÊ


QUERIA SABER SOBRE PSI-
QUIATRIA E NÃO TINHA
PARA QUEM PERGUNTAR

Atlas de Transtornos Psiquiátricos e


Perguntas e Respostas sobre o tema
1ª Edição
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 3

ÍNDICE

1-Transtornos de Ansiedade................................................................17
2-Transtornos de Humor ...................................................................31
3-Transtornos Alimentares ...................................................................31
4-Esquizofrenia ...................................................................31
5-Dependência de Álcool e Drogas ...............................................................31
6 -Demências .. .... ... ... .. .... .... ... ... ... ... ... .... ... ... .... ... .... ... ... ...31
7-Transtornos de Personalidade ...................................................................31
8-Perguntas e Respostas Diversas .................................................................31
4 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Ansiedade é uma emoção que ativa uma série


de reações neuroendócrinas ocasionando um sentimento desagradá-
vel de medo e apreensão. Ocorre frente à antecipação de um perigo
real ou imaginário, que pode ser conhecido ou desconhecido. O or-
ganismo então manifesta vários sintomas físicos que são úteis na vi-
gência de uma situação de luta ou fuga. A ansiedade foi extrema-
mente útil na sobrevivência da espécie humana, em períodos que o
ambiente era inóspito.
A ansiedade se trona patológica quando ocorre de modo
inadequado, por uma interpretação errônea da possibilidade, duração
ou intensidade do perigo. Como consequência as reações neuroen-
dócrinas se tornam disfuncionais, e os sintomas físicos, são percebi-
dos com estranhamento e sofrimento pelo indivíduo.
Quando a ansiedade patológica interfere de modo significa-
tivo no funcionamento normal do indivíduo podemos falar em Trans-
tornos de Ansiedade.
Transtornos de Ansiedade é o grupo de patologias psiquiá-
tricas mais frequentes na população. Uma quantidade muito grande
de pessoas sofre em silêncio, pois demora a buscar ajuda de profis-
sionais de saúde.
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1.1 SÍNDROME DO PÂNICO.

O transtorno do pânico é um transtorno de ansiedade em que


ocorrem crises de ansiedade, conhecidos como "ataques de pânico".
Um ataque de pânico é caracterizada pelo aparecimento isolado de
medo intenso ou desconforto, associado com quatro ou mais dos se-
guintes sintomas (de início súbito e com intensidade máxima dentro
dos primeiros 10 minutos): palpitações, taquicardia, sudorese, tre-
mores ou agitação, a sensação de ser sufocado ou de asfixia (bola na
garganta), dor no peito, desconforto gastrointestinal (náuseas, vômi-
tos ou diarréia), instabilidade, vertigem ou desmaio, desrealização
(sensação de estranhamento em relação ao ambiente em que está) ou
despersonalização (sensação de não estar conectado com si mesmo),
medo de perder o controle ou enlouquecer , medo de morrer, pares-
tesias ou formigamento, calafrios ou ondas de calor. A fim de desen-
volver o transtorno do pânico, a crise de ansiedade (inesperada e re-
corrente) deve ser seguida por um período de pelo menos um mês
apresentando um medo persistente da possibilidade de ter uma nova
crise, preocupação com as suas consequências ou mudança signifi-
cativa no comportamento habitual. A doença pode apresentar-se com
ou sem agorafobia. Esta última representa o aparecimento de sinto-
mas de ansiedade em um lugar ou a situação a partir da qual pode ser
difícil de escapar, ou em que, se uma crise inesperada viesse a ocor-
rer, com a sensação de ajuda indisponível no momento. Os pacientes
passam a evitar estas situações (sair sozinho, viajar, permanecer em
locais públicos) por causa de um temor de que possa ocorrer uma
nova crise, ou exigem a presença de uma pessoa conhecida por eles,
a fim de ser capaz de enfrentar essas situações. O tratamento habitual
consiste de benzodiazepínicos para as crises e antidepressivos du-
rante um tempo mais prolongado (ISRS, ISRNS, tricíclicos)
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1.2 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA

O Transtorno de Ansiedade Generalizada segue um padrão


de ansiedade frequente e persistente desproporcional aos possíveis
impactos que a situação temida possa causar.
Para ser diagnosticado necessita ocorrer na maioria dos
dias, por um período mínimo de seis meses de duração. Por mais que
o indivíduo tente, ele não consegue controlar as preocupações. A an-
siedade vem acompanhada de ao menos três dos seguintes sintomas:
impressão de estar com nervos à flor da pele (inquietação), cansaço
fácil, dificuldade de concentração ou falhas para lembrar memórias,
nervosismo ou irritabilidade, tensão ou dor muscular, alterações na
qualidade do sono. Esse conjunto de fatores ocasiona prejuízo no de-
sempenho acadêmico / trabalho, ou prejuízo social / familiar.
Alguns indivíduos experimentam outros sintomas físicos
como dores de cabeça, náuseas, vômitos, taquicardia etc. Tais sinto-
mas inespecíficos frequentemente levam o indivíduo a procurar ou-
tros médicos como clínicos gerais, neurologistas, gastroenterologis-
tas, cardiologistas etc. Por isso é tão comum médicos dessas especi-
alidades recomendarem que o indivíduo vá a um médico psiquiatra
ou a um psicólogo clínico.
Também é frequente que os indivíduos notem de modo in-
tenso as preocupações no momento em que se deitam para dormir. O
que causa muitas vezes a dificuldade de pegar no sono.
O tratamento habitual inclui medicações da classe dos anti-
depressivos, psicoterapia e atividade física aeróbica (p.e. corrida, na-
tação).
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1.3 TRANSTORNOS FÓBICOS

Os Transtornos Fóbicos são os Transtornos Ansiosos mais


frequentes na população. Tem como característica principal um
medo exagerado a um objeto (p.e. barata, cobra, sangue etc.), ou si-
tuação específica (p.e. tomar uma injeção, fazer uma apresentação
em público, conversar com estranhos, andar em transportes coleti-
vos, voar de avião, chuva com trovoadas etc.). Podem ser divididos
em dois grupos: Fobias Específicas e Fobia Social. A diferença pri-
mordial entre esses dois grupos é que nas Fobias Específicas o medo
persistente, excessivo e irracional é devido a presença ou antecipa-
ção do objeto ou situação fóbica; enquanto na Fobia Social o medo
é devido a situações sociais ou de desempenho, nas quais o indivíduo
acredita ser avaliado.
Além do medo, a exposição ao estímulo fóbico ou situação
social temida provoca ansiedade, e em alguns casos ataque de pâ-
nico. A pessoa reconhece que o medo é excessivo e irracional, e
tende a evitar tal situação. Quando não pode evitar a situação, su-
porta com muito sofrimento.
A evitação da situação temida, ou o sofrimento desencade-
ado interferem de modo relevante na rotina do indivíduo.
O tratamento habitual são as psicoterapias cognitivo-com-
portamentais. Quando necessário se utilizam medicações de modo
pontual.
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1.4 TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

Por muito tempo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático


(TEPT) foi agrupado entre os Transtornos Ansiosos, por apresentar
frequentemente sintomas ansiosos. Entretanto nem sempre os sinto-
mas ansiosos estão presentes. Por isso novas classificações tendem a
separar o TEPT em um novo grupo de transtornos, chamados de
Transtornos Relacionados a Trauma e a Estressores. Como ainda não
existe um consenso dessa mudança, mantemos o TEPT aqui no ca-
pítulo de Transtornos Ansiosos.
A característica fundamental do TEPT é o surgimento de
sintomas após exposição a um evento traumático. Um evento trau-
mático é uma situação de ameaça de morte, lesão grave ou violência
sexual; ocorrida com o indivíduo ou uma pessoa próxima (parentes,
amigos), ou testemunhada pelo indivíduo. A partir desse evento trau-
mático surge uma série de sintomas.
A seguir listaremos alguns dos sintomas mais frequentes:
lembranças recorrentes e involuntárias da situação traumática, pesa-
delos ligados ao evento trumático, flashback – sensação de viver a
experiência novamente (p.e. ao ouvir um som parecido com um tiro
o indivíduo se joga ao chão, igual fez em uma situação de assalto),
amnésia parcial da situação traumática, evitação de situações que
possam de algum modo lembrar o evento traumático (p.e. evitam
passar pelo local, evitam conversar sobre o evento traumático), sen-
timento de culpa por não ter percebido o perigo ou achar que permi-
tiram que a situação traumática ocorresse, afastamento de atividades
prazerosas, distanciamento afetivo de familiares e amigos, tristeza
frequente, se manter em alerta sempre, se assustar com facilidade,
apresentar reações fisiológicas de situações de perigo sem estar em
situação de perigo, dificuldade de concentração, piora da qualidade
do sono, irritabilidade e pavio curto.
Um evento traumático pode desencadear TEPT em um in-
divíduo e em outro não. O mesmo evento traumático se ocorrer em
momentos diferentes em um mesmo indivíduo pode desencadear ou
não TEPT (p.e. indivíduo foi assaltado várias vezes, mas só desen-
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volveu TEPT na última vez). O TEPT causa um sofrimento emocio-


nal muito grande, que se não tratado, pode até mesmo levar ao suicí-
dio.
O tratamento mais adequado é o tratamento multiprofissio-
nal. Geralmente a combinação de medicações e psicoterapias. Mui-
tas vezes é recomendável intervenções com os familiares próximos
do indivíduo.
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1.5 TRANSTORNO SOMATOFORME

