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Microeconomia II –

Dualidade do problema do
consumidor
O problema da minimização do gasto
Dualidade no problema do Consumidor
Até o momento, vimos que o
problema do consumidor é
maximizar sua utilidade
sujeito a uma restrição
orçamentária.
Ou seja, o consumidor irá
escolher uma cesta de
consumo que traga a maior
utilidade possível,
respeitando seu orçamento
O prob. do consumidor visto de outro ângulo
Entretanto, nós podemos pensar o problema do consumidor de outra
forma? Veremos que sim, nós podemos.
Por exemplo: uma pessoa pode estabelecer como meta passar em um
concurso. Ela pode planejar qual será o menor esforço possível para
garantir que seja aprovada em um concurso.
De forma semelhante, um consumidor pode buscar resolver, dado um
nível de preços, qual será o menor gasto possível que pode ser realizado
(esforço), para atingir um nível de utilidade mínima (passar no concurso).
Chamamos esse tipo de problema de problema de minimização do
gasto
O problema da Minimização do Gasto
O consumidor pode estar interessado em saber
qual será o gasto mínimo que ele pode realizar
para alcançar um nível de utilidade pré-definido.
Veremos que a função que mostra a quantidade
ótima de um bem que minimiza o gasto do
consumidor para que ele obtenha um nível de
utilidade específica é chamada de demanda
Hicksiana.
Da mesma forma que, a partir da demanda
marshaliana pudemos obter a função de utilidade
indireta, a partir da demanda Hicksiana
poderemos obter a função de gasto, ou função
dispêndio
Minimização do Gasto - Formalização
Dado um vetor de preços 𝑃 = 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑝3 , … , 𝑝𝑖 , qual será o nível mínimo de
gasto que o consumidor terá de gastar para atingir o nível de utilidade 𝑢?

m𝑖𝑛 𝑃𝑋
𝑠. 𝑎. 𝑢(𝑥) ≥ 𝑢
Lembre-se:
𝑋 denota uma cesta (vetor) de consumo 𝑥 = 𝑥1 , 𝑥2 , 𝑥3 , … , 𝑥𝑖
𝑃 denota o vetor de preços 𝑝 = 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑝3 , … , 𝑝𝑖
Minimização do Gasto - Formalização
Dado um vetor de preços 𝑃 = 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑝3 , … , 𝑝𝑖 , qual será o nível mínimo de
gasto que o consumidor terá de gastar para atingir o nível de utilidade 𝑢?
m𝑖𝑛 𝑃𝑋
𝑠. 𝑎. 𝑢(𝑥) ≥ 𝑢
Lembre-se:
𝑋 denota uma cesta (vetor) de consumo 𝑥 = 𝑥1 , 𝑥2 , 𝑥3 , … , 𝑥𝑖
𝑃 denota o vetor de preços 𝑝 = 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑝3 , … , 𝑝𝑖
A solução desse problema nos mostrará a cesta de consumo X =
𝑥1 , 𝑥2 , 𝑥3 , … , 𝑥𝑖 que minimiza o gasto do consumidor, quando os preços são
P, para atingir a utilidade 𝑢
Minimização do Gasto – 2 bens
Dado um vetor de preços 𝑃 = 𝑝1 , 𝑝2 , qual será o nível mínimo de gasto que
o consumidor terá de gastar para atingir o nível de utilidade 𝑢?
m𝑖𝑛 𝑝1 𝑥1 + 𝑝2 𝑥2
𝑠. 𝑎. 𝑢(𝑥1 , 𝑥2 ) ≥ 𝑢ത
Lembre-se:
𝑋 denota uma cesta (vetor) de consumo 𝑥 = 𝑥1 , 𝑥2
𝑃 denota o vetor de preços 𝑝 = 𝑝1 , 𝑝2
A solução desse problema nos mostrará a cesta de consumo X = 𝑥1 , 𝑥2 que
minimiza o gasto do consumidor, quando os preços são P, para atingir a
utilidade 𝑢
Antes de prosseguir.... Uma questão
Quais são as variáveis exógenas e quais as variáveis endógenas desse
problema?

