Você está na página 1de 11

A rtigo

Ecofeminismo: contribuições e limites para


a abordagem de políticas ambientais
Siliprandi, Emma* postas e os anseios das mulheres rurais nas
discussões sobre o desenvolvimento susten-
Resumo: O artigo apresenta os fundamen- tável e assim contribuir para o progressivo for-
tos mais importantes do ecofeminismo, esco- talecimento da posição das mulheres no con-
la de pensamento que tem orientado organi- junto da sociedade.
zações ecologistas e feministas de vários paí- Palavras-chave: Ecologia, Meio Ambiente,
ses desde a década de 70, buscando entender Mulher Rural, Desenvolvimento Rural Susten-
as contribuições e os limites que esta aborda- tável, Gênero
gem traz para a prática social no Brasil, em
particular para os movimentos que tentam 1 Introdução
articular as lutas das mulheres com as lutas O ecofeminismo pode ser definido como
uma escola de pensamento que tem orientado
ambientais. Analisa as principais autoras des-
se movimento, e apresenta dados sobre o tra- movimentos ambientalistas e feministas, des-
balho de algumas organizações que se inspi- de a década de 1970, em várias partes do mun-
do, procurando fazer uma interconexão entre
ram nos seus princípios. Por fim, propõe re-
flexões sobre as formas de incorporar as pro- a dominação da Natureza e a dominação das
mulheres. Hoje em dia, como definido por uma
de suas representantes2, pode ser considera-
*
Engenheira Agrônoma (UFRGS), Especialista em
do mais como uma corrente que trabalha com
Economia Agroalimentar (CeFAS, Itália) e em Formula-
mulheres dentro do movimento ambientalista,
ção e Análise de Políticas Públicas (Unicamp), Mestre
em Sociologia Rural (UFPb). Assessora da Coordenado- do que propriamente parte do movimento fe-
ria Técnica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento minista, que, como veremos mais adiante, não
do Estado do Rio Grande do Sul. E-mail: compartilha totalmente de suas teses sobre a
emmasili@uol.com.br. Natureza enquanto “princípio feminino”.
61
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A rtigo
No Brasil ainda são poucas apenas reivindicações isoladas.
as organizações ou movimentos Entre as organizações que se
sociais que se preocupam em propõem a fazer esta articula-
fazer essa relação, seja na teo- ção, destacam-se algumas que
ria, seja na prática. Entre aque- têm no ecofeminismo as prin-
les e aquelas que desenvolvem cipais referências teóricas para
trabalhos na área da preserva- o seu trabalho prático.
ção ambiental e da Agroecolo- O auge da visibilidade social
gia, é bastante comum verifi- e política dessas posições se deu
carmos um enfoque mais “pro- no início da década de 90, com
dutivo” ou voltado para “a natu- a realização da Conferência Meio
reza” do que focado nas questões sociais – que Ambiente e Direitos Humanos no Rio de Ja-
incluiriam uma preocupação com o papel es- neiro - a Eco-92 (Castro & Abramovay, 1997),
pecífico que as pessoas, e em especial as mu- em que organizações como a REDEH (Rede de
lheres, desempenham nos sistemas produti- Defesa da Espécie Humana) e RME (Rede Mu-
vos em questão e com a sua situação de su- lher de Educação) fizeram parte da coordena-
balternidade no meio rural. Assuntos como a ção do Planeta Fêmea, no Fórum Global. De-
divisão de tarefas que ocorre entre os mem- fendendo “um olhar feminino sobre o mundo”,
bros das famílias rurais e os valores associa- faziam críticas ao estilo predatório de consu-
dos a cada uma dessas tarefas, a rígida hie- mo vindo do Norte, que agravava a pobreza do
rarquia patriarcal, as formas de divisão dos Sul, ressaltavam a importância das ações lo-
bens por herança, por exemplo, que afetam cais para recuperação do ambiente, a relação
diferentemente homens e mulheres, jovens entre saúde e ambiente e a problemática das
e idosos, dificilmente são tratados como pro- mulheres, que alijadas dessas grandes discus-
blemas. Não é raro encontrarmos situações sões, sofriam as conseqüências desses proces-
em que deliberadamente se jogam estas sos. Desde então, pode-se dizer que suas pro-
questões para o campo da “ética cultural”, posições vêm influenciando parte do movimen-
como se, em nome de um suposto respeito aos to social, de mulheres e de agricultores.
hábitos e culturas locais, não fosse lícito to- Que contribuições essa corrente de pensa-
car em questões que dizem respeito às for- mento pode nos trazer, seja pela visão teórica
mas de organização social, e em particular, à que lhe dá suporte, seja pela prática das suas
família. Essas posições, no entanto, são integrantes, para pensarmos propostas de
desmentidas pela própria prática, já que qual- mudanças nas relações de gênero que este-
quer processo de mudança social provoca, de jam articuladas com a passagem para um
uma forma ou de outra, mudanças nos papéis outro paradigma produtivo, mais sustentável,
de gênero (não existe essa suposta “neutrali- mais equilibrado? Elas nos dão pistas de ações
dade”). que sejam capazes de, ao mesmo tempo, in-
Os movimentos feministas e de mulheres, cluir as mulheres rurais nas decisões impor-
por outro lado, também têm tido dificuldades tantes da sociedade e da família, assim como
em articular essas questões, de forma a apre- fazer avançar a luta ambiental?
sentar, nos fóruns e instâncias onde se deba- Este artigo procura trazer uma contribui-
tem propostas mais globais de desenvolvimen- ção para esta reflexão. Serão apresentadas al-
to, plataformas de ação e posições que refli- gumas idéias que estão na origem do pensa-

