janeiro/fevereiro 2006 nº 157 36

> Revista Brasileira

de Contabilidade

[ ]
Algumas considerações sobre
as técnicas para análise da
Demonstração das Mutações do
Patrimônio Líquido (DMPL)
Ricardo Maroni Neto*
João Carlos Dias da Costa**

A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), den-

tro do conjunto das Demonstrações Contábeis estabelecido pela Lei
6.404/76, é importante por permitir a vinculação do demonstrativo
de resultados do exercício ao balanço patrimonial, ao mesmo tempo
em que apresenta, aos acionistas, o crescimento de seus investimen-
tos. A literatura contábil mostra-se carente em relação a sua análise.
O presente artigo vem ao encontro desta carência ao propor algumas
técnicas específicas para análise da DMPL.
Para cumprir esta missão foram aplicados como procedimentos me-
todológicos: a pesquisa bibliográfica – para conhecer o estado da
arte da análise das demonstrações financeiras, as características do
patrimônio líquido e a estrutura da DMPL – e o estudo exploratório,
cuja função é aplicar a proposta de técnicas de análise.
As técnicas são compostas pelas análises vertical e horizontal dos
saldos das contas e do total das mutações, aliadas a um conjunto de
indicadores. Os resultados permitem inferir que as técnicas, dentro
das limitações da pesquisa, favorecem a compreensão da evolução
do capital próprio em determinado período, da distribuição do re-
sultado do exercício, do status das reservas obrigatórias, bem como
mensurar a rentabilidade efetiva dos acionistas.

* Economista (FMU) e Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica (UNIFECAP), professor do Centro Universitário Álvares Penteado – UNIFECAP, professor do Centro
Universitário Fieo – UNIFIEO, professor das Faculdades Integradas Módulo.
** Mestre em Controladoria e Finanças (PUC – SP), contador pela Universidade São Judas – SP, administrador de empresas – Universidade Mackenzie – SP, professor do Centro
Universitário Álvares Penteado.