• Preços: Exógena
• Utilidade: Exógena
• Cesta de consumo: Endógena
Antes de prosseguir – Vamos relembrar...
Maximização da utilidade

Max u ( x1 , x2 ) Sujeito a p1 x1 + p2 x2 = m
x1 ,x2

X1 = X1(p1,p2,m) = d1(p1,p2,U)
As funções de demanda
X2 = X2(p1,p2,m) = d2(p1,p2,U) marshaliana ou walrasiana

Minimização do gasto

Min p1 x1 + p2 x2 Sujeito a u( x1 , x2 ) = u
x1 ,x2

X1 = X1(p1,p2,U) = h1(p1,p2,U)
As funções de demanda
X2 = X2(p1,p2,U) = h2(p1,p2,U) compensada ou de Hicksiana.
Problema da Minimização do Gasto - solução
1. Monte o Lagrangeano:
ℒ 𝑋, 𝜆 = 𝑝1 𝑥1 + 𝑝2 𝑥2 − 𝜆(𝑢 𝑥1 , 𝑥2 − 𝑢ത )
2. Obtenha as condições de 1ª Ordem:
𝜕ℒ 𝜕𝑢
= 𝑝1 − 𝜆 =0
𝜕𝑥1 𝜕𝑥1
𝜕ℒ 𝜕𝑢
= 𝑝2 − 𝜆 =0
𝜕𝑥2 𝜕𝑥2
𝜕ℒ
= 𝑢ത − 𝑢(𝑥1 , 𝑥2 ) = 0
𝜕𝜆
Problema da Minimização do Gasto - solução
3) Resolvendo o problema notamos uma semelhança com o problema de
maximização da utilidade do consumidor
𝑝1 𝑝2 𝑈𝑀𝑔1 𝑝1
𝜆= = ⟺ =
𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝑈𝑀𝑔2 𝑝2
𝜕𝑥1 𝜕𝑥2

Vejamos...
Fonte: http://robguena.fearp.usp.br/anpec/dualidade.pdf
Fonte: http://robguena.fearp.usp.br/anpec/dualidade.pdf
Fonte: http://robguena.fearp.usp.br/anpec/dualidade.pdf
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Problema da Minimização do Gasto - Solução
A solução do problema de minimização também gera como resultado uma cesta
ótima. Esta cesta será encontrada no ponto de tangência entre o nível de utilidade
desejado e a inclinação da reta que chamaremos agora de isocusto ou isogasto
(𝑝1 𝑥1 + 𝑝2 𝑥2 ).
ℎ1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢 e ℎ2 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢 são as funções que geram as quantidades ótimas de
bens para o problema de minimização de gastos. Elas são chamadas funções de
demanda hicksianas dos bens 1 e 2.
É uma função de demanda por que retorna uma cesta de consumo. Entretanto,
difere da demanda marshalliana porque enquanto a demanda marshalliana toma
como argumento os preços e a renda, a demanda hicksiana toma como argumento
os preços e a utilidade.
Problema da Minimização do Gasto - Solução
Em outras palavras, ℎ1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢 e 𝑥1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑚 são respostas diferentes, mas
para problemas muito parecidos.
A função 𝑥1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑚 responde a questão: “Qual é a cesta que maximiza
minha utilidade quando os preços são 𝑝1 , 𝑝2 e a renda é 𝑚”?
A função ℎ1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢 responde a questão: “Qual é a cesta que minimiza o
custo de obter a utilidade 𝑢 quando os preços são 𝑝1 , 𝑝2 ?”
Adicionalmente, conforme vimos na solução algébrica e gráfica, no equilíbrio
as duas cestas são iguais.
Problema da Minimização do Gasto - Solução
No equilíbrio:
𝑥1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑚 = ℎ1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢 = 𝑥1∗
Ou seja, no equilíbrio, a cesta que maximiza a utilidade do consumidor dado a
renda m aos preços p1 e p2 é a mesma cesta que minimiza o custo do
consumidor para alcançar a utilidade u naquele nível de preços¹
¹ Fora do equilíbrio essa regra não se aplica

Por esse motivo, chamamos esse problema de Problema Dual.