Transtornos Somatoformes é um grupo heterogêneo de


transtornos que apresentam em comum à presença de sintomas físi-
cos que não são completamente explicados por doenças médicas ge-
rais ou efeitos de substâncias. Esses sintomas causam sofrimento sig-
nificativo e atrapalham o funcionamento social ou ocupacional do
indivíduo.
Existem diversas hipóteses das causas dos Transtornos So-
matoformes. A mais aceita é a do envolvimento de conflitos psico-
lógicos.
Antes de receber esses diagnósticos o indivíduo deve ser
avaliado clinicamente para os sintomas físicos. Não devem ser en-
contrados achados físicos, ou mecanismos fisiológicos que justifi-
quem os sintomas. Também é preciso evidências que levem a sus-
peita de conflitos psicológicos, e de que os sintomas físicos não estão
sobre o controle voluntário do indivíduo.
O tratamento para todos os Transtornos Somatoformes en-
volve as psicoterapias. O uso de medicações está reservado à pre-
sença conjunta de outros transtornos psiquiátricos.
Segundo algumas classificações os principais transtornos
desse grupo são: Transtorno de Somatização, Transtorno Conver-
sivo, Transtorno Doloroso, Hipocondria, Transtorno Dismórfico
Corporal.
As características principais do Transtorno de Somatização
são as várias queixas físicas diferentes e recorrentes, que levam o
indivíduo a buscar tratamento médico ou automedicação.
As características principais do Transtorno Conversivo são
os sintomas físicos sensoriais e motores, que num primeiro momento
levam a suspeita de uma alteração neurológica. É comum esses indi-
víduos chegarem ao Pronto Socorro com suspeita de convulsão, pa-
ralisia ou cegueira.
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As características principais do Transtorno Doloroso são as


dores que necessitam de atenção clinica, e levam o indivíduo a bus-
car atendimento médico. Muitas vezes as dores persistem mesmo
com o uso de analgésicos potentes.
A característica principal da Hipocondria é o temor do indi-
víduo em ter, ou vir a ter, uma doença grave, baseado em interpreta-
ções errôneas de sensações corporais. O indivíduo mantém a preo-
cupação mesmo após avaliação médica que descarta a possibilidade
da doença temida.
A característica principal do Transtorno Dismórfico Corpo-
ral é a preocupação excessiva com alguma característica física na
aparência. O indivíduo considera aquela característica um defeito fí-
sico inaceitável.
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1.6 TRANSTORNO OBSSESSIVO COMPULSIVO - TOC

O transtorno obsessivo-compulsivo é caracterizado pela


presença de obsessões e compulsões recorrentes que causam sofri-
mento significativo e interferem significativamente com a vida diária
do indivíduo. Interfere na vida acadêmica, profissional e social. As
obsessões e compulsões representam uma perda de tempo de mais
de uma hora por dia, e a pessoa reconhece que são excessivos e irra-
cionais. Pode durar menos de 1 hora, mas também gerar intenso pre-
juízo funcional no paciente. Uma obsessão é um pensamento intru-
sivo (que invade a cabeça da pessoa) e recorrentes, enquanto a com-
pulsão consiste em um comportamento consciente, estereotipado e
repetitivo, como contar, verificar ou evitar determinada atitude. As
compulsões podem ser também mentais . As obsessões geram ansi-
edade, que é reduzida através das compulsões. Os principais padrões
de sintomas são: obsessão de contaminação, seguido por lavagem
compulsiva ou evitação do objeto; dúvida patológica, seguido pela
necessidade de verificar (de desligar o gás ou fechar a porta por
exemplo); pensamentos intrusivos relacionados à atos sexuais ou vi-
olência, uma necessidade de simetria e precisão, levando à uma ex-
cessiva lentidão (levando horas para fazer a barba ou comer por
exemplo); obsessões religiosas e acumulação compulsiva. Nos estu-
dos de neuroimagem, foi avaliado um aumento na atividade dos lo-
bos frontais, dos gânglios basais (caudado) e no córtex cingulado. Os
pacientes muitas vezes sofrem de outros transtornos mentais, como
depressão, fobias, transtorno de ansiedade, alcoolismo e distúrbios
alimentares. O diagnóstico diferencial inclui tiques (síndrome de
Gilles de la Tourette), epilepsia do lobo temporal, esquizofrenia,
transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo, fobias, depres-
são e hipocondria. O tratamento consiste em psicoterapia, inibidores
seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e/ ou inibidores seleti-
vos da recaptação de serotonina e Noradrenalina (ISRNS) e/ ou an-
tidepressivos tricíclicos. Podem ser potencializados com adição de
neurolépticos.
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1.7 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE ANSIEDADE

- Que medicamentos são usados para tratar transtornos de ansiedade?

Os antidepressivos, medicamentos ansiolíticos, e os beta-bloqueadores são os


medicamentos mais freqüentemente usados para transtornos ansiosos.

Os transtornos de ansiedade incluem: Transtorno de estresse pós-traumático


(TEPT); Transtorno de ansiedade generalizada (TAG); Transtorno do pânico;
Transtornos Fóbicos (Incluindo a Fobia social); Transtorno obsessivo-compul-
sivo (TOC) [Nem todos incluem o TOC dentro dos transtorno de Ansiedade, e o
consideram uma Doença separada deste grupo, devido particularidades do tra-
tamento].

Antidepressivos : Os antidepressivos foram desenvolvidos para tratar a depres-


são, mas também podem ajudar as pessoas com transtornos de ansiedade. ISRSs
como a fluoxetina , sertralina , escitalopram, paroxetina, fluvoxamina e citalo-
pram são comumente prescritos para o transtorno do pânico, TOC, TEPT, e fo-
bia social. O ISRSN venlafaxina é comumente usado para tratar o TAG. A
bupropiona às vezes também é usado, porem com muito menor freqüência pois
pode piorar alguns sintomas ansiosos. A trazodona também é uma opção no tra-
tamento de transtornos ansiosos. Para tratamento de distúrbios de ansiedade, os
antidepressivos são geralmente iniciado com doses baixas e aumentados ao
longo do tempo.

Alguns antidepressivos tricíclicos também funcionam bem para a ansiedade. Por


exemplo, a imipramina é prescrita para o transtorno do pânico e TAG. A clomi-
pramina é utilizado para tratar o TOC (Devida alta afinidade pelos receptores
serotonérgicos). Os tricíclicos também são iniciados em doses baixas e aumenta-
dos ao longo do tempo.

Os IMAOs também também podem ser usados para transtornos de ansiedade,


mas atualmente com muito menor freqüência do que nas décadas passadas. As
pessoas que tomam inibidores da MAO devem evitar determinados alimentos e
medicamentos que podem interagir com o seu medicamento e causar aumentos
perigosos de pressão arterial.

Benzodiazepínicos (medicamentos ansiolíticos): Os medicamentos ansiolíticos


chamados benzodiazepínicos podem começar a funcionar mais rapidamente do
que os antidepressivos. Os mais utilizados para tratar transtornos de ansiedade
incluem:
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a. Clonazepam
b. Alprazolam
c. Lorazepam
d. Bromazepam

A Buspirona é um medicamento ansiolítico utilizado para tratar o TAG. Ao con-


trário dos benzodiazepínicos, no entanto, leva pelo menos duas semanas para
que a buspirona para começar a trabalhar.

Os benzodiazepínicos muitas vezes também são utilizados como anticonvulsivan-


tes na neurologia

Beta-bloqueadores : Os beta-bloqueadores podem controlar alguns dos sinto-


mas físicos de ansiedade, tais como tremores e sudorese. Propranolol (Inderal) é
um beta-bloqueador usado normalmente para tratar problemas cardíacos e HAS
(hipertensão). O medicamento também ajuda as pessoas que têm problemas físi-
cos relacionados à ansiedade. Por exemplo, quando o paciente com fobia social
deve enfrentar uma situação estressante, como dar um discurso, ou a participar
de uma reunião importante, o médico pode prescrever um beta-bloqueador. To-
mando o medicamento por um curto período de tempo pode ajudar a pessoa a
manter sob controle os sintomas físicos (sudorese, taquicardia, tremores nas
mãos, etc).

- Quais são os efeitos colaterais das medicações usadas para tratar os transtor-
nos de ansiedade?

Veja a seção sobre antidepressivos para uma discussão sobre os efeitos colate-
rais desta classe de medicamentos. Os efeitos colaterais mais comuns para os
benzodiazepínicos são sonolência e tonturas. Outros efeitos adversos possíveis
incluem: Dores de estômago; Visão turva; Dor de cabeça; Confusão ;Sonolência
e Pesadelos.

Possíveis efeitos colaterais de buspirona incluem: Tontura; Dores de cabeça;


Náusea; Nervosismo; Excitação; Problemas para dormir.

Efeitos colaterais comuns de beta-bloqueadores incluem: Fadiga; Mãos frias;


Tontura; Fraqueza.

Além disso, os beta-bloqueadores em geral, não são recomendados para pessoas


com asma ou diabetes, pois podem piorar os sintomas.
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- Como os medicamentos para transtornos de ansiedade devem ser tomados?

