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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

SISTEMAS AGRÁRIOS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3
2 SISTEMAS..................................................................................................................................... 4
3 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS .......................................................... 5
3.1 Sistema de cultivo ................................................................................................................ 5
3.2 Sistema de produção ........................................................................................................... 6
3.3 Sistema agrícola ................................................................................................................. 10
3.4 Bioma ................................................................................................................................... 10
4 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO ................................................................................. 11
5 ABORDAGEM SISTÊMICA APLICADA AO ESTUDO DO RURAL ................................... 12
6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS .............................................................. 14
7 A TEORIA DOS SISTEMAS AGRÁRIOS ............................................................................... 16
8 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA ........................................... 19
9 ANÁLISE - DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA) ...................................... 20
10 PRINCIPAIS IMPACTOS PARA O MEIO AMBIENTE ..................................................... 24
11 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA...................................................................................... 26
11.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS ................................................................... 29
11.2 ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DAS PROPRIEDADES RURAIS ................................... 36
11.3 MUDANÇA NO CLIMA ...................................................................................................... 37
12 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E DE CONHECIMENTOS NA AGRICULTURA . 44
13 O FUTURO DA AGRICULTURA BRASILEIRA ................................................................. 46

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 SISTEMAS

Para BERTALANFFY, “os sistemas estão em toda parte, e a aplicação de uma


teoria geral de sistemas, fornece as bases para um entendimento interdependente de
variáveis que, aparentemente, parecem estar desconectadas. No que concerne à
sistemas sociais na agricultura”. (1973)
Desta forma o sistema agrário contém elementos que refletem relações de
dependência existentes entre as categorias sociais agrárias numa determinada
sociedade rural, tais como: relações de concorrência e de complementaridade, sendo
importante estabelecer a noção de sistema agrário permitindo a análise de suas
atividades agrícolas na sociedade e de suas relações técnicas, econômicas e de
diálogo dentro de um mesmo território. (Philereno, 2007)
Os sistemas podem ser classificados como fechados ou abertos.
Nos sistemas fechados, os elementos componentes mantêm relações entre si,
mas não efetuam trocas com o meio exterior. Podemos citar como exemplo de sistema
fechado uma pedra ou uma mesa que está em estado de equilíbrio onde não há troca
de matéria nem de energia com o exterior, sendo esta nula.
Nos sistemas abertos, representados pelos organismos vivos e os
socioculturais, as relações que se passam no seu interior mantêm trocas com o meio
exterior em que se encontram inseridos, as quais, por sua vez, influenciam o
comportamento dos elementos componentes dos sistemas, que por seu turno,
repercutem no ambiente externo. (Porto, 2003)
Sendo os sistemas abertos, eles importam do ambiente os recursos
necessários para se manterem no ambiente que está em constante mudança.
Bertalanffy aborda o assunto, esclarecendo que sistemas abertos são aqueles que
possuem, continuamente, fluxos de entrada e de saída e que se conservam “mediante
a construção e a decomposição de componentes”. O exemplo de sistema aberto
citado pelo autor é o dos organismos vivos que, por sua própria natureza e definição,
são essencialmente sistemas abertos, uma vez que estão em constante interação com
o ambiente, mediante a troca de energia, de matéria e de informação. (CAMPOS,
2011)
Alguns autores também classificam um terceiro grupo de sistema como sistema
isolado. Abaixo teremos uma tabela com opiniões de alguns autores sobre o conceito
de sistemas abertos, fechados e isolados.
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Fonte: intercom.org.br

3 DEFINIÇÕES E EXEMPLIFICAÇÕES DE SISTEMAS

Em um esquema hierárquico de composição, o conjunto de sistemas


representa o supersistema, enquanto os subsistemas dizem respeito às partes
integradas que formam os sistemas. Os supersistemas estão inseridos dentro de um
hipersistema. (HIRAKURI, et al. 2012)
Com uma tipologia baseada em escala geográfica, padronizou-se as seguintes
definições de sistemas no cenário agropecuário:
 Sistema de cultivo, que indica o subsistema;
 Sistema de produção, que representa o sistema propriamente
dito;
 Sistema agrícola, que diz respeito ao supersistema;
 Bioma, referente ao hipersistema.

3.1 Sistema de cultivo

O sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo associadas a


uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação
lógica e ordenada de um conjunto de atividades e operações. No caso da produção
animal, esse processo é chamado de sistema de criação. (HIRAKURI, et al. 2012)

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A imagem abaixo exemplifica etapas que geralmente compõe um sistema


de cultivo de soja, complementadas pelas atividades de planejamento e de pós-
colheita.

Fonte: HIRAKURI, et al. (2012).

Observação: Na imagem os blocos em azul representam etapas de um sistema de


cultivo de soja e os blocos em laranja representam atividades complementares.

3.2 Sistema de produção

O sistema de produção é composto pelo conjunto de sistemas de cultivo e/ou


de criação no âmbito de uma propriedade rural, definidos a partir dos fatores de
produção (terra, capital e mão-de-obra) e interligados por um processo de gestão.
(HIRAKURI, et al. 2012)
Os sistemas de produção foram classificados pela complexidade e pelo grau
de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação, que formam tais sistemas
de produção. Em relação a sua complexidade, os sistemas de produção podem ser
classificados como:
a) Sistema em monocultura ou produção isolada: ocorre quando, em uma
determinada área, a produção vegetal ou animal se dá de forma isolada em um
período específico, que normalmente é categorizado por um ano agrícola.
b) Sistema em sucessão de culturas: ocorre quando se tem a repetição sazonal
de uma sequência de duas espécies vegetais no mesmo espaço produtivo, por
vários anos.
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c) Sistema em rotação de culturas: ocorre por meio da alternância ordenada,


cíclica (temporal) e sazonal de diferentes espécies vegetais em um espaço
produtivo específico.
d) Sistema em consorciação de culturas ou policultivo:
e) Sistema em integração: ocorre quando sistemas de cultivo/criação de
diferentes finalidades (agricultura ou lavoura, pecuária e floresta) são
integrados entre si, em uma mesma gleba, com o intuito de maximizar o uso da
área e dos meios de produção, e ainda diversificar a renda. Nesse contexto,
destacam-se quatro possíveis tipos de sistemas integrados:
• Lavoura-pecuária (Ex.: milho e braquiária ou girassol e braquiária). Nesses
exemplos, é importante frisar que, caso a braquiária não seja utilizada para pastejo, e
sim para outros fins, como por exemplo, a formação de palhada no sistema plantio
direto (SPD), esse sistema de produção não se caracteriza como integração e sim
como consórcio;

Fonte: HIRAKURI, et al. (2012).

• lavoura-floresta (Ex.: soja nas entrelinhas do eucalipto);

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Fonte: HIRAKURI, et al. (2012).

• pecuária-floresta (Ex.: gado sobre pastagem em reflorestamento de eucalipto)

Fonte: HIRAKURI, et al. (2012).

• lavoura-pecuária-floresta (Ex.: cultivo de milho seguido de pastagem com entrada


de bovinos em área de eucalipto).

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Fonte: nisseymaquinas.com.br

Em relação ao grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação


(subsistemas) que formam um determinado sistema de produção, este pode
didaticamente ser classificado em: (HIRAKURI, et al. 2012)

Ausência de interação: ocorre quando os diferentes sistemas de cultivo e/ou


de criação são conduzidos de forma isolada, não havendo nenhum tipo de interação
espacial (sucessão, rotação, consorciação ou integração) entre os mesmos, ou de
aporte de resíduos ou produtos gerados entre os sistemas de cultivo ou de criação.
Por exemplo, na primavera/verão o produtor pode cultivar soja em determinada área
e milho em outra, sem haver qualquer interação entre as culturas. Em outra situação,
pode haver produção animal em uma área e de grãos em outra, sem que haja o
fornecimento de grãos, partes vegetativas ou de restos da lavoura para a alimentação
animal, ou de resíduos gerados na produção animal, como o esterco e água de
lavagem, para a fertilização da lavoura.

Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em diferentes


áreas físicas: ocorre quando se dá a interação entre sistemas de cultivo ou destes
com os sistemas de criação, que estejam localizados em diferentes áreas do
estabelecimento rural. Em relação aos resíduos da produção animal, o esterco
produzido em uma área pode ser utilizado como fertilizante em outra gleba da
propriedade, ocupada por lavoura ou por pastagem. Por sua vez, os produtos/resíduos
da produção vegetal de uma gleba podem ser utilizados para a alimentação animal
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(Ex.: milho produzido para silagem; grãos fora das especificações e restos de
processamentos da produção agrícola utilizados para a pecuária de corte e/ou
leiteira).

Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em um mesmo


espaço físico: ocorre quando se dá a interação entre sistemas de cultivo ou destes
com os sistemas de criação, que estejam localizados na mesma gleba ou talhão da
propriedade, ou seja, é proveniente de sistemas de sucessão, rotação, consorciação
ou integração. Nesse tipo de interação, uma espécie é influenciada direta ou
indiretamente por outra espécie. Exemplos:
1) o nitrogênio oriundo da fixação biológica pelo cultivo anterior de uma espécie
leguminosa, liberado no solo pela decomposição dos seus resíduos, e absorvido por
outra cultura implantada na sequência;
2) a redução da incidência de mofo-branco na cultura do feijão cultivado em
sucessão ou rotação com a braquiária;
3) a redução da população de nematoides no solo em sistema de rotação ou
sucessão da soja com espécies do gênero Crotalaria.

3.3 Sistema agrícola

O sistema agrícola refere-se à organização regional dos diversos sistemas de


produção vegetal e/ou animal, que considera as peculiaridades e similaridades desses
diferentes sistemas. Essa organização deve permitir a construção de modelos e
arranjos produtivos que descrevam da forma mais acurada possível, os sistemas de
produção predominantes na região. (HIRAKURI, et al. 2012)

3.4 Bioma

O bioma se refere o espaço físico onde os sistemas agrícolas estão inseridos.

