Você está na página 1de 35

Profa.

Camila Penha Abreu Souza


Profa. Vera Lúcia Maciel Silva

Parte I
CAMILA PENHA ABREU SOUZA
VERA LÚCIA MACIEL SILVA

Conceitos em Biodiversidade

São Luís

2015
Governador do Estado do Maranhão Edição
FLÁVIO DINO DE CASTRO E COSTA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA
NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO - UEMANET
Reitor da UEMA
PROF. GUSTAVO PEREIRA DA COSTA Coordenadora do UemaNet
PROFª. ILKA MÁRCIA RIBEIRO DE SOUSA SERRA
Vice-reitor da UEMA
PROF. WALTER CANALES SANT’ANA Coordenadora Pedagógica de Designer Educacional
PROFª. SANNYA FERNANDA NUNES RODRIGUES
Pró-reitor de Administração
Coordenadora Administrativa de Designer Educacional
PROF. GILSON MARTINS MENDONÇA
CRISTIANE COSTA PEIXOTO
Pró-reitor de Extensão e Assuntos Estudantis Coordenadora do Curso de Especialização em Ensino de Genética
PROF. PORFÍRIO CANDANEDO GUERRA PROFª. LIGIA TCHAICKA

Pró-reitora de Graduação Professoras Conteudistas


PROFª. ANDREA DE ARAÚJO CAMILA PENHA ABREU SOUZA
VERA LÚCIA MACIEL SILVA
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação
PROF. MARCELO CHECHE GALVES Designer Educacional
CLECIA ASSUNÇÃO SILVA LIMA
Pró-reitor de Planejamento
PROF. ANTÔNIO ROBERTO COELHO SERRRA Revisoras de Linguagem
LÊDA MARIA SOUSA TÔRRES DE OLIVEIRA
Diretora do Centro de Ciências Exatas e Naturais - CECEN LUCIRENE FERREIRA LOPES
PROFª. ANA LÚCIA CUNHA DUARTE
Diagramadores
JOSIMAR DE JESUS COSTA ALMEIDA
LUIS MACARTNEY SEREJO DOS SANTOS
TONHO LEMOS MARTINS

Designers Gráficos
ANNIK AZEVEDO
HELAYNY FARIAS
RÔMULO SANTOS COELHO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO


Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet
Campus Universitário Paulo VI - São Luís - MA
Fone-fax: (98) 2106-8970
http://www.uema.br
http://www.uemanet.uema.br

CENTRAL DE ATENDIMENTO
http://ava.uemanet.uema.br

Proibida a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem a


prévia autorização desta instituição.

Camila Penha Abreu Souza

Conceitos em biodiversidade/ Camila Penha Abreu


Souza, Vera Lúcia Maciel Silva. – São Luis: UemaNet, 2015.

71 p.

ISBN: 978-85-8462-011-1

1. Biodiversidade. 2. Genética. 3. Espécies. 4.


Biodiversidade ecológica. I. Silva, Vera Lúcia Maciel. II.Título

CDU: 574.1
ÍCONES

Orientação para estudo

Ao longo deste fascículo serão encontrados alguns ícones utilizados


para facilitar a comunicação com você.

Saiba o que cada um significa.

ATIVIDADES GLOSSÁRIO DICA DE SITE

SAIBA MAIS SUGESTÃO DE LEITURA ATENÇÃO


SUMÁRIO

PARTE 1

UNIDADE 1 - Introdução ao Estudo da Diversidade Biológica ........................................ 13

1.1 Biodiversidade: um Panorama ..................................................................................................... 13


1.2 O que é Biodiversidade? ................................................................................................................. 14
1.2.1 Diversidade Genética ......................................................................................................... 15
1.2.2 Diversidade de Espécies .................................................................................................... 17
1.2.2.1 Quantas Espécies Existem no Mundo? .............................................................. 19
1.2.3 Diversidade Ecológica ........................................................................................................ 20
1.3 Biomas Brasileiros .............................................................................................................................. 20
1.4 Áreas Prioritárias para Conservação ........................................................................................... 26
Resumo ........................................................................................................................................................ 28
Atividades ................................................................................................................................................... 28
Referências ................................................................................................................................................. 29

UNIDADE 2 - Valor da Biodiversidade e Perda da Biodiversidade .......................... 31

2.1 O valor da Biodiversidade ............................................................................................................. 32


2.2 O que são Serviços Ambientais? ................................................................................................. 35
2.3 Pagamentos por Serviços Ambientais ...................................................................................... 36
2.4 Perda da Biodiversidade ................................................................................................................ 38
Resumo ....................................................................................................................................................... 40
Atividades ................................................................................................................................................... 40
Referências ................................................................................................................................................. 41
Caro estudante,

A disciplina “Conceitos em Biodiversidade” apresenta temas atuais sobre


a Diversidade Biológica, essenciais para o desenvolvimento de um
pensamento crítico para discutir, dentro do contexto atual em que a nossa
sociedade se encontra, as questões envolvidas com a conservação da
biodiversidade.

Na UNIDADE 1 - será apresentado um panorama sobre a biodiversidade,


discutiremos a origem do termo, sua importância, os conceitos que
permeiam esse tema a nível genético, de espécies e de ecossistemas.

Na UNIDADE 2 - veremos a principais causas para a perda da biodiversidade,


o valor direto e indireto da diversidade biológica, e apresentaremos a
Biologia da Conservação, seus objetivos e área de atuação.

Na UNIDADE 3 - estudaremos os principais temas no campo da biologia


da conservação, tais como espécies invasoras, fragmentação de habitats,
lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção e veremos projetos de
conservação da biodiversidade brasileira.

Na UNIDADE 4 - você poderá conhecer algumas aplicações da genética e


da biologia molecular no estudo da diversidade biológica.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
DIVERSIDADE BIOLÓGICA
Objetivos

Compreender os diversos conceitos de Biodiversidade;


Reconhecer os vários níveis de Diversidade Biológica;
Identificar os principais Biomas brasileiros e sua impor-
tância;
Reconhecer os Hotspots de Biodiversidade e sua
importância.

1.1 Biodiversidade: um Panorama

O termo “Biodiversidade” é muito popular na atualidade,


amplamente utilizado na mídia, no meio científico e nos livros
didáticos utilizados em sala de aula. Entretanto, observa-se que a
sua definição não é clara e geralmente é utilizada como sinônimo
de riqueza de espécies.

