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Prefeitura Municipal de Suzano do Estado de São Paulo

SUZANO-SP
Diretor de Escola
Edital de Abertura de Inscrições n°. 002/2018 - Educação

JL136-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Prefeitura Municipal de Suzano do Estado de São Paulo

Cargo: Diretor de Escola

(Baseado no Edital de Abertura de Inscrições n°. 002/2018 - Educação)

• Língua Portuguesa
• Matemática
• Gestão Pedagógica
• Gestão de Pessoas
• Gestão e Conhecimento
• Legislação Federal
• Legislação Estadual

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Ana Luiza Cesário
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli
Leandro Filho

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Língua Portuguesa
Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários). ............................................................................ 01
Sinônimos e antônimos. ....................................................................................................................................................................................... 07
Sentido próprio e figurado das palavras. ....................................................................................................................................................... 07
Pontuação. .................................................................................................................................................................................................................. 14
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção: emprego
e sentido que imprimem às relações que estabelecem. .......................................................................................................................... 17
Concordância verbal e nominal. ........................................................................................................................................................................ 55
Regência verbal e nominal. .................................................................................................................................................................................. 60
Colocação pronominal. ......................................................................................................................................................................................... 66
Crase.............................................................................................................................................................................................................................. 68

Matemática
Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou radiciação
com números racionais, nas suas representações fracionária ou decimal; ...................................................................................... 01
Mínimo múltiplo comum; Máximo divisor comum;.................................................................................................................................... 01
Porcentagem; ............................................................................................................................................................................................................ 74
Razão e proporção; ................................................................................................................................................................................................. 11
Regra de três simples ou composta; ................................................................................................................................................................ 15
Equação do 1° ou do 2º grau; ............................................................................................................................................................................ 23
Sistema de equações do 1° grau; ...................................................................................................................................................................... 23
Grandezas e medidas - quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa; .................................................. 19
Relação entre grandezas - tabela ou gráfico; ............................................................................................................................................... 37
Tratamento da informação - média aritmética simples; .......................................................................................................................... 70
Noções de geometria plana - forma, área, perímetro e Teorema de Pitágoras.............................................................................. 48

Gestão Pedagógica

1. AUTONOMIA: UMA BUSCA DE CONSTRUÇÃO COLETIVA DA ESCOLA PÚBLICA....................................................................... 01


2. Avaliação e acompanhamento do rendimento escolar........................................................................................................................ 02
3. Currículo.................................................................................................................................................................................................................. 15
4. Educação Inclusiva............................................................................................................................................................................................... 17
5. Ensino e aprendizagem..................................................................................................................................................................................... 24
6. Planejamento......................................................................................................................................................................................................... 26
7. Políticas, estrutura e organização a escola................................................................................................................................................ 30
8. Projeto Político-Pedagógico............................................................................................................................................................................ 39
9. Regimento Escolar............................................................................................................................................................................................... 46
10. Tendências educacionais na sala de aula................................................................................................................................................. 49

BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, Naura Syria Carapeto e AGUIAR, Márcia Angela da S. (Org.). Gestão da educação: impasses, perspectivas e
compromissos. São Paulo: Cortez, 2004.......................................................................................................................................................... 58
GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E. Autonomia da escola: princípios e propostas. São Paulo: Cortez, 2001.................... 58
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001...................................... 59
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2004..................................... 66
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de. e TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar; políticas, estrutura e
organização. São Paulo: Cortez, 2010............................................................................................................................................................... 70
MACEDO, Lino de. Ensaios pedagógicos: como construir uma escola para todos? Porto Alegre: Artmed, 2005.............. 73
MACHADO, Rosangela. Educação especial na escola inclusiva: políticas, paradigmas e práticas. São Paulo: Cortez,
2009............................................................................................................................................................................................................................... 75
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer. São Paulo: Moderna, 2006.................. 79
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986......................................... 95
MOREIRA, Antônio Flávio e outros. Indagações sobre o currículo: diversidade e currículo. Brasília: SEB, 2007. ............100
SUMÁRIO

PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre:
Artmed, 1999............................................................................................................................................................................................................111
SANMARTÍ, Neus. Avaliar para aprender. Porto Alegre: Artmed, 2009.............................................................................................120
VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento – projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. São
Paulo: Libertad, 2002.............................................................................................................................................................................................122
VEIGA, Ilma P. e RESENDE, Lúcia M.G. de (Org.). Escola: espaço do projeto político – pedagógico. Campinas: Papirus,
2008.............................................................................................................................................................................................................................123
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2009...................................................................126
WOLF, Mariângela Tantin e CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Regimento escolar de escolas públicas: para além do
registro de normas.................................................................................................................................................................................................132
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Editora Artmed, 2002.......................................................138

Gestão de Pessoas

1. Clima e Cultura Organizacional...................................................................................................................................................................... 01


2. Formação continuada........................................................................................................................................................................................ 10
3. Liderança................................................................................................................................................................................................................. 11
4. Mediação e gestão de conflitos..................................................................................................................................................................... 17
5. Participação e trabalho coletivo na escola................................................................................................................................................. 24
6. Poder nas organizações.................................................................................................................................................................................... 26

BIBLIOGRAFIA
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. Petrópolis: Vozes, 2001........................................................... 28
BURBRIDGE, Anna e Marc. Gestão de conflitos: desafio do mundo corporativo. São Paulo: Saraiva, 2012......................... 29
EDNIR, Madza e outros. Um guia para gestores escolares: mestres da mudança – liderar escolas com a cabeça e o
coração. Porto Alegre: Artmed, 2006................................................................................................................................................................ 31
FERREIRA, Naura S. Carapeto (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo:
Cortez, 2008................................................................................................................................................................................................................ 33
IMBERNÓN, Francisco. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010...................................................... 35
LÜCK, Heloísa. A gestão participativa na escola. Petrópolis: Vozes, 2010.......................................................................................... 36
LÜCK, Heloísa. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Petrópolis: Vozes, 2010. Série Cadernos de Gestão.
v.V................................................................................................................................................................................................................................... 38
LÜCK, Heloísa. Liderança em gestão escolar. Petrópolis: Vozes, 2010. Série Cadernos de Gestão. v.IV................................. 40
PARO, Vitor Henrique. Gestão Escolar, democracia e qualidade de ensino. São Paulo: Ática, 2007....................................... 41
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2012................................................................ 42
THURLER, Mônica Gather e MAULINI, Olivier (Org.). A organização do trabalho escolar: uma oportunidade para repensar
a escola. Porto Alegre: Penso, 2012................................................................................................................................................................... 42
VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas: 2009.............................................................................................. 49

Gestão e Conhecimento

1. A construção do conhecimento..................................................................................................................................................................... 01
2. Avaliação da educação e indicadores educacionais.............................................................................................................................. 04
3. Concepções de educação e escola Função social da escola.............................................................................................................. 15
4. Os teóricos da educação................................................................................................................................................................................... 17
5. Tecnologias de informação e comunicação na educação................................................................................................................... 26

BIBLIOGRAFIA
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Penso, 2012........................................................ 28
CASTORINA, José Antonio e outros. Piaget-Vigotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 2005......... 31
COLL, César e MONEREO, Carles e Colaboradores. Psicologia da educação virtual. Porto Alegre: Artmed, 2010............ 39
CORTELLA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo: Cortez,
2011............................................................................................................................................................................................................................... 40
ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Escola, currículo e avaliação. São Paulo: Cortez, 2005.................................................................. 47
SUMÁRIO

FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999......................................... 49
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2011.............................................................................................. 51
FREITAS, Dirce Nei Teixeira de. A avaliação da educação básica no Brasil: dimensão normativa, pedagógica e educativa.
Campinas: Autores Associados, 2007............................................................................................................................................................... 63
FULLAN, Michael e HARGREAVES, Andy. A Escola como organização aprendente: buscando uma educação de qualidade.
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2003............................................................................................................................................................. 65
LA TAILE, Yves; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em
discussão. São Paulo: Summus, 1992............................................................................................................................................................... 66
MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos T. e BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica.
Campinas, SP: Papirus, 2000................................................................................................................................................................................. 69
PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.................................................. 80
RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2003..82
VASCONCELLOS, Celso dos S. Construção do Conhecimento em Sala de aula. São Paulo: Libertad, 2002......................... 85
VIEIRA, Alexandre Thomaz, ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de e ALONSO, Myrtes. Gestão educacional e tecnologia. São
Paulo: Avercamp, 2003........................................................................................................................................................................................... 89
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991................................................... 92

Legislação Federal

LEGISLAÇÃO FEDERAL: CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ARTIGOS 208 A 214. ......................................................................... 01


LEI FEDERAL N° 8.069/90 - DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
ARTIGOS 1° A 6°, 15 A 18 -B, 53 A 59 E 131 A 137. ................................................................................................................................... 02
LEI FEDERAL N° 9.394/96 - ESTABELECE AS DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. .............................................. 05
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 04/2010 E RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010 (*)............................................................... 21
PARECER CNE/CEB N° 07/2010 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. ......... 31
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 5/09 E PARECER CNE/CEB N° 20/2009 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL. ........................................................................................................................................................................................... 39
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 1/00 E PARECER CNE/CEB N° 11/00 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. ............................................................................................................................................................... 54
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 02/01 E RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001.(*)........................................ 82
PARECER CNE/CEB N° 17/01 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO
BÁSICA. ........................................................................................................................................................................................................................ 85
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 07 E..........................................................................................................................................................................101
PARECER CNE/CEB N° 11/2010 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 09
ANOS. .........................................................................................................................................................................................................................101

Legislação Estadual

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO - ARTIGOS 237 A 263. ................................................................................................. 01


LEI N° 10.261, DE 28/10/1968 - ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO DE SÃO PAULO. .......... 03
LEI COMPLEMENTAR N° 444, DE 27/12/1985 - ESTATUTO DO MAGISTÉRIO PAULISTA. ............................................................ 33
DECRETO N° 17.329 DE 14/07/1981 - DEFINE A ESTRUTURA E AS ATRIBUIÇÕES DE ÓRGÃOS E AS COMPETÊNCIAS
DAS AUTORIDADES DA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, EM RELAÇÃO AO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO DE
PESSOAL, E DÁ PROVIDÊNCIAS CORRELATAS. ............................................................................................................................................ 51
LEI MUNICIPAL N° 190, DE 01 DE JULHO DE 2010 - ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE
SUZANO. ...................................................................................................................................................................................................................100
LEI MUNICIPAL N° 4.392, DE 08 DE JULHO DE 2010 - DISPÕE SOBRE A ESTRUTURAÇÃO DO PLANO DE CARGOS,
CARREIRAS E VENCIMENTOS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SUZANO. ......................................................................................146
LÍNGUA PORTUGUESA

Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários). ............................................................................ 01


Sinônimos e antônimos. ....................................................................................................................................................................................... 07
Sentido próprio e figurado das palavras. ....................................................................................................................................................... 07
Pontuação. .................................................................................................................................................................................................................. 14
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção: emprego e
sentido que imprimem às relações que estabelecem. .............................................................................................................................. 17
Concordância verbal e nominal. ........................................................................................................................................................................ 55
Regência verbal e nominal.................................................................................................................................................................................... 60
Colocação pronominal........................................................................................................................................................................................... 66
Crase.............................................................................................................................................................................................................................. 68
LÍNGUA PORTUGUESA

- A linguagem não literária é objetiva, denotativa,


LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DIVERSOS preocupa-se em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em
TIPOS DE TEXTOS (LITERÁRIOS E NÃO seu sentido próprio, utilitário, sem preocupação artística.
LITERÁRIOS). Geralmente, recorre à ordem direta (sujeito, verbo, com-
plementos).

Leia com atenção os textos a seguir e compare as lin-


Sabemos que a “matéria-prima” da literatura são as pa- guagens utilizadas neles.
lavras. No entanto, é necessário fazer uma distinção entre
a linguagem literária e a linguagem não literária, isto é, Texto A
aquela que não caracteriza a literatura. Amor (ô). [Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que pre-
Embora um médico faça suas prescrições em deter- dispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma
minado idioma, as palavras utilizadas por ele não podem coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio artístico de
ser consideradas literárias porque se tratam de um voca- sua terra. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser
a outro ser ou a uma coisa; devoção, culto; adoração: amor
bulário especializado e de um contexto de uso específi-
à Pátria; amor a uma causa. 3. Inclinação ditada por laços
co. Agora, quando analisamos a literatura, vemos que o
de família: amor filial; amor conjugal. 4. Inclinação forte por
escritor dispensa um cuidado diferente com a linguagem
pessoa de outro sexo, geralmente de caráter sexual, mas
escrita, e que os leitores dispensam uma atenção diferen-
que apresenta grande variedade e comportamentos e rea-
ciada ao que foi produzido. ções.
Outra diferença importante é com relação ao trata- Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário
mento do conteúdo: ao passo que, nos textos não literá- da Língua Portuguesa, Nova Fronteira.
rios (jornalísticos, científicos, históricos, etc.) as palavras
servem para veicular uma série de informações, o texto Texto B
literário funciona de maneira a chamar a atenção para a Amor é fogo que arde sem se ver;
própria língua (FARACO & MOURA, 1999) no sentido de É ferida que dói e não se sente;
explorar vários aspectos como a sonoridade, a estrutura É um contentamento descontente;
sintática e o sentido das palavras. é dor que desatina sem doer.
Veja abaixo alguns exemplos de expressões na lin- Luís de Camões. Lírica, Cultrix.
guagem não literária ou “corriqueira” e um exemplo de
uso da mesma expressão, porém, de acordo com alguns Você deve ter notado que os textos tratam do mesmo
escritores, na linguagem literária: assunto, porém os autores utilizam linguagens diferentes.
No texto A, o autor preocupou-se em definir “amor”,
Linguagem não literária: usando uma linguagem objetiva, científica, sem preocupa-
1- Anoitece. ção artística.
2- Teus cabelos loiros brilham. No texto B, o autor trata do mesmo assunto, mas com
3- Uma nuvem cobriu parte do céu. ... preocupação literária, artística. De fato, o poeta entra no
campo subjetivo, com sua maneira própria de se expres-
Linguagem literária: sar, utiliza comparações (compara amor com fogo, ferida,
1- A mão da noite embrulha os horizontes. (Alvaren- contentamento e dor) e serve-se ainda de contrastes que
ga Peixoto) acabam dando graça e força expressiva ao poema (con-
2- Os clarins de ouro dos teus cabelos cantam na luz! tentamento descontente, dor sem doer, ferida que não se
(Mário Quintana) sente, fogo que não se vê).
3- um sujo de nuvem emporcalhou o luar em sua
Questões
nascença. (José Cândido de Carvalho)
1-) Leia o trecho do poema abaixo.
Como distinguir, na prática, a linguagem literária da
não literária? O Poeta da Roça
- A linguagem literária é conotativa, utiliza figuras Sou fio das mata, cantô da mão grosa
(palavras de sentido figurado), em que as palavras adqui- Trabaio na roça, de inverno e de estio
rem sentidos mais amplos do que geralmente possuem. A minha chupana é tapada de barro
- Na linguagem literária há uma preocupação com a Só fumo cigarro de paia de mio.
escolha e a disposição das palavras, que acabam dando Patativa do Assaré
vida e beleza a um texto.
- Na linguagem literária é muito importante a manei-
ra original de apresentar o tema escolhido.

1
LÍNGUA PORTUGUESA

A respeito dele, é possível afirmar que TEXTO II

(A) não pode ser considerado literário, visto que a lin- A cana-de-açúcar
guagem aí utilizada não está adequada à norma culta for-
mal. Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no
(B) não pode ser considerado literário, pois nele não Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A re-
se percebe a preservação do patrimônio cultural brasileiro. gião que durante séculos foi a grande produtora de cana-de
(C) não é um texto consagrado pela crítica literária. -açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde os férteis
(D) trata-se de um texto literário, porque, no processo solos de massapé, além da menor distância em relação ao
criativo da Literatura, o trabalho com a linguagem pode mercado europeu, propiciaram condições favoráveis a esse
aparecer de várias formas: cômica, lúdica, erótica, popular cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional de cana-de
etc -açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio
(E) a pobreza vocabular – palavras erradas – não permi- de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em
te que o consideremos um texto literário. parte é exportado e em parte abastece o mercado interno, a
cana serve também para a produção de álcool, importante
Leia os fragmentos abaixo para responder às questões nos dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imen-
que seguem: sa expansão dos canaviais no Brasil, especialmente em São
Paulo, está ligada ao uso do álcool como combustível.
TEXTO I
O açúcar 2-) Para que um texto seja literário:
O branco açúcar que adoçará meu café a) basta somente a correção gramatical; isto é, a expres-
nesta manhã de Ipanema são verbal segundo as leis lógicas ou naturais.
não foi produzido por mim b) deve prescindir daquilo que não tenha correspondên-
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. cia na realidade palpável e externa.
Vejo-o puro c) deve fugir do inexato, daquilo que confunda a capaci-
e afável ao paladar dade de compreensão do leitor.
como beijo de moça, água d) deve assemelhar-se a uma ação de desnudamento. O
na pele, flor escritor revela, ao escrever, o mundo, e, em especial, revela o
que se dissolve na boca. Mas este açúcar Homem aos outros homens.
não foi feito por mim. e) deve revelar diretamente as coisas do mundo: senti-
Este açúcar veio mentos, ideias, ações.
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia. 3-) Ainda com relação ao textos I e II, assinale a opção
Este açúcar veio incorreta
de uma usina de açúcar em Pernambuco a) No texto I, em lugar de apenas informar sobre o real,
ou no Estado do Rio ou de produzi-lo, a expressão literária é utilizada principal-
e tampouco o fez o dono da usina. mente como um meio de refletir e recriar a realidade.
Este açúcar era cana b) No texto II, de expressão não literária, o autor informa
e veio dos canaviais extensos o leitor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares onde é
que não nascem por acaso produzida, como teve início seu cultivo no Brasil, etc.
no regaço do vale. c) O texto I parte de uma palavra do domínio comum
Em lugares distantes, onde não há hospital – açúcar – e vai ampliando seu potencial significativo, explo-
nem escola, rando recursos formais para estabelecer um paralelo entre o
homens que não sabem ler e morrem de fome açúcar – branco, doce, puro – e a vida do trabalhador que o
aos 27 anos produz – dura, amarga, triste.
plantaram e colheram a cana d) No texto I, a expressão literária desconstrói hábitos
que viraria açúcar. de linguagem, baseando sua recriação no aproveitamento de
Em usinas escuras, novas formas de dizer.
homens de vida amarga e) O texto II não é literário porque, diferentemente do lite-
e dura rário, parte de um aspecto da realidade, e não da imaginação.
produziram este açúcar
branco e puro Gabarito
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
1-) D
Fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228) 2-) D – Esta alternativa está correta, pois ela remete ao
caráter reflexivo do autor de um texto literário, ao passo
em que ele revela às pessoas o “seu mundo” de maneira
peculiar.

2
LÍNGUA PORTUGUESA

3-) E – o texto I também fala da realidade, mas com um Condições básicas para interpretar
cunho diferente do texto II. No primeiro há uma colocação
diferenciada por parte do autor em que o objetivo não é Fazem-se necessários:
unicamente passar informação, existem outros “motiva- a) Conhecimento histórico–literário (escolas e gêneros
dores” por trás desta escrita. literários, estrutura do texto), leitura e prática;
b) Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
É muito comum, entre os candidatos a um cargo pú- texto) e semântico;
blico, a preocupação com a interpretação de textos. Isso Observação – na semântica (significado das palavras)
acontece porque lhes faltam informações específicas a incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e cono-
respeito desta tarefa constante em provas relacionadas tação, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
a concursos públicos. gem, entre outros.
Por isso, vão aqui alguns detalhes que poderão aju- c) Capacidade de observação e de síntese e
dar no momento de responder às questões relacionadas d) Capacidade de raciocínio.
a textos.
Interpretar X compreender
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e rela-
cionadas entre si, formando um todo significativo capaz Interpretar significa
de produzir interação comunicativa (capacidade de co- - explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
dificar e decodificar ). - Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
Contexto – um texto é constituído por diversas fra- - O autor permite concluir que...
ses. Em cada uma delas, há uma certa informação que a - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
faz ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando
condições para a estruturação do conteúdo a ser trans- Compreender significa
mitido. A essa interligação dá-se o nome de contexto. - intelecção, entendimento, atenção ao que realmente
Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão está escrito.
grande que, se uma frase for retirada de seu contexto - o texto diz que...
original e analisada separadamente, poderá ter um sig- - é sugerido pelo autor que...
nificado diferente daquele inicial. - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
ção...
Intertexto - comumente, os textos apresentam re- - o narrador afirma...
ferências diretas ou indiretas a outros autores através
de citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. Erros de interpretação

Interpretação de texto - o primeiro objetivo de uma É muito comum, mais do que se imagina, a ocorrência
interpretação de um texto é a identificação de sua ideia de erros de interpretação. Os mais frequentes são:
principal. A partir daí, localizam-se as ideias secundárias,
ou fundamentações, as argumentações, ou explicações, a) Extrapolação (viagem)
que levem ao esclarecimento das questões apresentadas Ocorre quando se sai do contexto, acrescentado ideias
na prova. que não estão no texto, quer por conhecimento prévio do
tema quer pela imaginação.
Normalmente, numa prova, o candidato é convi-
dado a: b) Redução
É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção apenas a
1. Identificar – é reconhecer os elementos funda- um aspecto, esquecendo que um texto é um conjunto de
mentais de uma argumentação, de um processo, de uma ideias, o que pode ser insuficiente para o total do entendi-
época (neste caso, procuram-se os verbos e os advér- mento do tema desenvolvido.
bios, os quais definem o tempo).
2. Comparar – é descobrir as relações de semelhança c) Contradição
ou de diferenças entre as situações do texto. Não raro, o texto apresenta ideias contrárias às do can-
3. Comentar - é relacionar o conteúdo apresentado didato, fazendo-o tirar conclusões equivocadas e, conse-
com uma realidade, opinando a respeito. quentemente, errando a questão.
4. Resumir – é concentrar as ideias centrais e/ou se-
cundárias em um só parágrafo. Observação - Muitos pensam que há a ótica do escritor
5. Parafrasear – é reescrever o texto com outras pa- e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova
lavras. de concurso, o que deve ser levado em consideração é o
que o autor diz e nada mais.

3
LÍNGUA PORTUGUESA

Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que - Falante não pode negar que tenha querido transmitir
relacionam palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre a informação expressa pelo pressuposto, mas pode negar
si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de que tenha desejado transmitir a informação expressa pelo
um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um pro- subentendido.
nome oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se - Negação da informação não nega o pressuposto.
vai dizer e o que já foi dito. - Pressuposto não verdadeiro – informação explícita
absurda.
OBSERVAÇÃO – São muitos os erros de coesão no dia - Principais marcadores de pressupostos: a) adjetivos;
-a-dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e b) verbos; c) advérbios; d) orações adjetivas; e) conjunções.
do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do
verbo; aquele do seu antecedente. Não se pode esquecer QUESTÕES
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- (Agente Estadual de Trânsito – DETRAN - SP – Vu-
cedente. nesp/2013)
Os pronomes relativos são muito importantes na in-
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de O uso da bicicleta no Brasil
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, A utilização da bicicleta como meio de locomoção no
a saber: Brasil ainda conta com poucos adeptos, em comparação
com países como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos
que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
quais a bicicleta é um dos principais veículos nas ruas. Ape-
mas depende das condições da frase.
sar disso, cada vez mais pessoas começam a acreditar que
qual (neutro) idem ao anterior.
a bicicleta é, numa comparação entre todos os meios de
quem (pessoa)
cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois transporte, um dos que oferecem mais vantagens.
o objeto possuído. A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicle-
como (modo) tas e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e
onde (lugar) jamais na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são
quando (tempo) todos considerados veículos, com direito de circulação pe-
quanto (montante) las ruas e prioridade sobre os automotores.
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à
Exemplo: bicicleta no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade,
Falou tudo QUANTO queria (correto) pois as bikes não emitem gases nocivos ao ambiente, não
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria consomem petróleo e produzem muito menos sucata de
aparecer o demonstrativo O ). metais, plásticos e borracha; a diminuição dos congestio-
Dicas para melhorar a interpretação de textos namentos por excesso de veículos motorizados, que atin-
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do gem principalmente as grandes cidades; o favorecimento
assunto; da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito bom; e
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
a leitura; claro, nos impostos.
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto No Brasil, está sendo implantado o sistema de com-
pelo menos duas vezes;
partilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
- Inferir;
o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitu-
- Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do ra, em parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com
autor; quase um ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São
- Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor Paulo, Santos, Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo
compreensão; país aderirem a esse sistema, mais duas capitais já estão
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de com o projeto pronto em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do
cada questão; compartilhamento é semelhante em todas as cidades. Em
- O autor defende ideias e você deve percebê-las; Porto Alegre, os usuários devem fazer um cadastro pelo
site. O valor do passe mensal é R$10 e o do passe diário,
Segundo Fiorin: R$5, podendo-se utilizar o sistema durante todo o dia, das
-Pressupostos – informações implícitas decorrentes 6h às 22h, nas duas modalidades. Em todas as cidades que
necessariamente de palavras ou expressões contidas na já aderiram ao projeto, as bicicletas estão espalhadas em
frase. pontos estratégicos.
- Subentendidos – insinuações não marcadas clara- A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção
mente na linguagem. não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda
- Pressupostos – verdadeiros ou admitidos como tal. não sabem que a bicicleta já é considerada um meio de
- Subentendidos – de responsabilidade do ouvinte. transporte, ou desconhecem as leis que abrangem a bike.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Na confusão de um trânsito caótico numa cidade grande, não são apenas maus motoristas, sem condições de dirigir,
carros, motocicletas, ônibus e, agora, bicicletas, misturam- mas também se engajam num comportamento de risco –
se, causando, muitas vezes, discussões e acidentes que po- algumas até agem especificamente para irritar o outro mo-
deriam ser evitados. torista ou impedir que este chegue onde precisa.
Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. Essa é a evolução de pensamento que alguém poderá
A verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles ter antes de passar para a ira de trânsito de fato, levando
estão totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. um motorista a tomar decisões irracionais.
Por isso é tão importante usar capacete e outros itens de Dirigir pode ser uma experiência arriscada e emocio-
segurança. A maior parte dos motoristas de carros, ônibus, nante. Para muitos de nós, os carros são a extensão de
motocicletas e caminhões desconhece as leis que abran- nossa personalidade e podem ser o bem mais valioso que
gem os direitos dos ciclistas. Mas muitos ciclistas também possuímos. Dirigir pode ser a expressão de liberdade para
ignoram seus direitos e deveres. Alguém que resolve in- alguns, mas também é uma atividade que tende a aumen-
tegrar a bike ao seu estilo de vida e usá-la como meio de tar os níveis de estresse, mesmo que não tenhamos cons-
locomoção precisa compreender que deverá gastar com ciência disso no momento.
alguns apetrechos necessários para poder trafegar. De Dirigir é também uma atividade comunitária. Uma vez
acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, as bicicletas que entra no trânsito, você se junta a uma comunidade
devem, obrigatoriamente, ser equipadas com campainha, de outros motoristas, todos com seus objetivos, medos e
sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, habilidades ao volante. Os psicólogos Leon James e Diane
além de espelho retrovisor do lado esquerdo. Nahl dizem que um dos fatores da ira de trânsito é a ten-
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. dência de nos concentrarmos em nós mesmos, descartan-
Adaptado) do o aspecto comunitário do ato de dirigir.
Como perito do Congresso em Psicologia do Trânsito,
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como o Dr. James acredita que a causa principal da ira de trânsi-
meio de locomoção nas metrópoles brasileiras to não são os congestionamentos ou mais motoristas nas
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra ruas, e sim como nossa cultura visualiza a direção agressi-
devido à falta de regulamentação. va. As crianças aprendem que as regras normais em relação
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido ao comportamento e à civilidade não se aplicam quando
incentivado em várias cidades. dirigimos um carro. Elas podem ver seus pais envolvidos
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela em comportamentos de disputa ao volante, mudando de
maioria dos moradores. faixa continuamente ou dirigindo em alta velocidade, sem-
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com pre com pressa para chegar ao destino.
os demais meios de transporte. Para complicar as coisas, por vários anos psicólogos
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade sugeriam que o melhor meio para aliviar a raiva era des-
arriscada e pouco salutar. carregar a frustração. Estudos mostram, no entanto, que a
descarga de frustrações não ajuda a aliviar a raiva. Em uma
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos situação de ira de trânsito, a descarga de frustrações pode
objetivos centrais do texto é transformar um incidente em uma violenta briga.
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do Com isso em mente, não é surpresa que brigas vio-
ciclista. lentas aconteçam algumas vezes. A maioria das pessoas
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta está predisposta a apresentar um comportamento irracio-
é mais seguro do que dirigir um carro. nal quando dirige. Dr. James vai ainda além e afirma que a
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bi- maior parte das pessoas fica emocionalmente incapacitada
cicleta no Brasil. quando dirige. O que deve ser feito, dizem os psicólogos,
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como é estar ciente de seu estado emocional e fazer as escolhas
meio de locomoção se consolidou no Brasil. corretas, mesmo quando estiver tentado a agir só com a
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista emoção.
deve dar prioridade ao pedestre. (Jonathan Strickland. Disponível em: http://carros.hsw.
uol.com.br/furia-no-transito1 .htm. Acesso em: 01.08.2013.
(Oficial Estadual de Trânsito - DETRAN-SP - Vunesp Adaptado)
2013) Leia o texto para responder às questões de 3 a 5
3-) Tomando por base as informações contidas no tex-
Propensão à ira de trânsito to, é correto afirmar que
(A) os comportamentos de disputa ao volante aconte-
Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente cem à medida que os motoristas se envolvem em decisões
perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais se- conscientes.
guro do mundo, existem muitas variáveis de risco no trân- (B) segundo psicólogos, as brigas no trânsito são cau-
sito, como clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas. E sadas pela constante preocupação dos motoristas com o
com relação a todas as outras pessoas nas ruas? Algumas aspecto comunitário do ato de dirigir.

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LÍNGUA PORTUGUESA

(C) para Dr. James, o grande número de carros nas ruas 6-) Considere:
é o principal motivo que provoca, nos motoristas, uma di- I. Segundo o texto, na ficção científica abordam-se,
reção agressiva. com distanciamento de tempo e espaço, questões con-
(D) o ato de dirigir um carro envolve uma série de ex- troversas e moralmente incômodas da sociedade atual, de
periências e atividades não só individuais como também modo que a solução oferecida pela fantasia possa ser apli-
sociais. cada para resolver os problemas da realidade.
(E) dirigir mal pode estar associado à falta de controle II. Parte do poder de convencimento da ficção cientí-
das emoções positivas por parte dos motoristas. fica deriva do fato de serem apresentados ao espectador
objetos imaginários que, embora não existam na vida real,
4. A ira de trânsito estão, de algum modo, conectados à realidade.
A) aprimora uma atitude de reconhecimento de regras. III. A ficção científica extrapola os limites da realidade,
(B) implica tomada de decisões sem racionalidade. mas baseia-se naquilo que, pelo menos em teoria, acredi-
(C) conduz a um comportamento coerente. ta-se que seja possível.
(D) resulta do comportamento essencialmente comu- Está correto o que se afirma APENAS em
nitário dos motoristas. (A) III.
(E) decorre de imperícia na condução de um veículo. (B) I e II.
(C) I e III.
5. De acordo com o perito Dr. James, (D) II e III.
(A) os congestionamentos representam o principal fa- (E) II.
tor para a ira no trânsito.
(B) a cultura dos motoristas é fator determinante para 7-) Sem prejuízo para o sentido original e a correção
o aumento de suas frustrações. gramatical, o termo sonhar, em ... a sociedade se permite
(C) o motorista, ao dirigir, deve ser individualista em sonhar seus piores problemas... (2o parágrafo), pode ser
suas ações, a fim de expressar sua liberdade e garantir que substituído por:
outros motoristas não o irritem. (A) descansar.
(D) a principal causa da direção agressiva é o desco- (B) desprezar.
nhecimento das regras de trânsito. (C) esquecer.
(E) o comportamento dos pais ao dirigirem com ira (D) fugir.
contradiz o aprendizado das crianças em relação às regras (E) imaginar.
de civilidade.
(TRF 3ª região/2014) Atenção: Para responder às ques-
(TRF 3ª região/2014) Para responder às questões de tões de números 8 a 10 considere o texto abaixo.
números 6 e 7 considere o texto abaixo. Texto I
Toda ficção científica, de Metrópolis ao Senhor dos O canto das sereias é uma imagem que remonta às
anéis, baseia-se, essencialmente, no que está acontecen-
mais luminosas fontes da mitologia e da literatura gregas.
do no mundo no momento em que o filme foi feito. Não
As versões da fábula variam, mas o sentido geral da trama
no futuro ou numa galáxia distante, muitos e muitos anos
é comum.
atrás, mas agora mesmo, no presente, simbolizado em pro-
As sereias eram criaturas sobre-humanas. Ninfas de
jeções que nos confortam e tranquilizam ao nos oferecer
extraordinária beleza, viviam sozinhas numa ilha do Medi-
uma adequada distância de tempo e espaço.
terrâneo, mas tinham o dom de chamar a si os navegantes,
Na ficção científica, a sociedade se permite sonhar seus
graças ao irresistível poder de sedução do seu canto. Atraí-
piores problemas: desumanização, superpopulação, totali-
dos por aquela melodia divina, os navios batiam nos recifes
tarismo, loucura, fome, epidemias. Não se imita a realida-
submersos da beira-mar e naufragavam. As sereias então
de, mas imagina-se, sonha-se, cria-se outra realidade onde
possamos colocar e resolver no plano da imaginação tudo devoravam impiedosamente os tripulantes.
o que nos incomoda no cotidiano. O elemento essencial Doce o caminho, amargo o fim. Como escapar com
para guiar a lógica interna do gênero, cuja quebra implica vida do canto das sereias? A literatura grega registra duas
o fim da magia, é a ciência. Por isso, tecnologia é essen- soluções vitoriosas. Uma delas foi a saída encontrada por
cial ao gênero. Parte do poder desse tipo de magia cine- Orfeu, o incomparável gênio da música e da poesia.
matográfica está em concretizar, diante dos nossos olhos, Quando a embarcação na qual ele navegava entrou
objetos possíveis, mas inexistentes: carros voadores, robôs inadvertidamente no raio de ação das sereias, ele conse-
inteligentes. Como parte dessas coisas imaginadas acaba guiu impedir a tripulação de perder a cabeça tocando uma
se tornando realidade, o gênero reforça a sensação de que música ainda mais sublime do que aquela que vinha da
estamos vendo na tela projeções das nossas possibilidades ilha. O navio atravessou incólume a zona de perigo.
coletivas futuras. A outra solução foi a de Ulisses. Sua principal arma
(Adaptado de: BAHIANA, Ana Maria. Como ver um fil- para vencer as sereias foi o reconhecimento franco e cora-
me. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. formato ebook.) joso da sua fraqueza e da sua falibilidade − a aceitação dos
seus inescapáveis limites humanos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Ulisses sabia que ele e seus homens não teriam firmeza


para resistir ao apelo das sereias. Por isso, no momento SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS.
em que a embarcação se aproximou da ilha, mandou que SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS
todos os tripulantes tapassem os ouvidos com cera e orde- PALAVRAS.
nou que o amarrassem ao mastro central do navio. O sur-
preendente é que Ulisses não tapou com cera os próprios
ouvidos − ele quis ouvir. Quando chegou a hora, Ulisses
foi seduzido pelas sereias e fez de tudo para convencer os Semântica é o estudo da significação das palavras e
tripulantes a deixarem-no livre para ir juntar-se a elas. Seus das suas mudanças de significação através do tempo ou
subordinados, contudo, cumpriram fielmente a ordem de em determinada época. A maior importância está em dis-
não soltá-lo até que estivessem longe da zona de perigo. tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e
Orfeu escapou das sereias como divindade; Ulisses, homônimos e parônimos (homonímia / paronímia).
como mortal. Ao se aproximar das sereias, a escolha diante
do herói era clara: a falsa promessa de gratificação ime- Sinônimos
diata, de um lado, e o bem permanente do seu projeto de
vida − prosseguir viagem, retornar a Ítaca, reconquistar São palavras de sentido igual ou aproximado: alfa-
Penélope −, do outro. A verdadeira vitória de Ulisses foi beto - abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar
contra ele mesmo. Foi contra a fraqueza, o oportunismo - abolir.
suicida e a surdez delirante que ele soube reconhecer em
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são
sua própria alma.
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Auto-engano. São
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quan-
Paulo, Cia. das Letras, 1997. Formato eBOOK)
do, ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela
8-) Há no texto outra, em determinado enunciado (aguardar e esperar).
(A) comparação entre os meios que Orfeu e Ulisses
usam para enfrentar o desafio que se apresenta a eles. Observação: A contribuição greco-latina é respon-
(B) rivalidade entre o mortal Ulisses e o divino Orfeu, sável pela existência de numerosos pares de sinônimos:
cujo talento musical causava inveja ao primeiro. adversário e antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo
(C) juízo de valor a respeito das atitudes das sereias em e hemiciclo; contraveneno e antídoto; moral e ética; coló-
relação aos navegantes e elogio à astúcia de Orfeu. quio e diálogo; transformação e metamorfose; oposição e
(D) crítica à forma pouco original com que Orfeu deci- antítese.
de enganar as sereias e elogio à astúcia de Ulisses.
(E) censura à atitude arriscada de Ulisses, cuja ousadia Antônimos
quase lhe custou seu projeto de vida.
São palavras que se opõem através de seu significado:
9-) Depreende-se do texto que as sereias atingiam ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar;
seus objetivos por meio de mal - bem.
(A) intolerância.
(B) dissimulação. Observação: A antonímia pode se originar de um
(C) lisura. prefixo de sentido oposto ou negativo: bendizer e maldi-
(D) observação. zer; simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia
(E) condescendência. e discórdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista
e anticomunista; simétrico e assimétrico.
10-) O navio atravessou incólume a zona de perigo. (4o
parágrafo). Mantém-se o sentido original do texto substi- Homônimos e Parônimos
tuindo-se o elemento grifado por
(A) insolente. - Homônimos = palavras que possuem a mesma gra-
(B) inatingível.
fia ou a mesma pronúncia, mas significados diferentes.
(C) intacto.
Podem ser
(D) inativo.
(E) impalpável.
a) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife-
GABARITO rentes na pronúncia:
rego (subst.) e rego (verbo);
1- B 2-A 3-D 4-B 5-E colher (verbo) e colher (subst.);
6- D 7-E 8-A 9-B 10-C jogo (subst.) e jogo (verbo);
denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
providência (subst.) e providencia (verbo).

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LÍNGUA PORTUGUESA

b) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di- Denotação e Conotação


ferentes na escrita:
acender (atear) e ascender (subir); Exemplos de variação no significado das palavras:
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido literal)
cela (compartimento) e sela (arreio); Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido fi-
censo (recenseamento) e senso ( juízo); gurado)
paço (palácio) e passo (andar). Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
As variações nos significados das palavras ocasionam o
c) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo (co-
perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia: notação) das palavras.
caminho (subst.) e caminho (verbo);
cedo (verbo) e cedo (adv.); Denotação
livre (adj.) e livre (verbo). Uma palavra é usada no sentido denotativo quando
apresenta seu significado original, independentemente do
- Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po- contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado mais
rém de formas relativamente próximas. São palavras pa- objetivo e comum, aquele imediatamente reconhecido e
recidas na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de muitas vezes associado ao primeiro significado que aparece
vime; cesta de basquete/esporte) e sesta (descanso após o nos dicionários, sendo o significado mais literal da palavra.
almoço), eminente (ilustre) e iminente (que está para ocor- A denotação tem como finalidade informar o receptor
rer), osso (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/ da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ca-
ou verbo “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento ráter prático. É utilizada em textos informativos, como jor-
(medida) e cumprimento (saudação), autuar (processar) e nais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medica-
mentos, textos científicos, entre outros. A palavra “pau”, por
atuar (agir), infligir (aplicar pena) e infringir (violar), deferir
exemplo, em seu sentido denotativo é apenas um pedaço de
(atender a) e diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emi-
madeira. Outros exemplos:
tir som), aprender (conhecer) e apreender (assimilar; apro-
O elefante é um mamífero.
priar-se de), tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a
As estrelas deixam o céu mais bonito!
movimento, trânsito), mandato (procuração) e mandado
(ordem), emergir (subir à superfície) e imergir (mergulhar,
Conotação
afundar). Uma palavra é usada no sentido conotativo quando apre-
senta diferentes significados, sujeitos a diferentes interpreta-
Hiperonímia e Hiponímia ções, dependendo do contexto em que esteja inserida, referin-
do-se a sentidos, associações e ideias que vão além do sentido
Hipônimos e hiperônimos são palavras que perten- original da palavra, ampliando sua significação mediante a cir-
cem a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o cunstância em que a mesma é utilizada, assumindo um senti-
hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o hipe- do figurado e simbólico. Como no exemplo da palavra “pau”:
rônimo, mais abrangente. em seu sentido conotativo ela pode significar castigo (dar-lhe
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipô- um pau), reprovação (tomei pau no concurso).
nimo, criando, assim, uma relação de dependência se- A conotação tem como finalidade provocar sentimen-
mântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de hi- tos no receptor da mensagem, através da expressividade e
peronímia com carros, já que veículos é uma palavra de afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa
significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em
Veículos é um hiperônimo de carros. conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios pu-
Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em blicitários, entre outros. Exemplos:
quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili- Você é o meu sol!
zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita Minha vida é um mar de tristezas.
a repetição desnecessária de termos. Você tem um coração de pedra!

Fontes de pesquisa: * Dica: Procure associar Denotação com Dicionário: tra-


http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos, ta-se de definição literal, quando o termo é utilizado com o
-antonimos,-homonimos-e-paronimos sentido que consta no dicionário.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Fontes de pesquisa:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São cao/
Paulo: Saraiva, 2010. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Portuguesa – 2ªed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000. Paulo: Saraiva, 2010.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Polissemia De igual forma, quando uma palavra é polissêmica,


ela pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma in-
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir terpretação. Para fazer a interpretação correta é muito im-
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de portante saber qual o contexto em que a frase é proferida.
um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra, Muitas vezes, a disposição das palavras na construção
mas que abarca um grande número de significados dentro do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo,
de seu próprio campo semântico. comicidade. Repare na figura abaixo:
Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
algo. Possibilidades de várias interpretações levando-se
em consideração as situações de aplicabilidade. Há uma
infinidade de exemplos em que podemos verificar a ocor-
rência da polissemia:
O rapaz é um tremendo gato.
O gato do vizinho é peralta.
Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
sobrevivência
O passarinho foi atingido no bico.

Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de (http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto-


computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em co- cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014).
mum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido de Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras,
“entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”, mas duas seriam:
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
Corte e coloração capilar
“jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o
ou
formato quadriculado que têm.
Faço corte e pintura capilar
Polissemia e homonímia
Fontes de pesquisa:
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.
A confusão entre polissemia e homonímia é bastante co-
htm
mum. Quando a mesma palavra apresenta vários significados,
estamos na presença da polissemia. Por outro lado, quando Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
duas ou mais palavras com origens e significados distintos reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
têm a mesma grafia e fonologia, temos uma homonímia. Paulo: Saraiva, 2010.
A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
polissemia porque os diferentes significados para a pala-
vra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra Figura de Linguagem, Pensamento e Construção
polissêmica: pode significar o elemento básico do alfabe-
to, o texto de uma canção ou a caligrafia de um determi- Figura de Palavra
nado indivíduo. Neste caso, os diferentes significados es-
tão interligados porque remetem para o mesmo conceito, A figura de palavra consiste na substituição de uma
o da escrita. palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico,
seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja
Polissemia e ambiguidade por uma associação, uma comparação, uma similaridade.
Estes dois conceitos básicos - contiguidade e similaridade
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na - permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de pala-
interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode vras: a metáfora e a metonímia.
ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação Metáfora
específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em
uma frase. Vejamos a seguinte frase: Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão
Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen- em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em
temente são felizes. virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa
Neste caso podem existir duas interpretações diferen- e percebe entre elas certas semelhanças. É o emprego da
tes: palavra fora de seu sentido normal.
As pessoas têm alimentação equilibrada porque são Observação: toda metáfora é uma espécie de com-
felizes ou são felizes porque têm uma alimentação equi- paração implícita, em que o elemento comparativo não
librada. aparece.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Seus olhos são como luzes brilhantes. 10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e so-
O exemplo acima mostra uma comparação evidente, frem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse
através do emprego da palavra como. mundo).
Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes. 11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para
Neste exemplo não há mais uma comparação (note a ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram
ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja, chamadas, não apenas uma mulher).
qualidade do que é semelhante. 12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me. (= Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone).
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta 13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (=
é a verdadeira metáfora. Alguns astronautas foram à Lua).
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança pen-
Observe outros exemplos: derá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado).

1) “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Saiba que: Sinédoque se relaciona com o conceito de
Pessoa) extensão (como nos exemplos 9, 10 e 11, acima), enquan-
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que to que a metonímia abrange apenas os casos de analogia
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio ou de relação. Não há necessidade, atualmente, de se fa-
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando zer distinção entre ambas as figuras.
a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).
Catacrese
2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar
algum. Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contí-
Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na fra- nuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando,
se acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão por falta de um termo específico para designar um con-
que indica uma alma rústica e abandonada (e angustiada- ceito, toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a
mente inútil), há uma comparação subentendida: Minha empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma es- Exemplos: “asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do ros-
trada de terra que leva a lugar algum. to”, “pé da mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.

A Amazônia é o pulmão do mundo. Perífrase ou Antonomásia


Em sua mente povoa só inveja.
Trata-se de uma expressão que designa um ser atra-
vés de alguma de suas características ou atributos, ou de
Metonímia
um fato que o celebrizou. É a substituição de um nome
por outro ou por uma expressão que facilmente o iden-
É a substituição de um nome por outro, em virtude de
tifique:
existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua
pode acontecer dos seguintes modos:
atraindo visitantes do mundo todo.
A Cidade-Luz (=Paris)
1 - Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
O rei das selvas (=o leão)
Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (= Observação: quando a perífrase indica uma pes-
As lâmpadas iluminam o mundo). soa, recebe o nome de antonomásia. Exemplos:
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida prati-
da cruz. (= Não te afastes da religião). cando o bem.
4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito
Havana. (= Fumei um saboroso charuto). jovem.
5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Só- O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
crates tomou veneno).
6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu Sinestesia
trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que pro-
duzo). Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen-
7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
(= Bebeu todo o líquido que estava no cálice). cruzamento de sensações distintas.
8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os micro- Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito =
fones foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram auditivo; áspero = tátil)
atrás dos jogadores). No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte-
9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressa- cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual)
damente. (= Várias pessoas passavam apressadamente). Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil)

10
LÍNGUA PORTUGUESA

Fontes de pesquisa: Prosopopeia ou Personificação


http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2.
php É a atribuição de ações ou qualidades de seres ani-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa mados a seres inanimados, ou características humanas a
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. seres não humanos. Observe os exemplos:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- As pedras andam vagarosamente.
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um
Paulo: Saraiva, 2010. cego que guia.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
Antítese Chora, violão.
Consiste no emprego de palavras que se opõem Apóstrofe
quanto ao sentido. O contraste que se estabelece serve,
essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envol-
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coi-
vidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos
sa personificada, de acordo com o objetivo do discurso,
mesmos. Observe os exemplos:
que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-
“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
O corpo é grande e a alma é pequena. se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele
“Quando um muro separa, uma ponte une.” imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe
Não há gosto sem desgosto. a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim
a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr
Paradoxo ou oximoro em evidência com tal invocação. Realiza-se por meio do
vocativo. Exemplos:
É a associação de ideias, além de contrastantes, con- Moça, que fazes aí parada?
traditórias. Seria a antítese ao extremo. “Pai Nosso, que estais no céu”
Era dor, sim, mas uma dor deliciosa. Deus, ó Deus! Onde estás?
Ouvimos as vozes do silêncio.
Gradação
Eufemismo
Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni-
É o emprego de uma expressão mais suave, mais no- mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descen-
bre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa ás- dente (anticlímax). Observe este exemplo:
pera, desagradável ou chocante. Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Se- com seus olhos claros e brincalhões...
nhor. (= morreu)
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou) O objetivo do narrador é mostrar a expressividade
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu) dos olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se re-
Faltar à verdade. (= mentir) fere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e
seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em
Ironia ordem decrescente de intensidade. Outros exemplos:
“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu
É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do
amor”. (Olavo Bilac)
que as palavras ou frases expressam, geralmente apresen-
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, co-
tando intenção sarcástica. A ironia deve ser muito bem
lheu-se.” (Padre Antônio Vieira)
construída para que cumpra a sua finalidade; mal cons-
truída, pode passar uma ideia exatamente oposta à dese-
jada pelo emissor. Fontes de pesquisa:
Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil5.
mínima. php
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
que estão por perto. Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
O governador foi sutil como um elefante. Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Hipérbole Paulo: Saraiva, 2010.

É a expressão intencionalmente exagerada com o in- As figuras de construção (ou sintática, de sintaxe)
tuito de realçar uma ideia. ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso. ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela
“Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac) maior expressividade que se dá ao sentido.
O concurseiro quase morre de tanto estudar!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Elipse Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais:


eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles (as
Consiste na omissão de um ou mais termos numa três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há um
oração e que podem ser facilmente identificados, tanto desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não con-
por elementos gramaticais presentes na própria oração, corda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que
quanto pelo contexto. está inscrita no sujeito. Exemplos:
A catedral da Sé. (a igreja catedral) O que não compreendo é como os brasileiros persista-
Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao es- mos em aceitar essa situação.
tádio) Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jar-
Zeugma dins públicos.” (Machado de Assis)

Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita Observe que os verbos persistamos, temos e somos
a omissão de um termo já mencionado anteriormente. não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos
Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de (brasileiros, agricultores e cariocas, que estão na terceira
português) pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os
Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só brasileiros, os agricultores e os cariocas).
modernos. (só havia móveis)
Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de) Polissíndeto / Assíndeto

Silepse Para estudarmos as duas figuras de construção é ne-


cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
A silepse é a concordância que se faz com o termo período composto. No período composto por coordena-
que não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A
É uma concordância anormal, psicológica, porque se faz oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo)
com um termo oculto, facilmente identificado. Há três ti- é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assin-
pos de silepse: de gênero, número e pessoa. dética. Recordado esse conceito, podemos definir as duas
figuras de construção:
Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e fe-
minino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordân- 1) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela re-
cia se faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos: petição enfática dos conectivos. Observe o exemplo: O
menino resmunga, e chora, e grita, e ninguém faz nada.
1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o
calor intenso. 2) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela au-
Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando sência, pela omissão das conjunções coordenativas, re-
com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence sultando no uso de orações coordenadas assindéticas.
ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo Exemplos:
(a cidade de Porto Velho). Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família.
“Vim, vi, venci.” (Júlio César)
2) Vossa Excelência está preocupado.
O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes- Pleonasmo
soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa
Excelência. Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é
Silepse de Número - Os números são singular e plu- realçar a ideia, torná-la mais expressiva.
ral. A silepse de número ocorre quando o verbo da oração O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo.
não concorda gramaticalmente com o sujeito da oração,
mas com a ideia que nele está contida. Exemplos: Nesta oração, os termos “o problema da violência”
A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade e “lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto.
de Salvador. Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto. pronome “lo” classificado como objeto direto pleonástico.
Outro exemplo:
Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei- Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
tos das orações (que se encontram no singular, procissão
e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o
isso que os verbos estão no plural. pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo-
nástico.

12
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quan- Figuras de Som


do confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um
pleonasmo vicioso: Aliteração - Consiste na repetição de consoantes
Vi aquela cena com meus próprios olhos. como recurso para intensificação do ritmo ou como efei-
Vamos subir para cima. to sonoro significativo.
Ele desceu pra baixo. Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Anáfora Quem com ferro fere com ferro será ferido.

É a repetição de uma ou mais palavras no início de Assonância - Consiste na repetição ordenada de


várias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de sons vocálicos idênticos:
coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em cau- “Sou um mulato nato no sentido lato mulato demo-
sa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar crático do litoral.”
determinado elemento textual. Os termos anafóricos po-
dem muitas vezes ser substituídos por pronomes. Onomatopéia - Ocorre quando se tentam reproduzir
Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te conhe- na forma de palavras os sons da realidade:
cia. Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
ba.” (Padre Vieira) Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil8.
Anacoluto php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Consiste na mudança da construção sintática no meio Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
da frase, ficando alguns termos desligados do resto do Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
período. É a quebra da estrutura normal da frase para a
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
introdução de uma palavra ou expressão sem nenhuma
Paulo: Saraiva, 2010.
ligação sintática com as demais.
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
Questões
Morrer, todo haveremos de morrer.
1-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BI-
BLIOTECONOMIA – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que
A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo, de-
os shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de
veria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma in-
terrupção da frase e esta expressão fica à parte, não exer- um tipo de linguagem figurada denominada
cendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é (A) metonímia.
chamado de “frase quebrada”, pois corresponde a uma (B) eufemismo.
interrupção na sequência lógica do pensamento. (C) hipérbole.
(D) metáfora.
Observação: o anacoluto deve ser usado com finali- (E) catacrese.
dade expressiva em casos muito especiais. Em geral, evi-
te-o. 1-) A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu
contexto convencional (denotativo) e transportá-la para
Hipérbato / Inversão um novo campo de significação (conotativa), por meio de
uma comparação implícita, de uma similaridade existente
É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da entre as duas.
ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o (Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portu-
sujeito venha depois do predicado: gues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.
Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O htm)
amor venceu ao ódio) RESPOSTA: “D”.
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
Eu cuido dos meus problemas)

* Observação da Zê!
O nosso Hino Nacional é um exemplo de hipérbato, já
que, na ordem direta, teríamos:
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado re-
tumbante de um povo heroico”.

13
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a


figura de linguagem presente na tira seguinte:

A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia

2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar algu-
ma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” no
lugar de “que morreram por nós”.
RESPOSTA: “D”.

3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/UFAL/2014)


Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, ho-
rário do dia em que o calor é mais intenso, a temperatura do asfalto, medida com um termômetro de contato, chegou a
65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em: 22 jan. 2014.

O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de lingua-
gem. O autor do texto refere-se a qual figura de linguagem?
A) Eufemismo.
B) Hipérbole.
C) Paradoxo.
D) Metonímia.
E) Hipérbato.

3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para representar o calor excessivo que está fazendo. A figura que é
utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a hipérbole.
RESPOSTA: “B”.

PONTUAÇÃO.

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem para compor a coesão e a coerência textual, além de
ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Um texto escrito adquire diferentes significados quando pontuado
de formas diversificadas. O uso da pontuação depende, em certos momentos, da intenção do autor do discurso. Assim,
os sinais de pontuação estão diretamente relacionados ao contexto e ao interlocutor.

14
LÍNGUA PORTUGUESA

Principais funções dos sinais de pontuação Ponto de Exclamação (!)

Ponto (.) 1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,


susto, súplica, etc.
1- Indica o término do discurso ou de parte dele, en- Sim! Claro que eu quero me casar com você!
cerrando o período.
2- Depois de interjeições ou vocativos
2- Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com- Ai! Que susto!
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final de pe- João! Há quanto tempo!
ríodo, este não receberá outro ponto; neste caso, o ponto
de abreviatura marca, também, o fim de período. Exem- Ponto de Interrogação (?)
plo: Estudei português, matemática, constitucional, etc. (e
não “etc..”) Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
3- Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do vedo)
ponto, assim como após o nome do autor de uma citação:
Haverá eleições em outubro Reticências (...)
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napo-
leão Mendes de Almeida) (ou: Almeida.) 1- Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lá-
pis, canetas, cadernos...
4- Os números que identificam o ano não utilizam
ponto nem devem ter espaço a separá-los, bem como os 2- Indica interrupção violenta da frase.
números de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”

Ponto e Vírgula ( ; ) 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este


mal... pega doutor?
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito: Dei-
xa, depois, o coração falar...
dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo
pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...”
Vírgula (,)
(VIEIRA)
Não se usa vírgula
2- Separa partes de frases que já estão separadas
por vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros,
* separando termos que, do ponto de vista sintático,
montanhas, frio e cobertor. ligam-se diretamente entre si:
- entre sujeito e predicado:
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de Todos os alunos da sala foram advertidos.
motivos, decreto de lei, etc. Sujeito predicado
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola; - entre o verbo e seus objetos:
Caminhada na praia; O trabalho custou sacrifício aos
Reunião com amigos. realizadores.
V.T.D.I. O.D. O.I.
Dois pontos (:)
Usa-se a vírgula:
1- Antes de uma citação
Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto: - Para marcar intercalação:
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun-
2- Antes de um aposto dância, vem caindo de preço.
Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão
tarde e calor à noite. produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indús-
3- Antes de uma explicação ou esclarecimento trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não
Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, viven- querem abrir mão dos lucros altos.
do a rotina de sempre.
- Para marcar inversão:
4- Em frases de estilo direto a) do adjunto adverbial (colocado no início da ora-
Maria perguntou: ção): Depois das sete horas, todo o comércio está de portas
- Por que você não toma uma decisão? fechadas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos Questões


pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de 1-) (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014)
maio de 1982.

- Para separar entre si elementos coordenados (dis-


postos em enumeração):
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e ani-
mais.

- Para marcar elipse (omissão) do verbo:


Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.

- Para isolar:
- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasi-
leira, possui um trânsito caótico.
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.

Observações:
- Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres-
são latina et cetera, que significa “e outras coisas”, seria
dispensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o
acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empre- (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014) Se-
guemos etc. precedido de vírgula: Falamos de política, fu-
gundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontua-
tebol, lazer, etc.
ção está correta em:
A) Hagar disse, que não iria.
- As perguntas que denotam surpresa podem ter
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir,
combinados o ponto de interrogação e o de exclamação:
bifes e lagostas, aos vizinhos.
Você falou isso para ela?!
C) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas:
para Hagar e Helga
- Temos, ainda, sinais distintivos:
D) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse,
1-) a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa-
ração de siglas (IOF/UPC); Hagar à Helga.
2-) os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas E) Helga chegou com o recado: fomos convidados,
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira opção pelos Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
aos parênteses, principalmente na matemática;
3-) o asterisco ( * ) = usado para remeter o leitor a 1-) Correções realizadas:
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um A) Hagar disse que não iria. = não há vírgula entre
nome que não se quer mencionar. verbo e seu complemento (objeto)
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir bi-
Fontes de pesquisa: fes e lagostas aos vizinhos. = não há vírgula entre verbo e
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ seu complemento (objeto)
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-vir- C) Chegou o convite dos Stevensens: bife e lagostas
gula.htm para Hagar e Helga.
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- D) “Eles são chatos e nunca param de falar”, disse Ha-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São gar à Helga.
Paulo: Saraiva, 2010. E) Helga chegou com o recado: fomos convidados,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa pelos Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. RESPOSTA: “E”.

2-) (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO DO TRA-


BALHO – CESPE/2014 - adaptada)
A correção gramatical do trecho “Entre as bebidas al-
coólicas, cervejas e vinhos são as mais comuns em todo
o mundo” seria prejudicada, caso se inserisse uma vírgula
logo após a palavra “vinhos”.
( ) CERTO ( ) ERRADO

16
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) Não se deve colocar vírgula entre sujeito e predi- Observe outros exemplos:
cado, a não ser que se trate de um aposto (1), predicativo
do sujeito (2), ou algum termo que requeira estar separa- de águia aquilino
do entre pontuações. Exemplos: de aluno discente
O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa!
Os meninos, ansiosos (2), chegaram! de anjo angelical
RESPOSTA: “CERTO”. de ano anual

4-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014) Em de aranha aracnídeo


apenas uma das opções a vírgula foi corretamente em- de boi bovino
pregada. Assinale-a. de cabelo capilar
A) No dia seguinte, estavam todos cansados.
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas. de cabra caprino
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas de campo campestre ou rural
perplexas.
de chuva pluvial
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e
fundamental. de criança pueril
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em pe- de dedo digital
quena parte do território.
de estômago estomacal ou gástrico
5-) de falcão falconídeo
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. = correta de farinha farináceo
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas = não se
separa sujeito do predicado (o sujeito está no final). de fera ferino
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas de ferro férreo
perplexas = não se separa sujeito do predicado.
de fogo ígneo
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e
fundamental = não se separa sujeito do predicado. de garganta gutural
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque- de gelo glacial
na parte do território. = não se separa sujeito do predicado
RESPOSTA: “A”. de guerra bélico
de homem viril ou humano
de ilha insular
CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO, de inverno hibernal ou invernal
ADJETIVO, NUMERAL, PRONOME, VERBO, de lago lacustre
ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO E CONJUNÇÃO:
de leão leonino
EMPREGO E SENTIDO QUE IMPRIMEM ÀS
RELAÇÕES QUE ESTABELECEM. de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
de madeira lígneo
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou de mestre magistral
característica do ser e se relaciona com o substantivo,
de ouro áureo
concordando com este em gênero e número.
de paixão passional
As praias brasileiras estão poluídas. de pâncreas pancreático
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos de porco suíno ou porcino
(plural e feminino, pois concordam com “praias”). dos quadris ciático
de rio fluvial
Locução adjetiva
de sonho onírico
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne- de velho senil
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma
de vento eólico
coisa, tem-se uma locução. Às vezes, uma preposição +
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu- de vidro vítreo ou hialino
ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por de virilha inguinal
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio
de visão óptico ou ótico
(paixão desenfreada).

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Observação: nem toda locução adjetiva possui um adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por exem-
plo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.

Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):

O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como
adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto).

Adjetivo Pátrio (ou gentílico)

Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe alguns deles:

Estados e cidades brasileiras:

Alagoas alagoano
Amapá amapaense
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
Campinas campineiro ou campinense

Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Biformes - têm duas formas, sendo uma para o mas- Grau do Adjetivo
culino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no fe- Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a in-
minino somente o último elemento: o moço norte-america- tensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adje-
no, a moça norte-americana. tivo: o comparativo e o superlativo.

* Exceção: surdo-mudo e surda-muda. Comparativo

Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
como para o feminino: homem feliz e mulher feliz. buída a dois ou mais seres ou duas ou mais característi-
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no cas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de
feminino: conflito político-social e desavença político-social. igualdade, de superioridade ou de inferioridade.
Número dos Adjetivos
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade
No comparativo de igualdade, o segundo termo da
Plural dos adjetivos simples
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
quão.
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo
com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos
substantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
boa e boas. rioridade Analítico
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça No comparativo de superioridade analítico, entre os
função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a pala- dois substantivos comparados, um tem qualidade supe-
vra que estiver qualificando um elemento for, originalmente, rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...
um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: do que” ou “mais...que”.
a palavra cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se
estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Su-
Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza. perioridade Sintético

Veja outros exemplos: Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de


Motos vinho (mas: motos verdes) superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São
Paredes musgo (mas: paredes brancas). eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/supe-
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). rior, grande/maior, baixo/inferior.
Observe que:
Adjetivo Composto a) As formas menor e pior são comparativos de su-
perioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau,
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normal- respectivamente.
mente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas o últi- b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
mo elemento concorda com o substantivo a que se refere; os (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações
demais ficam na forma masculina, singular. Caso um dos ele- feitas entre duas qualidades de um mesmo elemento, de-
mentos que formam o adjetivo composto seja um substan- ve-se usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais
tivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará invariável.
grande e mais pequeno. Por exemplo:
Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, um substan-
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois
tivo, porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará
elementos.
como adjetivo. Caso se ligue a outra palavra por hífen, forma-
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
rá um adjetivo composto; como é um substantivo adjetivado,
o adjetivo composto inteiro ficará invariável. Veja: duas qualidades de um mesmo elemento.
Camisas rosa-claro.
Ternos rosa-claro. Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In-
Olhos verde-claros. ferioridade
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. Sou menos passivo (do) que tolerante.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
Superlativo
* Observação:
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer O superlativo expressa qualidades num grau muito
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou relati-
invariáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, ves- vo e apresenta as seguintes modalidades:
tidos cor-de-rosa. Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade
- O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele- de um ser é intensificada, sem relação com outros seres.
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. Apresenta-se nas formas:

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Analítica: a intensificação é feita com o auxílio Advérbio


de palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por
exemplo: O concurseiro é muito esforçado. Compare estes exemplos:
2-) Sintética: nesta, há o acréscimo de sufixos. Por
exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo. O ônibus chegou.
O ônibus chegou ontem.
Observe alguns superlativos sintéticos:
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sentido
benéfico - beneficentíssimo do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de tempo, de modo,
de lugar, de intensidade), do adjetivo e do próprio advérbio.
bom - boníssimo ou ótimo Estudei bastante. = modificando o verbo estudei
comum - comuníssimo Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio
(bem)
cruel - crudelíssimo
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um ad-
difícil - dificílimo jetivo (claros)
doce - dulcíssimo
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acres-
fácil - facílimo
centar ideia de:
fiel - fidelíssimo Tempo: Ela chegou tarde.
Lugar: Ele mora aqui.
Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de Modo: Eles agiram mal.
um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres. Negação: Ela não saiu de casa.
Essa relação pode ser: Dúvida: Talvez ele volte.
1-) De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
todas. Flexão do Advérbio
2-) De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
todas. Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre-
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios,
* Note bem: porém, admitem a variação em grau. Observe:
1) O superlativo absoluto analítico é expresso por
meio dos advérbios muito, extremamente, excepcional- Grau Comparativo
mente, antepostos ao adjetivo.
2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo
duas formas: uma erudita - de origem latina - outra po- modo que o comparativo do adjetivo:
pular - de origem vernácula. A forma erudita é constituída - de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re-
pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, nato fala tão alto quanto João.
-imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma - de inferioridade: menos + advérbio + que (do que):
popular é constituída do radical do adjetivo português + Renato fala menos alto do que João.
o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. - de superioridade:
3-) Os adjetivos terminados em –io fazem o super- 1-) Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
lativo com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os fala mais alto do que João.
terminados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, 2-) Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
cheio – cheíssimo. melhor que João.

Fontes de pesquisa: Grau Superlativo


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf32.php O superlativo pode ser analítico ou sintético:
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- - Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São fala muito alto.
Paulo: Saraiva, 2010. muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa de modo
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- - Sintético: formado com sufixos: Renato fala altís-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. simo.

* Observação: as formas diminutivas (cedinho, perti-


nho, etc.) são comuns na língua popular.
Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
A criança levantou cedinho. (muito cedo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação dos Advérbios Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido

De acordo com a circunstância que exprime, o advér- Há palavras como muito, bastante, que podem apare-
bio pode ser de: cer como advérbio e como pronome indefinido.
Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo
adentro, afora, alhures, aquém, embaixo, externamente, a e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
distância, à distância de, de longe, de perto, em cima, à
direita, à esquerda, ao lado, em volta. * Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio
Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, (não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante”
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para
doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já,
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja:
enfim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes,
imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessi-
1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito,
vamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente,
pois “muitos” não dá!). = advérbio
de vez em quando, de quando em quando, a qualquer mo-
mento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia. 2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estu-
Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa, dei muitos capítulos) = pronome indefinido
acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à
toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse Advérbios Interrogativos
modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado,
a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
“-mente”: calmamente, tristemente, propositadamente, pa- por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes
cientemente, amorosamente, docemente, escandalosamen- às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja:
te, bondosamente, generosamente.
Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efeti- Interrogação Direta Interrogação Indireta
vamente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum. Onde mora? Indaguei onde morava.
Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel- Por que choras? Não sei por que choras.
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
Aonde vai? Perguntei aonde ia.
Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso,
bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, Donde vens? Pergunto donde vens.
assaz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de Quando voltas? Pergunto quando voltas.
todo, de muito, por completo, extremamente, intensamen-
te, grandemente, bem (quando aplicado a propriedades Locução Adverbial
graduáveis).
Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so- Quando há duas ou mais palavras que exercem fun-
mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo: Bran- ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode
do, o vento apenas move a copa das árvores. expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordi-
Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também. nariamente por uma preposição. Veja:
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para
adolescência. dentro, por aqui, etc.
Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
meus amigos por comparecerem à festa. geral, frente a frente, etc.
tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
hoje em dia, nunca mais, etc.
* Saiba que:
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-
* Observações:
se ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Fi-
- tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
carei o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o
cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio:
menos tarde possível. Chegou muito cedo. (advérbio)
- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, Joana é muito bela. (adjetivo)
em geral sufixamos apenas o último: Por exemplo: O alu- De repente correram para a rua. (verbo)
no respondeu calma e respeitosamente.

21
LÍNGUA PORTUGUESA

- Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais * Quando indicado no singular, o artigo definido pode
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio: indicar toda uma espécie:
Essa matéria é mais bem interessante que aquela. O trabalho dignifica o homem.
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
- O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér- * No caso de nomes próprios personativos, denotando a
bio: Cheguei primeiro. ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do
artigo:
- Quanto a sua função sintática: o advérbio e a lo- Marcela é a mais extrovertida das irmãs.
cução adverbial desempenham na oração a função de O Pedro é o xodó da família.
adjunto adverbial, classificando-se de acordo com as cir-
cunstâncias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao * No caso de os nomes próprios personativos estarem
advérbio. Exemplo: no plural, são determinados pelo uso do artigo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad- Os Maias, os Incas, Os Astecas...
verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi- * Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a)
dade e de tempo, respectivamente. para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o arti-
go), o pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
Fontes de pesquisa:
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
(qualquer classe)
morf75.php
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- * Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São cultativo:
Paulo: Saraiva, 2010. Preparei o meu curso. Preparei meu curso.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. * A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ideia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa de aproximação numérica:
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. O máximo que ele deve ter é uns vinte anos.

Artigo * O artigo também é usado para substantivar palavras


pertencentes a outras classes gramaticais:
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo- Não sei o porquê de tudo isso.
se como o termo variável que serve para individualizar ou
generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero * Há casos em que o artigo definido não pode ser usado:
(masculino/feminino) e o número (singular/plural). - antes de nomes de cidade e de pessoas conhecidas:
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va- O professor visitará Roma.
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns”). Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a presen-
ça do artigo será obrigatória: O professor visitará a bela Roma.
Artigos definidos – São aqueles usados para indicar
seres determinados, expressos de forma individual: - antes de pronomes de tratamento:
O concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam Vossa Senhoria sairá agora?
muito. Exceção: O senhor vai à festa?

- após o pronome relativo “cujo” e suas variações:


Artigos indefinidos – São aqueles usados para indi-
Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?
car seres de modo vago, impreciso:
Este é o candidato cuja nota foi a mais alta.
Uma candidata foi aprovada! Umas candidatas foram
aprovadas!
Fontes de pesquisa:
http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
* Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do Saraiva, 2010.
numeral “ambos”: Português: novas palavras: literatura, gramática, redação /
Ambos os concursos cobrarão tal conteúdo. Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SACCONI, Luiz
Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São
* Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso Paulo: Nova Geração, 2010.
do artigo, outros não: Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

22
LÍNGUA PORTUGUESA

Conjunção 3) Alternativas: ligam orações ou palavras, expres-


sando ideia de alternância ou escolha, indicando fatos
Além da preposição, há outra palavra também inva- que se realizam separadamente. São elas: ou, ou... ou,
riável que, na frase, é usada como elemento de ligação: ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez.
a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
palavras de mesma função em uma oração:
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e 4) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
São Paulo. que expressa ideia de conclusão ou consequência. São
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguin-
te, por isso, assim.
Morfossintaxe da Conjunção Marta estava bem preparada para o teste, portanto
não ficou nervosa.
As conjunções, a exemplo das preposições, não exer- Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.
cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
5) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração
Classificação da Conjunção que a explica, que justifica a ideia nela contida. São elas:
que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.
De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as Não demore, que o filme já vai começar.
conjunções podem ser classificadas em coordenativas e Falei muito, pois não gosto do silêncio!
subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse iso- Conjunções Subordinativas
lamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de
sentido que cada um dos elementos possui. Já no segun- São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas
do caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção dependente da outra. A oração dependente, introduzida
depende da existência do outro. Veja: pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora-
ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começa-
Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo. do quando ela chegou.
Podemos separá-las por ponto: O baile já tinha começado: oração principal
Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo. quando: conjunção subordinativa (adverbial tempo-
ral)
Temos acima um exemplo de conjunção (e, con- ela chegou: oração subordinada
sequentemente, orações coordenadas) coordenativa –
“mas”. Já em: As conjunções subordinativas subdividem-se em in-
Espero que eu seja aprovada no concurso! tegrantes e adverbiais:
Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração 1. Integrantes - Indicam que a oração subordinada
principal): por elas introduzida completa ou integra o sentido da
Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período temos principal. Introduzem orações que equivalem a substan-
uma oração subordinada substantiva objetiva direta (ela tivos, ou seja, as orações subordinadas substantivas. São
exerce a função de objeto direto do verbo da oração prin- elas: que, se.
cipal). Quero que você volte. (Quero sua volta)

Conjunções Coordenativas 2. Adverbiais - Indicam que a oração subordinada


exerce a função de adjunto adverbial da principal. De
São aquelas que ligam orações de sentido completo acordo com a circunstância que expressam, classificam-
e independente ou termos da oração que têm a mesma se em:
função gramatical. Subdividem-se em: a) Causais: introduzem uma oração que é causa da
1) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando ocorrência da oração principal. São elas: porque, que,
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e não), como (= porque, no início da frase), pois que, visto que,
não só... mas também, não só... como também, bem como, uma vez que, porquanto, já que, desde que, etc.
não só... mas ainda. Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
A sua pesquisa é clara e objetiva.
Não só dança, mas também canta. b) Concessivas: introduzem uma oração que expressa
ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir
2) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex- sua realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que,
pressando ideia de contraste ou compensação. São elas: se bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquan-
mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não to, etc.
obstante. Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.

23
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Condicionais: introduzem uma oração que indica a i) Consecutivas: introduzem uma oração que ex-
hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São pressa a consequência da principal. São elas: de sorte que,
elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde de modo que, sem que (= que não), de forma que, de jeito
que, a menos que, sem que, etc. que, que (tendo como antecedente na oração principal uma
Se precisar de minha ajuda, telefone-me. palavra como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc.
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do
** Dica: você deve ter percebido que a conjunção exame.
condicional “se” também é conjunção integrante. A di-
ferença é clara ao ler as orações que são introduzidas Atenção: Muitas conjunções não têm classificação
por ela. Acima, ela nos dá a ideia da condição para que única, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de
recebamos um telefonema (se for preciso ajuda). Já na acordo com o sentido que apresentam no contexto
oração: (grifo da Zê!).
Não sei se farei o concurso...
Não há ideia de condição alguma, há? Outra coisa: O bom relacionamento entre as conjunções de um
o verbo da oração principal (sei) pede complemento texto garante a perfeita estruturação de suas frases e pa-
rágrafos, bem como a compreensão eficaz de seu conteú-
(objeto direto, já que “quem não sabe, não sabe algo”).
do. Interagindo com palavras de outras classes gramaticais
Portanto, a oração em destaque exerce a função de ob-
essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e
jeto direto da oração principal, sendo classificada como
textos - como os pronomes, preposições, alguns advérbios
oração subordinada substantiva objetiva direta.
e numerais -, as conjunções fazem parte daquilo a que se
d) Conformativas: introduzem uma oração que ex- pode chamar de “a arquitetura textual”, isto é, o conjun-
prime a conformidade de um fato com outro. São elas: to das relações que garantem a coesão do enunciado. O
conforme, como (= conforme), segundo, consoante, etc. sucesso desse conjunto de relações depende do conhe-
O passeio ocorreu como havíamos planejado. cimento do valor relacional das conjunções, uma vez que
estas interferem semanticamente no enunciado.
e) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi- Dessa forma, deve-se dedicar atenção especial às con-
nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração prin- junções tanto na leitura como na produção de textos. Nos
cipal. São elas: para que, a fim de que, que, porque (= textos narrativos, elas estão muitas vezes ligadas à expres-
para que), que, etc. são de circunstâncias fundamentais à condução da histó-
Toque o sinal para que todos entrem no salão. ria, como as noções de tempo, finalidade, causa e conse-
quência. Nos textos dissertativos, evidenciam muitas vezes
f) Proporcionais: introduzem uma oração que ex- a linha expositiva ou argumentativa adotada - é o caso
pressa um fato relacionado proporcionalmente à ocor- das exposições e argumentações construídas por meio de
rência do expresso na principal. São elas: à medida que, contrastes e oposições, que implicam o uso das adversati-
à proporção que, ao passo que e as combinações quanto vas e concessivas.
mais... (mais), quanto menos... (menos), quanto menos...
(mais), quanto menos... (menos), etc. Fontes de pesquisa:
O preço fica mais caro à medida que os produtos es- http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
casseiam. php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
nais à medida em que, na medida que e na medida em Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
que. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
g) Temporais: introduzem uma oração que acres-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
centa uma circunstância de tempo ao fato expresso na
oração principal. São elas: quando, enquanto, antes que,
Interjeição
depois que, logo que, todas as vezes que, desde que, sem-
pre que, assim que, agora que, mal (= assim que), etc. Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
A briga começou assim que saímos da festa. ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
h) Comparativas: introduzem uma oração que ex- maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
pressa ideia de comparação com referência à oração a manifestação de um suspiro, um estado da alma decor-
principal. São elas: como, assim como, tal como, como se, rente de uma situação particular, um momento ou um
(tão)... como, tanto como, tanto quanto, do que, quanto, contexto específico. Exemplos:
tal, qual, tal qual, que nem, que (combinado com menos Ah, como eu queria voltar a ser criança!
ou mais), etc. ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem. Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição

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LÍNGUA PORTUGUESA

O significado das interjeições está vinculado à manei- Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
ra como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva!
sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto em Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus!
que for utilizada. Exemplos: Silêncio: Psiu! Silêncio!
Psiu! Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
contexto: alguém pronunciando esta expressão na
rua ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te cha- * Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis,
mando! Ei, espere!” isto é, não sofrem variação em gênero, número e grau
como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo,
Psiu! aspecto e voz como os verbos. No entanto, em uso espe-
contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig- cífico, algumas interjeições sofrem variação em grau. Não
nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silên- se trata de um processo natural desta classe de palavra,
cio!” mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
Locução Interjetiva
puxa: interjeição; tom da fala: euforia
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
puxa: interjeição; tom da fala: decepção
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama-
As interjeições cumprem, normalmente, duas fun- tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise
ções: dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha-
a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale- me Deus!, Quem me dera!
gria, tristeza, dor, etc.
Ah, deve ser muito interessante! * Observações:
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas.
b) Sintetizar uma frase apelativa. Por exemplo:
Cuidado! Saia da minha frente. Ué! (= Eu não esperava por essa!)
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe.)
As interjeições podem ser formadas por:
a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô 2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o
b) palavras: Oba! Olá! Claro! seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes gra-
c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu maticais podem aparecer como interjeições. Por exemplo:
Deus! Ora bolas! Viva! Basta! (Verbos)
Fora! Francamente! (Advérbios)
Classificação das Interjeições 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
frase” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Por
Comumente, as interjeições expressam sentido de: exemplo:
Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido! Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique quieto!
Atenção! Olha! Alerta!
Afugentamento: Fora! Passa! Rua! 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Miau!
Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
quá!, etc.
Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Ânimo! Adiante!
5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá! tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!” exclamativo
Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente! e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Por exemplo:
Essa não! Chega! Basta! “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Deus!
Desculpa: Perdão! Fontes de pesquisa:
Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena! http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.php
Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! Português – Literatura, Produção de Textos & Gramá-
Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa! tica – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus
Pô! Ora! Barbosa Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.

25
LÍNGUA PORTUGUESA

Numeral Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais


Numeral é a palavra variável que indica quantidade flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes- triplas do medicamento.
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa deter- Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
minada sequência. número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
duas terças partes.
* Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
que os números indicam em relação aos seres. Assim, dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
quando a expressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
etc.) não se trata de numerais, mas sim de algarismos. nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a de sentido. É o que ocorre em frases como:
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala- “Me empresta duzentinho...”
vras consideradas numerais porque denotam quantidade, É artigo de primeiríssima qualidade!
proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década, O time está arriscado por ter caído na segundona. (=
dúzia, par, ambos(as), novena. segunda divisão de futebol)

Classificação dos Numerais Emprego e Leitura dos Numerais

- Cardinais: indicam quantidade exata ou determina- - Os numerais são escritos em conjunto de três alga-
da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais têm rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de
sentido coletivo, como por exemplo: século, par, dúzia, dé- centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma
cada, bimestre. separação através de ponto ou espaço correspondente a
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.
- Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém - Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
ou alguma coisa ocupa numa determinada sequência: pri-
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
meiro, segundo, centésimo, etc.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ção “e” após “mil”, seguido de centena:
* Observação importante:
Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.
final e penúltimo também indicam posição dos seres, mas
são classificadas como adjetivos, não ordinais.
* Mas, se a centena começa por “zero” ou termina
por dois zeros, usa-se o “e”:
- Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou Seu salário será de mil e quinhentos reais. (R$1.500,00)
seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc. Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)
- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. até décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o nume-
ral venha depois do substantivo;
Flexão dos numerais

Os numerais cardinais que variam em gênero são um/ Ordinais Cardinais


uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/ João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
duzentas em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/ D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão,
variam em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
cardinais são invariáveis. Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
- Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido
primeiro segundo milésimo como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeira segunda milésima
** Dica: Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
primeiros segundos milésimos associação. Ficará mais fácil!
primeiras segundas milésimas - Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o
ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esfor- Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
ço e conseguiram o triplo de produção. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e
outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua utilização
exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é dispensado
caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.

Função sintática do Numeral

O numeral tem mais de uma função sintática:


- se na oração analisada seu papel é de adjetivo, o numeral assumirá a função de adjunto adnominal; se fizer papel
de substantivo, pode ter a função de sujeito, objeto direto ou indireto.

Visitamos cinco casas, mas só gostamos de duas.


Objeto direto = cinco casas
Núcleo do objeto direto = casas
Adjunto adnominal = cinco
Objeto indireto = de duas
Núcleo do objeto indireto = duas

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos

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LÍNGUA PORTUGUESA

cem centésimo cêntuplo centésimo


duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Preposição

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreensão
do texto.

Tipos de Preposição

1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.

2. Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja, for-
madas por uma derivação imprópria: como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.

3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma
(preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em frente
a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gênero
ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela.

* Essa concordância não é característica da preposição, mas das palavras às quais ela se une.
Esse processo de junção de uma preposição com outra palavra pode se dar a partir dos processos de:

1. Combinação: união da preposição “a” com o artigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocábulos
não sofrem alteração.
2. Contração: união de uma preposição com outra palavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + o =
do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = daquele, em + isso = nisso.
3. Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do pronome
“aquilo”).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dicas sobre preposição Utilizando pronomes, teremos:


O homem julga que é superior à natureza, por isso ele
- O “a” pode funcionar como preposição, pronome pes- a destrói...
soal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a” seja Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de ter-
um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo para mos (homem e natureza).
determiná-lo como um substantivo singular e feminino.
A matéria que estudei é fácil! Grande parte dos pronomes não possuem significa-
dos fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação
- Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar a re-
termos e estabelece relação de subordinação entre eles. ferência exata daquilo que está sendo colocado por meio
Irei à festa sozinha. dos pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos
Entregamos a flor à professora! pronomes interrogativos e indefinidos, os demais prono-
*o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição. mes têm por função principal apontar para as pessoas do
discurso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situa-
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o ção no tempo ou no espaço. Em virtude dessa caracterís-
lugar e/ou a função de um substantivo. tica, os pronomes apresentam uma forma específica para
Nós trouxemos a apostila. = Nós a trouxemos. cada pessoa do discurso.

Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
por meio das preposições: [minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala]
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
Destino = Irei a Salvador. [tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se
Modo = Saiu aos prantos. fala]
Lugar = Sempre a seu lado. A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
Assunto = Falemos sobre futebol. [dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem
Tempo = Chegarei em instantes.
se fala]
Causa = Chorei de saudade.
Fim ou finalidade = Vim para ficar.
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
Instrumento = Escreveu a lápis.
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme-
Posse = Vi as roupas da mamãe.
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência
Autoria = livro de Machado de Assis
através do pronome seja coerente em termos de gênero
Companhia = Estarei com ele amanhã.
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
Matéria = copo de cristal.
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado.
Meio = passeio de barco.
Origem = Nós somos do Nordeste.
Conteúdo = frascos de perfume. Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. nossa escola neste ano.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais. [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân-
cia adequada]
* Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo- [neste: pronome que determina “ano” = concordância
cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre- adequada]
positiva por trás de. [ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con-
cordância inadequada]
Fontes de pesquisa:
http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/ Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- Pronomes Pessoais
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. São aqueles que substituem os substantivos, indi-
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação cando diretamente as pessoas do discurso. Quem fala
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. ou escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a
Pronome quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer
Pronome é a palavra variável que substitui ou acom- referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala.
panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun-
forma. ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
O homem julga que é superior à natureza, por isso o ou do caso oblíquo.
homem destrói a natureza...

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronome Reto - 1.ª pessoa do plural (nós): nos


- 2.ª pessoa do plural (vós): vos
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen- - 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
tença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flo-
res. * Observações:
- O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê- se apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união
nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a entre o pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”.
principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Por acompanhar diretamente uma preposição, o prono-
Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim con- me “lhe” exerce sempre a função de objeto indireto na
figurado: oração.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser obje-
- 1.ª pessoa do singular: eu tos diretos como objetos indiretos.
- 2.ª pessoa do singular: tu Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como
- 3.ª pessoa do singular: ele, ela objetos diretos.
- 1.ª pessoa do plural: nós
- 2.ª pessoa do plural: vós - Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem com-
- 3.ª pessoa do plural: eles, elas binar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a
formas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos,
* Atenção: esses pronomes não costumam ser usados lha, lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la,
como complementos verbais na língua-padrão. Frases vo-las. Observe o uso dessas formas nos exemplos que
como “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxe- seguem:
ram eu até aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem Trouxeste o pacote?
ser evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua Sim, entreguei-to ainda há pouco.
formal, devem ser usados os pronomes oblíquos corres- Não contaram a novidade a vocês?
pondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxe- Não, no-la contaram.
ram-me até aqui”.
No Brasil, essas combinações não são usadas; até
mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
* Observação: frequentemente observamos a omis-
são do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá
* Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas
porque as próprias formas verbais marcam, através de
especiais depois de certas terminações verbais.
suas desinências, as pessoas do verbo indicadas pelo pro-
- Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome
nome reto: Fizemos boa viagem. (Nós)
assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a
terminação verbal é suprimida. Por exemplo:
Pronome Oblíquo fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na dizer + a = dizê-la
sentença, exerce a função de complemento verbal (ob-
jeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto - Quando o verbo termina em som nasal, o pronome
indireto) assume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo:
viram + o: viram-no
* Observação: o pronome oblíquo é uma forma va- repõe + os = repõe-nos
riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação in- retém + a: retém-na
dica a função diversa que eles desempenham na oração: tem + as = tem-nas
pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblí-
quo marca o complemento da oração. Pronome Oblíquo Tônico
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo
com a acentuação tônica que possuem, podendo ser áto- Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedi-
nos ou tônicos. dos por preposições, em geral as preposições a, para, de
e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a
Pronome Oblíquo Átono função de objeto indireto da oração. Possuem acentuação
tônica forte.
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não Quadro dos pronomes oblíquos tônicos:
são precedidos de preposição. Possuem acentuação tôni- - 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
ca fraca: Ele me deu um presente. - 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
Tabela dos pronomes oblíquos átonos - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela
- 1.ª pessoa do singular (eu): me - 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
- 2.ª pessoa do singular (tu): te - 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe - 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas

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LÍNGUA PORTUGUESA

Observe que as únicas formas próprias do pronome - 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti.
tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). Conhece a ti mesmo.
As demais repetem a forma do pronome pessoal do caso
reto. - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.
Guilherme já se preparou.
- As preposições essenciais introduzem sempre pro- Ela deu a si um presente.
nomes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do Antônio conversou consigo mesmo.
caso reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso
da língua formal, os pronomes costumam ser usados des- - 1.ª pessoa do plural (nós): nos.
ta forma: Lavamo-nos no rio.
Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos.
Não há nenhuma acusação contra mim. Vós vos beneficiastes com esta conquista.
Não vá sem mim.
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo.
* Atenção: Há construções em que a preposição, Eles se conheceram.
apesar de surgir anteposta a um pronome, serve para in- Elas deram a si um dia de folga.
troduzir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses
casos, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito * O pronome é reflexivo quando se refere à mesma
for um pronome, deverá ser do caso reto. pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. ** É pronome recíproco quando indica reciprocidade
Não vá sem eu mandar. de ação:
Nós nos amamos.
* A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!” Olhamo-nos calados.
está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
Pronomes de Tratamento
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
mim!
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan-
- A combinação da preposição “com” e alguns pro-
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes-
nomes originou as formas especiais comigo, contigo, con-
soa. Alguns exemplos:
sigo, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
frequentemente exercem a função de adjunto adverbial Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
de companhia. Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
Ele carregava o documento consigo. sos em geral
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
- A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas: à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
Ela veio até mim, mas nada falou. sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais,
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido governadores, secretários de Estado, presidente da Repú-
de) inclusão, usaremos as formas retas: blica (sempre por extenso)
Todos foram bem na prova, até eu! (=inclusive eu) Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades
- As formas “conosco” e “convosco” são substituídas Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, pró- até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de
prios, todos, ambos ou algum numeral. igual categoria
Você terá de viajar com nós todos. Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes
Estávamos com vós outros quando chegaram as más de direito
notícias. Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento
Ele disse que iria com nós três. cerimonioso
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
Pronome Reflexivo
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
São pronomes pessoais oblíquos que, embora fun- nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são emprega-
cionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao dos no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no trata-
sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe mento familiar. Você e vocês são largamente empregados
a ação expressa pelo verbo. no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
Quadro dos pronomes reflexivos: de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma
- 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim. vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou
Eu não me lembro disso. literária.

31
LÍNGUA PORTUGUESA

* Observações: * Note que: A forma do possessivo depende da pes-


* Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de soa gramatical a que se refere; o gênero e o número con-
tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados em cordam com o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua
relação à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Se- contribuição naquele momento difícil.
nhor Ministro, compareça a este encontro.
* Observações:
** Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado,
Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com pro- seu José.
priedade.
- Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos-
- Os pronomes de tratamento representam uma forma se. Podem ter outros empregos, como:
indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
anos.
- 3.ª pessoa: embora os pronomes de tratamento diri-
jam-se à 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi- lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
vos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles
devem ficar na 3.ª pessoa. - Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro- pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Excelência
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. trouxe sua mensagem?

- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou - Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi-


nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e
do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. anotações.
Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de
“você”, não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto - Em algumas construções, os pronomes pessoais
exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa. oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou se-
guir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
teus cabelos. (errado) - O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo, para
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos que não ocorra redundância: Coloque tudo nos respectivos
seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular lugares.
ou
Pronomes Demonstrativos
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular São utilizados para explicitar a posição de certa pala-
vra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode
Pronomes Possessivos
ser de espaço, de tempo ou em relação ao discurso.
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
(possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
(coisa possuída). *Em relação ao espaço:
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do - Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
singular) pessoa que fala:
Este material é meu.
NÚMERO PESSOA PRONOME - Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da
singular primeira meu(s), minha(s) pessoa com quem se fala:
singular segunda teu(s), tua(s) Esse material em sua carteira é seu?
singular terceira seu(s), sua(s) - Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está
plural primeira nosso(s), nossa(s) distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com
plural segunda vosso(s), vossa(s) quem se fala:
Aquele material não é nosso.
plural terceira seu(s), sua(s) Vejam aquele prédio!

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LÍNGUA PORTUGUESA

*Em relação ao tempo: Elas mesmas fizeram isso.


- Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em Eles próprios cozinharam.
relação à pessoa que fala: Os próprios alunos resolveram o problema.
Esta manhã farei a prova do concurso! - semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.

- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, - tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria.
porém relativamente próximo à época em que se situa a
pessoa que fala: * Note que:
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! - Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en-
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta- tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa
mento no tempo, referido de modo vago ou como tempo mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em
remoto: primeiro lugar.
Naquele tempo, os professores eram valorizados.
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
*Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fala- irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
rá ou escreverá):
- Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer - Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará: com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta,
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or- disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
tografia, concordância. = naquilo)

- Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende Pronomes Indefinidos


fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja- São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discur-
mos! so, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
quantidade indeterminada.
- Este e aquele são empregados quando se quer fazer Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém
-plantadas.
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao
termo referido em primeiro lugar e este para o referido por
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pes-
último:
soa de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de
forma imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
ser humano que seguramente existe, mas cuja identidade
este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
é desconhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
aquele [Palmeiras])
ou
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres na
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo; frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano,
aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo], nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
aquele [Palmeiras])
Algo o incomoda?
- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou Quem avisa amigo é.
invariáveis, observe:
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque- - Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um
la(s). ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quanti-
Invariáveis: isto, isso, aquilo. dade aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).

* Também aparecem como pronomes demonstrativos: Cada povo tem seus costumes.
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e Certas pessoas exercem várias profissões.
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) * Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti-
Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te vos, ora pronomes indefinidos adjetivos:
indiquei.) algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, mui-
tos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, ne-
- mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em nhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s),
gênero quando têm caráter reforçativo: qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal,
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem. tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vá-
Eu mesma refiz os exercícios. rios, várias.

33
LÍNGUA PORTUGUESA

Menos palavras e mais ações. Pronomes Relativos


Alguns se contentam pouco.
São aqueles que representam nomes já mencionados
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va- anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem
riáveis e invariáveis. Observe: as orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, um grupo racial sobre outros.
tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca, (afirma a superioridade de um grupo racial sobre ou-
vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, ne- tros = oração subordinada adjetiva).
nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, O pronome relativo “que” refere-se à palavra “siste-
outras, quantas. ma” e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a pa-
lavra “sistema” é antecedente do pronome relativo que.
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
O antecedente do pronome relativo pode ser o pro-
algo, cada.
nome demonstrativo o, a, os, as.
Não sei o que você está querendo dizer.
*
Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu- Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
ral é feito em seu interior). expresso.
Quem casa, quer casa.
- Todo e toda no singular e junto de artigo significa in-
teiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as: Observe:
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira) Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades) quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro) quantas.
Trabalho todo dia. (= todos os dias) Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.

São locuções pronominais indefinidas: cada qual, Note que:


cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), - O pronome “que” é o relativo de mais largo empre-
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= go, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser
certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc. substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando
Cada um escolheu o vinho desejado. seu antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
Indefinidos Sistemáticos A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (=
a qual)
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos, Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
percebemos que existem alguns grupos que criam oposi- quais)
ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (=
sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm as quais)
sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade - O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamen-
algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
te para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde”
e qualquer, que generaliza.
(que podem ter várias classificações) são pronomes rela-
Essas oposições de sentido são muito importantes na
construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas tivos. Todos eles são usados com referência à pessoa ou
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen- coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas
tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os preposições: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de
pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”,
de que fazem parte: neste caso, geraria ambiguidade. Veja: Regressando de São
Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou encantado
prático. (quem me deixou encantado: o sítio ou minha tia?).
Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas
pessoas quaisquer. dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utili-
za-se o qual / a qual)
*Nenhum é contração de nem um, forma mais enfática,
que se refere à unidade. Repare: - O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que,
Nenhum candidato foi aprovado. e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas
Nem um candidato foi aprovado. (um, nesse caso, é deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural.
numeral)

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LÍNGUA PORTUGUESA

- O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda - Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
com o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o con- ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de
sequente (o ser possuído, com o qual concorda em gêne- gente que conversava, (que) ria, observava.
ro e número); não se usa artigo depois deste pronome;
“cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais. Pronomes Interrogativos
Existem pessoas cujas ações são nobres.
(antecedente) (consequente) São usados na formulação de perguntas, sejam elas
diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefini-
*interpretação do pronome “cujo” na frase acima: dos, referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo im-
ações das pessoas. É como se lêssemos “de trás para fren- preciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e
te”. Outro exemplo: variações), quanto (e variações).
Comprei o livro cujo autor é famoso. (= autor do livro) Com quem andas?
Qual seu nome?
** se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro- Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
nome:
O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu- Sobre os pronomes:
se a)
O pronome pessoal é do caso reto quando tem fun-
- “Quanto” é pronome relativo quando tem por an- ção de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblí-
tecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) quo quando desempenha função de complemento.
e tudo: 1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
Emprestei tantos quantos foram necessários. 2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
(antecedente) lhe ajudar.
Ele fez tudo quanto havia falado.
(antecedente) Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
- O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sem- reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce fun-
pre precedido de preposição. ção de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
É um professor a quem muito devemos. Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discur-
(preposição) so. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta
para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não
- “Onde”, como pronome relativo, sempre possui an- sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
tecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
casa onde morava foi assaltada.
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
diferentemente dos segundos, que são sempre precedi-
- Na indicação de tempo, deve-se empregar quando
dos de preposição.
ou em que.
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que
Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
eu estava fazendo.
no exterior.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para
mim o que eu estava fazendo.
- Podem ser utilizadas como pronomes relativos as
palavras: Fontes de pesquisa:
- como (= pelo qual) – desde que precedida das pala- http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
vras modo, maneira ou forma: morf42.php
Não me parece correto o modo como você agiu sema- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
na passada. Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
- quando (= em que) – desde que tenha como antece- reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
dente um nome que dê ideia de tempo: Paulo: Saraiva, 2010.
Bons eram os tempos quando podíamos jogar video- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
game. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

- Os pronomes relativos permitem reunir duas ora- Substantivo


ções numa só frase.
O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste Substantivo é a classe gramatical de palavras variá-
esporte. veis, as quais denominam todos os seres que existem,
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito. sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e
fenômenos, os substantivos também nomeiam:

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LÍNGUA PORTUGUESA

-lugares: Alemanha, Portugal Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode
-sentimentos: amor, saudade ser observada. Só podemos observar a beleza numa pes-
-estados: alegria, tristeza soa ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro
-qualidades: honestidade, sinceridade... ser para se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um
-ações: corrida, pescaria... substantivo abstrato.
Os substantivos abstratos designam estados, qualida-
Morfossintaxe do substantivo des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (es-
Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun- tado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sen-
ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como timento).
núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di-
reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, Substantivos Coletivos
funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do ob- Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha,
jeto ou como núcleo do vocativo. Também encontramos outra abelha, mais outra abelha.
substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem- Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
penhadas por grupos de palavras.
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne-
Classificação dos Substantivos cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
Substantivos Comuns e Próprios palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan-
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de
Observe a definição: seres da mesma espécie (abelhas).

Cidade: s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas ca- O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda
a sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
(em oposição aos bairros). mesmo estando no singular, designa um conjunto de se-
res da mesma espécie.
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada Substantivo coletivo Conjunto de:
cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan-
tivo comum. assembleia pessoas reunidas
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de alcateia lobos
uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
acervo livros
homem, mulher, país, cachorro.
Estamos voando para Barcelona. antologia trechos literários selecionados
arquipélago ilhas
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da
banda músicos
espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio –
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de bando desordeiros ou malfeitores
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. banca examinadores

Substantivos Concretos e Abstratos batalhão soldados


cardume peixes
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser caravana viajantes peregrinos
que existe, independentemente de outros seres.
cacho frutas
Observação: os substantivos concretos designam se- cancioneiro canções, poesias líricas
res do mundo real e do mundo imaginário. colmeia abelhas
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Brasília. concílio bispos
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas- congresso parlamentares, cientistas
ma. elenco atores de uma peça ou filme
Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres esquadra navios de guerra
que dependem de outros para se manifestarem ou exis- enxoval roupas
tirem.

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LÍNGUA PORTUGUESA

falange soldados, anjos Substantivo Composto: é aquele formado por dois


ou mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passa-
fauna animais de uma região tempo.
feixe lenha, capim
Substantivos Primitivos e Derivados
flora vegetais de uma região
frota navios mercantes, ônibus Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de
girândola fogos de artifício nenhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O
substantivo limoeiro, por exemplo, é derivado, pois se ori-
horda bandidos, invasores
ginou a partir da palavra limão.
médicos, bois, credores, Substantivo Derivado: é aquele que se origina de
junta
examinadores outra palavra.
júri jurados
Flexão dos substantivos
legião soldados, anjos, demônios
leva presos, recrutas O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
malta malfeitores ou desordeiros vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por
exemplo, pode sofrer variações para indicar:
manada búfalos, bois, elefantes,
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo:
matilha cães de raça meninão / Diminutivo: menininho
molho chaves, verduras
Flexão de Gênero
multidão pessoas em geral
insetos (gafanhotos, Gênero é um princípio puramente linguístico, não de-
nuvem
mosquitos, etc.) vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito
penca bananas, chaves a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram
pinacoteca pinturas, quadros a seres animais providos de sexo, quer designem apenas
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
quadrilha ladrões, bandidos Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
ramalhete flores feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos
rebanho ovelhas que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja
estes títulos de filmes:
repertório peças teatrais, obras musicais O velho e o mar
réstia alhos ou cebolas Um Natal inesquecível
romanceiro poesias narrativas Os reis da praia

revoada pássaros Pertencem ao gênero feminino os substantivos que


sínodo párocos podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
talha lenha A história sem fim
Uma cidade sem passado
tropa muares, soldados As tartarugas ninjas
turma estudantes, trabalhadores
vara porcos Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes

Formação dos Substantivos Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam


Substantivos Simples e Compostos uma forma para cada gênero: gato – gata, homem – mu-
lher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a Substantivos Uniformes: apresentam uma única forma,
terra. que serve tanto para o masculino quanto para o feminino.
O substantivo chuva é formado por um único elemen- Classificam-se em:
to ou radical. É um substantivo simples.
- Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
Substantivo Simples: é aquele formado por um úni- se faz mediante a utilização das palavras “macho” e “fê-
co elemento. mea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. jacaré fêmea.
Veja agora: O substantivo guarda-chuva é formado por - Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes a
dois elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemunha, a
composto. vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

- Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: in- Formação do Feminino dos Substantivos Unifor-
dicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega e mes
a colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
Epicenos:
Saiba que: Substantivos de origem grega termina- Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
dos em ema ou oma são masculinos: o fonema, o poema,
o sistema, o sintoma, o teorema. Não é possível saber o sexo do jacaré em questão.
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma
- Existem certos substantivos que, variando de gêne- forma para indicar o masculino e o feminino.
ro, variam em seu significado: Alguns nomes de animais apresentam uma só for-
o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz) ma para designar os dois sexos. Esses substantivos são
o cabeça (líder) e a cabeça (parte do corpo) chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando
o capital (dinheiro) e a capital (cidade) houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se
o coma (sono mórbido) e a coma (cabeleira, juba) palavras macho e fêmea.
o lente (professor) e a lente (vidro de aumento) A cobra macho picou o marinheiro.
o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclu- A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.
são)
o praça (soldado raso) e a praça (área pública) Sobrecomuns:
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emis- Entregue as crianças à natureza.
sora)
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo
Formação do Feminino dos Substantivos Bifor- masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso,
mes nem o artigo nem um possível adjetivo permitem identi-
ficar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja:
- Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno A criança chorona chamava-se João.
- aluna. A criança chorona chamava-se Maria.
- Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a
ao masculino: freguês - freguesa Outros substantivos sobrecomuns:
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma
de três formas: boa criatura.
1- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
2- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã Marcela faleceu
3- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
Comuns de Dois Gêneros:
* Exceções: barão – baronesa, ladrão- ladra, sultão Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
- sultana
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
- Substantivos terminados em -or:
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
A distinção de gênero pode ser feita através da análi-
se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs-
- Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa:
tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante;
cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa /
um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa;
duque - duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
repórter francês - repórter francesa
- Substantivos que formam o feminino trocando o -e
final por -a: elefante - elefanta - A palavra personagem é usada indistintamente nos
dois gêneros.
- Substantivos que têm radicais diferentes no mascu- a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
lino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nu-
vens os personagens dos contos de carochinha.
- Substantivos que formam o feminino de maneira b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femi-
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras ante- nino: O problema está nas mulheres de mais idade, que
riores: czar – czarina, réu - ré não aceitam a personagem.

- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo


fotográfico Ana Belmonte.

38
LÍNGUA PORTUGUESA

Observe o gênero dos substantivos seguintes: Flexão de Número do Substantivo

Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó Em português, há dois números gramaticais: o singu-


(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o lar, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
proclama, o pernoite, o púbis. do plural é o “s” final.
Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata,
a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a Plural dos Substantivos Simples
libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
- Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã –
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon
gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo- - cânones.
grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, - Os substantivos terminados em “m” fazem o plural
o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o tra- em “ns”: homem - homens.
coma, o hematoma.
- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plu-
* Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc. ral pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes.

Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções, * Atenção: O plural de caráter é caracteres.
nomes de cidades são femininos.
A histórica Ouro Preto. - Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
A dinâmica São Paulo. se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; cara-
A acolhedora Porto Alegre. col – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul
Uma Londres imensa e triste. e cônsules.
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de
duas maneiras:
Gênero e Significação
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
Muitos substantivos têm uma significação no mascu-
lino e outra no feminino. Observe: Observação: a palavra réptil pode formar seu plural de
o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai
à frente de um bloco carnavalesco, manejando um bas- - Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
tão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou duas maneiras:
proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do 1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
(ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a 2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capi- riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
tal (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma (cabelei-
ra), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral - Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural
(cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na admi- de três maneiras.
nistração da crisma e de outros sacramentos), a crisma 1- substituindo o -ão por -ões: ação - ações
(sacramento da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato 2- substituindo o -ão por -ães: cão - cães
de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta 3- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
planície de vegetação), o guia (pessoa que guia outras), a
- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
guia (documento, pena grande das asas das aves), o grama
o látex - os látex.
(unidade de peso), a grama (relva), o caixa (funcionário da
caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamentos), o lente Plural dos Substantivos Compostos
(professor), a lente (vidro de aumento), o moral (ânimo), a
moral (honestidade, bons costumes, ética), o nascente (lado - A formação do plural dos substantivos compostos
onde nasce o Sol), a nascente (a fonte), o maria-fumaça depende da forma como são grafados, do tipo de palavras
(trem como locomotiva a vapor), maria-fumaça (locomoti- que formam o composto e da relação que estabelecem en-
va movida a vapor), o pala (poncho), a pala (parte anterior tre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se
do boné ou quepe, anteparo), o rádio (aparelho receptor), a como os substantivos simples: aguardente/aguardentes,
rádio (emissora), o voga (remador), a voga (moda). girassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malme-
queres.

39
LÍNGUA PORTUGUESA

O plural dos substantivos compostos cujos elementos Plural dos Diminutivos


são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir: Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” fi-
nal e acrescenta-se o sufixo diminutivo.
- Flexionam-se os dois elementos, quando forma-
dos de: pãe(s) + zinhos = pãezinhos
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per- animai(s) + zinhos = animaizinhos
feitos botõe(s) + zinhos = botõezinhos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
mens
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras farói(s) + zinhos = faroizinhos
tren(s) + zinhos = trenzinhos
- Flexiona-se somente o segundo elemento, quan-
colhere(s) + zinhas = colherezinhas
do formados de:
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas flore(s) + zinhas = florezinhas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e mão(s) + zinhas = mãozinhas
alto-falantes
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-re- papéi(s) + zinhos = papeizinhos
cos nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos
- Flexiona-se somente o primeiro elemento, quan-
do formados de: túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
substantivo + preposição clara + substantivo = água- pai(s) + zinhos = paizinhos
de-colônia e águas-de-colônia pé(s) + zinhos = pezinhos
substantivo + preposição oculta + substantivo = ca-
valo-vapor e cavalos-vapor pé(s) + zitos = pezitos
substantivo + substantivo que funciona como deter-
minante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o Plural dos Nomes Próprios Personativos
tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave,
bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas
peixe-espada - peixes-espada. sempre que a terminação preste-se à flexão.

- Permanecem invariáveis, quando formados de: Os Napoleões também são derrotados.


verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora As Raquéis e Esteres.
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
ca-rolhas Plural dos Substantivos Estrangeiros

* Casos Especiais Substantivos ainda não aportuguesados devem ser


escritos como na língua original, acrescentando-se “s”
(exceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os
o louva-a-deus e os louva-a-deus shorts, os jazz.
o bem-te-vi e os bem-te-vis
o bem-me-quer e os bem-me-queres Substantivos já aportuguesados flexionam-se de
acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os cho-
o joão-ninguém e os joões-ninguém. pes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons,
os réquiens.
Plural das Palavras Substantivadas
Observe o exemplo:
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras Este jogador faz gols toda vez que joga.
classes gramaticais usadas como substantivo, apresen- O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
tam, no plural, as flexões próprias dos substantivos.
Pese bem os prós e os contras. Plural com Mudança de Timbre
O aluno errou na prova dos noves.
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos. Certos substantivos formam o plural com mudança de
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato
* Observação: numerais substantivados terminados fonético chamado metafonia (plural metafônico).
em “s” ou “z” não variam no plural: Nas provas mensais
consegui muitos seis e alguns dez.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Singular Plural - Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho


do ser. Pode ser:
Corpo (ô) corpos (ó) Analítico = substantivo acompanhado de um adjeti-
esforço esforços vo que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
fogo fogos Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
cador de diminuição. Por exemplo: casinha.
forno fornos
fosso fossos Fontes de pesquisa:
imposto impostos http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf12.php
olho olhos SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
osso (ô) ossos (ó) Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
ovo ovos Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
poço poços Paulo: Saraiva, 2010.
porto portos
posto postos Verbo
tijolo tijolos Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme-
ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
bolsos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
etc. outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
* Observação: distinga-se molho (ô) = caldo (molho
de carne), de molho (ó) = feixe (molho de lenha). Estrutura das Formas Verbais

Particularidades sobre o Número dos Substanti- Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
vos os seguintes elementos:
- Radical: é a parte invariável, que expressa o sig-
- Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o nificado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava;
norte, o leste, o oeste, a fé, etc. fal-am. (radical fal-)
- Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsa- - Tema: é o radical seguido da vogal temática que
mes, as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes. indica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo:
- Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do fala-r. São três as conjugações:
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida- 1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática -
de, bom nome) e honras (homenagem, títulos). E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
- Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas - Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
com sentido de plural: signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
Aqui morreu muito negro. falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicati-
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em cape- vo) / falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo)
las improvisadas. - Desinência número-pessoal: é o elemento que de-
signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número
Flexão de Grau do Substantivo (singular ou plural):
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir (indica a 3.ª pessoa do plural.)
as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
* Observação: o verbo pôr, assim como seus deriva-
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho conside- dos (compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação,
rado normal. Por exemplo: casa pois a forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”,
apesar de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho algumas formas do verbo: põe, pões, põem, etc.
do ser. Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um ad- Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
jetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in- Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
dicador de aumento. Por exemplo: casarão. dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-

41
LÍNGUA PORTUGUESA

to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, * Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza
por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, ama-
não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do nhecer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Ama-
radical): opinei, aprenderão, amaríamos. nheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido
figurado. Qualquer verbo impessoal, empregado em sen-
Classificação dos Verbos tido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou
seja, terá conjugação completa.
Classificam-se em: Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
- Regulares: são aqueles que apresentam o radical Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
inalterado durante a conjugação e desinências idênticas
às de todos os verbos regulares da mesma conjugação. * São impessoais, ainda:
Por exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, - o verbo passar (seguido de preposição), indicando
conjugados no presente do Modo Indicativo: tempo: Já passa das seis.

canto falo - os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição


“de”, indicando suficiência:
cantas falas Basta de tolices.
canta falas Chega de promessas.
cantamos falamos
- os verbos estar e ficar em orações como “Está bem,
cantais falais Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem re-
cantam falam ferência a sujeito expresso anteriormente (por exemplo:
“ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito
* Dica: Observe que, retirando os radicais, as desinên- como hipotético, tornando-se, tais verbos, pessoais.
cias modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se
idênticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se - o verbo dar + para da língua popular, equivalente de
repetirá o fato (desde que o verbo seja da primeira conju- “ser possível”. Por exemplo:
gação e regular!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo. Não deu para chegar mais cedo.
Substitua o radical “cant” e coloque o “and” (radical do Dá para me arrumar uma apostila?
verbo andar). Viu? Fácil!
- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, con-
- Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera- jugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do
ções no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse. plural. São unipessoais os verbos constar, convir, ser (=
* Observação: alguns verbos sofrem alteração no ra- preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de ani-
dical apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso mais (cacarejar, cricrilar, miar, latir, piar).
de: corrigir/corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo.
Tais alterações não caracterizam irregularidade, porque o * Observação: os verbos unipessoais podem ser usa-
fonema permanece inalterado. dos como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
- Defectivos: são aqueles que não apresentam conju- O que é que aquela garota está cacarejando?
gação completa. Os principais são adequar, precaver, com-
putar, reaver, abolir, falir. Principais verbos unipessoais:

- Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser
normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. (preciso, necessário):
Os principais verbos impessoais são: Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos
bastante)
* haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali- Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
zar-se ou fazer (em orações temporais). É preciso que chova. (Sujeito: que chova)
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia =
Existiam) 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, se-
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) guidos da conjunção que.
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão) Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz) à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a
* fazer, ser e estar (quando indicam tempo) vejo. (Sujeito: que não a vejo)
Faz invernos rigorosos na Europa.
Era primavera quando o conheci. * Observação: todos os sujeitos apontados são ora-
Estava frio naquele dia. cionais.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

* Importante:
- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escre-
ver/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui)
e ir (fui, ia, vades).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa
das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

43
LÍNGUA PORTUGUESA

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

44
LÍNGUA PORTUGUESA

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.doPreté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

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LÍNGUA PORTUGUESA

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita
no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:

1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade
já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

46
LÍNGUA PORTUGUESA

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito Formas Nominais


(eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai so-
bre ela mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma Além desses três modos, o verbo apresenta ainda for-
vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma mas que podem exercer funções de nomes (substantivo,
partícula integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas
conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas nominais. Observe:
serve de reforço da ideia reflexiva expressa pelo radical 1-) Infinitivo
do próprio verbo. 1.1-) Impessoal: exprime a significação do verbo de
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
respectivos pronomes): substantivo. Por exemplo:
Eu me arrependo Viver é lutar. (= vida é luta)
Tu te arrependes É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presen-
Vós vos arrependeis te (forma simples) ou no passado (forma composta). Por
exemplo:
Eles se arrependem
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.
2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos
em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto
1.2-) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às
representado por pronome oblíquo da mesma pessoa
três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular,
do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai so-
não apresenta desinências, assumindo a mesma forma do
bre ele mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos
impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
com os pronomes mencionados, formando o que se cha- 1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
ma voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava. 2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexi- 3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
va pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.
exemplo: A garota penteou-me.
2-) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adje-
* Observações: tivo ou advérbio. Por exemplo:
- Por fazerem parte integrante do verbo, os prono- Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de
mes oblíquos átonos dos verbos pronominais não pos- advérbio)
suem função sintática. Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)
- Há verbos que também são acompanhados de pro-
nomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmen- Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação
te pronominais - são os verbos reflexivos. Nos verbos em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
pessoa idêntica à do sujeito, exercem funções sintáticas. Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.
Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; * Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundis-
me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular mo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1- Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando
Modos Verbais futebol.
2 – Sim, senhora! Vou estar verificando!
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas
pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadei- Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada,
ro. Existem três modos: pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no mo-
mento da outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a lo-
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu cução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro
estudo para o concurso. em andamento, exigindo, no caso, a construção “verifica-
Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: rei” ou “vou verificar”.
Talvez eu estude amanhã.
Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, 3-) Particípio: quando não é empregado na formação
colega! dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o
resultado de uma ação terminada, flexionando-se em gê-
nero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames,
os candidatos saíram.

47
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos
tempos.

1. Tempos do Modo Indicativo


- Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamen-
te terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
- Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado:
Ele estudou as lições ontem à noite.
- Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

2. Tempos do Modo Subjuntivo


- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse
o jogo.

Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou
desejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele
vier à loja, levará as encomendas.

Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Modo Indicativo

Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

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LÍNGUA PORTUGUESA

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número
e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

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LÍNGUA PORTUGUESA

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
Observações:
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pe-
dido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

- o verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.
fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões sobre Verbo

1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) A assertiva correta quanto à conjugação verbal é:
A) Houveram eleições em outros países este ano.
B) Se eu vir você por aí, acabou.
C) Tinha chego atrasado vinte minutos.
D) Fazem três anos que não tiro férias.
E) Esse homem possue muitos bens.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Correções à frente: associar alguns comportamentos dos adolescentes ao uso


A) Houveram eleições em outros países este ano = prolongado desses aparelhos, e TÊM (concorda com o ter-
houve mo “os especialistas”) alertado os pais para que avaliem a
C) Tinha chego atrasado vinte minutos = tinha che- necessidade de estabelecer limites aos seus filhos.
gado Temos: faz, haver, têm.
D) Fazem três anos que não tiro férias = faz três anos RESPOSTA: “A”.
E) Esse homem possue muitos bens = possui
RESPOSTA: “B”. Vozes do Verbo

2-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA- Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
FE/2014) Complete as lacunas com os verbos, tempos e ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
modos indicados entre parênteses, fazendo a devida con- se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
cordância. que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
• O juiz agrário ainda não _________ no conflito porque as vozes verbais:
surgiram fatos novos de ontem para hoje. (intervir - pre-
térito perfeito do indicativo) - Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
• Uns poucos convidados ___________-se com os vídeos ação expressa pelo verbo:
postados no facebook. (entreter - pretérito imperfeito do
indicativo) Ele fez o tra-
• Representantes do PCRT somente serão aceitos na balho.
composição da chapa quando se _________ de criticar a sujeito agente ação objeto
atual diretoria do clube, (abster-se - futuro do subjuntivo) (paciente)
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A-) interveio - entretinham - abstiverem - Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a
B-) interviu - entretiveram - absterem ação expressa pelo verbo:
C-) intervém - entreteram - abstêm
D-) interviera - entretêm - abstiverem O trabalho foi feito p o r
E-) intervirá - entretenham - abstiveram ele.
sujeito paciente ação agen-
te da passiva
2-) O verbo “intervir” deve ser conjugado como o
verbo “vir”. Este, no pretérito perfeito do Indicativo fica - Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
“veio”, portanto, “interveio” (não existe “interviu”, já que agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
ele não deriva do verbo “ver”). Descartemos a alternativa
B. Como não há outro item com a mesma opção, chega- O menino feriu-se.
mos à resposta rapidamente!
RESPOSTA: “A”. * Observação: não confundir o emprego reflexivo do
3-) (POLÍCIA MILITAR/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO verbo com a noção de reciprocidade:
– VUNESP/2014) Considere o trecho a seguir. Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Já __________ alguns anos que estudos a respeito da Nós nos amamos. (um ama o outro)
utilização abusiva dos smartphones estão sendo desen-
volvidos. Os especialistas acreditam _________ motivos Formação da Voz Passiva
para associar alguns comportamentos dos adolescentes
ao uso prolongado desses aparelhos, e _________ alertado A voz passiva pode ser formada por dois processos:
os pais para que avaliem a necessidade de estabelecer analítico e sintético.
limites aos seus filhos.
De acordo com a norma-padrão da língua portugue- 1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte
sa, as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e maneira:
respectivamente, com:
(A) faz … haver … têm Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exem-
(B) fazem … haver … tem plo:
(C) faz … haverem … têm A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos:
(D) fazem … haverem … têm os alunos pintarão a escola)
(E) faz … haverem … tem O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)

3-) Já FAZ (sentido de tempo: não sofre flexão) alguns * Observação: o agente da passiva geralmente é
anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos smar- acompanhado da preposição por, mas pode ocorrer a
tphones estão sendo desenvolvidos. Os especialistas acre- construção com a preposição de. Por exemplo: A casa fi-
ditam HAVER (sentido de existir: não varia) motivos para cou cercada de soldados.

53
LÍNGUA PORTUGUESA

- Pode acontecer de o agente da passiva não estar * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma- ** Saiba que:
ção das frases seguintes: - com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo) porque o sujeito não pode ser visto como agente, pacien-
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per- te ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa) Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) morf54.php
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
tivo) Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assu- ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
me o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz
ativa. Observe a transformação da frase seguinte: Questões
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, se- (A) que o instituto Endeavor traz;
guido do pronome apassivador “se”. Por exemplo: (B) que o instituto Endeavor trouxe;
Abriram-se as inscrições para o concurso. (C) trazida pelo instituto Endeavor;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
(E) que traz o instituto Endeavor.
* Observação: o agente não costuma vir expresso na
voz passiva sintética. 1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa te-
remos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o
Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva tempo verbal no pretérito – assim como na passiva).
RESPOSTA: “B”.
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar
substancialmente o sentido da frase.
2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 -
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por
Sujeito da Ativa objeto Direto muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal:
A apostila foi comprada pelo concurseiro. A) consideravam.
(Voz Passiva) B) consideram.
Sujeito da Passiva Agente da Passi- C) considerem.
va D) considerarão.
E) considerariam.
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva;
o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo 2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então
tempo. Observe: na ativa teremos UM: muitos o consideram o maior mara-
- Os mestres têm constantemente aconselhado os alu- tonista de todos os tempos.
nos. RESPOSTA: “B”.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pe-
los mestres. 3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014)
- Eu o acompanharei. Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar
Ele será acompanhado por mim. uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal
resultante deverá ser

54
LÍNGUA PORTUGUESA

(A) terei glosado Observação: nesses casos, o uso do verbo no singular


(B) seria glosada enfatiza a unidade do conjunto; já a forma plural confere
(C) haverá de ser glosada destaque aos elementos que formam esse conjunto.
(D) será glosada
(E) terá sido glosada 2) Quando o sujeito é formado por expressão que
indica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos
3-) “vou glosar uma observação de Machado de As- de, perto de...) seguida de numeral e substantivo, o verbo
sis” – “vou glosar” expressa “glosarei”, então teremos na concorda com o substantivo.
passiva: uma observação de Machado de Assis será glo- Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
sada por mim. Perto de quinhentos alunos compareceram à solenida-
RESPOSTA: “D”. de.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últi-
mas Olimpíadas.

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL. Observação: quando a expressão “mais de um” asso-


ciar-se a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é
obrigatório: Mais de um colega se ofenderam na discussão.
(ofenderam um ao outro)
Os concurseiros estão apreensivos.
Concurseiros apreensivos. 3) Quando se trata de nomes que só existem no plu-
ral, a concordância deve ser feita levando-se em conta
No primeiro exemplo, o verbo estar encontra-se na a ausência ou presença de artigo. Sem artigo, o verbo
terceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, deve ficar no singular; com artigo no plural, o verbo deve
os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreen- ficar o plural.
sivos” está concordando em gênero (masculino) e número Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
(plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros. Estados Unidos possui grandes universidades.
Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê- Alagoas impressiona pela beleza das praias.
nero correspondem-se. As Minas Gerais são inesquecíveis.
A correspondência de flexão entre dois termos é a Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.
concordância, que pode ser verbal ou nominal.
4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou
Concordância Verbal indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos,
quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o ver-
É a flexão que se faz para que o verbo concorde com bo pode concordar com o primeiro pronome (na terceira
seu sujeito. pessoa do plural) ou com o pronome pessoal.
Quais de nós são / somos capazes?
a) Sujeito Simples - Regra Geral Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino-
em número e pessoa. Veja os exemplos: vadoras.
A prova para ambos os cargos será aplicada
às 13h. Observação: veja que a opção por uma ou outra for-
3.ª p. Singular 3.ª p. Singular ma indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando
alguém diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e
Os candidatos à vaga chegarão às 12h. nada fizemos”, ele está se incluindo no grupo dos omis-
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural sos. Isso não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós
sabiam de tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma
Casos Particulares denúncia.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido esti-
1) Quando o sujeito é formado por uma expressão ver no singular, o verbo ficará no singular.
partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, Qual de nós é capaz?
a maioria de, a maior parte de, grande parte de...) seguida Algum de vós fez isso.
de um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode
ficar no singular ou no plural. 5) Quando o sujeito é formado por uma expressão
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. que indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo
Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram deve concordar com o substantivo.
proposta. 25% do orçamento do país será destinado à Educação.
85% dos entrevistados não aprovam a administração
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos do prefeito.
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda- 1% do eleitorado aceita a mudança.
los destruiu / destruíram o monumento. 1% dos alunos faltaram à prova.

55
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando a expressão que indica porcentagem não é 10) Verbos Impessoais: por não se referirem a ne-
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nhum sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do sin-
número. gular. São verbos impessoais: Haver no sentido de existir;
25% querem a mudança. Fazer indicando tempo; Aqueles que indicam fenômenos
1% conhece o assunto. da natureza. Exemplos:
Havia muitas garotas na festa.
Se o número percentual estiver determinado por ar- Faz dois meses que não vejo meu pai.
tigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com Chovia ontem à tarde.
eles:
Os 30% da produção de soja serão exportados. b) Sujeito Composto
Esses 2% da prova serão questionados.
1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao ver-
6) O pronome “que” não interfere na concordância; bo, a concordância se faz no plural:
Pai e filho conversavam longamente.
já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do
Sujeito
singular.
Fui eu que paguei a conta.
Pais e filhos devem conversar com frequência.
Fomos nós que pintamos o muro. Sujeito
És tu que me fazes ver o sentido da vida.
Sou eu quem faz a prova. 2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas
Não serão eles quem será aprovado. gramaticais diferentes, a concordância ocorre da seguin-
te maneira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece
7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as- sobre a segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece
sumir a forma plural. sobre a terceira (eles). Veja:
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
taram os poetas. Primeira Pessoa do Plural (Nós)
Este candidato é um dos que mais estudaram!
Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos Segunda Pessoa do Plural (Vós)
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular:
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Pais e filhos precisam respeitar-se.
Nem uma das que me escreveram mora aqui. Terceira Pessoa do Plural (Eles)
*Quando “um dos que” vem entremeada de substan-
tivo, o verbo pode: Observação: quando o sujeito é composto, formado
a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atra- por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira
vessa o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que (ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do
faça o mesmo). plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no
b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão lugar de “tomaríeis”.
poluídos (noção de que existem outros rios na mesma
condição). 3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo,
passa a existir uma nova possibilidade de concordância:
em vez de concordar no plural com a totalidade do sujei-
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
to, o verbo pode estabelecer concordância com o núcleo
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
do sujeito mais próximo.
Vossa Excelência está cansado?
Faltaram coragem e competência.
Vossas Excelências renunciarão? Faltou coragem e competência.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se Compareceu o banca e todos os candidatos.
de acordo com o numeral.
Deu uma hora no relógio da sala. 4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concor-
Deram cinco horas no relógio da sala. dância é feita no plural. Observe:
Soam dezenove horas no relógio da praça. Abraçaram-se vencedor e vencido.
Baterão doze horas daqui a pouco. Ofenderam-se o jogador e o árbitro.

Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra Casos Particulares


relógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse su-
jeito. 1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas. sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
Soa quinze horas o relógio da matriz. Descaso e desprezo marca seu comportamento.
A coragem e o destemor fez dele um herói.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
dispostos em gradação, verbo no singular: pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um se- mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o
gundo me satisfaz. verbo ficará no plural.
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
3) Quando os núcleos do sujeito composto são uni- Nordeste.
dos por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a
acordo com o valor semântico das conjunções: notícia.
Drummond ou Bandeira representam a essência da
poesia brasileira. 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância
é feita com esse termo resumidor.
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apa-
“adição”. Já em: tia.
Juca ou Pedro será contratado. Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim- na vida das pessoas.
píada.
Outros Casos
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam
no singular. 1) O Verbo e a Palavra “SE”
Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há
4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem duas de particular interesse para a concordância verbal:
outro”, a concordância costuma ser feita no singular. a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
Um ou outro compareceu à festa. b) quando é partícula apassivadora.
Nem um nem outro saiu do colégio. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos
Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na
singular: Um e outro farão/fará a prova.
terceira pessoa do singular:
Precisa-se de funcionários.
5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por
Confia-se em teses absurdas.
“com”, o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos re-
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
cebem um mesmo grau de importância e a palavra “com”
verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e in-
tem sentido muito próximo ao de “e”.
diretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nes-
O pai com o filho montaram o brinquedo.
se caso, o verbo deve concordar com o sujeito da oração.
O governador com o secretariado traçaram os planos
Exemplos:
para o próximo semestre.
O professor com o aluno questionaram as regras. Construiu-se um posto de saúde.
Construíram-se novos postos de saúde.
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se Aqui não se cometem equívocos
a ideia é enfatizar o primeiro elemento. Alugam-se casas.
O pai com o filho montou o brinquedo.
O governador com o secretariado traçou os planos para ** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivado-
o próximo semestre. ra ou índice de indeterminação do sujeito, tente trans-
O professor com o aluno questionou as regras. formar a frase para a voz passiva. Se a frase construída
for “compreensível”, estaremos diante de uma partícula
Observação: com o verbo no singular, não se pode apassivadora; se não, o “se” será índice de indetermina-
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez ção. Veja:
que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” Precisa-se de funcionários qualificados.
são adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é Tentemos a voz passiva:
como se houvesse uma inversão da ordem. Veja: Funcionários qualificados são precisados (ou preci-
“O pai montou o brinquedo com o filho.” sos)? Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice
“O governador traçou os planos para o próximo semes- de indeterminação do sujeito.
tre com o secretariado.” Agora:
“O professor questionou as regras com o aluno.” Vendem-se casas.
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta!
*Casos em que se usa o verbo no singular: Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu
Café com leite é uma delícia! passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per-
O frango com quiabo foi receita da vovó. cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).

57
LÍNGUA PORTUGUESA

2) O Verbo “Ser” 3) O Verbo “Parecer”


A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân- verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se fle-
do sujeito. xiona o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.

Quando o sujeito ou o predicativo for: b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infini-
tivo sofre flexão:
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER As crianças parece gostarem do desenho.
concorda com a pessoa gramatical: (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
Ele é forte, mas não é dois. crianças)
Fernando Pessoa era vários poetas.
A esperança dos pais são eles, os filhos. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no
subordinada substantiva subjetiva).
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
que estiver no plural:
Concordância Nominal
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles
Quando o verbo SER indicar se ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
a) horas e distâncias, concordará com a expressão normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
numérica: termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
É uma hora. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
São quatro horas. seguintes regras gerais:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilô- 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
metros. se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas de-
nunciavam o que sentia.
b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
estar expressa ou subentendida: 2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Hoje é dia 26 de agosto. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle-
Hoje são 26 de agosto. xão nos seguintes casos:
c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade a) Adjetivo anteposto aos substantivos:
e for seguido de palavras ou expressões como pouco, mui- - O adjetivo concorda em gênero e número com o
to, menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular: substantivo mais próximo.
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso. Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. Encontramos caída a roupa e os prendedores.
Duas semanas de férias é muito para mim. Encontramos caído o prendedor e a roupa.

d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo) - Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de
parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
o verbo.
Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
No meu setor, eu sou a única mulher.
Aqui os adultos somos nós. b) Adjetivo posposto aos substantivos:
- O adjetivo concorda com o substantivo mais pró-
Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre- ximo ou com todos eles (assumindo a forma masculina
dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo plural se houver substantivo feminino e masculino).
concorda com o pronome sujeito. A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
Eu não sou ela. A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
Ela não é eu. A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos.
e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido
partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o Observação: os dois últimos exemplos apresentam
verbo SER concordará com o predicativo. maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente
A grande maioria no protesto eram jovens. se refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo
O resto foram atitudes imaturas. foi flexionado no plural masculino, que é o gênero predo-
minante quando há substantivos de gêneros diferentes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o Casos Particulares


adjetivo fica no singular ou plural.
A beleza e a inteligência feminina(s). É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É
O carro e o iate novo(s). permitido

3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o subs- adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se refe-
tantivo não for acompanhado de nenhum modificador: rem possuir sentido genérico (não vier precedido de ar-
Água é bom para saúde. tigo).
É proibido entrada de crianças.
b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for Em certos momentos, é necessário atenção.
modificado por um artigo ou qualquer outro determina- No verão, melancia é bom.
tivo: Esta água é boa para saúde. É preciso cidadania.
Não é permitido saída pelas portas laterais.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os
b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as
minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
muito felizes.
como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
5) Nas expressões formadas por pronome indefinido
Esta salada é ótima.
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + A educação é necessária.
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino São precisas várias medidas na educação.
singular: Os jovens tinham algo de misterioso.
Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem Quite
função adjetiva e concorda normalmente com o nome a
que se refere: Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
Cristina saiu só. mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
Cristina e Débora saíram sós. Seguem anexas as documentações requeridas.
A menina agradeceu: - Muito obrigada.
Observação: quando a palavra “só” equivale a “so- Muito obrigadas, disseram as senhoras.
mente” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, por- Seguem inclusos os papéis solicitados.
tanto, invariável: Eles só desejam ganhar presentes. Estamos quites com nossos credores.
** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”.
Se a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de ad- Bastante - Caro - Barato - Longe
vérbio, portanto, invariável; se houver coerência com o
segundo, função de adjetivo, então varia: Estas palavras são invariáveis quando funcionam
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo como advérbios. Concordam com o nome a que se refe-
Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad- rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje-
vérbio tivos, ou numerais.
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho.
de “só”, haverá, novamente, um adjetivo: (pronome adjetivo)
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descan- Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
As casas estão caras. (adjetivo)
sando)
Achei barato este casaco. (advérbio)
7) Quando um único substantivo é modificado por
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)
dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as
construções: Meio - Meia
a) O substantivo permanece no singular e coloca-se
o artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espa- a) A palavra “meio”, quando empregada como adjeti-
nhola e a portuguesa. vo, concorda normalmente com o nome a que se refere:
Pedi meia porção de polentas.
b) O substantivo vai para o plural e omite-se o ar-
tigo antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e b) Quando empregada como advérbio permanece in-
portuguesa. variável: A candidata está meio nervosa.

** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim


saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
candidata está um pouco nervosa”.

59
LÍNGUA PORTUGUESA

Alerta - Menos 2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”,


indireto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem não gosto.
sempre invariáveis. RESPOSTA: “E”.
Os concurseiros estão sempre alerta.
Não queira menos matéria! 3-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Considerada
a substituição do segmento grifado pelo que está entre
* Tome nota! parênteses ao final da transcrição, o verbo que deverá
Não variam os substantivos que funcionam como ad- permanecer no singular está em:
jetivos: (A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os pes-
Bomba – notícias bomba quisadores)
Chave – elementos chave (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu para a
Monstro – construções monstro ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima)
Padrão – escola padrão (C) No sistema havia também uma estação... (várias
estações)
Fontes de pesquisa: (D) ... a civilização maia da América Central tinha um
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49. método sustentável de gerenciamento da água. (os povos
php que habitavam a América Central)
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- (E) Um estudo publicado recentemente mostra que a
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser pu-
Saraiva, 2010. blicado).
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 3-)
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação (A) ... disse (disseram) (os pesquisadores)
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con-
tribuíram) (as mudanças do clima)
Questões (C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá
no singular
1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA (D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti-
E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS- nham) (os povos que habitavam a América Central)
TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar (E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos-
satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo
tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado).
estará corretamente empregado se dirigido a ministro de
RESPOSTA: “C”.
Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve
concordar com a locução pronominal de tratamento “Vossa
Excelência”.
( ) CERTO ( ) ERRADO REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL.

1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-


nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito. O Dá-se o nome de regência à relação de subordinação
pronome de tratamento é apenas a maneira de como tratar que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome
a autoridade, não concordando com o gênero (o pronome (regência nominal) e seus complementos.
de tratamento, apenas).
RESPOSTA: “ERRADO”. Regência Verbal = Termo Regente: VERBO

2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO A regência verbal estuda a relação que se estabelece
RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA- entre os verbos e os termos que os complementam (obje-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos
no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”, adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regên-
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, a cia, o que corresponde à diversidade de significados que
nova redação, de acordo com as regras sobre regência ver- estes verbos podem adquirir dependendo do contexto
bal e concordância nominal prescritas pela norma-padrão, em que forem empregados.
deveria ser A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar,
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador. contentar.
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador. A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no elevador. agrado ou prazer”, satisfazer.
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no elevador. Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
(E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no eleva- “agradar a alguém”.
dor.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Saiba que: Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente


O conhecimento do uso adequado das preposições é como o verbo amar:
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver- Amo aquele rapaz. / Amo-o.
bal (e também nominal). As preposições são capazes de Amo aquela moça. / Amo-a.
modificar completamente o sentido daquilo que está sendo Amam aquele rapaz. / Amam-no.
dito. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô. Observação: os pronomes lhe, lhes só acompanham
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se- esses verbos para indicar posse (caso em que atuam como
gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. adjuntos adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
A voluntária distribuía leite às crianças. Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
A voluntária distribuía leite com as crianças. reira)
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (obje- mor)
to indireto: às crianças); na segunda, como transitivo direto
(objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto adverbial). 3-) Verbos Transitivos Indiretos
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos Os verbos transitivos indiretos são complementados
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes gem uma preposição para o estabelecimento da relação
formas em frases distintas. de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de
1-) Verbos Intransitivos terceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos
são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se uti-
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É lizam os pronomes o, os, a, as como complementos de
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
não representam pessoas, usam-se pronomes oblíquos
- Chegar, Ir
tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos prono-
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver-
mes átonos lhe, lhes.
biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
indicar destino ou direção são: a, para.
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
Fui ao teatro.
- Consistir - Tem complemento introduzido pela pre-
Adjunto Adverbial de Lugar
posição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direi-
Ricardo foi para a Espanha. tos iguais para todos.
Adjunto Adverbial de Lugar
- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple-
- Comparecer mentos introduzidos pela preposição “a”:
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
em ou a. Eles desobedeceram às leis do trânsito.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o úl-
timo jogo. - Responder - Tem complemento introduzido pela
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indi-
2-) Verbos Transitivos Diretos car “a quem” ou “ao que” se responde.
Respondi ao meu patrão.
Os verbos transitivos diretos são complementados por Respondemos às perguntas.
objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição Respondeu-lhe à altura.
para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos Observação: o verbo responder, apesar de transitivo
o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes indireto quando exprime aquilo a que se responde, admi-
podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas verbais te voz passiva analítica:
terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após formas O questionário foi respondido corretamente.
verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e lhes são, Todas as perguntas foram respondidas satisfatoria-
quando complementos verbais, objetos indiretos. mente.
São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, - Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus comple-
admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, mentos introduzidos pela preposição “com”.
castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, defender, Antipatizo com aquela apresentadora.
eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, Simpatizo com os que condenam os políticos que go-
proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar. vernam para uma minoria privilegiada.

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LÍNGUA PORTUGUESA

4-) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos Saiba que:


- A construção “pedir para”, muito comum na lin-
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acom- guagem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na
panhados de um objeto direto e um indireto. Merecem língua culta. No entanto, é considerada correta quando a
destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São palavra licença estiver subentendida.
verbos que apresentam objeto direto relacionado a coisas Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
e objeto indireto relacionado a pessoas.
Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
Agradeço aos ouvintes a audiência. uma oração subordinada adverbial final reduzida de infini-
Objeto Indireto Objeto tivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Direto
Preferir
Paguei o débito ao cobrador. Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in-
Objeto Direto Objeto Indireto direto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito Prefiro trem a ônibus.
com particular cuidado:
Agradeci o presente. / Agradeci-o. Observação: na língua culta, o verbo “preferir” deve
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. ser usado sem termos intensificadores, tais como: muito,
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. antes, mil vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. dada pelo prefixo existente no próprio verbo (pre).
Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. Mudança de Transitividade - Mudança de Significado
Informar
- Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e obje- Há verbos que, de acordo com a mudança de transi-
to indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. tividade, apresentam mudança de significado. O conheci-
Informe os novos preços aos clientes. mento das diferentes regências desses verbos é um recur-
so linguístico muito importante, pois além de permitir a
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os no-
correta interpretação de passagens escritas, oferece pos-
vos preços)
sibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os
principais, estão:
- Na utilização de pronomes como complementos,
veja as construções:
AGRADAR
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos pre-
- Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
ços.
nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou Sempre agrada o filho quando.
sobre eles) Aquele comerciante agrada os clientes.
Observação: a mesma regência do verbo informar é - Agradar é transitivo indireto no sentido de causar
usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cienti- agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
ficar, prevenir. introduzido pela preposição “a”.
O cantor não agradou aos presentes.
Comparar O cantor não lhes agradou.
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite
as preposições “a” ou “com” para introduzir o comple- *O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indire-
mento indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com to: O cantor desagradou à plateia.
o) de uma criança.
ASPIRAR
Pedir - Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi-
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
na forma de oração subordinada substantiva) e indireto
de pessoa. - Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi-
Pedi-lhe favores. rávamos a ele)
Objeto Indireto Objeto Direto
* Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes-
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio. soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são
Objeto Indireto Oração Subordinada Subs- utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”.
tantiva Objetiva Direta Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (=
Aspiravam a ela)

62
LÍNGUA PORTUGUESA

ASSISTIR IMPLICAR
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres- - Como transitivo direto, esse verbo tem dois senti-
tar assistência a, auxiliar. dos:
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. implicavam um firme propósito.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, pre- acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
senciar, estar presente, caber, pertencer.
Assistimos ao documentário. - Como transitivo direto e indireto, significa compro-
Não assisti às últimas sessões. meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
Essa lei assiste ao inquilino. econômicas.

*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in- * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transiti-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de vo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa quem não trabalhasse arduamente.
conturbada cidade.
NAMORAR
CHAMAR - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há
- Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, dois anos.
solicitar a atenção ou a presença de.
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha- OBEDECER - DESOBEDECER
má-la. - Sempre transitivo indireto:
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. Todos obedeceram às regras.
Ninguém desobedece às leis.
- Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre- *Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem
dicativo preposicionado ou não. “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.
A torcida chamou o jogador mercenário.
A torcida chamou ao jogador mercenário. PROCEDER
A torcida chamou o jogador de mercenário. - Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
A torcida chamou ao jogador de mercenário. cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto
adverbial de modo.
- Chamar com o sentido de ter por nome é pronomi-
As afirmações da testemunha procediam, não havia
nal: Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
como refutá-las.
Você procede muito mal.
CUSTAR
- Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo-
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver-
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzi-
bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito.
do pela preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransiti- Procedeu-se aos exames.
vo ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração O delegado procederá ao inquérito.
reduzida de infinitivo.
QUERER
Muito custa viver tão longe da - Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
família. vontade de, cobiçar.
Verbo Intransitivo Oração Subordinada Querem melhor atendimento.
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo Queremos um país melhor.

Custou-me (a mim) crer nisso. - Querer é transitivo indireto no sentido de ter afei-
Objeto Indireto Oração Subordinada ção, estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
VISAR
*A Gramática Normativa condena as construções que - Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
pessoa: Custei para entender o problema. = Forma O homem visou o alvo.
correta: Custou-me entender o problema. O gerente não quis visar o cheque.

63
LÍNGUA PORTUGUESA

- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar público.

ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto,
transitivos indiretos:
- Ele se esqueceu do caderno.
- Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.
Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alte-
ração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos
tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)

SIMPATIZAR - ANTIPATIZAR

- São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:


Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

Importante: A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a
preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome.
Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que
vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo
significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os nomes corres-
pondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:

Obedecer a algo/ a alguém.


Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).

64
LÍNGUA PORTUGUESA

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados:
paralela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões

1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta
da língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.

65
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) d) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es-


A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir. = prefiro forçou.
viajar de ônibus a dirigir e) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportu-
B) Eu esqueci do seu nome. = Eu me esqueci do seu nidade.
nome
C) Você assistiu à cena toda? = correta f) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito.
D) Ele chegou na oficina pela manhã. = Ele chegou à 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
oficina pela manhã lhe disse isso?
E) Sempre obedeço as leis de trânsito. = Sempre obe-
deço às leis de trânsito 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quan-
RESPOSTA: “C”. to se ofendem!

2-) (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP – 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
MÉDICO LEGISTA – VUNESP/2014 - adaptada) Leia o se- Que Deus o ajude.
guinte trecho para responder à questão.
A pesquisa encontrou um dado curioso: homens com 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o prono-
baixos níveis de testosterona tiveram uma resposta imu- me reto ou sujeito expresso:
nológica melhor a essa medida, similar _______________ . Eu lhe entregarei o material amanhã.
A alternativa que completa, corretamente, o texto é: Tu sabes cantar?
(A) das mulheres
(B) às mulheres Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
(C) com das mulheres verbo. A mesóclise é usada:
(D) à das mulheres
(E) ao das mulheres Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
2-) Similar significa igual; sua regência equivale à da precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
palavra “igual”: igual a quê? Similar a quem? Similar à (su-
em prol da paz no mundo.
bentendido: resposta imunológica) das mulheres.
Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
RESPOSTA: “D”.
lizará”:
realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma pa-
lavra que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria.
Veja: Não se realizará...
COLOCAÇÃO PRONOMINAL. Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
(com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa-
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos nharia nessa viagem).
pronomes oblíquos átonos na frase.
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo.
* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a fun- A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
ção de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: forem possíveis:
OBlíquo = OBjeto!
1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
Embora na linguagem falada a colocação dos pro- Quando eu avisar, silenciem-se todos.
nomes não seja rigorosamente seguida, algumas normas
devem ser observadas na linguagem escrita. 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal:
Não era minha intenção machucá-la.
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo.
A próclise é usada: 3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não
se inicia período com pronome oblíquo).
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que Vou-me embora agora mesmo.
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: Levanto-me às 6h.
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
jamais, etc.: Não se desespere! 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
no concurso, mudo-me hoje mesmo!
b) Advérbios: Agora se negam a depor.
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-
5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a
quem tudo!
proposta fazendo-se de desentendida.

66
LÍNGUA PORTUGUESA

Colocação pronominal nas locuções verbais A) Há políticas que a reconhecem.


- após verbo no particípio = pronome depois do ver- B) Há políticas que reconhecem-a.
bo auxiliar (e não depois do particípio): C) Há políticas que reconhecem-na.
Tenho me deliciado com a leitura! D) Há políticas que reconhecem ela.
Eu tenho me deliciado com a leitura! E) Há políticas que lhe reconhecem.
Eu me tenho deliciado com a leitura!
- não convém usar hífen nos tempos compostos e nas 1-) Primeiramente identifiquemos se temos objeto di-
locuções verbais: reto ou indireto. Reconhece o quê? Resposta: a informali-
Vamos nos unir! dade. Pergunta e resposta sem preposição, então: objeto
Iremos nos manifestar. direto. Não utilizaremos “lhe” – que é para objeto indire-
to. Como temos a presença do “que” – independente de
- quando há um fator para próclise nos tempos com- sua função no período (pronome relativo, no caso!) – a
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pronome regra pede próclise (pronome oblíquo antes do verbo):
oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos preocu- que a reconhecem.
par (e não: “não nos vamos preocupar”). RESPOSTA: “A”.

Observações importantes: 2-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) A substitui-


ção do elemento grifado pelo pronome correspondente
Emprego de o, a, os, as foi realizada de modo INCORRETO em:
1) Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
pronomes: o, a, os, as não se alteram. (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
Chame-o agora. (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
Deixei-a mais tranquila. (D) que desviava a água = que lhe desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na
2) Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoan-
2-)
tes finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
(A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu =
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
correta
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.
(B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os = cor-
reta
3) Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em,
(C) para fazer a dragagem = para fazê-la = correta
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na,
(D) que desviava a água = que lhe desviava = que a
nos, nas. desviava
Chamem-no agora. (E) supriam a necessidade = supriam-na = correta
Põe-na sobre a mesa. RESPOSTA: “D”.
* Dica: 3-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que significa cruzando os desertos do oeste da China − que con-
“antes”! Pronome antes do verbo! tornam a Índia − adotam complexas providências
Ênclise – “en”... lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, em In- Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos
glês – que significa “fim, final!). Pronome depois do verbo! grifados acima foram corretamente substituídos por um
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do verbo pronome, respectivamente, em:
Pronome Oblíquo – função de objeto (A) os cruzando - que contornam-lhe - adotam-as
(B) cruzando-lhes - que contornam-na - as adotam
Fontes de pesquisa: (C) cruzando-os - que lhe contornam - adotam-lhes
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao (D) cruzando-os - que a contornam - adotam-nas
-pronominal-.html (E) lhes cruzando - que contornam-a - as adotam
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 3-) Não podemos utilizar “lhes”, que corresponde ao
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- objeto indireto (verbo “cruzar” pede objeto direto: cruzar
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São o quê?), portanto já desconsideramos as alternativas “B” e
Paulo: Saraiva, 2010. “D”. Ao iniciarmos um parágrafo (já que no enunciado te-
mos uma oração assim) devemos usar ênclise: (cruzando
Questões -os); na segunda oração temos um pronome relativo (dá
para substituirmos por “o qual”), o que nos obriga a usar
1-) (IBGE - SUPERVISOR DE PESQUISAS – ADMINIS- a próclise (que a contorna); “adotam” exige objeto direto
TRAÇÃO - CESGRANRIO/2014) Em “Há políticas que reco- (adotam quem ou o quê?), chegando à resposta: adotam-
nhecem a informalidade”, ao substituir o termo destacado nas (quando o verbo terminar em “m” e usarmos um pro-
por um pronome, de acordo com a norma-padrão da lín- nome oblíquo direto, lembre-se do alfabeto: jklM – N!).
gua, o trecho assume a formulação apresentada em: RESPOSTA: “D”.

67
LÍNGUA PORTUGUESA

** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou


CRASE. A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. =
Volto de Campinas. (crase pra quê?)
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!)
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especific�
A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais cado, ocorrerá crase. Veja:
idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
com o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
pronomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo Irei à Salvador de Jorge Amado.
e com o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as
quais). Casos estes em que tal fusão encontra-se demar- * A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s),
cada pelo acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo
qual, às quais. regente exigir complemento regido da preposição “a”.
O uso do acento indicativo de crase está condiciona- Entregamos a encomenda àquela menina.
do aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal (preposição + pronome demonstrativo)
e nominal, mais precisamente ao termo regente e termo
regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - Iremos àquela reunião.
que exige complemento regido pela preposição “a”, e o (preposição + pronome demonstrativo)
termo regido é aquele que completa o sentido do termo
regente, admitindo a anteposição do artigo a(s). Sua história é semelhante às que eu ouvia quando
Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela criança. (àquelas que eu ouvia quando criança)
contratada recentemente. (preposição + pronome demonstrativo)
Após a junção da preposição com o artigo (destaca- * A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-
dos entre parênteses), temos: verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento gra-
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contrata- ve:
da recentemente. - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às
pressas, à vontade...
O verbo referir, de acordo com sua transitividade, - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura
classifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos re- de...
ferimos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição
- locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
a + o artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o
pronome demonstrativo aquela (àquela).
* Cuidado: quando as expressões acima não exerce-
rem a função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
Observação importante: Alguns recursos servem de
Eu adoro a noite!
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
da crase. Eis alguns:
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
preposição.
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase
está confirmada.
Os dados foram solicitados à diretora. Casos passíveis de nota:
Os dados foram solicitados ao diretor.
*a crase é facultativa diante de nomes próprios femi-
b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui- ninos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
se o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na ex-
pressão “voltar da”, há a confirmação da crase. *também é facultativa diante de pronomes possessi-
Faremos uma visita à Bahia. vos femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirma-
da) *facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja fica-
rá aberta até as (às) dezoito horas.
Não me esqueço da viagem a Roma.
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja- * Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-
mais vividos. tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas,
mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão
Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se por comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV)
apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase
está confirmada. * Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos
praias. a queima de fogos a distância.

68
LÍNGUA PORTUGUESA

Entretanto, se o termo vier determinado, teremos Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento
uma locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo,
foi arremessado à distância de cem metros. o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede,
no caso de o termo regente exigir a preposição.
- De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia.
-, faz-se necessário o emprego da crase.
Ensino à distância. *não ocorre crase antes de nome feminino utilizado
Ensino a distância. em sentido genérico ou indeterminado:
Estamos sujeitos a críticas.
* Em locuções adverbiais formadas por palavras repe- Refiro-me a conversas paralelas.
tidas, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor. Fontes de pesquisa:
Eu o seguirei passo a passo. http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-cra-
se-.html
Casos em que não se admite o emprego da crase: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
* Antes de vocábulos masculinos. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
As produções escritas a lápis não serão corrigidas. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Esta caneta pertence a Pedro. Paulo: Saraiva, 2010.
* Antes de verbos no infinitivo. Questões
Ele estava a cantar.
Começou a chover.
1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamen-
* Antes de numeral.
te as lacunas da frase a seguir.
O número de aprovados chegou a cem.
Quando________ três meses disse-me que iria _________
Faremos uma visita a dez países.
Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá
-la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito.
Observação:
A-) a - há - à - à - às
- Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio-
B-) há - à - a - a – às
nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá
crase: Os passageiros partirão às dezenove horas. C-) há - a - há - à - as
D-) a - à - a - à - às
- Diante de numerais ordinais femininos a crase está E-) a - a - à - há – as
confirmada, visto que estes não podem ser empregados
sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira 1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse-
aluna da classe. me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para
visitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la
- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando A (ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais
essa não se apresentar determinada: Chegamos todos tinha direito (tinha direito a quê? às milhas – regência no-
exaustos a casa. minal). Teremos: há, à, a, a, às.
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto RESPOSTA: “B”.
adnominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos
exaustos à casa de Marcela. 2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO –
VUNESP/2014)
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de
indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a trabalho para proceder _____ medidas necessárias _____
terra, já era noite. exumação dos restos mortais do ex-presidente João Gou-
Contudo, se o termo estiver precedido por um de- lart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exu-
terminante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. mação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-pre-
Paulo viajou rumo à sua terra natal. sidente morreu de causas naturais, ou seja, devido ____
O astronauta voltou à Terra. uma parada cardíaca – que tem sido a versão considerada
oficial até hoje –, ou se sua morte se deve ______ envene-
- não ocorre crase antes de pronomes que requerem namento.
o uso do artigo. (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,-
Os livros foram entregues a mim. governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan-
Dei a ela a merecida recompensa. go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)

69
LÍNGUA PORTUGUESA

Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as


lacunas da frase devem ser completadas, correta e res- ANOTAÇÕES
pectivamente, por
(A) a ... à ... a ... a
(B) as ... à ... a ... à ___________________________________________________
(C) às ... a ... à ... a
(D) à ... à ... à ... a ___________________________________________________
(E) a ... a ... a ... à
___________________________________________________
2-) A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo ___________________________________________________
de trabalho para proceder a medidas (palavra no plural,
generalizando) necessárias à (regência nominal pede pre- ___________________________________________________
posição) exumação dos restos mortais do ex-presidente
João Goulart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com ___________________________________________________
a exumação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex ___________________________________________________
-presidente morreu de causas naturais, ou seja, devido a
uma (artigo indefinido) parada cardíaca – que tem sido a ___________________________________________________
versão considerada oficial até hoje –, ou se sua morte se
deve a (regência verbal) envenenamento. A / à / a / a ___________________________________________________
RESPOSTA: “A”.
___________________________________________________
3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014) ___________________________________________________
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fize-
ram uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga ci- ___________________________________________________
dade de Tikal, na Guatemala.
O a empregado na frase acima, imediatamente depois ___________________________________________________
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso
o segmento grifado seja substituído por:
___________________________________________________
(A) Uma tal ilação. ___________________________________________________
(B) Afirmações como essa.
(C) Comprovação dessa assertiva. ___________________________________________________
(D) Emitir uma opinião desse tipo.
(E) Semelhante resultado. ___________________________________________________

___________________________________________________
3-)
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento gra- ___________________________________________________
ve antes de artigo)
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (an- ___________________________________________________
tes de palavra no plural e o “a” no singular)
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro-
___________________________________________________
vação ___________________________________________________
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir
(verbo no infinitivo) ___________________________________________________
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pa-
lavra masculina) ___________________________________________________
RESPOSTA: “C”.
___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

70
MATEMÁTICA

Números inteiros e racionais: operações (adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação); expressões numéricas;
Frações e operações com frações..................................................................................................................................................................... .01
Múltiplos e divisores, Máximo divisor comum e Mínimo divisor comum ........................................................................................ 07
Números e grandezas proprocionais: Razões e proporções; Divisão em partes proporcionais............................................... 11
Regra de três.............................................................................................................................................................................................................. 15
Sistema métrico decimal........................................................................................................................................................................................ 19
Equações e inequações.......................................................................................................................................................................................... 23
Funções ....................................................................................................................................................................................................................... 29
Gráficos e tabelas..................................................................................................................................................................................................... 37
Estatística Descritiva, Amostragem, Teste de Hipóteses e Análise de Regressão ........................................................................... 43
Geometria.................................................................................................................................................................................................................... 48
Matriz, determinantes e sistemas lineares...................................................................................................................................................... 62
Sequências, progressão aritmética e geométrica........................................................................................................................................ 70
Porcentagem.............................................................................................................................................................................................................. 74
Juros simples e compostos................................................................................................................................................................................... 77
Taxas de Juros, Desconto, Equivalência de Capitais, Anuidades e Sistemas de Amortização.................................................... 80
MATEMÁTICA

Exemplo 2
NÚMEROS INTEIROS E RACIONAIS:
OPERAÇÕES (ADIÇÃO, SUBTRAÇÃO, 40 – 9 x 4 + 23
MULTIPLICAÇÃO, DIVISÃO, 40 – 36 + 23
4 + 23
POTENCIAÇÃO); EXPRESSÕES
27
NUMÉRICAS; FRAÇÕES E OPERAÇÕES COM
FRAÇÕES. Exemplo 3
25-(50-30)+4x5
25-20+20=25

Números Naturais Números Inteiros


Os números naturais são o modelo mate- Podemos dizer que este conjunto é composto pelos
mático necessário para efetuar uma contagem. números naturais, o conjunto dos opostos dos números
Começando por zero e acrescentando sempre uma unida- naturais e o zero. Este conjunto pode ser representado por:
de, obtemos o conjunto infinito dos números naturais Z={...-3, -2, -1, 0, 1, 2,...}
Subconjuntos do conjunto :
1)Conjunto dos números inteiros excluindo o zero
Z*={...-2, -1, 1, 2, ...}
- Todo número natural dado tem um sucessor
a) O sucessor de 0 é 1. 2) Conjuntos dos números inteiros não negativos
b) O sucessor de 1000 é 1001. Z+={0, 1, 2, ...}
c) O sucessor de 19 é 20.
3) Conjunto dos números inteiros não positivos
Usamos o * para indicar o conjunto sem o zero. Z-={...-3, -2, -1}

Números Racionais
Chama-se de número racional a todo número que
- Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um pode ser expresso na forma , onde a e b são inteiros
antecessor (número que vem antes do número dado). quaisquer, com b≠0
Exemplos: Se m é um número natural finito diferente São exemplos de números racionais:
de zero. -12/51
a) O antecessor do número m é m-1. -3
b) O antecessor de 2 é 1. -(-3)
c) O antecessor de 56 é 55. -2,333...
d) O antecessor de 10 é 9.
As dízimas periódicas podem ser representadas por
Expressões Numéricas fração, portanto são consideradas números racionais.
Como representar esses números?
Nas expressões numéricas aparecem adições, subtra- Representação Decimal das Frações
ções, multiplicações e divisões. Todas as operações podem
acontecer em uma única expressão. Para resolver as ex- Temos 2 possíveis casos para transformar frações em
pressões numéricas utilizamos alguns procedimentos: decimais

Se em uma expressão numérica aparecer as quatro 1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o nú-
operações, devemos resolver a multiplicação ou a divisão mero decimal terá um número finito de algarismos após a
primeiramente, na ordem em que elas aparecerem e so- vírgula.
mente depois a adição e a subtração, também na ordem
em que aparecerem e os parênteses são resolvidos primei-
ro.

Exemplo 1

10 + 12 – 6 + 7
22 – 6 + 7
16 + 7
23

1
MATEMÁTICA

2º) Terá um número infinito de algarismos após a vír- Exemplo 2


gula, mas lembrando que a dízima deve ser periódica para
ser número racional Seja a dízima 1,1212...
OBS: período da dízima são os números que se repe-
tem, se não repetir não é dízima periódica e assim números Façamos x = 1,1212...
irracionais, que trataremos mais a frente. 100x = 112,1212... .
Subtraindo:
100x-x=112,1212...-1,1212...
99x=111
X=111/99

Números Irracionais
Identificação de números irracionais

- Todas as dízimas periódicas são números racionais.


- Todos os números inteiros são racionais.
Representação Fracionária dos Números Decimais - Todas as frações ordinárias são números racionais.
- Todas as dízimas não periódicas são números irra-
1ºcaso) Se for exato, conseguimos sempre transformar cionais.
com o denominador seguido de zeros. - Todas as raízes inexatas são números irracionais.
O número de zeros depende da casa decimal. Para uma - A soma de um número racional com um número irra-
casa, um zero (10) para duas casas, dois zeros(100) e assim cional é sempre um número irracional.
por diante. - A diferença de dois números irracionais, pode ser um
número racional.
-Os números irracionais não podem ser expressos na
forma , com a e b inteiros e b≠0.

Exemplo: - = 0 e 0 é um número racional.

- O quociente de dois números irracionais, pode ser


um número racional.

Exemplo: : = = 2 e 2 é um número racional.

- O produto de dois números irracionais, pode ser um


número racional.
2ºcaso) Se dízima periódica é um número racional, en-
tão como podemos transformar em fração? Exemplo: . = = 7 é um número racional.

Exemplo 1 Exemplo:radicais( a raiz quadrada de um nú-


mero natural, se não inteira, é irracional.
Transforme a dízima 0, 333... .em fração
Sempre que precisar transformar, vamos chamar a dízi- Números Reais
ma dada de x, ou seja
X=0,333...
Se o período da dízima é de um algarismo, multiplica-
mos por 10.

10x=3,333...

E então subtraímos:

10x-x=3,333...-0,333...
9x=3
X=3/9
X=1/3

Agora, vamos fazer um exemplo com 2 algarismos de


período.

2
MATEMÁTICA

Fonte: www.estudokids.com.br Semirreta direita, fechada de origem a – números reais


maiores ou iguais a a.
Representação na reta

Intervalo:[a,+ ∞[
Conjunto:{x∈R|x≥a}

Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais


maiores que a.

INTERVALOS LIMITADOS
Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou
iguais a e menores do que b ou iguais a b. Intervalo:]a,+ ∞[
Conjunto:{x∈R|x>a}

Intervalo:[a,b] Potenciação
Conjunto: {x∈R|a≤x≤b} Multiplicação de fatores iguais

Intervalo aberto – números reais maiores que a e me- 2³=2.2.2=8


nores que b.
Casos
1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1.
Intervalo:]a,b[
Conjunto:{x∈R|a<x<b}

Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores


que a ou iguais a a e menores do que b.

2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio


número.
Intervalo:{a,b[
Conjunto {x∈R|a≤x<b}
Intervalo fechado à direita – números reais maiores
que a e menores ou iguais a b.

3) Todo número negativo, elevado ao expoente par,


resulta em um número positivo.
Intervalo:]a,b]
Conjunto:{x∈R|a<x≤b}

INTERVALOS IIMITADOS
4) Todo número negativo, elevado ao expoente ím-
Semirreta esquerda, fechada de origem b- números par, resulta em um número negativo.
reais menores ou iguais a b.

Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x∈R|x≤b} 5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos pas-
sar o sinal para positivo e inverter o número que está na
Semirreta esquerda, aberta de origem b – números base. 
reais menores que b.

Intervalo:]-∞,b[
Conjunto:{x∈R|x<b}

3
MATEMÁTICA

6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o Técnica de Cálculo
valor do expoente, o resultado será igual a zero.  A determinação da raiz quadrada de um número tor-
na-se mais fácil quando o algarismo se encontra fatorado
em números primos. Veja: 

Propriedades

1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de


mesma base, repete-se a base e  soma os expoentes.

Exemplos:
24 . 23 = 24+3= 27
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27

2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mes- 64=2.2.2.2.2.2=26


ma base. Conserva-se a base e subtraem os expoentes.
Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “ti-
Exemplos: ra-se” um e multiplica.
96 : 92 = 96-2 = 94

Observe: 1 1
3.5 = (3.5) 2 = 3 2 .5 2 = 3. 5
1

3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e mul-


tiplica-se os expoentes.
Exemplos: De modo geral, se
(52)3 = 52.3 = 56
a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * ,
então:

n
a.b = n a .n b
4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores eleva-
dos a um expoente, podemos elevar cada um a esse mes- O radical de índice inteiro e positivo de um produto
mo expoente. indicado é igual ao produto dos radicais de mesmo índice
(4.3)²=4².3² dos fatores do radicando.

5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, Raiz quadrada de frações ordinárias


podemos elevar separados. 1 1
2 2 2 2 2
2
=  = 1 =
3 3 3
Observe: 32
Radiciação
Radiciação é a operação inversa a potenciação De modo geral,

a ∈ R+ , b ∈ R *+ , n ∈ N * ,
se

então:

a na
n =
b nb

4
MATEMÁTICA

O radical de índice inteiro e positivo de um quociente 1º Caso:Denominador composto por uma só parcela
indicado é igual ao quociente dos radicais de mesmo índi-
ce dos termos do radicando.

Raiz quadrada números decimais

Operações
2º Caso: Denominador composto por duas parcelas.

Operações
Devemos multiplicar de forma que obtenha uma dife-
Multiplicação rença de quadrados no denominador:

Exemplo

QUESTÕES

Divisão 01. (Prefeitura de Salvador /BA - Técnico de Nível


Superior II - Direito – FGV/2017) Em um concurso, há
150 candidatos em apenas duas categorias: nível superior
e nível médio.
Sabe-se que:
Exemplo
• dentre os candidatos, 82 são homens;
• o número de candidatos homens de nível superior é
igual ao de mulheres de nível médio;
• dentre os candidatos de nível superior, 31 são mu-
Adição e subtração lheres.

O número de candidatos homens de nível médio é

Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20. (A) 42.


(B) 45.
(C) 48.
(D) 50.
(E) 52.

02. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária


- MSCONCURSOS/2017) Raoni, Ingrid, Maria Eduarda,
Isabella e José foram a uma prova de hipismo, na qual ga-
nharia o competidor que obtivesse o menor tempo final.
A cada 1 falta seriam incrementados 6 segundos em seu
Caso tenha: tempo final. Ingrid fez 1’10” com 1 falta, Maria Eduarda fez
1’12” sem faltas, Isabella fez 1’07” com 2 faltas, Raoni fez
1’10” sem faltas e José fez 1’05” com 1 falta. Verificando a
colocação, é correto afirmar que o vencedor foi:
Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo. (A) José
(B) Isabella
Racionalização de Denominadores (C) Maria Eduarda
(D) Raoni
Normalmente não se apresentam números irracionais
com radicais no denominador. Ao processo que leva à eli-
minação dos radicais do denominador chama-se racionali-
zação do denominador.

5
MATEMÁTICA

03. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária - De acordo com esses dados, ao longo da existência
MSCONCURSOS/2017) O valor de √0,444... é: desse prédio comercial, a fração do total de situações de
(A) 0,2222... risco de incêndio geradas por descuidos ao cozinhar cor-
(B) 0,6666... responde à
(C) 0,1616... (A) 3/20.
(D) 0,8888... (B) 1/4.
(C) 13/60.
04. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- (D) 1/5.
NESP/2017) Se, numa divisão, o divisor e o quociente são (E) 1/60.
iguais, e o resto é 10, sendo esse resto o maior possível,
então o dividendo é 07. (ITAIPU BINACIONAL - Profissional Nível Técni-
(A) 131. co I - Técnico em Eletrônica – NCUFPR/2017) Assinale a
(B) 121. alternativa que apresenta o valor da expressão
(C) 120.
(D) 110.
(E) 101.

05. (TST – Técnico Judiciário – FCC/2017) As expres- (A) 1.


sões numéricas abaixo apresentam resultados que seguem (B) 2.
um padrão específico: (C) 4.
(D) 8.
1ª expressão: 1 x 9 + 2 (E) 16.

2ª expressão: 12 x 9 + 3 08. (UNIRV/GO – Auxiliar de Laboratório – UNIRV-


GO/2017)
3ª expressão: 123 x 9 + 4
Qual o resultado de ?
...
(A) 3
7ª expressão: █ x 9 + ▲ (B) 3/2
(C) 5
Seguindo esse padrão e colocando os números ade- (D) 5/2
quados no lugar dos símbolos █ e ▲, o resultado da 7ª
expressão será 09. (IBGE – Agente Censitário Municipal e Supervi-
sor – FGV/2017) Suponha que a # b signifique a - 2b .
(A) 1 111 111.
(B) 11 111. Se 2#(1#N)=12 , então N é igual a:
(C) 1 111. (A) 1;
(D) 111 111. (B) 2;
(E) 11 111 111. (C) 3;
(D) 4;
06. (TST – Técnico Judiciário – FCC/2017) Durante um (E) 6.
treinamento, o chefe da brigada de incêndio de um prédio
comercial informou que, nos cinquenta anos de existência 10. (IBGE – Agente Censitário Municipal e Supervi-
do prédio, nunca houve um incêndio, mas existiram muitas sor – FGV/2017) Uma equipe de trabalhadores de deter-
situações de risco, felizmente controladas a tempo. Segun- minada empresa tem o mesmo número de mulheres e de
do ele, 1/13 dessas situações deveu-se a ações criminosas, homens. Certa manhã, 3/4 das mulheres e 2/3 dos homens
enquanto as demais situações haviam sido geradas por di- dessa equipe saíram para um atendimento externo.
ferentes tipos de displicência. Dentre as situações de risco
geradas por displicência, Desses que foram para o atendimento externo, a fra-
ção de mulheres é
− 1/5 deveu-se a pontas de cigarro descartadas inade- (A) 3/4;
quadamente; (B) 8/9;
− 1/4 deveu-se a instalações elétricas inadequadas; (C) 5/7;
− 1/3 deveu-se a vazamentos de gás e (D) 8/13;
− as demais foram geradas por descuidos ao cozinhar. (E) 9/17.

6
MATEMÁTICA

RESPOSTAS

01.Resposta: B. 08. Resposta: D.


150-82=68 mulheres
Como 31 mulheres são candidatas de nível superior, 37
são de nível médio. 09. Resposta: C.
Portanto, há 37 homens de nível superior. 2-2(1-2N)=12
82-37=45 homens de nível médio. 2-2+4N=12
4N=12
02. Resposta: D. N=3
Como o tempo de Raoni foi 1´10” sem faltas, ele foi o
vencedor. 10. Resposta: E.
Como tem o mesmo número de homens e mulheres:
03. Resposta: B.
Primeiramente, vamos transformar a dízima em fração

X=0,4444....
10x=4,444... Dos homens que saíram:
9x=4

Saíram no total

04. Resposta: A.
Como o maior resto possível é 10, o divisor é o número
11 que é igua o quociente.
11x11=121+10=131

05. Resposta: E.
A 7ª expressão será: 1234567x9+8=11111111

06. Resposta: D.
MÚLTIPLOS E DIVISORES, MÁXIMO
DIVISOR COMUM E MÍNIMO MÚLTIPLO
COMUM.
Gerado por descuidos ao cozinhar:

Múltiplos

Mas, que foram gerados por displicência é 12/13(1- Um número é múltiplo de outro quando ao dividirmos
1/13) o primeiro pelo segundo, o resto é zero.
Exemplo

07.Resposta: C.
O conjunto de múltiplos de um número natural não-
-nulo é infinito e podemos consegui-lo multiplicando-se o
número dado por todos os números naturais.
M(3)={0,3,6,9,12,...}

Divisores

Os números 12 e 15 são múltiplos de 3, portanto 3 é


divisor de 12 e 15.

7
MATEMÁTICA

D(12)={1,2,3,4,6,12}
D(15)={1,3,5,15} Assim, o mmc
Observações:
Exemplo
- Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
- Todo número natural é múltiplo de 1. O piso de uma sala retangular, medindo 3,52 m × 4,16
- Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos m, será revestido com ladrilhos quadrados, de mesma di-
múltiplos. mensão, inteiros, de forma que não fique espaço vazio
- O zero é múltiplo de qualquer número natural. entre ladrilhos vizinhos. Os ladrilhos serão escolhidos de
modo que tenham a maior dimensão possível.
Máximo Divisor Comum Na situação apresentada, o lado do ladrilho deverá
O máximo divisor comum de dois ou mais números medir
naturais não-nulos é o maior dos divisores comuns desses (A) mais de 30 cm.
números. (B) menos de 15 cm.
Para calcular o m.d.c de dois ou mais números, deve- (C) mais de 15 cm e menos de 20 cm.
mos seguir as etapas: (D) mais de 20 cm e menos de 25 cm.
• Decompor o número em fatores primos (E) mais de 25 cm e menos de 30 cm.
• Tomar o fatores comuns com o menor expoente
• Multiplicar os fatores entre si. Resposta: A.

Exemplo:

Devemos achar o mdc para achar a maior medida pos-


sível
E são os fatores que temos iguais:25=32
O fator comum é o 3 e o 1 é o menor expoente.
m.d.c Exemplo2
(MPE/SP – Oficial de Promotora I – VUNESP/2016)
No aeroporto de uma pequena cidade chegam aviões de
três companhias aéreas. Os aviões da companhia A che-
Mínimo Múltiplo Comum gam a cada 20 minutos, da companhia B a cada 30 minutos
O mínimo múltiplo comum (m.m.c) de dois ou mais nú- e da companhia C a cada 44 minutos. Em um domingo, às
meros é o menor número, diferente de zero. 7 horas, chegaram aviões das três companhias ao mesmo
Para calcular devemos seguir as etapas: tempo, situação que voltará a se repetir, nesse mesmo dia,
• Decompor os números em fatores primos às
• Multiplicar os fatores entre si (A) 16h 30min.
(B) 17h 30min.
Exemplo: (C) 18h 30min.
(D) 17 horas.
(E) 18 horas.

Resposta: E.

Mmc(20,30,44)=2².3.5.11=660

1h---60minutos
Para o mmc, fica mais fácil decompor os dois juntos. x-----660
Basta começar sempre pelo menor primo e verificar a x=660/60=11
divisão com algum dos números, não é necessário que os
dois sejam divisíveis ao mesmo tempo. Então será depois de 11horas que se encontrarão
Observe que enquanto o 15 não pode ser dividido, 7+11=18h
continua aparecendo.

8
MATEMÁTICA

QUESTÕES 05. (TJM/SP - Escrevente Técnico Judiciário – VU-


NESP/2017) Em um pequeno mercado, o dono resolveu
01. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- fazer uma promoção. Para tanto, cada uma das 3 caixas re-
NESP/2017) No depósito de uma loja de doces, há gistradoras foi programada para acender uma luz, em inter-
uma caixa contendo n bombons. Para serem vendidos, valos de tempo regulares: na caixa 1, a luz acendia a cada
devem ser repartidos em pacotes iguais, todos com 15 minutos; na caixa 2, a cada 30 minutos; e na caixa 3, a
a mesma quantidade de bombons. Com os bombons luz acendia a cada 45 minutos. Toda vez que a luz de uma
dessa caixa, podem ser feitos pacotes com 5, ou com 6, caixa acendia, o cliente que estava nela era premiado com
ou com 7 unidades cada um, e, nesses casos, não falta- um desconto de 3% sobre o valor da compra e, quando as 3
rá nem sobrará nenhum bombom. Nessas condições, o luzes acendiam, ao mesmo tempo, esse desconto era de 5%.
menor valor que pode ser atribuído a n é Se, exatamente às 9 horas de um determinado dia, as luzes
(A) 280. das 3 caixas acenderam ao mesmo tempo, então é verdade
(B) 265. que o número máximo de premiações de 5% de desconto
(C) 245. que esse mercado poderia ter dado aos seus clientes, das
(D) 230. 9 horas às 21 horas e 30 minutos daquele dia, seria igual a
(E) 210. (A) 8.
(B) 10.
02. (EMBASA – Agente Administrativo – (C) 21.
IBFC/2017) Considerando A o MDC (maior divisor co- (D) 27.
mum) entre os números 24 e 60 e B o MMC (menor (E) 33.
múltiplo comum) entre os números 12 e 20, então o
valor de 2A + 3B é igual a: 06. (PREF. DE PIRAÚBA/MG – Agente Administrativo
(A) 72 – MSCONCURSOS/2017) Sabendo que a sigla M.M.C. na
(B) 156 matemática significa Mínimo Múltiplo Comum e que M.D.C.
significa Máximo Divisor Comum, pergunta-se: qual o valor
(C) 144
do M.M.C. de 6 e 8 dividido pelo M.D.C. de 30, 36 e 72?
(D) 204
(A) 8
(B) 6
03. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPEGO
(C) 4
/2017) Em um determinado zoológico, a girafa deve
(D) 2
comer a cada 4 horas, o leão a cada 5 horas e o maca-
co a cada 3 horas. Considerando que todos foram ali-
07. (CELESC – Assistente Administrativo – FEPE-
mentados às 8 horas da manhã de domingo, é correto
SE/2016) Em uma excursão participam 120 homens e 160
afirmar que o funcionário encarregado deverá servir a mulheres. Em determinado momento é preciso dividir os
alimentação a todos concomitantemente às: participantes em grupos formados somente por homens
(A) 8 horas de segunda-feira. ou somente por mulheres, de maneira que os grupos te-
(B) 14 horas de segunda-feira. nham o mesmo número de integrantes.
(C) 10 horas de terça-feira. Neste caso, o número máximo de integrantes em um
(D) 20 horas de terça-feira. grupo é:
(E) 9 horas de quarta-feira. (A) 10.
(B) 15.
04. (EMBASA – Assistente de Laboratório – (C) 20.
IBFC/2017) Um marceneiro possui duas barras de fer- (D) 30.
ro, uma com 1,40 metros de comprimento e outra com (E) 40.
2,45 metros de comprimento. Ele pretende cortá-las em
barras de tamanhos iguais, de modo que cada pedaço 08. (PREF. DE GUARULHOS/SP – Assistente de Ges-
tenha a maior medida possível. Nessas circunstâncias, o tão Escolar – VUNESP/2016) Para iniciar uma visita moni-
total de pedaços que o marceneiro irá cortar, utilizando torada a um museu, 96 alunos do 8º ano e 84 alunos do 9º
as duas de ferro, é: ano de certa escola foram divididos em grupos, todos com
(A) 9 o mesmo número de alunos, sendo esse número o maior
(B) 11 possível, de modo que cada grupo tivesse somente alunos
(C) 12 de um único ano e que não restasse nenhum aluno fora
(D) 13 de um grupo. Nessas condições, é correto afirmar que o
número total de grupos formados foi
(A) 8.
(B) 12.
(C) 13.
(D) 15.
(E) 18.

9
MATEMÁTICA

09. (PREF. DE JAMBEIRO – Agente Administrativo –


JOTA CONSULTORIA/2016) O MMC(120, 125, 130) é:
(A) 39000
(B) 38000
(C) 37000
(D) 36000
(E) 35000

10. (MPE/SP – Analista Técnico Científico – VU- Mmc(12,20)=2²⋅3⋅5=60


NESP/2016) Pretende-se dividir um grupo de 216 pessoas, 2A+3B=24+180=204
sendo 126 com formação na área de exatas e 90 com for-
mação na área de humanas, em grupos menores contendo, 03. Resposta: D.
obrigatoriamente, elementos de cada uma dessas áreas, de Mmc(3, 4, 5)=60
modo que: (1) o número de grupos seja o maior possível; 60/24=2 dias e 12horas
(2) cada grupo tenha o mesmo número x de pessoas com Como foi no domingo às 8h d amanhã, a próxima ali-
formação na área de exatas e o mesmo número y de pes- mentação será na terça às 20h.
soas com formação na área de humanas; e (3) cada uma
das 216 pessoas participe de um único grupo. Nessas con-
dições, e sabendo-se que no grupo não há pessoa com
ambas as formações, é correto afirmar que, em cada novo
grupo, a diferença entre os números de pessoas com for-
mação em exatas e em humanas, nessa ordem, será igual a 04. Resposta: B.
(A) 1
(B) 2 Mdc=5⋅7=35
(C) 3 140/35=4
(D) 4 245/35=7
(E) 5 Portanto, serão 11 pedaços.

05. Resposta: D.
RESPOSTAS

01. Resposta: E.

Mmc(15, 30, 45)=90 minutos


Ou seja, a cada 1h30 minutos tem premiações.
Das 9 ate as 21h30min=12h30 minutos

Mmc(5,6,7)=2⋅3⋅5⋅7=210

02. Resposta: E. 9 vezes no total, pois as 9 horas acendeu.


Como são 3 premiações: 9x3=27

06. Resposta: C.

Para o cálculo do mdc, devemos multiplicar os comuns:


MDC(24,60)=2²⋅3=12

10
MATEMÁTICA

Mdc(90, 125)=2.3²=18

Então teremos
126/18 = 7 grupos de exatas
90/18 = 5 grupos de humanas
A diferença é de 7-5=2
Mmc(6,8)=24
- eles são múltiplos de 2, pois terminam com números
Mdc(30, 36, 72) =2x3=6 pares.
Portanto: 24/6=4 E são múltiplos de 3, lembrando que para ser múltiplo
de 3, basta somar os números e ser múltiplo de 3.
36=3+6=9
90=9+0=9
162=1+6+2=9

NÚMEROS E GRANDEZAS
PROPORCIONAIS: RAZÕES E
07. Resposta: E.
PROPORÇÕES; DIVISÃO EM PARTES
MDC(120,160)=8x5=40 PROPORCIONAIS

08. Resposta:B.

Razão

Chama-se de razão entre dois números racionais a e


b, com b 0, ao quociente entre eles. Indica-se a razão de a
para b por a/b  ou a : b. 
Exemplo: 
Na sala do 1º ano de um colégio há 20 rapazes e 25
moças. Encontre a razão entre o número de rapazes e o
número de moças. (lembrando que razão é divisão) 
MDC(84,96)=2²x3=12

09. Resposta: A.

Proporção

Proporção é a igualdade entre duas razões. A propor-


ção entre A/B e C/D é a igualdade:

Propriedade fundamental das proporções


Numa proporção:
Mmc(120, 125, 130)=2³.3.5³.13=39000

10. Resposta: B.
O cálculo utilizado aqui será o MDC (Máximo Divisor
Comum) Os números A e D são denominados extremos enquan-
to os números B e C são os meios e vale a propriedade: o
produto dos meios é igual ao produto dos extremos, isto é:
AxD=BxC

Exemplo: A fração 3/4 está em proporção com 6/8,


pois:

11
MATEMÁTICA

 ou  

   
Exercício: Determinar o valor de X para que a razão X/3
esteja em proporção com 4/6.
Grandezas Diretamente Proporcionais
Solução: Deve-se montar a proporção da seguinte for-
Duas grandezas variáveis dependentes são diretamen-
ma:
te proporcionais quando a razão entre os valores da 1ª
grandeza é igual a razão entre os valores correspondentes
da 2ª, ou de uma maneira mais informal, se eu pergunto:
Quanto mais.....mais....
.
Exemplo
Distância percorrida e combustível gasto
Segunda propriedade das proporções
Qualquer que seja a proporção, a soma ou a diferença
dos dois primeiros termos está para o primeiro, ou para Distância(km) Combustível(litros)
o segundo termo, assim como a soma ou a diferença dos 13 1
dois últimos termos está para o terceiro, ou para o quarto
termo. Então temos: 26 2
39 3
52 4
   

  ou      Quanto MAIS eu ando, MAIS combustível?


Diretamente proporcionais
Se eu dobro a distância, dobra o combustível

Grandezas Inversamente Proporcionais


Ou
Duas grandezas variáveis dependentes são inversa-
mente proporcionais quando a razão entre os valores da
1ª grandeza é igual ao inverso da razão entre os valores
correspondentes da 2ª.
     ou    Quanto mais....menos...

Exemplo
   velocidadextempo a tabela abaixo:

Terceira propriedade das proporções Velocidade (m/s) Tempo (s)


Qualquer que seja a proporção, a soma ou a diferença 5 200
dos antecedentes está para a soma ou a diferença dos con-
sequentes, assim como cada antecedente está para o seu 8 125
respectivo consequente. Temos então: 10 100
16 62,5
     20 50

 ou     Quanto MAIOR a velocidade MENOS tempo??


Inversamente proporcional
Se eu dobro a velocidade, eu faço o tempo pela me-
  tade.

Ou Diretamente Proporcionais
Para decompor um número M em partes X1, X2, ..., Xn di-
retamente proporcionais a p1, p2, ..., pn, deve-se montar um
     sistema com n equações e n incógnitas, sendo as somas
X1+X2+...+Xn=M e p1+p2+...+pn=P.

12
MATEMÁTICA

QUESTÕES

01. (DESENBAHIA – Técnico Escriturário - INSTITU-


TO AOCP/2017) João e Marcos resolveram iniciar uma so-
A solução segue das propriedades das proporções: ciedade para fabricação e venda de cachorro quente. João
iniciou com um capital de R$ 30,00 e Marcos colaborou
com R$ 70,00. No primeiro final de semana de trabalho, a
arrecadação foi de R$ 240,00 bruto e ambos reinvestiram
R$ 100,00 do bruto na sociedade, restando a eles R$ 140,00
Exemplo de lucro. De acordo com o que cada um investiu inicial-
Carlos e João resolveram realizar um bolão da loteria. mente, qual é o valor que João e Marcos devem receber
Carlos entrou com R$ 10,00 e João com R$ 15,00. Caso ga- desse lucro, respectivamente?
nhem o prêmio de R$ 525.000,00, qual será a parte de cada (A) 30 e 110 reais.
um, se o combinado entre os dois foi de dividirem o prê- (B) 40 e 100 reais.
mio de forma diretamente proporcional? (C) 42 e 98 reais.
(D) 50 e 90 reais.
(E) 70 e 70 reais.

02. (TST – Técnico Judiciário – FCC/2017) Em uma


empresa, trabalham oito funcionários, na mesma função,
mas com cargas horárias diferentes: um deles trabalha 32
horas semanais, um trabalha 24 horas semanais, um tra-
balha 20 horas semanais, três trabalham 16 horas sema-
nais e, por fim, dois deles trabalham 12 horas semanais.
Carlos ganhará R$210000,00 e Carlos R$315000,00. No final do ano, a empresa distribuirá um bônus total de
R$ 74.000,00 entre esses oito funcionários, de forma que
Inversamente Proporcionais a parte de cada um seja diretamente proporcional à sua
Para decompor um número M em n partes X1, X2, ..., carga horária semanal.
Xn inversamente proporcionais a p1, p2, ..., pn, basta decom- Dessa forma, nessa equipe de funcionários, a diferença
por este número M em n partes X1, X2, ..., Xn diretamente entre o maior e o menor bônus individual será, em R$, de
proporcionais a 1/p1, 1/p2, ..., 1/pn. (A) 10.000,00.
A montagem do sistema com n equações e n incógni- (B) 8.000,00.
tas, assume que X1+X2+...+ Xn=M e além disso (C) 20.000,00.
(D) 12.000,00.
(E) 6.000,00.

03. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU-


NESP/2017) Para uma pesquisa, foram realizadas entrevis-
cuja solução segue das propriedades das proporções: tas nos estados da Região Sudeste do Brasil. A amostra foi
composta da seguinte maneira:

– 2500 entrevistas realizadas no estado de São Paulo;

– 1500 entrevistas realizadas nos outros três estados


da Região Sudeste.

Desse modo, é correto afirmar que a razão entre o nú-


mero de entrevistas realizadas em São Paulo e o número
total de entrevistas realizadas nos quatro estados é de
(A) 8 para 5.
(B) 5 para 8.
(C) 5 para 7.
(D) 3 para 5.
(E) 3 para 8.

13
MATEMÁTICA

04. (UNIRV/60 – Auxiliar de Laboratório – UNIRV- 08. (DPE/RS - Analista - FCC/2017) A razão entre as al-
GO/2017) Em relação à prova de matemática de um con- turas de dois irmãos era 3/4 e, nessa ocasião, a altura do irmão
curso, Paula acertou 32 das 48 questões da prova. A razão mais alto era 1,40 m. Hoje, esse irmão mais alto cresceu 10 cm.
entre o número de questões que ela errou para o total de Para que a razão entre a altura do irmão mais baixo e a altura
questões da prova é de do mais alto seja hoje, igual a 4/5 , é necessário que o irmão
(A) 2/3 mais baixo tenha crescido, nesse tempo, o equivalente a
(B) 1/2 (A) 13,5 cm.
(C) 1/3 (B) 10,0 cm.
(D) 3/2 (C) 12,5 cm.
(D) 14,8 cm.
05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- (E) 15,0 cm.
GO/2017) José, pai de Alfredo, Bernardo e Caetano, de 2, 5
e 8 anos, respectivamente, pretende dividir entre os filhos a 09. (CRBIO – Auxiliar Administrativo – VUNESP/2017)
quantia de R$ 240,00, em partes diretamente proporcionais O transporte de 1980 caixas iguais foi totalmente repartido
às suas idades. Considerando o intento do genitor, é possí- entre dois veículos, A e B, na razão direta das suas respectivas
vel afirmar que cada filho vai receber, em ordem crescente capacidades de carga, em toneladas. Sabe-se que A tem capa-
de idades, os seguintes valores: cidade para transportar 2,2 t, enquanto B tem capacidade para
(A) R$ 30,00, R$ 60,00 e R$150,00. transportar somente 1,8 t. Nessas condições, é correto afirmar
(B) R$ 42,00, R$ 58,00 e R$ 140,00. que a diferença entre o número de caixas carregadas em A e o
(C) R$ 27,00, R$ 31,00 e R$ 190,00. número de caixas carregadas em B foi igual a
(D) R$ 28,00, R$ 84,00 e R$ 128,00. (A) 304.
(E) R$ 32,00, R$ 80,00 e R$ 128,00. (B) 286.
(C) 224.
06. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU- (D) 216.
NESP/2017) Sabe-se que 16 caixas K, todas iguais, ou 40 (E) 198.
caixas Q, todas também iguais, preenchem totalmente cer-
to compartimento, inicialmente vazio. Também é possível 10. (EMDEC – Assistente Administrativo – IBFC/2016)
preencher totalmente esse mesmo compartimento com- Paulo vai dividir R$ 4.500,00 em partes diretamente propor-
pletamente vazio utilizando 4 caixas K mais certa quantida- cionais às idades de seus três filhos com idades de 4, 6 e 8
de de caixas Q. Nessas condições, é correto afirmar que o anos respectivamente. Desse modo, o total distribuído aos
número de caixas Q utilizadas será igual a dois filhos com maior idade é igual a:
(A) 10. (A) R$2.500,00
(B) R$3.500,00
(B) 28.
(C) R$ 1.000,00
(C) 18.
(D) R$3.200,00
(D) 22.
(E) 30.
RESPOSTAS
07. (IPRESB/SP – Agente Previdenciário – VU-
NESP/2017) A tabela, onde alguns valores estão substituí-
01. Resposta: C.
dos por letras, mostra os valores, em milhares de reais, que 30k+70k=140
eram devidos por uma empresa a cada um dos três forne- 100k=140
cedores relacionados, e os respectivos valores que foram K=1,4
pagos a cada um deles. 30⋅1,4=42
70⋅1,4=98
Fornecedor A B C
02. Resposta: A.
Valor pago 22,5 X 37,5
Vamos dividir o prêmio pelas horas somadas
Valor devido Y 40 z 32+24+20+3⋅16+2⋅12=148
74000/148=500
Sabe-se que os valores pagos foram diretamente propor- O maior prêmio foi para quem fez 32 horas semanais
cionais a cada valor devido, na razão de 3 para 4. Nessas con- 32⋅500=16000
dições, é correto afirmar que o valor total devido a esses três 12⋅500=6000
fornecedores era, antes dos pagamentos efetuados, igual a A diferença é: 16000-6000=10000
(A) R$ 90.000,00.
(B) R$ 96.500,00. 03. Resposta:B.
(C) R$ 108.000,00. 2500+1500=4000 entrevistas
(D) R$ 112.500,00.
(E) R$ 120.000,00.

14
MATEMÁTICA

04. Resposta: C. 09. Resposta: E.


Se Paula acertou 32, errou 16. 2,2k+1,8k=1980
4k=1980
K=495
2,2x495=1089
1980-1089=891
1089-891=198
05. Resposta: E.
2k+5k+8k=240 10. Resposta: B.
15k=240
K=16
Alfredo: 2⋅16=32
Bernardo: 5⋅16=80
Caetano: 8⋅16=128 A+B+C=4500
4p+6p+8p=4500
06. Resposta: E. 18p=4500
Se, com 16 caixas K, fica cheio e já foram colocadas 4 P=250
caixa, faltam 12 caixas K, mas queremos colocar as caixas Q, B=6p=6x250=1500
então vamos ver o equivalente de 12 caixas K C=8p=8x250=2000
1500+2000=3500

REGRA DE TRÊS
Q=30 caixas

07. Resposta: E.
Regra de três simples

Regra de três simples é um processo prático para re-


solver problemas que envolvam quatro valores dos quais
conhecemos três deles. Devemos, portanto, determinar um
Y=90/3=30
valor a partir dos três já conhecidos.

Passos utilizados numa regra de três simples:


1º) Construir uma tabela, agrupando as grandezas da
X=120/4=30 mesma espécie em colunas e mantendo na mesma linha
as grandezas de espécies diferentes em correspondência.
2º) Identificar se as grandezas são diretamente ou in-
versamente proporcionais.
3º) Montar a proporção e resolver a equação.
Z=150/3=50 Um trem, deslocando-se a uma velocidade média de
400Km/h, faz um determinado percurso em 3 horas. Em
Portanto o total devido é de: 30+40+50=120000 quanto tempo faria esse mesmo percurso, se a velocidade
utilizada fosse de 480km/h?
08. Resposta: E.
Solução: montando a tabela:

1) Velocidade (Km/h) Tempo (h)


400-----------------3
X=1,05 480---------------- x
Se o irmão mais alto cresceu 10cm, está com 1,50
2) Identificação do tipo de relação:
Velocidade----------tempo
400↓-----------------3↑
480↓---------------- x↑
X=1,20
Obs.: como as setas estão invertidas temos que inver-
Ele cresceu: 1,20-1,05=0,15m=15cm ter os números mantendo a primeira coluna e invertendo a
segunda coluna ou seja o que está em cima vai para baixo e
o que está em baixo na segunda coluna vai para cima

15
MATEMÁTICA

Velocidade----------tempo QUESTÕES
400↓-----------------X↓
480↓---------------- 3↓ 01. (IPRESB/SP - Analista de Processos Previdenciá-
rios- VUNESP/2017) Para imprimir 300 apostilas destina-
480x=1200 das a um curso, uma máquina de fotocópias precisa traba-
X=25 lhar 5 horas por dia durante 4 dias. Por motivos administra-
tivos, será necessário imprimir 360 apostilas em apenas 3
Regra de três composta dias. O número de horas diárias que essa máquina terá que
Regra de três composta é utilizada em problemas com trabalhar para realizar a tarefa é
mais de duas grandezas, direta ou inversamente propor- (A) 6.
cionais. (B) 7.
(C) 8.
Exemplos: (D) 9.
(E) 10.
1) Em 8 horas, 20 caminhões descarregam 160m³ de
areia. Em 5 horas, quantos caminhões serão necessários 02. (SEPOG – Analista em Tecnologia da Informação
para descarregar 125m³? e Comunicação – FGV/2017) Uma máquina copiadora A
faz 20% mais cópias do que uma outra máquina B, no mes-
Solução: montando a tabela, colocando em cada co- mo tempo.
luna as grandezas de mesma espécie e, em cada linha, as A máquina B faz 100 cópias em uma hora.
grandezas de espécies diferentes que se correspondem: A máquina A faz 100 cópias em
(A) 44 minutos.
Horas --------caminhões-----------volume (B) 46 minutos.
8↑----------------20↓----------------------160↑ (C) 48 minutos.
5↑------------------x↓----------------------125↑ (D) 50 minutos.
(E) 52 minutos.
A seguir, devemos comparar cada grandeza com aque-
la onde está o x. 03. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária
Observe que: - MSCONCURSOS/2017) Para a construção de uma ro-
Aumentando o número de horas de trabalho, pode- dovia, 12 operários trabalham 8 horas por dia durante 14
mos diminuir o número de caminhões. Portanto a relação dias e completam exatamente a metade da obra. Porém, a
é inversamente proporcional (seta para cima na 1ª coluna). rodovia precisa ser terminada daqui a exatamente 8 dias,
Aumentando o volume de areia, devemos aumentar o e então a empresa contrata mais 6 operários de mesma
número de caminhões. Portanto a relação é diretamente capacidade dos primeiros. Juntos, eles deverão trabalhar
proporcional (seta para baixo na 3ª coluna). Devemos igua- quantas horas por dia para terminar o trabalho no tempo
lar a razão que contém o termo x com o produto das outras correto?
razões de acordo com o sentido das setas. (A) 6h 8 min
Montando a proporção e resolvendo a equação temos: (B) 6h 50min
(C) 9h 20 min
Horas --------caminhões-----------volume (D) 9h 33min
8↑----------------20↓----------------------160↓
5↑------------------x↓----------------------125↓ 04. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU-
NESP/2017 ) Um restaurante “por quilo” apresenta seus
Obs.: Assim devemos inverter a primeira coluna fican- preços de acordo com a tabela:
do:

Horas --------caminhões-----------volume
5----------------20----------------------160
8------------------x----------------------125 Rodolfo almoçou nesse restaurante na última sexta-fei-
ra. Se a quantidade de alimentos que consumiu nesse al-
moço custou R$ 21,00, então está correto afirmar que essa
quantidade é, em gramas, igual a

(A) 375.
Logo, serão necessários 25 caminhões (B) 380.
(C) 420.
(D) 425.
(E) 450.

16
MATEMÁTICA

05. . (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU- 10. (MPE/SP – Oficial de Promotoria I – VU-
NESP/2017 ) Um carregamento de areia foi total- NESP/2016) Para organizar as cadeiras em um auditório, 6
mente embalado em 240 sacos, com 40 kg em cada funcionários, todos com a mesma capacidade de produção,
saco. Se fossem colocados apenas 30 kg em cada trabalharam por 3 horas. Para fazer o mesmo trabalho, 20
saco, o número de sacos necessários para embalar funcionários, todos com o mesmo rendimento dos iniciais,
todo o carregamento seria igual a deveriam trabalhar um total de tempo, em minutos, igual a
(A) 420. (A) 48.
(B) 375. (B) 50.
(C) 370. (C) 46.
(D) 345. (D) 54.
(E) 320. (E) 52.

06. (UNIRV/GO – Auxiliar de Laboratório –


UNIRVGO/2017) Quarenta e oito funcionários de RESPOSTAS
uma certa empresa, trabalhando 12 horas por dia,
produzem 480 bolsas por semana. Quantos funcio- 01. Resposta: C.
nários a mais, trabalhando 15 horas por dia, podem ↑Apostilas ↑ horas dias↓
assegurar uma produção de 1200 bolsas por semana? 300------------------5--------------4
(A) 48 360-----------------x----------------3
(B) 96
(C) 102 ↑Apostilas ↑ horas dias↑
(D) 144 300------------------5--------------3
360-----------------x----------------4
07. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE-
GO/2017) Durante 90 dias, 12 operários constroem
uma loja. Qual o número mínimo de operários neces-
sários para fazer outra loja igual em 60 dias?
900x=7200
(A) 8 operários.
X=8
(B) 18 operários.
(C) 14 operários.
02. Resposta: D.
(D) 22 operários.
Como a máquina A faz 20% a mais:
(E) 25 operários
Em 1 hora a máquina A faz 120 cópias.
120------60 minutos
08. (FCEP – Técnico Artístico – AMAUC/2017) 10-------x
A vazão de uma torneira é de 50 litros a cada 3 mi- X=50 minutos
nutos. O tempo necessário para essa torneira encher
completamente um reservatório retangular, cujas 03. Resposta: C.
medidas internas são 1,5 metros de comprimento, 1,2 ↑Operário ↓horas dias↑
metros de largura e 70 centímetros de profundidade 12--------------8------------14
é de: 18----------------x------------8
(A) 1h 16min 00s Quanto mais horas, menos operários
(B) 1h 15min 36s Quanto mais horas, menos dias
(C) 1h 45min 16s
(D) 1h 50min 05s
(E) 1h55min 42s

09. (CRMV/SC – Assistente Administrativo – IE- 8⋅18x=14⋅12⋅8


SES/2017) Trabalhando durante 6 dias, 5 operários X=9,33h
produzem 600 peças. Determine quantas peças serão 9 horas e 1/3 da hora
produzidas por sete operários trabalhando por 8 dias: 1/3 de hora é equivalente a 20 minutos
(A) 1120 peças 9horas e 20 minutos
(B) 952 peças
(C) 875 peças 04. Resposta:C.
(D) 1250 peças 12,50------250
21----------x
X=5250/12,5=420 gramas

17
MATEMÁTICA

05. Resposta: E.
Sacos kg
240----40
x----30

Quanto mais sacos, menos areia foi colocada(inversamente)

30x=9600
X=320

06. Resposta: A.
↓Funcionários ↑ horas bolsas↓
48------------------------12-----------480
x-----------------------------15----------1200
Quanto mais funcionários, menos horas precisam
Quanto mais funcionários, mais bolsas feitas

X=96 funcionários
Precisam de mais 48 funcionários

07. Resposta: B.
Operários dias
12-----------90
x--------------60
Quanto mais operários, menos dias (inversamente proporcional)

60x=1080
X=18

08. Resposta: B.
V=1,5⋅1,2⋅0,7=1,26m³=1260litros
50litros-----3 min
1260--------x
X=3780/50=75,6min
0,6min=36s
75min=60+15=1h15min

09. Resposta: A.
↑Dias ↑ operários peças↑
6-------------5---------------600
8--------------7---------------x

30x=33600
X=1120

18
MATEMÁTICA

10. Resposta: D.

Como o exercício pede em minutos, vamos transformar 3 horas em minutos

3x60=180 minutos
↑Funcionários minutos↓
6------------180
20-------------x
As Grandezas são inversamente proporcionais, pois quanto mais funcionários, menos tempo será gasto.
Vamos inverter os minutos
↑Funcionários minutos↑
6------------x
20-------------180
20x=6.180
20x=1040
X=54 minutos

SISTEMA MÉTRICO DECIMAL

Unidades de Comprimento
km hm dam m dm cm mm
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m

Os múltiplos do metro são utilizados para medir grandes distâncias, enquanto os submúltiplos, para pequenas distân-
cias. Para medidas milimétricas, em que se exige precisão, utilizamos:

mícron (µ) = 10-6 m angströn (Å) = 10-10 m

    Para distâncias astronômicas utilizamos o Ano-luz (distância percorrida pela luz em um ano):
Ano-luz = 9,5 · 1012 km

Exemplos de Transformação

1m=10dm=100cm=1000mm=0,1dam=0,01hm=0,001km
1km=10hm=100dam=1000m

Ou seja, para trasnformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 10 e para a esquerda divide por
10.

Superfície
A medida de superfície é sua área e a unidade fundamental é o metro quadrado(m²).

Para transformar de uma unidade para outra inferior, devemos observar que cada unidade é cem vezes maior que a
unidade imediatamente inferior. Assim, multiplicamos por cem para cada deslocamento de uma unidade até a desejada. 

Unidades de Área
km 2
hm 2
dam 2
m2 dm2 cm2 mm2
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado
1000000m2 10000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2

19
MATEMÁTICA

Exemplos de Transformação

1m²=100dm²=10000cm²=1000000mm²
1km²=100hm²=10000dam²=1000000m²

Ou seja, para trasnformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 100 e para a esquerda divide por
100.

Volume

Os sólidos geométricos são objetos tridimensionais que ocupam lugar no espaço. Por isso, eles possuem volume. Po-
demos encontrar sólidos de inúmeras formas, retangulares, circulares, quadrangulares, entre outras, mas todos irão possuir
volume e capacidade.

Unidades de Volume
km 3
hm 3
dam 3
m3 dm3 cm3 mm3
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico
1000000000m3 1000000m3 1000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3 0,000000001m3

Capacidade
Para medirmos a quantidade de leite, sucos, água, óleo, gasolina, álcool entre outros utilizamos o litro e seus múltiplos
e submúltiplos, unidade de medidas de produtos líquidos. 
Se um recipiente tem 1L de capacidade, então seu volume interno é de 1dm³

1L=1dm³

Unidades de Capacidade
kl hl dal l dl cl ml
Quilolitro Hectolitro Decalitro Litro Decilitro Centilitro Mililitro
1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l

Massa

Toda vez que andar 1 casa para direita, multiplica por 10 e quando anda para esquerda divide por 10.
E uma outra unidade de massa muito importante é a tonelada
1 tonelada=1000kg

Tempo

A unidade fundamental do tempo é o segundo(s).


É usual a medição do tempo em várias unidades, por exemplo: dias, horas, minutos

20
MATEMÁTICA

Transformação de unidades Divisão

Deve-se saber:
1 dia=24horas
1hora=60minutos 5h 20 minutos :2
1 minuto=60segundos
1hora=3600s 1h 20 minutos, transformamos para minutos
:60+20=80minutos
Adição de tempo

Exemplo: Estela chegou ao 15h 35minutos. Lá, bateu QUESTÕES


seu recorde de nado livre e fez 1 minuto e 25 segundos.
Demorou 30 minutos para chegar em casa. Que horas ela 01. (IPRESB/SP - Analista de Processos Previdenciá-
chegou? rios- VUNESP/2017) Uma gráfica precisa imprimir um lote
de 100000 folhetos e, para isso, utiliza a máquina A, que
imprime 5000 folhetos em 40 minutos. Após 3 horas e 20
minutos de funcionamento, a máquina A quebra e o servi-
ço restante passa a ser feito pela máquina B, que imprime
4500 folhetos em 48 minutos. O tempo que a máquina B
levará para imprimir o restante do lote de folhetos é
Não podemos ter 66 minutos, então temos que trans- (A) 14 horas e 10 minutos.
ferir para as horas, sempre que passamos de um para o (B) 14 horas e 05 minutos.
outro tem que ser na mesma unidade, temos que passar 1 (C) 13 horas e 45 minutos.
hora=60 minutos (D) 13 horas e 30 minutos.
(E) 13 horas e 20 minutos.
Então fica: 16h 6 minutos 25segundos
02. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU-
Vamos utilizar o mesmo exemplo para fazer a operação
NESP/2017) Renata foi realizar exames médicos em uma
inversa.
clínica. Ela saiu de sua casa às 14h 45 min e voltou às 17h 15
min. Se ela ficou durante uma hora e meia na clínica, então o
Subtração
tempo gasto no trânsito, no trajeto de ida e volta, foi igual a
Vamos dizer que sabemos que ela chegou em casa as
(A) 1/2h.
16h 6 minutos 25 segundos e saiu de casa às 15h 35 minu- (B) 3/4h.
tos. Quanto tempo ficou fora? (C) 1h.
(D) 1h 15min.
(E) 1 1/2h.

03. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU-


NESP/2017) Uma indústria produz regularmente 4500 li-
Não podemos tirar 6 de 35, então emprestamos, da tros de suco por dia. Sabe-se que a terça parte da produ-
mesma forma que conta de subtração. ção diária é distribuída em caixinhas P, que recebem 300
1hora=60 minutos mililitros de suco cada uma. Nessas condições, é correto
afirmar que a cada cinco dias a indústria utiliza uma quan-
tidade de caixinhas P igual a
(A) 25000.
(B) 24500.
(C) 23000.
(D) 22000.
Multiplicação (E) 20500.

Pedro pensou em estudar durante 2h 40 minutos, mas 04. (UNIRV/GO – Auxiliar de Laboratório – UNIR-
demorou o dobro disso. Quanto tempo durou o estudo? VGO/2017) Uma empresa farmacêutica distribuiu 14400
litros de uma substância líquida em recipientes de 72 cm3
cada um. Sabe-se que cada recipiente, depois de cheio,
tem 80 gramas. A quantidade de toneladas que representa
todos os recipientes cheios com essa substância é de
(A) 16
(B) 160
(C) 1600
(D) 16000

21
MATEMÁTICA

05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- 09. (ANP – Técnico Administrativo – CESGRAN-
GO/2017) João estuda à noite e sua aula começa às RIO/2016) Um caminhão-tanque chega a um posto de abas-
18h40min. Cada aula tem duração de 45 minutos, e o tecimento com 36.000 litros de gasolina em seu reservatório.
intervalo dura 15 minutos. Sabendo-se que nessa escola Parte dessa gasolina é transferida para dois tanques de arma-
há 5 aulas e 1 intervalo diariamente, pode-se afirmar que zenamento, enchendo-os completamente. Um desses tanques
o término das aulas de João se dá às: tem 12,5 m3, e o outro, 15,3 m3, e estavam, inicialmente, vazios.
(A) 22h30min Após a transferência, quantos litros de gasolina resta-
(B) 22h40min ram no caminhão-tanque?
(C) 22h50min (A) 35.722,00
(D) 23h (B) 8.200,00
(E) Nenhuma das anteriores (C) 3.577,20
(D) 357,72
06. (IBGE – Agente Censitário Administrativo- (E) 332,20
FGV/2017) Quando era jovem, Arquimedes corria 15km
10. (DPE/RR – Auxiliar Administrativo – FCC/2015)
em 1h45min. Agora que é idoso, ele caminha 8km em
Raimundo tinha duas cordas, uma de 1,7 m e outra de 1,45
1h20min.
m. Ele precisava de pedaços, dessas cordas, que medissem
40 cm de comprimento cada um. Ele cortou as duas cordas
Para percorrer 1km agora que é idoso, comparado em pedaços de 40 cm de comprimento e assim conseguiu
com a época em que era jovem, Arquimedes precisa de obter
mais: (A) 6 pedaços.
(A) 10 minutos; (B) 8 pedaços.
(B) 7 minutos; (C) 9 pedaços.
(C) 5 minutos; (D) 5 pedaços.
(D) 3 minutos; (E) 7 pedaços.
(E) 2 minutos.

07. (IBGE – Agente Censitário Administrativo- RESPOSTAS


FGV/2017) Lucas foi de carro para o trabalho em um ho-
rário de trânsito intenso e gastou 1h20min. Em um dia 01. Resposta: E.
sem trânsito intenso, Lucas foi de carro para o trabalho 3h 20 minutos-200 minutos
a uma velocidade média 20km/h maior do que no dia de
trânsito intenso e gastou 48min. 5000-----40
x----------200
A distância, em km, da casa de Lucas até o trabalho é: x=1000000/40=25000
(A) 36;
(B) 40; Já foram impressos 25000, portanto faltam ainda 75000
(C) 48; 4500-------48
(D) 50; 75000------x
(E) 60. X=3600000/4500=800 minutos
800/60=13,33h
13 horas e 1/3 hora
08. (EMDEC - Assistente Administrativo Jr –
13h e 20 minutos
IBFC/2016) Carlos almoçou em certo dia no horário das
12:45 às 13:12. O total de segundos que representa o
tempo que Carlos almoçou nesse dia é:
(A) 1840
(B) 1620
(C) 1780
(D) 2120
02. Resposta: C.
Como ela ficou 1hora e meia na clínica o trajeto de ida
e volta demorou 1 hora.

03. Resposta:A.
4500/3=1500 litros para as caixinhas
1500litros=1500000ml
1500000/300=5000 caixinhas por dia
5000.5=25000 caixinhas em 5 dias

22
MATEMÁTICA

04. Resposta:A. 10.Resposta: E.


14400litros=14400000 ml 1,7m=170cm
1,45m=145 cm
170/40=4 resta 10
145/40=3 resta 25
4+3=7
200000⋅80=16000000 gramas=16 toneladas

05. Resposta: B.
5⋅45=225 minutos de aula EQUAÇÕES E INEQUAÇÕES
225/60=3 horas 45 minutos nas aulas mais 15 minutos
de intervalo=4horas
18:40+4h=22h:40
Equação 1º grau
06. Resposta: D. Equação é toda sentença matemática aberta represen-
1h45min=60+45=105 minutos tada por uma igualdade, em que exista uma ou mais letras
que representam números desconhecidos.
15km-------105 Equação do 1º grau, na incógnita x, é toda equação
1--------------x redutível à forma ax+b=0, em que a e b são números reais,
X=7 minutos chamados coeficientes, com a≠0.
Uma raiz da equação ax+b =0(a≠0) é um valor numé-
1h20min=60+20=80min rico de x que, substituindo no 1º membro da equação, tor-
na-se igual ao 2º membro.
8km----80
1-------x Nada mais é que pensarmos em uma balança.
X=10minutos

A diferença é de 3 minutos

07. Resposta: B.
V------80min
V+20----48
Quanto maior a velocidade, menor o tempo(inversa-
mente)

A balança deixa os dois lados iguais para equilibrar, a


equação também.
80v=48V+960
No exemplo temos:
32V=960
3x+300
V=30km/h
Outro lado: x+1000+500
E o equilíbrio?
30km----60 min
3x+300=x+1500
x-----------80
Quando passamos de um lado para o outro invertemos
o sinal
3x-x=1500-300
2x=1200
60x=2400
X=600
X=40km
Exemplo
08 Resposta: B.
(PREF. DE NITERÓI/RJ – Fiscal de Posturas –
12:45 até 13:12 são 27 minutos
FGV/2015) A idade de Pedro hoje, em anos, é igual ao do-
27x60=1620 segundos
bro da soma das idades de seus dois filhos, Paulo e Pierre.
Pierre é três anos mais velho do que Paulo. Daqui a dez
09. Resposta: B.
anos, a idade de Pierre será a metade da idade que Pedro
1m³=1000litros
tem hoje.
36000/1000=36 m³
36-12,5-15,3=8,2 m³x1000=8200 litros

23
MATEMÁTICA

A soma das idades que Pedro, Paulo e Pierre têm hoje


é: Se for negativo, não há solução no conjunto dos
(A) 72; números reais.
(B) 69;
(C) 66; Se for positivo, a equação tem duas soluções:
(D) 63;
(E) 60.
Resolução
A ideia de resolver as equações é literalmente colocar
na linguagem matemática o que está no texto. Exemplo
“Pierre é três anos mais velho do que Paulo”
Pi=Pa+3
“Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da
idade que Pedro tem hoje.”
, portanto não há solução real.

A idade de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da


soma das idades de seus dois filhos,
Pe=2(Pi+Pa)
Pe=2Pi+2Pa

Lembrando que:
Pi=Pa+3

Substituindo em Pe
Pe=2(Pa+3)+2Pa
Pe=2Pa+6+2Pa
Pe=4Pa+6

Se não há solução, pois não existe raiz quadrada


real de um número negativo.
Pa+3+10=2Pa+3
Pa=10 Se , há duas soluções iguais:
Pi=Pa+3
Pi=10+3=13
Pe=40+6=46
Soma das idades: 10+13+46=69
Se , há soluções reais diferentes:
Resposta: B.

Equação 2º grau

A equação do segundo grau é representada pela fór- Relações entre Coeficientes e Raízes
mula geral:
Dada as duas raízes:

Onde a, b e c são números reais,

Discussão das Raízes


Soma das Raízes
1.
1.

24
MATEMÁTICA

Produto das Raízes Inequação


Uma inequação é uma sentença matemática expressa
por uma ou mais incógnitas, que ao contrário da equação
que utiliza um sinal de igualdade, apresenta sinais de desi-
gualdade. Veja os sinais de desigualdade:
Composição de uma equação do 2ºgrau, conheci-
das as raízes >: maior 
<: menor
Podemos escrever a equação da seguinte maneira: ≥: maior ou igual 
≤: menor ou igual 
x²-Sx+P=0
O princípio resolutivo de uma inequação é o mesmo da
Exemplo equação, onde temos que organizar os termos semelhan-
tes em cada membro, realizando as operações indicadas.
Dada as raízes -2 e 7. Componha a equação do 2º grau. No caso das inequações, ao realizarmos uma multiplicação
de seus elementos por –1 com o intuito de deixar a parte
Solução da incógnita positiva, invertemos o sinal representativo da
S=x1+x2=-2+7=5 desigualdade.
P=x1.x2=-2.7=-14
Então a equação é: x²-5x-14=0 Exemplo 1
4x + 12 > 2x – 2
Exemplo 4x – 2x > – 2 – 12
(IMA – Analista Administrativo Jr – SHDIAS/2015) A 2x > – 14
soma das idades de Ana e Júlia é igual a 44 anos, e, quando x > –14/2
somamos os quadrados dessas idades, obtemos 1000. A x>–7
mais velha das duas tem:
(A) 24 anos Inequação-Produto
(B) 26 anos
(C) 31 anos Quando se trata de inequações-produto, teremos uma
(D) 33 anos desigualdade que envolve o produto de duas ou mais fun-
ções. Portanto, surge a necessidade de realizar o estudo
Resolução da desigualdade em cada função e obter a resposta final
A+J=44 realizando a intersecção do conjunto resposta das funções.
A²+J²=1000 Exemplo
A=44-J
(44-J)²+J²=1000
1936-88J+J²+J²=1000
2J²-88J+936=0
Dividindo por2:
J²-44J+468=0
∆=(-44)²-4.1.468
∆=1936-1872=64 a)(-x+2)(2x-3)<0

Inequação-Quociente
Na inequação-quociente, tem-se uma desigualdade
de funções fracionárias, ou ainda, de duas funções na qual
uma está dividindo a outra. Diante disso, deveremos nos
atentar ao domínio da função que se encontra no denomi-
nador, pois não existe divisão por zero. Com isso, a função
que estiver no denominador da inequação deverá ser dife-
Substituindo em A rente de zero.
A=44-26=18 O método de resolução se assemelha muito à resolu-
Ou A=44-18=26 ção de uma inequação-produto, de modo que devemos
analisar o sinal das funções e realizar a intersecção do sinal
Resposta: B. dessas funções.

25
MATEMÁTICA

Exemplo
Resolva a inequação a seguir:

x-2≠0

Portanto: 
S = { x   R | x ≤ - 1} ou S = ] - ∞ ; -1]

Inequação 2º grau
Chama-se inequação do 2º grau, toda inequação que
x≠2 pode ser escrita numa das seguintes formas:
ax²+bx+c>0
ax²+bx+c≥0
ax²+bx+c<0
Sistema de Inequação do 1º Grau ax²+bx+c<0
Um sistema de inequação do 1º grau é formado por ax²+bx+c≤0
duas ou mais inequações, cada uma delas tem apenas uma ax²+bx+c≠0
variável sendo que essa deve ser a mesma em todas as
outras inequações envolvidas.  Exemplo
Veja alguns exemplos de sistema de inequação do 1º Vamos resolver a inequação 3x² + 10x + 7 < 0.
grau:
Resolvendo Inequações
Resolver uma inequação significa determinar os valo-
res reais de x que satisfazem a inequação dada.
Assim, no exemplo, devemos obter os valores reais de
x que tornem a expressão 3x² + 10x +7 negativa.

Vamos achar a solução de cada inequação. 

4x + 4 ≤ 0 
4x ≤ - 4 
x ≤ - 4 : 4 

x ≤ - 1 

S1 = {x   R | x ≤ - 1} 

Fazendo o cálculo da segunda inequação temos: 


x + 1 ≤ 0 
x ≤ - 1 

A “bolinha” é fechada, pois o sinal da inequação é igual. 

S2 = { x   R | x ≤ - 1} 
Calculando agora o CONJUTO SOLUÇÃO da inequação S = {x ∈ R / –7/3 < x < –1}

temos: 
S = S1 ∩ S2

26
MATEMÁTICA

QUESTÕES 06. (UNIRV/GO – Auxiliar de Laboratório – UNIRV-


GO/2017) O valor de m para que a equação (2m -1) x² - 6x
01. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária - + 3 = 0 tenha duas raízes reais iguais é
MSCONCURSOS/2017) O dobro do quadrado de um nú- (A) 3
mero natural aumentado de 3 unidades é igual a sete vezes (B) 2
esse número. Qual é esse número? (C) −1
(A) 2 (D) −6
(B) 3
(C) 4 07. (IPRESB - Agente Previdenciário – VUNESP/2017)
(D) 5 Em setembro, o salário líquido de Juliano correspondeu a
4/5 do seu salário bruto. Sabe-se que ele destinou 2/5 do
02. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- salário líquido recebido nesse mês para pagamento do alu-
NESP/2017) Um carro parte da cidade A em direção à guel, e que poupou 2/5 do que restou. Se Juliano ficou, ain-
cidade B pela rodovia que liga as duas cidades, percorre da, com R$ 1.620,00 para outros gastos, então o seu salário
1/3 do percurso total e para no ponto P. Outro carro parte bruto do mês de setembro foi igual a
da cidade B em direção à cidade A pela mesma rodovia, (A) R$ 6.330,00.
percorre 1/4 do percurso total e para no ponto Q. Se a (B) R$ 5.625,00.
soma das distâncias percorridas por ambos os carros até os (C) R$ 5.550,00.
pontos em que pararam é igual a 28 km, então a distância (D) R$ 5.125,00.
entre os pontos P e Q, por essa rodovia, é, em quilômetros, (E) R$ 4.500,00.
igual a
(A) 26. 8. (SESAU/RO – Técnico em Informática – FUN-
(B) 24. RIO/2017) Daqui a 24 anos, Jovelino terá o triplo de sua
(C) 20. idade atual. Daqui a cinco anos, Jovelino terá a seguinte
(D) 18. idade:
(E) 16. (A) 12.
(B) 14.
03. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- (C) 16.
NESP/2017) Nelson e Oto foram juntos a uma loja de ma- (D) 17.
teriais para construção. Nelson comprou somente 10 uni- (E) 18.
dades iguais do produto P, todas de mesmo preço. Já Oto
comprou 7 unidades iguais do mesmo produto P, e gastou 09. (PREF. DE FAZENDA RIO GRANDE/PR – Profes-
mais R$ 600,00 na compra de outros materiais. Se os valo- sor – PUC/2017) A equação 8x² – 28x + 12 = 0 possui raí-
res totais das compras de ambos foram exatamente iguais, zes iguais a x1 e x2. Qual o valor do produto x1 . x2?
então o preço unitário do produto P foi igual a (A) 1/2 .
(A) R$ 225,00. (B) 3.
(B) R$ 200,00. (C) 3/2 .
(C) R$ 175,00. (D) 12.
(D) R$ 150,00. (E) 28.
(E) R$ 125,00.
10 (PREF.DO RIO DE JANEIRO – Agente de Adminis-
04. (ITAIPU BINACIONAL - Profissional Nível Técni- tração – PREF. DO RIO DE JANEIRO/2016) Ao perguntar
co I - Técnico em Eletrônica – NCUFPR/2017) Considere para João qual era a sua idade atual, recebi a seguinte res-
a equação dada por 2x² + 12x + 3 = -7. Assinale a alternati- posta:
va que apresenta a soma das duas soluções dessa equação. - O quíntuplo da minha idade daqui a oito anos, di-
(A) 0. minuída do quíntuplo da minha idade há três anos atrás
(B) 1. representa a minha idade atual.
(C) -1. A soma dos algarismos do número que representa, em
(D) 6. anos, a idade atual de João, corresponde a:
(E) -6. (A) 6
(B) 7
05. (UNIRV/GO – Auxiliar de Laboratório – UNIRV- (C) 10
GO/2017) Num estacionamento encontram-se 18 motos, (D) 14
15 triciclos e alguns carros. Se Pedrinho contou um total de
269 rodas, quantos carros tem no estacionamento?
(A) 45
(B) 47
(C) 50
(D) 52

27
MATEMÁTICA

RESPOSTAS 07. Resposta: B.


Salário liquido: x
01. Resposta: B.
2x²+3=7x
2x²-7x+3=0
∆=49-24=25

10x+6x+40500=25x
9x=40500
X=4500
Como tem que ser natural, apenas o número 3 convém.
Salario fração
02. Resposta: C. y---------------1
4500---------4/5
Mmc(3,4)=12

4x+3x=336
7x=336
X=48
A distância entre A e B é 48km 08. Resposta: D.
Como já percorreu 28km
48-28=20 km entre P e Q. Idade atual: x
X+24=3x
03. Resposta:B. 2x=24
Sendo x o valor do material P X=12
10x=7x+600 Ele tem agora 12 anos, daqui a 5 anos: 17.
3x=600
X=200 09. Resposta: C.
∆=(-28)²-4.8.12
04. Resposta: E. ∆=784-384
2x²+12x+10=0 ∆=400
∆=12²-4⋅2⋅10
∆=144-80=64

A soma das duas é -1-5=-6 10. Resposta: C.


Atual:x
05. Resposta:B. 5(x+8)-5(x-3)=x
Vamos fazer a conta de rodas: 5x+40-5x+15=x
Motos tem 2 rodas, triciclos 3 e carros 4 X=55
18⋅2+15⋅3+x⋅4=269 Soma: 5+5=10
4x=269-36-45
4x=188
X=47

06. Resposta: B
∆=-(-6)²-4⋅(2m-1) ⋅3=0
36-24m+12=0
-24m=-48
M=2

28
MATEMÁTICA

O conjunto A é denominado domínio da função, indi-


FUNÇÕES cada por D. O domínio serve para definir em que conjun-
to estamos trabalhando, isto é, os valores possíveis para a
variável x.
O conjunto B é denominado contradomínio, CD.
Cada elemento x do domínio tem um correspondente
Diagrama de Flechas y no contradomínio. A esse valor de y damos o nome de
imagem de x pela função f. O conjunto de todos os valores
de y que são imagens de valores de x forma o conjunto
imagem da função, que indicaremos por Im.

Exemplo
Com os conjuntos A={1, 4, 7} e B={1, 4, 6, 7, 8, 9, 12}
criamos a função f: A→B.definida por f(x) = x + 5 que tam-
bém pode ser representada por y = x + 5. A representação,
utilizando conjuntos, desta função, é:

Gráfico Cartesiano

No nosso exemplo, o domínio é D = {1, 4, 7}, o contra-


domínio é = {1, 4, 6, 7, 8, 9, 12} e o conjunto imagem é Im
= {6, 9, 12}

Classificação das funções

Injetora: Quando para ela elementos distintos do do-


mínio apresentam imagens também distintas no contrado-
Muitas vezes nos deparamos com situações que en-
mínio.
volvem uma relação entre grandezas. Assim, o valor a ser
pago na conta de luz depende do consumo medido no
período; o tempo de uma viagem de automóvel depende
da velocidade no trajeto.
Como, em geral, trabalhamos com funções numéricas,
o domínio e a imagem são conjuntos numéricos, e pode-
mos definir com mais rigor o que é uma função matemáti-
ca utilizando a linguagem da teoria dos conjuntos.

Definição: Sejam A e B dois conjuntos não vazios e f


Sobrejetora: Quando todos os elementos do contra-
uma relação de A em B.
domínio forem imagens de pelo menos um elemento do
Essa relação f é uma função de A em B quando a cada
domínio.
elemento x do conjunto A está associado um e apenas um
elemento y do conjunto B.

Notação: f:A→B (lê-se função f de A em B)

Domínio, contradomínio, imagem


O domínio é constituído por todos os valores que po-
dem ser atribuídos à variável independente. Já a imagem
da função é formada por todos os valores corresponden-
tes da variável dependente.

29
MATEMÁTICA

Bijetora: Quando apresentar as características de fun-


ção injetora e ao mesmo tempo, de sobrejetora, ou seja,
elementos distintos têm sempre imagens distintas e todos
os elementos do contradomínio são imagens de pelo me-
nos um elemento do domínio.

Raiz da função
Função 1 grau Calcular o valor da raiz da função é determinar o valor
A função do 1° grau relacionará os valores numéricos em que a reta cruza o eixo x, para isso consideremos o
obtidos de expressões algébricas do tipo (ax + b), consti- valor de y igual a zero, pois no momento em que a reta
tuindo, assim, a função f(x) = ax + b. intersecta o eixo x, y = 0. Observe a representação gráfica
a seguir:
Estudo dos Sinais
Definimos função como relação entre duas grandezas
representadas por x e y. No caso de uma função do 1º grau,
sua lei de formação possui a seguinte característica: y = ax
+ b ou f(x) = ax + b, onde os coeficientes a e b pertencem
aos reais e diferem de zero. Esse modelo de função possui
como representação gráfica a figura de uma reta, portanto,
as relações entre os valores do domínio e da imagem cres-
cem ou decrescem de acordo com o valor do coeficiente a.
Se o coeficiente possui sinal positivo, a função é crescente, Podemos estabelecer uma formação geral para o cál-
e caso ele tenha sinal negativo, a função é decrescente. culo da raiz de uma função do 1º grau, basta criar uma ge-
neralização com base na própria lei de formação da função,
Função Crescente: a > 0 considerando y = 0 e isolando o valor de x (raiz da função).
De uma maneira bem simples, podemos olhar no grá- X=-b/a
fico que os valores de y vão crescendo.
Dependendo do caso, teremos que fazer um sistema
com duas equações para acharmos o valor de a e b.

Exemplo:
Dado que f(x)=ax+b e f(1)=3 e f(3)=5, ache a função.

F(1)=1a+b
3=a+b

F(3)=3a+b
5=3a+b

Isolando a em I
a=3-b
Função Decrescente: a < 0 Substituindo em II
Nesse caso, os valores de y, caem.
3(3-b)+b=5
9-3b+b=5
-2b=-4
b=2

30
MATEMÁTICA

Portanto, Raízes
a=3-b
a=3-2=1

Assim, f(x)=x+2

Função Quadrática ou Função do 2º grau


Em geral, uma função quadrática ou polinomial do se-
gundo grau tem a seguinte forma:
f(x)=ax²+bx+c, onde a≠0
f(x)=a(x-x1)(x-x2)
É essencial que apareça ax² para ser uma função qua-
drática e deve ser o maior termo.
Vértices e Estudo do Sinal
Considerações Quando a > 0, a parábola tem concavidade voltada para
cima e um ponto de mínimo V; quando a < 0, a parábola tem
Concavidade concavidade voltada para baixo e um ponto de máximo V. 
A concavidade da parábola é para cima se a>0 e para Em qualquer caso, as coordenadas de V são
baixo se a<0

  .

Veja os gráficos:

Discriminante(∆)

∆=b²-4ac

∆>0
A parábola y=ax²+bx+c intercepta o eixo x em dois
pontos distintos, (x1,0) e (x2,0), onde x1 e x2 são raízes da
equação ax²+bx+c=0

∆=0
Quando , a parábola y=ax²+bx+c é tangente ao

eixo x, no ponto
 
Repare que, quando tivermos o discriminante , as
duas raízes da equação ax²+bx+c=0 são iguais

∆<0

A função não tem raízes reais

31
MATEMÁTICA

Equação Exponencial
É toda equação cuja incógnita se apresenta no expoente de uma ou mais potências de bases positivas e diferentes de 1.

Exemplo
Resolva a equação no universo dos números reais.

Solução

Função exponencial

A expressão matemática que define a função exponencial é uma potência. Nesta potência, a base é um número real
positivo e diferente de 1 e o expoente é uma variável.

Função crescente
Se   temos uma função exponencial crescente, qualquer que seja o valor real de x.
No gráfico da função ao lado podemos observar que à medida que x aumenta, também aumenta f(x) ou y. Graficamen-
te vemos que a curva da função é crescente.

Função decrescente
Se   temos uma função exponencial decrescente em todo o domínio da função.
Neste outro gráfico podemos observar que à medida que x aumenta, y diminui. Graficamente observamos que a cur-
va da função é decrescente.

32
MATEMÁTICA

A Constante de Euler
É definida por :
e = exp(1)
O número e é um número irracional e positivo e em função da definição da função exponencial, temos que:
Ln(e) = 1
Este número é denotado por e em homenagem ao matemático suíço Leonhard Euler (1707-1783), um dos primeiros a
estudar as propriedades desse número.
O valor deste número expresso com 10 dígitos decimais, é:
e = 2,7182818284
Se x é um número real, a função exponencial exp(.) pode ser escrita como a potência de base e com expoente x, isto é: 
ex = exp(x)

Propriedades dos expoentes


Se a, x e y são dois números reais quaisquer e k é um número racional, então:
- ax ay= ax + y
- ax / ay= ax - y
- (ax) y= ax.y
- (a b)x = ax bx
- (a / b)x = ax / bx
- a-x = 1 / ax  

Logaritmo
Considerando-se dois números N e a reais e positivos, com a ≠1, existe um número c tal que:

A esse expoente c damos o nome de logaritmo de N na base a

Ainda com base na definição podemos estabelecer condições de existência:

Exemplo

Consequências da Definição

33
MATEMÁTICA

Propriedades 02. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) Um


vendedor recebe um salário mensal composto de um valor
fixo de R$ 1.300,00 e de uma parte variável. A parte variá-
vel corresponde a uma comissão de 6% do valor total de
vendas que ele fez durante o mês. O salário mensal desse
vendedor pode ser descrito por uma expressão algébrica
f(x), em função do valor total de vendas mensal, represen-
Mudança de Base tado por x.
A expressão algébrica f(x) que pode representar o salá-
rio mensal desse vendedor é
Exemplo (A) f(x) = 0,06x + 1.300.
Dados log 2=0,3010 e log 3=0,4771, calcule: (B) f(x) = 0,6x + 1.300.
a)log 6 (C) f(x) = 0,78x + 1.300.
b) log1,5 (D) f(x) = 6x + 1.300.
c) log 16 (E) f(x) = 7,8x + 1.300.
Solução
a) Log 6=log 2⋅3=log2+log3=0,3010+0,4771=0,7781 03. (CONSANPA – Técnico Industrial – FADESP/2017)
Um reservatório em formato de cilindro é abastecido por
uma fonte a vazão constante e tem a altura de sua coluna
d’água (em metros), em função do tempo (em dias), descri-
ta pelo seguinte gráfico:
Função Logarítmica
Uma função dada por , em que
a constante a é positiva e diferente de 1, denomina-se fun-
ção logarítmica.

Sabendo que a altura do reservatório mede 12 metros,


o número de dias necessários para que a fonte encha o
reservatório inicialmente vazio é
(A) 18
(B) 12
(C) 8
(D) 6

04. (TRT – 14ªREGIÃO -Técnico Judiciário –


QUESTÕES FCC/2016) Carlos presta serviço de assistência técnica de
computadores em empresas. Ele cobra R$ 12,00 para ir até
01. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) Uma o local, mais R$ 25,00 por hora de trabalho até resolver o
locadora de automóveis oferece dois planos de aluguel de problema (também são cobradas as frações de horas traba-
carros a seus clientes: lhadas). Em um desses serviços, Carlos resolveu o problema
e cobrou do cliente R$ 168,25, o que permite concluir que
Plano A: diária a R$ 120,00, com quilometragem ele trabalhou nesse serviço
livre. (A) 5 horas e 45 minutos.
Plano B: diária a R$ 90,00, mais R$ 0,40 por quilô- (B) 6 horas e 15 minutos.
metro rodado. (C) 6 horas e 25 minutos.
(D) 5 horas e 25 minutos.
Alugando um automóvel, nesta locadora, quantos qui- (E) 5 horas e 15 minutos.
lômetros precisam ser rodados para que o valor do aluguel
pelo Plano A seja igual ao valor do aluguel pelo Plano B?
(A) 30.
(B) 36.
(C) 48.
(D) 75.
(E) 84.

34
MATEMÁTICA

05. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) No 09. (IF/ES – Administrador – IFES/2017) O gráfico
sistema de coordenadas cartesianas da figura abaixo, en- que melhor representa a função y = 2x , para o domínio
contram-se representados o gráfico da função de segundo em R+ é:
grau f, definida por f(x), e o gráfico da função de primeiro
grau g, definida por g(x). (A)

(B)

(C)

Os valores de x, soluções da equação f(x)=g(x), são


(A) -0,5 e 2,5.
(B) -0,5 e 3.
(C) -1 e 2.
(D) -1 e 2,5. (D)
(E) -1 e 3.

06. (EMBASA – Agente Administrativo – IBFC/2017)


A soma das coordenadas do vértice da parábola da função
f(x) = – x² + 8x – 12 é igual a:
(A) 4
(B) 6
(C) 8 (E)
(D) 10

07. (EMBASA – Assistente de Laboratório –

IBFC/2017) Substituindo o valor da raiz da função


, na função g(x) = x2 - 4x + 5, encontra-
mos como resultado:
(A) 12
(B) 15
(C) 16
(D) 17 10. (PETROBRAS - Técnico de Enfermagem do Tra-
balho Júnior -CESGRANRIO/2017) Qual o maior valor de
08. (PETROBRAS - Técnico de Enfermagem do Tra- k na equação log(kx) = 2log(x+3) para que ela tenha exa-
balho Júnior -CESGRANRIO/2017) Quantos valores reais tamente uma raiz?
de x fazem com que a expressão as- (A) 0
suma valor numérico igual a 1? (B) 3
(A) 2 (C) 6
(B) 3 (D) 9
(C) 4 (E) 12
(D) 5
(E) 6

35
MATEMÁTICA

11. (ITAIPU BINACIONAL - Profissional Nível Técni-


co I - Técnico em Eletrônica – NCUFPR/2017) Conside-
rando que log105 = 0,7, assinale a alternativa que apresenta
o valor de log5100.
(A) 0,35.
(B) 0,50.
(C) 2,85.
(D) 7,00. 06. Resposta:C.
(E) 70,00.

RESPOSTAS

01. Resposta: D.

90+0,4x=120
0,4x=30 A soma das coordenadas é igual a 8
X=75km
07. Resposta: D.
02. Resposta: A.

6%=0,06
Como valor total é x, então 0,06x
E mais a parte fixa de 1300
0,06x+1300

03. Resposta: A.

2x=36
X=18 -2x=-12
X=6
04.Resposta: B. Substituindo em g(x)
F(x)=12+25x G(6)=6²-4(6)+5=36-24+5=17
X=hora de trabalho
08. Resposta: D.
168,25=12+25x Para assumir valor 1, o expoente deve ser igual a zero.
25x=156,25 X²+4x-60=0
X=6,25 horas ∆=4²-4.1.(-60)
1hora---60 minutos ∆=16+240
0,25-----x ∆=256
X=15 minutos

Então ele trabalhou 6 horas e 15 minutos

05. Resposta: E.
Como a função do segundo grau, tem raízes -2 e 2:
(x-2)(x+2)=x²-4
A função do primeiro grau, tem o ponto (0, -1) e (2,3)
Y=ax+b
-1=b
3=2a-1 A base pode ser igual a 1:
2a=4 X²-5x+5=1
A=2 X²-5x+4=0
Y=2x-1 ∆=25-16=9

Igualando a função do primeiro grau e a função do se-


gundo grau:
X²-4=2x-1
X²-2x-3=0
∆=4+12=16

36
MATEMÁTICA

A base for -1 desde que o expoente seja par:


X²-5x+5=-1
X²-5x+6=0

∆=25-24=1

Vamos substituir esses dois valores no expoente


X=2:
X²+4x-60
2²+8-60==48
X=3
3²+12-60=-39
Portanto, serão 5 valores.

09. Resposta: A.
Um gráfico de função exponencial não começa do zero, é é uma curva.

10. Resposta: E.
Kx=(x+3)²
Kx=x²+6x+9
X²+(6-k)x+9=0
Para ter uma raiz, ∆=0
∆=b²-4ac
, ∆=(6-k)²-36=0
36-12k+k²-36=0
k²-12k=0
k=0 ou k=12

11. Resposta:C.

GRÁFICOS E TABELAS

Os gráficos e tabelas apresentam o cruzamento entre dois dados relacionados entre si.
A escolha do tipo e a forma de apresentação sempre vão depender do contexto, mas de uma maneira geral um
bom gráfico deve:
-Mostrar a informação de modo tão acurado quanto possível.
-Utilizar títulos, rótulos, legendas, etc. para tornar claro o contexto, o conteúdo e a mensagem.
-Complementar ou melhorar a visualização sobre aspectos descritos ou mostrados numericamente através de tabelas.
-Utilizar escalas adequadas.
-Mostrar claramente as tendências existentes nos dados.

37
MATEMÁTICA

Tipos de gráficos

Barras- utilizam retângulos para mostrar a quantidade.

Barra vertical

Fonte: tecnologia.umcomo.com.br

Barra horizontal

Setor ou pizza- Muito útil quando temos um total e


queremos demonstrar cada parte, separando cada pedaço
como numa pizza.

Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br

Histogramas
Fonte: educador.brasilescola.uol.com.br
São gráfico de barra que mostram a frequência de uma
variável específica e um detalhe importante que são faixas Linhas- É um gráfico de grande utilidade e muito co-
de valores em x. mum na representação de tendências e relacionamentos
de variáveis

38
MATEMÁTICA

QUESTÕES

01. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) Na Pes-


quisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, rea-
lizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), foram obtidos os dados da taxa de desocupação da
população em idade para trabalhar. Esses dados, em por-
centagem, encontram-se indicados na apresentação gráfi-
ca abaixo, ao longo de trimestres de 2014 a 2017.

Pictogramas – são imagens ilustrativas para tornar mais


fácil a compreensão de todos sobre um tema.

Dentre as alternativas abaixo, assinale a que apresenta


a melhor aproximação para o aumento percentual da taxa
de desocupação do primeiro trimestre de 2017 em relação
à taxa de desocupação do primeiro trimestre de 2014.

(A) 15%.
(B) 25%.
(C) 50%.
(D) 75%.
Da mesma forma, as tabelas ajudam na melhor visua- (E) 90%.
lização de dados e muitas vezes é através dela que vamos
fazer os tipos de gráficos vistos anteriormente. 02. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU-
NESP/2017) A tabela seguinte, incompleta, mostra a distri-
Podem ser tabelas simples: buição, percentual e quantitativa, da frota de uma empresa
de ônibus urbanos, de acordo com o tempo de uso destes.
Quantos aparelhos tecnológicos você tem na sua casa?

aparelho quantidade
televisão 3
celular 4
Geladeira 1

Até as tabelas que vimos nos exercícios de raciocínio O número total de ônibus dessa empresa é
lógico
(A) 270.
(B) 250.
(C) 220
(D) 180.
(E) 120.

39
MATEMÁTICA

03. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- 05. (TCE/PR – Conhecimentos Básicos – CESPE/2016)
NESP/2017) O gráfico mostra o número de carros vendi-
dos por uma concessionária nos cinco dias subsequentes à
veiculação de um anúncio promocional.

O número médio de carros vendidos por dia nesse pe-


ríodo foi igual a Tendo como referência o gráfico precedente, que mos-
(A) 10. tra os valores, em bilhões de reais, relativos à arrecadação
(B) 9. de receitas e aos gastos com despesas do estado do Paraná
(C) 8. nos doze meses do ano de 2015, assinale a opção correta.
(D) 7. (A) No ano considerado, o segundo trimestre caracte-
(E) 6. rizou-se por uma queda contínua na arrecadação de recei-
tas, situação que se repetiu no trimestre seguinte.
04. (CRBIO – Auxiliar Administrativo – VU- (B) No primeiro quadrimestre de 2015, houve um pe-
NESP/2017) Uma professora elaborou um gráfico de se- ríodo de queda simultânea dos gastos com despesas e da
tores para representar a distribuição, em porcentagem, dos arrecadação de receitas e dois períodos de aumento simul-
cinco conceitos nos quais foram agrupadas as notas obti- tâneo de gastos e de arrecadação.
das pelos alunos de uma determinada classe em uma prova (C) No último bimestre do ano de 2015, foram regis-
de matemática. Observe que, nesse gráfico, as porcenta- trados tanto o maior gasto com despesas quanto a maior
gens referentes a cada conceito foram substituídas por x arrecadação de receitas.
ou por múltiplos e submúltiplos de x. (D) No ano em questão, janeiro e dezembro foram os
únicos meses em que a arrecadação de receitas foi ultra-
passada por gastos com despesas.
(E) A menor arrecadação mensal de receitas e o menor
gasto mensal com despesas foram verificados, respecti-
vamente, no primeiro e no segundo semestre do ano de
2015.

Analisando o gráfico, é correto afirmar que a medida


do ângulo interno correspondente ao setor circular que re-
presenta o conceito BOM é igual a
(A) 144º.
(B) 135º.
(C) 126º
(D) 117º
(E) 108º.

40
MATEMÁTICA

06. (BRDE – Assistente Administrativo – FUNDA- 07. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP/2015) A
TEC/2015) Assinale a alternativa que representa a no- distribuição de salários de uma empresa com 30 funcioná-
menclatura dos três gráficos abaixo, respectivamente. rios é dada na tabela seguinte. 

Salário (em salários mínimos) Funcionários


1,8 10
2,5 8
3,0 5
5,0 4
8,0 2
15,0 1

Pode-se concluir que


(A) o total da folha de pagamentos é de 35,3 salários.
(B) 60% dos trabalhadores ganham mais ou igual a 3
salários.
(C) 10% dos trabalhadores ganham mais de 10 salários.
(D) 20% dos trabalhadores detêm mais de 40% da ren-
da total.
(E) 60% dos trabalhadores detêm menos de 30% da
renda total.

08. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP/2015)


Considere a tabela de distribuição de frequência seguinte,
em que xi é a variável estudada e fi é a frequência absoluta
dos dados.

xi fi
30-35 4
35-40 12
40-45 10
45-50 8
50-55 6
TOTAL 40
Assinale a alternativa em que o histograma é o que
melhor representa a distribuição de frequência da tabela.

(A)
(A) Gráfico de Setores – Gráfico de Barras – Gráfico de
Linha.
(B) Gráfico de Pareto – Gráfico de Pizza – Gráfico de
Tendência.
(C) Gráfico de Barras – Gráfico de Setores – Gráfico de (B)
Linha.
(D) Gráfico de Linhas – Gráfico de Pizza – Gráfico de
Barras.
(E) Gráfico de Tendência – Gráfico de Setores – Gráfico
de Linha.

(C)

41
MATEMÁTICA

10. (DEPEN – Agente Penitenciário Federal – CES-


PE/2015)

(D)

(E)

09. (DEPEN – Agente Penitenciário Federal – CES-


PE/2015)
A partir das informações e do gráfico apresentados,
julgue o item que se segue.
Se os percentuais forem representados por barras ver-
ticais, conforme o gráfico a seguir, então o resultado será
denominado histograma.

Ministério da Justiça — Departamento Penitenciário


Nacional
— Sistema Integrado de Informações Penitenciárias –
InfoPen,
Relatório Estatístico Sintético do Sistema Prisional Bra-
sileiro,
dez./2013 Internet:<www.justica.gov.br> (com adap-
tações) ( ) Certo ( ) Errado

A tabela mostrada apresenta a quantidade de deten- RESPOSTAS


tos no sistema penitenciário brasileiro por região em 2013.
Nesse ano, o déficit relativo de vagas — que se define pela 01. Resposta: E.
razão entre o déficit de vagas no sistema penitenciário e 13,7/7,2=1,90
a quantidade de detentos no sistema penitenciário — re- Houve um aumento de 90%.
gistrado em todo o Brasil foi superior a 38,7%, e, na média
nacional, havia 277,5 detentos por 100 mil habitantes. 02. Resposta:D
Com base nessas informações e na tabela apresentada, 81+27=108
julgue o item a seguir. 108 ônibus somam 60%(100-35-5)
Em 2013, mais de 55% da população carcerária no Bra- 108-----60
sil se encontrava na região Sudeste. x--------100
x=10800/60=180
( )certo ( ) errado
03. Resposta: C.

42
MATEMÁTICA

04. Resposta: A.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA, AMOSTRAGEM,
X+0,5x+4x+3x+1,5x=360 TESTE DE HIPÓTESES E ANÁLISE DE
10x=360
REGRESSÃO
X=36
Como o conceito bom corresponde a 4x: 4x36=144°

05. Resposta: B.
Analisando o primeiro quadrimestre, observamos que os Teste de Hipóteses
dois primeiros meses de receita diminuem e os dois meses Definição: Processo que usa estatísticas amostrais para
seguintes aumentam, o mesmo acontece com a despesa. testar a afirmação sobre o valor de um parâmetro popula-
cional.

Para testar um parâmetro populacional, você deve afir-


mar cuidadosamente um par de hipóteses – uma que re-
presente a afirmação e outra, seu complemento. Quando
uma é falsa, a outra é verdadeira.
Uma hipótese nula H0 é uma hipótese estatística que
contém uma afirmação de igualdade, tal como ≤, =, ≥
A hipótese alternativa Ha é o complemento da hipó-
tese nula. Se H0 for falsa, Ha deve ser verdadeira, e contém
afirmação de desigualdade, como <, ≠, >.

Vamos ver como montar essas hipóteses


Um caso bem simples.

06. Resposta: C.
Como foi visto na teoria, gráfico de barras, de setores
ou pizza e de linha
Assim, fica fácil, se H0 for falsa, Ha é verdadeira
07. Resposta: D. Há uma regrinha para formular essas hipóteses
(A) 1,8x10+2,5x8+3,0x5+5,0x4+8,0x2+15,0x1=104 sa-
lários
(B) 60% de 30=18 funcionários e se juntarmos quem Formulação verbal Formulação Formulação
ganha mais de 3 salários (5+4+2+1=12) H0 Matemática verbal Ha
(C)10% de 30=0,1x30=3 funcionários
E apenas 1 pessoa ganha A média é A média é
(D) 40% de 104=0,4x104= 41,6 ...maior ou igual ...menor que k
20% de 30=0,2x30=6 a k.
5x3+8x2+15x1=46, que já é maior. ... abaixo de k
(E) 60% de 30=0,6x30=18 ....pelo menos k.
30% de 104=0,3x104=31,20da renda: 31,20
...menos que k.
...não menos que k.
08. Resposta: A.
Colocando em ordem crescente: 30-35, 50-55, 45-50, ...menor ou igual ..maior que k
40-45, 35-40, a k.
... acima de k
09. Resposta: CERTA. ....no máximo k.
555----100% ...mais do que
x----55% ...não mais que k. k.
x=305,25
Está correta, pois a região sudeste tem 306 pessoas. ... igual a k. ... não igual
a k.
10. Resposta: ERRADO. .... k.
Como foi visto na teoria, há uma faixa de valores no .... diferente
eixo x e não simplesmente um dado. ...exatamente k. de k.

...não k.
Referências
http://www.galileu.esalq.usp.br

43
MATEMÁTICA

Exemplo: Um fabricante de torneiras anuncia que o 58 2


índice médio de fluxo de água de certo tipo de torneira é
menor que 2,5 galões por minuto. 60 2
Total 20

Distribuição de frequência com intervalos de classe:


Quando o tamanho da amostra é elevado é mais racional
Referências efetuar o agrupamento dos valores em vários intervalos de
Larson, Ron. Estatística Aplicada. 4ed – São Paulo: Pear- classe.
son Prentice Hall, 2010.

Frequências Classes Frequências


A primeira fase de um estudo estatístico consiste em 41 |------- 45 7
recolher, contar e classificar os dados pesquisados sobre
uma população estatística ou sobre uma amostra dessa 45 |------- 49 3
população. 49 |------- 53 4

Frequência Absoluta 53 |------- 57 1


É o número de vezes que a variável estatística assume 57 |------- 61 5
um valor. Total 20
Frequência Relativa
Média aritmética
É o quociente entre a frequência absoluta e o número
Média aritmética de um conjunto de números é o valor
de elementos da amostra.
que se obtém dividindo a soma dos elementos pelo núme-
Na tabela a seguir, temos exemplo dos dois tipos:
ro de elementos do conjunto.
Representemos a média aritmética por .
A média pode ser calculada apenas se a variável envol-
vida na pesquisa for quantitativa. Não faz sentido calcular a
média aritmética para variáveis quantitativas.
Na realização de uma mesma pesquisa estatística entre
diferentes grupos, se for possível calcular a média, ficará
mais fácil estabelecer uma comparação entre esses grupos
e perceber tendências.
Considerando uma equipe de basquete, a soma das al-
turas dos jogadores é:
Distribuição de frequência sem intervalos de classe:
É a simples condensação dos dados conforme as repeti-
ções de seu valores. Para um ROL  de tamanho razoável
esta distribuição de frequência é inconveniente, já que exi- Se dividirmos esse valor pelo número total de jogado-
ge muito espaço. Veja exemplo abaixo: res, obteremos a média aritmética das alturas:

Dados Frequência
41 3
42 2 A média aritmética das alturas dos jogadores é 2,02m.

43 1 Média Ponderada
44 1 A média dos elementos do conjunto numérico A relati-
va à adição e na qual cada elemento tem um “determinado
45 1
peso” é chamada média aritmética ponderada.
46 2
50 2
51 1
52 1 Mediana (Md)
Sejam os valores escritos em rol:
54 1
57 1

44
MATEMÁTICA

1. Sendo n ímpar, chama-se mediana o termo tal Seja o conjunto de números , tal que é
que o número de termos da sequência que precedem é
igual ao número de termos que o sucedem, isto é, é termo sua média aritmética. Chama-se variância desse conjunto,
médio da sequência ( ) em rol.
e indica-se por , o número:
2. Sendo n par, chama-se mediana o valor obtido
pela média aritmética entre os termos e , tais que o
Isto é:
número de termos que precedem é igual ao número de
termos que sucedem , isto é, a mediana é a média arit-
mética entre os termos centrais da sequência ( ) em rol.
E para amostra
Exemplo 1:
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{12, 3, 7, 10, 21, 18, 23}

Solução:
Exemplo 1:
Escrevendo os elementos do conjunto em rol, tem-se: (3,
Em oito jogos, o jogador A, de bola ao cesto, apresen-
7, 10, 12, 18, 21, 23). A mediana é o termo médio desse rol.
tou o seguinte desempenho, descrito na tabela abaixo:
Logo: Md=12
Resposta: Md=12.
Jogo Número de pontos
Exemplo 2: 1 22
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{10, 12, 3, 7, 18, 23, 21, 25}. 2 18
3 13
Solução:
Escrevendo-se os elementos do conjunto em rol, tem-se: 4 24
(3, 7, 10, 12, 18, 21, 23, 25). A mediana é a média aritmé- 5 26
tica entre os dois termos centrais do rol.
6 20
Logo: 7 19
8 18
Resposta: Md=15
a) Qual a média de pontos por jogo?
Moda (Mo) b) Qual a variância do conjunto de pontos?
Num conjunto de números: , chama-se
moda aquele valor que ocorre com maior frequência.
Solução:
a) A média de pontos por jogo é:
Observação:
A moda pode não existir e, se existir, pode não ser única.

Exemplo 1:
O conjunto de dados 3, 3, 8, 8, 8, 6, 9, 31 tem moda igual
a 8, isto é, Mo=8.

Exemplo 2: b) A variância é:
O conjunto de dados 1, 2, 9, 6, 3, 5 não tem moda.

Medidas de dispersão
Duas distribuições de frequência com medidas de ten-
dência central semelhantes podem apresentar característi-
cas diversas. Necessita-se de outros índices numéricas que
informem sobre o grau de dispersão ou variação dos dados Desvio médio
em torno da média ou de qualquer outro valor de concen- Definição
tração. Esses índices são chamados medidas de dispersão. Medida da dispersão dos dados em relação à média de
uma sequência. Esta medida representa a média das dis-
Variância tâncias entre cada elemento da amostra e seu valor médio.
Há um índice que mede a “dispersão” dos elementos de
um conjunto de números em relação à sua média aritmética,
e que é chamado de variância. Esse índice é assim definido:

45
MATEMÁTICA

Desvio padrão Número de Número de candidatos


Definição acertos
Seja o conjunto de números , tal que é
sua média aritmética. Chama-se desvio padrão desse con- 5 204
junto, e indica-se por , o número: 4 132
3 96
2 78
1 66
Isto é: 0 24

A média de acertos por prova foi de


(A) 3,57.
(B) 3,43
(C) 3,32.
Exemplo: (D) 3,25.
As estaturas dos jogadores de uma equipe de basque- (E) 3,19.
tebol são: 2,00 m; 1,95 m; 2,10 m; 1,90 m e 2,05 m. Calcular:
a) A estatura média desses jogadores. 03. (PREF. GUARULHOS/SP – Assistente de Gestão
b) O desvio padrão desse conjunto de estaturas. Escolar – VUNESP/2016) Certa escola tem 15 classes no
período matutino e 10 classes no período vespertino. O
Solução: número médio de alunos por classe no período matutino
é 20, e, no período vespertino, é 25. Considerando os dois
Sendo a estatura média, temos: períodos citados, a média aritmética do número de alunos
por classe é
(A) 24,5.
(B) 23.
Sendo o desvio padrão, tem-se: (C) 22,5.
(D) 22.
(E) 21.

04. (SEGEP/MA – Técnico da Receita Estadual –


FCC/2016) Para responder à questão, considere as infor-
QUESTÕES mações abaixo.
Três funcionários do Serviço de Atendimento ao Clien-
01. (CRBIO – Auxiliar Administrativo – VU- te de uma loja foram avaliados pelos clientes que atribuí-
NESP/2017) Uma empresa tem 120 funcionários no total: ram uma nota (1; 2; 3; 4; 5) para o atendimento recebido. A
70 possuem curso superior e 50 não possuem curso supe- tabela mostra as notas recebidas por esses funcionários em
rior. Sabe-se que a média salarial de toda a empresa é de um determinado dia.
R$ 5.000,00, e que a média salarial somente dos funcioná-
rios que possuem curso superior é de R$ 6.000,00. Desse
modo, é correto afirmar que a média salarial dos funcioná-
rios dessa empresa que não possuem curso superior é de
(A) R$ 4.000,00.
(B) R$ 3.900,00.
(C) R$ 3.800,00.
(D) R$ 3.700,00. Considerando a avaliação média individual de cada
(E) R$ 3.600,00. funcionário nesse dia, a diferença entre as médias mais
próximas é igual a
02. (TJM/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU- (A) 0,32.
NESP/2017) Leia o enunciado a seguir para responder a (B) 0,21.
questão. (C) 0,35.
A tabela apresenta o número de acertos dos 600 candi- (D) 0,18.
datos que realizaram a prova da segunda fase de um con- (E) 0,24.
curso, que continha 5 questões de múltipla escolha

46
MATEMÁTICA

05. (UFES – Assistente em Administração – 07. (COSANPA - Químico – FADESP/2017) Algumas


UFES/2017) Considere n números x1, x2, … , xn, em que x1 ≤ Determinações do teor de sódio em água (em mg L-1) fo-
x2 ≤ ⋯ ≤ xn . A mediana desses números é igual a x(n + 1)/2, ram executadas (em triplicata) paralelamente por quatro
se n for ímpar, e é igual à média aritmética de xn ⁄ 2 e x(n + laboratórios e os resultados são mostrados na tabela abai-
2)/2, se n for par. Uma prova composta por 5 questões foi xo.
aplicada a uma turma de 24 alunos. A tabela seguinte rela-
ciona o número de acertos obtidos na prova com o número Replicatas Laboratório
de alunos que obtiveram esse número de acertos.
1 2 3 4
Número de acertos Número de 1 30,3 30,9 30,3 30,5
alunos 2 30,4 30,8 30,7 30,4
0 4 3 30,0 30,6 30,4 30,7
1 5 Média 30,20 30,77 30,47 30,53
2 4 Desvio 0,20 0,15 0,21 0,15
3 3 Padrão
4 5
Utilize essa tabela para responder à questão.
5 3 O laboratório que apresenta o maior erro padrão é o
de número
A penúltima linha da tabela acima, por exemplo, indica (A) 1.
que 5 alunos tiveram, cada um, um total de 4 acertos na (B) 2.
prova. A mediana dos números de acertos é igual a (C) 3.
(D) 4.
(A) 1,5
(B) 2 08. (ANAC – Analista Administrativo- ESAF/2016)
(C) 2,5 Os valores a seguir representam uma amostra
(D) 3
(E) 3,5 331546248

06. (UFAL – Auxiliar de Biblioteca – COPEVE/2016) Então, a variância dessa amostra é igual a
A tabela apresenta o número de empréstimos de livros de (A) 4,0
uma biblioteca setorial de um Instituto Federal, no primeiro (B) 2,5.
semestre de 2016. (C) 4,5.
(D) 5,5
Mës Empréstimos (E) 3,0

Janeiro 15 09. (MPE/SP – Oficial de Promotoria I – VU-


Fevereiro 25 NESP/2016) A média de salários dos 13 funcionários de
uma empresa é de R$ 1.998,00. Dois novos funcionários
Março 22 foram contratados, um com o salário 10% maior que o do
Abril 30 outro, e a média salarial dos 15 funcionários passou a ser
Maio 28 R$ 2.013,00. O menor salário, dentre esses dois novos fun-
cionários, é igual a
Junho 15 (A)) R$ 2.002,00.
(B) R$ 2.006,00.
Dadas as afirmativas, (C) R$ 2.010,00.
I. A biblioteca emprestou, em média, 22,5 livros por (D) R$ 2.004,00.
mês. (E) R$ 2.008,00.
II. A mediana da série de valores é igual a 26.
III. A moda da série de valores é igual a 15. 10. (PREF. DE NITERÓI – Agente Fazendário –
FGV/2015) Os 12 funcionários de uma repartição da pre-
Verifica-se que está(ão) correta(s) feitura foram submetidos a um teste de avaliação de co-
(A) II, apenas. nhecimentos de computação e a pontuação deles, em uma
(B) III, apenas. escala de 0 a 100, está no quadro abaixo.
(C) I e II, apenas.
(D) I e III, apenas. 50 55 55 55 55 60
(E) I, II e III. 62 63 65 90 90 100

47
MATEMÁTICA

O número de funcionários com pontuação acima da 05.Resposta: B.


média é: Como 24 é um número par, devemos fazer a segunda
(A) 3; regra:
(B) 4;
(C) 5;
(D) 6;
(E) 7.

06. Resposta: D.
RESPOSTAS

01. Resposta: E. Mediana


S=cursam superior Vamos colocar os números em ordem crescente
M=não tem curso superior

15,15,22,25,28,30

S+M=600000 Moda é o número que mais aparece, no caso o 15.

07. Resposta: C.
Como o desvio padrão é maior no 3, o erro padrão é
S=420000 proporcional, portanto também é maior em 3.
M=600000-420000=180000
08. Resposta: C.

02. Resposta:B.

03. Resposta: D.

09. Resposta: C.
M=300 Vamos chamar de x a soma dos salários dos 13 funcio-
nários
x/13=1998
X=13.1998
V=250 X=25974
Vamos chamar de y o funcionário contratado com me-
nor valor e, portanto, 1,1y o com 10% de salário maior, pois
ele ganha y+10% de y
Y+0,1y=1,1y
04. Resposta: B. (x+y+1,1y)/15=2013
25974+2,1y=15∙2013
2,1y=30195-25974
2,1y=4221
Y=2010

10. Resposta: A.

3,36-3,15=0,21 M=66,67
Apenas 3 funcionários estão acima da média.

48
MATEMÁTICA

Ângulo Reto:

GEOMETRIA - É o ângulo cuja medida é 90º;


- É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendi-
culares.

Ângulos

Denominamos ângulo a região do plano limitada por


duas semirretas de mesma origem. As semirretas recebem
o nome de lados do ângulo e a origem delas, de vértice do
ângulo.

Triângulo

Elementos

Mediana
Mediana de um triângulo é um segmento de reta que
liga um vértice ao ponto médio do lado oposto.
Na figura, é uma mediana do ABC.
Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do Um triângulo tem três medianas.
que 90º.

A bissetriz de um ângulo interno de um triângulo in-


tercepta o lado oposto

Bissetriz interna de um triângulo é o segmento da


Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do bissetriz de um ângulo do triângulo que liga um vértice a
que 90º. um ponto do lado oposto.
Na figura, é uma bissetriz interna do .
Um triângulo tem três bissetrizes internas.

Ângulo Raso:

- É o ângulo cuja medida é 180º;


- É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.
Altura de um triângulo é o segmento que liga um vér-
tice a um ponto da reta suporte do lado oposto e é perpen-
dicular a esse lado.

Na figura, é uma altura do .

Um triângulo tem três alturas.

49
MATEMÁTICA

Triângulo isósceles: Pelo menos dois lados iguais.

Mediatriz de um segmento de reta é a reta perpen-


dicular a esse segmento pelo seu ponto médio.

Na figura, a reta m é a mediatriz de .

Triângulo equilátero: três lados iguais.

Quanto aos ângulos

Triângulo acutângulo:tem os três ângulos agudos


Mediatriz de um triângulo é uma reta do plano do
triângulo que é mediatriz de um dos lados desse triângulo.
Na figura, a reta m é a mediatriz do lado do .
Um triângulo tem três mediatrizes.

Triângulo retângulo:tem um ângulo reto

Classificação

Quanto aos lados

Triângulo escaleno:três lados desiguais.

Triângulo obtusângulo: tem um ângulo obtuso

50
MATEMÁTICA

Áreas

1- Trapézio: , onde B é a medida da base


maior, b é a medida da base menor e h é medida da altura.
2- Paralelogramo: A = b.h, onde b é a medida da
base e h é a medida da altura.
3- Retângulo: A = b.h

4- Losango: , onde D é a medida da diagonal


maior e d é a medida da diagonal menor.
Desigualdade entre Lados e ângulos dos triângulos 5- Quadrado: A = l2, onde l é a medida do lado.
Num triângulo o comprimento de qualquer lado é me-
nor que a soma dos outros dois. Em qualquer triângulo, ao Polígono
maior ângulo opõe-se o maior lado, e vice-versa. Chama-se polígono a união de segmentos que são
chamados lados do polígono, enquanto os pontos são cha-
QUADRILÁTEROS mados vértices do polígono.

Quadrilátero é todo polígono com as seguintes pro-


priedades:

- Tem 4 lados.
- Tem 2 diagonais.
- A soma dos ângulos internos Si = 360º
- A soma dos ângulos externos Se = 360º

Trapézio: É todo quadrilátero tem dois paralelos.

Diagonal de um polígono é um segmento cujas extre-


midades são vértices não-consecutivos desse polígono.

- é paralelo a

- Losango: 4 lados congruentes


- Retângulo: 4 ângulos retos (90 graus)
- Quadrado: 4 lados congruentes e 4 ângulos retos.

Número de Diagonais

- Observações:

- No retângulo e no quadrado as diagonais são


congruentes (iguais)
- No losango e no quadrado as diagonais são per-
pendiculares entre si (formam ângulo de 90°) e são bisse-
trizes dos ângulos internos (dividem os ângulos ao meio).

51
MATEMÁTICA

Ângulos Internos Semelhança de Triângulos


A soma das medidas dos ângulos internos de um polí- Dois triângulos são semelhantes se, e somente se, os
gono convexo de n lados é (n-2).180 seus ângulos internos tiverem, respectivamente, as mesmas
Unindo um dos vértices aos outros n-3, conveniente- medidas, e os lados correspondentes forem proporcionais.
mente escolhidos, obteremos n-2 triângulos. A soma das
medidas dos ângulos internos do polígono é igual à soma Casos de Semelhança
das medidas dos ângulos internos dos n-2 triângulos. 1º Caso:AA(ângulo-ângulo)
Se dois triângulos têm dois ângulos congruentes de vérti-
ces correspondentes, então esses triângulos são congruentes.

Ângulos Externos

2º Caso: LAL(lado-ângulo-lado)
Se dois triângulos têm dois lados correspondentes
proporcionais e os ângulos compreendidos entre eles con-
gruentes, então esses dois triângulos são semelhantes.

A soma dos ângulos externos=360°

Teorema de Tales
Se um feixe de retas paralelas tem duas transversais, en-
tão a razão de dois segmentos quaisquer de uma transversal
é igual à razão dos segmentos correspondentes da outra.
Dada a figura anterior, O Teorema de Tales afirma que
são válidas as seguintes proporções:

3º Caso: LLL(lado-lado-lado)
Se dois triângulos têm os três lado correspondentes pro-
porcionais, então esses dois triângulos são semelhantes.
Exemplo

52
MATEMÁTICA

Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo Neste triângulo, temos que: c²=a²+b²


Dividindo os membros por c²
Considerando o triângulo retângulo ABC.

Como

Todo triângulo que tem um ângulo reto é denominado


triangulo retângulo.
O triângulo ABC é retângulo em A e seus elementos são:
Temos:

a: hipotenusa
b e c: catetos
h:altura relativa à hipotenusa
m e n: projeções ortogonais dos catetos sobre a hipo-
tenusa

Relações Métricas no Triângulo Retângulo


Chamamos relações métricas as relações existentes en-
tre os diversos segmentos desse triângulo. Assim:

1. O quadrado de um cateto é igual ao produto da


Fórmulas Trigonométricas hipotenusa pela projeção desse cateto sobre a hipotenusa.

Relação Fundamental
Existe uma outra importante relação entre seno e cos-
seno de um ângulo. Considere o triângulo retângulo ABC.
2. O produto dos catetos é igual ao produto da hipo-
tenusa pela altura relativa à hipotenusa.

3. O quadrado da altura é igual ao produto das pro-


jeções dos catetos sobre a hipotenusa.

53
MATEMÁTICA

4. O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos QUESTÕES


quadrados dos catetos (Teorema de Pitágoras).
01. (IPRESB/SP - Analista de Processos Previdenciá-
rios- VUNESP/2017) Um terreno retangular ABCD, com 40
m de largura por 60 m de comprimento, foi dividido em
Posições Relativas de Duas Retas três lotes, conforme mostra a figura.
Duas retas no espaço podem pertencer a um mesmo
plano. Nesse caso são chamadas retas coplanares. Podem
também não estar no mesmo plano. Nesse caso, são deno-
minadas retas reversas.

Retas Coplanares
a) Concorrentes: r e s têm um único ponto comum

-Duas retas concorrentes podem ser: Sabendo-se que EF = 36 m e que a área do lote 1 é
864 m², o perímetro do lote 2 é
1. Perpendiculares: r e s formam ângulo reto.
(A) 100 m.
(B) 108 m.
2. Oblíquas:r e s não são perpendiculares. (C) 112 m.
(D) 116 m.
(E) 120 m.

02. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017)


Considere um triângulo retângulo de catetos medindo
3m e 5m. Um segundo triângulo retângulo, semelhante
ao primeiro, cuja área é o dobro da área do primeiro, terá
como medidas dos catetos, em metros:
b) Paralelas: r e s não têm ponto comum ou r e s são (A) 3 e 10.
coincidentes. (B) 3√2 e 5√2 .
(C) 3√2 e 10√2 .
(D) 5 e 6.
(E) 6 e 10.

03. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) Na


figura abaixo, encontra-se representada uma cinta esticada
passando em torno de três discos de mesmo diâmetro e
tangentes entre si.

54
MATEMÁTICA

Considerando que o diâmetro de cada disco é 8, o 06. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária
comprimento da cinta acima representada é - MSCONCURSOS/2017) O triângulo retângulo em B, a
(A) 8/3 π + 8 . seguir, de vértices A, B e C, representa uma praça de uma
(B) 8/3 π + 24. cidade. Qual é a área dessa praça?
(C) 8π + 8 .
(D) 8π + 24.
(E) 16π + 24.

04. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) Na


figura abaixo, ABCD é um quadrado de lado 10; E, F, G e H
são pontos médios dos lados do quadrado ABCD e são os
centros de quatro círculos tangentes entre si.
(A) 120 m²
(B) 90 m²
(C) 60 m²
(D) 30 m²

07. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU-


NESP/2017) A figura, com dimensões indicadas em centíme-
tros, mostra um painel informativo ABCD, de formato retan-
gular, no qual se destaca a região retangular R, onde x > y.

A área da região sombreada, da figura acima apresen-


tada, é
(A) 100 - 5π .
(B) 100 - 10π .
(C) 100 - 15π .
(D) 100 - 20π .
(E) 100 - 25π .
Sabendo-se que a razão entre as medidas dos lados
05. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) No correspondentes do retângulo ABCD e da região R é igual
cubo de aresta 10, da figura abaixo, encontra-se represen- a 5/2 , é correto afirmar que as medidas, em centímetros,
tado um plano passando pelos vértices B e C e pelos pon- dos lados da região R, indicadas por x e y na figura, são,
tos P e Q, pontos médios, respectivamente, das arestas EF respectivamente,
e HG, gerando o quadrilátero BCQP.
(A) 80 e 64.
(B) 80 e 62.
(C) 62 e 80.
(D) 60 e 80.
(E) 60 e 78.

08. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU-


NESP/2017) O piso de um salão retangular, de 6 m de
comprimento, foi totalmente coberto por 108 placas qua-
dradas de porcelanato, todas inteiras. Sabe-se que quatro
placas desse porcelanato cobrem exatamente 1 m2 de
A área do quadrilátero BCQP, da figura acima, é piso. Nessas condições, é correto afirmar que o perímetro
desse piso é, em metros, igual a
(A) 25√5. (A) 20.
(B) 50√2. (B) 21.
(C) 50√5. (C) 24.
(D) 100√2 . (D) 27.
(E) 100√5. (E) 30.

55
MATEMÁTICA

09. (IBGE – Agente Censitário Municipal e Supervi- 12. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária –
sor – FGV/2017) O proprietário de um terreno retangular MSCONCURSOS/2017) Fábio precisa comprar arame para
resolveu cercá-lo e, para isso, comprou 26 estacas de ma- cercar um terreno no formato a seguir, retângulo em B e C.
deira. Colocou uma estaca em cada um dos quatro cantos Considerando que ele dará duas voltas com o arame no ter-
do terreno e as demais igualmente espaçadas, de 3 em 3 reno e que não terá perdas, quantos metros ele irá gastar?
metros, ao longo dos quatro lados do terreno. (considere √3 =1,7; sen30º=0,5; cos30º=0,85; tg30º=0,57).
O número de estacas em cada um dos lados maiores
do terreno, incluindo os dois dos cantos, é o dobro do nú-
mero de estacas em cada um dos lados menores, também
incluindo os dois dos cantos.
A área do terreno em metros quadrados é:
(A) 240;
(B) 256;
(C) 324; (A) 64,2 m
(D) 330; (B) 46,2 m
(E) 372. (C) 92,4 m
(D) 128,4 m
10. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário- VU-
NESP/2017) A figura seguinte, cujas dimensões estão in-
dicadas em metros, mostra as regiões R1 e R2 , ambas com
formato de triângulos retângulos, situadas em uma praça
e destinadas a atividades de recreação infantil para faixas
etárias distintas.

Respostas

01. Resposta: D.

Se a área de R1 é 54 m², então o perímetro de R2 é, em


metros, igual a

(A) 54.
(B) 48.
(C) 36.
(D) 40.
(E) 42.

11. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária –


MSCONCURSOS/2017)

Seja a expressão definida em


0< x < π/2 . Ao simplificá-la, obteremos:

(A) 1
(B) sen²x
(C) cos²x
(D) 0

96h=1728
H=18

56
MATEMÁTICA

Como I é um triângulo: O ladao AF e AE medem 5, cada um, pois F e E é o


60-36=24 ponto Médio
X²=24²+18² X²=5²+5²
X²=576+324 X²=25+25
X²=900 X²=50
X=30 X=5√2
Como h=18 e AD é 40, EG=22 X é o diâmetro do círculo, como temos 4 semi círculos,
temos 2 círculos inteiros.
Perímetro lote 2: 40+22+24+30=116
A área de um círculo é
02. Resposta: B.

A sombreada=100-25π

05. Resposta: C.
CQ é hipotenusa do triângulo GQC.
01. CQ²=10²+5²
CQ²=100+25
CQ²=125
CQ=5√5
A área do quadrilátero seria CQ⋅BC
A=5√5⋅10=50√5
Lado=3√2
Outro lado =5√2 06. Resposta: C
Para saber a área, primeiro precisamos descobrir o x.
03. Resposta: D.
17²=x²+8²
Observe o triângulo do meio, cada lado é exatamente 289=x²+64
a mesma medida da parte reta da cinta. X²=225
Que é igual a 2 raios, ou um diâmetro, portanto o lado X=15
esticado tem 8x3=24 m
A parte do círculo é igual a 120°, pois é 1/3 do círculo, 07. Resposta: A.
como são três partes, é a mesma medida de um círculo.
O comprimento do círculo é dado por: 2πr=8π
Portanto, a cinta tem 8π+24
5y=320
04. Resposta: E.
Y=64
Como o quadrado tem lado 10,a área é 100.

5x=400
X=80

08. Resposta: B.
108/4=27m²
6x=27
X=27/6

O perímetro seria

57
MATEMÁTICA

09. Resposta: C.
Número de estacas: x
X+x+2x+2x-4=26 obs: -4 é porque estamos contan-
do duas vezes o canto
6x=30
X=5 X=6
Temos 5 estacas no lado menor, como são espaçadas
a cada 3m
4 espaços de 3m=12m
Lado maior 10 estacas
9 espaços de 3 metros=27m
A=12⋅27=324 m²
Y=10,2
10. Resposta: B. 2 voltas=2(12+18+10,2+6+18)=128,4m

Cilindros
Considere dois planos, α e β, paralelos, um círculo de
centro O contido num deles, e uma reta s concorrente com
os dois.
Chamamos cilindro o sólido determinado pela reunião
9x=108 de todos os segmentos paralelos a s, com extremidades no
X=12 círculo e no outro plano.

Para encontrar o perímetro do triângulo R2:

Classificação
Y²=16²+12² Reto: Um cilindro se diz reto ou de revolução quando
Y²=256+144=400 as geratrizes são perpendiculares às bases.
Y=20 Quando a altura é igual a 2R(raio da base) o cilindro é
equilátero.
Perímetro: 16+12+20=48 Oblíquo: faces laterais oblíquas ao plano da base.

11. Resposta: C.

1-cos²x=sen²x

12. Resposta: D. Área


Área da base: Sb=πr²

58
MATEMÁTICA

Volume Pirâmides
As pirâmides são também classificadas quanto ao nú-
mero de lados da base.

Cones
Na figura, temos um plano α, um círculo contido em α,
um ponto V que não pertence ao plano.
A figura geométrica formada pela reunião de todos os
segmentos de reta que tem uma extremidade no ponto V
e a outra num ponto do círculo denomina-se cone circular.

Área e Volume
Área lateral:
Onde n= quantidade de lados

Classificação Prismas
-Reto:eixo VO perpendicular à base; Considere dois planos α e β paralelos, um polígono R
Pode ser obtido pela rotação de um triângulo retângu- contido em α e uma reta r concorrente aos dois.
lo em torno de um de seus catetos. Por isso o cone reto é
também chamado de cone de revolução.
Quando a geratriz de um cone reto é 2R, esse cone é
denominado cone equilátero.

Chamamos prisma o sólido determinado pela reunião


de todos os segmentos paralelos a r, com extremidades no
polígono R e no plano β.

-Oblíquo: eixo não é perpendicular

Área
Área lateral:
Área da base:
Área total:

Volume

59
MATEMÁTICA

Assim, um prisma é um poliedro com duas faces con-


gruentes e paralelas cujas outras faces são paralelogramos
obtidos ligando-se os vértices correspondentes das duas
faces paralelas.

Classificação

Reto: Quando as arestas laterais são perpendiculares


às bases
Oblíquo: quando as faces laterais são oblíquas à base.

Cubo é todo paralelepípedo retângulo com seis faces


quadradas.

Classificação pelo polígono da base Prisma Regular


Se o prisma for reto e as bases forem polígonos regu-
lares, o prisma é dito regular.
As faces laterais são retângulos congruentes e as bases
são congruentes (triângulo equilátero, hexágono regular,...)

Área
Área cubo:
Área paralelepípedo:
A área de um prisma:
-Triangular Onde: St=área total
Sb=área da base
Sl=área lateral, soma-se todas as áreas das faces late-
-Quadrangular rais.

Volume
Paralelepípedo:V=a.b.c
Cubo:V=a³
Demais:

QUESTÕES

01. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) Um


cilindro reto de altura h tem volume V. Para que um cone
reto com base igual a desse cilindro tenha volume V, sua
E assim por diante... altura deve ser igual a
(A) 1/3h.
Paralelepípedos (B) 1/2h.
Os prismas cujas bases são paralelogramos denomi- (C) 2/3h.
nam-se paralelepípedos. (D) 2h.
(E) 3h.

60
MATEMÁTICA

02. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária – 05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE-
MSCONCURSOS/2017) Qual é o volume de uma lata de GO/2017) Frederico comprou um aquário em formato de
óleo perfeitamente cilíndrica, cujo diâmetro é 8 cm e a al- paralelepípedo, contendo as seguintes dimensões:
tura é 20 cm? (use π=3)
(A) 3,84 l
(B) 96 ml
(C) 384 ml
(D) 960 ml

03. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU-


NESP/2017) Inicialmente, um reservatório com formato
de paralelepípedo reto retângulo deveria ter as medidas
indicadas na figura. Estando o referido aquário completamente cheio, a sua
capacidade em litros é de:
(A) 0,06 litros.
(B) 0,6 litros.
(C) 6 litros.
(D) 0,08 litros.
(E) 0,8 litros.

06. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU-


NESP/2017) As figuras seguintes mostram os blocos de
madeira A, B e C, sendo A e B de formato cúbico e C com
formato de paralelepípedo reto retângulo, cujos respecti-
vos volumes, em cm³, são representados por VA, VB e VC.

Em uma revisão do projeto, foi necessário aumentar


em 1 m a medida da largura, indicada por x na figura, man-
tendo-se inalteradas as demais medidas. Desse modo, o
volume inicialmente previsto para esse reservatório foi au-
mentado em
(A) 1 m³ .
(B) 3 m³ .
(C) 4 m³ .
(D) 5 m³ .
(E) 6 m³ .
Se VA + VB = 1/2 VC , então a medida da altura do
04. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- bloco C, indicada por h na figura, é, em centímetros, igual a
NESP/2017) A figura mostra cubinhos de madeira, todos (A) 15,5.
de mesmo volume, posicionados em uma caixa com a for- (B) 11.
ma de paralelepípedo reto retângulo. (C) 12,5.
(D) 14.
(E) 16

07. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPEGO/2017)


Um recipiente na forma de um prisma reto de base quadra-
da, com dimensões internas de 10 cm de aresta da base e
25 cm de altura, está com 20% de seu volume total preen-
chido com água, conforme mostra a figura. (Figura fora de
escala)

Se cada cubinho tem aresta igual a 5 cm, então o volu-


me interno dessa caixa é, em cm³ , igual a
(A) 3000.
(B) 4500.
(C) 6000.
(D) 7500.
(E) 9000.

61
MATEMÁTICA

Para completar o volume total desse recipiente, serão 10. (PREF. DE ITAPEMA/SC – Técnico Contábil – MS-
despejados dentro dele vários copos de água, com 200 mL CONCURSOS/2016) O volume de um cone circular reto,
cada um. O número de copos totalmente cheios necessá- cuja altura é 39 cm, é 30% maior do que o volume de um
rios para completar o volume total do prisma será: cilindro circular reto. Sabendo que o raio da base do cone
(A) 8 copos é o triplo do raio da base do cilindro, a altura do cilindro é:
(B) 9 copos (A) 9 cm
(C) 10 copos (B) 30 cm
(D) 12 copos (C) 60 cm
(E) 15 copos (D) 90 cm

08. (CELG/GT/GO – Analista de Gestão – CSU- Respostas


FG/2017) figura a seguir representa um cubo de aresta a.
01. Resposta:

Volume cilindro=πr²h

Para que seja igual a V, a altura tem que ser igual a 3h

Considerando a pirâmide de base triangular cujos vér-


tices são os pontos B, C, D e G do cubo, o seu volume é
dado por
(A) a³/6 02. Resposta: D
(B) a³/3 V= πr²h
(C) a³/3√3 V=3⋅4²⋅20=960 cm³=960 ml
(D) a³/6√6
03. Resposta:E.
09. (CRBIO – Auxiliar Administrativo – VU- V=2⋅3⋅x=6x
NESP/2017) De um reservatório com formato de parale- Aumentando 1 na largura
lepípedo reto retângulo, totalmente cheio, foram retirados V=2⋅3⋅(x+1)=6x+6
3 m³ de água. Após a retirada, o nível da água restante no Portanto, o volume aumentou em 6.
reservatório ficou com altura igual a 1 m, conforme mostra
a figura. 04. Resposta:E.
São 6 cubos no comprimento: 6⋅5=30
São 4 cubos na largura: 4⋅5=20
3 cubos na altura: 3⋅5=15
V=30⋅20⋅15=9000

05. Resposta: C.
V=20⋅15⋅20=6000cm³=6000ml==6 litros

06. Resposta:C.
VA=125cm³

Desse modo, é correto afirmar que a medida da altura VB=1000cm³


total do reservatório, indicada por h na figura, é, em me-
tros, igual a
(A) 1,8.
(B) 1,75.
(C) 1,7.
(D) 1,65.
(E) 1,6.
180h=2250
H=12,5

62
MATEMÁTICA

07. Resposta: C. Representação da matriz


V=10⋅10⋅25=2500 cm³ Forma explicita (ou forma de tabela)
2500⋅0,2=500cm³ preenchidos. A matriz A é representada indicando-se cada um de seus
Para terminar de completar o volume: elementos por uma letra minúscula acompanhada de dois
2500-500=2000 cm³ índices: o primeiro indica a linha a que pertence o elemen-
2000/200=10 copos to: o segundo indica a coluna a que pertence o elemento,
isto é, o elemento da linha i e da coluna j é indicado por ij.
08. Resposta: A. Assim, a matriz A2 x 3 é representada por:
A base é um triângulo de base a e altura a

Forma abreviada
A matriz A é dada por (aij)m x n e por uma lei que fornece
aij em função de i e j.
A=(aij)2 x 2, onde aij=2i+j

09. Resposta: E.
V=2,5⋅2⋅1=5m³
Como foi retirado 3m³
5+3=2,5⋅2⋅h
8=5h
H=1,6m

10. Resposta: D. Portanto,


Cone
Tipos de Matriz

Matriz linha

Chama-se matriz linha a toda matriz que possui uma


Cilindro única linha.
V=Ab⋅h Assim, [2 3 7] é uma matriz do tipo 1 x 3.
V=πr²h
Como o volume do cone é 30% maior: Matriz coluna
117πr²=1,3 πr²h
H=117/1,3=90 Chama-se matriz coluna a toda matriz que possui uma
única coluna.

Assim, é uma matriz coluna do tipo 2 x 1.


MATRIZ, DETERMINANTES E SISTEMAS
LINEARES Matriz quadrada

Chama-se matriz quadrada a toda matriz que possui


número de linhas igual ao número de colunas. Uma matriz
Matriz quadrada A do tipo n x n é dita matriz quadrada de ordem
Chama-se matriz do tipo m x n, m ∈N* e n∈N*, a toda n e indica-se por An. Exemplo:
tabela de m.n elementos dispostos em m linhas e n colunas.
Indica-se a matriz por uma letra maiúscula e colocar seus
elementos entre parênteses ou entre colchetes como, por
exemplo, a matriz A de ordem 2x3.

Diagonais
Diagonal principal é a sequência tais que i=j, ou seja,
(a11, a22, a33,..)
Diagonal secundária é a sequência dos elementos tais
que i+j=n+1, ou seja, (a1n, a2 n-1,...)

63
MATEMÁTICA

portanto

Propriedades da adição
Comutativa: A + B = B + A
Matriz diagonal Associativa: (A + B) + C = A + (B + C)
Elemento neutro: A + O = O + A = A
Uma matriz quadrada de ordem n(n>1) é chamada de Elemento Oposto: A + (-A) = (-A) + A = O
matriz diagonal se, e somente se, todos os elementos que Transposta da soma: (A + B)t = At + Bt
não pertencem à diagonal principal são iguais a zero.
Subtração de matrizes

Sejam A=(aij), B=(bij) e C=(cij), matrizes do mesmo tipo


m x n. Diz-se que C é a diferença A-B, se, e somente se,
C=A+(-B).
Matriz identidade

Uma matriz quadrada de ordem n(n>1) é chamada de


matriz identidade se, e somente se, os elementos da diago-
nal principal são iguais a um e os demais são iguais a zero.

Multiplicação de um número por uma matriz


Matriz nula Considere:
É chamada matriz nula se, e somente se, todos os ele-
mentos são iguais a zero.
Multiplicação de matrizes

O produto (linha por coluna) de uma matriz A = (aij)


por uma matriz B = (bij)p x n é uma matriz C = (cij)m x n,
Matriz Transposta mxp
de modo que cada elemento cij é obtido multiplicando-se
ordenadamente os elementos da linha i de A pelos ele-
Dada a matriz A=(aij) do tipo m x n, chama-se matriz mentos da coluna j de B, e somando-se os produtos assim
transposta de A a matriz do tipo n x m. obtidos.
Dada as matrizes:

Adição de Matrizes

Sejam A= (aij), B=(bij) e C=(cij) matrizes do mesmo tipo


m x n. Diz-se que C é a soma de A com B, e indica-se por Matriz Inversa
A+B.
Seja A uma matriz quadrada de ordem n. Uma matriz B
é chamada inversa de A se, e somente se,
Dada as matrizes:

64
MATEMÁTICA

Exemplo: Regra 2
Determine a matriz inversa de A.

Solução

Seja

detA= a11 a22 a33 + a12 a23 a31 + a32 a21 a13 - a31 a22 a13 -a12
a21 a33 - a32 a23 a11

Sistema de equações lineares


Um sistema de equações lineares mxn é um conjunto
de m equações lineares, cada uma delas com n incógnitas.
Temos que x=3; y=2; z=1; t=1

Logo,

Determinante
Dada uma matriz quadrada, chama-se determinante o
número real a ela associado.

Cálculo do determinante Em que:


Determinante de ordem 1

Determinante de ordem 2 Sistema Linear 2 x 2


Dada a matriz
O determinante é dado por: Chamamos de sistema linear 2 x 2 o conjunto de equa-
ções lineares a duas incógnitas, consideradas simultanea-
Determinante de ordem 3 mente.
Regra 1: Todo sistema linear 2 x 2 admite a forma geral abaixo:

a1 x + b1 y = c1

a2 + b2 y = c2

Sistema Linear 3x3

Repete a primeira e a segunda coluna


Sistemas Lineares equivalentes

Dois sistemas lineares que admitem o mesmo conjunto


solução são ditos equivalentes. Por exemplo:

São equivalentes, pois ambos têm o mesmo conjunto


solução S={(1,2)}

65
MATEMÁTICA

Denominamos solução do sistema linear toda sequên- Sistema Escalonado


cia ordenada de números reais que verifica, simultanea- Sistema Linear Escalonado é todo sistema no qual as
mente, todas as equações do sistema. incógnitas das equações lineares estão escritas em uma
Dessa forma, resolver um sistema significa encontrar mesma ordem e o 1º coeficiente não-nulo de cada equa-
todas as sequências ordenadas de números reais que satis- ção está à direita do 1º coeficiente não-nulo da equação
façam as equações do sistema. anterior.

Matriz Associada a um Sistema Linear Exemplo


Sistema 2x2 escalonado.
Dado o seguinte sistema:

Sistema 3x3
Matriz incompleta A primeira equação tem três coeficientes não-nulos, a
segunda tem dois e a terceira, apenas um.

Sistema 2x3
Classificação

1. Sistema Possível e Determinado Resolução de um Sistema Linear por Escalonamento

Podemos transformar qualquer sistema linear em um


outro equivalente pelas seguintes transformações elemen-
tares, realizadas com suas equações:
O par ordenado (2, 1) é solução da equação, pois -trocas as posições de duas equações
-Multiplicar uma das equações por um número real di-
ferente de 0.
-Multiplicar uma equação por um número real e adi-
cionar o resultado a outra equação.
Como não existe outro par que satisfaça simultanea- Exemplo
mente as duas equações, dizemos que esse sistema é SP-
D(Sistema Possível e Determinado), pois possui uma única
solução.
2. Sistema Possível e Indeterminado
Inicialmente, trocamos a posição das equações, pois é
conveniente ter o coeficiente igual a 1 na primeira equação.

esse tipo de sistema possui infinitas soluções, os valo-


res de x e y assumem inúmeros valores. Observe o sistema
a seguir, x e y podem assumir mais de um valor, (0,4), (1,3), Depois eliminamos a incógnita x da segunda equação
(2,2), (3,1) e etc.  Multiplicando a equação por -2:

3. Sistema Impossível

Somando as duas equações:

Não existe um par real que satisfaça simultaneamente


as duas equações. Logo o sistema não tem solução, por-
tanto é impossível.

66
MATEMÁTICA

Sistemas com Número de Equações Igual ao Núme-


ro de Incógnitas Assim, .

