livros no Velho Testamento e 27 no Novo Testa- mento; como esta Bíblia chegou à nós?
Se hoje você acha complicado compreender a
Bíblia, verá que fica ainda mais complicado en- tender as idas e vindas na formação dela. Foi uma verdadeira confusão!
Inúmeros arranjos, discussões ainda maiores;
livros incluídos e outros excluídos e incluídos novamente depois. Alguns livros jamais foram unanimidade.
Havia aqueles que concordavam com uma certa
quantidade de livros e aqueles que já aceitavam outra.
Discussões diversas no decorrer dos séculos, até
que chegamos aqui.
A Verdade Oculta na Formação da Bíblia. Esse é
o nosso tema hoje. A questão básica é: O que a Bíblia de fato significa?
Nós temos essa hiper-simplificação, de ter a Bí-
blia nas mãos, e olhar de forma reverente e qua- se adorativa para a Escritura e a sensação que dá é que a maioria das pessoas pensa na Bíblia como uma espécie de arca da aliança remanescente.
A arca foi levada, desapareceu, mas nós temos a
Bíblia, Deus nos deu a Bíblia, aonde temos tudo: o Maná, a vara de Arão, as Tábuas da Lei e também uma fotografia de Jesus.
Fechamos a Bíblia… e eis o nosso talismã!
E é impressionante o que podemos identificar
como sentimento das pessoas em relação ao li- vro, a maioria absoluta realmente crê que a Bí- blia já chegou pronta.
Elas não tem a menor idéia de como estamos
diante de um caleidoscópio de muitas confu- sões, durante muitos anos; e isso não começou com a formação do Novo Testamento, por exem- plo, a formação do que se chamou de Escritura Sagrada dos judeus; é algo de uma confusão ex- traordinária.
As pessoas ficam pensando que aquilo caiu do
céu.
Primeiro os cinco livros do pentateuco, Moisés,
e que depois Deus foi dando aquilo em ordem e revelação em sequência, tudo organizado por Deus, e que quando nós chegamos ao período do Novo Testamento o mesmo processo aconteceu.
E não tinha conclusão mais óbvia nem mais tran-
quila do que fechar o livro com o fim do mundo, com o Apocalipse.
Agora… a questão é que nunca foi assim!
Os judeus tiveram dezenas de cânones sagrados.
Às vezes os livros de Esdras e Neemias entravam,
às vezes saíam.
Às vezes os textos como o do livro Ester estava
dentro, às vezes não estava dentro. O Eclesiastes esteve fora algumas vezes do câ- non sagrado.
Uma quantidade enorme de salmos também
não foram incluídos.
E quando você olha para o tempo em que a reli-
gião diz que tudo isso foi montado e construído em um período de 1500 anos, dá a impressão de que organizadamente de tempo em tempo vinha alguma coisa, mas não foi assim.
Na realidade, do ponto de vista arqueológico, os
textos do pentateuco, é muito provável que eles tenham sido escritos por alguns escribas, bem depois de Moisés.
Você encontra argilas, tabletes com mandamen-
tos do Velho Testamento, diversos, mas, a escri- ta na sequência que nós a temos, ela começa a acontecer muito posteriormente a Moisés.
A presença do que nós chamamos de Escritura
era uma coisa rara no Velho Testamento, a pon- to de o livro se perder no templo. Por anos e anos o livro estava perdido no templo, esquecido, ninguém sabia onde estava, nenhu- ma importância era atribuída a ele, foi preciso que fosse achado e lido, e o Rei concluísse que tinha importância extraordinária, que não podia ser esquecida, e que eles precisavam obedecer.
Mas, não era algo como nós imaginamos que
fosse.
Que onde você passasse havia textos da Escritu-
ra sendo lido e uma unanimidade total sobre o Velho Testamento.
Ao contrário, Israel estava dividido, havia aque-
les que cultuavam realmente, e que diziam que só o texto escrito em língua hebraica era palavra de Deus, e havia outros que eram da escola da septuaginta.