Esta unidade revisita, em termos gerais, alguns dos temas principais


a serem encontrados no campo da Diversidade Biológica, como o seu
surgimento e conceito. O objetivo é fornecer um panorama sobre
Unidade
esse tema na atualidade e de que forma ele pode ser trabalhado em
sala de aula.
1.2 O que é Biodiversidade?

Figura 1 - O que é Biodiversidade

biodiversidade ?
que que e
isso ?

Fonte: Adaptada do site http://www.ciencias.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=2217&evento=1

Essa charge foi colocada para você pensar sobre o conceito que
possui de Biodiversidade e gerar um pensamento crítico sobre esse
conceito. Apesar de parecer senso comum o conceito de Biodiversidade
percebemos que existe uma confusão de sentidos que são dados a essa
palavra, talvez porque o seu uso é recente. A palavra “Biodiversidade”
é uma contração de Diversidade Biológica. Esse termo foi utilizado
pela primeira vez na comunidade científica por Thomas Lovejoy em
É importante que você
conheça a legislação, as 1980, no prefácio do livro Conservation Biology, enquanto que a palavra
normas e as regulamen-
tações sobre o tema Biodiversidade foi idealizada por Walter G. Rosen em 1985, durante o
Diversidade Biológica. planejamento do Fórum Americano sobre a Diversidade Biológica (em
Para isso, sugerimos que
você entre no site www. Washington) e apareceu pela primeira vez em uma publicação em 1988,
mma.gov.br/biodiver-
sidade/convencao-da- quando o entomologista Edward O. Wilson usou-o no relatório desse
-diversidade-biologica
e baixe o documento mesmo fórum (BARBIERI, 2010; WILSON, 1997; World Conservation
Convenção sobre Di-
versidade Biológica Monitoring Centre, 1992).
– CDB. Esse documento
regulamenta o acordo
assinado na ECO 92 so- O termo Biodiversidade é comumente usado para descrever a quantidade,
bre a conservação da a variedade e a variabilidade dos organismos vivos. Esse uso muito amplo,
diversidade biológica,
a utilização sustentável, abrangendo muitos parâmetros diferentes, é essencialmente sinônimo
recursos genéticos, bio-
tecnologia, áreas prote- da vida na Terra, entretanto é preciso ter cuidado com o seu uso para não
gidas, entre outros.
cair no senso comum. A Convenção sobre a Diversidade Biológica,

14 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro, na ECO 92, assim
definiu o significado de Diversidade Biológica:

Diversidade biológica significa a variabilidade de


organismos vivos de todas as origens, compreendendo,
dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos
e outros ecossistemas aquáticos e os complexos
ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda
a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de
ecossistemas (BRASIL, 2000, p. 9).

Como não existe um consenso na comunidade científica, tornou-


se uma prática generalizada definir a biodiversidade em termos de
genes, espécies e ecossistemas, que correspondem aos três níveis
fundamentais e hierarquicamente relacionados de organização
biológica (BARBIERI, 2010; MARTINS & SANO, 2009). Vamos discutir
esses três níveis de diversidade?

1.2.1 Diversidade Genética

Representa a variação hereditária dentro e entre as populações de


organismos. Podemos analisar também as variações na sequência
de DNA dos quatro pares de bases, que, como componentes de
ácidos nucleicos, constituem o código genético (World Conservation
Monitoring Centre, 1992). A diversidade genética é o material bruto
sobre o qual a seleção natural atua provocando mudanças evolutivas
adaptativas (FRANKHAM et al., 2008).

O Código genético é a relação entre as sequências de bases do DNA,


as trincas do RNA mensageiro e os aminoácidos correspondentes na
proteína a ser sintetizada. Não confundir com Genoma, que compre-
ende toda informação genética de uma espécie, sendo único para
cada espécie, e Material Genético, que corresponde às sequências de
nucleotídeos que cada indivíduo possui (SILVEIRA, 2014).

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 15


Uma nova variação genética em indivíduos surge por mutações de
genes e cromossomos, e em organismos com reprodução sexuada que
pode ser transmitida através da população por recombinação. Outros
tipos de diversidade genética podem ser identificados em todos os
Mutação: Bom ou
ruim? Mutação são níveis de organização, incluindo a quantidade de DNA por célula,
mudanças permanentes
nas sequências de estrutura e número dos cromossomos.
bases nitrogenadas
de um gene ou de um
cromossomo. Constitui Esse pool da variação genética presente dentro de uma população
a base da diversidade intercruzante pode sofrer a ação da seleção natural (Figura 2).
genética, fornecendo
matéria-prima para Diferentes resultados de sobrevivência mudam a frequência de
a evolução (SOARES
NETTO & MENCK, 2012) genes dentro desse conjunto, e isso é equivalente a evolução da
população.
Figura 2 - O conjunto de genes de uma
espécie inclui todos os genes na população
A population

Gene Pool

Fonte: Adaptada do site http://www.windows2universe.org/


earth/Life/genetics_microevolution.html

Todos os genes do mundo não fazem uma contribuição idêntica


à diversidade genética total. Os genes que controlam processos
bioquímicos fundamentais são fortemente conservados entre diferentes
táxons e geralmente mostram uma variação pequena; o inverso é
verdadeiro para outros genes. Uma grande parte do DNA não é expresso
e acaba acumulando muito mais polimorfismos em comparação às
regiões mais conservadas do DNA.

A diversidade genética pode ser utilizada para estudos de identifi-


cação de espécies, fluxo gênico, conservação, relações filogenéticas
entre outros.

16 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


1.2.2 Diversidade de Espécies

A Biodiversidade é muito comumente utilizada como sinônimo de diversidade


de espécies, em particular de “riqueza de espécies”, que corresponde ao
número de espécies em um sítio ou habitat. Mas qual o significado de espécie?
Vamos observar as borboletas da Figura 3, em um primeiro momento,
quantas espécies de borboletas podemos dizer que existem?

Figura 3 - Astraptes fulgerator.

