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EM RECURSOS HÍDRICOS
VOLUME 1
O COMITÊ DE
BACIA HIDROGRÁFICA
O QUE É E O QUE FAZ?
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA
O QUE É E O QUE FAZ?
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO
EM RECURSOS HÍDRICOS
VOLUME 1
República Federativa do Brasil
Dilma Vana Rousseff
Presidenta
Secretaria-Geral (SGE)
Mayui Vieira Guimarães Scafuto
Procuradoria-Geral (PGE)
Emiliano Ribeiro de Souza
Corregedoria (COR)
Elmar Luis Kichel
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO
EM RECURSOS HÍDRICOS
VOLUME 1
Brasília – DF
2011
3
© Agência Nacional de Águas (ANA), 2011.
Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T.
CEP 70.610-200, Brasília, DF PABX: 61 2109 5400
www.ana.gov.br
ISBN 978-85-89629-76-8
CDU 556.51(81)(075.2)
APRESENTAÇÃO
A Política Nacional de Recursos Hídricos foi O quarto volume concentra-se em outro ente
instituída pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de do Singreh: a Agência de Água ou Agência de
1997. O conhecimento e a divulgação de seus Bacia. São apresentadas as competências, os
conceitos, muitos deles inovadores, são formas pré-requisitos para criação, os possíveis arran-
de fortalecê-la e consolidá-la. jos institucionais para constituição, o contrato
de gestão na política de recursos hídricos e os
A Agência Nacional de Águas (ANA), criada por demais temas afins.
meio da Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, e
instalada a partir da edição do Decreto nº 3.692, O quinto volume concentra-se nos instrumentos
de 19 de dezembro do mesmo ano, completa em de planejamento da política: os planos de re-
2010 uma década de existência e funcionamento. cursos hídricos e o enquadramento dos corpos
d’água em classes segundo os usos preponde-
Dando prosseguimento à sua desafiadora rantes. Tópicos como: o que são, a importância
missão de implementar a Política Nacional de e como construir esses instrumentos são apro-
Recursos Hídricos, a ANA apresenta, em co- fundados nesse volume.
memoração aos seus dez anos, essa série de
cadernos com o objetivo de discorrer, de for- O sexto volume aborda a outorga de direito
ma sucinta, sobre os instrumentos previstos de uso de recursos hídricos. Apresenta bre-
na Lei das Águas, bem como sobre o Sistema ve histórico do instrumento, seus aspectos
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hí- legais, outorga para diversas finalidades de
dricos (Singreh). uso, dentre outros. Além da outorga, o volu-
me apresenta também alguns aspectos da
O primeiro volume discorre sobre um dos entes fiscalização e do cadastro de usuários de re-
do Singreh: o comitê de bacia hidrográfica. São cursos hídricos.
apresentados o contexto histórico da criação
dos comitês, as atribuições, como e por que O sétimo volume discorre sobre a cobrança
criá-los e as diferenças quando comparados a pelo uso de recursos hídricos – a importância
outros colegiados. do instrumento, passos para sua implemen-
tação, mecanismos e valores, além de algu-
O segundo volume tem o objetivo mais prático: mas experiências brasileiras na implementa-
orientar o funcionamento dos comitês de bacia. ção da cobrança.
São apresentados a estrutura organizacional, o
papel de cada um dos elementos constituintes O oitavo volume tem o objetivo de apresentar
(Plenário, Diretoria, Secretário, Câmaras Téc- a importância dos sistemas de informações
nicas, Grupos de Trabalho etc.), exemplos de sobre recursos hídricos para avanço da ges-
documentos e informações úteis para o funcio- tão da água, com destaque para o Sistema
namento do comitê. Nacional de Informações sobre Recursos Hí-
dricos (Snirh).
O terceiro volume aborda alternativas organiza-
cionais para gestão de recursos hídricos. São Esperamos com essas publicações estimular a
apresentados exemplos exitosos de gestão de pesquisa e a capacitação dos interessados na
águas em escalas locais, passando por instân- gestão de recursos hídricos, sobretudo aque-
cias de gestão de águas subterrâneas e de águas les integrantes do Singreh, fortalecendo assim
em unidades de conservação ambiental, chegan- todo o sistema.
do até os complexos arranjos institucionais de ge-
renciamento de águas de bacias transfronteiriças. Boa leitura!
5
Figura 1 Ilustração representativa de um comitê de bacia hidrográfica 11
Figura 2 Múltiplos usos da água na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco 12
Figura 3 Matriz institucional do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (Singreh) 24
Figura 4 Evolução da criação de comitês de bacias hidrográficas no Brasil no
período de 1988 a 2010 24
Figura 5 Evolução da criação de comitês de bacias hidrográficas no Brasil 25
Figura 6 Composição dos comitês de bacia segundo a Resolução nº 5/2000, do CNRH 35
Figura 7 Folder de divulgação do processo eleitoral de 2010 do CBHSF (frente) 36
Figura 8 Bacia do Rio Araguari e sua inserção nas demais bacias 42
Figura 9 Folder de divulgação do processo eleitoral de 2010 do CBHSF (verso) 43
Figura 10 Etapas do processo de instalação de comitês de bacia 43
Figura 11 Bacia do Rio Grande e sua subdivisão em bacias de rios afluentes ou regiões
hidrográficas com seus respectivos comitês 47
Figura 12 Bacia dos Rios Piranhas-Açu e Verde Grande 48
LISTA DE SIGLAS
ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos
ANA Agência Nacional de Águas
CBH Comitê de Bacia Hidrográfica
CEEIBH Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas
CEEIG Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia do Rio Guaíba
Ceivap Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
CHESF Companhia Energética do São Francisco
CNPJ Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos
Cnumad Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento
Conama Conselho Nacional de Meio Ambiente
Copam Conselho de Política Ambiental
Copasa Companhia de Saneamento de Minas Gerais
CRH Conselho de Recursos Hídricos
CTAI Câmara Técnica de Articulação Institucional
CTHIDRO Fundo Setorial de Recursos Hídricos
Dnocs Departamento Nacional de Obras contra as Secas
Dnos Departamento Nacional de Obras de Saneamento
Fepam Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler – Rio Grande do Sul (RS)
FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
GAI Grupo de Articulação Interinstitucional
Gamar Grupo de Acompanhamento do Marco Regulatório
GTAI Grupo Técnico de Articulação Institucional
GTO Grupo Técnico Operacional
Ingá Instituto de Águas e Gestão do Clima da Bahia
MME Ministério de Minas e Energia
ONU Organizações das Nações Unidas
PNRH Plano Nacional de Recursos Hídricos
Sabesp Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
Singreh Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
Sisnama Sistema Nacional do Meio Ambiente
Foto: Projeto de Irrigação, Rio Piancó - PB / Banco de imagens da ANA
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CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
1
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
A diversidade de interesses em relação ao uso Estes são alguns dos olhares sobre um mes-
da água, a distribuição desigual e o uso ina- mo cenário. Estes olhares nem sempre en-
dequado têm gerado conflitos e ameaçado a xergam a bacia hidrográfica como um todo.
garantia desse recurso para as gerações pre- A água disponível em seu território tem de
sentes e futuras. Reverter esse quadro e es- atender a demandas muitas vezes concor-
tabelecer acordos entre os múltiplos usos de- rentes: qual a quantidade de água necessária
mandam arranjos institucionais que permitem a para manutenção do ecossistema aquático?
conciliação dos diferentes interesses e a cons- Em que condições? São as mesmas para ge-
trução coletiva das soluções. ração de energia? E a irrigação? Seu uso está
concorrendo com as necessidades das hidre-
Os usos múltiplos das águas, seja para abaste- létricas? O lançamento de esgoto doméstico
cimento urbano, irrigação agrícola, uso indus- condiz com a qualidade necessária da água
trial, seja para geração de energia elétrica ou para abastecimento humano? E a indústria?
outros, podem ser conhecidos, quantificados, Quanto necessita para diluir seus efluentes
medidos com exatidão e serem o objeto princi- sem causar problemas para o abastecimento
pal do debate. Porém, a água também é neces- humano e para a biota?
sária para manter a vida dos ecossistemas, ou
seja, os usos ambientais, não menos importan- Considere-se uma situação real, em que vá-
tes, portanto, também precisam ser considera- rios usos d’água concorrem entre si: a Bacia
dos nessa discussão. Hidrográfica do Rio São Francisco. Nesta
bacia estão presentes 504 municípios e sete
Os interesses sobre os usos da água são bas- Unidades da Federação (UFs) – Alagoas,
tante distintos e condicionam um olhar particu- Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais,
lar do interessado. Pode-se imaginá-lo sob vá- Pernambuco e Sergipe. Segundo dados do
rias perspectivas. Plano de Recursos Hídricos da Bacia, aprova-
do em 2004, cerca de 16 milhões de pessoas
ali vivem. É considerada estratégica para o
Do ponto de vista do ecossistema aquático, a
País tanto pela sua extensão e disponibilida-
preocupação é com a qualidade e a quantidade
de de água quanto pelas múltiplas atividades
das águas do rio; sob a ótica energética, a preo-
produtivas nela desenvolvidas.
cupação se volta, sobretudo, para a quantidade
de água necessária para garantia das demandas
de energia; entretanto, a visão dos irrigantes fi-
xa-se na garantia de água, em quantidade e qua-
lidade, para o desenvolvimento de suas culturas.