Ou seja, quando setenta anciãos dos judeus re-
solveram traduzir o Velho Testamento para o grego, de maneira a criar acesso popular à Es- critura do Velho Testamento, aí a septuaginta ganhou um espaço de popularização enorme; chamou-se “septuaginta” porque foi feita e tra- duzida por setenta pessoas.
Fora a isso, o livro de cantares de Salomão já en-
trou, já saiu, já se brigou dizendo que ele não de- veria fazer parte jamais, já se o interpretou mui- to mal.
Há por exemplo, ocasiões em que todos os profe-
tas menores já foram retirados do cânon do Ve- lho Testamento; durante um período, somente os chamados profetas maiores foram deixados.
Você tem portanto alterações enormes.
O cânon atual do Velho Testamento hebraico,
do livro dos judeus, muita gente atribui a pre- valência dele, do jeito que ele acabou ficando, à uma escolha dos rachimoneus, que a maioria não sabe nem quem são - é um pessoal de estir- pe acadêmico-sacerdotal importantíssimo na história de Israel que viveu antes de Jesus - mas, mesmo nos dias de Jesus, não era questão fecha- da que a Escritura judaica fosse exatamente essa que você tem no Velho Testamento aqui na sua mão; havia dúvidas, havia escolas rabínicas que criam também nos textos paralelos, nos textos pseudo-hepígrafes, nos textos deutero-canôni- cos; muitos rabinos respeitados, muitas histó- rias desses outros livros você ouve o eco delas inclusive no Novo Testamento, nos evangelhos e nas cartas de Paulo.
Eventualmente, esse texto não incluído na Escri-
tura sagrada dos Judeus, foi produzido naquele período pós exílico porque esse exílio na Pérsia mudou completamente a cabeça religiosa e es- piritual dos judeus.
Foi provavelmente na Pérsia durante aquele pe-
ríodo onde não só nasceu a sinagoga que era um lugar onde a tradição moral era repetida e o en- sino considerado pelos rabinos importante, era falado, a maioria das vezes oralmente repetido, foi alí que eles desenvolveram uma consciência.
Toda a angeologia do Novo Testamento está pro-
fundamente baseada no conceito sobre anjos, no livro de Enoque.
E o conceito de céu e de paraíso do terceiro céu,
vem do livro de Enoque, que Paulo cita em I Co- ríntios 12. A história em I Coríntios 11 das mulheres de Co- rinto colocarem véu na cabeça em autoridade, demonstrarem espiritualmente que estavam sob os cuidados de um homem para diferencia- rem-se das prostitutas que desciam Corinto sem véu na cara, se oferecendo aos homens, e Paulo disse: “É bom que botem autoridade sobre a ca- beça”, por causa dos anjos, é uma evocação de Gênesis 6, dos anjos e as filhas dos homens; está em I Coríntios 11, de modo que, nesse período in- tertestamental entre Malaquias e o que a gente chama de início do período do Novo Testamento com Jesus, teve uma produção extraordinária de textos muito respeitados pelos rabinos, mencio- nados por Jesus não literalmente, mas o espírito deles mencionado por Jesus, como é o caso de cada criança ter o seu recíproco nos céus, algu- mas coisas dessa natureza que Jesus menciona que são ecos muito nítidos, muito claros do livro de Enoque, sem falar do: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”, era um conceito do livro de Enoque.
Então, a formação do cânon sagrado do Velho
Testamento sofreu todos esses repuxos para lá e para cá; nunca houve uma unanimidade abso- luta durante muito tempo e até os dias de hoje.
Não são todas as escolas que lêem o que a gente
chama de Velho Testamento e diz: “É, cada livro desses tinha que estar aqui.”
Tem alguma escolas rabínicas em Israel que
acrescenta outros livros que aqui não estão, que são livros considerados apócrifos por nós, e que para algumas dessas escolas são os melhores livros - apócrifo significa “oculto” - são aquelas escolas de natureza cabalística que acham que a revelação de Deus acontece no oculto, no escon- dido, no apócrifo.