Fonte: http://www.ontariogenomics.ca/JosephRossano/bold-CostaRica-bol-26

Levando em consideração somente a morfologia das borboletas é


justificável classificá-las em uma única espécie: Astraptes fulgerator. Essa
espécie de borboleta neotropical é comum na Costa Rica e foi descrita
pela primeira vez em 1775. Porém, estudos atuais de morfologia, ecologia
e genética revelaram que A. fulgerator é um complexo com pelo menos
10 espécies nesta região, que apresentam distintas lagartas (Figura 4),
cada qual com preferência por determinada planta na alimentação e
ecossistemas diferenciados (HEBERT et al., 2004).
Figura 4 - Lagartas de 10 espécies do complexo A. fulgerator. Os nomes provisórios refletem
a principal planta utilizada na alimentação e, em alguns casos, um caractere de cor do adulto

Fonte: Extraído de Hebert et al., 2004

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 17


Esse é um exemplo de “espécies crípticas”, espécies que são morfo-
logicamente idênticas ou muito parecidas, mas que constituem um
complexo de espécies.

As borboletas da Figura 5 representam um exemplo oposto ao que


observamos em Astraptes fulgerator. Apesar de apresentarem muitos
padrões de cores de asas, elas são consideradas subespécies de
Heliconius erato, uma borboleta que se distribui do Uruguai até a
América Central (SHEPPARD et al., 1985). Espécies que possuem várias
formas alternativas são conhecidas como “espécies politípicas”.

Figura 5 - Borboletas Heliconius erato - um exemplo de “espécie politípica”

Fonte: Extraído de Sheppard et al., 1985.

Esses exemplos revelam algumas das principais dificuldades em definir


espécies. Existem pelo menos 22 definições de espécies. Apresentamos
dois conceitos mais utilizados e aceitos no meio científico:

 Conceito Morfológico de Espécie – indivíduos de uma espécie


são morfologicamente mais parecidos entre si, do que com outros
grupos de indivíduos de outra espécie;

 Conceito Biológico de Espécie – uma população ou grupos de populações


naturais intercruzantes ou potencialmente intercruzantes, que produzem
descendentes férteis, estando isolado reprodutivamente de outros grupos.

Exercitando

Existem muitos outros conceitos de espécies que levam em consideração


aspectos da ecologia, biologia, relações filogenéticas, evolução e

18 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


outros. Pesquise e discuta sobre esses conceitos, quais as vantagens e
desvantagens que cada um apresenta.

1.2.2.1 Quantas espécies existem no mundo?

Dados na literatura descrevem cerca de 1,7 milhões de espécies até


o momento, porém, as estimativas para o número total de espécies
existentes na Terra atualmente estão entre 8,7 milhões e 13 milhões,
segundo um estudo produzido pelo Censo da Vida Marinha, uma rede
de pesquisadores de mais de 80 países. Estas estão distribuídas em
64 filos, 146 classes, 869 ordens e cerca de 7.000 famílias, sendo que a
grande maioria de espécies na Terra é de insetos e micro-organismos
(MARTINS & SANO, 2009; MORA et al., 2011).

Existem alguns bancos de dados on-line que integram informações


sobre espécies descritas, que estão disponíveis em coleções
biológicas, museus, herbários, entre outros. Indicamos o site do
speciesLink (http://splink.cria.org.br/), além de possuir livre acesso,
ele oferece ferramentas interessantes para pesquisa e síntese do
conhecimento da nossa biodiversidade depositadas em coleções
científicas.

O nível de espécie é geralmente considerado como o mais natural no


qual se pode considerar toda a diversidade de organismos. Espécies
também são o foco principal dos mecanismos evolutivos, principalmente
em relação a origem e extinção de espécies. Entretanto, o conceito de
espécie é um ponto de grande discussão na comunidade científica,
como observado nos exemplos das borboletas Astraptes fulgerator e
Heliconius erato. Além disso, a simples contagem do número de espécies
só fornece uma indicação parcial da diversidade biológica.

A importância ecológica de uma espécie pode ter um efeito direto


sobre a estrutura da comunidade, e, portanto, sobre a diversidade

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 19


biológica global. Por exemplo, uma espécie de árvore de floresta
tropical que suporta uma fauna endêmica de invertebrados de uma
centena de espécies, evidentemente, faz uma contribuição maior para
a manutenção da diversidade biológica global do que uma planta que
pode ter nenhuma outra espécie totalmente dependente dela.

1.2.3 Diversidade Ecológica

Essa dimensão da Biodiversidade engloba diferenças ecológicas das


espécies a níveis de ecossistemas, habitats, comunidades, biomas e
até em domínios biogeográficos. A Diversidade Ecológica apresenta
aspectos da Biodiversidade que não são facilmente percebidos
pela Diversidade Genética e de Espécies, contribuindo muito para o
entendimento da distribuição da biodiversidade pelo nosso planeta,
relações e evolução ao longo do tempo.

Apesar de ser tão importante, essa diversidade apresenta alguns


problemas. Mesmo sendo possível cunhar um conceito para as regiões
biogeográficas, ecossistemas e biomas, ainda é muito difícil delimitar
onde começa e termina determinada região ecológica, o que se observa
são características de transição entre os ecossistemas. Esse fato torna
difícil na prática avaliar a diversidade de comunidades ecológicas. Outra
problemática quando se utiliza diversidade ecológica é que se leva
em consideração tanto os componentes bióticos e abióticos (que são
compostos pelo material de solo e clima, entre outros), quando em seu
conceito diversidade biológica é a diversidade da vida.

1.3 Biomas brasileiros

O nosso país é considerado megabiodiverso devido à grande quantidade


de espécies (fauna e flora) e ecossistemas encontrados nele (Ministério
do Meio Ambiente, 2014). São mais de 100 mil espécies de invertebrados
e aproximadamente 8.200 espécies de vertebrados (713 mamíferos,
1826 aves, 721 répteis, 875 anfíbios, 2.800 peixes continentais e 1.300

20 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


peixes marinhos), das quais 627 estão listadas como ameaçadas de
extinção, distribuídos em 7 biomas: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata
Atlântica, Pampas, Pantanal, Zona Costeira e Marinha (Figura 6).

Figura 6 – Classificação mais atual dos biomas brasileiros

Pampas

Fonte: Ministério do Meio Ambiente

 Amazônia

A Amazônia corresponde a 49,29% do território brasileiro, considerado


como o maior bioma do Brasil, possuindo: 4.196.943 milhões de km2
(IBGE, 2014), 2.500 espécies de árvores (ou 1/3 de toda a madeira tropical
do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul)
(Figura 7) (Ministério do Meio Ambiente, 2014). 