62
tam uma perspectiva feminina de progresso e mento ecofeminista, e uma breve descrição da
de desenvolvimento para a humanidade, e não atuação das duas organizações citadas acima,
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A rtigo
assim como de uma articulação internacional, ponto de vista de gênero ou ambientais. A pró-
a WEDO (Women’s Environment and Develop- pria forma de pesquisar a história tem segui-
ment Organization), que serve de referência a do esses princípios, e portanto não tem evi-
vários movimentos no Brasil. Por fim, são apre- denciado como se deu a exclusão das mulhe-
sentadas as críticas e questionamentos que res do mundo do conhecimento “científico” e
essa abordagem tem recebido, assim como as como a sua visão de mundo (de integração com
contribuições que, na opinião da autora, o a Natureza) foi sendo subjugada pela idéia de
movimento têm feito às lutas feministas e am- dominação.
bientais. O intuito é de fazer um convite a to- O pensamento ecofeminista apareceu pela
dos e todas que compartilham estas preocupa- primeira vez enquanto tal a partir dos movi-
ções, para construírem esse debate. mentos feministas da década de 1970 (a cha-
mada “segunda onda” do feminismo), a esta
2 Princípios Gerais altura já influenciados pelos movimentos paci-
do Ecofeminismo fistas, antimilitaristas e antinucleares que
De uma forma bastante simplificada, po- eclodiram em toda a Europa e Estados Unidos
deríamos identificar os princípios do pensa- nos anos 60 e que deram origem aos movimen-
mento ecofeminista nas seguintes questões: tos ambientalistas como os conhecemos hoje.
do ponto de vista econômico, existe uma Em comum com esses movimentos, Barbara
convergência entre a forma como o pensamen- Holland-Cunz identifica que a “utopia ecofe-
to ocidental hegemônico vê as mulheres e a minista primitiva” apresentava:
Natureza, ou seja, a dominação das mulhe- ideais de descentralização, não-hierarqui-
res e a exploração da Natureza são dois lados zação, democracia direta;
da mesma moeda da utilização de “recursos apoio a uma economia de subsistência
naturais” sem custos, a serviço da acumula- rural como modelo de desenvolvimento;
ção de capital; insistência na busca de tecnologias “su-
para o ecofeminismo, o pensamento oci- aves”, não-agressivas ao meio ambiente;
dental identifica, do ponto de vista político, a superação da dominação patriarcal nas
mulher com a Natureza e o homem com a cul- relações entre os gêneros.
tura, sendo a cultura (no pensamento ociden- Por outro lado, esses movimentos também
tal) superior à Natureza; a cultura é uma for- questionavam o dualismo entre cidade e cam-
ma de “dominar” a Natureza; daí decorre a vi- po, entre trabalho intelectual e manual, entre
são (do ecofeminismo) de que as mulheres te- o público e o privado, assim como entre os
riam especial interesse em acabar com a do- espaços ditos “produtivos” e aqueles “repro-
minação da Natureza, porque a sociedade sem dutivos”. Faziam parte dessas primeiras uto-
exploração da Natureza seria uma condição pias também a idéia de que muitas vezes a
para a libertação da mulher. riqueza material estava acompanhada de “mi-
As políticas científicas e tecnológicas que séria moral e emocional” e resgatavam-se ex-
têm orientado o periências de
desenvolvimen- vida simples, em
to econômico que a pobreza
A sociedade sem exploração da
moderno são não era identifi-
políticas que re- Natureza seria uma condição para a cada com misé-
forçam essa vi- ria ou privação.
libertação da mulher
63
são, não sendo Nesse senti-
“neutras” do do, havia na ori-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A rtigo
gem desses movimen- cebe, a principal dirige-se à idéia de que esta
tos elementos co- identificação viria do fato das mulheres
muns entre uma encarnarem um chamado “princípio feminino”,
“utopia feminista” e cuja origem está nas tradições hindus trazidas
uma “sociedade à tona em 1988, com a publicação do livro
ecológica”, assim “Staying alive: women, ecology and survival”,
como entre esses de Vandana Shiva (Shiva, 1991). O “princípio
movimentos e os feminino” seria uma forma “essencialista” de
“ecologistas so- ver essas relações, já que traz uma visão de
cialistas”. Dife- “ essência humana imutável e irredutível ”
rentes pontos (Garcia, 1992:164), associada às mulheres, que
de vista teóricos, as- as coloca fora de qualquer relação econômica,
sim como práticas de organiza- política ou social, construída historicamente.
ção e ação política fizeram com que essa É preciso lembrar que dentro do que se cha-
identidade não fosse permanente. ma ecofeminismo existem muitas correntes,
Do ponto de vista do movimento feminista, que vão desde aquelas com tradição mais anar-
a cisão se verificou quando da comemoração quista (“radicais”), socialistas, até aquelas mais
do Ano Internacional da Mulher (1975), inau- liberais, as que privilegiam as ações institucio-
guração da Década da Mulher instituída pela nais, no parlamento etc. Há também verten-
ONU, quando ocorreu pela primeira vez o de- tes espiritualistas e mesmo esotéricas, que en-
bate público entre o que se chamaria de mo- tendem como necessário resgatar as práticas
vimento “igualitarista” e o “feminismo da dife- “mágicas” de conhecimento da realidade que
rença” (corrente dentro da qual se insere o eco- as mulheres exerciam desde a antigüidade,
feminismo). como formas de reconstruir uma identidade fe-
A tradição igualitarista (em que pese suas minina que foi perdida ao longo do tempo.
enormes diferenças internas) reivindicava “a
universalidade da dignidade humana contra as 3 Vandana Shiva: um olhar
desigualdades de poder estruturadas ao redor feminista, ecológico
das diferenças sexuais” (Sorj, 1992:144) e lu- e terceiro-mundista
tava pela expansão dos direitos civis, a entra- Avançando um pouco além das discussões
da das mulheres no mundo público e a sua ideológicas, Vandana Shiva4 fez uma análise,
autonomia do ponto de vista econômico, soci- em 1988, de como a violência contra as mu-
al, político etc. lheres e a Natureza, na Índia e também em
Os movimentos identificados com “a dife- outros países do terceiro Mundo, tinha origem
rença” criticam essa visão, considerando que em bases materiais. Ela relaciona as formas
o mundo público, tal como está, reflete uma de dominação sobre os povos desses países,
visão masculina de ser, e que as mulheres (de- através das quais se orientavam os progra-
positárias de um outro modo de ser, outros mas de “desenvolvimento”, com a destruição
valores, outra cultura, decorrentes da mater- da Natureza, cuja conseqüência principal foi
nidade e da sua condição de reprodutoras da (e é) a destruição das condições para a pró-
vida) teriam outras contribuições a dar para pria sobrevivência das mulheres (pela
uma nova forma de estruturação da socieda- extinção das fontes de alimentação, água, da
de que incorporasse a riqueza do universo fe- biodiversidade etc).

