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IMPÉRIO EDUCACIONAL

PSICOLOGIA DO TRABALHO
PROF.ª HAGNES FERREIRA

DOENÇAS MENTAIS / TRANSTORNOS MENTAIS RELACIONADOS AO TRABALHO

O trabalho é uma parte importante da vida e precisa ser fonte de realização,


sustento e crescimento. Muitas vezes, porém, não é isso que acontece e a atividade
laboral se torna causa de adoecimento. Quando falamos em Saúde e Segurança do
Trabalho, o que vem à mente inicialmente são os acidentes e as patologias físicas. Nos
últimos anos, porém, as estatísticas apontam que os transtornos mentais figuram
entre as principais causas de afastamento no Brasil. Diante desse cenário, é preciso
falar sobre assunto e profundar os motivos que levaram a esse quadro – e como evitar
que ele se agrave.
A autonomia, a liberdade e o reconhecimento do trabalho são as grandes
fontes de prazer para o ser humano, que permitem a descarga psíquica, a qual protege
a pessoa do estresse, da fadiga e do adoecimento, mas, pelas novas formas de
trabalho, onde o que se vê é desemprego, trabalho precário (contratação a prazo, por
tempo parcial, terceirização etc.), o prazer pelo trabalho anda cada vez mais distante
e, em seu lugar, entram a depressão, a humilhação, o isolamento e o sofrimento das
pessoas que, por isso, adoecem.
O trabalhador por vezes utiliza estratégias para se livrar do sofrimento. Uma
delas é a aceleração do trabalho, quando a pessoa pensa que fazendo sua atividade
mais rápido não vai ter tempo para pensar. O problema é que a pessoa continua
acelerada fora do trabalho. Outra estratégia seria a negação do sofrimento e a
tendência a correr riscos desnecessários, causando acidentes. E a última seria o
isolamento do profissional. O resultado de tudo isso são as patologias de sobrecarga,
pós-traumáticas, a depressão e até mesmo, o suicídio.
Estatisticamente, cada vez mais acidentes laborais acontecem devido ao
aumento do sofrimento no trabalho, que afetam diretamente a produção, a atenção e
a saúde dos sujeitos. As causas para que tenha havido um aumento exponencial dos
Transtornos Mentais no ambiente de trabalho, são várias, como: jornadas exaustivas,
exigência de metas abusivas, eventos traumáticos, perseguições aos trabalhadores por
chefes despreparados e isolamento dos trabalhadores, entre outras formas
engendradas com o objetivo de obtenção de mais lucro, falta de reconhecimento do
trabalhador etc. Além disso, o excesso de autocobrança e uma tentativa desenfreada
de querer responder a demanda de um Institucional como forma de validar seu
trabalho, ultrapassando assim seu próprio limite e negligenciando sua vida social e
lazer, contribuem para estas estatísticas.
Conforme a Previdência Social, em 2017, episódios depressivos geraram 43,3
mil auxílios-doença, sendo a 10ª doença com mais afastamentos. Já doenças
classificadas como outros transtornos ansiosos também estão entre as que mais
afastaram, na 15ª posição, com 28,9 mil casos. O transtorno depressivo recorrente
apareceu na 21ª posição, com 20,7 mil auxílios. Uma seguradora fez uma pesquisa no
ano de 2020 e os resultados alertaram que o segundo maior motivo de afastamento do
trabalho são as doenças mentais. Houve mais afastamento por tal motivo do que pelo
vírus Covid-19, que apareceu em quarto lugar.

Os Transtornos Mentais mais comuns relacionados ao trabalho são: Depressão,


Ansiedade, Transtorno de Pânico e Síndrome de Burnout. A OMS alerta que
atualmente, os Transtornos Mentais devem ser considerados uma preocupação
mundial, principalmente nesse período de pandemia, como já discutimos
anteriormente.

 DEPRESSÃO
A depressão é um transtorno comum mais sério, que interfere na vida diária,
capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e aproveitar a vida. É causada por
uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos.
Algumas pesquisas genéticas indicam que o risco de depressão resulta da
influência de vários genes que atuam em conjunto com fatores ambientais ou
outros. Alguns tipos de depressão tendem a ocorrer em famílias. No entanto, a
depressão também pode ocorrer em pessoas sem histórico familiar do transtorno.
Nem todas as pessoas com transtornos depressivos apresentam os mesmos
sintomas. A gravidade, frequência e duração variam dependendo do indivíduo e de
sua condição específica.
-A depressão é um transtorno mental frequente. Em todo o mundo, estima-se
que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram com esse
transtorno.
-A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui
de forma importante para a carga global de doenças.
-Mulheres são mais afetadas que homens.
-No pior dos casos, a depressão pode levar ao suicídio.
-Existem vários tratamentos medicamentosos e psicológicos eficazes para
depressão.