É constituída por ecossistemas de floresta úmida de terra firme, diferentes


tipos de matas, campos abertos e até espécies de cerrado. Abrange os
estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Maranhão,
Tocantins e Mato Grosso (IBGE, 2014).

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 21


A região abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, a maior reserva
de madeira tropical, enormes estoques de borracha, castanha, peixe e
minérios, além de uma grande riqueza cultural, incluindo o conhecimento
tradicional sobre os usos e a forma de explorar esses recursos naturais
sem esgotá-los nem destruir o habitat natural (ICMBio, 2014; Ministério
do Meio Ambiente, 2014).

Figura 7 – Biodiversidade da Amazônia

Fonte: http://www.oswaldocruz.com/5-de-setembro-dia-da-amazonia/

 Caatinga Figura 8 – Espécie de cacto do


bioma caatinga
unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/caatinga.html
Foto: Miguel Von Behr. Fonte: http://www.icmbio.gov.br/

Ecossistema predominante do nor-


portal/biodiversidade/

deste brasileiro, com vegetação tí-


pica seca e espinhosa. Ocupa uma
área de cerca de 844.453 quilôme-
tros quadrados, o equivalente a 11%
do território nacional, sendo o úni-
co bioma exclusivamente brasileiro
(BRASIL, 2014).

22 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


O nome é de origem indígena e significa “mata branca”. Engloba os
estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Piauí, Sergipe e Minas Gerais. Abrigando 178 espécies
de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de
peixes e 221 de abelhas (EMBRAPA, 2005; Ministério do Meio Ambiente,
2014). A região apresenta a maior biodiversidade de plantas no Brasil,
sendo considerada uma das mais importantes áreas secas tropicais do
planeta (Figura 8) (ICMBio, 2014).

 Cerrado

O Cerrado é o segundo Figura 9 – Entardecer no Bioma Cerrado

maior bioma da Amé-


rica do Sul e ocupa
cerca de 23,9% do ter-
ritório Nacional (Figura
9). Apresenta vegeta-
ção que pode variar de
campos abertos até for-
mações de florestas que
podem atingir 30 m de
Foto: Nelson Yoneda. Fonte: http://www.icmbio.gov.br/portal/
altura. O território abri- biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/cerrado.html

ga aproximadamente 200 espécies de mamíferos, 800 espécies de aves, 180


de répteis, 150 de anfíbios e 1200 espécies de peixes. É nele que encontram-
-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul:
Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata (EMBRAPA, 2005; ICMBio, 2014;
Ministério do Meio Ambiente, 2014).

 Mata Atlântica

A Mata Atlântica compreende um conjunto de florestas (Ombrófila


Densa, Ombrófila Mista, Estacional Semidecidual, Estacional Decidual
e Ombrófila Aberta), restingas, manguezais e campos de altitudes, que
cobriam originalmente uma área de 1.300.000 quilômetro quadrados
em 17 estados brasileiros. Apresenta-se hoje muito fragmentada e

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 23


reduzida, com cerca de 22% de sua cobertura original (ICMBio, 2014;
Ministério do Meio Ambiente, 2014).

Esse ecossistema apresenta grande biodiversidade, com cerca de 20.000


espécies vegetais (cerca de 35% das espécies existentes no Brasil), 849
espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis, 270
de mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes (Figura 10) (Ministério
do Meio Ambiente, 2014).

Figura 10 – Exemplo da fauna do Bioma Mata Atlântica

Fonte: http://www.sosma.org.br/16883/maior-parte-dos-animais-ameacados-esta-na-mata-atlantica/

 Pampas

É um bioma caracterizado por terras baixas, serras, planícies, morros


e coxilhas (suaves colinas). É um ecossistema restrito ao Rio Grande
do Sul, compreendendo um área de 176.496 quilômetros quadrados
(BRASIL, 2014).

24 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


O Pampa, também conhecido como Campos Sulinos, é uma
das áreas de campos temperados mais importantes do mundo,
caracterizado por possuir fauna e flora próprios que ainda não
foram totalmente descritos (Figura 11). Compreende cerca de
3.000 espécies de plantas, 102 espécies de mamíferos, 476 de
aves e 50 espécies de peixes (ICMBio, 2014; Ministério do Meio
Ambiente, 2014).

Figura 11 – Paisagem no Bioma Pampa

Fonte: http://escola.britannica.com.br/assembly/174000/Os-Pampas-se-caracterizam-por-extensas-planicies

 Pantanal

É o menor dos biomas brasileiros, com aproximadamente 150.355


quilômetros quadrados, cerca de 1,76% do território nacional.
Caracteriza-se pela baixa altitude, pouca declividade e inundações
periódicas que comandam os processos ecológicos na região (Embrapa,
2005; Ministério do Meio Ambiente, 2014).

É uma das maiores regiões úmidas contínuas do mundo, apresentando


boa parte de sua cobertura vegetal nativa (cerca de 86,77%). Esse
bioma se destaca pela diversidade de espécies, são cerca de 3.500
espécies de plantas, 124 espécies de mamíferos, 463 espécies de aves,
e 325 espécies de peixes. Algumas dessas espécies estão ameaçadas

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 25


em outras regiões do Figura 12 – Tuiuiú (Jabiru mycteria), ave símbolo
do Pantanal
Brasil, mas apresentam um
tamanho considerável de
sua população no pantanal,
como é o caso do tuiuiú
(Jabiru mycteria) Figura 12
(Embrapa, 2005; ICMBio,
2014; Ministério do Meio
Ambiente, 2014). Fonte: http://selvadeanimais.blogspot.com.br/2012/04/tuiuiu.html

 Zona Costeira e Marinho

O bioma Marinho Costeiro é caracterizado como a região de transição


Figura 13 – Exemplo da fauna existente no Bioma entre ecossistemas conti-
Marinho Costeiro. Foto: Projeto TAMAR
nentais e marinhos, esten-
dendo-se por uma área de
4,5 milhões de quilômetros
quadrados na costa brasilei-
ra, ou seja, 52% do territó-
rio continental, e vem sen-
do chamado de “Amazônia
Fonte: http://www.mma.gov.br/index.php/ Azul” (ICMBio, 2014).
comunicacao/agencia-informma?view=blog&id=526

É caracterizado por manguezais, estuários, restinga, praias e recifes de coral,


abrigando uma rica diversidade de espécies animais e vegetais (Figura 13).