64 minino, ao invés de desvalorizá-lo3 . Para a autora, a origem desses problemas


Entre as muitas críticas que essa visão re- está no paradigma desenvolvimentista que
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A cosmologia hindu, que vê o mundo
como sendo produzido e renovado pelo
A rtigo jogo dialético de criação e
destruição, coesão e desintegração, e
orienta essas ações, que vê o meio ambiente
tensão entre opostos, é chamada a expli-
como um “recurso” separado e à disposição
da humanidade, algo “inerte, passivo, unifor- car os desequilíbrios existentes
me, separável, fragmentado, e inferior, a ser
explorado” (Shiva, 1991: 65). Esta forma de
pensar foi, paralelamente, responsável pela ou princípio feminino, seria a fonte de toda a
exclusão das mulheres do seu papel protago- criação na Natureza, animada ou inanima-
nista na agricultura, já que ela deixou de ser da. Este princípio ou força criativa estaria pre-
vista como agricultora, silvicultora, adminis- sente em toda a diversidade da vida, e se ca-
tradora de recursos hídricos etc. Seu conhe- racterizaria pela criatividade, atividade, pro-
cimento, que era ecológico, plural, foi sendo dutividade; pela conexão entre todos os seres
inferiorizado e perdido. (inclusive os humanos); e pela continuidade
Segundo ela, o trabalho das mulheres era entre a vida humana e a vida natural. A rup-
baseado na estabilidade e sustentabilidade, na tura dessa visão, ou a subjugação do princípio
diversidade, na descentralização, no trato de feminino, é que estaria então na origem dos
plantas que não tinham retorno comercial desequilíbrios ecológicos existentes, assim
imediato, e buscava o sustento de todos (a ali- como na dominação das mulheres e dos po-
mentação, em particular), sem que houvesse vos do Terceiro Mundo.
necessidade de excedentes (vistos em algumas Somente a recuperação do princípio femini-
dessas culturas como um “roubo” à natureza, no poderia reverter esse quadro de violência e
uma vez que eram recursos que não necessi- dominação:
tavam ser usados). A contraposição é o mode- “A recuperação do princípio feminino se ba-
lo da privatização dos lucros e da exploração seia na amplitude. Consiste em recuperar na
ambiental, cujo principal símbolo é a mono- Natureza, a mulher, o homem e as formas criati-
cultura. Com a quebra das relações tradicio- vas de ser e perceber. No que se refere à Natu-
nais, as mulheres perderam o acesso à terra reza, supõe vê-la como um organismo vivo. Com
para as culturas alimentares, perderam aces- relação à mulher, supõe considerá-la produtiva
so aos bosques, à água, e passaram a ter me- e ativa. E no que diz respeito ao homem, a recu-
nos renda, emprego, e menos acesso ao poder. peração do princípio feminino implica situar de
A monocultura é vista como símbolo des- novo a ação e a atividade em função de criar
sas mudanças, porque além de expulsar as sociedades que promovam a vida e não a redu-
formas de cultivo tradicionais (baseadas na zam ou a ameacem.” (Shiva, 1991: 77).
diversidade e complementariedade), com as É inegável que a visão de Vandana Shiva é
conseqüências ecológicas que isso traz (ero- uma visão feminista, pois enfoca a necessida-
são, fragilidade dos ecossistemas, poluição da de de um movimento ativo por parte das mu-
água e do solo, dependência de insumos ex- lheres para serem ouvidas, para participarem
ternos etc), é sobretudo uma forma de pen- das instâncias de decisão com o intuito de
sar, na qual a intervenção do homem sobre a contraporem-se a essa visão de desenvolvi-
Natureza, visando ao lucro, é o princípio mento, considerada predatória, violenta, não-
orientador. sustentável e fonte de opressão sobre as pró-
A cosmologia hindu, que vê o mundo como prias mulheres. Do ponto de vista ecológico,
sendo produzido e renovado pelo jogo dialético traz uma visão de defesa da biodiversidade e
de criação e destruição, coesão e desintegra- de questionamento do paradigma “produtivis-