As pessoas podem desenvolver tolerância aos benzodiazepínicos, se forem toma-


das por um longo período de tempo e podem acabar necessitando de doses cada
vez mais elevadas para obter o mesmo efeito. Algumas pessoas podem se tornar
dependentes deles. Para evitar estes problemas, os médicos costumam prescre-
ver a medicação por períodos curtos, uma prática que é especialmente útil para
pessoas que têm problemas de abuso de substâncias ou que se tornam dependen-
tes de medicação facilmente. Se o paciente interromper a medicação abrupta-
mente, podem existir sintomas de abstinência, ou a sua ansiedade pode retornar
(rebote). Por isso, eles devem ser retirados gradualmente
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TRANSTORNOS DE HUMOR

São agrupados como Transtornos do Humor os


transtornos em que o núcleo central é a alteração do humor.
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2.1 DEPRESSÃO

A depressão é caracterizada por mudanças no humor, com


o paciente sentindo-se triste ou com uma sensação de vazio durante
a maior parte do dia. Esta síndrome está associada com uma dimi-
nuição do interesse ou da capacidade para sentir prazer, choro fre-
quente e fadiga e/ou perda de energia. Sono, apetite e a atividade
motora são afetadas em maior ou menor grau. Pode haver a insônia
ou a hipersónia (dormir demais), a perda de peso ou o ganho de peso,
o aumento ou a diminuição do apetite. Podem surgir agitação psico-
motora ou retardo psicomotor(lentificação). A indecisão também é
observada, juntamente com uma reduzida capacidade de pensar e de
se concentrar, sentimentos de inutilidade e culpa excessiva. Podem
surgir idéias recorrentes de morte, ideação suicida sem plano especí-
fico ou mesmo tentativas de suicídio. No transtorno depressivo
maior, o DSM-IV estabelece a presença de um estado depressivo ou
perda de interesse além de quatro ou mais dos sintomas mencionados
acima por um período maior ou igual o de duas semanas. Se existem
apenas dois a três destes sintomas associados, o diagnóstico é de um
distúrbio depressivo menor. Em ambos os casos, as doenças médicas
e abuso de substâncias devem ser excluídos como possíveis causas
da doença. É importante estabelecer se se trata de um primeiro epi-
sódio ou se houve eventos anteriores. A distinção mais importante
consiste em estabelecer se se trata de uma depressão unipolar (epi-
sódios depressivos apenas) ou um episódio depressivo dentro do
transtorno afetivo bipolar (presença de mania ou hipomania alter-
nando com episódios de depressão)
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2.2 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

O Transtorno Afetivo bipolar é uma doença em que o humor


sofre variações e existem episódios alternados de depressão e de eu-
foria (mania ou hipomania). Os episódios depressivos são semelhan-
tes aos da depressão unipolar. A mania é caracterizada por um estado
de humor eufórico (eufórico ou irritável), que dura pelo menos uma
semana e está associado com uma auto-estima exacerbada ou sensa-
ção de grandiosidade , uma redução na necessidade do sono, logor-
réia (produção aumentada de palavras, com discurso e fala mais rá-
pidos) , juntamente com a fuga de idéias. A atenção espontânea é
facilmente distraída para estímulos irrelevantes, e há um aumento no
nível da atividade psicomotora, que pode estar nas esferas sociais,
ocupacionais, académicas ou sexual, podendo chegar a agitação psi-
comotora. O paciente torna-se excessivamente envolvidos em ativi-
dades prazerosas que podem levar a sérias conseqüências, tais como
compras compulsivas ou investimentos de risco, além de comporta-
mento sexual inadequado. A doença pode apresentar sintomas psicó-
ticos que exigem a internação na maior parte das vezes, devido ao
risco para o próprio paciente ou para os outros. Em hipomania os
sintomas descritos acima estão presentes, embora mais atenuados, e
os sintomas psicóticos não são encontrados. A duração é de pelo me-
nos quatro dias e não é suficientemente grave para causar a deterio-
ração social ou ocupacional ou para exigir a internação. O transtorno
bipolar é classificada em: Tipo I (se existe alternância entre depres-
são e mania) e Tipo II (se existe alternância entre depressão e hipo-
mania). Os pacientes que apresentam quatro ou mais episódios de
mania ou depressão por ano são considerados "cicladores rápidos" e
seu tratamento é mais difícil. O tratamento consiste na administração
de estabilizadores do humor (lítio ou anticonvulsivantes) e, em di-
versas ocasiões, neurolépticos.
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2.3 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE TRANSTORNOS


DE HUMOR

- O que é depressão?

A depressão clínica é uma doença séria que afeta negativamente a


forma como o paciente pensa, sente e se comporta. Em contraste com a tristeza
normal, a depressão é persistente, muitas vezes interfere com a capacidade de o
paciente para experimentar ou sentir o prazer, e interfere significativamente com
o funcionamento na vida diária. Quando não tratada, os sintomas podem durar
semanas, meses ou anos, e se inadequadamente tratada, a depressão pode levar à
cronificação do quadro. Existe o risco também, em casos raros, o suicídio.

- Quais são alguns dos sinais e sintomas da depressão?

A pessoa é diagnosticada com depressão, quando ele ou ela experi-


menta pelo menos cinco dos sintomas listados abaixo por duas semanas consecu-
tivas. Pelo menos um dos cinco sintomas deve ser (1) humor depressivo ou (2) a
perda de interesse ou prazer.

Os sintomas incluem:

Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias


Acentuada diminuição do interesse ou prazer nas atividades a maior
parte do dia, quase todos os dias
Alterações no apetite que resultam em perda de peso ou ganho de peso
não relacionados à dieta
Alterações nos padrões de sono
Perda de energia ou aumento da fadiga
Inquietação ou irritabilidade
Sentimentos de ansiedade
Sentimentos de inutilidade, desamparo ou desesperança
Culpa excessiva
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Dificuldade para pensar, concentrar-se, ou de tomar decisões


Pensamentos de morte ou tentativas de suicídio

- Como a depressão é diagnosticada e tratada?

O primeiro passo para o diagnóstico é visitar um médico para uma


avaliação médica. Certos medicamentos, e algumas condições médicas, tais como
doenças da tireóide, podem causar sintomas semelhantes aos da depressão. Um
médico pode excluir essas possibilidades através da realização de um exame fí-
sico, entrevista e exames de laboratório. Se o médico elimina uma condição mé-
dica como uma causa, ele ou ela pode iniciar o tratamento ou encaminhar o pa-
ciente para um profissional de saúde mental.

Uma vez diagnosticada, o paciente com depressão pode ser tratado por
vários métodos. Os pilares de tratamento da depressão são os medicamentos an-
tidepressivos e a psicoterapia, que também podem ser usadas em combinação.

- Por que é a depressão mais prevalente em mulheres do que em homens?

A depressão é cerca de duas vezes mais comum entre as mulheres como


entre os homens. Cerca de 20 por cento das mulheres experimentam pelo menos
um episódio de depressão em sua vida. Os estudos atuais trabalham com várias
causas potenciais e fatores que contribuem para aumento do risco das mulheres
para a depressão. Entram neste conceito as questões biológicas, o ciclo de vida,
os fatores hormonais, psicossociais, entre outros. Pesquisadores têm mostrado re-
petidamente, por exemplo, que os hormônios afetam a química cerebrais, afetando
nossas emoções e humor.

Antes da adolescência, meninas e meninos sofrem de depressão mais


ou menos na mesma freqüência. Na adolescência, no entanto, as meninas se tor-
nam mais propensos a sofrer de depressão do que os rapazes. Pesquisa aponta
para várias razões possíveis para este desequilíbrio. As mudanças biológicas e
hormonais que ocorrem durante a puberdade provavelmente contribuem para o
aumento acentuado nas taxas de depressão entre adolescentes. Além disso, a pes-
quisa sugere que as meninas são mais propensas do que os rapazes para continuar
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a sentir-se mal depois de experimentar situações ou acontecimentos difíceis, su-


gerindo que eles são mais propensos à depressão.

- O que é depressão pós-parto (DPP)?

As mulheres são vulneráveis à depressão pós-parto, quando as mudan-


ças hormonais e físicas, além da nova aesponsabilidade de cuidar de um recém-
nascido. Muitas novas mães experimentam um breve episódio de alterações de
humor leve, conhecidos como os "baby blues". Estes sintomas geralmente somem
até o décimo dia pós parto. DPP dura muito mais do que 10 dias, e pode continuar
por meses após o nascimento da criança. DPP é uma condição muito mais grave
e que requer tratamento ativo e apoio emocional para a mãe. Alguns estudos su-
gerem que as mulheres que experimentam DPP muitas vezes tiveram episódios
depressivos anteriores.

- O que acontece durante a menopausa?

A menopausa é definida como o estado de ausência de períodos mens-


truais por 12 meses. A menopausa é o momento em que a produção de estrogênio
e progesterona diminui permanentemente para níveis muito baixos. Os ovários
param de produzir óvulos e uma mulher não é mais capaz de engravidar natural-
mente. Durante a transição para a menopausa, algumas mulheres experimentam
um aumento do risco para a depressão. Os cientistas estão explorando como o
aumento cíclico e queda de estrogênio e outros hormônios podem afetar a química
do cérebro que está associada com doença depressiva.

- E sobre depressão em períodos mais tarde da vida?

Para os adultos mais velhos que sofrem de depressão pela primeira vez
mais tarde na vida, outros fatores, tais como mudanças no cérebro ou do corpo,
podem estar em jogo. Por exemplo, os adultos mais velhos podem sofrer de dimi-
nuição do fluxo sangüíneo, uma condição chamada isquemia. Ao longo do tempo,
os vasos sanguíneos tornam-se menos flexíveis. Eles podem endurecer e evitar que
o sangue que flui normalmente para os órgãos do corpo, incluindo o cérebro,
consigam fazer seu trabalho normalmente. Se isso ocorrer, um adulto sem história
familiar ou pessoal de depressão pode desenvolver o que alguns médicos chamam
de "depressão vascular". Aqueles com depressão vascular também podem estar
em risco para a doença cardiovascular coexistindo, tais como doença cardíaca
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ou um derrame (AVC).

- Que esforços estão sendo feitos para melhorar o tratamento da depressão?

Os pesquisadores estão procurando maneiras para entender melhor,


diagnosticar e tratar a depressão entre todos os grupos de pacientes. Estudar es-
tratégias para personalizar o atendimento para a depressão, tais como a identifi-
car características da pessoa que possam prever quais tratamentos são mais pro-
pensos a funcionar, são metas importantes ao longo dos proximos anos.

- Qual é o desenvolvimento mais recente promissor no tratamento da depressão?

