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OS PROVÉRBIOS

NO DICIONÁRIO BRASILEIRO DE FRASEOLOGIA


José Pereira da Silva (UERJ/ABF)

INTRODUÇÃO
O Dicionário Brasileiro de Fraseologia é simplesmente um repositó-
rio dos diversos tipos de “discurso repetido” em língua portuguesa, entre os
quais está o provérbio, uma das mais importantes expressões da literatura
oral de todos os tempos e de todas as civilizações.
Patrich Dahlet, apresentando o livro de Regina Rocha, lembra que o
provérbio só pode ser bem compreendido em bloco, visto que a soma de
seus elementos constituintes é insuficiente para estabelecer o seu sentido e
que é um discurso pronto e acabado, que obriga o seu usuário a não alterá-lo
(DAHLET, 1995, p. 8).
Portanto, como forma fixa, pode ser organizado como um vocabulá-
rio porque, apesar da quase impossibilidade de encontrar palavra ou expres-
são com sentido equivalente, tem o seu significado próprio que não se con-
funde com o de qualquer outro no léxico da língua: um elemento lingüísti-
co-literário que pode ser reconhecido por suas características formais e se-
mânticas.
Formalmente, o provérbio “é um verso ou quase verso, apresentando
muitas vezes rima, assonância, metáforas, estrutura geralmente bimembre,
elipse etc.” Semanticamente, “deve encerrar uma mensagem admoestadora
ou conselho” (Cf. ROCHA, 1995, p. 11).
Apresentaremos alguns exemplos extraídos do Dicionário Brasileiro
de Fraseologia para exemplificar as descrições em português da enunciação
dos provérbios sem marcas pessoais, exemplificada por Regina Rocha em
seu livro Enunciação dos Provérbios, p. 73-76.
A enunciação será tratada, aqui segundo os termos definidos por
Benveniste, como a “conversão individual da língua em discurso” (Cf. RO-
CHA, p. 25), de modo que uma frase vaga e generalizada tenha uma aplica-
ção prática e direcionada no discurso.
A língua, na enunciação, é empregada num contexto de relação com
o mundo em que vivemos:
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“A própria condição desta mobilização e desta apropriação da língua


é, no locutor, a necessidade de referir pelo discurso, e, no outro, a possibili-
dade de referir identicamente. (...) A referência é parte da enunciação.”
(BENVENISTE, 1970, p. 14).
“Isto é, para falar de algo ou alguém, o enunciador precisa usar ter-
mos individualizantes, que se refiram a seres específicos, termos capazes de
isolar a fim de identificar um ser dentre todos os demais.” (ROCHA, p. 26)
O discurso é a expressão da comunicação, cujo instrumento é a lín-
gua. Contudo, é preciso atenção para não se confundir a frase “definida por
regras de boa formação que regem essencialmente a relação predicativa”
com o enunciado, que “é uma relação predicativa marcada em relação a um
sistema de coordenadas enunciativas”. (CULIOLI, p. 100)
Assim, Frutíferas maçanetas de musicalidade apimentada aquecem
o suspiro tenro do enxoval amadurecido, que é uma frase sintaticamente
correta, não constitui um enunciado em língua portuguesa porque as pala-
vras escolhidas não são compatíveis semanticamente.
“Para que uma frase seja considerada bem formada”, e assim consti-
tua um enunciado, “é preciso não somente que ela combine palavras da lín-
gua de acordo com as regras da sintaxe, mas que também estas palavras
apresentem um certo grau de afinidade semântica entre si” (CERVONI, p.
15), tornando-se inteligível.
Seguindo a estrutura do trabalho de Regina Rocha, p. 73-76, relacio-
naremos inicialmente alguns provérbios para mostrar que as marcas pesso-
ais são pouco usadas, apesar de serem eles utilizados como reforço para
uma retórica de autoridade incontestável.
Esta quase-ausência de marcas pessoais pode aparecer pela substitui-
ção dessa marca por substantivos genéricos para pessoas, por nomes de
animais, por nomes de coisas como substitutos de pessoas ou de pronomes
pessoais e por termos abstratos, que figuram mais freqüentemente em pro-
vérbios moralizantes.
Ainda há outras formas de construções impessoais que não serão
aqui relacionadas em grupos separados, como são os casos daquelas, por
exemplo, que trazem a expressão “mais vale... que” (Mais vale um pássaro
na mão que dois voando) ou “antes... que”, (Mal por mal, antes cadeia do
que hospital), as expressões com construções infinitivas, os pronomes inde-
finidos como “quem” (Quem tudo quer, tudo perde), “tudo” (Tudo que é
demais aborrece), a partícula “se” (De pequenino se torce o pepino) etc.