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Fonte: HIRAKURI, et al. (2012).

É importante salientar que o bioma não representa um conjunto de sistemas


agrícolas. Entende-se por bioma um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído
pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional,
com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que
resulta em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2004). Ressalta- -se que as
características geoclimáticas de cada bioma influenciam significativamente na
conformação dos sistemas agrícolas, podendo limitar determinados sistemas de
cultivo ou de criação.

4 O CONCEITO DE SISTEMA AGRÁRIO

Um sistema agrário é, antes de tudo, um modo de exploração do meio


historicamente constituído, um sistema de forças de produção, um sistema técnico
adaptado às condições bioclimáticas de um espaço determinado, que responde às
condições e às necessidades sociais do momento. Um modo de exploração do meio
que é o produto específico do trabalho agrícola, utilizando uma combinação
apropriada de meios de produção inertes e 20 meios vivos para explorar e reproduzir
um meio cultivado, resultante das transformações sucessivas sofridas historicamente
pelo meio natural. Poderíamos, então, definir um sistema agrário como uma
combinação das seguintes variáveis essenciais: (MAZOYER, 1987)
• o meio cultivado – o meio original e as suas transformações históricas -;

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• os instrumentos de produção – as ferramentas, as máquinas, os materiais


biológicos (as plantas cultivadas, os animais domésticos, etc.) - e a força de trabalho
social (física e intelectual) que os utiliza;
• o modo de “artificialização” do meio que disso resulta (a reprodução e a
exploração do ecossistema cultivado);
• a divisão social do trabalho entre a agricultura, o artesanato e a indústria que
permite a reprodução dos instrumentos de trabalho e, por conseguinte;
• os excedentes agrícolas, que, além das necessidades dos produtores,
permitem satisfazer as necessidades dos outros grupos sociais;
• as relações de troca entre os ramos associados, as relações de propriedade
e as relações de força que regulam a repartição dos produtos do trabalho, dos bens
de produção e dos bens de consumo e as relações de troca entre os sistemas
(concorrência);
• o conjunto das ideias e das instituições que permite assumir a reprodução
social: produção, relações de produção e de troca, repartição do produto, etc.
É graças a esse conceito que podemos apreender e caracterizar as mudanças
de estado de uma agricultura e as mudanças qualitativas das variáveis e de suas
relações e desenvolver uma teoria que permite distinguir, ordenar e compreender os
grandes momentos da evolução histórica e a diferenciação geográfica dos sistemas
agrários.

5 ABORDAGEM SISTÊMICA APLICADA AO ESTUDO DO RURAL

Com a abordagem sistêmica surge outras experiências, mais ou menos


extensas, completas e seguras, que contrariam o modelo dominante e que dão
prioridade à economia agrícola, às culturas para alimentação, à reprodução da
fertilidade, ao emprego e ao aperfeiçoamento dos meios e do saber locais, à iniciativa
e à produção agrícola. (FERREIRA, 2001)
Esta abordagem não exclui forçosamente a produção comercial e o recurso às
tecnologias externas, inverte, entretanto, prioridades e conduz a modelos de
desenvolvi mento agrícola autocentrados, reprodutíveis, pouco dependentes, muito
diversificados, extremamente adaptados e de grande valor biológico agregado.

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O desenvolvimento agrícola deve buscar a reconquista da autonomia de uma


agricultura de subsistência e a restauração das condições ecológicas e sociais de
produção, ao contrário de priorizar os meios novos concebidos em outra realidade e
que estão fora do alcance da economia agrícola. Além disso, deve promover os meios
biológicos, materiais e os saberes locais. Isso exige um procedimento de pesquisa,
voltado para o estudo contínuo dos sistemas agrícolas e sociais e para os seus
próprios meios e recursos. Esta concepção de pesquisa a serviço de um
desenvolvimento agrícola supõe uma nova organização da pesquisa científica e
técnica que não despreze as práticas agrícolas, os implementos e as riquezas
biológicas herdadas das tradições agrícolas de cada região. Esta nova pesquisa
deverá inventariar essa herança das tradições agrícolas e contribuir para sua melhoria
contínua, de acordo com as necessidades e as condições locais (FERREIRA, 2001).
A nova abordagem sistêmica deverá reconhecer e estudar os diversos sistemas
agrários colocados em prática pelos agricultores, por mais tradicionais ou degradados
que possam parecer. Descobrir as razões de ser, dos sistemas agrários, as suas
racionalidades, seus pontos de ruptura; as causas de sua degradação, as
possibilidades, as condições e os meios particulares de restaurá-los e de desenvolvê-
los. Para explicar a riqueza da concepção sistêmica, ao mesmo tempo antiga e nova,
para estabelecer comparações com sentido lógico e delas retirar ensinamentos, é
necessário construir um conceito, elaborar uma teoria dos sistemas agrários capaz de
explicitar a natureza e as razões de suas transformações e variação no tempo e no
espaço. Uma teoria que considere esses sistemas como agroecossistemas cultivados,
socialmente reproduzidos, e cujas condições de reprodução e exploração devam-se
saber estudar e manter (FERREIRA, 2001).
GODELIER, citado por FERREIRA (2001), afirma que, ao estudar um sistema
agrário, o pesquisador enfrenta uma dupla tarefa, em primeiro plano, a tarefa de
colocar em evidência o tempo de evolução desse sistema e, em segundo, como foram
formados e como evoluíram os elementos que o constituem. Em resumo, essas duas
dimensões em combinação tratam da analisa-los em sua dinâmica. O resgate da
história de vida dos agentes envolvidos, pode se constituir numa variável importante
do funcionamento do sistema, porque, através dela, podem aparecer as bases de
suas mudanças. Essas transformações são graduais, e pode-se observar que os
sistemas antigos continuam coexistindo com os novos; caracterizando as diferenças,

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descrevendo os processos, pesquisando as relações entre elementos e evidenciando


a representatividade das continuidades, é possível estabelecer as diferenciações
entre os sistemas e compreender as razões que permita compará-los.
A partir de uma concepção da abordagem sistêmica, a agricultura é entendida
com um processo de artificialização do ecossistema realizado pelo trabalho do 13
homem através das espécies domesticadas e selecionada, de ferramentas e de
técnicas agrícola para obter uma produção agropecuária necessária principalmente à
subsistência humana. Portanto, a agricultura como processo é uma combinação
finalizada dos seguintes elementos: o material biológico, o contexto econômico e o
meio ambiente, as técnicas e práticas, e as ferramentas de trabalho, todos esses
elementos situados em relação às escalas de tempo e espaço. Assim, pode-se dizer
que o processo de produção agrícola envolve três principais tipos de elementos:
humano, edáfico e o biológico, os quais apresentam níveis de integração distintos,
indo do mais simples, as operações técnicas, aos mais complexos, o sistema
agroalimentar mundial (FERREIRA, 2001).

6 A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS AGRÁRIOS

O diagnóstico deve dar conta da complexidade e da diversidade que, em geral,


caracterizam a atividade agrícola e o meio rural. Um primeiro fator de complexidade
advém dos ecossistemas, que representam potenciais ou impõem limites às
atividades agrícolas. O modo de utilização do espaço que essas sociedades adotam
representa um esforço de adaptação ao ecossistema, buscando explorar da melhor
maneira possível o seu potencial ou minimizar os obstáculos. Essas formas de uso do
espaço evoluem ao longo da história em virtude de fatos que se relacionam entre si,
sejam eles ecológicos (mudanças climáticas, desmatamento, depauperação do solo,
etc.), técnicos (surgimento de novas tecnologias ou variedades, introdução de novas
culturas) ou econômicos (variação de preços, mudanças nas políticas agrícolas,
desenvolvimento ou declínio de agroindústrias, surgimento de oportunidades
comerciais, etc.). Nesse sentido, os ecossistemas cultivados são fruto da história, da
ação - passada e presente - e das sociedades agrárias que os ocuparam. (FERREIRA,
2001)

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A complexidade reside também no fato de que essas sociedades são


diferenciadas, isto é, são compostas de categorias, de camadas e de classes sociais
que mantêm relações entre si (agricultores familiares, fazendeiros, empresas
capitalistas, assalariados e diaristas, arrendatários e parceiros, atravessadores,
agroindústrias, bancos, fornecedores de insumos, comércio local, poder público,
organizações da sociedade civil, etc.). A ação de cada um depende da ação ou da
reação dos outros, bem como do seu entorno ambiental, social e econômico.
Na agricultura, isso resulta na existência de distintos tipos de produtores, que
se diferenciam tanto pelas suas condições socioeconômicas e por seus critérios de
decisão, quanto pelos seus sistemas de produção e pelas suas práticas agrícolas.
Essa diversidade existe mesmo quando se considera apenas a agricultura familiar ou
um grupo de assentados, pois nem todos apresentam o mesmo nível de capitalização,
a mesma forma de acesso à terra, aos recursos naturais, aos financiamentos e aos
serviços públicos e tampouco o mesmo modo de se organizar e de se relacionar com
os outros agentes sociais, etc. (FERREIRA, 2001)
Ainda que se considere cada cultura ou cada criação isoladamente, a atividade
agrícola é complexa, pois combina os diferentes recursos disponíveis (terra e outros
recursos naturais, insumos, equipamentos e instalações, recursos financeiros e mão-
de-obra) com um conjunto de atividades distintas (preparo do solo, plantio, fertilização,
controle de pragas, colheita, comercialização, etc.). Nessa combinação, existe um
grande número de fatores que determinam as práticas agrícolas: a qualidade dos
solos, o clima, as épocas de liberação dos financiamentos, as flutuações de preços,
etc. Nesse sentido, até mesmo os estabelecimentos especializados em monocultura
constituem um sistema de produção complexo.
A evolução de cada tipo de produtor e de cada sistema de produção é
determinada por um conjunto complexo de fatores ecológicos, técnicos, sociais e
econômicos que se relacionam entre si. As necessidades da sociedade podem impor
mudanças a cada um desses fatores. (SILVA et al. 2011)
Pode ser necessário, por exemplo, aumentar a produção ou a produtividade de
algumas atividades agropecuárias ou limitar os gastos governamentais ou, ainda,
diminuir a emissão de poluentes. Essas mesmas necessidades podem induzir
alterações nos preços dos produtos (tanto agrícolas quanto industriais), acarretando
consequências diferentes para cada tipo de sistema de produção e de produtor.

