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O Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) ocupa um prédio localizado

na Avenida 9 de Julho, que pertencia anteriormente ao Instituto Nacional do


Seguro Social- instituição do Governo Federal. O prédio ocupado trata-se de
um símbolo de luta pelo direito à cidade no centro de São Paulo, pois é
conhecida a trajetória de movimentos sem-teto para transformação deste
prédio em moradia social, tendo a primeira ocupação dele ocorrido em 02 de
novembro de 1997, com fundamento na Constituição de 1988, que garante o
direito à moradia e a função social urbana.

Após o despejo, seguido por novas ocupações, organizadas por


diversos grupos organizados durante mais de dez anos, e novos despejos, o
Instituto de Previdência Municipal de São Paulo (PREM), através de lei
municipal 16.121/15, foi autorizado a receber em 2015 - mediante dação em
pagamento - imóveis de propriedade do INSS, dentre os quais, o prédio da
Avenida 9 de Julho e áreas comuns. Essa mesma lei autoriza o repasse do
IPREM à Prefeitura para utilização desses imóveis “em programas de
habitação popular, educação, saúde, cultura e direitos humanos”. Finalmente,
em abril de 2019, quatro anos após a vigência da lei, foram publicados no
Diário Oficial da União, os extratos de escrituras de dação em pagamento de
imóveis, na qual o IPREM recebe do INSS o prédio situado na Avenida 9 de
Julho números 570, 584 e 594, conhecido na cidade como Ocupação 9 de
julho.

Afirmamos que o prédio já cumpre com os fins estabelecidos na lei de


2015, ou seja, cumpre com a sua função social. O MSTC, mediante a união de
cidadãs e cidadãos sem teto, conseguiu garantir com organização popular o
que é obrigação do Estado garantir: abrigar 121 famílias que moram na
Ocupação 9 de Julho e desenvolver com elas, para elas e para a cidade,
diversas atividades educacionais, culturais e de geração de renda.

Quem já visitou a Ocupação 9 de Julho sabe do trabalho de acesso à


cultura e promoção da educação que ali se realiza, onde os moradores têm
acesso a cursos universitários em pareceria com a UNEAFRO, oficinas de
formação em ofícios, criação de cooperativas - visando gerar autonomia
econômica das pessoas – e incentivo ao empreendedorismo, para tirá-las do
desemprego e da dependência do Estado.
Todo esse trabalho conjunto está sob ameaça de despejo e, caso isso
aconteça, mais de 400 pessoas, das quais 66 são crianças, voltarão a estar
desamparadas, sem um teto seguro onde dormir.

Cabe ressaltar, ainda, que enquanto um setor da mídia estigmatiza as


ocupações, diversas instituições de ensino superior, nacionais e internacionais,
estabelecem parcerias com o MSTC visando formar seus estudantes, tentando
aprender com a experiência do movimento. Enquanto setores da mídia e da
política utilizam uma tragédia para criminalizar os moradores das ocupações, a
Federação Nacional de Arquitetura entregou o Prêmio FNA 2019 à Carmen
Silva, liderança do MSTC.

Despejar essas famílias significa que as crianças que hoje estão nas
escolas e creches da cidade ficarão na incerteza de saber se conseguirão vaga
em alguma instituição escolar, colocando em risco, para além do direito à
moradia, o direito à educação, reconhecido na Constituição e na Convenção
Internacional do Direito das Crianças, que hoje têm garantidos.

É por isso que os abaixo assinantes se manifestam em defesa da


garantia dos direitos das pessoas que moram na Ocupação 9 de Julho e fazem
um chamamento às autoridades para estabelecer um diálogo que possibilite
um mecanismo de transferência do prédio aos moradores, conforme já foi
realizado no que foi o Hotel Cambridge.

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