Foto: Golde Maria Stifelman / Banco de imagens da ANA
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O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
O maior parque industrial da bacia está situado A seguir, são apresentados exemplos de de-
em sua parte alta, mais próxima da nascente, poimentos que ilustram os diferentes pontos de
no estado de Minas Gerais. Nos trechos médio vista de agentes diretamente envolvidos com a
e baixo da bacia, a água é mais utilizada para a gestão das águas1:
agricultura irrigada. São cerca de 340 mil hec- Geração de Energia: a água do São
tares irrigados em toda a bacia. A navegação é Francisco é a matéria-prima principal da
realizada principalmente em seu trecho médio. CHESF2. Ela tem ciência de que essa
O uso da água para abastecimento humano e matéria-prima é fundamental para a vida
para diluição de efluentes também se estende e para todos os setores da sociedade que
por toda a bacia. A pesca artesanal, apesar de a utilizam. A CHESF utiliza essa água
seu declínio, ainda representa a fonte de sobre- obedecendo a diretrizes, regras e restri-
vivência de muitas famílias. Em relação ao po- ções e na palavra restrição está implícito
tencial hidráulico para geração de energia, exis- o respeito a todos os outros usos. Essas
te uma capacidade instalada que corresponde restrições são estabelecidas visando
a aproximadamente 14% de todo o potencial atender os outros usos da água – nave-
energético do País. gação, irrigação, pesca, turismo, lazer
entre outros (Sonali Cavalcante, Gerente
Há não só a concorrência entre usos e usuários da Divisão de Gestão de Recursos Hí-
internos, mas também com usos externos à ba- dricos da Companhia Energética do São
cia: o Projeto de Integração do Rio São Francis- Francisco – CHESF, 2008).
co com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Se-
tentrional (Projeto de Transposição) é exemplo Representante dos povos indígenas: a
de uso externo que não pode ser desprezado. gente tem a certeza, hoje, que as barra-
gens estão para servir ao capital e não a
Nem sempre a quantidade ou a qualidade da necessidade do povo que vive em suas
água presentes são adequadas ou suficientes margens. O que foi citado pelas apresen-
para atender às demandas dos diferentes usos. tações, na reunião do comitê, a água está
Nessas oportunidades, o conjunto complexo de para a geração de energia, para não ter
usos e usuários pode gerar embates entre os apagão e manter a chama acesa da barra-
interessados defendendo, cada qual, distintos gem (Maria José Gomes Marinheiro, Povo
pontos de vista sobre o uso da água. Pode-se, Tumbalalá, 2008).
então, caracterizar um conflito.
Saneamento: a água é elemento fun-
A solução desses conflitos deve passar pela damental para a vida, portanto, os cur-
elaboração de estudos técnicos, financeiros, sos de água devem ser protegidos. Um
econômicos e socioambientais, os quais objeti- dos maiores problemas do saneamen-
vam indicar alternativas, discutidas entre os en- to é o despejo de esgotos sanitários e
volvidos, que podem resultar na priorização de industriais, sem tratamento adequado,
determinados usos sobre outros. nestes cursos de água. A recuperação
dos cursos de água deve sempre ser
Não se pode deixar de registrar que a legislação conduzida por bacias hidrográficas vi-
brasileira garante como usos prioritários, em si- sando otimizar os recursos financeiros,
tuações de escassez, o abastecimento humano que no Brasil são escassos (Valter Vi-
e a dessedentação animal. lela, representante da Companhia de
1 Os depoimentos referentes ao setor elétrico e aos povos indígenas foram realizados no âmbito da pesquisa da Rede Ecovazão
(CNPQ/CT HIDRO, 2007-2009).
2 CHESF – Companhia Energética do São Francisco – operadora das hidrelétricas.
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
Saneamento de Minas Gerais – Copa- Como se vê, cada segmento defende interes-
sa/MG e vice-presidente do CBH do Rio ses que, em várias situações, são conflitan-
das Velhas, 2009). tes. Conflitos como esses não deveriam ser
tratados ou solucionados em espaços fecha-
Indústria: o setor industrial sofre as inter- dos, orientados somente pelas diretrizes go-
ferências dos outros usos na maioria das vernamentais ou soluções técnicas, sem um
bacias hidrográficas hoje, especialmen- ambiente público que permitisse a transparên-
te aquelas que drenam áreas urbanas. cia do processo de negociação e a participa-
O setor paga caro por um pré-tratamen- ção de todos os sujeitos envolvidos, direta ou
to da água antes de ser utilizada nos indiretamente, no problema. O comitê consti-
seus processos, pois quase sempre tui-se em ambiente favorável à resolução de
capta esgoto doméstico. O setor paga tais conflitos.
caro também na mídia, quando inves-
te milhões em estações de tratamento Nas últimas décadas, a formulação e a imple-
de efluentes, mas os resultados são mentação de políticas públicas têm agrega-
imperceptíveis por lançar em verdadei- do novos paradigmas a esses processos: a
ros esgotos a céu aberto. Sem falar em gestão descentralizada e participativa tem se
usos clandestinos e sem planejamento, mostrado como uma tendência internacional
a gerar conflitos, mesmo em bacias com (ARRETCHE, 1996). Essa mudança tem sido
potencial hídrico, e colocar em risco o justificada, principalmente, pela contribuição ao
investimento e tornar improvável qual- processo de democratização das relações polí-
quer ampliação futura (Patrícia Boson, ticas e para o aumento da eficiência e da eficá-
representante da Federação das Indús- cia das ações públicas.
trias do Estado de Minas Gerais – FIE-
MG, no CBH Doce, 2009). A participação na elaboração de orçamentos
municipais, a criação de conselhos de saúde,
Irrigação: devido às peculiaridades de de trânsito, de segurança, de educação, tam-
nossa bacia, com clima semiárido, a irri- bém, para debater questões relativas ao meio
gação se torna, em muitos casos, a única ambiente são exemplos das novas formas ins-
possibilidade de produção de alimentos, titucionais criadas nas últimas décadas para
além de apresentar necessidades hídricas estimular a participação direta nos assuntos
superiores a de outras regiões do país. [...] públicos (UTZIG, 1996).
O setor de irrigação sofre interferência prin-
cipalmente intrassetorial, ou seja, de outros Nesse contexto, a instituição da Política Nacio-
irrigantes. Pela natureza de nosso uso, que nal de Recursos Hídricos, definida pela Lei das
utiliza um grande volume em um ponto de Águas (Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997),
captação e o distribui sobre uma grande refletiu o esforço dos movimentos sociais e téc-
extensão de terra, acabamos funcionando nicos, que foram determinantes na criação de
como depuradores da poluição a montante, arranjos institucionais e possibilitaram maior
inclusive despejos sanitários. A maior parte participação de setores da sociedade envolvi-
da água consumida, que é por evapotrans- dos na gestão de recursos hídricos.
piração, é imediatamente purificada. A que
permanece no solo sofre a ação de microor- O comitê de bacia hidrográfica é, assim, a
ganismos que decompõem os agentes po- instância-base dessa nova forma de fazer po-
luentes em elementos não poluentes (João lítica: descentralizada por bacia hidrográfica
Gustavo de Paula, representante da Farpal e contando com a participação dos poderes
Agropastoril e Participações Ltda., membro públicos, dos usuários e das organizações da
do CBH Verde Grande, 2009). sociedade civil.
14
2
15
2 COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
e medidas compensatórias para as bacias do- em conjunto por diversos órgãos envolvidos
adoras, tais como: implantação de sistemas de com a gestão de recursos hídricos) estabele-
tratamento de esgotos e programas de raciona- ceu mecanismos para enfrentar a escassez de
lização do uso da água e educação ambiental. água na bacia, com a introdução de compen-
Isso ocorreu após intensos debates entre as sações técnico-financeiras para incentivar a
partes envolvidas: comitês das bacias doadora substituição da cultura do arroz por culturas de
e receptora, órgãos gestores de recursos hídri- menor consumo de água e garantir esse insu-
cos, Companhia de Saneamento Básico do Es- mo para abastecimento às populações. A expe-
tado de São Paulo (Sabesp), que é o principal riência aumentou o nível de conscientização da
usuário das águas transpostas. sociedade para importância da gestão da água.
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O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
3 É conhecido por Relatório Brundtland por ser escrito a partir da reunião presidida pela primeira ministra da Noruega,
Gro Harlem Brundtland.