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Portanto, para não se cansar tanto, trago-lhes uma relação dos quatro
tipos marcados por substantivos:
a) substantivos genéricos para pessoas;
b) nomes de animais;
c) nomes de coisas como substitutos de pessoas ou de pronomes pes-
soais;
d) termos abstratos.

a) nomes de animais (macaco, onça, lobo, burro, cavalo etc.)


A aranha vive do que tece. Galinha que canta é dona dos ovos.
A cobra maior engole a menor. Gato com fome come farofa de alfinete.
Amarra-se o burro à vontade do dono. Gato escaldado tem medo de água fria.
Asno que tem fome, cardos come. Gavião pega pinto, mas respeita galo.
Bode não morre de fome. Guariba na serra, chuva na terra.
Boi solto se lambe todo. Há tanto tempo que morreu o sapo, e agora
Cachorro bom de tatu morre de cobra. que estoura o papo.

Cachorro não tem razão. Jabuti não pega ema.

Cão que ladra não morde. Lá se foi o melhor boi do meu arado.

Carrapato quer ter tosse. Lagartixa sabe em que pau bate a cabeça.

Cascavel só anda aos pares. Lobo não come lobo.

Cavalo comedor, cabresto curto. Macaco velho não mete a mão em cumbuca.

Cobra que não anda não engole sapo. Mais vale tito-tico no prato que jacu no mato.

Coelho duma cama só morre depressa. Mais vale um burro vivo que um doutor mor-
to.
Coruja não acha os filhos feios.
Mais vale um passarinho na mão que dois vo-
Cutia ficou sem rabo de tanto fazer favor. ando.
De grão em grão a galinha enche o papo. Marimbondo pequenino já mostra que tem
De noite, todos os gatos são pardos. ferrão.

Formiga corta longe de casa. Marrada de vaca velha não derruba marruá.
Formiga sabe a folha que rói. Mata-se a cobra, mas não o veneno.

Formiga tem catarro. Morta a cobra, morto o veneno.

Formiga, quando quer se perder, cria asas. Muriçoca em beira de água é maruim.
Franga que canta, quer galo. Mutuca é que tira boi do mato.
Galinha ciscadeira acha cobra. Não se pescam trutas a bragas enxutas.

Galinha de olho torto procura o poleiro certo. O carneiro, quando “fasta”, a marrada inda
é maior.

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O pinto já sai do ovo com a pinta que o galo Raposa de luvas não chega às uvas.
tem. Raposa que dorme não apanha galinha.
Onde não há cachorro, galinha carrega osso.
Raposa, cai o cabelo, mas não deixa de comer
Onde nasce a lagarta, aí se farta. galinha.
Onde tem onça, macuco não pia. Sapo de fora não chia.
Ovelha que berra, bocado que perde. Tatu na toca é rei.
Ovelha que é do lobo, Santo Antônio não Tatu velho não se esquece do buraco.
guarda. Traíra, quando não tem o que comer, come os
Papagaio come milho, periquito leva a fama. parentes.
Papagaio só larga do pé, estando seguro pelo Uma andorinha só não faz verão.
bico. Urubu pelado não voa em bando.
Para burro velho, capim novo. Urubu, quando ainda caipora, atola até no
Para cavalo novo, cavaleiro velho. lajedo.
Para gato velho, camondongo. Urubu, quando anda caipora, o de baixo caga
Passarinho sem alpiste não canta. no de cima.
Vaca parida não come longe.
Peixe grande come peixe pequeno.
Vaca velha parece que nunca foi bezerra.
Pinto pelado, urubu camarada.
Veado baleado todo ele é grande e gordo.
Porco velho não se coça em pé de espinho.
Primos e pombos é que sujam a casa.