65
ção, e tensão entre opostos, é chamada a ex- ta” do desenvolvimento. Suas posições trazem
plicar os desequilíbrios existentes. Prakriti , também uma forte vertente “terceiro-mundis-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A rtigo
ta”, à medida que questionam as relações ção por Bella Abzug
entre os países que dominam a ciência con- (ex-deputada ame-
temporânea e aqueles que sofrem mais de ricana, advogada
perto as suas conseqüências. militante dos mo-
No entanto, embora ela descreva e anali- vimentos civis,
se concretamente como essa mudança de pa- falecida em 1998)
radigma se deu em diversas situações con- e traz no seu con-
cretas no Terceiro Mundo, e suas conseqü- selho de direção,
ências sobre as condições de vida das mulhe- entre outras, a
res, as explicações que ela apresenta do pon- própria Vanda-
to de vista teórico sobre o porquê da separa- na Shiva. A vi-
ção entre homens, mulheres e natureza, ocor- ce-presidente da
rida no pensamento contemporâneo, colocam- WEDO é u-ma brasileira, Thaís Corral,
na claramente no campo do essencialismo. Um também membro da REDEH. Em 1991, a WEDO
outro problema que a sua visão apresenta, e realizou um congresso internacional de mulhe-
que será retomado no ponto 5 deste texto, é o res em Miami, com cerca de 1500 participan-
fato de que as relações tradicionais às quais tes de 83 países, com o tema “Mulheres por um
ela se refere não eram isentas de opressão e planeta saudável”.
discriminação entre os sexos. A WEDO define como seus objetivos “trans-
formar o planeta em um lugar saudável e pací-
4 As agendas ecofeministas fico, com justiça social, política, econômica e
internacionais e nacional ambiental para todos, através do empowerment6
Para entender melhor o desdobramento das mulheres em toda a sua diversidade, e pela
dessas posições, vou citar exemplos de pro- sua participação eqüitativa com os homens em
gramas que vêm sendo desenvolvidos por or- todos os espaços de decisão, desde a base até
ganizações que compartilham princípios do as arenas internacionais” (http://
ecofeminismo (embora, às vezes, não se defi- www.wedo.org, 24/11/1998). As principais for-
nam como tal). Em nível internacional, vou mas de ação definidas pela WEDO como rede
tomar a organização não-governamental são o monitoramento dos resultados das Con-
Women’s Environment and Development ferências Internacionais da ONU7 , assim como
Organization (WEDO), e no Brasil, a Rede de das ações da Organização Mundial do Comér-
Defesa da Espécie Humana (REDEH) e Rede cio (OMC) e do Banco Mundial (Bird).
Mulher de Educação (RME). Existem ainda A avaliação que a WEDO faz dos problemas
outras organizações que também mantêm tra- ambientais atuais (degradação da terra, ari-
balhos vinculando às questões de gênero com dez, salinização erosão, etc; desmatamento,
meio ambiente, mas dado o objetivo específi- principalmente das florestas tropicais; mudan-
co deste artigo, não serão abordadas aqui5 . ças de clima, destruição da camada de ozônio,
A WEDO é uma rede internacional formada aquecimento do planeta decorrente das emis-
por ativistas e lideranças de vários países, so- sões de CO2 etc) identifica nos padrões de con-
bretudo do Terceiro Mundo, para fazer pressão sumo dos países do Norte a origem desses
sobre órgãos internacionais e monitorar a exe- desequilíbrios. As mulheres são vistas, ao mes-
cução de políticas que promovam o melhoramen- mo tempo, como alimentadoras desse modelo
to da situação das mulheres nos programas de de consumo (no Norte) e maiores prejudicadas