Uma das grandes descobertas para o tratamento da depressão é a que-


tamina, um antagonista de receptor de NMDA de glutamato, que produz rápida
(dentro de minutos/horas) ações antidepressivas em doentes que não conseguiram
responder aos antidepressivos convencionais (isto é, são considerados resistentes
ao tratamento). A capacidade da quetamina para produzir uma resposta antide-
pressiva rápida e eficaz através de um mecanismo completamente diferente repre-
senta a constatação mais importante no campo da depressão em mais de 50 anos.
Estudos que visam caracterizar os mecanismos pelos quais a quetamina trabalha
de forma rápida e eficaz podem levar à novos alvos e agentes que são mais seguros
e de longa duração, e podem revolucionar o tratamento da depressão. Investiga-
ções recentes demonstram que a quetamina aumenta conexões sinápticas nas re-
giões do cérebro que controlam o humor e emoção e também levantam a possibi-
lidade de que as terapias comportamentais, bem como agentes farmacológicos,
poderão reforçar e sustentar essas novas ligações e a resposta antidepressiva a
quetamina.

- O que é a depressão resistente (refratária) ao tratamento?

Depressão resistente ao tratamento (Depressão refratária) é um termo


usado em psiquiatria clínica para descrever os casos de transtorno depressivo
maior que não respondem aos tratamentos convencionais (pelo menos dois cursos
de tratamentos antidepressivos). Para muitas pessoas, o tratamento com antide-
pressivos e / ou a psicoterapia(como terapia cognitivo-comportamental ou psico-
terapia psicodinâmica) podem aliviar os sintomas de depressão, mas no caso da
34 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

depressão resistente ao tratamento, pouco ou nenhum alívio é conseguido nestes


casos. Sintomas de depressão resistentes ao tratamento podem variar de leves à
graves e podem exigir a tentativa de uma série de abordagens para identificar o
que é ideal para aquele paciente em específico

- Como tratar a depressão refratária?


O tratamento da depressão refratária (ou resistente) tradicionalmente
é tratada com a eletroconvulsoterapia (ECT). A ECT foi modificada para evitar a
dor anteriormente associado ao método, e é o tratamento mais eficaz e de ação
rápida para a depressão refratária. A desvantagem é que ele funciona através da
indução de convulsões cerebrais e pode prejudicar a memória (durante o período
do tratamento). Seus benefícios terapêuticos também podem desaparecer ao longo
do tempo. Novos métodos de estimulação cerebral também podem oferecer a pos-
sibilidade de alívio. Estas tecnologias exploram o fato de que o cérebro é um ór-
gão elétrico e que reage à estimulação elétrica e magnética para modular os cir-
cuitos cerebrais e da atividade do cérebro. A Estimulação magnética transcrani-
ana repetitiva (EMTr), foi aprovado pelo FDA em 2008 como tratamento para
algumas depressões . EMTr é um método não invasivo e que funciona através de
uma bobina realizada sobre a área alvo do cérebro. Um campo magnético passa
através do crânio para ativar o circuito cerebral adequado e sem crises convulsi-
vas induzidas. A estimulação cerebral profunda (DBS) é uma técnica adaptada
para o tratamento da depressão e que funciona por meio de eletrodos implantados
no fundo do cérebro. Um outro método, a estimulação do nervo vago (VNS), esti-
mula o nervo vago na região do pescoço para terapeuticamente ativar a função
cerebral.

- Que medicamentos são usados para tratar o transtorno afetivo bipolar?

O transtorno afetivo bipolar, também chamado de doença maníaco-de-


pressiva, é comumente tratado com estabilizadores de humor. Às vezes, antipsi-
cóticos e antidepressivos são usados juntamente com um estabilizador de humor.

Estabilizadores de humor

Pessoas com transtorno afetivo bipolar geralmente tentam estabiliza-


dores de humor em primeiro lugar. Em geral, as pessoas continuam o tratamento
com estabilizadores de humor durante anos. O Lítio é um estabilizador do humor
muito eficaz. Foi o primeira estabilizador do humor aprovado pela FDA em 1970
para o tratamento de ambos os episódios maníacos e depressivos.
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 35

Medicamentos anticonvulsivos também são utilizados como estabili-


zadores do humor. Eles foram originalmente desenvolvidos para o tratamento de
convulsões (epilepsia), mas evidências demonstraram que eles eram eficazes
também no controle do humor. Um anticonvulsivante utilizado como estabiliza-
dor do humor é o ácido valpróico, também chamado de divalproato de Sódio.
Para algumas pessoas, pode funcionar melhor do que o lítio. Outros anticonvul-
sivantes usados como estabilizadores do humor são a carbamazepina, lamotrigina
e oxcarbazepina.

Antipsicóticos atípicos

Medicamentos antipsicóticos atípicos (neurolépticos de segunda gera-


ção) são também por vezes usados para tratar os sintomas do transtorno afetivo
bipolar. Muitas vezes os antipsicóticos são usados juntamente com outros medi-
camentos.

Antipsicóticos utilizados para tratar as pessoas com transtorno afetivo


bipolar, , que pode auxiliar no tratamento de pessoas com depressão grave ou de-
pressão psicótica (muitas vezes é acompanhada por uma ruptura com a realidade,
alucinações ou delírios ): Olanzapina; Aripiprazol; Risperidona; Ziprasidona;
Clozapina, que é muitas vezes usada para os pacientes que não respondem ao lí-
tio ou anticonvulsivantes.

Antidepressivos

Antidepressivos são por vezes utilizados(com cautela) para tratar os


sintomas de depressão no transtorno afetivo bipolar. A fluoxetina , citalopram,
escitalopram, paroxetina , ou sertralina são alguns exemplos que são utilizados.
No entanto, as pessoas com transtorno afetivo bipolar não devem tomar um anti-
depressivo em monoterapia. Fazer isso pode causar na pessoa a mudança rápida
de depressão para mania (virada maníaca), o que pode ser perigoso. (9) Para evi-
tar esse problema, os médicos dão aos pacientes um estabilizador de humor ou
um antipsicótico juntamente com um antidepressivo.

Existem resultados contraditórios na literatura para avaliar a utilidade


dos antidepressivos no tratamento do transtorno afetivo bipolar. Um estudo fi-
nanciado pelo NIMH nos EUA evidenciou que os antidepressivos foram mais
eficazes do que o placebo para ajudar a tratar a depressão em pessoas com trans-
torno afetivo bipolar. As pessoas estavam tomando estabilizadores de humor,
juntamente com os antidepressivos. Este estudo se chamou STEP-BD (10)
36 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

- Quais são os efeitos colaterais das medicações usadas para transtorno afe-
tivo bipolar?

O tratamentos para o transtorno afetivo bipolar têm melhorado ao


longo dos últimos 10 anos. Mas todo mundo reage de maneira diferente aos me-
dicamentos. Se você tiver quaisquer efeitos adversos, informe o seu médico ime-
diatamente. Ele ou ela pode alterar a dose ou prescrever um medicamento dife-
rente.

Medicamentos diferentes para o tratamento do transtorno afetivo bipo-


lar podem causar efeitos colaterais . Alguns exemplos de efeitos adversos graves
que, apesar de não serem freqüentes, devem ser avaliados pelo medico:

O lítio pode causar vários efeitos colaterais, e alguns deles podem tor-
nar-se graves. Eles incluem: Perda de coordenação; Sede excessiva; Micção fre-
quente; Convulsões; Fala arrastada; Bradicardia ou Taquicardia; Alucinações
(ver coisas ou ouvir vozes que não existem); Alterações na visão;Prurido, erup-
ção cutânea, Inchaço dos olhos, face, lábios, língua, garganta, mãos, pés, torno-
zelos ou pernas.
Se o paciente com transtorno afetivo bipolar está sendo tratado com lí-
tio, ele deve visitar o médico regularmente para verificar os níveis de lítio no san-
gue (litemia ou dosagem sérica de lítio), e fazer acompanhamento da função renal
e tireoidiana.
Alguns possíveis efeitos secundários relacionados com o ácido val-
próico / divalproato de sódio incluem: Mudanças no peso, Náusea, Dor de estô-
mago,Vômitos, Anorexia, Perda de apetite.
O ácido valpróico pode causar danos ao fígado (hepatotoxicidade) ou
pâncreas, o que justifica o acompanhamento medico regular e a necessidade de
exames complementares.

O ácido valpróico pode também afetar meninas mulheres jovens no


período fértil. Às vezes o ácido valpróico pode aumentar a testosterona (hormô-
nio masculino), elevando os níveis nas adolescentes e levar à uma condição cha-
mada de síndrome do ovário policístico (SOP). (11,12) A SOP é uma doença que
pode afetar a fertilidade e fazer o ciclo menstrual ficar irregular, mas os sintomas
tendem a desaparecer após a interrupção do ácido valpróico (13). Também é
contra indicado na gestação, pelo risco de teratogenia.

A Lamotrigina pode causar uma erupção cutânea rara de pele, mas


grave e que precisa ser tratada em um hospital (Síndrome de Stevens-Johnson)
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 37

Outros medicamentos para o transtorno afetivo bipolar podem também


estar relacionados com os efeitos adversos raros, mas graves. Sempre fale com o
seu médico sobre todos os possíveis efeitos colaterais antes de tomar a medica-
ção.

Para obter informações sobre os efeitos secundários dos antipsicóticos,


consulte a seção sobre medicamentos para o tratamento da esquizofrenia .

- Como devem ser tomados os medicamentos para o transtorno afetivo bipo-


lar?

Medicamentos devem ser tomados como prescritos pelo seu médico.


Às vezes o plano de tratamento de o paciente precisa ser mudado ao longo do
tempo. Quando são necessárias mudanças na medicação, o médico irá orientar
como proceder nesta mudança. O paciente nunca deve parar de tomar a medi-
cação por conta própria, sem consultar um médico para obter ajuda.