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2 COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
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O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
seja, funcionam como uma instância de con- devem ser definidas metas de racionalização
sulta à sociedade podendo suas decisões ser, de uso para aumento de quantidade e melho-
ou não, implementadas. ria da qualidade dos recursos hídricos dispo-
níveis, bem como os programas e os projetos
Eis a diferença: os comitês de bacia hidrográ- destinados ao atendimento dessas metas. No
fica diferem de outras formas de participação plano são definidas também as prioridades
previstas nas demais políticas públicas, pois para outorga de direito de uso da água, esta-
têm como atribuição legal deliberar sobre a belecidas as condições de operação dos reser-
gestão da água fazendo isso de forma compar- vatórios, além de orientações e regras a serem
tilhada com o poder público. implementadas pelo órgão gestor de recursos
hídricos na concessão das outorgas. No pla-
no também estarão as diretrizes e os critérios
A isso se chama poder de Estado, tomar deci-
para cobrança pelo uso dos recursos hídricos.
sões sobre um bem público e que devem ser
Enfim, o plano, como principal instrumento de
cumpridas. O comitê passa, então, a definir as
deliberação do comitê, reúne as informações
regras a serem seguidas com relação ao uso
estratégicas para gestão das águas na respec-
das águas. Aos órgãos gestores de recursos hí-
tiva bacia hidrográfica.
dricos cabe fazer que essas regras sejam postas
em prática por meio do seu poder de regulação.
2.2.3
QUAL O PODER DE DECISÃO DO COMITÊ DE BACIA?
A principal decisão a ser tomada pelo comitê é
a aprovação do Plano de Recursos Hídricos
da Bacia. Esse instrumento constitui-se no
plano diretor para os usos da água. No plano
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2 COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA
Foto: Empreendimento à beira do Alto São Francisco
- Paulo Virgílio / Banco de imagens da ANA
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CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
3
4 Em 29 de março de 1978, por meio da Portaria Interministerial nº 090, baixada pelos ministros do Interior e das Minas
e Energia, foi criado o CEEIBH. A partir de 1983, tendo deixado de se reunir, o CEEIBH interrompeu suas atividades.
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3 SURGIMENTO DOS COMITÊS DE BACIA NO BRASIL
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
dos recursos hídricos das bacias hidrográficas, Em 1985, denúncias de contaminação do Rio
promover o aproveitamento múltiplo das águas dos Sinos intensificaram-se, mobilizando a so-
e a minimização dos impactos ambientais das ciedade local e os técnicos da Fundação Estadual
intervenções antrópicas. Eram integrados por de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler
ministérios e secretarias do governo federal e (Fepam) para a necessidade de se aumentar a
dos governos estaduais, além de usuários da fiscalização e o controle dos lançamentos nos
área estatal. Pode-se considerar, dentre outros corpos d’água da bacia. Em 1987, grupos or-
aspectos, como grande contribuição dessa ex- ganizados da sociedade, de universidades e
periência para gestão da água, a utilização da de técnicos do estado realizaram um seminário
bacia hidrográfica como unidade territorial de sobre essa questão. É proposta, nesse evento,
planejamento e gestão. a criação do Comitê de Preservação, Gerencia-
mento e Pesquisa da Bacia do Rio dos Sinos.
Apesar de o CEEIBH se restringir à esfera de
governo, de não ter poder deliberativo ou dispor Esse comitê foi criado no ano seguinte pelo De-
de recursos financeiros, ele realizou estudos creto Estadual nº 32.774/1988. A composição
fundamentais para o conhecimento das reali- do Comitê do Rio dos Sinos não se limitava à re-
dades das bacias e, o mais importante, repre- presentação governamental. Faziam parte, tam-
sentou um caminho para descentralização da bém, universidades, movimentos ecológicos,
gestão da água no País. entidades empresariais, prefeituras municipais,
câmaras de vereadores e outras organizações
Como se deu a transformação de um comitê da sociedade civil. É considerada a primeira ex-
governamental e consultivo em um comitê de periência brasileira na instituição de comitê de
estado, com a participação ampliada de usuá- bacia tendo como referência o modelo francês.
rios e organizações da sociedade civil e com
poder deliberativo? Para ilustrar essa transfor-
3.2
mação, tome-se como exemplo a organização
COMO OS COMITÊS DE BACIA SE
do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio dos Si-
DISSEMINARAM PELO PAÍS
nos, no Rio Grande do Sul.
No ano da criação do Comitê do Rio dos Sinos,
foi promulgada a Constituição Federal (1988).
3.1 A Carta Magna atribuiu à União, no seu artigo
O CASO DO RIO GRANDE DO SUL 21, inciso XIX, a instituição do Sistema Nacio-
Um grupo de técnicos que, em sua maioria, ha- nal de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
via trabalhado nos estudos realizados pelo Co- Neste mesmo ano, foi publicada pela Associa-
mitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia ção Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) a
do Rio Guaíba (CEEIG) e eram representantes Carta de Salvador, que apontou para a neces-
de órgãos governamentais estudou, na década sidade de inclusão de novos atores na gestão
de 1980, formas de gerenciamento de recursos de recursos hídricos, principalmente usuários e
hídricos em diversos países, sobretudo, os mo- organizações cuja atuação estivesse envolvida
delos adotados na França, na Alemanha, na In- diretamente com a gestão das águas.
glaterra e nos Estados Unidos.
Em 1991, o estado de São Paulo promulgou
As experiências internacionais eram interpreta- a Lei nº 7.663. Foram criados órgãos colegia-
das à luz da realidade e da experiência brasi- dos, consultivos e deliberativos: o Conselho
leira, assim, foi valorizado o modelo contendo de Recursos Hídricos (CRH), para o debate
comitê por bacia com poder deliberativo. Assim, das questões com relevância estadual; e os
o modelo francês, com essas características, comitês de bacia hidrográfica, com atuação
mostrou-se forte referência para formulação do em unidades hidrográficas em território paulis-
modelo brasileiro. ta. Em 1993, foi criado o Comitê das Bacias
22
Foto: Rio Corumbataí – SP - Tomás May / Banco de imagens da ANA
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
23
3 SURGIMENTO DOS COMITÊS DE BACIA NO BRASIL
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
Formulação e
Formulação de
deliberação sobre Apoio aos Apoio técnico (T) e
políticas
políticas de recursos colegiados regulação (R)
governamentais
hídricos
ANA
Nacional Conselho Nacional MMA SRHU e ANA
(T e R)
As figuras 4 e 5 ilustram a evolução da cria- Águas (1997), bem como o aumento no núme-
ção de comitês de bacia no Brasil, onde se ro de comitês em bacias de rios de domínio da
observa o aumento considerável no número União (bacias interestaduais), após a criação
de comitês após a promulgação da Lei das da ANA (2000).
10 200
9 164 180
159 161
Lei nº 9.984/2000 –
8 145 160
Total de comitês interestaduais
criação da Agência
Nacional de Águas 137
Total de comitês estaduais
7 140
Lei Estadual nº 115
7.663/1991 – Lei nº 9.433/1997 –
6 instituição do Sistema instituição da Política 103 120
Estadual de Nacional de Recursos 91
5 Gerenciamento de Hídricos e do Singreh 86 100
Recursos Hídricos de
4 São Paulo 67 80
55
49
3 43 60
29
2 40
20 21 23
15 15 16
1 1 2 2 20
0 0
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Ano
Figura 4 – Evolução da criação de comitês de bacias hidrográficas no Brasil no período de 1988 a 2010
24
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
Legenda
Divisão hidrográfica nacional
Unidades da Federação
Comitê de bacia interestadual
Comitê de bacia estadual
25
3 SURGIMENTO DOS COMITÊS DE BACIA NO BRASIL
Foto: Transporte de minérios, Rio Paraguai / Banco de imagens ANA
26
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
4
27
4 ATRIBUIÇÕES DOS COMITÊS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
órgãos responsáveis pela regulação do uso das e articular a atuação das entidades envolvidas.
águas. A legislação determina que o plano deve: Caso os conflitos não consigam ser evitados, é
• apresentar as metas de racionalização também o comitê que atua como árbitro, em
de uso, o aumento de quantidade e a uma primeira instância administrativa.
melhoria da qualidade dos recursos hí-
dricos disponíveis; Essa arbitragem se dá de forma participativa.
• estabelecer as condições de operação Quem decide sobre o conflito é o “coletivo”, con-
dos reservatórios; e forme as regras definidas no regimento interno
• definir as prioridades de uso para efeito do comitê. Portanto, instaurado um conflito, au-
de concessão da outorga de direito de xiliado por estudos técnicos sobre a questão,
uso de recursos hídricos. cabe ao plenário do comitê definir a prioridade
do uso e a solução da contenda. Ou seja, partin-
As regras definidas no plano devem orientar a do de uma base técnica de avaliação do conflito,
atuação da regulação quando do estabelecimento é realizada a avaliação política pelo comitê. De
dos critérios de outorga a serem adotados pelos forma pública, transparente e democrática.
órgãos gestores com relação aos diversos usos.