37 janeiro/fevereiro 2006 nº 157

 > Algumas considerações sobre as técnicas
> Introdução. A literatura contábil financeira é
pródiga em textos sobre análise das Demonstrações
Contábeis. No entanto, a bibliografia existente concentra
a discussão na aplicação das técnicas clássicas sobre o
balanço patrimonial e sobre a demonstração de resultado
do exercício.
Deve-se destacar que a análise das demonstrações
financeiras é uma ferramenta-chave para as finanças
corporativas, pois permite compreender a situação
econômica e financeira das empresas e, a partir daí,
fornecer informações para a tomada de decisão dos
stakeholders.
Iudícibus (1998, p.17) no início da obra destaca que
“todas as demonstrações e relatórios contábeis podem
ser úteis à análise.” Infere-se, com isto, que todas as de-
monstrações, quando analisadas, fornecem informação
com alguma valia para alguém.
Sobre as demonstrações, Marion (2002, p.22) ob-
serva que, “indubitavelmente, todas as Demonstrações
Contábeis (DC) devem ser analisadas”. Com isto, pode-
se compreender que existem critérios ou formas para
estudar todas as demonstrações.
Entre as Demonstrações Contábeis está a Demonstração
das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), cuja função
é evidenciar a evolução nas contas que formam o capital
próprio das organizações, englobando, obrigatoriamente,
a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados.
janeiro/fevereiro 2006 nº 157
para análise da Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
Matarazzo (2003) observa que
“enquanto a Demonstração do Resultado evidencia
como se chegou ao total do aumento ou dimi-
nuição do Patrimônio Líquido em decorrência de
transações efetuadas pela empresa, expurgando
o inchaço causado pela inflação, a Demonstração
das Mutações no Patrimônio Líquido mostra toda e
qualquer variação em qualquer conta.”.(Matarazzo,
2003, p. 48)
Dentro de um escopo amplo pode-se compreender
a DMPL como um relatório que une a Demonstração
do Resultado do Exercício ao Balanço Patrimonial, pois
mostra a aglutinação do resultado dentro do patrimônio
líquido. A sua análise torna-se fundamental para que os
acionistas conheçam o progresso do seu investimento.
Todavia, apesar de reconhecerem a importância do DMPL,
os autores citados não oferecem critérios específicos sobre
a sua análise e, em alguns casos, criam uma contradição.
Sobre o DMPL e a Demonstração de Lucros e Prejuízos
Acumulados, Schrichel (1997) observa que
“estas demonstrações também não têm conteúdo
formal ou rígido a ser demonstrado, dependendo
dos eventos e complexidades de cada caso....” Sua
análise oferece, basicamente, informações sobre a
forma de eventuais aumentos de capital (se com
reservas ou sobre recursos em espécie) e a distri-
buição de dividendos...” [grifo nosso] (Schrichel,
1997, p.63)
Destaca-se a simplificação dada pelo autor para a
importância dos demonstrativos que mostram as mo-
vimentações que ocorrem no Patrimônio Líquido. Na
realidade, pode ser evidenciada, além das alterações
citadas, a distribuição de resultados gerados no período
e acumulados, bem como as movimentações que ocor-
reram com as reserva.
Iudícibus (1998) destaca no início de sua obra que
“Para efeito do presente trabalho, incluímos na ex-
pressão ‘análise de balanços’ não apenas o Balanço
Patrimonial, propriamente dito, como também a
Demonstração de Resultados do Exercício. Atenção
também será dedicada a Demonstração de usos e
fontes do capital de giro (Origens e Aplicações de
Recursos) bem como, subsidiariamente, à Demons-
tração das Mutações do Patrimônio Líquido” [grifo
nosso] (Iudícibus, 1998, p.17).
38
 > Revista Brasileira
de Contabilidade
> Dentro de um escopo amplo pode-se compreender a DMPL como
um relatório que une a Demonstração do Resultado do Exercício ao
Balanço Patrimonial, pois mostra a aglutinação do resultado dentro
do patrimônio líquido.
Mais adiante, na mesma obra, Iudícibus (1998, p.60)
deixa claro que a DMPL “é consideravelmente relevante
para as empresas que movimentam constantemente as
contas do Patrimônio Líquido.”
Contudo, mesmo fazendo os comentários citados, o
autor em sua obra não faz proposituras para análise
da DMPL.
Marion (2002, p.25) observa que a “análise de outras
demonstrações, como DOAR, DFC e DVA, enriquecem
sobremaneira a interpretação da situação econômico-
financeira da empresa em análise.” Note-se que o autor
destaca as outras demonstrações, mas não cita a DMPL
ou a DLPA.
No texto, apesar de mencionar a relevância da análise
de outras demonstrações, o autor não faz propositura
de ferramentas analíticas específicas. No entanto, nos
capítulos 10, 11 e 12, respectivamente, são apresentadas
técnicas e indicadores para análise dos Demonstrativos
de Fluxo de Caixa (DFC), de origens e aplicações de re-
cursos (DOAR) e de valor adicionado (DVA).
Para Matarazzo (2003), a DMPL
“serve muito mais como elemento complementar
do que como peça através da qual se pode obter
informações, ..., capaz de gerar reação em quem
a recebe e possibilita tomada de decisão.
Desta forma, a Demonstração das Mutações do
Patrimônio Líquido não costuma ser analisada no
sentido tradicional em que o são o Balanço e a
Demonstração do Resultado do Exercício.” (Mata-
razzo, 2003, p.48).
As observações de Matarazzo explicam, de certa forma,
o porquê de os autores não discutirem ou proporem
técnicas específicas para a análise da DMPL.
