Você está na página 1de 3

Fichas de trabalho Domínio Educação Literária

Fernando Pessoa ortónimo


Lê atentamente o poema de Fernando Pessoa ortónimo.

OEXP12DP ©Porto Editora


Tenho tanto sentimento

Que é frequente persuadir-me

De que sou sentimental,

Mas reconheço, ao medir-me,

Que tudo isso é pensamento,

5
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,

Uma vida que é vivida

E outra vida que é pensada,

E a única vida que temos

É essa que é dividida

Entre a verdadeira e a errada.


10

Qual porém é verdadeira

E qual errada, ninguém

Nos saberá explicar;

E vivemos de maneira

Que a vida que a gente tem

É a que tem que pensar.

15
PESSOA, Fernando, 2008. Poesia do Eu. 2.ª ed.

Lisboa: Assírio & Alvim (p. 272)

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. A primeira estrofe apresenta uma das tensões nucleares da poesia de


Fernando Pessoa ortónimo.

1.1. Justifica a afirmação, esclarecendo as relações de sentido que se


estabelecem entre os seis versos.

OEXP12DP ©Porto Editora


Nesta primeira estrofe temos a caracterização do fingimento artístico,
como uma das tenções nucleares da poesia de Fernando Pessoa
ortónimo, através da autocaracterizacao do sujeito poético, como um
ser dominado pelo vício de pensar como podemos ver nos primeiros
seis versos baseados em oposições entre o sentir e o pensar (“tenho
tanto sentimento/que é frequente persuadir-me/de que sou
sentimental” e “mas reconheço, ao medir-me,/que tudo isso é
pensamento,/que não senti afinal.” (vv 1-6). Resumindo, o sujeito
poético afirma que tem tantos sentimentos mas que não sente nada
porque esses sentimentos são transformações em pensamentos,
logo é dominado pelo vício de pensar o porque ao se analisar a si
próprio entende que mesmo tendo sentimentos não sente.

2. Explicita o efeito produzido pela mudança de pessoa gramatical –


“eu”/“nós” – da primeira para a segunda estrofe.

Na primeira estrofe o sujeito poético faz referência apenas ao “eu” para se


tentar entender mas na segunda estrofe muda de pessoa gramatical, em
vez de “eu” passa para “nós” porque tal como ele vive obcecado pela
racionalização o leitor vai passar a viver também sobre esse vício,
refletindo assim sobre a vida que está a ser vivida (“uma vida que é
vivida” (v8)), uma vida que ainda está por viver (“e outra vida que é
pensada” (v9)) e a divisão entre as mesmas porque uma é a vida
verdadeira (sem chantagem) e outra a vida errada ( imaginária) pois esta
última é algo perfeito e que todos gostaríamos de viver mas a vida
verdadeira é a que temos de saber lidar no dia a dia apesar dos
obstáculos. Ou seja o sujeito poético generaliza o seu caso particular.

3. Comenta a relevância dos três últimos versos na construção de sentido


do poema.

Os três últimos versos são importantes para a construção do sentido deste


poema porque a base da vida é o pensamento, então nós temos de viver
a vida da maneira que ela é no nosso pensamento porque é a nossa
verdadeira vida. O sujeito poético conclui isto após um debate entre o
sentimento e a razão.

OEXP12DP ©Porto Editora

Você também pode gostar