VEJA MAIS: o volume 2 apresenta exemplo hi-
É dever do comitê, além de aprovar o plano, potético no qual foi solicitado ao comitê a arbi-
acompanhar sua implementação para garantir tragem de um conflito existente.
a efetivação das metas nele estabelecidas, bem
como a realização dos programas nele priori- Essas decisões, no entanto, podem ser revis-
zados. Para tanto, é necessária a existência de tas pelo próprio comitê, ou recorrendo-se aos
mecanismos que possibilitem tais atividades. conselhos de recursos hídricos, em última ins-
As agências de água e a cobrança pelo uso dos tância administrativa, conforme o domínio das
recursos hídricos são alguns dos meios com que águas em disputa.
devem contar os comitês no acompanhamento e
na implementação do plano. Por falar em cobran- Se cabe ao comitê a arbitragem, o que compe-
ça, a aplicação dos recursos arrecadados é te aos órgãos gestores de recursos hídricos?
definida pelo comitê, com base nas orientações A regulação, o poder de polícia, a implemen-
do plano, para utilização desses recursos. tação da decisão: eis sua função objetiva no
cumprimento da decisão pública. Cabe ressaltar
Observa-se que os usos da água são muitas ve- que, como o alicerce da Política Nacional de Re-
zes concorrentes e que a água que está reser- cursos Hídricos é um sistema de gerenciamen-
vada para a agricultura pode comprometer a na- to – o Singreh (figura 3) –, é necessário que os
vegação, ou mesmo a geração de energia e que órgãos gestores de recursos hídricos estejam
o somatório desses usos pode ameaçar a ma- bem preparados para exercer não só as funções
nutenção do ecossistema aquático. Para preve- há pouco descritas, mas todas aquelas que
nir conflitos, o comitê deve promover o debate lhes cabem. Para que as decisões dos comitês
28
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
sejam efetivas e o Singreh funcione de forma acordo com os usos preponderantes pretendi-
plena, é imprescindível que os órgãos gestores dos, ao longo do tempo.
estejam adequadamente estruturados.
Além dessas atribuições, o comitê deve ser
Outras atribuições relevantes dos comitês, po- o fórum em que se promova o debate das
rém, que necessitam da aprovação dos con- questões relacionadas a recursos hídricos e
selhos de recursos hídricos competentes, são: a articulação das entidades intervenientes.
o estabelecimento de propostas sobre usos Essa atribuição será cada vez mais impor-
não outorgáveis ou de pouca expressão; e a tante com a melhoria da representatividade
proposição de alternativa de enquadramento e da legitimidade de seus representantes.
dos corpos d’água, que nada mais é do que Esse é um desafio a ser superado a cada
o estabelecimento de meta ou o objetivo de processo eleitoral do comitê. O quadro 1
qualidade de água (classe) a ser alcançado ou apresenta as atribuições dos comitês de ba-
mantido em um segmento de corpo d’água, de cia previstas em lei.
VEJA MAIS: sobre enquadramento dos corpos d’água em classes veja Resolução Conama nº 357, de 17
de março de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e as diretrizes ambientais para
seu enquadramento, bem como estabelece as condições e os padrões de lançamento de efluentes.
Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interes-
se comum ou coletivo.
Propositivas Escolher a alternativa para enquadramento dos corpos d’água e encaminhá-la aos con-
selhos de recursos hídricos competentes.
Propor aos conselhos de recursos hídricos a criação de áreas de restrição de uso, com
vista à proteção dos recursos hídricos.
29
4 ATRIBUIÇÕES DOS COMITÊS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
Todas as atribuições do comitê pressupõem Ou seja, nunca é demais relembrar que o comi-
ampla discussão e acordos entre as partes tê é uma instituição de Estado com atribuições
envolvidas. No entanto, as discussões não legais claras. Com seu fortalecimento, forta-
podem ser um fim em si mesmo, e o comitê lece-se a implantação da Política Nacional de
só tem sentido quando consegue exercitar de Recursos Hídricos como um todo, legitimando
forma plena suas atribuições legais. a atuação da regulação por parte dos órgãos
gestores de recursos hídricos.
Governo: espaço de tempo durante o qual alguém governa ou governou; sistema político pelo qual
se rege um Estado.
5 A Lei nº 9.433/97 introduziu a figura das Agências de Água que, na maioria das legislações estaduais de recursos hídri-
cos, são denominadas como Agências de Bacia. Em ambos os casos (União e estados), as agências têm competências
bastante semelhantes, de caráter eminentemente técnico e executivo.
30
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
Ou seja, percebe-se aqui uma dificuldade Absolutamente. Como foi dito, a gestão de re-
inicial para implantação do Singreh: não se cursos hídricos no Brasil é baseada em um sis-
avança na gestão porque não há estudos tema em que todos os entes que o compõem
técnicos; não se têm estudos técnicos por- devem atuar em cooperação, de forma coor-
que não se avança na implementação dos denada e articulada. Cabe aos órgãos gesto-
instrumentos de gestão. Esse problema tem res, como organizações responsáveis pela im-
sido superado, em parte, quando os órgãos plementação da política de recursos hídricos,
gestores de recursos hídricos disponibilizam apoiar os comitês no exercício de suas atribui-
os estudos. O fato é que a implantação da ções, mesmo na inviabilidade da criação das
cobrança pelo uso da água e a instalação agências de água – fato que pode estar pre-
da Agência de Água colaboram fortemente sente em grande número de bacias brasileiras.
31
4 ATRIBUIÇÕES DOS COMITÊS
Foto: Projeto de Irrigação - RN / Banco de imagens da ANA
32
5
33
5 COMPOSIÇÃO DOS COMITÊS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
34
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
40%
Essas orientações legais têm sido referência diferentes daqueles indicados pela Resolução
para as legislações estaduais correlatas que nº 5/2000, do CNRH.
foram promulgadas após a edição da Lei das
Águas. Há no País, no entanto, comitês cria- Vê-se, no quadro 2, que as composições dos
dos para bacias estaduais, oriundos de legis- comitês variam de acordo com as leis estaduais
lação anterior, que apresentam percentuais a que estão submetidos.
Velhas (MG) 50 25 25
Curu (CE) 40 30 30
Sinos (RS) 20 40 40
35
5 COMPOSIÇÃO DOS COMITÊS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
36
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
divergentes e isto não permite uma fácil organi- Uma entidade representa um conjunto de seus
zação dessas entidades. pares. Uma pessoa é nomeada representante
dessa entidade no comitê. Como essa pessoa
Nas bacias cuja abrangência geográfica envol- deve agir para que seus argumentos sejam
ve mais de um estado da Federação, bacias aqueles que defendam os interesses do con-
hidrográficas interestaduais, a escolha dos re- junto das entidades representadas? Como essa
presentantes deve considerar, também, outros pessoa deverá advogar esses interesses?
critérios. É imprescindível que haja representa-
ção de comitês de bacias de rios afluentes ao Trata-se de um grande desafio. Nem sempre
rio principal e é preciso assegurar que os inte- o exercício das funções pelo indicado corres-
resses dos diferentes estados sejam bem repre- ponde aos interesses da categoria. Há sempre
sentados, refletindo a importância da bacia para o risco da autorrepresentação. Muitas vezes,
os interesses específicos sobre a água para é comum um representante eleito entre seus
cada um dos entes. É necessário que sejam es- pares defender interesses próprios ou particu-
tabelecidos modelos para gestão das águas no lares, seus ou da entidade que representa di-
âmbito desses tipos de bacias. retamente, e não compartilhar com o grupo as
questões debatidas. Assim, não estará repre-
De maneira geral, o processo eleitoral deve ser sentando adequadamente os interesses para
conduzido de modo a garantir a oportunidade de os quais foi eleito.
participação de todos os atores da bacia, sejam
eles usuários, prefeituras, sejam organizações É recomendável que sejam estabelecidos proce-
civis. Um processo amplo e transparente permi- dimentos para que esses representantes de fato
tirá o alcance da melhor representatividade dos exerçam bem suas funções. No entanto, há de se
interesses no âmbito da composição do comitê. definir como esse representante deve informar e
consultar a base representada e, assim, ter o exer-
O certo é que, quando o comitê exerce suas atri- cício do seu mandato legitimado a cada debate e
buições deliberativas, estará fortalecido e terá, decisão a ser tomada no âmbito do comitê de bacia.
sempre, um processo eletivo mais concorrido.
Essa dinâmica de causa-efeito deverá orientar, O exercício da representação requer alguns
também, a melhoria da representatividade desses pré-requisitos:
colegiados: quanto mais forte o comitê mais repre- • organização e definição, pelos represen-
sentativo; quanto mais representativo mais forte. tados, de diretrizes de atuação do repre-
sentante, se possível, formalizada;
• definição pelo comitê de uma agenda te-
5.3 mática prévia que permita a preparação
REPRESENTAÇÃO: COMO EXERCER dos representantes para o debate;
Os processos eleitorais podem garantir a es- • capacidade pessoal para defesa dos in-
colha de uma entidade muito representativa de teresses do segmento que representa; e
determinado segmento. Pode acontecer, no en- • definição de um processo particular de
tanto, que a pessoa indicada ao exercício da comunicação do representante com os
representação no âmbito do comitê não seja a respectivos representados acerca da
mais adequada para tal tarefa. agenda temática do comitê.
O processo eleitoral deve ser conduzido de modo a garantir a oportunidade de participação de todos
os atores da bacia, sejam eles usuários, prefeituras, sejam organizações civis.
37
5 COMPOSIÇÃO DOS COMITÊS
Foto: Projeto de irrigação Lagoa do Arroz - PB / Banco de imagens da ANA
38
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
6
39
6 CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO DE UM COMITÊ DE BACIA
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
gestão. Assim, o melhor arranjo para alcançar capacidade institucional do Estado para o cum-
esse objetivo deve ser definido respeitando- primento das atividades reguladoras.