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A permanência ou o desaparecimento de um determinado tipo de produtor


depende da sua capacidade de se adaptar às mudanças, ou seja, em última instância,
de seus resultados econômicos. São essa complexidade, essa história e essa
diferenciação que cabe entender. (SILVA et al. 2011)

7 A TEORIA DOS SISTEMAS AGRÁRIOS

A teoria dos sistemas agrários foi desenvolvida na França, no Instituto Nacional


de Agronomia Paris/Grignon, com o objetivo de criar um corpo de conhecimentos
capaz de se constituir numa base conceitual teórica e metodológica a quem quer que
tenha por objetivo intervir no desenvolvimento social, agrário e agrícola (Apud
PRESTES, 2016).
A utilização do enfoque sistêmico permite explicar os mecanismos internos que
orientam e condicionam uma realidade agrária e que, muitas vezes, dependem não
somente das propriedades de seus elementos constitutivos, mas, sobretudo, de suas
inter-relações. (Apud PRESTES, 2016)
A agricultura se apresenta como um conjunto de formas locais, variáveis no
espaço e no tempo, tão diversas quanto as próprias observações. Definição
complementada ainda por Mazoyer e Miguel (2009), a agricultura, em seu sentido
amplo, é uma atividade social de produção de bens obtidos pela exploração da
fertilidade útil de um meio que contém geralmente populações de espécies
domesticadas ou não, sendo um objeto observável, entrevistável, complexo, variável,
de um local a outro, de uma época a outra, composta de múltiplas formas no presente
e no passado e um objeto relativamente impossível de empreender e descrever em
sua totalidade. (Apud PRESTES, 2016)
As formas de agricultura observáveis aparecem assim, como objetos muito
complexos, que podemos, todavia, analisar e conceber em termos de sistema, sendo
que os processos de diferenciação técnica e econômica entre as unidades de
produção agropecuária constituem-se em uma das principais características da
agricultura, o que lhe confere uma alta complexidade. (Apud PRESTES, 2016)
Garcia Filho (1999) também expõe que um primeiro fator de complexidade dos
sistemas agrários advém dos ecossistemas, que representam potenciais ou impõem
limites às atividades agrícolas (solo, clima, tecnologias, preços agrícolas). Conforme

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o mesmo autor, a complexidade reside também no fato de que essas sociedades são
diferenciadas, isto é, são compostas de categorias, de camadas e de classes sociais
que mantêm relações entre si, sendo que a evolução de cada tipo de produtor e de
cada sistema de produção é determinada por um conjunto complexo de fatores
ecológicos, técnicos, sociais e econômicos que se relacionam entre si. (Apud
PRESTES, 2016)
É indispensável, portanto, estudar as realidades agrárias de um modo sistêmico
e dinâmico, dando especial atenção às interações locais, procurando elucidar suas
origens e efeitos, para alcançar um acúmulo suficientemente aprofundado de
conhecimentos sobre as trajetórias de desenvolvimento rural.
A teoria dos sistemas agrários disponibiliza os elementos teóricos capazes de
apreender a complexidade de cada forma de agricultura e de perceber, em grandes
linhas, as transformações históricas e a diferenciação geográfica das diferentes
formas de agricultura implementadas pela humanidade (Apud PRESTES, 2016)
A compreensão de um sistema agrário oriundo das ciências geográficas é
descrita por Deffontaines et. al. (2000 apud MIGUEL, 2009) como sendo um objeto de
análise e observação que é o produto das relações, em um momento e em um
território, de uma sociedade rural com seu meio. (Apud PRESTES, 2016)
Para Maigrot e Poux (1991, apud MIGUEL, 2009), o conceito de sistema
agrário é o mais apto a restituir a região no seu conjunto e a sua dinâmica, além de
ser um conceito onde se encontram as ciências necessárias para a concepção de
projetos de desenvolvimento: econômico, socioeconômico, geografia, história e
agronomia. (Apud PRESTES, 2016)
Já para Mazoyer (1986, apud Miguel, 2009) um sistema agrário é um modo de
exploração do meio historicamente constituído e durável, um conjunto de forças de
produção adaptado às condições bioclimáticas de um espaço definido e que responde
às condições e às necessidades sociais do momento. (Apud PRESTES, 2016)
Silva Neto e Basso (2005) também contribuem argumentando que o sistema
agrário corresponde a um conjunto de conhecimentos metodicamente elaborados
como resultado da observação, delimitação e análise de uma agricultura particular,
portanto, um sistema agrário não é um objeto real diretamente observável, mas um
objeto cientificamente elaborado. (Apud PRESTES, 2016)

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O estudo dos sistemas agrários encontra-se baseado, principalmente, em


observações diretas (da região e da agricultura), apoia-se também em observações
relatadas por outros, através de questionários abertos, sem, contudo, prescindir dos
conhecimentos históricos, geográficos, agronômicos, econômicos e antropológicos.
Analisar e conceber um objeto complexo em termos de sistema, é, num
primeiro momento, delimitá-lo, ou seja, traçar uma fronteira, virtual, entre esse objeto
e o resto do mundo, e é considerá-lo como um todo, composto de subsistemas
hierarquizados e interdependentes. (Apud PRESTES, 2016)
Neste sentido, considera-se que os elementos estariam agrupados em dois
subsistemas definidos como sendo o agroecossistema e o sistema social produtivo.
Segundo Silva Neto e Basso (2005) o agroecossistema ou ecossistema
cultivado corresponde à forma como se organizam os constituintes físicos, químicos
e biológicos de um sistema agrário. Na mesma linha, Mazoyer e Roudart (2001)
explicam que o ecossistema cultivado possui uma organização, composta por vários
subsistemas complementares e proporcionais, como, por exemplo, as terras
cultiváveis, os campos de colheita, as pastagens e as florestas, sendo que cada um
desses subsistemas é organizado, cuidado e explorado de uma maneira particular
contribuindo para a satisfação das necessidades dos animais domésticos e dos
homens. (Apud PRESTES, 2016)
Sobre o sistema social produtivo, Silva Neto e Basso (2005) argumentam que
o mesmo corresponde aos aspectos técnicos, econômicos e sociais de um sistema
agrário, constituindo-se de um conjunto de unidades de produção, caracterizadas pela
categoria social dos agricultores e pelos sistemas de produção por eles praticados.
Mazoyer e Roudart (1997) ainda complementam expondo que a categoria social de
uma exploração se define pelo estatuto social de sua mão-de-obra (familiar,
assalariada, cooperativa, escrava, serviçal), pelo estatuto do agricultor e por seu modo
de acesso à terra (livre acesso às terras comunais, reserva senhorial, posses servis,
exploração direta, parceria, arrendamento...) e pela dimensão da propriedade. (Apud
PRESTES, 2016)

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8 OS SISTEMAS AGRÁRIOS DE DERRUBADA E QUEIMADA

Originado como uma transformação das primeiras formas de agricultura


desenvolvidas pelo homem durante a Revolução Neolítica, os sistemas agrários de
derrubada e queimada são tipicamente florestais. (SANTOS, 2007)
Assim, por meio da derrubada e, após um período de secagem natural, a
queima dos restos vegetais, os nutrientes acumulados na grande quantidade de
biomassa, característica desses ecossistemas, são disponibilizados às culturas.
Dessa forma a agricultura pode se estabelecer mesmo sobre solos
relativamente pobres, desde que as culturas sejam precedidas por um período
suficientemente longo para que a biomassa acumule os nutrientes necessários à
sustentação de um próximo ciclo cultural. (SANTOS, 2007)
Como as florestas se constituem de plantas com baixa capacidade de
colonização, a ocorrência de plantas invasoras nos primeiros 8 anos de cultura é muito
baixa. Tal característica, aliada à grande eficiência da queimada na eliminação da
vegetação espontânea, torna os sistemas agrários de derrubada e queimada pouco
exigentes em trabalho. (SANTOS, 2007)
Além disso, estes sistemas agrários podem ser praticados com um mínimo de
meios de produção, cuja fabricação pode ser realizada até sem o conhecimento da
metalurgia.
Em suma, os sistemas agrários de derrubada e queimada constituem-se em
formas de agricultura com produtividades do trabalho relativamente elevadas, pouco
exigentes em técnicas para a confecção de ferramentas, que podem ser realizadas
com um mínimo de meios de produção e bastante eficientes na mobilização da
fertilidade natural dos ecossistemas florestais, o que os torna altamente sustentáveis,
sob condições sociais adequadas (como livre acesso à terra e densidades
demográficas relativamente baixas). (SANTOS, 2007)
Portanto, não é de se admirar que os sistemas agrários de derrubada e
queimada estão entre as formas de agricultura que mais se disseminaram no mundo,
sendo ainda hoje encontrados.

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

9 ANÁLISE - DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS (ADSA)

A “Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários” (ADSA) é um método de estudo


da agricultura concebido para o estabelecimento de linhas estratégicas de
desenvolvimento local relacionadas ao setor agropecuário. Tal método foi elaborado
especificamente para ser aplicado em países do terceiro mundo, cujos complexos
problemas agrícolas, normalmente associados a técnicas pouco usuais em relação
aos padrões ocidentais e a grandes dificuldades de intervenção do poder público,
tornam a elaboração de projetos de desenvolvimento uma tarefa extremamente difícil.
(SILVA NETO, 2007)
A propósito, embora a ADSA esteja fundamentada em uma sólida interpretação
da evolução da agricultura, proposta por Mazoyer e Roudart (1997), sendo neste
sentido também discutida por Dufumier (1996; 2004), sua aplicação, de um ponto de
vista estritamente científico, é ainda sujeita a controvérsia, uma vez que seus
procedimentos diferem substancialmente dos propostos pelos métodos usuais de
pesquisa.