 ANSIEDADE
O termo tem várias definições nos dicionários não técnicos: aflição, angústia,
perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de
perigo etc.
Levando-se em conta o aspecto técnico, devemos entender Ansiedade como um
fenômeno que ora nos beneficia ora nos prejudica, dependendo das circunstâncias ou
intensidade, podendo se tornar patológica, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento
psíquico (mental) e somático (corporal).
A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz
exatamente o contrário, impedindo reações; paralisia.
Os Transtornos de Ansiedade são doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e
às experiências de vida. O indivíduo pode se sentir ansioso a maior parte do tempo
sem nenhuma razão aparente; pode apresentar ter ansiedade às vezes, mas tão
intensamente que a pessoa se sentirá imobilizada. A sensação de ansiedade pode ser
tão desconfortável que, para evitá-la, as pessoas deixam de fazer coisas simples (como
usar o elevador, por ex.) por causa do desconforto que sentem.
Os transtornos da ansiedade têm sintomas muito mais intensos do que aquela
preocupação normal do dia a dia. Eles aparecem como:
– preocupações, tensões ou medos exagerados (a pessoa não consegue relaxar);
– sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer;
– preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;
– medo extremo de algum objeto ou situação em particular;
– medo exagerado de ser humilhado publicamente;
– falta de controle sobre os pensamentos, imagens ou atitudes, que se repetem
independentemente da vontade;
– pavor depois de uma situação muito difícil.
Existem três tipos de tratamento para os transtornos de ansiedade:
– medicamentos (sempre com acompanhamento e receita médica);
– psicoterapia com psicólogo;
– combinação dos dois tratamentos (medicamentos e psicoterapia).

 TRANSTORNO DE PÂNICO
O transtorno do pânico (TP) é caracterizado por crises de ansiedade repentina e
intensa com forte sensação de medo ou mal-estar, acompanhadas de sintomas físicos.
As crises podem ocorrer em qualquer lugar, contexto ou momento, durando em média
de 15 a 30 minutos.
Os ataques de pânico acarretam intenso sofrimento psíquico com modificações
importantes de comportamento devido ao medo da ocorrência de novos ataques. Isso
faz com que os pacientes procurem as emergências médicas em busca de causas
orgânicas que expliquem seus sintomas.
A região central do cérebro é responsável pelo controle das emoções e da liberação de
adrenalina – hormônio que faz com que o organismo se prepare para fugir ou lutar
diante de um perigo. No transtorno do pânico, esse “alarme” cerebral dispara sem que
haja um perigo real, provocando a sensação de medo e mal-estar intenso. Causa:
– aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração;
– falta de ar;
– pressão ou dor no peito;
– palidez;
– suor frio;
– tontura;
– náusea;
– pernas bambas;
– formigamento;
– tremores;
– calafrios ou ondas de calor;
– sensação de estar “fora do corpo”;
– medo de morrer ou de “perder o controle”;
– desmaio ou vômito no pico da crise.
O transtorno do pânico pode ter como origem situações extremas de estresse,
como crises financeiras, brigas, separações ou mortes na família, experiências
traumáticas na infância ou depois de assaltos e sequestros. Pessoas cujos pais têm
transtornos de ansiedade são mais suscetíveis de desenvolver TP.
O tratamento combina medicamentos antidepressivos e ansiolíticos com
psicoterapia e deve ser conduzido por médico psiquiatra; sua duração vai depender da
intensidade da doença, podendo variar de meses a anos, sendo que se trata de um
problema que pode ser controlado, mas para o qual não existe a cura completa. A
psicoterapia objetiva auxiliar o paciente no resgate da autoconfiança necessária ao
domínio das crises, através da consciência de si próprio.
– o diagnóstico do transtorno do pânico pode demorar a ocorrer, pois alguns dos
sintomas físicos da doença podem ser confundidos com os sinais característicos do
infarto;
– procure distinguir a ansiedade normal do transtorno de ansiedade. A primeira, é
essencial para enfrentar os perigos reais que põem a sobrevivência em risco. Vencido o
desafio, o sentimento é de alívio. Já a ansiedade patológica é uma reação
desproporcional ao estímulo que a desencadeia, causa sofrimento, altera o
comportamento e compromete o desempenho até mesmo das atividades rotineiras
das pessoas;
– pratique exercícios físicos. Eles provocam algumas sensações semelhantes às da
síndrome do pânico, como taquicardia e sudorese, porém, num contexto agradável,
que ajuda a identificá-las melhor;
– não se automedique nem recorra ao consumo de álcool ou de outras drogas para
aliviar os sintomas do pânico. Agindo assim, em vez de resolver um problema, você
estará criando outros;
– procure assistência médica. O transtorno do pânico é uma doença como tantas
outras e quanto antes for feito o diagnóstico, melhor será a resposta ao tratamento.