Sobre a importância da Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido, Reis (2003) tece o seguinte co-
mentário:
“Considero que são vários os fatores que influem
na determinação do saldo dessas contas – lucro
39
transferido, reversões e ajustes, por exemplo -, seria
quase impossível sem o presente demonstrativo
caracterizar aqueles que provocaram modificações
observadas de um ano para o outro” [grifo nosso]
(Reis, 2003, p.87).
Na mesma obra, Reis (2003, p. 112) apresenta a DMPL
como um dos elementos indispensáveis para a boa
análise. Destaca-se a relevância da DMPL, pois permite
caracterizar as mudanças do Patrimônio Líquido. Porém,
ao longo de sua obra, o autor não propõe ou menciona
o uso de critérios para análise do demonstrativo.
Padoveze (2005), ao comentar sobre o processo de
análise financeira de balanços, observa que esta ferra-
menta é um conjunto de técnicas básicas formadas pelas
análises vertical e horizontal, pelos indicadores econô-
micos e pela avaliação final. A variedade de indicadores
calculados auxilia a interpretação dos demonstrativos
contábeis.
“Tais indicadores buscam evidenciar as caracte-
rísticas dos principais inter-relacionamentos exis-
tentes entre o Balanço Patrimonial, que apresenta
uma visão estática e momentânea da empresa, e
a dinâmica representada pela Demonstração do
Resultado do Exercício.
Os Demonstrativos Contábeis de fluxo de caixa e
demonstração das origens e aplicações de recur-
sos também devem ser utilizados para melhorar a
compreensão sobre o desempenho empresarial,
pois contêm elementos adicionais para o enten-
dimento das operações da empresa.” (Padoveze,
2005, p. 429)
Note-se na citação uma contradição. Por um lado,
Padoveze não menciona a DMPL como demonstrativo
cuja análise melhora a compreensão do desempenho da
empresa. De outra forma, é o único dos demonstrativos
preconizados na Lei no 6.404/76, que integra, verdadei-
ramente, o Balanço Patrimonial como a Demonstração
do Resultado do Exercício.
janeiro/fevereiro 2006 nº 157
 > Algumas considerações sobre as técnicas
Com a revisão das obras citadas observa-se a relevância
da DMPL, por evidenciar de forma detalhada as altera-
ções no capital próprio e por demonstrar a integração
do resultado ao patrimônio. Por outro lado, os autores
não fazem propostas de técnicas específicas para a
análise da DMPL.
Diante deste contexto, emerge o tema do presente
artigo, qual seja, a exploração de algumas técnicas es-
pecíficas para análise da DMPL. Para tanto, formula-se
o problema de pesquisa, por meio da seguinte questão:
Quais as técnicas específicas que permitem a análise
eficaz da DMPL? Com a resposta ao problema apresen-
tado, atinge-se o objetivo amplo de propor algumas
técnicas para análise da DMPL, de forma a permitir a
melhor compreensão da evolução do capital próprio
da empresa.
De forma específica, os objetivos são:
• estudar o patrimônio líquido para compreender sua
constituição;
• estudar a estrutura da DMPL para compreender os
dados passíveis de estudos mais aprofundados;
• conhecer a formação do PL e as informações relevan-
tes da DMPL para propor ferramentas de análise.
janeiro/fevereiro 2006 nº 157
para análise da Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
Para atingir os objetivos estabelecidos e responder
ao problema formulado, o presente artigo trata dados
qualitativos colhidos na fonte secundária, visando à
exploração de um tema ainda não-aprofundado, o que
torna a pesquisa qualitativa, secundária e exploratória.
O objeto de estudo restringe-se à DMPL e o ambiente
de estudo limita-se às publicações existentes, ou seja,
a pesquisa é bibliográfica com método monográfico.
Complementa os procedimentos metodológicos o estudo
exploratório, cuja finalidade é demonstrar a aplicação
das ferramentas propostas. O resultado classifica o tra-
balho como teórico e metodológico, pois sistematiza e
propõe um método para analisar as Demonstrações das
Mutações do Patrimônio Líquido.
Entende-se que este texto se justifica à medida que
as obras tradicionais não se aprofundam sobre o tema,
chegando, em alguns casos, a serem contraditórias.
Desta forma, surge uma lacuna no campo da análise
das demonstrações financeiras, pois a literatura existente
cobre de forma plena a análise do Balanço Patrimonial e
da Demonstração do Resultado do Exercício, de maneira
muito superficial os demais demonstrativos, exceto a
DMPL, que não se apresenta nada específico.
40
 > Revista Brasileira
de Contabilidade
Caracterização do Patrimônio Líquido
Os objetivos dos investidores, ou mesmo dos proprie-
tários quando constituem uma empresa, é a obtenção de
resultado positivo, que se denomina de lucro. Conforme
ensina Hendriksen (1999, p. 181), o lucro, no sentido
amplo, é a variação do patrimônio de uma empresa
durante um período. O patrimônio líquido, por sua vez,
é derivado da equação fundamental do Patrimônio, que
é o Ativo (composto dos bens e direitos da entidade)
menos o Passivo (que são as obrigações da entidade).
Schmidt (2003, p. 65) relata que por definição Pa-
trimônio é o conjunto de bens, direitos e obrigações
pertencente a uma ou a mais pessoas físicas ou a uma
pessoa jurídica, utilizado na atividade econômica ou
social, com a finalidade lucrativa ou não. Os bens e
os direitos compõem o Ativo e as obrigações exigíveis
compõem o Passivo, sendo a diferença entre ambos que