Os princípios metodológicos da ADSA


Uma das motivações para a elaboração dos procedimentos da ADSA foi a
constatação das dificuldades provocadas por uma estratégia comum adotada em
estudos que visam a apoiar ações de desenvolvimento. É que muitas vezes, a partir
de uma definição por demais vaga e abrangente das variáveis pertinentes ao estudo
procura-se, logo de início, obter o máximo de informações possíveis sobre a situação,
o que em geral ocasiona grandes dificuldades no tratamento de dados e, quase
sempre, leva à conclusão de que os dados mais pertinentes à pesquisa não foram
obtidos .Segue-se assim uma nova rodada de coleta de dados, muitas vezes com
recursos adicionais e com atrasos no cronograma da pesquisa, e com novas
dificuldades de tratamento, a qual leva a novas coletas, etc. Dessa forma muitas
pesquisas sobre situações concretas de desenvolvimento da agricultura, bastante
promissoras, terminam sem apresentar resultados consistentes (SILVA NETO, 2007)
Os procedimentos da ADSA procuram evitar este tipo de problemas por meio
da aplicação de alguns princípios metodológicos, os quais, sinteticamente, são:

20
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

– Efetuar as análises a partir dos fenômenos mais gerais para os particulares,


por meio de uma abordagem sistêmica em vários níveis;
– Analisar cada nível da realidade especificamente, efetuando uma síntese dos
níveis de análise mais abrangentes, antes de passar a analisar os níveis mais
específicos;
– Priorizar a explicação em detrimento da descrição, privilegiando o enfoque
histórico;
– Estar atento à heterogeneidade da realidade, evitando interpretações por
demais generalizantes que dificultam a elucidação de processos de diferenciação.
Assim, os estudos baseados na ADSA são realizados a partir de uma rigorosa
hierarquização das análises em função da sua abrangência, iniciando pelos seus
níveis mais amplos. Segundo a ADSA, o estudo deve inicialmente se concentrar nos
aspectos mais gerais da realidade a ser estudada e só passar a aspectos mais
específicos após uma síntese que permita formular quais são as variáveis mais
pertinentes a serem analisadas (ou questões mais importantes a serem respondidas),
no nível imediatamente inferior. Tal síntese é efetuada pela organização e análise da
coerência das informações obtidas, sendo retidas apenas aquelas consideradas
imprescindíveis para explicar a realidade observada, e não para descrevê-la, no nível
de abrangência em questão.
O contraste entre, por um lado, um procedimento desenvolvido segundo o
princípio de efetuar as análises “do geral para o particular”, como na ADSA e, por outro
lado, os procedimentos normalmente adotados em outras pesquisas, pode ser
ilustrado pela representação das configurações possíveis do desenvolvimento de uma
região por meio de uma árvore de possibilidades. (SILVA NETO, 2007)
Na Figura abaixo representa-se um exemplo hipotético de possibilidades de
configuração do desenvolvimento de uma região. Apenas três níveis de análise estão
representados, em que as características de um nível anterior são somadas às
características descritas no nível posterior, de forma que a confirmação de uma
característica da região (ou mais, pois nem sempre é possível elaborar opções
excludentes) descreve uma “configuração” composta por esta característica e todas
as demais descritas pelos níveis anteriores.

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Fonte: Silva Neto et al (2003)

Já um procedimento baseado na ADSA consistiria em analisar cada nível,


separada e progressivamente, procurando responder apenas àquelas questões que
parecem ser as mais pertinentes (que são frequentemente as mais óbvias). No
momento em que as principais questões relativas àquele nível foram respondidas de
forma satisfatória realiza-se uma síntese que permita que a análise a ser efetuada no
nível posterior se concentre em apenas alguns ramos da árvore de possibilidades.
Assim, concentrando-se nas informações claramente mais pertinentes, mais no
objetivo de descartar possibilidades do que de responder definitivamente às questões,
pode-se progressivamente definir a configuração do desenvolvimento de uma região
no nível de detalhe desejado de forma eficiente e rigorosa. (SILVA NETO, 2007)

Os procedimentos da ADSA, AS PRINCIPAIS ETAPAS:

Etapa 1 – Caracterização do Processo de Desenvolvimento da Agricultura da Região


Esta etapa compreende o estudo das condições agroecológicas e
socioeconômicas da região delimitada, consistindo:
– Na análise geral da região, como localização, população total e rural, principais
setores econômicos, principais atividades agropecuárias, Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) ou Índice de Desenvolvimento Social Municipal (IDSM), nível médio de
renda e grau de desigualdade social e econômica (por meio da estrutura fundiária e
do índice de Gini da renda, se disponíveis);

22
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

– Na definição de zonas homogêneas do ponto de vista das condições para as


atividades agropecuárias (clima, solo, infraestrutura, etc.);
– Na análise da trajetória de evolução e diferenciação interna do setor agropecuário
da região;
Etapa 2 – Tipologia dos Sistemas de Produção Agropecuária
Nesta etapa as unidades de produção agropecuária da região são agrupadas
em tipos, decorrentes da análise dos processos de diferenciação identificados na
etapa anterior. Assim, vale lembrar que uma tipologia é uma resposta a um
questionamento que se coloca ao nível do conjunto das unidades de produção de uma
região, a partir da análise da sua história. No caso da ADSA, a tipologia visa a agrupar
as unidades de produção em função das diferentes formas de organização da
produção (sistemas de produção) adotadas pelos agricultores para assegurar a sua
reprodução social ao longo do tempo.
Nesta etapa também são realizadas a caracterização técnica e a avaliação
econômica dos sistemas de produção, visando a esclarecer a capacidade de
reprodução social de cada tipo.
Etapa 3 – Definição de Linhas Estratégicas de Desenvolvimento
Inicialmente procura-se avaliar as possibilidades de melhorar as condições
para a reprodução econômica das explorações em função do tipo de sistema de
produção adotado. Após, a partir da caracterização técnica e das avaliações
econômicas da etapa anterior, é possível identificar atividades ou técnicas que
possam contribuir para um aumento da produtividade e da renda dos agricultores,
respeitando-se os estrangulamentos anteriormente detectados em cada tipo de
sistema de produção analisado. Com base nestes resultados são definidas
alternativas de ação técnica, organizacional, gerencial e de políticas públicas para o
desenvolvimento dos diferentes tipos de unidades de produção, bem como estratégias
de intervenção no processo de desenvolvimento local. É interessante salientar que
tais alternativas devem ser avaliadas tanto do ponto de vista financeiro no âmbito das
unidades de produção (por meio de fluxos financeiros baseados no potencial de renda
gerada pelas atividades) quanto do ponto de vista do interesse econômico geral da
sociedade (por meio da análise do potencial de agregação de valor das atividades).

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

10 PRINCIPAIS IMPACTOS PARA O MEIO AMBIENTE

O CONAMA (BRASIL, 1986), Resolução 001/86, define impacto ambiental


como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
que, direta ou indiretamente, afetam:
I – A saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II – As atividades sociais e econômicas
III – A biota
IV – As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente
V – A qualidade dos recursos ambientais”
A atividade agropecuária aparece como grande responsável pela degradação
intensa das águas. As águas de muitos cursos hídricos, antes consideradas
inalteráveis, chegaram ao limite, em que não se recomporão de forma natural. Muitas
fontes naturais de água acabaram devido ao mau uso e manejo incorreto dos mesmos.
(DE DEUS & BAKONYI, 2012)
O uso intensivo do solo, também é um problema ambiental de suma
importância. Este aliado a um manejo inadequado da água potencializa um processo
natural de erosão e assoreamento dos cursos de água.

Fonte: periodicos.ufsm.br

Na figura acima podemos exemplificar e observar o assoreamento de um


córrego devido à retirada da mata ciliar para, então, o usar o solo para o plantio de
cana-de-açúcar.

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

As práticas inadequadas de manejo agrícola têm interferido na degradação dos


solos. A degradação do solo, devido à erosão hídrica, diminui sua capacidade
produtiva. Isto pode ocorrer naturalmente no ambiente, todavia com a ação contínua
do homem, há uma aceleração neste processo de erosão. (DE DEUS & BAKONYI,
2012)

Algumas práticas de manejo do solo promovem modificações em suas


propriedades físicas, em grande parte na estrutura, podendo tais alterações ser
permanentes ou temporárias e, ainda, influenciarem o processo erosivo. Assim, solo
submetido a cultivo intensivo tem a sua estrutura original alterada, tanto em níveis de
poros quanto na densidade do solo.

As práticas de monocultura, ou seja, plantar apenas uma espécie de planta


numa grande região tem contribuído com a degradação ambiental. Podemos citar
como exemplo o eucalipto que exerce um grande custo ambiental para sua
implantação em extensas áreas, pois devido à sua alta transpiração há enormes
perdas de recursos hídricos e do solo.

Fonte: DE DEUS & BAKONYI, 2012.

Outro exemplo que contribui para degradação ambiental é a monocultura de


cana de açúcar, que altera as propriedades físicas do solo, devido à produção
intensiva e prolongadas.

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Fonte: DE DEUS & BAKONYI, 2012.

Outro grave problema ambiental causado pela utilização descontrolada das


terras é o desaparecimento de biomas e da biodiversidade de determinadas regiões
devido ao avanço da produção agrícola e pecuária.