Quando o sistema linear apresenta nº de equações Substituindo esse valor de y na 1ª equação de (*) e
igual ao nº de incógnitas, para discutirmos o sistema, ini-
cialmente calculamos o determinante D da matriz dos coe- considerando a matriz , cujo determinante é
ficientes (incompleta), e:
- Se D ≠ 0, o sistema é possível e determinado. indicado por Dx = ed – bf, obtemos , D ≠ 0.
- Se D = 0, o sistema é possível e indeterminado ou
impossível.
QUESTÕES
Para identificarmos se o sistema é possível, indetermi-
nado ou impossível, devemos conseguir um sistema esca- 01. (POLICIA CIENTÍFICA – Perito Criminal –
lonado equivalente pelo método de eliminação de Gauss. IBFC/2017)
Dadas a matriz e a
Exemplos
matriz , assinale a alternativa que apre-
- Discutir, em função de a, o sistema: senta a matriz C que representa a soma da matriz A e B, ou
seja, C = A + B:
x + 3 y = 5

2 x + ay = 1

Resolução

1 3
D= = a−6
2 a

D = 0⇒ a−6 = 0⇒ a = 6
02. (POLICIA CIENTÍFICA – Perito Criminal –
Assim, para a ≠ 6, o sistema é possível e determinado. IBFC/2017)
Para a ≠ 6, temos:
Dadas a matriz e a matriz ,
x + 3 y = 5
 assinale a alternativa que apresenta a matriz C que repre-
x + 3 y = 5 senta a subtração da matriz A e B, ou seja, C = A - B.
2 x + 6 y = 1 ~
 ← −2 0 x + 0 y = −9

Que é um sistema impossível.


Assim, temos:
a ≠ 6 → SPD (Sistema possível e determinado)
a = 6 → SI (Sistema impossível)

Regra de Cramer

Consideramos os sistema .
03. (POLICIA CIENTÍFICA – Perito Criminal –
Suponhamos que a ≠ 0. Observamos que a matriz in IBFC/2017)

completa desse sistema é , cujo determi- Dada a matriz e a matriz , assi-


nante é indicado por D = ad – bc. nale a alternativa que apresenta a matriz C que representa
o produto da matriz A e B, ou seja, C=A*B.
Se substituirmos em M a 2ª coluna (dos coeficientes de
y) pela coluna dos coeficientes independentes,

obteremos ,cujo determinante é indicado por


Dy = af – ce.

67
MATEMÁTICA

07. (PREF. DE BIGUAÇU/SC – Professor – UNI-


SUL/2016)
Considere

04. (PREF. DE PIRAÚBA/MG – Agente Fiscal de Pos-


turas – MSCONCURSOS/2017)
Sejam as matrizes Assinale a alternativa CORRETA:

(A) A + B = 20
. (B) A - 3B2 = -51
(C) √2A + 1- 5 = -2
A matriz A-B é igual a (D) A/B +1 =23
(E) 3A -2B + 9 = 25

08. (PREF. DE TAQUARITUBA/SP – Professor – INS-


TITUTO EXCELÊNCIA/2016)

Dada a matriz

, assinale a alternativa que te-


nha respectivamente os números dos elementos a12, a23,
a33 e a35.
05. (UNITINS – Assistente Administrativo – UNI- (A) 0, 0, 7, 5.
TINS/2016) (B) 0, 7, 7, 5.
Sejam os determinantes das matrizes (C) 6, 7, 0, 0.
(D) Nenhuma das alternativas.

09. (MGS – Serviços Técnicos Contábeis – IBFC/2015)


Sejam as matrizes quadradas de e então o valor ordem
e , então o valor do
O valor de x²-2xy+y² é igual a
(A) 8 determinante da matriz C = A + B é igual a:
(B) 6 (A) -2
(C) 4 (B) 2
(D) 2 (C) 6
(E) 0 (D) -6

06. (PREF. DE ITAPEMA/SC – Técnico Contábil – MS- 10. (PREF. DE SANTO ANDRÉ – Assistente Econômi-
CONCURSOS/2016) Sabendo que o determinante da co Financeiro – IBAM/2015) Considere as seguintes ma-
trizes:

matriz é 10, então o determinante


da

matriz é: Sendo “a” um número real, para que tenhamos A . B =


C, o valor da variável “a” deverá ser:
(A) um número inteiro, ímpar e primo.
(A) -20 (B) um número inteiro, par, maior que 1 e menor que 5
(B) -10 (C) um número racional, par, maior que 5 e menor que
(C) 3 10.
(D) 20 (D) um número natural, impar, maior que 1 e menor
que 5.

68
MATEMÁTICA

11. (BRDE – Analista de Sistemas – FUNDATE/2015) 05. Resposta:C.


A solução do seguinte sistema linear detA=15+10+4x+6+2x-50=-19
6x=0
X=0

é: detB=0+40-y-0-12y+6=72
-13y=26
(A) S={(0,2,-5)} Y=-2
(B) S={(1,4,1)}
(C) S={(4,0,6)} X²-2xy+y²=0²-0+4=4
(D) S={(3/2 ,6, -7/2)}
(E) Sistema sem solução. 06. Resposta: A.
Observe a primeira coluna: foi multiplicado por 2.
12. (BRDE – Assistente Administrativo – FUNDA- Observe a segunda coluna: foi multiplicada por -1
TEC/2015) A solução do sistema linear Portanto, fazemos as mesmas operações com o deter-
minante: 10.2.-1=-20

é: 07. Resposta: B.
Da primeira matriz, para fazer o determinante, basta
(A) S={(4, ¼)} multiplicar os números da diagonal principal:
(B) S={(3, 3/2 )} detA=-1⋅3⋅2⋅-4=24
(C) S={(3/2 ,3 )}
(D) S={(3,− 3/2 )} A matriz B, devemos multiplicar os números da dia-
(E) S={(1,3/2 )} gonal secundária e multiplicar ainda por -1(pois, quando
fazemos determinante, sempre colocamos o menos antes
13. (SEDUC/PI – Professor – Matemática – NUCE- de fazer a diagonal secundária)
PE/2015) O sistema linear detB=-(-1/2⋅1⋅10⋅-1)=-5
Fazendo por alternativa:
A-A+B=20
24-5=20
é possível e indeterminado se: 19=20(F)

(A) m ≠ 2 e n = 2 . (B) A-3B²=-51


(B) m ≠ 1/2 e n = 2 . 24-3⋅(-5)²=-51
(C) m = 2 e n = 2 . 24-75=-51
(D) m = 1/2 e n = 2 . -51=-51(V)
(E) m = 1/2 e n ≠ 2 .
08. Resposta: A.
A12=0
RESPOSTAS A23=0
A33=7
01. Resposta: E. A35=5

09. Resposta: D.

02. Resposta: E.

03. Resposta: E.

10. Resposta: A.

04. Resposta: A.

69
MATEMÁTICA

m=1/2

a+2=9
a=7
(n-4+9)-(-3+6+2n)=0
11. Resposta: D. n+5-2n-3=0
Da II equação tiramos: -n=-2
X=5+z n=2

Da III equação:
Y=13+2z
SEQUÊNCIAS, PROGRESSÃO
Substituindo na I ARITMÉTICA E GEOMÉTRICA
5+z+2(13+2z)+z=10
5+z+26+4z+z=10
6z=10-31
6z=-21 Sequências
Z=-21/6 Sempre que estabelecemos uma ordem para os ele-
Z=-7/2 mentos de um conjunto, de tal forma que cada elemento
seja associado a uma posição, temos uma sequência.
X=5+z O primeiro termo da sequência é indicado por a1,o se-
gundo por a2, e o n-ésimo por an.

Termo Geral de uma Sequência


Algumas sequências podem ser expressas mediante
uma lei de formação. Isso significa que podemos obter um
12. Resposta: A. termo qualquer da sequência a partir de uma expressão,
que relaciona o valor do termo com sua posição.
Para a posição n(n∈N*), podemos escrever an=f(n)

Progressão Aritmética
Denomina-se progressão aritmética(PA) a sequência
em que cada termo, a partir do segundo, é obtido adicio-
nando-se uma constante r ao termo anterior. Essa constan-
te r chama-se razão da PA.

Somando as duas equações:


Exemplo
144y=36 A sequência (2,7,12) é uma PA finita de razão 5:

-x+28y=3
-x+7=3
-x=3-7
X=4 Classificação
As progressões aritméticas podem ser classificadas de
13. Resposta: D. acordo com o valor da razão r.
Para ser possível e indeterminado, D=Dx=Dy=Dz=0 r<0, PA decrescente
r>0, PA crescente
r=0 PA constante

Propriedades das Progressões Aritméticas


-Qualquer termo de uma PA, a partir do segundo, é a
D=(3m+4m+3)-(3m+6m+2)=0 média aritmética entre o anterior e o posterior.
7m+3-9m-2=0
-2m=-1

70
MATEMÁTICA

-A soma de dois termos equidistantes dos extremos é Em notação matemática temos:


igual à soma dos extremos.

Termo Geral da PA
Podemos escrever os elementos da PA(a1, a2, a3, ..., an,...)
da seguinte forma:

Assim sendo:
Observe que cada termo é obtido adicionando-se ao O primeiro termo desta sucessão é igual a -14.
primeiro número de razões r igual à posição do termo me-
nos uma unidade. Progressão Geométrica
Denomina-se progressão geométrica(PG) a sequência
em que se obtém cada termo, a partir do segundo, multi-
Soma dos Termos de uma Progressão Aritmética plicando o anterior por uma constante q, chamada razão
Considerando a PA finita (6,10, 14, 18, 22, 26, 30, 34). da PG.
6 e 34 são extremos, cuja soma é 40 Exemplo
Dada a sequência: (4, 8, 16)

Numa PA finita, a soma de dois termos equidistantes


dos extremos é igual à soma dos extremos. q=2

Soma dos Termos Classificação


Usando essa propriedade, obtemos a fórmula que per- As classificações geométricas são classificadas assim:
mite calcular a soma dos n primeiros termos de uma pro-
gressão aritmética. - Crescente: Quando cada termo é maior que o ante-
rior. Isto ocorre quando a1 > 0 e q > 1 ou quando a1 < 0 e
0 < q < 1.
- Decrescente: Quando cada termo é menor que o an-
terior. Isto ocorre quando a1 > 0 e 0 < q < 1 ou quando a1
< 0 e q > 1.
- Alternante: Quando cada termo apresenta sinal con-
trário ao do anterior. Isto ocorre quando q < 0.
- Constante: Quando todos os termos são iguais. Isto
ocorre quando q = 1. Uma PG constante é também uma PA
Exemplo de razão r = 0. A PG constante é também chamada de PG
Uma progressão aritmética finita possui 39 termos. O estacionaria.
último é igual a 176 e o central e igual a 81. Qual é o pri- - Singular: Quando zero é um dos seus termos. Isto
meiro termo? ocorre quando a1 = 0 ou q = 0.
Solução
Como esta sucessão possui 39 termos, sabemos que o Termo Geral da PG
termo central é o a20, que possui 19 termos à sua esquerda Pelo exemplo anterior, podemos perceber que cada
e mais 19 à sua direita. Então temos os seguintes dados termo é obtido multiplicando-se o primeiro por uma po-
para solucionar a questão: tência cuja base é a razão. Note que o expoente da razão é
igual à posição do termo menos uma unidade.

Sabemos também que a soma de dois termos equidis- Portanto, o termo geral é:
tantes dos extremos de uma P.A. finita é igual à soma dos
seus extremos. Como esta P.A. tem um número ímpar de
termos, então o termo central tem exatamente o valor de
metade da soma dos extremos.

71
MATEMÁTICA

Soma dos Termos de uma Progressão Geométrica QUESTÕES


Finita
Seja a PG finita de razão q e de soma 01. (PETROBRAS - Técnico de Enfermagem do Tra-
dos termos Sn: balho Júnior -CESGRANRIO/2017) A soma dos n primei-
1º Caso: q=1 ros termos de uma progressão geométrica é dada por

2º Caso: q≠1 Quanto vale o quarto termo dessa progressão geomé-


trica?
Exemplo
Dada a progressão geométrica (1, 3, 9, 27,..) calcular: (A) 1
a) A soma dos 6 primeiros termos (B) 3
b) O valor de n para que a soma dos n primeiros ter- (C) 27
mos seja 29524 (D) 39
(E) 40
Solução
02. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017)  Para
que a sequência (4x-1 , x² -1, x - 4) forme uma progressão
aritmética, x pode assumir, dentre as possibilidades abaixo,
o valor de
(A) -0,5.
(B) 1,5.
(C) 2.
(D) 4.
(E) 6.

03. (IBGE – Agente Censitário Municipal e Supervi-


sor – FGV/2017) O valor da expressão

2(1 - 2 + 3 - 4 + 5 - 6 + 7- ... + 2015 - 2016 + 2017) é:

(A)2014;
Soma dos Termos de uma Progressão Geométrica (B) 2016;
Infinita (C) 2018;
1º Caso:-1<q<1 (D) 2020;
(E) 2022.
Quando a PG infinita possui soma finita, dizemos que a
série é convergente. 04. (FCEP – Técnico Artístico – AMAUC/2017) Consi-
dere a equação do 1º grau: 2(x - 2) = 3(x/3 + 4) . A raiz da
2º Caso: equação é o segundo termo de uma Progressão Aritmética
A PG infinita não possui soma finita, dizemos que a sé- (P.A.). O primeiro termo da P.A. corresponde aos 3/4 da raiz
rie é divergente da equação. O valor do décimo termo da P.A. é:
(A) 48
3º Caso: (B) 36
Também não possui soma finita, portanto divergente (C) 32
(D) 28
Produto dos termos de uma PG finita (E) 24

05. (ARTESP – Agente de Fiscalização à Regulação


de Transporte – FCC/2017) Em um experimento, uma
planta recebe a cada dia 5 gotas a mais de água do que
havia recebido no dia anterior. Se no 65° dia ela recebeu
374 gotas de água, no 1° dia do experimento ela recebeu
(A) 64 gotas.
(B) 49 gotas.
(C) 59 gotas.
(D) 44 gotas.
(E) 54 gotas.

72
MATEMÁTICA

06. (ARTESP – Agente de Fiscalização à Regulação RESPOSTAS


de Transporte – FCC/2017) Mantido o mesmo padrão na
sequência infinita 5, 6, 7, 8, 9, 7, 8, 9, 10, 11, 9, 10, 11, 12, 01.Resposta: A.
13, 11, 12, 13, 14, 15, . . . , a soma do 19° e do 31° termos
é igual a
(A) 42.
(B) 31.
(C) 33.
(D) 39. Como S3 é a soma dos 3 primeiros e S4 é a soma dos 4
(E) 36. primeiros termos, se subtrairmos um do outro, obteremos
o 4º termo.
07. (POLICIA CIENTIFICA/PR – Auxiliar de Necropsia
– IBFC/2017) Considere a seguinte progressão aritmética: 02. Resposta: B.
(23, 29, 35, 41, 47, 53, ...) Para ser uma PA:
Desse modo, o 83.º termo dessa sequência é: X²-1-(4x-1)=x-4-(x²-1)
(A) 137 X²-1-4x+1=x-4-x²+1
(B) 455 X²+x²-4x-x-3=0
(C) 500 2x²-5x-3=0
(D) 515 ∆=25-24=1
(E) 680

08. (CEGAS – Assistente Técnico – IES/2017) Deter-


mine o valor do nono termo da seguinte progressão geo-
métrica (1, 2, 4, 8, ...):
(A) 438 03. Resposta: C.
(B) 512 Os termos ímpares formam uma PA de razão 2 e são os
(C) 256 números ímpares.
(D) 128 Os termos pares formam uma PA de razão -2
Vamos descobrir quantos termos há:
09. (CRF/MT – Agente Administrativo – QUA-
DRIX/2017) Maria criou uma conta no Instagram. No 2017=1+(n-1)⋅2
mesmo dia, quatro pessoas começaram a segui-la. Após 2017=1+2n-2
1 dia, ela já tinha 21 seguidores e após 2 dias, já eram 38 2017=-1+2n
seguidores. Maria percebeu que, a cada dia, ela ganhava 17 2n=2018
seguidores. Mantendo-se essa tendência, ela ultrapassará a n=1009
barreira de 1.000 seguidores após:
(A) 57 dias.
(B) 58 dias.
(C) 59 dias.
(D) 60 dias.
(E) 61 dias. Para a sequência par:
-2016=-2+(n-1)⋅(-2)
10.. (PREF. DE CHOPINZINHO – Procurador Munici- -2016=-2-2n+2
pal – FAU/2016) Com base na sequência numérica a seguir 2n=2016
determine o sexto termo da sequência: N=1008
196 ;169 ;144 ;121 ; ...
(A) 115.
(B) 100.
(C) 81.
(D) 69. 1018081-1017072=1009
(E) 49. 2⋅1009=2018

04. Resposta: A.
Raiz da equação:
2x-4=x+12
X=16 é 0 segundo termo da PA
Primeiro termo:

73
MATEMÁTICA

PA
(12,16,...) PORCENTAGEM
R=16-12=4

=48
Porcentagem é uma fração cujo denominador é 100,
05. Resposta: E.
seu símbolo é (%). Sua utilização está tão disseminada que
a encontramos nos meios de comunicação, nas estatísticas,
em máquinas de calcular, etc.
A1=374-320
Os acréscimos e os descontos é importante saber por-
A1=54
que ajuda muito na resolução do exercício.
06. Resposta: B.
Acréscimo
Observe os números em negrito:
Se, por exemplo, há um acréscimo de 10% a um deter-
9, 11, 13, 15,...
minado valor, podemos calcular o novo valor apenas multi-
São os números ímpares, a partir do 9 e a cada 5 nú-
plicando esse valor por 1,10, que é o fator de multiplicação.
meros.
Se o acréscimo for de 20%, multiplicamos por 1,20, e assim
Ou seja, o 9 está na posição 5
por diante. Veja a tabela abaixo:
O 11 está na posição 10 e assim por diante.
O 19º termo, já temos na sequência que é o 14
Seguindo os termos: Acréscimo ou Lucro Fator de
25º termo é o 17 Multiplicação
30º termo é 19 10% 1,10
Como o número seguinte a esses, abaixa duas unida-
des 15% 1,15
O 31º termo é o 17. 20% 1,20
14+17=31
47% 1,47
07. Resposta: D. 67% 1,67
Observe a razão: 29-23=6  
A83=a1+82r     Exemplo: Aumentando 10% no valor de R$10,00 te-
A83=23+82⋅6 mos: 
A83=23+492
A83=515

08. Resposta: C. Desconto


Q=2 No caso de haver um decréscimo, o fator de multipli-
cação será:
    Fator de Multiplicação =  1 - taxa de desconto (na
forma decimal)
    Veja a tabela abaixo:

09. Resposta: C. Desconto Fator de


1000=21+17(n-1) Multiplicação
1000=21+17n-17
1004=17n 10% 0,90
N=59 25% 0,75

10. Resposta: C. 34% 0,66


A sequência tem como base os quadrados perfeitos 60% 0,40
14, 13, 12, 11, 10, 9 90% 0,10
Portanto o 6º termo é o 9²=81
    Exemplo: Descontando 10% no valor de R$10,00 te-
mos: 

74
MATEMÁTICA

Chamamos de lucro em uma transação comercial de 02. (TST – Técnico Judiciário – FCC/2017) A equipe de
compra e venda a diferença entre o preço de venda e o segurança de um Tribunal conseguia resolver mensalmen-
preço de custo. te cerca de 35% das ocorrências de dano ao patrimônio
Lucro=preço de venda -preço de custo nas cercanias desse prédio, identificando os criminosos e
os encaminhando às autoridades competentes. Após uma
Podemos expressar o lucro na forma de porcentagem reestruturação dos procedimentos de segurança, a mes-
de duas formas: ma equipe conseguiu aumentar o percentual de resolução
mensal de ocorrências desse tipo de crime para cerca de
63%. De acordo com esses dados, com tal reestruturação,
a equipe de segurança aumentou sua eficácia no combate
ao dano ao patrimônio em
(A) 35%.
(B) 28%.
(C) 63%.
(DPE/RR – Analista de Sistemas – FCC/2015) Em sala (D) 41%.
de aula com 25 alunos e 20 alunas, 60% desse total está (E) 80%.
com gripe. Se x% das meninas dessa sala estão com gripe,
o menor valor possível para x é igual a 03. (TST – Técnico Judiciário – FCC/2017) Três ir-
(A) 8. mãos, André, Beatriz e Clarice, receberam de uma tia he-
(B) 15. rança constituída pelas seguintes joias: um bracelete de
(C) 10. ouro, um colar de pérolas e um par de brincos de diamante.
(D) 6. A tia especificou em testamento que as joias não deveriam
(E) 12. ser vendidas antes da partilha e que cada um deveria ficar
com uma delas, mas não especificou qual deveria ser dada
Resolução a quem. O justo, pensaram os irmãos, seria que cada um
45------100% recebesse cerca de 33,3% da herança, mas eles achavam
X-------60% que as joias tinham valores diferentes entre si e, além disso,
X=27 tinham diferentes opiniões sobre seus valores. Então, deci-
O menor número de meninas possíveis para ter gripe diram fazer a partilha do seguinte modo:
é se todos os meninos estiverem gripados, assim apenas 2 − Inicialmente, sem que os demais vissem, cada um
meninas estão. deveria escrever em um papel três porcentagens, indican-
do sua avaliação sobre o valor de cada joia com relação ao
valor total da herança.
− A seguir, todos deveriam mostrar aos demais suas
Resposta: C. avaliações.
− Uma partilha seria considerada boa se cada um deles
recebesse uma joia que avaliou como valendo 33,3% da
QUESTÕES herança toda ou mais.
As avaliações de cada um dos irmãos a respeito das
01. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária joias foi a seguinte:
- MSCONCURSOS/2017) Um aparelho de televisão que
custa R$1600,00 estava sendo vendido, numa liquidação,
com um desconto de 40%. Marta queria comprar essa te-
levisão, porém não tinha condições de pagar à vista, e o
vendedor propôs que ela desse um cheque para 15 dias,
pagando 10% de juros sobre o valor da venda na liquida-
ção. Ela aceitou e pagou pela televisão o valor de: Assim, uma partilha boa seria se André, Beatriz e Clari-
(A) R$1120,00 ce recebessem, respectivamente,
(B) R$1056,00 (A) o bracelete, os brincos e o colar.
(C) R$960,00 (B) os brincos, o colar e o bracelete.
(D) R$864,00 (C) o colar, o bracelete e os brincos.
(D) o bracelete, o colar e os brincos.
(E) o colar, os brincos e o bracelete.

75
MATEMÁTICA

04. (UTFPR – Técnico de Tecnologia da Informação 08. (CRM/MG – Técnico em Informática- FUN-
– UTFPR/2017) Um retângulo de medidas desconhecidas DEP/2017) Veja, a seguir, a oferta da loja Magazine Bom
foi alterado. Seu comprimento foi reduzido e passou a ser Preço:
2/ 3 do comprimento original e sua largura foi reduzida e
passou a ser 3/ 4 da largura original. Aproveite a Promoção!
Pode-se afirmar que, em relação à área do retângulo Forno Micro-ondas
original, a área do novo retângulo: De R$ 720,00
(A) foi aumentada em 50%. Por apenas R$ 504,00
(B) foi reduzida em 50%.
(C) aumentou em 25%. Nessa oferta, o desconto é de:
(D) diminuiu 25%. (A) 70%.
(E) foi reduzida a 15%. (B) 50%.
(C) 30%.
05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- (D) 10%.
GO/2017) Paulo, dono de uma livraria, adquiriu em uma
editora um lote de apostilas para concursos, cujo valor uni- 09 (CODAR – Recepcionista – EXATUS/2016) Consi-
tário original é de R$ 60,00. Por ter cadastro no referido dere que uma caixa de bombom custava, em novembro, R$
estabelecimento, ele recebeu 30% de desconto na compra. 8,60 e passou a custar, em dezembro, R$ 10,75. O aumento
Para revender os materiais, Paulo decidiu acrescentar 30% no preço dessa caixa de bombom foi de:
sobre o valor que pagou por cada apostila. Nestas condi- (A) 30%.
ções, qual será o lucro obtido por unidade? (B) 25%.
(A) R$ 4,20. (C) 20%.
(B) R$ 5,46. (D) 15%
(C) R$ 10,70.
(D) R$ 12,60. 10. (ANP – Técnico em Regulação de Petróleo e De-
(E) R$ 18,00. rivados – CESGRANRIO/2016) Um grande tanque estava
vazio e foi cheio de óleo após receber todo o conteúdo de
06. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- 12 tanques menores, idênticos e cheios.
GO/2017) Joana foi fazer compras. Encontrou um vestido Se a capacidade de cada tanque menor fosse 50% maior
de R$ 150,00 reais. Descobriu que se pagasse à vista teria do que a sua capacidade original, o grande tanque seria
um desconto de 35%. Depois de muito pensar, Joana pa- cheio, sem excessos, após receber todo o conteúdo de
gou à vista o tal vestido. Quanto ela pagou? (A) 4 tanques menores
(A) R$ 120,00 reais (B) 6 tanques menores
(B) R$ 112,50 reais (C) 7 tanques menores
(C) R$ 127,50 reais (D) 8 tanques menores
(D) R$ 97,50 reais (E) 10 tanques menores
(E) R$ 90 reais

07. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU- RESPOSTAS


NESP/2017) A empresa Alfa Sigma elaborou uma previsão
de receitas trimestrais para 2018. A receita prevista para o 01. Resposta:B.
primeiro trimestre é de 180 milhões de reais, valor que é Como teve um desconto de 40%, pagou 60% do pro-
10% inferior ao da receita prevista para o trimestre seguin- duto.
te. A receita prevista para o primeiro semestre é 5% inferior
à prevista para o segundo semestre. Nessas condições, é 1600⋅0,6=960
correto afirmar que a receita média trimestral prevista para Como vai pagar 10% a mais:
2018 é, em milhões de reais, igual a 960⋅1,1=1056
(A) 200.
(B) 203. 02. Resposta: E.
(C) 195. 63/35=1,80
(D) 190. Portanto teve um aumento de 80%.
(E) 198.
03. Resposta: D.
Clarice obviamente recebeu o brinco.
Beatriz recebeu o colar porque foi o único que ficou
acima de 30% e André recebeu o bracelete.

76
MATEMÁTICA

04. Resposta: B.
A=b⋅h JUROS SIMPLES E COMPOSTOS

Matemática Financeira
Portanto foi reduzida em 50%
A Matemática Financeira possui diversas aplicações
no atual sistema econômico. Algumas situações estão pre-
05. Resposta: D.
sentes no cotidiano das pessoas, como financiamentos
Como ele obteve um desconto de 30%, pagou 70% do
de casa e carros, realizações de empréstimos, compras a
valor:
crediário ou com cartão de crédito, aplicações financeiras,
60⋅0,7=42
investimentos em bolsas de valores, entre outras situações.
Ele revendeu por:
Todas as movimentações financeiras são baseadas na esti-
42⋅1,3=54,60
pulação prévia de taxas de juros. Ao realizarmos um em-
Teve um lucro de: 54,60-42=12,60
préstimo a forma de pagamento é feita através de presta-
ções mensais acrescidas de juros, isto é, o valor de quitação
06. Resposta: D.
do empréstimo é superior ao valor inicial do empréstimo. A
Como teve um desconto de 35%. Pagou 65%do vestido
essa diferença damos o nome de juros.
150⋅0,65=97,50
Capital
07. Resposta: C.
O Capital é o valor aplicado através de alguma opera-
Como a previsão para o primeiro trimestre é de 180
ção financeira. Também conhecido como: Principal, Valor
milhões e é 10% inferior, no segundo trimestre temos uma
Atual, Valor Presente ou Valor Aplicado. Em inglês usa-se
previsão de
Present Value (indicado pela tecla PV nas calculadoras fi-
180-----90%
nanceiras).
x---------100
x=200
Taxa de juros e Tempo
    A taxa de juros indica qual remuneração será paga
200+180=380 milhões para o primeiro semestre
ao dinheiro emprestado, para um determinado período.
380----95
Ela vem normalmente expressa da forma percentual, em
x----100
seguida da especificação do período de tempo a que se
x=400 milhões
refere:
8 % a.a. - (a.a. significa ao ano).
Somando os dois semestres: 380+400=780 milhões
10 % a.t. - (a.t. significa ao trimestre).
780/4trimestres=195 milhões
    Outra forma de apresentação da taxa de juros é a
unitária, que é igual a taxa percentual dividida por 100, sem
08. Resposta: C.
o símbolo %:
0,15 a.m. - (a.m. significa ao mês).
0,10 a.q. - (a.q. significa ao quadrimestre)

Montante
Ou seja, ele pagou 70% do produto, o desconto foi de 30%.
Também conhecido como valor acumulado é a soma
OBS: muito cuidado nesse tipo de questão, para não
do  Capital Inicial com o juro produzido em determina-
errar conforme a pergunta feita.
do tempo. 
Essa fórmula também será amplamente utilizada para
09. Resposta: B.
resolver questões.
8,6(1+x)=10,75
M=C+J
8,6+8,6x=10,75
M = montante
8,6x=10,75-8,6
C = capital inicial
8,6x=2,15
J = juros
X=0,25=25%
M=C+C.i.n
M=C(1+i.n)
10. Resposta: D.
50% maior quer dizer que ficou 1,5
Juros Simples
Quantidade de tanque: x
Chama-se juros simples a compensação em dinheiro
A quantidade que aumentaria deve ficar igual a 12 tan-
pelo empréstimo de um capital financeiro, a uma taxa com-
ques
binada, por um prazo determinado, produzida exclusiva-
1,5x=12
mente pelo capital inicial.
X=8

77
MATEMÁTICA

Em Juros Simples a remuneração pelo capital inicial  A maioria das operações envolvendo dinheiro uti-
aplicado é diretamente proporcional ao seu valor e ao tem- liza juros compostos. Estão incluídas: compras a médio e
po de aplicação. longo prazo, compras com cartão de crédito, empréstimos
A expressão matemática utilizada para o cálculo das bancários, as aplicações financeiras usuais como Caderneta
situações envolvendo juros simples é a seguinte: de Poupança e aplicações em fundos de renda fixa, etc. Ra-
J = C i n, onde: ramente encontramos uso para o regime de juros simples:
J = juros é o caso das operações de curtíssimo prazo, e do processo
C = capital inicial de desconto simples de duplicatas.
i = taxa de juros O cálculo do montante é dado por:
n = tempo de aplicação (mês, bimestre, trimestre, se-
mestre, ano...)
Observação importante: a taxa de juros e o tempo de Exemplo
aplicação devem ser referentes a um mesmo período. Ou Calcule o juro composto que será obtido na aplicação
seja, os dois devem estar em meses, bimestres, trimestres, de R$25000,00 a 25% ao ano, durante 72 meses
semestres, anos... O que não pode ocorrer é um estar em C=25000
meses e outro em anos, ou qualquer outra combinação de i=25%aa=0,25
períodos. i=72 meses=6 anos
Dica: Essa fórmula J = C i n, lembra as letras das pala-
vras “JUROS SIMPLES” e facilita a sua memorização.
Outro ponto importante é saber que essa fórmula
pode ser trabalhada de várias maneiras para se obter cada
um de seus valores, ou seja, se você souber três valores,
poderá conseguir o quarto, ou seja, como exemplo se você M=C+J
souber o Juros (J), o Capital Inicial (C) e a Taxa (i), poderá J=95367,50-25000=70367,50
obter o Tempo de aplicação (n). E isso vale para qualquer
combinação.
QUESTÕES
Exemplo
Maria quer comprar uma bolsa que custa R$ 85,00 à 01. (TRE/PR – Analista Judiciário – FCC/2017) Uma
vista. Como não tinha essa quantia no momento e não geladeira está sendo vendida nas seguintes condições:
queria perder a oportunidade, aceitou a oferta da loja de − Preço à vista = R$ 1.900,00;
pagar duas prestações de R$ 45,00, uma no ato da compra − Condições a prazo = entrada de R$ 500,00 e paga-
e outra um mês depois. A taxa de juros mensal que a loja mento de uma parcela de R$ 1.484,00 após 60 dias da data
estava cobrando nessa operação era de: da compra.
(A) 5,0% A taxa de juros simples mensal cobrada na venda a
(B) 5,9% prazo é de
(C) 7,5% (A) 1,06% a.m.
(D) 10,0% (B) 2,96% a.m.
(E) 12,5% (C) 0,53% a.m.
Resposta Letra “e”. (D) 3,00% a.m.
(E) 6,00% a.m.
O juros incidiu somente sobre a segunda parcela, pois
a primeira foi à vista. Sendo assim, o valor devido seria 02. (FUNAPEP - Analista em Gestão Previdenciária-
R$40 (85-45) e a parcela a ser paga de R$45. -FCC/2017) João emprestou a quantia de R$ 23.500,00 a
Aplicando a fórmula M = C + J: seu filho Roberto. Trataram que Roberto pagaria juros sim-
45 = 40 + J ples de 4% ao ano. Roberto pagou esse empréstimo para
J=5 seu pai após 3 anos. O valor total dos juros pagos por Ro-
Aplicando a outra fórmula J = C i n: berto foi
5 = 40 X i X 1 (A) 3.410,00.
i = 0,125 = 12,5% (B) R$ 2.820,00.
(C) R$ 2.640,00.
Juros Compostos (D) R$ 3.120,00.
o juro de cada intervalo de tempo é calculado a partir (E) R$ 1.880,00.
do saldo no início de correspondente intervalo. Ou seja: o
juro de cada intervalo de tempo é incorporado ao capital
inicial e passa a render juros também.

Quando usamos juros simples e juros compostos?

78
MATEMÁTICA

03. (IFBAIANO – Técnico em Contabilidade – 08. (PREF. DE NITERÓI/RJ – Agente Fazendário –


FCM/2017) O montante acumulado ao final de 6 meses FGV/2016) Para pagamento de boleto com atraso em pe-
e os juros recebidos a partir de um capital de 10 mil reais, ríodo inferior a um mês, certa instituição financeira cobra,
com uma taxa de juros de 1% ao mês, pelo regime de capi- sobre o valor do boleto, multa de 2% mais 0,4% de juros de
talização simples, é de mora por dia de atraso no regime de juros simples. Um bo-
(A) R$ 9.400,00 e R$ 600,00. leto com valor de R$ 500,00 foi pago com 18 dias de atraso.
(B) R$ 9.420,00 e R$ 615,20. O valor total do pagamento foi:
(C) R$ 10.000,00 e R$ 600,00. (A) R$ 542,00;
(D) R$ 10.600,00 e R$ 600,00. (B) R$ 546,00;
(E) R$ 10.615,20 e R$ 615,20. (C) R$ 548,00;
(D) R$ 552,00;
04. (CEGAS – Assistente Técnico – IESES/2017) O (E) R$ 554,00.
valor dos juros simples em uma aplicação financeira de $
3.000,00 feita por dois trimestres a taxa de 2% ao mês é 09. (CASAN – Assistente Administrativo – INSTITUTO
igual a: AOCP/2016) Para pagamento um mês após a data da com-
(A) $ 360,00 pra, certa loja cobrava juros de 25%. Se certa mercadoria tem
(B) $ 240,00 preço a prazo igual a R$ 1500,00, o preço à vista era igual a
(C) $ 120,00 (A) R$ 1200,00.
(D) $ 480,00 (B) R$ 1750,00.
(C) R$ 1000,00.
05. (IPRESB/SP - Analista de Processos Previdenciá- (D) R$ 1600,00.
rios- VUNESP/2017) Um capital foi aplicado a juros sim- (E) R$ 1250,00.
ples, com taxa de 9% ao ano, durante 4 meses. Após esse
período, o montante (capital + juros) resgatado foi de R$ 10. (CASAN – Técnico de Laboratório – INSTITUTO
2.018,80. O capital aplicado era de AOCP/2016) A fatura de um certo cartão de crédito cobra
(A) R$ 2.010,20. juros de 12% ao mês por atraso no pagamento. Se uma
(B) R$ 2.000,00. fatura de R$750,00 foi paga com um mês de atraso, o valor
(C) R$ 1.980,00. pago foi de
(D) R$ 1.970,40. (A) R$ 970,00.
(E) R$ 1.960,00. (B) R$ 777,00.
(C) R$ 762,00.
06. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- (D) R$ 800,00.
GO/2017) Em um investimento no qual foi aplicado o va- (E) R$ 840,00.
lor de R$ 5.000,00, em um ano foi resgatado o valor total
de R$ 9.200,00. Considerando estes apontamentos e que 11. (DPE/PR – Contador – INAZ DO PARÁ/2017) Em
o rendimento se deu a juros simples, é verdadeiro afirmar 15 de junho de 20xx, Severino restituiu R$ 2.500,00 do seu
que a taxa mensal foi de: imposto de renda. Como estava tranquilo financeiramente,
(A) 1,5% resolveu realizar uma aplicação financeira para retirada em
(B) 2 % 15/12/20xx, período que vai realizar as compras de natal. A
(C) 5,5% uma taxa de juros de 3% a.m., qual é o montante do capital,
(D) 6% sabendo-se que a capitalização é mensal:
(E) 7% (A) R$ 2.985,13
(B) R$ 2.898,19
07. (UFES – Assistente em Administração – (C) R$ 3.074,68
UFES/2017) No regime de juros simples, os juros em cada (D) R$ 2.537,36
período de tempo são calculados sobre o capital inicial. Um (E) R$ 2.575,00
capital inicial C0 foi aplicado a juros simples de 3% ao mês.
Se Cn é o montante quando decorridos n meses, o menor 12. (TRE/PR – Analista Judiciário- FCC/2017) A Cia.
valor inteiro para n, tal que Cn seja maior que o dobro de Escocesa, não tendo recursos para pagar um empréstimo
C0, é de R$ 150.000,00 na data do vencimento, fez um acordo
(A) 30 com a instituição financeira credora para pagá-la 90 dias
(B) 32 após a data do vencimento. Sabendo que a taxa de juros
(C) 34 compostos cobrada pela instituição financeira foi 3% ao
(D) 36 mês, o valor pago pela empresa, desprezando-se os centa-
(E) 38 vos, foi, em reais,
(A) 163.909,00.
(B) 163.500,00.
(C) 154.500,00.
(D) 159.135,00.

79
MATEMÁTICA

13. (FUNAPE – Analista em Gestão Previdenciária – 05. Resposta: E.


FCC/2017) O montante de um empréstimo de 4 anos da 4meses=1/3ano
quantia de R$ 20.000,00, do qual se cobram juros compos- M=C(1+in)
tos de 10% ao ano, será igual a 2018,80=C(1+0,09⋅1/3)
(A) R$ 26.000,00. 2018,80=C+0,03C
(B) R$ 28.645,00. 1,03C=2018,80
(C) R$ 29.282,00. C=1960
(D) R$ 30.168,00.
(E) R$ 28.086,00. 06. Resposta: E.
M=C(1+in)
14. (IFBAIANO - Técnico em Contabilidade- 9200=5000(1+12i)
FCM/2017) A empresa Good Finance aplicou em uma 9200=5000+60000i
renda fixa um capital de 100 mil reais, com taxa de juros 4200=60000i
compostos de 1,5% ao mês, para resgate em 12 meses. O I=0,07=7%
valor recebido de juros ao final do período foi de
(A) R$ 10.016,00. 07. Resposta: C.
(B) R$ 15.254,24. M=C(1+in)
(C) R$ 16.361,26. Cn=Co(1+0,03n)
(D) R$ 18.000,00. 2Co=Co(1+0,03n)
(E) R$ 19.561,82. 2=1+0,03n
1=0,03n
15. (POLICIA CIENTIFICA – Perito Criminal – N=33,33
IBFC/2017) Assinale a alternativa correta. Uma empresa Ou seja, maior que 34
recebeu um empréstimo bancário de R$ 120.000,00 por 1
ano, pagando o montante de R$ 180.000,00. A taxa anual 08. Resposta: C.
de juros desse empréstimo foi de: M=C(1+in)
(A) 0,5% ao ano C=500+500x0,02=500+10=510
(B) 5 % ao ano M=510(1+0,004x18)
(C) 5,55 % ao ano M=510(1+0,072)=546,72
(D) 150% ao ano
(E) 50% ao ano 09. Resposta: A.
M=C(1+in)
1500=C(1+0,25x1)
RESPOSTAS 1500=C(1,25)
C=1500/1,25
01. Resposta: D. C=1200
J=500+1484-1900=84
C=1900-500=1400 10. Resposta: E.
J=Cin M=C(1+in)
84=1400.i.2 M=750(1+0,12)
I=0,03=3% M=750x1,12=840

02. Resposta: B. 11. Resposta: A.


J=Cin D junho a dezembro: 6 meses
J=23500⋅0,04⋅3 M=C(1+i)t
J= 2820 M=2500(1+0,03)6
M=2500⋅1,194=2985
03. Resposta: D.
J=Cin 12. Resposta: A.
J=10000⋅0,01⋅6=600 90 dias=3 meses
M=C+J M=C(1+i)t
M=10000+600=10600 M=150000(1+0,03)3
M=150000⋅1,092727=163909,05
04. Resposta: A. Desprezando os centavos: 163909
2 trimestres=6meses
J=Cin 13. Resposta: C.
J=3000⋅0,02⋅6 M=C(1+i)t
J=360 M=20000(1+0,1)4
M=20000⋅1,4641=29282

80
MATEMÁTICA

14. Resposta: E. Temos a chamada taxa de juros nominal, quando esta


J=Cin não é realmente a taxa utilizada para o cálculo dos juros (é
J=10000⋅0,015⋅12=18000 uma taxa “sem efeito”). A capitalização (o prazo de formação
e incorporação de juros ao capital inicial) será dada através de
Não, ninguém viu errado. outra  taxa,  numa unidade de tempo diferente, taxa efetiva.
Como ficaria muito difícil de fazer sem calculadora, a Como calcular a taxa que realmente vai ser utilizada;
tática é fazer o juro simples, e como sabemos que o com- isto é, a taxa efetiva?
posto vai dar maior que esse valor, só nos resta a alterna- Vamos acompanhar através do exemplo
tiva E. Você pode se perguntar, e se houver duas alternati-
vas com números maiores? Olha pessoal, não creio que a Taxa Efetiva
banca fará isso, e sim que eles fizeram mais para usar isso Calcular o montante de um capital de R$ 1.000,00 (mil
mesmo. reais), aplicados durante 18 (dezoito) meses, capitalizados
mensalmente, a uma taxa de 12% a.a. Explicando o que é
15. Resposta: E. taxa Nominal, efetiva mensal e equivalente mensal:
M=C(1+i)t Respostas e soluções:
180000=120000(1+i) 1) A taxa Nominal é 12% a.a; pois o capital não vai ser
180000=120000+120000i capitalizado com a taxa anual.
60000=120000i 2) A taxa efetiva mensal a ser utilizada depende de
i=0,5=50% duas convenções: taxa proporcional mensal ou taxa equi-
valente mensal.
a) Taxa proporcional mensal (divide-se a taxa anual por
12): 12%/12 = 1% a.m.
TAXAS DE JUROS, DESCONTO,
b) Taxa equivalente mensal (é aquela que aplicado aos
EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS, ANUIDADES E R$ 1.000,00, rende os mesmos juros que a taxa anual apli-
SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO cada nesse mesmo capital).
 
Cálculo da taxa equivalente mensal:

Podemos definir a taxa nominal como aquela em que


a unidade de referência do seu tempo não coincide com a  
unidade de tempo dos períodos de capitalização. É usada
no mercado financeiro, mas para cálculo deve-se encontrar onde:
a taxa efetiva. Por exemplo, a taxa nominal de 12% ao ano, iq : taxa equivalente para o prazo que eu quero
capitalizada mensalmente, resultará em uma taxa mensal it : taxa para o prazo que eu tenho
de 1% ao mês. Entretanto, quando esta taxa é capitalizada q : prazo que eu quero
pelo regime de juros compostos, teremos uma taxa efetiva t : prazo que eu tenho
de 12,68% ao ano.

Taxa Nominal  
A taxa nominal de juros relativa a uma operação finan- iq = 0,009489 a.m  ou  iq = 0,949 % a.m.
ceira pode ser calculada pela expressão:
Taxa nominal = Juros pagos / Valor nominal do emprés- 3) Cálculo do montante pedido, utilizando a taxa efe-
timo tiva mensal

Assim, por exemplo, se um empréstimo de $100.000,00, a) pela convenção da taxa proporcional:


deve ser quitado ao final de um ano, pelo valor monetário M = c (1 + i)n
de $150.000,00, a taxa de juros nominal será dada por: M = 1000 (1 + 0,01) 18 = 1.000 x  1,196147
Juros pagos = Jp = $150.000 – $100.000 = $50.000,00 M = 1.196,15
Taxa nominal = in = $50.000 / $100.000 = 0,50 = 50%  
b) pela convenção da taxa equivalente:
Sem dúvida, se tem um assunto que gera muita con- M = c (1 + i)n
fusão na Matemática Financeira são os conceitos de taxa M = 1000 (1 + 0,009489) 18 = 1.000 x  1,185296
nominal, taxa efetiva e taxa equivalente. Até na esfera judi- M = 1.185,29
cial esses assuntos geram muitas dúvidas nos cálculos de  
empréstimos, financiamentos, consórcios  e etc. NOTA: Para comprovar que a taxa de 0,948% a.m é
Vamos tentar esclarecer esses conceitos, que na maio- equivalente a taxa de 12% a.a, basta calcular o montante
ria das vezes nos livros e apostilas disponíveis no mercado, utilizando a taxa anual, neste caso  teremos que transfor-
não são apresentados de uma maneira clara. mar 18 (dezoito) meses em anos para fazer o cálculo, ou
seja : 18: 12 = 1,5 ano. Assim:

81
MATEMÁTICA

M = c (1 + i)n Vamos encontrar uma relação entre as taxas de juros


M = 1000 (1 + 0,12) 1,5 = 1.000 x  1,185297 nominal e real. Para isto, vamos supor que um determinado
M = 1.185,29 capital P é aplicado por um período de tempo unitário, a
  certa taxa nominal in
Conclusões: O montante S1 ao final do período será dado por S1 =
- A taxa nominal é 12% a.a, pois não foi aplicada no P(1 + in).
cálculo do montante. Normalmente a taxa nominal vem Consideremos agora que durante o mesmo período, a
sempre ao ano! taxa de inflação (desvalorização da moeda) foi igual a j. O
- A taxa efetiva mensal, como o próprio nome diz, é capital corrigido por esta taxa acarretaria um montante S2
aquela que foi utilizado para cálculo do montante. Pode = P (1 + j).
ser uma taxa proporcional mensal (1 % a.m.) ou uma taxa A taxa real de juros, indicada por r, será aquela aplicada
equivalente mensal (0,949 % a.m.). ao montante S2, produzirá o montante S1. Poderemos en-
- Qual a taxa efetiva mensal que devemos utilizar? Em tão escrever: S1 = S2 (1 + r)
se tratando de concursos públicos, a grande maioria das Substituindo S1 e S2 , vem:
bancas examinadoras utilizam a convenção da taxa propor- P(1 + in) = (1+r). P (1 + j)
cional. Em se tratando do mercado financeiro, utiliza-se a Daí então, vem que:
convenção de taxa equivalente. (1 + in) = (1+r). (1 + j), onde:
in = taxa de juros nominal
Taxa Equivalente j = taxa de inflação no período
Taxas Equivalentes são taxas que quando aplicadas ao r = taxa real de juros
mesmo capital, num mesmo intervalo de tempo, produzem Observe que se a taxa de inflação for nula no período,
montantes iguais. Essas taxas devem ser observadas com isto é, j = 0, teremos que as taxas nominal e real são coin-
muita atenção, em alguns financiamentos de longo prazo, cidentes.
somos apenas informados da taxa mensal de juros e não Exemplo
tomamos conhecimento da taxa anual ou dentro do pe- Numa operação financeira com taxas pré-fixadas, um
ríodo estabelecido, trimestre, semestre entre outros. Uma banco empresta $120.000,00 para ser pago em um ano
expressão matemática básica e de fácil manuseio que nos com $150.000,00. Sendo a inflação durante o período do
fornece a equivalência de duas taxas é:  empréstimo igual a 10%, pede-se calcular as taxas nominal
1 + ia = (1 + ip)n, onde:  e real deste empréstimo.
ia = taxa anual  Teremos que a taxa nominal será igual a:
ip = taxa período in = (150.000 – 120.000)/120.000 = 30.000/120.000 =
n: número de períodos  0,25 = 25%
Portanto in = 25%
Observe alguns cálculos:  Como a taxa de inflação no período é igual a j = 10% =
0,10, substituindo na fórmula anterior, vem:
Exemplo 1 (1 + in) = (1+r). (1 + j)
Qual a taxa anual de juros equivalente a 2% ao mês? (1 + 0,25) = (1 + r).(1 + 0,10)
Temos que: 2% = 2/100 = 0,02  1,25 = (1 + r).1,10
1 + ia = (1 + 0,02)12  1 + r = 1,25/1,10 = 1,1364
1 + ia = 1,0212 Portanto, r = 1,1364 – 1 = 0,1364 = 13,64%
1 + ia = 1,2682 
ia = 1,2682 – 1  Se a taxa de inflação no período fosse igual a 30%, te-
ia = 0,2682  ríamos para a taxa real de juros:
ia = 26,82%  (1 + 0,25) = (1 + r).(1 + 0,30)
A taxa anual de juros equivalente a 2% ao mês é de 1,25 = (1 + r).1,30
26,82%.  1 + r = 1,25/1,30 = 0,9615
Portanto, r = 0,9615 – 1 = -,0385 = -3,85% e, portanto
As pessoas desatentas poderiam pensar que a taxa teríamos uma taxa real de juros negativa.
anual nesse caso seria calculada da seguinte forma: 2% x
12 = 24% ao ano. Como vimos, esse tipo de cálculo não Exemplo
procede, pois a taxa anual foi calculada de forma correta e $100.000,00 foi emprestado para ser quitado por
corresponde a 26,82% ao ano, essa variação ocorre porque $150.000,00 ao final de um ano. Se a inflação no período
temos que levar em conta o andamento dos juros compos- foi de 20%, qual a taxa real do empréstimo?
tos ( juros sobre juros).  Resposta: 25%

Taxa Real Taxas Proporcionais


A taxa real expurga o efeito da inflação. Um aspecto Para se compreender mais claramente o significado
interessante sobre as taxas reais de juros, é que elas podem destas taxas deve-se reconhecer que toda operação envol-
ser inclusive, negativas. ve dois prazos:

82
MATEMÁTICA

- o prazo a que se refere à taxa de juros; e Nos juros compostos:


- o prazo de capitalização (ocorrência) dos juros. (AS-
SAF NETO, 2001). Amortiza- Saldo deve-
n Juros Prestação
ção dor
Taxas Proporcionais: duas (ou mais) taxas de juro
simples são ditas proporcionais quando seus valores e 0 - - - 100.000,00
seus respectivos períodos de tempo, reduzidos a uma
mesma unidade, forem uma proporção. (PARENTE, 1996). 1 - - 103.000,00
3.000,00
Exemplos
Prestação = amortização + juros 2 - - 106.090,00
Há diferentes formas de amortização, conforme des- 3.090,00
critas a seguir.
3 -
Para os exemplos numéricos descritos nas tabelas, em 3.182,70 100.000,00 109.272,70
todas as diferentes formas de amortização, utilizaremos
o mesmo exercício: uma dívida de valor inicial de R$ 100 Sistema Price (Sistema Francês)
mil, prazo de três meses e juros de 3% ao mês.
Foi elaborado para apresentar pagamentos iguais ao
Pagamento único longo do período do desembolso das prestações. A fórmu-
É a quitação de toda a dívida (amortização + juros) la para encontrarmos a prestação é dada a seguir:
em um único pagamento, ao final do período. Utilizamos
a mesma fórmula do montante: PMT = VP . _i.(1+i)n_
(1+i)n -1
Nos juros simples:
M = C (1 + i×n) PMT = valor da prestação
M = montante VP = valor inicial do empréstimo
C = capital inicial i = taxa de juros
i = taxa de juros n = período
n = período
A fórmula foi desenvolvida, considerando-se apenas a
Nos juros compostos: capitalização por juros compostos. O resultado é listado a
M = C (1+i)n seguir:
M = montante
C = capital inicial
Amortiza- Saldo
i = taxa de juros n Juros Prestação
ção devedor
n = período
0 - - -
Nos juros simples: 100.000,00

1
Amortiza- Saldo de- 3.000,00 32.353,04 35.353,04 67.646,96
n Juros Prestação
ção vedor
2
2.029,41 33.323,63 35.353,04 34.323,33
0 - - -
100.000,00
3 -
1.029,71 34.323,33 35.353,04
1 - -
3.000,00 103.000,00

2 - - Sistema de Amortização Misto (SAM)


3.000,00 106.000,00

3 - É a média aritmética das prestações calculadas nas


3.000,00 100.000,00 109.000,00 duas formas anteriores (SAC e Price). É encontrado pela
fórmula:

PMTSAM = (PTMSAC + PMTPRICE) / 2

83
MATEMÁTICA

Amortiza- Saldo deve-


n Juros Prestação
ção dor
0 - - - 100.000,00

1 67.156,81
3.000,00 32.843,19 35.843,19

2 33.828,32
2.014,70 33.328,49 35.343,19

3 -
1.014,87 33.828,32 34.843,19

Sistema de Amortização Crescente (SACRE)


Este sistema, criado pela Caixa Econômica Federal (CEF), é uma das formas utilizadas para o cálculo das prestações
dos financiamentos imobiliários. Usa-se, para o cálculo do valor das prestações, a metodologia do sistema de amortização
constante (SAC) anual, desconsiderando-se o valor da Taxa Referencial de Juros (TR). Esta é incluída posteriormente, resul-
tando em uma amortização variável. Chamar de “amortização crescente” parece-nos inadequado, pois pode resultar em
amortizações decrescentes, dependendo da ocorrência de TR com valor muito baixo.

Sistema Alemão
Neste caso, a dívida é liquidada também em prestações iguais, exceto a primeira, onde no ato do empréstimo (momen-
to “zero”) já é feita uma cobrança dos juros da operação. As prestações, a primeira amortização e as seguintes são definidas
pelas três seguintes fórmulas:

PMT = _ Vp.i _
1- (1+i)n
PMT = valor da prestação
VP = valor inicial do empréstimo
i = taxa de juros
n = período

A1 = PMT . (1- i)n-1


A1 = primeira amortização
PMT = valor da prestação
i = taxa de juros
n = período

An = An-1 _
(1- i)
An = amortizações posteriores (2º, 3º, 4º, ...)
An-1 = amortização anterior
i = taxa de juros
n = período

84
MATEMÁTICA

n Juros Amor- Pres- Saldo


tização tação devedor
0 -
3.000,00 3.000,00 100.000,00
1
2.030,30 32.323,34 34.353,64 67.676,66
2
1.030,61 33.323,03 34.353,64 34.353,63
3 -
34.353,64 34.353,64 (0,01)

OBS: os resíduos em centavos, como saldo devedor final na tabela anterior, são resultados de arredondamento do
cálculo e serão desconsiderados.

Sistema de Amortização Constante – SAC


Consiste em um sistema de amortização de uma dívida em prestações periódicas, sucessivas e decrescentes em pro-
gressão aritmética, em que o valor da prestação é composto por uma parcela de juros uniformemente decrescente e outra
de amortização que permanece constante.
Sistema de Amortização Constante (SAC) é uma forma de amortização de um empréstimo por prestações que incluem
os juros, amortizando assim partes iguais do valor total do empréstimo.
Neste sistema o saldo devedor é reembolsado em valores de amortização iguais. Desta forma, no sistema SAC o valor
das prestações é decrescente, já que os juros diminuem a cada prestação. O valor da amortização é calculado dividindo-se
o valor do principal pelo número de períodos de pagamento, ou seja, de parcelas.
O SAC é um dos tipos de sistema de amortização utilizados em financiamentos imobiliários. A principal característica
do SAC é que ele amortiza um percentual fixo do saldo devedor desde o início do financiamento. Esse percentual de amor-
tização é sempre o mesmo, o que faz com que a parcela de amortização da dívida seja maior no início do financiamento,
fazendo com que o saldo devedor caia mais rapidamente do que em outros mecanismos de amortização.

Exemplo:
Um empréstimo de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) a ser pago em 12 meses, a uma taxa de juros de 1% ao mês
(em juros simples). Aplicando a fórmula para obtenção do valor da amortização, iremos obter um valor igual a R$ 10.000,00
(dez mil reais). Essa fórmula é o valor do empréstimo solicitado divido pelo período, sendo nesse caso: R$ 120.000,00 / 12
meses = R$ 10.000,00. Logo, a tabela SAC fica:

Saldo
Nº Pres- Presta- Amortiza-
Juros Deve-
tação ção ção
dor
0 120000
1 11200 1200 10000 110000
2 11100 1100 10000 100000
3 11000 1000 10000 90000
4 10900 900 10000 80000
5 10800 800 10000 70000
6 10700 700 10000 60000
7 10600 600 10000 50000
8 10500 500 10000 40000
9 10400 400 10000 30000
10 10300 300 10000 20000
11 10200 200 10000 10000
12 10100 100 10000 0

85
MATEMÁTICA

Note que o juro é sempre 10% do saldo devedor do mês anterior, já a prestação é a soma da amortização e o juro.
Sendo assim, o juro é decrescente e diminui sempre na mesma quantidade, R$ 100,00. O mesmo comportamento tem as
prestações. A soma das prestações é de R$ 127.800,00, gerando juros de R$ 7.800,00.
Outra coisa a se observar é que as parcelas e juros diminuem em progressão aritmética (PA) de r=100.

Sistema Americano
O tomador do empréstimo paga os juros mensalmente e o principal, em um único pagamento final.

Considera-se apenas o regime de juros compostos:

n Juros Amortização Prestação Saldo devedor


0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 - 3.000,00 100.000,00
2 3.000,00 - 3.000,00 100.000,00
3 3.000,00 100.000,00 103.000,00 -

Sistema de Amortização Constante (SAC) ou Sistema Hamburguês


O tomador do empréstimo amortiza o saldo devedor em valores iguais e constantes ao longo do período.

Considera-se apenas o regime de juros compostos:

n Juros Amortização Prestação Saldo devedor


0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 33.333,33 36.333,33 66.666,67
2 2.000,00 33.333,33 35.333,33 33.333,34
3 1.000,00 33.333,34 34.333,34 -

Qual a melhor forma de amortização?


A tabela abaixo lista o fluxo de caixa nos diversos sistemas de amortização discutidos nos itens anteriores.

Pgto único (jrs Sistema Ameri-


N SAC PRICE SAM Alemão
comp.) cano
0 100.000,00 100.000,00 100.000,00 100.000,00 100.000,00 97.000,00
1 - (3.000,00) (36.333,33) (35.353,04) (35.843,19) (34.353,64)
2 - (3.000,00) (35.333,33) (35.353,04) (35.343,19) (34.353,64)
3 (109.272,70) (103.000,00) (34.333,34) (35.353,04) (34.843,19) (34.353,64)

As várias formas de amortização utilizadas pelo mercado brasileiro, em sua maioria, consideram o regime de capitali-
zação por juros compostos. A comparação entre estas, por meio do VPL (vide item 6.2), demonstra que o custo entre elas
se equivale. Vejam: no nosso exemplo, todos, exceto no sistema alemão, os juros efetivos cobrados foram de 3% ao mês
(regime de juros compostos) ou 9,27% no acumulado dos três meses.

86
MATEMÁTICA

Pgto único (jrs Sistema Ameri-


n SAC PRICE SAM Alemão
comp.) cano

0 100.000,00 100.000,00 100.000,00 100.000,00 97.000,00


100.000,00

1 - (2.912,62) (34.323,34) (34.799,21) (33.353,04)


(35.275,08)

2 - (2.827,79) (33.323,63) (33.314,35) (32.381,60)


(33.305,05)

3 (100.000,00) (94.259,59) (32.353,04) (31.886,45) (31.438,44)


(31.419,87)
VPL - - - - - (173,09)

OBS: tabela com as prestações dos sistemas anteriores, descontada da taxa ( juros compostos) de 3% ao mês.
Considerando o custo de oportunidade de 2% ao mês, isto é, abaixo do valor do empréstimo, teríamos a tabela abaixo.
Isso seria uma situação mais comum: juros do empréstimo mais caro que uma aplicação no mercado. Neste caso, quanto
menor (em módulo) o VPL, melhor para o tomador do empréstimo, ou seja, o sistema SAC seria o melhor sob o ponto de
vista financeiro.

Pgto único (jrs Sistema Ameri-


n SAC PRICE SAM Alemão
comp.) cano
0 100.000,00 100.000,00 100.000,00 100.000,00 100.000,00 97.000,00
1 - (2.941,18) (35.620,91) (34.659,84) (35.140,38) (33.680,04)
2 - (2.883,51) (33.961,29) (33.980,24) (33.970,77) (33.019,64)
3 (102.970,11) (97.059,20) (32.353,07) (33.313,96) (32.833,52) (32.372,20)
VPL (2.970,11) (2.883,88) (1.935,28) (1.954,04) (1.944,67) (2.071,88)

OBS: tabela com as prestações dos sistemas anteriores, descontada da taxa ( juros compostos) de 2% ao mês.
Outra situação seria considerarmos um empréstimo com taxa de juros abaixo do mercado. Neste exemplo a seguir,
teremos como custo de oportunidade a taxa de 4% ao mês. Isso, na vida real, não será comum: juros do empréstimo mais
barato do que uma aplicação no mercado. Assim, como no exemplo anterior, quanto maior o VPL, melhor para o tomador
do empréstimo, ou seja, o sistema de pagamento único, sob o ponto de vista financeiro, é o melhor, como no caso abaixo.

Pgto único (jrs Sistema Ameri-


n SAC PRICE SAM Alemão
comp.) cano
0 100.000,00 100.000,00 100.000,00 100.000,00 100.000,00 97.000,00
1 - (2.884,62) (34.935,89) (33.993,31) (34.464,61) (33.032,34)
2 - (2.773,67) (32.667,65) (32.685,87) (32.676,77) (31.761,87)
3 (97.143,03) (91.566,62) (30.522,21) (31.428,72) (30.975,47) (30.540,26)
VPL 2.856,97 2.775,09 1.874,24 1.892,10 1.883,16 1.665,53

OBS: tabela com as prestações dos sistemas anteriores, descontada da taxa ( juros compostos) de 4% ao mês.

Referências
Passei Direto. Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/1599335/exercicios_matematica_finaceiraexercicios_
matematica_finaceiraNos juros compostos:

M = C (1+i)n
M = montante
C = capital inicial
i = taxa de juros
n = período

87
MATEMÁTICA

Nos juros simples:

Saldo deve-
n Juros Amortização Prestação
dor
0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 - - 103.000,00
2 3.000,00 - - 106.000,00
3 3.000,00 100.000,00 109.000,00 -

Nos juros compostos:

n Juros Amortização Prestação Saldo devedor


0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 - - 103.000,00
2 3.090,00 - - 106.090,00
3 3.182,70 100.000,00 109.272,70 -

Sistema Price (Sistema Francês)

Foi elaborado para apresentar pagamentos iguais ao longo do período do desembolso das prestações. A fórmula para
encontrarmos a prestação é dada a seguir:

PMT = VP . _i.(1+i)n_
(1+i)n -1

PMT = valor da prestação


VP = valor inicial do empréstimo
i = taxa de juros
n = período

A fórmula foi desenvolvida, considerando-se apenas a capitalização por juros compostos. O resultado é listado a seguir:

n Juros Amortização Prestação Saldo devedor


0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 32.353,04 35.353,04 67.646,96
2 2.029,41 33.323,63 35.353,04 34.323,33
3 1.029,71 34.323,33 35.353,04 -

Sistema de Amortização Misto (SAM)

É a média aritmética das prestações calculadas nas duas formas anteriores (SAC e Price). É encontrado pela fórmula:

PMTSAM = (PTMSAC + PMTPRICE) / 2

n Juros Amortização Prestação Saldo devedor


0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 32.843,19 35.843,19 67.156,81
2 2.014,70 33.328,49 35.343,19 33.828,32
3 1.014,87 33.828,32 34.843,19 -

88
MATEMÁTICA

Sistema de Amortização Crescente (SACRE)


Este sistema, criado pela Caixa Econômica Federal (CEF), é uma das formas utilizadas para o cálculo das prestações
dos financiamentos imobiliários. Usa-se, para o cálculo do valor das prestações, a metodologia do sistema de amortização
constante (SAC) anual, desconsiderando-se o valor da Taxa Referencial de Juros (TR). Esta é incluída posteriormente, resul-
tando em uma amortização variável. Chamar de “amortização crescente” parece-nos inadequado, pois pode resultar em
amortizações decrescentes, dependendo da ocorrência de TR com valor muito baixo.

Sistema Alemão
Neste caso, a dívida é liquidada também em prestações iguais, exceto a primeira, onde no ato do empréstimo (momen-
to “zero”) já é feita uma cobrança dos juros da operação. As prestações, a primeira amortização e as seguintes são definidas
pelas três seguintes fórmulas:

PMT = _ Vp.i _
1- (1+i)n
PMT = valor da prestação
VP = valor inicial do empréstimo
i = taxa de juros
n = período

A1 = PMT . (1- i)n-1


A1 = primeira amortização
PMT = valor da prestação
i = taxa de juros
n = período

An = An-1 _
(1- i)
An = amortizações posteriores (2º, 3º, 4º, ...)
An-1 = amortização anterior
i = taxa de juros
n = período

n Juros Amortiza- Prestação Saldo devedor


ção
0 3.000,00 - 3.000,00 100.000,00
1 2.030,30 32.323,34 34.353,64 67.676,66
2 1.030,61 33.323,03 34.353,64 34.353,63
3 - 34.353,64 34.353,64 (0,01)

OBS: os resíduos em centavos, como saldo devedor final na tabela anterior, são resultados de arredondamento do
cálculo e serão desconsiderados.

Sistema de Amortização Constante – SAC


Consiste em um sistema de amortização de uma dívida em prestações periódicas, sucessivas e decrescentes em pro-
gressão aritmética, em que o valor da prestação é composto por uma parcela de juros uniformemente decrescente e outra
de amortização que permanece constante.
Sistema de Amortização Constante (SAC) é uma forma de amortização de um empréstimo por prestações que incluem
os juros, amortizando assim partes iguais do valor total do empréstimo.
Neste sistema o saldo devedor é reembolsado em valores de amortização iguais. Desta forma, no sistema SAC o valor
das prestações é decrescente, já que os juros diminuem a cada prestação. O valor da amortização é calculado dividindo-se
o valor do principal pelo número de períodos de pagamento, ou seja, de parcelas.
O SAC é um dos tipos de sistema de amortização utilizados em financiamentos imobiliários. A principal característica
do SAC é que ele amortiza um percentual fixo do saldo devedor desde o início do financiamento. Esse percentual de amor-
tização é sempre o mesmo, o que faz com que a parcela de amortização da dívida seja maior no início do financiamento,
fazendo com que o saldo devedor caia mais rapidamente do que em outros mecanismos de amortização.

89
MATEMÁTICA

Exemplo:
Um empréstimo de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) a ser pago em 12 meses, a uma taxa de juros de 1% ao mês
(em juros simples). Aplicando a fórmula para obtenção do valor da amortização, iremos obter um valor igual a R$ 10.000,00
(dez mil reais). Essa fórmula é o valor do empréstimo solicitado divido pelo período, sendo nesse caso: R$ 120.000,00 / 12
meses = R$ 10.000,00. Logo, a tabela SAC fica:

Saldo
Nº Prestação Prestação Juros Amortização
Devedor
0 120000
1 11200 1200 10000 110000
2 11100 1100 10000 100000
3 11000 1000 10000 90000
4 10900 900 10000 80000
5 10800 800 10000 70000
6 10700 700 10000 60000
7 10600 600 10000 50000
8 10500 500 10000 40000
9 10400 400 10000 30000
10 10300 300 10000 20000
11 10200 200 10000 10000
12 10100 100 10000 0

Note que o juro é sempre 10% do saldo devedor do mês anterior, já a prestação é a soma da amortização e o juro.
Sendo assim, o juro é decrescente e diminui sempre na mesma quantidade, R$ 100,00. O mesmo comportamento tem as
prestações. A soma das prestações é de R$ 127.800,00, gerando juros de R$ 7.800,00.
Outra coisa a se observar é que as parcelas e juros diminuem em progressão aritmética (PA) de r=100.

Sistema Americano
O tomador do empréstimo paga os juros mensalmente e o principal, em um único pagamento final.

Considera-se apenas o regime de juros compostos:

n Juros Amortização Prestação Saldo devedor


0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 - 3.000,00 100.000,00
2 3.000,00 - 3.000,00 100.000,00
3 3.000,00 100.000,00 103.000,00 -

Sistema de Amortização Constante (SAC) ou Sistema Hamburguês


O tomador do empréstimo amortiza o saldo devedor em valores iguais e constantes ao longo do período.

90
MATEMÁTICA

QUESTÕES 04. (TST – Analista Judiciário – FCC/2017) Um in-


vestidor aplicou R$ 10.000,00 em títulos que remuneram à
01. (TRE/PR – Analista Judiciário – FCC/2017) Para taxa de juros compostos de 10% ao ano e o prazo para res-
comprar um automóvel, Pedro realizou uma pesquisa em gate da aplicação foi de 2 anos. Sabendo-se que a inflação
3 concessionárias e obteve as seguintes propostas de fi- no prazo total da aplicação foi 15%, a taxa real de remune-
nanciamento: ração obtida pelo investidor no prazo total da aplicação foi
(A) 5,00%.
Concessionária 1: Entrada de R$ 12.000,00 + 1 presta- (B) 6,00%.
ção de R$ 29.120,00 para 30 dias após a entrada. (C) 5,22%.
Concessionária 2: Entrada de R$ 13.000,00 + 1 presta- (D) 5,00% (negativo).
ção de R$ 29.120,00 para 60 dias após a entrada. (E) 4,55%.
Concessionária 3: Entrada de R$ 13.000,00 + 2 presta-
ções R$ 14.560,00 para 30 e 60 dias após a entrada, respec- 05. (TST - Analista Judiciário - FCC/2017) Uma em-
tivamente. presa obteve um empréstimo no valor de R$ 100.000,00
para ser liquidado em uma única parcela no final do prazo
Sabendo que a taxa de juros compostos era 4% ao de 2 meses. A taxa de juros compostos negociada foi 3% ao
mês, para a aquisição do automóvel mês e a empresa deve pagar, adicionalmente, na data da
(A) a melhor proposta é a 1, apenas. obtenção do empréstimo, uma taxa de cadastro no valor
(B) a melhor proposta é a 2, apenas. de R$ 1.000,00. Na data do vencimento do empréstimo a
(C) a melhor proposta é a 3, apenas. empresa deve pagar, junto com o valor que pagará à ins-
(D) as melhores propostas são 2 e 3, por serem equi- tituição financeira, um imposto no valor de R$ 530,00. O
valentes. custo efetivo total para a empresa no prazo do emprésti-
(E) as melhores propostas são 1 e 2, por serem equi- mo, foi
valentes. (A) 7,70%.
(B) 6,09%.
02. (TST – Analista Judiciário – FCC/2017) Um emprés- (C) 7,62%.
timo foi obtido para ser liquidado em 10 parcelas mensais de (D) 6,00%.
R$ 2.000,00, vencendo-se a primeira parcela um mês após (E) 7,16%.
a data da obtenção. A taxa de juros negociada com a insti-
tuição financeira foi 2% ao mês no regime de capitalização 06. (TRE/PR - Analista Judiciário - FCC/2017) A Cia.
composta. Se, após o pagamento da oitava parcela, o deve- Ted está avaliando a alternativa de compra de um novo
dor decidir liquidar o saldo devedor do empréstimo nesta equipamento por R$ 480.000,00 à vista. Estima-se que a
mesma data, o valor que deverá ser pago, desprezando-se vida útil do equipamento seja de 3 anos, que o valor residual
os centavos, é, em reais, de revenda no final do terceiro ano seja R$ 70.000,00 e que
(A) 3.846,00. os fluxos líquidos de caixa gerados por este equipamento
(B) 3.883,00. ao final de cada ano sejam R$ 120.000,00, R$180.000,00 e
(C) 3.840,00. R$ 200.000,00, respectivamente. Sabendo que a taxa míni-
(D) 3.880,00. ma de atratividade é de 10% a.a., a alternativa
(E) 3.845,00. (A) apresenta valor presente líquido positivo.
(B) apresenta valor presente líquido negativo.
03. (POLICIA CIENTIFICA/PR – Perito Criminal – (C) apresenta taxa interna de retorno maior que 10%
IBFC/2017) Assinale a alternativa correta. Uma pessoa a.a.
comprou um vídeo game de última geração em uma loja, (D) é economicamente viável à taxa mínima de atrati-
parcelando em 12 prestações mensais de 140,00 cada uma, vidade de 10% a.a..
sem entrada. Sabendo-se que a taxa de juros compostos (E) é economicamente viável à taxa mínima de atrativi-
cobrada pela loja foi de 3% ao mês, sendo que os valores dade de 12% a.a..
estão arredondados e que: (1,03)12 = 1,4258
(1,03)12 x 0,03 = 0,0428 07. (FUNAPE – Analista em Gestão Previdenciária –
0,4258/0,0428 = 9,95 FCC/2017) Um empréstimo foi contratado com uma taxa
O valor do vídeo game era de: nominal de juros de 6% ao trimestre e com capitalização
(A) R$ 1.393 mensal. A taxa efetiva desse empréstimo é igual a
(B) R$ 1.820 (A) 6,2302%.
(C) R$ 1.680 (B) 6,3014%.
(D) R$ 1.178 (C) 6,1385%.
(E) R$ 1.423 (D) 6,2463%.
(E) 6,1208%.

91
MATEMÁTICA

08. (TRE/BA – Técnico Judiciário – CESPE/2017) Um Concessionária 3


banco emprestou a uma empresa R$ 100.000, entregues no
ato, sem prazo de carência, para serem pagos em quatro
prestações anuais consecutivas pelo sistema de amortiza-
ção constante (SAC). A taxa de juros compostos contratada 02. Resposta: B.
para o empréstimo foi de 10% ao ano, e a primeira presta-
ção será paga um ano após a tomada do empréstimo.
Nessa situação, o valor da segunda prestação a ser
paga pela empresa será
(A) superior a R$ 33.000.
(B) inferior a R$ 30.000. 03. Resposta: A.
(C) superior a R$ 30.000 e inferior a R$ 31.000. Sendo PMT o valor da parcela e PV o valor presente,
(D) superior a R$ 31.000 e inferior a R$ 32.000. usaremos o sistema de amortização PRICE, por ser parcelas
(E) superior a R$ 32.000 e inferior a R$ 33.000. fixas:

09. (EMBASA – Contador – IBFC/2017) Um clien-


te fez um empréstimo no valor de R$ 2.000,00 no Banco
ABC em 31/12/2013 para reaplicar em um investimento
em sua empresa. A taxa de juros cobrada pelo Banco era
de 10% ao ano. Após um ano, em 31/12/2014, o fluxo de
caixa da empresa foi de R$ 1.100,00. Após dois anos, em
31/12/2015, o fluxo de caixa da empresa foi de R$ 1.210,00
e em 31/12/2016, após três anos, o fluxo de caixa da em-
presa foi de R$ 1.331,00.
O valor presente líquido dos valores do fluxo de caixa,
trazidos a valor presente em 31/12/2013, era de: 04. Resposta: C.
(A) R$ 1.100,00 Sendo i a taxa de juros nominal
(B) R$ 1.000,00 R a taxa de juros real
(C) R$ 2.210,00 J a taxa de juros de inflação
(D) R$ 2.331,00 1+i=(1+r)(1+j)
(1+0,1)²=(1+r)⋅(1+0,15)
10.(DPE/PR – Contador – INAZ DO PARÁ/2017) Um 1,1²=(1+r) ⋅1,15
comerciante recebeu, no meio do mês, uma excelente ofer- 1,21=1,15+1,15r
ta de compra de material para sua empresa no valor de 0,06=1,15r
R$8.000,00. No entanto, por estar desprovido de recursos, R=0,05217≅0,0522=5,22%
precisou tomar um empréstimo junto ao seu banco, em
parcelas de 15 vezes a uma taxa de juros 2,5% a.m. Deter- 05. Resposta: A.
mine o valor da última prestação do empréstimo, lembran- M=C(1+i)t
do que o Sistema de financiamento usado é o SAC. M=100000(1+0,03)²=106090
(A) R$ 533,33 Como teve uma taxa de 1000, a empresa recebeu en-
(B) R$ 733,33 tão 99000
(C) R$ 653,33 A empresa teve eu pagar 106090+530=106620
(D) R$ 560,00 106620=99000(1+i)
(E) R$ 546,67 106620=99000+99000i
7620=99000i
Respostas I=0,0769=7,69%

01. Resposta: B. 06. Resposta: B.


VPL = valor presente das entradas – valor presente das
Concessionária 1 saídas

Concessionária 2

92
MATEMÁTICA

07. Resposta: E. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


Temos que transformar os 6% ao trimestre em capita-
lização mensal 1. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁ-
6/3=2%a.m RIA DE CLASSE I – VUNESP/2013) Em uma seção de uma
1,02³=1,061208=6,1208% empresa com 20 funcionários, a distribuição dos salários
mensais, segundo os cargos que ocupam, é a seguinte:
08. Resposta: E.
SD=100000
A=100000/4=25000
J=(100000-25000)⋅0,1
J=7500
P=A+J
P=25000+7500=32500

09. Resposta: B. Sabendo-se que o salário médio desses funcionários é


de R$ 1.490,00, pode-se concluir que o salário de cada um
dos dois gerentes é de
A) R$ 2.900,00.
10. Resposta: E. B) R$ 4.200,00.
8000/15 = 533,33 C) R$ 2.100,00.
Portanto, a última parcela será de 533,33⋅1,025=546,66 D) R$ 1.900,00.
E) R$ 3.400,00.

2! + 8 ∙ 1700 + 10 ∙ 1200
!é!"# =
20
2! + 8 ∙ 1700 + 10 ∙ 1200
1490 =
20

2! + 13600 + 12000 = 29800


2! = 4200
! = 2100
!
Cada um dos gerentes recebem R$ 2100,00

RESPOSTA: “C”.

2. (CREFITO/SP – ALMOXARIFE – VUNESP/2012) Em


época de Natal, uma pesquisadora colheu dados de opi-
nião dos clientes sobre shopping centers, seguindo os cri-
térios da tabela seguinte:

93
MATEMÁTICA

Um shopping recebeu nota 8 para “estacionamento” e 4. (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA/PB – ASSESSOR TÉCNI-


“preços” e nota 7 para os demais critérios. Logo, a média CO LEGISLATIVO – FCC/2013) A média aritmética simples
final atingida por esse shopping foi entre dois números é igual à metade da soma desses nú-
A) 7,5. meros. Utilizando essa definição, a média aritmética sim-
B) 7,6. ples entre é igual a
C) 7,7. A) ½
D) 7,8. B) 2/9
E) 7,9. C) 8/9 !
D) ! !
!
8∙3+8∙2+7∙3+7∙2 E) !
= 7,5 ( )²!
!
10
!
RESPOSTA: “A”. Pela definição:

3. (SEED/SP – ANALISTA ADMINISTRATIVO – VU-


1 5 3+5 8
+9 8 4 2
NESP/2013) Em certo departamento, trabalham homens e 3 = 9 =9= = = ( )²
mulheres, sendo que nesse grupo há 10 homens a mais 2 2 2 18 9 3
que o número de mulheres. A média salarial desse depar- !
tamento é de R$ 3.800,00. Entretanto, calculando separa-
damente, verifica-se que a média salarial dos homens é de RESPOSTA: “D”.
R$ 4.000,00, enquanto a média salarial das mulheres é de
R$ 3.500,00. O número de homens que trabalham nesse 5. (PC/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VU-
departamento é igual a NESP/2014) Em uma empresa com 5 funcionários, a soma
A) 20. dos dois menores salários é R$4.000,00, e a soma dos três
B) 40. maiores salários é R$12.000,00. Excluindo-se o menor e
C) 30. o maior desses cinco salários, a média dos 3 restantes é
D) 25. R$3.000,00, podendo-se concluir que a média aritmética
E) 15. entre o menor e o maior desses salários é igual a
A) R$3.500,00.
Salário homens: SH B) R$3.400,00.
Salário mulher:SM C) R$3.050,00.
Homens: x+10 D) R$2.800,00.
Mulheres: x E) R$2.500,00.

!" X1+x2+x3+x4+x5
= 4000!!!!" = 4000! + 40000 X1+x2=4000
!!!"
X3+x4+x5=12000
!"
! ! = 3500!!!!!" = 3500! x2+x3+x4=9000

!!!!!! + !! + !! + !! + !! = 4000 + 12000 = 16000!


!"!!"
= 3800 Sendo x1 e x5 o menor e o maior salário respectiva-
!!!!!"
mente:
!"!!" !! + 9000 + !! = 16000
= 3800
!!!!" !!! + !! = 16000 − 9000 = 7000
!
7600! + 38000 = !" + !" Então, a média aritmética:
!
! ! !! ! !"""
Substituindo SH e SM: = = 3500
! !
7600x+38000=4000x+40000+3500x !
100x=2000
X=20 RESPOSTA: “A”.
Homens:x+10=20+10=30

RESPOSTA: “C”.

94
GESTÃO PEDAGÓGICA

1. AUTONOMIA: UMA BUSCA DE CONSTRUÇÃO COLETIVA DA ESCOLA PÚBLICA....................................................................... 01


2. Avaliação e acompanhamento do rendimento escolar........................................................................................................................ 02
3. Currículo.................................................................................................................................................................................................................. 15
4. Educação Inclusiva............................................................................................................................................................................................... 17
5. Ensino e aprendizagem..................................................................................................................................................................................... 24
6. Planejamento......................................................................................................................................................................................................... 26
7. Políticas, estrutura e organização a escola................................................................................................................................................ 30
8. Projeto Político-Pedagógico............................................................................................................................................................................ 39
9. Regimento Escolar............................................................................................................................................................................................... 46
10. Tendências educacionais na sala de aula................................................................................................................................................. 49

BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, Naura Syria Carapeto e AGUIAR, Márcia Angela da S. (Org.). Gestão da educação: impasses, perspectivas e
compromissos. São Paulo: Cortez, 2004.......................................................................................................................................................... 58
GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E. Autonomia da escola: princípios e propostas. São Paulo: Cortez, 2001.................... 58
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001...................................... 59
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2004..................................... 66
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de. e TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar; políticas, estrutura e
organização. São Paulo: Cortez, 2010............................................................................................................................................................... 70
MACEDO, Lino de. Ensaios pedagógicos: como construir uma escola para todos? Porto Alegre: Artmed, 2005.............. 73
MACHADO, Rosangela. Educação especial na escola inclusiva: políticas, paradigmas e práticas. São Paulo: Cortez,
2009............................................................................................................................................................................................................................... 75
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer. São Paulo: Moderna, 2006.................. 79
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986......................................... 95
MOREIRA, Antônio Flávio e outros. Indagações sobre o currículo: diversidade e currículo. Brasília: SEB, 2007. ............100
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre:
Artmed, 1999............................................................................................................................................................................................................111
SANMARTÍ, Neus. Avaliar para aprender. Porto Alegre: Artmed, 2009.............................................................................................120
VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento – projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. São
Paulo: Libertad, 2002.............................................................................................................................................................................................122
VEIGA, Ilma P. e RESENDE, Lúcia M.G. de (Org.). Escola: espaço do projeto político – pedagógico. Campinas: Papirus,
2008.............................................................................................................................................................................................................................123
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2009...................................................................126
WOLF, Mariângela Tantin e CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Regimento escolar de escolas públicas: para além do
registro de normas.................................................................................................................................................................................................132
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Editora Artmed, 2002.......................................................138
GESTÃO PEDAGÓGICA

e o sistema social e somente sua construção poderá levar


1. AUTONOMIA: UMA BUSCA DE a uma articulação entre os âmbitos endógeno e exógeno,
CONSTRUÇÃO COLETIVA DA ESCOLA macro e micro, responsabilização pelo todo (LUCK, 2000).
PÚBLICA Para que se entenda o que vem a ser autonomia é re-
levante que se busque analisar seus conceitos. A principal
concepção de autonomia é aquela já compreendida pelo
senso comum que a vê como uma possibilidade de alguém
Pensar e buscar a autonomia da escola pública é uma ta- ou algo ter plena liberdade para construção dos atos e pro-
refa que se apresenta de forma complexa, pois, é complexo jetos.
alcançar a liberdade total ou independência, principalmente, Esta concepção vê a autonomia como independência,
quando se tem que considerar os diferentes agentes sociais isolamento, onde o sujeito assume o completo poder / con-
e as muitas interfaces e interdependências que fazem parte trole em completa oposição ao poder / controle exercido
da organização educacional. Por isso, a busca pela autono- por outros. Ser autônomo implica desta forma, um corte
mia deve ser muito bem trabalhada, haja vista que só ela é radical e uma ausência total de qualquer dependência dos
capaz de equacionar a problemas e questões que envolvem outros. Contudo, esta percepção corresponde muito pouco
a escola. ao verdadeiro significado da autonomia que prever liberda-
Sabe-se que a descentralização do sistema educacional de, mas também exige responsabilidade coletiva do grupo
brasileiro e a autonomia da escola pública são processos onde ela é exercida.
complementares e interdependentes. Assim, tanto a des- Barroso (1996) observa que o conceito de autonomia
centralização como a autonomia são limitadas por essas re- está ligado à ideia de “autogoverno”, onde os sujeitos se
lações, visto que a escola é parte de um sistema e com ele se regulam por regras próprias. Contudo, isto não é sinônimo
relaciona institucionalmente, observando e participando das de indivíduos independentes:
definições macropolíticas, prestando conta das atividades e A autonomia é um conceito relacional (somos sempre
resultados e cumprindo as normas gerais do sistema educa- autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua
cional e que garantem sua unidade. ação se exerce sempre num contexto de interdependên-
É preciso assumir que para mudar a educação tem-se cia e num sistema de relações. A autonomia é também um
que mudar a escola, principalmente em sua gestão descen- conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos
tralizando suas atividades administrativas e pedagógicas. mais, ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em
Para isto, ela tem que estar mais perto de seus usuários. Não relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. A
há dúvida que a escola tem sido uma das instituições mais autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as di-
sacrificada da nossa sociedade, pois, em geral, as decisões versas dependências em que os indivíduos e os grupos se
mais importantes para seu funcionamento são decididas encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com
fora dela, sem a participação direta dos seus atores, tal como as suas próprias leis. ”
a nomeação de seus professores e diretores, o currículo, as Macedo (1991) declara que “a autonomia pressupõe
avaliações, o destino de seus recursos, entre outros. A pró- auto-organização. “Ao auto organizarem-se, isto é, ao es-
pria formação e capacitação de seus docentes tem respon- truturar-se na realização de objetivos que define o sistema
dido mais a planejamentos feitos de forma centralizada sem diferencia-se de outros sistemas com quem está em inter-
muita consideração às suas necessidades. Além de tudo isso, -relação, criando a sua própria identidade. É um sistema au-
não recebem recursos para realizar o que estimam necessá- tônomo. ”. Assim, a autonomia pressupõe que se seja capaz
rio. de identificar, e assim, se diferenciar dos outros. Mas, esta
Igualmente, é válido enfatizar que para ser eficaz, uma capacidade de diferenciação só é possível na inter-relação
escola tem que possuir autonomia para decidir sobre temas com os outros. “Quanto mais são as trocas de energia, infor-
importantes, tais como a aplicação dos seus recursos, seu mação e matéria que um sistema estabelece com o „meio‟,
currículo e seu calendário escolar, o processo de formação maior é a sua riqueza, a sua complexidade, as possibilidades
continuada dos seus profissionais, além de suas estratégias de construção da autonomia.”.
para avaliar a aprendizagem dos alunos. Desse modo, além Para Macedo (1991), “a essência da autonomia da es-
dos temas de interesse comum a todos os alunos, a escola cola passa pela capacidade de efetuar trocas com os outros
deve ter competência para incluir em seu currículo temas sistemas que envolvem a escola”. Dentro dessa ótica, a au-
de interesse da comunidade na qual está inserida. Entende- tonomia da escola não é algo adquirido, mas sim algo que
-se, dessa forma, que as escolas devem ser pensadas como se vai construindo na interrelação, pois só assim a escola vai
um espaço de gestão compartilhada entre docentes, pais e criando a sua própria identidade.
autoridades locais, numa administração colegiada com total É pertinente refletir sobre algumas formas de concreti-
caráter de descentralização. Esta prática, entretanto, deve zação da autonomia da escola, permitindo perceber quais
favorecer para a criação e manutenção de um ambiente es- os princípios teóricos, ideológicos, ou políticos que estão
colar onde o clima organizacional seja favorável à aprendi- na base de uma determinada visão da autonomia escolar.
zagem e os professores e demais educadores desenvolvam Além disso, esta reflexão contribui também para uma me-
seu trabalho em equipe. lhor compreensão dos diversos caminhos possíveis na cons-
A autonomia é assim entendida como um princípio re-
gulador das relações entre a escola, o sistema educacional

1
GESTÃO PEDAGÓGICA

trução da autonomia da escola, não sendo, contudo, uma Projeto Político-Pedagógico: e a construção coletiva
descrição exaustiva. da autonomia da Escola
Como se vê, a autonomia se presta para permitir que
pessoas competentes na escola pública tomem decisões É do consenso de todos que o Projeto Político Pedagó-
que favoreçam a aprendizagem; dar voz à comunidade es- gico ultrapassa a mera elaboração de planos, que só se pres-
colar nas decisões cruciais; acentuar a prestação de contas tam a cumprir exigências burocráticas. Isso é confirmado por
das decisões; conduzir a uma maior criatividade na formula- Veiga quando afirma que:
ção dos programas; redirecionar recursos a fim de suportar O projeto político-pedagógico busca um rumo, uma
os objetivos desenvolvidos em cada escola; permitir a reali- direção. É uma ação intencional, com um sentido explíci-
zação de orçamentos realistas devido a pais e professores to, com um compromisso definido coletivamente. Por isso,
estarem mais cientes da situação financeira da escola, dos todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto
limites de duração e custo dos programas; valorizar melhor político por estar intimamente articulado ao compromisso
os professores e ajudar a sua liderança a todos os níveis. sócio-político e com os interesses reais e coletivos da popu-
A escola é, pois, uma organização social onde coabitam lação majoritária. (...) Na dimensão pedagógica reside a pos-
pessoas das mais variadas faixas etárias (adultos, crianças, sibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que
adolescentes, jovens), sendo, portanto, uma organização é a formação do cidadão participativo, responsável, com-
com fins educativos. Dessa forma, Barroso (1996, p. 185) promissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de se
considera que “a autonomia da escola deve ser construída e definir as ações educativas e as características necessárias às
não decretada”. Com certeza, a autonomia da escola tem de escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalida-
ter em conta a especificidade da organização escolar, sendo de. (VEIGA, 1995)
construída pela interação dos diferentes atores organizacio- Dentro desse entendimento, pode-se ver que o projeto
nais em cada escola. político-pedagógico é o fruto da interação entre os objetivos
Como se pode ver, a autonomia, é, pois, o resultado do e prioridades estabelecidas pela coletividade, que estabele-
equilíbrio de forças numa escola entre os diversos detento- ce, através da reflexão, as ações necessárias à construção de
res de influência e pressupõe a autonomia dos seus atores. uma nova realidade. É, antes de tudo, um trabalho que exi-
Na realidade, a autonomia da escola não se constrói por de- ge comprometimento de todos os envolvidos no processo
creto; pelo contrário “esta perspectiva retira sentido à tenta- educativo: professores, equipe técnica, alunos, seus pais e a
tiva de encontrar, a partir das chamadas „escolas eficazes‟, comunidade como um todo.
estruturas e modalidades de gestão que funcionem como Essa prática de construção de um projeto deve estar
padrão da autonomia para todas as escolas.”. amparada por concepções teóricas sólidas e supõe o aper-
Desse modo, observa-se que a autonomia da escola pú- feiçoamento e a formação de seus agentes. Só assim serão
blica passa pela capacidade da mesma se identificar e, por rompidas as resistências em relação a novas práticas edu-
isso mesmo, de se diferenciar daquilo que a envolve. Mas, cativas. Os agentes educativos devem sentir-se atraídos por
esta capacidade de se diferenciar implica que seja capaz de essa proposta, pois só assim terão uma postura comprome-
se relacionar e interagir com o meio que a envolve. Autono- tida e responsável. Trata-se, portanto, da conquista coletiva
mia não significa independência, mas sim interdependência. de um espaço para o exercício da autonomia.
A construção de identidade própria pressupõe a parti-
cipação de todos os atores que interagem entre si. A nova Fonte
concepção das organizações implica a „recuperação‟ da MOURA, M. M. Autonomia e gestão democrática: cami-
importância dos atores. Não se trata de uma concepção de nhos para a valorização da escola pública, 2011.
racionalidade ilimitada, mas sim de uma concepção onde
atores e sistema se condicionam mutuamente: se os atores
são constrangidos pelas regras do sistema, eles contribuem 2. AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO
também para a transformação e alteração dessas mesmas RENDIMENTO ESCOLAR
regras.
Para alcançar tais objetivos, será necessário grande es-
forço e vontade política do governo e da sociedade civil, FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO
envolvendo vários atores e recursos. Entretanto, não há dú-
vida de que, no centro desses desafios, encontra-se a escola, De acordo com os estudos de Bloom (1993) a avaliação
como agência educativa de formar os futuros cidadãos e de do processo ensino-aprendizagem, apresenta três tipos de
prestação dos serviços educacionais diretamente a popula- funções: diagnóstica (analítica), formativa (controladora) e
ção. somativa (classificatória).
Nesse contexto, é relevante frisar que se faz necessário à a) A avaliação diagnóstica (analítica) é adequada para
escola e seus profissionais que ampliem a consciência sobre o início do período letivo, pois permite conhecer a realidade
esse quadro e reconstruam suas práticas organizativas e pe- na qual o processo de ensino-aprendizagem vai acontecer.
dagógicas em consonância com as expectativas sociais em O professor tem como principal objetivo verificar o conhe-
torno da função da escola na sociedade contemporânea e, cimento prévio de cada aluno, tendo como finalidade de
consequentemente, dos resultados a serem obtidos no de- constata os pré-requisitos necessários de conhecimento ou
sempenho de seus alunos.

2
GESTÃO PEDAGÓGICA

habilidades imprescindíveis de que os estudantes possuem maioria dos alunos alcance plenamente todos os objetivos
para o preparo de uma nova etapa de aprendizagem. propostos.
“Para que a avaliação diagnóstica seja possível, é preciso Por depender mais da sensibilidade e do olhar técnico
compreendê-la e realizá-la comprometida com uma con- do educador, esse formato de avaliação fornece mais in-
cepção pedagógica. No caso, considerarmos que ela deva formações que permitem a customização do trabalho do
estar comprometida com uma proposta pedagógica histó- professor com base nas necessidades de cada aluno. Nesse
rico-crítica, uma vez que esta concepção está preocupada sentido a avaliação é um instrumento de controle da quali-
com a perspectiva de que o educando deverá apropriar-se dade, tendo como maior objetivo um ensino de excelência
criticamente de conhecimentos e habilidades necessárias à em todos os níveis.
sua realização como sujeito crítico dentro desta sociedade c) A avaliação somativa (classificatória), tem como
que se caracteriza pelo modo capitalista de produção. A ava- função básica a classificação dos alunos, sendo realizada ao
liação diagnostica não se propõe e nem existe uma forma final de um curso ou unidade de ensino. Classificando os
solta isolada. É condição de sua existência e articulação com estudantes de acordo com os níveis de aproveitamento pre-
uma concepção pedagógica progressista”. (LUCKESI 2003, viamente estabelecidos.
p.82). Atualmente a classificação dos estudantes se processa
Esta forma de avaliação é utilizada objetivando pré-de- segundo o rendimento alcançado, tendo por base os objeti-
terminar a maneira pela qual o educador deverá encami- vos previstos. Para Bloom (1983), a avaliação somativa “ob-
nhar, através do planejamento, a sua ação educativa. Terá jetiva avaliar de maneira geral o grau em que os resultados
como função estabelecer os limites para tornar o processo mais amplos têm sido alcançados ao longo e final de um
de aprendizagem mais eficiente e eficaz. Esta didática pode curso”.
ser considerada como o ponto de partida para todo trabalho É através deste tipo de avaliação que são fornecidos aos
a ser desenvolvido durante o ano pelo educador. estudantes os chamados feedback que informa o nível de
Esta forma de avaliação pode ser utilizada antes e duran- aprendizagem alcançado, se este for o objetivo central da
te o processo ensino-aprendizagem, tendo diferentes fina- avaliação formativa; e presta-se à comparação de resultados
lidades. Sendo realizada antes do processo, tem como foco obtidos, visando também a atribuição de notas.
sondar se o aluno apresenta os conhecimentos necessários
para que a aprendizagem possa ser iniciada. Se ocorrer du- Essas três funções da avaliação devem ser vinculadas ou
rante o processo, será utilizada para identificar as causas das conjugadas para se garantir a eficiência e eficácia do sistema
falhas de aprendizagem e possibilitar a implementação de de avaliação e assim tendo como resultado final a excelên-
recursos para corrigi-las. cia do processo ensino-aprendizagem. Por outro lado, é im-
É possível observar que a avaliação diagnóstica possui portante lembrar, que é necessário em todos os casos levar
três objetivos. O primeiro é identificar a realidade de cada em conta a realidade administrativa da instituição como, por
aluno que irá participar do processo. O segundo é verificar exemplo, o número de alunos, objetivos, conhecimento téc-
se o aluno apresenta ou não habilidades e pré-requisitos nico do professor, materiais, etc.
para o processo. O terceiro objetivo está relacionado com Qualquer decisão nas formas de como avaliar é preciso
a identificação das causas, de dificuldades recorrentes na envolver direção, professor, alunos e responsáveis (quando
aprendizagem. Assim é possível rever a ação educativa para é o caso). Se entendermos que a forma atual de avaliação
sanar os problemas. está ruim, todos precisam se comprometer com o novo pro-
b) A avaliação formativa (controladora) é aquela que cesso de melhorá-la, e isso envolve muitas mudança, sendo
tem como função controlar, devendo ser realizada durante o processo longo, assim como todo processo de ensino-
todo o período letivo, com o intuito de verificar se os es- -aprendizagem.
tudantes estão alcançando os objetivos propostos anterior-
mente. Esta função da avaliação visa, basicamente, avaliar Fonte
se o aluno domina gradativamente e hierarquicamente cada http://www.pedagogia.com.br/artigos/funcoes_avalia-
etapa da aprendizagem, antes de avançar para outra etapa cao/index.php?pagina=2
subsequente de ensino-aprendizagem.
É com a avaliação formativa que o aluno toma conhe- AVALIAÇÃO
cimento dos seus erros e acertos e encontra estimulo para
continuar os estudos de forma sistemática. Para que esta Zabala, Antoni.
forma de avaliação ocorra é necessário que seja controlada,
porque orienta o estudo do aluno ao trabalho do professor, Por que se deve avaliar? Esclarecimentos prévios so-
também podemos dizer que é motivadora porque evita as bre a avaliação
tensões causadas pela as avaliações tradicionais.
A avaliação formativa permite ao professor detectar e Habitualmente, quando se fala de avaliação se pensa,
identificar deficiências na forma de ensinar, auxiliando na re- de forma prioritária ou mesmo exclusiva, nos resultados ob-
formulação do seu trabalho didático, visando aperfeiçoá-lo. tidos pelos alunos. Hoje em dia, este continua sendo o prin-
Para que seja realizada com eficiência, ela deve ser planejada cipal alvo de qualquer aproximação ao fator avaliador. Os
em função de todos os objetivos, deste modo o instrutor professores, as administrações, os pais e os próprios alunos
continuará seu trabalho ou irá direcionar de modo que a se referem à avaliação como instrumento ou processo para

3
GESTÃO PEDAGÓGICA

avaliar o grau de alcance, de cada menino e menina, em re- No entanto, as definições mais habituais da avaliação
lação a determinados objetivos previstos nos diversos níveis remetem a um todo diferenciado, que inclui processos indi-
escolares. Basicamente, a avaliação é considerada como um viduais e grupais, o aluno ou a aluna e os professores. Este
instrumento sancionador e classificador, em que o sujeito ponto de vista é perfeitamente justificável, já que os proces-
da avaliação é o aluno e somente o aluno, e o objetivo da sos que têm lugar na aula são processos globais em que é
avaliação são as aprendizagens realizadas segundo certos difícil, e certamente desnecessário, separar claramente os di-
objetivos mínimos para todos. ferentes elementos que os compõem. Nossa tradição avalia-
Mesmo assim, já faz muito tempo que, a partir da litera- dora tem se centrado exclusivamente nos resultados obtidos
tura pedagógica, as declarações de princípios das reformas pelos alunos. Assim, é conveniente dar-se conta de que ao
educacionais empreendidas em diferentes países e grupos falar de avaliação na aula pode se aludir particularmente a
de educadores mais inquietos que se propõem formas de algum dos componentes do processo de ensino/aprendiza-
entender a avaliação que não se limitam à valoração dos gem, como também a todo o processo em sua globalidade.
resultados obtidos pelos alunos. O processo seguido pelos Talvez a pergunta que nos permita esclarecer em cada
meninos e meninas, o progresso pessoal, o processo cole- momento qual deve ser o objeto e o sujeito da avaliação
tivo de ensino / aprendizagem, etc, aparecem como ele- seja aquela que corresponde aos próprios fins do ensino:
mentos ou dimensões da avaliação. Deste modo, é possível por que temos que avaliar? Certamente, a partir da resposta
encontrar definições de avaliação bastante diferentes e, em a esta pergunta surgirão outras, por exemplo, o que se tem
muitos casos, bastante ambíguas, cujos sujeitos e objetos de que avaliar, a quem se tem que avaliar, como se deve avaliar,
estudo aparecem de maneira confusa e indeterminada. Em como temos que comunicar o conhecimento obtido através
alguns casos o sujeito da avaliação é o aluno, em outros é da avaliação, etc.
o grupo / classe, ou inclusive o professor ou professora, ou Neste capítulo formularemos estas questões e tentare-
equipe docente. Quanto ao objeto da avaliação, às vezes é o mos encontrar respostas. Posto que se trata de um tema po-
processo de aprendizagem seguido pelo aluno ou os resul- lêmico, que pode ser enfocado de diferentes perspectivas,
tados obtidos, enquanto que outras vezes se desloca para a não pretendemos trazer soluções definitivas, mas sim coe-
própria intervenção do professor. rentes com os marcos de referência que formos adotando.
Para esclarecer o alcance das diferentes definições pode
ser útil fazer um quadro de dupla entrada que contenha, Quem e o que se deve avaliar? Os sujeitos e os obje-
por um lado e de modo separado, o processo de ensino / tos da avaliação
aprendizagem individual que segue cada aluno e, por outro
lado e para cada um deles, os possíveis objetos e sujeitos da Como em outras variáveis de ensino, e como já disse-
avaliação. mos reiteradamente em outros itens deste livro, muitos dos
No Quadro 8.1 podemos ver que toda intervenção edu- problemas de compreensão do que acontece nas escolas
cativa na aula se articula em torno de alguns processos de não se devem tanto às dificuldades reais. Devem-se mais aos
ensino / aprendizagem que podem ser analisados desde usos e costumes acumulados de uma tradição escolar, cuja
diferentes pontos de vista. Examinemos, em primeiro lu- função básica foi seletiva e propedêutica. Numa concepção
gar, o processo que cada aluno segue. Neste caso pode se do ensino centrado na seleção dos alunos mais preparados
distinguir entre a maneira como o menino ou menina está para continuar e escolarização até os estudos universitários,
aprendendo e o que faz o professor/a para que aprenda, é lógico que o sujeito de avaliação seja o aluno e que se
quer dizer, o processo de ensino. Apesar de que ensino e considerem objeto da avaliação as aprendizagens alcança-
aprendizagem se encontram estreitamente ligados e fazem das em relação às necessidades futuras que foram estabe-
parte de uma mesma unidade dentro da aula, podemos dis- lecidas - as universitárias. Desta forma se dá prioridade a
tinguir claramente dois processos avaliáveis: como o aluno uma clara função sancionadora: qualificar e sancionar desde
aprende e como o professor ou professora ensina. Portanto, pequenos aqueles que podem triunfar nesta carreira até a
temos dois sujeitos da avaliação, o que poderíamos denomi- universidade.
nar uma dupla dimensão, aplicável também ao processo que No entanto, podemos entender que a função social do
todo o grupo / classe segue. ensino não consiste apenas em promover e selecionar os
“mais aptos” para a universidade, mas que abarca outras di-
Quadro 8. 1 mensões da personalidade. Quando a formação integral é a
finalidade principal do ensino e, portanto, seu objetivo é o
Sujeito Aluno/a Professor/a desenvolvimento de todas as capacidades da pessoa e não
PROCESSO INDIVIDUAL apenas as cognitivas, muitos dos pressupostos da avaliação
Processo Processo
ENSINO/APRENDIZAGEM Objeto mudam. Em primeiro lugar, e isto é muito importante, os
aprendizagem ensino
conteúdos de aprendizagem a serem avaliados não serão
Equipe
Sujeito Grupo/Classe unicamente conteúdos associados às necessidades do ca-
PROCESSO GRUPAL docente
minho para a universidade. Será necessário, também, levar
ENSINO/APRENDIZAGEM Processo Processo em consideração os conteúdos conceituais, procedimentais
Objeto
aprendizagem ensino e atitudinais que promovam as capacidades motoras, de
equilíbrio e de autonomia pessoal, de relação interpessoal
e de inserção social. Uma opção desta natureza implica uma

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GESTÃO PEDAGÓGICA

mudança radical na maneira de conceber a avaliação, posto que o ponto de vista já não é seletivo, já que não consiste em ir
separando os que não podem superar distintos obstáculos, mas em oferecer a cada um dos meninos e meninas a oportuni-
dade de desenvolver, no maior grau possível, todas suas capacidades. O objetivo do ensino não centra sua atenção em certos
parâmetros finalistas para todos, mas nas possibilidades pessoais de cada um dos alunos.
O problema não está em conseguir que o máximo de meninos e meninas tenham acesso à universidade, mas em como
conseguir desenvolver ao máximo todas as suas capacidades, e entre elas, evidentemente, aquelas necessárias para chegar a
serem bons profissionais. Tudo isto envolve mudanças substanciais nos conteúdos da avaliação e no caráter e na forma das
informações que devem se proporcionar sobre o conhecimento que se tem das aprendizagens realizadas, considerando as
capacidades previstas. Por enquanto, digamos unicamente que se trata de informações complexas, que não combinam com
um tratamento estritamente quantitativo; se referem a valorações e indicadores personalizados que raramente podem se
traduzir em notas e qualificações clássicas.

Avaliação formativa: inicial, reguladora, final integradora

A tomada de posição em relação às finalidades do ensino, relacionada a um modelo centrado na formação integral do
pessoal, implica mudanças fundamentais, especialmente nos conteúdos e no sentido da avaliação. Além do mais, quando na
análise da avaliação introduzimos a concepção construtivista do ensino e a aprendizagem como referencial psicopedagógico,
o objeto da avaliação deixa de se centrar exclusivamente nos resultados obtidos e se situa prioritariamente no processo de
ensino/aprendizagem, tanto do grupo/classe como de cada um dos alunos. Por outro lado, o sujeito da avaliação não apenas
se centra no aluno, como também na equipe que intervém no processo.
Como pudemos observar, procedemos de uma tradição educacional prioritariamente uniformizadora, que parte do prin-
cípio de que as diferenças entre os alunos das mesmas idades não são motivo suficiente para mudar as formas de ensino, mas
que constituem uma evidência que valida a função seletiva do sistema e, portanto, sua capacidade para escolher os melhores.
A uniformidade é um valor de qualidade do sistema, já que é o que permite reconhecer e validar os que servem. Quer dizer,
são bons alunos aqueles que se adaptam a um ensino igual para todos; não é o ensino quem deve se adaptar às diferenças
dos alunos.
O conhecimento que temos sobre como se produzem as aprendizagens revela a extraordinária singularidade destes
processos, de tal maneira que é cada vez mais difícil estabelecer propostas universais que vão além da constatação destas
diferenças e singularidades. O fato de que as experiências vividas constituam o valor básico de qualquer aprendizagem obriga
a levar em conta a diversidade dos processos de aprendizagem e, portanto, a necessidade de que os processos de ensino, e
especialmente os avaliadores, não apenas os observem, como os tomem como eixo vertebrador (Quadro 8.2).

Quadro 8. 2

Função social e aprendizagem Objeto Sujeito Referencial Avaliação Informe


Seletiva e propedêutica
Resultados Alunos Disciplinas Sanção Quantitativo
Uniformizador e transmissor
Formação Integral Alunos / Descritivo /
Processo Capacidades Ajuda
At. Diversidade construtivo professores interpretativo

Sob uma perspectiva uniformizadora e seletiva, o que interessa são determinados resultados em conformidade com
certos níveis pré-determinados. Quando o ponto de partida é a singularidade de cada aluno, é impossível estabelecer níveis
universais. Aceitamos que cada aluno chega à escola com uma bagagem determinada e diferente em relação às experiências
vividas, conforme o ambiente sociocultural e familiar em que vive, e condicionado por suas características pessoais. Esta di-
versidade óbvia implica a relativização de duas das variáveis das propostas uniformizadoras – os objetivos e os conteúdos e a
forma de ensinar – e a exigência de serem tratadas em função da diversidade dos alunos. Portanto, a primeira necessidade do
educador é responder às perguntas: que sabem os alunos em relação ao que eu quero ensinar? Que experiências tiveram? O
que são capazes de aprender? Quais são seus interesses? Quais são seus estilos de aprendizagem? Neste marco a avaliação já
não pode ser estática, de análise de resultado, porque se torna um processo. E uma das primeiras fases do processo consiste
em conhecer o que cada um dos alunos sabe, sabe fazer e é, e o que pode chegar a saber, saber fazer ou ser, e como apren-
dê-lo. A avaliação é um processo em que sua primeira fase se denomina avaliação inicial.
O conhecimento do que cada aluno sabe, sabe fazer e como é, é o ponto de partida que deve nos permitir, em relação aos
objetivos e conteúdos de aprendizagem previstos, estabelecer o tipo de atividades e tarefas que têm que favorecer a aprendi-
zagem de cada menino ou menina. Assim, pois, nos proporciona referências para definir uma proposta hipotética de interven-
ção, a organização de uma série de atividades de aprendizagem que, dada nossa experiência e nosso conhecimento pessoais,
supomos que possibilitará o progresso dos alunos. Mas não é mais do que uma hipótese de trabalho, já que dificilmente a
resposta a nossas propostas será sempre a mesma, nem a que nós esperamos. A complexidade do fato educacional impede
dar, como respostas definitivas, soluções que tiveram bom resultado anteriormente. Não apenas os alunos são diferentes em

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GESTÃO PEDAGÓGICA

cada ocasião, como as experiências educacionais também dual e ensino do grupo) e os quatro sujeitos da avaliação (o
são diferentes e não se repetem. Isto supõe que, no proces- aluno/a, o grupo/classe, o professor/a e a equipe docente).
so de aplicação, em aula, do plano de intervenção previsto, Na descrição que fizemos das diferentes fases da avaliação
será necessário adequar às necessidades de cada aluno as (inicial, reguladora ou formativa, final e integradora), os di-
diferentes variáveis educativas: as tarefas e as atividades, seu ferentes objetos e sujeitos se confundem, já que não fica
conteúdo, as formas de agrupamento, os tempos, etc. Con- muito claro, desde o princípio, qual é a intencionalidade da
forme se desenvolva o plano previsto e conforme a resposta avaliação.
dos meninos e meninas a nossas propostas, haverá que ir in- Por que avaliar? O aperfeiçoamento da prática edu-
troduzindo atividades novas que comportem desafios mais cativa é o objetivo básico de todo educador. E se entende
adequados e ajudas mais contingentes. O conhecimento de este aperfeiçoamento como meio para que todos os alunos
como cada aluno aprende ao longo do processo de ensino consigam o maior grau de competências, conforme suas
/ aprendizagem, para se adaptar às novas necessidades que possibilidades reais. O alcance dos objetivos por parte de
se colocam, é o que podemos denominar avaliação regula- cada aluno é um alvo que exige conhecer os resultados e
dora. os processos de aprendizagem que os alunos seguem. E
para melhorar a qualidade do ensino é preciso conhecer e
Alguns educadores, e o próprio vocabulário da Reforma, poder avaliar a intervenção pedagógica dos professores de
utilizam o termo de avaliação formativa. Pessoalmente, para forma que a ação avaliadora observe simultaneamente os
designar este processo prefiro usar o termo avaliação regu- processos individuais e os grupais. Referimo-nos tanto aos
ladora já que explica melhor as características de adaptação processos de aprendizagem como aos de ensino, já que,
e adequação. Ao mesmo tempo, esta opção permite reser- desde uma perspectiva profissional, o conhecimento de
var o termo formativo para uma determinada concepção da como os meninos e meninas aprendem é, em primeiro lugar,
avaliação em geral, entendida como aquela que tem como um meio para ajudá-los em seu crescimento e, em segundo
propósito a modificação e a melhora contínua do aluno que lugar, é o instrumento que tem que nos permitir melhorar
se avalia; quer dizer, que entende que a finalidade da avalia- nossa atuação na aula.
ção é ser um instrumento educativo que informa e faz uma
valoração do processo de aprendizagem seguido pelo alu- ESQUEMA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA
no, com o objetivo de lhe oportunizar, em todo momento, Avaliação inicial, planejamento, adequação do plano (avaliação
as propostas educacionais mais adequadas. reguladora), avaliação final, avaliação integradora.
O conjunto de atividades de ensino/aprendizagem rea-
A partir de uma opção que contempla corno finalidade fundamental
lizadas permitiu que cada aluno atingisse os objetivos pre-
do ensino a formação integral da pessoa, e conforme uma
vistos num determinado grau. A fim de validar as atividades
concepção construtivista, a avaliação sempre tem que ser formativa,
realizadas, conhecer a situação de cada aluno e poder tomar
de maneira que o processo avaliador, independentemente de seu
as medidas educativas pertinentes, haverá que sistematizar
objeto de estudo, tem que observar as diferentes fases de uma
o conhecimento do progresso seguido. Isto requer, por um
intervenção que deverá ser estratégica. Quer dizer, que permita
lado, apurar os resultados obtidos – quer dizer, as compe-
conhecer qual é a situação de partida, em função de determinados
tências conseguidas em relação aos objetivos previstos – e,
objetivos gerais bem definidos (avaliação inicial); um planejamento
por outro, analisar o processo e a progressão que cada alu-
da intervenção fundamentado e, ao mesmo tempo, flexível,
no seguiu, a fim de continuar sua formação levando em con-
entendido como uma hipótese de intervenção; uma atuação na
ta a suas características específicas.
aula, em que as atividades e tarefas e os próprios conteúdos de
Seguidamente o conhecimento dos resultados obtidos
trabalho se adequarão constantemente (avaliação reguladora) às
é designado com o termo avaliação final ou avaliação soma-
necessidades que vão se apresentando para chegar a determinados
tiva. Pessoalmente, acho que a utilização conjunta dos dois
resultados (avaliação final) e a uma compreensão e valoração sobre
termos é ambígua e não ajuda a identificar ou diferenciar
o processo seguido, que permita estabelecer novas propostas de
estas duas necessidades: o conhecimento do resultado ob-
intervenção (avaliação integradora).
tido e processo que o aluno seguiu. Prefiro utilizar o termo
avaliação final para me referir aos resultados obtidos e aos
conhecimentos adquiridos, e reservar o termo avaliação so- Conteúdos da avaliação: avaliação dos conteúdos
mativa ou integradora para o conhecimento e a avaliação conforme sua tipologia
de todo o percurso do aluno. Assim, esta avaliação soma-
tiva ou integradora é entendida como um informe global Como já comentamos, as capacidades definidas nos ob-
do processo que, a partir do conhecimento inicial (avaliação jetivos educativos são o referencial básico de todo processo
inicial), manifesta a trajetória seguida pelo aluno, as medidas de ensino e, portanto, da avaliação. Mas também é preciso
específicas que foram tomadas, o resultado final de todo o ter presente que os conteúdos de aprendizagem, sobretudo
processo e, especialmente, a partir deste conhecimento, as no próprio processo de ensino/ aprendizagem, e concreta-
previsões sobre o que é necessário continuar fazendo ou o mente em cada uma das atividades ou tarefas que o confi-
que é necessário fazer de novo. guram, são o referencial funcional para avaliar e acompa-
No Quadro 8.1, no começo deste tópico, situamos os nhar os avanços dos meninos e meninas.
quatro possíveis objetos da avaliação (processo de apren- Como podemos saber o que os alunos sabem, dominam
dizagem individual, aprendizagem do grupo, ensino indivi- ou são? Ou em outras palavras, como podemos saber o grau

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GESTÃO PEDAGÓGICA

e tipo de aprendizagem que os alunos têm em relação aos necessidade é esta, a atividade mais apropriada para avaliar
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais? Pode- o que sabem será a simples pergunta. A rapidez da respos-
mos nos fazer esta pergunta em qualquer das diferentes fa- ta e sua certeza nos permitem conhecer suficientemente o
ses do processo de avaliação. grau de competência do aluno e, o que é mais importante,
Uma escola centrada quase que exclusivamente nos identificar o tipo de ajuda ou medida que haverá que propor
conteúdos conceituais, especialmente os factuais, de co- para contribuir para o progresso do aluno.
nhecimento enciclopédico, limita os instrumentos avaliati- Se o número de alunos ou a dinâmica e o ritmo do gru-
vos habitualmente utilizados às provas de papel e lápis. Esta po/classe não permitem fazer as perguntas de modo indi-
forma de conhecer os resultados obtidos pode ser bastante vidual, uma prova escrita simples, que proponha resposta a
adequada no caso dos conteúdos factuais, mas não é tanto uma série de perguntas, pode ser extremamente eficaz para
quando se trata de conteúdos conceituais ou procedimen- estabelecer com grande certeza o grau de conhecimento
tais. E podemos afirmar que não o é, em absoluto, quando dos conteúdos factuais. A fim de que este conhecimento seja
os conteúdos a serem avaliados são de caráter atitudinal. o menos rotineiro possível, é conveniente que as perguntas
obriguem a alterar as sequências em que foram enunciadas
Avaliação dos conteúdos factuais em aula, nos apontamentos ou nas fontes de informação
utilizadas. As provas denominadas objetivas podem ser bas-
Quando consideramos que um aluno tem que conhecer tante úteis para a avaliação do domínio ou do conhecimen-
um fato, o nome da capital da Itália, a descrição de um acon- to dos fatos, mas se as provas não são exaustivas não nos
tecimento ou a relação das obras mais importantes de Emília permitirão saber que tipo de ajuda necessita cada aluno. Se
Pardo Bazan, o que pretendemos é que saiba nos dizer com seu uso não tem uma função formativa ou reguladora, mas
a máxima fidelidade o nome da capital, o acontecimento ou pretende sancionar alguns resultados, a falta de exaustivi-
os títulos das obras. É evidente que queremos que este co- dade deixa nas mãos da sorte, algo evidentemente injusto,
nhecimento seja significativo, que não seja uma simples ver- algumas decisões que podem ser muito transcendentes em
balização mecânica e, portanto, que a enumeração dos fatos algumas etapas do ensino.
não implique um desconhecimento dos conceitos associa-
dos a cada um deles. Queremos que Roma seja muito mais Avaliação de conteúdos conceituais
do que um nome, que o aluno entenda o que quer dizer ser
a capital de um país, neste caso da Itália, e que tenha uma Se uma prova escrita, relativamente simples, é bastante
representação geográfica onde possa situá-la. Queremos eficaz para determinar o conhecimento que se tem de um
que o acontecimento histórico memorizado seja algo mais fato, sua confiabilidade é muito mais precária quando o que
do que uma série de dados desconexos; que juntamente temos que determinar e avaliar é o processo e o grau de
com a relação das obras de Pardo Bazan tenha lugar una aprendizagem dos conteúdos conceituais. Apesar de que a
interpretação do que representam. Uma aprendizagem sig- aprendizagem nunca é uma questão de tudo ou nada, no
nificativa de fatos envolve sempre a associação dos fatos aos caso dos conteúdos factuais a distinção entre o “sabe” e o
conceitos que permitem transformar este conhecimento em “
não sabe” “pode ser” às vezes muito representativa do que
instrumento para a concepção e interpretação das situações acontece: lembra ou não o nome da capital da Itália, sabe
ou fenômenos que explicam. ou não quando aconteceu a Revolução Francesa. Podem ser
Uma vez aceita e entendida a necessidade de que a respostas de tudo ou nada. De qualquer forma, inclusive nos
aprendizagem de fatos implique o conhecimento e a com- conteúdos factuais, nem sempre é assim, já que pode se sa-
preensão dos conceitos (conceitos de capital, país, processos ber mais ou menos o que aconteceu em Dois de maio, pode
históricos, características literárias...), dos quais cada um dos se conhecer um maior ou menor número de obras de arte,
fatos é um elemento singular, queremos que estes fatos se- ou pode se estar mais mi menos certo, etc. Quando os con-
jam lembrados e possam ser utilizados com fluência quando teúdos de aprendizagem são conceituais, o grau de com-
convenha. Assim, pois, se aceitamos esta relação necessária preensão dos conceitos é em muitos casos, limitado. Sempre
entre os fatos e os conceitos, perceberemos que é necessá- pode se ter um conhecimento mais profundo e elaborado
rio que as atividades para dominar estes conteúdos factuais dos conceitos de capital, revolução, densidade ou neoclas-
contemplem a utilização conjunta de fatos e conceitos. Na sicismo. Dificilmente podemos dizer que a aprendizagem
escola, em muitas ocasiões, temos a necessidade de saber de um conceito está concluída. Em todo caso, o que fare-
se os meninos e meninas são capazes de lembrar alguns da- mos é dar por bom certo grau de conceitualização. E aqui é
dos, os nomes de alguns personagens, os títulos de algumas onde começamos a ver a dificuldade que representa avaliar
obras, etc., independentemente dos conceitos associados, a aprendizagem de conceitos. Teremos que falar de graus ou
porque já sabemos que os entenderam. Sabemos muito níveis de profundidade e compreensão, algo que implica a
bem que os alunos entendem o que é um quadro, uma igre- necessidade de propor atividades em que os alunos possam
ja ou qualquer outra obra romântica, que compreendem o demonstrar que entenderam, assim como sua capacidade
que é uma conquista, uma colonização, uma guerra, etc., ou para utilizar convenientemente os conceitos aprendidos.
que entendem as características gerais e particulares de um A tendência de se utilizar formas de avaliação que são
autor e a corrente artística a que pertence. O que nos inte- bastante válidas para os conteúdos factuais deu lugar a uma
ressa saber, neste momento, é se são capazes de lembrar os mesma utilização para os conceitos. Assim, é habitual, em-
nomes, os dados, os títulos, as datas, etc. Quando a nossa bora cada vez menos, a proposição de provas orais ou es-

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GESTÃO PEDAGÓGICA

critas em que se tem que responder a algumas perguntas a prova escrita e, neste caso, é bom saber que limitações a
que pedem que se defina um conceito, de maneira que a prova tem e elaborá-la tentando superar estas deficiências.
resposta mais adequada é a que coincide exatamente com Se o que queremos da aprendizagem de conceitos é que os
a definição dos apontamentos de classe ou do livro didá- alunos sejam capazes de utilizá-los em qualquer momento
tico. O aluno responde como se estivesse enumerando as ou situação que o requeira, teremos que propor exercícios
obras mais importantes de qualquer pintor ou os persona- que não consistam tanto numa explicação do que enten-
gens principais de qualquer movimento literário, como se demos sobre os conceitos, como ira resolução de conflitos
descrevesse um fato de forma mecânica. Muitos de nós ou problemas a partir do uso dos conceitos. Exercícios que
aprendemos neste sistema e, portanto, somos capazes de lhes obriguem a usar o conceito. Mas no caso de que nos
repetir perfeitamente a definição do princípio de Arquime- interesses que o aluno saiba explicar o que entende sobre,
des, o enunciado da lei de Gay Lussac ou a definição de ilha, por exemplo, o princípio de Arquimedes, o processo de mi-
sem relacionar o que dizemos com nenhuma interpretação tose da célula, a lei de Ohm ou as razões dos movimentos
do que acontece quando estamos imersos num líquido, nem migratórios, alguns professores adotam uma opção muito
de que relações existem entre a temperatura que faz e o que simples. Esta consiste em pedir que, numa face da folha, ex-
sentimos sobre a pressão atmosférica, para não dizer entre pliquem, com suas próprias palavras, sem recorrer ás que
o conceito real que temos de ilha e o que pronunciamos foram utilizadas em classe, e com exemplos pessoais, o que
quando a definimos. entendem ou entenderam sobre o tema e na outra, que fa-
As atividades para conhecer qual é a compreensão de çam o mesmo, utilizando, desta vez, os termos científicos.
um determinado conceito não podem se basear na repe- Desta forma poderemos determinar com mais segurança o
tição de algumas definições. Seu enunciado nos diz unica- nível de compreensão e as necessidades de aprendizagem a
mente, que quem as faz é capaz de lembrar com precisão respeito de cada conceito, ao mesmo tempo que saberemos
a definição, mas não nos permite averiguar se foi capaz de se os alunos são capazes de utilizar corretamente os termos
integrar este conhecimento em suas estruturas interpretati- científicos.
vas. Além domais, mesmo que se pedisse que o aluno fosse Se as denominadas provas objetivas estão bem-feitas,
capaz de definir autonomamente, sem repetir uma defini- permitirão saber se os alunos são capazes de relacionar e
ção padronizada, deveríamos saber que este é um dos graus utilizar os conceitos em algumas situações muito determina-
mais difíceis de conceitualização. Num trabalho culto, todos das. Entretanto, não contribuirão com dados suficientes so-
nós somos capazes de utilizar termos de grande comple- bre o grau de aprendizagem e dificuldades de compreensão
xidade conceitual, corretamente e em toda sua amplitude; que cada aluno tem, o que nos impedirá de dispor de pistas
mas se tivéssemos que defini-los, nos encontraríamos diante sobre o tipo de ajuda a proporcionar.
de uma situação bastante complicada. Somos capazes de
utilizar os conceitos “redondo” e “circular ” com todo o rigor e No caso de disciplinas como matemática, física, química
escolhemos um ou outro termo segundo seu significado no e outras com muitos conteúdos, que giram em torno da re-
contexto da frase. Assim, pois, podemos dizer que domina- solução de problemas, estas provas são a forma mais apro-
mos ambos os conceitos, mas imagine que complicado seria priada para responder à necessidade de conhecer a aprendi-
defini-los sem fazer nenhum gesto com as mãos para nos zagem dos conceitos. Mas é indispensável que os problemas
ajudar na explicação. Na vida cotidiana, inclusive nos discur- que se propõem não estejam padronizados e não tratem
sos mais rigorosos, os conceitos utilizados não são definidos unicamente do último tema que trabalharam. Evidentemen-
constantemente. Geralmente, em vez de fazer uma definição te, os meninos e meninas tendem a fazer o mais fácil e, no
procuramos dar exemplos que ajudem a compreender o que caso dos problemas, isto significa dispor de pequenas es-
querem dizer. A tendência de utilizar a definição dos concei- tratégias que lhes permitam relacionar um problema com
tos é o resultado de uma compreensão muito simplista da uma fórmula de resolução estereotipada. Deste modo, o que
aprendizagem que, de certo modo, assume que não existe muitos alunos realmente aprendem é encontrar a forma de
nenhuma diferença entre expressão verbal e compreensão. solucionar o problema antes de tentar compreender o que
Quais são as atividades mais adequadas para conhecer lhes propõe. Nas provas escritas, é conveniente propor pro-
o grau de compreensão dos conteúdos conceituais? Infeliz- blemas e exercícios chie não correspondam ao tema que se
mente, não podem ser simples. As atividades que podem está trabalhando. E preciso incluir problemas de temas ante-
garantir um melhor conhecimento do que cada aluno com- riores e outros que ainda não tenham sido trabalhados. Além
preende implicam a observação do uso de cada uni dos con- do mais, é preciso proporcionar mais informação do que a
ceitos em diversas situações e nos casos em que o menino necessária para resolver o problema. Em primeiro lugar, por-
ou a menina os utilizam em suas explicações espontâneas. que, do contrário o aluno identificará as variáveis que exis-
Assim, pois, a observação do uso dos conceitos em traba- tem e buscará qual é a forma que as relaciona sem fazer
lhos de equipe, debates, exposições e sobretudo diálogos o esforço necessário de compreensão. Em segundo lugar,
será a melhor fonte de informação do verdadeiro domínio porque nas situações reais os problemas nunca aparecem
do termo e o meio mais adequado para poder oferecer a identificados conforme os parâmetros disciplinares, e as va-
ajuda de que cada aluno precisa. Agora, o número de alunos riáveis necessárias para solucioná-los nunca são segmenta-
ou o tempo de que dispomos podem impedir que realize- das. Por exemplo, quando na escola se propõem problemas
mos sempre atividades que facilitem a observação dos alu- sobre circuitos elétricos e o tema que se tratou é a lei de
nos em situações naturais. Isso pode nos obrigar a utilizar Ohm (V=IR), geralmente se propõem exercícios de aplicação

8
GESTÃO PEDAGÓGICA

da fórmula, quer dizer, se dá a voltagem (V) e a intensidade Avaliação de conteúdos atitudinais


(Y) e se pede o valor da resistência (R). Em outros exercícios
se modifica a demanda, mas sempre está relacionada com A natureza dos conteúdos atitudinais, seus componen-
a aplicação da fórmula. Uma situação real nunca será como tes cognitivos, condutuais e afetivos fazem com que seja
um problema da lei de Ohm, senão que nos encontraremos consideravelmente complexo determinar o grau de apren-
diante de um circuito elétrico em que intervêm muitas variá- dizagem de cada aluno. Se no caso da avaliação das apren-
veis e o que teremos de fazer em primeiro lugar será com- dizagens conceituais e procedimentais a subjetividade faz
preender em chie consiste o problema, que variáveis deve- com que não seja nada fácil encontrar dois professores que
mos levar em conta e quais temos que ignorar. façam a mesma interpretação do nível e das características
da competência de cada aluno, no âmbito dos conteúdos
Avaliação de conteúdos procedimentais atitudinais surge uma notável insegurança na avaliação dos
processos de aprendizagem que os alunos seguem. Isso
Os conteúdos conceituais, tanto os fatos como os con- porque o pensamento de cada professor está ainda mais
ceitos, se situam, fundamentalmente, dentro das capacida- condicionado por posições ideológicas do que nos outros
des cognitivas. Temos que verificar o que os alunos sabem tipos de conteúdos. Ao mesmo tempo, nos encontramos
sobre estes conteúdos. Portanto, as atividades para poder diante de uma tradição escolar que tendeu formalmente a
conhecer este saber, embora com dificuldades, como vimos, menosprezar estes conteúdos e que reduziu a avaliação a
podem ser de papel e lápis já que, com maior ou menor uma função sancionadora, expressada quantitativamente,
dificuldade, e conforme a idade, é possível expressar por fato que provocou a ilusão de se acreditar no rigor de suas
escrito o conhecimento que se tem. Os conteúdos proce- afirmações porque são matematizáveis. Esta necessidade
dimentais implicam saber fazer, e o conhecimento sobre o de quantificação, juntamente com a falta de experiências e
domínio deste saber fazer só pode ser verificado em situa- trabalhos neste campo, faz com que, muitas vezes, se ques-
ções de aplicação destes conteúdos. Para aprender um con- tione a necessidade de avaliar os conteúdos atitudinais pela
teúdo procedimental é necessário ter uma compreensão do impossibilidade de estabelecer avaliações tão “exatas” como
que representa como processo, para que serve, quais são no caso de outros tipos de conteúdo. Como pode se valorar
os passos ou fases que o configuram, etc. O que define sua a solidariedade ou atitude não-sexista? A quem podemos
aprendizagem não é o conhecimento que se tem dele, mas dar uma boa “nota” em tolerância? E evidente que sobre
o domínio ao transferi-lo para a prática. O conhecimento estas perguntas plana a visão sancionadora e classificató-
reflexivo do uso da língua é imprescindível para adquirir ria da avaliação, que pode levar a posições extremas que
competências linguísticas; o conhecimento das fases de uma questionem a possibilidade do trabalho sobre os conteúdos
pesquisa é necessário para poder se realizar uma pesquisa; a atitudinais por falta de instrumentos que permitam avaliar
compreensão dos passos de um algoritmo matemático deve as aprendizagens de forma “científica”. E como se no caso da
permitir um uso correto. Mas em todos estes casos o que se medicina, por exemplo, não se levasse em conta, e, portanto,
pede é sua capacidade de uso, a competência na ação, o sa- não serão tratados, a dor, o enjoo ou o stress, aduzindo que
ber fazer. As atividades adequadas para conhecer o grau de não existem instrumentos capazes de valorá-los de forma
domínio, as dificuldades e obstáculos em sua aprendizagem tão exata como a febre, a pressão arterial ou o número de
só podem ser as que proponham situações em que se utili- glóbulos vermelhos presentes no sangue.
zem estes conteúdos procedimentais. Atividades e situações O problema da avaliação dos conteúdos atitudinais não
que nos permitam realizar a observação sistemática de cada está na dificuldade de expressão do conhecimento que os
um dos alunos. Conhecer até que ponto sabem dialogar, de- meninos e meninas têm, mas na dificuldade da aquisição
bater, trabalhar em equipe, fazer uma pesquisa bibliográfi- deste conhecimento. Para poder saber de que os alunos
ca, utilizar um instrumento, se orientar no espaço, etc., só é realmente precisam e o que valorizam e, principalmente,
possível quando os alunos realizam atividades que implicam quais são suas atitudes, é necessário que na classe e na es-
dialogar, debater, fazer uma pesquisa, etc. cola surjam suficientes situações “conflitantes”, que permi-
As habituais provas de papel e lápis, no caso dos con- tam a observação do comportamento de cada um dos me-
teúdos procedimentais, só têm sentido quando se trata de ninos e meninas. Num modelo de intervenção em que não
procedimentos que se realizam utilizando papel, como a se observe a possibilidade do conflito, em que se evitem os
escrita, o desenho, a representação gráfica do espaço, os al- problemas interpessoais, em que se limite a capacidade de
goritmos matemáticos; ou quando são conteúdos de caráter atuação dos alunos, em que não haja espaços para expressar
mais cognitivo, que podem ser, expressos por escrito, como autonomamente a opinião pessoal nem se proponham ati-
a transferência, a classificação, a dedução e a inferência. Mas vidades que obriguem a conviver em situações complexas,
em outros casos, que são a maioria, só é possível avaliar o dificilmente será possível observar os avanços e as dificulda-
nível de competência dos alunos se os situamos frente a ati- des de progresso de cada aluno neste terreno, assim como
vidades que- lhes obriguem a desenvolver o conteúdo pro- avaliar a necessidade de oferecer ajudas educativas.
cedimental e que sejam facilmente observáveis. Devem ser A fonte de informação para conhecer os avanços nas
atividades abertas, feitas em aula, que permitam um traba- aprendizagens de conteúdos atitudinais será a observação
lho de atenção por parte dos professores e a observação sis- sistemática de opiniões e das atuações nas atividades gru-
temática de como cada um dos alunos transfere o conteúdo pais, nos debates das assembleias, nas manifestações dentro
para a prática. e fora da aula, nas visitas, passeios e excursões, na distribui-

9
GESTÃO PEDAGÓGICA

ção das tarefas e responsabilidades, durante o recreio, nas desenvolvimento de todas as capacidades. A observação da
atividades esportivas, etc. atuação dos alunos em situações o menos artificiais possível,
com um clima de cooperação e cumplicidade, é a melhor ma-
Compartilhar objetivos, condição indispensável para neira, para não dizer a única, de que dispomos para realizar
uma avaliação formativa uma avaliação que pretenda ser formativa.

Pelo que vimos até agora, o meio mais adequado para A informação do conhecimento dos processos e os re-
nos informarmos do processo de aprendizagem e do grau sultados da aprendizagem
de desenvolvimento e competência que os meninos e meni-
nas alcançam consiste na observação sistemática de cada um Ao longo do processo de ensino/aprendizagem fomos
deles na realização das diferentes atividades e tarefas. Tam- adquirindo um conhecimento do que acontece na aula. Se
bém pudemos constatar que as provas escritas, como ins- prestamos atenção, pudemos nos familiarizar com os pro-
trumentos de conhecimento, são extremamente limitadas, cessos que foram seguidos e os resultados obtidos em re-
embora sejam adequadas quando o que se quer conhecer lação aos diferentes objetos e sujeitos da avaliação. Por um
tem um caráter basicamente cognitivo e se têm suficientes lado, dispomos de um acúmulo de dados e, por outro, de
habilidades para sabê-lo expressar por escrito: conteúdos uma série de pessoas ou instâncias que necessitam ou que-
factuais, conceituais, conteúdos procedimentais de papel rem conhecer estes dados.
e lápis, algumas estratégias cognitivas, argumentações de Como falamos da faceta informativa da avaliação, não
valores e opiniões sobre normas de comportamento. Quan- podemos evitar de nos colocar a seguinte pergunta:
to ao resto dos conteúdos, e também ao que acabamos de
mencionar, a observação sistemática é o melhor instrumen- • Sobre o que deve se informar? Sobre resultados,
to, quando não o único, para a aquisição do conhecimento processos, necessidades, limitações...
da aprendizagem dos alunos.
Mas para que esta observação seja possível são neces- Mas também temos que nos perguntar:
sárias situações que possam ser observadas e um clima de
• A quem devemos informar? Ao grupo / classe, aos
confiança que favoreça a colaboração entre os professores
alunos, à família, ao grupo de professores ou à ad-
e os alunos. Devemos levar em conta que se o objetivo fun-
ministração.
damental da avaliação é conhecer para ajudar, a forma como
tradicionalmente as provas escritas foram desenvolvidas, E principalmente:
pelo fato de terem caráter sancionador, estabeleceu uma
• Para que servirá esta informação? Para ajudar, san-
dinâmica que faz com que o objetivo básico do aluno não
cionar, selecionar, promover...
seja dar a conhecer suas deficiências para que o professor
ou a professora ajudem-no, mas, ao contrário, demonstrar E surge ainda outra pergunta:
ou aparentar que sabe muito mais. As roxas estão viciadas
• Os informes têm que ser iguais para todos? Quer di-
desde o princípio, já que se estabelecem determina as rea-
zer, temos que informar sobre o mesmo e da mesma
ções entre os professores e alunos que estão tingidas de
maneira independentemente dos destinatários des-
hipocrisia, quando não de inimizade. A filosofia da prova é a
ta informação e do uso que farão dela?
do engano, a do caçador e da caça e, portanto, não promo-
ve a cumplicidade necessária entre professor e aluno. Com- Estas perguntas podem parecer improcedentes se nos
paramos, anteriormente, a função educativa com a médica. fixamos numa tradição escolar que as evitou porque esta-
Agora esta comparação pode nos servir de novo. Quando beleceu um modelo extremamente simples, em que apenas
vamos ao médico, não tentamos lhe esconder os sintomas se informam os resultados obtidos, e se faz da mesma forma
nem o resultado do tratamento, porque consideramos que tanto em classe, como para o aluno, para os pais ou para a
seus objetivos são os mesmos que os nossos, que o que administração, com uma função de seleção, fundamental-
ele quer é nos ajudar. Infelizmente, esta não é a imagem mente. A seguir tentaremos revisar as variáveis que intervêm
que muitos de nossos alunos têm de nós. O peso de um neste processo informativo e responder a estas perguntas.
ensino orientado para a seleção contribuiu para uma série
de hábitos, de maneiras de fazer, que configurou a forma Sobre o que deve se informar?
de atuar e pensar da maioria do professorado e, seguindo
esta trajetória, o pensamento dos pais e mães e inclusive dos No momento da avaliação final, especialmente quando
próprios alunos. tem implicações na promoção, é habitual que em muitas
Dificilmente podemos conceber a avaliação como for- escolas se produzam discussões entre os componentes da
mativa se não nos desfazemos de algumas maneiras de fa- equipe docente: deve se aprovar aqueles alunos que não
zer que impedem mudar as relações entre os alunos e os alcançaram os mínimos? O que se deve fazer com os que
professores. Conseguir um clima de respeito mútuo, de manifestaram um grau de interesse e um esforço mínimos,
colaboração, de compromisso com um objetivo comum é apesar de terem um conhecimento bastante bom da maté-
condição indispensável para que a atuação docente possa ria? Busca-se resolver ambos os casos subindo ou baixando
se adequar às necessidades de uma formação que leve em a nota referente ao conhecimento adquirido, conforme o
conta as possibilidades reais de cada menino e menina e o nível de envolvimento do aluno. Mas muito seguidamente

10
GESTÃO PEDAGÓGICA

esta solução é criticada por causa da subjetividade da de- fissional considerado de prestígio num determinado mo-
cisão e por argumentos que racionalizam a necessidade de mento. A função da escola e da verdadeira responsabilidade
dar informações “rigorosas” e, portanto, ajustadas ao co- profissional passam por conseguir que nossos alunos atin-
nhecimento real alcançado. Neste debate volta a aparecer, jam o maior grau de competência em todas as suas capacida-
embora não de maneira explícita, a situação contraditória des, investindo todos os esforços em superar as deficiências
entre um pensamento seletivo e propedêutico e outro que que muitos deles carregam por motivos sociais, culturais e
contempla como finalidade a formação integral da pessoa. pessoais. Uma vez alcançado este objetivo, é evidente que
O costume de trabalhar conforme um modelo seletivo a sociedade fará as seleções correspondentes. O que não
proporcionou uma fórmula extremamente simples e ao mes- podemos fazer ao longo de todo o ensino obrigatório (em
mo tempo simplista. No fundo, o que tem que se fazer é ir muitos casos desde os três anos até os dezesseis, quer dizer,
precisando o quanto antes a capacidade de cada aluno para durante treze anos da vida da criança) é medir ou etiquetar
superar os diferentes obstáculos que encontrará no percur- o aluno conforme sua capacidade de ser um “vencedor”. To-
so até a universidade. Uma vez diagnosticadas as matérias dos sabemos que hoje em dia ainda existem escolas, além
ou disciplinas necessárias para realizar este percurso, é ne- do mais consideradas de prestígio, que realizam esta seleção
cessário determinar se os alunos são capazes de alcançar os aos seis anos, já que não aceitam alunos que ainda (!) não
mínimos para cada uma destas matérias. A informação deve saibam ler nem escrever ou que apresentem algum tipo de
ir comunicando se o aluno avança ou não neste percurso, “deficiência escolar”.
entendendo por avançar a superação dos limites estabeleci-
dos. A informação se resume em se o menino ou a menina Esta necessidade de diferenciar a função seletiva do
supera ou não supera, aprova ou não aprova, é suficiente ou processo seguido pelo aluno e, portanto, de informá-lo fun-
insuficiente, progride adequadamente ou necessita melho- damentalmente sobre seu processo pessoal, não obedece a
rar. Se é necessário definir um pouco mais, estabelecemos, razões de “caridade”, mas de eficiência. Todos aprendemos
nos níveis superiores, uma gradação que em muitos casos mais e melhor quando nos sentimos estimulados, quando
se expressa por eufemismos das convencionais notas de 1 a temos um bom autoconceito, quando nos propomos me-
10. Devemos ter presente que hoje em dia os referenciais de tas desafiantes, mas acessíveis para nossas possibilidades,
todo estudante continuam sendo o vestibular e a nota mé- quando ainda não renunciamos a continuar aprendendo. Ao
dia que lhe permitirá ter acesso a uma faculdade ou outra. final da escolarização, sem dúvida, teremos que falar de re-
O peso da nota, as experiências acumuladas durante muitos sultados, de competências, de objetivos alcançados, mas ao
anos e um uso tão fácil e socialmente bem aceito fazem com longo do ensino nossa obrigação profissional consiste em
que seja extraordinariamente complicado e difícil introduzir incentivar, animar e potencializar a autoestima, estimular a
mudanças que aparentemente são muito lógicas desde a aprender cada dia mais. E isto não significa que devamos
perspectiva atual do conhecimento dos processos de apren- esconder o que cada um é capaz de fazer, já que um dos
dizagem e ensino. objetivos do ensino é que cada menino e menina consiga
Para poder resolver esta verdadeira esquizofrenia entre conhecer profundamente suas possibilidades e suas limita-
um pensamento centrado na formação integral da pessoa ções. O que não pode é que os resultados sejam utilizados
e os hábitos e os costumes de um modelo seletivo e pro- como único referencial e sob determinados parâmetros sele-
pedêutico, acreditamos que é conveniente diferenciar clara- tivos. Temos que avaliar os processos que cada aluno segue,
mente, em primeiro lugar, o processo sancionador ao final a fim de obter o máximo rendimento de suas possibilidades.
da escolarização obrigatória (em nosso caso, aos dezesseis Assim, ao longo da escolarização lhe proporcionaremos as
anos) e todas as informações que se oferecem ao longo da informações que, sem negar sua situação quanto a certos
escolarização. objetivos gerais, o ajudem a progredir.
E lógico que ao final da etapa escolar obrigatória a, so- Ao longo das diferentes etapas do ensino obrigatório
ciedade exija uma informação compreensível e homologá- temos que diferenciar entre o processo que cada aluno se-
vel das capacidades adquiridas por cada aluno; um informe gue e os resultados ou competências que vai adquirindo. Um
que expresse com o máximo, rigor possível as competências dos problemas que colocávamos no começo deste tópico
adquiridas. E é evidente que, dadas as características dife- era a dificuldade de expressar com uma única nota ou indi-
renciais de cada aluno, os resultados obtidos não serão os cação o conhecimento que temos a respeito da aprendiza-
mesmos para cada um deles. O sistema educacional tem a gem do aluno, geralmente numa disciplina. A informação de
obrigação de informar os resultados obtidos, e é a sociedade que dispomos não se refere apenas aos conhecimentos que
quem estabelece as necessidades ou requisitos prévios para adquiriu, como também à dedicação que despendeu e ao
cada uma das carreiras ou alternativas profissionais. Mas isto progresso que realizou. E evidente que dificilmente podere-
não implica que desde pequenos o filtro tenha que ser esta mos resumir numa indicação apenas, seja uma nota ou um
seleção profissional. Não podemos pré-julgar ou avaliar ne- conceito, a complexidade da informação. Por isso é impres-
gativamente desde o começo. Devemos levar em conta que cindível elaborar alguns registros completos que ajudem a
se estamos pensando em “todos” os meninos e meninas, em entender o que está acontecendo a cada menino e menina,
todos os cidadãos e cidadãs, não existe nenhum sistema que que incluam observações suficientes, com todos os dados
possa garantir o “melhor posto” para todos. Por sorte, nem que permitam conhecer em profundidade a complexidade
todos podemos ou queremos ser banqueiros, engenheiros dos processos que cada aluno realiza. Esquematicamente,
de telecomunicações, economistas ou qualquer outro pro- deveríamos poder diferenciar entre o que se espera de cada

11
GESTÃO PEDAGÓGICA

aluno, o processo seguido, as dificuldades que encontrou, mos ou não, a administração terá que fazer num ou noutro
sua implicação na aprendizagem, os resultados obtidos e as momento e que faz com que a filosofia da promoção para
medidas que é preciso tomar. níveis superiores acabe impregnando as decisões adminis-
Em segundo lugar, é preciso diferenciar entre o que re- trativas. Um bom reflexo desta situação é a contradição en-
presentam os resultados obtidos de acordo com os objetivos tre as propostas curriculares da maioria das comunidades
previstos para cada menino e menina, conforme suas possi- autônomas, por um lado, com manifestações explícitas a fa-
bilidades, e o que estes resultados representam em relação vor da formação integral, da concepção construtivista do en-
aos objetivos gerais para todo o grupo. O conhecimento que sino e aprendizagem e, portanto, da necessidade de atender
temos sobre como se aprende nos obriga a enfocar a apren- à diversidade, e, por outro, certos modelos de informes que
dizagem como um processo de crescimento individual, sin- continuam tendo como referência concepções tradicionais
gular, em que cada aluno avança com um ritmo e um estilo de informações por áreas ou matérias, com indicadores glo-
diferentes. Se entendemos o ensino como um ato em que se bais, onde são prioritários os resultados obtidos em vez do
propõem metas e ajudas personalizadas, dificilmente pode processo seguido. E paradoxal que num modelo que parte
se entender uma informação que não contemple este pro- da atenção à diversidade, no primário, se proponha como
cesso pessoal ou que não relacione o processo que cada indicadores de resultados o NM (necessita melhorar) e o
aluno segue aos objetivos que consideramos que devem PA (progride adequadamente). O que significa um NM num
ser alcançados. Além do mais, tampouco podemos deixar modelo que propõe a atenção à diversidade? O que é uma
de relacionar estas aprendizagens pessoais com aqueles ob- menina que, apesar de saber muito, necessita melhorar mais
jetivos correspondentes ao grupo/ classe, conforme o que porque não dedica muito esforço? E um PA? Quer dizer que
determina o projeto da escola. se trata de um menino que não sabe muito, mas que está
Em terceiro lugar, na análise e avaliação das aprendi- progredindo muito, conforme suas possibilidades? E eviden-
zagens é indispensável diferenciar os conteúdos que são de te que estas não são as interpretações que se pretendem.
natureza diferente e não situá-los num mesmo indicador. No findo, um NM é um eufemismo do reprovado ou insufi-
Não podemos resolver a valoração de um aluno numa de- ciente e um PA do aprovado ou suficiente. E se examinamos
termina área com um único dado que se refira às aprendi- a, etapa do secundário obrigatório, veremos que a proposta
zagens de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudi- é a convencional, ou seja, o que se pretende é que com um
nais ao mesmo tempo. Nenhuma afirmação sobre uma área único indicador por área se faça uma avaliação que não leva
ou uma matéria terá valor explicativo se o que indica não em conta a tão mencionada atenção à diversidade.
e suficientemente compreensível para que se possa tomar Como pudemos constatar, a resposta à pergunta sobre
as medidas educativas pertinentes. Por exemplo, supondo o que se tem que informar está claramente condicionada
que possamos considerar aproveitável a nota quantificada, pela função social que atribuímos ao ensino e a concepção
se a informação acerca de um aluno nos diz que obteve um que temos da aprendizagem. Estas concepções são também
7 num determinado tema de matemática, que interpreta- as que determinam o papel que devem ter os informes se-
ção podemos fazer desta nota? Obteve um 7 nos conteúdos gundo os destinatários da avaliação.
conceituais do tema, um 7 nos procedimentais e um 7 nos
atitudinais? Ou por acaso este 7 é a média proporcional? Informes segundo os destinatários
E caso se trate da média proporcional: que nota daremos
ao aluno que obteve um 10 nos conteúdos conceituais, um O costume nos faz considerar como algo normal que
8 nos procedimentais e um 3 nos atitudinais? Também lhe um mesmo informe sirva para qualquer um dos possíveis
daremos um 7? O que nos indicarão estes 7 sucessivos? Se interessados na informação que decorre da avaliação. Os
nossa intenção é conhecer realmente para adotar as medi- boletins de notas foram o instrumento único de transmissão
das educativas de que cada aluno necessita, esta informação da informação, independente dos receptores. Os possíveis
dificilmente será útil se não especifica os resultados ou a si- interessados em conhecer a avaliação de um aluno são os
tuação concreta para cada tipo de conteúdo. professores, o próprio aluno, seus familiares, a escola e a
administração. Se nos deixamos levar pelos costumes ad-
Em quarto lugar, temos que diferenciar entre as deman- quiridos, certamente não nos faremos a pergunta capital
das da administração e as necessidades de avaliação que ao refletir sobre qual é o tipo de informe de que necessita
temos na escola, em nossa responsabilidade profissional. As cada um destes possíveis receptores e proporemos o mes-
administrações costumam ser entidades complexas e com mo para todos. O que deve ou deveria fazer cada receptor
tendências burocratizantes. Os critérios e as formas exigidas com esta informação? Qual é a função que deve ter, confor-
pelos processos avaliadores devem ser, pelo que estamos me o destinatário? A resposta a estas perguntas não apenas
vendo, eminentemente qualitativos. Por outro lado, as admi- indicará que tipo de informe se requer, como também que
nistrações tendem a simplificar, com argumentos seguida- conteúdos deve ter.
mente paternalistas: os educadores que temos não saberão Como qualquer outra variável metodológica, as carac-
fazê-lo, logo simplifiquemos. Além do mais, a quantificação terísticas da avaliação dependem das finalidades que atri-
ou a resposta em poucos pontos sempre é mais fácil de con- buímos ao ensino. A pergunta que estamos fazendo agora
trolar e, portanto, exige um menor investimento em recursos logicamente dependerá destes objetivos. A opção escola
que permitam desenvolver processos qualitativos. E preciso seletiva e propedêutica dá como resultado uma avaliação
acrescentar também a exigência de selecionar que, goste- sancionadora e um instrumento informativo único - o bole-

12
GESTÃO PEDAGÓGICA

tim de notas - centrado nos resultados obtidos por áreas ou ensino/aprendizagem com mais incidência formativa. Quer
matérias. N. resposta a esta pergunta será substancialmente dizer, temos que tratá-la como uma atividade de aprendi-
diferente quando a opção for a de uma escola que presta zagem e não como uma ação independente da maneira de
atenção à diversidade e que busca a formação integral da ensinar.
pessoa. A breve análise que propomos para cada destinatá- A informação que os familiares do aluno recebem tam-
rio parte desta opção. bém tem urna incidência educativa e, portanto, deverá ser
Nós professores e professoras ternos que dispor de todos tratada como tal. Conforme o uso que os pais fizerem desta
os dados que nos permitam conhecer em todo momento informação, poderão estimular o menino ou a menina ou,
que atividades cada aluno necessita para sua formação. Os pelo contrário, transformar-se num impedimento para seu
dados devem se referir ao processo seguido pelo aluno: no progresso. A informação que têm que receber, como a do
começo, durante e ao finalizá-lo e deverão permitir deter- aluno, tem que se centrar, fundamentalmente, no processo
minar que necessidades tem e, portanto, que medidas edu- que segue e nos avanços que realiza, assim como nas me-
cativas temos que lhe oferecer. Esta informação necessária didas que a família pode adotar para fomentar o trabalho
não apenas se refere a sua aprendizagem, como também às que se faz na escola. A referência básica deve ser o processo
medidas que foram adotadas ao longo de todo o processo. pessoal, situado em relação a suas possibilidades, a fim de
Assim, pois, é preciso ter um bom registro das incidências de que a avaliação se centre no que pode fazer. Isto implica
cada aluno em relação ao processo seguido, aos resultados romper com certo tipo de informação que, pelo fato de se
obtidos e às medidas utilizadas. Portanto, este registro deve fixar unicamente nos resultados chocos, faz com que às ve-
contemplar a informação de que dispomos quanto ao per- zes se felicite quem trabalhou abaixo de suas possibilidades,
curso, o grau de realização dos objetivos previstos e o grau estimulando-o a continuar atuando da mesma forma e, por
de aprendizagem adquirido em cada conteúdo. Quer dizer, outro lado, se castigue aquele que se esforçou muito, po-
precisamos conhecer, além de como o conseguiu, a descri- tencializando assim sua desmotivação. O costume tem feito
ção do que sabe, sabe fazer e como é, para poder efetuar com que a primeira demanda dos familiares seja comparati-
uma avaliação a respeito dele mesmo e outra a respeito do va, exigindo uma avaliação similar a que eles tiveram como
que consideramos como finalidades gerais do ciclo ou do alunos. E lógico que seja assim, é o que sempre viram e teo-
curso. Enfim, uma informação que possibilite situar o aluno ricamente lhes foi útil. E coerente numa lógica seletiva. Foi
em relação a suas possibilidades reais e ao que poderíamos reprovado ou não foi reprovado? Está entre os primeiros ou
considerar a média desse curso. os últimos? Estas são as perguntas habituais. Obviamente,
não pode se esconder o conhecimento que temos do alu-
O aluno necessita de incentivos e estímulos. É necessá- no nestas questões. Temos que fazer com que os familiares
rio que conheça sua situação, em primeiro lugar, em relação compreendam que nos fixarmos unicamente nesta variável
a si mesmo e, em segundo lugar, em relação aos demais. não ajudará seu filho ou filha, que o que deve preocupá-
Sem incentivos, sem estímulos e sem entusiasmo dificilmen- -los é como colocar à disposição os meios que possibilitem
te poderá enfrentar o trabalho que lhe é proposto. Vimos seu crescimento E isto só será possível se seu foco de aten-
e sabemos que sem uma atitude favorável em relação à ção são os progressos que está fazendo em relação às suas
aprendizagem não se avança, e esta atitude depende estrei- possibilidades. Um dos melhores meios de comunicação é a
tamente da autoestima e do autoconceito de cada aluno. E entrevista pessoal, já que permite adequar a informação às
imprescindível oferecer a informação que o ajude a superar características dos familiares e priorizar convenientemente
os desafios escolares. Portanto, tem que ser uma verdadeira os diferentes dados transmitidos. Por outro lado, o informe
ajuda, não unicamente uma constatação de carências que escrito, embora deva ser compreensível, não pode ser uma
certamente o próprio aluno já conhece bastante bem. Tem simplificação ou banalização da riqueza de matizes e con-
que receber informação que o anime a continuar traba- teúdos que compreende todo o processo de ensino/apren-
lhando ou a trabalhar. O recurso da provocação mediante a dizagem.
comparação só é útil quando as metas estão a seu alcance, A escola, a equipe docente, a fim de garantir a continui-
além de ser uma solução parcial que origina outros proble- dade e a coerência no percurso do aluno, tem que dispor
mas. O informe tem que propor algumas metas que o aluno de todos os dados necessários para este objetivo. Esta in-
sabe que lhe são acessíveis, que não estejam muito distan- formação deverá contemplar tudo quanto possa ajudar os
tes de suas possibilidades e, sobretudo, que para superá-las professores de cada série e de cada área a tomar as medidas
possa contar com a ajuda dos professores. Tem que saber adequadas às características pessoais de cada um de seus
qual é o processo seguido a fim de compreender as causas alunos. Deverão ser dados referentes ao processo seguido,
dos avanços e dos tropeços. E esta é a função prioritária da aos resultados obtidos, às medidas específicas utilizadas e a
informação que o aluno tem que receber ao longo de sua qualquer incidente significativo. De certo modo, têm que ser
escolarização. Porém, isto não é o suficiente; é necessário uma síntese dos diferentes registros de cada um dos profes-
que conheça periodicamente qual é sua situação em relação sores e professoras que o aluno teve na escola.
a determinados objetivos gerais de grupo, não com finali- Finalmente, a administração. E evidente que a única res-
dade classificatória, mas com a intenção de conhecer suas posta possível neste caso é que a informaremos sobre o que
verdadeiras forças. A avaliação deve ser efetuada em relação nos peça. Agora, numa perspectiva de atenção à diversidade
a si mesmo. E preciso ter presente que informar o menino ou e de ensino compreensivo, que tipo de informação deveria
a menina sobre suas aprendizagens é uma das atividades de nos pedir? Por coerência com esta opção – e ao contrário da

13
GESTÃO PEDAGÓGICA

que se propõe atualmente – a informação exigida nunca de- de sua situação e analise seus progressos, seus retrocessos e
veria ser simples. A administração educacional é gerida por seu envolvimento pessoal.
educadores; portanto, seria lógico que a informação fosse o Por tudo isso, a informação e o conhecimento têm que
mais profissional possível, com critérios que permitissem a permanecer na privacidade do aluno e de seu professor em
interpretação do caminho seguido pelos meninos e meni- virtude do contrato que os vincula ao longo de uma série
nas, conforme modelos tão complexos como complexa é a escolar. Não é justo nem útil que se proclamem aos qua-
tarefa educativa. E incoerente falar de atenção à diversida- tro ventos de maneira indiscriminada. E não é útil porque
de, globalização, transversalidade, objetivos gerais de etapa devemos duvidar do hipotético efeito estimulante de uma
em forma de capacidades, conteúdos conceituais, procedi- atuação que, pelo contrário, tem muitas possibilidades de
mentais e atitudinais, etc., se toda esta riqueza tem que ficar ser prejudicial para os meninos e meninas quanto tem cono-
diluída, escondida numa nota, do tipo que for, por área ou tações negativas.
matéria. Defendem-se certos modelos, mas o caráter sele- Assim, pois, convém entender que todo o processo de
tivo aparece de maneira recorrente, embora aparentemen- ensino/aprendizagem tem alguma coisa, para não dizer mui-
te não se queira. O mais triste de tudo é que os modelos to, de relação pessoal. E todas as relações têm uma dimen-
da administração acabam por se transformar na referência são pública, uma dimensão privada e uma dimensão íntima.
da maioria. Para os demais, estes modelos são um motivo Temos que analisar se os sistemas tradicionais de comunicar
a mais de desencanto quando se dão conta de que tudo os resultados das avaliações, assim como a divulgação ina-
pode ficar em palavras grandiloquentes, quando vêem que dequada, se situam na dimensão eticamente corresponden-
por culpa de algumas propostas simplistas tudo se resume a te. Amparar-se no pseudoargumenta que afirma que se fez
boas intenções, porque, no final, os critérios de avaliação, ou assim toda a vida não é mais do que constatar que se atuou
o que tem que constar nos informes de avaliação, condicio- basicamente por inércia.
nará tudo quanto se faz na escola, os conteúdos de aprendi-
zagem e a maneira de ensinar. Conclusões
Fizemos um exame dos diferentes receptores possíveis
do conhecimento que temos do rendimento escolar e de Apesar de que se disse muitas vezes, convém não per-
como o adquirimos. Mas nos esquecemos de alguém que der de vista que, dado que a avaliação é um elemento-chave
até agora tem sido um receptor habitual. Referimo-nos aos de todo o processo de ensinar e aprender, sua função se
colegas do mesmo grupo / classe e inclusive das outras tur- encontra estreitamente ligada à função que se atribui a todo
mas. o processo. Neste sentido, suas possibilidades e potencia-
Sem dúvida, o peso da história e das rotinas adquiri- lidades se vinculam à forma que as próprias situações di-
das na tarefa docente sancionam como “normais” determi- dáticas adotam. Quando são homogeneizadoras, fechadas,
nadas formas de atuar que, com um olhar novo e objetivo, rotineiras, a avaliação – na função formativa e reguladora
nos pareceriam fora de lugar e dificilmente justificáveis. Isto que ternos atribuído a ela – tem pouca margem para se
acontece no caso dos procedimentos, através dos quais transformar num fato habitual e cotidiano. Contrariamente,
fica publicamente difundido o resultado das avaliações dos as propostas abertas, que favorecem a participação dos alu-
meninos e meninas. Talvez seja um tributo que se tenha de nos e de possibilidade de observar, por parte dos professo-
pagar pela longa permanência de um sistema educativo es- res, oferecem a oportunidade para uma avaliação que ajude
sencialmente seletivo e propedêutico, que tem como finali- a acompanhar todo o processo e, portanto, a assegurar sua
dade última selecionar os “melhores” alunos para levá-los à idoneidade. Também são estas situações que dão margem à
universidade (o que implica, de forma paralela, a identifica- autoavaliação.
ção dos alunos menos capacitados e seu desvio para outras Agora, é preciso lembrar que avaliar, e avaliar de uma
opções). Agora, em nenhum caso parece legítima a prática determinada maneira – diversificada tanto em relação aos
de tornar públicos os nomes daqueles que estão academica- objetos como aos sujeitos da avaliação, e com o objetivo de
mente bem situados e dos que estão no fim da lista. tomar decisões de diferente caráter – não é, exclusivamente,
uma questão de oportunidade.
Optar por um modelo de educação integral, que tem A presença de determinadas opções claras, de tipo ge-
como principal objetivo ajudar todos os alunos a crescer e ral, sobre a função do ensino e da maneira de entender os
formá-los nas diversas capacidades, sem deixar de atender processos de ensino/ aprendizagem, que dão um sentido
os que têm menos possibilidades, obriga a modificar muitos ou outro à avaliação, soma-se a necessidade de objetivos
dos costumes e das rotinas que herdamos de um ensino de ou finalidades específicas que atuam como referencial con-
caráter seletivo. No âmbito da avaliação e da comunicação creto d., atividade avaliadora, que a faça menos arbitrária,
dos resultados, não devemos perder de vista que os profes- arais justa e útil. Ao mesmo tempo, exige uma atitude ob-
sores têm acesso, graças a seu conhecimento profissional, a servadora e indagadora por parte dos professores, que os
aspectos da personalidade dos alunos que temos que consi- impulsionem a analisar o que acontece e a tomar decisões
derar estritamente íntimos. Este conhecimento tem que ser para reorientar a situação, quando for necessário. Esta atitu-
utilizado unicamente para contribuir para o progresso tanto de se aprende. E também tem que se aprender a confiar nas
do aluno como do professor: aos professores, para que pos- próprias possibilidades para se levar a cabo este trabalho, a
sam adaptar o ensino às necessidades do aluno e para que confiar na grande quantidade de dados, às vezes assistemá-
valorizem seu esforço; ao do aluno, para que se conscientize ticos e informais, que obtemos ao longo do trabalho diário

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GESTÃO PEDAGÓGICA

e que não têm porque ser pouco úteis embora sejam de escola, também sabemos todos, nos enreda com os outros
caráter pouco “técnico”. formando tramas diferentes e mais belas ou menos belas, de
Também devemos aprender a confiar nas possibilidades acordo com as relações culturais que mantemos e do tipo de
de os alunos para auto avaliar seu processo. O melhor ca- memória que nós temos de escola [...].
minho para fazê-lo é ajudar os alunos a alcançar os critérios Essa concepção converge com a de Tomaz Tadeu da Sil-
que lhes permitam se auto avaliar, combinando e estabele- va (2005, p.15):
cendo o papel que esta atividade tem na aprendizagem e O currículo é sempre resultado de uma seleção: de um
nas decisões de avaliação que tomam. A autoavaliação não universo mais amplo de conhecimentos e saberes seleciona-
pode ser um episódio nem um engano; também é um pro- -se aquela parte que vai constituir, precisamente o currículo.
cesso de aprendizagem de avaliação do próprio esforço e, As definições de currículo de Lopes (2006) e Silva (2005)
portanto, é algo que convém planejar e levar a sério. são aquelas de Sacristán (2003):
Por último, devemos ter presente que, na aula e na es- [...] conjunto de conhecimentos ou matérias a serem su-
cola, avaliamos muito mais do que se pensa, e inclusive mais peradas pelo aluno dentro de um ciclo-nível educativo ou
do que temos consciência. Um olhar, um gesto, urna expres- modalidade de ensino; o currículo como experiência recriada
são de alento ou de confiança, uma recusa, um não levar em nos alunos por meio da qual podem desenvolver-se; o currí-
conta o que se fez, uma manifestação de afeto... tudo isto culo como tarefa e habilidade a serem dominadas; o currículo
também funciona, para um menino ou uma menina, como como programa que proporciona conteúdos e valores para
um indicador de avaliação. E impossível que estes detalhes que os alunos melhorem a sociedade em relação à reconstru-
não nos escapem, mas devemos tentar ser discretos e pon- ção da mesma [...]
derados em nossos julgamentos. Efetivamente, o tema da Lopes (2006), Silva (2005) e Sacristán (2000) afirmam
avaliação complexo porque nos proporciona informação e que o Currículo não é uma listagem de conteúdos. O cur-
muitas vezes questiona todo o processo de ensino/apren- rículo é processo constituído por um encontro cultural, sa-
dizagem. Por tudo isso, temos que lidar com ele como for beres, conhecimentos escolares na prática da sala de aula,
possível. locais de interação professor e aluno.
Essas reflexões devem orientar a ação dos profissionais
Fonte da educação quanto ao Currículo, além de estimular o valor
ZABALA, Antoni. in A Prática Educativa. Como Ensinar. formativo do conhecimento pedagógico para os professo-
Artmed, P. Alegre, 1998. res, o que realmente nos importa como docentes.

#FICAADICA
3. CURRÍCULO
Conhecer as teorias sobre o Currículo nos leva a refletir
sobre para que serve, a quem serve e que política
CURRÍCULO E SUAS DEFINIÇÕES pedagógica elabora o Currículo.

O debate sobre Currículo e sua conceituação é neces- TEORIAS DO CURRÍCULO


sário para que saibamos defini-lo e para conhecer quais as
Para Silva (2005) é importante entender o significado
teorias que o sustentam na educação. Um Currículo não é
de teoria como discurso ou texto político. Uma proposta
um conjunto de conteúdos dispostos em um sumário ou ín-
curricular é um texto ou discurso político sobre o currículo
dice. Pelo contrário, a construção de um Currículo demanda:
porque tem intenções estabelecidas por um determinado
a) uma ou mais teorias acerca do conhecimento escolar;
grupo social. De acordo com esse autor, uma Teoria do Cur-
b) a compreensão de que o Currículo é produto de um
rículo ou um discurso sobre o Currículo, mesmo que pre-
processo de conflitos culturais dos diferentes grupos de educa-
tenda apenas descrevê-lo tal como é, o que efetivamente
dores que o elaboram;
faz é produzir uma noção de currículo. Como sabemos as
c) conhecer os processos de escolha de um conteúdo e não
chamadas “teorias do currículo”, assim como as teorias edu-
de outro (disputa de poder pelos grupos) (LOPES, 2006).
cacionais mais amplas, estão recheadas de afirmações sobre
como as coisas devem ser (SILVA, 2005).
Para iniciar o debate vamos apresentar algumas defini-
É preciso entender o que as teorias do currículo produ-
ções de currículo para compreender as teorias que circulam
zem nas propostas curriculares e como interferem em nos-
entre nós, educadores. De acordo com Lopes (2006, contra
sa prática. Uma teoria define-se pelos conceitos que utiliza
capa):
para conceber a realidade. Os conceitos de uma teoria diri-
[...] o currículo se tece em cada escola com a carga de
gem nossa atenção para certas coisas que sem elas não ve-
seus participantes, que trazem para cada ação pedagógica
ríamos. Os conceitos de uma teoria organizam e estruturam
de sua cultura e de sua memória de outras escolas e de ou-
nossa forma de ver a realidade (SILVA, 2005).
tros cotidianos nos quais vive. É nessa grande rede cotidiana,
formada de múltiplas redes de subjetividade, que cada um
Para Silva (2005) as teorias do currículo se caracterizam
de nós traçamos nossas histórias de aluno/aluna e de pro-
pelos conceitos que enfatizam. São elas:
fessor/professora. O grande tapete que é o currículo de cada

15
GESTÃO PEDAGÓGICA

• Teorias Tradicionais: (enfatizam) ensino - aprendiza- atitudes e comportamentos que considera “naturais “. O cur-
gem-avaliação – metodologia- didática-organização rículo crítico oferece uma visão da realidade como processo
– planejamento- eficiência- objetivos. mutante contínuo, cujo agentes são os seres humanos, os
quais, portanto, estão em condição de realizar sua transfor-
• Teorias Críticas: (enfatizam) ideologia- reprodução
mação. A função do currículo não é “refletir “uma realidade
cultural e social- poder- classe social- capitalismo-
fixa, mas pensar sobre a realidade social; é demonstrar que
relações sociais de produção- conscientização-
o conhecimento e os fatos sociais são produtos históricos e,
emancipação- currículo oculto- resistência.
consequentemente, que poderiam ter sido diferentes (e que
• Teorias Pós-Críticas: (enfatizam) identidade – alteri- ainda podem sê-lo).
dade – diferença subjetividade - significação e dis-
curso- saber e poder- representação- cultura- gêne- É por isso que Albuquerque /Kunzle (2006) perguntam:
ro- raça- etnia- sexualidade- multiculturalismo. Quando pensamos o currículo tomamos a ideia de ca-
minho: que caminho vamos percorrer ao longo deste tempo
escolar? Que seleções vamos fazer? Que seleções temos fei-
As teorias tradicionais consideram–se neutras, científicas
to? E mais: em que medida nós, professoras/es e pedago-
e desinteressadas, as críticas argumentam que não existem
gas/os interferimos nesta seleção? Qual é o conhecimento
teorias neutras, científicas e desinteressadas, toda e qual-
com que a escola deve trabalhar? Quando escolhemos um
quer teoria está implicada em relações de poder.
livro didático, ele traz desenhado o currículo oficial: o saber
As pós-críticas começam a se destacar no cenário na-
legitimado, o saber reconhecido que deve ser passado ás
cional, os currículos existentes abordam poucas questões
novas gerações. Porque isso é que o currículo faz: uma se-
que as representam. Encontramos estas que dimensões nos
leção dentro da cultura daquilo que se considera relevante
PCNS, temas transversais (ética, saúde, orientação sexual,
que as novas gerações aprendam.
meio ambiente, trabalho, consumo e pluralidade cultural) e
Esses questionamentos dizem respeito aos conteúdos
em algumas produções literárias no campo do multicultu-
escolares. Na escola aprendemos a fazer listagens de con-
ralismo.
teúdos e julgamos que eles vão explicar o mundo para os
O que é essencial para qualquer teoria é saber qual co-
alunos. No entanto, não estamos conseguindo articular es-
nhecimento deve ser ensinado e justificar o porquê desses
ses conteúdos com a vida dos nossos alunos. Ultimamente
conhecimentos e não outros devem ser ensinados, de acor-
utilizamos de temas transversais, projetos especiais e há até
do com os conceitos que enfatizam.
sugestões de criar novas disciplinas, como direito do consu-
Quantas vezes em nosso cotidiano escolar paramos
midor, educação fiscal, ecologia, para dar conta desta reali-
para refletir sobre Teorias do currículo e o Currículo? Quan-
dade imediata.
do organizamos um planejamento bimestral, anual pensa-
Temos dificuldades de assumirmos estas discussões
mos sobre aquela distribuição de conteúdo de forma crítica?
curriculares devido a uma tradição que designava a outros
Discute-se que determinado conteúdo é importante porque
seguimentos da educação as decisões pedagógicas ou pela
é fundamento para a compreensão daquele que o sucederá
falta de tempo, devido as condições do trabalho docente ou
no bimestre posterior ou no ano que vem. Alegamos que
pela falta de conhecimento das propostas políticas-pedagó-
se o aluno não tiver acesso a determinado conteúdo não
gicas implantadas pelo Governo.
conseguirá entender o seguinte. Somos capazes de perce-
Todavia, diante do desafio de ser professor, cabe-nos
ber em nossas atitudes (na prática docente), na forma como
entender quais os saberes socialmente relevantes, quais os
abordamos os conteúdos selecionados, um posicionamento
critérios de hierarquização entre esses saberes/disciplinas, as
tradicional ou crítico? E por que adotamos tal atitude?
concepções de educação, de sociedade, de homem que sus-
Precisamos entender os vínculos entre o currículo e a
tentam as propostas curriculares implantadas. Quem são os
sociedade, e saber como os professores/as, a escola, o currí-
sujeitos que poderão definir e organizar o currículo? E quais
culo e os materiais didáticos tenderão a reproduzir a cultura
os pressupostos que defendemos?
hegemônica e favorecer mais uns do que outros. Também é
O estudo das teorias do currículo não é a garantia de se
certo que essa função pode ser aceita com passividade ou
encontrar as respostas a todos os nossos questionamentos,
pode aproveitar espaços relativos de autonomia, que sem-
é uma forma de recuperarmos as discussões curriculares no
pre existem, para exercer a contra-hegemonia, como afirma
ambiente escolar e conhecer os diferentes discursos peda-
Apple. Essa autonomia pode se refletir nos conteúdos sele-
gógicos que orientam as decisões em torno dos conteúdos
cionados, mas principalmente se define na forma como os
até a “racionalização dos meios para obtê-los e comprovar
conteúdos são abordados no ensino.
seu sucesso” (SACRISTÁN, 2000).
A forma como trabalhamos os conteúdos em sala de
aula indica nosso entendimento dos conhecimentos escola-
Para nós, professores, os estudos sobre as teorias do
res. Demonstra nossa autonomia diante da escolha.
poderão responder aos questionamentos da comunida-
SARUP (apud SACRISTÁN, 2000) distingue a perspectiva
de escolar como: a valorização dos professoras/es, o baixo
crítica da tradicional da seguinte forma:
rendimento escolar, dificuldades de aprendizagem, desinte-
A finalidade do currículo crítico é o inverso do currícu-
resse, indisciplina e outras dimensões. Poderão, sobretudo,
lo tradicional; este último tende a “naturalizar” os aconteci-
mostrar que os Currículos não são neutros. Eles são elabo-
mentos; aquele tenta obrigar os alunos/a a que questione as

16
GESTÃO PEDAGÓGICA

rados com orientações políticas e pedagógicas. Ou seja, é da escola. No entanto, é preciso questionar, o que determina
produto de grupos sociais que disputam o poder. a legitimidade de um conhecimento.
As reformulações curriculares atuais promovem dis-
cussões entre posições diferentes, há os que defendem os Fonte:
currículos por competências, os científicos, os que enfatizam SABAINI, S. M. G; BELLINI, L. M. Porque estudar currículo
a cultura, a diversidade, os mais críticos à ciência moderna, e teorias de currículo.
enfim, teorias tradicionais, críticas e pós-críticas disputam
esse espaço cheio de conflitos, Como afirma Silva (2005), o Bibliografia
Currículo é um território político contestado. ALBUQUERQUE, Janeslei A; KUNZLE, Maria Rosa. O cur-
Diante desse complexo mundo educacional de tendên- rículo e suas dimensões, multirracial e multicultural. In: Ca-
cias, teorias, ideologias e práticas diversas, cabe-nos estudar derno Pedagógico nº 4, APP-SINDICATO 60 ANOS. 2007.
para conhecê-las, podendo assim assumir uma conduta crí- LOPES, Alice C. Pensamento e política curricular – entre-
tica na ação docente. vista com William Pinar. In: Políticas de currículo em múlti-
plos contextos. São Paulo: Cortez, 2006.
William Pinar (apud LOPES, 2006), estudioso do campo SACRISTÁN J. G.; PÉREZ GÓMEZ A. I. Compreender e
do currículo, afirma: transformar o ensino. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
[...] estudar teoria de currículo, é importante na medida SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: uma
em que oferece aos professores de escolas públicas, a com- introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica,
preensão dos diversos mundos em que habitamos e, especial- 2005.
mente a retórica política que cerca as propostas educacionais
e os conteúdos curriculares. Os professores de escolas (norte
americanas) têm dificuldades em resistir a modismos educa- 4. EDUCAÇÃO INCLUSIVA
cionais passageiros, porque, em parte não lembram das teo-
rias e da história do currículo, porque muito frequentemente
não as estudaram [...] Fundamentos da educação inclusiva.
Essa também é a realidade brasileira. Precisamos estudar
nossas propostas curriculares, bem como as teorias do currí- Educação Inclusiva: A fundamentação filosófica
culo e tendências pedagógicas para que possamos entender
nossa prática e suas consequências aos alunos e docentes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
Acerca disso, Eisner (apud SACRISTÁN, 2000), pontua uniu os povos do mundo todo, no reconhecimento de que
que: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignida-
[...] que o ensino é o conjunto de atividades que transfor- de e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem
mam o currículo na prática para produzir a aprendizagem, é agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”
uma característica marcante do pensamento curricular atual, (Art. 1°).
interar o plano curricular a prática de ensiná-lo não apenas A concepção contemporânea de Direitos Humanos, in-
o torna realidade em termos de aprendizagem, mas que na troduzida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos
própria atividade podem se modificar as primeiras intenções (1948), se fundamenta no reconhecimento da dignidade de
e surgir novos fins [...] todas as pessoas e na universalidade e indivisibilidade des-
A sala de aula é o espaço onde se concretiza o currículo ses direitos; universalidade, porque a condição de pessoa é
e deve acontecer o processo ensino e aprendizagem. Este requisito único para a titularidade de direitos e indivisibilida-
processo acontece não só por meio da transferência de con- de, porque os direitos civis e políticos são conjugados aos
teúdos, mas, também pela influência das diversas relações e direitos econômicos, sociais e culturais.
interações desse espaço escolar, na sala de aula e na relação A Declaração conjuga o valor de liberdade ao valor de
professor-aluno. igualdade, já que assume que não há liberdade sem igual-
Concordamos que o eixo central do Currículo é diver- dade, nem tampouco igualdade sem liberdade. Neste con-
sos conhecimentos. Para defini-lo se faz necessário discutir texto, o valor da diversidade se impõe como condição para
a serviço de quem a escola está. Defendemos que o traba- o alcance da universalidade e a indivisibilidade dos Direitos
lho escolar defina seu Currículo a partir da cultura do aluno, Humanos. Num primeiro momento, a atenção aos Direitos
respeitando-a, mas sem perder a ênfase no conhecimento Humanos foi marcada pela tônica da proteção geral e abs-
clássico das disciplinas que compõem a grade curricular. trata, com base na igualdade formal; mais recentemente,
Alguns autores afirmam que o ponto de partida é o alu- passou-se a explicitar a pessoa como sujeito de direito, res-
no concreto. Outros questionam o que sabemos sobre esse peitado em suas peculiaridades e particularidades.
aluno concreto, se realmente partimos dele. E ao questio- O respeito à diversidade, efetivado no respeito às dife-
narem afirmam que “a cultura popular é, assim, um conhe- renças, impulsiona ações de cidadania voltadas ao reconhe-
cimento que deve, legitimamente, fazer parte do Currículo, cimento de sujeitos de direitos, simplesmente por serem se-
pois toda cultura é fruto do trabalho humano”. res humanos. Suas especificidades não devem ser elemento
O conhecimento científico é o que dá as explicações para a construção de desigualdades, discriminações ou ex-
mais objetivas para a realidade e este é o objetivo principal clusões, mas sim, devem ser norteadoras de políticas afirma-

17
GESTÃO PEDAGÓGICA

tivas de respeito à diversidade, voltadas para a construção A escola é um dos principais espaços de convivência social
de contextos sociais inclusivos. do ser humano, durante as primeiras fases de seu desenvol-
vimento. Ela tem papel primordial no desenvolvimento da
Princípios consciência de cidadania e de direitos, já que é na escola
que a criança e ao adolescente começam a conviver num
A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa coletivo diversificado, fora do contexto familiar.
filosofia que reconhece e valoriza a diversidade, como ca-
racterística inerente à constituição de qualquer sociedade. Exercício da cidadania e a promoção da paz
Partindo desse princípio e tendo como horizonte o cenário
ético dos Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se ga- O conceito de cidadania em sua plena abrangência en-
rantir o acesso e a participação de todos, a todas as opor- globa direitos políticos, civis, econômicos, culturais e sociais.
tunidades, independentemente das peculiaridades de cada A exclusão ou limitação em qualquer uma dessas esferas
indivíduo e/ou grupo social. fragiliza a cidadania, não promove a justiça social e impõe
situações de opressão e violência.
A identidade pessoal e social e a Construção da Exercer a cidadania é conhecer direitos e deveres no
igualdade na diversidade exercício da convivência coletiva, realizar a análise crítica da
realidade, reconhecer as dinâmicas sociais, participar do de-
A identidade pessoal e social é essencial para o desen- bate permanente sobre causas coletivas e manifestar-se com
volvimento de todo indivíduo, enquanto ser humano e en- autonomia e liberdade respeitando seus pares. Tais práticas
quanto cidadão. A identidade pessoal é construída na trama se contrapõem à violência, na medida que não admitem a
das relações sociais que permeiam sua existência cotidiana. anulação de um sujeito pelo outro, mas fortalecem cada um,
Assim, há que se esforçar para que as relações entre os in- na defesa de uma vida melhor para todos. Uma proposta de
divíduos se caracterizem por atitudes de respeito mútuo, educação para a paz deve sensibilizar os educandos para
representadas pela valorização de cada pessoa em sua sin- novas formas de convivência baseadas na solidariedade e
gularidade, ou seja, nas características que a constituem. “A no respeito às diferenças, valores essenciais na formação de
consciência do direito de constituir uma identidade própria cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e sensíveis
e do reconhecimento da identidade do outro traduz-se no para rejeitarem toda a forma de opressão e violência.
direito à igualdade e no respeito às diferenças, asseguran-
do oportunidades diferenciadas (equidade), tantas quantas A atenção às pessoas com necessidades educacionais
forem necessárias, com vistas à busca da igualdade.” (MEC/ especiais
SEESP, 2001). A Constituição Federal do Brasil assume o
princípio da igualdade como pilar fundamental de uma so- A atenção educacional aos alunos com necessidades es-
ciedade democrática e justa, quando reza no caput do seu peciais associadas ou não a deficiência tem se modificado
Art. 5° que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de ao longo de processos históricos de transformação social,
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es- tendo caracterizado diferentes paradigmas nas relações das
trangeiros, residentes no país, a inviolabilidade do direito à sociedades com esse segmento populacional. A deficiên-
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” cia foi, inicialmente, considerada um fenômeno metafísico,
(CF - Brasil, 1988). determinado pela possessão demoníaca, ou pela escolha
Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. divina da pessoa para purgação dos pecados de seus seme-
Isto significa que as pessoas são diferentes, têm necessida- lhantes. Séculos da Inquisição Católica e posteriormente, de
des diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam rigidez moral e ética, da Reforma Protestante, contribuíram
garantidas as condições apropriadas de atendimento às pe- para que as pessoas com deficiência fossem tratadas como a
culiaridades individuais, de forma que todos possam usufruir personificação do mal e, portanto, passíveis de castigos, tor-
as oportunidades existentes. Há que se enfatizar aqui, que turas e mesmo de morte. À medida que conhecimentos na
tratamento diferenciado não se refere à instituição de privi- área da Medicina foram sendo construídos, e acumulados,
légios, e sim, a disponibilização das condições exigidas, na na história da humanidade, a deficiência passou a ser vis-
garantia da igualdade. ta como doença, de natureza incurável, gradação de menor
amplitude da doença mental.
A escola inclusiva é espaço de construção de cida- Tais ideias determinaram a caracterização das primeiras
dania práticas sociais formais de atenção à pessoa com deficiên-
cia, quais sejam, as de segregá-las em instituições fosse para
A família é o primeiro espaço social da criança, no qual cuidado e proteção, fosse para tratamento médico. A esse
ela constrói referências e valores e a comunidade é o espaço conjunto de ideias e de práticas sociais denominou-se Pa-
mais amplo, onde novas referências e valores se desenvol- radigma da Institucionalização, o qual vigorou, aproximada-
vem. A participação da família e da comunidade traz para mente por oito séculos. No Brasil, as primeiras informações
a escola informações, críticas, sugestões, solicitações, des- sobre a atenção às pessoas com deficiência remontam à
velando necessidades e sinalizando rumos. Este processo, época do Império. Seguindo o ideário e o modelo ainda vi-
ressignifica os agentes e a prática educacional, aproximan- gente na Europa, de institucionalização, foram criadas as pri-
do a escola da realidade social na qual seus alunos vivem. meiras instituições totais, para a educação de pessoas cegas

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GESTÃO PEDAGÓGICA

e de pessoas surdas. O Paradigma da Institucionalização ain- ciedade de aprender a administrar a convivência respeitosa
da permaneceu como modelo de atenção às pessoas com e enriquecedora, com a diversidade de peculiaridades que a
deficiência até meados da década de 50, no século XX, mo- constituem.
mento de grande importância histórica, no que se refere a Começou, então, a ser delineada a ideia da necessi-
movimentos sociais, no mundo ocidental. Fortemente afeta- dade de construção de espaços sociais inclusivos, ou seja,
dos pelas consequências das Grandes Guerras Mundiais, os espaços sociais organizados para atender ao conjunto de
países participantes da Organização das Nações Unidas, em características e necessidades de todos os cidadãos, inclu-
Assembleia Geral, em 1948, elaboraram a Declaração Uni- sive daqueles que apresentam necessidades educacionais
versal dos Direitos Humanos, documento que desde então especiais. Estavam aí postas as bases de um novo modelo,
tem norteado os movimentos de definição de políticas pú- denominado Paradigma de Suportes. Este paradigma asso-
blicas, na maioria desses países. O intenso movimento mun- ciou a ideia da diversidade como fator de enriquecimento
dial de defesa dos direitos das minorias, que caracterizou a social e o respeito às necessidades de todos os cidadãos
década de 60, associado a críticas contundentes ao Paradig- como pilar central de uma nova prática social: a construção
ma da Institucionalização de pessoas com doença mental e de espaços inclusivos em todas as instâncias da vida na so-
de pessoas com deficiência, determinou novos rumos às re- ciedade, de forma a garantir o acesso imediato e favorecer a
lações das sociedades com esses segmentos populacionais. participação de todos nos equipamentos e espaços sociais,
Começaram a ser implantados os serviços de Reabilitação independente das suas necessidades educacionais especiais,
Profissional, especialmente, embora não exclusivamente, do tipo de deficiência e do grau de comprometimento que
voltados para pessoas com deficiência, visando prepará-las estas apresentem. O Brasil tem definido políticas públicas
para a integração, ou a reintegração na vida da comunidade. e criado instrumentos legais que garantem tais direitos. A
Nos anos 60 e 70, grande parte dos países, tendo como transformação dos sistemas educacionais tem se efetivado
horizonte a Declaração Universal dos Direitos Humanos, para garantir o acesso universal à escolaridade básica e a
passou a buscar um novo modelo, no trato da deficiência. A satisfação das necessidades de aprendizagem para todos os
proposição do princípio da normalização contribuiu com a cidadãos.
ideia de que as pessoas diferentes podiam ser normalizadas,
ou seja, capacitadas para a vida no espaço comum da socie- O compromisso com a construção de sistemas edu-
dade. Este modelo caracterizou-se, gradativamente, pela de- cacionais inclusivos documentos orientadores no âmbito
sinstitucionalização dessas pessoas e pela oferta de serviços internacional
de avaliação e de reabilitação globalizada, em instituições
não residenciais, embora ainda segregadoras. A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
Da segregação total, passou-se a buscar a integração produziu vários documentos norteadores para o desenvol-
das pessoas com deficiência, após capacitadas, habilitadas vimento de políticas públicas de seus países membros. O
ou reabilitadas. A esta concepção-modelo denominou-se Brasil, enquanto país membro da ONU e signatário desses
Paradigma de Serviços. Da década de 80 em diante, o mun- documentos, reconhece seus conteúdos e os tem respeita-
do volta a experimentar novas transformações. Avanços na do, na elaboração das políticas públicas internas.
Medicina, o desenvolvimento de novos conhecimentos na
área da Educação e principalmente a criação da via eletrô- Declaração universal dos direitos humanos (1948)
nica como meio de comunicação em tempo real, com qual-
quer parte do mundo, vieram determinar novas transforma- A Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, pro-
ções sociais. Por um lado, maior sofisticação técnico-cien- clamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na
tífica permitia a manutenção da vida e o maior desenvolvi- qual reconhece que “Todos os seres humanos nascem livres
mento de pessoas que, em épocas anteriores, não podiam e iguais, em dignidade e direitos... (Art. 1°.), ...sem distinção
sobreviver. Por outro lado, a quebra da barreira geográfica, alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua,
na comunicação e no intercâmbio de ideias e de transações, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional
plantava as sementes da “aldeia global”, que rapidamente ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
foram germinando e definindo novos rumos nas relações situação” (Art. 2°.). Em seu Artigo 7°. Proclama que “todos
entre países e sociedades diferentes. Nesse contexto, mais são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual
do que nunca se evidenciou a diversidade como caracterís- proteção da lei...”. No Artigo 26°, proclama, no item 1, que
tica constituinte das diferentes sociedades e da população, “toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser
em uma mesma sociedade. Na década de 90, ainda à luz gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar
da defesa dos direitos humanos, pôde-se constatar que a fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino
diversidade enriquece e humaniza a sociedade, quando re- técnico e profissional deve ser generalizado.”; no item 2, es-
conhecida, respeitada e atendida em suas peculiaridades. tabelece que “educação deve visar à plena expansão da per-
Passou, então, a ficar cada vez mais evidente que a manu- sonalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e
tenção de segmentos populacionais minoritários em estado das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreen-
de segregação social, ainda que em processo de atenção são, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos
educacional ou terapêutica, não condizia com o respeito os grupos raciais ou religiosos...” O Artigo 27° proclama, no
aos seus direitos de acesso e participação regular no espaço item 1, que “toda a pessoa tem o direito de tomar parte
comum da vida em sociedade, como também impedia a so- livremente na vida cultural da comunidade, de usufruir as

19
GESTÃO PEDAGÓGICA

artes e de participar no progresso científico e nos benefí- atitudes discriminatórias, de criar comunidades aco-
cios que deste resultam”. De maneira geral, esta Declaração lhedoras, construir uma sociedade integradora e dar
assegura às pessoas com deficiência os mesmos direitos à educação para todos; A Declaração se dirige a todos
liberdade, a uma vida digna, à educação fundamental, ao os governos, incitando-os a:
desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na
• Dar a mais alta prioridade política e orçamentária à
vida da comunidade.
melhoria de seus sistemas educativos, para que pos-
sam abranger todas as crianças, independentemente
Declaração de Jomtien (1990)
de suas diferenças ou dificuldades individuais;
Em março de 1990, o Brasil participou da Conferência • Adotar, com força de lei ou como política, o princípio
Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailân- da educação integrada, que permita a matrícula de
dia, na qual foi proclamada a Declaração de Jomtien. Nesta todas as crianças em escolas comuns, a menos que
Declaração, os países relembram que “a educação é um di- haja razões convincentes para o contrário;
reito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas
• Criar mecanismos descentralizados e participativos,
as idades, no mundo inteiro”. Declararam, também, enten-
de planejamento, supervisão e avaliação do ensino
der que a educação é de fundamental importância para o
de crianças e adultos com necessidades educacio-
desenvolvimento das pessoas e das sociedades, sendo um
nais especiais;
elemento que “pode contribuir para conquistar um mundo
mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente • Promover e facilitar a participação de pais, comuni-
mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso dades e organizações de pessoas com deficiência,
social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação in- no planejamento e no processo de tomada de deci-
ternacional”. Tendo isso em vista, ao assinar a Declaração de sões, para atender a alunos e alunas com necessida-
Jomtien, o Brasil assumiu, perante a comunidade internacio- des educacionais especiais;
nal, o compromisso de erradicar o analfabetismo e univer-
salizar o ensino fundamental no país. Para cumprir com este • Assegurar que, num contexto de mudança sistemá-
compromisso, o Brasil tem criado instrumentos norteadores tica, os programas de formação do professorado,
para a ação educacional e documentos legais para apoiar a tanto inicial como contínua, estejam voltados para
construção de sistemas educacionais inclusivos, nas diferen- atender às necessidades educacionais especiais, nas
tes esferas públicas: municipal, estadual e federal. escolas integradoras. A Assembleia Geral das Nações
Unidas sobre a Criança, analisou a situação mundial
Declaração de salamanca (1994) da criança e estabeleceu metas a serem alcançadas.
Entendendo que a educação é um direito humano
A Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas e um fator fundamental para reduzir a pobreza e o
Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO, em trabalho infantil e promover a democracia, a paz, a
Salamanca (Espanha), em junho de 1994, teve, como objeto tolerância e o desenvolvimento, deu alta prioridade
específico de discussão, a atenção educacional aos alunos à tarefa de garantir que, até o ano de 2015, todas
com necessidades educacionais especiais. as crianças tenham acesso a um ensino primário
Nela, os países signatários, dos quais o Brasil faz parte, de boa qualidade, gratuito e obrigatório e que ter-
declararam: minem seus estudos. Ao assinar esta Declaração, o
Brasil comprometeu-se com o alcance dos objetivos
• Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito propostos, que visam a transformação dos sistemas
fundamental à educação e que a elas deve ser dada de educação em sistemas educacionais inclusivos.
a oportunidade de obter e manter um nível aceitável
de conhecimentos; Convenção da Guatemala (1999)
• Cada criança tem características, interesses, capaci-
A partir da Convenção Interamericana para a Eliminação
dades e necessidades de aprendizagem que lhe são
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Por-
próprios;
tadores de Deficiência os Estados Partes reafirmaram que “as
• Os sistemas educativos devem ser projetados e os pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos
programas aplicados de modo que tenham em vista humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e
toda a gama dessas diferentes características e ne- que estes direitos, inclusive o de não ser submetido a discri-
cessidades; minação com base na deficiência, emanam da dignidade e
da igualdade que são inerentes a todo ser humano”. No seu
• As pessoas com necessidades educacionais especiais
artigo I, a Convenção define que o termo deficiência “signifi-
devem ter acesso às escolas comuns, que deverão
ca uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza per-
integrá-las numa pedagogia centralizada na criança,
manente ou transitória, que limita a capacidade de exercer
capaz de atender a essas necessidades;
uma ou mais atividades essenciais da vida diária causada ou
• As escolas comuns, com essa orientação integra- agravada pelo ambiente econômico e social”. Para os efeitos
dora, representam o meio mais eficaz de combater desta Convenção, o termo discriminação contra as pessoas

20
GESTÃO PEDAGÓGICA

com deficiência “significa toda a diferenciação, exclusão ou de sua residência. O Art. 54 diz que “é dever do Estado as-
restrição baseada em deficiência (...) que tenham efeito ou segurar à criança e ao adolescente”: I.II ensino fundamental
propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tive-
exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de ram acesso na idade própria; II.I atendimento educacional
seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais”. especializado aos portadores de deficiência, preferencial-
Também define que não constitui discriminação “a di- mente na rede regular de ensino; III. Atendimento em cre-
ferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte para che e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; IV.
promover a integração social ou desenvolvimento pessoal Atendimento no ensino fundamental, através de programas
dos portadores de deficiência desde que a diferenciação ou suplementares de material didático-escolar, transporte, ali-
preferência não limite em si mesmo o direito a igualdade mentação e assistência à saúde. Em seu Art. 55 dispõe que
dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus
diferenciação”. filhos ou pupilos na rede regular de ensino.”

Legislação brasileira - marcos legais Lei de diretrizes e bases da educação nacional (1996)

A sociedade brasileira tem elaborado dispositivos legais Os municípios brasileiros receberam, a partir da Lei de
que, tanto explicitam sua opção política pela construção de Diretrizes e Bases Nacionais, Lei no. 9.394, de 20.12.1996, a
uma sociedade para todos, como orientam as políticas pú- responsabilidade da universalização do ensino para os cida-
blicas e sua prática social. dãos de 0 a 14 anos de idade, ou seja, da oferta de Educação
Infantil e Fundamental para todas as crianças e jovens que
Constituição federal (1988) neles residem. Assim, passou a ser responsabilidade do mu-
nicípio formalizar a decisão política e desenvolver os passos
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 necessários para implementar, em sua realidade sócio-geo-
assumiu, formalmente, os mesmos princípios postos na De- gráfica, a educação inclusiva, no âmbito da Educação Infantil
claração Universal dos Direitos Humanos. Além disso, intro- e Fundamental.
duziu, no país, uma nova prática administrativa, representa-
da pela descentralização do poder. A partir da promulgação Política nacional para a integração da pessoa porta-
desta Constituição, os municípios foram contemplados com dora de deficiência - decreto n° 3.298 (1999)
autonomia política para tomar as decisões e implantar os re-
cursos e processos necessários para garantir a melhor qua- A política nacional para a integração da pessoa porta-
lidade de vida para os cidadãos que neles residem. Cabe ao dora de deficiência prevista no Decreto 3298/99 adota os
município, mapear as necessidades de seus cidadãos, pla- seguintes princípios:
nejar e implementar os recursos e serviços que se revelam I.II Desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da
necessários para atender ao conjunto de suas necessidades, sociedade civil, de modo a assegurar a plena integração da
em todas as áreas da atenção pública. pessoa portadora de deficiência no contexto socioeconômi-
co e cultural;
Estatuto da criança e do adolescente (1990) II.I Estabelecimento de mecanismos e instrumentos le-
gais e operacionais que assegurem às pessoas portadoras
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069, de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos que,
promulgada em 13 de julho de 1990, dispõe, em seu Art. 3°, decorrentes da Constituição e das leis, propiciam o seu bem-
que “a criança e ao adolescente gozam de todos os direi- -estar pessoal, social e econômico;
tos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo III. Respeito às pessoas portadoras de deficiência, que
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes devem receber igualdade de oportunidades na sociedade,
por lei, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes por reconhecimento dos direitos que lhes são assegurados,
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e sem privilégios ou paternalismos. No que se refere especifi-
social, em condições de liberdade e de dignidade.” Afirma, camente à educação, o Decreto estabelece a matrícula com-
também, que “é dever da família, da comunidade, da socie- pulsória de pessoas com deficiência, em cursos regulares,
dade em geral e do poder público assegurar, com absoluta a consideração da educação especial como modalidade de
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saú- educação escolar que permeia transversalmente todos os
de, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profis- níveis e modalidades de ensino, a oferta obrigatória e gra-
sionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade tuita da educação especial em estabelecimentos públicos de
e à convivência familiar e comunitária.” (Art.4°). No que se ensino, dentre outras medidas (Art. 24, I, II, IV).
refere à educação, o ECA estabelece, em seu Art. 53, que
“a criança e o adolescente têm direito à educação, visando Plano nacional de educação (2001)
ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o
exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”, as- A Lei n° 10.172/01, aprova o Plano Nacional de Educa-
segurando: I.II Igualdade de condições para o acesso e per- ção e dá outras providências. O Plano Nacional de Educação
manência na escola; II.I Direito de ser respeitado por seus estabelece objetivos e metas para a educação das pessoas
educadores; III. Acesso à escola pública e gratuita próxima

21
GESTÃO PEDAGÓGICA

com necessidades educacionais especiais, que dentre eles, Diretrizes nacionais para a educação especial na edu-
destacam-se os que tratam: cação básica (2001)
• do desenvolvimento de programas educacionais em
A Resolução CNE/CEB n° 02/2001, instituiu as Diretrizes
todos os municípios, e em parceria com as áreas de
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, que
saúde e assistência social, visando à ampliação da
manifesta o compromisso do país com “o desafio de cons-
oferta de atendimento da educação infantil;
truir coletivamente as condições para atender bem à diversi-
• dos padrões mínimos de infraestrutura das escolas dade de seus alunos”. Esta Resolução representa um avanço
para atendimento de alunos com necessidades edu- na perspectiva da universalização do ensino e um marco da
cacionais especiais; atenção à diversidade, na educação brasileira, quando ra-
tifica a obrigatoriedade da matrícula de todos os alunos e
• da formação inicial e continuada dos professores
assim declara:
para atendimento às necessidades dos alunos;
“Os sistemas de ensino devem matricular todos os alu-
• da disponibilização de recursos didáticos especiali- nos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimen-
zados de apoio à aprendizagem nas áreas visual e to aos educandos com necessidades educacionais especiais,
auditiva; assegurando as condições necessárias para uma educação
de qualidade para todos.” Dessa forma, não é o aluno que
• da articulação das ações de educação especial com a tem que se adaptar à escola, mas é ela que, consciente da
política de educação para o trabalho; sua função, coloca-se à disposição do aluno, tornando-se
• do incentivo à realização de estudos e pesquisas nas um espaço inclusivo. A educação especial é concebida para
diversas áreas relacionadas com as necessidades possibilitar que o aluno com necessidades educacionais es-
educacionais dos alunos; peciais atinja os objetivos propostos para sua educação. A
proposição da política expressa nas Diretrizes, traduz o con-
• do sistema de informações sobre a população a ser ceito de escola inclusiva, pois centra seu foco na discussão
atendida pela educação especial. sobre a função social da escola e no seu projeto pedagógico.

Convenção interamericana para eliminação de todas Documentos norteadores da prática educacional
as formas de discriminação contra as pessoas com defi- para alunos com necessidades educacionais especiais
ciência (2001)
Em consonância com os instrumentos legais acima
Em 08 de outubro de 2001, o Brasil através do Decreto mencionados, o Brasil elaborou documentos norteadores
3.956, promulgou a Convenção Interamericana para a Eli- para a prática educacional, visando especialmente superar a
minação de Todas as Formas de Discriminação Contra as tradição segregatória da atenção ao segmento populacional
Pessoas Portadoras de Deficiência. Ao instituir esse Decre- constituído de crianças, jovens e adultos com necessidades
to, o Brasil comprometeu-se a: Tomar as medidas de caráter educacionais especiais.
legislativo, social, educacional, trabalhista ou de qualquer
outra natureza, que sejam necessárias para eliminar a discri- Saberes e práticas da inclusão
minação contra as pessoas portadoras de deficiência e pro-
porcionar a sua plena integração à sociedade (...): a) medidas O documento “Saberes e Práticas da Inclusão na Educa-
das autoridades governamentais e/ou entidades privadas ção Infantil”, publicado em 2003, aponta para a necessidade
para eliminar progressivamente a discriminação e promover de apoiar as creches e as escolas de educação infantil, a fim
a integração na prestação ou fornecimento de bens, servi- de garantir, a essa população, condições de acessibilidade fí-
ços, instalações, programas e atividades, tais como o em- sica e de acessibilidade a recursos materiais e técnicos apro-
prego, o transporte, as comunicações, a habitação, o lazer, priados para responder a suas necessidades educacionais
a educação, o esporte, o acesso à justiça e aos serviços poli- especiais.
ciais e às atividades políticas e de administração; 2. Trabalhar Para tanto, o documento se refere à necessidade de
prioritariamente nas seguintes áreas: “disponibilizar recursos humanos capacitados em educa-
a) prevenção de todas as formas de deficiência; ção especial/ educação infantil para dar suporte e apoio ao
b) detecção e intervenção precoce, tratamento, rea- docente das creches e pré-escolas, ou centros de educação
bilitação, educação, formação ocupacional e prestação de infantil, assim como possibilitar sua capacitação e educação
serviços completos para garantir o melhor nível de indepen- continuada, por intermédio da oferta de cursos ou estágios
dência e qualidade de vida para as pessoas portadoras de em instituições comprometidas com o movimento da inclu-
deficiência; são”; Orienta, ainda, sobre a necessidade de divulgação “da
c) sensibilização da população, por meio de campanhas visão de educação infantil, na perspectiva da inclusão”, para
de educação, destinadas a eliminar preconceitos, estereóti- as famílias, a comunidade escolar e a sociedade em geral,
pos e outras atitudes que atentam contra o direito das pes- bem como do estabelecimento de parcerias com a área da
soas a serem iguais, permitindo desta forma o respeito e a Saúde e da Assistência Social, de forma que “possam cons-
convivência com as pessoas portadoras de deficiência. tituir-se em recursos de apoio, cooperação e suporte”, no
processo de desenvolvimento da criança. O documento “Sa-

22
GESTÃO PEDAGÓGICA

beres e Práticas da Inclusão no Ensino Fundamental” publi- • Evolução Estatística da Educação Especial. Marcos
cado em 2003 reconhece que: Legais Trata do Ordenamento Jurídico, contendo as
leis que regem a educação nacional e os direitos das
• Toda pessoa tem direito à educação, independen-
pessoas com deficiência, constituindo importantes
temente de gênero, etnia, deficiência, idade, classe
subsídios para embasamento legal a gestão dos sis-
social ou qualquer outra condição;
temas de ensino.
• O acesso à escola extrapola o ato da matrícula, impli-
Inclui a seguinte legislação:
cando na apropriação do saber, da aprendizagem e
na formação do cidadão crítico e participativo; • Constituição da República Federativa do Brasil /88
• A população escolar é constituída de grande diver- • Lei 7853/89 - Dispõe sobre o apoio às pessoas por-
sidade e a ação educativa deve atender às maneiras tadoras de deficiência, sua integração social, sobre a
peculiares dos alunos aprenderem. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência - CORDE, institui a tutela ju-
risdicional de interesses coletivos ou difusos dessas
Educação profissional pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público,
define crimes e dá outra providências. (Alterada pela
O documento “Educação Profissional - Indicações para Lei 8.028/90)
a ação: a interface educação profissional/educação especial”
• Lei 8069/90 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
visa estimular o desenvolvimento de ações educacionais que
do Adolescente e dá outras providências - ECA
permitam alcançar a qualidade na gestão das escolas, re-
movendo barreiras atitudinais, arquitetônicas e educacionais • Lei 8859/94 - Modifica dispositivos da Lei nº 6.494,
para a aprendizagem, assegurando uma melhor formação de 07 de dezembro de 1977, estendendo aos alunos
inicial e continuada aos professores, com a finalidade de lhes de ensino especial o direito à participação em ativi-
propiciar uma ligação indispensável entre teoria e prática. dades de estágio.
Destaca ainda, a importância da articulação e parceria
• Lei 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da
entre as instituições de ensino, trabalho e setores empre-
Educação Nacional - LDBEN.
sariais para o desenvolvimento do Programa de Educação
Profissional. O documento enfatiza as seguintes temáticas: • Lei 9424/96 - Dispõe sobre o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valori-
• A relação educação e trabalho no Brasil e a emer-
zação do Magistério - FUNDEF.
gência da nova legislação da Educação Profissional;
• Lei 10098/00 - Estabelece normas gerais e critérios
• Balizamentos e marcos normativos da Educação Pro-
básicos para a promoção da acessibilidade das pes-
fissional;
soas portadoras de deficiência ou com mobilidade
• Educação Profissional/Educação Especial: faces e for- reduzida, e dá outras providências.
mas;
• Lei 10172/2001 - Aprova o Plano Nacional de Educa-
• Desdobramentos possíveis no âmbito de uma agen- ção e dá outras providências.
da de capacitação docente;
• Lei 10216/2001 - Dispõe sobre a proteção e os direi-
• Desafios para implementação de uma política de tos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
Educação Profissional para o aluno da Educação Es- redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
pecial.
• Lei 10436/02 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de
Sinais - Libras e dá outras providências.
Direito à educação
• Lei 10845/2004 - Institui o Programa de Comple-
O documento “Direito à Educação - Subsídios para a mentação ao Atendimento Educacional Especializa-
Gestão do Sistema Educacional Inclusivo, apresenta um con- do às pessoas portadoras de deficiência, e dá outras
junto de textos que tratam da política educacional no âmbi- providências - PAED. Decretos
to da Educação Especial - subsídios legais que devem em-
• Decreto 2.264/97 - Regulamenta a Lei 9424/96 -
basar a construção de sistemas educacionais inclusivos. O
FUNDEF, no âmbito federal, e determina outras pro-
documento é constituído de duas partes: Orientações Gerais
vidências.
• A política educacional no âmbito da Educação Es-
• Decreto 3.298/99 - Regulamenta a Lei no 7.853, de
pecial;
24 de outubro de 1989, que dispõe sobre a Política
• Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Educação Básica - Parecer 17/2001; Deficiência, consolida as normas de proteção e dá
outras providências.
• Fontes de Recursos e Mecanismos de Financiamen-
tos da Educação Especial;

23
GESTÃO PEDAGÓGICA

• Decreto 3030/99 - Dá nova redação ao art.2º do De- • Resolução 02/01 - Conselho Nacional de Educação -
creto 1.680/95 que dispõe sobre a competência, a Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
composição e o funcionamento do Conselho Con- na Educação Básica.
sultivo da Coordenadoria Nacional para Integração
• Resolução 01 e 02/02 - Conselho Nacional de Edu-
da Pessoa Portadora de Deficiência. (CORDE)
cação - Diretrizes Nacionais para a Formação de
• Decreto 3076/99 - Cria no âmbito do Ministério da Professores da Educação Básica, em nível superior,
Justiça o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa graduação plena.
Portadora de Deficiência. (CONADE).
• Resolução 01/04 - Conselho Nacional de Educação
• Decreto 3631/00 - Regulamenta a Lei 8899/94, que - Estabelece Diretrizes Nacionais para organização e
dispõe sobre o transporte de pessoas portadoras de realização de Estágio de alunos do Ensino Profissio-
deficiência no sistema de transporte coletivo interes- nalizante e Ensino Médio, inclusive nas modalidades
tadual. de Ensino Especial e Educação de Jovens e Adultos.
Aviso Circular
• Decreto 3.952/01 - Dispõe sobre o Conselho Nacio-
nal de Combate à Discriminação (CNCD). • Aviso Circular nº 277/ 96 - Dirigido aos Reitores das
IES solicitando a execução adequada de uma política
• Decreto 3956/01 -Promulga a Convenção Intera-
educacional dirigida aos portadores de necessidades
mericana para a Eliminação de Todas as Formas de
especiais. Parecer
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Defi-
ciência. (Convenção da Guatemala) Portarias - MEC • Parecer Nº 17/01 DO CNE / Câmara de Educação Bá-
sica - Diretrizes Nacionais para Educação Especial na
• Portaria 1793/94 -Recomenda a inclusão da discipli-
Educação Básica.
na Aspectos Ético - Político - Educacionais na nor-
malização e integração da pessoa portadora de ne-
Fonte
cessidades especiais, prioritariamente, nos cursos de
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?op-
Pedagogia, Psicologia e em todas as Licenciaturas.
tion=com_content&view=article&id=12646:serie-educa-
• Portaria 319/99 - Institui no Ministério da Educação, cao-inclusiva-referencias-para-construcao-dos-sistemas-e-
vinculada à Secretaria de Educação Especial/SEESP a ducacionais-inclusivos&catid=192:seesp-esducacao-espe-
Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanen- cial
te.
• Portaria 554/00 - Aprova o Regulamento Interno da 5. ENSINO E APRENDIZAGEM
Comissão Brasileira do Braille
• Portaria 3.284/03 - Dispõe sobre requisitos de aces-
sibilidade de pessoas portadoras de deficiências, A aprendizagem é um processo contínuo que ocorre
para instruir os processos de autorização e de reco- durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra infância
nhecimento de cursos e de credenciamento de ins- até a mais avançada velhice. Normalmente uma criança deve
tituições. aprender a andar e a falar; depois a ler e escrever, aprendi-
• Portaria do Ministério do Planejamento 08/2001 zagens básicas para atingir a cidadania e a participação ativa
- Atualiza e consolida os procedimentos operacio- na sociedade. Já os adultos precisam aprender habilidades
nais adotados pelas unidades de recursos humanos ligadas a algum tipo de trabalho que lhes forneça a satis-
para a aceitação, como estagiários, de alunos regu- fação das suas necessidades básicas, algo que lhes garan-
larmente matriculados e que venham frequentando, ta o sustento. As pessoas idosas embora nossa sociedade
efetivamente, cursos de educação superior, de ensi- seja reticente quanto às suas capacidades de aprendizagem
no médio, de educação profissional de nível médio podem continuar aprendendo coisas complexas como um
ou de educação especial, vinculados à estrutura do novo idioma ou ainda cursar uma faculdade e virem a exer-
ensino público e particular. Resoluções cer uma nova profissão.
O desenvolvimento geral do indivíduo será resultado de
• Resolução 09/78 - Conselho Federal de Educação suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das habilida-
- Autoriza, excepcionalmente, a matrícula do aluno des aprendidas durante as várias fases da vida. A aprendiza-
classificado como superdotado nos cursos superio- gem está diretamente relacionada com o desenvolvimento
res sem que tenha concluído o curso de 2º grau. cognitivo.
As passagens pelos estágios da vida são marcadas por
• Resolução 02/81 - Conselho Federal de Educação -
constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”, diz a sa-
Autoriza a concessão de dilatação de prazo de con-
bedoria popular. Assim, os indivíduos tendem a melhorar
clusão do curso de graduação aos alunos portadores
suas realizações nas tarefas que a vida lhes impõe. A apren-
de deficiência física, afecções congênitas ou adqui-
dizagem permite ao sujeito compreender melhor as coisas
ridas.
que estão à sua volta, seus companheiros, a natureza e a si

24
GESTÃO PEDAGÓGICA

mesmo, capacitando-o a ajustar-se ao seu ambiente físico O modelo de ensino e aprendizagem de David P. Au-
e social. subel (1980) caracteriza-se como um modelo cognitivo que
A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), um au- apresenta peculiaridades bastante interessantes para os
têntico representante da abordagem cognitiva, traz contri- professores, pois centraliza-se, primordialmente, no proces-
buições significativas ao processo ensino-aprendizagem, so de aprendizagem tal como ocorre em sala de aula. Para
principalmente à aprendizagem desenvolvida nas escolas. Ausubel, aprendizagem significa organização e integração
Sendo uma teoria cognitiva, apresenta a preocupação com do material aprendido na estrutura cognitiva, estrutura esta
os processos centrais do pensamento, como organização do na qual essa organização e integração se processam.
conhecimento, processamento de informação, raciocínio e Psicólogos e educadores têm demonstrado uma cres-
tomada de decisão. Considera a aprendizagem como um cente preocupação com o modo como o indivíduo aprende
processo interno, mediado cognitivamente, mais do que e, desde Piaget, questões do tipo: “Como surge o conhecer
como um produto direto do ambiente, de fatores externos no ser humano? Como o ser humano aprende? O conheci-
ao aprendiz. Apresenta-se como o principal defensor do mento na escola é diferente do conhecimento da vida diá-
método de aprendizagem por descoberta (insight). ria? O que é mais fácil esquecer?” atravessaram as investiga-
A teoria de Bruner apresenta muitos pontos semelhan- ções científicas. Assim, deve interessar à escola saber como
tes às teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner considera a exis- criança, adolescentes e adultos elaboram seu conhecer, haja
tência de estágios durante o desenvolvimento cognitivo e vista que a aquisição do conhecimento é a questão funda-
propõe explicações similares às de Piaget, quanto ao pro- mental da educação formal.
cesso de aprendizagem. Atribui importância ao modo como A psicologia cognitiva preocupa responder estas ques-
o material a ser aprendido é disposto, assim como Gestalt, tões estudando o dinamismo da consciência. A aprendi-
valorizando o conceito de estrutura e arranjos de ideias. zagem é, portanto, a mudança que se preocupa com o eu
“Aproveitar o potencial que o indivíduo traz e valorizar a interior ao passar de um estado inicial a um estado final. Im-
curiosidade natural da criança são princípios que devem ser plica normalmente uma interação do indivíduo com o meio,
observados pelo educador”. captando e processando os estímulos selecionados.
A escola não deve perder de vista que a aprendizagem O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão
de um novo conceito envolve a interação com o já apren- bem mais abrangente do que o espaço restrito do professor
dido. Portanto, as experiências e vivências que o aluno traz na sala de aula ou às atividades desenvolvidas pelos alunos.
consigo favorecem novas aprendizagens. Bruner chama a Tanto o professor quanto o aluno e a escola encontram-se
atenção para o fato de que as matérias ou disciplinas tais em contextos mais globais que interferem no processo edu-
como estão organizadas nos currículos, constituem-se mui- cativo e precisam ser levados em consideração na elabora-
tas vezes divisões artificiais do saber. Por isso, várias disci- ção e execução do ensino.
plinas possuem princípios comuns sem que os alunos – e Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coisas: uma
algumas vezes os próprios professores – analisem tal fato, visão de mundo (incluídos aqui os conteúdos da aprendi-
tornando o ensino uma repetição sem sentido, em que zagem) e planejamento das ações (entendido como um
apenas respondem a comandos arbitrários, Bruner propõe processo de racionalização do ensino). A prática de plane-
o ensino pela descoberta. O método da descoberta não só jamento do ensino tem sido questionada quanto a sua vali-
ensina a criança a resolver problemas da vida prática, como dade como instrumento de melhoria qualitativa no processo
também garante a ela uma compreensão da estrutura fun- de ensino como o trabalho do professor:
damental do conhecimento, possibilitando assim economia [...] a vivência do cotidiano escolar nos tem evidenciado
no uso da memória, e a transferência da aprendizagem no situações bastante questionáveis neste sentido. Percebe-se,
sentido mais amplo e total. de início, que os objetivos educacionais propostos nos cur-
Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é que rículos dos cursos apresentam confusos e desvinculados da
a criança aprenda a aprender corretamente, ainda que “cor- realidade social. Os conteúdos a serem trabalhados, por sua
retamente” assuma, na prática, sentidos diferentes para as vez, são definidos de forma autoritária, pois os professores,
diferentes faixas etárias. Para que se garanta uma apren- via re regra, não participam dessa tarefa. Nessas condições,
dizagem correta, o ensino deverá assegurar a aquisição e tendem a mostrar-se sem elos significativos com as expe-
permanência do aprendido (memorização), de forma a faci- riências de vida dos alunos, seus interesses e necessidades.
litar a aprendizagem subsequente (transferência). Este é um De modo geral, no meio escolar, quando se faz referên-
método não estruturado, portanto o professor deve estar cia a planejamento do ensino – aprendizagem, este se re-
preparado para lidar com perguntas e situações diversas. duz ao processo através do qual são definidos os objetivos,
O professor deve conhecer a fundo os conteúdos a serem o conteúdo programático, os procedimentos de ensino, os
tratados. Deve estar apto a conhecer respostas corretas e recursos didáticos, a sistemática de avaliação da aprendiza-
reconhecer quando e porque as respostas alternativas es- gem, bem como a bibliografia básica a ser consultada no
tão erradas. Também necessita saber esperar que os alunos decorrer de um curso, série ou disciplina de estudo. Com
cheguem à descoberta, sem apressa-los, mas garantindo a efeito, este é o padrão de planejamento adotado pela maio-
execução de um programa mínimo. Deve também ter cui- ria dos professores e que passou a ser valorizado apenas em
dado para não promover um clima competitivo que gere, sua dimensão técnica.
ansiedade e impeça alguns alunos de aprender. Em nosso entendimento a escola faz parte de um con-
texto que engloba a sociedade, sua organização, sua estru-

25
GESTÃO PEDAGÓGICA

tura, sua cultura e sua história. Desse modo, qualquer pro- a aprendizagem é uma relação cognitiva entre o sujeito e os
jeto de ensino – aprendizagem está ligado a este contexto objetos de conhecimento.
e ao modo de cultura que orienta um modelo de homem A acomodação é que ajuda na reorganização e na modi-
e de mulher que pretendemos formar, para responder aos ficação dos esquemas assimilatórios anteriores do indivíduo
desafios desta sociedade. Por esta razão, pensamos que é para ajustá-los a cada nova experiência, acomodando-as às
de fundamental importância que os professores saibam que estruturas mentais já existentes. Portanto, a adaptação é o
tipo de ser humano pretendem formar para esta sociedade, equilíbrio entre assimilação e acomodação, e acarreta uma
pois disto depende, em grande parte, as escolhas que fa- mudança no indivíduo.
zemos pelos conteúdos que ensinamos, pela metodologia A inteligência desempenha uma função adaptativa, pois
que optamos e pelas atitudes que assumimos diante dos é através dela que o indivíduo coleta as informações do meio
alunos. De certo modo esta visão limitada ou potencializada e as reorganiza, de forma a compreender melhor a realidade
o processo ensino-aprendizagem não depende das políticas em que vive, nela agi, transformando. Para Piaget (1969), a
públicas em curso, mas do projeto de formação cultural que inteligência é adaptação na sua forma mais elevada, isto é, o
possui o corpo docente e seu compromisso com objeto de desenvolvimento mental, em sua organização progressiva, é
estudo. uma forma de adaptação sempre mais precisa à realidade. É
Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem cons- preciso ter sempre em mente que Piaget usa a palavra adap-
titui-se, ao longo prazo, num projeto de formação humana, tação no sentido em que é usado pela Biologia, ou seja, uma
propomos que esta formação seja orientada por um proces- modificação que ocorre no indivíduo em decorrência de sua
so de autonomia que ocorra pela produção autônoma do interação com o meio.
conhecimento, como forma de promover a democratização Portanto, é no processo de construção do conhecimen-
dos saberes e como modo de elaborar a crítica da realidade to e na aquisição de saberes que devemos fazer com que o
existente. aluno seja motivado a desenvolver sua aprendizagem e ao
Isto quer dizer que só há crítica se houver produção au- mesmo tempo superar as dificuldades que sentem em assi-
tônoma do conhecimento elaborado através de uma prá- milar o conhecimento adquirido.
tica efetiva da pesquisa. Entendemos que é pela prática da
pesquisa que exercitamos a reflexão sobre a realidade como Referência:
forma de sistematizar metodologicamente nosso olhar so- MOTA, M. S. G.; PEREIRA, F. E. L. Desenvolvimento e
bre o mundo para podermos agir sobre os problemas. Isto Aprendizagem: Processo de construção do conhecimen-
quer dizer que não pesquisamos por pesquisar e nem re- to e desenvolvimento mental do indivíduo. Disponível em:
fletimos por refletir. Tanto a reflexão quanto à pesquisa são http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/tcc_desenvol-
meios pelos quais podemos agir como sujeitos transforma- vimento.pdf
dores da realidade social. Isto indica que nosso trabalho,
como professores, é o de ensinar a aprender para que o
conhecimento construído pela aprendizagem seja um po- 6. PLANEJAMENTO
deroso instrumento de combate às formas de injustiças que
se reproduzem no interior da sociedade.
Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para compreen- Planejamento: concepções
dermos melhor o processo em que se vivencia a construção
do conhecimento no indivíduo. O planejamento não deve ser tomado apenas como
Apresentamos as ideias básicas de Piaget sobre o de- mais um procedimento administrativo de natureza burocrá-
senvolvimento mental e sobre o processo de construção do tica, decorrente de alguma exigência superior ou mesmo de
conhecimento, que são adaptação, assimilação e acomoda- alguma instância externa à instituição. Ao contrário, ele deve
ção. ser compreendido como mecanismo de mobilização e ar-
Piaget diz que o indivíduo está constantemente intera- ticulação dos diferentes sujeitos, segmentos e setores que
gindo com o meio ambiente. Dessa interação resulta uma constituem essa instituição e participam da mesma.
mudança contínua, que chamamos de adaptação. Com sen- A preocupação com o planejamento se desenvolveu,
tido análogo ao da Biologia, emprega a palavra adaptação principalmente, no mundo do trabalho, no contexto das teo-
para designar o processo que ocasiona uma mudança con- rias administrativas do campo empresarial.
tínua no indivíduo, decorrente de sua constante interação Essas teorias foram se constituindo nas chamadas es-
com o meio. colas de administração, que têm influenciado o campo da
Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subpro- administração escolar. Para muitos teóricos e profissionais,
cessos: assimilação e acomodação. A assimilação está re- os princípios por elas defendidos seriam aplicáveis em qual-
lacionada à apropriação de conhecimentos e habilidade. O quer campo da vida social e ou do setor produtivo, inclusive
processo de assimilação é um dos conceitos fundamentais na gestão da educação e da escola.
da teoria da instrução e do ensino. Permite-nos entender Essa influência deixa suas marcas também no que se
que o ato de aprender é um ato de conhecimento pelo qual refere ao planejamento, à medida que o mesmo assumiu
assimilamos mentalmente os fatos, fenômenos e relações uma centralidade cada vez maior, a partir dos princípios e
do mundo, da natureza e da sociedade, através do estudo métodos definidos por Taylor e os demais teóricos que o
das matérias de ensino. Nesse sentido, podemos dizer que

26
GESTÃO PEDAGÓGICA

seguiram. Isso porque, a partir do taylorismo, assim como e de planejamento procura definir a direção a ser seguida
das teorias administrativas que o tomaram como referência, por determinada organização, especialmente no que se re-
uma das principais tarefas atribuídas à gerência foram o pla- fere ao âmbito de atuação, às macropolíticas e às políticas
nejamento e o controle do processo de trabalho. funcionais, à filosofia de atuação, aos macroobjetivos e aos
Na verdade, o formalismo e a burocratização do proces- objetivos funcionais, sempre com vistas a um maior grau de
so de planejamento no campo educacional decorrem, em interação dessa organização com o ambiente.
boa medida, das marcas deixadas pelos modelos de orga- Essa interação com o ambiente, no entanto, é com-
nização do trabalho voltados, essencialmente, para a busca preendida como a análise das oportunidades e ameaças do
de uma maior produtividade, eficiência e eficácia da gestão meio ambiente, de forma a estabelecer objetivos, estratégias
e do funcionamento da escola. Isso secundariza os proces- e ações que possibilitem um aumento da competitividade
sos participativos, de trabalho coletivo e do compromisso da empresa ou da organização.
social, requeridos pela perspectiva da gestão democrática Em síntese, o planejamento estratégico concebe e reali-
da educação. É o caso, por exemplo, dos modelos e das za o planejamento dentro um modelo de decisão unificado
concepções de planejamento orientadas pelo horizonte do e homogeneizador, que pressupõe os seguintes elementos
planejamento tradicional ou normativo e do planejamento básicos:
estratégico.
• determinação do propósito organizacional em ter-
Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu a
mos de valores, missão, objetivos, estratégias, metas
perspectiva do planejamento participativo.
e ações, com foco em priorizar a alocação de recursos
O planejamento tradicional ou normativo • análise sistemática dos pontos fortes e fracos da or-
ganização, inclusive com a descrição das condições
O planejamento tradicional ou normativo trabalha internas de resposta ao ambiente externo e à forma
em uma perspectiva em que o planejamento é definido de modificá-las, com vistas ao fortalecimento dessa
como mecanismo por meio do qual se obteria o controle organização
dos fatores e das variáveis que interferem no alcance dos
• delimitação dos campos de atuação da organização
objetivos e resultados almejados. Nesse sentido, ele assume
um caráter determinista em que o objeto do plano, a rea- • engajamento de todos os níveis da organização para
lidade, é tomada de forma estática, passiva, pois, em tese, a consecução dos fins maiores.
tende a se submeter às mudanças planejadas.
Ao lado dessas características, outros elementos mar- Em contraposição a esses modelos de planejamento, a
cam o planejamento normativo: perspectiva da gestão democrática da educação e da escola
pressupõe o planejamento participativo como concepção
• Há uma ênfase nos procedimentos, nos modelos já
e modelo de planejamento. O planejamento participativo
estruturados, na estrutura organizacional da insti-
deve, pois, enquanto metodologia de trabalho, constituir a
tuição, no preenchimento de fichas e formulários, o
base para a construção e para a realização do Projeto Políti-
que reduz o processo de planejamento a um mero
copedagógico da escola.
formalismo.
O planejamento participativo não possui um caráter
• O planejador é visto como o principal agente de meramente técnico e instrumental, à medida que parte de
mudança, desconsiderando-se os fatores sociais, uma leitura de mundo crítica, que apreende e denuncia o
políticos, culturais que engendram a ação, o que se caráter excludente e de injustiça presente em nossa reali-
traduz numa visão messiânica daquele que planeja. dade. As características de tal realidade, por sua vez, decor-
Essa visão do planejador geralmente conduz a certo rem, dentre outros fatores, da falta ou da impossibilidade de
voluntarismo utópico. participação e do fato de a atividade humana acontecer em
todos os níveis e aspectos. Nessa perspectiva, a participação
• Ao mesmo tempo em que, por um lado, há uma se-
se coloca como requisito fundamental para uma nova edu-
cundarização das dimensões social, política, cultural
cação, uma nova escola, uma nova ordem social, uma parti-
da realidade, por outro lado, prevalece a tendência
cipação que pressupõe e aponta para a construção coletiva
de se explicar essa realidade e as mudanças que nela
da escola e da própria sociedade.
acontecem como resultantes, basicamente, da di-
O planejamento participativo na educação e na escola
mensão econômica que a permeia.
traz consigo, ainda, duas dimensões fundamentais: o traba-
lho coletivo e o compromisso com a transformação social.
O planejamento estratégico
O trabalho coletivo implica uma compreensão mais
ampla da escola. É preciso que os diferentes segmentos e
O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvol-
atores que constroem e reconstroem a escola apreendam
veu dentro de uma concepção de administração estratégica
suas várias dimensões e significados. Isso porque o caráter
que se articula aos modelos e padrões de organização da
educativo da escola não reside apenas no espaço da sala de
produção, construídos no contexto das mudanças do mun-
aula, nos processos de ensino e aprendizagem, mas se rea-
do do trabalho e da acumulação flexível, a partir da segun-
liza, também, nas práticas e relações que aí se desenvolvem.
da metade do século XX. Essa concepção de administração
A escola educa não apenas nos conteúdos que transmite,

27
GESTÃO PEDAGÓGICA

à medida que o processo de formação humana que ali se PLANEJAMENTO DE ENSINO


desenvolve acontece também nos momentos e espaços de E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
diálogo, de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário
seus atores, nas práticas e modelos de gestão vivenciados.
ainda mais desenvolver um planejamento. Neste caso, o en-
De outra parte, o compromisso com a transformação
sino, tem como principal função garantir a coerência entre
social coloca como horizonte a construção de uma socie-
as atividades que o professor faz com seus alunos e, além
dade mais justa, solidária e igualitária, e uma das tarefas da
disso, as aprendizagens que pretende proporcionar a eles.
educação e da escola é contribuir para essa transformação.
Então, pode-se dizer que a forma de planejar deve focar a
Por certo, como já analisamos em outros momentos
relação entre o ensinar e o aprender.
neste curso, a escola pode desempenhar o papel de instru-
Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvol-
mento de reprodução do modelo de sociedade dominante,
ver um processo de decisão sobre a atuação concreta por
à medida que reproduz no seu interior o individualismo, a
parte dos professores, na sua ação pedagógica, envolvendo
fragmentação social e uma compreensão ingênua e prag-
ações e situações do cotidiano que acontecem através de
mática da realidade, do conhecimento e do próprio homem.
interações entre alunos e professores.
Em contrapartida, a educação e a escola articuladas com
O professor que deseja realizar uma boa atuação docen-
a transformação social implicam uma nova compreensão do
te sabe que deve participar, elaborar e organizar planos em
conhecimento, tomado agora como saber social, construção
diferentes níveis de complexidade para atender, em classe,
histórica, instrumento para compreensão e intervenção crí-
seus alunos. Pelo envolvimento no processo ensino-apren-
tica na realidade. Concebem o homem na sua totalidade e,
dizagem, ele deve estimular a participação do aluno, a fim
portanto, visam a sua formação integral: biológica, material,
de que este possa, realmente, efetuar uma aprendizagem
social, afetiva, lúdica, estética, cultural, política, entre outras.
tão significativa quanto o permitam suas possibilidades e
A partir dos aspectos aqui destacados, é possível definir
necessidades.
os seguintes elementos básicos que definem e caracterizam
O planejamento, neste caso, envolve a previsão de resul-
o planejamento participativo:
tados desejáveis, assim como também os meios necessários
• Distanciam-se daqueles modelos de organização do para os alcançar. A responsabilidade do mestre é imensa.
trabalho que separa, no tempo e no espaço, quem Grande parte da eficácia de seu ensino depende da organi-
toma as decisões de quem as executa, cidade, coerência e flexibilidade de seu planejamento.
O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho
• Conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente
do professor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão maior
Projeto Vivencial) enquanto ação de forma refletida,
neste texto.
pensada,
• Pressupõem a unidade entre pensamento e ação, Fases do planejamento de ensino e sua importância no
processo de ensino e aprendizagem
• O poder é exercido de forma coletiva,
• Implicam a atuação permanente e organizada de to- O planejamento faz parte de um processo constante
dos os segmentos envolvidos com o trabalho edu- através do qual a preparação, a realização e o acompanha-
cativo, mento estão intimamente ligados. Quando se revisa uma
ação realizada, prepara-se uma nova ação num processo
• Constituem-se num avanço, na perspectiva da supe- contínuo e sem cortes. No caso do planejamento de ensi-
ração da organização burocrática do trabalho peda- no, uma previsão bem-feita do que será realizado em classe,
gógico escolar, assentado na separação entre teoria melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfeiçoa a prá-
e prática. tica pedagógica do professor. Por isso é que o planejamen-
O trabalho coletivo e o compromisso com a transforma- to deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para que
ção social colocam, pois, o planejamento participativo como não se torne um ato meramente burocrático, como aconte-
perspectiva fundamental quando se pretende pensar e reali- ce em muitas escolas. A maneira de se planejar não deve ser
zar a gestão democrática da escola. Ao mesmo tempo, essa mecânica, repetitiva, pelo contrário, na realização do plane-
concepção e esse modelo de planejamento se constituem jamento devem ser considerados, combinados entre si, os
como a base para a construção do Projeto Políticopedagó- seguintes aspectos:
gico da escola. 1) Considerar os alunos não como uma turma homo-
O planejamento participativo implica, ainda, o aprofun- gênea, mas a forma singular de apreender de cada um, seu
damento crescente, a discussão e a reflexão sobre o tema da processo, suas hipóteses, suas perguntas a partir do que já
participação. Sobre essa temática, na Sala Ambiente Projeto aprenderam e a partir das suas histórias;
Vivencial, importantes elementos são destacados também. 2) Considerar o que é importante e significativo para
aquela turma. Ter claro onde se quer chegar, que recorte
Referência: deve ser feito na História para escolher temáticas e que ati-
SILVA, M. S. P. Planejamento e Práticas da Gestão Esco- vidades deverão ser implementadas, considerando os inte-
lar. Planejamento: concepções. Escola de gestores. MEC. resses do grupo como um todo.

28
GESTÃO PEDAGÓGICA

Para considerar os conhecimentos dos alunos é ne- • a realidade de cada aluno em particular, objetivando
cessário propor situações em que possam mostrar os seus oferecer condições para o desenvolvimento harmô-
conhecimentos, suas hipóteses durante as atividades imple- nico de cada um, satisfazendo exigências e necessi-
mentadas, para que assim forneçam pistas para a continui- dades biopsicossociais;
dade do trabalho e para o planejamento das ações futuras.
• os pontos de referência comuns, envolvendo o am-
É preciso pensar constantemente para quem serve o
biente escolar e o ambiente comunitário;
planejamento, o que se está planejando e para quê vão ser-
vir as suas ações. • suas próprias condições, não só como pessoa, mas
Algumas indagações auxiliam quando se está construin- como profissional responsável pela orientação ade-
do um planejamento. Seguem alguns exemplos: quada do trabalho escolar.
• O que pretende-se fazer, por quê e para quem? A partir da análise da realidade, o professor tem con-
dições de elaborar seu plano de ensino, fundamentado em
• Que objetivos pretendem-se alcançar?
fatos reais e significativos dentro do contexto escolar.
• Que meios/estratégias são utilizados para alcançar
tais objetivos? Definição do tema e preparação:
• Quanto tempo será necessário para alcançar os ob-
Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode ini-
jetivos?
ciar o seu trabalho a partir de um tema, que tanto pode ser
• Como avaliar se os resultados estão sendo alcança- escolhido pelo professor, através do julgamento da necessi-
dos? dade de aplicação do mesmo, ou decidido juntamente com
os alunos, a partir do interesse deles. Planejar dentro de uma
É a partir destas perguntas e respectivas respostas que
temática, denota uma preocupação em não fragmentar os
são determinadas algumas fases dentro do planejamento:
conhecimentos, tornando-os mais significativos.
• Diagnóstico da realidade; Na fase de preparação do planejamento são previstos
todos os passos que farão parte da execução do trabalho,
• Definição do tema e Fase de preparação; a fim de alcançar a concretização e o desenvolvimento dos
• Avaliação. objetivos propostos, a partir da análise do contexto da reali-
dade. Em outras palavras, pode-se dizer que esta é a fase da
Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir decisão e da concretização das ideias.
que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de A tomada de decisão é que respalda a construção do
ação educacional é necessária para isso; verificar a que dis- futuro segundo uma visão daquilo que se espera obter [...] A
tância se está deste tipo de ação e até que ponto se está tomada de decisão corresponde, antes de tudo, ao estabe-
contribuindo para o resultado final que se pretende; propor lecimento de um compromisso de ação sem a qual o que se
uma série orgânica de ações para diminuir essa distância e espera não se converterá em realidade. Cabe ressaltar que
para contribuir mais para o resultado final estabelecido; exe- esse compromisso será tanto mais sólido, quanto mais seja
cutar – agir em conformidade com o que foi proposto; e fundamentado em uma visão crítica da realidade na qual
avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada nos incluímos. A tomada de decisão implica, portanto, nossa
uma das ações, bem como cada um dos documentos deles objetiva e determinada ação para tornar concretas as situa-
derivados”(GANDIN, 2005, p.23). ções vislumbradas no plano das ideias.
Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramente
Fases do Planejamento os objetivos gerais e, em seguida, os objetivos específicos.
Também são selecionados e organizados os conteúdos, os
Diagnóstico da Realidade: procedimentos de ensino, as estratégias a serem utilizadas,
Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de bem como os recursos, sejam eles materiais e/ou humanos.
atender as necessidades dos seus alunos, a primeira atitu-
de a fazer, é “sondar o ambiente”. O médico antes de dizer Avaliação
com certeza o que seu paciente tem, examina-o, fazendo um
“diagnóstico” do seu problema. E, da mesma forma, deve É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-á:
acontecer com a prática de ensino: o professor deve fazer a) demonstrar que a ação produz alguma diferença
uma sondagem sobre a realidade que se encontram os seus quanto ao desenvolvimento dos alunos;
alunos, qual é o nível de aprendizagem em que estão e quais b) promover o aprimoramento da ação como conse-
as dificuldades existentes. Antes de começar o seu trabalho, quência de sugestões resultantes da avaliação. Além disso,
o professor deve considerar, segundo Turra et alii, alguns toda avaliação deve estar intimamente ligada ao processo
aspectos, tais como: de preparação do planejamento, principalmente com seus
objetivos. Não se espera que a avaliação seja simplesmente
• as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim um resultado final, mas acima de tudo, seja analisada duran-
de melhor orientar suas realizações e sua integração te todo o processo; é por isso que se deve planejar todas as
à comunidade; ações antes de iniciá-las, definindo cada objetivo em termos

29
GESTÃO PEDAGÓGICA

dos resultados que se esperam alcançar, e que de fato possa Essa forma de planejar considera a processualidade da
ser atingível pelo aluno. As atividades devem ser coerentes aprendizagem cujo avanço no processo se dá a partir de de-
com os objetivos propostos, para facilitar o processo ava- safios e problematizações. Para tanto, é necessário, além de
liativo e devem ser elaborados instrumentos e estratégias considerar os conhecimentos prévios, compreender o seu
apropriadas para a verificação dos resultados. pensamento sobre as questões propostas em sala de aula.
A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está ligada O ato de aprender acontece quando o indivíduo atualiza
à prática do professor, o que faz com que aumente a res- seus esquemas de conhecimento, quando os compara com
ponsabilidade em bem planejar. Dalmás fala sobre avaliação o que é novo, quando estabelece relações entre o que está
dizendo que: aprendendo com o que já sabe. E, isso exige que o professor
Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um proponha atividades que instiguem a curiosidade, o ques-
processo de ação-reflexão-ação. Em outras palavras, parte- tionamento e a reflexão frente aos conteúdos. Além disso,
-se do planejamento para agir na realidade sobre a qual se ao propiciar essas condições, ele exerce um papel ativo de
planejou, analisam-se os resultados, corrige-se o planejado mediador no processo de aprendizagem do aluno, intervin-
e retorna-se à ação para posteriormente ser esta novamente do pedagogicamente na construção que o mesmo realiza.
avaliada. Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar
Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o o planejamento como ferramenta básica e eficaz, a fim de
planejamento de ensino, pois é através dela que se perce- fazer suas intervenções na aprendizagem do aluno. É atra-
bem os progressos dos alunos, descobrem-se os aspectos vés do planejamento que são definidos e articulados os con-
positivos e negativos que surgem durante o processo e bus- teúdos, objetivos e metodologias são propostas e maneiras
ca-se, através dela, uma constante melhoria na elaboração eficazes de avaliar são definidas. O planejamento de ensino,
do planejamento, melhorando consequentemente a prática portanto, é de suma importância para uma prática eficaz e
do professor e a aprendizagem do aluno. Portanto, ela passa consequentemente para a concretização dessa prática, que
a ser um “norte” na prática docente, pois, “faz com que o acontece com a aprendizagem do aluno.
grupo ou pessoa localize, confronte os resultados e deter- Se de fato o objetivo do professor é que o aluno apren-
mine a continuidade do processo, com ou sem modificações da, através de uma boa intervenção de ensino, planejar aulas
no conteúdo ou na programação”. é um compromisso com a qualidade de suas ações e a ga-
rantia do cumprimento de seus objetivos.
Importância do planejamento no processo de ensino e
aprendizagem Referência:
KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino
Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se como Ferramenta Básica do Processo Ensino-Aprendizagem.
deslocado para a questão de como se aprende. Frequente- UNICENTRO - Revista Eletrônica Lato Sensu, 2008.
mente ouvia-se por parte dos professores, a seguinte ex-
pressão: “ensinei bem de acordo com o planejado, o aluno
é que não aprendeu”. Esta expressão era muito comum na 7. POLÍTICAS, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO
época da corrente tecnicista, em que se privilegiava o ensino. A ESCOLA
Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refletindo sobre a
questão da construção do conhecimento, o questionamento
foi maior, no sentido da preocupação com a aprendizagem. Sistema Nacional de Educação
No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pen-
sar na questão do aprendizado. Se realmente há a preocu- O Sistema Nacional de Educação é tema que vem sus-
pação com a aprendizagem, deve-se questionar se a forma citando o aprofundamento da compreensão sobre sistema,
como se planeja tem em mente também o ensino, ou seja, no contexto da história da educação, nesta Nação tão diver-
deve haver uma correlação entre ensino-aprendizagem. sa geográfica, econômica, social e culturalmente. O que a
A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de proposta de organização do Sistema Nacional de Educação
uma visão construtivista como um resultado do esforço de enfrenta é, fundamentalmente, o desafio de superar a frag-
encontrar significado ao que se está aprendendo. E esse es- mentação das políticas públicas e a desarticulação institu-
forço é obtido através da construção do conhecimento que cional dos sistemas de ensino entre si, diante do impacto na
acontece com a assimilação, a acomodação dos conteúdos e estrutura do financiamento, comprometendo a conquista da
que são relacionados com antigos conhecimentos que cons- qualidade social das aprendizagens, mediante conquista de
tantemente vão sendo reformulados e/ou “reesquematiza- uma articulação orgânica.
dos” na mente humana. Os debates sobre o Sistema Nacional de Educação, em
Numa perspectiva construtivista, há que se levar em vários momentos, abordaram o tema das diretrizes para a
conta os conhecimentos prévios dos alunos, a aprendiza- Educação Básica. Ambas as questões foram objeto de aná-
gem a partir da necessidade, do conflito, da inquietação e lise em interface, durante as diferentes etapas preparatórias
do desequilíbrio tão falado na teoria de Piaget. E é aí que o da Conferência Nacional de Educação (CONAE) de 2009,
professor, como mediador do processo de ensino-aprendi- uma vez que são temas que se vinculam a um objetivo co-
zagem, precisa definir objetivos e os rumos da ação pedagó-
gica, responsabilizando-se pela qualidade do ensino.

30
GESTÃO PEDAGÓGICA

mum: articular e fortalecer o sistema nacional de educação educação nacional, respeitada a autonomia dos sistemas e
em regime de colaboração. valorizadas as diferenças regionais. Sem essa articulação, o
Para Saviani, o sistema é a unidade de vários elementos projeto educacional – e, por conseguinte, o projeto nacio-
intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto nal – corre o perigo de comprometer a unidade e a quali-
coerente e operante (2009, p. 38). Caracterizam, portanto, a dade pretendida, inclusive quanto ao disposto no artigo 22
noção de sistema: a intencionalidade humana; a unidade e da LDB: desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
variedade dos múltiplos elementos que se articulam; a coe- comum indispensável para o exercício da cidadania e forne-
rência interna articulada com a externa. cer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos pos-
Alinhado com essa conceituação, este Parecer adota o teriores, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
entendimento de que sistema resulta da atividade intencio- solidariedade humana.
nal e organicamente concebida, que se justifica pela realiza- Mais concretamente, há de se prever que a transição en-
ção de atividades voltadas para as mesmas finalidades ou tre Pré-Escola e Ensino Fundamental pode se dar no interior
para a concretização dos mesmos objetivos. de uma mesma instituição, requerendo formas de articula-
Nessa perspectiva, e no contexto da estrutura federativa ção das dimensões orgânica e sequencial entre os docen-
brasileira, em que convivem sistemas educacionais autôno- tes de ambos os segmentos que assegurem às crianças a
mos, faz-se necessária a institucionalização de um regime continuidade de seus processos peculiares de aprendizagem
de colaboração que dê efetividade ao projeto de educação e desenvolvimento. Quando a transição se dá entre insti-
nacional. União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada tuições diferentes, essa articulação deve ser especialmente
qual com suas peculiares competências, são chamados a co- cuidadosa, garantida por instrumentos de registro – portfó-
laborar para transformar a Educação Básica em um conjunto lios, relatórios que permitam, aos docentes do Ensino Fun-
orgânico, sequencial, articulado, assim como planejado sis- damental de uma outra escola, conhecer os processos de
temicamente, que responda às exigências dos estudantes, desenvolvimento e aprendizagem vivenciados pela criança
de suas aprendizagens nas diversas fases do desenvolvi- na Educação Infantil da escola anterior. Mesmo no interior
mento físico, intelectual, emocional e social. do Ensino Fundamental, há de se cuidar da fluência da tran-
Atende-se à dimensão orgânica quando são observadas sição da fase dos anos iniciais para a fase dos anos finais,
as especificidades e as diferenças de cada uma das três eta- quando a criança passa a ter diversos docentes, que con-
pas de escolarização da Educação Básica e das fases que as duzem diferentes componentes e atividades, tornando-se
compõem, sem perda do que lhes é comum: as semelhan- mais complexas a sistemática de estudos e a relação com
ças, as identidades inerentes à condição humana em suas os professores.
determinações históricas e não apenas do ponto de vista A transição para o Ensino Médio apresenta contornos
da qualidade da sua estrutura e organização. Cada etapa do bastante diferentes dos anteriormente referidos, uma vez
processo de escolarização constitui-se em unidade, que se que, ao ingressarem no Ensino Médio, os jovens já trazem
articula organicamente com as demais de maneira complexa maior experiência com o ambiente escolar e suas rotinas;
e intrincada, permanecendo todas elas, em suas diferentes além disso, a dependência dos adolescentes em relação às
modalidades, individualizadas, ao logo do percurso do es- suas famílias é quantitativamente menor e qualitativamen-
colar, apesar das mudanças por que passam por força da te diferente. Mas, certamente, isso não significa que não se
singularidade de cada uma, bem assim a dos sujeitos que criem tensões, que derivam, principalmente, das novas ex-
lhes dão vida. pectativas familiares e sociais que envolvem o jovem. Tais
Atende-se à dimensão sequencial quando os processos expectativas giram em torno de três variáveis principais
educativos acompanham as exigências de aprendizagem conforme o estrato sociocultural em que se produzem: a) os
definidas em cada etapa da trajetória escolar da Educação “conflitos da adolescência”;
Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio), até b) a maior ou menor aproximação ao mundo do traba-
a Educação Superior. São processos educativos que, embora lho; c) a crescente aproximação aos rituais da passagem da
se constituam em diferentes e insubstituíveis momentos da Educação Básica para a Educação Superior.
vida dos estudantes, inscritos em tempos e espaços educa- Em resumo, o conjunto da Educação Básica deve se
tivos próprios a cada etapa do desenvolvimento humano, constituir em um processo orgânico, sequencial e articula-
inscrevem-se em trajetória que deve ser contínua e progres- do, que assegure à criança, ao adolescente, ao jovem e ao
siva. adulto de qualquer condição e região do País a formação
comum para o pleno exercício da cidadania, oferecendo as
A articulação das dimensões orgânica e sequencial das condições necessárias para o seu desenvolvimento integral.
etapas e modalidades da Educação Estas são finalidades de todas as etapas constitutivas da
Educação Básica, acrescentando-se os meios para que possa
Básica, e destas com a Educação Superior, implica a progredir no mundo do trabalho e acessar a Educação Supe-
ação coordenada e integradora do seu conjunto; o exercício rior. São referências conceituais e legais, bem como desafio
efetivo do regime de colaboração entre os entes federados, para as diferentes instâncias responsáveis pela concepção,
cujos sistemas de ensino gozam de autonomia constitucio- aprovação e execução das políticas educacionais.
nalmente reconhecida. Isso pressupõe o estabelecimento de
regras de equivalência entre as funções distributiva, suple- Acesso e permanência para a conquista da qualidade so-
tiva, de regulação normativa, de supervisão e avaliação da cial

31
GESTÃO PEDAGÓGICA

A qualidade social da educação brasileira é uma con- de de acesso, por si só, é destituída de condições suficientes
quista a ser construída de forma negociada, pois significa para inserção no mundo do conhecimento.
algo que se concretiza a partir da qualidade da relação en- O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva
tre todos os sujeitos que nela atuam direta e indiretamen- ampla e basilar, remete a uma determinada ideia de quali-
te. Significa compreender que a educação é um processo dade de vida na sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto a
de socialização da cultura da vida, no qual se constroem, qualidade pedagógica quanto a qualidade política, uma vez
se mantêm e se transformam conhecimentos e valores. So- que requer compromisso com a permanência do estudante
cializar a cultura inclui garantir a presença dos sujeitos das na escola, com sucesso e valorização dos profissionais da
aprendizagens na escola. Assim, a qualidade social da edu- educação. Trata-se da exigência de se conceber a qualida-
cação escolar supõe a sua permanência, não só com a redu- de na escola como qualidade social, que se conquista por
ção da evasão, mas também da repetência e da distorção meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades – pedagógica
idade/ano/série. e política – abrangem diversos modos avaliativos compro-
Para assegurar o acesso ao Ensino Fundamental, como metidos com a aprendizagem do estudante, interpretados
direito público subjetivo, no seu artigo 5º, a LDB instituiu como indicações que se interpenetram ao longo do proces-
medidas que se interpenetram ou complementam, estabe- so didático-pedagógico, o qual tem como alvo o desenvol-
lecendo que, para exigir o cumprimento pelo Estado desse vimento do conhecimento e dos saberes construídos histó-
ensino obrigatório, qualquer cidadão, grupo de cidadãos, rica e socialmente.
associação comunitária, organização sindical, entidade de O compromisso com a permanência do estudante na
classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério escola é, portanto, um desafio a ser assumido por todos,
Público, podem acionar o poder público. porque, além das determinações sociopolíticas e culturais,
Esta medida se complementa com a obrigatoriedade das diferenças individuais e da organização escolar vigente,
atribuída aos Estados e aos Municípios, em regime de co- há algo que supera a política reguladora dos processos edu-
laboração, e com a assistência da União, de recensear a po- cacionais: há os fluxos migratórios, além de outras variáveis
pulação em idade escolar para o Ensino Fundamental, e os que se refletem no processo educativo. Essa é uma variável
jovens e adultos que a ele não tiveram acesso, para que seja externa que compromete a gestão macro da educação, em
efetuada a chamada pública correspondente. todas as esferas, e, portanto, reforça a premência de se cria-
Quanto à família, os pais ou responsáveis são obrigados rem processos gerenciais que proporcionem a efetivação do
a matricular a criança no Ensino Fundamental, a partir dos 6 disposto no artigo 5º e no inciso VIII do artigo 12 da LDB,
anos de idade, sendo que é prevista sanção a esses e/ou ao quanto ao direito ao acesso e à permanência na escola de
poder público, caso descumpram essa obrigação de garan- qualidade.
tia dessa etapa escolar. Assim entendida, a qualidade na escola exige de todos
Quanto à obrigatoriedade de permanência do estudan- os sujeitos do processo educativo:
te na escola, principalmente no Ensino Fundamental, há, na I – a instituição da Política Nacional de Formação de Pro-
mesma Lei, exigências que se centram nas relações entre fissionais do Magistério da Educação Básica, com a finalida-
a escola, os pais ou responsáveis, e a comunidade, de tal de de organizar, em regime de colaboração entre a União,
modo que a escola e os sistemas de ensino tornam-se res- os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a formação
ponsáveis por: inicial e continuada dos profissionais do magistério para as
redes públicas da educação (Decreto nº 6.755, de 29 de ja-
• zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência
neiro de 2009);
à escola;
II – ampliação da visão política expressa por meio de
• articular-se com as famílias e a comunidade, criando habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade para
processos de integração da sociedade com a escola; aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e pela
estética;
• informar os pais e responsáveis sobre a frequência
III – responsabilidade social, princípio educacional que
e o rendimento dos estudantes, bem como sobre a
norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o pro-
execução de sua proposta pedagógica;
jeto que definem e assumem como expressão e busca da
• notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz qualidade da escola, fruto do empenho de todos.
competente da Comarca e ao respectivo represen- Construir a qualidade social pressupõe conhecimento
tante do Ministério Público a relação dos estudan- dos interesses sociais da comunidade escolar para que seja
tes que apresentem quantidade de faltas acima de possível educar e cuidar mediante interação efetivada en-
cinquenta por cento do percentual permitido em lei. tre princípios e finalidades educacionais, objetivos, conhe-
cimento e concepções curriculares. Isso abarca mais que
No Ensino Fundamental e, nas demais etapas da Educa- o exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante
ção Básica, a qualidade não tem sido tão estimulada quanto atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou
à quantidade. Depositar atenção central sobre a quantidade, seja, efetiva-se não apenas mediante participação de todos
visando à universalização do acesso à escola, é uma medida os sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, fun-
necessária, mas que não assegura a permanência, essencial cionário, coordenador – mas também mediante aquisição
para compor a qualidade. Em outras palavras, a oportunida- e utilização adequada dos objetos e espaços (laboratórios,
equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblioteca, video-

32
GESTÃO PEDAGÓGICA

teca etc.) requeridos para responder ao projeto político-pe- Essa exigência legal traduz a necessidade de se reconhe-
dagógico pactuado, vinculados às condições/disponibilida- cer que a avaliação da qualidade associa-se à ação planeja-
des mínimas para se instaurar a primazia da aquisição e do da, coletivamente, pelos sujeitos da escola e supõe que tais
desenvolvimento de hábitos investigatórios para construção sujeitos tenham clareza quanto:
do conhecimento. I – aos princípios e às finalidades da educação, além do
A escola de qualidade social adota como centralidade o reconhecimento e análise dos dados indicados pelo IDEB e/
diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o que ou outros indicadores, que complementem ou substituam
pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais como: estes;
I – revisão das referências conceituais quanto aos dife- II – à relevância de um projeto político-pedagógico con-
rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços cebido e assumido coletivamente pela comunidade educa-
sociais na escola e fora dela; cional, respeitadas as múltiplas diversidades e a pluralidade
II – consideração sobre a inclusão, a valorização das cultural;
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade III – à riqueza da valorização das diferenças manifesta-
cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos, in- das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
dividuais e coletivos e as várias manifestações de cada co- segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
munidade; IV – aos padrões mínimos de qualidade2 (Custo Aluno
III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela Qualidade inicial – CAQi73), que apontam para quanto deve
aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como ins- ser investido por estudante de cada etapa e modalidade da
trumento de contínua progressão dos estudantes; Educação Básica, para que o País ofereça uma educação de
IV – inter-relação entre organização do currículo, do tra- qualidade a todos os estudantes.
balho pedagógico e da jornada de trabalho do professor, Para se estabelecer uma educação com um padrão
tendo como foco a aprendizagem do estudante; mínimo de qualidade, é necessário investimento com va-
V – preparação dos profissionais da educação, gestores, lor calculado a partir das despesas essenciais ao desenvol-
professores, especialistas, técnicos, monitores e outros; vimento dos processos e procedimentos formativos, que
VI – compatibilidade entre a proposta curricular e a in- levem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de
fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de qualidade social: creches e escolas possuindo condições de
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e infraestrutura e de adequados equipamentos e de acessibili-
acessibilidade; dade; professores qualificados com remuneração adequada
VII – integração dos profissionais da educação, os estu- e compatível com a de outros profissionais com igual nível
dantes, as famílias, os agentes da comunidade interessados de formação, em regime de trabalho de 40 horas em tempo
na educação; integral em uma mesma escola; definição de uma relação
VIII – valorização dos profissionais da educação, com adequada entre o número de estudantes por turma e por
programa de formação continuada, critérios de acesso, per- professor, que assegure aprendizagens relevantes; pessoal
manência, remuneração compatível com a jornada de traba- de apoio técnico e administrativo que garanta o bom fun-
lho definida no projeto político-pedagógico; cionamento da escola.
IX – realização de parceria com órgãos, tais como os
de assistência social, desenvolvimento e direitos humanos, Formas para a organização curricular
cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e
arte, saúde, meio ambiente. Retoma-se aqui o entendimento de que currículo é o
No documento “Indicadores de Qualidade na Educação” conjunto de valores e práticas que proporcionam a produ-
(Ação Educativa, 2004), a qualidade é vista com um caráter ção e a socialização de significados no espaço social e que
dinâmico, porque cada escola tem autonomia para refletir, contribuem, intensamente, para a construção de identidades
propor e agir na busca da qualidade do seu trabalho, de sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que deve di-
acordo com os contextos socioculturais locais. fundir os valores fundamentais do interesse social, dos di-
Segundo o autor, os indicadores de qualidade são si- reitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem comum
nais adotados para que se possa qualificar algo, a partir dos e à ordem democrática, bem como considerar as condições
critérios e das prioridades institucionais. Destaque-se que de escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento, a
os referenciais e indicadores de avaliação são componentes
curriculares, porque tê-los em mira facilita a aproximação
entre a escola que se tem e aquela que se quer, traduzida
no projeto político-pedagógico, para além do que fica dis- 2  6 Parecer CNE/CEB nº 8/2010 (Aprecia a Indicação CNE/CEB nº 4/2008,
posto no inciso IX do artigo 4º da LDB: definição de padrões que propõe a constituição de uma comissão visando analisar a proposta
mínimos de qualidade de ensino, como a variedade e quan- do Custo Aluno Qualidade inicial (CAQi) como política de melhoria da
tidade mínimas, por estudante, de insumos indispensáveis qualidade do ensino no Brasil).
3  7 O CAQi é resultado de estudo desenvolvido pela Campanha Nacio-
ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.1
nal pelo Direito à Educação, com a participação de pesquisadores, es-
pecialistas, gestores e ativistas de educação. Sua concepção representa
1  5Atualmente, são referências nacionais para o planejamento, em to- uma mudança na lógica de financiamento educacional, pois se baseia
das as instâncias responsáveis pela Educação Básica, o IDEB, o FUNDEB no investimento necessário para uma educação de qualidade, e não nos
e o ENEM. recursos disponíveis.

33
GESTÃO PEDAGÓGICA

orientação para o trabalho, a promoção de práticas educati- e interdisciplinar fundamentam-se nas mesmas bases, que
vas formais e não-formais. são as disciplinas, ou seja, o recorte do conhecimento.4
Na Educação Básica, a organização do tempo curricular Para Basarab Nicolescu (2000, p. 17), em seu artigo “Um
deve ser construída em função das peculiaridades de seu novo tipo de conhecimento: transdisciplinaridade”, a disci-
meio e das características próprias dos seus estudantes, não plinaridade, a pluridisciplinaridade, a transdisciplinaridade e
se restringindo às aulas das várias disciplinas. O percurso a interdisciplinaridade são as quatro flechas de um único e
formativo deve, nesse sentido, ser aberto e contextualizado, mesmo arco: o do conhecimento.
incluindo não só os componentes curriculares centrais obri- Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do
gatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda
mas, também, conforme cada projeto escolar estabelecer, um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao
outros componentes flexíveis e variáveis que possibilitem mesmo tempo. Segundo Nicolescu, a pesquisa pluridiscipli-
percursos formativos que atendam aos inúmeros interesses, nar traz algo a mais a uma disciplina, mas restringe-se a ela,
necessidades e características dos educandos. está a serviço dela.
Quanto à concepção e à organização do espaço curricu- A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento pró-
lar e físico, se imbricam e se alargam, por incluir no desen- prio da disciplina, mas está para além dela. O conhecimento
volvimento curricular ambientes físicos, didático-pedagógi- situa-se na disciplina, nas diferentes disciplinas e além delas,
cos e equipamentos que não se reduzem às salas de aula, tanto no espaço quanto no tempo. Busca a unidade do co-
incluindo outros espaços da escola e de outras instituições nhecimento na relação entre a parte e o todo, entre o todo
escolares, bem como os socioculturais e esportivo-recreati- e a parte. Adota atitude de abertura sobre as culturas do
vos do entorno, da cidade e mesmo da região. presente e do passado, uma assimilação da cultura e da arte.
Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços O desenvolvimento da capacidade de articular diferentes re-
curriculares pressupõe profissionais da educação dispostos ferências de dimensões da pessoa humana, de seus direitos,
a reinventar e construir essa escola, numa responsabilidade e do mundo é fundamento básico da transdisciplinaridade.
compartilhada com as demais autoridades encarregadas da De acordo com Nicolescu (p. 15), para os adeptos da trans-
gestão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias disciplinaridade, o pensamento clássico é o seu campo de
possíveis e necessárias, até porque educar é responsabilida- aplicação, por isso é complementar à pesquisa pluri e inter-
de da família, do Estado e da sociedade. disciplinar.
A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de mé-
manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-se todos de uma disciplina para outra.
para se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de he- Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no estudo
terogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em mo- disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar ocorre a trans-
vimento, no processo tornado possível por meio de relações versalidade do conhecimento constitutivo de diferentes
intersubjetivas, fundamentada no princípio emancipador. disciplinas, por meio da ação didáticopedagógica mediada
Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o papel so- pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes facilitam a or-
cioeducativo, artístico, cultural, ambiental, fundamentadas ganização coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico,
no pressuposto do respeito e da valorização das diferenças, embora sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de
entre outras, de condição física, sensorial e socioemocional,
origem, etnia, gênero, classe social, contexto sociocultural,
que dão sentido às ações educativas, enriquecendo-as, vi- 4  Conforme nota constante do Parecer CNE/CP nº 11/2009, que apre-
sando à superação das desigualdades de natureza sociocul- ciou proposta do MEC de experiência curricular inovadora do Ensino
tural e socioeconômica. Médio, “Quanto ao entendimento do termo ‘disciplina’, este Conselho,
Contemplar essas dimensões significa a revisão dos ritos pelo Parecer CNE/CEB nº 38/2006, que tratou da inclusão obrigatória da
escolares e o alargamento do papel da instituição escolar e Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Médio, já havia assinala-
dos educadores, adotando medidas proativas e ações pre- do a diversidade de te correlatos utilizados pela LDB. São empregados,
concorrentemente e sem rigor conceitual, os termos disciplina, estudo,
ventivas.
conhecimento, ensino, matéria, conteúdo curricular, componente curri-
Na organização e gestão do currículo, as abordagens cular. O referido Parecer havia retomado outro, o CNE/CEB nº 5/97 (que
disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar tratou de Proposta de Regulamentação da Lei nº 9.394/96), que, indire-
requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque tamente, unificou aqueles termos, adotando a expressão componente
revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagó- curricular. Considerando outros (Pareceres CNE/CEB nº 16/2001 e CNE/
gicas dos educadores e organizam o trabalho do estudante. CEB nº 22/2003), o Parecer CNE/CEB nº 38/2006 assinalou que não há,
Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde na LDB, relação direta entre obrigatoriedade e formato ou modalidade
o planejamento do trabalho pedagógico, a gestão adminis- do componente curricular (seja chamado de estudo, conhecimento, en-
trativo-acadêmica, até a organização do tempo e do espaço sino, matéria, conteúdo, componente ou disciplina). Ademais, indicou
físico e a seleção, disposição e utilização dos equipamentos que, quanto ao formato de disciplina, não há sua obrigatoriedade para
nenhum componente curricular, seja da Base Nacional Comum, seja
e mobiliário da instituição, ou seja, todo o conjunto das ati-
da Parte Diversificada. As escolas têm garantida a autonomia quanto à
vidades que se realizam no espaço escolar, em seus diferen- sua concepção pedagógica e para a formulação de sua correspondente
tes âmbitos. As abordagens multidisciplinar, pluridisciplinar proposta curricular, sempre que o interesse do processo de aprendiza-
gem assim o recomendar, dando-lhe o formato que julgarem compatí-
vel com a sua proposta de trabalho”.

34
GESTÃO PEDAGÓGICA

modo restrito e, às vezes, equivocados. A interdisciplinari- pactuadas de modo sistemático e integrado é pré-requisito
dade é, portanto, entendida aqui como abordagem teóri- indispensável à organicidade, sequencialidade e articulação
cometodológica em que a ênfase incide sobre o trabalho do conjunto das aprendizagens perspectivadas, o que re-
de integração das diferentes áreas do conhecimento, um quer a participação de todos. Parte-se, pois, do pressuposto
real trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo e ao de que, para ser tratada transversalmente, a temática atra-
planejamento (Nogueira, 2001, p. 27). Essa orientação deve vessa, estabelece elos, enriquece, complementa temas e/ou
ser enriquecida, por meio de proposta temática trabalhada atividades tratadas por disciplinas, eixos ou áreas do conhe-
transversalmente ou em redes de conhecimento e de apren- cimento.
dizagem, e se expressa por meio de uma atitude que pressu- Nessa perspectiva, cada sistema pode conferir à comu-
põe planejamento sistemático e integrado e disposição para nidade escolar autonomia para seleção dos temas e delimi-
o diálogo. tação dos espaços curriculares a eles destinados, bem como
A transversalidade é entendida como uma forma de or- a forma de tratamento que será conferido à transversalida-
ganizar o trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos de. Para que sejam implantadas com sucesso, é fundamental
temáticos são integrados às disciplinas, às áreas ditas con- que as ações interdisciplinares sejam previstas no projeto
vencionais de forma a estarem presentes em todas elas. A político-pedagógico, mediante pacto estabelecido entre os
transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e comple- profissionais da educação, responsabilizando-se pela con-
mentam-se; ambas rejeitam a concepção de conhecimento cepção e implantação do projeto interdisciplinar na escola,
que toma a realidade como algo estável, pronto e acabado. planejando, avaliando as etapas programadas e replanejan-
A primeira se refere à dimensão didáticopedagógica e a se- do-as, ou seja, reorientando o trabalho de todos, em estreito
gunda, à abordagem epistemológica dos objetos de conhe- laço com as famílias, a comunidade, os órgãos responsáveis
cimento. A transversalidade orienta para a necessidade de pela observância do disposto em lei, principalmente, no ECA.
se instituir, na prática educativa, uma analogia entre apren- Com a implantação e implementação da LDB, a expres-
der conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender são “matriz” foi adotada formalmente pelos diferentes siste-
sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na mas educativos, mas ainda não conseguiu provocar ampla
realidade e da realidade). Dentro de uma compreensão in- e aprofundada discussão pela comunidade educacional. O
terdisciplinar do conhecimento, a transversalidade tem sig- que se pode constatar é que a matriz foi entendida e assu-
nificado, sendo uma proposta didática que possibilita o tra- mida carregando as mesmas características da “grade” bu-
tamento dos conhecimentos escolares de forma integrada. rocraticamente estabelecida. Em sua história, esta recebeu
Assim, nessa abordagem, a gestão do conhecimento parte conceitos a partir dos quais não se pode considerar que ma-
do pressuposto de que os sujeitos são agentes da arte de triz e grade sejam sinônimas. Mas o que é matriz? E como
problematizar e interrogar, e buscam procedimentos inter- deve ser entendida a expressão “curricular”, se forem consi-
disciplinares capazes de acender a chama do diálogo entre deradas as orientações para a educação nacional, pelos atos
diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas. legais e normas vigentes?
A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem Se o termo matriz for concebido tendo como referên-
que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se cia o discurso das ciências econômicas, pode ser apreendida
em caminhos facilitadores da integração do processo forma- como correlata de grade. Se for considerada a partir de sua
tivo dos estudantes, pois ainda permite a sua participação na origem etimológica, será entendida como útero (lugar onde
escolha dos temas prioritários. Desse ponto de vista, a inter- o feto de desenvolve), ou seja, lugar onde algo é concebido,
disciplinaridade e o exercício da transversalidade ou do tra- gerado e/ou criado (como a pepita vinda da matriz) ou, se-
balho pedagógico centrado em eixos temáticos, organiza- gundo Antônio Houaiss (2001, p. 1870), aquilo que é fonte
dos em redes de conhecimento, contribuem para que a es- ou origem, ou ainda, segundo o mesmo autor, a casa pater-
cola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes de seus na ou materna, espaço de referência dos filhos, mesmo após
direitos e deveres e da possibilidade de se tornarem aptos casados. Admitindo a acepção de matriz como lugar onde
a aprender a criar novos direitos, coletivamente. De qual- algo é concebido, gerado ou criado ou como aquilo que é
quer forma, esse percurso é promovido a partir da seleção fonte ou origem, não se admite equivalência de sentido, me-
de temas entre eles o tema dos direitos humanos, recomen- nos ainda como desenho simbólico ou instrumental da ma-
dados para serem abordados ao longo do desenvolvimento triz curricular com o mesmo formato e emprego atribuído
de componentes curriculares com os quais guardam intensa historicamente à grade curricular. A matriz curricular deve,
ou relativa relação temática, em função de prescrição defini- portanto, ser entendida como algo que funciona asseguran-
da pelos órgãos do sistema educativo ou pela comunidade do movimento, dinamismo, vida curricular e educacional na
educacional, respeitadas as características próprias da etapa sua multidimensionalidade, de tal modo que os diferentes
da Educação Básica que a justifica. campos do conhecimento possam se coadunar com o con-
Conceber a gestão do conhecimento escolar enriqueci- junto de atividades educativas e instigar, estimular o des-
da pela adoção de temas a serem tratados sob a perspectiva pertar de necessidades e desejos nos sujeitos que dão vida
transversal exige da comunidade educativa clareza quanto à escola como um todo. A matriz curricular constitui-se no
aos princípios e às finalidades da educação, além de conhe- espaço em que se delimita o conhecimento e representa,
cimento da realidade contextual, em que as escolas, repre- além de alternativa operacional que subsidia a gestão de
sentadas por todos os seus sujeitos e a sociedade, se acham determinado currículo escolar, subsídio para a gestão da
inseridas. Para isso, o planejamento das ações pedagógicas escola (organização do tempo e espaço curricular; distribui-

35
GESTÃO PEDAGÓGICA

ção e controle da carga horária docente) e primeiro passo Entre as vantagens, podem ser destacadas aquelas que
para a conquista de outra forma de gestão do conhecimento se referem à multiplicação de aulas de transmissão em tem-
pelos sujeitos que dão vida ao cotidiano escolar, traduzida po real por meio de tele aulas, com elevado grau de quali-
como gestão centrada na abordagem interdisciplinar. Nes- dade e amplas possibilidades de acesso, em telessalas ou
te sentido, a matriz curricular deve se organizar por “eixos em qualquer outro lugar, previamente preparado, para aces-
temáticos”, definidos pela unidade escolar ou pelo sistema so pelos sujeitos da aprendizagem; aulas simultâneas para
educativo. várias salas (e várias unidades escolares) com um professor
Para a definição de eixos temáticos norteadores da or- principal e professores assistentes locais, combinadas com
ganização e desenvolvimento curricular, parte-se do enten- atividades on-line em plataformas digitais; aulas gravadas e
dimento de que o programa de estudo aglutina investiga- acessadas a qualquer tempo e de qualquer lugar por meio
ções e pesquisas sob diferentes enfoques. O eixo temático da internet ou da TV digital, tratando de conteúdo, com-
organiza a estrutura do trabalho pedagógico, limita a disper- preensão e avaliação dessa compreensão; e oferta de es-
são temática e fornece o cenário no qual são construídos os clarecimentos de dúvidas em determinados momentos do
objetos de estudo. O trabalho com eixos temáticos permite processo didático-pedagógico.
a concretização da proposta de trabalho pedagógico cen-
trada na visão interdisciplinar, pois facilita a organização dos Formação básica comum e parte diversificada
assuntos, de forma ampla e abrangente, a problematização
e o encadeamento lógico dos conteúdos e a abordagem se- A LDB definiu princípios e objetivos curriculares gerais
lecionada para a análise e/ou descrição dos temas. O recurso para o Ensino Fundamental e Médio, sob os aspectos:
dos eixos temáticos propicia o trabalho em equipe, além de I – duração: anos, dias letivos e carga horária mínimos;
contribuir para a superação do isolamento das pessoas e de II – uma base nacional comum;
conteúdos fixos. Os professores com os estudantes têm li- III – uma parte diversificada.
berdade de escolher temas, assuntos que desejam estudar, Entende-se por base nacional comum, na Educação Bá-
contextualizando- os em interface com outros. sica, os conhecimentos, saberes e valores produzidos cultu-
Incide sobre a aprendizagem, subsidiada pela consciên- ralmente, expressos nas políticas públicas e que são gera-
cia de que o processo de comunicação entre estudantes e dos nas instituições produtoras do conhecimento científico
professores é efetivado por meio de práticas e recursos tra- e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento
dicionais e por práticas de aprendizagem desenvolvidas em das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na
ambiente virtual. Pressupõe compreender que se trata de produção artística; nas formas diversas e exercício da cida-
aprender em rede e não de ensinar na rede, exigindo que o dania; nos movimentos sociais, definidos no texto dessa Lei,
ambiente de aprendizagem seja dinamizado e compartilha- artigos 26 e 335, que assim se traduzem:
do por todos os sujeitos do processo educativo. Esses são
procedimentos que não se confundem.
Por isso, as redes de aprendizagem constituem-se em 5  Art. 26. Os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma
base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensi-
ferramenta didáticopedagógica relevante também nos pro-
no e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
gramas de formação inicial e continuada de profissionais da características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia
educação. e da clientela. § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
Esta opção requer planejamento sistemático integrado, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o
estabelecido entre sistemas educativos docentes como in- conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
fraestrutura favorável, prática por projetos, respeito ao tem- especialmente do Brasil. § 2º O ensino da arte constituirá componente
po escolar, avaliação planejada, perfil do professor, perfil e curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma
papel da direção escolar, formação do corpo docente, valo- a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. § 3º A educação
rização da leitura, atenção individual ao estudante, ativida- física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente cur-
des complementares e parcerias. ricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao
aluno: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;
Mas inclui outros aspectos como interação com as famí-
II – maior de trinta anos de idade; III – que estiver prestando serviço mili-
lias e a comunidade, valorização docente e outras medidas, tar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da edu-
entre as quais a instituição de plano de carreira, cargos e cação física; IV – amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro
salários. de 1969; (…) VI – que tenha prole. § 4º O ensino da História do Brasil
As experiências em andamento têm revelado êxitos e levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para
desafios vividos pelas redes na busca da qualidade da edu- a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
cação. Os desafios centram-se, predominantemente, nos africana e europeia.§ 5º Na parte diversificada do currículo será incluído,
obstáculos para a gestão participativa, a qualificação dos obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma
funcionários, a integração entre instituições escolares de língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade
diferentes sistemas educativos (estadual e municipal, por escolar, dentro das possibilidades da instituição.§ 6º A música deverá
ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular
exemplo) e a inclusão de estudantes com deficiência. São
de que trata o § 2º deste artigo. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de
ressaltados, como pontos positivos, o intercâmbio de infor- ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
mações; a agilidade dos fluxos; os recursos que alimentam obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1º
relações e aprendizagens coletivas, orientadas por um pro- O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos
pósito comum: a garantia do direito de aprender. aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da popu-

36
GESTÃO PEDAGÓGICA

I – na Língua Portuguesa; Cabe aos órgãos normativos dos sistemas de ensino ex-
II – na Matemática; pedir orientações quanto aos estudos e às atividades corres-
III – no conhecimento do mundo físico, natural, da rea- pondentes à parte diversificada do Ensino Fundamental e do
lidade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se Médio, de acordo com a legislação vigente. A LDB, porém,
o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, inclui expressamente o estudo de, pelo menos, uma língua
IV – na Arte em suas diferentes formas de expressão, estrangeira moderna como componente necessário da par-
incluindo-se a música; te diversificada, sem determinar qual deva ser, cabendo sua
V – na Educação Física; escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades da
VI – no Ensino Religioso. escola, que deve considerar o atendimento das caracterís-
Tais componentes curriculares são organizados pelos ticas locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo em
sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento, vista as demandas do mundo do trabalho e da internacio-
disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificida- nalização de toda ordem de relações. A língua espanhola,
de dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos no entanto, por força de lei específica (Lei nº 11.161/2005)
quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exer- passou a ser obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio,
cício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas do embora facultativa para o estudante, bem como possibili-
desenvolvimento integral do cidadão. tada no Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano. Outras leis
A parte diversificada enriquece e complementa a base específicas, a latere da LDB, determinam que sejam incluídos
nacional comum, prevendo o estudo das características re- componentes não disciplinares, como as questões relativas
gionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da ao meio ambiente, à condição e direito do idoso e ao trân-
comunidade escolar. Perpassa todos os tempos e espaços sito.
curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Mé- Correspondendo à base nacional comum, ao longo do
dio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos processo básico de escolarização, a criança, o adolescente,
tenham acesso à escola. É organizada em temas gerais, em o jovem e o adulto devem ter oportunidade de desenvol-
forma de áreas do conhecimento, disciplinas, eixos temáti- ver, no mínimo, habilidades segundo as especificidades de
cos, selecionados pelos sistemas educativos e pela unidade cada etapa do desenvolvimento humano, privilegiando- se
escolar, colegiadamente, para serem desenvolvidos de for- os aspectos intelectuais, afetivos, sociais e políticos que se
ma transversal. A base nacional comum e a parte diversifi- desenvolvem de forma entrelaçada, na unidade do processo
cada não podem se constituir em dois blocos distintos, com didático.
disciplinas específicas para cada uma dessas partes. Organicamente articuladas, a base comum nacional e a
A compreensão sobre base nacional comum, nas suas parte diversificada são organizadas e geridas de tal modo
relações com a parte diversificada, foi objeto de vários pare- que também as tecnologias de informação e comunicação
ceres emitidos pelo CNE, cuja síntese se encontra no Parecer perpassem transversalmente a proposta curricular desde a
CNE/CEB nº 14/2000, da lavra da conselheira Edla de Araújo Educação Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção
Lira Soares. Após retomar o texto dos artigos 26 e 27 da LDB, aos projetos político-pedagógicos. Ambas possuem como
a conselheira assim se pronuncia: referência geral o compromisso com saberes de dimensão
(…) a base nacional comum interage com a parte diver- planetária para que, ao cuidar e educar, seja possível à es-
sificada, no âmago do processo de constituição de conheci- cola conseguir:
mentos e valores das crianças, jovens e adultos, evidencian- I – ampliar a compreensão sobre as relações entre o in-
do a importância da participação de todos os segmentos da divíduo, o trabalho, a sociedade e a espécie humana, seus
escola no processo de elaboração da proposta da instituição limites e suas potencialidades, em outras palavras, sua iden-
que deve nos termos da lei, utilizar a parte diversificada para tidade terrena;
enriquecer e complementar a base nacional comum. II – adotar estratégias para que seja possível, ao longo
(…) tanto a base nacional comum quanto a parte diver- da Educação Básica, desenvolver o letramento emocional,
sificada são fundamentais para que o currículo faça sentido social e ecológico; o conhecimento científico pertinente aos
como um todo. diferentes tempos, espaços e sentidos; a compreensão do
significado das ciências, das letras, das artes, do esporte e
do lazer;
lação brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo III – ensinar a compreender o que é ciência, qual a sua
da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos história e a quem ela se destina;
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o IV – viver situações práticas a partir das quais seja pos-
índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contri- sível perceber que não há uma única visão de mundo, por-
buições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do tanto, um fenômeno, um problema, uma experiência podem
Brasil. § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e ser descritos e analisados segundo diferentes perspectivas e
dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o correntes de pensamento, que variam no tempo, no espaço,
currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de lite-
na intencionalidade;
ratura e história brasileiras. (…) Art. 33. O ensino religioso, de matrícula
facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
V – compreender os efeitos da “infoera”, sabendo que
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino funda- estes atuam, cada vez mais, na vida das crianças, dos ado-
mental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, lescentes e adultos, para que se reconheçam, de um lado,
vedadas quaisquer formas de proselitismo. os estudantes, de outro, os profissionais da educação e a fa-

37
GESTÃO PEDAGÓGICA

mília, mas reconhecendo que os recursos midiáticos devem Educação de Jovens e Adultos, tendo em vista o direito
permear todas as atividades de aprendizagem. à frequência a uma escola que lhes dê uma formação ade-
Na organização da matriz curricular, serão observados quada ao desenvolvimento de sua cidadania;
os critérios: VIII – da oferta de atendimento educacional especializa-
I – de organização e programação de todos os tempos do, complementar ou suplementar à formação dos estudan-
(carga horária) e espaços curriculares (componentes), em tes público-alvo da Educação Especial, previsto no projeto
forma de eixos, módulos ou projetos, tanto no que se refere político-pedagógico da escola.
à base nacional comum, quanto à parte diversificada6, sendo A organização curricular assim concebida supõe outra
que a definição de tais eixos, módulos ou projetos deve re- forma de trabalho na escola, que consiste na seleção ade-
sultar de amplo e verticalizado debate entre os atores sociais quada de conteúdos e atividades de aprendizagem, de mé-
atuantes nas diferentes instâncias educativas; todos, procedimentos, técnicas e recursos didático-pedagó-
II – de duração mínima anual de 200 (duzentos) dias gicos. A perspectiva da articulação interdisciplinar é voltada
letivos, com o total de, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, para o desenvolvimento não apenas de conhecimentos, mas
recomendada a sua ampliação, na perspectiva do tempo também de habilidades, valores e práticas.
integral, sabendo-se que as atividades escolares devem ser Considera, ainda, que o avanço da qualidade na educa-
programadas articulada e integradamente, a partir da base ção brasileira depende, fundamentalmente, do compromis-
nacional comum enriquecida e complementada pela parte so político, dos gestores educacionais das diferentes instân-
diversificada, ambas formando um todo; cias da educação7, do respeito às diversidades dos estudan-
III – da interdisciplinaridade e da contextualização, que tes, da competência dos professores e demais profissionais
devem ser constantes em todo o currículo, propiciando a in- da educação, da garantia da autonomia responsável das
terlocução entre os diferentes campos do conhecimento e a instituições escolares na formulação de seu projeto político-
transversalidade do conhecimento de diferentes disciplinas, -pedagógico que contemple uma proposta consistente da
bem como o estudo e o desenvolvimento de projetos referi- organização do trabalho.
dos a temas concretos da realidade dos estudantes;
IV – da destinação de, pelo menos, 20% do total da Organização da Educação Básica
carga horária anual ao conjunto de programas e projetos
interdisciplinares eletivos criados pela escola, previstos no Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica,
projeto pedagógico, de modo que os sujeitos do Ensino em seus diferentes ciclos de desenvolvimento, são ativos,
Fundamental e Médio possam escolher aqueles com que se social e culturalmente, porque aprendem e interagem; são
identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o co- cidadãos de direito e deveres em construção; copartícipes
nhecimento e a experiência. Tais programas e projetos de- do processo de produção de cultura, ciência, esporte e arte,
vem ser desenvolvidos de modo dinâmico, criativo e flexível, compartilhando saberes, ao longo de seu desenvolvimento
em articulação com a comunidade em que a escola esteja físico, cognitivo, socioafetivo, emocional, tanto do ponto de
inserida; vista ético, quanto político e estético, na sua relação com a
V – da abordagem interdisciplinar na organização e ges- escola, com a família e com a sociedade em movimento. Ao
tão do currículo, viabilizada pelo trabalho desenvolvido co- se identificarem esses sujeitos, é importante considerar os
letivamente, planejado previamente, de modo integrado e dizeres de Narodowski (1998). Ele entende, apropriadamen-
pactuado com a comunidade educativa; te, que a escola convive hoje com estudantes de uma infân-
VI – de adoção, nos cursos noturnos do Ensino Funda- cia, de uma juventude (des) realizada, que estão nas ruas, em
mental e do Médio, da metodologia didáticopedagógica situação de risco e exploração, e aqueles de uma infância e
pertinente às características dos sujeitos das aprendizagens, juventude (hiper) realizada com pleno domínio tecnológico
na maioria trabalhadores, e, se necessário, sendo alterada a da internet, do orkut, dos chats. Não há mais como tratar: os
duração do curso, tendo como referência o mínimo corres- estudantes como se fossem homogêneos, submissos, sem
pondente à base nacional comum, de modo que tais cursos voz; os pais e a comunidade escolar como objetos. Eles são
não fiquem prejudicados; sujeitos plenos de possibilidades de diálogo, de interlocu-
VII – do entendimento de que, na proposta curricular, ção e de intervenção. Exige-se, portanto, da escola, a busca
as características dos jovens e adultos trabalhadores das de um efetivo pacto em torno do projeto educativo escolar,
turmas do período noturno devem ser consideradas como que considere os sujeitos-estudantes jovens, crianças, adul-
subsídios importantes para garantir o acesso ao Ensino Fun- tos como parte ativa de seus processos de formação, sem
damental e ao Ensino Médio, a permanência e o sucesso nas minimizar a importância da autoridade adulta.
últimas séries, seja em curso de tempo regular, seja em curso
na modalidade de
7  Projeto de Lei de Responsabilidade Educacional – uma proposta apro-
vada pelos participantes da Conferência Nacional de Educação (CONAE)
6  Segundo o artigo 23 da LDB, a Educação Básica poderá organizar-se – quer criar mecanismos para aplicar sanções a governantes – nas três
em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de pe- esferas – que não aplicarem corretamente os recursos da educação. A
ríodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na compe- chamada Lei de Responsabilidade Educacional seguiria os moldes da Lei
tência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sem- de Responsabilidade Fiscal, mas não se restringiria aos investimentos,
pre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. incluindo também metas de acesso e qualidade do ensino.

38
GESTÃO PEDAGÓGICA

Na organização curricular da Educação Básica, devem- Etapas da Educação Básica


-se observar as diretrizes comuns a todas as suas etapas,
modalidades e orientações temáticas, respeitadas suas es- Quanto às etapas correspondentes aos diferentes mo-
pecificidades e as dos sujeitos a que se destinam. Cada eta- mentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a
pa é delimitada por sua finalidade, princípio e/ou por seus Educação Básica compreende:
objetivos ou por suas diretrizes educacionais, claramente I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche, en-
dispostos no texto da Lei nº 9.394/96, fundamentando-se na globando as diferentes etapas do desenvolvimento da crian-
inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar e educar, ça até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com
pois esta é uma concepção norteadora do projeto políti- duração de 2 (dois) anos.
co-pedagógico concebido e executado 35 pela comunida- II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
de educacional. Mas vão além disso quando, no processo duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas
educativo, educadores e estudantes se defrontarem com a fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
complexidade e a tensão em que se circunscreve o processo finais;
no qual se dá a formação do humano em sua multidimen- III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três)
sionalidade. anos.
Na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus Estas etapas e fases têm previsão de idades próprias, as
tempos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é quais, no entanto, são diversas quando se atenta para alguns
um princípio orientador de toda a ação educativa. É respon- pontos como atraso na matrícula e/ou no percurso escolar,
sabilidade dos sistemas educativos responderem pela cria- repetência, retenção, retorno de quem havia abandonado os
ção de condições para que crianças, adolescentes, jovens e estudos, estudantes com deficiência, jovens e adultos sem
adultos, com sua diversidade (diferentes condições físicas, escolarização ou com esta incompleta, habitantes de zonas
sensoriais e socioemocionais, origens, etnias, gênero, cren- rurais, indígenas e quilombolas, adolescentes em regime de
ças, classes sociais, contexto sociocultural), tenham a opor- acolhimento ou internação, jovens e adultos em situação de
tunidade de receber a formação que corresponda à idade privação de liberdade nos estabelecimentos penais.
própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao Ensino
Fundamental e ao Médio. Fonte
Adicionalmente, na oferta de cada etapa pode corres- BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
ponder uma ou mais das modalidades de ensino: Educa- Básica, 2013
ção Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do
Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Profissional e
Tecnológica, Educação a Distância, a educação nos estabele- 8. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
cimentos penais e a educação quilombola.
Assim referenciadas, estas Diretrizes compreendem
orientações para a elaboração das diretrizes específicas para Para Veiga e colegas, o projeto políticopedagógico tem
cada etapa e modalidade da Educação Básica, tendo como sido objeto de estudos para professores, pesquisadores e
centro e motivação os que justificam a existência da institui- instituições educacionais em níveis nacional, estadual e mu-
ção escolar: os estudantes em desenvolvimento. Reconheci- nicipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino.
dos como sujeitos do processo de aprendizagens, têm sua O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da
identidade cultural e humana respeitada, desenvolvida nas construção do projeto políticopedagógico, entendido como
suas relações com os demais que compõem o coletivo da a própria organização do trabalho pedagógico de toda a es-
unidade escolar, em elo com outras unidades escolares e cola.
com a sociedade, na perspectiva da inclusão social exercita- A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação
da em compromisso com a equidade e a qualidade. É nesse de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar
sentido que se deve pensar e conceber o projeto político- seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa
-pedagógico, a relação com a família, o Estado, a escola e perspectiva, é fundamental que ela assuma suas responsa-
tudo o que é nela realizado. Sem isso, é difícil consolidar po- bilidades, sem esperar que as esferas administrativas supe-
líticas que efetivem o processo de integração entre as etapas riores tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as condições
e modalidades da Educação Básica e garanta ao estudante o necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é importante
acesso, a inclusão, a permanência, o sucesso e a conclusão que se fortaleçam as relações entre escola e sistema de en-
de etapa, e a continuidade de seus estudos. Diante desse sino.
entendimento, a aprovação das Diretrizes Curriculares Na- Para isso, começaremos conceituando projeto político-
cionais Gerais para a Educação Básica e a revisão e a atuali- pedagógico. Em seguida, trataremos de trazer nossas re-
zação das diretrizes específicas de cada etapa e modalidade flexões para a análise dos princípios norteadores. Finaliza-
devem ocorrer mediante diálogo vertical e horizontal, de remos discutindo os elementos básicos da organização do
modo simultâneo e indissociável, para que se possa assegu- trabalho pedagógico, necessários à construção do projeto
rar a necessária coesão dos fundamentos que as norteiam. políticopedagógico.