b) substantivos genéricos para pessoas


A gente conta o milagre mas não diz o nome Careca não gasta pente.
do santo. Cesteiro que faz um cesto, faz um cento.
A gente guarda o que comer e não o que fa-
Filho és, pai serás: – o que fizeres encontra-
zer.
rás.
A gente não sabe pra que Santo se volte.
Gente ruim não precisa de chocalho.
A gente nasce nu e não se enterra de chapéu.
Há juízes em Berlim.
A gente nunca se esquece de quem se esque-
Há muita gente boa com quem Nosso Senhor
ce da gente.
não podia viver.
A gente pensa que faz um cálculo e faz um Homem avisado, meio salvado.
“caculo”.
Homem desfeiteado não entra em casa.
A gente pensa que se benze e arrebenta a
venta. Homem honrado, antes morto que injuriado.
A gente sabe onde nasce, mas não sabe onde Homem pequeno só serve pra dar traque em
morre. samba e catar carrapato em barriga de je-
gue.
A mulher e a galinha não se deixa passear.
Homem velho é cipó seco.
Alfaiate mal vestido, sapateiro mal calçado.
Homem velho, saco de azares.
Brigam as comadres, descobrem-se as ver-
dades. Irmão de barqueiro não paga passagem.

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Irmão maior, pai menor. Mulher e dinheiro mostrado está em véspe-


Mais vale um rapaz sem nado do que um ve- ras de roubado.
lho com dinheiro. Mulher e dinheiro, nem escondido.
Menino de velo fica órfão cedo. Mulher e galinha são bichos interesseiros: –
Menino e sino, só com pancada. galinha por milho, mulher por dinheiro.
Mulher e lama é no meio.
Menino engorda pra crescer e velho pra
morrer. Mulher e pau de porteira em toda parte se
Menino foi quem descobriu que o cão é coxo. encontra.

Moça com velho casada como velha se trata. Mulher e pote se encontra aos “lote”.

Moça que casa com bacharel não tem quar- Mulher e potro, feito por outro.
tel. Mulher e relógio não se empresta a ninguém.
Moça, chita e fita, não há feia nem bonita. Mulher e vidro sempre estão em perigo.
Moça, só nbão namora com carrapato, por Mulher formosa, doida ou presunçosa.
não saber qual é o macho. Mulher honesta, ter o que fazer é a sua festa.
Mulher andeja fala de todos, e todos dela.
Mulher pariu, quer galinha.
Mulher barbuda, Deus nos acuda!
Mulher que assobia e galinha que canta, fa-
Mulher bem casada não tem sogra, nem cu- ca na garganta.
nhada. Mulher que em jura de homem se fia chora
Mulher boa é prata que soa. de noite e de dia.
Mulher bonita e homem valentão têm muita Mulher ri quando pode, e chora quando
extração. quer.
Mulher calada é pior que boi sonso. Mulher rixenta, nem o diabo agüenta.
Mulher chorosa, mulher fogosa. Mulher sardenta e cavalo passarinheiro,
Mulher de bigode não é pagode. alerta, companheiro!
Mulher se queixa, mulher se dó, mulher en-
Mulher de bigode nem o diabo pode.
ferma quando ela quer.
Mulher de boa vida não tem medo de homem
Mulher só chora, quando se casa, porque is-
de má língua.
so não foi há mais tempo.
Mulher de cabelo na venta, nem o diabo
Mulher tagarela fala de todos, todos falam
agüenta.
dela.
Mulher de cego, se é direita, não se enfeita.
Mulher, arma e cavalo de andar, nada de
Mulher de igreja, Deus nos proteja! emprestar.
Mulher de janela fala de todos, e todos dela. Mulher, cachaça e bolacha, em toda parte se
Mulher de janela, nem costura nem panela. acha.
Mulher doente, mulher pra sempre. Mulher, cavalo e cachorro de caça, se esco-
lhe pela raça.
Mulher e beiju de massa em toda parte se
encontra. Mulher, quanto mais fala, mais mente; quan-
to mais mente, mais jura.
Mulher e chita, cada um acha a sua bonita.
O homem e fogo e a mulher estopa: – vem o
Mulher é como espelho: – pra se sujar basta diabo e sopra.
o bafo.