1.4 Áreas prioritárias para conservação

Geralmente, a biodiversidade segue um gradiente latitudinal, sendo


mais rico nos trópicos. Entretanto, algumas áreas são excepcionalmente
mais ricas em espécies, possuem uma vegetação diferenciada, espécies
endêmicas e com um alto grau de ameaça de extinção. Essas áreas
foram denominadas de “hotspots de diversidade” pelo conservacionista
Norman Myers em 1988 (MARTINS & SANO, 2009).

26 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


Myers identificou inicialmente 10 hotspots, entretanto não estabeleceu
nenhum critério para a definição de um hotspot. Em 1996, com a
colaboração da Conservação Internacional adotou-se um conceito para
o reconhecimento de uma área com hotspot: a região deve abrigar no
mínimo 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas e ter 30% ou
menos da sua vegetação original mantida (MITTERMEIER et al., 2004).

Seguindo esse conceito foram reconhecidos 34 pontos de hotspots


de biodiversidade em todo o mundo (Figura 14). Juntando toda a
superfície da terra ocupada pelos hotspots, ela corresponderia a 2,3%
de toda superfície terrestre do mundo, entretanto essas áreas contêm
50% das espécies terrestres ameaçadas de extinção de todo o mundo.
Por possuírem uma biodiversidade tão alta, essas áreas são prioridade
mundial de conservação. No Brasil, esses pontos são o Cerrado e a
Floresta Atlântica.

Figura 14 – Hotspots de Biodiversidade pelo mundo

Fonte: http://www.conservation.org

Segue uma sugestão de sites que abordam o tema Biodiversidade,


com material complementar para seu estudo e prática docente:
Ecoteca Digital - Instituto Terra Brasilis de Desenvolvimento
Socioambiental
http://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/index.php?option=com_ab
ook&view=category&id=4%3Aeducacao-ambiental&Itemid=54

Revista Planeta Sustentável


http://planetasustentavel.abril.com.br/

Jogo sobre os Biomas


http://missaobioma.g1.globo.com/

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 27


Resumo

Nesta unidade, estudamos o surgimento do termo Biodiversidade,


assim como o seu conceito, identificando os três principais níveis que
são englobados por ela: Diversidade Genética, Diversidade de Espécies
e Diversidade Ecológica. Você pode também identificar e caracterizar os
principais biomas brasileiros, assim com os hotspots de biodiversidade.

1. Com base nos conceitos abordados nesta unidade, crie um


conceito para Biodiversidade.

2. Construa uma Ficha Técnica com imagens da fauna e flora


de cada Bioma brasileiro. Coloque pelo menos 4 imagens de
espécies exclusivas para cada bioma, com o nome científico
e popular da espécie. Não esqueça de colocar as fontes das
imagens utilizadas.

28 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


Referências

BARBIER, E. Biodiversidade: a variedade de vida no planeta terra.


2010. Disponível em: <ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/biodiversidade.pdf>.
Acesso em: 30 mar. 2014.

BRASIL. A Convenção sobre a Diversidade Biológica – CDB. Série


Biodiversidade, Brasília, DF, n. 1, 2000.

BRASIL. Biomas. 2014. Disponível em: http://www.mma.gov.br/biomas.


Acesso em: 20 nov. 2014.

EMBRAPA. A EMBRAPA nos biomas brasileiros. 2005. Disponivel em: <http://


ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/82598/1/a-embrapa-nos-
biomas-brasileiros.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2014.

FRANKHAM, R.; BALLOU, J. D.; BRISCOE, D. A. Fundamentos de Genética


da Conservação. Ribeirão Preto, SP: SBG – Sociedade Brasileira de
Genética, p. 280, 2008. p. 280.

HEBERT, P. D. N.; PENTON, E. H.; BURNS, J. M.; JANZEN, D. H. & HALLWACHS,


W. Ten species in one: DNA barcoding reveals cryptic species in the
neotropical skipper butterfly Astrapes fulgerator. Proc. Natl. Acad. Sci.
USA 101:14812–14817. 2004

IBGE. Mapa de Biomas do Brasil. 2014. Disponível em: <www.ibge.gov.


br>. Acesso em: 23 nov. 2014.

ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.


Biomas Brasileiros. 2014. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/
portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros.
html>. Acesso em: 29 nov. 2014.

MARTINS, M. & SANO, P. T.. Biodiversidade Tropical. Editora Unesp, São


Paulo, 2009.

MITTERMEIER, R.A.; GIL, P.R.; HOFFMANN, M.; PILGRIM, J.; BROOKS, T.;
MITTERMEIER, C.G.; LAMOUREX, J.; FONSECA, G.A.B. Hotspots Revisited.
Earth’s Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecorregions.
Cemex, Washington, DC. 2004.

Introdução ao estudo da diversidade biológica | UNIDADE 1 29


MORA, C.; TITTENSOR, D.P.; SIMPSON, A.G.B.; WORM, B. How Many
Species Are There on Earth and in the Ocean? PLoS Biol 9(8): e1001127.
doi:10.1371/journal.pbio.1001127, 2011.

SHEPPARD, P. M.; TURNER, J. R. G.; BROWN, K. S.; BENSON, W. W.; SINGER,


M. C. Genetics and the evolution of müllerian mimicry in Heliconius
butterflies. Philosophical Transactions of the Royal Society of London
(B) v.308, p. 433-613, 1985.

SILVEIRA, R. V. M. Código Genético: uma análise das concepções dos


alunos do Ensino Médio. Genética na Escola, v. 9, n. 1, 2014.

SOARES NETTO, L. E. & MENCK, C. F. M. Estabilidade do material


genético: mutagênese e reparo. In Matioli, Sérgio Russo (ed). Biologia
Molecular e Evolução. Ribeirão Preto, Editora Holos, 2012. 202p.

WILSON, Edward O. (Org.). Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 1997.