66
desenvolvimento. Foi criada em 1990, com sede por ele (no Sul). Do ponto de vista dos consu-
em Nova Iorque, presidida desde a sua funda- midores, é feita uma conexão bastante forte
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A rtigo
entre saúde, alimentação e meio ambiente. institucionalizadas perspectivas de gênero nas
As propostas passam por trabalhos com os ações desses organismos e assegurar uma
consumidores visando a uma readequação do presença maior de mulheres nas suas instân-
consumo, estímulo a experiências que bus- cias de direção. No caso do Banco Mundial,
quem aproximar os consumidores dos produ- também são reivindicados mais recursos para
tores, assim como maior descentralização e programas de saúde, educação, projetos de
regionalização da produção. Do ponto de vis- agricultura sustentável, acesso à propriedade
ta do maior acesso das mulheres ao poder, a da terra, emprego e financiamentos voltados
WEDO levanta a problemática da rígida divi- especificamente para as mulheres.
são sexual do trabalho nas sociedades ociden- Em linhas gerais, em termos de análise da
tais como um dos fatores que impedem a par- problemática ambiental e da necessidade das
ticipação das mulheres nos espaços públicos mulheres mobilizarem-se e procurarem in-
de decisão. fluenciar nos organismos de decisão sobre as
Quando da Cúpula Mundial da Alimenta- políticas públicas, pode-se dizer que as orga-
ção, em Roma (1996), a WEDO participou de nizações brasileiras REDEH e RME situam-se
um manifesto8 em que colocava suas posições no mesmo campo que a WEDO. Nos seus pro-
sobre a problemática da segurança alimen- gramas de trabalho específicos, no entanto,
tar. Nesse manifesto, era criticada a falta de as ênfases são um pouco diferentes.
coerência da FAO9, que nas propostas para No caso da REDEH, uma ONG criada em
acabar com a fome, aceitava as diretivas da 1987, com sede no Rio de Janeiro, os eixos de
OMC (liberalização do comércio internacional,
manipulação genética de alimentos etc) como
possíveis soluções. Para a WEDO, a seguran-
ça alimentar deve estar acima dos objetivos “. . . as multinacionais serão capazes
do comércio internacional. Como a produção
e a comercialização dos alimentos está cada de controlar a alimentação mundial
vez mais nas mãos das grandes multinacio-
globalmente, determinar os preços,
nais, caso se coloque em prática as propostas
apresentadas no Plano de Ação da FAO, “as gerar escassez artificial e utilizar a
multinacionais serão capazes de controlar a
alimentação mundial globalmente, determi-
alimentação como arma”
nar os preços, gerar escassez artificial e uti-
lizar a alimentação como arma” (RME, 1997:5).
Isto significaria a marginalização ainda mai-
or das mulheres dos países do Terceiro Mun- trabalho foram população e ambiente, com
do, que têm sido expulsas do campo. A mani- forte ênfase na discussão dos mecanismos de
pulação genética dos alimentos, por outro lado, controle da reprodução humana, contra a in-
seria mais uma ameaça ao direito de uma gerência dos organismos internacionais sobre
alimentação saudável, problema que a FAO as políticas de população. Suas ações concre-
não estaria enfrentando. tas após a Rio-92 foram no sentido de traba-
Enquanto ações visando ao empowerment lhar com instâncias locais de discussão, como
das mulheres, suas propostas se dirigem tam- os Conselhos Municipais da Condição Femi-
bém à OMC e ao Banco Mundial. A rede man- nina, onde eram prestadas assessorias para
tém dois programas permanentes de traba-