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O homem fala, a mulher escuta: – vem o di- Um homem prevenido vale por dois.
abo e executa. Velho apaixonado, com pouco está casado.
O homem faz e Deus desfaz.
Velho com amor, inverno em flor.
O homem na praça, e a mulher em casa.
Velho com amor, morte em redor.
O homem põe e Deus dispõe.
Velho é bananeira que já deu cacho.
O homem que junta dinheiro não tem fé em
Velho é jerimum de ponta de rama.
Deus.
Velho gaiteiro, velho menino.
O homem se faz por si.
Velho não se senta sem “Ui!”, nem se levan-
Rapaz é negro de padre.
ta sem “Ai!”.
Rei morto, rei posto.
Viúva é sobejo de defunto.
Se o velho pudesse e o moço soubesse, não
havia nada que não se fizesse.

c) nomes de coisas como substitutos de pessoas ou de pronomes


pessoais
A água silenciosa é a mais perigosa. Cabaça que leva leite nunca mais deixa a ca-
A árvore se conhece pelos frutos. tinga.
Casa velha tem barata.
A boca doce leva a cabaça ao engenho e o
dono à cadeia. Cerca ruim é que ensina boi a ser ladrão.
A boca fala do que está cheio o coração. Chuva que troveja não cai.
A caixa menos cheia é a que mais chocalha. Com bananas e bolos se enganam os tolos.
A candeia que vai na frente é a que “alu- Com mel se pegam as moscas.
meia”. Corda bamba também dá nó.
A cara de um é o focinho do outro.
Corda velha não dá nó.
À casa de tua tia não vá todo dia.
Cunha do mesmo pau não aperta.
A língua bate onde dói o dente.
De gota em gota o mar se esgota.
A panela pelo chiar, o homem pelo falar.
Desgraçado é o bicho que não engole outro.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que
Dinheiro e mulher bonita é quem governa es-
fura.
te mundo.
Águas passadas não movem moinhos. Dinheiro é que faz dinheiro.
Agulha sem fundo não arrasta linha. Dinheiro não tem cheiro.
Árvore ruim não dá bom fruto. É de pequenino que se torce o pepino.
Árvore velha não se muda. Erva ruim geada não mata.
Até as pedras se encontram. Faca na barriga dos outros não dói.
Barba não dá juízo. Farinha pouca, meu pirão primeiro.
Berimbau não é gaita. Filho de gato mata rato.
Boca de mel, coração de fel. Flor caída não volta ao galho.
Fogo de palha não dura.

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Fumaça não assa carne. Não é de chaveta, nem de parafuso.