WORLD CONSERVATION MONITORING CENTRE.Global Biodiversity:


Status of the Earth’s living resources. Chapman & Hall, London, xx -I,
1992. 594p.

30 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


VALOR DA BIODIVERSIDADE E
PERDA DA BIODIVERSIDADE

Objetivos
Identificar as principais causas para a perda da
Biodiversidade;
Reconhecer o valor da Diversidade Biológica;
Compreender os objetivos da Biologia da Conserva-
ção e suas áreas de atuação.

Biodiversidade

Xico Esvael

Ai, que bom que seria se ainda houvesse um rio pra pescar
Ficar na ribanceira preguiça lombeira, sem se preocupar.
Ai, que bom que seria ver os passarinhos as asas soltar
Numa geometria de dança e magia num doce voar.

Ai, que bom que seria ver plantas e frutos num grande pomar
Estender uma rede embaixo da paineira só pra descansar
Ai, que bom que seria ver a natureza se esverdear
Numa bela paisagem que faz a miragem gostosa de olhar.

Ai, que bom, ai, que bom,


Ai que bom ver a vida nascer.
Ai, que bom, ai, que bom,
Ai, que bom, ser feliz é viver.

Ai, que bom que seria não ter bicho extinto em todo lugar
recriando a ideia do bom Criador só pra nos regalar.
Ai, que bom que seria não ser mais preciso ter que aniquilar.
Esta diversidade que a natureza nos deu pra amar.
de
Ai, que bom que seria se os povos da terra pudessem manter
As suas culturas, criatividade pra gente aprender
Ai, que bom que seria se a humanidade pudesse entender
Que a vida é criada pra ser partilhada e não pra morrer.
da

Ai, que bom, ai, que bom,


Ai que bom ver a vida nascer.
Ai, que bom, ai, que bom,
Ai, que bom, ser feliz é viver.
Uni

Fonte: http://letras.mus.br/xico-esvael/730899/
2.1 O valor da Biodiversidade

Segundo FARBER et al., (2002), “valor” é a capacidade que determi-


nada ação, bem ou serviço pode contribuir para uma pessoa alcançar
seu objetivo ou satisfação. É um processo, pelo qual são pesados os
prós e os contras que determinada escolha pode gerar em benefício
do indivíduo.

Neste contexto, o ser humano atribui valor para a biodiversidade baseado


nos benefícios que esta lhe concede tais como a manutenção da vida no
planeta, da sociedade humana e na sustentação das diferentes formas
de vida que o homem possui.

A Convenção da Diversidade Biológica reconhece o valor intrínseco


da diversidade biológica e dos valores ecológicos, genéticos, sociais,
econômicos, científicos, educacionais, culturais, recreativos e estéticos
da diversidade biológica e de seus componentes.

Os valores que o homem atribuiu à biodiversidade podem ser agrupadas


em três diferentes tipos: valores intrínsecos, valores de uso e valores de
não-uso.

Os valores intrínsecos correspondem ao valor que os ecossistemas


possuem por si só e independe da satisfação do homem. Esses
valores não podem ser absorvidos pelo sistema monetário, eles são
baseados em valores teológicos ou éticos. Os valores de não-uso são
os valores atribuídos pelo homem para a existência e sobrevivência da
biodiversidade. Por exemplo, o quanto uma pessoa está disposta a pagar
para que uma espécie seja protegida em seu habitat natural, mesmo
que nunca veja pessoalmente a espécie. Os valores de uso podem ser
divididos em três: uso direto, indireto e de opção.

Os valores de uso direto são aqueles que usufruirmos diretamente dos


ecossistemas, como a extração de madeira, alimento e etc. Os valores
de uso indireto são os benefícios que a biodiversidade nos fornece de
forma indireta como o sequestro de carbono, ciclagem de nutrientes,
polinização etc., os valores de opção estão relacionados ao valor que
futuramente a biodiversidade pode fornecer, por exemplo, um princípio
ativo de um determinado medicamento que ainda não foi descoberto,

32 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


mas está disponível no ecossistema para um uso futuro (Tabela 1)
(BARBIERI, 2010; MOTOKONE et al., 2010; GUEDES & SEEHUSEN, 2011).

Tabela 1 – Valor econômico da Biodiversidade

Valor Econômico Total


Valor de Uso Valor de Não Uso
Valor de Uso Valor de Uso Valores de Valores de
Valor de Opção
Direto Indireto Legado Existência
Armazenamento
Habitats
de carbono Habitats
Alimento
Biodiversidade
Valores
Controle contra Espécies em
Madeira culturais
cheias Preservação de extinção
habitats
Medicamentos Espécies
Manutenção dos Biodiversidade
ameaçadas
ciclos hídricos

Fonte: Adaptado de Guedes & Seehusen, 2011

Para uma boa parte dos benefícios produzidos pela biodiversidade,


como os de uso indireto, não existia um valor econômico atribuído a ele,
ou seja, é como se não nos custasse nada. Você já pensou se tivesse que
pagar pelo m3 do ar que respira? Ou se toda verdura e fruta que você
comprasse na feira tivesse no valor de compra a polinização realizada
pelos insetos? Utilizamos esses benefícios com a percepção de que é “de
graça”, como se fosse obrigação da biodiversidade nos fornecer.

Vamos ilustrar com um exemplo hipotético trazido por Azevedo (2008), onde
dois irmãos herdariam uma terra com aproximadamente 10.000 hectares. O
primeiro decide preservar a área de floresta herdada, sem alterar o ecossiste-
ma nela existente. O segundo irmão decide obter o maior lucro possível para
si, explorando ao máximo o ecossistema. Dessa forma, ele vende as árvores
para uma madeireira, vende os direitos de uso do solo e subsolo para explo-
ração mineral. Esgotados esses recursos, ele utiliza a área para depósito de
dejetos de produção de empresas. Esgotada também essa possibilidade, ele
constrói na área um grande complexo industrial e comercial.

Do ponto de vista da sociedade capitalista em que vivemos, o primeiro


irmão é visto como um sonhador e lunático, e o segundo irmão é visto
como exemplo a ser seguido, gerando riqueza e empregos. O que não se
percebe, são os custos ecológicos que essa produção gerou, geralmente
(melhor dizendo, quase sempre) eles não entram na conta do proprietário
nos lucros, esses custos ambientais são externalizados, sendo pago por
toda sociedade, incluindo as gerações futuras.