Dualidade no problema do consumidor

Esse problema é chamado de dual, porque a restrição ao problema de


maximização da utilidade (orçamento) é justamente a função objetivo do
problema de minimização de custo. Ao mesmo tempo, a restrição ao problema
de minimização de custo (utilidade a ser alcançada) é justamente a função
objetivo do problema de maximização da utilidade
Função Gasto (Dispêndio)
Da mesma forma que, a partir da demanda marshaliana pudemos obter a
função de utilidade indireta, a partir da demanda Hicksiana poderemos obter
a função de gasto, ou função dispêndio
A função gasto representa o gasto mínimo para adquirir um determinado nível
de utilidade quando variam os preços. Ou seja, representa o gasto mínimo
que deve realizar um consumidor para alcançar um determinado nível de
utilidade dado os preços dos bens.
𝐺 = 𝑝1 𝑥1∗ + 𝑝2 𝑥2∗
G(p1,p2,U) = p1 h1 (p1,p2,U) + p2 h2 (p1,p2,U)
Função Gasto (Dispêndio)
Vamos relembrar... A função utilidade indireta era obtida inserindo a demanda
marshalliana na função utilidade;
De forma semelhante, a função gasto é obtida inserindo a demanda hicksiana
na equação do gasto.

𝐺 = 𝑝1 𝑥1∗ + 𝑝2 𝑥2∗
G(p1,p2,U) = p1 h1 (p1,p2,U) + p2 h2 (p1,p2,U)
Problema da Minimização do Gasto - Exemplo
Suponha uma função utilidade do tipo Cobb-Douglas 𝑢 𝑥1 , 𝑥2 = 𝑥1 𝑥2 .
Obtenha as demandas Hicksianas para o bem 1 e 2, que minimizam o gasto do
consumidor para que ele atinja a utilidade 𝑢ത .
𝑚𝑖𝑛𝑥1 ,𝑥2 𝑝1 𝑥1 + 𝑝2 𝑥2 𝑠. 𝑎. 𝑥1 𝑥2 ≥ 𝑢ത
1º Passo: Monte o Lagrangiano
ℒ 𝑥1 , 𝑥2 , 𝜆 = 𝑝1 𝑥1 + 𝑝2 𝑥2 − 𝜆(𝑥1 𝑥2 − 𝑢ത )
2º Passo: Obtenha as condições de 4º Passo: Calculando as demandas Hicksiana
primeira ordem: 𝑝1 𝑝2 𝑝1 𝑥1
𝜆= = ⇒ 𝑥2 =
𝜕ℒ 𝑝1
𝑥2 𝑥1 𝑝2
(1) = 𝑝1 − 𝜆𝑥2 = 0 ⇒ 𝜆 = 𝑝1 𝑥1
𝜕𝑥1 𝑥2
𝑢 − 𝑥1 𝑥2 = 0 ⇒ 𝑥1 =𝑢
𝜕ℒ 𝑝2
𝑝2
(2) = 𝑝2 − 𝜆𝑥1 = 0 ⇒ 𝜆 =
𝜕𝑥2 𝑥1
𝑢𝑝2
𝜕ℒ 𝑥1∗ =
(3) = 𝑢 − 𝑥1 𝑥2 = 0 𝑝1
𝜕𝜆

Por simetria... Temos que 𝑥2∗ :

𝑢𝑝1
𝑥2∗ =
𝑝2
Função do Gasto (dispêndio)
5º Passo: Para obter a função gasto, basta substituir as demandas hicksianas
na equação do orçamento:
𝐺 = 𝑝1 ℎ1 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑈 + 𝑝2 ℎ2 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑈
𝐺 = 𝑝1 𝑥1∗ + 𝑝2 𝑥2∗