Para eles, há uma quantidade enorme de outras
coisas que não constam no que você chama de Velho Testamento; tem salmos a mais, tem sal- mos a menos, tem alterações variadas e diver- sas; isso no Velho Testamento.
Imagine agora, se no Velho Testamento, com a
ideia de tábuas da lei, de Escritura Sagrada, do não uso do nome de Deus, da não nomeação, do cuidado de copistas e de escribas para guar- darem o sentido de todas as coisas, você ainda encontra toda essa dificuldade interpretativa e de não concordância no que é inspirado, do que deve constar e do que não deve constar, imagine no Novo Testamento onde essa nunca foi a ênfa- se de Jesus?
Não tem um apóstolo copista!
Andando, registra!
A única vez que você vê uma fala de Jesus incidir
sobre a ideia do registro escrito, é especialmen- te no evangelho de Marcos, quando a mulher vem na noite e derrama o bálsamo precioso so- bre Jesus e Judas se insurge dizendo: “Para quê se desperdiça toda essa preciosidade que podia ser vendida e o dinheiro dado aos pobres?” e Jesus responde: “Não a molesteis. Em verdade eu vos digo, que aonde quer que este evangelho seja pregado em toda parte do mundo, o que ela fez será contado para a memória dela.”
É interessante que Jesus, em uma época que o
registro era tudo, era cultuado, a ponto de que Jesus diz em João, falando com os escribas e os fariseus: “Examinais as Escrituras porque jul- gais ter nelas a vida eterna”. Era uma tentativa de debulhar para ir ao mistério filológico da re- velação divina.
Examinais as Escrituras julgando com isso obter
ou conhecer, adquirir a vida eterna, e Jesus diz: “São elas mesmas que dão testemunho de mim.”
Ele não diz que elas são a palavra de Deus, ele
diz que há um testemunho de Deus viajando por toda a Escritura dos judeus, se eles quisessem ver eles veriam, e o testemunho era acerca dele que era a Palavra.
Agora, veja, “examinais”, ele está falando com
aqueles que escreviam tudo, mas quando se tra- ta do evangelho, no caso da mulher que fez aque- le desperdício de bálsamo sobre Ele, com a obs- tinação e reclamação de Judas, ele diz: “Aonde quer que este evangelho seja contado”.
A primeira ênfase dele não foi nem “escrita”
nem “lida”,mas onde quer que seja “contado”. O Evangelho que Jesus estava entregando era uma narrativa para continuar a ser uma narrativa para sempre, com a grande força de que eles tinham que internalizar aquela palavra e onde quer que chegassem a nar- rassem.
E ele inclui naquele caso, que é o único caso em
que ele diz, não pode faltar em nenhum evan- gelho e nenhum anúncio “aonde quer que este Evangelho do reino for contado, for narrado, for pregado, isto que ela fez vai ser anunciado”; mas vejam como a ênfase não era no escriba que es- creve, é no ser que guarda no coração e na me- mória, que internaliza; ele é radical na ideia que naquele dia os mesmos mandamentos não esta- rão escritos em tábuas, não estarão escritos em livros, estarão escritos nos corações, que era o que Deus tinha dito a Jeremias e tinha repetido a Ezequiel, e Jesus repete a mesma tradição, aon- de for contado aonde for pregado, aonde for nar- rado, porque vai estar inscrito no coração e será proclamado.
Fora a isso você não encontra nenhuma afirma-
ção de Jesus acerca disso, exceto João, falando por ele mesmo, quando ele diz porque ele escre- veu o que a gente chama de evangelho de João, que de fato é uma grande mensagem, uma men- sagem premiada por sete grandes milagres e cada um desses milagres se transforma em um aplicativo da mensagem de Jesus.