39
GESTÃO PEDAGÓGICA

O que é projeto políticopedagógico? titivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina


do mando impessoal e racionalizado da burocracia que per-
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim meia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos
projectu, participio passado do verbo projicere, que signi- fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferen-
fica lançar para diante. Plano, intento, designio. Empresa, ças e hierarquiza os poderes de decisão.
empreendimento. Redação provisoria de lei. Plano geral de Desse modo, o projeto políticopedagógico tem a ver
edificação. com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis:
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, plane- como organização de toda a escola e como organização da
jamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo- sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social
-nos para diante, com base no que temos, buscando o pos- imediato, procurando preservar a visão de totalidade. Nesta
sível. É antever um futuro diferente do presente. Nas pala- caminhada será importante ressaltar que o projeto político-
vras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas com o presente e pedagógico busca a organização do trabalho pedagógico
promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um da escola na sua globalidade.
estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de A principal possibilidade de construção do projeto polí-
instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da ticopedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de
promessa que cada projeto contém de estado melhor do que sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isso sig-
o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como pro- nifica resgatar a escola como espaço público, como lugar de
messa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam debate, do diálogo fundado na reflexão coletiva. Portanto, é
visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus ato- preciso entender que o projeto políticopedagógico da es-
res e autores. cola dará indicações necessárias à organização do trabalho
Nessa perspectiva, o projeto políticopedagógico vai pedagógico que inclui o trabalho do professor na dinâmica
além de um simples agrupamento de planos de ensino e interna da sala de aula, ressaltado anteriormente.
de atividades diversas. O projeto não é algo que é construí- Buscar uma nova organização para a escola constitui
do e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades uma ousadia para educadores, pais, alunos e funcionários.
educacionais como prova do cumprimento de tarefas buro- Para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um refe-
cráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momen- rencial que fundamente a construção do projeto políticope-
tos, por todos os envolvidos com o processo educativo da dagógico. A questão é, pois, saber a qual referencial temos
escola. que recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógi-
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação in- ca. Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos
tencional, com um sentido explícito, com um compromisso de uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática
definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico social e esteja compromissada em solucionar os problemas
da escola é, também, um projeto político por estar intima- da educação e do ensino de nossa escola; uma teoria que
mente articulado ao compromisso sociopolítico com os in- subsidie o projeto políticopedagógico. Por sua vez, a prática
teresses reais e coletivos da população majoritária. E político pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos inte-
no sentido de compromisso com a formação do cidadão resses da maioria da população. Faz-se necessário, também,
para um tipo de sociedade. “A dimensão política se cumpre o domínio das bases teóricometodológicas indispensáveis
na medida em que ela se realiza enquanto prática especi- à concretização das concepções assumidas coletivamente.
ficamente pedagógica”. Na dimensão pedagógica reside a Mais do que isso, afirma Freitas, (...) as novas formas têm
possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que ser pensadas em um contexto de luta, de correlações
que é a formação do cidadão participativo, responsável, de força - às vezes favoráveis, às vezes desfavoráveis. Terão
compromissado, crítico e criativo. É pedagógico no sentido que nascer no próprio “chão da escola”, com apoio dos pro-
de definir as ações educativas e as características necessárias fessores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas por
às escolas para cumprir seus propósitos e sua intencionali- alguém, longe da escola e da luta da escola.
dade. Isso significa uma enorme mudança na concepção do
Político e pedagógico têm, assim, uma significação in- projeto políticopedagógico e na própria postura da admi-
dissociável. Nesse sentido é que se deve considerar o pro- nistração central. Se a escola se nutre da vivência cotidiana
jeto políticopedagógico como um processo permanente de de cada um de seus membros, coparticipantes de sua or-
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de ganização do trabalho pedagógico à administração central,
alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade, que seja o Ministério da Educação, a Secretaria de Educação Es-
“não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”. Por ou- tadual ou Municipal, não compete a eles definir um modelo
tro lado, propicia a vivência democrática necessária para a pronto e acabado, mas sim estimular inovações e coordenar
participação de todos os membros da comunidade escolar as ações pedagógicas planejadas e organizadas pela própria
e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mas se escola. Em outras palavras, as escolas necessitam receber as-
trata de uma relação recíproca entre a dimensão política e a sistência técnica e financeira decidida em conjunto com as
dimensão pedagógica da escola. instâncias superiores do sistema de ensino.
O projeto políticopedagógico, ao se constituir em pro- Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica
cesso democrático de decisões, preocupa-se em instaurar de organização das instâncias superiores, implicando uma
uma forma de organização do trabalho pedagógico que mudança substancial na sua prática.
supere os conflitos, buscando eliminar as relações compe-

40
GESTÃO PEDAGÓGICA

Para que a construção do projeto políticopedagógico trumentos adequados para fazer a história humana. A quali-
seja possível não é necessário convencer os professores, a dade formal está relacionada com a qualidade política e esta
equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobi- depende da competência dos meios.
lizá-los de forma espontânea, mas propiciar situações que A escola de qualidade tem obrigação de evitar de to-
lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer peda- das as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que
gógico de forma coerente. garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de
O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta
tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e quantitativa de acesso global, no sentido de que as crianças
na ótica do poder centralizador que dita as normas e exer- em idade escolar entrem na escola. É preciso garantir a per-
ce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a manência dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade
descentralização em busca de sua autonomia e qualidade. “implica consciência crítica e capacidade de ação, saber e
Do exposto, o projeto políticopedagógico não visa sim- mudar”.
plesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma qua- O projeto políticopedagógico, ao mesmo tempo em que
lidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ainda, exige de educadores, funcionários, alunos e pais a definição
que a organização do trabalho pedagógico da escola tem clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de
a ver com a organização da sociedade. A escola nessa pers- fins. Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o
pectiva é vista como uma instituição social, inserida na so- tipo de cidadão que pretendem formar. As ações específicas
ciedade capitalista, que reflete no seu interior as determina- para a obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara
ções e contradições dessa sociedade. entre fins e meios é essencial para a construção do projeto
políticopedagógico.
Princípios norteadores do projeto políticopedagógico c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica,
A abordagem do projeto políticopedagógico, como or- administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica
ganização do trabalho de toda a escola, está fundada nos na prática administrativa da escola, com o enfrentamento
princípios que deverão nortear a escola democrática, pública das questões de exclusão e reprovação e da não-permanên-
e gratuita: cia do aluno na sala de aula, o que vem provocando a margi-
a) Igualdade de condições para acesso e permanência nalização das classes populares. Esse compromisso implica a
na escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma de- construção coletiva de um projeto políticopedagógico liga-
sigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto do à educação das classes populares.
de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O A gestão democrática exige a compreensão em profun-
autor destaca que “só é possível considerar o processo edu- didade dos problemas postos pela prática pedagógica. Ela
cativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a visa romper com a separação entre concepção e execução,
democracia como possibilidade no ponto de partida e de- entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resga-
mocracia como realidade no ponto de chegada”. tar o controle do processo e do produto do trabalho pelos
educadores.
Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que A gestão democrática implica principalmente o repen-
a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação do sar da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua
atendimento com simultânea manutenção de qualidade. socialização. A socialização do poder propicia a prática da
b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias participação coletiva, que atenua o individualismo; da reci-
econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto po- procidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que
líticopedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência
para todos. de órgãos intermediários que elaboram políticas educacio-
A qualidade que se busca implica duas dimensões in- nais das quais a escola é mera executora.
dissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está A busca da gestão democrática inclui, necessariamen-
subordinada à outra; cada uma delas tem perspectivas pró- te, a ampla participação dos representantes dos diferentes
prias. segmentos da escola nas decisões/ações administrativo-pe-
A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a téc- dagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques: “A
nica. A qualidade formal não está afeita, necessariamente, participação ampla assegura a transparência das decisões,
a conteúdos determinados. Demo afirma que a qualidade fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garan-
formal “significa a habilidade de manejar meios, instrumen- te o controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo,
tos, formas, técnicas, procedimentos diante dos desafios do contribui para que sejam contempladas questões que de
desenvolvimento”. outra forma não entrariam em cogitação”.
A qualidade política é condição imprescindível da parti- Nesse sentido, fica claro entender que a gestão demo-
cipação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. Quer crática, no interior da escola, não é um princípio fácil de ser
dizer “a competência humana do sujeito em termos de se consolidado, pois se trata da participação crítica na constru-
fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da socie- ção do projeto políticopedagógico e na sua gestão.
dade humana”. d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio
Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato da liberdade está sempre associado à ideia de autonomia.
de que a qualidade se centra no desafio de manejar os ins- O que é necessário, portanto, como ponto de partida, é o

41
GESTÃO PEDAGÓGICA

resgate do sentido dos conceitos de autonomia e liberdade. fissional dos professores articulado com as escolas e seus
A autonomia e a liberdade fazem parte da própria natureza projetos.
do ato pedagógico. O significado de autonomia remete-nos A formação continuada deve estar centrada na escola e
para regras e orientações criadas pelos próprios sujeitos da fazer parte do projeto políticopedagógico. Assim, compe-
ação educativa, sem imposições externas. te à escola: a) proceder ao levantamento de necessidades
Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e a li- de formação continuada de seus profissionais; b) elaborar
berdade é algo que se experimenta em situação e esta é seu programa de formação, contando com a participação
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de fortalecer seu
liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na papel na concepção, na execução e na avaliação do referido
vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com programa.
os outros, não apesar dos outros”. Se pensamos na liberda- Assim, a formação continuada dos profissionais da es-
de na escola, devemos pensá-la na relação entre adminis- cola compromissada com a construção do projeto político-
tradores, professores, funcionários e alunos que aí assumem pedagógico não deve se limitar aos conteúdos curriculares,
sua parte de responsabilidade na construção do projeto po- mas se estender à discussão da escola de maneira geral e de
líticopedagógico e na relação destes com o contexto social suas relações com a sociedade. Daí, passarem a fazer par-
mais amplo. te dos programas de formação continuada questões como
Heller afirma que: cidadania, gestão democrática, avaliação, metodologia de
pesquisa e ensino, novas tecnologias de ensino, entre outras.
A liberdade é sempre liberdade para algo e não apenas Veiga e Carvalho afirmam que “o grande desafio da
liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas como escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado seu
o fato de sermos livres de alguma coisa, encontramo-nos papel de mera ‘repetidora’ de programas de ‘treinamento’,
no estado de arbítrio, definimo-nos de modo negativo. A li- é ousar assumir o papel predominante na formação dos pro-
berdade é uma relação e, como tal, deve ser continuamente fissionais”.
ampliada. O próprio conceito de liberdade contém o conceito Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa to-
de regra, de reconhecimento, de intervenção recíproca. Com mada de consciência dos princípios norteadores do projeto
efeito, ninguém pode ser livre se, em volta dele, há outros que políticopedagógico não pode ter o sentido espontaneísta de
não o são! cruzar os braços diante da atual organização da escola, ini-
bidora da participação de educadores, funcionários e alunos
Por isso, a liberdade deve ser considerada, também, no processo de gestão.
como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar É preciso ter consciência de que a dominação no inte-
a arte e o saber direcionados para uma intencionalidade de- rior da escola efetiva-se por meio das relações de poder que
finida coletivamente. se expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos
e) Valorização do magistério é um princípio central na diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem
discussão do projeto políticopedagógico. como por meio das formas de controle existentes no interior
A qualidade do ensino ministrado na escola e seu su- da organização escolar. Como resultante dessa organização,
cesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar da a escola pode ser descaracterizada como instituição histó-
vida socioeconómica, política e cultural do país relacionam- rica e socialmente determinada, instância privilegiada da
-se estreitamente a formação (inicial e continuada), condi- produção e da apropriação do saber. As instituições escola-
ções de trabalho (recursos didáticos, recursos físicos e ma- res representam “armas de contestação e luta entre grupos
teriais, dedicação integral à escola, redução do número de culturais e econômicos que têm diferentes graus de poder”.
alunos na sala de aula etc), remuneração, elementos esses Por outro lado, a escola é local de desenvolvimento da cons-
indispensáveis à profissionalização do magistério. ciência crítica da realidade.
A melhoria da qualidade da formação profissional e a Acreditamos que os princípios analisados e o apro-
valorização do trabalho pedagógico requerem a articulação fundamento dos estudos sobre a organização do trabalho
entre instituições formadoras, no caso as instituições de en- pedagógico trarão contribuições relevantes para a com-
sino superior e a Escola Normal, e as agências empregado- preensão dos limites e das possibilidades dos projetos po-
ras, ou seja, a própria rede de ensino. A formação profissio- lítico-pedagógicos voltados para os interesses das camadas
nal implica, também, a indissociabilidade entre a formação menos favorecidas.
inicial e a formação continuada. Veiga acrescenta, ainda, que “a importância desses prin-
O reforço à valorização dos profissionais da educação, cípios está em garantir sua operacionalização nas estruturas
garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional escolares, pois uma coisa é estar no papel, na legislação, na
permanente, significa “valorizar a experiência e o conheci- proposta, no currículo, e outra é estar ocorrendo na dinâmi-
mento que os professores têm a partir de sua prática peda- ca interna da escola, no real, no concreto”.
gógica”.
A formação continuada é um direito de todos os pro- Construindo o projeto políticopedagógico
fissionais que trabalham na escola, uma vez que ela não só
possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na O projeto políticopedagógico é entendido, neste estu-
qualificação e na competência dos profissionais, mas tam- do, como a própria organização do trabalho pedagógico da
bém propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento pro- escola. A construção do projeto políticopedagógico parte

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GESTÃO PEDAGÓGICA

dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão talhadas de acordo com as áreas do conhecimento, das di-
democrática e valorização do magistério. A escola é con- ferentes disciplinas curriculares, do conteúdo programático.
cebida como espaço social marcado pela manifestação de É necessário decidir, coletivamente, o que se quer re-
práticas contraditórias, que apontam para a luta e/ou aco- forçar dentro da escola e como detalhar as finalidades para
modação de todos os envolvidos na organização do traba- atingir a almejada cidadania.
lho pedagógico. Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe de
O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar alguma autonomia na determinação das finalidades e dos
e compreender a organização do trabalho pedagógico, no objetivos específicos. O autor enfatiza: “Interessará reter se
sentido de gestar uma nova organização que reduza os as finalidades são impostas por entidades exteriores ou se
efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e são definidas no interior do ‘território social’ e se são de-
do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a construção do finidas por consenso ou por conflito ou até se são matéria
projeto políticopedagógico é um instrumento de luta, é uma ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19).
forma de contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagó- Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola
gico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos negativos deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o traba-
do poder autoritário e centralizador dos órgãos da adminis- lho de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse
tração central. sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia, en-
A construção do projeto políticopedagógico, para ges- fatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado
tar uma nova organização do trabalho pedagógico, passa os outros níveis da esfera administrativa educacional. Nóvoa
pela reflexão anteriormente feita sobre os princípios. Acre- nos diz que a autonomia é importante para “a criação de
ditamos que a análise dos elementos constitutivos da orga- uma identidade da escola, de um ethos científico e diferen-
nização trará contribuições relevantes para a construção do ciador, que facilite a adesão dos diversos atores e a elabora-
projeto políticopedagógico. ção de um projeto próprio” (1992, p. 26).
Pelo menos sete elementos básicos podem ser aponta- A ideia de autonomia está ligada à concepção emanci-
dos: a) as finalidades da escola; b) a estrutura organizacional; padora da educação. Para ser autônoma, a escola não pode
c) o currículo; d) o tempo escolar; e) o processo de decisão; depender dos órgãos centrais e intermediários que definem
f) as relações de trabalho; g) a avaliação. a política da qual ela não passa de executora. Ela concebe
seu projeto políticopedagógico e tem autonomia para exe-
a) As finalidades da escola cutá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de liderança,
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar no sentido de refletir sobre suas finalidades sociopolíticas e
que os educadores precisam ter clareza das finalidades de culturais.
sua escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre a
ação educativa que a escola desenvolve com base nas fi- b) A estrutura organizacional
nalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades da
escola referem-se aos efeitos intencionalmente pretendidos A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas
e almejados. estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As primeiras
asseguram, praticamente, a locação e a gestão de recursos
• Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor,
humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, ainda, das es-
o que a escola persegue, com maior ou menor ên-
truturas administrativas todos os elementos que têm uma
fase?
forma material, como, por exemplo, a arquitetura do edifício
• Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, escolar e a maneira como ele se apresenta do ponto de vista
a de preparar culturalmente os indivíduos para uma de sua imagem: equipamentos e materiais didáticos, mobi-
melhor compreensão da sociedade em que vivem? liário, distribuição das dependências escolares e espaços li-
vres, cores, limpeza e saneamento básico (água, esgoto, lixo
• Como a escola procura atingir sua finalidade política
e energia elétrica).
e social, ao formar o indivíduo para a participação
As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a ação
política que implica direitos e deveres da cidadania?
das administrativas, “organizam as funções educativas para
• Como a escola atinge sua finalidade de formação que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas fina-
profissional, ou melhor, como ela possibilita a com- lidades”.
preensão do papel do trabalho na formação profis- As estruturas pedagógicas referem-se, fundamental-
sional do aluno? mente, às interações políticas, às questões de ensino e
aprendizagem e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas
• Como a escola analisa sua finalidade humanística, ao incluem-se todos os setores necessários ao desenvolvimen-
procurar promover o desenvolvimento integral da to do trabalho pedagógico.
pessoa? A análise da estrutura organizacional da escola visa
As questões levantadas geram respostas e novas inda- identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, veri-
gações por parte da direção, de professores, funcionários, ficando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar claro
alunos e pais. O esforço analítico de todos possibilitará a que a escola é uma organização orientada por finalidades,
identificação de quais finalidades precisam ser reforçadas, controlada e permeada pelas questões do poder.
quais as que estão relegadas e como elas poderão ser de-

43
GESTÃO PEDAGÓGICA

A análise e a compreensão da estrutura organizacional a compreensão do processo de produção do conhecimento


da escola significam indagar sobre suas características, seus escolar ampliam a compreensão sobre as questões curricu-
polos de poder, seus conflitos - O que sabemos da estrutura lares.
pedagógica? Que tipo de gestão está sendo praticada? O Na organização curricular é preciso considerar alguns
que queremos e precisamos mudar na nossa escola? Qual é pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um
o organograma previsto? Quem o constitui e qual é a lógica instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e a escola
interna? Quais as funções educativas predominantes? Como precisa identificar e desvelar os componentes ideológicos do
são vistas a constituição e a distribuição do poder? Quais conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a
os fundamentos regimentais? -, enfim, caracterizar do modo manutenção de privilégios. A determinação do conhecimen-
mais preciso possível a estrutura organizacional da escola e to escolar, portanto, implica uma análise interpretativa e crí-
os problemas que afetam o processo de ensino e aprendi- tica, tanto da cultura dominante, quanto da cultura popular.
zagem, de modo a favorecer a tomada de decisões realistas O currículo expressa uma cultura.
e exequíveis. O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar separado do contexto social, uma vez que ele é historica-
os pressupostos que embasam a estrutura burocrática da mente situado e culturalmente determinado.
escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização
ou a modificar a realidade social. Para poderem realizar um curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas insti-
ensino de qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas tuições têm sido orientadas para a organização hierárquica
têm que romper com a atual forma de organização burocrá- e fragmentada do conhecimento escolar. Com base em Ber-
tica que regula o trabalho pedagógico - pela conformidade nstein (1989), chamo a atenção para o fato de que a escola
às regras fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emana- deve buscar novas formas de organização curricular, em que
das do poder central e pela cisão entre os que pensam e o conhecimento escolar (conteúdo) estabeleça uma relação
executam -, que conduz à fragmentação e ao consequente aberta e inter-relacione-se em torno de uma ideia integra-
controle hierárquico que enfatiza três aspectos inter-relacio- dora. Esse tipo de organização curricular, o autor denomina
nados: o tempo, a ordem e a disciplina. de currículo-integração. O currículo integração, portanto,
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, visa reduzir o isolamento entre as diferentes disciplinas cur-
ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e riculares, procurando agrupá-las num todo mais amplo.
vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo deixa
a realidade escolar, estabelecendo relações, definindo fina- de ter significado por si só, para assumir uma importância
lidades comuns e configurando novas formas de organizar relativa e passar a ter uma função bem determinada e explí-
as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria cita dentro do todo de que faz parte”.
do trabalho de toda a escola na direção do que se preten- O quarto ponto refere-se à questão do controle social,
de. Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos já que o currículo formal (conteúdos curriculares, metodo-
disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade logia e recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica)
escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecen- implica controle. Por outro lado, o controle social é instru-
do, no coletivo, seu projeto políticopedagógico, propician- mentalizado pelo currículo oculto, entendido este como as
do consequentemente a construção de uma nova forma de “mensagens transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente
organização. escolar”. Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas
e os valores dominantes são passados aos alunos no am-
c) O currículo biente escolar, no material didático e mais especificamente
Currículo é um importante elemento constitutivo da por intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica,
organização escolar. Currículo implica, necessariamente, a nas rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto “es-
interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a op- timulam a conformidade a ideais nacionais e convenções so-
ção por um referencial teórico que o sustente. ciais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades socioe-
Currículo é uma construção social do conhecimento, conómicas e culturais”.
pressupondo a sistematização dos meios para que essa Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle social
construção se efetive; é a transmissão dos conhecimentos que têm permeado as principais tendências do pensamento
historicamente produzidos e as formas de assimilá-los; por- curricular, procurou defender o ponto de vista de que con-
tanto, produção, transmissão e assimilação são processos trole social não envolve, necessariamente, orientações con-
que compõem uma metodologia de construção coletiva servadoras, coercitivas e de conformidade comportamental.
do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente De acordo com o autor, subjacente ao discurso curricular
dito. Nesse sentido, o currículo refere-se à organização do crítico, encontra-se uma noção de controle social orientada
conhecimento escolar. para a emancipação. Faz sentido, então, falar em controle
O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera social comprometido com fins de liberdade que deem ao
simplificação do conhecimento científico, que se adequaria estudante uma voz ativa e crítica.
à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a necessidade Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor chama
de promover, na escola, uma reflexão aprofundada sobre o a atenção para o fato de que a noção crítica de controle
processo de produção do conhecimento escolar, uma vez social não pode deixar de discutir “o contexto apropriado ao
que ele é, ao mesmo tempo, processo e produto. A análise e desenvolvimento de práticas curriculares que favoreçam o

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GESTÃO PEDAGÓGICA

bom rendimento e a autonomia dos estudantes e, em parti- cadores, fortalecendo a escola como instância de educação
cular, que reduzam os elevados índices de evasão e repetên- continuada.
cia de nossa escola de primeiro grau”. É preciso tempo para que os educadores aprofundem
A noção de controle social na teoria curricular crítica é seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
mais um instrumento de contestação e resistência à ideolo- aprendendo. E preciso tempo para acompanhar e avaliar o
gia veiculada por intermédio dos currículos, tanto do formal projeto políticopedagógico em ação. É preciso tempo para
quanto do oculto. os estudantes se organizarem e criarem seus espaços para
Orientar a organização curricular para fins emancipató- além da sala de aula.
rios implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas de
sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser e) O processo de decisão
humano, como alguém que tende a aceitar papéis neces- Na organização formal de nossa escola, o fluxo das ta-
sários à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle refas, das ações e principalmente das decisões é orientado
social, na visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para por procedimentos formalizados, prevalecendo as relações
a contestação e a resistência à ideologia veiculada por inter- hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e
médio dos currículos escolares. centralizador.
Uma estrutura administrativa da escola, adequada à rea-
d) O tempo escolar lização de objetivos educacionais, de acordo com os interes-
O tempo é um dos elementos constitutivos da organi- ses da população, deve prever mecanismos que estimulem
zação do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena a participação de todos no processo de decisão. Isso requer
o tempo: determina o início e o fim do ano, prevendo os uma revisão das atribuições específicas e gerais, bem como
dias letivos, as férias, os períodos escolares em que o ano se da distribuição do poder e da descentralização do processo
divide, os feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas de decisão. Para que isso seja possível é necessário que se
à avaliação, os períodos para reuniões técnicas, cursos etc. instalem mecanismos institucionais visando à participação
O horário escolar, que fixa o número de horas por sema- política de todos os envolvidos com o processo educativo
na e que varia em razão das disciplinas constantes na grade da escola. Paro (1993, p. 34) sugere a instalação de proces-
curricular, estipula também o número de aulas por profes- sos eletivos de escolha de dirigentes, colegiados com repre-
sor. Tal como afirma Enguita: “Às matérias tornam-se equi- sentação de alunos, pais, associação de pais e professores,
valentes porque ocupam o mesmo número de horas por se- grêmio estudantil, processos coletivos de avaliação conti-
mana, e são vistas como tendo menor prestígio se ocupam nuada dos serviços escolares etc.
menos tempo que as demais”.
A organização do tempo do conhecimento escolar é f) As relações de trabalho
marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é, E importante reiterar que, quando se busca uma nova
consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo organização do trabalho pedagógico, está se considerando
para disciplinas supostamente separadas. O controle hierár- que as relações de trabalho, no interior da escola, deverão
quico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de reciproci-
controlado pela administração e pelo professor. dade e de participação coletiva, em contraposição à orga-
Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, nização regida pelos princípios da divisão do trabalho, da
mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais, fragmentação e do controle hierárquico. É nesse movimento
reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar que se verifica o confronto de interesses no interior da es-
o currículo-integração que conduz a um ensino em exten- cola. Por isso, todo esforço de gestar uma nova organização
são. deve levar em conta as condições concretas presentes na
Enguita, ao discutir a questão de como a escola contri- escola. Há uma correlação de forças e é nesse embate que
bui para a inculcação da precisão temporal nas atividades se originam os conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando
escolares, assim se expressa: a construção de novas formas de relações de trabalho, com
A sucessão de períodos muito breves - sempre de me- espaços abertos à reflexão coletiva que favoreçam o diálo-
nos de uma hora -dedicados a matérias muito diferentes en- go, a comunicação horizontal entre os diferentes segmentos
tre si, sem necessidade de sequência lógica entre elas, sem envolvidos com o processo educativo, a descentralização do
atender à melhor ou à pior adequação de seu conteúdo a poder. A esse respeito, Machado assume a seguinte posição:
períodos mais longos ou mais curtos e sem prestar nenhu- “O processo de luta é visto como uma forma de contrapor-
ma atenção à cadência do interesse e do trabalho dos estu- -se à dominação, o que pode contribuir para a articulação de
dantes; em suma, a organização habitual do horário escolar práticas emancipatórias”.
ensina ao estudante que o importante não é a qualidade A partir disso, novas relações de poder poderão ser
precisa de seu trabalho, a que o dedica, mas sua duração. construídas na dinâmica interna da sala de aula e da escola.
A escola é o primeiro cenário em que a criança e o jovem
presenciam, aceitam e sofrem a redução de seu trabalho a g) A avaliação
trabalho abstrato. Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à reflexão,
Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna- com base em dados concretos sobre como a escola se orga-
-se necessário que a escola reformule seu tempo, estabe- niza para colocar em ação seu projeto políticopedagógico. A
lecendo períodos de estudo e reflexão de equipes de edu- avaliação do projeto políticopedagógico, numa visão crítica,

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GESTÃO PEDAGÓGICA

parte da necessidade de conhecer a realidade escolar, busca


explicar e compreender criticamente as causas da existência 9. REGIMENTO ESCOLAR
de problemas, bem como suas relações, suas mudanças e
se esforça para propor ações alternativas (criação coletiva).
Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão glo- O projeto políticopedagógico e o regimento escolar
bal analisam o projeto políticopedagógico não como algo
estanque, desvinculado dos aspectos políticos e sociais; não O projeto políticopedagógico, nomeado na LDB como
rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um proposta ou projeto pedagógico, representa mais do que
compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia um documento. É um dos meios de viabilizar a escola de-
das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e ava- mocrática e autônoma para todos, com qualidade social.
liar o projeto políticopedagógico é avaliar os resultados da Autonomia pressupõe liberdade e capacidade de decidir a
própria organização do trabalho pedagógico. partir de regras relacionais. O exercício da autonomia admi-
Considerando a avaliação dessa forma, é possível salien- nistrativa e pedagógica da escola pode ser traduzido como
tar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato a capacidade de governar a si mesmo, por meio de normas
dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto políti- próprias.
copedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações A autonomia da escola numa sociedade democrática
dos educadores e dos educandos. é, sobretudo, a possibilidade de ter uma compreensão par-
O processo de avaliação envolve três momentos: a ticular das metas da tarefa de educar e cuidar, das relações
descrição e a problematização da realidade escolar, a com- de interdependência, da possibilidade de fazer escolhas vi-
preensão crítica da realidade descrita e problematizada e sando a um trabalho educativo eticamente responsável, que
a proposição de alternativas de ação, momento de criação devem ser postas em prática nas instituições educacionais,
coletiva. no cumprimento do artigo 3º da LDB, em que vários princí-
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser ins- pios derivam da Constituição Federal. Essa autonomia tem
trumento de exclusão dos alunos provenientes das classes como suporte a Constituição Federal e o disposto no artigo
trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favo- 15 da LDB:
recer o desenvolvimento da capacidade do aluno de apro- Os sistemas de ensino assegurarão às unidades esco-
priar-se de conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos lares públicas de Educação Básica que os integram progres-
produzidos historicamente e deve ser resultante de um pro- sivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de
cesso coletivo de avaliação diagnostica. gestão financeira, observadas as normas gerais de direito
financeiro público.
Gestão educacional decorrente da concepção do proje- O ponto de partida para a conquista da autonomia
to políticopedagógico pela instituição educacional tem por base a construção da
identidade de cada escola, cuja manifestação se expressa
A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, no seu projeto pedagógico e no regimento escolar próprio,
de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa criar enquanto manifestação de seu ideal de educação e que
condições para gerar uma outra forma de organização do permite uma nova e democrática ordenação pedagógica
trabalho pedagógico. das relações escolares. O projeto políticopedagógico deve,
A reorganização da escola deverá ser buscada de den- pois, ser assumido pela comunidade educativa, ao mesmo
tro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o tempo, como sua força indutora do processo participativo
empenho coletivo na construção de um projeto políticope- na instituição e como um dos instrumentos de conciliação
dagógico, e isso implica fazer rupturas com o existente para das diferenças, de busca da construção de responsabilidade
avançar. compartilhada por todos os membros integrantes da comu-
É preciso entender o projeto políticopedagógico da nidade escolar, sujeitos históricos concretos, situados num
escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela cenário geopolítico preenchido por situações cotidianas de-
precisa de um tempo razoável de reflexão e ação necessário safiantes.
à consolidação de sua proposta. Assim concebido, o processo de formulação do projeto
A construção do projeto políticopedagógico requer políticopedagógico tem como referência a democrática or-
continuidade das ações, descentralização, democratização denação pedagógica das relações escolares, cujo horizonte
do processo de tomada de decisões e instalação de um pro- de ação procura abranger a vida humana em sua globalida-
cesso coletivo de avaliação de cunho emancipatório. de. Por outro lado, o projeto políticopedagógico é também
Finalmente, é importante destacar que o movimento de um documento em que se registra o resultado do processo
luta e resistência dos educadores é indispensável para am- negocial estabelecido por aqueles atores que estudam a es-
pliar as possibilidades e apressar as mudanças que se fazem cola e por ela respondem em parceria (gestores, professores,
necessárias dentro e fora dos muros da escola. técnicos e demais funcionários, representação estudantil, re-
presentação da família e da comunidade local). É, portan-
Referência: to, instrumento de previsão e suporte para a avaliação das
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto políticope- ações educativas programadas para a instituição como um
dagógico da escola: uma construção possível. Papirus, 2002. todo; referencia e transcende o planejamento da gestão e do

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GESTÃO PEDAGÓGICA

desenvolvimento escolar, porque suscita e registra decisões VI – da explicitação das bases que norteiam a organi-
colegiadas que envolvem a comunidade escolar como um zação do trabalho pedagógico tendo como foco os funda-
todo, projetando-as para além do período do mandato de mentos da gestão democrática, compartilhada e participa-
cada gestor. Assim, cabe à escola, considerada a sua identi- tiva (órgãos colegiados, de representação estudantil e dos
dade e a de seus sujeitos, articular a formulação do projeto pais).
políticopedagógico com os planos de educação nacional, No projeto políticopedagógico, deve-se conceber a
estadual, municipal, o plano da gestão, o contexto em que a organização do espaço físico da instituição escolar de tal
escola se situa e as necessidades locais e as de seus estudan- modo que este seja compatível com as características de
tes. A organização e a gestão das pessoas, do espaço, dos seus sujeitos, além da natureza e das finalidades da educa-
processos e os procedimentos que viabilizam o trabalho de ção, deliberadas e assumidas pela comunidade educacional.
todos aqueles que se inscrevem no currículo em movimento Assim, a despadronização curricular pressupõe a despadro-
expresso no projeto políticopedagógico representam o con- nização do espaço físico e dos critérios de organização da
junto de elementos que integram o trabalho pedagógico e carga horária do professor. A exigência – o rigor no educar
a gestão da escola tendo como fundamento o que dispõem e cuidar – é a chave para a conquista e recuperação dos
os artigos 14, 12 e 13, da LDB, respectivamente. níveis de qualidade educativa de que as crianças e os jo-
Na elaboração do projeto políticopedagógico, a con- vens necessitam para continuar a estudar em etapas e níveis
cepção de currículo e de conhecimento escolar deve ser en- superiores, para integrar-se no mundo do trabalho em seu
riquecida pela compreensão de como lidar com temas signi- direito inalienável de alcançar o lugar de cidadãos respon-
ficativos que se relacionem com problemas e fatos culturais sáveis, formados nos valores democráticos e na cultura do
relevantes da realidade em que a escola se inscreve. O co- esforço e da solidariedade.
nhecimento prévio sobre como funciona o financiamento da Nessa perspectiva, a comunidade escolar assume o
educação pública, tanto em nível federal quanto em estadual projeto políticopedagógico não como peça constitutiva da
e municipal, pela comunidade educativa, contribui, significa- lógica burocrática, menos ainda como elemento mágico ca-
tivamente, no momento em que se estabelecem as priori- paz de solucionar todos os problemas da escola, mas como
dades institucionais. A natureza e a finalidade da unidade instância de construção coletiva, que respeita os sujeitos das
escolar, o papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, aprendizagens, entendidos como cidadãos de direitos à pro-
as questões de gênero, etnia, classe social e diversidade cul- teção e à participação social, de tal modo que:
tural que compõem as ações educativas, particularmente a I – estimule a leitura atenta da realidade local, regional
organização e a gestão curricular, são os componentes que e mundial, por meio da qual se podem perceber horizontes,
subsidiam as demais partes integrantes do projeto político- tendências e possibilidades de desenvolvimento;
pedagógico. Nele, devem ser previstas as prioridades insti- II – preserve a clareza sobre o fazer pedagógico, em sua
tucionais que a identificam. Além de se observar tais critérios multidimensionalidade, prevendo-se a diversidade de ritmo
e compromisso, deve-se definir o conjunto das ações educa- de desenvolvimento dos sujeitos das aprendizagens e cami-
tivas próprias das etapas da Educação Básica assumidas pela nhos por eles escolhidos;
unidade escolar, de acordo com as especificidades que lhes III – institua a compreensão dos conflitos, das divergên-
correspondam, preservando a articulação orgânica daquelas cias e diferenças que demarcam as relações humanas e so-
etapas. ciais;
Reconhecendo o currículo como coração que faz pul- IV – esclareça o papel dos gestores da instituição, da or-
sar o trabalho pedagógico na sua multidimensionalidade e ganização estudantil e dos conselhos: comunitário, de clas-
dinamicidade, o projeto políticopedagógico deve constituir- se, de pais e outros;
-se: V – perceba e interprete o perfil real dos sujeitos – crian-
I – do diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do ças, jovens e adultos – que justificam e instituem a vida da e
processo educativo, contextualizado no espaço e no tempo; na escola, do ponto de vista intelectual, cultural, emocional,
II – da concepção sobre educação, conhecimento, ava- afetivo, socioeconômico, como base da reflexão sobre as
liação da aprendizagem e mobilidade escolar; relações vida-conhecimento-cultura-professor estudante e
III – da definição de qualidade das aprendizagens e, por instituição escolar;
consequência, da escola, no contexto das desigualdades que VI – considere como núcleo central das aprendizagens
nela se refletem; pelos sujeitos do processo educativo (gestores, professores,
IV – de acompanhamento sistemático dos resultados do técnicos e funcionários, estudantes e famílias) a curiosidade
processo de avaliação interna e externa (SAEB, Prova Bra- e a pesquisa, incluindo, de modo cuidadoso e sistemático, as
sil, dados estatísticos resultantes das avaliações em rede chamadas referências virtuais de aprendizagem que se dão
nacional e outras; pesquisas sobre os sujeitos da Educação em contextos digitais;
Básica), incluindo resultados que compõem o Índice de De- VII – preveja a formação continuada dos gestores e
senvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que comple- professores para que estes tenham a oportunidade de se
mentem ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da manter atualizados quanto ao campo do conhecimento que
federação e outros; lhes cabe manejar, trabalhar e quanto à adoção, à opção da
V – da implantação dos programas de acompanhamen- metodologia didáticopedagógica mais própria às aprendi-
to do acesso, de permanência dos estudantes e de supera- zagens que devem vivenciar e estimular, incluindo aquelas
ção da retenção escolar;

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GESTÃO PEDAGÓGICA

pertinentes às Tecnologias de Informação e Comunicação VIII – a promoção da integração das atividades educati-
(TIC); vas com o mundo do trabalho, por meio de atividades práti-
VIII – realize encontros pedagógicos periódicos, com cas e de estágios, estes para os estudantes do Ensino Médio
tempo e espaço destinados a estudos, debates e troca de e da
experiências de aprendizagem dos sujeitos do processo co- Educação Profissional e Tecnológica;
letivo de gestão e pedagógico pelos gestores, professores e IX – a utilização de novas mídias e tecnologias educa-
estudantes, para a reorientação de caminhos e estratégias; cionais, como processo de dinamização dos ambientes de
IX – defina e justifique, claramente, a opção por um ou outro aprendizagem;
método de trabalho docente e a compreensão sobre a qua- X – a oferta de atividades de estudo com utilização de
lidade das aprendizagens como direito social dos sujeitos e novas tecnologias de comunicação.
da escola: qualidade formal e qualidade política (saber usar XI – a promoção de atividades sociais que estimulem o
a qualidade formal); convívio humano e interativo do mundo dos jovens;
X – traduza, claramente, os critérios orientadores da XII – a organização dos tempos e dos espaços com
distribuição e organização do calendário escolar e da carga ações efetivas de interdisciplinaridade e contextualização
horária destinada à gestão e à docência, de tal modo que se dos conhecimentos;
viabilize a concretização do currículo escolar e, ao mesmo XIII – a garantia do acompanhamento da vida escolar
tempo, que os profissionais da educação sejam valorizados dos estudantes, desde o diagnóstico preliminar, acompa-
e estimulados a trabalharem prazerosamente; nhamento do desempenho e integração com a família;
XI – contemple programas e projetos com os quais a XIV – a promoção da aprendizagem criativa como pro-
escola desenvolverá ações inovadoras, cujo foco incida cesso de sistematização dos conhecimentos elaborados,
na prevenção das consequências da incivilidade que vem como caminho pedagógico de superação à mera memori-
ameaçando a saúde e o bem-estar, particularmente das ju- zação;
ventudes, assim como na reeducação dos sujeitos vitimados XV – o estímulo da capacidade de aprender do estu-
por esse fenômeno psicossocial; dante, desenvolvendo o autodidatismo e autonomia dos es-
XII – avalie as causas da distorção de idade/ano/série, tudantes;
projetando a sua superação, por intermédio da implantação XVI – a indicação de exames otorrino, laringo, oftálmico
de programas didático-pedagógicos fundamentados por e outros sempre que o estudante manifestar dificuldade de
metodologia específica. concentração e/ou mudança de comportamento;
Daí a necessidade de se estimularem novas formas de XVII – a oferta contínua de atividades complementares
organização dos componentes curriculares dispondo-os em e de reforço da aprendizagem, proporcionando condições
eixos temáticos, que são considerados eixos fundantes, pois para que o estudante tenha sucesso em seus estudos;
conferem relevância ao currículo. Desse modo, no projeto XVIII – a oferta de atividades de estudo com utilização
políticopedagógico, a comunidade educacional deve en- de novas tecnologias de comunicação.
gendrar o entrelaçamento entre trabalho, ciência, tecnolo- Nesse sentido, o projeto políticopedagógico, concebi-
gia, cultura e arte, por meio de atividades próprias às carac- do pela escola e que passa a orientá-la, deve identificar a
terísticas da etapa de desenvolvimento humano do escolar a Educação Básica, simultaneamente, como o conjunto e plu-
que se destinarem, prevendo: ralidade de espaços e tempos que favorecem processos em
I – as atividades integradoras de iniciação científica e no que a infância e a adolescência se humanizam ou se desu-
campo artístico-cultural, desde a Educação Infantil; manizam, porque se inscrevem numa teia de relações cultu-
II – os princípios norteadores da educação nacional, a rais mais amplas e complexas, histórica e socialmente teci-
metodologia da problematização como instrumento de in- das. Daí a relevância de se ter, como fundamento desse nível
centivo à pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desen- da educação, os dois pressupostos: cuidar e educar. Este é
volvimento do espírito inventivo, nas práticas didáticas; o foco a ser considerado pelos sistemas educativos, pelas
III – o desenvolvimento de esforços pedagógicos com unidades escolares, pela comunidade educacional, em geral,
intenções educativas, comprometidas com a educação cida- e pelos sujeitos educadores, em particular, na elaboração e
dã; execução de determinado projeto institucional e regimento
IV – a avaliação do desenvolvimento das aprendizagens escolar.
como processo formativo e permanente de reconhecimento O regimento escolar trata da natureza e da finalidade
de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e emoções; da instituição; da relação da gestão democrática com os ór-
V – a valorização da leitura em todos os campos do co- gãos colegiados; das atribuições de seus órgãos e sujeitos;
nhecimento, desenvolvendo a capacidade de letramento das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios de aces-
dos estudantes; so, promoção, e a mobilidade do escolar; e dos direitos e
VI – o comportamento ético e solidário, como ponto de deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos,
partida para o reconhecimento dos deveres e direitos da ci- funcionários, gestores, famílias, representação estudantil e
dadania, para a prática do humanismo contemporâneo, pelo função das suas instâncias colegiadas.
reconhecimento, respeito e acolhimento da identidade do Nessa perspectiva, o regimento, discutido e aprovado
outro; pela comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-
VII – a articulação entre teoria e prática, vinculando o -se em um dos instrumentos de execução, com transparên-
trabalho intelectual com atividades práticas experimentais; cia e responsabilidade, do seu projeto políticopedagógico.

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GESTÃO PEDAGÓGICA

As normas nele definidas servem, portanto, para reger o tra- em outros, divergem. De qualquer modo, a classificação e
balho pedagógico e a vida da instituição escolar, em conso- sua descrição poderão funcionar como um instrumento de
nância com o projeto políticopedagógico e com a legislação análise para o professor avaliar a sua prática de sala de aula.
e as normas educacionais.
A exposição das tendências pedagógicas compõe-se
Referência: de uma caracterização geral das tendências liberal e
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação progressista, seguidas da apresentação das pedagogias
Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, que as traduzem e que se manifestam na prática
Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional docente.
e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Na-
cional de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secre- 1. Pedagogia liberal
taria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação
Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. O termo liberal não tem o sentido de “avançado”, “de-
mocrático”, “aberto”, como costuma ser usado. A doutrina li-
beral apareceu como justificação do sistema capitalista que,
10. TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS NA SALA ao defender a predominância da liberdade e dos interesses
DE AULA individuais da sociedade, estabeleceu uma forma de organi-
zação social baseada na propriedade privada dos meios de
produção, também denominada sociedade de classes. A pe-
dagogia liberal, portanto, é uma manifestação própria desse
Teorias Pedagógicas na Prática Escolar tipo de sociedade.
A educação brasileira, pelo menos nos últimos cinquen-
Neste texto adaptado de Luckesi, vamos tratar das con- ta anos, tem sido marcada pelas tendências liberais, nas suas
cepções pedagógicas propriamente ditas, ou seja, vamos formas ora conservadora, ora renovada. Evidentemente tais
abordar as diversas tendências teóricas que pretenderam tendências se manifestam, concretamente, nas práticas es-
dar conta da compreensão e da orientação da prática edu- colares e no ideário pedagógico de muitos professores, ain-
cacional em diversos momentos e circunstâncias da histó- da que estes não se deem conta dessa influência.
ria humana. Desse modo, estaremos aprofundando a com- A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem
preensão da articulação entre filosofia e educação, que, aqui, por função preparar os indivíduos para o desempenho de
atinge o nível da concepção filosófica da educação, que se papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, por
sedimenta em uma pedagogia. Genericamente, podemos isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valo-
dizer que a perspectiva redentora se traduz pelas pedago- res e às normas vigentes na sociedade de classes através do
gias liberais e a perspectiva transformadora pelas pedago- desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto
gias progressistas. cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois,
Essa discussão tem uma importância prática da maior embora difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não
relevância, pois permite a cada professor situar-se teorica- leva em conta a desigualdade de condições. Historicamente,
mente sobre suas opções, articulando-se e autodefinindo- a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e,
-se. por razões de recomposição da hegemonia da burguesia,
Para desenvolver a abordagem das tendências pedagó- evoluiu para a pedagogia renovada (também denominada
gicas utilizamos como critério a posição que cada tendência escola nova ou ativa), o que não significou a substituição
adota em relação às finalidades sociais da escola. Assim va- de uma pela outra, pois ambas conviveram e convivem na
mos organizar o conjunto das pedagogias em dois grupos, prática escolar.
conforme aparece a seguir:
Na tendência tradicional, a pedagogia liberal se caracte-
1. Pedagogia liberal riza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no
1.1 tradicional qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço,
1.2 renovada progressivista sua plena realização como pessoa. Os conteúdos, os pro-
1.3 renovada não-diretiva cedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm
1.4 tecnicista nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos
2. Pedagogia progressista com as realidades sociais. É a predominância da palavra do
2.1 libertadora professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente
2.2 libertária intelectual.
2.3 crítico-social dos conteúdos A tendência liberal renovada acentua, igualmente, o
sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões in-
É evidente que tanto as tendências quanto suas mani- dividuais. Mas a educação é um processo interno, não ex-
festações não são puras nem mutuamente exclusivas o que, terno; ela parte das necessidades e interesses individuais
aliás, é a limitação principal de qualquer tentativa de classi- necessários para a adaptação ao meio. A educação é a vida
ficação. Em alguns casos as tendências se complementam, presente, é a parte da própria experiência humana. A escola

49
GESTÃO PEDAGÓGICA

renovada propõe um ensino que valorize a autoeducação (o Métodos - Baseiam-se na exposição verbal da matéria
aluno como sujeito do conhecimento), a experiência direta e/ou demonstração. Tanto a exposição quanto a análise são
sobre o meio pela atividade; um ensino centrado no alu- feitas pelo professor, observados os seguintes passos:
no e no grupo. A tendência liberal renovada apresenta-se,
entre nós, em duas versões distintas: a renovada progres- a) preparação do aluno (definição do trabalho, recorda-
sivista, ou pragmatista, principalmente na forma difundida ção da matéria anterior, despertar interesse);
pelos pioneiros da educação nova, entre os quais se destaca b) apresentação (realce de pontos-chaves, demonstração);
Anísio Teixeira (deve-se destacar, também a influência de c) associação (combinação do conhecimento novo com o
Montessori, Decroly e, de certa forma, Piaget); a renovada já conhecido por comparação e abstração);
não-diretiva orientada para os objetivos de auto realização d) generalização (dos aspectos particulares chega-se ao
(desenvolvimento pessoal) e para as relações interpessoais, conceito geral, é a exposição sistematizada);
na formulação do psicólogo norte-americano Carl Rogers. e) aplicação (explicação de fatos adicionais e/ou resolu-
ções de exercícios).
A tendência liberal tecnicista subordina a educação à
sociedade, tendo como função a preparação de “recursos A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou
humanos” (mão-de-obra para a indústria). A sociedade in- fórmulas na memorização visa disciplinar a mente e formar
dustrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas hábitos.
econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também
cientificamente) nos alunos os comportamentos de ajusta- Relacionamento professor-aluno - Predomina a autori-
mento a essas metas. No tecnicismo acredita-se que a reali- dade do professor que exige atitude receptiva dos alunos
dade contém em si suas próprias leis, bastando aos homens e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da
descobri-las e aplicá-las. Dessa forma, o essencial não é o aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade
conteúdo da realidade, mas as técnicas (forma) de desco- a ser absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o
berta e aplicação. A tecnologia (aproveitamento ordenado meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio.
de recursos, com base no conhecimento científico) é o meio
eficaz de obter a maximização da produção e garantir um Pressupostos de aprendizagem - A ideia de que o en-
ótimo funcionamento da sociedade; a educação é um re- sino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito
curso tecnológico por excelência. Ela “é encarada como um da criança é acompanhada de uma outra: a de que a ca-
instrumento capaz de promover, sem contradição, o desen- pacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto,
volvimento econômico pela qualificação da mão-de-obra, apenas menos desenvolvida. Os programas, então, devem
pela redistribuição da renda, pela maximização da produção ser dados numa progressão lógica, estabelecida pelo adulto,
e, ao mesmo tempo, pelo desenvolvimento da ‘consciência sem levar em conta as características próprias de cada idade.
política’ indispensável à manutenção do Estado autoritário”. A aprendizagem, assim, é receptiva e mecânica, para o que
Utiliza-se basicamente do enfoque sistêmico, da tecnologia se recorre frequentemente à coação. A retenção do material
educacional e da análise experimental do comportamento. ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáti-
cos e recapitulação da matéria. A transferência da aprendi-
1.1 Tendência liberal tradicional zagem depende do treino; é indispensável a retenção, a fim
de que o aluno possa responder às situações novas de for-
Papel da escola - A atuação da escola consiste na pre- ma semelhante às respostas dadas em situações anteriores.
paração intelectual e moral dos alunos para assumir sua A avaliação se dá por verificações de curto prazo (interroga-
posição na sociedade. O compromisso da escola é com a tórios orais, exercício de casa) e de prazo mais longo (provas
cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade. O ca- escritas, trabalhos de casa). O esforço é, em geral, negativo
minho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos (punição, notas baixas, apelos aos pais); às vezes, é positivo
os alunos, desde que se esforcem. Assim, os menos capazes (emulação, classificações).
devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu
lugar junto aos mais capazes. Caso não consigam, devem Manifestações na prática escolar - A pedagogia liberal
procurar o ensino mais profissionalizante. tradicional é viva e atuante em nossas escolas. Na descrição
apresentada aqui incluem-se as escolas religiosas ou leigas
Conteúdos de ensino - São os conhecimentos e valores que adotam uma orientação clássico-humanista ou uma
sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao orientação humano-científica, sendo que esta se aproxima
aluno como verdades. As matérias de estudo visam prepa- mais do modelo de escola predominante em nossa história
rar o aluno para a vida, são determinadas pela sociedade educacional.
e ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da
experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo 1.2 Tendência liberal renovada progressivista
valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é
criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopé- Papel da escola - A finalidade da escola é adequar as ne-
dica. cessidades individuais ao meio social e, para isso, ela deve se
organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida. Todo
ser dispõe dentro de si mesmo de mecanismos de adapta-

50
GESTÃO PEDAGÓGICA

ção progressiva ao meio e de uma consequente integração corpora à atividade do aluno pela descoberta pessoal; o que
dessas formas de adaptação no comportamento. Tal inte- é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser
gração se dá por meio de experiências que devem satisfazer, empregado em novas situações. A avaliação é fluida e tenta
ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as exigências ser eficaz à medida que os esforços e os êxitos são pronta e
sociais. À escola cabe suprir as experiências que permitam explicitamente reconhecidos pelo professor.
ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e re-
construção do objeto, numa interação entre estruturas cog- Manifestações na prática escolar - Os princípios da pe-
nitivas do indivíduo e estruturas do ambiente. dagogia progressivista vêm sendo difundidos, em larga es-
cala, nos cursos de licenciatura, e muitos professores sofrem
Conteúdos de ensino - Como o conhecimento resulta sua influência. Entretanto, sua aplicação é reduzidíssima, não
da ação a partir dos interesses e necessidades, os conteúdos somente por falta de condições objetivas como também
de ensino são estabelecidos em função de experiências que porque se choca com uma prática pedagógica basicamente
o sujeito vivencia frente a desafios cognitivos e situações tradicional. Alguns métodos são adotados em escolas parti-
problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos pro- culares, como o método Montessori, o método dos centros
cessos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos de interesse de Decroly, o método de projetos de Dewey. O
organizados racionalmente. Trata-se de “aprender a apren- ensino baseado na psicologia genética de Piaget tem larga
der”, ou seja, é mais importante o processo de aquisição do aceitação na educação pré-escolar. Pertencem, também, à
saber do que o saber propriamente dito. tendência progressivista muitas das escolas denominadas
“experimentais”, as “escolas comunitárias” e mais remota-
Método de ensino - A ideia de “aprender fazendo” está mente (década de 60) a “escola secundária moderna”, na
sempre presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a versão difundida por Lauro de Oliveira Lima.
pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o
método de solução de problemas. Embora os métodos va- 1.3 Tendência liberal renovada não-diretiva
riem, as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori, Decroly,
Cousinet e outros) partem sempre de atividades adequadas Papel da escola - Acentua-se nesta tendência o papel
à natureza do aluno e às etapas do seu desenvolvimento. da escola na formação de atitudes, razão pela qual deve
Na maioria delas, acentua-se a importância do trabalho em estar mais preocupada com os problemas psicológicos do
grupo não apenas como técnica, mas como condição básica que com os pedagógicos ou sociais. Todo esforço está em
do desenvolvimento mental. Os passos básicos do método estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro do
ativo são: indivíduo, isto é, a uma adequação pessoal ás solicitações
do ambiente. Rogers considera que o ensino é uma ativi-
a) colocar o aluno numa situação de experiência que te- dade excessivamente valorizada; para ele os procedimentos
nha um interesse por si mesma; didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo
b) o problema deve ser desafiante, como estímulo à re- tem muito pouca importância, face ao propósito de favore-
flexão; cer à pessoa um clima de autodesenvolvimento e realização
c) o aluno deve dispor de informações e instruções que pessoal, o que implica estar bem consigo próprio e com seus
lhe permitam pesquisar a descoberta de soluções; semelhantes. O resultado de uma boa educação é muito se-
d) soluções provisórias devem ser incentivadas e orde- melhante ao de uma boa terapia.
nadas, com a ajuda discreta do professor;
e) deve-se garantir a oportunidade de colocar as solu- Conteúdos de ensino - A ênfase que esta tendência põe
ções à prova, a fim de determinar sua utilidade para a vida. nos processos de desenvolvimento das relações e da comu-
nicação torna secundária a transmissão de conteúdos. Os
Relacionamento professor-aluno - Não há lugar privi- processos de ensino visam mais facilitar aos estudantes os
legiado para o professor; antes, seu papel é auxiliar o de- meios para buscarem por si mesmos os conhecimentos que,
senvolvimento livre e espontâneo da criança; se intervém, no entanto, são dispensáveis.
é para dar forma ao raciocínio dela. A disciplina surge de Métodos de ensino - Os métodos usuais são dispensa-
uma tomada de consciência dos limites da vida grupal; as- dos, prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do
sim, aluno disciplinado é aquele que é solidário, participante, professor em desenvolver um estilo próprio para facilitar a
respeitador das regras do grupo. Para se garantir um clima aprendizagem dos alunos. Rogers explicita algumas das ca-
harmonioso dentro da sala de aula é indispensável um rela- racterísticas do professor “facilitador”: aceitação da pessoa
cionamento positivo entre professores e alunos, uma forma do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo e ter plena
de instaurar a “vivência democrática” tal qual deve ser a vida convicção na capacidade de autodesenvolvimento do estu-
em sociedade. dante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se organi-
zar, utilizando técnicas de sensibilização onde os sentimen-
Pressupostos de aprendizagem - A motivação depende tos de cada um possam ser expostos, sem ameaças. Assim,
da força de estimulação do problema e das disposições in- o objetivo do trabalho escolar se esgota nos processos de
ternas e interesses do aluno. Assim, aprender se torna uma melhor relacionamento interpessoal, como condição para o
atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o crescimento pessoal.
ambiente apenas o meio estimulador. É retido o que se in-

51
GESTÃO PEDAGÓGICA

Relacionamento professor-aluno - A pedagogia não-di- de leis naturais que independem dos que a conhecem ou
retiva propõe uma educação centrada no aluno, visando for- executam.
mar sua personalidade através da vivência de experiências
significativas que lhe permitam desenvolver características Conteúdos de ensino - São as informações, princípios
inerentes à sua natureza. O professor é um especialista em científicos, leis etc., estabelecidos e ordenados numa se-
relações humanas, ao garantir o clima de relacionamento quência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de
pessoal e autêntico. “Ausentar-se” é a melhor forma de res- ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observá-
peito e aceitação plena do aluno. Toda intervenção é amea- vel e mensurável; os conteúdos decorrem, assim, da ciência
çadora, inibidora da aprendizagem. objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O
material instrucional encontra-se sistematizado nos ma-
Pressupostos de aprendizagem - A motivação resulta do nuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dis-
desejo de adequação pessoal na busca da auto realização; positivos audiovisuais etc.
é, portanto um ato interno. A motivação aumenta, quando
o sujeito desenvolve o sentimento de que é capaz de agir Métodos de ensino - Consistem nos procedimentos e
em termos de atingir suas metas pessoais, isto é, desenvolve técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições am-
a valorização do “eu”. Aprender, portanto, é modificar suas bientais que assegurem a transmissão/recepção de informa-
próprias percepções; daí que apenas se aprende o que es- ções. Se a primeira tarefa do professor é modelar respostas
tiver significativamente relacionado com essas percepções. apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal é conse-
Resulta que a retenção se dá pela relevância do aprendido guir o comportamento adequado pelo controle do ensino;
em relação ao “eu”, ou seja, o que não está envolvido com daí a importância da tecnologia educacional. A tecnologia
o “eu” não é retido e nem transferido. Portanto, a avaliação educacional é a “aplicação sistemática de princípios cientí-
escolar perde inteiramente o sentido, privilegiando-se a au- ficos comportamentais e tecnológicos a problemas educa-
toavaliação. cionais, em função de resultados efetivos, utilizando uma
metodologia e abordagem sistêmica abrangente”. Qualquer
Manifestações na prática escolar - Entre nós, o inspira- sistema instrucional (há uma grande variedade deles) possui
dor da pedagogía não-diretiva é C. Rogers, na verdade mais três componentes básicos: objetivos instrucionais operacio-
psicólogo clínico que educador. Suas ideias influenciam um nalizados em comportamentos observáveis e mensuráveis,
número expressivo de educadores e professores, principal- procedimentos instrucionais e avaliação. As etapas básicas
mente orientadores educacionais e psicólogos escolares de um processo ensino-aprendizagem são:
que se dedicam ao aconselhamento. Menos recentemente, a) estabelecimento de comportamentos terminais, atra-
podem-se citar também tendências inspiradas na escola de vés de objetivos instrucionais;
Summerhill do educador inglês A. Neill. b) análise da tarefa de aprendizagem, a fim de ordenar
sequencialmente os passos da instrução;
1.4 Tendência liberal tecnicista c) executar o programa, reforçando gradualmente as
respostas corretas correspondentes aos objetivos. O essen-
Papel da escola - Num sistema social harmônico, orgâni- cial da tecnologia educacional é a programação por passos
co e funcional, a escola funciona como modeladora do com- sequenciais empregada na instrução programada, nas téc-
portamento humano, através de técnicas específicas. À edu- nicas de microensino, multimeios, módulos etc. O emprego
cação escolar compete organizar o processo de aquisição da tecnologia instrucional na escola pública aparece nas for-
de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e mas de: planejamento em moldes sistêmicos, concepção de
necessários para que os indivíduos se integrem na máquina aprendizagem como mudança de comportamento, opera-
do sistema social global. Tal sistema social é regido por leis cionalização de objetivos, uso de procedimentos científicos
naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as mes- (instrução programada, audiovisuais, avaliação etc., inclusive
mas relações funcionais observáveis entre os fenômenos da a programação de livros didáticos).
natureza), cientificamente descobertas. Basta aplicá-las. A
atividade da “descoberta” é função da educação, mas deve Relacionamento professor-aluno - São relações estru-
ser restrita aos especialistas; a “aplicação” é competência do turadas e objetivas, com papéis bem definidos: o professor
processo educacional comum. A escola atua, assim, no aper- administra as condições de transmissão da matéria, confor-
feiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), me um sistema instrucional eficiente e efetivo em termos
articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para de resultados da aprendizagem; o aluno recebe, aprende e
tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, fixa as informações. O professor é apenas um elo de ligação
ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imedia- entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe empregar
to é o de produzir indivíduos “competentes” para o mercado o sistema instrucional previsto. O aluno é um indivíduo res-
de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações pre- ponsivo, não participa da elaboração do programa educa-
cisas, objetivas e rápidas. A pesquisa científica, a tecnologia cional. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva.
educacional, a análise experimental do comportamento ga- A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusiva-
rantem a objetividade da prática escolar, uma vez que os mente técnico, que é o de garantir a eficácia da transmissão
objetivos instrucionais (conteúdos) resultam da aplicação do conhecimento. Debates, discussões, questionamentos
são desnecessários, assim como pouco importam as rela-

52
GESTÃO PEDAGÓGICA

ções afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo nalizar-se numa sociedade capitalista; daí ser ela um instru-
ensino aprendizagem. mento de luta dos professores ao lado de outras práticas
sociais.
Pressupostos de aprendizagem - As teorias de aprendi- A pedagogia progressista tem-se manifestado em três
zagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que tendências: a libertadora, mais conhecida como pedagogia
aprender é uma questão de modificação do desempenho: o de Paulo Freire; a libertária, que reúne os defensores da au-
bom ensino depende de organizar eficientemente as con- togestão pedagógica; a crítico-social dos conteúdos que,
dições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da situa- diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos con-
ção de aprendizagem diferente de como entrou. Ou seja, o teúdos no seu confronto com as realidades sociais.
ensino é um processo de condicionamento através do uso As versões libertadora e libertária têm em comum o
de reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os antiautoritarismo, a valorização da experiência vívida como
sistemas instrucionais visam ao controle do comportamen- base da relação educativa e a ideia de autogestão pedagógi-
to individual face objetivos preestabelecidos. Trata-se de ca. Em função disso, dão mais valor ao processo de aprendi-
um enfoque diretivo do ensino, centrado no controle das zagem grupal (participação em discussões, assembleias, vo-
condições que cercam o organismo que se comporta. O ob- tações) do que aos conteúdos de ensino. Como decorrência,
jetivo da ciência pedagógica, a partir da psicologia, é o es- a prática educativa somente faz sentido numa prática social
tudo científico do comportamento: descobrir as leis naturais junto ao povo, razão pela qual preferem as modalidades de
que presidem as reações físicas do organismo que aprende, educação popular “não-formal”.
a fim de aumentar o controle das variáveis que o afetam. A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos
Os componentes da aprendizagem - motivação, retenção, propõe uma síntese superadora das pedagogias tradicional
transferência - decorrem da aplicação do comportamento e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inseri-
operante Segundo Skinner, o comportamento aprendido é da na prática social concreta. Entende a escola como media-
uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de ção entre o individual e o social, exercendo aí a articulação
reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma: “Se entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por
a ocorrência de um (comportamento) operante é seguida parte de um aluno concreto (inserido num contexto de rela-
pela apresentação de um estímulo (reforçador), a probabili- ções sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente
dade de reforçamento é aumentada”. Entre os autores que reelaborado.
contribuem para os estudos de aprendizagem destacam-se:
Skinner, Gagné, Bloon e Mager. 2.1 Tendência progressista libertadora

Manifestações na prática escolar - A influência da peda- Papel da escola - Não é próprio da pedagogia liberta-
gogia tecnicista remonta à 2ª metade dos anos 50 (PABAEE dora falar em ensino escolar, já que sua marca é a atuação
- Programa Brasileiro-americano de Auxílio ao Ensino Ele- “não-formal”. Entretanto, professores e educadores enga-
mentar). Entretanto foi introduzida mais efetivamente no jados no ensino escolar vêm adotando pressupostos dessa
final dos anos 60 com o objetivo de adequar o sistema edu- pedagogia. Assim, quando se fala na educação em geral,
cacional à orientação político-econômica do regime militar: diz-se que ela é uma atividade onde professores e alunos,
inserir a escola nos modelos de racionalização do sistema mediatizados pela realidade que apreendem e da qual ex-
de produção capitalista. É quando a orientação escolano- traem o conteúdo de aprendizagem, atingem um nível de
vista cede lugar à tendência tecnicista, pelo menos no ní- consciência dessa mesma realidade, a fim de nela atuarem,
vel de política oficial; os marcos de implantação do modelo num sentido de transformação social. Tanto a educação tra-
tecnicista são as leis 5.540/68 e 5.692/71, que reorganizam dicional, denominada “bancária” - que visa apenas depositar
o ensino superior e o ensino de 1º e 2º graus. A despeito informações sobre o aluno -, quanto a educação renovada
da máquina oficial, entretanto, não há indícios seguros de - que pretenderia uma libertação psicológica individual - são
que os professores da escola pública tenham assimilado a domesticadoras, pois em nada contribuem para desvelar a
pedagogia tecnicista, pelo menos em termos de ideário. A realidade social de opressão. A educação libertadora, ao
aplicação da metodologia tecnicista (planejamento, livros contrário, questiona concretamente a realidade das relações
didáticos programados, procedimentos de avaliação etc.) do homem com a natureza e com os outros homens, visan-
não configura uma postura tecnicista do professor; antes, o do a uma transformação - daí ser uma educação crítica.
exercício profissional continua mais para uma postura eclé-
tica em torno de princípios pedagógicos assentados nas pe- Conteúdos de ensino - Denominados “temas gerado-
dagogias tradicional e renovada. res”, são extraídos da problematização da prática de vida
dos educandos. Os conteúdos tradicionais são recusados
2. Pedagogia progressista porque cada pessoa, cada grupo envolvido na ação pedagó-
gica dispõe em si próprio, ainda que de forma rudimentar,
O termo “progressista”, emprestado de Snyders, é usa- dos conteúdos necessários dos quais se parte. O importante
do aqui para designar as tendências que, partindo de uma não é a transmissão de conteúdos específicos, mas desper-
análise crítica das realidades sociais, sustentam implicita- tar uma nova forma da relação com a experiência vivida. A
mente as finalidades sociopolíticas da educação. Evidente- transmissão de conteúdos estruturados a partir de fora é
mente a pedagogia progressista não tem como institucio- considerada como “invasão cultural” ou “depósito de infor-

53
GESTÃO PEDAGÓGICA

mação’’ porque não emerge do saber popular. Se forem ne- gem. A motivação se dá a partir da codificação de uma si-
cessários textos de leitura estes deverão ser redigidos pelos tuação-problema, da qual se toma distância para analisá-la
próprios educandos com a orientação do educador”. criticamente. “Esta análise envolve o exercício da abstração,
Em nenhum momento o inspirador e mentor da peda- através da qual procuramos alcançar, por meio de represen-
gogia libertador Paulo Freire, deixa de mencionar o caráter tações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos”.
essencialmente político de sua pedagogia, o que, segundo Aprender é um ato de conhecimento da realidade con-
suas próprias palavras, impede que ela seja posta em práti- creta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem
ca em termos sistemáticos, nas instituições oficiais, antes da sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realida-
transformação da sociedade. Daí porque sua atuação se dê de. O que é aprendido não decorre de uma imposição ou
mais a nível da educação extraescolar. O que não tem impe- memorização, mas do nível crítico de conhecimento, ao qual
dido, por outro lado, que seus pressupostos sejam adotados se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica. O
e aplicados por numerosos professores. que o educando transfere, em termos de conhecimento, é o
que foi incorporado como resposta às situações de opressão
Métodos de ensino - “Para ser um ato de conhecimen- - ou seja, seu engajamento na militância política.
to o processo de alfabetização de adultos demanda, entre
educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo; Manifestações na prática escolar - A pedagogia liber-
aquela em que os sujeitos do ato de conhecer se encontram tadora tem como inspirador e divulgador Paulo Freire, que
mediatizados pelo objeto a ser conhecido” (...) “O diálogo tem aplicado suas ideias pessoalmente em diversos países,
engaja ativamente a ambos os sujeitos do ato de conhecer: primeiro no Chile, depois na África. Entre nós, tem exerci-
educador-educando e educando-educador”. do uma influência expressiva nos movimentos populares e
Assim sendo, a forma de trabalho educativo é o “grupo sindicatos e, praticamente, se confunde com a maior parte
de discussão a quem cabe autogerir a aprendizagem, defi- das experiências do que se denomina “educação popular”.
nindo o conteúdo e a dinâmico das atividades. O professor Há diversos grupos desta natureza que vêm atuando não
é um animador que, por princípio, deve “descer ao nível dos somente no nível da prática popular, mas também por meio
alunos, adaptando-se às suas características é ao desenvol- de publicações, com relativa independência em relação às
vimento próprio de cada grupo. Deve caminhar “junto”, in- ideias originais da pedagogia libertadora. Embora as formu-
tervir o mínimo indispensável, embora não se furte, quando lações teóricas de Paulo Freire se restrinjam à educação de
necessário, a fornecer uma informação mais sistematizada. adultos ou à educação popular em geral, muitos professores
vêm tentando colocá-las em prática em todos os graus de
Os passos da aprendizagem - Codificação-decodifica- ensino formal.
ção, e problematização da situação - permitirão aos educan-
dos um esforço de compreensão do “vivido”, até chegar a um 2.2 Tendência progressista libertária
nível mais crítico de conhecimento e sua realidade, sempre
através da troca de experiência em torno da prática social. Se Papel da escola - A pedagogia libertária espera que a
nisso consiste o conteúdo do trabalho educativo, dispensam escola exerça uma transformação na personalidade dos alu-
¬um programa previamente estruturado, trabalhos escritos, nos num sentido libertário e autogestionário. A ideia básica
aulas expositivas assim como qualquer tipo de verificação é introduzir modificações institucionais, a partir dos níveis
direta da aprendizagem, formas essas próprias da “educação subalternos que, em seguida, vão “contaminando” todo o
bancária”, portanto, domesticadoras. Entretanto admite-se a sistema. A escola instituirá, com base na participação grupal,
avaliação da pratica vivenciada entre educador-educandos mecanismos institucionais de mudança (assembleias, conse-
no processo de grupo e, às vezes, a autoavaliação feita em lhos, eleições, reuniões, associações etc.), de tal forma que
termos dos compromissos assumidos com a pratica social. o aluno, uma vez atuando nas instituições “externas”, leve
para lá tudo o que aprendeu. Outra forma de atuação da
Relacionamento professor-aluno - No diálogo, como pedagogia libertária, correlata a primeira, é - aproveitando a
método básico, a relação é horizontal, onde educador e margem de liberdade do sistema - criar grupos de pessoas
educandos se posicionam como sujeitos do ato de conheci- com princípios educativos autogestionários (associações,
mento. O critério de bom relacionamento é a “’ total identi- grupos informais, escolas autogestionários). Há, portanto,
ficação com o povo, sem o que a relação pedagógica perde um sentido expressamente político, à medida que se afirma
consistência. Elimina-se, por pressuposto, toda relação de o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimen-
autoridade, sob pena de esta inviabilizar o trabalho de cons- to individual somente se realiza no coletivo. A autogestão
cientização, de “aproximação de consciências”. Trata-se de é, assim, o conteúdo e o método; resume tanto o objetivo
uma “não-diretividade”, mas não no sentido do professor pedagógico quanto o político. A pedagogia libertária, na sua
que se ausenta (como em Rogers), mas que permanece vi- modalidade mais conhecida entre nós, a “pedagogia insti-
gilante para assegurar ao grupo um espaço humano para tucional”, pretende ser uma forma de resistência contra a
“dizer sua palavra” para se exprimir sem se neutralizar. burocracia como instrumento da ação dominadora do Esta-
do, que tudo controla (professores, programas, provas etc.),
Pressupostos de aprendizagem - A própria designação retirando a autonomia.
de “educação problematizadora” como correlata de edu-
cação libertadora revela a força motivadora da aprendiza-

54
GESTÃO PEDAGÓGICA

Conteúdos de ensino - As matérias são colocadas à dis- nenhum momento esses papéis do professor se confundem
posição do aluno, mas não são exigidas. São um instrumen- com o de “modelo”, pois a pedagogia libertária recusa qual-
to a mais, porque importante é o conhecimento que resulta quer forma de poder ou autoridade.
das experiências vividas pelo grupo, especialmente a vivên-
cia de mecanismos de participação crítica. “Conhecimento” Pressupostos de aprendizagem - As formas burocráticas
aqui não é a investigação cognitiva do real, para extrair dele das instituições existentes, por seu traço de impessoalidade,
um sistema de representações mentais, mas a descoberta de comprometem o crescimento pessoal. A ênfase na aprendi-
respostas as necessidades e às exigências da vida social. As- zagem informal, via grupo, e a negação de toda forma de
sim, os conteúdos propriamente ditos são os que resultam repressão visam favorecer o desenvolvimento de pessoas
de necessidades e interesses manifestos pelo grupo e que mais livres. A motivação está, portanto, no interesse em cres-
não são, necessária nem indispensavelmente, as matérias de cer dentro da vivência grupal, pois supõe-se que o grupo
estudo. devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas
aspirações e necessidades.
Método de ensino - É na vivência grupal, na forma de Somente o vivido, o experimentado é incorporado e uti-
autogestão, que os alunos buscarão encontrar as bases mais lizável em situações novas. Assim, o critério de relevância
satisfatórias de sua própria “instituição”, graças à sua própria do saber sistematizado é seu possível uso prático. Por isso
iniciativa e sem qualquer forma de poder. Trata-se de “colo- mesmo, não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da
car nas mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto aprendizagem, ao menos em termos de conteúdo.
da vida, as atividades e a organização do trabalho no interior
da escola (menos a elaboração dos programas e a decisão Outras tendências pedagógicas correlatas - A pedago-
dos exames que não dependem nem dos docentes, nem dos gia libertária abrange quase todas as tendências antiautori-
alunos)”. Os alunos têm liberdade de trabalhar ou não, fican- tárias em educação, entre elas, a anarquista, a psicanalista,
do o interesse pedagógico na dependência de suas necessi- a dos sociólogos, e também a dos professores progressis-
dades ou das do grupo. tas. Embora Neill e Rogers não possam ser considerados
progressistas (conforme entendemos aqui), não deixam de
O progresso da autonomia, excluída qualquer direção influenciar alguns libertários, como Lobrot. Entre os estran-
de fora do grupo, se dá num “crescendo”: primeiramente a geiros devemos citar Vasquez c Oury entre os mais recen-
oportunidade de contatos, aberturas, relações informais en- tes, Ferrer y Guardia entre os mais antigos. Particularmente
tre os alunos. Em seguida, o grupo começa a se organizar, significativo é o trabalho de C. Freinet, que tem sido muito
de modo que todos possam participar de discussões, coo- estudado entre nós, existindo inclusive algumas escolas apli-
perativas, assembleias, isto é, diversas formas de participa- cando seu método.
ção e expressão pela palavra; quem quiser fazer outra coisa, Entre os estudiosos e divulgadores da tendência liber-
ou entra em acordo com o grupo, ou se retira. No terceiro tária pode-se citar Maurício Tragtenberg, apesar da tônica
momento, o grupo se organiza de forma mais efetiva e, fi- de seus trabalhos não ser propriamente pedagógica, mas
nalmente, no quarto momento, parte para a execução do de crítica das instituições em favor de um projeto autoges-
trabalho. tionário.

Relação professor-aluno - A pedagogia institucional visa 2.3 Tendência progressista “crítico social dos conteúdos”
“em primeiro lugar, transformar a relação professor-aluno
no sentido da não-diretividade, isto é, considerar desde o Papel da escola - A difusão de conteúdos é a tarefa pri-
início a ineficácia e a nocividade de todos os métodos à mordial. Não conteúdos abstratos, mas vivos, concretos e,
base de obrigações e ameaças”. Embora professor e aluno portanto, indissociáveis das realidades sociais. A valorização
sejam desiguais e diferentes, nada impede que o professor da escola como instrumento de apropriação do saber é o
se ponha a serviço do aluno, sem impor suas concepções melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que
e ideias, sem transformar o aluno em “objeto”. O professor a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade
é um orientador e um catalisador, ele se mistura ao grupo social e torná-la democrática. Se a escola é parte integran-
para uma reflexão em comum. te do todo social, agir dentro dela é também agir no rumo
Se os alunos são livres frente ao professor, também este da transformação da sociedade. Se o que define uma peda-
o é em relação aos alunos (ele pode, por exemplo, recusar- gogia crítica é a consciência de seus condicionantes histó-
-se a responder uma pergunta, permanecendo em silêncio). rico-sociais, a função da pedagogia “dos conteúdos” é dar
Entretanto, essa liberdade de decisão tem um sentido bas- um passo à frente no papel transformador da escola, mas a
tante claro: se um aluno resolve não participar, o faz porque partir das condições existentes. Assim, a condição para que
não se sente integrado, mas o grupo tem responsabilidade a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um
sobre este fato e vai se colocar a questão; quando o pro- bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares
fessor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio tem um básicos que tenham ressonância na vida dos alunos. Enten-
significado educativo que pode, por exemplo, ser uma ajuda dida nesse sentido, a educação é “uma atividade mediadora
para que o grupo assuma a resposta ou a situação criada. no seio da prática social global”, ou seja, uma das mediações
No mais, ao professor cabe a função de “conselheiro” e, ou- pela qual o aluno, pela intervenção do professor e por sua
tras vezes, de instrutor-monitor à disposição do grupo. Em própria participação ativa, passa de uma experiência inicial-

55
GESTÃO PEDAGÓGICA

mente confusa e fragmentada (sincrética) a uma visão sinté- Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos con-
tica, mais organizada e unificada. teúdos não partem, então, de um saber artificial, depositado
Em síntese, a atuação da escola consiste na preparação a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma re-
do aluno para, o mundo adulto e suas contradições, forne- lação direta com a experiência do aluno, confrontada com o
cendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de con- saber trazido de fora. O trabalho docente relaciona a prática
teúdos e da socialização, para uma participação organizada vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo pro-
e ativa na democratização da sociedade. fessor, momento em que se dará a “ruptura” em relação à
experiência pouco elaborada. Tal ruptura apenas é possível
Conteúdos de ensino - São os conteúdos culturais uni- com a introdução explícita, pelo professor, dos elementos
versais que se constituíram em domínios de conhecimento novos de análise a serem aplicados criticamente à prática do
relativamente autônomos, incorporados pela humanida- aluno. Em outras palavras, uma aula começa pela constata-
de, mas permanentemente reavaliados face às realidades ção da prática real, havendo, em seguida, a consciência des-
sociais. Embora se aceite que os conteúdos são realidades sa prática no sentido de referi-la aos termos do conteúdo
exteriores ao aluno, que devem ser assimilados e não sim- proposto, na forma de um confronto entre a experiência e
plesmente reinventados eles não são fechados e refratários a explicação do professor. Vale dizer: vai-se da ação à com-
às realidades sociais. Não basta que os conteúdos sejam preensão e da compreensão à ação, até a síntese, o que não
apenas ensinados, ainda que bem ensinados, é preciso que é outra coisa senão a unidade entre a teoria e a prática.
se liguem, de forma indissociável, à sua significação humana
e social. Relação professor-aluno - Se, como mostramos ante-
Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não riormente, o conhecimento resulta de trocas que se esta-
estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular, belecem na interação entre o meio (natural, social, cultural)
ou espontânea, mas uma relação de continuidade em que, e o sujeito, sendo o professor o mediador, então a relação
progressivamente, se passa da experiência imediata e de- pedagógica consiste no provimento das condições em que
sorganizada ao conhecimento sistematematizado. Não que professores e alunos possam colaborar para fazer progre-
a primeira apreensão da realidade seja errada, mas é neces- dir essas trocas. O papel do adulto é insubstituível, mas
sária a ascensão a uma forma de elaboração superior, con- acentua-se também a participação do aluno no processo.
seguida pelo próprio aluno, com a intervenção do professor. Ou seja, o aluno, com sua experiência imediata num contex-
to cultural, participa na busca da verdade, ao confrontá-la
A postura da pedagogia “dos conteúdos” - Ao admitir com os conteúdos e modelos expressos pelo professor. Mas
um conhecimento relativamente autônomo - assume o sa- esse esforço do professor em orientar, em abrir perspecti-
ber como tendo um conteúdo relativamente objetivo, mas, vas a partir dos conteúdos, implica um envolvimento com
ao mesmo tempo, introduz a possibilidade de uma reavalia- o estilo de vida dos alunos, tendo consciência inclusive dos
ção crítica frente a esse conteúdo. Como sintetiza Snyders, contrastes entre sua própria cultura e a do aluno. Não se
ao mencionar o papel do professor, trata-se, de um lado, de contentará, entretanto, em satisfazer apenas as necessida-
obter o acesso do aluno aos conteúdos, ligando-os com a des e carências; buscará despertar outras necessidades, ace-
experiência concreta dele - a continuidade; mas, de outro, lerar e disciplinar os métodos de estudo, exigir o esforço do
de proporcionar elementos de análise crítica que ajudem o aluno, propor conteúdos e modelos compatíveis com suas
aluno a ultrapassar a experiência, os estereótipos, as pres- experiências vividas, para que o aluno se mobilize para uma
sões difusas da ideologia dominante - é a ruptura. participação ativa.
Dessas considerações resulta claro que se pode ir do sa-
ber ao engajamento político, mas não o inverso, sob o risco Evidentemente o papel de mediação exercido em tor-
de se afetar a própria especificidade do saber e até cair-se no da análise dos conteúdos exclui a não-diretividade como
numa forma de pedagogia ideológica, que é o que se critica forma de orientação do trabalho escolar, por que o diálo-
na pedagogia tradicional e na pedagogia nova. go adulto-aluno é desigual. O adulto tem mais experiência
acerca das realidades sociais, dispõe de uma formação (ao
Métodos de ensino - A questão dos métodos se subor- menos deve dispor) para ensinar, possui conhecimentos e a
dina à dos conteúdos: se o objetivo é privilegiar a aquisição ele cabe fazer a análise dos conteúdos em confronto com as
do saber, e de um saber vinculado às realidades sociais, é realidades sociais. A não-diretividade abandona os alunos a
preciso que os métodos favoreçam a correspondência dos seus próprios desejos, como se eles tivessem uma tendência
conteúdos com os interesses dos alunos, e que estes pos- espontânea a alcançar os objetivos esperados da educação.
sam reconhecer nos conteúdos o auxílio ao seu esforço de Sabemos que as tendências espontâneas e naturais não são
compreensão da realidade (prática social). Assim, nem se “naturais”, antes são tributárias das condições de vida e do
trata dos métodos dogmáticos de transmissão do saber da meio. Não são suficientes o amor, a aceitação, para que os
pedagogia tradicional, nem da sua substituição pela desco- filhos dos trabalhadores adquiram o desejo de estudar mais,
berta, investigação ou livre expressão das opiniões, como se de progredir: é necessária a intervenção do professor para
o saber pudesse ser inventado pela criança, na concepção da levar o aluno a acreditar nas suas possibilidades, a ir mais
pedagogia renovada. longe, a prolongar a experiência vivida.

56
GESTÃO PEDAGÓGICA

Pressupostos de aprendizagem - Por um esforço pró- Mas o que será mais democrático: excluir toda forma de
prio, o aluno se reconhece nos conteúdos e modelos sociais direção, deixar tudo à livre expressão, criar um clima ami-
apresentados pelo professor; assim, pode ampliar sua pró- gável para alimentar boas relações, ou garantir aos alunos
pria experiência. O conhecimento novo se apoia numa es- a aquisição de conteúdos, a análise de modelos sociais que
trutura cognitiva já existente, ou o professor provê a estrutu- vão lhes fornecer instrumentos para lutar por seus direitos?
ra de que o aluno ainda não dispõe. O grau de envolvimento Não serão as relações democráticas no estilo não-diretivo
na aprendizagem dependa tanto da prontidão e disposição uma forma sutil de adestramento, que levaria a reivindica-
do aluno, quanto do professor e do contexto da sala de aula. ções sem conteúdo? Representam a as relações não-direti-
Aprender, dentro da visão da pedagogia dos conteú- vas as reais condições do mundo social adulto? Seriam ca-
dos, é desenvolver a capacidade de processar informações e pazes de promover a efetiva libertação do homem da sua
lidar com os estímulos do ambiente, organizando os dados condição de dominado?
disponíveis da experiência. Em consequência, admite-se o Um ponto de vista realista da relação pedagógica não
princípio da aprendizagem significativa que supõe, como recusa a autoridade pedagógica expressa na sua função de
passo inicial, verificar aquilo que o aluno já sabe. O pro- ensinar. Mas não deve confundir autoridade com autorita-
fessor precisa saber (compreender) o que os alunos dizem rismo. Este se manifesta no receio do professor em ver sua
ou fazem, o aluno precisa compreender o que o professor autoridade ameaçada; na falta de consideração para com o
procura dizer-lhes. A transferência da aprendizagem se dá a aluno ou na imposição do medo como forma de tornar mais
partir do momento da síntese, isto é, quando o aluno supera cômodo e menos estafante o ato de ensinar.
sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e Além do mais, são incongruentes as dicotomias, difun-
unificadora. didas por muitos educadores, entre “professor-policial” e
Resulta com clareza que o trabalho escolar precisa ser “professor-povo”, entre métodos diretivos e não-diretivos,
avaliado, não como julgamento definitivo e dogmático do entre ensino centrado no professor e ensino centrado no es-
professor, mas como uma comprovação para o aluno de seu tudante. Ao adotar tais dicotomias, amortece-se a presença
progresso em direção a noções mais sistematizadas. do professor como mediador pelos conteúdos que explicita,
como se eles fossem sempre imposições dogmáticas e que
Manifestações na prática escolar - O esforço de elabo- nada trouxessem de novo.
ração de uma pedagogia “dos conteúdos” está em propor
modelos de ensino voltados para a interação conteúdos- Evidentemente que ao se advogar a intervenção do pro-
-realidades sociais; portanto, visando avançar em termos de fessor, não se está concluindo pela negação da relação pro-
uma articulação do político e do pedagógico, aquele como fessor-aluno. A relação pedagógica é uma relação com um
extensão deste, ou seja, a educação “a serviço da transforma- grupo e o clima do grupo é essencial na pedagogia. Nesse
ção das relações de produção”. Ainda que a curto prazo se sentido, são bem-vindas as considerações formuladas pela
espere do professor maior conhecimento dos conteúdos de “dinâmica de grupo”, que ensinam o professor a relacionar-se
sua matéria e o domínio de formas de transmissão, a fim de com a classe; a perceber os conflitos; a saber que está lidando
garantir maior competência técnica, sua contribuição “será com uma coletividade e não com indivíduos isolados, a ad-
tanto mais eficaz quanto mais seja capaz de compreender quirir a confiança dos alunos. Entretanto, mais do que restrin-
os vínculos de sua prática com a prática social global”, ten- gir-se ao malfadado “trabalho em grupo”, o cair na ilusão da
do em vista (...) “a democratização da sociedade brasileira, o igualdade professor-aluno, trata-se de encarar o grupo classe
atendimento aos interesses das camadas populares, a trans- como uma coletividade onde são trabalhados modelos de
formação estrutural da sociedade brasileira”. interação como a ajuda mútua, o respeito aos outros, os es-
Dentro das linhas gerais expostas aqui, podemos citar forços coletivos, a autonomia nas decisões, a riqueza da vida
a experiência pioneira, mas mais remota do educador e es- em comum, e ir ampliando progressivamente essa noção (de
critor russo, Makarenko. Entre os autores atuais citamos B. coletividade) para a escola, a cidade a sociedade toda.
Charlot, Suchodolski, Manacorda e, de maneira especial, G. Por fim, situar o ensino centrado no professor e o ensino
Snyders, além dos autores brasileiros que vem desenvolven- centrado no aluno em extremos opostos é quase negar a
do investigações relevantes, destacando-se Demerval Savia- relação pedagógica porque não há um aluno, ou grupo de
ni. Representam também as propostas aqui apresentadas os alunos, aprendendo sozinho, nem um professor ensinando
inúmeros professores da rede escolar pública que se ocu- para as paredes. Há um confronto do aluno entre sua cultu-
pam, competentemente, de uma pedagogia de conteúdos ra e a herança cultural da humanidade, entre seu modo de
articulada com a adoção de métodos que garantam a parti- viver e os modelos sociais desejáveis para um projeto novo
cipação do aluno que, muitas vezes sem saber avançam na de sociedade. E há um professor que intervém, não para se
democratização do ensino para as camadas populares. opor aos desejos e necessidades ou a liberdade e autonomia
do aluno, mas para ajudá-lo a ultrapassar suas necessida-
Em favor da pedagogia crítico-social dos conteúdos des e criar outras, para ganhar autonomia, para ajudá-lo no
seu esforço de distinguir a verdade do erro, para ajudá-lo a
Haverá sempre objeções de que estas considerações le- compreender as realidades sociais e sua própria experiência.
vam a posturas antidemocráticas, ao autoritarismo, à centra-
lização no papel do professor e à submissão do aluno. Fonte: LUCKESI C. Tendências Pedagógicas na Prática
escolar

57
GESTÃO PEDAGÓGICA

públicas e fazem emergir novos mecanismos e formas de


BIBLIOGRAFIA: gestão, paralelamente a um alargamento e uma redefinição
do conceito de escola, chegando a reconhecer a sua auto-
FERREIRA, NAURA SYRIA CARAPETO E nomia como condição de realização dos propósitos de pro-
moção da formação democrática.
AGUIAR, MÁRCIA ANGELA DA S. (ORG.).
Tais questões remetem à análise da participação como
GESTÃO DA EDUCAÇÃO: IMPASSES,
condição de sua efetivação e que passa pelo exercício da
PERSPECTIVAS E COMPROMISSOS. SÃO capacitação crítica, internalização do processo de controle, o
PAULO: CORTEZ, 2004. estabelecimento de controle inter pares e a apropriação dos
conhecimentos necessários para que esta participação ativa
se realize. Todas estas questões são analisadas num contex-
Um time de profissionais da educação que se dedica a to mais amplo da sociedade brasileira e da nova realidade
reflexões sobre a questão da gestão democrática da edu- internacional, evidenciando-se tendências, contradições e
cação, e que se propõe a expor e a discutir seus trabalhos rupturas paradigmáticas.
de pesquisa, produziu um conjunto de cinco artigos orga- A gestão democrática é, pois, entendida como prática
nizados por Naura Syria Carapeto Ferreira e publicado em social e processo de aprendizado e de luta política que vis-
Gestão Democrática da Educação: atuais tendências, novos lumbra a possibilidade de criação de canais de efetiva par-
desafios. Carapeto é professora da Universidade Tuiuti do ticipação e de aprendizagem do próprio jogo democrático.
Paraná e coordenadora do mestrado em Educação.
Fonte
Os artigos FERREIRA, Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Angela
da S. (org.). Gestão da educação: impasses, perspectivas e
O reforço da autonomia nas escolas e a flexibilização compromissos. São Paulo: Cortez, 2004.
da gestão escolar em Portugal (estudo encomendado pelo
Ministério da Educação de Portugal), de João Barroso; As
mudanças no mundo do trabalho e a educação: novos de- GADOTTI, MOACIR E ROMÃO, JOSÉ E.
safios para a gestão (baseado em pesquisas feitas na região AUTONOMIA DA ESCOLA: PRINCÍPIOS E
metropolitana de Curitiba e em outros parques produtivos PROPOSTAS. SÃO PAULO: CORTEZ, 2001
da Região Sul), de Acácia Zeneida Kuenzer; Participação e
gestão escolar: conceitos e potencialidades (que enfoca a
gestão das universidades públicas, particularmente nas pau- Onze textos, tendo como fio condutor a escola cidadã
listas Unicamp, USP e Unesp, de Gustavo Luís Gutierrez e e a gestão democrática, são organizados pelos autores em
Afrânio Mendes Catani; A escolha dos dirigentes escolares: torno dessa unidade temática. Segundo seu apresentador,
políticas e gestão da educação no Brasil (elaborado a partir Gaudêncio Frigoto, os textos reunidos procuram explicitar,
de mapeamento das modalidades de provimento ao cargo de forma articulada, os elementos fundamentais da concep-
de diretor) de Luiz Fernando Dourado; e A gestão da edu- ção da Escola Cidadã e os instrumentos mediante os quais
cação e as políticas de formação de profissionais da educa- se constrói o Projeto Político-Pedagógico que a viabiliza.
ção: desafios e compromissos (que enfatiza as orientações Esta construção pressupõe uma orgânica articulação com a
da proposta emancipatória e solidária de Santos 1991), de sociedade imediata bairro ou comunidade local, vila, cidade
Naura Syria Carapeto Ferreira. Todos estes artigos têm como e vínculos mediatos com a esfera estadual, nacional e glo-
tônica a questão da democratização da gestão da educação bal. O ponto de partida da produção material da vida e da
e seu compromisso na complexidade de um mundo globa- produção social do conhecimento, da cultura e da cidada-
lizado, profundamente alterado em suas relações sociais, nia é sempre local. Este conjunto de relações, todavia, não
comunicacionais e de trabalho, como mecanismo, segundo pode fixar-se no local, sob pena de se tornar antidemocrá-
Ferreira, capaz de promover e assegurar a capacitação das tico. O processo de humanização e a cidadania implicam a
pessoas à participação efetiva na construção das instituições, superação do localismo e do particularismo e, portanto, o
da sociedade, de suas vidas e de um mundo mais humano. estabelecimento de relações num âmbito nacional e global.
Ao trazer a colaboração de diversos autores nacionais e Dentre os instrumentos ou estratégias de caráter imediato
estrangeiros, a intenção do livro, de acordo com sua orga- na relação escola sociedade destaca-se a Carta Escolar, o
nizadora, é revigorar o debate sobre o conhecimento cien- Planejamento Coletivo e Socializado, a gestão democrática
tífico da educação e sua gestão, a partir das necessidades e elementos de manejo e controle democrático dos recursos
sociais e educacionais contemporâneas. destinados ao financiamento da educação.
O livro apresenta uma análise de tendências e o aponta- Mais do que nunca, no contexto da sociedade brasi-
mento de alternativas para um novo conhecimento emanci- leira, conforme analisado por Frigoto, faz sentido falar-se e
patório, participativo, solidário e democrático. lutar-se por uma democracia e cidadania estatuintes, ativas
São analisadas as relações entre o Estado e as políticas e efetivas. A construção da Escola Cidadã pressupõe, conco-
públicas e as alterações nos padrões de intervenção esta- mitantemente, a construção de relações sociais efetivamen-
tal nas questões educacionais, que redirecionam as políticas te democráticas e equalitárias. Ou seja, a luta pela cidadania,

58
GESTÃO PEDAGÓGICA

no campo educacional, é a mesma luta pela cidadania que


constrói a emancipação humana no conjunto das lutas so- HOFFMANN, JUSSARA. AVALIAR PARA
ciais pela terra, pela distribuição de renda e reforma agrária, PROMOVER: AS SETAS DO CAMINHO. PORTO
pelo emprego e remuneração digna, pelo direito à saúde, ALEGRE: MEDIAÇÃO, 2001.
educação, trabalho, seguro-desemprego e aposentadoria,
etc. O principal desafio neste particular, para os educadores,
é o de não transgredir no campo dos valores e no âmbito da
leitura crítica da realidade. Se para os neoliberais, baseados BUSCANDO CAMINHOS
na tese básica de seu pai maior Hayek, a igualdade e a de- A avaliação, compreendida como a avaliação da apren-
mocracia levam à servidão, e a liberdade do mercado é o va- dizagem escolar, deve servir à promoção, isto é, acesso a um
lor essencial, para nós, é fundamental firmar como princípio nível superior de aprendizagem por meio de uma educação
básico universal a igualdade, a solidariedade e a democracia digna e de direito de todos os seres humanos. Hoffmann é
efetiva. Igualdade não quer dizer uniformidade, como quer contrária à ideia de que primeiro é preciso mudar a escola
fazer crer o neoliberalismo. Ao contrário, é a única autêntica e a sociedade para depois mudar a avaliação. Pelo contrá-
diversidade. Neste sentido, o lema de Marx conserva hoje rio, a avaliação, por ser uma atividade de reflexão sobre os
imensa atualidade e pluralidade: a cada um, segundo suas próprios atos, interagidos com o meio físico e social, influi
necessidades, de cada um, segundo suas capacidades. e sofre a influência desse próprio ato de pensar e agir. As-
A Escola Cidadã constitui-se, então, uma perspectiva sim, é a avaliação reflexiva que pode transformar a realidade
unitária de sociedade e de educação. Unitário, ao contrário avaliada. Para transformar a escola, lugar em que ocorre a
de uniforme e único, significa síntese do diverso. Esta diver- gestão educacional de um trabalho coletivo, é necessário
sidade, todavia, somente é democrática se as condições bá- que ocorra uma reflexão conjunta de professores, alunos e
sicas, isto é, a materialidade objetiva e subjetiva de produção comunidade, pois a partir disso desencadeiam-se processos
social da existência humana for efetivamente equalitária. A de mudança muito mais amplos do que a simples modifica-
ideia de projeto de uma sociedade e educação unitária tem ção das práticas de ensino.
na sua base pressupostos éticopolíticos, epistomológicos e Esse processo, assim como no caminho a Santiago de
políticos pedagógicos. Compostela, gera inquietação e incertezas para os professo-
No âmbito político, o pressuposto é de que é necessário res, as quais devem ser respeitadas, por meio de oportuni-
distinguir as determinações e as mediações fundamentais dades de expressão desses sentimentos, de compreensão de
de um determinado fenômeno, das secundárias. Ou seja, no outras perspectivas e de reflexão sobre as próprias crenças.
processo histórico, necessitamos distinguir aquelas determi- É no confronto de ideias que a avaliação vai se construindo
nações que, se alteradas, modificam estruturalmente a natu- para cada um dos professores à medida que discutem, em
reza dos fatos ou das relações sociais, daquelas que alteram conjunto, valores, princípios e metodologias.
sem mudar sua essência estrutural.
No plano epistemológico, o pressuposto básico é de Rumos da Avaliação neste século
que a compreensão dos fatos e da realidade social implica
articulá-los no âmbito de uma totalidade histórica. Na cons- O problema da avaliação da aprendizagem tem sido
trução do conhecimento isto implica combatermos a frag- discutido intensamente neste último século. Nas últimas
mentação e o particularismo e no domínio curricular distin- décadas, adquiriu um enfoque político e social, que inten-
guir o que é o eixo básico de um campo de conhecimento, sificou a pesquisa sobre o assunto. A tendência, dentre os
de problemas das mais diferentes ordens. Ao contrário da principais estudiosos do assunto, é a de procurar superar a
dispersão, o desafio é buscar núcleos que em sua unidade concepção positivista e classificatória das práticas avaliativas
tenham o diverso. Isto vale também para a perspectiva de escolares (baseada em verdades absolutas, critérios objeti-
um curso, disciplina ou aula. vos, medidas padronizadas e estatísticas) em favor de uma
No plano político-pedagógico, o eixo da proposta de ação consciente e reflexiva sobre o valor do objeto avaliado,
uma escola unitária cidadã funda-se na perspectiva que tem as situações avaliadas e do exercício do diálogo entre os en-
como centro os alunos como sujeitos sociais e as suas múl- volvidos. Dessa maneira, assume-se conscientemente o pa-
tiplas necessidades, dimensões e diversidades. Isso requer pel do avaliador no processo, dentro de um dado contexto,
que se parta da leitura das determinações concretas da pró- que confere ao educador uma grande responsabilidade por
pria realidade. Não é uma escola, portanto, que se organiza seu compromisso com o objeto avaliado e com sua própria
num ponto de partida arbitrário. O senso comum, a cultura, aprendizagem - a de como ocorre o processo avaliativo.
a vida, os valores, os saberes, e até mesmo os preconceitos Essa reflexão envolve os próprios princípios da democracia,
dos diferentes sujeitos e grupos sociais são o ponto de par- cidadania e direito à educação, que se contrapõem às con-
tida para a organização da escola, do conhecimento e dos cepções avaliativas classificatórias, que se fundamentam na
processos formativos. O ponto de chegada para as classes competição, no individualismo, no poder, na arbitrariedade,
populares. que acabam enlaçando tanto os professores quanto os alu-
nos em suas relações pessoais verticais e horizontais.
Fonte
GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E. Autonomia da esco-
la: princípios e propostas. São Paulo: Cortez, 2001.

59
GESTÃO PEDAGÓGICA

A avaliação a serviço da ação apego às ideias tradicionais às quais se vinculam o processo


de avaliação classificatória e seletiva. Os regimes seriados es-
A contraposição básica estabelecida por este princípio tabelecem oficialmente uma série de obstáculos aos alunos,
é estabelecida entre uma concepção classificatória de ava- por meio de critérios pré-definidos arbitrariamente como
liação da aprendizagem escolar e a concepção de avaliação requisitos para a passagem à série seguinte. Os desempe-
mediadora. A avaliação mediadora, fundada na ação pe- nhos individuais dos alunos são utilizados para se comparar
dagógica reflexiva, implica necessariamente uma ação que uns com os outros, promovendo os “melhores” e retendo
promova melhoria na situação avaliada. Em se tratando da os “piores”. As diferenças individuais são reconhecidas, não
avaliação da aprendizagem, sua finalidade não é o registro como riqueza, mas como instrumento de dominação de uns
do desempenho escolar, mas sim a observação contínua das poucos sobre muitos. Os regimes não seriados, ao contrário,
manifestações de aprendizagem para desenvolver ações fundamentam-se em concepções desenvolvimentistas e de-
educativas que visem à promoção, a melhoria das evoluções mocráticas, focalizando o processo de aprendizagem, e não
individuais. Da mesma forma, a avaliação de um curso só o produto.
terá sentido se for capaz de possibilitar a implementação de O trabalho do aluno, a aprendizagem, é comparado com
programas que resultem em melhorias do curso, da escola ele próprio, sendo possível observar sua evolução de diver-
ou da instituição avaliada. sas formas ao longo do processo de ensino-aprendizagem,
No entanto, a despeito das inovações propostas pela reconhecer suas possibilidades e respeitá-las. Dessa forma,
nova LDB (9394/ 96), observa-se na maioria das escolas bra- a avaliação contínua adquire o significado de avaliação me-
sileiras, de todos os níveis, a dificuldade para incorporar e diadora do processo de desenvolvimento e da aprendiza-
compreender a concepção de avaliação mediadora. Em seus gem de cada aluno, de acordo com suas possibilidades e
regimentos escolares enunciam-se objetivos de avaliação da promoção da qualidade na escola. Isso está longe de ser
contínua, mas, ao mesmo tempo, estabelecem-se normas menos exigente, rigorosa e mais permissiva. Pelo contrário,
classificatórias e normativas, o que revela a manutenção das essa organização de trabalho escolar exige a realização de
práticas tradicionais e a resistência à implementação de regi- uma prática pedagógica que assuma a diversidade huma-
mes não seriados, ciclos, programas de aceleração, eviden- na como riqueza, as facilidades e dificuldades de cada um
ciando o caráter burocrático e seletivo que persiste no país. como parte das características humanas, que devem ser res-
É a compreensão e definição da finalidade da avaliação da peitadas e, ao fazê-lo, novas formas de relações educativas
aprendizagem que deve nortear as metodologias e não o se constituem a partir da cooperação e não da competição.
inverso, como se tem observado até agora. Deste modo, se torna possível acolher a todos os alunos,
A autora resume os princípios básicos – as setas do ca- porque não há melhores nem piores, sendo que, num pro-
minho – a seguir, apontando para onde vamos: Avaliação cesso de avaliação classificatória, estes últimos, “os piores”
para classificação, seleção, seriação. Avaliação a serviço da estarão predestinados ao fracasso e à exclusão.
aprendizagem, da formação, da promoção da cidadania.
Atitude reprodutora, alienadora, normativa Mobilização em Provas de recuperação versus estudos paralelos
direção à busca de sentido e significado da ação. Intenção
prognóstica, somativa, explicativa e de desempenho. Inten- A ideia de recuperação vem sendo concebida como re-
ção de acompanhamento permanente de mediação e inter- trocesso, retomo. As provas de recuperação se confundem
venção pedagógica favorável a aprendizagem. Visão centra- com a recuperação das notas já alcançadas, com repetição
da no professor e em medidas padronizadas de disciplinas de conteúdos. Estudos paralelos de recuperação são pró-
fragmentadas. Visão dialógica, de negociação, referenciada prios a uma prática de avaliação mediadora. Neste processo
em valores, objetivos e discussão interdisciplinar. Organiza- o conhecimento é construído entre descobertas e dúvidas,
ção homogeneizada, classificação e competição. Respeito às retomadas, obstáculos e avanços. A progressão da aprendi-
individualidades, confiança na capacidade de todos, na inte- zagem, nos estudos paralelos, está direcionada ao futuro do
ração e na socialização. desenvolvimento do aluno. Os estudos paralelos precisam
A finalidade da avaliação mediadora é subsidiar o pro- acompanhar os percursos individuais de formação dos alu-
fessor, como instrumento de acompanhamento do trabalho, nos e considerar os princípios da pedagogia diferenciada,
e a escola, no processo de melhoria da qualidade de ensino, para a qual nos chama a atenção Perrenoud (2000), que aler-
para que possam compreender os limites e as possibilidades ta: “o que caracteriza a individualização dos percursos não é
dos alunos e delinear ações que possam favorecer seu de- a solidão no trabalho, mas o caráter único da trajetória de
senvolvimento, isto é, a finalidade da avaliação é promover a cada aluno no conjunto de sua escolaridade”.
evolução da aprendizagem dos educandos e a promoção da Nesse sentido, o reforço e a recuperação (nas suas mo-
qualidade do trabalho educativo. dalidades contínua, paralela ou final) são considerados parte
integrante do processo de ensino e de aprendizagem para
Regimes seriados versus regimes não-seriados atendimento à diversidade das características, das necessi-
dades e dos ritmos dos alunos. Alertamos para o fato de que
Uma das maiores dificuldades de compreensão das pro- Hoffman defende que o termo paralelo pressupõe estudos
postas educacionais contemporâneas reside no problema desenvolvidos pelo professor em sua classe e no decorrer
da organização do regime escolar em ciclos e outras formas natural do processo. Cada professor estabelece uma rela-
não seriadas. A razão dessa dificuldade reside justamente no ção diferenciada de saber com seus alunos. É compromisso

60
GESTÃO PEDAGÓGICA

seu orientá-los na resolução de dúvidas, no aprofundamen- buídas às famílias, muito menos o trabalho de superação
to das noções, e a melhor forma de fazê-lo é no dia-a-dia destas dificuldades não pode recair sob a responsabilidade
da sala de aula, contando com a cooperação de toda a tur- destes, mas dos profissionais que atuam nas escolas, bem
ma. (1)Conselhos de classe versus “conselhos de classe “Os como são de sua responsabilidade a aquisição de atitudes
conselhos de classe vem sendo realizados, em grande parte e habilidades que favoreçam o enriquecimento das relações
das escolas, orientados por modelos avaliativos classificató- interpessoais no ambiente escolar. É compromisso dos pais
rios e com caráter sentencitivo - se propondo a deferir uma acompanhar o processo vivido pelos filhos, dialogar com a
sentença ao aluno. Nestas sessões, o privilégio ao passado escola, assumir o que lhes é de responsabilidade. Promover
é evidente. Hoffman defende que esta deve ser uma ação o diálogo entre os pais e os professores é função da escola,
voltada para o futuro, de caráter interativo e reflexivo, de- que não significa atribuir a eles a tarefa da escola.
liberadora de novas ações que garantam a aquisição de
competências necessárias à aprendizagem dos alunos. Os A Educação Inclusiva
momentos do conselho de classe precisam ser repensados
pelas escolas e serem utilizados para a ampliação das pers- Num processo de avaliação mediadora, a promoção
pectivas acerca dos diferentes jeitos de ser e de aprender se baseia na evolução alcançada pelo aluno, na sua singu-
do educando que interage com outros educadores e com laridade e de acordo com suas possibilidades, desde que
outros conhecimentos. As questões atitudinais não devem se tenha garantido as melhores oportunidades possíveis à
ocupar um tempo enorme em detrimento das questões do aprendizagem e ao desenvolvimento de todos e de cada
ensino-aprendizagem. Para Hoffman... projetar a avaliação um. Nesse contexto, a responsabilidade pelo fracasso não
no futuro dos alunos significa reforçar as setas dos seus ca- pode ser atribuída ao aluno, às suas dificuldades ou à sua
minhos: confiar, apoiar, sugerir e, principalmente, desafiá-los incapacidade. A responsabilidade pelo desenvolvimento da
a prosseguir por meio de provocações significativas. aprendizagem contínua do aluno recai sobre os educado-
res e sobre a comunidade. Dessa compreensão decorre o
Uma atividade ética princípio da educação inclusiva: oferecer ao aluno oportu-
nidade máxima de aprendizagem e de inserção social, em
Não basta desenvolver a avaliação educacional a serviço condições de igualdade educativa, isto é, oferece ao aluno
de uma ação com perspectiva par o futuro, mas torná-la re- condições adequadas de aprendizagem de acordo com suas
ferência para decisões educativas pautadas por valores, por características, suas possibilidades. Isso significa encontrar
posturas políticas, fundamentos filosóficos e considerações meios para favorecer aprendizagem de todos os alunos. As-
sociais. Os protagonistas da avaliação precisam ser levados sim, são professores e escolas que precisam adequar-se aos
a refletir sobre o que fazem e por que fazem. As práticas alunos e não os alunos que devem adequar¬-se às escolas
educacionais exigem, além de conhecimento, metodologia, e aos professores.
trabalho científico, a inclusão da dimensão ética e sensível. A dimensão da exclusão de muitos alunos da escola
Nesse sentido programas e projetos desenvolvidos para dar pode ser medida:
conta de problemas apresentados para o estudo de uma
• pela constatação das práticas reprovativas baseadas
área de conhecimento ou para resolver questões de deter-
em parâmetros de maturidade e de normalidade;
minadas escolas, estariam respondendo às dimensões ético-
-políticas neste contexto avaliativo. As reformas educacio- • pela ocorrência dos encaminhamentos de alunos
nais oriundas de posturas políticas que não devem se sobre- para classes e escolas especiais por erros na avalia-
pujar aos atos educativos, as novas medidas em avaliação ção pedagógica. A inclusão nas classes regulares de
educacional afetam os sentimentos dos atores envolvidos, alunos que necessitam de atendimento especializa-
por se tratar de uma atividade prática, ética em seu sentido do, sem que haja a preparação do professor no de-
mais original, porque está embasada em juízo de valor. sempenho de seu papel, priva os alunos com neces-
Não concordamos que deva haver regra única em ava- sidades especiais de uma escolaridade digna.
liação, ainda que elencada no bojo de diretrizes unificadoras
Para Hoffman, um sério compromisso irá mobilizar a es-
das reformas educacionais, porque cada situação envolve a
cola brasileira deste século: formar e qualificar profissionais
singularidade dos participantes do processo educativo. Não
conscientes de sua responsabilidade ética frente à inclusão.
encontramos mecanismos únicos, classificatórios que deem
Se incluir é fundamental e singular, como no caminho de
conta da complexidade do ato avaliativo. É preciso conside-
Santiago, é necessário valorizar cada passo do processo,
rar, como alerta Morin, a complexidade inerente a tal fina-
sem pressa, vivendo cada dia o inusitado.
lidade.

A participação das famílias OUTRA CONCEPÇÃO DE TEMPO EM AVALIAÇÃO


O tempo é um tema recorrente nas discussões sobre
Os pais devem participar da escolaridade de seus filhos, avaliação, principalmente nas séries finais do Ensino Funda-
considerando, entretanto, a natureza do envolvimento; a mental e do Ensino Médio. Os professores do Ensino Mé-
realidade social destes pais; a constituição de suas famílias; dio, premidos pelo vestibular, desaguam os conteúdos que
a luta pela sobrevivência, etc., nos faz ponderar que as difi- têm que dar conta, no afã de estarem sempre concluindo
culdades de aprendizagem dos alunos não podem ser atri-

61
GESTÃO PEDAGÓGICA

caminhos que, na verdade, são inconclusos. A trajetória a ser É preciso reconhecer que nas práticas atuais, a padronização
percorrida pela avaliação requer diálogo, abertura e intera- dos percursos incorre em sérios prejuízos para os alunos,
ção, não havendo como delimitar tempos fixos. Na última porque: Notas e conceitos são superficiais e genéricos em
década, as trajetórias da avaliação se propõem a respeitar os relação à qualidade das tarefas e manifestação dos alunos.
tempos e percursos individuais de formação, no sistema de Notas e conceitos classificatórios padronizam o que é dife-
ensino e na sala de aula. rente, despersonalizando as dificuldades de avanços de cada
aluno.
O aprendiz determina o próprio tempo da aprendi- Superficializam e adulteram a visão da progressão das
zagem aprendizagens e do seu conjunto tanto em uma única tarefa,
quanto em um ao letivo, pelo caráter somativo que anula o
É preciso conhecer o aluno enquanto aprendiz, enquan- processo. Baseiam-se, arbitrariamente, em certos e errados
to pessoa, membro de uma família, de uma comunidade, absolutos, negando a relativização desses parâmetros em
com o qual interage ativa e continuamente. O aprendiz é su- diferentes condições de aprendizagem. Produzem a ficção
jeito de sua história. É preciso respeitar seu tempo de apren- de um ensino homogêneo pela impossibilidade de acompa-
der e de ser, o que implica desagregar-se do tempo deter- nhar a heterogeneidade do grupo. Reforçam o valor merca-
minado para aprender dado conteúdo. Tendo oportunidade dológico das aprendizagens e das relações de autoritarismo
de confrontar suas ideias com as dos colegas, ou em textos, em sala de aula. Privilegiam a classificação e a competição
vivendo situações problema, o aluno irá progressivamente em detrimento da aprendizagem. Entravam o diálogo en-
compreender e evoluir conceitualmente. Desta forma, o en- tre os professores, entre professores e alunos e da escola
sino não está centrado no professor, nas aulas frontais, pois com os pais, em termos de avaliação, pela superficialidade
cada participante do processo pode colaborar com a apren- do acompanhamento. Qualidade significa intensidade, pro-
dizagem dos outros. Sendo assim, o tempo é determinado fundidade, criação, perfeição. Como tal, sua magnitude não
pelo aprendiz e o conteúdo pode ser proposto e explorado pode ser medida em “escalas métricas” ou por recursos de
de diversas formas, tanto pelo professor, como pela turma. “conversão entre sistema de mensuração”.

Cada passo é uma grande conquista É importante refletir a cada passo

A autora oferece sugestões e exemplos de oportunida- Mediar é aproximar, dialogar, acompanhar, ajudar, sem
des de aprendizagem que podem ser oferecidas, mesmo em interferir no direito de escolha do aprendiz sobre os rumos
condições limitantes (classes superlotadas, escassez de ma- de sua trajetória de conhecimento. Classes numerosas po-
teriais e outras situações apontadas por muitos como justifi- dem dificultar essa aproximação, mas umas das alternativas
cativa para a má qualidade do ensino): Avaliação mediadora é justamente o trabalho em equipe por parte dos profes-
significa: busca de significado para todas as dimensões do sores, que podem dividir entre si a tarefa de acompanhar
processo por meio de uma investigação séria sobre as carac- mais de perto um grupo de alunos (tutoria). O trabalho em
terísticas próprias dos aprendizes; conhecer para promover equipe de professores envolve o compromisso de comparti-
e não para julgar e classificar; convicção de que as incertezas lhamento das experiências, favorecendo a abordagem inter-
são parte da educação porque esta é fruto de relações hu- disciplinar, a ampliação das perspectivas acerca da aprendi-
manas, fundamentalmente qualitativas. zagem dos alunos.
Outro problema passa a se constituir aqui, quando não
se compreende que o processo de aquisição de conheci- A auto avaliação como processo contínuo
mentos é não-linear e infinito, além de impossível de se de-
terminar a priori: a questão dos conteúdos acadêmicos e do A auto avaliação é um processo contínuo que só se jus-
tempo. Sobre isso, a autora afirma que uma pedagogia dife- tifica quando se constitui como oportunidade de reflexão,
renciada pode se desenvolver na experiência coletiva da sala tomada de consciência sobre a própria aprendizagem e so-
de aula... desde que haja a clareza de que o aluno aprende bre a própria conduta, para ampliar suas possibilidades e
na relação com os outros, interativamente, mas aprende ao favorecer a superação de dificuldades. Ao ser solicitado a
seu tempo e de forma única e singular. explicar como chegou a uma dada solução de uma situação,
o aluno é levado a pensar e explicitar suas próprias estraté-
Todo o aprendiz está sempre a caminho gias de aprendizagem, ampliando sua consciência sobre seu
próprio fazer e pensar, sobre o seu aprender a aprender. O
Constatamos, no caminho, que há um conjunto de va- mesmo processo se aplica aos próprios professores, no pro-
riações de respostas dos alunos de todo os níveis de ensino. cesso de orientação e apoio de colegas, supervisor e demais
Esta variabilidade de manifestações nos aponta que muitas profissionais de suporte pedagógico.
tentativas de acerto são feitas por meio de ensaios e erros.
Essas estratégias são desenhadas por meio de respostas AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO OLHAR AVALIATIVO
que chamamos de erro, são comuns e o professor precisa
compreender que trata-se de: uma resposta incorreta, mas Avaliar, em sua totalidade, implica em prestar atenção
indicadora de progresso, de avanço em relação a uma fase aos seus fundamentos. Como um grande iceberg do qual
anterior do aprendizado, dizendo muito sobre “qualidade”. só se percebem os registros, precisamos construir olhares

62
GESTÃO PEDAGÓGICA

mais profundos, para poder ter acesso às suas dimensões Os Conteúdos


sobre: Os registros obtidos; O processo de avaliação; As con-
cepções de avaliação; Os valores sociais e éticos. Avaliação Cabe ao professor:
é controle. No âmbito escolar, isso reverte o compromisso
• atentar às concepções prévias dos alunos e seus mo-
do profissional do educador: quais os princípios e valores
dos de expressarem-se sobre elas para poder orga-
morais, sociais, educacionais que fundamentam as tomadas
nizar situações de aprendizagem capazes de envol-
de decisões com base nos processos de avaliação realizados;
ver esses alunos;
quais os critérios utilizados, até que ponto são claros e trans-
parentes para todas a comunidade (escola, família, os pró- • estar alerta aos desdobramentos dos objetivos tra-
prios alunos); quais os benefícios ou prejuízos que podem çados inicialmente, que constituirão diversos rumos
advir desse processo de controle outorgado à escola e aos de prolongamento dos temas em estudo, dentro de
professores. Daí o compromisso ético implícito no processo uma visão interdisciplinar, e diversificação dos pro-
de avaliação mediadora. cedimentos de aprendizagem;
Avaliar para reprovar não é indicador da qualidade da
• organizar momentos de estruturação do pensamen-
escola ou do professor. Isso só tem sentido dentro de uma
to, favorecendo aos alunos oportunidades para ob-
perspectiva classificatória e seletiva. A finalidade do controle
jetivação de suas ideias e a consolidação dos concei-
deve ser entendida a favor do aluno e não como obrigação
tos e noções desenvolvidas.
imposta pelo sistema. Os trajetos de cada aprendiz são úni-
cos, obedecem a ritmos e interesses diversos, mesmo viven- O planejamento pedagógico revela múltiplos direcio-
do a mesma experiência, cada um a experimenta de uma namentos e está diretamente vinculado ao processo avalia-
forma singular, o que implica em aprendizagens diferentes tório, uma vez que as decisões metodológicas estabelecem
dentro de um mesmo contexto. as condições de aprendizagem ampliando ou restringindo o
processo de conhecimento. A intervenção pedagógica deve
Delineando objetivos estar comprometida com a superação de desafios que pos-
sam ser enfrentados pelos alunos, favorecendo-os avançar
Definir os rumos, delinear o norte, o destino essencial sempre.
das ações educativas precisa ser o compromisso fundamen-
tal do educador no processo de avaliação da aprendizagem. Perguntar mais do que responder
Entretanto este trabalho se dá em um contexto escolar con-
creto em que” a escola enfrenta muitos limites nesse sentido: Avaliar é questionar, formular perguntas, propor tarefas
behaviorismo, taxionomias intermináveis, excessivo fracio- desafiadoras em processo consecutivo/contínuo. A avalia-
namento dos objetivos, e permanente tensão no ambiente ção contínua significa acompanhamento da construção do
escolar entre os que querem transmitir conhecimentos e os conhecimento por parte do aprendiz, exigindo alterações
que querem desenvolver práticas sociais”.(Perrenoud, 2000). qualitativas nas formas registro e tomadas de decisão so-
Metas e objetivos não se constituem em pontos de chegada bre aprovação. Cabe ao professor perguntar mais do que
absolutos, mas pontos de passagem, novos rumos para a responder, oferecendo ao aluno múltiplas oportunidades
continuidade do trabalho educativo. Avaliar segundo esses de pensar, buscar conhecimentos, engajar-se na solução de
princípios implica refletir sobre as crenças, intenções, ideias, problemas, repensar, comprometer-se com seus próprios
estratégias, a quem se destinam, quais as condições existen- avanços e dificuldades. Transformar respostas em novas per-
tes, quais possibilidades e alternativas que pode ser citadas guntas1. Cada resposta deve suscitar mais perguntas, tanto
em favor do aprendiz. por parte dos aprendizes como do próprio professor. A con-
tinuidade da ação pedagógica condiciona-se aos processos
O Plano Epistemológico vividos, interesses, avançados e necessidades dos alunos.
Assim: Experiências coletivas resultam em construções
A intervenção pedagógica é determinada pela com- individuais (cada aluno aprenderá a seu jeito, a seu tempo,
preensão dos processos realizados pelo aprendiz em sua responderá a sua maneira). A interpretação das respostas
relação com o objeto de conhecimento. Aprender exige dos alunos possibilita ao professor perceber necessidades
engajamento do aprendiz na construção de sentidos o que e interesses individuais de múltiplas dimensões (análise
implica busca de informações pertinentes momentos diver- qualitativa). Novas experiências educativas, enriquecedoras
sificados de aprendizagem contínua. Isso resulta em que o e complementares, articuladas às observações feitas, são
trabalho do professor acerca dos conceitos que pretende propostas e/ou negociadas com os alunos (explicações do
ensinar consiste em provocar gradativamente os aprendizes, professor, atividades que podem ser para todo o grupo, em
oferecendo oportunidade para que estabeleçam relações pequenos grupos ou específicas para determinados alunos).
entre conceitos e entre as várias áreas do conhecimento. Novas tarefas e/ou atividades são propostas para acompa-
Assim, interdisciplinaridade e transversalidade são inerentes nham o aluno em sua evolução (preferencialmente tarefas
ao processo educativo. A compreensão que o aluno tem de avaliativas individuais) (p.74).
uma dada disciplina interfere em sua aprendizagem em ou-
tras disciplinas.

63
GESTÃO PEDAGÓGICA

AVALIAÇÃO E MEDIAÇÃO... A investigação de concepções prévias


OS MELHORES GUIAS SÃO OS PRÓPRIOS
PEREGRINOS, QUE PERCORREM O CAMINHO A análise das concepções prévias dos alunos não pode
CONOSCO, ENFRENTANDO AS MESMAS ser confundida com as condições prévias do aluno. O que
DIFICULDADES E PROVOCANDO-NOS A ANDAR o aluno já sabe é baseado em elaborações intuitivas so-
MAIS DEPRESSA. bre dados da realidade, que necessita ser aperfeiçoado. As
condições prévias referem-se a história escolar e de vida de
Avaliação mediadora é um processo interativo, de troca
cada aluno, que devem ser conhecidas em favor do alunos
de mensagens e de significados, de confronto. A mediação,
e não para fortalecer pré-conceitos sobre ele. A finalidade
conforme Vygotsky e Piaget, é essencial na construção do
da avaliação no que se refere à mobilização é de adequar
conhecimento. Para Vygotsky a reconstrução é importante
as propostas e as situações às necessidades e possibilidades
porque, no processo de internalização o aluno atribui senti-
dos alunos, para poder fornecer-lhes a aprendizagem signi-
do à informação criando e recriando significados com o uso
ficativa. Conhecer as concepções prévias do aluno favorece
e a audição/leitura da língua falada e escrita. Para Vygotsky e
o planejamento em termos de pontos de partida, e os pos-
Piaget, a linguagem é a mediação do pensamento. Note-se
síveis rumos a seguir, mas estes necessitam ser redimensio-
ainda que a interação social é fundamental, pois nela se dará
nados continuamente ao longo do processo. Conhecer as
a aprendizagem. A avaliação é um processo dinâmico e espi-
condições prévias permite planejar tempos de descobertas,
ralado que acompanha o processo de construção do conhe-
de diálogos, de encontros, de interação de trocas, de expres-
cimento, sendo uma interpretação que assume diferentes
são, ao longo do período letivo.
significados e dimensões ao longo do processo educacional,
Os processos de educação e de avaliação exigem do
tanto por parte do professor como do aluno.
professor a postura investigativa durante todo o percurso
educativo. Como mediar o desejo e a necessidade de apren-
A dinâmica do processo avaliativo
der? O trabalho do professor consiste em:
A dinâmica da avaliação é complexa, uma vez que o • mediar o desejo e a necessidade de aprender;
processo de aprendizagem, entendido como construção
• mediar as experiências educativas;
do conhecimento, é ao mesmo tempo individual e coletivo,
pois resulta da ação do aprendiz sobre o objeto de conheci- • mediar as estratégias de aprendizagem no meio de
mento e da interação social, que o leva a uma interpretação atividades diversificadas e diferenciadas;
que necessita, e pode ser reformulada, ampliada progressi-
• mediar a expressão do conhecimento ao longo de
vamente, tornando-o capaz de pensar sobre seus próprios
tarefas gradativas e articuladas.
pensamentos elaborando seus conceitos e reelaborando
outros. Pela mobilização chegamos à expressão do conheci- Mediar a mobilização significa suscitar o envolvimento
mento, realizamos a experiência educativa, o que nos possi- do aluno no processo de aprendizagem, criando perguntas
bilita mobilizar novas competências adquiridas no processo. mobilizadoras, experiências interativas e oportunidades de
expressão do pensamento individual, mesmo que as respos-
Mediando a mobilização tas não sejam ainda corretas.

A expressão/construção da “aprendizagem significativa” Mediando a experiência educativa


pode se realizar de múltiplas formas e em diferentes níveis
de compreensão. A avaliação mediadora destina-se a mo- Mediar as experiências educativas significa acompanhar
bilizar, favorecer a experiência educativa e a expressão do o aluno em ação-reflexão-ação, nos processos simultâneos
conhecimento e a abertura a novas possibilidades por parte de busca informações, refletir sobre seus procedimentos
do aprendiz. Não há sentido em avaliar tarefas coletivas atri- de aprendizagem, interagir com os outros, refletir sobre si
buindo valores individuais ou somar pontos por participação próprio enquanto aprendiz (p.94).Duas perguntas se tornam
e outras atividades, uma vez que essas atividades são opor- essenciais na mediação: Qual a dimensão do envolvimento
tunidades de interação em meio ao processo e não pontos do aluno com a atividade de aprender? Como ele interage
de chegada. Para Charlot, o conceito de mobilização implica com os outros?
a ideia do movimento. Qual o papel do educador/ avalia-
dor? É o papel de mediador, exigindo-lhe manter-se flexível, As estratégias de aprendizagem
atento, crítico sobre seu planejamento. É preciso que ele seja
propositivo, sem delimitar, consiga questionar e provocar, Mediar as estratégias de aprendizagem significa inter-
sem antecipar respostas prontas; articular novas perguntas vir no processo de aprendizagem provocando no aprendiz,
a um processo contínuo de construção do conhecimento. O e no próprio professor, diferentes graus de compreensão,
papel do educador ao desencadear processos de aprendiza- levando a refletirem sobre seus entendimentos no diálogo
gem é o de mediador da mobilização para o aprender. educativo. Significa oferecer aos aprendizes: experiências
necessárias e complementares (diversificadas no tempo),
com diversos graus de dificuldades, de forma individual, em
parcerias, em pequenos grupos, em grandes grupos para

64
GESTÃO PEDAGÓGICA

promover confronto de ideias entre aprendizes e entre estes Tarefas gradativas e articuladas
e o professor, por meio de diversos recursos didáticos e de
diversas formas de expressão do conhecimento, por meio Para Hoffmann, a avaliação mediadora é mais exigente e
de diferentes linguagens. Os desafios propostos durante a rigorosa para alunos e professores porque suscita a perma-
atividade educativa são observados por Hoffmann: nente análise do pensamento em construção, o que significa
muitas tarefas individuais e análise imediata do professor
• Nem sempre o que o professor diz ao estudante é
que o aluno fala, escreve ou faz não é seu pensamento, mas
entendido como ele gostaria;
sua expressão, que também evolui e se aprimora progres-
• A estratégia utilizada pelo aluno, ao fazer algo, só sivamente e necessita ser trabalhada. Os instrumentos de
pode ser intuída pelo professor e ajudá-lo ou con- avaliação devem respeitar as diferentes formas de expressão
fundi-lo; do aluno, ao mesmo tempo em que definem a dimensão
do diálogo entre alunos e professor. A interpretação que o
• O professor sabe onde o aluno poderá chegar, mas
professor faz das expressões do aluno está sempre sujeita a
não deverá dizê-lo assim suas orientações serão
ambiguidades, inseguranças, indefinições, daí a necessidade
sempre incompletas.
do diálogo, da troca de ideias que favoreça a convergência
• O aluno nem sempre expressa suas dúvidas ou as de significados.
expressa claramente, uma vez que “são dúvidas” - o
professor precisa interpretar perguntas. Respeito às diferentes formas de expressão
• Ouvir o aluno antes de intervir assegura melhores Na perspectiva mediadora, toda avaliação, desde um
interpretações sobre suas estratégias. simples comentário do professor até o uso de instrumentos
• Posturas afetivas, nessas intervenções, minimizam a formais, tem por finalidade a evolução do aluno em termos
pressão exercida pelo questionamento do professor. de postura reflexiva sobre o que aprende, as estratégias que
Esses desafios possibilitam a aquisição de compe- utiliza e sua interação com os outros. Isso só ocorre median-
tências necessárias aos professores/profissionais te a postura igualmente reflexiva do educador. Os instru-
reflexivos. Atividades diversificadas ou diferencia- mentos de avaliação, em termos do planejamento e análise,
das? Diversificar experiências educativas representa definirão a dimensão do diálogo entre alunos e professor.
alguns princípios importantes em avaliação media- O principio fundamental da expressão do conhecimento: o
dora: diversificá-las em tempo, graus de dificuldade, que ouvimos, vemos ou lemos não é o pensamento do alu-
termos de realização individual, termos dos recursos no, mas a sua expressão, que também evolui, se aprimora e
didáticos e termos da expressão do conhecimento. precisa ser trabalhada. Os limites no diálogo entre profes-
sores e alunos devem ser considerados como positivos na
Diferenciar experiências educativas atende aos pressu- busca de sintonia. A interpretação dos sentidos, expressos
postos básicos da ação docente: por ambos, está sempre sujeita a ambiguidade, inseguran-
• Aprender sobre o aprender; ças e indefinições.
• Reconhecer que o processo de conhecimento é qua- Uma postura reflexiva do aluno e do professor
litativamente diferente;
• Mediar o desenvolvimento de aprendizagens coleti- As tarefas avaliativas operam funções de reflexão que
vas e de atendimento individual; possibilitam:
• Valorizar a heterogeneidade os grupo no processo • para o professor: elemento de reflexão sobre os co-
de formação a diversidade; nhecimentos expressos pelos alunos x elemento de
reflexão sobre o sentido da sua ação pedagógica;
• Oferecer ajuda específica se discriminar; sem desres-
peitar; sem subestimar. • para o aluno: oportunidade de reorganização e ex-
pressão de conhecimentos x elemento de reflexão
Mediando a expressão do conhecimento sobre os conhecimentos construídos e procedimen-
tos de aprendizagem.
Mediar a expressão do conhecimento implica a reutili- Mediar a aprendizagem significa, favorecera tomada de
zação de instrumentos de avaliação como desencadeadores consciência do aluno sobre limites e possibilidades no pro-
da continuidade da ação pedagógica, sendo o desempenho cesso de conhecimento, possibilitando ao educando refletir
do aluno considerado como provisório, uma vez que está sobre sua apropria aprendizagem, a partir de ações do co-
em proces¬so de aprendizagem. Nesse sentido, notas ou tidiano, originando significativas práticas de auto avaliação.
conceitos não podem ser consideradas definitivas, mas ape-
nas relativas ao conjunto de aprendizagens ocorridas em um
dado período. Implica também refletir sobre as condições REGISTROS EM AVALIAÇÃO MEDIADORA...
oferecidas para que tal conjunto de aprendizagem ocorra. Se estivermos contando uma história, precisamos agir
como historiadores, registrando e organizando dados da

65
GESTÃO PEDAGÓGICA

nossa memória, para não cairmos no erro do esquecimen- O significado dos registros para os professores
to...
Os registros em avaliação mediadora envolvem desde o A prática classificatória assumiu “status” de precisão, ob-
uso de instrumentos comumente utilizados, tais como: pro- jetividade e cientificidade, sendo necessário, para sua supe-
vas (objetivas e dissertativas) exercícios, preenchimento de ração, a reflexão em ação e a reflexão sobre a ação (trocando
lacunas, escolha de afirmações verdadeiras ou falsas, itens ideias com outros colegas).Os registros não necessitam ser
de múltipla escolha, questões combinadas, etc., pois o que genéricos, nem de ordem atitudinal, nem devem ser centra-
verdadeiramente importa é a clareza da tarefa para o aluno e dos em cumprimento de tarefas quantitativos ou organiza-
a reflexão do professor sobre a interpretação que será dada ção de cadernos e materiais.
as expressões dos alunos em termos de encaminhamentos
pedagógicos a serem realizados a seguira organização de Fonte
dossiês dos alunos, portfólios, relatórios de avaliação envol- HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do
ve meios de registro de um conjunto de aprendizagem do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001.
aluno que permitam ao professor, ao próprio aluno e a suas
famílias uma visão evolutiva do processo. Esses instrumen-
tos tornam-se mediadores na medida em que contribuem LIBÂNEO, JOSÉ CARLOS. ORGANIZAÇÃO
para entender a evolução do aluno e apontar ao professor E GESTÃO DA ESCOLA: TEORIA E PRÁTICA.
novos rumos para sua intervenção pedagógica sempre o GOIÂNIA: ALTERNATIVA, 2004.
mais favorável possível à aprendizagem do aluno, de todos
os alunos, de acordo com suas necessidades e possibilida-
des. O livro “ Organização e Gestão da Escola - Teoria e Prá-
Os registros escolares precisam refletir com clareza os tica” de José Carlos Libâneo, nos quatro primeiros capítulos
princípios de avaliação mediadora delineados, de tal forma discute os objetivos, funções e critérios de qualificação das
que registros classificatórios sejam superados em favor de escolas e da situação do professor quanto profissional.
registros que assumam o caráter de experiências em cons- No primeiro capítulo, Libâneo destaca a escola como
trução, confiantes em sua perspectiva ética e humanizadora. organização de trabalho e lugar para desenvolvimento do
Nada, em avaliação, serve como regra geral, ou vale para conhecimento do professor. Ressalta a importância do tra-
todas as situações, em termos de procedimento. O proces- balho em equipe onde o docente deve participar ativamente
so de avaliação precisa ser coerente com todo o processo na gestão e organização da escola, exercendo competente-
de aprendizagem, desde sua concepção, definição de sua mente sua profissão de professor.
finalidade, planejamento de estratégias de intervenção, O autor escreve sobre as mudanças, pelas quais as esco-
compreensão do processo de construção está atrelado às las estão passando nos âmbitos econômico, político, cultu-
concepções sobre a finalidade de educação, as quais deter- ral, educacional, geográfico, e a postura que os professores
minam as estratégias metodológicas de ensino. devem ter diante destas novas perspectivas os quais terão
de estar em contínua aprendizagem e formação.
Instrumentos a serviço das metodologias Libâneo no segundo capítulo nos faz ver como o ensi-
no vem sendo afetado pelas alterações nos currículos, na
Quando a autora se refere a instrumentos de avaliação, organização escolar, alterações estas ocorridas pela introdu-
está falando sobre testes, trabalhos e todas as formas de ex- ção de novas tecnologias, novas atitudes e valores sociais
pressão do aluno que me permitam acompanhar o seu pro- e culturais. Frente a esta mudanças, a sociedade exige uma
cesso de aprendizagem - tarefas avaliativas. Instrumentos de escola para novos tempos, a qual deve preparar cidadãos
avaliação são registros de diferentes naturezas. Ora é o alu- com perfil crítico e criativo.
no que é levado a fazer os próprios registros, expressando O autor observa também, a necessidade de formação
o seu conhecimento em tarefas, testes, desenhos, trabalhos da ética e respeito dentro da sociedade capitalista, na qual
e outros instrumentos, ora é o professor quem registra o estamos inseridos e globalizados.
que observou do aluno, fazendo anotações e outros apon- O livro em seu terceiro capítulo, nos mostra a impor-
tamentos. tância de buscarmos a qualidade social do ensino e quais os
critérios a serem considerados nessa busca. Libâneo destaca
Critérios de correção de tarefas ideias do sociólogo Pedro Demos, e nos apresenta o concei-
to de qualidade no ensino, os quais nos encaminha aos pen-
Critérios de avaliação podem, serem entendidos por samento de que a qualidade nas instituições educacionais
orientações didáticas de execução de uma tarefa, por seus deve desenvolver seres humanos capazes de participarem
aspectos formais: número de páginas, organização no papel, ativamente na sociedade.
itens de resposta, normas de redação técnica, etc. Tarefas Libâneo revela-nos que com os novos valores sociais,
avaliativas, numa visão mediadora, são planejadas tendo já não é suficiente preparar alunos para provas e exames.
como referencia principal a sua finalidade, a clareza de inten- Escolas de qualidade deverão apresentar professores capa-
ções do professor sobre o uso que fará dos seus resultados, citados, que atendam as necessidades do corpo discente,
muito mais do que embasados em normas de elaboração. segundo as exigências sociais em que está inserido. Portanto

66
GESTÃO PEDAGÓGICA

os conteúdos aplicados deverão ir de encontro com a vida Com base nos estudos existentes no Brasil sobre a orga-
cultural e prática do aluno. nização e gestão escolar e nas experiências levadas a efeito
No quarto capítulo, o autor argumenta sobre a constru- nos últimos anos, é possível apresentar, de forma esquemá-
ção da identidade profissional do professor, apresentando- tica, três das concepções de organização e gestão: a técni-
-nos conceitos sobre a profissionalização e profissionalismo, co-científica (ou funcionalista), a autogestionária e a demo-
Libâneo desperta nos professores a importância da forma- crático-participativa.
ção continuada como condição de garantia da execução do A concepção técnico-científica baseia-se na hierarquia
trabalho com qualidade, e nos deveres e responsabilidades de cargos e funções visando a racionalização do trabalho, a
da profissão os quais devem refletir como dedicação, parti- eficiência dos serviços escolares. Tende a seguir princípios e
cipação e desempenhos na atividade profissional. métodos da administração empresarial. Algumas caracterís-
ticas desse modelo são:
AS CONCEPÇÕES DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ES-
• Prescrição detalhada de funções, acentuando-se a
COLAR
divisão técnica do trabalho escolar (tarefas especia-
lizadas).
O estudo da escola como organização de trabalho não
é novo, há toda uma pesquisa sobre administração escolar • Poder centralizado do diretor, destacando-se as re-
que remonta aos pioneiros da educação nova, nos anos 30. lações de subordinação em que uns têm mais auto-
Esses estudos se deram no âmbito da Administração Esco- ridades do que outros.
lar e, frequentemente, estiveram marcados por uma con-
• Ênfase na administração (sistema de normas, regras,
cepção burocrática, funcionalista, aproximando a organiza-
procedimentos burocráticos de controle das ativida-
ção escolar da organização empresarial. Tais estudos eram
des), às vezes descuidando-se dos objetivos especí-
identificados com o campo de conhecimentos denominado
ficos da instituição escolar.
Administração e Organização Escolar ou, simplesmente Ad-
ministração Escolar. Nos anos 80, com as discussões sobre • Comunicação linear (de cima para baixo), baseada
reforma curricular dos cursos de Pedagogia e de Licenciatu- em normas e regras.
ras, a disciplina passou em muitos lugares a ser denominada
de Organização do Trabalho Pedagógico ou Organização do • Maior ênfase nas tarefas do que nas pessoas.
Trabalho Escolar, adotando um enfoque crítico, frequente- Atualmente, esta concepção também é conhecida como
mente restringido a uma análise crítica da escola dentro da gestão da qualidade total.
organização do trabalho no Capitalismo. Houve pouca preo- A concepção autogestionária baseia-se na responsabili-
cupação, com algumas exceções, com os aspectos propria- dade coletiva, ausência de direção centralizada e acentuação
mente organizacionais e técnico-administrativos da escola. da participação direta e por igual de todos os membros da
É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, um instituição. Outras características:
enfoque científico-racional e um enfoque crítico, de cunho
sócio-político. Não é difícil aos futuros professores fazerem • Ênfase nas inter-relações mais do que nas tarefas.
distinção entre essas duas concepções de organização e • Decisões coletivas (assembleias, reuniões), elimina-
gestão da escola. No primeiro enfoque, a organização esco- ção de todas as formas de exercício de autoridade
lar é tomada como uma realidade objetiva, neutra, técnica, e poder.
que funciona racionalmente; portanto, pode ser planejada,
organizada e controlada, de modo a alcançar maiores ín- • Vínculo das formas de gestão interna com as formas
dices de eficácia e eficiência. As escolas que operam nesse de auto-gestão social (poder coletivo na escola para
modelo dão muito peso à estrutura organizacional: organo- preparar formas de auto-gestão no plano político).
grama de cargos e funções, hierarquia de funções, normas • Ênfase na auto-organização do grupo de pessoas
e regulamentos, centralização das decisões, baixo grau de da instituição, por meio de eleições e alternância no
participação das pessoas que trabalham na organização, exercício de funções.
planos de ação feitos de cima para baixo. Este é o modelo
mais comum de funcionamento da organização escolar. • Recusa a normas e sistemas de controle, acentuan-
O segundo enfoque vê a organização escolar basica- do-se a responsabilidade coletiva.
mente como um sistema que agrega pessoas, importan- • Crença no poder instituinte da instituição (vivência
do bastante a intencionalidade e as interações sociais que da experiência democrática no seio da instituição
acontecem entre elas, o contexto sócio-político etc. A or- para expandi-la à sociedade) e recusa de todo o po-
ganização escolar não seria uma coisa totalmente objetiva der instituído. O caráter instituinte se dá pela prática
e funcional, um elemento neutro a ser observado, mas uma da participação e auto-gestão, modos pelos quais se
construção social levada a efeito pelos professores, alunos, contesta o poder instituído.
pais e integrantes da comunidade próxima. Além disso, não
seria caracterizado pelo seu papel no mercado mas pelo in- A concepção democrática-participativa baseia-se na
teresse público. A visão crítica da escola resulta em diferen- relação orgânica entre a direção e a participação do pes-
tes formas de viabilização da gestão democrática, conforme soal da escola. Acentua a importância da busca de objetivos
veremos em seguida. comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva

67
GESTÃO PEDAGÓGICA

de gestão em que as decisões são tomadas coletivamente As concepções de gestão escolar refletem portanto,
e discutidas publicamente. Entretanto, uma vez tomadas as posições políticas e concepções de homem e sociedade.
decisões coletivamente, advoga que cada membro da equi- O modo como uma escola se organiza e se estrutura tem
pe assuma a sua parte no trabalho, admitindo-se a coorde- um caráter pedagógico, ou seja, depende de objetivos mais
nação e avaliação sistemática da operacionalização das de- amplos sobre a relação da escola com a conservação ou a
cisões tomada dentro de uma tal diferenciação de funções e transformação social. A concepção funcionalista, por exem-
saberes. Outras características desse modelo: plo, valoriza o poder e a autoridade, exercida unilateralmen-
te. Enfatizando relações de subordinação, determinações
• Definição explícita de objetos sócio-políticos e peda-
rígidas de funções, hipervalorizando a racionalização do tra-
gógicos da escola, pela equipe escolar.
balho, tende a retirar ou, ao menos, diminuir nas pessoas a
• Articulação entre a atividade de direção e a iniciativa faculdade de pensar e decidir sobre seu trabalho. Com isso,
e participação das pessoas da escola e das que se o grau de envolvimento profissional fica enfraquecido.
relacionam com ela. As duas outras valorizam o trabalho coletivo, implican-
do a participação de todos nas decisões. Embora ambas te-
• A gestão é participativa mas espera-se, também, a
nham entendimentos das relações de poder dentro da es-
gestão da participação.
cola, concebem a participação de todos nas decisões como
• Qualificação e competência profissional. importante ingrediente para a criação e desenvolvimento
das relações democráticas e solidárias. Adotamos, neste li-
• Busca de objetividade no trato das questões da or- vro, a concepção democrático-participativa.
ganização e gestão, mediante coleta de informações
reais. Toda a instituição escolar necessita de uma estrutura
• Acompanhamento e avaliação sistemáticos com fi- de organização interna, geralmente prevista no Regimento
nalidade pedagógica: diagnóstico, acompanhamen- Escolar ou em legislação específica estadual ou municipal.
to dos trabalhos, reorientação dos rumos e ações, O termo estrutura tem aqui o sentido de ordenamento e
tomada de decisões. disposição das funções que asseguram o funcionamento de
um todo, no caso a escola. Essa estrutura é comumente re-
• Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são presentada graficamente num organograma - um tipo de
avaliados. gráfico que mostra a inter-relações entre os vários setores
Atualmente, o modelo democrático-participativo tem e funções de uma organização ou serviço. Evidentemente a
sido influenciado por uma corrente teórica que compreen- forma do organograma reflete a concepção de organização
de a organização escolar como cultura. Esta corrente afirma e gestão. A estrutura organizacional de escolas se diferencia
que a escola não é uma estrutura totalmente objetiva, men- conforme a legislação dos Estados e Municípios e, obvia-
surável, independente das pessoas, ao contrário, ela depen- mente, conforme as concepções de organização e gestão
de muito das experiências subjetivas das pessoas e de suas adotada, mas podemos apresentar a estrutura básica com
interações sociais, ou seja, dos significados que as pessoas todas as unidades e funções típicas de uma escola.
dão às coisas enquanto significados socialmente produzidos O Conselho de Escola tem atribuições consultivas, deli-
e mantidos. Em outras palavras, dizer que a organização é berativas e fiscais em questões definidas na legislação esta-
uma cultura significa que ela é construída pelos seus pró- dual ou municipal e no Regimento Escolar. Essas questões,
prios membros. geralmente, envolvem aspectos pedagógicos, administrati-
Esta maneira de ver a organização escolar não exclui a vos e financeiros. Em vários Estados o Conselho é eleito no
presença de elementos objetivos, tais como as ferramentas início do ano letivo. Sua composição tem uma certa propor-
de poder externas e internas, a estrutura organizacional, e os cionalidade de participação dos docentes, dos especialistas
próprios objetivos sociais e culturais definidos pela socieda- em educação, dos funcionários, dos pais e alunos, observan-
de e pelo Estado. Uma visão sócio- crítica propõe considerar do-se, em princípio, a paridade dos integrantes da escola
dois aspectos interligados: por um lado, compreende que a (50%) e usuários (50%). Em alguns lugares o Conselho de
organização é uma construção social, a partir da Inteligência Escola é chamado de “colegiado” e sua função básica é de-
subjetiva e cultural das pessoas, por outro, que essa constru- mocratizar as relações de poder (Paro, 1998; Cizeski e Ro-
ção não é um processo livre e voluntário, mas mediatizado mão, 1997)
pela realidade sociocultural e política mais ampla, incluindo O diretor coordena, organiza e gerencia todas as ativi-
a influência de forças externas e internas marcadas por in- dades da escola, auxiliado pelos demais componentes do
teresses de grupos sociais, sempre contraditórios e às vezes corpo de especialistas e técnicos-administrativos, atenden-
conflitivos. Busca relações solidárias, formas participativas, do às leis, regulamentos e determinações dos órgãos su-
mas também valoriza os elementos internos do processo periores do sistema de ensino e às decisões no âmbito da
organizacional- o planejamento, a organização e a gestão, escola e pela comunidade. O assistente de diretor desempe-
a direção, a avaliação, as responsabilidades individuais dos nha as mesmas funções na condição de substituto eventual
membros da equipe e a ação organizacional coordenada e do diretor.
supervisionada, já que precisa atender a objetivos sociais e O setor técnico-administrativo responde pelas ativida-
políticos muito claros, em relação à escolarização da popu- des-meio que asseguram o atendimento dos objetivos e
lação. funções da escola.

68
GESTÃO PEDAGÓGICA

A Secretaria Escolar cuida da documentação, escritu- Paralelamente à estrutura organizacional, muitas escolas
ração e correspondência da escola, dos docentes, demais mantêm Instituições Auxiliares tais como: a APM (Associação
funcionários e dos alunos. Responde também pelo atendi- de Pais e Mestres), o Grêmio Estudantil e outras como Caixa
mento ao público. Para a realização desses serviços, a escola Escolar, vinculadas ao Conselho de Escola (onde este existia)
conta com um secretário e escriturários ou auxiliares da se- ou ao Diretor.
cretaria. O setor técnico-administrativo responde, também, A APM reúne os pais de alunos, o pessoal docente e téc-
pelos serviços auxiliares (Zeladoria, Vigilância e Atendimento nico-administrativo e alunos maiores de 18 anos. Costuma
ao público) e Multimeios (biblioteca, laboratórios, videoteca funcionar mediante uma diretoria executiva e um conselho
etc.). deliberativo.
A Zeladoria, responsável pelos serventes, cuida da ma- O Grêmio Estudantil é uma entidade representativa dos
nutenção, conservação e limpeza do prédio; da guarda das alunos criada pela lei federal n.7.398/85, que lhe confere au-
dependências, instalações e equipamentos; da cozinha e da tonomia para se organizarem em torno dos seus interesses,
preparação e distribuição da merenda escolar; da execução com finalidades educacionais, culturais, cívicas e sociais.
de pequenos consertos e outros serviços rotineiros da es- Ambas as instituições costumam ser regulamentadas no
cola. Regime Escolar, variando sua composição e estrutura orga-
nizacional. Todavia, é recomendável que tenham autonomia
A Vigilância cuida do acompanhamento dos alunos em de organização e funcionamento, evitando-se qualquer tu-
todas as dependências do edifício, menos na sala de aula, telamento por parte da Secretaria da Educação ou da dire-
orientando-os quanto a normas disciplinares, atendendo- ção da escola.
-os em caso de acidente ou enfermidade, como também do Em algumas escolas, funciona a Caixa Escolar, em outras
atendimento às solicitações dos professores quanto a mate- um setor de assistência ao estudante, que presta assistên-
rial escolar, assistência e encaminhamento de alunos. cia social, econômica, alimentar, médica e odontológica aos
O serviço de Multimeios compreende a biblioteca, os alunos carentes.
laboratórios, os equipamentos audiovisuais, a videoteca e O Corpo docente é constituído pelo conjunto dos pro-
outros recursos didáticos. fessores em exercício na escola, que tem como função bási-
O setor pedagógico compreende as atividades de coor- ca realizar o objetivo prioritário da escola, o ensino. Os pro-
denação pedagógica e orientação educacional. As funções fessores de todas as disciplinas formam, junto com a direção
desses especialistas variam confirme a legislação estadual e e os especialistas, a equipe escolar. Além do seu papel es-
municipal, sendo que muitos lugares suas atribuições ora são pecífico de docência das disciplinas, os professores também
unificadas em apenas uma pessoa, ora são desempenhadas têm responsabilidades de participar na elaboração do plano
por professores. Como são funções desses especializadas, escolar ou projeto pedagógico-curricular, na realização das
envolvendo habilidades bastante especiais, recomenda-se e atividades da escola e nas decisões dos Conselhos de Escola
seus ocupantes sejam formados em cursos de Pedagogia ou e de classe ou série, das reuniões com os pais (especialmen-
adquiram formação pedagógico-didática específica. te na comunicação e interpretação da avaliação), da APM e
O coordenador pedagógico ou professor coordenador das demais atividades cívicas, culturais e recreativas da co-
supervisiona, acompanha, assessora, avalia as atividades pe- munidade.
dagógico-curriculares.
Sua atribuição prioritária é prestar assistência pedagógi- A gestão democrática-participativa valoriza a participa-
co-didático aos professores em suas respectivas disciplinas, ção da comunidade escolar no processo de tomada de de-
no que diz respeito ao trabalho ao trabalho interativo com cisão, concebe a docência como trabalho interativo, aposta
os alunos. Há lugares em que a coordenação restringe-se na construção coletiva dos objetivos e funcionamento da
à disciplina em que o coordenador é especialista; em ou- escola, por meio da dinâmica intersubjetiva, do diálogo, do
tros, a coordenação se faz em relação a todas as disciplinas. consenso.
Outra atribuição que cabe ao coordenador pedagógico é o Nos itens interiores mostramos que o processo de to-
relacionamento com os pais e a comunidade, especialmente mada de decisão inclui, também, as ações necessárias para
no que se refere ao funcionamento pedagógico-curricular e colocá-la em prática. Em razão disso, faz-se necessário o
didático da escola e comunicação e interpretação da avalia- emprego dos elementos ou processo organizacional, tal
ção dos alunos. como veremos adiante.
O orientador educacional, onde essa função existe, cui- De fato, a organização e gestão refere-se aos meios de
da do atendimento e do acompanhamento escolar dos alu- realização do trabalho escolar, isto é, à racionalização do tra-
nos e também do relacionamento escola-pais-comunidade. balho e à coordenação do esforço coletivo do pessoal que
O Conselho de Classe ou Série é um órgão de natureza atua na escola, envolvendo os aspectos, físicos e materiais,
deliberativa quanto à avaliação escolar dos alunos, decidin- os conhecimentos e qualificações práticas do educador, as
do sobre ações preventivas e corretivas em relação ao ren- relações humano-interacionais, o planejamento, a adminis-
dimento dos alunos, ao comportamento discente, às pro- tração, a formação continuada, a avaliação do trabalho es-
moções e reprovações e a outras medidas concernentes à colar. Tudo em função de atingir os objetivos. Ou seja, como
melhoria da qualidade da oferta dos serviços educacionais e toda instituição as escolas buscam resultados, o que implica
ao melhor desempenho escolar dos alunos. uma ação racional, estruturada e coordenada. Ao mesmo
tempo, sendo uma atividade coletiva, não depende apenas

69
GESTÃO PEDAGÓGICA

das capacidades e responsabilidades individuais, mas de ob- FORMAÇÃO CONTINUADA


jetivos comuns e compartilhados e de ações coordenadas e
controladas dos agentes do processo. Este é um assunto que vem sendo discutido incansa-
O processo de organização educacional dispõe de ele- velmente na educação. Sem dúvida, a formação continuada
mentos constitutivos5 que são, na verdade, instrumentos de como já citamos acima, é muito importante para a capacita-
ação mobilizados para atingi-los objetivos escolares. ção do professor. Ela contribui para que o educador seja ca-
Esses elementos constitutivos da organização são de- paz de aperfeiçoar sua prática e adotar boas metodologias
signados, também, na bibliografia especializada, de funções didático-pedagógicas, como também promover o envolvi-
administrativas ou etapas do processo administrativo. Os mento desse profissional de uma maneira interdisciplinar
autores geralmente mencionam as quatro funções estabe- que irá abranger sua autonomia reflexiva no que se refere a
lecidas nas teorias clássicas da Administração Geral: planeja- todos os interesses da escola, do aluno e de si mesmo.
mento, organização, direção, controle. O educador não pode aceitar que lhe digam o que fazer
em sua sala de aula. Ele tem que atuar como sujeito crítico,
TAIS ELEMENTOS OU INSTRUMENTOS DE AÇÃO reflexivo, pesquisador e elaborador de conhecimentos que
SÃO: contribuirão na sua formação profissional que refletirá em
todo o contexto educacional.
• Planejamento - processo de explicitação de objetivos
e antecipação de decisões para orientar a instituição, A IDENTIDADE PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
prevendo-se o que se deve fazer para atingi-los.           
Para ser professor é preciso amar essa profissão. É ter
• Organização - Atividade através da qual se dá a ra- atitudes, conhecimentos, habilidades e valores que irão
cionalização dos recursos, criando e viabilizando as acrescentar no seu trabalho como educador.
condições e modos para se realizar o que foi plane- A identidade do professor está cada vez mais centrada
jado. em mudanças que ocorrem na sociedade, e a nova realidade
• Direção/Coordenação - Atividade de coordenação que ela apresenta.
do esforço coletivo do pessoal da escola. É preciso que o educador tenha uma formação e que
essa formação seja de forma continuada e que ele esteja
• Formação continuada - Ações de capacitação e aberto a novas realidades e novas maneiras de pensar. No-
aperfeiçoamento dos profissionais da escola para vas práticas, mudanças no papel docente, e novos modos de
que realizem com competência suas tarefas e se de- agir promoverão conhecimentos que irão contribuir para a
senvolvam pessoal e profissionalmente. sua identidade profissional.
• Avaliação - comprovação e avaliação do funciona- A leitura deste livro faz como desperte nos professores
mento da escola. José Carlos Libâneo quando fala o senso crítico quanto a sua formação e prática na escola,
em profissionalização refere-se às condições ideais conscientizando-os para a necessidade de participação nos
que venham garantir o exercício profissional de qua- processos de organização e gestão visando a qualidade e
lidade. Quando ele fala em profissionalismo refere- melhoria da aprendizagem dos alunos.
-se ao desempenho competente e compromissado
dos deveres e responsabilidades que constituem a Fonte
especificidade de ser professor e ao comportamento LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola:
ético e político expresso nas atitudes relacionadas à teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2004.
prática profissional.
As duas noções comentadas parecem ser indispensáveis LIBÂNEO, JOSÉ CARLOS; OLIVEIRA,
para a formação de um bom profissional. Mas, não pode- JOÃO FERREIRA DE. E TOSCHI, MIRZA
mos tratá-las como “indissociáveis”, porque muitas vezes o SEABRA. EDUCAÇÃO ESCOLAR; POLÍTICAS,
professor não teve ou não tem uma prática ideal devido à ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO. SÃO PAULO:
falta de profissionalização, por motivos vários, até mesmo CORTEZ, 2010.
por falta de dinheiro, pois bem se sabe o professor não é
valorizado como devia ser. Mas certamente com dedicação,
empenho e respeito a sua profissão, o professor poderá mu-
dar suas atitudes e suas convicções e buscar uma educação EDUCAÇÃO ESCOLAR: POLÍTICAS, ESTRUTURAS E
de forma continuada que contribuirá de forma mais abran- ORGANIZAÇÃO
gente e cooperativa na aprendizagem de seus alunos e no O sistema educativo e as escolas estabelecem relações
seu crescimento como profissional e de ser humano capaz entre si e existem duas importantes razões para conhecer e
e valorizado. analisá-las. A primeira faz referência às políticas educacio-
nais e as diretrizes organizacionais e curriculares que são as
ideias, valores, atitudes e práticas capazes de influenciar as
escolas e seus profissionais no que diz respeito às práticas
formativas dos alunos. A segunda está pautada aos profis-

70
GESTÃO PEDAGÓGICA

sionais das escolas os quais podem aceitar ou rejeitar essas -se o Plano Decenal de Educação para Todos e em 1995, no
políticas e diretrizes educacionais, ou até mesmo, dialogar governo de Fernando Henrique Cardoso, estabeleceram-se
com elas e então formular, de modo coletivo, práticas for- metas pontuais, que são: descentralização da administração
mativas e inovadoras. das verbas federais, elaboração do currículo nacional, edu-
Para tanto, é preciso conhecer e analisar como se inter- cação à distância, avaliação nacional das escolas, incentivo
-relacionam as políticas educacionais, a organização e ges- a formação de professores, parâmetros de qualidade para
tão das escolas e as práticas pedagógicas na sala de aula. o livro didático, entre outras. Já essas, acompanham as ten-
O professor não pode se contentar apenas em desenvolver dências internacionais se alinhando à política neoliberal e
saberes e competências para ter uma boa atuação em sala às orientações dos organismos financeiros como o Banco
de aula, é preciso tomar consciência do sistema escolar e Mundial e o FMI.
enxergar além. Nesse mesmo âmbito, se deu a elaboração e promul-
Outra razão torna esses estudos importantes que é o gação da LDB, do PNE, das diretrizes curriculares, normas e
fato de que as normas, leis e diretrizes da educação, estão resoluções do Conselho Nacional de Educação.
sujeitas a decisões políticas. Cabe ao sistema de ensino e as No entanto, essas políticas e diretrizes demonstram ser,
escolas contribuírem de maneira significativa para a constru- salvo raras exceções, intenções declaradas ao invés de medi-
ção de um projeto de nação e, para a formação de sujeitos das efetivas. Ocorre então um impasse, de um lado, políticas
capazes de participar ativamente desse processo. educativas que expressam intenções de se aumentar a au-
As políticas educacionais e organizacionais que vemos tonomia e a participação das escolas e dos professores, do
hoje estão diretamente relacionadas às transformações eco- outro, há a questão da crise de legitimidade dos estados que
nômicas, políticas, culturais e geográficas que qualificam o dificulta a efetivação de investimentos em salários, carreira e
mundo atual. A exemplo disso nós temos as várias reformas formação do professorado, com o pretexto de que o Estado
educativas realizadas nos países da Europa e América duran- requer redução de despesas, transmitindo uma lógica con-
te os últimos 20 anos. tábil e economista ao sistema educacional.
Tais reformas se justapõem com a recomposição do sis- Desde a estruturação do curso de Pedagogia, em 1939,
tema capitalista mundial que trouxe consigo a doutrina neo- sempre houve a preocupação com os aspectos legais e ad-
liberal, caracterizada por três traços particulares: mudanças ministrativos da escola, geralmente vistos na disciplina Ad-
no processo de produção (avanços científicos e tecnológi- ministração Escolar.
cos), superioridade do livre funcionamento do mercado e Está mencionado, no Parecer 292/62 – do Conselho
redução do papel do Estado que por sua vez, afetam direta- Federal de Educação – a disciplina Elementos de Adminis-
mente a educação tendo em vista que para o neoliberalis- tração Escolar a qual tinha como finalidade proporcionar o
mo, o desenvolvimento econômico fomentado pelo desen- conhecimento, por parte do licenciado, da escola em que
volvimento técnico-científico garante, por si só, o desenvol- iria atuar (seus objetivos, estrutura e seus aspectos de seu
vimento social. funcionamento), além de proporcionar uma visão única do
Essa falta de consideração com as implicações sociais aspecto escola-sociedade.
e humanas geram vários problemas sociais como desem- Em 1968, houve a homologação dos Pareceres 252/69
prego, fome e desigualdade entre países, classes e grupos e 672/69 como forma de se adequar os currículos de Pe-
sociais. E também, problemas globais como a devastação dagogia e das licenciaturas à Lei 5.540/68. Esses pareceres
ambiental, o desequilíbrio ecológico, o esgotamento dos re- incluíram a disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino
cursos naturais e problemas atmosféricos. de 2º Grau, substituindo a disciplina Administração Escolar.
Progredindo na mesma proporção, mudanças signi- O motivo pelo qual se deu essa substituição foi o fato de que
ficativas nos processos de produção e transformações nas com a denominação Administração Escolar, se fazia ressaltar
condições de vida e de trabalho devido à associação entre o aspecto administrativo, não levando em conta aspectos
ciência e técnica, proporcionou uma necessidade de se ter referente à estrutura e ao funcionamento do ensino.
conhecimento e informação a tal ponto que influenciaram a Já nos anos 80, propostas curriculares alternativas sur-
economia e seu desenvolvimento. Os países industrializados giram com conteúdos semelhantes à Administração Escolar
então viram a necessidade de se rever o lugar das institui- e à Estrutura e Funcionamento do Ensino do 2º Grau, mas
ções encarregadas de produzir conhecimento e informação, como denominações diferentes: Educação Brasileira, Políti-
tornando-se prioridade, a reforma dos sistemas educacio- cas Educacionais, Organização do Trabalho Pedagógico (ou
nais os quais giram em quatro pontos: o currículo nacional, Escolar).
a profissionalização dos professores, a gestão educacional e As Resoluções 2/69 e 9/69 foram as primeiras a apresen-
a avaliação institucional. tarem a denominação Estrutura e Funcionamento do Ensino.
No Brasil, também houve algumas transformações, no Está fixava os mínimos de conteúdos das disciplinas e a du-
que diz respeito ao sistema educacional. Que ocorreu a par- ração do curso de Pedagogia, aquela, estabelecia os míni-
tir do ano de 1990, início do governo Collor, e também ano mos de conteúdos e a duração dos cursos para a formação
em que se realizou a Conferência Mundial sobre Educação pedagógica em nível de licenciatura.
para Todos, ocasião em que se estabeleceram prioridades Segundo a Resolução 9/69, os currículos de licenciatu-
para a educação, entre elas, a universalização do ensino ra deveriam abranger as seguintes matérias: Psicologia da
fundamental. Em 1993, no governo de Itamar Franco, cria- Educação, Didática, Estrutura e Funcionamento do Ensino de
2º Grau e Prática de Ensino, sob forma de estágio supervi-

71
GESTÃO PEDAGÓGICA

sionado, mas em conformidade com a Lei 5.692/71, na qual tórios, etc.) e busca das razões reais (exame do contexto –
instituiu o ensino de primeiro e segundo graus, a denomi- processo histórico socioeconômico e político – exame da
nação alterou-se para Estrutura e Funcionamento do Ensino gênese da lei – processo de elaboração da lei, os autores e
de 1º e 2º graus. seus papéis).
De acordo com a legislação, há dois elementos básicos Textos legais, documentos e textos críticos, também po-
na disciplina: a escola e o ensino, onde, primeiramente, apre- dem ser usados como auxilio ao estudo de alguns temas da
senta-se a organização e o funcionamento da escola e em disciplina (municipalização do ensino, organização formal e
seguida, o ensino. informal da escola, financiamento do ensino, etc.), servindo
Contudo, essas abordagens mostram a escola e o ensi- de fundamento para elucidar uma situação/questão nortea-
no como elementos prontos e acabados no interior de um dora de investigação, aliando assim, ensino e pesquisa, tor-
sistema educacional racionalmente organizado e de uma so- nando o método de ensino e aprendizagem mais dinâmico e
ciedade organicamente constituída e funcional fazendo com reflexivo, desenvolvendo também, a habilidade de investiga-
que se torna evidente a importância da legislação como eixo ção, proporcionando, assim, que o trabalho acadêmico seja
básico da disciplina. Obrigatória em algumas habilitações um momento em que o aluno possa procurar, investigar e
do curso de Pedagogia, a disciplina Legislação do Ensino de produzir conhecimento, orientado pelo professor.
1º e 2º Graus tornou-se base da Estrutura e Funcionamento As abordagens identificadas e os aspectos metodológi-
do Ensino. Já na organização do ensino escolar, se tem a cos de tratamento dos conteúdos se relacionam ao conhe-
descrição dos órgãos e seu funcionamento e, a análise de cimento do objeto de estudo, tendo em vista que refletem a
seus componentes administrativos e curriculares, através de trajetória da disciplina. Contudo, percebe-se que houve uma
textos legais. significativa evolução na abordagem da disciplina, em sua
Os currículos de Pedagogia e das licenciaturas, atual- ampliação e diversificação, o mesmo não ocorreu com obje-
mente, apresentam várias denominações, entre elas, as mais to de estudo, não com clareza. Qual é e qual era ele?
corriqueiras são: Estrutura e Funcionamento do Ensino Fun- Vemos que houve uma mudança na ênfase da disciplina,
damental e Médio – oferecida no segundo ou no terceiro de aspectos estruturais e formais do ensino para as questões
ano do curso de Pedagogia, com carga anual que varia entre de funcionamento onde o foco saiu do ensino de primeiro
60 128 horas e ministrada em um ano ou seis meses – e, e segundo graus para a concreta escola de primeiro e se-
Didática e Prática de Ensino de Estrutura e Funcionamento gundo graus. Proporcionando assim que a perspectiva lega-
do Ensino Fundamental e Médio – disciplina em forma de lista, descontextualizada e limitada fosse modificada com a
estágio supervisionado, geralmente com carga anual de 128 finalidade de se privilegiar a discussão de alternativas para a
horas, no último ano do curso de Pedagogia. Em geral, os reconstrução da escola e do sistema educacional brasileiro.
conteúdos e objetivos dessa disciplina, assumem três abor- Houve assim uma transformação democrática de um
dagens distintas: ensino genérico para uma abordagem de uma escola e en-
Abordagem legalista e formal: Os textos legais e os do- sino concretos, todavia, cabe-se questionar se a mudança
cumentos são apresentados e analisados sistêmica e fun- ocorreu somente na abordagem/compreensão do objeto;
cionalmente. Essa abordagem acosta-se à letra, linhas e ao se o objeto de estudo da disciplina continuou a ser a escola
texto legal. O estudo aí acaba por se tornar árido, insípido e a organização do ensino e até mesmo se a legislação e
e aversivo. os documentos constituem o eixo básico da apreensão da
Abordagem político-ideológica: Dá ênfase aos textos escola e do ensino.
críticos, procura-se mostrar o real com base em uma pos- A escola e o ensino ainda continuam como foco da dis-
tura e visão político-ideológica. Essa abordagem aproxima- ciplina, mas agora contextualizados de maneira concreta,
-se mais ao contexto, ao espírito e às entrelinhas dos textos crítica e histórica. Dá ótica sistêmica/tecnicista para a ótica
legais. O estudo aí acaba por se tornar parcial e partidário. histórico-crítica, onde as políticas de educação são tratadas
Abordagem histórico-crítica: Os textos legais são usa- com maior intensidade, uma vez em que são elas as respon-
dos como referencial para a análise crítica da organização sáveis por definirem, em grande parte, a legislação educa-
escolar e como forma de confrontar a situação proclamada cional, a escola e o ensino.
(ideal) com a situação real. O estudo aí acaba por se tornar É apropriado adotar então a denominação Estrutura e
mais fértil, dinâmico, investigativo e crítico-reflexivo. Organização da Educação Escolar – Políticas Educacionais e
O desenvolvimento dos conteúdos, por uma ótica me- Funcionamento da Escola, tendo como ideia principal a pos-
todológica, deve estar alinhado à articulação de três elemen- sibilidade em aprender as imbricações entre decisões cen-
tos, segundo Monteiro (1995): visão oficial (conhecimento trais e decisões locais, a fim de articular, em torno da escola,
da legislação educacional, programas e planos de governo); as abordagens mais gerais de cunho sociológico, político e
visão da realidade (comparação da visão oficial com o que econômico e os processos escolares internos de cunho pe-
realmente acontece no funcionamento do ensino) e visão dagógico, curricular, psicológico e didático.
crítica (após o conhecimento das anteriores, pratica-se a lei- A partir da leitura da obra, é possível fazer uma reflexão
tura fundamentada, para geração de novos conhecimentos. a respeito da educação escolar como um todo, bem como
Para Saviani (1987), há três etapas no exame crítico da as suas políticas educacionais e educativas. No decorrer da
legislação de ensinos: contato com a lei (análise textual, para leitura do livro os autores trazem informações importantes
captar a estrutura do texto); exame das razões manifestas relacionadas à história das políticas educacionais, como sur-
(leitura da exposição de motivos, dos pareceres, dos rela-

72
GESTÃO PEDAGÓGICA

giram, porque surgiram e como foram transformadas para • crítica à escola fundamental;
atenderem as necessidades que se apresentaram.
• a possibilidade de construir uma escola inclusiva;
Percebe-se a dedicação dos autores em levar ao conhe-
cimento do leitor os processos pelos quais ocorre a forma- • desafios para a prática docente;
ção de professores, as disciplinas que são oferecidas, as leis
• como devem aprender os professores e quais as
que regulam essa formação e também as mudanças que es-
competências requeridas para contribuir com essa
sas leis trouxeram ao longo do tempo.
formação;
Recomenda-se a leitura e a apreciação dessa obra a es-
tudantes de pedagogia e das licenciaturas, para que possam • que elementos novos devem ser destacados no pla-
entender melhor o seu futuro ambiente de trabalho, a escola nejamento escolar;
– seus objetivos e estruturas e professores, para que possam
conhecer ainda mais o seu local de trabalho e assim, se tor- • a perspectiva construtivista para superar problemas
nar um agente ativo no processo de construção da educa- de aprendizagem;
ção e das políticas educacionais. • formas de avaliação na escola;

Fonte • o cotidiano na sala de aula;


Disponível em http://simboraestudar.blogspot.com.br/ • a disciplina no processo educacional; e,
• aspectos para elaborar um projeto curricular. E não
MACEDO, LINO DE. ENSAIOS PEDAGÓGICOS: são menos importantes as referencias bibliográfica
COMO CONSTRUIR UMA ESCOLA PARA que abrem janelas para continuar aprendendo sobre
TODOS? PORTO ALEGRE: ARTMED, 2005. a temática.
A crítica à atual escola fundamental construída sobre a
cultura das semelhanças e no nível do “devem” ainda im-
Este texto apresenta-se a modo de ensaio, propondo pregna o raciocínio e discurso docente, ainda que o deba-
uma estratégia e forma de aprendizagem com a finalidade te na sociedade seja por uma escola sustentada na cultura
de expor teoricamente elementos que buscam valorizar e das diferenças. Para contribuir com esse debate é necessário
orientar um estudo aprofundado sobre a inclusão escolar. saber como os educadores aprendem ou aprenderam e é,
Inscreve-se num projeto de extensão, resultado de palestras também, fundamental entender que os professores estão in-
proferidas pelo Brasil e a expectativa é restituir ou devolver, teressados nesse conhecimento e em entender como ope-
de maneira sistematizada, os conhecimentos e experiências ra a escola tradicional vigente, especialmente, a progressão
dos professores do ensino fundamental que dão sustento continuada. Hoje, os professores querem aprender e não
às ditas palestras. O autor situa epistemologicamente a te- só ensinar, pois não entendem esses momentos em sepa-
mática no contexto da escola atual, da pedagogia seletiva e rado. Indagando sobre essa questão, o autor considera im-
tradicional e do professor do ensino fundamental que nela portante o espaço onde eles aprendem, a sala de aula, que
trabalha, porém, partindo de uma perspectiva Piagetiana, o professor deve vivenciar também como aluno, aberto ao
busca propor uma pedagogia diferenciada. desconhecido e com a consciência de que não sabe tudo e
O autor, Lino de Macedo, educador brasileiro, profes- que necessita formação pessoal e profissional permanente.
sor de psicologia, pesquisa o desenvolvimento humano, a Nessa proposta, considera-se o contexto onde o professor
psicopedagogia e, com forte influência de Piaget, aprofun- aprende, seja a sala de aulas, um projeto institucional de for-
da neste livro os fundamentos da educação inclusiva, da mação continuada, a relação com os colegas, com os pais,
diversidade, da reflexão e das competências docentes. Ao a comunidade escolar, a participação em palestras, cursos,
professor atento, oferece elementos para o planejamento de seminários e/ou congressos.
um projeto curricular de uma escola inclusiva. Desde uma As atividades de aprendizagem assumidas pelos pro-
posição sociocultural e pedagógica, apresenta duas dimen- fessores são interdependentes e envolvem desafios para os
sões pelas quais procede a escola: a seletiva e a inclusiva, quais eles devem estar preparados. Assim a observação e
sendo a primeira entendida como aquela que procede por reflexão sobre suas ações, a análise do modo de regular as
semelhanças excluindo as diferenças, e a outra, como a que trocas sociais e culturais com colegas e alunos, as escolhas
procede pela diferença para incluí-la no processo de apren- e o modo de atuação, o contexto no qual aprendem, seus
dizagem. Assim, ele procura situar o leitor frente a sua obra conhecimentos prévios e pesquisas realizadas por eles e por
no seu caráter de autor “autorizado” pela sua experiência. outros, tudo isso contribui para a sua formação. É na forma-
Na sua visão de formação procura incentivar os professo- ção que o professor adquire as competências e habilidades
res a assumirem a autoria das experiências deles. A tomada para trabalhar na escola. São consideradas três formas de
de consciência das ações permitiria a renovação dos com- competências:
promissos e as responsabilidades como professores. O au- • com relação a si mesmo, portanto, se realiza em
tor enfatiza alguns eixos fundamentais sobre os quais seria qualquer contexto ou situação. Este tipo de com-
necessário refletir e se basear no momento de elaborar um petência favorece a cultura das semelhanças com
projeto curricular: quem as possui e a da exclusão com quem não as

73
GESTÃO PEDAGÓGICA

possui. Representa a competência adquirida e tam- obstáculos, selecionar bem os objetivos e tarefas escolares,
bém a perdida. dosar os conteúdos, construir a convivência (considerando
também os que contribuem a partir do aspecto negativo de
• com relação a um objeto, desde uma visão constru-
uma situação), a avaliação e assim fazer uso da competência
tivista, considerando-se que os objetos representam
relacional. Para isso, desde uma perspectiva construtivista,
um recurso que contribui na construção do conheci-
o autor mostra-se preocupado com a articulação das dife-
mento em certo contexto pessoal e sociocultural de
renças numa proposta curricular diferenciada para o qual é
uso para uma certa realização. Esse recurso se ma-
necessária uma comunicação eficaz e significativa na sala de
nifesta em função do uso que o aluno ou professor
aula.
possa dar quanto ao que ele assimilou do máximo
O fazer em sala de aula envolve antecipação, regulação
que ele oferece (um exemplo atual pode ser o com-
e observação, procedimentos necessários para o planeja-
putador) e,
mento do semestre e ano letivos. Durante um tempo estipu-
• do sujeito em termos relacionais que se expressa nas lado, os professores, coordenadores, diretores, secretários
mais variadas situações da vida cotidiana e escolar. de educação e todos os que foram convocados reúnem-se
Permite articular elementos conhecidos e outros para, a partir da reflexão sobre a cultura da escola, as expe-
inesperados que só acontecem em contextos intera- riências habituais e a situação social e política da educação
tivos como resultado de produções coletivas. fundamental, começar a construir uma proposta de escola
inclusiva. Assim, reconhecendo os mecanismos de exclusão
Em situações práticas, é fácil confundir competência com
existentes, o autor propõe um constante planejamento es-
habilidade e o autor chama a atenção para essa diferença: a
colar que considere os conteúdos, disciplinas e os alunos
competência é uma habilidade de ordem geral, enquanto a
com suas características cognitivas, físicas e sociais.
habilidade é uma competência de ordem particular, espe-
O autor considera o planejamento como uma prática re-
cífica (p. 71). Na perspectiva relacional há a necessidade da
flexiva que se vale da antecipação para fazer uma regulação
habilidade tanto quanto da competência. Uma contribuição
no presente que oriente um trabalho futuro com os alunos
importante do livro de Lino de Macedo é a sistematização
e que permita as transformações queridas. O(s) responsá-
do que entende por competência relacional. Segundo ele, é
vel(eis) pela regulação cuidará(ão) da complexidade do co-
aquela que, como qualidade geral, coordena, estrutura, e ar-
tidiano escolar, do ir e vir, do refazer, de propor alternativas,
ticula a multiplicidade de concorrência, a convergência com
de corrigir os erros, aceitar as críticas. Com uma visão in-
a unicidade expressa na competição que, por sua vez, requer
terdependente, promove o diálogo, a reescrita, a crítica e a
que o professor saiba lidar, num determinado espaço de
reformulação de um projeto pedagógico. Nesse processo,
tempo, com diferentes fatores, em diferentes níveis,. Assim,
o autor, ainda considera importante a observação do anda-
lhe seria permitido mobilizar-se e mobilizar a outros para a
mento do projeto pedagógico que viria a ser uma avaliação.
aprendizagem no contexto da pedagogia diferenciada, que
Observação, regulação e avaliação são elementos do siste-
acolhe crianças ricas e pobres, com ou sem problemas de
ma de planejamento por ele proposto.
aprendizagem, com cores, raças e condições físicas diversas.
Na sua proposta, o autor, considera, ainda, as dificul-
As estratégias utilizadas para o trabalho na escola diferen-
dades de aprendizagem da criança, entendida esta como o
ciada envolvem, entre outros: situações de aprendizagem,
sujeito epistêmico que constrói conhecimentos a partir da
situações problema, jogos com oficinas ou com tutorias. A
coordenação de esquemas de ações, de noções e/ou ope-
autonomia, o envolvimento e a cooperação entre professo-
rações lógicas (classificar, ordenar, fazer inferências, etc.) e
res e a comunidade escolar, com as diferenças e singularida-
matemáticas (quantificar, somar, subtrair, etc.) a partir de
des existentes, é fundamental.
entendê-las como proporcionadas pela aprendizagem em
Tomar essa decisão de inovar por parte do professor,
certa cultura ou sociedade na qual considera-se a herança
entre outras, é um fator importante no processo e influencia
genética, de saúde orgânica e mental.
o eixo da pedagogia diferenciada porque, além de mobilizar
O “sujeito epistêmico”, segundo Piaget, tem problemas
recursos, ativa esquemas de conhecimento e de reconheci-
a resolver, procedimentos a construir, compreensões a for-
mento pessoal e institucional que, por sua vez, fortaleceriam
mular. Nos sucessivos estágios de desenvolvimento, a crian-
a autoestima pessoal e a identidade institucional. Tomar
ça vai progredindo, o que não acontece com crianças com
uma decisão em contexto de incerteza, concorrência, con-
problemas de aprendizagem, frustradas na sua expectativa
fronto, conflito, ou oposição implica correr riscos, e assumir
e desejo de aprender. A psicopedagogia reflete as neces-
os medos, seja nas atividades em sala de aula ou a nível ins-
sidades interdisciplinares do processo de aprendizagem
titucional.
onde a dialética sujeito e objeto é irredutível, complemen-
Nessa visão, ser competente, é ter criatividade, inventivi-
tar e indissociável. Numa perspectiva construtivista, o autor
dade, criticidade, mobilidade, e fazer uso de esquemas que
apresenta duas visões dos problemas de aprendizagem: a
permitam organizar o pensamento, as ações e condutas que
primeira, como a dificuldade, o desafio para aprender (numa
possibilitem experiências físicas, sociais e lógico-matemáti-
relação de interdependência) e a segunda, como queixa ou
cas. Saber o “como” e o “porquê” do agir do professor que
frustração (numa relação de independência/dependência).
orientem as atividades racionalmente. No dia-a-dia da esco-
O primeiro numa dimensão interna, de desenvolvimento do
la, acredita-se que o professor deva administrar bem o tem-
sujeito, e a segunda, vista como alguma questão externa,
po e espaço escolar, o ritmo, as narrativas, os imprevistos, os
conhecida ou desejável para os outros.

74
GESTÃO PEDAGÓGICA

Assim, o psicopedagogo, reconhecendo esses enqua-


dramentos, pode pensar as dificuldades de aprendizagem MACHADO, ROSANGELA. EDUCAÇÃO
da criança e adotar os procedimentos de intervenção –pe- ESPECIAL NA ESCOLA INCLUSIVA:
dagógicos ou terapêuticos – mais adequados. O autor utiliza POLÍTICAS, PARADIGMAS E PRÁTICAS. SÃO
a metáfora da viagem, do labirinto para analisar o processo
PAULO: CORTEZ, 2009.
de aprendizagem na criança. No momento da avaliação, o
autor apresenta seis formas, com a finalidade de provocar
no professor uma reflexão sobre a questão. Considera im-
portante saber sobre os desejos, valores e sentidos dados O livro narra a desconstrução/reconstrução dos servi-
pelos participantes à aprendizagem. Avaliar, por intermédio ços de educação especial da Rede Municipal de Ensino de
de inferências possibilitadas por indicadores, permite uma Florianópolis, tendo por base os fundamentos e princípios
mudança de atitude. As funções da avaliação são: selecio- da inclusão escolar. É uma prova de que é possível inovar
nar, diagnosticar, antecipar, orientar, certificar e regular um as práticas de educação especial e dar novos rumos para a
processo de desenvolvimento do conhecimento, da apren- inclusão de alunos com deficiência no ensino regular. Apre-
dizagem por parte da criança. Estas funções realizam-se de senta o desafio, a necessidade de se abrir a novas ideias, à
maneira complementar e indissociável e permitem orientar reorganização dos serviços de educação especial de forma
as tensões durante a aprendizagem. que seja complementar ao ensino regular e não um substi-
Segundo o autor, o cotidiano de sala de aula exige lidar tutivo.
com as práticas concretas e com outras não muito visíveis
que produzem indisciplina, dispersão, desorganização, pro- O SENTIDO DA DIFERENÇA QUE FUNDAMENTA
blemas no planejamento, bem como desperdício de tempo, A INCLUSÃO ESCOLAR
espaço e dinheiro. Para isso, os registros, observações, re-
flexões, consultas com colegas, queixas etc. são bem-vindas Se de um lado existe a possibilidade de fixação da iden-
como elementos que podem promover ações favoráveis ao tidade e da diferença, dadas pelos essencialismos biológi-
trabalho docente e à aprendizagem na interdependência co e cultural, pelas relações de poder que a determinam e
tempo, espaço, objetos e relações escolares. Assim, o espa- pela invenção de categorias, por outro, há um sentido não
ço, ou seja, o lugar para guardar os objetos, para realizar os essencialista e não conservador, em que a identidade e a di-
encontros, para devolver um objeto a seu lugar, para dispor/ ferença são desestabilizadas e subvertidas, híbridas, móveis
selecionar ou para esquecer tal objeto, é condição importan- e se contrapõem ao processo que tenta fixá-las. Não há nor-
te, pois ajuda a pensar e organizar o processo de aprendi- ma a ser seguida. A diferença vem em primeiro lugar como
zagem. Assim, também é importante o tempo que permite condição de ser um devir. Logo, “as identidades flutuam no
agendar compromissos, estimar a duração, antecipar ações ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e
no contexto de um projeto, priorizar tarefas e lembrar ações lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em
inter-relacionadas com outras. alerta constante para defender as primeiras em relação às
No cotidiano escolar, os objetos usados pelo professor últimas” (BAUMAN, 2005, p. 19).
e o aluno na sala de aula são fundamentais junto ao desen- Ao assumir o sentido da diferença como um devir, há
volvimento de competências específicas para o seu uso. Tor- que se abandonar o que é chamado de diversidade para
na-se importante neste contexto o relacionamento sujeito e defini-la. Ao se questionar a diferença como estável, fixa e
objeto além da relação docente e aluno, a interação entre as definida pelas relações de poder, assume-se a sua multipli-
crianças e com as tarefas. Por isso, o relacionamento implica cidade.
envolver-se, responsabilizar-se, cooperar, cuidar e conviver Quando o sentido da diferença vem da multiplicidade,
com outros, gerando autonomia no desenvolvimento da da ideia de múltiplo, ela não é marcada por um único atribu-
criança durante a aprendizagem. Nesta proposta de escola to de um grupo ou de uma pessoa, mas uma oposição aos
inclusiva, o autor considera relevante a disciplina no proces- valores e discursos dominantes e resiste à visão que divide
so educacional. Após analisar, refletir e enumerar definições o mundo em categorias isoladas. Ela muda com o tempo,
sobre a proposta de disciplina na escola, permite-se propor sendo impossível classificá-la. A diferença é de todos, tudo é
uma (disciplina) com relação ao tempo, ao espaço, aos obje- diferença [...] “e não há, deste modo, alguma coisa que não
tos e aos relacionamentos de modo inter-relacional no pro- seja diferença, alguma coisa que possa deixar de ser dife-
cesso de conhecimento. A sua função seria de mediadora no rença, alguma coisa que possa ser o contrário, o oposto das
processo de conhecimento, estaria a serviço dos sentimen- diferenças” (SKLIAR, 2006, p. 31).
tos e valores envolvidos e assim possibilitaria o encontro Para além de uma simples divisão e classificação de raça,
subjetivo entre o que se é e o que se pretende ser. Portanto, etnia ou nacionalidade, Silva (2000) discute os movimentos
a formação da disciplina na criança envolve a norma, a atitu- que conspiram para subverter e complicar as identidades fi-
de e o valor na realização de atividades no cotidiano escolar. xadas. Ele utiliza a ideia de movimento, de viagem, de deslo-
No seu livro, o autor se propõe a contribuir com reflexões camentos e traz o exemplo da identidade nacional, de etnia
que desafiam o professor a continuar indagando e pesqui- e de raça. Metáforas como hibridização, miscigenação, sin-
sando a possibilidade da escola inclusiva no Brasil. cretismo aludem à questão do movimento. São metáforas
que se contrapõem ao processo que fixa as identidades e as
Fonte: Resenhado por GÓMEZ, M. V. essencializa.

75
GESTÃO PEDAGÓGICA

O hibridismo, segundo o mesmo autor, e das crenças dominantes. Com a inclusão escolar e o reco-
Tem sido analisado, sobretudo, em relação com o pro- nhecimento da singularidade de cada criança, a sua diferen-
cesso de produção das identidades nacionais, raciais e étni- ça é recriada e ampliada nos espaços escolares. Portanto, o
cas. Hibridismo significa mistura, conjunção, intercurso entre objetivo da inclusão escolar de crianças com deficiência é
as diferentes nacionalidades e diferentes etnias e raças. A suscitar o questionamento da deficiência, tida como atributo
identidade que se forma por meio do hibridismo não é mais próprio de crianças, jovens, pessoas que pertencem a gru-
integralmente nenhuma das identidades originais, embora pos isolados para estudarem, viverem. O objetivo do ques-
guarde o traço delas. (Ibid., p. 86-87) tionamento da deficiência reside em processos e sistemas
Tendo a multiplicidade como própria de sua natureza, de significação mais amplos, que não requerem um discurso
a diferença se distancia da identidade, da representação e harmonioso, inócuo e de aceitação da deficiência como uma
da bipolarização, da fixação da diferença universal e visível atitude de seres tolerantes que “compreendem que crianças
dada aos grupos ou às pessoas. A diferença é considera- com deficiência não têm condições para aprender”.
da a partir dela mesma, do seu próprio movimento, do seu Esses três discursos sobre a diferença propõem um
próprio devir. Ela é imprevisível e vai criando conexões em questionamento sobre a diversidade e seu sistema de signi-
seu constante movimento de diferir, próprio de cada ser hu- ficação. Em todos eles, se reconhece que a diferença muda o
mano. As diferenças não podem ser descritas, são indeter- tempo todo em cada indivíduo, em cada grupo.
minadas, instáveis e inesgotáveis. O múltiplo não reduz a As diferenças coletivas ou individuais múltiplas e mu-
diferença ao idêntico, ao uno e às categorias. táveis vão tomando o espaço das diferenças coletivas e
Em sua gramática da diferença, Burbules explicita a dife- individuais universais e homogeneizadas, formando o que
rença além, a diferença no interior e a diferença contra, que Bhabba (2005) chama de [...] “o ‘terceiro espaço’ que resulta
se contrapõem à diferença entre como forma de categorizar da hibridização que não é determinado, nunca, unilateral-
indivíduos e grupos. mente, pela identidade hegemônica: ele introduz uma dife-
A diferença além faz um questionamento ao quadro de rença que constitui a possibilidade de seu questionamento”
categorias, por ir além de uma determinada maneira de pen- (p. 70).
sar ou de falar sobre o “outro”. O aluno com deficiência é um É nesses sentidos de diferença além, de diferença no
exemplo para se entender a diferença além. Ela questiona o interior e de diferença contra que a educação inclusiva se
próprio conceito de deficiência, que vai além da deficiência. apoia para se impor como inovação educacional. A inclusão
Cada aluno com deficiência sempre contém algo além de é concebida com base na diferença, em seu sentido multi-
nossa compreensão, por isso, é impossível de ser colocado plicativo que desestabiliza as identidades e conhecimentos
em frases, em definições, em categorias. hegemônicos, questionando concepções conservadoras de
Muitos gestores e professores apresentam insegurança ensino e de aprendizagem e as oposições binárias que co-
para se relacionarem com os alunos com deficiência, dado locam aluno com deficiência de um lado e aluno ideal de
ao fato de pensarem que necessitam de um estudo sobre outro.
a categoria deficiência para conhecerem o aluno. A dificul-
dade de relação concreta com o aluno com deficiência se A escola que busca resultados homogêneos, que institui
intensifica, porque não encontram uma similaridade entre a média escolar, as avaliações classificatórias fazem com que
esse aluno e o modelo de aluno ideal, presente no imaginá- todos os alunos se igualem. As diferenças de interesses, de
rio desses profissionais. desejos, de capacidades, de potencialidades e tantas outras
A diferença no interior também deflagra a instabilidade manifestações só são possíveis de ser manifestadas quando
das categorias, contrapondo-se à identidade fixada de um o espaço escolar se abre para as múltiplas dimensões huma-
grupo e à singularidade de cada indivíduo dentro de seus nas que nele habitam. Os alunos e os professores não são os
grupos. Tal diferença cria “espaço para compreender as for- mesmos, as aprendizagens não são uniformes, a escola é o
mas pelas quais a diferença é vivida; como as pessoas ex- espaço da diferença.
pressam as diferenças, brincam com elas, transgridem-nas, Silva (2000) faz uma síntese do que é o múltiplo e do
cruzam as fronteiras entre elas” que é o diverso:
Há, no movimento de certos grupos e minorias excluí- A diferença vem do múltiplo e não do diverso. Tal como
das, a ideia de que aqueles que os compõem vivem a sua di- ocorre com a aritmética, o múltiplo é sempre um processo,
ferença da mesma forma; defendem, assim, uma identidade uma operação, uma ação. A diversidade é estática, é um es-
e uma cultura que lhes são próprias. Na visão da diferença tado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é um fluxo, é produ-
no interior, uma pessoa nunca é idêntica à outra, cada su- tiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir diferenças
jeito é único, rompendo com os limites circunscritos em um – diferenças que são irredutíveis à identidade. A diversidade
grupo que se define por um único atributo qualquer. limita-se ao existente. A multiplicidade estende e multipli-
A diferença contra refere-se aos grupos que buscam se ca, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado – da na-
diferenciar ou questionar as normas e crenças dominantes. tureza ou da cultura. A multiplicidade é um movimento. A
A inclusão escolar de crianças com deficiência é um exem- diversidade reafirma o idêntico. A multiplicidade estimula a
plo de diferença contra, no sentido de enfrentar os discursos diferença que se recusa a se confundir com o idêntico. (p.
dominantes sobre quem deve estar na escola regular e de 100-101)
reafirmar o direito à educação de todos. As crianças com A educação inclusiva e o AEE contestam as identidades
deficiência têm uma diferença que se distingue das normas essencializadas, indo de encontro à política do “mesmo”, do

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GESTÃO PEDAGÓGICA

idêntico, dos processos categoriais e do diverso. Defendem de acordo com os ideais da escola. São os alunos com de-
formas híbridas e plurais das relações humanas nas escolas ficiência, os que não aprendem matemática, os que não se
e na sociedade e não vivem o autoritarismo do padrão e da alfabetizam; são os categorizados, classificados e inferioriza-
norma. dos em relação ao conjunto de diferença humana.
A partir dessa compreensão, o que precisa ser mudado é
O movimento de educação inclusiva: questões sobre a cultura escolar que faz do “outro” alguém diferente, como
a educação escolar e a diferença argumenta Moreira (2002):
Em termos espaciais, o currículo funcionou – e certa-
A educação inclusiva é um campo e um movimento que mente ainda funciona – como o grande dispositivo pedagó-
discute como a diferença é tratada e compreendida pela es- gico que recolocou, em termos modernos, a invenção grega
cola. O direito de todos à educação e o direito à diferença da fronteira como o limite a partir do qual começam os ou-
são pontos de partida e [...] “a diferença começa a ser vis- tros; não propriamente o limite a partir do qual nos perde-
ta como uma característica profunda da vida interior e não mos, mas o limite a partir do qual os outros passam a existir
apenas uma questão de embates entre diversos grupos” para nós, o limite a partir do qual a diferença começa a se
(BURBULES, 2006, p. 160). fazer problema para nós. Em suma, o currículo contribuiu –
O direito à diferença não pode ser entendido como o re- e ainda contribui – para fazer do outro um diferente e, por
conhecimento de algumas diferenças ou aquele que aponta isso, um problema ou um perigo para nós. (p. 165)
para alguns alunos como sendo os diferentes por não cor- O currículo formal é composto dos conteúdos progra-
responderem à identidade dominante e convencional de máticos que são selecionados, organizados e normatizados
aluno ideal. O direito à diferença vai além de abrir as portas dentro de uma hierarquia de superioridade de conhecimen-
das escolas, vai além do acesso ao seu ambiente educacio- tos. O ensino é organizado em uma perspectiva científica e
nal. Esse direito requer o questionamento de práticas que metodológica que tem como função a reprodução do con-
responsabilizam os alunos pelo déficit e pelas dificuldades teúdo por uma população de alunos concebida como sendo
de aprendizagem, justificando a origem do fracasso escolar a que é constituída pelos alunos “normais”. Estes, como é
como sendo do aluno. óbvio, são os alunos que se aproximam da “normalidade”,
Por essa razão, a educação inclusiva não é um propósito “estabelecida pelo grupo socialmente dominante para o
único da Educação Especial, tampouco da deficiência em si grupo etário que também ‘normalmente’ se encontrará no
ou dos grupos considerados minoritários. É um campo que ano para o qual o currículo foi concebido” (CORTESÃO e
visa debater e ampliar a compreensão da comunidade esco- STOER, 2006, p. 200).
lar sobre a complexidade da diferença humana para, então, A aprendizagem está atrelada à concepção de currículo
provocar outros modos de pensar e de fazer a escola. que determina que o aluno que aprende é aquele que as-
Mantoan (2006) expõe que a exclusão do aluno se dá simila o conteúdo transmitido em uma determinada série.
em função dos padrões escolares conservadores e da difi- O tempo de aprender está estruturado de acordo com as
culdade de se abrir a novos conhecimentos: convenções da escola e não com o tempo dos alunos. Sob
A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e essa lógica, o aluno ideal é aquele que responde bem às
perversas maneiras, e quase sempre o que está em jogo é expectativas de aprendizagem dos conteúdos ensinados, e
a ignorância do aluno, diante dos padrões de cientificida- o aluno que não responde bem é tido como o “diferente”
de do saber escolar. Ocorre que a escola se democratizou e encaminhado a serviços que visam apoiar, acelerar, recu-
abrindo-se a novos grupos sociais, mas não aos novos co- perar esse aluno que precisa se adequar ao perfil do aluno
nhecimentos. Exclui, assim, os que ignoram o conhecimento ideal. Quanto mais a escola ou reformas educacionais in-
que ela valoriza e, assim, entende que a democratização é a sistem em implementar ações paliativas como o reforço de
massificação de ensino e não cria a possibilidade de diálo- aprendizagem, em que se separam os alunos “diferentes”
go entre diferentes lugares epistemológicos, não se abre a para esse fim, menos ela compreendeu a questão da dife-
novos conhecimentos que não couberam, até, então, dentro rença dos seres humanos e, em consequência, a inclusão.
dela. (p. 190)
De fato, na educação escolar atual, prevalece, ainda, o Burbules (2006) expõe sobre os dois lados da educação:
paradigma da Modernidade, o que ocasiona uma tensão [...] por um lado, o desejo de usar a educação para tor-
entre a diferença, o diferente e a homogeneidade. A escola nar as pessoas mais parecidas (quer seja: no sentido de uma
tem por finalidade tornar os alunos os “mesmos” por meio mistura de crenças e valores em relação à cidadania; no
de objetivos, atividades e avaliações educacionais padroni- sentido de textos essenciais da “alfabetização cultural”; no
zados que buscam uma identidade representada pelo con- sentido de conhecimentos factuais e habilidades que podem
ceito de aluno ideal, abstraída de um padrão homogêneo e ser medidas por testes padronizados; pelo estabelecimento
universal e por um currículo. de critérios nacionais uniformes ao longo do currículo) – e,
A adoção de um conceito e de uma perspectiva de alu- por outro, o desejo de atender às diferentes necessidades
no ideal e de um currículo como prática hegemônica estabe- e formas de aprender, às diferentes orientações culturais e
lece uma cultura escolar que transforma em “diferentes” os às diferentes aspirações a respeito de trabalho e modo de
alunos que não se adaptam a esse conceito e a essa prática. vida, representadas pela diversificada população de alunos
Os “diferentes” passam a ser os alunos que não se encaixam das escolas públicas. (p. 160)
em uma identidade hegemônica. São aqueles que não estão

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GESTÃO PEDAGÓGICA

O desejo de atender à diferença deve estar atrelado a vive a cultura do uno, do mesmo, da busca pelo aluno com a
todos os alunos. A diferença na escola ainda convive, para- identidade definida por padrões hegemônicos.
doxalmente, com práticas escolares homogeneizadoras; as É preciso estabelecer questionamentos sobre os alunos,
práticas de diferenciação em que os alunos são identificados compreendendo-os como seres humanos e não como um
por meio de verdades biológicas expressas em laudos, pare- tema a ser estudado ou alguém diferente, exótico. A escola
ceres e diagnósticos. é o espaço de acolhimento da diferença e se constitui em
Um exemplo de atividade curricular centrada no aluno um contexto relacional que permite que os alunos interajam,
tido como diferente são as festividades comemorativas, que se conheçam e se sintam acolhidos em sua diferença. Outra
assumem um viés folclórico de cultura fixada, naturalizada, questão que revela o caráter monocultural e hegemônico
presa a um passado histórico. O Dia do Índio, no geral, é da escola tem a ver com o fato corrente de se atribuir à es-
comemorado de maneira descontextualizada. As diferenças cola a função de oportunizar aos alunos, principalmente os
culturais são tratadas pelo estudo de textos que informam alunos com deficiência e os de classes populares, o acesso
como é a cultura indígena. Não há questionamento, estabe- e a apropriação do conhecimento da cultura dominante. Se-
lecimento de interações, mudança, consciência das relações gundo Azibeiro (2003, p. 85), [...] “isso termina por negar a
de poder, contidas nesses textos. diferença, já que a escola, tendo como referência um padrão
Bhabha (2005) denuncia o problema da representação cultural único, universal, deveria restituir a igualdade negada
cultural presa a um passado considerado verdadeiro e defi- pela origem – de etnia, de classe, de gênero...”.
nidor de identidade: Gallo e Souza (2002) dizem que:
A enunciação da diferença cultural problematiza a divi- Um outro elemento importante para o racismo é que
são binária de passado e presente, tradição e modernidade, o impuro, aquele que deve morrer, não se encontra ne-
no nível da representação cultural e de sua interpretação cessariamente “fora” do conjunto, fora do Estado, isto é, o
legítima. Trata-se do problema de como, ao significar o pre- impuro não é o estrangeiro por excelência, mas pode estar
sente, algo vem a ser repetido, relocalizado e traduzido em aqui mesmo, entre nós. A guerra de extermínio dos nazistas
nome da tradição, sob a aparência de um passado que não contra os judeus – provavelmente o melhor exemplo des-
é necessariamente um signo fiel da memória histórica, mas te racismo de Estado – não era uma guerra contra os que
uma estratégia de representação de autoridade em termos se encontravam fora, mas contra os judeus alemães, depois
do artifício do arcaico. (p. 64-65) Culturas sendo entendidas contra os judeus de todos os territórios dominados pela Ale-
como comunidades homogêneas de valores e de estilos de manha. Exterminar os judeus – que podiam ser os vizinhos
vida incentivam movimentos separatistas que defendem, do lado – significava não apenas eliminar a impureza racial,
por exemplo, uma escola só de surdos. Grupos de pessoas mas, mais do que isso, implicava também purificar a raça
surdas acreditam em uma cultura surda, que supõe que to- ariana. (p. 48)
dos os surdos vivem sua surdez do mesmo modo. A dife- Se a escola não questiona e não desconstrói seu modelo
rença que vem do múltiplo não é marcada por um único unívoco de ensino e de aprendizagem com base em uma
atributo ou especificidade de um grupo. prática homogeneizante e binária de se relacionar com os
Skliar (2006) alerta para o processo de diferenciação e o seus alunos, seu espaço torna-se racista, excludente.
que isso acarreta em termos de exclusão: A educação inclusiva promove o encontro com as múl-
Estabelece-se assim um processo de “diferencialismo” tiplas manifestações dos alunos e dos significados que eles
que consiste em separar, em distinguir da diferença algumas tecem. A escola inclusiva é espaço de formação humana e
marcas “diferentes” e em fazê-lo sempre a partir de uma co- não pode continuar sendo um local de dominação.
notação pejorativa. E é esse diferencialismo o que faz, por Repensar a diferença é crucial para que a escola tenha a
exemplo, que a mulher seja considerada o problema na dife- possibilidade de ser um espaço de mudança, de criação de
rença de gênero, que o negro seja considerado o problema novos conceitos, valores, modos de perceber a realidade. O
na diferença racial, que a criança ou o velho sejam conside- reconhecimento e a valorização da diferença fazem com que
rados o problema da diferença etária, que o jovem seja o se inicie um processo de desconstrução de modelos educa-
problema na diferença de geração, que os surdos sejam o cionais que caminham na direção de orientações educacio-
problema na diferença de língua etc. (p. 23) nais inclusivas, em que o desconhecido vai sendo conheci-
O diferente é aquele aluno específico, que tem uma de- do na sua especificidade diferenciadora. Para Souza e Fleuri
ficiência; aluno negro; o aluno com distúrbio de comporta- (2003), “não se trata de reduzir o outro ao que pensamos ou
mento, o que tem dificuldade de aprendizagem. “Caberia a queremos dele. Não se trata de assimilá-lo a nós mesmos,
pergunta, então, se a escola tem tentado discutir sobre a excluindo sua diferença” (p. 68-69).
questão do outro, ou bem o que lhe preocupa é a sua obses- Por tudo isso, a diferença deveria ser um tema central na
são pelo outro” (Skliar, 2006, p. 22). O “outro”, que a escola formação de professores e gestores – contexto da influên-
busca, obcecadamente, tornar o “mesmo”. cia, nas políticas educacionais e leis – contexto da produção
de texto, e nos projetos político-pedagógicos das escolas
Na perspectiva da identificação do aluno diferente, bus- – contexto da prática. A questão é saber se, quando se fala
ca-se conhecer o seu diagnóstico clínico, o que um especia- em diferença na escola, nos documentos políticos e nos dis-
lista tem a dizer sobre ele. A diferença é considerada enti- positivos legais, está se percebendo a possibilidade de en-
dade já constituída e, assim sendo, só nos resta estudá-la. contros com multiplicidades e subjetividades, ou se está re-
Por que essa necessidade de identificação? Porque a escola forçando a ideia do “mesmo”, do padrão e da adaptação dos

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GESTÃO PEDAGÓGICA

alunos tidos como diferentes a uma norma identificadora ções. Resta saber se essas mudanças estão alinhadas à com-
do aluno normal, exemplar, padrão, pensando nas soluções preensão da diferença, em sua natureza multiplicativa, e se
para adaptar os diferentes à norma escolar do mesmo, sem os agentes de mudança estão conscientes dessa natureza
qualquer possibilidade de encontro com a diferença. da diferença.
Se o que está em jogo na formação de professores e A educação inclusiva ultrapassa a ideia de inclusão
nas propostas educacionais do poder central é a diferença, como sinônimo de respeito, tolerância e aceitação do outro,
no sentido de diversidade, os professores e gestores con- do outro que não é o “mesmo”. É um movimento que possi-
tinuarão a reproduzir uma visão técnica e reducionista da bilita ao aluno perceber-se como pessoa que tem potencial
diferença e continuarão a exigir formação, preparação para para aprender, para participar do meio em que vive, de acor-
atuarem com os alunos definidos como diferentes. Por isso, do com suas capacidades. Essa percepção tem efeito positi-
é tão reivindicada a formação continuada dedicada exclusi- vo na aprendizagem escolar e em sua vida pessoal e social.
vamente a práticas para ensinar os conteúdos curriculares a
alunos com deficiências, dificuldades de aprendizagem, dis- Fonte
túrbios de comportamento, disléxicos, entre tantas outras MACHADO, Rosangela. Educação especial na escola in-
diferenças, que tornam o aluno um objeto a ser conheci- clusiva: políticas, paradigmas e práticas. São Paulo: Cortez,
do, listado e fechado em um conceito. Skliar (2006) defen- 2009.
de uma formação que vai além de conhecer textualmente, MACHADO, Rosangela. O atendimento educacional es-
teoricamente, o outro: pecializado (AEE) e sua repercussão na mudança das práticas
É por isso que entendo que haveria algumas dimensões pedagógicas, na perspectiva da educação inclusiva. Campi-
inéditas no processo de formação, para além de conhe- nas 2013
cer “textualmente” o outro, independentemente do saber
“científico” acerca do outro, dos outros, com a vibração em
relação ao outro, com a ética prévia a todo outro específi- MANTOAN, MARIA TERESA EGLÉR.
co, com a responsabilidade para com outro, com a ideia de INCLUSÃO ESCOLAR: O QUE É? POR QUÊ?
que toda a relação é, como dizia Levinas (2000), uma rela- COMO FAZER. SÃO PAULO: MODERNA, 2006.
ção com o mistério. Se continuarmos a formar professores
que possuam somente um discurso racional acerca do ou-
tro, mas sem a experiência que é do/s outro/s, o panorama INCLUSÃO ESCOLAR – O QUE É? POR QUÊ? COMO
continuará obscuro e esses outros seguirão sendo pensados FAZER?
como “anormais”, que devem ser controlados por aquilo
que “parecem ser” e, assim, corrigidos eternamente. (p. 32) Inclusão escolar: O que é?

A formação de professores e gestores precisa ser um Crise de paradigmas


trabalho com foco na diferença, como princípio fundamental O mundo gira e, nessas voltas, vai mudando e nessas
para a educação escolar. Um trabalho de formação em que mutações, ora drásticas ora nem tanto, vamos também nos
se crie um espaço para que os professores se desenvolvam envolvendo e convivendo com o novo, mesmo que não nos
intelectualmente e que os despertem para uma consciência apercebamos disso. Há, contudo, os mais sensíveis, os que
de que a diferença está em tudo e em todos. Uma forma- estão de prontidão, “plugados” nessas reviravoltas e que dão
ção voltada para a superação de mecanismos de exclusão, os primeiros gritos de alarme, quando anteveem o novo, a
da perspectiva essencialista e da cultura escolar excludente. necessidade do novo, a emergência do novo, a urgência de
“Isso implica a necessidade de desenvolver instrumentos de adotá-lo, para não sucumbir à morte, à degradação do tem-
formação de educadores(as), teóricos e práticos, que abor- po, à decrepitude da vida.
dem outras modalidades de pensar, propor, produzir e dia- Esses pioneiros, as sentinelas do mundo, estão sempre
logar com o processo de aprendizagem”. muito perto e não têm muitas saídas para se esquivar do
Professores e gestores capazes de se envolverem em ataque frontal das novidades. São essas pessoas que des-
uma visão crítica do mundo e das pessoas que nele vivem, pontam nos diferentes âmbitos das atividades humanas e
rompendo com visões presas à deficiência, ao aluno normal que num mesmo momento começam a transgredir, a ultra-
ou com dificuldades de aprendizagem, todas elas abstraídas passar as fronteiras do conhecimento, dos costumes, das
de padrões universalizantes, que retiram dos alunos suas Artes, inaugurando um novo cenário para as manifestações
particularidades. e atividades humanas, a qualquer custo, porque têm clareza
É urgente que se reconheça a diferença de todos os alu- do que estão propondo e não conseguem se esquivar ou se
nos e que os professores e gestores vivenciem uma escola defender da força das concepções atualizadas.
marcada pelo hibridismo. É premente que a entrada de alu- Ocorre que, saibamos ou não, estamos sempre agindo,
nos com deficiência à escola comum seja um movimento pensando, propondo, refazendo, aprimorando, retificando,
que desestabilize o pensamento e as práticas escolares con- excluindo, ampliando segundo paradigmas.
servadoras. Conforme pensavam os gregos, os paradigmas podem
A educação escolar, ao longo dos tempos, tem sido en- ser definidos, como modelos, exemplos abstratos, que se
volvida em um constante processo de mudanças nas leis, materializam de modo imperfeito no mundo concreto. Po-
nas políticas educacionais nacionais e locais e nas concep- dem também ser entendidos segundo uma concepção mo-

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GESTÃO PEDAGÓGICA

derna, como um conjunto de regras, normas, crenças, va- O tecido da compreensão não se trama apenas com os
lores, princípios que são partilhados por um grupo em um fios do conhecimento científico. Como Santos nos aponta, a
dado momento histórico e que norteiam o nosso compor- comunidade acadêmica, não pode continuar a pensar que
tamento, até entrarem em crise, porque não nos satisfazem só há um único modelo de cientificidade e uma única epis-
mais, não dão conta dos problemas que temos de solucio- temologia, e que, no fundo, todo o resto é um saber vulgar,
nar. Assim, Thomas Kuhn, em sua obra “A estrutura das revo- um senso comum que ela contesta em todos os níveis de
luções científicas” e outros pensadores, como Edgar Morin, ensino e de produção do conhecimento. A ideia de que o
em “O Paradigma Perdido – a natureza humana” definem nosso campo de conhecimento é muito mais amplo do que
paradigma. aquele que cabe no paradigma da ciência moderna traz a
Uma crise de paradigma é uma crise de concepção, de ciência para um campo de luta mais igual, em que ela tem
visão de mundo e, quando as mudanças são mais radicais, de reconhecer e se aproximar de outras formas de entendi-
temos as chamadas revoluções científicas. mento e perder a posição hegemônica em que se mantém,
ignorando o que foge aos seus domínios.
O período em que se estabelecem as novas bases teó- A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e per-
ricas suscitadas pela mudança de paradigmas é bastante di- versas maneiras, e quase sempre o que está em jogo é a
fícil, pois caem por terra os fundamentos sobre os quais a ignorância do aluno, diante dos padrões de cientificidade do
ciência se assentava sem que se fincassem de todo os pilares saber escolar. Ocorre que a escola se democratizou abrin-
que a sustentarão, daqui para frente. do-se a novos grupos sociais, mas não aos novos conheci-
Sendo ou não uma mudança radical, toda crise de para- mentos. Exclui, então, os que ignoram o conhecimento que
digma é cercada de muita incerteza, insegurança, mas tam- ela valoriza e, assim, entende que a democratização é mas-
bém de muita liberdade e de ousadia, para buscar outras al- sificação de ensino, e não cria a possibilidade de diálogo en-
ternativas, outras formas de interpretação e de conhecimen- tre diferentes lugares epistemológicos, não se abre a novos
to que nos sustente e nos norteie para realizar a mudança. conhecimentos que não couberam, até então, dentro dela.
É o que estamos vivendo no momento. O pensamento subdividido em áreas específicas é uma
A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e grande barreira para os que pretendem, como nós, inovar
cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviços, gra- a escola. Nesse sentido, é imprescindível questionar esse
des curriculares, burocracia. Uma ruptura de base em sua es- modelo de compreensão que nos é imposto desde os pri-
trutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída meiros passos de nossa formação escolar e que prossegue
para que ela possa fluir, novamente, espalhando sua ação nos níveis de ensino mais graduados. Toda trajetória escolar
formadora por todos os que dela participam. precisa ser repensada, considerando-se os efeitos cada vez
A inclusão, portanto, implica em mudança desse atual mais nefastos das hiper-especializações dos saberes, que
paradigma educacional para que se encaixe no mapa da nos dificultam a articulação de uns com os outros e de ter-
educação escolar que estamos retraçando. mos igualmente uma visão do essencial e do global.
É inegável que os velhos paradigmas da modernidade O ensino curricular de nossas escolas, organizado em
estão sendo contestados e que o conhecimento, matéria disciplinas, isola, separa os conhecimentos, ao invés de re-
prima da educação escolar, está passando por uma reinter- conhecer as suas inter-relações. Contrariamente, o conhe-
pretação. cimento evolui por recomposição, contextualização e inte-
As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gê- gração de saberes, em redes de entendimento, não reduz
nero, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais o complexo ao simples, tornando maior a capacidade de
desvelada e destacada e é condição imprescindível para se reconhecer o caráter multidimensional dos problemas e de
entender como aprendemos, e como entendemos o mundo suas soluções.
e a nós mesmos. Os sistemas escolares também estão montados a par-
tir de um pensamento que recorta a realidade, que permite
Um novo paradigma do conhecimento está surgindo dividir os alunos em normais e deficientes, as modalidades
das interfaces e das novas conexões que se formam entre de ensino em regular e especial, os professores em especia-
saberes outrora isolados e partidos e dos encontros da sub- listas, nesta e naquela manifestação das diferenças. A lógica
jetividade humana com o cotidiano, o social, o cultural. Re- dessa organização é marcada por uma visão determinista,
des cada vez mais complexas de relações, geradas pela ve- mecanicista, formalista, reducionista própria do pensamen-
locidade das comunicações e informações estão rompendo to científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo, o
as fronteiras das disciplinas e estabelecendo novos marcos criador, sem os quais não conseguimos romper com o velho
de compreensão entre as pessoas e do mundo em que vi- modelo escolar, para produzir a reviravolta que a inclusão
vemos. impõe.
Diante dessas novidades, a escola não pode continuar Essa reviravolta exige, em nível institucional, a extinção
ignorando o que acontece ao seu redor, anulando e margi- das categorizações e das oposições excludentes – iguais/di-
nalizando as diferenças nos processos por meio dos quais ferentes, normais/deficientes – e em nível pessoal, que bus-
forma e instrui os alunos. E muito menos desconhecer que quemos articulação, flexibilidade, interdependência entre as
aprender implica em saber expressar, dos mais variados mo- partes que se conflitavam nos nossos pensamentos, ações,
dos, o que sabemos, implica em representar o mundo, a par- sentimentos. Essas atitudes diferem muito das que são típi-
tir de nossas origens, valores, sentimentos.

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GESTÃO PEDAGÓGICA

cas das escolas tradicionais em que ainda atuamos e em que quando se questionaram as práticas sociais e escolares de
fomos formados para ensinar. segregação. Sua noção de base é o princípio de normali-
Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é zação, que não sendo específico da vida escolar, atinge o
urgente que seus planos se redefinam para uma educação conjunto de manifestações e atividades humanas e todas as
voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos etapas da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por
e que reconhece e valoriza as diferenças. uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação.
Chegamos a um impasse, como nos afirma Morin Pela integração escolar, o aluno tem acesso às escolas
(2001), pois para se reformar a instituição temos de reformar por meio de um leque de possibilidades educacionais, que
as mentes, mas não se pode reformar as mentes sem uma vai da inserção às salas de aula do ensino regular ao ensino
prévia reforma das instituições. em escolas especiais.
O processo de integração ocorre dentro de uma es-
Integração ou inclusão? trutura educacional, que oferece ao aluno a oportunidade
de transitar no sistema escolar, da classe regular ao ensino
Tendemos, pela distorção/redução de uma ideia, a nos especial, em todos os seus tipos de atendimento: escolas
desviar dos desafios de uma mudança efetiva de nossos especiais, classes especiais em escolas comuns, ensino itine-
propósitos e práticas. A indiferenciação entre os processos rante, salas de recursos, classes hospitalares, ensino domici-
de integração e inclusão escolar é prova dessa tendência na liar e outros. Trata-se de uma concepção de inserção parcial,
educação e está reforçando a vigência do paradigma tradi- porque o sistema prevê serviços educacionais segregados.
cional de serviços educacionais. Muitos, no entanto, conti- É sabido (e alguns de nós têm experiência própria no as-
nuam mantendo-o ao defender a inclusão! sunto), que os alunos que migram das escolas comuns para
A discussão em torno da integração e da inclusão cria serviços da educação especial muito raramente se deslocam
ainda inúmeras e infindáveis polêmicas, provocando as cor- para os menos segregados e, raramente, retornam/ingres-
porações de professores e de profissionais da área de saúde sam às salas de aula do ensino regular.
que atuam no atendimento às pessoas com deficiência - os Nas situações de integração escolar, nem todos os alu-
paramédicos e outros, que tratam clinicamente de crianças nos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular,
e jovens com problemas escolares e de adaptação social. A pois há uma seleção prévia dos que estão aptos à inserção.
inclusão também “mexe” com as associações de pais que Para esses casos, são indicados: a individualização dos pro-
adotam paradigmas tradicionais de assistência às suas clien- gramas escolares, currículos adaptados, avaliações especiais,
telas. Afeta, e muito, os professores da educação especial te- redução dos objetivos educacionais para compensar as difi-
merosos de perder o espaço que conquistaram nas escolas culdades de aprender. Em uma palavra, a escola não muda
e redes de ensino e envolvem grupos de pesquisa das Uni- como um todo, mas os alunos têm de mudar para se adap-
versidades (Mantoan, 2002; Doré, Wagner e Brunet, 1996). tarem às suas exigências.
Os professores do ensino regular consideram-se incom- A integração escolar pode ser entendida como o espe-
petentes para atender às diferenças nas salas de aula, espe- cial na educação, ou seja, a justaposição do ensino especial
cialmente aos alunos com deficiência, pois seus colegas es- ao regular, ocasionando um inchaço desta modalidade, pelo
pecializados sempre se distinguiram por realizar unicamente deslocamento de profissionais, recursos, métodos, técnicas
esse atendimento e exageraram essa capacidade de fazê-lo da educação especial às escolas regulares.
aos olhos de todos (Mittler, 2000). Quanto à inclusão, esta questiona não somente as po-
Há também um movimento contrário de pais de alunos líticas e a organização da educação especial e regular, mas
sem deficiências, que não admitem a inclusão, por acharem também o próprio conceito de integração. Ela é incompatí-
que as escolas vão baixar e/ou piorar ainda mais a qualidade vel com a integração, pois prevê a inserção escolar de forma
de ensino se tiverem de receber esses novos alunos. radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exce-
Os dois vocábulos - integração e inclusão - conquanto ções, devem frequentar as salas de aula do ensino regular.
tenham significados semelhantes, são empregados para ex- O objetivo da integração é inserir um aluno ou um gru-
pressar situações de inserção diferentes e se fundamentam po de alunos que já foram anteriormente excluídos e o mote
em posicionamentos teórico-metodológicos divergentes. da inclusão, ao contrário, é o de não deixar ninguém no ex-
Grifei os termos, porque acho ainda necessário frisá-los, em- terior do ensino regular, desde o começo da vida escolar.
bora admita que essa distinção já poderia estar bem defini- As escolas inclusivas propõem um modo de organização
da no contexto educacional. do sistema educacional que considera as necessidades de
O processo de integração escolar tem sido entendido de todos os alunos e que é estruturado em função dessas ne-
diversas maneiras. O uso do vocábulo “integração” refere-se cessidades.
mais especificamente à inserção escolar de alunos com defi- Por tudo isso, a inclusão implica uma mudança de pers-
ciência nas escolas comuns, mas seu emprego é encontrado pectiva educacional, pois não se limita aos alunos com defi-
até mesmo para designar alunos agrupados em escolas es- ciência e aos que apresentam dificuldades de aprender, mas
peciais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes a todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente
especiais, grupos de lazer, residências para deficientes. educativa geral. Os alunos com deficiência constituem uma
grande preocupação para os educadores inclusivos, mas to-
Os movimentos em favor da integração de crianças e jo- dos sabemos que a maioria dos que fracassam na escola são
vens com deficiência surgiram nos países nórdicos em 1969,

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GESTÃO PEDAGÓGICA

alunos que não vêm do ensino especial, mas que possivel- que não recorrem a outros meios, que não buscam novas
mente acabarão nele! saídas e que não vão a fundo nas causas geradoras do fra-
casso escolar. Esse fracasso continua sendo do aluno, pois a
A radicalidade da inclusão vem do fato de exigir uma escola reluta em admiti-lo como sendo o seu.
mudança de paradigma educacional, como já nos referimos A inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que te-
anteriormente. Na perspectiva inclusiva, suprime-se a sub- mos para reverter a situação da maioria de nossas escolas, as
divisão dos sistemas escolares em modalidades de ensino quais atribuem aos alunos as deficiências que são do próprio
especial e regular. As escolas atendem às diferenças, sem ensino ministrado por elas – sempre se avalia o que o aluno
discriminar, sem trabalhar à parte com alguns alunos, sem aprendeu, o que ele não sabe, mas raramente se analisa o
estabelecer regras específicas para se planejar, para apren- que e como a escola ensina, de modo que os alunos não se-
der, para avaliar (currículos, atividades, avaliação da apren- jam penalizados pela repetência, a evasão, a discriminação,
dizagem para alunos com deficiência e com necessidades a exclusão, enfim.
educacionais especiais). Estou convicta de que todos nós, professores, sabemos
Pode-se, pois, imaginar o impacto da inclusão nos sis- que é preciso excluir a exclusão em nossas escolas e fora de-
temas de ensino ao supor a abolição completa dos serviços las e que os desafios são necessários a fim de que possamos
segregados da educação especial, os programas de reforço avançar, progredir, evoluir em nossos empreendimentos. É
escolar, salas de aceleração, turmas especiais e outros. fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola” e
Na perspectiva de o especial da educação, a inclusão é é mais fácil ainda encaminhar os que têm dificuldades de
uma provocação, cuja intenção é melhorar a qualidade do aprendizagem para as classes e escolas especiais, sendo ou
ensino das escolas, atingindo todos os alunos que fracassam não deficientes, aos programas de reforço e aceleração. Por
em suas salas de aula. meio dessas válvulas de escape continuamos a discriminar
A metáfora da inclusão é o caleidoscópio. Esta imagem os alunos que não damos conta de ensinar. Estamos habi-
foi bem descrita pelas palavras de uma de suas grandes de- tuados a repassar nossos problemas para outros colegas, os
fensoras: Marsha Forest. “especializados” e, assim, não recai sobre nossos ombros o
Tive o privilégio de conhecê-la, em Toronto, no Cana- peso de nossas limitações profissionais.
dá, em 1996, quando a visitei em sua casa. Infelizmente, ela Focalizei o porquê da inclusão, a partir de três questões
faleceu em 2001, quando estava de malas prontas para vir que são o alvo das iniciativas inclusivas, nas suas pretensões
ao Brasil, para participar de um grande evento educacional de “revitalizar” a educação escolar. Abordaremos cada uma
e para conhecer os trabalhos orientados para a inclusão em delas a seguir.
nossas redes públicas e escolas particulares.
Em sua homenagem, destaco como Marsha se refere ao A questão da identidade X diferença
caleidoscópio educacional: “O caleidoscópio precisa de to-
dos os pedaços que o compõem. Quando se retiram peda- Embora a inclusão seja uma prática recente e ainda in-
ços dele, o desenho se torna menos complexo, menos rico. cipiente nas nossas escolas para que possamos entendê-
As crianças, jovens se desenvolvem, aprendem e evoluem -la com maior rigor e precisão, considero-a suficiente para
melhor em um ambiente rico e variado”. questionar que Ética ilumina as nossas ações, na direção
A distinção entre integração e inclusão é um bom come- de uma escola para todos. Ou, mais precisamente, as pro-
ço para esclarecermos o processo de transformação das es- postas e políticas educacionais que proclamam a inclusão
colas, de modo que possam acolher, indistintamente todos estão realmente considerando as diferenças na escola, ou
os alunos, nos diferentes níveis de ensino. seja, alunos com deficiências e todas os demais excluídos e
Temos já um bom número de ideias para analisar, com- que são as sementes da sua transformação? Essas propostas
parar, reinterpretar. Elas serão certamente retomadas, revi- reconhecem e valorizam as diferenças, como condição para
sadas e ampliadas, no que trataremos a seguir. que haja avanço, mudanças, desenvolvimento e aperfeiçoa-
mento da educação escolar?
Inclusão escolar - Por quê? Ao avaliarmos propostas de ação educacional, visando à
inclusão, encontramos habitualmente, na orientação dessas
A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão ações, dimensões éticas conservadoras. Essas orientações,
de uma parte significativa dos seus alunos, que são margi- no geral, expressam-se pela tolerância e pelo respeito ao
nalizados pelo insucesso e privações constantes e pela baixa outro, que são sentimentos que precisamos analisar com
autoestima resultante da exclusão escolar e social. Alunos mais cuidado para entender o que podem esconder nas suas
que são vítimas de seus pais, de seus professores e, sobretu- entranhas.
do, por viverem em condições de pobreza em todos os seus A tolerância, como um sentimento aparentemente ge-
sentidos. Esses alunos são sobejamente conhecidos das es- neroso, pode marcar uma certa superioridade de quem to-
colas, pois repetem as suas séries várias vezes, são expulsos, lera. O respeito, como conceito, implica um certo essencia-
evadem e ainda são rotulados como mal nascidos e com lismo, uma generalização, que vem da compreensão de que
hábitos que fogem ao protótipo da educação formal. as diferenças são fixas, definitivamente estabelecidas, de tal
As soluções sugeridas para se reverter esse quadro pa- modo que só nos resta respeitá-las.
recem reprisar as mesmas medidas que o criaram. Em outras Nessas orientações entendem-se as deficiências como
palavras, pretende-se resolver a situação a partir de ações fixadas no indivíduo, como se fossem marcas indeléveis, a

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GESTÃO PEDAGÓGICA

partir das quais só nos cabe aceitá-las, passivamente, pois de avaliação de alunos, de pessoas. Contrariar a perspectiva
nada poderá evoluir, além do previsto no quadro geral das de uma escola que se pauta pela igualdade de oportunida-
suas especificações estáticas: os níveis de comprometimen- des é fazer a diferença, reconhecê-la e valorizá-la.
to, as categorias educacionais, os quocientes de inteligência, Temos, então, que reconhecer as diferentes culturas, a
predisposições para o trabalho e outras tantas mais. pluralidade das manifestações intelectuais, sociais, afetivas,
Consoante a esses pressupostos é que criamos espaços enfim, precisamos construir uma nova ética escolar, que ad-
educacionais protegidos, à parte, restritos a determinadas vém de uma consciência ao mesmo tempo individual, social
pessoas, ou seja, aquelas que eufemisticamente denomina- e, por que não, planetária!
mos Portadoras de Necessidades Educacionais Especiais – No desejo da homogeneidade, que tem muito em co-
PNEE. mum com a democracia de massas, destruíram-se muitas di-
A diferença, nesses espaços, é o que o outro é, - ele é ferenças que nós hoje consideramos valiosas e importantes.
branco, ele é religioso, ele é deficiente, como nos afirma Sil- Ao nos referirmos, hoje, a uma cultura global e globali-
va (2000), é o que está sempre no outro, que está separado zação, parece contraditória a luta de grupos minoritários por
de nós para ser protegido ou para nos protegermos dele. uma política identitária, pelo reconhecimento de suas raízes,
Em ambos os casos, nós somos impedidos de realizar e de como fazem os surdos, os deficientes, os hispânicos, os ne-
conhecer a riqueza da experiência da diversidade e da inclu- gros, as mulheres, os homossexuais. Há, pois um sentimento
são. A identidade é o que se é, como afirma o mesmo autor de busca das raízes e de afirmação das diferenças. Devido
- eu sou brasileiro, sou negro, eu sou estudante... a isso, contesta-se hoje a modernidade nessa sua aversão
A Ética em sua dimensão crítica e transformadora é a pela diferença.
que referenda a nossa luta pela inclusão escolar. A posição Nem todas as diferenças necessariamente inferiorizam
é oposta à anterior, porque entende que as diferenças estão as pessoas. Há diferenças e há igualdades, e nem tudo deve
sendo constantemente feitas e refeitas; pois elas vão dife- ser igual e nem tudo deve ser diferente. Então, como conclui
rindo. Elas são produzidas e não podem ser naturalizadas, Santos (1995), é preciso que tenhamos o direito de sermos
como pensamos, habitualmente. Essa produção merece ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza e o direito
compreendida e não apenas respeitada e tolerada de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza.
Nossas ações educativas têm como eixos o convívio
com as diferenças, a aprendizagem como experiência rela- A questão legal
cional, participativa, que produz sentido para o aluno, pois
contempla a sua subjetividade, embora construída no cole- Mesmo sob a garantia da lei, podemos encaminhar o
tivo das salas de aula. conceito de diferença para a vala dos preconceitos, da discri-
É certo que relações de poder presidem a produção das minação, da exclusão, como tem acontecido com a maioria
diferenças na escola, mas a partir de uma lógica que não de nossas políticas educacionais. Temos de ficar atentos!
mais se baseia na igualdade, como categoria assegurada por A maioria dos alunos das classes especiais é constituída
princípios liberais, inventada e decretada, a priori e que trata daqueles que não conseguem acompanhar os seus colegas
a realidade escolar com a ilusão da homogeneidade, pro- de turma, ou os indisciplinados, os filhos de lares pobres,
movendo e justificando a fragmentação do ensino em disci- de negros e outros. Pela ausência de laudos periciais com-
plinas, modalidades de ensino regular, especial, as seriações, petentes e de queixas escolares bem fundamentadas, esses
classificações, hierarquias de conhecimentos. alunos correm o risco de serem admitidos e considerados
Por tudo isso, a inclusão é produto de uma educação como PNEE.
plural, democrática e transgressora. Ela provoca uma crise As indefinições da clientela justificam todos os desman-
escolar, ou melhor, uma crise de identidade institucional, dos e transgressões ao direito à educação e à não discrimi-
que, por sua vez, abala a identidade dos professores e faz nação que algumas escolas e redes de ensino estão prati-
com que seja ressignificada a identidade do aluno. O aluno cando, por falta de um controle efetivo dos pais, das auto-
da escola inclusiva é outro sujeito, que não tem uma iden- ridades de ensino e da justiça em geral. O caráter dúbio da
tidade fixada em modelos ideais, permanentes, essenciais. educação especial é acentuado pela imprecisão dos textos
O direito à diferença nas escolas desconstrói, portanto, legais que fundamentam nossos planos e propostas educa-
o sistema atual de significação escolar excludente, normati- cionais e, ainda hoje, fica patente a dificuldade de se distin-
vo, elitista, com suas medidas e mecanismos de produção da guir o modelo médio/pedagógico do modelo educacional/
identidade e da diferença. escolar dessa modalidade de ensino. Essa falta de clareza faz
Se a igualdade é referência, podemos inventar o que retroceder todas as iniciativas que visam à adoção de posi-
quisermos para agrupar e rotular os alunos como PNEE, ções inovadoras para a educação de alunos com deficiência.
como deficientes. Se a diferença é tomada como parâme- Problemas conceituais, desrespeito a preceitos consti-
tro, não fixamos mais a igualdade como norma e fazemos tucionais, interpretações tendenciosas de nossa legislação
cair toda uma hierarquia das igualdades e diferenças que educacional, preconceitos distorcem o sentido da inclusão
sustentam a “normalização”. Esse processo, a normalização, escolar, reduzindo-a unicamente à inserção de alunos com
pelo qual a Educação Especial tem proclamado o seu poder, deficiência no ensino regular. Essas são, do nosso ponto de
propõe sutilmente, com base em características devidamen- vista, as maiores barreiras a serem enfrentadas pelos que
te selecionadas como positivas, a eleição arbitrária de uma defendem a inclusão escolar, fazendo retroceder as iniciati-
identidade “normal”, como um padrão de hierarquização e vas que visam à adoção de posições inovadoras para a edu-

83
GESTÃO PEDAGÓGICA

cação de alunos em geral. Estamos diante de avanços, mas parece o mais adequado para se garantir o relacionamento
de muitos impasses da legislação. dos alunos deficientes com seus pares de mesma idade cro-
nológica. A quebra de qualquer ação discriminatória e todo
A nossa Constituição Federal de 1988, respalda os que tipo de interação que possa beneficiar o desenvolvimento
propõem avanços significativos para a educação escolar de cognitivo, social, motor, afetivo dos alunos, em geral.
pessoas com deficiência, quando elege como fundamentos Na interpretação evolutiva de nossas normas educacio-
da República a cidadania e a dignidade da pessoa humana nais há, portanto, que se entender e ultrapassar as contro-
(art. 1º, incisos II e III), e, como um dos seus objetivos fun- vérsias entre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
damentais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos Nacional - LDB/1996 e a Constituição/1988.
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas Aqui há mais uma razão para que a inclusão seja um
de discriminação (art. 3º, inciso IV). Ela garante ainda o di- mote em nossa educação escolar, ultrapassando-se os im-
reito à igualdade (art. 5º) e trata, no art. 205 e seguintes, do passes de nossa legislação.
direito de todos à educação. Esse direito deve visar ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e A Constituição admite que o atendimento educacional
sua qualificação para o trabalho. especializado também pode ser oferecido fora da rede re-
Além disso, a Constituição elege como um dos princí- gular de ensino, em qualquer instituição, já que seria apenas
pios para o ensino, a igualdade de condições de acesso e um complemento e não um substitutivo do ensino ministra-
permanência na escola (art. 206, inciso I), acrescentando que do na rede regular para todos os alunos. Mas, na LDB/1996
o dever do Estado com a educação será efetivado median- (art. 58 e seguintes) consta que a substituição do ensino re-
te a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, gular pelo ensino especial é possível.
da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de Segundo a opinião de juristas brasileiros ligados ao Mi-
cada um (art. 208, V). nistério Público Federal, (Fávero e Ramos, 2002), essa subs-
Quando garante a todos o direito à educação e ao aces- tituição não está de acordo com a Constituição, que prevê
so à escola, a Constituição Federal não usa adjetivos e assim atendimento educacional especializado, e não educação
sendo, toda escola deve atender aos princípios constitucio- especial e somente prevê esse atendimento para os porta-
nais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua dores de deficiência, justamente por este atendimento refe-
origem, raça, sexo, cor, idade ou deficiência. rir-se ao oferecimento de instrumentos de acessibilidade à
Apenas esses dispositivos bastariam para que não se educação.
negasse a qualquer pessoa, com e sem deficiência, o acesso A utilização de métodos que contemplem as mais di-
à mesma sala de aula que qualquer outro aluno. Um dos ar- versas necessidades dos estudantes, inclusive eventuais ne-
gumentos sobre a impossibilidade prática da inclusão total cessidades especiais, deve ser regra no ensino regular e nas
aponta os casos de alunos com deficiências severas, múlti- demais modalidades de ensino, como a Educação de Jovens
plas, notadamente a deficiência mental, os casos de autismo. e Adultos, a Educação Profissional, não se justificando a ma-
A Constituição, contudo, garante a educação para todos nutenção de um ensino especial, apartado.
e isso significa que é para todos mesmo e, para atingir o Além do mais, após a LDB/1996, surgiu uma nova le-
pleno desenvolvimento humano e o preparo para a cidada- gislação, que revoga as disposições anteriores que lhe são
nia, entende-se que essa educação não pode realizar-se em contrárias. Trata-se da Convenção Interamericana para a
ambientes segregados. Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Pessoa Portadora de Deficiência, celebrada na Guatemala,
No Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, em maio de 1999.
artigo 205 a Constituição prescreve em seu art. 208, que o O Brasil é signatário desse documento, que foi aprovado
dever do Estado com a educação será efetivado mediante a pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº
garantia de: [...]” atendimento educacional especializado aos 198, de 13 de junho de 2001, e promulgado pelo Decreto nº
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular 3.956, de 08 de outubro de 2001, da Presidência da Repú-
de ensino”. blica. Este documento, portanto, tem valor de norma consti-
O preferencialmente refere-se a atendimento educacio- tucional, já que se refere a direitos e garantias fundamentais
nal especializado, ou seja, o que é necessariamente diferente da pessoa humana.
no ensino para melhor atender às especificidades dos alunos A importância dessa Convenção está no fato de que dei-
com deficiência, abrangendo principalmente instrumentos xa clara a impossibilidade de diferenciação com base na de-
necessários à eliminação das barreiras que as pessoas com ficiência, definindo a discriminação como [...] “toda diferen-
deficiência naturalmente têm para relacionar-se com o am- ciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, ante-
biente externo, como por exemplo: ensino da Língua Brasi- cedente de deficiência, consequência de deficiência anterior
leira de Sinais - LIBRAS, do código “Braille”, uso de recursos ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha
de informática, e outras ferramentas e linguagens que preci- o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimen-
sam estar disponíveis nas escolas ditas regulares. to, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de
Na concepção inclusiva e na lei, esse atendimento espe- deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fun-
cializado deve estar disponível em todos os níveis de ensino, damentais (art. I, nº 2“a”).
de preferência na rede regular desde a educação infantil à
Universidade. De fato, pois este é o ambiente escolar que nos

84
GESTÃO PEDAGÓGICA

A mesma Convenção esclarece, no entanto, que não que os futuros professores aprendam práticas de ensino
constitui discriminação [...]” a diferenciação ou preferência adequadas às diferenças.
adotada para promover a integração social ou o desenvol- O acesso a todas as séries do ensino fundamental (obri-
vimento pessoal dos portadores de deficiência, desde que a gatório) deve ser incondicionalmente garantido a todos.
diferenciação ou preferência não limite em si mesma o di- Para tanto, os critérios de avaliação e de promoção, com
reito à igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obri- base no aproveitamento escolar e previstos na LDB/1996
gadas a aceitar tal diferenciação ou preferência” (art. I, nº 2, (art. 24), devem ser reorganizados, de forma a cumprir os
“b”). princípios constitucionais da igualdade de direito ao acesso
Como em nossa Constituição consta que educação visa e permanência na escola, bem como do acesso aos níveis
ao pleno desenvolvimento humano e ao seu preparo para mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,
o exercício da cidadania (art. 205), qualquer restrição ao segundo a capacidade de cada um.
acesso a um ambiente marcado pela diversidade, que reflita Os serviços de apoio especializado, tais como os de
a sociedade como ela é, como forma efetiva de preparar a intérpretes de língua de sinais, aprendizagem do sistema
pessoa para a cidadania, seria uma “diferenciação ou prefe- “Braille” e outros recursos especiais de ensino e de apren-
rência” que estaria limitando “em si mesma o direito à igual- dizagem, não substituiriam, como ainda ocorre hoje, as fun-
dade dessas pessoas”. ções do professor responsável pela sala de aula da escola
Essa norma, portanto, não se coaduna com a LDB/1996, regular.
que diferencia a educação com base em condições pessoais As creches e escolas de educação infantil dentro de
do ser humano, no caso a deficiência, admitindo a substi- sua atual e reconhecida função de cuidar e educar, não po-
tuição do direito de acesso à educação pelo atendimento dem mais deixar de receber crianças PNEE, a partir de zero
ministrado apenas em ambientes “especiais”. anos (art. 58, § 3º, LDB c.c. o art. 2º, inciso I, alínea “a”, da Lei
Ademais, a LDB/1996 não contempla o direito de opção 7.853/89), oferecendo-lhes cuidados diários que favoreçam
das pessoas com deficiência e de seus pais ou responsáveis, sua estimulação precoce, sem prejuízo dos atendimentos
limitando-se a prever as situações em que se dará a edu- clínicos individualizados que, se não forem oferecidos no
cação especial, normalmente, na prática, por imposição da mesmo ambiente, devem ser realizados convênios para faci-
escola ou rede. litação do atendimento da criança.
Para esta nova corrente de interpretação jurídica da edu- Como se estes motivos não bastassem para que a inclu-
cação para pessoas com deficiência, as escolas atualmente são escolar revirasse o nosso quadro educacional de cabeça
inscritas como “especiais” devem, então, por força desta lei, para baixo, a fim de que o conhecêssemos pelo avesso, te-
rever seus estatutos, pois, pelos termos da Convenção da mos ainda de considerar a organização pedagógica de nos-
Guatemala, a escola não pode se intitular de “especial”, com sas escolas.
base em diferenciações fundadas na deficiência das pessoas
que pretende receber. A Convenção da Guatemala não está A questão das mudanças
sendo cumprida, e para esse fim, não há necessidade de re-
vogação expressa da LDB/96, pois a sua revogação, no que Os caminhos propostos por nossas políticas (equivoca-
se refere à Educação Especial, já ocorreu com a internaliza- das?) de educação continuam insistindo em “apagar incên-
ção da Convenção à nossa Constituição. dios”. Elas não avançam como deveriam, acompanhando as
Segundo os nossos juristas, nada impede, portanto, que inovações e não questionam a produção da identidade e da
os órgãos responsáveis pela emissão de atos normativos in- diferença nas escolas. Continuam mantendo um distancia-
fralegais e administrativos relacionados à Educação (Conse- mento das verdadeiras questões que levam à exclusão es-
lhos de Educação de todos os níveis, Ministério da Educação colar.
e Secretarias), emitam diretrizes para a educação básica, em Na verdade, estamos acompanhando par e passo os
seus respectivos âmbitos, considerando os termos da Con- países mais desenvolvidos em educação escolar, no que diz
venção da Guatemala no Brasil, com orientações adequa- respeito ao conhecimento das inovações educacionais e te-
das e suficientes para que as escolas em geral recebam com mos clareza de seus benefícios, quando devidamente ado-
qualidade a todas as crianças e adolescentes. tadas pelas escolas. Afinal, vivemos em um mundo globali-
zado, onde as novidades correm, as notícias chegam rápido
Em resumo, para os defensores da inclusão escolar é para todos.
indispensável que os nossos estabelecimentos de ensino Mas, mas, mas... Por que não constatamos a presença
eliminem barreiras arquitetônicas e adotem métodos e prá- dessas inovações em nosso cotidiano escolar? Onde esta-
ticas de ensino adequados às diferenças dos alunos em ge- riam sendo bloqueadas? O que impede que essas novidades
ral, oferecendo alternativas que contemplem a diversidade, sejam bem recebidas pelos professores? Que razões exis-
além de recursos de ensino e equipamentos especializados, tem para que elas não estejam provocando modificações no
que atendam a todas as necessidades educacionais dos modo de planejar, de executar, de avaliar os processos edu-
educandos, com e sem deficiências, mas sem discriminações cativos e quais os motivos pelos quais não estão ensejando
(Mantoan, 1999, 2001; Forest, 1985). a busca de alternativas de reestruturação dos currículos aca-
Todos os níveis dos cursos de formação de professores, dêmicos e de toda a organização do trabalho pedagógico
devem sofrer modificações nos seus currículos, de modo nas escolas?

85
GESTÃO PEDAGÓGICA

Penso que não levamos a sério os nossos compromis- alunos de sua reprodução, nas aulas e nas provas. A divisão
sos educacionais, como os outros povos, neste e em outros do currículo em disciplinas como a Matemática, a Língua
momentos de nossa história educacional. Desrespeitamos o Portuguesa etc. fragmenta e especializa os saberes e faz de
que nós mesmos nos dispusemos a realizar, quando defi- cada matéria escolar um fim em si mesmo e não um dos
nimos nossos planos escolares, nosso planejamento peda- meios de que dispomos para esclarecer o mundo em que
gógico, quando escolhemos as atividades que desenvolve- vivemos e para entender melhor a nós mesmos.
remos com nossas turmas e avaliamos o desempenho de O tempo de aprender é o das séries escolares, porque
nossos alunos e o nosso, como professores. Uma coisa é o é necessário hierarquizar a complexidade do conhecimento,
que está escrito e outra coisa é o que acontece, verdadeira- sequenciar as etapas de sua aprendizagem, mesmo sendo
mente, nas salas de aula, no dia-a-dia, nas nossas rotinas de este o básico, o elementar do saber. Uma escala de valores
trabalho. Somos, certamente, bem pouco sinceros conosco também é atribuída às disciplinas, em que a Matemática rei-
mesmos, com a comunidade escolar, com os pais e com os na absoluta, como a mais importante e poderosa, enquanto
nossos alunos, principalmente! as Artes, a Educação Física quase sempre estão lá para trás.
Por isso podemos ter propostas educacionais avança- O erro tem de ser banido, pois o que é “passado” aos
das, sem precisar “suar a camisa” para colocá-las em ação. alunos pelo professor é uma verdade pronta, absoluta e
Uma das maiores barreiras para se mudar a educação é imutável. Reprovam-se, então, os que tentam transformá-la
a ausência de desafios, ou melhor, a neutralização de todos ou estão processando a sua construção, autonomamente.
os desequilíbrios que eles podem provocar na nossa velha Com esse perfil organizacional, podemos imaginar o
forma de ensinar. E, por incrível que pareça, essa neutraliza- impacto da inclusão na maioria das escolas, especialmente
ção vem do próprio sistema que se dispõe a se modificar, quando se entende que incluir é não deixar ninguém de fora
que está investindo na inovação, nas reformas do ensino da escolar regular, ou seja, ensinar a todos os alunos, indis-
para melhorar a sua qualidade. tintamente!
Se o momento é o de enfrentar as mudanças provoca- É como se o espaço escolar fosse de repente invadido
das pela inclusão escolar, logo distorcemos o sentido dessa e todos os seus domínios tomados de assalto. A escola se
inovação, até mesmo no discurso pedagógico, reduzindo-a sente ameaçada por tudo o que ela criou para se proteger
a um grupo de alunos (no caso, as pessoas com deficiên- da vida que existe para além de seus muros e paredes – no-
cia), e continuamos a excluir tantos outros alunos e mesmo vos saberes, novos alunos, outras maneiras de resolver pro-
a restringir a inserção dos alunos com deficiência aos que blemas, de avaliar a aprendizagem, outras “artes de fazer”,
conseguem “acompanhar” as suas turmas escolares! como nos diria Michel de Certeau, um autor que todos nós,
Logo, tratamos de encontrar meios para facilitar a in- professores, deveríamos de conhecer a fundo. Este pensador
trodução de uma inovação, fazendo o mesmo que se fazia francês, não conformista, nos deixou uma obra original, em
antes, mas sob uma outra designação ou em um local di- que destacou a criatividade das pessoas em geral, oculta em
ferente, como é o caso de se incluir crianças e jovens nas um emaranhado de táticas e astúcias, que inventam para si
salas de aula comuns, mas com todo o staff do ensino es- mesmos, com a finalidade de reagir, de uma maneira própria
pecial por detrás, sem que com isso seja necessário rever as e sutil ao cotidiano de suas vidas. A invenção do cotidiano,
práticas excludentes do ensino regular. Válvulas de escape como ele nomeou um de seus livros, é o que fazemos para
como o reforço paralelo, o reforço continuado, os currículos sair da passividade, da rotina costumeira e das estratégias
adaptados etc, continuam sendo modos de discriminar alu- que vêm de cima para disciplinar o nosso comportamento,
nos que não damos conta de ensinar e de nos escondermos os nossos pensamentos e intenções... Temos, sim, a capaci-
de nossas próprias incompetências. dade silenciosa e decisiva de enfrentar o dia-a-dia das im-
posições e de toda regulamentação e controle que nos apri-
A inclusão pegou as escolas de calças curtas. Esse é um sionam e descaracterizam nossa maneira de ser e de fazer
dado irrefutável. E o nível de escolaridade que mais parece frente às nossa tarefas e responsabilidades. Mas precisamos
ter sido atingido por essa inovação é o ensino fundamental. identificar e tirar proveito dessa possibilidade.
Uma análise desse contexto escolar é importante, se
quisermos entender a razão de tanta dificuldade e perple- Conhecemos os argumentos pelos quais a escola tradi-
xidade diante da inclusão, especialmente quando o inserido cional resiste à inclusão; eles refletem a sua incapacidade de
é um aluno com deficiência. É também mais uma possibili- atuar diante da complexidade, da diversidade, da variedade,
dade de apontarmos, a razão de se propor inclusão escolar, do que é real nos seres e nos grupos humanos. Os alunos
com urgência e determinação, como objetivo primordial dos não são virtuais, objetos categorizáveis. Eles existem de fato,
sistemas educativos. são pessoas que provêm de contextos culturais os mais va-
Os alunos do ensino fundamental estão organizados riados; representam diferentes segmentos sociais. Produzem
por séries nas escolas, o currículo é estruturado por disci- e ampliam conhecimentos e têm desejos, aspirações, valo-
plinas e o seu conteúdo é selecionado pelas coordenações res, sentimentos e costumes com os quais se identificam.
pedagógicas, pelos livros didáticos, enfim, por uma “inteli- Em uma palavra, esses grupos de pessoas não são criações
gência”, que define os saberes úteis e a sequência em que da nossa razão, mas existem em lugares e tempos não fic-
devem ser ensinados, nas escolas. cionais, evoluem, são compostos de seres vivos, encarnados!
Sabemos que o ensino básico como um todo, é prisio- O aluno abstrato justifica a maneira excludente de a
neiro da transmissão dos conhecimentos acadêmicos e os escola tratar as diferenças. Assim é que se estabelecem as

86
GESTÃO PEDAGÓGICA

categorias de alunos: deficientes, carentes, comportados, in- de social e cultural que lhes confere oportunidades de ser e
teligentes, hiperativos, agressivos e tantos mais. de viver dignamente.
Por essas classificações é que se perpetuam as injusti-
ças na escola. Por detrás delas é que a escola se protege do Incluir é necessário, primordialmente, para melhorar as
aluno, na sua singularidade. Tais especificações reforçam a condições da escola de modo que nela se possam formar
necessidade de se criarem modalidades de ensino, espaços, gerações mais preparadas para viver a vida na sua plenitude,
e programas segregados, para que alguns alunos possam livremente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos
aprender. contemporizar soluções, mesmo que o preço que tenhamos
Sem dúvida, é mais fácil gerenciar as diferenças, forman- de pagar seja bem alto, pois nunca será tão alto quanto o
do classes especiais de objetos, de seres vivos, acontecimen- resgate de uma vida escolar marginalizada, uma evasão,
tos, fenômenos, pessoas... uma criança estigmatizada, sem motivos.
Confirma-se, ainda, mais uma razão de ser da inclusão
Mas, como não há mal que sempre dure, o desafio da - um motivo a mais para que a educação se atualize e para
inclusão está desestabilizando as cabeças dos que sempre que os professores aperfeiçoem as suas práticas e para que
defenderam a seleção, a dicotomização do ensino nas mo- escolas públicas e particulares se obriguem a um esforço de
dalidades especial e regular, as especializações e especialis- modernização e de reestruturação de suas condições atuais
tas, o poder das avaliações, da visão clínica do ensino e da a fim de responderem às necessidades de cada um de seus
aprendizagem. E como não há bem que sempre ature, está alunos, em suas especificidades, sem cair nas malhas da
sendo difícil manter resguardados e imunes às mudanças educação especial e suas modalidades de exclusão.
todos aqueles que colocam nos ombros dos alunos, exclusi-
vamente, a incapacidade de aprender. Inclusão: como fazer?
Os subterfúgios teóricos que distorcem propositada-
mente o conceito de inclusão, condicionada à capacidade Neste parte, vamos tratar das condições que contribuem
intelectual, social e cultural dos alunos, para atender às ex- para que as escolas se tornem espaços vivos de acolhimento
pectativas e exigências da escola precisam cair por terra com e de formação para todos os alunos e de como transformá-
urgência Porque sabemos que podemos refazer a educação -las em ambientes educacionais verdadeiramente inclusivos.
escolar, segundo novos paradigmas, preceitos, ferramentas, A intenção é ressaltar o que é típico de uma escola em que
tecnologias educacionais. todas os alunos são bem-vindas, indiscriminadamente.
As condições de que dispomos, hoje, para transformar Não adianta, contudo, admitir o acesso de todos às es-
a escola nos autorizam a propor uma escola única e para colas, sem garantir o prosseguimento da escolaridade, até
todos, em que a cooperação substituirá a competição, pois o nível que cada aluno for capaz de atingir. Ao contrário do
o que se pretende é que as diferenças se articulem e se com- que alguns ainda pensam, não há inclusão, quando a inser-
ponham e que os talentos de cada um sobressaiam. ção de um aluno é condicionada à matrícula em uma escola
Nós, professores, temos de retomar o poder da esco- ou classe especial. A inclusão deriva de sistemas educativos
la que deve ser exercido pelas mãos dos que fazem, efe- que não são recortados nas modalidades regular e especial,
tivamente, acontecer a educação. Combater a descrença e pois essas se destinam a receber alunos aos quais impomos
o pessimismo dos acomodados e mostrar que a inclusão é uma identidade, uma capacidade de aprender, de acordo
uma grande oportunidade para que alunos, pais e educado- com suas características pessoais.
res demonstrem as suas competências, poderes e responsa- Infelizmente, não estamos caminhando decisivamen-
bilidades educacionais. te na direção da inclusão, por falta de políticas públicas de
É inegável que as ferramentas estão aí, para que as mu- educação apontadas para esses novos rumos, ou por outros
danças aconteçam e para que reinventemos a escola, “des- motivos menos abrangentes, mas relevantes, como pressões
construindo” a máquina obsoleta que a dinamiza, os concei- corporativas, ignorância dos pais, acomodação dos profes-
tos sobre os quais ela se fundamenta, os pilares teórico-me- sores.
todológicos em que ela se sustenta. Por isso, sou clara ao afirmar que falta muita vontade
Os pais podem ser nossos grandes aliados na reconstru- de virar a mesa, ou melhor, de virar a escola do avesso e já
ção da nova escola brasileira. Eles são uma força estimulado- faz tempo que estamos retendo essa possibilidade de revo-
ra e reivindicadora dessa tão almejada recriação da escola, lucionar os nossos sistemas educacionais, em favor de uma
exigindo o melhor para seus filhos, com e sem deficiências, educação mais humana, mais democrática.
e não se contentando com projetos e programas que con- Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado.
tinuem batendo nas mesmas teclas e/ou maquiam o que As grandes inovações são muitas vezes a concretização do
sempre existiu. óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas que precisa
As razões para se justificar a inclusão escolar, no nosso ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos
cenário educacional não se esgotam nas questões que le- e aceito sem muitas resistências, senão aquelas que dão bri-
vantamos e comentamos neste capítulo. lho e vigor ao debate das novidades.
A inclusão também se legitima, porque a escola para Nas redes de ensino público e particular que resolveram
muitos alunos é o único espaço de acesso aos conhecimen- adotar medidas includentes de organização escolar, as mu-
tos. É o lugar que vai lhes proporcionar condições de se de- danças podem ser observadas sob três ângulos: o dos desa-
senvolver e de se tornar um cidadão, alguém com identida- fios provocados por essa inovação, o das ações no sentido

87
GESTÃO PEDAGÓGICA

de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o trabalho de do em todos os alunos ou ensino especial para algumas?
formação de professores; e, finalmente, o das perspectivas Professores que se aperfeiçoam para exercer suas funções,
que se abrem à educação escolar, a partir de sua implemen- atendendo às peculiaridades de todos os alunos, ou profes-
tação. sores especializados para ensinar aos que não aprendem e
No começo de tudo está o princípio democrático da aos que não sabem ensinar?
educação para todos. E ele só se evidencia nos sistemas Do meu ponto de vista, é preciso mudar a escola e mais
educacionais que se especializam em todos os alunos, não precisamente o ensino nelas ministrado. A escola aberta a
apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. todos é o grande alvo e, ao mesmo tempo, o grande proble-
ma da educação nestes novos tempos.
A inclusão é uma inovação que implica em um esforço Mudar a escola é enfrentar muitas frentes de trabalho,
de modernização e de reestruturação das condições atuais cujas tarefas fundamentais, do meu ponto de vista, são:
da maioria de nossas escolas, especialmente as de nível bá-
• recriar o modelo educativo escolar, tendo como eixo o
sico, a que se chegar, quando a escola comum assume que
ensino para todos;
as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas
resultam em grande parte do modo como o ensino é minis- • reorganizar pedagogicamente as escolas, abrindo es-
trado, a aprendizagem é concebida e avaliada. paços para que a cooperação, o diálogo, a solidarie-
Para mudar as condições excludentes de ensino de nos- dade, a criatividade e o espírito crítico sejam exercita-
sas escolas enfrentam-se inúmeros desafios. Eu, particular- dos nas escolas, por professores, administradores, fun-
mente, sou muito criticada pelo meu radicalismo, ao conde- cionários e alunos, porque são habilidades mínimas
nar as medidas pelas quais as escolas têm reagido às dife- para o exercício da verdadeira cidadania;
renças. Conheço a escola por dentro e aprendi a entendê-la,
• garantir aos alunos tempo e liberdade para aprender
vivenciando o seu cotidiano. Falo da escola e não sobre a
e um ensino que não segrega e reprova a repetência;
escola e, assim sendo, sou bastante segura ao denunciar o
velho e ao sugerir a sua revitalização. • formar, aprimorar continuamente e valorizar o profes-
Recentemente, ao proferir uma palestra para um grupo sor para que tenha condições e estímulo para ensinar
de professores, quiseram me apertar contra a parede! No a turma toda, sem exclusões e exceções;
momento das perguntas, senti que não seria fácil conter a
“ira” dos que se aproveitam desse espaço para colocar em Essas tarefas serão comentadas a seguir.
apuros os palestrantes e ganhar a plateia com posições con-
trárias à mesa. Recriar o modelo educativo
Um jovem professor tomou a palavra e me disse: “A es-
cola a que a professora está se referindo não é uma utopia? Não se pode encaixar um projeto novo, como é o caso
Uma fantasia, ou melhor, a escola ideal? Nós enfrentamos da inclusão, em uma velha matriz de concepção escolar; daí
todos os dias a realidade das nossas escolas e acho que es- a necessidade de se recriar o modelo educacional vigente.
tamos falando de escolas muito diferentes, não acha?” As escolas que reconhecem e valorizam as diferenças
Eu respondi-lhe assim: “Professor, penso que é exata- têm projetos inclusivos de educação e o ensino que minis-
mente o contrário. Quem está sempre falando e imaginando tram difere radicalmente do proposto para atender às es-
a escola ideal me parece que é o senhor e tantos outros pecificidades dos educandos que não conseguem acompa-
que me julgam utópica, idealista! Eu falo de um aluno que nhar seus colegas de turma, por problemas que vão desde
existe, concretamente, que se chama Pedro, Ana, André... Eu as deficiências até outras dificuldades de natureza relacional,
trabalho com as peculiaridades de cada um e considerando motivacional, cultural dos alunos. Nesse sentido, elas con-
a singularidade de todas as suas manifestações intelectuais, testam e não adotam o que é tradicionalmente utilizado
sociais, culturais, físicas. Trabalho com alunos de carne e para dar conta das diferenças nas escolas: as adaptações de
osso. Não tenho alunos ideais, tenho, simplesmente, alu- currículos, a facilitação das atividades, além dos programas
nos e não almejo uma escola ideal, mas a escola, tal como para reforçar aprendizagens, ou mesmo para acelerá-las, em
se apresenta, em suas infinitas formas de ser. Não me sur- casos de defasagem idade/séries escolares.
preende a criança, o jovem e o adulto nas suas diferenças, Superar o sistema tradicional de ensinar é um propósi-
pois não conto com padrões e modelos de alunos “normais to que temos de efetivar com toda a urgência, nas salas de
“que aprendemos a definir, nas teorias que estudamos. Se aula. Essa superação refere-se ao que ensinamos aos nossos
eu estivesse me baseando nessa escola idealizada, não te- alunos e ao como ensinamos para que eles cresçam e se
ria a resistência de tantos, pois estaria continuando a falar desenvolvam, sendo seres éticos, justos e revolucionários,
de uma escola imaginada pela maioria, em que, certamente, pessoas que têm de reverter uma situação que não conse-
não cabem todos os alunos, só os que se encaixam em nos- guimos resolver inteiramente: mudar o mundo e torná-lo
sos pretensos modelos e estereótipos! mais humano. Recriar esse modelo tem a ver com o que en-
tendemos como qualidade de ensino.
A escola real, ou seja, aquela que não queremos encarar, Infelizmente ainda vigora a visão conservadora de que
coloca-nos, entre muitas outras, estas questões de base, que as escolas de qualidade são as que enchem as cabeças dos
insisto em colocar: muda a escola ou mudam os alunos, para alunos com datas, fórmulas, conceitos justapostos, frag-
se ajustarem às suas velhas exigências? Ensino especializa- mentados. A qualidade desse ensino resulta do primado e

88
GESTÃO PEDAGÓGICA

da supervalorização do conteúdo acadêmico em todos os Reorganizar as escolas – aspectos pedagógicos e admi-


seus níveis. Persiste a ideia de que as escolas consideradas nistrativos
de qualidade são as que centram a aprendizagem no racio- Para universalizar o acesso, ou seja, a inclusão de todos,
nal, no aspecto cognitivo do desenvolvimento e que avaliam incondicionalmente, nas turmas escolares e democratizar a
os alunos, quantificando respostas-padrão. Seus métodos e educação, muitas mudanças já estão acontecendo em algu-
práticas preconizam a exposição oral, a repetição, a memo- mas escolas e redes públicas de ensino - vitrines que ex-
rização, os treinamentos, o livresco, a negação do valor do põem o sucesso da inclusão.
erro. São aquelas escolas que estão sempre preparando o A reorganização das escolas depende de um encadea-
aluno para o futuro: seja este a próxima série a ser cursada, o mento de ações que estão centradas no projeto político-
nível de escolaridade posterior, os exames vestibulares para -pedagógico. Esse projeto, que já se chamou de plano de
a Universidade! curso e de outros nomes parecidos, é uma ferramenta de
vital importância para que as diretrizes gerais da escola se-
Uma escola se distingue por um ensino de qualidade, jam traçadas com realismo e responsabilidade. Não faz parte
capaz de formar pessoas, nos padrões requeridos por uma da cultura escolar a proposição de um documento de tal
sociedade mais evoluída e humanitária, quando consegue natureza e extensão, elaborado com autonomia e participa-
aproximar os alunos entre si, tratar as disciplinas como ção de todos os segmentos que a compõem. Ele parte do
meios de conhecer melhor o mundo e as pessoas que nos diagnóstico da demanda, penetra fundo nos pontos positi-
rodeiam e ter como parceiras as famílias e a comunidade na vos e fracos dos trabalhos desenvolvidos, define prioridades
elaboração e cumprimento do projeto escolar. de atuação, objetivos, propõe iniciativas, ações, com metas e
Tem-se um ensino de qualidade a partir de condições responsáveis para coordená-las.
de trabalho pedagógico que implicam em formação de re- Os dados do projeto-político pedagógico esclarecem o
des de saberes e de relações, que se enredam por caminhos diretor, os professores, coordenadores, funcionários e pais
imprevisíveis para chegar ao conhecimento; existe ensino de sobre a clientela, os recursos, humanos e materiais, de que
qualidade quando as ações educativas se pautam por so- a escola dispõe.
lidariedade, colaboração, compartilhamento do processo Os currículos, a formação das turmas, as práticas de en-
educativo com todos os que estão direta ou indiretamente sino, a avaliação são aspectos da organização pedagógica
nele envolvidos. das escolas e serão revistos e modificados com base no que
A aprendizagem nessas circunstâncias é acentrada, ora for definido pelo projeto político pedagógico de cada es-
sobressaindo o lógico, o intuitivo, o sensorial, ora os aspec- cola. Sem os conhecimentos levantados por esse projeto é
tos social e afetivo dos alunos. Nas práticas e métodos pe- impossível elaborar currículos que reflitam o meio social e
dagógicos predominam a experimentação, a criação, a des- cultural do alunado.
coberta, a coautoria do conhecimento. Vale o que os alunos
são capazes de aprender hoje e o que podemos lhes ofere- Para se integrar áreas do conhecimento e se atingir a
cer de melhor para que se desenvolvam em um ambiente concepção transversal de novas propostas não disciplinares
rico e verdadeiramente estimulador de suas potencialidades. de organização curricular, o sentido das disciplinas acadêmi-
Em uma palavra, as escolas de qualidade são espaços cas muda – elas passam a ser meios e não fins em si mesmas.
educativos de construção de personalidades humanas au- O estudo das disciplinas partirá das experiências de vida dos
tônomas, críticas, nos quais os alunos aprendem a ser pes- alunos, os seus saberes e fazeres, significados, vivências para
soas. Nesses ambientes educativos ensinam-se os alunos a chegar à sistematização dos conhecimentos.
valorizar a diferença pela convivência com seus pares, pelo Como essas experiências variam entre os alunos, mesmo
exemplo dos professores, pelo ensino ministrado nas salas sendo membros de uma mesma comunidade, a implantação
de aula, pelo clima socioafetivo das relações estabelecidas dos ciclos de formação é uma solução justa e muito adequa-
em toda a comunidade escolar - sem tensões competitivas, da para se mudar os critérios de agrupamento escolar atuais.
solidário, participativo. Escolas assim concebidas não ex- Embora ainda pouco compreendidos pelos professores e
cluem nenhum aluno de suas classes, de seus programas, de pais, por ser uma novidade e por não ter sido bem explicado
suas aulas, das atividades e do convívio escolar mais amplo. em seus fins, os ciclos tiveram seus objetivos esvaziados e
São contextos educacionais em que todos os alunos têm distorcidos. Foram confundidos com junção de séries esco-
possibilidade de aprender, frequentando uma mesma e úni- lares, como exemplo: 1º ciclo compreendendo a junção da
ca turma. 1ª e 2ª séries e assim por diante.
Essas escolas são, realmente abertas às diferenças e ca- Os ciclos de formação provocam mudanças na avaliação
pazes de ensinar a turma toda. A possibilidade de se ensinar do desempenho escolar dos alunos, ao concederem-lhes
todos os alunos, sem discriminações e sem métodos e prá- mais tempo para aprender, eliminando a seriação e articu-
ticas do ensino especializado deriva de uma reestruturação lando o processo de aprendizagem com o ritmo e condições
do projeto pedagógico-escolar como um todo e das refor- de desenvolvimento dos aprendizes.
mulações que esse projeto exige da escola, para que esta se O ensino individualizado/diferenciado para os alunos
ajuste a novos parâmetros de ação educativa. que apresentam déficits intelectuais, problemas de apren-
dizagem é uma solução que não corresponde aos princípios
inclusivos, pois não podemos diferenciar um aluno pela sua
deficiência, como já nos referimos no capítulo em que tra-

89
GESTÃO PEDAGÓGICA

tamos das questões legais da inclusão e nos remetemos à Ao serem modificados os rumos da administração es-
Convenção da Guatemala. Na visão inclusiva, o ensino di- colar, os papéis e a atuação do diretor, coordenadores, su-
ferenciado continua segregando e discriminando os alunos pervisores e funcionários perdem o caráter controlador, fis-
dentro e fora das salas de aula. calizador e burocrático de suas funções e readquirem teor
pedagógico, deixando de existir os motivos pelos quais es-
A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas ses profissionais ficam confinados em seus gabinetes, sem
de ensino específicas para esta ou aquela deficiência e/ou tempo para conhecer e participar mais intensiva e direta-
dificuldade de aprender. Os alunos aprendem nos seus limi- mente do que acontece nas salas de aula e demais ambien-
tes e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor tes educativos das escolas.
levará em conta essa condição e explorará convenientemen-
te as possibilidades de cada um. Não se trata de uma acei- Ensinar a turma toda – sem exceções e exclusões
tação passiva do desempenho escolar, mas de agirmos com
realismo e coerência e admitirmos que as escolas existem Para ensinar a turma toda, parte-se do fato de que os
para formar as novas gerações, e não apenas alguns de seus alunos sempre sabem alguma coisa, de que todo educando
futuros membros, os mais capacitados e privilegiados. pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe são pró-
Eis aí um grande desafio a ser enfrentado quando nos prios. Além do mais, é fundamental que o professor nutra
propomos a reorganizar as escolas, cujo paradigma é meri- uma elevada expectativa em relação à capacidade dos alu-
tocrático, elitista, condutista, e baseado na transmissão dos nos de progredir e não desista nunca de buscar meios que
conhecimentos, não importa o quanto estes possam ser possam ajudá-los a vencer os obstáculos escolares.
acessíveis ou não aos alunos. O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos,
É certo que não se consegue predeterminar a extensão atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais
e a profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos de cada aluno. As dificuldades e limitações são reconheci-
alunos, nem facilitar/adaptar as atividades escolares para al- das, mas não conduzem/restringem o processo de ensino,
guns, porque somos incapazes de prever, de antemão, as como comumente acontece.
dificuldades/ facilidades que cada um poderá encontrar para Como não me canso de dizer, ensinar, atendendo às
realizá-las. Porque é o aluno que se adapta ao novo conheci- diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para
mento e só ele pode regular o processo de construção inte- cada um, depende, entre outras condições, de se abandonar
lectual. A maioria dos professores não pensa assim e nem é um ensino transmissivo e de se adotar uma pedagogia ativa,
alertada para esse fato e se apavora, com razão, ao receber dialógica, interativa, integradora, que se contrapõe a toda e
alunos com deficiência ou com problemas de aprendizagem qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, indi-
em suas turmas, pois prevê como será difícil dar conta das vidualizada e hierárquica do saber.
diferenciações que um pretenso ensino inclusivo lhes exigirá.
A educação não disciplinar (Gallo, 1999), reúne essas
Uma outra situação, que implica em recriação dos es- condições, ao propor:
paços educativos de trabalho escolar é a que diz respeito
• rompimento das fronteiras entre as disciplinas curri-
ao trabalho em sala de aula, ainda muito marcado pela in-
culares;
dividualização das tarefas, neste caso, pelo próprio aluno,
que trabalha na maior parte do tempo sozinho e solitário, • formação de redes de conhecimento e de significa-
em sua carteira, mesmo que as atividades sejam comuns a ções, em contraposição a currículos conteudistas, a
todos. Ao propiciar uma reviravolta nesse sentido, por meio verdades prontas e acabadas, listadas em programas
de experiências de trabalho coletivo, em pequenos grupos e escolares seriados;
diversificados, exercitamos: (1) a capacidade de decisão dos
• integração de saberes, decorrente da transversalidade
alunos diante da escolha de tarefas; (2) a divisão e o com-
curricular e que se contrapõe ao consumo passivo de
partilhamento das responsabilidades com seus pares; (3) o
informações e de conhecimentos sem sentido.
desenvolvimento da cooperação; (4) o sentido e a riqueza da
produção em grupo; (5) o reconhecimento da diversidade • policompreensões da realidade;
dos talentos humanos e a valorização do trabalho de cada
pessoa para a consecução de metas que lhes são comuns. • descoberta, inventividade e autonomia do sujeito, na
Um hábito extremamente útil e natural, e que tem sido conquista do conhecimento;
muito pouco promovido nas escolas, é o de os alunos se • ambientes polissêmicos, favorecidos por temas de es-
apoiarem mutuamente, nas atividades de sala de aula. tudo que partem da realidade, da identidade social e
A reorganização administrativa e os papéis desempe- cultural dos alunos, contra toda a ênfase no primado
nhados pelos membros da organização escolar são outros do enunciado desencarnado e no conhecimento pelo
alvos a serem alcançados. conhecimento.
A descentralização da gestão administrativa parece ser
uma questão central, pois é condição para que se promova O ponto de partida para se ensinar a turma toda, sem
uma maior autonomia pedagógica, administrativa e finan- diferenciar o ensino para cada aluno ou grupo de alunos é
ceira de recursos materiais e humanos das escolas, por meio entender que a diferenciação é feita pelo aluno, ao aprender
dos Conselhos, Colegiados, Assembleias de pais e de alunos. e não pelo professor, ao ensinar! Essa inversão é fundamen-

90
GESTÃO PEDAGÓGICA

tal para que se possa ensinar a turma toda, naturalmente, • organizar de modo fragmentado o emprego do tem-
sem sobrecarregar inutilmente o professor (para produzir po do dia letivo para apresentar o conteúdo estanque
atividades e acompanhar grupos diferentes de alunos) e al- desta ou daquela disciplina e outros expedientes de
guns alunos (para que consigam se “igualar” aos colegas de rotina das salas de aula;
turma).
• considerar a prova final, como decisiva na avaliação
Buscar essa igualdade como produto final da aprendi-
do rendimento escolar do aluno.
zagem é fazer educação compensatória, em que se acredita
na superioridade de alguns, inclusive a do professor; e na
Essas práticas configuram o velho e conhecido ensino
inferioridade de outros alunos, que são menos dotados, me-
para alguns alunos - e para alguns, em alguns momentos,
nos informados e esclarecidos, desde o início do processo
algumas disciplinas, atividades e situações de sala de aula.
de aprendizagem curricular.
É assim que a exclusão se alastra e se perpetua, atingin-
O mito de que o professor é o que tem a chave do saber
do a todos os alunos, não apenas os que apresentam uma
para melhor explicar e dosar os conhecimentos que o aluno
dificuldade maior de aprender ou uma deficiência específica.
vai/deve aprender precisa cair. Defendemos um ensino que
Há alunos que rejeitam propostas descontextualizadas
emancipa e não submete os alunos intelectualmente.
de trabalho escolar, sem sentido e atrativos intelectuais; eles
Debates, pesquisas, registros escritos/falados, observa-
protestam a seu modo, contra um ensino que não os desafia
ção, vivências são alguns processos pedagógicos indicados
e não atende às suas motivações e interesses pessoais.
para a realização das atividades escolares. Tais processos
O ensino seletivo é ideal para gerar indisciplina, compe-
dependem dos conteúdos curriculares para esclarecer os as-
tição, discriminação, preconceitos e para categorizar os bons
suntos em estudo, mas os conteúdos são sempre considera-
e os maus alunos, por critérios que são, no geral, infundados.
dos como meios e não como fins do ensino escolar.
As desigualdades tendem a se agravar quanto mais
Suprimir o caráter classificatório de notas, provas e
especializamos o ensino para alguns alunos. Essa desigual-
substituí-lo por uma visão diagnóstica da avaliação escolar é
dade, que no geral se inicia no âmbito escolar, expande-se
indispensável, quando se ensina a turma toda. Para ser coe-
para outros domínios e áreas, marcando indelevelmente as
rente com essa novidade, o professor priorizará a avaliação
pessoas atingidas.
do desenvolvimento das competências dos alunos, diante
Não se pode imaginar uma educação para todos, quan-
de situações–problema em detrimento da memorização de
do caímos na tentação de constituir grupos de alunos por
informações e da reprodução de conhecimentos, sem com-
séries, por níveis de desempenho escolar e determinamos
preensão, cujo objetivo é tirar boas notas e ser promovido.
para cada nível objetivos... E, mais ainda, quando encami-
O tempo de construção de uma competência varia de aluno
nhamos os que não cabem em nenhuma dessas determi-
para aluno e sua evolução é percebida por meio da mobili-
nações para classes e escolas especiais, argumentando que
zação e aplicação do que o aluno aprendeu ou já sabia para
o ensino para todos não sofreria distorções de sentido em
chegar à soluções pretendidas.
casos como esses!
A avaliação é também um instrumento de aperfeiçoa-
Essa compreensão equivocada da escola inclusiva acaba
mento e depuração do ensino e, quando a tornarmos mais
instalando cada criança em um locus escolar, arbitrariamente
adequada e eficiente, diminuiremos substancialmente o nú-
escolhido. Aumenta as diferenças, acentua as desigualdades,
mero de alunos excluídos das escolas.
justificando o fracasso escolar, como problema do aluno.
Para se ensinar a turma toda vamos contra certas práti-
E a atuação do professor?
cas consagradas nas escolas:
A maioria dos professores têm uma visão funcional do
• propor trabalhos coletivos, que nada mais são do que ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de traba-
atividades individuais realizadas ao mesmo tempo lho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula
pela turma; é inicialmente rejeitado. Também reconhecemos que ino-
vações educacionais como a inclusão abalam a identidade
• ensinar com ênfase nos conteúdos programáticos da
profissional e o lugar conquistado pelos professores em
série;
uma dada estrutura ou sistema de ensino, atentando con-
• adotar o livro didático, como ferramenta exclusiva de tra a experiência, os conhecimentos e o esforço que fizeram
orientação dos programas de ensino; para adquiri-los.
O professor que ensina a turma toda não tem o falar, o
• servir-se da folha mimeografada ou xerocada para
copiar e o ditar como recursos didático-pedagógicos bási-
que todos os alunos as preencham ao mesmo tempo,
cos. Ele não é um professor palestrante, identificado com a
respondendo às mesmas perguntas, com as mesmas
lógica de distribuição do ensino e que pratica a pedagogia
respostas;
unidirecional do ‘A’ para ‘B’ e do ‘A ‘sobre ‘B’, como afirmou
• propor projetos de trabalho totalmente desvinculados Paulo Freire, nos idos de 1978, mas aquele que partilha com
das experiências e do interesse dos alunos, que só ser- seus alunos a construção/autoria dos conhecimentos pro-
vem para demonstrar a pseudo adesão do professor duzidos em uma aula.
às inovações;

91
GESTÃO PEDAGÓGICA

O ensino expositivo foi banido da sua sala de aula, onde precisão de conceitos distorce a finalidade de ações que
todos interagem e constroem ativamente conceitos, valores, precisam ser concretizadas com urgência e muita clareza de
atitudes. Esse professor explora os espaços educacionais propósitos, retardando a inclusão.
com seus alunos, buscando perceber o que cada um deles Por que os professores reagem, inicialmente à formação
consegue apreender do que está sendo estudado e como em serviço, aos meus moldes de trabalho?
procedem ao avançar nessa exploração.
Certamente um professor que engendra e participa da Tenho algumas hipóteses:
caminhada do saber com seus alunos consegue entender a) por terem internalizado o papel de praticantes, eles
melhor as dificuldades e as possibilidades de cada um e pro- esperam que os formadores lhes ensinem a trabalhar, na prá-
vocar a construção do conhecimento com maior adequação. tica, com turmas de alunos heterogêneas, a partir de aulas,
manuais, regras, transmitidas e conduzidas por formadores,
Ensinar a turma toda reafirma a necessidade de se pro- do mesmo modo como ensinam, nas salas de aula;
moverem situações de aprendizagem que formem um teci- b) acreditam que os conhecimentos que lhes faltam para
do colorido de conhecimento, cujos fios expressam diferen- ensinar alunos com deficiência ou dificuldade de aprender
tes possibilidades de interpretação e de entendimento de referem-se primordialmente à conceituação, etiologia, prog-
um grupo de pessoas que atua cooperativamente. nósticos das deficiências/problemas de aprendizagem e que
Os diferentes significados que os alunos atribuem a um precisam conhecer e saber aplicar métodos e técnicas espe-
dado objeto de estudo e as suas representações vão se ex- cíficas para a aprendizagem escolar desses alunos, se tiverem
pandindo e se relacionando e revelam, pouco a pouco, uma de “aceitá-los” em suas salas de aula;
construção original de ideias que integra as contribuições de c) querem obter, o mais rápido possível, conhecimentos
cada um, antes. que resolvam problemas pontuais a partir de regras gerais.
Sem estabelecer uma referência, sem buscar o consen-
so, mas investindo nas diferenças e na riqueza de um am- Os dirigentes das redes de ensino têm expectativas se-
biente que confronta significados, desejos, experiências, o melhantes quando nos solicitam essa formação, pois estão
professor deve garantir a liberdade e a diversidade das opi- habituados a cursos que se realizam segundo outros moldes
niões dos alunos. de trabalho.
O professor, da mesma forma, não procurará eliminar as Se, de um lado, é preciso continuar investindo maciça-
diferenças em favor de uma suposta igualdade do alunado, mente na direção da formação de profissionais qualificados;
que é tão almejada pelos que apregoam a (falsa) homoge- de outro, não se pode descuidar da realização dessa forma-
neidade das salas de aula. Antes, estará atento à singularida- ção e estar atento ao modo pelo qual os professores apren-
de das vozes que compõem a turma, promovendo o diálogo dem para se profissionalizar e para aperfeiçoar seus conhe-
entre elas, contrapondo-as, complementando-as. cimentos pedagógicos, assim como reagem às novidades,
aos novos possíveis educacionais.
Preparar-se para ser um professor inclusivo? No caso de uma formação inicial e continuada direcio-
nada à inclusão escolar estamos diante de uma proposta de
O argumento mais frequente dos professores, quando trabalho que não se encaixa em uma especialização, exten-
resistem à inclusão é não estarem/não terem sido prepara- são, atualização de conhecimentos pedagógicos. Ensinar, na
dos para esse trabalho. Tentarei discutir essa preparação na perspectiva inclusiva significa ressignificar o papel do pro-
formação inicial e em serviço, sempre baseada em minha fessor, da escola, da educação e de práticas pedagógicas
experiência de formadora, nessas duas opções. que são usuais, no contexto excludente do nosso ensino, em
Há uma cisão entre o que os professores aprendem e o todos os seus níveis. Como já nos referimos anteriormente,
que colocam em prática nas suas salas de aula. a inclusão escolar não cabe em um paradigma tradicional
Na formação em serviço, os professores reagem ini- de educação e assim sendo, uma preparação do professor
cialmente à metodologia que tenho adotado, porque es- nessa direção requer um design diferente das propostas de
tão habituados a aprender de maneira fragmentada e es- profissionalização existentes e de uma formação em servi-
sencialmente instrucional. Eles esperam uma preparação ço que também muda, porque as escolas não serão mais as
para ensinar os alunos com deficiência e/ou dificuldades de mesmas, se abraçarem esse novo projeto educacional.
aprendizagem e de indisciplina, ou melhor, uma formação Essa reviravolta, que é bem mais complexa do que se
que lhes permita aplicar esquemas de trabalho pedagógico pensa na preparação de professores para a inclusão, ainda
pré-definidos às suas salas de aula, garantindo-lhes a solu- não foi bem assimilada pelos que elaboram políticas públi-
ção dos problemas que presumem encontrar nas escolas di- cas de educação, pelos que planejam ações para concreti-
tas inclusivas. Grande parte desses profissionais concebem a zá-las e é por essas e outras razões que estão sendo ofere-
formação como sendo mais um curso de extensão, de espe- cidos cursos de especialização lato sensu, sobre educação
cialização com uma terminalidade e com um certificado que inclusiva e que se sugere a inserção da disciplina Educação
lhes convalide a capacidade de ser um professor inclusivo. Inclusiva em cursos de formação de professores e profissio-
Não se trata de uma visão ingênua do que significa ser nais de áreas afins: Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia,
um professor qualificado para o ensino inclusivo, mas uma Terapia Ocupacional e outras. Falta apenas ser criada uma
concepção equivocada do que é uma formação em serviço habilitação específica nos Cursos de Pedagogia!
e do que significa a inclusão escolar. Mais uma vez a im-

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GESTÃO PEDAGÓGICA

Por tudo isso temos de ficar cada vez mais atentos, ques- O foco da formação é o desenvolvimento da compe-
tionando o que existe mas, ao mesmo tempo, apresentando tência de resolver problemas pedagógicos. Analisa-se, en-
outras maneiras de se preparar profissionais para transfor- tão, como o ensino está sendo ministrado e a construção do
mar a escola, na perspectiva de uma abertura incondicional conhecimento pelos alunos, pois esses processos interagem
às diferenças e de um ensino de qualidade. e esses dois lados - ensino e aprendizagem - devem ser ava-
Idealizei, em 1991, um projeto de formação em serviço liados sempre que se quiser esclarecê-los.
que tem sido adotado por redes de ensino públicas e esco-
las particulares brasileiras até então. Participam regularmente dos grupos de formação de
A cooperação, a autonomia intelectual e social, a apren- cada escola os professores, o seu diretor, coordenador, mas
dizagem ativa são condições que propiciam o desenvolvi- há também os grupos que se formam entre professores de
mento global de todos os professores, no processo de apri- diversas escolas, que estejam interessados em um mesmo
moramento profissional. tema de estudo, como, por exemplo, a indisciplina, a sexua-
Como se considera o professor uma referência para o lidade, a ética e a violência, a avaliação e outros assuntos
aluno e não apenas um mero instrutor, a formação enfatiza pertinentes.
a importância de seu papel tanto na construção do conheci- A equipe responsável pela coordenação da formação
mento, como na formação de atitudes e valores do cidadão. nas escolas é constituída por professores, coordenadores
Assim sendo, a formação vai além dos aspectos instrumen- sediados nas redes de ensino e por parceiros de Secretarias
tais de ensino. afins: Saúde, Esportes, Cultura e outras.
Assim como qualquer aluno, os professores não apren- Algumas redes de ensino criaram centros de gestão da
dem no vazio. Por isso a proposta de formação parte do proposta educacional da rede e de apoio e atualização dos
“saber fazer” desses profissionais, que já possuem conheci- professores. Esses núcleos representam um avanço na nova
mentos, experiências, crenças, esquemas de trabalho, ao en- direção de formação em serviço, pois além de sediar ações
trar em contato com a inclusão ou qualquer outra inovação de aprimoramento da rede, promovendo eventos de peque-
educacional. no, médio e grande porte, como workshops, seminários, en-
O exercício constante de reflexão e o compartilhamen- trevistas, com especialistas, fóruns e outras atividades. Eles
to de ideias, sentimentos, ações entre os professores, dire- reúnem os profissionais que atendem (individualmente ou
tores, coordenadores da escola é um dos pontos chave do em pequenos e grandes grupos) os professores, nas suas
aprimoramento em serviço Esse exercício é feito sobre as respectivas escolas, os pais e a comunidade. A criação des-
experiências concretas, os problemas reais, as situações do ses centros é uma maneira de nortear as ações educativas
dia-a-dia que desequilibram o trabalho, nas salas de aula. propostas pelas escolas através de seus projetos político-pe-
Eles constituem a matéria-prima das mudanças pretendidas dagógicos.
pela formação. Os profissionais que fazem parte do quadro dos centros
No questionamento da própria prática, nas compara- são supervisores de ensino, e coordenadores pedagógicos
ções, na análise das circunstâncias e dos fatos que provocam externos às escolas, que dão sustentação aos professores e
perturbações e/ou respondem pelo sucesso escolar, os pro- às equipes das unidades escolares, para que possam alcan-
fessores vão definindo, pouco a pouco, as suas “teorias pe- çar seus objetivos, ultrapassando as barreiras que os impe-
dagógicas”. A intenção é que os professores sejam capazes dem de realizar o que definiram em seus projetos de traba-
de explicar o que antes só sabiam reproduzir, a partir do que lho. Eles visitam as escolas semanalmente e atendem a três
aprendiam em cursos, oficinas, palestras, exclusivamente. A ou quatro delas, no máximo.
proposta incentiva os professores a interagirem com seus Tenho verificado com frequência que os cursos e demais
colegas regularmente, a estudarem juntos e que estejam atividades de formação em serviço, habitualmente ofereci-
abertos a colaborar, com seus pares, na busca dos caminhos dos aos professores pelas redes de ensino, nos moldes cos-
pedagógicos da inclusão. tumeiros, não estão obtendo o retorno que o investimento
O fato de professores fundamentarem suas práticas e propõe, o que justifica a minha insistência na criação desses
argumentos pedagógicos no senso comum dificulta a ex- centros, porque a existência de seus serviços redireciona o
plicitação dos problemas de aprendizagem. Essa dificuldade que já é usual nas redes de ensino, ou seja, o apoio ao pro-
pode mudar o rumo da trajetória escolar de alunos que mui- fessor, pelos professores itinerantes ou também pelos coor-
tas vezes são encaminhados indevidamente para as moda- denadores pedagógicos sediados nas escolas.
lidades do ensino especial e outras opções segregativas de
atendimento educacional. Nunca concordei com a existência de professores iti-
Daí a necessidade de se formarem grupos de estudos nerantes, pois eles atuam sobre os sintomas, oferecem
nas escolas, para a discussão e a compreensão dos proble- soluções particularizadas, locais, mas não vão a fundo nos
mas educacionais, à luz do conhecimento científico e inter- problemas e suas causas. Trata-se de mais um serviço da
disciplinarmente, se possível. Os grupos são organizados Educação Especial que neutraliza os desafios da inclusão. Na
espontaneamente pelos próprios professores, no horário maioria das vezes esse serviço impede que o professor se
em que estão nas escolas. Essas reuniões têm como ponto defronte diretamente com a responsabilidade de ensinar to-
de partida, as necessidades e interesses comuns de alguns dos os seus alunos, pois existe um especialista para atender
professores de esclarecer situações e de aperfeiçoar o modo aos casos mais difíceis, que são justamente aqueles que pro-
como trabalham nas salas de aula. vocam o professor para que mude a maneira de proceder

93
GESTÃO PEDAGÓGICA

com a turma toda. O professor itinerante/ especialista tende nas classes do ensino regular. Embora esses casos mereçam
a acomodar o professor comum, tirando-lhe a oportunida- toda atenção, o que se almeja, acima de tudo, é saber se
de de crescer, de sentir a necessidade de buscar soluções e os professores e demais integrantes das unidades escola-
não aguardar que alguém de fora venha, regularmente, para res progridem pedagogicamente, atualizando a maneira de
resolver seus problemas. Esse serviço reforça a ideia de que ensinar, a partir de novas concepções e práticas educacio-
os problemas de aprendizagem são sempre do aluno e que nais; se as escolas estão se transformando; se os alunos es-
só o especialista consegue removê-los, com adequação e tão sendo respeitados nas suas possibilidades de avançar,
eficiência. autonomamente, ao construírem conhecimentos; se estes
Se um aluno não vai bem, seja ele uma pessoa com ou conhecimentos e outros são produzidos coletivamente, nas
sem deficiência, o problema precisa ser analisado com rela- salas de aula, em clima solidário e com responsabilidade; se
ção ao ensino que está sendo ministrado para todos os de- a as relações entre os alunos, pais, professores e toda a co-
mais da turma. Ele é um indicador importante da qualidade munidade escolar se estreitaram, em laços de cooperação,
do trabalho pedagógico porque, o fato de a maioria dos alu- de diálogo, que são frutos de um exercício diário de com-
nos estarem se saindo bem, não significa que o ensino mi- partilhamento de seus deveres, problemas, sucessos.
nistrado atenda às necessidades e possibilidades de todos.
A existência de um coordenador pedagógico em cada E, finalmente...
unidade escolar, no meu ponto de vista, não tem propiciado
um bom acompanhamento/andamento do projeto-políti- Embora possa assustar pelo grande número de mudan-
co-pedagógico da escola, seja porque esse projeto não foi ças e pelo teor de cada uma delas, a inclusão é como muitos
ainda bem compreendido e valorizado, seja porque muitos a apregoam “um caminho sem volta”.
atuam em cumplicidade com os demais integrantes da uni- Nunca é demais, contudo, reafirmar as condições em
dade. Eles têm dificuldade de se distanciar dos problemas que essa inovação acontece, marcando, grifando na nossa
de sua unidade, sentem-se muito envolvidos e misturados consciência de educadores o seu valor para que nossas es-
com os seus colegas e com os alunos, para que possam to- colas atendam à expectativa dos alunos de nossas escolas,
mar certas atitudes mais ousadas e corajosas em relação aos do ensino infantil à Universidade.
professores, aos pais, à comunidade escolar como um todo. A escola prepara o futuro e de certo que, se os alunos
Os coordenadores da escola diferem muito dos coor- aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas
denadores dos centros de formação. Estes são profissionais salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós que te-
que existem para que todas as situações problemáticas se- mos de nos empenhar tanto para entender e viver a expe-
jam enfrentadas e para que, de fato, as mudanças no ensino riência da inclusão!
se concretizem com mais facilidade e com maior isenção de O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja
vieses pessoais, como os já citados. ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda
Quero deixar claro que cursos, oficinas e outros even- e qualquer mudança, especialmente no meio educacional,
tos de atualização e de aperfeiçoamento são indicados, mas convence a todos pela sua lógica e pela ética de seu posi-
quando correspondem a uma necessidade de grupos de cionamento social.
professores, que têm necessidade de certos conhecimen- Ao denunciar o abismo existente entre o velho e o novo
tos, para melhorar sua atuação, diante de assuntos muito na instituição escolar brasileira, a inclusão é reveladora dos
particularizados. Nesses casos, parcerias das redes de ensino males que o conservadorismo escolar tem espalhado pela
com grupos de pesquisa/professores das Universidades e nossa infância e juventude estudantil.
com profissionais especializados são indicadas. Mas não se Penso que o futuro da escola inclusiva depende de uma
pode excluir a possibilidade de esses cursos serem ofereci- expansão rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do
dos também por professores da própria rede de ensino, que compromisso de transformar a escola, para se adequar aos
são convidados pelo núcleo/centro, por reconhecimento do novos tempos. Se hoje ainda esses projetos se resumem a
valor da contribuição a ser propiciada aos colegas interes- experiências locais, estas estão demonstrando a viabilidade
sados. da inclusão, em escolas e redes de ensino brasileiras, porque
têm a força do óbvio e a clareza da simplicidade.
O sucesso desta proposta nas escolas aponta como in- A aparente fragilidade das pequenas iniciativas tem sido
dicadores: (1) o reconhecimento e a valorização das diferen- suficiente para enfrentar, com segurança e otimismo, o po-
ças, como elemento enriquecedor do processo de ensino e der da velha e enferrujada máquina escolar.
aprendizagem; (2) professores conscientes do modo como A inclusão é um sonho possível.
atuam, para promover a aprendizagem de todos os alunos;
(3) cooperação entre os implicados no processo educativo Fonte
- dentro e fora da escola; (4) valorização do processo so- MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que
bre o produto da aprendizagem; (5) enfoques curriculares, é? Por quê? Como fazer. São Paulo: Moderna, 2006.
metodológicos e estratégias pedagógicas que possibilitam
a construção coletiva do conhecimento.
A avaliação dos seus efeitos não se mede, portanto, pelo
aproveitamento de alguns alunos, os que apresentam difi-
culdade de aprender ou os alunos com deficiência, incluídos

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GESTÃO PEDAGÓGICA

professor. O aluno apenas executa prescrições que lhe são


MIZUKAMI, MARIA DA GRAÇA NICOLETTI. fixadas por autoridades exteriores.
ENSINO: AS ABORDAGENS DO PROCESSO.
SÃO PAULO: EPU, 1986. Homem

O homem é considerado como inserido num mundo


que irá conhecer através de informações que lhe serão for-
O Conhecimento humano, dependendo dos diferentes necidas. É um receptor passivo até que, repleto das informa-
referencias, é explicado diversamente em sua gênese e de- ções necessárias, pode repeti-las a outros que ainda não as
senvolvimento, o que condiciona conceitos diversos de ho- possuam, assim como pode ser eficiente em sua profissão,
mem, mundo, cultura, sociedade, educação, etc. Dentro de quando de posse dessas informações e conteúdos.
um mesmo referencial, é possível haver abordagens diver-
sas, tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do Mundo
objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos. Diferentes
posicionamentos pessoais deveriam derivar diferentes ar- A realidade é algo que será transmitido ao indivíduo
ranjos de situações ensinoaprendizagem e diferentes ações principalmente pelo processo de educação formal, além de
educativas em sala de aula, partindo-se do pressuposto de outras agências, tais como família, Igreja.
que a ação educativa exercida por professores em situações
planejadas de ensino-aprendizagem é sempre intencional. Sociedade-Cultura
Subjacente a esta ação, estaria presente – implícita ou ex-
plicitamente, de forma articulada ou não – um referencial O objetivo educacional normalmente se encontra inti-
teórico que compreendesse conceitos de homem, mundo, mamente relacionado aos valores apregoados pela socieda-
sociedade, cultura, conhecimento, etc.. de na qual se realiza. Os Programas exprimem os níveis cul-
O estudo acerca das diferentes linhas pedagógicas, turais a serem adquiridos na trajetória da educação formal.
tendências ou abordagens, no ensino brasileiro podem A reprovação do aluno passa a ser necessária quando o mí-
fornecer diretrizes à ação docente, mesmo considerando nimo cultural para aquela faixa não foi atingido, e as provas
que a elaboração que cada professor faz delas é individual e exames são necessários a constatação de que este mínimo
e intransferível. De acordo com Mizukami (1986), algumas exigido para cada série foi adquirido pelo aluno. O diploma
abordagens apresentam claro referencial filosófico e psico- pode ser tomado como um instrumento de hierarquização.
lógico, ao passo que outras são intuitivas ou fundamenta- Dessa forma, o diploma iria desempenhar um papel media-
das na prática, ou na imitação de modelos. A complexidade dor entre a formação cultural e o exercício de funções sociais
da realidade educacional deve ser considerada para não ser determinadas. Pode-se afirmar que as tendências engloba-
tratado de forma simplista e reducionista. Nesse estudo, das por esse tipo de abordagem possuem uma visão indi-
deve-se ter em mente seu caráter parcial e arbitrário, assim vidualista do processo educacional, não possibilitando, na
como as limitações e problemas decorrentes da delimitação maioria das vezes, trabalhos de cooperação nos quais o fu-
e caracterização (necessárias) de cada abordagem. A profes- turo cidadão possa experienciar a convergência de esforços.
sora Mizukami não incluiu em seus estudos a abordagem
escolanovista, introduzida no Brasil através do Manifesto dos Conhecimento
Pioneiros da Educação Nova (Anísio Teixeira, Gustavo Capa-
nema e outros), a partir da década de 1930. Ela justifica sua Parte-se do pressuposto de que a inteligência seja uma
opção por considerar que essa abordagem pode ser tomada faculdade capaz de acumular/armazenar informações. Aos
como didaticista, por suas atribuições aos aspectos didáti- alunos são apresentados somente os resultados desse pro-
cos, e por possuir diretrizes incluídas em outras abordagens. cesso, para que sejam armazenados. Evidencia-se o caráter
Argumenta ainda que, as demais abordagens, apresentadas cumulativo do conhecimento humano, adquirido pelo indi-
por ela, apresentam justificativas teóricas ou evidências em- víduo por meio de transmissão, de onde se supõe o papel
píricas. Mas reconhece que se trata de uma abordagem com importante da educação formal e da instituição escola. Atri-
possível influência na formação de professores no Brasil. bui-se ao sujeito um papel insignificante na elaboração e
aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está “adqui-
CAPÍTULO I rindo” conhecimento compete memorizar definições, anun-
Abordagem Tradicional ciando leis, sínteses e resumos que lhes são oferecidos no
processo de educação formal.
Trata-se de uma concepção e uma prática educacionais
que persistem no tempo, em suas diferentes formas, e que Educação
passaram a fornecer um quadro diferencial para todas as
demais abordagens que a ela se seguiram. Como se sabe, Entendida como instrução, caracterizada como trans-
o adulto, na concepção tradicional, é considerado como ho- missão de conhecimentos e restrita à ação da escola. Às
mem acabado, “pronto” e o aluno um “adulto em miniatu- vezes, coloca-se que, para que o aluno possa chegar, e em
ra”, que precisa ser atualizado. O ensino será centrado no condições favoráveis, há uma confrontação com o modelo,
é indispensável uma intervenção do professor, uma orienta-

95
GESTÃO PEDAGÓGICA

ção do mestre. Trata-se, pois, da transmissão de ideias sele- permitirá o professor tomar consciência deste fato. Quanto
cionadas e organizadas logicamente. ao atendimento individual há dificuldades, pois, a classe fica
isolada e a tendência é de se tratar todos igualmente.
Escola
Avaliação
A escola, é o lugar por excelência onde se realiza a edu-
cação, a qual se restringe, a um processo de transmissão de A avaliação visa a exatidão da reprodução do conteúdo
informações em sala de aula e funciona como uma agência comunicado em sala de aula. As notas obtidas funcionam na
sistematizadora de uma cultura complexa. Considera o ato sociedade como níveis de aquisição do patrimônio cultural.
de aprender como uma cerimônia e acha necessário que o
professor se mantenha distante dos alunos. Uma escola des- CAPÍTULO II
se tipo é frequentemente utilitarista quanto a resultados e ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA
programas preestabelecidos. As possibilidades de coopera-
ção entre pares são reduzidas, já que a natureza da grande O conhecimento é um “descoberta” e é nova para o in-
parte das tarefas destinadas aos alunos exige participação divíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já se en-
individual de cada um deles. contrava presente na realidade exterior. Os comportamen-
talistas consideram a experiência ou a experimentação pla-
Ensino-aprendizagem nejada como a base do conhecimento, o conhecimento é o
resultado direto da experiência.
A ênfase é dada às situações de sala de aula, onde os
alunos são “instruídos” e “ensinados” pelo professor. Os O homem
conteúdos e as informações têm de ser adquiridos, os mo-
delos imitados. Seus elementos fundamentais são imagens O homem é uma consequência das influências ou forças
estáticas que progressivamente serão “impressas” nos alu- existentes no meio ambiente a hipótese de que o homem
nos, cópias de modelos do exterior que serão gravadas nas não é livre é absolutamente necessária para se poder apli-
mentes individuais. Uma das decorrências do ensino tradi- car um método científico no campo das ciências. O homem
cional, já que a aprendizagem consiste em aquisição de in- dentro desse referencial é considerado como o produto de
formações e demonstrações transmitidas, é a que propicia um processo evolutivo.
a formação de reações estereotipadas, de automatismos
denominados hábitos, geralmente isolados uns dos outros O mundo
e aplicáveis, quase sempre, somente às situações idênticas
em que foram adquiridos. O aluno que adquiriu o hábito ou A realidade para Skinner, é um fenômeno objetivo; O
que “aprendeu” apresenta, com frequência, compreensão mundo já é construído e o homem é produto do meio. O
apenas parcial. Ignoram-se as diferenças individuais. É um meio pode ser manipulado. O comportamento, por sua vez,
ensino que se preocupa mais com a variedade e quantidade pode ser mudado modificando-se as condições das quais
de noções/conceitos/informações que com a formação do ele é uma função, ou seja, alterando-se os elementos am-
pensamento reflexivo. bientais. O meio seleciona.