𝑢𝑝2 𝑢𝑝1 1

1 1

1
𝐺 = 𝑝1 + 𝑝2 = 𝑝1 𝑢𝑝2 2 𝑝1 2 + 𝑝2 𝑢𝑝1 2 𝑝2 2
𝑝1 𝑝2
1 1
𝐺= 𝑢𝑝1 𝑝2 2 + 𝑢𝑝1 𝑝2 2
𝑮 = 𝟐 𝒖𝒑𝟏 𝒑𝟐
Dualidade e função Gasto
A percepção da dualidade no problema do consumidor nos oferece algumas
vantagens.
A primeira delas é:
𝑣 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑚 = 𝑣 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑔(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢) = 𝑢
De forma similar:
𝑔 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢 = 𝑔 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑣(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑚) = 𝑚
O máximo de utilidade que pode ser obtido com a renda 𝑚 é justamente o
gasto mínimo necessário para atingir aquele nível de utilidade 𝑢.
Como isso pode me ajudar?
Dualidade e função Gasto
Suponha uma função utilidade do tipo Cobb-Douglas 𝑢 𝑥1 , 𝑥2 = 𝑥1 𝑥2 .
Obtenha as demandas Hicksianas para o bem 1 e 2, que minimizam o gasto do
consumidor para que ele atinja a utilidade 𝑢ത .
Do slide anterior, tenho que:
𝑣 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑔(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢) = 𝑢
Da aula anterior, tenho que:
1 𝑚2
𝑣=
4 𝑝1 𝑝2
Dualidade e função Gasto
𝑣 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑚 = 𝑣 𝑝1 , 𝑝2 , 𝑔(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢) = 𝑢
1 𝑚2 1 𝑔(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢)2
𝑣= = =𝑢
4 𝑝1 𝑝2 4 𝑝1 𝑝2
1 𝑔(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢)2
= 𝑢 ⇒ 𝑔(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢)2 = 4𝑢
4 𝑝1 𝑝2
𝑔(𝑝1 , 𝑝2 , 𝑢) = 2 𝑢𝑝1 𝑝2

Utilizando as propriedades, consigo chegar mto mais facilmente à função gasto


Não decrescente em relação aos preços.

𝝏𝑮
>𝟎
𝝏𝒑𝒊
Como pelo menos um bem deverá ser adquirido, a função gasto não pode ser
decrescente em p e será estritamente crescente em, pelo menos um preço.
Maiores preços significam que o consumidor deverá realizar um maior gasto
para obter a mesma utilidade. Neste sentido, os preços são uma medida do
que ‘custa’ o bem-estar.
Homogênea de grau 1 relação aos preços:

g(αp1, αp2, u) = α g(p1, p2, u),α >0

Se os preços de todos os produtos são multiplicados por um mesmo


valor, o gasto necessário para alcançar a mesma utilidade deve ser
multiplicado por esse valor.
Crescente em relação à utilidade

𝜕𝐺
>0
𝜕𝑢
A função gasto é crescente em u. Dados os preços, maior utilidade requer mais
gasto.
A teoria da utilidade ordinal prevê que a relação entre a variação do gasto e
utilidade seja positivo; mas nada confirma que essa relação seja crescente ou
decrescente, o qual dependerá do formato da função de utilidade.
A única restrição é que a transformação monotônica (monotonicidade) deve
ser crescente.
Côncava em relação aos preços
𝜕2𝐺
2 <0
𝜕𝑝𝑖
Suponha que um preço aumenta. O consumidor
poderia manter sua utilidade mantendo a mesma
cesta de bens anterior à subida dos preços e o
gasto aumentará em (𝑝1 − 𝑝0 ). ℎ𝑖 𝑝, 𝑢0 .
Mas ele poderia fazer melhor se fosse minimizador
do gasto= gastar menos.
Por tanto, o gasto aumenta menos que
proporcionalmente respeito da variação de
preços.
A possibilidade de substituição de bens sugere que
a função gasto é côncava em p.
Lema de Shephard
𝜕𝐺(𝑝, 𝑢)
= ℎ𝑖 𝑝, 𝑢
𝜕𝑝𝑖

Ao derivarmos a função gasto pelo


preço do bem i obtemos a
demanda hicksiana por esse bem

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