-se a diversidade do País e de seus recursos
hídricos, bacia por bacia. A evolução histórica nessa área mostra pos-
turas diferentes dos estados quanto à criação
VEJA MAIS: no volume 3 são apresentadas de comitês: há estados que criaram por decre-
alternativas organizacionais para gestão de re- to, sem maior motivação social; e há também
cursos hídricos. aqueles que criaram comitês após iniciativas
vindas das bacias, oriundas ou não de pro-
A criação de um comitê de bacia deve aten- blemas concretos; alguns criaram, ainda, ba-
der ao disposto na Lei das Águas e nas re- seados na motivação social e em problemas
soluções dos conselhos de recursos hídricos. urgentes a serem resolvidos; há, também,
Os estados aprovaram suas respectivas le- aqueles estados que, mesmo com condições
gislações de recursos hídricos, adotando cri- objetivas para criação dos comitês, optaram
térios específicos para criação de comitês. por não estabelecê-los. Ou seja, a criação des-
Esse fato tem proporcionado diferentes pro- ses colegiados está intimamente relacionada à
cessos para criação, composição e funciona- conjuntura da política de recursos hídricos nas
mento dos comitês no País. Cada bacia que esferas nacional e estaduais.
inicia um processo de criação de comitê deve
atender aos dispositivos legais em função da A criação de comitês requer, no entanto, uma
competência da autoridade que tem prerroga- disposição da sociedade da bacia como um
tiva para sua criação. todo (organizações civis, usuários e poder pú-
blico) para o debate sobre o tema água. As or-
ganizações civis do setor de recursos hídricos
O que será tratado aqui, no entanto, não é a
e os usuários de água, em geral, têm demons-
especificidade de cada processo, mas o que se
trado interesse em participar do processo de
entende como procedimentos mínimos neces-
gestão da água, mas a criação de um comitê
sários para garantir que a criação e a instalação
poderá não ter o êxito esperado na solução ou
de comitês sejam efetivadas de forma transpa-
na prevenção de problemas se não houver o
rente, participativa, legítima e, assim, resulte
engajamento dos poderes públicos e, especial-
em expressiva representação dos diferentes
mente, do principal gestor do uso do solo no
interesses quanto ao uso dos recursos hídricos
País: o município.
na bacia hidrográfica.
40
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
responsáveis por aprovar sua instituição de- para participação, as listas de inscritos
vem ter o compromisso público com seu suces- e habilitados; e
so. Este, certamente, terá muitas dificuldades • a ampla participação de todos os en-
de se efetivar se não houver as condições ne- volvidos no processo de gestão, que
cessárias para seu adequado funcionamento. deverá ser assegurada por meio de um
diagnóstico institucional preliminar que
VEJA MAIS: o volume 2 aborda, de maneira aponte as diversas representações que
mais detalhada, como deve ser o funcionamen- não poderão estar ausentes do processo
to dos comitês de bacia. de escolha dos membros.
6.2.1
É hora de “arregaçar as mangas”, de desen-
volver amplo processo de divulgação e mo- ESTRUTURA DE COORDENAÇÃO – QUEM CONDUZ O PROCESSO
bilização social que possa garantir que esse Geralmente, a partir da criação do comitê, é
colegiado de fato tenha a representatividade nomeada uma diretoria provisória que, junta-
necessária para compartilhar, entre os diversos mente com o órgão gestor de recursos hídri-
segmentos, a gestão das águas. cos, terá como missão conduzir o processo
de mobilização, elaboração da proposta de
regimento interno, definição do arranjo insti-
Consideram-se princípios básicos que devem
tucional do comitê, articulação com comitês
orientar a instalação de um comitê de bacia:
de bacias de rios afluentes, caso existam, e
• a universalização da informação e a
divulgação sobre o processo de criação condução do processo de escolha dos mem-
e instalação do comitê, as atribuições e bros. Em outros casos, quando o comitê ainda
os procedimentos para participar do pro- não foi criado, mas há forte apelo social para
cesso eleitoral, em toda área de abran- sua instituição, é formada uma comissão pró-
gência da bacia hidrográfica; -comitê, que tem como missão principal a arti-
• a legalidade e a lisura do processo culação dos setores para viabilizar a criação e
eleitoral, definindo normas e procedi- a instalação do colegiado.
mentos que devem ser divulgados com
antecedência, por meio de deliberações É fundamental que a composição da diretoria
da diretoria provisória e dos editais; provisória ou da comissão pró-comitê conte com
• a transparência do processo, que representantes dos órgãos gestores de recursos
deverá ser garantida a partir da mais hídricos e dos diferentes segmentos que irão
ampla divulgação possível (jornais, compor o comitê, de entidades e instituições que
rádios, páginas eletrônicas, cartazes, conheçam e atuem na bacia. E, ainda, é impor-
folhetos, correspondências) de todas tante contar com representantes de outros orga-
as etapas do processo de instalação, nismos de bacia, no caso de existirem, tais como:
em especial o calendário eleitoral, os comitês de bacias de rios afluentes, comissões
locais de realização de eventos e ins- ou conselhos gestores de açudes, consórcios in-
crições, os procedimentos necessários termunicipais de bacias hidrográficas etc.
41
6 CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO DE UM COMITÊ DE BACIA
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
As grandes bacias são compostas por várias sub- Portanto, comitê de bacia de rio afluente ou comi-
-bacias, estas por outras tantas sub-bacias e as- tê de sub-bacia é aquele com competências
sim sucessivamente, até chegar às microbacias. sobre as águas de uma bacia que está inserida
Na realidade, todas são bacias hidrográficas, em outra bacia, onde há, ou pode haver, outro
conforme definição apresentada no início deste comitê. No capítulo 7, é apresentado com mais
volume. O que vai classificá-las como sub-bacias detalhes como pode se dar a relação entre co-
é o fato de estarem ou não inseridas em outra mitês de bacia e de sub-bacia. Vale ressaltar
bacia com maior área de drenagem ou, ainda, se que, segundo a Lei das Águas, os comitês te-
seu curso d’água principal for afluente (tributá- rão como área de atuação: a totalidade de uma
rio) do rio principal da bacia maior. bacia; a sub-bacia hidrográfica de tributário do
curso d’água principal da bacia, ou de tributário
Na figura 7, pode-se observar as relações entre desse tributário; ou o grupo de bacias ou sub-
bacias e sub-bacias em diferentes escalas: a Ba- -bacias contíguas (art. 37, inc. I, II e III). Ou seja,
cia do Rio Araguari (5) é uma sub-bacia da Bacia somente em bacias de rios até a 3ª ordem, em
do Rio Paranaíba (4), que é uma sub-bacia da território nacional, podem ser criados comitês
Bacia do Rio Paraná (3), que é uma sub-bacia da de bacia. No exemplo acima, a bacia de rio de
Bacia do Rio da Prata (2) – esta última composta 1ª ordem é a Bacia do Paraná (3); a de 2ª ordem
por territórios da Argentina, da Bolívia, do Brasil, a do Rio Paranaíba (4); e a de 3ª ordem a do Rio
do Paraguai e do Uruguai. Em 1, temos a locali- Araguari (5). Não se considera o Rio da Prata
zação da Bacia do Prata na América do Sul. como de 1ª ordem, pois é um rio transfronteiriço.
3 5
Rio Rio
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2 1
Legenda
Bacia do Rio da Prata
Bacia do Rio Paraná
Bacia do Rio Paranaíba
Bacia do Rio Araguari
42
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
43
6 CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO DE UM COMITÊ DE BACIA
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
44
7
Segundo a Constituição Federal de 1988, cabe à União o domínio das águas dos rios cujas águas
banham mais de um Estado ou que fazem fronteira entre eles, as águas reservadas oriundas de
obras da União e aquelas em áreas de sua propriedade, além dos rios compartilhados com outros
países vizinhos. As demais águas, inclusive as subterrâneas, estão sob o domínio dos estados.
Nas bacias de rios sob o domínio da União há, em quase todos os casos, a presença de rios com
domínio de, pelo menos, outros dois Estados.
45
7 COMITÊ DE BACIA INTERESTADUAL
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
O que esse fato tem a ver com comitês de ba- membros do comitê. São todos aspectos relevan-
cias de rios de domínio da União? tes para construção do modelo institucional do
comitê de uma bacia interestadual, compartilhado
Ora, se cada estado definir as próprias regras pela União e pelos estados federativos.
de uso, gerenciar isoladamente as águas que
estão encerradas em seu domínio, perde-se um
7.1
dos principais fundamentos da Política Nacional
COMPLEXIDADES DE UM COMITÊ DE
de Recursos Hídricos, que é a bacia hidrográfica
BACIA INTERESTADUAL
como unidade territorial de planejamento e ges-
Comitê de bacia interestadual é um comitê que,
tão, e corre-se o risco de comprometer o corre-
assim como os demais, deve seguir todos os
to gerenciamento das águas em toda a bacia.
preceitos das normas legais. Deve ter as mes-
Dessa forma, é imprescindível que os estados e
mas atribuições; a mesma proporção estabe-
a União construam acordos com o objetivo de in-
tegrar e harmonizar critérios para outorga, nego- lecida para representação dos segmentos dos
ciar condições de pontos de entrega e controle de poderes públicos, dos usuários e das organi-
água, dentre outros aspectos, para que se possa, zações civis e os mesmos fundamentos para
de fato, fazer a gestão das águas de toda a bacia. atuação em bacia hidrográfica. O que difere é
a bacia, que é interestadual, ou seja, comparti-
lhada entre os estados e a União.