Não há cura até o momento para o transtorno afetivo bipolar, mas o


tratamento funciona muito bem para muitas pessoas. O tratamento funciona me-
lhor quando ele é contínuo. No entanto, as mudanças de humor podem acontecer
mesmo quando não há interrupções no tratamento. Os pacientes devem ser aber-
tos com seus médicos sobre o tratamento, sobre aquilo que esta funcionando ou
não e sobre os possíveis efeitos adversos que podem estar incomodando. Isto
pode fazer com que o tratamento seja mais eficaz.

Pode ser útil para algumas pacientes ou para seus familiares manter
um gráfico diário de sintomas de humor, tratamentos, padrões de sono, e eventos
de vida estressantes. Este gráfico pode ajudar pacientes e médicos monitorar a
doença.
38 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

TRANSTORNOS ALIMENTARES

Os Transtornos Alimentares são patologias bastante


complexas, de interações entre variáveis fisiológicas (p.e. neuro-
transmissores, metabolismo, paladar, olfato etc.) e variáveis ambien-
tais (p.e. estresse, acessibilidade aos alimentos, comportamento so-
cial etc.). Muitas vezes ocorrem junto com outros transtornos men-
tais, como transtornos depressivos e transtornos ansiosos.
Os neurotransmissores envolvidos são serotonina, dopa-
mina e noradrenalina. Estudos científicos demonstraram que a nora-
drenalina quando ligada a receptores alfa2 em determinada região
cerebral leva ao aumento da fome, preferencialmente por carboidra-
tos; já quando ligada a receptores beta2 em outra área cerebral inibe
a alimentação. A serotonina facilita a saciedade e controla a ingestão
de carboidratos. Já a dopamina apresenta um efeito dose dependente.
Baixas doses de dopamina estimulam a alimentação, enquanto doses
mais altas inibem a alimentação.
O sistema de recompensa ligado a substancias opióides tam-
bém está envolvido, principalmente relacionado ao estresse.

3.1 ANOREXIA NERVOSA

É muito mais frequente em mulheres do que em homens, e


comumente se inicia na adolescência. Geralmente as pessoas com
anorexia nervosa evitam se alimentar em público, ou junto com seus
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 39

familiares. Adotam uma redução alimentar que pode levar algumas


vezes até a inanição. Situação de extrema gravidade, que coloca em
risco a vida do indivíduo.
O indivíduo, pelo menos no início da anorexia nervosa,
sente muita fome, mas luta para resistir a ela. Frequentemente co-
nhecem muito bem os alimentos em termos de potencial calórico.
Resistir à fome é uma vitória que faz aumentar sua autoestima, en-
quanto não resistir à fome leva a redução da autoestima. Dificilmente
buscam tratamento, sendo comum a preocupação partir de familiares
ou amigos.
O sintoma chave da anorexia nervosa é a recusa do indiví-
duo em manter o peso corporal dentro do normal (principalmente
com baixa ingestão alimentar, mas também podem usar de vômitos
e exercícios excessivos). Vem acompanhada de muito medo de ga-
nhar peso, mesmo quando estão abaixo do peso normal, pois apre-
sentam uma distorção da imagem corporal. Essa distorção da ima-
gem corporal faz com que percebam seu corpo, ou partes especificas
do corpo “gordas” mesmo estando abaixo do peso. Nas mulheres
ocorre alteração da menstruação, sendo necessária ausência de três
ciclos menstruais consecutivos para o diagnóstico.
O tratamento deve ser multiprofissional, sendo necessário o
uso de medicações psicoativas e psicoterapia, muitas vezes associa-
dos a um acompanhamento com nutricionista, e com outras especia-
lidades médicas.
40 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 41

3.2 BULIMIA NERVOSA

Muito mais frequente em mulheres do que em homens, ini-


cia geralmente após alguma tentativa de controle de peso, como fazer
regime.
O sintoma chave da bulimia nervosa é o episódio de com-
pulsão alimentar (ingestão alimentar, em um período de até duas ho-
ras, de uma quantia alimentar maior que a maioria dos indivíduos
consumiria durante situações similares, acompanhada de um senti-
mento de falta de controle sobre a ingestão dos alimentos). Após o
episódio de compulsão alimentar o indivíduo sente culpa, e ocorrem
comportamentos para tentar impedir o aumento do peso, como vô-
mitos, uso de laxantes ou diuréticos e exercícios físicos exagerados.
A compulsão alimentar precisa ocorrer ao menos duas vezes por se-
mana, por ao menos três meses. A forma e peso corporal tem um
papel muito grande na autoestima desses indivíduos.
O tratamento deve ser multiprofissional, com uso de medi-
cações antidepressivas e psicoterapia. A terapia cognitivo-compor-
tamental é a terapia que apresenta mais evidências científicas.
42 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 43

ESQUIZOFRENIA

Cole aqui um parágrafo do seu texto, cole aqui um


parágrafo do seu texto, cole aqui um parágrafo do seu texto, cole aqui
um parágrafo do seu texto, cole aqui um parágrafo do seu texto, cole
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4.1 ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica crônica que in-


clui alterações da sensopercepção, pensamento, linguagem, compor-
tamento, afeto e vontade do indivíduo. O início constuma ser durante
a adolescência ou início da idade adulta e afeta pouco menos de 1%
da população. A causa da esquizofrenia é ainda desconhecido mas é
considerada multifatorial. As principais áreas envolvidas são o sis-
tema límbico, os lobos frontais e os gânglios basais. Uma série de
teorias têm sido propostas sobre esta doença. A hipótese dopaminér-
gica: com hiperatividade dopaminérgica subcortical e hipoatividade
dopaminérgica pré-frontal. Abrange também disfunções de outros
neurotransmissores: serotonina, acetilcolina e glutamato. A hipótese
do neurodesenvolvimento: com uma alteração na formação normal
das sinapses e migração neuronal durante o período pré-natal. Du-
rante o desenvolvimento da pessoa, existe um sistema de "seleção
neuronal", que, através de um mecanismo de apoptose (morte celular
44 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

programada), permite a eliminação de certos neurónios e a persistên-


cia das conexões sinápticas mais eficientes ("poda sináptica") . Da
mesma forma, apoptose inadequadas podem estar presentes, dei-
xando conexões anómalas que não processam informação correta-
mente. O fator hereditário é responsável por cerca de 70% do risco,
embora a doença não é monogênica. Os loci mais estreitamente re-
lacionadas parecem ser nos cromossomos 1, 6, 8, 13, 15 e 22, afe-
tando a síntese de enzimas, fatores de crescimento e metabolismo de
neurotransmissores. O fator ambiental é responsável pelos 30% res-
tantes do risco, que inclui lesão cerebral perinatal e na infância e es-
tresse psicossocial
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 45
46 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

4.2 SUBTIPOS DE ESQUIZOFRENIA

Desde o início do século XX, para a maior parte dos estudi-


osos, a Esquizofrenia é considerada um grupo de transtornos e não
apenas uma patologia. A vantagem de se especificar subtipos de Es-
quizofrenias está em prever melhor sua evolução e resposta aos di-
versos tratamentos. Cada subtipo de Esquizofrenia cursa no início da
patologia com grupos de sintomas mais específicos, e que depois,
conforme a patologia evolui, os sintomas se misturam, podendo
ocorrer em todos os subtipos de Esquizofrenias.
Alguns autores, pelo contrário, defendem a ideia de que a
subdivisão em subtipos é algo artificial, pois na verdade existe ape-
nas um tipo de Esquizofrenia que se manifesta de modo diferente de
acordo com a evolução da doença.
Podemos classificar as Esquizofrenias principalmente em:
Esquizofrenia Paranóide, Esquizofrenia Hebefrênica e Esquizofrenia
Catatônica. Todos os subtipos podem cursar em seu início com défi-
cits cognitivos que causam prejuízos acadêmicos e/ou ocupacionais,
e prejuízos no funcionamento social.

Esquizofrenia Paranóide
Geralmente surge no início da fase adulta. Predomina delí-
rios persecutórios (indivíduo se sente perseguido por conhecidos
e/ou desconhecidos, algo que não é real) e alucinações auditivas
(ouve vozes também com a temática de perseguição, ou ouve sons
que associa a perseguição, como p.e. algum som do telefone faz o
indivíduo acreditar que o telefone está grampeado). Com a evolução
da patologia, além dos delírios e alucinações, surgem sintomas ne-
gativos, como p.e. embotamento afetivo (dificuldade de expressar
emoções) e/ou dificuldade de ter iniciativa. Tornam-se indivíduos
desconfiados e reservados, algumas vezes hostis. Em alguns casos
evoluem com sintomas de transtornos afetivos. Tem ótima resposta
ao uso de antipsicóticos.
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 47

Esquizofrenia Hebefrênica ou Desorganizada


Predomina a desagregação do pensamento (p.e. a linha de
raciocínio do indivíduo é ilógica aos outros) e comportamento ina-
propriado (comportamentos muito estranhos, por diversas vezes bi-
zarros, p.e. andar em círculos sem nenhuma razão aparente), e afetos
inapropriados (emoções são percebidas e manifestadas de modo es-
tranho aos outros indivíduos). É o subtipo com início mais precoce,
geralmente surge no início da adolescência. Com a evolução da pa-
tologia, além da desagregação e afetos inapropriados, costuma apre-
sentar muito sintomas negativos, como p.e. dificuldade de expressar
emoções e/ou dificuldade de ter iniciativa. É o subtipo que apresenta
menos resposta aos tratamentos existentes.