Outra questão polêmica sobre o impacto ambiental advindo da agricultura


envolve o uso dos transgênicos pela “moderna” agricultura brasileira, pois além de
não haver estudos precisos sobre quais são os seus efeitos para a saúde humana,
esses OGM (Organismos Geneticamente Modificados) reduzem a diversidade das
plantas cultivadas devido ao fato que há a manipulação do seu material genético de
forma a favorecer algumas características desejadas para torná-las adaptáveis aos
mais diferentes ecossistemas, e do produtor se tornar refém das multinacionais que
controlam as tecnologias e patentes dos OGM, pois as sementes vendidas são
estéreis e a cada safra eles necessitam de comprar novas sementes. (OLIVEIRA,
2012)

11 SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA

Sustentabilidade agrícola é a capacidade de um agroecossistema de manter a


produção através do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e
pressões socioeconômicas. (LOPES, et al. 2010)
A sustentabilidade contempla três dimensões: ecológica, econômica e social.
A ecológica se refere à estabilidade dos recursos naturais e do ambiente em geral,
26
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

implicando na manutenção das características fundamentais do ecossistema, quanto


aos seus componentes e suas interações; a econômica sugere a viabilidade
financeira, traduzida por uma rentabilidade estável no tempo; e a dimensão social diz
respeito à equidade e valorização social, associada à ideia de que o manejo e a
organização do sistema são compatíveis com os valores culturais e éticos dos grupos
envolvidos e das sociedades, promovendo a continuidade ao longo do tempo, sendo
isso tudo, atingido pela adequação de tecnologias às diferentes situações e com uso
racional dos recursos locais. (LOPES, et al 2010).
A análise da evolução do sistema agrário permite que o desenvolvimento rural
seja analisado sob a ótica da sustentabilidade, aqui entendida como o atendimento
adequado das condições socioeconômicas e ambientais dos espaços físicos. Assim,
o meio ambiente é mais que um fornecedor de recursos ou assimilador de resíduos,
pois a forma de sua preservação e conservação permite que as atividades produtivas
evoluam e se diversifiquem. Nesse sentido, o desenvolvimento sob essa perspectiva
possibilita encadear transformações técnicas, ecológicas, econômicas e sociais dos
ambientes. Portanto, compreender o processo histórico de sua formação, sua
dinâmica e contradições, cria mecanismos para realizar previsões e tendências de
comportamento desse desenvolvimento. (LOPES, et al 2010).
A evolução do sistema agrário impõe mudanças socioeconômicas decorrentes
da ocupação do homem no espaço rural. As transformações dos espaços originais
podem ser evidenciadas pela modificação da estrutura populacional e introdução de
sistemas de produção mais heterogêneos. A compreensão dessas relações e
evolução do sistema agrário é complexa, pois é necessário conhecer a dinâmica local
e o processo de tomada de decisão dos agricultores. Tal entendimento deve preceder
qualquer diretriz ou intervenção, que leve ao processo de desenvolvimento rural
sustentável.
Para se avaliar a sustentabilidade de um agroecossistema, que é a unidade
básica para análise, devem-se considerar suas características hierárquicas e a
complementaridade com o ambiente externo, tornando possível a identificação dos
processos chaves e dos organismos envolvidos que governam as quatro propriedades
ou comportamentos dos agroecossistemas sustentáveis, ou seja, a produtividade, a
estabilidade, a elasticidade ou resiliência e a equidade (LOPES, et al 2010).

27
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Um ponto-chave no desenho de agroecossistemas sustentáveis é a


compreensão de que existem duas funções no ecossistema que devem estar
presentes na agricultura: a biodiversidade dos micro-organismos, plantas e animais e
a ciclagem biológica de nutrientes da matéria-orgânica.
O uso da água no meio rural representa 80,7% da demanda de captação de
água total brasileira, dos quais 67,2% são destinados à irrigação, 11,1% ao consumo
animal e 2,4% ao consumo humano (Agência Nacional de Águas, 2017). Além disso,
o desperdício é preocupante, estimado em cerca de 40%, devido às perdas em
sistemas inadequados de irrigação ou vazamentos nas tubulações. A irrigação está
em franca expansão no Brasil, passou de 462 mil hectares em 1960 para 6,1 milhões
de hectares em 2014, em especial por meio de pivôs centrais, perfazendo um total de
1,275 milhão de hectares distribuídos em 19.892 pivôs (79% no Cerrado e 11% na
Mata Atlântica) (Levantamento..., 2016; Zoneamento..., 2017). Desta forma, o uso
adequado de recursos hídricos no meio rural envolve decisões sobre a irrigação, uso
de métodos recomendados para cada tipo de solo e cultura, além do seu manejo a
partir do monitoramento preciso da evapotranspiração, utilização de sistemas mais
eficientes e adaptados às condições locais, evitando o desperdício de água e energia.
Em regiões onde a disponibilidade hídrica é muito variável, reservatórios de pequeno
porte, barragens subterrâneas, reuso e captação de chuvas em propriedades
agrícolas podem melhorar a disponibilidade hídrica, reduzindo a vulnerabilidade em
relação à variabilidade hidrológica. (LOPES, et al 2010).
O uso eficiente da água nos sistemas de produção agrícola é um dos desafios
principais no que diz respeito ao uso racional dos recursos hídricos, e vem a cada ano
tendo importância maior nas discussões de comitês de bacias hidrográficas e nas
agências reguladoras do direito do uso da água. Muitas tecnologias já foram
desenvolvidas principalmente na área de irrigação, porém ainda existem muitos
desafios a serem superados, como os programas de manejo da água, que integram
todo o setor agropecuário e urbano dentro de uma mesma bacia hidrográfica, o
manejo de irrigação parcelar, etc. Outra demanda crescente, principalmente pela
escassez hídrica que vem assolando diversos locais do mundo e influencia no
abastecimento hídrico de centros urbanos, é o “reuso de águas residuais (efluentes)
e captação de águas pluviais”. (LOPES, et al 2010).

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O Brasil participa de diversos acordos internacionais e está comprometido com


agendas de sustentabilidade. Em 2015, na conferência das Nações Unidas sobre a
Mudança do Clima (COP 21), o Brasil se comprometeu a reduzir em 43% as emissões
de GEE até 2030. Foi estabelecida como meta a redução em 80% as taxas de
desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado. As ações propostas abrangem o
reflorestamento de 12 milhões de hectares e o alcance de participação estimada de
45% de energias renováveis na composição da matriz energética brasileira.
(EMBRAPA, 2018)
Outro compromisso importante é com os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, uma ampla agenda global com 17 objetivos integrados que mesclam as
três dimensões da sustentabilidade: a econômica, a social e a ambiental. No Brasil, é
grande a importância da agricultura para o alcance desses objetivos, considerando a
extensão da área agrícola, a quantidade de produtores e trabalhadores envolvidos e
a relevância do setor para o desenvolvimento econômico e a melhoria do bem-estar
social da população.

Fonte: ONU (2017)

11.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS


O desenvolvimento agrícola sustentável pode ser entendido como o manejo e
a conservação da base de recursos naturais e a orientação das mudanças
tecnológicas de forma a assegurar o alcance e a satisfação contínua das
necessidades humanas do presente e das futuras gerações (EMBRAPA, 2018).
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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A agricultura sustentável compreende principalmente sistemas integrados de


práticas utilizadas na produção de plantas e de animais aplicáveis a determinados
ambientes de produção e que, ao longo do tempo, satisfarão as necessidades
humanas de fibras e alimentos; melhorarão a qualidade ambiental e a base de
recursos naturais da qual a economia agrícola depende; farão o uso mais eficiente
dos recursos não renováveis e de recursos nas propriedades, integrando, onde for
apropriado, os ciclos e os controles biológicos naturais; sustentarão a viabilidade
econômica dos processos agrícolas; e melhorarão a qualidade de vida dos produtores
e da sociedade como um todo .
O Brasil já conta com uma série de sistemas e tecnologias sustentáveis
amplamente adotados:

o Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF):

Fonte:embrapa.br

Os sistemas de ILPF, em suas diferentes modalidades (lavoura-pecuária,


lavoura- -pecuária-floresta, sistemas agroflorestais e silvipastoris, entre outros), já são
uma realidade em 11,5 milhões de hectares no Brasil. É uma estratégia de produção
que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de
uma mesma área. (EMBRAPA, 2018)
Os estados com maior área de adoção são Mato Grosso do Sul (2 milhões de
hectares); Mato Grosso (1,5 milhão de hectares); Rio Grande do Sul (1,4 milhão de
hectares); Minas Gerais (1 milhão de hectares) e Santa Catarina (680 mil hectares).

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Os principais fatores motivadores apontados para a adoção de sistemas de


ILPF pelos pecuaristas relacionam-se com a preocupação na adequação ambiental
da atividade diante das pressões, a cada dia maiores, da sociedade e dos mercados.
Já entre os produtores de grãos, as principais motivações para a adoção se
relacionam ao aumento da rentabilidade e à diminuição dos riscos financeiros.
(EMBRAPA, 2018)

o Sistemas Agroflorestais:

Fonte: embrapa.br

Os sistemas agroflorestais, em suas diferentes estruturas (sequenciais,


simultâneos ou complementares), incorporam maior diversidade vegetal com espécies
agrícolas, frutíferas e florestais (nativas e exóticas) e ocupam milhares de hectares
em todos os biomas brasileiros. (EMBRAPA, 2018).
Novos nichos de mercados estão sendo organizados envolvendo produtores e
o setor agroindustrial, valorizando ainda mais a biodiversidade das espécies nativas,
como frutas, castanhas, palmito, peixes e recursos florestais não madeireiros. Esses
sistemas deverão ter relevância crescente no processo de intensificação sustentável
da agricultura brasileira nas próximas décadas.

o Agricultura orgânica:

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Fonte: embrapa.br

A agricultura orgânica vegetal (grãos, hortaliças e frutas) e animal (carne, ovos


e leite) tem se destacado como uma das alternativas de renda para os pequenos,
médios e grandes produtores, principalmente devido à crescente demanda mundial e
brasileira por alimentos mais saudáveis e sustentáveis. (EMBRAPA, 2018).
A produção orgânica tem se destacado pelo seu potencial no desenvolvimento
social e local, pelo estímulo à formação de circuitos de comercialização de curta
distância entre produtor e consumidor (cadeias curtas) e pela venda para os mercados
institucionais como escolas e hospitais. Além disso, em decorrência das mudanças de
hábitos, maior informação e poder aquisitivo de segmentos de consumidores, a
tendência é de crescimento desse mercado.
A agricultura orgânica não utiliza agrotóxicos, adubos químicos, antibióticos ou
transgênicos.