Para compreender melhor o grau de complexida-
de e a necessidade de articulação entre as dife-
rentes instâncias, apresenta-se a seguinte situa- No âmbito dos estados, têm sido definidas
ção. Um comitê criado pela União, que abrange como áreas de planejamento e gestão de água
mais de um estado, também pode ser chamado bacias ou grupamento de bacias contíguas.
de comitê de bacia interestadual. Esse comitê Essas regiões hidrográficas agrupam mais de
aprova o plano de bacia destinado ao rio de do- uma bacia ou se constituem, nos estados, em
mínio da União, mas este rio da União é formado partes de bacias de rios de domínio da União.
por rios de domínio de estados que, por sua vez, Os estados, então, criam comitês com atuação
podem ter comitês estaduais que aprovam seus nas áreas dessas unidades de gestão.
respectivos planos. Na prática, se não houver ar-
ticulação entre os comitês interestaduais e os co- Para entender um pouco da complexidade e da
mitês estaduais, os planos podem ser ineficientes. diversidade das bacias hidrográficas interesta-
duais, vale destacar algumas características:
Assim, em bacias hidrográficas com rios de do- • têm territórios que podem atingir de al-
mínio da União, é necessária a adoção de mo- guns poucos milhares de quilômetros
delos adequados a essa complexidade dominial. quadrados (como as bacias costeiras
do Nordeste do Brasil) a quase 1 milhão
Além disso, como foi dito, no capítulo 5, a represen- (caso da Bacia do Rio Tocantins);
tatividade do comitê de bacia e a sua composição • o tempo de deslocamento dos membros
deverão refletir os diferentes atores diretamente podem ser de algumas horas (comum
envolvidos com a gestão das águas. Para que o em bacias estaduais), como podem ser
comitê de fato represente toda a diversidade da medidas em dias de navegação (caso
bacia, há de se observar, dentre outros, os seguin- das bacias amazônicas);
tes aspectos: a dimensão territorial; a localização • os corpos d’água podem ter de três a
dos usuários, a intensidade e o impacto dos usos mais de oito domínios (da União, seis
na bacia; o número de unidades federadas (es- estados e o Distrito Federal), é o caso da
tados) e de comitês em sub-bacias; os domínios Bacia do Rio São Francisco;
das águas; a concentração de conflitos; e mesmo • as legislações envolvidas são em mesmo
as distâncias necessárias ao deslocamento dos número do domínio dos corpos d’água
46
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
(oito, no caso da Bacia do Rio São Fran- Para melhor exemplificar, cita-se o caso da
cisco) e muitas vezes divergem entre si; Bacia Hidrográfica do Rio Grande. A figura 11
• o número de comitês de sub-bacias pode apresenta sua divisão territorial em sub-ba-
ser inexistente ou pode chegar a mais de cias hidrográficas. Algumas somente com
uma dezena, como é o caso da Bacia do cursos d’água de domínio estadual e outras,
Rio Grande; e também, com rios de domínio da União. Na
• os problemas a serem enfrentados po- Bacia do Rio Grande, estão instalados co-
dem ser locais, estaduais, regionais ou mitês em todas as áreas de planejamento e
envolverem políticas nacionais de gran- gestão definidas pelos estados. Em 2010, foi
de impacto para o País, como é o caso criado o comitê com área de atuação em toda
da geração hidrelétrica e de grandes a bacia e com competência para articular a
transposições de águas entre bacias. gestão entre essas sub-bacias.
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MG e Pardo CBH do Rio
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SP
RJ RJ
PR
CBH da Serra
SC SP da Mantiqueira
RS
PR Oceano Atlântico
Figura 11 – Bacia do Rio Grande e sua subdivisão em bacias de rios afluentes ou regiões hidrográficas
com seus respectivos comitês
Em situações dessa natureza, o modelo tra- e interesses que precisam ser atendidos e
dicional de comitê poderá ter diferentes graus compatibilizados simultaneamente.
de dificuldade para o cumprimento das suas
competências legais, demandando para sua Quais seriam as formas mais adequadas de se
formação e atuação o estabelecimento de organizar um comitê de bacia interestadual?
acordos entre os estados e a União. A expe- Quais as atribuições exclusivas? Quais atri-
riência mostra que não é muito fácil compor buições seriam compartilhadas com os demais
esses acordos. Essa situação não é facilmente comitês? Como definir uma representação que
conciliável em virtude das inúmeras variáveis seja adequada à complexidade institucional?
47
7 COMITÊ DE BACIA INTERESTADUAL
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
7.1.1
UM SÓ COMITÊ PARA TODA A BACIA
Corresponde à instituição de uma única instância
deliberativa no âmbito de bacias interestaduais.
Nessas bacias, há domínios das águas de, no mí-
nimo, dois outros estados e da União. Um comitê
criado somente pelo CNRH não tem o poder de
exercer suas competências em toda a bacia, em
todos os corpos d’água. Os estados podem não
acatar as decisões do comitê de bacia interesta-
dual com relação às águas sob seu domínio. Mui-
tas vezes existem diferenças significativas entre
as legislações estaduais e a nacional. Os critérios
e o estágio de implementação dos instrumentos
para gerenciamento dos recursos hídricos tam-
bém diferem sobremaneira. Falta um acordo en-
tre a União e os estados para que isso aconteça.
48
Quadro 3 – Características das bacias dos Rios Piranhas-Açu e Verde Grande
49
Quer saber mais? <www.piranhasacu.cbh.gov.br> <www.verdegrande.cbh.gov.br>
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
As experiências para bacias interestaduais com Sua implantação, no entanto, deve preservar o
essas características tornaram-se possíveis em fundamento legal da descentralização do pro-
função do desenvolvimento de processos inten- cesso decisório. Há de se considerar relevante
sos de discussão. Foram envolvidos todos os no modelo a ser implementado as diferentes
atores da bacia e órgãos gestores de recursos realidades dos recursos hídricos nas diversas
hídricos estaduais e ANA. De maneira geral, a regiões da bacia. Por exemplo, na Bacia do
negociação e o sucesso do seu desenvolvimen- Rio Verde Grande, apesar de haver apenas
to se deram em função das seguintes etapas: um comitê, há organizações locais que têm
• atendimento ao que dispõe a Resolução atribuições importantes para a gestão de pro-
nº 5/2000, do CNRH, e às regras esta- blemas específicos. São comissões gestoras
belecidas no âmbito dos estados para encarregadas da alocação das águas em re-
criação de comitês; servatórios e sub-bacias, da solução prelimi-
• representação de governos, usuários e nar de conflitos e até da formulação de propos-
organizações civis, independentemente tas quanto à priorização dos usos das águas.
da área da bacia e da respectiva unidade Esses ambientes de gestão foram potenciali-
federada, em um único plenário; zados com a descentralização de atribuições
• instituição pelos conselhos estaduais de pelo comitê e fazem parte formalmente do or-
recursos hídricos; ganograma do colegiado.
• edição de decreto da Presidência da Re-
pública e dos governadores, instituindo a
O arranjo do comitê único pode não ser o mais
instância única da bacia como integrante
adequado para bacias com maior complexida-
dos respectivos sistemas de gerencia-
de de gestão, com grandes áreas de atuação,
mento; e
com território em um grande número de esta-
• compartilhamento entre os órgãos ges-
dos e que tenha, sobretudo, o envolvimento de
tores de recursos hídricos, estaduais e
muitas instâncias decisórias com competência
a ANA na estruturação e na manutenção
sobre os recursos hídricos. Para situações des-
do apoio às funções de secretaria-exe-
se tipo, propõe-se trabalhar com o comitê de
cutiva do comitê, na ausência da Agên-
integração, conforme se apresenta a seguir.
cia de Água, e do apoio técnico neces-
sário à implementação dos instrumentos
de gestão de recursos hídricos. 7.1.2
COMITÊ DE INTEGRAÇÃO
Trata-se, assim, do processo de integração fe- É um modelo de comitê que pressupõe o com-
derativa mais avançado experimentado no País partilhamento do poder e das responsabilida-
para gestão de águas. des sobre os usos das águas. Em um primeiro
Ricardo Koch / Banco de Imagens da ANA
Foto: Foz do rio Paraíba do Sul – RJ -
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O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
estágio, entre a União e os estados; em seguida para bacias interestaduais com maior grau
e, obrigatoriamente, entre o comitê de bacia in- de complexidade de gestão de recursos hí-
terestadual e os organismos criados para aten- dricos. No quadro 4, estão descritas as ca-
der a demandas específicas nas sub-bacias. racterísticas gerais de cada uma dessas ba-
Assim, o comitê de integração terá atribuições cias interestaduais que vêm experimentando
moderadoras e harmonizadoras e exercerá as a construção de seus plenários no formato de
competências sobre temas gerais, e os comitês um comitê de integração.
ou organismos em sub-bacias desempenharão
suas atribuições sobre temas locais. A proposta de criação do comitê de integração
visa a alcançar, dentre outros, dois objetivos
A discussão sobre esse modelo deve reforçar principais: fortalecimento dos comitês em sub-
os fundamentos da política de recursos hídri- -bacias como instâncias decisórias locais (rea-
cos vigente no País, sobretudo a descentra- firmando o fundamento da descentralização) e
lização, a participação e a gestão articulada efetivação da gestão integrada das águas da
entre União e estados nos recursos hídricos bacia (reconhecendo, de fato, a bacia como
comuns no âmbito da bacia. Portanto, a con- a unidade territorial para implementação da
figuração dos colegiados não pode conflitar política de recursos hídricos), respeitadas a
com esses princípios. complexidade institucional e a política de ba-
cias interestaduais.