compõem o Patrimônio Líquido, isto é, a riqueza líquida
que a entidade formou no decorrer de suas atividades.
Assim, o Patrimônio Líquido representa a riqueza dos
sócios, acionistas, e, conforme Lei nº. 6.404/76, artigo
nº. 178 parágrafo 2º, letra “d”, é composto de Capital
Social, Reservas de Capital, Reservas de Reavaliação, Re-
servas de Lucros e Lucros ou Prejuízos Acumulados.
A Lei nº. 6.404/76 tem no Capítulo XVI três seções que
tratam das contas do Patrimônio Líquido, englobando os
artigos de nºs. 189 a 205; identifica-se aí o capital pró-
prio da entidade, representando as origens de recursos
próprios da entidade.
As contas do Patrimônio Líquido possuem algumas
particularidades, entre as quais destaca-se, conforme
Iudícibus et all, (2003; 431):
“A Reserva Legal que serve para dar proteção ao
credor, e é constituída com a destinação de 5% do
lucro líquido do exercício até que o seu valor atinja
20% do capital social realizado, quando então dei-
xará de ser acrescida; ou então, poderá a critério
41
da companhia, deixar de receber créditos, quando
o saldo desta reserva, somado ao montante das
Reservas de capital (exceto a Reserva de correção
monetária do Capital Realizado) atingir 30% do
Capital Social”.
Percebe-se que o legislador ao consignar que parte do
lucro deva ficar no patrimônio das entidades como forma
de protegê-lo, também procurou resguardar a figura dos
acionistas, visando à continuidade das empresas.
Descrição da Estrutura da DMPL
A DMPL é uma das demonstrações obrigatórias para as
empresas de capital aberto, conforme orientação da CVM
(2005), por meio da Instrução CVM nº 59 de 22/12/86,
ou para aquelas cujo capital seja fechado, obedecendo
às Resoluções CFC de nºs 686/90, 847/99 e 887/00 (CRC
SP, 2003, p. 117).
A sua função é evidenciar como o lucro foi utilizado
pela organização, seja com a finalidade de constituir
reservas seja como distribuição de dividendos aos sócios
ou acionistas. Além disso, essa demonstração tem a
capacidade de mostrar a evolução das contas que com-
põem o Patrimônio Líquido, evidenciando a composição
do capital próprio.
A elaboração da DMPL é particularizada em cada
empresa, na qual cada profissional encarregado de
elaborá-la irá estruturá-la, obedecendo às contas do
patrimônio líquido que foram movimentadas no perí-
odo, bem como as normas que o Conselho Federal de
Contabilidade edita.
O CFC editou a NBC – T – 3.5, que trata da Demonstra-
ção das Mutações do Patrimônio Líquido, assim sendo,
essa demonstração destina-se a evidenciar as mudanças,
em natureza e valor ocorridos no patrimônio líquido da
entidade num determinado período de tempo. Assim
se manifestou o CFC:
“3.5.2 – Conteúdo e Estrutura
janeiro/fevereiro 2006 nº 157
 > Algumas considerações sobre as técnicas
3.5.2.1 – a DMPL discriminará: os saldos no início
do período;
a) os ajustes de exercícios anteriores;
b) as reversões e transferências de reservas e
lucros;
c) os aumentos de capital discriminando sua
natureza;
d) a redução de capital;
e) as destinações do lucro líquido do período;
f) as reavaliações de ativos e sua realização, líquida
do efeito dos impostos correspondentes;
g) o resultado líquido do período;
h) as compensações de prejuízos;
i) os lucros distribuídos; e
j) os saldos no final do período.” (CRC SP, 2003,
p. 117).
Desta forma, mediante essa norma legal, embora os
profissionais tenham liberdade para a sua elaboração,
deverão, de uma maneira geral, restringir-se ao seu
conteúdo, como forma de padronização e bom enten-
dimento para os seus usuários.
Análise da DMPL
A reflexão sobre o significado da palavra análise con-
duz ao método de Descartes sobre a divisão do problema
em partes. O estudo das partes e a sua relação com o
todo permitem solucionar o problema.
Aplicando esta concepção ao estudo das demonstra-
ções financeiras emprega-se uma variedade de indicado-
janeiro/fevereiro 2006 nº 157
para análise da Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
res que permitem avaliar as particularidades da situação
econômica e financeira da entidade.
As técnicas tradicionais envolvem: a análise hori-
zontal, que demonstra a evolução ao longo do tempo
dos itens estudados; a análise vertical, que evidencia a
participação de cada item no demonstrativo enfocado,
permitindo o estudo das tendências dentro da empresa;
indicadores econômicos e financeiros relacionam ele-
mentos extraídos das demonstrações para apresentar
a situação da empresa.
Assim, a análise proposta para a DMPL procura trazer
à tona dados pertinentes à empresa, evidenciando a evo-
lução das contas que a compõe e, como conseqüência,
extrair informações que irão subsidiar a compreensão
das mudanças no capital próprio da entidade.
Diante disto, as ferramentas para a análise são segmen-
tadas em: análise vertical dos saldos das contas; análise
horizontal dos saldos das contas; análise vertical do saldo
total do patrimônio líquido e indicadores.
Análise Vertical dos Saldos das Contas
A análise vertical dos saldos das contas objetiva eviden-
ciar, em número índice, a evolução dos saldos de cada
conta exposta no Patrimônio Líquido. Para tanto, a sua
construção é realizada com as seguintes etapas:
a) definir o período base, saldo inicial mais antigo;
b) igualar o saldo inicial das contas do período base
a 100;
c) dividir os saldos finais dos períodos subseqüentes
42
 > Revista Brasileira
de Contabilidade