Esquizofrenia Catatônica
Predomina alterações da motricidade e do comportamento.
Variando da lentificação psicomotora até agitação psicomotora. É
bastante comum que o indivíduo mantenha posturas inadequadas,
muitas vezes desconfortáveis por um grande espaço de tempo. Com
a evolução da patologia, além das alterações de motricidade e do
comportamento, costuma apresentar sintomas negativos, como p.e.
dificuldade de expressar emoções e/ou dificuldade de ter iniciativa.
Tem boa resposta ao uso de antipsicóticos e a eletroconvulsoterapia.
48 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 49

4.3 DELÍRIO

Os delírios são alterações dos juízos de realidade, ou seja, o


indivíduo perde a capacidade de saber o que é real e o que é fruto de
sua imaginação. É um tipo de perturbação do pensamento, em que
existem crenças sustentadas, mas que não são verdadeiras. Embora
irreal, para o indivíduo existe uma convicção plena, uma certeza que
é impossível ser desfeita independente dos argumentos racionais de
outras pessoas, independente do conteúdo muitas vezes ser impossí-
vel de ocorrer. (p.e. um homem acreditar literalmente estar “grá-
vido”, um indivíduo acreditar que vizinhos instalaram câmeras den-
tro das paredes de todos os cômodos da casa para vigiá-lo).
Os delírios ocorrem em diversos transtornos psiquiátricos.
Embora alguns temas de delírios sejam mais comuns em um ou outro
transtorno psiquiátrico, nenhum deles é específico de uma patologia.
No caso da Esquizofrenia Paranóide o tema do delírio mais
frequente é o chamado delírio persecutório, em que o indivíduo acre-
dita que é perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas, ou
que é monitorado ou espionado por agências governamentais ou gru-
pos criminosos.
Nas Esquizofrenias também são frequentes os delírios de
auto referência e delírios de influência. O delírios de auto referência
são aqueles em que o indivíduo acredita que fatos corriqueiros do dia
a dia dizem respeito a ele. Acredita que falas da TV ou rádio são
direcionadas especificamente a ele, que comentários em rodas de
conversa fazem referência a ele, e que pessoas rindo na rua estão
rindo dele. Já nos delírios de influência o indivíduo acredita que pes-
soas ou entidades sobrenaturais, comandam ou influenciam seus
pensamentos, seus movimentos corporais ou suas atitudes.
50 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 51

4.4 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE ESQUIZOFRENIA

- Quais medicações são usadas para tratar a esquizofrenia?

As medicações antipsicóticas (também chamados de neurolépticos) são


utilizadas para tratar a esquizofrenia, o transtorno esquizoafetivo e outros trans-
tornos psicóticos. Alguns destes medicamentos estão disponíveis desde meados da
década de 1950. Eles também são chamados antipsicóticos "típicos" ou de Pri-
meira geração. Dois dos medicamentos mais comumente utilizados são: Clorpro-
mazina e Haloperidol.
Na década de 1990, foram desenvolvidos novos medicamentos
antipsicóticos. Esses novos medicamentos são chamados de segunda geração, ou
antipsicóticos "atípicos".
O primeiro foi a clozapina (na verdade desenvolvido na década de 60,
mas por anos não comercializado por conta de questões de segurança). É uma
medicação muito eficaz, que trata os sintomas psicóticos (como alucinações e de-
lírios) e se mostra superior no tratamento de casos refratários (que não obtiveram
boa resposta com outras medicações antipsicóticas). No entanto, por vezes, a clo-
zapina pode causar um problema grave chamado agranulocitose, que é uma perda
das células brancas do sangue que ajudam a combater as infecções (faz parte do
sistema imunológico). Portanto, as pessoas que tomam clozapina devem realizar
hemograma semanalmente nas primeiras 18 semanas de tratamento, e a partir de
então mensalmente, para evitar que este problema se manifeste. Por conta disto,
o tratamento com a clozapina acaba sendo um tratamento caro e de certa forma
também mais difícil, por conta da realização dos exames periódicos. Ainda assim,
a clozapina é bastante útil para pessoas que não respondem a outros medicamen-
tos antipsicóticos.
Outros antipsicóticos atípicos foram desenvolvidos. Todos eles são efi-
cazes, sem aumento de risco de agranulocitose. As medicações são: Risperidona
; Olanzapina; Quetiapina; Ziprasidona; Aripiprazol; Amissulprida; Paliperi-
dona; Asenapina

Nota: O FDA (Órgão de regulação norte-americano) emitiu um Alerta


de Saúde Pública de medicamentos antipsicóticos atípicos. A FDA determinou que
as taxas de mortalidade são maiores para os idosos com demência quando estes
medicamentos são prescritos. As medicações antipsicóticas não são aprovados
pela FDA para o tratamento de distúrbios comportamentais nos pacientes com
demência.

- Quais são os efeitos colaterais das medicações usadas para tratar esquizofre-
nia?
52 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

Algumas pessoas têm efeitos colaterais quando iniciam o uso destes


medicamentos. A maioria dos efeitos colaterais desaparecem depois de alguns
dias e muitas vezes podem ser tratados com sucesso com algumas outras medica-
ções para amenizar os sintomas. As pessoas que estão em uso de antipsicóticos
não devem dirigir até que se ajustem à sua nova medicação, ou seja, quando esti-
verem sem efeitos adversos que prejudiquem a capacidade de dirigir. Os efeitos
colaterais destas medicações incluem:
• Sonolência
• Tonturas ao levantar (Hipotensão ortostática)
• Visão turva
• Taquicardia
• Sensibilidade ao sol (Foto sensibilidade)
• Erupções cutâneas
• Problemas menstruais para as mulheres.

Os neuroléticos atípicos podem causar ganho de peso maior e mudan-


ças metabólicas. Isso pode aumentar o risco Diabetes Mellitus e o risco de hiper-
colesterolemia (1). Os níveis de glicose e os níveis lipídicos devem ser monitora-
dos regularmente por um médico ao estar em uso destas medicações.
Existem também alguns efeitos adversos que os antipsicóticos típicos
(Neurolépticos de Primeira Geração) podem causar. Estes efeitos adversos estão
relacionados com o movimento físico, tais como: Rigidez Muscular; Espasmos
musculares persistentes; Tremores; Inquietação (Acatisia).
O uso a longo prazo de antipsicóticos típicos podem levar à uma con-
dição chamada de discinesia tardia (DT). A DT provoca movimentos musculares
involuntários. Os movimentos geralmente acontecem ao redor da boca. A DT pode
variar de leve à grave, e em algumas pessoas, este problema pode ser irreversível.
Às vezes, as pessoas com DT podem se recuperar parcial ou totalmente depois de
interromper o uso da medicação.
Os antipsicóticos atípicos causam menos comumente a DT, porém o
risco também existe.

- Como devem ser tomados os antipsicóticos e como costuma ser a reação dos
pacientes à eles?

Os antipsicóticos são geralmente prescritos em forma de comprimidos


ou líquido (menos comum). Alguns antipsicóticos são usados de forma intramus-
cular e usado uma ou duas vezes por mês.
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 53

Os sintomas da esquizofrenia, tais como agitação, desorganização do


comportamento e alucinações geralmente desaparecem em poucos dias. Sintomas
como delírios geralmente desaparecem dentro de algumas semanas. Depois de
cerca de seis semanas, muitas pessoas vão ter uma série de melhorias.
No entanto, as pessoas reagem de maneiras diferentes à medicamentos
antipsicóticos, e ninguém pode dizer de antemão como o paciente vai reagir. Às
vezes o paciente precisa tentar vários medicamentos antes de encontrar o caminho
certo. Médicos e pacientes podem trabalhar juntos para encontrar o melhor re-
médio ou a combinação de medicação e dose.
Algumas pessoas podem ter uma recaída dos sintomas e voltar a piorar.
Normalmente as recaídas acontecem quando as pessoas param de tomar a medi-
cação, mesmo também quando esquecem de usar as doses conforme prescritos
pelo seu médico. Algumas pessoas param de tomar a medicação porque eles se
sentem melhor sem a medicação ou porque podem sentir que não é mais necessá-
rio usar a medicação (quando se consideram curados). Mas ninguém deve parar
de tomar um medicamento antipsicótico sem falar com o seu médico.

- Como antipsicóticos interagem com outros medicamentos?

Os antipsicóticos podem produzir efeitos adversos desagradáveis ou


perigosos quando tomados com certos medicamentos. Por esta razão, todos os
médicos que tratam o paciente precisam estar cientes de todos os medicamentos
que a pessoa está tomando. As pessoas também precisam discutir o uso de qual-
quer tipo de álcool ou outras drogas com o seu medico, pois estes podem conferir
risco ao tratamento.
54 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL E DROGAS

O uso da palavra “droga” é muito comum,


mas o termo adequado é substância de abuso. Pois “droga” é uma
substância química produzida em laboratório que causa um efeito fi-
siológico conhecido; e nem todas as substâncias de abuso são produ-
zidas em laboratório (p.e. maconha) ou causam efeitos fisiológicos
conhecidos (p.e. LSD).
Existem muitas substâncias de abuso. Este texto tratará de
algumas delas como o álcool, a cocaína e a maconha.
As substâncias com potencial de abuso ativam o sistema ce-
rebral de recompensa (ligado ao neurotransmissor dopamina), que
está relacionado com o reforço positivo de comportamentos prazero-
sos. Ao utilizar uma substância de abuso o indivíduo quer experi-
mentar uma sensação prazerosa. Ao utilizar de modo recorrente a
substância o indivíduo quer sentir repetidamente a sensação praze-
rosa.
Chega um momento em que passa a utilizar a substância de
modo compulsivo. Caso não utilize, sente um desejo quase irresistí-
vel de utilizar, o que é chamado de fissura.
A tendência é que esta sensação prazerosa diminua paulati-
namente sua intensidade com o uso da mesma quantidade da subs-
tância de modo recorrente. A partir daí o indivíduo tende a aumentar
a quantidade da substância para obter a mesma sensação. Isto é cha-
mado de tolerância.
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 55