O milagre de transformar água em vinho com a
talhas religiosas do templo e logo depois ele ex- pulsa vendilhões do templo, é uma metáfora ex- traordinária de como ele tinha vindo trazer não a religião das liturgias mortas, mas das alegrias, do transformar água em vinho nas talhas de pe- dra.
E você vem com o capítulo 3, do Nicodemos,
como se nasce de novo, e toda a conversa dele para ilustrar aquele pensamento até o capítulo 4 quando acontece o episódio da água, da sede, da samaritana, e a conversa é sobre o significado existencial do evangelho, da água da vida.
O capítulo 5 com o paralítico de Betesda; ele
cura o homem e toda conversa que decorre dalí tem haver com aquilo que aquela cura tinha ilus- trado sobre obediência, sobre levantar e andar, sobre não pecar contra a consciência adquirida para que não aconteça coisa pior.
Depois vem a multiplicação de pães e de peixes,
e a metáfora ilustra o “eu sou o pão da vida”, que é o que Ele fala a respeito disso recorrentemen- te.
No capítulo 7 de João tem a festa dos taberná-
culos e o sacerdote jogando água no cântaro de ouro da esquina do altar e Jesus cita Ezequiel e levanta na esquina do altar e diz, como diz a Es- critura: “Quem tem sede vem a mim e beba”, en- tão prega Ezequiel, fazendo aplicativo acerca do evangelho e do Espírito Santo que receberiam aqueles que nele cressem.
No capítulo 8, a prostituta adúltera que será
apedrejada dá todo o ensejo para a conversa so- bre a piedade mentirosa transformada em ódio homicida.
No capítulo 9, o cego de nascença, se transfor-
ma na luz do mundo e a história inteira tem ha- ver com luz e saber e discernir. O capítulo 10, do bom pastor, todo o aplicativo é a respeito dessa consequência de quem é o pas- tor, quem é o enganador, quem é o lobo, o que pode acontecer se você não tiver discernimento.
Como no capítulo 11, a ressurreição de Lázaro,
“eu sou a ressurreição e a vida” e o que dai vem, tudo está ligado com o que o poder da ressurrei- ção provoca para a vida e na intenção de não se deixar vivo quem consegue ressuscitar mortos.
Capítulo 12, o que pode acontecer com aquele
que foi filho do milagre, como Lázaro, e todos agora querem matá-lo. No capitulo 13, ele lavando os pés aos seus discí- pulos, e ele diz: “compreendeis o que eu vos fiz?”
Capítulo 14 em diante tudo tem haver com o “eu
vou partir.”
Capítulo 15, “ Vocês só vão sobreviver vincula-
dos a mim”.
Capítulo 16, “Não se sintam órfãos, eu vou en-
viar o Espírito Santo.” Capítulo 17, “ eu intercederei por vocês para que vocês sejam um, para que vocês aprendam que o único testemunho de poder da história humana é que vocês tenham amor uns pelos outros”.
Capítulo 18, narrativas finais, o aprisionamento,
a tortura e a morte, e então a ressurreição dos mortos.
Então, o Evangelho de João é uma grande men-
sagem, sem nenhuma preocupação narrativa do ponto de vista da cronologia de Jesus, mas ele mesmo conclui dizendo: “Estas foram algumas coisas que Jesus fez, que eu transcrevi com um objetivo de lhes passar uma mensagem, para que saibais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em seu nome.”
No entanto, se tudo que Jesus fez e ensinou fosse
escrito em livros, para João era uma missão im- possível; ser o historiador de Jesus, se tudo que Jesus ensinou fosse transcrito, nem no mundo inteiro caberiam os livros, pois teria que se es- crever sobre a vida dos milhões de seres huma- nos que ele afetou. Então Jesus sobe aos céus e depois o pentecos- tes aconteceu, e os discípulos deveriam sair para pregar o evangelho mas não fazem isso, e co- meça a narrativa do Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, companheiro de Paulo, que entra em Atos 16, dirigindo-se de Trôade indo para Bitínia, mas o Espírito não permitiu então mudaram o trajeto, e Lucas diz pela primeira vez: “Então nós partimos”, usando o plural pela primeira vez na narrativa de Atos.