Professor-aluno Sociedade-Cultura

O professor-aluno é vertical, sendo que (o professor) A sociedade ideal, para Skinner, é aquela que implicarias
detém o poder decisório quanto a metodologia, conteú- um planejamento social e cultural. Qualquer ambiente, físi-
do, avaliação, forma de interação na aula etc. O professor co ou social, deve ser avaliado de acordo com seus efeitos
detém os meios coletivos de expressão. A maior parte dos sobre a natureza humana. A cultura, é representada pelos
exercícios de controle e dos de exames se orienta para a rei- usos e costumes dominantes, pelos comportamentos que se
teração dos dados e informações anteriormente fornecidos mantém através dos tempos.
pelos manuais.
Conhecimento
Metodologia
O conhecimento é o resultado direto da experiência, o
Se baseia na aula expositiva e nas demonstrações do comportamento é estruturado indutivamente, via experiên-
professor a classe, tomada quase como auditório. O profes- cia.
sor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita exclusiva-
mente a escutá-lo a didática profissional quase que poderia Educação
ser resumida em dar a lição e tomar a lição. No método ex-
positivo como atividade normal, está implícito o relaciona- A educação está intimamente ligada à transmissão cul-
mento professor - aluno, o professor é o agente e o aluno tural. A educação, pois, deverá transmitir conhecimentos,
é o ouvinte. O trabalho continua mesmo sem a compreen- assim como comportamentos éticos, práticas sociais, habi-
são do aluno somente uma verificação a posteriori é que

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GESTÃO PEDAGÓGICA

lidades consideradas básicas para a manipulação e controle do processo de aprendizagem pelo qual passa desde a in-
do mundo /ambiente. fância, ou seja, como produto das associações estabeleci-
das durante sua vida entre estímulos (do meio) e respostas
Escola (manifestações comportamentais). A base da corrente skin-
neriana está na formulação do condicionamento operante.
A escola é considerada e aceita como uma agência edu- Para desenvolvermos este conceito, retrocederemos um
cacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de pouco na história do Behaviorismo, introduzindo as noções
acordo com os comportamentos que pretende instalar e de comportamento reflexo e condicionamento respondente
manter. para então chegar ao condicionamento operante.

Ensino-aprendizagem Condicionamento Respondente: comportamento re-


flexo é o comportamento não voluntário (reflexo) e inclui as
É uma mudança relativamente permanente em uma respostas que são eliciadas (“produzidas”) por modificações
tendência comportamental e ou na vida mental do indiví- especiais de estímulos do ambiente. Skinner concentrou
duo, resultantes de uma prática reforçada. seus estudos na possibilidade de condicionar os comporta-
mentos operantes.
Professor-aluno
Condicionamento Operante: O comportamento ope-
Aso educandos caberia o controle do processo de apren- rante é o comportamento voluntário e abrange uma quan-
dizagem, um controle científico da educação, o professor te- tidade muito maior da atividade humana - desde os com-
ria a responsabilidade de planejar e desenvolver o sistema portamentos do bebê de balbuciar, agarrar objetos, olhar os
de ensinoaprendizagem, de forma tal que o desempenho do enfeites do berço até os comportamentos mais sofisticados
aluno seja maximizado, considerando-se igualmente fatores que o adulto apresenta.
tais como economia de tempo, esforços e custos.
Behaviorismo: Sua Aplicação: São conhecidos os mé-
Metodologia todos de ensino programado e o controle e organização
das situações de aprendizagem, bem como a elaboração de
Nessa abordagem, se incluem tanto a aplicação da tec- uma tecnologia de ensino.
nologia educacional e estratégias de ensino, quanto formas
de reforço no relacionamento professor-aluno. CAPÍTULO III
ABORDAGEM HUMANISTA
Avaliação
Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujei-
Decorrente do pressuposto de que o aluno progride em to como principal elaborador do conhecimento humano.
seu ritmo próprio, em pequenos passos, sem cometer erros, Da ênfase ao crescimento que dela se resulta, centrado no
a avaliação consiste, nesta abordagem, em se constatar se o desenvolvimento da personalidade do indivíduo na sua ca-
aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos quando o pacidade de atuar como uma pessoa integrada. O professor
programa foi conduzido até o final de forma adequada. em si não transmite o conteúdo, dá assistência sendo faci-
litador da aprendizagem. O conteúdo advém das próprias
Considerações finais experiências do aluno o professor não ensina: apenas cria
condições para que os alunos aprendam.
O meio pode ser controlado e manipulado e, conse-
quentemente, também o homem pode ser controlado e Homem
manipulado. O ensino é tratado em função de uma tecno-
logia que, além da aplicação de conhecimentos científicos à É considerado como uma pessoa situada no mundo.
prática pedagógica, envolve um conjunto de técnicas dire- Não existem modelos prontos nem regras a seguir, mas um
tamente aplicáveis em situações concretas de sala de aula. processo de vir a ser. O objetivo do ser humano é a autor-
realização ou uso pleno de suas potencialidades e capacida-
O Estudo do Comportamento des o homem se apresenta como um projeto permanente e
mau acabado.
O Behaviorismo dedicou-se ao estudo do comporta-
mento na relação que este mantém com o meio ambiente Mundo
onde ocorre. Mas como comportamento e meio são ter-
mos amplos demais para poderem ser úteis para uma aná- O mundo é algo produzido pelo homem diante de si
lise descritiva nesta ciência, os psicólogos desta tendência mesmo. O mundo teria o papel fundamental de crias con-
chegaram aos conceitos e estímulo e resposta (teoria S-R). dições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste
Estímulo e resposta são, portanto, as unidades básicas da no pleno desenvolvimento do seu potencial inerente. A ên-
descrição e o ponto de partida para uma ciência do compor- fase é no sujeito mais uma das condições necessárias para
tamento. O homem começa a ser estudado como produto o desenvolvimento individual é o ambiente. Na experiência

97
GESTÃO PEDAGÓGICA

pessoal e subjetiva o conhecimento é construído no decor- Avaliação


rer do processo de vir a ser da pessoa humana. É atribuída
ao sujeito papel central e primordial na elaboração e criação Só o indivíduo pode conhecer realmente sua experiên-
do conhecimento. Ao experienciar o homem conhece. O co- cia, só pode ser julgada a partir de critérios internos do or-
nhecimento é inerente à atividade humana. O ser humano ganismo. O aluno deverá assumir formas de controle de sua
tem curiosidade natural para o conhecimento. aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até
onde estão sendo atingidos os objetivos que pretende, com
Educação responsabilidade. O diretivismo no ensino é aqui substituído
pelo não diretivismo: As relações verticais impostas por rela-
Trata-se da educação centrada na pessoa, já que nessa ções EU - TU e nunca EU - ISTO; as avaliações de acordo com
abordagem o ensino será centrado no aluno. A educação padrões prefixados, por auto avaliação dos alunos. Conside-
tem como finalidade primeira a criação de condições que rando-se, pois, o fato de que só o indivíduo pode conhecer
facilitam a aprendizagem de forma que seja possível seu realmente a sua experiência, esta só pode ser julgada a partir
desenvolvimento tanto intelectual como emocional seria a de critérios internos do organismo.
criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-
-se pessoas de iniciativas, de responsabilidade, autodeter- Capítulo IV
minação que soubessem aplicar-se a aprendizagem no que
lhe servirão de solução para seus problemas servindo-se da Abordagem Cognitivista
própria existência. Nesse processo os motivos de aprender
deverão ser do próprio aluno. Autodescoberta e autodeter- A organização do conhecimento, processamento de
minação são características desse processo. informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.
Escola
Homem e mundo
A escola será uma escola que respeite a criança tal qual
é, que ofereça condições para que ela possa desenvolver-se O homem e mundo serão analisados conjuntamente, já
em seu processo possibilitando a autonomia do aluno. O que o conhecimento é o produto da interação entre eles,
princípio básico consiste na ideia da não interferência com entre sujeito e objeto.
o crescimento da criança e de nenhuma pressão sobre ela.
O ensino numa abordagem como esta consiste num produ- Sociedade-cultura
to de personalidades únicas, respondendo as circunstâncias
únicas num tipo especial de relacionamentos. A aprendiza- Os fatos sociológicos, pois, tais como regras, valores,
gem tem a qualidade de um envolvimento pessoal. normas, símbolos etc. De acordo com este posicionamento,
variam de grupo para grupo, de acordo como o nível mental
Professor-Aluno médio das pessoas que constituem o grupo.

Cada professor desenvolverá seu próprio repertório Conhecimento


de uma forma única, decorrente da base percentual de seu
comportamento. O processo de ensino irá depender do ca- O conhecimento é considerado como uma construção
ráter individual do professor, como ele se relaciona com o contínua. A passagem de um estado de desenvolvimento
caráter pessoal do aluno. Assume a função de facilitador da para o seguinte é sempre caracterizada por formação de no-
aprendizagem e nesse clima entrará em contato com pro- vas estruturas que não existiam anteriormente no indivíduo.
blemas vitais que tenham repercussão na existência do es-
tudante. Isso implica que o professor deva aceitar o aluno Educação
tal como é e compreender os sentimentos que ele possui.
O aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes a O processo educacional, consoante a teoria de desen-
aprendizagem que tem significado para eles. As qualidades volvimento e conhecimento, tem um papel importante, ao
do professor podem ser sintetizadas em autenticidade com- provocar situações que sejam desequilibradoras para o alu-
preensão empática, aceitação e confiança no aluno. no, desequilíbrios esses adequados ao nível de desenvol-
vimento em que a criança vive intensamente (intelectual e
Metodologia afetivamente) cada etapa de seu desenvolvimento.

Não se enfatiza técnica ou método para facilitar a apren- Escola


dizagem. Cada educador eficiente deve elaborar a sua forma
de facilitar a aprendizagem no que se refere ao que ocorre Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando
em sala de aula é a ênfase atribuída a relação pedagógica, a criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos da
a um clima favorável ao desenvolvimento das pessoas que educação formal, diz, decorre essencialmente do fato de se
possibilite liberdade para aprender. principiar pela linguagem (acompanhada de desenhos, de

98
GESTÃO PEDAGÓGICA

ações fictícias as narradas etc.) ao invés de o fazer pela ação Sociedade-Cultura


real e material.
O homem alienado não se relaciona com a realidade
Ensino e aprendizagem objetivo, como um verdadeiro sujeito pensante: o pensa-
mento é dissociado da ação.
Um ensino que procura desenvolver a inteligência deve-
rá priorizar as atividades do sujeito, considerando-o inserido Conhecimento
numa situação social.
A elaboração e o desenvolvimento do conhecimento es-
Professor aluno tão ligados ao processo de conscientização.

Ambos os polos da relação devem ser compreendidos Educação


de forma diferente da convencional, no sentido de um trans-
missor e um receptor de informação. Caberá ao professor Toda ação educativa, para que seja válida, deve, neces-
criar situações, propiciando condições onde possam se es- sariamente, ser precedida tanto de uma reflexão sobre o ho-
tabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao mesmo mem como de uma análise do meio de vida desse homem
tempo moral e racional. concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque.

Metodologia Escola

O desenvolvimento humano que traz implicações para Deve ser um local onde seja possível o crescimento mú-
o ensino. Uma das implicações fundamentais é a de que a tuo, do professor e dos alunos, no processo de conscien-
inteligência se constrói a partir da troca do organismo como tização o que indica uma escola diferente de que se tem
o meio, por meio das ações do indivíduo. A ação do indiví- atualmente, coma seus currículos e prioridades.
duo, pois, é centro do processo e o fator social ou educativo
constitui uma condição de desenvolvimento. Ensino Aprendizagem

Avaliação Situação de ensino-aprendizagem deverá procurar a su-


peração da relação opressor-oprimido. A estrutura de pen-
A avaliação terá de ser realizada a partir de parâmetros sar do oprimido está condicionada pela contradição vivida
extraídos da própria teoria e implicará verificar se o aluno já na situação concreta, existencial em que o oprimido se for-
adquiriu noções, conservações, realizou operações, relações ma. Resultando consequências tais como:
etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo como a
• Ser ideal é ser mais homem...
sua aproximação a uma norma qualitativa pretendida.
• Atitude fatalista
Considerações finais
• Atitude de auto desvalia
Tudo o que se aprende é assimilado por uma estrutu- • O medo da liberdade ou a submissão do oprimido.
ra já existente e provoca uma restruturação. No comporta-
mentalismo, o que o organismo geralmente persegue é o Professor-Aluno
esforço e não a aprendizagem em si. Esta interessa apenas
ao professor. Relação professor-aluno é horizontal. Professor empe-
nhado na prática transformadora procurará desmitificar e
CAPÍTULO V questionar, junto com o aluno.
ABORDAGEM SOCIOCULTURAL
Metodologia
Pode-se situar Paulo Freire com sua obra, enfatizando
aspectos sócio-político-cultural, havendo uma grande preo- • Os alunos recebem informações e analisam os as-
cupação com a cultura popular, sendo que tal preocupação pectos de sua própria experiência existencial
vem desde a II Guerra Mundial com um aumento crescente • Utilizando situações vivenciais de grupo, em forma
até nossos dias. de debate Paulo Freire delineou seu método de al-
fabetização.
Homem-Mundo
Características:
O homem está inserido no contexto histórico. O homem • Ser ativa
é sujeito da educação, onde a ação educativa promove o
próprio indivíduo, como sendo único dentro de uma socie- • Criar um conteúdo pragmático próprio
dade/ambiente. • Enfatiza o diálogo crítico

99
GESTÃO PEDAGÓGICA

CAPÍTULO VII por esta abordagem, desigualdades baseadas nas potencia-


AS ABORDAGENS DO PROCESSO ENSINO E lidades de cada um, tal como poderia decorrer dos princí-
APRENDIZAGEM E O PROFESSOR pios escolanovistas. Estaria neste detalhe, talvez de grande
importância, já que o determinismo biológico age mais em
Segundo Mizukami, a partir de análises feitas sobre as
função de determinar desenvolvimento, do que de determi-
diferentes abordagens do processo ensinoaprendizagem
nar máximos de desenvolvimento para cada sujeito, a idéia
pôde-se constatar que certas linhas teóricas são mais expli-
que despertaria maior interesse para um trabalho realizado
cativas sobre alguns aspectos em relação a outros, perce-
por um profissional com as idiossincrasias de um educador.
bendo-se assim a possibilidade de articulação das diversas
(MIZUKAMI1986)
propostas de explicação do fenômeno educacional. Ela pro-
De forma genérica tanto o cognitivismo, humanismo e
cura fazer uma sistematização válida de conceitos do fenô-
comportamentalismo apresentam aspectos ascolanovistas
meno estudado. Mesmo com teorias incompletas por esta-
que os colocam contra a escola tradicional. Um outro ele-
rem ainda em fase de elaboração ou reelaboração, faltando
mento a ser considerado é a ligação entre o desenvolvimen-
validação empírica ou confronto com o real. Lembrando ain-
to intelectual e os ideais apregoados pelo ensino tradicio-
da as teorias não são as únicas fontes de resposta possíveis
nal elaborado através dos séculos. Concluindo, de todas as
e incorrigíveis, pois (...) elas são elaboradas para explicar, de
abordagens analisadas obteve-se quase plenamente prefe-
forma sistemática, determinados fenômenos, e os dados do
rência dos professores pela abordagem cognitivista por que
real é que irão fornecer o critério para a sua aceitação ou
esta abordagem se baseia numa teoria de desenvolvimento
não, instalando-se, assim, um processo de discussão perma-
em grande parte válida, e também a abordagem sociocultu-
nente entre teoria e prática. (MIZUKAMI, 1986, p. 107)
ral que complementa o desenvolvimento humano e genéti-
Mizukami ainda critica a formação de professores colo-
co com aspectos socioculturais e personalistas. Sendo que a
cando que o aprendido pelos professores nada tinha a ver
abordagem sociocultural está impregnada de aspectos hu-
com a prática pedagógica e seu posicionamento frente ao
manistas característicos das primeiras obras de Paulo Freire.
fenômeno educacional. A experiência pessoal refletiria um
O ideário pedagógico de alguns professores não segue ne-
comportamento coerente por parte do educador, pondo
nhuma das abordagens, e são classificados como tendência
fim assim ao permanente processo de discussão entre teo-
indefinida dentre as demais abordagens.
ria e prática. Uma possível solução seria repensar os cursos
de formação de professores, voltando as atenções princi-
palmente para as disciplinas pedagógicas que analisam as MOREIRA, ANTÔNIO FLÁVIO E OUTROS.
abordagens do processo ensinoaprendizagem, procuran- INDAGAÇÕES SOBRE O CURRÍCULO:
do articulá-los à prática pedagógica. Também é discutida DIVERSIDADE E CURRÍCULO. BRASÍLIA: SEB,
uma forma de aproximar cada vez mais as opções teóricas
2007.
existentes analisando e discutindo as vivências na prática e
a partir da prática, se pudesse discutir e criticar as opções
teóricas confrontando com a mesma prática. É tentar criar
teorias através da prática, analisando o cotidiano e questio- DIVERSIDADE E CURRÍCULO
nando, evitando-se assim a utilização de Receituários peda-
gógicos, que é o que a autora chama de seguir cegamente a Diversidade e currículo
teoria ignorando a prática. Que indagações o trato pedagógico da diversidade traz
Um curso de professores deveria possibilitar confronto para o currículo? Como a questão da diversidade tem sido
entre abordagens, quaisquer que fossem elas, entre seus pensada nos diferentes espaços sociais, principalmente, nos
pressupostos e implicações, limites, pontos de contraste e movimentos sociais? Como podemos lidar pedagogicamen-
convergência. Ao mesmo tempo, deveria possibilitar ao fu- te com a diversidade? Esses e outros questionamentos estão
turo professor a análise do próprio fazer pedagógico, de colocados, hoje, pelos educadores e educadoras nas escolas
suas implicações, pressupostos e determinantes, no sen- e nos encontros da categoria docente. Ao realizarmos essa
tido de que ele se conscientizasse de sua ação, para que discussão, a nossa primeira tarefa poderá ser o questiona-
pudesse, além de interpretá-la e contextualizá-la, superá-la mento sobre a presença ou não dessas indagações na nossa
constantemente. (MIZUKAMI, 1986). Alguns dados revelam prática docente, nos projetos pedagógicos e nas propostas
que são preferidas pelos professores as abordagens cogni- educacionais. Será que existe sensibilidade para a diversida-
tivista e sociocultural deixando as abordagens tradicional e de na educação infantil, especial, na EJA, no ensino funda-
comportamentalista em segundo plano. E também que a mental, médio e profissional? Seria interessante diagnosticar
abordagem que mais faz sucesso neste momento históri- se a diversidade é apenas uma preocupação de um grupo
co é a cognitivista. Na abordagem cognitivista apresentada de professores(as), de alguns coletivos de profissionais no
neste trabalho (a piagetiana) e a preferida pelos professo- interior das escolas e secretarias de educação ou se já alcan-
res, desde que o aluno se encontre em um ambiente que o çou um lugar de destaque nas preocupações pedagógicas e
solicite devidamente, e que tenha sido constatada a ausên- nos currículos. Ao analisarmos o cotidiano da escola, qual é
cia de distúrbios biológicos ligados preponderantemente à o lugar ocupado pela diversidade? Ela figura como tema que
atividade cerebral, ele terá condições de chegar ao estágio transversaliza o currículo? Faz parte do núcleo comum? Ou
das operações formais. Não se justificam nem se legitimam, encontra espaço somente na parte diversificada? Do ponto

100
GESTÃO PEDAGÓGICA

de vista cultural, a diversidade pode ser entendida como a Por mais que a diversidade seja um elemento constitutivo
construção histórica, cultural e social das diferenças. A cons- do processo de humanização, há uma tendência nas cultu-
trução das diferenças ultrapassa as características biológicas, ras, de um modo geral, de ressaltar como positivos e me-
observáveis a olho nu. As diferenças são também construí- lhores os valores que lhe são próprios, gerando um certo
das pelos sujeitos sociais ao longo do processo histórico e estranhamento e, até mesmo, uma rejeição em relação ao
cultural, nos processos de adaptação do homem e da mu- diferente. É o que chamamos de etnocentrismo. Esse fenô-
lher ao meio social e no contexto das relações de poder. meno, quando exacerbado, pode se transformar em práticas
Sendo assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis, xenófobas (aversão ou ódio ao estrangeiro) e em racismo
que aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nas- (crença na existência da superioridade e inferioridade racial).
cimento, só passaram a ser percebidos dessa forma, porque Há uma relação estreita entre o olhar e o trato pedagógico
nós, seres humanos e sujeitos sociais, no contexto da cul- da diversidade e a concepção de educação que informa as
tura, assim os nomeamos e identificamos. Mapear o trato práticas educativas.
que já é dado à diversidade pode ser um ponto de partida
para novos equacionamentos da relação entre diversidade Por isso, a presença da diversidade no acontecer huma-
e currículo. A primeira constatação talvez seja que, de fato, no nem sempre garante um trato positivo dessa diversidade.
não é tarefa fácil para nós, educadores e educadoras, tra- Os diferentes contextos históricos, sociais e culturais, per-
balharmos pedagogicamente com a diversidade. Mas não meados por relações de poder e dominação, são acompa-
será essa afirmativa uma contradição? Como a educação nhados de uma maneira tensa e, por vezes, ambígua de lidar
escolar pode se manter distante da diversidade sendo que com o diverso. Nessa tensão, a diversidade pode ser tratada
a mesma se faz presente no cotidiano escolar por meio da de maneira desigual e naturalizada. Estamos diante de uma
presença de professores/as e alunos/as dos mais diferentes terceira tarefa. A relação existente entre educação e diversi-
pertencimentos étnico-raciais, idades e culturas? Esse desa- dade coloca-nos diante do seguinte desafio: o que entende-
fio é enfrentado por todos nós que atuamos no campo da mos por diversidade? Que diversidade pretendemos esteja
educação, sobretudo, o escolar. Ele atravessa todos os níveis contemplada no currículo das escolas e nas políticas de cur-
de ensino desde a educação básica (educação infantil, en- rículo? Para responder a essas questões, fazem-se necessá-
sino fundamental e ensino médio) até a educação superior rios alguns esclarecimentos e posicionamentos sobre o que
incluindo a EJA, a Educação Profissional e a Educação Es- entendemos por diversidade e currículo. Seria muito mais
pecial. Portanto, as reflexões aqui realizadas aplicam-se aos simples dizer que o substantivo diversidade significa varie-
profissionais que atuam em todos esses campos, os quais dade, diferença e multiplicidade. Mas essas três qualidades
realizam práticas curriculares variadas. Para avançarmos nes- não se constroem no vazio e nem se limitam a ser nomes
sas questões, uma outra tarefa faz-se necessária: é preciso abstratos. Elas se constroem no contexto social e, sendo as-
ter clareza sobre a concepção de educação que nos orienta. sim, a diversidade pode ser entendida como um fenômeno
Há uma relação estreita entre o olhar e o trato pedagógico que atravessa o tempo e o espaço e se torna uma questão
da diversidade e a concepção de educação que informa as cada vez mais séria quanto mais complexas vão se tornando
práticas educativas. A educação de uma maneira geral é um as sociedades. A diversidade faz parte do acontecer huma-
processo constituinte da experiência humana, por isso se faz no. De acordo com Elvira de Souza Lima (2006, p.17), a di-
presente em toda e qualquer sociedade. A escolarização, em versidade é norma da espécie humana: seres humanos são
específico, é um dos recortes do processo educativo mais diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas
amplo. Durante toda a nossa vida realizamos aprendizagens personalidades e são também diversos em suas formas de
de naturezas mais diferentes. Nesse processo, marcado pela perceber o mundo. Seres humanos apresentam, ainda, di-
interação contínua entre o ser humano e o meio, no contex- versidade biológica. Algumas dessas diversidades provocam
to das relações sociais, é que construímos nosso conheci- impedimentos de natureza distinta no processo de desen-
mento, valores, representações e identidades. Sendo assim, volvimento das pessoas (as comumente chamadas de “por-
tanto o desenvolvimento biológico, quanto o domínio das tadoras de necessidades especiais”). Como toda forma de
práticas culturais existentes no nosso meio são imprescin- diversidade é hoje recebida na escola, há a demanda óbvia,
díveis para a realização do acontecer humano. Este último, por um currículo que atenda a essa universalidade.
enquanto uma experiência que atravessa toda sociedade e
toda cultura, não se caracteriza somente pela unidade do As discussões acima realizadas poderão ajudar a apro-
gênero humano, mas, sobretudo, pela riqueza da diversida- fundar as reflexões sobre a diversidade no coletivo de educa-
de. Os currículos e práticas escolares que incorporam essa dores, nos projetos pedagógicos e nas diferentes Secretarias
visão de educação tendem a ficar mais próximos do trato de Educação. Afinal, a relação entre currículo e diversidade é
positivo da diversidade humana, cultural e social, pois a ex- muito mais complexa. O discurso, a compreensão e o trato
periência da diversidade faz parte dos processos de socia- pedagógico da diversidade vão muito além da visão român-
lização, de humanização e desumanização. A diversidade é tica do elogio à diferença ou da visão negativa que advoga
um componente do desenvolvimento biológico e cultural da que ao falarmos sobre a diversidade corremos o risco de dis-
humanidade. Ela se faz presente na produção de práticas, criminar os ditos diferentes. Que concepções de diversidade
saberes, valores, linguagens, técnicas artísticas, científicas, permeiam as nossas práticas, os nossos currículos, a nossa
representações do mundo, experiências de sociabilidade e relação com os alunos e suas famílias e as nossas relações
de aprendizagem. Todavia, há uma tensão nesse processo. profissionais? Como enxergamos a diversidade enquanto

101
GESTÃO PEDAGÓGICA

cidadãos e cidadãs nas nossas práticas cotidianas? Essas in- Nos últimos anos, esses grupos vêm se organizando
dagações poderão orientar os nossos encontros pedagógi- cada vez mais e passam a exigir das escolas e dos órgãos
cos, os processos de formação em serviço desde a educação responsáveis pelas elas o direito ao reconhecimento dos
infantil até o ensino médio e EJA. Elas já acompanham há seus saberes e sua incorporação aos currículos. Além disso,
muito o campo da educação especial, porém, necessitam passam a reivindicar dos governos o reconhecimento e pos-
ser ampliadas e aprofundadas para compreendermos outras se das suas terras, assim como a redistribuição e a ocupação
diferenças presentes na escola. É nessa perspectiva que pri- responsável de terras improdutivas.3 A falta de controle e
vilegiaremos, neste texto, alguns aspectos acerca da diver- de conhecimento dos fatores de degradação ambiental, dos
sidade a fim de dar mais elementos às nossas indagações desequilíbrios ecológicos de qualquer parte do sistema, da
sobre o currículo. São eles: expansão das monoculturas, a não efetivação de uma justa
reforma agrária, entre outros fatores, têm colaborado para
• diversidade biológica e currículo;
a vulnerabilidade desses e outros grupos. Tal situação afe-
• diversidade cultural e currículo; ta toda a espécie humana da qual fazemos parte. Coloca
em risco a capacidade de sustentabilidade proporcionada
• a luta política pelo direito à diversidade;
pela biodiversidade. Dessa forma, os problemas ambientais,
• diversidade e conhecimento; políticos, culturais e sociais estão intimamente embricados.
De acordo com Shiva (2003), citado por Silvério (2006), o
• diversidade e ética; desenvolvimento só pode ser um desenvolvimento eco-
• diversidade e organização dos tempos e espaços es- lógico e socialmente sustentável, orientado pela busca de
colares. políticas e estratégias de desenvolvimento alternativo, para
romper com o bioimperialismo o qual impõe monocultu-
Algumas considerações sobre a diversidade biológica ou ras. O desenvolvimento ecológico e socialmente sustentável
biodiversidade tem como orientação a construção da biodemocracia com
quem respeita/cultiva a biodiversidade. A discussão acima
A diversidade pode ser entendida em uma perspectiva suscita algumas reflexões: que indagações o debate sobre a
biológica e cultural. Portanto, o homem e a mulher partici- diversidade biológica traz para os currículos? A nossa abor-
pam desse processo enquanto espécie e sujeito sociocultu- dagem em sala de aula e os nossos projetos pedagógicos
ral. Do ponto de vista biológico, a variedade de seres vivos e sobre educação ambiental têm explorado a complexidade e
ambientes em conjunto é chamada de diversidade biológica os conflitos trazidos pela forma como a sociedade atual se
ou biodiversidade. Nessa concepção, entende-se que a na- relaciona com a diversidade biológica? Como incorporar a
tureza é formada por vários tipos de ambientes e cada um discussão sobre a biodiversidade nas propostas curriculares
deles é ocupado por uma infinidade de seres vivos diferen- das escolas e das redes de ensino? Um primeiro passo pode-
tes que se adaptam ao mesmo. Mesmo os animais e plantas ria ser a reflexão sobre a nossa postura diante desse debate
pertencentes à mesma espécie apresentam diferenças en- enquanto educadores e educadoras e partícipes dessa mes-
tre si. Os seres humanos, enquanto seres vivos, apresentam ma biodiversidade.
diversidade biológica, ou seja, mostram diferenças entre si.
No entanto, ao longo do processo histórico e cultural e no A diversidade cultural: algumas reflexões
contexto das relações de poder estabelecidas entre os dife-
rentes grupos humanos, algumas dessas variabilidades do O ser humano se constitui por meio de um processo
gênero humano receberam leituras estereotipadas e pre- complexo: somos ao mesmo tempo semelhantes (enquan-
conceituosas, passaram a ser exploradas e tratadas de for- to gênero humano) e muito diferentes (enquanto forma de
ma desigual e discriminatória. Por isso, ao refletirmos sobre realização do humano ao longo da história e da cultura).
a presença dos seres humanos no contexto da diversidade Podemos dizer que o que nos torna mais semelhantes en-
biológica, devemos entender dois aspectos importantes: quanto gênero humano é o fato de todos apresentarmos
a) o ser humano enquanto parte da diversidade biológica diferenças: de gênero, raça/etnia, idades, culturas, experiên-
não pode ser entendido fora do contexto da diversidade cias, entre outros. E mais: somos desafiados pela própria ex-
cultural; b) toda a discussão a que hoje assistimos sobre a periência humana a aprender a conviver com as diferenças.
preservação, conservação e uso sustentável da biodiversida- O nosso grande desafio está em desenvolver uma postura
de não diz respeito somente ao uso que o homem faz do ética de não hierarquizar as diferenças e entender que ne-
ambiente externo, mas, sobretudo, da relação deste como nhum grupo humano e social é melhor ou pior do que ou-
um dos componentes dessa diversidade. Ou seja, os proble- tro. Na realidade, somos diferentes. Ao discutir a diversidade
mas ambientais não são considerados graves porque afetam cultural, não podemos nos esquecer de pontuar que ela se
o planeta, entendido como algo externo, ... Os problemas dá lado a lado com a construção de processos identitários.
ambientais não são considerados graves porque afetam o Assim como a diversidade, a identidade, enquanto proces-
planeta, entendido como algo externo, mas porque afetam so, não é inata. Ela se constrói em determinado contexto
a todos nós e colocam em risco a vida da espécie humana e histórico, social, político e cultural. Jacques d’Adesky (2001)
a das demais espécies. destaca que a identidade, para se constituir como realidade,
pressupõe uma interação. A ideia que um indivíduo faz de

102
GESTÃO PEDAGÓGICA

si mesmo, de seu “eu”, é intermediada pelo reconhecimento Tadeu da Silva (1995, p.194) o conhecimento, a cultura e o
obtido dos outros em decorrência de sua ação. currículo são produzidos no contexto das relações sociais e
de poder.
Assim como a diversidade, nenhuma identidade é cons- Esquecer esse processo de produção – no qual estão
truída no isolamento. Ao contrário, ela é negociada durante envolvidas as relações desiguais de poder entre grupos so-
a vida toda dos sujeitos por meio do diálogo, parcialmente ciais – significa reificar o conhecimento e reificar o currículo,
exterior, parcialmente interior, com os outros. Tanto a iden- destacando apenas os seus aspectos de consumo e não de
tidade pessoal quanto a identidade social são formadas em produção. Ainda segundo esse autor, mesmo quando pen-
diálogo aberto. Estas dependem de maneira vital das rela- samos no currículo como uma coisa, como uma listagem
ções dialógicas com os outros. A diversidade cultural varia de conteúdos, por exemplo, ele acaba sendo, fundamen-
de contexto para contexto. Nem sempre aquilo que julga- talmente, aquilo que fazemos com essa coisa, pois, mesmo
mos como diferença social, histórica e culturalmente cons- uma lista de conteúdos não teria propriamente existência
truída recebe a mesma interpretação nas diferentes socie- e sentido, se não se fizesse nada com ela. Nesse sentido,
dades. Além disso, o modo de ser e de interpretar o mundo o currículo não se restringe apenas a ideias e abstrações,
também é variado e diverso. Por isso, a diversidade precisa mas a experiências e práticas concretas, construídas por su-
ser entendida em uma perspectiva relacional. Ou seja, as jeitos concretos, imersos em relações de poder. O currículo
características, os atributos ou as formas “inventadas” pela pode ser considerado uma atividade produtiva e possui um
cultura para distinguir tanto o sujeito quanto o grupo a que aspecto político que pode ser visto em dois sentidos: em
ele pertence dependem do lugar por eles ocupado na so- suas ações (aquilo que fazemos) e em seus efeitos (o que ele
ciedade e da relação que mantêm entre si e com os outros. nos faz). Também pode ser considerado um discurso que,
Não podemos esquecer que essa sociedade é construída ao corporificar narrativas particulares sobre o indivíduo e a
em contextos históricos, socioeconômicos e políticos tensos, sociedade, participa As discussões sobre currículo incorpo-
marcados por processos de colonização e dominação. Esta- ram, com maior ou menor ênfase, debates sobre os conhe-
mos, portanto, no terreno das desigualdades, das identida- cimentos escolares, os procedimentos pedagógicos, as rela-
des e das diferenças. Trabalhar com a diversidade na escola ções sociais, os valores e as identidades dos nossos alunos
não é um apelo romântico do final do século XX e início do e alunas.
século XXI. Na realidade, a cobrança hoje feita em relação
à forma como a escola lida com a diversidade no seu coti- A produção do conhecimento, assim como sua seleção
diano, no seu currículo, nas suas práticas faz parte de uma e legitimação, está transpassada pela diversidade. Não se
história mais ampla. Tem a ver com as estratégias por meio trata apenas de incluir a diversidade como um tema nos cur-
das quais os grupos humanos considerados diferentes pas- rículos. As reflexões do autor nos sugerem que é preciso ter
saram cada vez mais a destacar politicamente as suas singu- consciência, enquanto docentes, das marcas da diversidade
laridades, cobrando que as mesmas sejam tratadas de forma presentes nas diferentes áreas do conhecimento e no currí-
justa e igualitária, desmistificando a ideia de inferioridade culo como um todo: ver a diversidade nos processos de pro-
que paira sobre algumas dessas diferenças socialmente dução e de seleção do conhecimento escolar. O autor ainda
construídas e exigindo que o elogio à diversidade seja mais adverte que as narrativas contidas no currículo trazem em-
do que um discurso sobre a variedade do gênero humano. butidas noções sobre quais grupos sociais podem represen-
Ora, se a diversidade faz parte do acontecer humano, então tar a si e aos outros e quais grupos sociais podem apenas ser
a escola, sobretudo a pública, é a instituição social na qual representados ou até mesmo serem totalmente excluídos
as diferentes presenças se encontram. Então, como essa ins- de qualquer representação. Elas, além disso, representam os
tituição poderá omitir o debate sobre a diversidade? E como diferentes grupos sociais de forma diferente: enquanto as
os currículos poderiam deixar de discuti-la? Mas o que en- formas de vida e a cultura de alguns grupos são valorizadas
tendemos por currículo? Segundo Antonio Flávio B. Moreira e instituídas como cânone, as de outros são desvalorizadas e
e Vera Maria Candau (2006, p.86) existem várias concepções proscritas. Assim, as narrativas do currículo contam histórias
de currículo, as quais refletem variados posicionamentos, que fixam noções particulares de gênero, raça, classe – no-
compromissos e pontos de vista teóricos. As discussões so- ções que acabam também nos fixando em posições muito
bre currículo incorporam, com maior ou menor ênfase, de- particulares ao longo desses eixos (de autoridade).
bates sobre os conhecimentos escolares, os procedimentos
pedagógicos, as relações sociais, os valores e as identidades A perspectiva de currículo acima citada poderá nos
dos nossos alunos e alunas. Os autores se apoiam em Silva ajudar a questionar a noção hegemônica de conhecimento
(1999), ao afirmarem que, em resumo, as questões curricula- que impera na escola, levando-nos a refletir sobre a tensa e
res são marcadas pelas discussões sobre conhecimento, ver- complexa relação entre esta noção e os outros saberes que
dade, poder e identidade. Retomo, aqui, uma discussão já fazem parte do processo cultural e histórico no qual esta-
realizada em outro texto (Gomes, 2006, pp.31-2). O currículo mos imersos. Podemos indagar que histórias as narrativas
não está envolvido em um simples processo de transmissão do currículo têm contado sobre as relações raciais, os movi-
de conhecimentos e conteúdos. Possui um caráter político e mentos do campo, o movimento indígena, o movimento das
histórico e também constitui uma relação social, no sentido pessoas com deficiência, a luta dos povos da floresta, as tra-
de que a produção de conhecimento nele envolvida se rea- jetórias dos jovens da periferia, as vivências da infância (prin-
liza por meio de uma relação entre pessoas. Segundo Tomaz cipalmente a popular) e a luta das mulheres? São narrativas

103
GESTÃO PEDAGÓGICA

que fixam os sujeitos e os movimentos sociais em noções ça implica posicionar-se contra processos de colonização e
estereotipadas ou realizam uma interpretação emancipató- dominação.
ria dessas lutas e grupos sociais? Que grupos sociais têm o De acordo com Miguel Arroyo (2006) os educandos
poder de se representar e quais podem apenas ser represen- nunca foram esquecidos nas propostas curriculares; a ques-
tados nos currículos? Que grupos sociais e étnico/raciais têm tão é com que tipo de olhar eles foram e são vistos. Pode-
sido historicamente representados de forma estereotipada e mos ir além: com que olhar foram e são vistos os educandos
distorcida? Diante das respostas a essas perguntas, só nos nas suas diversas identidades e diferenças? Será que ainda
resta agir, sair do imobilismo e da inércia e cumprir a nossa continuamos discursando sobre a diversidade, mas agindo,
função pedagógica diante da diversidade: construir práticas planejando, organizando o currículo como se os alunos fos-
pedagógicas que realmente expressem a riqueza das identi- sem um bloco homogêneo e um corpo abstrato? Como se
dades e da diversidade cultural presente na escola e na so- convivêssemos com um protótipo único de aluno? Como se
ciedade. Dessa forma poderemos avançar na superação de a função da escola, do trabalho docente fosse conformar to-
concepções românticas sobre a diversidade cultural presen- dos a esse protótipo único? Os educandos são os sujeitos
tes nas várias práticas pedagógicas e currículos. centrais da ação educativa. E foram eles, articulados ou não
em movimentos sociais, que trouxeram a luta pelo direito à
A luta política pelo direito à diversidade diversidade como uma indagação ao campo do currículo.
Esse é um movimento que vai além do pedagógico.
Como já foi dito, nem sempre a diversidade entendida
como a construção histórica, social e cultural das diferen- Estamos, portanto, em um campo político. Cabe des-
ças implica em um trato igualitário e democrático em rela- tacar, aqui, o papel dos movimentos sociais e culturais nas
ção àqueles considerados diferentes. Muito do que fomos demandas em prol do respeito à diversidade no currícu-
educados a ver e distinguir como diferença é, na realidade, lo. Tais movimentos indagam a sociedade como um todo
uma invenção humana que, ao longo do processo cultural e, enquanto sujeitos políticos, colocam em xeque a esco-
e histórico, foi tomando forma e materialidade. No pro- la uniformizadora que tanto imperou em nosso sistema de
cesso histórico, sobretudo nos contextos de colonização e ensino. Questionam os currículos, imprimem mudanças nos
dominação, os grupos humanos não passaram a hostilizar projetos pedagógicos, interferem na política educacional e
e dominar outros grupos simplesmente pelo fato de serem na elaboração de leis educacionais e diretrizes curriculares.
diferentes. Como nos diz Carlos Rodrigues Brandão (1986, De acordo com Valter Roberto Silvério (2006, p.09), a entrada
p.08) “por diversas vezes, os grupos humanos tornam o ou- em cena, na segunda metade do século XX, de movimentos
tro diferente para fazê-lo inimigo”. Por isso, a inserção da sociais denominados identitários, provocou transformações
diversidade nos currículos implica compreender as causas significativas na forma como a política pública educacional
políticas, econômicas e sociais de fenômenos como etno- era concebida durante a primeira metade daquele século.
centrismo, racismo, sexismo, homofobia e xenofobia. Falar Para este autor, a demanda por reconhecimento é aquela a
sobre diversidade e diferença implica posicionar-se contra partir da qual vários movimentos sociais que têm por funda-
processos de colonização e dominação. mento uma identidade cultural (negros, indígenas, homos-
sexuais, entre outros) passam a reivindicar reconhecimento,
É perceber como, nesses contextos, algumas diferenças quer seja pela ausência deste ou por um reconhecimento
foram naturalizadas e inferiorizadas sendo, portanto, trata- considerado inadequado de sua diferença. Os educandos
das de forma desigual e discriminatória. É entender o impac- são os sujeitos centrais da ação educativa. E foram eles, ar-
to subjetivo destes processos na vida dos sujeitos sociais e ticulados ou não em movimentos sociais, que trouxeram a
no cotidiano da escola. É incorporar no currículo, nos livros luta pelo direito à diversidade como uma indagação ao cam-
didáticos, no plano de aula, nos projetos pedagógicos das po do currículo.
escolas os saberes produzidos pelas diversas áreas e ciên-
cias articulados com os saberes produzidos pelos movimen- Ainda segundo Silvério (2006), um dos aprendizados
tos sociais e pela comunidade. Há diversos conhecimentos trazidos pelo debate sobre o lugar da diversidade e da di-
produzidos pela humanidade que ainda estão ausentes nos ferença cultural no Brasil contemporâneo é que a socieda-
currículos e na formação dos professores, como, por exem- de brasileira passa por um processo de (re)configuração
plo, o conhecimento produzido pela comunidade negra ao do pacto social a partir da insurgência de atores sociais até
longo da luta pela superação do racismo, o conhecimento então pouco visíveis na cena pública. Esse contexto coloca
produzido pelas mulheres no processo de luta pela igual- um conjunto de problemas e desafios à sociedade como um
dade de gênero, o conhecimento produzido pela juventude todo. No que diz respeito à educação, ou mais precisamente,
na vivência da sua condição juvenil, entre outros. É urgente à política educacional, um dos aspectos significativos desse
incorporar esses conhecimentos que versam sobre a pro- novo cenário é a percepção de que a escola é um espaço de
dução histórica das diferenças e das desigualdades para su- sociabilidade para onde convergem diferentes experiências
perar tratos escolares românticos sobre a diversidade. Para socioculturais, as quais refletem diversas e divergentes for-
tal, todos nós precisaremos passar por um processo de ree- mas de inserção grupal na história do país. Podemos dizer
ducação do olhar. O reconhecimento e a realização dessa que a sociedade brasileira, a partir da segunda metade do
mudança do olhar sobre o Falar sobre diversidade e diferen- século XX, começa a viver – não sem contradições e confli-
tos - um momento de maior consolidação de algumas de-

104
GESTÃO PEDAGÓGICA

mandas dos movimentos sociais e da sua luta pelo direito à possível que, em uma mesma escola, localizada em uma re-
diferença. gião específica, que atenda uma determinada comunidade,
encontremos no interior da sala de aula alunos que portam
É possível perceber alguns avanços na produção teórica diferentes culturas locais, as quais se articulam com as do
educacional, no Governo Federal, no Ministério da Educa- bairro e região. Eles apresentam diferentes formas de ver e
ção, nas Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, nos conceber o mundo, possuem valores diferenciados, perten-
projetos pedagógicos das escolas, na literatura infanto-juve- cem a diferentes grupos étnico-raciais, diferem-se em gêne-
nil, na produção de material didático alternativo e acessível ro, idade e experiência de vida. Por isso, mais do que uma
em consonância às necessidades educacionais especiais dos multiplicidade de culturas, no que se refere ao seu número,
alunos. Entretanto, apesar dos avanços, ainda existe muito variedade ou “pluralidade”, vivemos no contexto das dife-
trabalho a fazer. Aos poucos, vêm crescendo os coletivos de rentes culturas, marcadas por singularidades advindas dos
profissionais da educação sensíveis à diversidade. Muitos processos históricos, políticos e também culturais por meio
deles têm a sua trajetória marcada pela inserção nos mo- dos quais são construídas. Vivemos, portanto, no contexto
vimentos sociais, culturais e identitários e carregam para a da diversidade cultural e esta, sim, deve ser um elemento
vida profissional suas identidades coletivas e suas diferen- presente e indagador do currículo.
ças. Há uma nova sensibilidade nas escolas públicas, sobre- A cultura não deve ser vista como um tema e nem como
tudo, para a diversidade e suas múltiplas dimensões na vida disciplina, mas como um eixo que orienta as experiências e
dos sujeitos. Sensibilidade que vem se traduzindo em ações práticas curriculares. Podemos indagar como a diversidade
pedagógicas de transformação do sistema educacional em é apresentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
um sistema inclusivo, democrático e aberto à diversidade. cional – LDB nº 9394/96, entendida como a orientação legal
Mas será que essas ações são iniciativas apenas de grupos para a construção das diretrizes curriculares nacionais dela
de educadores(as) sensíveis diante da diversidade? Ou elas advindas. No seu artigo 26, a LDB confere liberdade de orga-
são assumidas como um dos eixos do trabalho das esco- nização aos sistemas de ensino, desde que eles se orientem
las, das propostas políticas pedagógicas das Secretarias de a partir de um eixo central por Um bom exercício para per-
Educação e do MEC? Elas são legitimadas pelas Diretrizes ceber o caráter indagador da diversidade nos currículos seria
Curriculares Nacionais? Fazem parte do currículo vivenciado analisar as propostas e documentos oficiais com os quais
nas escolas e das políticas curriculares? A resposta a essas lidamos cotidianamente.
questões poderá nos ajudar a compreender o lugar ocupa- Podemos dizer que houve avanço em relação à sensibi-
do pela diversidade cultural na educação escolar. Há uma lidade para com a diversidade incorporada – mesmo que de
nova sensibilidade nas escolas públicas, sobretudo, para a forma tímida – na Lei. Os movimentos sociais, a reflexão das
diversidade e suas múltiplas dimensões na vida dos sujeitos. ciências sociais, as políticas educacionais, os projetos das es-
Sensibilidade que vem se traduzindo em ações pedagógicas colas expressam esse avanço com contornos e nuances dife-
de transformação do sistema educacional em um sistema rentes. Esse movimento de mudança sugere a necessidade
inclusivo, democrático e aberto à diversidade. de aprofundar mais sobre a diversidade nos currículos. Re-
conhecer não apenas a diversidade no seu aspecto regional
Que indagações a diversidade traz aos currículos? e local, mas, sim, a sua presença enquanto construção histó-
rica, cultural e social que marca a trajetória humana. Rever o
E nas escolas, nos currículos e políticas educacionais, nosso paradigma curricular. Ainda estamos presos à divisão
como a diversidade se faz presente? Será que os movimen- núcleo comum e parte diversificada presente na lei 5692/71.
tos sociais conseguem indagar e incorporar mais a diversida- O peso da rigidez dessa lei marcou profundamente a or-
de do que a própria escola e a política educacional? Um bom ganização e a estrutura das escolas. É dela que herdamos,
exercício para perceber o caráter indagador da diversidade sobretudo, a forma fragmentada de como o conhecimento
nos currículos seria analisar as propostas e documentos ofi- escolar e o currículo ainda são tratados e a persistente as-
ciais com os quais lidamos cotidianamente. Certamente, ire- sociação entre educação escolar e preparo para o mercado
mos notar que a questão da diversidade aparece, porém, de trabalho.
não como um dos eixos centrais da orientação curricular,
mas, sim, como um tema. E mais: muitas vezes, a diversi- Segundo Arroyo (2006), a visão reducionista dessa lei
dade aparece somente como um tema que transversaliza o marcou as décadas de 1970 e 1980 como uma forma hege-
currículo entendida como pluralidade cultural. A diversidade mônica de pensar e organizar o currículo e as escolas e ainda
é vista e reduzida sob a ótica da cultura. É certo que a antro- se faz presente e persistente na visão que muitas escolas
pologia, hoje, não trabalha mais com a ideia da existência de têm do seu papel social e na visão que docentes e adminis-
uma só cultura. As culturas são diversas e variadas. tradores têm de sua função profissional. Nessa perspectiva
curricular, a diversidade está presente na parte diversifica-
A escola e seu currículo não demonstram dificuldade de da, a qual os educadores sabem que, hierarquicamente, por
assumir que temos múltiplas culturas. Essa situação possi- mais que possamos negar, ocupa um lugar menor do que o
bilita o reconhecimento da cultura docente, do aluno e da núcleo comum. E é neste último que encontramos os ditos
comunidade, a presença da cultura escolar, mas não ques- conhecimentos historicamente acumulados recontextua-
tiona o lugar que a diversidade de culturas ocupa na esco- lizados como conhecimento escolar. Nessa concepção, as
la. Mais do que múltiplas, as culturas diferem entre si. E é características regionais e locais, a cultura, os costumes, as

105
GESTÃO PEDAGÓGICA

artes, a corporeidade, a sexualidade são “partes que diver- cola brasileira. Não podemos afirmar que esses saberes são
sificam o currículo” e não “núcleos”. Elas podem até mesmo totalmente inexistentes na realidade escolar. Eles existem,
trazer uma certa diversificação, um novo brilho, mas não porém, muitas
são consideradas como integrantes do eixo central. O lugar Se a convivência com a diferença já é salutar para a ree-
não hegemônico ocupado pelas questões sociais, culturais, ducação do nosso olhar, dos nossos sentidos, da nossa visão
regionais e políticas que compõem a “parte diversificada” de mundo, quanto mais o aprendizado do imperativo ético
dos currículos pode ser visto, ao mesmo tempo, como vul- que esse processo nos traz.
nerabilidade e liberdade. É nesta parte que, muitas vezes, Essa forma de interpretar e lidar com o conhecimento
os educadores e as educadoras conseguem ousar, realizar se perpetua na teoria e na prática escolar em todos os níveis
trabalhos mais próximos da comunidade, explorar o poten- de ensino desde a educação infantil até o ensino superior.
cial criativo, artístico e estético dos alunos e alunas. O lugar Ao mesmo tempo, existem focos de resistência que sempre
não hegemônico ocupado pelas questões sociais, culturais, lutaram contra a hegemonia de certos conteúdos escolares
regionais e políticas que compõem a “parte diversificada” previamente selecionados e o apogeu da ciência moderna
dos currículos pode ser visto, ao mesmo tempo, como vul- na escola brasileira. Estes já conseguiram algumas vitórias
nerabilidade e liberdade. satisfatórias. Tal processo vem ocorrendo, sobretudo, nas
No entanto, mesmo que reconheçamos a importância propostas mais progressistas de educação escolar tais como:
desse fôlego dado à diversidade nos documentos oficiais, educação do campo, educação indígena, educação e diver-
é importante destacar que ele não é suficiente, pois colo- sidade étnico-racial, educação inclusiva, educação ambiental
ca essa discussão em um lugar provisório, transversal e, por e EJA. Estas propostas e projetos têm se realizado - não sem
vezes, marginal. Além disso, tende a reduzir a diversidade conflitos - em algumas escolas públicas e em propostas pe-
cultural à diversidade regional e não dialoga com os sujeitos, dagógicas da educação básica. São experiências de gestão
suas vivências e práticas. A incorporação da diversidade no democrática, educação para a diversidade, educação am-
currículo deve ser entendida não como uma ilustração ou biental, educação do campo, educação quilombola etc. Es-
modismo. Antes, deve ser compreendida no campo político sas e outras indagações que podemos fazer ao conhecimen-
e tenso no qual as diferenças são produzidas, portanto, deve to e sua presença no currículo são colocadas principalmente
ser vista como um direito. Um direito garantido a todos e pelos movimentos sociais e pelos sujeitos em movimento.
não somente àqueles que são considerados diferentes. Se
a convivência com a diferença já é salutar para a reeduca- Eles questionam não só o currículo que se efetiva nas
ção do nosso olhar, dos nossos sentidos, da nossa visão de escolas como, também, os procedimentos e instrumentos
mundo, quanto mais o aprendizado do imperativo ético que que usamos para avaliar os alunos e a forma como os co-
esse processo nos traz. Conviver com a diferença (e com os nhecimentos são aprendidos e apreendidos. Isso nos impe-
diferentes) é construir relações que se pautem no respei- le, enquanto educadores a “(...) refletir sobre nossas ações
to, na igualdade social, na igualdade de oportunidades e no cotidianas na escola, nossas práticas em sala de aula, sobre
exercício de uma prática e postura democráticas. a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que prejulgamos
ou outras situações do cotidiano”. A diversidade coloca em
Alguns aspectos específicos do currículo indagados pela xeque os processos tradicionais de avaliação escolar. Nessa
diversidade. perspectiva, os movimentos sociais conquanto sujeitos polí-
ticos podem ser vistos como produtores de saber. Este nem
Diversidade e conhecimento – A antropóloga Paula Me- sempre tem sido considerado enquanto tal pelo próprio
neses (2005), ao analisar o caso da universidade em Moçam- campo educacional. O não reconhecimento dos saberes e
bique e a produção de saberes realizada pelos países que se das práticas sociais no currículo tem resultado no desper-
encontram fora do eixo do Ocidente, traz algumas reflexões dício da experiência social dos(as) educandos(as), dos(as)
que podem nos ajudar a indagar a relação entre conheci- educadores(as) e da comunidade nas propostas educacio-
mento e diversidade no Brasil. Essa autora discute que o nais (Santos, 2006). ... Certos saberes que não encontram um
saber científico se impôs como forma dominante de conhe- lugar definido nos currículos oficiais podem ser compreen-
cimento sobre os outros conhecimentos produzidos pelas didos como uma ausência ativa e, muitas vezes, intencional-
diferentes sociedades e povos africanos. Nesse sentido, a mente produzida.
discussão sobre a relação ou distinção entre conhecimento A consideração destes e de outros saberes trará novos
e saber - e que tem servido aos interesses dos grupos sócio elementos não só para as análises dos movimentos sociais
raciais hegemônicos - é colocada pela autora no contexto de e seus processos de produção do conhecimento como tam-
um debate epistemológico e político. Nesse mesmo deba- bém para a discussão sobre a reorientação curricular. A luta
te, podemos localizar a dicotomia construída nos currículos travada em torno da educação do campo, indígena, do ne-
entre o saber considerado como “comum a todos” e o saber gro, das comunidades remanescentes de quilombos, das
entendido como “diverso”. Guardadas as devidas especifici- pessoas com deficiência tem desencadeado mudanças na
dades históricas, sociais, culturais e geográficas que dizem legislação e na política educacional, revisão de propostas
respeito à realidade africana abordada pela autora acima curriculares e dos processos de formação de professores.
citada, podemos notar uma situação semelhante quando Também tem indagado a relação entre conhecimento esco-
refletimos sobre o lugar ocupado pelos saberes construídos lar e o conhecimento produzido pelos movimentos sociais.
pelos movimentos sociais e pelos setores populares na es- Ainda inspirados em Boaventura de Sousa Santos (2006),

106
GESTÃO PEDAGÓGICA

podemos dizer que a relação entre currículo e conhecimen- mundo. Nesse sentido, o ethos, como costume, articula-se
to nos convida a um exercício epistemológico e pedagógico às escolhas que o sujeito faz ao longo da vida. A ética fun-
de tornar os saberes produzidos pelos movimentos sociais e damenta a moral, ao expressar a sua natureza reflexiva na
pela comunidade em “emergências”, uma vez que a sua im- sistematização das normas.
portância social, política e pedagógica, por vezes, tem sido
colocada no campo das “ausências” resultando no “desper- A relação entre ética e diversidade nos coloca diante de
dício da experiência social e educativa”. Essa é mais uma in- práticas e políticas voltadas para o respeito às diferenças e
dagação que podemos fazer aos currículos. para a superação dos preconceitos e discriminações. Toma-
remos como exemplo dessas práticas a educação de pes-
Diversidade e ética – além de indagar a relação currículo soas com deficiência, a educação dos negros e a educação
e conhecimento, a discussão sobre a diversidade permite- do campo. No que se refere à educação de pessoas com
-nos avançar em um outro ponto do debate: a indagação deficiência, algumas indagações podem ser feitas: como ve-
sobre diversidade e ética. Como se pode notar, assumir a mos o debate sobre a inclusão das crianças com deficiência
diversidade no currículo implica compreender o nosso cami- na escola regular comum? As escolas regulares comuns in-
nhar no processo de formação humana que se realiza em um troduzem no seu currículo a necessidade de uma postura
contexto histórico, social, cultural e político. Nesse percurso ética em relação a essas crianças? Enxergamos essas crian-
construímos as nossas identidades, representações e valores ças na sua potencialidade humana e criadora ou nos apega-
sobre nós mesmos e sobre os “outros”. Construímos rela- mos à particularidade da “deficiência” que elas apresentam?
ções que podem ou não se pautar no respeito às diferenças. Esse debate faz parte dos processos de formação inicial e
Estas extrapolam o nível interpessoal e intersubjetivo, pois em serviço? Buscamos conhecer as experiências significati-
são construídas nas relações sociais. Será que nos relaciona- vas realizadas na perspectiva da educação inclusiva? Nesse
mos com os “outros” presentes na escola, considerando- os momento, faz-se necessário retomar a concepção de diver-
como sujeitos sociais e de direitos? O reconhecimento do sidade que orienta a reflexão presente nesse texto: a diver-
aluno e do professor como sujeitos de direitos é também sidade é entendida como a construção histórica, cultural e
compreendê-los como sujeitos éticos. No entanto, a relação social das diferenças. A construção das diferenças ultrapassa
entre ética e diversidade ainda é pouco explorada nas dis- as características biológicas, observáveis a olho nu. Nessa
cussões sobre o currículo. Segundo Marilena Chauí (1998), perspectiva, no caso das pessoas com deficiência, interes-
do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira sa reconhecê-las como sujeitos de direitos e compreender
como a cultura e a sociedade definem para si mesmas o que como se construiu e se constrói historicamente o olhar social
julgam ser a violência e o crime, o mal e o vício e, como e pedagógico sobre a sua diferença.
contrapartida, o que consideram ser o bem e a virtude. Por A construção do olhar sobre as pessoas com deficiên-
realizar-se como relação intersubjetiva e social a ética não é cias ultrapassa as características biológicas. Não será sufi-
alheia ou indiferente às condições históricas e políticas, eco- ciente incluir as crianças com deficiência na escola regular
nômicas e culturais da ação moral. comum se também não realizarmos um processo de reedu-
O reconhecimento do aluno e do professor como su- cação do olhar e das práticas a fim de superar os estereóti-
jeitos de direitos é também compreendê-los como sujeitos pos que pairam sobre esses sujeitos, suas histórias, suas po-
éticos. tencialidades e vivências. A construção histórica e cultural da
Marilena Chauí (1998) ainda esclarece que embora toda deficiência (ou necessidade especial, como ainda nomeiam
ética seja universal do ponto de vista da sociedade que a ins- alguns fóruns), enquanto uma diferença que se faz presente
titui (universal porque os seus valores são obrigatórios para nos mais diversos grupos humanos, é permeada de diversas
todos os seus membros), ela está em relação com o tempo e leituras e interpretações. Muitas delas estão alicerçadas em
a história. Por isso se transforma para responder a exigências preconceitos e discriminações denunciados historicamente
novas da sociedade e da cultura, pois somos seres históricos por aqueles(as) que atuam no campo da Educação Especial
e culturais e nossa ação se desenrola no tempo. Um bom e pelos movimentos sociais que lutam pela garantia dos di-
caminho para repensar as propostas curriculares para infân- reitos desses sujeitos. Como todo processo de luta pelo di-
cia, adolescência, juventude e vida adulta poderá ser uma reito à diferença, esse também é tenso, marcado por limites
orientação que tenha como foco os sujeitos da educação. e avanços. É nesse campo complexo que se encontram as
A grande questão é: como o conhecimento escolar poderá propostas de educação inclusiva. Na última década houve
contribuir para o pleno desenvolvimento humano dos sujei- vários avanços nas políticas de inclusão. Propostas de edu-
tos? Não se trata de negar a importância do conhecimento cação inclusiva acontecem nas redes de educação e nas es-
escolar, mas de abolir o equívoco histórico da escola e da colas. São políticas e propostas orientadas por concepções
educação de ter como foco prioritariamente os “conteúdos” mais democráticas de educação. O debate torna-se neces-
e não os sujeitos do processo educativo. Discutir a diversida- sário não apenas no âmbito das propostas, mas também
de no campo da ética significa rever posturas, valores, repre- no âmbito das concepções de diferença, de deficiência e de
sentações e preconceitos que permeiam a relação estabe- inclusão. A inclusão de toda diversidade e, especificamente,
lecida com os alunos, a comunidade e demais profissionais das pessoas com deficiência indaga a escola, os currículos,
da escola. Segundo Amauri Carlos Ferreira (2006), a ética é a sua organização, os rituais de enturmação, os processos
referência para que a escolha do sujeito seja aceita como de avaliação e todo o processo ensino- aprendizagem. In-
um princípio geral que respeite e proteja o ser humano no daga, sobretudo, a cultura escolar não imune à construção

107
GESTÃO PEDAGÓGICA

histórica, cultural e social da diversidade e das diferenças. Caminhando na mesma perspectiva de Boaventura
As práticas significativas de educação inclusiva se propõem Sousa Santos (2006), podemos dizer que a resposta a essas
a desconstruir o imaginário negativo sobre as diferenças, questões passa por uma ruptura política e epistemológica.
construído no contexto das desigualdades sociais, das prá- Do ponto de vista político, estamos desafiados a reinventar
ticas discriminatórias e da lenta implementação da igualda- novas práticas pedagógicas e curriculares e abrir um novo
de de oportunidades em nossa sociedade. Os teóricos que horizonte de possibilidades cartografado por alternativas ra-
investigam a inclusão de crianças com deficiência na escola dicais às que deixaram de o ser. E epistemológico na medida
regular comum possuem opiniões diversas sobre o tema e em que realizarmos uma crítica à racionalidade ocidental,
o indagam Propostas de educação inclusiva acontecem nas entendida como uma forma de pensar que se tornou totali-
redes de educação e nas escolas. São políticas e propostas zante e hegemônica, e propusermos novos rumos para sua
orientadas por concepções mais democráticas de educação. superação a fim de alcançarmos uma transformação social.
Isso nos leva a indagar em que medida os currículos escola-
Carlos Skliar (2004) questiona: a escola regular tende a res expressam uma visão restrita de conhecimento, ignoran-
produzir mecanismos educativos dentro de um marco de do e até mesmo desprezando outros conhecimentos, valo-
diversidade cultural? Ao refletir sobre a estrutura rígida que res, interpretações da realidade, de mundo, de sociedade e
ainda impera nas escolas, a sua organização temporal, sobre de ser humano acumulados pelos coletivos diversos. Enten-
o fenômeno da repetência, a exclusão sistemática, a discri- dendo que a questão racial permeia toda a história social,
minação com relação às variações linguísticas, raciais, étni- cultural e política brasileira e que afeta a todos nós, indepen-
cas etc, o autor conclui que esse processo ainda não se con- dentemente do nosso pertencimento étnico-racial, o movi-
cretizou. Podemos dizer que ele ainda está em construção, mento negro brasileiro tem feito reivindicações e construído
com maior ou menor amplitude, dependendo do contexto práticas pedagógicas alternativas, a fim de introduzir essa
político-pedagógico, do alcance das políticas e práticas de discussão nos currículos. Ricas experiências têm sido desen-
educação inclusiva, da forma como as diferenças são vistas volvidas em vários estados e municípios, com apoio ou não
no interior das escolas e da organização escolar. Nesse sen- das universidades e secretarias estaduais e municipais.
tido, o debate sobre a inclusão de crianças com deficiência No entanto, no início do terceiro milênio, o movimen-
revela que não basta apenas a inclusão física dessas crian- to negro passou a adotar uma postura mais propositiva,
ças na escola. Há também a necessidade de uma mudança realizando intervenções sistemáticas no interior do Estado.
de lógica, da postura pedagógica, da organização da escola Dessas novas iniciativas, alguns avanços foram conseguidos.
(seus tempos e espaços) e do currículo escolar para que a Um deles é a criação da Secretaria Especial de Políticas de
educação inclusiva cumpra o seu objetivo educativo. Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Esta secretaria, de
abrangência nacional, é responsável por várias ações vol-
É preciso também compreender os dilemas e conflitos tadas para a igualdade racial em conjunto com outros mi-
entre as perspectivas clínicas e pedagógicas que acompa- nistérios, secretarias estaduais e municipais, universidades,
nham a história da Educação Especial. E mais: compreender movimentos sociais e ONG’s. Além da SEPPIR, foi consti-
as discussões e práticas em torno dessa diferença como mais tuída no interior da Secretaria de Educação Continuada,
um desafio na garantia do direito à educação e conhecer as Alfabetização e Diversidade (SECAD), a Coordenadoria de
várias experiências educacionais inclusivas que vêm sendo Diversidade e Inclusão Educacional que tem realizado pu-
realizadas em diferentes estados e municípios. Estas expe- blicações, conferências e produção de material didático vol-
riências têm revelado a eficiência e os benefícios da edu- tado para a temática. Nessa nova forma de intervenção do
cação inclusiva não só para os alunos com deficiência, mas Movimento Negro e de intelectuais comprometidos com a
para a escola com um todo. A educação dos negros é um luta anti-racista, as escolas de educação básica estão de-
outro campo político e pedagógico que nos ajuda a avançar safiadas a implementar a lei de nº 10.639/03. Esta lei torna
na relação entre ética e diversidade e traz mais indagações obrigatória a inclusão do ensino da História da África e da
ao currículo. Como a escola lida com a cultura negra e com Cultura Afro- Brasileira nos currículos dos estabelecimentos
as demandas do Movimento Negro? Garantir uma educação de ensino públicos e particulares da educação básica. Trata-
de qualidade para todos significa, também, a nossa inserção -se de uma alteração da lei nº 9394/96, Lei de Diretrizes e
na luta anti-racista? Colocamos a discussão sobre a questão Bases da Educação Nacional, na qual foram incluídos mais
racial no currículo no campo da ética ou a entendemos como três artigos, os quais versam sobre essa obrigatoriedade. Ela
uma reivindicação dos ditos “diferentes” que só deverá ser também acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado
feita pelas escolas nas quais o público atendido é de maioria dia da morte de Zumbi) deverá ser incluído no calendário
negra? Afinal, alunos brancos e índios precisam saber mais escolar como dia nacional da consciência negra, tal como já
sobre a cultura negra, o racismo, a desigualdade racial? De é comemorado pelo movimento negro e por alguns setores
forma semelhante podemos indagar: e os alunos brancos, da sociedade.
negros e quilombolas precisam saber mais sobre os povos
indígenas? Como faremos para articular todas essas dimen- A partir desta lei, o Conselho Nacional de Educação
sões? Precisaremos de um currículo específico que atenda aprovou a resolução 01 de 17 de março de 2004, que insti-
a cada diferença? Ou essas discussões podem e devem ser tui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
incluídas no currículo de uma maneira geral? Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cul-
tura Afro-Brasileira. Nesse sentido, as escolas da educação

108
GESTÃO PEDAGÓGICA

básica poderão se orientar a partir de um documento que e as escolas: repensar seu ordenamento temporal como exi-
discute detalhadamente o teor da lei, apresentando suges- gência da garantia do direito de todos(as) à educação.
tões de trabalho e de práticas pedagógicas. Os Movimentos
do Campo também têm conseguido, aos poucos, transfor- As pesquisas educacionais mostram que a rigidez des-
mar demandas em práticas e políticas educacionais (Arroyo, se ordenamento é uma das causas do abandono escolar de
Caldart e Molina, 2004). Em 2002, o Conselho Nacional de coletivos sociais considerados como mais vulneráveis. Re-
Educação aprovou as Diretrizes Operacionais para a Edu- ver esses ordenamentos temporais é uma exigência ética e
cação Básica nas Escolas do Campo, por meio da Resolu- política para a garantia do direito à diversidade. A tendên-
ção CNE/CEB n. 01, de 03 de abril de 2002. A instituição das cia da escola é flexibilizar os tempos somente para aqueles
diretrizes é resultado das lutas e reivindicações dos movi- alunos e alunas estigmatizados como lentos, desacelerados,
mentos sociais e organizações que lutam por uma educação desatentos e/ou com problemas de aprendizagem. Quando
que contemple a diversidade dos povos que vivem no e do refletimos sobre a lógica temporal, na perspectiva da diver-
campo com suas diversas identidades, tais como, Sem Ter- sidade cultural e humana, trazemos novas indagações e pro-
ra, Pequenos Agricultores, Quilombolas, Povos da Floresta, blematizações a esse tipo de raciocínio ainda tão presente
Pescadores, Ribeirinhos, Extrativistas e Assalariados Rurais. nas escolas. Na realidade, a preocupação da escola deverá
A implementação das leis e das diretrizes acima citadas vem ser dar a todos(as) o devido tempo de aprender, conviver,
somar às demandas destes e de outros movimentos sociais socializar, formar-se, consequentemente, ter como critério
que se mantêm atentos à luta por uma educação que arti- na organização do currículo a produção de um tempo esco-
cule a garantia dos direitos sociais e o respeito à diversidade lar acolhedor e flexível que se aproxime cada vez mais da di-
humana e cultural. No entanto, há que se indagar como, e mensão cíclica e complexa das temporalidades humanas. O
se, esses avanços políticos têm sido considerados pelo cam- tempo para aprender não é um tempo curto. E, além disso,
po do currículo, pelo currículo que se realiza no cotidiano a escola não é só um espaço/tempo de aprendizagem. Ela
das escolas e pela ação pedagógica de uma maneira geral. é também um espaço sociocultural e imprime marcas pro-
fundas no nosso processo de formação humana. Por isso,
Diversidade e organização dos tempos e espaços esco- a organização escolar não pode ser reduzida a um tempo
lares – Um currículo que respeita a diversidade precisa de empobrecido de experiências pedagógicas e de vida. ... A
um espaço/tempo objetivo para ser concretizado. Nesse diversidade indaga os currículos e as escolas: repensar seu
sentido, podemos indagar como a educação escolar tem ordenamento temporal como exigência da garantia do di-
equacionado a questão do tempo e do espaço escolar. Eles reito de todos(as) à educação.
são pensados levando em conta os coletivos diversos? O
tempo/espaço escolar leva em conta os educandos com de- É preciso desnaturalizar o nosso olhar sobre o tempo
ficiência ou aqueles que dividem o seu tempo entre escola, escolar. Como nos diz Miguel Arroyo (2004a), o tempo da
trabalho e sobrevivência, os jovens e adultos trabalhadores escola é conflitivo porque é um tempo instituído, que foi
da EJA etc? Os currículos incorporam uma organização espa- durante mais de um século se cristalizando em calendários,
cial e temporal do conhecimento e dos processos de ensino- níveis, séries, semestres, bimestres, rituais de transmissão,
aprendizagem. A rigidez e a naturalização da organização avaliação, reprovação, repetência. Entender a lógica insti-
dos tempos e espaços escolares entram em conflito com a tucionalizada do tempo escolar que se impõe sobre os/as
diversidade de vivências dos tempos e espaços dos alunos alunos/as e professores(as) é fundamental para compreen-
e das alunas. Segundo Arroyo (2004a), a escola é também der muitos problemas crônicos da educação escolar. É ainda
uma organização temporal. Por isso, o currículo pode ser vis- este autor que nos diz que a compreensão das nuances e
to como um ordenamento temporal do conhecimento e dos dos dilemas da construção do tempo da escola poderá nos
processos de ensinar e aprender. A organização escolar é ajudar a corrigir os problemas de evasão, reprovação e re-
ainda bastante rígida, segmentada e a rigidez e a naturaliza- petência que atingem, sobretudo, os setores populares e os
ção da organização dos tempos e espaços escolares entram exclui da instituição escolar. Assim como o tempo, o espaço
em conflito com a diversidade de vivências dos tempos e da escola também não é neutro e precisa passar por um pro-
espaços dos alunos e das alunas. cesso de desnaturalização. O espaço escolar exprime uma
Como equacionar essas tensões? Que tipo de organiza- determinada concepção e interpretação de sujeito social.
ção escolar e que ordenamento temporal dos currículos e Podemos dizer que a escola enquanto instituição social se
dos processos de ensinar-aprender serão os mais adequa- realiza, ao mesmo tempo, como um espaço físico específico
dos para garantir a permanência e o direito à educação de e também sociocultural. No que concerne ao espaço físico
crianças, adolescentes, jovens e adultos submetidos a tem- da escola, é importante refletir que ele exprime uma deter-
pos da vida tão precários? Serão os(as) educandos(as) que minada concepção e interpretação de sujeito social. Como
terão que se adequar aos tempos rígidos da escola ou estes será a organização dos nossos espaços escolares? Será que
terão que ser repensados em função das diversas vivências o espaço da escola é pensado e ressignificado no sentido de
e controle dos tempos dos(as) educandos(as)? Propostas de garantir o desenvolvimento de um senso de liberdade, de
escolas e de redes de ensino vêm tentando minorar essas criatividade e de experimentação? Será que a forma como
tensões tomando como critério o respeito à diversidade de organizamos o espaço possibilita ao aluno e à aluna intera-
vivências do tempo dos(as) alunos(as) e da comunidade. gir com o ambiente, arranjar sua sala de aula, alterá-la este-
Nesse ponto tão nuclear, a diversidade indaga os currículos ticamente, movimentar-se com tranquilidade e autonomia?

109
GESTÃO PEDAGÓGICA

Ou o espaço entra como um elemento de condicionamento alunos e às alunas o direito a uma educação que respeite
e redução cultural de nossas crianças, adolescentes e jovens? a diversidade cultural e os sujeitos nas suas temporalidades
humanas. Nesse processo, os instrumentos tradicionais da
Enquanto espaço sociocultural, a escola participa dos avaliação escolar e a própria concepção de avaliação que
processos de socialização e possibilita a construção de redes ainda imperam na escola também serão indagados. A ava-
de sociabilidade a partir da inter-relação entre as experiên- liação poderá ser realizada de forma mais coletiva e com
cias escolares e aquelas que construímos em outros espaços o objetivo de acompanhamento do processo de constru-
sociais, tais como a vida familiar, o trabalho, os movimen- ção do conhecimento dos(as) aluno(as) nas suas múltiplas
tos sociais e organizações da sociedade civil e as manifes- dimensões humanas e não como instrumento punitivo ou
tações culturais. Pensar o espaço da escola é considerar que como forma de “medir o desempenho escolar”. A avaliação
o mesmo será ocupado, apropriado e alterado por sujeitos poderá ser realizada de forma mais coletiva e com o objeti-
sociais concretos: crianças, adolescentes, jovens e adultos. vo de acompanhamento do processo de construção do co-
Esses mesmos sujeitos, no decorrer das suas temporalidades nhecimento dos(as) aluno(as) nas suas múltiplas dimensões
humanas, interagem com o espaço e com o tempo de forma humanas e não como instrumento punitivo ou como forma
diferenciada. Será que essa tem sido uma preocupação da de “medir o desempenho escolar”.
educação escolar? Será que ao pensarmos a gestão da esco-
la consideramos a organização dos espaços escolares como Finalizando, é importante considerar que o questiona-
uma questão relevante? Será que exploramos o conteúdo mento às lógicas e práticas cristalizadas e endurecidas de
histórico e político imerso na arquitetura escolar? O espaço organização dos tempos/ espaços escolares faz parte das
escolar exprime uma determinada concepção e interpreta- lutas e conquistas da categoria docente que, historicamente,
ção de sujeito social. Podemos dizer que a escola enquanto vem apontando para a necessidade de uma redefinição e
instituição social se realiza, ao mesmo tempo, como um es- organização da escola a qual inclui, também, a denúncia aos
paço físico específico e também sociocultural. tempos mal remunerados, autoritários, extenuantes e alie-
Compreender a percepção e utilização do espaço pelas nantes. Portanto, no tempo da escola estão em jogo direitos
crianças, adolescentes, jovens e adultos é um desafio para dos profissionais da educação, dos pais, mães e dos alunos e
os(as) educadores(as) e uma questão a ser pensada quando alunas. O movimento dos(as) trabalhadores(as) da educação
reivindicamos uma escola democrática e um currículo que e os movimentos sociais vêm lutando por maior controle e
contemple a diversidade. A construção de uma escola de- alargamento do tempo de escola, assim como os(as) jovens
mocrática implica em repensar as estruturas e o funciona- e adultos(as) trabalhadores(as) lutam por adequar o tempo
mento dos sistemas de ensino como um todo, como, por rígido do trabalho a um tempo mais flexível de educação.
exemplo, reorganizar o coletivo dos(as) professores(as), criar Parafraseando Boaventura de Sousa Santos, ao discutir a re-
tempos mais democráticos de formação docente e dos alu- lação entre diversidade e organização dos tempos e espaços
nos, alterar a lógica e a utilização do espaço escolar e ga- escolares, podemos dizer que estamos diante de questões
rantir uma justa remuneração aos educadores e educadoras. fortes que indagam o currículo das nossas escolas e por isso
Ao discutirmos sobre o espaço, fatalmente, o tempo escolar exigem respostas igualmente fortes e ágeis.
será questionado. Para construir uma nova forma de organi-
zação dos tempos teremos que superar a ideia de um tem- Concluindo...
po linear, organizado em etapas em ascensão, calcado na
ideia de um percurso único para todos e da produtividade. A diversidade é muito mais do que o conjunto das di-
É preciso pensar o tempo como processo, como construção ferenças. Ao entrarmos nesse campo, estamos lidando com
histórica e cultural. a construção histórica, social e cultural das diferenças a qual
está ligada às relações de poder, aos processos de coloniza-
A articulação entre currículo, tempos e espaços escola- ção e dominação. Portanto, ao falarmos sobre a diversidade
res pressupõe uma nova estrutura de escola que se articu- (biológica e cultural) não podemos desconsiderar a constru-
la em torno de uma concepção mais ampla de educação, ção das identidades, o contexto das desigualdades e das lu-
entendida como pleno desenvolvimento dos(as) educandos tas sociais. A diversidade indaga o currículo, a escola, as suas
(as). Só assim os(as) alunos(as) serão realmente considera- lógicas, a sua organização espacial e temporal. No entanto,
dos como o eixo da ação pedagógica e da realização de é importante destacar que as indagações aqui apresentadas
toda e qualquer proposta de currículo. Dessa forma, os con- e discutidas não são produtos de uma discussão interna à
teúdos escolares, a distribuição dos tempos e espaços esta- escola. São frutos da inter-relação entre escola, sociedade e
rão interligados a um objetivo central: a formação e vivên- cultura e, mais precisamente, da relação entre escola e movi-
cia sociocultural próprias das diferentes temporalidades da mentos sociais. Assumir a diversidade é posicionar-se contra
vida – infância, pré- adolescência, adolescência, juventude e as diversas formas de dominação, exclusão e discriminação.
vida adulta. Em consequência, o tempo escolar poderá ser É entender a educação como um direito social e o respeito
organizado de maneiras diversas, como, por exemplo, em à diversidade no interior de um campo político. Muito tra-
fluxos mais flexíveis, mais longos e mais atentos às múltiplas balho temos pela frente! No entanto, várias iniciativas signi-
dimensões da formação dos sujeitos. Além disso, os critérios ficativas vêm sendo realizadas. Algumas delas são frutos de
do que seja precedente, do que seja reprovável/aprovável, práticas educativas transgressoras realizadas pelos docen-
fracasso/ sucesso serão redefinidos a fim de garantir aos tes em movimento, pelos profissionais de várias Secretarias

110
GESTÃO PEDAGÓGICA

Estaduais e Municipais de educação e por gestores(as) das de exigência, do qual depende o limiar que separa aqueles
escolas que entendem que o direito à educação será real- que têm êxito daqueles que não os têm.
mente pleno à medida em que também seja assegurado aos Nas sociedades humanas, quase todas as desigualdades
sujeitos que participam desse processo o direito à diferença. culturais que correspondem a uma forma ou outra de domí-
nio do real proporcionam classificações, que os sociólogos
Fonte chamam de “hierarquias de excelência”, para distingui-las de
Disponível: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ outros tipos das hierarquias. A excelência define-se como a
Ensfund/indag4.pdf qualidade de uma prática, na medida em que se aproxima
de uma norma ideal.
Ela remete a competências subjacentes, isto é, a uma
PERRENOUD, PHILIPPE. AVALIAÇÃO: “hierarquia de competência”.
DA EXCELÊNCIA À REGULAÇÃO DAS O fracasso escolar não é a simples tradução “lógica” de
APRENDIZAGENS – ENTRE DUAS LÓGICAS. desigualdades tão reais quanto naturais. Não se pode pura e
PORTO ALEGRE: ARTMED, 1999. simplesmente compará-lo a uma falta de cultura, de conhe-
cimentos ou de competências. Essa falta é sempre relativa
a uma classificação, ela própria ligada a formas e a normas
de excelência escolar, a programas, a níveis de exigência, a
A AVALIAÇÃO NO PRINCÍPIO DA EXCELÊNCIA
procedimentos de avaliação.
E DO ÊXITO ESCOLARES
Sendo assim, a análise dos procedimentos de avaliação
O que é um aluno fracassado? Para o sociólogo: não dispensa a explicação da gênese das desigualdades
reais nos domínios cobertos pelas formas e pelas normas de
“O aluno que fracassa é aquele que não adquiriu no pra- excelência. Ao contrário, ela convida a não esquecer jamais:
zo previsto os novos conhecimentos e as novas competências
• por um lado, que o fracasso escolar é sempre rela-
que a instituição, conforme o programa, previa que adquiris-
tivo a uma cultura escolar definida, ou seja, a formas
se” (Isambert-Jamati, 1971).
e normas particulares de excelência, a programas e
a exigências;
Essa definição resgata o senso comum. Entretanto, ela
levanta uma questão tão banal que poderia ser ignorada: • por outro, que a medida da excelência, por inter-
como se sabe se um aluno “adquiriu, ou não, no prazo pre- médio dos procedimentos de avaliação nunca é um
visto, os novos conhecimentos e as novas competências que simples reflexo das desigualdades de conhecimentos
a instituição, conforme o programa, previa que adquirisse”? e de competências, que ela as dramatiza, amplia-as,
Indiretamente, essa simples definição remete a um mundo desvia-as às vezes e, sobretudo, põe as hierarquias
de agentes e de práticas de avaliação: o grau de aquisição de excelência a serviço de decisões que as sobre de-
de conhecimentos e de competências deve ser avaliado por terminam.
alguém, e esse julgamento deve ser sustentado por uma ins-
tituição para tornar-se mais do que uma simples apreciação As diferenças e as desigualdades extraescolares - bio-
subjetiva e para fundar decisões de seleção de orientação ou lógicas, psicológicas, econômicas, sociais e culturais - não
de certificação. se transformam em desigualdades de aprendizagem e de
Os alunos são considerados como tendo alcançado êxi- êxito escolar, a não ser ao sabor de um funcionamento par-
to ou fracasso na escola porque são avaliados em função de ticular do sistema de ensino, de sua maneira de “tratar” as
exigências manifestadas pelos professores ou outros avalia- diferenças.
dores, que seguem os programas e outras diretrizes deter- Hoje, depois de mais de 20 anos de debates sobre a
minadas pelo sistema educativo. As normas de excelência diferenciação possível e desejável do ensino, a maioria dos
e as práticas de avaliação, sem engendrar elas mesmas as sistemas escolares ainda mantém amplamente a ficção se-
desigualdades no domínio dos saberes e das competên- gundo a qual todas as crianças de seis anos que entram na
cias, desempenham um papel crucial em sua transformação primeira série da escola obrigatória estariam igualmente
em classificações e depois em julgamentos de êxito ou de desejosas e seriam capazes de aprender a ler e a escrever
fracasso: sem normas de excelência, não há avaliação; sem em um ano. Todo mundo sabe que isso é falso, o que não
avaliação, não há hierarquias de excelência; sem hierarquias impede que tal ficção permaneça no princípio da estrutura
de excelência, não há êxitos ou fracassos declarados e, sem escolar, do tratamento das faixas etárias e da distribuição do
eles, não há seleção, nem desigualdades de acesso às habili- programa em graus anuais. No início da escolaridade obri-
tações almejadas do secundário ou aos diplomas. gatória, as diferenças de idades são as únicas que a escola
Normalmente, define-se o fracasso escolar como a sim- aceita levar em conta. Para afrontar a formidável diversidade
ples consequência de dificuldades de aprendizagem e como dos ritmos de desenvolvimento, desejou-se ignorar ou dei-
a expressão de uma falta “objetiva” de conhecimentos e de xar por conta das dispensas por idade o fato de que, aos
competência. Essa visão, que “naturaliza” o fracasso, impede seis anos, certos alunos possam manifestar um nível de de-
a compreensão do que ele resulta de formas e de normas de senvolvimento que outros só atingirão aos sete ou oito, ao
excelência instituídas pela escola, cuja execução local revela passo que outros já o haviam atingido aos quatro ou cinco.
algumas arbitrariedades, entre as quais a definição do nível Um atraso de desenvolvimento só é considerado quando ti-

111
GESTÃO PEDAGÓGICA

ver originado dificuldades graves, até mesmo um fracasso. cias de alto nível (raciocínio, comunicação), difíceis de deli-
A repetição da primeira série de escolaridade obrigatória, mitar em uma prova escrita ou em tarefas individuais.
que pretende aumentar a homogeneidade dos alunos que 7. Sob a aparência de exatidão, a avaliação tradicional
passam para o ano seguinte, está muito fortemente ligada esconde uma grande arbitrariedade, difícil de alcançar una-
à classe social, que é, assim, indiretamente considerada, por nimidade em uma equipe pedagógica: como se entender
uma medida de diferenciação grosseira e cujos efeitos são quando não se sabe nem explicitar, nem justificar o que real-
duvidosos. mente se avalia?
Quanto às diferenças que não dizem respeito a um
avanço ou a um atraso do desenvolvimento, elas têm al- Nem todos esses mecanismos ocorrem ao mesmo tem-
guns remédios conhecidos, utilizados apenas quando as di- po e nem sempre são suficientemente fortes para impedir
ficuldades são confirmadas: reprovação, apoio pedagógico, totalmente a inovação. No entanto, são freios que devem
atendimento médico-pedagógico ou psiquiátrico. A escola ser considerados em uma estratégia de mudança das prá-
não pensa realmente sobre as diferenças; ela trata seus efei- ticas pedagógicas. Isso não quer dizer que basta mudar a
tos com meios rudimentares. avaliação para que o resto se transforme como por milagre.
A mudança das práticas pedagógicas se choca com outros
OS PROCEDIMENTOS HABITUAIS DE AVALIAÇÃO, obstáculos.
OBSTÁCULOS À MUDANÇA DAS PRÁTICAS Nenhuma inovação pedagógica maior pode ignorar o
PEDAGÓGICAS sistema de avaliação ou esperar contorná-lo. Consequente-
mente, é necessário em qualquer projeto de reforma, em
A característica constante de todas as práticas de ava- qualquer estratégia de inovação, levar em conta o sistema e
liação é submeter regularmente o conjunto dos alunos a as práticas de avaliação, integrá-los à reflexão e modificá-los
provas que evidenciam uma distribuição dos desempenhos, para permitir a mudança.
portanto de bons e maus desempenhos, senão de bons e A avaliação tradicional é uma amarra importante, que
maus alunos. Às vezes, diz-se que essa avaliação é normati- impede ou atrasa todo tipo de outras mudanças. Soltá-la é,
va, no sentido de criar uma distribuição normal, ou curva de portanto, abrir a porta a outras inovações.
Gauss. É também comparativa: os desempenhos de alguns Talvez seja exatamente isto, afinal de contas, que dá
se definem em relação aos desempenhos dos outros mais medo e que garante a perenidade de um sistema de avalia-
do que a domínios almejados ou a objetivos. É igualmente ção que não muda muito, ao passo que, há décadas, vem-se
uma avaliação muito pouco individualizada (a mesma para denunciando suas falhas no plano docimológico e seus efei-
todos no mesmo momento, segundo o princípio do exa- tos devastadores sobre a autoimagem, o estresse, a tranqui-
me), mas onde cada um é avaliado separadamente por um lidade das famílias e as relações entre professores e alunos.
desempenho que supostamente reflete suas competências
pessoais.
A PARCELA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA EM
Em que e por que os procedimentos de avaliação ainda
TODA AVALIAÇÃO CONTÍNUA
em vigor na maioria das escolas do mundo levantam um
obstáculo à inovação pedagógica? Distinguirei sete meca- Afirmo que uma avaliação é formativa se, ao menos na
nismos complementares: mente do professor, supostamente contribuir para a regula-
ção das aprendizagens em curso no sentido dos domínios
1. A avaliação frequentemente absorve a melhor parte visados. Essa linguagem abstrata permite definir a regula-
da energia dos alunos e dos professores e não sobra muito ção por meio de suas intenções, sem se fechar de saída em
para inovar. uma concepção particular dos objetivos, da aprendizagem
2. O sistema clássico de avaliação favorece uma relação ou da intervenção didática. Isso é particularmente importan-
utilitarista com o saber. Os alunos trabalham “pela nota”: to- te quando se tenta, como farei aqui, descrever a parcela de
das as tentativas de implantação de novas pedagogias se avaliação formativa em toda prática pedagógica, indepen-
chocam com esse minimalismo. dentemente de qualquer referência ao vocabulário espe-
3 O sistema tradicional de avaliação participa de uma cializado e aos modelos prescritivos. Entretanto, ter-se-á o
espécie de chantagem, de uma relação de força mais ou cuidado de não esquecer que é preciso um “aprendiz” para
menos explícita, que coloca professores e alunos e, mais ge- aprender, um professor para organizar e gerir as situações
ralmente, jovens e adultos, em campos opostos, impedindo didáticas.
sua cooperação. Proponho considerar como formativa toda prática de
4. A necessidade de regularmente dar notas ou fazer avaliação contínua que pretenda contribuir para melhorar
apreciações qualitativas baseadas em uma avaliação padro- as aprendizagens em curso, qualquer que seja o quadro e
nizada favorece uma transposição didática conservadora. qualquer que seja a extensão concreta da diferenciação do
5. O trabalho escolar tende a privilegiar atividades fe- ensino. Essa ampliação corre o risco, de um ponto de vista
chadas, estruturadas, desgastadas, que podem ser retoma- prescritivo, de fazer com que a ideia de avaliação formativa
das no quadro de uma avaliação clássica. perca seu rigor. Na perspectiva descritiva que aqui adoto,
6. O sistema clássico de avaliação força os professores a essa ampliação autoriza a dar conta das práticas correntes
preferir os conhecimentos isoláveis e cifráveis às competên- de avaliação contínua sob o ângulo de sua contribuição al-

112
GESTÃO PEDAGÓGICA

mejada ou efetiva para a regulação das aprendizagens du- mativa quando permite orientar e otimizar as aprendizagens
rante o ano escolar. em curso sem preocupação de classificar certificar, selecio-
Ensinar é esforçar-se para orientar o processo de apren- nar. A observação formativa pode ser instrumentada ou pu-
dizagem para o domínio de um currículo definido, o que não ramente intuitiva, aprofundada ou superficial, deliberada ou
acontece sem um mínimo de regulação dos processos de acidental, quantitativa ou qualitativa, longa ou curta, original
aprendizagem no decorrer do ano escolar. Essa regulação ou banal, rigorosa ou aproximativa, pontual ou sistemática.
passa por intervenções corretoras, baseadas em uma apre- Nenhuma informação é excluída a priori, nenhuma modali-
ciação dos progressos e do trabalho dos alunos. O que é dade de percepção e de tratamento é descartada.
isso senão uma forma rudimentar e “selvagem” de avaliação Nada impede avaliar conhecimentos, fazer balanços.
formativa? Como Bloom (1972, 1979,1988) salientou a pro- Para reorientar a ação pedagógica, é preciso, em geral, ter
pósito da pedagogia do domínio, os modelos teóricos de uma ideia do nível de domínio já atingido. É possível tam-
avaliação formativa não fizeram senão explicitar, para otimi- bém interessar-se pelos processos de aprendizagem, pelos
zá-la e instrumentá-la, uma forma de regulação presente em métodos de trabalho, pelas atitudes do aluno, por sua in-
toda ação educativa de uma certa duração. serção no grupo, ou melhor dizendo, por todos os aspec-
tos cognitivos, afetivos, relacionais e materiais da situação
A IDÉIA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA didática.

A ideia de avaliação formativa sistematiza o funciona- b) Uma concepção ampla da intervenção


mento, levando o professor a observar mais metodicamente Não há razão alguma para associar a ideia de obser-
os alunos, a compreender melhor seus funcionamentos, de vação formativa a um tipo particular de intervenção. O de-
modo a ajustar de maneira mais sistemática e individualiza- senvolvimento e a aprendizagem dependem de múltiplos
da suas intervenções pedagógicas e as situações didáticas fatores frequentemente entrelaçados. Toda avaliação que
que propõe, tudo isso na expectativa de otimizar as apren- contribua para otimizar, por pouco que seja, um ou vários
dizagens: “A avaliação formativa está portanto centrada es- dentre esses fatores pode ser considerada formativa. Não
sencial, direta e imediatamente sobre a gestão das apren- se vê motivo para se restringir à definição da tarefa ou às
dizagens dos alunos (pelo professor e pelos interessados)”. instruções, ao procedimento didático e a seus suportes, ao
Essa concepção se situa abertamente na perspectiva de uma tempo conferido ao aluno ou ao apoio que a ele se dispensa.
regulação intencional, cuja intenção seria determinar ao O clima, as condições de trabalho, o sentido da atividade ou
mesmo tempo o caminho já percorrido por cada um e aque- a autoimagem importam tanto quanto os aspectos materiais
le que resta a percorrer com vistas a intervir para otimizar os ou cognitivos da situação didática.
processos de aprendizagem em curso. Pode-se ajudar um aluno a progredir de muitas manei-
Pretendo apresentar de maneira condensada o que me ras: explicando mais simplesmente, mais longa ou diferente-
parece o caminho mais fecundo para orientar tanto a pes- mente; engajando-o em nova tarefa, mais mobilizadora ou
quisa quanto a formação no curso dos próximos anos, sobre mais proporcional a seus recursos; aliviando sua angústia,
a ideia de avaliação formativa. devolvendo-lhe a confiança, propondo-lhe outras razões de
agir ou de aprender; colocando-o em um outro quadro so-
UTILIZAR TODOS OS RECURSOS POSSÍVEIS! cial, desdramatizando a situação, redefinindo a relação ou
o contrato didático, modificando o ritmo de trabalho e de
É formativa toda avaliação que ajuda o aluno a aprender progressão, a natureza das sanções e das recompensas, a
e a se desenvolver, ou melhor, que participa da regulação parcela de autonomia e de responsabilidade do aluno.
das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um A ampliação da intervenção segue várias direções
projeto educativo. Tal é a base de uma abordagem pragmá- complementares. Ela leva a se desvincular:
tica. Importa, claro, saber como a avaliação formativa ajuda
o aluno a aprender, por que mediações ela retroage sobre
os processos de aprendizagem. Todavia, no estágio da defi- • dos “sintomas”, para ater-se às causas profundas das
nição, pouco importam as modalidades: a avaliação formati- dificuldades;
va define-se por seus efeitos de regulação dos processos de • do programa em curso, para reconstruir estruturas
aprendizagem. Dos efeitos buscar-se-á a intervenção que os fundamentais ou pré-requisitos essenciais;
produz e, antes ainda, as observações e as representações
que orientam essa intervenção. • da correção dos erros, para se interessar pelo que
eles dizem das representações dos alunos, para ser-
a) Uma concepção ampla da observação vir-se deles como pontos de entrada em seu sistema
Melhor seria falar de observação formativa do que de de pensamento (Astolfi, 1997);
avaliação, tão associada está esta última palavra à medida, • das aquisições cognitivas, para levar em conta as di-
às classificações, aos boletins escolares, a ideia de informa- nâmicas afetivas e relacionais subjacentes;
ções codificáveis, transmissíveis, que contabilizam os conhe-
cimentos. Observar é construir uma representação realista • do indivíduo, para considerar um contexto e condi-
das aprendizagens, de suas condições, de suas modalidades, ções de vida e de trabalho na escola e fora dela.
de seus mecanismos, de seus resultados. A observação é for-

113
GESTÃO PEDAGÓGICA

Essa ampliação da intervenção, baseada em teoria, que e progredir de série em série. Outros não aprendem nada
responde à complexidade do real e adota uma abordagem ou quase nada e se acham rapidamente em situação muito
sistêmica, encontra na prática inúmeros obstáculos: identi- difícil. Para além da diversidade dos destinos escolares, per-
dade e competência dos professores, falta de disponibilida- cebe-se um único fenômeno: a impotência das pedagogias
de, divisão do trabalho entre professores. para gerar na maioria dos alunos, pelo menos nos momen-
tos compartilhados, aprendizagens à altura das ambições
c) Uma concepção ampla da regulação declaradas da escola.
A propósito de avaliação formativa e, mais geralmente, Pode-se analisar essa impotência de diversas maneiras,
de pedagogia de domínio, Allal (1988a) distinguiu três tipos insistir sobre o currículo, os meios de ensino, o método, os
de regulação: suportes audiovisuais, a relação pedagógica, etc. Sem des-
cartar totalmente esses fatores, julgo que eles passam ao
• as regulações retroativas, que sobrevêm ao termo
lado do essencial: o sucesso das aprendizagens se passa na
de uma sequência de aprendizagem mais ou menos
regulação contínua e na correção dos erros, muito mais do
longa a partir de uma avaliação pontual;
que no gênio do método. Sabe-se muito bem disso quanto
• as regulações interativas, que sobrevêm ao longo de à leitura: há toda sorte de maneiras de ensinar e de aprender
todo o processo de aprendizagem; a ler. Sem as opor, seria melhor procurar o que as aprendi-
zagens eficazes têm em comum. Encontrar-se-ia sem dúvida
• as regulações “proativas”, que sobrevêm no momen-
um denominador constante: regulações intensas e indivi-
to de engajar o aluno em uma atividade ou situação
dualizadas ao longo de todo o processo.
didática novas.
Daí decorre a concepção da didática defendida aqui: um
Essas três modalidades podem combinar-se. Nenhuma dispositivo que favorece uma regulação contínua das apren-
deveria ser associada a um procedimento estereotipado. dizagens.
Quanto a regulação interativa, é preciso associá-la a uma A didática, deve concernir ao seguinte registro: anteci-
modalidade de direção de classe e de diferenciação do ensi- par, prever tudo o que fosse possível, mas saber que o erro
no. Certamente, definindo microssequências de trabalho, ou e a aproximação são a regra, que será preciso retificar o alvo
mesmo de ensino, pode-se levar toda regu1ação interativa constantemente. Nesse espírito, a regu1ação não é um mo-
a uma regulação proativa ou retroativa e reencontrar-se em mento específico da ação pedagógica, é um componente
uma lógica da antecipação ou da remediação. O interesse permanente dela.
do conceito é justamente fazer a avaliação formativa pender Em que se transforma a avaliação formativa nessa pers-
para o lado da comunicação contínua entre professores e pectiva? É uma forma de regulação dentre outras. Antes de
alunos (Cardinet, 1988). Nesse espírito, melhor seria consi- recorrer a isso, cumpre, caso se privilegie a regulação no
derar as regulações proativas e retroativas como formas um curso da aprendizagem, alicerçar mais estratégias educa-
pouco frustradas de regulação interativa, concessões às con- tivas sobre o próprio dispositivo didático e, em particular,
dições de trabalho que, na maior parte das classes, impedem sobre dois outros mecanismos que, eles sim, não exigem a
uma interação equilibrada com todos os alunos. A regulação intervenção constante do professor: a regulação pela ação
interativa é prioritária porque só ela é verdadeiramente ca- e a interação e a autorregulação de ordem metacognitiva.
paz de agir sobre o fracasso escolar.
2) A regulação pela ação e a interação
1) A didática como dispositivo de regulação Weiss (1989, 1993) propôs falar-se de interação forma-
Como conceber dispositivos didáticos favoráveis a uma tiva pensando não só nas interações didáticas clássicas, mas
regulação contínua das aprendizagens? em todas as situações de comunicação nas quais a estimula-
Conceber a didática como dispositivo de regulação é ção ou a resistência da realidade não são assumidas somen-
romper com uma distinção clássica, senão sempre explícita, te pelo professor, mas por outros parceiros. A aprendizagem
entre um tempo do ensino, no sentido amplo, e um tempo se nutre das regulações inseridas na própria situação, que
da regulação. Esse esquema supõe que se possa, com razão, obriga o aluno, conforme as interações, a ajustar sua ação
dissociar dois momentos sucessivos na ação pedagógica: ou suas representações, a identificar seus erros ou suas dú-
- em um primeiro momento, o professor faria os alunos vidas, a levar em conta o ponto de vista de seus parceiros,
trabalharem, na base de uma hipótese didática otimista; ou seja, a aprender por ensaio e erro, conflitos cognitivos,
- em um segundo momento, ele se dedicaria (na medida cooperação intelectual ou qualquer outro mecanismo.
de seus meios) a corrigir e a diferenciar essa primeira ação A ideia de que a aprendizagem e o desenvolvimento
global, intervindo junto a certos alunos ou subgrupos em passam por uma interação com o real não é nova. Toda a
dificuldade. psicologia genética piagetiana é indissociavelmente cons-
trutivista e interacionista.
Hoje, as didáticas melhor concebidas não asseguram de A ação é fator de regulação do desenvolvimento e das
antemão senão as aprendizagens de uma fração dos alunos, aprendizagens muito simplesmente porque obriga o indi-
os melhores, dos quais se diz habitualmente que aprendem víduo a acomodar, diferenciar, reorganizar ou enriquecer
a despeito da escola e se conformam com todos os tipos seus esquemas de representação, de percepção e de ação.
de pedagogias. Dentre outras coisas, impõem-se nuanças: A interação social o leva a decidir, a agir, a se posicionar, a
alguns aprendem só o suficiente para sair-se honrosamente

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GESTÃO PEDAGÓGICA

participar de um movimento que o ultrapassa, a antecipar, a ria dos professores, a mente do aluno permanece uma caixa
conduzir estratégias, a preservar seus interesses. preta, na medida em que o que aí se passa não é diretamen-
A aula tradicional “modernizada” é uma forma de inte- te observável. É difícil reconstituir todos seus processos de
ração social. Pode-se duvidar de sua eficácia, especialmen- raciocínio, de compreensão, de memorização, de aprendi-
te quanto à participação dos alunos mais fracos. As peda- zagem a partir daquilo que diz ou faz o aluno, porque nem
gogias ativas buscam, pois, estruturas de interação menos todo funcionamento se traduz em condutas observáveis e
dependentes do professor como personagem central (tra- porque a interpretação destas últimas mobiliza uma teoria
balhos de grupo), menos fechadas na escola (investigações, inacabada da mente e do pensamento, das representações,
espetáculos) e que sejam acompanhadas de projetos, regras dos processos de assimilação e de acomodação, de diferen-
do jogo ou problemas que têm, para os alunos, mais sentido ciação, de construção, de equilíbrio das estruturas cognitivas.
e atrativo do que os exercícios escolares convencionais. Meu Mesmo quando a formação dos professores familiarizou-os
propósito não é debater aqui pedagogias ativas e interativas com as principais noções de psicologia do desenvolvimento
em detalhe, mas assinalar que essa é uma das problemáti- e da aprendizagem, seus conhecimentos teóricos são muito
cas às quais a perspectiva pragmática conduz no momento abstratos para que possam ajudá-los a compreender exata-
em que se está mais preocupado com as regulações do que mente o que se passa em uma determinada aprendizagem.
com a avaliação. 3- Regulações inacabadas
O terceiro obstáculo com o qual o professor se depara
3) A autorregulação de ordem metacognitiva é a falta de tempo, o número impressionante de microdeci-
A outra via promissora concerne ao que Bonniol e Nun- sões a tomar durante o dia, a dispersão contínua entre mil
ziati chamaram de avaliação formadora. Portanto, não se problemas de ordens diversas.
trata mais de multiplicar os feedbacks externos, mas de for- Quaisquer que sejam suas origens, essa fragmentação
mar o aluno para a regulação de seus próprios processos do tempo e das intervenções do professor tem efeitos con-
de pensamento e aprendizagem, partindo do princípio de sideráveis sobre a regulação das aprendizagens. Resta saber
que todo ser humano é, desde a primeira infância, capaz de como o professor gerencia a divisão de seu tempo entre os
representar, pelo menos parcialmente, seus próprios meca- subgrupos e entre os alunos. Em tal situação, ele tem a im-
nismos mentais. pressão de que deveria “se dividir em quatro”: tenta estar
Ainda aqui, a abordagem absolutamente não exclui a “em todo lugar ao mesmo tempo”, dedicar-se a cada um,
avaliação explícita feita pelo professor, especialmente como estar disponível para todo mundo, para responder a seu
encarnação de um modelo de objetivação dos processos sentimento pessoal da equidade - o direito que cada aluno
e dos conhecimentos, de explicação dos objetivos e das tem de receber atenção - e também para fazer frente às de-
expectativas. Contudo, se está bem longe dos testes com mandas relativamente insistentes de uma parte dos alunos,
critérios seguidos por remediações. Finalmente, a avaliação a começar pelos mais favorecidos. Consequência: inúmeras
formadora tem apenas um parentesco limitado com a ava- intervenções reguladoras não têm efeito, porque permane-
liação formativa. Ela privilegia a autorregulação e a aquisição cem inacabadas ou muito “descosturadas”.
das competências correspondentes.
4- Regulações muito centradas sobre o êxito da ta-
OS OBSTÁCULOS A UMA REGULAÇÃO EFICAZ refa
O quarto obstáculo com o qual se choca a regulação das
1- Uma lógica mais do conhecimento do que da aprendizagens é a prioridade dada pela maioria dos pro-
aprendizagem fessores, com frequência involuntariamente, à regulação das
O primeiro obstáculo é aquele que todas as pedagogias tarefas e ao controle do trabalho. Em princípio, as aprendiza-
por objetivos procuram transpor: na maioria dos sistemas gens são determinantes. Todavia, no dia-a-dia, o importante
escolares, o currículo formal enfatiza mais os conteúdos a é que o trabalho seja feito, que os alunos cheguem ao final
ensinar, as noções a estudar e a trabalhar do que os conhe- de seus exercícios, que participem das lições e das atividades
cimentos propriamente ditos. Em situação cotidiana de tra- coletivas, que cumpram seu ofício de aluno.
balho, dá-se mais ênfase aos conteúdos do que às aprendi- Esse modo de orientação é o oposto dos princípios da
zagens muito específicas que esta ou aquela tarefa suposta- escola ativa e da construção do saber pela atividade autô-
mente favorece. Ora, a regulação não pode ser feita senão noma do sujeito. Isso não significa que o professor ignore
por meio de pequenos toques, no momento em que o aluno esses princípios. Simplesmente, as exigências do trabalho
está às voltas com uma dificuldade concreta. Se o professor escolar e a administração de uma classe não lhe permitem
não tem exatamente em mente os domínios específicos vi- deixar aos alunos, sobretudo aos mais fracos, todo o tempo
sados, intervirá sobretudo para manter o aluno na tarefa ou requerido para construir conhecimentos ou competências
para ajudá-lo a realizá-la, intervenções que não garantem conforme seu ritmo.
absolutamente uma regulação das aprendizagens.
Um realismo surrealista?
2- Uma imagem muito vaga dos mecanismos da Para levar em conta as diferenças e pensar as regulações
aprendizagem individualizadas, no quadro de um dispositivo e de sequên-
O segundo obstáculo que a regulação encontra deve-se cias didáticas, é necessário afrontar uma complexidade que
à própria abstração da noção de aprendizagem. Para a maio- descarta definitivamente receitas, modelos metodológicos

115
GESTÃO PEDAGÓGICA

prontos para uso. Portanto, aceitar romper com as necessidades de grande parte dos professores, assumir o risco de lhes
propor procedimentos que não correspondem nem à sua imagem da profissão, nem a seu nível de formação. E aceitar sem
dúvida também entrar em conflito com uma classe política e com autoridades escolares que não pedem tanto e das quais, ao
menos uma parcela, se conforma muito bem com a relativa ineficácia das pedagogias em vigor.
É que há realismo e realismo. Um deles conservador, de visão curta, que se esconde por detrás das tradições e interesses
adquiridos para se resignar às desigualdades com um fatalismo sombrio ou alegre. Esse realismo não pode persistir senão
recusando-se a ver uma parte da realidade ou inventando fatalidades biológicas ou socioculturais que o protejam de qualquer
questionamento.
Existe um outro realismo, mais inovador, que se preocupa com o futuro, tanto dos indivíduos quanto das sociedades, que
não se conforma com o fato de que tantas crianças e adolescentes passem tantos anos na escola para sair dela sem dominar
verdadeiramente sua língua materna, sem ler correntemente e gostar disso, desamparados diante de um texto simples, des-
providos de meios de argumentação ou de expressão dos sentimentos. O realismo didático, tal qual defendo aqui, consiste
em considerar os aprendizes como são, em sua diversidade, suas ambivalências, sua complexidade, para melhor levá-los a
novos domínios. Talvez seja um realismo utópico. Será que temos realmente escolha?

NÃO MEXA NA MINHA AVALIAÇÃO!


UMA ABORDAGEM SISTÊMICA DA MUDANÇA
Mudar a avaliação é fácil dizer! Nem todas as mudanças são válidas. Pode-se bastante facilmente modificar as escalas de
notação, a construção das tabelas, o regime das médias, o espaçamento das provas. Tudo isso não afeta de modo radical o
funcionamento didático ou o sistema de ensino. As mudanças das quais se trata aqui vão mais longe. Para mudar as práticas
no sentido de uma avaliação mais formativa, menos seletiva, talvez se deva mudar a escola, pois a avaliação está no centro
do sistema didático e do sistema de ensino. Transformá-la radicalmente é questionar um conjunto de equilíbrios frágeis. Os
agentes o pressentem, adivinham que, propondo-lhes modificar seu modo de avaliar, podem-se desestabilizar suas práticas e
o funcionamento da escola. Entendendo que basta puxar o fio da avaliação para que toda a confusão pedagógica se desen-
role, gritam: “Não mexa na minha avaliação! ”
Coloco-me aqui na perspectiva de uma evolução das práticas no sentido de uma avaliação formativa, de uma avaliação
que ajude o aluno a aprender e o professor a ensinar. Não retomo a necessária articulação entre avaliação formativa e di-
ferenciação do ensino: a avaliação formativa não passa, no final das contas, de um dos componentes de um dispositivo de
individualização dos percursos de formação e de diferenciação das intervenções e dos enquadramentos pedagógicos. Se a
diferenciação é impossível, a avaliação formativa será apenas uma regulação global e, em resumo, clássica, da progressão de
um ensino frontal.

AVALIAÇÃO NO CENTRO DE UM OCTÓGONO

116
GESTÃO PEDAGÓGICA

Quando se fala do sistema de avaliação, a escola parece processos de aprendizagem, as atitudes e as aquisições dos
ainda muito próxima daquilo que os pais conheceram “em alunos.
sua época”, mesmo quando deixaram a escola há quatorze No ensino secundário, acumulam-se outras deficiên-
anos. cias maiores: fragmentação extrema do tempo escolar, tan-
A avaliação os tranquiliza sobre as chances de êxito de to para os professores quanto para os alunos; remissão do
seu filho ou os habitua, pelo contrário, à ideia de um fracasso apoio a estruturas especializadas (quando existem), por não
possível, até mesmo provável. Preocupadas com a “carreira” poder praticar o apoio integrado no contexto de um ho-
de seus filhos, as famílias de classe média ou alta aprende- rário estourado; divisão do trabalho entre especialistas das
ram o bom uso das informações dadas pela escola sobre seu diversas disciplinas, cujo funcionamento e nível do aluno
trabalho, suas atitudes e suas aquisições. Elas sabem contes- ninguém percebe globalmente; dificuldade de trabalho da
tar certas tabelas ou certas correções, fazer contato com o equipe pedagógica devido à atribuição das horas e ao nú-
professor para melhor compreender as razões de eventuais mero de professores por turma; horário muito pesado dos
dificuldades e intervir junto à criança e sobretudo utilizar as alunos, todas as atividades de apoio ou de desenvolvimento
notas ou as apreciações qualitativas para modular a pressão somando-se a uma semana muito cheia; repartição de to-
que exercem sobre os deveres e, mais geralmente, o sono, as das as horas entre as disciplinas, o que deixa pouco tempo
saídas, o tempo livre, as atitudes de seu filho. para realizar projetos interdisciplinares, aproveitar as opor-
Mudar o sistema de avaliação leva necessariamente a tunidades ou responder a necessidades não-planejadas;
privar uma boa parte dos pais de seus pontos de referên- organização fixa do tempo ao longo de todo o ano; locais
cia habituais, criando ao mesmo tempo incertezas e angús- utilizados por várias turmas, nos quais é impossível deixar
tias. É um obstáculo importante à inovação pedagógica: se material e muito difícil de reorganizar o espaço, apenas por
as crianças brincam é porque não trabalham e se preparam um ou dois períodos de quarenta e cinco minutos.
mal para a próxima prova; se trabalham em grupo, não se A escola primária dispõe, a esse respeito, de numerosos
poderá avaliar individualmente seus méritos; se engajam-se trunfos, que tornam ao menos possível uma diferenciação
em pesquisas, na preparação de um espetáculo, na escrita integrada do ensino. Para ir em direção a uma individualiza-
de um romance ou na montagem de uma exposição, os pais ção dos percursos de formação (Perrenoud, 1993a, 1996b),
quase não veem como essas atividades coletivas e pouco deve-se, contudo, mudar a organização das turmas, mes-
codificadas poderiam derivar em uma nota individual no mo no primário, e romper a estruturação do curso em graus
boletim. (Perrenoud, 1997a e 1997e).
Se existem relações de confiança, explicações podem
ser dadas, os pais compreendem que uma avaliação sem 3 - DIDÁTICA E MÉTODOS DE ENSINO
notas, mais formativa, é em definitivo do interesse de seus
filhos. Se o diálogo entre a escola e a família é rompido A ideia de avaliação formativa desenvolveu-se no qua-
(Montandon e Perrenoud, 1994), há razões para temer que dro da pedagogia de domínio ou de outras formas de peda-
uma mudança do sistema de avaliação focalize os temores e gogia diferenciada, relativamente pouco preocupadas com
as oposições dos pais. A mudança pode ser bloqueada por os conteúdos específicos dos ensinos e das aprendizagens.
essa única razão. A ênfase era dada às adaptações, ou seja, a uma organiza-
ção mais individualizada dos itinerários de aprendizagem,
baseada em objetivos mais explícitos, coletas de informação
2 - ORGANIZAÇÃO DAS TURMAS E POSSIBILIDADES
mais qualitativas e regulares e intervenções mais diversifi-
DE INDIVIDUALIZAÇÃO
cadas. Hoje, ainda, esse modelo cibernético mantém toda a
Uma avaliação somente é formativa se desemboca em sua validade, em um nível relativamente elevado de abstra-
uma forma ou outra de regulação da ação pedagógica ou ção, em qualquer ordem de ensino para qualquer disciplina
das aprendizagens. escolar e qualquer aprendizagem.
Uma avaliação formativa, no sentido mais amplo do No decorrer dos últimos anos, no plano teórico, assis-
termo, não funciona sem regulação individualizada das te-se, especialmente no campo do francês (Allal, Bain e Per-
aprendizagens. A mudança das práticas de avaliação é então renoud, 1993), mas isso se estenderá a outras disciplinas, a
acompanhada por uma transformação do ensino, da ges- uma reintegração da avaliação formativa à didática. Em cam-
tão da aula, do cuidado com os alunos em dificuldade. Entre po, contudo, essa reintegração levará tempo. Ainda mais
momentos de apoio – interno ou externo – e verdadeiras que, como é frequentemente o caso no ensino secundário,
pedagogias diferenciadas, há todo o tipo de organizações os professores se percebem como seus próprios metodólo-
intermediárias, mais ou menos ambiciosas. Não é necessá- gos ou trabalham com formadores centrados em uma dis-
rio, para ir no sentido da avaliação formativa, perturbar de ciplina e que se preocupam muito pouco com a avaliação.
alto a baixo a organização do trabalho. Em contrapartida,
lá onde parece impossível romper, ao menos parcialmente, 4 -CONTRATO DIDÁTICO, RELAÇÃO PEDAGÓGICA E
com uma pedagogia frontal, por que considerar uma trans- OFICIO DE ALUNO
formação das práticas de avaliação em um sentido mais for-
mativo. Ir em direção a uma avaliação mais formativa é transfor-
Uma avaliação formativa coloca à disposição do profes- mar consideravelmente as regras do jogo dentro da sala de
sor informações mais precisas, mais qualitativas, sobre os aula. Em uma avaliação tradicional, o interesse do aluno é o

117
GESTÃO PEDAGÓGICA

de iludir, mascarar suas falhas e acentuar seus pontos fortes. 6 - PROGRAMAS, OBJETIVOS, EXIGÊNCIA
O oficio de aluno consiste principalmente em desmontar as
armadilhas colocadas pelo professor, decodificar suas ex-
A introdução de uma pedagogia diferenciada e de uma
pectativas, fazer escolhas econômicas durante a preparação
avaliação formativa leva, cedo ou tarde, a mexer nos pro-
e a realização das provas, saber negociar ajuda, correções
gramas. Inicialmente, para abreviá-los, para extrair sua es-
mais favoráveis ou a anulação de uma prova malsucedida.
sência: não podemos cobrir um programa excessivamente
Em um sistema escolar comum, o aluno tem, sinceramente,
sobrecarregado senão nos resignarmos com o êxito de uma
excelentes razões para querer, antes de tudo, receber notas
importante fração dos alunos.
suficientes. Para isso, deve enganar, fingir ter compreendido
Ir em direção à avaliação formativa é não mais fabricar
e dominar por todos os meios, inclusive a preparação de
tantas desigualdades, é criar os meios para remediar as di-
última hora e a trapaça, a sedução e a mentira por pena.
ficuldades dos alunos mais lentos, mais fracos. Ora, não se
Toda avaliação formativa baseia-se na aposta bastante
pode “matar todos os coelhos de uma só cajadada”: é indis-
otimista de que o aluno quer aprender e deseja ajuda para
pensável, para lutar contra o fracasso escolar, deter-se no
isso, isto é, que está pronto para revelar suas dúvidas, suas
essencial, no cerne dos programas, renunciando a todos os
lacunas, suas dificuldades de compreensão da tarefa.
tipos de noções e de saberes que não são indispensáveis, ao
Se o professor que tenta fazer a avaliação formativa tem
menos não para todos os alunos. Os movimentos de moder-
o poder de decidir, praticamente ao mesmo tempo, o des-
nização dos programas nesse sentido (Perret e Perrenoud,
tino escolar do aluno, este último, sobretudo em um siste-
1990). Não subestimemos a amplitude da tarefa.
ma muito seletivo, terá todas as razões para conservar suas
Uma avaliação formativa, posta a serviço da regulação
estratégias habituais, mobilizar sua energia para iludir. E o
individualizada das aprendizagens, colocará o dedo, mais
professor achar-se-á reforçado no uso da avaliação como
rápido do que um ensino frontal, sobre as incoerências e as
instrumento de controle do trabalho e das atitudes (Cheval-
ambições desmedidas de certos planos de estudos. Quando
lard, 1986a) e de seleção. Ir em direção à avaliação formativa
muitos alunos de determinada idade cometem os mesmos
seria renunciar à seleção, o mecanismo permanente da re-
erros e não se pode facilmente remediar isso, porque ultra-
lação pedagógica, não fazer os alunos viverem sob a amea-
passam seu estágio de desenvolvimento intelectual, quan-
ça da reprovação ou da relegação para orientações menos
do certos tipos de saberes marginalizam, sistematicamente,
exigentes.
uma maioria de alunos, porque se encontram demasiada-
mente afastados de sua experiência e de suas aquisições an-
5 - ACORDO, CONTROLE, POLÍTICA INSTITUCIONAL teriores, deve-se certamente revisar o plano de estudos ou
Não se faz avaliação formativa sozinho, porque apenas deixá-lo mais próximo da vida, ou mais realista em relação
se pode avançar nesse sentido modificando bastante pro- às aquisições anteriores e às atitudes dos alunos. Toda peda-
fundamente a cultura da organização escolar, não só em es- gogia diferenciada funciona como um analisador crítico dos
cala de sala de aula, mas também de estabelecimento. planos de estudos.
É dispensável, vencer um obstáculo de peso: o indivi-
dualismo dos professores a vontade ciosa de fazer como se 7 - SISTEMA DE SELEÇÃO E DE ORIENTAÇÃO
quer, uma vez fechada a porta de sua sala de aula (Gather
A vocação da avaliação formativa é a de contribuir para
Thurler, 1994b, 1996). Também é provável que uma avalia-
as aprendizagens. Acha-se, portanto, em uma lógica de
ção formativa favoreça, sem que isso seja uma necessidade
ação: não é o momento de se resignar com as desigualdades
absoluta, uma divisão do trabalho diferente entre os profes-
e dificuldades. Nada impede que a realidade resista (Hutma-
sores, porque a explicação dos objetivos, a elaboração dos
cher, 1993), que o tempo passe, que o milagre não acon-
testes com critérios ou a construção de sequências didáti-
teça. Acontecem fracassos que obrigam a fazer o balanço
cas ou de estratégias de adaptação ultrapassam as forças
das aquisições então não é mais possível remediar, deve-se
de cada um considerado isoladamente. Deve-se, portanto,
tomar decisões de seleção ou de orientação.
rumar para uma divisão das tarefas, um desencerramento
Em si, a avaliação formativa não dá as costas a essa pers-
dos graus, uma colaboração entre professores que ensinam
pectiva. Em uma interpretação maximalista da pedagogia de
em classes paralelas ou na mesma disciplina.
domínio, poder-se-ia esforçar-se para dar constantemente
Paradoxalmente, uma avaliação formativa poderia dar à
novas chances, considerando que uma aprendizagem jamais
administração escolar mais controle sobre a qualidade e a
é impossível, que jamais se “tentou tudo” para levá-la a cabo.
conformidade do ensino de uns e de outros. Com certeza,
Sem ser derrotista, deve-se considerar não apenas restrições
limitaria a parcela das informações cifradas, mas conduziria
econômicas, que limitam os recursos e o tempo disponíveis,
a representações mais precisas daquilo que os alunos sa-
mas também a boa vontade decrescente dos aprendizes.
bem fazer realmente. Em vez de comparar taxas de fracassos
A articulação da avaliação formativa e da seleção não
ou médias de turmas, poder-se-iam comparar as aquisições
é evidente: em um determinado momento, apenas no final
reais e, portanto, distinguir mais claramente os professores
de um ano escolar ou de um ciclo de estudos plurianual, a
mais e menos eficientes.
avaliação muda de lógica. Quando se quer ajudar o aluno a
aprender, estabelece-se bruscamente um balanço que, sem
ser definitivo, comanda decisões a curto prazo, por vezes di-

118
GESTÃO PEDAGÓGICA

ficilmente reversíveis. Portanto, a questão é saber se os pro- Uma avaliação formativa somente pode ser cooperativa,
fessores podem desempenhar esse duplo papel, os alunos negociada, matizada, centrada mais na tarefa e nos proces-
adivinhando que as dificuldades reveladas em uma perspec- sos de aprendizagem do que na pessoa. Priva definitivamen-
tiva formativa podem, em determinado momento voltar-se te do poder de classificar, de distinguir, de condenar glo-
contra eles em uma perspectiva certificativa ou seletiva. balmente alguém em função de seus desempenhos intelec-
Nós nos encontramos aí diante de um paradoxo: a ava- tuais. Toda mudança, em qualquer instituição, pode colocar
liação formativa deveria estar inteiramente do lado do alu- em perigo a economia psíquica dos agentes, o equilíbrio às
no e, portanto, lhe dar recursos para enfrentar a seleção, do vezes frágil que construíram entre os prazeres e as frustra-
mesmo modo que o advogado de defesa encontra-se ao ções, as liberdades e os deveres que sua tarefa permite ou
lado do acusado em um processo ou o médico ao lado de impõe. Negá-lo leva a uma análise que ignora uma dimen-
seu paciente contra a doença. Seria melhor que a seleção são essencial dos sistemas vivos e de sua complexidade.
fosse encarnada por outros agentes, que não tivessem por
tarefa ensinar, mas dizer quem atingiu um domínio suficien- ABORDAGEM SISTÊMICA PODE SER
te para obter um diploma ou chegar a um ciclo de formação. DESMOBILLZADORA?
Se o sistema de seleção e de orientação deixa as famí-
lias e os alunos assumirem suas responsabilidades, correrem A abordagem sistêmica aqui adotada nada tem de ori-
os riscos de uma orientação demasiadamente ambiciosa e, ginal, ela se impõe em todas as ciências sociais que têm por
portanto, de um fracasso algum tempo mais tarde, a escola tarefa dar conta das organizações e das práticas humanas
estaria, no momento da decisão, em uma relação mais de (ver, por exemplo, Amblard, 1996; Bernoux, 1985; Crozier e
ajuda do que de autoridade. Seu papel não seria mais o de Friedberg, 1977; Friedberg, 1993). Se em educação se deve
impedir de entrar em determinada habilitação difícil ou de incessantemente fazer retomadas, isso acontece em razão
progredir no curso, mas dar conselhos, informações, indi- da constante tentação de esquecer a complexidade para
cações a partir das quais os alunos e suas famílias se deter- acreditar em uma mudança rápida e limitada da escola. Essa
minariam com conhecimento de causa. Nesse caso, em vez tentação é compreensível: se aceitamos a abordagem sistê-
de se opor à avaliação formativa, a avaliação seletiva a pro- mica, avaliamos a impossibilidade de mudar radicalmente as
longaria, na mesma lógica cooperativa: quando não é mais práticas de avaliação sem fazer evoluir o conjunto da profis-
tempo de aprender, quando se deve fazer um balanço e to- são de professor e da organização escolar; o que distingue
mar decisões, restam conselhos a dar, regulações a operar. A ainda mais a realização das ideias e de modelos sedutores.
escola poderia assistir aos pais e crianças em sua negociação Se, mais do que nunca, é necessário mudar a avaliação
da orientação (Bain, 1979; Berthelot, 1993; Duru-Bellat, 1979; em um sentido mais formativo, importa integrar o caráter
Richiardi, 1988) mais do que decidi-la em seu lugar. sistêmico das práticas em nossas estratégicas de mudança.
Para se opor simultaneamente à avaliação, à didática, à re-
lação entre professores e alunos, aos programas, à organi-
8 - SATISFAÇÕES PESSOAIS E PROFISSIONAIS
zação das turmas e do curso, à seleção, não existe método
A avaliação tradicional é uma fonte de angústia para os pronto. Pode-se, no entanto, indicar três pistas complemen-
alunos com dificuldade e até para os demais, que não têm tares que implicam fortemente os primeiros agentes envol-
grande coisa a temer, mas não o sabem... Também é uma vidos:
fonte de estresse e de desconforto para uma parte dos pro-
fessores, que não gostam de dar notas. Mesmo para eles, 1. Fazer evoluir o funcionamento dos estabelecimentos
e “a fortiori” para os outros, o sistema de avaliação é um em direção a uma autoridade negociada, verdadeiros pro-
tipo de “faixa de segurança”, bem-vinda face às múltiplas jetos, uma autonomia substancial, resultante de uma real
incertezas que concernem aos objetivos e aos programas, ao responsabilidade.
procedimento pedagógico, à disciplina, ao lugar dos pais na 2. Favorecer a cooperação entre professores em equipes
escola, etc. O sistema tradicional de avaliação oferece uma pedagógicas ou em redes.
direção, um parapeito, um fio condutor; estrutura o tempo 3. Agir sobre todos os parâmetros (estatuto dos profes-
escolar, mede o ano, dá pontos de referência, permite saber sores, formação, gestão) que aumentam o grau de profissio-
se há um avanço na tarefa, portanto, se há cumprimento de nalização do professor e das profissões conexas.
seu papel.
Não se pode responsabilizar o medo da mudança por Isso deveria conduzir os defensores da avaliação forma-
todas as resistências. Muitos professores sabem ou perce- tiva e da diferenciação, como os didáticos das disciplinas,
bem que, sem evolução, estão condenados à rotina e ao os partidários da escola ativa, os defensores das tecnologias
tédio (Huberman, 1989). Definitivamente, a mudança não novas ou de qualquer outra modernização dos conteúdos
passa de um momento difícil, por vezes estimulante, caso ou dos métodos a trabalharem em mais estreita colaboração
resulte em uma renovação e crie equilíbrios mais fecundos. com aqueles que refletem sobre a organização escolar como
A situação é mais grave quando os professores pressentem sistema complexo.
que não encontrarão, em um novo sistema de avaliação, A perspectiva sistêmica ainda não faz parte da cultura
as satisfações, confessáveis ou não, que lhes proporciona a comum de todos os pesquisadores em educação e de todos
avaliação tradicional. os inovadores. Se ela lhes falta, são fadados a se perguntar,
durante décadas ainda, por que a escola não adota as belas

119
GESTÃO PEDAGÓGICA

ideias resultantes de seus trabalhos ou da reflexão dos mo- No entanto, os professores, ao planejar as sequências
vimentos pedagógicos. didáticas, tendem a separar as atividades de ensino e apren-
dizagem das atividades de avaliação. Quando se planeja
CONCLUSÃO uma sequência, costuma-se pensar em quais conteúdos
pretende-se ensinar ou nas atividades e nos exercícios que
serão aplicados, mas muito pouca atenção é dispensada
AVALIAÇÃO FORMATIVA, REGULAÇÃO, para detectar as dificuldades dos alunos, compreender suas
DIFERENCIAÇÃO: AS MESMAS QUESTÕES, O MESMO possíveis causas e pensar em como regulá-las.
COMBATE As dificuldades e os erros dos alunos provêm essencial-
mente de como eles percebem o que é importante apren-
Enquanto a intenção de instruir não der resultados, o der, de sua maneira de raciocinar, falar, escrever, comunicar
conflito entre a lógica formativa e a lógica seletiva perma- o conhecimento e “emocionar-se” com ele, além de seus
necerá. Pode-se, certamente, prorrogar e atenuar a seleção, próprios valores. Muitas vezes, porém, não é fácil superar
mas o centro do problema está alhures, na impotência da essas dificuldades. Poderíamos dizer que ensinar é ajudar os
escola em alcançar seus fins educativos declarados. alunos a identificar as diferenças entre sua maneira de fa-
Não se pode pedir que a avaliação substitua o ensino. zer, pensar, falar, sentir e valorizar e as maneiras promovidas
Em contrapartida, ela não deveria jamais impedir uma peda- pela escola (ver Quadro 1).
gogia diferenciada, ativa, construtivista, aberta, cooperativa, O desafio para os professores, mais do que buscar a
eficiente, mas se colocar a seu serviço. Isso não dispensa de melhor forma de “explicar” bem determinado conteúdo ou
desenvolver prioritariamente essa pedagogia, com suas di- selecionar atividades motivadoras, é conseguir que os alu-
mensões avaliativas, além de todas as demais. nos, quando escutam as explicações ou realizam as ativida-
Desse ponto de vista, se a avaliação formativa se engana des, reconheçam as diferenças entre o que se propõe e sua
ao se separar da didática (Bain, 1988a e b), perde-se também própria maneira de pensar ou fazer e, com isso, ajudá-los a
caso se torne uma problemática autônoma, ao passo que superar os obstáculos que comumente encontram.
seu único interesse seria o de se articular com uma pedago-
gia diferenciada. As atividades de avaliação deveriam ter como finalida-
Daí porque, conhecendo o peso das palavras, seria bom de principal favorecer esse processo de regulação, de modo
que ao agrupamento daqueles que trabalham sobre as di- que os próprios alunos possam detectar suas dificuldades
versas facetas e funções da avaliação, façam o contrapeso e, a partir daí, desenvolver estratégias para superá-las. Con-
das associações, departamentos universitários, programas e tudo, não podemos ajudá-los se não compreendemos os
projetos de pesquisa ou de desenvolvimento que reúnam alunos a quem ensinamos nem por que motivos eles co-
abordagens transversais e abordagens didáticas do ensino metem erros. Sem dúvida, um fator importante do fracasso
e da aprendizagem, em torno do tema da diferenciação, da escolar reside no fato de que nós, professores, estamos mais
regulação, da individualização dos percursos. preocupados com a tarefa de transmitir corretamente uma
informação do que com a compreensão acerca de por que
Fonte os alunos não a compreendem.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regu- Em geral, a avaliação não se associa a essa função regu-
lação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre: ladora, mas sim isoladamente à qualificação e à seleção dos
Artmed, 1999 alunos, que a sociedade outorga aos professores para que
decidam quais alunos aprovam, quais passam de ano, quais
SANMARTÍ, NEUS. AVALIAR PARA podem seguir determinados cursos, etc. Por outro lado,
quando se realiza uma boa avaliação com funções regula-
APRENDER. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2009.
doras, um número maior de alunos obtém bons resultados
nas avaliações “somativas”.
Os conteúdos e procedimentos selecionados para ava-
AVALIAR PARA APRENDER liar com finalidades qualificadoras e os critérios de avaliação
aplicados condicionam totalmente como o professor ensina
A avaliação deveria ter como finalidade principal permi- e como os alunos aprendem. Por exemplo, se as perguntas
tir que os próprios alunos possam detectar suas dificuldades das provas são do tipo “decoreba” e reproduzem o que diz
e desenvolver estratégias para superá-las o texto do livro utilizado em aula, é natural que os alunos
Aprender compreende basicamente superar obstácu- acreditem que é necessário estudar somente um dia antes
los e erros. As estratégias e os métodos de avaliação apli- da prova para depois esquecer tudo e que não vale a pena
cados nos processos de ensino e aprendizagem têm uma trabalhar de modo constante.
extraordinária repercussão nos resultados desses processos. Também é sabido como as provas externas influenciam
Ou seja, a avaliação não apenas mede os resultados, mas o que se ensina na escola e como se ensina. Por isso, em
também condiciona o que e como se ensina, sobretudo o diversas instituições, promovem-se avaliações externas que
que aprendem os alunos e de que forma eles o fazem. De mostram critérios distintos dos tradicionais sobre o que va-
fato, não é possível considerar a avaliação separadamente lorizar e como avaliar aprendizagens. É o caso, por exemplo,
dos processos de ensino e aprendizagem. do programa de avaliação PISA, que pretende avaliar a capa-

120
GESTÃO PEDAGÓGICA

cidade dos alunos para transferir aprendizagens à análise, à


interpretação e à valorização de fatos cotidianos. A avaliação condiciona o que e como aprendemos. A
ideia que os alunos têm do que aprenderão não depende
O que se entende por avaliar? tanto do que lhes diz o professor, mas sim do que ele real-
mente considera no momento de avaliar, e em relação a
O conceito de avaliação pode ser utilizado em muitos isso adaptam sua maneira de aprender. Por exemplo, se o
sentidos, com finalidades diversas e através de meios varia- professor diz para os estudantes que estabeleçam relações,
dos. Em todos os casos, porém, uma atividade de avaliação deduzam, hierarquizem, sejam criativos, porém as perguntas
pode ser identificada como um processo caracterizado por: das provas são do tipo “decoreba” e reprodutoras do que foi
dito em classe ou do que consta no livro didático, os alunos
• recolher informações, seja por meio de instrumentos
percebem que isso é o que realmente é pedido e limitam-se
escritos ou não, já que também se avalia através da
a memorizar, no dia anterior à prova, os conhecimentos que
relação com os alunos no grande grupo, observando
lhes serão requeridos.
sua expressão ao iniciar a aula, comentando aspec-
Muitas vezes, os professores justificam as perguntas do
tos de seu trabalho enquanto o realizam, etc.;
tipo “decoreba” dizendo que, se formulassem outras mais
• analisar essa informação e emitir um juízo sobre ela, próprias, a maioria dos alunos seria reprovada. Assim, ten-
uma vez que, de acordo com a expressão facial que dem a se adaptar aos alunos, que naturalmente buscam ser
observamos, saberemos se aquilo que tínhamos aprovados com o mínimo de esforço possível, renunciando à
como objetivo de trabalho para aquele dia será difí- tentativa de serem os alunos a se adaptarem a eles. Uma das
cil de obter; principais causas do fracasso dos alunos ao tentar responder
a questões mais complexas reside precisamente na pouca
• tomar decisões conforme o juízo emitido e saber
importância que se dá à avaliação-regulação de suas dificul-
que tais decisões se relacionam basicamente com
dades enquanto estão aprendendo. Em geral, são propostas
dois tipos de finalidades: de caráter social e de ca-
atividades para que “exercitem” novos saberes, mas não se
ráter pedagógico.
pensa em como regular seus erros.
A pergunta que comumente se propõe refere-se ao
As finalidades de caráter social servem para constatar
tempo necessário para realizar atividades de regulação re-
e certificar, diante dos alunos, dos pais e da sociedade em
lacionadas a tarefas complexas. É o eterno dilema entre, por
geral, o nível de determinados conhecimentos ao finalizar
um lado, o trabalho lento e em profundidade, com resulta-
uma unidade ou etapa de aprendizagem. Essa avaliação é a
dos sempre imediatos, mas muito eficaz a longo prazo, e,
que chamamos de qualificação ou avaliação somativa e tem
por outro, um trabalho superficial e rápido que se demons-
a função de selecionar ou orientar os alunos.
trou em múltiplas ocasiões que não tem futuro.
As finalidades de caráter pedagógico ou reguladoras
Se a opção é promover o avanço de todos os alunos,
servem para identificar as mudanças que devem ser intro-
não resta dúvida de que é preciso enfrentar o duplo desa-
duzidas no processo de ensino para ajudar os alunos em
fio que comporta selecionar muito bem os conteúdos que
seu processo de construção do conhecimento. Por exem-
devem ser ensinados, de modo que sejam muito significati-
plo, se atestamos que em uma aula que os alunos não estão
vos, e aplicar uma avaliação que seja útil para os professores
em condições de trabalhar acerca de um objetivo proposto,
em sua atuação docente, gratificante para os alunos em sua
podemos decidir mudar tanto o objetivo quanto as ativida-
aprendizagem e orientadora para ambos em suas atuações.
des previstas. Quando detectamos os erros que os alunos
comentem, podemos propor-lhes tarefas complementares,
Conclusão
revisar nossa forma de ajudá-los a compreender como e por
que devem realizar determinada tarefa, etc. Essa avaliação
A avaliação, entendida como autoavaliação e coavalia-
tem a finalidade de “regular” tanto o processo de ensino
ção, constitui o motor de todo o processo de construção do
quanto o de aprendizagem e costuma ser chamado de ava-
conhecimento. Tanto os que ensinam quanto os que apren-
liação formativa.
dem devem obter dados e valorizar a coerência das ideias
Assim, na avaliação formativa tradicional, a regulação da
expostas e dos procedimentos que se aplicam. Em função
aprendizagem é realizada essencialmente pelos professores,
dessa informação, devem tomar decisões sobre a introdu-
pois a eles é delegada a função de detectar as dificuldades e
ção de possíveis mudanças.
os acertos dos alunos, analisá-los e tomar decisões. No en-
Não é aquele que ensina quem dá para o aluno a infor-
tanto, está provado que somente o próprio aluno pode cor-
mação de que necessita, como tampouco é o aluno quem
rigir seus erros, percebendo por que se equivoca e tomando
descobre qual conhecimento é novo. À medida que o alu-
decisões adequadas de mudança. A função dos professores
no vai identificando o que conhece, o que observa e o que
deveria centrar-se, portanto, em compartilhar com os alunos
dizem os demais, ele poderá valorizar o que lhe interessa,
esse processo avaliativo. Não é suficiente que aquele que
tomando decisões sobre se é útil assimilar as novas informa-
ensina “corrija” os erros e “explique” a visão correta; deve
ções e as novas formas de raciocinar, fazer ou falar. E aquele
ser o próprio aluno quem se avalia, propondo-se atividades
que ensina também avalia o que acontece em aula, como os
com esse objetivo específico. Tal avaliação é chamada de
alunos raciocinam e agem, tomando decisões sobre quais
avaliação formadora.
situações didáticas, atividades e propostas serão feitas ao

121
GESTÃO PEDAGÓGICA

grupo, as quais facilitem a superação das dificuldades que, • Processo de Planejamento


sem dúvida, os que aprendem encontrarão.
• Tipos e níveis de Planejamento
Sem avaliação das necessidades dos alunos, não ha-
verá tarefa efetiva dos professores. Sem autoavaliação do • Estrutura e Elaboração do Projeto de Ensino-Apren-
significado que têm os dados novos, as novas informações, dizagem
as diferentes maneiras de entender ou de fazer, não haverá
• Estrutura e Elaboração do Projeto Político-Pedagógico
progresso. Por isso, ensinar, aprender e avaliar são, na reali-
dade, três processos inseparáveis.
Por onde se deve começar um bom planejamento?
Fonte
Para o autor, depende muito da dinâmica dos grupos.
SANMARTÍ, Neus. Avaliar para aprender. Porto Alegre:
Existem três dimensões básicas que precisam ser conside-
Artmed, 2009
radas no planejamento: a realidade, a finalidade e o plano
de ação. O plano de ação pode ser fruto da tensão entre a
VASCONCELLOS, CELSO DOS S. realidade e a finalidade ou o desejo da equipe. Não importa
PLANEJAMENTO – PROJETO DE ENSINO- muito se você explicitou primeiro a realidade ou o desejo.
APRENDIZAGEM E PROJETO POLÍTICO- Então, por exemplo, não há problema algum em começar
um planejamento sonhando, desde que depois você tenha
PEDAGÓGICO. SÃO PAULO: LIBERTAD, 2002.
o momento da realidade, colocando os pés no chão. Em al-
guns casos, se você começa o ano fazendo uma avaliação
do ano anterior, o grupo pode ficar desanimado - afinal, a
Por uma série de distorções históricas, o planejamen- realidade, infelizmente, de maneira geral, é muito complica-
to, seja como Projeto de Ensino-Aprendizagem ou Projeto da, cheia de contradições. Às vezes, começar resgatando os
Político-Pedagógico, acabou ficando marcado, na represen- sonhos, as utopias, dependendo do grupo, pode ser mais
tação dos educadores, tanto pelo ‘Impossível’ (não é possí- proveitoso. O importante é que não se percam essas três di-
vel planejar de forma autêntica), quanto pelo ‘Contingente’ mensões e, portanto, em algum momento, a avaliação, que
(não é necessário, da maneira como vem acontecendo não é o instrumento que aponta de fato qual é a realidade do
resolve). Nosso desafio é resgatá-lo como ‘Necessário’ e trabalho, vai aparecer, começando o planejamento por ela
‘Possível’. Entendemos que é preciso superar a adesão des- ou não.
lumbrada (que considera o planejamento como uma espécie
de panaceia), ou a pura e simples rejeição (que o considera É possível realizar um processo de ensino e aprendizagem
como empulhação), compreendendo-o como prática huma- sem planejar?
na contraditória, tendo lucidez de seus limites (constrangi-
mentos naturais, sociais ou inconscientes, concepções equi- Vasconcellos afirma que é impossível porque o planeja-
vocadas), mas também de suas potencialidades (tomada de mento é uma coisa inerente ao ser humano. Então, sempre
consciência, elemento articulador da ação). temos algum plano, mesmo que não esteja sistematizado
Na sua essência, a educação é projeto, e, mais do que por escrito. Agora, quando falamos em processo de ensino
isto, encontro de projetos; encontro muitas vezes difícil, con- e aprendizagem, estamos falando de algo muito sério, que
flitante, angustiante mesmo; todavia altamente provocativo, precisa ser planejado, com qualidade e intencionalidade.
desafiador, e, porque não dizer, prazeroso, realizador. Planejar é antecipar ações para atingir certos objetivos, que
Mais do que sistematizar e disponibilizar ferramentas, vêm de necessidades criadas por uma determinada realida-
esperamos estar colaborando para romper bloqueios e de, e, sobretudo, agir de acordo com essas ideias antecipa-
apontar caminhos, a fim de fazer do Planejamento um Mé- das.
thodos de Trabalho do educador (pessoal e coletivamente),
que o ajude na tarefa tão urgente e essencial de transformar Em alguns contextos, o planejamento ainda é encarado
a prática, na direção de um ensino mais significativo, crítico, como um instrumento de controle?
criativo e duradouro, como mediação para a construção da
cidadania, na perspectiva da autonomia e da solidariedade. Em algumas escolas e redes, ele ainda é um instrumento
Que o planejamento efetivamente deixe de ser visto como burocrático e autoritário. Em um sistema autoritário, o pla-
função burocrática, formalista e autoritária, e seja assumido nejamento é uma arma que se volta contra o professor por-
como forma de resgate do trabalho, de superação da aliena- que o que ele disser - ou alguém disser por ele - que vai ser
ção, de reapropriação da existência. feito tem que ser cumprido. Caso contrário, ele foi incompe-
Aborda os seguintes aspectos: tente. E, nem sempre, conseguimos fazer o que planejamos.
• A problemática atual do Planejamento na Educação Por diversas razões, inclusive por falha nossa, mas não uni-
camente por isso. No entanto, o movimento da sociedade e
• Ressignificação da Prática do Planejamento o processo de redemocratização têm favorecido o conceito
de planejamento como real instrumento de trabalho e não
• Fundamentos Histórico-Antropológicos do Planeja-
como uma ferramenta de controle dos professores.
mento

122
GESTÃO PEDAGÓGICA

Qual a relação entre o planejamento e o projeto político Existe algum momento que deve ser planejado com mais
pedagógico? cuidado?

Nesse processo de planejar as ações de ensino e apren- As primeiras aulas. Principalmente das séries iniciais.
dizagem, existem diversos produtos, como o projeto políti- Existem estudos que mostram que a boa relação profes-
co pedagógico, o projeto curricular, o projeto de ensino e sor/aluno pode ser decidida nessas aulas. Há pesquisas que
aprendizagem ou o projeto didático, que podem ou não es- vão além e apontam os primeiros instantes da primeira aula
tar materializados em forma de documentos. O ideal é que como determinantes do sucesso da atividade docente. En-
estejam. Quando falamos do planejamento anual das esco- tão, se o professor tem de preparar bem todas as aulas, as
las, temos como referência o projeto político pedagógico. primeiras precisam de mais cuidado. E não é só determinar
os conteúdos a ser abordados, os objetivos a atingir e a me-
É possível fazer um planejamento sem conhecer o projeto todologia mais adequada. É, sobretudo, se preparar, tornar-
político pedagógico da escola? -se disponível para aqueles alunos, acreditando na possibi-
lidade do ensino e da aprendizagem, estando inteiramente
Um projeto, a escola sempre tem, mesmo que ele não presente naquela sala de aula, naquele momento.
esteja materializado em um documento. Agora, o ideal é
que esse projeto seja público e explicitado. Na hora do pla- Fonte: http://novaescola.org.br/formacao/planejar-ob-
nejamento anual, ele deve ser usado como algo vivo, como jetivos-427809.shtml
um termômetro para toda a comunidade escolar saber se
o trabalho que está sendo planejado está se aproximando
daqueles ideais políticos e pedagógicos ou não. VEIGA, ILMA P. E RESENDE, LÚCIA M.G.
DE (ORG.). ESCOLA: ESPAÇO DO PROJETO
Como evitar que o tempo dedicado ao planejamento POLÍTICO – PEDAGÓGICO. CAMPINAS:
anual não seja desperdiçado? PAPIRUS, 2008.

Nas escolas, o coordenador pedagógico é o responsável


por esse processo. É preciso prever momentos específicos
Essa coletânea reúne experiências educativas que en-
para cada tipo de assunto e ser firme na coordenação. Às ve-
volvem pesquisas, docência e atividades de extensão, des-
zes, há uma tentação muito grande em ficar gastando tem-
tacando aquelas que se relacionam aos processos de forma-
po do planejamento com problemas menores, administra-
ção continuada dos profissionais de educação.
tivos ou burocráticos. Então, é muito importante planejar o
Os textos foram organizados de modo que aprofundem
planejamento, reservando momentos específicos para cada
a compreensão das ainda complexas imbricações do pro-
assunto, e ser rigoroso no cumprimento dessa organização.
jeto político-pedagógico, mesclando-se a várias questões
Ele precisa ser um coordenador pedagógico forte, mas onde
práticas enfrentadas diariamente pelos educadores, como
buscar apoio para se fortalecer? Em alguns casos, há o apoio
a organização do trabalho escolar e o gerenciamento dos
da direção, mas é muito importante que ele faça parte de
recursos financeiros na escola.
um grupo com outros profissionais no mesmo cargo para
Assim, o professor terá em mãos um livro rico em vivên-
trocar experiências e sentir que não está sozinho nesse tra-
cias educativas que trafegam pela diversidade multicultural,
balho.
pelos dilemas dos processos avaliativos e das instâncias co-
legiadas sem perder de vista o desafio da construção da ci-
Com que frequência as ações do planejamento anual de-
dadania no interior das salas de aula e na escola.
vem ser revistas pela equipe?
CAPÍTULO I
O autor insiste muito na reunião pedagógica semanal.
Na minha opinião, esse encontro não deve ser por área, e PERSPECTIVAS PARA REFLEXÃO EM TORNO DO
sim com todos os professores daquele ciclo, daquele perío- PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
do. Se todos os professores, por exemplo, do ciclo II do En-
sino Fundamental do período da manhã estão presentes no Ilma Passos Alencastro Veiga
mesmo momento, em um dia fixo da semana, no período da
tarde, durante cerca de duas horas, o coordenador pedagó- Projeto político-pedagógico: Um convite à reflexão
gico pode montar reuniões por área, ou por nível ou gerais,
conforme as necessidades. Esse momento de encontro é O projeto pedagógico exige profunda reflexão sobre as
imprescindível para planejar um trabalho de qualidade com finalidades da escola, assim como a explicitação de seu papel
coerência entre os professores. Além de ser um momento social e a clara definição de caminhos, formas operacionais e
de socialização. Existem professores que descobrem coisas ações a serem empreendidas por todos os envolvidos com o
excelentes que vão morrer com ele porque não foram sis- processo educativo. Seu processo de construção aglutinará
tematizadas nem ele compartilhou aquelas descobertas. E, crenças, convicções, conhecimentos da comunidade escolar,
na hora do planejamento, há a possibilidade de reservar um do contexto social e científico, constituindo-se em compro-
momento para isso. misso político e pedagógico coletivo. Ele precisa ser conce-

123
GESTÃO PEDAGÓGICA

bido com base nas diferenças existentes entre seus autores, d) conter opções explícitas na direção da superação de
sejam eles professores, equipe técnico-administrativa, pais, problemas, no decorrer do trabalho educativo voltado para
alunos e representantes da comunidade local. É, portanto, uma realidade específica;
fruto de reflexão e investigação. e) explicitar o compromisso com a formação do cidadão.
Nesse sentido, e mediante observação e análise que se
caracterizam por um contato direto do professor-pesquisa- No que tange à execução, um projeto é de qualidade
dor com a situação pesquisada e que vão ocorrendo ao lon- quando:
go de um tempo, no dia a dia da escola, os profissionais, do a) nasce da própria realidade, tendo como suporte a
seu cotidiano, observam o que ocorre, ouvem o que é dito, explicitação das causas dos problemas e das situações nas
leem o que é escrito, levantam questões, observam e regis- quais tais problemas aparecem;
tram tudo. Documentam o não documentado, procurando b) é exequível e prevê as condições necessárias ao de-
entender como ocorrem no interior da escola e das salas senvolvimento e à avaliação;
de aula as relações pedagógicas, como é concebido, exe- c) implica a ação articulada de todos os envolvidos com
cutado e avaliado o currículo escolar, quais atitudes, valores a realidade da escola;
e crenças são perseguidos, quais as formas de organização d) é construído continuamente, pois, como produto,
do trabalho pedagógico. Tais dados servem para clarificar as é também processo, incorporando ambos numa interação
questões prioritárias e propor alternativas de solução. André possível.
(1995, p. 111) afirma:
Conhecer a escola mais de perto significa colocar uma Considera-se que o projeto político-pedagógico da
lente de aumento na dinâmica das relações e interações escola não visa simplesmente a um “rearranjo formal da
que constituem seu dia-a-dia, apreendendo as forças que escola, mas a uma qualidade em todo o processo vivido”
a impulsionam ou que a retêm, identificando as estruturas (ibidem, p. 15). O projeto pedagógico é um documento que
de poder e os modos de organização do trabalho escolar, não se reduz à dimensão pedagógica, nem muito menos ao
analisando a dinâmica de cada sujeito nesse complexo in- conjunto de projetos e planos isolados de cada professor
teracional. em sua sala de aula. O projeto pedagógico é, portanto, um
Esse imprescindível esforço coletivo implica a seleção produto específico que reflete a realidade da escola, situada
de valores a serem consolidados, a busca de pressupostos em um contexto mais amplo que a influencia e que pode ser
teóricos e metodológicos postulados por todos, a identifica- por ela influenciado. Em suma, é um instrumento clarificador
ção das aspirações maiores das famílias, em relação ao pa- da ação educativa da escola em sua totalidade. Conforme
pel da escola na educação da população e na contribuição afirmei em cursos por mim ministrados,
específica que irá oferecer para “o pleno desenvolvimento (...) a primeira ação que me parece fundamental para
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e nortear a organização do trabalho da escola é a construção
sua qualificação para o trabalho” (art. 2º da Lei nº 9.394/96). do projeto pedagógico assentado na concepção de socie-
A análise do contexto externo consiste no estudo do dade, educação e escola que vise à emancipação humana.
meio no qual a escola está inserida e das suas interações. Ao ser claramente delineado, discutido e assumido coleti-
Para fazer a análise do contexto externo, é necessário identi- vamente ele se constitui como processo. E, ao se constituir
ficar os principais participantes que interagem com a escola como processo, o projeto político-pedagógico reforça o tra-
e analisar as influências das dimensões geográficas, políticas, balho integrado e organizado da equipe escolar, enaltecen-
econômicas e culturais. do a sua função primordial de coordenar a ação educativa
No decorrer do processo de construção do projeto pe- da escola para que ela atinja o seu objetivo político-pedagó-
dagógico, consideram-se dois momentos interligados e per- gico. (Veiga 1996, p. 157)
meados pela avaliação: o da concepção e o da execução.
Para que possam construir esse projeto, é necessário que A nova LDB e o projeto político-pedagógico
as escolas, reconhecendo sua história e a relevância de sua
contribuição, façam autocrítica e busquem uma nova for- A nova LDB, Lei nº 9.394/96, prevê no seu art. 12, inciso I,
ma de organização do trabalho pedagógico que “reduza os que “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas
efeitos da divisão do trabalho, da fragmentação e do contro- comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbên-
le hierárquico” (Veiga 1996, p. 22). cia de elaborar e executar sua proposta pedagógica”. Esse
Quanto à concepção, um projeto pedagógico de quali- preceito legal está sustentado na ideia de que a escola deve
dade deve apresentar as seguintes características: assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho de
a) ser um processo participativo de decisões; refletir sobre sua intencionalidade educativa.
b) preocupar-se em instaurar uma forma de organiza- Vale chamar a atenção para a variedade terminológica
ção do trabalho pedagógico que desvele os conflitos e as empregada pelo legislador: proposta pedagógica (arts. 12 e
contradições; 13), plano de trabalho (art. 13), projeto pedagógico (art. 14),
c) explicitar princípios baseados na autonomia da esco- o que poderá trazer confusões conceituais e, consequente-
la, na solidariedade entre seus agentes educativos e no estí- mente, operacionais. A proposta pedagógica ou projeto pe-
mulo à participação de todos no projeto comum e coletivo; dagógico relaciona-se à organização do trabalho pedagógi-
co da escola; o plano de trabalho está ligado à organização
da sala de aula e a outras atividades pedagógicas e adminis-

124
GESTÃO PEDAGÓGICA

trativas. Isso significa que o plano de trabalho é o detalha- se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da so-
mento da proposta ou projeto (art. 13). Portanto, compete ciedade humana” (idem, p.14).
aos docentes, à equipe técnica (supervisor, coordenador Para que ocorra a definição do projeto pedagógico com
pedagógico, diretor, orientador educacional) e aos funcio- o indispensável embasamento teórico-metodológico, há
nários elaborar e cumprir o seu plano de trabalho, também necessidade de pesquisas, estudos, reflexões e discussões
conhecido por plano de ensino e plano de atividades. É por com professores, especialistas em educação, alunos, ex-alu-
esse caminho que vamos construindo o planejamento parti- nos, determinando o caminho desse processo. A adesão
cipativo e a estratégia de ação da escola. à construção do projeto não deve ser imposta e sim con-
O projeto pedagógico aponta um rumo, uma direção, quistada por uma equipe coordenadora, compromissada e
um sentido explícito para um compromisso estabelecido consequente. Marques (1990, p. 21) certamente contribui
coletivamente. O projeto pedagógico, ao se constituir em para esse entendimento, quando afirma que “a necessária
processo participativo de decisões, preocupa-se em instau- transparência e legitimidade do projeto pedagógico deriva
rar uma forma de organização do trabalho pedagógico que do fato de poderem constituir-se formalmente as diversas
desvele os conflitos e as contradições, buscando eliminar as instâncias de discussões, publicamente reconhecidas e pos-
relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo tas em condições de total publicidade”.
com a rotina do mando pessoal e racionalizado da burocra- A legitimidade de um projeto político-pedagógico está
cia e permitindo as relações horizontais no interior da escola. devidamente ligada ao grau e ao tipo de participação de
Para que a construção do projeto pedagógico seja pos- todos os envolvidos com o processo educativo da escola, o
sível, não é necessário convencer os professores, a equipe que requer continuidade de ações. Bussmann (1995, p. 43)
escolar e os funcionários a trabalhar mais ou mobilizá-los afirma:
de forma espontânea, mas propiciar situações que lhes per- (...) na organização escolar, que se quer democrática,
mitam aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de em que a participação é elemento inerente à consecução
forma coerente. E, para enfrentarmos essa ousadia, necessi- dos fins, em que se buscam e se desejam práticas coletivas
tamos de um referencial que fundamente a construção do e individuais baseadas em decisões tomadas e assumidas
projeto. pelo coletivo escolar, exige-se da equipe diretiva, que é par-
O projeto político-pedagógico explicita os fundamen- te desse coletivo, liderança e vontade firme para coordenar,
tos teórico-metodológicos, os objetivos, o tipo de organi- dirigir e comandar o processo decisório como tal e seus des-
zação e as formas de implementação e avaliação da escola. dobramentos de execução.
As modificações que se fizerem necessárias resultam de um Em suma, o processo de construção do projeto é dinâ-
processo de discussão, avaliação e ajustes permanentes do mico e exige esforço coletivo e comprometimento; não se
projeto pedagógico. resume, portanto, à elaboração de um documento escrito
Ao nos referirmos ao projeto político-pedagógico fica por um grupo de pessoas para que se cumpra uma formali-
claro que construí-lo, executá-lo e avaliá-lo é tarefa da esco- dade. É concebido solidariamente com possibilidade de sus-
la; tarefa que não se limita ao âmbito das relações interpes- tentação e legitimação.
soais, mas que se torna “realisticamente situada nas estru- Construir um projeto pedagógico significa enfrentar o
turas e funções específicas da escola, nos recursos e limites desafio da mudança e da transformação, tanto na forma
que singularizam, envolvendo ações continuadas em prazos como a escola organiza seu processo de trabalho pedagógi-
distintos” (Marques 1990, p. 22). co como na gestão que é exercida pelos interessados, o que
É necessário que se afirme que a discussão do projeto implica o repensar da estrutura de poder da escola.
político-pedagógico exige uma reflexão acerca da concep-
ção da educação e sua relação com a sociedade e a escola, A autonomia da escola, um reexame
o que não dispensa uma reflexão sobre o homem a ser for-
mado, a cidadania e a consciência crítica. A autonomia da escola é uma questão importante para
o delineamento de sua identidade. A autonomia anula a de-
O projeto político-pedagógico, ao dar uma nova iden- pendência. “O significado de autonomia remete-nos para re-
tidade à escola, deve contemplar a questão da qualidade gras e orientações criadas pelos próprios sujeitos das ações
de ensino, entendida aqui nas dimensões indissociáveis: a educativas, sem imposições externas” (Veiga 1997, p. 19).
formal ou técnica e a política. Uma não está subordinada à A autonomia não é um valor absoluto, fechado em si
outra; cada uma delas tem perspectivas próprias. mesmo, mas um valor que se determina numa relação de
A primeira enfatiza instrumentos, métodos e técni- interação social. Nesse sentido, a escola deve alicerçar o
cas. A qualidade formal não está afeita, necessariamente, a conceito de autonomia, enfatizando a responsabilidade de
conteúdos determinados. Demo (1994, p. 14) afirma que a todos, sem deixar de lado os outros níveis da esfera admi-
qualidade formal “significa a habilidade de manejar meios, nistrativa educacional. A autonomia é importante para a
instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos criação da identidade da escola. A autonomia não é, afinal,
desafios do desenvolvimento”. uma política, mas a substância de uma nova organização do
A qualidade política é condição imprescindível da parti- trabalho pedagógico na escola. Essa supõe a possibilidade
cipação. Está voltada para os fins, os valores e os conteúdos; de singularidade e variação entre as instituições escolares.
quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de Para ser autônoma, a escola não pode depender so-
mente dos órgãos centrais e intermediários que definem a

125
GESTÃO PEDAGÓGICA

política da qual ela não passa de executora. Ela concebe sua


proposta pedagógica ou projeto pedagógico e tem autono- WEISZ, TELMA. O DIÁLOGO ENTRE O
mia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude ENSINO E A APRENDIZAGEM. SÃO PAULO:
de liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades so- ÁTICA, 2009.
ciopolíticas e culturais da escola.
(...) o que se requer dos educadores, para essa tarefa, é,
fundamentalmente, competência. Construir ética e politica-
mente a autonomia não teria significado se não se aliassem Weisz cursou o Normal no Instituto de Educação, no Rio
à perspectiva ético-política a dimensão técnica, o domínio de Janeiro, possivelmente influenciada pela professora de
seguro de conhecimentos específicos, a utilização de uma seu curso primário de quem gostava muito. Ao longo do
metodologia eficaz, a consciência crítica e o propósito firme curso, estando envolvida com outros interesses (artes plás-
de ir ao encontro das necessidades concretas de sua socie- ticas) quis sair, mas seus pais a convenceram a continuar.
dade e de seu tempo. (Rios 1993, p. 18) Fez, então, o Instituto de Belas Artes (atual escola de Artes
A autonomia é, pois, questão fundamental numa ins- Visuais do Parque Lage). Em 1962, quando cursava o seu úl-
tituição educativa envolvendo quatro dimensões básicas, timo ano do Curso Normal, constatou que a repetência fa-
relacionadas e articuladas entre si: administrativa, jurídica, bricada pelas escolas tinha ultrapassado os limites, pelo fato
financeira e pedagógica. Essas dimensões implicam direitos de não haver, em consequência, vagas para alunos novos
e deveres e, principalmente, um alto grau de compromisso na 1ª série. O governador, então, tomou três providencias:
e responsabilidade de todos os segmentos da comunidade aprovou as crianças por decreto - tendo ido todo mundo
escolar. As diferentes dimensões da autonomia são interde- para a 2a. série, sabendo ou não ler; montou escolas de ma-
pendentes. A Figura 1, a seguir, ilustra essas dimensões. deira, com telhado de zinco, e convocou todas as normalis-
tas do último ano do curso para dar aulas. A partir daí ela foi
dar aula, para um grupo de crianças que tinham entre 11 e
12 anos e, que depois de terem repetido várias vezes a 1a.
série, tinham passado para a 2ª em função do decreto do
governador.
Eram 45 alunos, sendo que apenas 3 não eram negros.
Não eram todos analfabetos, porém não se podia considerá-
-los alfabetizados. Apesar de empregar as técnicas de ensi-
no, sentia-se como preenchendo o tempo de aula. Não con-
seguia avaliar os resultados do trabalho, nem o que deveria
esperar das propostas que colocava em prática, sentindo-se
confusa e impotente. Situações da sala revelavam o abismo
existente entre o desempenho de seus alunos na escola e o
Figura 1 – As dimensões da autonomia que a vida fora da escola exigia deles. Nesse sentido, tinha
a sensação de que a escola parecia uma armadilha monta-
A autonomia administrativa consiste na possibilidade de da para que esses meninos não pudessem se sair bem, e
elaborar e gerir seus planos, programas e projetos. Envolve, também, a convicção de que esse tipo de situação tinha um
inclusive, a possibilidade de adequar sua estrutura organiza- papel político muito importante que devia ser enfrentado
cional à realidade e ao momento histórico vivido. Refere-se durante toda a sua vida profissional. Ficava impressionada
à organização da escola e nela destaca-se o estilo de gestão, quando conversava com algumas mães e essas achavam na-
a direção como coordenadora de um processo que envolve tural que seus filhos não tivessem sucesso na escola. Diziam
relações internas e externas, ou seja, com o sistema educati- que ela poderia ‘bater neles’ para ver se estudavam.
vo e com a comunidade na qual a escola está inserida. Esse foi seu batismo de fogo que fez com que se afas-
A autonomia administrativa traduz a possibilidade de tasse por 12 anos da educação. A sensação mais profunda
a escola garantir a indicação dos dirigentes por meio de que ficou dessa experiência foi a de ignorância. Ficou claro,
processo eleitoral que realmente verifique a competência para ela, que as informações e ideias que circulavam na edu-
profissional e a liderança dos candidatos; a constituição dos cação não davam conta do problema do ensino. O professor
conselhos escolares com funções deliberativa, ... era um cego. Para ela, o professor continua chegando hoje à
escola com as mesmas insuficiências com a qual ela chegou
Fonte em 1962, sendo que a diferença, hoje, está na possibilidade
VEIGA, Ilma P. e RESENDE, Lúcia M.G. de (Org.). Escola: que o professor tem de, se quiser, tentar resolver essa situa-
espaço do projeto político - pedagógico. Campinas: Papirus, ção. Hoje, os professores têm à sua disposição um corpo de
2008. conhecimentos que, se não dá conta de tudo, pelo menos
ilumina os processos através dos quais as crianças conse-
guem ou não aprender certos conteúdos. O entendimento
que se tem do professor hoje é o de alguém com condições
de ser sujeito de sua ação profissional.

126
GESTÃO PEDAGÓGICA

Ao final de 1962, e durante os 12 anos seguintes traba- de demonstrar que uma sílaba, geralmente, se escreve com
lhou em áreas completamente diferentes, e como nenhuma mais de uma letra não faz nenhum sentido. São essas as
outra atividade dava sentido à sua vida profissional, acabou crianças que não conseguem aprender com a cartilha e que
voltando para a educação. Seu compromisso é com essas ficam repetindo a 1ª série várias vezes, chegando a desistir
crianças - que são maioria nas escolas públicas - para que da escola.
superem o fracasso e tenham sucesso na escola. Apesar de As crianças constroem hipóteses sobre a escrita e seus
ser considerada especialista em alfabetização, sua questão é usos a partir da participação em situações nas quais os
a aprendizagem, em especial, a aprendizagem escolar. textos têm uma função social de fato. Frequentemente as
crianças mais pobres são as que têm hipóteses mais simples,
Capítulo 2 - Um novo olhar sobre a aprendizagem. pois vivem poucas situações desse tipo. Para elas a oportu-
nidade de pensar e construir ideias sobre a escrita é menor
Apesar de ter iniciado sua docência em 1962, e de ter na do que para as crianças que vivem em famílias típicas de
época um certo conhecimento significativo quanto ao fato classe média ou alta, nas quais ouvem a leitura de bons tex-
da criança conseguir escrever, mesmo que não ortografica- tos, ganham livros e gibis, observam os adultos manusearem
mente, ela não tinha um conhecimento científico acumulado jornais para buscar informações, recebem correspondências,
que lhe permitisse superar um ponto de vista “adultocên- fazem anotações, etc. Isso não quer dizer, que as crianças
trico”, ou seja, a forma como se concebe a aprendizagem pobres não tenham acesso à escrita ou não façam reflexões
das crianças a partir da própria perspectiva do adulto que já sobre seu funcionamento fora da escola, mas habitualmen-
domina o conteúdo que quer ensinar. A partir dessa pers- te tais práticas não fazem parte do cotidiano do seu grupo
pectiva, não é possível compreender o ponto de vista do social de origem e isso faz com que o início de sua escola-
aprendiz, pois não se ‘enxerga’ o objeto de seu conhecimen- rização se dê em condições menos favoráveis do que para
to com os olhos de quem ainda não sabe. A partir dessa aquelas crianças que participam de práticas sociais letradas
perspectiva, o professor (do lugar de quem já sabe) define, a desde pequenas.
priori, o que é mais fácil e o que é mais difícil para os alunos Assim, independente do fato de que as crianças venham
e quais os caminhos que eles devem percorrer para realizar de uma família pobre ou não, o que importe realmente é
as atividades desejadas. Tal concepção, por parte do profes- a ação pedagógica do professor, e esta dependerá da sua
sor, gera um tipo de procedimento pedagógico que dificulta concepção de aprendizagem (todo o ensino se apoia numa
o processo de aprendizagem para uma parte das crianças, concepção de aprendizagem). É possível enxergar o que o
principalmente, aquelas que mais necessitam da ajuda da aluno já sabe a partir do que ele produz e pensar no que
escola, por ter menos conhecimento construído sobre os fazer para que aprenda mais. Nas últimas décadas muitas
conteúdos escolares. Assim, a adoção de uma postura adul- pesquisas pontuam uma concepção de aprendizagem que
tocêntrica não é uma decisão voluntária dos professores, é resultado da ação do aprendiz. Dessa forma, a função do
uma vez que, o conhecimento científico que trazem consigo, professor é criar condições para que o aluno possa exercer
não lhes permite enxergar e acolher uma outra concepção a sua ação de aprender participando de situações que fa-
de aprendizagem relacionada à perspectiva do aprendiz. voreçam a atividade mental, ou seja, o exercício intelectual.
A metodologia embutida nas cartilhas de al- Quando o professor entende que o aprendiz sempre sabe
fabetização contribui para o fracasso escolar. alguma coisa e pode usar esse conhecimento para continuar
A chamada Psicogênese da Língua Escrita, resultado das aprendendo ele pode identificar que informação é necessá-
pesquisas realizadas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky ria para que o conhecimento do aluno avance. Essa percep-
(1970), sobre o que pensam as crianças quanto ao sistema ção permite ao professor compreender que a intuição não é
alfabético de escrita, evidencia os problemas que a meto- mais suficiente para guiar a sua prática e que ele precisa de
dologia embutida nas cartilhas (que faz uso do método da um conhecimento que é produzido no território da ciência.
análise-síntese ou da palavra geradora) traz para as crianças. É preciso considerar o conhecimento prévio do aprendiz e as
Por meio das pesquisas das autoras acima mencionadas, em contradições que ele enfrenta no processo. Em uma concep-
uma sociedade letrada, as crianças constroem conhecimen- ção de aprendizagem construtivista, o conhecimento é visto
tos sobre a escrita desde muito cedo, a partir do que obser- como produto da ação e reflexão do aprendiz. Esse aprendiz
vam na interação com o seu meio físico e social e das refle- é compreendido como alguém que sabe algumas coisas e
xões que fazem a esse respeito. As pesquisas evidenciaram que, diante de novas informações que têm para ele sentido,
que quando as crianças ainda não se alfabetizaram, buscam realiza um esforço para assimilá-la, assim frente a um pro-
uma lógica que explique o que não compreendem, elabo- blema (conflito cognitivo) o aprendiz tem a necessidade de
rando hipóteses muito interessantes sobre o funcionamento superá-lo.
da escrita. O novo conhecimento aparece como aprofundamento
Esses estudos permitiram compreender que a metodo- do conhecimento anterior que ele já detém. É inerente à
logia das cartilhas pode fazer sentido para crianças conven- própria concepção de aprendizagem que o aprendiz bus-
cidas de que para escrever uma determinada palavra, bastar que o conhecimento prévio que ele possui sobre qualquer
uma letra para cada sílaba oral emitida (hipótese silábica), conteúdo. Através dos estudos de Emília Ferreiro e Ana Te-
mas para aquelas que ainda cultivam ideias muito mais sim- berosky e demais colaboradores, sabemos que a criança re-
ples a respeito da escrita, ou seja, que ainda não estabele- presenta a escrita de diferentes modos, como a expressão
ceram relação entre a escrita e a fala (pré-silábica), o esforço de um conhecimento sobre a escrita que precede a com-

127
GESTÃO PEDAGÓGICA

preensão real do funcionamento do sistema alfabético. No as características discursivas dos textos escritos, os gêneros
caso da aprendizagem da escrita, o meio social coloca para utilizados para escrever e muito outros conteúdos.
as crianças uma série de contradições e de conflitos que a O modelo de ensino atualmente relacionado ao cons-
forçam a buscar soluções, superar as hipóteses inadequa- trutivismo chama-se aprendizagem pela resolução de pro-
das quanto ao sistema de escrita, através da construção de blemas (situações-problema). Aprender a aprender é algo
novas teorias explicativas. Nesses momentos, a atuação do possível apenas a quem já aprendeu muita coisa. Para apren-
professor é fundamental, pois a conquista de novos patama- der a aprender, o aprendiz precisa dominar conhecimentos
res de compreensão pelo aluno é algo que depende tam- de diferentes naturezas, como as linguagens, por exemplo.
bém das propostas didáticas e da intervenção que ele fizer. Nesse processo, a flexibilidade e a capacidade de se lançar
Essas teorias explicativas são formas de interpretação com autonomia nos desafios da construção do conhecimen-
não necessariamente conscientes, mas que orientam a ação to são extremamente importantes, pois há todo um saber
de quem está aprendendo. Tais teorias são modificadas no necessário para poder aprender a aprender; e isso só é pos-
embate com a realidade com a qual o aluno se depara a sível para quem aprendeu muito sobre muita coisa. Deste
todo instante e especialmente quando o professor cria con- modo, é desejável que o aprendiz saiba buscar informações
textos adequados para que isso aconteça. Para aprender, a através do computador, porém é fundamental desenvolver
criança passa por um processo que não tem a lógica do co- a capacidade de estabelecer relações inteligentes entre os
nhecimento final, como é visto pelos adultos. dados, as informações e os conhecimentos já construídos.
Do ponto de vista do referencial construtivista, nenhum Nesse sentido, para ser capaz de aprender permanente-
conceito nasce com o sujeito ou é incorporado de fora, mas mente, a bagagem básica necessária atualmente é acadêmi-
precisa ser construído através da interação do sujeito com o co-cultural, em que se articulam conhecimentos de origem
meio (físico, social, cultural); nesse processo de construção, tradicionalmente escolar e aqueles relacionados aos movi-
as expressões do aprendiz não têm a lógica do conhecimen- mentos culturais da sociedade (formação geral).
to final, concebido pelo adulto. As pesquisas realizadas pelo Assim, a escola tem uma tripla função:
psicólogo Jean Piaget quanto à conservação de quantidades 1. levar o aluno a aprender a aprender;
(massa/ fichas), demonstram que para crianças com idade 2. dar-lhe os fundamentos acadêmicos e;
de 5/7 anos, o fato de oito fichas apresentarem-se juntas e 3. equalizar as enormes diferenças no repertório de co-
oito fichas apresentarem-se espalhadas apresentam quanti- nhecimentos dos aprendizes.
dades diferentes, simplesmente pela disposição / configura-
ção dessas fichas (pensamento pré-operatório/perceptivo/ É praticamente impossível a escola realizar sozinha essa
irreversível). Começa com Piaget, a construção de um novo terceira função, mas sua contribuição é essencial, pois é pre-
olhar sobre a aprendizagem. ciso pensar como agir para democratizar o acesso à infor-
Piaget desenvolveu uma teoria do conhecimento (Epis- mação e às possibilidades e construção de conhecimento.
temologia e Psicologia Genética) que explica como se avan-
ça de um conhecimento menos elaborado para um conhe- Capítulo 3 - O que sabe uma criança que parece não
cimento mais elaborado, ressaltando que o conhecimento é saber nada
resultado da interação do sujeito com o meio externo, que
é um processo no qual o sujeito participa ativamente, mo- Saber o que o aluno sabe e o que ele não sabe para
dificando o meio no qual está inserido e sendo, também, poder atuar é uma questão complexa. Esse saber não está
modificado por esse mesmo meio. relacionado ao conteúdo a ser ensinado (perspectiva adulta)
Foram os estudos de Piaget que abriram a possibili- e sim ao ponto de vista do aprendiz porque é esse o co-
dade de se estudar a construção de conhecimentos es- nhecimento necessário para fazer o aluno avançar do que
pecíficos, como o fez Emília Ferreiro que mostrou que era ele já sabe para o que não sabe. O que realmente importa
possível pensar o construtivismo - o modelo geral de cons- são as construções e ideias que o aprendiz elaborou e que
trução do conhecimento, tal como formulado por Piaget e não foram ensinadas pelo professor e, sim, construídas pelo
colaboradores da Escola de Genebra - como a moldura de aprendiz. Quando uma criança escreve fazendo uso de uma
uma investigação sobre a aquisição de um conhecimento concepção silábica de escrita, por exemplo, essa ‘escrita’ não
particular, no caso de Emília Ferreiro, o da leitura e escrita. é reconhecida como um saber, pois do ponto de vista de
A Psicogênese da Língua Escrita é um modelo psicológico como se escreve em português, essa escrita não existe. Mas,
de aprendizagem específico da escrita que serve de infor- para chegar a escrever em português (escrita alfabética), o
mação ao educador, porém a maneira como essas informa- aprendiz precisa passar por uma concepção de escrita desse
ções são usadas na ação educativa pode variar muito por- tipo (silábica), imaginando que quando se escreve represen-
que nenhuma pedagogia responde apenas a um modelo ta-se as emissões sonoras que ele consegue reconhecer (a
psicológico. O modelo geral no qual se apoia a Psicogêne- sílaba), isolando-as pela via da audição.
se da Língua Escrita é de que há um processo de aquisição Tal conhecimento é importante e o professor deve re-
no qual a criança vai construindo hipóteses sobre a escrita, conhecê-lo na aprendizagem da escrita. Caso contrário con-
testando-as, descartando umas e reconstruindo outras. Du- tribuirá muito pouco com os avanços do aluno em relação
rante a alfabetização, aprende-se mais do que escrever alfa- à escrita e, se a criança aprender a ler, provavelmente, será
beticamente. Aprendem-se, pelo uso, as funções da escrita, por conta própria.

128
GESTÃO PEDAGÓGICA

Um olhar cuidadoso sobre o que a criança errou pode Ao perceberem a possibilidade de diferentes formas de exe-
ajudar o professor a descobrir o que ela tentou fazer. So- cução, reconhecem o procedimento do colega como mais
mente um olhar cuidadoso e despojado do professor sobre produtivo e econômico, construindo, assim, a lógica neces-
a produção do aprendiz (quanto ao saber não reconhecido), sária para poder aprender (a criança aprendeu com outra
permitir-lhe-á descobrir o que pensa esse aprendiz, possibi- que sabe mais).
litando-lhe levantar questões e perguntas sobre tal produ- Tem-se, assim, de um delicado casamento entre a dis-
ção. Ao desconsiderar o esforço do seu aluno, dizendo-lhe ponibilidade da informação externa e a possibilidade da
que sua produção não está correta, acaba desvalorizando construção interna - construtivismo: um modelo explicati-
sua tentativa e esforço e, consequentemente, o aluno vai vo da aprendizagem que considera, ao mesmo tempo, as
pensar duas vezes antes de produzir de novo. O conheci- possibilidades do sujeito e as condições do meio. Cabe ao
mento se constrói por caminhos diferentes daqueles que o professor tomar decisões importantes, seja na formação das
ensino supõe. Isso acontece no processo de aquisição da es- parcerias entre alunos, seja nas questões que ele mesmo
crita, na construção dos conceitos matemáticos e na apren- propõe no desenrolar da atividade. Todas as crianças sabem
dizagem de qualquer outro conteúdo e mesmo quando os muitas coisas, só que umas sabem coisas diferentes das ou-
alunos estão submetidos a um tipo de ensino convencional, tras. As crianças são provenientes de culturas diferentes e
pois o que impulsiona a criança é o esforço para acreditar isso contribui para que saibam coisas diferentes, por isso é
que atrás das coisas que ela tem de aprender existe uma importante que o professor tenha claro que as crianças pro-
lógica. Se o professor não sabe nada sobre o que o aluno venientes de um nível cultural valorizado pela escola apre-
pensa ou conhece a respeito do conteúdo que quer que ele sentam enormes vantagens em relação às outras crianças.
aprenda, o ensino que ele oferece não tem com quem dia- Para tais crianças a escola será muito mais fácil, porque está
logar. Conhecimentos prévios dos alunos não deve ser con- em consonância com a cultura da família e do seu ambiente.
fundido com conteúdo já ensinado pelo professor. Por outro lado, as crianças provenientes de ambientes onde
Na perspectiva construtivista - de resolução de proble- as pessoas possuem menor grau de escolaridade e distantes
mas - o professor não pode considerar como sinônimos o dos usos cotidianos dos conteúdos que a escola valoriza en-
que o aluno já sabe e o que lhe foi ensinado, pois não são contrarão dificuldades. Assim, a equalização das oportuni-
necessariamente a mesma coisa. Para que isso não aconte- dades de aprendizagem dessas crianças deve ser uma tarefa
ça, é preciso que o professor desenvolva uma sensibilidade da escola que deve repensar sua própria prática, de modo a
e uma escuta atenta para a reflexão que as crianças fazem, não prejudicar o sucesso escolar desses alunos. (...) “É preci-
supondo que o que elas pensam tem sentido e não é fruto so, pois, educar o olhar para enxergar o que sabem as crian-
de sua ignorância. O professor precisa criar um ambiente ças que aparentemente não sabem nada”. (p, 49)
socioafetivo para que as crianças possam manifestar livre- A equalização de oportunidades de aprendizagem não
mente/espontaneamente o que pensam; somente assim, significa uma pedagogia compensatória. É preciso socializar
poderá favorecer situações de aprendizagem significativas. os conteúdos pertencentes ao mundo da cultura: literatura,
Tal ambiente deve possibilitar que as crianças pensem sobre ciência, arte, informação tecnológica, etc., pois isso é uma
suas ideias. Do mesmo modo, cabe ao professor oferecer questão de inserção social e, portanto, direito de todas as
conflitos/situações problemas que possibilitem às crianças crianças. A escola não pode ser instrumento de exclusão so-
exercitarem o pensamento, na busca de soluções possíveis. cial. Todo professor deve levar todos os seus alunos a parti-
Isso requer do professor estudo e uma postura reflexiva e ciparem da cultura. O termo cultura é utilizado não em seu
investigativa. A psicogênese da língua escrita abriu a possi- sentido antropológico e sim no do senso comum: a cultura
bilidade de o professor olhar para a criança e acreditar que erudita e a de larga difusão, mas produzida para e pela elite.
para aprender ela pensa, que aquilo que ela faz tem lógica Todos os professores, principalmente, aqueles das clas-
e o que o professor não enxerga é porque não tem instru- ses iniciais que quiserem contribuir para que todos os alunos
mentos suficientes para perceber o sentido que está sendo de sua classe tenham a mesma oportunidade de aprender,
manifestado pela criança. Um casamento entre a disponibi- devem estimulá-los a participar da cultura. É papel do pro-
lidade da informação externa e a possibilidade da constru- fessor ler diferentes tipos de assuntos/textos (usar o jornal
ção interna. Quando o professor não entende a produção e outras fontes de informação e de pesquisa) em classe e
da criança deve-se perguntar à criança, mesmo que não levar as crianças para exposições de artistas importantes. É
consiga entender suas explicações, uma atividade indicada preciso oferecer às crianças a oportunidade de navegar na
para isso é o trabalho em dupla, pois trabalhando juntas as cultura, na Internet, na arte, em todas as áreas do conheci-
crianças dão explicações umas às outras e, então, o profes- mento, em todas as linguagens, em todas as possibilidades.
sor poderá compreender as hipóteses das crianças. Um exemplo de alguém que sabia como tratar as crian-
Assim, é importante observar os procedimentos dos ças era Monteiro Lobato que escrevia livros contando coisas
alunos diante de uma atividade, para que o professor possa da Antiguidade, falando de astronomia, da história do mun-
reconhecer esses procedimentos dos alunos, de modo, a sa- do. Porém, o que normalmente se oferece para as crianças
ber quais são os menos e os mais avançados e que raciocínio lerem são histórias empobrecidas, versões resumidas e tex-
os alunos mais avançados então realizando. O trabalho em tos com supressões. Não é possível formular receitas pron-
grupo permite que as crianças observem os procedimentos tas para serem aplicadas a qualquer grupo de alunos. Nos
de atuação de seus colegas, inclusive daqueles que utilizam anos 1970, uma visão de escola como linha de montagem,
procedimentos de resolução de problemas mais avançados. denominada de tecnicista, voltada para criar máquinas de

129
GESTÃO PEDAGÓGICA

ensinar, métodos de ensino, sequências de passos progra- Paulo Freire). O aprendiz é alguém que vai juntando infor-
mados, dominava a concepção de ensino e aprendizagem. mações. O processo de ensino fundamentado nessa teoria
No Brasil, esse modelo chamava-se ensino programado. A caracteriza-se pela: cópia, ditado, memorização pura e sim-
função do professor, nesse modelo, era simplesmente, a de ples, utilização da memória de curto prazo para reconheci-
administrar o ensino programado e foi, justamente, esse mentos das famílias silábicas, leitura mecânica para posterior
modelo o responsável por uma exigência cada vez mais bai- leitura compreensiva. Para mudar é preciso reconstruir toda
xa de qualificação dos professores. a prática a partir de um novo paradigma teórico. Em uma
O ensino programado permitia o que se chamava de concepção construtivista, o conhecimento não é concebido
‘ensino na medida do estudante’, que embora considerasse como cópia do real, incorporado diretamente pelo sujeito. A
os vários ritmos de aprendizagem da criança, todos apren- teoria construtivista pressupõe uma atividade, por parte do
diam, pois, seguindo os passos programados chegariam to- aprendiz, que organiza e integra os novos conhecimentos
dos, de alguma forma, ao final. O papel do professor dentro aos já existentes. Isso acontece com alunos e professores em
de uma proposta construtivista é bem diferente deste pro- processo de transformação.
posto pelo modelo tecnicista. Cabe ao professor construir Uma preocupação, bastante pertinente, diz respeito ao
conhecimentos de diferentes naturezas, que lhe permitam fato do professor querer inovar a sua prática, adotando um
ter claros os seus objetivos, assim como selecionar conteú- modelo de construção de conhecimento sem compreender,
dos adequados, enxergando na produção de seus alunos o suficientemente, as questões que lhe dão sustentação, cor-
que eles já sabem e construindo estratégias que os levem a rendo o risco de se deslocar de um modelo que lhe é familiar
conquistar novos patamares de conhecimento. Não há re- para o outro meio conhecido, mesclando teorias, como se
ceitas prontas a serem aplicadas a grupos de alunos, uma costuma afirmar. Outra preocupação diz respeito ao enten-
vez que, a prática pedagógica é complexa e contextualizada. dimento destorcido por parte de professores, que acredi-
O professor precisa ser alguém com autonomia intelectual. tando ser o sujeito sozinho quem constrói o conhecimento,
veem a intervenção pedagógica como desnecessária. Tais
Capítulo 4 - As ideias, concepções e teorias que sus- concepções não fazem nenhum sentido num modelo cons-
tentam a prática de qualquer professor, mesmo quando trutivista. Conteúdos escolares são objetos de conhecimen-
ele não tem consciência delas. to complexos, que devem ser dados a conhecer, aos alunos,
por inteiro.
A prática pedagógica do professor é sempre orientada Para o referencial construtivista, a aprendizagem da lei-
por um conjunto de ideias, concepções e teorias, mesmo tura e da escrita é complexa e, portanto, deve ser apresenta-
que nem sempre tenha consciência disso. Para que possa- da / oferecida por inteiro ao aprendiz e de forma funcional.
mos compreender a ação do professor, é preciso verificar de Para os construtivistas, o aprendiz é um sujeito, protagonis-
que forma seus atos expressam sua concepção sobre: ta do seu próprio processo de aprendizagem, alguém que
vai produzir a transformação, convertendo informação em
• o conteúdo que ele espera que o aluno aprenda;
conhecimento próprio. Essa construção pelo aprendiz não
• o processo de aprendizagem (os caminhos pelo se dá por si mesma e no vazio, mas a partir de situações
quais a aprendizagem acontece); nas quais age sobre o que é o objeto do seu conhecimento,
pensa sobre ele, recebendo ajuda, sendo desafiado a refletir,
• como deve ser o ensino.
interagindo com outras pessoas. A diferença entre o mode-
lo empirista e o modelo construtivista é que no primeiro a
Historicamente, a teoria empirista é a teoria que mais
informação é introjetada ou não; enquanto que no segun-
vem impregnando as representações sobre o que é ensinar,
do, o aprendiz tem de transformar a informação para po-
quem é o aluno, como ele aprende e o que e como se deve
der assimilá-la. Isso resulta em práticas pedagógicas muito
ensinar (modelo de ensino e aprendizagem conhecido como
diferentes. Afirmar que o conhecimento prévio é a base da
estímulo-resposta). Essa teoria define a aprendizagem como
aprendizagem não é defender pré-requisitos.
‘a substituição de respostas erradas por respostas certas’,
No modelo construtivista, o conhecimento não é gera-
partindo da concepção de que o aluno precisa memorizar
do do nada, é uma permanente transformação a partir do
e fixar informações, as mais simples e parciais possíveis e
conhecimento que já existe. Essa afirmação de que conheci-
ir acumulando com o tempo. A cartilha está fundamenta-
mentos prévios constituem a base de novas aprendizagens
da nesse modelo (palavras-chaves, famílias silábicas usadas
não significa a crença ou a defesa de pré-requisitos e muito
exaustivamente, frases desconectadas, textos com mínimo
menos significa matéria ensinada anteriormente pelo pro-
de coerência e coesão). Como a metodologia de ensino
fessor.
expressa nas cartilhas concebe os caminhos pelas quais a
Não informar nem corrigir significa abandonar o aluno à
aprendizagem acontece. Na concepção empirista, o conhe-
própria sorte. A crença espontaneísta de que o aluno cons-
cimento está ‘fora’ do sujeito (a fonte do conhecimento é
trói o conhecimento, não sendo necessário ensinar-lhe, faz
externa ao sujeito - é o meio físico e social) e, é interiorizado
com que o professor passe a não informar, a não corrigir e a
através dos sentidos, ativado pela ação física e perceptual.
se satisfazer com que o aluno faz ‘ do seu jeito’; isso significa
O sujeito é concebido como uma tábula rasa – ‘vazio’ na
abandonar o aluno à sua própria sorte. Cabe ao professor
sua origem, sendo ‘preenchido’ pelas experiências que tem
organizar a situação de aprendizagem de forma a oferecer
com o mundo (conceito de ‘educação bancária’ criticada por
informação adequada. A função do professor é observar

130
GESTÃO PEDAGÓGICA

a ação da criança, acolher ou problematizar / desestabili- no se esforça para aprender são situações que informam.
zar suas produções, intervindo sempre que achar que pode Por isso, é importante que se garanta a máxima circulação
contribuir para que a concepção da criança sobre o obje- de informação possível na classe e o ambiente escolar deve
to de conhecimento avance. É papel do professor apoiar a permitir que as perguntas e as respostas circulem. Nesse
construção do conhecimento pelo aprendiz. processo, as informações que chegam até o aprendiz pre-
cisam ser trabalhadas ou interpretadas por ele de acordo
Capítulo 5 - Como fazer o conhecimento do aluno com que lhe é possível naquele momento. O professor pre-
avançar. cisa estar ciente de que o conhecimento avança quando o
aprendiz se defronta com situações-problema nas quais não
O processo de ensino deve dialogar com o de aprendi- havia pensado anteriormente. Situações significativas de
zagem. Isso mostra que não é o processo de aprendizagem aprendizagem em sala de aula acontecem quando o pro-
(aluno) que deve se adaptar ao processo de ensino (profes- fessor abre mão de ser o único informante e quando o clima
sor), mas, sim, o processo de ensino que deve se adaptar ao sócio afetivo se baseia no respeito mútuo e não no autorita-
processo de aprendizagem. Para tanto, o professor precisa rismo. É preciso incentivar a cooperação, a solidariedade, o
compreender o caminho de aprendizagem que o aluno está respeito e o tutoramento (um aluno ajudando o outro) em
percorrendo naquele momento e, a partir disso, identificar sala de aula.
as informações e atividades que permitirão ao aluno avan- A interação entre os alunos é necessária não somente
çar do patamar de conhecimento que conquistou para outro porque o intercâmbio é condição para o convívio social na
que é mais avançado. Para isso, é preciso que o professor escola, mas, também, porque informa a todos os envolvidos
organize situações de aprendizagem: atividades planejadas e potencializa quase infinitamente a aprendizagem. O con-
(propostas e dirigidas) com a intenção de favorecer a ação teúdo trabalhado deve manter suas características de ob-
do aprendiz sobre um determinado objeto de conhecimen- jeto sociocultural real. O ensino da língua portuguesa está
to, sendo que essa ação está na origem de toda e qualquer cheio de criações escolares que em nada coincidem com as
aprendizagem. práticas sociais de uso da língua, objeto de ensino na esco-
Tais atividades devem reunir algumas condições e res- la, baseadas no senso comum. Isso não acontece somente
peitar alguns princípios: no ensino da língua portuguesa, mas em todas as outras
áreas. Na escola, por exemplo, aprende-se a linguagem ma-
• os alunos devem por em jogo tudo que sabem e
temática escrita, que é pouco usada na rua. Porém, não se
pensam sobre o conteúdo que se quer ensinar;
pode deixar de lado esta competência que o aluno já traz
• devem ter problemas a resolver e decisões a tomar desenvolvida (devido a sua vivência de ‘rua’) e sobrepor a
em função do que se propõe produzir; escolarização a ela.
Quando se trata de ciência ou prática social convertida
• a organização da tarefa pelo professor deve garantir
em objeto de ensino, estas acabam por sofrer modificações.
a máxima circulação de informação possível;
A arte é diferente na Educação Artística, o esporte é diferen-
• o conteúdo trabalhado deve manter suas caracterís- te da Educação Física, a linguagem é diferente do ensino de
ticas de objeto sociocultural real, sem se transformar Língua Portuguesa, a ciência é diferente do ensino de Ciên-
em objeto escolar vazio de significado social. cias. Porém, não se pode criar invenções pretensamente fa-
cilitadoras que acabem tendo existência própria. É papel da
Alunos põem em jogo tudo que sabem, têm problemas escola garantir a aproximação máxima entre o use social do
a resolver e decisões a tomar: O aprendiz precisa testar suas conhecimento e a forma de tratá-lo didaticamente.
hipóteses e enfrentar contradições, seja entre as próprias
hipóteses, seja entre o que consegue produzir sozinho e Capítulo 6 - Quando corrigir, quando não corrigir.
a produção de seus pares ou entre o que pode produzir e
o resultado tido como convencionalmente correto. Partin- O professor desenvolve dois tipos de ação pedagógica:
do-se de uma proposta construtivista, o conhecimento só planejamento e intervenção, uma intervenção clássica é a
avança quando o aluno tem bons problemas sobre os quais correção que não é a única intervenção possível, nem a mais
pensar. Para isso, o professor deve criar boas situações de importante, porém é a que mais tem preocupado os profes-
aprendizagem para os alunos, atividades que representem sores. Numa concepção construtivista de aprendizagem, a
possibilidades difíceis, porém dificuldades possíveis de se- função da intervenção é atuar de modo que os alunos trans-
rem resolvidas. formem seus esquemas interpretativos em outros que deem
A escola precisa autorizar e incentivar o aluno a acionar conta de questões mais complexas que as anteriores. A cor-
seus conhecimentos de experiências anteriores, fazendo uso reção é algo relacionado a qualquer situação de aprendiza-
deles nas atividades escolares; é preciso criar atividades para gem, o que varia é como ela é compreendida pelo professor.
que isso seja de fato requisitado, sendo útil para qualquer A tradição escolar normalmente vê a correção realiza-
área de conhecimento. A organização da tarefa garante a da longe dos alunos na qual os erros são assinalados para
máxima circulação de informação possível. Os livros e demais que os alunos corrijam, como a mais importante (concepção
materiais escritos, a intervenção do professor, a observação empirista - exigente com a transmissão). Quando se trata de
de um colega na resolução de um problema, as dúvidas, as uma redação, o texto tem que ser passado a limpo, corrigido
dificuldades, o próprio objeto de conhecimento que o alu- - o erro poderá ficar fixado na memória do aluno (concep-

131
GESTÃO PEDAGÓGICA

ção que supõe a percepção e a memória como núcleos na ção de aula pelo coordenador ou orientador pedagógico
aprendizagem). Outra visão de correção é a informativa que - ou mesmo por um colega que ajude a olhar de fora. O
carrega a ideia de que a correção deve informar o aluno e professor está sempre tão envolvido que, às vezes, não lhe
ser feita dentro da situação de aprendizagem (concepção de é possível enxergar o que salta aos olhos de um observador
erro construtivo - que faz parte do processo de aprendiza- externo.
gem de qualquer pessoa). Se a maioria da classe vai bem e alguns não, estes de-
Os erros devem ser corrigidos no momento certo. Que vem receber ajuda pedagógica. Quando, numa verificação
nem sempre é o momento em que foram corrigidos. A ideia de aprendizagem, grande parte dos alunos apresenta difi-
do erro construtivo fascinou muitos educadores, que co- culdades, é certo que o professor precisa rever o seu enca-
meçaram a ver de outra forma os textos escritos dentro de minhamento. Porém, quando a verificação aponta que al-
um sistema silábico e mesmo os de escrita alfabética. Po- guns alunos não estão bem, estes devem ser atendidos ime-
rém, depois que a criança compreendeu o sistema alfabé- diatamente através de outras atividades que possibilitem a
tico de escrita é necessário que o professor intervenha na superação das dificuldades. A escola deve estar comprome-
questão ortográfica, considerando a melhor forma de fazer tida com a aprendizagem de todos e, dessa forma, criar um
isso. O que deve ser repensado é a concepção tradicional sistema de apoio para que os alunos não se percam no ca-
de correção. Os alunos sabem o que achamos importantes minho. As dificuldades precisam ser detectadas rapidamente
que eles aprendam, mesmo que não falemos nada. Muitos para que sejam sanadas e continuem progredindo, não de-
professores, por não quererem bloquear a criatividade do senvolvendo bloqueios. Tais crianças precisam ser atendidas
aluno, acabam deixando que ele escreva de qualquer jeito. por meio de realização de atividades diferenciadas durante
Tal procedimento acaba consolidando um contrato didático a aula, trabalho conjunto com colegas que possam ajudá-los
implícito, pois de alguma forma o aluno percebe que o pro- e intervenções.
fessor não valoriza esse tipo de conhecimento e acaba por
desvalorizá-lo investindo nessas aprendizagens. É importan- Fonte
te que o professor tenha claro que depois de um tempo de WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendiza-
escolaridade, são inaceitáveis. gem. São Paulo: Ática, 2009.

Capítulo 7 – A necessidade e os bons usos da avalia-


ção. WOLF, MARIÂNGELA TANTIN E CARVALHO,
ELMA JÚLIA GONÇALVES DE. REGIMENTO
No que diz respeito à avaliação, é preciso ter claro o ESCOLAR DE ESCOLAS PÚBLICAS: PARA
que o aluno já sabe no momento em que lhe é apresentado ALÉM DO REGISTRO DE NORMAS.
um conteúdo novo. O conhecimento prévio é o conjunto
de ideias, representações e informações que servem de sus-
tentação para a nova aprendizagem, ainda que não tenham,
Regimento escolar e administração
necessariamente, uma relação direta com o conteúdo que se
quer ensinar. É importante investigar e explorar essas ideias
A origem etimológica do termo regimento vem da famí-
e representações prévias porque permite saber de onde vai
lia de palavras latinas regimentu/regimem/rego / reger, sig-
partir a aprendizagem que se quer que aconteça. Conhecer
nificando ação de conduta, governo, administração. Confor-
essas ideias e representações prévias ajuda muito na hora de
me definição do Novo Dicionário Aurélio, regimento pode
construir uma situação na qual o aluno terá de usar o que já
ser “ato, efeito ou modo de reger, de dirigir” como também
sabe para aprender o que ainda não sabe.
“normas impostas ou consentidas”.
Após esta avaliação inicial, relacionada aos conhecimen-
Observa-se que o sentido epistemológico da palavra
tos prévios, é preciso que o professor utilize um ou outro
aponta para uma relação com a administração, o que nos
instrumento para verificar como os alunos estão progredin-
leva à necessidade de investigar o que é administração e
do, pois, o conhecimento não é construído igualmente, ao
como esse conceito se constrói ao longo do tempo.
mesmo tempo e da mesma forma por todos. Esse instru-
Com origem no latim ad (proximidade, direção para) e
mento é a avaliação de percurso - formativa ou processual
minister (subordinação ou obediência) administração desig-
- feita durante o processo de aprendizagem. Esse procedi-
na, originalmente, “aquele que realiza uma função abaixo do
mento permitirá ao professor avaliar se o trabalho que está
comando de outrem, isto é, aquele que presta um serviço a
desenvolvendo com os alunos está sendo produtivo e se os
outro” (CHIAVENATO, 1983, p. 6).
alunos estão aprendendo com as situações didáticas pro-
Na sociedade atual, esse conceito passou a ser entendi-
postas.
do como uma forma de
A avaliação da aprendizagem é também a avaliação do
[...] interpretar os objetivos propostos pela organização
trabalho do professor.Quando se avalia a aprendizagem do
e transformá-los em ação organizacional através do planeja-
aluno, também se avalia a intervenção do professor, pois
mento, organização, direção e controle de todos os esforços
o ensino deve ser planejado e replanejado em função das
realizados em todas as áreas e em todos os níveis da or-
aprendizagens conquistadas ou não. Assim, é importante a
ganização, a fim de alcançar tais objetivos da maneira mais
organização de espaços coletivos de discussão do trabalho
adequada à situação (Ibid, 1983, p. 6).
pedagógico na escola, valorizando-se a prática de observa-

132
GESTÃO PEDAGÓGICA

Ou seja, a administração assim pensada “é a utilização com a adoção da linha de montagem em série, por meio de
racional de recursos para realizar determinados fins” (PARO, esteiras rolantes que movimentam o produto enquanto o
1986, p. 18). Na sociedade capitalista, estes fins são “o apro- operário fica praticamente parado, realizando uma peque-
veitamento ao máximo da força de trabalho” e a “elevação na etapa da produção. O filme Tempos Modernos (1936),
da produtividade necessária à expansão do capital”. de Charles Chaplin, é emblemático ao retratar o operário
A administração, como é entendida e realizada hoje, é robotizado por esse processo, de tal modo que, mesmo
resultado de um longo processo de transformação histórica, quando interrompida a atividade, ele não consegue deixar
construído em meio às contradições sociais e aos interesses de realizar os movimentos repetitivos. Sob esse modelo de
políticos em jogo na sociedade (Ibid, p. 18). A atividade ad- organização produtiva é exigida pouca qualificação dos tra-
ministrativa existe desde a Antiguidade, porém a ciência da balhadores, que podem ser rapidamente treinados para os
administração só surge em fins do século XIX. postos de trabalho. Portanto, a intervenção e a criatividade
Os primeiros estudos científicos sobre administração do trabalhador é praticamente nula, como também lhe é im-
surgem com Taylor (1856 – 1915). Até então, os trabalha- possível compreender/conhecer o processo produtivo como
dores adquirem os conhecimentos necessários ao desem- um todo.
penho de seu trabalho por meio da tradição oral. Assim, Durante a I Grande Guerra, Fayol (1841 – 1925), usando
como não há uma doutrina administrativa consagrada, os métodos experimentais que permitem observar, recolher,
métodos usados para administrar são aqueles considerados classificar, interpretar fatos, instituir experiência e impor re-
os melhores conforme o julgamento particular de cada um. gras, dá origem ao fayolismo, ou escola de chefes, funda-
Com o desenvolvimento da indústria mecanizada, Taylor es- mentada em princípios que garantissem o poder dos diri-
trutura um sistema de organização do trabalho, denomina- gentes.
do, por ele, de “organização científica ou administrativa” em Segundo FAYOL (1975), é necessário defender a subor-
que o foco é o estudo do tempo para a realização de uma dinação do trabalho pessoal ao coletivo. Baseadas em um
tarefa e a redução de ações desnecessárias. Partindo desse conceito de administração com ênfase em prever, organizar,
princípio, as características do taylorismo são: mandar, coordenar e fiscalizar, as formas dessa subordina-
ção são a divisão do trabalho, disciplina, unidade de coman-
• o estudo dos movimentos empregados na execução
do, direção centralizada e hierarquização.
de cada tarefa;
Com a Escola Clássica da Administração tem-se uma
• a divisão do trabalho, para produzir mais e melhor nova divisão do trabalho, em que uns organizam, coman-
com o mesmo esforço; dam e controlam e outros executam tarefas individualmente.
Essa divisão demanda uma hierarquização na organização
• a decomposição da tarefa em movimentos elemen-
do trabalho, bem como uma definição dos diferentes papéis
tares mais simples e, portanto, mais fáceis de serem
e funções a serem executados na empresa, cujas regras e
realizados por um único trabalhador;
normas também são previamente definidos. Isso significou
• a especialização do homem pela repetição dos mo- a burocratização da atividade administrativa, ou seja, sua or-
vimentos, o que torna o homem parte da máquina e ganização racional/legal legitimada por regulamentos e nor-
desumaniza o trabalho; mas racionalmente definidos e previamente estabelecidos,
princípios de hierarquia, impessoalidade e documentação.
• a valorização da automatização, da submissão e da Essa organização produtiva desencadeia um dos prin-
obediência a normas estabelecidas, em detrimento cipais conflitos da era industrial: a incompatibilidade entre
da iniciativa, da criatividade e da independência; os objetivos organizacionais das empresas e os objetivos
• o favorecimento do individualismo e do controle no pessoais dos empregados. Ou seja, tensões relacionadas à
processo produtivo; motivação e à satisfação pessoal geram o descontentamen-
to do trabalhador, alertando para a necessidade de se lhes
• o distanciamento entre teoria e prática, entre plane- dar atenção.
jamento e execução, uma vez que o planejamento, Vale dizer que “frente a cada forma de organização e
a decisão, a coordenação e o controle devem estar controle implementada pelo empresariado, desenvolvem-se
sob a responsabilidade de alguns e a execução das resistências individuais ou coletivas por parte dos trabalha-
tarefas sob responsabilidade de outros. dores [...]” (PINTO, 2008, p.70).
Segundo esse modelo, planejar é “caracterizar qual o Nesse sentido e, ainda, diante da necessidade de sobre-
trabalho que deve ser feito, como deve ser feito esse traba- vivência financeira e garantia de lucros, surge a Escola de Re-
lho, onde e por quem deverá ser executado e, finalmente, lações Humanas, fundamentada nos estudos de Elton Mayo
quando deverá ser feito” (TAYLOR, 1986, p. 24). Por isso, são (1880 – 1949), que se constitui em um novo paradigma de
produzidos manuais de procedimentos, com detalhamento organização, embasado, principalmente, na Psicologia e na
minucioso das tarefas, os quais, seguidos à risca, são consi- Sociologia, com contribuições de Kurt Lewin (1890 – 1947)
derados instrumentos para o sucesso do sistema. Busca-se fundador da Psicologia Social; do filósofo e educador John
eliminar o desperdício, a ociosidade operária e a redução Dewey (1859 – 1952), do psicanalista e psicopedagogo Carl
dos custos da produção. Rogers (1902 – 1987) e do sociólogo Durkheim (1858 –
O Fordismo (Henry Ford, 1863-1947), baseado nos prin- 1917). Este, observando comunidades mais simples, conclui
cípios do taylorismo, revoluciona a indústria automobilística que o progresso industrial se faz acompanhar de um imenso

133
GESTÃO PEDAGÓGICA

desgaste do sentimento espontâneo de cooperação (CHIA- manas, associada posteriormente às demais ciências sociais
VENATO, 1983). que predominaram no mundo dos negócios até o final dos
Esse novo paradigma da administração introduz a preo- anos 1960; a terceira geração de racionalização do trabalho
cupação com a dimensão social do trabalho e com um enfo- vai coincidir com o advento das técnicas japonesas de ges-
que mais humanístico na organização do trabalho. Buscam- tão da produção.
-se levar em conta os comportamentos, atitudes e neces-
sidades psicológicas dos empregados (como, por exemplo, Desse processo, com bases mais flexíveis, resulta a im-
segurança, aprovação social, prestígio e auto-realização) e plantação na fábrica de uma nova prática, em que infinitas
as relações humanas no interior das organizações, de forma linhas de produção e montagem permitem maior nível de
a conciliar e harmonizar as relações e neutralizar os conflitos automação em algumas tarefas.
entre os grupos. Segundo FONSECA (1999, p. 42), “o conflito Enquanto para o taylorismo-fordismo a flexibilidade na
é resolvido via soluções pessoais”, ou administrativas, “nun- organização envolve a possibilidade da rápida substituição
ca considerando a questão fundamental: totalidade social e do trabalhador, para o toyotismo significa a possibilidade
suas contradições a nível político-econômico”. da produção conforme a demanda do cliente e da entrega
Dessa perspectiva, surge um conceito de administração rápida e precisa.
em que a liderança deve ser capaz de promover a harmonia Em contrapartida, tanto máquinas quanto trabalhadores
da organização, de modo a alcançar maior produtividade. precisam ser mais flexíveis. No caso dos trabalhadores, um
Conferindo à administração um caráter aparente de parti- mesmo indivíduo deve ser capaz de exercer diversas fun-
cipação dos trabalhadores na tomada de decisão e de coo- ções e operar ou monitorar diferentes máquinas, induzindo
peração, eles são mobilizados à obediência das ordens do a equipe a se reorganizar sempre que necessário. Esse pro-
chefe sem que se percebam “comandados”. Nesse sentido, cedimento de trabalho em equipe, em que cada membro
apesar da aparência “democrática” dos processos, a partici- interage com os demais para uma ação conjunta, gera um
pação funciona como um mecanismo indireto de regulação novo padrão de gestão, cujo foco é a participação e a coo-
do comportamento e de subordinação dos trabalhadores peração no trabalho.
aos interesses do capital, ao mesmo tempo em que dissimu- O novo modelo, que substitui a produção em massa
la o controle por parte da administração. pela produção customizada, substitui também a gerência
Assim, a Escola das Relações Humanas não se opõe à burocrática por uma gerência de bases mais flexíveis, com o
Escola Clássica quanto à organização do trabalho propria- propósito de aumentar o envolvimento e a responsabilidade
mente dito, mas acrescenta-lhe “o princípio da delegação dos trabalhadores, bem como sua participação na tomada
de responsabilidades, e da descentralização como uma es- de decisões no processo produtivo e, dessa forma, aumentar
tratégia de motivação do trabalhador, obtendo mediante a produtividade da empresa e a satisfação dos trabalhadores
seu envolvimento uma participação mais produtiva” (FÉLIX, sem, no entanto, abrir mão do controle gerencial.
1984, p 57). Nesse sentido, tanto Taylor, ao decompor a tarefa em
A partir da década de 50, surge a teoria comportamen- movimentos simples, dentro de um padrão de execução
tal, cuja função é regular o comportamento segundo os cri- considerado o melhor (the one best way), quanto Ford, ao
térios de eficiência e eficácia. Na perspectiva dessa escola, “a priorizar o automatismo, tinham como objetivo diminuir o
organização é considerada como um sistema, cuja compo- poder dos operários mais qualificados sobre a produção e
sição resulta da coordenação e da interação dos diferentes aumentar o controle gerencial, na medida em que a espe-
subsistemas; para que sejam tomadas as decisões adequa- cialização tira-lhes a visão do conjunto.
das, é necessário entrelaçar todos os fatores possíveis da or- Embora com o mesmo objetivo o toyotismo faz o ca-
ganização”, ou seja, seus “fluxos de informação, de material, minho contrário. O trabalho flexível e automatizado, ao exi-
de capital, de mão-de-obra, de equipamentos” (FÉLIX, 1984, gir polivalência do trabalhador para poder atuar em pos-
p. 55). tos de trabalho multifuncionais, permite-lhes ter uma visão
Essa teoria é influenciada pelos códigos de conduta mais ampla da produção. Isso implica diferentes habilidades
grupal, pela psicologia social, pelo sistema de comunicação, como iniciativa, equilíbrio, criatividade, raciocínio ágil, facili-
pela tomada de decisão, pela tecnologia da informação e dade para o trabalho em grupo, enfim, qualificação versátil.
pela abordagem sistêmica. No entanto, a disposição dos postos de trabalho em células
Os anos 70 são marcados pela instabilidade econômica de produção, que concentram nelas todas as tarefas de uma
mundial e o capitalismo, caminha para uma nova crise que etapa do processo produtivo, aumenta o controle e intensi-
gera, a partir dos anos 90, a necessidade de um novo pa- fica o trabalho.
drão de acumulação. O modelo clássico de administração é, O controle é exercido não apenas pela gerência (contro-
pois, questionado pelo toyotismo, também conhecido como le patronal, a “gestão pelos olhos” o controle dos “estoques”
pós-fordismo. que podem ser de máquinas, espaço ou trabalhadores), mas
A respeito desse movimento, VALLE & PEIXOTO (apud, também pelos próprios trabalhadores que passam a vigiar
TENÓRIO 2002, p. 162) esclarecem que: A transição do mo- uns aos outros para poderem cumprir as metas de produção
delo de racionalização de trabalho rígido para um mais fle- estabelecidas pela gerência, numa relação “vigiado-vigilante
xível, observando o continuum, se dá sob três “gerações”: a permanente” e de competição entre eles (PINTO, 2008, p.
primeira geração a partir da proposta tayloristafordista-fa- 88).
yolista; a segunda geração a partir da Escola de Relações Hu-

134
GESTÃO PEDAGÓGICA

A intensificação do trabalho se dá pela sobrecarga de • CCQ (círculo de controle de qualidade): busca da


tarefas, alocando-se os trabalhadores entre as variadas ati- qualidade total, com base nos princípios estabele-
vidades, o que provoca crises de adaptação e gera excessi- cidos por Deming, que priorizam o atendimento aos
vas horas extras em períodos que devem ser usados para interesses, necessidades e desejos dos clientes, ca-
o descanso ou lazer. Além disso, é exigido deles aumento pacidade de organizar e promover ações de forma
de responsabilidades pela manutenção dos equipamentos, flexível, mudando a forma de trabalhar sempre que
limpeza do local de trabalho, controle de qualidade e pro- as demandas da clientela assim exigirem, eliminando
posição de mudanças que elevem a própria produtividade. desperdícios;
Trata-se da chamada gerência pelo stress, sob a qual poten-
• empregos temporários, de tempo parcial;
cializa-se ao máximo “o rendimento do trabalho vivo” pro-
vocando seu desgaste em níveis considerados desumanos, • prontidão dos indivíduos para responder aos desa-
com o objetivo de aumentar a produtividade pela diminui- fios e desempenhar novas tarefas;
ção dos operários.
• substituição dos especialistas pelos generalistas, ca-
As características desse novo modelo de acumulação
pazes de atuar em diferentes pontos da organização,
do capital, apontadas por autores como ALVES (1999, 2007),
a qualquer tempo;
ANTUNES (1999), FRIGOTTO (1995), HARVEY (1992) e OLI-
VEIRA (2006), entre outros, são: • automotivação do indivíduo: as empresas reduzem
o compromisso de treinamento; isto significa que o
• adocracia, administração de situações e de incerte-
trabalhador se torna responsável pela sua carreira e
zas;
formação permanente ou ao longo de toda a vida.
• redução de cargos e da burocracia, que, no conceito
atual, lembra papelada e passos desnecessários para Estas características do toyotismo resultam em empre-
solucionar problemas; sas enxutas e em redução das vagas de trabalho, não como
medida emergencial, mas como prática estrutural o que
• terceirização de serviços;
gera o desemprego estrutural e nos leva a concordar com
• centralização com relação aos objetivos e descentra- OLIVEIRA (2006, p.23) quando afirma ser o toyotismo “uma
lização quanto às decisões; máquina de produzir desempregados”.
Por isso, o medo do desemprego é apontado por PINTO
• delegação de maior poder ao empregado para so-
(2008) e ALVES (2007) como um dos fatores que garantem
lução rápida de situações, quando a máquina não
a flexibilidade de jornadas de trabalho, diante da concor-
pode fazê-lo;
dância do trabalhador em ser explorado em sua força de
• adaptação às mudanças; trabalho e diante da renúncia a direitos sociais e trabalhistas
adquiridos até então.
• JIT (just in time): regime de produção após a enco-
Também, conforme CARVALHO (2005, p.56), decorrente
menda e entrega precisa;
dessa organização,
• kanban: fluxo de informações e de transporte in- O novo princípio fundamental é o da “autorregulação”.
terno de materiais em que as partes necessárias à Ao trabalhador é atribuída maior responsabilidade pela sua
montagem chegam ao lugar certo, na hora certa e própria eficiência, produtividade ou permanência no traba-
na quantidade necessária; lho – liberdade/autonomia para controlar seu próprio tra-
balho.
• flexibilização da produção: pequenos lotes, varieda- São esses os aspectos da nova concepção de gestão
de de produtos, sem estoques, produzindo apenas empresarial que, relacionados aos princípios democráticos,
o necessário; introduzem a tendência à descentralização do poder e ao
• automação, com a substituição do homem pela má- aumento da participação de todos os envolvidos (CARVA-
quina em tudo o que é possível; LHO, 2005).
Assim, as concepções de administração influenciam ou-
• autonomação (de autônomo e automação): funcio- tras organizações, inclusive a escola. Cabe dizer, no entanto,
namento automático das máquinas que podem pa- que as teorias e práticas da administração empresarial em-
rar, sem intervenção humana, em caso de defeitos bora influenciem a administração e a organização escolar,
na produção; não são mecânica e automaticamente transpostas das teo-
• horizontalização: ênfase no trabalho em equipe; rias empresariais para o sistema educacional. Isso porque a
escola, além de possuir características que a diferenciam das
• kaisen ou gestão participativa: os trabalhadores se empresas, pode ter objetivos voltados não apenas para a
comprometem com os interesses da empresa atra- produtividade e o lucro e sim para a educação e a formação
vés de um trabalho voluntário de sugestão de boas das pessoas numa perspectiva coletiva e social. Além disso,
ideias para melhoria contínua, responsabilizando-se ela é também entendida como palco de conflitos e contradi-
pelo cumprimento das metas propostas pela gerên- ções, em que se opõem os interesses políticos e sociais dos
cia; atores (governos, administradores, professores, pais, alunos
e outros membros da sociedade local), o que faz com que

135
GESTÃO PEDAGÓGICA

as relações de poder em seu interior não tenham um caráter O Regimento pode, ainda, ser coletivamente construído.
unilateral. A esse respeito, PARO (1986, p. 11) afirma que: Cabe, entretanto, perguntar quem é o coletivo da escola que
[...] embora adaptados a cada situação específica, os participa e como se dá essa participação.
métodos e técnicas administrativas utilizados nas mais di- Nesse contexto, em que se atribui grande ênfase à ges-
versas organizações são todos semelhantes entre si, na me- tão democrática, o Regimento Escolar torna-se um elemen-
dida em que se baseiam nos mesmos princípios gerais da to fundamental na organização do trabalho escolar. Ele deve
Administração. sintetizar o projeto político-pedagógico da escola e expres-
sar as características próprias da instituição que constituem
Desse modo, considerando a especificidade do trabalho sua identidade, sem o que será um amontoado de regras e
escolar, podemos dizer que ele apresenta diferentes mo- normas, sem coesão nem sentido.
mentos. Assim, da análise dos pressupostos legais, depreende-se
Sob influência do taylorismo-fordismo a organização do que o Regimento Escolar é um documento a ser elaborado
trabalho escolar firma-se na verticalização, ou seja, na hie- pela comunidade escolar e que deve explicitar as caracte-
rarquia dos cargos e funções (direção, supervisão e orien- rísticas que a identificam com o serviço que a escola presta
tação); em normas disciplinares e regulamentos impessoais; à comunidade, ou seja, as de uma instituição cujo fim é a
na centralização das decisões e na tomada de decisão, em educação.
que os planos de ação partem de cima para baixo, não ca-
bendo aos comandados discuti-los e sim executá-los. Regimento Escolar e Legislação
Esse quadro não cria condições para a escola definir
sua própria forma de organização e gestão e, por isso, o re- No âmbito da Administração Escolar, o regimento da es-
gimento escolar se torna “apenas um instrumento formal, cola é legalmente definido como “o conjunto de normas que
esquecido no fundo das gavetas”, (cf. Indicação nº 001/91), regem o funcionamento e os serviços do estabelecimento
ou seja, um documento burocrático elaborado apenas para de ensino” (Indicação nº 3/72). Decorrente direto do exer-
cumprir a exigência legal por ocasião da autorização de fun- cício da autonomia que a Lei confere aos estabelecimentos,
cionamento das escolas e do reconhecimento de seus cur- “o regimento se constitui numa autêntica síntese do projeto
sos. político-pedagógico da escola” e nele a escola “instituciona-
Com base no atual paradigma de administração, que liza e concentra seus princípios e procedimentos” (cf. Indica-
passa a concebê-la como uma responsabilidade coletiva, a ção n° 7/99 - CEE/PR, anexa à Deliberação nº 16/99 - CEE/
gestão em estabelecimentos de ensino da rede pública en- PR. Grifos no original).
volve perspectivas democráticas, conforme se observa na Lei O Regimento Escolar, sendo um instrumento da organi-
nº 9394/96, Artigo 3º, Inciso VIII, em que se prevê para as es- zação administrativa e pedagógica da escola, é sua lei maior.
colas públicas “a prática da gestão democrática, na forma da Ele define a natureza e a finalidade da escola, bem como as
Lei e da legislação dos sistemas de ensino”. Neste sentido, normas e os critérios que regulam seu funcionamento.
gestores, educadores, equipe escolar e comunidade devem Ele deve ser construído em cada escola, com a partici-
atuar coletivamente de maneira a garantir que a organiza- pação de todos os que nela atuam. No entanto, sua elabo-
ção e o funcionamento do processo educativo ocorram de ração não pode ferir a legislação hierarquicamente superior,
forma mais participativa e, portanto, democrática. isto é, deve estar sujeita às normas do sistema de ensino a
Cabe dizer que a perspectiva democrática-participati- que pertence. Assim, as normas para sua elaboração devem
va, na sociedade atual, não se vincula apenas à concepção estar em sintonia com a filosofia e a política educacional do
moderna da gestão empresarial. Existem outras motivações, país e observar os princípios constitucionais da Federação
como os interesses coletivos/comunitários, as relações de e do Estado, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação vigen-
solidariedade e a participação democrática, ou seja, a defesa te, Pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do
do alargamento da esfera da autoridade política, tendo em Conselho Estadual de Educação (CEE) e outros documentos
vista a superação das relações de dominação. Isso implica normativos pertinentes à matéria.
afirmar que a administração democrática não é algo neutro A exigência da elaboração de regimentos pelas esco-
e nem possui um sentido único, mas traz as marcas das con- las, respeitando suas especificidades, começa com a edição
tradições sociais e dos interesses políticos que se chocam no da Lei nº. 5692/71 (Artigo 2º, Parágrafo Único). Na vigência
interior da sociedade. desta lei, o Conselho Federal de Educação – CFE, atual
Também o Regimento Escolar expressa essas contradi- Conselho Nacional de Educação, normatizando os esta-
ções, pois, ao mesmo tempo em que aponta para a gestão belecimentos do Sistema Federal de Ensino, orienta que os
democrática, apresenta-se como um documento elabora- regimentos contenham elementos indispensáveis ao funcio-
do sem a participação da comunidade escolar, constituído namento de um estabelecimento, quais sejam: sua filosofia,
por regras e normas previamente definidas, que podem ser seus objetivos, sua organização administrativa, didática e
praticadas por todas as instituições, independentemente de disciplinar (Parecer nº 352/72).
suas especificidades. Em consequência, possibilita que elas Nesse sentido, é concebido como um instrumento legal,
sejam mais facilmente controladas, por meio do cumpri- cujo papel é organizar o funcionamento da escola. Embo-
mento de metas, de cuja definição nem sempre participam, ra elaborado para ter validade por um período de tempo
mas para as quais são responsabilizadas. razoável, deve ter um caráter dinâmico, já que precisa ser

136
GESTÃO PEDAGÓGICA

atualizado e reformulado conforme ocorram mudanças na A construção coletiva do Regimento Escolar


escola decorrentes ou não de alterações na legislação.
O texto da atual LDB (Lei nº 9394/96), ao dar ênfase à A construção coletiva do Regimento Escolar (RE) implica
perspectiva de uma gestão democrática, “abre largo espaço a discussão e a participação consciente da comunidade es-
para a liberdade e criação”, uma vez que se propõe a “valo- colar como um todo, pois os modelos e roteiros apresentam
rizar o poder criativo dos gestores educacionais, evitando o apenas indicações que devem ser discutidas com a partici-
centralismo burocrático ultrapassado” (cf. Indicação do CEE pação de todos os envolvidos. ZABOT (1986, p. 64) explica
nº 07/99). Entretanto, de nosso ponto de vista, por manter que
o caráter genérico da letra da lei, trata a questão de forma [...] é desta participação que se originará a sua legitimi-
pouco esclarecedora, ao mesmo tempo em que remete sua dade. É dela que surgirá a possibilidade de o Regimento Es-
definição e detalhamento para os sistemas de ensino. colar não se transformar em letra morta, ou em documento
Quanto aos regimentos, a LDB estabelece apenas a nascido de imposições legais, para preencher as estantes e
obrigatoriedade de adaptá-los “aos dispositivos da Lei e às arquivos da escola ou da Secretaria da Educação.
normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por O envolvimento dos diversos segmentos da comunida-
estes estabelecidos” (Lei nº 9394/96, Art. 88, § 1º). de escolar na elaboração do PPP e do RE implica o engaja-
Assim, na forma na Lei, cabe aos Conselhos Estaduais mento do indivíduo, que se obriga a se informar e a formar
de Educação o papel normatizador e aos Sistemas Estaduais opinião, sentindo-se responsável pelo processo e seus re-
de Ensino o de orientar sua elaboração e verificar sua lega- sultados.
lidade. Conforme ZABOT (1986), essa participação crítica, que
reflete a maturidade política da comunidade escolar e ex-
A importância do Regimento Escolar pressa suas necessidades, requer, do indivíduo, a vontade
política de mudar, de superar o comodismo e, da escola, re-
Em linhas gerais, podemos dizer que a importância do quer a criação de espaços que permitam a todos a expressão
Regimento Escolar está expressa em seus aspectos legal e livre e crítica de suas opiniões e propostas. Nesse sentido,
pedagógico. Como “lei” da escola, ele lhe confere a susten- [...] o diretor exerce papel fundamental na condução da
tação organizacional necessária ao alcance dos objetivos pe- escola na medida em que ele é ou não facilitador da partici-
dagógicos e ao bom funcionamento do sistema. pação da comunidade escolar na tomada de decisão da vida
Do ponto de vista legal, a importância do Regimento da escola. À medida que as pessoas participam e à medida
escolar está no fato de ser a “lei” da escola; já do ponto de que sugerem, questionam e decidem, elas se envolvem, se
vista pedagógico, sua importância está no fato de expressar sentem responsáveis, estabelecendo a corresponsabilidade
e respeitar os anseios e as necessidades da comunidade es- e a colaboração solidária, realizando a participação coletiva
colar, em correspondência com o Projeto Político-Pedagógi- (WATANABE, 1999, p. 580).
co (PPP) da escola. WATANABE (1999, p. 586) reforça a importância de que
Em ambos os aspectos, o Regimento, desde sempre, o RE seja construído coletivamente e que seja do conhe-
tem a função de orientar as ações da escola. Primeiramen- cimento de toda a comunidade escolar, para possibilitar,
te com ênfase na estrutura administrativa e disciplinar, uma assim, que as ações escolares “não sejam aleatórias, par-
vez que a exigência de uma proposta pedagógica é relativa- ciais, ao bel prazer de quem quer que seja”. Isso significa,
mente recente. Posteriormente, com a Lei nº 9394/96, que segundo a SEED, que [...] o coletivo da escola deve discutir,
reconhece a devida importância do PPP como eixo central refletir e tomar suas próprias decisões, amparadas nos apa-
de toda ação escolar, é instituída sua obrigatoriedade. ratos legais, sobre a melhor forma de realizar seu compro-
Deste modo, a elaboração do PPP, que não decorre ape- misso profissional público: a efetivação do processo ensino e
nas da legislação, mas também da vontade da comunidade aprendizagem com qualidade social para todos aqueles que
escolar, é o primeiro passo que a escola deve dar na organi- se escolarizam nas escolas públicas (SEED – PR, 2007).
zação do Regimento Escolar. E explica, apontando a importância do RE em sua di-
Embora seja decorrente do PPP da escola, o Regimento mensão legal e pedagógica: É nessa construção coletiva da
Escolar lhe confere o embasamento legal, desde as Consti- comunidade escolar, a qual se organiza para efetivar uma
tuições Federal e Estadual até os pareceres normativos dos educação de qualidade, gratuita e para todos, formando
Conselhos Estaduais de Educação. Por isso, ele deve ser en- cidadãos críticos em relação à sua realidade e capazes de
tendido como a “constituição”, a “lei” da escola. Neste as- transformá-la, que o Regimento Escolar se torna essencial,
pecto, a importância do Regimento Escolar está em esta- uma vez que representa a concretude da legislação em vi-
belecer as regras gerais orientadoras rumo ao alcance dos gor, regulando de forma particular cada estabelecimento de
objetivos estabelecidos pelo PPP. ensino.
Na perspectiva de uma gestão democrática, sua impor- Esse ponto de vista reafirma o princípio da participação
tância revela-se no fato de ser construído e cumprido coleti- e da coletividade na perspectiva de uma gestão democrática
vamente, entretanto a forma como será cumprido depende- em que o enfrentamento das questões da escola deve acon-
rá da compreensão, aceitabilidade e comprometimento de tecer com a contribuição do conjunto dos diferentes seg-
toda a comunidade escolar, daí a necessidade de ser coleti- mentos da comunidade escolar, rompendo com a divisão
vamente construído. das funções entre aqueles que tomam as decisões e aqueles
que executam a ação.

137
GESTÃO PEDAGÓGICA

Fonte as dimensões da pessoa, caracterizando as seguintes tipo-


WOLF, Mariângela Tantin e CARVALHO, Elma Júlia Gon- logias de aprendizagem: factual e conceitual (o que se deve
çalves de. Regimento escolar de escolas públicas: para além aprender?); procedimental (o que se deve fazer?); e atitudi-
do registro de normas. Disponível em: http://www.diaadiae- nal (como se deve ser?).
ducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/216-4.pdf Para o autor, o papel do objetivo educacional é a forma-
ção integral para a autonomia, equilíbrio pessoal, relações
interpessoais, etc.
ZABALA, ANTONI. A PRÁTICA EDUCATIVA: A primeira conclusão que o autor chega quanto ao co-
COMO ENSINAR. PORTO ALEGRE: EDITORA nhecimento dos processos de aprendizagem é a atenção à
ARTMED, 2002. diversidade.
Para o autor a diversidade deve fazer parte do trabalho
do professor, pois alunos e alunas são diferentes em muitos
O conteúdo abaixo, será estudado conforme as ideias aspectos (físico, emocional, cognitivo, etc.)
de Zabala, propostas no livro “A prática educativa: como en-
sinar”8. 3. Construtivismo: concepção sobre como se produ-
zem os processos de aprendizagem
1. A prática educativa: unidades de análise
O ensino tradicional está relacionado às diferentes dis-
Buscar a competência em seu ofício é característica ciplinas. Por conteúdos factuais se entende o conhecimen-
de qualquer bom profissional. Zabala elabora um modelo to de fatos, acontecimentos, situações, dados e fenômenos
que seria capaz de trazer subsídios para a análise da prática concretos e singulares: a idade de uma pessoa, a conquista
profissional. Como opção, utiliza-se do modelo de interpre- de um território. São conteúdos em que as respostas são
tação, que se contrapõe àquele em que o professor é um inequívocas.
aplicador de fórmulas herdadas da tradição, fundamentan- Um conteúdo procedimental é um conjunto de ações
do-se no pensamento prático e na capacidade reflexiva do ordenadas e com um fim, para a realização de um objetivo.
docente. São conteúdos procedimentais: ler, desenhar, observar, cal-
A finalidade da escola é promover a formação integral cular, classificar, traduzir, recortar, saltar, inferir, espetar, etc.
dos alunos, segundo Zabala, que critica as ênfases atribuídas Os conteúdos atitudinais englobam conteúdos agru-
ao aspecto cognitivo. Para ele, é na instituição escolar, atra- pados em valores, atitudes e normas cada um destes com
vés das relações construídas a partir de experiências vividas, natureza diferenciada.
que se estabelecem os vínculos e as condições que definem
as concepções pessoais sobre si e os demais. A partir dessa 4. As sequências didáticas e as sequências de con-
posição ideológica acerca da finalidade da educação escola- teúdo
rizada, é conclamada a necessidade de uma reflexão profun-
da e permanente da condição de cidadania dos alunos, e da Certos questionamentos pareceram-nos relevantes: na
sociedade em que vivem. sequência há atividades que nos permitam determinar os
Segundo, o autor, na nossa vida particular e profissional, conhecimentos prévios? Atividades cujos conteúdos sejam
vivemos questionando sobre o que e como fazemos, e os propostos de forma significativa e funcional? Atividades em
resultados daí decorrentes. Concluímos então que algumas que possamos inferir sua adequação ao nível de desenvol-
coisas fazemos muito bem, outras mais ou menos e, por úl- vimento de cada aluno? Atividades que representam um
timo, algumas que somos incapazes de realizar. desafio alcançável? Provoquem um conflito cognitivo e pro-
As variáveis que condicionam a prática educativa são movam a atividade mental? Sejam motivadoras em relação
difíceis de definir, dada a complexidade como se manifesta, à aprendizagem de novos conteúdos? Estimulem a autoesti-
pois nelas se expressam múltiplos fatores, ideias, valores, há- ma e o autoconceito? Ajudem o aluno a adquirir habilidades
bitos, pedagógicos, etc. relacionadas com o aprender, sendo cada vez mais autôno-
mo em suas aprendizagens?
2. A função social do ensino e a concepção sobre os A partir de nossas propostas de trabalho, aparecem para
processos de aprendizagem: instrumentos de análise os alunos, diferentes oportunidades de aprender diversas
coisas; para os educadores, uma diversidade de meios para
Sobre os conteúdos da aprendizagem, seus significados captar os processos de construção que eles edificam, neles
são ampliados para além da questão do que ensinar, encon- incidir e avaliar; nem tudo se aprende do mesmo modo, no
trando sentido na indagação sobre por que ensinar. Des- mesmo tempo, nem com o mesmo trabalho; por que nosso
te modo, acabam por envolver os objetivos educacionais, desejo de que sejam tolerantes e respeitosos se vê frustra-
definindo suas ações no âmbito concreto do ambiente de do justamente naquelas ocasiões em que é mais necessário
aula. Esses conteúdos assumem o papel de envolver todas exercer a tolerância e respeito?; refletir sobre o que apren-
der o que propomos pode nos conduzir a estabelecer pro-
postas suscetíveis de ajudar mais os alunos e ajudar a nós
8 Material consultado em: http://apeoespbebedouro.blogspot.com. mesmos.
br/2011/07/pratica-educativacomo-ensinar-antoni.html

138
GESTÃO PEDAGÓGICA

5. As relações interativas em sala de aula: O papel relações de trabalho que podem ser de ajuda, de colabora-
dos professores e dos alunos ção ou de confiança, ou exatamente o contrário).

O autor expõe o valor das relações que se estabelecem 7. A organização dos conteúdos
entre os professores, os alunos e os conteúdos no processo
ensino e aprendizagem. Comenta que essas se sobrepõem Ele defende a organização dos conteúdos pelo método
às sequências didáticas, visto que o professor e os alunos de ensino global, pois os conteúdos de aprendizagem só
possuem certo grau de participação nesse processo, dife- podem ser considerados relevantes na medida em que de-
rente do ensino tradicional, caracterizado pela transmissão/ senvolvam nos alunos a capacidade para compreender uma
recepção e reprodução de conhecimentos. Examina, dentro realidade que se manifesta globalmente. No tocante aos
da concepção construtivista, a natureza dos diferentes con- métodos globalizadores, o autor descreve as possibilidades
teúdos, o papel dos professores e dos alunos, bem como a dos centros de interesse de Decroly, os métodos de projetos
relação entre eles no processo, colocando que o professor de Kilpatrick, o estudo do meio, e os projetos de trabalhos
necessita diversificar as estratégias, propor desafios, com- globais.
parar, dirigir e estar atento à diversidade dos alunos, o que Podemos estabelecer três graus de relações disciplina-
significa estabelecer uma interação direta com eles. res:
Das relações interativas para facilitar a aprendizagem se - A multidisciplinaridade = é a organização de conteúdo
deduz uma série de funções dos professores, que podemos mais tradicional
caracterizá-las da seguinte maneira: - A interdisciplinaridade = é a interação entre duas ou
- planejamento E plasticidade na aplicação: A comple- mais disciplinas
xidade dos processos educativos faz com que não se possa - Elaboração do dossiê ou síntese= nesta fase se con-
prever o que acontecerá na aula. Este inconveniente é o que cretiza o produto do projeto que conduziu e justificou todo
aconselha que os professores contem com o maior número o trabalho
de meios e estratégias para poder atender às diferentes de- - Avaliação=avalia-se todo o processo em dois níveis:
mandas que aparecerão no processo ensino/aprendizagem; um de caráter interno onde cada aluno recapitula o que
- Levar em conta as contribuições dos alunos tanto no aprendeu, e outro, de caráter externo, com a ajuda do pro-
início das atividades como durante o transcurso das mes- fessor, os alunos tem que se aprofundar no processo de des-
mas; contextualização.
- Ajudá-los a encontrar sentido no que fazem;
- Estabelecer metas alcançáveis; 8. Os materiais curriculares e outros recursos didá-
- Oferecer ajuda contingente (a elaboração do conheci- ticos
mento exige ajuda especializada, estímulo e afeto por parte
dos professores e dos demais colegas); Materiais curriculares são os instrumentos que propor-
- Promover canais de comunicação; cionam referências e critérios para tomar decisões: no pla-
nejamento, na intervenção direta no processo de ensino/
6. A organização social da classe aprendizagem e em sua avaliação. São meios que ajudam
os professores a responder aos problemas concretos que as
Antoni Zabala procurou analisar as diferentes formas de diferentes fases dos processos de planejamento, execução e
organização social dos alunos vivenciadas na escola e sua re- avaliação lhes apresentam.
lação com o processo de aprendizagem. Percebeu que todo As críticas referentes aos conteúdos dos livros didáticos
tipo de organização grupal dos alunos, assim como todas giram em torno das seguintes considerações:
as atividades a serem programadas/desenvolvidas pela es- - A maioria dos livros trata os conteúdos de forma unidi-
cola e a própria forma de gestão que esta emprega, devem recional e se alimentam de estereótipos culturais;
levar em consideração os tipos de aprendizagens que estão - É fácil encontrar os livros com dose consideráveis de
proporcionando a seus alunos e os objetivos expressos pela elitismo, sexismo, centralismo, classicismos, etc.;
própria escola. Desse modo, alertou para o fato de que in- - Apesar da grande quantidade de informação não po-
conscientemente a instituição escolar, ao não refletir sobre dem oferecer toda a informação necessária para garantir a
esses aspectos, pode acabar por desenvolver uma aprendi- comparação;
zagem inversa àquilo que apregoa.
A escola como grande grupo: 9. Os centros de interesse de Decroly: Sequência de
- Atividades gerais da escola (durante o ano, a maioria ensino/aprendizagem nas seguintes fases:
das escolas organiza uma série de atividades que em geral
são de caráter social, cultural, lúdico ou esportivo); - Observação-Conjunto de atividades que tem por fina-
- Tipos de gestão da escola: pragmática (efetuada com lidade pôr os alunos em contato direto com as coisas, os
critérios relativos às necessidades de dinamização, organiza- seres, os fatos e os acontecimentos.
ção e desenvolvimento das diferentes tarefas de uma insti- - Associação – através de exercícios os alunos relacio-
tuição com funções complexas); colegiada (define determi- nam o que observaram com outras ideias ou realidades e
nadas relações interpessoais, uma maneira de conceber as expressão.

139
GESTÃO PEDAGÓGICA

- Expressão- pode ser concreta, quando utiliza os tra- Nós, professores (as), temos que dispor de todos os da-
balhos manuais, ou abstrata, quando traduz o pensamento dos que nos permitam reconhecer em todo momento que
com a ajuda de simples convencionais. atividades cada aluno necessita para sua formação;
- Justificativa: - a criança é o ponto de partida do méto- O aluno necessita de incentivos e estímulos. Sem incen-
do; o respeito à personalidade do aluno; a eficácia da apren- tivos, sem estímulo e sem entusiasmo dificilmente poderá
dizagem é o interesse; a vida como educadora. A eficácia do enfrentar o trabalho que lhe é proposto;
meio é decisiva; os meninos (as) são seres sociais; a atividade A escola, as equipes docentes têm que dispor de todos
mental está presidida pela função globalizadora e é influen- os dados necessários para a continuidade e a coerência no
ciada pelas tendências preponderantes do sujeito. percurso do aluno;
A administração educacional é gerida por educadores,
O método de projetos de Kilpatrick: Sequência de ensino/ portanto, seria lógico que a informação fosse o mais profis-
aprendizagem compreende quatro fases: sional possível, com critérios que permitissem a interpreta-
-Intenção (os alunos escolhem o objeto ou a montagem ção do caminho seguido pelos alunos, conforme modelos
que querem realizar e a maneira de se organizar); tão complexos como é complexa a tarefa educativa;
-Preparação (consiste em fazer o projeto do objeto ou Por último, devemos ter presente que na sala de aula e
montagem); na escola, avaliamos muito mais do que se pensa, inclusive
- Execução (os meios e os processos a serem seguidos); mais do que temos consciência.
- Avaliação (momento de comprovar a eficiência e a va-
lidade do produto realizado); Referência:
Os projetos de trabalhos globais (nasce de uma evolu- ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Edi-
ção dos Project Works de língua e é uma resposta à neces- tora: Artmed. 1998.
sidade de organizar os conteúdos na perspectiva da globa-
lização) QUESTÕES
10. A avaliação 01. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU-
NESP/2015) Na ótica da inclusão não se pode deixar de
Realiza-se uma severa crítica à forma como habitual- considerar a riqueza da experiência com a diversidade e o
mente é compreendida a avaliação. A pergunta inicial “por papel do professor no sentido de considerar que as dife-
que temos que avaliar”, necessária para que se entenda qual renças são constantemente feitas e refeitas. Nesse sentido,
deve ser o objeto e o sujeito da avaliação, demora um pouco Teresa Rego (In: Aquino, 1998) afirma que “a visão do educa-
a ser respondida. A proposta elimina a ideia da avaliação dor acerca da origem das características individuais interfere
apenas do aluno como sujeito que aprende e propõe tam- na sua atuação prática, ou, ao menos, influencia sua manei-
bém uma avaliação de como o professor ensina. Elabora a ra de compreender e explicar as relações entre o ensino e
ideia de que devemos realizar uma avaliação que seja inicial, aprendizagem”.
reguladora capaz de acompanhar o progresso do ensino, Para a autora, as características individuais
final e integradora. Esta divisão é empregada como necessá- (A) dependem da interação do ser humano com o meio
ria para se continuar fazendo o que se faz, ou o que se deve físico e social.
fazer de novo, o que é mais uma justificativa para a avalia- (B) são uma somatória ou justaposição entre os fatores
ção, o por quê avaliar. inatos e os adquiridos.
(C) fazem com que o desenvolvimento do indivíduo seja
Avaliação inicial, planejamento, adequação do plano um processo previsível e linear.
(avaliação reguladora), avaliação final, avaliação integradora. (D) são constituídas biologicamente, isto é, são inatas.
(E) devem-se à influência do ambiente, portanto, aos fa-
A partir de uma opção que contempla como finalida- tores externos ao indivíduo.
de fundamental do ensino a formação integral da pessoa, e
conforme uma concepção construtivista, a avaliação sempre 02. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU-
tem que ser formativa, de maneira que o processo avaliador, NESP/2015) Segundo Luckesi (2002), “a avaliação da apren-
independentemente de seu objetivo de estudo, tem que ob- dizagem existe propriamente para garantir a qualidade da
servar as diferentes fases de uma intervenção que deverá aprendizagem do aluno. Ela tem a função de possibilitar
ser estratégica. Quer dizer, que permita conhecer qual é a uma qualificação da aprendizagem, do educando”. Para o
situação de partida, em função de determinados objetivos autor, em relação aos elementos constitutivos de um pro-
gerais bem definidos (avaliação inicial); um planejamento da cesso de avaliação, devem ser consideradas três variáveis
intervenção; uma atuação e, ao mesmo tempo, flexível , en- significativas. São elas:
tendido como uma hipótese de intervenção; uma atuação (A) conteúdo trabalhado, acertos e erros e a trajetória
na aula, em que as atividades , as tarefas e os próprios con- do aluno.
teúdos de trabalho se adequarão constantemente (avaliação (B) juízo de qualidade, dados relevantes e tomada de
reguladora) às necessidade que vão se apresentando para decisão.
chegar sobre o processo seguido, que permita estabelecer (C) escala de valores, desempenho do aluno e o desem-
novas propostas de intervenção (avaliação integradora). penho da turma.

140
GESTÃO PEDAGÓGICA

(D) critérios, instrumentos e periodicidade. escola não está dada, está por ser construída. A fundamen-
(E) o que será avaliado, como será avaliado e quando tação e a contextualização da intencionalidade e dos fins da
será avaliado. escola apresentam-se
(A) nas relações existentes entre o instituinte e o insti-
03. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU- tuído e na compreensão do que consiste a democracia dos
NESP/2015) Ainda permanece em nosso sistema educacio- processos de gestão.
nal a ideia de que a escola faz a sua parte e não tem nada a (B) nas relações de poder existente entre o educador
ver com a forma como os alunos resolvem suas dificuldades. gestor, o Conselho de Escola e a comunidade escolar de um
É necessário se ter clareza de que ensinar e aprender são modo geral.
processos diferentes que envolvem sujeitos diferentes e que, (C) como uma necessidade pela participação política de
por esta razão, supõem também métodos diferentes. todos os membros da comunidade nas instituições escola-
Nesse sentido, segundo Telma Weisz (2009), é correto res.
afirmar que ao montar uma situação de avaliação, o profes- (D) como uma representação da autonomia da escola
sor precisa ter clareza sobre expressa em seu Projeto Político-Pedagógico.
(A) as notas das provas que devem funcionar como (E) como uma ação conjunta, para o exercício da parti-
redes de segurança para o controle do professor sobre a cipação democrática, da organização pedagógica e admi-
aprendizagem. nistrativa.
(B) o acompanhamento do aluno que significa controlar
todas as suas ações e tarefas para dizer que está ou não apto 06. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU-
em determinada matéria. NESP/2015) Fundamentalmente, a vitalidade da escola, na
(C) o diálogo com o aluno, entendido a partir de uma promoção de educação de qualidade, centra-se na compe-
relação epistemológica que se processa, obrigatoriamente, tência das pessoas que a compõem e realizam o seu fazer
por meio de conversa. pedagógico e em sua determinação em promover ensino de
(D) as dificuldades dos alunos para que possa contem- qualidade voltado para a formação e aprendizagem dos alu-
plá-las na avaliação e estabelecer um critério de classifica- nos. Assim, a constituição da escola em uma organização de
ção. aprendizagem demanda efetiva e clara liderança do diretor
(E) as diferenças que existem entre situações de apren- escolar, que deve levar em consideração diversos aspectos
dizagem e situações de avaliação. da gestão de pessoas, dentre eles, a motivação. Acerca da
motivação, é correto afirmar:
04. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU- (A) constitui em um traço inato do professor, isto é, al-
NESP/2015) Cada vez mais se reconhece que a qualidade guns a têm, muitas vezes de forma bastante desenvolvida e
da educação está fundamentada na competência de seus outros, não.
profissionais em oferecer experiências educacionais formati- (B) corresponde ao gestor recompensar seus professo-
vas, capazes de desenvolver a cidadania promovendo o de- res de alguma maneira sempre que for evidenciado algum
senvolvimento de conhecimentos, de habilidades e de ati- sucesso.
tudes necessários para se viver em uma sociedade cada vez (C) significa o estímulo criado pelo gestor para que o
mais globalizada. Assim, segundo Ferreira (2000), os pressu- professor possa desenvolver suas atividades com dedicação
postos fundamentais para o desenvolvimento da cidadania e persistência.
na escola passam pela “gestão democrática, a construção (D) é o que incentiva o professor a desenvolver o seu
coletiva do projeto político-pedagógico e autonomia da trabalho com o objetivo de promover uma aprendizagem
escola”. Acerca da gestão democrática da escola, conforme significativa.
Ferreira, é correto afirmar que é aquela na qual os (E) é uma energia intrínseca que nasce de suas neces-
(A) mais diversos conselhos e/ou comitês de representa- sidades interiores e impulsiona o professor na direção de
ção encontram-se constituídos. “algo”
(B) alunos têm acesso irrestrito aos professores e aos
órgãos de direção da escola. 07. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU-
(C) seus participantes estão coletivamente organizados NESP/2015) Todas as pessoas têm a capacidade de se co-
e compromissados com a promoção de educação de quali- municar, de forma consciente ou não, verbal ou não verbal.
dade para todos. Entretanto, a qualidade da mensagem transmitida e a com-
(D) pais e a comunidade de um modo geral participam preensão de seu conteúdo muitas vezes deixam a desejar,
de todos os eventos promovidos pela escola. comprometendo fortemente as relações interpessoais e os
(E) membros da comunidade contribuem para com a es- resultados nas organizações escolares. Nesse sentido, avalie
cola na execução dos mais diversos serviços e tarefas. as seguintes asserções:
I. As reuniões de trabalho são um dos instrumentos cha-
05. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU- ve de uma gestão eficaz, se forem corretamente planejadas
NESP/2015) Quando analisamos a falta de participação no e conduzidas, e utilizadas com habilidade pelo gestor.
âmbito da escola, surgem alguns questionamentos sobre
os aspectos políticos, históricos, econômicos e sociais des- PORTANTO
sa possível não participação, pois a autonomia necessária à

141
GESTÃO PEDAGÓGICA

II. As reuniões são locais onde os colaboradores sentem- grupo de educadores, com a finalidade de planejar, coorde-
-se engajados, têm consciência de pertencer à equipe esco- nar e executar ações voltadas para melhoria de processos
lar, pois a reunião é o espaço no qual se cria e fortalece uma educativos e de formação humana, em seus diferentes níveis
equipe: um grupo de pessoas que se conhecem e juntam e contextos.
esforços com o fim de atingir um ou mais objetivos comuns. A respeito dessas afirmações, assinale a alternativa cor-
reta.
A respeito dessas afirmações, assinale a alternativa cor- (A) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda é
reta. uma justificativa correta da primeira.
(A) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda é (B) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
uma justificativa correta da primeira. não é uma justificativa da primeira.
(B) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda (C) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda falsa.
não é uma justificativa da primeira. (D) A primeira afirmação é falsa, e a segunda verdadeira.
(C) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda falsa. (E) Tanto a primeira quanto a segunda afirmações são
(D) A primeira afirmação é falsa, e a segunda verdadeira. falsas.
(E) Tanto a primeira quanto a segunda afirmações são
falsas. 10. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU-
NESP/2015) A Política Nacional de Educação Especial na
08. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU- Perspectiva da Educação Inclusiva considera que a educação
NESP/2015) Os conflitos são uma parte normal do dia a dia inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica,
de qualquer organização e podem ser utilizados de forma desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de
legítima para provocar mudanças que sejam necessárias. En- estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum
tretanto, a gestão de conflitos é uma das tarefas mais árduas tipo de discriminação. Nesse sentido, dentre os objetivos
para o gestor, pois na organização escolar convivem pessoas previstos na referida política, encontra-se promover
com diferentes valores e interesses, onde podem ocorrer (A) a educação especial, organizada de forma paralela à
desavenças entre pessoas e colegas de equipe, rivalidades, educação comum, como a maneira mais apropriada para o
briga pelo poder, intriga etc. Assim, um dos caminhos mais atendimento de alunos portadores de deficiência.
eficaz para a resolução dos conflitos consiste em o gestor (B) a escolarização da pessoa portadora de deficiência
(A) simplificar as questões tendo em mente os interesses na educação básica, com prioridade.
da escola. (C) a transversalidade da educação especial desde a
(B) utilizar o diálogo e o conhecimento de meios alter- educação infantil até a educação superior.
nativos para sua solução. (D) a individualização dos programas escolares, adap-
(C) acolher as sugestões das minorias, normalmente, fra- tando os currículos e os objetivos educacionais.
gilizadas. (E) o acesso da pessoa portadora de deficiência aos es-
(D) ter autoconhecimento e liderança de alta perfor- paços públicos e equipamentos, contornando os obstáculos
mance. existentes.
(E) utilizar-se do poder que lhe é conferido para contra-
por ao grupo dominante.
GABARITO
09. (Pref. Suzano/SP - Diretor de Escola – VU-
NESP/2015) A educação e a sua gestão no Brasil se desen-
volvem em um processo lento, ambíguo e contraditório. As 01. A
escolas da mesma forma que outras instituições precisam se 02. B
adaptar à nova forma de administrar, adotar, como premissa 03. E
básica, a mudança na forma de um processo de transforma- 04. C
ção contínua por meio do planejamento. 05. A
Na perspectiva das considerações elencadas, avalie as 06. E
seguintes asserções: 07. A
I. O planejamento é um ato isolado que tem como pro- 08. B
pósito o desenvolvimento de processos, técnicas e atitudes 09. D
administrativas e diz respeito às decisões futuras a serem 10. C
tomadas a partir do seu exame de impacto no presente,
consubstanciado em um projeto.

PORTANTO

II. Projeto educacional é um empreendimento de dura-


ção finita, com objetivos claramente definidos na solução
de problemas, oportunidades, necessidades, desafios ou
interesses de um sistema educacional, de um educador ou

142
GESTÃO DE PESSOAS

1. Clima e Cultura Organizacional...................................................................................................................................................................... 01


2. Formação continuada........................................................................................................................................................................................ 10
3. Liderança................................................................................................................................................................................................................. 11
4. Mediação e gestão de conflitos..................................................................................................................................................................... 17
5. Participação e trabalho coletivo na escola................................................................................................................................................. 24
6. Poder nas organizações.................................................................................................................................................................................... 26

BIBLIOGRAFIA
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. Petrópolis: Vozes, 2001........................................................... 28
BURBRIDGE, Anna e Marc. Gestão de conflitos: desafio do mundo corporativo. São Paulo: Saraiva, 2012......................... 29
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coração. Porto Alegre: Artmed, 2006................................................................................................................................................................ 31
FERREIRA, Naura S. Carapeto (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo:
Cortez, 2008................................................................................................................................................................................................................ 33
IMBERNÓN, Francisco. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010...................................................... 35
LÜCK, Heloísa. A gestão participativa na escola. Petrópolis: Vozes, 2010.......................................................................................... 36
LÜCK, Heloísa. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Petrópolis: Vozes, 2010. Série Cadernos de Gestão.
v.V................................................................................................................................................................................................................................... 38
LÜCK, Heloísa. Liderança em gestão escolar. Petrópolis: Vozes, 2010. Série Cadernos de Gestão. v.IV................................. 40
PARO, Vitor Henrique. Gestão Escolar, democracia e qualidade de ensino. São Paulo: Ática, 2007....................................... 41
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2012................................................................ 42
THURLER, Mônica Gather e MAULINI, Olivier (Org.). A organização do trabalho escolar: uma oportunidade para repensar
a escola. Porto Alegre: Penso, 2012................................................................................................................................................................... 42
VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas: 2009.............................................................................................. 49
GESTÃO DE PESSOAS

1. CLIMA E CULTURA ORGANIZACIONAL A pesquisa de clima organizacional é uma ferramenta


que mede a percepção das pessoas em relação ao seu am-
biente de trabalho. As sensações que as pessoas têm sobre
a empresa exercem uma forte influência sobre como e o
CLIMA ORGANIZACIONAL quanto trabalham. Na própria ação de responder uma pes-
quisa de clima, os colaboradores já encontram a possibili-
Conceitos de clima dade de refletir sobre esta interação entre as características
pessoais e organizacionais. O clima não é determinado por
“O clima é o indicador do grau de satisfação dos mem- um agente único, seja o colaborador, a empresa, ou o líder,
bros de uma empresa, em relação a diferentes aspectos da mas cada um é responsável pelo seu espaço, com o tama-
cultura ou realidade aparente da organização, tais como po- nho da sua influência no ambiente.
líticas de RH, modelo de gestão, missão da empresa, proces- Na administração de recursos humanos, busca-se, en-
so de comunicação, valorização profissional e identificação tre outros objetivos, alcançar a satisfação e a motivação dos
com a empresa.” (Roberto Coda, professor da FEA USP) colaboradores da organização, promovendo o pleno apro-
“Clima e cultura são tópicos complementares. Clima re- veitamento desses recursos, disponibilizando-os para que
fere-se aos modos pelos quais as organizações indicam aos ofereçam um maior rendimento organizacional, expresso
seus participantes, o que é considerado importante para a em termos de efetividade e produtividade, com o melhor
eficácia organizacional.” (Benjamim Schneider, consultor nível de realização individual expresso em termos de satisfa-
norte-americano). ção pessoal e geral. Para isso, precisa diagnosticar periodica-
“Clima significa um conjunto de valores ou atitudes que mente, o clima organizacional, com o objetivo de saber se a
afetam a maneira pela qual as pessoas se relacionam uma parte mais nobre de sua missão está sendo atingida.
com as outras, tais como: sinceridade, padrões de autorida- Em geral, diz-se que o clima organizacional é uma re-
de, relações sociais, etc.” (Warren G. Bennis, consultor ame- sultante de variáveis culturais compreendidas pelos valores,
ricano). costumes, tradições e propósitos que fazem com que uma
“Clima organizacional é o reflexo do estado de ânimo empresa seja única. Isso é, muitas vezes, também chamado
ou do grau de satisfação dos funcionários de uma empresa, de caráter de uma organização. Quando essas variáveis são
num dado momento.” (Ricardo Silveira Luz). alteradas, ocasionam alterações no clima. Esse conjunto de
“Clima Organizacional constitui o meio interno de uma valores ou atitudes afeta a maneira pelas quais as pessoas
organização, a atmosfera psicológica e característica que se relacionam umas com as outras, tais como: sinceridade,
existe em cada organização. O clima organizacional é o padrões de autoridade, relações sociais, etc. O levantamento
ambiente humano dentro do qual as pessoas de uma orga- do clima organizacional compreende quatro eixos de aná-
nização fazem os seus trabalhos. Constitui a qualidade ou lise:
propriedade do ambiente organizacional que é percebida 1. Resistência à mudança – atua inibindo imposições
ou experimentada pelos participantes da empresa e que in- unilaterais, sendo fonte de crítica e criatividade. Liga-se tam-
fluencia o seu comportamento.” (Idalberto Chiavenato). bém à sensação de perda de controle.
2. Estresse – quando as exigências do trabalho são per-
Em todos os conceitos citados acima 03 elementos se cebidas como se estivessem além das competências dispo-
repetem em quase toda definição: níveis, gerando desgaste físico.
1) Satisfação dos funcionários: que se remete ao grau 3. Liderança – processo de conduzir as ações ou influen-
de satisfação dos trabalhadores em relação ao clima de uma ciar o comportamento e a mentalidade de outras pessoas.
empresa. 4. Motivação – disposição de exercer um nível elevado e
2) Percepção dos funcionários: trata-se da percepção permanente de esforço em favor das metas da organização,
dos colaboradores sobre aspectos que podem influenciá-lo sob a condição de que o esforço é capaz de satisfazer algu-
positiva ou negativamente. ma necessidade individual.
3) Cultura organizacional: cultura e clima, a cultura in-
fluenciando o clima de uma empresa, faces complementares
de uma mesma moeda como diz Ricardo Luz.

1
GESTÃO DE PESSOAS

EIXOS DE ANÁLISE DO CLIMA ORGANIZACIONAL

O resultado da análise do clima organizacional redunda e, a pedagogia evoluiu no sentido de uma aproximação de
em ações planejadas e coordenadas em direção à dimensão conteúdos e métodos aos interesses e processos dos alunos.
problemática, no sentido de amenizar seus efeitos ou poten- Dentro deste contexto é que acreditamos que o grande
cializar seu alcance. princípio da gestão moderna é o de atender às necessidades
do ser humano, pois são as pessoas que respondem pela
Fonte: BOHRER. L. C. T. Psicologia do Trabalho, 2013 interação e interdependência das demais variáveis (tarefas,
estrutura, tecnologia e ambiente), que compõem a organi-
zação. Sendo assim, a escola é uma organização, uma vez
A ORGANIZAÇÃO EDUCACIONAL que a mesma segue este princípio, tentando satisfazer as
A escola é uma instituição social, regida por normas, que necessidades e anseios dos alunos, dos seus pais, dos pro-
dizem respeito à obrigação escolar, aos horários, ao empre- fessores, dos funcionários e da comunidade.
go do tempo e outras. Segundo Barbosa (1994), uma organização qualquer
Em consequência, a intervenção pedagógica de um que seja, de porte, só pode existir e sobreviver numa socie-
professor (ou de um grupo de professores) sobre os alu- dade, se estiver destinada ao atendimento das necessidades
nos situa-se sempre num quadro institucional. Entretanto, a das pessoas, ou seja, essa organização deveria existir para
escola pode ser encarada como uma instituição dotada de satisfazer as pessoas desta sociedade. Este deveria ser o seu
uma autonomia relativa, como um território intermédio de objetivo principal.
decisão no domínio educativo, que não se limita a reprodu- É importante também rever a teoria de Taylor (1965),
zir as normas e os valores do macro sistema. que defendia o princípio de que o desempenho das pes-
Neste sentido, Nóvoa (1995), propondo uma nova in- soas podia ser controlado por padrões e regras de trabalho.
vestigação educacional, afirma que, apesar da grande con- O autor acrescentava que, o uso de estudos de tempos e
tribuição e relevância dos estudos realizados pelos sociólo- movimentos serviria para reduzir tarefas, que seriam execu-
gos da reprodução como Bourdieu e Passeron, não foi dado tadas de forma repetitiva. Com este princípio Taylor propu-
o devido valor às influências dos intervenientes escolares e nha que a produtividade poderia ser alcançada, utilizando
dos processos internos sobre estabelecimentos de ensino. métodos que reduzissem o esforço e a fadiga dos operários.
Este autor ressalta que, atualmente, já se configuram Por meio destes princípios, evidenciou-se os pontos positi-
processos de mudanças e de inovação educacional, que pas- vos do Taylorismo, que foram incorporados à organização,
sam pela compreensão das instituições escolares em toda entre os quais destacamos: a busca constante da melhoria
a sua complexidade, ou seja, a escola já é percebida como dos métodos e técnicas de trabalho e o treino contínuo do
uma instituição dotada de autonomia relativa, possuindo trabalhador.
também um território de decisão no domínio educativo. Todavia, no trabalho de Taylor faltava a base das neces-
Enguita (1989) faz uma abordagem mais ampla da esco- sidades humanas, teoria desenvolvida por Maslow (1954),
la, afirmando que, embora a escola conserve essencialmente psicólogo americano, que criou um esquema, onde detec-
as características que lhe foram atribuídas para fazer dela tou e buscou explicar as necessidades humanas nas suas di-
um celeiro da assalariados domesticados, atomizados e re- ferentes intensidades. Este autor acreditava, que satisfazen-
conciliados com sua sorte, o tempo não passou inteiramente do as necessidades humanas, estaria a favorecer o desen-
em vão. A gestão dos centros escolares conheceu uma certa volvimento e a utilização do potencial mental do homem, a
democratização que alcançou os alunos cujos direitos, no sua capacidade de pensar, de criar, de interagir, ficando em
seu interior, se multiplicaram e se tornaram mais efetivos segundo plano a força física.

