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Túnel de Vento da FAUUSP - Instrumento para ensaios de modelos físicos em conforto

ambiental

Alex G. Uzueli, Alessandra R. Prata Shimomura e Denise Duarte

Universidade de São Paulo/ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/ Departamento de


Tecnologia/ LABAUT – Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética Rua do
Lago, 876, Cidade Universitária 05508-900 São Paulo-SP (11)3091-4681, r.214 /3091-4539
alexuzueli@yahoo.com.br;arprata@terra.com.br;dhduarte@terra.com.br

RESUMO

Este artigo apresenta o Túnel de Vento de Camada Limite Atmosférica da FAUUSP –


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Brasil. Este
instrumento, recém-concluído, foi desenvolvido e construído por meio de uma pesquisa de
iniciação científica, pelo aluno Alex G. Uzueli, que teve como objetivo a pesquisa, o projeto e
a construção do túnel de vento, para uso didático e de pesquisa no curso de Arquitetura e
Urbanismo da FAUUSP. A metodologia adotada partiu de uma revisão bibliográfica referente
a desempenho térmico, equipamentos destinados a experimentos de ventilação natural,
aerodinâmica aplicada à construção civil e mecânica dos fluidos, além de entrevistas com
profissionais da área. A contribuição deste instrumento para a faculdade é viabilizar a
realização de ensaios de ventilação natural em modelos físicos, na interface dos estudos
técnicos sobre desempenho ambiental (ensaios experimentais) e a prática do projeto (urbano e
edifício).

1. INTRODUÇÃO

Dando continuidade à parceria entre dois laboratórios da FAUUSP, LABAUT – Laboratório


de Conforto Ambiental e Eficiência Energética e LAME – Laboratório de Modelos e Ensaios,
para o desenvolvimento de uma linha de pesquisa, projeto e construção de modelos físicos
para o ensino de conforto ambiental, este artigo descreve o projeto e a construção de um túnel
de vento de camada limite atmosférica que permita a realização de ensaios sob condições
minimamente controladas, visando atender as atividades de ensino e pesquisa de graduação e
pós-graduação.
Atualmente os alunos da FAUUSP vêm realizando no estúdio ensaios em modelos físicos que
são bastante limitados e que não permitem a visualização em altura. Apesar do Laboratório de
Vazão do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo possuir um Túnel
de Vento de Camada Limite Atmosférica, o custo do ensaio, a sofisticação necessária das
maquetes e a demanda de trabalhos torna inviável a utilização desse instrumento com a
freqüência necessária para atender às necessidades da faculdade.
Estudos experimentais, como ensaios em túnel de vento, ferramentas computacionais e/ou
modelos matemáticos, são ferramentas importantes que permitem uma análise das
transformações urbanas ou arquitetônicas aplicadas ao tecido urbano (quadras, bairros) ou em
áreas pré-definidas na implementação de edifícios (PRATA, 2005; PLATE, 1999).
Sendo assim, esse túnel de vento auxiliará no estudo do espaço urbano e do edifício quanto à
questão ambiental e é de fundamental importância para a compreensão das condições de
ventilação urbana atuais e para a realização de estudos preditivos em projeto, uma vez que
alterações no tecido urbano podem contribuir para aumentar, ou minimizar, impactos na
qualidade do clima de nossas cidades.
Nas áreas de Arquitetura e Urbanismo, ensaios em túnel de vento podem ser utilizados para a
verificação dos efeitos do vento decorrentes de modificações em espaços abertos, em grupos
de edifícios, para segurança e conforto dos pedestres, bem como para a análise em edifícios
(estrutural).
Arquitetos e planejadores estão se conscientizando da necessidade de requerer informação a
respeito das prováveis condições de vento ao redor dos edifícios propostos, ainda na fase de
projeto. Para a verificação de propostas, podem-se utilizar técnicas para visualização
qualitativa do fluxo de ar com fumaça ou técnica de erosão com areia e, para medições
quantitativas, são utilizados anemômetros de fio quente e/ou tubo de Pitot, que permitem
medir as velocidades das correntes que incidem sobre o modelo.
De acordo com Silva (1997) a vantagem do túnel aerodinâmico em relação às medições feitas
no local está no fato de que planejamentos futuros, ou seja, alternativas de mudanças no
tecido urbano podem ser compreendidas muito rapidamente, assim que seja construído um
modelo físico apropriado da região em estudo.
Na FAUUSP este instrumento (Figura 1 e Figura 2) irá viabilizar a realização de ensaios de
ventilação natural em modelos físicos, na interface dos estudos técnicos sobre desempenho
ambiental (ensaios experimentais) e a prática do projeto (urbano e edifício). Deverá ser
utilizado por alunos e pesquisadores na área ambiental, dando continuidade ao tema sobre
ventilação natural desenvolvido no LABAUT.

Figura 1: Túnel – vistas externas. Figura 2: Seção de testes.


Fonte: Duarte (2008). Fonte: Duarte (2008).