 SINDROME DE BURNOUT
Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio
emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico
resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita
competitividade ou responsabilidade.
A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Esta síndrome é
comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades
constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre
outros.
Traduzindo do inglês, "burn" quer dizer queima e "out" exterior.
A Síndrome de Burnout também pode acontecer quando o profissional planeja ou é
pautado para objetivos de trabalho muito difíceis, situações em que a pessoa possa
achar, por algum motivo, não ter capacidades suficientes para os cumprir.
Essa síndrome pode resultar em estado de depressão profunda e por isso é essencial
procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas.
A Síndrome de Burnout envolve nervosismo, sofrimentos psicológicos e problemas
físicos, como dor de barriga, cansaço excessivo e tonturas. Principais sinais e
sintomas:
-Cansaço excessivo, físico e mental.
-Dor de cabeça frequente.
-Alterações no apetite.
-Insônia.
-Dificuldades de concentração.
-Sentimentos de fracasso e insegurança.
-Negatividade constante
-Sentimentos de derrota e desesperança.
-Sentimentos de incompetência.
-Alterações repentinas de humor.
-Isolamento.
-Fadiga.
-Pressão alta.
-Dores musculares.
-Problemas gastrointestinais.
-Alteração nos batimentos cardíacos.
-O estresse e a falta de vontade de sair da cama ou de casa, quando constantes,
podem indicar o início da doença.
Normalmente esses sintomas surgem de forma leve, mas tendem a piorar com o
passar dos dias. Por essa razão, muitas pessoas acham que pode ser algo passageiro.
Para evitar problemas mais sérios e complicações da doença, é fundamental buscar
apoio profissional assim que notar qualquer sinal. Pode ser algo passageiro, como
pode ser o início da Síndrome de Burnout.
O tratamento da Síndrome de Burnout é feito basicamente com psicoterapia, mas
também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos). O
tratamento normalmente surte efeito entre um e três meses, mas pode perdurar por
mais tempo, conforme cada caso. Mudanças nas condições de trabalho e,
principalmente, mudanças nos hábitos e estilos de vida. A atividade física regular e os
exercícios de relaxamento devem ser rotineiros, para aliviar o estresse e controlar os
sintomas da doença. Após diagnóstico médico, é fortemente recomendado que a
pessoa tire férias e desenvolva atividades de lazer com pessoas próximas - amigos,
familiares, cônjuges etc. Atividades que irão prover prazer e calma.
SINAIS DE PIORA: Os sinais de piora do Síndrome de Burnout surgem quando a pessoa
não segue o tratamento adequado. Com isso, os sintomas se agravam e incluem perda
total da motivação e distúrbios gastrointestinais. Nos casos mais graves, a pessoa
pode desenvolver uma depressão, que muitas vezes pode ser indicativo de internação
para avaliação detalhada e possíveis intervenções médicas.
Como prevenir a Síndrome de Burnout?
A melhor forma de prevenir a Síndrome de Burnout são estratégicas que diminuam o
estresse e a pressão no trabalho. Condutas saudáveis evitam o desenvolvimento da
doença, assim como ajudam a tratar sinais e sintomas logo no início.
As principais formas de prevenir a Síndrome de Burnout são:
Definir pequenos objetivos na vida profissional e pessoal.
Participar de atividades de lazer com amigos e familiares.
Fazer atividades que "fujam" à rotina diária, como passear, comer em restaurante ou ir
ao cinema.
Evitar o contato com pessoas "negativas", especialmente aquelas que reclamam do
trabalho ou dos outros.
Conversar com alguém de confiança sobre o que se está sentindo.
Fazer atividades físicas regulares. Pode ser academia, caminhada, corrida, bicicleta,
remo, natação etc.
Evitar consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou outras drogas, porque só vai piorar a
confusão mental.
Não se automedicar nem tomar remédios sem prescrição médica.
A maior parte das pessoas começa a ser sentir melhor e retoma suas atividades depois
de algumas semanas de tratamento, por isso é importante procurar ajuda
especializada na unidade de saúde mais próxima. O diagnóstico precoce e preciso, um
tratamento eficaz e o acompanhamento por um prazo longo, são imprescindíveis para
obter-se melhores resultados e menores prejuízos.

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