Garapa dada não é azeda. Não há carne sem osso, nem farinha sem ca-
Gengiva desenganada corta mais do que roço.
dente. Não há melhor espelho que amigo velho.
Goteira é que enche bacia. Não há rosas sem espinhos.
Graveto é que bota panela abaixo. Nem todo pau dá esteio.
Jenipapo de muleta, quem não pode não se No vinho está a verdade.
meta! O bom vinho escusa pregão.
Jerimum se guarda, mas melancia, se não se
O carro não anda adiante dos bois.
comer logo, apodrece.
O cavaco sai do pau.
Lá um dia a casa cai.
O dente morde a língua, e, mesmo assim, vi-
Laranja madura, em beira de estrada, ou é
vem juntos.
azeda ou tem marimbondo.
O diabo não é tão feio quanto se pinta.
Lenha verde é que faz fumaça.
O diabo sabe muito, porque é velho.
Língua comprida, sinal de mão curta.
O diabo, depois de velho, fez-se ermitão.
Língua não tem osso.
O hábito não faz o monge.
Língua que fala, corpo que paga.
O mar também ronca e eu mijo nele.
Mais vale estrada velha que vereda nova.
O melhor da festa é esperar por ela.
Mais vale um ovo hoje que uma galinha
amanhã. O melhor da missa é chegar no fim.
Mais vale uma casa na vila que duas no ar- O melhor das cartas é não se pegar nelas.
rabalde. O mundo é dos mais espertos.
Mais vale uma perna que duas muletas. O povo tem o governo que merece.
Mais vale vinagre dado que mel emprestado. O sol não é quem faz a sombra.
Mato verde não dá boa lenha. O sol nasce para todos.
Matos têm olhos, paredes têm ouvidos. O travesseiro é o melhor conselheiro.
Maus caminhos, maus encontros. Onde fogo não há, fumaça não se levanta.
Maxixe, inda bem não enrama, já bota. Onde há fumaça, há fogo.
Mel novo, vinho velho. Onde há mel, há abelhas.
Merda seca não pega em cu lavado. Onde não chega o pano, chega a tesoura.
Merda, quanto mais se mexe, mais fede. Onde o ouro fala, tudo cala.
Mesa redonda não tem cabeceira. Onde se perdeu a camisa, aí é que se procu-
Moeda falsa, de noite se passa. ra.
Mortalha não tem bolso. Onde se quebrou o pote, aí é que se procura
a rodilha.
Muro que cria barriga está pra cair.
Os dedos da mão não são iguais.
Na fazenda fina é que a mancha pega.
Os olhos são a janela da alma.
Não é carne, nem peixe.
Os paus, uns nasceram para santo, outros
Não é com vinagre que se apanham moscas.
para tamancos.

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Os pés irão onde quiser o coração. Por fora muita farofa, por dentro molambo
Ovo gabado, ovo gorado. só.
Porta aberta, o justo peca.
Palavra dada, vida empenhada.
Porta da rua, serventia da casa.
Palavra de rei não volta atrás.
Pote velho é que dá boa água.
Palavra não é bem de raiz.
Pouco fel faz azedo muito mel.
Palavra não é prego.
Prego batido, ponta virada.
Palavra puxa palavra.
Primeiro o bucho, depois o luxo.
Palavras ditas, pancadas dadas.
Primeiro os dentes, depois os parentes.
Palha não apaga fogo.
Quando a barriga está cheia, toda goiaba
Palmatória quebra dedo, mas não quebra
tem bicho.
opinião.
Quando o mar briga com a praia, quem apa-
Panela no fogo é sinal de barriga vazia.
nha é o caranguejo.
Panela que muito ferve, o sabor perde.
Quando o mar briga com o rochedo, quem
Panela que muitos mexem, ou sai insossa ou sofre é o marisco.
salgada.
Quanto maior é a nau, tanto maior a tormen-
Pão comido, pão esquecido. ta.
Pão grande não acha freguês. Quanto mais alto é o pau, mais bonita é a
Pão, pão; queijo, queijo. queda.
Papel agüenta tudo. Remédio de doido é doido e meio.
Para quem ama, catinga de bode é cheiro. Remendo novo não pega em pano velho.

Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endi- Rio se faz é com riacho.
reita. Roma não se fez num dia.
Pau seco não dá embira. Roupa suja se lava em casa.
Pau seco não mata cobra. Saco vazio não pára em pé.
Pé de galinha não mata pinto. Saco vazio não se põe em pé.
Pedra que rola não cria limo. Santo de casa não faz milagre.
Pela boca se aquenta o forno. Se as armas falam, as leis calam.
Pela fumaça se conhece o pau do tição. Tamanco faz zoada, mas não fala.
Pela palha se conhece a espiga. Tantas cabeças, tantas opiniões.
Pelo dedo se conhece o gigante. Tanto vai o pote à bica que, um dia, lá fica.
Pelos santos, adoram-se as pedras. Tanto vale a tampa quanto o balaio.
Penico de barro não dá ferrugem. Terra e cal escondem muito mal.
Pilão seco não dá paçoca. Um grão não enche um celeiro, mas ajuda o
Pimenta-do-reino é preta, mas faz de-comer companheiro.
gostoso. Uma mão lava a outra e ambas lavam o ros-
Pipoca não quer ser feia. to.
Por fora bela viola, por dentro pão boloren- Vão-se os anéis, fiquem os dedos.
to. Vaso ruim não se quebra.

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Vontade também consola. Voz do povo, voz de Deus.

d) termos abstratos, que figuram mais freqüentemente em provér-


bios moralizantes
A atividade é a mãe da prosperidade. Conselho e rapé, toma quem quer.
A caridade começa por casa. Desgraça de pote é caminho do riacho.
A certeza da vida é a morte. Desgraça pouca é bobagem.
A certeza do ganho diminui a canseira. Disposição pra brigar, a ocasião é quem dá.
A cobiça rompe o saco. Dobrada é a falsidade feita com cor de ver-
A honestidade é a melhor política. dade.
Dor de barriga não dói uma vez só.
A justiça é cega.
Dos maus costumes nascem as boas leis.
A maior dor é aquela que se está sentindo.
Elogio de boca própria é vitupério.
A maior vingança é o desprezo.
Fama sem proveito faz dor de peito.
A mentira corre, mas a verdade a apanha.
Favores alegados, pagos estão.
A morte tudo nivela.
Ferida pequena é que dói.
A necessidade não tem lei.
Fiado, nem a meu cunhado.
A palavra é de prata, o silêncio é de ouro.
Fiado, só amanhã.
A pressa é inimiga da perfeição.
Governo, pra ser bom, precisa haver passa-
A primeira machadada não derriba o pau.
do.
A primeira pancada é que mata a cobra.
Guerra, caça e amores, por um prazer cem
A verdade é amarga. dores.
A vista do dono aduba os campos. Há males que vêm por bem.
A vista do dono engorda o cavalo. Honra demais é orgulho.
A volta é que faz o anzol. Honra e proveito não cabem num saco.
Acaba a amizade, quando começa a familia- Intriga de irmão, intriga de cão.
ridade.
Inveja matou Caim.
Amizade de genro, sol de inverno.
Justiça do Ceará te persiga!
Amizade de sogra e nora, só dos dentes pra
Justiça na sua porta não há quem queira.
fora.
Amor com amor se paga. Justiça não é lei, mas invenção.

Amor de asno entra a coices e dentadas. Mais devoção e menos coração.

Amor de parente é mais quente. Mais vale a fé que o pau da barca.

As aparências enganam. Mais vale amigo na praça do que dinheiro


na caixa.
Boa fama vale dinheiro.
Mais vale astúcia que força.
Bondade não custa favor.
Mais vale boa regra que boa renda.
Brevidade e novidade muito agradam.
Mais vale o exemplo que a doutrina.
Coices de garanhão pra égua carinhos são.

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Mais vale o feitio que o pano. O fim justifica os meios.