Valor da biodiversidade e perda da biodiversidade | UNIDADE 2 33


No esforço de mudar essa lógica de pensamento e demonstrar que a
biodiversidade é fornecedora de recursos e serviços insubstituíveis
e vitais, surgiu uma corrente de pensamento econômico que vem
ganhando força cada dia mais: Economia Ecológica. Também conhecida
como economia verde, essa corrente estabelece que os avanços
científicos e tecnológicos são importantes para a sociedade, mas não
devem ultrapassar os limites dos ecossistemas. Está baseada na relação
entre economia, sociedade e manutenção do meio ambiente de forma
sustentável (Figura 1).

Figura 1 – Bases da Economia Ecológica, ou Economia Verde

Fonte: Elaborada pelas Autoras

Na visão da Economia Ecológica, os custos e as estimativas de perdas


irreversíveis da biodiversidade e de seus recursos relacionados devem
ser computados. Foi nessa perspectiva, que em 2007 iniciou-se um
projeto para a valoração da diversidade biológica e dos ecossistemas –
o estudo “Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade”, conhecido
como Relatório Teeb (The Economics of Ecosystems and Biodiversity). Este
trabalho reuniu pesquisadores das áreas de Ciência, Economia e Política,
conduzido pelas Nações Unidas. O relatório de 2009 calculou que o valor
total da biodiversidade e de seus serviços é de US$ 33 trilhões por ano, o
dobro do valor da economia mundial. Observe:

34 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


Para ter acesso ao relatório TEEB Figura 2 – Relatório TEEB

ecological-and-economic-foundations/
our-publications/teeb-study-reports/
Fonte: http://www.teebweb.org/
completo, entre no site: http://www.
teebweb.org/ e baixe o arquivo (Figura
2). Nesse site, você terá acesso também
a outras publicações, estudos de
casos, políticas sustentáveis e projetos
relacionados à Economia Ecológica.

2.2 O que são Serviços Ambientais?

Os serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos são bens e serviços


providos pelo ambiente que contribuem direta ou indiretamente para
o bem estar humano. Segundo o Millennium Ecosystem Assessment
(MA) – Avaliação Ecossistêmica do Milênio, os serviços ambientais estão
divididos em quatro categorias: Millennium Ecosystem
Assessment (sigla em in-
glês MA), em português
1. Serviços de Provisão – são aqueles bens e serviços que suprem as Avaliação Ecossistêmica
do Milênio, é um proje-
necessidades básicas da vida, como alimento (frutos, pescado, caça), to de pesquisa lançado
em 2001 pelo Secretário
energia (lenha, carvão), fibras (madeira), água etc; Geral das Nações Uni-
das, Kofi Annan, com o
objetivo de pesquisar as
2. Serviços de Regulação – são os benefícios obtidos pelos processos mudanças climáticas e
naturais que regulam as condições ambientais que sustentam a suas tendências para as
próximas décadas. Você
vida, como a purificação do ar e regulação do clima; pode encontrar maiores
informações sobre os
resultados encontrados
3. Serviços de Suporte – são os processos naturais que dão suporte pelo projeto no site:
http://www.millenniu-
para outros serviços ecossistêmicos, como a polinização, a ciclagem massessment.org/.
de nutrientes e a formação do solo;

4. Serviços Culturais – são os benefícios não materiais fornecidos para


as pessoas relacionadas com lazer, espiritualidade, educação etc.

Valor da biodiversidade e perda da biodiversidade | UNIDADE 2 35


2.3 Pagamentos por Serviços Ambientais

Você já ouviu falar em Pagamentos por Serviços Ambientais? Também


conhecido como PSA, pode ser definido como:

[...] uma transação voluntária, na qual um serviço


ambiental bem definido, ou um uso da terra que possa
assegurar este serviço, é adquirido por, pelo menos,
um comprador de no mínimo, um provedor, sob a
condição de que ele garanta a provisão do serviço
(condicionalidade) (Wunder, 2005, p. 3).

PSA é um instrumento econômico gerado com a finalidade de incentivar


ações de proteção, manejo e uso sustentável dos recursos naturais. A
ideia é recompensar, com dinheiro, aqueles que preservam os recursos
naturais ou incentivar outros a fazerem o mesmo, que sem o incentivo
não participariam (Figura 3). Podem receber o incentivo, o poder público,
empresas, ou o próprio cidadão que cede os direitos da área preservada.
Devido ser baseado em um sistema de recompensa, esse instrumento é
muito discutido na sociedade atual (GUEDES & SEEHUSEN, 2011).

Figura 3 - Pagamentos por Serviços Ambientais

Fonte: http://www.construirsustentavel.com.br/meio-ambiente/264/manifesto-pela-
aprovacao-do-projeto-de-lei-79207-sobre-pagamento-por-servicos-ambientais-psa.

Os PSA podem ser divididos em duas categorias: pagamento e


compensação. A primeira categoria envolve moradores locais, que
recebem o pagamento para atuarem como Agentes Ambientais
Voluntários, para um serviço de manutenção, sensibilização e fiscalização
dos recursos naturais da região onde vivem. A segunda categoria, refere-

36 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


se a uma compensação pela perda de remuneração em decorrência ao
respeito às regras de manejo e/ou de proteção dentro da Unidade de
Conservação.

Exemplos de PSA:

 Sequestro de carbono – uma indústria que não consegue diminuir


a sua emissão de carbono, pode pagar para uma comunidade
manter sua área florestal preservada (Figura 4);
 Proteção da Biodiversidade – o governo pode pagar para os
agricultores que mantiverem determinada porcentagem de sua
propriedade com mata nativa ou em regeneração, sem desmatar;
 Manutenção da Paisagem – uma empresa de turismo pode pagar
para uma comunidade preservar determinada área utilizada para
turismo, evitando a caça, queimada e poluição.

Figura 4 – Compra de Carbono

Fonte: http://www.oiarte.com/hq60.htm.

A rede WWF (World Wide Fund for Nature) realizou um estudo


estabelecendo preços para alguns serviços ambientais. Retiramos
alguns desses valores do relatório “Mantendo a floresta amazônica em
pé: uma questão de valores” (Tabela 2).