Daí em diante Lucas vira testemunha ocular, e
posteriormente escreve seu evangelho.
Paulo, a primeira coisa que escreve é a primei-
ra carta aos Tessalonicenses, que foi um dos pri- meiros grupos que ele visitou e para o qual pre- gou, e querendo fortalecê-los na fé, ele mandou uma carta em um período em que todo cristão cria que Jesus ia voltar em sua geração, por isso a primeira epístola de Paulo é tão cheia dessa expectativa, da volta de Jesus para aqueles dias e para aquela hora, pois todos viviam com essa ex- pectativa intensa de que Jesus voltaria nos seus dias. Mas Jerusalém foi destruída, o povo foi disperso, o templo foi demolido, os apóstolos morreram, e bateu uma depressividade extraordinária na igreja, uma sensação de derrota absoluta, e Flá- vio Josefus - um grande historiador da história humana - decidiu contar toda a história dos he- breus escrevendo-a em Grego para acesso em um ambiente Greco-Romano; e ele é responsa- bilizado por ter sido um dos maiores introduto- res do nome de um certo Cresto, que na trans- literação foi errado, de um certo Cristo, que ele diz que viveu entre nós e narra, em um parágra- fo curto, sobre esse certo Cresto e seus discípu- los e a certeza que eles tinham de que Ele havia ressuscitado dentre os mortos e que essa fé não parava de crescer.
E então, no século II, o último texto a ser incor-
porado, o livro do Apocalipse, e ainda assim não foi incorporado de cara, ao que os cristãos que vieram depois dos primeiros apóstolos consi- deravam texto inspirado, ouve muito disputa do primeiro século, porque havia muita filosofia gnóstica, batalhando contra o texto que alguns já tinham produzido, a saber, Cartas de Paulo, o evangelho de Marcos,Mateus,Lucas,João,e Apocalipse. Mas havia a primeira epístola universal de João, a segunda e a terceira, e o bilhete de Paulo a Fi- lemon; tudo isso, a maioria queria deixar de fora.
A terceira epístola de João ninguém compreen-
dia porque estava alí.
E estava por uma circunstância, porque as pes-
soas precisavam que houvesse uma bronca sa- grada, como João o faz, dizendo daquele indiví- duo que estava no meio deles, criando divisão, então foi usado para que em toda divisão aquilo fosse aplicado, mas era uma circunstância ecle- siológica mais do que uma revelação divina.
Por isso havia grupos que diziam que não deve-
ria estar ali.
Ou a segunda epístola de João, que muitos acha-
vam que poderia ficar de fora.
A primeira epístola não, pois convergia para um
fato de que Deus era amor, verdade, justiça e luz, e um sermão para os gnósticos, especialmente porque havia duas grandes versões gnósticas e uma delas não queria que a luz fosse equivalente à justiça, verdade e pureza; queria que a luz fosse apenas um conhecimento desvinculado da prá- tica da verdade e da justiça no mundo presente.
Então, para combater os gnósticos João era ma-
ravilhoso.
Houve dúvidas e dúvidas em alguns grupos so-
bre se deixavam a carta aos Romanos, aos Gála- tas porque espantava aos judeus; eram aqueles Cristãos que queriam fazer média com o judaís- mo e achavam que Gálatas não devia constar em um corpo de Escritura cristão.
A epístola aos Hebreus foi questionada porque
desconstruía o templo e o sacerdócio, tornavam poeira, e havia grupos cristãos judaizantes que achavam que aquilo não devia ser jamais uma Escritura cristã, porque ela desconstruía total- mente o judaísmo.