2
GESTÃO DE PESSOAS

Outra proposta foi elaborada por Guillon e Mirshawka Essa atitude do administrador provocará, sem dúvida,
(1994), pensando nos resultados das empresas, nas quais foi alterações no clima, podendo, ainda, desarticular as relações
enfatizado, que a melhor maneira de se administrar é com entre professores e alunos, na medida em que os professo-
a conjugação do esforço de todos, a superação dos antigos res, desinteressando-se dos resultados e das atividades ino-
paradigmas, um novo estilo de liderança, muito treino, mu- vadoras, não se empenharão no envolvimento dos alunos.
dança de postura, discussões, desafio e motivação. Sem dú- Os alunos, por sua vez, sentindo o desinteresse dos profes-
vida, este é o caminho para se chegar a um clima favorável sores, também não se esforçarão na realização de trabalhos
dentro das escolas. e atividades desejáveis para o evento. A consequência final
Este novo estilo de liderança deve ser no sentido de re- poderá vir sob a forma de atritos crescentes entre professo-
forçar a motivação interna, as expectativas e as buscas das res e alunos, com visíveis prejuízos para os resultados finais
pessoas, tratando-as como seres humanos dignos de respei- da organização escolar.
to, erguendo autoestima e promovendo um clima favorável Clima organizacional poderíamos dizer que é uma
entre elas. É importante reconhecer e ressaltar, que todos forma constante pela qual as pessoas, à luz de suas pró-
nasceram com uma tendência natural para aprender, serem prias características, experiências e expectativas, perce-
inovadores e criativos. bem e reagem às características organizacionais.
Mas para que um sistema de sugestões funcione numa O processo de formação do Clima Organizacional tor-
escola, como numa empresa, é preciso que esta não limite na-o, obviamente, uma variável organizacional dependente.
o campo de ação das ideias, buscando o desenvolvimento Mas, na medida em que o clima está caracterizado e passa
de um sistema de sugestões dirigido pelos próprios funcio- a influenciar as pessoas, transforma-se numa variável inde-
nários. pendente, constituindo-se um fator impulsionador de novos
Naturalmente, isto não é uma tarefa simples. Para tal, é comportamentos. O Clima Organizacional é dependente, na
necessário que os funcionários de uma escola saibam como medida em que se forma em função de outras variáveis, tais
formar um grupo, como se comunicar e, principalmente, como os processos de tomada de decisão, de comunicação
como resolver os conflitos e lidar com a confrontação. ou de controle, e é independente, na medida em que pode
influenciar outras variáveis.
A Gestão Escolar e o Clima Organizacional Em cada decisão tomada ou comunicação expedida, em
cada norma traçada ou reunião realizada entre dirigentes e
O clima de uma escola é o conjunto de efeitos subjetivos dirigidos, o clima está num processo de permanente forma-
percebidos pelas pessoas, quando interagem com a estrutu- ção. Mas, em cada uma dessas situações, já existe um clima
ra formal, bem como o estilo dos administradores escolares, presente nas atividades e a influenciar positiva ou negativa-
influenciando nas atitudes, crenças, valores e motivação dos mente as ações de dirigentes e dirigidos.
professores, alunos e funcionários. A implicação de fundamental importância para os ges-
O clima exerce uma influência muito grande no com- tores, nesse aspecto, é que ele deve estar atento, não só ao
portamento e nos sentimentos dos professores em relação à processo de formação, mas, também, ao clima já existente.
organização escolar, influenciando o seu desempenho.
Na verdade, a melhora do clima de ensino depende da Gestão escolar democrática participativa e o clima
melhora do clima organizacional da escola. O atrito interpes- organizacional
soal excessivo entre professores e administradores, a moral
baixa, um sentimento de fraqueza por parte dos professores A participação favorece a experiência coletiva, ao efeti-
e uma estratégia de submissão coercitiva, não podem ser var a socialização de divisões e a divisão de responsabilida-
removidos, apenas fechando a porta. Eles tem efeitos pode- des. Ela afasta o perigo das soluções centralizadas, efetivan-
rosos sobre o que os professores fazem, na maneira como do-se como processo de cogestão e, proporcionando um
os professores se relacionam entre si, como sobre a realiza- melhor clima na organização.
ção do estudante e suas aquisições efetivas (SERGIOVANNI; A Gestão Participativa educacional pressupõe mudan-
CARVER). ças na estrutura organizacional e novas formas de adminis-
Dessa forma, o clima torna-se um elo entre a estrutura tração, tanto no micro como no macro sistema escolar.
organizacional da escola, a liderança exercida pelos gestores A organização escolar não permite uma transforma-
escolares e o comportamento e a atitude dos professores. ção abrupta na sua concepção pedagógica, administrativa
Suponhamos uma escola onde a participação dos pro- e financeira. Nenhuma mudança organizacional introduz-se
fessores, funcionários, pais e alunos, no processo decisório, como se fosse um corpo estranho, que viesse a desalojar as
seja permanente. O nível de participação das pessoas nas condições anteriores e ocupar plenamente o seu lugar. Por
decisões que lhes dizem respeito, é um dos fatores mais im- isso, por mais convencidos que estejamos da necessidade
portantes na determinação de um clima favorável à conse- de transformações, no sentido da democratização das re-
cução dos objetivos organizacionais e individuais. Em con- lações no interior da escola; é preciso estar consciente de
trapartida, numa outra escola, onde a administração resolve que elas devem partir das condições concretas, em que se
promover uma atividade inovadora, não envolvendo profes- encontra a Administração Escolar hoje.
sores e alunos na sua organização, provavelmente poderá Gento Palacios (1994, p.22) ao considerar a participação
atingir os sentimentos do corpo docente, que se sentirá des- como estratégia para melhorar as relações dos membros de
prestigiado e desconsiderado. um grupo com objetivos comuns, afirma que a participação

3
GESTÃO DE PESSOAS

é um processo de grande valor para a eficácia de uma equi- ticipação, criando mecanismos de atuação dos segmentos
pe ou empresa. A sua contribuição na solução de problemas, envolvidos no processo escolar.
que estão na base das relações interpessoais, constituem um Para o trabalho da democratização escolar é fundamen-
excelente meio para melhorar o funcionamento das institui- tal que seja estimulada a vivência associativa. Os pais sejam
ções. chamados, não apenas para ouvirem sobre o desempenho
A participação deve ser entendida, como a possibilida- escolar de seus filhos ou para contribuírem nas festas e cam-
de e a capacidade de interagir e, assim, influir nos problemas panhas. É importante a participação que leva à reflexão e à
e soluções considerados numa coletividade, bem como nos tomada de decisão conjunta. Este avanço vai depender do
meios ou modos de decidir a respeito de levar a cabo as grau de consciência política dos diferentes segmentos e in-
decisões tomadas. teresses envolvidos na vida da escola.
A prática na tomada de decisões naturalmente cria a Os princípios e práticas democráticas na organização e
consciência de participação e o envolvimento nas relações administração educacional, poderão trazer importante con-
que dizem respeito à escola e ao seu clima organizacional. tribuição, não só ao clima da escola mas, também, à demo-
Para uma gestão participativa, é necessário considerar a cratização num âmbito global.
participação de todos os grupos e pessoas, que intervêm no No entanto, a busca de novas formas de organização
processo de trabalho e no âmbito educacional; é um desafio e gestão da escola parece ser tarefa difícil, devido às raízes
a ser superado! Ainda existem obstáculos para se concretizar históricas da escola, que estão marcadas pela centralização
a democracia no interior da escola e que é necessário uma e pelo autoritarismo. O que não se pode é tomar os de-
mudança. Para que ocorra esta mudança, é preciso criar con- terminantes estruturais como desculpa, para não se fazer
dições para um processo de participação. nada, esperando que se transforme a sociedade, para depois
Para criar um clima organizacional, que estimule as pes- transformar a escola. É na prática escolar quotidiana, que
soas a trabalhar juntas, cabe aos administradores das esco- precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos
las, enfatizar o valor do trabalho em equipe. Devem também do autoritarismo, enquanto manifestação num espaço restri-
incentivar a cooperação, colaboração, troca de ideias, parti- to, dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade.
lha e companheirismo. A qualidade da participação na escola existe, quando as
O Comportamento democrático é um trabalho exausti- pessoas aprendem a conhecer sua realidade, a refletir, a su-
vo, que poderá ter seu exercício em pequenos grupos. Pode perar contradições reais, a identificar o porquê dos conflitos
aparecer como uma necessidade de coordenação, de enca- existentes. A participação é vivência coletiva de modo que
minhamento de ações, estimulando o exercício da demo- só se pode aprender, na medida em que se conquista os
cratização. espaços para a verdadeira participação.
Entre as instituições envolvidas no processo de apren- Neste sentido, a participação na gestão escolar dever ser
dizagem da democracia, a escola destaca-se como privile- entendida como o poder efetivo de colaborar ativamente na
giada para a efetivação do trabalho de estabelecimento das planificação, direção, avaliação, controle e desenvolvimento
regras do jogo. Esta questão vem sendo discutida há algum do processo educativo. Ou seja, o poder de intervenção legi-
tempo e chega-se à conclusão de que ainda se encontra timamente conferido a todos os elementos da comunidade
uma grande barreira para este trabalho na escola. educativa, entendendo esta como o conjunto de pessoas e
O processo para encaminhar uma administração da es- grupos dentro e fora dos estabelecimentos escolares ligados
cola, mais amplamente da educação, numa direção mais de- pela ação educativa [...] (GALEGO).
mocrática e, possibilitando um melhor clima na organização, Partindo desta ideia mencionada, para concretizar uma
depende da possibilidade e da orientação contraporem- se gestão participativa educacional, é necessário que em cada
à gestão tecnocrática. Esta contraposição poderia acontecer escola, a comunidade vá conquistando seu espaço de par-
nas dimensões interna e externa da administração escolar. A ticipação. O processo inicial de formação da consciência
dimensão interna diz respeito à organização da escola em si crítica e autocrítica na comunidade é ponto relevante, para
e, a dimensão externa, à sua incorporação ao Estado e à sua elaborar o conhecimento adequado dos problemas que afe-
inserção no contexto de uma sociedade capitalista. tam o grupo.
Para Paulo Freire (1997, p.89): é preciso e até urgente A realidade escolar é uma estrutura social e, que não se
que a escola vá se tornando um espaço acolhedor e mul- pode estabelecer unicamente sobre os aspectos pedagógi-
tiplicador de certos gostos democráticos como o de ouvir cos. Como em toda parte, existem conflitos que requerem
os outros, não por favor, mas por dever, o de respeitá-los, meios aceitos por todos para administrá-los.
o da tolerância, o do acatamento às decisões tomadas pela Na perspectiva de uma participação dos diversos gru-
maioria a que não falte contudo o direito de quem diverge pos na administração da escola, parece que não se trata de
de exprimir a sua contrariedade. O gosto da pergunta, da ignorar ou minimizar a importância dos conflitos, mas de
crítica, do debate. O gosto do respeito à coisa pública, que levar em conta a sua existência, bem como as suas causas e
entre nós vem sendo tratada como coisa privada, mas como as suas implicações, na busca da democratização da gestão
coisa privada que se despreza. escolar, como condição necessária, para um melhor clima
A democratização da escola é algo que deve ser con- organizacional e, uma efetiva oferta de ensino de boa quali-
quistado, através da participação articulada e organizada dade para a população.
dos diferentes elementos que direta ou indiretamente a
compõem. É necessário que haja abertura e estímulo à par- Fonte: Disponível em http://www.gestaoemacao.ufba.br/

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GESTÃO DE PESSOAS

O QUE É CULTURA ORGANIZACIONAL sino de que faz parte, assim como pela dinâmica interna de
interações, que marca, de maneira indelével, o modo como
O conceito de cultura organizacional se refere, pois, às os desafios são enfrentados, como as pessoas os percebem
práticas regulares e habituais da escola, à sua personalidade e reagem diante deles, dentre outros aspectos.
coletivamente construída e amalgamada, a partir do modo Esses aspectos, são considerados como culturais, quan-
como as pessoas, em conjunto, pensam sobre a escola como do se expressam segundo certas formas:
um todo; sobre o papel que a escola representa em sua co- a) são compartilhados coletivamente e
munidade e na sociedade em geral; sobre o papel indivi- b) são expressos de maneira duradoura.
dual e coletivo das atuações de seus participantes. Também
se refere aos valores que expressam e traduzem em seus Portanto, “a cultura implica algum grau de estabilidade
discursos comuns, em suas ações cotidianas e em sua co- estrutural no grupo... é algo profundo e estável...” deriva-
municação e relacionamento interpessoal regularmente es- do de uma aprendizagem acumulada ao longo do tempo
tabelecidos. por um determinado grupo, como fruto de uma experiência
Quando falamos em cultura organizacional, estamos coletiva e dos significados construídos em torno dela (Enci-
nos referindo tipicamente ao padrão de desenvolvimento clopédia do Gestor, p.2). Desse modo, as pessoas que fazem
refletido no sistema de conhecimento, ideologia, valores, parte de uma escola comungam dos mesmos valores (ou
leis e rituais do dia-a-dia de uma organização (Mor- mesmo de contravalores, do ponto de vista educacional),
gan, in Lins, 2000). dos mesmos ideais (ou da falta deles), das mesmas orienta-
Como a cultura organizacional é o conjunto de hábitos ções de pensamento (ou falta de orientação). Enfim, com-
e crenças estabelecidos por valores, atitudes e expectativas partilham e reforçam o mesmo modo de conceber a realida-
compartilhados por todos os membros da organização, ela de e seu próprio papel na mesma.
se refere ao sistema de significados compartilhados por to- É válido destacar que esse compartilhamento não im-
dos os membros e que distingue uma organização das de- plica necessariamente em criação de um ambiente caracte-
mais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir rizado pela harmonia, pois é possível identificar como traço
que existe em uma organização. predominante em algumas escolas a competição e o anta-
gonismo em vez de a colaboração e o compartilhamento
COMO É FORMADA A CULTURA ORGANIZACIONAL de responsabilidades. Essas expressões entre os participan-
tes da escola podem aparecer de forma explícita, facilmen-
A cultura organizacional envolve um conjunto de ele- te observável, mas também de forma implícita, camuflada,
mentos interatuantes, aprendidos coletivamente na prática marcada por uma aparente indiferença. A propósito, muitos
escolar e formadores de um todo único. Dentre esses ele- diretores escolares se queixam de que em suas escolas ocor-
mentos, destacam-se: rem atitudes de inveja, ciúmes, desconfiança e fofoca, carac-
1) Ideário ou Preceitos, expressos por crenças, pressu- terísticas de uma cultura negativa e totalmente destituída do
postos, normas tácitas, padrões de comportamento, hábitos caráter profissional e educativo que compete à escola e aos
de pensamento, modelos mentais, padrões linguísticos, va- seus profissionais cultivarem. Reconhecendo a possibilida-
lores, códigos informais e regulamentos em prática, hábitos de dessas características e alertando sobre os cuidados que
e costumes, muitos dos quais implícitos e não escritos. se deve ter a respeito, os Parâmetros Curriculares Nacionais
2) Tecnologia, caracterizada pelo conjunto de processos apontaram que: “a maioria das escolas tende a ser apenas
e modo de fazer as coisas − o seu saber fazer −, o seu modo um local de trabalho individualizado e não uma organiza-
de organizar e compartilhar responsabilidades, de usar o ção com objetivos próprios, elaborados e manifestados pela
tempo, que extrapola as proposições formais de cronogra- ação coordenada de seus diversos profissionais” (Ministério
ma. da Educação, 2001, p. 48).
3) Caráter, constituído pelo sentimento e reações das
pessoas sobre todo o conjunto de coisas e sobre o seu papel O PAPEL DO DIRETOR NA CONSTRUÇÃO
no contexto delas. DE CULTURA ESCOLAR DE CARÁTER EDUCATIVO
A cultura organizacional é aprendida e formada cole-
tivamente, a partir das experiências nas quais um grupo se Ao diretor escolar, responsável pela influência intencio-
envolve, na medida da influência de uma liderança, seja for- nal e sistemática da escola sob sua responsabilidade, cabe,
mal ou informal, seja intencional ou espontânea. A lideran- portanto, o papel da liderança que consiste em levar os seus
ça orientadora do modo de ser e de fazer pode ocorrer de participantes a focalizar os aspectos importantes da expe-
maneira espontânea e em nome de valores pessoais, (resul- riência, identificar as suas características, analisar seus resul-
tando em condições muito comumente desfavoráveis aos tados sob o enfoque dos objetivos educacionais, orientar o
objetivos educacionais, desde que os valores pessoais não grupo na revisão de seu desempenho, suas competências,
estejam afinados com os educacionais), ou organizada em hábitos de pensamento, atitudes, etc., à luz daqueles objeti-
nome de valores sociais e institucionais, mediante liderança vos e valores educacionais.
efetiva como esse enfoque. Sem essa liderança, ocorre na escola a formação de uma
cultura caracterizada por concepções e ações centradas em
Essa cultura na escola é formada pela sua história, em interesses pessoais, por tendências imediatistas e reativas,
sua vinculação externa com a comunidade, o sistema de en- em vez de por interesses socioeducacionais com foco no de-

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GESTÃO DE PESSOAS

senvolvimento dos alunos. Os ambientes em que os gesto- Esses líderes existem naturalmente ao nosso redor, e todos
res hesitam em exercer liderança nesse sentido, passam a ser fomos, alguma vez, inspirados por eles.
objeto da criação de regularidades em que interesses indivi- O diretor escolar, ao assumir as responsabilidades de
duais ou corporativos têm primazia inadequada e ilegítima seu cargo, assume necessariamente, a responsabilidade de
como um direito funcional, em detrimento dos interesses de liderar a formação de cultura escolar compatível com a ne-
aprendizagem e formação dos alunos. Essas características cessária para que o ambiente escolar seja estimulante e ade-
passam então a ser subliminarmente socializadas para os quado para a formação de seus alunos. A partir de atuação
novos membros da escola, que são influenciados a aceitá- nesse sentido, orienta o curso dos eventos e ações; ajuda as
-las e assumi-las, ocorrendo então o reforço à consistência e demais pessoas a fazerem sentido desses eventos, a retira-
estabilidade do modo de ser e de fazer estabelecido, mesmo rem lições das ações em que se envolvem, estabiliza as solu-
que em contradição aos propósitos educacionais. ções bem-sucedidas, disseminado-as; organiza os processos
Tais condições, no entanto, podem ser alteradas e as e interações sociais, tornando-os estimulantes. Fazê-lo, no
são, a partir de novos líderes que orientam a reflexão sobre entanto, depende de estar atento às múltiplas expressões da
essas práticas e inspiram valores mais amplos, cuja realiza- cultura vigente, de modo a conhecer e compreender a sua
ção promove o ganho de todos: natureza, a sua dinâmica os seus resultados; compreender
como as pessoas representam o seu trabalho e o seu papel
• dos profissionais da escola, por seu sentido de
na escola, a partir do que orientam a sua atuação.
realização, sua aprendizagem em serviço e, portanto,
No entanto, paradoxalmente, nem sempre ocorre na
por seu desenvolvimento profissional;
escola essa liderança exercida em favor da qualidade do en-
• dos alunos, pelos exemplos positivos que a escola sino e bem-estar dos alunos, em nome da educação e do
lhes oferece, pela oportunidade de vivência em am- papel social da escola.
biente educacional mais condizente com as condi- É possível observar em escolas, diretores exercendo
ções de aprendizagem significativa, e os benefícios papéis burocráticos de controle e cobrança, ou ainda, pa-
que usufruem dessa condição; péis formais de representação, sem um esforço deliberado
e comprometido em exercer influência sobre a organização
• da escola, pela construção de uma identidade social
social da escola como um todo e a orientação para a realiza-
positiva;
ção dos objetivos educacionais. Por comodismo, por receio
• da comunidade por contarem com instituição que de enfrentar dificuldades, por medo de desestabilizar pode-
contribui para o seu aprimoramento e aprimora- res constituídos, omitem-se em assumir suas responsabili-
mento sociocultural. dades. Dessa forma, deixam o espaço da liderança para ou-
tras pessoas que, no entanto, podem fazê-la algumas vezes,
Tem sido destacado que o desempenho de professores sem o sentido global da ação educacional e uma concepção
é determinado muito mais pelos elementos e características abrangente da educação, dentre outros preceitos essenciais
da cultura organizacional da escola, do que por oportunida- à gestão escolar.
des formais de aprendizagem de novas formas de desem- Quando um grupo é envolvido em uma experiência or-
penho em cursos e oficinas de capacitação. Isto é, a vivência ganizada de modo a obter sucesso, mesmo que este venha a
cotidiana tem demonstrado ser mais efetiva na determina- ser parcial, na medida em que o líder identifica e torna visível
ção de como agem os profissionais do que por cursos de esse sucesso e reforça o caráter coletivo dessa realização, dá
capacitação de que participam. início a um processo de mudança de orientação cognitiva
Sem desqualificar a importância dos cursos de capacita- do grupo para o sucesso e criação de uma crença entre os
ção, sempre necessários para a atualização da competência participantes da escola, no sentido fundamental de autoria e
dos profissionais em educação, é necessário reconhecer o responsabilidade pelos seus feitos.
impacto que a cultura organizacional exerce na conserva- Identifica-se que a cultura é um conceito abstrato e que
ção do statu quo. Professores têm indicado que saem de existe na subjetividade das pessoas que compõem a escola
seus cursos entusiasmados e com a firme intenção de pôr e a influenciam pelo seu modo coletivo de pensar: “somos
em prática suas aprendizagens, mas que, ao chegar à escola, e agimos a partir do modo como pensamos”. Uma vez que
“encontram tudo do mesmo jeito”. Esse fato, portanto, indi- aquela representação determina, em grande parte, o modo
ca a importância de se investir no aprimoramento da cultura como as pessoas agem na escola e nela se orientam, é de
organizacional da escola, como condição para a melhoria de grande importância conhecer, pela sua representação, a cul-
desempenho de seus profissionais e consequente qualidade tura da escola. Como também a cultura organizacional das
do ensino. escolas é dinâmica e se constitui num fenômeno vivo e ativo
Como um processo eminentemente social e coletivo, no qual as pessoas se renovam e criam relações múltiplas
constituído a partir de aprendizagens e compreensões com- para manter seu ideário, há na cultura um elemento de per-
partilhadas, a formação da cultura escolar se efetiva a par- manência, mas também um elemento evolutivo que enco-
tir da liderança¹ de pessoas que, de alguma forma, exerce bre e dissimula a subjetividade, daí porque, a compreensão
influência sobre o grupo no sentido de que em seu traba- da cultura organizacional ser desafiadora.
lho focalize determinados aspectos, que pense sobre eles A essência da cultura de uma escola é expressa pela ma-
segundo um padrão mental específico e que construa refe- neira como ela promove o processo ensino-aprendizagem, a
renciais mentais e significados peculiares em relação a eles. maneira como ela trata seus alunos, o grau de autonomia ou

6
GESTÃO DE PESSOAS

liberdade que existe em suas unidades e o grau de lealdade como se reforçam reciprocamente e, em que medida esses
expresso por todos em relação à escola e à educação. A cul- aspectos desassociam ou distanciam dos objetivos, prin-
tura organizacional representa as percepções dos gestores, cípios e diretrizes educacionais. E ainda, em compreender
professores e funcionários da escola e reflete a mentalidade como sua própria postura intere nesse processo, para então,
que predomina na organização. Por esta razão, ela condicio- atuar de modo a promover a superação do distanciamento
na a gestão das pessoas. porventura existente entre os valores vigentes e os objetivos
educacionais.
A DISCREPÂNCIA ENTRE OS OBJETIVOS
EDUCACIONAIS E OS OBJETIVOS EXPRESSOS NA O PAPEL DO PODER NA CULTURA
CULTURA ESCOLAR ORGANIZACIONAL
Como a cultura organizacional da escola representa as Uma característica importante da cultura de uma organi-
normas informais e não escritas que orientam o compor- zação é o jogo de poder que nela se estabelece, pelo qual é
tamento dos membros da escola no dia-a-dia e que dire- definido o poder de influência de uns sobre outros, de modo
cionam suas ações para o alcance dos objetivos tal como impositivo e mais ou menos contínuo, a partir de condições
entendidos pela coletividade, em última instância é essa cul- como personalidade, tempo de serviço, nível de formação,
tura que, em grande parte, determina os objetivos realmen- cargo ocupado, etc. Esse poder, decidido e exercido sem ter
te adotados na escola. em consideração como critério de decisão os interesses do
Tal como se observa muitas vezes, os objetivos expres- aluno e os elevados objetivos educacionais se caracteriza,
sos pela coletividade nem sempre estão em alinhamento muito comumente, por uma lógica perde-ganha² que resul-
com os objetivos educacionais propostos pelos sistemas ta em um jogo de disputas e de acomodações, em prejuízo
de ensino e pela literatura educacional. Essa discrepância é da qualidade do processo educacional.
comumente observável em atitudes individualistas e corpo- Modernamente, no contexto das organizações demo-
rativistas que de certa forma existe em muitas escolas, pre- cráticas, construídas por um processo de participação e
judicando a qualidade do seu ensino. De modo geral, essa co-influência recíproca, o poder é considerado como uma
condição é forte em escolas e sistemas de ensino onde a energia dinamizadora dos processos sociais, que se manifes-
liderança pela realização dos objetivos educacionais é fraca ta dialeticamente e de modo contínuo. Covey (1997), propõe
ou pouco focada, seja por omissão diante de problemas que que o verdadeiro poder, que resulta em empoderamento le-
surgem, seja por falta de competência em lidar com dificul- gítimo, reside na ótica do ganha-ganha, caracterizado pela
dades, tensão e conflito, condições relacionadas com essas realização de ações conjuntas, como condição para transfor-
questões. má-lo em poder produtivo, isto é, em poder que atende às
É necessário reconhecer que, de certa forma, e em certa necessidades individuais e às coletivas, pela sua possibilida-
medida, sempre existirá alguma discrepância entre os obje- de de integrar de maneira proveitosa indivíduos, de modo
tivos educacionais formalmente postos nos sistemas de en- que interajam melhor, conjugando ações no sentido de as-
sino e os praticados pela cultura escolar. Isso porque aqueles segurar a realização de suas finalidades.
objetivos são exógenos, isto é, definidos fora da escola por Nesse sentido, entende-se que o poder é uma força
legisladores, teóricos e líderes educacionais a partir de en- ou energia que dinamiza as pessoas e organizações sociais,
tendimento global e abrangente a respeito do ideário edu- movendo-as para uma direção, ou mantendo-as numa mes-
cacional e os fatores que contribuem para sua efetividade ma posição.
(Sander, 1977). Em vista disso, ao definirem suas proposi- Em vista disso, uma das dimensões mais significativas da
ções, o fazem levando em consideração não como a escola atuação do diretor escolar como gestor do trabalho da esco-
é, mas como deve ser; não o que faz, mas o que deve fazer; la como organização social, diz respeito a sua habilidade de
não como faz, mas como deve fazer, criando uma distância perceber, compreender e atuar sobre o jogo de poder que
entre a realidade e o ideal do processo educativo existe em seu contexto para influenciar essa energia positi-
Vale dizer que as proposições educacionais exógenas vamente.
visam orientar o desenvolvimento e a promover mudanças Quem determina o quê, em nome de quem ou de quê,
necessárias para estabelecer unidade entre as ações de to- são questões cruciais a serem levadas em conta para que se
das as escolas, de modo a garantir a qualidade de ensino, se- possa promover aquele entendimento e ação. Trabalhar a
gundo os princípios democráticos da educação, daí porque dimensão de poder como um fenômeno natural do proces-
sua importância e o seu papel de alterar culturas conserva- so educacional e a ser utilizado como um fator pedagógico
doras estabelecidas na escola, que se esforçam por preser- (Burbules, 1987) é, portanto, um aspecto importante e desa-
var o statu quo. Destaque-se ainda o fato de que o próprio fiador do trabalho dos gestores escolares.
sentido da educação é o da mudança e do desenvolvimento O exercício do poder está associado à tomada de deci-
a partir da formação e aprendizagem, o que, numa socieda- são de como agir sobre a realidade escolar. Como a tomada
de em contínua dinâmica de mudança, pressupõe contínuos de decisão em si é inócua e só se completa na ação, o poder
movimentos de superação das condições vigentes. é exercido não apenas por quem toma decisão, mas tam-
O grande desafio do diretor escolar constitui-se, portan- bém por aqueles a quem compete pôr em prática a decisão
to, em atuar de modo a conhecer os valores, mitos e crenças tomada.
que orientam as ações das pessoas que atuam na escola e

7
GESTÃO DE PESSOAS

É possível sugerir que ocorre na escola a cristalização de COMPREENSÃO DAS RELAÇÕES DE PODER NA
feudos de poder, em cujas circunstâncias esse poder não é ESCOLA
exercido como uma energia dinâmica e fluida, compartilha-
Torna-se fundamental, portanto, que, em cada escola,
da, uma vez que esses feudos são centrados como direitos
se examine e se compreenda as relações de poder nela es-
adquiridos, definitivos e legítimos por certas pessoas, a par-
tabelecidas, no sentido de redefini-las, em nome de um pro-
tir de critérios que não teriam a ver com os valores educacio-
cesso participativo voltado para a melhoria da qualidade do
nais e que orientam, por exemplo, a determinação de horá-
ensino e o interesse de promover formação educacional de
rio, a distribuição de turmas, o uso de espaço e de materiais,
qualidade para seus alunos.
dentre outros aspectos. Embora possam ser consideradas
como apenas pequenos favores, tais determinações podem • Como se processa o jogo de poder nas interações e
trazer grandes repercussões negativas ou limitadoras dos associações estabelecidas na escola?
resultados educacionais.
• Quem tem poder de influência sobre quem, sobre o
Assim é que pode ser facilmente detectado nas escolas
quê, e com que objetivo?
o estabelecimento de privilégios que passam a ser conside-
rados como direitos inquestionáveis, como por exemplo que • Como é exercido esse poder?
“as aulas dos primeiros horários são sempre da professora
A”, “o professor B não dá aula aos sábados”, “as professoras • Como se forma e se desenvolvem as relações de po-
C, D e E não dão aula para a 1ª. série”, “a 4ª. série é sempre der na escola e o que as mantém?
da professora F” e assim por diante. • Como são percebidas essas relações de poder pelos
Observa-se que quando novos membros passam a fa- membros da escola e quais suas reações a respeito?
zer parte da organização escolar, as relações de poder são
ameaçadas, passando o grupo a ativar suas energias no sen- • Como se manifestam as reações ao poder não aceito
tido de ajustamento dos novos membros à condição vigen- (contrapoder)?
te. Estes, como mais novos, são forçados a submeter-se ao • O que legitima o exercício de poder vigente?
statu quo vigente, e, ao fazê-lo, o legitimam. Porém, podem
com isso perder sua energia nova, sua motivação e muitas • Qual a consciência dentre os membros da unidade
vezes o poder de enxergar com olhos não contaminados social escolar, do poder real que exercem e poder
pelo viés do hábito. Sucumbindo ao statu quo, deixam de potencial que possuem?
influenciar o enfrentamento dos problemas permanentes • Quais as energias existentes na comunidade esco-
e de encontrar em seu próprio repertório ou criatividade lar que podem ser maximizadas e empregadas para
possíveis soluções a esses problemas, deixando, em conse- construir a perspectiva do poder de “ganha-ganha”?
quência, de agregar novos valores e ideias ao grupo, apenas
recebendo e reproduzindo aquelas já existentes. Nesse caso, Estas são, por certo, questões direcionadoras de obser-
todos saem perdendo, assim como a qualidade do processo vações a serem praticadas na escola, visando obter informa-
educacional. ções que analisadas e interpretadas à luz do contexto geral
Vale dizer que qualquer esforço por mudança que se do estabelecimento de ensino e do sistema educacional
promova na escola ameaça as relações de poder vigentes, possibilitarão a orientação do seu melhor desenvolvimento
o que explicaria ser essa instituição tão conservadora e os organizacional tendo como foco a melhoria de seu trabalho
esforços por sua melhoria e reforma do ensino resultarem, educacional.
muitas vezes, em reforço de práticas anteriores. Em decor- O conhecimento da cultura: uma condição para atuar
rência, sugere-se como saída para essa problemática, do sobre ela
ponto de vista da escola, a mudança de ótica com relação ao O empenho em conhecer a cultura organizacional da
poder em si, que deve ser entendido não como um direito escola representa o esforço no sentido de compreender a
de pessoas específicas, mas sim como uma energia organi- sua personalidade, que explicita as intenções reais por trás
zacional para a qual todos os membros devem contribuir e das ações e reações. Sem esse conhecimento se torna im-
da qual todos podem compartilhar, de modo a colaborar possível promover mudanças na escola e alinhar sua cultu-
para o empoderamento geral na construção da competên- ra com propostas educacionais mais amplas. Não levar em
cia educacional. Consequentemente, a participação coletiva consideração a cultura escolar, a sua personalidade, resulta
na análise de problemas e tomada de decisões, passa a ser em provocar resistências e desconsiderar a possibilidade de
a estratégia fundamental na determinação das ações e dos canalizar positivamente as energias nela presentes.
propósitos educacionais, tendo sempre como horizonte os A literatura identifica que a cultura tem um caráter dura-
valores pedagógicos e a superação de ótica individualista. douro, sendo construída pela sequência de momentos, em
Do ponto de vista dos sistemas de ensino, torna-se neces- vista do que, é melhor conhecê-la efetivamente, por meio de
sário compreender as reações da escola às frequentes inter- investigação contínua, que acompanhe a escola ao longo do
ferências sobre ela, sem o devido cuidado com o seu empo- tempo, para verificar a permanência ou não dos fatores que
deramento. a expressam a cultura.
Portanto, o esforço por conhecer a cultura escolar impli-
ca em realizar trabalho de observação continuada e registro

8
GESTÃO DE PESSOAS

sistemático de informações que conhecer dentre outros as- • Como e em que medida o modo de agir e de falar
pectos: das pessoas no cotidiano escolar é compatível com
o sentido educacional?
• Quais as principais características da cultura organi-
zacional da escola? • Na medida que haja discrepância relevante, o que
explicaria essa discrepância?
• Quais as maiores tendências de seu modo de ser e
de fazer? Algumas dimensões/aspectos a serem observados (as)
em relação a práticas regulares e em caráter mais ou menos
• Como agem as pessoas em seu interior?
duradouro na escola e que expressam valores são a seguir
• Que valores essas ações expressam? apresentados (as). Esse quadro apresenta características em
um continuum, no qual se observa, no tipo A características
• Como e em que medida esse modo de agir é deter-
mais favoráveis à educação e no tipo B, as menos favoráveis.
minado pelo sentido educacional?
Muito embora se possa verificar que nenhuma organização
• Quais os valores mais comumente praticados na es- é exclusivamente e o tempo todo de um tipo, é possível
cola? identificar nas possíveis oscilações uma certa tendência.
• Em que medida eles estão próximos ou distantes • Como sua escola se apresenta em relação a esses
dos objetivos educacionais propostos? aspectos/dimensões?
• Em que medida a missão, visão e valores da escola • Há alguns que apresentam desafios especiais em
estão expressos nas atitudes dos professores e fun- relação à construção de melhor cultura educacional?
cionários da escola?
• O que existe na escola que contribui para a sua ma-
nutenção?

CARACTERÍSTICAS DA CULTURA ORGANIZACIONAL, SEGUNDO ASPECTOS E DIMENSÕES

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GESTÃO DE PESSOAS

O conceito de cultura tem sempre como componentes continuada, entendida como prolongamento da formação
o caráter coletivo e o processo de socialização como ele- inicial visando ao aperfeiçoamento profissional teórico e
mento de sua tecitura, uma vez que corresponde aos ele- prático no próprio contexto de trabalho, e ao desenvolvi-
mentos comungados coletivamente pelos participantes da mento de uma cultura geral mais ampla, para além do exer-
organização social. Torna-se necessário, no entanto, eviden- cício profissional, também se torna essencial de modo a
ciar que a sua constituição é tanto realizada pela ação de acompanhar as mudanças que ocorrem a todo o momento,
pessoas, consideradas individualmente, como a partir da em diversos lugares e pessoas.
ação de todos sobre o indivíduo. Há sempre uma relação Partindo desse pressuposto, a reflexão sobre a legis-
bidirecional entre indivíduos e grupos, na formação, fun- lação vigente no Brasil relacionada a educação, tendên-
cionamento e desenvolvimento da cultura. Todos vivemos cias pedagógicas, metodologias de ensino, acesso a novas
numa cultura e dela nos alimentamos, assim como também tecnologias e impactos dessas informações em ambientes
a nutrimos com nossos pensamentos, palavras e atos − ou educativos, entre outros assuntos – quando discutidos por
por nossa omissão, que é, em si, um ato de caráter negativo. pessoas com experiências similares – é bastante válida pela
Aquilo que lançamos em nosso ambiente, disso mesmo se- possibilidade de troca de experiências e busca de soluções
remos alimentados via retorno do que foi absorvido pela co- embasadas em conhecimentos teóricos. Além, disso, ao
letividade. Portanto, se queremos, como deveríamos querer, compartilhar com profissionais que vivenciam situações se-
conviver em uma ambiente alegre, entusiástico, produtivo e melhantes, torna-se imediatamente possível a prática refle-
realizador, desse modo, devemos pensar, sentir e agir, pois xiva (práxis) em seus ambientes de trabalho.
essas características se espraiam sobre o nosso ambiente,
influenciando a existência desses aspectos no mesmo. Isso O educador, especificamente, articula teoria e prática
quer dizer que, com esse entendimento, ao procurarmos durante todo o processo de mediação de conhecimentos
criar benefícios para os outros, os estamos criando para nós com os alunos. É nesse contexto que a formação continua-
mesmos. da se torna fundamental, visto que trata da reflexão sobre a
A formação de ambiente e cultura escolar flexível e prática, com embasamento teórico no contexto do trabalho
aberta ao exercício de iniciativa, participação e prática da pedagógico.
autonomia na tomada de decisões, com vistas nos objeti- O autor menciona que a profissionalidade significa um
vos educacionais a serem desenvolvidos, tendo como foco a conjunto de requisitos profissionais que o tornam educador,
aprendizagem dos alunos, eis a responsabilidade do diretor o qual supõe a profissionalização e o profissionalismo. A
escolar. Sem que esses elementos sejam trabalhados dia a profissionalização trata das condições ideais que venham a
dia, com competência, as pessoas deixam de desenvolver o garantir o exercício profissional de qualidade e, o profissio-
comprometimento com seu trabalho e seus resultados e se nalismo, relaciona-se ao “desempenho competente e com-
tornam omissas e desinteressadas em melhorá-los. promissado dos deveres e responsabilidades que constituem
a especificidade de ser professor e ao comportamento ético
Fonte e político expresso nas atitudes relacionadas à prática profis-
LÜCK, Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas com- sional” Ibidem, 2003, p.63). Constata-se, portanto, comple-
petências. Heloísa Lück. – Curitiba: Editora Positivo, 2009. mentaridade entre as noções apresentadas, visto que ambas
LÜCK, Heloísa. Gestão da cultura e do clima organiza- se complementam para dar sentido à prática profissional.
cional da escola. Petrópolis: Vozes, 2010. Série Cadernos de A profissionalidade é de fundamental importância para
Gestão. a educação ou formação continuada, na medida em que in-
tegra o desenvolvimento pessoal e profissional no ambien-
te de trabalho. Antes de tudo, a formação inicial favorece a
2. FORMAÇÃO CONTINUADA construção de conhecimentos, atitudes e convicções que fa-
zem parte da identidade profissional do sujeito, entretanto,
é na formação continuada que ocorre a consolidação dessa
Os estudos de Libâneo (2003) contribuem para o enten- identidade, no contexto do seu ambiente de trabalho.
dimento de que a formação continuada “é a condição para
a aprendizagem permanente e o desenvolvimento pessoal, Para esse autor:
cultural e profissional”. Acrescenta que é no contexto de tra- A formação continuada é uma maneira diferente de ver
balho que as pessoas envolvidas com o processo educativo a capacitação profissional de professores. Ela visa ao de-
têm a possibilidade de promover mudanças pessoais e pro- senvolvimento pessoal e profissional mediante práticas de
fissionais, resolver problemas, criar e recriar procedimentos envolvimento dos professores na organização da escola,
e estratégias de trabalho. na organização e articulação do currículo, nas atividades de
Fundamentado em sua visão de formação continuada, assistência pedagógico-didática junto com a coordenação
Libâneo reforça, ainda, a importância da formação inicial, a pedagógica, nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de
qual “refere-se ao ensino de conhecimentos teóricos e prá- classe etc. O professor deixa de estar apenas cumprindo a
ticos destinados à formação profissional, frequentemente rotina e executando tarefas, sem tempo de refletir e avaliar
completados por estágios”. Com isso, a prática se articula o que faz.
à teoria como complementaridade. Entretanto, a formação Nessa perspectiva, ressalta-se que a formação continua-
da se refere às ações de formação que ocorrem dentro da

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GESTÃO DE PESSOAS

jornada de trabalho (no ambiente escolar) e fora (congres- • Visão Estratégica: estará sempre se questionando
sos, cursos). Um ponto em comum entre essas ações consis- sobre mudanças e as interferências destas no seu
te em possibilitar ao docente a reflexão, a discussão e a con- desempenho, e em relação ao seu trabalho.
frontação das experiências oriundas da prática profissional e
• Empreendedor: o novo líder deverá ter coragem
articulá-las às teorias que existem no tema em foco. Além de
para tomar decisões com segurança, de tentar o di-
ser papel da instituição proporcionar ao professor eventos
ferente.
de formação profissional, o próprio docente deve ser res-
ponsável por buscar aprimorar sua formação. Para subsidiar • Assertivo: tendo por base as relações humanas sa-
nossas reflexões, observe um trecho do artigo publicado por berá indicar e conduzir seus liderados. Será demo-
Libâneo (2003), ao mencionar os estudos de Abdalla (1999), crático no planejamento, e rigoroso na implantação.
em que analisou, em sua tese de doutorado, o papel da es-
• Ético: o novo líder será transparente na condução do
cola como contexto de ação e de formação continuada de
trabalho e em suas atitudes. As boas e as más notí-
educadores.
cias serão dadas de forma madura e aberta.
Referência:
Tendências Estratégicas para o Próximo Milênio
RAPOSO, D. M. S. P. Formação Continuada do Profissio-
nal de Educação. In. Fundamentos da Educação Brasileira,
2010. • A competitividade e a concorrência serão cada vez
mais marcadas, desencadearão uma melhoria contí-
nua, provocando, de forma progressiva, diminuição
3. LIDERANÇA de preços e margens de lucro.
• A revolução telemática elevará a capacidade de me-
morização, interação e comunicação, que acoplados
LIDERANÇA a transmissão de dados, voz e imagem, farão com
O Líder do Terceiro Milênio que a comunicação ocorra a uma velocidade muito
maior que a capacidade de absorção do próprio cé-
Talvez, uma das grandes dificuldades apresentadas rebro humano.
pelas empresas seja a disparidade entre as mudanças que
ocorrem no mundo externo em relação ao mundo interno • A organização das empresas será modificada na es-
das empresas. O que acontece, muitas vezes, é que execu- trutura e processos. Prevalecerá o conceito em que
tivos e empresários pensam que as mudanças externas não a missão da empresa é agregar valor ao universo e
têm uma ligação forte com o pensar e agir. a humanidade, encantando clientes, desenvolvendo
Nos próximos anos a rapidez na tomada de decisões e colaboradores, etc.
a capacidade em fazer acontecer, farão parte dos principais
• A integração, motivação e a comunicação serão con-
atributos para o sucesso de qualquer empresa. Esta nova
sideradas como atributos estratégicos.
tendência vai exigir um novo líder, com características e atri-
butos diferenciados: • A relação empresa/funcionários será de parceria
adulta, onde a empresa entenderá a importância de
• Entusiasta: tem que ter e transmitir entusiasmo. Sua
desenvolver seus funcionários que em contrapartida,
energia deve ser o combustível de sua atuação.
aumentarão seu comprometimento com a atividade
• Comprometido: o novo líder deve gostar do que faz profissional.
e demonstrar através de seu comportamento.
• O aprendizado e o desenvolvimento serão cada vez
• Humano: terá, ainda, a percepção de que a empresa mais fortes no ambiente profissional.
deverá ser compreendida como uma realidade hu-
• A comunicação e o comportamento empresarial se-
mana. A motivação, a comunicação, a integração en-
rão prioritários, onde cada unidade organizacional
tre as pessoas, serão parte do seu dia-a-dia.
desenvolverá e compreenderá suas crenças, valores
• Motivador: deve ser um energizador de pessoas, e princípios.
tendo a capacidade de persuadir seus liderados a
seguir os caminhos traçados e objetivos definidos. LÍDER

Vontade de Aprender: estar em constante aprendizado, Perfil


pois, sabe que o mundo se desenvolve a cada dia e que esta
é condição impar para liderar com segurança e vencer.
• Autoconhecimento: ter um conhecimento realista de
• Prazer em Ensinar: da mesma forma que é aprendiz, sua personalidade, seus pontos positivos e negati-
é também mestre. Saberá lidar com seus subordina- vos, capacidade, motivação, necessidades, valores.
dos e resolverá os erros por meio de postura madura
e aconselhador.

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GESTÃO DE PESSOAS

• Compreensão da Organização: conhecer a realidade • Flexibilidade e responsabilidade


em que atua, ter uma visão global, realizar análise e
• Capacidade de comunicação
diagnóstico das situações, buscar informações.
• Assumir a responsabilidade de seus atos
• Competência Interpessoal: relacionar-se de maneira
eficaz com clientes e pessoas que trabalham na sua • Manter seus subordinados bem informados. Ser
empresa, buscando confiança, respeito, cooperação sempre exemplo no local de trabalho
e colaboração.
Defeitos:
Papel e Funções • Parcialidade
• Apropriação indevida do esforço alheio
O papel do líder não está apenas no fato de ter auto-
ridade relacionada a um cargo de chefia, seja ele a nível de • Conhecimento insuficiente do trabalho
supervisão, gerência ou diretoria. Cabe ao chefe a tarefa de
conseguir resultados através das pessoas. • Viver atrás de faltas
Numa visão mais ampla, liderar é estar voltado para
objetivos a longo prazo na empresa, estabelecendo metas, Exigir dos subordinados esforços e trabalhos que eles
atingindo-as no dia-a-dia, de forma integrada e eficaz. mesmos não podem realizar.
O líder pode vir a desempenhar diversos papeis ou fun- • Fugir a responsabilidade de preparar seus subordi-
ções: nados
• Ouvir as pessoas buscando sugestões e novas for- • Injusto e exibicionismo
mas de realizar atividades.
• Falta de estímulos aos esforços dos subordinados
• Responsabilizar-se por tudo que ocorre em seu se-
tor. • Falta de inteligência

• Desenvolver, treinar ou ensinar pessoas e grupos. • Não delegar autoridade quando necessário

• Estar atento para que todas as informações e mu- • Insegurança ao tomar decisões
danças sejam transmitidas aos seus subordinados. • Instrução precária, generalizada e incompleta
• Acompanhar o serviço realizado tendo como parâ- • Não conceder oportunidades ao seu pessoal
metro os objetivos e metas propostas.
• Ser intrometido em assuntos particulares dos subor-
• Estar em sintonia com seus superiores na resolução dinados
administrativa de problemas que comprometam os
objetivos gerais. • Não confiar nos subordinados.

• Sugerir soluções, orientar ações.


• Valorizar o desempenho de seus funcionários, inde-
pendente do aspecto salarial.
Dentro dos itens anteriormente mencionados, cada che-
fe/líder terá mais facilidade ou dificuldade no desempenho.
Cabe a ele desenvolver e aperfeiçoar seus pontos fracos e
continuar a crescer em seus pontos fortes.
Através de um estudo realizado com 1000 empregados,
levantou-se as qualidades e defeitos dos chefes:

Qualidades:
• Inteligência
• Habilidade para ensinar trabalhos
• Competência e conhecimento do trabalho
• Coragem, tenacidade, firmeza e humildade PLANEJAMENTO
• Respeito à dignidade humana Planejamento é a atividade pela qual são analisadas as
condições existentes para se determinar formas de atingir
• Entusiasmo e satisfação pelo que faz um futuro desejado. O planejamento deve ser previsível e
• Senso de justiça realizável.

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GESTÃO DE PESSOAS

• O planejamento ajuda o administrador a organizar o • Estabelecer condições para movimentação de pes-


seu trabalho e reduzir os riscos de erros. soal
• É preciso definir bem as metas e ter objetivos men- • Fixar normas quanto ao material.
suráveis.
A estrutura pode ter diversas formas, mas só poderá ser
• Estabelecer pontos de controle para que se possa
operacionável à medida que se estabeleça uma dinâmica
atingir metas.
entre suas partes.
• Estabelecer alternativas em caso de eventualidades.
LIDERANÇA
• Comunicar aos outros o seu plano.
Liderança é a ação que visa a integração de pessoas
Etapas do Planejamento
para a obtenção de um objetivo.
Segundo Lester Bittel, “Liderança é a técnica de fazer
Objetivos
com que outras pessoas façam voluntariamente aquilo que
Ao se fazer um planejamento os objetivos devem ser
o chefe deseja que elas façam”.
determinados. Poderão ser:
• Globais/gerais A liderança é a função do líder.
• Setoriais Um homem sozinho não lidera. É preciso o grupo para
• Específicos que haja o líder. Se o grupo não aceitar ou eleger seu líder,
este nada mais é do que um participante do grupo.
• Objetivos Gerais: tem um caráter genérico, per-
tencem a toda a organização e devem ser com- O que é um líder
partilhados por todos. Ex.: Evitar desperdício de
energia elétrica. Conforme Websters,
• Objetivos Setoriais: adapta-se a cada setor ou “Líder é toda pessoa que graças a sua personalidade di-
departamento. Ex.: Diminuição da quantidade de rige um grupo de pessoas com a participação espontânea
papel carbono jogada no lixo. de seus membros”.
Qualquer indivíduo só poderá ser considerado como lí-
• Objetivos Específicos: ou metas, são objetivos em der se, pela sua personalidade:
caráter de mensuração (quantidade, tempo, etc.).
Ex.: A meta é, em 2 meses, reduzir e, 50% o carbo- • Dirige um grupo social
no jogado no lixo. • Tem a participação espontânea do grupo
Programa Condições para Exercer a Liderança
• Listar as etapas do programa • Autenticidade:
• Numerá-las em ordem de prioridade Não é possível ser líder através de posições, opiniões,
atitudes enganosas e incoerentes.
• Designar o responsável em cada etapa do programa.
• Transitoriedade:
Orçamento O líder é transitório, ou seja, será mudado no grupo,
Convém apoiá-los com base nas etapas de trabalho a conforme se modificam as circunstâncias e a estrutura do
serem desenvolvidas. É necessário mantê-lo de acordo com próprio grupo.
a realidade. Procedimentos • Autoridade:
Os procedimentos são a padronização do trabalho a ser O líder tem autoridade através da fascinação, prestígio e
feito. dinamismo. O líder consegue a realização do trabalho atra-
vés do entusiasmo, interesse e cooperação.
Organização
É a montagem, organização do trabalho a ser feito de • Responsabilidade:
acordo com os recursos disponíveis: humanos, materiais e O líder é responsável por suas ações e de terceiros, re-
financeiros. presentando e assumindo pelo grupo seus sucessos e fra-
São atividades da organização: cassos.
• Determinar funções Estilos de Liderança
• Estruturar departamentos • Liderança Autoritária:
• Especificar rotinas e procedimentos Caracteriza-se pela centralização do poder decisório por
parte do dirigente do grupo, e pela rigidez nos padrões de
• Delinear fluxos de trabalho conduta e disciplina.

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GESTÃO DE PESSOAS

• Liderança Liberal:
Caracteriza-se pela ausência de comando por parte do
líder. É comum no chefe que não sabe mandar.
• Liderança Democrática:
Caracteriza-se pela participação do grupo nos proces-
sos decisórios e pela ação de seu condutor como agente
promotor do espírito de equipe.
• Liderança Situacional:
Caracteriza-se por levar em conta que o líder, ao atuar,
deverá considerar, além da personalidade do liderado, to-
dos os aspectos da situação existente no momento de sua
atuação.

Características do Líder
• Autocontrole:
O líder é uma pessoa que controla as suas reações. Re-
flete antes de emitir uma opinião de grande responsabilida-
de. Não se deixa levar por seus impulsos.
• Empatia ou compreensão de outrem:
O líder procura antes de tudo compreender o ser hu-
mano, aproveitando assuas qualidades em benefício da co-
letividade. LIDERANÇA E PODER
• Procura a unanimidade:
O líder procura sempre obter o acordo de todos, evi- Os conceitos de poder e liderança desempenham um
tando apoiar-se só na maioria, pois sabe que, às vezes, a papel ambíguo. Isto se deve em grande parte, ao fato de
minoria tem razão. associarem-se conotações negativas a este conceito.
Poder, segundo Etzioni, “é a habilidade de um indiví-
• Dar o exemplo: duo induzir ou influenciar outro a executar suas diretivas ou
Entre as características pessoais do líder, ele deve ter quaisquer normas que ele apoia”. Outro conceito, segundo
qualidades superiores à média do seu grupo, a fim de ser a Análise Transacional, é: poder é a capacidade de influenciar
um exemplo. as ações dos outros, enquanto que liderança é a forma como
• Atitude de respeito humano: é utilizado o poder no processo de influenciar as ações dos
O líder respeita profundamente o ser humano. Trata-o outros.
com cortesia e delicadeza. O poder constitui a capacidade potencial de manter a
organização em equilíbrio, enquanto a liderança é a forma
• Enfrentar tensões e conflitos: como esta capacidade é aplicada e operacionalidade. Em
Liderar pessoas consiste ao mesmo tempo em liderar termos de energia, o poder é o quantum de energia posto à
tensões. Quando o conflito surge, o líder reúne as partes disposição dos indivíduos para exercer influência, enquanto
para saber o que aconteceu e resolver a situação. a liderança é a forma como esta energia é aplicada no pro-
cesso de transformar insumos em resultados.
Existem seis formas de poder:
• Coerção: baseia-se no medo de represálias e puni-
ções que o indivíduo utiliza para garantir a sua ação
influenciadora; apoia-se em determinadas normas
formais vigentes na organização, como objetivo de
manipular as pessoas com medo.
• Posição: decorre diretamente do lugar ocupado pelo
indivíduo na estrutura organizacional e nas atribui-
ções específicas do cargo.
• Recompensa: refere-se à distribuição de recompen-
sas ou compensações diretas ou indiretas aos indiví-
duos com quem se relaciona.

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GESTÃO DE PESSOAS

• Apoio: diz respeito a capacidade de envolver supe- Breve histórico


riores, subordinados e pares nas atividades e resul-
tados da organização. A produção de conceitos e princípios escritos de lide-
rança são uma constante desde a emergência da civilização.
• Reconhecimento: apoia-se nas habilidades, conheci-
Registros foram encontrados em hieróglifos do Egito antigo,
mentos e experiências do indivíduo.
bem como em trabalhos de autores greco-romanos clássi-
• Competência Interpessoal: é ligado à capacidade de cos como Homero, Platão, Cícero, Plutarco e Marco Aurélio.
comunicação e empatia para com seus companhei- No mundo oriental, a relevância da liderança é enaltecida
ros de trabalho, independente do nível hierárquico em obras de pensadores chineses como Confúcio, Lao-Tzu e
ocupado na organização; constitui, basicamente, a Sun-Tzu. Em comum, esses trabalhos apresentavam as res-
trama de relacionamentos informais na organização. ponsabilidades dos líderes e como eles deveriam se com-
As formas de poder acima apresentadas interferem na portar. (BASS, 2008).
forma de liderança e atuação enquanto chefe. A palavra liderança, como nós a empregamos atual-
mente no mundo ocidental, tem sua origem no século XIX.
Controle O ponto de inflexão para a incorporação de entendimento
mais sofisticado e conceitual ao termo pode ser creditado à
É a função de avaliar os trabalhos em desenvolvimento, Revolução Industrial, quando a estrutura fabril exigiu o de-
e se os resultados estão sendo obtidos. senvolvimento de comportamentos inovadores entre donos,
O controle liga-se ao planejamento e tem uma função capatazes e empregados, a fim de otimizar os processos de
corretiva e avaliativa. Deve ser justo, específico e se possível produção.
numérico. Deve motivar e não exercer coerção. Nesse contexto, o relacionamento entre chefe e em-
pregados era perversamente tirânico e visava puramente
Fonte: http://www.cursosonlinesp.com.br/product_do- assegurar o máximo de eficiência nas linhas de montagem,
wnloads/c/curso_no_es_b_sicas_psicologia_organizacio- por meio da realização de tarefas repetitivas por parte dos
nal__16890.pdf empregados, pouco importando o valor agregado da capa-
cidade intelectual, criatividade ou iniciativa dos mesmos. Isto
A LIDERANÇA EDUCACIONAL propiciou que os entendimentos de liderança se voltassem
para assegurar tal eficiência, tornando os ambientes de tra-
O fenômeno da liderança está presente desde o surgi- balho altamente impessoais. (BASS, 2008).
mento das mais primitivas formas de aglomerados huma- A liderança evoluiu ao longo do século XX, quando foi
nos. Segundo Bass (2008), estudos antropológicos efetua- abandonado a “teoria do grande homem”, nos quais os lí-
dos, tendo como base povos primitivos, concluíram que o deres já nasciam líderes (inato), para uma visão mais abran-
líder é elemento presente em praticamente todos os aglo- gente, que leva em conta a tarefa a ser realizada – objetivo
merados humanos, independente dos aspectos culturais e comum, a relação do líder para com seus liderados, em uma
da complexidade de arranjos sociais e organizacionais. dinâmica sociocultural, com o foco no desenvolvimento de
Esses estudos também indicam que, mesmo na ausência todos e da organização. (TOPPING, 2002).
de estruturas hierárquicas formais, sempre existem pessoas
que tomam a iniciativa pela ação e desempenham papel Liderança no ambiente escolar
principal nos processos de tomada de decisão de seus res-
pectivos grupos sociais. A necessidade, portanto, de uma A referência principal deste tópico foi o livro de Lück
figura que se destaque dentre os demais elementos de um (2011) cujo título é “Liderança em Gestão Escolar”. Essa au-
grupo social qualquer, com capacidade para conduzi-lo, de tora acredita que a liderança na escola é uma característica
forma voluntária, na consecução dos seus objetivos, tem importante e inerante à gestão escolar, por intermédio da
sido fundamental para a subsistência, sobrevivência e suces- qual o diretor orienta, mobiliza e coordena o trabalho da co-
so do ser humano. munidade escolar no seu sentido amplo (interna e externa),
A despeito da alteração dos entendimentos e percep- com o escopo da melhoria contínua do ensino e da apren-
ções sobre liderança ao longo do tempo, é lugar comum dizagem.
na literatura que as definições de liderança tendem a con- Essa autora (2011) afirma, o que vejo com real impor-
siderá-la como um processo de influência que ocorre em tância, é que a gestão escolar é um processo que tem que
grupos humanos envolvidos numa ação coletiva. Em geral, ser efetivamente compartilhado, e sendo a competência no
as definições de liderança abordam: o caráter pessoal das in- foco da liderança “constituindo-se em um dos fatores de
terações; os efeitos do seu exercício; o comportamento dos maior impacto sobre a qualidade dos processos educacio-
líderes; e a interação dos líderes com a situação (ambiente) e nais [...] não é possível haver gestão sem liderança”.
os liderados. (BASS, 2008). A figura do líder, o indivíduo que exerce a liderança, é
Assim, os tópicos a seguir farão um breve sobrevoo so- visto como aquele que é seguido, mesmo não dispondo de
bre os conceitos de liderança, fazendo um pouso rápido na qualquer autoridade estatutária, não imposta por artifícios
história do vocábulo, em seguida passará pelo meio militar legais, porque ele consegue ser aceito e principalmente res-
e pelo ambiente empresarial, tentando forjar um conceito peitado, unindo e representando o grupo na realização dos
próprio que alicerçará o próximo capítulo deste artigo. anseios comuns e metas da escola. O líder não é o chefe

15
GESTÃO DE PESSOAS

institucional, ele é mais do que uma representação fixa e O estudo realizado por essa autora sobre escolas efi-
central no organograma da instituição. Ele descentraliza a cazes e a sua relação com a gestão escolar, tinha como hi-
sua liderança como ato de uma gestão democrática em que pótese preliminar de pesquisa “que deveria haver distintos
a tomada de decisão é disseminada e compartilhada por to- perfis de liderança e que os mesmos condicionariam as con-
dos os participantes da comunidade escolar (LÜCK, 2011). dições de trabalho escolar e estariam associados aos resul-
A autora apresenta ainda um trabalho realizado no pro- tados obtidos pela escola” (POLON, 2011). Em seu trabalho,
jeto Rede Nacional de Referência em Gestão Escolar, que os achados quantitativos que foram obtidos via questionário
expõe indicadores para a qualidade na gestão escolar e en- do diretor (2005 e 2006), de uma amostra de 68 escolas da
sino, onde afirma que a gestão escolar é eficaz quando os cidade do Rio de Janeiro, contendo dez perguntas, são inte-
dirigentes, ao liderarem as ações da escola, fazem-no orien- ressantes na categorização das lideranças existentes.
tados por uma visão global e abrangente do seu trabalho. Ao final foram estabelecidos três tipos de perfis de li-
São nove os indicadores encontrados, a saber: liderança deranças encontrados nos gestores escolares, que foram
educacional, flexibilidade e autonomia, apoio à comunidade, identificados através de fatores assim nomeados: Fator 1 –
clima escolar, processo ensinoaprendizagem, avaliação do Liderança Pedagógica; Fator 2 – Liderança Organizacional;
desempenho acadêmico, supervisão dos professores, ma- e Fator 3 – Liderança Relacional. Estes três fatores juntos
teriais e textos de apoio pedagógico, e espaço físico ade- explicam cerca de 64% da variabilidade dos dados de toda
quado. Nesse estudo, segundo a autora (LÜCK, 2000), os a base selecionada, “o que tecnicamente define a validade
dirigentes de escolas eficaz são líderes, estimulam os pro- estatística dos novos fatores obtidos”. (POLON, 2011).
fessores e funcionários da escola, pais, alunos e comunidade A autora separou os três fatores em relação às dez per-
a utilizarem o seu potencial na promoção de um ambiente guntas do questionário do diretor e dentro dos maiores
escolar educacional positivo e no desenvolvimento de seu percentuais obtidos com base na Matriz de Correlações. A
próprio potencial, orientado para a aprendizagem e cons- liderança pedagógica é arregimentada por uma forte corre-
trução do conhecimento, a serem criativos e proativos na lação entre as tarefas relacionadas às atividades de orienta-
resolução de problemas e enfrentamento de dificuldades. ção e acompanhamento do planejamento escolar, ou seja,
No guia de “Indicadores de Qualidade da Educação”, assistir as aulas e orientar pedagogicamente os professores;
uma das dimensões analisadas é a gestão escolar democrá- promover reuniões pedagógicas e orientar os professores
tica, em que deixa claro, para que ela seja considerada de- na elaboração de projetos didáticos e deveres escolares. A
mocrática, as seguintes características: o compartilhamento liderança organizacional tem o intuito de dar suporte ao tra-
de decisões e informações, a preocupação com a qualidade balho do professor em suas atividades cotidianas e adminis-
da educação e com a relação custo benefício, a transpa- trativas, elaboração de relatórios, atas, planilhas. Por último,
rência financeira. Dos indicadores constantes desse guia, a a liderança relacional está vinculada às tarefas que exigem
primeira pergunta é relevante ao estudo em tela: “a dire- a presença do diretor no cotidiano escolar, no atendimento
ção consegue informar toda a comunidade escolar sobre os dos alunos, pais e professores, inclusive na organização de
principais acontecimentos da Escola?” (RIBEIRO, 2004, p.32). festas e eventos na escola.
Da gama de conceitos que podem ser expostos oriun- Ao final, a autora ratifica que os estilos ou perfis de li-
dos das mais diversas fontes e de alguns pontos que foram derança escolar se constituem em fatores “a afetar a eficácia
observados nesta seção, acredita-se que a liderança não é do ensino, que neste trabalho foram expressos [...] indica a
somente mais uma função exclusiva do indivíduo, é tam- necessidade de valorização da dimensão pedagógica [...] no
bém uma função do grupo. Os líderes possuem uma visão cenário atual marcado por políticas públicas educacionais
do futuro que deve ser conquistado por todos os seus se- [...] por princípios de descentralização desconcentração”
guidores. Para tal intento, ele influencia, mobiliza, incentiva, (POLON, 2011). A leitura verificada encaminha-se com a
articula e inspira a criação e o desenvolvimento de um futuro consequente e necessária autonomia das escolas públicas,
melhor orientado para a vitória, dentro de uma ambiente a fim de a construção da gestão democrática e participativa
de harmonia e participação. Em suma: liderar é ensinar, mas com qualidade do ensino-aprendizagem para um contigen-
também é aprender. te maior de alunos.
Outro estudo interessante, sobre liderança e sua rela-
O papel da liderança no gestor escolar ção com as escolas eficazes, é apresentado por Sammons
(2008), que destaca onze características-chave de eficácia e
O gestor escolar, como já visto, passou a ter uma gama melhoramento escolar. A primeira a ser descrita, e que tem
de ações inerentes ao seu dia a dia de trabalho, além das ligação direta com este estudo, foi a “Liderança Profissional”.
já tradicionais administrativas, absorvendo também os as- A autora afirma que quase todos os estudos sobre eficácia
pectos pedagógicos. Em estudo realizado sobre os perfis de escolar mostram a liderança como fator-chave, necessária
liderança, Polon (2011), já sinalizado por Lück (2011) e Sam- para dar início e manter o melhoramento da escola. O papel
mons (2008), utiliza-se do conceito de escola eficaz, aquela que esse líder desempenha é caracterizado pela visão, valo-
que “o aprendizado dos seus alunos vai além do aprendi- res e objetivos da escola, e às suas abordagens em relação
zado típico de escolas frequentadas por alunos de origem a mudanças. Ele tem que ter decisões firmes e objetivas, um
social semelhante”, para introduzir que a liderança do gestor enfoque participativo de todos e um verdadeiro profissional
escolar é desejável e importante nas condições de favoreci- que lidera.
mento da eficácia em educação.

16
GESTÃO DE PESSOAS

Fonte ternativas já testadas em sociedades distintas, permitindo


HONORATO, H. G. O gestor escolar e suas competên- que a comunidade educacional brasileira reunisse informa-
cias: a liderança em discussão. ções para enfrentar um problema importante, no esforço
http://www.anpae.org.br/iberoamericano2012/Traba- de tirar a “diferença” causada por alguns anos de atraso na
lhos/HerculesGuimaraesHonorato_res_int_GT8.pdf percepção do problema e na busca de soluções próprias. No
rastro dessas iniciativas, a produção acadêmica brasileira já
começa a demonstrar bons resultados no tema, apesar de
4. MEDIAÇÃO E GESTÃO DE CONFLITOS serem encontrados apenas 7 grupos de pesquisa no Diretó-
rio LATTES, quando consultado utilizando as palavras chave
“violência escolar” e “violência na escola”, o que indica que a
A MEDIAÇÃO DO CONFLITO ESCOLAR produção deve estar vinculada a grupos com linhas de pes-
quisa e temas de pesquisa outros que absorvem os assuntos
Ampla pesquisa sobre as políticas públicas e as ações correlacionados com o universo da violência escolar.
desenvolvidas em diferentes países e capazes de atender Experiências importantes vêm sendo realizadas como a
a uma questão premente: a violência escolar. O ponto de do programa de Mestrado da Universidade Católica de Bra-
partida é o reconhecimento da diversidade de experiências sília/ Observatório da Violência que já produz uma série de
entre os alunos que a escola, reproduzindo padrões ultra- pesquisas focada na violência escolar, mas correlacionando-
passados de comportamento, insiste em tratar como iguais. -a com a visão docente (OLIVEIRA, M. G. P., 2003; OLIVEIRA,
R. B. L., 2004), com a comunidade (SILVA, 2004), com o ren-
GESTÃO DO CONFLITO ESCOLAR: dimento escolar (VALE, 2004), com a gestão escolar (CARREI-
DA CLASSIFICAÇÃO DOS CONFLITOS AOS MODELOS RA, 2005), com a visão discente (RIBEIRO, 2004; FERNANDES,
DE MEDIAÇÃO 2006), dentre outras.
Tudo leva a crer que o tema tenha ocupado um lugar de
Álvaro Chrispino destaque na sociedade e academia brasileiras, o que pode
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.15, resultar na transferência da escola da editoria policial para
n.54, p. 11-28, jan./mar. 2007 a editoria de direitos sociais nos grandes veículos de mídia
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ensaio/ nacional.
v15n54/a02v1554.pdf
Educação, juventude e violência
A sequência de episódios violentos envolvendo o es-
paço escolar não deixa dúvida quanto à necessidade de se A formação de opinião sobre a escola e a juventude ex-
trazer este tema à grande arena de debates da educação clusivamente pelas manchetes de jornais e televisão, resulta
brasileira. Os acontecimentos que se repetem nos diversos numa visão por ângulos restritos da realidade educacional.
pontos do país, e que nos privaremos de citar por ser abso- A educação – apesar da existência de programas impor-
lutamente desnecessário para a análise, expõem uma difi- tantes como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
culdade brasileira pela qual já passaram outros países, o que do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério –
seria, por si só, um convite para a reflexão de educadores e FUNDEF–, vem sofrendo com a falta de políticas públicas de
de gestores políticos, visto que o movimento mundial em longo prazo e efetivas que atendam às necessidades da co-
educação indica semelhança de acontecimentos mesmo munidade, vem sendo esvaziada pelo afastamento de bons
que em momentos diferentes da linha de tempo. docentes por conta do desprestígio e da perda significativa
Já dissemos alhures (CHRISPINO; CHRISPINO, 2002) que de salários, vem sendo “sucateada” pela ineficácia dos siste-
os problemas novos da violência escolar no Brasil são um mas de gestão e por recursos cada vez mais reduzidos, vem
problema antigo em outros países como Estados Unidos, se tornando cada vez mais “profanada” quando a história
França, Reino Unido, Espanha, Argentina e Chile, dentre ou- nos ensinou sobre uma escola cercada de respeito, pertenci-
tros, onde já se percebe um conjunto de políticas públicas mento e “sacralidade”.
mais ou menos eficientes dirigidas aos diversos atores que No que pese tudo isto, recentemente o Sindicato dos
compõem este complexo sistema que é o fenômeno vio- Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro – Sinepe Rio
lência escolar. Estes países possuem já alguma tradição em –, solicitou ao IBOPE uma pesquisa intitulada “O jovem, a
programa de redução da violência escolar como apontam sociedade e a ética” (RIO DE JANEIRO, 2006), que recolheu
Debarbieux e Blaya (2002) e, no Brasil, é possível enumerar opiniões de jovens entre 14 e 18 anos. O resultado mostra
alguns estudos pontuais até aproximadamente 2000, quan- o quanto a escola e a educação povoam o imaginário dos
do passamos a contar com um número maior de estudos jovens, o quanto estes ainda veem na escola e na educação
e pesquisas sobre os diversos ângulos da violência escolar instrumentos importantes para suas vidas e o quanto a vio-
como, por exemplo, Abramovay e Rua (2002), Ortega e Del lência na escola os afasta de seus sonhos ou os amedronta.
Rey (2002), Chrispino e Chrispino (2002), dentre outros. Vejamos alguns resultados:
Pergunta: Dentre estes, quais são os dois mais graves
Os diversos estudos publicados em língua portuguesa problemas do Brasil?
disseminaram ideias, aclararam os problemas e listaram al-

17
GESTÃO DE PESSOAS

Os jovens são desmotivados e nada 50% 46%


lhes interessa
A experiência profissional é mais 49% 46%
importante que a educação

Os direitos humanos no Brasil só 49% 44%


protegem os que não respeitam os
direitos dos outros

Pergunta: Dentre estes, para qual ponto você julga que


uma boa escola deveria estar voltada? (1º e 2º lugares)

Pergunta: Gostaria que você dissesse, para cada uma Podemos depreender da pesquisa (1) que o jovem iden-
das pessoas e instituições que vou falar, se você confia ou tifica na violência o maior problema da sociedade atual, su-
não confia perando, inclusive, o desemprego; (2) que a escola ocupa
o segundo lugar entre as instituições importantes para o
INSTITUIÇÕES CONFIA NÃO CONFIA NÃO TEM desenho de seu futuro, perdendo apenas para a família; (3)
OPINIÃO professores e escolas são as duas “instituições” que encabe-
Professores 84% 13% 3% çam a lista de confiança com altos índices percentuais; (4) os
Escola Particular 77% 18% 5%
jovens, diferentemente do que diz o senso comum, solicitam
os limites próprios à juventude e (5) confirmando o item 4, o
Escola Pública 76% 19% 5% jovem julga que a disciplina rígida, juntamente com criativi-
Médicos 75% 21% 4% dade e diálogo, fazem parte da boa escola, para desespero
Religião 71% 23% 6% de gestores e docentes que defendem o “vai-levando” ou o
Igreja Católica 66% 26% 8%
laissez-faire, certamente pela lei de menor esforço, já que o
salário é o mesmo no final do mês.
Igreja Evangélica 61% 30% 8% Apesar de todas as dificuldades, o jovem ainda crê na
Televisão 60% 36% 4% educação como alternativa e na escola como instrumento
Rádios 62% 35% 4% de mobilidade social e de diferenciação para o futuro.
Motivado por isso, podemos buscar entender melhor
Jornais 59% 37% 4%
o que pode estar causando a violência na escola, sempre
lembrando que a nossa é uma leitura, uma proposta, uma
Pergunta: Para cada frase citada, gostaria de saber se alternativa. Certamente haverá outras, desenvolvidas e am-
você concorda ou discorda paradas a partir de outras percepções e experiências.

PONTOS CONCORDA DISCORDA O conflito e o conflito na escola


A educação dos jovens deve ter limites 82% 14%
bem definidos Conflito é toda opinião divergente ou maneira diferente
de ver ou interpretar algum acontecimento. A partir disso,
No Brasil, é possível melhorar a 73% 21%
todos os que vivemos em sociedade temos a experiência do
condição social através do voto
conflito.
No Estado, um cidadão não tem só 70% 24% Desde os conflitos próprios da infância, passamos pe-
direitos, tem deveres para com a los conflitos pessoais da adolescência e, hoje, visitados pela
sociedade maturidade, continuamos a conviver com o conflito intra-
O voto pode mudar a situação do país 64% 30% pessoal (ir/não ir, fazer/não fazer, falar/não falar, comprar/
não comprar, vender/não vender, casar/não casar etc.) ou
O importante para os jovens é viver o 57% 40%
interpessoal, sobre o qual nos deteremos.
momento, sem se preocupar com o
futuro

18
GESTÃO DE PESSOAS

São exemplos de conflito interpessoal a briga de vizi- tativas, com diferentes sonhos, com diferentes valores, com
nhos, a separação familiar, a guerra e o desentendimento diferentes culturas e com diferentes hábitos [...], mas a escola
entre alunos. (CHRISPINO; CHRISPINO, 2002). permaneceu a mesma! Parece óbvio que este conjunto de
Poderemos buscar, numa adaptação de Redorta (2004, diferenças é causador de conflitos que, quando não traba-
p. 33), grandes exemplos de conflito nos conhecidos movi- lhados, provocam uma manifestação violenta. Eis, na nossa
mentos de rompimento de paradigmas: avaliação, a causa primordial da violência escolar.
A fim de exemplificar a tese que defendemos, pode-
AUTOR TIPO DE CONFLITO PROCESSO SÍNTESE mos lançar mão da pesquisa de Fernandes (2006, p. 103)
RESULTANTE realizada com alunos e professores de diferentes escolas do
Freud Conflito entre o desejo Repressão e defesa Luta pelo Distrito Federal. Ao solicitar que professores e alunos identi-
e a proibição dever fiquem níveis de gravidade de violência a partir de ocorrên-
cias cotidianas, percebe-se a divergência de opinião: isto dá
Darwin Conflito entre o sujeito Diferenciação e Luta por
origem a conflitos. Vejamos alguns exemplos:
e o meio adaptação existir
Marx Conflito entre classes Estratificação social Luta pela ATITUDES ESCOLA 1–PÚBLICA ESCOLA 2–PRIVADA
sociais hierarquia igualdade
OPINIÃO DISCENTE DOCENTE DISCENTE DOCENTE
Piaget Conflito nas decisões e Aprendizagem
Aluno bate em 47,4 (média) 64,6 (alta) 51,6 (alta) 61,2 (alta)
experiências Resolução de Luta por
colega menor
problemas ser
Briga entre 38,1 (média) 60,5 (alta) 52,9 (alta) 55,8 (alta)
alunos
O conflito, pois, é parte integrante da vida e da atividade
social, quer contemporânea, quer antiga. Ainda no esforço Toque de mão 32,0 (média) 60,5 (alta) 27,2 54,9 (alta)
de entendimento do conceito, podemos dizer que o conflito no colega com (baixa)
se origina da diferença de interesses, de desejos e de aspira- sentido sexual
ções. Percebe-se que não existe aqui a noção estrita de erro Insulto de 32,0 (média) 56,5 (alta) 31,8 54,9 (alta)
e de acerto, mas de posições que são defendidas frente a aluno a aluno (média)
outras, diferentes.
Um exemplo claro da dificuldade que temos para lidar Podemos esperar que, pela diferença entre as opiniões,
com o conflito é a nossa incapacidade de identificar as cir- haja conflito no espaço escolar. Um conflito criado pela di-
cunstâncias que derivam do conflito ou redundam nele. Em ferença de conceito ou pelo valor diferente que se dá ao
geral, nas escolas e na vida, só percebemos o conflito quan- mesmo ato. Professores e alunos dão valores diferentes à
do este produz suas manifestações violentas. Daí podemos mesma ação e reagem diferentemente ao mesmo ato: isso
tirar, pelo menos, duas conclusões: a primeira é que se ele é conflito. Como a escola está acostumada historicamente
se manifestou de forma violenta é porque já existia antes a lidar com um tipo padrão de aluno, ela apresenta a regra
na forma de divergência ou antagonismo, e nós não soube- e requer dos alunos enquadramento automático. Quanto
mos ou não fomos preparados para identificá-lo; a segunda mais diversificado for o perfil dos alunos (e dos professo-
é que toda a vez que o conflito se manifesta, nós agimos res), maior será a possibilidade de conflito ou de diferença
para resolvê-lo, coibindo a manifestação violenta. E neste de opinião. E isso numa comunidade que está treinada para
caso, esquecemos que problemas mal resolvidos se repe- inibir o conflito, pois este é visto como algo ruim, uma ano-
tem! (CHRISPINO; CHRISPINO, 2002) malia do controle social.
Ao definirmos conflito como o resultado da diferença Porém, o mito de que o conflito é ruim está ruindo. O
de opinião ou interesse de pelos menos duas pessoas ou conflito começa a ser visto como uma manifestação mais
conjunto de pessoas, devemos esperar que, no universo da natural e, por conseguinte, necessária às relações entre pes-
escola, a divergência de opinião entre alunos e professores, soas, grupos sociais, organismos políticos e Estados. O con-
entre alunos e entre os professores seja uma causa objetiva flito é inevitável e não se devem suprimir seus motivos, até
de conflitos. Uma segunda causa de conflitos é a dificuldade porque ele possui inúmeras vantagens dificilmente percebi-
de comunicação, de assertividade das pessoas, de condições das por aqueles que veem nele algo a ser evitado:
para estabelecer o diálogo.
Temos defendido que a massificação da educação se, • Ajuda a regular as relações sociais;
por um lado, garantiu o acesso dos alunos à escola, por ou- • ensina a ver o mundo pela perspectiva do outro;
tro, expôs a expôs a escola a um contingente de alunos cujo
perfil ela – a escola – não estava preparada para absorver. • permite o reconhecimento das diferenças, que não
Antes, em passado remoto, a escola era procurada por são ameaça, mas resultado natural de uma situação
um tipo padrão de aluno, com expectativas padrões, com em que há recursos escassos;
passados semelhantes, com sonhos e limites aproximados. • ajuda a definir as identidades das partes que defen-
Os grupos eram formados por estudantes de perfis muito dem suas posições;
próximos. Com a massificação, trouxemos para o mesmo es-
paço alunos com diferentes vivências, com diferentes expec-

19
GESTÃO DE PESSOAS

• permite perceber que o outro possui uma percepção gundo Redorta (2004, p. 95), classificar é uma forma de dar
diferente; sentido.
A classificação costuma ser hierárquica e permite esta-
• racionaliza as estratégias de competência e de coo-
belecer relações de pertencimento. Ao classificar definimos,
peração;
e ao defini-lo, tomamos uma decisão a respeito da essência
• ensina que a controvérsia é uma oportunidade de de algo.
crescimento e de amadurecimento social. Vamos buscar algumas classificações gerais de conflito
segundo Moore (1998), Deutsch (apud MARTINEZ ZAMPA,
Outro mito importante construído em torno do conflito,
2004) e Redorta (2004) e classificações de conflitos escolares
e que está também sendo superado, é aquele que diz que
a partir de Martinez Zampa (2004) e Nebot (2000).
o mesmo atenta contra a ordem. Na verdade, o conflito é a
Para Moore (1998, p. 62), os conflitos podem ser classi-
manifestação da ordem em que ele próprio se produz e da
ficados em estruturais, de valor, de relacionamento de inte-
qual se derivam suas consequências principais. O conflito é
resse e quanto aos dados:
a manifestação da ordem democrática, que o garante e o
sustenta.
TIPOS DE CAUSAS DOS CONFLITOS
A ordem e o conflito são resultado da interação entre os
CONFLITO
seres humanos. A ordem, em toda sociedade humana, não é
outra coisa senão uma normatização do conflito. Tomemos Estruturais Padrões destrutivos de comportamento ou
como exemplo o conflito político: apesar de parecer ruptura interação; controle, posse ou distribuição
da ordem anterior, há continuidade e regularidade em al- desigual de recursos; poder e autoridade
guns aspectos tidos como indispensável pela sociedade, que desiguais; fatores geográficos, físicos ou
exige a ordem e de onde emanam os conflitos. ambientais que impeçam a cooperação;
Somente estudo e compreensão das relações que exis- pressões de tempo.
tem dentro da ordem podem permitir o entendimento com- De valor Critérios diferentes para avaliar ideias ou
pleto dos conflitos que nela se originam e que, por fim, são a comportamentos; objetivos exclusivos
razão de sua existência. Por exemplo, os sócios que brigam. intrinsecamente valiosos; modos de vida,
É necessário ver as condições em que se fez a sociedade e as ideologia ou religião diferente.
expectativas dos sócios. Possivelmente, cada um deles terá De relacionamento Emoções fortes; percepções equivocadas
entendimento pessoal das regras que iniciaram a sociedade ou estereótipos; comunicação inadequada
e possuíam, por derivação, expectativas diferentes. Instala- ou deficiente; comportamento negativo –
-se o conflito! repetitivo.
O conflito está regulado de tal modo que nem sempre
De interesse Competição percebida ou real sobre interesses
nos damos conta sequer de sua existência. Como exemplo
fundamentais
disso, temos o futebol ou o desfile das escolas de samba:
(conteúdo); interesses quanto a
eles excluem a violência como a entendemos comumente e
procedimentos; interesses psicológicos.
preveem um modelo de comportamento cooperativo, mas
os interesses são frontalmente conflitantes! Quanto aos dados Falta de informação; informação errada;
Acontece, muitas vezes, que o conflito é deflagrado e pontos de vista diferentes sobre o que é
não sabemos exatamente o que o provoca, pois, a posição importante; interpretações diferentes dos
conflitante é diferente do interesse real das partes. O inte- dados; procedimentos de avaliação diferentes.
resse é a motivação objetiva/subjetiva de uma conduta, a
partir da qual esta se estrutura e se distingue da posição, Para Deutsch (apud MARTINEZ ZAMPA, 2004, p. 27), os
que é a forma exterior do conflito, que pode esconder o real conflitos podem ser classificados em 6 tipos: Verídicos (con-
interesse envolvido. Os comerciantes têm interesses confli- flitos que existem objetivamente), contingentes (situações
tantes: o vendedor quer vender mais caro, enquanto o com- que dependem de circunstâncias que mudam facilmente),
prador quer pagar menos [...], mas os interesses são claros descentralizados (conflitos que ocorrem fora do conflito
e definidos. Diferentemente com o que ocorre no conflito central), mal atribuídos (se apresentam entre partes que não
causado pela separação de casais que brigam pela posse da mantêm contatos entre si), latentes (conflitos cuja origem
casa onde moravam, mesmo possuindo outros imóveis de não se exteriorizam) e falsos (se baseiam em má interpreta-
igual valor. Na verdade, a posição de posse da casa esconde ção ou percepção equivocada).
um interesse implícito: quem ficar com a casa do casal tem a Para Redorta (2004), a tipologia de conflito é de tal im-
sensação de vitória sobre o outro. portância que ele dedica toda uma obra a essa tarefa. Pode-
mos sintetizar a sua tipologia, no quadro a seguir:
Classificações dos conflitos

A fim de melhor entender suas possibilidades, buscare-


mos alguns exemplos de classificação de conflito, pois, se-

20
GESTÃO DE PESSOAS

flitos educacionais ou entre membros da comunidade edu-


cacional, Martinez Zampa (2005) enumera 4 tipos diferentes:
• Conflito em torno da pluralidade de pertencimento:
surge quando o docente faz parte de diferentes es-
tabelecimentos de ensino ou mesmo de níveis dife-
rentes de ensino.
• Conflitos para definir o projeto institucional: surge
porque a construção do projeto educacional favore-
ce a manifestação de diferentes posições quanto a
objetivos, procedimentos e exigências no estabele-
cimento escolar.
• Conflito para operacionalizar o projeto educativo:
surge porque, no momento de executar o projeto
institucional, surgem divergências nos âmbitos de
planejamento, execução e avaliação, levando a dire-
ção a lançar mão de processos de coalizão, adesões,
etc.
É possível, ainda, identificar conflitos escolares ou mes- • Conflito entre as autoridades formal e funcional:
mo educacionais a partir de Martinez Zampa (2005) e de surge quando não há coincidência entre a figura
Nebot (2000). Certamente, a característica da escola ou do da autoridade formal (diretor) e da autoridade fun-
sistema educacional favorecem este tipo de categorização, cional (líder situacional). Os conflitos educacionais,
por se restringirem a um universo conhecido, com atores para efeito de estudo, são aqueles provenientes de
permanentes (alunos, professores, técnicos e comunidade) ações próprias dos sistemas escolares ou oriundos
e com rotinas estabelecidas (temática, horários, espaços fí- das relações que envolvem os atores da comunida-
sicos etc). A maneira de lidar com o conflito escolar ou edu- de educacional mais ampla. Certamente poderíamos
cacional é que irá variar de uma escola que veja o conflito ainda apontar os que derivam dos exercícios de po-
como instrumento de crescimento ou que o interpreta como der, dos que se originam das diferenças pessoais,
um grave problema que deva ser abafado. dos que resultam de intolerâncias de toda ordem,
Na comunidade escolar existem pontos que contribuem os que possuem fundo político ou ideológico, o que
para o surgimento dos conflitos e que, no mais das vezes, fugiria do foco principal deste trabalho, voltado pela
não são explícitos ou mesmo percebidos. A prioridade que a escola e seu entorno. Saindo do universo geral dos
se dá para os diferentes conflitos escolares é um primeiro conflitos educacionais – enumerados restritamente
ponto. Martinez Zampa (2005, p. 29) diz que os professo- – podemos relacionar os que chamaremos de confli-
res consideram que os conflitos mais freqüentes e impor- tos escolares, por acontecerem no espaço próprio da
tantes se dão entre seus colegas e diretores, colocando em escola /ou com seus atores diretos.
segundo lugar de importância os conflitos entre alunos. Essa Dentre as classificações possíveis, escolhemos adaptar a
posição não é ratificada por Oliveira e Gomes (2004, p. 52- de Martinez Zampa (2005, p. 31-32) para ilustrar o texto. Os
53), que descrevem como os docentes veem os valores e conflitos que ocorrem com maior frequência se dão:
violência escolares. Ao se referirem às escolas que foram
pesquisadas, escrevem: O clima entre direção, professores e • Entre docentes, por:
alunos parecia bastante amistoso. No entanto, a Associação • falta de comunicação;
de Pais e Mestres e o Conselho Escolar funcionavam preca-
riamente devido à falta de participação e envolvimento da • interesses pessoais;
comunidade escolar. • questões de poder;
O relacionamento entre os professores parecia muito
bom, manifestado, inclusive, pelos intervalos muito anima- • conflitos anteriores;
dos. Segundo informações colhidas, a amizade entre os do- • valores diferentes;
centes continuava fora dos muros da escola, nas festas de
confraternizações, aniversários, churrascos e outras. A leitura • busca de “pontuação” (posição de destaque);
externa da comunidade (cidadãos e pais) pode achar que
• conceito anual entre docentes;
professores e diretores – profissionais e adultos que são –,
devam lidar profissionalmente com as possíveis dificuldades • não-indicação para cargos de ascensão hierárquica;
que surjam no exercício da atividade docente e que os con-
• divergência em posições políticas ou ideológicas.
flitos entre alunos, e destes com seus professores, é que efe-
tivamente merecem ser vistos como prioridade. Como con- • Entre alunos e docentes, por:
• não entender o que explicam;

21
GESTÃO DE PESSOAS

• notas arbitrárias; • Culturais


• divergência sobre critério de avaliação; 1. comunitários: são aqueles que emanam de redes so-
ciais de diferentes atores onde está situada a escola. Rom-
• avaliação inadequada (na visão do aluno);
pem-se as concepções rígidas dos muros da escola, am-
• descriminação; pliando-se as fronteiras (por exemplo, os bairros e suas ca-
racterísticas, as organizações sociais do bairro, as condições
• falta de material didático;
econômicas de seus habitantes, etc)
• não serem ouvidos (tanto alunos quanto docentes); 2. raciais e identidades: são aqueles grupos sociais que
possuem um pertencimento e afiliação que faz a sua condi-
• desinteresse pela matéria de estudo. ção de existência no mundo. Estes, com suas características
• Entre alunos, por: culturais, folclóricas, ritualísticas, patrocinam uma série de
práticas e habitus que retroalimentam o estabelecimento de
• mal-entendidos; ensino (por exemplo, a presença de fortes componentes mi-
• brigas; gratórios na região, etc)
• rivalidade entre grupos; • Pedagógicos São aqueles que derivam do desenho
estratégico da formação e dos dispositivos de con-
• descriminação; trole de qualidade e das formas de ensinar, seus
• bullying; ajustes ao currículo acadêmico e suas formas de
produção (por exemplo, não é a mesma coisa en-
• uso de espaços e bens; sinar matemática que literatura, e ambas possuem
• namoro; procedimentos similares, mas diferentes; a organiza-
ção dos horários de das turmas e dos professores; as
• assédio sexual; avaliações, etc)
• perda ou dano de bens escolares; • Atores São aqueles que denominamos “pessoas” e
• eleições (de variadas espécies); que devem ser distinguidos:

• viagens e festas. 1. em grupos e subgrupos, que ocorrem em qualquer


âmbito (turma, corpo docente, direção etc)
• Entre pais, docentes e gestores, por: 2. familiares, donde derivam as ações que caracterizam a
• agressões ocorridas entre alunos e entre os profes- dinâmica familiar que afeta diretamente a pessoa, podendo
sores; produzir o fenômeno de afastamento familiar que acarreta o
“depósito” do aluno na escola.
• perda de material de trabalho; 3. individuais, que são aqueles onde a “patologia” toma
• associação de pais e amigos; um membro da organização escolar. Neste caso, há sempre
o risco da estigmatização do membro da comunidade que
• cantina escolar ou similar; é o causador do conflito. No momento em que realçamos o
• falta ao serviço pelos professores; conflito na escola, gostaríamos de chamar à atenção a capa-
cidade da escola em perceber a existência do conflito e a sua
• falta de assistência pedagógica pelos professores; capacidade de reagir positivamente a ele, transformando-o
• critérios de avaliação, aprovação e reprovação; em ferramenta do que chamamos de tecnologia social, uma
vez que o aprendizado de convivência e gestão do conflito
• uso de uniforme escolar; são para sempre. Por que a mediação do conflito na escola
• não-atendimento a requisitos “burocráticos” e admi- Façamos um retrospecto do que foi apresentado até aqui
nistrativos da gestão. Segundo Nebot (2000, p. 81- a fim de melhor encaminhar os pontos seguintes. Até aqui
82), os conflitos escolares podem ser categorizados apresentamos as expectativas dos estudantes com a ascen-
em organizacionais, culturais, pedagógicos e de ato- são social por meio da educação, sua confiança nos profes-
res. A seguir, detalhamos cada um dos tipos: sores e na escola, suas dificuldades por conta da violência
que lança seus tentáculos nas escolas e discutimos o conflito
• Organizacionais em geral e na escola, em particular.
1. setoriais: são aqueles se produzem a partir da divi- Apresentamos a tese onde o conflito surge da diferença
são de trabalho e do desenho hierárquico da instituição, que de opiniões e divergência de interpretações. Logo, se a es-
gera a rotina de tarefas e de funções (direção, técnico admi- cola é o universo que reúne alunos diferentes, ela é o palco
nistrativos, professores, alunos, etc); onde certamente o conflito se instalará. E, se o conflito é
2. o salário e as formas como o dinheiro se distribui no inevitável, devemos aprender o ofício da mediação de con-
coletivo, afetando a qualidade de vida dos funcionários e flito para que esta técnica se aprimore facultando a cultura
docentes, etc da mediação de conflito. Chamaremos de mediação de con-
3. se são públicas ou privadas. flito o procedimento no qual os participantes, com a assis-
tência de uma pessoa imparcial – o mediador –, colocam as

22
GESTÃO DE PESSOAS

questões em disputa com o objetivo de desenvolver opções, • Constrói um sentimento mais forte de cooperação e
considerar alternativas e chegar a um acordo que seja mu- fraternidade na escola.
tuamente aceitável. A mediação pode induzir a uma reorien-
• Cria sistemas mais organizados para enfrentar o pro-
tação das relações sociais, a novas formas de cooperação, de
blema divergência ➔ antagonismo ➔ conflito ➔
confiança e de solidariedade; formas mais maduras, espon-
violência.
tâneas e livres de resolver as diferenças pessoais ou grupais.
A mediação induz atitudes de tolerância, responsabilidade • O uso de técnicas de mediação de conflitos pode
e iniciativa individual que podem contribuir para uma nova melhorar a qualidade das relações entre os atores
ordem social. escolares e melhorar o “clima escolar”.
O primeiro ponto para a introdução da mediação de
• O uso da mediação de conflitos terá consequências
conflito no universo escolar é assumir que existem conflitos
nos índices de violência contra pessoas, vandalismo,
e que estes devem ser superados a fim de que a escola cum-
violência contra o patrimônio, incivilidades, etc.
pra melhor as suas reais finalidades. Há, portanto, dois tipos
de escola: aquela que assume a existência de conflito e o • Melhora as relações entre alunos, facultando melho-
transforma em oportunidade e aquela que nega a existência res condições para o bom desenvolvimento da aula.
do conflito e, com toda a certeza, terá que lidar com a mani-
festação violenta do conflito, que é a tão conhecida violência • Desenvolve o autoconhecimento e o pensamento
escolar. As escolas que valorizam o conflito e aprendem a crítico, uma vez que o aluno é chamado a fazer parte
trabalhar com essa realidade, são aquelas onde o diálogo da solução do conflito.
é permanente, objetivando ouvir as diferenças para melhor • Consolida a boa convivência entre diferentes e di-
decidirem; são aquelas onde o exercício da explicitação do vergentes, permitindo o surgimento e o exercício da
pensamento é incentivado, objetivando o aprendizado da tolerância.
exposição madura das ideias por meio da assertividade e da
comunicação eficaz; onde o currículo considera as oportu- • Permite que a vivência da tolerância seja um patri-
nidades para discutir soluções alternativas para os diversos mônio individual que se manifestará em outros mo-
exemplos de conflito no campo das ideias, das ideologias, mentos da vida social. Cremos que as vantagens dos
do poder, da posse, das diferenças de toda ordem; onde as programas de mediação escolar são bastante nume-
regras e aquilo que é exigido do aluno nunca estão no cam- rosas. Apesar disso, poucas são as avaliações quanti-
po do subjetivo ou do entendimento tácito: estão explícitos, tativas sobre o impacto dos programas de mediação
falados e discutidos. de conflito. Kmitta (1999, p. 293) ensaia um estudo
Em síntese, devemos ser explícitos naquilo que espera- de resultados quantitativos a partir de dez progra-
mos dos estudantes e naquilo que nos propomos a fazer. mas de mediação escolar nos Estados Unidos, que
Sobre a gestão destes itens, escreve Heredia, citando Ray podem indicar alguns resultados promissores nesse
Scanhaltz (apud HEREDIA, 1998), diretor de programas edu- tipo de técnica e nesse esforço de implantação da
cacionais de San Francisco: Pedir aos estudantes disciplina, cultura de mediação de conflito. Aponta ele:
sem provê-los das habilidades requeridas, é como pedir a
um transeunte que encontre Topeka, Kansas, sem fazer uso Resumo de estudos que documentam mediações e
de uma bússola [...]. Não podemos esperar que os estudan- porcentagens de êxito
tes se comportem de um modo disciplinado se não possuem
as habilidades para fazê-lo. É possível, também pensar na in-
trodução do tema mediação de conflito no currículo escolar,
o que seria uma oportunidade para verbalizar a questão e
tornar claro o que se espera dele – o jovem – no conjunto de
comportamentos sociais. De outra forma, é dizer ao jovem e
à criança que suas diferenças podem transformar-se em an-
tagonismos e que, se estes não forem entendidos, evoluem
para o conflito, que deságua na violência.
Cabe ressaltar que esse aprendizado e essa percepção
social, quando ocorrem com o estudante, são para sempre.
Eis algumas vantagens identificadas para a mediação do
conflito escolar (CHRISPINO, 2004):
• O conflito faz parte de nossa vida pessoal e está Algumas questões norteadoras para o modelo de pro-
presente nas instituições. ‘É melhor enfrentá-lo com grama de mediação escolar. Todo programa que se pro-
habilidade pessoal do que evitá-lo’ (HEREDIA, 1998 ponha a envolver grande número de variáveis, como é o
apud CHRISPINO, 2004). caso das escolas, deve ter o cuidado de trabalhar a partir
de generalizações. O Programa deve comportar-se tal qual
• Apresenta uma visão positiva do conflito, rompendo
um grande e delicado tecido jogado sobre um conjunto de
com a imagem histórica de que ele é sempre nega-
peças com contornos distintos. O tecido é o mesmo, mas
tivo.

23
GESTÃO DE PESSOAS

ao alcançar a peça, toma a forma desta! Ele se amolda a pensar diferentemente e isso faz parte das relações huma-
cada realidade. Com um programa de mediação de conflito nas. Vejamos o que nos diz Porro (2004):
escolar não será diferente. Nossa pretensão, ao apresentar
um conjunto de distintas classificações de conflito foi per-
mitir alternativas para identificação particularizada de cada
contexto escolar.
Não há receita na mediação de conflito que possa ser
aplicada indistintamente a escolas diferentes. Cada escola
é uma rede complexa de relações e de valores e, por tal,
merecerá um diagnóstico específico de conflitos e um mo-
delo próprio. Temos algumas questões que representam ei-
xos padrões de decisão que devem ser atendidos, ou não,
no momento em que a escola debate a instalação de um Fonte
programa de mediação. Identificado o tipo de conflito que CHRISPINO, A. & CHRISPINO, R. A mediação do conflito
existe em cada escola, a partir das inúmeras classificações escolar. São Paulo: Biruta, 2011.
apresentadas anteriormente, a equipe disposta a implantar
o programa de mediação de conflito escolar deverá respon- 5. PARTICIPAÇÃO E TRABALHO COLETIVO
der a uma série de itens que definirão o tipo de programa
NA ESCOLA
que irão implantar. Escolhemos dez itens para este exercí-
cio de provocação e reflexão, em grande parte adaptados
daqueles apresentados por Schvarstein (1998) e Chrispino e
Chrispino (2002): O papel da Equipe Gestora

1. Caráter da Mediação de Conflito: obrigatório ou vo- O Gestor Escolar é a peça chave da equipe gestora para
luntário? o sucesso de qualquer escola. Há quem diga, inclusive, que
2. Alcance da Mediação de Conflito: Todos os conflitos a escola tem a cara do seu Gestor, pois a marca de sua ad-
ou apenas alguns conflitos? ministração fica evidenciada em todos os setores do espaço
3. Ênfase da Mediação de Conflito: No produto ou no escolar.
processo? Comprova-se, desse modo, que todo Gestor é respon-
4. Atores da Mediação de Conflito: todos os membros sável por criar condições adequadas de trabalho onde haja
do universo escolar ou alguns membros do universo esco- respeito e confiança, definindo e distribuindo tarefas, dando
lar? apoio aos que estão sob sua liderança, revendo e avaliando
5. Limites da Mediação de Conflito na Escola: sem limites resultados, assegurando, assim, condições para o alcance
de série, idade, turno, etc, ou com limites? dos objetivos estabelecidos coletivamente.
6. Relação da Mediação de Conflito com as Regras Dis- O Gestor Escolar, o Coordenador Pedagógico e o Super-
ciplinares: sem relação ou com relação? visor Educacional são os representantes legais da Secretaria
7. Relação da Mediação de Conflito com a Avaliação: Estadual de Educação. Entre outras incumbências, são res-
sem relação ou com relação? ponsáveis por coordenar as atividades de um conjunto de
8. Identificação dos Mediadores de Conflito: mediação profissionais da educação básica, os quais devem desempe-
por pares ou outros mediadores? nhar suas respectivas atribuições para que a escola execute
9. Escolha dos Mediadores de Conflito: ação institucio- sua proposta pedagógica e garanta educação de qualidade.
nal ou escolha das partes? Para isso, é necessário conhecer as atribuições definidas na
10. Critérios para a Seleção dos Mediadores de Confli- legislação para cada um dos cargos que ocupam os servido-
to: desempenho acadêmico ou “respeitabilidade” entre os res sob sua coordenação, como também conhecer a legisla-
pares? À guisa de conclusão. Enquanto refletimos sobre a ção vigente no país e no estado.
validade ou não de um programa de mediação de conflito, É importante que esta equipe de Gestão Escolar atue em
somos visitados por alguns pensamentos que estão no ima- conjunto com a sua comunidade, ouvindo os seus anseios
ginário educacional, tais como: não foi para isso que estudei e discutindo acerca de suas expectativas, sendo moderado-
e me formei! Não foi para cuidar de problemas de aluno que res da diversidade de ideias, sem, no entanto, abrir mão de
fiz concurso público! Não sou pago para este tipo de traba- suas obrigações legais. Escolas administradas com eficiência
lho! Isso é trabalho de orientador educacional! Estou perto e liderança mantêm atmosfera e ambiente de trabalho tran-
de me aposentar! quilos e propícios à aprendizagem.
Quando se adota a autonomia pedagógica, em que
Não é nossa a proposta de contrapormo-nos a partir de professores e dirigentes se sentem responsáveis pelos re-
cada uma dessas expressões. No exercício de controvérsia sultados, seu programa é partilhado e complementado por
que pregamos ao longo deste trabalho, vamos, mais uma todos através de atividades que acontecem dentro e fora da
vez, apresentar grandes ideias que contemplam o “outro escola.
lado” e deixar que cada um reflita e decida. Afinal, podemos

24
GESTÃO DE PESSOAS

Perfil da Equipe Gestora • A gestão escolar deve manter-se informada dia após
dia, sobre os resultados de aprendizagem, abando-
• Articuladora e mediadora dos segmentos internos e
no e evasão escolar.
externos;
Dessa forma,
• Conhecedora do técnico, pedagógico, administrati-
vo-financeiro e legislativo; • o diretor, responsável legal, judicial e pedagógico
pela instituição e o líder que garante o funcionamen-
• Conhecedora holística do contexto da escola, do en-
to da escola;
torno escolar e da sociedade como um todo;
• o coordenador pedagógico, profissional que res-
• Ser transparente, coerente nas ações e entusiasta da
ponde pela formação dos professores; e
educação;
• o supervisor de ensino, representante da secretaria
• Ser capaz de auto avaliar-se e promover a avaliação
de Educação que dá apoio técnico, administrativo e
do grupo;
pedagógico às escolas, garante a formação de ges-
• Ter capacidade de resolver problemas (capacidade tores e coordenadores e dinamiza a implantação de
de ver, ouvir, sentir o problema no momento e local políticas públicas.
onde está inserida);
Como as diversas partes de um jogo de encaixe, essas
• Ter liderança democrática, capacidade de mediação, funções se articulam formando um bloco coeso para garan-
espírito ético e solidário; tir o sucesso da aprendizagem. A denominação dos cargos
varia de acordo com a rede e eles podem ser exercidos por
• Ter iniciativa e firmeza de propósito para realização
uma ou mais pessoas. “A gestão da Educação exige planeja-
de ações;
mento, estabelecimento de metas, manutenção de recursos
• Ter pré-disposição para trabalho coletivo; e avaliação. Se essas bases não são estruturadas em comum,
em especial por esse trio gestor, nunca existirá de fato uma
• Ter capacidade de compartilhar poder; rede de ensino”.
• Ter sua ação centrada no compromisso com a Pro-
posta Pedagógica; Rede com foco e formação permanente
• Estar aberta a discussões. Um trabalho em conjunto bem realizado leva a escola a
bons resultados. A pesquisa Práticas Comuns à Gestão Esco-
Responsabilidades da Equipe Gestora lar Eficaz, realizada pela Fundação Victor Civita no ano pas-
sado, comparou as iniciativas de gestão de escolas com de-
O Gestor Escolar, o Coordenador Pedagógico e o Super- sempenhos similares na Prova Brasil e concluiu: as que têm
visor Educacional responderão pela: Gestão Pedagógica. mais proximidade com a Secretaria de Educação se saem
A gestão pedagógica numa escola é uma ação coletiva melhor na avaliação. O relacionamento é tão mais estreito
e integral com um propósito claro: educar o aluno. Alguns quanto melhor e mais efetiva for a atuação do supervisor
preceitos são essenciais para que a “ação coletiva” aconteça nas diversas unidades de ensino. Entre os diversos papéis
harmoniosamente e produza resultados. que ele desempenha, os mais estratégicos são monitorar a
• O ambiente escolar educa mais do que o esforço iso- implantação e a continuidade de políticas públicas, evitando
lado de qualquer professor. que a rede perca o foco, acompanhar e apoiar o desenvolvi-
mento do projeto político pedagógico das escolas e fazer a
• O professor precisa sentir-se confiante e encorajado formação de diretores e coordenadores pedagógicos.
pela coordenação pedagógica e direção escolar para É preciso ressaltar que muitas redes ainda não têm uma
desenvolver seu trabalho. estrutura que permita a integração do trio gestor. Noutras,
• A disciplina de uma turma de alunos reflete, em mesmo com a existência das funções, não há uma cultura de
grande parte, as ações e atitudes do professor. colaboração. Muitas vezes, existe um embate entre os pro-
fissionais e o trabalho simplesmente não sai: o diretor acha
• Os resultados finais da gestão pedagógica só podem que o supervisor não sabe o que ocorre dentro da escola e
ser avaliados através da aprendizagem dos alunos. rejeita orientação, mas, ao mesmo tempo, demanda provi-
• É essencial que os resultados da avaliação de apren- dências da Secretaria para fazer uma boa gestão;
dizagem e conduta dos alunos sejam continuamente É quando o jogo de encaixe fica com as peças emba-
acompanhados pelos professores, coordenação pe- ralhadas e desconectadas. De fato, é muito comum ouvir
dagógica e gestor escolar. gestores se queixando de que os supervisores vão às esco-
las somente para fiscalizar e dar ordens. Estes, por sua vez,
• A Proposta Pedagógica deve orientar as ações do reclamam que aqueles não sabem administrar e os coorde-
professor. nadores pedagógicos não formam os professores - e por
• A gestão pedagógica deve ter uma ação constante isso alguns assumem essa função diretamente, deixando os
e preventiva. coordenadores à margem do processo. Sentindo-se excluí-

25
GESTÃO DE PESSOAS

dos, esses últimos alegam que os supervisores não têm os re, 1996), havendo variação na interpretação a respeito de
conhecimentos didáticos necessários para orientar a equipe como a influência é exercida, por coerção ou coesão.
docente. Enfim, “picuinhas” que não levam a lugar nenhum Weber (1983), por exemplo, para explicar a condição
e podem ser superadas quando a Secretaria oferece con- de um sujeito levar a efeito sua vontade ou influência sobre
dições para o trabalho em conjunto e cria uma rotina de outros, refere-se ao contexto ou relação social. Conforme o
cooperação e responsabilização pelos resultados do ensino. autor, a relação social é de dominação, seja de submissão
Neste texto, vamos mostrar o papel de cada um dos por meio de violência e força ou por meio de autoridade
elementos do trio gestor e como três redes de ensino de racional.
dimensões e problemas distintos montaram seus organo- Bourdieu e Passeron (1982), por sua vez, discutem o
gramas para garantir um trabalho conjunto eficiente. poder de violência simbólica como a imposição de signifi-
cações como legítimas, dissimulando as relações de força
A função de cada um e o trabalho em conjunto que estão na base de sua força, acrescentando sua própria
força (simbólica) a essas relações. Essa perspectiva permi-
O diretor é o gestor escolar por excelência, aquele que te observar a ação organizacional a partir da influência de
lidera, gerencia e articula o trabalho de professores e funcio- um arbitrário cultural que pode, inclusive, levar a efeito a
nários em função de uma meta: a aprendizagem de todos realização de certo modelo de organização como imposição
os alunos. É ele quem responde legal e judicialmente pela dissimulada.
escola e pedagogicamente por seus resultados - essa última Já para Arendt, em contraposição, poder traz sentido de
atribuição, a mais importante, é às vezes esquecida. coesão, como “[...] força da promessa ou do contrato mútuo
Já o coordenador pedagógico deve ser o especialista nas [...]” (1991, p. 256), o que implicaria acordo, negociação. O
diversas didáticas e o parceiro mais experiente do professor. modelo de ação envolvido nesse conceito de poder é o da
É ele quem responde por esse trabalho junto ao diretor, for- ação comunicativa, envolvendo a formação de uma vontade
mando assim uma relação de parceria - e cumplicidade - comum ou entendimento recíproco (Freitag; Rouanet, 1993).
para transformar a escola num espaço de aprendizagem. O Na mesma linha de pensamento, Habermas (1987) entende
que ocorre em muitos casos é que, sem formação adequada, que todos os integrantes da sociedade devem participar do
ele acaba assumindo funções administrativas - e a formação discurso (que leva ao consenso), embora reconheça que a
permanente fica em segundo plano ou desaparece. realidade é a da comunicação deformada, isto é, que nem
O supervisor, terceira peça do trio gestor, é o funcionário todos os sujeitos podem participar livremente da comunica-
destacado pela Secretaria de Educação, geralmente um edu- ção, distinguindo o falso consenso do verdadeiro e denun-
cador, para dar apoio às escolas e fazer a interface do Execu- ciando, assim, a ideologia que mascara a violência estrutural
tivo com elas. As redes mais bem estruturadas dispõem de das instituições.
uma equipe de supervisores que divide responsabilidades e Nossa abordagem parte do entendimento haberma-
se articula para fazer a orientação dos diretores e apoiá-los siano de poder, concebendo a tensão dinâmica existente
nas questões do dia a dia, formar os coordenadores peda- entre a coerção e a coesão, o que nos auxilia a estudar as
gógicos e os professores e garantir a implementação das organizações escolares e a conhecer as competências ou
políticas públicas, que são as orientações oficiais que dão saberes práticos que permitem controlar as incertezas ine-
unidade à rede. Assim, esses técnicos devem ser os grandes rentes a esta tensão. Nesse sentido, procuramos analisar os
parceiros da equipe escolar: Com a experiência, eles podem processos de distribuição de poder e de participação, bem
garantir as condições para que todas as escolas tenham um como a própria organização do trabalho. Incluímos na aná-
bom desempenho. lise, elementos indicativos da cultura organizacional escolar
referentes à valorização da hierarquia, ao papel atribuído à
Referência: diretora e os sentidos atribuídos à participação dos diversos
Gestão Escolar em Foco. Boa Vista – 2009 segmentos no funcionamento da escola.
Gestão Escolar Abril: Disponível em: Assim, no contexto do formalismo instituído pelo siste-
http://gestaoescolar.abril.com.br/formacao/como-atua- ma educacional, as possibilidades instituintes presentes na
-trio-gestor-diretor-escolar-supervisor-ensino-supervisao- dinâmica escolar podem vir a prevalecer sobre as determi-
-coordenacao-pedagogica-coordenador-532548.shtml nações sistêmicas, desde que participação social não se con-
funda com participação política. A realização da democracia
emancipatória na escola está vinculada a decisões que deve-
6. PODER NAS ORGANIZAÇÕES riam ser tomadas por todos, via ação dialógica e argumen-
tada, decisões estas que deveriam ter passado por amplas
discussões e que, justamente por terem sido determinadas
PODER, CULTURA E ESCOLA DEMOCRÁTICA pelo conjunto, seriam consagradas e aceitas por todos.

O conceito de poder é genericamente compreendido Apple e Bean (1997, p. 30) enfatizam que a democracia
como a capacidade de influenciar ou produzir resultados envolve o consentimento consciente das pessoas e o papel
que afetem o outro ou os outros (Outhwaite; Bottomo- ativo de “[...] elaboradores de significados [...]”, ou seja, rele-
vam a participação em atividades complexas que requerem
não apenas o acesso amplo a um leque de informações, mas

26
GESTÃO DE PESSOAS

a própria construção do conhecimento. Entendemos que forma, certo descompromisso, que pode ser interpretado
um trabalho intelectual rigoroso deva ser valorizado na or- como distância do valor democrático. Por outro lado, sujei-
ganização escolar, abrindo espaço ao diálogo e estimulando tos engajados, atentos aos comportamentos das pessoas,
a livre expressão, possibilitando aos indivíduos entenderem buscam fazer valer seus próprios princípios.
e agirem conscientemente no mundo social em que vivem.
Esse tipo de trabalho, a nosso ver, só poderá ser levado a Ambas as compreensões a respeito de modelos de or-
termo via comunicação crítico-reflexiva ou ação ético-comu- ganização (centralizado/ descentralizado) estão presentes
nicativa. Isso significa, por seu turno, considerar o conjunto na escola e influenciam a dinâmica de participação no con-
das manifestações culturais que se fazem presentes ou per- texto da democracia instituída o que, por vezes, ocorre de
meiam as relações de poder. forma conflituosa. O conflito pode ser resolvido via aprendi-
Neste sentido, partimos do entendimento de que a cul- zagem coletiva e singular relacionada ao potencial comuni-
tura é um conjunto de valores, de crenças, de ideologias, cacional dos sujeitos envolvidos, tal como afirma Habermas
de normas, de regras, de representações, de rituais, de sím- (1991, p. 163):
bolos, de rotinas e de práticas, refletindo suas referências Todo participante em uma prática argumentativa tem
locais, nacionais e globais. A organização escolar é analisa- que supor pragmaticamente que, em princípio, todos que
da, portanto, em sua singularidade e dinâmica própria, visto puderem ver-se afetados poderiam participar como iguais
que a cultura influencia a contextualização e formação de e livres na busca cooperativa da verdade, na qual a única
interações grupais, o que contribui na configuração das suas coerção que pode exercer-se é a coerção sem coações que
relações de poder. exercem os bons argumentos.
A cultura escolar reflete especificidades próprias, com Procuramos compreender como se desenvolve, no con-
manifestações simbólicas, com identidade e valores com- texto escolar em processo de democratização, o modelo or-
partilhados, com um determinado projeto social que sus- ganizacional que se baseia em corresponsabilidades viven-
tenta o modelo organizacional democrático. Assim sendo, ciadas. A tensão dinâmica que lhe é peculiar, é permeada de
as normas estabelecidas pelo sistema educacional são incor- proposições argumentativas críticas que não apenas justifi-
poradas nas escolas seja de forma burocrática, racional, téc- cam e legitimam as instituições democráticas, mas parecem
nica-instrumental, coercitiva, seja de forma analítica, crítica, contribuir efetivamente para a formatação de uma proposi-
valorativa, dialógica, argumentada, em conformidade com ção legítima, que impulsiona a escola para a autonomia. Isto,
as respectivas características culturais. no entanto, nem sempre se explicita sob forma de proposi-
Internamente, na organização escolar, encontramos um ção de regras formais.
complexo universo que pode ser categorizado em diversos A lógica organizacional é permeada pela lógica sistêmi-
níveis da cultura, do mais aparente (fenomênico) ao mais ca que, por sua vez, apresenta-se perpassada por diversos
profundo (subjetivo, dos valores subjacentes) (Torres, 1995), dilemas, a exemplo do dilema da descentralização dos ser-
ou ainda, do nível das estruturas e processos (artefatos), às viços educacionais (que se opõe à necessidade de coorde-
crenças e pensamentos (pressupostos básicos) (Chambel; nação de esforços por parte do governo e padronização de
Curral, 1995). ações), o dilema da gestão participativa das organizações
A cultura organizacional dificilmente representa um educacionais (conflitante perante os limites à participação
universo homogêneo e, portanto, uma cultura dominante de parcela dos sujeitos), o dilema da racionalização dos pro-
e diversas subculturas convivem numa mesma organização dutos educativos (contrária à dinâmica inerente à ação edu-
escolar, que compartilha alguns pressupostos e, ao mesmo cativa), que são conflitos com os quais a escola se defronta.
tempo, introduz outros pressupostos específicos. Neste sen- Portanto, apesar da articulação do sistema escolar e do
tido, o que podemos observar como conjunto de artefatos mundo da vida com princípios como a competitividade ou
ou de valores manifestos numa organização, nem sempre a participação, bem como do apego ao modelo hierárquico,
corresponde a pressupostos fundamentais compartilhados encontramos um processo legítimo baseado na ação dia-
pelo grupo social como um todo. lógica argumentativa. Esse processo acontece via trabalho
Ao relacionarmos a cultura ao debate sobre a democra- coletivo educativo e conscientizador, desenvolvendo um
tização do sistema educacional e às relações de poder ine- formato alternativo de organização, através de mudanças
rentes, traçamos uma análise multifacetada da organização culturais e sociais.
escolar (Estêvão, 1998), desde que observada em sua plurali- Essas mudanças são determinadas e são determinantes
dade e singularidade cultural. Nessa perspectiva, a distribui- das relações de poder na organização escolar que se consti-
ção de poder é representada via diversos centros de poder. tuem, como diria Arendt (1991, p. 212) em “[...] um potencial
Esse delineamento não é percebido da mesma maneira de poder, não uma entidade imutável, mensurável e confiá-
por todos que fazem a organização e, por isso mesmo, leva vel como a força”. Por isso mesmo, existe “[...] entre homens
à coexistência de manifestações contraditórias relativamen- quando eles agem juntos e desaparece no instante em que
te a aspectos organizacionais básicos como, por exemplo, eles se dispersam [...]” (Arendt (1991, p. 212), o que significa
a falta de cuidado com os materiais utilizados, associada a que as relações de poder se constituem em cada contexto,
uma permanente insatisfação com as condições infraestru- em cada cultura, sendo elas que podem configurar, ou não,
turas e de recursos de trabalho. a escola democrática.
Na prática, alguns sujeitos demonstram que a respon- No Brasil, como sabemos, a democracia foi instituída
sabilidade administrativa é do gestor, justificando, dessa formalmente no sistema educacional a partir da implemen-

27
GESTÃO DE PESSOAS

tação dos órgãos de gestão nas escolas, da elaboração de Arroyo, traz à luz um conjunto de reflexões, no mínimo ne-
projetos pedagógicos internos, da reformulação dos pa- cessárias, acerca das imagens e autoimagens cultivadas por
drões de financiamento e da instalação de programas de e sobre aqueles que exercem o chamado ofício de mestre
acompanhamento e avaliação dos sistemas locais e das uni- nos tempos atuais: os professores.
dades escolares. Ao longo dos vinte capítulos que compõem o livro, o
professor Miguel Arroyo, através de uma linguagem sim-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 ples e objetiva, tece reflexões e comentários acerca das es-
definiu as normas da gestão democrática do ensino público pecificidades do magistério, do ofício de mestre, termo de
conforme os princípios da “participação dos profissionais da sua grande predileção utilizado frequentemente ao longo
educação na elaboração do projeto pedagógico da escola” do livro para denominar, de um modo talvez mais lúdico, a
e da “participação das comunidades escolar e local em con- função, a ocupação exercida pelos professores, independen-
selhos escolares ou equivalentes”, bem como “progressivos temente das semelhanças e diferenças existentes entre os
graus de autonomia pedagógica e administrativa e de ges- conteúdos por eles ministrados. Tudo isso, é claro, baseado
tão financeira”, assegurando, portanto, a participação dos em sua vasta experiência como profissional da educação nas
diversos segmentos na organização escolar (Brasil,1996). áreas teórica (como pesquisador) e prática (como professor)
A reorientação de responsabilidades definida pelas do ofício.
políticas educacionais pressionou as escolas a institucio- No livro Ofício de Mestre o autor busca oferecer a seu
nalizarem a democratização via autogestão a partir de um leitor reflexões sobre as várias dificuldades e desafios encon-
esforço de análise das questões pedagógica, administrativa trados pela categoria no dia a dia. Os professores, segundo
e financeira em sua realidade particular. Entretanto, a nova observa Arroyo (2000, p.64), apesar dos obstáculos, devem
dinâmica instituída nas escolas a partir do conjunto de re- exercer, junto ao aluno, um papel muito maior do que ape-
gras estabelecidas que conduziria a sociedade brasileira e nas o de meros transmissores de conteúdos:
a comunidade escolar a atingir o padrão dito de qualidade, A categoria tem colocado todos os seus esforços em
terminou reduzindo a organização escolar a padrões com- melhorar as condições materiais e de trabalho nas escolas
portamentais. (...) para que cheguem a ser espaços mais humanos. O gra-
Nessa perspectiva, podemos observar focos sutis de ve das condições materiais e de trabalho das escolas não é
contestação às determinações normativas. Essas resistências apenas que é difícil ensinar sem condições, sem materiais,
têm caráter de manutenção de suas próprias normas de di- sem salários, o grave é que nessas condições nos desumani-
reção do processo de trabalho e são, na maioria das vezes, zamos todos. Não apenas torna-se difícil ensinar e aprender
informais e, por isso mesmo, podem agir de formas contra- os conteúdos, torna-se impossível ensinar-aprender a ser
ditórias, configurando-se como reprodutoras de um sistema gente.
social, visto que não o modificam em sua estrutura. Ao mes-
mo tempo, as resistências são calcadas em formas culturais A importância da autonomia, exercida através de trans-
próprias dos grupos que compõem a escola, podendo gerar gressões políticas e pedagógicas cultivadas pelos docentes
uma competência normativa em seu interior. em busca de inovações para uma real melhoria das condi-
A organização escolar, apesar de seguir as regras do sis- ções do exercício satisfatório do seu ofício, é salientada nes-
tema educacional, não se configura de forma homogênea, se trabalho de Miguel Arroyo (2000, p.144): “A transgressão
havendo variação conforme suas singularidades, conforme a inovadora é a expressão de que os professores e as profes-
subjetividade dos agentes, conforme a cultura de cada uni- soras não foram capturados (as) por uma visão legalista de
dade. seu ofício e de sua prática. ”
Relevante também é a questão da relação, por vezes
Fonte tensa, entre os docentes e os PCNs - Parâmetros Curricula-
Alice Happ BOTLER, A. H. Cultura e Relações de Poder na res Nacionais, levantada pelo autor na página 95: “Para pro-
Escola. Revista Educação e Realidade, 2010. curarmos o rosto dos mestres nos PCNs temos de assumir
que eles não mexem apenas com os conteúdos da docência,
mas com os docentes, seu saber-fazer, seu ofício, sua au-
BIBLIOGRAFIA: toimagem. ”
Miguel Arroyo não se baseia apenas em suas próprias
ARROYO, MIGUEL G. OFÍCIO DE MESTRE: experiências e vivências pessoais como educador para bus-
IMAGENS E AUTOIMAGENS. PETRÓPOLIS: car elementos que ajudem a esclarecer, a delimitar essa pro-
VOZES, 2001. posta de reconstrução da imagem do mestre e de seu ofício
no livro supracitado. O diálogo proposto pelo autor acerca
das teorias de Paulo Freire e Jean F. Lyotard, dentre outros,
serviu de substrato teórico para trazer à luz mais algumas
OFÍCIO DE MESTRE: IMAGENS E AUTOIMAGENS
importantes reflexões sobre o ser e o fazer docentes, em que
“educar o educador será um permanente regresso à estação
O livro Ofício de Mestre: imagens e autoimagens, de au-
da infância como a expressão do humano possível, mas tam-
toria do professor titular emérito da Faculdade de Educação
bém voltando a Paulo como a negação dessa possibilidade.
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Miguel G.
” (2000, p.49).

28
GESTÃO DE PESSOAS

Compreender melhor as imagens e autoimagens rela- analisar os conflitos, assim como seus tipos e abordagens, a
cionadas à docência parece, segundo o autor, ser de funda- fim de identificar seus efeitos nas organizações.
mental importância no sentido de possibilitar uma reflexão A busca do objetivo deste trabalho realizar-se-á através
mais acurada sobre as condições de formação e trabalho de pesquisa bibliográfica, a qual será desenvolvida a partir
desse profissional. Ao sugerir que “a infância pode ser a de materiais já elaborados, principalmente livros e artigos
grande educadora dos seus mestres e pedagogos” (p.251), bibliográficos que tratem do assunto abordado.
Arroyo sinaliza que, para haver uma compreensão mais clara
sobre as imagens e autoimagens referentes à condição do- 2 CONCEITOS DE CONFLITO
cente, é necessário também que os professores, nessa busca
e afirmação de identidade, se voltem não apenas para as Burbridge e Burbridge (2012) defendem que conflitos
experiências adquiridas em suas próprias infâncias e ado- são naturais e em muitos casos necessários. São o motor
lescências, mas que acompanhem e compartilhem genuina- que impulsiona as mudanças. No entanto muitos conflitos
mente as vivências e experiências de seus alunos, tão im- são desnecessários e destroem valores, causando prejuízo
portantes quanto as do professor no velho binômio ensino para as empresas e pessoas que nela trabalham. O principal
e aprendizagem. Segundo o autor, “infância e adolescência desafio dos gestores é identificar os conflitos produtivos e
são mais do que as novas gerações que conduzimos. Nos contra produtivos e gerenciá-los.
conduzem. ” (2000, p.251). Já para Chiavenato (2004), conflito ocorre pela diferença
Pela abordagem autocrítica e humanista do sempre de- de objetivos e interesses pessoais, e é parte inevitável da
licado tema “Educação” , o livro Ofício de Mestre: imagens natureza humana; constitui o lado oposto da cooperação e
e autoimagens oferece aos professores e estudiosos da da colaboração, a palavra conflito está ligada a desacordo,
área da educação não apenas reflexões pertinentes a mes- discórdia, etc. Para que haja conflito, além da diferença dos
ma, mas também questionamentos preciosos relacionados fatores citados, deve haver uma interferência deliberada de
à constituição da imagem, da identidade dos que já foram uma das partes envolvidas, ou seja, quando uma das partes,
educados e agora, professores, cumprem a missão de tornar seja indivíduo ou grupo, tenta alcançar seus próprios objeti-
seus alunos capazes de relacionar de maneira eficiente o co- vos interligados com alguma outra parte, a qual interfere na
nhecimento adquirido na escola à realidade, por vezes dura, sua busca de atingir os objetivos.
de suas vidas. Desta forma, conforme Chiavenato (2004, p. 416), “o
conflito é muito mais do que um simples acordo ou diver-
Resenha gência: constitui uma interferência ativa ou passiva, mas de-
BARROS, G. de; MORAIS, L. D. de; FILIPPIS, P. C. de. liberada para impor um bloqueio sobre a tentativa de outra
parte de alcançar os seus objetivos”.
Referência O conflito pode ocorrer no contexto de relacionamentos
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e au- entre duas ou mais partes, podendo ser entre pessoas, gru-
toimagens. Petrópolis: Vozes, 2001. pos ou organizações, assim como pode ocorrer entre mais
de duas partes ao mesmo tempo. Nota-se que maior parte
dos autores concordam sobre a inevitabilidade do conflito,
BURBRIDGE, ANNA E MARC. GESTÃO pois é da natureza humana, e como as pessoas integram
DE CONFLITOS: DESAFIO DO MUNDO as organizações, estas terão de aprender a lidar com essa
CORPORATIVO. SÃO PAULO: SARAIVA, 2012. realidade.

3 TIPOS DE CONFLITOS
INTRODUÇÃO
Para melhor conhecermos os conflitos é importante que
Os conflitos são presentes em todos os ambientes, or- saibamos suas formas e tipos de ocorrência, de maneira que
ganizacionais ou não, pois sempre que houver a convivência ao se deparar com uma situação de atrito possamos identifi-
entre um grupo de pessoas, inevitavelmente haverá diver- cá-la, para assim buscar a melhor forma de resolução.
gências de ideias, objetivos, entre outros fatores. Os gesto- Para Burbridge e Burbridge (2012), existem dois tipos de
res geralmente veem os conflitos como sinônimo de proble- conflitos, o interno e externo. Conflito interno é o que pode
ma, mas, é possível que as divergências tragam benefícios às ocorrer entre departamentos ou unidades de negócios, mas
atividades empresarias? sempre tem como raiz o conflito entre pessoas. Esse tipo é
Diante disso se torna instigante estudar e conhecer me- de certa forma o mais complexo, pois as partes conflitantes
lhor o assunto, que é ainda pouco abordado em trabalhos estão supostamente do mesmo lado da mesa e a maior par-
científicos e nas organizações, embora seja de suma impor- te dos custos é oculta. O conflito externo em geral é mais
tância para uma boa gestão de pessoas. facilmente identificado, e tem o custo mais fácil de ser medi-
O presente artigo aborda a gestão de conflitos nas orga- do. Nesse caso o conflito pode ocorrer com outra empresa,
nizações, sob a ótica de que situações conflituosas, se bem com o governo, outra organização ou até com um indivíduo.
administradas, podem apresentar oportunidades de cres- Em todos os casos onde há conflito há pessoas, onde há
cimento e mudanças. Diante disso objetiva-se conceituar e pessoas há emoções.

29
GESTÃO DE PESSOAS

4 FATORES CAUSADORES DE CONFLITOS NAS OR- 5 ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS


GANIZAÇÕES
Uma vez que conhecidos e identificados os conflitos
Conforme a evolução do tema, verificamos que o confli- precisam ser administrados ou geridos, para que se resol-
to é inevitável e constante nas organizações, porém existem vam da forma mais eficiente e eficaz.
ambientes e situações que potencializam a ocorrência do Quando se estiver administrando um conflito, de acordo
mesmo, sendo que uma boa forma de entender e trabalhar com Neto (2005), é de suma importância que antes de tomar
um assunto é estudando suas causas. Por isso abordaremos qualquer decisão se investiguem os fatos ocorridos, assim
a seguir alguns fatores causadores de conflitos nas organi- como as pessoas envolvidas, suas condutas, desempenho,
zações. entre outros. Tudo para que injustiças não sejam cometidas
As principais causas de conflito organizacional, são: Mu- e o conflito tenha um final satisfatório para todos.
danças: as mudanças ocorrem principalmente por pressão Nem todo conflito é igual e nem todo conflito deve ser
do mercado, forçando a organização a adaptar-se às novas abordado da mesma forma, conforme Burbridge e Burbridge
realidades. Essas alterações são geralmente de caráter tec- (2012), por esta razão o gestor precisa saber como e quando
nológico, estrutural ou comportamental, buscando com isso usar cada ferramenta a sua disposição, como: negociação,
melhorar a eficácia na busca por resultados, aumentar ou poder, litígio, arbitragem, ouvidoria, conciliação, e diversas
manter lucros, enxugar custos, atualizar a organizações em ouras ferramentas disponíveis. Portanto o desafio está em
todos os aspectos, crescer ou manter-se no mercado. Mu- saber o que aplicar em cada ocasião, procurando escolher e
danças organizacionais podem trazer demissões, reestrutu- aplicar as técnicas de forma inteligente.
rações e espalhar medo e resistência, por isso representam Embora os estudos sobre conflitos convirjam para ideia
uma fértil fonte de conflitos. Recursos limitados: a escassez de que estes são diferentes e devem ser analisados caso a
de recursos, devido a enxugamentos promovidos pelas or- caso, é importante que seja do conhecimento do gestor as
ganizações para tornarem-se competitivas, são motivo de diferentes formas de abordagem dos desentendimentos,
muitos atritos, pois podem limitar o desempenho de cola- para que ao identificar sua tipicidade, possa aplicar a fer-
boradores e departamentos. As limitações vão desde dinhei- ramenta mais adequada para conclusão da situação confli-
ro até às pessoas, o que gera muitas vezes grandes jornadas tante.
de trabalho objetivando o alcance de metas em detrimento
à interação entre gestores e subordinados, podendo oca- 6 EFEITOS DOS CONFLITOS
sionar cansaço, estresse e descontentamento geral. Choque
entre metas e objetivos: impasses entre departamentos ou De acordo com Burbridge e Burbridge (2012), os confli-
diretorias são comuns atualmente nas organizações, em tos auxiliam no processo de mudanças necessárias e cresci-
função principalmente das metas e objetivos que se chocam, mento das organizações, mas em contrapartida, geram cus-
por falta de comunicação e sintonia entre as áreas. A cau- tos que passam despercebidos, mas que influenciam no fun-
sa desse fator é geralmente o planejamento deficiente, que cionamento da empresa, como a alta taxa de rotatividade,
compartimentado, prioriza muitas vezes ações emergenciais absenteísmo, motivação reduzida, baixa produtividade, etc.
e isoladas de setores distintos, sem dedicar-se a integração “O que vai determinar se o conflito é construtivo ou ne-
de objetivos e metas da organização como um todo. gativo será a motivação das pessoas envolvidas, sendo que,
De acordo com Burbridge e Burbridge (2012), a natureza em qualquer organização, é de responsabilidade do gestor
de um conflito pode ser vista em três categorias: origem do ou gerente facilitar a gestão desse conflito.”.
comportamento humano é a parte mais complexa e integral Evidencia-se que os conflitos interferem sim no funcio-
de todo o tipo de conflito, pois cada um tem seu universo namento das organizações, resta então identificar se essa
particular composto de uma matriz de sentimentos, reações interferência é favorável ou não às atividades, estimulando
e pensamentos; origem estrutural se refere a normas, polí- as situações onde as discordâncias geram novas ideias e
ticas e procedimentos, e particularmente fluxos de informa- soluções diferenciadas, e mitigando aquelas onde as con-
ções da própria empresa, podem ser em parte responsáveis sequências serão restritas aos custos e perdas, tanto na pro-
por boa parte dos conflitos desnecessários; origem externa dutividade quanto na qualidade de relacionamento entre as
onde muitos conflitos que vem do mundo externo são ne- pessoas.
cessários e fazem parte do negócio, como tensões de mer-
cado, e aspectos de entidades públicas e governo. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como verificamos são diversas as razões de um conflito,
mas é imprescindível que o gestor faça um diagnóstico do Nesse artigo foi possível conhecer e explorar o conflito
acontecimento para entender sua causa e a partir de aí re- desde seu conceito até os efeitos gerados por ele nas orga-
solver da forma mais adequada. Nem sempre o fato gerador nizações, tendo em vista aprimorar práticas e desmistificar o
do conflito poderá ser extinto, mas cabe ao administrador assunto como sendo um problema para o gestor e as em-
fazer o possível para que os impactos negativos sejam mi- presas.
nimizados. A administração de conflitos exige muita habilidade por
parte de quem for tratá-lo, porém nem sempre é ruim, se
bem analisado e com o uso das ferramentas corretas ele

30
GESTÃO DE PESSOAS

pode transformar-se em um aliado do crescimento e da mu- realmente importa. Se princípios como esse não são levados
dança. em conta, as inovações introduzidas na escola, tanto por mi-
As pessoas têm personalidades e opiniões diferentes, nistérios ou secretarias de educação quanto pelas próprias
por isso é comum ter situações divergentes na convivência, equipes gestoras, não vão funcionar, não vão conseguir me-
tanto em ambientes familiares quanto empresariais. Mas se lhorar o processo ensino-aprendizagem.
a razão do conflito for boa e construtiva, um simples choque
de opiniões pode trazer uma mudança importante e neces- A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA
sária.
Através do conteúdo apresentado foi possível ter aces- Quando falamos em Gestão, estamos falando em visão
so às diferentes modalidades de resolução de conflitos, e com amplitude. O diretor deixa de ser apenas um adminis-
identificado que as situações conflitantes podem ser encara- trador, onde a última palavra é a dele e passa a ser um ges-
das de diversas formas, desde a mais pacífica, até o embate tor, onde todos participam. O diretor-gestor escuta; troca.
entre as partes, porém sempre de forma respeitosa e digna, A visão de gestão é uma visão humana. O gestor sabe
não deixando as emoções de lado, mas controlando-as para valorizar professores, alunos, membros da escola e a comu-
que não gerem indisposições desnecessárias e sem sentido. nidade. Cada vez que um profissional é valorizado, o traba-
O maior desafio então é saber escolher a melhor es- lho rende, pois ao sermos estimulados positivamente reagi-
tratégia de resolução para cada caso, levando em conside- mos de forma diferente, melhor.
ração tudo que for importante, escutando os envolvidos e Ao pensarmos em democracia, estamos pensando no
buscando aumentar os efeitos construtivos e minimizar os povo. Isso quer dizer que uma escola democrática, pertence
destrutivos, promovendo o bem-estar entre as pessoas e o a todos. As decisões são tomadas em conjunto.
desenvolvimento da organização. O que sempre fará a di- Podemos associar Gestão democrática à liderança parti-
ferença serão as pessoas, suas intenções e habilidades, por cipativa. Um gestor precisa ter habilidades humanas em alto
isso são tão importantes nas organizações, e estudar formas grau de refinamento: questões relacionadas à liderança e
de auxiliar na sua convivência e bem-estar se faz necessário poder, além de planejar. Quando um gestor se porta como
e imprescindível para todo gestor a as organizações que de- um líder ele humaniza as relações e cresce a importância do
sejam sucesso. trabalho em equipe. Ele passa a ser um mestre da mudança.
Como nos explica Madza Ednir, em “Mestres da Mudança:
Fonte Liderar escolas com a cabeça e o coração”, ao escrever que
BURBRIDGE, Anna e Marc. Gestão de conflitos: desafio gestores seriam denominados “mestres” no sentido de ter
do mundo corporativo. São Paulo: Saraiva, 2012 domínio sobre as leis que regem as transformações em edu-
cação. Porém esse título só é dado aos gestores, quando,
os mesmos, se dão conta que as mudanças necessárias não
EDNIR, MADZA E OUTROS. UM GUIA podem ser impostas; é necessário respeitar o tempo de cada
PARA GESTORES ESCOLARES: MESTRES um, pois ninguém muda a forma de pensar por decreto. E,
DA MUDANÇA – LIDERAR ESCOLAS COM sem mudanças no pensar, o agir permanece inalterado.
A CABEÇA E O CORAÇÃO. PORTO ALEGRE: O processo educativo também precisa ser democráti-
ARTMED, 2006. co. É a passagem da desigualdade à igualdade. Todos têm
direito a aprender. No momento em que um professor, por
exemplo, conhece seus alunos, ele percebe que cada um
tem seu próprio saber, suas facilidades e dificuldades. É nes-
MESTRES DA MUDANÇA
se momento, no ponto de partida, que a desigualdade se
apresenta e será convertida em igualdade pela mediação
Os bons gestores compreendem que mudanças na prá-
da educação, desencadeando assim, a ação pedagógica. E
tica docente não podem ser impostas, porque nem o pro-
dessa forma se constrói a democracia em sala de aula. Para
fessor, nem ninguém, muda a forma de pensar por decreto
que no ponto de chegada todos estejam em condições de
- e, sem mudanças no pensar, o agir permanece inalterado.
igualdade.
Somente quando os gestores se dão conta dessa realidade
É importante ressaltar que a questão aqui abordada
é que eles começam a se transformar em mestres da mu-
não é para discutir as relações autoritárias ou democráticas
dança. Mestre no sentido de ter maestria, isto é, domínio
na sala de aula, mas para associar o trabalho pedagógico
sobre as leis que regem as transformações em educação.
realizado com o processo de democratização da socieda-
Chamamos de leis porque, embora os processos de mudan-
de, como nos mostra o autor Dermeval Saviani : “A prática
ças educacionais sejam complexos, não-lineares, diferentes
pedagógica contribui de modo específico, isto é, propria-
entre si, é possível detectar neles alguns aspectos previsíveis,
mente pedagógico, para a democratização da sociedade na
o que possibilita que sejam administrados.
medida em que se compreende como se coloca a questão
Esses aspectos foram uma descoberta de pesquisadores
da democracia relativamente à natureza própria do trabalho
que estudaram as reformas educativas implementadas no
pedagógico”.
mundo inteiro a partir da década de 1980. Entre eles, des-
O gestor, que defende a democracia, se preocupa com
taca-se o canadense Michael Fullan, que formulou o prin-
o clima institucional, dando condições de trabalho e zela
cípio básico de é impossível obrigar-se a fazer aquilo que
pelo ambiente formativo para o desenvolvimento pessoal e

31
GESTÃO DE PESSOAS

profissional dos indivíduos que integram a escola. Deve-se quando o diretor, aos poucos, começa a provar a sua equipe
levar em conta o lado afetivo; todos estão sujeitos ao erro. que não se trata mais de um chefe, que desconsidera o que
É necessário um bom relacionamento entre os membros da seus companheiros de trabalho pensam, e passa a ser um
escola. gestor-líder, onde o objetivo principal é o trabalho coleti-
A gestão democrática na escola não visa apenas à me- vo, com base em uma gestão participativa, a escola passa a
lhoria do gerenciamento da escola, mas também à melhoria ser vista de outra forma; todos se tornam mais felizes. Saber
de qualidade de ensino; a superar o sistema autoritário que liderar não se consegue do dia para noite, é um trabalho
a escola vem assumindo ao longo dos anos. É necessário constante, como apresenta Madza Ednir: “Liderar é um arte-
lutar pela participação e autonomia das escolas. sanato que se aprende fazendo --- não é um emprego, nem
A democracia na escola busca o direito a decisões no um cargo. É preciso trabalhar sem cessar a fim de desenvol-
campo educacional, atendendo aos desejos da comunidade, ver conhecimentos, habilidades e qualidades pessoais para
através de um envolvimento coletivo, por meio da discussão você se tornar competente nisso”. (EDNIR, 2006, p.31).
e do diálogo. A escola acaba por ser um espaço onde dis-
cutam, reflitam, interfiram, exercendo-se, assim, a cidadania, ENVOLVER E COMPROMETER PELA PARTICIPAÇÃO
onde todos aprendem a lutar pelo bem da comunidade es- EFETIVA
colar.
Para atingir plenamente um perfil democrático, o gestor Buscar a participação efetiva, e não manipulada, de to-
deve possuir, além de características que um líder apresen- dos os segmentos da unidade escolar é garantia de esforço
ta, grandes conhecimentos na área da pedagogia, além de conjunto. Isso supõe capacidade de flexibilidade para acei-
competências técnicas e políticas, favorecendo um processo tar e saber lidar com ideias diferentes. É do conhecimento
democrático no cotidiano da escola. Desse jeito ele fica cien- de todos que, quando as pessoas são chamadas a partici-
te de todos os direitos que sua instituição possui. par, a construir junto, o nível de comprometimento se eleva
Uma gestão democrática torna a escola de boa quali- potencialmente. As pessoas se apaixonam pelas causas em
dade; constrói e produz conhecimentos vivos, dinâmicos e comum e se doam, dão o melhor de si em favor de um pro-
atuais, sem deixar de considerar a realidade de seus educan- pósito, de um projeto comum.
dos; enriquece o trabalho dos professores; valoriza as ativi- Ao gestor, cabe essa mobilização de energias coletivas.
dades realizadas por toda equipe escolar. É ele, em primeiro lugar, que precisa estar convicto do valor
Uma escola democrática e participativa, apesar de seus da participação e necessita estar imbuído do espírito de “
desafios e limitações, é um lugar social de se viver e construir dar voz e vez”, de criar fóruns e espaços de participação e
a verdadeira democracia. engajamento, ouvir anseios e necessidades, ideias propos-
A escola precisa cumprir sua função social. A democra- tas, críticas e sugestões. Ednir (2006, p.17) aponta, como
tização da escola dar-se-á não somente pela garantia do condição fundamental para um gestor ter êxito nos proces-
acesso à escola, mas também da permanência e do sucesso sos que gerencia, “ (...) a sua habilidade de, antes mesmo de
do educando. discutir ideias no nível racional, levar em conta as emoções,
Para se conseguir a tão sonhada democracia nas es- os sentimentos e as preocupações dos profissionais e de ou-
colas, é de suma importância o apoio da família. A própria tras pessoas envolvidas”.
Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educa- As minúcias do cotidiano escolar precisam ser gestadas
ção Nacional (LDB) determinam a participação dos pais para no coletivo, com o envolvimento de todos os segmentos,
a efetivação do processo da gestão democrática nas escolas. desde a construção do calendário escolar, a organização
e o planejamento dos eventos, a forma de superar baixos
O PAPEL DO GESTOR NA INTEGRAÇÃO ESCOLA/ desempenhos escolares, até atitudes disciplinares que im-
FAMÍLIA pedem a realização de aulas produtivas pelos professores.
Não se pode temer a participação. Todos sabemos que, para
Trazer as famílias para a escola e fazer com que se sin- unir é preciso, antes, reunir; reunir os diferentes segmentos
tam seres importantes para a educação e conscientes de para viabilizar a participação e o comprometimento de to-
seus direitos e deveres ainda é um sonho para muitos ges- dos para o alcance das metas. Quando as pessoas se sentem
tores. Porém vale ressaltar que um verdadeiro líder constrói chamadas a participar e se envolver, tem-se respostas sur-
um sonho e faz com que sua equipe acredite nele. Precisa- preendentes. É a teoria das múltiplas inteligências em ação
mos sonhar para que consigamos ter a escola que quere- ou, parafraseando um antigo dito popular, várias cabeças
mos como coloca Madza Ednir: “Escolas que não tem um pensando juntas, resultam em ideias criativas que trazem
sonho, um ideal de excelência a atingir, acabam estagnadas soluções inusitadas para muitas situações que envolvem as
ou, definitivamente, afundam. E a equipe gestora tem um circunstâncias do cotidiano escolar. Instituições bem-sucedi-
papel essencial na definição do sonho coletivo da escola”. das são as que fazem uso dessa estratégia de explorar ideias
(EDNIR, 2006, p.50). criativas, de valorizar a poderosa força da participação cole-
tiva e da comunicação bem direcionada. As possibilidades
LÍDER DA TRANSFORMAÇÃO de acerto são infinitamente maiores quando todos pensam
o todo.
Implantar um novo modelo de trabalho na escola não
é fácil. Toda mudança de imediato assusta, incomoda. Mas

32
GESTÃO DE PESSOAS

AUTONOMIA, PARTICIPAÇÃO, LIDERANÇA E APREN- Fonte


DIZAGEM: COMO PRINCÍPIOS DA GESTÃO ESCOLAR: Tainara Pinheiro de Castro. O PAPEL DA COMUNIDADE
NO TRABALHO ESCOLAR: UMA PARTE DA GESTÃO DEMO-
Ednir (2006) observa que o posicionamento do gestor CRÁTICA. 2010
escolar que não se interessa ou não consegue atuar como
líder educacional, “acaba com uma escola sem rumo, com Referência
baixa aprendizagem, onde comportamentos indesejados EDNIR, Madza e outros. Um guia para gestores escola-
começam a se tornar rotina” (p. 08). Mas, para ser realizada res: mestres da mudança – liderar escolas com a cabeça e o
uma gestão escolar focada na garantia do sucesso dos alu- coração. Porto Alegre: Artmed, 2006.
nos, é preciso que esse propósito esteja incluso no Projeto
Político Pedagógico da escola, documento imprescindível
na sua condução, com vistas ao atendimento qualitativo FERREIRA, NAURA S. CARAPETO (ORG.).
da aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, retomamos o GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO:
pensamento de Dalbério (2009), o qual afirma que o gestor ATUAIS TENDÊNCIAS, NOVOS DESAFIOS.
escolar SÃO PAULO: CORTEZ, 2008.
Não deve ser autoritário, pois ao gestor cabe o perfil de
ser democrático e, portanto, ter condições de favorecer o
processo democrático no cotidiano da escola. Para ter todas
GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO
essas características, o gestor deve possuir grande arcabou-
ATUAIS TENDÊNCIAS, NOVOS DESAFIOS
ço teórico na área de pedagogia, bem como as habilidades
técnicas e políticas, que representam recursos fundamentais
O livro “Gestão Democrática da Educação: atuais ten-
para se garantir uma gestão dentro de uma perspectiva de-
dências, novos desafios”, sob a organização de Naura Syria
mocrática, na qual todos participam (p. 76).
Carapeto Ferreira, atinge com destaque a sua sexta edição,
Desse modo, para que a aprendizagem com qualidade
constituindo-se em um importante referencial de leitura no
seja realmente efetivada é indispensável que um trabalho
campo da política e gestão da educação. É resultante da
efetivo e ativo, por parte dos professores, seja consolida-
contribuição de seis renomados autores, que abordam com
do, considerando o gestor escolar como incentivador dessa
propriedade questões candentes da educação na contem-
ação, juntamente com a sua equipe gestora, assim a escola
poraneidade, especificamente, os desafios e as atuais ten-
toma o seu lugar como espaço e ambiente educativos, am-
dências do processo de democratização da gestão escolar e
pliando a aprendizagem, e reafirmando-a como um lugar
das políticas de formação.
do conhecimento, considerando a escola como detentora
O primeiro capítulo versa sobre a autonomia e a flexi-
de uma função social de grande relevância: formalização dos
bilização da gestão escolar em Portugal. João Barroso con-
processos educativos.
templa-nos com o estudo que apresenta a fundamentação
de propostas para a implementação de um programa de re-
DESAFIOS
forço da autonomia escolar. Neste texto discute o conceito
de “territorialização das políticas educativas” situando-o no
Com tantas mudanças é comum que alguns diretores
contexto da crise de governabilidade do sistema de ensino,
tomem uma postura de “chefe” e desconsiderem o que sua
ocorrida em muitos países europeus, e enquadrada como
equipe acha. Para evitar que problemas como esse ocorram
a teoria do governo sobrecarregado. A territorialização é
é necessário que as inovações sejam vistas como recursos a
concebida como “um fenômeno essencialmente político e
mais, como possibilidades para que a educação avance. A
que implica um conjunto de opções que têm por pano de
partir daí novas medidas podem ser tomadas como o uso de
fundo um conflito de legitimidade entre o Estado e a socie-
tecnologias que enriqueçam o processo de aprendizagem
dade, entre o público e o privado, entre o interesse comum
dos alunos. Para que o gestor consiga vencer esse desafio,
e os interesses individuais, entre o central e o local” (p. 14).
de rever seus métodos e passar a aceitar o novo, ele precisa
Nessa perspectiva, é também entendida como processo de
passar segurança para sua equipe e escutar o que pensam,
apropriação, por uma determinada comunidade, de diversos
lembrando sempre que o processo de educar é coletivo, ga-
espaços sociais objetivando: contextualizar e localizar políti-
rantindo, assim, o sucesso na escola, como descreve Madza
cas e ação educativas em contraposição à homogeneidade
Ednir: “Entre as condições fundamentais para que o gestor
das normas e dos processos; conciliar interesses públicos e
tenha êxito na condução de um processo de mudança, está
privados; redefinir no processo de elaboração e execução
sua habilidade de, antes mesmo de discutir ideias no nível
das políticas a participação do atores na perspectiva da lógi-
racional, levar em conta as emoções, os sentimentos e as
ca de implicação; transpor a relação de autoridade baseada
preocupações dos profissionais e de outras pessoas envol-
no “controlo vertical”, exercido de maneira monopolista e
vidas. Assim, será possível liderar a escola com segurança,
hierárquica pelo Estado, para uma relação contratual, nego-
rumo a mais e melhores aprendizagens para todos” (EDNIR,
ciada e fundamentada no processo de “... desmultiplicação
2006, p.17). Em resumo, saber liderar com a cabeça e com
e ‘horizontalização’ dos controlos (centrais e locais)”. (p. 16).
o coração.
Com base nesses pressupostos Barroso elabora um progra-

33
GESTÃO DE PESSOAS

ma de reforço da autonomia das escolas portuguesas, en- Processo de aprendizado e de luta política que não se
tendendo a autonomia como um conceito relacional. circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra,
nas especificidades dessa prática social e de sua relativa au-
O segundo capítulo aborda as mudanças no mundo do tonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva par-
trabalho e os novos desafios para a gestão da educação. ticipação e de aprendizado do “jogo” democrático e, conse-
Acácia Zeneida Kuenzer contempla-nos com um estudo so- quentemente, do repensar das estruturas de poder autori-
bre os impactos da globalização da economia e das novas tário que permeiam as relações sociais e, no seio dessas, as
estratégias da gestão sobre a educação, especificamente, práticas educativas.
versa sobre os impactos nas políticas educacionais e curri- Nas suas considerações argumenta que o tipo e a defi-
culares. Com base nas pesquisas desenvolvidas na região nição das modalidades de acesso ao cargo de dirigente es-
metropolitana de Curitiba/PR e em alguns parques produ- colar devem resultar das definições e orientações contidas
tivos direcionados ao ramo eletromecânico busca identificar no projeto político-pedagógico, bem como nos embates
as correlações/mediações entre as mudanças ocorridas no travados no âmbito das relações sociais e políticas. Explicita
mundo do trabalho e as novas demandas para a educação e ainda que a forma de provimento ao cargo de dirigente es-
para gestão das instituições escolares. Argumenta ser possí- colar pode não definir o tipo de gestão, mas necessariamen-
vel estabelecer os primeiros delineamentos de uma pedago- te interfere no seu curso.
gia do trabalho que se desenvolve no cerne das novas rela-
ções econômico-produtivas e socais visando à compreensão O quinto capítulo contempla com uma vigorosa análise
desta nova pedagogia escolar determinada pelas mudanças sobre a gestão escolar e os desafios das políticas de forma-
no mundo do trabalho. Nessa perspectiva Kuenzer (p. 56) ção dos profissionais da educação na contemporaneidade.
incita-nos à reflexão e à construção de uma “escola com- Naura Syria Carapeto Ferreira, autora desse capítulo e or-
prometida com os trabalhadores e os excluídos”, tomando ganizadora da coletânea, incita-nos a refletir sobre a com-
“como referência as positividades presentes nas mudanças plexidade dos “nexos entre a administração da educação e
que ocorrem no mundo do trabalho” rompendo-se com a as políticas de formação dos profissionais de educação” no
racionalidade meramente financeira, a fim de construir um contexto de transformações que vêm ocorrendo no mundo.
novo projeto pedagógico na perspectiva emancipatória. A autora reflete sobre as questões fundamentais contem-
O terceiro capítulo aborda os conceitos de participa- porâneas (imagens desestabilizadoras) que se constituem
ção e da gestão escolar, discutindo suas potencialidades. Os em desafios no processo de elaboração e implementação
autores Gustavo Luis Gutierrez e Afrânio Catani objetivam das políticas públicas, em especial, das políticas educacio-
apresentar um panorama atual das questões emergentes no nais, e para a gestão escolar e formação de profissionais da
campo da gestão democrática, da participação e da auto- educação. Ressalta a importância da “direção” construída e
gestão. Nesse texto, primeiramente focalizam a questão con- legitimada na participação e no exercício da democracia. Ao
ceitual apresentando-nos uma descrição aprofundada sobre delinear o cenário atual Ferreira reporta-se às reflexões de
as alternativas organizacionais participativas nos diferentes Einstein, à análise da Schaff sobre a nova Revolução Indus-
contextos. Em seguida apresentam reflexões sobre a ges- trial; e à proposta emancipatória e solidária de Boaventura
tão participativa das universidades públicas paulistas (USP, S. Santos. Nessa perspectiva, afirma que a formação de pro-
Unesp e Unicamp), mencionando suas especificidades e as fissionais “exige sólida formação humana e que esta relacio-
correlações entre as formas de participação e a democratiza- nase diretamente com a sua emancipação como indivíduo
ção do ambiente escolar. Gutierrez e Catani (p. 74) destacam social, sujeito histórico em nossa sociedade.” (p. 110).
que a gestão dessas universidades revela um processo de Em síntese, podemos afirmar que esta coletânea é ex-
adoção de instrumentos de consulta aos diversos segmentos pressão da sólida fundamentação teórico-metodológica das
e sujeitos escolares, bem como ilustra os entraves e conflitos pesquisas a que se reportam, e também do efetivo trabalho
ocorridos no anseio de vivenciar uma prática autogestionária. coletivo a que se destinaram seus autores. Dessa forma al-
O quarto capítulo versa sobre as políticas e gestão da cança com grande destaque o seu maior objetivo: estimu-
educação no Brasil focalizando o processo de escolha de di- lar à reflexão e à problematização de questões candentes
rigentes escolares. Luiz Fernandes Dourado concebe as po- da educação contemporânea, especificamente das políticas
líticas educacionais como expressão dos embates travados educacionais, da formação de profissionais e da democrati-
no âmbito do Estado e dos seus desdobramentos. Embates zação da gestão escolar oferecendo subsídios teóricos para
esses situados no contexto das mudanças tecnológicas e no análises aprofundadas e necessárias intervenções na realida-
reordenamento das relações sociais sob a égide ideológi- de educacional brasileira.
ca da globalização da economia (p.78). Neste artigo o autor
apresenta-nos um mapeamento das modalidades de esco- Fonte
lha de dirigentes escolares no Brasil, destacando-se a rele- SILVA, M. L. da.
vância da eleição direta. Diante dos embates e perspectivas Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 3, n. 4, p. 273-275,
das diversas formas de provimento objetiva situar elemen- jan./jun. 2009
tos para a rediscussão das políticas educacionais, bem como
estabelecer as correlações entre as políticas e a democrati- Referência
zação da gestão escolar. Dourado (p. 79) concebe a gestão Naura Syria Carapeto Ferreira (org.), São Paulo: Cortez,
democrática como: 2008

34
GESTÃO DE PESSOAS

No capítulo quatro, O conhecimento profissional do do-


IMBERNÓN, FRANCISCO. FORMAÇÃO cente, o autor discute os conhecimentos que um professor
CONTINUADA DE PROFESSORES. PORTO deve ter e sobre a definição de suas funções profissionais.
ALEGRE: ARTMED, 2010. O texto aborda que o docente tem um conhecimento pe-
dagógico específico, e este deve ser polivalente, não abso-
luto, e deve construir-se gradativamente, de conhecimento
comum ao conhecimento específico. Comenta que quando
Francisco Imbernón é licenciado, mestre e doutor em esse conhecimento pedagógico especializado se une à ação,
Pedagogia e membro de diversos conselhos editoriais. Pu- estamos lidando com um conhecimento prático.
blicou numerosos artigos em revistas educativas e livros so- No capítulo cinco, A profissão docente diante dos de-
bre alternativas pedagógicas e de formação de professores. safios da chamada sociedade globalizada, do conhecimento
Recebeu vários prêmios, como exemplo, o prêmio de Reno- ou da informação, o autor entende que o processo de for-
vação Pedagógica. Realizou muitos cursos de formação para mação deve dotar os professores de conhecimentos, habi-
professores universitários, assessores e diretores de escolas. lidades e atitudes para desenvolver profissionais reflexivos
Nesta obra, organizada em 14 capítulos, além da parte e investigadores. Esta formação profissional deve está cen-
introdutória e da conclusão, o autor direciona a leitura para trada na tomada de decisões para processar, sistematizar e
a análise da formação inicial e permanente de professores, comunicar a informação.
e sinaliza que a formação docente e profissional deve ser No capítulo seis, A formação como elemento essencial,
realizada para compreender as mudanças e incertezas que mas não único, do desenvolvimento profissional do pro-
ocorrem no ambiente escolar. fessor, o autor comenta que mesmos os dilemas e dúvidas
Na parte introdutória, o autor ressalta sobre as mudan- enfrentadas durante o processo formativo, apresentam-se
ças ocorridas no transcorrer do século XX para o século XXI, como aspectos do desenvolvimento profissional. Destaca
a exemplo do incremento acelerado no conhecimento cien- que a formação do professor vai além dos aspectos peda-
tífico, das novidades nos meios de comunicação e da tec- gógicos e está também vinculada a fatores não formativos,
nologia e das alterações nas formas de pensar, sentir e agir. que possibilitam que os professores atuem como agentes
Alerta que as mudanças devem chegar aos campos educa- sociais, capazes de intervir nos sistemas que constituem a
cionais e que a partir delas deve se alterar a concepção de estrutura social e profissional e assim provocar melhorias.
que o docente é um mero transmissor de conhecimentos, e No capítulo sete, A formação permanente do professor,
a percepção do ambiente escolar, assumindo-o como uma o autor destaca a necessidade de cinco eixos de atuação na
manifestação de vida em toda sua complexidade. formação permanente do docente: reflexão sobre a própria
No primeiro capítulo, A necessária redefinição da do- prática; troca de experiências com os pares; articulação da
cência como profissão, o autor comenta que o papel do formação a um projeto de trabalho; união das práticas pro-
docente necessita passar por uma redefinição, o professor fissionais às práticas sociais; inserção coletiva na instituição
deve assumir novas competências profissionais no eixo do educativa.
conhecimento pedagógico, científico e cultural. E isso supõe No capítulo oito, A formação inicial para a profissão do-
a combinação de diferentes estratégias de formação e uma cente, o autor comenta que a formação inicial dos profes-
nova concepção do papel do professor nesse contexto. Des- sores fornece embasamentos para a construção do conhe-
sa forma, o professor será capaz de oferecer espaços de par- cimento pedagógico especializado e deve proporcionar ao
ticipação, reflexão e formação para os discentes, e promo- professor um conjunto de conhecimentos e experiências nas
verá relações mais estreitas entre a educação e os aspectos áreas científica, cultural, contextual, psicopedagógico e pes-
éticos, coletivos e comunicativos. soal, de modo a contribuir para que o professor se sinta pre-
No segundo capítulo, Inovação educativa e profissão parado para enfrentar a complexidade do sistema educativo.
docente, o autor argumenta que a inovação educativa está No capítulo nove, A formação permanente do professor
relacionada com a pesquisa educativa na prática e propõe experiente, o autor trabalha a ideia de que o conhecimen-
uma transformação educativa e social, além de uma mu- to profissional se transforma em um conhecimento experi-
dança na cultura profissional dos docentes. O autor aborda mentado por meio da prática em um contexto específico.
sobre a necessidade de a formação oferecer condições de o Assim, a formação permanente, para Imbernón, deve ofe-
professor interferir no processo de inovação e mudança, e recer processos relativos às metodologias de participação,
realizar criações e adaptações de acordo com o seu contexto observação, estratégias, comunicação, tomada de decisões,
educativo. entre outros, possibilitando ao docente criar processos de
A cerca do terceiro capítulo, O debate sobre a profis- intervenção autônomos.
sionalização docente, Imbernón toma para si o conceito No capítulo dez, O modelo indagativo ou de pesquisa
de profissão elaborado por Pereyra, o modelo da profissão como ferramenta de formação do professor, o autor comen-
como processo, e incluí nessa categoria a profissão docen- ta que o professor deve questionar sua própria prática de
te. O autor afirma que o docente, em meio a esse processo ensino e buscar respostas a esses questionamentos. Esse é
da profissão, vai influenciar na emancipação das pessoas, um caminho para que ele desenvolva novas formas de com-
ou seja, vai tornar as pessoas menos dependentes do poder preensão e pode ajudá-lo a desvendar e resolver problemas
econômico, político e social, e é justamente esse o objetivo ligados ao processo de ensino-aprendizagem, contribuindo
da educação.

35
GESTÃO DE PESSOAS

para modificar seu conhecimento, seu pensamento e insti-


gá-lo a trabalhar mais com a tomada de decisões. LÜCK, HELOÍSA. A GESTÃO PARTICIPATIVA
No capítulo onze, A formação a partir da escola como NA ESCOLA. PETRÓPOLIS: VOZES, 2010.
uma alternativa de formação permanente do professor, o
autor diz que a formação centrada na escola deve levar em
consideração as estratégias utilizadas pelos formadores e
professores, de modo a responder às necessidades da insti- O trabalho escolar é uma ação de caráter coletivo, reali-
tuição educativa e interferir na qualidade do ensino em sala zado a partir da participação conjunta e integrada dos mem-
de aula, em particular, e na qualidade da escola, de modo bros de todos os segmentos da comunidade escolar. Portan-
geral. to, afirmar que sua gestão pressupõe a atuação participativa
No capítulo doze, O formador ou a formadora do pro- representa um pleonasmo de reforço a essa importante di-
fissional de educação como assessor de formação perma- mensão da gestão escolar. Assim, o envolvimento de todos
nente, Imbernón comenta que o papel do assessor em uma os que fazem parte, direta ou indiretamente, do processo
escola de professores não se limita ao ramo da assessoria educacional no estabelecimento de objetivos, na solução de
pedagógica, mas implica executar trabalhos de gestão e problemas, na tomada de decisões, na proposição, imple-
administração da formação. Para o autor, um assessor de mentação, monitoramento e avaliação de planos de ação,
formação deveria intervir nas instituições educativas com o visando os melhores resultados do processo educacional, é
objetivo de auxiliar na resolução das situações problemá- imprescindível para o sucesso da gestão escolar participati-
ticas e também promover a inserção dos professores num va, (Luck, Freitas, Girling, Keith, 2002).
processo de reflexão na ação. Esta modalidade de gestão se assenta no entendimento
No capítulo treze, Formação do professor e qualidade de que o alcance dos objetivos educacionais, em seu sen-
de ensino, o autor afirma que a qualidade no campo educa- tido amplo, depende da canalização e emprego adequado
cional está relacionada a diversos fatores, tais como conteú- da energia dinâmica das relações interpessoais que ocorrem
do, atividades, materiais e métodos, dinâmica do processo no contexto da organização escolar, em torno de objetivos
de ensinar, entre outros. Esses fatores, que interferem na educacionais, entendidos e assumidos por seus membros,
qualidade do ambiente escolar, são vistos a partir de uma com empenho coletivo em torno da sua realização.
perspectiva pedagógica e dizem respeito à qualidade ao A participação dá às pessoas a oportunidade de contro-
que se aprendeu e a forma como se aprendeu, à qualidade lar o próprio trabalho, sentirem-se autoras e responsáveis
dos alunos. pelos seus resultados, construindo, portanto, sua autono-
No capítulo quatorze, Algumas dificuldades atuais, ou o mia. Ao mesmo tempo, sentem-se parte orgânica da rea-
risco de estagnação profissional, e algumas ideias para pos- lidade e não apenas um simples instrumento para realizar
síveis alternativas, o autor comenta que existem alguns obs- objetivos institucionais. Mediante a prática participativa, é
táculos que são encontrados pela formação dos docentes, possível superar o exercício do poder individual e de refe-
entre eles: a falta de debate sobre a formação inicial; a falta rência e promover a construção do poder da competência,
de assessores; e a formação em contexto individualista. Na centrado na unidade social escolar como um todo.
visão do autor, os processos de formação devem analisar os
obstáculos e elaborar medidas de recuperação e estímulo à O sentido da participação
qualificação e buscar uma redefinição da profissão, de suas
funções e de formação. A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por
Na conclusão o autor sugere que o conhecimento que o uma força de atuação consciente pela qual os membros de
professor possui não deve ser desvinculado da relação exis- uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de
tente entre teoria e prática, nem da função profissional do exercer influência na determinação da dinâmica dessa uni-
docente de analista de problemas éticos, sociais e políticos dade, de sua cultura e seus resultados. Esse poder é resul-
da educação, nem do seu contexto específico. tante da competência e vontade de compreender, decidir
Por fim, das considerações do autor, é possível inferir e agir sobre questões que lhe são afetas, dando à unidade
que a formação docente deve aproximar-se da prática edu- social vigor e direcionamento firme.
cativa, pois as situações problemáticas que surgem obrigam Conforme indicado por Marques (1987: 69), “a participa-
o professor a construir o sentido de cada situação de forma ção de todos, nos diferentes níveis de decisão e nas sucessi-
ímpar, para assim educar com toda carga de compromisso vas faces de atividades, é essencial para assegurar o eficien-
científico, político, ético e moral e intervir nos diversos qua- te desempenho da organização”. No entanto, a participação
dros educativos e sociais em que se produz à docência. deve ser estendida como processo dinâmico e interativo que
vai muito além da tomada de decisão, pois é caracterizado
Fonte pelo inter-apoio na convivência do cotidiano da escola, na
LOPES, A. C. C. B.; AZEVEDO, R. O. M. busca, pelos seus agentes, da superação das dificuldades e
limitações e do bom cumprimento da sua finalidade social.
Fonte Cabe lembrar que toda pessoa tem poder de influên-
IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional. cia sobre o contexto de que faz parte, exercendo-o, inde-
São Paulo: Cortez, 2000. pendentemente da consciência desse fato e da direção e
intenção de sua atividade. No entanto, a falta de consciência

36
GESTÃO DE PESSOAS

dessa interferência resulta em falta de consciência do po- ções de participação efetiva das pessoas que, ao se sentirem
der de participação que tem; disso decorrem resultados ne- usadas, passam a negar o processo e sua legitimidade.
gativos para a organização e para as próprias pessoas que A participação efetiva pressupõe que os professores,
constituem o ambiente escolar. Faltas, omissões, descuidos, coletivamente organizados discutam e analisem a proble-
incompetência são aspectos que exercem esse poder nega- mática pedagógica que vivenciam em interação com a or-
tivo. ganização escolar e que, a partir dessa análise, determinem
Por conseguinte, a participação em sentido pleno é ca- um caminho para superar as dificuldades que julgarem mais
racterizado por mobilização efetiva dos esforços individuais carentes de atenção. Portanto os problemas são aponta-
para superar atitudes de acomodação, alienação, marginali- dos pelo próprio grupo, e não pelo diretor da escola ou sua
dade, comportamentos individualistas e estimular a constru- equipe técnico-pedagógica.
ção de espírito e equipe. De acordo com um entendimento limitado de partici-
pação, em sala de aula, professores indicam a importância
Variações de significado e alcance da participação da participação dos alunos, propondo até mesmo a “avalia-
ção por participação”, conhecida como simples e eventual
Registram-se várias formas de participação, com signi- manifestação verbal indicativa de estarem acompanhando
ficado, abrangência e alcance variados: da simples presen- e prestando atenção na aula. Nesse caso, cria-se uma cul-
ça física em um contexto, até o assumir responsabilidade tura de faz-de-conta, do qual participam apenas os alunos
por eventos, ações e situações. Assim, é coerente o reco- que julgam saber o que os professores desejam ouvir, uma
nhecimento de que, mesmo na vigência da administração vez que julgam poderem dizer apenas isso. Em trabalhos em
científica, preconiza-se a prática da participação: em toda e grupo observa-se até mesmo a distorção do sentido de gru-
qualquer atividade humana, por mais limitado que seja seu po – é comum, em vez dos grupos servirem para promover
alcance e escopo, há a participação do ser humano, seguin- a aprendizagem coletiva, a partir da troca e reciprocidade de
do-a, sustentando-a, analisando-a, revisando-a, criticando- ideias, realizar a divisão de trabalho e tarefas.
-a.
De fato, o processo de participação tem sido evocado Valores orientadores da ação participativa
na escola em várias circunstâncias, das quais serão ressalta-
das algumas, apenas para exemplificar a limitação das práti- A ação participativa depende de que sua prática seja
cas levadas a efeito sob essa denominação, em seu alcance realizada a partir do respeito a certos valores substanciais,
e sentido. como ética, solidariedade, equidade e compromisso.
Uma das circunstâncias escolares mais comuns sobre as A ética é representada mediante a ação orientada pelo
quais exige participação de professores, diz respeito a rea- respeito ao ser humano, às instituições sociais e aos eleva-
lização de festividades, como, por exemplo, festas juninas, dos valores necessários ao desenvolvimento da sociedade
promoções de campanhas para arrecadar fundos ou outras com qualidade de vida, que se faz traduzir nas ações de cada
atividades do gênero. Ou outra circunstância é a da realiza- um. De acordo com esse valor, a ação participativa é orienta-
ção de reuniões para a tomada de decisões a respeito de da pelo cuidado e atenção aos interesses humanos e sociais
problemas apontados pela direção da escola (muitas vezes como valor.
indicados por autoridades do sistema de ensino, e cujas so- A solidariedade é manifestada pelo reconhecimento do
luções alternativas são sugeridas pela própria direção, ser- valor inerente a cada pessoa e o sentido de que os seres
vindo a assembleia para referendar, por meio de manipula- humanos se desenvolvem em condições de troca e recipro-
ções essas decisões). Essa forma inadequada de participação cidade, em vista do que são necessárias redes abertas de
é, aliás, notória em assembleias de professores - não sendo apoio recíproco.
privilégio de dirigentes de sistemas e de escolas -, quando A equidade é representada pelo reconhecimento de que
são convocados por líderes de classe para “tirar” moções pessoas e grupos em situações desfavoráveis necessitam de
de greve já decididas em fórum externo à assembleia com atenção e condições especiais, para igualar-se a seus seme-
qualquer manifestação contrária sendo repudiada de plano lhantes no processo de desenvolvimento. Vale dizer que os
pelos dirigentes da assembleia. benefícios da atenção são distribuídos de forma diferente,
É importante ressaltar que essas circunstâncias deixam de modo a possibilitar aos que apresentam maior dificulda-
de caracterizar a participação efetiva dos professores, uma de de participação condições favoráveis para superar essa
vez que eles se sentem usados – e se deixam usar -, no pri- dificuldade.
meiro caso como simples mão de obra, e no segundo como O compromisso se traduz na ação dos envolvidos no
sujeitos manipuladores por concordar em realizar o que, de processo pedagógico, focada e identificada com objetivos,
antemão, já foram determinado por um grupo restrito. Essa valores, princípios e estratégias de desenvolvimento. Pres-
prática embora pareça oferecer alguns resultados positivos, supõe o entendimento pleno dessas questões e o empenho
do ponto de vista de quem conduz, a médio prazo, produz pela sua realização, traduzida em melhor aprendizagem pe-
resultados altamente negativos, que deterioram a cultura los alunos.
organizacional da escola, por destruir qualquer possibili- Portanto, a ação participativa hábil em educação é
dade de colaboração benéfica; promover o descrédito nas orientada pela promoção solidária da participação por todos
ações de direção e nas pessoas que detêm autoridade; gerar da comunidade escolar, na construção da escola como orga-
desconfiança, insegurança e destruir as sementes e motiva- nização dinâmica e competente, tomando decisões em con-

37
GESTÃO DE PESSOAS

junto, orientadas pelo compromisso com valores, princípios timentos que funcionários, professores e demais membros
e objetivos educacionais elevados, respeitando os demais da comunidade escolar partilham e sentem a respeito da
participantes e aceitando a diversidade de posicionamentos. organização escolar, liderada pelo gestor, sendo que estes
afetam de maneira positiva ou negativa sua satisfação e mo-
TEXTO 2: tivação para o trabalho.
POSTURAS E ATITUDES DE GESTÃO RESPONSÁVEIS De acordo com Lück (2010, p.65): O clima organizacio-
PELOS BONS RESULTADOS DA ESCOLA nal corresponde a um humor, estado de espírito coletivo,
satisfação de expressão variável segundo as circunstâncias e
• Comprometimento e divisão de responsabilidades, conjunturas do momento, em vista do que seu caráter pode
facilitando a participação dos envolvidos. ser sobremodo temporário e eventual, dependendo da re-
solução das condições que criam essas características – daí a
• Reconhecimento dos esforços, avanços e iniciativas ser também cognominado de atmosfera.
dos envolvidos, para estimular, motivar e tornar as Essa atmosfera é construída e vivenciada por todos que
pessoas mais eficazes e felizes. fazem parte do cotidiano e do ambiente escolar. É consti-
• Realização de parcerias para atender as necessida- tuída a partir das relações interpessoais e até mesmo por
des da escola, sendo que a grande parceria é com os fatores externos relacionados ao ambiente físico da escola,
professores e funcionários. como reformas estruturais, por exemplo.
É possível identificar dois tipos de clima dentro das es-
• Exposição e transparências das metas pessoais de colas: o clima fechado, onde os membros do ambiente de
todos. trabalho não são considerados nem consultados, represen-
• Tranquilidade e discernimento para lidar com confli- tando-se, assim, como rígido, autocrático e constrangedor;
tos e adversidades. e o clima aberto, no qual é percebido um ambiente com
indivíduos motivados, com o trabalho reconhecido, uma vez
• Superação do ego e da vaidade, mantendo a autori- que há a participação desses indivíduos em todos os níveis
dade necessária, lembrando na gestão coletiva o que do trabalho e das decisões.
predomina são as ações conjuntas. De acordo com Brunet (1992):
• Garantia de que os procedimentos têm como re- O clima de uma organização reporta-se a uma série de
ferência a legislação vigente e os documentos que características relativamente permanentes, que:
norteiam as ações da escola, bem como as decisões a) Diferenciam uma dada organização, podendo consi-
tomadas em reuniões de professores, funcionários e derar-se que cada escola é suscetível de possuir uma perso-
pais nalidade própria, um clima específico;
b) Resultem dos comportamentos e das políticas dos
• Criação de cultura de participação comunitária, in- membros da organização, especialmente da direção, uma
citando as pessoas a se pronunciarem, colaborando vez que o clima é causado pelas variáveis físicas (estrutura)
para eliminar o medo da manifestação. e humanas (processo); c) São percebidas por membros da
organização;
• Acompanhamento e auxílio na organização das re-
d) Servem de referência para se interpretar uma situa-
gras e acordos e atenção para o seu cumprimento.
ção, pois os indivíduos respondem às solicitações do meio
• Constância e persistência em relação aos resultados. de acordo com a percepção do clima;
e) Funcionam como campo de força destinado a dirigir
• Intervenção em situações que afetam a rotina, os re-
as atividades, na medida em que o clima determina os com-
lacionamentos ou que tragam prejuízo para a escola.
portamentos organizacionais.
Fonte
Dessa forma, gestores, para que possam ser conside-
LÜCK, Heloísa. A gestão participativa na escola. Petrópo-
rados competentes, é necessário que se debrucem sobre
lis: Vozes, 2010
questões referentes ao clima e a cultura escolar e sobre con-
dições que criam e suas manifestações que expressam um
LÜCK, HELOÍSA. GESTÃO DA CULTURA E conjunto de respostas tácitas, atitudinais e comportamentais
DO CLIMA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA. aprendidas coletivamente no enfrentamento de desafios.
PETRÓPOLIS: VOZES, 2010. SÉRIE CADERNOS Assim: [...] É condição para que os fundamentos, diretrizes,
princípios e objetivos sejam adequadamente formulados,
DE GESTÃO. V.V.
construídos e interpretados à luz da realidade em que serão
aplicados e sejam devidamente traduzidos para os atores,
assim como esses atores, coletivamente organizados, com-
A QUESTÃO DO CLIMA ORGANIZACIONAL NA preendam os desafios próprios de organização de seu am-
ESCOLA biente para tal implementação (LÜCK, 2010, p.26-27).
O clima organizacional representa a personalidade de De maneira geral, clima e cultura organizacional não são
cada instituição escolar, manifestada nos conceitos e sen- termos sinônimos, mas complementares e que estão intrin-
secamente ligados:

38
GESTÃO DE PESSOAS

É importante reconhecer que os conceitos de clima e 1960, cujo objetivo era responder às indagações referen-
de cultura organizacional estão intimamente interligados, de tes ao impacto cultural sobre a estrutura e os processos de
tal modo que não apenas se reconhece que um faz parte comportamento no interior das organizações, que tinham,
do outro como também se sobrepõem e se confundem em em razão da sua multinacionalização, que atuar em diferen-
muitos aspectos, conforme se observa na realidade. (Idem, tes culturas.
p. 53). Assim, a escola é uma organização que, apesar de não
Dessa forma, é imprescindível que o gestor tenha a ca- ser necessariamente tomada como multinacional, atua em
pacidade de conhecer e compreender como realmente se esferas nacional, regional, estadual, municipal e local, sendo
apresenta o clima e a cultura organizacional no seu âmbito impactada socialmente por fatores econômicos e culturais
escolar de modo a traçar seus objetivos e suas ações visando que permeiam essas esferas.
à melhoria do trabalho escolar como um todo. Sob a ótica educacional, a cultura organizacional, se-
O gestor não deve se esconder das dificuldades ou cul- gundo Lück (2010) representa “o que a escola realmente faz,
pá-las pelo fracasso escolar, ao contrário, ele deve assumir como ela é e os valores que de fato assume”, ou seja, trata-
um papel de liderança e auxiliar que a comunidade esco- -se da realidade prática e coletiva da instituição escolar.
lar caminhe em direção ao sucesso do processo de ensi- É importante ressaltar que, muitas vezes, por se tratar do
noaprendizagem: aspecto prático, a gestão preocupa-se em conhecer a reali-
Os gestores escolares, considerando-se as expressões dade escolar de forma superficial e decisões e ações toma-
ideais de sua atuação, ao assumirem as responsabilidades das sob essa ótica não resolvem os problemas, muitas vezes
de seu cargo, passam a ter como inerentes a ele a respon- apenas os mascaram. Isso porque a cultura é algo mais pro-
sabilidade de liderar a formação de clima e cultura escolar fundo, daí a ser representada como um iceberg (possui uma
compatível com concepções elevadas da Educação e polí- pequena parte visível e uma grande extensão submersa).
ticas educacionais, de modo que se promova ambiente es- Dessa forma, segundo Lück (2010) “não se pode, por
colar estimulante e adequado para a formação consistente óbvio, julgar que aquilo que não seja percebido não exis-
e aprendizagem significativa de seus alunos. (LÜCK, 2010, ta, ou que não exerça um papel significativo no curso das
p. 128) ações e seus resultados”. O que se esconde acaba impedin-
Vale lembrar a expressão popular que afirma que “a es- do silenciosamente, dissimuladamente e sorrateiramente a
cola é a cara do diretor”, ou seja, a ele cabe liderar para o implementação de decisões e ações que sejam efetivas para
sucesso ou para o fracasso, por isso é imprescindível que a solução dos problemas educacionais e a consequente me-
ele tenha conhecimento do clima e cultura organizacional lhoria da qualidade do ensino nesta instituição.
da sua comunidade de modo a buscar as transformações [...] Conhecer a cultura organizacional da escola repre-
necessárias para a melhoria da qualidade do ensino. senta, pois, um processo de desvelamento de camadas sub-
Assim, o trabalho do gestor deve estar focado no modo mersas, o que é possível na medida em que sejam capazes
coletivo de ser e fazer da escola, nas suas relações interpes- de, dentre outros aspectos, assumir um olhar inquisitivo so-
soais, em suas tendências e articulações dentro e fora da bre o comportamentos, ações e reações expressos na escola,
escola. A boa gestão de cultura e do clima organizacional suspendendo qualquer julgamento prévio; agir com muita
indicará em um projeto educativo de sucesso. perspicácia, olhar clínico e sensível que procura ver o signifi-
Se o gestor tem objetivos transformadores e vê a neces- cado mais profundo daquilo que está aparente, e aquilo que
sidade de a escola organizar-se democraticamente, ele irá fica além do aparente; identificar suas ramificações internas;
exercer influências no que diz respeito às formas de orga- compreender os significados de todos esses aspectos obser-
nização do trabalho, sua distribuição e implementação, sin- vados. (LUCK, 2010, p.58)
tonizar as relações interpessoais, os estilos de comunicação Além disso, por se tratar de um processo de desvela-
mediar as reações das pessoas diante dos desafios enfren- mento de camadas submersas, a cultura organizacional
tados e ainda equacionar as influências externas, como as pode passar despercebida por muitos integrantes da comu-
determinações impostas e orientações propostas pelo siste- nidade escolar, além dos gestores. Também esse processo
ma educacional e os recursos que lhes são disponibilizados. não é algo imutável, ele se transforma, modifica-se enquan-
to reflexo das relações em um determinado tempo e espaço
A CULTURA ORGANIZACIONAL NO AMBIENTE social.
ESCOLAR Segundo Forquin (1993, P. 14), citado por Franco (1997),
Desde 1980 vem crescendo o interesse pelo estudo e a cultura que permeia a escola também é produzida e repro-
pela renovação das teorias existentes no que diz respeito duzida pela própria escola: “a cultura é o conteúdo substan-
à cultura que permeia as organizações empresariais como cial da educação [...], a educação não é nada fora da cultura
um todo. Observar a cultura, segundo Teixeira (2002) “per- e sem ela. Mas, reciprocamente, dir-se-á que é pela e na
mite recolocar o fator especificamente humano nas organi- educação [...] que a cultura se transmite e se perpetua”. Fran-
zações”, estas que até então eram analisadas sob uma ótica co (1997), seguindo as ideias de Forquim (1993), afirma que
mais estrutural e como “espaço de exercício e luta por po- a escola seleciona elementos da cultura que vai transmitir
der”. De acordo com Teixeira (2002, p.16): (valorizando uns e esquecendo outros, conforme interesses
O interesse atual pelo estudo da cultura organizacional sociais, políticos e econômicos) e os reelabora didaticamen-
tem motivação diversa dos estudos realizados nos anos de te, produzindo, assim, uma cultura escolar.

39
GESTÃO DE PESSOAS

Conceitos de liderança e gestão escolar educação de formar o indivíduo com autonomia para exer-
cer uma cidadania plena de modo a contribuir e lutar por
O gestor e o espaço escolar possuem uma relação muito uma sociedade melhor. Uma gestão com as características
estreita que deve ser analisada, estudada e refletida, pois, desta forma de liderança é chamada de Gestão Democrática.
na contemporaneidade, a gestão escolar precisa preocupar-
-se mais com os fins da Educação, com a eficácia da escola Fonte
no cumprimento de sua função social, e com os resultados DIAS, S. V; WINKELER, M. S. B. O Papel do Gestor como
que devem ser buscados e, para tanto, há necessidade da líder na constituição do clima e da cultura organizacional no
eficiente gestão, de liderança ativa e, também de atuar vi- espaço escolar. Versão Online-Cadernos PDE
sando tornar o espaço cada vez mais funcional e dinâmico, LÜCK, Heloísa. Gestão da cultura e do clima organiza-
adequado ao processo educativo escolar onde trabalham. cional da escola. Petrópolis: Vozes, 2010. Série Cadernos de
Sobre a questão da liderança, como ela é algo inter- Gestão. v.V.
pessoal, possui várias definições, uma delas, apresentada
por Montana e Charnov (2000), citado por Botelho e Krom
(2010), “A liderança é um processo pelo qual um indivíduo LÜCK, HELOÍSA. LIDERANÇA EM GESTÃO
influencia outros, a realizar os resultados desejados”. Nessa ESCOLAR. PETRÓPOLIS: VOZES, 2010. SÉRIE
perspectiva, destacam-se três formas de liderança: a lideran- CADERNOS DE GESTÃO. V.IV.
ça autocrática (somente o líder fixa as diretrizes, define e dis-
tribui tarefas, sem participação do grupo); a liderança liberal,
conhecida também como laissez-faire (mínima participação LIDERANÇA EM GESTÃO ESCOLAR
do líder, o grupo tem liberdade total para as tomadas de
decisões coletivas ou individuais); e a liderança democrática Heloisa Lück é doutora em Educação pela Universidade
(o líder assiste e estimula o grupo a tomar decisões, dividir Columbia e pós-doutora em Pesquisa e Ensino Superior pela
tarefas e esboçar os meios para se atingir um objetivo). Universidade de Goerge Washington. É diretora educacio-
A fim de avaliar o impacto dessas três formas de lideran- nal do CEDAHAP, atuando como conferencista e docente
ça, em 1939 Ralph K. White e Ronald Lippitt, da Universida- em curso de capacitação de profissionais da educação para
de de Iowa nos Estados Unidos fizeram estudos envolvendo sistemas estaduais e municipais de ensino. Publicou: Ação
meninos de dez anos que foram orientados alternadamente integrada: administração, supervisão e orientação educa-
durante seis semanas para a execução de tarefas dentro das cional; Pedagogia interdisciplinar; Metodologia de projetos:
três perspectivas de liderança. Dentre os resultados, obteve- ferramentas de planejamento e gestão; A escola participati-
-se, segundo Botelho e Krom (2010): va: o gestor escolar (em coautoria); Gestão educacional: uma
Liderança Autocrática: De acordo com o experimento, questão paradigmática; Concepções e processos democráti-
com este tipo de liderança, o comportamento dos grupos cos de gestão educacional; A gestão participativa na escola.
mostrou forte tensão, frustração e, sobretudo, agressivida-
de, de um lado, e, de outro, nenhuma espontaneidade nem O Livro Liderança em Gestão Escolar é composto de
iniciativa, nem formação de grupos de amizade. Embora uma apresentação e introdução, três capítulos num total
aparentemente gostassem das tarefas, não demonstraram de163 pg., todos da responsabilidade de Heloisa Lück o que
satisfação com relação à situação. O trabalho somente se traduz sua experiência e competência na formação de ges-
desenvolvia com a presença física do líder. Quando este se tores. Neste volume da (Série Cadernos de Gestão IV), Lück
ausentava, as atividades paravam e os grupos expandiam trata das questões da liderança positiva na escola como um
seus sentimentos reprimidos, chegando a explosões de in- conjunto de ações, atitudes e comportamentos adotados
disciplina e de agressividade. pelo gestor com finalidade influencia as pessoas para o bom
Liderança Laissez-Faire: Através deste estilo, embora a desempenho da escola, visando alcançar os objetivos edu-
atividade dos grupos fosse intensa, a produção foi simples- cacionais.
mente medíocre. As tarefas se desenvolviam ao acaso, com
muitas oscilações perdendo-se muito tempo com discus- Na apresentação desta obra Lück ressalta que o diretor
sões mais voltadas para motivos pessoais do que relaciona- de escola, o diretor assistente ou adjunto, o supervisor pe-
das com o trabalho. Notou-se forte individualismo agressivo dagógico e o orientador educacional, assim como os demais
e pouco respeito com relação ao líder. membros da equipe de gestão escolar e seus professores,
Liderança Democrática: Com este estilo de liderança, desempenham um papel no desenvolvimento da liderança
houve formação de grupos de amizade e de relacionamen- na escola. Já na Introdução Lück faz dos apanhados dos di-
tos cordiais entre os meninos. Líder e subordinados passa- ferentes tipos e significados de lides com ênfase na liderança
ram a desenvolver comunicações espontâneas, francas e escolar.
cordiais. O trabalho mostrou um ritmo suave e seguro sem
alterações mesmo quando o líder se ausentava. Houve um Capitulo 1, a autora faz uma pesquisa e uma análise des-
nítido sentido de responsabilidade e comprometimento critiva dos significados de liderança na visão dos mais reno-
pessoal. mados teóricos dos diferentes campos de atuação, desde os
Nessa perspectiva, dentro do âmbito educacional, a lide- anos 50 até os dias atuais. Diz que o significado de liderança
rança democrática é a que mais condiz com os objetivos da

40
GESTÃO DE PESSOAS

depende do paradigma que rege, destaca alguns modelos orientar o empreendedorismo, criar clima favorável a cultura
de liderança: transformacional, transacional, compartilhada escolar que facilita aprendizagem, motivar e inspirar o sujei-
ou distribuída, coliderança, educativa, integradora ou holís- to no processo sócio educativo.
tica. E fala de alguns aspectos relacionados com liderança:
liderança e poder, liderança e desenvolvimento e liderança Considerações finais
e controle.
Lück apresenta de maneira clara e objetiva o significado O livro Liderança em gestão escolar é uma ferramenta
de liderança o que facilita a compreensão de leitor. Cabe ao auxiliadora que norteia e contribuir com os gestores educa-
gestor em que momento ou lugar utilizar de um ou outro cionais e todos os profissionais que compõem o ambiente
modelo de liderança, não existe um modelo que atenda a escolar, visando atingir os objetivos educacionais. Tendo em
todos em todas as situações. vista que todo trabalho em educação, dada a sua natureza
formadora, implica em ações de liderança e constitui na ca-
O capitulo 2, trata das principais teorias de liderança em pacidade de influenciar positivamente pessoa para atingir os
um momento histórico complexo. Em vista disso torna-se objetivos da aprendizagem, esta obra vem clarear o trabalho
necessário definir um sistema de ideias que possa ser apli- dos líderes educacionais.
cado ao mundo real. “Sistema de ideia constitui a teoria e o
sistema de ações constitui a política. Teoria e política cons- Fonte
tituem os eixos condutores da ação de liderança em gestão http://dialogoeducao.blogspot.com.br/2010/12/rese-
escolar. A sociedade mudou e passou a exigir uma Educação nha-critica-livro-lideranca-em.html
para todos. Com isso, o ser humano se tornou o elemento-
-chave no desenvolvimento das organizações educacionais, Referência
tanto como alvo do trabalho educativo como na condução LÜCK, Heloísa. Liderança em gestão escolar. Petrópolis:
de processos eficientes e bem-sucedidos. É nesse contex- Vozes, 2010. Série Cadernos de Gestão. v.IV.
to que surgiu a necessidade de haver uma ou mais pessoas
para dirigir as ações que encaminham a escola para a di-
reção desejada. Diante dessa complexidade e necessidade PARO, VITOR HENRIQUE. GESTÃO ESCOLAR,
de influenciar e transformar pessoas os estudiosos identifi- DEMOCRACIA E QUALIDADE DE ENSINO.
caram três teorias de liderança que vem sendo aplicada na SÃO PAULO: ÁTICA, 2007.
formação de líderes: Teoria dos traços da personalidade é
centrada no indivíduo e não para o processo, o líder tem ha-
bilidade na comunicação tem maturidade social e psicológi- GESTÃO ESCOLAR, DEMOCRACIA E QUALIDADE
ca é autoconfiante; Teoria de estilo de liderança fundamenta DO ENSINO
que o poder é centralizado ou distribuído no ambiente de li-
derança. Que por vez subdivide em: Estilo autocrático é mar- Vitor Henrique Paro é professor titular no Departamento
cado pela centralização das decisões o líder é o condutor de Administração Escolar e Economia da Educação da Fa-
sua marca é a eficiência, Estilo democrático caracteriza pela culdade de Educação da USP, onde exerce a docência e a
liderança compartilhada, todos são responsáveis, sua marca pesquisa na graduação e na pós-graduação.
é o fortalecimento da escola com um todo e Estilo laissez Sobre o conceito de qualidade do ensino e sua relação
faire é marcado pela falta de liderança; Teoria situacional a com a democracia de Vitor Henrique Paro, publicado pela
liderança é um processo dinâmico da cultura organizacio- Editora Ática de São Paulo, sendo este o primeiro capítulo
nal, tem o foco na liderança exigido por indivíduo ou grupo componente da obra Gestão Escolar, Democracia e Quali-
capaz de tomar decisão em situação de emergência. Vale dade do Ensino.
destacar aqui decisão assumida pelo gestor em período de Em primeiro momento o autor apresenta duas dimen-
férias escolar. sões da escola para uma educação para a democracia, o in-
dividual e o social sendo eles interligados pois o primeiro diz
O capítulo 3, inicia com a autora fazendo um questiona- respeito ao “viver bem” o bem-estar social, o segundo visa a
mento sobre o que há em comum entre liderança e gestão? contribuição do indivíduo para a sociedade numa realização
E quais as principais ações de liderança existe na escola? Diz da liberdade.
Lück, “liderança corresponde a um conjunto de ações, atitu- Embora o que tem se visto no Ensino Fundamental é
des e comportamento assumidos por uma pessoa, para in- que a escola está muito longe dessas duas dimensões, pois
fluenciar o desenvolvimento de alguém, visando a realização o ato de aprender nesse espaço está desvinculado a qual-
de objetivos organizacional”. Já “gestão é indicada como o quer sentimento de prazer. A escola se nega a propor um
processo pelo qual se mobiliza e coordena o talento huma- currículo que abrange o educar para a democracia, isto é, ela
no, coletivamente organizado, de modo que as pessoas, em se limita a não formar os seus educandos sob a perspectiva
equipe promovam resultados desejados”. Portanto o con- da ética expondo a um “jogo de empurra”, a escola espera
ceito de liderança e gestão se confunde por apresentarem da família e a família espera da escola essa formação ética
vários elementos básicos em comum. Diante desta defini- para os educandos.
ção cabe a equipe gestora como líder, promover o espírito Parece contraditória, uma instituição educacional que é
de equipe, alargar os horizontes das pessoas, estabelece e a escola ignorar essa necessidade de capacitar seus alunos

41
GESTÃO DE PESSOAS

para exercerem sua cidadania de forma democrática. Para riormente foram publicados em revistas especializadas. Paro
esclarecer essa falta de ação da escola o autor propõe que vem defendendo, desde 1986, nestes trabalhos, ideias como
seja feita uma ressignificação do papel da escola rompendo a de que administrar uma escola pública não se reduz à apli-
com o paradigma neoliberal que conceitua a escola como cação de uns tantos métodos e técnicas, importados, muitas
formação de mão-de-obra. vezes, de empresas que nada têm a ver com objetivos edu-
O que se entende como uma formação democrática, cacionais. A administração escolar é, no seu entendimento,
está muito além de uma simples transmissão de informa- portadora de uma especificidade que a diferencia da admi-
ções, ela engloba que a educação deve fazer parte da vida nistração especificamente capitalista, cujo objetivo é o lucro,
do indivíduo numa construção histórico-cultural. mesmo em prejuízo da realização humana implícita no ato
Paro ressalta também que um indivíduo completo de educativo. E afirma: se administrar é utilizar racionalmente
informações e seguro dos conhecimentos de disciplinas os recursos para a realização de fins determinados, adminis-
tradicionais da escola corresponde apenas aos interesses trar a escola exige a permanente impregnação de seus fins
neoliberalistas de concorrer e serem aprovados por exames pedagógicos na forma de alcançá-los.
e provas concedidas pelo sistema educacional se torna irre- A repercussão destas ideias foi expressa anteriormente
levante numa visão democrática que defende a educação no livro Administração escolar: introdução crítica. Agora, em
como um ato de amor e construída dia-a-dia. Gestão democrática da escola pública, o autor avança sobre
O autor ainda salienta que a escola democrática não se as questões e as perspectivas da gestão da escola pública
coloca como a única forma de transformação social, a ideia do ensino fundamental e médio no Brasil. São textos espe-
é de que esse tipo de discurso seja apropriado a todos os cialmente dirigidos a professores, diretores, coordenadores
âmbitos culturais, políticos e, sobretudo educacional da so- pedagógicos e orientadores educacionais, mas de leitura útil
ciedade. a todos que atuam na área de educação pública no âmbi-
A concretude da escola depende das ações que é esta- to acadêmico ou no planejamento e execução de políticas
belecida direta ou indiretamente no interior da escola. Qual- educacionais.
quer ação e/ou projetos realizados com qualidade pela es- Após a leitura do livro, percebe-se o que o autor tentou
cola deter como protagonistas diversas pessoas envolvidas passar o tempo todo: para que a escola se faça realmen-
do ambiente escolar. te pública, é imprescindível a criação de mecanismos que a
Além disso, é preciso considerar a concretude da esco- tornem democrática. Assim, pais, alunos, professores e dire-
la, a sua realidade para compreender a escola não apenas tores poderão deliberar em conjunto como deve ser a escola
como uma reprodutora daquilo que já vem pronto, definido de hoje e atender às reais necessidades dos alunos dentro
por terceiros, sem ter qualquer elo com a realidade atual da de um quadro de mudança qualitativa do ensino público. É
escola. um caminho que poderá tornar o que deve ser: um instru-
É imprescindível que a escola não deveria estar ape- mento para a construção e defesa da cidadania.
nas condicionada a corresponder as estatísticas do sistema Nesta análise, Paro enfoca as dificuldades para a implan-
educacional capitalista, logo ela deveria estar engajada num tação da gestão democrática, entre outros fatores, a cultura
processo de qualificar os educandos na sua formação moral, autoritária do ensino, a ausência de recursos financeiros, a
ética e intelectual, sendo nesse caso a qualificação profissio- desmotivação dos professores e a falta de estrutura que fa-
nal apenas consequência de um trabalho bem feito desen- voreça a participação dos pais. Propõe também uma reorga-
volvido com base num ensino de qualidade e democrático. nização da estrutura escolar, em que o diretor deixa de ser o
herói e o vilão de cada escola e passa a dividir o direito e a
Fonte responsabilidade de decidir com pais, alunos e professores.
PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e
qualidade do ensino. – São Paulo: Ática, 2007. Fonte
PARO, Vitor. Gestão Democrática da Escola Pública. São
Paulo: Ática, 2012.
PARO, VITOR HENRIQUE. GESTÃO
DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA. SÃO
PAULO: ÁTICA, 2012. THURLER, MÔNICA GATHER E MAULINI,
OLIVIER (ORG.). A ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO ESCOLAR: UMA OPORTUNIDADE
GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA PARA REPENSAR A ESCOLA. PORTO ALEGRE:
PENSO, 2012.
Existe escola verdadeiramente pública no Brasil? A par-
tir desta pergunta, o educador e livre-docente em Educação
pela USP, Vitor Henrique Paro, constrói o texto Gestão de-
mocrática da escola pública. Para ele, o que há é apenas um Da gestão de classe à gestão dos sistemas escolares,
sistema estatal de ensino, mantido de forma precária, pelo o trabalho de professores e alunos é condicionado por um
governo brasileiro. conjunto de estruturas, regras e práticas que recortam o es-
O livro, editado em 1997, reúne sete trabalhos apresen- paço e o tempo do ensino. A organização deste trabalho é
tados pelo autor em congressos e conferências que poste-

42
GESTÃO DE PESSOAS

em si um trabalho, uma prática pedagógica sobre a qual é tamanho e, o modo de direção dos estabelecimentos. A ló-
necessário refletir. gica burocrática é interiorizada pelos atores, eles percebem
Esta obra mostra de que maneira se organiza o trabalho seu papel e seu estatuto, sua zona de autonomia, a divisão
escolar, como e por quem ele é determinado, em que condi- do trabalho, as relações de poder, a gestão dos processos
ções pode se transformar e como a organização condiciona da mudança, os mecanismos de controle, os atores não ima-
o encontro entre cada aluno e o saber que a escola tem a ginam poder funcionar de outro modo. Os conteúdos das
função de transmitir. lições são definidos, não de acordo com as necessidades
Oferece ao leitor recursos úteis para a compreensão de dos alunos, mas em função de um número global de horas
um problema antigo: como superar a pura gestão de fluxos disponíveis. Tais parâmetros gestionários representam uma
para enxergar a organização do trabalho como uma opor- matriz organizacional que condiciona a vida escolar, reduz
tunidade de repensar a escola, suas ambições e suas finali- fortemente o desenvolvimento das competências corres-
dades. pondentes, que se incumbem da elaboração e da introdu-
ção dos novos programas. Esse modelo permitiu ajustar as
INOVAR NO INTERIOR DA ESCOLA modalidades de gestão e controle das escolas, assegurando
TRURLER, M. G uma certa coerência e uma igualdade formal de tratamento.
Ele somente provocará mudanças das práticas se a prescri-
Organização do trabalho, lógicas de ação e ção for traduzida de forma clara, for imposta de cima, for
autonomia compatível com as práticas já em vigor, etc.
Os estabelecimentos escolares constituem formas or- Enquanto a lógica burocrática define e impõe procedi-
ganizacionais que sobrevivem a muitas mudanças em sua mentos de trabalho em vista dos objetivos fixados, a lógica
missão, seu meio, seus recursos e, na renovação permanente profissional limita o trabalho prescrito em função da comple-
dos alunos, dos professores e dirigentes. Quando a busca de xidade de situações singulares. A lógica profissional na esco-
estabilidade passa a ser a lógica de uma organização, suas la permaneceu por muito tempo limitada ao relacionamento
características positivas têm um custo elevado em rigidez, professores/alunos. Os professores inventam, menos do que
protecionismo territorial e medo da desordem. pensam, seus gestos profissionais, muito mais se apropriam
Os trabalhos sobre inovação mostram que a organi- da trama fornecida pela cultura profissional e pela organiza-
zação burocrática e hierárquica do trabalho, não é o único ção escolar. O impacto de tais fatores é diferente segundo o
freio a mudança. Nenhuma organização é tributária de uma grau escolar: na escola de ensino fundamental, os docentes
só lógica, e a escola se situa na confluência da lógica buro- desempenham um papel importante, ao passo que a partir
crática e da lógica profissional. do ensino médio a ideologia própria de cada disciplina dita
Existem organizações do trabalho mais abertas que ou- as regras de funcionamento. A lógica profissional representa
tras à mudança? Como conseguem encontrar um meio ter- a via menos explícita e formalizada da mudança, é um len-
mo entre a necessidade de abertura e a tendência natural to processo de adaptação durante o qual as novas práticas
dos atores em querer preservar equilíbrios estáveis? Há ló- se instauram conforme as necessidades. As novas políticas
gicas organizacionais que favorecem a mudança, não como educacionais levam a uma ampliação da lógica profissional,
resposta a uma situação excepcional, nem porque seriam quando os professores são convidados a participar mais em
mais permeáveis do que outras às injunções das autorida- todo o processo de inovação.
des, mas por integrarem-na sem crise e sem pressa?
Os novos paradigmas organizacionais convidam a ul- Entretanto, há o risco de, através da maior autonomia, se
trapassar o pensamento científico clássico. À visão de um reforçar o isolamento e o individualismo dos diversos atores
universo como um mecanismo de relojoaria opõe-se àquela envolvidos no processo de inovação. Uma lógica profissional
de um sistema vivo, instável e imprevisível, mais aberto e não harmonizada com um bom nível técnico leva os atores
criador. Vistos sob esse ângulo, os processos de mudança a confiarem mais em suas experiências pessoais do que nas
correspondem, inversamente, a uma dinâmica instável, ex- informações que derivam da pesquisa em educação. Alguns
pressão de uma multiplicidade de forças em interação que sistemas percebem os laços dos novos princípios da gestão
ora convergem, ora se defrontam. Essa imagem está mais pública e os integram em seu discurso oficial, nem por isso
próxima da realidade do que os modelos clássicos. Este pri- passando ao ato no plano das práticas. Em alguns sistemas,
meiro capítulo tenta descrever tal evolução, confrontará ló- essa orientação torna-se progressivamente da ordem do
gica burocrática e lógica profissional, apresentará os novos possível. A organização profissional valoriza o funcionamen-
princípios organizadores. to colegial e participativo, os processos de decisão são pe-
sados, lentos e ineficientes só o que se busca é um amplo
A lógica burocrática constrói a organização do traba- consenso. Daí o número limitado de decisões inovadoras.
lho sobre uma regulamentação bastante estrita dos papéis Em nome da colegiatura os atores estabelecem a lógica da
e das funções a serem preenchidas. O organograma estabe- confiança.
lece relações de autoridade e cadeias hierárquicas explícitas, Priva-se então de um motor essencial da mudança: a
os membros da organização sabem quem concebe e quem análise lúcida dos funcionamentos, dos êxitos e fracassos de
executa. A ideia do estabelecimento escolar como estrutu- uns e de outros. A lógica profissional aplica-se para apagar
ra local-padrão, é uma resposta burocrática à questão da as hierarquias. É mais agradável confessar que todos são pa-
educação escolar; em um sistema unificado apenas variam o res, graças a esse igualitarismo, o clima de trabalho é mais

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GESTÃO DE PESSOAS

agradável, mas é possível haver inovação na negação da he- Tais configurações são novas, algumas equipes de pro-
terogeneidade das competências e na recusa de reconhe- fessores tentam, há anos, romper com a forma escolar tradi-
cer uma liderança? Uma organização dominada pela lógica cional, tais tentativas isoladas estiveram, na maioria das ve-
profissional é tão conservadora quanto o conjunto de seus zes, destinadas ao fracasso, pois permaneceram confinadas
membros. em um espaço muito limitado de flexibilidade para “irem ao
As duas lógicas estruturam o sistema escolar e as es- fim de sua lógica”. Por conseguinte, é lícito esperar que os
colas. Elas influenciam tanto com a ordem quanto com a estabelecimentos escolares que se voltam para esse tipo de
complexidade e garantem a estabilidade. Ao reunir as duas nova configuração desenvolvam uma série de característi-
lógicas organizacionais, a escola dotou-se de um funciona- cas que modifica favoravelmente a construção do sentido
mento irreversível que a encerra em um círculo vicioso difícil de mudança.
de romper. Quando as escolas funcionam de acordo com uma lógi-
Este círculo vicioso leva tanto as autoridades escolares ca flexível, os professores são levados a desenvolver uma sé-
quanto os diversos atores a uma estranha dança que só rie de competências que lhes permitem transformar a peda-
pode resultar no fechamento e no contrassenso. gogia. Em termos de organização do trabalho, significa que
É preciso, voltar-se para uma lógica mais flexível e adap- os professores se libertem das coações internas, que eles se
tativa, capaz de ultrapassar o saber prático, tácito e artesanal concedem o direito de se organizarem de outro modo. Uma
de cada um, que é da ordem da consciência prática. organização flexível introduz uma visão diferente da divisão
Atualmente, concebemos o excesso das lógicas organi- do trabalho, as tarefas são analisadas e designadas de modo
zacionais existentes como uma evolução incerta e local. Os flexível, e não de acordo com regras e prerrogativas estabe-
atores devem inventar novas formas de organização sem lecidas pela tradição.
poder referirem-se a um modelo claramente estabelecido. É A gestão por redes oferece um meio não apenas de as-
preciso considerar estruturas flexíveis onde tudo se atenue e segurar a informação e o confronto entre os diversos grupos
se adapte à evolução, cada um toma iniciativas que permi- de atores, mas, de permitir-lhes uma compreensão sistêmica
tem garantir a qualidade. Tanto a coordenação e a codifica- das dinâmicas implicadas; o sentido é construído por inter-
ção estrita das atividades quanto o isolamento e o “consenso médio desta compreensão, ao sabor das controvérsias em-
frouxo” deixam o campo livre a uma lógica de arranjo, que preendidas e das experiências feitas por uns e outros.
permite a realização de acordos locais não previstos. Existe, Isso pode permitir que se veja mais longe e que se cons-
pois, uma relação entre a organização do trabalho e a mu- cientize que, outros colegas, trabalhando em outras escolas,
dança. Quanto mais a escola esteja submetida a injunções encontram problemas semelhantes, mas os percebem e re-
de inovação, menos ela poderá regulamentar sua atividade. solvem de maneiras distintas, o que pode gerar novas idéias.
Nenhuma pessoa ou instituição é completamente autô-
Os atores do sistema escolar tentam satisfazer duas noma, é importante, particularizar com muita clareza o ter-
necessidades: estabilidade e mudança. A mudança os leva- reno de autonomia buscado pelas escolas. Diante da grande
rá a valorizar a flexibilidade e a negociação, não poderão, diversidade das realidades e das necessidades do campo, a
entretanto, renunciar a um mínimo de estabilidade. Todo atitude predominante consiste em não mais investir energia
sistema escolar à procura de estabilidade proporcionar-se para produzir uma aparência de homogeneidade, ao contrá-
á uma organização de trabalho que lhe permita limitar os rio, aceitar que possam existir modalidades organizacionais
riscos. Nossa experiência mostra que a mudança se desen- diferentes dentro de um quadro comum aceito pelos parcei-
volve nos espaços ainda não programados, a partir de novas ros. As escolas assumem a responsabilidade de desenvolver
combinações entre os diferentes recursos existentes, em um os dispositivos de ensino-aprendizagem apropriados em
contexto que reconhece a divergência da maneira de pensar função das necessidades locais. Trata-se, da vontade explí-
e fazer. Essas combinações organizam-se a partir da intui- cita de uma flexibilização em favor de uma maior liberdade
ção, do engajamento e da “ousadia”, dos atores do sistema de ação e decisão concedida aos indivíduos e/ou escolas.
escolar. A maneira pela qual eles construirão o - sentido da Alguns esperam que a descentralização leve os atores a re-
mudança – depende da flexibilidade organizacional que lhes solverem os problemas com mais criatividade e responsabi-
permitirá ou impedirá de integrar os novos conceitos. Trans- lidade, assim como a desenvolverem soluções menos caras.
posto ao sistema escolar e à escola, isso leva a um modelo Imaginam que a diversidade de soluções introduzirá uma
de organização do trabalho que fica menos burocrático e certa competição e, aumentará a busca de qualidade nas es-
mais centrado nos funcionamentos informais. As regras de colas. Outros temem que a competição acarrete consequên-
organização são definidas em função da natureza das ques- cias nefastas, em função de egoísmos e disputas de poder.
tões a resolver, a destinação de tarefas é variável e modu-
lável conforme a quantidade e a natureza dos problemas, a A escola é um lugar de exercício do poder, estruturado
capacidade e a vontade dos atores de mobilizarem-se para pelas estratégias de atores e seus jogos de poder. Dessas
um projeto. Isso também significa que as escolas variarão no relações de poder depende, a autonomia da qual cada um
plano de seu nível de desempenho, enquanto se adaptarem dispõe. As relações de poder nunca se estabilizam, qualquer
a seu meio e explorarem novas vias para melhorar seu pro- novo acontecimento pode ameaçar os equilíbrios estabele-
cesso pedagógico. cidos.
A inovação é sempre suspeita de provocar uma ruptura
nesta relação de poder pré-existente. Portanto a questão de

44
GESTÃO DE PESSOAS

saber quem se beneficia com a mu dança é sempre perti- mais simples consiste em conduzir uma análise do funciona-
nente. mento do estabelecimento escolar, consegue-se assim re-
As relações sociais são arranjos que permitem viver em colher um conjunto de dados que permitirão compreender
paz relativa com os outros, a mudança pode ameaçar esse melhor como a escola reage em face da mudança, anteci-
arranjo, dividindo grupos, marginalizando professores, etc. par problemas, compilar as estratégias de resolução, definir
A inovação modifica os dados do problema e os arranjos prioridades e os critérios de êxito para avaliar a eficácia dos
que permitam o modus vivendi, que deve às vezes ser re- procedimentos, prestando contas de seu funcionamento,
construído integralmente. É nesse sentido que os problemas uma equipe de professores, se conscientiza de suas forças
produzidos devem levar os atores a se empenharem na bus- e fraquezas. Esse passo não é fácil. Exige uma capacidade
ca constante de coerência, é uma questão de justiça e de de descentração e vontade de mudança que não prosperam
justeza. A construção do sentido de mudança é fortemente por si. Eis porque a avaliação interna só é realizável quan-
influenciada por esse mecanismo. do é acompanhada pelo desenvolvimento de um clima de
Diante dos problemas de poder, de princípios de justiça confiança dentro da escola sua construção deve preceder o
e de território, a inovação leva os atores a empenharem-se estabelecimento de uma avaliação interna. A avaliação in-
na negociação e no regateio, a fim de construir novos acor- terna constitui uma condição básica da transparência e da
dos e convenções. avaliação externa.
Autonomia parcial significa: projeto coletivo original, Não se trata de distribuir boas ou más notas, nem de
explícito e negociado entre os parceiros no âmbito de um ceder à última moda, mas sim a construção de um sistema
conjunto de direitos e obrigações, relativamente ao Estado e escolar que permita a reflexão permanente sobre a eficácia
suas leis. A autonomia das escolas deve ser concedida com das práticas, este é o objetivo principal de uma avaliação
um equilíbrio entre regulamentos centralizadores e iniciati- externa.
vas locais. O sistema educativo só confiará na autoavaliação dos
O sistema limita-se a prescrever os eixos de orientação professores, se a sua lucidez estiver acima de qualquer sus-
e os regulamentos, e pede às escolas para explicarem como peita, tendo sido feita com total profissionalismo.
trabalham nos campos que acabam de ser evocados, se es- A mudança bem-sucedida não é consequência da sim-
tabelece um sistema de acompanhamento e de avaliação ples substituição de um modelo de gestão antigo por um
externo que permite controlar a qualidade e a coerência da novo. Trata-se sim do resultado de um processo de cons-
aplicação nos diversos estabelecimentos. trução coletiva que tem sentido quando os atores se mo-
A autonomia parcial levará, professores e diretores de bilizam, conseguem ultrapassar os jogos estratégicos e as
escolas, a afinarem os meios de autorregulação para alcan- relações de poder habituais para criarem e desenvolverem
çar os objetivos fixados, não só para eles mesmos como novos recursos e capacidades que permitirão ao sistema
também para prestarem contas a seus parceiros externo. guiar-se ou tornar a se orientar como um conjunto humano
Após a primeira fase de concepção e de elaboração do e não como uma máquina.
projeto, o exame da realidade obriga, a redimensionar as
exigências de uns e outros, o que exigirá negociações para A cooperação profissional
clarificarem as representações, e as novas responsabilidades
que estas acarretam. A cooperação profissional não corresponde ao funcio-
Uma gestão que conceda mais autonomia às escolas namento da maior parte dos professores e dos estabeleci-
faz emergir um novo problema: como se vai, como se pode mentos escolares, o individualismo permanece no âmago da
administrar a diversidade? Tais questões, tornam-se centrais identidade profissional.
quando a ação de projeto confronta os diversos parceiros Entretanto, na maioria das escolas, já se verificam mu-
com o indispensável controle de qualidade. danças. Na busca de dispositivos de ensino – aprendizagem,
os professores trabalham mais em equipe, por outro lado
No contexto de uma organização do trabalho, a ava- a maioria dos sistemas educacionais aplica-se em reformas
liação baseia-se na maneira como os atores obedecem às que incitam uma maior cooperação entre os professores.
regras. Um dos grandes equívocos que espreitam as escolas O modo de cooperação profissional inscrito na cultura
consiste em crer que a autonomia concedida lhes permiti- de um estabelecimento escolar influencia na maneira como
rá fugir de toda obrigação de prestar contas, no entanto, os professores reagem em face de uma mudança. Os mo-
mais autonomia implica também em mais responsabilidade dos de cooperação profissional seguem algumas tendências
e transparência. Para que o sistema escolar permaneça ad- mais ou menos comuns, a saber:
ministrável ele é levado a estabelecer anteparos capazes de Individualismo – oferece aos professores uma esfera
garantir a coerência da ação pedagógica, visando a: definir a quase “privada” contra os julgamentos e as intervenções
qualidade dos serviços realizados; observar e avaliar os pro- externas. O professor operando sozinho introduz mudanças
cessos e condições básicas que determinam esses serviços eficazes em suas classes.
realizados; colocar o resultado desse processo de avaliação Balcanização: em algumas escolas os professores têm a
a serviço dos desenvolvimentos ulteriores. tendência de associarem-se, mais, a determinados colegas
criando grupos, cada grupo defende suas posições em de-
A avaliação interna começa com um diagnóstico em- trimento das idéias de outros, o consenso é praticamente
preendido, pelos professores e a direção da escola, a forma impossível.

45
GESTÃO DE PESSOAS

Grande família: um modo dentro do qual os membros em relação aos objetivos visados, construindo o sentido da
do corpo docente chegam a uma forma de coexistência pa- mudança.
cífica, que garante o respeito e o reconhecimento do outro,
conquanto que cada qual se submeta a um determinado Um estabelecimento escolar em projeto
conjunto de regras explícitas ou implícitas.
As escolas que produzem efeitos notáveis sobre as
Colegiatura forçada: este modo de relacionamento aprendizagens dos alunos se apoiam nas mudanças que
ocorre onde a direção impõe procedimentos, cuja finalidade o sistema educativo introduz, aproveitam-se das reformas
é levar os professores a concederem mais tempo e atenção do sistema educativo, a não ser que as orientações de fora
à planificação e a execução de uma inovação, tende a pro- estejam em forte contradição com sua cultura. Tal atitude
vocar desconfiança e estratégias defensivas. supõe que as escolas desenvolvam as competências e pos-
turas necessárias para definirem seus objetivos e construí-
Cooperação profissional: pode ser conceituada como rem um projeto comum. A existência de um projeto local
um certo número de atitudes que devem ser construídas a poderia constituir um fator favorável às reformas de conjun-
fim de criar: o hábito da ajuda e do apoio mútuo; um capital to, substituídas pelo projeto de estabelecimento escolar, au-
de confiança e franqueza mútuas; a participação de cada um mentando a oportunidade de uma aplicação das reformas.
nas decisões coletivas. Essas atitudes representam uma clara Essa visão da mudança dos sistemas escolares oferece uma
evolução em relação aos funcionamentos mais individualis- perspectiva dinâmica. Nessa perspectiva, o desenvolvimen-
tas. Convém lembrar que a cooperação profissional só se to escolar é percebido como um processo que permite às
torna possível pela vontade obstinada de voltar o essencial escolas assimilarem as mudanças exteriores a seus próprios
do processo para a perseguição de um objetivo comum que objetivos.
vise à ampliação das competências individuais e coletivas Nos interrogaremos, aqui, mais sobre o estabelecimen-
que garantam o bom resultado dos alunos. to escolar em projeto, do que sobre o “projeto de estabele-
cimento escolar” desenvolvido por administrações centrais
A relação com a mudança na cultura do estabeleci- que de tanto normatizarem a ação de projeto correm o risco
mento escolar de esvaziá-la de seu sentido.
A realidade da escola é feita de urgências, e muitas de-
Cada escola tem sua própria atmosfera, como reflexo cisões são tomadas na incerteza. Diante de tal realidade,
de cultura, exerce uma forte influência sobre aqueles que uma parte dos atores investe em um processo de projeto
ali trabalham. A cultura de uma escola é construída pelos para lutar contra a desmotivação e a avareza mental, fixan-
atores, mesmo que essa construção permaneça, em grande do-se metas coletivas. Muitos sistemas escolares incentivam
parte, inconsciente. Ela é a soma das soluções que funciona- os estabelecimentos a colocarem o seu projeto por escrito,
ram bem para acabarem prosperando e serem transmitidas os estabelecimentos veem-se, assim, levados a explicitar o
aos recém-chegados. A mudança é uma categoria básica que, habitualmente, permanece implícito. Mas, afinal, o que
do pensamento, até os professores mais conservadores for- é exatamente um processo de projeto? O projeto é a ima-
mam projetos de mudança. A maneira como cada um pensa gem de uma situação, de um estado pensado que se tem a
a mudança, funda-se em uma história pessoal e na integra- intenção de alcançar. Nas sociedades modernas, a ideia de
ção a diversos grupamentos sociais, a cultura inerente a cada projeto tornou-se inseparável de nossa visão da ação e do
escola contribui também para influenciar cada um, ela é um sentido da ação seja ela individual ou coletiva.
código comum, que permite ficar no mesmo comprimento
de onda quando sobrevém uma reforma. As novas modalidades de gestão transformam necessi-
De acordo com a situação do estabelecimento escolar dade em virtude; já que não se pode impedir os indivíduos
e de suas culturas, pode-se prever que algumas reformas e os grupos de terem uma identidade, um projeto e estra-
estariam destinadas ao fracasso antes mesmo de terem co- tégias é melhor reconhecê-lo e integrar, transformando-o
meçado, a cultura local determinará as necessidades senti- em vantagem gestionária, propiciando maior controle. Essa
das, a maneira como os professores irão julgar o valor da abordagem constitui os membros de um mesmo estabele-
mudança, interagir, tentar e confrontar suas experiências. A cimento escolar como ator coletivo, o que os obriga a se
cultura não tem chefe, mas os dirigentes e os professores colocarem em busca de um projeto comum. Quem pensa
que exercem liderança podem modificá-la progressivamen- são indivíduos que converterão o processo de projeto em
te. Frente a uma inovação prescrita pelo sistema, a cultura da ilusão ou ferramenta para a ação. Sobre essa base, parece-
escola sugere prioridades que influenciam a interpretação -nos possível apostar no processo de projeto na escala dos
do programa. estabelecimentos escolares, visto que ele contribui para a
Quanto à eficácia, é objeto de diferentes percepções, construção cooperativa da mudança.
uma vez que, nem todos têm a mesma ideia do que torna a O projeto educativo corresponde ao projeto visada sim-
escola eficaz. bólica, como orientação global. Se ele existe e os professo-
A evolução da cultura depende da maneira como o cor- res a ele aderem, embasa o projeto de estabelecimento.
po docente consegue manter uma reflexão e comunicação O projeto de estabelecimento escolar está mais próximo
em torno dos problemas profissionais. Cria-se uma dinâmi- de um programa de ação que envolve o ator coletivo, cons-
ca pela qual os atores conciliam seus objetivos, negociando tituído pelos professores que trabalham naquele estabeleci-

46
GESTÃO DE PESSOAS

mento escolar e que, se tornou pessoa moral. É importante ficientemente sutil da pertinência das práticas em curso e
que a maioria dos professores se associe a um projeto de es- garantem um acréscimo de valor?
tabelecimento escolar para que ele seja digno desse nome. Se essas possibilidades forem mal avaliadas é provável
A preocupação de clarificar o projeto educativo comum que o aluno não obtenha o benefício esperado da situação
leva uma comunidade pedagógica a indagar-se sobre sua com que se acha confrontado. Para que a situação seja por-
identidade. Isso leva a enunciar valores que vão inspirar a tadora de sentido, a mudança prevista deve estar próxima
ação. de suas preocupações, oferecendo, uma impressão de rup-
Um projeto educativo ao qual os professores aderem tura com as rotinas.
convocará, uma mudança organizada que chamaremos aqui Entre investimentos a longo prazo, e resultados imedia-
de projeto de estabelecimento escolar como programa de tos, a ação educativa muitas vezes hesita. A lógica “assegu-
ação, cujas componentes definiremos do seguinte modo: radora” pode assim, parecer a única em condições de criar a
uma fixação na história da organização e seu meio; um obje- calma para encarar ações inovadoras.
tivo ambicioso a médio e longo prazo; um código de valores; A multiplicação dos projetos de estabelecimento escolar
cenários para realizar o objetivo principal; um plano a médio fez evoluir a maneira de trabalhar em conjunto. Ao projeto
prazo e um plano de ação; dimensões econômicas, sociais, como forma social, associam-se diversas práticas, reconhe-
culturais e pedagógicas; uma intenção de comunicar-se e cidas como características. Não é pequeno o risco de ver a
de avaliar; uma vontade explícita de capitalizar e teorizar a adoção dessas práticas fazer as vezes de projeto de esta-
experiência. belecimento escolar. É importante associar os processos de
Um projeto de estabelecimento pode fixar-se em um projeto a uma avaliação interna que verifique a coerência
projeto educativo explícito ou implícito. A ação inovadora entre os objetivos visados e as ações empreendidas.
corre o risco de esvaziar-se de seu sentido se o projeto não Estando a cultura de cooperação e a do projeto desa-
se transformar em um processo. O processo de projeto não brochando, grande parte dos projetos nasce na mente de
é um fim em si, mas, um dos componentes do estabeleci- algumas pessoas conquistadas pela ideia, é verdadeiro para
mento escolar que contribui para tornar os professores ato- os projetos “espontâneos” e também para os projetos “so-
res da construção do sentido da mudança. licitados” pelas autoridades escolares. Em ambos os casos,
O projeto de estabelecimento escolar é levado a fun- a questão é saber como passar da iniciativa de alguns a
cionar com três dimensões: capacidade individual e coleti- um consenso tão amplo quanto possível sobre o princípio,
va de se projetar (lançar) em um futuro incerto, identidade o conteúdo, e as orientações de um projeto de estabeleci-
dos signatários do projeto representação coletiva, já que se mento escolar. Durante o período em que a maioria vai ade-
trata de um processo de exploração cooperativa. Quando o rindo a um “projeto de projeto”, manifestam-se oposições,
projeto de estabelecimento escolar leva em conta essas três agravos, tomadas de poder, alianças e clivagens sem grande
dimensões, ele passa a ser uma ferramenta de mudança, de relação com o conteúdo. Procurar obter a adesão entusias-
aprendizagem organizacional. ta de 99% dos professores da escola condenaria, qualquer
Evocamos várias vezes a importância decisiva da coe- projeto a ser rapidamente abandonado, em geral dá-se a
rência interna entre valores e ações, quando é o caso, é vi- partida com uma minoria ativa. Quais os fatores que deter-
sível, para os alunos, que seus professores perseguem os minam a adesão?
mesmos objetivos e os acompanham em um percurso de A adesão só ocorrerá se os interlocutores puderem
aprendizagem cuja meta é partilhada por todos. Não se entrever a manutenção de suas experiências ou a abertura
deve confundir projeto com plano de ação, um projeto deve de demais caminhos de acesso a vantagens simbólicas ou
evitar a definição de um plano de estudos demasiado estrei- materiais é durante esta delicada passagem, da concepção
to e rígido, deve permitir ajustes tanto nas estruturas quanto por uma minoria à adesão coletiva, que se executa uma das
nas práticas. O importante é que subsista um quadro estável, etapas decisivas do projeto. Administrar essa etapa com
que protegerá da dispersão e de um ativismo extenuante, atenção garante uma saída melhor para o projeto, baseada
mais ainda, não seja utilizado por alguns para fins de to- em confiança relativa, garantindo sua razão de ser, tanto no
mada de poder. O essencial consiste em estabelecer alguns presente quanto na continuidade. A mobilização geral da
princípios organizadores do pensamento e da ação. Um maioria, o consenso na análise prévia das necessidades e a
projeto de estabelecimento escolar terá maiores chances de identificação coletiva dão lugar às divergências e à dispersão
êxito quando os objetivos visados forem realistas. Para que das forças nos momentos difíceis e precipitam os atores em
um projeto possa fazer a diferença, é necessário que ele se uma fase de turbulências que pode representar um simples
inscreva na “zona de desenvolvimento proximal” dos atores vazio do processo de implementação. Numerosas equipes
e seja capaz de penetrar em seus campos de consciência, é desistem diante da ausência de efeitos a curto ou médio
indispensável determinar tal “zona” a fim de saber a quais prazo, ou mesmo diante da resistência dos principais inte-
desafios é possível se exporem, para chegarem a transfor- ressados: os alunos. Mesmo um projeto de estabelecimento
mações da identidade coletiva que permitam a utilização escolar que obtenha a concordância e o apoio de grande
dos novos saberes de forma duradoura. maioria dos parceiros não tem garantia de sua longevidade.
Um projeto de longa duração nunca será totalmente aplica-
Os projetos garantem um desenvolvimento das com- do por aqueles que o elaboraram. É necessário concebe-lo
petências profissionais que baste para produzir efeitos du- de maneira que seja possível fazê-lo durar, e utilizá-lo como
ráveis? Os projetos estão fundados em uma avaliação su- instrumento de integração de recém-chegados. O projeto

47
GESTÃO DE PESSOAS

como explicação de uma identidade coletiva não significa mais positiva e profissionalizante, centrada na obrigação de
fechamento sobre si mesmo, mas sim, abertura para o futuro competências, visando à evolução tanto das representações
e para fora. da profissão quanto das práticas pedagógicas e à transfor-
mação da dinâmica do estabelecimento escolar, em uma
Liderança e modos de exercício do poder coesão essencialmente pedagógica, constituindo este últi-
mo em organização aprendente.
Os processos de mudança não se desenvolvem por si O estabelecimento escolar é definido como um grupo
mesmos. Necessitam de uma orquestração ativa, a mudança de professores que assumem a responsabilidade de desen-
choca-se com ações igualmente deliberadas para bloqueá- volver os dispositivos de ensino e aprendizagem mais efi-
-las. As influências não provêm unicamente daqueles que cazes.
detêm uma autoridade formal. No desenvolvimento organizacional, os projetos de for-
As noções de líder e de liderança referem-se mais a uma mação comum se limitam a alguns seminários durante os
influência real sobre o curso das coisas do que ao estatuto quais os professores têm a ilusão de construir uma cultura
dos que a exercem. Qualquer membro de uma comunidade comum em relação a um tema que lhes parece central, eles
exerce, de vez em quando, alguma influência. Alguns com imaginam que realmente conseguirão modificar suas práti-
mais frequência do que outros, o que caracterizará uma li- cas, enquanto observadores externos notam apenas mudan-
derança se esta se mostrar regularmente sobre as decisões ças insignificantes.
de um grupo. A noção de liderança como influência regular Já, o desenvolvimento profissional ressalta as necessida-
define o líder, como “aquele que exerce uma liderança em des e apostas das pessoas que coexistem e cooperam den-
um determinado contexto”. tro de um estabelecimento escolar, esboçando e realizando
Os estabelecimentos escolares que se engajam em um um projeto coletivo.
processo de mudança deverão construir uma nova visão da Tal interpretação da formação contínua coloca os atores
gestão das relações de força e, se possível, substituir a li- do estabelecimento escolar no centro do processo de de-
derança autoritária por uma liderança cooperativa. A ideia senvolvimento e o liga à mudança.
de liderança cooperativa designa uma liderança assumida De acordo com esse modelo, os professores são per-
de modo cooperativo por um conjunto de atores, nenhum cebidos como membros de uma organização social, corres-
dos quais é líder formal ou informal o tempo todo, mas ponsáveis por seu desenvolvimento ulterior. Visto que são
está abertamente voltado para a ação comum. A liderança responsáveis de seu desenvolvimento profissional, os atores
cooperativa rompe com a organização clássica do trabalho transformam suas necessidades, formulando projetos coleti-
dentro de um estabelecimento escolar, os membros do gru- vos e investindo-se em sua aplicação.
po acham-se investidos de tarefas ou de funções que eles Para aumentar a eficácia da ação organizada dentro de
assumem sem monopolizá-las duradouramente. A lideran- uma instituição, é necessário compreender sua cultura, é in-
ça cooperativa não reconhece hierarquias estáveis nem lí- dispensável que os atores meçam a dinâmica e a comple-
der permanente. A liderança é entendida como uma força xidade do funcionamento coletivo para depois decidirem e
de transformação cultural e de desenvolvimento. Ela não colocarem em prática novos funcionamentos.
suprime a função de diretor de escola, mas redefine, o pa- A ação organizada não é redutível às aprendizagens in-
pel consistiria em tornar-se aquele que faz as competências dividuais, trata-se de um sistema de aprendizagens coorde-
emergirem, facilita a concepção e a aplicação de novas mo- nadas, sendo suficiente para fazer funcionar o conjunto, por-
dalidades organizacionais, ele orquestra a ação coletiva para que é de sua capacidade de transformar-se em organização
que esta possa tender para a transformação das práticas. aprendente que depende o resultado de uma maior eficácia
A liderança cooperativa produz para cada pessoa uma da ação coletiva.
sobrecarga de trabalho, daí a necessidade de estabelecer
uma instância de coordenação responsável por: acompa- Conclusão
nhar os esforços de colocação em prática; informar todas as
partes envolvidas sobre o processo em curso; aproximar e O estabelecimento escolar é um nível determinante do
ligar os diferentes grupos de trabalho; organizar e animar as destino reservado aos projetos de mudança, porque é ali
sessões; instituir instâncias de conversa; criar lugares de de- que os professores trabalham e constroem o sentido de suas
cisão e de regulação. O papel dos líderes leva-os a verificar práticas profissionais, bem como as transformações que lhes
constantemente se os diferentes membros do grupo conse- são propostas, venham elas de dentro ou de fora.
guem aderir aos objetivos visados, se estão convencidos de Seu resultado será coerente relativamente à cultura e às
que as apostas valem a pena e pensam que eles têm mais a relações sociais instituídas, nas quais as conversações se es-
ganhar do que a perder. tabelecerão em torno desse novo objeto, a partir das tenta-
tivas e das reposições em discussão que uns e outros devam
O estabelecimento escolar como organização apren- ou queiram permitir.
dente Na verdade, a mudança leva tempo e só se realiza por
etapas, conforme as quais os profissionais criam vínculos en-
Um estabelecimento escolar pode ou não favorecer a tre seus saberes de experiência e as novas idéias. O processo
mudança. É sua capacidade de adquirir experiência que o de mudança é, pois, um assunto de evolução conjunta dos
torna uma organização aprendente; adota uma abordagem valores, crenças, conceitos e práticas.

48
GESTÃO DE PESSOAS

Ao começar este trabalho, já estávamos convencidos de características do contexto ambiental, o negócio da orga-
que o sentido da mudança não é imposto, não é dado de nização, a tecnologia utilizada, os processos internos e uma
antemão nem é imutável. A mudança é construída na regu- infinidade de outras variáveis importantes. A Gestão de Pes-
lação interativa entre atores. soas de baseia em três aspectos fundamentais:
a) As pessoas como seres humanos: dotados de perso-
Se a hipótese construtivista é válida não apenas para nalidade próprias, profundamente diferentes entre si, com
os indivíduos, mas para as coletividades, como conseguir uma história particular e diferenciada, possuidores de co-
comprometê-las em um processo de construção coletiva de nhecimentos, habilidades, destrezas e capacidades indis-
longa duração? pensáveis à adequada gestão de recursos organizacionais.
Numerosos fóruns, publicações e debates são dedicados Pessoas como pessoas e não como meros recursos da or-
a essa problemática. Apesar dos debates, parece-nos que, ganização.
nos encontramos atualmente, bem no início de um longo b) As pessoas como ativadoras inteligentes de recur-
processo de “profissionalização” das práticas de inovação, sos organizacionais: como elementos impulsionadores da
seja na escala do sistema, do estabelecimento escolar ou da organização e capazes de dota-la de inteligência, talento
classe. Tal processo levará todos os atores a conduzirem a e aprendizado indispensáveis à sua constante renovação e
escola na aventura de uma “organização aprendente”. Nessa competitividade em um mundo de mudanças e desafios. As
aventura, o estabelecimento escolar pode e deve represen- pessoas como fonte de impulso próprio que dinamiza a or-
tar um nó estratégico. ganização e não como agentes passivos, inertes e estáticos.
c) As pessoas como parceiros da organização: capazes
Referência de conduzi-la à excelência e ao sucesso. Como parceiros, as
TRURLER, M. G. Inovar no interior da escola. pessoas fazem investimentos na organização
THURLER, Mônica Gather e MAULINI, Olivier (org.). A
• como esforço, dedicação, responsabilidade, com-
organização do trabalho escolar: uma oportunidade para
prometimento, riscos etc.
repensar a escola. Porto Alegre: Penso, 2012.
• na expectativa de colher retorno desses investimen-
tos
VERGARA, SYLVIA CONSTANT. GESTÃO DE
PESSOAS. SÃO PAULO: ATLAS: 2009. • como salários, incentivos financeiros, crescimento
profissional, carreira, etc. Qualquer investimento so-
mente se justifica quando traz um retorno razoável.
Portanto, Gestão de Pessoas é o conjunto de políti-
GESTÃO DE PESSOAS cas e práticas necessárias para conduzir os aspectos
da posição gerencial relacionados com as pessoas
O contexto da Gestão de Pessoas é formado por pessoas ou recursos humanos, incluindo recrutamento, se-
e organizações. As pessoas dependem das organizações leção, treinamento, recompensas e avaliação de de-
onde trabalham para tingir os seus objetivos individuais e sempenho.
pessoais. De outro lado, as organizações dependem direta
e irremediavelmente das pessoas para operar, produzir seus Objetivos da Gestão de Pessoas
bens e serviços, atender clientes, competir nos mercados,
e atingir seus objetivos globais e estratégicos. Na verdade, A Gestão de Pessoas deve contribuir para a eficácia or-
cada uma das partes depende da outra. Uma relação de ganizacional através dos seguintes meios:
mútua dependência na qual há benefícios recíprocos. As or- a) Ajudar a organização a alcançar seus objetivos e reali-
ganizações são constituídas de pessoas e dependem delas zar sua missão: Antigamente, a ênfase era colocada no fazer
para atingir seus objetivos e cumprir suas missões. E para as corretamente as coisas através dos métodos e regras impos-
pessoas, as organizações constituem o meio pelo qual elas tos aos funcionários e, assim, obter eficiência. O salto para
podem alcançar vários objetivos pessoais com um mínimo a eficácia veio com a preocupação em atingir objetivos e
de tempo, esforço e conflito. As organizações surgem para resultados.
aproveitar a sinergia dos esforços de várias pessoas que tra- b) Proporcionar competitividade à organização: Isto sig-
balham em conjunto. Termos como empregabilidade e em- nifica saber empregar as habilidades e capacidades da força
presabilidade são usados para mostrar, de um lado, a capa- de trabalho.
cidade das pessoas de conquistar e manter seus empregos c) Proporcionar à organização empregados bem treina-
e, de outro, a capacidade das empresas para desenvolver dos e bem motivados: Dar reconhecimento às pessoas e não
e utilizar as habilidades intelectuais e competitivas de seus apenas dar dinheiro é o que constitui o elemento básico da
membros. motivação humana.
d) Aumentar a auto atualização e a satisfação dos em-
Conceito de Gestão de Pessoas
pregados no trabalho: Para que sejam produtivos, os em-
A Gestão de Pessoas é contingencial e situacional, pois pregados devem sentir que o trabalho é adequado às suas
depende de vários aspectos como acultura que existe em capacidades e que estão sendo tratados equitativamente.
cada organização, a estrutura organizacional adotada, as

49
GESTÃO DE PESSOAS

e) Desenvolver e manter qualidade de vida no trabalho: tura funcional privilegia a especialização de cada órgão e a
QVT é um conceito que se refere aos aspectos da experiên- cooperação intra departamental, mas produz consequências
cia do trabalho, como o estilo de gerência, liberdade e auto- indesejáveis como a subjetivação (os objetivos departamen-
nomia para tomar decisões, ambiente de trabalho agradável, tais tornam-se mais importantes que os objetivos globais e
segurança no emprego, horas adequadas de trabalho e ta- organizacionais), que funciona como uma força centrífuga
refas significativas. de esforços, e a enorme dificuldade de cooperação interde-
f) Administrar a mudança: Saber lidar com as mudanças, partamental (os departamentos mais se separam e brigam
pois estas se multiplicam exponencialmente e cujas soluções do que cooperam entre si) que impede a visão sistêmica e
impõe novas estratégias, programas, procedimentos e solu- a obtenção de sinergia.Com a abordagem sistêmica, a ve-
ções. lha tradição cartesiana de dividir, segmentar e separar foi
g) Manter políticas éticas e comportamento socialmente substituída por uma nova maneira de organizar a empresa.
responsável: Tanto as pessoas como as organizações devem A ênfase agora está em juntar e não mais em separar. O foco
seguir padrões éticos e de responsabilidade social. não está mais nas tarefas, mas nos processos. Não mais em
cargos individualizados, separados e confiados, mas no tra-
A responsabilidade social não é uma exigência feita balho conjunto feito por equipes autônomas e multidiscipli-
somente às organizações, mas também, principalmente, às nares. Os movimentos de reorganização empresarial, como
pessoas que nelas trabalham. a engenharia e o downsizing, provocaram a substituição da
organização funcional pela organização em rede de equipes
Os Processos da Gestão de Pessoas voltadas para processos.

Os seis processos básicos da Gestão de pessoas são os ARH como Responsabilidade de Linha e Função de
seguintes: Staff
1) Processos de Agregar Pessoas: são os processos utili- Há um princípio básico em ARH: gerir pessoas é uma
zados para incluir novas pessoas na empresa. Incluem recru- responsabilidade de linha e uma função de staff.
tamento e seleção de pessoas. Quem deve gerir as pessoas é o próprio gerente, ou
2) Processos de Aplicar Pessoas: são os processos utili- supervisor, ao qual elas estão subordinadas. Por esta razão,
zados para desenhar as atividades que pessoas irão realizar existe o princípio da unidade de comando: cada pessoa
na empresa, orientar e acompanhar seu desempenho. In- deve ter apenas um gerente. A contrapartida desse princí-
cluem desenho organizacional e desenho de cargos, análise pio é que cada gerente é o chefe único e exclusivo de seus
e descrição de cargos, orientação das pessoas e avaliação do subordinados. Para que o gerente possa assumir com plena
desempenho. autonomia essa responsabilidade de gerir seu pessoal, ele
3) Processos de Recompensar Pessoas: são os processos precisa receber assessoria e consultoria do órgão de ARH,
utilizados para incentivar as pessoas e satisfazer suas neces- que lhe proporciona os meios e serviços de apoio. Assim,
sidades individuais mais elevadas. Incluem recompensas, re- gerir pessoas é uma responsabilidade de cada gerente, que
muneração e benefícios e serviços sociais. por sua vez deve receber orientação do staff a respeito das
4) Processos de Desenvolver Pessoas: são os processos políticas e procedimentos adotados pela organização.
utilizados para capacitar e incrementar o desenvolvimento Gradativamente, a área de ARH está deixando de ser a
profissional e pessoal. Incluem treinamento e desenvolvi- prestadora de serviços especializados de recursos humanos,
mento das pessoas, programas de mudanças e desenvolvi- abandonando paulatinamente suas operações burocráticas
mento de carreiras e programas de comunicação. e se transformando cada vez mais em uma área de consulto-
5) Processos de Manter Pessoas: são os processos utili- ria interna para preparar e orientar os gerentes de nível mé-
zados para criar condições ambientais e psicológicas satisfa- dio para a nova realidade. Estes passam a ser novos gestores
tórias para as atividades das pessoas. Incluem administração de pessoal dentro das empresas, o que significa que as de-
da disciplina, higiene, segurança e qualidade de vida e ma- cisões e ações com relação às pessoas passa a ser da alçada
nutenção de relações sindicais. dos gerentes e não mais uma exclusividade da área de ARH.
6) Processos de Monitorar Pessoas: são os processos
utilizados para acompanhar e controlar as atividades das Fonte
pessoas e verificar resultados. Incluem banco de dados e sis- VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de Pessoas. São Pau-
temas de informações gerenciais. lo: Atlas: 2009.

A Estrutura do Órgão de Gestão de Pessoas

Antigamente, os órgãos de ARH eram estruturados den-


tro do esquema de departamentalização funcional. A estru-

50
GESTÃO DE PESSOAS

QUESTÕES A prática pedagógica indica, para o diretor, que o pro-


fessor adota como orientação de seu trabalho educativo
01. (VUNESP) A escola pode ser percebida segundo di-
uma tendência
ferentes pontos de vista. Um deles é percebê-la sob a pers-
(A) diretiva, tradicional.
pectiva sistêmica, o que significa dizer que ela se caracteriza
(B) não diretiva, laissez-faire.
pela
(C) diretiva, conteudista.
(A) indicação das relações sociais que nela se estabele-
(D) relacional, construtivista.
cem.
(E) diretiva, tecnicista.
(B) independência dos elementos que compõem sua
estrutura.
05. (VUNESP) Um diretor de escola, irritado com al-
(C) autonomia dos níveis hierárquicos a que está sub-
guns professores, desabafa dizendo: “... se eles passassem
metida.
um mês na direção entenderiam como é complicado dirigir
(D) conexão íntima de todas as partes e elementos que
sozinho esta escola.”
a compõem.
O desabafo indica que esse diretor assume um modelo
(E) organização do seu espaço independente de sua
de gestão baseado
proposta pedagógica.
(A) na autonomia da escola que permite que todo corpo
docente participe das decisões.
(B) no compartilhamento das decisões por todos os
02. (VUNESP) Considere os seguintes temas educacio-
educadores da escola.
nais:
(C) na participação de todos os segmentos envolvidos
I. Educação e mulher;
na concretização do projeto da escola.
II. Educação e orientação sexual;
(D) na democratização das relações de poder que foram
III. Educação e relações étnicas;
estabelecidas na escola.
IV. Educação indígena.
(E) em uma estrutura administrativa autocrática, vertical
É considerado como objeto de estudo multicultural o
e hierarquizada.
contido em
(A) I e IV, apenas.
06. (VUNESP) Em uma conversa entre a orientadora
(B) II e III, apenas.
educacional e o diretor da escola, ela lhe afirma que todo
(C) I e IV, apenas.
seu trabalho é orientado pela concepção da pedagogia crí-
(D) II, III e IV, apenas.
tica dos conteúdos. Isso significa que a orientadora acredita
(E) I, II, III e IV.
que seu papel educacional é
(A) proceder ao ajustamento do educando à sociedade
03. (VUNESP) Segundo Mantoan, uma escola deixará
tal como está constituída.
de ser considerada inclusiva quando
(B) justificar a seletividade da educação para o desen-
(A) constituir classes para alunos portadores de neces-
volvimento dos que apresentam maior potencial de sucesso
sidades especiais.
no trabalho.
(B) desenvolver habilidades mínimas para o exercício da
(C) assessorar o trabalho docente, fazendo a sua media-
cidadania, solidariedade, cooperação e diálogo.
ção com a organização escolar.
(C) considerar o respeito à diferença como um funda-
(D) promover o desenvolvimento integral e harmonio-
mento do seu projeto pedagógico.
so da personalidade, a partir de uma concepção ideal do
(D) ensinar à turma toda, sem exceção, atendendo a to-
homem.
dos os alunos, sem diferenciar o ensino para cada um.
(E) apoiar o trabalho do professor, oferecendo-lhe in-
(E) garantir aos alunos tempo e liberdade para apren-
formações obtidas sobre o educando por meio de testes
der a fim de que possam desenvolver suas predisposições
psicológicos.
naturais.
07. (VUNESP) Arroyo afirma que normalizar o cotidiano
04. (VUNESP) Considere a seguinte situação:
da escola – tendo em vista mantê-lo sob controle – é a solu-
O diretor de uma escola observou que um professor en-
ção mais tranquila para os gestores, técnicos, direção e até
tra na sala de aula com revistas e jornais com notícias da
os professores. Para o autor, uma forma que os professores
semana que passou. Coloca-os sobre a mesa e diz aos alu-
vêm encontrando para enfrentar o legalismo autoritário e o
nos para os explorarem da forma que acharem melhor. Após
trato infantilizado e que é por ele incentivada é a
certo tempo, interrompe a exploração e começa a fazer per-
(A) submissão ao que está estabelecido nas normas es-
guntas sobre diferentes aspectos dos materiais. Relaciona as
colares.
respostas de alguns alunos com as de outros, pede escla-
(B) resignação ao que consideram inadequado na es-
recimentos, faz novas perguntas até julgar que os alunos já
cola.
dispõem de material necessário para produzir algumas re-
(C) aceitação consciente dos regulamentos estabeleci-
presentações. Prossegue a aula sintetizando junto com eles
dos.
o que fizeram e como fizeram, até que o tempo se esgota e
(D) valorização dos hábitos de cumprir e seguir normas.
ele propõe um desafio para a próxima aula.
(E) transgressão pedagógica em sala de aula.

51
GESTÃO DE PESSOAS

08. (VUNESP) Muitas são as concepções de currículo 10. (VUNESP) É consenso no meio educacional a idéia
que orientam as práticas pedagógicas cotidianas dos edu- de que a função da educação tem sido a de selecionar os
cadores. Se considerarmos o currículo como a seleção dos melhores em relação à sua capacidade para seguir uma
conteúdos a serem desenvolvidos na escola, seu planeja- carreira universitária ou para obter qualquer outro título de
mento envolverá prestígio reconhecido. Isso significa que os objetivos educa-
(A) a organização do seu projeto e das condições em cionais perseguidos pelos sistemas educacionais têm sido os
que ele será desenvolvido. que focam as capacidades
(B) a estruturação do que deverá ser ensinado e apren- (A) cognitivas.
dido. (B) afetivas.
(C) os problemas referentes à sequência de progressão (C) psicomotoras.
dos alunos pelas habilidades correspondentes. (D) de equilíbrio pessoal.
(D) a organização dos processos pedagógicos e dos am- (E) de interrelacionamento.
bientes que os favorecem.
(E) a estruturação de todos os fatores relacionados com GABARITO
a prática pedagógica a fim de atingir determinados resulta-
dos. 01. D
02. E
09. (VUNESP) O diretor de uma escola convoca os edu- 03. A
cadores e funcionários para desencadear a elaboração do 04. D
projeto pedagógico e lhes explica que o envolvimento de 05. E
todos significa que serão compartilhadas as decisões acerca 06. C
do que fazer, do como fazer e em qual direção. O fato de 07. E
pretender compartilhar o processo de decisão indica que 08. B
esse diretor concebe o planejamento educacional como um 09. C
processo 10. A
(A) técnico.
(B) administrativo.
(C) político.
(D) estratégico.
(E) tático.

52
GESTÃO E CONHECIMENTO

1. A construção do conhecimento..................................................................................................................................................................... 01
2. Avaliação da educação e indicadores educacionais.............................................................................................................................. 04
3. Concepções de educação e escola Função social da escola.............................................................................................................. 15
4. Os teóricos da educação................................................................................................................................................................................... 17
5. Tecnologias de informação e comunicação na educação................................................................................................................... 26

BIBLIOGRAFIA
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CASTORINA, José Antonio e outros. Piaget-Vigotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 2005......... 31
COLL, César e MONEREO, Carles e Colaboradores. Psicologia da educação virtual. Porto Alegre: Artmed, 2010............ 39
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2011............................................................................................................................................................................................................................... 40
ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Escola, currículo e avaliação. São Paulo: Cortez, 2005.................................................................. 47
FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999......................................... 49
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Campinas: Autores Associados, 2007............................................................................................................................................................... 63
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Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2003............................................................................................................................................................. 65
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discussão. São Paulo: Summus, 1992............................................................................................................................................................... 66
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Campinas, SP: Papirus, 2000................................................................................................................................................................................. 69
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RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2003..82
VASCONCELLOS, Celso dos S. Construção do Conhecimento em Sala de aula. São Paulo: Libertad, 2002......................... 85
VIEIRA, Alexandre Thomaz, ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de e ALONSO, Myrtes. Gestão educacional e tecnologia. São
Paulo: Avercamp, 2003........................................................................................................................................................................................... 89
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991................................................... 92
GESTÃO E CONHECIMENTO

pensamento lógico. Sugere, também, que a escola atue na


1. A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO; estimulação da zona de desenvolvimento proximal, pondo
em movimento processos de desenvolvimento interno que
seriam desencadeados pela interação da criança com outras
pessoas de seu meio. Uma vez internalizados, esses atos se
Como se dá a construção do conhecimento? incorporariam ao processo de desenvolvimento da criança.
Seguindo essa linha de raciocínio, o aspecto mais re-
Apesar de Piaget e Vygotsky partilharem algumas cren- levante da aprendizagem escolar parece ser o fato de criar
ças – por exemplo, que o desenvolvimento é um proces- zonas de desenvolvimento proximal.
so dialético e que as crianças são cognitivamente ativas no Inagaki e Hatano (1983) sugerem um modelo que tenta
processo de imitar modelos em seu mundo social – eles sintetizar as contribuições de Vygotsky e Piaget, analisando
divergem na ênfase sobre outros aspectos. Eu gostaria de o papel das interações sociais entre os alunos (interações
apontar e analisar três desses aspectos divergentes e mos- horizontais) no processo de aprendizagem. Eles consideram
trar como eles fundamentam minha proposta: que a integração do conhecimento é mais forte quando as
• desenvolvimento versus aprendizagem crianças são instigadas a defender seu ponto de vista. Isto
acontece mais naturalmente quando elas tentam convencer
• interação social versus interação com os objetos seus colegas. Elas também tendem a ser mais críticas quan-
• interação horizontal versus interação vertical. do discutindo com seus pares que com os professores, por
aceitarem mais passivamente a opinião dos adultos.
No primeiro aspecto, temos, por um lado, a convicção Esse estudo propõe a aquisição de conhecimento inte-
de Piaget de que o desenvolvimento precede a aprendiza- grado através da discussão em sala de aula e tenta ampliar a
gem e, por outro, a afirmação de Vygotsky de que a aprendi- participação do adulto em mais do que simplesmente orga-
zagem pode (e deve) anteceder o desenvolvimento. Um pri- nizar condições para o trabalho dos alunos. É sugerido que
meiro exame dos estudos Vygotskianos nos mostra que os os professores deveriam adotar, quando necessário, o papel
problemas relacionados com o processo ensino-aprendiza- de um colega mais experiente, ajudando os alunos a superar
gem não podem ser resolvidos sem uma análise da relação impasses que surgem durante as discussões, dando exem-
aprendizagem-desenvolvimento. Vygotsky (1988) diz que, plos (ou contraexemplos) que estimulem o pensamento.
da mesma forma que algumas aprendizagens podem con- Hatano ataca a rígida divisão entre construção indivi-
tribuir para a transformação ou organização de outras áreas dual e social do conhecimento ao enfatizar as vantagens da
de pensamento, podem, também, tanto seguir o processo adoção de uma postura mais flexível:
de maturação como precedê-lo e mesmo acelerar seu pro- Arguir que o conhecimento é individualmente construí-
gresso. Essa ideia revolucionou a noção de que os processos do não é ignorar o papel das outras pessoas no processo de
de aprendizagem são limitados pelo desenvolvimento bio- construção. Similarmente, enfatizar o papel das interações
lógico que, por sua vez, depende do processo maturacional sociais e/ou com os objetos na construção do conhecimen-
individual e não pode ser acelerado. Mais ainda, considera to, não desmerece a crucial importância da orientação a ser
que o desenvolvimento biológico, pode ser decisivamente dada pelo professor.
influenciado pelo ambiente, no caso, a escola e o ensino. Dessa forma, reforça a importância do papel do pro-
A convicção de Piaget de que as crianças são como cien- fessor e do contexto social na construção do conhecimento
tistas, trabalhando nos materiais de seu mundo físico e lógi- pelo aluno. No trabalho de Vygotsky, a dialética da mudan-
co-matemático para dar sentido à realidade, de forma algu- ça é clara: as atividades 1na sala de aula são influenciadas
ma nega sua preocupação com o papel exercido pelo meio pela sociedade, mas, ao mesmo tempo, podem, também,
social. Existe aqui, em minha opinião, apenas uma questão influenciá-la. Como conclusão Hatano escreve:
de ênfase. Enquanto Piaget enfatiza a interação com os ob- Se nós queremos estabelecer uma concepção ou teoria
jetos, Vygotsky enfatiza a interação social. de aquisição de conhecimento geralmente aceita, devería-
A idade mental da criança é tradicionalmente definida mos estimular o diálogo (ou o “poliálogo”) entre as teorias
pelas tarefas que elas são capazes de desempenhar de for- ou programas de pesquisa. Esta prática pode nos conduzir ao
ma independente. Vygotsky chama essa capacidade de zona fortalecimento de uma teoria pela incorporação de insights
de desenvolvimento real. Estendendo esse conceito Vygot- de uma outra o que pode algumas vezes ser considerado pro-
sky afirma que, mesmo que as crianças não possam ainda blemático.
desempenhar tais tarefas sozinhas algumas dessas podem Esse problema pode, no entanto, ser contornado, se
ser realizadas com a ajuda de outras pessoas. Isso identifi- aqueles insights forem harmoniosamente integrados dentro
ca sua zona de desenvolvimento potencial. Finalmente, ele da teoria Vygotskiana.
sugere que entre a zona de desenvolvimento real (funções Em seguida, eu gostaria de ir mais além, incluir a pedago-
dominadas ou amadurecidas) e a zona de desenvolvimento gia crítica de Paulo Freire nesta discussão e mostrar suas ca-
potencial (funções em processo de maturação) existe uma racterísticas complementares aos enfoques Piagetiano e Vy-
outra que ele chama de zona de desenvolvimento proximal. gotskiano na formulação de um ensino crítico-construtivista.
Desenvolvendo sua teoria, Vygotsky demonstra a efetivida- A compreensão do papel da educação no desenvolvi-
de da interação social no desenvolvimento de altas funções mento dos seres humanos, partilhada por Vygotsky e Freire,
mentais tais como: memória voluntária, atenção seletiva e

1
GESTÃO E CONHECIMENTO

é baseada na preocupação de ambos com o desenvolvimen- a reestruturarem suas ideias o que pode representar um sal-
to integral das pessoas, na filosofia marxista, no enfoque to qualitativo na sua compreensão. Essa comparação tam-
construtivista, na importância do contexto social e na firme bém pode ajudar o aluno a desenvolver sua capacidade de
crença na natureza dos seres humanos. análise. Em outras palavras, espera-se que o novo conheci-
Tudge (1990) – um forte Vygotskiano escreve: mento não seja aprendido mecanicamente, mas ativamente
A colaboração com outras pessoas seja um adulto ou construído pelo aluno, que deve assumir-se como o sujeito
um colega mais adiantado, dentro da zona de desenvolvi- do ato de aprender. Eu gostaria também de sugerir que o
mento proximal, conduz ao desenvolvimento dentro de pa- professor provocasse nos seus alunos o desenvolvimento de
râmetros culturalmente apropriados. Esta concepção não é uma atitude crítica que transcendesse os muros da escola e
teleológica no sentido de algum ponto final universal de de- refletisse na sua atuação na sociedade.
senvolvimento, mas pode ser, em um sentido mais relativo, Estar consciente dos conceitos prévios dos alunos – que
que o mundo social preexistente, internalizado no adulto ou estejam em desacordo com o conhecimento científico – ca-
no colega mais adiantado, é o objetivo para o qual o desen- pacita os professores a planejar estratégias para reconstruí-
volvimento conduz. -los, utilizando contraexemplos ou situações-problema, para
A citação acima mostra como eu vejo a convergência confrontá-los. Esse confronto pode causar uma ruptura no
das ideias de Freire e Vygotsky acerca de direção. Ambos conhecimento dos alunos, provocando desequilíbrios (ou
rejeitam a ideia de não diretividade no ensino. Para eles, o conflitos cognitivos) que podem impulsioná-los para a fren-
processo de aprendizagem deve ser conduzido pelo pro- te na tentativa de recuperar o equilíbrio. Entretanto, existe
fessor visando a atingir os alvos desejados. Em ambos os também a possibilidade de que o processo de identificação
casos, os alvos devem convergir para o desenvolvimento in- das concepções espontâneas possa, ao invés de removê-
tegral da pessoa, seja num contexto de opressão – adultos -las, funcionar como um reforço. Solomon (1993) apresenta
analfabetos – ou num contexto de deficiência – crianças sur- um exemplo que ilustra como o conhecimento socialmente
das. Quando o educador assume que os alunos não podem construído pode também contribuir, embora temporaria-
aprender algum tópico ou habilidade, seja porque não estão mente, para reforçar tais conceitos espontâneos uma vez
completamente maduros para essa aprendizagem ou por- que as crianças tendem a buscar o consenso e podem fa-
que são deficientes, a tendência pode ser negligenciar esses cilmente tender para a opinião da maioria. Nesses casos, a
alunos. Isso foi observado por Schneider (1974), ao estudar o orientação do professor é crucial.
aluno excepcional ou atrasados especiais, por Cunha (1989), Em resumo, para tornar a aprendizagem mais efetiva, os
quando sugere que a deficiência pode ser produzida ou re- professores deveriam planejar suas lições levando em consi-
forçada pela escola, e por Tudge. deração tanto a forma como os alunos aprendem como os
Vygotsky (1988) menciona que quando crianças men- conceitos prévios que trazem. Os estudos de Piaget são de
talmente retardadas não são expostas ao raciocínio abstrato fundamental importância ao apontar as diferenças entre o
durante sua escolarização (porque se supõe que são capazes raciocínio da criança, em seus vários estágios, e o raciocínio
apenas de raciocinar concretamente), o resultado pode ser a de um adulto que atingiu o nível das operações formais. Mui-
supressão dos rudimentos de qualquer capacidade de abs- tos professores, não compreendendo esses diferentes níveis
tração que tal criança por ventura possua. de desenvolvimento mental, podem empregar estratégias
de ensino totalmente inadequadas que, ao invés de facilitar
Como pode o professor facilitar a construção do conhe- a progressão para um nível mais elevado de conhecimento,
cimento? leve o aluno a superpor o conceito espontâneo com o cienti-
ficamente aceito, apenas para atender às exigências formais
Dentro de um enfoque construtivista é dever do profes- dos testes escolares. Na vida diária, no entanto, a criança
sor assegurar um ambiente dentro do qual os alunos possam continuará a utilizar os conceitos espontâneos por melhor
reconhecer e refletir sobre suas próprias ideias; aceitar que traduzirem sua visão de mundo.
outras pessoas expressem pontos de vista diferentes dos Considerando que a responsabilidade final pela própria
seus, mas igualmente válidos e possam avaliar a utilidade aprendizagem pertence a cada aluno, a tarefa do professor
dessas ideias em comparação com as teorias apresentadas é encorajá-los a verbalizarem suas ideias, ajudá-los a torna-
pelo professor. De fato, desenvolver o respeito pelos outros rem-se conscientes de seu próprio processo de aprendiza-
e a capacidade de dialogar é um dos aspectos fundamentais gem e a relacionarem suas experiências prévias às situações
do pensamento Freireano (Taylor, 1993). Assim, é importante sob estudo. Uma construção crítica do conhecimento está
para as crianças discutir ideias em todas as lições. Pensar intimamente associada com questionamentos: seja para
sobre as próprias ideias ajuda os alunos a se tornarem cons- entender o pensamento do aluno, seja para promover uma
cientes de suas concepções alternativas ou ideias informais aprendizagem conceitual.
(Black e Lucas, 1993).
Nesse enfoque, os professores deveriam também esti- Diferenças entre o ensino tradicional e o ensino cons-
mular os alunos a refletirem sobre suas próprias ideias – en- trutivista
corajando-os a compararem-nas com o conhecimento cien-
tificamente aceito – e procurarem estabelecer um elo entre Algumas virtudes, de grande importância para os edu-
esses dois conhecimentos. Essa comparação é importante cadores, estão presentes numa prática de ensino tradicional.
por propiciar um conflito cognitivo e, assim, ajudar os alunos Entretanto, existem outros aspectos a serem considerados

2
GESTÃO E CONHECIMENTO

num enfoque construtivista de ensino. Um deles é a ênfase • a aprendizagem envolve não só a aquisição e exten-
atribuída aos conhecimentos prévios dos alunos na busca de são de novos conceitos mas também sua reorgani-
entender seus significados e dar-lhes voz. Por conhecimen- zação e análise crítica;
tos prévios eu não me refiro ao conhecimento aprendido em
• a responsabilidade final com a aprendizagem é dos
lições anteriores, mas às ideias espontâneas trazidas pelos
próprios alunos.
alunos que são frutos de suas vivências e que, muitas ve-
zes, diferem dos conceitos científicos. Essas ideias deveriam Outra importante característica que eu sugiro para um
ser utilizadas como um ponto de partida para a construção ensino construtivista é a empatia. Por empatia eu me refiro
de um novo conhecimento na sala de aula. Naturalmente, à capacidade de ser sensível às necessidades dos alunos ou,
todos nós trazemos uma bagagem de experiências vividas em outras palavras, ser disponível. É também a capacidade
e ninguém pode ser considerado um recipiente vazio. Por de escutar e entender as mensagens dos alunos. Para fazer
esse motivo, os professores deveriam estar atentos aos co- isso o professor deve aprender a ler entre as linhas e de-
nhecimentos prévios dos alunos, visando a ajudá-los a tor- codificar mensagens que não são percebidas sequer pelos
nar claras para eles próprios (e também para o professor) próprios alunos. Isso equivale a tentar devolver aos alunos,
as crenças que trazem e a forma como interpretam o mun- de forma estruturada, as informações que vêm deles de for-
do. Seria também útil se os professores se dispusessem a ma desestruturada. Frequentemente, uma resposta deixa
aprender com as questões colocadas pelos alunos. Isso não de ser dada não porque os alunos não sabem a resposta,
significa que professor e aluno tenham o mesmo conheci- mas porque eles não entenderam nem mesmo a pergunta.
mento científico, mas os professores deveriam ser capazes Em tais casos, o professor deve ser suficientemente sensível
de aprender com os alunos como eles podem aprender para perceber isso, e aberto (disponível), para aprender com
melhor. Essa atitude demanda humildade. Como é possível os alunos a fazer perguntas que sejam entendidas por todos
aprender com os alunos se estou convencido de que sei o e não só pelos “melhores” alunos. O professor deve também
que é melhor para eles? Os alunos têm muito a nos ensinar ser flexível e estar pronto para mudar quando necessário.
se apenas pararmos para ouvi-los. E, quanto mais distante, Comumente a falta de interesse pelas aulas origina-se do
cultural ou afetivamente, o professor estiver do seu aluno, fato de que os tópicos não são conectados. Os alunos não
mais provável é que ele formule as perguntas erradas. Seria conseguem entender a razão para determinadas questões;
bem melhor se a vaidade permitisse aos professores fazer não conseguem perceber as relações desses tópicos com
perguntas aos alunos e se procurassem entender que, por suas próprias experiências nem como poderão utilizar o
estarmos aprendendo o tempo todo com os outros e com a novo conhecimento em seu próprio benefício. Ensinar não é
vida, somos, todos, eternos aprendizes. apenas transmitir o conhecimento acumulado pela humani-
Eu estou consciente de que isso não é fácil. É também dade, mas fazê-lo significante para os alunos.
importante que os professores não confundam construtivis- Tendo abertura para aprender com os alunos, sendo re-
mo com falta de disciplina e de direção. O papel do profes- flexivo e pronto para mudar, o professor pode vir a conhecer
sor é, de fato, ajudar os alunos a perceber as incongruências o suficiente sobre o aluno de forma a favorecer uma apren-
e vazios no seu entendimento. Para fazer isso, os professo- dizagem significativa.
res têm que respeitar os alunos e tal respeito tem que ser
mútuo. No entanto, respeito não é alguma coisa imposta O que é uma construção crítica do conhecimento?
de cima para baixo. Preferivelmente, deveria ser alguma coi-
sa construída e oferecida ao professor, pelos alunos, que o Minha preocupação, no entanto, vai além de um ensino
consideram merecedor dessa consideração. Assim, o papel construtivista e, naturalmente, de um ensino tradicional. O
de um ensino crítico construtivista deveria considerar que: tipo de ensino que eu tenho em mente deve ser também
crítico. Por uma construção crítica do conhecimento eu me
• o conhecimento prévio do aluno é importante e alta-
refiro a um ensino cuja preocupação transcenda a trans-
mente relevante para o processo de ensino;
missão de um conteúdo específico. Sua preocupação deve
• o papel do professor é ajudar o aluno a construir o ser também com o pensamento crítico do aluno, sua com-
seu próprio conhecimento; preensão de que toda pessoa merece dignidade e felicidade
e que, finalmente, é dever de todos lutar para atingir esses
• as estratégias de ensino devem ser planejadas para
objetivos. Assim, uma construção crítica do conhecimento
ajudar o aluno a adotar novas ideias ou integrá-las
implica um compromisso com o pensamento independente
com seus conceitos prévios;
e o bem-estar comum. Tais compromissos devem estar coe-
• qualquer trabalho prático é planejado para ajudar a rentemente presentes na conduta do professor para apoiar
construção do conhecimento através da experiência sua análise do contexto da sala de aula e sua capacidade de
do mundo real e da interação social capacitando a tomar decisões coerentes. Como Freire (1977) diz, nós deve-
ação; ríamos não importar ideias, mas recriá-las. Dessa forma, um
ensino construtivista crítico não poderia ser entendido como
• o trabalho prático envolve a construção de elos com
receitas prontas a serem seguidas, mas como sugestões a
os conceitos prévios num processo de geração, che-
serem examinadas pelos professores. Tal criticismo é crucial
cagem e restruturação de ideias;
em todos os níveis de educação e deve estar presente, parti-
cularmente, durante programas de formação de professores

3
GESTÃO E CONHECIMENTO

devido ao seu efeito multiplicador. Um exemplo de sua uti- recriar os caminhos com que nos enxergamos a nós
lidade é evitar os “especialismos estreitos” frequentemente próprios, nossa educação e nossa sociedade”;
observados entre experts, que, ao se aprofundarem num de-
• encorajar os alunos a colocar problemas e questões;
terminado aspecto, perdem a visão do todo e, muitas vezes,
não percebem as implicações éticas de suas decisões. • apresentar o assunto não como “exposições teóri-
Em resumo, num ensino para uma construção crítica do cas ou como fatos a serem memorizados, mas como
conhecimento, devem estar presentes atitudes como: problemas colocados dentro da experiência e lingua-
gem dos alunos para serem trabalhados por eles”;
• estar consciente do que está acontecendo ao redor
(comunidade, sociedade, mundo) e revelar como a • conduzir a classe dentro de um processo democrá-
dominação e a opressão são produzidas dentro da tico de aprendizagem e de criticidade. “Os professo-
escola; res devem afirmar-se sem, por outro lado, desafir-
mar os alunos”.
• estimular o pensamento crítico dos alunos;
Essas atitudes não implicam passividade por parte do
• introduzir o diálogo crítico entre os participantes;
professor. Eles têm o dever de mostrar as contradições, os
• buscar respostas para os problemas colocados; vazios e inconsistências no pensamento dos alunos e desa-
fiá-los a superá-los. Para realizar essa tarefa os professores
• colocar novas questões para serem respondidas,
devem ser, antes de tudo, competentes no conteúdo que
melhorando assim a prática;
têm a responsabilidade de ensinar. Ensinar, nessa aborda-
• tornar a aprendizagem significante, crítica, emanci- gem, significa planejar todo o processo para facilitar a com-
patória e comprometida com as mudanças na dire- preensão do novo conteúdo pelos alunos. Como comentado
ção do bem-estar coletivo; e anteriormente, a dificuldade para a maioria dos professores
é que é deles a responsabilidade de fazer cumprir as deter-
• estar consciente de que todos temos uma parte a
minações que vêm de fora da escola. Os imperativos sociais
cumprir em prol de uma sociedade mais justa.
e o currículo pretendido são dominantes dentro do sistema
Aprendizagem crítico-construtivista versus ensino críti- educacional em todo o mundo. Existem momentos em que
co-construtivista os professores devem, forçosamente, dizer aos alunos o que
fazer para atingir determinados objetivos. As exigências são
De acordo com Matthews (1992), o construtivismo é, claras: o professor deve saber o que fazer. Para professores
ao mesmo tempo, uma teoria da ciência e uma teoria da construtivistas, entretanto, é uma questão de equilíbrio: as
aprendizagem e ensino humanos. Mas, enquanto o constru- estratégias e técnicas de ensino devem variar dentro de um
tivismo tem deixado a sua marca com respeito à aprendiza- amplo espectro, que vai de uma completa liberdade para
gem em muitas áreas, pouco tem sido feito, até agora, com permitir a livre expressão das concepções espontâneas trazi-
relação ao ensino e à formação de professores. No entanto, das pelos alunos até uma rigorosa disciplina que caracteriza
ambos (aprendizagem e ensino construtivistas) são profun- o trabalho intelectual.
damente interligados e o último deveria preparar terreno
para o primeiro. Referência: JÓFILI, Z. Piaget, Vygotsky, Freire e a cons-
O que entendo por um ensino crítico-construtivista é trução do conhecimento na escola. In: Educação: Teorias e
um ensino voltado para a contextualização das construções Práticas. UFRPE. Ano 2, nº 2 – dezembro, 2002.
conceituais dos alunos. Eu associo esse ensino crítico-cons-
trutivista com uma postura de respeito pelos alunos. Tal pos-
tura implica, além do que foi apresentado anteriormente, o 2. AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO E
seguinte: INDICADORES EDUCACIONAIS
• ser receptivo para ouvir e entender a forma como
os alunos constroem, articulam e expressam seu co-
nhecimento; Avaliação Educacional na Contemporaneidade

• apoiar os alunos na expressão de seus conceitos, na A palavra avaliação contém a palavra “valor” acrescida
tomada de consciência desse processo e na valoriza- da palavra “ação”, portanto, não se pode fugir dessa con-
ção do próprio conhecimento e o dos colegas; cepção valorativa da ação educacional. Casali (2007) define
• nunca depreciar a informação trazida pelos alunos; avaliação, “de modo geral, como saber situar cotidianamen-
te, numa certa ordem hierárquica, o valor de algo enquanto
• contextualizar o ensino apresentando problemas meio (mediação) para a realização da vida do(s) sujeitos(s)
relacionados a aspectos-chave da experiência dos em questão, no contexto dos valores culturais e, no limite,
alunos, de forma que esses possam reconhecer seus dos valores universais.”
próprios pensamento e linguagem no estudo; Para o autor avaliar é reconhecer ou atribuir um valor.
• mostrar que o ato de conhecer exige um sujeito ati- Em se tratando de valor em educação defende que há que
vo que questiona e transforma e que aprender “é se adotar uma postura radicalmente ética e epistemológica.

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GESTÃO E CONHECIMENTO

Os valores são histórica e culturalmente construídos, con- Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, que coorde-
sequentemente a avaliação é histórica e cultural. Já que o na os processos de avaliação externa às escolas. São exem-
valor só existe como uma referência mediadora de uma ação plos desse tipo de avaliação a Prova Brasil, o SAEB – Sistema
concreta, a consequência é que a avaliação educativa não é de Avaliação da Educação Básica, o ENEM – Exame Nacional
um fim de processo, mas o seu meio. Existem três âmbitos do Ensino Médio.
de alcance dos valores, logo, das avaliações: “Há valores para O nível megassociológico da avaliação é aquele desen-
um sujeito, há valores para uma cultura, há valores para a volvido por organismos internacionais que buscam fixar pa-
humanidade. O singular, o parcial, o universal. A avaliação é drões de desempenho, de referência para a criação de metas
uma medida e uma referência de valor para um, ou dois, ou e diretrizes para os sistemas educacionais de diferentes paí-
os três âmbitos.” ses, em nível global. Temos como exemplo o PISA – Progra-
O autor explica que a avaliação refere-se à determina- ma Internacional de Avaliação de Alunos, coordenado pela
ção do mérito, ou valor, de um dado processo ou do que Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
dele resultou, seja no âmbito do sujeito, da cultura e para - OCDE.
toda humanidade. A criação desses níveis mais globais (mega e macro)
A complexidade inerente aos processos avaliativos tor- deve-se ao fato de a avaliação ter adquirido grande cen-
na evidente a exigência com os resultados do desempenho tralidade nas políticas públicas, particularmente nas políti-
dos alunos e com o desempenho das escolas, evidencia que cas educacionais pelos organismos governamentais com o
atualmente a avaliação educacional tem uma perspectiva propósito de os Estados ampliarem as ações de controle e
muito mais ampliada, não se atendo apenas aos resultados fiscalização sobre as escolas e os sistemas educacionais, fe-
do rendimento escolar, mas a todos os elementos que per- nômeno apontado pelos estudiosos em avaliação como a
meiam o processo ensinoaprendizagem, ou seja, a toda a presença do “Estado Avaliador” na educação.
realidade educativa.
Figari (1996) afirma que, nessa acepção mais alarga- Avaliação Institucional da Escola
da de avaliação educacional, há a noção de estrutura que
define realidades diferentes: as macroestruturas, ou seja, os A avaliação institucional da escola básica ainda não se
sistemas educacionais, as mesoestruturas (as escolas) e as constitui uma prática consolidada no contexto da educação
microestruturas (as salas de aulas). No espaço da macro e brasileira. A avaliação externa promovida pelos organismos
da mesoestrutura, a avaliação geralmente é o processo de oficiais como o SAEB, e com as recentes propostas da Prova
observação e interpretação dos resultados da aprendizagem Brasil e do IDEB, é uma avaliação do sistema educacional, em
que objetiva orientar as decisões necessárias ao bom funcio- larga escala, que analisa a proficiência dos estudantes ao final
namento da escola, dos sistemas educacionais e subsidiar a de um ciclo da escolaridade. No entanto, a avaliação interna
formulação de políticas públicas. é pouco realizada no interior das escolas, não está inserida
Na mesma linha de raciocínio, Almerindo Afonso (2003) nas várias ações nela desenvolvidas, como uma análise siste-
analisa a avaliação educacional numa perspectiva socioló- mática da instituição com vistas a identificar suas fragilidades
gica, nos seguintes níveis: micro, meso, macro e mega. A e potencialidades, e a possibilitar a elaboração de planos de
perspectiva de avaliação defendida pelo autor entende que intervenção e melhorias. Estudos e pesquisas revelam a ca-
a “escola é confrontada com dimensões éticas, simbólicas, rência de formação dos profissionais da escola para desen-
políticas, sociais e pedagógicas que devem ser consideradas volvê-la, devido ao desconhecimento de fundamentos teóri-
como um todo por quem tem especiais responsabilidades co-metodológicos sobre a avaliação institucional;
na administração da educação quer em nível do Estado, Com o propósito de contribuir para a formação dos pro-
quer em nível municipal e local, quer em nível da própria fissionais da escolas e também para a operacionalização do
unidade escolar”. processo de autoavaliação, discute-se aqui alguns aportes e
O nível microssociológico da avaliação ocorre no âm- subsídios teóricos sobre a avaliação institucional da escola,
bito da sala de aula, é a avaliação da aprendizagem, de res- trazendo à reflexão os conceitos de avaliação, seus funda-
ponsabilidade do docente. Ela deve ter caráter fortemente mentos epistemológicos, suas relações com diferentes con-
formativo, ser contínua e baseada na reflexão do processo textos e as possibilidades de operacionalização de processo
ensinoaprendizagem. de autoavaliação da escola, considerando desde a fase do
O nível mesossociológico da avaliação é aquele que planejamento até a fase de comunicação dos resultados ob-
envolve a análise de uma instituição escolar na sua totali- tidos.
dade, ou seja, engloba todos os componentes do processo
educacional: gestão e organização da escola, processo ensi- Avaliação da escola: conceitos, contextos e relações
noaprendizagem, currículo, qualificação docente, infraestru-
tura escolar, resultados educacionais, perfil socioeconômico A avaliação das instituições escolares, quanto à de ou-
dos alunos, ação da escola com a sociedade, participação tros objetos educacionais avaliados podem (ou não) assen-
dos pais, entre outros aspectos da escola. tar-se nos mesmos fundamentos teóricos. Assim, quando
O nível macrossociológico da avaliação é aquele de- se fala na concepção de avaliação adotada num processo
senvolvido em âmbito nacional, por organismos externos à avaliativo ele pode ser atribuído tanto à avaliação da apren-
escola, e tem como objetivo verificar a qualidade do ensino dizagem, de currículo, de docentes, de políticas públicas, de
e da educação no país. No Brasil temos o INEP – Instituto programas, de projetos quanto à avaliação das instituições

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GESTÃO E CONHECIMENTO

escolares específicas, como as escolas básicas, os institutos Outra abordagem é aquela denominada de autoavalia-
de ensino superior, as universidades, entre outros. ção institucional ou avaliação interna da escola. Diferente-
Toda instituição, sobretudo a educacional, apresenta ca- mente da avaliação externa, ela é uma modalidade de ava-
racterísticas orgânicas que justificam essa correspondência, liação que ainda carece de maior aprofundamento teórico e
consequentemente, o similar fundamento para os processos metodológico, particularmente no contexto brasileiro.
de avaliação. Uma instituição escolar é compreendida como A avaliação institucional da escola é produto da inte-
um conjunto de processos e relações que se produzem em gração e entrelaçamento dos processos de avaliação exter-
seu cotidiano pelos sujeitos nela inseridos: educadores e na e interna. Evidentemente que a avaliação das escolas é
educandos, essencialmente. uma tarefa complexa, tendencialmente conflituosa, pois as
A avaliação institucional numa perspectiva crítica é instituições escolares são organizações, e o poder é ineren-
aquela que consegue captar o movimento institucional pre- te a todas as organizações. Ao “mexer” nesse poder, num
sente nas relações da instituição. Toda instituição é constituí- processo de avaliação da escola, interferimos nos interesses,
da por dois princípios em permanente tensão: o instituído e posturas, motivações e objetivos da comunidade escolar.
o instituinte. Castoriades (1975) explica que o instituído é o O processo de avaliação externa deverá completar-se com
conjunto de forças sedimentadas, consolidadas que buscam o processo de autoavaliação institucional, e vice-versa. É a
a conservação e reprodução do quadro institucional vigente. coavaliação, como propõe Santos Guerra (2003), isto é, a
O instituído é a forma. Já o conjunto de forças em constante combinação do processo de avaliação externa, mais voltado
estado de tensão, de mudança, de transformação, de recria- aos resultados do processo educativo, e avaliação interna,
ção é o instituinte. O instituinte é o campo de forças. centrada na melhoria dos processos internos do trabalho
A avaliação institucional é formalmente a avaliação des- escolar.
se instituído e instituinte. Ela tem que identificar aspectos As escolas são cada vez mais caracterizadas como cen-
concretos, formais e informais, explícitos ou não, internos tros de aprendizagem de todos os seus membros e da sua
e externos, que viabilizam a realização dos objetivos e fins própria organização. Enquanto organizações nucleares das
educacionais propostos num projeto institucional. Há, por- sociedades atuais, elas não podem ficar indiferentes às mu-
tanto, que se considerar toda a dinâmica institucional para danças e transformações que nelas acontecem, sejam elas
captar o espírito da instituição avaliada. Nesta perspectiva, a de natureza econômica, política, científica, pedagógica ou
avaliação institucional tem um caráter formativo, está volta- legal. Para tanto, não devemos proceder à sua apreciação
da para a compreensão e promoção da autoconsciência da através de uma análise individualizada de cada um dos seus
instituição escolar. elementos, mas sim apreendê-la como um todo, como uma
Nos debates contemporâneos sobre a educação que há entidade global, original. Segundo (ROCHA, 1999), a neces-
uma exigência cada vez maior com o desempenho da esco- sidade de avaliá-las é devida a um conjunto de razões:
la, porque ela é considerada uma instituição social impres- a) Razões de ordem socioeconômica:
cindível à sociedade atual, à formação humana, ainda que
• A contenção de recursos financeiros para os gastos
esta se exprima de modos variados e contraditórios.
públicos, considerando-se as recentes e repetidas
Após um período de oscilação das questões avaliativas
crises econômicas.
entre o nível macro do sistema educacional e o nível micro
da sala de aula, hoje é justamente para o contexto da insti- • A democratização da sociedade e o desenvolvimen-
tuição escolar – nível meso – que as propostas de inovações to dos processos de participação social, particular-
educacionais, segundo Nóvoa (1995), têm-se voltado, acre- mente no campo educacional.
ditando-se que é no espaço escolar que elas podem implan-
• A pressão da opinião pública geralmente apoiada
tar-se e desenvolver-se.
numa avaliação “selvagem” baseada em boatos, na
No entanto, uma das abordagens da avaliação institu-
comparação entre escolas, ou seja, em ranqueamen-
cional das escolas que se apresenta compreende aquela que
tos, ou ainda, na exposição pública de resultados e
tem como eixo direcionador a ação ordenada de normas e
fragilidades do sistema educacional pela mídia, mui-
prerrogativas da União, isto é, o Estado se transforma num
tas vezes não condizente com a realidade das esco-
avaliador externo, conforme já apontado anteriormente de-
las e com as concepções dos programas e projetos
nominado de Estado Avaliador, ele tem o papel de controlar,
de avaliação adotados.
monitorar, credenciar e oferecer indicadores de desempe-
nho para as escolas e os sistemas de ensino dos países. É b) Razões de ordem político-administrativa:
normalmente decidida por razões de ordem macroestrutural
que se prendem às necessidades de controle organizacional • A sociedade tornou-se mais exigente quanto ao de-
no nível dos sistemas de ensino. É a modalidade chamada de sempenho das escolas e a sua função de diminuir as
avaliação institucional externa. desigualdades sociais. Os poderes públicos passam
A avaliação externa é, portanto, aquela em que o pro- a investir mais na educação e, consequentemente, a
cesso avaliativo é realizado por agentes externos à escola solicitar às escolas que justifiquem tais gastos e suas
(pertencentes a agências públicas ou privadas), ainda que aplicações.
com a colaboração indispensável dos membros da escola • O aumento da autonomia das escolas a partir dos
avaliada, da comunidade educativa. anos 90 (noventa) com a democratização da socie-
dade e a descentralização administrativa, em virtude

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GESTÃO E CONHECIMENTO

da ineficiência do Estado em gerir com eficácia o sis- da escola com vistas a identificar os seus pontos fortes e
tema educacional. fracos, e a possibilitar a elaboração de planos de intervenção
e melhorias. Frequentemente é realizada tendo como moti-
• A legitimidade de os governos democráticos con-
vação principal o acompanhamento do projeto pedagógico
trolarem, no âmbito das suas competências, o de-
da escola, no quadro de uma dinâmica de desenvolvimento
sempenho das escolas, questionando-as sobre a efi-
organizacional e institucional. A avaliação inserida nas várias
ciência, eficácia, efetividade e relevância da sua ação
ações desenvolvidas na escola se coloca como mediadora
educativa, particularmente a das escolas públicas.
do crescimento da comunidade escolar.
• À medida que a sociedade se complexifica, as mu- Para a realização de qualquer processo de avaliação de
danças sociais são mais rápidas e imprevisíveis e os escolas é fundamental a escolha e aceitação de uma con-
sistemas educacionais são maiores, a escola-organi- cepção de análise. Tradicionalmente duas abordagens epis-
zação vai-se tornando o meio natural e mais impor- temológicas de avaliação se destacaram: a concepção racio-
tante de muitos projetos de mudança educacional. c) nalista de origem positivista, também denominada de quan-
Razões de ordem científico-pedagógica: titativa, e a concepção naturalista de origem construtivista,
também chamada de qualitativa. Tais perspectivas teóricas
• Novas abordagens sobre os problemas das escolas
também são válidas para a avaliação das escolas, pois irão
e da educação introduzidas pela comunidade cien-
definir a estrutura científica, a visão de mundo, a filosofia
tífica a partir de suas investigações: a valorização
através da qual se fará a leitura da realidade social que se
dos contextos escolares, a busca pelos fatores expli-
quer avaliar.
cativos da diferença de qualidade entre as escolas,
Ao optar-se pela abordagem quantitativa considera-se
a passagem de uma pedagogia centrada no aluno
a educação como um processo tecnológico, acredita-se na
para outra centrada na escola, e a problematização
objetividade da avaliação e utiliza-se o método hipotético-
da eficácia das reformas educacionais, tanto em nível
-dedutivo. Os resultados são mais valorizados que os pro-
local como global.
cessos da educação, a finalidade da avaliação é o controle,
• A consideração progressiva da avaliação da escola e, também, se valoriza mais o caráter estável do que o di-
como estratégia de inovação para introdução dos nâmico da realidade educacional. A abordagem qualitativa
próprios processos de mudanças nos espaços esco- ao contrário considera a educação sempre ligada a valores,
lares. problematiza a objetividade da avaliação utilizando méto-
dos mais qualitativos e compreensivos, valoriza os processos
• A evolução das concepções de avaliação da educa- mais que os resultados da educação considerando como fi-
ção, que, de uma visão voltada quase que exclusi- nalidade principal da avaliação a melhoria, e, também, valo-
vamente para os alunos e programas, passaram a riza mais o caráter dinâmico e subjetivo da realidade edu-
valorizar os fatores relacionados não somente ao cacional.
contexto de sala de aula, mas também os fatores As duas perspectivas avaliativas têm suas fragilidades.
que permitem uma ação mais ajustada aos demais A racionalista ou quantitativa procura traduzir a realidade
contextos e objetivos educacionais, na busca da me- escolar em números, medidas e corre o risco de deformá-
lhoria da qualidade dos processos educativos (práti- -la, parecendo que a exprime fielmente. Isso ocorre porque
cas) e dos seus resultados (produtos). d) Razões de por um lado desvaloriza a importância dos contextos, fontes
ordem legal: ricas de significação, e por outro a simplifica reduzindo a
• As mudanças na legislação nacional a partir da Lei sua multidimensionalidade qualitativa a uma unidimensio-
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN nalidade quantitativa. A abordagem naturalista, crítica ou
9394/96, que aponta para a autonomia das escolas qualitativa, ainda que atualmente seja considerada a melhor
e consequente abertura para a necessidade da sua para o estudo dos fenômenos educacionais, pode intensifi-
avaliação faz referência à Organização da Educação car algum subjetivismo intencional, e também gerar inter-
Nacional, no artigo 9º., incisos V, VI e VIII, ressaltan- pretações distorcidas da realidade educativa.
do o princípio da avaliação como uma das partes Atualmente estudiosos apontam que as abordagens
centrais da estrutura administrativa da educação. - ‘quantitativa e qualitativa’, devem ser entendidas como
complementares e serem usadas em função das necessida-
As razões apresentadas justificam a necessidade da exis- des do processo avaliativo. Eles argumentam que, embora
tência da avaliação das escolas. essa prática possa exigir mais tempo, formação e recursos,
É uma nova exigência que as escolas são confrontadas, o esforço vale a pena para “realizar triangulações necessá-
e precisam aprender a fazer. rias ao suporte das conclusões, para se conseguir um forta-
lecimento mútuo de métodos e para atender a pluralidade
Autoavaliação da escola: alinhavando sentidos, produ- e diversidade das iniciativas, dos tipos, das finalidades, dos
zindo significados enfoques e dos objetos de avaliação”.
A autoavaliação da escola é aquela em que o proces-
so é conduzido e realizado por membros da comunidade
educativa. Pode ser definida como uma análise sistemática

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GESTÃO E CONHECIMENTO

Operacionalização do processo de autoavaliação da es- c) Dimensão III - Organização e gestão: as categorias de


cola análise que compõem a área de organização e gestão dizem
respeito à proposta pedagógica da escola e à sua execução
Cada escola pode estabelecer as etapas para a constru- e avaliação.
ção do processo interno de avaliação. Para defini-lo algumas d) Dimensão IV - Ensino e aprendizagem: as categorias
escolhas de fundo são necessárias, tais como: - o que avaliar; de análise de avaliação contempladas na área de ensino e
quais dimensões? (Objetos de análise ou de avaliação da es- aprendizagem convergem no trabalho realizado na sala de
cola); - quem pode/deve avaliar a escola? (Sujeitos, grupo aula.
de trabalho); - com que finalidades? (Objetivos); - com quais e) Dimensão V – Cultura da escola: as categorias asso-
enfoques? (Concepções e tipos de avaliação: interna /exter- ciadas à cultura da escola podem ser: identidade institucio-
na); - como, quando, onde, com quem, com quais recursos? nal; ênfase no ensino e na aprendizagem; participação nos
(Metodologia, fontes; instrumentos; coleta, organização e processos de decisão, motivação dos professores, expecta-
análise dos dados; cronograma); - como divulgar os resulta- tivas acerca dos alunos, trabalho em equipe, aprendizagem
dos e propor melhorias? (Planos de intervenção). e desenvolvimento profissional, reconhecimento dos profis-
Para que estas escolham venham a consubstanciar-se sionais da escola; disciplina e segurança na escola, aprazibi-
num plano é essencial relacioná-las entre si e articulá-las lidade do espaço escolar, relação com a comunidade escolar
com a finalidade e o foco da avaliação, isto é, estabelecer a f) Dimensão VI - Resultados Educacionais: Os resultados
operacionalização do processo avaliativo. A escola para se dos alunos são as medidas de desempenho da escola. Em
autoavaliar precisa construir um referencial de análise con- última análise eles refletem a qualidade dos resultados in-
siderando a sua identidade institucional, seus sujeitos e as termediários contemplados nas restantes áreas. Ela pode ser
finalidades da avaliação. O primeiro passo é a definição de composta pelas seguintes categorias de análise: qualidade
dimensões, categorias de análise ou subdimensões, e aspec- do sucesso (classificações internas, estatísticas de resultados,
tos (indicadores) a serem avaliados. Existe uma hierarquia provas estandardizadas, outros resultados não acadêmicos)
entre essas palavras, partindo-se de dados mais gerais para e cumprimento da escolaridade
dados mais específicos: A escola pode ser avaliada considerando-se as seis di-
mensões apresentadas ou pode escolher aquelas conside-
• Dimensões: são os pontos de abrangência que deve-
radas mais necessárias. No entanto, fundamental é que se
rão ser avaliados, as grandes áreas da avaliação. Elas
parta de uma avaliação diagnóstica de todas as dimensões,
podem abranger aspectos administrativos, pedagó-
e a partir dos resultados alcançados novas etapas avaliativas
gicos, físicos e estruturais, relacionais.
sejam desenvolvidas no interior da escola.
• Categorias de análise ou subdimensões: são os pon-
tos básicos dentro da dimensão escolhida que se Instrumentos: elaboração e aplicação
pretende avaliar.
Após a definição das dimensões, categorias de análise e
• Aspectos ou indicadores: são pequenos pontos indi-
indicadores, vêm à etapa da escolha dos instrumentos e téc-
cadores para as perguntas em cada uma das catego-
nicas a serem utilizados no processo de autoavaliação para
rias de análise.
coleta dos dados, os quais podem ser aplicados em grupos
Embora existam diferentes maneiras de se construir um ou individualmente. Eles podem ser: questionários, entrevis-
referencial de análise para a realização da autoavaliação da tas, grupo focal, observação, portfólio, seminários, pesquisa
escola, apresenta-se neste texto o referencial proposto por em arquivos, análise de documentos, análise quantitativa,
Alaiz, Góis, Gonçalves (2003), o qual propõe seis áreas ou relatórios, dentre outros.
dimensões: Os instrumentos escolhidos devem estar adequados às
a) Dimensão I - Contexto externo: as variáveis de con- dimensões, categorias e indicadores propostos no projeto. É
texto externo não são maleáveis, ou seja, não são direta- importante considerar que nenhum instrumento de avalia-
mente influenciadas pela ação da escola, mas esta é uma das ção é completo por si só, razão pela qual podemos escolher
áreas de avaliação de extrema importância na medida em tipos que se complementam.
que permite enquadrar socialmente a escola. Ela pode ser Definidos os procedimentos devem ser escolhidas as
composta pelas seguintes categorias de análise: caracteriza- fontes de informação para coleta dos dados os quais podem
ção sócio-econômico-cultural das famílias e alunos, expec- ser: documentos, projetos, planos, regimento escolar, ges-
tativas das famílias e da comunidade quanto ao trabalho da tores, professores, alunos, pais, funcionários, membros co-
escola; pressão para a qualidade na perspectiva do contexto legiados, membros da comunidade externa, dentre outros.
externo é exercida por entidades ou grupos externos à es- Na etapa de aplicação dos instrumentos para coleta
cola: secretarias, núcleos regionais, associações de pais, ou das informações nos deparamos com a sua fase mais difícil,
outras instituições. que é passar pelo confronto com os sujeitos da avaliação,
b) Dimensão II - Contexto interno: corresponde, numa ou seja, com o seu público-alvo. É a fase de implantação do
linguagem simples, “às condições com que a escola conta”: projeto, de provação, confronto com a realidade, de consta-
história da instituição escolar; recursos físicos, estrutura cur- tação de imperfeições, de ajustes que garantam a sua valida-
ricular; corpo docente, administrativo e discente. de. É o momento de perceber se há motivação e disposição
dos participantes para contribuir com as suas percepções

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GESTÃO E CONHECIMENTO

sobre os aspectos solicitados na avaliação da escola. A cole- Ainda que, a opção teóricometodológicas do processo
ta de dados precisa ser feita de uma forma não incomoda- avaliativo deva ser escolhida pela escola, há que se iniciar o
tiva, com discrição, com profissionalismo, pois a escola não trabalho com um planejamento de preparação do projeto
para porque nela está em desenvolvimento um processo de coletivo, seguida de sua implementação e síntese dos resul-
autoavaliação. tados obtidos. É um ciclo avaliativo que envolve diferentes
momentos possibilitadores de se construir um retrato da
Tratamento, análise e interpretação dos dados escola para analisá-la com base em evidências válidas e fiá-
veis, retirando da autoavaliação aquilo que dá sentido à vida
Dependendo da natureza da informação coletada e das da escola, bem como a sua utilidade para a criação de pro-
questões de avaliação, optamos por um processo de análise postas de melhorias internas voltados ao desenvolvimento
específico. Os dados de natureza quantitativa deverão ser institucional.
objeto de análise estatística, e os de natureza qualitativa po-
derão ser apresentados em descrições, mas também pode- Autoavaliação da Escola e Desenvolvimento Institucio-
rão ser sujeitos a uma análise de conteúdo. Antes de iniciar- nal
mos o tratamento das informações, procedemos a uma ve-
rificação dos dados brutos para prepará-los para a primeira A autoavaliação da escola é um processo necessário
análise, o que comumente se designa “limpeza” dos dados. para compreender a dinâmica institucional, que pode e deve
Em seguida procedemos à análise propriamente dita, ser útil para a escola, desde que não se traduza apenas na
integrando e sintetizando os resultados. O trabalho de aná- identificação de pontos fortes e de fragilidades, mas, tam-
lise de dados consiste em reduzi-los ou condensá-los em bém, na elaboração de recomendações que deverão ser
tabelas, gráficos, sumários estruturados em função de cate- consideradas na proposição de melhorias qualitativas para
gorias de análise, sinopses, registros de pequenos episódios, a instituição. Trata-se da utilização dos resultados para a
diagramas que mostram a relação entre eles. São apresenta- elaboração dos planos de ação para o desenvolvimento da
ções das informações coletadas nos instrumentos de modo escola. É, portanto, na mobilização dos resultados que reside
sintetizado, que permitem uma primeira análise para a qual a utilidade da autoavaliação. Um plano de desenvolvimento
é importante ter presentes os objetivos e as questões de da escola é um documento de contém as intenções do cole-
avaliação inicialmente propostas. Dela emergem as primei- tivo escolar, refletindo a visão de futuro e desenvolvimento
ras tendências, as primeiras imagens da escola, ainda não necessário à escola. Identifica as prioridades de ação, esta-
articuladas numa imagem global, são os resultados prelimi- belece as metas e os modos para sua concretização. Bolí-
nares. Eles geralmente suscitam mais perguntas, ora porque var (2003) argumenta que a melhoria da instituição escolar
se encontram discrepâncias, ora porque existe uma combi- precisa incidir em toda a escola, com uma interseção em
nação de informações não prevista ou pensada, que implica três grandes níveis: desenvolvimento da escola enquanto
um novo olhar aos dados originais. organização, desenvolvimento dos professores e desenvol-
Concluída esta etapa os resultados devem ser organi- vimento do currículo. O desenvolvimento do currículo e da
zados de acordo com as dimensões, categorias e indicado- organização escolar constitui um campo indissociável.
res propostos no projeto de autoavaliação. Assim, teremos O desenvolvimento profissional é concebido como um
as imagens da escola reveladas. Os significados desses re- processo contínuo de aprendizagem, que provoca mudan-
sultados expressam o pensamento do coletivo escolar que ças na ação profissional do professor, através da forma
participou do processo avaliativo. Eles, os dados, não falam como atribuem sentido às suas experiências e como estas
por si só, por isso a necessidade de interpretá-los, ou seja, influenciam as suas práticas diárias, Mas, por sua vez, na
estabelecer em que medida os resultados são positivos ou medida em que o desenvolvimento pessoal e profissional
negativos, significam sucessos ou fracassos, pontos fortes está condicionado pelo contexto da escola enquanto local
ou pontos frágeis, mostrando assim as potencialidades e de trabalho e relação, a formação orienta-se para a consecu-
fragilidades da escola, e as áreas em que a escola precisa ção de uma estreita articulação entre as práticas formativas e
melhorar. os contextos de trabalho, otimizando a dimensão educativa
A divulgação dos resultados à comunidade escolar é dos processos de trabalho, mediante uma aprendizagem re-
fundamental para legitimação do processo avaliativo. Eles flexiva e colegial.
devem ser apresentados, divulgados e debatidos de forma Na acepção do autor o desenvolvimento profissional
alargada, oportunizando a manifestação de pontos de vista e o desenvolvimento institucional das escolas devem cami-
e a revisão de conclusões, quando as discussões acrescen- nhar lado a lado, pois um não existe sem o outro. A possibi-
tem contribuições que auxiliem no aprofundamento da in- lidade de desenvolvimento institucional está ligada a capa-
terpretação. Um relatório deve responder necessariamente cidade interna de mudança que é diferente para cada esco-
a três questões: Quais são os resultados da avaliação? Como la, considerando-se a sua história de vida, sua identidade e
se chegou a esses resultados? Face a esses resultados o que singularidade, e está condicionada a política educacional e
se pode fazer para melhorar? Portanto, um relatório de au- ao contexto social na qual ela se insere. O desenvolvimento
toavaliação da escola constitui-se num documento em que a institucional é entendido “como as mudanças nas escolas
escola fala de si, mas também num instrumento de trabalho enquanto instituições que desenvolvem as suas capacidades
para subsidiar a análise do que se pode fazer para melhorar. e atuações com vista a uma melhoria permanente”.