pelo valor do período base e multiplicar por 100.
Análise Horizontal dos Saldos das Contas
A análise horizontal dos saldos demonstra em percen-
tual a composição do patrimônio líquido em determi-
nado período. A elaboração desta análise pressupõe as
seguintes etapas:
a) definir como base de referência o total do PL ao
final de cada período;
b) igualar a base a 100;
c) dividir os totais das contas pela base de referência
e multiplicar por 100.
A informação a ser extraída com este procedimento
é a participação de cada item do patrimônio líquido no
seu total em um determinado período e a evolução desta
participação ao longo do tempo.
Análise Vertical do Saldo Total do Patrimônio
Líquido
A análise vertical do total do saldo do Patrimônio
Líquido mostra a participação de cada modalidade de
alteração na formação do saldo final em determinado
período.
Para executar este procedimento empregam-se as
seguintes etapas:
a) adotar como base de referência o total do PL ao
final de cada período;
b) igualar a base a 100;
c) dividir o total das mutações pela base e multiplicar
por 100.
A informação destacada nesta análise é a participação
em percentual dos eventos que constituíram o saldo final
do patrimônio líquido.

Indicadores
a) Resultados Distribuídos (RD)
Este indicador mostra o percentual do resultado gerado
que foi distribuído, sob a forma de dividendos, juros sobre
o capital próprio ou outra forma de remuneração.
Em outras palavras, o dividendo distribuído evidencia
a parcela do lucro transformado em remuneração das
partes beneficiadas (sócios, fundadores, fundações be-
neficentes, etc.).

Dividendos
RD = X 100
Resultado do Exercício

b) Participação da Reserva Legal (PRL) tido em reserva. Esse indicador deve ser igual a 5% para
O indicador da Participação das Reservas de Lucro atender a legislação.
mostra em percentual quanto do resultado foi conver-

Acréscimo da Reserva Legal

PRE = X 100
Resultado do Exercício

c) Participação das Mutações das Reservas (PMR) ou no aumento do capital. Quando negativo descreve as
Este indicador, se positivo, revela o percentual do lucro reversões das reservas para a conta Lucros ou Prejuízos
usado na formação de reservas diversas (exceto a legal) Acumulados.