Assim como por exemplo, durante a reforma
protestante Lutero queria deixar Tiago do lado de fora porque não compreendia bem; também o Apocalipse, assim também havia aqueles que no primeiro século não entendiam o que Paulo dizia aos Romanos, não entendiam a ponto de Pedro ter que dizer depois em suas cartas que havia certas coisas que Paulo escrevia que eram difíceis de entender, as quais, os instáveis e cor- rompidos de mente deturpam para própria per- dição deles. Escrevendo aos Romanos Paulo usa um argu- mento retórico, ele coloca negações na boca do inimigo fabricado para ele responder de modo retórico os argumentos que vinham dali, de que Paulo era um concessivo.
E assim por diante, uma quantidade enorme.
Você conseguiria conceber discussão a respeito da eliminação desses textos?
Estavam sendo discutidos pelos pais da igreja,
homens santos, da patrística, gente cultuada e reverenciada na história da igreja.
Alguns dos chamados grandes heréges da his-
tória da igreja foram os primeiros a propor um cânon do Novo Testamento uniforme, tão uni- forme quanto esse que está aí de 27 livros.
Nomes como Marcião, que é completamente in-
tolerado pela igreja, e foi o que disse: “Esses es- tão de bom tamanho, os 4 evangelhos”.
Outro foi Orígenes, abominado, mas chegou com
os 27 que estão aí hoje; chegou à conclusão de que eles faziam sentido, de que deveriam estar.
Mas, boa parte do que está nessa Bíblia veio do
édito de Constantino.
E alguém diz: “deve ter sido Deus que trouxe do
céu”.
Não, foi Constantino que mandou e ele pagou
caro para chegarem a uma conclusão, onde o que prevaleceu foram os escribas de preferên- cia hebraica do texto do Velho Testamento e os que eram de preferência do texto de natureza grega do Novo Testamento, com a composição de Marcião.
O que vem daí para frente, como por exemplo
Papa Clemente, mostra como a Escritura não tinha valor algum, ele se dedicava mais às deu- tero-escrituras, as coisas que iam sendo produ- zidas, muitas vezes produzidas pelo pensamento doutrinário da igreja do que pela Escritura. Ele sabia algumas citações de Jesus e algumas de Paulo, achava Paulo importante, que deveria fi- car na Escritura por causa da importância dele, de Jesus ele sabia citar algumas verdades, mas não tinha muito conhecimento de muitas ou- tras coisas.
Isso é uma ilustração dos tempos e das épocas.
Por isso quando você chega em um cara com o
volume e a densidade de compreensão de pen- samento teológico e filosófico como Agostinho, parece que você encontra com um sol no meio daquela estupidez teológica e de conhecimento bíblico de todos os lados.
Tomás de Aquino nadou de braçada no meio da-
quele idade das trevas da loucura total.
Mas antes, era apenas confusão; e o significado e
a interpretação de Jesus tinha que caber em uma espécie de conciliação a partir da mediação e da metodologia hermenêutica de Aristóteles, que a igreja acabou adotando. O Velho e o Novo Testamento tinham que ser ob- jeto de uma conciliação, de uma harmonização, não importasse qual fosse a ginástica para se chegar lá. Foi por isso que antes disso, surgiram aquelas correntes como a que Orígenes repre- sentava que dizia que havia uma discrepância irreconciliável entre o Deus do Velho e do Novo Testamento, e ainda mais, que Jesus tinha sido enviado para acabar com o Deus do Velho Tes- tamento porque ele não era Deus, e foi por causa disso entre outras coisas que ele vira herege.
O que eu quero é mostrar que o que você tem
como óbvio, não é tão óbvio assim, não veio pron- to de lugar nenhum, e nem hoje essa Bíblia é a mesma para todos os cristãos.
Os cristãos da igreja russa, tem textos e subtra-
em textos do que eles chamam Bíblia.
A mesma coisa para os grupos cópticos no Egito,
tem coisas que subtraem e coisas que acrescen- tam.