Em bacias interestaduais onde o modelo
único não se aplica, quer seja pela grande Esses objetivos devem estar refletidos na
dimensão territorial, quer seja pelas neces- composição do comitê de integração. Assim,
sidades específicas de sub-bacias que não espera-se que na composição existam repre-
interagem de forma relevante com o curso sentantes indicados pelos membros dos comi-
d’água principal, quer seja pela existência tês de sub-bacias e representantes com maior
de grande número de instâncias com compe- abrangência na bacia (alcance regional), de
tência sobre as águas ou pela clara neces- modo que se tenha a conciliação da visão lo-
sidade de maior descentralização decisória, cal das várias sub-bacias com a visão global
ou ainda pela diversidade de usos existentes da bacia como um todo. Constitui-se, então,
na bacia, o modelo integração passa a ser no fórum presencial e institucional de articula-
alternativa importante. ção em que todas as instituições competentes
estão representadas.
51
7 COMITÊ DE BACIA INTERESTADUAL
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
Quadro 4 – Comitês de Integração das Bacias dos Rios Paraíba do Sul, Doce e Paranaíba
Área de
55.500. 83.400. 222.800.
drenagem (km2)
Sim. Plenamente na
Sim. Em toda a sua área,
Sim. São seis em porção mineira da
Existem comitês em sendo dois em Minas Gerais,
Minas Gerais e três bacia (três comitês),
sub-bacias? quatro no Rio de Janeiro e um
no Espírito Santos. um no Distrito Federal
em São Paulo.
e um em Goiás.
A partir do Convê-
O Ceivap foi criado com este Por meio de um nio de Integração nº
intento. No entanto, somente grupo de integração 20/2007, celebrado
após a realização de um entre órgãos gesto- entre a União, os
Como se deu o comitê
planejamento estratégico res e comitês, que estados e o Distrito
de integração?
institucional e com a criação propuseram ao CBH Federal, por meio de
dos comitês estaduais, ele Doce alterações no seus órgãos gestores
se tornou possível. regimento interno. e de seus comitês
existentes à época.
Tratar de questões
Tratar de questões espe-
específicas, inclusive
cíficas, inclusive aquelas
aquelas relacionadas
E dos comitês de sub- relacionadas às águas de
As previstas em lei. às águas de domínio
-bacias? domínio da União, em geral
da União, em arti-
em articulação com
culação com o CBH
o Ceivap.
Paranaíba.
Nota: 1 Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap). Continua...
52
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
Continuação
Quadro 4 – Comitês de Integração das Bacias dos Rios Paraíba do Sul, Doce e Paranaíba
Decreto nº 68.324/1971;
Portaria Dnaee nº 22/1977;
Estão em curso as
Resolução ANA nº 465/2004.
discussões sobre um
Todos definidos pelo poder
possível marco para Há a intenção de
Há um marco regulató- público. Estão em curso as
ser construído no âm- construção de um
rio das águas? discussões sobre um possí-
bito de um convênio marco regulatório.
vel marco para ser constru-
de integração e Plano
ído no âmbito de um novo
de Recursos Hídricos.
convênio de integração e
Plano de Recursos Hídricos.
Articular a atuação
Possibilitar a clara delimita- dos comitês e órgãos
Integrar a gestão de
ção das atribuições do Cei- gestores e viabilizar
recursos hídricos na
Quais os principais vap e dos comitês afluentes, a implementação
bacia. O Plano de
objetivos dos instru- inclusive em relação à dos instrumentos de
Recursos Hídricos
mentos de integração definição dos investimentos gestão. O Plano de
já tem a previsão de
na bacia? na bacia, evitando assim Recursos Hídricos foi
constituir-se em um
sobreposições, lacunas elaborado juntamente
plano de integração.
e conflitos. com os planos das
bacias de afluentes.
<www.riodoce.cbh. <www.paranaiba.cbh.
Quer saber mais? <www.ceivap.org.br>
gov.br> gov.br>
Nota: 1 Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap).
53
7 COMITÊ DE BACIA INTERESTADUAL
Quadro 5 – Composição do Ceivap
54
Ceivap – 60 membros
Toda a bacia 3 – – – – – – – – – – –
MG – 3 4 2 2 1 2 1 – – 4 –
RJ – 3 4 2 3 1 1 1 – 2 2 –
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
SP – 3 3 2 4 1 1 – – 3 2 –
Subtotal 3 9 11 6 9 3 4 2 0 5 8 0
Total 23 24 13
Art. 6º, § 1º As indicações dos representantes titulares e suplentes dos segmentos referidos nas alíneas “c” e “d”6 do inciso II do caput deste artigo
serão feitas por seus pares integrantes dos comitês de bacias afluentes, quando houver, ou em processos que considerem a representação das
unidades estaduais de gestão de recursos hídricos [...].
ES – 3 3 2 2 3 1 – 2 1 2 –
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
MG – 3 9 4 4 5 2 – 3 3 4 –
Subtotal 2 6 12 6 7 8 3 0 5 4 6 1
Total 20 24 16
Art. 5º, § 6º A escolha dos membros titulares e suplentes representantes dos municípios, dos usuários e das organizações civis será feita pelos
membros dos comitês de bacias hidrográficas de unidades estaduais de gestão de recursos hídricos, onde houver comitês.
55
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
Um grande número de estados ainda não tem de- exige alteração legal e operacionaliza a dire-
finidas suas unidades de planejamento e gestão triz da articulação entre a União e os estados
de recursos hídricos, o que faz que a maior parte prevista no artigo 4º da Lei nº 9.433/1997 e
das bacias hidrográficas interestaduais não tenha nas leis estaduais.
sua base territorial de gestão definida e, conse-
quentemente, não existam comitês em todas as Em algumas bacias interestaduais, tem sido
suas sub-bacias. Nesses casos, não se vislumbra necessária a criação de instâncias específicas
impedimento para que o comitê de integração se para o encontro dos comitês. Podemos citar
efetive. Exemplo disso é o Comitê da Bacia do Rio como exemplos o Grupo Técnico de Articula-
Paranaíba. Nessa bacia, existiam somente quatro ção Institucional (GTAI) criado pelo Ceivap e
comitês instalados antes de sua criação, sendo a Câmara Técnica de Articulação Institucional
três em território mineiro e um no estado de Goiás. (CTAI) criada pelo Comitê da Bacia do Rio São
A bacia não tinha um mapa oficial com a divisão Francisco. Essas instâncias tratam de temas es-
das unidades estaduais de planejamento e ges- pecíficos objeto de compartilhamento da atua-
tão (sub-bacias). ção dos comitês em sub-bacias.
56
O COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: O QUE É E O QUE FAZ?
Parágrafo único. A compatibilização a que se refere o caput, deste artigo, diz respeito às definições
sobre o regime das águas e os parâmetros quantitativos e qualitativos estabelecidos para o exu-
tório da sub-bacia.
O Acordo pelas Águas deve ser construído de integração: este terá atribuições moderado-
caso a caso e deve-se observar o que já dispõe ras e harmonizadoras e exercerá suas competên-
a legislação vigente quanto às metas de racio- cias sobre temas mais abrangentes; enquanto os
nalização de uso, de melhoria da qualidade e comitês em sub-bacias desempenharão suas
da quantidade das águas. Nas bacias interes- atribuições sobre temas locais, mais específicos.
taduais, são considerados estratégicos, dentre
outros, os pontos localizados na divisa entre es- As seguintes atribuições dos comitês direta-
tados e nos exutórios de sub-bacias, nos quais mente quanto aos recursos hídricos na sua
é imprescindível que o acordo tenha metas área de atuação podem ser destacadas:
claras e bem definidas, negociadas e acorda- • Deliberar sobre o Plano de Recursos Hí-
das entre todos os atores da bacia. Para isso, é dricos da Bacia.
fundamental o acordo entre os comitês quanto • Arbitrar conflitos pelo uso das águas,
às competências de cada organismo sobre as em primeira instância.
águas compartilhadas.
• Debater sobre as questões de uso da
água na bacia.