lho10 cujas metas são lutar para que sejam
procurar formas de colocar em prática a Agen-
da 21. No caso dos municípios, buscou-se de- 67
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A rtigo
senvolver ações liga- das Conferências Internacionais e, no caso do
das ao saneamento meio ambiente, a Agenda 21 das mulheres.
básico, coleta de Como exemplos concretos de trabalhos so-
lixo e educação bre os quais têm influência, são citadas as
ambiental que po- lutas das quebradeiras de coco babaçu no
deriam ser im- norte do país, as experiências de introdução
pulsionadas pe- de multimisturas como complementação ali-
las mulheres. mentar na merenda escolar de vários municí-
A discussão pios, projetos de plantas medicinais levados
sobre saúde e adiante por grupos de mulheres e trabalhos
direitos repro- de reciclagem de lixo em parcerias com pre-
dutivos teve como li- feituras. A RME participa de vários fóruns
nha a pressão sobre os governos nacionais e internacionais em defesa da se-
pela implantação do PAISM (Programa de gurança alimentar, da reforma agrária, pela
Atendimento Integral à Saúde da Mulher). A defesa da Biodiversidade e outras lutas rela-
REDEH mantém também trabalhos de capaci- cionadas com a questão agrária e ambiental.
tação para grupos de mulheres (sobre conhe-
cimento do corpo, saúde, direitos reprodutivos, 5 Balanço das contribuições
sexuais, esterilização, aborto) e realiza progra- O ecofeminismo, como uma corrente de
mas de rádio (Natureza Mulher, na Rádio Na- pensamento que procura incorporar a visão
cional da Amazônia, entre outros) que abor- das mulheres às discussões acerca da proble-
dam a condição feminina e a interação entre mática ambiental, pode trazer a este campo
meio ambiente, trabalho e a saúde das mulhe- várias contribuições inovadoras, à medida que
res. chama a atenção para aspectos que não cos-
A Rede Mulher de Educação (RME) foi fun- tumam ser considerados nas políticas de de-
dada em 1983, tem sede em São Paulo e seu senvolvimento, tais como as implicações que
sistema de trabalho é de associação com gru- determinadas atividades econômicas têm so-
pos de mulheres que têm atuação local, em bre as condições de vida e trabalho das mu-
vários pontos do país, que se tornam “pontos lheres, assim como sobre outros segmentos
focais” da rede. Sua atuação dirige-se princi- da população (populações tradicionais, indíge-
palmente para mulheres pobres, trabalhado- nas etc). Ao dar importância para o que não
ras rurais e movimentos populares, com os era “economicamente relevante”, tais como
quais desenvolve atividades de capacitação, a cultura local, a qualidade de vida, os valo-
assessoria, pesquisa e comunicação (produ- res das populações-alvo dessas políticas (que
ção de materiais como cartilhas, vídeos etc). passam despercebidos nas estatísticas ofici-
Seus temas de trabalho quanto à proble- ais), ajuda a questionar visões de desenvolvi-
mática agrícola/rural têm sido: impacto dos mento baseadas unicamente em critérios como
agrotóxicos sobre o ambiente e sobre a saúde renda, produção, produtividade.
das mulheres; educação ambiental; produção A crítica que desenvolve com relação aos
alternativa de alimentos; formação de lideran- modelos de desenvolvimento e às relações in-
ças; geração de renda para mulheres. Como ternacionais, sobre as causas estruturais da
orientação mais geral, suas integrantes defen- pobreza e da destruição ambiental, o colocam
dem a necessidade dos grupos de mulheres ao lado dos movimentos sociais que hoje con-