9
GESTÃO E CONHECIMENTO

O plano de desenvolvimento da escola enquanto insti- ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO


tuição deve ser compreendido como o conjunto de ações (IDEB)
necessárias para planejar e gerir o crescimento da escola, a
IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica,
sua melhoria contínua, o que pressupõe o fortalecimento da
criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-
capacidade institucional nos processos internos de trabalho
sas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), formulado para me-
da escola e de decisão sobre as mudanças a serem imple-
dir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas
mentadas.
para a melhoria do ensino.
A elaboração de um plano de desenvolvimento institu-
O IDEB funciona como um indicador nacional que pos-
cional pode orientar-se pelos seguintes questionamentos: -
sibilita o monitoramento da qualidade da Educação pela
quais mudanças necessitamos fazer na escola?; como essas
população por meio de dados concretos, com o qual a
mudanças podem ser geridas ao longo do tempo?; como
sociedade pode se mobilizar em busca de melhorias. Para
podemos conhecer os efeitos ou impactos das medidas
tanto, o IDEB é calculado a partir de dois componentes: a
adotadas?
taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de de-
De acordo com Alaíz, Góis e Gonçalvez (2003), a elabo-
sempenho nos exames aplicados pelo Inep. Os índices de
ração e o desenvolvimento do plano de desenvolvimento
aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado
institucional envolvem quatro etapas: autoavaliação ou au-
anualmente.
ditoria, planejamento, implementação e avaliação. A primei-
As médias de desempenho utilizadas são as da Prova
ra fase constitui-se da análise dos resultados da autoavalia-
Brasil, para escolas e municípios, e do Sistema de Avaliação
ção, identificando os pontos fortes e fracos da escola. Na
da Educação Básica (Saeb), para os estados e o País, reali-
segunda, é feita a seleção das prioridades de ação da escola,
zados a cada dois anos. As metas estabelecidas pelo IDEB
transformando-as em metas específicas, definindo-se as es-
são diferenciadas para cada escola e rede de ensino, com o
tratégias e critérios para alcançá-las. A implementação do
objetivo único de alcançar 6 pontos até 2022, média corres-
plano de desenvolvimento constitui a terceira etapa. Nela
pondente ao sistema educacional dos países desenvolvidos.
deve-se assegurar que o plano é seguido e que as ações
previstas estão sendo desenvolvidas. Na quarta etapa ava-
lia-se o sucesso das medidas implementadas e recomen- SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
dações são propostas para alterações no plano ou para a (SAEB)
construção de um novo projeto. Ressalta-se que, a avaliação O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) tem
deve ocorrer ao longo do processo de desenvolvimento do como principal objetivo avaliar a Educação Básica brasileira
plano, numa perspectiva proativa, formativa e reflexiva, pos- e contribuir para a melhoria de sua qualidade e para a uni-
sibilitando a introdução dos ajustes necessários durante o versalização do acesso à escola, oferecendo subsídios con-
seu período de realização. cretos para a formulação, reformulação e o monitoramento
Em síntese, podemos apontar que na elaboração do pla- das políticas públicas voltadas para a Educação Básica. Além
no de desenvolvimento institucional da escola é necessário disso, procura também oferecer dados e indicadores que
contemplar os seguintes procedimentos: possibilitem maior compreensão dos fatores que influen-
• respeito pelo contexto social considerando as orien- ciam o desempenho dos alunos nas áreas e anos avaliados.
tações da política educacional, o projeto pedagógico
da escola, as características da comunidade escolar e O Saeb é composto por três avaliações externas em lar-
os recursos disponíveis e necessários. ga escala:
• consulta e decisão acerca das prioridades elaboran-
do o plano de forma coletiva, democrática e nego-
ciada;
• redação e divulgação do plano esclarecendo a arti-
culação com os objetivos e fins da escola, justifican-
do a seleção das prioridades, a metodologia ou os
recursos envolvidos.
Concluindo, o plano de desenvolvimento institucional é
um documento estratégico da escola, pois lhe permite olhar
criticamente sobre si mesma, ou seja, sobre a concretização Avaliação Nacional da Educação Básica – ANEB: abran-
dos seus objetivos principais e dos fins educacionais relacio- ge, de maneira amostral, alunos das redes públicas e priva-
nados com o ensino e a aprendizagem e, enquanto docu- das do país, em áreas urbanas e rurais, matriculados na 4ª
mento contextualizado deixa que a instituição escolar inter- série/5ºano e 8ªsérie/9ºano do Ensino Fundamental e no 3º
prete as dinâmicas internas e o integre na sua vida e cultura. ano do Ensino Médio, tendo como principal objetivo avaliar
a qualidade, a equidade e a eficiência da educação brasileira.
Referência: Apresenta os resultados do país como um todo, das regiões
BRANDALISE, M. A. T. Avaliação Institucional da Escola: geográficas e das unidades da federação.
Conceitos, Contextos e Práticas. ANPAE, 2011.

10
GESTÃO E CONHECIMENTO

• Avaliação Nacional do Rendimento Escolar ANRESC Educação na definição de ações voltadas para a solução dos
(também denominada “Prova Brasil”): trata-se de problemas identificados, assim como no direcionamento
uma avaliação censitária envolvendo os alunos da 4ª dos seus recursos técnicos e financeiros às áreas prioritárias,
série/5ºano e 8ªsérie/9ºano do Ensino Fundamental com vistas ao desenvolvimento do Sistema Educacional Bra-
das escolas públicas das redes municipais, estaduais sileiro e à redução das desigualdades nele existentes.
e federal, com o objetivo de avaliar a qualidade do
ensino ministrado nas escolas públicas. Participam Fonte: http://portal.inep.gov.br/web/guest/caracteristi-
desta avaliação as escolas que possuem, no mínimo, cas-saeb
20 alunos matriculados nas séries/anos avaliados,
sendo os resultados disponibilizados por escola e PROGRAMA INTERNACIONAL DE AVALIAÇÃO DE
por ente federativo. ALUNOS (PISA)
• A Avaliação Nacional da Alfabetização – ANA: ava- O Programme for International Student Assessment
liação censitária envolvendo os alunos do 3º ano do (PISA), desenvolvido pela Organização para a Cooperação e
Ensino Fundamental das escolas públicas, com o ob- Desenvolvimento Económico (OCDE), visa avaliar se os alu-
jetivo principal de avaliar os níveis de alfabetização nos de 15 anos, idade em que, na maior parte dos países
e letramento em Língua Portuguesa, alfabetização participantes, os alunos se encontram no final da escolarida-
Matemática e condições de oferta do Ciclo de Alfa- de obrigatória, estão bem preparados para enfrentarem os
betização das redes públicas. A ANA foi incorporada desafios da vida quotidiana.
ao Saeb pela Portaria nº 482, de 7 de junho de 2013 O PISA foi concebido para avaliar se os alunos de 15
A Aneb e a Anresc/Prova Brasil são realizadas bianual- anos conseguem mobilizar as suas competências de Leitura,
mente, enquanto a ANA é de realização anual. Matemática ou Ciências na resolução de situações relaciona-
das com o dia a dia, e não se são capazes de reproduzir os
Características do Saeb conhecimentos adquiridos nessas áreas.
As aplicações do PISA ocorrem em ciclos de três anos.
Em 2005, a Portaria Ministerial n. º 931 alterou o nome Em cada ciclo do PISA, é dada ênfase a uma das três áreas
do histórico exame amostral do Sistema Nacional de Avalia- avaliadas (Leitura, Matemática ou Ciências). Em 2000, ano
ção da Educação Básica (Saeb), realizado desde 1990, para em que os testes foram aplicados pela primeira vez, a área
Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb). Por sua tra- principal foi a Leitura, área novamente avaliada em 2009.
dição, entretanto, o nome do Saeb foi mantido nas publi- Em 2003 e em 2012, a área principal foi a Matemática e, em
cações e demais materiais de divulgação e aplicação deste 2006 e 2015, a área principal foi as Ciências. Em 2018, a área
exame. principal será a Leitura, à semelhança do que aconteceu em
As avaliações do Saeb produzem informações a respeito 2000 e 2009.
da realidade educacional brasileira e, especificamente, por A prova é constituída por vários cadernos de teste que
regiões, redes de ensino pública e privada nos estados e no combinam itens das diferentes áreas avaliadas. Cada aluno
Distrito Federal, por meio de exame bienal de proficiência, responde, apenas, a um caderno de teste. Os itens do PISA
em Matemática e em Língua Portuguesa (leitura), aplicado não são públicos, permitindo, assim, a comparação dos re-
em amostra de alunos de 4ª e 8ª séries do ensino fundamen- sultados ao longo das várias edições do PISA e a identifica-
tal e da 3ª série do ensino médio. ção de tendências nos resultados. Em cada ciclo do PISA são
libertos alguns itens que deixam de fazer parte das provas
Desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes- e que ilustram o tipo de situações apresentadas aos alunos.
quisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Mi- No PISA, são também recolhidas informações socioeco-
nistério da Educação (MEC), o Saeb é a primeira iniciativa nómicos aos pais, alunos e escolas que permitem contex-
brasileira, em âmbito nacional, no sentido de conhecer mais tualizar os resultados dos alunos. O PISA dispõe, assim, de
profundamente o nosso sistema educacional. Além de co- dados que permitem identificar fatores que influenciam o
letar dados sobre a qualidade da educação no País, procura desempenho dos alunos nos vários domínios de literacia.
conhecer as condições internas e externas que interferem no O PISA faz um retrato de cada país e compara-o com os
processo de ensino e aprendizagem, por meio da aplicação restantes, proporcionando uma medida da eficácia da edu-
de questionários de contexto respondidos por alunos, pro- cação de cada país face aos padrões de desempenho esta-
fessores e diretores, e por meio da coleta de informações belecidos pela OCDE. Apesar de não permitirem identificar
sobre as condições físicas da escola e dos recursos de que os efeitos da política educativa de cada país, os resultados
ela dispõe. do PISA possibilitam que os decisores revejam as suas polí-
As informações obtidas a partir dos levantamentos do ticas e estabeleçam metas baseadas em padrões de desem-
Saeb também permitem acompanhar a evolução da quali- penho definidos internacionalmente.
dade da Educação ao longo dos anos, sendo utilizadas prin-
cipalmente pelo MEC e Secretarias Estaduais e Municipais de Fonte
http://iave.pt/np4/12.html

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GESTÃO E CONHECIMENTO

SISTEMA PERMANENTE DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO CEARÁ (SPAECE)


O Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE) foi implementado em 1992 pela Secretaria da
Educação (SEDUC), com o objetivo de promover um ensino de qualidade e equânime para todos os alunos da rede pública do
estado. O Quadro 1 sintetiza a evolução do SPAECE, a partir de seu início.

QUADRO 1 – EVOLUÇÃO DO SPAECE, POR ABRANGÊNCIA, SÉRIE/ANO E Nº DE ALUNOS AVALIADOS.

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GESTÃO E CONHECIMENTO

* Na 3ª série do EM foram avaliados apenas os alunos das escolas do


2º ciclo do Programa Ensino Médio Inovador/Jovem de Futuro

Por considerar a importância da avaliação como instrumento eficaz de gestão, em 2007, a SEDUC ampliou a abrangên-
cia do SPAECE, incorporando a avaliação da alfabetização e expandindo a avaliação do Ensino Médio para as três séries, de
forma censitária. Assim, o SPAECE passou a compreender a avaliação de leitura dos alunos do 2º ano do EF (SPAECE-Alfa) e
o domínio das competências e das habilidades esperadas para as demais etapas de escolaridade, nas disciplinas de Língua
Portuguesa e de Matemática para os alunos do 5º e 9º anos do EF e nas turmas de 1ª, 2ª e 3ª séries do EM. As informações
coletadas, a cada edição, identificam o nível de proficiência e a evolução do desempenho dos alunos do estado.

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GESTÃO E CONHECIMENTO

São aplicados, também, desde 2008, questionários con- Em 2014, a avaliação dos alunos da 2ª e 3ª séries do EM
textuais aos alunos, a partir do 5º ano do EF, e a professores continuou sendo realizada de forma amostral, com repre-
e diretores. O SPAECE utiliza três tipos de questionários: o sentatividade por escola. Nas demais etapas, a avaliação foi
primeiro é dirigido aos alunos, permitindo a elaboração de censitária nos 2º, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental (EF);
indicadores relacionados ao perfil socioeconômico e hábi- 1ª série do Ensino Médio (EM) e EJA presencial (2º segmento
tos de estudo, abrangendo também algumas dimensões do do EF; 1º e 2º períodos do EM). Assim, como em anos an-
ambiente de aprendizagem; o segundo destina-se aos pro- teriores, com exceção de 2012, foram avaliados o nível de
fessores da Língua Portuguesa e Matemática; e o terceiro, leitura dos alunos do 2º ano (SPAECE-Alfa) e o domínio das
aos diretores. Tais questionários possibilitam traçar o perfil competências e das habilidades esperadas para as demais
educacional, a experiência e a formação profissional, a prá- etapas de escolaridade nas disciplinas de Língua Portuguesa
tica docente e a gestão escolar de todos os envolvidos na e de Matemática dos alunos do 5º e 9º anos do EF, das 1ª, 2ª
área educacional, propiciando a associação entre o desem- e 3ª séries do EM e nas turmas da EJA do EF (2º segmento) e
penho dos alunos e as variáveis contextuais. da EJA do EM (1º e 2º períodos).
Em 2010, os alunos da Educação de Jovens e Adultos Em 2015, o SPAECE avaliou, de modo censitário, o nível
– EJA EF 2º Segmento, EJA EM 1º Período e 2º Período – de leitura dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental (EF)
passaram a ter acompanhamento, por meio de resultados – SPAECE-Alfa, assim como as habilidades em Língua Portu-
apresentados de modo independente daqueles alcançados guesa (leitura) e Matemática dos alunos do 5º e 9º anos do
pelos alunos do ensino regular (EF e EM) nas avaliações do EF e Educação de Jovens e Adultos – EJA (anos finais, pre-
SPAECE. Esse modelo de divulgação permitiu, assim, melhor sencial da Rede Estadual); da 1ª e 3ª séries do Ensino Médio
acompanhamento dos alunos desta modalidade de ensino, (ProEMI/Jovem de Futuro) e EJA (1º Período, presencial da
com resultados próprios e ações e intervenções adequa- Rede Estadual).
das a esse público, objetivando uma melhor qualidade no O conjunto de informações coletadas pelo SPAECE per-
aprendizado. mite diagnosticar a qualidade da educação pública em todo
Em 2012, os testes da 3ª série do EM e 2º período da o estado do Ceará, produzindo resultados por aluno, tur-
EJA EM foram organizados em quatro áreas, em convergên- ma, escola, município, credes e estado. Ao mesmo tempo,
cia com a proposta da Matriz de Referência para o ENEM, os resultados têm servido de base para implementação de
do Ministério da Educação. Os testes de Língua Portuguesa políticas públicas educacionais e de práticas pedagógicas
e Matemática do SPAECE consideraram também as respec- inovadoras nas escolas estaduais e municipais. O SPAECE
tivas matrizes do SPAECE e receberam a denominação de tornou-se um instrumento essencial na fomentação de de-
testes de Linguagens e Códigos e suas Tecnologias e Ma- bate público e na promoção de ações orientadas para a me-
temática e suas Tecnologias. Foram também aplicados os lhoria e execução da democratização do ensino, garantindo
testes para as áreas de Ciências da Natureza (Física, Química a todos igualdade de acesso e permanência na escola.
e Biologia) e de Ciências Humanas (História, Geografia, Filo- Esta avaliação permite montar um quadro sobre os
sofia e Sociologia), além da prova de Redação. Nesta edição, resultados da aprendizagem dos alunos, com seus pontos
os alunos das escolas municipais e estaduais do Ceará foram fracos e fortes, e sobre as características dos professores e
avaliados no 2º ano do Ensino Fundamental, em Língua Por- gestores das escolas estaduais. Em se tratando de uma ava-
tuguesa (Leitura). Os alunos do 5º e 9º anos e 2º segmento liação de característica longitudinal, possibilita, ainda, acom-
da EJA Ensino Fundamental e da 1ª e 2ª séries e 1º período panhar o progresso de aprendizagem de cada aluno ao lon-
da EJA Ensino Médio foram avaliados nas disciplinas de Lín- go do tempo.
gua Portuguesa e Matemática.
No ano de 2013, foram avaliados o nível de leitura dos Um olhar para cada etapa de escolaridade e modalidade
alunos do 2º ano (SPAECE-Alfa) e o domínio das competên- de ensino
cias e das habilidades esperadas para as demais etapas de
escolaridade nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Ma- A idealização do SPAECE-Alfa surge em decorrência da
temática dos alunos do 5º e 9º anos do EF, das 1ª, 2ª e 3ª sé- prioridade do atual governo com a alfabetização das crian-
ries do EM e nas turmas da EJA do EF (2º segmento) e da EJA ças logo nos primeiros anos de escolaridade, expressa por
do EM (1º e 2º períodos). A avaliação foi realizada de forma meio do Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC). O
censitária para os alunos do 2º e 5º anos do EF, da 1ª série SPAECE-Alfa consiste numa avaliação anual, externa e cen-
do EM e para os alunos da EJA presencial Anos Finais do EF sitária para identificar e analisar o nível de proficiência em
(2ºsegmento) e da EJA presencial do EM (1º e 2º períodos). leitura dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental matri-
No 9º ano do EF, a avaliação foi amostral, em decorrência da culados nas escolas da rede pública (estadual e municipais),
Avaliação Nacional do Rendimento Escolar – ANRESC/Prova possibilitando construir um indicador de qualidade sobre a
Brasil em 2013. E nas 2ª e 3ª séries do EM, o SPAECE também habilidade em leitura de cada aluno.
foi amostral em virtude de os alunos dessas séries participa- A Avaliação dos alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fun-
rem do ENEM 2013. As amostras foram selecionadas a partir damental e da EJA Anos Finais (presencial; rede estadual)
dos dados do Censo Escolar 2013. Ressalta-se que esses da- é feita em caráter censitário para as etapas avaliadas, com
dos amostrais (9º ano do EF e 2ª e 3ª séries do EM) mantive- periodicidade anual. A referida avaliação é realizada com a
ram a série histórica do SPAECE, implantado no ano de 1992. finalidade de diagnosticar o estágio de conhecimento, bem
como analisar a evolução do desempenho dos alunos do 5º

14
GESTÃO E CONHECIMENTO

e 9º anos (regular e EJA presencial da rede estadual), com os em escolas públicas com estrutura física e pedagógica de-
fatores associados a este desempenho, produzindo informa- ficientes.
ções que possibilitem a definição de ações prioritárias de in- O país tem passado por mudanças significativas no que
tervenção na Rede Pública de ensino (estadual e municipal). se refere ao funcionamento e acesso da população brasileira
A Avaliação do Ensino Médio é realizada, anualmente, ao ensino público, quando em um passado recente era pri-
de forma censitária, na 1ª série do Ensino Médio. Para as 2ª vilégio das camadas sociais abastadas (elite) e de preferência
e 3ª séries, a aplicação foi censitária no período de 2008 a para os homens, as mulheres mal apareciam na cena social,
2012, passando a ser amostral a partir de 2013. Mesmo em quando muito as únicas que tinham acesso à instrução for-
uma avaliação amostral, tem-se a participação de alunos de mal recebiam alguma iniciação em desenho e música.
todas as escolas da Rede Estadual de ensino. Assim, nas ava-
liações do 5º e 9º anos do EF, os dados coletados permitem Atuação da equipe pedagógica – coordenação
analisar a evolução do desempenho dos alunos do EM, bem
como traçar um perfil dos alunos e pesquisar os fatores con- A política de atuação da equipe pedagógica é de suma
textuais associados ao desempenho desses alunos. importância para a elevação da qualidade de ensino na es-
Para os alunos da Educação de Jovens e Adultos, ofere- cola, existe a necessidade urgente de que os coordenado-
cida de forma presencial, são realizadas avaliações nos Anos res pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente à
Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio da Rede Esta- parte técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e ainda
dual de educação: uma avaliação para o 2º segmento da EJA ficarem nos corredores da escola procurando conter a in-
Ensino Fundamental e outra voltada para os 1º e 2º períodos disciplina dos alunos que saem das salas durante as aulas,
do Ensino Médio. enquanto os professores ficam necessitados de acompanha-
mento. A equipe de suporte pedagógico tem papel deter-
Fonte minante no desempenho dos professores, pois dependendo
http://www.spaece.caedufjf.net/o-programa/ de como for a política de trabalho do coordenador o profes-
sor se sentirá apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho
do coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avanços
3. CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E ESCOLA e conquistas, em fim o sucesso alcançado no dia a dia da es-
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA cola e consequentemente o desenvolvimento do aluno em
todos os âmbitos.

O papel da escola / função social da escola Função do Professor

A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais Ao professor compete a promoção de condições que
do que nunca é imprescindível que a escola acompanhe favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mesmo
essas evoluções, que ela esteja conectada a essas transfor- compreender o que está sendo ministrado, quando o pro-
mações, falando a mesma língua, favorecendo o acesso ao fessor adota o método dialético; isso se torna mais fácil, e
conhecimento que é o assunto crucial a ser tratado neste essa precisa ser a preocupação do mesmo: facilitar a apren-
trabalho. dizagem do aluno, aguçar seu poder de argumentação, con-
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho te- duzir ás aulas de modo questionador, onde o aluno- sujeito
mos desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, que re- ativo estará também exercendo seu papel de sujeito pen-
sultados temos alcançado. Qual é na verdade a função social sante; que dá ótica construtivista constrói seu aprendizado,
da escola? A escola está realmente cumprindo ou procuran- através de hipóteses que vão sendo testadas, interagindo
do cumprir sua função, como agente de intervenção na so- com o professor, argumentando, questionando em fim tro-
ciedade? Eis alguns pressupostos a serem explicitados nesse cando ideias que produzem inferências.
texto. Para se conquistar o sucesso se faz necessário que se O planejamento é imprescindível para o sucesso cog-
entenda ou e que tenha clareza do que se quer alcançar, a nitivo do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho do
escola precisa ter objetivos bem definidos, para que possa professor, é como uma bússola que orienta a direção a ser
desempenhar bem o seu papel social, onde a maior preocu- seguida, pois quando o professor não planeja o aluno é o
pação – o alvo deve ser o crescimento intelectual, emocio- primeiro a perceber que algo ficou a desejar, por mais ex-
nal, espiritual do aluno, e para que esse avanço venha fluir é periente que seja o docente, e esse é um dos fatores que
necessário que o canal (escola) esteja desobstruído. contribuem para a indisciplina e o desinteresse na sala de
aula. É importante que o planejar aconteça de forma siste-
A Escola no Passado matizada e contextualizado com o cotidiano do aluno – fator
que desperta seu interesse e participação ativa.
A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria possibi- Um planejamento contextualizado com as especificida-
litar as pessoas à convivência com seus semelhantes (sociali- des e vivências do educando, o resultado será aulas dinâ-
zação). As melhores e mais conceituadas escolas pertenciam micas e prazerosas, ao contrário de uma prática em que o
à rede particular, atendendo um grupo elitizado, enquanto professor cita somente o número da página e alunos abrem
a grande maioria teria que lutar para conseguir uma vaga seus livros é feito uma explicação superficial e dá-se por

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GESTÃO E CONHECIMENTO

cumprido a tarefa da aula do dia, não houve conversa, dialé- nal, afetiva. A maioria não tem hábito de leitura, frequenta
tica, interação. pouquíssimo a biblioteca, outros nunca foram lá. A escola é
na verdade um local onde se encontram, conversam e até
Ação do gestor escolar namoram. Há ainda, a questão de a família estar raramente
na escola, não existe parceria entre a escola e família, comu-
A cultura organizacional do gestor é decisiva para o su- nidade a escola ainda tem dificuldades em promover ações
cesso ou fracasso da qualidade de ensino da escola, a ma- que tragam a família para ser aliadas e não rivais, a família
neira como ele conduz o gestionamento das ações é o foco por sua vez ainda não concebeu a ideia de que precisa estar
que determinará o sucesso ou fracasso da escola. De acordo incluída no processo de ensino e aprendizagem indepen-
com Libâneo, características organizacionais positivas efica- dente de seu nível de escolaridade, de acordo com Libâneo,
zes para o bom funcionamento de uma escola: professores “o grande desafio é o de incluir, nos padrões de vida digna,
preparados, com clareza de seus objetivos e conteúdos, que os milhões de indivíduos excluídos e sem condições básicas
planejem as aulas, cativem os alunos. para se constituírem cidadãos participantes de uma socieda-
Um bom clima de trabalho, em que a direção contribua de em permanente mutação”.
para conseguir o empenho de todos, em que os professores
aceitem aprender com a experiência dos colegas. Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e es-
Clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógi- cola é uma medida, um caminho que necessita ser trilhado,
co-curricular que vá de encontro às reais necessidades da para assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte da
escola, primando por sanar problemas como: falta de pro- escola, é sujeito que aprende que constrói seu saber, que
fessores, cumprimento de horário e atitudes que assegurem direciona seu projeto de vida, assim sendo a escola lida com
a seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e pessoas, valores, tradições, crenças, opções e precisa estar
aprendizagem, com relação a alunos e funcionários. preparada para enfrentar tudo isso.
Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista o Informar e formar precisa estar entre os objetivos ex-
respeito e admiração da maioria de seus funcionários e alu- plícitos da escola; desenvolver as potencialidades físicas,
nos, há um clima de harmonia que predispõe a realização de cognitivas e afetivas dos alunos, e isso por meio da aprendi-
um trabalho, onde, apesar das dificuldades, os professores zagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, proce-
terão prazer em ensinar e alunos prazer em aprender. dimentos, atitudes e valores), fará com que se tornem cida-
dãos participantes na sociedade em que vivem.
Função Social da Escola Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do
educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: também enfatiza outros aspectos: as formas de convivência
o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e entre as pessoas, o respeito às diferenças, a cultura escolar.
afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteú- Ao ouvir depoimentos de alunos que afirmaram que a
dos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes, e maioria das aulas são totalmente sem atrativos, professores
valores) que, aliás, deve acontecer de maneira contextualia- chegam à sala cansados, desmotivados, não há nada que os
zada desenvolvendo nos discentes a capacidade de torna- atraem a participarem, que os desafiem a querer aprender.
rem-se cidadãos participativos na sociedade em que vivem. È importante ressaltar a importância da unidade de propos-
tas e objetivos entre os coordenadores e o gestor, pois as
Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente esco- duas partes falando a mesma linguagem o resultado será
lar um meio que favoreça o aprendizado, onde a escola dei- muito positivo que terá como fruto a elevação da qualidade
xe de ser apenas um ponto de encontro e passe a ser, além de ensino.
disso, encontro com o saber com descobertas de forma Contudo, partindo do pressuposto de que a escola visa
prazerosa e funcional, conforme Libâneo devemos inferir, explicitamente à socialização do sujeito é necessário que se
portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante adote uma prática docente lúdica, uma vez que ela precisa
a qual a escola promove, para todos, o domínio dos conhe- estar em sintonia com o mundo, a mídia que oferece: infor-
cimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e matização e dinamismo.
afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades in- Considerando a leitura, a pesquisa e o planejamento fer-
dividuais e sociais dos alunos. ramentas básicas para o desenvolvimento de um trabalho
A escola deve oferecer situações que favoreçam o eficaz, e ainda fazendo uso do método dialético, o professor
aprendizado, onde haja sede em aprender e também razão, valoriza as teses dos alunos, cultivando neles a autonomia
entendimento da importância desse aprendizado no futuro e autoestima o que consequentemente os fará ter interesse
do aluno. Se ele compreender que, muito mais importante pelas aulas e o espaço escolar então deixará de ser apenas
do que possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança ponto de encontro para ser também lugar de crescimento
que garanta seu espaço no mercado competitivo, ele busca- intelectual e pessoal.
rá conhecer e aprender sempre mais.
Analisando os resultados da pesquisa de campo (ques- Para que a escola exerça sua função como local de opor-
tionário) observamos que os jovens da turma analisada não tunidades, interação e encontro com o outro e o saber, para
possuem perspectivas definidas quanto à seriedade e im- que haja esse paralelo tão importante para o sucesso do alu-
portância dos estudos para suas vidas profissional, emocio- no o bom desenvolvimento das atribuições do coordenador

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GESTÃO E CONHECIMENTO

pedagógico tem grande relevância, pois a ele cabe organizar diz Piaget, é que os melhores métodos são os mais difíceis. É
o tempo na escola para que os professores façam seus pla- difícil para o professor equilibrar a dosagem exata de trans-
nejamentos e ainda que atue como formador de fato; suge- missão verbal, e suas condições intercaladas pelas necessá-
rindo, orientando, avaliando juntamente os pontos positivos rias retroalimentações, com os recursos mais convenientes
e negativos e nunca se esquecendo de reconhecer, elogiar, para a transmissão da mensagem e o estimulo à iniciativa
estimular o docente a ir em frente e querer sempre melho- verbal do aluno, individualmente e em atividades de grupo.
rar, ir além. Para Piaget, a aprendizagem é um conceito psicológi-
O fato de a escola ser um elemento de grande impor- co. Como tal é objeto de teorias. A psicologia não apresen-
tância na formação das comunidades torna o desenvolvi- ta uma visão unívoca das características da aprendizagem,
mento das atribuições do gestor um componente crucial, é como processo, ou de seus resultados. Assim, não dispomos
necessário que possua tendência crítico-social, com visão de de uma só teoria da aprendizagem, mas de várias. Podemos,
empreendimento, para que a escola esteja acompanhando mesmo, formar “classes” de teorias, por exemplo, o grupo
as inovações, conciliando o conhecimento técnico à arte de neobehaviorista e o grupo cognitivista.
disseminar ideias, de bons relacionamentos interpessoais, Desde criança Piaget, interessou-se por mecânica, fós-
sobretudo sendo ético e democrático. Os coordenadores seis e zoologia. Além da formação cientifica em biologia,
por sua vez precisam assumir sua responsabilidade pela sentiu-se igualmente atraído pelo qual chamou de “demô-
qualidade do ensino, atuando como formadores do corpo nio da filosofia”. A filosofia bergsoniana permitiu-lhe im-
docente, promovendo momentos de trocas de experiên- primir nova direção em sua formação teórica, conciliando
cias e reflexão sobre a prática pedagógica, o que trará bons sua formação cientifica com suas disposições especulativas.
resultados na resolução de problemas cotidianos, e ainda Seguindo um itinerário rigorosamente coerente, ele passou
fortalece a qualidade de ensino, contribui para o resgate da por quase todos os domínios do conhecimento, até chegar
autoestima do professor, pois o mesmo precisa se libertar de à lógica formal e a teoria da ciência.
práticas não funcionais, e para isso a contribuição do coor- Piaget definiu a si mesmo como um “antigo-futuro-fi-
denador será imprescindível, o que resultará no crescimento losofo que se transformou em psicólogo e investigador da
intelectual dos alunos. gênese do conhecimento”. Essa definição e as razões da
transformação são apresentadas por ele no livro Sabedoria
e Ilusões da Filosofia, publicado em 1965. Nesse livro, Piaget
4. OS TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO desenvolve a tese de que a filosofia é uma “sabedoria” indis-
pensável aos seres racionais, mas que não atinge um “saber”
propriamente dito, provido das garantias e dos métodos de
PENSADORES DA EDUCAÇÃO controle, característicos do que se denomina conhecimento.
Para Piaget, “a filosofia tem sua razão de ser e deve-se mes-
Tão antigo quanto a Filosofia, o pensamento educacio- mo reconhecer que todo homem que não passou por ela é
nal se desdobra em várias correntes, segue abaixo os princi- incuravelmente incompleto”. Mas, descontente com o rumo
pais pensadores, ainda utilizados no contexto educacional. especulativo tomado pela maioria dos filósofos de seu tem-
po, Piaget dedicou-se a investigação cientifica da formação
JEAN PIAGET das funções intelectuais da criança, criando a epistemologia
genética. Na epistemologia genética de Piaget, os desenhos
Piaget especialista em psicologia evolutiva e epistemo- e pinturas infantis desempenham papel particularmente im-
logia genética, filósofo e educador. Em 1923, Piaget divul- portante para a investigação da formação das estruturas in-
gou suas primeiras descobertas sobre a gênese do conheci- telectuais. A criação plástica, ao lado da linguagem e das ati-
mento. Nasceu em Neuchâtel Suíça, em 1896 e morreu em vidades lúdicas, constitui uma das formas de representação,
1980. A Suíça de Piaget é uma das nações de mais rica tra- através das quais se revela o mundo interior da criança. É
dição cultural do mundo. Ali surgiram algumas das mais ex- assim que modalidades especifica de atuação grupal, como
pressivas figuras dos movimentos de vanguarda da primeira a discussão, a troca de ideias, a colaboração no jogo e no
metade do século XX. trabalho, tornam-se importantes para o desenvolvimento do
Formou-se na Universidade de Neuchâtel em 1915. Na pensamento. A lógica, diz Piaget, é a “moral do pensamen-
mesma universidade fez seu curso de doutor, defendendo a to’, imposta e sancionada pelos outros (“ assim como, “diz o
tese sobre os Moluscos de Valois. Piaget ocupou inúmeros “Psicólogo”, a moral é a lógica da ação”.) Para Piaget esses
cargos universitários, entre os quais o de professor catedrá- tipos de brincadeiras têm função especifica, a de assimilação
tico de psicologia e sociologia da universidade de Lausan- do mundo real.
ne. Foi na Suíça que Piaget desde cedo se interessou pelas A epistemologia genética criada por Piaget não é, assim,
ciências, e, precocemente revelou suas qualidades de inves- uma disciplina filosófica, como a epistemologia tradicional.
tigador da natureza, dedicando-se ao estudo dos moluscos Em primeiro lugar, porque se afasta de toda especulação,
da região. Também desde cedo Piaget já manifestara em estudando a gênese das estruturas e dos conceitos científi-
suas atividades, seu interesse pelos problemas da educação, cos, tal como de fato se constituíram em cada uma das ciên-
como Diretor que foi, por muitos anos, do “Bureau Interna- cias; em segundo lugar, porque procura desvendar através
cional de l’education” e em artigos sobre métodos de ensino da experimentação, os processos fundamentais de forma-
e outros problemas pedagógicos. O drama da pedagogia, ção do conhecimento na criança. A epistemologia genética

17
GESTÃO E CONHECIMENTO

também não é uma ciência entre outras, mas uma matéria motora o indivíduo evolui para a inteligência lógica formal.
interdisciplinar que se ocupa com todas as ciências. Piaget acreditava nas pessoas e nas capacidades que pos-
Essa unificação realizada por Piaget e, sobretudo, esse suem de participarem ativamente nos seus aprendizados,
processo de gênese dos conhecimentos, que vai da simples construindo os seus significados em formas sóciointerativas.
constatação de fatos concretos até as mais altas abstrações, Na sua obra “A Linguagem e Pensamento da Criança”
até certo ponto identificando-se com sua própria vida. oferece alguns exemplos interessantes. Nesta obra se relata
A epistemologia foi o principal foco de interesse de Pia- como os observadores seguiram conversas espontâneas de
get. Para analisar as relações entre conhecimento e vida or- crianças durante muito tempo, levantaram e classificaram as
gânica, recorreu à psicologia. Quando iniciou suas pesquisas manifestações verbais de crianças em idade pré-escolar e
em psicologia, sua principal preocupação era explicar como estudaram as perguntas das próprias crianças. A partir des-
o ser humano chega ao conhecimento, isto é, como o ser sas observações, Piaget vai estabelecer uma classificação
humano consegue organizar, estruturar e explicar o mundo dos tipos e das funções da linguagem infantil, encontrando
em que vive. a conhecida diferenciação entre uma “linguagem egocêntri-
Foi a partir destas preocupações, que chegou a uma ca” e uma “linguagem socializada”.
teoria do desenvolvimento do pensamento e da inteligência. Embora uma das preocupações centrais de Piaget tenha
Foi o que levou Piaget a dizer que a inteligência é a forma de sido o desenvolvimento da inteligência, em nenhum de seus
equilíbrio para a qual tendem todas as formas de adaptação, escritos desmereceu a afetividade e o desenvolvimento so-
desde o desenvolvimento sensóriomotor, cumprindo-lhes a cial, pois considera que o desenvolvimento da criança ocor-
função de estruturar o universo. Quando se torna reflexiva, re de forma integrada. A afetividade é que atribui valor às
gnóstica, verbal, destaca-se do contato imediato com a rea- atividades e lhe resulta a energia. A afetividade não é nada
lidade, e passa a proceder por construção interior. sem a inteligência “Piaget-Seis Estudos de Psicologia, 1964”.
Em 1923, assumiu a direção do Instituto Jean Jacques
Rousseau, de Genebra, passando a estudar, sistematicamen- Destaques na Teoria de Piaget:
te a inteligência. Desde 1921 lecionou em várias universida-
• Piaget indica como fator de motivação para a apren-
des da Europa, além de proferir várias conferências nos EUA,
dizagem, “a situação-problema”;
recebendo ali o título de doutor Honoris Causa. Foi pro-
fessor de Psicologia na Universidade de Genebra em 1955 • Teoria psicogenética ou construtiva de Piaget, dar
e fundou o Centro de Estudos de Epistemologia Genética. mais ênfase ao desenvolvimento da inteligência;
Foi a partir deste Centro, que cientistas e lógicos de todo o
• Necessidade de prestar mais atenção às diferenças
mundo têm-se ocupado da pormenorização e aperfeiçoa-
individuais entre os alunos e de acompanhar de ma-
mento do processo genético, descrito por Piaget, e de suas
neira mais individualizada sua aprendizagem;
relações com os principais conceitos da ciência contempo-
rânea. Com isso tornou-se realidade seu desejo de criação • A inteligência é algo que se vai construindo gradual-
dos “métodos de controle”, indispensáveis para legitimar a mente pela estimulação e o desafio;
verdade, bem como dar uma nova dimensão ao problema
das relações entre a ciência propriamente dita e a filosofia. • A teoria de Piaget não é propriamente uma teoria de
Piaget procurou, assim, evitar que a filosofia, através da aprendizagem e sim uma teoria de desenvolvimento
pura especulação, mantenha o status de dona absoluta, da mental;
verdade, já que deve haver uma correlação epistêmica entre • Os conceitos têm papel fundamental;
teorias e fatos.
Jean Piaget foi o responsável por uma das maiores • A estrutura cognitiva de um indivíduo poderia, pois,
contribuições no campo da psicologia cientifica contempo- ser pensada como um complexo de esquemas de
rânea, na área especifica do comportamento cognitivo. As assimilação;
aplicações de sua teoria do desenvolvimento encontram-se • Só há aprendizagem quando o esquema de assimila-
muito difundidas no campo pedagógico e na explicação da ção sofre acomodação;
evolução da conduta cognitiva. Sua teoria pode ser clas-
sificada em duas áreas principais: a que procura explicar a • O professor teria a função de propor situações que
formação da estrutura cognitiva, tema central em sua psi- ativassem o mecanismo de aprendizagem do edu-
cologia evolutiva, e a outra que se desenvolve em torno da cando, isto é, sua capacidade de reestruturar-se
epistemologia genética. mentalmente procurando um novo equilíbrio;
Publicou aproximadamente vinte artigos sobre molus- • Supõe que ensinar é um esforço para auxiliar ou
cos e temas zoológicos afins. Seu primeiro trabalho cientifi- moldar o desenvolvimento;
co surgiu quando tinha dez anos de idade: era uma nota so-
bre um pardal totalmente albino que observara num parque Curiosidades/ Piaget
público. Em seus vários livros, Piaget sempre defende a ideia
de que a inteligência surge com um processo que envolve • Piaget com apenas 10 anos publicou, em Neuchâtel,
equilibrações e desequilibrações de modo que a criança se um artigo sobre um pardal branco;
permite a construções de suas estruturas lógicas, evoluindo • Aos 22 anos, Piaget já era doutor em Biologia;
conforme faixas etárias definidas. Da inteligência sensório-

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GESTÃO E CONHECIMENTO

• Piaget escreveu cerca de 70 livros e 300 artigos so- espontâneos, que a criança desenvolve na convivência so-
bre Psicologia, Pedagogia e Filosofia; cial, em conceitos científicos. A linguagem é para Vigotsky,
o principal instrumento de intermediação do conhecimento
• Piaget casou-se com uma de suas assistentes, Valen-
entre os seres humanos, e tem relação direta com o próprio
tine Châtenay;
desenvolvimento psicológico.
• Observando seus filhos, desvendou muito dos enig- Para ele, a aprendizagem está relacionada ao desenvol-
mas da inteligência infantil; vimento desde o início da vida humana e inclui relações en-
tre os indivíduos.
• Vigotsky prefaciou a tradução russa de A Linguagem
A relação ensino-aprendizagem é um processo global
e o Pensamento da Criança, de Piaget, de 1923;
de relação interpessoal que envolve alguém que aprende,
• Vigotsky e Piaget não se conheceram pessoalmente; alguém que ensina, e a escola é o lugar por excelência na
qual o processo intencional ensino-aprendizagem ocorre,
• O pai de Piaget era professor de literatura. podendo envolver intervenção que conduza a aprendiza-
gem.
LEO VIGOTSKY Vigotsky elaborou uma teoria do desenvolvimento in-
telectual, sustentando que nenhum conhecimento pode ser
Vigotsky, psicólogo nasceu na Rússia em 1896 e morreu elaborado sozinho, criou o Socioconstrutivismo, ou como
em 1934 com apenas 37 anos, vítima de tuberculose. Estu- preferem alguns especialistas, Sociointeracionismo, justi-
dou na Universidade Popular de Shanyavoskii, formando-se ficando como fundamental a questão cultural e a questão
em direito, mas também se dedicou aos estudos intelectuais afetiva. Para o ser humano, o meio é sempre revestido de
de Filosofia, Literatura, História e Psicologia. Estudou Fran- significados culturais. O fator cultural é a diferença central
cês, Alemão, Inglês, Hebraico, Latim e Grego. Teve um tutor entre os dois teóricos, Piaget e Vigotsky.
particular até entrar na escola, para fazer o curso secundário, Considera a capacidade do homem de raciocinar, como
graduando-se com medalha de ouro. Desde adolescente, também de sensibilizar-se e se emocionar. Dessa forma, um
seus colegas o chamavam de “o pequeno professor”, pois sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o in-
ele já gostava dos estudos intelectuais que marcariam sua telectual se unem, buscando compreender o sujeito como
vida. Foi professor e pesquisador no campo de Defectologia, uma totalidade. Acreditava que o desenvolvimento mental
das Artes, Literatura e Psicologia. Além do fato de ser profes- do aluno se determina em dois níveis: O nível de Desenvol-
sor, a preocupação de Vigotsky com a educação tinha tam- vimento afetivo e a Área de Desenvolvimento Potencial.
bém motivos políticos, pois era um de seus compromissos Vigotsky viveu apenas 37 anos, mas sua produção in-
revolucionários. Formou-se também em Medicina e a partir telectual foi intensa e relevante, chegando a produzir 200
de 1924, no Instituto Soviético de Medicina Experimental, estudos científicos sobre diferentes temas, controvérsias e
aprofundou suas investigações na Psicologia. discussões da psicologia contemporânea, da pedagogia e
Já tuberculoso, iniciou um período de intensa produ- das ciências humanas de um modo geral. Prefaciou a tra-
ção de conferencias, textos e pesquisas, principalmente com dução russa de A Linguagem e o Pensamento da Criança
crianças portadoras de deficiências visuais e auditivas. Tra- de Jean Piaget em 1923. Para a Pedagogia, a contribuição
balhou no Instituto de Psicologia de Moscou, onde iniciou de suas obras para nós educadores se reveste de grande
um período de intensa produção de textos e pesquisas a importância, porque traz para o campo educacional uma vi-
respeito do desenvolvimento intelectual, defendendo que são integrada de conhecimentos. Acusado de idealista por
todo conhecimento é constituído socialmente, a partir das Josef Stalin, suas obras foram proibidas por vinte anos, só
relações humanas. Dono de uma inteligência brilhante, ele voltando a ser publicada na antiga URSS em 1956, mesmo
buscou na Psicologia respostas para suas dúvidas e acabou assim parcialmente. Atualmente prepara-se a edição integral
por elaborar uma teoria do desenvolvimento intelectual, sus- de todos os seus trabalhos.
tentando que todo conhecimento é construído socialmente, Para o cineasta Sergei Eisenstein (1898-1948), o consi-
no âmbito das relações humanas. Para ele, “na ausência do derava um dos psicólogos mais brilhantes de nossa era, ca-
outro, o homem não se constrói homem”. paz de ver o mundo com claridade celestial.
Na sua teoria, Vigotsky diz que para o homem se de-
senvolver e evoluir, é necessário o convívio com outras pes- Destaques na Teoria de Vigotsky:
soas, e partir daí ele vai adquirir e assimilar conhecimentos,
desenvolvendo-se mentalmente. Acrescenta que a vivencia • O socioconstrutivismo é uma tendência cada vez
em sociedade é essencial para a transformação do homem mais presente no debate educacional;
de ser biológico em ser humano. É pela aprendizagem nas
• Considerado o teórico social da inteligência;
relações com os outros que construímos os conhecimentos
que permitem nosso desenvolvimento mental. O conheci- • O conhecimento é sempre intermediado;
mento é sempre intermediado. Nenhum conhecimento é
• A vivencia em sociedade é essencial para a transfor-
construído pela pessoa sozinha, mas sim em parceria com
mação do homem de ser biológico em ser humano;
as outras, que são os mediadores. Na escola, o professor
e os colegas mais experientes são os principais mediado-
res, daí ser o objetivo da escola transformar os conceitos

19
GESTÃO E CONHECIMENTO

• É pela aprendizagem nas relações com os outros que a influência da educação bancária, destaca os contrastes en-
construímos os conceitos que permitem nosso de- tre formas de educação que tratam as pessoas como obje-
senvolvimento mental; tos em lugar de assuntos e, explora a educação como ação
cultural.
• Segundo Vigotsky a evolução cultural é caracteriza-
Ele foi quase tudo o que deve ser como educador. De
da por saltos qualitativos de um nível de conheci-
professor de escola o criador de ideias e métodos.
mento para outro;
Segundo Paulo Freire, o homem que detém a crença em
• A criança nasce dotada apenas de funções psicoló- si mesmo é capaz de dominar os instrumentos de ação à
gicas elementares, como o reflexo e a atenção invo- sua disposição, incluindo a leitura. A metodologia por ele
luntária, presentes em todos os animais mais desen- desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em campanhas de
volvidos; alfabetização.
Com o golpe militar de 1964, a experiência de Paulo Frei-
• O meio é sempre revestido de significados culturais;
re, já espalhada por todo o país, foi abortada sob alegações
• A inteligência é construída a partir das relações recí- inconsistentes como subversiva, propagadora da desordem
procas do homem com o meio; e do comunismo, etc. Foi preso após o golpe Militar de 1964,
deixando o Brasil depois de 72 dias de reclusão. Exilou-se
• O homem para se desenvolver e evoluir, é necessário primeiro no Chile onde, encontrou um clima social e político
o convívio com outras pessoas; favorável ao desenvolvimento de suas teses. Também nesta
• Através das concepções do materialismo histórico e época, desenvolveu durante cinco anos, trabalhos em pro-
dialético tentaram explicar o desenvolvimento das gramas de educação de adultos no Instituto Chileno para a
funções mentais superiores, a qual dedicou maior Reforma Agrária. Nesta época escreveu uma das obras mais
tempo de seus estudos, através da teoria sociocul- importantes da sua vida: A Pedagogia do Oprimido. Freire
tural, contestando criticamente que as funções inte- nas suas conversas informais costumava sempre dizer, que A
lectuais do adulto não são resultado unicamente da Pedagogia do Oprimido foi escrito com a intenção de supe-
maturação; rar esta opressão que vive o nosso povo. Numa visão crítica
e filosófica, parte para a transformação do contexto social,
• Entendia o pensamento como reflexo generalizado tomando assim consciência do mundo vivido.
da realidade, transmitido através da fala e esta como Paulo Freire concebia educação como reflexão sobre a
importante mecanismo que estrutura e organiza o realidade existencial. Articular com essa realidade nas cau-
pensamento; sas mais profundas dos acontecimentos vividos, procurando
• É no brinquedo que a criança aprende a agir numa inserir sempre os fatos particulares na globalidade das ocor-
esfera cognitiva em vez de uma esfera visual externa, rências da situação.
dependendo das motivações internas e não unica- A aprendizagem da leitura e da escrita equivale a uma
mente dos incentivos fornecidos pelo objeto exter- releitura do mundo. Ele parte da visão de um mundo em
no; aberto, isto é, a ser transformado em diversas direções pela
ação dos homens.
• O trabalho em duplas facilita o aprendizado, mas Paulo Freire atribui importância ao momento pedagó-
cabe ao professor acompanhar individualmente o gico, mas com meios diferentes, como práxis social, como
aluno; construção de um mundo refletido com o povo. Para Paulo
• O professor é o condutor do processo, atuando na Freire, o diálogo é o elemento chave onde o professor e alu-
zona de desenvolvimento proximal; no sejam sujeitos atuantes.
No seu método, a palavra geradora era subtraída do
• O erro faz parte do processo de aprendizagem. O universo vivencial do alfabetizando. Para Freire, a educação
professor não pode esperar que o aluno descubra é conscientização. É reflexão rigorosa e conjunta sobre a
sozinho seu erro; realidade em que vive de onde surgirá o projeto de ação. A
PAULO FREIRE palavra geradora era pesquisada com os alunos. Assim, para
o camponês, as palavras geradoras poderiam ser enxada,
Nasceu em Recife Pernambuco em 1921, e morreu em terra, terra, colheita, etc; para o operário poderia ser tijolo,
São Paulo vítima de infarto agudo do miocárdio, no ano de cimento, obra, etc.
1997. Aprendeu a ler com os pais, a sombra do quintal de Em seu método, Paulo Freire propunha a exploração de
casa, sua alfabetização partiu de palavras de sua infância, de tudo: palavras, frases, ditos, modos peculiares de falar, de
sua prática, de suas experiências como criança. Seu giz era contar o mundo. Isto visava revelar o mundo vivido pelos
os gravetos da mangueira em cuja sombra aprendia a ler, e analfabetos. Desta forma, resultava num sucesso total.
seu quadro era o chão. O seu pré-escolar foi informal e livre. Paulo Freire criticou tanto aqueles que não procuram
Paulo Freire teve uma infância feliz, embora tenha co- compreender suas ideias, quanto os seus seguidores que
nhecido muito cedo o significado da fome e da miséria. tomam suas teorias ao pé da letra, fora do contexto. A coe-
Freire era o maior defensor da tendência progressiva. rência que ele defende como virtude do educador revolucio-
Em seus escritos discute a pedagogia do oprimido, introduz nário, é em suma, sua principal virtude.

20
GESTÃO E CONHECIMENTO

Em termos de uma proposta para a educação no Brasil, estas necessidades geram interesse, e este interesse vai a
Paulo Freire disse que a educação de um país não é de uma busca do conhecimento. Este método era mais dedicado às
pessoa só, mas do povo, de uma equipe. Explica também crianças do ensino fundamental.
que, fazendo parte dessa equipe, faria tudo para achar ca- Baseado nesta teoria, Decroly propôs em 1907 um mé-
minhos através dos quais a escola pudesse superar princi- todo globalizado de Centro de Interesse. Este método deve
palmente a contradição entre a teoria e a prática. Freire foi lidar com o conhecimento, a partir dos interesses das crian-
quase tudo o que se deve ser como educador, de professor ças em suas várias faixas etárias, de forma globalizante, pos-
de escola a criador de ideias e métodos. sibilitando que as crianças tenham uma visão geral do obje-
to de conhecimento para depois chegar às particularidades
Destaques na teoria de Paulo Freire: e abstrações. Deve lidar também com a organização dos
conhecimentos selecionados nas matérias escolares, como
• Sua atividade como educador levou-o a criação, em
ainda propor atividades que vão do empirismo ao abstrato.
1961 do chamado Movimento de Educação de Base,
A escola deve se assemelhar a uma oficina ou labora-
sob o patrocínio do Bispo D. Helder Câmara, ao mes-
tório onde a pratica estava presente. Os alunos ativamente
mo tempo em que se tomava forma o método Paulo
observavam, analisavam, manipulavam, experimentavam,
Freire de Alfabetização;
confeccionavam e colecionavam materiais mais do que re-
• Criou um método próprio, constituído de momentos cebiam informações sobre eles. O teórico acreditava que a
dialéticos e interdisciplinares; sala de aula deveria estar em toda à parte, na cozinha, no jar-
dim, no campo, no pátio, na praça, etc. Seria uma escola com
• Defendeu que o pedagogo deve cuidar de libertar o
portas abertas, tipo uma oficina, onde existisse liberdade,
homem das alienações a que a consciência domina-
iniciativa, responsabilidade pessoal e social, onde os alunos
dora o submete;
aprendessem e gostassem de aprender. Ele quis transformar
• Critica a educação bancária, isto é, educação que a maneira de aprender e ensinar, e que esta transformação
trata as pessoas como objeto; defende a educação tivesse como princípio a psicologia infantil.
como uma ação cultural;
O método globalizado de Centro de Interesse de De-
• O primeiro passo na direção da conscientização é a croly foi baseado em cinco princípios psicopedagógicos:
alfabetização, entendida como a aproximação crítica 1) -Principio da Liberdade: a criança tem o Máximo de
da realidade por meio da linguagem; autonomia para realizar seus gostos e necessidades, assim
• Professor e aluno fazem parte de um único contexto como a busca da motivação para o conhecimento.
social, isto é, aprendem juntos, num processo de in- 2) -Principio da Individualidade: a criança realiza ativida-
tegração permanente; des pessoais diferenciadas, mas, sem perder o seu referen-
cial, o contato com a comunidade.
• “Ato criador capaz de gerar outros atos criadores”; 3) -Principio da Atividade: “trabalha a tendência domi-
• Paulo foi educado como cristão católico, mas critica- nante na criança da inquietude e do movimento”.
va a chamada igreja dos opressores; 4) -Principio da Intuição: implica na observação e explo-
ração das coisas, empregando os sentidos.
• Paulo sempre lutou pelos direitos dos analfabetos, 5) -Principio da Globalização: a criança pode apresentar
embora sempre soube que votar por votar é insu- dificuldades de perceber partes separadas e depois recons-
ficiente, e lembra que um cidadão que seja partici- truir. O princípio da globalização permite o desenvolvimento
pante não é aquele participante apenas em dia de da inteligência através desse modo.
eleição;
• O seu método busca um significado social, e explica É importante ressaltar que as bases teóricas do méto-
a tomada de consciência do mundo; do de Decroly, ainda estão muito presentes na educação
de hoje, embora se encontre na escola alguns professores
• Em seu método, Freire propunha a exploração de que apresentam dificuldades em trabalhar na sala de aula
tudo: palavras, frases, ditos, modos peculiares de fa- com uma visão mais globalizadora, e multidisciplinar. O que
lar, de contar o mundo; acontece muitas vezes é o professor trabalhando o conhe-
cimento de maneira fragmentada, e o que é pior, seguindo
OVIDE DECROLY os livros didáticos.
Decroly nasceu na Bélgica em 1871 e faleceu em 1932.
Destaques na Teoria de Decroly:
Era médico, mas muito ligado à educação. Consagrou seus
estudos ás crianças que necessitavam de atenções educati- • A criança deve se educar não para o futuro, para a
vas especiais, ou seja, crianças retardadas e anormais. vida adulta, e sim para o presente;
O teórico propôs uma educação voltada para os inte-
• O método de Centro de Interesse atendia as necessi-
resses destas crianças, que pudesse satisfazer suas curiosi-
dades e interesses dos alunos;
dades naturais, que fossem estimuladas a pensar, colocan-
do-as em contato com a realidade física e social. Achava que • Defendia que a sala de aula está em toda parte;

21
GESTÃO E CONHECIMENTO

• Sua vida foi dedicada ao trabalho com crianças retar- aplicação do seu método com crianças anormais, resolveu
dadas e anormais; testar também em crianças normais as suas vivencias.
Montessori fez uma grande revolução na concepção de
• Acreditava na liberdade, iniciativa e responsabilida-
sala de aula para crianças. Achava que todos os materiais
de;
existentes em sala de aula deveriam ser adequados a altura e
ao tamanho das crianças de seis anos de idade. Esta maneira
MARIA MONTESSORI de pensar de Montessori foi tão aceita, que até hoje é con-
Montessori era profundamente católica, seguidora dos servada por todos os jardins de infância do mundo.
princípios desta religião, nasceu em 1870, na cidade Chiara- Em 1907, embora não tendo formação pedagógica,
vall e morreu com a idade bastante avançada, em 1952 na Montessori criou para crianças menores de seis anos, a pri-
Holanda. No movimento da Escola Nova, Montessori ocupa meira case dei bambini, onde aplicou na educação de crian-
um papel importante pelas técnicas introduzidas nos jardins ças normais, a metodologia bem-sucedida com deficientes
de Infância e nas primeiras séries. mentais.
Montessori fazia oposição aos métodos tradicionais que Pensando no professor, ela achava que as atividades em
não respeitavam as necessidades e os mecanismos evolu- sala de aula devem ser mediadas pelo professor, à disciplina
tivos do desenvolvimento da criança. Defendia uma con- deve nascer da liberdade de pensar, de agir, de sentir, e que
cepção de educação que se estende além dos limites do o diálogo ainda é a melhor forma de o aluno aprender.
acúmulo de informações. O objetivo da escola é a forma- Com o advento do regime fascista e por discordar do
ção integral do homem, “uma educação para a vida”. Aos 25 governo em querer formar a juventude italiana segundo
anos começou a se dedicar às crianças anormais, na clínica “moldes brutais”, as escolas montessorianas foram fechadas.
da Universidade de Roma. Criou várias Casas de Crianças, Neste período Montessori deixou o país, retornando após
instituições de educação e vida, e não apenas lugares de a guerra para Roma e aí voltando as suas aulas na universi-
instrução. Seu principal objetivo são as atividades motoras dade. Trabalhou duro para divulgar suas ideias e experiên-
e sensoriais visando, especialmente, a educação pré-escolar, cias pedagógicas pelo mundo. Seu trabalho foi reconhecido
trabalho também estendido à segunda infância. Dava im- principalmente na Espanha, Paquistão, Índia, Inglaterra e
portância ao ser biológico, muito mais do que o ser social. Holanda.
Ela acreditava que a vida é desenvolvimento, e por isto acha- Temos como princípios fundamentais do método mon-
va que a concepção educacional é de crescimento e desen- tessoriano, a atividade, a individualidade e a liberdade de
volvimento, mais do que ajustamento ou integração social. movimentos de que a criança dispõe, e um vasto material
Defendia que o caminho do intelecto passa pelas mãos, por- didático que lhe é fornecido. Em relação à leitura e a escri-
que é por meio do movimento e do toque que os pequenos ta, na escola montessoriana, as crianças conhecem as letras
exploram e decodificam o mundo ao seu redor. e são induzidas na análise das palavras e letras, estando a
Seu envolvimento com representantes do movimento mão treinada e reconhecendo as letras, as crianças podem
socialista italiano era buscar o seu engajamento e coopera- ler e escrever palavras e orações inteiras. O ensino das letras
ção nos bairros, na socialização da “casa” e na comunicação recortadas em madeira colorida fazia parte da sua proposta
da “família”. Montessori nunca foi comunista, nem socialista, pedagógica. Cada tarefa realizada na sala de aula tem um
como muitos pensam. Estudou biologia, matemática, psico- significado, quer sejam os brinquedos, os blocos, tábuas e
logia e filosofia, mas formou-se em medicina, tendo sido a bastões. Todos estes recursos podem servir de base para a
primeira mulher na Itália a formar-se em medicina. geometria em outro estagio de aprendizagem, e também
Montessori mudou os rumos da educação tradicional, para o estudo de todas as disciplinas. No trabalho com esses
que dava maior atenção à formação intelectual. Seus mé- materiais a concentração é ponto importante.
todos consideravam as fases de desenvolvimento infantil e Maria Montessori foi uma sonhadora, embora não te-
as diferenças individuais, preocupando-se com o corpo e o nha criado nada fora da realidade. Apesar da sua intensa
espírito do aluno e o seu processo de adaptação a vida. dedicação, sabia que seu método não podia ser aplicado a
Criadora do método pedagógico montessoriano, suas qualquer tipo de criança.
concepções pedagógicas se basearam também na defesa Entre suas obras, podemos destacar a Educação para
do potencial criativo da criança e no direito de receber uma um Novo Mundo, escrita com a intenção de sacudir a hu-
educação adequada as peculiaridades da personalidade. Di- manidade adormecida e insensível, comparou a caminha
reito a vida, a liberdade e a autonomia, o despertar para a da criança neste mundo, ao “caminho dos sofrimentos de
atividade infantil, é toda base teórica do seu método. Mon- Cristo”, sem perder a esperança de uma volta para o bem”....
tessori disse: só a criança é a educadora da sua personalida- a criança surge sempre e volta sempre, fresca e sorridente,
de. Sua formação médica e larga experiência com crianças para viver entre os homens... a criança é o eterno Messias,
de retardo mental influenciaram a ter como preocupação que não cessa de voltar entre os homens decaídos para con-
maior na sua escola, com o desenvolvimento das percep- duzi-los ao reino do céu.
ções e funções intelectuais. Dedicou-se ao estudo de crian-
ças anormais como assistente de uma clínica psiquiátrica da Destaques na Teoria de Maria Montessori:
Universidade de Roma. No decorrer de suas pesquisas e na • A criança para ser controlada tinha que ser estimu-
lada através dos estímulos sensoriais e intelectuais;

22
GESTÃO E CONHECIMENTO

• O professor sendo um orientador da criança fazia Freinet não foi um simples professor. Gostava de pesqui-
com que ela mesma se corrigisse; sar, de participar de debates, sempre escrevendo artigos rela-
cionados com educação, e buscando práticas pedagógicas al-
• Defendeu a realização dos direitos da criança, talvez
ternativas. Seus estudos foram aprofundados e tiveram como
uma das características mais importantes do seu mé-
referência a teoria de grandes filósofos e teóricos, como o
todo;
Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Dewey, Forbel e Piaget.
• O diálogo é a melhor forma da criança aprender; Freinet achava que a sala de aula não é um espaço físi-
co determinado pelas instituições educacionais, mas a sala
• A disciplina em sala de aula deve nascer da liberdade
de aula é qualquer espaço onde o exercício do pensamento
e do prazer pelas atividades;
e da criatividade esteja presente e a serviço da sociedade.
• Deve existir um material específico para cada objeti- Defendia a pedagogia natural, de acordo com os interesses
vo educacional; e necessidades do aluno. Pensava que o aluno construía o
seu conhecimento não apenas tendo acesso a informação,
• Preocupação com o desenvolvimento pleno da mas apropriando-se do saber, sem imobilismo ou abstração,
criança, e sua integração social; inserindo a alegria e o prazer no processo ensino apren-
• Defendeu o direito à vida, a liberdade, e a autono- dizagem. Pensava ainda que a escola devia ser viva, ativa,
mia; dinâmica, aberta para o encontro com a vida, onde tivesse
a participação da família e da comunidade. A sala de aula
• Um dos principais objetivos do seu método são as devia ser o local onde o aluno se revela, cria, inventa e expri-
atividades motoras, intelectuais e sensoriais; me suas vivências; era preciso respeitá-la para que pudesse
• Enfatizou o desenvolvimento dos aspectos biológi- desenvolver sua capacidade e sua personalidade, sem afas-
cos, pois acreditava que a função da educação era tar-se de uma finalidade social e humana mais ampla.
também favorecer esse desenvolvimento; Freinet, ainda pensou que a sala de aula não podia ser
um casulo hermético desvinculado do todo social e das suas
• Pés e mãos têm grande importância nos exercícios contradições. A sala de aula devia ser uma oficina de tra-
sensoriais; balho, de criação e de pesquisas, um local de produção e
• Deu ênfase ao treinamento dos movimentos mus- criação do saber. Ele achava que todo trabalho educativo só
culares necessários a realização de tarefas, como a tem qualidade quando os objetivos são claros. O professor
escrita; não deve atuar como uma máquina, sujeitando-se a rotinas.
É fundamental a motivação para o trabalho. Deve ser um fa-
• Na sala de aula a criança deve ser livre para agir so- cilitador que encaminha o aluno a tomar consciência do seu
bre os objetos, embora seja importante quando ne- valor, um amigo que age e aprende com os alunos. Alunos
cessário, a mediação do professor; rebeldes e apáticos devem ser estimulados a propor suas
• Promoveu a autoeducação da criança, colocando ideias nos grandes e pequenos grupos. Aos poucos, este
meios adequados de trabalho a sua disposição; tipo de aluno vai se descobrindo, com seus erros e acertos,
até chegar a descoberta de uma aprendizagem significativa.
• Método de trabalho individual, embora tenha tam- Em 1956, Freinet preocupou-se com o excesso de alu-
bém um caráter social, uma vez que as crianças estão nos em sala de aula, e lança neste período uma campanha
sempre em contato umas com as outras; nacional por 25 alunos em sala de aula. Ele tinha uma grande
preocupação com turmas numerosas e heterogêneas, mas
CÉLESTIN FREINET a sua pedagogia defendia a ideia de que os alunos podiam
se organizar em grupos de acordo com seus interesses e em
Célestin Freinet, grande humanista nasceu no ano de seguida serem criados momentos onde todos participassem.
1896 em Gars, no sul da França, na região de Proença e mor- A pedagogia de Freinet foi centrada na criança e tem
reu em 1966 na cidade de Vence, na França. Teve uma infân- como princípios teóricos a:
cia e juventude rural, em meio às paisagens trabalhou como
pastor de rebanhos, como também desenvolveu alguns • comunicação;
valores voltados para o homem do campo. Embora tenha • expressão;
frequentado uma escola considerada boa na época, era uma
escola com pouco ou nenhum material didático. • afetividade;
Na adolescência mudou-se para Nice. Aí iniciou o seu • responsabilidade;
curso de magistério, mas foi interrompido com o início da 1ª
guerra mundial em 1941. Costumava sempre dizer: “Minha • sociabilidade;
formação como professor não se fez só na escola normal, • autonomia;
mas também na guerra”.
Freinet inicia em Bar-Sur-Loup suas atividades como • criatividade;
professor, mesmo sem ter concluído o curso normal. A sala • reflexão;
de aula sempre foi a sua paixão.
• senso cooperativo;

23
GESTÃO E CONHECIMENTO

Freinet foi chamado pelo exército para se alistar na épo- • Correspondência Interescolar-é a troca de cartas, de-
ca da primeira guerra mundial. Nesta época sofreu ações senhos, textos, fitas, vídeos, e-mail, etc que se fazia
dos gases tóxicos, ficando doente do pulmão até o final de entre uma classe e outra de alunos. Esta é uma forma
sua vida. Mesmo sem esperança de cura para a doença dos de aprendizagem que deve ser planejada cooperati-
seus pulmões, Freinet não abandonou suas pesquisas e des- vamente entre alunos e professores.
cobertas.
• Autoavaliação - o aluno deveria participar da sua
Freinet foi preso em 1940 no campo de concentração de
avaliação, utilizando fichas para seus registros pes-
Var. Gostava tanto da profissão de professor, que na mesma
soais, e, assim estaria acompanhando seu desempe-
época da sua prisão, dava aula para seus companheiros de
nho, e, seus erros nos trabalhos realizados.
sela, e, aproveitava para fazer suas pesquisas. Após sair da
prisão, se integrou ao Movimento da Resistência Francesa. Destaques na Teoria de Freinet:
Voltou para vencer, onde recomeçou suas atividades. Nes-
• Criticava duramente os livros didáticos fora da reali-
ta época, aproximadamente nos anos 50, sua pedagogia se
dade do aluno;
espalhou pelo mundo, criando um movimento em prol da
Escola Pública, e é isto que distingue dos demais pensadores • O interesse do aluno não estava na escola e sim fora
do movimento da Escola Nova na Europa. dela;
Em 1939, Freinet é exonerado do cargo de professor e
lança oficialmente sua escola com ajuda de doações, mas • Um regime autoritário na escola não seria capaz de
o Ministério da Educação recusou-se a reconhecer. Na sua formar cidadãos democratas;
escola, ele fez várias experiências com crianças, utilizando • A sobrecarga de alunos na sala de aula constitui
diversas técnicas: sempre um erro pedagógico;
• Aula Passeio - acreditava que o interesse da criança • Os castigos são humilhantes, constituem um grande
estava fora da escola. Realizava as aulas-passeio para erro;
observar aspectos da vida animal. Todo o seu tra-
balho em sala de aula era voltado para uma apren- • O comportamento escolar de um aluno depende de
dizagem interdisciplinar, onde todas as áreas eram seu estado fisiológico, orgânico e emocional;
relacionadas com a vida cotidiana do aluno. • O fracasso escolar inibe, destrói o ânimo e o entu-
• Texto Livre-consiste na liberdade que a criança deve siasmo;
ter para se expressar, não só na forma escrita, como • Toda atitude imposta é paralisante;
em forma de pintura, de desenho e até mesmo de
poemas. É a criança que deve escolher a forma como • O aluno não se cancã de um trabalho funcional, ou
quer se expressar. seja, que atenda aos rumos de sua vida;

• Imprensa Escolar - era a técnica usada para as entre- • As notas e classificações constituem sempre um erro;
vistas, pesquisas, vivencias e aula passeio. Todo esse • A ordem e a disciplina são necessárias na aula;
trabalho deveria ser coletivo.
• A cooperação é vida na Nova Escola;
• Correção - achava fundamental a correção do texto,
e, este era um processo deveria ser feito coletiva- • Ser maior não significa necessariamente estar acima
mente. Freinet dizia que o erro deveria ser trabalha- dos outros;
do, para se encontrar o acerto. • A livre expressão deve sempre ser valorizada;
• Livro da Vida - era uma espécie de diário, aonde as • Deve ser dada atenção especial a pequenos grupos,
crianças iam registrando e expondo suas diferentes e atendê-los em suas especificidades;
maneiras de ver a aula e a vida. No Livro da Vida,
o aluno tinha oportunidade de realizar observações • Toda ordem sob forma autoritária é um erro, isto
como conceitos e os conteúdos se organizavam. caracteriza uma ofensa à dignidade humana, sobre-
tudo se exercida publicamente; um regime autori-
• Fichário de Conduta - são exercícios relacionados tário na escola não seria capaz de formar cidadãos
com todas as disciplinas, construídas coletivamente democratas;
em sala de aula envolvendo alunos e professores.
Estes exercícios ficam à disposição da criança para • O trabalho com o aluno deve ser diversificado;
serem utilizados de acordo com as necessidades in- • A avaliação deve ser continua e permanente durante
dividuais. todo o processo de aula;
• Plano de Trabalho - os alunos organizavam um pla- • Confiança e respeito ao ser humano e seus direitos;
no, contendo as atividades que seriam desenvolvi-
das durante a semana. Este plano de trabalho deve- • Se trabalhada a democracia na escola, teremos no
ria estar coerente com o currículo escolar. futuro cidadãos conscientes;

24
GESTÃO E CONHECIMENTO

• As regras de sala de aula deviam ser discutidas e pla- não são sinônimas. A primeira está contida na segunda
nejadas pelos alunos, só assim teriam a responsabili- e significa quem não pode falar, daí em Valério Máximo
dade e liberdade desenvolvidas; encontrarmos puerum infantem. Mas continuo a me ser-
vir dessa palavra segundo o costume de nossa língua, até
• O professor devia respeitar o ritmo próprio de cada
a idade para a qual ela possui outros nomes.
aluno.
Além de referir-se à criança e tratar de suas diferenças
em relação ao adulto, esse pensador descreve o modo como
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
elas eram tratadas logo ao nascer, principalmente por suas
mães, crítica que apresenta no primeiro capítulo de Emílio,
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em
onde lemos:
1712. Sua mãe morreu no parto. Viveu primeiro com o pai,
Ao nascer, uma criança grita; sua primeira infância passa-
depois com parentes da mãe e aos 16 anos partiu para uma
-se chorando. Ora sacodem e a mimam para acalmá-la, ora a
vida de aventureiro. Foi acolhido por uma baronesa ben-
ameaçam e lhe batem para que fique quieta. Ou lhe fazemos
feitora na província francesa de Savoy, de quem se tornou
o que lhe agrada, ou exigimos dela o que nos agrada, ou nos
amante. Converteu-se à religião dela, o catolicismo (era cal-
submetemos às suas fantasias, ou a submetemos às nossas:
vinista). Até os 30 anos, alternou atividades que foram de
não há meio-termo, ela deve dar ordens ou recebê-las. Assim
pequenos furtos à tutoria de crianças ricas. Ao chegar a Paris,
suas primeiras ideias são de domínio e servidão. Antes de sa-
ficou amigo dos filósofos iluministas e iniciou uma breve,
ber falar ela dá ordens, antes de poder agir ela obedece e, às
mas bem-sucedida carreira de compositor. Em 1745, conhe-
vezes, castigam-na antes que depois imputamos à natureza, e
ceu a lavadeira Thérèse Levasseur, com quem teria cinco fi-
após nos termos esforçados para torná-la má, queixamo-nos
lhos, todos entregues a adoção - os remorsos decorrentes
de vê-la assim.
marcariam grande parte de sua obra. Em 1756, já famoso
por seus ensaios, Rousseau recolheu-se ao campo, até 1762.
Destaques da teoria de Rosseau2
Foram os anos em que produziu as obras mais célebres (Do
Contrato Social, Emílio e o romance A Nova Heloísa), que
O princípio fundamental de toda a obra de Rousseau,
despertaram a ira de monarquistas e religiosos. Viveu, a par-
pelo qual ela é definida até os dias atuais, é que o homem
tir daí, fugindo de perseguições até que, nos últimos anos de
é bom por natureza, mas está submetido à influência cor-
vida, recobrou a paz. Morreu em 1778 no interior da França.
ruptora da sociedade. Um dos sintomas das falhas da civi-
Durante a Revolução Francesa, 11 anos depois, foi home-
lização em atingir o bem comum, segundo o pensador, é a
nageado com o translado de seus ossos para o Panteão de
desigualdade, que pode ser de dois tipos: a que se deve às
Paris.
características individuais de cada ser humano e aquela cau-
Em Rousseau1 tanto o estudo da infância, cuja existência
sada por circunstâncias sociais. Entre essas causas, Rousseau
normatiza e nomeia como a ação educativa aplicável, por ele
inclui desde o surgimento do ciúme nas relações amorosas
amplamente desenvolvida no Emílio, podem efetuar-se de
até a institucionalização da propriedade privada como pilar
acordo com sua natureza. Diz ele: “Cada idade, cada etapa
do funcionamento econômico.
da vida tem sua perfeição conveniente, a espécie de matu-
O primeiro tipo de desigualdade, para o filósofo, é na-
ridade que lhe é própria”. Esta afirmação, apesar de integrar
tural; o segundo deve ser combatido. A desigualdade nociva
um conjunto de máximas que em sua obra inaugura uma
teria suprimido gradativamente a liberdade dos indivíduos e
forma própria de pensar a educação da “criança da nature-
em seu lugar restaram artifícios como o culto das aparências
za” e pela natureza, não significa deixar a criança a própria
e as regras de polidez.
sorte, evoluir espontaneamente. Esta leitura geralmente feita
Ao renunciar à liberdade, o homem, nas palavras de
por educadores, desconsidera outros aspectos de sua obra,
Rousseau, abre mão da própria qualidade que o define
que mesmo sendo extremamente contraditória, exalta o pa-
como humano. Ele não está apenas impedido de agir, mas
pel do educador na condução das crianças, às quais deve
privado do instrumento essencial para a realização do es-
orientar em direção ao que é natural.
pírito. Para recobrar a liberdade perdida nos descaminhos
Para Rousseau a infância e seu desenvolvimento são de-
tomados pela sociedade, o filósofo preconiza um mergulho
finidos da seguinte forma:
interior por parte do indivíduo rumo ao autoconhecimento.
Os primeiros desenvolvimentos da infância dão-se
Mas isso não se dá por meio da razão, e sim da emoção, e
quase todos ao mesmo tempo. A criança aprende a falar,
traduz-se numa entrega sensorial à natureza.
a comer e a andar aproximadamente ao mesmo tempo.
Esta é propriamente a primeira fase de sua vida. Antes,
Dependência das coisas
não é nada mais do que aquilo que era no ventre da mãe;
não tem nenhum sentimento, nenhuma ideia; mal tem
Rousseau via o jovem como um ser integral, e não uma
sensações e nem mesmo percebe a sua própria existên-
pessoa incompleta, e intuiu na infância várias fases de de-
cia. (...) Eis a Segunda fase da vida, aquela onde acaba
senvolvimento, sobretudo cognitivo. Foi, portanto, um pre-
propriamente a infância, pois as palavras infans e puer
cursor da pedagogia de Maria Montessori (1870-1952) e

1  SANTOS, J. P.; MATTOS, S. C. de; QUERIROZ, S. T. de. Concepção de 2 http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/rous-


Infância do Professor de Educação Infantil. seau-307428.shtml

25
GESTÃO E CONHECIMENTO

John Dewey (1859-1952). “Rousseau sistematizou toda uma também com a intenção de propiciar felicidade à criança en-
nova concepção de educação, depois chamada de escola quanto ela ainda é criança.
nova e que reúne vários pedagogos dos séculos 19 e 20”,
diz Maria Constança. Método natural e educação negativa3
Para Rousseau, a criança devia ser educada sobretudo
em liberdade e viver cada fase da infância na plenitude de Rousseau dividiu a vida do jovem - e seu livro Emílio -
seus sentidos - mesmo porque, segundo seu entendimento, em cinco fases: lactância (até 2 anos), infância (de 2 a 12),
até os 12 anos o ser humano é praticamente só sentidos, adolescência (de 12 a 15), mocidade (de 15 a 20) e início da
emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda se forma. idade adulta (de 20 a 25). Para a pedagogia, interessam par-
Liberdade não significa a realização de seus impulsos e de- ticularmente os três primeiros períodos, para os quais Rou-
sejos, mas uma dependência das coisas (em oposição à de- sseau desenvolve sua ideia de educação como um processo
pendência da vontade dos adultos). “Vosso filho nada deve subordinado à vida, isto é, à evolução natural do discípulo, e
obter porque pede, mas porque precisa, nem fazer nada por por isso chamado de método natural. O objetivo do mestre
obediência, mas por necessidade”, escreveu o filósofo. é interferir o menos possível no desenvolvimento próprio do
Um dos objetivos era criticar a educação elitista de seu jovem, em especial até os 12 anos, quando, segundo Rous-
tempo, que tinha nos padres jesuítas os expoentes. Rous- seau, ele ainda não pode contar com a razão. O filósofo cha-
seau condenava em bloco os métodos de ensino utilizados mou o procedimento de educação negativa, pois, consiste
até ali, por se escorarem basicamente na repetição e memo- em seguir os preceitos da natureza, respeitando suas fases
rização de conteúdos, e pregava sua substituição pela expe- e não se adiantar a elas, tampouco no desenvolvimento da
riência direta por parte dos alunos, a quem caberia conduzir razão. Se, como diz nosso autor, “cada idade, cada condição
pelo próprio interesse o aprendizado. Mais do que instruir, na vida tem sua perfeição conveniente, sua espécie de matu-
no entanto, a educação deveria, para Rousseau, se preocu- ridade própria”, o período do nascimento até os doze anos é
par com a formação moral e política. considerado o mais perigoso, no sentido de que é nele que
os erros e os vícios tendem a surgir. É por isso que Rousseau
Bom selvagem prega a educação negativa, que preserva a inocência e a pu-
reza da criança da degeneração dos homens, “não ensinar a
Até aqui o pensamento de Rousseau pode ser toma- virtude ou a verdade, mas preservar o coração do vício e o
do como uma doutrina individualista ou uma denúncia da espírito do erro”.
falência da civilização, mas não é bem isso. O mito criado Conforme informa Cerizara, educação negativa para
pelo filósofo em torno da figura do bom selvagem - o ser Rousseau não é ociosa, ela dispõe a criança a tudo o que
humano em seu estado natural, não contaminado por cons- possa levá-la ao verdadeiro quando ela está em condições
trangimentos sociais - deve ser entendido como uma ideali- de entendê-lo. Seu princípio básico é evitar proclamar deve-
zação teórica. Além disso, a obra de Rousseau não pretende res passíveis de se tornar odiosos às crianças, ou até imprati-
negar os ganhos da civilização, mas sugerir caminhos para cáveis, por serem incompreensíveis a elas. Dessa forma, tor-
reconduzir a espécie humana à felicidade. na-se contrário a educação positiva que, pensando pregar
Não basta a via individual. Como a vida em sociedade é a virtude, faz com que as crianças apreciem todos os vícios.
inevitável, a melhor maneira de garantir o máximo possível O que deve ser incentivado nas crianças são o exercício do
de liberdade para cada um é a democracia, concebida como corpo, dos órgãos e dos sentidos, onde esses aspectos serão
um regime em que todos se submetem à lei, porque ela foi transformados em instrumentos para a criança construir o
elaborada de acordo com a vontade geral. Não foi por acaso seu conhecimento.
que Rousseau escolheu publicar simultaneamente, em 1762,
suas duas obras principais, Do Contrato Social - em que ex-
põe sua concepção de ordem política - e Emílio - minucioso 5. TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
tratado sobre educação, no qual prescreve o passo-a-passo COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO
da formação de um jovem fictício, do nascimento aos 25
anos. “O objetivo de Rousseau é tanto formar o homem
como o cidadão”, diz Maria Constança Peres Pissarra, pro- O ENSINO DE HISTÓRIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS
fessora de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. “A dimensão política é crucial em seus princípios A excessiva mecanização no setor produtivo da socieda-
de educação.” de gerou e ainda gera novas regras na relação capital e tra-
Não há escola em Emílio, mas a descrição, em forma balho, alterando o perfil do trabalhador, exigindo um maior
vaga de romance, dos primeiros anos de vida de um per- grau de escolaridade e com qualidade. Exigência esta que
sonagem fictício, filho de um homem rico, entregue a um traz ao campo das discussões a relação homem e máquina
preceptor para que obtenha uma educação ideal. O jovem nas transformações sociais com as novas tecnologias.
Emílio é educado no convívio com a natureza, resguardado Diante do contexto, o ensino de história precisa está
ao máximo das coerções sociais. O objetivo de Rousseau, “plugado” ao advento dessa nova realidade, possibilitando
revolucionário para seu tempo, é não só planejar uma edu-
cação com vistas à formação futura, na idade adulta, mas
3  GROSS, R.; GRAMINHO, C. Rousseau e a Educação da Infância.

26
GESTÃO E CONHECIMENTO

ao aluno uma melhor compreensão do mundo, das relações que os recursos tecnológicos do computador favorecem o
novas de trabalho e preparados para o exercício da cida- entrelaçamento entre produtor e leitor. Ao mesmo tempo o
dania. Para isto, faz necessário ter um ensino em harmonia aluno produz e ler, aprendendo com erros e acertos. Quanto
com o nosso tempo. O uso dos recursos tecnológicos deve ao papel do professor e a função do computador, OLIVEIRA,
estar associado ao domínio de conteúdo e metodologias A. afirma “[...] que o computador pode se constituir em uma
para que se possa escolher a mais adequada à construção ferramenta significativa quando voltada para conteúdos es-
do conhecimento histórico. pecíficos [...], em situações onde a presença do professor é
fundamental e que envolvam simultaneamente outras ferra-
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): mentas culturais” (2006:15).
reflexões quanto ao uso no ensino de História Através da internet, novos caminhos se abrem para o
trabalho do professor. O uso do correio eletrônico nas ati-
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tra- vidades de sala de aula pode ser um exemplo desses novos
zem o mundo para o ambiente escolar, de forma interativa caminhos. O professor pede aos alunos que realizem uma
do qual facilite e enriqueça a veiculação e as informações determinada atividade e a envie pela internet para as devi-
transmitidas, gerando um estímulo ao aluno no processo das observações e correções. O objetivo é fazer que os alu-
ensino-aprendizagem. Assim, o ensino ativo permite que o nos ao realizarem a tarefa, além responderem a atividade,
aluno desenvolva a sua capacidade de ser crítico, de se ex- tenham habilidades no envio e recebimento de mensagens
pressar, de questionar, de criar e de ter uma autodisciplina eletrônicas e o professor ao enviar a resposta, realize o “fee-
nas tarefas escolares, contribuindo para que da atividade in- dback” que muitas vezes não acontece na sala de aula.
dividual parta para a construção coletiva. O uso do hipertexto é outra ferramenta da informática
Neste sentindo o aluno quando responsável pelo seu que viabiliza o trabalho de temas históricos na sala de aula.
processo de estudo, aumenta seu interesse e participação Além de abordar os conteúdos, faz com que o aluno e o
das atividades propostas pelo professor. Quando isso ocorre professor, descubram a melhor forma para ler e entender
torna-se comum ouvir dos alunos “o horário já acabou? Não textos históricos. O hipertexto também favorece o entrela-
“vi” o tempo passar; pega mais um horário...; quero conti- çamento de diversas áreas do conhecimento, fazendo que
nuar no horário do intervalo”. o aluno relacione os conteúdos de História às diversas dis-
A contribuição metodológica das novas tecnologias (os ciplinas hierarquizadas no currículo escolar. Ao trabalhar um
recursos de multimídia, fotografia, vídeo, imagens, sons, fil- tema histórico com o hipertexto (seja da internet ou pro-
mes) quando usadas corretamente se tornam ferramentas dução do professor) o professor possibilita uma interação
de apoio para a apresentação, construção e transmissão do do texto com imagens e sons e favorece uma leitura não
conhecimento histórico. E o desenvolvimento tecnológico apenas de decodificação mecânica e sim de compreensão.
permite que máquinas e programas sejam instrumentos po- Mas, o professor precisa ficar atento para as potencialidades
derosíssimos, criativos e não meros instrumentos mecânicos do uso do hipertexto, pois nem sempre trará benefícios aos
e repetitivos. Um dos poderes do desenvolvimento tecnoló- alunos para a compreensão de um determinado assunto ou
gico para o campo da História é a digitalização das diversas quando lhe for pedido apenas uma leitura de um texto linear
fontes históricas que além de alargar a conservação dos do- impresso.
cumentos históricos possibilita que o docente utilize-os para Ainda como forma de trabalhar conteúdos históricos
análise e discussão sobre o passado e o presente. com a informática, apresenta-se aqui um Objeto de Apren-
dizagem que é a simulação de uma dada situação que inte-
Os recursos tecnológicos nas aulas de História rage com os alunos, provocando aprendizagem dinâmica de
um determinado assunto. O Objeto de Aprendizagem em
É preciso reconhecer que os recursos tecnológicos fa- História que será destacado encontra-se no repositório do
vorecem o desenvolvimento de uma série de capacidades e RIVED, com o assunto sobre a Era Feudal. Através da histó-
permitem o contato com linguagens variadas. ria contada com o objeto de aprendizagem, o aluno sente
A TV e o vídeo, juntamente com o computador são como se estivesse no período da Idade Média porque o ce-
recursos tecnológicos de comunicação e informação mais nário será construído pelo aluno a partir do momento que
utilizados no desenvolvimento de atividades nas aulas de ele responda às questões que implicam em conhecer as
história. A TV tem ensinado ao telespectador a conhecer o partes do feudo. O aluno, portanto, entra em contato mais
mundo de maneira prazerosa e que para MORAN, (2000) “a próximo com a época do Feudalismo, de forma dinâmica,
força da linguagem audiovisual está no fato de ela conseguir por meio de personagens e atividades similares aos da épo-
dizer muito mais do que captamos...”. Juntamente com o ca. No início da simulação há um diálogo entre pai e filho,
vídeo – um excelente instrumento de sensibilização –, a TV em que o pai quer testar o filho para ver se está preparado
ajuda a ilustrar a fala na sala de aula e dar vida aos cenários para herdar o feudo, pois irá fazer uma viagem. Em seguida,
de história que estão nos livros ou aproximam os alunos de apresenta várias etapas de provas como testes para o filho
uma realidade distante, mas presente na sociedade. realizar. Em caso de erro nessas etapas (cometido pelo alu-
O computador juntamente com a Internet são instru- no), o filho do senhor feudal será reprovado, e assim, não
mentos que processam e utilizam diferentes símbolos, po- assumirá o feudo. Portanto, com esse Objeto de Aprendi-
tencializam pesquisas, produções textuais e a divulgação. zagem, o aluno será estimulado a aprender mais, uma vez
A leitura e a escrita ganham novas características à medida que a administração do feudo estará em suas mãos e assim

27
GESTÃO E CONHECIMENTO

chegar a compreender as relações políticas, econômicas e genética envolvida na obra de Piaget e as suas relações com
sociais da época destacada. a educação.
A simulação no objeto de aprendizagem dar um ressig-
nificado para as aulas de História, conforme depoimentos de 1 - Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológi-
alunos que participaram de uma experiência na cidade de cos - trata das diferentes concepções de conhecimento nas
Imperatriz que relatam: práticas pedagógicas. Apresentam três diferentes formas de
representar a relação ensino/aprendizagem: a) - Pedagogia
• “uma forma de (...) testar a capacidade de aprendiza-
diretiva e seu pressuposto epistemológico - Sala de aula - O
do. Foi muito importante pela necessidade de aten-
professor fala, o aluno escuta; o professor exige silêncio,
ção que devemos ter em tudo em cada detalhe.”
decide o que fazer e o aluno executa; o professor ensina e o
• “gostamos porque além de falar do assunto tem aluno aprende. Para o Paulo Freire é a Pedagogia do Opri-
também as figuras que ajudam nós entender melhor mido. Por que o professor age assim? Segundo o autor, o
o assunto, além de ser divertido. É um método legal professor acredita que o conhecimento pode ser transmitido
e diferente e não fica rotina de sala de aula”. para o aluno. Ele acredita no mito da transmissão do conhe-
cimento. Na linguagem epistemológica - Sujeito e Objeto. O
O professor de História antes de adotar novas tecno-
sujeito é o elemento conhecedor, o centro do conhecimen-
logias no seu trabalho educacional, precisa primeiramen-
to. O objeto é tudo o que o sujeito não é.
te, definir o que ensinar, por que ensinar e como ensinar a
História. E com uma sólida fundamentação teórica para que
Visão epistemológica do professor - O indivíduo, ao
suas práticas não se tornem meras repetições de conteúdos
nascer, nada tem em termos de conhecimento: é uma folha
pouco atraentes.
de papel em branco; é uma tábula rasa. De onde vem o seu
conhecimento (conteúdo)? E a sua capacidade de conhe-
Fonte
cer (estrutura)? Vem do meio físico e social. Empirismo é o
MOURA, M. J. F. de. O Ensino de História e as Novas
nome dessa explicação da gênese e do desenvolvimento do
Tecnologias: da reflexão à ação pedagógica, 2009.
conhecimento.
A ação deste professor está fundada, teoricamente, por
BIBLIOGRAFIA: uma epistemologia segundo a qual o sujeito é, totalmente,
determinado pelo mundo do objeto ou pelos meios físicos
e sociais. O professor representa o mundo na sala de aula e,
BECKER, FERNANDO. EDUCAÇÃO E
somente, ele pode produzir algum novo conhecimento no
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. PORTO aluno. Representação epistemológica: essa relação [S < O].
ALEGRE: PENSO, 2012. Essa pedagogia é legitimada pela epistemologia empirista
configurando o quadro da reprodução da ideologia, do au-
toritarismo, da coação etc. Representação do modelo peda-
EDUCAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO gógico: [A< P] - O professor (P), representante do meio so-
cial, determina o aluno (A) que é a tábula rasa, frente a cada
O livro de Fernando Becker apresenta uma coletânea de novo conteúdo. Nessa relação o professor jamais aprenderá
textos que se relacionam, em uma visão apoiada em Paulo e o aluno jamais ensinará. b) - Pedagogia não- diretiva e
Freire e Jean Piaget. Estes textos refletem as pesquisas e os seu pressuposto epistemológico - Não é fácil detectar sua
estudos do autor, em favor da melhoria da escola pública. presença. Ela está mais nas concepções pedagógicas e epis-
temológicas do que na prática de sala de aula. O professor
Epistemologia é um auxiliar do aluno, um facilitador e este deve interferir
“Saber”- engloba os conhecimentos, as competências, o mínimo possível, acreditando que o aluno aprende por
as habilidades e as atitudes. A questão da epistemologia da si mesmo. O aluno já traz um saber, ele só precisa trazer à
prática profissional se encontra, evidentemente, no cerne consciência, organizar, ou ainda rechear de conteúdo. Qual-
desse movimento de profissionalização. De fato, no mundo quer ação que o aluno decida fazer é a priori, boa, instrutiva.
do trabalho, o que distingue as profissões das outras ocu- Regime (laisser- faire) deixar fazer para que ele encontre o
pações é, em grande parte, a natureza dos conhecimen- seu caminho. A epistemologia que fundamenta essa postu-
tos que estão em jogo. A finalidade de uma epistemologia ra pedagógica é a apriorista. [S > O].
da prática profissional é revelar esses saberes, compreender “Apriorista” vem de priori - aquilo que é posto antes
como são integrados, concretamente, nas tarefas dos pro- como condição do que vem depois, que é a bagagem here-
fissionais e como estes os incorporam, produzem, utilizam, ditária. O ser humano nasce com o conhecimento já progra-
aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos mado na sua herança genética. No desenvolvimento natural
inerentes às atividades de trabalho. da criança, tudo está previsto: ossos, músculos e nervos; e
Em que sentido essa definição da epistemologia da prá- assim, a criança passa a postar-se ereta, engatinhar, cami-
tica profissional pode modificar nossas concepções atuais? nhar, correr, andar de bicicleta; é da mesma forma que ocor-
Os textos abordados foram agrupados pelo critério de re com o conhecimento. É suficiente proceder a ações quais-
uma mesma temática, do ponto de vista da epistemologia quer, para que tudo aconteça em termos de conhecimento.
As ações espontâneas farão a criança transitar por fases de

28
GESTÃO E CONHECIMENTO

desenvolvimento, cronologicamente, fixas, chamadas de logia construtivista, de matriz interacionista: epistemologia


“estágios” e que serão confundidas, frequentemente, com genética.
os estágios da epistemologia genética piagetiana. O profes-
sor, nesse modelo, renuncia à característica fundamental da Nas dimensões epistemológicas, abarcam três mode-
ação docente que é a intervenção no processo de aprendi- los pedagógicos:
zagem do aluno. Representação da relação pedagógica: o 1) Modelo Empirista - o sujeito é a tábula rasa, deter-
modelo epistemológico apriorista - [ A > P]. O aluno (A), minado pelos estímulos que o rodeiam; 2) Modelo Aprioris-
pelas suas condições prévias, termina a ação - ou inanição ta - o ser humano nasce determinado com uma bagagem
- do professor (P). c) - Pedagogia relacional e seu pressu- hereditária; basta um processo de maturação e os efeitos
posto epistemológico - O professor entra com os alunos na aparecerão; nas faixas etárias fixas vão aparecendo as estru-
sala de aula, e juntos exploram o material pré-estabeleci- turas do pensar e da percepção. Em Psicologia é represen-
do, porque presume-se que tem algum significado para os tado pela teoria de Gestalt e de certa forma pela teoria de
alunos. O professor age assim porque acredita, ou melhor, Carl Rogers; 3) Modelo Construtivista, uma pedagogia cons-
compreende (teoria) - que o aluno só aprenderá alguma coi- truída a partir da epistemologia genética. O conhecimento
sa, isto é, construirá algum conhecimento novo, se ele agir e não está no objeto, meio físico ou social, ou na cabeça do
problematizar a sua ação. Duas condições são necessárias professor com relação ao aluno, nem mesmo na cabeça do
para que algum conhecimento novo seja construído: a) que aluno com relação ao professor; o conhecimento se dá por
o aluno aja (assimilação) sobre o material e que este possa um processo de interação radical entre o sujeito e o objeto,
ser significativo; b) que o aluno responda para si mesmo às entre o indivíduo e a sociedade, entre o organismo e o meio.
perturbações (acomodação) provocadas pela assimilação É uma epistemologia centrada na relação, ou na ação do
do material, apropriando-se dos mecanismos de suas ações; sujeito sobre o objeto e do objeto sobre o sujeito, a ação
tal processo far-se-á por reflexionamento e reflexão (Piaget, é a ponte que liga o sujeito ao objeto. Para Piaget, com-
1977), a partir de questionamentos tanto pelo professor preender é construir estruturas de assimilação e não usar o
como pelos próprios alunos. O professor acredita que tudo procedimento de repetições. Estruturas de assimilação cons-
o que o aluno construiu até hoje em sua vida serve de pata- troem-se por abstração reflexionante. Esta abstração é agir
mar para continuar a construir e que alguma porta se abrirá sobre as coisas e retirar algo e agir sobre as próprias ações
para o novo conhecimento. Representação epistemológica e retirar destas ações alguma coisa. Piaget chama este tipo
desse modelo: [S <> O]. de abstração, de empírica. A abstração que se sobrepõe a
O professor que age, segundo o modelo pedagógico essa primeira é a abstração reflexionante. Caracteriza-se a
relacional, professa uma epistemologia também relacional. abstração reflexionante, quando o sujeito age sobre o meio,
sobre os objetos, sobre as relações sociais, sobre as ações
2- O Ato Pedagógico de Ensinar e a Produção do Co- retirando qualidade da própria coordenação das ações. Tra-
nhecimento - O Pensamento Científico, segundo Bache- ta-se de uma ação de segunda potência. É um conceito pou-
lard, produz uma ruptura profunda no pensamento no nível co explorado.
do senso comum; como as pessoas que passaram pela esco- Como analisar o conhecimento matemático? É a capaci-
la, não tiveram a chance de ter esse momento de ruptura, de dade organizadora do conhecimento humano, de retirar por
poder se valer dos conhecimentos científicos para interpre- abstração reflexionante, as qualidades da coordenação de
tar o mundo em que vivem? Isto é chamado de primarismo. suas ações, é quando o sujeito após um conjunto de ações
Todos sabem, muito bem, onde está a causa, e muitos qualquer, aprendeu os mecanismos dessa ação. Na sala de
participam dessa produção de ignorância nas salas de aula. aula tem que fluir a relação professor- aluno, aluno - pro-
Os mecanismos, mesmo com todas as didáticas e metodo- fessor e aluno - aluno, possibilitando a ação, permitindo a
logias, produzem a reprodução, a repetência e a posterior apropriação do próprio fazer, resultando o crescimento cog-
expulsão da criança da escola. O autor situa os procedimen- nitivo. É evidente que ameaça de um certo modo, a discipli-
tos pedagógicos de sala de aula em três grandes grupos: na escolar. Uma vez que toda disciplina escolar tem como
Pedagogia convencional, ou Pedagogia tradicional ou escola objetivo máximo: a) proibir que a ação se dê, b) inviabilizar,
tradicional. Pedagogia da essência e Pedagogia Conteudis- pela imposição de mecanismos comportamentais, a apro-
ta, segundo a crítica de Paulo Freire, Pedagogia do oprimido, priação dos mecanismos dessa ação. Toda disciplina escolar
que consiste numa pedagogia centrada no professor. Con- tem um ponto em comum-proibir que tal fato aconteça - e
tra essa pedagogia aparece a pedagogia centrada no aluno é por isso que se pode falar em produção de ignorância em
(laisser- faire), proposta viabilizada pela Escola Nova e que vez de produção do saber. Se esta interação não se dá (ação
muitos confundem com a proposta piagetiana ou freireana. de primeira potência), não se dará a seguinte (ação de se-
Trata-se de uma pedagogia, um ensino centrado no aluno gunda potência).
dentro de uma proposta libertadora dirigido, especialmente,
às chamadas classes populares. É uma pedagogia centrada 3 - Ensino e Construção do Conhecimento: o Proces-
na relação, precisamente, as relações dentro da sala de aula, so de Abstração
que não recebem significação a priori. Pode-se encontrar o Reflexionante - O processo de abstração reflexionante
fundamento dessa pedagogia em uma epistemologia que com base na explicação da proposta de Piaget para a cons-
está mais ou menos disfarçada na obra de Paulo Freire, ex- trução do conhecimento. No senso comum, inclusive o aca-
posta e bem explicada na obra de Piaget, que é a epistemo-

29
GESTÃO E CONHECIMENTO

dêmico, o conhecimento é entendido como um produto da meteoritos? O que se sabe é que a espécie humana que
sensação ou da percepção. vive hoje na Terra, pouco tem a ver com as que viveram há
Segundo Piaget, o conhecimento é concebido como 650 milhões de anos. São concepções que a ciência foi cons-
uma construção. truindo e refletindo na filosofia e na sociologia.
A abstração reflexionante - O processo comporta dois Para Piaget, o homem quando nasce traz com ele uma
aspectos: o reflexionamento - é a projeção sobre um pa- fascinante bagagem hereditária que remonta há milhões de
tamar superior daquilo que foi tirado do patamar inferior, anos de evolução, mas não consegue emitir a mais simples
como acontece com a passagem da ação sensório- motora operação de pensamento ou o mais elementar ato simbó-
à representação; ou da assimilação simbólica pré-operató- lico sendo que o meio social não consegue ensinar a esse
ria à operação concreta. A reflexão - é como ato mental recém-nascido o mais elementar conhecimento objetivo.
de reconstrução e reorganização sobre o patamar superior O sujeito humano é um projeto a ser construído, o mes-
daquilo que foi transferido do inferior. O material retirado mo acontece com o objeto. Logo, sujeito e objeto não têm
por reflexionamento vem de duas fontes possíveis: 1) - dos existência prévia, a priori. Como isto ocorre: o sujeito age
observáveis - dos objetos ou das ações do sujeito em suas sobre o objeto, assimilando-o, essa ação assimiladora trans-
características materiais. Este mecanismo tem o nome de forma o objeto; esse processo resiste aos instrumentos de
abstração “empírica”. 2) - dos não - observáveis - coordena- assimilação de que o sujeito dispõe no momento. O sujeito
ções das ações do sujeito, coordenações endógenas: ouço, reage, refazendo esses instrumentos ou construindo novos
observo uma criança de dois anos chamando um cavalo instrumentos, capazes de assimilar, transformar os objetos
de “ao- ao”, mas não ouço, não vejo, não observo a coor- mais complexos. Essas transformações dos instrumentos de
denação que a levou a generalizar para o cavalo o nome assimilação constituem a ação acomodadora. “Conhecer é
que atribui, usualmente, ao cachorro. É possível inferir essa transformar o objeto e transformar a si mesmo”
coordenação a partir do comportamento da criança. A essa (O processo educacional que nada transforma está ne-
forma de abstração, Piaget chama de “reflexionante”, com gando a si mesmo).
desdobramentos: 1) - quando o objeto é modificado pelas O sujeito constrói seu conhecimento na interação com o
ações do sujeito e enriquecido de propriedades tiradas de meio, tanto físico como social.
suas coordenações. Um outro exemplo: uma criança de três Essa construção depende das condições normais do su-
anos enfileira, sem plano prévio, alguns carrinhos e ao ter- jeito.
minar, chama esse conjunto de “Fórmula Um”; é a abstração Portanto, na periferia ou mesmo na favela é extrema-
pseudo - empírica - aquilo que a criança retirou não está no mente mais difícil construir conhecimentos do que nas clas-
objeto, está no observável, nas relações entre os objetos ses média e alta? Piaget criou a ideia de conhecimento -
(carrinhos); ela retirou o que ela colocou neles e não o que construção, o movimento do pensamento humano em cada
lhes é próprio; 2) - quando o resultado de uma abstração indivíduo e apontou que se daria na humanidade como um
reflexionante de qualquer nível torna-se consciente, temos todo.
uma abstração refletida; exemplo: uma criança operatória - Portanto, para o Construtivismo nada está pronto e de-
concreta se apropria de elementos comuns às operações de terminado, é sempre um leque de possibilidades que podem
adição de unidades, dezenas e centenas, aprende na ação ou não ser realizadas. É constituído pela interação do indi-
concreta que 3+ 3 + 3 = 3x3; ou quando uma criança ope- víduo com o meio físico e social, com o mundo das relações
ratória - formal se apropria de relações comuns às opera- sociais. O Construtivismo é um modo de ser do conheci-
ções aritméticas apreende que: (2 + 3) + 4 = 2 + (3 + 4). mento, uma teoria que nos permite interpretar o mundo em
Significado da palavra abstração: retirar, arrancar, extrair que vivemos, além de nos situar como sujeitos neste mundo.
algo de algo, nunca a totalidade, mas algumas característi- Para Piaget, a aprendizagem só tem sentido se coincidir com
cas. O conhecimento é progressivo, o processo está no que o processo de desenvolvimento do conhecimento, com o
o sujeito pode retirar, isto é, assimilar dos observáveis ou movimento das estruturas da consciência. A educação deve
dos não - observáveis. O que ele retira por abstração é aqui- ser um processo de construção de conhecimento, na condi-
lo que seu esquema de assimilação atual possibilita que ele ção de complementaridade.
retire. Ele pode ser modificado por acomodação.
5 - Construtivismo e Pedagogia - Piaget - São apre-
Diferenciação e equilíbrio - O equilíbrio cognitivo sentados passos essenciais para uma proposta pedagógica
não é inativo e sim, uma constante troca. com base na epistemologia genética. O texto dá um signi-
ficado importante ao trabalho pedagógico, orientado por
Epistemologia genética e ação docente - um novo olhar uma epistemologia construtivista. Na obra de Piaget, em ter-
do professor na sala de aula com uma visão interacionis- mos de conhecimento, a presença do interacionismo pode
ta e construtivista do ser humano, em geral com bases em ser detectada por numerosas díades: assimilação / acomo-
conhecimentos adequados, permitirá trabalhar a realidade dação, estrutura / gênese ou estrutura/função, coordenação
trazida para dentro da sala de aula, tendo em vista a cons- / diferenciação, estados / processos ou estados/transforma-
trução das condições prévias de todo o conhecimento. 4 - O ções, conteúdo/ forma, organização /adaptação, aprendiza-
que é Construtivismo? O universo está em movimento se gem/ desenvolvimento, abstração empírica /abstração refle-
constituindo, se construindo, ou se destruindo? Como a es- xionante, reflexionamento /reflexão, ação/ coordenação das
pécie humana sobreviveu a grandes catástrofes, chuvas de ações ou ação/esquemas de ação, heteronomia/autonomia.

30
GESTÃO E CONHECIMENTO

Segundo Fernando Becker, uma proposta pedagógica que conclusiva da inteligência humana sem um tratado sobre a
pretende levar em conta os avanços da epistemologia ge- afetividade à altura do tratado que a epistemologia genética
nética, deve contemplar pelo menos os seguintes pontos: faz para explicar a cognição.” É importante não confundir
Inteligência e Emoção.
• Levar em conta as construções cognitivas do edu-
cando ou, o que dá no mesmo, partir dos conceitos
Fonte
espontâneos do aluno;
BECKER, Fernando. Educação e construção do conheci-
• Instaurar a fala do aluno; mento. Porto Alegre: Penso, 2012
• Rever, continuamente, as atividades em função do
objetivo; CASTORINA, JOSÉ ANTONIO E OUTROS.
• Considerar o erro como instrumento analítico e não PIAGET-VIGOTSKY: NOVAS CONTRIBUIÇÕES
como objeto de punição; PARA O DEBATE. SÃO PAULO: ÁTICA, 2005.
• Pôr o aluno em interação com a ciência, a arte, os
valores;
PIAGET-VIGOTSKY:
• Superar a repetição com a construção; Exercer NOVAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE
rigor intelectual;
Capítulo I
• Relativizar o ensino em função da aprendizagem en-
tendida como construção do conhecimento; O debate Piaget-Vygotsky a busca de um critério
• Compreender que há um dinamismo fundamental para sua avaliação
em toda relação, caracterizado por uma continuida-
de funcional e por uma descontinuidade estrutural; A discussão sobre as ideais de Piaget e de Vygotsky ad-
quiriu uma notável atualidade no mundo latino-americano.
• Pensar conteúdo e processo como duas faces da O principal motivo de tal debate reside nas consequências
mesma realidade cognitiva. divergentes que parecem resultar das teorias na apreciação
6 - “No princípio era a ação!” Ação, Função simbólica e orientação da prática educacional.
e Inteligência emocional. A abordagem epistemológica se- É necessário dizer, afirma Castorina, “que, para muitos
gundo Piaget (1973). teóricos e profissionais da educação tornam-se evidentes o
Epistemologia do senso comum - Duas posturas teóri- conflito irredutível e a necessidade de optar entre as mes-
co -epistemológicas: apriorismo - o nascimento da criança mas. Tal versão baseada em leituras superficiais, em alguns
- herança genética: tudo está previsto e determinado. casos dogmáticas e em outros simplesmente errôneas, dos
Reflexo - a criança recém-nascida é a tábula rasa, e será textos clássicos e das pesquisas mais recentes, impede uma
determinada pelo meio social. A função da ação - Na hipó- autêntica confrontação, que inclua um exame da natureza
tese teórica de Piaget, a herança genética e o meio social das perspectivas e problemas propostos pelos nossos auto-
têm importância. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo res. Além disso, dessa forma, evita-se a realização de indaga-
ocorre pela assimilação, equilibração ou pela abstração re- ções conjuntas entre piagetianos e vygotskiano: que possam
flexionante e sempre com a ação do sujeito. Como Piaget contribuir para a nossa compreensão da prática educativa. “
concebe o pensar humano? Pensar é agir sobre o objeto e Para boa parte dos psicólogos do desenvolvimento,
transformá-lo. psicólogos educacionais e mesmo pedagogos do mundo
Ação e abstração reflexionante - O processo de abs- europeu e também latino-americano, as teorias de Piaget e
tração é, ao mesmo tempo, o processo de construção de Vygotsky são duas versões opostas sobre o desenvolvimen-
conhecimento que se dá por reflexionamento e comple- to intelectual e os processos de aprendizagem.
mentado por uma reflexão ou ato mental de reconstrução Reconhece-se que ambas as teorias assemelham-se
e reorganização. porque apresentam alguns traços comuns: um estrutura-
Ação e coordenação das ações - quando um bebê lismo fraco, no sentido de que Vygotsky defendeu um es-
olha para um brinquedo, movimenta a mão na direção do tudo inter-relacionado e não reducionista das funções e
brinquedo, agarra-o e, finalmente, leva o brinquedo à boca, processos psicológicos, e Piaget insistiu na constituição de
começa a sugá-lo. Para Piaget, acontece “coordenação de sistemas estruturais como a chave do desenvolvimento da
ações” - é a relação que o sujeito estabelece entre ações que inteligência; um enfoque genético partilhado na medida em
não existiam anteriormente. que as funções psicológicas em Vygotsky e os sistemas de
Afetividade e inteligência emocional - Na epistemolo- conhecimento em Piaget podem ser estudados apenas em
gia genética, razão e emoção jamais se separam, mas tam- seu processo de formação; e o fato de que tanto Vygotsky
bém não se confundem. Piaget afirma que a afetividade é quanto Piaget enfatizaram a atividade do sujeito na aquisi-
um aspecto energético das estruturas. Isto significa que sem ção do conhecimento e o caráter quantitativo da mudanças
atividade, a estrutura e a ação sem energia é como um au- no desenvolvimento (Garcia Madruga, 1991).
tomóvel sem bateria. “Não se pode chegar a uma teoria

31
GESTÃO E CONHECIMENTO

No entanto, argumenta o autor “para esta versão, as di- Explica Castorina que o esforço de Vygotsky foi mostrar
ferenças são mais relevantes do que as semelhanças”. Em que, além dos mecanismos biológicos apoiados na evolução
Vygotsky, a interação social e o instrumento linguístico são filogenética e que estavam na origem das funções “natu-
decisivos para compreender o desenvolvimento cognitivo, rais”, existe um lugar crucial para a intervenção dos sistemas
enquanto em Piaget, este último é interpretado a partir da de signos na constituição da subjetividade! A tese é que os
experiência com o meio físico, deixando aqueles fatores em sistemas de signos produzidos na cultura na qual vivem as
um lugar subordinado. Além do mais, o processo de desen- crianças não são “’facilitadores da atividade psicológica, mas
volvimento intelectual, explicado em Piaget pelo mecanismo seus formadores. “Na perspectiva adotada para problemati-
de equilibração das ações sobre o mundo, precede e coloca zar o desenvolvimento psicológico e particularmente o cog-
limites aos aprendizados, sem que estes possam influir so- nitivo, a transição de uma influência social externa sobre o
bre aquele. indivíduo para uma influência social interna encontra-se no
Ao contrário, para Vygotsky, a aprendizagem interage centro da pesquisa.
com o desenvolvimento, produzindo sua abertura nas zonas Mas tanto essa tese, garante o autor, da origem social
de desenvolvimento proximal, nas quais as interações so- e não natural do psiquismo superior do interpsicológico ao
ciais e o contexto sociocultural são centrais”. intrapsicológico, quanto a adoção de uma análise genética
Em linhas gerais, continua Castorina, a teoria piagetiana da transição estão articuladas e dependem conceitualmente
é apresentada como uma versão de desenvolvimento cogni- da pressuposição da existência dos sistemas de signos.
tivo nos termos de um processo de construção de estruturas A afirmação de que a presença de estímulos criados,
lógicas, explicada por mecanismos endógenos, e para a qual junto aos estímulos dados, é a característica diferencial da
a intervenção social externa só pode ser “facilitadora” ou psicologia humana implica que o estudo genético ocupa-
“obstaculizadora”. Em poucas palavras, uma teoria universa- -se da aquisição de sistemas de mediação e que o controle
lista e individualista do desenvolvimento, capaz de oferecer consciente da própria atividade depende da utilização da-
um sujeito ativo, porém abstrato (“epistêmico”), e que faz quelas ferramentas psicológicas.
da aprendizagem um derivado do próprio desenvolvimento. O enfoque construtivista para interpretar o desenvolvi-
A teoria de Vygotsky aparece como uma teoria históri- mento dos conhecimentos, salienta Castorina, é uma ten-
co-social do desenvolvimento que, pela primeira vez, pro- tativa de superar o dualismo entre o sujeito e o objeto de
põe uma visão da formação das funções psíquicas supe- conhecimento. O sujeito aparece construindo seu mundo
riores como internalização mediada da cultura e, portanto, de significados ao transformar sua relação com o real, pe-
postula um sujeito social que não é apenas ativo mas sobre- netrando cada vez mais profundamente neste último e em
tudo interativo. sua própria maneira de pensar. Des­ta forma, quando ocorre
Castorina afirma que a comparação padrão está formu- cada progresso que aproxima o sujeito do conhecimento do
lada a partir das seguintes suposições: objeto, este recua.
1) As teorias em debate são respostas a uma série de Os modelos sucessivos do sujeito permanecem na ca-
problemas comuns levantados pelo desenvolvimento cog- tegoria de aproximações que não podem atingir este limite
nitivo: o dos “fatores determinantes do desenvolvimento”, constituído pelo objeto em suas propriedades ainda desco-
o da “formação da linguagem e sua intervenção no pensa- nhecidas.
mento”, ou o levantado pela “relação entre o individual e
o social no desenvolvimento”, ou a “redução, dualidade ou Para o autor, o empreendimento epistemológico e a
interação entre desenvolvimento e aprendizagem”. tese construtivista são o contexto no qual Piaget avançou na
2) Com relação a tais problemas, são estabelecidas te- explicitação dos mecanismos e processos psicológicos dos
ses mais ou menos opostas, mais ou menos diferentes: uma últimos anos da sua obra, tais como as abstrações e gene-
sequência universal de formas de pensamento em face de ralizações, os conflitos cognitivos, a tomada de consciên­cia
um pro­ cesso contextualizado de apropriação da cultura; ou a criação de possibilidades. Esses mecanismos e proces-
a linguagem do grupo cultural dirigindo a formação dos sos adquirem seu significado se os situarmos com respeito à
conceitos em face de uma história de reestruturação lógi- posição assumida sobre a relação entre o sujeito e o objeto
co-matemática que utiliza a linguagem unicamente como de conhe­cimento. Eles associaram-se à hipótese nuclear do
significante; a constituição dos conhecimentos explicada programa piagetiano: o mecanismo de equilibração entre
por “Internalização” da cultura em face de uma explicação a assimilação e a acomodação que pretende dar conta do
por equilibração dos sistemas de conhecimento; o ator dos modo pelo qual obje­to e sujeito interagem.
conhecimentos como sujeito social em face de um sujeito Com relação ao desenvolvimento, o projeto piagetiano
universal e individual; o aprendizado como orientador do visou reconstruir as transições entre as formas “de poder fa-
desenvolvimento cognitivo em face dos processos de de- zer” com o mundo, esclarecendo que cada uma está vincu-
senvolvimento dirigindo as aprendizagens, etc. lada aos proble­mas que as crianças possam resolver ao in-
3) O resultado dessa comparação coloca professores e terrogar a realidade - física ou social- ou ao tornar seu o que
pedagogos diante da opção entre suas teorias do desenvol- outros Ihes colocaram. E o processo de transição exprime as
vimento intelectual e da aprendizagem, bem como diante reorganizações do “ponto de vista” infantil, da sua forma de
de duas maneiras de conceber à prática educacional. significar os objetos de conhecimento.

32
GESTÃO E CONHECIMENTO

Vygotsky contrapôs sua perspectiva sobre as relações Concluindo, os estudos de Inhelder e sua equipe não se
entre a aprendizagem e o desenvolvimento à apoiada por ocuparam tanto em defender as teses construtivistas quan-
Piaget. to em precisar os mecanismos da modificação estrutural,
Segundo ele, os processos de desenvolvimento são in- tentando-se responder a pergunta: é possível produzir uma
dependentes da aprendizagem. E mais, os processos de de- modificação do nível estrutural do sujeito que apele ao me-
senvolvimento são condição prévia para a realização de um canismo espontâneo do funcionamento intelectual?
aprendizado, porém não são alterados por ele. Os resultados das indagações parecem mostrar que os
progressos deveram-se às tomadas de consciência dos con-
Ao contrário, explica o autor, para Vygotsky, ambos os flitos e a uma coordenação gradual de esquemas de conhe-
processos estão intimamente inter-relacionados, porque a cimento.
aquisição de qualquer habilidade infantil envolve a instrução Há de se frisar, diz Castorina, que no caso da aprendi-
proveniente dos adultos, antes ou durante à prática escolar. zagem e do desenvolvimento, as indagações situam-se em
A própria noção de “aprendizagem” significa processo de planos diferentes, e, por isso, as versões também são distin-
ensino-aprendizagem, justamente para incluir quem apren- tas. Quando Vygotsky postula o caráter orientador da apren-
de, quem ensina e a relação; social entre eles, de modo dizagem com relação ao desenvolvimento, está formulando
coerente com a perspectiva sócio histórico (Oliveira, 1993). a tese crucial segundo a qual a aquisição dos instrumentos
Assim, a aprendizagem, salienta Castorina, consiste na inter- de mediação cultural, isto é, a atividade educacional, é cons-
nalização progressiva dos instrumentos mediadores e é uma titutiva do curso do desenvolvimento. Quando Piaget postu-
aplicação do princípio antes mencionado - todo processo la a continuidade, salienta o autor, entre desenvolvimento e
psicológico superior vai do âmbito externo para o interno, aprendizagem está pensando nos meca­nismos que dirigem
das interações sociais para as ações internas, psicológicas. a mudança do “ponto de vista do sujeito Isto é, seja qual for
A atenção de Vygotsky aos processos de aprendizagem o modo pelo qual lhe são apresentados os problemas ou os
deve-se ao fato de os mesmos obri­garem ao processo de objetos a serem conhecidos, entra em funcionamento um
mediação e potencializá-lo, de forma que o desenvolvimen- processo de reinvenção ou redescoberta devido à sua ativi-
to cultural da criança equivale à sua aquisição dos sistemas dade estruturadora.
sociais de mediação-representação (Alvarez & Del Rio, 1990).
Vygotsky produz a hipótese da “zona de desenvolvi- Ao citarmos a relação entre aprendizagem e desenvol-
mento proximal”, que evidencia o caráter orientador da vimento no contexto da intemalização dos sistemas de me-
aprendizagem com relação ao desenvolvimento cognitivo. diação, o autor diz compreender a afirmação de Vygotsky,
Isto é, a afirmação da distância entre “o nível de desenvol- segundo a qual “a aprendizagem organizada converte-se
vimento real da criança, tal e como pode ser determinado em desenvolvimento mental e coloca em funcionamen-
a partir da resolução independente de problemas, e o nível to uma série de processos evolutivos que nunca poderiam
potencial, determinado pela resolução de problemas sob a ocorrer à margem do aprendizado”
direção de um adulto ou em colaboração com um colega Segundo Castorina, “os estudos experimentais da equi-
mais capaz” (Vygotsky, 1979) Trata-se de um “espaço” dinâ- pe de inhelder sobre as aprendiza­gens estruturais contribuí-
mico, no qual aquilo que uma criança só puder fazer com a ram para esclarecer certos aspectos do mecanismo central
ajuda de outro, no futuro poderá fazer sozinha. da equilibração, como os conflitos entre esquemas de ação”.
Dessa forma, explica Castorina, “o desenvolvimento do Compreende-se que esses estudos sobre as aprendiza-
indivíduo e a ulterior consolidação das funções psicológicas gens não tenham modificado o curso do desenvolvimento
estão “precedidos” pela aprendizagem. Nesta, a intervenção dos sistemas de categorias, no sentido de que a aceleração
de professores ou outros adultos contribui para orientar o não implicou que os sujeitos saltassem níveis nem deixas-
desenvolvimento rumo à apropriação dos instrumentos de sem de superar os mesmos obstáculos cognitivos que te-
mediação cultural.” riam enfrentado sem a situação experimental; ou que os
O autor comenta o alcance das indagações de Piaget e aprendizes tivessem se beneficiado mais com as incitações
da sua escola sobre a aprendizagem. do meio segundo a estruturação dos seus esque­mas.
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que os primeiros estu- A educação é vista como um desafio para o programa
dos tiveram um propósito declaradamente epistemológico: de Piaget.
por um lado estabelecer se a percepção era uma leitura dire- Para ele, os alunos conseguem adquirir as noções cien-
ta da experiência e, por outro, se podia haver sequências de tíficas não explicitadas nos materiais de aprendizagem, pela
aprendizagem unicamente em função da experiência. sua atividade de exploração e pesquisa.
Depois, continua Castorina, os estudos sobre a aprendi- Para Vygotsky, o processo de aprendizagem está cen-
zagem de estruturas lógicas pretenderam determinar se os trado na intemalização de instrumentos culturais, permitin-
reforços empíricos modificavam os conteúdos conceituais do que a criança avance rumo aos sistemas conceituais.
ou a forma de inferência. E as conclusões também assumi- Para Castorina, a admissão da “zona de desenvolvimen-
ram um significado epistemológico: para utilizar os resulta- to proximal” implica aceitar um controle do desenvolvimen-
dos da experiência, é preciso que os mesmos sejam assimi- to pela aprendizagem, quanto ao poder que os saberes es-
lados a sistemas prévios de conhecimento. colares exercem sobre a aquisição.
Entretanto, isso não significa que os mecanismos de co-
nhecimento sejam controláveis: é preciso assumir que eles

33
GESTÃO E CONHECIMENTO

funcionam contextualmente nas condições do ensino e da tese básica: as formas culturais internalizam-se ao longo do
interação com os professores, porém sua intimidade per- desenvolvimento dos indivíduos e constituem-se no mate-
manece fora da consciência do próprio aprendiz. Para um rial simbólico que medeia sua relação com os objetos de
piagetiano, seria indispensável admitir a existência desse conhecimento.”
mecanismo para enfrentar os desa­fios supostos pela zona Devido a isso, seu problema central com respeito à for-
proposta por Vygotsky. mação dos conceitos é a dos “meios’ que o tornam possí-
Castorina salienta que “admitindo as diferentes raízes vel. E da sua perspectiva, a interação dos indivíduos com os
das perguntas, e das perspectivas, não existe incompatibili- objetos do mundo está orientada pelas palavras que repre-
dade entre o construtivismo e a aquisição de conhecimentos sentam categorias culturais e que se transformam em ins­
na zona de desenvolvimento proximal. trumentos para formar os conceitos.
Mas é necessária a realização de indagações que mos- Dessa forma, a palavra funciona primeiro em seu papel
trem efetivamente o desenvolvimento dos mecanismos os de meio e depois no de símbolo do conceito.
universais de apropriação no interior daquela interação com Castorina ressalta que a formação de conceitos cotidia-
os saberes escola­res e um avanço na reconstrução psicoge- nos, desde os conjuntos “sincréticos” até os “pseudocon-
nética das ideais prévias que correspondem aos conteú­dos ceitos”, é tratada em boa medida por Vygotsky a partir da
curriculares em diferentes domínios. psicologia individual. Assim, na mesma intervêm processos
intrapsicológicos como as associações de propriedades e as
O autor recorda estudos de orientação piagetiana que abstrações a partir dos objetos. Mas, de qualquer maneira,
evidenciam aquisições fora da esco­la, no desenvolvimento tais processos seriam insuficientes para formar os conceitos
psicogenético como a linguagem e as ideias sobre as insti- se ao mesmo tempo não interviesse o uso da palavra.
tuições sociais i que as crianças não poderiam adquirir so- No exame da formação dos conceitos científicos, ar-
zinhas. gumenta Castorina, Vygotsky coloca-se na perspectiva da
Isto é, cada vez que as crianças deparam-se com objetos sua emergência no contexto da atividade escolar, ocupan-
simbólicos que exigem “Interpretantes, quer se trate do sis- do-se em indagar como esta oferece um marco discursivo
tema vocálico na aquisição inicial da linguagem (Sinclair et (o sistema científico) para tal de envolvimento. Neste caso,
La, 1985), quer do sistema de representação escrita (Ferreiro, Vygotsky enfoca sua análise nos termos da relação de ensi-
1986), quer ainda das ordens ou gestos de uma autoridade no-aprendizagem como formadora dos processos intrapsi-
escolar, o conhecimento desses objetos só pode ocorrer du- cológicos.
rante uma complexa interação social. Embora os adultos, portadores dos significados sociais
A internalização da interação interpsicológica, para Vy- desempenhem um papel na constituição dos conceitos co-
gotsky é o principal mecanismo que explica o desenvolvi- tidianos, no caso da formação dos conceitos científicos os
mento psicológico humano, tendo sido originalmente exa- professores introduzem-nos explicitamente na escola.
minada no contexto da emergência das funções psicológi- Tais conceitos se sobrepõem ou são identificados com
cas guiadas pelas sugestões de outros. os ensinados na escola e são apresentados como um siste-
Muitos educadores interpretaram a internalização se- ma inter-relacionado de ideais.
gundo os termos de uma transferência da ação externa para
um plano interno. O autor resume alguns traços específicos da sua forma-
Uma versão que recorda as teses comportamentais da ção: basicamente, aquela apresentação sistemática obriga
“cópia interna” dos modelos de ação externa, e na qual as uma atitude metacognitiva dos alunos, isto é, a um domínio
crianças são recipientes passivos da socialização. e controle consciente do sistema conceitual, bem como a
Pelo contrário, diz Castorina, “os textos de Vygotsky uso deliberado das suas próprias operações mentais; além
(1977) e dos seus discípulos parecem mostrar que não se disso, só os processos de ensino-aprendizagem permitem
trata de uma transmissão, mas de uma transformação. Isto é, acesso dos aprendizes aos co­nhecimentos estabelecidos das
de uma modificação da compreensão individual dos instru- ciências; também, diferentemente dos conceitos cotidianos,
mentos de mediação cultural como a linguagem, e portanto pensamento sobre as ideais científicas não se refere direta-
“não é uma transferência de uma atividade externa para um mente aos objetos, mas ao conhecimento cotidiano, sobre
preexistente ‘plano de consciência’ interno: é o processo no qual faz “uma generalização de generalizações”; por último
qual este plano interno forma-se”. cabe ressaltar que tal reconstrução dos conceitos cotidia-
no à disposição envolve uma interação entre a formação de
A internalização, para Vygotsky, envolve uma série de conceitos científicos e cotidianos.
transformações: por um lado, toda atividade externa deve Por outro lado, continua Castorina, “no programa de
ser modificada para tornar-se uma atividade interna, “a in- Piaget, a pesquisa da constituição dos conceitos científicos
ternalização trans­forma o próprio processo e modifica sua também ocupava um lugar primordial, porém a partir de ou-
estrutura e funções” (Vygotsky, 1979); por outro, é uma ati- tras perguntas, que são as questões típicas da epistemologia
vidade interpessoal que se converte em intrapessoal.” genética: de que maneira a psicogênese das categorias que
Grande polêmica entre Piaget e Vygotsky surgiu com estão na base das ciências fornecem material empírico para
relação a formação de conceitos científicos. as hipóteses epistemológicas.
Segundo Castorina, “o pensamento de Vygotsky sobre Dessa forma, a gênese dos conceitos de causalidade,
a formação de conceitos é uma concretização da sua hipó- das conservações físicas e lógico-matemáticas, das noções

34
GESTÃO E CONHECIMENTO

espaciais, em articulação com as análises histórico-críticas reconhecido como típico de seu pensamento, está estreita-
das ciênci­as, permite a busca de mecanismos comuns de mente ligado (postulação de que o desenvolvimento deve
construção. ser olhado prospectivamente: marca com mais importantes,
Castorina ressalta que o termo “conceito” refere-se às no percurso de desenvolvimento, exatamente aqueles pro-
grandes categorias que possibilitam a estruturação cog- cessos que estão embrionariamente presentes no indivíduo,
nitiva e que não podem ser identificadas com os sistemas mas ainda não se consolidaram. A zona de desenvolvimento
conceituais específicos de um domínio de conhecimento, e proximaI é, por excelência, o domínio psicológico da cons-
muito menos com a sua forma escolar. tante transformação. Em termos de atuação pedagógica,
essa postulação traz consigo a ideia de que o papel explí-
CAPÍTULO II cito do professor de provocar nos alunos avanços que não
ocorreriam espontaneamente consiste exatamente em uma
Pensar a educação contribuições de Vygotsky interferência na zona de desenvolvimento proximal dos alu-
nos. O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se
Para Kohl, existe uma situação complexa envolvendo as adianta ao desenvolvimento. .
propostas teóricas e a prática pedagógica. 2) os processos de aprendizado movimentam os pro-
Segundo ela, “a questão da relação entre os processos cessos de desenvolvimento. A relação entre os processos
de desenvolvimento e de aprendizagem é central no pensa- de desenvolvimento e de aprendizado é central no pensa-
mento de Vygotsky. Sua posição é essencialmente genética: mento de Vygotsky: a trajetória do desenvolvimento huma-
procura com­preender a gênese, isto é, a origem e o desen- no se dá “de fora para dentro”, por meio da internalização
volvimento dos processos psicológicos. Sua abordagem de processos interpsicológicos. As metas e os processos de
genética desdobra-se nos níveis filogenético (desenvolvi- desenvolvimento do indivíduo humano, o qual jamais exis-
mento da espécie humana), sociogenético (história dos gru- te enquanto tal rara de um grupo cultura específico, são
pos sociais), ontogenético (desenvolvimento do indivíduo) sempre definidos culturalmente. Um ser humano que passe
e microgenétíco (desenvolvimento de aspectos específicos toda a sua vida no interior de um grupo cultural ágrafo, por
do repertório psicológico dos sujeitos), os quais interagem exemplo, jamais será alfabetizado. Mesmo possuindo todo o
na construção dos processos psicológicos. Sua preocupação aparato físico da espécie que possibilita aos seus membros o
com o desenvolvimento é, pois, uma constante em seu tra- aprendizado da leitura e da escrita.
balho) marcando claramente sua abordagem sobre os fenô- 3) finalmente, a importância da atuação dos outros
menos psicológicos. membros do grupo social na mediação entre cultura e indi-
Afirma Kohl que dada a importância que Vygotsky atri- víduo e na promoção dos processos inter-psicológicos que
bui à dimensão sócio histórica do funcionamento psicoló- serão posteriormente internalizados.
gico e à interação social na construção do ser humano, o
processo de aprendizagem é igualmente central em sua Outro ponto abordado por Kohl é a questão da alfabe-
concepção sobre o homem. tização.
Ou seja, ao lado da postura genética que fundamenta Segundo ela, “é importante, no presente contexto, que
seu interesse pelo desenvolvimento sua abordagem especí- se discuta brevemente algumas questões referentes aos pro-
fica sobre o desenvolvimento, que leva em conta a inserção cessos de aquisição da língua escrita. As ideais de Vygotsky,
do homem em um ambiente histórico e cultural, fundamen- particularmente relevantes para a educação, subsidiam cla-
ta a ênfase que dá à aprendizagem dentro de sua teoria. ramente sua concepção sobre o processo de alfabetização.”
Em se tratando de Vygotsky aprendizagem está rela- A escrita, continua, sistema simbólico que tem um papel
cionada ao desenvolvimento desde início da vida humana, mediador na relação entre sujeito e objeto de conhecimen-
sendo “um aspecto necessário e universal do processo de to, é um artefato cultural que funciona como suporte para
desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente or- certas ações psicológicas, isto é, como instrumento que pos-
ganizadas e especificamente humanas”. sibilita a ampliação da capacidade humana de registro trans-
O percurso de desenvolvimento do ser humano é, em missão e recuperação de ideais, conceitos, informações.
parte, definido pelos processos de maturação do organismo Continuando Kohl, a escrita seria uma espécie de ferra-
individual, pertencente à espécie humana, mas é a aprendi- menta externa, que estende a potencialidade do ser humano
zagem que possibilita o despertar dos processos internos. para fora de seu corpo: da mesma forma que ampliamos o
O conceito original de Vygotsky não se refere apenas alcance do braço com o uso de uma vara, com a “escrita
à aprendizagem ou ao ensino, mas um processo global de ampliamos nossa capacidade de registro, de memória e de
relação interpessoaI que envolve alguém que aprende, al- comunicação,
guém que ensine a própria relação ensino-aprendizagem. Existe uma diferença significativa entre a concepção de
Ferreiro e a de Vygotsky:- e sobre alfabetização.
São três as ideais básicas de Vygotsky: Ferreiro centra na natureza interna da escrita enquanto
1) desenvolvimento psicológico deve ser olhado de sistema Vygotsky e Luria centra-se nas funções desse siste-
maneira prospectiva, isto é, para além de momento atual, ma para seus usuários.
com referência ao que está por acontecer na trajetória do Kohl afirma que Luria trabalha com a criança da fase
indivíduo. O conceito de zona de desenvolvimento proximal, pré-silábica de Ferreiro, isto é, com a criança que ainda não
talvez o conceito específico de Vygotsky mais divulgado e percebeu que a escrita representa o som da fala.

35
GESTÃO E CONHECIMENTO

Lúcia propõe uma sequência para o processo de aqui- salto qualitativo ne­cessário à apreensão do sistema comple-
sição da escrita pela criança, que se refere justamente ao to, sua estrutura, usos e funções.”
domínio do modo de utilização do sistema de escrita e de
sua função. Inicialmente, a criança passa por uma fase de CAPÍTULO III
imitação da escrita, do formato externo da escrita: faz ra-
biscos imitam fisicamente a escrita do adulto, sem nenhum O ensino e o aprendizado escolar
valor instrumental. Isto é, quando a criança for solicitada, em
um momento posterior, a lembrar-se do que escreveu, sua Muitos consideram Piaget e Vygotsky antagônicos.
escrita não terá nenhuma utilidade, não a auxiliando na tare- Lerner explica que a oposição é colocada nos seguintes
fa de recuperação da informação originalmente registrada. termos:
• os piagetianos colocam em primeiro plano o desen-
Em uma segunda fase, a criança passa a utilizar o que volvimento operatório ou o funciona­mento cogniti-
Luria chama de “marcas topográficas” registros gráficos dis- vo geral;
tribuídos pelo papel, cuja posição no espaço poderá auxiliar
na “leitura” posterior dessa escrita. A criança procura asso- • os vygotskianos centram-se na transmissão dos con-
ciar o lugar onde fez as marcas com o conteúdo do registro, teúdos escolares, isto é, dos saberes culturais.
evidenciando, assim, maior compreensão da escrita como • os piagetianos enfatizam a produção individual do
instrumento auxiliar da memória. conhecimento
A seguir, a criança passa a produzir uma escrita clara-
mente relacionada ao conteúdo da fala a ser registrada, fa- • os vygotskianos atribuem grande importância à
zendo diferenciações de acordo com o tamanho, a quanti- construção social
dade, a forma ou a cor do referente. • os piagetianos minimizam a.intervenção docente
Assim, por exemplo, uma marca bem preta pode ser
utilizada para representar a escuridão do céu; vários traci- • os vygotskianos consideram esta intervenção funda-
nhos podem indicar “muitas formigas” em oposição a uma mental para a aprendizagem.
formiga, representada por um tracinho isolado; um quadra-
do grande pode lembrar um cachorro, contrastado com um Segundo Lerner, “construir conhecimento novo no mar-
quadrado pequeno que é seu filhote. co de uma teoria científica é algo muito diferente de aplicar
Depois dessa fase, a criança será capaz de utilizar repre- um dogma, é realizar um trabalho crítico permanente para
sentações pictográficas como forma de escrita, produzindo detectar lacunas ou contradições, é apoiar-se no saber já
desenhos simplificados para registrar diferentes conteúdos elaborado para penetrar em domínios inexplorados. Assim
da fala, garan­tindo assim, a recuperação da informação em o entenderam aqueles que, ao empreenderem a análise do
momentos posteriores. fator social do desenvolvimento cognitivo, não só ressalta-
Em segundo lugar, afirma Kohl, é fundamental que as ram mecanismos que ainda não tinham sido revelados, mas
duas interpretações sobre o processo de aquisição da escrita também questionaram algumas propostas prévias e abriram
sejam confrontadas com dados de pesquisas contemporâ- o caminho para a sua superação”.
neas, que contribuam para a recontextualização das teorias Em seguida, a autora analisa algumas afirmações:
tendo em vista a condição dos diferentes grupos de crianças a) Ensinar é colocar problemas a partir dos quais seja
que enfrentam a tarefa de dominar o sistema de escrita. E possível reelaborar os conteúdos es­colares. Segundo ela,
interessante investigar, por exemplo, se a criança a urbana duas condições são essenciais: deve ter sentido no campo
contemporânea passa ou não pelas fases propostas por Lu- de co­nhecimento dos alunos, porém não deve ser resolú-
ria. vel só a partir dos conhecimentos que as crianças já pos-
Ele desenvolveu seu trabalho com crianças russas do fi- suem. Em outras palavras, uma situação problemática tem
nal da década de 1920, e é razoável supor que o contato que de permitir que os alunos ponham em prática os esquemas
uma criança pequena tinha com a escrita nesse momento, de assimilação que já construíram e interpretem-na a partir
nesse local, fosse muito diferente daquele possível em uma dos mesmos, porém estes conhecimentos prévios não de-
cidade como São Paulo, hoje. vem ser suficientes para resolvê-la: a situação deve exigir a
Se, afirma Kohl, “do ponto de vista de Vygotsky, para construção de novos conhecimentos ou de novas relações
haver desenvolvimento tem de haver aprendizagem e para entre os já elaborados. Também é conveniente que o pro-
haver aprendizagem, especialmente de funções psicológicas blema seja rico e aberto, que coloque os alunos diante da
superiores em que a cultura é de fundamental importância, necessidade de tomar decisões, que Ihes permita escolher
é necessário que haja intervenção, no que diz respeito à procedimentos ou caminhos diferentes.
questão específica da alfabetização, por um lado o desen- b) Ensinar é fornecer toda a informação necessária para
volvimento das capacidades de leitura e escrita se apoia na que as crianças possam avançar na reconstrução do conteú-
imersão da criança em uma sociedade letrada, em sua parti- do sobre o qual estão trabalhando. A informação, às vezes é
cipação em um mundo que utiliza a palavra escrita. oferecida diretamente e outras vezes recorrendo a material
Por outro lado, esse desenvolvimento se apoia forte- escrito; em alguns casos, pode assumir a forma de uma per-
mente em processos de intervenção deliberada, que ocor- gunta e, em outros, adota a de um contraexemplo destinado
rem tipicamente na escola, para que a criança possa dar o a questionar um excesso de generalização. Dessa maneira,

36
GESTÃO E CONHECIMENTO

em face de uma produção infantil que pretende ser uma no- com os colegas também originam o aparecimento de novos
tícia, porém omite o título, o professor pode frisar “temos problemas; a sistematização dos conhecimentos que foram
que colocar um título porque todas as notícias o possuem”, sendo elaborados nas situações de uso da língua escrita, ao
ou pode sugerir “olhe como começam as notícias que lemos organizar o que se sabe e diferenciá-la daquilo que ainda
estes dias e compare com o começo da sua, uma pergunta não foi suficientemente compreendido, também constitui
como “qual é a relação entre este parágrafo e o seguinte?” uma fonte de problemas, permite interrogar-se sobre possí-
- por exemplo. Do nosso ponto de vista, continua Kohl, é veis relações que antes não tinham sido percebidas.
indubitável que a função do professor é oferecer a infor- Por outro fado, conclui Kohl, “quando as perguntas dos
mação necessária para as crianças avançarem na construção alunos ocupam um lugar na sala de aula, eles costumam sur-
do conhecimento. A única informação que o professor não preender-nos com inquietações que abrem novos caminhos
dará - precisamente porque se trata de os alunos construí- para a re­construção dos conteúdos que estão sendo traba-
rem o conhecimento - é a que corre o risco de obstaculizar lhados.”
o processo construtivo, de impedir que as crianças elaborem
suas próprias estratégias para resolver o problema colocado. CAPÍTULO IV
c) Ensinar é favorecer a discussão sobre os problemas
formulados, é oferecer a oportunida­de de coordenar dife- Sobre a necessária coordenação entre semelhanças
rentes pontos de vista, é orientar para a resolução dos pro- e diferenças
blemas colocados. Para a autora, é evidente a importância
que têm, para a formação de usuários competentes da lín- O objetivo do trabalho é esclarecer as semelhanças e a
gua escrita, as diferentes situações que o trabalho de grupo diferenças entre a visão do desenvolvimento da escrita na
põe em jogo: não se trata apenas da confrontação entre di- criança apresentada por Luria e Vygotsky e a visão desse
ferentes hipóteses sobre a natureza do sistema de escrita, mesmo desenvol­vimento resultante dos próprios trabalhos
mas também das discussões vinculadas às distintas interpre- da autora.
tações dos textos lidos, do intercâmbio de informações so- Segundo ela, Luria realizou a pesquisa com crianças
bre diversos aspectos do sistema de escrita e da linguagem neste campo mas em menor medida, enquanto que a sín-
escrita, das conversações que levam a planejar o que será tese apresentada por Vygotsky, que apoia os resultados e
escrito, da co-produção de textos, da revisão conjunta dos interpretações de Luria, inclui este desenvolvimento em um
textos produzidos, do trabalho conjunto para compreender marco mais amplo.
textos difíceis. Para Ferreiro “a difusão no Ocidente do texto de Luria
d) Ensinar é incentivar a formulação de conceitualiza- sobre o desenvolvimento da escrita na criança” - texto de i
ções necessárias para o progresso no domínio da língua 929 - suscitou um amplo movimento de admiração. Muitas
escrita, é promover redefinições sucessivas até atingir um de suas ideias coincidem com as de Ferreiro, especialmente
conhecimento próximo ao saber socialmente estabelecido. no que se refere a história da escrita na criança que começa
Segundo Kohl, em primeiro lugar, trata-se de sistematizar muito antes da primeira vez em que o professor coloca um
os conhecimentos sobre os quais foi realizado um trabalho lápis em sua mão e lhe mostra como formar letras.
em diferentes situações. Cada vez em que um texto é pro- Para a autora, “a comparação mais óbvia entre os acha-
duzido ou revisado,- por exemplo, discutem-se ­entre muitas dos de Luria e os nossos reside na consideração da quan-
outras questões problemas referentes à ortografia literal, à tidade de níveis evolutivos distinguidos e no modo de dis-
acentuação, à pon­tuação. Esses problemas, que apareceram tingui-los. Isto foi o que fizeram, no Brasil, Rocco (1990) e
com o uso da língua escrita, originaram discussões e levaram Setúbal (1993). Entretanto, no meu ponto de vista, o mais
à tomada de decisões específicas para questões também es- importante a ser comparado não reside ali.
pecíficas: em certos casos, decidiu-se colocar um “ponto, na As diferenças entre Luria (1929) e Ferreiro (1979) situam-
mesma linha” e, em outros, uma vírgula ou um “ponto e pa- -se no nível das perguntas que guiam a experimentação-
rágrafo”, porque isso era exigido no contexto. Ambos têm perguntas que Ihes permitem ver “algo novo”
e) Ensinar é fazer com que as crianças coloquem novos nas produções infantis. Porém não são as mesmas pergun-
problemas que não tenham sido levantados fora da escola. tas.
Segundo ela, além de devolver às crianças a possibilidade de
elaborar respostas para os problemas colocados pelos ou- Para Luria e Vygotsky, a escrita é uma técnica sociocultu-
tros-, devemos restituir-Ihes o direito de formular novas per- ral importantíssima que, depois de aprendida, afeta as fun-
guntas. As novas interrogações surgem ao longo do proces- ções psíquicas superiores. Luria pergunta-se sobre os meca-
so. Ao tentar resolver o problema colocado pelo professor nismos de apropriação dessa técnica, criada pela humani-
- escrever uma notícia, por exemplo - os alunos colocam-se dade para cumprir duas funções fundamentais: uma função
sub-problemas referentes a aspectos especificas (escrevo o mnemônica e uma função de comunicação.
título antes ou depois do resto? No corpo da notícia deve Luria afirma: “Um adulto escreve algo se ele quiser lem-
ser repetida a informação colocada na chamada?) ou per- brar-se dele ou transmiti-lo aos outros. As atitudes de grupo
guntam-se sobre a relação entre este tipo de texto e outros desenvolvem-se bastante tarde na criança; portanto esta se-
(estou olhando o editorial, será que isso servirá? Será que as gunda função daí escrita não aparece quando ela ainda se
notícias e os editoriais são escritos da mesma maneira?); as encontra em seus estágios embrionários”.
informações proporcionadas pelo professor e as discussões

37
GESTÃO E CONHECIMENTO

Luria cita para sustentar que a função comunicativa da Ferreiro se questiona como poderia acelerar um proces-
escrita não pode aparecer “nos seus estágios embrionários” so desconhecido? Existem duas maneiras de fazer isso:
- Piaget em Linguagem e Pensamento. 1) definir um nível ou estágio final que deve ser alcança-
Observe, comenta Ferreiro, “inclusive nas mãos de um do o quanto antes e independente­mente das Interpretações
leitor tão competente como Luria, Piaget começa a desem- infantis sobre o objeto desse aprendizado;
penhar um dos papéis mais contraproducentes, o papel que 2) definir também as etapas desse processo em função
o Piaget pesquisador nunca tentou desempenhar, nem no de um modelo externo.
terreno educacional nem no psicológico: o de criar “proi- Conforme essa última interpretação, “acelerar o proces-
bições”, o de ressaltar “o que uma criança não pode fazer”. so” não consiste em obter quanto antes o nível final, mas
É claro, continua Ferreiro, que Piaget analisou com a sim aqueles níveis definidos como “superiores”, em uma se-
maior atenção as limitações de certo nível de desenvolvi- quência evolutiva, pelo modelo externo.
mento, porém só depois de ter indicado seus êxitos com Acreditamos que seja correto atribuir essa segunda in-
relação a um nível precedente. Obras como Nascimento da terpretação ao pensamento de Luria (a primeira é mais pró-
inteligência e A construção do real são exemplos deste du- xima do comportamentalismo).
plo movimento com o qual é analisada cada nova aquisição: Luria observa que certas características do conteúdo
os êxitos com relação à etapa precedente; as limitações no das frases apresentadas para ser recordadas ajudam a pas-
tocante à(s) subsequente(s). sar dos rabiscos à assim chamada “pictografia”: referências
Segundo Ferreiro, é importante observar que esse é pre- quantitativas e substantivos que podem ser desenhados fa-
cisamente, o modo de proceder de’ Luria no caso da escrita: cilmente.
Luria esforça-se por ver cada nível distinguido como “positi- Isso acelera o processo, se - e apenas se - considerarmos
vo” e como “negativo” ao mesmo tempo. que a passagem de formas gráficas não-icônicas para as for-
Assim, no enfoque de Luria, a escrita possui duas fun- mas gráficas icônicas é um passo necessário na aquisição da
ções: mnemônica e comunicativa. Dado que a função comu- escrita. Naturalmente, Luria não nos dá nenhuma evidência
nicativa não estaria ao alcance das crianças pequenas, cabe psicológica de tal passo necessário.
apenas estudar função mnemônica. De qualquer forma acaba nos deixando na mais absolu-
Mas observem bem, cita Ferreiro: Luria não trata de ta escuridão no tocante à passagem do pictográfico para o
identificar que funções a escrita poderia cumprir do ponto alfabético. No texto de 1930, a passagem para esse último
de vista de um sujeito em desenvolvimento. Pelo contrário, período é apre­sentada de maneira brusca, por intervenção
trata de observar como a criança assume as funções que um de um novo agente cultural.
adulto atribui à escrita. Em outros termos, como ela chega a
utilizar apropriadamente a escrita, em contextos onde tam- Uma marcante diferença entre Luria (1930) e Ferreiro
bém os adultos a utilizariam, para garantir uma recordação (1979 e posteriores) situa-se neste ponto: para Luria o in-
exata de um enunciado linguisticamente codificado. gresso à instituição escolar criaria por si mesmo, uma ruptu-
ra com os conhe­cimentos prévios; para Ferreiro, o ingresso
O funcional, portanto, está subordinado à ideia instru- à instituição escolar interage com as concepções prévi­as das
mental da escrita. crianças, não determinando automaticamente uma passa-
Ferreiro não coloca as mesmas perguntas. Não caracte- gem de nível conceitual. Ferreiro (1982, 1983) foi capaz de
riza a escrita como uma técnica, mas sim como um objeto, demonstrar isso; Luria nem sequer tentou indagar de que
como um modo particular de existência no contexto socio- maneira as concepções prévias interagiam com o ensino es-
cultural Quer saber que tipo de objeto é a escrita para uma colar.
criança em processo de desenvolvimento. Considera-a um Outra diferença importante entre Luria (1929) e Ferreiro
objeto em si, apto para uma indagação epistemológica. Não (1979 e seguintes) é esta: Luria falade duas etapas nas quais
pensa que seja, a priori, um instru­mento ou uma mera técni- existe uma substituição de uma técnica por outra.
ca. Por isso não atribui apressadamente à escrita as funções Isso é particularmente importante, afirma Ferreiro, por-
que essa cumpre no adulto. que a ideia de substituição parece totalmente oposta à de
Além disso, comenta Ferreiro, como o objetivo mani- construção.
festo da experimentação era “acelerar o processo” e fazer Ferreiro salienta que “em 1979, acreditávamos que a his-
a criança passar dos grafismos indiferenciados a “uma ativi- tória da escrita na humanidade já “estava escrita”, enquanto
dade gráfica diferenciada”, Luria descobre que a introdução a história da escrita no desenvolvimento da criança estava
de referências numéricos nas orações propostas para ser “sendo escrita”.
recordadas, bem como a menção de objetos que podiam Atualmente, a situação mudou de maneira notável.
ser desenhados facilmente aceleravam a passagem à assim A produção acadêmica sobre problemas de história da
chamada “pictografia”. escrita aumentou muito e também se diversificou com a
Aqui também existem diferenças sensíveis com Ferreiro contribuição de profissionais das mais variadas origens.
(1979), que não tenta acelerar o processo - mal poderia nes- Por outro lado, o aumento das peças disponíveis a partir
sa época tratar de acelerar um processo que desconhece, de escavações, bem como uma maior precisão nos instru-
mas sim inferir, através das produções infantis, a maneira mentos de datação das mesmas, obrigaram a revisar algu-
pela qual as crianças concebem a escrita. mas das Inter­pretações mais difundidas.

38
GESTÃO E CONHECIMENTO

Considero, diz Ferreiro, “que não é exagerado afirmar as práticas sociais e educacionais” (2010, p.13); pondera o
que estamos assistindo ao surgimento de um campo mul- impacto que elas causam no desenvolvimento do homem
tidisciplinar que ainda não tem nome nem localização clara por meio do uso constante de suas ferramentas, bem como
dentro das disciplinas acadêmicas.” a potencialidade destas, quando utilizadas, em especial, nas
O único aspecto que considerarei por ser relevante para escolas. É interessante verificar que, ao longo do capítulo,
esta discussão é o referente à origem pictográfica da escrita. os autores comentam as possibilidades e as consequências
Recentemente, enfatizou-se uma distinção que, após a que as TIC acarretam, quais sejam: com o surgimento das
sua enunciação, aparece como fundamental: não confundir TIC, houve rapidez nos processos – transmissão, caducidade
a história das marcas gráficas com a história dos sistemas de e renovação –, redução de espaço e tempo, difusão da cul-
marcas linguisticamente interpretados. tura. Em contrapartida, a abundância de informação que as
Os elementos com os quais um sistema notacional é TIC oferecem não garante que as pessoas estejam mais bem
construído podem ter a mais variada origem, pois o homem informadas devido aos riscos de manipulação e à veracidade
foi produtor de marcas antes de ser capaz de inventar sis- da informação; as informações muitas vezes são carentes de
temas de marcas. O aparecimento da escrita não suprime profundidade, supérfluas; além disso, alguns autores, como
as marcas pictóricas, porque as mesmas serviram e conti- Cebrián, asseguram que a velocidade é contrária à reflexão.
nuam servindo para outras finalidades. O que dizer, então,
sobre as histórias repetidas em todos os livros de divulgação Por intermédio das TIC, o ser humano se desenvolve
que tratam da evolução da escrita e que nos apresentam, cognitiva e socialmente, por isso o uso dessa tecnologia nas
por exemplo, a evolução, do desenho da cabeça de boi, sua escolas se faz tão importante. Porém, a penetração e o uso
estilização e finalmente a letra grega alta, posteriormente das TIC no ambiente escolar ainda são limitados, seja por fal-
convertida na nossa A? ta de condições financeiras ou por “incapacidade” do corpo
A resposta é simples, garante Ferreiro: a história das gra- docente de utilizar toda a potencialidade dessa tecnologia;
fias individuais é uma coisa, a dos sistemas de escrita é outra. o uso das TIC deve sair da esfera do “consumir” e ascender
para o “produzir”.
Fonte Já na segunda parte da obra, os autores aprofundam
CASTORINA, José Antonio et al. Piaget e Vygotsky: no- seus estudos no triângulo interativo, ou seja, os atores prin-
vas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 2005. cipais do processo educacional: professores, alunos e con-
teúdos nos ambientes virtuais. Interativo porque é neces-
sária uma colaboração dos três para que o processo seja
COLL, CÉSAR E MONEREO, CARLES E completamente explorado. Apresenta-se, então, o perfil e as
COLABORADORES. PSICOLOGIA DA competências do estudante – o nativo digital –, do profes-
EDUCAÇÃO VIRTUAL. PORTO ALEGRE: sor, e uma revisão dos conteúdos para facilitar o acesso e
ARTMED, 2010. gestão aos diferentes agentes educacionais.
Conforme apresentado, as TIC exercem total influência
sobre as relações dos alunos com o mundo exterior e inte-
rior (aprendizado e cognição), acarretando mudanças epis-
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO VIRTUAL
temológicas, nas formas de comunicação, de pensar e de
A obra Psicologia da Educação Virtual, dos estudiosos representação pessoal, segundo análise vigotskiana. Os pro-
Coll; Monereo (2010) e Colaboradores, é o resultado de uma fessores, por sua vez, devem procurar fazer uso das TIC uti-
compilação de pesquisas contemporâneas a respeito do im- lizando toda a sua potencialidade. Para tanto, esses agentes
pacto das tecnologias e da comunicação no meio educa- devem desenvolver algumas habilidades, como valorização
cional. da integração das TIC na educação; conhecimento e capaci-
Dividida em quatro partes e 17 capítulos, a obra apre- dade para utilizar as ferramentas tecnológicas; competência
senta de forma clara e didática a influência das tecnologias para ensinar o aluno a informar-se; integrar os materiais no
da informação e comunicação (TIC) não apenas nos atores projeto de um curso ou currículo a ser implementado; fa-
da esfera educacional – estudantes, docentes – como tam- vorecer a revisão dos conteúdos a partir das mudanças na
bém nos meios que tornam a aprendizagem possível, isto é, nova sociedade e no conhecimento. Este último nos remete
os ambientes virtuais de ensino e aprendizagem. ao capítulo final desta parte da obra, que versa a respeito da
Além disso, pautados em uma visão construtivista, os revisão dos conteúdos.
autores buscam analisar fatores históricos, tecnológicos,
socioeconômicos e, principalmente, socioevolutivos e psi- Os conteúdos programáticos da educação brasileira
cológicos (psicologia da educação) – como o próprio título já estão pré-estabelecidos conforme tradição, contudo, a
sugere – que as TIC provocaram na última década. Ressalta- maioria deles não condiz mais com nossa realidade, prin-
-se, portanto, que esta obra apresenta uma visão demasia- cipalmente com essa realidade da tecnologia. Por conta da
damente atual e interessante, por também abordar ques- ascensão das TIC, os conteúdos estão sendo atualizados de
tões psicológicas sobre a tecnologia e seu impacto no ser forma que eles correspondam às exigências da sociedade
humano. da informação SI. O que antes era impresso, em livros, agora
O livro segue um raciocínio lógico-linear. A primeira par- se apresenta em imagens, vídeos, músicas, links e hiperlinks
te apresenta as TIC como um “novo paradigma que modifica que nos transportam a outras páginas e consultas; o conteú-

39
GESTÃO E CONHECIMENTO

do fica mais rico e dinâmico à medida que ele se adapta aos Fonte
requisitos do meio tecnológico moderno. COLL, César; MONEREO, Carles (Orgs.). Psicologia da
Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) são des- educação virtual – Aprender e Ensinar com as Tecnologias da
critos na terceira parte do livro, compreendendo: materiais Informação e da Comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.
autossuficientes; sistemas especialistas de emulação; análi-
se de casos e resolução de problemas; aprendizado cola-
borativo; representação visual; plataformas e comunidades CORTELLA, MÁRIO SÉRGIO. A ESCOLA
e-learning; comunidades virtuais. Percebe-se que todos es- E O CONHECIMENTO: FUNDAMENTOS
ses modelos de Ambiente estão embasados nas concepções EPISTEMOLÓGICOS E POLÍTICOS. SÃO
psicoeducacionais vigentes e possuem a intenção de dire- PAULO: CORTEZ, 2011.
cionar os conteúdos e as interações para se alcançar êxito
na aprendizagem do aluno. A importância dessas formas
de educação, pautadas em comunidades, colaboração, au-
A ESCOLA E O CONHECIMENTO:
tossuficiência, etc., é que o foco é a progressão do aluno
FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS E POLÍTICOS
que desenvolve competências e habilidades completamente
diferenciadas (e porque não dizer melhores) daqueles indi- VISÃO GERAL
víduos que não utilizam as TIC ou que as utilizam parcial-
O livro tem o objetivo de demonstrar que o conheci-
mente.
mento é uma construção cultural e que a escola tem um
comprometimento político, de caráter ao mesmo tempo
Corroborando essa última afirmação, cita-se o artigo
conservador e inovador. Inicia com uma visão sobre o co-
games: bons para a terceira idade, muito interessante, pu-
nhecimento para a seguir rebater a ideia de que o conhe-
blicado na revista O Globo. Estudiosos da área da Psicologia
cimento seja uma “descoberta”. Em continuação, volta sua
realizaram uma pesquisa de campo com idosos aplicando-
atenção para a escola e suas práticas, enfatizando o sentido
-lhes “exercícios” com determinado game4 no computador.
social do trabalho pedagógico e acenando com a possibili-
Os resultados foram surpreendentes:
dade do conhecimento como ferramenta da liberdade e do
Escolheu-se o ‘World of Warcraft’ porque ele é desafian-
poder de convivência entre iguais. 
te em termos cognitivos, apresentando sempre situações
novas em ambientes em que é preciso interagir socialmente
Introdução
(...). Depois de praticar o RPG, eles (os idosos) voltaram com
melhores índices de concentração e percepção sensorial.5
Em nenhum momento da história republicana a frase “A
Isto confirma que a prática das TIC gera impacto/me-
educação está em crise” deixou de ser dita, pois não atingi-
lhorias no desenvolvimento cognitivo, social e emocional do
mos ainda patamares mínimos de uma justiça social com-
indivíduo.
patível com a riqueza produzida pelo país e usufruída por
Finalizando o livro, os autores apresentam os desafios
uma minoria. A crise é de todos os setores sociais, mas a
da educação no século atual, bem como as competências
da educação tem raízes específicas: confronto entre ensino
para se “sobreviver” na SI. Os desafios: nova alfabetização –
confessional e laico; conteúdos e metodologias; novas ideo-
inclusive digital –, novas estratégias de aprendizagem para
logias; democratização do acesso; gestão democrática; edu-
lidar com hipermídia, educação a distância, ferramentas tec-
cação geral versus formação especial; educação de jovens e
nológicas e outras metodologias didáticas. Quanto às com-
adultos; escolaridade reduzida; público versus privado; baixa
petências, há que se alcançar capacidade comunicacional
qualidade de ensino; despreparo dos educadores; movi-
digital, de escrita – produção – e competência para buscar
mentos corporativos ineficientes; evasão e retenção escolar.
e selecionar informações neste ambiente; como já se disse,
1. Gênese recente de uma antiga crise e atuação dos edu-
não basta o usuário (não somente o aluno) utilizar apenas as
cadores - A urbanização dos últimos 30 anos trouxe para as
funções básicas das TIC, é necessário utilizar toda a poten-
cidades uma demanda sem precedentes por serviços públi-
cialidade que elas nos oferecem.
cos. No entanto, o modelo econômico pós-64 privilegiou a
A sociedade deve, portanto, buscar adaptar-se e recorrer
produção capitalista industrial, direcionando os investimen-
constantemente ao uso das TIC, pois, como se pode perce-
tos para a infraestrutura e, com a ausência de investimentos
ber, o mundo está passando por profundas transformações
sociais, houve uma demanda explosiva na Educação, a de-
por conta do surgimento e da evolução tecnológica; trans-
pauperação do instrumental didático-pedagógico, a entra-
formações que tendem a crescer, uma vez que a tecnologia
da de educadores sem a formação apropriada, a diminuição
está em constante mutação e aperfeiçoamento. Somente
salarial, a imposição de um modelo de formação profissional
com essa adaptação e, é claro, com o uso das TIC, haverá
e compulsória e centralização dos recursos orçamentários.
evolução educacional, social, psicológica na sociedade.
2. Educação brasileira, epistemologia e política: por que
repensar fundamentos dessa articulação? É preciso pensar
Fonte
uma nova qualidade para uma nova escola, numa sociedade
PEREIRA, B. R. C.
que elegeu a educação como um direito objetivo da cidada-
Revista Aprendizagem em EAD – Ano 2012 – Volume 1
nia e por isso rever a ligação entre Educação, Epistemologia
– Taguatinga – DF outubro /2012 - http://portalrevistas.ucb.
e Política. A democratização do acesso e a permanência de-
br/index.php/raead

40
GESTÃO E CONHECIMENTO

vem ser encaradas como sinal de qualidade social: a qualida- mais do que alguns dias sem água e alimento, nossa infância
de em educação passa, necessariamente, pela quantidade. A é muito demorada e temos que ser cuidados por longo tem-
formação do educador precisa abranger o aspecto técnico po. Num planeta de extremos como o nosso, se vivêssemos
em uma área do saber, a dimensão pedagógica do ensino, a apenas do nosso “equipamento natural”, seríamos muitos
democratização da relação professor-aluno/entre instâncias menos e habitaríamos uns poucos locais. Por não sermos
dirigentes/comunidades e a democratização do saber. Em especializados, tornamo-nos um animal que teve que se fa-
resumo, são três polos: uma sólida base científica, a forma- zer, se construir e construir o próprio ambiente. Ainda com
ção crítica de cidadania e solidariedade de classe social. A base numa teoria da evolução, ao descer das árvores, nossos
escola pública, aí, deixa de ser um local onde o trabalhador ancestrais hominídeos tiveram de adaptar-se: uma postura
simplesmente aprende o seu cotidiano profissional para ser ereta (que libera as mãos, aumenta a velocidade e permite
uma nova perspectiva de realidade social. Há a necessida- ver de mais longe os perigos), o uso do polegar opositor
de de uma reorientação curricular que parta da realidade, (habilidade de preensão) e a expansão do volume da massa
para superá-la e usar os conhecimentos como ferramenta encefálica (e um córtex integrador que equilibra a necessi-
da mudança. dade de sangue na parte superior do corpo pela posição
ereta). Foi uma maturação lenta que nos obrigou a perma-
Humanidade, Cultura e Conhecimento  necer mais tempo sendo cuidados e convivendo com os
adultos da espécie. Com a criação de um ambiente próprio,
Atuar em educação é lidar com formação e informação; nos tornamos um “produzido produtor do que o produz”,
é trabalhar com o conhecimento e que, embora se privilegie um ambiente humano por nós produzido e no qual somos
o extremamente recente (historicamente falando) científico, produzidos, ao qual chamamos cultura. 
abrange também o estético, o religioso, o afetivo. 3. Cultura: o mundo humano. Adaptar-se significa estar
1. O que significa ser humano? desde Aristóteles (o ho- recluso a uma posição específica; é conformar-se (aceitar
mem é um animal racional) e Platão (um bípede implume), e ocupar a forma), submeter-se, por isso, ao ter de buscar
passando por Fernando Pessoa (um cadáver adiado), muitas tudo que precisamos, romper a acomodação e enfrentar a
foram as definições que procuraram capturar a essencialida- realidade passa a ser uma questão de necessidade, não de
de da natureza humana. O que há de comum é que todas liberdade. Que ferramenta temos? Não é a racionalidade,
tentam identificar o humano e dar a este uma identidade, pois não basta pensar para que as coisas aconteçam. Nos-
uma definição (finis = fronteira). A indagação sobre a razão sa interferência no mundo se dá pela ação transformadora
de sermos e nossa origem e destino (o sentido consciente, ou seja, uma capacidade de agir intencional-
2/10 da existência) é um tema presente em toda a His- mente em busca de uma mudança no ambiente que nos
tória. A resposta, porém, parece cada vez mais longe, o que favoreça. A isso se chama trabalho ou práxis e seu fruto cha-
é uma das características do conhecimento (é impossível es- ma-se cultura: o conjunto dos resultados da ação do hu-
gotá-lo ou “só sei que nada sei” – Sócrates). Essa premissa mano sobre o mundo por intermédio do trabalho. Assim,
nos leva a pensar o conhecimento como algo a ser revelado, nenhum ser humano é desprovido de cultura, pois nela so-
uma descoberta. De forma caricatural, podemos responder à mos socialmente formados: o homem não nasce humano
questão quem sou eu assim: sou um indivíduo entre outros mas torna-se humano na vida social e histórica da cultura,
5,5 bilhões, pertencente a uma única espécie entre outras um processo de humanização. Começa a cultura, começa o
30 milhões diferentes, vivendo em um planetinha, que gira homem; começa o homem, começa a cultura. Os resultados
em torno de uma estrelinha entre outras 100 bilhões, que são de duas ordens: as ideias e as coisas, ambas duplas e a
compõem uma mera galáxia em meio a outras 100 bilhões, partir de necessidades diversas: os produtos materiais têm
presente em um dos universos existentes, cilíndrico e que se uma idealização (é preciso pensá-las antes) e os produtos
expande há 15 bilhões de anos... Era menos instável viver na ideais tem uma materialidade (partem da realidade). Porque
Idade Média, quando tudo estava em “ordem”: a Terra no nos são úteis, as chamamos bens, é necessário reproduzi-los
centro do Universo, o Homem no centro da Terra, a Alma no e, para isso, criamos outros bens: há então bens de consumo
centro do Homem e Deus no centro da Alma. Foram os 500 e bens de produção. O mais importante bem de produção
anos mais recentes que nos “descentralizaram”, com Copér- é o Humano e, nele, a Cultura, que, por não ter transmissão
nico, Galileu, Darwin, Freud e outros. Afinal o que é, para nós, genética (não se nasce sabendo), precisa ser recriada e su-
a vida, senão o intervalo entre nascer e morrer? Essa consta- perada. Outro bem de produção básico é o conhecimento (o
tação nos torna únicos: o homem é o único animal que sabe entendimento, averiguação e interpretação sobre a realida-
que vai morrer e, por isso, não é de estranhar a sensação de de) e a educação é o veículo que o transporta.
angústia de muitos. Albert Camus já explicava que o homem 4. Conhecimentos e valores: fronteiras da não-neutrali-
é a única criatura que se recusa a ser o que é. Porque não faz dade. Manter-se vivo é intenção de todo ser vivo, mas, para
sentido, nós o construímos. o ser humano, só sobreviver com base nos conhecimentos é
2. Um passeio pelas nossas origens. Nosso estágio atual 3/10 insuficiente: é preciso que a vida valha a pena, e,
é fruto de uma evolução singular: em relação ao meio am- para isso, a cultura tem produtos ideais como os valores,
biente, não somos especialistas em nada, nossa estrutura que dão sentido (significado e direção) e estabelecem uma
orgânica é débil e frágil, pouca força física, pouca velocida- ordem e um posicionamento no mundo. Constituem uma
de de deslocamento, a pele é pouco resistente ao clima e moldura que abrange uma visão de mundo (compreensão
agressões, não nadamos bem e não voamos, não resistimos da realidade), uma informação (que dê forma aos conhe-

41
GESTÃO E CONHECIMENTO

cimentos) e conceitos (entendimentos). Entretanto, valores, e europeu, os gregos tiveram contato com outros povos e
conhecimentos e conceitos (e pré-conceitos) devem mudar tornaram-se mais permeáveis à absorção de conteúdos de
porque ser humano é ser capaz de ser diferente. O signifi- outras culturas. Não só a geografia mas também as domi-
cado dessas referências não é do mesmo modo para todos, nações por outros impérios difundiram as ideias nascidas na
sempre, pois é moldado pela cultura, pela sociedade e pela Grécia: Pode-se dividir a formação da sociedade grega em
história dessa cultura, ou seja, todo símbolo (conhecimentos quatro períodos:
e valores) é relativo e não pode ser examinado por si só.
• pré-homérico: onde grupos de pastores fundam nú-
Embora a individualidade gere um ponto de vista particular
cleos urbanos que se tornam hegemônicos até que
sobre isso tudo, a construção é coletiva, o que implica em
no século XII a.C. um outro povo nômade, os dóricos,
uma vida política onde se negocia, produz e conquista signi-
os dispersaram e a população se agrupou em unida-
ficado. Por isso a produção dos valores não é neutra, depen-
des familiares chamadas genos.
dente do poder de quem possui. A posição de predominân-
cia social significa, então, ter seus valores e conhecimentos • Homérico: em duas fases – na primeira, o agropas-
difundidos e aceitos pela maioria como se fossem próprios toreio por genos (grupos familiares autossuficien-
ou universais, seja por imposição ou convencimento. O ca- tes, com posse coletiva e distribuição igualitária dos
nal de conservação e inovação são as instituições sociais, os bens e da produção, chefiados pelo pai) que vai se
responsáveis pelos processos educativos da longa infância desintegrando por uma luta por mais terras. Os che-
humana. A educação assim, além de ser basal, divide-se em fes com mais terras, poder militar, religioso e jurídi-
vivencial/espontânea (vivendo e aprendendo) e intencional/ co tornaram-se uma aristocracia (áristos, o melhor
propositada (deliberada, em locais determinados com ins- + kratia, domínio) e se associaram para proteção
trumentos específicos). Por isso, os processos pedagógicos mútua, fazendo surgir as polis (cidades-estados) das
não são neutros, envolvidos que estão na conservação ou quais os pequenos proprietários passaram a depen-
na inovação do grupo. Ver além do próprio grupo, história, der economicamente.
visão, conceito, significa uma visão de alteridade que permi-
• Arcaico: consolidam-se as cidades-estados, princi-
te identificar no outro (e em nós mesmos) o caráter múltiplo
palmente Esparta, Tebas, Corinto e Atenas. Esta úl-
da Humanidade. É superar a obsessão evolucionista de que
tima, inicialmente agrícola, com o comércio e o ar-
o passado é sinônimo de atraso, a verdade uma conquista
tesanato crescendo, provocou uma disputa política
inevitável e a ciência a redenção da humanidade.... Não há
que, somada à pobreza crescente dos povos das re-
um produto acabado, mas por construir. 
dondezas, provocou inúmeras reformas legislativas,
governos monárquicos e oligárquicos, tiranias e uma
Conhecimento e verdade: a matriz da noção de des-
nova forma de governo chamada democracia.
coberta
• Clássico: Implantada por Clístenes no século VI a.C.,
Todo educador tem uma interpretação, nem sempre a democracia repartiu a polis e redondezas em uni-
consciente e reflexiva, sobre o conhecimento: o que é, de dades políticas (demos), compostas por todos os ci-
onde vem e como chegar até ele. Fala-se aqui de uma “teo- dadãos (apenas os homens gregos, adultos e livres,
ria” do conhecimento”: antes gnosiologia (de gnosis=co- ou cerca de 10% da população: ficam de fora as mu-
nhecimento), depois filosofia da Ciência e mais recentemen- lheres, jovens, crianças, estrangeiros e escravos). A
te, epistemologia (episteme=ciência). Também nos preo- harmonia interna duradoura de Atenas deu maior
cupamos em julgar se o conhecimento é válido ou correto, solidez às instituições mas não garantiu a hegemo-
ou seu valor de Verdade. A noção mais presente no nossos nia por muito tempo. As cidades-estados, por suas
sistema educacional é o que entende o Conhecimento ou lutas entre si e guerras externas, enfraqueceram a
a Verdade como descoberta. Falar de Verdade é complexo, ponto de tornarem fácil a dominação macedônica
pois raízes ocidentais e construções históricas de sentido a no século IV a.C.
relativizaram. Etimologicamente, verdade vem do latim veri-
tate, com radical verus (certo, correto). Veritate, por sua vez, 2. O percurso das indagações filosóficas. A produção do
em grego, era alétheia, ou a (não) létho (esquecer). Desse conhecimento em cada período será diferente. Nos períodos
ponto de vista, verdade tem a ideia de não-esquecível, não pré-homérico e homérico, articulam-se num eixo central: as
velado. O que não se esquece é o que se vê, daí a noção de origens do povo e do Cosmos, de onde surgem os mitos. No
que a Verdade precisa ser vista ou desvelada ou descoberta. período arcaico, pela alteração da produção e das relações
Surge no período clássico grego (séculos V e IV a.C.), com sociais, não basta apenas saber de onde vem o mundo mas
Platão.  como é que funciona. Nesse período, a produção exceden-
1. Elos históricos do paradigma grego. A maioria dos te e o uso do trabalho escravo fizeram aumentar a riqueza
nossos parâmetros linguísticos, estéticos, políticos, filosófi- da aristocracia e de seu tempo livre, o skholé ou ócio. Com
cos e científicos têm como matriz inicial a civilização grega isso, surge um tipo específico de pensamento metódico e
da Antiguidade, à qual se somou o legado moral e religio- sistemático que não precisa estar sujeito a ser aplicado, ao
so judaico-cristão e, ainda, a experiência da Roma Antiga qual poderiam se dedicar os filósofos (philos, afeição por +
no campo do Direito e do Estado. Em função de seu relevo sophia, sabedoria). São exemplos Tales de Mileto (“pai da
montanhoso e situado na passagem para o oriente asiático Filosofia”, a água como essência da natureza); Pitágoras (os

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GESTÃO E CONHECIMENTO

números eram a essência de tudo, inclusive as almas); Herá- mitos antigos e os reorganiza de modo mais filosófico: um
clito (a realidade é uma mudança contínua e a harmonia o deus ordenador (um demiurgo, de demós, povo+ ergon,
confronto entre os opostos); Parmênides (a verdade é uma trabalho, ou artesão autônomo) organiza o caos (confusão)
e imutável e a mudança é uma ilusão dos sentidos); Empé- e o transforma em cosmo (universo). Ele modelou uma ma-
docles (que associou a realidade a quatro elementos imutá- téria-prima que já existia, baseado em originais ou eídos
veis e indestrutíveis – água, terra, fogo e ar) e Anaxágoras (a (ideias ou verdades). Assim, as essências ou verdades são
realidade é formada por partículas diversas que tinham cada anteriores à existência do mundo, não pertencem a ele e,
uma e todas as mesmas características do todo, ordenadas e por isso, não são materiais, mas eternas e imutáveis. Com
mudadas por uma Inteligência Superior).  essa cosmogonia, forma-se uma cosmologia com sentido
As preocupações, nota-se, giravam em torno da ideia próprio: há dois mundos: o sensível (das coisas, das aparên-
da percepção dos componentes da realidade, se estável ou cias, das cópias), material, finito e imperfeito, uma imitação
passageira, e de questões do tipo: onde está a Verdade? do inteligível (das ideias, das formas, das verdades, dos ori-
Com as mudanças da organização da sociedade e a disputa ginais), imaterial, eterno e perfeito. O humano participa dos
entre os aristocratas e os comerciantes, aqueles tinham mais dois mundos: a essência está na alma e a matéria no corpo.
ócio e estes mais negócio (neg-otium, negar o ócio). Para Como e por que, então, cada alma veio parar aqui? porque,
poder votar nas assembleias dos demos, era preciso ter tem- em alguma situação no mundo das ideias, erramos e fomos
po livre, e os comerciantes, que não o tinham, contrataram castigados pelos deuses. 
pensadores gregos ou estrangeiros para que os ensinassem: A queda se explica: nossa alma (essência) é uma charrete
os sofistas, ridicularizados pela aristocracia, que considerava guiada por um condutor (razão) e puxada por dois cavalos;
indigno o trabalho intelectual mediante pagamento. Os so- um é bom (nossa vontade) e o outro é mau (desejo por pra-
fistas romperam com o acreditar em verdades absolutas e zeres materiais). Deve-se levar firmemente a charrete para
situaram a linguagem como uma mera simbolização. cima (ascese), controlando os dois cavalos para a morada
3. A presença de Sócrates. Afinal, onde está a Verdade? dos deuses. Se a razão se descontrola e um dos cavalos puxa
(ubi veritas?): alguém vai até a tribuna da praça dos debates para seu próprio lado a charrete se desgoverna e desaba. O
(a ágora) defende uma ideia e convence as pessoas; inverte castigo é encarnar-se e ficar aprisionado. Em Fedro, há uma
os argumentos e obtém concordância. Surge Sócrates, nas hierarquia em função do quanto as almas chegaram perto
obras de Xenofonte e Platão. É dificílimo distinguir as teorias das verdades: o que chegou mais perto será filósofo, depois
socráticas das platônicas: a escrita em forma de diálogos fa- um rei legislador, o terceiro um político e assim por diante
cilitava a argumentação, o encadeamento de raciocínios e até ter de viver como mulher, estrangeiro, escravo... Encarna-
o exercício de um tipo de debate (dialética) no qual ideias -se para purificar a alma e o corpo, morada terrena de uma
contrárias eram confrontadas. Sócrates (que vivia em meio alma exilada, sofre necessidades e dores, precisa libertá-la.
à aristocracia) sempre conseguiu vitórias sobre os sofistas. Ao deixar o corpo com a morte, a liberdade estaria vinculada
Sócrates dedicará boa parte de sua reflexão num problema: ao quanto se purificou nesta vida. Se a alma já conheceu a
como estabelecer verdades que fossem válidas para todas verdade, as esqueceu ao ganhar um corpo, por isso é preci-
as pessoas. Para ele, os conhecimentos nos chegam por dois so reconhecer, recordar, conhecer é descobrir. Quem auxilia
caminhos: os sentidos e a razão. São confiáveis? Não, pois nessa maiêutica (“parto”) é o filósofo, cuja obrigação é levar
nos enganam (Descartes, mais tarde, retoma essa análise). os cidadãos a desocultação das verdades. Portanto, quanto
Ao consultar os deuses sobre isso, no oráculo de Delfos, vê, mais se dedicou à skholé, mais perto chegará dos deuses,
no templo, muitas inscrições gravadas desde o período ar- caso contrário voltará. Tudo isso justifica a sociedade na
caico, entre elas uma: conhece-te a ti mesmo, que assume qual vivia Platão e da qual era membro proeminente. Ne-
como sendo a resposta à sua indagação. Onde está a Ver- nhuma teoria é neutra, como nenhum método pedagógico
dade? em nós. Mas isto não significa que cada um tem uma também: ambos têm raízes no momento histórico, político e
Verdade; é a Verdade que está em cada um. A questão fica: econômico em meio aos quais são formulados.
se a Verdade está em cada um, se, como mortais, não somos 5. Ressonâncias. A escravidão não é responsabilidade
seus geradores e, ainda assim, ela chegou até dentro de nós, dos que são escravos, foi castigo dos deuses; a direção polí-
quem a colocou aí? Disso se encarregou Platão, após a mor- tica é dos filósofos e o ideal é um governo aristocrático (dos
te de Sócrates, condenado por suas ideias tanto pelos aristo- melhores); as verdades não são deste mundo e só a razão
cratas incomodados como pelos comerciantes criticados em pode descobri-las, são metafísicas (metà, além + physikon,
sua fragilidade de ideias.  físico, de physis, natureza); as verdades independem dos hu-
4. A síntese platônica. O nobre Platão (ou Arístocles), alu- manos, as ideias têm uma existência imaterial autônoma e
no dos 20 aos 28 anos de Sócrates, abandonou a polis por própria. Essa herança influenciou o Cristianismo (Agostinho
mais de 10 anos em função da morte do seu professor. Ao cristianiza esse pensamento e justifica o poder de dez sécu-
voltar, fundou a Academia (num bosque dedicado a Acáde- los da Igreja Católica no ocidente) e embasa a ideia de co-
mos, um herói mitológico) e nela ensinou até morrer aos 75 nhecimento como descoberta. Aristóteles, aluno de Platão
anos. Em 50 anos, buscou elaborar uma síntese das tendên- por 20 anos, se contrapôs a Platão quanto ao método de co-
cias filosóficas anteriores, de modo a compatibilizar a busca nhecimento, não quanto ao caráter metafísico das verdades.
da explicação da realidade como um todo e o pensamento Após alguns anos fora, torna-se preceptor de Alexandre por
socrático, voltado para o Homem. O primeiro passo é a cos- 6 anos e funda sua própria escola (num bosque dedicado a
mogonia (origem do mundo), na qual Platão retoma alguns Apolo Liceios, deus dos pastores), o Liceu. Para Aristóteles,

43
GESTÃO E CONHECIMENTO

os dois mundos se juntam na realidade, então a verdade não dade cognitiva. Mesmo os conhecimentos ligados às ciências
está no mundo das ideias mas aqui mesmo, onde matéria e naturais e matemáticas precisam ser relativizados: a beleza
forma se unem. Platão é um racionalista, a razão indepen- da abstração da matemática é absolutamente construída: na
de da experiência deste mundo; Aristóteles é um empirista, natureza não há “1” ou uma matriz de 2o. grau ou uma de-
o conhecimento vem da experimentação e observação do rivação. Quando ensinamos que “2+2=4”, inventamos o “2”,
mundo, sendo a razão a ferramenta afiada pela lógica.  o “+”, o “=” e o “4”. Isso vale para qualquer área. Em Estudos
Na Idade Média, com o poder nas mãos da Igreja Ca- Sociais, usam-se mapas retangulares, com o meridiano de
tólica, a visão platônica se sobrepõe à Aristotélica, que foi Greenwich como centro divisor vertical. Estando no espaço,
mais apropriada por filósofos árabes e judeus. Do século V e um planeta arredondado, isso é convenção. A linguagem
ao IX, a Filosofia e a Teologia ocidentais foram feitas pelos absorve as convenções e perde-se no tempo: antes da era
padres (período Patrístico). Então, alguns mosteiros e con- Moderna, no Oriente a referência para alguém que estava
ventos montaram escolas e, no século XI, surge a Universida- no caminho correto, mental ou não, era orientado/desorien-
de de Bolonha, onde não só os padres, entre eles Tomás de tado, quando deslocou-se a hegemonia para o hemisfério
Aquino, mas também leigos estudam (período Escolástico). norte, passou-se a dizer norteado/desnorteado. Ambas as
Com o esgotamento do modo de produção feudal, no sécu- expressões hoje convivem... A lógica histórica é transforma-
lo XII, passa a não ser suficiente ter fé na revelação para ter da em padrão natural, como se o modo “normal” do mapa
conhecimento: Aristóteles volta à cena (embora com os 700 e do planeta deva ser aquele da representação. Que sentido
anos de dominação ibérica nunca tenha sido mesmo posto faria, para um aluno que “aprendeu” assim, que um avião vá
de lado) e Aquino aceita que perceber a realidade é o ponto para o Japão, do Brasil, sem passar sobre a África e China?
de partida para o conhecimento. A sociedade torna-se mais ou que a distância entre o cabo Dezhnyov (extremo da Ásia,
complexa, surge uma burguesia comercial que precisa con- na Rússia) e o cabo Príncipe de Gales (extremo da América
trapor-se à velha ordem das coisas, daí a busca de valorizar do Norte, no Alasca) é de 64 quilômetros, menos, portanto,
mais o humano e menos o divino: surge o Renascimento. De que a distância de São Paulo a Santos? ou, em História, que
um lado o racionalismo, com Descartes, Spinoza e Leibniz, como, no livro, a história de Roma vem depois da Grécia, que
para os quais o conhecimento é fruto de raciocínios dedu- as duas se desenvolveram em
tivos e, de outro, o empirismo com Bacon, Locke e Hume, Períodos concomitantes? ou que “achado não é rou-
defensores da importância da percepção sensível e da ex- bado”, nas ocupações portuguesas, inglesas e francesas da
periência. Três alemães tentarão resolver o impasse: Kant, América do Sul? 
Hegel e Husserl. Kant juntou os dois lados admitindo que há A linguagem esconde suas origens: “bárbaros” eram
conhecimentos tanto de uma como de outra origem; Hegel quaisquer “forasteiros” para os gregos e mais tarde para
afirma que a Ideia se depura na ação e volta ao ser humano, os romanos - virou sinônimo de cruel e violento; “vândalo”,
melhorada (idealismo) e Husserl, evitando dizer que nada povo de origem germânica que invadiu os domínios roma-
pode ser verdadeiramente sabido (ceticismo), propõe que nos, transmutou-se em brutalidade; Roma, ao conquistar,
entendamos o conhecimento como fenômenos (sentidos está fazendo a “expansão do Império”, os povos que reto-
que vêm à tona) dos quais devemos extrair o não-essencial maram parte de seus territórios fizeram uma “invasão bárba-
e deixar a razão mergulhar para revelar-se.  ra”; ou então os bandeirantes “desbravadores”, ou seria me-
A relação do conhecimento é entre sujeito e objeto, lhor dizer : pacificador à força dos que reagiam à destruição
mas a verdade não está nem em um nem em outro: está de seu ambiente ? Os “selvagens” são conhecidos através de
na relação em si. Esta se dá no tempo histórico e não é nem filmes no qual se amansam os apaches, os sioux; que não
absoluta nem eterna, não é individual mas coletiva, social. A eram domesticados („de casa”): 
verdade não é descoberta mas uma construção cultural que 2. Intencionalidade, erro e pré-ocupação. Para Paulo Frei-
visa construir referências que orientem o sentido da ação re, “fazemos, logo pensamos; assim, existimos”, o que reflete:
humana e o sentido da existência. 
• que o saber pressupõe uma intencionalidade, o mé-
todo é uma ferramenta, portanto escolhida, portanto
A escola e a construção do Conhecimento 
não é neutro;
Uma das questões cruciais para as nossas práticas peda- • que o melhor método é aquele que propuser a me-
gógicas é a concepção sobre o conhecimento e, no mais das lhor aproximação com o objeto em estudo, o que
vezes, este é entendido como algo pronto, acabado, sem não garante a exatidão;
conexão com sua produção histórica. Também é tratado
• que a aproximação da Verdade depende da inten-
como algo mágico, que “cai dos céus”, como nas lendas do
cionalidade e esta é sempre social e histórica;
“eureka” de Arquimedes ou do cientista como um ser genial
dentro de um laboratório. A mídia e os que não têm desen- • que cada um e cada uma de nós é um método, pois
volvido o pensamento crítico deixam-se levar pela convicção corpos e consciências são ferramentas de intencio-
de que é um outro mundo, ao qual não terão acesso. nalidade;
1. Relativizar: caminho para romper a mitificação. Quan-
do se nega aos alunos a compreensão das condições cultu- • que existimos assim: fazendo. E, porque fazemos,
rais, históricas e sociais de produção do conhecimento, re- pensamos. E porque pensamos, fazemos nossa exis-
força-se a mitificação e a sensação de impotência e incapaci- tência.

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GESTÃO E CONHECIMENTO

Daí a importância do erro: o conhecimento é resultado acatar passivamente. A ciência pode estar sob controle da
de processo e este não está isento de equívocos. Investigar é classe dominante, mas não é inútil, é uma produção cultural
bem diferente de receber uma revelação límpida. Errar é de- coletiva cuja apropriação deve ser distribuída. O conheci-
corrência da busca e só quem não busca, não erra. Isso não mento é relativo à história e à sociedade e não é neutro, mas
significa que se deva incentivá-lo, mas que ser inteligente político, porque envolve o poder que advém por tê-lo. 
não é não errar; é saber como aproveitar e lidar bem com os
erros. Assim o foi com Edison e suas invenções, com Wilmut Conhecimento escolar: epistemologia e política 
e a ovelha Dolly, com Newton e a gravitação. Newton era
um gênio iluminado por uma maçã ou estava trabalhando Quando Comenius fez uma análise desalentada da edu-
pré-ocupado com o assunto há pelo menos 20 anos, quan- cação, em 1632, apontou a ignorância, a inveja o desam-
do aconteceu?  paro dos educadores como causas da “desordem escolar”.
Não há conhecimento significativo sem pré-ocupação, Como ultrapassar esse olhar amargo sobre a escola, sobre
ou sem partir delas. Fica claro que parte do desinteresse e o sentido social do que fazemos? A resposta depende da
“indisciplina” pode ser atribuído ao distanciamento dos con- compreensão política que tivermos, da finalidade do nosso
teúdos em relação às preocupações que os alunos trazem trabalho pedagógico.
para a escola. Se “um dia você vai saber” para que serve, en- 1. A relação sociedade/escola: alguns apelidos circuns-
tão por que não esperar que esse dia chegue para aprender?  tanciais. Muito comum é o otimismo ingênuo, que atribui à
3. Ritualismos, encantamentos e princípios. Esse distan- escola uma missão messiânica e onde o educador é um sa-
ciamento do universo dos alunos e conteúdos se mostra na cerdote, portador de uma vocação. Na relação com a Socie-
avaliação da escola feita por docentes e discentes. Dizemos: dade, a compreensão é a de que a Educação é a alavanca do
“eles não querem saber de nada”; dizem eles: “as aulas não desenvolvimento e do progresso. É otimista porque valoriza
têm nada a ver comigo”. Conclusão nossa: “eles não gostam a escola, mas é ingênua, pois atribui a ela uma autonomia
da escola”. Porém, quase todas as crianças gostam da escola, absoluta na sua inserção social e na capacidade de extinguir
o que, talvez, não gostem muito, é das nossas aulas. a pobreza e a miséria que não foram por ela originalmente
Nós os colocamos reclusos, numa fase de excitação criadas. “Professor, o senhor não trabalha? Só dá aulas?” e a
motora ou de “ferveção” de hormônios para ensinar coisas rejeição a movimentos corporativos são sinais dessa visão. A
“interessantíssimas” para eles: adjunto adnominal, afluen- escola é supra social, desligada das classes sociais e neutra, o
tes, os reis de Roma, mitocôndrias, raiz quadrada.... Não são que configura essa compreensão com a de um inocente útil.
poucas as vezes em que a sala se assemelha a um local de Predominou quase isoladamente até meados dos anos 70,
culto religioso não-voluntário ou um teatro desinteressante. quando uma análise mais contundente passou a influenciar
Necessita-se silêncio obsequioso, um celebrante que domi- mais o trabalho pedagógico.
ne o culto e fiéis conscientes de sua fragilidade; o espaço Nessa época, apoiada na noção central de que a educa-
obedece à hierarquia, o celebrante à frente, com espaço e ção tem, sim, a tarefa de servir ao Poder e é dele um instru-
mobiliário próprios e os fiéis arrumados em filas ou círculos, mento de dominação. Chamemos de pessimismo ingênuo.
em móveis menores; é o celebrante que dá início ao culto, o A escola é reprodutora da desigualdade social, nela, o edu-
dirige e pode interrompê-lo; há partes repetitivas nos cultos; cador é um agente da ideologia dominante, um funcionário
uma ponte de ascendência sobre os participantes baseada das elites. A relação com a sociedade é que a escola é um
no domínio de ferramentas do culto; ao celebrante cabe ser aparelho ideológico do Estado, determinada pelas elites so-
paciente e compreensivo, uma bondade segura e assep- ciais que controlam a sociedade. À escola cabe “fazer a ca-
sia moral; aos demais, que se pronunciem apenas quando beça”, disciplinar, controlar e, para isso, foi invadida por uma
avocados, que se preparem previamente para a exposição hierarquia do setor industrial, com diretores, supervisores,
de mistérios, que confessem seus erros e submetam-se às inspetores, etc, fragmentando o poder interno. Assim, não
provações para a remissão. Como teatro, exige atenção con- há nenhuma autonomia. O Pessimismo vem por conta do
tínua, o ator principal deve estar acima dos outros para ser papel unicamente discriminatório da Escola, desvalorizan-
visto e ouvido; a plateia tem noção do tema, mas desconhe- do-a como ferramenta para a conquista da justiça social; a
ce o enredo; quando participa, não tem ideia do porquê e ingenuidade vem da sectarização, ao obscurecer a existência
para que o faz; o ator usa enredos de outros, recorrendo às de contradições no interior das instituições sociais, atribuin-
vezes ao ponto; nem sempre a peça é adequada à plateia ou do-lhes um perfil exclusivamente conservador. 
tem para ela um significado; porém, ela a assiste por hábito No início dos anos 80, uma outra concepção buscou res-
ou apatia, até o final. O lúdico e a amorosidade são postos gatar a positividade das anteriores, o otimismo crítico, que
do lado de fora, não há prazer compartilhado.  aponta para a natureza contraditória das instituições sociais,
A sala é um espaço para confrontos, conflitos, rejeições, ou seja, a educação teria uma função conservadora e ino-
paixões, medos e saberes, para ser “humano”. A criação do vadora ao mesmo tempo. Se a escola pode, sim, servir para
conhecimento (e recriação) não está em apenas falar sobre reproduzir as injustiças, é também capaz de ser instrumento
coisas prazerosas, mas, principalmente, em falar prazerosa- para mudanças. O educador tem um papel político-pedagó-
mente sobre as coisas. Seriedade não é sinônimo de tristeza; gico e tem, assim uma autonomia relativa e é a quem cabe
a alegria é resultante de um processo de encantamento re- construir coletivamente os espaços efetivos de inovação.
cíproco Partir das preocupações dos alunos não é o mesmo 2. A construção da inovação: inquietações contra o peda-
que nelas permanecer; levar em conta é bem diferente de gocídio. Ao perguntar para estudantes de Pedagogia ou do

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GESTÃO E CONHECIMENTO

curso de Magistério “por que quer formar-se em educação?” nir os envolvidos. Uma cartilha que diga “Eva viu as uvas”
a quase totalidade das respostas costuma ser: porque gosto só faz sentido para quem conhece uvas. Explicar o encontro
de crianças. É uma resposta bela e afetiva, mas insuficiente. consonantal DR com “dromedário” ou LH com “lhama” só
Gostar é imprescindível para a tarefa pedagógica, mas além, faz sentido para quem conhece esses animais. Para quem
é necessário que se qualifique para um exercício socialmen- não “sabe o que é”, não serve pra essas coisas, é um “burro”
te competente da profissão. De qual criança gosta? Aquela que serve para usar as mãos, não a cabeça. Ensinar exige
que tem acesso à comida, saúde, lazer ou a que não tem reconhecer que a educação é ideológica. É contra a miopia
recursos para o material escolar, não sai de seu mundo ime- de não perceber os preconceitos e discriminações que de-
diato e que estuda na mesa da cozinha? Quando não nos vemos nos acautelar:
qualificamos para atuar junto aos diferentes “ser criança”
• a professora que divide as meninas e os meninos de
que coexistem, aprofundam-se as diferenças e mantêm-se
cada lado da fila; onde mais há filas assim?
as injustiças. Reafirmemos o óbvio: há um fortíssimo refle-
xo das condições de vida dos alunos no seu desempenho • a figura da família como é representada? A mulher
escolar; há muitas décadas se discute isso, sem mudanças serve. Isso aparece na cartilha, na mídia, na propa-
significativas na nossa ação coletiva. ganda, no “suplemento feminino” do jornal (que é
“coisa de homem”, então)
• o professor reclama de alunos que falam sempre
muito alto. São mal-educados ou os alunos econo- • o corpo humano: um desenho de um homem (ou
micamente favorecidos, que aprenderam a compar- mulher) branco, alto, forte, olhos claros, e a criança
tilhar os espaços e a serem comedidos na altura do olha para si, para os lados e para quem conhece....
som são diferentes daqueles oriundos da classe pro-
• a festa junina que considera fantasia ser remendado,
letária, que, ao brincar e conversar na rua, precisam
ter dentes falhos e o falar incorreto. Poucas escolas
gritar para ser ouvidos?
explicam a origem das festas e sua importância para
• é importante que os pais acompanhem as atividades o campesino de resguardar sua dignidade; que a fa-
escolares das crianças, porém, nas camadas popula- lha do dente é sofrimento; que produzem comida
res, a grande maioria dos pais sequer ultrapassou a e passam fome. Não se trata de fazer discurso po-
3a série do ensino fundamental. lítico às criancinhas, mas de não omitir a realidade
e achar que a vida rural é uma delícia. Afirma Paulo
• ao receber a lista de livros e material a serem trazi-
Freire que no exercício crítico é que nos predispo-
dos, muitos pais também ouvem que “sem todo o
mos a uma atitude aberta ao outro e à realidade, ao
material é impossível trabalhar”. Por um lado, uma
mesmo tempo em que desconfiamos das certezas.
obrigação pública de prover condições para os cida-
O melhor caminho para o aprender a pensar cer-
dãos carentes, por outro, uma organização da nossa
to é manter-se alerta, ouvir com respeito, por isso
prática que leve em conta as dificuldades reais da
de forma exigente, é estar exposto às diferenças e
população.
recusar posições dogmáticas. A crise da educação
Quando analisamos o fracasso escolar (ou pedagocí- não é uma fatalidade, mas construção. Ao analisar
dio), na evasão e repetência, é usual apontar-se causas ex- o passado de educação, é preciso distinguir entre o
traescolares. Se desejamos aproveitar a contradição entre tradicional – que deve ser resguardado por sua efi-
o inovador e o conservador de nossas práticas, devemos ciência pedagógica e o arcaico – que é o ultrapas-
também verificar as causa intraescolares do fracasso: o uso sado e que não tem mais aplicabilidade em novas
não-reflexivo dos livros didáticos, passando por conteúdos circunstâncias. É preciso fugir a vícios, tais como o
excessivamente abstratos e sem integração e chegando à vício do círculo vicioso (em que os alunos sem base
culpabilização dos alunos pelo próprio fracasso: tornam-se professores sem base), do “faço o que eu
posso” (limitador). 
• “eles vêm sem saber nada”. E cada professor reclama
da série anterior, até que se chegue à vida uterina.... 3. Sobre ideias e pães. Dois índios xavantes, nos anos
70, pediram para ir embora, não apenas do mercado aon-
• “comigo não tem moleza, 20 de 40 vão ficar” como
de foram levados (o velho prédio do Mercado Central), mas
se a avaliação da qualidade do trabalho fosse me-
da cidade. Não tiveram uma revolta ética, mas cultural: não
dida pelos fracassos e os alunos fossem adversários
conseguiram compreender uma situação tão “normal” como
a serem derrotados. Imagine um médico dizer: “dos
a de uma criança ter fome e, não tendo dinheiro, comer co-
meus 40 pacientes, 20 vão morrer, comigo não tem
mida estragada do chão, rodeada de comida “boa”. Não
moleza”?
compreenderam nossa organização porque não foram for-
• “hoje eu peguei a molecada, dei uma prova de sur- mados aqui, nas nossas instituições sociais, nem nas nossas
presa”. A avaliação é um meio de correção de com- escolas. A maior tarefa dos educadores e educadoras está na
portamento? junção entre a epistemologia e a política, na destruição do
“aqui é assim”. É uma ética da rebeldia, que reafirme nossa
Avaliação é diferente de auditoria: avaliação visa iden-
possibilidade de dizer “não” e que valorize a inconformida-
tificar problemas e facilidades, para reorientar o processo
de. Só quem é capaz de dizer o não pode dizer o sim, pode
pedagógico; a auditoria objetiva localizar desvios para pu-

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GESTÃO E CONHECIMENTO

escolher. Ser humano é ser junto: a minha liberdade acaba reza, fazendo-o funcionar segundo as determinações de um
quando acaba a do outro: se algum humano ou humana não sujeito a-histórico, que conhece para prever os fenômenos
é livre, ninguém é livre. Porque somos educadores? Por que e para controlá-los. A autora destaca em seu artigo que a
dedicarmos toda uma existência a essa atividade cansativa, prática de avaliação que pretende medir conhecimentos
econômica e socialmente prejudicada e desvalorizada, en- para classificar os estudantes, apresenta-se como dinâmica
tremeada de percalços? Por causa da paixão. A paixão pela que isola os sujeitos, dificulta o diálogo, reduz os espaços
ideia irrecusável de que gente foi feita para ser feliz. Paixão de solidariedade e de cooperação e estimula a competição.
pela inconformidade de as coisas serem como são; paixão Enfatiza, ainda, que essa prática exclui do processo ações
pela derrota da desesperança e pela ideia de tornar as pes- indispensáveis para um contexto pedagógico favorável à
soas melhores, paixão pelo futuro.  aprendizagem, sendo, portanto, insuficiente para o profes-
Nosso “negócio” é o futuro e assim, torna-se absur- sor que deseja ensinar a todos os seus alunos e alunas.
do dizer que quanto mais se vive, mais velho se fica. Para Esteban nos chama a atenção que no cotidiano esco-
isso, teríamos de ter nascido prontos e ir desgastando. Isso lar, avaliando e sendo avaliada, a professora vai aprendendo
acontece com objetos, não com humanos. Nascemos não- duas lições contraditórias: é preciso classificar para ensinar;
-prontos e vamos nos fazendo, o mais velho de mim está no e classificar não ajuda a ensinar melhor, tampouco a apren-
passado, hoje eu sou a minha versão mais nova (” revista e der mais, pois, classificar produz exclusão e para ensinar é
ampliada”). Como parteiro do futuro, o educador procura indispensável incluir.
realizar as possibilidades que a educação tem de colaborar Para a autora, a avaliação vem marcando, expondo, clas-
na conquista de uma realidade social superadora das desi- sificando e excluindo os alunos e alunas que não aprendem,
gualdades. Mais que uma espera, é um escavar no hoje de os professores e professoras que não ensinam, as famílias
nossas práticas à procura daquilo que hoje pode ser feito. que não colaboram e os funcionários que não têm compe-
Nosso tempo é este em que hoje se gesta o amanhã, do tência, jogando luz sobre o que não fazem e enunciando,
qual não possuímos certezas, mas possibilidades. É nessa “em alto e bom som” suas incapacidades. A avaliação joga
paixão pelo humano onde se dá o encontro do sonho de para uma zona opaca e silenciosa as questões que podem
um Conhecimento como ferramenta da Liberdade e de um nos ajudar a compreender e a interagir sobre a prática pe-
Poder como amálgama da convivência igualitária. Um ditado dagógica. Ressaltando a negação, o que se nega é a própria
chinês diz que se dois homens vêm andando numa estra- potência da escola e dos processos emancipatórios que ali
da, cada um com um pão e, ao se encontrarem, trocam os se realizam.
pães, cada homem vai embora com um; porém, se os dois
carregam uma ideia, e ao se encontrarem, as trocarem, cada O artigo de Esteban é provocativo e nos convoca à lei-
homem vai embora com duas. Quem sabe é esse mesmo o tura.
sentido do nosso fazer: repartir ideias, para todos terem pão.
Já o segundo artigo, ”avaliar a escola e a gestão escolar:
Fonte elementos para uma reflexão crítica”, de autoria de Alme-
CORTELLA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento: rindo Afonso aponta e convoca os educadores para pensar
fundamentos epistemológicos e políticos. 14. ed., São Paulo, a avaliação das escolas e o lugar dos seus gestores nesse
Cortez, 2011. processo. O autor é professor na Universidade do Minho em
Portugal e mantém fortes laços com o Brasil.
Afonso destaca em seu artigo que avaliar a gestão es-
ESTEBAN, MARIA TERESA (ORG.). ESCOLA, colar é também, em grande medida, avaliar a própria escola
CURRÍCULO E AVALIAÇÃO. SÃO PAULO: no seu todo, uma vez que os responsáveis pelos órgãos da
CORTEZ, 2005. gestão não podem ser e estar indiferentes ao que se ocorre
no âmbito da escola. Convida-nos a ler o artigo e a pensar-
mos juntos as estratégias para as fronteiras da avaliação da
O livro organizado por Esteban faz parte da Série Cultu- escola como organização educativa complexa.
ra, Memória e Currículo; possui oito artigos, com a partici- O terceiro artigo, “Fundamentos, dilemas e desafios da
pação de um grupo de pesquisadores. O primeiro artigo, de avaliação na organização curricular por ciclos de formação”,
autoria de Esteban, apresenta o título: “Ser Professora: ava- é de autoria de Ana Lucia Souza de Freitas – Professora de
liar e ser avaliada”. Nele, a autora destaca que avaliar, como rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, assessora peda-
tarefa docente, mobiliza corações e mentes, afeto e razão, gógica da SMDE de 1993 a 2000, Doutora em Educação pela
desejos e possibilidades. Aponta a avaliação como tarefa PUC - RS e Professora no curso de Pedagogia da Unilasalle.
que dá identidade à professora, normatiza sua ação, define O artigo apresenta considerações sobre a avaliação na esco-
etapas e procedimentos escolares, media relações, determi- la por ciclos de formação, o que consiste em tema comple-
na continuidade e rupturas e orienta a prática pedagógica. xo e polêmico. Complexo não como sinônimo daquilo que
A autora considera a avaliação como tarefa escolar ins- é difícil, mas “no sentido originário do termo complexus: o
crita num conjunto de práticas sociais que tomam o conhe- que é tecido junto” (MORIN, 2000). É polêmico porque tal
cimento como meio para manipular e dominar o mundo, compreensão encerra, em si, uma contradição fundamental:
percebido mediante uma concepção mecanicista da natu- a concepção e a prática da avaliação na escola por ciclos de
formação pressupõem uma lógica de inclusão, mas inserem-

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GESTÃO E CONHECIMENTO

-se, por sua vez, num contexto social mais amplo que, orien- vemos diante da tarefa cotidiana de mergulhar nas águas
ta-se pela lógica de exclusão, atuando no sentido oposto, o caudalosas desse rio chamado avaliação escolar. As autoras
que contribui para a reprovação. destacam que as experiências com a prática da avaliação es-
O quarto artigo, “Templos construídos sobre templos: a colar levam-nos a conceber a avaliação como um processo
história da América Latina e o cotidiano da escola”, foi escri- que possibilita a aprendizagem de valores humanos que,
to a duas mãos: por Mailsa Carla Passos – Doutora em Edu- muitas vezes, não estão presentes nos currículos oficiais, as-
cações – PUC/RJ e por Carlos Roberto de Carvalho – Douto- sim como possibilita uma compreensão interdisciplinar do
rado em Educação – UFF. Os autores destacam que o texto conhecimento. Enfatizam que decidiram por essa aborda-
pretende ver que na história das relações entre as culturas gem por que há muito o tema as instigava e convergia, de
e nas disputas de poder inerentes a ela, é possível perceber certa maneira, para as seguintes questões: com qual con-
deslizes e que há casos em que perpetuam a multiplicida- cepção avaliamos nossos alunos e nossas alunas? A favor
de que se tenta apagar, considerando que as origens das de quem temos avaliado? Com essas questões as autoras
nações modernas estão alicerçadas na tentativa de grandes afirmam que seguem as determinações institucionais, abrin-
apagamentos e violentas disputas entre as diferenças cul- do brechas para entender a prática da avaliação numa con-
turais. cepção mais democrática e inclusiva.

O quinto artigo, “Conversas sobre avaliação e comu- O oitavo e último texto do livro organizado por Esteban,
nicação” foi tecido por quatro pesquisadores: Alice Ribeiro com o título de “Avaliar o processo de aquisição da escri-
– Psicóloga de Escuela Especial J. L. de Cabreira, Corboda, ta: desafios para uma professora pesquisadora” é de auto-
Argentina; Geni Amelia Nader Vasconcelos – Professora da ria de Carmem Sanches Sampaio – Professora da Escola de
Faculdade Santa Doroteia, Nova Friburgo/RJ, Professora da Educação da UNIRIO e pesquisadora da GRUPALFA – grupo
Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo; Paulo Sgarbi – de pesquisa: Alfabetização dos alunos e alunas das classes
Professor da Faculdade de Educação da Universidade do Es- populares, coordenado pela Profª. Drª. Regina Leite /UFF. A
tado do Rio de Janeiro e Valter Filé – membro da equipe da autora discute, reflete e socializa momentos experienciados
T.V Pinel/RJ de acordo com os autores, o texto foi tecido da por professoras alfabetizadoras que vivem os desafios de
seguinte maneira: cada um dos autores foi mexendo e reme- construir, coletivamente, uma prática avaliativa a partir das
xendo nas falas um dos outros, ora puxando fios, ora desem- experiências construídas com crianças no processo da alfa-
baraçando algum emaranhado e ora criticando a crítica. Os betização. Após interrogar a ação alfabetizadora praticada
autores convidam os leitores, aqueles que desejam mexer e na escola, tendo por base o diálogo prática/teoria/prática,
remexer o texto, a puxar novos fios. Reiteram o convite para as pesquisadoras descobrem e aprendem a compreender
que cada leitor faça desse texto um novo texto, procurando que as crianças vivenciam processos diversos e revelam tra-
respeitar o que está dito com uma contribuição à reflexão, jetórias variadas e singulares em seu modo de aprender. A
não como verdades acabadas e incontestáveis. autora destaca que as razões do presente estudo foram de-
correntes do número de crianças que chegaram ao final da
O sexto artigo “Avaliação e currículo no cotidiano esco- primeira série sem saber ler e escrever – cerca de quarenta
lar” traz como autores Inês Barbosa de Oliveira – Professora por cento da turma.
adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
e Dirceu Castilho Pacheco – Professor assistente da Univer- É importante destacar que toda a obra foi tecida sobre
sidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No artigo, os fundamentos teóricos dialogados com vários autores, resul-
autores destacam que nenhuma discussão curricular pode tando numa interlocução dialógica. Entre os teóricos pes-
negligenciar o fato de que aquilo que se propõe e que se quisados podemos citar: Foucault com vigiar e punir; Santos
desenvolve nas salas de aulas darão origem a um processo e Boaventura com o conceito de emancipação e a crítica
de avaliação. Assim, o texto trata da avaliação como parte contra o desperdício da experiência; Chauí, com indagações
integrante do currículo, evidenciando relato de práticas co- sobre os critérios da autoavaliação, tecendo os fios com a
tidianas de avaliação. ideologia e educação. Prigogine com a obra O fim das cer-
tezas; Afonso, com Regulamentação e emancipação. Bha-
O sétimo artigo com o título ”As influências de um rio bha, com reflexões sobre O local da cultura; Sacristán com
chamado avaliação escolar” foi escrito por Maria Claudia Pedagogia por objetivos; Fribberg, com O poder e a regra;
Reis Ferraz – Professora da CIEP 060 – Geraldo Reis (1° seg. Giroux, com A teoria crítica e resistência em educação; Mo-
de Ensino Fundamental da SEE do RJ), aluna do mestrado rin, saberes necessários à educação do futuro; Certau, com
em Educação da UFF, e por Stella Maris Moura da Macedo invenção do cotidiano; Bakhtin, com A estética da criação
- Professora do 1° seg. do Ensino Fundamental do Colégio verbal e Benjamin, sobre os conceitos de história e cultura.
de Aplicação da EURJ (CAP/UERJ) e da SME do RJ; aluna do É preciso destacar que outros autores fizeram parte da tes-
Mestrado em Educação da UFF. As autoras esclarecem que situra da obra e que pela sua consistência teórica é possível
a tentativa de associar a avaliação à imagem de um rio que, classificá-la como uma obra clássica.
em seu longo percurso, aflui para os dilemas presentes nas
relações objetividade/subjetividade, fragmentação/integra- COMENTÁRIO CRÍTICO
ção e exclusão/inclusão lançou-as ao questionamento: que O Livro Escola, currículo e avaliação, organizado por Es-
compreensões temos nós sobre o ato de avaliar quando nos teban, tem o objetivo de promover uma compreensão de

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GESTÃO E CONHECIMENTO

que o processo avaliativo está vinculado à relação inclu- identificação dos processos cognitivos subjacentes à aquisi-
são – exclusão escolar e social, o que nos faz refletir que os ção da escrita, através da compreensão da natureza das hi-
modelos oficiais de avaliação externa por parte do MEC são póteses infantis e da descoberta do tipo de conhecimentos
modelos hegemônicos de avaliação e, portanto, estão ali- específicos que a criança possui ao iniciar a aprendizagem
nhados a concepções excludentes do ser humano, de rela- escolar.
ções sociais, de práticas pedagógicas e da dinâmica escolar. Vamos nos ater aos resumos dos capítulos 5. Atos de
A contribuição dos autores com suas teses sobre ava- Leitura e 6. Evolução da escrita
liação na escola nos deixa “ pistas e recomendações” para
que o processo de avaliação possa e deva vincular-se aos Atos de leitura
processos desenvolvidos sob a ótica da emancipação social,
sendo indispensável a nós, gestores e professores, em qual- Cotidianamente nós, adultos, realizamos vários atos de
quer nível de ensino e local de atuação, assegurar estraté- leitura diante das crianças. A partir dessa ideia, Ferreiro e
gias e movimentos para que as práticas de avaliação escolar Teberosky, questionam sobre quais seriam as chaves que as
sejam democratizadas, no sentido de proporcionar espaços crianças utilizam para decidir se está ocorrendo o ato de lei-
significativos para um diálogo profundo num processo cole- tura ou não. A finalidade da pesquisa era entender como as
tivo plural, a fim de que os resultados avaliativos possam ser crianças interpretam o modelo, como registram a presença
compartilhados entre os sujeitos nele envolvidos. O acesso, de índices da ação de ler, bem como, quais os objetos (por-
a permanência e o sucesso escolar precisam, de fato, serem tadores de texto) são avaliados como “para ler”.
“verdadeiramente eficazes”. A possibilidade existe porque A investigação consistiu de três situações experimentais:
fazemos parte de ampla rede de educadores que sonham na primeira as pesquisadoras realizaram um ato de leitura
e que têm esperança pelo surgimento de uma escola arti- silenciosa perante as crianças, marcando bem os gestos,
culado ao projeto de emancipação social do ser humano, posição, tempo de fixação do olhar e exploração do texto.
como bem nos ensina a obra organizada por Esteban e que Posteriormente, solicitaram que as crianças dissessem `a
nos alerta para: ” é preciso uma redefinição metodológica da pesquisadora o que estavam fazendo e tinham também que
avaliação para acompanhar a transformação epistemológica justificar suas respostas. Em seguida, as pesquisadoras, sim-
que a emergência de novo paradigma requer e se faça pre- plesmente folheavam um jornal, sem se deterem em nenhu-
sente na escola” (2005, p. 31). ma página e indagavam o que estavam fazendo. Depois, as
É importante esclarecer que optei por elaborar a rese- pesquisadoras realizavam um ato de leitura em voz alta, que
nha da obra datada de 2005 e em sua 2ª edição, por ser possuía todas as características formais dessa situação, po-
uma obra que considero inédita no campo da avaliação rém um elemento conflitivo era posto, visto que o portador
educacional, ao ponto de recomendar sua leitura a todos de texto utilizado era de um tipo e o conteúdo lido de outro.
os gestores, professores, professoras, pesquisadores e pes- Exemplo: liam num jornal um conto infantil; no livro de con-
quisadoras que atuam na educação infantil, no ensino su- tos infantis liam uma notícia jornalística; ou apresentavam
perior e na pós-graduação lato e stricto sensu. Uma obra uma situação de diálogo oral com um jornal na mão.
que surpreende pela riqueza das fontes e pelo conjunto das
informações, e por isso mesmo assinala as possibilidades de 1 – Interpretação da leitura silenciosa
transformações profundas no modo de pensar, agir e reali-
zar as práticas de avaliação na escola. A. Inicialmente, a leitura não pode ser concebida sem
voz. Neste nível, para essas crianças a leitura precisa ser
Fonte acompanhada do gesto e da voz.
Resenhista: LIMA, T. B. de.
Diálogos Educ. R., Campo Grande, MS, v. 2, n. 1, p. 88-91, Javier (4a.)
maio 2011 (Leitura silenciosa)
P - O que estou fazendo?
Referência J- Olhando o jornal.
ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Escola, currículo e avalia- P- E não estou lendo?
ção. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005 J- Estás vendo as letras para ver o jornal e lê-lo.
P- E para ler?
J- Tem que falar.
FERREIRO, EMILIA E TEBEROSKY, ANA. (...)
PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA. PORTO
ALEGRE: ARTMED, 1999. B. A leitura se faz independente da voz, se diferencia do
folhear. As crianças alegam que para ler tem que olhar, mas
que olhar não é apenas suficiente.. O que caracterizou esse
Esta obra trata da questão dos fracassos escolares na nível foi a compreensão da leitura silenciosa como forma de
aprendizagem da lectoescrita. As investigações realizadas leitura.
pelas autoras procuraram estudar o processo de construção
dos conhecimentos no domínio da língua escrita a partir da Maria Eugenia (4a.) p. 159 P : (Leitura silenciosa) M: - Está
lendo.

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GESTÃO E CONHECIMENTO

P- Como te desta conta? V- Ué, porque os grandes não vão dizer de uma menina
M- Porque vi. muito bondosa!
P- O que viste? (..)
M- Que estavas lendo.
(..) Evolução da escrita

C- Os atos de leitura silenciosa se definem em si mesmo. A criança é produtor de textos desde a mais tenra idade.
Num último nível, as crianças compreenderam que os atos Vemos tentativas de escrita desde 2 anos e meio ou 3 anos.
de leitura silenciosa se definem por si mesmos, e os gestos, Imitar o ato de escrever é uma coisa, interpretar a escrita
a direção do olhar, o tempo e o tipo de exploração, são ín- produzida é outra.
dices que mostram e demonstram uma atividade de leitura Para isso, Ferreiro e Teberosky, pesquisaram como as
silenciosa. crianças escrevem sem ajuda escolar. A exploração sobre a
escrita da criança foi realizada da seguinte maneira:
2 - Interpretação da leitura com voz a) pedindo-lhes que escrevessem o nome próprio;
b) pedindo-lhes que escrevessem o nome de algum
As crianças de um primeiro nível se centram na ação amigo ou de algum membro da família;
de ler e não emitem juízo sobre o texto escutado. Qualquer c) contrastando situações de desenhar com situações de
portador é admitido como protótipo de texto para ler, sem escrever;
importar o seu conteúdo. O que pode variar nesse nível é a d) pedindo-lhes que escrevessem as palavras com as
exigência, por parte de algumas crianças, da existência de quais habitualmente se começa a aprendizagem escolar
imagens que comprovem a possibilidade de leitura. (mamãe, papai, menino, urso);
Num segundo nível, há a possibilidade de antecipar os e) sugerindo que experimentassem escrever outras pa-
acontecimentos segundo uma classificação dos distintos lavras, que seguramente não lhes haviam sido ensinadas
portadores de texto. A classificação prévia dos portadores (sapo, mapa, pata, etc);
de texto influiu sobre a antecipação do conteúdo corres- f) sugerindo que experimentassem escrever a seguinte
pondente. Tal fato induziu as crianças desse nível a situar os oração: “Minha menina toma sol”.
enunciados escutados, em função da classificação estabele- Para Ferreiro e Teberosky, toda criança passa por níveis
cida. O que é colocado em questão é o conteúdo lido. estruturais da linguagem escrita até que se aproprie da com-
plexidade do sistema alfabético. São estes níveis estruturais,
Carlos (6 A.) p. 173 que embasam a teoria da psicogênese. Os níveis da escrita
P (Com o jornal) - “Era uma vez...” C- Estás lendo. são:
P- Onde? Nível 1: Pré-silábico – A criança não estabelece vínculo
C - Não sei. entre fala e escrita e tem leitura global, individual e instável
P - Do jornal? do que escreve: só ela sabe o que quis escrever. Neste nível,
C- Não... porque essas coisas nunca são feitas nos jor- escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que a crian-
nais. ça identifica como a forma básica de escrita.
P- Que coisas são de jornal? Nível 2: Intermediário Silábico – A hipótese deste nível
C- As coisas importantes, de esporte, futebol, de tudo. é que para poder ler coisas diferentes, isto é atribuir sig-
nificados diferentes, deve haver uma diferença objetiva nas
Num último nível – Começo de diferenciação entre escritas.
”Língua Oral” e “Língua Escrita”. Neste nível encontramos Nível 3: Hipótese Silábica - A criança tenta fonetizar a
crianças com condutas que evidenciaram clara centração no escrita e dar valor sonoro `a cada uma das letras que com-
enunciado. Foram classificadas as crianças que decidiram põem uma escrita. Nesta tentativa, a criança passa por um
que tipos de expressões correspondiam aos tipos de por- período da maior importância evolutiva: cada letra vale por
tadores, ou modalidades da língua, implicando num juízo uma sílaba. Com esta hipótese, a criança dá um salto quali-
sobre as formas concretas de língua escrita. tativo com respeito aos níveis precedentes.
Nível 4: Hipótese Silábico-alfabética – Passagem da hi-
Vanina (6 A.) p. 178 pótese silábica para a alfabética. A criança abandona a hipó-
P - (Com o jornal) - “Era uma vez...” V- Um conto! Não tese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise
é o jornal! que vá mais além da sílaba pelo conflito entre a hipótese
P- Como? silábica e a exigência de quantidade mínima de grafias e o
V- Poderia haver um conto no jornal. conflito entre as formas gráficas que o meio lhe propõe e
P- Onde? (mostra o jornal) a leitura dessas formas em termos de hipótese silábica. A
V... (olha). – Não, não em contos. Sim, estás lendo, mas criança consegue combinar vogais e consoantes numa mes-
não estás lendo o que diz aqui (jornal). ma palavra, numa tentativa de combinar sons, sem tornar,
P- É um conto? ainda sua escrita socializável.
V- Sim, um conto de livro. Nível 5: Hipótese alfabética - Este nível constitui o final
P- Como sabes? desta evolução. A criança compreende o modo de constru-
ção do código da escrita. A partir desse momento se defron-

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GESTÃO E CONHECIMENTO

tará com as dificuldades próprias da ortografia, mas não terá mática sempre presente às minhas preocupações de educa-
problemas de escrita, no sentido estrito. dor, alguns dos aspectos aqui discutidos não têm sido estra-
nhos a análises feitas em livros meus anteriores. Não creio,
Os resultados deste seguimento evidenciaram alguns porém, que a retomada de problemas entre um livro e outro
pontos que poderiam ser assim resumidos assim: e no corpo de um mesmo livro enfade o leitor.
Enquanto o docente segue um programa, utilizando Sobretudo quando a retomada do tema não é pura re-
uma metodologia igual para todas as crianças, nem todas petição do que já foi dito. No meu caso pessoal retomar um
avançam no mesmo ritmo. assunto ou tema tem que ver principalmente com a marca
As que chegam, finalmente, a aprender a escrever oral de minha escrita. Mas tem que ver também com a rele-
durante o ano escolar, são aquelas que partiram de níveis vância que o tema de que falo e a que volto tem no conjunto
bastante avançados na conceitualização. As que não apren- de objetos a que direciono minha curiosidade. Tem que ver
deram, no curso do mesmo tempo, se situam nos níveis ini- também com a relação que certa matéria tem com outras
ciais de conceitualização. Não se observam saltos bruscos que vêm emergindo no desenvolvimento de minha reflexão.
na aprendizagem. Todos os sujeitos progridem seguindo os É neste sentido, por exemplo, que me aproximo de novo
passos na conceitualização que descrevemos na criança pré- da questão da inconclusão do ser humano, de sua inserção
-escolar. num permanente movimento de procura, que rediscuto a
Pareceria que o ensino sistemático, tal qual existe curiosidade ingênua e a crítica, virando epistemológica.
atualmente, dirige-se exclusivamente `aquelas crianças que É nesse sentido que reinsisto em que formar é muito
já percorreram um longo caminho antes de entrarem na es- mais do que puramente treinar o educando no desempenho
cola. de destrezas e por que não dizer também da quase obsti-
Não se encontraram diferenças muito marcantes nas nação com que falo de meu interesse por tudo o que diz
respostas das crianças escolarizadas com relação aos pré- respeito aos homens e às mulheres, assunto de que saio e
-escolares. a que volto com o gosto de quem a ele se dá pela primeira
Para as pesquisadoras, Ferreiro e Teberosky nenhum su- vez. Daí a crítica permanentemente presente em mim à mal-
jeito parte do zero ao ingressar na escola de primeiro grau, vadez neoliberal, ao cinismo de sua ideologia fatalista e a
nem sequer as crianças da classe desfavorecida. Aos 6 anos, sua recusa inflexível ao sonho e à utopia.
as crianças ‘sabem’ muitas coisas sobre a escrita e resolve- Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve o meu
ram sozinhas numerosos problemas para compreender as discurso quando me refiro às injustiças a que são submeti-
regras da representação escrita. Talvez não estejam resol- dos os esfarrapados do mundo. Daí o meu nenhum interes-
vidos todos os problemas, como a escola o espera, porém, se de, não importa que ordem, assumir um ar de observador
o caminho já iniciou. A criança que ingressa na escola é um imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos acontecimentos.
sujeito ativo, cognoscente, que sabe definir seus próprios Em tempo algum pude ser um observador “acizentadamen-
problemas, e além disso constrói espontaneamente os me- te” imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma po-
canismos para resolvê-los. É o sujeito que reconstrói o obje- sição rigorosamente ética. Quem observa o faz de um certo
to para dele apropriar-se através do desenvolvimento de um ponto de vista, o que não situa o observador em erro. O erro
conhecimento e não da exercitação de uma técnica. na verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absoluti-
zá-la e desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de
Fonte: Resenhado por SILVA, M. S. da. Mestre em edu- vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com ele.
cação pela Umesp, membro do Grupo de Estudos e Pesqui- O meu ponto de vista é o dos “condenados da Terra”, o
sas sobre Alfabetização e Letramento (Geal). dos excluídos. Não aceito, porém, em nome de nada, ações
terroristas, pois que delas resultam a morte de inocentes e
a insegurança de seres humanos. O terrorismo nega o que
FREIRE, PAULO. PEDAGOGIA DA venho chamando de ética universal do ser humano. Estou
AUTONOMIA. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, com os árabes na luta por seus direitos, mas não pude acei-
2011. tar a malvadez do ato terrorista nas Olimpíadas de Munique.
Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos,
professores e professoras, a nossa responsabilidade ética
Palavras do Autor no exercício de nossa tarefa docente. Sublinhar esta respon-
sabilidade igualmente àquelas e àqueles que se acham em
A questão da formação docente ao lado da reflexão so- formação para exercê-la. Este pequeno livro se encontra cor-
bre a prática educativo- progressiva em favor da autonomia tado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da neces-
do ser dos educandos é a temática central em torno de que sária eticidade que conota expressivamente a natureza da
gira este texto. Temática a que se incorpora a análise de sa- prática educativa, enquanto prática formadora. Educadores
beres fundamentais àquela prática e aos quais espero que o e educandos não podemos, na verdade, escapar à rigoro-
leitor crítico acrescente alguns que me tenham escapado ou sidade ética. Mas, é preciso deixar claro que a ética de que
cuja importância não tenha percebido. falo não é a ética menor, restrita, do mercado, que se curva
Devo esclarecer aos prováveis leitores e leitoras o se- obediente aos interesses do lucro.
guinte: na medida mesma em que esta vem sendo uma te- Em nível internacional começa a aparecer uma tendên-
cia em acertar os reflexos cruciais da ‘nova ordem mundial’,

51
GESTÃO E CONHECIMENTO

como naturais e inevitáveis. Num encontro internacional de assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da
ONGs, um dos expositores afirmou estar ouvindo com cer- opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser
ta frequência em países do Primeiro Mundo a ideia de que assumindo-nos como sujeitos éticos. Neste sentido, a trans-
crianças do Terceiro Mundo, acometidas por doenças como gressão dos princípios éticos é uma possibilidade, mas não
diarreia aguda, não deveriam ser salvas, pois tal recurso só é uma virtude. Não podemos aceitá-la.
prolongaria uma vida já destinada à miséria e ao sofrimen- Não é possível ao sujeito ético viver sem estar perma-
to.” nentemente exposto à transgressão da ética. Uma de nossas
Não falo, obviamente, desta ética. Falo, pelo contrário, brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta: fazer
da ética universal do ser humano. Da ética que condena o tudo o que possamos em favor da eticidade, sem cair no
cinismo do discurso citado acima, que condena a exploração moralismo hipócrita, ao gosto reconhecidamente farisaico.
da força de trabalho do ser humano, que condena acusar Mas, faz parte igualmente desta luta pela eticidade recusar,
por ouvir dizer, afirmar que alguém falou A sabendo que com segurança, as críticas que veem na defesa da ética, pre-
foi dito B, falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco cisamente a expressão daquele moralismo criticado. Em mim
e indefeso, soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo a defesa da ética jamais significou sua distorção ou negação.
que não cumprirá a promessa, testemunhar mentirosamen- Quando, porém, falo da ética universal do ser humano
te, falar mal dos outros pelo gosto de falar mal. A ética de estou falando da ética enquanto marca da natureza humana,
que falo é a que se sabe traída e negada nos comportamen- enquanto algo absolutamente indispensável à convivência
tos grosseiramente imorais como na perversão hipócrita da humana. Ao fazê-lo estou advertido das possíveis críticas
pureza em puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe que, infiéis a meu pensamento, me apontarão como ingê-
afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gêne- nuo e idealista. Na verdade, falo da ética universal do ser
ro, de classe. humano da mesma forma como falo de sua vocação on-
É por esta ética inseparável da prática educativa, não im- tológica para o ser mais, como falo de sua natureza consti-
porta se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, tuindo-se social e historicamente não como um “a priori” da
que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lutar é História. A natureza que a ontologia cuida se gesta social-
vivê-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educan- mente na História.
dos em nossas relações com eles. Na maneira como lidamos É uma natureza em processo de estar sendo com algu-
com os conteúdos que ensinamos, no modo como citamos mas conotações fundamentais sem as quais não teria sido
autores de cuja obra discordamos ou com cuja obra con- possível reconhecer a própria presença humana no mundo
cordamos. Não podemos basear nossa crítica a um autor na como algo original e singular. Quer dizer, mais do que um
leitura feita por cima de uma ou outra de suas obras. Pior ser no mundo, o ser humano se tornou uma Presença no
ainda, tendo lido apenas a crítica de quem só leu a contraca- mundo, com o mundo e com os outros. Presença que, reco-
pa de um de seus livros. nhecendo a outra presença como um “não- eu” se reconhe-
Posso não aceitar a concepção pedagógica deste ou da- ce como “si própria”. Presença que se pensa a si mesma, que
quela autora e devo inclusive expor aos alunos as razões por se sabe presença, que intervém, que transforma, que fala do
que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha crí- que faz, mas também do que sonha, que constata, compara,
tica, é mentir. É dizer inverdades em torno deles. O preparo avalia, valora, que decide, que rompe. E é no domínio da de-
científico do professor ou da professora deve coincidir com cisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que
sua retidão ética. É uma lástima qualquer descompasso en- se instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabi-
tre àquela e esta. Formação científica, correção ética, respei- lidade. A ética se torna inevitável e sua transgressão possível
to aos outros, coerência, capacidade de viver e de aprender é um desvalor, jamais uma virtude.
com o diferente, não permitir que o nosso mal-estar pessoal Na verdade, seria incompreensível se a consciência de
ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acu- minha presença no mundo não significasse já a impossibili-
sá-lo do que não fez são obrigações a cujo cumprimento dade de minha ausência na construção da própria presença.
devemos humilde, mas perseverantemente nos dedicar. Como presença consciente no mundo não posso escapar
É não só interessante, mas profundamente importante à responsabilidade ética no meu mover-me no mundo. Se
que os estudantes percebam as diferenças de compreensão sou puro produto da determinação genética ou cultural ou
dos Faros, as posições às vezes antagônicas entre professo- de classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-me no
res na apreciação dos problemas e no equacionamento de mundo e se careço de responsabilidade não posso falar em
soluções. Mas é fundamental que percebam o respeito e a ética. Isto não significa negar os condicionamentos genéti-
lealdade com que um professor analisa e critica as posturas cos, culturais, sociais a que estamos submetidos. Significa
dos outros. reconhecer que somos seres condicionados, mas não deter-
De quando em vez, ao longo deste texto, volto a este minados. Reconhecer que a História é tempo de possibili-
tema. É que me acho absolutamente convencido da natu- dade e não de determinismo, que o futuro, permita-se me
reza ética da prática educativa, enquanto prática especifi- reiterar, é problemático e não inexorável.
camente humana. É que, por outro lado, nós achamos, ao Devo enfatizar também que este é um livro esperan-
nível do mundo e não apenas do Brasil, de tal maneira sub- çoso, um livro otimista, mas não ingenuamente construído
metidos ao comando da malvadez da ética do mercado, que de otimismo falso e de esperança vã. As pessoas, porém,
me parece ser pouco tudo o que façamos na defesa e na inclusive de esquerda, para quem o futuro perdeu sua pro-
prática da ética universal do ser humano. Não podemos nos blematicidade – o futuro é um dado – dirão que ele é mais

52
GESTÃO E CONHECIMENTO

um devaneio de sonhador inveterado. Não tenho raiva de Precisamos que o professor se perceba e se assuma
quem assim pensa. Lamento apenas sua posição: a de quem como pesquisador. Pensar certo é uma exigência que os
perdeu seu endereço na História. momentos do ciclo gnosiológico impõem à curiosidade
A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso que, tornando-se mais e mais metodologicamente rigoro-
neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós- moderni- sa, transforma-se no que Paulo Freire chama de “curiosida-
dade, insiste em convencer-nos de que nada podemos con- de epistemológica”. Ensinar exige respeito aos saberes dos
tra a realidade social que, de histórica e cultural, passa a ser educandos. A escola deve respeitar os saberes dos educan-
ou a virar “quase natural”. Frases como “a realidade é assim dos – socialmente construídos na prática comunitária - dis-
mesmo, que podemos fazer?” ou “o desemprego no mundo cutindo, também, com os alunos, a razão de ser de alguns
é uma fatalidade do fim do século” expressam bem o fatalis- deles em relação ao ensino dos conteúdos.
mo desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora. Por que não aproveitar a experiência dos alunos que vi-
Do ponto de vista de tal ideologia, só há uma saída para vem em áreas descuidadas pelo poder público para discutir
a prática educativa: adaptar o educando a esta realidade que a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de
não pode ser mudada. O de que se precisa, por isso mesmo, bem-estar das populações, os lixões e os riscos que ofere-
é o treino técnico indispensável à adaptação do educando, cem à saúde? Por que não associar as disciplinas estudadas
à sua sobrevivência. O livro com que volto aos leitores é um à realidade concreta, em que a violência é a constante e a
decisivo não a esta ideologia que nos nega e amesquinha convivência das pessoas com a morte é muito maior do que
como gente. De uma coisa, qualquer texto necessita: que o com a vida? Ensinar exige criticidade. A superação, ao invés
leitor ou a leitora a ele se entregue de forma crítica, crescen- da ruptura, se dá na medida em que a curiosidade ingênua,
temente curiosa. É isto o que este texto espera de você, que associada ao saber comum, se criticiza, aproximando-se de
acabou de ler estas “Primeiras Palavras”. forma cada vez mais metodologicamente rigorosa do objeto
Paulo Freire cognoscível, tornando-se curiosidade epistemológica.
São Paulo Muda de qualidade, mas não de essência, e essa mu-
Setembro de 1996 dança não se dá automaticamente. Essa é uma das principais
tarefas do educador progressista - o desenvolvimento da
RESUMO curiosidade crítica, insatisfeita, indócil. Ensinar exige estética
e ética. A necessária promoção da ingenuidade à criticidade
Capítulo l - Não Há Docência Sem Discência não pode ser feita sem uma rigorosa formação ética e esté-
tica. Decência e boniteza andam de mãos dadas. Mulheres
Ensinar não é transferir conhecimentos e conteúdos, e homens, seres histórico-sociais, tornamo-nos capazes de
nem formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de
estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há romper. Por tudo isso nós fizemos seres éticos. Só somos
docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, porque estamos sendo. Estar sendo é a condição, entre nós,
apesar das diferenças, não se reduzem à condição de obje- para ser. Não é possível pensar os seres humanos longe da
to um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem ética. Quanto mais fora dela, maior a transgressão. Ensinar
aprende ensina ao aprender. Ensinar exige rigorosidade me- exige a corporificação das palavras pelo exemplo. Quem
todológica. Ensinar não se esgota no tratamento do obje- pensa certo está cansado de saber que palavras sem exem-
to ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga plo pouco ou nada valem. Pensar certo é fazer certo (agir de
à produção das condições em que aprender criticamente acordo com o que pensa).
é possível. E estas condições exigem a presença de educa- Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal,
dores e de educandos criadores, investigadores, inquietos, que o re-diz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao pro-
curiosos, humildes e persistentes. fessor pensar que pensa certo (de forma progressista), e, ao
Faz parte das condições em que aprender criticamente mesmo tempo, perguntar ao aluno se “sabe com quem está
é possível a pressuposição, por parte dos educandos, de que falando”. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a
o educador já teve ou continua tendo experiência da produ- qualquer forma de discriminação. É próprio do pensar cer-
ção de saberes, e que estes, não podem ser simplesmente to a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não
transferidos a eles. Pelo contrário, nas condições de verda- pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como
deira aprendizagem, tanto educandos quanto educadores critério de recusa ao velho não é o cronológico. O velho que
transformam-se em sujeitos do processo de aprendizagem. preserva sua validade encarna uma tradição ou marca uma
Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em presença no tempo continua novo. Faz parte igualmente do
que o objeto ensinado é aprendido na sua razão de ser. Per- pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de
cebe-se, assim, a importância do papel do educador, com a discriminação.
certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas A prática preconceituosa de raças, de classes, de gêne-
ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar cer- ro ofende a substantividade do ser humano e nega radical-
to - um professor desafiador, crítico. Ensinar exige pesquisa. mente a democracia. Ensinar exige reflexão crítica sobre a
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Hoje prática. A prática docente crítica, implicante do pensar certo,
se fala muito no professor pesquisador, mas isto não é uma envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o
qualidade, pois faz parte da natureza da prática docente a pensar sobre o fazer. É fundamental que, na prática da for-
indagação, a busca, a pesquisa. mação docente, o aprendiz de educador assuma que o in-

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GESTÃO E CONHECIMENTO

dispensável pensar certo não é presente dos deuses nem se condicionado e o ser determinado... Afinal, minha presença
acha nos guias de professores que, iluminados intelectuais, no mundo não é a de quem se adapta, mas a de quem nele
escrevem desde o centro do poder. Pelo contrário, o pen- se insere”.
sar certo que supera o ingênuo tem de ser produzido pelo E a posição de quem luta para não ser apenas objeto,
próprio aprendiz, em comunhão com o professor formador. mas também sujeito da história. Histórico-sócio-culturais,
É preciso possibilitar que a curiosidade ingênua, através da tornamo-nos seres em quem a curiosidade, ultrapassando
reflexão sobre a prática, vá tornando-se crítica. os limites que lhe são peculiares no domínio vital, torna-
Na formação permanente dos professores, o momento -se fundante da produção do conhecimento. Mais ainda, a
fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensan- curiosidade é já o conhecimento. Como a linguagem que
do criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode anima a curiosidade e com ela se anima, é também conheci-
melhorar a próxima prática. O discurso teórico, necessário à mento e não só expressão dele. Na verdade, seria uma con-
reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase tradição se, inacabado e consciente do inacabamento, o ser
se confunda com a prática. Ensinar exige o reconhecimento humano não se inserisse em tal movimento. É neste sentido
e a assunção da identidade cultural. A questão da identi- que, para mulheres e homens, estar no mundo necessaria-
dade cultural, com sua dimensão individual e da classe dos mente significa estar com o mundo e com os outros. É na
educandos, cujo respeito é absolutamente fundamental na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a
prática educativa progressista, é problema que não pode ser educação como processo permanente. Mulheres e homens
desprezado. Tem a ver diretamente com a assunção de nós se tornaram educáveis na medida em que se reconheceram
por nós mesmos. É isto que o puro treinamento do profes- inacabados.
sor não faz, perdendo-se na estreita e pragmática visão do O ideal é que, na experiência educativa, educandos e
processo. educadores, juntos, transformem este e outros saberes em
sabedoria. Algo que não é estranho a nós, educadores. Ensi-
Capítulo 2 – Ensinar Não É Transferir Conhecimento nar exige respeito à autonomia do ser educando. O profes-
sor, ao desrespeitar a curiosidade do educando, o seu gosto
Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as pos- estético, a sua inquietude, a sua linguagem, ao ironizar o
sibilidades para a sua própria construção. Quando o edu- aluno, minimizá-lo, mandar que “ele se ponha em seu lugar”
cador entra em uma sala de aula, deve estar aberto a inda- ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, ao se eximir
gações, curiosidade e inibições dos alunos: um ser crítico e do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade
inquiridor, inquieto em face da tarefa que tem - a de ensinar do aluno, ao se furtar do dever de ensinar, de estar respei-
e não a de transferir conhecimento. Pensar certo é uma pos- tosamente presente à experiência formadora do educando,
tura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de assumir transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa
diante dos outros e com os outros, em face do mundo e dos existência. É neste sentido que o professor autoritário afoga
fatos, ante nós mesmos. É difícil, entre outras coisas, pela a liberdade do educando, amesquinhando o seu direito de
vigilância constante que temos de exercer sobre nós mes- ser curioso e inquieto.
mos para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um
grosseiras. dever, por mais que se reconheça a força dos condiciona-
É difícil porque nem sempre temos o valor indispensável mentos a enfrentar. A beleza de ser gente se acha, entre ou-
para não permitir que a raiva que podemos ter de alguém tras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar. Saber
vire raivosidade, gerando um pensar errado e falso. É can- que devo respeito à autonomia e à identidade do educando
sativo, por exemplo, viver a humildade, condição sine qua exige de mim uma prática em tudo coerente com este saber.
non do pensar certo, que nos faz proclamar o nosso próprio Ensinar exige bom senso O exercício do bom senso, com
equívoco, que nos faz reconhecer e anunciar a superação o qual só temos a ganhar, se faz no corpo da curiosidade.
que sofremos. Sem rigorosidade metódica não há pensar Neste sentido, quanto mais colocamos em prática, de for-
certo. Ensinar exige consciência do inacabamento. Na ver- ma metódica, a nossa capacidade de indagar, de comparar,
dade, a inconclusão do ser é própria de sua experiência vital. de duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nos
Onde há vida, há inconclusão, embora esta só seja conscien- podemos tornar e mais crítico se torna o nosso bom senso.
te entre homens e mulheres. O exercício do bom senso vai superando o que há nele
A invenção da existência envolve necessariamente a lin- de instintivo na avaliação que fazemos dos fatos e dos acon-
guagem, a cultura, a comunicação em níveis mais profundos tecimentos em que nos envolvemos. O meu bom senso não
e complexos do que ocorria e ocorre no domínio da vida, a me diz o que é, mas deixa claro que há algo que precisa ser
espiritualização do mundo, a possibilidade não só de embe- sabido. É ele que, em primeiro lugar, me diz não ser possível
lezar, mas também de enfear o mundo; tudo isso inscreveria o respeito aos educandos, se não se levar em consideração
mulheres e homens como seres éticos. Só os seres que se as condições em que eles vêm existindo, e os conhecimen-
tornaram éticos podem romper com a ética. É necessário in- tos experienciais com que chegam à escola. Isto exige de
sistir na problematização do futuro e recusar sua inexorabi- mim uma reflexão crítica permanente sobre minha prática.
lidade. Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado O ideal é que se invente uma forma pela qual os educandos
“Gosto de ser gente, inacabado, sei que sou um ser condi- possam participar da avaliação. E que o trabalho do profes-
cionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso sor deve ser com os alunos e não consigo mesmo. O profes-
ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser sor tem o dever de realizar sua tarefa docente.

54
GESTÃO E CONHECIMENTO

Para isso, precisa de condições favoráveis, sem as quais tradição que uma pessoa que não teme a novidade, que se
se move menos eficazmente no espaço pedagógico. O des- sente mal com as injustiças, que se ofende com as discrimi-
respeito a este espaço é uma ofensa aos educandos, aos nações, que luta contra a impunidade, que recusa o fatalis-
educadores e à prática pedagógica. Ensinar exige humilda- mo cínico e imobilizante não seja criticamente esperançosa.
de, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível.
Como ser educador sem aprender a conviver com os dife- A realidade não é inexoravelmente esta. E esta agora, e
rentes? Como posso respeitar a curiosidade do educando para que seja outra, precisamos lutar, viver a história como
se, carente de humildade e da real compreensão do papel tempo de possibilidade, e não de determinação. O amanhã
da ignorância na busca do saber, temo revelar o meu des- não é algo pré-dado, mas um desafio. Não posso, por isso,
conhecimento? A luta dos professores em defesa de seus cruzar os braços. Esse é, aliás, um dos saberes primeiros, in-
direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um dispensáveis a quem pretende que sua presença se torne
momento importante de sua prática docente, enquanto prá- convivência. O mundo não é. O mundo está sendo. O meu
tica ética. Ainda que a prática pedagógica seja tratada com papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre,
desprezo, não tenho por que desamá-la e aos educandos. mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrên-
Não tenho por que exercê-la mal. Minha resposta à ofensa cias.
à educação é a luta política consciente, crítica e organizada Constato, não para me adaptar, mas para mudar. No
dos professores. fundo, as resistências orgânicas e culturais são manhas ne-
Os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de cessárias à sobrevivência física e cultural dos oprimidos. É
formação permanente dos quadros do magistério como ta- preciso, porém, que tenhamos na resistência fundamentos
refa altamente política, e reinventar a forma de lutar. Ensinar para a nossa rebeldia e não para a nossa resignação em face
exige apreensão da realidade. Como professor, preciso co- das ofensas. Não é na resignação que nos afirmamos, mas
nhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essên- na rebeldia em face das injustiças. A rebeldia é ponto de
cia da minha prática. O melhor ponto de partida para estas partida, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente.
reflexões é a inconclusão do ser humano. Aí radica a nossa A rebeldia, enquanto denúncia, precisa se alongar até
educabilidade, bem como a nossa inserção num permanen- uma posição mais radical e crítica, a revolucionária, funda-
te movimento de busca. A nossa capacidade de aprender, mentalmente anunciadora. Mudar é difícil, mas é possível.
de que decorre a de ensinar, implica a nossa habilidade de Ensinar exige curiosidade. Como professor, devo saber que,
apreender a substantividade de um objeto. Somos os únicos sem a curiosidade que me move, não aprendo nem ensi-
seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de no. A construção do conhecimento implica o exercício da
aprender. curiosidade, o estímulo à pergunta, a reflexão crítica sobre a
Por isso aprender é uma aventura criadora, muito mais própria pergunta.
rica do que meramente repetir a lição dada. Aprender é O fundamental é que professor e alunos saibam que a
construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não
sem abertura ao risco e à aventura do espírito. Toda prática apassivada. A dialogicidade, no entanto, não nega a valida-
educativa demanda: de de momentos explicativos, narrativos. O bom professor
faz da aula um desafio. Seus alunos cansam, não dormem.
• a existência de sujeitos
Um dos saberes fundamentais à prática educativo-crítica é
• um que, ensinando, aprende, e outro que, aprenden- o que me adverte da necessária promoção da curiosidade
do, ensina (daí seu cunho gnosiológico); espontânea para a curiosidade epistemológica. Resultado
do equilíbrio entre autoridade e liberdade, a disciplina impli-
• a existência de objetos, conteúdos a serem ensina-
ca o respeito de uma pela outra, expresso na assunção que
dos e aprendidos;
ambas fazem de limites que não podem ser transgredidos.
• o uso de métodos, de técnicas, de materiais. Esta
prática também implica, em função de seu caráter Capítulo 3 - Ensinar É Uma Especificidade Humana
diretivo, objetivos, sonhos, utopias, ideais. Daí sua
politicidade, daí não ser neutra, ser artística e moral. Creio que uma das qualidades essenciais que a auto-
ridade docente democrática deve revelar em suas relações
Exige uma competência geral, um saber de sua natureza com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É
e saberes especiais, ligados à atividade docente. Como pro- a segurança que se expressa na firmeza com que atua, com
fessor, se a minha opção é progressista e sou coerente com que decide, com que respeita as liberdades, com que discute
ela, meu papel é contribuir para que o educando, seja o, ar- suas próprias posições, com que aceita rever-se. Ensinar exi-
tífice de sua formação. Devo estar atento à difícil caminhada ge segurança, competência profissional e generosidade - A
da heteronomia para a autonomia. “É assim que venho ten- segurança com que a autoridade docente se move implica
tando ser professor, assumindo minhas convicções, disponí- uma outra, fundada na sua competência profissional.
vel ao saber, sensível à boniteza da prática educativa, insti- Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta
gado por seus desafios...” Ensinar exige alegria e esperança. competência. O professor que não leva a sério sua formação,
O meu envolvimento com a prática educativa jamais que não estuda, que não se esforça para estar à altura de
deixou de ser feito com alegria, o que não significa dizer que sua tarefa não tem força moral para coordenar as ativida-
tenha podido criá-la nos educandos. Parece-me uma con- des de sua classe. A incompetência profissional desqualifica

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GESTÃO E CONHECIMENTO

a autoridade do professor. Outra qualidade indispensável à Nem somos seres simplesmente determinados nem
autoridade, em suas relações com a liberdade, é a generosi- tampouco livres de condicionamentos genéticos, culturais,
dade. Não há nada que inferiorize mais a tarefa formadora sociais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e a
da autoridade do que a mesquinhez, a arrogância ao julgar que nos achamos referidos. Continuo aberto à advertência
os outros e a indulgência ao se julgar, ou aos seus. de Marx, a da necessária radicalidade, que me faz sempre
A arrogância que nega a generosidade nega também a desperto a tudo o que diz respeito à defesa dos interesses
humildade. O clima de respeito que nasce de relações justas, humanos. Interesses superiores aos de grupos ou de classes
sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e de pessoas. Não posso ser professor se não percebo cada
as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autenti- vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática
ca o caráter formador do espaço pedagógico. A autoridade, exige de mim uma definição, uma tomada de posição, uma
coerentemente democrática, está convicta de que a disci- ruptura. Exige que eu escolha entre isto e aquilo.
plina verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos Não posso ser professor a favor de quem quer que seja
silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor
instiga, na esperança que desperta. Um esforço sempre pre- a favor simplesmente da Humanidade, frase de uma vagui-
sente à prática da autoridade coerentemente democrática é dade demasiado contrastante com a concretude da práti-
o que a torna quase escrava de um sonho fundamental - o ca educativa. Sou professor a favor da decência contra o
de persuadir ou convencer a liberdade para a construção da despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
própria autonomia, ainda que reelaborando materiais vin- autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra
dos de fora de si. a ditadura. Sou professor a favor da luta constante contra
É com a autonomia, penosamente construída e funda- qualquer forma de discriminação, contra a dominação eco-
da na responsabilidade, que a liberdade vai preenchendo o nômica dos indivíduos ou das classes sociais, contra a ordem
espaço antes habitado pela dependência. O fundamental no vigente que inventou a aberração da miséria na fartura.
aprendizado do conteúdo é a construção da responsabili- Sou professor a favor da esperança que me anima, ape-
dade da liberdade que se assume. O essencial nas relações sar de tudo. Contra o desengano que consome e imobiliza
entre autoridade e liberdade é a reinvenção do ser humano e a favor da boniteza de minha própria prática. Tão impor-
no aprendizado de sua autonomia. Nunca me foi possível tante quanto o ensino dos conteúdos é a minha coerência
separar dois momentos - o ensino dos conteúdos da forma- na classe. A coerência entre o que digo, o que escrevo e o
ção ética dos educandos. O saber desta impossibilidade é que faço. Ensinar exige liberdade e autoridade. O problema
fundamental à prática docente. que se coloca para o educador democrático é como traba-
Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhe- lhar no sentido de fazer possível que a necessidade do limite
cendo a responsabilidade que ela exige de nós, mais me con- seja assumida eticamente pela liberdade. Sem os limites, a
venço do nosso dever de lutar para que ela seja realmente liberdade se perverte em licença e a autoridade em autorita-
respeitada: Ensinar exige comprometimento. Não posso ser rismo. Por outro lado, faz parte do aprendizado a assunção
professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com das consequências do ato de decidir.
facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar po- Não há decisão que não seja seguida de efeitos espe-
liticamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E rados, pouco esperados ou inesperados. Por isso a decisão
a maneira como eles me percebem tem importância capital é um processo responsável. É decidindo que se aprende a
para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas decidir. Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido
preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação nunca, porque há sempre a sabedoria e a sensatez de meu
cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pai e de minha mãe a decidir por mim. Ninguém é autôno-
pareço ser e o que realmente estou sendo. Isto aumenta em mo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se cons-
mim os cuidados com o meu desempenho. truindo na experiência. Ninguém é sujeito da autonomia de
Se a minha opção é democrática, progressista, não pos- ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente.
so ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Minha pre- A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia é
sença de professor é, em si, política. Enquanto presença, não um processo, não ocorre em data marcada. É neste sentido
posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo re- que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada
velar aos alunos a minha capacidade de analisar, de decidir, em experiências estimuladoras da decisão e da responsa-
de optar e de romper, minha capacidade de fazer justiça, de bilidade, ou seja, que respeitam a liberdade. Ensinar exige
não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o tomada consciente de decisões. Voltemos à questão central
meu testemunho. Ensinar exige compreender que a educa- desta parte do texto - a educação, especificidade humana,
ção é uma forma de intervenção no mundo. Outro saber de como um ato de intervenção no mundo.
que ‘não posso duvidar na minha prática educativo-crítica Quando falo em educação como intervenção me refi-
é que, como experiência especificamente humana, a edu- ro tanto a que aspira a mudanças radicais na sociedade, no
cação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção campo da economia, das relações humanas, da propriedade,
esta que, além do conhecimento dos conteúdos, bem ou do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a
mal ensinados e/ou aprendidos, implica tanto o esforço da que, reacionariamente, pretende imobilizar a História e man-
reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmas- ter a ordem injusta. E que dizer de educadores que se dizem
caramento. progressistas, mas de prática pedagógica-política eminen-
temente autoritária? A raiz mais profunda da politicidade da

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GESTÃO E CONHECIMENTO

educação se acha na educabilidade do ser humano, que se ideologia não posso nem devo me fechar aos outros, nem
funda em sua natureza inacabada e da qual se tornou cons- tampouco me enclausurar no ciclo de minha verdade. Pelo
ciente. Inacabado e consciente disso, necessariamente o ser contrário, o melhor caminho para guardar viva e desperta a
humano se faria um ser ético, um ser de opção, de deci- minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de
são. Um ser ligado a interesses e em relação aos quais tanto ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me deixar
pode manter-se fiel à ética quanto pode transgredi-la. Se a exposto às diferenças, é recusar posições dogmáticas, em
educação não pode tudo, pode alguma coisa fundamental. que me admita como dono da verdade.
Se a educação não é a chave das mudanças, não é também Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. Nas mi-
simplesmente reprodutora da ideologia dominante. nhas relações com os outros, que não fizeram necessaria-
O que quero dizer é que a educação nem é uma for- mente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da
ça imbatível a serviço da transformação da sociedade nem ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir do pres-
tampouco é a perpetuação do status quo. suposto que devo conquistá-los, não importa a que custo,
Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático nem tampouco temer que pretendam conquistar-me. É no
e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, respeito às diferenças entre mim e eles, na coerência entre
sobretudo, como se fôssemos os portadores da Verdade a o que faço e o que digo, que me encontro com eles. O su-
ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas jeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura, com seu
é escutando que aprendemos & falar com eles. Os sistemas gesto, a relação dialógica em que se confirma como inquie-
de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm tação e curiosidade, como inconclusão em permanente mo-
se assumindo cada vez mais como discursos verticais, de vimento na história. Como ensinar, como formar sem estar
cima para baixo, mas insistindo em passar por democráticos. aberto ao contorno geográfico, social, dos educandos? Com
A questão que se coloca a nós é lutar em favor da com- relação a meus alunos, diminuo a distância que me separa
preensão e da prática da avaliação, enquanto instrumento de suas condições negativas de vida na medida em que os
de apreciação do que fazer, de sujeitos críticos a serviço, por ajudo a aprender não importa que saber, o do torneio ou
isso mesmo, da libertação e não da domesticação. Avaliação do cirurgião, com vistas à mudança do mundo, à superação
em que se estimule o falar a como caminho para o falar com. das estruturas injustas, jamais com vistas à sua imobilização.
Quem tem o que dizer, tem igualmente o direito e o dever Debater o que se diz e o que se mostra e como se mostra na
de dizê-lo. É preciso, porém, que o sujeito saiba não ser o televisão me parece algo cada vez mais importante.
único a ter algo a dizer. Mais ainda, que esse algo, por mais Como educadores progressistas não apenas não pode-
importante que seja, não é a verdade alvissareira por todos mos desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretu-
esperada. do, discuti-la. Não podemos nos pôr diante de um aparelho
Por isso é que acrescento, quem tem o que dizer deve de televisão entregues ou disponíveis ao que vier. Ensinar
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, para exige querer bem aos educandos. O que dizer e o que es-
que este diga, fale, responda. É preciso enfatizar - ensinar perar de mim, se, como professor, não me acho tomado por
não é transferir a inteligência do objeto ao educando, mas este outro saber, o de que preciso estar aberto ao gosto de
instigá-lo no sentido de que, como sujeito cognoscente, querer bem, às vezes, à coragem de querer bem aos edu-
torne-se capaz de inteligir e comunicar o inteligido. É neste candos e à própria prática educativa de que participo. Na
sentido que se impõe a mim escutar o educando em suas verdade, preciso descartar como falsa a separação radical
dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória. entre seriedade docente e afetividade. A afetividade não se
E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele. Aceitar e respeitar a acha excluída da cognoscibilidade.
diferença é uma das virtudes sem a qual a escuta não pode O que não posso, obviamente, permitir é que minha
acontecer. Tarefa essencial da escola, como centro de produ- afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever
ção sistemática de conhecimento, é trabalhar criticamente de professor no exercício de minha autoridade. Não posso
a i das coisas e dos fatos e a sua comunicabilidade. Ensinar condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao
exige reconhecer que a educação é ideológica Saber igual- maior ou menor bem querer que tenha por ele. É preciso,
mente fundamental à prática educativa do professor é o que por outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática
diz respeito à força, às vezes, maior do que pensamos da educativa vivida com afetividade e alegria prescinda da for-
ideologia. É o que nos adverte de suas manhas, das armadi- mação científica séria e da clareza política dos educadores.
lhas em que nos faz cair. Nunca idealizei a prática educativa. Em tempo algum a vi
A ideologia tem a ver diretamente com a ocultação da como algo que, pelo menos, parecesse com um que-fazer
verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penum- de anjos. Jamais foi fraca em mim a certeza de que vale a
brar ou opacizar a realidade, ao mesmo tempo em que nos pena lutar contra os descaminhos que nos obstaculizam de
torna míopes. No exercício crítico de minha resistência ao ser mais.
poder da ideologia, vou gerando certas qualidades que vão Como prática estritamente humana, jamais pude enten-
virando sabedoria indispensável à minha prática docente. A der a educação como uma experiência fria, sem alma, em
necessidade desta resistência crítica, por exemplo, me pre- que os sentimentos e as emoções, os desejos e os sonhos
dispõe, de um lado, a uma atitude sempre aberta aos de- devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura rea-
mais, aos dados da realidade; de outro, a uma desconfian- cionalista. Jamais compreendi a prática educativa como uma
ça metódica que me defende de tornar-me absolutamente experiência a que faltasse o rigor em que se gera a necessá-
certo das certezas. Para me resguardar das artimanhas da ria disciplina intelectual. Estou convencido de que a rigorosi-

57
GESTÃO E CONHECIMENTO

dade, a séria disciplina intelectual, o exercício da curiosidade experiência especificamente humana, a educação é uma for-
epistemológica não me fazem necessariamente um ser mal- ma de intervenção no mundo. (p.98)
-amado, arrogante, cheio de mim mesmo. Nem a arrogân- Continuo bem aberto à advertência de Marx, a da ne-
cia é sinal de competência nem a competência é causa de cessária radicalidade que me faz sempre desperto a tudo o
arrogância. Certos arrogantes, pela simplicidade, se fariam que diz respeito à defesa dos interesses humanos. Interes-
gente melhor. ses superiores aos de puros grupos ou de classes de gente.
Texto adaptado: Carlos R. Paiva. (p.100)
Não posso ser professor se não percebo cada vez me-
lhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de
3.1- Ensinar exige segurança, competência mim uma definição. (...). Sou professor a favor da decência
profissional e generosidade (p.91 a 96) contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritaris-
O professor que não leve a sério sua formação, que não mo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia
estuda, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor
não tem força moral para coordenar as atividades de sua a favor da luta constante contra qualquer forma de discri-
classe. (...). Há professoras cientificamente preparados mas minação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou
autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a incom- das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista
petência profissional desqualifica a autoridade do professor. vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura.
(p.92) Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de
Outra qualidade indispensável à autoridade em suas re- tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e
lações com as liberdades é a generosidade. (...). A arrogância imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha pró-
que nega a generosidade nega também a humildade. (...) pria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber
(p.92) que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto
A autoridade docente mandonista, rígida, não conta pelas condições materiais necessárias sem as quais meu cor-
com nenhuma criatividade do educando. Não faz parte de po, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser
sua forma de ser, esperar, sequer, que o educando revele o o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa
gosto de aventurar-se. (p.92-93) mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se,
(...)O educando que exercita sua liberdade ficará tão cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos,
mais livre quanto mais eticamente vá assumindo a responsa- não canso de me admirar. (p.102-103)
bilidade de suas ações. Decidir é romper e, para isso, preciso
correr o risco. (...) (p.93) 3.4 - Ensinar exige liberdade e autoridade (p.104 a
Me movo como educador porque, primeiro, me movo 108)
como gente. (p.94) O que sempre deliberadamente recusei, em nome do
Ensinar e, enquanto ensino, testemunhar aos alunos o próprio respeito à liberdade, foi sua distorção em licencio-
quanto me é fundamental respeitá-los e respeitar-me são sidade. O que sempre procurei foi viver em plenitude a re-
tarefas que jamais dicotomizei. (p.94) lação tensa, contraditória e não mecânica, entre autoridade
Como professor, tanto lido com minha liberdade quanto e liberdade, no sentido de assegurar o respeito entre am-
com minha autoridade em exercício, mas também direta- bas, cuja ruptura provoca a hipertrofia de uma ou de outra.
mente com a liberdade dos educandos, que devo respei- (p.108)
tar, e com a criação de sua autonomia bem como com os A posição mais difícil, indiscutivelmente correta, é a
anseios de construção da autoridade dos educandos. (p.95) democrata, coerente com seu sonho solidário e igualitário,
para quem não é possível autoridade sem liberdade e esta
3.2 - Ensinar exige comprometimento (p.96 a 98) sem aquela. (p.108)
Saber que não posso passar despercebido pelos alunos,
e que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda 3.5 - Ensinar exige tomada consciente de decisões
no cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em (p.109 a 113)
mim os cuidados com meu desempenho. Se a minha opção Voltemos à questão central que venho discutindo nesta
é democrática, progressista, não posso ter uma prática rea- parte do texto: a educação, especificidade humana, como
cionária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o aluno um ato de intervenção não está sendo usado com nenhuma
em nome de nenhum motivo. (p.97) restrição semântica. Quando falo em educação como inter-
Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, venção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na
de comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Mi- sociedade, no campo da economia, das relações humanas,
nha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Éti- da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à
co, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho. (p.98) saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente pre-
tende imobilizar a História e manter o ordem injusta. (p.109)
3.3 - Ensinar exige compreender que a educação é A educação não vira política por causa da decisão deste
uma forma de intervenção no mundo. (p.98 a 104) ou daquele educador. Ela é política. (p.110)
Outro saber de que não posso duvidar um momento O que devo pretender não é a neutralidade da educação
sequer na minha prática educativo-crítica é o de que, como mas a respeito, a toda prova, aos educandos, aos educa-
dores e às educadoras. O respeito aos educadores e edu-

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GESTÃO E CONHECIMENTO

cadoras por parte da administração pública ou privada das me bater por uma legislação que o defenda contra as arran-
escolas; o respeito aos educandos assumido e praticado cadas agressivas e injustas de que transgride a própria ética.
pelos educadores não importa de que escola, particular ou (p.129)
pública. É por isto que devo lutar sem cansaço. Lutar pelo É exatamente por causa de tudo isso que como profes-
direito que tenho de ser respeitado e pelo dever que tenho sor, devo estar advertido do poder do discurso ideológico,
de reagir a que me destratem . Lutar pelo direito que você, começando pelo que proclama a morte das ideologias. Na
que me lê, professora ou aluna, tem de ser você mesma e verdade, só ideologicamente posso matar as ideologias, mas
nunca, jamais, lutar por essa coisa impossível, acinzentada e é possível que não perceba a natureza ideológica do dis-
insossa que é a neutralidade. (p.111-112) curso que fala de sua morte. No fundo, a ideologia tem um
(...) O educador e a educadora críticos não podem pen- poder de persuasão indiscutível. O discurso ideológico nos
sar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário ameaça de anestesiar a mente, de confundir, das coisas, dos
que lideram, podem transformar o país. Mas podem de- acontecimentos. Não podemos escutar, sem um mínimo de
monstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a reação crítica, discursos como estes: (p.132)
importância de sua tarefa político-pedagógica. (p.112)
“O negro é geneticamente inferior ao branco. É uma
3.6 - Ensinar exige saber escutar (p.113 a 125) pena, mas é isso o que a ciência nos diz.”
Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me “Em defesa de sua honra, o marido matou a mulher.”
confirma como gente e que jamais deixou de provar que o “Que poderíamos esperar deles, uns baderneiros, invaso-
ser humano é maior do que mecanismos que o minimizam. res de terra?”
(p.115) “Essa gente é sempre assim: damos-lhe os pés e logo quer
Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de as mãos.”
professores vêm se assumindo cada vez mais como discur- “Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa. Per-
sos verticais, de cima para baixo, mais insistindo em passar guntar-lhe seria uma perda de tempo.”
por democráticos. A questão que se coloca a nós, enquanto “O saber erudito a ser entregue às massas incultas é a sua
professores e alunos críticos e amorosos da liberdade, não salvação.”
é, naturalmente, ficar contra a avaliação, de resto necessá- “Maria é negra, mas é bondosa e competente.”
ria, mas resistir aos métodos silenciadores com que ela vem “Esse sujeito é um bom cara. É nordestino, mas é sério e
sendo às vezes realizada. A questão que se coloca a nós é prestimoso”.
lutar em favor da compreensão e da prática da avaliação en- “Você sabe com quem está falando?”
quanto instrumento de apreciação do que fazer de sujeitos “Que vergonha, homem se casar com homem, mulher se
críticos a serviço, por isso mesmo, da libertação e não da casar com mulher.”
domesticação. (...) (p.116) “É isso, você vai se meter com gentinha, é o que dá.”
Por isso é que, acrescento, quem tem o que dizer deve “Quando negro não suja na entrada, suja na saída.”
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no “O governo tem que investir mesmo é nas áreas onde
sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. É intole- mora gente que paga imposto.”
rável o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário “Você não precisa pensar. Vote em fulano, que pensa por
de comportar-se como proprietário da verdade(...). (p.117) você.”
Que me seja perdoada a reiteração, mas é preciso enfa- “Você, desempregado, seja grato. Vote em quem ajudou
tizar, mais uma vez: ensinar não é transferir a inteligência do você. Vote em fulano de tal.”
objeto ao educando mas instigá-lo no sentido de que, como “Está se vendo, pela cara, que se trata de gente fina, de
sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar trato, que tomou chá em pequeno e não de um pé-rapado
o inteligido. É nesse sentido que se impõe a mim escutar o qualquer.”
educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua incom- “O professor falou sobre a Inconfidência Mineira.”
petência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele. “O Brasil foi descoberto por Cabral.” (p.133)
(p.119)
Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes (...) o melhor caminho para guardar viva e desperta a
sem o que a escuta não se pode dar. (p.120) minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de
Ninguém pode conhecer por mim assim como não pos- ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me deixar
so conhecer pelo aluno. (p.124) exposto às diferenças, é recusar posições dogmáticas, em
que me admita como proprietário da verdade. (...) (p.134)
3.7 - Ensinar exige reconhecer que a educação é
ideológica. (p.125 a 134) 3.8 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. (p.
Há um século e meio Marx e Engels gritavam em favor 135 a 140)
da união das classes trabalhadoras do mundo contra sua es- Como professor não devo poupar oportunidade para
poliação. Agora, necessária e urgente se fazem a união e a testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto
rebelião das gentes contra a ameaça que nos atinge, a dos à ao discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor minha
“fereza” da ética do mercado. (p.128) posição em face de uma decisão governamental. (p.135)
Prefiro ser criticado como idealista e sonhador invete- Me sinto seguro porque não há razão para me
rado por continuar, sem relutar, a aposta no ser humano, a envergonhar por desconhecer algo. (p.135)

59
GESTÃO E CONHECIMENTO

O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; há anos. Infelizmente, os docentes, abatidos pelo desrespei-
o amanhã já está feito. Tudo muito rápido. Debater o que to do sistema arcaico e preferem trilhar o caminho mais fácil,
se diz e o que se mostra e como se mostra na televisão me porque afinal ouvir o outro requer tempo, sensibilidade, cri-
parece algo cada vez mais importante. (p.139) ticidade e afinal eles “não são pagos para isso”.
Como educadores e educadoras progressistas não ape- Um professor que tem vocação, é uma arma perigo-
nas não podemos desconhecer a televisão mas devemos sa, pois ele pode trabalhar não apenas com os conteúdos,
usá-la, sobretudo, discuti-la.(p.139) como também levar o indivíduo a pensar. Pensar sobre coi-
O poder dominante, entre muitas, leva mais uma van- sas simples e acreditar que é possível mudar. Fazemos parte
tagem sobre nós. É que, para enfrentar o ardil ideológico da transformação e ela pode começar por nós. A educação
de que se acha envolvida a sua mensagem na mídia, seja é a chave da mudança!
nos noticiários, nos comentários aos acontecimentos ou na Freire fala sobre a importância que existe na afetividade
linha de certos programas, para não falar na propaganda relacionada a discente- docente, pois de fato é arbitrário es-
comercial, nossa mente ou nossa curiosidade teria de fun- tabelecer uma construção de saber, dado por troca, sem que
cionar epistemologicamente todo o tempo. E isso não é fácil. haja alegria, vivacidade, competência, respeito e capacidade.
(p.140) O modo como o aluno vê o educador, é outro ponto que me
chamou atenção, pois a postura apresentada deve estar em
3.9- Ensinar exige querer bem aos educandos (p.141 harmonia com o discurso ético deste profissional.
a 146) Vale ressaltar que o grau de comprometimento com o
(...) A afetividade não se acha excluída da cognoscibili- trabalho define seu resultado, isto vale para todas as par-
dade. O que não posso obviamente permitir é que minha tes envolvidas no processo de aprendizagem, o preparo é
afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever primordial. Estabelecer limites não implica em ser sisudo, a
de professor no exercício de minha autoridade. Não posso liberdade é tão importante quanto o respeito, muito embora
condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao essas linhas tênues se percam, não é válido assumir o modo
maior ou menor bem querer que tenha por ele. (p.141) silenciador, fazendo do educando mero receptador.
(...) A alegria não chega apenas no encontro do achado Trabalhar com gente, nunca foi tarefa fácil, mas de certo
mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender é uma experiência incrível. Que se valha da esperança nos
não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da momentos de angústia e olhando adiante, vejamos que é
alegria. (...). (p.142) possível prosseguir um pouco mais e sempre mais. Desistir
(...) É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, não faz parte do perfil vencedor. A leitura foi de grande valia,
que explica a quase devoção com que a grande maioria do certamente contribuiu muito em meu conhecimento.
magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos salá-
rios. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode, seu TRECHOS IMPORTANTES DO LIVRO
dever. Amorosamente, acrescento. (p.142)
(...) A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, “Ensinar não e transferir conhecimento, mas criar possi-
capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança bilidades para a sua produção ou a sua construção.” (p.22)
ou, lamentavelmente, da permanência do hoje.(...). (p.143)
(...) Se não posso, de um lado, estimular os sonhos im- “Quem forma-se forma é reforma ao formar e quem é
possíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito formado forma-se e forma ao ser formado. (...). Não há do-
de sonhar. Lido com gente e não com coisas. (...).(p.144) cência sem decência, as duas se explicam. (...). Quem ensina
(...) Como prática estritamente humana jamais pude en- aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”
tender a educação como uma experiência fria, sem alma. (...). (p.23)
(p.145)
Estou convencido, porém de que a rigosidade, a séria dis- “Ensinar não se esgota no ‘tratamento’ do objeto ou do
ciplina intelectual, o exercício da curiosidade epistemológica conteúdo, superficialmente feita, mas se alonga à produção
não me faz necessariamente um ser mal-amado, arrogante, das condições em que aprender criticamente e possível.”
cheio de mim mesmo. Ou, em outras palavras, não é a mi- (p.26)
nha arrogância intelectual a que fala de minha rigorosidade
científica. Nem a arrogância é sinal de competência nem a “Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às ve-
competência é causa de arrogância. Não nego a competên- zes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo.”
cia, por outro lado, de certos arrogantes, mas lamento neles (p.27)
a ausência de simplicidade que, não diminuindo em nada seu
saber, os faria gente melhor. Gente mais gente. (p.146) “O professor que pensa certo deixa transparecer aos
educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de es-
Realmente ler a obra de Freire (especificamente o ca- tar no mundo e com o mundo (...), e a capacidade de inter-
pítulo 3), nos faz refletir acerca de questões no qual esta- vindo no mundo conhecer o mundo.” (p.28)
mos inseridas e por vezes não percebemos. Seguimos numa
ingenuidade imperdoável, enquanto isso os manipuladores “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino (...).
permanecem como tais. Perceber a postura do professor Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comuni-
nesta visão é lamentar o quão longe estamos de algo dito car ou anunciar a novidade” (p.29)

60
GESTÃO E CONHECIMENTO

“Só os seres que se tornaram éticos podem romper com


“Não há para mim, na diferença e na “distancia” entre a a ética. (...) Não foi possível existir sem assumir o direito e o
ingenuidade e a praticidade (...). A superação e não a ruptura dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. E tudo
se da na medida em que a curiosidade ingênua se criticiza.” isso nos traz de novo a imperiosidade da pratica formadora,
(p.31) de natureza eminentemente ética.” (p.52)

“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um
move e que nos põe pacientemente em pacientes diante do ser condicionado, mas, consciente do inacabamento (inaca-
mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fa- bado), sei que posso ir além dele.” (p.53)
zemos. A necessária promoção da ingenuidade à criticidade
não pode ou não deve ser feita a distância de uma rigorosa “Minha presença no mundo não e de quem a ele se
formação ética ao lado sempre da estética.” (p.32) adapta, mas e de quem nele se insere. E a posição de quem
luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da his-
“O professor que realmente ensina nega como falca, a tória.” (p.54)
formula farisaica do ‘faço o que eu mando e não o que eu
faço’ (...). Pensar certo e fazer certo. (...). Não há pensar certo “A inconsciência do inacabamento entre nos, mulheres e
fora de uma pratica testemunhal que o re-diz no lugar de homens, nos fez seres responsáveis, daí a eticidade de nossa
desdizê-lo.” (p.34) presença no mundo.” (p.56)

“Faz parte do pensar certo o gosto da generosidade “A consciência do mundo e a consciência de si como ser
que, não negando a quem o tem o direito à raiva, a distingue inacabado necessariamente inscreve o ser consciente de sua
da raivosidade irrefreada.” (p.35) inclusão num permanente conhecimento de busca.” (p.57)

“Faz parte igualmente do pensar certa a rejeição mais “Estar no mundo sem fazer história sem por ela ser feita
decidida a qualquer forma de descriminação. A pratica pre- (...) sem politizar não e possível. Mulheres e homens se tor-
conceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substan- naram educáveis na medida em que se reconheceram ina-
tividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.” cabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens
(p.36) educáveis, mas a consciência de sua de sua inclusão é que
gerou sua educabilidade.” (p.58)
“Às vezes, mal se imagina o que pode se passar ao re-
presentar na vida de um aluno um simples gesto do profes- “O inacabamento de que nos tornamos consciente nos
sor.” (p.42) fez seres éticos (...) a possibilidade do desvio ético não pode
receber outra designação se não a de transgressão. O pro-
“Este saber, o da importância desses gestos que se mul- fessor que desrespeita a curiosidade do educando.” (p.59)
tiplicam diariamente nas tramas do espaço escolar, e algo
sobre o que teríamos de refletir seriamente.” (p.43) “Transgride os princípios fundamentalmente éticos de
nossa existência.” (p.60)
“Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se
aliado, de um lado, do exercício da criticidade que implica “O exercício do bom senso com o qual só temos o que
a promoção da curiosidade ingênua à curiosidade espite- ganhar se faz do ‘corpo’ da curiosidade.” (p.62)
mológica, e de outro, sem o reconhecimento do valor das
emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou “Como na verdade posso eu continuar falando no res-
adivinhação.” (p.45) peito à dignidade do educando se o ironizo (...). Se o tes-
temunho que a ele dou e da irresponsabilidade (...). A res-
“Quando entra em uma sala de aula devo estar sendo ponsabilidade do professor, de que às vezes não nos damos
um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos conta, e sempre grande.” (p.65)
alunos, as suas inibições (...). Como professor no curso de
formação docente não posso esgotar minha prática discur- “Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa
sando sobre a Teoria da não extensão do conhecimento.” dos direitos dos educadores.” (p.66)
(p.47)
“Em nome do respeito que devo ao aluno não tenho por
“O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo con- que me omitir, por que me ocultar a minha opção política
creto, pratico, da teoria. Sua encarnação.” (p.48) assumindo uma neutralidade que não existe. Esta, a omissão
do professor em nome do respeito ao aluno, talvez seja a
“Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo e a melhor maneira de desrespeitá-lo.” (p.71)
maneira radical como me experimento enquanto ser cultu-
ral, histórico, inacabado e consciente do inacabamento. (...) “O meu envolvimento com a pratica educativa, sabida-
Onde a vida há inacabamento.” (p.50) mente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser fei-
to com alegria. (...) Há uma relação entre a alegria necessária

61
GESTÃO E CONHECIMENTO

à atividade educativa e a esperança. (...) A esperança é uma mim os cuidados com meu desempenho. (...) Não posso dis-
espécie de ímpeto natural possível e necessário, a desespe- criminar o aluno em nome de nenhum motivo.” (p.97)
rança é o aborto deste ímpeto.” (p.72)
“Nada justifica a minimização dos seres humanos, no
“O mundo não é. O mundo está sendo.” (p.76) caso das maiorias composta de minorias que não percebe-
ram ainda que juntas seriam a maioria. (...) Falo da resistên-
“A mudança do mundo implica a dialetização entre a cia, da indignação, da “justa ira” dos traídos e dos engana-
denúncia da situação desumanizante e o anuncio de sua su- dos. Do seu direito e do seu dever de rebelar-se contra as
peração, no fundo, o nosso sonho. (...) mudar é difícil, mas é transgressões éticas de que são vitimas cada vez mais sofri-
possível (p.79) das. (p.101)

“Como professor devo saber que sem a curiosidade que “Não posso ser professor sem me achar capacitado para
me move, que me inquieta, que me insere na busca, não ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina. (...) É
aprendo nem ensino.” (p.85) importante que os alunos percebam o esforço que faz o pro-
fessor ou a professora procurando a sua coerência.” (p.103)
“O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a in-
tuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de compa- “Ensinar exige liberdade e autoridade.” (p.104)
rar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua
razão de ser.” (p.88) “A liberdade sem limite e tão negada quanto a liber-
dade asfixiada ou castrada. (...) Quanto mais criticamente a
“A segurança com que a autoridade docente se move liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade
implica outra, a que se funda na sua competência profissio- tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu
nal” (p.91) nome. (p. 105)

“A segurança com que a autoridade docente se move “Ninguém e autônomo primeiro para depois decidir.
implica outra, a que se funda na sua competência profissio- A autonomia vai se construindo na experiência de várias,
nal” (p.91) inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. (...) A gente
vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia enquan-
“Há professores e professoras cientificamente depa- to amadurecimento do ser para si, e processo, e vir a ser.”
rados, mas autoritários a toda prova. (...) ”Outra qualidade (p.107)
indispensável à autoridade em suas relações com as liberda-
des e a generosidade.” (p.92) “Ensinar exige saber escutar. (...) O educador que escuta
aprende a difícil missão de transformar o seu discurso, às
“A autoridade coerentemente democrática, fundando- vezes e necessário, ao aluno, em fala com ele.” (p.113)
-se na certeza da importância, quer de si mesma, quer da
liberdade dos educandos para construção de um clima de “No processo da fala e da escuta a disciplina do silencio
real disciplina, jamais minimiza a liberdade. (...) O educan- a ser assumida com rigor e a seu tempo pelos sujeitos que
do que exercita sua liberdade ficará tão mais livre quanto falam e escutam e um ‘sine Qua’ [sem o qual não pode ser]
mais eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas da comunicação dialógica. (...) É preciso, porém, que quem
ações.” (p.93) tem o que dizer saiba sem sombra de duvidas, não ser o
único ou a única a ter o que dizer.” (p.116)
“No fundo, o essencial nas relações entre o educador e
o educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães, “A importância do silencio no espaço da educação e
filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado fundamental.” (p.117)
de sua autonomia.” (p.94)
“Escutar e obviamente algo que vai mais além da possi-
“O ensino dos conteúdos implica o testemunho ético do bilidade auditiva de cada um. Escutar significa (...) abertura
professor (...) não há lugar para puritanismo. Só há lugar para a fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro.”
pureza. (...) A minha pura fala sobre estes direitos a que não (p.119)
corresponda a suas concretizações não tem sentido.” (p.95)
“Uma das tarefas essenciais da escola, como centro de
“Não e possível exercer a atividade do magistério como produção sistemática de conhecimento, é trabalhar critica-
se nada ocorresse conosco. (...) Não posso escapar à aprecia- mente a inteligibilidade das coisas e dos fatos e sua comu-
ção dos alunos.” (p.96) nicabilidade.” (p.123)

“Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, “Ninguém pode conhecer por mim assim como não
e que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda posso conhecer pelo aluno.” (p.124)
no cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em

62
GESTÃO E CONHECIMENTO

“Ensinar exige reconhecer que a educação e ideológica. os sentimentos (...) devessem ser reprimidos por uma espé-
Saber igualmente é fundamental à pratica educativa do pro- cie de ditadura racionalista.” (p.145)
fessor ou da professora é o que diz respeito à força as vezes
maior do que pensamos, da ideologia.” (p.125) “Não nego a competência, por outro lado, de certos
arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade
“A capacidade de nos amaciar que tem a ideologia nos que, não diminuindo em nada seu saber, os faria gente me-
faz às vezes mansamente aceitar que a globalização da eco- lhor. Gente mais gente.” (p.146)
nomia e uma invenção dela mesma ou de um destino que
não poderia se evitar.” (p.126)
FREITAS, DIRCE NEI TEIXEIRA DE. A
“O discurso da globalização que fala da ética esconde, AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
porém, que a sua é a ética do mercado e não a ética univer- NO BRASIL: DIMENSÃO NORMATIVA,
sal do ser humano, pela qual devemos lutar.” (p.127) PEDAGÓGICA E EDUCATIVA. CAMPINAS:
AUTORES ASSOCIADOS, 2007.
“A liberdade do comercio não pode estar a cima da li-
berdade do ser humano.” (p.129)
A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL:
“O desemprego do mundo não é, (...) uma fatalidade.”
DIMENSÃO NORMATIVA, PEDAGÓGICA E
(p.130)
EDUCATIVA
“Ensinar exige uma disponibilidade para dialogo. (...) Escrito originalmente como tese de doutoramento da
Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e autora, o texto aborda o complexo tema da avaliação da
de que ignoro algo a que se junta a certeza de que posso perspectiva de sua utilização no campo da política pública
saber melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei. (...) para a educação básica, no Brasil, no período 1988-2002.
não há razão para me envergonhar por desconhecer algo.” A atualidade e importância acadêmica dessa aborda-
(p.135) gem são inegáveis. A produção sobre a avaliação em larga
escala no país mostra-se não só escassa, mas polarizada en-
“Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao tre a crítica da sua lógica economicista e a afirmação da ne-
mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a cessidade de aprimorá-la e bem utilizá-la como ferramenta
múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros de regulação do Estado. Neste segundo polo, as abordagens
se tornam transgressão ao impulso natural da incompletu- descritivo-analíticas são comuns, enquanto no primeiro es-
de.” (p.136) tão as análises voltadas à crítica ideológica e política das ini-
ciativas estatais.
“O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; Sem cair nessa polarização, a autora oferece elemen-
o amanhã já este feito. Tudo muda rápido.” (p.139) tos para o leitor pensar o Estado-avaliador brasileiro como
síntese do Estado-regulador e do Estado-educador. Anali-
“Ensinar exige querer bem aos educandos. (...) preciso sa como se deu a emergência e a afirmação da avaliação
estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de em larga escala na regulação da educação básica no país e
querer bem aos educandos e à própria pratica educativa de como ela operou enquanto ação educativa estatal. Orienta
que participo. (...) Não e certo, sobre tudo do ponto de vista os seus procedimentos no sentido de conhecer o processo,
democrático, que serei tão melhor professor quanto mais sua razão de ser, sua força normativa, natureza pedagógica
severo, mais frio, mais distante e ‘cinzento’. (...) O que não e suas implicações educativas.
posso obviamente permitir e que minha afetividade interfira No primeiro capítulo, por meio de uma retrospectiva
no cumprimento ético do meu dever de professor no exercí- histórica institucional, a autora mostra como, no caso brasi-
cio de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação leiro, a avaliação veio a se tornar uma importante ferramenta
do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menos bem de política pública no campo da educação básica, explici-
querer que tenha por ele.” (p.141) tando as vias utilizadas, as articulações estabelecidas, os fa-
tores impulsionadores, as “razões de Estado”, bem como a
“E esta força misteriosa, às vezes chamada vocação que posição dos agentes e interlocutores estratégicos na relação
explica a quase devoção com que a grande maioria do mi- entre Estado, sociedade e educação.
nistério nele permanece, apesar da imoralidade dos salários.
(...) Mas e preciso, sublime, que, permanecendo e amorosa- A autora observa que somente ao término dos anos
mente cumprindo seu dever, não deixe de lutar politicamen- 1980 o interesse estatal pela avaliação culminaria numa prá-
te, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de sua ta- tica mais sistemática e de larga escala que, coerente com o
refa, assim como pelos erros devido ao espaço pedagógico projeto de modernização da administração estatal, se dis-
em que atua com seus alunos.” (p.142) tancia do debate acadêmico sobre educação e democracia
desse período. No contexto da crescente internacionaliza-
“Como pratica estreitamente humana jamais pude en- ção do trato das questões educacionais, ela seria um “dispo-
tender a educação como experiência fria, sem alma em que sitivo” útil na mediação entre o local e o global.