o Sistema Plantio Direto (SPD):

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Fonte: sistemafaep.org.br

O SPD já está presente em torno de 86% da área agrícola brasileira de soja,


milho (1a safra) e feijão (1a safra), aumentando o acúmulo de carbono no solo,
promovendo melhorias biológicas no solo e diminuindo o processo de erosão e
assoreamento dos recursos hídricos. (EMBRAPA, 2018).
Além de ser uma prática conservacionista, o plantio direto foi fundamental para
que o País ampliasse sua área de segunda safra, ao reduzir o tempo utilizado no
preparo do solo.

o Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN):

Fonte: embrapa.br

A FBN é a principal fonte de nitrogênio da agricultura brasileira e contribui para


diminuir a importação de fertilizantes, hoje responsável pelo atendimento de 76% da
demanda doméstica, e com projeções de atingir 83% em 2025 (Associação Nacional
para Difusão de Adubos, 2017).
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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A FBN tem melhorado as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo,


resultando em maior produtividade, menor impacto ambiental e maior economia para
o produtor. (EMBRAPA, 2018).
Há tendência de intensificação do uso de FBN para recuperação de áreas
degradadas, redução da emissão de GEE, e diminuição de riscos de contaminação

o Manejo integrado e controle biológico de pragas e doenças:

Fonte: embrapa.br

O manejo integrado e o controle biológico de pragas e doenças na agricultura


têm sido fortalecidos, visando minimizar os atuais níveis de utilização de agrotóxicos.
(EMBRAPA, 2018).
Métodos de controle racional são desenvolvidos com objetivo de reduzir
impactos ambientais e minimizar os resíduos nos alimentos, melhorando com isso a
qualidade de vida do produtor rural e do consumidor. Esse conjunto de práticas e
processos inovadores terá relevância crescente na transição dos sistemas de
produção atuais para uma agricultura mais sustentável no Brasil.

o Plantios florestais:

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Fonte: embrapa.br

Plantios florestais com espécies nativas e exóticas (homogêneos ou


integrados) têm fortalecido o processo de intensificação sustentável da produção
florestal brasileira. A produtividade das florestas plantadas no Brasil é superior à do
restante do mundo, contribui anualmente com 17% de toda a madeira colhida
mundialmente, com uma área equivalente a 3% da área mundial de florestas
plantadas. (EMBRAPA, 2018).
Esses altos níveis de produtividade estão associados ao melhoramento
genético e aos tratamentos silviculturais que foram desenvolvidos para determinadas
finalidades e regiões brasileiras.
Nas próximas décadas, a inovação tecnológica da silvicultura de espécies
nativas e exóticas terá papel de grande relevância para apoiar a solução dos passivos
ambientais de Reservas Legais decorrentes dos Programas de Regularização
Ambiental (PRA) dos estados e dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e
Alteradas (Prada) dos mais de 5 milhões de propriedades rurais do Brasil. Também
haverá tendência de ocupação de áreas de pastagens degradadas liberadas pela
intensificação da produção pecuária para crescimento da silvicultura visando à
produção de fibras e à agroenergia. (EMBRAPA, 2018).

o Extrativismo:

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Fonte: embrapa.br

Tem tido destaque o uso da biodiversidade brasileira. Apenas em 2016 foram


registrados mais de 30 produtos extrativos não madeireiros sendo explorados
comercialmente. Essas atividades geraram praticamente R$ 1,9 bilhão, derivados de
mais de 1,110 milhão de toneladas de produto não madeireiro, como açaí e castanha-
do-brasil. (EMBRAPA, 2018)
A grande variedade de espécies nativas no Brasil favorece este tipo de
atividade.

11.2 ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DAS PROPRIEDADES RURAIS

O aumento da demanda por produção agrícola sustentável tem levado à


necessidade da recuperação dos passivos ambientais das propriedades rurais. O
passivo ambiental estimado para o cumprimento do Código Florestal é de cerca de 16
milhões de hectares de RL e quase 5 milhões de hectares de Área de Preservação
Permanente (APP), principalmente nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
A restauração da paisagem florestal e a adequação ambiental das propriedades
rurais são forças motrizes para a ampliação da adoção de técnicas e sistemas de uso
do solo que elevem a produtividade vegetal e animal, reduzam a perda de solos e
nutrientes por erosão (evitando a degradação) e restabeleçam serviços ambientais
relacionados à proteção da biodiversidade e ao aumento da segurança hídrica. Esses
fatores tendem a reduzir riscos de perdas e a aumentar a resiliência das paisagens
diante dos impactos da mudança do clima.
36
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

11.3 MUDANÇA NO CLIMA

Com base em dados e simulações realizadas em diversas regiões do Globo, o


quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
destacou que o aquecimento global é inequívoco. Desde 1950, são observadas
mudanças sem precedentes no período de décadas ou milênios: a atmosfera e o
oceano aqueceram, as camadas de gelo e neve diminuíram e o nível dos oceanos
subiu. Caso as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sigam em elevação nas
atuais taxas, a temperatura do planeta poderá aumentar 5,4 °C até 2100. (EMPRAPA,
2018)
Em decorrência desse aumento, o nível do mar poderá ter elevação de até 82
cm e impactar grande parte das regiões costeiras do globo. Para o Brasil e a América
do Sul, os principais impactos previstos consistem na extinção de habitat e de
espécies, principalmente na região tropical; substituição de florestas tropicais por
savanas e de vegetação semiárida por árida; aumento de regiões em situação de
estresse hídrico, ou seja, sem água suficiente para suprir as demandas da população;
e aumento de pragas em culturas agrícolas e de doenças, como, por exemplo, a
dengue e a malária, além do deslocamento e da migração de populações.
A relação entre agricultura e mudança do clima, assim como ocorre com outros
setores da economia, envolve um componente ativo – a contribuição do setor agrícola,
como uma atividade econômica, relacionada às emissões de gases de efeito estufa –
e um componente passivo – representado pelo conjunto de efeitos que a mudança do
clima impõe sobre essa atividade econômica. (EMPRAPA, 2018)
Os cientistas do IPCC desenvolveram modelos climáticos para responder
como o clima se comportará em diversos cenários de emissões. São quatro os
cenários elaborados: (EMPRAPA, 2018)

Cenário 1 - Muito otimista


Supõe que o sistema terrestre armazenará 2,6 watts por metro quadrado
(W/m2) adicionais de energia e representa uma redução gradativa das emissões de
gases de efeito estufa, atingindo emissão zero por volta de 2070. Os processos de
absorção de gases podem superar as emissões em algum momento e, nesse caso,
os aumentos esperados da temperatura média terrestre seriam entre 0,3°C e 1,7°C,
de 2010 até 2100, enquanto aumento do nível do mar seria entre 26 cm e 55 cm.
37
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Esse cenário é considerado “muito otimista” e tem sido preterido nas análises de
projeção climáticas.

Cenário 2 - Muito utilizado


Supõe um armazenamento de 4,5 W/m2 e representa uma estabilização das
emissões de gases de efeito estufa antes de 2100. Nesse caso, a temperatura
terrestre aumentaria entre 1,1°C e 2,6°C, e o nível do mar subiria entre 32 cm e 63
cm. Esse cenário tem sido um dos mais utilizados.
Cenário 3 - Moderado
Supõe o armazenamento de 6,0 W/m2 com estabilização das emissões de
gases de efeito estufa logo após 2100. O aumento da temperatura terrestre estaria
entre 1,4°C e 3,1°C, e a elevação do nível do mar ficaria entre 33 cm e 63 cm. É um
cenário ligeiramente mais pessimista que o anterior.
Cenário 4 - Pessimista
Considerado o mais “pessimista”, é caracterizado pelo aumento nas emissões
sem sua estabilização, ou seja, as emissões continuam a crescer, bem como a
concentração de gases de efeito estufa ao longo do tempo. O aumento da temperatura
terrestre estaria entre 3,2°C e 5,4°C, e a elevação do nível do mar ficaria maior do que
a do Cenário 3.
Esses cenários indicam a crescente vulnerabilidade dos sistemas agrícolas,
que, associada ao aumento da demanda mundial por alimentos, água e energia,
representa enorme desafio para a sustentabilidade da produção, dos ecossistemas
terrestres e aquáticos e dos serviços à sociedade. (EMPRAPA, 2018)
Estudo utilizando um cenário de aumento de 3 °C até 2050 (Plano Nacional de
Adaptação à Mudança do Clima, 2016) identificou que, nessa situação, o Brasil teria
como impacto o decréscimo de até 50% na produção agrícola até 2050, como
podemos observar na imagem abaixo:

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Fonte: EMBRAPA, 2018.

11. RISCOS NA AGRICULTURA


A atividade agrícola é fortemente marcada por uma especificidade que a
diferencia da produção da indústria e do setor de serviços: a forte dependência dos
recursos naturais (como terra, clima e solo) e dos processos biológicos. (EMPRAPA,
2018)
Plantas, animais e microrganismos não se comportam com a precisão de
máquinas. O clima não se repete da mesma forma de um ano para o outro e um solo
fértil pode, com manejo equivocado, perder suas propriedades em alguns ciclos de
produção. É uma atividade de risco. (EMPRAPA, 2018)
Em particular, essa característica requer as seguintes condições:
a) maior rigidez do processo produtivo, tendo como consequência menor
flexibilidade para ajustar-se aos ciclos da economia e às mudanças nas conjunturas
dos mercados relevantes;
b) sazonalidade da produção;
c) dependência de processos biológicos que são responsáveis diretos pelas
operações mais importantes do processo produtivo. Essas condições refletem os
riscos que cercam a atividade agrícola, os quais tendem a ser maiores do que aqueles
relacionados ao conjunto das demais atividades.
Na atualidade, esses riscos são ainda mais intensos devido aos maiores
requerimentos de investimento. A agricultura contemporânea se caracteriza pelo uso
intensivo do capital.