68
influenciarem as políticas, buscar parcerias testam a “ordem mundial” e a atuação de ins-
para poder implementar as Plataformas de Ação tituições multilaterais tais como o Banco Mun-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
Poderia-se trazer as mulheres para as

A rtigo lutas sociais/ambientais, incorporando as


suas preocupações e os seus
dial, a OMC e o FMI. Ao mesmo tempo, procu- conhecimentos nas propostas
ra dar uma ênfase ao caráter local das suas
de mudanças
ações, na realização de experiências alterna-
tivas de recuperação ambiental, de seguran-
ça alimentar etc. Nesse sentido, comunga
com a lógica de vários movimentos sociais que de gênero, ignoram que esse processo se deu
se propõem hoje a “pensar globalmente e agir sobre bases preexistentes de desigualdades
localmente”. sociais e econômicas, inclusive de gênero.
Do ponto de vista do ideário feminista, pode- Para esta autora, “o debate ecofeminista
se afirmar que o ecofeminismo se inscreve como enfatiza o efeito das construções ideológicas nas
um movimento de luta pela eqüidade de gêne- relações de gênero e nas formas de ação em re-
ros na sociedade, identificando a necessidade lação ao meio ambiente. No entanto, precisamos
de estímulo à participação das mulheres nas ir mais adiante e examinar criticamente as ba-
mais diversas as esferas de decisão. ses materiais que são subjacentes a estas cons-
O que parece ser mais problemático – mais truções, ou seja, analisar o trabalho que a mu-
do que a forma como esses movimentos atu- lher e o homem produzem, a divisão sexual da
am – é a visão que orienta essa ação, baseada propriedade e do poder e a realidade material
na idéia de que as mulheres seriam depositá- das mulheres das diferentes classes, raças e
rias de um “princípio feminino” dado por sua castas (no caso da Índia), pressupondo que es-
condição de mães, que as identificaria com a sas diferentes inserções sociais devem afetar
Natureza, com a fertilidade, com a criação, e de forma diferenciada a vida dessas mulheres,
portanto, teriam um lugar privilegiado na luta possibilitando diversas respostas à degradação
ecológica. do meio ambiente” Garcia, (1992: 165).
Autoras como Bila Sorj (1992), Sandra Mara Pensando no Brasil de hoje e na tentativa
Garcia (1992) e outras, já criticaram essa vi- dos movimentos populares (em especial no
são, tanto do ponto de vista das relações en- campo) de buscar outros modelos de desen-
tre natureza e cultura, quanto do ponto de vista volvimento, Maria Emília Pacheco (1997) apre-
do essencialismo implícito a essas visões, e de senta uma outra visão sobre as relações de
como isso significa uma visão a-histórica. gênero e meio ambiente. Para esta autora, a
Para Bila Sorj, a principal debilidade dessa utilização do conceito de sistema de produção
argumentação está no reforço que faz às ca- poderia ajudar a dar uma maior visibilidade
racterísticas que foram construídas históri- para o trabalho das mulheres na agricultura
camente e socialmente como sendo mais ade- e na conservação ambiental. Partindo do tra-
quadas ao papel social das mulheres balho que hoje é feito pelas mulheres, dando
(afetividade, docilidade etc), cujas conseqüên- importância para o que hoje é desprezado, se
cias principais foram a dominação e a opres- poderia trazer as mulheres para as lutas soci-
são no espaço público e privado, a segregação ais/ambientais, incorporando as suas preo-
ao espaço doméstico etc. cupações e os seus conhecimentos nas pro-
Garcia critica em especial os trabalhos de postas de mudanças. Porém, fica ainda a ques-
Vandana Shiva por terem uma visão unifor- tão: esta valorização seria suficiente para pro-
me das mulheres do Terceiro Mundo (sem dis- vocar uma mudança mais profunda na divi-
tinção de raça, classe, etnia etc), assim como, são sexual do trabalho e na hierarquização
ao localizarem a imposição de um modelo de entre os gêneros existente no campo?
desenvolvimento colonialista sobre esses pa- Maria Emília defende o resgate do que no
íses como fonte das violências ambientais e Norte do país é chamado de “quintais” – aquela 69
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000
A rtigo
área em torno da casa onde são criados os ani- pacitação em temas que vão além daqueles
mais domésticos, é feita uma pequena horta, considerados “tipicamente femininos”, que
um pomar, e são realizadas as tarefas de agro- alarguem os seus conhecimentos sobre a co-
industrialização caseira. São hoje espaço por munidade e a sociedade em que estão
excelência da atuação das mulheres. Servem inseridas; introduzir, nos processos de capaci-
como área de produção de uso múltiplo, espaço tação e organização de agricultores(as), a dis-
de complementação de renda e enriquecimen- cussão sobre as desigualdades de gênero, para
to da dieta alimentar, e campo de aclimatação poder avançar na reflexão sobre formas de
e experimentação de espécies. Segundo ela, o superá-las; criar condições especiais (de ho-
apoio a estas atividades poderia ser combina- rário, local, pauta, transporte, creche etc) para
do com as culturas comerciais, em uma pro- que as mulheres efetivamente possam parti-
posta de agricultura sustentável, tendo como cipar das atividades coletivas (cursos, reuni-
princípio a agroecologia. Esta proposta teria a ões, viagens de intercâmbio), em que os te-
característica de evidenciar o valor do traba- mas da agricultura e desenvolvimento são dis-
lho das mulheres na agricultura familiar hoje, cutidos.
e sua situação dentro da família, em um pers- Não é por terem nascido mulheres, no sen-
pectiva de resgate da biodiversidade e de for- tido essencialista do termo, que elas têm a con-
mas alternativas de produção. tribuir na discussão de propostas. É porque se
Talvez como um exercício de inclusão, seja tornaram mulheres - e estão inseridas social-
interessante pensarmos em como incorporar mente em atividades específicas, porque têm
estas questões aos nossos diagnósticos e pla- pontos de vista históricamente e socialmente
nos de desenvolvimento comunitários ou mu-
construídos, que podem oferecer visões sobre
nicipais, começando por incorporar as própri-
o desenvolvimento social que o pensamento e
as mulheres nos processos de discussão em
a prática masculinas não são capazes de abar-
que esses diagnósticos e planos são elabora-
car. É preciso que se assuma que a invisibili-
dos. Se elas não estão presentes ou não se
dade do trabalho das mulheres na agricultura
mostram interessadas, poderíamos nos per-
guntar as razões dessas ausências. é um dos entraves para que as propostas alter-
Em artigo anterior, (Siliprandi, 1999), co- nativas de desenvolvimento sejam efetiva-
mento sobre esses problemas e proponho for- mente coerentes, amplas e eqüitativas. A par-
mas de contorná-los: realizar atividades com tir da incorporação dessas questões, com cer-
as mulheres que permitam que elas se vejam teza, irão aparecendo novos desafios, e progres-
efetivamente como trabalhadoras (e não como sivamente se avançará no sentido de um ver-
“ajudantes” dos maridos); promover a sua ca- dadeiro empowerment das mulheres rurais. A