Retenções de Lucro - Realizações de Reservas

PMR = X 100
Resultado do Exercício

O somatório dos indicadores de resultados distribuí- = 100%, quando todo o lucro for destinado e não
dos, participação das reservas legais e participação das houver variação dos lucros acumulados;
mutações das reservas podem assumir três valores: > 100%, quando o resultado for distribuído junta-

43 janeiro/fevereiro 2006 nº 157

 > Algumas considerações sobre as técnicas
para análise da Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)

mente com uma parcela do saldo acumulado, havendo
redução da conta lucro ou prejuízo acumulado;
< 100%, quando o resultado for distribuído parcial-
mente, ficando um resíduo a ser acrescido ao saldo da
conta lucro ou prejuízo acumulado.
d) Rentabilidade Efetiva (RE)
Este indicador apresenta a remuneração que os sócios
efetivamente recebem pelo capital aportado na empresa.
A rentabilidade efetiva mostra o retorno real do capital
próprio (visão do sócio).

Dividendos
RE = X 100
PLmd

PL inicial + PL final
PLmd =
2

Uma rápida confrontação entre a RE e a ROE1 permite
observar que a última indica o retorno obtido pelo capital
aportado pelos sócios. No entanto, não demonstra quan-
to foi transferido, efetivamente, para o ativo dos sócios.
Assim, a RE apresenta uma informação mais precisa sob
o enfoque dos acionistas.
e) Participação da Reserva Legal sobre o Capital (PRC)
O indicador da Participação da Reserva Legal sobre o
Capital objetiva identificar o nível existente de reserva legal.
Sabe-se que a participação da reserva legal sobre o capital
deve ser de forma obrigatória até 20% do valor do capital.
Este indicador analisa a realização deste percentual.

Reserva Legal
PRC = X 100
Capital Social

f) Participação das Reservas Obrigatórias sobre o confronta a soma das reservas legal e de capital com
Capital (PRO) o capital social. Se esta relação atingir 30% a empresa
Uma outra medida avaliativa das reservas obrigatórias deixa de acrescentar créditos à reserva legal.

Reserva Legal + Reserva de Capital

PRO = X 100
Capital Social

g) Novas Integralizações (NI) dos aportes novos em relação ao capital existente na

Este indicador mostra em percentuais a participação empresa.

Integralização
NI = X 100
Capital Social

Estudo Exploratório
O estudo exploratório desenvolvido nesta seção objeti- publicada pela Companhia Brasileira de Distribuição
va aplicar as ferramentas para análise da DMPL propostas publicada no jornal O Estado de S. Paulo em 25/2/2005
na seção precedente. Para elaborá-lo toma-se a DMPL e reproduzido na Tabela 1.
1
ROE Return on Equity ou Rentabilidade do Patrimônio Líquido, quociente entre o resultado do exercício e o PL médio vezes 100.

janeiro/fevereiro 2006 nº 157 44

 > Revista Brasileira
de Contabilidade

Fonte: Cia. Brasileira de Distribuição (2005)

45 janeiro/fevereiro 2006 nº 157

 > Algumas considerações sobre as técnicas
Considerações Iniciais
Analisando diretamente os valores do Patrimônio Lí-
quido, apresentados no Balanço Patrimonial consolidado
da Cia. Brasileira de Distribuição (2005), por meio das
análises vertical e horizontal, observa-se:
• crescimento do capital próprio em 7,5%;
• crescimento do capital social em 11,2%;
• redução das reservas em 11,4%.
Apesar de indicar a expansão positiva do Patrimônio
Líquido e a evolução de seus componentes, não ficam
evidenciadas as causas das variações. Nota-se, inclusive,
que a variação no total do Patrimônio Líquido não se
iguala ao resultado líquido do exercício. Esse fato indica
a existência de outras movimentações não-identificadas
na análise direta do Balanço Patrimonial.
Pode-se ampliar a análise por meio da confrontação
dos valores do Patrimônio Líquido com algumas informa-
ções selecionadas no Balanço Patrimonial e na Demons-
tração de Resultados do Exercício. A Tabela 2 apresenta
os valores do Patrimônio Líquido, as informações sele-
cionadas e os quocientes usados para análise.
Fonte: Cia. Brasileira de Distribuição (2005)
janeiro/fevereiro 2006 nº 157
para análise da Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
A ampliação do estudo revela:
• a redução da participação do Patrimônio Líquido em
relação ao total das fontes de financiamentos, passando
de 42,2% para 38,9%;
• a expansão do patrimônio líquido (7,5%) ficou
aquém do crescimento do total das fontes de financia-
mento (16,6%);
• a relação entre o resultado do exercício e o total do
Patrimônio Líquido no final do período ampliou de 6%
para 9,1%, causada, especialmente, pelo crescimento
de 64% do lucro do exercício.
A ampliação da análise mostra o crescimento da rique-
za e da rentabilidade da empresa, mas não o impacto
na riqueza dos acionistas.
Infere-se, desta forma, que a análise direta do patri-
mônio líquido é limitada para demonstrar o impacto do
resultado sobre a riqueza dos acionistas e da própria
empresa. Torna-se necessário avaliar as mutações no
patrimônio líquido de maneira detalhada, para tanto é
requerido o emprego de técnicas mais específicas sobre
a DMPL.
46
 > Revista Brasileira
de Contabilidade