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Por exemplo pode ser gigantesco o prejuízo financeiro com uma seca
inesperada, uma geada forte, uma quebra de safra ou uma baixa repentina nos
preços.
É necessário considerar ainda que atualmente a agricultura está inserida em
uma nova ordem global, que condiciona sua dinâmica, seu desempenho e interfere
nos riscos em geral. Destacam-se, em particular, alguns fatores: (EMPRAPA, 2018)
a) o ambiente criado pelo multilateralismo e pelo peso crescente das regras
fixadas em acordos internacionais e na legislação nacional;
b) controles e regras que regulam os principais aspectos que envolvem toda a
cadeia do agronegócio – ambiente, segurança alimentar, saúde, relações de trabalho,
comércio, propriedade intelectual;
c) mudança do clima no âmbito global, que se reflete na elevação da
temperatura e principalmente na instabilidade do clima;
d) pressões sociais com suficiente força para impor regras, atitudes, legitimar
ou refutar opções tecnológicas, etc.;
e) valorização do consumidor como stakeholder central da cadeia de valor do
agronegócio.
Esse novo ambiente interfere diretamente nos riscos agropecuários, em
particular nos riscos institucionais, tecnológicos e de produção, riscos de mercado, do
ambiente de negócios, bem como na percepção de integração e na consequente
gestão desses riscos.
Os resultados da atividade agrícola estão relacionados à qualidade das
diversas decisões dos agricultores, antes, durante e após o processo produtivo. São
três as perguntas básicas: o que produzir, como produzir e para quem produzir. Os
agricultores precisam decidir qual cultivo ou criação adotar, qual tecnologia empregar,
qual a forma de financiamento e até mesmo que estratégia de comercialização adotar.
Ao tomar essas decisões, os agricultores levam em conta, consciente ou
inconscientemente, os riscos. (EMPRAPA, 2018)
É possível afirmar que a gestão do risco é inseparável da gestão da produção
agrícola, especialmente no Brasil, pela sua dimensão continental, pela grande
diversidade socioeconômica dos produtores rurais e pela diversidade agronômica dos
sistemas de produção vegetais e animais.

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Estudo realizado em 48 países em desenvolvimento indica que 25% dos danos


advindos de desastres naturais ocorridos entre 2003 e 2013 recaíram sobre a
agropecuária, causando prejuízos de US$ 70 bilhões. Estima-se que 44% dessas
perdas foram causadas por secas e 39% por enchentes. (EMPRAPA, 2018)
Atualmente, 75% dos alimentos do mundo são gerados a partir de 12 espécies
de plantas e cinco espécies de animais. Isto torna o sistema alimentar global altamente
suscetível aos riscos inerentes à atividade agrícola, como pragas e doenças em
animais e plantas, problema agravado pelos efeitos da mudança do clima. Eventos
climáticos podem determinar: (EMPRAPA, 2018)
o Perdas relevantes na produção.
o Queda das exportações.
o Redução da ocupação direta e indireta.
o Maior volatilidade na produção e renda dos produtores.
o Elevação de preços para os consumidores.
o Insegurança alimentar.
O fato de a maior parte da produção agropecuária nacional situar-se na faixa
tropical demanda sofisticação nas práticas de gestão de risco. Considerando que a
mudança do clima em âmbito global já é perceptível pela intensificação de estresses
térmicos, hídricos e nutricionais nos sistemas produtivos.
Riscos associados:
Os riscos relativos à agricultura podem ser classificados em duas categorias. A
primeira leva em conta as origens dos fatores de risco, enquanto a segunda considera
a natureza do risco (IBGC, 2007).
Especialistas propõem a seguinte classificação de riscos:
o Riscos de produção.
o Riscos sanitários.
o Riscos de gestão dos recursos (em especial dos recursos naturais).
o Riscos de crédito e comercialização.
o Riscos relacionados ao mercado externo.
o Riscos decorrentes da infraestrutura.
o Riscos do ambiente institucional relacionados a direitos de propriedade mal
definidos, mudanças nas regras de comércio e mudanças nas regras
relacionadas à própria produção.

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Outro fator relevante para a agricultura mundial e nacional, e que se apresenta


no topo das diferentes formas de risco, é a disponibilidade energética para todos os
processos produtivos em todos os elos das cadeias agrícolas. Esse fator ganha
importância ainda maior em um cenário global de incertezas, que incluem mudança
do clima, mudanças geopolíticas e demográficas, com economias emergentes
intensificando a demanda por alimentos e bens de consumo. O grande desafio relativo
a esse fator está na capacidade de suprimento de forma eficiente e sustentável e a
custo competitivo. (EMPRAPA, 2018)
Atualmente, os combustíveis fósseis, como o petróleo, têm papel importante no
setor, mas o cenário de mudanças do clima exige soluções sustentáveis.
Outro importante fator de risco é a dependência de importação de insumos,
especialmente de fertilizantes. Desde a década de 1990, a privatização das indústrias
estatais de fertilizantes e a facilitação da entrada de produtos importados, por meio de
isenção de impostos, fez com que a produção nacional se tornasse muito inferior à
demanda interna. Como consequência, a dependência em relação às importações
vem aumentando ano após ano. Atualmente, mais de 70% do consumo total de
fertilizantes na agricultura brasileira é suprido por importações. (EMPRAPA, 2018)
Os fertilizantes respondem por mais de 40% do custo total de produção das
principais culturas no Brasil. Há grande influência dos preços da matéria-prima
internacional, das commodities agrícolas e do petróleo na formação de preços desses
insumos. É estratégico para o Brasil reduzir a dependência externa de fertilizantes e
diminuir o impacto dos insumos no custo da produção agrícola. Isto exige planos
estratégicos liderados pelo Estado brasileiro, com participação intensa do setor
privado. (EMPRAPA, 2018)
Outro risco associado à intensificação produtiva brasileira é a chamada “ponte
verde”. A sequência ininterrupta de cultivos tem favorecido doenças e pragas como a
ferrugem da soja, a lagarta-do-cartucho do milho, a mosca-branca e a lagarta
Helicoverpa armigera, com severas consequências econômicas e ambientais.

Gestão integrada de risco:

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As soluções para gestão do risco envolvem uma combinação de medidas e de


atores, com atuação dos setores privado e público, em que a disponibilidade de
recursos frequentemente determina as ações. (EMPRAPA, 2018)
A definição da estratégia e a escolha das políticas envolvem o conhecimento
de duas dimensões-chaves dos riscos em geral: a probabilidade de ocorrência dos
eventos e a severidade dos impactos sociais e econômicos. Com base nessas
dimensões, é possível segmentar os riscos da seguinte forma: (EMPRAPA, 2018)
o Riscos frequentes, os quais ocasionam perdas pequenas. São os riscos
normais do negócio, em geral assumidos pelos próprios produtores, que fazem
a gestão usando instrumentos disponíveis no estabelecimento ou acessando
políticas públicas gerais.
o Riscos cuja frequência e impacto não podem ser negligenciados e nem
assumidos pelos próprios produtores, que buscam proteção em instrumentos
específicos desenhados para transferi-los, via operações de mercado, para
terceiros.
o Riscos que, mesmo tendo uma frequência pequena, geram grandes perdas,
por isso são classificados como catastróficos, os quais não podem ser
assumidos pelos produtores e, portanto, justificam-se ações governamentais.
O Brasil já conta com um conjunto de políticas, programas e instrumentos que
contribuem para reduzir os efeitos negativos que os riscos causam aos produtores
rurais e à sociedade consumidora.
Entre os atuais programas e políticas públicas mais importantes relacionados
aos três grupos de riscos agropecuários (produção, mercado e ambiente de negócios)
citam-se os seguintes: o Zarc, a Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), o
Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), o Programa de Garantia
de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF) e o Programa de Incentivo à Irrigação
e à Armazenagem (Moderinfra). (EMPRAPA, 2018)
São as três as principais ferramentas de gestão:
Prevenção ou mitigação: visa reduzir a probabilidade de ocorrência de eventos
adversos ou reduzir o impacto dos eventos. O zoneamento de áreas próprias para
cultivo de determinadas culturas é um exemplo. Agricultores e agentes financeiros
sabem que financiar algo não recomendado para determinada região é mais
arriscado.

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Transferência: visa diluir os efeitos econômicos negativos entre um grupo de atores.


O seguro rural é um exemplo. Por meio dele, o produtor transfere uma despesa futura
e incerta (dano), de valor elevado, por uma despesa antecipada e certa de valor
relativamente menor. É como o seguro de um automóvel.
Enfrentamento ou resposta: objetiva aliviar os efeitos negativos provocados pela
ocorrência dos eventos. Um bom exemplo é o Programa Garantia Safra, que
disponibiliza um benefício em dinheiro para pequenos agricultores de municípios que
sofrem com a perda de pelo menos 50% do conjunto das produções.