2. METODOLOGIA

A metodologia adotada partiu de uma revisão bibliográfica referente a desempenho térmico,


equipamentos destinados a experimentos de ventilação natural, aerodinâmica aplicada à
construção civil e mecânica dos fluidos, além de entrevistas com profissionais da área. Foram
feitas visitas a diversos equipamentos existentes em outras instituições e foram definidos os
requisitos mínimos necessários a um túnel de vento para uso didático. Na seqüência, os
modelos foram classificados e construídos em escala reduzida, para auxiliar a tomada de
decisão sobre o modelo a ser adotado. Após uma série de discussões com colaboradores do
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, da Escola Politécnica da
USP, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil em Lisboa, e de pesquisa ao mercado
especializado, o modelo escolhido para a construção foi o túnel de vento de camada limite
atmosférico tipo N.P.L. (National Physics Laboratories). O projeto aqui apresentado foi
pautado pela busca de soluções construtivas face aos requisitos mínimos, ao orçamento e à
infra-estrutura disponíveis para o projeto.
3. O TÚNEL DE VENTO DE CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA - FAUUSP

Para viabilizar a construção e a montagem, o túnel foi dividido em módulos, que foram
desenhados a partir da seção de ensaio (Figura 3) e diferenciados de acordo com a sua
função. Havia o interesse também que cada módulo fosse feito separadamente, pois não havia
espaço suficiente para a construção da estrutura com as dimensões totais.
Na medida em que poderão ser incluídos novos módulos à camara de ensaio, um eventual
acréscimo no comprimento da câmara poderá ser feito incluindo-se um novo módulo, sem
prejuízo da geometria do projeto.
A potência do motor, porém, apresenta-se nessa situação como um limite a esse acréscimo, na
medida em que a potência deste está limitada à perda de carga que fatalmente aumentará com
a adição de novos módulos. Dadas as devidas considerações, o projeto se manteve com a
medida reduzida, abrindo-se a possibilidade para que esta medida seja alterada a posteriori.

Figura 3: Geometria do túnel – dimensões das seções.


Fonte: Uzueli (2006).

O túnel tem aproximadamente 7m de comprimento e foi dividido em módulos de acordo com


sua função, construção e montagem (Figura 4). Pode-se observar que o túnel de vento é
composto basicamente pela contração, câmara de ensaio, difusor e o ventilador.

Figura 4: Geometria do túnel – comprimento total.


Fonte: Uzueli (2006).

De acordo com CARRIL (1995), o objetivo da contração é acelerar o ar até a câmara de


ensaio, produzindo-se um fluxo uniforme (Figura 5). Outro detalhe importante é que a
geometria do túnel deve evitar o descolamento da camada limite para não prejudicar o ensaio.
Para o desenho da contração utilizou-se o método de MOREL (1975), utilizado no túnel
detalhado em CARRIL (1995), e encontrado também no túnel de vento de camada limite
atmosférica do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

Figura 5: Trecho de contração.


Fonte: Duarte (2008) e Uzueli (2006).

A colméia retificadora é responsável basicamente pela uniformização do fluxo de ar do túnel.


Já as telas são responsáveis pela proteção e segurança dos equipamentos, embora influenciem
no fluxo assim como a colméia (CARRIL, 1995 e CATALANO, 1988). Neste caso, a colméia
foi definida a priori com a utilização de uma tela simples, ou ainda, se necessário, de diversas
telas paralelas. Além de ser um material de baixo custo e de fácil implementação, uma
simples tela de nylon (tipo mosqueteira), pode fazer o papel da colméia sem prejuízo sensível
do escoamento, levando-se em conta as características das dimensões do túnel projetado. No
entanto, a utilização de uma tela simples (ou multiplas telas) para a função da colméia torna o
túnel mais sensível às variações do escoamento. Estas variações poderão ser observadas no
decorrer dos ensaios, exigindo-se a colocação de novas telas, o tanto quanto for necessário
para a uniformização do escoamento.
A tela de nylon, Figura 6, foi utilizada pela sua facilidade de implementação, custo e a grande
vantagem é poder ser ampliada e testada até um nível aceitável e adequado às instalações.

Figura 6: Colméia retificadora.


Fonte: Duarte (2008).

A câmara de ensaio do túnel de vento (Figura 7) é quadrada de aproximadamente 1,0m2 e sua


área foi definida de acordo com o tamanho das maquetes que se pretende ensaiar.
Possui visor lateral e superior para que seja possível a visualização do fluxo de ar em ensaios
de maquetes. A mesa giratória também possui visor para a visualização do ensaio em diversas
direções. A mesa foi feita em compensado, o que possibilita fazer adaptações futuras,
perfurações para encaixe de parafusos, inclusões de medidores específicos e substituição de
partes defeituosas, com relativa facilidade.
Figura 7: Desenho da seção de ensaio.
Fonte: Uzueli (2006).

O difusor para o túnel foi desenvolvido estabelecendo-se um ângulo de 5º em uma seção que
se converte da geometria quadrada para circular, onde se encontra o conjunto hélice +
ventilador (Figura 8). A idéia foi criar um componente de aço calandrado para dar suporte ao
conjunto. O difusor é o elemento-chave na verificação da separação da camada limite,
vibrações e variações na distribuição de velocidade do ar na seção de ensaio. O conjunto
hélice + ventilador contém um motor de baixa rotação de 7,5cv com hélice de 16 pás de
1250mm.