Quando indivíduos que utilizam substâncias de abuso de


modo recorrente, reduzem ou interrompem o uso, e isso provoca vá-
rios sintomas desagradáveis (geralmente efeitos opostos ao da subs-
tância), isto é chamado de abstinência.
A dependência ocorre quando se identifica tolerância, abs-
tinência e comportamento compulsivo ao uso da substância.
A intoxicação é a presença de alterações psicológicas e
comportamentais, às vezes acompanhadas de sintomas físicos desa-
gradáveis, que ocorrem durante o uso, ou logo após o uso da subs-
tância,
No Transtorno por Uso de Substância o indivíduo utiliza a
substância em situações que colocam em risco sua integridade física
(como dirigir embriagado), quando o uso da substância sabidamente
atrapalha no cumprimento de obrigações (p.e trabalho, faculdade),
ou quando mantém o uso em detrimento de problemas de relaciona-
mento (p.e. conjugal, familiar), sabidamente relacionados ao uso da
substância.
Por serem transtornos de alta complexidade, o tratamento
multiprofissional é indicado na maioria dos casos.
56 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 57

5.2 ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL

A abstinência ao álcool inicia-se entre 12 e 72 horas após a


redução ou interrupção do uso de álcool. Persiste em geral até uma
semana. Varia desde tremores nas mãos, náuseas e irritabilidade, até
quadros de convulsão, confusão mental e morte. Por isso é muito
importante buscar um atendimento médico na suspeita de um quadro
de abstinência.
Um tipo específico de abstinência ao álcool é o Delirium
Tremens. Nesse quadro o indivíduo apresenta alucinações que po-
dem ser visuais, auditivas ou cinestésicas (p.e. sensações táteis de
insetos no corpo), além dos sintomas da abstinência citados no pará-
grafo anterior.
No caso do Delirium Tremens o tratamento mais recomen-
dado é feito em ambiente hospitalar.
58 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 59

5.3 ESTIMULANTES E ALUCINÓGENOS

A cocaína é o principal estimulante ilícito no Brasil. Ela é


utilizada de diversas maneiras: mascada (folha de coca), fumada
(crack), injetada ou inalada (pó). O uso de cocaína pode levar rapi-
damente para a dependência, principalmente o uso do crack. Existem
relatos de que com apenas um único uso do crack o indivíduo se trona
dependente.
A intoxicação causa frequentemente euforia, hiperativi-
dade, dilatação da pupila (midríase), tremores, taquicardia, sudorese
ou calafrios, alucinações e insônia.
Existem diversos riscos associados ao uso da cocaína. Al-
guns riscos são agudos e outros crônicos. Dentre os riscos agudos o
principal é a overdose, situação em que o indivíduo sofre uma sobre-
carga no sistema cardiovascular que pode levar ao infarto do coração
ou um acidente vascular cerebral, popularmente chamado de der-
rame. Dentre os riscos crônicos estão o desenvolvimento de transtor-
nos psicóticos como a esquizofrenia, ou doenças infecciosas adqui-
ridas por compartilhamento de seringas contaminadas, ou sexo sem
preservativo.
O quadro de abstinência se inicia após 24h da redução ou
interrupção do uso da cocaína, e mantém-se de modo intenso por até
quatro dias. Frequentemente cursa com ansiedade e irritabilidade,
desejo pela cocaína (fissura), pesadelos e algumas vezes agitação
motora. Também podem ocorrer sintomas depressivos, com alguns
casos chegando ao suicídio.

As anfetaminas são os principais estimulantes lícitos no


Brasil. Os efeitos estimulantes são semelhantes aos da cocaína, com
intensidade menor e a duração do efeito maior, motivos pelos quais
possuem menor risco de dependência. Também pode levar a over-
dose.
60 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

A Cannabis é o principal alucinógeno usado no Brasil. As


apresentações mais conhecidas são: maconha, haxixe e o THC. Ge-
ralmente é fumada, e com menor frequência é ingerida com algum
alimento.
Embora com possibilidade menor que o álcool e os estimu-
lantes, a cannabis pode causar dependência e a quadros de abstinên-
cia.
Durante a intoxicação o indivíduo frequentemente apresenta
euforia, distorção temporal e raciocínio lento. Em alguns casos apre-
senta paranoia (desconfiança sem motivo), irritabilidade ou crise de
pânico. Até duas horas após o uso é frequente o indivíduo apresentar
hiperemia conjuntival (olhos avermelhados), boca seca (menor ca-
pacidade de salivação), larica (aumento do apetite), e taquicardia.
A abstinência se inicia em até sete dias da redução ou inter-
rupção do uso da cannabis, e perdura por até duas semanas. Os sin-
tomas mais frequentes são: irritabilidade, raiva ou agressividade, an-
siedade, insônia e pesadelos, diminuição do apetite, humor depri-
mido. Em alguns casos ocorrem sintomas físicos como dor abdomi-
nal, febre ou cefaleia.
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 61
62 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE

Personalidade é o pano de fundo da vida emocional


de um indivíduo. É o conjunto de traços emocionais e comportamen-
tos desencadeados, que ocorrem no dia a dia desse indivíduo. É algo
estável e muitas vezes previsível.
Transtornos de Personalidade ocorrem quando o conjunto
de traços emocionais e comportamentos desencadeados provocam
sofrimento ou funcionamento desadaptado no convívio social ou
ocupacional. Causa prejuízo nos relacionamentos interpessoais. O
indivíduo sofre, e faz sofrer a sociedade.

6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A causa dos transtornos de personalidade é multifatorial,


compreendendo fatores genéticos ligados a hereditariedade, fatores
ambientais ligados ao ambiente familiar e social na infância e ado-
lescência, e fatores biológicos ligados a estruturas cerebrais e neuro-
transmissores. Normalmente se inicia no final da infância ou adoles-
cência, mas o diagnóstico geralmente é feito após os dezoito anos.
O tratamento preconizado para todos os tipos de Transtor-
nos da Personalidade é a realização de psicoterapia. Alguns casos
necessitam do uso combinado de medicamentos, principalmente vol-
tados ao controle de sintomas específicos, como a impulsividade.
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 63

Os Transtornos de Personalidade são agrupados em três ca-


tegorias. No Grupo A estão os transtornos da personalidade para-
noide, esquizoide e esquizotípica; os indivíduos nesse grupo são des-
confiados, esquisitos e/ou excêntricos. No Grupo B estão os trans-
tornos de personalidade antissocial, histriônico, borderline e narci-
sista; os indivíduos parecem dramáticos e exageradamente emotivos.
No Grupo C estão os transtornos da personalidade de esquiva, de-
pendente e obsessivo-compulsivo; os indivíduos parecem ansiosos e
temerosos.
Também existem muitos outros transtornos de personali-
dade que não pertencem a nenhum dos grupos acima. São classifica-
dos como Transtornos da Personalidade Sem Outra Especificação.
Por terem menos consistência diagnóstica não serão descritos neste
livro.
64 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 65

6.2 PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DOS


TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE

No Transtorno da Personalidade Paranóide os indivíduos


sofrem por desconfiar de praticamente todas as pessoas, incluindo
familiares e amigos. Suspeitam constantemente, sem ter fundamen-
tos, de que diversas ações foram realizadas para ameaça-los ou pre-
judica-los. Em alguns casos se tornam hostis e combativos.
No Transtorno da Personalidade Esquizóide os indivíduos
não sentem vontade ou necessidade de construírem vínculos emoci-
onais com outras pessoas. Apresentam distanciamentos das relações
sociais, mesmo com familiares. Preferem realizar atividades e traba-
lhos de modo solitário. Tem dificuldades de expressar emoções.
No Transtorno da Personalidade Esquizotípica os indiví-
duos são considerados muito estranhos para o padrão sociocultural
da comunidade onde vivem. Frequentemente são identificados por
seu comportamento excêntrico e aparência excêntrica. Podem ter
pensamentos bizarros e discurso extravagante.

No Transtorno da Personalidade antissocial os indivíduos


são propensos a enganar e mentir para obter vantagens pessoais ou
prazer, não se importando em cometer atos ilegais. Não apresentam
culpa ou remorso por suas atitudes. Muitas vezes fingem serem pes-
soas boas, agradáveis e dignas de credibilidade. Tentam controlar
sua irritabilidade e impulsividade, mas em algumas situações podem
perder o controle e cometer atos de violência física.
No Transtorno da Personalidade Borderline os indivíduos
são instáveis emocionalmente, com oscilações frequentes de humor,
e comportamento imprevisível. São indivíduos impulsivos com
grande intensidade emocional, com visão extrema dos relacionamen-
tos ou acontecimentos. Vivem numa montanha russa emocional.
Muitas vezes, para aliviar suas angústias, cometem atos de automuti-
lação como: arranhões, beliscões e cortes na pele. Frequentemente
relatam um vazio emocional e tédio. Determinado relacionamento
66 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

ou situação é totalmente boa, ou determinada situação ou relaciona-


mento é totalmente mau. Popularmente essa maneira de interpretar
os acontecimentos é chamada de “oito ou oitenta”.
No Transtorno da Personalidade Histriônica os indivíduos
apresentam comportamentos dramáticos e exageradamente emoti-
vos. Tendem a serem sedutores e teatrais em busca de atenção. São
bastante sugestionáveis, e com frequência apresentam sintomas de
transtornos somatoformes. Frente a situações de frustrações podem
cometer ameaças de suicídio. Em alguns casos essas ameaças se con-
cretizam, por isso não devem ser subestimadas.
No Transtorno da Personalidade Narcisista os indivíduos se
acham importantes e grandiosos, e acreditam que os outros indiví-
duos têm o desejo e a obrigação de admirá-los e servi-los. Normal-
mente realizam comportamentos arrogantes e insolentes, não se im-
portando de usar pessoas para atingir seus objetivos.