63
GESTÃO E CONHECIMENTO

A retrospectiva termina chamando a atenção para pe- meios e as formas de atuação do Estado que caracterizam a
culiaridades do Estado brasileiro do período 1930-1988, que dimensão pedagógica e configuram os aspectos formativos
seriam importantes para a compreensão da ação reguladora do agir estatal.
e educadora do Estado. Afirma a autora que essa ação se Apoiando-se na noção “Estado-educador” de Gramsci,
configura na inexistência de um projeto hegemônico (eco- as análises da autora podem ser questionadas por algum
nômico e político), o que enseja reformismo com uma agen- marxiano de “plantão” que assevera ser o “[...] Estado que
da restritiva para a área social. No caso da educação básica, necessita [...] uma educação severa” (Marx, 1975, p.56). To-
a estratégia de descentralização conjugada com o controle davia, tal discussão não cabe no momento, importa lembrar
centralizado passa a ter na avaliação externa e em larga es- que, “[...] tendo natureza histórica, o Estado-educador e o
cala importante ferramenta. Estado-avaliador emergem do contexto histórico que define
No segundo capítulo, a autora trata do processo de e emoldura o próprio Estado e a sua relação com a socieda-
montagem e instituição do complexo de regulação “medi- de” (p. 134).
da-avaliação-informação” da educação básica brasileira, no De fato, a reestruturação da organização e gestão do
período 1988-2002, cujo intuito seria vencer a falta de equi- sistema educacional na América Latina ocorrida nos anos
dade, qualidade e eficiência na educação brasileira. Nessa 1990 trouxe, em graus diferenciados, a mudança do caráter
direção, por meio de um competente tratamento descritivo regulador do Estado com a crescente importância das redes
e analítico-crítico do processo normativo legal, mostra como de informação e comunicação, para facilitar e fortalecer a
se deu a afirmação da avaliação como ferramenta da nova capacidade de gestão nos diferentes níveis do sistema.
regulação educacional no país.
No Brasil, o Estado-avaliador resultaria do empenho do
O Estado brasileiro, segundo a autora, cuidou não ape- Estado-educador em difundir
nas de estabelecer normas jurídico-legais e político-admi- [...] determinados conhecimentos, valores e visões de
nistrativas com vistas às mudanças pretendidas, mas agiu mundo, signos e símbolos da cultura hegemônica, tendo
operacionalmente por meio da avaliação em larga escala sido ela condicionada por uma “agenda globalmente es-
e da concentração da informação educacional. Com isso, truturada para a educação”. Isso se deu especialmente por
ocorreu meio de fixação de parâmetros e diretrizes curriculares na-
[...] acentuada subordinação do CNE ao MEC, com o que cionais, de certo controle editorial, de um “novo” modelo
a ação normativa desse órgão reforçou a regulação central de gestão e de mecanismos e de práticas de controle e de
[...] Em contrapartida, o INEP concentrou poder decisório e avaliação. (p.112)
operacional, tornando-se o órgão “mensurador-avaliador” No avanço do Estado-avaliador, a avaliação “[...] passou
da educação no país. Esses caminhos ensejaram uma am- a ser uma das mediações imprescindíveis e valorizadas num
pliação extraordinária do aparato de regulação do Estado planejamento cuja conformação tem-se dado [...] na/pela
central. (p.120) relação entre âmbitos internacional, nacional e local [...]” (p.
Para evidenciar sua constatação, Freitas apresenta 140). Assim, o Estado-avaliador se firmou e ascendeu “[...]
(p.128-132) dois quadros nos quais elenca as normas, as pelo rearranjo institucional e administrativo estratégico para
ações e os eventos realizados como fórum de discussão e que o projeto de modernização conservadora da sociedade
mobilização das ações governamentais para a educação bá- brasileira lograsse ser hegemônica no País” (p. 148).
sica no Brasil. Ninguém melhor do que a própria autora poderia sin-
No entanto, a montagem do aparato para medir-ava- tetizar a conclusão de sua pesquisa, que, aliás, deve figurar
liar-informar, sua expansão e contínua calibração têm, se- como obrigatória na bibliografia sobre avaliação da educa-
gundo a autora, relativo êxito na regulação da educação ção básica: “reconhece-se a legitimidade e a indispensabili-
básica, pois “[...] a realidade escolar insiste em descortinar dade do Estado-educador para qualificar a educação básica
os estreitos limites dentro dos quais tal aparato opera, bem brasileira, como, também, a possibilidade de que o Esta-
como as análises reducionistas que propicia” (p. 98). do-avaliador se constitua em uma mediação profícua para
Para Freitas, o desafio passa pelo estabelecimento de tanto” (p. 151). Ou seja, a rigor, a autora conclui pela pre-
políticas públicas que contemplem a “escola real”, que com- servação da atuação estatal como o agente habilitado para
partilha cotidianamente com alunos e professores o “mal- gerenciar os destinos da educação básica, contudo, aponta
-estar social” que vigora numa sociedade e Estado minima- algumas condições necessárias para que se impeça o des-
mente comprometidos com o bem-estar social. virtuamento que ocorre no interior do Estado, como, por
No terceiro capítulo, a autora passa para o seu propó- exemplo, “[...] a atuação efetiva de um Estado provedor do
sito final: o funcionamento do complexo de regulação edu- direito à educação de todos, sem exceções e sem soluções
cacional pelo qual o Estado-educador se manifestou e ope- precárias [...]” (p. 151).
rou como Estado-avaliador. Tendo passado em “revista” a Finalmente mister se faz deixar claro que apresentamos
dimensão normativa do Estado brasileiro no que diz respeito apenas um “trailer” do riquíssimo estudo realizado pela au-
à avaliação da educação básica, a autora caminhou para evi- tora à guisa de um convite para que o leitor, especialmente
denciar como se deu a tessitura das dimensões pedagógica aqueles interessados na avaliação da educação básica, confi-
e educativa da ação estatal. Para isso busca os princípios, os ra, na íntegra, a contribuição da autora. Contudo, alertamos:
o texto não contém “receitas” de alcance limitado e até du-
vidoso, trata-se de uma reflexão teórica densa recomendada

64
GESTÃO E CONHECIMENTO

como fonte de consulta. Melhor dizendo, sem querer sepa- propósito de desenvolver uma perspectiva mental diferente,
rar os aspectos teóricos e as aplicações práticas, o estudo que resulte em novas formas de pensar e agir, capazes de
de Freitas não se configura “um manual de avaliação”, isto permear a vida quotidiana das escolas. Porque o ensino não
é, um livro no qual os educadores “aprenderiam” a avaliar pode ser estandardizado, preconizam uma ação baseada na
seus alunos. experimentação de novas abordagens: experiências infor-
madas, busca de rumos promissores e testagem e redefini-
O que os formadores e os “formadores de formadores” ção de novas estruturas. Sugerem, para isso, um conjunto de
nele encontrarão são os fundamentos da avaliação em larga orientações para os professores, considerando que são eles
escala e sua utilização como estratégia de governo, com o o alicerce de qualquer solução a longo prazo:
fito de reger e controlar a educação básica no Brasil. Assim,
• Localize, escute e articule a sua voz interior.
poderão esclarecer a seus alunos, e futuros educadores, o
que representa no cotidiano da escola e na avaliação de sala • Pratique a reflexão na ação.
de aula o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
• Desenvolva uma mentalidade orientada para o risco.
(Saeb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros.
Em suma, não se trata de uma leitura fácil, nem poderia, • Confie nos processos, bem como nas pessoas.
visto ser resultado de uma tese de doutoramento, mas cer-
tamente quem se dispuser a ler, mesmo que por diletantis- • Ao trabalhar com os outros, aprecie a pessoa na sua
mo, se surpreenderá com a excelente qualidade do texto. A íntegra.
autora, como ocorre com os grandes escritores, leva a sério • Empenhe-se em trabalhar com os seus colegas.
o seu assunto.
Ainda há, nesse livro, um último aspecto que deve ser • Procure a diversidade e evite a balcanização.
ressaltado, a autora parece não temer o debate. Com ousa- • Redefina o seu papel, de modo a incluir responsabi-
dia e contra uma tendência quase hegemônica no interior lidades fora da sala de aula.
da intelectualidade brasileira, Freitas afirma e argumenta a
improcedência da tese de se atribuir a iniciativa do Estado • Equilibre trabalho e vida privada.
brasileiro de introduzir a regulamentação avaliativa na edu- • Pressione e apoie os diretores e outros administra-
cação básica desde a imposição de organismos internacio- dores, no sentido de desenvolverem um profissiona-
nais, embora não seja ingênua a ponto de negar a nítida lismo interativo.
influência deles em tal iniciativa. A coragem da autora vai
além ao afirmar que é igualmente improcedente a tese de • Empenhe-se no aperfeiçoamento contínuo e na
se atribuir ao Governo FHC (1995-2002) a exclusiva respon- aprendizagem permanente.
sabilidade pela criação das condições potencializadoras da • Monitorize e fortaleça a ligação entre o seu desen-
força normativa do Estado na educação básica. Enfim, entre volvimento e o dos alunos.
o risco do “adesismo” e o risco de expor teoricamente, pre-
feriu o último. A nosso ver, uma boa escolha, pois assim seu (Fullan e Hargreaves, 2001, p.113)
trabalho será um estímulo ao debate e à pesquisa na área.
Além do excelente nível de produção acadêmica, o texto Esta proposta de profissionalismo interativo centra-se
é um exemplo de trabalho metodologicamente fecundo e como vimos no professor enquanto pessoa. Parece-nos fun-
rigoroso, e, ao mesmo tempo, historicamente rico e desafia- damental esta concepção de desenvolvimento profissional
dor, pois aponta possibilidades para novas pesquisas. centrado na valorização de qualidades humanas e nas rela-
ções que as pessoas estabelecem nos seus contextos de tra-
Referência balho. Mas as pessoas não mudam de um dia para o outro
Dirce Nei Teixeira de Freitas Campinas, SP: Autores As- e, por isso, a mudança na escola terá que ser inevitavelmente
sociados, 2007, 224 p. lenta e voluntária porque os professores só alterarão os seus
modos de agir e de trabalhar se encontrarem na mudança
algum sentido e alguma gratificação.
FULLAN, MICHAEL E HARGREAVES,
ANDY. A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO É POSSÍVEL FAZER DA ESCOLA UM LUGAR
APRENDENTE: BUSCANDO UMA EDUCAÇÃO DE CONHECIMENTO PARA TODOS
DE QUALIDADE. PORTO ALEGRE: ARTES
Hoje, não são poucos os pesquisadores e profissionais
MÉDICAS SUL, 2003. da educação que defendem a escola como um possível e
privilegiado espaço de aprendizagem para todos – alunos,
profissionais, familiares e comunidade em geral.
Fullan e Hargreaves (2001) afirmam que, mais impor- Há quem prefira chamar uma escola desse tipo de „refle-
tante do que conseguir afastar professores ineficazes, é per- xiva‟, como é o caso de Isabel Alarcão (2001), há quem pre-
ceber como se podem preparar, sustentar e motivar bons fira chamá-la de „organização aprendente‟, como Michael
docentes ao longo da carreira. A solução que propõem tem Fullan, Andy Hargreaves (2000) e outros tantos. Rui Canário
a ver com o conceito de profissionalismo interativo, com o (2000), por exemplo, afirma que esse sentido metafórico de

65
GESTÃO E CONHECIMENTO

„organização aprendente‟, de „escola que aprende‟ se colo- res cada vez melhores em sua profissão: „Tudo isto significa
ca quando aprendem coletivamente os seus atores, os seus que é muito mais fácil aprender a ensinar, e aprender a en-
autores, os sujeitos que nela atuam. sinar melhor, em algumas escolas do que em outras‟. Para
Uma escola que aprende pode ser também uma esco- Rosenholtz, o efeito mais importante da colaboração entre
la que produz conhecimento – à medida que os seus edu- os professores é seu impacto sobre a incerteza do trabalho
cadores assumem o desafio de pesquisar respostas para as que, quando enfrentada sem ajuda, pode diminuir dema-
questões que se colocam no exercício da profissão e de sis- siadamente o senso de confiança de um professor. Da mes-
tematizar os saberes construídos nesse processo. Essa pos- ma maneira, outros dois estudiosos, Ashton e Webb (1986),
sibilidade certamente pressupõe a transformação da cultura descobriram que o principal benefício da colaboração é sua
predominante nas escolas, conservadora, que, além de não capacidade de reduzir a sensação de impotência dos pro-
favorecer a aprendizagem e a pesquisa, em geral dificulta. fessores e aumentar sua sensação de eficiência” (Fullan e
Para que a escola possa se constituir e se consolidar Hargreaves: 2000).
como um lugar de aprendizagem e de produção de conhe-
cimento, portanto, é preciso que se converta em um contex- Fonte
to propício para relações interpessoais solidárias, trabalho RAPOSO; Ana (2012). Professores e contextos de traba-
coletivo e desenvolvimento profissional contínuo, apoiado lho: como se tece a ação docente numa escola em mudança.
no estudo, na reflexão sobre a prática, na discussão de si- SOLIGO, R. Escola - lugar de aprendizagem de todos.
tuações-problema e respostas para elas, na investigação de
questões relevantes para a comunidade escolar. Referência
Utilizando como referência o conceito de professor FULLAN, Michael e HARGREAVES, Andy. A Escola como
reflexivo, hoje bastante difundido e aceito, Isabel Alarcão organização aprendente: buscando uma educação de quali-
desenvolve, por analogia, o conceito de escola reflexiva e dade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2003.
apresenta dez ideias que traduzem o seu pensamento a esse
respeito, aqui resgatadas, ampliadas e ilustradas com o de-
poimento de dez educadores brasileiros. Em linhas gerais, LA TAILE, YVES; OLIVEIRA, MARTA KOHL
são estas as ideias: DE; DANTAS, HELOYSA. PIAGET, VYGOTSKY
E WALLON: TEORIAS PSICOGENÉTICAS EM
• Tomar como princípio que o mais importante são as
DISCUSSÃO. SÃO PAULO: SUMMUS, 1992.
pessoas.
• Considerar que liderança, visão, diálogo, pensamen-
to e ação são fundamentais. TEORIAS PSICOGENÉTICAS EM DISCUSSÃO
• Construir e consolidar um projeto educativo próprio, Esta obra foi escrita por professores especialistas da
explícito e compartilhado. Universidade de São Paulo que através de dois anos de
• Compatibilizar a dimensão local e universal. Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Psicologia de
Ribeirão Preto, traz uma discussão entre os três principais
• Garantir o exercício da cidadania no interior da pró- teólogos da psicologia que tentam entender a evolução
pria escola. do ser humano tanto nos fatores biológicos e sócios, como
• Articular as ações de natureza político-administrati- também, nos aspectos afetivos e cognitivos.
va, curricular e pedagógica. O livro está dividido em três partes que subdividi em
subcapítulos onde trata do tema em questão na visão dos
• Criar contextos que favoreçam o protagonismo e a três teóricos: Piaget na visão de La Taille, Vygotsky na visão
profissionalidade dos professores. de Oliveira e Wallon é comentado por Dantas. A primeira
• Desenvolver uma epistemologia da vida da escola. parte traz um debate entre os fatores biológicos e sociais do
desenvolvimento humano sobre a linha de Piaget, o qual faz
• Pautar-se por uma perspectiva de desenvolvimento um diálogo sobre o lugar de interação social, na concepção
ecológico. de Vygotsky o debate é sobre o processo de formação de
“Nas escolas eficientes, a colaboração está associada conceitos e na teoria de Wallon, onde é discutido o ato mo-
a normas e a oportunidades de aperfeiçoamento contínuo tor ao ato mental do indivíduo.
e aprendizagem ao longo da carreira: „Presume-se que o Na segunda parte a questão em foco é a afetividade e
aperfeiçoamento do ensino é um empreendimento mais cognição com Piaget. O tema é o desenvolvimento do juízo
coletivo do que individual, e que análise, avaliação e expe- moral e afetividade. Na linha de Vygotsky o debate é sobre
rimentação junto com os colegas são condições mediante o problema da afetividade e na visão de Wallon a afetivida-
as quais os professores tornam-se melhores‟. Como conse- de e a construção do sujeito na psicogenética. E finalmente,
quência, os professores apresentam maior probabilidade de na terceira parte o leitor pode tirar algumas dúvidas sobre
confiar, valorizar e legitimar o partilhar de conhecimentos, a os três teólogos, pois no apêndice podem-se encontrar per-
busca de conselhos e a oferta de ajuda, tanto dentro como guntas sobre a universalidade, à autonomia do sujeito e a
fora da escola. Muito possivelmente, tornar-se-ão professo- falsidade das respectivas teorias na visão Vygotskyanos (p.
104), Wallonianos (p. 107) e Piagetianos (p. 109).

66
GESTÃO E CONHECIMENTO

Inicialmente faz-se uma introdução sobre o lugar das sório-motor e projetivo, e também analisa as características
interações sócias na obra de Jean Piaget, evidenciando que e sintomas das morbidades psicomotoras, com um intuito
o mesmo não desprezou a importância dos fatores sociais não só de pesquisa, também para que seja viabilizada a cura
no desenvolvimento da inteligência do indivíduo, pois, o ho- para estes pacientes.
mem é impossível de ser pensado fora da sociedade em que
vive. No entanto, o homem normal não é social da mesma Dessa forma, Wallon, ao estudar a psicopatologia, de-
maneira aos seis meses que aos vinte anos de idade devido dicou-se ao desenvolvimento da criança que tinha como
aos fatores biológicos e sociais que o sujeito avança quali- questão fundamental o estudo da consciência, consideran-
tativamente e passa a interagir dentro da sociedade a qual do o melhor caminho para compreendê-la e com isto, tendo
está inserido transformando o meio em que vive ou ajustan- como foco principal a sua gênese que através de sua pesqui-
do para favorecer o seu bem-estar social. sa de campo explorou as origens biológicas da consciência
Ressaltando a existência de dois aspectos nos estudos do indivíduo.
do epistemológico, ou seja, o entendimento o qual se deve A partir dos apontamentos enfatizados na obra enten-
ter por ser social e os fatores sociais que explicam o desen- de-se que para La Taille (1992), Piaget faz uma clara distinção
volvimento intelectual, La Taille (1992) afirma que, a lógica entre dois tipos de relação social: a coação e a cooperação.
final para Piaget é o equilíbrio das ações apresentados no Na coação o indivíduo recebe a afirmativa do adulto como
período sensório motor, onde a criança vai esquematizando verdadeira sem refletir sobre o que foi dito, ou seja, corres-
a lógica das ações e das percepções, a qual será interiorizada ponde a um nível baixo de socialização, enquanto que nas
pela mesma no processo de socialização. relações de cooperação são as que permitem esse desen-
Nesse contexto, o sujeito evolui a partir das experiên- volvimento efetivamente. Portanto, o autor evidencia que se
cias pessoais transmitidas através das interações vividas no tem em Piaget uma teoria que resgata a dimensão ética e
meio, e um bebê não tem o grau de maturação que tem um política dentro do desenvolvimento da inteligência do ho-
adulto. Para tanto, a socialização passa pela qualidade nas mem permitindo transparecer na sua análise uma perspec-
trocas intelectuais e vai evoluindo através das fases de de- tiva interacionista como referencial e fundamento básico do
senvolvimento da criança. O autor demonstra esse raciocínio seu raciocínio.
na aplicabilidade de uma equação em que para as trocas Somando a isso, Ferreiro e Teberosky (1999) pontuam
intelectuais Piaget pressupõe um perfeito equilíbrio e uma elementos que fazem associações condizentes e amplia a
interação de pensamentos. Tal equilíbrio das reações sociais discussão sobre desenvolvimento intelectual e socialização
só é possível entre indivíduos que tenham atingido o es- do indivíduo. Assim:
tágio operatório de pensamento fazendo uma panorâmica O sujeito que conhecemos na teoria de Piaget é aquele
sobre as etapas do desenvolvimento cognitivo relacionando que procura ativamente compreender o mundo que o ro-
o desenvolvimento das operações lógicas aos estágios de deia e trata de resolver as interrogações que este mundo
desenvolvimento social. provoca. Neste contexto, o indivíduo é um ser cognoscente
Sobre concepção de Vygotsky, Oliveira (1992) traz uma que está o tempo todo buscando aprimorar seus conheci-
discussão sobre o processo de formação de conceitos a res- mentos (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999 p 29).
peito dos fatores biológicos e sociais no desenvolvimento No entanto, a sua psicogenética descreve as primeiras
do psicológico. No entanto, as funções psicológicas do indi- etapas do desenvolvimento psicomotor como estágios im-
víduo são formadas ao longo de sua trajetória no contexto pulsivos emocionais que vai de 0 a 1 ano, quando a criança
social em que vive. Nesse processo de formação de concei- vivência atividade global ainda não estruturada, com mo-
tos, a linguagem humana exerce um papel mediador entre o vimentos bruscos, desordenados de enrijecimento e rela-
sujeito e o objeto de conhecimento. xamento muscular que irá indicar mal-estar ou bem-estar,
Segundo Oliveira (1992), isto é, além de servir ao pro- e a partir do terceiro mês de vida já é conhecido padrões
pósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem sim- emocionais diferenciados como medo, alegria, raiva, entre
plifica e generaliza a experiência, ordenando as estâncias outros.
do mundo real em categorias conceituais cujo significado é O sensório motor e projetivo inicia de 1 aos 3 anos de
partilhado pelos usuários dessa linguagem. O estudo sobre idade, nesse período a criança começa a explorar o espa-
Vygotsky na formação de conceitos aponta para duas linhas ço físico agarrando, segurando, sentando, engatinhado, etc.
de investigação que são: o conhecimento do cérebro que Esta fase instrumenta efetivamente e cognitivamente o in-
opera sem a influência do meio, e do outro lado, a cultura divíduo para o próximo estágio, o personalismo vai dos 3 a
contribuindo para o processo de formação do fator biológi- 6 anos de idade, nesta etapa inicia o processo de discrimi-
co do sujeito. nação entre o EU e o OUTRO, no categorial que vai de 6 a
Em relação à Wallon, Dantas faz uma síntese sobre a 11 anos acontece a melhor organização do mundo físico, e
vida, ressaltando que sua principal obra surgiu a partir de de 11 anos em diante acontece à puberdade e adolescência
sua tese de doutorado que foi transformada no livro L’enfaut determinada pela busca de explorar a si mesmo que tem
Turbulent (Infância e Turbulência) concluído após observa- como ponto de partida o patológico. Ao fazer essa análise
ções e experiências minuciosas com 214 crianças de 2 a 15 apresenta em seguida as síndromes psicomotoras.
anos de idade, com profundas perturbações de comporta- Para Wallon, a afetividade é o eixo central na constru-
mento. Nesta obra o autor descreve etapas do desenvolvi- ção do conhecimento durante todo o processo de sua vida,
mento psicomotor como estágio impulsivo, emocional, sen- ora com ações exteriores e em outros momentos refletindo

67
GESTÃO E CONHECIMENTO

consigo mesmo. Nesse sentido, Dantas (1992) afirma que na correr às leis para que a justiça seja conquistada e o seu di-
concepção de Wallon, o ato mental - que se desenvolve a reito prevalecido.
partir do ato motor - passa em seguida a inibi-la, sem deixar Sendo assim, a partir da investigação constante a crian-
de ser atividade corpórea. Para tanto, o grande eixo da ques- ça desenvolve seus conhecimentos interagindo com o meio
tão é a motricidade que trabalha no organismo como uma em que vive superando obstáculos conforme o grau de ma-
orquestra harmoniosa movimentando órgãos, músculos e as turidade do mesmo. Nesse livro, Oliveira (1992) relata que
estruturas cerebrais em busca de conhecer e interagir com Vygotsky aborda o problema da afetividade no campo de
dos os componentes da sociedade a qual pertence, ou seja, pesquisa da atividade cognitiva. Segundo Oliveira, Vygotsky
essa busca constante do indivíduo irá favorecer o seu desen- é contrário o estudo da afetividade e cognição separada-
volvimento mental. mente como faz a psicologia tradicional. Ele pesquisou os
Vale salientar que, haverá uma descontinuidade entre o processos internos do desenvolvimento humano mostrando
ato motor e o ato mental na medida em que for se fortale- a importância de diferenciar as funções mentais elementa-
cendo com o domínio de signos culturais, enquanto que, o res (involuntárias) e superiores que são as ações conscientes
ato motor vai reduzindo os seus movimentos a partir do se- (voluntária) e também compreende que uma está ligada a
gundo ano de vida que irá dá mais espaços de tempos cada outra não podendo ser dissociada uma da outra.
vez mais longos de imobilização. Entende-se que, para Vygotsky a consciência é formada
Sobre o desenvolvimento do juízo moral e afetivida- através de sua participação no meio em que vive, no qual
de na teoria de Piaget, que fala em sua obra “Le jugement o sujeito se relaciona e aprimora seus conhecimentos com
moral chez I’ enfant”. O desenvolvimento do juízo moral da base nas práticas sociais dos mais experientes tendo a lin-
criança está enraizado entre a afetividade e cognição, ou guagem Intersubjetividade que é a questão simbólica como
seja, impossível de ser pensado separadamente, pois o indi- meio facilitador dessa integração social que vai favorecer um
víduo descobre a afetividade no meio em que vive, e através processo de internalização deste contexto cultural para a
do contato com os outros o desenvolvimento da sua per- formação da sua própria consciência (subjetividade). Segun-
sonalidade é formado através de percepções, assimilação, do Vygotsky (1984) é a ideia de que os processos mentais
experiências e informações vivenciadas pelo sujeito. Nesse superiores são processos mediados por sistemas simbólicos,
sentido, Munari (2010 p.102) expressa que, “a questão da sendo a linguagem o sistema simbólico básico de todos os
influência do meio sobre o desenvolvimento e o fato de que grupos humanos.
as reações características dos diferentes estágios sejam sem- Neste contexto, o referencial para se compreender
pre relativas a certo ambiente”. essa linguagem é verificando o sentido e o significado das
Nesse sentido, para Piaget, as vivências impõem regras, palavras como forma de mediação para o indivíduo com-
as quais só poderão ser confirmadas a partir do respeito que preender o mundo, sabendo que, o significado é exclusivo
o sujeito tem por estas regras baseado em sua moralidade. do domínio da consciência humano numa conexão entre o
Pois, toda moral consiste num conjunto de normas a ser se- cognitivo e afetivo. Em primeira estância a linguagem tem a
guida, e toda sua essência está no respeito a estas normas. função de socialização pelo sujeito, e ao longo de sua traje-
Para facilita a compreensão, Piaget apud La Taille (1992) clas- tória ela é internalizada, passando a servir o próprio sujeito,
sifica em três etapas de evolução da prática e da consciência o que Vygotsky considera de discurso interior.
da regra que são: anomia: de 5 a 6 anos quando a criança Segundo Dantas (1992), a afetividade e a construção do
não seguir as regras coletivas criando suas próprias normas sujeito na psicogenética de Wallon é um tema central em
à medida que se sentirem ameaçadas no transcorrer do pro- sua teoria que é genética (estuda o desenvolvimento funcio-
cesso em que está participando; heteronomia: de 6 a 9 anos nal) e dialética (indica direções e possibilidades), impossível
quando não compreende, mas seguir; e autonomia: de 9 a de se pensar como processo direto que só vai adiante ao
10 anos quando seguem as regras e compreende o acordo contrário tem idas e vindas. Relatando assim, que a plateia
firmado coletivamente visando favorecer o bem comum. desempenha o papel do oxigênio que alimenta a chama
No entanto, o dever moral acontece a partir das normas emocional. O ser humano não conseguiria vive sem o con-
estabelecidas pelos pais e os adultos que vivem no seu dia a trato com os outros, ou seja, toda atividade que envolva a
dia, e também pelo respeito que elas têm sobre tais regras emoção trabalha lado a lado com o social e o biológico.
que podem ser traduzidos como realismo moral caracteriza- Para tanto, a emoção tem sua origem na vida orgânica
do por três etapas distintas como: é bom todo ato de obe- do sujeito que ao nascer é mediado pelo afeto que simul-
diência, culpem ao pé da letra e o julgamento é feito pelo taneamente envolve o social e o biológico criando no indi-
ato e não pela intencionalidade. víduo uma ligação forte com o ambiente. A emoção pode
Todavia, a noção de justiça reúne todas as noções mo- ser classificada de natureza Hipotética (susto e depressão)
rais que regulam e determinam as normas dentro da socie- e hiprotética (ansiedade). O sujeito é puramente afeto. En-
dade, incluído as ideias matemáticas e outras. Fato bastante quanto, segundo Wallon apud Dantas (1992) quando a in-
curioso e equivocado é o símbolo da justiça ser determinado teligência e afetividade estão misturadas e ao longo da vida
pela imagem da balança como forma de estabelecer o di- será marcado por momentos afetivos ou cognitivos.
reito e igualdade para todos, mas não poderão esquecer-se De forma que, para o sujeito se desenvolva é necessário
dos seus deveres e o respeito ao próximo. No entanto, cada que afetividade e inteligência simultaneamente estejam jun-
cidadão que se sentir ameaçado ou prejudicado poderá re- tas. A partir do momento que a inteligência evolui a emoção

68
GESTÃO E CONHECIMENTO

também. Para tanto, o ser está continuamente em constru- Educação é um o foco além de ensinar, é ajudar a inte-
ção não podendo ser considerado um sujeito acabado. grar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, é
Afirma-se então que, o livro retrata uma discussão sobre ajudar a integrar todas as dimensões da vida e encontrar o
a psicologia genética tão indispensável para compreender caminho intelectual, emocional, profissional que leve o in-
como ocorre o desenvolvimento humano necessário para o divíduo a realização e contribuição para a mudança social.
estudo das diversas áreas afins. Educar é transformar a vida em processos permanentes
Identificação dos autores: Yves La Taille, professor dou- de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção de sua
tor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, identidade, do seu caminho pessoal e profissional, mostrar
na cadeira de Psicologia do Desenvolvimento. Marta Kohl um projeto de vida que lhes permitam encontrar seus espa-
de Oliveira, Professora doutorada Faculdade de educação ços pessoais, tanto no social como no profissional, com o
da Universidade de São Paulo, na cadeira de Psicologia da objetivo de torná-los cidadãos realizados e produtivos.
Educação. Heloysa Dantas, professora doutora da Faculdade Ensinar é um processo social de cada cultura com suas
de Educação da Universidade de São Paulo, na área de Psi- normas, tradições e leis, mas não deixa de ser pessoal, pois
cologia da Educação. cada um desenvolve seu estilo, aprendem e ensinam. O alu-
no precisa querer aprender e para isso, precisa de maturida-
Fonte de, motivação e de competência adquirida.
SANTOS, N. T. da S.
http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_71716/ As dificuldades para mudar na educação.
artigo_sobre_resenha-critica-sobre-as-teorias-psicogeneti-
cas-em-discussao As mudanças na educação dependem, em primeiro lu-
gar de termos educadores maduros, intelectuais e emocio-
nalmente curiosos, que saibam motivar e dialogar.
MORAN, JOSÉ MANUEL, MASETTO, MARCOS O educador autêntico é humilde e confiante, mostra o
T. E BEHRENS, MARILDA APARECIDA. NOVAS que sabe, porém está sempre atento ao novo, ensina apren-
TECNOLOGIAS E MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA. dendo a valorizar a diferença, a improvisar. Aprender por sua
CAMPINAS, SP: PAPIRUS, 2000. vez, é passar da incerteza a uma certeza provisória, pois dará
lugar as novas descobertas, não há estagnação no sistema
de aprendizagem e descobertas. O novo deve ser questio-
nado, indagado e não aceito sem análise prévia. Por isso é
NOVAS TECNOLOGIAS E MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA
importante termos educadores/ pais, com amadurecimento
MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos T. e BEHRENS, intelectual, emocional, ético que facilite todo o processo de
Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação aprendizagem.
pedagógica. As mudanças na educação dependem também de ad-
Campinas: Papirus, 2000. ministradores, diretores e coordenadores que atendam to-
dos os níveis do processo educativo.
Para onde estamos caminhando no ensino? Os alunos também fazem parte da mudança. Alunos
curiosos e motivados, ajudam o professor a educar, pois tor-
Com as mudanças na sociedade, as formas de ensinar nam-se interlocutores e parceiros do professor, visando um
também sofreram alterações, tantos os professores como ambiente culturalmente rico.
os alunos percebem que muitas aulas convencionais estão
ultrapassadas. É inevitável a pergunta: Para onde mudar? A construção do conhecimento na sociedade da in-
Como ensinar e aprender em uma sociedade interconecta- formação.
da?
Mudanças na educação é importante para mudar a so- Conhecer significa compreender todas as dimensões da
ciedade. As tecnologias estão cada vez mais em evidência realidade, captar e saber expressar essa totalidade de forma
e os investimentos visam ter cada classe conectada à Inter- cada vez mais ampla e integral. Pensar e aprender a racio-
net e cada aluno com um notebook; investe-se também em cinar, a organizar o discurso, submetendo-o a critérios. O
educação a distância, educação contínua, cursos de curta desenvolvimento da habilidade de raciocínio é fundamental
duração. Mas só tecnologia não basta. “Ensinar é um desafio para a compreensão do mundo. Além do raciocínio, a emo-
constante”. ção facilita ou complica o processo de conhecer.
A informação dá-se de várias formas, segundo o nosso
Os desafios de ensinar e educar com qualidade. objetivo e o nosso universo cultural. A forma mais habitual é
o processamento lógico-sequencial, que se expressa na lin-
Preocupa-se hoje mais com ensino de qualidade do que guagem falada e escrita, na qual o sentido vai sendo cons-
com educação de qualidade. Ensino e educação são con- truído aos poucos, em sequência concatenada.
ceitos diferentes. O ensino destina-se a ajudar os alunos a A informação de forma hiper-textual, contando histó-
compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, rias, relatando situações que se interlaçam, ampliam-se, nos
história, matemática). mostrando novos significados importantes, inesperados. É a
comunicação “linkada”. A construção do pensamento é ló-

69
GESTÃO E CONHECIMENTO

gica, coerente, sem seguir uma única trilha, como em ondas Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a
que vão ramificando-se em diversas outras. Hoje, cada vez tornar a informação significativa, escolher as verdadeira-
mais processamos as informações de forma multimídia, jun- mente importantes, a compreendê-las de forma cada vez
tando pedaços de textos de várias linguagens superpostas, mais abrangente e profunda.
que compõem um mosaico ou tela impressionista, e que se Aprendemos melhor, quando vivenciamos, experimen-
conectam com outra tela multimídico. Uma leitura em flash, tamos, sentimos, descobrindo novos significados, antes
uma leitura rápida que cria significações provisórias, dando despercebidos. Aprendemos mais, quando estabelecemos
uma interpretação rápida para o todo, através dos interes- pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a con-
ses, percepções, do modo de sentir e relacionar-se de cada ceituação, entre a teoria e a prática: quando uma completa
um. a outra.
A construção do conhecimento, a partir do processa- Aprendemos quando equilibramos e integramos o sen-
mento multimídia é mais livre, menos rígida, com maior sorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social.
abertura, passa pelo sensorial, emocional e pelo racional; Aprendemos quando interagimos com os outros e o
uma organização provisória que se modifica com facilidade. mundo. Aprendemos pelo interesse, pela necessidade.
Convivemos com essas diferentes formas de processamento Aprendemos quando percebemos o objetivo, a utilida-
da informação e dependendo da bagagem cultural, da idade de de algo, que nos traz vantagens perceptíveis.
e dos objetivos, predominará o processamento sequencial, o Aprendemos pela criação de hábitos, pela automatiza-
hipertextual ou o multimídico. ção de processos, pela repetição. Aprendemos mais, quando
Atualmente perante a rapidez que temos que enfrentar conseguimos juntar todos os fatores: temos interesse, moti-
situações diferentes e cada vez mais utilizamos o processo vação clara, desenvolvemos hábitos que facilitam o processo
multimídico. A televisão utiliza uma narrativa com várias lin- de aprendizagem e sentimos prazer no que estudamos.
guagens superpostas, atraentes, rápidas, porém, traz con- Aprendemos realmente quando conseguimos transfor-
sequências para a capacidade de compreender temas mais mar nossa vida em um processo constante, paciente, con-
abstratos. fiante e afetuoso de aprendizagem.
Em síntese, as formas de informação multimídia ou hi-
pertextual são mais difundidas. As crianças, os jovens sinto- Conhecimento pela comunicação e pela interioriza-
nizados com esta forma de informação quando lidam com ção.
textos, fazem-no de forma mais fácil com o texto conectado
através de links, o hipertexto. A informação é o primeiro passo para conhecer. Conhe-
O livro então se torna uma opção menos atraente. Não cer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que
podemos, nos limitar em uma ou outra forma de lidar com a vem de fora. Conhecer a aprofundar os níveis de descober-
informação, devemos utilizar todas em diversos momentos. ta, é conseguir chegar ao nível de sabedoria, da integração
Há um tipo de conhecimento multimídico de respostas total.
rápidas que é importante. É preciso saber selecionar para O conhecimento se dá no processo rico de interação ex-
encontrar conexões, causas e efeitos, tudo é fluido e válido, terno e interno. Conseguimos compreender melhor o mun-
tudo tem sua importância e em pouco tempo perde o valor do e os outros, equilibrando os processos de interação e de
anterior. interiorização.
É uma atitude que se manifesta no navegar na Internet, Pela interação, entramos em contato com tudo o que
ao deixar-se ficar diante da televisão, numa salada de dados, nos rodeia, captamos as mensagens, mas a compreensão só
informações e enfoques. As pessoas não permanecem passi- se completa com a interiorização, com o processo de sín-
vas, elas interagem de alguma forma, mas muitos não estão tese pessoal de reelaboração de tudo que captamos pela
preparados para receber tal variedade de dados e adotam a interação.
última moda na mídia ou na roupa, que efêmeros, são facil- Os meios de comunicação puxam-nos em direção ao ex-
mente esquecidos e/ou substituídos. terno. Hoje há mais pessoas voltadas para fora do que para
Tornamo-nos cada vez mais dependentes do sensorial. dentro de si, mais repetidoras do que criadoras; se equili-
É bom, mas muitos não partem do sensorial para voos mais brarmos o interagir e o interiorizar conseguiremos avançar
ricos, mais abertos, inovadores. Muitos dados e informações mais e compreender melhor o que nos rodeia, o que somos.
não significam necessariamente mais e melhor conhecimen- Os processos de conhecimento dependem do social, do
to. O conhecimento torna-se produtivo se o integrarmos em ambiente onde vivemos. O conhecimento depende signifi-
uma visão ética pessoal, transformando-o em sabedoria, em cativamente de como cada um processa as suas experiên-
saber pensar para agir melhor. cias, quando crianças, principalmente no campo emocional.
As interferências emocionais, os roteiros aprendidos na
Caminhos que facilitam a aprendizagem. infância, levam as formas de aprender automatizadas. Um
deles é o da passagem da experiência particular para a ge-
Podemos extrair alguma informação ou experiência de ral, chamado generalização. Com a repetição de situações
tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa, que nos possa semelhante a tendência do cérebro é a de acreditar que elas
ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar o acontecerão sempre do mesmo modo, e isso torna-se algo
que já sabemos ou rejeitar determinadas opiniões. geral, padrão.

70
GESTÃO E CONHECIMENTO

Com a generalização, facilitamos a compreensão rápida, O docente como orientador/ mediador da aprendi-
mas podemos deturpar ou simplificar a nossa percepção do zagem
objetivo focalizado.
Esses processos de generalização levam a mudanças, O professor é um pesquisador em serviço. Aprende com
distorções, a alterações na percepção da realidade. a pesquisa com a prática e ensina a partir do que aprende. O
Se nossos processos de percepção estão distorcidos, seu papel é fundamentalmente o de um orientador/ media-
podem nos levar desde pequenos a enxergar-nos de forma dor:
negativa. Um dos eixos de mudança na educação seria um
• Orientador/mediador/intelectual: informa, ajuda a
processo de comunicação autêntica e aberta entre profes-
escolher as informações mais importantes, fazendo
sores e alunos, comunidade, incluindo os funcionários e os
os alunos compreendê-las e adaptá-las aos seus
pais. Só aprendemos dentro de um contexto comunicacio-
conceitos pessoais. Ajuda a ampliar a compreensão
nal participativo, interativo, vivencial. Autoritarismo não vale
de tudo.
a pena, pois os alunos não aprendem a ser cidadãos.
As organizações que quiserem evoluir terão que apren- • Orientador/ mediador/ emocional: motiva, incentiva,
der a reeducar-se em ambientes de mais confiabilidade, de estimula.
cooperação, de autenticidade.
• Orientador/ mediador gerencial e comunicacional:

organizam grupos, atividades de pesquisas, ritmos,
Podemos modificar a forma de ensinar.
interações. Organiza o processo de avaliação, é a
ponte principal entre as instituições, os alunos e os
Cada organização através de seus administradores pre-
demais grupos envolvidos da comunidade. Ajuda a
cisa encontrar sua forma de ensinar, criando um projeto ino-
desenvolver todas as formas de expressão, de inte-
vador.
ração de sinergia, de troca de linguagem, conteúdos
Para encaminhar nossas dificuldades em ensinar pode-
e tecnologias.
riam ser estas algumas pistas:
• Orientador ético: ensina a assumir, vivenciar valores
• Equilibrar o planejamento institucional e o pessoal
construtivos, individuais e socialmente vai organi-
nas organizações educacionais;
zando continuamente seu quadro referencial de
• Integrar em planejamento flexível com criatividade valores, ideias, atitudes, tendo alguns eixos funda-
sinérgica; mentais comuns como a liberdade, a cooperação, a
integração pessoal.
• Realizar um equilíbrio entre flexibilidade, que está
ligada ao conceito de liberdade, criatividade e a or- • Alguns princípios metodológicos norteadores: Inte-
ganização; grar tecnologia, metodologias e atividades.
• Avançar os programas previstos às necessidades dos • Integrar textos escritos, comunicação oral, hipertex-
alunos, criando conexões com o cotidiano, com o tual, multimídia.
inesperado;
• Aproximação da mídia e das atividades para que
• Equilibrar: planejamento e criatividade; haja um fácil trânsito de um meio ao outro.
• Aceitar os imprevistos, gerenciar o que podemos • Trazer o universo do audiovisual para dentro da es-
prever e a incorporar o novo; cola.
• Criatividade que envolve sinergia, valorizando as • Variação no modo de dar aulas e no processo de
contribuições de cada um. avaliação.
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilida- • Planejar e improvisar, ajustar-se às circunstâncias, ao
de, espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos novo.
fixo, mais pesquisas.
• Valorizar a presença e a comunicação virtual,
Uma das dificuldades da aprendizagem é conciliar a ex-
tensão das informações, a variedade das fontes de acesso, • Equilibrar a presença e a distância.
com o aprofundamento da sua compreensão.
O papel principal do professor é ensinar o aluno a inter- Integrar as tecnologias de forma inovadora
pretar os dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Apren-
der depende também do aluno de que ele esteja maduro É importante na aprendizagem integrar todas as tecno-
para entender a informação. logias: as telemáticas, as audiovisuais, lúdicas, as textuais,
É importante não começar pelos problemas, erros, pelo musicais.
negativo, pelos limites, mas sim pela educação positiva, pelo Passamos muito rapidamente do livro, para a televisão
incentivo, pela esperança. e o vídeo e destes para a Internet sem saber explorar todas
as possibilidades de cada meio. O docente deve encontrar a

71
GESTÃO E CONHECIMENTO

forma mais adequada de integrar as várias tecnologias e os Propostas de utilização da televisão e do vídeo na
procedimentos metodológicos. educação escolar

• Começar com os vídeos mais simples, próximos a
Integrar os meios de comunicação na escola
sensibilidade dos alunos e depois partir para exibi-
ção de vídeos mais elaborados.
Antes de chegar à escola a criança passa por processos
de educação importantes como o familiar e o da mídia ele- • Vídeo como sensibilização: Um bom vídeo é interes-
trônica e neste ambiente vai desenvolvendo suas conexões sante para introduzir um novo assunto, despertando
cerebrais, roteiros mentais, emocionais e linguagem. e motivando novos temas.
A criança aprende a informar-se, a conhecer os outros,
• Para a sala de aula realidades distantes do aluno.
o mundo e a si mesma. A relação com a mídia eletrônica é
prazerosa e sedutora, mesmo durante o período escolar, a • Vídeo como simulação: É uma ilustração mais sofisti-
mídia mostra o mundo de outra forma, mais fácil, agradável. cada, pois pode simular experiências de química que
A mídia continua educando como contraposto à educação seriam perigosas em laboratórios. Pode mostrar o
convencional, educa enquanto entretém. crescimento de uma planta, da semente até a ma-
Os meios de comunicação desenvolvem formas sofisti- turidade.
cadas de comunicação e opera imediatamente com o sen-
sível, o concreto, a imagem em movimento. O olho nunca • Vídeo como conteúdo de ensino: Mostra o assunto
consegue captar toda a informação, então o essencial, o su- de forma direta orientando e interpretando um tema
ficiente é escolhido para dar sentido ao caos e organizar a de foram indireta, permitindo abordagens diversas
multiplicidade de sensações e dados. deste tema.
A organização da narrativa televisiva baseia-se numa • Vídeo como produção: Registro de eventos, estudo
lógica mais intuitiva, mais conectiva, portanto não é uma ló- do meio, experiências, entrevistas, depoimentos.
gica convencional, de causa-efeito.
A televisão estabelece uma conexão aparentemente ló- • Vídeo como intervenção: Interferir, modificar um
gica entre mostrar e demonstrar: “se uma imagem impres- determinado programa, acrescentar uma nova trilha
siona então é verdadeira”. Também é muito comum a lógica sonora ou introduzir novas cenas com novos signi-
de generalizar a partir de uma situação concreta, do indivi- ficados.
dual, tendemos ao geral. Ex: dois escândalos na família real • Vídeos como expressão: Como nova forma de co-
inglesa e se tira conclusões sobre a ética da realeza como municação adaptada à sensibilidade das crianças e
um todo. Uma situação isolada converte-se em uma situa- dos jovens. Produzem programas informativos fei-
ção padrão. tos pelos próprios alunos.

Integrar a televisão e o vídeo na educação escolar • Vídeo integrando o processo de avaliação: dos alu-
nos e do professor.
Vídeo para o aluno significa descanso e não aula. Essa • Televisão/vídeo – espelho: Os alunos veem-se nas
expectativa deve ser aproveitada para atrair o aluno. A tele- telas, discutindo seus gestos, cacoetes, para análise
visão e o vídeo partem do concreto, do visível, daquilo que do grupo e dos papéis de cada um. Incentiva os mais
toca todos os sentidos. retraídos e corrige os que falam muito.
Televisão e vídeo exploram também o ver, o visualizar,
ter diante de nós as pessoas, os cenários, cores, relações es- Algumas dinâmicas de análise da televisão e do vídeo
paciais, imagens estáticas e dinâmicas, câmaras fixas ou em
movimento, personagens quietos ou não. Análise em conjunto: O professor exibe as cenas prin-
A fala aproxima o vídeo do cotidiano, de como as pes- cipais e as comenta junto com os alunos. O professor não
soas se comunicam, enquanto o narrador costura as cenas, deve ser o primeiro a opinar e sim posicionar-se depois dos
dentro da norma culta, orientando a significação do conjun- alunos.
to. A música e os efeitos sonoros servem como evocação de Análise globalizante: Depois da exibição do vídeo abor-
situações passadas próximas às personagens do presente e dar os alunos a respeito das seguintes questões: 1- aspectos
cria expectativas. positivos do vídeo. 2-aspectos negativos. 3- ideias principais
A televisão e o vídeo são sensoriais, visuais as lingua- que foram abordadas. 4- o que eles mudariam no vídeo. Dis-
gens se interagem não são separadas. As linguagens da T.V. cutir essas questões em grupos, que são depois relatadas
e do vídeo respondem à sensibilidade dos jovens e de adul- por escrito, o professor faz a síntese final.
tos. Dirigem-se mais à afetividade do que a razão. O jovem Leitura concentrada: Escolher depois uma ou duas cenas
vê para compreender a linguagem audiovisual, desenvolve marcantes e revê-las mais vezes. Observar o que chamou a
atitudes perceptivas como a imaginação enquanto a lingua- atenção.
gem escrita desenvolve mais a organização, a abstração e a Análise funcional: Antes da exibição do vídeo escolar,
análise lógica. alguns alunos para desenvolverem algumas funções, ano-
tar palavras chaves, imagens mais significativas, mudanças

72
GESTÃO E CONHECIMENTO

acontecidas no vídeo, tudo será anotado no quadro e pos- O professor coordena a escolha de temas ou questões
teriormente comentado pelo professor. mais específicas, procura ajudar a ampliar o universo alcan-
Análise da linguagem: Reconstrução da história, como çado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos signi-
é contada a história, que ideias foram passadas, quais as ficados das informações.
mensagens não questionadas, aceitas sem discussão, como Construção cooperativa
foram apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o mundo e A Internet favorece a construção cooperativa, ou seja, o
como cada participante reagiu. trabalho conjunto de professor e alunos.
Completar o vídeo: Pedir aos alunos apara modificarem Um modo interessante de cooperativismo é criar uma
alguma parte do vídeo, criar um novo material, adaptado à página dos alunos, um espaço virtual de referência, onde
sua realidade. vai sendo colocado o que acontece de mais importante no
Vídeo produção: Fazer uma narrativa sobre um determi- curso. Pode ser um site provisório ou um conjunto de sites
nado assunto. Pesquisa em jornais, revistas, entrevistar pes- individuais.
soas e exibir em classe. É importante combinar o que podemos fazer melhor
Vídeo espelho: A câmara registra pessoas ou grupos e em sala de aula, conhecer-nos motivar-nos, reencontrar-nos
depois se observa e comenta-se o resultado. com o que podemos fazer a distância, comunicar-nos, quan-
Vídeo dramatização: Usar a representação teatral, pelos do necessário e acessar os materiais construídos em conjun-
alunos, expressar o que o vídeo mostrou. to na homepage.
Comparar versões: Observar os pontos de convergên- O espaço de trocas de conhecimento transita da sala de
cia e divergências do vídeo. Ótimo para aulas de literatura. aula para o virtual.
Comparar o vídeo e a obra literária original.
Preparar os professores para a utilização do compu-
O computador e a Internet tador e da Internet

O computador permite cada vez mais pesquisar, simular Tanto o professor como o aluno têm que estar atentos
situações, testar conhecimentos específicos, descobrir novos às novas tecnologias, principalmente à Internet. Para tanto é
conceitos, lugar e ideias. Com a Internet pode-se modificar necessário que haja salas de aula conectadas e adequadas
mais facilmente a forma de ensinar e aprender. Procurar es- para pesquisa, laboratórios bem equipados. Facilitar o aces-
tabelecer uma relação de empatia com os alunos, procuran- so de alunos e da escola aos meios de informática, diminuir
do conhecer seus interesses, formação e perspectivas para o a distância que separa os que podem e os que não podem
futuro. É importante para o sucesso pedagógico a forma de pagar pelo acesso à informação.
relacionamento professor/aluno. Ajudar na familiarização com o computador e no nave-
Descobrir as competências dos alunos motivá-los para gar na Internet, na utilização pedagógica da Internet e dos
aprender, para participar de aula-pesquisa e para a tecnolo- programas multimídia. Ensiná-los a fazer pesquisa interagin-
gia que será usada entre elas a Internet. do com o mundo.
O professor pode criar uma página pessoal na Internet,
um lugar de referência para cada matéria e para cada aluno. Questões que a Internet coloca aos professores
Orientar os alunos para que estes criem suas páginas e parti-
cipem de pesquisas em grupo, discutam assuntos em chats. Utilizar a Internet para ensinar exige muita atenção dos
O papel do professor amplia-se – do informador transfor- professores. Não se deter diante de tantas possibilidades
ma-se em orientador de aprendizagem, em gerenciador de de informação, saber selecionar as mais importantes. Uma
pesquisa e comunicação dentro e fora da sala de aula. página bem apresentada, atraente dever ser imediatamente
selecionada e pesquisada. A Internet facilita a motivação dos
Lista eletrônica/ Fórum alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de
pesquisa que oferece.
Incentivar os alunos a aprender navegar na Internet e A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade
que todos tenham seu endereço eletrônico (e-mail), e com mental e a adaptação a ritmos diferentes: A intuição porque
isso criar uma lista interna de cada turma que irá ajudar a as informações vão sendo descobertas por acerto e erro.
criar uma conexão virtual entre eles. Desenvolve a flexibilidade, porque as maiores parte das se-
Aulas – pesquisa quências são imprevisíveis, abertas.
Transformar uma parte das aulas em processos contínuo Na Internet também desenvolvemos novas formas de
de informação, comunicação e pesquisa, equilibrando o co- comunicação principalmente escrita. Escrevemos de forma
nhecimento individual e o grupal, entre o professor- coorde- mais aberta, hipertextual, multilinguística; todos se esforçam
nador- facilitador e os alunos, participantes ativos. para escrever bem. A comunicação afetiva, a criação de ami-
Trabalhar os temas do curso coletivamente, mas pes- gos em diferentes países é um outro grande resultado, indi-
quisando mais individualmente ou em pequenos grupos os vidual e coletivo, dos projetos.
temas secundários. Os grandes temas são coordenados pelo
professor e pesquisados pelos alunos. Assim o papel do alu-
no não é de executar atividades, mas o de co-pesquisador
responsável pelo resultado final do trabalho.

73
GESTÃO E CONHECIMENTO

Alguns problemas no uso da Internet na educação Tecnologias na educação a distância

Os dados e informações são muitos, e, portanto gera Muitas organizações estão se limitando a transpor para
uma certa confusão entre informação e conhecimento. o virtual, adaptações do ensino presencial. Começamos a
Na informação os dados organizam-se dentro de uma passar dos modelos individuais para os grupais. A educa-
lógica, de uma estrutura determinada. ção a distância mudará de concepção, de individualista para
Conhecimento é integrar a informação no nosso re- mais grupal, de isolada para participação em grupos. Educa-
ferencial tornando-a significativa para nós. Alguns alunos ção a distância poderá ajudar os participantes a equilibrar as
estão acostumados a receber tudo pronto do professor e, necessidades e habilidades pessoais com a participação em
portanto não aceitam esta mudança na forma de ensinar. grupos-presenciais e virtuais.
Também há os professores que não aceitam o ensino
multimídia, porque parece um modo de ficar brincando de Alguns caminhos para integrar as tecnologias num
aula.... ensino inovador
Na navegação muitos alunos se perdem pelas inúmeras
possibilidades de navegação e acabam se dispersando. De- Na sociedade informatizada, estamos aprendendo a co-
ve-se orientá-los a selecionar, comparar, sintetizar o que é nhecer a comunicar-nos, ensinar, reaprendendo a integrar o
mais relevante, possibilitando um aprofundamento maior e humano e o tecnológico, a integrar o indivíduo, o grupal e o
um conhecimento significativo. social. É importante chegar ao aluno por todos os caminhos
possíveis, experiência, imagem, som, dramatizações, simu-
Mudanças no ensino presencial com tecnologia lações.
Partir de onde o aluno está e ajudá-lo a ir do concreto
Muitos alunos já começam a utilizar o notebook para ao abstrato, do vivencial para o intelectual. Tanto nos cur-
pesquisa, para solução de problemas. O professor também sos convencionais como nos cursos a distância teremos que
acompanha esta mudança motivando os alunos através dos aprender a lidar com a informação e o conhecimento de
avanços tecnológicos. Teremos com esta atitude mais am- formas novas, através de muitas pesquisas e comunicação
bientes de pesquisa grupal e individual em cada escola; ex: constante.
as bibliotecas transformam-se em espaços de integração de Ensinar não é só falar, mas se comunicar, com credibi-
mídias e banco de dados. lidade, falando de algo que conhecemos e vivenciamos e
Com isto haverá mais participação no processo de co- que contribua para que todos avancemos no grau de com-
municação, tornando a relação professor/aluno mais aberta preensão do que existe. As principais reações que o bom
e interativa, mais integração entre sociedade e a escola, en- professor/ educador desperta no aluno são: confiança, cre-
tre aprendizagem e a vida. dibilidade e entusiasmo.
Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Necessitamos de pessoas livres nas empresas e nas es-
Aprendemos e ensinamos com programas que apresen- colas que modifiquem as estruturas arcaicas e autoritárias
tam o melhor da educação presencial com as novas formas existentes. Se somos pessoas abertas iremos utilizar as tec-
virtuais; porém há momentos que precisamos encontrar-nos nologias para comunicar e interagir mais e melhor.
fisicamente, em geral no começo e no final de um assunto Se formos pessoas fechadas, desconfiadas, as tecnolo-
ou curso. gias serão usadas de forma defensiva. O poder de interação
não está nas tecnologias, mas em nossas mentes. Ensinar
Equilibrar o presencial e o virtual com as novas tecnologias será válido se mudarmos os para-
digmas convencionais do ensino que mantém a distância de
Dificuldades no ensino presencial não serão resolvidos professores entre alunos.
com o virtual. Unir os dois modos de comunicação o pre- Caso contrário conseguiremos dar um verniz de moder-
sencial e o virtual e valorizando o melhor de cada um é a nidade sem mexer no essencial.
solução.
As atividades que fazemos no presencial como comu- MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E USO DA TECNOLOGIA
nidades, criação de grupos afins. Definir objetivos, conteú- Marcos T. Masetto.
dos, formas de pesquisas e outras informações iniciais. A
comunicação virtual permite interações espaço-temporais A discussão que envolve a análise do uso da tecnologia
mais livres, adaptação a ritmos diferentes dos alunos novos como mediação pedagógica, pressupõe alguns fatos que
contatos com pessoas semelhantes, mas distantes, maior li- envolvem a questão do emprego de tecnologia no processo
berdade de expressão à distância. de aprendizagem.
Com o processo virtual o conceito de curso, de aula 1. Em educação escolar, não se valorizou a tecnologia
também muda. As crianças têm mais necessidade do conta- adequadamente visando a maior eficácia do ensino-apren-
to físico para ajudar na socialização, mas nos cursos médios dizagem. O professor é formado para valorizar conteúdos e
e superiores, o virtual superará o presencial. Menos salas de ensinamentos acima de tudo, e privilegiar a técnica de aula
aulas e mais salas ambientes, de pesquisa, de encontro, in- expositiva para transmitir os ensinamentos.
terconectadas. No ensino superior brasileiro, essa concepção se man-
tém até hoje valorizando a transmissão de informação, ex-

74
GESTÃO E CONHECIMENTO

periências, técnicas, pesquisas de um profissional para for- do grupo se conheçam em um clima descontraído. Essas
mação de outros. técnicas ajudam a expressar expectativas ou problemas que
Vê-se uma desvalorização da tecnologia em educação, afetam o clima entre eles ou o desempenho de cada um.
no entanto há questões tecnológicas que interessam ao pro- - Num segundo grupo as técnicas permitem que os
cesso aprendizagem. aprendizes desenvolvam-se em situações simuladas. Ex.
2. Dois fatos novos trazem à tona à discussão sobre a dramatizações, jogos dramáticos, jogos de empresa, estudos
mediação pedagógica e o uso da tecnologia: de caso, apresentando estratégias de situações da realidade.
- O surgimento da informática e da telemática que pro- São técnicas que desenvolvem a capacidade de analisar
porcionam a oportunidade de entrar em contato com as problemas e achar soluções, preparando para enfrentar si-
mais recentes informações, pesquisas e produções cientifi- tuações reais e complexas.
cas do mundo em todas as áreas. Desenvolvem-se os pro- - Um terceiro grupo de técnicas coloca o aprendiz em
cessos de aprendizagem à distância. contato com situações reais. Ex. Estágios, excursões, aulas
- Outro fato novo é a abertura no Ensino Superior para práticas, visita a obras, indústrias, escolas, enfim em locais
formação de competências pedagógicas dos professores próprios das atividades profissionais. É altamente motivador
universitários. para a aprendizagem. Ajudam a dar significado para as teo-
rias.
Tecnologia e processo de aprendizagem
Mediação pedagógica e as novas tecnologias
A tecnologia apresenta-se como meio para colaborar no
processo de aprendizagem. Ela tem sua importância ape- Por novas tecnologias em educação, entende-se o uso
nas como um instrumento para favorecer a aprendizagem da informática, do computador, da Internet CD-ROM, da hi-
de alguém. Não é a tecnologia que vai resolver o problema permídia, da multimídia, educação a distância, chats, listas
educacional do Brasil. Poderá colaborar, se for usada ade- de discussão, correio eletrônico e de outros recursos e lin-
quadamente. guagens digitais que podem colaborar para tornar a apren-
O conceito de ensinar esta mais ligada ao professor que dizagem mais eficaz, cooperam para o desenvolvimento da
transmite conhecimentos e experiências ao aluno. O concei- educação em sua forma presencial (fisicamente); pois dina-
to de aprender está diretamente ligadas ao aluno que pro- mizam as aulas. Cooperam também para a aprendizagem
duz reflexões e conhecimentos próprios, pesquisas, diálo- a distância (virtual), pois foram criadas para atendimento
gos, debates, mudanças de comportamento. Numa palavra desta nova modalidade de ensino. São tecnologias, porém
o aprendiz cresce e desenvolve-se, o professor fica como exigem eficiência e adequação aos objetivos aos quais se
mediador entre o aluno e sua aprendizagem. O aluno as- destinam. Entende-se que estas técnicas são ótimas no ensi-
sume o papel de aprendiz ativo e participante que o leva a no a distância, para transmitir informações e conhecimentos
aprender e a mudar seu comportamento. no sentido mais estrito.
É importante ressaltar que não se pode pensar no uso
Tecnologia e mediação pedagógica de uma tecnologia sozinha ou isolada, seja na educação pre-
sencial ou na virtual. Requer um planejamento para várias
Como fazer para que o uso da tecnologia em educação, atividades integrem-se em busca de objetivos determinados
principalmente nos cursos universitários de graduação, pos- e que as técnicas sejam escolhidas, planejadas para que a
sa desenvolver uma mediação pedagógica. aprendizagem aconteça.
- O que entendemos por mediação pedagógica? Alguns itens a serem observados:
Por mediação pedagógica, entendemos a atitude e o Teleconferência: caracteriza-se por colocar um especia-
comportamento do professor que se coloca como um facili- lista em contato com telespectadores de regiões diversas do
tador, incentivando ou motivando da aprendizagem. planeta.
Chat ou bate-papo: e um momento em que todos os
Mediação pedagógica em técnicas convencionais participantes estão no ar, ligados e convidados a expor suas
ideias.
A mediação pedagógica pode estar presente tanto nas Listas de discussão: cria grupos de pessoas que possam
estratégias convencionais como nas novas tecnologias debater um assunto ou tema sobre o qual sejam especialis-
- Por técnicas convencionais identificamos aquelas que tas. Seu objetivo e avançar os conhecimentos, as informa-
já existem há muito tempo, importantes para a aprendiza- ções ou as experiências.
gem presencial. Seu uso não tem sido muito frequente tal- Correio eletrônico: facilita o encontro entre aluno e pro-
vez porque os professores não as conhecem, ou por não fessor para sanar dúvidas. Para tanto há a necessidade do
dominarem sua pratica. Mas para muitos professores é uma professor para responder aos e-mails, pois o aluno desmoti-
forma de dinamizar as aulas. va-se não sendo atendido em suas dúvidas.
- Novas tecnologias são aquelas que estão vinculadas Internet: no ensino de graduação depara-se com duas
ao uso do computador, a informática, a telemática e a edu- dificuldades no incentivo à leitura e a pesquisa. O aluno
cação a distância. prefere apostilas ao livro. A informática proporciona opor-
- As técnicas convencionais, em geral são usadas para tunidade de sanar essa dificuldade. A Internet é um recurso
iniciar um curso, despertar um grupo, para que os membros dinâmico e atraente, de fácil acesso e possibilita a obtenção

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GESTÃO E CONHECIMENTO

de um número ilimitado de informações. Há, porém a neces- 4. Respeitar todos os participantes, ênfase nas estraté-
sidade de o professor orientar os alunos, a direcionar o uso gias cooperativas de aprendizagem, confiança, envolver os
desse recurso para as atividades de pesquisas, para que não aprendizes num planejamento conjunto de métodos e dire-
façam cópias de textos. ções curriculares;
5. Domínio profundo de sua área de conhecimento, de-
Tecnologia, avaliação e mediação pedagógica. monstrando competência e atualização em relação à área;
6. Criatividade para buscar com o aluno soluções para
A avaliação tem que ser um processo motivador da situações novas;
aprendizagem. 7. Disponibilidade para o diálogo, que deve ser frequen-
Pontos básicos: te e contínuo.
1 - Considerar a avaliação como um processo as da 8. Subjetividade e individualidade. Observar que tanto o
aprendizagem que motive e incentive e não como o con- professor e o aluno podem estar passando por momentos
junto de provas e/ou de trabalhos realizados em datas pre- de indisposição e às vezes podem estar usando uma lingua-
viamente estipuladas, servindo para aprovar ou reprovar o gem mais dura, outra vez mais carinhosa.
aluno. 9. Comunicação e expressão em função da aprendiza-
2 - A avaliação normalmente indica o índice de erros ou gem. Usamos a linguagem para nos comunicar, o professor
acentos que o aluno comete em uma prova. Esta aborda- deverá cuidar muito da sua expressão vocal, para ajudar no
gem em geral não significa que o aluno aprendeu pouco ou processo de aprendizagem.
muito, e também não colabora para a aprendizagem. Para Na prática esse processo de mediação pela expressão e
isso acontecer, essas mesmas atividades deveriam se revestir comunicação deverá ser:
de outras características, continuidade, variedade de técni-
• Excepcionalmente para transmitir informações;
cas, revisão.
3 - É importante que se veja a avaliação como um pro- • Para dialogar e trocar experiências;
cesso de feedback que traga ao aprendiz informações opor-
• Para debater dúvidas e lançar perguntas;
tunas no momento que ele precisa para desenvolver sua
aprendizagem, Informações ao longo do processo de apren- • Para motivar o aprendiz e orientá-lo;
dizagem para corrigir erros e falhas. É a avaliação como um
elemento incentivador e motivador da aprendizagem e não • Para propor desafios e reflexões;
como uma forma de julgá-lo. • Para relacionar a aprendizagem com a realidade;
4 - Tanto no uso das técnicas presenciais como no uso
da tecnologia a distância, deve-se fazer a avaliação com a • Para incentivar o conhecimento junto com o apren-
aplicação de algum instrumento que ofereça o feedback ou diz;
retroinformação. • Para ajudar o aprendiz a comandar a máquina.
5 - Quanto à avaliação, observar a reação dos alunos
para dialogar sobre a informação dada, completando ou fa- Segundo Almeida, o professor que trabalha com a infor-
zendo colocações adicionais ao que foi explicado. mática na educação, deverá desenvolver uma mediação pe-
6 - O feedback que medializa a aprendizagem é aquele dagógica que promova o pensamento do aluno, seus proje-
colocado de forma clara, orientando, ou por meio de per- tos, compartilhe seus problemas sem apontar soluções, aju-
guntas ou de uma breve sugestão. dando o aprendiz a entender, analisar, testar e corrigir erros.
7 - Fazer registros juntamente com o feedback contínuo, Contudo, a intenção de refletir sobre tecnologia e a me-
de todos os aprendizes que permita um diálogo e um acom- diação pedagógica é chamar a atenção para a presença e
panhamento sobre a aprendizagem com um todo. influência que a tecnologia tem na sociedade e na educação
8 - Abrir esse processo de avaliação (feedback), junta- escolar e informal, tanto na presencial como à distância.
mente com os alunos, a respeito do curso, das atividades Chamar a atenção para a necessidade de empregar essa
que estão sendo avaliadas, se está adaptadas ou não aos tecnologia, se quiser ser eficiente no processo educacional.
objetivos pretendidos. Neste texto, foram discutidas técnicas, seu uso e ob-
9 - Por último, é preciso que as atividades presenciais e jetivos, e percebe-se que estas, apenas poderão colaborar
a distância permitam ao aluno e professor desenvolver sua como mediadores, para o desenvolvimento e crescimento
autoavaliação. das pessoas.
O aprendiz tem que ser o centro do processo. Na edu-
O professor como mediador pedagógico. cação, nota-se um encadeamento de ideias ao abordar um
assunto, nada é isolado, sempre há um entrelaçamento com
O professor que se propõe a ser um mediador pedagó- outros, devido à própria complexidade educacional, cujo
gico desenvolverá algumas características: objetivo é propiciar melhores condições de aprendizagem, e
1. Estar mais voltado para a aprendizagem do aluno; automaticamente maior gratificação para os que se dedicam
2. Professor e aluno constituem-se como célula básica ao trabalho docente.
da aprendizagem;
3. Corresponsabilidade e parcerias são atitudes básicas,
incluindo planejamento, sua realização e avaliação;

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GESTÃO E CONHECIMENTO

PROJETOS DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA Quatro pilares da aprendizagem colaborativa


NUM PARADIGMA EMERGENTE
Marilda Aparecida Behrens O “Relatório para a Unesco da Comissão Internacional
sobre Educação para o Séc. XXI”, coordenada por Jacques
As perspectivas para o Séc. XXI indicam a educação Delors (1998) aponta a necessidade de uma educação con-
como pilar para alicerçar os ideais de justiça, paz, solidarie- tinuada. A aprendizagem ao longo da vida, assentada em
dade e liberdade. As transformações pelas quais o mundo quatro pilares:
vem passando são reais e irreversíveis.
• Aprender a conhecer.
O advento da sociedade do conhecimento e a globaliza-
ção afetam a sociedade. Essas mudanças levam a ponderar • Aprender a fazer.
sobre uma educação planetária, mundial e globalizante. O
• Aprender a viver juntos.
contexto de globalização torna as nações mais interdepen-
dentes e inter-relacionadas e, ao mesmo tempo mais de- • Aprender a ser.
pendentes de uma estrutura econômica neoliberal.
O advento da economia globalizada e a forte influência Aprender a conhecer - Este tipo de aprendizagem visa
dos avanços dos meios de comunicação e da informática não um repertório de saberes mas o domínio dos próprios
aliados à mudança de paradigma da ciência não comportam instrumentos do conhecimento. Compreender o mundo
um ensino conservador repetitivo e acrítico nas universida- que o rodeia para viver dignamente e desenvolver suas ca-
des. pacidades. Com essa visão enfatiza-se ter prazer em des-
A produção do saber nas áreas do conhecimento leva cobrir, em investigar, em ter curiosidade, em construir o co-
o professor e o aluno a buscar processos de investigação nhecimento.
e pesquisa. O aluno precisa ser menos passivo e tornar-se Segundo Gadotti aprender a conhecer implica ter prazer
criativo, crítico, pesquisador e atuante. O professor precisa de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhe-
agir com critério e com visão transformadora. cimento.
O aluno precisa ser instigado a buscar o conhecimento,
A era digital e a aprendizagem colaborativa a ter prazer em conhecer, a aprender a pensar, elaborar as
informações para aplicá-la à realidade.
O desafio imposto aos docentes é mudar o eixo do en- Como segundo pilar Delors apresenta o “aprender a fa-
sinar para os caminhos que levam a aprender. zer” - aprendizagem associada ao aprender a conhecer.
Segundo Pierre Lévy (1993) o conhecimento poderia ser Aliando aprender a conhecer e aprender a fazer, o pro-
apresentado de três formas diferentes: a oral, a escrita e a fessor precisa superar a dicotomia teórica e pratica, estas
digital. devem caminhar juntas.
A digital não descarta todo o caminho feito pela lingua- Todos os seres vivos interagem e são interdependentes
gem oral e escrita. uns dos outros. Buscar a superação das verdades absolu-
A abertura de novos horizontes mais aproximados da tas e inquestionáveis, do positivismo, da racionalidade e do
realidade contemporânea, e das exigências da sociedade pensamento convergente.
depende de uma reflexão crítica do papel da informática na “A natureza não são blocos isolados, mas uma complexa
aprendizagem e benefícios que a era digital pode trazer para teia de relações entre as várias partes de um todo unificado”
o aluno como cidadão, tornando-os transformadores e pro- (Capra). Visão na qual o mundo é um complicado tecido de
dutores de conhecimento. eventos, que se interconectam e se combinam, determinan-
O desafio do professor ao propor sua ação docente do o todo.
será levar em consideração e contemplar as oito inteligên- A escola precisa ensinar os alunos a refletir sobre a rea-
cias denominadas por Gardner (1994) como espacial; in- lidade para que possam administrar conflitos, pensamentos
terpessoal, intrapessoal, cinestésico-corporal, linguística ou divergentes e respeitar a opinião dos outros; “aprender a
verbal, lógico-matemática, musical e naturalista. Além do viver juntos”
desenvolvimento das inteligências múltiplas é fundamental O quarto pilar apresentado refere-se ao “aprender a
desenvolver a inteligência emocional (Goleman 1996) para ser”. Delors recomenda “A educação deve contribuir para o
desencadear a formação do cidadão. desenvolvimento completo da pessoa; espírito e corpo, in-
Na era das Relações (Moraes 1997) cabe aos gestores e teligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade
professores derrubar barreiras que segregam o espaço e a pessoal, espiritualidade”. Visão que tenta superar a desu-
criatividade dos professores e dos alunos. manização do mundo, dando ao homem liberdade de pen-
A aprendizagem precisa ser significativa, desafiadora, samento e responsabilidade sobre seus atos.
problematizadora e instigante para mobilizar o aluno e o
grupo a buscar soluções aos problemas. A relação profes- Paradigma emergente na prática pedagógica
sor/aluno na aprendizagem colaborativa contempla a inter-
dependência dos seres humanos. Paradigma emergente é um paradigma inovador que
venha atender aos pressupostos necessários às exigências
da sociedade do conhecimento. Caracterizar um paradigma
emergente não é tarefa de fácil resposta, mas o que se pode

77
GESTÃO E CONHECIMENTO

garantir é que o paradigma inovador engloba diferentes pedagógicos em todos os níveis, projetos de aprendizagem,
pressupostos de novas teorias. Por exemplo, Moraes deno- metodologia de ensino.
mina paradigma emergente a aliança entre as abordagens
• A exercitação oferece treinamento de certas habili-
vistas construtivas, interacionista, sociocultural e transcen-
dades.
dente, onde o ponto de encontro entre os autores a bus-
ca da visão da totalidade, o enfoque da aprendizagem e o • Os programas tutoriais – blocos de informação pe-
desafio de superação da reprodução para a produção do dagogicamente organizados como se fosse um livro
conhecimento. animado em vídeo.
Behrens(1999) acredita na necessidade de desencadear
• Os aplicativos: programas voltados para funções es-
uma aliança de abordagem pedagógica, formando uma teia,
pecíficas como planilhas eletrônicas, processadores
da visão holística:
de textos e gerenciadores de bancos de dados.
1) O ensino com pesquisa – Onde professor e aluno tor- • Programas de autoria extensão avançada das lingua-
nam-se pesquisadores e produtores dos seus próprios co- gens de programação, permitem que qualquer pes-
nhecimentos. soa crie seus próprios programas, sem que possuam
2) A abordagem progressiva. Instiga o diálogo e a dis- conhecimentos avançados de programação.
cussão coletiva.
3) A visão holística ou sistêmica – busca a superação da • Jogos opção com finalidade de lazer.
fragmentação do conhecimento. • Simulações – programas que possibilitam a interação
A aliança, a partir das três abordagens, permite uma prá- com situações complexas. Ex: Simuladores de voo.
tica pedagógica competente e que dê conta dos desafios da
sociedade moderna. O computador é ferramenta auxiliar no processo de
“aprender a aprender”.
Paradigma emergente numa aliança de abordagem
pedagógica Tecnologia da informação e o avanço dos procedi-
mentos
Behrens defende o paradigma emergente, uma aliança
entre os pressupostos da visão holística, da abordagem pro- Baseada na proposta de Chikering e Ehrmanm a tecno-
gressiva e do ensino com pesquisa instrumentalizada. logia da informação pode contribuir para:
O ensino com pesquisa, proposto por Paoli, por Demo 1- Encorajar contato entre estudantes e universidades.
e por Cunha defende uma aprendizagem baseada na pes- 2- Encorajar cooperação entre estudantes.
quisa para a produção de conhecimento, superando a re- 3- Encorajar aprendizagem colaborativa.
produção, a cópia e a imitação do pensamento newtoniano 4- Dar retorno e respostas imediatas.
- cartesiano 5- Enfatizar tempo para as tarefas.
A - O ensino com pesquisa necessita de um professor 6- Comunicar altas expectativas.
que perceba o aluno como um parceiro. Segundo Demo, 7- Respeitar talentos e modos de aprender diferente.
ensinar pela pesquisa apresenta fases, progressivas desde O cyberspace é uma rede que torna todos os computa-
a interpretação reprodutiva, até a criação e descoberta. O dores participantes e seus conteúdos acessíveis aos usuários
ensino com pesquisa leva a acessar, analisar e produzir co- de qualquer computador ligado a essa rede. Possibilitando,
nhecimentos. via Internet, o acesso a bibliotecas do mundo inteiro, por
B - A abordagem progressiva busca a transformação so- exemplo: numa viagem virtual.
cial. Os professores progressistas promovem processos de
mudança, manifestando-se contra as injustiças sociais, atitu- O paradigma emergente e a aprendizagem colabo-
des antiéticas, injustiças políticas e econômicas. rativa baseada em projetos
C - A visão holística caracteriza a prática pedagógica
num paradigma emergente aliada ao ensino com pesquisa Os projetos de aprendizagem colaborativos levam em
e à abordagem progressiva. A proposta da visão holística consideração as aptidões e competências que o professor
propõe uma sociedade com indivíduos que se pautam nos pretende desenvolver com seus alunos, cuja finalidade é
princípios éticos da dignidade humana, da paz, da justiça, tornar os alunos aptos a atuar como profissionais em suas
do respeito da solidariedade e da defesa do meio ambiente. áreas de conhecimento. O professor deve apropriar-se de
Conhecer o universo como um todo, que leva a interconec- referências utilizadas na sala de aula e fora dela.
tividade e inter-relações entre os sistemas vivos.
Projetos de aprendizagem colaborativa num para-
Tecnologia como ferramenta para aprendizagem co- digma emergente
laborativa
A aprendizagem baseada em projetos necessita de um
A tecnologia da informação, pode ajudar a tornar mais ensino que provoque ações colaborativas num paradigma
acessíveis as políticas educacionais dos países, os projetos emergente instrumentalizado pela tecnologia inovadora.

78
GESTÃO E CONHECIMENTO

Deve-se contemplar a produção do conhecimento dos alu- O professor deve instigar a avaliação de cada fase do
nos e do próprio professor. projeto. A avaliação perante realinhar alguma fase ou ati-
Fases do projeto de aprendizagem colaborativa vidades propostas no desencadear do projeto de aprendi-
zagem.
1ª fase - Apresentação e discussão do projeto
2ª fase - Problematização do tema Aprendizagem para a sociedade do conhecimento:
3ª fase - Contextualização
4ª fase - Aulas teóricas exploratórias A busca das competências e da autonomia.
5ª fase - Pesquisa individual Os projetos de aprendizagem possibilitam a produção
6ª fase - Produção individual do conhecimento significativo. Os alunos no processo de
7ª fase - Discussão coletiva, crítica e reflexiva parceria têm a oportunidade de desenvolver competências,
8ª fase - Produção, coletiva habilidades e aptidões que serão úteis a vida toda; focalizan-
9ª fase - Produção final do o aluno como sujeito crítico e reflexivo no processo de
10ª fase - Avaliação coletiva do projeto “aprender a aprender”.

1ª fase - Apresentação e discussão do projeto Mediação pedagógica e o uso da tecnologia


Discutir com os alunos cada fase do projeto de aprendi-
zagem, valorizando as contribuições dos alunos. A discussão que envolve a análise do uso da tecnologia
2ª fase - Problematização do tema como mediação pedagógica, pressupõem alguns fatos que
Fase essencial do projeto de aprendizagem. Refletir so- envolvem a questão do emprego de tecnologia no processo
bre os problemas relacionados ao tema, levando os alunos a de aprendizagem.
buscar referenciais que venham contribuir com a construção 1- Em educação escolar, não se valorizou a tecnologia
de algumas soluções. adequadamente visando a maior eficácia do ensino-apren-
3ª fase – Contextualização dizagem. O professor é formado para valorizar conteúdos e
Incita a visão holística do projeto. O professor precisa ensinamentos acima de tudo, e privilegiar a técnica de aula
ficar atento para que na contextualização estejam presentes expositiva para transmitir os ensinamentos.
dados da realidade, aspectos sociais e históricos, econômi- No ensino superior brasileiro, essa concepção se man-
cos e outros referentes à problemática levantada. tém até hoje valorizando a transmissão de informação, ex-
4ª fase - Aulas teóricas exploratórias periência, técnicas pesquisas de um profissional para forma-
O professor apresenta a temática e os conhecimentos ção de outros.
básicos as aulas expositivas precisam contemplar os temas, Vê-se uma desvalorização da tecnologia em educação,
os conteúdos e as informações levando o aluno a perceber no entanto há questões tecnológicas que interessam ao pro-
quais são os assunto pertinentes a problematização levan- cesso aprendizagem.
tada. 2- Dois fatos novos trazem à tona a discussão sobre a
5ª fase - Pesquisa individual mediação pedagógica e o uso da tecnologia, o surgimen-
O aluno de posse desses conhecimentos precisa buscar, to da informática e da telemática porque proporciona a
acessar, investigar as informações que possam solucionar as oportunidade de entrar em contato com as mais recentes
problematizações levantadas. informações, pesquisas e produção cientificas do mundo em
6ª fase - Produção individual todas as áreas.
Propor a composição de um texto próprio construído Desenvolvem-se os processos de aprendizagem a dis-
com base na pesquisa elaborada pelo aluno e no material tância.
disponibilizado pelo grupo. Tarefa que pode ser realizada
em sala de aula ou fora dela. Tecnologia e processo de aprendizagem
7ª fase - Discussão coletiva, crítica e reflexiva
Acontece quando o professor desenvolve os textos pro- A tecnologia apresenta-se como meio para colaborar no
duzidos individualmente e provoca a discussão sobre os processo de aprendizagem. Ela tem sua importância ape-
dados levantados. Nesse momento os alunos estão mais nas como um instrumento para favorecer a aprendizagem
preparados para discutir avanços e suas dificuldades, suas de alguém. Não é a tecnologia que vai resolver o problema
dúvidas. educacional do Brasil. Poderá colaborar se for usada ade-
8ª fase - Produção, coletiva quadamente.
Revela a possibilidade de aprender a trabalhar em par- O conceito de ensinar está mais ligado ao professor que
ceria; produzir um texto coletivo partindo das produções transmite conhecimentos e experiências ao aluno. O concei-
individuais. to de aprender está diretamente ligado ao aluno que produz
9ª fase - Produção final reflexões e conhecimentos próprios, pesquisa, dialogo, de-
É a fase que propicia o espaço para criar, para buscar bate, mudança de comportamento. Numa palavra o apren-
um salto maior que os registrados. Fase que os alunos irão diz cresce e desenvolve-se, o professor fica como mediador
apresentar a produção já finalizada. entre o aluno e sua aprendizagem. O aluno assume o papel
10ª fase - Avaliação coletiva do projeto de aprendiz ativo e participante que o leva a aprender e a
mudar seu comportamento.

79
GESTÃO E CONHECIMENTO

Tecnologia e mediação pedagógica


PIAGET, JEAN. A EQUILIBRAÇÃO DAS
Como fazer para que o uso da tecnologia em educação, ESTRUTURAS COGNITIVAS. RIO DE JANEIRO:
principalmente nos cursos universitários de graduação, pos- ZAHAR EDITORES, 1976.
sa desenvolver uma mediação pedagógica.
- O que entendemos por mediação pedagógica?
Por mediação pedagógica, entendemos a atitude e o
comportamento do professor que se coloca como um facili- A EQUILIBRAÇÃO DAS ESTRUTURAS COGNITIVAS:
tador, incentivando ou motivador da aprendizagem. PROBLEMA CENTRAL DO DESENVOLVIMENTO.

Mediação pedagógica em técnicas convencionais Segundo Piaget o desenvolvimento cognitivo se dá por


interações entre o sujeito e o objeto de conhecimento. Nas
A mediação pedagógica pode estar presente tanto nas conclusões gerais de Les formes élémentaires de la dialecti-
estratégias convencionais como nas novas tecnologias. que (1980) ele afirma que:
- Por técnicas convencionais identificamos aquelas que A relação cognitiva sujeito/objeto é uma relação dialé-
já existem há muito tempo, importantes para a aprendiza- tica porque se trata de processos de assimilação (por meio
gem presencial. Seu uso não tem sido muito frequente tal- de esquemas de ação, conceitualizações ou teorizações, se-
vez porque os professores não as conhecem, ou por não gundo os níveis) que procedem por aproximações sucessi-
dominarem sua pratica. Mas para muitos professores é uma vas e através dos quais o objeto apresenta novos aspectos,
forma de dinamizar as aulas. características, propriedades, etc. que um sujeito também
- Novas tecnologias são aquelas que estão vinculadas em modificação vai reconhecendo. Tal relação dialética é um
ao uso do computador, a informática, a telemática e a edu- produto da interação, através da ação, dos processos anta-
cação a distância. gônicos (mas indissociáveis) de assimilação e acomodação.
- As técnicas convencionais, em geral são usadas para Se a equilibração acontece a partir da relação dialética
iniciar um curso, despertar um grupo, para que os membros entre o sujeito e o objeto através dos processos de assimi-
do grupo se conheçam em um clima descontraído. Essas lação e acomodação, como Piaget define estes processos?
técnicas ajudam a expressar expectativas ou problemas que
afetam o clima entre eles ou o desempenho de cada um. Assimilação
- Num segundo grupo as técnicas que permitem que os
aprendizes se desenvolvem em situações simuladas. Ex. dra- Piaget retira este conceito da biologia, “a assimilação
matizações, jogos dramáticos, jogos de empresa, estudos de constitui um processo comum à vida orgânica e à atividade
caso, apresentando estratégias de situações da realidade. mental, portanto, uma noção comum à fisiologia e à psico-
São técnicas eu desenvolvem a capacidade de analisar logia” (1996, p. 47). E se para a fisiologia assimilar o alimento
problemas e achar soluções, preparando para enfrentar si- é retirar partes deste alimento para transformar em energia,
tuações reais e complexas. aqui a assimilação assume um caráter semelhante, ou seja,
- Um terceiro grupo de técnicas coloca o aprendiz em nos processos cognitivos - na relação sujeito/objeto, quan-
contato com situações reais. Ex. Estágios, excursões, aulas do uma pessoa entra em contato com o objeto de conheci-
práticas visita a obras, industrias, escolas enfim em locais mento ela retira desse objeto algumas informações e as re-
próprios das atividades profissionais. É altamente motivador tém, e são essas informações, e não todas, e nem outras que
para a aprendizagem. Ajuda a dar significado para as teo- são retidas porque existe uma organização mental a partir
rias. de estruturas já existentes.
Ao contrário do que acontece na assimilação fisiológica
Mediação pedagógica e as novas tecnologias em que o objeto sofre transformações químicas, na assimi-
lação cognitiva o objeto não é alterado por ser assimilado
Por novas tecnologias em educação, entende-se o uso pelas estruturas mentais, nem é convertido em substância
da informática, do computador, da Internet CD-ROM, da hi- própria do organismo, mas apenas integrado no campo de
permídia, da multimídia, educação a distância, chats, listas aplicação dessas estruturas.
de discussão, correio eletrônico e de outros recursos e lin- “A assimilação não se reduz (...) a uma simples identifica-
guagens digitais que podem colaborar para tornar a apren- ção, mas é construção de estruturas ao mesmo tempo que
dizagem mais eficaz, cooperam para o desenvolvimento da incorporação de coisas a essas estruturas” (PIAGET,1996, p.
educação em sua forma presencial (fisicamente) pois dina- 364). Em outras palavras, assimilação significa interpretação,
mizam as aulas. Cooperam ou seja, ver o mundo não é simplesmente olhar o mundo,
mas é interpretá-lo, assimilá-lo, tornar seu alguns elementos
do mundo, portanto isso implica necessariamente em assi-
milar algumas informações e deixar outras de lado a cada
relação existente entre o sujeito e o objeto.
Piaget afirma que o termo assimilação foi tomado no
sentido amplo de uma integração às estruturas prévias e

80
GESTÃO E CONHECIMENTO

que assimilar um objeto a um esquema torna (...) a conferir a outros qualitativamente diferentes, passando por múltiplos
esse objeto uma ou mais significações e é essa atribuição de desequilíbrios e reequilibrações” (1975, p. 9). É um processo
significações que comporta, então, um sistema mais ou me- dialético que envolve equilíbrio - desequilíbrio - reequilíbrio,
nos complexo de inferências, mesmo quando ela tem lugar e é por esse motivo que ele preferiu o termo equilibração, e
por constatação. Em resumo, poder-se-ia dizer então que não equilíbrio, que daria a impressão de algo estável, justa-
uma assimilação é uma associação acompanhada de infe- mente para sugerir a ideia de algo móvel e dinâmico.
rência. (1976, p. 59) Na concepção piagetiana, a inteligência deve ser vista
como equilíbrio entre a assimilação e a acomodação e ele, às
Acomodação vezes, a representa como duas funções opostas uma à outra,
enquanto a assimilação é comandada pelo sujeito cognos-
Para Piaget “a assimilação e a acomodação são (...) os cente, a acomodação é endereçada às exigências do am-
dois polos de uma interação entre o organismo e o meio, biente. “A equilibração é necessária para conciliar os aportes
a qual é a condição de todo funcionamento biológico e in- da maturação, da experiência dos objetos e da experiência
telectual” (1996). Nesta interação com o meio as estruturas social” (1976, p. 126).
mentais, ou seja, a organização que a pessoa tem para co- Na primeira versão da teoria da equilibração, Piaget
nhecer o mundo, são capazes de se modificarem para aten- não deixa claro de que modo poderá ser reconhecido se a
der e se adequar às necessidades e singularidades do ob- acomodação e a assimilação estão em situação de equilí-
jeto, ou seja, as estruturas mentais se amoldam a situações brio. Em publicação de 1924, Piaget relacionou equilíbrio à
mutantes e a esse processo, Piaget designou acomodação. reversibilidade do pensamento operativo, em 1945 estava
A acomodação é uma variação de comportamento e relacionado com o jogo simbólico e em 1936 e 1947 o tal
não uma mera reação a determinados estímulos, pois a ca- equilíbrio foi atribuído à inteligência adaptada. Nas três si-
pacidade de variação das estruturas mentais deixa claro que tuações, a tarefa primordial dos esquemas estava associada
mesmo as mais simples reações não são processos simples- mais à assimilação, e a acomodação exercia função mera-
mente mecânicos; a acomodação é a origem do processo de mente auxiliar.
aprendizagem. Como afirma Piaget: “Que a vida mental seja Na década de 1970, quando da publicação da segunda
também acomodação ao meio ambiente, disso não se pode versão da teoria da equilibração, Piaget atribuiu o estado
(...) duvidar”, portanto também a “assimilação jamais pode de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação à causa-
ser pura porque, ao incorporar os elementos novos nos es- lidade. Mas o que o levou à necessidade de reformular a
quemas anteriores, a inteligência modifica sem cessar esses referida teoria? Na realidade, o foco de atenção do Centro
últimos para ajustá-los aos novos dados.” (1996). Internacional de Epistemologia Genética (CIEG) - sediado
Unindo os processos indissociáveis e antagônicos de as- em Genebra e que era presidido por ele, “mudara, a partir
similação e acomodação, pode-se concluir que conhecer um dos anos 70 passou das estruturas lógicas - que monopoli-
objeto é assimilá-lo, mas como este objeto oferece certas re- zaram as temáticas desde sua fundação - para os problemas
sistências ao conhecimento é necessário que a organização da causalidade”. Esse novo foco, levou Piaget e sua equipe
mental se modifique. Como as estruturas mentais são flexí- a “considerar o papel que desempenham os conteúdos e as
veis e capazes de se transformar elas são utilizadas em va- relações causais no desenvolvimento das estruturas.”
riadas situações e de maneiras diferentes. A acomodação é, Segundo García (2002, p. 95), o papel desempenhado
nas palavras Piaget, “esse resultado das pressões exercidas pelos conteúdos e as relações causais, pode ser resumido
pelo meio” (1996, p. 12). Por esse motivo, o conhecimento é em quatro pontos:
sempre um processo de assimilação e acomodação.
Segundo Piaget (1941), “na assimilação e acomodação
• Desde as atividades iniciais de uma criança, toda
se pode sem mais reconhecer a correspondência prática
ação é causal, não apenas pelos mecanismos psi-
daquilo que serão mais tarde a dedução e a experiência: a
cofisiológicos que as geram, mas também por seus
atividade da mente e a pressão da realidade”.
resultados. Seu próprio organismo está submetido a
interações físicas.
Equilibração
• A causalidade está envolvida na formação dos es-
O sujeito, ao entrar em contato com um objeto desco- quemas de ação e em suas coordenações (ordenar,
nhecido, pode entrar em conflito com esse objeto, ou seja, formar conjuntos), dos quais surgirão as operações.
no processo de assimilação, o que é novo, às vezes, oferece
• O desenvolvimento cognitivo consistirá inicialmente
certas resistências ao conhecimento e para conhecer esse
na tomada de consciência das relações causais pro-
objeto o sujeito precisa modificar suas estruturas mentais
cedentes das ações do próprio sujeito, diferencian-
e acomodá-las. E é a esse processo de busca do equilíbrio
do-as das relações entre os objetos. A partir daí o
dessas modificações que Piaget denominou equilibração.
desenvolvimento leva à construção progressiva de
O desenvolvimento é, para Piaget, “em um certo senti-
dois sistemas: as operações do sujeito, geradas nas
do, uma equilibração progressiva, uma passagem contínua
coordenações gerais da ação e à causalidade que ex-
de um estado de menor equilíbrio a um estado de equilí-
trai suas “informações” das ações particulares.
brio superior” (1976, p.123) e a equilibração é um processo
“que conduz de certos estados de equilíbrio aproximado a

81
GESTÃO E CONHECIMENTO

• A causalidade conduz aos “fatos” e às “leis”, a par- pectivas - perigo e oportunidades. Quando consideramos o
tir de propriedades observáveis. Mas a “leitura” dos perigo, estamos envolvidos por uma atitude negativa, igno-
fatos supõe instrumentos de “assimilação”, que não rando as alternativas de superação, e quando considera-se a
passam de formas de organização que dependem perspectiva de oportunidade, estamos à mercê da crítica, da
das estruturas operatórias construídas pelo sujeito. reflexão e a da reorientação da prática.
A partir desses pontos, fica evidenciado que a teoria Este mundo, definido como pós- moderno, tem a refe-
construtivista do desenvolvimento cognitivo atribui rência de uma modernidade antecedente. A modernidade
especial importância para as “inter-relações e inter- caracterizou-se como um período em que a razão é como
dependências entre o sistema constituído pelas ope- um elemento explicador e transformador do mundo. Ser
rações lógico-matemáticas e o sistema de relações moderno implicava em lançar-se à aventura da razão instru-
causais cuja fonte é o material empírico”. mental, tecnológica. Do ponto de vista político-econômico
instalou-se o modelo liberal, a defesa do livre mercado, o
Fonte incentivo à especialização, a discussão sobre os ideais de li-
PÁDUA, G. L. D. de. A epistemologia genética de Jean berdade e igualdade. Globalização - fenômeno da expansão
Piaget. Revista FACEVV, 2009. Nº.2: P. 22-35 de inter-relações, principalmente de natureza econômica,
em uma escala mundial, entre países e sociedades de todo
o mundo, reflete o progresso tecnológico e o crescimento
RIOS, TEREZINHA AZEREDO. COMPREENDER da pobreza em todas as regiões do mundo. É a convivência
E ENSINAR: POR UMA DOCÊNCIA DA com a exclusão social. É um mundo desencantado que des-
MELHOR QUALIDADE. SÃO PAULO: CORTEZ, preza alguns valores fundamentais na construção do mun-
2003. do e do ser humano. Neste mundo complexo, também se
tornam mais complexas as tarefas dos educadores. E neste
contexto, qual será a atitude a se tomar no campo do tra-
balho docente, na perspectiva da educação e da filosofia? A
A autora apresenta neste texto, sua tese de doutorado
autora ressalta algumas demandas que se configuram como
defendida em agosto de 2000 na Faculdade de Educação da
desafios:
Universidade de São Paulo apreciada por Selma Garrido Pi-
menta, (sua orientadora), Mário Sergio Cortella e José Carlos • um mundo fragmentado exige para a superação da
Libâneo. Ensinar é o enfoque do livro, que a autora faz com fragmentação, uma visão de totalidade, um olhar
muita propriedade, uma vez que “fazer aulas “ e “ensinar” é a abrangente e, no que diz respeito ao ensino, a arti-
sua alegria. Fala de seus limites, o “largar tudo”, mas retorna culação estreita dos saberes e capacidades;
com esperança refletindo sua prática numa mistura de ra-
zão e paixão, é uma reflexão que empreende uma busca de • um mundo globalizado requer, para evitar a massi-
compreensão da realidade através da Filosofia e da Didática, ficação e a homogeneidade redutora, o esforço de
chamada de ciência do ensino. distinguir, para unir a percepção clara de diferenças
e desigualdades e, no que diz respeito ao ensino, o
COMPREENDER E ENSINAR NO MUNDO CONTEM- reconhecimento de que é necessário um trabalho
PORÂNEO interdisciplinar que só ganhará sentido se partir de
uma efetiva disciplinaridade;
É a articulação entre Filosofia e Didática - saberes que • num mundo em que se defronta a afirmação de uma
contribuem para a construção contínua da competência razão instrumental e a de um irracionalismo é preci-
do professor. Filosofia - é a reflexão e a compreensão da so encontrar o equilíbrio, fazendo a recuperação do
atuação dos seres humanos no mundo. Didática - é a preo- significado da razão articulada ao sentimento e, no
cupação com o ensino, a socialização, criação e recriação. que diz respeito ao ensino, à reapropriação do afeto
Tanto a Filosofia como a Didática são saberes humanos his- no espaço pedagógico.
toricamente situados e é preciso verificar as caraterísticas do
contexto, nos quais eles desempenham suas funções e quais Compreender o mundo - Através da Filosofia faz-se
as alternativas para que estes sujeitos possam “fazer acon- uma reflexão e objetiva-se um saber inteiro com clareza,
tecer”. A responsabilidade pelo ensino está dispersa, mas há abrangência e profundidade, orienta-se num esforço de
uma grande preocupação com ele e pode-se constatar que compreensão que é o desvelamento da significação, o valor
as demandas colocadas à Filosofia ainda são muito grandes. dos objetos sobre os quais se volta. Conceito de compreen-
Assim sendo, encontra-se no campo da educação a perspec- são - uma referência a uma dimensão intelectual e a uma
tiva de uma ressignificação da ciência do ensinar. dimensão afetiva. Faz-se necessária também uma atitude de
Nosso mundo, nosso tempo - precariedade e urgências admiração diante do conhecido. Aristóteles afirmava que a
– É necessário refletir sobre os possíveis caminhos através admiração é o primeiro estímulo que o ser humano tem para
da Filosofia e da Didática. Na passagem do novo milênio, do filosofar. Na prática, o que fascina e intriga? A resposta está
novo século, o que se afirma é que se enfrenta uma crise de na vivência das situações-limite, ou situações problemáticas.
significados da vida humana, das relações entre as pessoas, Quando se faz uma reflexão sobre o próprio trabalho, ques-
instituições e comunidades. A crise aponta para duas pers- tiona-se a sua validade, o seu significado. As respostas são

82
GESTÃO E CONHECIMENTO

encontradas em dois espaços: na prática - na experiência percepção clara das diferenças e especificidades dos sabe-
cotidiana; na reflexão crítica - sobre os problemas que esta res, e das práticas para realizar um trabalho coletivo e in-
prática faz surgir como desafios. terdisciplinar. Interdisciplina - ressalta “mistura de trabalhos”
Ensinar o mundo - Etimologicamente; didática em grego que é a maneira equivocada em que ocorre a interdiscipli-
didaktika, derivado do verbo didasko - significado “relativo naridade, em torno de um tema. Na verdade, a interdiscipli-
ao ensino”. Para Coménio - “a arte de ensinar”. A definição naridade é algo mais complexo, que só ocorre quando trata
de Didática engloba duas perspectivas: uma ciência que tem verdadeiramente de um diálogo ou de uma parceria, que é
um objeto próprio, como um saber, um ramo do conheci- constituída exatamente na diferença, na especificidade da
mento, e uma disciplina que compõe a grade curricular dos ação de grupos ou indivíduos que querem alcançar obje-
cursos de formação de professores. tivos comuns. É preciso ter muita clareza do tipo de contri-
O ensino como objeto da Didática, é considerado como buição que cada grupo pode trazer, na especificidade desta
uma prática social que se dá no interior de um processo de contribuição, que é a disciplinaridade.
educação e que ocorre informalmente, seja espontânea, ou
formalmente, de maneira sistemática, intencional e organi- Competência e Qualidade na Docência
zada. De maneira organizada, se desenvolve na instituição
escolar realizado a partir da definição de objetivos, conteú- É uma reflexão sobre a articulação dos conceitos de
dos a serem explorados no processo educacional. A relação competência e de qualidade no espaço da profissão docen-
professor-aluno, por intermédio do gesto de ensinar, pro- te. Estes termos são empregados com múltiplas significa-
picia um exercício de meditação, é o encontro com a rea- ções, gerando equívocos e contradições. A ideia de ensino
lidade, considerando o saber já existente, e procura articu- competente é um ensino de boa qualidade. É fazer a co-
lar a novos saberes. Este processo possibilita aos alunos a nexão estreita entre as dimensões: técnica, política, ética e
formação e o desenvolvimento de capacidades, habilidades estética da atividade docente. Trata-se de refletir sobre os
cognitivas e operativas. Logo, o ensino através da ação es- saberes que se encontram em relação à formação e à práti-
pecífica do docente caracteriza-se como uma ação que se ca dos professores. O conceito de qualidade é abrangente,
articula à aprendizagem. Diante desta apresentação, a au- é multidimensional. Na análise crítica da qualidade, devem
tora faz um alerta reflexivo na seguinte frase: “O professor ser considerados os aspectos que possam articular a ordem
afirma que ensinou e que infelizmente os alunos não apren- técnica e pedagógica aos de caráter político - ideológico. A
deram”. A Didática é um elemento fundamental para o de- reflexão sobre os conceitos de competência e qualidade têm
senvolvimento do trabalho docente. “Um bom professor é o propósito de ir a busca de uma significação que se alterou
reconhecido pela sua didática”. Esse conceito é identificado exatamente em virtude de certas imposições ideológicas.
como um “saber fazer”. A Didática deve ser entendida em Em busca da significação dos conceitos: o recurso à ló-
seu caráter prático de contribuição ao desenvolvimento do gica - A lógica formal permite analisar os conceitos em sua
trabalho de ensino, realizado no dia- a- dia da escola. (Oli- própria constituição. Para Aristóteles, a lógica foi chamada de
veira, M.R.S., 1993:133-134). organon, necessária em todos os campos do conhecimento.
Didática e Filosofia da Educação: uma interlocução - Na A compreensão dos termos tem sofrido modificações em
música de Gilberto Gil “Hoje o mundo é muito grande, por- virtude das características dos contextos em que são utiliza-
que a Terra é pequena” e no Vasto mundo de Drumond de dos. Assim, o termo Competência, frequentemente é usado
Andrade. O mundo cuja extensão se torna maior em função para designar múltiplos conceitos como: capacidade, saber,
da intervenção contínua dos seres humanos, construindo e habilidade, conjunto de habilidades, especificidade. Portan-
modificando a cultura e a história. Como ser professor neste to, no que se refere à Qualidade observa-se: programa de
mundo? O que é ensinar? Como e de que modo os alunos computadores, qualidade de um atleta, o controle de quali-
aprendem? dade de produtos industriais. O que realmente é importante
A fragmentação do conhecimento, da comunicação e não são as palavras, os termos, e sim os objetos da reali-
das relações comprometem a prática educativa. Portanto, é dade que eles designam. No que diz respeito à educação
preciso um novo olhar e uma articulação estreita de saberes de qualidade refere-se à história da educação brasileira. Re-
e capacidades para que a Filosofia da Educação abranja o centemente, menciona-se com frequência a necessidade de
processo educativo em todos os aspectos. A Didática ne- competência no trabalho do educador.
cessita dialogar com a diversidade dos saberes da docência, Qualidade ou qualidades? - Há uma multiplicidade de
enfrentar os desafios e buscar alternativas para pensar e re- significados: educação de qualidade, está se referindo a uma
pensar o ensino. Este contexto implica a revisão de conteú- série de atributos que teria essa educação, ou seja, um con-
dos, de métodos, do processo de avaliação, novas propostas junto de atributos que caracteriza a boa educação. Usando
e novas organizações curriculares. Ensinar - Muitas questões a palavra Qualidade com a maiúscula, é na verdade um con-
se apropriam da prática docente, com o objetivo de estabe- junto de “qualidades”.
lecer vínculos entre o conhecimento e a formação cultural, o Conforme a citação da autora, para Aristóteles, “a qua-
desenvolvimento de hábitos, atitudes e valores. lidade é uma das categorias que se encontram em todos os
A autora ressalta com base em Selma G. Pimenta em “O seres e indicam o que eles são ou como estão. As categorias
estágio na formação de professores”- 1994, que são neces- são: substância, quantidade, qualidade, relação, tempo, lu-
sárias novas questões para um novo cenário educacional e gar, ação, paixão, posição e estado”. São breves referências
para o novo milênio. O fenômeno da globalização é uma no que diz respeito à noção de qualidade, e pode-se traba-

83
GESTÃO E CONHECIMENTO

lhar no campo da educação. A educação é um processo de A docência da melhor qualidade tem que se buscar, conti-
socialização da cultura, no qual se constroem, se mantêm e nuamente, e se afirmar na explicitação desta qualidade no
se transformam os conhecimentos e os valores. A esta defi- que se refere a: o quê, por que, para que, para quem. Essa
nição chama-se categoria da “substância”. Se este processo explicitação se dará em cada dimensão da docência:
de socialização se faz com a imposição de conhecimentos
• dimensão técnica - a capacidade de lidar com os
e valores, ignorando as características dos educandos, dire-
conteúdos, conceitos, comportamentos e atitudes,
mos que é uma má educação. Toda educação tem qualida-
e a habilidade de construí-los e reconstruí-los com
des. A boa educação pela qual desejamos e lutamos, é uma
os alunos;
educação cujas qualidades carregam um valor positivo.
Competência ou competências? - Como se abriga qua- • dimensão estética - diz respeito à presença da sensi-
lidade no conceito de competência? O termo é recente e bilidade e sua orientação numa perspectiva criadora;
passa a ser uma referência constante. Perrenoud reconhe-
• dimensão política - diz respeito à participação na
ce que “a noção de competência tem múltiplos sentidos”
construção coletiva da sociedade e ao exercício de
e segundo sua afirmação: (...) uma competência como uma
direitos e deveres;
capacidade de agir eficazmente em um tipo definido de si-
tuação, capacidade que se apoia em conhecimentos, mas • dimensão ética - diz respeito à orientação da ação
não se reduz a eles. Para enfrentar da melhor maneira pos- fundada no princípio do respeito e da solidariedade,
sível uma situação, devemos em geral colocar em jogo e em na direção da realização de um bem coletivo.
sinergia vários recursos cognitivos complementares, entre
os quais os conhecimentos. As competências utilizam, inte- Felicidadania
gram, mobilizam conhecimentos para enfrentar um conjun-
to de situações complexas. “Como guia, um referencial de Apresenta a re-significação da cidadania, como realiza-
competências adotado em Genebra - 1996 para a formação ção individual e coletiva. Cidadania - Identifica-se com a par-
contínua”, (lista das 10 competências): ticipação eficiente e criativa no contexto social. Democracia
- A participação através do voto - “as decisões políticas”. É
1 - Organizar e dirigir situações de aprendizagem; necessário criar espaço para que se possa construir conjun-
2 - Administrar a progressão das aprendizagens; tamente as regras e estabelecer os caminhos. Felicidade - Na
3 - Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferen- articulação entre cidadania e democracia retoma-se a articu-
ciação; lação entre a ética e política. Alteridade e autonomia - É no
4 - Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu convívio que se estabelece a identidade de cada pessoa na
trabalho; sociedade.
5 - Trabalhar em equipe; A ação docente e a construção da felicidadania:
6 - Participar da administração da escola; 1. Construir a felicidadania na ação docente - é reconhe-
7 - Informar e envolver os pais; cer o outro;
8 - Utilizar novas tecnologias; 2. Construir a felicidadania na ação docente - é tomar
9 - Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão; como referência o bem coletivo;
10- Administrar sua própria formação contínua. 3. Construir a felicidadania na ação docente - é envol-
ver-se na elaboração e desenvolvimento de um projeto co-
Com referência às 10 competências de Perrenoud, a letivo de trabalho;
autora ressalta: “competências são as capacidades que se 4. Construir a felicidadania na ação docente - é instalar
apoiam em conhecimentos”, é usado como sinônimo de ou- na escola e na aula uma instância de comunicação criativa;
tros termos como: capacidade, conhecimento, saber. Apre- 5. Construir a felicidadania na ação docente - é criar es-
senta também, quatro tipos diferentes de competências: paço no cotidiano da relação pedagógica para a afetividade
(1998:14-16): e a alegria;
1. competência intuitiva; 6. Construir a felicidadania na ação docente - é lutar pela
2 - competência intelectiva; criação e pelo aperfeiçoamento constante de condições via-
3 - competência prática; bilizadoras do trabalho de boa qualidade.
4 - competência emocional.
Certezas Provisórias
Completando este capítulo, é preciso trabalhar com a
perspectiva coletiva presente nas noções de qualidade e Uma reflexão sobre a formação e a prática docente. Arti-
competência que são ampliadas na construção coletiva. cular os conceitos de competência e de qualidade que visam
à possibilidade de uma intervenção significativa no contexto
Dimensões de Competência social. A melhor qualidade se revela na escolha do melhor
conteúdo, para poder reverter conceitos, comportamentos
Uma definição de competência apresenta uma totalida- e atitudes. A melhor qualidade se revela na definição dos
de, ou seja, uma pluralidade de propriedades (conjunto de caminhos para se fazer a mediação entre o aluno e o co-
qualidades de caráter positivo) mostrando suas dimensões: nhecimento. O critério que orienta a escolha do melhor con-
Técnica, Política, Ética, Estética e a estreita relação entre elas. teúdo é o que aponta para a possibilidade dos exercícios da

84
GESTÃO E CONHECIMENTO

cidadania e da inserção criativa na sociedade. A melhor me- Esta obra visa:


todologia é a que tem como referência as características do
• Possibilitar uma tomada de consciência dos pressu-
contexto em que se vive, no desejo de criar, superar limites
postos implícitos na prática pedagógica
e ampliar possibilidades.
A melhor qualidade revela-se na sensibilidade do gesto • Fazer a crítica da relação pedagógica de cunho tra-
docente na orientação de sua ação, para trazer o prazer e a dicional, alienado
alegria ao contexto de seu trabalho e da relação com os alu-
• Despertar para a necessidade de superar a relação
nos. Alegria no melhor sentido, resultante do contato com o
pedagógica baseada na mera justaposição, em dire-
mundo e da ampliação do conhecimento sobre ele. O ensi-
ção à interação
no da melhor qualidade é aquele que cria condições para a
formação de alguém que sabe ler, escrever e contar. Ler não • Trabalhar os fundamentos da Metodologia Dialética
apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu de Construção do Conhecimento em Sala de Aula,
tempo. Escrever não apenas nos cadernos, mas no contexto estabelecendo alguns princípios norteadores da prá-
de que participa, deixando seus sinais, seus símbolos. Contar tica pedagógica.
não apenas números, mas sua história, espalhar sua palavra,
falar de si e dos outros. Contar e cantar nas expressões artís- A MOBILIZAÇÃO PARA O CONHECIMENTO
ticas, nas manifestações religiosas, nas múltiplas e diversifi-
cadas investigações científicas.
NÃO HÁ APRENDIZAGEM SEM O INTERESSE DO
Fonte ALUNO EM APRENDER.
http://pt.slideshare.net/marcaocampos/rios-terezinha- Para que um determinado objeto se torne objeto de co-
-azeredo-compreender-e-ensinar nhecimento é imprescindível que o aluno esteja mobilizado
para conhecê-lo. É preciso que o aluno tenha mobilidade
para tal, tendo a intenção de conhecer esse objeto desco-
VASCONCELLOS, CELSO DOS S. nhecido. E o ato da mobilização para o conhecimento do
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SALA objeto exige do sujeito uma carga energética física e psí-
DE AULA. SÃO PAULO: LIBERTAD, 2002. quica durante todo o processo. É importante ressaltar que
durante essa aprendizagem também estão presentes cargas
afetivas em torno do objeto a ser conhecido, e que essas
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SALA DE cargas não podem ser demasiadas, pois assim poderá oca-
AULA sionar distúrbios, em virtude da grande ansiedade de quem
quer conhecer o objeto.
“O conhecimento é a grande categoria do processo Para que o sujeito conheça o objeto também é de gran-
educacional. É estratégia fundamental e privilegiada de vida, de necessidade aborda-lo, e nesse sentido podemos dizer
de uma vida práxica que se constrói, histórica e socialmente, que não há possibilidade de conhecimento do objeto se ele
no cotidiano que emoldura a catalisa nossas experiências. O estiver ausente do sujeito.
conhecimento é mediação central do processo educativo. E Mas para o sujeito construir o seu conhecimento a res-
aí ele se constrói concretamente, supondo evidentemente peito de um objeto qualquer é preciso também que esse
intencionalidade, metodologia e planejamento”. objeto tenha significado para o sujeito. Mesmo um simples
significado no primeiro momento já é o suficiente. O que
“Celso Vasconcellos vem trazer, através deste livro, uma vale é prender o aluno ao objeto, para que no segundo mo-
valiosa contribuição, na medida em que coloca e desenvolve mento ele desperte mais desejo de conhecê-lo, se este fizer
esta discussão, não mais num plano puramente especulati- parte das suas necessidades. Nesse sentido, podemos afir-
vo, mas naquele plano bem concreto e imediato da prática mar que a mobilização é o caminho e a meta é o significado
real do educador. É isso mesmo: sem perder, em nenhum que o objeto tem para o sujeito.
momento, o apoio rigoroso de seus referenciais teóricos, a Em se tratando da mobilização para o conhecimento,
exposição/ reflexão de Celso parte da experiência concreta podemos dizer que nenhum sujeito se debruçará horas a
do trabalho pedagógico na sala de aula, onde ele acontece fio sobre um objeto que não satisfaça as suas necessidades
de maneira efetiva e imediata. A abordagem desenvolvida num sentido bem amplo. E isto é o grande problema que
pelo autor já é uma experiência muito palpável da unidade enfrentamos na sala de aula hoje em dia – não conseguimos
profunda dos processos envolvidos na relação educacional. despertar a atenção dos nossos alunos porque não estamos
Com razão, afirma que é na sala de aula que ‘o professor oferecendo para eles objetos que satisfaçam as suas neces-
tem sua prática, seleciona conteúdos, passa posições políti- sidades, as suas curiosidades.
cas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores’. A rela- Partindo-se do princípio da dialética da mobilização,
ção pedagógica, cerne da efetivação da formação humana, é concordamos plenamente que ninguém motiva ninguém,
mediada pela própria realidade, pois nela se ‘dialoga’ sobre ninguém se motiva sozinho, os sujeitos se motivam em co-
o mundo real”. (Trechos do Prefácio, por Antonio Joaquim munhão, mediados pela realidade – parafraseado de Paulo
Severino). Freire.

85
GESTÃO E CONHECIMENTO

Já os professores adeptos da linha pedagógica tradicio- Sendo assim, a intencionalidade do educador, que
nal não aplicam a dialética da mobilização em sala de aula. aponta a real definição sobre o seu papel, deixa de existir
Eles têm uma visão equivocada sobre o que é construção do e, consequentemente, a intencionalidade do sujeito/aluno
conhecimento. Para esses professores o caráter reflexivo e também não tem sentido.
ativo dos alunos em torno do objeto não tem significância, e
basta que esses alunos estejam em sala de aula, pois sendo CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
assim eles acham que os alunos já podem estar motivados.
Consiste em possibilitar que o aluno faça o confronto
Articulação realidade-Objeto-Mediação direto com o objeto, de forma a apreendê-lo em suas rela-
ções internas e externas. Tal procedimento deve permitir que
Para que o educando, sujeito conhecedor ou transfor- o aluno estabeleça relações de causa e efeito e compreenda
mador do objeto, no processo de mobilização para o co- o essencial. Quanto mais abrangentes essas relações forem,
nhecimento, tenha sucesso na sua empreitada a favor das melhor o aluno as compreenderá.
descobertas, é necessário que a sua ação seja consciente e É exatamente o momento em que o aluno, no seu es-
voluntária, tão quanto necessária seja a do professor. tudo, passa a conhecer o objeto e tirar conclusões sobre tal,
É preciso, nesse sentido, que o professor conheça a rea- para assim poder construir novos conhecimentos sobre o
lidade dos seus alunos, suas necessidades, para assim poder mesmo.
traçar a mobilização para o conhecimento e ter conheci- É nesse momento que o aluno vai conhecer o objeto a
mento de onde quer chegar. Somente assim o trabalho da ser estudado, mas com a ajuda do professor. Nenhum de-
metodologia dialética poderá ter sucesso. ver toma partido de um aprendizado isolado. Os dois, “em
Conhecer a realidade do aluno é um ponto de partida comunhão,” devem interagir constantemente em torno do
muito importante se quisermos realmente buscar a mobi- objeto e a realidade.
lização. Mas uma realidade concreta e vista pelos olhos da Sendo assim, o professor, ao invés de dar o conheci-
razão, desprezando a realidade empírica que corresponde a mento pronto para o aluno, mobiliza-o, estimula-o para que
somente o superficial das coisas. ele mesmo possa buscar o conhecimento e refletir sobre o
Portanto, para que isso ocorra, o primeiro passo seria a mesmo, com o auxilia da ajuda do professor.
prática social comum a professor e aluno.
Para o educador construtivista é importante ressaltar a Processo de conhecimento em sala de aula
presença da psicogênese durante o processo de conheci-
mento, no qual estão interrelacionados a infraestrutura or- Apesar da mobilização do sujeito ser uma característica
gânica, o cérebro, o amadurecimento da função e as rela- para conhecer os objetos, ainda somente isto não é neces-
ções sociais. sário para eu haja a construção do conhecimento. A ação do
O homem é geneticamente social, mas ele também é sujeito sobre o objeto a ser conhecido é a necessidade pri-
social e o seu conhecimento é produto da inteligência. mordial. Isto posto, podemos dizer que o importante então
A forma de conhecer as coisas tem elementos diferen- não é só motivar, mas colocar o sujeito a par da construção
ciados, mesmo apresentando estrutura básica semelhantes. do conhecimento. E para isso o aluno deve ter em conta que
Vejamos que em certa fase da vida a criança pode deixar de a contradição é o núcleo para que isso ocorra. O homem
entender algo que para o homem na sua fase adulta seja tão deve ser ativo para superar as contradições, as dúvidas em
óbvio, tão comum! Às vezes os adultos não percebem certas torno do objeto. Se não houver as contradições não teria
coisas, mas nem por isso elas deixam de existir! sentido algum a construção do conhecimento. A contradi-
Durante o processo de ensino-aprendizagem é muito ção deve existir para que seja superada, em torno da ideia
comum observarmos educadores que pulam/queimam as que há entre o objeto e o sujeito.
etapas da aprendizagem – os professores ao invés de se Diante do exposto, o papel do professor seria estabele-
prenderem aos pormenores iniciais sobre o assunto, vão cer a contradição, tendo em vista as representações mentais
logo, para o que eles dizem “ao que interessa”. É o que cha- que o aluno tem consigo. Mas essa negação não é o simples
mamos de técnica do atalho. Isso bloqueia o raciocínio ló- fato de dizer “não” para o vazio, uma negação sem sentido.
gico do aluno, tendo em vista que a aprendizagem é um É uma negação/contradição que provoque o aluno a sair do
processo visto em fazes. seu estado de inércia e se mobilize através da expressão do
Uma característica da mobilidade para o conhecimento seu pensamento, criticando a realidade dos fatos existen-
é a clareza dos objetivos. Mas não tratamos aqui dos ob- ciais. Para isso o professor tem que ter em mente os co-
jetivos mecânicos que não despertam o sujeito para o co- nhecimentos já adquiridos pelos alunos, afinal o aluno tem
nhecimento, e sim, de objetivos que satisfaçam realmente as um quadro de significados e uma gama de conhecimentos
necessidades dos alunos. anteriores que precisam ser aprimorados.
Infelizmente os objetivos traçados pelas escolas só aten- A vontade de vencer a contradição sempre existente en-
dem às regras do sistema, tendo como prioridade o progra- tre o sujeito e o objeto é uma luta constante dos homens.
ma conteudista, o que o diretor quer e o que possivelmente Mas essa contradição pode sofrer interferências no esta-
poderá cair no vestibular. Desse modo fica difícil educar para belecimento. Às vezes o sujeito não se sente desafiado por
a vida! uma contradição porque está mais ligado em outra – deslo-
camento de contradição. Em outro momento o sujeito es-

86
GESTÃO E CONHECIMENTO

quece certa contradição e vai à busca daquela que mais lhe Na construção do conhecimento deve existir uma liga-
interessa, esquecendo as demais – bloqueio de contradição. ção forte entre o sujeito e o objeto, ambos devem estar in-
Para a construção de conhecimentos pautada na visão terrelacionados com o social para que a construção desse
libertadora a criticidade deve fundamentalmente existir. conhecimento não seja restrito. Sujeito e objeto são sempre
Como poderia o professor entrar em contradição com o alu- modificados e dependentemente da prática social, e isso é o
no se este estivesse no senso comum? O aluno, nesse caso, que chamamos de caráter social do conhecimento.
permaneceria numa passividade e longe de ser um sujeito No processo ensino-aprendizagem o professor não
crítico e pensante. Mas a criticidade a que me refiro não é pode fazer sozinho a tarefa. Não pode fazer pelo aluno, mas
aquela que somente fala mal das coisas ao nosso redor, e também o aluno não pode realizar suas atividades sozinho.
sim, aquela que questiona a realidade, a razão de ser das O professor deve sim, ser o mediador na construção do co-
coisas. nhecimento, estimulando o aluno a dar passos mais largos
Uma das tarefas mais difíceis para o educador é trazer o em busca de novos horizontes. Esta sim, é que deveria ser a
sujeito/aluno do senso comum – estado sincrético – para o forma de trabalho em sala de aula. Além disso, o professor
senso crítico – análise e síntese do conhecimento. O proble- deve provocar o aluno a pensar, criticar, estar sempre com
ma aqui é denominado de continuidade e ruptura. o pensamento em atividade. Deve dispor de objetos e dar
Mas o certo é que o educador deve partir do ponto onde condições para que o aluno tenha rendimento naquilo que
o educando se encontra para então, a partir daí, procurar es- ele se debruça para conhecer. Deve interagir com o seu alu-
timular o conhecimento do aluno, através de análises sobre no em busca de soluções para os problemas propostos.
o objeto até então desconhecido. E, para isso, é grandiosa A problematização caracteriza a construção do conheci-
a importância que teremos de dar às aproximações suces- mento no momento em que o sujeito vive sendo desafiado
sivas acerca do objeto a ser estudado, afinal a construção pela natureza para poder transformá-la. O sujeito encontra
do conhecimento em torno de um objeto não se dá de uma problemas para conhecer ou transformar o objeto. E são
só vez. justamente esses problemas o motor principal que faz com
Aos nos aproximarmos de um objeto teremos a opor- que o sujeito seja motivado para o desafio de construir mais
tunidade de conhecê-lo, feito isto é hora de analisá-lo com conhecimentos em torno do objeto de estudo.
persistência e demora. Somente depois disso podemos fazer
a síntese sobre o objeto estudado. Estabelecendo a contradição
Para que o educando tenha conhecimento pleno da rea-
lidade ele deve analisar o objeto o qual pretende conhecer Estabelecer contradição representa um passo primordial
na sua totalidade. Mas não é isso que as escolas pregam. A para a constante busca da construção do conhecimento. Pela
escola é organizada em disciplinas e com a função de “vo- problematização o professor deve sempre adotar a contra-
mitar” conteúdos e mais conteúdos, deixando a desejar na dição, confrontando-a como o conhecimento elementar ou
relação sujeito e realidade social. parcialmente apropriado que o aluno tem. E isso traz a pos-
Para a práxis pedagógica podemos afirmar que não sibilidade de ganho de conhecimento por parte do aluno,
existe aprendizagem passiva. Toda prática de aprendizagem transpondo-lhe do senso comum para o senso crítico. E sen-
exige ação ativa por parte de quem quer conhecer o objeto. do assim, ao invés do professor sobrecarregar a memória
E nessa prática ativa não basta somente prestar atenção ao dos alunos com questões fúteis que não trazem significado
que o professor fala, pois, sendo assim o ato de agir, contes- algum para os alunos, ele devia persistir no levantamento de
tar ficaria no esquecimento, dando lugar à passividade por situação problema, para que os alunos sejam estimulados a
parte de aluno. O aluno deve comparar levantar hipóteses, refletir/penar sobre algum tema-problema. Sendo assim, os
duvidar, questionar, julgar, dar solução aos problemas, pois alunos tentarão resolver o problema e, caso não consigam,
só assim ele estará desenvolvendo o que nós chamamos de o professor dá um ajuda e o encaminham novamente para a
operações mentais. continuidade da resolução do problema. O importante é se
ligar no problema.
Na metodologia dialética o que se pretende é uma prá- A respeito do planejamento das aulas, o professor de-
tica pedagógica que tenha sentido e que seja de alto grau veria estimular muito mais a criatividade dos alunos, lendo
de significância. Não bastam somente as tarefas. Fazer as ta- textos e pedindo que tirassem a ideia central dos mesmos e
refas só pó fazer, quando o aluno está condicionado a notas interrogando sobre dúvidas acerca do conteúdo abordado,
não é uma prática educativa decente. A escola deve procurar ao invés de ficar no círculo vicioso da tarefa mecanizada.
uma ação consciente: intencionalidade do sujeito. É preciso No ato do planejamento ou elaboração das aulas, o pro-
que o aluno queira fazer, tenha intenção de fazer. Nada for- fessor deve estar preocupado com o movimento do real, es-
çado tem sentido positivo. quecendo, portanto, do movimento do conceito. Uma coisa
Quanto às tarefas, é ideal que não olhemos para os tipos é o professor conceituar para os alunos algo que pode es-
de atividades e sim observemos se elas representam algo de tar ligado à realidade. Outra coisa é o professor tentar con-
concreto. Que seja uma atividade que exija raciocínio, que ceituar para esses mesmos alunos uma expressão química
seja mais motora, pois sendo assim poderá criar uma ação muito distante das experiências vividas por esses alunos. O
ativa mais concreta sobre o aluno, para que ele desenvolva professor jamais deverá ser escravo dos programas que só
seus conhecimentos com mais vontade. abordam conteúdos fora da realidade.

87
GESTÃO E CONHECIMENTO

Isto posto, é bom ressaltar que não é fácil estabelecer a percebidas ou ainda percebidas de maneira diferente. Essa
mudança da prática pedagógica por parte do professor, no ação permite que o aluno construa um conhecimento mais
sentido da dialética da travessia. Muitos problemas de várias elaborando, a partir da complementação ou da negação do
ordens são vistos como barreiras para que o professor saia conhecimento anterior.
do seu estado de estagnação e mergulhe na prática educa- É o momento em que o educando, tendo terminado o
cional inovadora. As condições de trabalho, sua condição, seu estudo sobre o objeto, possa fazer um apanhado sintéti-
econômica, etc, são alguns entre tantos fatores que impe- co a respeito dele. É neste momento que se espera que esta
dem o rompimento da barreira da pedagogia tradicional. síntese tenha consistência fidedigna sobre o objeto estuda-
do, do contrário, o aluno deverá percorrer todo o caminho
Exposição dialogada de volta, da síncrese para a análise até chegar à construção
de uma nova síntese.
A prática pedagógica marcada pela exposição dialoga-
da tem certa vantagem sobre a metodologia expositiva, em Necessidade de expressão
virtude de a primeira favorecer ao aluno a liberdade de po-
der opinar, levantar hipóteses sobre problemas tratados na A expressão material do conhecimento auxilia o aluno
sala de aula. Um outro lado positivo é a própria interação na concretização da sua síntese. Se esta vai ser materializada
que há entre o aluno e o professor durante a abordagem do através da fala, tem a vantagem de a interação social provo-
assunto em pauta. car a correção de possíveis erros detectados na síntese. Se a
De a aula dialogada corresponde a um avanço em rela- síntese for materializada através da escrita isto ajudará para
ção à expositiva, o que diríamos da exposição provocativa? que o trabalho sintético seja bem mais elaborado e tenha
É justamente nesse tipo de exposição que os problemas são maior perfeição, pois a partir da formatação podem se fazer
colocados para serem solucionados pelos alunos. Nesta fase correções à vontade (ao contrário da síntese falada).
os alunos são estimulados para desenvolver uma reflexão de Na relação do sujeito com o mundo, o professor deve
confronto. O que o professor diz é investigado pelos alunos. entender que a fala é, sem dúvida, não somente um meio de
Aqui, tanto a postura dos alunos quanto a do professor to- comunicação, mas um instrumento de pensamento. À me-
mam outro rumo. dida que o sujeito vai conhecendo algo, interagindo com o
Face ao exposto, perguntamos: diante de tanta liberda- mundo social à sua volta, ele sente vontade de expressar-se
de dada ao aluno para que ele possa falar à vontade, pode- sobre as descobertas advindas desse conhecimento. E, ao
mos dizer que o professor não pode mais falar? Claro que passo que o objeto é mais estranho para o sujeito ele sente
não! O professor sempre deverá ser o mediador na sala de muito mais vontade de fazer uso da palavra para poder co-
aula e a sua presença será muito importante para ajudar o nhecer o objeto de estudo.
aluno a sair do estágio sincrético da construção do conhe- No processo de determinação da síntese observamos
cimento. que, enquanto aquilo que sintetizamos está somente em
Certamente o professor contribui para a aceleração da nossa cabeça, podemos expor esse conhecimento de forma
reconstrução do saber – investigação versus exposição – mais generalizada, mas, à medida que formatamos a síntese
quando orienta os alunos em meio às dúvidas na solução materializando-a para o texto escrito, estamos concretizan-
dos problemas. O aluno trás o seu conhecimento sincrético do o trabalho, realizando uma síntese conclusiva e restrita
e o professor como mediador expões algumas informações ao que está no papel.
e o aluno, nesse sentido, deverá ser capaz de superar este É certo afirmar que jamais poderemos subjugar a nossa
estágio do conhecimento. síntese material, pois, sendo assim estaríamos confessando a
O professor, quanto à questão das técnicas, deverá ficar nossa própria impossibilidade de construir o conhecimento.
atento quando exigir dos alunos apresentação de trabalhos A interação social entre o educador e o caminho que o
em grupo. O que importa aqui não é esperar uma apresen- educando está trilhando se concretiza no momento em que
tação, uma exposição espetacular daquilo que foi estudado há a expressão contínua das representações sintéticas ela-
pelos alunos, nem sequer poupar as energias do professor. boradas pelos educandos. Ao passo que as representações
O mais importante mesmo com isso é ajudar para que dessa sintéticas são expostas e comentadas em sala de aula, ocorre
forma os alunos engrandeçam a sua construção de conhe- uma interação social entre os alunos, como também entre
cimento. De certa forma, esta ou outras técnicas deverão esses e um novo conhecimento que poder ser reconstruído
ser submetidas a um método ideal, onde seja necessária a naquele momento.
apresentação sincrética do objeto de estudo, expressão das Para que haja uma interação social dentro da classe é
representações prévias, problematização, fornecimento de preciso que se crie um ambiente interativo. Esse ambiente
subsídios, elaboração de hipóteses, …, síntese conclusiva, só pode ser construído se houver um clima de respeito mú-
etc. tuo entre os alunos. O professor, para isso, deverá ajudar
para que esse ambiente saudável seja criado. É nesse clima
ELABORAÇÃO E EXPRESSÃO DA SÍNTESE DO que tudo que o aluno fala deverá ter importância. Também
CONHECIMENTO ninguém poderá tomar o espaço de outro falando demais.
Mas falar de menos também prejudica o desenvolvimento
Aqui o aluno recolhe novos elementos apresentados do trabalho.
pelo professor, estabelece novas relações até então não

88
GESTÃO E CONHECIMENTO

São tantas as formas de expressão do conhecimento envolver as pessoas através do seu conhecimento, articula-
que o educando pode utilizar: oral, gestual, gráfica, escrita, do com a realidade social.
etc. em todas elas estão presentes a construção de conhe-
cimento que, de certa forma, provocou a mudança da reali- CONCLUSÃO
dade em relação a um conhecimento prévio sobre o assunto
abordado. A função primordial da educação está na construção do
conhecimento. A ação pedagógica na escola deve oportu-
Elaboração da síntese nizar a construção do conhecimento, o que numa instância
maior resulta na constituição de identidades autônomas,
Tendo em vista que a própria construção do conheci- capazes de estabelecer relações críticas entre os homens,
mento pode ser considerada de síntese, e em virtude de que suas ações e o mundo. Entretanto sabemos que nem sem-
só podemos fazer análises do problema depois da elabora- pre as práticas pedagógicas atingem, ou procuram atingir a
ção de uma síntese precária, fica difícil determinar em qual construção do conhecimento. Esse é um processo no qual é
momento seria oportuno e aconselhável para a elaboração necessária a permanente busca de significado, de sentido.
da síntese, isto porque a análise e a síntese estão intima- O conhecimento só acontece através do significado que
mente muito articuladas. adquire aquilo que se estuda, aquilo que se fala e que se
Em se tratando dos níveis de síntese, podemos entender faz por quem realiza a ação, seja ele professor ou aluno; e
que há uma complexidade específica para cada forma de ex- principalmente só acontece quando há interação, onde to-
pressão dessa síntese. Na ordem crescente de abstração de dos têm voz para falar e discutir. Caso contrário, só se tem
conhecimento podemos citar a dramatização, a forma verbal informações e sujeitos. Falta a interação entre eles, ou seja, a
e por último a forma escrita. construção de significados.
Para qualquer objeto de conhecimento há infinita pos- A escola é a referência para a elaboração de uma lei-
sibilidade de se realizar a sequência: síncrese >análise > sín- tura de mundo baseada no conhecimento científico. Logo,
tese. E para saber se o educando chegou ao grau de síntese o principal determinante no processo de elaboração dessa
minimamente satisfatória na construção do conhecimento, leitura, que é construção de conhecimento, está no currículo
os educadores observam a expressão dos educandos em – formal, em ação e oculto – como ação pedagógica. Des-
torno da problematização abordada, para assim poder veri- sa forma é fundamental ao professor e aos profissionais da
ficar se os alunos atingiram a síntese mínima. educação, avaliar as questões curriculares, na busca de uma
ação pedagógica que contribua efetivamente para a cons-
Interação na elaboração trução do conhecimento. Somente uma revisão profunda
das questões curriculares, que envolva o planejamento dos
Se o educando assim preferir, ele pode solicitar várias programas, a discussão dos mesmos, a formulação dos pla-
formas de expressão da síntese elaborada pelos alunos – de nos de trabalho dos professores e a sua aplicação, ou seja,
uma síntese provisória ele pode solicitar que os alunos cons- toda a ação pedagógica; poderá transformar a situação em
truam uma síntese menos elaborada, uma mais elaborada. que se encontra a situação educacional hoje.
E pode ainda pedir uma síntese em grupo, promovendo a
interação durante a elaboração. E pode ainda o professor Fonte
exigir que os alunos construam uma síntese pessoal ou indi- VASCONCELLOS, Celso. Construção do conhecimento
vidual a partir da síntese grupal. em sala de aula. Libertad – Centro de Pesquisa, formação e
É importante saber que existe um limite na elaboração Assessoria Pedagógica. 14ª ed., 2002.
da síntese. Nem todos os educandos são capazes de che-
gar ao estágio da síntese, ficando paralisados na síncrese.
VIEIRA, ALEXANDRE THOMAZ, ALMEIDA,
Mesmo com a ajuda do educador alguns alunos sentem di-
ficuldades e são limitados na elaboração da síntese. O co- MARIA ELIZABETH B. DE E ALONSO, MYRTES.
nhecimento científico apurado, presente em alguns textos, GESTÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIA. SÃO
juntamente com o conhecimento filosófico, podem ser um PAULO: AVERCAMP, 2003.
dos motivos que atrapalha certos alunos a chegar na reta
final do estágio síncrese-análise-síntese, porque sentem di-
ficuldades em analisar os textos. GESTÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIA

Retorno à prática social ALONSO, Myrtes – CAP I, pg. 25 a 31

Se a prática da construção do conhecimento é pauta- Para falar sobre gestão escolar no contexto educacional,
da na realidade social, podemos afirmar que o ser humano necessitamos considerar o modelo de escola atual, do ponto
como sujeito detentor e construtor de conhecimento, po- de vista estrutural, organizacional e funcional, inserido numa
derá modificar a sua realidade através da prática social, com “sociedade pós-industrial”, mais exigente e que traz novas
vista na força da sua expressão carregada de significados. demandas emergentes do desenvolvimento das tecnologias
Para isso, o sujeito deverá ser compreendido e ter o dom de de comunicação e informação.

89
GESTÃO E CONHECIMENTO

Com o advento da Revolução Tecnológica encontramos ram o uso das tecnologias da informática e da telecomuni-
uma sociedade totalmente diversa, apresentando caracterís- cação como recursos para ampliar o acesso à informação e
ticas que em nada se assemelham às do passado: para favorecer a criação de ambientes de aprendizagem que
enfatizem a construção de conhecimento.
• não existem verdades absolutas
A escola precisa se renovar e priorizar o processo peda-
• o ambiente é instável, situações e problemas impre- gógico. A transformação que se busca necessita uma nova
visíveis, as soluções precisam ser rápidas visão: mais criativa, participativa, ética, democrática e tecno-
logicamente mais exigente.
• a competitividade é intensa
A escola precisa oferecer condições adequadas de tra-
• é preciso “saber fazer “ balho e proporcionar autonomia aos professores, enquan-
to gestores do processo educativo. O conceito de trabalho
• repensar a função da escola, em não ser transmisso- cooperativo e colaborativo deve ser continuadamente tra-
ra ou reprodutora de informações balhado em parceria com a comunidade educativa e a so-
• aprender e incentivar o trabalho em grupo, estimular ciedade.
a cooperação e colaboração
• trabalho em articulação com a sociedade (contexto VIEIRA, ALEXANDRE THOMAZ
social) CAP II, PG. 40 A 50, CAP III, PG. 55
A grande maioria das instituições de ensino ainda es-
Os meios de produção e serviço na sociedade do co- tão fortemente impregnadas de ações e concepções do ra-
nhecimento pressupõem que os profissionais sejam mais cionalismo científico. As aulas de 50 minutos, o pensar e o
qualificados e capazes de assumir responsabilidade, tomar fazer dissociados, professores e coordenação/direção não
decisões, buscar soluções para problemas que ocorrem no compartilhando os mesmos objetivos, as salas com carteiras
processo de produção e não foram pensados anteriormente. enfileiradas, a concepção de disciplina com classes em total
Novas competências são exigidas. silêncio, as relações de troca e o individualismo entre pro-
A escola passa a ter, então, um papel mais efetivo com fessores, ou seja, a estrutura organizacional da escola ainda
relação à sua função social e formativa. Os atores, agora, não mudou, ou melhor, mudou muito pouco, na tentativa
precisam agir de acordo com as reflexões e considerações, de superar seu passado de reprodução acrítica das relações
advindas das percepções das necessidades e prioridades socioeconômicas existentes.
diagnosticadas por equipes ou grupos que estão próximos As concepções de gestão praticadas nas escolas brasi-
das situações que requerem decisão eficaz e rápida. leiras, segundo Libâneo (2001), são apontadas na forma de
Há uma exigência de habilidades especiais que são de- duas categorias principais:
senvolvidas a partir da capacidade de aprender a aprender, Concepção da administração técnico-científica: a orga-
que deveria constituir o objetivo de todo o trabalho peda- nização escolar é vista como uma realidade objetiva, neutra,
gógico, a qual será necessária para o desenvolvimento de técnica, que funciona racionalmente. Assim pode ser plane-
novas ideias e soluções. jada, controlada e avaliada de forma a alcançar os melhores
A educação terá de orientar-se para a formação de pes- índices de eficiência.
soas conscientes e críticas, que participem ativamente do Concepção de gestão simbólico-interpretativa: a orga-
social; portanto, pessoas capazes de definir as próprias ne- nização social é compreendida como resultado da interação
cessidades de aprendizagem e conhecimento. e do entendimento construído entre as pessoas, pela vivên-
Nessa perspectiva, os conteúdos precisam ser contex- cia compartilhada de momentos e de experiências comuns.
tualizados com os problemas que estão sendo vivenciados As organizações escolares nessa concepção são perce-
pelos alunos. Isso significa modificar as bases pedagógicas bidas como sistemas que agregam pessoas, cujos pontos
e estruturais/organizacionais que sustentam a escola atual, mais importantes são as intencionalidades e as interações
onde os conteúdos são “passados” para os alunos de manei- sociais que acontecem entre elas.
ra fragmentada, hierarquizada em uma ordem crescente de Principais instrumentos de gestão escolar: planejamen-
complexidade, de acordo com o modelo fordista-taylorista to, organização, execução, avaliação, comunicação e forma-
em que se inspirou. ção continuada.
O desenvolvimento de uma estrutura organizacional
As mudanças introduzidas pelos sistemas de ensino, na adequada, que facilite adaptações rápidas, assim como o
tentativa de responder aos novos desafios, não têm sido desenvolvimento de uma cultura favorável à mudança são
satisfatórias tanto em termos da formação dos professores condições necessárias para que a escola possa se transfor-
como da preparação dos dirigentes. Em grande parte, por- mar continuamente.
que os programas de formação de educadores têm se man-
tido fiéis à concepção do ensino como atividade instrumen- Perfil do gestor escolar, a partir das modificações no am-
tal, decorrente de uma fundamentação teórica estribada nas biente interno e externo à escola, segundo Libâneo (2001):
Ciências Sociais Humanas e na aplicação de princípios for-
mulados com base nesse conhecimento, separando a teoria • capacidade de trabalhar em equipe
da prática. Por outro lado, esses cursos ainda não incorpora-

90
GESTÃO E CONHECIMENTO

• capacidade de gerenciar um ambiente cada vez mais Tecnologias de Informação e Comunicação e Gestão
complexo Escolar
• criação de novas significações em um ambiente ins-
Mobilização de todo o pessoal escolar, cujo apoio e
tável
compromisso para com as mudanças envolvidas nesse pro-
• capacidade de abstração cesso não se limitam ao âmbito estritamente pedagógico da
sala de aula, mas se estendem aos diferentes aspectos en-
• manejo de tecnologias emergentes
volvidos com a gestão do espaço e do tempo escolar, com a
• visão de longo prazo esfera administrativa e pedagógica. Daí observa-se a impor-
tância da formação de todos os profissionais que atuam na
• disposição para assumir responsabilidade pelos re- escola, fortalecendo o papel da direção na gestão das TICs
sultados e na busca de condições para o seu uso no ensino e apren-
• capacidade de comunicação dizagem, bem como na administração e na gestão escolar.
O papel do gestor não é apenas o de prover condições
• improvisação (criatividade) para o uso efetivo das TICs em sala de aula e, sim, que a
• disposição para fundamentar teoricamente suas de- gestão das TICs implica gestão pedagógica e administrativa
cisões do sistema tecnológico e informacional, na qual o diretor
tem um papel fundamental como agente mobilizador e líder
• comprometimento com a emancipação e a autono- da escola.
mia intelectual dos funcionários A incorporação das TICS na escola e na prática pedagó-
• atuação em função de objetivos gica não pode se restringir à formação dos professores, mas
deve voltar-se também para a preparação de dirigentes es-
• visão pluralista das situações colares e seus colaboradores, propiciando-lhes um domínio
• disposição para cristalizar suas intenções dos recursos dessa tecnologia que possa auxiliar na gestão
escolar e, simultaneamente, provocar a tomada de cons-
• conscientização das oportunidades e limitações ciência sobre as contribuições dessa tecnologia ao ensino e
aprendizagem.
A implementação de transformações mais profundas na Observa-se a disponibilidade de ambientes virtuais para
escola, que possibilitem uma melhor adequação às novas a criação de comunidades colaborativas, que apresentam
demandas sociais, proporcionando uma educação de quali- um forte potencial para aglutinar informações, recursos tec-
dade, requer alteração na concepção de gestão das organi- nológicos, especialistas, formadores e educadores em torno
zações escolares. de atividades que permitam trilhar novos caminhos.
Cria-se, assim, um ambiente de formação para que o di-
TECNOLOGIAS E GESTÃO DO CONHECIMENTO NA retor escolar possa analisar e reconstruir seu papel frente às
ESCOLA responsabilidades que lhe cabem como líder da instituição.
Além de gestor do projeto político-pedagógico, construído
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de
coletivamente com sua comunidade, é também responsável
CAP VII, pg. 113 a 120
pela criação de uma nova cultura, que incorpore as TICs às
suas práticas técnico-administrativas e pedagógicas.
A articulação da escola com outros espaços produto-
res do conhecimento poderá resultar em mudanças subs-
AVA e a formação de Educadores
tanciais em seu interior e redimensionar seu espaço, crian-
do possibilidades de torná-lo aberto e flexível, propiciando
AVA: sistemas computacionais destinados ao suporte de
a gestão participativa, o ensino e a aprendizagem em um
atividades mediadas pelas TICs e por um professor-orien-
processo colaborativo, no qual professores e alunos trocam
tador.
informações e experiências com as pessoas que atuam no
Integram múltiplas mídias e recursos, apresentando
interior da escola ou com outros agentes externos e produ-
informações organizadas, proporcionando interação entre
zem conhecimento
pessoas e objetos do conhecimento, possibilita a socializa-
As TICs podem auxiliar na formação continuada dos
ção, colaboração e cooperação.
professores, onde se articula a realidade da escola com o
O gerenciamento desses ambientes diz respeito a di-
domínio dos recursos tecnológicos e sua prática profissional.
ferentes aspectos, destacando-se a gestão das estratégias
Tais tecnologias podem ser incorporadas na escola para:
de comunicação e mobilização dos participantes, a gestão
comunicação entre educadores, pais, especialistas, mem-
da participação dos alunos por meio do registro das produ-
bros da comunidade e de outras organizações.
ções, interações e caminhos percorridos, a gestão do apoio
Atividades de formação de professores para o uso pe-
e orientação dos formadores aos alunos e a gestão da ava-
dagógico das TICs têm se desenvolvido na modalidade de
liação.
formação em serviço contextualizada na realidade da esco-
Os AVA permitem aos participantes colaborar, trocar in-
la (Prado & Valente, 2002) e na prática do professor, o que
formações, discutir temáticas, trocar experiências, desenvol-
constitui um avanço em termos de formação continuada.
ver atividades colaborativas.

91
GESTÃO E CONHECIMENTO

Podem ser utilizados em atividades presenciais, semi- A criança quando se confronta com um problema mais
presenciais e à distância. complicado, apresenta ótima variedade complexa de res-
postas que incluem tentativas diretas de atingir o objeti-
Fonte vo, uso de instrumentos, fala dirigidas as pessoas ou que
VIEIRA, Alexandre Thomaz, ALMEIDA, Maria Elizabeth B. simplesmente acompanha a ação e apelos verbais direto ao
de e ALONSO, Myrtes. Gestão educacional e tecnologia. São objeto de atenção. O desenvolvimento da percepção e da
Paulo: Avercamp, 2003. atenção, o uso de instrumentos e da fala afeta várias funções
psicológicas: Operações sensório-motoras e atenção – cada
uma das quais é parte de um sistema dinâmico de compor-
VYGOTSKY, LEV SEMENOVICH. A tamento.
FORMAÇÃO SOCIAL DA MENTE. SÃO PAULO:
MARTINS FONTES, 1991. Para o desenvolvimento da criança principalmente na
primeira infância, o que se reveste de importância primor-
dial são as interações com os adultos (assimétricas), porta-
No livro Construção Social da Mente – Vygotsky tem por dores de todas as mensagens de cultura. Nessa interação
objetivo caracterizar os aspectos tipicamente humanos do o papel essencial corresponde aos diferentes sistemas se-
comportamento e elaborar hipóteses de como essas carac- mióticos seguida de uma função individual: começam a ser
terísticas se desenvolveram durante a vida do indivíduo e utilizado como instrumentos de organização e de controle
enfatiza três aspectos: do comportamento individual. A abordagem dialética, ad-
mitindo a influência da natureza sobre o homem, afirma que
• Relação entre seres humanos e o seu ambiente físico o homem, por sua vez, age sobre a natureza e cria, através
e social. das mudanças por ele provocadas, novas condições naturais
• Novas formas de atividade que fizeram com que o para a sua existência. Essa posição representa o elemento-
trabalho fosse o meio fundamental de relacionamen- -chave da abordagem de estudo e interpretação das fun-
tos entre o homem e a natureza e as consequências ções psicológicas superiores FPS, do homem e serve como
psicológicas dessas formas de atividade. base dos novos métodos de experimentação e análise.
Com relação à interação entre aprendizado e ensino – O
• A natureza das relações entre o uso de instrumento aprendizado é considerado um processo puramente exter-
e desenvolvimento da linguagem. no que não está envolvido ativamente no desenvolvimento,
simplesmente se utilizará dos avanços do desenvolvimento
O estudo do desenvolvimento infantil começou a ser ao invés de fornecer um impulso para modificar seu curso.
feita por comparação à botânica, associado à maturação do Para Vygotsky não existe melhor maneira de descrever a
organismo como um todo. Como maturação por si só, é um educação do que considerá-la como a organização dos há-
fator secundário e não explica o desenvolvimento de formas bitos de conduta e tendências comportamentais adquiridos.
mais complexas do comportamento humano, a psicologia O aprendizado não altera nossa capacidade global de focali-
moderna passou a estudar a criança a partir dos modelos zar a atenção, ao invés disso, desenvolve várias capacidades
zoológicos, isto é, da experimentação animal. Segundo Vy- de focalizar a atenção sobre várias coisas.
gotsky, o momento de maior significado no curso do desen- Numa abordagem sobre a zona de desenvolvimen-
volvimento intelectual, que dá origem às formas puramente to proximal, o ponto de partida da discussão é o fato de
humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando que o aprendizado das crianças começa muito antes delas
a fala e a atividade prática estão juntas. A criança, antes de frequentam a escola. A zona de desenvolvimento proximal
controlar o próprio comportamento, começa a controlar o é resumidamente à distância entre o nível de desenvol-
ambiente com a ajuda da fala, produzindo novas relações vimento real, que se costuma determinar através da solu-
com o ambiente, além de uma nova organização do próprio ção independe de problemas e o nível de desenvolvimento
ambiente. A criação dessas formas caracteristicamente hu- potencial, determinado através da solução de problemas
manas de comportamento produz o intelecto, e constitui a sob orientação de um adulto. O brinquedo tem um papel
base do trabalho produtivo: à forma especificamente huma- marcante para desenvolvimento, o brinquedo não é uma
na do uso de instrumento. atividade pura e simples de prazer a uma criança, pois há
Experiências feitas por Vygotsky concluíram que a fala outras atividades que dão mais prazer, como o habito de
da criança é tão importante quanto a ação para atingir um chupar chupeta, em relação aos jogos que marcam a perda
objetivo. Sua fala e ação fazem parte de uma mesma função e ganho com frequência e é acompanhado pelo desprazer
psicológica complexa, dirigida para a solução do problema da perda. A criança em idade pré-escolar envolve-se num
em questão. Conclui-se também que quanto mais comple- mundo ilusório para resolver suas questões e considera es-
xa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, sencial e reconhece a enorme influência do brinquedo no
maior a importância que a fala adquire na operação como desenvolvimento da criança. O brinquedo não é o aspecto
um todo. “Essas observações, me levam a concluir que as predominante da infância, mas um fator muito importante
crianças resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, do desenvolvimento, demonstra o significado da mudança
assim como dos olhos e das mãos”. (Vygotsky) que ocorre no desenvolvimento do próprio brinquedo, de
uma predominância de situações imaginárias para as predo-

92
GESTÃO E CONHECIMENTO

minâncias de regras e mostra as transformações internas das 05. (VUNESP) Um sistema de ensino preocupado com a
crianças que surgem em consequência do brinquedo. garantia da qualidade do ensino oferecido em suas escolas
deve, no mínimo,
Fonte: Resenha por MORALE, L. L. O. (A) cuidar do registro correto e preciso das informações
sobre seus alunos, docentes e corpo administrativo e peda-
QUESTÕES gógico.
(B) informar alunos, pais e responsáveis sobre as normas
01. (VUNESP) Uma escola que compreende o currículo referentes aos horários de entrada e saída e ao uso do uni-
como um conjunto estruturado de objetivos educativos e forme pelas crianças.
para ele determina meios e fins segue a perspectiva teórica (C) garantir a participação da comunidade em todas as
denominada atividades festivas que constituírem o calendário escolar.
(A) academicista. (D) criar condições para uma adequada preparação dos
(B) experimentalista. que nelas desenvolvem atividades administrativas, pedagó-
(C) dialética. gicas e docentes.
(D) eficienticista. (E) conscientizar os alunos sobre a necessidade de cui-
(E) reconstrucionista. dados referentes a seus materiais de estudo.

02. (VUNESP) Considere os quatro pilares da aprendi- 06. (VUNESP)Coll e Monereo (2010) fazem um estudo
zagem: sobre o impacto das tecnologias da informação e da comu-
I. Aprender a conhecer; nicação (TIC) na educação formal e escolar a partir de uma
II. Aprender a fazer; revisão dos estudos sobre a incorporação dessas tecnolo-
III. Aprender a conviver; gias na educação e de seus efeitos sobre as práticas educa-
IV. Aprender a ser. cionais e os processos de ensino e aprendizagem.
Se um diretor de escola orienta seus professores a de- Na perspectiva dessas considerações, segundo os auto-
senvolverem o ensino buscando levar os alunos a reproduzi- res, avalie as seguintes asserções:
rem as informações transmitidas, é correto dizer que o dire- I. São os contextos de uso das TIC que acabam determi-
tor desconsidera o que está indicado em nando seu maior ou menor impacto nas práticas educacio-
(A) I, apenas. nais e sua maior ou menor capacidade para transformar o
(B) II, apenas. ensino e melhorar a aprendizagem.
(C) I e II, apenas.
(D) III e IV, apenas. PORTANTO
(E) I, II, III e IV.
II. O potencial educacional das TIC, como ferramentas
03. (VUNESP) O erro cometido pelo aluno, durante a para pensar, sentir e agir sozinhos e com outros, está em
aprendizagem, pode ter um caráter construtivo se for tra- sua natureza de tecnologias “para” a informação e a comu-
balhado de forma adequada pelo docente. Hoffmann con- nicação e na introdução de um novo sistema simbólico para
sidera como uma forma construtiva de lidar com o erro do manejar a informação.
aluno, a intervenção do professor caracterizada como A respeito dessas afirmações, assinale a alternativa cor-
(A) impositiva, em que ele aponta firmemente o erro, reta.
dizendo, por exemplo, ‘não é isso!’ (A) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda é
(B) retificadora, em que ele indica em detalhes a respos- uma justificativa correta da primeira.
ta correta, deixando ao aluno a tarefa de identificar a fonte (B) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
do erro. não é uma justificativa da primeira.
(C) encorajadora, na qual ele recomenda ao aluno maior (C) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda falsa.
atenção antes de responder qualquer pergunta feita. (D) A primeira afirmação é falsa, e a segunda verdadeira.
(D) não-prescritiva, em que ele propositadamente igno- (E) Tanto a primeira quanto a segunda afirmações são
ra o erro cometido para evitar sua fixação. falsas
(E) desafiadora, em que, por exemplo, ele trabalha os
erros do aluno por meio de perguntas. 07. (VUNESP) Em uma roda de conversas, alguns pro-
fessores que atuam numa escola municipal de Suzano con-
04. (VUNESP) Em relação ao conceito, fundamentos e versam sobre a volta às aulas, sobre suas turmas, seus alu-
pressupostos de “professor reflexivo”, percebe-se entre al- nos.... Uma professora comenta com seus colegas que em
guns estudiosos do assunto sua turma existem alunos com deficiência e a conversa passa
(A) uma concordância absoluta. a ser em torno da questão: integração ou inclusão escolar,
(B) uma clara discordância teórica. [...] o que pratica a escola? A professora discorre acertada-
(C) um perceptível desinteresse. mente que muitos utilizam os termos integração e inclusão
(D) muitas dúvidas teóricas. escolar com o mesmo significado, mas expressam situações
(E) uma certeza inquestionável. de inserção diferentes, pois se fundamentam em posicio-
namentos teórico-metodológicos divergentes. Continua

93
GESTÃO E CONHECIMENTO

sua explicação, apoiando sua argumentação em Mantoan GABARITO


(2003), afirmando corretamente que a inclusão escolar
(A) consiste em uma inserção parcial, a escola não muda
01. D
como um todo, mas os alunos têm de mudar para se adap-
02. E
tar às suas exigências, pois prevê serviços educacionais se-
03. E
gregados.
04. B
(B) preocupa-se em promover a individualização dos
05. D
programas escolares como forma de inserção; a escola faz
06. C
uma adaptação no currículo e os objetivos educacionais são
07. D
reduzidos.
08. C
(C) promove o acesso à escola por meio de um conjunto
09. A
de possibilidades educacionais, que vai da inserção às salas
10. D
de aula do ensino regular ao ensino em escolas especiais.
(D) prevê a inserção escolar de forma completa; a escola
considera as necessidades de todos os alunos e é estrutura-
da em função dessas necessidades.
(E) oferece ao aluno com deficiência a oportunidade de
ANOTAÇÕES
transitar no sistema escolar, da classe regular ao ensino es-
pecial, em todos os seus tipos de atendimento.
___________________________________________________
08. (VUNESP) Sobre os saberes necessários à prática
educativa, em relação ao que trata em sua obra A Pedagogia
___________________________________________________
da Autonomia, Paulo Freire faz inúmeras afirmações dentre ___________________________________________________
as quais excetua-se
(A) ensinar não é transmitir conhecimentos. ___________________________________________________
(B) quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender. ___________________________________________________
(C) formar é treinar o educando em destrezas necessá- ___________________________________________________
rias ao mercado de trabalho.
(D) não há ensino sem pesquisa, nem pesquisa sem en- ___________________________________________________
sino.
(E) o intelectual memorizador fala bonito de dialética, ___________________________________________________
mas pensa mecanicamente.
___________________________________________________
09. (VUNESP) O uso da Internet em sala de aula tem se ___________________________________________________
mostrado um excelente facilitador da motivação dos alunos.
Pela novidade e pelas possibilidades que oferece, pode vir ___________________________________________________
acompanhado de problemas entre os quais se destaca
(A) privilegiar a acumulação de informações. ___________________________________________________
(B) distinguir a informação acidental da essencial.
(C) estabelecer uma hierarquia entre as ideias obtidas.
___________________________________________________
(D) assinalar coincidências e divergências entre informa- ___________________________________________________
ções.
(E) escrever de forma mais formal e erudita. ___________________________________________________

10. (VUNESP) Piaget e Vygotsky, pesquisadores do ___________________________________________________


comportamento infantil, partem de pressupostos filosóficos ___________________________________________________
diferentes, mas concordam em alguns aspectos. Em relação
a isso, é correto dizer que ambos concordam que ___________________________________________________
(A) a inteligência sensório-motora desenvolve-se antes
de qualquer linguagem ou pensamento conceitual. ___________________________________________________
(B) existe uma relação entre linguagem e pensamento já
que ambos fazem parte da constituição da função simbólica. ___________________________________________________
(C) existe uma lógica anterior à linguagem, cujas origens ___________________________________________________
se encontram na ação.
(D) o pensamento da criança é qualitativamente diferen- ___________________________________________________
te do pensamento do adulto.

94
LEGISLAÇÃO FEDERAL

LEGISLAÇÃO FEDERAL: CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ARTIGOS 208 A 214. ......................................................................... 01


LEI FEDERAL N° 8.069/90 - DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
ARTIGOS 1° A 6°, 15 A 18 -B, 53 A 59 E 131 A 137. ................................................................................................................................... 02
LEI FEDERAL N° 9.394/96 - ESTABELECE AS DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. .............................................. 05
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 04/2010 E RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010 (*)............................................................... 21
PARECER CNE/CEB N° 07/2010 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. ......... 31
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 5/09 E PARECER CNE/CEB N° 20/2009 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL. ........................................................................................................................................................................................... 39
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 1/00 E PARECER CNE/CEB N° 11/00 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. ............................................................................................................................................................... 54
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 02/01 E RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001.(*)........................................ 82
PARECER CNE/CEB N° 17/01 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO
BÁSICA. ........................................................................................................................................................................................................................ 85
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 07 E..........................................................................................................................................................................101
PARECER CNE/CEB N° 11/2010 - DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DE 09
ANOS. .........................................................................................................................................................................................................................101
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-


LEGISLAÇÃO FEDERAL: CONSTITUIÇÃO nicípios organizarão em regime de colaboração seus siste-
FEDERAL DE 1988 ARTIGOS 208 A 214. mas de ensino.
HTTP://WWW.PLANALTO.GOV.BR/CCIVIL_03/ § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e
o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públi-
CONSTITUICAO/CONSTITUI%C3%A7AO.
cas federais e exercerá, em matéria educacional, função re-
distributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de
oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efeti- do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Es-
vado mediante a garantia de: tados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela
idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009) § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritaria-
II - progressiva universalização do ensino médio gra- mente no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emen-
tuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de da Constitucional nº 14, de 1996)
1996) § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União,
III - atendimento educacional especializado aos porta- os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão for-
dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de mas de colaboração, de modo a assegurar a universalização
ensino; do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda Consti-
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crian- tucional nº 59, de 2009)
ças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamen-
Constitucional nº 53, de 2006) te ao ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- nº 53, de 2006)
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos
um; de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às con- vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de
dições do educando; impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da manutenção e desenvolvimento do ensino.
educação básica, por meio de programas suplementares de § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistên- pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
cia à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é conside-
59, de 2009) rada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito governo que a transferir.
público subjetivo. § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no “caput”
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Po- deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino fe-
der Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilida- deral, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma
de da autoridade competente. do art. 213.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos § 3º A distribuição dos recursos públicos assegura-
no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto rá prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano na-
as seguintes condições: cional de educação. (Redação dada pela Emenda Constitu-
I - cumprimento das normas gerais da educação nacio- cional nº 59, de 2009)
nal; § 4º Os programas suplementares de alimentação e as-
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Pú- sistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados
blico. com recursos provenientes de contribuições sociais e outros
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en- recursos orçamentários.
sino fundamental, de maneira a assegurar formação básica § 5º A educação básica pública terá como fonte adicio-
comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais nal de financiamento a contribuição social do salário-edu-
e regionais. cação, recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, consti- dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
tuirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
ensino fundamental. contribuição social do salário-educação serão distribuídas
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.
também a utilização de suas línguas maternas e processos (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
próprios de aprendizagem.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às esco- Título I


las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, Das Disposições Preliminares
confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à crian-
excedentes financeiros em educação; ça e ao adolescente.
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
Público, no caso de encerramento de suas atividades. aquela entre doze e dezoito anos de idade.
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insu- vinte e um anos de idade.
ficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cur- Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os
sos regulares da rede pública na localidade da residência do direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem pre-
educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prio- juízo da proteção integral de que trata esta Lei, asseguran-
ritariamente na expansão de sua rede na localidade. do-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportuni-
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímu- dades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
lo e fomento à inovação realizadas por universidades e/ou físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
por instituições de educação profissional e tecnológica po- liberdade e de dignidade.
derão receber apoio financeiro do Poder Público. (Redação Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli-
dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimina-
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- ção de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de
sistema nacional de educação em regime de colaboração desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- ambiente social, região e local de moradia ou outra condi-
mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimento ção que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade
do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
meio de ações integradas dos poderes públicos das diferen- Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade
tes esferas federativas que conduzam a: (Redação dada pela em geral e do poder público assegurar, com absoluta prio-
Emenda Constitucional nº 59, de 2009) ridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,
I - erradicação do analfabetismo; à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissio-
II - universalização do atendimento escolar; nalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
III - melhoria da qualidade do ensino; convivência familiar e comunitária.
IV - formação para o trabalho; Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
V - promoção humanística, científica e tecnológica do a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
País. circunstâncias;
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos b) precedência de atendimento nos serviços públicos
públicos em educação como proporção do produto interno ou de relevância pública;
bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) c) preferência na formulação e na execução das políti-
cas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
LEI FEDERAL N° 8.069/90 - DISPÕE SOBRE O áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto
E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. ARTIGOS 1° de qualquer forma de negligência, discriminação, explora-
A 6°, 15 A 18 -B, 53 A 59 E 131 A 137. HTTP:// ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
WWW.PLANALTO.GOV.BR/CCIVIL_03/LEIS/ qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
L8069.HTM. fundamentais.
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem co-
mum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condi-
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. ção peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
Vigência desenvolvimento.
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá Capítulo II
outras providências. Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda-
de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos ci-
vis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

2
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes III - encaminhamento a cursos ou programas de orienta-
aspectos: ção; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento es-
comunitários, ressalvadas as restrições legais; pecializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
II - opinião e expressão; V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
III - crença e culto religioso; Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras pro-
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discri- vidências legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
minação;
VI - participar da vida política, na forma da lei; Capítulo IV
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade
da integridade física, psíquica e moral da criança e do ado- Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à edu-
lescente, abrangendo a preservação da imagem, da identi- cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
dade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espa- preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
ços e objetos pessoais. trabalho, assegurando-se-lhes:
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança I - igualdade de condições para o acesso e permanência
e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento na escola;
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrange- II - direito de ser respeitado por seus educadores;
dor. III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de recorrer às instâncias escolares superiores;
ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de IV - direito de organização e participação em entidades
tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, estudantis;
disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, residência.
pelos agentes públicos executores de medidas socioeduca- Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
tivas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, ciência do processo pedagógico, bem como participar da
tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela Lei nº definição das propostas educacionais.
13.010, de 2014) Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado-
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: (In- lescente:
cluído pela Lei nº 13.010, de 2014) I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou puni- para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
tiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuida-
adolescente que resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010, de de ao ensino médio;
2014) III - atendimento educacional especializado aos porta-
a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
2014) ensino;
b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº
cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente 13.306, de 2016)
que: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, um;
de 2014) VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às con-
c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) dições do adolescente trabalhador;
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, VII - atendimento no ensino fundamental, através de
os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas programas suplementares de material didático-escolar,
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar transporte, alimentação e assistência à saúde.
de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou prote- § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
gê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou público subjetivo.
degradante como formas de correção, disciplina, educação § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo po-
ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo der público ou sua oferta irregular importa responsabilidade
de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão da autoridade competente.
aplicadas de acordo com a gravidade do caso: (Incluído pela § 3º Compete ao poder público recensear os educandos
Lei nº 13.010, de 2014) no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário aos pais ou responsável, pela frequência à escola.
de proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ma-
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi- tricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
quiátrico; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e


fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: formação continuada dos conselheiros tutelares. (Redação
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; dada pela Lei nº 12.696, de 2012)
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
esgotados os recursos escolares; constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun-
III - elevados níveis de repetência. ção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.696,
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, expe- de 2012)
riências e novas propostas relativas a calendário, seriação,
currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à in- Capítulo II
serção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fun- Das Atribuições do Conselho
damental obrigatório.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses pre-
social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a vistas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no
liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. art. 101, I a VII;
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli-
União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e cando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
espaços para programações culturais, esportivas e de lazer III - promover a execução de suas decisões, podendo
voltadas para a infância e a juventude. para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu-
Título V cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
Do Conselho Tutelar b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
Capítulo I descumprimento injustificado de suas deliberações.
Disposições Gerais IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato
que constitua infração administrativa ou penal contra os di-
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au- reitos da criança ou adolescente;
tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adoles- competência;
cente, definidos nesta Lei. VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Adminis- judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
trativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conse- adolescente autor de ato infracional;
lho Tutelar como órgão integrante da administração pública VII - expedir notificações;
local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela po- VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
pulação local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida criança ou adolescente quando necessário;
1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha. IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
(Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012) proposta orçamentária para planos e programas de atendi-
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tu- mento dos direitos da criança e do adolescente;
telar, serão exigidos os seguintes requisitos: X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
I - reconhecida idoneidade moral; a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
II - idade superior a vinte e um anos; Constituição Federal;
III - residir no município. XI - representar ao Ministério Público para efeito das
Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, ações de perda ou suspensão do poder familiar, após es-
dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclu- gotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
sive quanto à remuneração dos respectivos membros, aos adolescente junto à família natural. (Redação dada pela Lei
quais é assegurado o direito a: (Redação dada pela Lei nº nº 12.010, de 2009) Vigência
12.696, de 2012) XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
de 2012) reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
(um terço) do valor da remuneração mensal; (Incluído pela Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições,
Lei nº 12.696, de 2012) o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do
III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministé-
2012) rio Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de
IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de tal entendimento e as providências tomadas para a orienta-
2012) ção, o apoio e a promoção social da família. (Incluído pela
V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, de Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2012) Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários quem tenha legítimo interesse.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

TÍTULO III
LEI FEDERAL N° 9.394/96 - ESTABELECE Do Direito à Educação e do Dever de Educar
AS DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
NACIONAL. HTTP://WWW.PLANALTO.GOV. Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública
será efetivado mediante a garantia de:
BR/CCIVIL_03/LEIS/L9394.HTM.
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
forma: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. a) pré-escola; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. b) ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o 2013)
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: c) ensino médio; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
TÍTULO I anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
Da Educação III - atendimento educacional especializado gratuito aos
educandos com deficiência, transtornos globais do desen-
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que volvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal
se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movi- na rede regular de ensino; (Redação dada pela Lei nº 12.796,
mentos sociais e organizações da sociedade civil e nas ma- de 2013)
nifestações culturais. IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desen- e médio para todos os que não os concluíram na idade pró-
volve, predominantemente, por meio do ensino, em institui- pria; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
ções próprias. V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
trabalho e à prática social. um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às con-
TÍTULO II dições do educando;
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspira- suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que
da nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade forem trabalhadores as condições de acesso e permanência
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do na escola;
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
qualificação para o trabalho. educação básica, por meio de programas suplementares de
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes material didático-escolar, transporte, alimentação e assis-
princípios: tência à saúde; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
I - igualdade de condições para o acesso e permanência IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos
na escola; como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de in-
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar sumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; ensino-aprendizagem.
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; X – vaga na escola pública de educação infantil ou de
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda
V - coexistência de instituições públicas e privadas de criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de
ensino; idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008).
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos Art. 5o O acesso à educação básica obrigatória é direi-
oficiais; to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
VII - valorização do profissional da educação escolar; cidadãos, associação comunitária, organização sindical, en-
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma tidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda,
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
IX - garantia de padrão de qualidade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
X - valorização da experiência extra-escolar; § 1o O poder público, na esfera de sua competência fe-
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as derativa, deverá: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
práticas sociais. I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (In- idade escolar, bem como os jovens e adultos que não con-
cluído pela Lei nº 12.796, de 2013) cluíram a educação básica; (Redação dada pela Lei nº 12.796,
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem de 2013)
ao longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018) II - fazer-lhes a chamada pública;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência para identificação, cadastramento e atendimento, na edu-
à escola. cação básica e na educação superior, de alunos com altas
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público habilidades ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234,
assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigató- de 2015)
rio, nos termos deste artigo, contemplando em seguida os V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
demais níveis e modalidades de ensino, conforme as priori- educação;
dades constitucionais e legais. VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendi-
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste mento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a de-
na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sen- finição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;
do gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade compe- pós-graduação;
tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade. instituições de educação superior, com a cooperação dos
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso ensino;
aos diferentes níveis de ensino, independentemente da es- IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
colarização anterior. avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu-
Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrí- cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de en-
cula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) sino. (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na-
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as cional de Educação, com funções normativas e de supervi-
seguintes condições: são e atividade permanente, criado por lei.
I - cumprimento das normas gerais da educação nacio- § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX,
nal e do respectivo sistema de ensino; a União terá acesso a todos os dados e informações neces-
II - autorização de funcionamento e avaliação de quali- sários de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
dade pelo Poder Público; § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o pre- delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que man-
visto no art. 213 da Constituição Federal. tenham instituições de educação superior.
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
TÍTULO IV I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
Da Organização da Educação Nacional ções oficiais dos seus sistemas de ensino;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
cípios organizarão, em regime de colaboração, os respecti- distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
vos sistemas de ensino. com a população a ser atendida e os recursos financeiros
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e III - elaborar e executar políticas e planos educacionais,
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em em consonância com as diretrizes e planos nacionais de
relação às demais instâncias educacionais. educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organiza- seus Municípios;
ção nos termos desta Lei. IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento) avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu-
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colabora- cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de en-
ção com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; sino;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- V - baixar normas complementares para o seu sistema
ções oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; de ensino;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, res-
de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à es- peitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada pela
colaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva Lei nº 12.061, de 2009)
e supletiva; VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Dis- estadual. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)
trito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, competências referentes aos Estados e aos Municípios.
que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
modo a assegurar formação básica comum; I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o ções oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos políticas e planos educacionais da União e dos Estados;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

II - exercer ação redistributiva em relação às suas esco- planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissio-
las; nal;
III - baixar normas complementares para o seu sistema VI - colaborar com as atividades de articulação da escola
de ensino; com as famílias e a comunidade.
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabeleci- Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
mentos do seu sistema de ensino; gestão democrática do ensino público na educação básica,
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es- de acordo com as suas peculiaridades e conforme os se-
colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida guintes princípios:
a atuação em outros níveis de ensino somente quando es- I - participação dos profissionais da educação na elabo-
tiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área ração do projeto pedagógico da escola;
de competência e com recursos acima dos percentuais mí- II - participação das comunidades escolar e local em
nimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e conselhos escolares ou equivalentes.
desenvolvimento do ensino. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede mu- escolares públicas de educação básica que os integram pro-
nicipal. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) gressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor financeiro público.
com ele um sistema único de educação básica. Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: (Re-
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as gulamento)
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in- I - as instituições de ensino mantidas pela União;
cumbência de: II - as instituições de educação superior criadas e manti-
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; das pela iniciativa privada;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e III - os órgãos federais de educação.
financeiros; Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas- Federal compreendem:
-aula estabelecidas; I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
cada docente; II - as instituições de educação superior mantidas pelo
V - prover meios para a recuperação dos alunos de me- Poder Público municipal;
nor rendimento; III - as instituições de ensino fundamental e médio cria-
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando das e mantidas pela iniciativa privada;
processos de integração da sociedade com a escola; IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fede-
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus fi- ral, respectivamente.
lhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequên- Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
cia e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei integram seu sistema de ensino.
nº 12.013, de 2009) Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen-
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao dem:
juiz competente da Comarca e ao respectivo representan- I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
te do Ministério Público a relação dos alunos que apresen- educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
tem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do II - as instituições de educação infantil criadas e manti-
percentual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287, de das pela iniciativa privada;
2001) III – os órgãos municipais de educação.
IX - promover medidas de conscientização, de preven- Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
ção e de combate a todos os tipos de violência, especial- classificam-se nas seguintes categorias administrativas: (Re-
mente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das gulamento) (Regulamento)
escolas; (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora-
X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura das, mantidas e administradas pelo Poder Público;
de paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) II - privadas, assim entendidas as mantidas e administra-
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: das por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadra-
estabelecimento de ensino; rão nas seguintes categorias: (Regulamento) (Regulamento)
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a pro- I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as
posta pedagógica do estabelecimento de ensino; que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas fí-
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; sicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alu- características dos incisos abaixo;
nos de menor rendimento; II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
além de participar integralmente dos períodos dedicados ao jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucra-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

tivos, que incluam na sua entidade mantenedora represen- inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamen-
tantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº 12.020, tação do respectivo sistema de ensino;
de 2009) III - nos estabelecimentos que adotam a progressão re-
III - confessionais, assim entendidas as que são insti- gular por série, o regimento escolar pode admitir formas de
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais progressão parcial, desde que preservada a sequência do
pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e currículo, observadas as normas do respectivo sistema de
ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; ensino;
IV - filantrópicas, na forma da lei. IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu-
nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adian-
TÍTULO V tamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras,
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino artes, ou outros componentes curriculares;
CAPÍTULO I V - a verificação do rendimento escolar observará os se-
Da Composição dos Níveis Escolares guintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
I - educação básica, formada pela educação infantil, en- quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os
sino fundamental e ensino médio; de eventuais provas finais;
II - educação superior. b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
com atraso escolar;
CAPÍTULO II c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
DA EDUCAÇÃO BÁSICA diante verificação do aprendizado;
Seção I d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
Das Disposições Gerais
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvol-
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições
ver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispen-
de ensino em seus regimentos;
sável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
progredir no trabalho e em estudos posteriores.
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé-
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima
ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular
de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na
aprovação;
idade, na competência e em outros critérios, ou por forma
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos
diversa de organização, sempre que o interesse do processo
escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou
de aprendizagem assim o recomendar.
certificados de conclusão de cursos, com as especificações
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
cabíveis.
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o in-
situados no País e no exterior, tendo como base as normas
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva,
curriculares gerais.
no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculia-
os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco
ridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério
anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o nú-
de 2 de março de 2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
mero de horas letivas previsto nesta Lei.
§ 2o Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
médio, será organizada de acordo com as seguintes regras
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI
comuns:
do art. 4o. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res-
para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuí-
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de
das por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho es-
alunos e o professor, a carga horária e as condições mate-
colar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando
riais do estabelecimento.
houver; (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino,
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
à vista das condições disponíveis e das características regio-
primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
nais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do
a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro-
disposto neste artigo.
veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
b) por transferência, para candidatos procedentes de
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
outras escolas;
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e
c) independentemente de escolarização anterior, me-
em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifica-
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de de-
da, exigida pelas características regionais e locais da socie-
senvolvimento e experiência do candidato e permita sua

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

dade, da cultura, da economia e dos educandos. (Redação Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental
dada pela Lei nº 12.796, de 2013) e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran- o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. (Re-
ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da dação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da § 1o O conteúdo programático a que se refere este ar-
realidade social e política, especialmente do Brasil. tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
§ 2o O ensino da arte, especialmente em suas expres- caracterizam a formação da população brasileira, a partir
sões regionais, constituirá componente curricular obrigató- desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da histó-
rio da educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, ria da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos
de 2017) indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e
§ 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica o negro e o índio na formação da sociedade nacional, res-
da escola, é componente curricular obrigatório da educa- gatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e
ção básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação política, pertinentes à história do Brasil. (Redação dada pela
dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) Lei nº 11.645, de 2008).
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
seis horas; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) -brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministra-
II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº dos no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
10.793, de 1º.12.2003) áreas de educação artística e de literatura e história brasilei-
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, ras. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
em situação similar, estiver obrigado à prática da educação Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou- I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social,
tubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem co-
V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) mum e à ordem democrática;
VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de II - consideração das condições de escolaridade dos alu-
1º.12.2003) nos em cada estabelecimento;
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as III - orientação para o trabalho;
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- IV - promoção do desporto educacional e apoio às prá-
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, ticas desportivas não-formais.
africana e européia. Art. 28. Na oferta de educação básica para a população
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações ne-
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela cessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
Lei nº 13.415, de 2017) de cada região, especialmente:
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
linguagens que constituirão o componente curricular de que às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, II - organização escolar própria, incluindo adequação do
de 2016) calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
§ 7o A integralização curricular poderá incluir, a critério climáticas;
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
Lei nº 13.415, de 2017) indígenas e quilombolas será precedido de manifestação
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional consti- do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que
tuirá componente curricular complementar integrado à pro- considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de
posta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigató- Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a
ria por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído pela Lei manifestação da comunidade escolar. (Incluído pela Lei nº
nº 13.006, de 2014) 12.960, de 2014)
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à pre-
venção de todas as formas de violência contra a criança e o Seção II
adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos Da Educação Infantil
currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educa-
da Criança e do Adolescente), observada a produção e dis- ção básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral
tribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,
nº 13.010, de 2014) psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de família e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796,
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de- de 2013)
penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. (In- I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
cluído pela Lei nº 13.415, de 2017) até três anos de idade;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de
anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo Adolescente, observada a produção e distribuição de mate-
com as seguintes regras comuns: (Redação dada pela Lei nº rial didático adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007).
12.796, de 2013) § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do como tema transversal nos currículos do ensino fundamen-
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, tal. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011).
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; (Incluído pela Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é
Lei nº 12.796, de 2013) parte integrante da formação básica do cidadão e consti-
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) ho- tui disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ras, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
trabalho educacional; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi-
jornada integral; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso
IV - controle de frequência pela instituição de educação e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos
pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta professores. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
por cento) do total de horas; (Incluído pela Lei nº 12.796, de § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons-
2013) tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a de-
V - expedição de documentação que permita atestar os finição dos conteúdos do ensino religioso. (Incluído pela Lei
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. nº 9.475, de 22.7.1997)
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental inclui-
rá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de
Seção III aula, sendo progressivamente ampliado o período de per-
Do Ensino Fundamental manência na escola.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos § 2º O ensino fundamental será ministrado progressiva-
6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica mente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino.
do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
2006) Seção IV
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten- Do Ensino Médio
do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escri-
ta e do cálculo; Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sis- com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
tema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
se fundamenta a sociedade; mentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, prosseguimento de estudos;
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania
e a formação de atitudes e valores; do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de
de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
se assenta a vida social. III - o aprimoramento do educando como pessoa hu-
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o en- mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
sino fundamental em ciclos. autonomia intelectual e do pensamento crítico;
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regu- IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecno-
lar por série podem adotar no ensino fundamental o regi- lógicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com
me de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do a prática, no ensino de cada disciplina.
processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
do respectivo sistema de ensino. direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, con-
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em forme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas se-
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a guintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415,
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de de 2017)
aprendizagem. I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en- 13.415, de 2017)
sino a distância utilizado como complementação da apren- II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
dizagem ou em situações emergenciais. 13.415, de 2017)
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obri- III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças pela Lei nº 13.415, de 2017)

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IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada
Lei nº 13.415, de 2017) pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1o A parte diversificada dos currículos de que trata o V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº
caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá 13.415, de 2017)
estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser § 1o A organização das áreas de que trata o caput e das
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, respectivas competências e habilidades será feita de acordo
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. (Re-
§ 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao en- dação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
sino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei 2017)
nº 13.415, de 2017) II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
§ 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática 2017)
será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada III – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.684, de
às comunidades indígenas, também, a utilização das respec- 2008)
tivas línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 2º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obriga- § 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen- composição de componentes curriculares da Base Nacional
cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, con-
oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. siderando os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) nº 13.415, de 2017)
§ 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e § 5o Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
de acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o
pela Lei nº 13.415, de 2017) caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho § 6o A critério dos sistemas de ensino, a oferta de forma-
esperados para o ensino médio, que serão referência nos ção com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional pela Lei nº 13.415, de 2017)
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
§ 7o Os currículos do ensino médio deverão considerar produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
a formação integral do aluno, de maneira a adotar um traba- parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
lho voltado para a construção de seu projeto de vida e para estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissio-
sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemo- nal; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
cionais. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) II - a possibilidade de concessão de certificados interme-
§ 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de ava- diários de qualificação para o trabalho, quando a formação
liação processual e formativa serão organizados nas redes for estruturada e organizada em etapas com terminalidade.
de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de § 7o A oferta de formações experimentais relacionadas
tal forma que ao final do ensino médio o educando demons- ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Ca-
tre: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) tálogo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho
presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415, Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção
de 2017) no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cin-
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- co anos, contados da data de oferta inicial da formação. (In-
guagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) cluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela § 8o A oferta de formação técnica e profissional a que
Base Nacional Comum Curricular e por itinerários forma- se refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição
tivos, que deverão ser organizados por meio da oferta de ou em parceria com outras instituições, deverá ser aprovada
diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para previamente pelo Conselho Estadual de Educação, homolo-
o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a gada pelo Secretário Estadual de Educação e certificada pe-
saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) los sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei § 9o As instituições de ensino emitirão certificado com
nº 13.415, de 2017) validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino mé-
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela dio ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou
Lei nº 13.415, de 2017) em outros cursos ou formações para os quais a conclusão
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação do ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) 13.415, de 2017)

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 10. Além das formas de organização previstas no art. III - as exigências de cada instituição de ensino, nos ter-
23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e mos de seu projeto pedagógico. (Incluído pela Lei nº 11.741,
adotar o sistema de créditos com terminalidade específica. de 2008)
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível mé-
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências curricu- dio articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B
lares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reco- desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído pela Lei nº
nhecer competências e firmar convênios com instituições de 11.741, de 2008)
educação a distância com notório reconhecimento, median- I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
te as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela Lei nº cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de
13.415, de 2017) modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica
I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuan-
de 2017) do-se matrícula única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra ex- 11.741, de 2008)
periência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
Lei nº 13.415, de 2017) médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas dis-
III - atividades de educação técnica oferecidas em ou- tintas para cada curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela Lei
tras instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº nº 11.741, de 2008)
13.415, de 2017) a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocupa- oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei
cionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) nº 11.741, de 2008)
V - estudos realizados em instituições de ensino nacio- b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
nais ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela
VI - cursos realizados por meio de educação a distância Lei nº 11.741, de 2008)
ou educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído c) em instituições de ensino distintas, mediante convê-
pela Lei nº 13.415, de 2017) nios de intercomplementaridade, visando ao planejamento
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. (In-
de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação pro- cluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
fissional previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profis-
2017) sional técnica de nível médio, quando registrados, terão va-
lidade nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos
Seção IV-A na educação superior. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Parágrafo único. Os cursos de educação profissional téc-
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) nica de nível médio, nas formas articulada concomitante e
subsequente, quando estruturados e organizados em etapas
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV des- com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados
te Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do de qualificação para o trabalho após a conclusão, com apro-
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões veitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação
técnicas. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) para o trabalho. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e,
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser de- Seção V
senvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio Da Educação de Jovens e Adultos
ou em cooperação com instituições especializadas em edu-
cação profissional. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela Lei nº nos ensinos fundamental e médio na idade própria e cons-
11.741, de 2008) tituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao
I - articulada com o ensino médio; (Incluído pela Lei nº longo da vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
11.741, de 2008) § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os es-
concluído o ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.741, de tudos na idade regular, oportunidades educacionais apro-
2008) priadas, consideradas as características do alunado, seus in-
Parágrafo único. A educação profissional técnica de ní- teresses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos
vel médio deverá observar: (Incluído pela Lei nº 11.741, de e exames.
2008) § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur- e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações
riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de integradas e complementares entre si.
Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
II - as normas complementares dos respectivos sistemas preferencialmente, com a educação profissional, na forma
de ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa- CAPÍTULO IV


mes supletivos, que compreenderão a base nacional comum DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em
caráter regular. Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os espírito científico e do pensamento reflexivo;
maiores de quinze anos; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conheci-
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os mento, aptos para a inserção em setores profissionais e para
maiores de dezoito anos. a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira,
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos e colaborar na sua formação contínua;
educandos por meios informais serão aferidos e reconheci- III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
dos mediante exames. científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tec-
nologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
CAPÍTULO III desenvolver o entendimento do homem e do meio em que
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL vive;
Da Educação Profissional e Tecnológica IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,
(Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008) científicos e técnicos que constituem patrimônio da humani-
dade e comunicar o saber através do ensino, de publicações
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cum- ou de outras formas de comunicação;
primento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões cultural e profissional e possibilitar a correspondente con-
do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação dada pela cretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
Lei nº 11.741, de 2008) adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica conhecimento de cada geração;
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibili- VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun-
tando a construção de diferentes itinerários formativos, ob- do presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
servadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. serviços especializados à comunidade e estabelecer com
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) esta uma relação de reciprocidade;
§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os VII - promover a extensão, aberta à participação da po-
seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) pulação, visando à difusão das conquistas e benefícios resul-
I – de formação inicial e continuada ou qualificação pro- tantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnoló-
fissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) gica geradas na instituição.
II – de educação profissional técnica de nível médio; (In- VIII - atuar em favor da universalização e do aprimora-
cluído pela Lei nº 11.741, de 2008) mento da educação básica, mediante a formação e a capa-
III – de educação profissional tecnológica de graduação citação de profissionais, a realização de pesquisas pedagó-
e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) gicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que
§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con- 13.174, de 2015)
cerne a objetivos, características e duração, de acordo com Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cur-
as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con- sos e programas: (Regulamento)
selho Nacional de Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes
2008) níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino,
articulação com o ensino regular ou por diferentes estraté- desde que tenham concluído o ensino médio ou equivalen-
gias de educação continuada, em instituições especializadas te; (Redação dada pela Lei nº 11.632, de 2007).
ou no ambiente de trabalho. (Regulamento) (Regulamento) II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
(Regulamento) concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profis- classificados em processo seletivo;
sional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto III - de pós-graduação, compreendendo programas de
de avaliação, reconhecimento e certificação para prossegui- mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoa-
mento ou conclusão de estudos. (Redação dada pela Lei nº mento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos
11.741, de 2008) de graduação e que atendam às exigências das instituições
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- de ensino;
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de
à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao ensino.
nível de escolaridade. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no in-
2008) ciso II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas
instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulga-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

ção da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem liação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições, e a
de classificação, bem como do cronograma das chamadas publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras formas
para matrícula, de acordo com os critérios para preenchi- concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168, de
mento das vagas constantes do respectivo edital. (Incluído 2015)
pela Lei nº 11.331, de 2006) (Renumerado do parágrafo úni- I - em página específica na internet no sítio eletrônico
co para § 1º pela Lei nº 13.184, de 2015) oficial da instituição de ensino superior, obedecido o se-
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins- guinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
tituições públicas de ensino superior darão prioridade de a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como
matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar in- título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168,
ferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, de 2015)
quando mais de um candidato preencher o critério inicial. b) a página principal da instituição de ensino superior,
(Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015) bem como a página da oferta de seus cursos aos ingressan-
§ 3o O processo seletivo referido no inciso II considerará tes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e outras
as competências e as habilidades definidas na Base Nacional com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta com
Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) a página específica prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº
Art. 45. A educação superior será ministrada em institui- 13.168, de 2015)
ções de ensino superior, públicas ou privadas, com variados c) caso a instituição de ensino superior não possua sí-
graus de abrangência ou especialização. (Regulamento) (Re- tio eletrônico, deve criar página específica para divulgação
gulamento) das informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, 13.168, de 2015)
bem como o credenciamento de instituições de educação d) a página específica deve conter a data completa de
superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodi- sua última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
camente, após processo regular de avaliação. (Regulamento) II - em toda propaganda eletrônica da instituição de en-
(Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004) sino superior, por meio de ligação para a página referida no
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências inciso I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere III - em local visível da instituição de ensino superior e de
este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, confor- fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
me o caso, em desativação de cursos e habilitações, em in- IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente,
tervenção na instituição, em suspensão temporária de prer- de acordo com a duração das disciplinas de cada curso ofe-
rogativas da autonomia, ou em descredenciamento. (Regu- recido, observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168,
lamento) (Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004) de 2015)
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo a) caso o curso mantenha disciplinas com duração dife-
responsável por sua manutenção acompanhará o processo renciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela lei
de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessá- nº 13.168, de 2015)
rios, para a superação das deficiências. b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do
§ 3o No caso de instituição privada, além das sanções início das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em sus- docente até o início das aulas, os alunos devem ser comu-
pensão temporária de novos ingressos e de oferta de cursos. nicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, de
(Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) 2015)
§ 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela
procedimento específico e com aquiescência da instituição lei nº 13.168, de 2015)
de ensino, com vistas a resguardar os interesses dos estu- a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
dantes, comutar as penalidades previstas nos §§ 1o e 3o de ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
deste artigo por outras medidas, desde que adequadas para b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular
superação das deficiências e irregularidades constatadas. de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela
(Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) lei nº 13.168, de 2015)
§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- c) a identificação dos docentes que ministrarão as au-
deral deverão adotar os critérios definidos pela União para las em cada curso, as disciplinas que efetivamente minis-
autorização de funcionamento de curso de graduação em trará naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a
Medicina. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) qualificação profissional do docente e o tempo de casa do
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in- docente, de forma total, contínua ou intermitente. (Incluída
dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de pela lei nº 13.168, de 2015)
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
exames finais, quando houver. mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e
§ 1o As instituições informarão aos interessados, antes outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por
de cada período letivo, os programas dos cursos e demais banca examinadora especial, poderão ter abreviada a dura-
componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualifica- ção dos seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas
ção dos professores, recursos disponíveis e critérios de ava- de ensino.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
salvo nos programas de educação a distância. programas de educação superior previstos nesta Lei, obede-
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, no cendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões respectivo sistema de ensino; (Regulamento)
de qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigató- II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob-
ria a oferta noturna nas instituições públicas, garantida a ne- servadas as diretrizes gerais pertinentes;
cessária previsão orçamentária. III - estabelecer planos, programas e projetos de pes-
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quisa científica, produção artística e atividades de extensão;
quando registrados, terão validade nacional como prova da IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacida-
formação recebida por seu titular. de institucional e as exigências do seu meio;
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por ins- em consonância com as normas gerais atinentes;
tituições não-universitárias serão registrados em universida- VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
des indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. VII - firmar contratos, acordos e convênios;
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer- VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos
sidades estrangeiras serão revalidados por universidades de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições
públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equi- em geral, bem como administrar rendimentos conforme dis-
valente, respeitando-se os acordos internacionais de reci- positivos institucionais;
procidade ou equiparação. IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe- prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos
didos por universidades estrangeiras só poderão ser reco- estatutos;
nhecidos por universidades que possuam cursos de pós- X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de cooperação financeira resultante de convênios com entida-
conhecimento e em nível equivalente ou superior. des públicas e privadas.
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hi- universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pes-
pótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo. quisa decidir, dentro dos recursos orçamentários disponí-
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na veis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
forma da lei. (Regulamento) I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
Art. 50. As instituições de educação superior, quando (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada
de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem pela Lei nº 13.490, de 2017)
capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo III - elaboração da programação dos cursos; (Redação
seletivo prévio. dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
Art. 51. As instituições de educação superior credencia- IV - programação das pesquisas e das atividades de ex-
das como universidades, ao deliberar sobre critérios e nor- tensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
mas de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta V - contratação e dispensa de professores; (Redação
os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino mé- dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
dio, articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei
de ensino. nº 13.490, de 2017)
Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplina- § 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser di-
res de formação dos quadros profissionais de nível superior, rigidas a setores ou projetos específicos, conforme acordo
de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber entre doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº 13.490,
humano, que se caracterizam por: (Regulamento) (Regula- de 2017)
mento) § 3o No caso das universidades públicas, os recursos das
I - produção intelectual institucionalizada mediante o doações devem ser dirigidos ao caixa único da instituição,
estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, com destinação garantida às unidades a serem beneficiadas.
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
e nacional; Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titula- gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para
ção acadêmica de mestrado ou doutorado; atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e
III - um terço do corpo docente em regime de tempo financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus pla-
integral. nos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. (Regula-
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades mento) (Regulamento)
especializadas por campo do saber. (Regulamento) (Regu- § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
lamento) ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pú-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura- blicas poderão:
das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e
atribuições: administrativo, assim como um plano de cargos e salários,

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos dis- único do art. 60 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632,
poníveis; de 2018)
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformi- Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
dade com as normas gerais concernentes; dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen-
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de to e altas habilidades ou superdotação: (Redação dada pela
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em Lei nº 12.796, de 2013)
geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
Poder mantenedor; organização específicos, para atender às suas necessidades;
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais; II - terminalidade específica para aqueles que não pu-
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
suas peculiaridades de organização e funcionamento; fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração
VI - realizar operações de crédito ou de financiamen- para concluir em menor tempo o programa escolar para os
to, com aprovação do Poder competente, para aquisição de superdotados;
bens imóveis, instalações e equipamentos; III - professores com especialização adequada em nível
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras médio ou superior, para atendimento especializado, bem
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo- como professores do ensino regular capacitados para a in-
nial necessárias ao seu bom desempenho. tegração desses educandos nas classes comuns;
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
estendidas a instituições que comprovem alta qualificação efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação adequadas para os que não revelarem capacidade de inser-
realizada pelo Poder Público. ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen-
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual
desenvolvimento das instituições de educação superior por ou psicomotora;
ela mantidas. V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so-
Art. 56. As instituições públicas de educação superior ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada ensino regular.
a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que par- Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro na-
ticiparão os segmentos da comunidade institucional, local e cional de alunos com altas habilidades ou superdotação ma-
regional. triculados na educação básica e na educação superior, a fim
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocupa- de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao
rão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegia- desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado.
do e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
modificações estatutárias e regimentais, bem como da esco- Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com
lha de dirigentes. altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi-
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste
o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas sema- artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os
nais de aulas. (Regulamento) mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas
de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que
CAPÍTULO V trata o caput serão definidos em regulamento.
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
estabelecerão critérios de caracterização das instituições
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei- privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
tos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
preferencialmente na rede regular de ensino, para educan- financeiro pelo Poder Público.
dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen- Parágrafo único. O poder público adotará, como alter-
to e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada pela nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu-
Lei nº 12.796, de 2013) candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe- mento e altas habilidades ou superdotação na própria rede
cializado, na escola regular, para atender às peculiaridades pública regular de ensino, independentemente do apoio às
da clientela de educação especial. instituições previstas neste artigo. (Redação dada pela Lei nº
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, 12.796, de 2013)
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua TÍTULO VI
integração nas classes comuns de ensino regular. Dos Profissionais da Educação
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput
deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao Art. 61. Consideram-se profissionais da educação esco-
longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo lar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

sido formados em cursos reconhecidos, são: (Redação dada nência em cursos de formação de docentes em nível supe-
pela Lei nº 12.014, de 2009) rior para atuar na educação básica pública. (Incluído pela Lei
I – professores habilitados em nível médio ou superior nº 12.796, de 2013)
para a docência na educação infantil e nos ensinos funda- § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municí-
mental e médio; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) pios incentivarão a formação de profissionais do magistério
II – trabalhadores em educação portadores de diploma para atuar na educação básica pública mediante programa
de pedagogia, com habilitação em administração, planeja- institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
mento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena,
como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas nas instituições de educação superior. (Incluído pela Lei nº
áreas; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) 12.796, de 2013)
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma § 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do en-
(Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) sino médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de Nacional de Educação - CNE. (Incluído pela Lei nº 12.796,
áreas afins à sua formação ou experiência profissional, ates- de 2013)
tados por titulação específica ou prática de ensino em uni- § 7o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
dades educacionais da rede pública ou privada ou das cor- § 8o Os currículos dos cursos de formação de docen-
porações privadas em que tenham atuado, exclusivamente tes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.
para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº 13.415, de
lei nº 13.415, de 2017) 2017)
V - profissionais graduados que tenham feito comple- Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu- habilitações tecnológicas. (Incluído pela Lei nº 12.796, de
cação, de modo a atender às especificidades do exercício 2013)
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
etapas e modalidades da educação básica, terá como funda- para os profissionais a que se refere o caput, no local de
mentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) trabalho ou em instituições de educação básica e superior,
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores
conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, de (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
2009) Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de
II – a associação entre teorias e práticas, mediante es- educação básica a cursos superiores de pedagogia e licen-
tágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído ciatura será efetivado por meio de processo seletivo diferen-
pela Lei nº 12.014, de 2009) ciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
III – o aproveitamento da formação e experiências an- § 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput
teriores, em instituições de ensino e em outras atividades. deste artigo os professores das redes públicas municipais,
(Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) estaduais e federal que ingressaram por concurso público,
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura não sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído
plena, admitida, como formação mínima para o exercício do pela Lei nº 13.478, de 2017)
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos § 2o As instituições de ensino responsáveis pela ofer-
do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na mo- ta de cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão
dalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017) critérios adicionais de seleção sempre que acorrerem aos
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni- certames interessados em número superior ao de vagas
cípios, em regime de colaboração, deverão promover a for- disponíveis para os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº
mação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais 13.478, de 2017)
de magistério. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009). § 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem defi-
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos pro- nidos em regulamento pelas universidades, terão prioridade
fissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecno- de ingresso os professores que optarem por cursos de li-
logias de educação a distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, cenciatura em matemática, física, química, biologia e língua
de 2009). portuguesa. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fa- (Regulamento)
zendo uso de recursos e tecnologias de educação a distân- I - cursos formadores de profissionais para a educação
cia. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009). básica, inclusive o curso normal superior, destinado à forma-
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municí- ção de docentes para a educação infantil e para as primeiras
pios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e perma- séries do ensino fundamental;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

II - programas de formação pedagógica para portadores II - receita de transferências constitucionais e outras


de diplomas de educação superior que queiram se dedicar transferências;
à educação básica; III - receita do salário-educação e de outras contribui-
III - programas de educação continuada para os profis- ções sociais;
sionais de educação dos diversos níveis. IV - receita de incentivos fiscais;
Art. 64. A formação de profissionais de educação para V - outros recursos previstos em lei.
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien- Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
tação educacional para a educação básica, será feita em cur- dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vin-
sos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-gra- te e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Consti-
duação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta tuições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos,
formação, a base comum nacional. compreendidas as transferências constitucionais, na manu-
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação su- tenção e desenvolvimento do ensino público. (Vide Medida
perior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas Provisória nº 773, de 2017) (Vigência encerrada)
horas. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério su- pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
perior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será con-
em programas de mestrado e doutorado. siderada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- do governo que a transferir.
versidade com curso de doutorado em área afim, poderá § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im-
suprir a exigência de título acadêmico. postos mencionadas neste artigo as operações de crédito
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização por antecipação de receita orçamentária de impostos.
dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos
nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do ma- mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita
gistério público: estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o
I - ingresso exclusivamente por concurso público de caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais,
provas e títulos; com base no eventual excesso de arrecadação.
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; as efetivamente realizadas, que resultem no não atendimen-
III - piso salarial profissional; to dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habi- corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro.
litação, e na avaliação do desempenho; § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do
V - período reservado a estudos, planejamento e avalia- caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
ção, incluído na carga de trabalho; nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela
VI - condições adequadas de trabalho. educação, observados os seguintes prazos:
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exer- I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
cício profissional de quaisquer outras funções de magistério, cada mês, até o vigésimo dia;
nos termos das normas de cada sistema de ensino. (Renu- II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigési-
merado pela Lei nº 11.301, de 2006) mo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas fun- final de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
ções de magistério as exercidas por professores e especialis- § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
tas em educação no desempenho de atividades educativas, reção monetária e à responsabilização civil e criminal das
quando exercidas em estabelecimento de educação básica autoridades competentes.
em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
exercício da docência, as de direção de unidade escolar e senvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à
as de coordenação e assessoramento pedagógico. (Incluído consecução dos objetivos básicos das instituições educacio-
pela Lei nº 11.301, de 2006) nais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao a:
Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concur- I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente
sos públicos para provimento de cargos dos profissionais da e demais profissionais da educação;
educação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) II - aquisição, manutenção, construção e conservação de
instalações e equipamentos necessários ao ensino;
TÍTULO VII III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao
Dos Recursos financeiros ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas vi-
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação sando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à
os originários de: expansão do ensino;
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, V - realização de atividades-meio necessárias ao funcio-
do Distrito Federal e dos Municípios; namento dos sistemas de ensino;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas cada estabelecimento de ensino, considerado o número de
públicas e privadas; alunos que efetivamente frequentam a escola.
VII - amortização e custeio de operações de crédito des- § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
tinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos Mu-
VIII - aquisição de material didático-escolar e manuten- nicípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua
ção de programas de transporte escolar. responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e de- V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade
senvolvimento do ensino aquelas realizadas com: de atendimento.
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de en- Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no arti-
sino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que go anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pe-
não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualida- los Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta
de ou à sua expansão; Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de ca- Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas
ráter assistencial, desportivo ou cultural; públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, con-
III - formação de quadros especiais para a administração fessionais ou filantrópicas que:
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam
IV - programas suplementares de alimentação, assistên- resultados, dividendos, bonificações, participações ou par-
cia médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e ou- cela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
tras formas de assistência social; II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa- Público, no caso de encerramento de suas atividades;
ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re-
manutenção e desenvolvimento do ensino. cebidos.
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de- § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de
se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritaria- da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder
mente, na prestação de contas de recursos públicos, o cum- Público obrigado a investir prioritariamente na expansão da
primento do disposto no art. 212 da Constituição Federal, no sua rede local.
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
na legislação concernente. poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusi-
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Dis- ve mediante bolsas de estudo.
trito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo
de oportunidades educacionais para o ensino fundamental, TÍTULO VIII
baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de Das Disposições Gerais
assegurar ensino de qualidade.
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar- Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo-
tigo será calculado pela União ao final de cada ano, com ração das agências federais de fomento à cultura e de as-
validade para o ano subsequente, considerando variações sistência aos índios, desenvolverá programas integrados de
regionais no custo dos insumos e as diversas modalidades ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilingue
de ensino. e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes obje-
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos tivos:
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação
qualidade de ensino. de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fór- ciências;
mula de domínio público que inclua a capacidade de atendi- II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
mento e a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos
Distrito Federal ou do Município em favor da manutenção e da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-
do desenvolvimento do ensino. -índias.
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
definida pela razão entre os recursos de uso constitucional- sistemas de ensino no provimento da educação intercultural
mente obrigatório na manutenção e desenvolvimento do às comunidades indígenas, desenvolvendo programas inte-
ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão mínimo grados de ensino e pesquisa.
de qualidade. § 1º Os programas serão planejados com audiência das
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e comunidades indígenas.
2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos a

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, ad-
nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes ob- mitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas
jetivos: fixadas pelos sistemas de ensino.
I - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua mater- Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
na de cada comunidade indígena; aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respecti-
II - manter programas de formação de pessoal especia- vas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo
lizado, destinado à educação escolar nas comunidades in- com seu rendimento e seu plano de estudos.
dígenas; Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
III - desenvolver currículos e programas específicos, ne- própria poderá exigir a abertura de concurso público de
les incluindo os conteúdos culturais correspondentes às res- provas e títulos para cargo de docente de instituição públi-
pectivas comunidades; ca de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didá- concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos
tico específico e diferenciado. assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do
§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efeti- Art. 86. As instituições de educação superior constituí-
var-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante a das como universidades integrar-se-ão, também, na sua
oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como de condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional
estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas espe- de Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação específica.
ciais. (Incluído pela Lei nº 12.416, de 2011)
Art. 79-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639, de TÍTULO IX
9.1.2003) Das Disposições Transitórias
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no-
vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. (Incluído Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se
pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003) um ano a partir da publicação desta Lei.
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publica-
e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos ção desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano
os níveis e modalidades de ensino, e de educação continua- Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez
da. (Regulamento) (Regulamento) anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial so-
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e bre Educação para Todos.
regime especiais, será oferecida por instituições especifica- § 2º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de
mente credenciadas pela União. 2013)
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realiza- § 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, su-
ção de exames e registro de diploma relativos a cursos de pletivamente, a União, devem: (Redação dada pela Lei nº
educação a distância. 11.330, de 2006)
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de I - (revogado); (Redação dada pela lei nº 12.796, de 2013)
programas de educação a distância e a autorização para sua a) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, 2006)
podendo haver cooperação e integração entre os diferentes b) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
sistemas. (Regulamento) 2006)
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento dife- c) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
renciado, que incluirá: 2006)
I - custos de transmissão reduzidos em canais comer- II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e
ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em ou- adultos insuficientemente escolarizados;
tros meios de comunicação que sejam explorados mediante III - realizar programas de capacitação para todos os
autorização, concessão ou permissão do poder público; (Re- professores em exercício, utilizando também, para isto, os
dação dada pela Lei nº 12.603, de 2012) recursos da educação a distância;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino fun-
educativas; damental do seu território ao sistema nacional de avaliação
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder do rendimento escolar.
Público, pelos concessionários de canais comerciais. § 4º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti- 2013)
tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a
disposições desta Lei. progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas fundamental para o regime de escolas de tempo integral.
de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao
federal sobre a matéria. (Redação dada pela Lei nº 11.788, Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados
de 2008) aos seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº do art. 212 da Constituição Federal e dispositivos legais per-
11.788, de 2008) tinentes pelos governos beneficiados.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 87-A. (VETADO). (Incluído pela lei nº 12.796, de 2013) volvimento, à preparação para o exercício da cidadania e à
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em
nicípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino às ambiente educativo, e tendo como fundamento a respon-
disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir sabilidade que o Estado brasileiro, a família e a sociedade
da data de sua publicação. (Regulamento) (Regulamento) têm de garantir a democratização do acesso, a inclusão, a
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatu- permanência e a conclusão com sucesso das crianças, dos
tos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos jovens e adultos na instituição educacional, a aprendizagem
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes esta- para continuidade dos estudos e a extensão da obrigatorie-
belecidos. dade e da gratuidade da Educação Básica.
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o dis-
posto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. TÍTULO I OBJETIVOS
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve-
nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema a Educação Básica têm por objetivos:
de ensino. I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o re- Educação Básica contidos na Constituição, na Lei de Dire-
gime anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas trizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e demais disposi-
pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante delega- tivos legais, traduzindo-os em orientações que contribuam
ção deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, para assegurar a formação básica comum nacional, tendo
preservada a autonomia universitária. como foco os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola;
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
ção. subsidiar a formulação, a execução e a avaliação do projeto
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, político-pedagógico da escola de Educação Básica;
de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de III - orientar os cursos de formação inicial e continua-
1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro da de docentes e demais profissionais da Educação Básica,
de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as os sistemas educativos dos diferentes entes federados e as
Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de escolas que os integram, indistintamente da rede a que per-
outubro de 1982, e as demais leis e decretos-lei que as mo- tençam.
dificaram e quaisquer outras disposições em contrário. Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas
Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Independên- para as etapas e modalidades da Educação Básica devem
cia e 108º da República. evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas, so-
ciais, culturais, educacionais, e a função da educação, na sua
relação com um projeto de Nação, tendo como referência
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 04/2010 E os objetivos constitucionais, fundamentando-se na cidada-
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010 nia e na dignidade da pessoa, o que pressupõe igualdade,
(*) liberdade, pluralidade, diversidade, respeito, justiça social,
solidariedade e sustentabilidade.

(*) Resolução CNE/CEB 4/2010. Diário Oficial da União,


Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Brasília, 14 de julho de 2010, Seção 1, p. 824.
Educação Básica.
TÍTULO II REFERÊNCIAS CONCEITUAIS
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse-
lho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacio-
e de conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do nal de educação responsabilizam o poder público, a família,
artigo 9º da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos
nº 9.131/1995, nos artigos 36, 36- A, 36-B, 36-C, 36-D, 37, 39, de um ensino ministrado de acordo com os princípios de:
40, 41 e 42 da Lei nº 9.394/1996, com a redação dada pela I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, per-
Lei nº 11.741/2008, bem como no Decreto nº 5.154/2004, e manência e sucesso na escola;
com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 7/2010, homolo- II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
gado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educa- a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
ção, publicado no DOU de 9 de julho de 2010. III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e aos direitos;
RESOLVE: V - coexistência de instituições públicas e privadas de
ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabeleci-
Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curricu- mentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação
lares Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial escolar;
e articulado das etapas e modalidades da Educação Básica, VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da
baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno desen- legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

IX - garantia de padrão de qualidade; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das di-


X - valorização da experiência extraescolar; ferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cul-
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as tural, resgatando e respeitando as várias manifestações de
práticas sociais. cada comunidade;
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como ins-
da qual depende a possibilidade de conquistar todos os de- trumento de contínua progressão dos estudantes;
mais direitos, definidos na Constituição Federal, no Estatuto IV - inter-relação entre organização do currículo, do tra-
da Criança e do Adolescente (ECA), na legislação ordinária e balho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
nas demais disposições que consagram as prerrogativas do tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
cidadão. V - preparação dos profissionais da educação, gestores,
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilida- VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
de, buscando recuperar, para a função social desse nível da fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa em efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
formação na sua essência humana. acessibilidade;
VII - integração dos profissionais da educação, dos es-
TÍTULO III tudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interes-
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO sados na educação;
VIII - valorização dos profissionais da educação, com
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a institu- programa de formação continuada, critérios de acesso, per-
cionalização do regime de colaboração entre União, Estados, manência, remuneração compatível com a jornada de traba-
Distrito Federal e Municípios, no contexto da estrutura fe- lho definida no projeto político-pedagógico;
derativa brasileira, em que convivem sistemas educacionais IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de
autônomos, para assegurar efetividade ao projeto da educa- assistência social e desenvolvimento humano, cidadania,
ção nacional, vencer a fragmentação das políticas públicas e ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde,
superar a desarticulação institucional. meio ambiente.
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sis- Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí-
tema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo, nimos de qualidade da educação traduz a necessidade de
com suas peculiares competências, é chamado a colaborar reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação planejada,
para transformar a Educação Básica em um sistema orgâni- coletivamente, pelos sujeitos da escola.
co, sequencial e articulado. § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade inten- escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
cional e organicamente concebida, que se justifica pela rea- I - aos princípios e às finalidades da educação, além do
lização de atividades voltadas para as mesmas finalidades ou reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Índi-
para a concretização dos mesmos objetivos. ce de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou ou-
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados tros indicadores, que o complementem ou substituam;
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência en- II - à relevância de um projeto político-pedagógico con-
tre as funções distributiva, supletiva, normativa, de supervi- cebido e assumido colegiadamente pela comunidade edu-
são e avaliação da educação nacional, respeitada a autono- cacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a pluralida-
mia dos sistemas e valorizadas as diferenças regionais. de cultural;
III - à riqueza da valorização das diferenças manifesta-
TÍTULO IV das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
QUALIDADE SOCIAL IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno-
-Qualidade Inicial – CAQi);
Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exige-
acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendiza-
-se um padrão mínimo de insumos, que tem como base um
gens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da
investimento com valor calculado a partir das despesas es-
retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qua-
senciais ao desenvolvimento dos processos e procedimen-
lidade social da educação, que é uma conquista coletiva de
tos formativos, que levem, gradualmente, a uma educação
todos os sujeitos do processo educativo.
integral, dotada de qualidade social:
Art. 9º A escola de qualidade social adota como cen-
I - creches e escolas que possuam condições de infraes-
tralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
trutura e adequados equipamentos;
atendimento aos seguintes requisitos:
II - professores qualificados com remuneração adequa-
I - revisão das referências conceituais quanto aos dife-
da e compatível com a de outros profissionais com igual ní-
rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
vel de formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta)
sociais na escola e fora dela;
horas em tempo integral em uma mesma escola;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

III - definição de uma relação adequada entre o número estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção
de alunos por turma e por professor, que assegure aprendi- de práticas educativas formais e não-formais.
zagens relevantes; § 2º Na organização da proposta curricular, deve-se
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que res- assegurar o entendimento de currículo como experiências
ponda às exigências do que se estabelece no projeto políti- escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
co-pedagógico. permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e sa-
beres dos estudantes com os conhecimentos historicamen-
TÍTULO V te acumulados e contribuindo para construir as identidades
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, dos educandos.
POSSIBILIDADES § 3º A organização do percurso formativo, aberto e con-
textualizado, deve ser construída em função das peculiarida-
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que des do meio e das características, interesses e necessidades
se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se dos estudantes, incluindo não só os componentes curricula-
as identidades culturais, em que se aprende a valorizar as res centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas nor-
raízes próprias das diferentes regiões do País. mas educacionais, mas outros, também, de modo flexível e
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a supe- variável, conforme cada projeto escolar, e assegurando:
ração do rito escolar, desde a construção do currículo até os I - concepção e organização do espaço curricular e físico
critérios que orientam a organização do trabalho escolar em que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, ambientes
sua multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e e equipamentos que não apenas as salas de aula da escola,
aconchego, para garantir o bem-estar de crianças, adoles- mas, igualmente, os espaços de outras escolas e os socio-
centes, jovens e adultos, no relacionamento entre todas as culturais e esportivo- recreativos do entorno, da cidade e
pessoas. mesmo da região;
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, defi- II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços
nir o programa de escolas de tempo parcial diurno (matuti- curriculares que pressuponham profissionais da educação
no ou vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral dispostos a inventar e construir a escola de qualidade social,
(turno e contra-turno ou turno único com jornada escolar de com responsabilidade compartilhada com as demais auto-
7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo), tendo ridades que respondem pela gestão dos órgãos do poder
em vista a amplitude do papel socioeducativo atribuído ao público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até
conjunto orgânico da Educação Básica, o que requer outra porque educar é responsabilidade da família, do Estado e
organização e gestão do trabalho pedagógico. da sociedade;
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou di- III - escolha da abordagem didático-pedagógica dis-
ferentes espaços educativos, nos quais a permanência do ciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar
estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade do pela escola, que oriente o projeto político-pedagógico e re-
tempo diário de escolarização quanto à diversidade de ativi- sulte de pacto estabelecido entre os profissionais da escola,
dades de aprendizagens. conselhos escolares e comunidade, subsidiando a organiza-
§ 2º A jornada em tempo integral com qualidade implica ção da matriz curricular, a definição de eixos temáticos e a
a necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no currí- constituição de redes de aprendizagem;
culo, de atividades e estudos pedagogicamente planejados IV - compreensão da matriz curricular entendida como
e acompanhados. propulsora de movimento, dinamismo curricular e educacio-
§ 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem esta- nal, de tal modo que os diferentes campos do conhecimento
belecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à possam se coadunar com o conjunto de atividades educa-
experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens e tivas;
adultos em escolarização no tempo regular ou na modalida- V - organização da matriz curricular entendida como
de de Educação de Jovens e Adultos. alternativa operacional que embase a gestão do currículo
escolar e represente subsídio para a gestão da escola (na
CAPÍTULO I organização do tempo e do espaço curricular, distribuição e
FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR controle do tempo dos trabalhos docentes), passo para uma
gestão centrada na abordagem interdisciplinar, organizada
Art. 13. O currículo, assumindo como referência os prin-
por eixos temáticos, mediante interlocução entre os diferen-
cípios educacionais garantidos à educação, assegurados no
tes campos do conhecimento;
artigo 4º desta Resolução, configura-se como o conjunto de
VI - entendimento de que eixos temáticos são uma for-
valores e práticas que proporcionam a produção, a socializa-
ma de organizar o trabalho pedagógico, limitando a dis-
ção de significados no espaço social e contribuem intensa-
persão do conhecimento, fornecendo o cenário no qual se
mente para a construção de identidades socioculturais dos
constroem objetos de estudo, propiciando a concretização
educandos.
da proposta pedagógica centrada na visão interdisciplinar,
§ 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais
superando o isolamento das pessoas e a compartimentali-
do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do
zação de conteúdos rígidos;
respeito ao bem comum e à ordem democrática, conside-
VII - estímulo à criação de métodos didático-pedagógi-
rando as condições de escolaridade dos estudantes em cada
cos utilizando-se recursos tecnológicos de informação e co-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

municação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim de nas específicas para cada uma dessas partes, mas devem
superar a distância entre estudantes que aprendem a rece- ser organicamente planejadas e geridas de tal modo que as
ber informação com rapidez utilizando a linguagem digital e tecnologias de informação e comunicação perpassem trans-
professores que dela ainda não se apropriaram; versalmente a proposta curricular, desde a Educação Infantil
VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendi- até o Ensino Médio, imprimindo direção aos projetos políti-
da como um conjunto de ações didático-pedagógicas, com co-pedagógicos.
foco na aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada Art. 15. A parte diversificada enriquece e complementa
pela consciência de que o processo de comunicação entre a base nacional comum, prevendo o estudo das característi-
estudantes e professores é efetivado por meio de práticas e cas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia
recursos diversos; e da comunidade escolar, perpassando todos os tempos e
IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como espaços curriculares constituintes do Ensino Fundamental e
ferramenta didático-pedagógica relevante nos programas do Ensino Médio, independentemente do ciclo da vida no
de formação inicial e continuada de profissionais da educa- qual os sujeitos tenham acesso à escola.
ção, sendo que esta opção requer planejamento sistemático § 1º A parte diversificada pode ser organizada em temas
integrado estabelecido entre sistemas educativos ou con- gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados colegiada-
junto de unidades escolares; mente pelos sistemas educativos ou pela unidade escolar.
§ 4º A transversalidade é entendida como uma forma de § 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua
organizar o trabalho didático- pedagógico em que temas e estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua es-
eixos temáticos são integrados às disciplinas e às áreas ditas colha à comunidade escolar, dentro das possibilidades da
convencionais, de forma a estarem presentes em todas elas. escola, que deve considerar o atendimento das caracterís-
§ 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e ticas locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo em
ambas complementam-se, rejeitando a concepção de co- vista as demandas do mundo do trabalho e da internaciona-
nhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto lização de toda ordem de relações.
e acabado. § 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005,
§ 6º A transversalidade refere-se à dimensão didático- é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora fa-
-pedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem episte- cultativa para o estudante, bem como possibilitada no Ensi-
mológica dos objetos de conhecimento. no Fundamental, do 6º ao 9º ano.
Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB, de-
CAPÍTULO II terminam que sejam incluídos componentes não disciplina-
FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE res, como temas relativos ao trânsito, ao meio ambiente e à
DIVERSIFICADA condição e direitos do idoso.
Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, des-
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica tinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horária anual
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzi- ao conjunto de programas e projetos interdisciplinares ele-
dos culturalmente, expressos nas políticas públicas e gera- tivos criados pela escola, previsto no projeto pedagógico,
dos nas instituições produtoras do conhecimento científico de modo que os estudantes do Ensino Fundamental e do
e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento Médio possam escolher aquele programa ou projeto com
das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na que se identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o
produção artística; nas formas diversas de exercício da cida- conhecimento e a experiência.
dania; e nos movimentos sociais. § 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvidos
§ 1º Integram a base nacional comum nacional: de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação com a
a) a Língua Portuguesa; comunidade em que a escola esteja inserida.
b) a Matemática; § 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realida- assegurar a transversalidade do conhecimento de diferentes
de social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o currículo e
estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, in- campos do conhecimento.
cluindo-se a música;
e) a Educação Física; TÍTULO VI ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
f) o Ensino Religioso.
§ 2º Tais componentes curriculares são organizados pe- Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se
los sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimen- observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas
to, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especifi- as suas etapas, modalidades e orientações temáticas, res-
cidade dos diferentes campos do conhecimento, por meio peitadas as suas especificidades e as dos sujeitos a que se
dos quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao destinam.
exercício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas § 1º As etapas e as modalidades do processo de escola-
do desenvolvimento integral do cidadão. rização estruturam-se de modo orgânico, sequencial e arti-
§ 3º A base nacional comum e a parte diversificada não culado, de maneira complexa, embora permanecendo indi-
podem se constituir em dois blocos distintos, com discipli-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

vidualizadas ao logo do percurso do estudante, apesar das IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta
mudanças por que passam: incompleta; V - de habitantes de zonas rurais;
I - a dimensão orgânica é atendida quando são observa- VI - de indígenas e quilombolas;
das as especificidades e as diferenças de cada sistema edu- VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou in-
cativo, sem perder o que lhes é comum: as semelhanças e as ternação, jovens e adultos em situação de privação de liber-
identidades que lhe são inerentes; dade nos estabelecimentos penais.
II - a dimensão sequencial compreende os processos
educativos que acompanham as exigências de aprendiza- Seção I Educação Infantil
gens definidas em cada etapa do percurso formativo, contí-
nuo e progressivo, da Educação Básica até a Educação Supe- Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desenvol-
rior, constituindo-se em diferentes e insubstituíveis momen- vimento integral da criança, em seus aspectos físico, afetivo,
tos da vida dos educandos; psicológico, intelectual, social, complementando a ação da
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial família e da comunidade.
das etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas § 1º As crianças provêm de diferentes e singulares con-
com a Educação Superior, implica ação coordenada e inte- textos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso
gradora do seu conjunto. devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas
§ 2º A transição entre as etapas da Educação Básica e pela escola e pelos profissionais da educação, com base nos
suas fases requer formas de articulação das dimensões or- princípios da individualidade, igualdade, liberdade, diversi-
gânica e sequencial que assegurem aos educandos, sem dade e pluralidade.
tensões e rupturas, a continuidade de seus processos pecu- § 2º Para as crianças, independentemente das diferentes
liares de aprendizagem e desenvolvimento. condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, étnico-
Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus -raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, entre ou-
princípios, objetivos e diretrizes educacionais, fundamentan- tras, as relações sociais e intersubjetivas no espaço escolar
do-se na inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar requerem a atenção intensiva dos profissionais da educação,
e educar, pois esta é uma concepção norteadora do projeto durante o tempo de desenvolvimento das atividades que
político-pedagógico elaborado e executado pela comunida- lhes são peculiares, pois este é o momento em que a curio-
de educacional. sidade deve ser estimulada, a partir da brincadeira orientada
Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos men- pelos profissionais da educação.
tais, socioemocionais, culturais e identitários é um princípio § 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade
orientador de toda a ação educativa, sendo responsabilida- humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social
de dos sistemas a criação de condições para que crianças, devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação
adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade, tenham deve ocorrer ao longo da Educação Básica.
a oportunidade de receber a formação que corresponda à § 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços
idade própria de percurso escolar. promovendo ações a partir das quais as unidades de Edu-
cação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as
CAPÍTULO I crianças, em estreita relação com a família, com agentes so-
ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA ciais e com a sociedade, prevendo programas e projetos em
parceria, formalmente estabelecidos.
Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes mo- § 5º A gestão da convivência e as situações em que se
mentos constitutivos do desenvolvimento educacional: torna necessária a solução de problemas individuais e co-
I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche, en- letivos pelas crianças devem ser previamente programadas,
globando as diferentes etapas do desenvolvimento da crian- com foco nas motivações estimuladas e orientadas pelos
ça até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com professores e demais profissionais da educação e outros de
duração de 2 (dois) anos; áreas pertinentes, respeitados os limites e as potencialida-
II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com des de cada criança e os vínculos desta com a família ou com
duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas o seu responsável direto.
fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
finais; Seção II Ensino Fundamental
III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três)
anos. Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de du-
Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de ração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos
idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com carac-
atenta para sujeitos com características que fogem à norma, terísticas próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 (cinco)
como é o caso, entre outros: anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a 10
I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar; (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de
II - de retenção, repetência e retorno de quem havia duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
abandonado os estudos; III - de portadores de deficiência Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher sig-
limitadora; nifica também cuidar e educar, como forma de garantir a
aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o estu-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

dante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe permi- § 3º Os sistemas educativos devem prever currículos
tam usufruir dos bens culturais disponíveis na comunidade, flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens te-
na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe possibili- nham a oportunidade de escolher o percurso formativo que
tem ainda sentir-se como produtor valorizado desses bens. atenda seus interesses, necessidades e aspirações, para que
Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças, se assegure a permanência dos jovens na escola, com pro-
definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os veito, até a conclusão da Educação Básica.
anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no pri-
meiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e inten- CAPÍTULO II MODALIDADES DA EDUCAÇÃO
sificando, gradativamente, o processo educativo, mediante: BÁSICA
I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode corres-
e do cálculo; ponder uma ou mais das modalidades de ensino: Educação
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissio-
primeiros anos; nal e Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar
III - compreensão do ambiente natural e social, do siste- Indígena e Educação a Distância.
ma político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultu-
ra e dos valores em que se fundamenta a sociedade; Seção I
IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- Educação de Jovens e Adultos
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habili-
dades e a formação de atitudes e valores; Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-
V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de -se aos que se situam na faixa etária superior à considerada
solidariedade humana e de respeito recíproco em que se as- própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do
senta a vida social. Ensino Médio.
Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem esta- § 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de
belecer especial forma de colaboração visando à oferta do cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionando-
Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a primei- -lhes oportunidades educacionais apropriadas, consideradas
ra fase, no geral assumida pelo Município, e a segunda, pelo as características do alunado, seus interesses, condições de
Estado, para evitar obstáculos ao acesso de estudantes que vida e de trabalho, mediante cursos, exames, ações integra-
se transfiram de uma rede para outra para completar esta das e complementares entre si, estruturados em um projeto
escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade e a to- pedagógico próprio.
talidade do processo formativo do escolar. § 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Edu-
cação Profissional articulada com a Educação Básica, devem
Seção III Ensino Médio pautar-se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto de
tempo e espaço, para que seja(m):
Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo forma- I - rompida a simetria com o ensino regular para crian-
tivo da Educação Básica, é orientado por princípios e finali- ças e adolescentes, de modo a permitir percursos individua-
dades que preveem: lizados e conteúdos significativos para os jovens e adultos;
I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci- II - providos o suporte e a atenção individuais às diferen-
mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o tes necessidades dos estudantes no processo de aprendiza-
prosseguimento de estudos; gem, mediante atividades diversificadas;
II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho, to- III - valorizada a realização de atividades e vivências so-
mado este como princípio educativo, para continuar apren- cializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras de
dendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas condições enriquecimento do percurso formativo dos estudantes;
de ocupação e aperfeiçoamento posteriores; IV - desenvolvida a agregação de competências para o
III - o desenvolvimento do educando como pessoa hu- trabalho;
mana, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvi- V - promovida a motivação e a orientação permanente
mento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; dos estudantes, visando maior participação nas aulas e seu
IV - a compreensão dos fundamentos científicos e tec- melhor aproveitamento e desempenho;
nológicos presentes na sociedade contemporânea, relacio- VI - realizada, sistematicamente, a formação continua-
nando a teoria com a prática. da, destinada, especificamente, aos educadores de jovens e
§ 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre adultos.
a qual podem se assentar possibilidades diversas como pre-
paração geral para o trabalho ou, facultativamente, para Seção II Educação Especial
profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como inicia-
ção científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da Art. 29. A Educação Especial, como modalidade trans-
formação cultural. versal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é
§ 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se parte integrante da educação regular, devendo ser prevista
em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas no projeto político-pedagógico da unidade escolar.
singularidades, que se situam em um tempo determinado.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 1º Os sistemas de ensino devem matricular os estu- I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as


dantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- oportunidades educacionais disponíveis;
mento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
do ensino regular e no Atendimento Educacional Especiali- as oportunidades educacionais disponíveis;
zado (AEE), complementar ou suplementar à escolarização, III - em instituições de ensino distintas, mediante convê-
ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros nios de intercomplementaridade, com planejamento e de-
de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, con- senvolvimento de projeto pedagógico unificado.
fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. § 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissional
§ 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em
para que o professor da classe comum possa explorar as etapas que possibilitem qualificação profissional interme-
potencialidades de todos os estudantes, adotando uma pe- diária.
dagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva e, na § 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser
interface, o professor do AEE deve identificar habilidades e desenvolvida por diferentes estratégias de educação con-
necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os tinuada, em instituições especializadas ou no ambiente de
serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendizagem,
participação e aprendizagem dos estudantes. previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
§ 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de Art. 33. A organização curricular da Educação Profissio-
ensino devem observar as seguintes orientações fundamen- nal e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na
tais: identificação das tecnologias que se encontram na base de
I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudan- uma dada formação profissional e dos arranjos lógicos por
tes no ensino regular; II - a oferta do atendimento educacio- elas constituídos.
nal especializado; Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos
III - a formação de professores para o AEE e para o de- tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica,
senvolvimento de práticas educacionais inclusivas; como os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores,
IV - a participação da comunidade escolar; podem ser objeto de avaliação, reconhecimento e certifica-
V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e ção para prosseguimento ou conclusão de estudos.
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos trans-
portes; Seção IV Educação Básica do Campo
VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais.
Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo,
Seção III a educação para a população rural está prevista com ade-
Educação Profissional e Tecnológica quações necessárias às peculiaridades da vida no campo e
de cada região, definindo-se orientações para três aspectos
Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no cum- essenciais à organização da ação pedagógica:
primento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona
do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se com rural;
o ensino regular e com outras modalidades educacionais: II - organização escolar própria, incluindo adequação do
Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educa- calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
ção a Distância. climáticas;
Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Educa- III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
ção Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos de Art. 36. A identidade da escola do campo é definida pela
formação inicial e continuada ou qualificação profissional e vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com
nos de Educação Profissional Técnica de nível médio. propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade
Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio é em todos os aspectos, tais como sociais, culturais, políticos,
desenvolvida nas seguintes formas: econômicos, de gênero, geração e etnia.
I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: Parágrafo único. Formas de organização e metodolo-
a) integrada, na mesma instituição; ou gias pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas,
b) concomitante, na mesma ou em distintas instituições; como a pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha pedagógico fundamentado no princípio da sustentabilida-
concluído o Ensino Médio. de, para assegurar a preservação da vida das futuras gera-
§ 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio, orga- ções, e a pedagogia da alternância, na qual o estudante par-
nizados na forma integrada, são cursos de matrícula única, ticipa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/
que conduzem os educandos à habilitação profissional téc- situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo
nica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a parceria educativa, em que ambas as partes são correspon-
última etapa da Educação Básica. sáveis pelo aprendizado e pela formação do estudante.
§ 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio,
ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e
dupla certificação, podem ocorrer:

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Seção V Educação Escolar Indígena TÍTULO VII


ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A
Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unida- ORGANIZAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES
des educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais NACIONAIS GERAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
têm uma realidade singular, requerendo pedagogia própria
em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo Art. 42. São elementos constitutivos para a operaciona-
ou comunidade e formação específica de seu quadro docen- lização destas Diretrizes o projeto político-pedagógico e o
te, observados os princípios constitucionais, a base nacional regimento escolar; o sistema de avaliação; a gestão demo-
comum e os princípios que orientam a Educação Básica bra- crática e a organização da escola; o professor e o programa
sileira. de formação docente.
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento
das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de pos- CAPÍTULO I
suidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O
ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena REGIMENTO ESCOLAR
das culturas dos povos indígenas e à afirmação e manuten-
ção de sua diversidade étnica. Art. 43. O projeto político-pedagógico, interdependen-
Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser temente da autonomia pedagógica, administrativa e de ges-
considerada a participação da comunidade, na definição do tão financeira da instituição educacional, representa mais do
modelo de organização e gestão, bem como: que um documento, sendo um dos meios de viabilizar a es-
I - suas estruturas sociais; cola democrática para todos e de qualidade social.
II - suas práticas socioculturais e religiosas; § 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se
III - suas formas de produção de conhecimento, proces- na busca de sua identidade, que se expressa na construção
sos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; de seu projeto pedagógico e do seu regimento escolar, en-
IV - suas atividades econômicas; quanto manifestação de seu ideal de educação e que per-
V - edificação de escolas que atendam aos interesses mite uma nova e democrática ordenação pedagógica das
das comunidades indígenas; relações escolares.
VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos § 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de
de acordo com o contexto sociocultural de cada povo indí- seus sujeitos, articular a formulação do projeto político-pe-
gena. dagógico com os planos de educação – nacional, estadual,
municipal –, o contexto em que a escola se situa e as neces-
Seção VI Educação a Distância sidades locais e de seus estudantes.
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeduca-
Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteri- tivo, artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero,
za-se pela mediação didático- pedagógica nos processos etnia e diversidade cultural que compõem as ações educa-
de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de tivas, a organização e a gestão curricular são componentes
meios e tecnologias de informação e comunicação, com es- integrantes do projeto político-pedagógico, devendo ser
tudantes e professores desenvolvendo atividades educativas previstas as prioridades institucionais que a identificam, de-
em lugares ou tempos diversos. finindo o conjunto das ações educativas próprias das etapas
Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e da Educação Básica assumidas, de acordo com as especifi-
programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação cidades que lhes correspondam, preservando a sua articula-
Especial e de Educação Profissional Técnica de nível médio ção sistêmica.
e Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos siste- Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de
mas estaduais de ensino, atendidas a regulamentação fede- construção coletiva que respeita os sujeitos das aprendiza-
ral e as normas complementares desses sistemas. gens, entendidos como cidadãos com direitos à proteção e
à participação social, deve contemplar:
Seção VII Educação Escolar Quilombola I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do
processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo;
Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida II - a concepção sobre educação, conhecimento, avalia-
em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, ção da aprendizagem e mobilidade escolar;
requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos
étnico-cultural de cada comunidade e formação específica – que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto
de seu quadro docente, observados os princípios constitu- de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconô-
cionais, a base nacional comum e os princípios que orientam mico, como base da reflexão sobre as relações vida-conhe-
a Educação Básica brasileira. cimento-cultura- professor-estudante e instituição escolar;
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento IV - as bases norteadoras da organização do trabalho
das escolas quilombolas, bem com nas demais, deve ser re- pedagógico;
conhecida e valorizada a diversidade cultural. V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por
consequência, da escola, no contexto das desigualdades que
se refletem na escola;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

VI - os fundamentos da gestão democrática, comparti- processo educativo projetam para si de modo integrado e
lhada e participativa (órgãos colegiados e de representação articulado com aqueles princípios definidos para a Educação
estudantil); Básica, redimensionados para cada uma de suas etapas, bem
VII - o programa de acompanhamento de acesso, de assim no projeto político-pedagógico da escola.
permanência dos estudantes e de superação da retenção § 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada me-
escolar; diante acompanhamento e registro do desenvolvimento da
VIII - o programa de formação inicial e continuada dos criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se tratan-
profissionais da educação, regentes e não regentes; do de acesso ao Ensino Fundamental.
IX - as ações de acompanhamento sistemático dos re- § 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Fundamen-
sultados do processo de avaliação interna e externa (Sistema tal e no Ensino Médio, de caráter formativo predominando
de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados sobre o quantitativo e classificatório, adota uma estratégia
estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica), de progresso individual e contínuo que favorece o cresci-
incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que complemen- mento do educando, preservando a qualidade necessária
tem ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da fe- para a sua formação escolar, sendo organizada de acordo
deração e outros; com regras comuns a essas duas etapas.
X - a concepção da organização do espaço físico da ins-
tituição escolar de tal modo que este seja compatível com Seção II
as características de seus sujeitos, que atenda as normas de Promoção, aceleração de estudos e classificação
acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educa-
ção, deliberadas e assumidas pela comunidade educacional. Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Funda-
Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela mental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em qual-
comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em quer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de percurso
um dos instrumentos de execução do projeto político- pe- adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental, alicer-
dagógico, com transparência e responsabilidade. çando-se na orientação de que a avaliação do rendimento
Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e escolar observará os seguintes critérios:
da finalidade da instituição, da relação da gestão democráti- I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
ca com os órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre
e sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo os cri- os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre
térios de acesso, promoção, mobilidade do estudante, dos os de eventuais provas finais;
direitos e deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, II - possibilidade de aceleração de estudos para estu-
técnicos e funcionários, gestores, famílias, representação es- dantes com atraso escolar;
tudantil e função das suas instâncias colegiadas. III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
diante verificação do aprendizado;
CAPÍTULO II IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
AVALIAÇÃO V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado à
recuperação contínua e concomitante de aprendizagem de
Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compreen- estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser previsto
de 3 (três) dimensões básicas: I - avaliação da aprendizagem; no regimento escolar.
II - avaliação institucional interna e externa; III - avaliação Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudan-
de redes de Educação Básica. tes com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, en-
contram-se em descompasso de idade, por razões como
Seção I Avaliação da aprendizagem ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de ensi-
no-aprendizagem ou outras.
Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na con- Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo
cepção de educação que norteia a relação professor-estu- que esta deve preservar a sequência do currículo e obser-
dante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser um var as normas do respectivo sistema de ensino, requerendo
ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica avaliativa, o redesenho da organização das ações pedagógicas, com
premissa básica e fundamental para se questionar o educar, previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para
transformando a mudança em ato, acima de tudo, político. professor e estudante, com conjunto próprio de recursos di-
§ 1º A validade da avaliação, na sua função diagnósti- dático- pedagógicos.
ca, liga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a re- Art. 51. As escolas que utilizam organização por série
criar, refazer o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da
aponta para uma avaliação global, que vai além do aspecto avaliação do processo ensino-aprendizagem, diversas for-
quantitativo, porque identifica o desenvolvimento da auto- mas de progressão, inclusive a de progressão continuada,
nomia do estudante, que é indissociavelmente ético, social, jamais entendida como promoção automática, o que supõe
intelectual. tratar o conhecimento como processo e vivência que não se
§ 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendiza- harmoniza com a ideia de interrupção, mas sim de constru-
gem tem, como referência, o conjunto de conhecimentos, ção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação, está em
habilidades, atitudes, valores e emoções que os sujeitos do processo contínuo de formação, construindo significados.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

para a conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação


Seção III Avaliação institucional conjunta que busca criar e recriar o trabalho da e na escola
mediante:
Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser prevista I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto
no projeto político- pedagógico e detalhada no plano de ser que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma convi-
gestão, realizada anualmente, levando em consideração as vência social libertadora fundamentada na ética cidadã;
orientações contidas na regulamentação vigente, para rever II - a superação dos processos e procedimentos buro-
o conjunto de objetivos e metas a serem concretizados, me- cráticos, assumindo com pertinência e relevância: os planos
diante ação dos diversos segmentos da comunidade educa- pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais, e as
tiva, o que pressupõe delimitação de indicadores compatí- atividades de avaliação contínua;
veis com a missão da escola, além de clareza quanto ao que III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comu-
seja qualidade social da aprendizagem e da escola. nidade educacional discutam a própria práxis pedagógica
impregnando-a de entusiasmo e de compromisso com a sua
Seção IV própria comunidade, valorizando-a, situando-a no contexto
Avaliação de redes de Educação Básica das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
IV - a construção de relações interpessoais solidárias,
Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre geridas de tal modo que os professores se sintam estimu-
periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e lados a conhecer melhor os seus pares (colegas de traba-
engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que lho, estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir
os resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade se as suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais;
a escola apresenta qualidade suficiente para continuar fun- V - a instauração de relações entre os estudantes, pro-
cionando como está. porcionando-lhes espaços de convivência e situações de
aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com-
CAPÍTULO III preender e se organizar em equipes de estudos e de práticas
GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA
esportivas, artísticas e políticas;
ESCOLA
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor
no cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola
Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho pe-
interage, em busca da qualidade social das aprendizagens
dagógico e da gestão da escola conceber a organização e
que lhe caiba desenvolver, com transparência e responsa-
a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedi-
bilidade.
mentos que viabilizam o trabalho expresso no projeto po-
lítico-pedagógico e em planos da escola, em que se con-
CAPÍTULO IV
formam as condições de trabalho definidas pelas instâncias O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E
colegiadas. CONTINUADA
§ 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as
do seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamenta-
abrangentes, que exigem outra concepção de organização ção da ação docente e os programas de formação inicial e
do trabalho pedagógico, como distribuição da carga horária, continuada dos profissionais da educação instauram, refle-
remuneração, estratégias claramente definidas para a ação te- se na eleição de um ou outro método de aprendizagem,
didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a cria- a partir do qual é determinado o perfil de docente para a
ção de novas abordagens e práticas metodológicas, incluin- Educação Básica, em atendimento às dimensões técnicas,
do a produção de recursos didáticos adequados às condi- políticas, éticas e estéticas.
ções da escola e da comunidade em que esteja ela inserida. § 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de
§ 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino públi- formação dos profissionais da educação, sejam gestores,
co e prevista, em geral, para todas as instituições de ensino, professores ou especialistas, deverão incluir em seus currí-
o que implica decisões coletivas que pressupõem a partici- culos e programas:
pação da comunidade escolar na gestão da escola e a obser- a) o conhecimento da escola como organização com-
vância dos princípios e finalidades da educação. plexa que tem a função de promover a educação para e na
§ 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve cidadania;
se empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
da pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado investigações de interesse da área educacional;
possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é c) a participação na gestão de processos educativos e
a de se fundamentar em princípio educativo emancipador, na organização e funcionamento de sistemas e instituições
expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di- de ensino;
vulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber. d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à
Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instru- construção do projeto político- pedagógico, mediante tra-
mento de horizontalização das relações, de vivência e con- balho coletivo de que todos os que compõem a comunida-
vivência colegiada, superando o autoritarismo no planeja- de escolar são responsáveis.
mento e na concepção e organização curricular, educando

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação


nacional está a valorização do profissional da educação, com PARECER CNE/CEB N° 07/2010 - DIRETRIZES
a compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, com CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA
qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética, estética, A EDUCAÇÃO BÁSICA. DISPONÍVEIS EM:
ambiental.
HTTP://PORTAL.MEC.GOV.BR/COMPONENT/
§ 1º A valorização do profissional da educação escolar
CONTENT/ARTICLE?ID=12992:DIRETRIZES-
vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e
ambas se associam à exigência de programas de formação PARA- A-EDUCACAO-BASICA HTTP://PORTAL.
inicial e continuada de docentes e não docentes, no con- MEC.GOV.BR/INDEX.PHP OPTION= COM_
texto do conjunto de múltiplas atribuições definidas para DOCMAN&VIEW= DOWNLOAD&ALIAS=5367-
os sistemas educativos, em que se inscrevem as funções do PCEB007-10&CATEGORY_SLUG=MAIO-2010-
professor. PDF&ITEMID=30192
§ 2º Os programas de formação inicial e continuada dos
profissionais da educação, vinculados às orientações destas
Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho de suas RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2010 (*)
atribuições, considerando necessário:
a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fun-
pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, inter- damental de 9 (nove) anos.
pretar e reconstruir o conhecimento coletivamente;
b) trabalhar cooperativamente em equipe; O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis-
instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica, posto na alínea “c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61,
econômica e organizativa; com a redação dada pela Lei nº 9.131/95, no art. 32 da Lei
d) desenvolver competências para integração com a co- nº 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006, e com fundamento no
munidade e para relacionamento com as famílias. Parecer CNE/CEB nº 11/2010, homologado por Despacho do
Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU
não esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, saberes de 9 de dezembro de 2010, resolve:
e habilidades referidas, razão pela qual um programa de for-
mação continuada dos profissionais da educação será con- Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curricula-
templado no projeto político-pedagógico. res Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos a
Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orienta- serem observadas na organização curricular dos sistemas de
ções para que o projeto de formação dos profissionais pre- ensino e de suas unidades escolares.
veja: Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
a) a consolidação da identidade dos profissionais da Fundamental de 9 (nove) anos articulam-se com as Diretrizes
educação, nas suas relações com a escola e com o estudante; Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Pare-
b) a criação de incentivos para o resgate da imagem so- cer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e
cial do professor, assim como da autonomia docente tanto reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos
individual como coletiva; pelo Conselho Nacional de Educação, para orientar as políti-
c) a definição de indicadores de qualidade social da cas públicas educacionais e a elaboração, implementação e
educação escolar, a fim de que as agências formadoras de avaliação das orientações curriculares nacionais, das propos-
profissionais da educação revejam os projetos dos cursos tas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Municí-
de formação inicial e continuada de docentes, de modo que pios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
correspondam às exigências de um projeto de Nação. Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacionais
Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua aplicam-se a todas as modalidades do Ensino Fundamental
publicação previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
bem como à Educação do Campo, à Educação Escolar Indí-
gena e à Educação Escolar Quilombola.

FUNDAMENTOS

Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direito


público subjetivo de cada um e como dever do Estado e da
família na sua oferta a todos.
Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino
Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem requisito
de seleção.
Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino
deverão trabalhar considerando essa etapa da educação

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

como aquela capaz de assegurar a cada um e a todos o promisso com a promoção do bem de todos, contribuindo
acesso ao conhecimento e aos elementos da cultura impres- para combater e eliminar quaisquer manifestações de pre-
cindíveis para o seu desenvolvimento pessoal e para a vida conceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
em sociedade, assim como os benefícios de uma formação formas de discriminação.
comum, independentemente da grande diversidade da po- II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres
pulação escolar e das demandas sociais. de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação
Art. 5º O direito à educação, entendido como um direi- do regime democrático e dos recursos ambientais; da busca
to inalienável do ser humano, constitui o fundamento maior da equidade no acesso à educação, à saúde, ao trabalho,
destas Diretrizes. A educação, ao proporcionar o desenvolvi- aos bens culturais e outros benefícios; da exigência de diver-
mento do potencial humano, permite o exercício dos direi- sidade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos
tos civis, políticos, sociais e do direito à diferença, sendo ela entre os alunos que apresentam diferentes necessidades; da
mesma também um direito social, e possibilita a formação redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais.
cidadã e o usufruto dos bens sociais e culturais. III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente com
§ 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com o da racionalidade; do enriquecimento das formas de expres-
uma educação com qualidade social, igualmente entendida são e do exercício da criatividade; da valorização das diferen-
como direito humano. tes manifestações culturais, especialmente a da cultura brasi-
(*) Resolução CNE/CEB 7/2010. Diário Oficial da União, leira; da construção de identidades plurais e solidárias.
Brasília, 15 de dezembro de 2010, Seção 1, p. 34. Art. 7º De acordo com esses princípios, e em conformida-
§ 2º A educação de qualidade, como um direito funda- de com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB), as propos-
mental, é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa. tas curriculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver o
I – A relevância reporta-se à promoção de aprendiza- educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável
gens significativas do ponto de vista das exigências sociais e para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para
de desenvolvimento pessoal. progredir no trabalho e em estudos posteriores, mediante os
II – A pertinência refere-se à possibilidade de atender às objetivos previstos para esta etapa da escolarização, a saber:
necessidades e às características dos estudantes de diversos I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
contextos sociais e culturais e com diferentes capacidades e como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e
interesses. do cálculo;
III – A equidade alude à importância de tratar de forma II – a compreensão do ambiente natural e social, do siste-
diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto ma político, das artes, da tecnologia e dos valores em que se
de partida, com vistas a obter desenvolvimento e aprendi- fundamenta a sociedade;
zagens equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a for-
direito à educação. mação de atitudes e valores como instrumentos para uma vi-
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da são crítica do mundo;
pobreza e das desigualdades, a equidade requer que sejam IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
oferecidos mais recursos e melhores condições às escolas de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
menos providas e aos alunos que deles mais necessitem. Ao assenta a vida social.
lado das políticas universais, dirigidas a todos sem requisito
de seleção, é preciso também sustentar políticas reparado- MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 (NOVE)
ras que assegurem maior apoio aos diferentes grupos so- ANOS E CARGA HORÁRIA
ciais em desvantagem.
§ 4º A educação escolar, comprometida com a igualda- Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove)
de do acesso de todos ao conhecimento e especialmente anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14
empenhada em garantir esse acesso aos grupos da popula- (quatorze) anos de idade e se estende, também, a todos os
ção em desvantagem na sociedade, será uma educação com que, na idade própria, não tiveram condições de frequentá-lo.
qualidade social e contribuirá para dirimir as desigualdades § 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de
historicamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia
a permanência e o sucesso na escola, com a consequente 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos termos
redução da evasão, da retenção e das distorções de idade/ da Lei e das normas nacionais vigentes.
ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB § 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após essa
nº 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais data deverão ser matriculadas na Educação Infantil (Pré-Es-
Gerais para a Educação Básica). cola).
§ 3º A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental
PRINCÍPIOS regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuídas em,
pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar.
Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão,
como norteadores das políticas educativas e das ações pe- CURRÍCULO
dagógicas, os seguintes princípios: Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendido,
I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autono- nesta Resolução, como constituído pelas experiências esco-
mia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de com- lares que se desdobram em torno do conhecimento, per-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

meadas pelas relações sociais, buscando articular vivências do trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção artísti-
e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente ca, nas atividades desportivas e corporais, na área da saúde
acumulados e contribuindo para construir as identidades e ainda incorporam saberes como os que advêm das formas
dos estudantes. diversas de exercício da cidadania, dos movimentos sociais,
§ 1º O foco nas experiências escolares significa que as da cultura escolar, da experiência docente, do cotidiano e
orientações e as propostas curriculares que provêm das di- dos alunos.
versas instâncias só terão concretude por meio das ações Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são cons-
educativas que envolvem os alunos. tituídos por componentes curriculares que, por sua vez, se
§ 2º As experiências escolares abrangem todos os as- articulam com as áreas de conhecimento, a saber: Lingua-
pectos do ambiente escolar:, aqueles que compõem a parte gens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Huma-
explícita do currículo, bem como os que também contri- nas. As áreas de conhecimento favorecem a comunicação
buem, de forma implícita, para a aquisição de conhecimen- entre diferentes conhecimentos sistematizados e entre estes
tos socialmente relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade e outros saberes, mas permitem que os referenciais próprios
e orientações de conduta são veiculados não só pelos co- de cada componente curricular sejam preservados.
nhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino
convívio social, festividades, pela distribuição do tempo e Fundamental deve abranger, obrigatoriamente, conforme o
organização do espaço educativo, pelos materiais utilizados art. 26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portuguesa e
na aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências pro- da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural
porcionadas pela escola. e da realidade social e política, especialmente a do Brasil,
§ 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as di- bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o Ensino
ferentes instâncias que produzem orientações sobre o currí- Religioso.
culo, as escolas e os professores selecionam e transformam Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do En-
a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, ao mesmo sino Fundamental serão assim organizados em relação às
tempo em que servem de elementos para a formação ética, áreas de conhecimento:
estética e política do aluno. I – Linguagens:
a) Língua Portuguesa;
BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICADA: b) Língua Materna, para populações indígenas;
COMPLEMENTARIDADE c) Língua Estrangeira moderna;
d) Arte; e
Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma e) Educação Física; II – Matemática;
base nacional comum, complementada em cada sistema de III – Ciências da Natureza; IV – Ciências Humanas:
ensino e em cada estabelecimento escolar por uma parte a) História;
diversificada. b) Geografia;
Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada V – Ensino Religioso.
do currículo do Ensino Fundamental constituem um todo § 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em
integrado e não podem ser consideradas como dois blocos língua portuguesa, assegurada também às comunidades
distintos. indígenas a utilização de suas línguas maternas e proces-
§ 1º A articulação entre a base nacional comum e a parte sos próprios de aprendizagem, conforme o art. 210, § 2º, da
diversificada do currículo do Ensino Fundamental possibilita Constituição Federal.
a sintonia dos interesses mais amplos de formação básica § 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as
do cidadão com a realidade local, as necessidades dos alu- contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma-
nos, as características regionais da sociedade, da cultura e da ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
economia e perpassa todo o currículo. africana e européia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96).
§ 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao § 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira,
interesse social e à preservação da ordem democrática, os presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos
conhecimentos que fazem parte da base nacional comum a no âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no en-
que todos devem ter acesso, independentemente da região sino de Arte, Literatura e História do Brasil, assim como a
e do lugar em que vivem, asseguram a característica unitária História da África, deverão assegurar o conhecimento e o
das orientações curriculares nacionais, das propostas curri- reconhecimento desses povos para a constituição da nação
culares dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, e (conforme art. 26-A da Lei nº 9.394/96, alterado pela Lei nº
dos projetos político-pedagógicos das escolas. 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o leque de re-
§ 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte ferências culturais de toda a população escolar e contribui
diversificada do currículo serão definidos pelos sistemas de para a mudança das suas concepções de mundo, transfor-
ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enrique- mando os conhecimentos comuns veiculados pelo currículo
cer o currículo, assegurando a contextualização dos conhe- e contribuindo para a construção de identidades mais plu-
cimentos escolares em face das diferentes realidades. rais e solidárias.
Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional § 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não
comum e a parte diversificada têm origem nas disciplinas exclusivo, do componente curricular Arte, o qual compreen-
científicas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

de também as artes visuais, o teatro e a dança, conforme o § Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a
6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96. que se refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como
§ 5º A Educação Física, componente obrigatório do cur- tempos e espaços interdependentes e articulados entre si,
rículo do Ensino Fundamental, integra a proposta político- ao longo dos 9 (nove) anos de duração do Ensino Funda-
-pedagógica da escola e será facultativa ao aluno apenas nas mental.
circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
§ 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao alu- GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO GA-
no, é parte integrante da formação básica do cidadão e RANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO
constitui componente curricular dos horários normais das
escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o res- Art. 20 As escolas deverão formular o projeto político-
peito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas -pedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo com
quaisquer formas de proselitismo, conforme o art. 33 da Lei a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por
nº 9.394/96. meio de processos participativos relacionados à gestão de-
Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de co- mocrática.
nhecimento devem articular em seus conteúdos, a partir das § 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a
possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abordagem proposta educativa construída pela comunidade escolar no
de temas abrangentes e contemporâneos que afetam a vida exercício de sua autonomia, com base nas características
humana em escala global, regional e local, bem como na dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, tendo
esfera individual. Temas como saúde, sexualidade e gênero, como referência as orientações curriculares nacionais e dos
vida familiar e social, assim como os direitos das crianças respectivos sistemas de ensino.
e adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança e do § 2º Será assegurada ampla participação dos profissio-
Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambien- nais da escola, da família, dos alunos e da comunidade local
te, nos termos da política nacional de educação ambiental na definição das orientações imprimidas aos processos edu-
(Lei nº 9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, cativos e nas formas de implementá-las, tendo como apoio
trabalho, ciência e tecnologia, e diversidade cultural devem um processo contínuo de avaliação das ações, a fim de ga-
permear o desenvolvimento dos conteúdos da base nacio- rantir a distribuição social do conhecimento e contribuir para
nal comum e da parte diversificada do currículo. a construção de uma sociedade democrática e igualitária.
§ 1º Outras leis específicas que complementam a Lei nº § 3º O regimento escolar deve assegurar as condições
9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas relati- institucionais adequadas para a execução do projeto políti-
vos à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº 10.741/2003) co-pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com
e à educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97). qualidade social, igualmente garantida a ampla participação
§ 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de da comunidade escolar na sua elaboração.
trabalhar os componentes curriculares, as áreas de conhe- § 4º O projeto político-pedagógico e o regimento esco-
cimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada, lar, em conformidade com a legislação e as normas vigen-
conforme a Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a tes, conferirão espaço e tempo para que os profissionais da
Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução escola e, em especial, os professores, possam participar de
CNE/CEB nº 4/2010). reuniões de trabalho coletivo, planejar e executar as ações
§ 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino com- educativas de modo articulado, avaliar os trabalhos dos alu-
pete a produção e a disseminação de materiais subsidiários nos, tomar parte em ações de formação continuada e esta-
ao trabalho docente, que contribuam para a eliminação de belecer contatos com a comunidade.
discriminações, racismo, sexismo, homofobia e outros pre- § 5º Na implementação de seu projeto político-pedagó-
conceitos e que conduzam à adoção de comportamentos gico, as escolas se articularão com as instituições formado-
responsáveis e solidários em relação aos outros e ao meio ras com vistas a assegurar a formação continuada de seus
ambiente. profissionais.
Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino Art. 21 No projeto político-pedagógico do Ensino Fun-
Fundamental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º damental e no regimento escolar, o aluno, centro do pla-
ano, o ensino de, pelo menos, uma Língua Estrangeira mo- nejamento curricular, será considerado como sujeito que
derna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar. atribui sentidos à natureza e à sociedade nas práticas sociais
Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras modernas, que vivencia, produzindo cultura e construindo sua identida-
a língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da Lei nº de pessoal e social.
11.161/2005. Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno to-
mará parte ativa na discussão e na implementação das
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO normas que regem as formas de relacionamento na escola,
Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove) fornecerá indicações relevantes a respeito do que deve ser
anos de duração exige a estruturação de um projeto educa- trabalhado no currículo e será incentivado a participar das
tivo coerente, articulado e integrado, de acordo com os mo- organizações estudantis.
dos de ser e de se desenvolver das crianças e adolescentes Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental
nos diferentes contextos sociais. deve empenhar-se na promoção de uma cultura escolar
acolhedora e respeitosa, que reconheça e valorize as expe-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

riências dos alunos atendendo as suas diferenças e necessi- II – no atendimento às necessidades específicas de
dades específicas, de modo a contribuir para efetivar a inclu- aprendizagem de cada um mediante abordagens apropria-
são escolar e o direito de todos à educação. das;
Art. 23 Na implementação do projeto político-pedagó- III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e
gico, o cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola, nos espaços sociais e culturais do entorno;
resultarão em ações integradas que buscam articular-se, pe- IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando
dagogicamente, no interior da própria instituição, e também que a aprendizagem seja relevante e socialmente signifi-
externamente, com os serviços de apoio aos sistemas edu- cativa;
cacionais e com as políticas de outras áreas, para assegurar V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com
a aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvimento do aluno as famílias.
em todas as suas dimensões. Parágrafo único. Como protagonistas das ações pe-
dagógicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase no re-
RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E ABOR- conhecimento e valorização da experiência do aluno e da
DAGENS cultura local que contribui para construir identidades afir-
mativas, e a necessidade de lhes fornecer instrumentos
Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos es- mais complexos de análise da realidade que possibilitem
colares no currículo favorece a sua contextualização e apro- o acesso a níveis universais de explicação dos fenômenos,
xima o processo educativo das experiências dos alunos. propiciando-lhes os meios para transitar entre a sua e ou-
§ 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiências tras realidades e culturas e participar de diferentes esferas
assentadas em diversas concepções de currículo integrado da vida social, econômica e política.
e interdisciplinar oferecerá aos docentes subsídios para de- Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os professo-
senvolver propostas pedagógicas que avancem na direção res, com o apoio das famílias e da comunidade, envidarão
de um trabalho colaborativo, capaz de superar a fragmenta- esforços para assegurar o progresso contínuo dos alunos
ção dos componentes curriculares. no que se refere ao seu desenvolvimento pleno e à aquisi-
§ 2º Constituem exemplos de possibilidades de integra- ção de aprendizagens significativas, lançando mão de todos
ção do currículo, entre outros, as propostas curriculares or- os recursos disponíveis e criando renovadas oportunidades
denadas em torno de grandes eixos articuladores, projetos para evitar que a trajetória escolar discente seja retardada
interdisciplinares com base em temas geradores formulados ou indevidamente interrompida.
a partir de questões da comunidade e articulados aos com- § 1º Devem, portanto, adotar as providências necessá-
ponentes curriculares e às áreas de conhecimento, currículos rias para que a operacionalização do princípio da continui-
em rede, propostas ordenadas em torno de conceitos-chave dade não seja traduzida como “promoção automática” de
ou conceitos nucleares que permitam trabalhar as questões alunos de um ano, série ou ciclo para o seguinte, e para que
cognitivas e as questões culturais numa perspectiva trans- o combate à repetência não se transforme em descompro-
versal, e projetos de trabalho com diversas acepções. misso com o ensino e a aprendizagem.
§ 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade, § 2º A organização do trabalho pedagógico incluirá a
redes e sistemas de ensino serão articulados ao desenvolvi- mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços escola-
mento dos componentes curriculares e às áreas de conhe- res, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as diversas
cimento, observadas as disposições contidas nas Diretrizes linguagens artísticas, a diversidade de materiais, os variados
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Reso- suportes literários, as atividades que mobilizem o raciocínio,
lução CNE/CEB nº 4/2010, art. 17) e nos termos do Parecer as atitudes investigativas, as abordagens complementares
que dá base à presente Resolução. e as atividades de reforço, a articulação entre a escola e a
Art. 25 Os professores levarão em conta a diversidade comunidade, e o acesso aos espaços de expressão cultural.
sociocultural da população escolar, as desigualdades de Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e con-
acesso ao consumo de bens culturais e a multiplicidade de teúdos das mídias como recurso aliado ao desenvolvimento
interesses e necessidades apresentadas pelos alunos no de- do currículo contribui para o importante papel que tem a
senvolvimento de metodologias e estratégias variadas que escola como ambiente de inclusão digital e de utilização crí-
melhor respondam às diferenças de aprendizagem entre os tica das tecnologias da informação e comunicação, reque-
estudantes e às suas demandas. rendo o aporte dos sistemas de ensino no que se refere à:
Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em nú-
adequadas condições de trabalho aos seus profissionais e o mero suficiente para o atendimento aos alunos;
provimento de outros insumos, de acordo com os padrões II – adequada formação do professor e demais profis-
mínimos de qualidade referidos no inciso IX do art. 4º da sionais da escola.
Lei nº 9.394/96 e em normas específicas estabelecidas pelo
Conselho Nacional de Educação, com vistas à criação de um ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓRIA ES-
ambiente propício à aprendizagem, com base: COLAR
I – no trabalho compartilhado e no compromisso indi-
vidual e coletivo dos professores e demais profissionais da Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um per-
escola com a aprendizagem dos alunos; curso contínuo de aprendizagens torna imperativa a arti-
culação de todas as etapas da educação, especialmente

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

do Ensino Fundamental com a Educação Infantil, dos anos assegurada a integração com os demais componentes tra-
iniciais e dos anos finais no interior do Ensino Fundamen- balhados pelo professor de referência da turma.
tal, bem como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio,
garantindo a qualidade da Educação Básica. AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO
§ 1º O reconhecimento do que os alunos já aprenderam Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos pro-
antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a recupera- fessores e pela escola como parte integrante da proposta
ção do caráter lúdico do ensino contribuirão para melhor curricular e da implementação do currículo, é redimensiona-
qualificar a ação pedagógica junto às crianças, sobretudo dora da ação pedagógica e deve:
nos anos iniciais dessa etapa da escolarização. I – assumir um caráter processual, formativo e partici-
§ 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais pativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:
do Ensino Fundamental, especial atenção será dada: a) identificar potencialidades e dificuldades de aprendi-
I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da oferta zagem e detectar problemas de ensino;
educativa dos alunos transferidos das redes municipais para b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias
as estaduais; e abordagens de acordo com as necessidades dos alunos,
II – pelas escolas, à coordenação das demandas especí- criar condições de intervir de modo imediato e a mais lon-
ficas feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de go prazo para sanar dificuldades e redirecionar o trabalho
que os estudantes possam melhor organizar as suas ativi- docente;
dades diante das solicitações muito diversas que recebem. c) manter a família informada sobre o desempenho dos
Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental de- alunos;
vem assegurar: I – a alfabetização e o letramento; d) reconhecer o direito do aluno e da família de discutir
II – o desenvolvimento das diversas formas de expres- os resultados de avaliação, inclusive em instâncias superio-
são, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Litera- res à escola, revendo procedimentos sempre que as reivin-
tura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim como dicações forem procedentes.
o aprendizado da Matemática, da Ciência, da História e da II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais
Geografia; como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os tra-
III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta balhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, pro-
a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos vas, questionários, dentre outros, tendo em conta a sua ade-
que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como quação à faixa etária e às características de desenvolvimento
um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para do educando;
o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro. III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da apren-
§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, dizagem do aluno sobre os quantitativos, bem como os re-
no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seria- sultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
do, será necessário considerar os três anos iniciais do Ensino finais, tal com determina a alínea “a” do inciso V do art. 24
Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo se- da Lei nº 9.394/96;
quencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os
todos os alunos as oportunidades de sistematização e apro- alunos com menor rendimento tenham condições de ser de-
fundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis vidamente atendidos ao longo do ano letivo;
para o prosseguimento dos estudos. V – prover, obrigatoriamente, períodos de recuperação,
§ 2º Considerando as características de desenvolvimen- de preferência paralelos ao período letivo, como determina
to dos alunos, cabe aos professores adotar formas de traba- a Lei nº 9.394/96;
lho que proporcionem maior mobilidade das crianças nas VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos con-
salas de aula e as levem a explorar mais intensamente as teúdos curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos com
diversas linguagens artísticas, a começar pela literatura, a frequência insuficiente, evitando, sempre que possível, a re-
utilizar materiais que ofereçam oportunidades de raciocinar, tenção por faltas;
manuseando-os e explorando as suas características e pro- VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos
priedades. com defasagem idade-série.
Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os com- Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos
ponentes curriculares Educação Física e Arte poderão estar professores e pela escola serão articulados às avaliações
a cargo do professor de referência da turma, aquele com o realizadas em nível nacional e às congêneres nos diferentes
qual os alunos permanecem a maior parte do período es- Estados e Municípios, criadas com o objetivo de subsidiar os
colar, ou de professores licenciados nos respectivos com- sistemas de ensino e as escolas nos esforços de melhoria da
ponentes. qualidade da educação e da aprendizagem dos alunos.
§ 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estran- § 1º A análise do rendimento dos alunos com base nos
geira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor indicadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar os
deverá ter licenciatura específica no componente curricular. sistemas de ensino e a comunidade escolar a redimensiona-
§ 2º Nos casos em que esses componentes curricula- rem as práticas educativas com vistas ao alcance de melho-
res sejam desenvolvidos por professores com licenciatura res resultados.
específica (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser § 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos refe-
re-se apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado nas

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

escolas, de sorte que as referências para o currículo devem da cultura dos direitos humanos, a preservação do meio
continuar sendo as contidas nas propostas político-peda- ambiente, a promoção da saúde, entre outras, articuladas
gógicas das escolas, articuladas às orientações e propostas aos componentes curriculares e às áreas de conhecimento, a
curriculares dos sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao vivências e práticas socioculturais.
que é avaliado pelos testes de larga escala. § 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço
Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos po- escolar conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele,
lítico-pedagógicos das escolas devem expressar com clareza em espaços distintos da cidade ou do território em que está
o que é esperado dos alunos em relação à sua aprendiza- situada a unidade escolar, mediante a utilização de equipa-
gem. mentos sociais e culturais aí existentes e o estabelecimen-
Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos de- to de parcerias com órgãos ou entidades locais, sempre de
vem ser aliados à avaliação das escolas e de seus professores, acordo com o respectivo projeto político-pedagógico.
tendo em conta os parâmetros de referência dos insumos § 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendiza-
básicos necessários à educação de qualidade para todos gem à comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo
nesta etapa da educação e respectivo custo aluno-qualida- para a construção de redes sociais e de cidades educadoras.
de inicial (CAQi), consideradas inclusive as suas modalidades § 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos
e as formas diferenciadas de atendimento como a Educação sistemas estaduais e municipais de educação assegurarão
do Campo, a Educação Escolar Indígena, a Educação Escolar que o atendimento dos alunos na escola de tempo integral
Quilombola e as escolas de tempo integral. possua infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além
Parágrafo único. A melhoria dos resultados de aprendi- do que, esse atendimento terá caráter obrigatório e será
zagem dos alunos e da qualidade da educação obriga: passível de avaliação em cada escola.
I – os sistemas de ensino a incrementarem os disposi-
tivos da carreira e de condições de exercício e valorização EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGE-
do magistério e dos demais profissionais da educação e a NA E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA
oferecerem os recursos e apoios que demandam as escolas
e seus profissionais para melhorar a sua atuação; Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação
II – as escolas a uma apreciação mais ampla das opor- rural na legislação brasileira, incorpora os espaços da flo-
tunidades educativas por elas oferecidas aos educandos, resta, da pecuária, das minas e da agricultura e se estende,
reforçando a sua responsabilidade de propiciar renovadas também, aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e ex-
oportunidades e incentivos aos que delas mais necessitem. trativistas, conforme as Diretrizes para a Educação Básica do
Campo (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/CEB
A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL nº 1/2002; Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução CNE/CEB
nº 2/2008).
Art. 36 Considera-se como de período integral a jornada Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Esco-
escolar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mínimo, lar Quilombola são, respectivamente, oferecidas em unida-
perfazendo uma carga horária anual de, pelo menos, 1.400 des educacionais inscritas em suas terras e culturas e, para
(mil e quatrocentas) horas. essas populações, estão assegurados direitos específicos na
Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os siste- Constituição Federal que lhes permitem valorizar e preservar
mas de ensino, conjugarão esforços objetivando o progres- as suas culturas e reafirmar o seu pertencimento étnico.
sivo aumento da carga horária mínima diária e, consequen- § 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e orde-
temente, da carga horária anual, com vistas à maior quali- namentos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares Na-
ficação do processo de ensino-aprendizagem, tendo como cionais específicas, terão ensino intercultural e bilíngue, com
horizonte o atendimento escolar em período integral. vistas à afirmação e à manutenção da diversidade étnica e
Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo in- linguística, assegurarão a participação da comunidade no
tegral promoverá a ampliação de tempos, espaços e opor- seu modelo de edificação, organização e gestão, e deverão
tunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de contar com materiais didáticos produzidos de acordo com o
educar e cuidar entre os profissionais da escola e de outras contexto cultural de cada povo (Parecer CNE/CEB nº 14/99 e
áreas, as famílias e outros atores sociais, sob a coordenação Resolução CNE/CEB nº 3/99).
da escola e de seus professores, visando alcançar a melhoria § 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombo-
da qualidade da aprendizagem e da convivência social e di- la deverá ser definido pelo Conselho Nacional de Educação
minuir as diferenças de acesso ao conhecimento e aos bens por meio de Diretrizes Curriculares Nacionais específicas.
culturais, em especial entre as populações socialmente mais Art. 40 O atendimento escolar às populações do campo,
vulneráveis. povos indígenas e quilombolas requer respeito às suas pe-
§ 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido culiares condições de vida e a utilização de pedagogias con-
como um projeto educativo integrado, implica a ampliação dizentes com as suas formas próprias de produzir conhe-
da jornada escolar diária mediante o desenvolvimento de cimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais
atividades como o acompanhamento pedagógico, o reforço Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e
e o aprofundamento da aprendizagem, a experimentação e Resolução CNE/CEB nº 4/2010).
a pesquisa científica, a cultura e as artes, o esporte e o lazer, § 1º As escolas das populações do campo, dos povos
as tecnologias da comunicação e informação, a afirmação indígenas e dos quilombolas, ao contar com a participação

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

ativa das comunidades locais nas decisões referentes ao cur- escolarização, mas contribui para ampliar o acesso ao currí-
rículo, estarão ampliando as oportunidades de: culo, ao proporcionar independência aos educandos para a
I – reconhecimento de seus modos próprios de vida, realização de tarefas e favorecer a sua autonomia (conforme
suas culturas, tradições e memórias coletivas, como funda- Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/CEB nº 13/2009 e Reso-
mentais para a constituição da identidade das crianças, ado- lução CNE/CEB nº 4/2009).
lescentes e adultos; Parágrafo único. O atendimento educacional especiali-
zado poderá ser oferecido no contraturno, em salas de re-
II – valorização dos saberes e do papel dessas popula- cursos multifuncionais na própria escola, em outra escola ou
ções na produção de conhecimentos sobre o mundo, seu em centros especializados e será implementado por profes-
ambiente natural e cultural, assim como as práticas ambien- sores e profissionais com formação especializada, de acordo
talmente sustentáveis que utilizam; com plano de atendimento aos alunos que identifique suas
III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das necessidades educacionais específicas, defina os recursos
comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cul- necessários e as atividades a serem desenvolvidas.
tivo da língua materna na escola para estes últimos, como
elementos importantes de construção da identidade; EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar, Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuitamen-
das rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças relati- te, aos jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos
vas às atividades econômicas e culturais, mantido o total de na idade própria, oportunidades educacionais adequadas às
horas anuais obrigatórias no currículo; suas características, interesses, condições de vida e de tra-
V – superação das desigualdades sociais e escolares balho mediante cursos e exames, conforme estabelece o art.
que afetam essas populações, tendo por garantia o direito 37, § 1º, da Lei nº 9.394/96.
à educação; Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para a
§ 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do garantia de formação integral, da alfabetização às diferentes
campo, indígenas e quilombolas devem contemplar a diver- etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles
sidade nos seus aspectos sociais, culturais, políticos, econô- em situação de privação de liberdade, é pautada pela inclu-
micos, éticos e estéticos, de gênero, geração e etnia. são e pela qualidade social e requer:
§ 3º As escolas que atendem a essas populações deve- I – um processo de gestão e financiamento que lhe as-
rão ser devidamente providas pelos sistemas de ensino de segure isonomia em relação ao Ensino Fundamental regular;
materiais didáticos e educacionais que subsidiem o trabalho II – um modelo pedagógico próprio que permita a apro-
com a diversidade, bem como de recursos que assegurem priação e a contextualização das Diretrizes Curriculares Na-
aos alunos o acesso a outros bens culturais e lhes permitam cionais;
estreitar o contato com outros modos de vida e outras for- III – a implantação de um sistema de monitoramento
mas de conhecimento. e avaliação; IV – uma política de formação permanente de
§ 4º A participação das populações locais pode também seus professores;
subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino quanto V – maior alocação de recursos para que seja ministrada
à produção e à oferta de materiais escolares e no que diz por docentes licenciados.
respeito a transporte e a equipamentos que atendam as ca- Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de
racterísticas ambientais e socioculturais das comunidades e Educação de Jovens e Adultos e para a realização de exames
as necessidades locais e regionais. de conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos completos (Pa-
recer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº 3/2010).
EDUCAÇÃO ESPECIAL Parágrafo único. Considerada a prioridade de atendi-
mento à escolarização obrigatória, para que haja oferta ca-
Art. 41 O projeto político-pedagógico da escola e o re- paz de contemplar o pleno atendimento dos adolescentes,
gimento escolar, amparados na legislação vigente, deverão jovens e adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, com
contemplar a melhoria das condições de acesso e de per- defasagem idade/série, tanto na sequência do ensino regu-
manência dos alunos com deficiência, transtornos globais lar, quanto em Educação de Jovens e Adultos, assim como
do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns nos cursos destinados à formação profissional, torna-se ne-
do ensino regular, intensificando o processo de inclusão nas cessário:
escolas públicas e privadas e buscando a universalização do I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas
atendimento. as modalidades do Ensino Fundamental;
Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabelece-
aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo rem política própria para o atendimento desses estudantes,
dos alunos com deficiência e mobilidade reduzida, por meio que considere as suas potencialidades, necessidades, expec-
da utilização de materiais didáticos, dos espaços, mobiliários tativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao mundo do
e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informa- trabalho, inclusive com programas de aceleração da apren-
ção, dos transportes e outros serviços. dizagem, quando necessário;
Art. 42 O atendimento educacional especializado aos III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adultos
alunos da Educação Especial será promovido e expandido nos períodos diurno e noturno, com avaliação em processo.
com o apoio dos órgãos competentes. Ele não substitui a

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Educação
Adultos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será elaborar orientações e oferecer outros subsídios para a im-
presencial e a sua duração ficará a critério de cada sistema plementação destas Diretrizes.
de ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data
como remete o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução de sua publicação, revogando- se as disposições em contrá-
CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos finais, ou seja, do 6º ano ao rio, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de abril
9º ano, os cursos poderão ser presenciais ou a distância, de 1998.
devidamente credenciados, e terão 1.600 (mil e seiscentas)
horas de duração.
Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os per- RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 5/09 E PARECER CNE/
fis e as faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos, o CEB N° 20/2009 - DIRETRIZES CURRICULARES
projeto político-pedagógico da escola e o regimento esco- NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.
lar viabilizarão um modelo pedagógico próprio para essa DISPONÍVEIS EM: HTTP://PORTAL.MEC.
modalidade de ensino que permita a apropriação e a con- GOV.BR/INDEX.PHP?OPTION=COM_
textualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, assegu- DOCMAN&VIEW=DOWNLOAD&ALIAS=2298-
rando: RCEB005-09&CATEGORY_SLUG=DEZEMBRO-
I – a identificação e o reconhecimento das formas de 2009-PDF&ITEMID=30192 HTTP://PORTAL.
aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização
MEC.GOV.BR/INDEX.PHP?OPTION=COM_
de seus conhecimentos e experiências;
II – a distribuição dos componentes curriculares de
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modo a proporcionar um patamar igualitário de formação, PCEB020-09&CATEGORY_SLUG=DEZEMBRO-
bem como a sua disposição adequada nos tempos e espa- 2009-PDF&ITEMID=30192
ços educativos, em face das necessidades específicas dos
estudantes.
Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no I – RELATÓRIO
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluin- 1. Histórico
do, além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição
de indicadores institucionais das redes públicas e privadas, A construção da identidade das creches e pré-escolas
concorrerá para a universalização e a melhoria da qualidade a partir do século XIX em nosso país insere-se no contexto
do processo educativo. da história das políticas de atendimento à infância, marcado
por diferenciações em relação à classe social das crianças.
A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COMPRO- Enquanto para as mais pobres essa história foi caracteriza-
MISSO SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE ENSINO da pela vinculação aos órgãos de assistência social, para as
crianças das classes mais abastadas, outro modelo se desen-
Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretri- volveu no diálogo com práticas escolares.
zes, cabe aos sistemas e às redes de ensino prover: Essa vinculação institucional diferenciada refletia uma
I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e fragmentação nas concepções sobre educação das crianças
espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a em espaços coletivos, compreendendo o cuidar como ati-
distribuição de materiais didáticos e escolares adequados; vidade meramente ligada ao corpo e destinada às crianças
II – a formação continuada dos professores e demais mais pobres, e o educar como experiência de promoção in-
profissionais da escola em estreita articulação com as insti- telectual reservada aos filhos dos grupos socialmente privi-
tuições responsáveis pela formação inicial, dispensando es- legiados. Para além dessa especificidade, predominou ainda,
peciais esforços quanto à formação dos docentes das mo- por muito tempo, uma política caracterizada pela ausência
dalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles que de investimento público e pela não profissionalização da
trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilombolas; área.
III – a coordenação do processo de implementação do Em sintonia com os movimentos nacionais e internacio-
currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos nais, um novo paradigma do atendimento à infância – ini-
no interior de uma mesma realidade educacional; ciado em 1959 com a Declaração Universal dos Direitos da
IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas e Criança e do Adolescente e instituído no país pelo artigo 227
ações educativas nas respectivas redes e escolas e o supri- da Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Crian-
mento das necessidades detectadas. ça e do Adolescente (Lei 8.069/90) – tornou-se referência
Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com para os movimentos sociais de “luta por creche” e orientou a
os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá en- transição do entendimento da creche e pré-escola como um
caminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida favor aos socialmente menos favorecidos para a compreen-
de consulta pública nacional, proposta de expectativas de são desses espaços como um direito de todas as crianças à
aprendizagem dos conhecimentos escolares que devem educação, independentemente de seu grupo social.
ser atingidas pelos alunos em diferentes estágios do Ensino O atendimento em creches e pré-escolas como um direi-
Fundamental (art. 9º, § 3º, desta Resolução). to social das crianças se concretiza na Constituição de 1988,

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

com o reconhecimento da Educação Infantil como dever do proposta de Emenda Constitucional que, dentre outros pon-
Estado com a Educação, processo que teve ampla partici- tos, amplia a obrigatoriedade na Educação Básica, reforça a
pação dos movimentos comunitários, dos movimentos de exigência de novos marcos normativos na Educação Infantil.
mulheres, dos movimentos de redemocratização do país, Respondendo a estas preocupações, a Coordenadoria
além, evidentemente, das lutas dos próprios profissionais da de Educação Infantil do MEC estabeleceu, com a Universi-
educação. A partir desse novo ordenamento legal, creches e dade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), convênio de
pré-escolas passaram a construir nova identidade na busca cooperação técnica na articulação de um processo nacional
de superação de posições antagônicas e fragmentadas, se- de estudos e debates sobre o currículo da Educação Infantil,
jam elas assistencialistas ou pautadas em uma perspectiva que produziu uma série de documentos, dentre eles “Prá-
preparatória a etapas posteriores de escolarização. ticas cotidianas na Educação Infantil: bases para a reflexão
A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educa- sobre as orientações curriculares” (MEC/COEDI, 2009a). Esse
ção Nacional), regulamentando esse ordenamento, introdu- processo serviu de base para a elaboração de “Subsídios
ziu uma série de inovações em relação à Educação Básica, para as Diretrizes Curriculares Nacionais Específicas da Edu-
dentre as quais, a integração das creches nos sistemas de cação Básica” (MEC, 2009b), texto encaminhado a este cole-
ensino compondo, junto com as pré-escolas, a primeira eta- giado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação.
pa da Educação Básica. Essa lei evidencia o estímulo à au- A proposta do MEC foi apresentada pela professora Ma-
tonomia das unidades educacionais na organização flexível ria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, Secretária de Educação
de seu currículo e a pluralidade de métodos pedagógicos, Básica do MEC, na reunião ordinária do mês de julho do cor-
desde que assegurem aprendizagem, e reafirmou os artigos rente ano da Câmara de Educação Básica, ocasião em que foi
da Constituição Federal acerca do atendimento gratuito em designada a comissão que se encarregaria de elaborar nova
creches e pré-escolas. Diretriz Curricular Nacional para a Educação Infantil, presi-
dida pelo Conselheiro Cesar Callegari, tendo o Conselheiro
Neste mesmo sentido deve-se fazer referência ao Plano Raimundo Moacir Mendes Feitosa como relator (Portaria
Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, que esta- CNE/CEB nº 3/2009).
beleceu metas decenais para que no final do período de sua Em 5 de agosto, com a participação de representantes
vigência, 2011, a oferta da Educação Infantil alcance a 50% das entidades nacionais UNDIME, ANPED, CNTE, Fórum Na-
das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos, metas cional de Conselhos Estaduais de Educação, MIEIB (Movi-
que ainda persistem como um grande desafio a ser enfren- mento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil), da SEB/
tado pelo país. SECAD/MEC e de especialistas da área de Educação Infantil,
Frente a todas essas transformações, a Educação Infantil Maria Carmem Barbosa (coordenadora do Projeto MECU-
vive um intenso processo de revisão de concepções sobre FRGS/2008), Sonia Kramer (consultora do MEC responsável
a educação de crianças em espaços coletivos, e de seleção pela organização do documento de referência), Fulvia Ro-
e fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras de semberg (da Fundação Carlos Chagas), Ana Paula Soares
aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Em espe- Silva (FFCLRP-USP) e Zilma de Moraes Ramos de Oliveira
cial, têm se mostrado prioritárias as discussões sobre como (FFCLRP-USP), o relator da Comissão apresentou um texto-
orientar o trabalho junto às crianças de até três anos em -síntese dos pontos básicos que seriam levados como indi-
creches e como garantir práticas junto às crianças de quatro cações para o debate em audiências públicas nacionais pro-
e cinco anos que se articulem, mas não antecipem processos movidas pela Câmara de Educação Básica do CNE, realizadas
do Ensino Fundamental. em São Luis do Maranhão, Brasília e São Paulo.
Nesse contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais Este parecer incorpora as contribuições apresentadas,
para a Educação Infantil elaboradas anteriormente por este nestas audiências e em debates e reuniões regionais (en-
Conselho (Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer CNE/CEB contros da UNDIME – Região Norte e do MIEIB em Santa-
nº 22/98) foram fundamentais para explicitar princípios e rém, PA, ocorrido em agosto de 2009; o debate na ANPED
orientações para os sistemas de ensino na organização, arti- ocorrido em outubro de 2009), por grupos de pesquisa e
culação, desenvolvimento e avaliação de propostas pedagó- pesquisadores, conselheiros tutelares, Ministério Público,
gicas. Embora os princípios colocados não tenham perdido a sindicatos, secretários e conselheiros municipais de educa-
validade, ao contrário, continuam cada vez mais necessários, ção, entidades não governamentais e movimentos sociais.
outras questões diminuíram seu espaço no debate atual e Foram consideradas também as contribuições enviadas por
novos desafios foram colocados para a Educação Infantil, entidades e grupos como: OMEP; NDI-UFSC; Fórum de Edu-
exigindo a reformulação e atualização dessas Diretrizes. cação Infantil do Pará (FEIPA); Fórum Amazonense de Educa-
A ampliação das matrículas, a regularização do funcio- ção Infantil (FAMEI); Fórum Permanente de Educação Infantil
namento das instituições, a diminuição no número de do- do Tocantins (FEITO); Fórum de Educação Infantil do Amapá;
centes não-habilitados na Educação Infantil e o aumento da Fórum de Educação Infantil de Santa Catarina (contemplan-
pressão pelo atendimento colocam novas demandas para a do também manifestações dos municípios de Jaguaré, Ca-
política de Educação Infantil, pautando questões que dizem choeiro e Vitória); Fórum Paulista de Educação Infantil; Fó-
respeito às propostas pedagógicas, aos saberes e fazeres rum Gaúcho de Educação Infantil; GT de Educação Infantil
dos professores, às práticas e projetos cotidianos desenvol- da UNDIME; CEERT; GT 21 da ANPEd (Educação das Relações
vidos junto às crianças, ou seja, às questões de orientação Étnico-Raciais); grupo de estudos em Educação Infantil do
curricular. Também a tramitação no Congresso Nacional da Centro de Educação da UFAL conjuntamente com equipe

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técnica das Secretarias de Educação do Município de Maceió Na continuidade dessa definição, a Lei de Diretrizes e
e do Estado de Alagoas; alunos do curso de Pedagogia da Bases da Educação Nacional afirma que “a educação abran-
UFMS; CINDEDI-USP; representantes do Setor de Educação ge os processos formativos que se desenvolvem na vida fa-
do MST São Paulo; técnicos da Coordenadoria de Creches miliar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições
da USP; participantes de evento da Secretaria de Educação, de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organiza-
Esporte e Lazer de Recife e do Seminário Educação Ambien- ções da sociedade civil e nas manifestações culturais” (Lei
tal e Educação Infantil em Brasília. Ainda pesquisadores das nº 9.394/96, art. 1º), mas esclarece que: “Esta Lei disciplina
seguintes Universidades e Instituições de Pesquisa fizeram a educação escolar que se desenvolve, predominantemen-
considerações ao longo desse processo: FEUSP; FFCLRP-USP; te, por meio do ensino, em instituições próprias” (Lei nº
Fundação Carlos Chagas; Centro Universitário Claretiano Ba- 9.394/96, art. 1º, § 1º). Em função disto, tudo o que nela se
tatais; PUC-RIO; UNIRIO; UNICAMP; UFC; UFPA; UFRJ; UERJ; baseia e que dela decorre, como autorização de funciona-
UFPR; UNEMAT; UFMG; UFRGS; UFSC; UFRN; UFMS; UFAL, mento, condições de financiamento e outros aspectos, refe-
UFMA, UEMA, UFPE. rem-se a esse caráter institucional da educação.
Fica assim evidente que, no atual ordenamento jurídico,
2. Mérito as creches e pré-escolas ocupam um lugar bastante claro e
possuem um caráter institucional e educacional diverso da-
A revisão e atualização das Diretrizes Curriculares Na- quele dos contextos domésticos, dos ditos programas alter-
cionais para a Educação Infantil é essencial para incorporar nativos à educação das crianças de zero a cinco anos de ida-
os avanços presentes na política, na produção científica e de, ou da educação não-formal. Muitas famílias necessitam
nos movimentos sociais na área. Elas podem se constituir em de atendimento para suas crianças em horário noturno, em
instrumento estratégico na consolidação do que se entende finais de semana e em períodos esporádicos. Contudo, esse
por uma Educação Infantil de qualidade, “ao estimular o diá- tipo de atendimento, que responde a uma demanda legíti-
logo entre os elementos culturais de grupos marginalizados ma da população, enquadra-se no âmbito de “políticas para
e a ciência, a tecnologia e a cultura dominantes, articulando a Infância”, devendo ser financiado, orientado e supervisio-
necessidades locais e a ordem global, chamando a atenção nado por outras áreas, como assistência social, saúde, cul-
para uma maior sensibilidade para o diverso e o plural, entre tura, esportes, proteção social. O sistema de ensino define
o relativismo e o universalismo” (MEC, 2009b). e orienta, com base em critérios pedagógicos, o calendário,
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação horários e as demais condições para o funcionamento das
Infantil, de caráter mandatório, orientam a formulação de creches e pré-escolas, o que não elimina o estabelecimen-
políticas, incluindo a de formação de professores e demais to de mecanismos para a necessária articulação que deve
profissionais da Educação, e também o planejamento, de- haver entre a Educação e outras áreas, como a Saúde e a
senvolvimento e avaliação pelas unidades de seu Projeto Assistência, a fim de que se cumpra, do ponto de vista da or-
Político-Pedagógico e servem para informar as famílias das ganização dos serviços nessas instituições, o atendimento às
crianças matriculadas na Educação Infantil sobre as perspec- demandas das crianças. Essa articulação, se necessária para
tivas de trabalho pedagógico que podem ocorrer. outros níveis de ensino, na Educação Infantil, em função das
características das crianças de zero a cinco anos de idade, se
3. A identidade do atendimento na Educação Infantil faz muitas vezes imprescindível.
As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira estabelecimentos educacionais públicos ou privados que
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o desen- educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade
volvimento integral da criança de zero a cinco anos de ida- por meio de profissionais com a formação específica legal-
de em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e mente determinada, a habilitação para o magistério superior
social, complementando a ação da família e da comunidade ou médio, refutando assim funções de caráter meramente
(Lei nº 9.394/96, art. 29). assistencialista, embora mantenha a obrigação de assistir às
necessidades básicas de todas as crianças.
O atendimento em creche e pré-escola a crianças de As instituições de Educação Infantil estão submetidas
zero a cinco anos de idade é definido na Constituição Fede- aos mecanismos de credenciamento, reconhecimento e su-
ral de 1988 como dever do Estado em relação à educação, pervisão do sistema de ensino em que se acham integradas
oferecido em regime de colaboração e organizado em siste- (Lei nº 9.394/96, art. 9º, inciso IX, art.10, inciso IV e art.11,
mas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e inciso IV), assim como a controle social. Sua forma de or-
dos Municípios. A incorporação das creches e pré-escolas no ganização é variada, podendo constituir unidade indepen-
capítulo da Educação na Constituição Federal (art. 208, inci- dente ou integrar instituição que cuida da Educação Básica,
so IV) impacta todas as outras responsabilidades do Estado atender faixas etárias diversas nos termos da Lei nº 9.394/96,
em relação à Educação Infantil, ou seja, o direito das crianças em jornada integral de, no mínimo, 7 horas diárias, ou par-
de zero a cinco anos de idade à matrícula em escola pública cial de, no mínimo, 4 horas, seguindo o proposto na Lei nº
(art. 205), gratuita e de qualidade (art. 206, incisos IV e VI), 11.494/2007 (FUNDEB), sempre no período diurno, deven-
igualdade de condições em relação às demais crianças para do o poder público oferecer vagas próximo à residência das
acesso, permanência e pleno aproveitamento das oportuni- crianças (Lei nº 8.069/90, art. 53). Independentemente das
dades de aprendizagem propiciadas (art. 206, inciso I). nomenclaturas diversas que adotam (Centros de Educação

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Infantil, Escolas de Educação Infantil, Núcleo Integrado de que, ao invés de promover a equidade, alimentam e refor-
Educação Infantil, Unidade de Educação Infantil, ou nomes çam as desigualdades socioeconômicas, étnico-raciais e re-
fantasia), a estrutura e funcionamento do atendimento deve gionais. Em decorrência disso, os objetivos fundamentais da
garantir que essas unidades sejam espaço de educação co- República serão efetivados no âmbito da Educação Infantil
letiva. se as creches e pré-escolas cumprirem plenamente sua fun-
Uma vez que o Ensino Fundamental de nove anos de ção sociopolítica e pedagógica.
duração passou a incluir a educação das crianças a partir
de seis anos de idade, e considerando que as que comple- Cumprir tal função significa, em primeiro lugar, que o
tam essa idade fora do limite de corte estabelecido por seu Estado necessita assumir sua responsabilidade na educação
sistema de ensino para inclusão no Ensino Fundamental coletiva das crianças, complementando a ação das famílias.
necessitam que seu direito à educação seja garantido, cabe Em segundo lugar, creches e pré-escolas constituem-se em
aos sistemas de ensino o atendimento a essas crianças na estratégia de promoção de igualdade de oportunidades en-
pré-escola até o seu ingresso, no ano seguinte, no Ensino tre homens e mulheres, uma vez que permitem às mulheres
Fundamental. sua realização para além do contexto doméstico. Em terceiro
lugar, cumprir função sociopolítica e pedagógica das cre-
4. A função sociopolítica e pedagógica da Educação ches e pré-escolas implica assumir a responsabilidade de
Infantil torná-las espaços privilegiados de convivência, de constru-
ção de identidades coletivas e de ampliação de saberes e
Delineada essa apresentação da estrutura legal e insti- conhecimentos de diferentes naturezas, por meio de práti-
tucional da Educação Infantil, faz-se necessário refletir sobre cas que atuam como recursos de promoção da equidade de
sua função sociopolítica e pedagógica, como base de apoio oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes
das propostas pedagógica e curricular das instituições. classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e
Considera a Lei nº 9.394/96 em seu artigo 22 que a Edu- às possibilidades de vivência da infância. Em quarto lugar,
cação Infantil é parte integrante da Educação Básica, cujas cumprir função sociopolítica e pedagógica requer oferecer
finalidades são desenvolver o educando, assegurar-lhe a as melhores condições e recursos construídos histórica e
formação comum indispensável para o exercício da cidada- culturalmente para que as crianças usufruam de seus direi-
nia e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em tos civis, humanos e sociais e possam se manifestar e ver es-
estudos posteriores. Essa dimensão de instituição voltada à sas manifestações acolhidas, na condição de sujeito de direi-
introdução das crianças na cultura e à apropriação por elas tos e de desejos. Significa, finalmente, considerar as creches
de conhecimentos básicos requer tanto seu acolhimento e pré-escolas na produção de novas formas de sociabilidade
quanto sua adequada interpretação em relação às crianças e de subjetividades comprometidas com a democracia e a
pequenas. cidadania, com a dignidade da pessoa humana, com o re-
O paradigma do desenvolvimento integral da criança a conhecimento da necessidade de defesa do meio ambiente
ser necessariamente compartilhado com a família, adotado e com o rompimento de relações de dominação etária, so-
no artigo 29 daquela lei, dimensiona aquelas finalidades na cioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística
consideração das formas como as crianças, nesse momento e religiosa que ainda marcam nossa sociedade.
de suas vidas, vivenciam o mundo, constroem conhecimen-
tos, expressam-se, interagem e manifestam desejos e curio- 5. Uma definição de currículo
sidades de modo bastante peculiares.
A função das instituições de Educação Infantil, a exem- O currículo na Educação Infantil tem sido um campo de
plo de todas as instituições nacionais e principalmente, controvérsias e de diferentes visões de criança, de família, e
como o primeiro espaço de educação coletiva fora do con- de funções da creche e da pré-escola. No Brasil nem sem-
texto familiar, ainda se inscreve no projeto de sociedade de- pre foi aceita a idéia de haver um currículo para a Educação
mocrática desenhado na Constituição Federal de 1988 (art. Infantil, termo em geral associado à escolarização tal como
3º, inciso I), com responsabilidades no desempenho de um vivida no Ensino Fundamental e Médio, sendo preferidas as
papel ativo na construção de uma sociedade livre, justa, so- expressões ‘projeto pedagógico’ ou ‘proposta pedagógica’.
lidária e socioambientalmente orientada. A integração da Educação Infantil ao sistema educacional
A redução das desigualdades sociais e regionais e a pro- impõe à Educação Infantil trabalhar com esses conceitos, di-
moção do bem de todos (art. 3º, incisos II e IV da Constitui- ferenciando-os e articulando-os.
ção Federal) são compromissos a serem perseguidos pelos A proposta pedagógica, ou projeto pedagógico, é o pla-
sistemas de ensino e pelos professores também na Educa- no orientador das ações da instituição e define as metas que
ção Infantil. É bastante conhecida no país a desigualdade de se pretende para o desenvolvimento dos meninos e meninas
acesso às creches e pré-escolas entre as crianças brancas e que nela são educados e cuidados, as aprendizagens que se
negras, moradoras do meio urbano e rural, das regiões sul/ quer promovidas. Na sua execução, a instituição de Educa-
sudeste e norte/nordeste e, principalmente, ricas e pobres. ção Infantil organiza seu currículo, que pode ser entendido
Além das desigualdades de acesso, também as condições como as práticas educacionais organizadas em torno do co-
desiguais da qualidade da educação oferecida às crianças nhecimento e em meio às relações sociais que se travam
configuram-se em violações de direitos constitucionais das nos espaços institucionais, e que afetam a construção das
mesmas e caracterizam esses espaços como instrumentos identidades das crianças. Por expressar o projeto pedagó-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

gico da instituição em que se desenvolve, englobando as estabelecem com o mundo material e social mediadas por
experiências vivenciadas pela criança, o currículo se constitui parceiros mais experientes.
um instrumento político, cultural e científico coletivamente Assim, a motricidade, a linguagem, o pensamento, a afe-
formulado (MEC, 2009b). tividade e a sociabilidade são aspectos integrados e se de-
O currículo da Educação Infantil é concebido como um senvolvem a partir das interações que, desde o nascimento,
conjunto de práticas que buscam articular as experiências e a criança estabelece com diferentes parceiros, a depender
os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem da maneira como sua capacidade para construir conheci-
parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológi- mento é possibilitada e trabalhada nas situações em que ela
co. Tais práticas são efetivadas por meio de relações sociais participa. Isso por que, na realização de tarefas diversas, na
que as crianças desde bem pequenas estabelecem com os companhia de adultos e de outras crianças, no confronto
professores e as outras crianças, e afetam a construção de dos gestos, das falas, enfim, das ações desses parceiros, cada
suas identidades. criança modifica sua forma de agir, sentir e pensar.
Intencionalmente planejadas e permanentemente ava- Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria
liadas, as práticas que estruturam o cotidiano das institui- de colocar-se nos relacionamentos e nas interações, de ma-
ções de Educação Infantil devem considerar a integralidade nifestar emoções e curiosidade, e elabora um modo próprio
e indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afeti- de agir nas diversas situações que vivencia desde o nasci-
va, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural das mento conforme experimenta sensações de desconforto ou
crianças, apontar as experiências de aprendizagem que se de incerteza diante de aspectos novos que lhe geram neces-
espera promover junto às crianças e efetivar-se por meio de sidades e desejos, e lhe exigem novas respostas. Assim bus-
modalidades que assegurem as metas educacionais de seu ca compreender o mundo e a si mesma, testando de alguma
projeto pedagógico. forma as significações que constrói, modificando-as conti-
A gestão democrática da proposta curricular deve contar nuamente em cada interação, seja com outro ser humano,
na sua elaboração, acompanhamento e avaliação tendo em seja com objetos.
vista o Projeto Político-Pedagógico da unidade educacional, Uma atividade muito importante para a criança peque-
com a participação coletiva de professoras e professores, na é a brincadeira. Brincar dá à criança oportunidade para
demais profissionais da instituição, famílias, comunidade e imitar o conhecido e para construir o novo, conforme ela re-
das crianças, sempre que possível e à sua maneira. constrói o cenário necessário para que sua fantasia se apro-
xime ou se distancie da realidade vivida, assumindo perso-
6. A visão de criança: o sujeito do processo de edu- nagens e transformando objetos pelo uso que deles faz.
cação Na história cotidiana das interações com diferentes par-
ceiros, vão sendo construídas significações compartilhadas,
A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito a partir das quais a criança aprende como agir ou resistir aos
histórico e de direitos que se desenvolve nas interações, re- valores e normas da cultura de seu ambiente. Nesse proces-
lações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela so é preciso considerar que as crianças aprendem coisas que
estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades lhes são muito significativas quando interagem com compa-
nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas nheiros da infância, e que são diversas das coisas que elas
condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz- se apropriam no contato com os adultos ou com crianças já
-de-conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta, mais velhas. Além disso, à medida que o grupo de crianças
questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identida- interage, são construídas as culturas infantis.
des pessoal e coletiva, produzindo cultura. Também as professoras e os professores têm, na expe-
O conhecimento científico hoje disponível autoriza a riência conjunta com as crianças, excelente oportunidade
visão de que desde o nascimento a criança busca atribuir de se desenvolverem como pessoa e como profissional. Ati-
significado a sua experiência e nesse processo volta-se para vidades realizadas pela professora ou professor de brincar
conhecer o mundo material e social, ampliando gradativa- com a criança, contar-lhe histórias, ou conversar com ela
mente o campo de sua curiosidade e inquietações, mediada sobre uma infinidade de temas, tanto promovem o desen-
pelas orientações, materiais, espaços e tempos que orga- volvimento da capacidade infantil de conhecer o mundo e
nizam as situações de aprendizagem e pelas explicações e a si mesmo, de sua autoconfiança e a formação de motivos
significados a que ela tem acesso. e interesses pessoais, quanto ampliam as possibilidades da
O período de vida atendido pela Educação Infantil ca- professora ou professor de compreender e responder às ini-
racteriza-se por marcantes aquisições: a marcha, a fala, o ciativas infantis.
controle esfincteriano, a formação da imaginação e da ca-
pacidade de fazer de conta e de representar usando dife- 7. Princípios básicos
rentes linguagens. Embora nessas aquisições a dimensão
orgânica da criança se faça presente, suas capacidades para Os princípios fundamentais nas Diretrizes anteriormente
discriminar cores, memorizar poemas, representar uma pai- estabelecidas (Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer CNE/
sagem através de um desenho, consolar uma criança que CEB nº 22/98) continuam atuais e estarão presentes nestas
chora etc., não são constituições universais biologicamente diretrizes com a explicitação de alguns pontos que mais re-
determinadas e esperando o momento de amadurecer. Elas centemente têm se destacado nas discussões da área. São
são histórica e culturalmente produzidas nas relações que eles:

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a) Princípios éticos: valorização da autonomia, da res- c) Princípios estéticos: valorização da sensibilidade, da


ponsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem co- criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifesta-
mum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades ções artísticas e culturais.
e singularidades. O trabalho pedagógico na unidade de Educação Infan-
Cabe às instituições de Educação Infantil assegurar às til, em um mundo em que a reprodução em massa sufoca
crianças a manifestação de seus interesses, desejos e curio- o olhar das pessoas e apaga singularidades, deve voltar-se
sidades ao participar das práticas educativas, valorizar suas para uma sensibilidade que valoriza o ato criador e a cons-
produções, individuais e coletivas, e trabalhar pela conquista trução pelas crianças de respostas singulares, garantindo-
por elas da autonomia para a escolha de brincadeiras e de -lhes a participação em diversificadas experiências.
atividades e para a realização de cuidados pessoais diários. As instituições de Educação Infantil precisam organizar
Tais instituições devem proporcionar às crianças oportuni- um cotidiano de situações agradáveis, estimulantes, que
dades para ampliarem as possibilidades de aprendizado e desafiem o que cada criança e seu grupo de crianças já sa-
de compreensão de mundo e de si próprio trazidas por dife- bem sem ameaçar sua autoestima nem promover compe-
rentes tradições culturais e a construir atitudes de respeito e titividade, ampliando as possibilidades infantis de cuidar e
solidariedade, fortalecendo a auto-estima e os vínculos afe- ser cuidada, de se expressar, comunicar e criar, de organizar
tivos de todas as crianças. pensamentos e idéias, de conviver, brincar e trabalhar em
Desde muito pequenas, as crianças devem ser mediadas grupo, de ter iniciativa e buscar soluções para os problemas
na construção de uma visão de mundo e de conhecimento e conflitos que se apresentam às mais diferentes idades, e
como elementos plurais, formar atitudes de solidariedade e lhes possibilitem apropriar-se de diferentes linguagens e sa-
aprender a identificar e combater preconceitos que incidem beres que circulam em nossa sociedade, selecionados pelo
sobre as diferentes formas dos seres humanos se constituí- valor formativo que possuem em relação aos objetivos defi-
rem enquanto pessoas. Poderão assim questionar e romper nidos em seu Projeto PolíticoPedagógico.
com formas de dominação etária, socioeconômica, étnico-
-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa, existen- 8. Objetivos e condições para a organização curricu-
tes em nossa sociedade e recriadas na relação dos adultos lar
com as crianças e entre elas. Com isso elas podem e de-
vem aprender sobre o valor de cada pessoa e dos diferentes Os direitos da criança constituem hoje o paradigma para
grupos culturais, adquirir valores como os da inviolabilidade o relacionamento social e político com as infâncias do país.
da vida humana, a liberdade e a integridade individuais, a A Constituição de 1988, no artigo 227, declara que “É dever
igualdade de direitos de todas as pessoas, a igualdade entre da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
homens e mulheres, assim como a solidariedade com gru- adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saú-
pos enfraquecidos e vulneráveis política e economicamente. de, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
Essa valorização também se estende à relação com a natu- à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
reza e os espaços públicos, o respeito a todas as formas de cia familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
vida, o cuidado de seres vivos e a preservação dos recursos forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
naturais. crueldade e opressão”.
b) Princípios políticos: dos direitos de cidadania, do Nessa expressão legal, as crianças são inseridas no mun-
exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. do dos direitos humanos e são definidos não apenas o di-
A Educação Infantil deve trilhar o caminho de educar reito fundamental da criança à provisão (saúde, alimentação,
para a cidadania, analisando se suas práticas educativas de lazer, educação lato senso) e à proteção (contra a violência,
fato promovem a formação participativa e crítica das crian- discriminação, negligência e outros), como também seus di-
ças e criam contextos que lhes permitem a expressão de reitos fundamentais de participação na vida social e cultural,
sentimentos, idéias, questionamentos, comprometidos com de ser respeitada e de ter liberdade para expressar-se in-
a busca do bem estar coletivo e individual, com a preocupa- dividualmente. Esses pontos trouxeram perspectivas orien-
ção com o outro e com a coletividade. tadoras para o trabalho na Educação Infantil e inspiraram
Como parte da formação para a cidadania e diante da inclusive a finalidade dada no artigo 29 da Lei nº 9.394/96 às
concepção da Educação Infantil como um direito, é neces- creches e pré-escolas.
sário garantir uma experiência bem sucedida de aprendiza- Com base nesse paradigma, a proposta pedagógica
gem a todas as crianças, sem discriminação. Isso requer pro- das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo
porcionar oportunidades para o alcance de conhecimentos principal promover o desenvolvimento integral das crianças
básicos que são considerados aquisições valiosas para elas. de zero a cinco anos de idade garantindo a cada uma delas
A educação para a cidadania se volta para ajudar a crian- o acesso a processos de construção de conhecimentos e a
ça a tomar a perspectiva do outro da mãe, do pai, do pro- aprendizagem de diferentes linguagens, assim como o direi-
fessor, de outra criança, e também de quem vai mudar-se to à proteção, à saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade,
para longe, de quem tem o pai doente. O importante é que à brincadeira, à convivência e interação com outras crianças.
se criem condições para que a criança aprenda a opinar e a Daí decorrem algumas condições para a organização curri-
considerar os sentimentos e a opinião dos outros sobre um cular.
acontecimento, uma reação afetiva, uma idéia, um conflito.