Figura 8: Difusor e conjunto ventilador/hélice.


Fonte: Duarte (2008) e Uzueli (2006).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O túnel foi idealizado para uma seção de ensaio de 1m2 a fim de possibilitar a utilização de
maquetes de arquitetura. Estima-se uma velocidade do ar de até 10m/s para estas dimensões
totais. A complexidade do projeto e o custo necessário para a sua confecção impuseram-se
como fatores limitantes à sua elaboração. A geometria do instrumento/equipamento foi
definida de acordo com a bibliografia consultada, em especial CARRIL JÚNIOR (1995).
O túnel tem aproximadamente 7m de comprimento e foi dividido em módulos de acordo com
sua função, construção e montagem. Os módulos são: contração, difusor, ventilador e câmara
de ensaio, que poderá ser estendida acrescentando-se outro módulo, se necessário. Foram
utilizados componentes metálicos na estrutura e chapas de compensado nas paredes da câmara
de ensaio e na contração. O motor de 7,5hp, o inversor de freqüência e a hélice de 1250mm de
diâmetro foram doados por empresas fabricantes, viabilizando a elaboração do projeto nas
atuais dimensões. A construção do túnel está concluída e em fase de adaptação ao local
destinado ao equipamento dentro da oficina do LAME.
As próximas etapas incluem a modelagem do perfil de Camada Limite Atmosférica e a
elaboração de experimentos didáticos. Espera-se que a simulação da camada limite também
possa ser induzida, em um espaço comprimento menor, a partir da inclusão de elementos
geradores de turbulência e/ou geradores de vórtices. Os resultados sobre as características do
tunnel irão gerar, possivelmente, adaptações para a realização de ensaios com modelos
volumétricos. Diante dos trabalhos que foram e estão sendo desenvolvidos na área ambiental
no laboratório, este instrumento tem como foco a obtenção de dados qualitativos e
quantitativos que poderão subsidiar os procedimentos de avaliação de desempenho ambiental,
fazendo uma interface dos estudos técnicos sobre ventilação urbana e do edifício (ensaios
experimentais) e a prática do projeto.

5. REFERÊNCIAS
 CARRIL JÚNIOR, Célio Fontão. Projeto, Construção e Calibração de um túnel de vento.
1995. Dissertação (Mestrado em engenharia) - Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, São Paulo, 1995.
 CATALANO, Fernando Martini. Projeto, construção e calibração de um túnel
aerodinâmico de circuito aberto tipo N.P.L. de seção transversal Hexagonal. 1988. Tese
(Mestrado em Engenharia Mecânica) - Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade
de São Paulo, São Carlos, 1988.
 FERREIRA, A. D.; SOUSA, A. C. M. & VIEGAS, D. X. Prediction of building
interference effects on pedestrian level comfort. Journal of Wind Engineering and
Industrial Aerodynamics, 90, 2002. pp. 305 - 319
 SILVA, Francisco De Assis Gonçalves Da. Städtebauliche Klimafibel (Cartilha
Urbanística do clima) - Hinweise für die Bauleitplanung Folge 2 (Referências para o Plano
Diretor Seqüência 2). Tradução por SILVA, trabalho do Doutorado, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, João Pessoa, 1997. 199p.
 PLATE, E. J.; Methods of investigating urban wind fields – physical models, Atmospheric
Environment 33, 1999 – pp. 3981 – 3989.
 PRATA, Alessandra Rodrigues. Impacto da altura dos edifícios nas condições de
ventilação natural do meio urbano. 2005. 243 f. Tese (Doutoramento em Arquitetura e
Urbanismo, Estruturas Ambientais Urbanas) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
 UZUELI, Alex G. Pesquisa, Projeto e Construção de Ferramentas de Ensaio para Modelos
Físicos em Conforto Ambiental – Túnel de Vento. Relatório de Iniciação Científica –
Bolsa PIBIC, setembro, 2006.

Agradecimentos ao CNPq e às Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação da USP pelo apoio à


pesquisa; ao Centro de Metrologia de Fluidos do IPT, em especial ao MSc. Paulo Jabardo, Dr. Gilder
Nader e Dr. Antônio Pacífico, ao Prof. Dr. Ivan Tessarolo da EPUSP/EC, Prof. Dr. Douglas da
EPUSP/MN e Dr. Jorge Saraiva, do LNEC/Potugal, pela orientação no projeto; à Weg S.A. e Wind
Hélices Industriais Ltda. pelos equipamentos doados e a todos os que tornaram possível a execução do
projeto – Prof. Dr. Reginaldo Luis Nunes Ronconi e equipe, co-orientador do projeto e então
coordenador do LAME, ao professores e pesquisadores do LABAUT, em especial ao prof. Fernando
Cremonesi e ao MSc. Daniel Cóstola, ao Físico Henrique Gilberto Uzueli, ao Eng. Antônio Augusto
Castro Oliveira e Souza e à Arq. Luciana Schwandner Ferreira.

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