• Aprovar propostas para usos não ou-
torgáveis, enquadramento dos corpos
Águas compartilhadas são aquelas que es-
d’água, mecanismos e valores da co-
tão inseridas na área de atuação do comitê
brança pelo uso.
de bacia principal e, também, dos comitês de
suas sub-bacias.
Vê-se, então, das competências acima e da
existência de águas compartilhadas, que o
acordo entre os comitês deverá ensejar uma
Para melhor discussão do que seria o Acordo pe- divisão de trabalho entre eles, definindo cla-
las Águas e a participação de cada comitê, é im- ramente a quem cabe tais atribuições. Como
portante se lembrar da premissa para um comitê exemplo, é apresentado o caso do Ceivap.
57
7 COMITÊ DE BACIA INTERESTADUAL
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
EXEMPLO DO Ceivap:
O Regimento Interno do Ceivap traz a condição expressa da necessidade de articulação entre o co-
mitê de integração e os comitês nas suas sub-bacias para desenvolvimento de suas competências.
Art. 3º, inc. IV: apoiar a criação e promover a integração com instâncias regionais de gestão de
recursos hídricos da bacia, tais como: comitês de bacias afluentes, os consórcios intermunici-
pais, as associações de usuários, as organizações de ensino e pesquisa, as organizações não-
-governamentais e outras formas de organização articulada da sociedade civil ou do poder público.
Art. 4º, inc. I: promover o debate, articulando e integrando a atuação da sociedade civil, dos
usuários, do poder público e dos comitês de bacias afluentes, e, na forma da legislação e deste
Regimento Interno, a definição das seguintes questões:
a) O marco regulatório da bacia.
b) A alocação quantitativa e qualitativa das águas entre as diversas instâncias deliberativas do
Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
c) Os usos que proporcionem impactos regionais significativos.
d) As transposições e derivações internas e externas à bacia.
e) Os critérios gerais para a cobrança pelo uso das águas.
58
8
59
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
necessidades da bacia, melhor será seu fun- definem se o comitê terá sustentabilidade polí-
cionamento. Isto só se faz construindo coleti- tica, legal e financeira.
vamente o comitê.
Para desempenharem a contento suas funções,
Isto não quer dizer que o comitê seja uma pana- os comitês necessitam de apoio técnico e ad-
ceia, capaz de resolver todos os problemas rela- ministrativo. Segundo a Lei das Águas, quem
cionados à água. Tampouco significa que possam apoia técnica e administrativamente o comitê é
ser criados arranjos participativos de qualquer sua Agência de Água e ela só poderá ser criada
natureza e dar o nome de comitê de bacia. Há após o estabelecimento da cobrança pelo uso
de se atender às imposições legais quanto aos da água e com a comprovação de sua viabilida-
princípios, aos fundamentos, aos objetivos, ao de financeira. É necessário, então, que se avan-
arranjo institucional e, sobretudo, fazer que eles ce na implementação da cobrança buscando a
possam efetivamente exercer suas atribuições. autonomia de funcionamento do colegiado.
A decisão de formação de um comitê de ba- Afinal, o funcionamento dos comitês não deve
cia deve se apoiar na real necessidade de estar assentado em atos voluntários. Deve pos-
existência de um colegiado dessa magnitude, suir uma estrutura de suporte que permita o
considerando-se sempre o contexto da bacia desenvolvimento de suas atividades da forma
hidrográfica, os interesses políticos e econô- mais eficiente para dar consequência às ações
micos, o nível de organização da sociedade, por ele deliberadas. Mas esta é outra história. No
o arcabouço jurídico que regulamenta as ins- volume 2 serão abordadas as práticas e os pro-
tâncias de poder e as articulações entre as cedimentos que ajudam a efetivação da atuação
políticas públicas. São essas condições que dos comitês – o comitê de bacia em ação.
60
Ricardo Koch / Banco de Imagens da ANA
Foto: Borboletas no rio Floriano – PR -
REFERÊNCIAS E INDICAÇÕES DE LEITURA
ARRETCHE, Marta. Mitos da descentralização: participativa/processo de negociação: uma
maior democracia e eficiência nas políticas visão da Lei Federal n.º 9.433, de janeiro de
públicas? Revista Brasileira de Ciências So- 1997. Belo Horizonte: 1999.
ciais, São Paulo, 1996.
BRASIL. Constituição da República Federati-
ASSIS, Fernando S. Instrumentos da gestão va do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
ambiental – gestão participativa/processo
de negociação: uma visão da Lei Federal ______. Agência Nacional de Águas (ANA).
nº 9.433, de janeiro de 1997. In: XIII SIMPÓ- O processo de formação do Comitê da Bacia
SIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RE- Hidrográfica do Rio São Francisco: relato e
CURSOS HÍDRICOS, Belo Horizonte, 1999. avaliação de aspectos normativos, metodológi-
cos e conceituais. Resumo executivo do rela-
AVRITZER, Leonardo. Instituições participati- tório final. Projeto de Gerenciamento Integrado
vas e desenho institucional: algumas conside- das Atividades Desenvolvidas em Terra na Bacia
rações sobre a variação da participação no Bra- do São Francisco – Projeto GEF São Francisco.
sil Democrático. Opinião Pública, Campinas, Brasília/DF: ANA/GEF/Pnuma/OEA, 2003.
v. 14, p. 43-64, n. 1, jun. 2008a.
______. Plano de Recursos Hídricos da Ba-
______. Democratization and citizenship in La- cia Hidrográfica do Rio São Francisco. Mó-
tin America: the Emergence of Institutional for- dulo 1 – Resumo Executivo. Brasília/DF, 2004.
ms of participation. Latin American Research
Review, 2008b.
______. Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Glossário de Termos referentes à gestão de
BOSON, Patrícia H. G.; ASSIS, Fernando S. recursos hídricos fronteiriços e transfrontei-
Instrumentos da gestão ambiental – gestão riços. Brasília, 2006.
61
REFERÊNCIAS E INDICAÇÕES DE LEITURA
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
62
Foto: Lajeado do Pedregulho - PR / Banco de
imagens da ANA
GLOSSÁRIO6
Açude – lago ou reservatório formado pelo bar- contando com a participação dos usuários, das
ramento de um curso d’água. prefeituras, da sociedade civil organizada, das
demais esferas de governo (estaduais e fede-
Afluente (ou tributário) – curso d’água que de- ral), destinado a agir como o “parlamento das
semboca em um curso maior ou em um lago. águas da bacia”.
Área de recarga ou zona de recarga – Região por Dessedentação animal – água utilizada para
onde um aquífero é recarregado ou recebe a infiltra- saciar a sede de animais.
ção da água de superfície ou de zonas profundas.
Disponibilidade hídrica – é a quantidade de
Bacias contíguas – são bacias vizinhas ou água disponível para determinado uso, na qua-
fronteiriças. lidade necessária, em um trecho de corpo hídri-
co, durante determinado tempo.
Biota – conjunto dos seres animais e vegetais
de uma região. Ecossistema – sistema no qual as interações
entre os diferentes organismos e o meio am-
Comitê de bacia hidrográfica – fórum de biente conduzem a um intercâmbio cíclico de
decisão no âmbito de cada bacia hidrográfica materiais e de energia.
6 Os termos deste glossário foram retirados das fontes: BRASIL, 2006; HOUAISS, 2001; Dicionário livre de geociências,
disponível em: http://www.dicionario.pro.br/dicionario/index.php/%C3%81rea_de_recarga.
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GLOSSÁRIO
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 1
Efluente – água residual que flui de um reser- Outorga de direito de uso da água – é o ato
vatório ou de uma estação de tratamento. administrativo mediante o qual o poder público
outorgante (União, estado ou Distrito Federal)
Enquadramento de corpos d’água em clas- faculta ao outorgado (requerente) o direito de
ses, segundo os usos preponderantes da uso de recurso hídrico, por prazo determinado,
água – é um dos instrumentos de gestão de re- nos termos e nas condições expressas no res-
cursos hídricos que visa ao estabelecimento do pectivo ato administrativo.
nível de qualidade (classe) a ser alcançado e/ou
mantido em um segmento de corpo d’água ao Perenização – tornar perene, ou seja, fazer durar
longo do tempo. Tem o objetivo de assegurar às muitos anos, de forma incessante, ininterrupta.
águas qualidade compatível com os usos mais
exigentes a que forem destinadas, bem como Rio transfronteiriço – comumente empre-
diminuir os custos de combate à poluição das gado como sinônimo de rio internacional ou
águas mediante ações preventivas permanentes. compartilhado.
Leito de rio – parte mais baixa do vale de um Vazão – é o volume de água que passa por
rio, modelada pelo escoamento da água, ao determinada seção de um rio ou um canal,
longo da qual se deslocam, em períodos nor- por unidade de tempo. Usualmente é dado
mais, as águas e os sedimentos. em litros por segundo (L/s), em metros cúbi-
cos por segundo (m3/s) ou em metros cúbicos
Montante – em direção à cabeceira de um rio. por hora (m3/h).
64
Banco Mundial
Organização
das Nações Unidas
para a Educação,
a Ciência e a Cultura
The World Bank
ISBN: 978-85-89629-76-8
9 788589 629768