12 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E DE CONHECIMENTOS NA


AGRICULTURA

O setor agrícola vivencia transformações relevantes em razão da migração da


sociedade da informação e do conhecimento para a sociedade da era digital. Em torno
de 90% dos produtores rurais já utilizam o celular em suas atividades diárias (pessoais
e profissionais). Observa-se ainda a crescente utilização de meios digitais e redes
sociais (Facebook, Instagram, Twitter) nos negócios rurais, atualmente em 18% das
propriedades rurais (Sebrae, 2017). Convergências técnico-científicas são crescentes
nas organizações as pesquisa, empresas e propriedades rurais. (EMPRAPA, 2018)
Essas convergências podem ser entendidas como um processo de integração
sinérgica de conhecimentos e tecnologias já disponíveis em várias áreas e setores,
possibilitando a geração de novos conhecimentos e a produção de bens e serviços
que não seriam possíveis em cada área ou setor isoladamente.
O mundo já presenciou algumas transformações como a Revolução Industrial
e a era da informação e do conhecimento no pós-guerra. Essas eras provocaram
muitas adaptações nos modelos de trabalho e, ao mesmo tempo, eliminaram negócios
e criaram novas oportunidades de empreendimentos. A mudança no panorama
industrial, cultural e, consequentemente, econômico foi mais bem internalizada por
aqueles que perceberam essas oportunidades e se engajaram em novas práticas e
formas de trabalho e relacionamento. A diferença agora é que a era digital impõe uma
velocidade de mudança e reposicionamento por parte de empresas e das pessoas
muito mais rápida. Se antes essas mudanças levaram 60 anos, agora acontecem
anualmente. (EMPRAPA, 2018)
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Nesse novo modelo, novas oportunidades e caminhos são apresentados para


que indivíduo e as empresas possam romper com os velhos paradigmas e pensar de
maneira inovadora e disruptiva. A atuação com novos parceiros, em especial os
pequenos, exigirá um comportamento ágil e não tão formal. Esse é um dos principais
desafios para as empresas. A cadeia produtiva agrícola é composta pela soma das
operações de produção e distribuição de suprimentos, das operações de produção
nas unidades rurais, do armazenamento, processamento e comercialização dos
produtos agrícolas e dos itens produzidos a partir deles. (EMPRAPA, 2018)
As plataformas digitais amplificam benefícios para vários setores agrícolas,
como exemplos apresentados na imagem abaixo:

Fonte: EMBRAPA, 2018.

No Brasil, novas empresas já estão oferecendo produtos e serviços com base


em tecnologias de agricultura digital. O 1º Censo Agtech Startups Brasil identificou 75
startups, ou seja, novas empresas que atuam com agricultura digital. A maior parte
delas (56%) atua com soluções de suporte à decisão, e as demais atuam em
agricultura de precisão e software para gestão. (EMPRAPA, 2018)
O World Economic Forum destaca que cinco tecnologias com propósitos bem
segmentados irão globalmente mudar a vida dos pequenos produtores rurais:
• O maior acesso à eletricidade ocasionará aumento da eficiência e redução no
desperdício de alimentos.

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• O aumento da conectividade de internet permitirá maior acesso ao


conhecimento para melhoria da produtividade nos empreendimentos rurais.
• Dispositivos móveis e plataformas irão conectar produtores familiares ou de
pequeno porte aos diversos mercados.
• Identificadores digitais únicos melhorarão o acesso e a troca de dados entre
os produtores.
• Análises geoespaciais ajudarão os pequenos produtores a tomar decisões.

13 O FUTURO DA AGRICULTURA BRASILEIRA

As projeções mundiais de aumento do consumo de água (+50%), energia


(+40%) e alimentos (+35%) até 2030 são reflexos principalmente das tendências de
expansão populacional, maior longevidade e aumento do poder aquisitivo de grande
parte da população mundial, particularmente na Ásia, África e América Latina. Esses
aspectos, associados ao processo de intensa urbanização, alterações no
comportamento dos consumidores, às mudanças nas cadeias produtivas globais e
aos conflitos geopolíticos, pressionam o setor agrícola no mundo inteiro para que
concilie o aumento da produção de alimentos, fibras e biocombustíveis com a
necessária sustentabilidade. (EMPRAPA, 2018)
Internacionalmente, agendas inclusivas e integradas têm demandado das
organizações de CT&I novos comprometimentos diante do desenvolvimento
sustentável. Destaque pode ser dado aos ODS, coordenados pelas Nações Unidas.
São 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030, com ações mundiais nas
áreas de erradicação da pobreza, segurança alimentar, agricultura, saúde, educação,
igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento,
padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades
sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres,
crescimento econômico inclusivo, infraestrutura, industrialização, entre outras.
(EMPRAPA, 2018)
Agricultura e alimentação estão no centro dessa agenda mundial, e o Brasil
está preparado para desempenhar papel de destaque no alcance das metas
estabelecidas.

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Nesse contexto, a agricultura brasileira passa por profundas transformações


econômicas, culturais, sociais, tecnológicas, ambientais e mercadológicas, que
ocorrem em alta velocidade e em direções distintas, impactando de forma substancial
o mundo rural.
Processos como expansão e intensificação agrícolas serão ainda mais
dinâmicos e continuarão a impulsionar a velocidade das mudanças socioeconômicas
e espaciais na agricultura no Brasil. A conjunção desses processos tende a concentrar
ainda mais a produção de grãos em larga escala no Cerrado brasileiro e com potencial
expansão em novas direções para o Norte do País. A especialização e a intensificação
das produções animal e vegetal serão crescentes em todas as regiões. Haverá maior
contribuição desses sistemas para elevar a produtividade de forma sustentável,
aumentando a oferta de alimentos, fibras e bicombustíveis no mercado interno e a
diversidade da pauta de exportações. (EMPRAPA, 2018)
A disponibilidade de mão de obra no campo continua em queda, decorrente
não somente da tendência de concentração da riqueza, que limita as oportunidades
sociais, mantendo a pobreza rural como importante desafio em algumas regiões, mas
também da busca por melhores oportunidades nas cidades, especialmente pela
população mais jovem. A abertura de postos de trabalho com maior nível de
qualificação continuará crescente, especialmente os atrelados à intensificação
tecnológica.
O Brasil poderá fortalecer seu reconhecimento e protagonismo mundial na
elevação da produtividade e no aumento da oferta de produtos agrícolas com maior
equilíbrio ambiental. Porém, será necessário elevar ainda mais os esforços visando à
intensificação e à sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas diante da
limitação de recursos naturais, especialmente água e solo, e da pressão mundial pela
sustentabilidade em seus três aspectos (social, econômico e ambiental). (EMPRAPA,
2018)
Sistemas de produção mais resilientes e sustentáveis serão incentivados e
priorizados nas novas agendas de pesquisa de organizações públicas e privadas. No
mundo rural, serão cada vez mais presentes os seguintes sistemas e processos:
integração lavoura-pecuária-floresta; agrofloresta; agricultura orgânica; plantio direto;
fixação biológica de nitrogênio; recuperação de pastagens degradadas; manejo de

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florestas nativas e florestas plantadas; otimização da irrigação, controle biológico de


pragas e doenças; reciclagem de resíduos e produção protegida.
Apontada por inúmeros cenários, a mudança do clima indica riscos e possíveis
impactos para a agricultura em todo o mundo nas próximas décadas. A contínua
discussão e análise dessas mudanças produzirão novos compromissos nacionais e
internacionais. Novas tecnologias de adaptação e mitigação dos efeitos da mudança
do clima deverão ser desenvolvidas e implementadas para as diferentes realidades
rurais do País. A redução das emissões de GEE, a diminuição das taxas de
desmatamento, o aumento das áreas com sistemas agropecuários intensivos de baixa
emissão de carbono e a recuperação de áreas degradadas serão fundamentais no
processo de valoração da agricultura brasileira nas negociações mundiais.
(EMPRAPA, 2018)
Questões ambientais, energéticas, sanitárias (animais e vegetais), de insumos,
investimentos, mercado e comercialização poderão elevar ainda mais os riscos na
agricultura na próxima década. É imprescindível o enfrentamento dos riscos de forma
mais articulada entre os setores público e privado, passando por sua gestão integrada.
O Brasil alcançou seu recorde de produção de grãos na última safra, com cerca
de 240 milhões de toneladas de grãos. Produz mais de 400 produtos de origem animal
e vegetal, provenientes das diferentes escalas e tamanhos de unidades produtivas,
os quais são consumidos internamente e exportados para mais de 150 países de
todos os continentes. Os efeitos dessa condição proporcionaram preços mais
acessíveis aos consumidores, elevaram a renda, geraram novos empregos e
impulsionaram a participação da agricultura no PIB brasileiro. (EMPRAPA, 2018)
Em 2017, as exportações de produtos agropecuários alcançaram US$ 96,1
bilhões e responderam por 44,1% do total das exportações brasileiras. O sucesso
competitivo e sustentável da agricultura nacional passará por sua diversidade,
pluralidade e heterogeneidade, resultantes das relações culturais, sociais,
econômicas e ambientais em curso e futuras. (EMPRAPA, 2018)

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REFERÊNCIAS

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. VISÃO 2030 O Futuro


da Agricultura Brasileira. Brasília, DF: EMBRAPA, 2018.

FERREIRA, José Romualdo Carvalho. Evolução e Diferenciação dos Sistemas


Agrários do Município de Camaquã-RS: Uma Análise da Agricultura e Suas
Perspectivas de Desenvolvimento. 2001. Dissertação (Mestre em Economia Rural)
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.

LOPES, Paulo Rogério; LOPES, Keila C. S. Araújo; COSTA, Manoel Baltasar Baptista
da. Mensuração da Sustentabilidade de Agroecossistemas em Assentamento da
Reforma Agrária Paulista Através do Uso de Indicadores. In: IV Simpósio Sobre
Reforma Agrária e Assentamentos Rurais, Uniara. 2010.

SANTOS, P. E., OLIVEIRA, A.; SILVA NETO, B. Sistemas Agrários, Sistemas


Complexos. In: III Congresso Brasileiro de Sistemas: Prática Sistêmica em Situações
de Complexidade, 2007, Florianópolis. Anais do III Congresso Brasileiro de Sistemas:
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SILVA, Daniel Ferreira; OLIVEIRA, Fábio Luiz de; SILVA, Eva Aparecida da. Análise
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Sustentável Grupo Verde de Agricultura Alternativa (GVAA), Mossoró-RN, Dez 2011.

PRESTES, Kaliton. Evolução e Diferenciação dos Sistemas Agrários do


Município de Entre-Ijuís. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação de
Bacharel em Agronomia) - Universidade Federal da Fronteira Sul, Cerro Largo – RS,
2016.

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