Valor da biodiversidade e perda da biodiversidade | UNIDADE 2 37


Tabela 2 – Preços de alguns Serviços Ambientais

SERVIÇOS AMBIENTAIS VALOR


Prevenção da Erosão R$ 537 por hectare/ano
Retenção de CO2 R$ 113 a 226 por hectare/ano
Dispersão de pólen nas plantações de
R$ 110 por hectare/ano
Você conhece o ICMS café no Equador
Ecológico? Esse tipo de Produtos Florestais, cogumelos e mel R$ 113 a 226 por hectare/ano
imposto foi criado como Recreação e ecoturismo R$ 7,8 a R$ 15,8 por hectare/ano
forma de recompensar e
incentivar os municípios
a criarem ou melhorar a
Fonte: Rede WWF
qualidade das áreas pro-
tegidas. O repasse que é
feito para os municípios
segue critérios estabe-
lecidos pela política do 2.4 Perda da Biodiversidade
estado, como a área de
preservação e a qualida-
de de preservação das
Unidades de Conserva-
ção. Alguns estados já A perda da biodiversidade pode assumir muitas formas, mas, na sua mais
utilizam esse tipo de in-
centivo, com São Paulo, fundamental e irreversível é a que envolve a extinção de espécies. Ao longo
Paraná, Minas Gerais e
Rio de Janeiro. do tempo geológico, a extinção de espécies vem ocorrendo, portanto, é
um processo natural que ocorre sem a intervenção do homem. No entanto,
é inquestionável que as extinções causadas direta ou indiretamente pelo
homem estão ocorrendo a um ritmo que excede quaisquer estimativas
razoáveis de taxas de extinção. Por isso tem sido chamada de “a sexta
extinção” em comparação ás outras cinco extinções em massa reveladas
pelos registros geológicos (Figura 5) (FRANKHAM et al., 2008).

Figura 5 – Taxas de extinção por milênio

Fonte: Millennium Ecosystem Assessment

38 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


As causas indiretas da perda de biodiversidade incluem o crescimento da
população e o desenvolvimento econômico. As causas diretas são a perda
do hábitat por degradação e fragmentação, alterações climáticas como o
aquecimento do mar, espécies exóticas invasoras que competem com espécies
nativas, sobre-exploração e poluição. A exploração da biodiversidade pelo
homem não é algo que ocorre apenas recentemente. Observe a Figura 6, ela é
uma pintura que retrata a derrubada de árvores da Mata Atlântica no período
do Brasil Colonial, que atualmente possui menos que 8% de sua área original.

Figura 6 - Exploração do pau-brasil – século XVI, por Rugendas

Fonte: www.bolsadearte.com

Primavera Silenciosa (título original: Silent Spring) escrito pela bióloga


marinha Rachel Carson em setembro de 1962, foi um marco na história da
conservação da biodiversidade, contribuindo grandemente para a política
ambiental vigente. Escrito em uma linguagem clara e acessível ao público,
o livro descreve, com base em estudos Figura 7 – Livro Primavera
científicos, os efeitos deletérios do DDT Silenciosa de Rachel Carson
Fonte: http://www.saraiva.com.br/primavera-

(sigla de Diclorodifeniltricloroetano) e outros


pesticidas no ambiente, principalmente nas
aves. Segundo Rachel Carson, estes pesticidas,
silenciosa-3042918.html

que até então eram usados livremente,


causava a diminuição da espessura das cascas
de ovos das aves, resultando em problemas
na reprodução e em morte, o que remete ao
título do livro: em plena primavera, estação de
acasalamento e reprodução das aves, eles não
mais cantavam.

Valor da biodiversidade e perda da biodiversidade | UNIDADE 2 39


Diante desse quadro, esforços são necessários para impedir a destruição
da diversidade biológica. A Biologia da Conservação surgiu como uma
disciplina que reúne pessoas e conhecimento de várias áreas para
combater a crise da Biodiversidade. Mas quais seriam os principais
objetivos da biologia da conservação? Segundo Primack & Rodrigues
(2001), ela possui dois principais: “[...] primeiro, entender os efeitos
da atividade humana nas espécies, comunidades e ecossistemas, e,
segundo, desenvolver abordagens práticas para prevenir a extinção
de espécies e se possível, reintegrar as espécies ameaçadas ao seu
ecossistema funcional.”

A Biologia da Conservação tem suas bases em disciplinas como


taxonomia, ecologia, zoologia, botânica e genética, buscando fornecer
soluções práticas para a crise da biodiversidade, considerando sempre
em suas decisões, em primeiro lugar, a preservação e conservação
das comunidades biológicas e, em segundo lugar, fatores econômicos
(PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Vamos discutir mais sobre as
contribuições da Biologia da Conservação e alternativas sustentáveis na
próxima unidade.

Resumo

Nesta unidade, discutimos o valor da biodiversidade para a humanidade,


identificamos os serviços ambientais produzidos pelos ecossistemas,
assim como o quanto a degradação dos recursos naturais afeta o homem.
As principais causas da perda da biodiversidade foram abordadas, assim
como a necessidade de diretrizes para a conservação da biodiversidade.

1. Faça um resumo de 300 palavras sobre um programa de


pagamento de serviços ambientais desenvolvido no Brasil.

40 ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GENÉTICA


Referências

AZEVEDO, P. F. Ecocivilização. 2. ed. São Paulo: Ed. Rt, 2008. p. 9

FARBER, S.; COSTANZA, R.; WILSON, M.A. Economic and ecological


concepts for valuing ecosystem services. In: Ecological Economics:
41: 393 – 408, 2002.

FRANKHAM, R.; BALLOU, J. D.; BRISCOE, D. A. Fundamentos de Genética


da Conservação. Ribeirão Preto, SP: SBG – Sociedade Brasileira de
Genética, p. 280, 2008. p. 280.

GUEDES, F. B. & SEEHUSEN, S. E. Pagamentos por Serviços Ambientais


na Mata Atlântica: lições aprendidas e desafios. Brasília: MMA, 2011.

PRIMACK, R.B. & E. RODRIGUES. Biologia da Conservação. Londrina, E.


Rodrigues, 2001. 328p.

WUNDER, S. Payment for environmental services: some nuts and


bolts. 2005.

Valor da biodiversidade e perda da biodiversidade | UNIDADE 2 41

Você também pode gostar