No Transtorno da Personalidade de Esquiva os indivíduos


desejam relacionamentos interpessoais, mas por sua timidez e ex-
trema sensibilidade à rejeição, muitas vezes se isolam socialmente.
Possuem falta de autoconfiança e discurso autodepreciativo. Temem
a ridicularização.
No Transtorno da Personalidade Dependente os indivíduos
têm uma necessidade excessiva de serem cuidados, o que ocasiona
comportamentos extremamente submissos. Apresentam dificulda-
des em tomar decisões, preferindo deixar que outros indivíduos de-
cidam. Muitas vezes preferem sofrer caladas, a terem de discordar
de alguém.
No Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva os
indivíduos seguem um padrão global de perfeccionismo, organiza-
ção, atenção aos detalhes e inflexibilidade nos pensamentos e com-
portamentos. Os padrões de perfeccionismo são tão elevados e rígi-
dos que interferem na conclusão das tarefas.
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 67
68 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

PERGUNTAS E RESPOSTAS DIRETAS

7.1 PERGUNTAS SOBRE MEDICAÇÃO

Medicamentos são usados para tratar os sintomas de trans-


tornos mentais, como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar,
transtornos de ansiedade e déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH). Por vezes, os medicamentos são utilizados juntamente com
outros tratamentos, tais como a psicoterapia.

- Quais são os medicamentos psiquiátricos?


Por vezes chamados de medicamentos psicotrópicos ou psicoativos
(termo mais adequado), eles mudaram a vida das pessoas com transtornos men-
tais para melhor. Muitas pessoas com transtornos mentais vivem vidas normais
com a ajuda desses medicamentos. Sem eles, as pessoas com transtornos mentais
(principalmente os mais graves) podem sofrer sintomas graves e incapacitantes.

- Como os medicamentos são utilizados para tratar transtornos mentais?


Medicamentos podem tratar os sintomas que aparecem nas doenças
mentais. Algumas vezes podem não curar a doença, mas eles fazem as pessoas se
sentirem melhores, para que possam levar uma vida normal.
Medicamentos funcionam de forma diferente para pessoas diferentes.
Algumas pessoas têm ótimos resultados com medicamentos e só precisam deles
por um curto período de tempo. Por exemplo, o paciente com depressão pode se
sentir muito melhor depois de tomar a medicação por alguns meses, e pode nunca
precisar da medicação novamente. Pessoas com doenças como a esquizofrenia ou
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 69

o transtorno bipolar, ou pessoas que sofrem de depressão ou ansiedade cronifica-


das ou graves podem precisar usar as medicações por um tempo muito mais.
Algumas pessoas tem mais efeitos adversos do que outras. Alguns fato-
res que podem afetar como medicamentos funcionam:
1) Tipo de transtorno, tais como depressão, ansiedade, transtorno
bipolar e esquizofrenia
2) Idade, sexo e peso do paciente
3) Comorbidades clínicas
4) Hábitos como fumar e beber
5) Função renal e hepática
6) Genética
7) Uso de outras medicações e suplementos
8) Dieta
9) Se os medicamentos são tomados como prescrito pelo médico.

- Como são usadas as medicações para os idosos

As pessoas mais velhas muitas vezes têm mais problemas de saúde do


que outros grupos mais jovens, eles tendem a tomar mais medicamentos do que as
pessoas numa faixa etária inferior. Incluindo, nesta lista, medicações que não pre-
cisam de receita médica e também fitoterápicos. Como resultado, as pessoas mais
velhas têm maior risco de experimentar interações medicamentosas graves, ou
falhas nas dosagens.
As pessoas idosas também tendem a ser mais sensíveis aos medicamen-
tos. Mesmo pessoas mais velhas saudáveis reagem aos medicamentos de forma
diferente do que as pessoas mais jovens, porque os seus corpos metabolizam as
medicações mais lentamente (velocidade que o corpo "processa as medicações).
Por conta disto, podem ser necessárias doses mais baixas ou menos freqüentes
(menos vezes por dia).
Às vezes, problemas de memória afetam as pessoas mais velhas que
tomam medicamentos para transtornos psiquiátricos. Um idoso pode esquecer sua
dose diária da medicação ou acabar usando mais vezes do que foi inicialmente
prescrito. Uma boa maneira de manter o controle da medicação é a utilização de
uma caixa de comprimidos de sete dias, que pode ser comprado em qualquer far-
mácia. No início de cada semana, os idosos e seus cuidadores enchem as caixas
de modo que seja fácil de lembrar o medicamento a tomar.

- As mulheres que estão grávidas ou que possam engravidar podem usar remé-
dios?
70 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

As pesquisas sobre o uso de medicamentos psiquiátricos durante a gra-


videz é limitada. Os riscos são diferentes dependendo da própria medicação em
uso, e em que fase da gravidez(primeiro, segundo ou terceiro trimestre) a medi-
cação é tomada. Algumas pesquisas demonstraram que os antidepressivos, espe-
cialmente ISRSs, são seguros durante a gravidez. Existe o risco de má formações
ou mesmo outros problemas pré ou peri natais, embora sejam muito raros. (18,19)
Algumas pesquisas sugerem que o uso de ISRSs durante a gravidez está
associado a defeitos congênitos, mas outros estudos não suportam isso. 20 Estu-
dos também descobriram que os fetos expostos ao ISRS durante o terceiro trimes-
tre pode nascer com "sintomas de abstinência", tais como a respiração problemas,
nervosismo, irritabilidade, dificuldade de alimentação, ou hipoglicemia (baixa de
açúcar no sangue).
A maioria dos estudos descobriram que esses sintomas em bebês são
geralmente leves e de curta duração, e nenhuma morte foi relatada. Por outro
lado, as mulheres que param de tomar a medicação antidepressiva durante a gra-
videz pode ter depressão novamente e pode colocar a si mesmos e seu bebê em
risco. (20, 21)
Em 2004, o FDA emitiu um alerta contra o uso de certos antidepressi-
vos no final do terceiro trimestre. O aviso, disse que os médicos podem querer ir
diminuindo gradualmente as mulheres grávidas fora de antidepressivos no ter-
ceiro trimestre para que o bebê não é afetado. 22 Depois que uma mulher oferece,
ela deve consultar o seu médico para decidir se quer voltar a uma dose completa
durante o período quando ela é mais vulnerável à depressão pós-parto.
Alguns medicamentos não deve ser tomado durante a gravidez. Benzo-
diazepínicos podem causar defeitos de nascimento ou outros problemas infantil,
especialmente se tomadas durante o primeiro trimestre. Estabilizadores de humor
são conhecidos por causar defeitos de nascimento. Benzodiazepínicos e lítio foram
mostrados para causar "síndrome do bebê disquete", que é quando um bebê é
sonolento e mole, e não consegue respirar ou alimentar bem.
A pesquisa sugere que medicamentos antipsicóticos durante a gravidez
pode levar a defeitos congênitos, especialmente se forem tomadas durante o pri-
meiro trimestre. Mas os resultados podem variar amplamente, dependendo do tipo
de anti-psicótico. O haloperidol antipsicótico convencional tem sido estudado
mais do que outros, e foi encontrado para não causar defeitos de nascimento. (23,
24)
Depois que o bebê nasce, as mulheres e seus médicos devem estar aten-
tos para a depressão pós-parto, especialmente se eles pararam de tomar a medi-
cação durante a gravidez. Além disso, as mulheres que amamentam, enquanto que
tomam medicamentos psiquiátricos devem saber que uma pequena quantidade do
medicamento passa para o leite materno. No entanto, o medicamento pode ou não
afetar o bebê. Isso depende do medicamento e, quando ele é retirado. As mulheres
Quase tudo que você queria saber sobre psiquiatria e não tinha para quem perguntar 71

que tomam medicamentos psiquiátricos e que pretendem amamentar devem dis-


cutir os riscos e benefícios potenciais com seus médicos.
As decisões sobre a medicação deve ser baseada nas necessidades e
circunstâncias de cada mulher. Os medicamentos devem ser selecionados com
base em pesquisas científicas disponíveis, e eles devem ser tomados com a menor
dose possível. As mulheres grávidas devem ser vigiados de perto durante a gravi-
dez e após o parto.

- O que devo pedir ao meu médico se eu estiver prescrito um medicamento psi-


quiátrico?
Você e sua família podem ajudar o médico a encontrar a medicação
certa para você. O médico precisa saber seu histórico médico, histórico familiar,
informações sobre alergias, outros medicamentos, suplementos ou fitoterápicos
que você toma, e outros detalhes sobre sua saúde em geral. Você ou um membro
da família deve fazer as seguintes perguntas quando um medicamento é prescrito:
Qual é o nome do medicamento?
O que a medicação deveria fazer?
Como e quando devo tomá-lo?
Quanto devo tomar?
O que devo fazer se eu esquecer de uma dose?
Quando e como devo parar de tomá-lo?
Será que vai interagir com outros medicamentos que eu tomo?
Preciso evitar qualquer tipo de comida ou bebida ao tomar a medica-
ção? O que devo evitar?
Deve ser tomado com ou sem comida?
É seguro beber álcool enquanto estiver tomando este medicamento?
Quais são os efeitos colaterais? O que devo fazer se eu experimentá-
los?

Depois de tomar a medicação por um curto período de tempo,conte ao


seu médico como se sente, se você está tendo efeitos colaterais, e quaisquer preo-
cupações que você possa ter sobre o medicamento.

Nota : Parte deste texto foi adaptado do roteiro com direi-


tos abertos do NIMH (The National Institute of Mental Health), dis-
ponível para consulta e republicação no site
http://www.nimh.nih.gov/
72 Organizador : Luiz Henrique Junqueira Dieckmann

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