Mais vale penhor na arca que fiador na pra- O futuro a Deus pertence.
ça. O mal e o bem à face vêm.
Mais vale penhor que fiador.Mais amor e
O malfeito é da conta de todo mundo.
menos confiança.
O medo é do tamanho que se quer.
Mais vale uma esperança tarde que um de-
sengano cedo. O noivado vai na sela e o arrependimento na
garupa.
Mais vale vergonha na cara que mágoa no
coração. O pouco basta e o muito se gasta.
Mal de muitos consolo é. O pouco com Deus é muito, e o muito sem
Deus é nada.
Mal de muitos é desgraça grande.
O pouco repetido faz muito.
Mal de muitos, triste consolo.
O risco que corre a broca, corre a marreta.
Mal por mal, antes cadeia do que hospital.
O risco que corre o pau, corre o machado.
Mal que não tem cura chama-se loucura.
O saber não ocupa lugar.
Mentira não paga sisa.
O silêncio é a alma do sossego.
Moléstia de pinto é gogo.
O sono é parente da morte.
Muita diligência espanta a fortuna.
O temor de Deus é o princípio da sabedoria.
Muito riso é sinal de pouco siso.
O tempo voa.
Não há casamento pobre, nem mortalha rica.
O trabalho tudo vence.
Não há pecado que não possa ser perdoado.
O uso do cachimbo faz a boca torta.
Não há proveito sem custo.
Obra feita dinheiro espera.
Não há regra sem exceção.
Ódio velho não cansa.
Notícia ruim corre depressa.
Onde a razão não fala, doido é quem não se
Notícias dianteiras são sempre as mais ver-
cala.
dadeiras.
Onde falta ventura, diligência é escusada.
Novos tempos, novos costumes.
Onde há força, direito se perde.
O abuso não tira o uso.
Os arrependidos são os que se salvam.
O alheio chora a seu dono.
Os erros do médico, a terra os cobre.
O amor e a fé nas obras se vê.
Paga o justo pelo pecador.
O amor não tem lei.
Pancada de amor não dói.
O avarento rico não tem parente nem amigo.
Pancada de não faz caju ficar maduro.
O avarento, por um real, perde um cento.
Pecado confessado está meio perdoado.
O bem só é conhecido depois de perdido.
Peitada de formiga não alui coqueiro.
O bom da verdade não admite suspeita.
Pelo rodar da carruagem se conhece quem
O costume é rei, porque faz lei.
vai dentro.
O costume faz a lei.
Pobreza não é vileza.
O desengano da vista é furar os olhos.
Por causa de peso e medida, tem muita alma
O dono do defunto é quem pega na cabeça. perdida.

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Por causa de uma esporada, perde-se uma Seguro morreu de velho e Dona Prudência
vaquejada. foi ao seu enterro.
Praga de urubu não mata égua. Seguro morreu de velho, desconfiado ainda
Presunção e água benta, cada um toma o vive.
que quer. Sempre o medo nasceu da culpa.
Primeiro a obrigação, depois a devoção. Silêncio também é resposta.
Princípio de angu é mingau. Sombra de pau não mata cobra.
Princípios ruins, desgraçados fins. Sossego de homem é mulher feia e cavalo
Proibição faz tentação. capado.

Promessas, só as de Cristo. Suspiro de rato não derruba queijo.

Quando a desgraça vem, não olha a quem. Tempo bom é o que já passou.

Quando a miséria entra pela porta, a virtude Tempo é dinheiro.


sai pela janela. Tempo perdido não se recupera.
Raça de boi é capim. Toda comparação é odiosa.
Resposta branda a ira quebranta. Topada não quebra dedo.
Riqueza a valer é saúde e saber. Tristezas não pagam dívidas.
São mais as vozes que as nozes. Um crime não justifica outro.
São mais os casos que as leis. Uma desgraça nunca vem só.
Saúde cuidada, vida conservada. Uma injustiça feita a um é uma ameaça feita
Saúde pouca, mais val nenhuma. a todos.
Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.
Se a inveja fosse tinha, todo mundo era ti-
nhoso. Valentia não é privilégio.
Se não fosse cantiga de galo, raposa não Vão as leis onde querem os reis.
acertava com o poleiro. Vão-se os amores, ficam as dores.
Se não houvesse mau gosto, amarelo não ti-
Velhice é mal desejado.
nha graça.

ENFIM...
Há provérbios com marcas pessoais de primeira (Farinha pouca,
meu pirão primeiro; Todos nós somos filhos de Deus); e de segunda pessoa
(Justiça do Ceará te persiga!), mas a maioria esmagadora é constituída de
construções sem marcas pessoais.

BIBLIOGRAFIA
ROCHA, Regina. A enunciação dos provérbios: descrições em francês e
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