Análise da DMPL longo do biênio; houve incorporação ao capital social,

A análise vertical dos saldos das contas da DMPL
revela:
• o crescimento de 5% no total do Patrimônio Líquido
em 2003 e de 8% em 2004;
• o crescimento do capital social acima do total do
Patrimônio Líquido, 15% em 2003 e 13% em 2004;
• que as reservas de capital nos dois períodos foram
incorporadas ao capital social;
• que a reserva legal cresceu 15% em 2003 e 24%
em 2004;
• que a reserva de expansão perdeu apenas 10% ao
compensada por transferências dos lucros retidos;
• que a reserva de lucros a realizar foi reduzida em
35% em 2003 e 36% em 2004, devido à transferência
para lucros acumulados.
• que a retenção de lucros foi reduzida em 25% em
2003, seguida de uma expansão de 42% em 2004; a
causa está associada ao ingresso de parcelas substan-
ciais de lucro que compensaram as transferências para
aumento do capital social e para reserva de expansão.
A Tabela 3 apresenta a análise vertical dos saldos das
contas do DMPL.

47 janeiro/fevereiro 2006 nº 157

 > Algumas considerações sobre as técnicas
para análise da Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)

A análise horizontal dos saldos das contas demonstra: do Patrimônio Líquido;

• maior participação do capital social no conjunto de
contas do Patrimônio Líquido, passando de 76,6 em
2002 para 86,6% em 2004, causada, principalmente,
pelas transferências das reservas;
• as contas das reservas tiveram acentuadas oscilações,
porém, tem baixa participação no conjunto de contas
• que em fins de 2002 a retenção de lucros repre-
sentava 6,8% do Patrimônio Líquido, reduzindo-se para
4,8% em 2003; depois se recuperou e fechou 2004 em
7,0%;
A Tabela 4 apresenta a análise horizontal dos saldos
das contas do Patrimônio Líquido.

A análise vertical dos saldos do

Patrimônio Líquido mostra:
• a redução do peso dos saldos ini-
ciais, passando de 95% para 93%;
• o baixo nível de aporte dos
sócios. Note-se a forte expansão do
capital social conduzida por trans-
ferências das reservas;
• o maior peso do resultado do
exercício na formação do Patrimônio
Líquido, 5,99% em 2003 e 9,13%
em 2004;
• ampliação das reduções do Pa-
trimônio Líquido com distribuição
de dividendos, 1,45% em 2003 e
2,20% em 2004;
A Tabela 5 apresenta a análise
vertical dos saldos do Patrimônio
Líquido.

janeiro/fevereiro 2006 nº 157 48

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de Contabilidade

A análise dos indicadores sobre o destino do resultado
do exercício revela que:
• houve no biênio manutenção no nível de distribuição
de dividendos, em torno de 24%;
• houve o cumprimento do parâmetro legal para os
acréscimos das reservas legais, 5%;
• a relação da retenção de lucros e das realizações de
reservas, cerca de 70% do resultado, é direcionada para
formação de reservas;
• com relação à rentabilidade efetiva do capital pró-
prio, nota-se um acréscimo, passando de 1,49% em
2003 para 2,28% em 2004;
• a relação da reserva legal sobre capital social está
bem abaixo do máximo estipulado pela legislação;
• a relação da reserva legal e de capital ainda não
atingiu os 30% do capital social;
• o nível de novos aportes é de 0,05% em 2003 e de 0,18%
em 2004, corroborando à análise vertical dos saldos do PL.
A Tabela 6 apresenta os indicadores calculados para
análise da DMPL.