5 Referências Bibliográficas
CASTRO, Mary G. & ABRAMOVAY, Miriam. Gê- n. 4, p.9-20, set. 1992.
nero e meio ambiente. São Paulo-Brasília: MIES, Maria. Os modelos de consumo do Nor-
Cortez-Unesco-Unicef, 1997. te – causa da destruição ambiental e da po-
GARCIA, Sandra M. Desfazendo os vínculos na- breza do Sul. Cadernos da Rede de Defe-
turais entre gênero e meio ambiente. Estu- sa da Espécie Humana (REDEH) , Salvador,
dos Feministas, Rio de Janeiro, v.0, p.163- v.1, especial, p.35-44, 1991. (Conferência
167, 1992. Mulher, Procriação e Meio Ambiente – Con-
KULETZ, Valerie. Entrevista a Barbara Holland- tribuições das participantes)

70
Cunz. Ecología P olítica, Madrid-Barcelona,
Política PACHECO, Maria Emília L. Sistemas de produção:

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000


A rtigo
5 Referências Bibliográficas

uma perspectiva de gênero. Proposta, Rio de NETO, A. (org.) Sustentabilidade e Cidada-


Janeiro, v.25, n. 71, p.30-38, dez./fev. 1997. nia: o papel da extensão rural. Porto Alegre:
REDE MULHER DE EDUCAÇÃO (RME). Alimentan- EMATER/RS, 1999. p.175-187 (Série Programa
do a vida. Cunhary Informa, São Paulo, v.5, n. de Formação Técnico-social da EMATER/RS).
25, p.5-8, set./out. 1997. SORJ, Bila. O feminino como metáfora da natu-
SHIVA, Vandana. Abrazar la vida: mujer, ecología reza.. Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v.0,
y supervivencia (trad. Ana E. Guyer e Beatriz p.143-150, 1992.
Sosa Martinez). Montevideo: Instituto del Tercer WOMEN’S ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT
Mundo, 1991 ORGANIZATION (WEDO). New world food
SHIVA, Vandana. Monocultivos y biotecnología policies could displace rural women farmers.
(amenazas a la biodiversidad y la News and Views, New Y ork, vv.9,
York, .9, n. 3/4, p.
supervivencia del planeta) (trad. Ana E. 6, nov ./dez. 1996.
nov./dez.
Guyer). Montevideo: Instituto del Tercer Mun- WOMEN’S ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT
do, 1993. ORGANIZATION (WEDO). About WEDO...
SILIPRANDI, Emma. Para pensar políticas de for- Disponivel na Internet: http://www.wedo.org,
mação para mulheres rurais. In: BRACAGIOLI 24/11/98.

Notas
2
Barbara Holland-Cunz, professora da Univer- essas conferências: Meio Ambiente (Rio de Janeiro,
sidade de Frankfurt, em entrevista a KULETZ (1992). 1992), Direitos Humanos (Viena, 1993), População
3
Várias autoras publicaram livros e artigos sobre (Cairo, 1994), Pobreza e Desenvolvimento Social
estas questões neste período, tais como, Françoise (Copenhague, 1995), , Mulheres (Pequim, 1995),
d’Eaubonne (França, 1974), Sherry Ortner (Estados Assentamentos Humanos (Istambul, 1996) e Ali-
Unidos, 1974), Gabriele Kuby (Alemanha, 1975), mentação (Roma, 1996).
Susan Griffin e Mary Daly (Estados Unidos, 1978). 8
O chamado Apelo de Leipzig foi redigido e
Posteriormente, outras como Carolyne Merchant (Es- apresentado por Vandana Shiva e Maria Mies no
tados Unidos), Maria Mies (Alemanha) também re- Dia Mundial das Mulheres sobre a Alimentação. O
tomaram o tema da identificação da mulher com a texto completo pode ser obtido no site da WEDO.
Natureza devido à sua condição de reprodutora da Há uma tradução resumida no Boletim Cunhary no
vida, dentro do ideário do “feminismo da diferen- 25 (RME, 1997).
ça”. 9
A FAO é a Organização das Nações Unidas
4
Doutora em Física e Filosofia, é diretora da para Agricultura e Alimentação, responsável pela
Fundação Dehra Dun de Pesquisa sobre Políticas realização da Cúpula.
de Ciências, Tecnologia e Recursos Naturais na Ín- 10
Os Programas são: Women Take on World
dia, e membro da Rede Terceiro Mundo (Third World Trade Organization e Women’s Eyes on the World
Network). Bank. O primeiro poderia ser traduzido como “mu-
5
Ver a respeito Castro & Abramovay (1997). lheres tomam conta da OMC”; quanto ao segun-
6
Embora este termo pudesse ser traduzido por do, existe uma articulação no Brasil formada por
“fortalecimento”, é mais comum aparecer na forma representantes de ONGs e movimentos sociais que
de “empoderamento” das mulheres; como ações que têm assumido o nome de “Mulheres de Olho no
visam dar às mulheres mais poder de decisão, mais Banco Mundial”. Essa articulação, embora com pro-
acesso às instâncias reais de poder na sociedade. pósitos semelhantes, não é uma representação di-
A WEDO realizou acompanhamento de todas reta do programa mantido pela WEDO.
71
7

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

Você também pode gostar