Em várias outras ocasiões na história humana,
a composição do que você chama Bíblia variou, com presenças, ausências, acréscimos e retira- das, de modo que o que você, na sua santa re- verência, chama de Bíblia Sagrada, e está certo, porque sagrado é aquilo que o homem crê e se- para do uso comum, mas essa Bíblia Sagrada se transformou, na visão poética e imaginária dos cristãos, em uma coisa que veio voando e caiu na terra, e nós pensamos que foi assim, como uma mágica.
Mas não, foram inúmeras disputas.
Alguns dos livros entraram em preferência e
outros em censura, por causa de que filosofia grega estava mais presente subjacentemente na comunidade e como, na maioria das vezes, era o gnosticismo de mistério ou gnosticismo de as- cetismo, ou gnosticismo dualista, que diz que o que se faz no corpo não tem consequência sobre a pureza do espírito, então dependendo do gnos- ticismo prevalente, algumas cartas de Paulo fo- ram suspensas por um tempo daquela comuni- dade, assim como por exemplo a carta de Paulo aos Laodissenses mencionada na carta aos Co- lossenses, ela foi recriada um século depois, uma pseudo epígrafe em nome de Paulo, bastante fle- xível ao pensamento gnóstico, diferente da carta aos colossenses e da carta que Paulo enviou aos Laodissenses.
A mesma coisa você pode dizer dos cristãos ju-
daizantes que queriam agradar os judeus; de- pendendo da conjuntura, queriam manter certo tipo de informação; como também houve aque- les que quiseram incluir textos do segundo sé- culo e início do terceiro século, que tinham sido produzidos por seitas cristãs gnósticas no Egito; ou na Àsia menor.
Era interesse, não inspiração divina.
Eu acho interessante que os dois grandes here-
ges da história da igreja, foram os que trouxeram a maior contribuição para a formação do cânon sagrado do Novo Testamento, que é o que nós te- mos.
Marcião e Orígenes, os dois grandes hereges
que não se pode nem mencionar.
Para mim, que sou homem do século 21, não sin-
to falta de nada; eu agradeço o fato de ter tido essa coletânia que é fruto de todas as confusões que vocês possam imaginar.
Mas conhecendo todos os livros que ficaram
de fora, de um lado e do outro e tendo estes que estão aqui, de um lado e do outro, se você per- guntar: “tem livro que se for tirado fará uma fal- ta brutal?”; eventualmente eu te digo que não, com toda a sinceridade, ninguém vai morrer por não ler Ester.
Ou por exemplo, a epístola de Judas, é uma cópia
da segunda epístola de Pedro, e é uma resenha do livro de Enoque, é uma sinopse do livro de Enoque.
Claro que por mim, nada sai.
Não está dito em segunda Pedro que o Arcanjo
Miguel quando contendia com Satanás a respei- to do corpor de Moisés, não ousou proferir con- tra Satanás juízo infamatório, antes disse: “O Se- nhor te repreenda, Satanás”, a mesma fórmula que você encontra em Zacarias?
Mas ninguém ia morrer por não saber disso,
nada disso salva a gente, nada disso perde a gente. Perguntando ao meu Pai o que ele guardaria da Bíblia se não pudesse ficar com ela, se tivesse que jogá-la fora, ele me respondeu: “Acho que, para mim, bastava o “porque Deus amou o mun- do de tal maneira, que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, o resto é texto.
O que nós temos aqui na Bíblia é a melhor ver-
são do testemunho que indica a soberania de Deus na história, trazendo e manifestando seu Filho ao mundo, com todas as suas informações importantes e essenciais a serem aplicadas no todo da existência.
Link do artigo na wikipedia sobre o Cânon do
Novo Testamento: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Desenvolvi- mento_do_c%C3%A2none_do_Novo_Testamen- to
Pecado, Expiação e Salvação como Processo: três doutrinas bíblicas, três temas bíblicos que, postos e estudados em sequência, formatam um Processo muito frequente ao longo da Bíblia - Volume 2