49 janeiro/fevereiro 2006 nº 157

 > Algumas considerações sobre as técnicas
Considerações de Encerramento do Estudo Ex-
ploratório
A aplicação das ferramentas propostas permite de-
monstrar as origens das mutações do patrimônio líquido,
identificar as causas das variações nas contas, descrever o
destino do resultado do exercício e apresentar o impacto
na riqueza dos acionistas. O efeito conjunto descortina as
movimentações do patrimônio líquido não-identificável
na sua análise direta.
A demonstração das origens das mutações do patri-
mônio líquido é realizada por meio da análise vertical
do saldo total que aponta, por período, os acréscimos
e decréscimos do patrimônio líquido entre os dois mo-
mentos distintos.
As causas das variações das contas são identificadas
pelas análises vertical e horizontal dos seus saldos. A
análise vertical permite identificar a evolução das contas.
Enquanto a análise horizontal mostra a composição
detalhada do patrimônio líquido;
O destino do resultado do exercício é identificado por
meio de três indicadores: resultados distribuídos (RD),
participação das reservas legais (PRL) e participação das
mutações nas reservas (PRM). O somatório destes três
indicadores forma 100%, o que indica o total dos usos
do lucro / prejuízo do exercício.
Para avaliar o impacto na riqueza dos acionistas, tem-se
o indicador de rentabilidade efetiva (RE) que aponta, em
percentual, a remuneração efetivamente realizada pelo
capital próprio existente na organização.
Complementa as ferramentas de análise das DMPL
os indicadores de participação da reserva legal sobre o
capital (PRC), de participação das reservas obrigatórias
sobre o capital (PRO) e de novas integralizações (NI). Os
dois primeiros indicadores evidenciam o nível de reservas
estabelecidas pela Lei no 6.404/76. O último apresenta
a participação de novos aportes em relação ao capital
existente.
> Considerações Finais. No âmbito das de-
monstrações contábeis ou financeiras, a DMPL ocupa
papel relevante, pois integra o resultado ao patrimônio
líquido e evidencia as mudanças no capital próprio da
organização.
Neste contexto, sob a ótica do acionista, a DMPL pres-
ta importante papel de informar a evolução do capital
janeiro/fevereiro 2006 nº 157
para análise da Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
aportado na empresa, bem como o destino do resultado
gerado com aquele capital. A confluência destas infor-
mações demonstra o impacto na riqueza do acionista
decorrente das alterações no patrimônio líquido.
Diante da importância da DMPL e da limitação da
bibliografia sobre técnicas específicas, o presente artigo
propõe algumas ferramentas para a análise.
Assim, partindo-se do conteúdo do patrimônio líqui-
do definido nos termos da Lei no 6.404/76 (Seção 1),
da estrutura proposta pelo CFC (Seção 2) e de técnicas
clássicas apresentadas amplamente na literatura, pro-
pôs-se um conjunto de indicadores e de análise vertical
e horizontal (Seção 3) que, na sua essência, responde
ao problema proposto ao mesmo tempo em que atinge
o objetivo amplo estabelecido.
As técnicas eficazes são aquelas que permitem o enten-
dimento das alterações do capital próprio da organiza-
ção. Neste sentido, a compreensão das mutações deve:
evidenciar como o resultado líquido foi incorporado
ao patrimônio líquido; demonstrar a remuneração real
dos acionistas e apresentar outras informações sobre as
mutações do patrimônio líquido.
Os indicadores e as análises propostos atendem a tais
requisitos informativos, uma vez que detalham a evolu-
ção do patrimônio líquido entre dois períodos.
Por fim, recomenda-se que a análise siga o seguinte
roteiro:
a) descrição da composição das mutações, por meio
da análise vertical do total do patrimônio líquido, com-
plementando-se com as análises vertical e horizontal dos
saldos das contas;
b) descrição da aplicação do resultado do exercício,
por meio de indicadores específicos;
c) descrição do retorno real dos sócios por meio do
indicador de resultado efetivo;
d) outras informações: status das reserva legal e de
capital com relação ao capital social e acréscimos de
capital pelos sócios.
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 > Revista Brasileira
de Contabilidade

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