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FICHA DE TRABALHO DE PORTUGUÊS

12º ANO
FERNANDO PESSOA ORTÓNIMO

Lê o texto com atenção e responde às questões com frases bem estruturadas.

1 Tenho tanto sentimento


Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
5 Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,


Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
10 E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira


E qual errada, ninguém
15 Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in Cancioneiro

1. O poema anda em torno da criação poética, explorada pelo sujeito poético numa
perspetiva pessoal, escrevendo tanto na primeira pessoa do singular, como do
plural.
1.1. Comprova a afirmação, transcrevendo palavras distintivas do uso da primeira
pessoa.
1.2. Refere a intencionalidade do sujeito poético ao mudar o discurso da primeira
pessoa do singular para a primeira do plural.
1.3. Identifica o antecedente do pronome “Nos” (verso 15).

2. O sujeito poético reconhece a sua obsessão pela racionalização dos sentimentos,


apesar de ter, por vezes, a ilusão de que é sentimental.
2.1. Transcreve os versos que comprovam a afirmação anterior.
2.2. Interpreta o sentido do conector “Mas” (verso 4) no poema.

3. Identifica os pares através dos quais se desenvolve a dicotomia sentir/pensar e


prova, através da tua experiência de leitura, que esta oposição é uma marca
distintiva da arte poética pessoana.
4. Em que medida podemos reconhecer, neste poema, a visão platónica do mundo,
associando a mensagem transmitida à ideia do “terraço”, presente no poema “Isto”?

5. Apresenta uma possível divisão do texto em partes, justificando a tua proposta.

PROPOSTA DE CORREÇÃO

1.1. As palavras/ expressões que comprovam o uso da primeira pessoa são: “Tenho” (verso 1);
“persuadir-me” (verso 2); “sou” (verso 3); “reconheço” (verso 4); “medir-me” (verso 4); “senti”
(verso 6); “Temos” (verso 7); “vivemos” (verso 7) …
1.2. O sujeito poético começa por apresentar a teoria do fingimento poético numa perspetiva
pessoal, mas passa a falar em “todos que vivemos” (verso 7), visto que o pensamento é uma
característica intrínseca ao Homem, que vive entre o sentimento e o pensamento
permanentemente.
1.3. O antecedente do pronome “Nos” é “todos que vivemos” (verso 7).
2.1. “Tenho tanto sentimento/ Que é frequente persuadir-me / De que sou sentimental” (versos
1 a 3).
2.2. O sujeito poético usa o conector com valor de oposição― “Mas” (verso 4)―, visto que começa
por se afirmar como “sentimental” (verso 3), para, logo de seguida, assumir que ao fazer
esse tipo de raciocínio, já está a intelectualizar as suas emoções e a fazer prevalecer a razão
sobre a emoção.
3. A oposição sentir/pensar desenvolve-se, ao longo do poema, através dos pares vida “vivida/
vida “pensada” e vida “verdadeira”/ vida “errada”― pares de opostos que explicitam a
fragmentação do “eu”. Seguindo a mesma linha de pensamento, nos poemas “Autopsicografia”
e “Isto”, o eu poético também aborda esta relação de interdependência entre a razão e a
emoção, chegando a comparar, no primeiro poema, o coração a um comboio de brincar, cuja
existência depende dos carris (metáfora de pensamento).
4. A mensagem transmitida na segunda estrofe aproxima-se da noção de mundo sensível e de
mundo inteligível, defendida por Platão, concretizada no Mito da Caverna. De facto, o sujeito
poético fala de uma vida “verdadeira” (mundo inteligível) e de uma vida “errada” (mundo
sensível). Para se atingir a vida “verdadeira”, o sujeito poético terá de transformar as emoções
recorrendo à razão, ultrapassando o “terraço”, referido no poema “Isto”, apresentado como
uma representação das barreiras que separam as vivências da criação poética (“Essa cousa é
que é linda”). Tal como os prisioneiros que vivem na caverna e que têm uma existência baseada
na mentira, uma vida “errada”, ilusória, só alcançarão a vida “verdadeira” se se libertarem dos
sentidos (correntes) e recorrerem à razão, também o sujeito poético recusa a manifestação
pura dos sentimentos como forma de alcançar a verdade .
5. O poema é composto por três momentos distintos. No primeiro, correspondente à primeira
estrofe, o sujeito poético começa por falar, numa perspetiva pessoal, dos sentimentos que o
atravessam e que ele transforma no pensamento. No segundo momento, composto pela
segunda estrofe, o sujeito poético admite que a dualidade sentir/ pensar é própria do Homem
e não apenas uma característica sua. Por último, no terceiro momento, o eu poético resigna-
se perante a constatação de ser incapaz de perceber qual é a vida verdadeira e qual é a errada,
mas com uma certeza: “a vida que a gente tem / É a que tem que pensar” (versos 17 e 18), ou
seja, o pensamento prevalece sobre a emoção.

BOM TRABALHO!!!!!!!!!!! A PROFESSORA: Lucinda Cunha

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