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1) As instituições de Educação Infantil devem assegu- suas possibilidades de ação no mundo e delineiam possibi-
rar a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado lidades delas viverem a infância.
como algo indissociável ao processo educativo. 2) O combate ao racismo e às discriminações de gênero,
As práticas pedagógicas devem ocorrer de modo a sócio-econômicas, étnico-raciais e religiosas deve ser objeto
não fragmentar a criança nas suas possibilidades de viver de constante reflexão e intervenção no cotidiano da Educa-
experiências, na sua compreensão do mundo feita pela to- ção Infantil.
talidade de seus sentidos, no conhecimento que constrói na As ações educativas e práticas cotidianas devem con-
relação intrínseca entre razão e emoção, expressão corporal siderar que os modos como a cultura medeia as formas de
e verbal, experimentação prática e elaboração conceitual. As relação da criança consigo mesma são constitutivos dos
práticas envolvidas nos atos de alimentar-se, tomar banho, seus processos de construção de identidade. A perspectiva
trocar fraldas e controlar os esfíncteres, na escolha do que que acentua o atendimento aos direitos fundamentais da
vestir, na atenção aos riscos de adoecimento mais fácil nessa criança, compreendidos na sua multiplicidade e integrali-
faixa etária, no âmbito da Educação Infantil, não são apenas dade, entende que o direito de ter acesso a processos de
práticas que respeitam o direito da criança de ser bem aten- construção de conhecimento como requisito para formação
dida nesses aspectos, como cumprimento do respeito à sua humana, participação social e cidadania das crianças de zero
dignidade como pessoa humana. Elas são também práticas a cinco anos de idade, efetua-se na interrelação das diferen-
que respeitam e atendem ao direito da criança de apropriar- tes práticas cotidianas que ocorrem no interior das creches e
-se, por meio de experiências corporais, dos modos estabe- pré-escolas e em relação a crianças concretas, contemplan-
lecidos culturalmente de alimentação e promoção de saúde, do as especificidades desse processo nas diferentes idades e
de relação com o próprio corpo e consigo mesma, mediada em relação à diversidade cultural e étnico-racial e às crianças
pelas professoras e professores, que intencionalmente pla- com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e
nejam e cuidam da organização dessas práticas. altas habilidades/superdotação.
A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim A valorização da diversidade das culturas das diferentes
orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e crianças e de suas famílias, por meio de brinquedos, ima-
sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da gens e narrativas que promovam a construção por elas de
proteção integral da criança. O cuidado, compreendido na uma relação positiva com seus grupos de pertencimento,
sua dimensão necessariamente humana de lidar com ques- deve orientar as práticas criadas na Educação Infantil am-
tões de intimidade e afetividade, é característica não apenas pliando o olhar das crianças desde cedo para a contribuição
da Educação Infantil, mas de todos os níveis de ensino. Na de diferentes povos e culturas. Na formação de pequenos
Educação Infantil, todavia, a especificidade da criança bem cidadãos compromissada com uma visão plural de mundo,
pequena, que necessita do professor até adquirir autonomia é necessário criar condições para o estabelecimento de uma
para cuidar de si, expõe de forma mais evidente a relação relação positiva e uma apropriação das contribuições histó-
indissociável do educar e cuidar nesse contexto. A definição rico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiá-
e o aperfeiçoamento dos modos como a instituição organiza ticos, europeus e de outros países da América, reconhecen-
essas atividades são parte integrante de sua proposta curri- do, valorizando, respeitando e possibilitando o contato das
cular e devem ser realizadas sem fragmentar ações. crianças com as histórias e as culturas desses povos.
Um bom planejamento das atividades educativas favo- O olhar acolhedor de diversidades também se refere às
rece a formação de competências para a criança aprender a crianças com deficiência, transtornos globais de desenvolvi-
cuidar de si. No entanto, na perspectiva que integra o cuida- mento e altas habilidades/superdotação. Também o direito
do, educar não é apenas isto. Educar cuidando inclui acolher, dessas crianças à liberdade e à participação, tal como para
garantir a segurança, mas também alimentar a curiosidade, a as demais crianças, deve ser acolhido no planejamento das
ludicidade e a expressividade infantis. situações de vivência e aprendizagem na Educação Infantil.
Educar de modo indissociado do cuidar é dar condi- Para garanti-lo, são necessárias medidas que otimizem suas
ções para as crianças explorarem o ambiente de diferentes vivências na creche e pré-escola, garantindo que esses es-
maneiras (manipulando materiais da natureza ou objetos, paços sejam estruturados de modo a permitir sua condição
observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fa- de sujeitos ativos e a ampliar suas possibilidades de ação
zendo perguntas etc) e construírem sentidos pessoais e sig- nas brincadeiras e nas interações com as outras crianças,
nificados coletivos, à medida que vão se constituindo como momentos em que exercitam sua capacidade de intervir
sujeitos e se apropriando de um modo singular das formas na realidade e participam das atividades curriculares com
culturais de agir, sentir e pensar. Isso requer do professor os colegas. Isso inclui garantir no cotidiano da instituição a
ter sensibilidade e delicadeza no trato de cada criança, e acessibilidade de espaços, materiais, objetos e brinquedos,
assegurar atenção especial conforme as necessidades que procedimentos e formas de comunicação e orientação vivi-
identifica nas crianças. das, especificidades e singularidades das crianças com de-
As práticas que desafiam os bebês e as crianças maiores ficiências, transtornos globais de desenvolvimento e altas
a construírem e se apropriarem dos conhecimentos produzi- habilidades/superdotação.
dos por seu grupo cultural e pela humanidade, na Educação 3) As instituições necessariamente precisam conhecer as
Infantil, pelas características desse momento de vida, são ar- culturas plurais que constituem o espaço da creche e da pré-
ticuladas ao entorno e ao cotidiano das crianças, ampliam -escola, a riqueza das contribuições familiares e da comuni-
dade, suas crenças e manifestações, e fortalecer formas de

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atendimento articuladas aos saberes e às especificidades ét- e permanência na Educação Infantil e uma violação do di-
nicas, linguísticas, culturais e religiosas de cada comunidade. reito à educação dessas crianças. Uma política que promova
O reconhecimento da constituição plural das crianças com qualidade a Educação Infantil nos próprios territórios
brasileiras, no que se refere à identidade cultural e regional e rurais instiga a construção de uma pedagogia dos povos do
à filiação socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, campo – construída na relação intrínseca com os saberes, as
linguística e religiosa, é central à garantia de uma Educa- realidades e temporalidades das crianças e de suas comuni-
ção Infantil comprometida com os direitos das crianças. Esse dades – e requer a necessária formação do professor nessa
fundamento reforça a gestão democrática como elemento pedagogia.
imprescindível, uma vez que é por meio dela que a institui- Em relação às crianças indígenas, há que se garantir a
ção também se abre à comunidade, permite sua entrada, autonomia dos povos e nações na escolha dos modos de
e possibilita sua participação na elaboração e acompanha- educação de suas crianças de zero a cinco anos de idade
mento da proposta curricular. Dessa forma, a organização e que as propostas pedagógicas para esses povos que op-
da proposta pedagógica deve prever o estabelecimento de tarem pela Educação Infantil possam afirmar sua identida-
uma relação positiva com a comunidade local e de mecanis- de sociocultural. Quando oferecidas, aceitas e requisitadas
mos que garantam a gestão democrática e a consideração pelas comunidades, como direito das crianças indígenas, as
dos saberes comunitários, seja ela composta pelas popu- propostas curriculares na Educação Infantil dessas crianças
lações que vivem nos centros urbanos, ou a população do devem proporcionar uma relação viva com os conhecimen-
campo, os povos da floresta e dos rios, os indígenas, quilom- tos, crenças, valores, concepções de mundo e as memórias
bolas ou afrodescendentes. de seu povo; reafirmar a identidade étnica e a língua mater-
Na discussão sobre as diversidades, há que se conside- na como elementos de constituição das crianças; dar conti-
rar que também a origem urbana das creches e pré-escolas nuidade à educação tradicional oferecida na família e arti-
e a sua extensão como direito a todas as crianças brasileiras cular-se às práticas sócio-culturais de educação e cuidado
remetem à necessidade de que as propostas pedagógicas da comunidade; adequar calendário, agrupamentos etários
das instituições em territórios não-urbanos respeitem suas e organização de tempos, atividades e ambientes de modo
identidades. a atender as demandas de cada povo indígena.
Essa exigência é explicitada no caso de crianças filhas 4) A execução da proposta curricular requer atenção cui-
de agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesa- dadosa e exigente às possíveis formas de violação da digni-
nais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrá- dade da criança.
ria, quilombolas, caiçaras, nas Diretrizes Operacionais para a O respeito à dignidade da criança como pessoa huma-
Educação Básica nas Escolas do Campo (Resolução CNE/CEB na, quando pensado a partir das práticas cotidianas na ins-
nº 1/2002). Essas Diretrizes orientam o trabalho pedagógico tituição, tal como apontado nos “Indicadores de Qualidade
no estabelecimento de uma relação orgânica com a cultura, na Educação Infantil” elaborados pelo MEC, requer que a
as tradições, os saberes e as identidades dessas populações, instituição garanta a proteção da criança contra qualquer
e indicam a adoção de estratégias que garantam o atendi- forma de violência – física ou simbólica – ou negligência,
mento às especificidades dessas comunidades tais como a tanto no interior das instituições de Educação Infantil como
flexibilização e adequação no calendário, nos agrupamentos na experiência familiar da criança, devendo as violações ser
etários e na organização de tempos, atividades e ambientes encaminhadas às instâncias competentes. Os profissionais
em respeito às diferenças quanto à atividade econômica e à da educação que aí trabalham devem combater e intervir
política de igualdade e sem prejuízo da qualidade do atendi- imediatamente quando ocorrem práticas dos adultos que
mento. Elas apontam para a previsão da oferta de materiais desrespeitem a integridade das crianças, de modo a criar
didáticos, brinquedos e outros equipamentos em conformi- uma cultura em que essas práticas sejam inadmissíveis.
dade com a realidade da comunidade e as diversidades dos 5) O atendimento ao direito da criança na sua integrali-
povos do campo, evidenciando o papel dessas populações dade requer o cumprimento do dever do Estado com a ga-
na produção do conhecimento sobre o mundo. A Resolução rantia de uma experiência educativa com qualidade a todas
CNE/CEB nº 2/2008, que estabelece Diretrizes complemen- as crianças na Educação Infantil.
tares, normas e princípios para o desenvolvimento de políti- As instituições de Educação Infantil devem tanto ofere-
cas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo cer espaço limpo, seguro e voltado para garantir a saúde
e regulamenta questões importantes para a Educação Infan- infantil quanto se organizar como ambientes acolhedores,
til, proíbe que se agrupe em uma mesma turma crianças da desafiadores e inclusivos, plenos de interações, explorações
Educação Infantil e crianças do Ensino Fundamental. e descobertas partilhadas com outras crianças e com o pro-
A situação de desvantagem das crianças moradoras dos fessor. Elas ainda devem criar contextos que articulem dife-
territórios rurais em relação ao acesso à educação é conhe- rentes linguagens e que permitam a participação, expressão,
cida por meio dos relatórios governamentais e por trabalhos criação, manifestação e consideração de seus interesses.
acadêmicos. Não bastasse a baixíssima cobertura do aten- No cumprimento dessa exigência, o planejamento curri-
dimento, esses relatórios apontam que são precárias as ins- cular deve assegurar condições para a organização do tem-
talações, são inadequados os materiais e os professores ge- po cotidiano das instituições de Educação Infantil de modo
ralmente não possuem formação para o trabalho com essas a equilibrar continuidade e inovação nas atividades, movi-
populações, o que caracteriza uma flagrante ineficácia no mentação e concentração das crianças, momentos de segu-
cumprimento da política de igualdade em relação ao acesso rança e momentos de desafio na participação das mesmas,

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e articular seus ritmos individuais, vivências pessoais e expe- seus membros, que estão em constante processo de modi-
riências coletivas com crianças e adultos. Também é preciso ficação de seus saberes, fazeres e valores em relação a uma
haver a estruturação de espaços que facilitem que as crian- série de pontos, dentre eles o cuidado e a educação dos
ças interajam e construam sua cultura de pares, e favoreçam filhos. O importante é acolher as diferentes formas de orga-
o contato com a diversidade de produtos culturais (livros de nização familiar e respeitar as opiniões e aspirações dos pais
literatura, brinquedos, objetos e outros materiais), de mani- sobre seus filhos. Nessa perspectiva, as professoras e profes-
festações artísticas e com elementos da natureza. Junto com sores compreendem que, embora compartilhem a educação
isso, há necessidade de uma infra-estrutura e de formas de das crianças com os membros da família, exercem funções
funcionamento da instituição que garantam ao espaço físico diferentes destes. Cada família pode ver na professora ou
a adequada conservação, acessibilidade, estética, ventilação, professor alguém que lhe ajuda a pensar sobre seu próprio
insolação, luminosidade, acústica, higiene, segurança e di- filho e trocar opiniões sobre como a experiência na unidade
mensões em relação ao tamanho dos grupos e ao tipo de de Educação Infantil se liga a este plano. Ao mesmo tempo,
atividades realizadas. o trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Infantil
O número de crianças por professor deve possibilitar pode apreender os aspectos mais salientes das culturas fa-
atenção, responsabilidade e interação com as crianças e miliares locais para enriquecer as experiências cotidianas das
suas famílias. Levando em consideração as características do crianças.
espaço físico e das crianças, no caso de agrupamentos com
criança de mesma faixa de idade, recomenda-se a propor- Um ponto inicial de trabalho integrado da instituição
ção de 6 a 8 crianças por professor (no caso de crianças de de Educação Infantil com as famílias pode ocorrer no pe-
zero e um ano), 15 crianças por professor (no caso de criança ríodo de adaptação e acolhimento dos novatos. Isso se fará
de dois e três anos) e 20 crianças por professor (nos agrupa- de modo mais produtivo se, nesse período, as professoras e
mentos de crianças de quatro e cinco anos). professores derem oportunidade para os pais falarem sobre
Programas de formação continuada dos professores e seus filhos e as expectativas que têm em relação ao aten-
demais profissionais também integram a lista de requisitos dimento na Educação Infantil, enquanto eles informam e
básicos para uma Educação Infantil de qualidade. Tais pro- conversam com os pais os objetivos propostos pelo Projeto
gramas são um direito das professoras e professores no sen- Político-Pedagógico da instituição e os meios organizados
tido de aprimorar sua prática e desenvolver a si e a sua iden- para atingi-los.
tidade profissional no exercício de seu trabalho. Eles devem Outros pontos fundamentais do trabalho com as famí-
dar-lhes condições para refletir sobre sua prática docente lias são propiciados pela participação destas na gestão da
cotidiana em termos pedagógicos, éticos e políticos, e tomar proposta pedagógica e pelo acompanhamento partilhado
decisões sobre as melhores formas de mediar a aprendiza- do desenvolvimento da criança. A participação dos pais jun-
gem e o desenvolvimento infantil, considerando o coletivo to com os professores e demais profissionais da educação
de crianças assim como suas singularidades. nos conselhos escolares, no acompanhamento de proje-
tos didáticos e nas atividades promovidas pela instituição
8. A necessária e fundamental parceria com as famí- possibilita agregar experiências e saberes e articular os dois
lias na Educação Infantil contextos de desenvolvimento da criança. Nesse processo,
os pais devem ser ouvidos tanto como usuários diretos do
A perspectiva do atendimento aos direitos da criança serviço prestado como também como mais uma voz das
na sua integralidade requer que as instituições de Educa- crianças, em particular daquelas muito pequenas.
ção Infantil, na organização de sua proposta pedagógica e Preocupações dos professores sobre a forma como al-
curricular, assegurem espaços e tempos para participação, gumas crianças parecem ser tratadas em casa – descuido,
o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a violência, discriminação, superproteção e outras – devem ser
valorização das diferentes formas em que elas se organizam. discutidas com a direção de cada instituição para que for-
A família constitui o primeiro contexto de educação e mas produtivas de esclarecimento e eventuais encaminha-
cuidado do bebê. Nela ele recebe os cuidados materiais, mentos possam ser pensados.
afetivos e cognitivos necessários a seu bem-estar, e cons-
trói suas primeiras formas de significar o mundo. Quando 9. A organização das experiências de aprendizagem
a criança passa a frequentar a Educação Infantil, é preciso na proposta curricular
refletir sobre a especificidade de cada contexto no desenvol-
vimento da criança e a forma de integrar as ações e projetos Em função dos princípios apresentados, e na tarefa de
educacionais das famílias e das instituições. Essa integração garantir às crianças seu direito de viver a infância e se de-
com a família necessita ser mantida e desenvolvida ao longo senvolver, as experiências no espaço de Educação Infantil
da permanência da criança na creche e pré-escola, exigência devem possibilitar o encontro pela criança de explicações
inescapável frente às características das crianças de zero a sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma enquanto
cinco anos de idade, o que cria a necessidade de diálogo desenvolvem formas de agir, sentir e pensar.
para que as práticas junto às crianças não se fragmentem. O importante é apoiar as crianças, desde cedo e ao lon-
O trabalho com as famílias requer que as equipes de go de todas as suas experiências cotidianas na Educação In-
educadores as compreendam como parceiras, reconhecen- fantil no estabelecimento de uma relação positiva com a ins-
do-as como criadoras de diferentes ambientes e papéis para tituição educacional, no fortalecimento de sua auto-estima,

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no interesse e curiosidade pelo conhecimento do mundo, Nesse processo, é preciso valorizar o lúdico, as brincadeiras
na familiaridade com diferentes linguagens, na aceitação e e as culturas infantis.
acolhimento das diferenças entre as pessoas. As experiências promotoras de aprendizagem e
Na explicitação do ambiente de aprendizagem, é ne- consequente desenvolvimento das crianças devem ser
cessário pensar “um currículo sustentado nas relações, nas propiciadas em uma frequência regular e serem, ao
interações e em práticas educativas intencionalmente vol- mesmo tempo, imprevistas, abertas a surpresas e a novas
tadas para as experiências concretas da vida cotidiana, para descobertas. Elas visam a criação e a comunicação por meio
a aprendizagem da cultura, pelo convívio no espaço da vida de diferentes formas de expressão, tais como imagens,
coletiva e para a produção de narrativas, individuais e coleti- canções e música, teatro, dança e movimento, assim como
a língua escrita e falada, sem esquecer da língua de sinais,
vas, através de diferentes linguagens” (MEC, 2009a).
que pode ser aprendida por todas as crianças e não apenas
A professora e o professor necessitam articular
pelas crianças surdas.
condições de organização dos espaços, tempos, materiais
e das interações nas atividades para que as crianças É necessário considerar que as linguagens se inter-re-
possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, lacionam: por exemplo, nas brincadeiras cantadas a criança
na oralidade e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no explora as possibilidades expressivas de seus movimentos
desenho e em suas primeiras tentativas de escrita. ao mesmo tempo em que brinca com as palavras e imita cer-
A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos tos personagens. Quando se volta para construir conheci-
e movimentos amplos nos espaços internos e externos às mentos sobre diferentes aspectos do seu entorno, a criança
salas de referência das turmas e à instituição, envolver-se elabora suas capacidades linguísticas e cognitivas envolvidas
em explorações e brincadeiras com objetos e materiais na explicação, argumentação e outras, ao mesmo tempo em
diversificados que contemplem as particularidades das que amplia seus conhecimentos sobre o mundo e registra
diferentes idades, as condições específicas das crianças suas descobertas pelo desenho ou mesmo por formas bem
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento iniciais de registro escrito. Por esse motivo, ao planejar o
e altas habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, trabalho, é importante não tomar as linguagens de modo
culturais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias isolado ou disciplinar, mas sim contextualizadas, a serviço de
e comunidade regional. significativas aprendizagens.
De modo a proporcionar às crianças diferentes As crianças precisam brincar em pátios, quintais, pra-
experiências de interações que lhes possibilitem construir ças, bosques, jardins, praias, e viver experiências de semear,
saberes, fazer amigos, aprender a cuidar de si e a conhecer plantar e colher os frutos da terra, permitindo a construção
suas próprias preferências e características, deve-se
de uma relação de identidade, reverência e respeito para
possibilitar que elas participem de diversas formas de
com a natureza. Elas necessitam também ter acesso a es-
agrupamento (grupos de mesma idade e grupos de
diferentes idades), formados com base em critérios paços culturais diversificados: inserção em práticas culturais
estritamente pedagógicos. da comunidade, participação em apresentações musicais,
As especificidades e os interesses singulares e coletivos teatrais, fotográficas e plásticas, visitas a bibliotecas, brin-
dos bebês e das crianças das demais faixas etárias devem quedotecas, museus, monumentos, equipamentos públicos,
ser considerados no planejamento do currículo, vendo a parques, jardins.
criança em cada momento como uma pessoa inteira na É importante lembrar que dentre os bens culturais que
qual os aspectos motores, afetivos, cognitivos e linguísticos crianças têm o direito a ter acesso está a linguagem verbal,
integram-se, embora em permanente mudança. Em que inclui a linguagem oral e a escrita, instrumentos básicos
relação a qualquer experiência de aprendizagem que de expressão de idéias, sentimentos e imaginação. A aqui-
seja trabalhada pelas crianças, devem ser abolidos os sição da linguagem oral depende das possibilidades das
procedimentos que não reconhecem a atividade criadora crianças observarem e participarem cotidianamente de si-
e o protagonismo da criança pequena, que promovam tuações comunicativas diversas onde podem comunicar-se,
atividades mecânicas e não significativas para as crianças. conversar, ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com
Cabe à professora e ao professor criar oportunidade para palavras, refletir e expressar seus próprios pontos de vista,
que a criança, no processo de elaborar sentidos pessoais, diferenciar conceitos, ver interconexões e descobrir novos
se aproprie de elementos significativos de sua cultura caminhos de entender o mundo. É um processo que precisa
não como verdades absolutas, mas como elaborações ser planejado e continuamente trabalhado.
dinâmicas e provisórias. Trabalha-se com os saberes da
Também a linguagem escrita é objeto de interesse pelas
prática que as crianças vão construindo ao mesmo tempo
crianças. Vivendo em um mundo onde a língua escrita está
em que se garante a apropriação ou construção por elas de
novos conhecimentos. Para tanto, a professora e o professor cada vez mais presente, as crianças começam a se interessar
observam as ações infantis, individuais e coletivas, acolhe pela escrita muito antes que os professores a apresentem
suas perguntas e suas respostas, busca compreender o formalmente. Contudo, há que se apontar que essa temática
significado de sua conduta. não está sendo muitas vezes adequadamente compreendi-
As propostas curriculares da Educação Infantil devem da e trabalhada na Educação Infantil. O que se pode dizer é
garantir que as crianças tenham experiências variadas que o trabalho com a língua escrita com crianças pequenas
com as diversas linguagens, reconhecendo que o mundo não pode decididamente ser uma prática mecânica despro-
no qual estão inseridas, por força da própria cultura, é vida de sentido e centrada na decodificação do escrito. Sua
amplamente marcado por imagens, sons, falas e escritas. apropriação pela criança se faz no reconhecimento, com-

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preensão e fruição da linguagem que se usa para escrever, interações das crianças, os agrupamentos que as crianças
mediada pela professora e pelo professor, fazendo-se pre- formaram, o material oferecido e o espaço e o tempo ga-
sente em atividades prazerosas de contato com diferentes rantidos para a realização das atividades. Espera-se, a partir
gêneros escritos, como a leitura diária de livros pelo profes- disso, que o professor possa pesquisar quais elementos es-
sor, a possibilidade da criança desde cedo manusear livros tão contribuindo, ou dificultando, as possibilidades de ex-
e revistas e produzir narrativas e “textos”, mesmo sem saber pressão da criança, sua aprendizagem e desenvolvimento, e
ler e escrever. então fortalecer, ou modificar, a situação, de modo a efetivar
Atividades que desenvolvam expressão motora e mo- o Projeto Político-Pedagógico de cada instituição.
dos de perceber seu próprio corpo, assim como as que lhe A avaliação, conforme estabelecido na Lei nº 9.394/96,
possibilitem construir, criar e desenhar usando diferentes deve ter a finalidade de acompanhar e repensar o trabalho
materiais e técnicas, ampliar a sensibilidade da criança à mú- realizado. Nunca é demais enfatizar que não devem existir
sica, à dança, à linguagem teatral, abrem ricas possibilidades práticas inadequadas de verificação da aprendizagem, tais
de vivências e desenvolvimento para as crianças. como provinhas, nem mecanismos de retenção das crianças
na Educação Infantil. Todos os esforços da equipe devem
Eperiências que promovam o envolvimento da crian- convergir para a estruturação de condições que melhor con-
ça com o meio ambiente e a conservação da natureza e a tribuam para a aprendizagem e o desenvolvimento da crian-
ajudem elaborar conhecimentos, por exemplo, de plantas ça sem desligá-la de seus grupos de amizade.
e animais, devem fazer parte do cotidiano da unidade de A observação sistemática, crítica e criativa do compor-
Educação Infantil. Outras experiências podem priorizar, em tamento de cada criança, de grupos de crianças, das brinca-
contextos e situações significativos, a exploração e uso de deiras e interações entre as crianças no cotidiano, e a utiliza-
conhecimentos matemáticos na apreciação das característi- ção de múltiplos registros realizados por adultos e crianças
cas básicas do conceito de número, medida e forma, assim (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.), feita ao longo
como a habilidade de se orientar no tempo e no espaço. do período em diversificados momentos, são condições ne-
Ter oportunidade para manusear gravadores, projeto- cessárias para compreender como a criança se apropria de
res, computador e outros recursos tecnológicos e midiáticos modos de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos.
também compõe o quadro de possibilidades abertas para o Conhecer as preferências das crianças, a forma delas partici-
trabalho pedagógico na Educação Infantil. parem nas atividades, seus parceiros prediletos para a rea-
As experiências que permitam ações individuais e em lização de diferentes tipos de tarefas, suas narrativas, pode
um grupo, lidar com conflitos e entender direitos e obriga- ajudar o professor a reorganizar as atividades de modo mais
ções, que desenvolvam a identidade pessoal, sentimento de adequado ao alcance dos propósitos infantis e das aprendi-
auto-estima, autonomia e confiança em suas próprias habili- zagens coletivamente trabalhadas.
dades, e um entendimento da importância de cuidar de sua
própria saúde e bem-estar, devem ocupar lugar no planeja- A documentação dessas observações e outros dados
mento curricular. sobre a criança devem acompanhá-la ao longo de sua traje-
Na elaboração da proposta curricular, diferentes arran- tória da Educação Infantil e ser entregue por ocasião de sua
jos de atividades poderão ser feitos, de acordo com as carac- matrícula no Ensino Fundamental para garantir a continui-
terísticas de cada instituição, a orientação de sua proposta dade dos processos educativos vividos pela criança.
pedagógica, com atenção, evidentemente, às características
das crianças. 11. O acompanhamento da continuidade do proces-
A organização curricular da Educação Infantil pode se so de educação
estruturar em eixos, centros, campos ou módulos de expe-
riências que devem se articular em torno dos princípios, con- Na busca de garantir um olhar contínuo sobre os pro-
dições e objetivos propostos nesta diretriz. Ela pode planejar cessos vivenciados pela criança, devem ser criadas estraté-
a realização semanal, mensal e por períodos mais longos de gias adequadas aos diferentes momentos de transição por
atividades e projetos fugindo de rotinas mecânicas. elas vividos. As instituições de Educação Infantil devem as-
sim:
10. O processo de avaliação a) planejar e efetivar o acolhimento das crianças e de
suas famílias quando do ingresso na instituição, consideran-
As instituições de Educação Infantil, sob a ótica da ga- do a necessária adaptação das crianças e seus responsáveis
rantia de direitos, são responsáveis por criar procedimentos às práticas e relacionamentos que têm lugar naquele espa-
para avaliação do trabalho pedagógico e das conquistas das ço, e visar o conhecimento de cada criança e de sua família
crianças. pela equipe da Instituição;
A avaliação é instrumento de reflexão sobre a prática b) priorizar a observação atenta das crianças e mediar as
pedagógica na busca de melhores caminhos para orientar relações que elas estabelecem entre si, entre elas e os adul-
as aprendizagens das crianças. Ela deve incidir sobre todo tos, entre elas e as situações e objetos, para orientar as mu-
o contexto de aprendizagem: as atividades propostas e o danças de turmas pelas crianças e acompanhar seu processo
modo como foram realizadas, as instruções e os apoios ofe- de vivência e desenvolvimento no interior da instituição;
recidos às crianças individualmente e ao coletivo de crianças, c) planejar o trabalho pedagógico reunindo as equipes
a forma como o professor respondeu às manifestações e às da creche e da pré-escola, acompanhado de relatórios des-

49
LEGISLAÇÃO FEDERAL

critivos das turmas e das crianças, suas vivências, conquistas periências e os saberes das crianças com os conhecimentos
e planos, de modo a dar continuidade a seu processo de que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
aprendizagem; científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvi-
d) prever formas de articulação entre os docentes da mento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.
Educação Infantil e do Ensino Fundamental (encontros, vi- Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil
sitas, reuniões) e providenciar instrumentos de registro deverão considerar que a criança, centro do planejamento
– portfólios de turmas, relatórios de avaliação do trabalho curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas intera-
pedagógico, documentação da frequência e das realizações ções, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói
alcançadas pelas crianças – que permitam aos docentes do sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
Ensino Fundamental conhecer os processos de aprendiza- deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
gem vivenciados na Educação Infantil, em especial na prées- constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzin-
cola e as condições em que eles se deram, independente- do cultura.
mente dessa transição ser feita no interior de uma mesma Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação
instituição ou entre instituições, para assegurar às crianças Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se
a continuidade de seus processos peculiares de desenvolvi- caracterizam como espaços institucionais não domésticos
mento e a concretização de seu direito à educação. que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou
privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos
II – VOTO DO RELATOR de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial,
regulados e supervisionados por órgão competente do sis-
Em vista do exposto, propõe-se a aprovação das Diretri- tema de ensino e submetidos a controle social.
zes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil na forma § 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação
deste Parecer e do Projeto de Resolução em anexo, do qual Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de
é parte integrante. seleção.
Brasília, (DF), 11 de novembro de 2009. § 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de
Conselheiro Raimundo Moacir Mendes Feitosa – Relator crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março
do ano em que ocorrer a matrícula.
III DECISÃO DA CÂMARA § 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de
março devem ser matriculadas na Educação Infantil.
A Câmara de Educação Básica aprova por unanimidade § 4º A frequência na Educação Infantil não é pré-requisi-
o voto do Relator. to para a matrícula no Ensino Fundamental.
Sala das Sessões, em 11 de novembro de 2009. § 5º As vagas em creches e pré-escolas devem ser ofere-
Conselheiro Cesar Callegari – Presidente cidas próximas às residências das crianças.
Conselheiro Mozart Neves Ramos – Vice-Presidente § 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial,
a jornada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tem-
PROJETO DE RESOLUÇÃO po integral, a jornada com duração igual ou superior a sete
horas diárias, compreendendo o tempo total que a criança
Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação permanece na instituição.
Infantil Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse- devem respeitar os seguintes princípios:
lho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solida-
com fundamento no art. 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024, riedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e
de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei às diferentes culturas, identidades e singularidades.
nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e tendo em vista o II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da
Parecer CNE/CEB nº 20/2009, homologado por Despacho do criticidade e do respeito à ordem democrática.
Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludici-
de , resolve: dade e da liberdade de expressão nas diferentes manifesta-
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curri- ções artísticas e culturais.
culares Nacionais para a Educação Infantil a serem observa- Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta pe-
das na organização de propostas pedagógicas na Educação dagógica das instituições de Educação Infantil deve garantir
Infantil. que elas cumpram plenamente sua função sociopolítica e
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- pedagógica:
ção Infantil articulam-se com as Diretrizes Curriculares Na- I oferecendo condições e recursos para que as crianças
cionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamen- usufruam seus direitos civis, humanos e sociais;
tos e procedimentos definidos pela Câmara de Educação II assumindo a responsabilidade de compartilhar e com-
Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as plementar a educação e cuidado das crianças com as famí-
políticas públicas na área e a elaboração, planejamento, exe- lias;
cução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares. III possibilitando tanto a convivência entre crianças e
Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido entre adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e
como um conjunto de práticas que buscam articular as ex- conhecimentos de diferentes naturezas;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

IV promovendo a igualdade de oportunidades educa- I proporcionar uma relação viva com os conhecimentos,
cionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de
se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de seu povo;
vivência da infância; II reafirmar a identidade étnica e a língua materna como
V construindo novas formas de sociabilidade e de sub- elementos de constituição das crianças;
jetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, III dar continuidade à educação tradicional oferecida na
a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de rela- família e articular-se às práticas sócio-culturais de educação
ções de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de e cuidado coletivos da comunidade;
gênero, regional, linguística e religiosa. IV adequar calendário, agrupamentos etários e organi-
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Edu- zação de tempos, atividades e ambientes de modo a atender
cação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança aces- as demandas de cada povo indígena.
so a processos de apropriação, renovação e articulação de § 3º As propostas pedagógicas da Educação Infantil das
conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas, pes-
assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à con- cadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da
fiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da floresta,
e à interação com outras crianças. devem:
§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas peda- I reconhecer os modos próprios de vida no campo como
gógicas das instituições de Educação Infantil deverão prever fundamentais para a constituição da identidade das crianças
condições para o trabalho coletivo e para a organização de moradoras em territórios rurais;
materiais, espaços e tempos que assegurem: II ter vinculação inerente à realidade dessas populações,
I a educação em sua integralidade, entendendo o cuida- suas culturas, tradições e identidades, assim como a práticas
do como algo indissociável ao processo educativo; ambientalmente sustentáveis;
II a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, III flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e ativida-
afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural des respeitando as diferenças quanto à atividade econômica
da criança; dessas populações;
III a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das fa- IV valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas po-
mílias, o respeito e a valorização de suas formas de organi- pulações na produção de conhecimentos sobre o mundo e
zação; sobre o ambiente natural;
IV o estabelecimento de uma relação efetiva com a co- V prever a oferta de brinquedos e equipamentos que
munidade local e de mecanismos que garantam a gestão respeitem as características ambientais e socioculturais da
democrática e a consideração dos saberes da comunidade; comunidade.
V o reconhecimento das especificidades etárias, das sin- Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a pro-
gularidades individuais e coletivas das crianças, promoven- posta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
do interações entre crianças de mesma idade e crianças de norteadores as interações e a brincadeira, garantindo expe-
diferentes idades; riências que:
VI os deslocamentos e os movimentos amplos das I promovam o conhecimento de si e do mundo por meio
crianças nos espaços internos e externos às salas de referên- da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corpo-
cia das turmas e à instituição; rais que possibilitem movimentação ampla, expressão da
VII a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brin- individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança;
quedos e instruções para as crianças com deficiência, trans- II favoreçam a imersão das crianças nas diferentes lin-
tornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/su- guagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros
perdotação; e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e
VIII a apropriação pelas crianças das contribuições histó- musical;
rico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáti- III possibilitem às crianças experiências de narrativas,
cos, europeus e de outros países da América; de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita,
IX o reconhecimento, a valorização, o respeito e a inte- e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais
ração das crianças com as histórias e as culturas africanas, e escritos;
afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à dis- IV recriem, em contextos significativos para as crianças,
criminação; relações quantitativas, medidas, formas e orientações espa-
X a dignidade da criança como pessoa humana e a pro- çotemporais;
teção contra qualquer forma de violência – física ou simbó- V ampliem a confiança e a participação das crianças nas
lica – e negligência no interior da instituição ou praticadas atividades individuais e coletivas;
pela família, prevendo os encaminhamentos de violações VI possibilitem situações de aprendizagem mediadas
para instâncias competentes. para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
§ 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na es- cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
colha dos modos de educação de suas crianças de 0 a 5 VII possibilitem vivências éticas e estéticas com outras
anos de idade, as propostas pedagógicas para os povos que crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de
optarem pela Educação Infantil devem: referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da
diversidade;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

VIII incentivem a curiosidade, a exploração, o encanta- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL


mento, o questionamento, a indagação e o conhecimento DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009 (*)
e à natureza; Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
IX promovam o relacionamento e a interação das crian- cação Infantil
ças com diversificadas manifestações de música, artes plás-
ticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse-
literatura; lho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais,
X promovam a interação, o cuidado, a preservação e o com fundamento no art. 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024,
conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei
vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e tendo em vista o
naturais; Parecer CNE/CEB nº 20/2009, homologado por Despacho do
XI propiciem a interação e o conhecimento pelas crian- Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU
ças das manifestações e tradições culturais brasileiras; de 9 de dezembro de 2009, resolve:
XII possibilitem a utilização de gravadores, projetores, Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curri-
computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos culares Nacionais para a Educação Infantil a serem observa-
tecnológicos e midiáticos. das na organização de propostas pedagógicas na Educação
Parágrafo único As creches e pré-escolas, na elaboração Infantil.
da proposta curricular, de acordo com suas características, Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
identidade institucional, escolhas coletivas e particularida- ção Infantil articulam-se com as Diretrizes Curriculares Na-
des pedagógicas, estabelecerão modos de integração des- cionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamen-
sas experiências. tos e procedimentos definidos pela Câmara de Educação
Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as
procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagó- políticas públicas na área e a elaboração, planejamento, exe-
gico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem cução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares.
objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido
I a observação crítica e criativa das atividades, das brin- como um conjunto de práticas que buscam articular as ex-
cadeiras e interações das crianças no cotidiano; periências e os saberes das crianças com os conhecimentos
II utilização de múltiplos registros realizados por adultos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvi-
III a continuidade dos processos de aprendizagens por mento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.
meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil
momentos de transição vividos pela criança (transição casa/ deverão considerar que a criança, centro do planejamento
instituição de Educação Infantil, transições no interior da ins- curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas intera-
tituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/ ções, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói
Ensino Fundamental); sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
IV documentação específica que permita às famílias co- deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
nhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os pro- constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzin-
cessos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na do cultura.
Educação Infantil; Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação
V a não retenção das crianças na Educação Infantil. Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se
Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a pro- caracterizam como espaços institucionais não domésticos
posta pedagógica deve prever formas para garantir a con- que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou
tinuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimen- privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos
to das crianças, respeitando as especificidades etárias, sem de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial,
antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino regulados e supervisionados por órgão competente do sis-
Fundamental. tema de ensino e submetidos a controle social.
Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar orien- § 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação
tações para a implementação dessas Diretrizes. Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de
Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data seleção.
de sua publicação, revogando-se as disposições em contrá- § 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de
rio, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 1/99. crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março
do ano em que ocorrer a matrícula.
§ 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de
março devem ser matriculadas na Educação Infantil.
§ 4º A frequência na Educação Infantil não é pré-requisi-
to para a matrícula no Ensino Fundamental.
(*) Resolução CNE/CEB 5/2009. Diário Oficial da União,
Brasília, 18 de dezembro de 2009, Seção 1, p. 18.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 5º As vagas em creches e pré-escolas devem ser ofe- IV - o estabelecimento de uma relação efetiva com a
recidas próximas às residências das crianças. comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão
§ 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial, democrática e a consideração dos saberes da comunidade;
a jornada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tem- V - o reconhecimento das especificidades etárias, das
po integral, a jornada com duração igual ou superior a sete singularidades individuais e coletivas das crianças, promo-
horas diárias, compreendendo o tempo total que a criança vendo interações entre crianças de mesma idade e crianças
permanece na instituição. de diferentes idades;
Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil VI - os deslocamentos e os movimentos amplos das
devem respeitar os seguintes princípios: crianças nos espaços internos e externos às salas de referên-
I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solida- cia das turmas e à instituição;
riedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e VII - a acessibilidade de espaços, materiais, objetos,
às diferentes culturas, identidades e singularidades. brinquedos e instruções para as crianças com deficiência,
II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/
criticidade e do respeito à ordem democrática. superdotação;
III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludici- VIII - a apropriação pelas crianças das contribuições
dade e da liberdade de expressão nas diferentes manifesta- histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes,
ções artísticas e culturais. asiáticos, europeus e de outros países da América;
Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta pe- IX - o reconhecimento, a valorização, o respeito e a in-
dagógica das instituições de Educação Infantil deve garantir teração das crianças com as histórias e as culturas africanas,
que elas cumpram plenamente sua função sociopolítica e afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à discri-
pedagógica: minação;
I - oferecendo condições e recursos para que as crianças X - a dignidade da criança como pessoa humana e a
usufruam seus direitos civis, humanos e sociais; proteção contra qualquer forma de violência – física ou sim-
II - assumindo a responsabilidade de compartilhar e bólica – e negligência no interior da instituição ou praticadas
complementar a educação e cuidado das crianças com as pela família, prevendo os encaminhamentos de violações
famílias; para instâncias competentes.
III - possibilitando tanto a convivência entre crianças e § 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na es-
entre adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e colha dos modos de educação de suas crianças de 0 a 5
conhecimentos de diferentes naturezas; anos de idade, as propostas pedagógicas para os povos que
IV - promovendo a igualdade de oportunidades educa- optarem pela Educação Infantil devem:
cionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que I - proporcionar uma relação viva com os conhecimen-
se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de tos, crenças, valores, concepções de mundo e as memórias
vivência da infância; de seu povo;
V - construindo novas formas de sociabilidade e de sub- II - reafirmar a identidade étnica e a língua materna
jetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, como elementos de constituição das crianças;
a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de rela- III - dar continuidade à educação tradicional oferecida
ções de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de na família e articular-se às práticas sócio-culturais de educa-
gênero, regional, linguística e religiosa. ção e cuidado coletivos da comunidade;
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Edu- IV - adequar calendário, agrupamentos etários e organi-
cação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança aces- zação de tempos, atividades e ambientes de modo a atender
so a processos de apropriação, renovação e articulação de as demandas de cada povo indígena.
conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, § 3º - As propostas pedagógicas da Educação Infantil
assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à con- das crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas,
fiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados
e à interação com outras crianças. da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da floresta,
§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas peda- devem:
gógicas das instituições de Educação Infantil deverão prever I - reconhecer os modos próprios de vida no campo
condições para o trabalho coletivo e para a organização de como fundamentais para a constituição da identidade das
materiais, espaços e tempos que assegurem: crianças moradoras em territórios rurais;
I - a educação em sua integralidade, entendendo o cui- II - ter vinculação inerente à realidade dessas popula-
dado como algo indissociável ao processo educativo; ções, suas culturas, tradições e identidades, assim como a
II - a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, práticas ambientalmente sustentáveis;
afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da III - flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e ativi-
criança; dades respeitando as diferenças quanto à atividade econô-
III - a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das mica dessas populações;
famílias, o respeito e a valorização de suas formas de orga- IV - valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas
nização; populações na produção de conhecimentos sobre o mundo
e sobre o ambiente natural;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

V - prever a oferta de brinquedos e equipamentos que I - a observação crítica e criativa das atividades, das brin-
respeitem as características ambientais e socioculturais da cadeiras e interações das crianças no cotidiano;
comunidade. II - utilização de múltiplos registros realizados por adul-
Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a pro- tos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);
posta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos III - a continuidade dos processos de aprendizagens por
norteadores as interações e a brincadeira, garantindo expe- meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes
riências que: momentos de transição vividos pela criança (transição casa/
I - promovam o conhecimento de si e do mundo por instituição de Educação Infantil, transições no interior da ins-
meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, tituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/
corporais que possibilitem movimentação ampla, expres- Ensino Fundamental);
são da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da IV - documentação específica que permita às famílias
criança; conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os
II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes lin- processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança
guagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros na Educação Infantil;
e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e V - a não retenção das crianças na Educação Infantil.
musical; Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a pro-
III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, posta pedagógica deve prever formas para garantir a con-
de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e tinuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimen-
convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e to das crianças, respeitando as especificidades etárias, sem
escritos; antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino
IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, Fundamental.
relações quantitativas, medidas, formas e orientações espa- Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar orien-
çotemporais; tações para a implementação dessas Diretrizes.
V - ampliem a confiança e a participação das crianças Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data
nas atividades individuais e coletivas; de sua publicação, revogando-se as disposições em contrá-
VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas rio, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 1/99.
para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 1/00 E PARECER
crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de CNE/CEB N° 11/00 - DIRETRIZES
referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da CURRICULARES NACIONAIS PARA A
diversidade; EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.
VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encan- DISPONÍVEIS EM: HTTP://PORTAL.MEC.
tamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento GOV.BR/CNE/ARQUIVOS/PDF/CEB012000.
das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo PDF HTTP://PORTAL.MEC.GOV.BR/SECAD/
e à natureza; ARQUIVOS/PDF/EJA/LEGISLACAO/
IX - promovam o relacionamento e a interação das
PARECER_11_2000.PDF
crianças com diversificadas manifestações de música, artes
plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia
e literatura;
X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 1, DE 5 DE JULHO DE 2000
o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos Educação e Jovens e Adultos.
naturais; O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con-
XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crian- selho Nacional de Educação, de conformidade com o dis-
ças das manifestações e tradições culturais brasileiras; posto no Art. 9º, § 1°, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de
XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131,
computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos de 25 de novembro de 1995, e tendo em vista o Pare-
tecnológicos e midiáticos. cer CNE/CEB 11/2000, homologado pelo Senhor Ministro
Parágrafo único - As creches e pré-escolas, na elabora- da Educação em 7 de junho de 2000,
ção da proposta curricular, de acordo com suas caracterís-
ticas, identidade institucional, escolhas coletivas e particu- RESOLVE:
laridades pedagógicas, estabelecerão modos de integração
dessas experiências. Art. 1º Esta Resolução institui as Diretrizes Curriculares
Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos a serem
procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagó- obrigatoriamente observadas na oferta e na estrutura dos
gico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem componentes curriculares de ensino fundamental e médio
objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: dos cursos que se desenvolvem, predominantemente, por
meio do ensino, em instituições próprias e integrantes da

54
LEGISLAÇÃO FEDERAL

organização da educação nacional nos diversos sistemas Art. 6º Cabe a cada sistema de ensino definir a es-
de ensino, à luz do caráter próprio desta modalidade de trutura e a duração dos cursos da Educação de Jovens e
educação. Adultos, respeitadas as diretrizes curriculares nacionais, a
identidade desta modalidade de educação e o regime de
Art. 2º A presente Resolução abrange os processos for- colaboração entre os entes federativos.
mativos da Educação de Jovens e Adultos como modali- Art. 7º Obedecidos o disposto no Art. 4º, I e VII da LDB
dade da Educação Básica nas etapas dos ensinos funda- e a regra da prioridade para o atendimento da escolarização
mental e médio, nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da universal obrigatória, será considerada idade mínima para
Educação Nacional, em especial dos seus artigos 4º, 5º ,37, a inscrição e realização de exames supletivos de conclusão
38, e 87 e, no que couber, da Educação Profissional. do ensino fundamental a de 15 anos completos.
§ 1º Estas Diretrizes servem como referência opcional Parágrafo único. Fica vedada, em cursos de Educa-
para as iniciativas autônomas que se desenvolvem sob a ção de Jovens e Adultos, a matrícula e a assistência de
forma de processos formativos extra-escolares na socieda- crianças e de adolescentes da faixa etária compreendida
de civil. na escolaridade universal obrigatória ou seja, de sete a
§ 2º Estas Diretrizes se estendem à oferta dos exames quatorze anos completos.
supletivos para efeito de certificados de conclusão das eta- Art. 8º Observado o disposto no Art. 4º, VII da LDB,
pas do ensino fundamental e do ensino médio da Educação a idade mínima para a inscrição e realização de exames
de Jovens e Adultos. supletivos de conclusão do ensino médio é a de 18 anos
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino completos.
Fundamental estabelecidas e vigentes na Resolução CNE/ § 1º O direito dos menores emancipados para os
CEB 2/98 se estendem para a modalidade da Educação atos da vida civil não se aplica para o da prestação de
de Jovens e Adultos no ensino fundamental. exames supletivos.
Art. 4º As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino § 2º Semelhantemente ao disposto no parágrafo úni-
Médio estabelecidas e vigentes na Resolução CNE/CEB co do Art. 7º, os cursos de Educação de Jovens e Adultos
3/98, se estendem para a modalidade de Educação de de nível médio deverão ser voltados especificamente
Jovens e Adultos no ensino médio. para alunos de faixa etária superior à própria para a con-
Art. 5º Os componentes curriculares consequentes ao clusão deste nível de ensino ou seja, 17 anos completos.
modelo pedagógico próprio da educação de jovens e adul- Art. 9º Cabe aos sistemas de ensino regulamentar,
tos e expressos nas propostas pedagógicas das unidades além dos cursos, os procedimentos para a estrutura e a
educacionais obedecerão aos princípios, aos objetivos e organização dos exames supletivos, em regime de cola-
às diretrizes curriculares tais como formulados no Parecer boração e de acordo com suas competências.
CNE/CEB 11/2000, que acompanha a presente Resolução, Parágrafo único. As instituições ofertantes informarão
nos pareceres CNE/CEB 4/98, CNE/CEB 15/98 e CNE/CEB aos interessados, antes de cada início de curso, os progra-
16/99, suas respectivas resoluções e as orientações próprias mas e demais componentes curriculares, sua duração, requi-
dos sistemas de ensino. sitos, qualificação dos professores, recursos didáticos dis-
Parágrafo único. Como modalidade destas etapas da poníveis e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir
Educação Básica, a identidade própria da Educação de Jo- as respectivas condições.
vens e Adultos considerará as situações, os perfis dos Art. 10. No caso de cursos semi-presenciais e a dis-
estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios tância, os alunos só poderão ser avaliados, para fins de
de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação certificados de conclusão, em exames supletivos presen-
e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na ciais oferecidos por instituições especificamente autoriza-
proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a das, credenciadas e avaliadas pelo poder público, dentro
assegurar: das competências dos respectivos sistemas, conforme a nor-
I - quanto à equidade, a distribuição específica dos ma própria sobre o assunto e sob o princípio do regime de
componentes curriculares a fim de propiciar um patamar colaboração.
igualitário de formação e restabelecer a igualdade de di- Art. 11. No caso de circulação entre as diferentes moda-
reitos e de oportunidades face ao direito à educação; lidades de ensino, a matrícula em qualquer ano das etapas
II- quanto à diferença, a identificação e o reconhe- do curso ou do ensino está subordinada às normas do res-
cimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e pectivo sistema e de cada modalidade.
dos adultos em seu processo formativo, da valorização
do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus Art. 12. Os estudos de Educação de Jovens e Adultos
conhecimentos e valores; realizados em instituições estrangeiras poderão ser aprovei-
III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alo- tados junto às instituições nacionais, mediante a avaliação
cação adequadas dos componentes curriculares face às dos estudos e reclassificação dos alunos jovens e adultos, de
necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos acordo com as normas vigentes, respeitados os requisitos
com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógi- diplomáticos de acordos culturais e as competências pró-
cas assegurem aos seus estudantes identidade formativa prias da autonomia dos sistemas.
comum aos demais participantes da escolarização básica. Art. 13. Os certificados de conclusão dos cursos a dis-
tância de alunos jovens e adultos emitidos por instituições

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

estrangeiras, mesmo quando realizados em cooperação ensino, deverão seguir o Art. 26 da LDB e as diretrizes curri-
com instituições sediadas no Brasil, deverão ser revalida- culares nacionais para o ensino fundamental.
dos para gerarem efeitos legais, de acordo com as normas § 1º A explicitação desses componentes curriculares
vigentes para o ensino presencial, respeitados os requisitos nos exames será definida pelos respectivos sistemas, res-
diplomáticos de acordos culturais. peitadas as especificidades da educação de jovens e adul-
Art. 14. A competência para a validação de cursos com tos.
avaliação no processo e a realização de exames supletivos § 2º A Língua Estrangeira, nesta etapa do ensino, é de
fora do território nacional é privativa da União, ouvido o Con- oferta obrigatória e de prestação facultativa por parte do
selho Nacional de Educação. aluno.
Art. 15. Os sistemas de ensino, nas respectivas áreas § 3º Os sistemas deverão prever exames supletivos
de competência, são co-responsáveis pelos cursos e pelas que considerem as peculiaridades dos portadores de ne-
formas de exames supletivos por eles regulados e autori- cessidades especiais.
zados. Art. 21. Os exames supletivos, para efeito de certifica-
Parágrafo único. Cabe aos poderes públicos, de acordo do formal de conclusão do ensino médio, quando autori-
com o princípio de publicidade: zados e reconhecidos pelos respectivos sistemas de ensino,
a) divulgar a relação dos cursos e dos estabeleci- deverão observar os Art. 26 e 36 da LDB e as diretrizes
mentos autorizados à aplicação de exames supletivos, curriculares nacionais do ensino médio.
bem como das datas de validade dos seus respectivos atos § 1º Os conteúdos e as competências assinalados nas
autorizadores. áreas definidas nas diretrizes curriculares nacionais do en-
b) acompanhar, controlar e fiscalizar os estabeleci- sino médio serão explicitados pelos respectivos sistemas,
mentos que ofertarem esta modalidade de educação observadas as especificidades da educação de jovens e
básica, bem como no caso de exames supletivos. adultos.§ 2º A língua estrangeira é componente obrigatório
Art. 16. As unidades ofertantes desta modalidade de na oferta e prestação de exames supletivos.
educação, quando da autorização dos seus cursos, apresen- § 3º Os sistemas deverão prever exames supletivos
tarão aos órgãos responsáveis dos sistemas o regimento que considerem as peculiaridades dos portadores de ne-
escolar para efeito de análise e avaliação. cessidades especiais.
Parágrafo único. A proposta pedagógica deve ser apre- Art. 22. Os estabelecimentos poderão aferir e reconhe-
sentada para efeito de registro e arquivo histórico. cer, mediante avaliação, conhecimentos e habilidades obti-
Art. 17 – A formação inicial e continuada de profissionais dos em processos formativos extra-escolares, de acordo
para a Educação de Jovens e Adultos terá como referência com as normas dos respectivos sistemas e no âmbito de
as diretrizes curriculares nacionais para o ensino funda- suas competências, inclusive para a educação profissional
mental e para o ensino médio e as diretrizes curriculares de nível técnico, obedecidas as respectivas diretrizes curri-
nacionais para a formação de professores, apoiada em: culares nacionais.
– I - ambiente institucional com organização adequada Art. 23. Os estabelecimentos, sob sua responsabilida-
à proposta pedagógica; de e dos sistemas que os autorizaram, expedirão históri-
II - investigação dos problemas desta modalidade de cos escolares e declarações de conclusão, e registrarão os
educação, buscando oferecer soluções teoricamente fun- respectivos certificados, ressalvados os casos dos certifi-
damentadas e socialmente contextuadas; cados de conclusão emitidos por instituições estrangei-
III - desenvolvimento de práticas educativas que corre- ras, a serem revalidados pelos órgãos oficiais competentes
lacionem teoria e prática; dos sistemas.
IV - utilização de métodos e técnicas que con- Parágrafo único. Na sua divulgação publicitária e nos
templem códigos e linguagens apropriados às situações documentos emitidos, os cursos e os estabelecimentos
específicas de aprendizagem. capacitados para prestação de exames deverão registrar o
Art. 18. Respeitado o Art. 5º desta Resolução, os cursos número, o local e a data do ato autorizador.
de Educação de Jovens e Adultos que se destinam ao ensi- Art. 24. As escolas indígenas dispõem de norma es-
no fundamental deverão obedecer em seus componentes pecífica contida na Resolução CNE/CEB 3/99, anexa ao
curriculares aos Art. 26, 27, 28 e 32 da LDB e às diretrizes Parecer CNE/CEB 14/99.
curriculares nacionais para o ensino fundamental. Parágrafo único. Aos egressos das escolas indígenas
Parágrafo único. Na organização curricular, competên- e postulantes de ingresso em cursos de educação de jo-
cia dos sistemas, a língua estrangeira é de oferta obrigatória vens e adultos, será admitido o aproveitamento destes
nos anos finais do ensino fundamental. estudos, de acordo com as normas fixadas pelos sistemas
Art. 19. Respeitado o Art. 5º desta Resolução, os cur- de ensino.
sos de Educação de Jovens e Adultos que se destinam ao Art. 25. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
ensino médio deverão obedecer em seus componentes cur- publicação, ficando revogadas as disposições em contrário.
riculares aos Art. 26, 27, 28, 35 e 36 da LDB e às diretrizes
curriculares nacionais para o ensino médio. I – RELATÓRIO
Art. 20. Os exames supletivos, para efeito de certifica- 1. Histórico
do formal de conclusão do ensino fundamental, quando Pedra angular da Educação Básica, o Ensino Fundamen-
autorizados e reconhecidos pelos respectivos sistemas de tal tem constituído foco central da luta pelo direito à educa-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

ção. Em consequência, no Brasil, nos últimos anos, sua orga- Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (AN-
nização e seu funcionamento têm sido objeto de mudanças FOPE), da Associação Nacional de Política e Administração
que se refletem nas expectativas de melhoria de sua quali- da Educação (ANPAE), da Associação Nacional de Pós-Gra-
dade e de ampliação de sua abrangência, consubstanciadas duação e Pesquisa em Educação ( ANPEd), da Confederação
em novas leis, normas, sistemas de financiamento, sistemas Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE), do Fórum
de avaliação e monitoramento, programas de formação e de Diretores de Centros, Faculdades e Departamentos de
aperfeiçoamento de professores e, o mais importante, em Educação das Universidades Públicas Brasileiras (FORUM-
preocupações cada vez mais acentuadas quanto à necessi- DIR), da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência
dade de um currículo e de novos projetos político-pedagó- (SBPC), da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos
gicos que sejam capazes de dar conta dos grandes desafios Deputados, da Comissão de Educação do Senado Federal,
educacionais da contemporaneidade. de coordenadores estaduais do Ensino Fundamental, entre
Entre as mudanças recentes mais significativas, atenção outros, além de professores, pesquisadores, dirigentes mu-
especial passou a ser dada à ampliação do Ensino Funda- nicipais e estaduais de ensino, bem como de representantes
mental para 9 (nove) anos de duração, mediante a matrícula de escolas privadas. Para a discussão dessas Diretrizes, fo-
obrigatória de crianças com 6 (seis) anos de idade, objeto da ram também realizadas duas reuniões com coordenadores
Lei nº 11.274/2006. Sobre isso, o Conselho Nacional de Edu- de Ensino Fundamental das Secretarias Estaduais de Edu-
cação (CNE), pelos esforços da Câmara de Educação Básica cação, em Brasília e Florianópolis, e inúmeras reuniões de
(CEB), vem produzindo um conjunto de normas orientadoras trabalho com técnicos e dirigentes do MEC, contando com
para as escolas, seus professores, alunos e suas famílias, bem as contribuições diretas da Secretária de Educação Básica
como para os órgãos executivos e normativos das redes e do MEC, Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, do Diretor
sistemas de ensino. Em todas essas orientações, o CNE tem de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação
insistido que a implantação do Ensino Fundamental de 9 Básica, Carlos Artexes Simões, da Coordenadora de Ensino
(nove) anos de duração implica na elaboração de um novo Fundamental, Edna Martins Borges, bem como de outros in-
currículo e de um novo projeto político-pedagógico. tegrantes de suas equipes.
Além das urgências provocadas por essas mudanças, as Os subsídios referentes ao currículo do Ensino Funda-
atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Funda- mental enviados pelo MEC a este Colegiado contaram com
mental (Parecer CNE/CEB nº 4/98 e Resolução CNE/CEB nº a colaboração das professoras Lucíola Licínio Santos, da
2/98), vigentes desde 1998, já vinham exigindo uma acurada Universidade Federal de Minas Gerais, e Elba Siqueira de Sá
revisão com vistas à sua atualização. Barretto, da Universidade de São Paulo e da Fundação Carlos
No primeiro semestre de 2009, o Sr Ministro da Educa- Chagas. Esta última também assessorou a Câmara de Educa-
ção, Fernando Haddad, solicitou ao CNE que o Colegiado ção Básica do CNE e, especialmente, este Relator, na redação
desse prioridade a esse esforço revisor e atualizador, incum- das diferentes minutas de Parecer e Projeto de Resolução
bindo a Secretaria de Educação Básica do MEC de preparar destas Diretrizes.
um documento inicial de referência sobre Diretrizes Curri- Um documento produzido dessa forma, portanto, não
culares Nacionais para o Ensino Fundamental, destinado a é obra de um autor, mas obra coletiva. Do mesmo modo,
subsidiar os estudos e debates que se seguiriam. o currículo, o projeto projeto políticopedagógico, os pro-
Desde então, uma intensa jornada de trabalho foi or- gramas e projetos educacionais, matéria prima do trabalho
ganizada e implementada. Ao receber o documento minis- criativo dos professores e das escolas, devem ter por base a
terial, a Câmara de Educação Básica do CNE constituiu uma abordagem democrática e participativa na sua concepção e
comissão formada pelas conselheiras Clélia Brandão Alva- implementação.
renga Craveiro, Regina Vinhaes Gracindo e por este Relator Diretrizes Curriculares definidas em norma nacional pelo
(Portaria CNE/CEB nº 5, de 8 de dezembro de 2009). E, con- Conselho Nacional de Educação são orientações que devem
soante o padrão de trabalho que vem sendo adotado por ser necessariamente observadas na elaboração dos currícu-
este Colegiado no trato de todos os temas relevantes sob los e dos projetos político-pedagógicos das escolas. Essa
a sua responsabilidade normativa, foi organizada uma série elaboração é, contudo, de responsabilidade das escolas,
de audiências públicas e reuniões técnicas de modo a pro- seus professores, dirigentes e funcionários, com a indispen-
porcionar a necessária participação de todos os segmentos sável participação das famílias e dos estudantes. É, também,
e instituições educacionais das diferentes regiões do Brasil. responsabilidade dos gestores e órgãos normativos das re-
Propostas foram intensamente debatidas, críticas foram aco- des e dos sistemas de ensino, consideradas a autonomia e a
lhidas e idéias incorporadas. Nos últimos meses, o CNE reali- responsabilidade conferidas pela legislação brasileira a cada
zou três audiências públicas nacionais (Salvador: 12/3/2010, instância. O que se espera é que esse documento contri-
Brasília: 5/4/2010, e São Paulo: 16/4/2010), com a participa- bua efetivamente para o êxito desse trabalho e, assim, para
ção ativa da Secretaria de Educação Básica do MEC (SEB/ a melhoria da qualidade do Ensino Fundamental brasileiro,
MEC), Secretaria de Educação Especial do MEC (SEESP/MEC), um direito de todos.
do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educa- Por fim, cumpre esclarecer que o presente Parecer e seu
ção (CONSED), da União Nacional dos Dirigentes Municipais Projeto de Resolução não completam o trabalho concebido
de Educação (UNDIME), da União Nacional dos Conselhos pela Câmara de Educação Básica do CNE para a elabora-
Municipais de Educação (UNCME), do Fórum Nacional dos ção das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
Conselhos Estaduais de Educação (FNCEE), da Associação sino Fundamental. Etapa complementar e importante será

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

iniciada nos próximos meses a partir de nova contribuição Já os direitos sociais se referem aos direitos que depen-
proveniente do Ministério da Educação. De comum acordo dem da ação do Estado para serem concretizados e estão
quando da redação dos termos dessas Diretrizes, o MEC se associados, fundamentalmente, à melhoria das condições
compromete a enviar a este Colegiado propostas de expec- de vida do conjunto da população, relacionando-se com a
tativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares que questão da igualdade social. São exemplos de direito social,
devem ser atingidas pelos alunos em diferentes estágios do o próprio direito à educação, à moradia, à saúde, ao trabalho
Ensino Fundamental. Portanto, em complementação, um etc.
novo Parecer e um novo Projeto de Resolução com essas Nas últimas décadas, tem se firmado, ainda, como re-
expectativas de aprendizagem serão objeto de elaboração sultado de movimentos sociais, o direito à diferença, como
do CNE nos próximos meses. também tem sido chamado o direito de grupos específicos
verem atendidas suas demandas, não apenas de natureza
2. Fundamentos social, mas também individual. Ele tem como fundamento a
idéia de que devem ser consideradas e respeitadas as dife-
O direito à educação como fundamento maior destas renças que fazem parte do tecido social e assegurado lugar
Diretrizes à sua expressão. O direito à diferença, assegurado no espaço
público, significa não apenas a tolerância ao outro, aquele
O Ensino Fundamental, de frequência compulsória, é que é diferente de nós, mas implica a revisão do conjunto
uma conquista resultante da luta pelo direito à educação dos padrões sociais de relações da sociedade, exigindo uma
travada nos países do ocidente ao longo dos dois últimos mudança que afeta a todos, o que significa que a questão
séculos por diferentes grupos sociais, entre os quais avultam da identidade e da diferença tem caráter político. O direito
os setores populares. Esse direito está fortemente associado à diferença se manifesta por meio da afirmação dos direitos
ao exercício da cidadania, uma vez que a educação como das crianças, das mulheres, dos jovens, dos homossexuais,
processo de desenvolvimento do potencial humano garante dos negros, dos indígenas, das pessoas com deficiência, en-
o exercício dos direitos civis, políticos e sociais. De acordo tre outros, que para de fato se efetivarem, necessitam ser
com Cury (2002), seja por razões políticas, seja por razões li- socialmente reconhecidos.
gadas ao indivíduo, a educação foi tida historicamente como Trata-se, portanto, de compreender como as identida-
um canal de acesso aos bens sociais e à luta política e, como des e as diferenças são construídas e que mecanismos e
tal, também um caminho de emancipação do indivíduo. Pelo instituições estão implicados na construção das identidades,
leque de campos atingidos pela educação, ela tem sido con- determinando a valorização de uns e o desprestígio de ou-
siderada, segundo o ponto de vista dos diferentes grupos tros. É nesse contexto que emerge a defesa de uma educa-
sociais, ora como síntese dos direitos civis, políticos e sociais, ção multicultural.
ora como fazendo parte de cada um desses direitos. Os direitos civis, políticos e sociais focalizam, pois, direta
Resumidamente, pode-se dizer que os direitos civis di- ou indiretamente, o tratamento igualitário, e estão em con-
zem respeito aos direitos do indivíduo garantidos pela legis- sonância com a temática da igualdade social. Já o direito à
lação de cada país, como por exemplo, o direito à privacida- diferença busca garantir que, em nome da igualdade, não
de, à liberdade de opinião e de crenças e o direito à defesa se desconsiderem as diferenças culturais, de cor/raça/etnia,
diante de qualquer acusação. A luta pelos direitos civis ba- gênero, idade, orientação sexual, entre outras. Em decorrên-
seou-se, historicamente, na luta pela igualdade, perante a cia, espera-se que a escola esteja atenta a essas diferenças,
Lei, de todas as camadas da população, independente de a fim de que em torno delas não se construam mecanismos
origem social, credo religioso, cor, etnia, gênero e orienta- de exclusão que impossibilitem a concretização do direito à
ção sexual. Assim, a educação é um direito civil por ser ga- educação, que é um direito de todos.
rantida pela legislação brasileira como direito do indivíduo, Todos esses direitos estão englobados nos direitos hu-
independente de sua situação econômica, social e cultural. manos, cuja característica é a de serem universais e sem dis-
O direito político, indo muito além do direito de votar e tinção de espécie alguma, uma vez que decorrem da digni-
ser votado, está relacionado com a inserção plena do con- dade intrínseca a todo o ser humano. Na Declaração Uni-
junto de indivíduos nos processos decisórios que ocorrem versal dos Direitos Humanos, promulgada pela Organização
nas diferentes esferas da vida pública. Implica, ainda, o reco- das Nações Unidas (ONU), em 1948, a educação tem por ob-
nhecimento de que os cidadãos, mais do que portadores de jetivo o pleno desenvolvimento da pessoa humana e o forta-
direitos, são criadores de novos direitos e de novos espaços lecimento do respeito aos direitos humanos e às liberdades
para expressá-los. A educação é, portanto, também um di- fundamentais, aos quais, posteriormente, se agrega a neces-
reito político porque a real participação na vida pública exi- sidade de capacitar a todos para participarem efetivamente
ge que os indivíduos, dentre outras coisas, estejam informa- de uma sociedade livre. Na Convenção sobre os Direitos da
dos, saibam analisar posições divergentes, saibam elaborar Criança, celebrada pelo Fundo das Nações Unidas para a In-
críticas e se posicionar, tenham condições de fazer valer suas fância (UNICEF), em 1989, acrescenta-se, ainda, a finalidade
reivindicações por meio do diálogo e de assumir respon- de incutir no educando o respeito ao meio ambiente natural,
sabilidades e obrigações, habilidades que cabe também à à sua identidade cultural e aos valores nacionais e de outras
escola desenvolver. Outrossim, importância é dada também civilizações.
à educação por razões políticas associadas à necessidade de A Constituição Federal de 1988, ao reconhecer esses
preservar o regime democrático. direitos, traduz a adesão da Nação a princípios e valores

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

amplamente compartilhados no concerto internacional. O entre os anos 70 e 80, ela estava muito presa às condições
inciso I do art. nº 208 da Carta Magna, Seção da Educação, básicas de funcionamento das escolas, porque seus partici-
declara que o dever do Estado se efetiva com a garantia do pantes, pouco escolarizados, tinham dificuldade de perceber
“Ensino Fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, as nuanças dos projetos educativos que as instituições de
inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não ensino desenvolviam. Na década de 90, sob o argumento
tiveram acesso na idade própria”. Por sua vez, o § 1º desse de que o Brasil investia muito na educação, porém gastava
mesmo artigo afirma que “o acesso ao ensino obrigatório e mal, prevaleceram preocupações com a eficácia e a eficiên-
gratuito é direito público subjetivo”. cia das escolas e a atenção voltou-se, predominantemente,
Por ser direito público subjetivo, o Ensino Fundamental para os resultados por elas obtidos quanto ao rendimento
exige que o Estado determine a sua obrigatoriedade, que só dos alunos. A qualidade priorizada somente nesses termos
pode ser garantida por meio da gratuidade de ensino, o que pode, contudo, deixar em segundo plano a superação das
irá permitir o usufruto desse direito por parte daqueles que desigualdades educacionais.
se virem privados dele. Outro conceito de qualidade passa, entretanto, a ser
Se essa etapa de ensino, sendo um direito fundamental, gestado por movimentos de renovação pedagógica, movi-
é direito do cidadão, uma vez que constitui uma garantia mentos sociais, de profissionais e por grupos políticos: o da
mínima de formação para a vida pessoal, social e política. É qualidade social da educação. Ela está associada às mobili-
dever do Estado, dos sistemas de ensino e das escolas as- zações pelo direito à educação, à exigência de participação
segurarem que todos a ela tenham acesso e que a cursem e de democratização e comprometida com a superação das
integralmente, chegando até à conclusão do processo de desigualdades e injustiças.
escolarização que lhe corresponde. Além disso, todos têm Em documento de 2007, a Organização das Nações Uni-
o direito de obter o domínio dos conhecimentos escolares das para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ao en-
previstos para essa etapa e de adquirir os valores, atitudes tender que a qualidade da educação é também uma ques-
e habilidades derivados desses conteúdos e das interações tão de direitos humanos, defende conceito semelhante. Para
que ocorrem no processo educativo. além da eficácia e da eficiência, advoga que a educação de
qualidade, como um direito fundamental, deve ser antes de
A oferta de uma educação com qualidade social tudo relevante, pertinente e equitativa. A relevância repor-
ta-se à promoção de aprendizagens significativas do ponto
O Ensino Fundamental foi, durante a maior parte do sé- de vista das exigências sociais e de desenvolvimento pes-
culo XX, o único grau de ensino a que teve acesso a gran- soal. A pertinência refere-se à possibilidade de atender às
de maioria da população. Em 1989, já na virada da última necessidades e às características dos estudantes de diversos
década, portanto, a proporção de suas matrículas ainda re- contextos sociais e culturais e com diferentes capacidades e
presentava mais de ¾ do total de alunos atendidos pelos interesses. E a equidade, à necessidade de tratar de forma
sistemas escolares brasileiros em todas as etapas de ensino. diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto de
Em 2009, o perfil seletivo da nossa escola havia se atenuado partida, com vistas a obter aprendizagens e desenvolvimen-
um pouco, com a expansão do acesso às diferentes etapas to equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de direito
da escolaridade. Contudo, entre os 52,6 milhões de alunos à educação.
da Educação Básica, cerca de 66,4% estavam no Ensino Fun- Na perspectiva de contribuir para a erradicação das de-
damental, o que correspondia a 35 milhões de estudantes, sigualdades e da pobreza, a busca da equidade requer que
incluídos entre eles os da Educação Especial e os da Educa- se ofereçam mais recursos e melhores condições às escolas
ção de Jovens e Adultos (conforme a Sinopse Estatística da menos providas e aos alunos que deles mais necessitem. Ao
Educação Básica, MEC/INEP 2009). lado das políticas universais, dirigidas a todos sem requisito
Se praticamente conseguimos universalizar o acesso à de seleção, é preciso também sustentar políticas reparado-
escola para crianças e jovens na faixa etária de 7 (sete) a 14 ras que assegurem maior apoio aos diferentes grupos so-
(quatorze) anos, e estamos próximos de assegurá-la a todas ciais em desvantagem.
as crianças de 6 (seis) anos, não conseguimos sequer que Para muitos, a educação é considerada a mola propul-
todos os alunos incluídos nessa faixa de idade cheguem a sora das transformações do país. No entanto, o que se cons-
concluir o Ensino Fundamental. Isso é um indicativo de quão tata é que problemas econômicos e sociais repercutem na
insuficiente tem sido o processo de inclusão escolar para o escola e dificultam o alcance de seus objetivos. A garantia do
conjunto da população, a despeito dos avanços obtidos no Ensino Fundamental de qualidade para todos está intima-
que se refere ao acesso à escola, e de quão inadequada per- mente relacionada ao caráter inclusivo da escola e à redução
manece sendo a nossa estrutura educacional. da pobreza, ao mesmo tempo em que tem um papel impor-
Mas, de que qualidade está-se falando? tante nesse processo. As políticas educacionais só surtirão
O conceito de qualidade da educação é uma construção efeito se articuladas a outras políticas públicas no campo
histórica que assume diferentes significados em tempos e da saúde, habitação, emprego, dentre outros, porque essas
espaços diversos e tem a ver com os lugares de onde falam políticas dependem umas das outras, pelo estreito relacio-
os sujeitos, os grupos sociais a que pertencem, os interesses namento que mantêm entre si. Assim, se para ingressar e
e os valores envolvidos, os projetos de sociedade em jogo. transitar no mundo do trabalho a educação se torna cada
Conforme argumenta Campos (2008), para os movi- vez mais necessária, ela depende, por sua vez, das dispo-
mentos sociais que reivindicavam a qualidade da educação nibilidades de emprego, tanto para que os pais consigam

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

criar seus filhos com dignidade, como, também, para que


os estudantes vislumbrem na educação escolar o aumento 3. Trajetória do Ensino Fundamental obrigatório no país
das possibilidades de inserção nesse mundo. Se os cuidados
com a saúde dependem da educação, a educação também No Brasil, foi a Constituição de 1934 a primeira a deter-
requer que os alunos tenham a assistência para os proble- minar a obrigatoriedade do ensino primário ou fundamen-
mas de seu bemestar físico, os quais se refletem nas suas tal, com a duração de 4 (quatro) anos. A Carta Constitucional
condições de aprendizagem. promulgada em 1967 amplia para 8 (oito) anos essa obri-
A educação escolar, comprometida com a igualdade gatoriedade e, em decorrência, a Lei nº 5.692/71 modifica a
de acesso ao conhecimento a todos e especialmente em- estrutura do ensino, unificando o curso primário e o ginásio
penhada em garantir esse acesso aos grupos da população em um único curso, o chamado 1º grau, com duração de 8
em desvantagem na sociedade, será uma educação com (oito) anos. O ensino de 2º grau – atual Ensino Médio – tor-
qualidade social e contribuirá para dirimir as desigualdades na-se profissionalizante.
historicamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, De acordo com a tradição federativa brasileira, os Esta-
a permanência e o sucesso de todos na escola, com a con- dos, a partir de princípios e orientações gerais da esfera fe-
sequente redução da evasão, da retenção e das distorções deral, se encarregaram de elaborar as propostas curriculares
de idade/ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução para as escolas de 1º grau pertencentes ao seu sistema de
CNE/CEB n° 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Na- ensino, quais sejam, as estaduais, as municipais e as priva-
cionais Gerais para a Educação Básica). das, localizadas no seu território.
Anos antes da promulgação da atual Lei de Diretrizes e
Princípios norteadores Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), algumas redes
escolares passaram a adotar medidas de expansão do Ensi-
Os sistemas de ensino e as escolas adotarão como nor- no Fundamental para 9 (nove) anos, mediante a incorpora-
teadores das políticas educativas e das ações pedagógicas ção das crianças de 6 (seis) anos de idade, por vezes proce-
os seguintes princípios: dentes das numerosas classes de alfabetização que existiam
Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; em vários Estados e Municípios. Na sua redação original, a
de respeito à dignidade da pessoa humana e de compro- LDB se mostra bastante flexível quanto à duração do Ensino
misso com a promoção do bem de todos, contribuindo para Fundamental, estabelecendo como mínima a sua duração
combater e eliminar quaisquer manifestações de preconcei- de 8 (oito) anos e sinalizando, assim, para a ampliação dessa
to e discriminação. etapa da Educação Básica.
Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de O Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001) es-
cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do tabelece como Meta 1 a universalização do Ensino Funda-
regime democrático e dos recursos ambientais; de busca da mental no prazo de 5 (cinco) anos, garantindo o acesso e a
equidade no acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos permanência de todas as crianças na escola, e a sua amplia-
bens culturais e outros benefícios; de exigência de diversi- ção para 9 (nove) anos, com início aos 6 (seis) anos de idade,
dade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos à medida que for sendo universalizado o atendimento de 7
entre os alunos que apresentam diferentes necessidades; de (sete) a 14 (quatorze) anos. A Meta 2, definida com base no
redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais. diagnóstico de que 87% das crianças de 6 (seis) anos já es-
Estéticos: de cultivo da sensibilidade juntamente com o tavam matriculadas em Pré-Escolas, classes de alfabetização
da racionalidade; de enriquecimento das formas de expres- ou mesmo no Ensino Fundamental, determina a sua amplia-
são e do exercício da criatividade; de valorização das dife- ção para 9 (nove) anos, com início aos 6 (seis) anos de idade,
rentes manifestações culturais, especialmente as da cultura à medida que for sendo universalizado o atendimento de
brasileira; de construção de identidades plurais e solidárias. 7 (sete) a 14 (quatorze) anos. A idéia central das propostas
Os objetivos que a Educação Básica busca alcançar, contidas no Plano é que a inclusão definitiva das crianças
quais sejam, propiciar o desenvolvimento do educando, as- nessa etapa educacional pode oferecer maiores oportunida-
segurar-lhe a formação comum indispensável para o exercí- des de aprendizagem no período da escolarização obriga-
cio da cidadania e fornecer-lhe os meios para que ele possa tória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de
progredir no trabalho e em estudos posteriores, segundo o ensino, elas prossigam nos estudos alcançando maior nível
artigo 22 da Lei nº 9.394/96 (LDB), bem como os objetivos de escolaridade.
específicos dessa etapa da escolarização (artigo 32 da LDB), Em 2005, a Lei nº 11.114 altera a LDB, tornando obri-
devem convergir para os princípios mais amplos que nor- gatória a matrícula das crianças de 6 (seis) anos de idade
teiam a Nação brasileira. no Ensino Fundamental, entretanto, dá margem para que se
Assim sendo, eles devem estar em conformidade com o antecipe a escolaridade de 8 (oito) anos para esses alunos, o
que define a Constituição Federal, no seu artigo 3º, a saber: que reduziria a idade de conclusão do Ensino Fundamental
a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, que em 1 (um) ano.
garanta o desenvolvimento nacional; que busque “erradicar Finalmente, a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006,
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades altera a redação da LDB, dispondo sobre a duração de 9
sociais e regionais”; e que promova “o bem de todos, sem (nove) anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obri-
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer gatória a partir dos 6 (seis) anos de idade, e concedendo aos
outras formas de discriminação”. sistemas de ensino o prazo até 2009 para que procedam às

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devidas adequações de modo que a partir de 2010 esse En- rosos estudos têm mostrado que as maiores desigualdades
sino Fundamental de 9 (nove) anos seja assegurado a todos. em relação às possibilidades de progressão escolar e de
Assim determinando, a Lei reflete a tendência de expan- realização de aprendizagens significativas na escola, embora
são da escolaridade obrigatória na maior parte dos países estejam fortemente associadas a fatores sociais e econômi-
desenvolvidos do ocidente e da própria América Latina, me- cos, mostram-se também profundamente entrelaçadas com
diante a incorporação das crianças menores de 7 (sete) anos as características culturais da população. As maiores desi-
ao Ensino Fundamental. Em vários países do continente, em gualdades educacionais são encontradas entre ricos e po-
que a faixa de escolarização compulsória se inicia aos 6 (seis) bres, mas elas também são grandes entre brancos, negros
anos de idade, verifica-se, ainda, que a obrigatoriedade tam- e outros grupos raciais e estão, por sua vez, particularmente
bém se estende às crianças do último ano da Pré-Escola. relacionadas à oferta educativa mais precária que restringe
O acesso ao Ensino Fundamental aos 6 (seis) anos per- as oportunidades de aprendizagem das populações mes-
mite que todas as crianças brasileiras possam usufruir do di- tiças e negras, ribeirinhas, indígenas, dos moradores das
reito à educação, beneficiando-se de um ambiente educati- áreas rurais, das crianças e jovens que vivem nas periferias
vo mais voltado à alfabetização e ao letramento, à aquisição urbanas, daqueles em situações de risco, das pessoas com
de conhecimentos de outras áreas e ao desenvolvimento de deficiência, e dos adolescentes, jovens e adultos que não
diversas formas de expressão, ambiente a que já estavam puderam estudar quando crianças.
expostas as crianças dos segmentos de rendas média e alta Essa diversidade econômica, social e cultural exige da
e que pode aumentar a probabilidade de seu sucesso no escola o conhecimento da realidade em que vivem os alu-
processo de escolarização. nos, pois a compreensão do seu universo cultural é impres-
O Conselho Nacional de Educação (CNE), cumprindo as cindível para que a ação pedagógica seja pertinente. Inseri-
suas funções normativas, tem elaborado Diretrizes e orien- da em contextos diferentes, a proposta político-pedagógica
tações que devem ser observadas pelos sistemas de ensino das escolas deve estar articulada à realidade do seu alunado
para a reorganização do Ensino Fundamental de 9 (nove) para que a comunidade escolar venha a conhecer melhor e
anos. Os sistemas de ensino e as escolas não poderão ape- valorizar a cultura local. Trata-se de uma condição impor-
nas adaptar seu currículo à nova realidade, pois não se trata tante para que os alunos possam se reconhecer como parte
de incorporar, no primeiro ano de escolaridade, o currículo dessa cultura e construir identidades afirmativas o que, tam-
da Pré-Escola, nem de trabalhar com as crianças de 6 (seis) bém, pode levá-los a atuar sobre a sua realidade e transfor-
anos os conteúdos que eram desenvolvidos com as crian- má-la com base na maior compreensão que adquirem sobre
ças de 7 (sete) anos. Trata-se, portanto, de criar um novo ela. Ao mesmo tempo, a escola deverá propiciar aos alunos
currículo e de um novo projeto político-pedagógico para o condições para transitarem em outras culturas, para que
Ensino Fundamental que abranja os 9 anos de escolarização, transcendam seu universo local e se tornem aptos a partici-
incluindo as crianças de 6 anos. par de diferentes esferas da vida social, econômica e política.
As múltiplas infâncias e adolescências
Matrícula no Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e
carga horária Os alunos do Ensino Fundamental regular são crianças
e adolescentes de faixas etárias cujo desenvolvimento está
O Ensino Fundamental com duração de 9 (nove) anos marcado por interesses próprios, relacionado aos seus as-
abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14 (qua- pectos físico, emocional, social e cognitivo, em constante in-
torze) anos de idade e se estende, também, a todos os que, teração. Como sujeitos históricos que são, as características
na idade própria, não tiveram condições de frequentá-lo. de desenvolvimento dos alunos estão muito relacionadas
É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de com seus modos próprios de vida e suas múltiplas expe-
crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o riências culturais e sociais, de sorte que mais adequado seria
dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos falar de infâncias e adolescências no plural.
termos da Lei e das normas nacionais vigentes. As crianças Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a criança de-
que completarem 6 (seis) anos após essa data deverão ser senvolve a capacidade de representação, indispensável para
matriculadas na Educação Infantil (Pré-Escola). a aprendizagem da leitura, dos conceitos matemáticos bási-
A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental cos e para a compreensão da realidade que a cerca, conheci-
regular será de 800 (oitocentas) mentos que se postulam para esse período da escolarização.
horas relógio, distribuídas em, pelo menos, 200 (duzen- O desenvolvimento da linguagem permite a ela reconstruir
tos) dias de efetivo trabalho escolar. pela memória as suas ações e descrevê-las, bem como pla-
nejá-las, habilidades também necessárias às aprendizagens
4. A população escolar previstas para esse estágio. A aquisição da leitura e da es-
crita na escola, fortemente relacionada aos usos sociais da
Como toda a população na faixa do ensino obrigatório escrita nos ambientes familiares de onde veem as crianças,
deve frequentar o Ensino Fundamental, nele também estão pode demandar tempos e esforços diferenciados entre os
representadas a grande diversidade sociocultural da popu- alunos da mesma faixa etária. A criança nessa fase tem maior
lação brasileira e as grandes disparidades socioeconômicas interação nos espaços públicos, entre os quais se destaca a
que contribuem para determinar oportunidades muito dife- escola. Esse é, pois, um período em que se deve intensificar a
renciadas de acesso dos alunos aos bens culturais. Nume- aprendizagem das normas da conduta social, com ênfase no

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

desenvolvimento de habilidades que facilitem os processos também pode favorecer o diálogo e a comunicação entre
de ensino e de aprendizagem. professores e alunos.
Mas é também durante a etapa da escolarização obri- Para tanto, é preciso que se ofereça aos professores for-
gatória que os alunos entram na puberdade e se tornam mação adequada para o uso das tecnologias da informação
adolescentes. Eles passam por grandes transformações bio- e comunicação e que seja assegurada a provisão de recur-
lógicas, psicológicas, sociais e emocionais. Os adolescentes, sos midiáticos atualizados e em número suficiente para os
nesse período da vida, modificam as relações sociais e os alunos.
laços afetivos, intensificando suas relações com os pares de Novos desafios se colocam também para a função do-
idade e as aprendizagens referentes à sexualidade e às re- cente diante do aumento das informações nas sociedades
lações de gênero, acelerando o processo de ruptura com a contemporâneas e da mudança da sua natureza. Mesmo
infância na tentativa de construir valores próprios. Ampliam- quando experiente, o professor muitas vezes terá que se
-se as suas possibilidades intelectuais, o que resulta na capa- colocar na situação de aprendiz e buscar junto com os alu-
cidade de realização de raciocínios mais abstratos. Os alunos nos as respostas para as questões suscitadas. Seu papel de
se tornam crescentemente capazes de ver as coisas a partir orientador da pesquisa e da aprendizagem sobreleva, assim,
do ponto de vista dos outros, superando, dessa maneira, o o de mero transmissor de conteúdos.
egocentrismo próprio da infância. Essa capacidade de des-
centração é importante na construção da autonomia e na A ampliação dos objetivos da escola em face do seu alu-
aquisição de valores morais e éticos. nado
Os professores, atentos a esse processo de desenvolvi-
mento, buscarão formas de trabalho pedagógico e de diálo- Crianças e adolescentes brasileiros também estão sujei-
go com os alunos, compatíveis com suas idades, lembrando tos à violência doméstica, ao abuso e à exploração sexual,
sempre que esse processo não é uniforme e nem contínuo. a formas de trabalho não condizentes com a idade, à falta
Entre os adolescentes de muitas escolas, é frequente de cuidados essenciais com a saúde, aspectos em relação
observar forte adesão aos padrões de comportamento dos aos quais a escola, como instituição responsável pelos alu-
jovens da mesma idade, o que é evidenciado pela forma de nos durante o seu período de formação – e muitas vezes o
se vestir e também pela linguagem utilizada por eles. Isso único canal institucional com quem a família mantém con-
requer dos educadores maior disposição para entender e tato – precisa estar atenta. Essas questões repercutem na
dialogar com as formas próprias de expressão das culturas aprendizagem e no desenvolvimento do aluno e, não raro,
juvenis, cujos traços são mais visíveis, sobretudo, nas áreas colocam o professor diante de situações para as quais as
urbanas mais densamente povoadas. práticas que ele conhece não surtem resultados. O trabalho
A exposição das crianças e adolescentes de praticamen- coletivo na escola poderá respaldá-lo de algum modo. No
te todas as classes sociais no Brasil à mídia e, em particu- entanto, ao se tratar de questões que extrapolam o âmbito
lar, à televisão durante várias horas diárias tem, por sua vez, das atividades escolares, cabe à escola manter-se articulada
contribuído para o desenvolvimento de formas de expres- com o Conselho Tutelar, com os serviços de apoio aos siste-
são entre os alunos que são menos precisas e mais atreladas mas educacionais e com instituições de outras áreas capazes
ao universo das imagens, o que torna mais difícil o trabalho de ministrar os cuidados e os serviços de proteção social a
com a linguagem escrita, de caráter mais argumentativo, no que esses alunos têm direito.
qual se baseia a cultura da escola. O tempo antes dedicado Deve-se considerar, ainda, que o crescimento da vio-
à leitura perde o lugar para as novelas, os programas de au- lência e da indisciplina, sobretudo nas escolas das grandes
ditório, os jogos irradiados pela TV, a internet, sendo que a cidades, tem dificultado sobremaneira a aprendizagem dos
linguagem mais universal que a maioria deles compartilha alunos e o trabalho dos professores, provocando entre es-
é a da música, ainda que, geralmente, a partir de poucos tes uma atitude de desânimo diante do magistério, revelada
gêneros musicais. pelo alto índice de absenteísmo dos docentes e pelas reite-
Novos desafios se colocam, pois, para a escola, que tam- radas licenças para tratamento de saúde.
bém cumpre um papel importante de inclusão digital dos Eles são reflexos não só da violência das sociedades con-
alunos. Ela precisa valer-se desses recursos e, na medida de temporâneas, mas também da violência simbólica da cultu-
suas possibilidades, submetê-los aos seus propósitos edu- ra da escola que impõe normas, valores e conhecimentos
cativos. Há que se considerar que a multiplicação dos meios tidos como universais e que não estabelece diálogo com a
de comunicação e informação nas sociedades de mercado cultura dos alunos, frequentemente conduzindo um número
em que vivemos contribui fortemente para disseminar entre considerável deles ao fracasso escolar. Não só o fracasso no
as crianças, jovens e população em geral o excessivo apelo rendimento escolar, mas também a possibilidade de fracas-
ao consumo e uma visão de mundo fragmentada, que induz sar que paira na escola, criam um efeito de halo que leva os
à banalização dos acontecimentos e à indiferença quanto alunos a se insurgirem contra as regras escolares.
aos problemas humanos e sociais. É importante que a escola O questionamento da escola que está por traz desses
contribua para transformar os alunos em consumidores crí- comportamentos deriva também da rápida obsolescência
ticos dos produtos oferecidos por esses meios, ao mesmo dos conhecimentos provocada pela multiplicação dos meios
tempo em que se vale dos recursos midiáticos como ins- de comunicação e do fato de, ao ter-se popularizado, o cer-
trumentos relevantes no processo de aprendizagem, o que tificado que ela oferece já não é mais garantia de ascensão e
mobilidade social como já foi nos períodos em que a escola

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

pública era altamente seletiva. Daí decorre que o professor, das condutas, atitudes e determinados interesses, como por
para assegurar a disciplina em sala de aula, condição neces- exemplo, a valorização e preservação do meio ambiente, os
sária para o trabalho pedagógico, precisa agora legitimar a cuidados com a saúde, entre outros. Esse mesmo processo
sua autoridade pedagógica junto aos alunos, o que requer ocorre com os demais componentes curriculares e áreas de
um esforço deliberado para manter o diálogo e a comuni- conhecimento, porque devem se submeter às abordagens
cação com eles. próprias aos estágios de desenvolvimento dos alunos, ao
Diante desse contexto, se torna imperativo um trabalho período de duração dos cursos, aos horários e condições
entre as instituições, as famílias e toda a sociedade no sen- em que se desenvolve o trabalho escolar e, sobretudo,
tido de valorizar a escola e o professor. Além disso, é neces- aos propósitos mais gerais de formação dos educandos. O
sária forte articulação da unidade escolar com a família e os acesso ao conhecimento escolar tem, portanto, dupla fun-
alunos no estabelecimento das normas de convívio social na ção: desenvolver habilidades intelectuais e criar atitudes e
escola, construídas com a participação ativa da comunidade comportamentos necessários para a vida em sociedade.
e dos alunos e registradas em um regimento escolar pauta- O aluno precisa aprender não apenas os conteúdos es-
do na legislação educacional e no Estatuto da Criança e do colares, mas também saber se movimentar na instituição
Adolescente (Lei nº 8.069/90). pelo conhecimento que adquire de seus valores, rituais e
normas, ou seja, pela familiaridade com a cultura da esco-
5. O currículo la. Ele costuma ir bem na escola quando compreende não
somente o que fica explícito, como o que está implícito no
Cabe primordialmente à instituição escolar a socializa- cotidiano escolar, ou seja, tudo aquilo que não é dito mas
ção do conhecimento e a recriação da cultura. De acordo que é valorizado ou desvalorizado pela escola em termos
com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Edu- de comportamento, atitudes e valores que fazem parte de
cação Básica (Parecer CNE/CEB nº7/2010 e Resolução CNE/ seu currículo oculto.
CEB nº 4/2010), uma das maneiras de se conceber o currí- É preciso, pois, que a escola expresse com clareza o que
culo é entendê-lo como constituído pelas experiências es- espera dos alunos, buscando coerência entre o que pro-
colares que se desdobram em torno do conhecimento, per- clama e o que realiza, ou seja, o que realmente ensina em
meadas pelas relações sociais, buscando articular vivências termos de conhecimento. Os alunos provenientes de gru-
e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente pos sociais cuja cultura é muito diferente daquela da escola,
acumulados e contribuindo para construir as identidades encontram na diferença entre o que é cobrado e o que é
dos estudantes. O foco nas experiências escolares significa ensinado por ela um obstáculo para o seu aproveitamen-
que as orientações e propostas curriculares que provêm das to. Eles precisam fazer um esforço muito maior do que os
diversas instâncias só terão concretude por meio das ações outros para entender a linguagem da escola, seus códigos
educativas que envolvem os alunos. ocultos, uma vez que a instituição pressupõe que certos co-
Os conhecimentos escolares podem ser compreendidos nhecimentos que ela não ensina são do domínio de todos,
como o conjunto de conhecimentos que a escola seleciona quando na verdade não são.
e transforma, no sentido de torná-los passíveis de serem A escola constitui a principal e, muitas vezes, a única for-
ensinados, ao mesmo tempo em que servem de elementos ma de acesso ao conhecimento sistematizado para a grande
para a formação ética, estética e política do aluno. As instân- maioria da população. Esse dado aumenta a responsabili-
cias que mantêm, organizam, orientam e oferecem recursos dade do Ensino Fundamental na sua função de assegurar a
à escola, como o próprio Ministério da Educação, as Secre- todos a aprendizagem dos conteúdos curriculares capazes
tarias de Educação, os Conselhos de Educação, assim como de fornecer os instrumentos básicos para a plena inserção
os autores de materiais e livros didáticos, transformam o na vida social, econômica e cultural do país. Michael Young
conhecimento acadêmico, segmentando-o de acordo com (2007) denomina “poderoso” o conhecimento que, entre as
os anos de escolaridade, ordenandoo em unidades e tó- crianças, adolescentes, jovens e adultos não pode ser adqui-
picos e buscam ainda ilustrá-lo e formulá-lo em questões rido apenas em casa e na comunidade, ou ainda nos locais
para muitas das quais já se têm respostas. Esse processo em de trabalho. Nas sociedades contemporâneas esse conheci-
que o conhecimento de diferentes áreas sofre mudanças, mento é o que permite estabelecer relações mais abrangen-
transformando-se em conhecimento escolar, tem sido cha- tes entre os fenômenos, e é principalmente na escola que
mado de transposição didática. ele tem condições de ser adquirido.
Também se diz que os conhecimentos produzidos nos Para isso, a escola, no desempenho das suas funções
diversos componentes curriculares, para adentrarem a es- de educar e cuidar, deve acolher os alunos dos diferentes
cola são recontextualizados de acordo com a lógica que grupos sociais, buscando construir e utilizar métodos, es-
preside as instituições escolares. Uma vez que as escolas tratégias e recursos de ensino que melhor atendam às suas
são instituições destinadas à formação das crianças, jovens características cognitivas e culturais. Acolher significa, pois,
e adultos, os conhecimentos escolares dos diferentes com- propiciar aos alunos meios para conhecerem a gramática
ponentes, além do processo de didatização que sofrem, da escola, oferecendo àqueles com maiores dificuldades e
passam a trazer embutido um sentido moral e político. As- menores oportunidades, mais incentivos e renovadas opor-
sim, a história da escola está indissoluvelmente ligada ao tunidades de se familiarizarem com o modo de entender a
exercício da cidadania; a ciência que a escola ensina está realidade que é valorizado pela cultura escolar.
impregnada de valores que buscam promover determina-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Acolher significa, também, garantir as aprendizagens diversas de exercício da cidadania, da experiência docente,
propostas no currículo para que o aluno desenvolva inte- do cotidiano e dos alunos.
resses e sensibilidades que lhe permitam usufruir dos bens Os conteúdos sistematizados que fazem parte do currí-
culturais disponíveis na comunidade, na sua cidade ou na culo são denominados componentes curriculares, os quais,
sociedade em geral, e que lhe possibilitem, ainda, sentir- por sua vez, se articulam às áreas de conhecimento, a saber:
-se como produtor valorizado desses bens. Ao lado disso, Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências
a escola é, por excelência, o lugar em que é possível ensi- Humanas. As áreas de conhecimento favorecem a comu-
nar e cultivar as regras do espaço público que conduzem nicação entre os conhecimentos e saberes dos diferentes
ao convívio democrático com as diferenças, orientado pelo componentes curriculares, mas permitem que os referenciais
respeito mútuo e pelo diálogo. É nesse espaço que os alunos próprios de cada componente curricular sejam preservados.
têm condições de exercitar a crítica e de aprender a assumir O currículo da base nacional comum do Ensino Funda-
responsabilidades em relação ao que é de todos. mental deve abranger obrigatoriamente, conforme o artigo
26 da LDB, o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática,
A base nacional comum e a parte diversificada: comple- o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade
mentaridade social e política, especialmente a do Brasil, bem como o en-
sino da Arte, a Educação Física e o Ensino Religioso.
O currículo do Ensino Fundamental tem uma base na- Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino
cional comum, complementada em cada sistema de ensino Fundamental serão assim organizados em relação às áreas
e em cada estabelecimento escolar por uma parte diversi- de conhecimento:
ficada. A base nacional comum e a parte diversificada do I – Linguagens:
currículo do Ensino Fundamental constituem um todo in- a) Língua Portuguesa
tegrado e não podem ser consideradas como dois blocos b) Língua materna, para populações indígenas
distintos. c) Língua Estrangeira moderna
A articulação entre a base nacional comum e a parte di- d) Arte
versificada do currículo do Ensino Fundamental possibilita e) Educação Física II – Matemática
a sintonia dos interesses mais amplos de formação básica III – Ciências da Natureza IV – Ciências Humanas:
do cidadão com a realidade local, as necessidades dos alu- a) História
nos, as características regionais da sociedade, da cultura e da b) Geografia
economia e perpassa todo o currículo. V Ensino Religioso
Voltados à divulgação de valores fundamentais ao inte- O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua
resse social e à preservação da ordem democrática, os co- portuguesa, mas às comunidades indígenas é assegurada
nhecimentos que fazem parte da base nacional comum a também “a utilização de suas línguas maternas e processos
que todos devem ter acesso, independentemente da região próprios de aprendizagem” (Constituição Federal, art. 210,
e do lugar em que vivem, asseguram a característica uni- §2º, e art. 32, §3º da LDB).
tária das orientações curriculares nacionais, das propostas O ensino da História do Brasil levará em conta as contri-
curriculares dos Estados, Distrito Federal e Municípios e dos buições das diferentes culturas e etnias para a formação do
projetos político-pedagógicos das escolas. povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africa-
Os conteúdos curriculares que compõem a parte diver- na e européia (art. 26, §4º da LDB). Ainda conforme o artigo
sificada do currículo serão definidos pelos sistemas de ensi- 26 A, alterado pela Lei nº 11.645/2008 (que inclui no currí-
no e pelas escolas, de modo a complementar e enriquecer o culo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
currículo, assegurando a contextualização dos conhecimen- “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”), a História e
tos escolares diante das diferentes realidades. É assim que, a a Cultura Afro-Brasileira, bem como a dos povos indígenas,
partir das Diretrizes Curriculares Nacionais e dos conteúdos presentes obrigatoriamente nos conteúdos desenvolvidos
obrigatórios fixados em âmbito nacional, conforme determi- no âmbito de todo o currículo escolar, em especial na Arte,
na a Constituição Federal em seu artigo 210, multiplicam-se Literatura e História do Brasil, assim como a História da Áfri-
as propostas e orientações curriculares de Estados e Muni- ca, contribuirão para assegurar o conhecimento e o reco-
cípios e, no seu bojo, os projetos político-pedagógicos das nhecimento desses povos para a constituição da nação. Sua
escolas, revelando a autonomia dos entes federados e das inclusão possibilita ampliar o leque de referências culturais
escolas nas suas respectivas jurisdições e traduzindo a plu- de toda a população escolar e contribui para a mudança das
ralidade de possibilidades na implementação dos currículos suas concepções de mundo, transformando os conhecimen-
escolares diante das exigências do regime federativo. tos comuns veiculados pelo currículo e contribuindo para a
Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a construção de identidades mais plurais e solidárias.
parte diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não ex-
desenvolvimento das linguagens, no mundo do trabalho e clusivo, do componente curricular Arte, o qual compreende,
na tecnologia, na produção artística, nas atividades despor- também, as artes visuais, o teatro e a dança.
tivas e corporais, na área da saúde, nos movimentos sociais, A Educação Física, componente obrigatório do currículo
e ainda incorporam saberes como os que advêm das formas do Ensino Fundamental, integra a proposta político-peda-
gógica da escola e será facultativa ao aluno apenas nas cir-
cunstâncias previstas na LDB.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é formal, propicia desenvolver empatia e respeito pelo outro,
parte integrante da formação básica do cidadão e consti- pelo que é diferente de nós, pelos alunos na sua diversidade
tui componente curricular dos horários normais das escolas étnica, regional, social, individual e grupal, e leva a conhecer
públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à as razões dos conflitos que se escondem por trás dos pre-
diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer conceitos e discriminações que alimentam as desigualdades
formas de proselitismo. sociais, étnico-raciais, de gênero e diversidade sexual, das
Na parte diversificada do currículo do Ensino Funda- pessoas com deficiência e outras, assim como os processos
mental, será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º ano, de dominação que têm, historicamente, reservado a poucos
o ensino de, pelo menos, uma Língua Estrangeira moderna, o direto de aprender, que é de todos.
cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar que po- A perspectiva multicultural no currículo leva, ainda, ao
derá optar, entre elas, pela Língua Espanhola, nos termos da reconhecimento da riqueza das produções culturais e à va-
Lei nº 11.161/2005. É necessário esclarecer que língua indí- lorização das realizações de indivíduos e grupos sociais e
gena ou outras formas usuais de expressão verbal de certas possibilita a construção de uma autoimagem positiva a mui-
comunidades não podem ocupar o lugar do ensino de Lín- tos alunos que vêm se defrontando constantemente com as
gua Estrangeira moderna. condições de fracasso escolar, agravadas pela discriminação
Os componentes curriculares e as áreas de conhecimen- manifesta ou escamoteada no interior da escola. Além de
to devem articular a seus conteúdos, a partir das possibilida- evidenciar as relações de interdependência e de poder na
des abertas pelos seus referenciais, a abordagem de temas sociedade e entre as sociedades e culturas, a perspectiva
abrangentes e contemporâneos, que afetam a vida humana multicultural tem o potencial de conduzir a uma profunda
em escala global, regional e local, bem como na esfera indi- transformação do currículo comum.
vidual. Temas como saúde, sexualidade e gênero, vida fami- Quando os conhecimentos escolares se nutrem de te-
liar e social, assim como os direitos das crianças e adolescen- mas da vida social, também é preciso que as escolas se apro-
tes, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente ximem mais dos movimentos que os alimentam, das suas
(Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambiente, nos termos demandas e encaminhamentos. Ao lado disso, a interação
da política nacional de educação ambiental (Lei nº 9.795/99), na escola entre os conhecimentos de referência disciplinar e
educação para o consumo, educação fiscal, trabalho, ciência aqueles provenientes das culturas populares pode possibi-
e tecnologia, diversidade cultural, devem permear o desen- litar o questionamento de valores subjacentes em cada um
volvimento dos conteúdos da base nacional comum e da deles e a necessidade de revê-los, ao mesmo tempo em que
parte diversificada do currículo. permite deixar clara a lógica que preside cada uma dessas
Outras leis específicas, que complementam a LDB, de- formas de conhecimento e que os torna diferentes uns dos
terminam ainda que sejam incluídos temas relativos à edu- outros, mas não menos importantes.
cação para o trânsito (Lei nº 9.503/97) e à condição e direitos
dos idosos, conforme a Lei nº 10.741/2003. A reinvenção do conhecimento e a apropriação da cul-
A transversalidade constitui uma das maneiras de traba- tura pelos alunos
lhar os componentes curriculares, as áreas de conhecimento
e os temas contemporâneos em uma perspectiva integrada, Ao procurar aliviar o peso do individualismo que ali-
tal como indicam as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais menta as sociedades contemporâneas, movidas predomi-
para a Educação Básica. Essa abordagem deve ser apoiada nantemente pelas forças do mercado, a possibilidade de
por meios adequados. Aos órgãos executivos dos sistemas uma cultura comum no ensino obrigatório tem de traduzir a
de ensino compete a produção e disseminação de materiais tensão permanente entre a universalização e a individualiza-
subsidiários ao trabalho docente, com o objetivo de contri- ção dos conhecimentos (Dussel, 2009).
buir para a eliminação de discriminações, racismos e precon- A leitura e a escrita, a História, as Ciências, a Arte, propi-
ceitos, e conduzir à adoção de comportamentos responsá- ciam aos alunos o encontro com um mundo que é diferente,
veis e solidários em relação aos outros e ao meio ambiente. mais amplo e diverso que o seu. Ao não se restringir à trans-
Na perspectiva de construção de uma sociedade mais missão de conhecimentos apresentados como verdades
democrática e solidária, novas demandas provenientes de acabadas e levar os alunos a perceberem que essas formas
movimentos sociais e de compromissos internacionais fir- de entender e de expressar a realidade possibilitam outras
mados pelo país, passam, portanto, a ser contempladas en- interpretações, a escola também oferece lugar para que os
tre os elementos que integram o currículo, como as referen- próprios educandos reinventem o conhecimento e criem e
tes à promoção dos direitos humanos. Muitas delas tendem recriem cultura.
a ser incluídas nas propostas curriculares pela adoção da O currículo não se esgota, contudo, nos componentes
perspectiva multicultural. Entende-se, que os conhecimen- curriculares e nas áreas de conhecimento. Valores, atitudes,
tos comuns do currículo criam a possibilidade de dar voz sensibilidades e orientações de conduta são veiculados não
a diferentes grupos como os negros, indígenas, mulheres, só pelos conhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais,
crianças e adolescentes, homossexuais, pessoas com defi- normas de convívio social, festividades, visitas e excursões,
ciência. pela distribuição do tempo e organização do espaço, pelos
Mais ainda: o conhecimento de valores, crenças, modos materiais utilizados na aprendizagem, pelo recreio, enfim,
de vida de grupos sobre os quais os currículos se calaram pelas vivências proporcionadas pela escola.
durante uma centena de anos sob o manto da igualdade

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Ao se debruçar sobre uma área de conhecimento ou coerente, articulado e integrado, de acordo com os modos
um tema de estudo, o aluno aprende, também, diferentes de ser e de se desenvolver das crianças e dos adolescentes
maneiras de raciocinar; é sensibilizado por algum aspecto nos diferentes contextos sociais. O projeto educativo pode
do tema tratado, constrói valores, torna-se interessado ou ser entendido como uma das formas de expressão dos pro-
se desinteressa pelo ensino. Assim, a aprendizagem de um pósitos educacionais que pode ser compartilhada por dife-
componente curricular ou de um problema a ser investiga- rentes escolas e redes.
do, bem como as vivências dos alunos no ambiente escolar, Ciclos, séries e outras formas de organização a que se
contribuem para formar e conformar as subjetividades dos refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como tempos
alunos, porque criam disposições para entender a realidade e espaços interdependentes e articulados entre si, ao longo
a partir de certas referências, desenvolvem gostos e prefe- dos 9 (nove) anos.
rências, levam os alunos a se identificarem com determina- Ao empenhar-se em garantir aos alunos uma educação
das perspectivas e com as pessoas que as adotam, ou a se de qualidade, todas as atividades da escola e a sua gestão
afastarem de outras. Desse modo, a escola pode contribuir deverão estar articuladas com esse propósito. O processo de
para que eles construam identidades plurais, menos fecha- enturmação dos alunos, a distribuição de turmas por profes-
das em círculos restritos de referência e para a formação de sor, as decisões sobre o currículo, a escolha dos livros didáti-
sujeitos mais compreensivos e solidários. cos, a ocupação do espaço, a definição dos horários e outras
Do ponto de vista da abordagem, reafirma-se a impor- tarefas administrativas e/ou pedagógicas precisam priorizar
tância do lúdico na vida escolar, não se restringindo sua pre- o atendimento aos interesses e necessidades dos alunos.
sença apenas à Arte e à Educação Física. Hoje se sabe que
no processo de aprendizagem a área cognitiva está insepa- A gestão democrática e participativa como garantia do
ravelmente ligada à afetiva e à emocional. Pode-se dizer que direito à educação
tanto o prazer como a fantasia e o desejo estão imbrica-
dos em tudo o que fazemos. Os estudos sobre a vida diária, O projeto político-pedagógico da escola e o seu regi-
sobre o homem comum e suas práticas, desenvolvidos em mento escolar devem ser elaborados por meio de processos
vários campos do conhecimento e, mais recentemente, pe- participativos próprios da gestão democrática.
los estudos culturais, introduziram no campo do currículo O projeto político-pedagógico traduz o projeto educa-
a preocupação de estabelecer conexões entre a realidade tivo construído pela comunidade escolar no exercício de sua
cotidiana dos alunos e os conteúdos curriculares. Há, sem autonomia com base nas características dos alunos, nos pro-
dúvida, em muitas escolas, uma preocupação com o prazer fissionais e recursos disponíveis, tendo como referência as
que as atividades escolares possam proporcionar aos alu- orientações curriculares nacionais e dos respectivos sistemas
nos. Não obstante, frequentemente parece que se tem con- de ensino.
fundido o prazer que decorre de uma descoberta, de uma Deve ser assegurada ampla participação dos profissio-
experiência estética, da comunhão de idéias, da solução de nais da escola, da família, dos alunos e da comunidade lo-
um problema, com o prazer hedonista que tudo reduz à sa- cal na definição das orientações imprimidas aos processos
tisfação do prazer pessoal, alimentado pela sociedade de educativos e nas formas de implementá-las. Estas devem ser
consumo. apoiadas por um processo contínuo de avaliação das ações
A escola tem tido dificuldades para tornar os conteú- de modo a assegurar a distribuição social do conhecimento
dos escolares interessantes pelo seu significado intrínseco. e contribuir para a construção de uma sociedade democrá-
É necessário que o currículo seja planejado e desenvolvido tica e igualitária.
de modo que os alunos possam sentir prazer na leitura de O regimento escolar deve assegurar as condições ins-
um livro, na identificação do jogo de sombra e luz de uma titucionais adequadas para a execução do projeto político-
pintura, na beleza da paisagem, na preparação de um traba- -pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com
lho sobre a descoberta da luz elétrica, na pesquisa sobre os qualidade social, igualmente garantida a ampla participação
vestígios dos homens primitivos na América e de sentirem da comunidade escolar na sua elaboração.
o estranhamento ante as expressões de injustiça social e de É a participação da comunidade que pode dar voz e vez
agressão ao meio ambiente. às crianças, aos adolescentes e às suas famílias, e também
As escolas devem propiciar ao aluno condições de de- aos que frequentam a Educação de Jovens e Adultos (EJA),
senvolver a capacidade de aprender, como quer a Lei nº criando oportunidades institucionais para que todos os seg-
9.394/96, em seu artigo 32, mas com prazer e gosto, tornan- mentos envolvidos no processo educativo, particularmente
do suas atividades desafiadoras, atraentes e divertidas. Isso aqueles pertencentes aos segmentos majoritários da popu-
vale tanto para a base nacional comum como para a parte lação que encontram grande dificuldade de se fazerem ouvir
diversificada. Esta última, por estar voltada para aspectos e e de fazerem valer os seus direitos, possam manifestar os
interesses regionais e locais, pode incluir a abordagem de seus anseios e expectativas e possam ser levados em conta,
temas que proporcionem aos estudantes maior compreen- tendo como referência a oferta de um ensino de qualidade
são e interesse pela realidade em que vivem. para todos.
O fato de o projeto político-pedagógico de muitas es-
6. O projeto político-pedagógico colas figurar apenas como um texto formal que cumpre uma
O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove) anos exigência burocrática, não significa que a escola não tenha
de duração exige a estruturação de um projeto educativo um projeto próprio. Significa que ele é, na verdade, um pro-

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jeto pedagógico fragmentado, em que cada professor se pertinência do que é abordado em face da diversidade dos
encerra no seu trabalho solitário para desenvolver o currí- estudantes, buscando a contextualização dos conteúdos e o
culo à sua maneira. seu tratamento flexível. Além do que, será preciso oferecer
As experiências das escolas que conseguem reverter o maior atenção, incentivo e apoio aos que deles demonstra-
jogo e obter melhorias significativas na qualidade do ensi- rem mais necessidade, com vistas a assegurar a igualdade
no seguem por caminhos bem variados, mas todas têm em de acesso ao conhecimento.
comum um fato: é por meio de um projeto educativo demo- Em relação à organização dos conteúdos, há necessida-
crático e compartilhado, em que os professores, a direção, de de superar o caráter fragmentário das áreas, buscando
os funcionários e a comunidade unem seus esforços e che- uma integração no currículo que possibilite tornar os conhe-
gam mais perto da escola que desejam. Isso não quer dizer cimentos abordados mais significativos para os educandos
que deve recair sobre as escolas e seus educadores toda a e favorecer a participação ativa de alunos com habilidades,
responsabilidade pela mudança da qualidade do ensino. Ao experiências de vida e interesses muito diferentes.
contrário, o esforço compartilhado necessita de forte apoio Os estudiosos do tema têm insistido na crítica aos currí-
dos órgãos gestores, dos sistemas de ensino e da comuni- culos em que as disciplinas apresentam fronteiras fortemen-
dade; mas ele é realmente insubstituível quando projeta o te demarcadas, sem conexões e diálogos entre elas. Criti-
desejo de mudar a escola para melhor. cam, também, os currículos que se caracterizam pela distân-
O regimento escolar e o projeto político-pedagógico, cia que mantêm com a vida cotidiana, pelo caráter abstrato
em conformidade com a legislação e as normas vigentes, do conhecimento trabalhado e pelas formas de avaliação
devem conferir espaço e tempo para que os profissionais da que servem apenas para selecionar e classificar os alunos,
escola e, em especial, os professores, possam participar de estigmatizando os que não se enquadram nas suas expecta-
reuniões de trabalho coletivo, planejar e executar as ações tivas. A literatura sobre currículo avança ao propor que o co-
educativas de modo articulado, avaliar os trabalhos dos alu- nhecimento seja contextualizado, permitindo que os alunos
nos, tomar parte em ações de formação continuada e esta- estabeleçam relações com suas experiências. Evitase, assim,
belecer contatos com a comunidade. a transmissão mecânica de um conhecimento que termina
No projeto político-pedagógico e no regimento escolar, por obscurecer o seu caráter provisório e que não leva ao
o aluno, centro do planejamento curricular, deve ser con- envolvimento ativo do estudante no processo de aprendiza-
siderado como sujeito que atribui sentidos à natureza e à gem (Moreira e Candau, 2008).
sociedade nas práticas sociais que vivencia, produzindo cul- Os componentes curriculares e as áreas de conhecimen-
tura, recriando conhecimentos e construindo sua identidade to, relacionados a um projeto educativo de longo prazo,
pessoal e social. Como sujeito de direitos, ele deve tomar como deve ser o da Educação Básica, concorrem de manei-
parte ativa na discussão e implementação das normas que ra decisiva para assegurar uma sistematização de conheci-
regem as formas de relacionamento na escola, fornecendo mentos imprescindível no Ensino Fundamental de 9 (nove)
indicações relevantes a respeito do que deve ser trabalhado anos, garantindo-lhe continuidade e consistência. Mas eles
no currículo ao tempo em que precisa ser incentivado a par- certamente devem ser trabalhados por diversas abordagens
ticipar das organizações estudantis. Dentro das condições integradoras. Continuidade e consistência não querem dizer
próprias da idade, mesmo as crianças menores poderão ma- uniformidade e padronização de sequências e conteúdos.
nifestar-se, por exemplo, sobre o que gostam e não gostam Têm sido numerosas e variadas as experiências das es-
na escola e também a respeito da escola com que sonham. colas brasileiras quanto ao esforço de integração do currícu-
Na implementação do projeto político-pedagógico, o lo. Há propostas curriculares ordenadas em torno de gran-
cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola, resul- des eixos articuladores; experiências de redes que trabalham
tarão em ações integradas que buscam articular-se peda- projetos de interdisciplinaridade com base em temas gera-
gogicamente no interior da própria instituição e, também, dores formulados a partir de problemas detectados na co-
externamente, com serviços de apoio aos sistemas educa- munidade; as que procuram enredar esses temas às áreas
cionais e com as políticas de outras áreas, para assegurar a de conhecimento; os chamados currículos em rede; as que
aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvimento do aluno propõem a integração do currículo por meio de conceitos-
em todas as suas dimensões. -chave ou ainda de conceitosnucleares que permitem tra-
As escolas necessitam se articular também com as insti- balhar as questões cognitivas e as questões culturais numa
tuições formadoras, com vistas a assegurar a atualização de perspectiva transversal.
seus profissionais tendo em conta as suas demandas espe- Atualmente, estão muito disseminadas nas escolas con-
cíficas. cepções diversas de projetos de trabalho, que se espera,
devem enriquecer o currículo tornando os conhecimentos
Relevância dos conteúdos, integração e abordagens do escolares mais vivos e desafiadores para os alunos. Entre-
currículo tanto, é importante que os vários projetos em andamento
em muitas escolas estejam articulados ao tratamento dos
Quanto ao planejamento curricular, há que se pensar na conteúdos curriculares e às áreas de conhecimento, evitan-
importância da seleção dos conteúdos e na sua forma de do a fragmentação e a dispersão provocadas por iniciativas
organização. No primeiro caso, é preciso considerar a rele- com propósitos diferentes e que não se comunicam entre
vância dos conteúdos selecionados para a vida dos alunos e si. É nesse sentido que deve ser operacionalizada a orienta-
para a continuidade de sua trajetória escolar, bem como a ção contida nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

a Educação Básica, quando preconizam o tratamento dos Para tanto, é fundamental contar com o apoio solidário
conteúdos curriculares por meio de projetos e que orientam dos sistemas de ensino e das próprias escolas no provimen-
que, para eles, sejam destinados pelo menos 20% da carga to de adequadas condições de trabalho e de outros recur-
horária de trabalho anual. sos, de acordo com os padrões mínimos de qualidade referi-
O fundamental no esforço de integração parece ser jus- dos no inciso IX, do art. 4º da LDB, e objeto de manifestação
tamente a necessária disposição, por parte dos professores, deste colegiado no Parecer CNE/CEB nº 8/2010.
de trabalhar juntos, de compartilhar com os colegas os acer- Os sistemas de ensino, as escolas e os professores, com
tos e as indagações que decorrem de posturas e práticas o apoio das famílias e da comunidade, devem envidar es-
ainda minoritárias no país. forços para assegurar o progresso contínuo dos alunos no
Os esforços de integração têm buscado maior conexão que se refere ao seu desenvolvimento pleno e à aquisição
com os problemas que os alunos e sua comunidade enfren- de aprendizagens significativas, lançando mão de todos os
tam, ou ainda com as demandas sociais e institucionais mais recursos disponíveis e criando renovadas oportunidades
amplas que a escola deve responder. Nesse processo, é pre- para evitar que a trajetória escolar discente seja retardada
ciso que os conteúdos curriculares não sejam banalizados. ou indevidamente interrompida. Devem, portanto, adotar as
Algumas escolas, por vezes, têm caído em extremos: a valo- providências necessárias para que a operacionalização do
rização apenas dos conteúdos escolares de referência disci- princípio da continuidade não seja traduzida como “promo-
plinar ou certa rejeição a esses conteúdos, sob o pretexto de ção automática” de alunos de um ano, série ou ciclo para o
que é preciso evitar o “conteudismo”. A literatura educacio- seguinte, e para que o combate à repetência não se trans-
nal tem mostrado que, em nome de um ensino que melhor forme em descompromisso com o ensino e a aprendizagem.
responda às exigências de competitividade das sociedades A organização do trabalho pedagógico deve levar em
contemporâneas, é frequente que a escola termine alijando conta a mobilidade e a flexibilização dos tempos e espa-
os alunos pertencentes às camadas populares do contato e ços escolares, a diversidade nos agrupamentos de alunos,
do aprendizado de conhecimentos essenciais à sua forma- as diversas linguagens artísticas, a diversidade de materiais,
ção, porque desconhece o universo material e simbólico das os variados suportes literários, as atividades que mobilizem
crianças, adolescentes, jovens e adultos e não faz a ponte de o raciocínio, as atitudes investigativas, a articulação entre a
que necessitam os alunos para dominar os conhecimentos escola e a comunidade e o acesso aos espaços de expressão
veiculados. cultural.
Por sua vez, alguns currículos muito centrados nas cul-
turas dos alunos, ao proporem às camadas populares uma As articulações do Ensino Fundamental e a continuidade
educação escolar calcada sobretudo na espontaneidade e da trajetória escolar dos alunos
na criatividade, terminam por reservar apenas para as eli-
tes uma educação que trabalha com abstrações e estimula Um desafio com que se depara o Ensino Fundamen-
a capacidade de raciocínio lógico. Assim sendo, vale repetir tal diz respeito à sua articulação com as demais etapas da
que os segmentos populares, ao lutarem pelo direito à es- educação, especialmente com a Educação Infantil e com
cola e à educação, aspiram apossar-se dos conhecimentos o Ensino Médio. A falta de articulação entre as diferentes
que, transcendendo as suas próprias experiências, lhes for- etapas da Educação Básica tem criado barreiras que dificul-
neçam instrumentos mais complexos de análise da realidade tam o percurso escolar dos alunos. Para a sua superação é
e permitam atingir níveis mais universais de explicação dos preciso que o Ensino Fundamental passe a incorporar tanto
fenômenos. São esses conhecimentos que os mecanismos algumas práticas que integram historicamente a Educação
internos de exclusão na escola têm reservado somente às Infantil, assim como traga para o seu interior preocupações
minorias, mas que é preciso assegurar a toda a população. compartilhadas por grande parte dos professores do Ensino
Ainda quanto à abordagem do currículo, os professores Médio, como a necessidade de sistematizar conhecimentos,
levarão em conta a diversidade sociocultural da população de proporcionar oportunidades para a formação de concei-
escolar, as desigualdades de acesso ao consumo de bens tos e a preocupação com o desenvolvimento do raciocínio
culturais e a multiplicidade de interesses e necessidades abstrato, dentre outras.
apresentados pelos estudantes no desenvolvimento de me- Não menos necessária é uma integração maior entre os
todologias e estratégias variadas que melhor respondam às anos iniciais e os anos finais do Ensino Fundamental. Há que
diferenças de aprendizagem entre os alunos e às suas de- superar os problemas localizados na passagem das séries
mandas. iniciais e a das séries finais dessa etapa, decorrentes de duas
A criação de um ambiente propício à aprendizagem na diferentes tradições de ensino. Os alunos, ao mudarem do
escola terá como base o trabalho compartilhado e o com- professor generalista dos anos iniciais para os professores
promisso dos professores e dos demais profissionais com a especialistas dos diferentes componentes curriculares, cos-
aprendizagem dos alunos; o atendimento às necessidades tumam se ressentir diante das muitas exigências que têm de
específicas de aprendizagem de cada um mediante formas atender, feitas pelo grande número de docentes dos anos
de abordagem apropriadas; a utilização dos recursos dispo- finais. Essa transição acentua a necessidade de um plane-
níveis na escola e nos espaços sociais e culturais do entor- jamento curricular integrado e sequencial e abre a possibi-
no; a contextualização dos conteúdos, assegurando que a lidade de adoção de formas inovadoras a partir do 6º ano,
aprendizagem seja relevante e socialmente significativa; e o a exemplo do que já o fazem algumas escolas e redes de
cultivo do diálogo e de relações de parceria com as famílias. ensino.

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A passagem dos anos iniciais para os anos finais do En- repetitivas, mais prazerosas e desafiadoras e levando à par-
sino Fundamental apresenta ainda mais uma dificuldade: o ticipação ativa dos alunos. A escola deve adotar formas de
intenso processo de descentralização ocorrido na última dé- trabalho que proporcionem maior mobilidade às crianças na
cada acentuou a cisão dessa etapa da escolaridade, levando sala de aula, explorar com elas mais intensamente as diver-
à concentração da oferta dos anos iniciais, majoritariamente sas linguagens artísticas, a começar pela literatura, utilizar
nas redes municipais, e dos anos finais, nas redes mantidas mais materiais que proporcionem aos alunos oportunidade
pelos Estados. O fato requer especial atenção de Estados e de racionar manuseando-os, explorando as suas caracterís-
Municípios ao planejarem conjuntamente o atendimento à ticas e propriedades, ao mesmo tempo em que passa a sis-
demanda, a fim de evitar obstáculos ao acesso dos alunos tematizar mais os conhecimentos escolares.
que devem mudar de uma rede para outra para completar o Além disso, é preciso garantir que a passagem da Pré-
Ensino Fundamental -Escola para o Ensino Fundamental não leve a ignorar os
As articulações no interior do Ensino Fundamental, e conhecimentos que a criança já adquiriu. Igualmente, o pro-
deste com as etapas que o antecedem e o sucedem na Edu- cesso de alfabetização e letramento, com o qual ela passa
cação Básica, são, pois, elementos fundamentais para o bom a estar mais sistematicamente envolvida, não pode sofrer
desempenho dos estudantes e a continuidade dos seus es- interrupção ao final do primeiro ano dessa nova etapa da
tudos. escolaridade.
Um dos sérios entraves ao percurso escolar dos alunos Assim como há crianças que depois de alguns meses
tem sido a cultura da repetência que impregna as práticas estão alfabetizadas, outras requerem de dois a três anos
escolares. Há muitos anos, diferentes estudos têm mostrado para consolidar suas aprendizagens básicas, o que tem a ver,
que a repetência não é o melhor caminho para assegurar muito frequentemente, com seu convívio em ambientes em
que os alunos aprendam. Ao contrário, a repetência, além que os usos sociais da leitura e escrita são intensos ou es-
de desconsiderar o que o aluno já aprendeu, geralmente cassos, assim como com o próprio envolvimento da criança
não lhe oferece oportunidade de superar as dificuldades com esses usos sociais na família e em outros locais fora da
que apresentava e termina por desinteressá-lo dos estudos escola. Entretanto, mesmo entre as crianças das famílias de
ainda mais, aumentando a probabilidade de que repita no- classe média, em que a utilização da leitura e da escrita é
vamente aquela série e contribuindo para baixar a sua au- mais corrente, verifica-se, também, grande variação no tem-
toestima. Mas aqui é preciso enfatizar, mais uma vez, que o po de aprendizagem dessas habilidades pelos alunos.
combate à repetência não pode significar descompromisso Para as crianças que entram pela primeira vez na escola
com o ensino e a aprendizagem. aos 6 (seis) anos, o período requerido para esse aprendiza-
A enturmação dos alunos por idade e não por nível de do pode ser mais prolongado, mas o esperado é que, com
conhecimento passou a ser uma alternativa ao que cos- a ampliação da obrigatoriedade escolar para a faixa etária
tumava ser feito quando as escolas dividiam as turmas de dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, todas as
alunos em fracas, médias e fortes, as quais terminavam pre- crianças se beneficiem. Entretanto, os anos iniciais do Ensino
judicando especialmente os considerados mais fracos e au- Fundamental de 9 (nove) anos não se reduzem apenas à al-
mentando a defasagem entre eles e os demais. Pesquisas fabetização e ao letramento. Desde os 6 (seis) anos de idade,
mostraram a impossibilidade de formar turmas homogê- os conteúdos dos demais componentes curriculares devem
neas, em vista das diferenças existentes entre os alunos. Evi- também ser trabalhados. São eles que, ao descortinarem
denciaram, também, que muito do que se aprende na escola às crianças o conhecimento do mundo por meio de novos
é aprendido nas interações dos próprios alunos e advogam, olhares, lhes oferecem oportunidades de exercitar a leitura e
há algumas décadas, que a heterogeneidade das turmas a escrita de um modo mais significativo.
pode se converter em uma vantagem, tanto do ponto de Há que lembrar, porém, que os anos iniciais do Ensino
vista cognitivo, quanto do afetivo e do cultural, pois favore- Fundamental têm se constituído, historicamente, em um dos
ce a ajuda entre os educandos, estimula-os mutuamente e maiores obstáculos interpostos aos alunos para prossegui-
enriquecendo o seu convívio. rem aprendendo. Há não muito tempo atrás, por décadas e
décadas, cerca de metade dos alunos repetiam a primeira
A entrada de crianças de 6 (seis) anos no Ensino Funda- série, sendo barrados logo no início da escolarização por
mental não estarem completamente alfabetizados. Além disso, a
maioria dos alunos matriculados no ensino obrigatório não
A entrada de crianças de 6 (seis) anos no Ensino Fun- conseguia chegar ao seu final por causa da repetência. Os
damental implica assegurar-lhes garantia de aprendizagem poucos que o concluíam levavam, em média, perto de 12
e desenvolvimento pleno, atentando para a grande diversi- (doze) anos, ou seja, o tempo previsto para cursar o Ensino
dade social, cultural e individual dos alunos, o que demanda Fundamental e o Ensino Médio. Mesmo nos dias atuais, em
espaços e tempos diversos de aprendizagem. Na perspec- que baixaram consideravelmente os índices de repetência
tiva da continuidade do processo educativo proporcionada escolar no país, esses índices ainda figuram entre os maiores
pelo alargamento da Educação Básica, o Ensino Fundamen- do mundo. E a repetência, como se sabe, não gera qualida-
tal terá muito a ganhar se absorver da Educação Infantil a de!
necessidade de recuperar o caráter lúdico da aprendizagem, As maiores vítimas da repetência têm sido as crianças
particularmente entre as crianças de 6 (seis) a 10 (dez) anos e adolescentes pobres, mestiços e negros, e, mais recente-
que frequentam as suas classes, tornando as aulas menos mente, tem-se observado, ainda, que são os alunos do sexo

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masculino, pobres e negros, os que mais ficam em recupera- damento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o
ção e apresentam atraso escolar. Esse dado remete às impli- prosseguimento dos estudos.
cações do currículo com as desigualdades sociais, étnico-ra- Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem as-
ciais e de gênero. A despeito do grande esforço feito pelas segurar:
famílias de baixa renda para manter os filhos na escola, de- a) a alfabetização e o letramento;
pois de muito repetirem, um grande número deles se evade. b) o desenvolvimento das diversas formas de expressão,
A proposta de organização dos três primeiros anos do incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura,
Ensino Fundamental em um único ciclo exige mudanças a Música e demais artes, a Educação Física, assim como o
no currículo para melhor trabalhar com a diversidade dos aprendizado da Matemática, de Ciências, de História e de
alunos e permitir que eles progridam na aprendizagem. Ela Geografia;
também questiona a concepção linear de aprendizagem c) a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a
que tem levado à fragmentação do currículo e ao estabele- complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos
cimento de sequências rígidas de conhecimentos, as quais, que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como
durante muito tempo, foram evocadas para justificar a re- um todo, e, particularmente, na passagem do primeiro para
provação nas diferentes séries. A promoção dos alunos deve o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro.
vincular-se às suas aprendizagens; não se trata, portanto, Ainda que já dito em termos mais gerais, vale enfatizar
de promoção automática. Para garantir a aprendizagem, que no início do Ensino Fundamental, atendendo às espe-
as escolas deverão construir estratégias pedagógicas para cificidades do desenvolvimento infantil, a avaliação deverá
recuperar os alunos que apresentarem dificuldades no seu basear-se, sobretudo, em procedimentos de observação e
processo de construção do conhecimento. registro das atividades dos alunos e portfólios de seus traba-
Entre as iniciativas de redes que adotaram ciclos, mui- lhos, seguidos de acompanhamento contínuo e de revisão
tas propostas terminaram por incorporar algumas das for- das abordagens adotadas, sempre que necessário.
mulações mais avançadas do ideário contemporâneo da
educação, com vistas a garantir o sucesso dos alunos na A avaliação
aprendizagem, combater a exclusão e assegurar que todos
tenham, efetivamente, direito a uma educação de qualidade. Quanto aos processos avaliativos, parte integrante do
Movimentos de renovação pedagógica têm-se esforçado currículo, há que partir do que determina a LDB em seus
por trabalhar com concepções que buscam a integração das artigos 12, 13 e 24, cujos comandos genéricos prescrevem o
abordagens do currículo e uma relação mais dialógica entre zelo pela aprendizagem dos alunos, a necessidade de prover
as vivências dos alunos e o conhecimento sistematizado. os meios e as estratégias para a recuperação daqueles com
Os ciclos assim concebidos concorrem, juntamente com menor rendimento e consideram a prevalência dos aspectos
outros dispositivos da escola calcados na sua gestão demo- qualitativos sobre os quantitativos, bem como os resultados
crática, para superar a concepção de docência solitária do ao longo do período sobre os de eventuais provas finais.
professor que se relaciona exclusivamente com a sua turma, A avaliação do aluno, a ser realizada pelo professor e
substituindo-a pela docência solidária, que considera o con- pela escola, é redimensionadora da ação pedagógica e deve
junto de professores de um ciclo responsável pelos alunos assumir um caráter processual, formativo e participativo, ser
daquele ciclo, embora não eliminem o professor de referên- contínua, cumulativa e diagnóstica.
cia que mantém um contato mais prolongado com a classe. A avaliação formativa, que ocorre durante todo o pro-
Aposta-se, assim, que o esforço conjunto dos professores, cesso educacional, busca diagnosticar as potencialidades do
apoiado por outras instâncias dos sistemas escolares, contri- aluno e detectar problemas de aprendizagem e de ensino. A
bua para criar uma escola menos seletiva e capaz de propor- intervenção imediata no sentido de sanar dificuldades que
cionar a cada um e a todos o atendimento mais adequado alguns estudantes evidenciem é uma garantia para o seu
a que têm direito. progresso nos estudos. Quanto mais se atrasa essa interven-
Para evitar que as crianças de 6 (seis) anos se tornem ção, mais complexo se torna o problema de aprendizagem
reféns prematuros da cultura da repetência e que não seja e, consequentemente, mais difícil se torna saná-lo.
indevidamente interrompida a continuidade dos processos A avaliação contínua pode assumir várias formas, tais
educativos levando à baixa autoestima do aluno e, sobre- como a observação e o registro das atividades dos alunos,
tudo, para assegurar a todas as crianças uma educação de sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, traba-
qualidade, recomenda-se enfaticamente que os sistemas de lhos individuais, organizados ou não em portfólios, traba-
ensino adotem nas suas redes de escolas a organização em lhos coletivos, exercícios em classe e provas, dentre outros.
ciclo dos três primeiros anos do Ensino Fundamental, abran- Essa avaliação constitui um instrumento indispensável do
gendo crianças de 6 (seis), 7 (sete) e 8 (oito) anos de idade e professor na busca do sucesso escolar de seus alunos e
instituindo um bloco destinado à alfabetização. pode indicar, ainda, a necessidade de atendimento comple-
Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso mentar para enfrentar dificuldades específicas, a ser ofere-
de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, é ne- cido no mesmo período de aula ou no contraturno, o que
cessário considerar os três anos iniciais do Ensino Funda- requer flexibilidade dos tempos e espaços para aprender na
mental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial escola e também flexibilidade na atribuição de funções entre
não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos o corpo docente.
os alunos as oportunidades de sistematização e aprofun-

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Os projetos político-pedagógicos das escolas e os re- tende a abandonar as propostas curriculares e orientar-se
gimentos escolares deverão, pois, obrigatoriamente, disci- apenas pelo que é avaliado por esses sistemas. Desse modo,
plinar os tempos e espaços de recuperação, de preferência a avaliação deixa de ser parte do desenvolvimento do cur-
paralelos ao período letivo, tal como determina a LDB, e pre- rículo, passando a ocupar um lugar indevido no processo
ver a possibilidade de aceleração de estudos para os alunos educacional. Isso ocasiona outras consequências, como a
com atraso escolar. Há ainda que assegurar tempos e espa- redução do ensino à aprendizagem daquilo que é exigi-
ços de reposição dos conteúdos curriculares ao longo do do nos testes. A excessiva preocupação com os resultados
ano letivo aos alunos com frequência insuficiente, evitando, desses testes sem maior atenção aos processos pelos quais
sempre que possível, a retenção por faltas. as aprendizagens ocorrem, também termina obscurecendo
Considerando que a avaliação implica sempre um julga- aspectos altamente valorizados nas propostas da educa-
mento de valor sobre o aproveitamento do aluno, cabe, con- ção escolar que não são mensuráveis, como, por exemplo,
tudo alertar que ela envolve frequentemente juízos prévios a autonomia, a solidariedade, o compromisso político e a
e não explicitados pelo professor acerca do que o aluno é cidadania, além do próprio ensino de História e de Geogra-
capaz de aprender. Esses préjulgamentos, muitas vezes ba- fia e o desenvolvimento das diversas áreas de expressão. É
seados em características que não são de ordem cognitiva importante ainda considerar que os resultados da educação
e sim social, conduzem o professor a não estimular devi- demoram, às vezes, longos períodos de tempo para se ma-
damente certos alunos que, de antemão, ele acredita que nifestar ou se manifestam em outros campos da vida hu-
não irão corresponder às expectativas de aprendizagem. O mana. Assim sendo, as referências para o currículo devem
resultado é que, por falta de incentivo e atenção docente, continuar sendo as contidas nas propostas político-peda-
tais alunos terminam por confirmar as previsões negativas gógicas das escolas, articuladas às orientações e propostas
sobre o seu desempenho. curriculares dos sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao
Mas a avaliação não é apenas uma forma de julgamen- que é avaliado pelos testes de larga escala.
to sobre o processo de aprendizagem do aluno, pois tam- Os resultados de aprendizagem dos alunos devem ser
bém sinaliza problemas com os métodos, as estratégias e aliados, por sua vez, à avaliação das escolas e de seus pro-
abordagens utilizados pelo professor. Diante de um grande fessores, tendo em conta os insumos básicos necessários à
número de problemas na aprendizagem de determinado as- educação de qualidade para todos nesta etapa da educação,
sunto, o professor deve ser levado a pensar que houve falhas consideradas, inclusive, as suas modalidades e as formas di-
no processo de ensino que precisam ser reparadas. ferenciadas de atendimento como a Educação do Campo, a
A avaliação proporciona ainda oportunidade aos alunos Educação Escolar Indígena, a Educação Escolar Quilombola
de melhor se situarem em vista de seus progressos e dificul- e as escolas de tempo integral.
dades, e aos pais, de serem informados sobre o desenvolvi- A melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos
mento escolar de seus filhos, representando também uma e da qualidade da educação obriga os sistemas de ensino a
prestação de contas que a escola faz à comunidade que incrementarem os dispositivos da carreira e de condições de
atende. Esse espaço de diálogo com os próprios alunos – e exercício e valorização do magistério e dos demais profissio-
com as suas famílias, no caso do Ensino Fundamental re- nais da educação, e a oferecerem os recursos e apoios que
gular – sobre o processo de aprendizagem e o rendimento demandam as escolas e seus profissionais para melhorar a
escolar que tem consequência importante na trajetória de sua atuação. Obriga, também, as escolas a uma apreciação
estudos de cada um, precisa ser cultivado pelos educadores mais ampla das oportunidades educativas por elas ofereci-
e é muito importante na criação de um ambiente propício das aos alunos, reforçando a sua responsabilidade de pro-
à aprendizagem. Além disso, a transparência dos processos piciar renovadas oportunidades e incentivos aos que deles
avaliativos assegura a possibilidade de discussão dos refe- necessitem.
ridos resultados por parte de pais e alunos, inclusive junto
a instâncias superiores à escola, no sentido de preservar os 7. Educação em tempo integral
direitos destes, tal como determina o Estatuto da Criança e
do Adolescente. A escola brasileira é uma das que possui menor número
Os procedimentos de avaliação adotados pelos profes- de horas diárias de efetivo trabalho escolar. Não obstante,
sores e pela escola serão articulados às avaliações realizadas há reiteradas manifestações da legislação apontando para
em nível nacional e às congêneres nos diferentes Estados e o seu aumento na perspectiva de uma educação integral
Municípios, criadas com o objetivo de subsidiar os sistemas (Constituição Federal, artigos 205, 206 e 227; Estatuto da
de ensino e as escolas nos esforços de melhoria da qualida- Criança e do Adolescente, Lei nº 9.089/90; Diretrizes e Bases
de da educação e da aprendizagem dos alunos. A análise do da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, art. 34; Plano Nacio-
rendimento dos alunos com base nos indicadores produzi- nal de Educação, Lei nº 10.172/2001; e Fundo de Manuten-
dos por essas avaliações deve auxiliar os sistemas de ensino ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
e a comunidade escolar a redimensionarem as práticas edu- dos Profissionais da Educação, Lei nº 11.494/2007). Além do
cativas com vistas ao alcance de melhores resultados. mais, já existem variadas experiências de escola em período
Entretanto, a ênfase excessiva nos resultados das ava- integral em diferentes redes e sistemas de ensino no país.
liações externas – que oferecem indicações de uma parcela Diante desse quadro, considera-se que a proposta educa-
restrita do que é trabalhado na escola – pode produzir a tiva da escola de tempo integral poderá contribuir signifi-
inversão das referências para o trabalho pedagógico, o qual cativamente para a melhoria da qualidade da educação e

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

do rendimento escolar, ao passo em que se exorta os siste- cacionais inscritas em suas terras e culturas e para essas
mas de ensino a ampliarem a sua oferta. Esse tipo de escola, populações estão assegurados direitos específicos na Cons-
quando voltada prioritariamente para o atendimento das tituição Federal que lhes permitem valorizar e preservar suas
populações com alto índice de vulnerabilidade social que, culturas e reafirmar o seu pertencimento étnico.
não por acaso, encontram-se concentradas em instituições As escolas indígenas, atendendo a normas e ordena-
com baixo rendimento dos alunos, situadas em capitais e re- mentos jurídicos próprios e a Diretrizes Nacionais específi-
giões metropolitanas densamente povoadas, poderá dirimir cas, terão ensino intercultural e bilíngue, com vistas à afir-
as desigualdades de acesso à educação, ao conhecimento e mação e manutenção da diversidade étnica e linguística;
à cultura e melhorar o convívio social. assegurarão a participação da comunidade no seu modelo
O currículo da escola de tempo integral, concebido de edificação, organização e gestão; e deverão contar com
como um projeto educativo integrado, deve prever uma materiais didáticos produzidos de acordo com o contexto
jornada escolar de, no mínimo, 7 (sete) horas diárias. A am- cultural de cada povo (Resolução CNE/ CEB nº 3/99).
pliação da jornada poderá ser feita mediante o desenvolvi- O detalhamento da Educação Escolar Quilombola deve-
mento de atividades como as de acompanhamento e apoio rá ser definido pelo CNE por meio de Diretrizes Curriculares
pedagógico, reforço e aprofundamento da aprendizagem, Nacionais específicas.
experimentação e pesquisa científica, cultura e artes, esporte O atendimento escolar às populações do campo, povos
e lazer, tecnologias da comunicação e informação, afirma- indígenas e quilombolas requer respeito às suas peculiares
ção da cultura dos direitos humanos, preservação do meio condições de vida e pedagogias condizentes com as suas
ambiente, promoção da saúde, entre outras, articuladas aos formas próprias de produzir conhecimentos, observadas as
componentes curriculares e áreas de conhecimento, bem Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Bá-
como as vivências e práticas socioculturais. sica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/ CEB nº
As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço es- 4/2010).
colar, conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele, As escolas das populações do campo, dos povos indí-
em espaços distintos da cidade ou do território em que está genas e dos quilombolas, ao contar com a participação ativa
situada a unidade escolar, mediante a utilização de equipa- das comunidades locais nas decisões referentes ao currículo,
mentos sociais e culturais aí existentes e o estabelecimen- estarão ampliando as oportunidades de:
to de parcerias com órgãos ou entidades locais, sempre de I – reconhecimento de seus modos próprios de vida,
acordo com o projeto político-pedagógico de cada escola. suas culturas, tradições e memórias coletivas, como funda-
Ao restituir a condição de ambiente de aprendizagem à mentais para a constituição da identidade das crianças, ado-
comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo para a lescentes e adultos;
construção de redes sociais na perspectiva das cidades edu- II – valorização dos saberes e do papel dessas popula-
cadoras. ções na produção de conhecimentos sobre o mundo, seu
ambiente natural e cultural, assim como as práticas ambien-
Os órgãos executivos e normativos dos sistemas de en- talmente sustentáveis que utilizam;
sino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das
cípios assegurarão que o atendimento dos alunos na escola comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cul-
de tempo integral das redes públicas possua infraestrutura tivo da língua materna na escola para estes últimos, como
adequada e pessoal qualificado. E para que a oferta de edu- elementos importantes de construção da identidade;
cação nesse tipo de escola não se resuma a uma simples IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar,
justaposição de tempos e espaços disponibilizados em ou- das rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças relati-
tros equipamentos de uso social, como quadras esportivas e vas às atividades econômicas e culturais, mantido o total de
espaços para práticas culturais, é imprescindível que ativida- horas anuais obrigatórias no currículo;
des programadas no projeto político-pedagógico da escola V – superação das desigualdades sociais e escolares
de tempo integral sejam de presença obrigatória e, em face que afetam essas populações, tendo por garantia o direito
delas, o desempenho dos alunos seja passível de avaliação. à educação;
Os projetos político-pedagógicos das escolas do cam-
8. Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e po, indígenas e quilombolas devem contemplar a diversida-
Educação Escolar Quilombola de nos seus aspectos sociais, culturais, políticos, econômi-
cos, estéticos, de gênero, geração e etnia.
A Educação do Campo, tratada como educação rural As escolas que atendem essas populações deverão ser
na legislação brasileira, incorpora os espaços da floresta, da devidamente providas pelos sistemas de ensino de materiais
pecuária, das minas e da agricultura e se estende também didáticos e educacionais que subsidiem o trabalho com a di-
aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas, versidade, bem como de recursos que assegurem aos alunos
conforme as Diretrizes para a Educação Básica do Cam- o acesso a outros bens culturais e lhes permitam estreitar
po (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/CEB nº o contato com outros modos de vida e outras formas de
1/2002, e Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução CNE/CEB conhecimento.
nº 2/2008). A participação das populações locais é importante tam-
A Educação Escolar Indígena e a Educação Escolar Qui- bém para subsidiar as redes escolares e os sistemas de en-
lombola são, respectivamente, oferecidas em unidades edu- sino quanto à produção e oferta de materiais escolares e

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

no que diz respeito ao transporte e a equipamentos que faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, com defasagem idade/
atendam as características ambientais e socioculturais das série, tanto no ensino regular, quanto em EJA, assim como
comunidades e as necessidades locais e regionais. nos cursos destinados à formação profissional, torna-se ne-
cessário:
9. Educação Especial a) fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas
as modalidades do Ensino Fundamental;
Intensificando o processo de inclusão e buscando a uni- b) apoiar as redes e os sistemas de ensino no estabele-
versalização do atendimento, as escolas públicas e privadas cimento de política própria para o atendimento desses estu-
deverão, também, contemplar a melhoria das condições de dantes que considere as suas potencialidades, necessidades,
acesso e de permanência dos alunos com deficiência, trans- expectativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao mun-
tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades nas do do trabalho, inclusive com programas de aceleração da
classes comuns do ensino regular. Os recursos de acessi- aprendizagem, quando necessário;
bilidade, como o nome já indica, asseguram condições de c) incentivar a oferta de EJA nos períodos diurno e no-
acesso ao currículo dos alunos com deficiência e mobilidade turno, com avaliação em processo.
reduzida, por meio da utilização de materiais didáticos, dos Os cursos de EJA, nos anos iniciais do Ensino Funda-
espaços, mobiliários e equipamentos, dos sistemas de co- mental, serão presenciais e a sua duração ficará a critério de
municação e informação, dos transportes e outros serviços. cada sistema de ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB nº
Além disso, com o objetivo de ampliar o acesso ao cur- 29/2006, ao qual remete a Resolução CNE/CEB nº 3./2010.
rículo, proporcionando independência aos educandos para Nos anos finais, ou seja, do 6º ao 9º ano, os cursos, poderão
a realização de tarefas e favorecendo a sua autonomia, foi ser presenciais ou a distância, quando devidamente creden-
criado, pelo Decreto nº 6.571/2008, o atendimento educa- ciados, e terão 1600 (mil e seiscentas ) horas de duração.
cional especializado aos alunos da Educação Especial, poste- Tendo em conta as situações, os perfis e as faixas etá-
riormente regulamentado pelo Parecer CNE/CEB nº 13/2009 rias dos adolescentes, jovens e adultos, o projeto político-
e pela Resolução CNE/CEB nº 4/2009. Esse atendimento, -pedagógico e o regimento escolar viabilizarão um modelo
a ser expandido gradativamente com o apoio dos órgãos pedagógico próprio para essa modalidade de ensino asse-
competentes, não substitui a escolarização regular, sendo gurando a identificação e o reconhecimento das formas de
complementar à ela. Ele será oferecido no contraturno, em aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização
salas de recursos multifuncionais na própria escola, em outra de seus conhecimentos e experiências; a distribuição dos
escola ou em centros especializados e será implementado componentes curriculares de modo a proporcionar um pa-
por professores e profissionais com formação especializada, tamar igualitário de formação, bem como a sua disposição
de acordo com plano de atendimento aos alunos que iden- adequada nos tempos e espaços educativos em face das ne-
tifique suas necessidades educacionais específicas, defina os cessidades específicas dos estudantes.
recursos necessários e as atividades a serem desenvolvidas. Estima-se que a inserção de EJA no Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica, incluindo, além da avaliação
10. Educação de Jovens e Adultos do rendimento dos alunos, a aferição de indicadores insti-
tucionais das redes públicas e privadas, concorrerá para a
A Educação de Jovens e Adultos (EJA), voltada para a universalização e a melhoria da qualidade do processo edu-
garantia de formação integral, abrange da alfabetização às cativo.
diferentes etapas da escolarização ao longo da vida, inclu-
sive àqueles em situação de privação de liberdade, sendo 11. O compromisso solidário das redes e sistemas de
pautada pela inclusão e pela qualidade social. Ela requer um ensino com a implementação destas Diretrizes
processo de gestão e financiamento que lhe assegure isono-
mia em relação ao Ensino Fundamental regular, um modelo Com base nos elementos contidos no presente Parecer,
pedagógico próprio que permita a apropriação e contextua- propõe-se o Projeto de Resolução anexo, contendo Diretri-
lização das Diretrizes Curriculares Nacionais, a implantação zes destinadas a contribuir para:
de um sistema de monitoramento e avaliação, uma política a) ampliar os debates sobre as concepções curricula-
de formação permanente de seus professores, formas apro- res para o Ensino Fundamental e levar a questionamentos
priadas para a destinação à EJA de profissionais experientes e mudanças no interior de cada escola, visando assegurar o
e qualificados nos processos de escolha e atribuição de au- direito de todos a uma educação de qualidade;
las nas redes públicas e maior alocação de recursos para que b) subsidiar a análise e elaboração das propostas cur-
seja ministrada por docentes licenciados. riculares dos sistemas e redes de ensino, dos projetos po-
Conforme a Resolução CNE/CEB nº 3/2010, que institui lítico-pedagógicos das escolas e dos regimentos escolares,
Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adul- tendo em vista a implementação do Ensino Fundamental de
tos, a idade mínima para ingresso nos cursos de EJA e para a 9 (nove) anos;
realização de exames de conclusão de EJA será de 15 (quin- c) fortalecer a constituição de ambientes educativos na
ze) anos completos. escola propícios à aprendizagem, reafirmando a instituição
Considerada a prioridade de atendimento à escolariza- escolar como espaço do conhecimento, do convívio e da
ção obrigatória, para que haja oferta capaz de contemplar sensibilidade, dimensões imprescindíveis ao exercício da ci-
o pleno atendimento dos adolescentes, jovens e adultos na dadania;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

d) consolidar a instituição escolar como espaço demo- na alínea “c” do § 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/61, com a
crático que reconhece e respeita a diversidade; redação dada pela Lei nº 9.131/95, no artigo 32 da Lei nº
e) fortalecer o regime de colaboração entre as instâncias 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006, e com fundamento no Pa-
na oferta do ensino de qualidade para todos. recer CNE/CEB nº ........./2010, homologado por Despacho do
Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU
E tendo em vista as responsabilidades compartilhadas de / / resolve:
pelos entes federados na manutenção e desenvolvimento
do ensino, tais Diretrizes devem indicar que aos sistemas e Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curricula-
redes de ensino cabe prover: res Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos a
a) os recursos necessários à ampliação dos tempos e serem observadas na organização curricular dos sistemas de
espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a ensino e de suas unidades escolares.
distribuição de materiais didáticos e escolares adequados; Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
b) a formação continuada dos professores e demais Fundamental de 9 (nove) anos articulam-se com as Diretrizes
profissionais da escola, em estreita articulação com as ins- Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Pare-
tituições responsáveis pela formação inicial, dispensando cer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e
especiais esforços quanto à formação dos docentes das mo- reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos
dalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles que pelo Conselho Nacional de Educação, para orientar as políti-
trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilombolas; cas públicas educacionais e a elaboração, implementação e
c) a coordenação do processo de implementação do avaliação das orientações curriculares nacionais, das propos-
currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos tas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Municí-
no interior de uma mesma realidade educacional; pios e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
d) o acompanhamento e a avaliação dos programas e Parágrafo único Estas Diretrizes Curriculares Nacionais
ações educativas nas respectivas redes e escolas e o supri- aplicam-se a todas as modalidades do Ensino Fundamental
mento das necessidades detectadas. previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
O Ministério da Educação, em articulação com os Esta- bem como à Educação do Campo, à Educação Escolar Indí-
dos, os Municípios e o Distrito Federal, precedida de consul- gena e à Educação Escolar Quilombola.
ta pública nacional, deverá encaminhar para o Conselho Na-
cional de Educação propostas de expectativas de aprendiza- Os fundamentos
gem dos conhecimentos escolares que devem ser atingidas
pelos alunos em diferentes estágios do Ensino Fundamental Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direito
e, ainda, elaborar orientações e oferecer outros subsídios público subjetivo de cada um e como dever do Estado e da
para a implementação destas Diretrizes. família na sua oferta a todos.
Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino
II – VOTO DO RELATOR Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem requisito
de seleção.
À vista do exposto, propõe-se à Câmara de Educação § 1º As escolas que ministram esse ensino deverão tra-
Básica a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais balhar considerando essa etapa da educação como aquela
para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, na forma deste capaz de assegurar a cada um e a todos o acesso ao conhe-
Parecer e do Projeto de Resolução em anexo, do qual é parte cimento e aos elementos da cultura imprescindíveis para o
integrante. seu desenvolvimento pessoal e para a vida em sociedade,
assim como os benefícios de uma formação comum, inde-
Brasília, (DF), 7 de julho de 2010. Conselheiro Cesar Cal- pendentemente da grande diversidade da população esco-
legari– Relator lar e das demandas sociais.
Art. 5º O direito à educação, entendido como um direi-
III – DECISÃO DA CÂMARA to inalienável do ser humano, constitui o fundamento maior
destas Diretrizes. A educação, ao proporcionar o desenvolvi-
A Câmara de Educação Básica aprova, por unanimidade, mento do potencial humano, permite o exercício dos direi-
o voto do Relator. tos civis, políticos, sociais e do direito à diferença, sendo ela
Sala das Sessões, em 7 de julho de 2010. Conselhei- mesma também um direito social, e possibilita a formação
ro Francisco Aparecido Cordão – Presidente Conselheiro cidadã e o usufruto dos bens sociais e culturais.
Adeum Hilário Sauer – Vice-Presidente §1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com
uma educação com qualidade social, igualmente entendida
PROJETO DE RESOLUÇÃO como direito humano.
§ 2º A educação de qualidade, como um direito funda-
Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino mental é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa.
Fundamental de 9 (nove) anos I – A relevância reporta-se à promoção de aprendiza-
gens significativas do ponto de vista das exigências sociais e
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse- de desenvolvimento pessoal.
lho Nacional de Educação, de conformidade com o disposto

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

II – A pertinência refere-se à possibilidade de atender às para progredir no trabalho e em estudos posteriores, me-
necessidades e às características dos estudantes de diversos diante os objetivos previstos para esta etapa da escolariza-
contextos sociais e culturais e com diferentes capacidades e ção, a saber:
interesses. I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
III – A equidade alude à importância de tratar de forma do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escri-
diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto ta e do cálculo;
de partida, com vistas a obter desenvolvimento e aprendi- II – a compreensão do ambiente natural e social, do sis-
zagens equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de tema político, das artes, da tecnologia e dos valores em que
direito à educação. se fundamenta a sociedade;
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da III – a aquisição de conhecimentos, habilidades e a for-
pobreza e das desigualdades, a equidade requer que sejam mação de atitudes e valores como instrumentos para uma
oferecidos mais recursos e melhores condições às escolas visão crítica do mundo;
menos providas e aos alunos que deles mais necessitem. Ao IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
lado das políticas universais, dirigidas a todos sem requisito de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que
de seleção, é preciso também sustentar políticas reparado- se assenta a vida social.
ras que assegurem maior apoio aos diferentes grupos so- Matrícula no Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e
ciais em desvantagem. carga horária
§ 4º A educação escolar, comprometida com a igualda-
de do acesso de todos ao conhecimento e especialmente Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove)
empenhada em garantir esse acesso aos grupos da popula- anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14
ção em desvantagem na sociedade, será uma educação com (quatorze) anos de idade e se estende, também, a todos os
qualidade social e contribuirá para dirimir as desigualdades que, na idade própria, não tiveram condições de frequen-
historicamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, tá-lo.
a permanência e o sucesso na escola, com a consequente § 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental
redução da evasão, da retenção e das distorções de idade/ de crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até
ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos
n° 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais termos da Lei e das normas nacionais vigentes.
Gerais para a Educação Básica). § 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após essa
data deverão ser matriculadas na Educação Infantil (Pré-Es-
Os princípios cola).
§ 3º A carga horária mínima anual do Ensino Fundamen-
Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão tal regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuí-
como norteadores das políticas educativas e das ações pe- das em, pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho
dagógicas, os seguintes princípios: escolar.
I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autono-
mia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de com- O currículo
promisso com a promoção do bem de todos, contribuindo
para combater e eliminar quaisquer manifestações de pre- Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendido,
conceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras nesta Resolução, como constituído pelas experiências esco-
formas de discriminação. lares que se desdobram em torno do conhecimento, per-
II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres meadas pelas relações sociais, buscando articular vivências
de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente
do regime democrático e dos recursos ambientais; da busca acumulados e contribuindo para construir as identidades
da equidade no acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos dos estudantes.
bens culturais e outros benefícios; da exigência de diversi- § 1º O foco nas experiências escolares significa que as
dade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos orientações e propostas curriculares que provêm das diver-
entre os alunos que apresentam diferentes necessidades; da sas instâncias só terão concretude por meio das ações edu-
redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais. cativas que envolvem os alunos.
III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente § 2º As experiências escolares abrangem todos os as-
com o da racionalidade; do enriquecimento das formas de pectos do ambiente escolar: aqueles que compõem a parte
expressão e do exercício da criatividade; da valorização das explícita do currículo, bem como os que também contri-
diferentes manifestações culturais, especialmente a da cul- buem, de forma implícita, para a aquisição de conhecimen-
tura brasileira; da construção de identidades plurais e soli- tos socialmente relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade
dárias. e orientações de conduta são veiculados não só pelos co-
Art. 7º De acordo com esses princípios, e em conformi- nhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de
dade com os art. 22 e 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB), as propos- convívio social, festividades, pela distribuição do tempo e
tas curriculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver organização do espaço educativo, pelos materiais utilizados
o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensá- na aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências pro-
vel para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios porcionadas pela escola.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as di- bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o Ensino
ferentes instâncias que produzem orientações sobre o currí- Religioso.
culo, as escolas e os professores selecionam e transformam Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do En-
a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, ao mesmo sino Fundamental serão assim organizados em relação às
tempo em que servem de elementos para a formação ética, áreas de conhecimento:
estética e política do aluno. I – Linguagens
a) Língua Portuguesa
A base nacional comum e a parte diversificada: comple- b) Língua materna, para populações indígenas
mentaridade c) Língua Estrangeira moderna
d) Arte
Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma e) Educação Física II – Matemática
base nacional comum, complementada em cada sistema de III – Ciências da Natureza IV – Ciências Humanas
ensino e em cada estabelecimento escolar por uma parte a) História
diversificada. b) Geografia
Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada do V – Ensino Religioso
currículo do Ensino Fundamental constituem em um todo § 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em
integrado e não podem ser consideradas como dois blocos língua portuguesa, assegurada também às comunidades
distintos. indígenas a utilização de suas línguas maternas e proces-
§ 1º A articulação entre a base nacional comum e a parte sos próprios de aprendizagem, conforme o art. 210, § 2º, da
diversificada do currículo do Ensino Fundamental possibilita Constituição Federal.
a sintonia dos interesses mais amplos de formação básica § 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as
do cidadão com a realidade local, as necessidades dos alu- contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma-
nos, as características regionais da sociedade, da cultura e da ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
economia e perpassa todo o currículo. africana e européia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96).
§ 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao § 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira,
interesse social e à preservação da ordem democrática, os presentes obrigatoriamente nos conteúdos desenvolvidos
conhecimentos que fazem parte da base nacional comum a no âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no en-
que todos devem ter acesso, independentemente da região sino de Arte, Literatura e História do Brasil, assim como a
e do lugar em que vivem, asseguram a característica unitária História da África, deverão assegurar o conhecimento e o
das orientações curriculares nacionais, das propostas curri- reconhecimento desses povos para a constituição da nação
culares dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e (conforme artigo 26-A da Lei nº 9.394/96, alterado pela Lei
dos projetos político-pedagógicos das escolas. nº 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o leque de
§ 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte referências culturais de toda a população escolar e contribui
diversificada do currículo serão definidos pelos sistemas de para a mudança das suas concepções de mundo, transfor-
ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enrique- mando os conhecimentos comuns veiculados pelo currículo
cer o currículo, assegurando a contextualização dos conhe- e contribuindo para a construção de identidades mais plu-
cimentos escolares em face das diferentes realidades. rais e solidárias.
Art. 12 Os conteúdos que compõem base nacional co- § 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não
mum e a parte diversificada têm origem nas disciplinas cien- exclusivo, do componente curricular Arte, o qual compreen-
tíficas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo do de também as artes visuais, o teatro e a dança, conforme o §
trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção artística, 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
nas atividades desportivas e corporais, na área da saúde e § 5º A Educação Física, componente obrigatório do cur-
ainda incorporam saberes como os que advêm das formas rículo do Ensino Fundamental, integra a proposta político-
diversas de exercício da cidadania, dos movimentos sociais, -pedagógica da escola e será facultativa ao aluno apenas nas
da cultura escolar, da experiência docente, do cotidiano e circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
dos alunos. § 6º O ensino religioso, de matrícula facultativa ao aluno,
Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são cons- é parte integrante da formação básica do cidadão e consti-
tituídos por componentes curriculares que, por sua vez, se tui componente curricular dos horários normais das escolas
articulam com as áreas de conhecimento, a saber: Lingua- públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à
gens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Huma- diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quais-
nas. As áreas de conhecimento favorecem a comunicação quer formas de proselitismo, conforme o art. 33 da Lei nº
entre diferentes conhecimentos sistematizados e entre estes 9.394/96.
e outros saberes, mas permitem que os referenciais próprios Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de co-
de cada componente curricular sejam preservados. nhecimento devem articular em seus conteúdos, a partir das
Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abordagem
Fundamental deve abranger obrigatoriamente, conforme o de temas abrangentes e contemporâneos que afetam a vida
artigo 26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portuguesa humana em escala global, regional e local, bem como na
e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural esfera individual. Temas como: saúde, sexualidade e gênero,
e da realidade social e política, especialmente a do Brasil, vida familiar e social, assim como os direitos das crianças

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

e adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança e do na definição das orientações imprimidas aos processos edu-
Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambien- cativos e nas formas de implementá-las, tendo como apoio
te, nos termos da política nacional de educação ambiental um processo contínuo de avaliação das ações, a fim de ga-
(Lei nº 9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, rantir a distribuição social do conhecimento e contribuir para
trabalho, ciência e tecnologia; diversidade cultural, devem a construção de uma sociedade democrática e igualitária.
permear o desenvolvimento dos conteúdos da base nacio- § 3º O regimento escolar deve assegurar as condições
nal comum e da parte diversificada do currículo. institucionais adequadas para a execução do projeto políti-
§ 1° Outras leis específicas que complementam a Lei nº co-pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com
9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas rela- qualidade social, igualmente garantida a ampla participação
tivos à condição e direitos dos idosos (Lei nº 10.741/2003) e da comunidade escolar na sua elaboração.
à educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97). § 4º O projeto político-pedagógico e o regimento esco-
§ 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de lar, em conformidade com a legislação e as normas vigen-
trabalhar os componentes curriculares, as áreas de conhe- tes, conferirão espaço e tempo para que os profissionais da
cimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada, escola e, em especial, os professores, possam participar de
conforme Resolução CNE/CEB nº 4/2010. reuniões de trabalho coletivo, planejar e executar as ações
§ 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino com- educativas de modo articulado, avaliar os trabalhos dos alu-
pete a produção e a disseminação de materiais subsidiários nos, tomar parte em ações de formação continuada e esta-
ao trabalho docente, que contribuam para a eliminação de belecer contatos com a comunidade.
discriminações, racismo, sexismo, homofobia e outros pre- § 5º Na implementação de seu projeto político-pedagó-
conceitos e que conduzam à adoção de comportamentos gico, as escolas se articularão com as instituições formado-
responsáveis e solidários em relação aos outros e ao meio ras com vistas a assegurar a formação continuada de seus
ambiente. profissionais.
Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino Art. 21 No projeto político-pedagógico do Ensino Fun-
Fundamental será incluída, obrigatoriamente, a partir do 6º damental e no regimento escolar, o aluno, centro do pla-
ano, o ensino de, pelo menos uma língua estrangeira mo- nejamento curricular, será considerado como sujeito que
derna cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar. atribui sentidos à natureza e à sociedade nas práticas sociais
§ 1º Entre as línguas estrangeiras modernas, a lín- que vivencia, produzindo cultura e construindo sua identida-
gua espanhola poderá ser a opção nos termos da Lei nº de pessoal e social.
11.161/2005. Parágrafo único Como sujeito de direitos, o aluno toma-
rá parte ativa na discussão e implementação das normas que
O projeto político-pedagógico regem as formas de relacionamento na escola, fornecerá in-
dicações relevantes a respeito do que deve ser trabalhado
Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove) no currículo e será incentivado a participar das organizações
anos de duração exige a estruturação de um projeto educa- estudantis.
tivo coerente, articulado e integrado, de acordo com os mo- Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental
dos de ser e de se desenvolver das crianças e adolescentes deve empenhar-se na promoção de uma cultura escolar
nos diferentes contextos sociais. acolhedora e respeitosa, que reconheça e valorize as expe-
Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a riências dos alunos atendendo as suas diferenças e necessi-
que se refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como dades específicas, de modo a contribuir para efetivar a inclu-
tempos e espaços interdependentes e articulados entre si, são escolar e o direito de todos à educação.
ao longo dos 9 (nove) anos de duração do Ensino Funda- Art. 23 Na implementação do projeto político-pedagó-
mental. gico, o cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola,
resultarão em ações integradas que buscam articular-se pe-
A gestão democrática e participativa como garantia do dagogicamente no interior da própria instituição e também
direito à educação externamente, com serviços de apoio aos sistemas educa-
cionais e com as políticas de outras áreas, para assegurar a
Art. 20 As escolas deverão formular o projeto político- aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvimento do aluno
-pedagógico e elaborar o regimento escolar e de acordo em todas as suas dimensões.
com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos,
por meio de processos participativos relacionados à gestão Relevância dos conteúdos, integração e abordagens
democrática.
§ 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos es-
proposta educativa construída pela comunidade escolar no colares no currículo favorece a sua contextualização e apro-
exercício de sua autonomia, com base nas características xima o processo educativo das experiências dos alunos.
dos alunos e nos profissionais e recursos disponíveis, tendo § 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiências
como referência as orientações curriculares nacionais e dos assentadas em diversas concepções de currículo integrado
respectivos sistemas de ensino. e interdisciplinar oferecerá aos docentes subsídios para de-
§ 2º Será assegurada ampla participação dos profissio- senvolver propostas pedagógicas que avancem na direção
nais da escola, da família, dos alunos e da comunidade local

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

de um trabalho colaborativo, capaz de superar a fragmenta- no que se refere ao seu desenvolvimento pleno e à aquisi-
ção dos componentes curriculares. ção de aprendizagens significativas, lançando mão de todos
§ 2º Constituem exemplos de possibilidades de integra- os recursos disponíveis e criando renovadas oportunidades
ção do currículo, entre outros, as propostas curriculares or- para evitar que a trajetória escolar discente seja retardada ou
denadas em torno de grandes eixos articuladores, projetos indevidamente interrompida.
interdisciplinares com base em temas geradores formulados § 1º Devem, portanto, adotar as providências necessá-
a partir de questões da comunidade e articulados aos com- rias para que a operacionalização do princípio da continui-
ponentes curriculares e às áreas de conhecimento, currículos dade não seja traduzida como “promoção automática” de
em rede, propostas ordenadas em torno de conceitos-chave alunos de um ano, série ou ciclo para o seguinte, e para que
ou conceitos nucleares que permitam trabalhar as questões o combate à repetência não se transforme em descompro-
cognitivas e as questões culturais numa perspectiva trans- misso com o ensino e a aprendizagem.
versal, e projetos de trabalho com diversas acepções.
§ 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade, § 2º A organização do trabalho pedagógico incluirá a
redes e sistemas de ensino serão articulados ao desenvol- mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços escola-
vimento dos componentes curriculares e áreas de conhe- res, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as diversas
cimento, observadas as disposições contidas nas Diretrizes linguagens artísticas, a diversidade de materiais, os variados
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Reso- suportes literários, as atividades que mobilizem o raciocínio,
lução CNE/CEB nº 4/2010, art.17) e nos termos do Parecer as atitudes investigativas, as abordagens complementares
que dá base à presente Resolução. e as atividades de reforço, a articulação entre a escola e a
Art. 25 Os professores levarão em conta a diversidade comunidade, e o acesso aos espaços de expressão cultural.
sociocultural da população escolar, as desigualdades de Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e conteú-
acesso ao consumo de bens culturais e a multiplicidade de dos das mídias como recurso aliado ao desenvolvimento do
interesses e necessidades apresentadas pelos alunos no de- currículo contribui para o importante papel que tem a escola
senvolvimento de metodologias e estratégias variadas que como ambiente de inclusão digital e de utilização crítica das
melhor respondam às diferenças de aprendizagem entre os tecnologias da informação e comunicação, requerendo o
estudantes e às suas demandas. aporte dos sistemas de ensino no que se refere à:
Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em nú-
adequadas condições de trabalho aos seus profissionais e o mero suficiente para o atendimento aos alunos;
provimento de outros insumos, de acordo com os padrões II – adequada formação do professor e demais profis-
mínimos de qualidade referidos no inciso IX, do art.4º, da sionais da escola.
Lei nº 9.394/96 e em normas específicas estabelecidas pelo
Conselho Nacional de Educação, com vistas à criação de um Articulações e continuidade da trajetória escolar
ambiente propício à aprendizagem com base:
I – no trabalho compartilhado e no compromisso indi- Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um per-
vidual e coletivo dos professores e demais profissionais da curso contínuo de aprendizagens torna imperativa a articu-
escola com a aprendizagem dos alunos; lação de todas as etapas da educação, especialmente do En-
II – no atendimento às necessidades específicas de sino Fundamental com a Educação Infantil, dos anos iniciais
aprendizagem de cada um mediante abordagens apropria- e dos anos finais no interior do Ensino Fundamental, bem
das; como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio, garan-
III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e tindo a qualidade da Educação Básica.
nos espaços sociais e culturais do entorno; § 1º O reconhecimento do que os alunos já aprenderam
IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a recupera-
que a aprendizagem seja relevante e socialmente significa- ção do caráter lúdico do ensino contribuirão para melhor
tiva; qualificar a ação pedagógica junto às crianças, sobretudo
V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com nos anos iniciais dessa etapa da escolarização.
as famílias. § 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais
Parágrafo único Como protagonistas das ações pedagó- do Ensino Fundamental, especial atenção será dada:
gicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase no reconhe- I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da oferta
cimento e valorização da experiência do aluno e da cultura educativa dos alunos transferidos das redes municipais para
local que contribui para construir identidades afirmativas, e a as estaduais;
necessidade de lhes fornecer instrumentos mais complexos II – pelas escolas, à coordenação das demandas especí-
de análise da realidade que possibilitem o acesso a níveis ficas feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de
universais de explicação dos fenômenos, propiciando-lhes que os estudantes possam melhor organizar as suas ativi-
os meios para transitar entre a sua e outras realidades e cul- dades diante das solicitações muito diversas que recebem.
turas e participar de diferentes esferas da vida social, econô- Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental de-
mica e política. vem assegurar: I – a alfabetização e o letramento;
Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os professo- II – o desenvolvimento das diversas formas de expres-
res, com o apoio das famílias e da comunidade, envidarão são, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Litera-
esforços para assegurar o progresso contínuo dos alunos tura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim como

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

o aprendizado da Matemática, da Ciência, da História e da II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais


Geografia; como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os tra-
III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta balhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, pro-
a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos vas, questionários, dentre outros, tendo em conta a sua ade-
que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como quação à faixa etária e às características de desenvolvimento
um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para do educando;
o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro. II – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da apren-
§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, dizagem do aluno sobre os quantitativos, bem como os re-
no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seria- sultados ao longo do período sobre o de eventuais provas
do, será necessário considerar os três anos iniciais do Ensino finais, tal com determina a alínea “a”, do inciso V, do art. 24,
Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo se- da Lei nº 9.394/96;
quencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a III – assegurar tempos e espaços diversos para que os
todos os alunos as oportunidades de sistematização e apro- alunos com menor rendimento tenham condições de ser de-
fundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis vidamente atendidos ao longo do ano letivo;
para o prosseguimento dos estudos. VI – prover obrigatoriamente períodos de recuperação,
§ 2º Considerando as características de desenvolvimen- de preferência paralelos ao período letivo, como determina
to dos alunos, cabe aos professores adotar formas de traba- a Lei nº 9.394/96;
lho que proporcionem maior mobilidade das crianças nas V – assegurar tempos e espaços de reposição dos con-
salas de aula e as levem a explorar mais intensamente as teúdos curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos com
diversas linguagens artísticas, a começar pela literatura, a frequência insuficiente, evitando, sempre que possível, a re-
utilizar materiais que ofereçam oportunidades de raciocinar, tenção por faltas;
manuseando-os e explorando as suas características e pro- VI – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos
priedades. com defasagem idade-série.
Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os com- Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos
ponentes curriculares Educação Física e Arte poderão estar professores e pela escola serão articulados às avaliações
a cargo do professor de referência da turma, aquele com o realizadas em nível nacional e às congêneres nos diferentes
qual os alunos permanecem a maior parte do período es- Estados e Municípios, criadas com o objetivo de subsidiar os
colar, ou de professores licenciados nos respectivos com- sistemas de ensino e as escolas nos esforços de melhoria da
ponentes. qualidade da educação e da aprendizagem dos alunos.
§ 1° Nas escolas que optarem por incluir Língua Estran- § 1° A análise do rendimento dos alunos com base nos
geira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor indicadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar os
deverá ter licenciatura específica no componente curricular. sistemas de ensino e a comunidade escolar a redimensiona-
§ 2º Nos casos em que esses componentes curricula- rem as práticas educativas com vistas ao alcance de melho-
res sejam desenvolvidos por professores com licenciatura res resultados.
específica (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser § 2° A avaliação externa do rendimento dos alunos refe-
assegurada a integração com os demais componentes tra- re-se apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado nas
balhados pelo professor de referência da turma. escolas, de sorte que as referências para o currículo devem
continuar sendo as contidas nas propostas político-peda-
A avaliação: parte integrante do currículo gógicas das escolas, articuladas às orientações e propostas
curriculares dos sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao
Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos pro- que é avaliado pelos testes de larga escala.
fessores e pela escola como parte integrante da proposta Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos po-
curricular e da implementação do currículo, é redimensiona- lítico-pedagógicos das escolas devem expressar com clareza
dora da ação pedagógica e deve: o que é esperado dos alunos em relação à sua aprendiza-
I – assumir um caráter processual, formativo e partici- gem.
pativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a: Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos de-
a) identificar potencialidades e dificuldades de aprendi- vem ser aliados à avaliação das escolas e de seus professores,
zagem e detectar problemas de ensino; tendo em conta os parâmetros de referência dos insumos
b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias básicos necessários à educação de qualidade para todos
e abordagens de acordo com as necessidades dos alunos, nesta etapa da educação e respectivo custo aluno-qualida-
criar condições de intervir de modo imediato e a mais lon- de inicial (CAQi), consideradas inclusive as suas modalidades
go prazo para sanar dificuldades e redirecionar o trabalho e as formas diferenciadas de atendimento como a Educação
docente; do Campo, a Educação Escolar Indígena, a Educação Escolar
c) manter a família informada sobre o desempenho dos Quilombola e as escolas de tempo integral.
alunos; § 1° A melhoria dos resultados de aprendizagem dos
d) reconhecer o direito do aluno e da família de discutir alunos e da qualidade da educação obriga:
os resultados de avaliação, inclusive em instâncias superio- I – os sistemas de ensino, a incrementarem os disposi-
res à escola, revendo procedimentos sempre que as reivin- tivos da carreira e de condições de exercício e valorização
dicações forem procedentes. do magistério e dos demais profissionais da educação e a

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

oferecerem os recursos e apoios que demandam as escolas A Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena e a
e seus profissionais para melhorar a sua atuação; Educação Escolar Quilombola
II – as escolas, a uma apreciação mais ampla das opor-
tunidades educativas por elas oferecidas aos educandos, Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação
reforçando a sua responsabilidade de propiciar renovadas rural na legislação brasileira, incorpora os espaços da flo-
oportunidades e incentivos aos que delas mais necessitem. resta, da pecuária, das minas e da agricultura e se estende,
também, aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e ex-
A educação em escola de tempo integral trativistas, conforme as Diretrizes para a Educação Básica do
Campo (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/CEB
Art. 36 Considera-se de período integral a jornada es- nº 1/2002, e Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução CNE/
colar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mínimo, CEB nº 2/2008).
perfazendo uma carga horária anual de, pelo menos, 1.400 Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Esco-
(mil e quatrocentas) horas. lar Quilombola são respectivamente oferecidas em unidades
Parágrafo único As escolas e, solidariamente, os siste- educacionais inscritas em suas terras e culturas e, para essas
mas de ensino, conjugarão esforços objetivando o progres- populações, estão assegurados direitos específicos na Cons-
sivo aumento da carga horária mínima diária e, consequen- tituição Federal que lhes permitem valorizar e preservar as
temente, da carga horária anual, com vistas à maior quali- suas culturas e reafirmar o seu pertencimento étnico.
ficação do processo de ensino-aprendizagem tendo como § 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e orde-
horizonte o atendimento escolar em período integral. namentos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares Na-
Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo inte- cionais específicas, terão ensino intercultural e bilíngue, com
gral promoverá a ampliação de tempos, espaços e oportuni- vistas à afirmação e à manutenção da diversidade étnica e
dades educativas e o compartilhamento da tarefa de educar linguística, assegurarão a participação da comunidade no
e cuidar entre os profissionais da escola e de outras áreas, seu modelo de edificação, organização e gestão, e deverão
as famílias e outros atores sociais, sob a coordenação da es- contar com materiais didáticos produzidos de acordo com
cola e de seus professores, visando a alcançar a melhoria da o contexto cultural de cada povo (Resolução CNE/CEB nº
qualidade da aprendizagem e da convivência social e dimi- 3/99).
nuir as diferenças de acesso ao conhecimento e aos bens § 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombo-
culturais, em especial entre as populações socialmente mais la deverá ser definido pelo Conselho Nacional de Educação
vulneráveis. por meio de Diretrizes Curriculares Nacionais específicas.
§ 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido Art. 40 O atendimento escolar às populações do campo,
como um projeto educativo integrado, implica a ampliação povos indígenas e quilombolas requer respeito às suas pe-
da jornada escolar diária mediante o desenvolvimento de culiares condições de vida e a utilização de pedagogias con-
atividades como o acompanhamento pedagógico, o reforço dizentes com as suas formas próprias de produzir conhe-
e o aprofundamento da aprendizagem, a experimentação e cimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais
a pesquisa científica, a cultura e as artes, o esporte e o lazer, Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e
as tecnologias da comunicação e informação, a afirmação Resolução CNE/ CBE nº 4/2010).
da cultura dos direitos humanos, a preservação do meio am- § 1º As escolas das populações do campo, dos povos
biente, a promoção da saúde, entre outras, articuladas aos indígenas e dos quilombolas, ao contar com a participação
componentes curriculares e áreas de conhecimento, a vivên- ativa das comunidades locais nas decisões referentes ao cur-
cias e práticas socioculturais. rículo, estarão ampliando as oportunidades de:
§ 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço I – reconhecimento de seus modos próprios de vida,
escolar conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele, suas culturas, tradições e memórias coletivas, como funda-
em espaços distintos da cidade ou do território em que está mentais para a constituição da identidade das crianças, ado-
situada a unidade escolar, mediante a utilização de equipa- lescentes e adultos;
mentos sociais e culturais aí existentes e o estabelecimen- II – valorização dos saberes e do papel dessas popula-
to de parcerias com órgãos ou entidades locais, sempre de ções na produção de conhecimentos sobre o mundo, seu
acordo com o respectivo projeto político-pedagógico.. ambiente natural e cultural, assim como as práticas ambien-
§ 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendiza- talmente sustentáveis que utilizam;
gem à comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das
para a construção de redes sociais e de cidades educadoras. comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cul-
§ 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos tivo da língua materna na escola para estes últimos, como
sistemas estaduais e municipais de educação assegurarão elementos importantes de construção da identidade;
que o atendimento dos alunos na escola de tempo integral IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar,
possua infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além das rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças relati-
do que, esse atendimento terá caráter obrigatório e será vas às atividades econômicas e culturais, mantido o total de
passível de avaliação em cada escola. horas anuais obrigatórias no currículo;
V – superação das desigualdades sociais e escolares
que afetam essas populações, tendo por garantia o direito
à educação;

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para a
campo, indígenas e quilombolas devem contemplar a diver- garantia de formação integral, da alfabetização às diferentes
sidade nos seus aspectos sociais, culturais, políticos, econô- etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles
micos, éticos e estéticos, de gênero, geração e etnia. em situação de privação de liberdade, é pautada pela inclu-
§ 3º As escolas que atendem a essas populações deve- são e pela qualidade social e requer:
rão ser devidamente providas pelos sistemas de ensino de I – um processo de gestão e financiamento que lhe as-
materiais didáticos e educacionais que subsidiem o trabalho segure isonomia em relação ao Ensino Fundamental regular;
com a diversidade, bem como de recursos que assegurem II – um modelo pedagógico próprio, que permita a
aos alunos o acesso a outros bens culturais e lhes permitam apropriação e contextualização das Diretrizes Curriculares
estreitar o contato com outros modos de vida e outras for- Nacionais;
mas de conhecimento. III – a implantação de um sistema de monitoramento
§ 4º A participação das populações locais pode também e avaliação; IV – uma política de formação permanente de
subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino quan- seus professores;
to à produção e oferta de materiais escolares e no que diz V – maior alocação de recursos para que seja ministrada
respeito ao transporte e a equipamentos que atendam as por docentes licenciados.
características ambientais e socioculturais das comunidades Art. 45 A idade mínima para ingresso nos cursos de Edu-
e as necessidades locais e regionais. cação de Jovens e Adultos e para a realização de exames de
conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos completos (Pa-
A Educação Especial recer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº 3/2010).
Parágrafo único Considerada a prioridade de atendi-
Art. 41 O projeto político-pedagógico da escola e o re- mento à escolarização obrigatória, para que haja oferta ca-
gimento escolar, amparados na legislação vigente, deverão paz de contemplar o pleno atendimento dos adolescentes,
contemplar a melhoria das condições de acesso e de per- jovens e adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, com
manência dos alunos com deficiência, transtornos globais defasagem idade/série, tanto na sequência do ensino regu-
do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns lar, quanto em Educação de Jovens e Adultos, assim como
do ensino regular, intensificando o processo de inclusão nas nos cursos destinados à formação profissional, torna-se ne-
escolas públicas e privadas e buscando a universalização do cessário:
atendimento. a) fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas
§ 1º Os recursos de acessibilidade são aqueles que as- as modalidades do Ensino Fundamental;
seguram condições de acesso ao currículo dos alunos com b) apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabelece-
deficiência e mobilidade reduzida, por meio da utilização de rem política própria para o atendimento desses estudantes,
materiais didáticos, dos espaços, mobiliários e equipamen- que considere as suas potencialidades, necessidades, expec-
tos, dos sistemas de comunicação e informação, dos trans- tativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao mundo do
portes e outros serviços. trabalho, inclusive com programas de aceleração da apren-
Art. 42 O atendimento educacional especializado aos dizagem, quando necessário;
alunos da Educação Especial será promovido e expandido c) incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adultos
com o apoio dos órgãos competentes. Ele não substitui a nos períodos diurno e noturno, com avaliação em processo.
escolarização, mas contribui para ampliar o acesso ao currí- Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e Adul-
culo, ao proporcionar independência aos educandos para a tos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será presencial
realização de tarefas e favorecer a sua autonomia (conforme e a sua duração ficará a critério de cada sistema de ensino,
Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/CEB nº 13/2009 e Reso- nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal como re-
lução CNE/CEB nº 4/2009). mete o Parecer CNE/CEB nº 6/2010. Nos anos finais, ou seja,
Parágrafo único O atendimento educacional especiali- do 6º ano ao 9º ano, os cursos poderão ser presenciais ou
zado poderá ser oferecido no contraturno, em salas de re- a distância, devidamente credenciados, e terão 1600 (mil e
cursos multifuncionais na própria escola, em outra escola ou seiscentas) horas de duração.
em centros especializados e será implementado por profes- Parágrafo único Tendo em conta as situações, os perfis e
sores e profissionais com formação especializada, de acordo as faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos, o projeto
com plano de atendimento aos alunos que identifique suas político-pedagógico da escola e o regimento escolar viabili-
necessidades educacionais específicas, defina os recursos zarão um modelo pedagógico próprio para essa modalida-
necessários e as atividades a serem desenvolvidas. de de ensino que permita a apropriação e contextualização
das Diretrizes Curriculares Nacionais assegurando:
A Educação de Jovens e Adultos I – a identificação e o reconhecimento das formas de
aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização
Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuitamen- de seus conhecimentos e experiências;
te, aos jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos II – a distribuição dos componentes curriculares de
na idade própria, oportunidades educacionais adequadas às modo a proporcionar um patamar igualitário de formação,
suas características, interesses, condições de vida e de tra- bem como a sua disposição adequada nos tempos e espa-
balho mediante cursos e exames, conforme estabelece o art. ços educativos, em face das necessidades específicas dos
37, § 1º, da Lei nº 9.394/96. estudantes.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no RESOLVE:


Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluin- Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Nacio-
do, além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição nais para a educação de alunos que
de indicadores institucionais das redes públicas e privadas, apresentem necessidades educacionais especiais, na
concorrerá para a universalização e a melhoria da qualidade Educação Básica, em todas as suas etapas e modalidades.
do processo educativo. Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos
terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas,
A implementação destas Diretrizes: compromisso assegurando- lhes os serviços de educação especial sempre
solidário dos sistemas e redes de ensino que se evidencie, mediante avaliação e interação com a fa-
mília e a comunidade, a necessidade de atendimento edu-
Art. 48 Tendo em vista a implementação destas cacional especializado.
Diretrizes, cabe aos sistemas e às redes de ensino prover: Art 2º Os sistemas de ensino devem matricular todos os
I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimen-
espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a to aos educandos com necessidades educacionais especiais,
distribuição de materiais didáticos e escolares adequados;
assegurando as condições necessárias para uma educação
II – a formação continuada dos professores e demais
de qualidade para todos.
profissionais da escola em estreita articulação com as
instituições responsáveis pela formação inicial, dispensando Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem conhecer
especiais esforços quanto à formação dos docentes a demanda real de atendimento a alunos com necessidades
das modalidades específicas do Ensino Fundamental e educacionais especiais, mediante a criação de sistemas de
àqueles que trabalham nas escolas do campo, indígenas e informação e o estabelecimento de interface com os órgãos
quilombolas; governamentais responsáveis pelo Censo Escolar e pelo
III – a coordenação do processo de implementação do Censo Demográfico, para atender a todas as variáveis implí-
currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos citas à qualidade do processo formativo desses alunos.
no interior de uma mesma realidade educacional; Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação
IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas e escolar, entende-se um processo educacional definido por
ações educativas nas respectivas redes e escolas e o supri- uma proposta pedagógica que assegure recursos e servi-
mento das necessidades detectadas. ços educacionais especiais, organizados institucionalmente
Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns ca-
os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá en- sos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a
caminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento
de consulta pública nacional, proposta de expectativas de das potencialidades dos educandos que apresentam neces-
aprendizagem dos conhecimentos escolares que devem sidades educacionais especiais, em todas as etapas e moda-
ser atingidas pelos alunos em diferentes estágios do Ensino lidades da educação básica.
Fundamental (art. 9º, § 3º). Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem constituir
Parágrafo único Cabe, ainda, ao Ministério da Educação e fazer funcionar um setor responsável pela educação es-
elaborar orientações e oferecer outros subsídios para a im- pecial, dotado de recursos humanos, materiais e financeiros
plementação destas Diretrizes. que viabilizem e dêem sustentação ao processo de constru-
Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data ção da educação inclusiva.
de sua publicação, revogandose as disposições em contrá- Art. 4º Como modalidade da Educação Básica, a edu-
rio, especialmente a Resolução cação especial considerará as situações singulares, os perfis
dos estudantes, as características bio-psicossociais dos alu-
nos e suas faixas etárias e
RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 02/01 E RESOLUÇÃO se pautará em princípios éticos, políticos e estéticos de
CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001.(*) modo a assegurar:
I - a dignidade humana e a observância do direito de
cada aluno de realizar seus projetos de estudo,
Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na de trabalho e de inserção na vida social;
Educação Básica. II - a busca da identidade própria de cada educando, o
reconhecimento e a valorização das suas diferenças e po-
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conse- tencialidades, bem como de suas necessidades educacionais
lho Nacional de Educação, de conformidade com o disposto especiais no processo de
no Art. 9o, § 1o, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de dezembro ensino e aprendizagem, como base para a constituição
de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de 25 de no- e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos, habilida-
vembro de 1995, nos Capítulos I, II e III do Título V e nos des e competências;
Artigos 58 a 60 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e III - o desenvolvimento para o exercício da cidadania,
com fundamento no Parecer CNE/CEB 17/2001, homologa- da capacidade de participação social, política e econômica e
do pelo Senhor Ministro de Estado da Educação em 15 de sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres e
agosto de 2001, o usufruto de seus direitos.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades c) atuação de professores e outros profissionais itine-
educacionais especiais os que, durante o processo educa- rantes intra e interinstitucionalmente;
cional, apresentarem: d) disponibilização de outros apoios necessários à
I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limita- aprendizagem, à locomoção e à comunicação.
ções no processo de desenvolvimento que V – serviços de apoio pedagógico especializado em sa-
dificultem o acompanhamento das atividades curricula- las de recursos, nas quais o professor
res, compreendidas em dois grupos: especializado em educação especial realize a comple-
a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica espe- mentação ou suplementação curricular, utilizando procedi-
cífica; mentos, equipamentos e materiais específicos;
b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limita- VI – condições para reflexão e elaboração teórica da
ções ou deficiências; educação inclusiva, com protagonismo dos
II – dificuldades de comunicação e sinalização diferen- professores, articulando experiência e conhecimento
ciadas dos demais alunos, demandando a utilização de lin- com as necessidades/possibilidades surgidas na relação pe-
guagens e códigos aplicáveis; dagógica, inclusive por meio de colaboração com institui-
III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade ções de ensino superior e de pesquisa;
de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente con- VII – sustentabilidade do processo inclusivo, median-
ceitos, procedimentos e atitudes. te aprendizagem cooperativa em sala de aula, trabalho de
Art. 6o Para a identificação das necessidades educacio- equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a
nais especiais dos alunos e a tomada de participação da família no processo educativo, bem como de
decisões quanto ao atendimento necessário, a escola outros agentes e recursos da comunidade;
deve realizar, com assessoramento técnico, avaliação do alu- VIII – temporalidade flexível do ano letivo, para atender
no no processo de ensino e aprendizagem, contando, para às necessidades educacionais especiais de alunos com defi-
tal, com: ciência mental ou com graves deficiências múltiplas, de for-
I - a experiência de seu corpo docente, seus diretores, ma que possam concluir em tempo maior o currículo previs-
coordenadores, orientadores e supervisores educacionais; to para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais
II - o setor responsável pela educação especial do res- do ensino fundamental, conforme estabelecido por normas
pectivo sistema; dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grande defa-
III – a colaboração da família e a cooperação dos servi- sagem idade/série;
ços de Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça e Esporte, IX – atividades que favoreçam, ao aluno que apresente
bem como do Ministério Público, quando necessário. altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e enri-
Art. 7º O atendimento aos alunos com necessidades quecimento de aspectos curriculares, mediante desafios su-
educacionais especiais deve ser realizado em classes co- plementares nas classes comuns, em sala de recursos ou em
muns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, inclusive
da Educação Básica. para conclusão, em menor tempo, da série ou etapa escolar,
Art. 8o As escolas da rede regular de ensino devem pre- nos termos do Artigo 24, V, “c”, da Lei 9.394/96.
ver e prover na organização de suas classes comuns: Art. 9o As escolas podem criar, extraordinariamente,
I - professores das classes comuns e da educação espe- classes especiais, cuja organização
cial capacitados e especializados, fundamente-se no Capítulo II da LDBEN, nas diretrizes
respectivamente, para o atendimento às necessidades curriculares nacionais para a Educação Básica, bem como
educacionais dos alunos; nos referenciais e parâmetros curriculares nacionais, para
II - distribuição dos alunos com necessidades educa- atendimento, em caráter transitório, a alunos que apresen-
cionais especiais pelas várias classes do ano escolar em que tem dificuldades acentuadas de aprendizagem ou condições
forem classificados, de modo que essas classes comuns se de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alu-
beneficiem das diferenças e nos e demandem ajudas e apoios intensos e contínuos.
ampliem positivamente as experiências de todos os alu- § 1o Nas classes especiais, o professor deve desenvolver
nos, dentro do princípio de educar para a diversidade; o currículo, mediante adaptações, e,
III – flexibilizações e adaptações curriculares que consi- quando necessário, atividades da vida autônoma e so-
derem o significado prático e instrumental dos conteúdos cial no turno inverso.
básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos dife- § 2o A partir do desenvolvimento apresentado pelo alu-
renciados e processos de avaliação adequados ao desenvol- no e das condições para o atendimento inclusivo, a equipe
vimento dos alunos que apresentam necessidades educa- pedagógica da escola e a família devem decidir conjunta-
cionais especiais, em consonância com o projeto pedagógi- mente, com base em
co da escola, respeitada a frequência obrigatória; avaliação pedagógica, quanto ao seu retorno à classe
IV – serviços de apoio pedagógico especializado, reali- comum.
zado, nas classes comuns, mediante: Art. 10. Os alunos que apresentem necessidades edu-
a) atuação colaborativa de professor especializado em cacionais especiais e requeiram atenção individualizada nas
educação especial; atividades da vida autônoma e social, recursos, ajudas e
b) atuação de professores- intérpretes das linguagens e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curri-
códigos aplicáveis; culares tão significativas que a escola comum não consiga

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em Educação Básica, contribuindo para seu retorno e rein-
escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse tegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibi-
complementado, sempre que necessário e de maneira ar- lizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no
ticulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assis- sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à
tência Social. escola regular.
§ 1º As escolas especiais, públicas e privadas, devem § 2o Nos casos de que trata este Artigo, a certificação de
cumprir as exigências legais similares às de qualquer escola frequência deve ser realizada com base no relatório elabora-
quanto ao seu processo de credenciamento e autorização do pelo professor especializado que atende o aluno.
de funcionamento de cursos e posterior reconhecimento. Art. 14. Os sistemas públicos de ensino serão responsá-
§ 2º Nas escolas especiais, os currículos devem ajustar- veis pela identificação, análise, avaliação da qualidade e da
-se às condições do educando e ao disposto no Capítulo II idoneidade, bem como pelo credenciamento de escolas ou
da LDBEN. serviços, públicos ou privados, com os quais estabelecerão
§ 3o A partir do desenvolvimento apresentado pelo alu- convênios ou parcerias para garantir o atendimento às ne-
no, a equipe pedagógica da escola especial e a família de- cessidades educacionais especiais de seus alunos, observa-
vem decidir conjuntamente quanto à transferência do aluno dos os princípios da educação inclusiva.
para escola da rede regular de ensino, com base em avalia- Art. 15. A organização e a operacionalização dos currícu-
ção pedagógica e na indicação, por parte do setor respon- los escolares são de competência e responsabilidade dos es-
sável pela educação tabelecimentos de ensino, devendo constar de seus projetos
especial do sistema de ensino, de escolas regulares em pedagógicos as disposições necessárias para o atendimento
condição de realizar seu atendimento educacional. às necessidades educacionais especiais de alunos, respeita-
Art. 11. Recomenda-se às escolas e aos sis temas de en- das, além das diretrizes curriculares nacionais de todas as
sino a constituição de parcerias com instituições de ensino etapas e modalidades da Educação Básica, as normas dos
superior para a realização de pesquisas e estudos de caso respectivos sistemas de ensino.
relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos Art. 16. É facultado às instituições de ensino, esgotadas
com necessidades educacionais especiais, visando ao aper- as possibilidades pontuadas nos Artigos 24 e 26 da LDBEN,
feiçoamento desse processo educativo. viabilizar ao aluno com grave deficiência mental ou múltipla,
Art. 12. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei que não apresentar resultados de escolarização previstos no
10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a aces- Inciso I do Artigo 32 da mesma Lei, terminalidade específica
sibilidade aos alunos que apresentem necessidades educa- do ensino fundamental, por meio da certificação de conclu-
cionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arqui- são de escolaridade, com histórico escolar que apresente, de
tetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, forma descritiva, as competências desenvolvidas pelo edu-
equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, cando, bem como o encaminhamento devido para a educa-
bem como de barreiras nas comunicações, provendo as es- ção de jovens e adultos e para a educação profissional.
colas dos recursos humanos e materiais necessários. Art. 17. Em consonância com os princípios da educa-
§ 1o Para atender aos padrões mínimos estabelecidos ção inclusiva, as escolas das redes regulares de educação
com respeito à acessibilidade, deve ser realizada a adapta- profissional, públicas e privadas, devem atender alunos que
ção das escolas existentes e condicionada a autorização de apresentem necessidades educacionais especiais, mediante
construção e funcionamento a promoção das condições de acessibilidade, a capacitação
de novas escolas ao preenchimento dos requisitos de de recursos humanos, a flexibilização e adaptação do currí-
infra-estrutura definidos. culo e o encaminhamento para o trabalho, contando, para
§ 2o Deve ser assegurada, no processo educativo de tal, com a colaboração do setor responsável pela educação
alunos que apresentam dificuldades de comunicação e si- especial do respectivo sistema de ensino.
nalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibi- § 1o As escolas de educação profissional podem realizar
lidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de parcerias com escolas especiais, públicas ou privadas, tanto
linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e para construir competências necessárias à inclusão de alu-
a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua nos em seus cursos quanto para prestar assistência técnica
portuguesa, facultando- lhes e às suas famílias a opção pela e convalidar cursos profissionalizantes realizados por essas
abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os escolas especiais.
profissionais especializados em cada caso. § 2o As escolas das redes de educação profissional po-
Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integrada dem avaliar e certificar competências laborais de pessoas
com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento com necessidades especiais não matriculadas em seus cur-
educacional especializado a alunos impossibilitados de fre- sos, encaminhando-as, a partir desses procedimentos, para
quentar as aulas em razão de tratamento de saúde que im- o mundo do trabalho.
plique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas
permanência prolongada em domicílio. para o funcionamento de suas escolas, a fim de que essas
§ 1o As classes hospitalares e o atendimento em am- tenham as suficientes condições para elaborar seu projeto
biente domiciliar devem dar continuidade ao processo de pedagógico e possam contar com professores capacitados
desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos e especializados, conforme previsto no Artigo 59 da LDBEN
matriculados em escolas da e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a For-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

mação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais obrigatória a partir de 2002, sendo facultativa no período de
do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade transição compreendido entre a publicação desta Resolução
Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a For- e o dia 31 de dezembro de 2001.
mação de Professores da Educação Básica, em nível superior, Art. 22. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
curso de licenciatura de graduação plena. publicação e revoga as disposições em contrário.
§ 1º São considerados professores capacitados para
atuar em classes comuns com alunos que apresentam ne-
cessidades educacionais especiais aqueles que comprovem PARECER CNE/CEB N° 17/01 - DIRETRIZES
que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram CURRICULARES NACIONAIS PARA A
incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA.
desenvolvimento de competências e valores para: DISPONÍVEIS EM: HTTP://PORTAL.MEC.GOV.
I – perceber as necessidades educacionais especiais dos BR/CNE/ARQUIVOS/PDF/CEB0201.PDF HTTP://
alunos e valorizar a educação inclusiva; PORTAL.MEC.GOV.BR/CNE/ARQUIVOS/PDF/
II - flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas CEB017_2001.PDF
de conhecimento de modo adequado às necessidades es-
peciais de aprendizagem;
III - avaliar continuamente a eficácia do processo edu-
cativo para o atendimento de necessidades educacionais I - RELATÓRIO
especiais;
IV - atuar em equipe, inclusive com professores especia- A edição de Diretrizes Nacionais envolve estudos abran-
lizados em educação especial. gentes relativos à matéria que, no caso, é a Educação Espe-
§ 2º São considerados professores especializados em cial. Muitas interrogações voltam-se para a pesquisa sobre o
educação especial aqueles que desenvolveram competên- assunto; sua necessidade, sua incidência no âmbito da Edu-
cias para identificar as necessidades educacionais especiais cação e do Ensino, como atendimento à clientela constituída
para definir, implementar, liderar e apoiar a implementação de portadores de deficiências detectáveis nas mais diversas
de estratégias de flexibilização, adaptação curricular, pro- áreas educacionais, políticas e sociais.
cedimentos didáticos pedagógicos e práticas alternativas, Como base para o presente relatório e decorrente pro-
adequados ao atendimentos das mesmas, bem como traba- dução de parecer foram utilizadas, além de ampla biblio-
lhar em equipe, assistindo o professor de classe comum nas grafia, diversos estudos oferecidos à Câmara da Educação
práticas que são necessárias para promover a inclusão dos Básica do Conselho Nacional de Educação, entre outros, os
alunos com necessidades educacionais especiais. provenientes do Fórum dos Conselhos Estaduais de Educa-
§ 3º Os professores especializados em educação espe- ção, do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Edu-
cial deverão comprovar: cação e, com ênfase, os estudos e trabalhos realizados pela
I - formação em cursos de licenciatura em educação es- Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação.
pecial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo Dentre os principais documentos que formaram o subs-
concomitante e associado à licenciatura para educação in- trato documental do parecer sobre a Educação Especial ci-
fantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental; tam-se:
II - complementação de estudos ou pós- graduação em
áreas específicas da educação especial, 1- “Proposta de Inclusão de Itens ou Disciplina acerca
posterior à licenciatura nas diferentes áreas de conheci- dos Portadores de Necessidades Especiais nos currículos dos
mento, para atuação nos anos finais do ensino fundamental cursos de 1º e 2º graus” (sic.)
e no ensino médio; 2- Outros estudos:
§ 4º Aos professores que já estão exercendo o magisté- a) “Desafios para a Educação Especial frente à Lei de Di-
rio devem ser oferecidas oportunidades de formação conti- retrizes e Bases da Educação Nacional”;
nuada, inclusive em nível de especialização, pelas instâncias b) “Formação de Professores para a Educação Inclusiva”;
educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e c) “Recomendações aos Sistemas de Ensino”; e,
dos Municípios. d) “Referenciais para a Educação Especial”.
Art. 19. As diretrizes curriculares nacionais de todas as
etapas e modalidades da Educação Básica estendem-se para O Presente Parecer é resultado do conjunto de estudos
a educação especial, assim como estas Diretrizes Nacionais provenientes das bases, onde o fenômeno é vivido e traba-
para a Educação Especial estendem-se para todas as etapas lhado.
e modalidades da Educação Básica. De modo particular, foi o documento “Recomendações
Art. 20. No processo de implantação destas Diretrizes aos Sistemas de Ensino” que configurou a necessidade e a
pelos sistemas de ensino, caberá às instâncias educacionais urgência da elaboração de normas, pelos sistemas de ensino
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e educação, para o atendimento da significativa população
em regime de colaboração, o estabelecimento de referen- que apresenta necessidades educacionais especiais.
ciais, normas complementares e políticas educacionais. A elaboração de projeto preliminar de Diretrizes Nacio-
Art. 21. A implementação das presentes Diretrizes Na- nais para a Educação Especial na Educação Básica havia sido
cionais para a Educação Especial na Educação Básica será discutida por diversas vezes, no âmbito da Câmara de Edu-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

cação Básica do Conselho Nacional de Educação, para a qual da educação inclusiva, a fim de cumprir os seguintes dispo-
foi enviado o documento “Referenciais para a Educação Es- sitivos legais e político- filosóficos:
pecial”. Após esses estudos preliminares, a Câmara de Edu- 1.1 - Constituição Federal, Título VIII, da ORDEM SOCIAL:
cação Básica decidiu retomar os trabalhos, sugerindo que • Artigo 208:
esse documento fosse encaminhado aos sistemas de ensino III – Atendimento educacional especializado aos porta-
de todo o Brasil, de modo que suas orientações pudessem dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
contribuir para a normatização dos serviços previstos nos ensino;
Artigos 58, 59 e 60, do Capítulo V, da Lei de Diretrizes e Ba- IV - § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é
ses da Educação Nacional - LDBEN. direito público e subjetivo.
Isto posto, tem agora a Câmara de Educação Básica os V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
elementos indispensáveis para analisar, discutir e sintetizar quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
o conjunto de estudos oferecidos pelas diversas instâncias um;
educacionais mencionadas. Com o material assim disposto, • Art. 227:
tornou-se possível, atendendo aos “Referenciais para a Edu- II - § 1º - Criação de programas de prevenção e atendi-
cação Especial”1, elaborar o texto próprio para a edição das mento especializado para os portadores de deficiência física,
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação sensorial ou mental, bem como de integração social do ado-
Básica, em dois grandes temas: lescente portador de deficiência, mediante o treinamento
a) TEMA I: A Organização dos Sistemas de Ensino para o para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos
Atendimento ao Aluno que Apresenta Necessidades Educa- bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos
cionais Especiais; e e obstáculos arquitetônicos.
b) TEMA II: A Formação do Professor. § 2º - A lei disporá normas de construção dos logradou-
O tema II, por ser parte da competência da Câmara de ros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos
Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/ de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às
CNE), foi encaminhado àquela Câmara encarregada de ela- pessoas portadoras de deficiência.
borar as diretrizes para a formação de professores. 1.2 - Lei n°. 10.172/01. Aprova o Plano Nacional de Edu-
1 - A ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO PARA cação e dá outras providências.
O ATENDIMENTO AO ALUNO QUE APRESENTA NECESSIDA- O Plano Nacional de Educação estabelece vinte e sete
DES EDUCACIONAIS ESPECIAIS objetivos e metas para a educação das pessoas com neces-
1 Com base nos “Referenciais para a Educação Especial”, sidades educacionais especiais. Sinteticamente, essas metas
devem ser feitas nesta introdução algumas recomendações tratam:
aos sistemas de ensino e educação: • do desenvolvimento de programas educacionais em
1. Implantar a educação especial em todas as etapas da todos os municípios – inclusive em parceria com as áreas de
educação básica; saúde e assistência social – visando à ampliação da oferta
2 . Prover a rede pública dos meios necessários e sufi- de atendimento desde a educação infantil até a qualificação
cientes para essa modalidade; profissional dos alunos;
3. Estabelecer políticas efetivas e adequadas à implanta- • das ações preventivas nas áreas visual e auditiva até a
ção da educação especial; generalização do atendimento aos alunos na educação in-
4. Orientar acerca de flexibilizações/adaptações dos cur- fantil e no ensino fundamental;
rículos escolares; • do atendimento extraordinário em classes e escolas
5. Orientar acerca da avaliação pedagógica e do fluxo especiais ao atendimento preferencial na rede regular de
escolar de alunos com necessidades educacionais especiais; ensino; e
6. Estabelecer ações conjuntas com as instituições de • da educação continuada dos professores que estão
educação superior para a formação adequada de professo- em exercício à formação em instituições de ensino superior.
res; 1.3 - Lei n°. 853/89. Dispõe sobre o apoio às pessoas
7. Prever condições para o atendimento extraordinário com deficiências, sua integração social, assegurando o pleno
em classes especiais ou em escolas especiais; exercício de seus direitos individuais e sociais.
8. Fazer cumprir o Decreto Federal nº 2.208/97, no to- 1.4 - Lei n°. 8.069/90. Dispõe sobre o Estatuto da Criança
cante à educação profissional de alunos com necessidades e do Adolescente.
educacionais especiais [posteriormente, o Conselho Nacio- O Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outras
nal de Educação aprovou o Parecer CNE/CEB no. 16/99 e a determinações, estabelece, no § 1o do Artigo 2o:
Resolução CNECEB no. 4/99]; • “A criança e o adolescente portadores de deficiências
9. Estabelecer normas para o atendimento aos super- receberão atendimento especializado.”
dotados; e O ordenamento do Artigo 5o é contundente:
10. Atentar para a observância de todas as normas de • “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qual-
educação especial. quer forma de negligência, discriminação, violência, cruelda-
1 - Fundamentos de e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
A Educação Especial, como modalidade da educação es- por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.”
colar, organiza-se de modo a considerar uma aproximação 1.5 - Lei n°. 9.394/96. Estabelece as diretrizes e bases da
sucessiva dos pressupostos e da prática pedagógica social educação nacional.

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

• Art. 4º, III – atendimento educacional especializado aos 1.8 - Lei n°. 10.098/00. Estabelece normas gerais e cri-
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular térios básicos para promoção da acessibilidade das pessoas
de ensino. portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dá
• Art. 58. Entende-se por educação especial, para os outras providências.
efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, ofere- 1.9 - Declaração Mundial de Educação para Todos e De-
cida preferencialmente na rede regular de ensino, para edu- claração de Salamanca.
candos portadores de necessidades especiais”. O Brasil fez opção pela construção de um sistema edu-
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe- cacional inclusivo ao concordar com a Declaração Mundial
cializado, na escola regular, para atender às peculiaridades de Educação para Todos, firmada em Jomtien, na Tailândia,
da clientela de educação especial. em 1990, e ao mostrar consonância com os postulados
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, produzidos em Salamanca (Espanha, 1994) na Conferência
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua e Qualidade.
integração nas classes comuns de ensino regular. Desse documento, ressaltamos alguns trechos que
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional criam as justificativas para as linhas de propostas que são
do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, du- apresentadas neste texto2:
rante a educação infantil. • “todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fun-
• Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- damental à educação e que a ela deva ser dada a oportuni-
candos com necessidades especiais: dade de obter e manter nível aceitável de conhecimento”;
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e • “cada criança tem características, interesses, capacida-
organização específicos, para atender às suas necessidades; des e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios”;
II – terminalidade específica para aqueles que não pu- • “os sistemas educativos devem ser projetados e os
derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino programas aplicados de modo que tenham em vista toda
fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração gama dessas diferentes características e necessidades”;
para concluir em menor tempo o programa escolar para os • “as pessoas com necessidades educacionais especiais
superdotados; devem ter acesso às escolas comuns que deverão integrá-las
III – professores com especialização adequada em nível numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a
médio ou superior, para atendimento especializado, bem essas necessidades”;
como professores do ensino regular capacitados para a in- • “adotar com força de lei ou como política, o princípio
tegração desses educandos nas classes comuns; da educação integrada que permita a
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua matrícula de todas as crianças em escolas comuns, a
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições menos que haja razões convincentes para o contrário”;
adequadas para os que não revelarem capacidade de inser- • “... Toda pessoa com deficiência tem o direito de ma-
ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os nifestar seus desejos quanto a sua educação, na medida de
órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen- sua capacidade de estar certa disso. Os pais têm o direito
tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual inerente de serem consultados sobre a forma de educação
ou psicomotora; que melhor se ajuste às necessidades, circunstâncias e aspi-
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas so- rações de seus filhos” [Nesse aspecto último, por acréscimo
ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do nosso, os
ensino regular. pais não podem incorrer em lesão ao direito subjetivo
• Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensi- à educação obrigatória, garantido no texto constitucional];
no estabelecerão critérios de caracterização das instituições • “As políticas educacionais deverão levar em conta as
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação diferenças individuais e as diversas situações. Deve ser leva-
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e da em consideração, por exemplo, a importância da língua
financeiro pelo Poder Público. de sinais como meio de comunicação para os surdos, e ser
Parágrafo Único. O Poder Público adotará, como alter- assegurado a todos os surdos acesso ao ensino da língua de
nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu- sinais de seu país. Face às necessidades específicas de comu-
candos com necessidades especiais na própria rede pública nicação de surdos e de surdos-cegos, seria mais conveniente
regular de ensino, independentemente do apoio às institui- que a educação lhes fosse ministrada em escolas especiais
ções previstas neste artigo.” ou em classes ou unidades especiais nas escolas comuns”;
1.6 - Decreto n°. 3.298/99. Regulamenta a Lei no. 2 . O documento irá se referir à “necessidades educativas
7.853/89, que dispõe sobre a Política Nacional para a Inte- especiais” como “necessidades educacionais especiais”, ado-
gração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as nor- tando a proposta de Mazzotta (1998), de substituir “educati-
mas de proteção e dá outras providências. va” por “educacional”. Do mesmo modo, considerando que
1.7 - Portaria MEC n°. 1.679/99. Dispõe sobre os requi- a tradução do documento original de Salamanca deve ser
sitos de acessibilidade a pessoas portadoras de deficiências adaptada à terminologia educacional brasileira, tomamos a
para instruir processos de autorização e de reconhecimento liberdade de alterar as expressões “integrada” ou “integra-
de cursos e de credenciamento de instituições. dora” por “inclusiva”, assim como adequamos as referências

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

às etapas da educação básica (“primário e secundário” por todos os tipos de deficiências, antes de se especializar numa
“fundamental e médio”). ou várias categorias particulares de deficiência”;
• “... desenvolver uma pedagogia centralizada na crian- • “o acolhimento, pelas escolas, de todas as crianças,
ça, capaz de educar com sucesso todos os meninos e me- independentemente de suas condições físicas, intelectuais,
ninas, inclusive os que sofrem de deficiências graves. O mé- sociais, emocionais, linguísticas ou outras (necessidades
rito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educativas especiais);
educação de qualidade a todas as crianças; com sua cria- • “uma pedagogia centralizada na criança, respeitando
ção, dá-se um passo muito importante para tentar mudar tanto a dignidade como as diferenças de todos os alunos”;
atitudes de discriminação, criar comunidades que acolham • “uma atenção especial às necessidades de alunos com
a todos...”; deficiências graves ou múltiplas, já que se assume terem eles
• “... que todas as crianças, sempre que possível, possam os mesmos direitos, que os demais membros da comunida-
aprender juntas, independentemente de suas dificuldades e de, de virem a ser adultos que desfrutem de um máximo de
diferenças... as crianças com necessidades educacionais es- independência. Sua educação, assim, deverá ser orientada
peciais devem receber todo apoio adicional necessário para nesse sentido, na medida de suas capacidades”;
garantir uma educação eficaz”. “... deverá ser dispensado • “os programas de estudos devem ser adaptados às
apoio contínuo, desde a ajuda mínima nas classes comuns necessidades das crianças e não o contrário, sendo que as
até a aplicação de programas suplementares de apoio pe- que apresentarem necessidades educativas especiais devem
dagógico na escola, ampliando-os, quando necessário, para receber apoio adicional no programa regular de estudos, ao
receber a ajuda de professores especializados e de pessoal invés de seguir um programa de estudos diferente”;
de apoio externo”; • “os administradores locais e os diretores de estabe-
• “... A escolarização de crianças em escolas especiais – lecimentos escolares devem ser convidados a criar proce-
ou classes especiais na escola regular – deveria ser uma ex- dimentos mais flexíveis de gestão, a remanejar os recursos
ceção, só recomendável naqueles casos, pouco frequentes, pedagógicos, diversificar as opções educativas, estabelecer
nos quais se demonstre que a educação nas classes comuns relações com pais e a comunidade”;
não pode satisfazer às necessidades educativas ou sociais da • “o corpo docente, e não cada professor, deverá parti-
criança, ou quando necessário para o bem estar da criança...” lhar a responsabilidade do ensino ministrado a crianças com
“... nos casos excepcionais, em que seja necessário escolari- necessidades especiais”;
zar crianças em escolas especiais, não é necessário que sua • “as escolas comuns, com essa orientação integradora,
educação seja completamente isolada”. representam o meio mais eficaz de combater atitudes dis-
• “Deverão ser tomadas as medidas necessárias para criminatórias, de criar comunidades acolhedoras, construir
conseguir a mesma política integradora de jovens e adultos uma sociedade integradora e dar educação para todos;
com necessidades especiais, no ensino secundário e supe- além disso, proporcionam uma educação efetiva à maioria
rior, assim como nos programas de formação profissional”; das crianças e melhoram a eficiência e, certamente, a relação
• “assegurar que, num contexto de mudança sistemáti- custo– benefício de todo o sistema educativo”;
ca, os programas de formação do professorado, tanto inicial • “A inclusão de alunos com necessidades educacionais
como contínua, estejam voltados para atender às necessida- especiais, em classes comuns, exige que a escola regular se
des educacionais especiais nas escolas...”; organize de forma a oferecer possibilidades objetivas de
• “Os programas de formação inicial deverão incutir em aprendizagem, a todos os alunos, especialmente àqueles
todos os professores da educação básica uma orientação portadores de deficiências”.
positiva sobre a deficiência que permita entender o que se Esses dispositivos legais e político-filosóficos possibili-
pode tam estabelecer o horizonte das políticas educacionais, de
conseguir nas escolas com serviços locais de apoio. Os modo que se assegure a igualdade de oportunidades e a
conhecimentos e as aptidões valorização da diversidade no processo educativo. Nesse
requeridos são basicamente os mesmos de uma boa sentido, tais dispositivos devem converter-se em um com-
pedagogia, isto é, a capacidade de avaliar as necessidades promisso ético-político de todos, nas diferentes esferas de
especiais, de adaptar o conteúdo do programa de estudos, poder, e em responsabilidades bem definidas para sua ope-
de recorrer à ajuda da tecnologia, de individualizar os pro- racionalização na realidade escolar.
cedimentos pedagógicos para atender a um maior núme-
ro de aptidões... Atenção especial deverá ser dispensada à 2 . A política educacional
preparação de todos os professores para que exerçam sua
autonomia e apliquem suas competências na adaptação dos Percorrendo os períodos da história universal, desde
programas de estudos e da pedagogia, a fim de atender às os mais remotos tempos, evidenciam-se teorias e práticas
necessidades dos alunos e para que colaborem com os es- sociais segregadoras, inclusive quanto ao acesso ao saber.
pecialistas e com os pais”; Poucos podiam participar dos espaços sociais nos quais se
• “A capacitação de professores especializados deverá transmitiam e se criavam conhecimentos. A pedagogia da
ser reexaminada com vista a lhes permitir o trabalho em di- exclusão tem origens remotas, condizentes com o modo
ferentes contextos e o desempenho de um papel-chave nos como estão sendo construídas as condições de existência da
programas relativos às necessidades educacionais especiais. humanidade em determinado momento histórico.
Seu núcleo comum deve ser um método geral que abranja

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

Os indivíduos com deficiências, vistos como “doentes” e Essa tendência, que já foi senso comum no passado,
incapazes, sempre estiveram em situação de maior desvan- reforçava não só a segregação de indivíduos, mas também
tagem, ocupando, no imaginário coletivo, a posição de alvos os preconceitos sobre as pessoas que fugiam do padrão de
da caridade popular e da assistência social, e não de sujeitos “normalidade”, agravando-se pela irresponsabilidade dos
de direitos sociais, entre os quais se inclui o direito à educa- sistemas de ensino para com essa parcela da população, as-
ção. Ainda hoje, constata-se a dificuldade de aceitação do sim como pelas omissões e/ou insuficiência de informações
diferente no seio familiar e social, principalmente do porta- acerca desse alunado nos cursos de formação de professo-
dor de deficiências múltiplas e graves, que na escolarização res. Na tentativa de eliminar os preconceitos e de integrar
apresenta dificuldades acentuadas de aprendizagem. os alunos portadores de deficiências nas escolas comuns do
Além desse grupo, determinados segmentos da comu- ensino regular, surgiu o movimento de integração escolar.
nidade permanecem igualmente discriminados e à margem Esse movimento caracterizou-se, de início, pela utiliza-
do sistema educacional. É o caso dos superdotados, por- ção das classes especiais (integração parcial) na “prepara-
tadores de altas habilidades, “brilhantes” e talentosos que, ção” do aluno para a “integração total” na classe comum.
devido a necessidades e motivações específicas – incluin- Ocorria, com frequência, o encaminhamento indevido de
do a não aceitação da rigidez curricular e de aspectos do alunos para as classes especiais e, consequentemente, a ro-
cotidiano escolar – são tidos por muitos como trabalhosos tulação a que eram submetidos.
e indisciplinados, deixando de receber os serviços especiais O aluno, nesse processo, tinha que se adequar à escola,
de que necessitam, como por exemplo o enriquecimento e que se mantinha inalterada. A integração total na classe co-
aprofundamento curricular. Assim, esses alunos muitas ve- mum só era permitida para aqueles alunos que conseguis-
zes abandonam o sistema educacional, inclusive por dificul- sem acompanhar o currículo ali desenvolvido. Tal processo,
dades de relacionamento. no entanto, impedia que a maioria das crianças, jovens e
Outro grupo que é comumente excluído do sistema adultos com necessidades especiais alcançassem os níveis
educacional é composto por alunos que apresentam dificul- mais elevados de ensino. Eles engrossavam, dessa forma, a
dades de adaptação escolar por manifestações condutuais lista dos excluídos do sistema educacional.
peculiares de síndromes e de quadros psicológicos, neuroló- Na era atual, batizada como a era dos direitos, pensa-se
gicos ou psiquiátricos que ocasionam atrasos no desenvolvi- diferentemente acerca das necessidades educacionais de
mento, dificuldades acentuadas de aprendizagem e prejuízo alunos. A ruptura com a ideologia da exclusão proporcio-
no relacionamento social. nou a implantação da política de inclusão, que vem sendo
Certamente, cada aluno vai requerer diferentes estraté- debatida e exercitada em vários países, entre eles o Brasil.
gias pedagógicas, que lhes possibilitem o acesso à herança Hoje, a legislação brasileira posiciona-se pelo atendimento
cultural, ao conhecimento socialmente construído e à vida dos alunos com necessidades educacionais especiais prefe-
produtiva, condições essenciais para a inclusão social e o rencialmente em classes comuns das escolas, em todos os
pleno exercício da cidadania. Entretanto, devemos conceber níveis, etapas e modalidades de educação e ensino.
essas estratégias não como medidas compensatórias e pon- A educação tem hoje, portanto, um grande desafio: ga-
tuais, e sim como parte de um projeto educativo e social de rantir o acesso aos conteúdos básicos que a escolarização
caráter emancipatório e global. deve proporcionar a todos os indivíduos – inclusive àqueles
A construção de uma sociedade inclusiva é um proces- com necessidades educacionais especiais, particularmen-
so de fundamental importância para o desenvolvimento e te alunos que apresentam altas habilidades, precocidade,
a manutenção de um Estado democrático. Entende-se por superdotação; condutas típicas de síndromes/quadros psi-
inclusão a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espa- cológicos, neurológicos ou psiquiátricos; portadores de de-
ço comum da vida em sociedade, sociedade essa que deve ficiências, ou seja, alunos que apresentam significativas di-
estar orientada por relações de acolhimento à diversidade ferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fa-
humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço tores genéticos, inatos ou ambientais, de caráter temporário
coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvi- ou permanente e que, em interação dinâmica com fatores
mento, com qualidade, em todas as dimensões da vida. socioambientais, resultam em necessidades muito diferen-
Como parte integrante desse processo e contribuição ciadas da maioria das pessoas3.
essencial para a determinação de seus rumos, encontra-se a Ao longo dessa trajetória, verificou-se a necessidade de
inclusão educacional. se reestruturar os sistemas de ensino, que devem organi-
Um longo caminho foi percorrido entre a exclusão e a zar-se para dar respostas às necessidades educacionais de
inclusão escolar e social. Até recentemente, a teoria e a prá- todos os alunos. O caminho foi longo, mas aos poucos está
tica dominantes relativas ao atendimento às necessidades surgindo uma nova mentalidade, cujos resultados deverão
educacionais especiais de crianças, jovens e adultos, de- ser alcançados pelo esforço de todos, no reconhecimento
finiam a organização de escolas e de classes especiais, se- dos direitos dos cidadãos. O principal direito refere-se à
parando essa população dos demais alunos. Nem sempre, preservação da dignidade e à busca da identidade como ci-
mas em muitos casos, a escola especial desenvolvia-se em dadãos. Esse direito pode ser alcançado por meio da imple-
regime residencial e, consequentemente, a criança, o ado- mentação da política nacional de educação especial. Existe
lescente e o jovem eram afastados da família e da sociedade. uma dívida social a ser resgatada.
Esse procedimento conduzia, invariavelmente, a um apro- Vem a propósito a tese defendida no estudo e Parecer
fundamento maior do preconceito. da Câmara de Educação Básica (CEB/CNE) sobre a função re-

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

paradora na Educação de Jovens e Adultos (EJA) que, do seu A dignidade humana não permite que se faça esse tipo
relator Prof. Carlos Roberto Jamil Cury, mereceu um capítulo de discriminação. Ao contrário, exige que os direitos de
especial. Sem dúvida alguma, um grande número de alunos igualdade de oportunidades sejam respeitados. O respeito
com necessidades educacionais especiais poderá recuperar à dignidade da qual está revestido todo ser humano impõe-
o tempo perdido por meio dos cursos dessa modalidade: -se, portanto, como base e valor fundamental de todo estu-
“Desse modo, a função reparadora da EJA, no limite, do e ações práticas direcionadas ao atendimento dos alunos
significa não só a entrada no circuito do direito civil pela que apresentam necessidades especiais, independentemen-
restauração de um direito negado: o direito a uma escola de te da forma em que tal necessidade se manifesta.
qualidade, mas também o reconhecimento daquela igual- A vida humana ganha uma riqueza se é construída e ex-
dade ontológica de todos e qualquer ser humano. Desta ne- perimentada tomando como referência o princípio da dig-
gação, evidente na história brasileira, resulta uma perda: o nidade. Segundo esse princípio, toda e qualquer pessoa é
acesso a um bem real, social e simbolicamente importante. digna e merecedora do respeito de seus semelhantes e tem
Logo, não se deve confundir a noção de reparação com a de o direito a boas condições de vida e à oportunidade de rea-
suprimento”. lizar seus projetos.
Falando da Função Equalizadora, o mesmo Parecer es- Juntamente com o valor fundamental da dignidade, im-
pecifica: põe-se o da busca da identidade. Trata-se de um caminho
“A igualdade e a desigualdade continuam a ter relação nunca suficientemente acabado. Todo cidadão deve, primei-
imediata ou mediata com o trabalho. Mas seja para o traba- ro, tentar encontrar uma identidade inconfundivelmente
lho, seja para a multiformidade de inserções sócio – político sua. Para simbolizar a
– culturais , aqueles que se virem privados do saber básico, sociedade humana, podemos utilizar a forma de um
dos conhecimentos aplicados e das atualizações requeridas, prisma, em que cada face representa uma parte da reali-
podem se ver excluídos das antigas e novas oportunidades dade. Assim, é possível que, para encontrar sua identidade
do mercado de trabalho e vulneráveis a novas formas de de- específica, cada cidadão precise encontrar-se como pessoa,
sigualdades. Se as múltiplas modalidades de trabalho infor- familiarizar-se consigo mesmo, até que, finalmente, tenha
mal, o subemprego, o desemprego estrutural, as mudanças uma identidade, um rosto humanamente respeitado.
no processo de produção e o aumento do setor de serviços Essa reflexão favorece o encontro das possibilidades,
geram uma grande instabilidade e insegurança para todos das capacidades de que cada um é dotado, facilitando a
os que estão na vida ativa e quanto mais para os que se verdadeira inclusão. A interdependência de cada face des-
vêem desprovidos de bens tão básicos, como a escrita e a se prisma possibilitará a abertura do indivíduo para com o
leitura.” (Parecer nº 11/2000- CEB/CNE.). outro, decorrente da aceitação da condição humana. Apro-
Certamente, essas funções descritas e definidas no Pa- ximando-se, assim, as duas realidades – a sua e a do outro
recer que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a – visualiza- se a possibilidade de interação e extensão de si
Educação de Jovens e Adultos podem, sem prejuízo, qua- mesmo.
lificar as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Em nossa sociedade, ainda há momentos de séria re-
Educação Básica, principalmente porque muitos alunos que jeição ao outro, ao diferente, impedindo-o de sentir-se, de
apresentam necessidades educacionais especiais também se perceber-se e de respeitar-se como pessoa. A educação, ao
incluem nessa modalidade de educação. adotar a diretriz inclusiva no exercício de seu papel socia-
lizador e pedagógico, busca estabelecer relações pessoais
3. Princípios e sociais de solidariedade, sem máscaras, refletindo um
dos tópicos mais importantes para a humanidade, uma das
3 Conselho de Educação do Estado de São Paulo. maiores conquistas de dimensionamento “ad intra” e “ad ex-
tra” do ser e da abertura para o mundo e para o outro. Essa
Matéria tão complexa como a do direito à educação das abertura, solidária e sem preconceitos, poderá fazer com
pessoas que apresentam necessidades educacionais espe- que todos percebam-se como dignos e iguais na vida social.
ciais requer fundamentação nos seguintes princípios: A democracia, nos termos em que é definida pelo Artigo
• a preservação da dignidade humana; I da Constituição Federal, estabelece as bases para viabili-
• a busca da identidade; e zar a igualdade de oportunidades, e também um modo de
• o exercício da cidadania. sociabilidade que permite a expressão das diferenças, a ex-
Se historicamente são conhecidas as práticas que leva- pressão de conflitos, em uma palavra, a pluralidade. Portan-
ram, inclusive, à extinção e à exclusão social de seres huma- to, no desdobramento do que se chama de conjunto central
nos considerados não produtivos, é urgente que tais práti- de valores, devem valer a liberdade, a tolerância, a sabedo-
cas sejam definitivamente banidas da sociedade humana. E ria de conviver com o diferente, tanto do ponto de vista de
bani-las não significa apenas não praticá-las. Exige a adoção valores quanto de costumes, crenças religiosas, expressões
de práticas fundamentadas nos princípios da dignidade e artísticas, capacidades e limitações.
dos direitos humanos. Nada terá sido feito se, no exercício A atitude de preconceito está na direção oposta do que
da educação e da formação da personalidade humana, o es- se requer para a existência de uma sociedade democrática e
forço permanecer vinculado a uma atitude de comiseração, plural. As relações entre os indivíduos devem estar susten-
como se os alunos com necessidades educacionais especiais tadas por atitudes de respeito mútuo. O respeito traduz-se
fossem dignos de piedade. pela valorização de cada indivíduo em sua singularidade, nas

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

características que o constituem. O respeito ganha um signi- § 1º – entende-se um processo educacional definido
ficado mais amplo quando se realiza como respeito mútuo: em uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto
ao dever de respeitar o outro, articula-se o direito de ser de recursos e serviços educacionais especiais, organizados
respeitado. O respeito mútuo tem sua significação ampliada institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar
no conceito de solidariedade. e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais co-
A consciência do direito de constituir uma identidade muns4, de modo a garantir a educação escolar e promover
própria e do reconhecimento da identidade do outro tradu- o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que
z-se no direito à igualdade e no respeito às diferenças, as- apresentam necessidades educacionais especiais, em todos
segurando oportunidades diferenciadas (equidade), tantas os níveis, etapas e modalidades da educação (Mazzotta,
quantas forem necessárias, com vistas à busca da igualdade. 1998).
O princípio da equidade reconhece a diferença e a neces- A educação especial, portanto, insere-se nos diferentes
sidade de haver condições diferenciadas para o processo níveis da educação escolar: Educação Básica – abrangendo
educacional. educação infantil, educação fundamental e ensino médio –
Como exemplo dessa afirmativa, pode-se registrar o di- e Educação Superior, bem como na interação com as de-
reito à igualdade de oportunidades de acesso ao currículo mais modalidades da educação escolar, como a educação
escolar. Se cada criança ou jovem brasileiro com necessida- de jovens e adultos, a educação profissional e a educação
des educacionais especiais tiver acesso ao conjunto de co- indígena.
nhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como A política de inclusão de alunos que apresentam neces-
necessários para o exercício da cidadania, estaremos dando sidades educacionais especiais na rede regular de ensino
um passo decisivo para a constituição de uma sociedade não consiste apenas na permanência física desses alunos
mais justa e solidária. junto aos demais educandos, mas representa a ousadia de
A forma pela qual cada aluno terá acesso ao currículo rever concepções e paradigmas, bem como desenvolver
distingue-se pela singularidade. O cego, por exemplo, por o potencial dessas pessoas, respeitando suas diferenças e
meio do sistema Braille; o surdo, por meio da língua de sinais atendendo suas necessidades.
e da língua portuguesa; o paralisado cerebral, por meio da O respeito e a valorização da diversidade dos alunos
informática, entre outras técnicas. exigem que a escola defina sua responsabilidade no estabe-
O convívio escolar permite a efetivação das relações de lecimento de relações que possibilitem a criação de espaços
respeito, identidade e dignidade. Assim, é sensato pensar inclusivos, bem como procure superar a produção, pela pró-
que as regras que organizam a convivência social de forma pria escola, de necessidades especiais.
justa, respeitosa, solidária têm grandes chances de aí serem A proposição dessas políticas deve centrar seu foco de
seguidas. discussão na função social da escola. É no projeto pedagógi-
A inclusão escolar constitui uma proposta que repre- co que a escola se posiciona em relação a seu compromisso
senta valores simbólicos importantes, condizentes com a com uma educação de qualidade para todos os seus alunos.
igualdade de direitos e de oportunidades educacionais para Assim, a escola deve assumir o papel de propiciar ações que
todos, mas encontra ainda sérias resistências. Estas se ma- favoreçam determinados tipos de interações sociais, definin-
nifestam, principalmente, contra a idéia de que todos de- do, em seu currículo, uma opção por práticas heterogêneas
vem ter acesso garantido à escola comum. A dignidade, os e inclusivas. De conformidade com o Artigo 13 da LDBEN,
direitos individuais e coletivos garantidos pela Constituição em seus incisos I e II, ressalta-se o necessário protagonismo
Federal impõem às autoridades e à sociedade brasileira a dos professores no processo de construção coletiva do pro-
obrigatoriedade de efetivar essa política, como um direito jeto pedagógico.
público subjetivo, para o qual os recursos humanos e ma- Dessa forma, não é o aluno que se amolda ou se adapta
teriais devem ser canalizados, atingindo, necessariamente, à escola, mas é ela que, consciente de sua função, coloca-
toda a educação básica. -se à disposição do aluno, tornando-se um espaço inclusivo.
O propósito exige ações práticas e viáveis, que tenham Nesse contexto, a educação especial é concebida para possi-
como fundamento uma política específica, em âmbito na- bilitar que o aluno com necessidades educacionais especiais
cional, orientada para a inclusão dos serviços de educação atinja os objetivos da educação geral.
especial na educação regular. Operacionalizar a inclusão es- O planejamento e a melhoria consistentes e contínuos
colar – de modo que todos os alunos, independentemente da estrutura e funcionamento dos sistemas de ensino, com
de classe, raça, gênero, sexo, características individuais ou vistas a uma qualificação crescente do processo pedagógico
necessidades educacionais especiais, possam aprender jun- para a educação na diversidade, implicam ações de diferente
tos em uma escola de qualidade – é o grande desafio a ser natureza:
enfrentado, numa clara demonstração de respeito à diferen-
ça e compromisso com a promoção dos direitos humanos. 4.1 - No âmbito político

4. Construindo a inclusão na área educacional Os sistemas escolares deverão assegurar a matrícula de


todo e qualquer aluno, organizando-se para o atendimen-
Por educação especial, modalidade de educação escolar to aos educandos com necessidades educacionais especiais
– conforme especificado na LDBEN e no recente Decreto nº nas classes comuns. Isto requer ações em todas as instân-
3.298, de 20 de dezembro de 1999, Artigo 24, cias, concernentes à garantia de vagas no ensino regular

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

para a diversidade dos alunos, independentemente das ne- educacionais inclusivas – e o estabelecimento de interface
cessidades especiais que apresentem; a elaboração de pro- com os órgãos governamentais responsáveis pelo Censo
jetos pedagógicos que se orientem pela política de inclusão Escolar e pelo Censo Demográfico, para atender a todas as
e pelo compromisso com a educação escolar desses alunos; variáveis implícitas à qualidade do processo formativo des-
o provimento, nos ses alunos.
Este Parecer adota as seguintes acepções para os ter-
mos assinalados: 4.2 - No âmbito técnico-científico
a) Apoiar: “prestar auxílio ao professor e ao aluno no
processo de ensino e aprendizagem, tanto nas classes co- A formação dos professores5 para o ensino na diver-
muns quanto em salas de recursos”; complementar: “com- sidade, bem como para o desenvolvimento de trabalho de
pletar o currículo para viabilizar o acesso à base nacional equipe são essenciais para a efetivação da inclusão.
comum”; suplementar: “ampliar, aprofundar ou enriquecer a Tal tema, no entanto, por ser da competência da Câmara
base nacional comum”. Essas formas de de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação
atuação visam assegurar resposta educativa de qualida- (CES/CNE), foi encaminhado para a comissão bicameral en-
de às necessidades educacionais especiais dos alunos nos carregada de elaborar as diretrizes para a formação de pro-
sistemas locais de ensino, dos necessários recursos peda- fessores.
gógicos especiais, para apoio aos programas educativos e Cabe enfatizar que o inciso III do artigo 59 da LDBEN
ações destinadas à capacitação de recursos humanos para refere-se a dois perfis de professores para atuar com alunos
atender às demandas desses alunos. que apresentam necessidades educacionais especiais: o pro-
b) Substituir: “colocar em lugar de”. Compreende o fessor da classe comum capacitado e o professor especiali-
atendimento educacional especializado realizado em classes zado em educação especial.
especiais, escolas especiais, classes hospitalares e atendi- São considerados professores capacitados para atuar
mento domiciliar. em classes comuns com alunos que apresentam necessida-
Essa política inclusiva exige intensificação quantitativa e des educacionais especiais, aqueles que comprovem que,
qualitativa na formação de recursos humanos e garantia de em
recursos financeiros e serviços de apoio pedagógico públi-
cos e privados especializados para assegurar o desenvolvi- 5 A fundamentação legal e conceitual que preside à for-
mento educacional dos alunos. mação: a) do professor dos professores; b) do professor ge-
Considerando as especificidades regionais e culturais neralista, (com orientação explícita para o atendimento, em
que caracterizam o complexo contexto educacional brasi- classe comum, de discentes com necessidades especiais); c)
leiro, bem como o conjunto de necessidades educacionais do professor para educação especial (para o atendimento
especiais presentes em cada unidade escolar, há que se en- às diferentes necessidades educacionais especiais) é estudo
fatizar a necessidade de que decisões sejam tomadas local próprio da Educação Superior. Portanto, essa matéria está
e/ou regionalmente, tendo por parâmetros as leis e diretri- sendo tratada por Comissão Bicameral do Conselho Nacio-
zes pertinentes à educação brasileira, além da legislação es- nal de Educação, encarregada das Diretrizes Nacionais para
pecífica da área. Formação de Professores.
É importante que a descentralização do poder, manifes- I – perceber as necessidades educacionais especiais dos
tada na política de colaboração entre União, Estados, Distrito alunos;
Federal e Municípios seja efetivamente exercitada no País, II - flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas
tanto no que se refere ao debate de idéias, como ao proces- de conhecimento; III - avaliar continuamente a eficácia do
so de tomada de decisões acerca de como devem se estru- processo educativo;
turar os sistemas educacionais e de quais procedimentos de IV - atuar em equipe, inclusive com professores especia-
controle social serão desenvolvidos. lizados em educação especial.
Tornar realidade a educação inclusiva, por sua vez, não se São considerados professores especializados em educa-
efetuará por decreto, sem que se avaliem as reais condições ção especial aqueles que desenvolveram competências para
que possibilitem a inclusão planejada, gradativa e contínua identificar as necessidades educacionais especiais, definir
de alunos com necessidades educacionais especiais nos sis- e implementar respostas educativas a essas necessidades,
temas de ensino. Deve ser gradativa, por ser necessário que apoiar o professor da classe comum, atuar nos processos de
tanto a educação especial como o ensino regular possam desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, desenvolven-
ir se adequando à nova realidade educacional, construindo do estratégias de flexibilização, adaptação curricular e prá-
políticas, práticas institucionais e pedagógicas que garantam ticas pedagógicas alternativas, entre outras, e que possam
o incremento da qualidade do ensino, que envolve alunos comprovar:
com ou sem necessidades educacionais especiais. a) formação em cursos de licenciatura em educação es-
Para que se avance nessa direção, é essencial que os pecial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo
sistemas de ensino busquem conhecer a demanda real de concomitante e associado à licenciatura para educação in-
atendimento a alunos com necessidades educacionais espe- fantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental; e
ciais, mediante a criação de sistemas de informação – que, b) complementação de estudos ou pós-graduação em
além do conhecimento da demanda, possibilitem a identi- áreas específicas da educação especial, posterior à licencia-
ficação, análise, divulgação e intercâmbio de experiências

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LEGISLAÇÃO FEDERAL

tura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação nos da educação, bem como as relações que se estabelecem en-
anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. tre todas elas.
Aos professores que já estão exercendo o magistério Sob esse enfoque, ao contrário do modelo clínico6, tra-
devem ser oferecidas oportunidades de formação conti- dicional e classificatório, a ênfase deverá recair no desenvol-
nuada, inclusive em nível de especialização, pelas instâncias vimento e na aprendizagem do aluno, bem como na melho-
educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e ria da instituição escolar, onde a avaliação é entendida como
dos Municípios. processo permanente de análise das variáveis que interfe-
Cabe a todos, principalmente aos setores de pesquisa, rem no processo de ensino e aprendizagem, para identificar
às Universidades, o desenvolvimento de estudos na busca potencialidades e necessidades educacionais dos alunos e
dos melhores recursos para auxiliar/ampliar a capacidade as condições da escola para responder a essas necessidades.
das pessoas com necessidades educacionais especiais de se Para sua realização, deverá ser formada, no âmbito da pró-
comunicar, de se locomover e de participar de maneira cada pria escola, uma equipe de avaliação que conte com a parti-
vez mais autônoma do meio educacional, da vida produtiva cipação de todos os profissionais que acompanhem o aluno.
e da vida social, exercendo assim, de maneira plena, a sua Nesse caso, quando os recursos existentes na própria
cidadania. Estudos e pesquisas sobre inovações na prática escola mostrarem-se insuficientes para melhor compreen-
pedagógica e desenvolvimento e aplicação de novas tecno- der as necessidades educacionais dos alunos e identificar
logias ao processo educativo, por exemplo, são de grande os apoios indispensáveis, a escola poderá recorrer a uma
relevância para o avanço das práticas inclusivas, assim como equipe multiprofissional7. A composição dessa equipe pode
atividades de extensão junto às comunidades escolares. abranger profissionais de uma determinada instituição ou
profissionais de instituições diferentes. Cabe aos gestores
4.3 - No âmbito pedagógico educacionais buscar essa equipe multiprofissional em outra
escola do sistema educacional ou na comunidade, o que se
Todos os alunos, em determinado momento de sua vida pode concretizar por meio de parcerias e convênios entre
escolar, podem apresentar necessidades educacionais, e a Secretaria de Educação e outros órgãos, governamentais
seus professores, em geral, conhecem diferentes estratégias ou não.
para dar respostas a elas. No entanto, existem necessidades A partir dessa avaliação e das observações feitas pela
educacionais que requerem, da escola, uma série de recur- equipe escolar, legitima- se a criação dos serviços de apoio
sos e apoios de caráter mais especializado, que proporcio- pedagógico especializado para atendimento às necessida-
nem ao aluno meios para acesso ao currículo. Essas são as des educacionais especiais dos alunos, ocasião em que o
chamadas necessidades educacionais especiais. “especial” da educação se manifesta.
Como se vê, trata-se de um conceito amplo: em vez de Para aqueles alunos que apresentem dificuldades acen-
focalizar a deficiência da pessoa, enfatiza o ensino e a escola, tuadas de aprendizagem ou dificuldades de comunicação e
bem como as formas e condições de aprendizagem; em vez sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandem
de procurar, no aluno, a origem de um problema, define-se 6 Abordagem médica e psicológica, que se detinha no
pelo tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que que pretensamente “faltava” aos educandos. Implicava um
a escola deve proporcionar-lhe para que obtenha sucesso diagnóstico clínico, para avaliar as características e dificul-
escolar; por fim, em vez de pressupor que o aluno deva ajus- dades manifestadas pelos alunos, objetivando constatar se
tar-se a padrões de “normalidade” para aprender, aponta deviam, ou não, ser encaminhados às classes especiais ou
para a escola o desafio de ajustar-se para atender à diversi- escolas especiais ou ainda às classes comuns do ensino re-
dade de seus alunos. gular.
Um projeto pedagógico que inclua os educandos com 7 Médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas,
necessidades educacionais especiais deverá seguir as mes- terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e outros.
mas diretrizes já traçadas pelo Conselho Nacional de Educa- Os alunos que apresentem necessidades educacionais
ção para a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino especiais e requeiram atenção individualizada nas ativida-
médio, a educação profissional de nível técnico, a educação des da vida autônoma e social, recursos, ajudas e apoios in-
de jovens e adultos e a educação escolar indígena. Entretan- tensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão
to, esse projeto deverá atender ao princípio da flexibilização, significativas que a escola comum não tenha conseguido
para que o acesso ao currículo seja adequado às condições prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em
dos discentes, respeitando seu caminhar próprio e favore- escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse
cendo seu progresso escolar. complementado, sempre que necessário e de maneira ar-
No decorrer do processo educativo, deverá ser realiza- ticulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assis-
da uma avaliação pedagógica dos alunos que apresentem tência Social.
necessidades educacionais especiais, objetivando identificar É nesse contexto de idéias que a escola deve identificar
barreiras que estejam impedindo ou dificultando o processo a melhor forma de atender às necessidades educacionais de
educativo em suas múltiplas dimensões. seus alunos, em seu processo de aprender. Assim, cabe a
Essa avaliação deverá levar em consideração todas as cada unidade escolar diagnosticar sua realidade educacional
variáveis: as que incidem na aprendizagem: as de cunho in- e implementar as alternativas de serviços e a sistemática de
dividual; as que incidem no ensino, como as condições da funcionamento de tais serviços, preferencialmente no âmbi-
escola e da prática docente; as que inspiram diretrizes gerais to da própria escola, para favorecer o sucesso escolar de to-

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dos os seus alunos. Nesse processo, há que se considerar as gurar a acessibilidade, os sistemas de ensino devem prover
alternativas já existentes e utilizadas pela comunidade esco- as escolas dos recursos humanos e materiais necessários.
lar, que se têm mostrado eficazes, tais como salas de recur- Além disso, deve ser afirmado e ampliado o compromis-
sos, salas de apoio pedagógico, serviços de itinerância em so político com a educação inclusiva – por meio de estra-
suas diferentes possibilidades de realização (itinerância intra tégias de comunicação e de atividades comunitárias, entre
e interescolar), como também investir na criação de novas outras – para, desse modo:
alternativas, sempre fundamentadas no conjunto de neces- a) fomentar atitudes pró-ativas das famílias, alunos, pro-
sidades educacionais especiais encontradas no contexto da fessores e da comunidade escolar em geral;
unidade escolar, como por exemplo a modalidade de apoio b) superar os obstáculos da ignorância, do medo e do
alocado na classe comum, sob a forma de professores e/ preconceito;
ou profissionais especializados, com os recursos e materiais c) divulgar os serviços e recursos educacionais existen-
adequados. tes;
Da mesma forma, há que se estabelecer um relaciona- d) difundir experiências bem sucedidas de educação in-
mento profissional com os serviços especializados dispo- clusiva;
níveis na comunidade, tais como aqueles oferecidos pelas e) estimular o trabalho voluntário no apoio à inclusão
escolas especiais, centros ou núcleos educacionais especia- escolar.
lizados, instituições públicas e privadas de atuação na área É também importante que a esse processo se sucedam
da educação especial. Importante, também, é a integração ações de amplo alcance, tais como a reorganização admi-
dos serviços educacionais com os das áreas de Saúde, Traba- nistrativa, técnica e financeira dos sistemas educacionais e a
lho e Assistência Social, garantindo a totalidade do processo melhoria das condições de trabalho docente.
formativo e o atendimento adequado ao desenvolvimento O quadro a seguir ilustra como se deve entender e ofer-
integral do cidadão. tar os serviços de educação especial, como parte integran-
te do sistema educacional brasileiro, em todos os níveis de
4.4 - No âmbito administrativo educação e ensino:

Para responder aos desafios que se apresentam, é ne- 2 - OPERACIONALIZAÇÃO PELOS SISTEMAS DE EN-
cessário que os sistemas de ensino constituam e façam fun- SINO
cionar um setor responsável pela educação especial, dotado
de recursos humanos, materiais e financeiros que viabilizem Para eliminar a cultura de exclusão escolar e efetivar
e dêem sustentação ao processo de construção da educação os propósitos e as ações referentes à educação de alunos
inclusiva. com necessidades educacionais especiais, torna-se necessá-
É imprescindível planejar a existência de um canal oficial rio utilizar uma linguagem consensual, que, com base nos
e formal de comunicação, de estudo, de tomada de decisões novos paradigmas, passa a utilizar os conceitos na seguinte
e de coordenação dos processos referentes às mudanças na acepção:
estruturação dos serviços, na gestão e na prática pedagógi- 1. Educação Especial: Modalidade da educação escolar;
ca para a inclusão de alunos com necessidades educacionais processo educacional definido em uma proposta pedagó-
especiais. gica, assegurando um conjunto de recursos e serviços edu-
Para o êxito das mudanças propostas, é importante que cacionais especiais, organizados institucionalmente para
os gestores educacionais e escolares assegurem a acessibili- apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos,
dade aos alunos que apresentem necessidades educacionais substituir os serviços educacionais comuns, de modo a ga-
especiais, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas rantir a educação escolar e promover o desenvolvimento
urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equi- das potencialidades dos educandos que apresentam neces-
pamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, bem sidades educacionais especiais, em todas as etapas e moda-
como de barreiras nas comunicações. lidades da educação básica.
Para o atendimento dos padrões mínimos estabelecidos 2. Educandos que apresentam necessidades educacio-
com respeito à acessibilidade, deve ser realizada a adapta- nais especiais são aqueles que, durante o processo educa-
ção das escolas existentes e condicionada a autorização de cional, demonstram:
construção e funcionamento de novas escolas ao preenchi- 2.1. dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limi-
mento dos requisitos de infra-estrutura definidos. tações no processo de desenvolvimento que dificultem o
acompanhamento das atividades curriculares, compreendi-
Com relação ao processo educativo de alunos que apre- das em dois grupos:
sentem condições de comunicação e sinalização diferencia- 2.1.1. aquelas não vinculadas a uma causa orgânica es-
das dos demais alunos, deve ser garantida a acessibilidade pecífica;
aos conteúdos curriculares mediante a utilização do sistema 2.1.2. aquelas relacionadas a condições, disfunções, limi-
Braille, da língua de sinais e de demais linguagens e códigos tações ou deficiências.
aplicáveis, sem prejuízo do aprendizado da língua portugue- 2.2. dificuldades de comunicação e sinalização dife-
sa, facultando-se aos surdos e a suas famílias a opção pela renciadas dos demais alunos, demandando adaptações de
abordagem pedagógica que julgarem adequada. Para asse- acesso ao currículo, com utilização de linguagens e códigos
aplicáveis;

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2.3. altas habilidades/superdotação, grande facilidade recuperação e atendimento do aluno, avaliação e certifica-
de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente os ção, articulação com as famílias e a comunidade – um con-
conceitos, os procedimentos e as atitudes e que, por terem junto de outros elementos que permitam definir objetivos,
condições de aprofundar e enriquecer esses conteúdos, de- conteúdos e procedimentos relativos à própria dinâmica
vem receber desafios suplementares em classe comum, em escolar.
sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos siste- Assim sendo, a educação especial deve ocorrer nas es-
mas de ensino, inclusive para concluir, em menor tempo, a colas públicas e privadas da rede regular de ensino, com
série ou etapa escolar. base nos princípios da escola inclusiva. Essas escolas, por-
3. Inclusão: Representando um avanço em relação ao tanto,
movimento de integração escolar, que pressupunha o ajus- além do acesso à matrícula, devem assegurar as condi-
tamento da pessoa com deficiência para sua participação ções para o sucesso escolar de todos os alunos.
no processo educativo desenvolvido nas escolas comuns, a Extraordinariamente, os serviços de educação especial
inclusão postula uma reestruturação do sistema educacio- podem ser oferecidos em classes especiais, escolas espe-
nal, ou seja, uma mudança estrutural no ensino regular, cujo ciais, classes hospitalares e em ambiente domiciliar.
objetivo é fazer com que a escola se torne inclusiva8, um Os sistemas públicos de ensino poderão estabelecer
espaço democrático e competente para trabalhar com to- convênios ou parcerias com escolas ou serviços públicos ou
dos os educandos, sem distinção de raça, classe, gênero ou privados, de modo a garantir o atendimento às necessida-
características pessoais, baseando-se no princípio de que a des educacionais especiais de seus alunos, responsabilizan-
diversidade deve não só ser aceita como desejada. do-se pela identificação, análise, avaliação da qualidade e
8 O conceito de escola inclusiva implica uma nova pos- da idoneidade, bem como pelo credenciamento das institui-
tura da escola comum, que propõe no projeto pedagógico ções que venham a realizar esse atendimento, observados
– no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na os princípios da educação inclusiva.
atitude dos educadores – ações que favoreçam a interação Para a definição das ações pedagógicas, a escola deve
social e sua opção por práticas heterogêneas. A escola ca- prever e prover, em suas prioridades, os recursos humanos e
pacita seus professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se materiais necessários à educação na diversidade.
para oferecer educação de qualidade para todos, inclusive É nesse contexto que a escola deve assegurar uma res-
para os educandos que apresentam necessidades especiais. posta educativa adequada às necessidades educacionais de
Inclusão, portanto, não significa simplesmente matricular to- todos os seus alunos, em seu processo de aprender, buscan-
dos os educandos com necessidades educacionais especiais do implantar os serviços de apoio pedagógico especializa-
na classe comum, ignorando suas necessidades específicas, do necessários, oferecidos preferencialmente no âmbito da
mas significa dar ao professor e à escola o suporte necessá- própria escola.
rio a sua ação pedagógica. É importante salientar o que se entende por serviço de
Ao fazer a leitura do significado e do sentido da edu- apoio pedagógico especializado: são os serviços educacio-
cação especial, neste novo momento, faz-se necessário re- nais diversificados oferecidos pela escola comum para res-
sumir onde ela deve ocorrer, a quem se destina, como se ponder às necessidades educacionais especiais do educan-
realiza e como se dá a escolarização do aluno, entre outros do. Tais serviços podem ser desenvolvidos:
temas, balizando o seu próprio movimento como uma mo- a) nas classes comuns, mediante atuação de professor
dalidade de educação escolar. da educação especial, de professores intérpretes das lingua-
Todo esse exercício de realizar uma nova leitura sobre gens e códigos aplicáveis e de outros profissionais; itinerân-
a educação do cidadão que apresenta necessidades edu- cia intra e interinstitucional e outros apoios necessários à
cacionais especiais visa subsidiar e implementar a LDBEN, aprendizagem, à locomoção e à comunicação;
baseado tanto no pressuposto constitucional – que deter- b) em salas de recursos, nas quais o professor da educa-
mina “A educação, direito de todos e dever do Estado e da ção especial realiza a complementação e/ou suplementação
família, será promovida e incentivada com a colaboração da curricular, utilizando equipamentos e materiais específicos.
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, Caracterizam-se como serviços especializados aqueles
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação realizados por meio de parceria entre as áreas de educação,
para o trabalho” – como nas interfaces necessárias e básicas saúde, assistência social e trabalho.
propostas no Capítulo V da própria LDBEN, com a totalidade 2. Alunos atendidos pela educação especial
dos seus dispositivos preconizados. Para compreender tais O Artigo 2º. da LDBEN, que trata dos princípios e fins da
propósitos, torna-se necessário retomar as indagações já educação brasileira, garante: “A educação, dever da família e
mencionadas: do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e
1. O “locus” dos serviços de educação especial nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade
A educação especial deve ocorrer em todas as institui- o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
ções escolares que ofereçam os níveis, etapas e modalidades exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
da educação escolar previstos na LDBEN, de modo a pro- Consoante esse postulado, o projeto pedagógico da es-
piciar o pleno desenvolvimento das potencialidades senso- cola viabiliza-se por meio
riais, afetivas e intelectuais do aluno, mediante um projeto de uma prática pedagógica que tenha como princípio
pedagógico que contemple, além das orientações comuns norteador a promoção do desenvolvimento da aprendiza-
– cumprimento dos 200 dias letivos, horas aula, meios para

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gem de todos os educandos, inclusive daqueles que apre- 2.2. Em face das condições específicas associadas à ce-
sentem necessidades educacionais especiais. gueira e à visão subnormal, os sistemas de ensino devem
Tradicionalmente, a educação especial tem sido conce- prover aos alunos cegos o material didático, inclusive pro-
bida como destinada apenas ao atendimento de alunos que vas, e o livro didático em Braille e, aos alunos com visão sub-
apresentam deficiências (mental, visual, auditiva, física/mo- normal (baixa visão), os auxílios ópticos necessários, bem
tora e múltiplas); condutas típicas de síndromes e quadros como material didático, livro didático e provas em caracteres
psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos, bem como de ampliados;
alunos que apresentam altas habilidades/superdotação. 3. altas habilidades/superdotação, grande facilidade
Hoje, com a adoção do conceito de necessidades edu- de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente os
cacionais especiais, afirma-se o compromisso com uma nova conceitos, os procedimentos e as atitudes e que, por te-
abordagem, que tem como horizonte a Inclusão. rem condições de aprofundar e enriquecer esses conteú-
Dentro dessa visão, a ação da educação especial am- dos, devem receber desafios suplementares em classe
plia-se, passando a abranger não apenas as dificuldades de comum, em sala de recursos ou em outros espaços de-
aprendizagem relacionadas a condições, disfunções, limita- finidos pelos sistemas de ensino, inclusive para concluir,
ções e deficiências, mas também aquelas não vinculadas a em menor tempo, a série ou etapa escolar.
uma causa orgânica específica, considerando que, por di- Dessa forma, a educação especial – agora concebida
ficuldades cognitivas, psicomotoras e de comportamento, como o conjunto de conhecimentos, tecnologias, recursos
alunos são frequentemente negligenciados ou mesmo ex- humanos e materiais didáticos que devem atuar na relação
cluídos dos apoios escolares. pedagógica para assegurar resposta educativa de quali-
O quadro das dificuldades de aprendizagem absorve dade às necessidades educacionais especiais – continuará
uma diversidade de necessidades educacionais, destaca- atendendo, com ênfase, os grupos citados inicialmente. En-
damente aquelas associadas a: dificuldades específicas de tretanto, em consonância com a nova abordagem, deverá
aprendizagem, como a dislexia e disfunções correlatas; pro- vincular suas ações cada vez mais à qualidade da relação
blemas de atenção, perceptivos, emocionais, de memória, pedagógica e não apenas a um público-alvo delimitado, de
cognitivos, psicolínguísticos, psicomotores, motores, de modo que a atenção especial se faça presente para todos os
comportamento; e ainda a fatores ecológicos e socioeco- educandos que, em qualquer etapa ou modalidade da edu-
nômicos, como as privações de caráter sociocultural e nu- cação básica, dela necessitarem para o seu sucesso escolar.
tricional. 3. Implantação e implementação dos serviços de edu-
Assim, entende-se que todo e qualquer aluno pode cação especial
apresentar, ao longo de sua aprendizagem, alguma necessi- Os princípios gerais da educação das pessoas com ne-
dade educacional especial, temporária ou permanente, vin- cessidades educacionais especiais foram delineados pela
culada ou não aos grupos já mencionados, agora reorgani- LDBEN, tendo como eixo norteador a elaboração do projeto
zados em consonância com essa nova abordagem: pedagógico da escola, que incorpora essa modalidade de
1. Educandos que apresentam dificuldades acentua- educação escolar em articulação com a família e a comu-
das de aprendizagem ou limitações no processo de de- nidade. Esse projeto, fruto da participação dos diferentes
senvolvimento que dificultem o acompanhamento das atores da comunidade escolar, deve incorporar a atenção de
atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: qualidade à diversidade dos alunos, em suas necessidades
1.1. aquelas não vinculadas a uma causa orgânica es- educacionais comuns e especiais, como um vetor da estru-
pecífica; tura, funcionamento e prática pedagógica da escola.
1.2. aquelas relacionadas a condições, disfunções, limi- Nesse sentido, deve ser garantida uma ampla discussão
tações ou deficiências; que contemple não só os elementos enunciados anterior-
2. Dificuldades de comunicação e sinalização diferen- mente, mas também os pais, os professores e outros seg-
ciadas dos demais alunos, particularmente alunos que mentos da comunidade escolar, explicitando uma compe-
apresentam surdez, cegueira, surdo-cegueira ou distúr- tência institucional voltada à diversidade e às especificida-
bios acentuados de linguagem, para os quais devem ser des dessa comunidade, considerando que o aluno é o centro
adotadas formas diferenciadas de ensino e adaptações do processo pedagógico.
de acesso ao currículo, com utilização de linguagens e Além disso, recomenda-se às escolas e aos sistemas de
códigos aplicáveis, assegurando-se os recursos humanos ensino a constituição de parcerias com instituições de ensi-
e materiais necessários; no superior para a realização de pesquisas e estudos de caso
2.1. Em face das condições específicas associadas à sur- relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos
dez, é importante que os sistemas de ensino se organizem com necessidades educacionais especiais, visando ao aper-
de forma que haja escolas em condições de oferecer aos feiçoamento desse processo educativo.
alunos surdos o ensino em língua brasileira de sinais e em
língua portuguesa e, aos surdos- cegos, o ensino em língua 4. Organização do atendimento na rede regular de
de sinais digital, tadoma e outras técnicas, bem como es- ensino
colas com propostas de ensino e aprendizagem diferentes,
facultando-se a esses alunos e a suas famílias a opção pela A escola regular de qualquer nível ou modalidade de
abordagem pedagógica que julgarem adequada; ensino, ao viabilizar a inclusão de alunos com necessida-
des especiais, deverá promover a organização de classes

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comuns e de serviços de apoio pedagógico especializado. gem, e que seja disponibilizada por meio de convênios com
Extraordinariamente, poderá promover a organização de organizações públicas ou privadas daquelas áreas;
classes especiais, para atendimento em caráter transitório. i) sustentabilidade do processo inclusivo, mediante
aprendizagem cooperativa em sala de aula; trabalho de
4.1 – Na organização das classes comuns, faz-se ne- equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a
cessário prever: participação da família no processo educativo, bem como de
outros agentes e recursos da comunidade.
a) professores das classes comuns e da educação es- j) atividades que favoreçam o aprofundamento e o enri-
pecial capacitados e especializados, respectivamente, para quecimento de aspetos curriculares aos alunos que apresen-
o atendimento às necessidades educacionais especiais dos tam superdotação, de forma que sejam desenvolvidas suas
alunos; potencialidades, permitindo ao aluno superdotado concluir
b) distribuição dos alunos com necessidades educacio- em menor tempo a educação básica, nos termos do Artigo
nais especiais pelas várias classes do ano escolar em que 24, V, “c”, da LDBEN.
forem classificados, de modo que essas classes comuns se Para atendimento educacional aos superdotados, é ne-
beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as ex- cessário:
periências de todos os alunos, dentro do princípio de educar a) organizar os procedimentos de avaliação pedagógica
para a diversidade; e psicológica de alunos com características de superdotação;
c) flexibilizações e adaptações curriculares, que conside- b) prever a possibilidade de matrícula do aluno em série
rem o significado prático e instrumental dos conteúdos bási- compatível com seu desempenho escolar, levando em con-
cos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferencia- ta, igualmente, sua maturidade socioemocional;
dos e processos de avaliação adequados ao desenvolvimen- c) cumprir a legislação no que se refere:
to dos alunos que apresentam necessidades educacionais • ao atendimento suplementar para aprofundar e/ou
especiais, em consonância com o projeto pedagógico da enriquecer o currículo;
escola, respeitada a frequência obrigatória; • à aceleração/avanço, regulamentados pelos respecti-
d) serviços de apoio pedagógico especializado, realiza- vos sistemas de ensino, permitindo, inclusive, a conclusão da
do: Educação Básica em menor tempo;
• na classe comum, mediante atuação de professor da • ao registro do procedimento adotado em ata da esco-
educação especial, de professores intérpretes das lingua- la e no dossiê do aluno;
gens e códigos aplicáveis, como a língua de sinais e o sis- d) incluir, no histórico escolar, as especificações cabíveis;
tema Braille, e de outros profissionais, como psicólogos e e) incluir o atendimento educacional ao superdotado
fonoaudiólogos, por exemplo; nos projetos pedagógicos e regimentos escolares, inclusive
itinerância intra e interinstitucional e outros apoios ne- por meio de convênios com instituições de ensino superior
cessários à aprendizagem, à e outros segmentos da comunidade.
locomoção e à comunicação; Recomenda-se às escolas de Educação Básica a consti-
• em salas de recursos, nas quais o professor da educa- tuição de parcerias com instituições de ensino superior com
ção especial realiza a complementação e/ou suplementação vistas à identificação de alunos que apresentem altas habili-
curricular, utilizando equipamentos e materiais específicos. dades/superdotação, para fins de apoio ao prosseguimento
e) avaliação pedagógica no processo de ensino e apren- de estudos no ensino médio e ao desenvolvimento de es-
dizagem, inclusive para a identificação das necessidades tudos na educação superior, inclusive mediante a oferta de
educacionais especiais e a eventual indicação dos apoios bolsas de estudo, destinando-se tal apoio prioritariamente
pedagógicos adequados; àqueles alunos que pertençam aos estratos sociais de baixa
f) temporalidade flexível do ano letivo, para atender renda.
às necessidades educacionais especiais de alunos com de-
ficiência mental ou graves deficiências múltiplas, de forma 4.2 - Os serviços de apoio pedagógico especializado
que possam concluir em tempo maior o currículo previsto ocorrem no espaço escolar e envolvem professores com
para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais do diferentes funções:
ensino fundamental, conforme estabelecido por normas dos
sistemas de ensino, procurando-se evitar grande defasagem a) Classes comuns: serviço que se efetiva por meio do
idade/série; trabalho de equipe, abrangendo professores da classe co-
g) condições para reflexão, ação e elaboração teórica da mum e da educação especial, para o atendimento às neces-
educação inclusiva, com protagonismo dos professores, ar- sidades educacionais especiais dos alunos durante o pro-
ticulando experiência e conhecimento com as necessidades/ cesso de ensino e aprendizagem. Pode contar com a cola-
possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclusive por boração de outros profissionais, como psicólogos escolares,
meio de colaboração com instituições de ensino superior e por exemplo.
de pesquisa; b) Salas de recursos: serviço de natureza pedagógica,
h) uma rede de apoio interinstitucional que envolva pro- conduzido por professor especializado, que suplementa (no
fissionais das áreas de Saúde, Assistência Social e Trabalho, caso dos superdotados) e complementa (para os demais
sempre que necessário para o seu sucesso na aprendiza- alunos) o atendimento educacional realizado em classes
comuns da rede regular de ensino. Esse serviço realiza-se

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em escolas, em local dotado de equipamentos e recursos alunos que estejam impossibilitados de frequentar as aulas
pedagógicos adequados às necessidades educacionais es- em razão de tratamento de saúde que implique permanên-
peciais dos alunos, podendo estender-se a alunos de escolas cia prolongada em domicílio.
próximas, nas quais ainda não exista esse atendimento. Pode Os objetivos das classes hospitalares e do atendimento
ser realizado individualmente ou em pequenos grupos, para em ambiente domiciliar são: dar continuidade ao processo
alunos que apresentem necessidades educacionais especiais de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de
semelhantes, em horário diferente daquele em que frequen- alunos matriculados em escolas da Educação Básica, con-
tam a classe comum. tribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar;
c) Itinerância: serviço de orientação e supervisão peda- e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e
gógica desenvolvida por professores especializados que fa- adultos não matriculados no sistema educacional local, faci-
zem visitas periódicas às escolas para trabalhar com os alu- litando seu posterior acesso à escola regular.
nos que apresentem necessidades educacionais especiais e
com seus respectivos professores de classe comum da rede 4.3 – A classe especial e sua organização:
regular de ensino.
d) Professores-intérpretes: são profissionais especializa- As escolas podem criar, extraordinariamente, classes es-
dos para apoiar alunos surdos, surdos- cegos e outros que peciais, cuja organização fundamente-se no Capítulo II da
apresentem sérios comprometimentos de comunicação e LDBEN, nas diretrizes curriculares nacionais para a Educação
sinalização. Básica, bem como nos referenciais e parâmetros curriculares
Todos os professores de educação especial e os que nacionais, para atendimento, em caráter transitório, a alunos
atuam em classes comuns deverão ter formação para as res- que apresentem dificuldades acentuadas de aprendizagem
pectivas funções, principalmente os que atuam em serviços ou condições de comunicação e sinalização diferenciadas
de apoio pedagógico especializado. dos demais alunos e demandem ajudas e apoios intensos
A inclusão de alunos com necessidades educacionais e contínuos.
especiais em classes comuns do ensino regular, como meta Aos alunos atendidos em classes especiais devem ter
das políticas de educação, exige interação constante entre assegurados:
professor da classe comum e os dos serviços de apoio pe- a) professores especializados em educação especial;
dagógico especializado, sob pena de alguns educandos não b) organização de classes por necessidades educacio-
atingirem rendimento escolar satisfatório. nais especiais apresentadas, sem agrupar alunos com dife-
A interação torna-se absolutamente necessária quando rentes tipos de deficiências;
se trata, por exemplo, da educação dos surdos, consideran- c)equipamentos e materiais específicos;
do que lhes é facultado efetivar sua educação por meio da d) adaptações de acesso ao currículo e adaptações nos
língua portuguesa e da língua brasileira de sinais, depois de elementos curriculares;
manifestada a opção dos pais e sua própria opinião. Reco- e) atividades da vida autônoma e social no turno inver-
menda-se que o professor, para atuar com esses alunos em so, quando necessário.
sala de aula da educação infantil e dos anos iniciais do en- Classe especial é uma sala de aula, em escola de ensino
sino fundamental, tenha complementação de estudos sobre regular, em espaço físico e modulação adequada. Nesse tipo
o ensino de línguas: língua portuguesa e língua brasileira de de sala, o professor da educação especial utiliza métodos,
sinais. Recomenda- se também que o professor, para atuar técnicas, procedimentos didáticos e recursos pedagógicos
com alunos surdos em sala de recursos, principalmente a especializados e, quando necessário, equipamentos e ma-
partir da 5ª série do ensino fundamental, tenha, além do cur- teriais didáticos específicos, conforme série/ciclo/etapa da
so de Letras e Linguística, complementação de estudos ou educação básica, para que o aluno tenha acesso ao currículo
cursos de pós-graduação sobre o ensino de línguas: língua da base nacional comum.
portuguesa e língua brasileira de sinais. A classe especial pode ser organizada para atendimen-
Os serviços de apoio pedagógico especializado, ou ou- to às necessidades educacionais especiais de alunos cegos,
tras alternativas encontradas pela escola, devem ser organi- de alunos surdos, de alunos que apresentam condutas típi-
zados e garantidos nos projetos pedagógicos e regimentos cas de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou
escolares, desde que devidamente regulamentados pelos psiquiátricos e de alunos que apresentam casos graves de
competentes Conselhos de Educação. deficiência mental ou múltipla. Pode ser utilizada principal-
O atendimento educacional especializado pode ocor- mente nas localidades onde não há oferta de escolas espe-
rer fora de espaço escolar, sendo, nesses casos, certificada ciais; quando se detectar, nesses alunos, grande defasagem
a frequência do aluno mediante relatório do professor que idade/série; quando faltarem, ao aluno, experiências escola-
o atende: res anteriores, dificultando o desenvolvimento do currículo
a) Classe hospitalar: serviço destinado a prover, median- em classe comum.
te atendimento especializado, a educação escolar a alunos Não se deve compor uma classe especial com alunos
impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tra- que apresentam dificuldades de aprendizagem não vincu-
tamento de saúde que implique internação hospitalar ou ladas a uma causa orgânica específica, tampouco se deve
atendimento ambulatorial. agrupar alunos com necessidades especiais relacionadas a
b) Ambiente domiciliar: serviço destinado a viabilizar, diferentes deficiências. Assim sendo, não se recomenda co-
mediante atendimento especializado, a educação escolar de locar, numa mesma classe especial, alunos cegos e surdos,

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por exemplo. Para esses dois grupos de alunos, em parti- III. parcerias com escolas das redes regulares públicas ou
cular, recomenda-se o atendimento educacional em classe privadas de educação profissional;
especial durante o processo de alfabetização, quando não IV. conclusão e certificação de educação escolar, incluin-
foram beneficiados com a educação infantil. Tal processo do terminalidade específica, para alunos com deficiência
abrange, para os cegos, o domínio do sistema Braille, e para mental e múltipla;
os surdos, a aquisição da língua de sinais e a aprendizagem V. professores especializados e equipe técnica de apoio;
da língua portuguesa. VI. flexibilização e adaptação do currículo previsto na
O professor da educação especial, nessa classe, deve de- LDBEN, nos Referenciais e nos Parâmetros Curriculares Na-
senvolver o currículo com a flexibilidade necessária às con- cionais.
dições dos alunos e, no turno inverso, quando necessário, As escolas especiais públicas e privadas obedecem às
deve desenvolver outras atividades, tais como atividades da mesmas exigências na criação e no funcionamento:
vida autônoma e social (para alunos com deficiência mental, a) são iguais nas finalidades, embora diferentes na or-
por exemplo); orientação e mobilidade (para alunos cegos e dem administrativa e na origem dos recursos;
surdos-cegos); desenvolvimento de linguagem: língua por- b) necessitam de credenciamento e/ou autorização para
tuguesa e língua brasileira de sinais (para alunos surdos); ati- o seu funcionamento.
vidades de informática, etc. As escolas da rede privada, sem fins lucrativos, que
Essa classe deverá configurar a etapa, ciclo ou moda- necessitam pleitear apoio técnico e financeiro dos órgãos
lidade da educação básica em que o aluno se encontra – governamentais devem credenciar-se para tal; as escolas da
educação infantil, ensino fundamental, educação de jovens rede privada, com fins lucrativos, assim como as anterior-
e adultos – promovendo avaliação contínua do seu desem- mente citadas, devem ter o acompanhamento e a avaliação
penho – com a equipe escolar e pais – e proporcionando, do órgão gestor e cumprir as determinações dos Conselhos
sempre que possível, atividades conjuntas com os demais de Educação similares às previstas para as demais escolas.
alunos das classes comuns. No âmbito dos sistemas de ensino, cabe aos Conselhos
É importante que, a partir do desenvolvimento apre- de Educação legislar sobre a matéria, observadas as normas
sentado pelo aluno e das condições para o atendimento in- e diretrizes nacionais.
clusivo, a equipe pedagógica da escola e a família decidam
conjuntamente, com base em avaliação pedagógica, quanto 6 – Etapas da escolarização de alunos com necessida-
ao seu retorno à classe comum. des especiais em qualquer espaço escolar

5 – Organização do atendimento em escola especial Conforme estabelecido nos dispositivos legais da edu-
cação brasileira, o processo escolar tem início na educação
A educação escolar de alunos que apresentam neces- infantil, que se realiza na faixa etária de zero a seis anos – em
sidades educacionais especiais e que requeiram atenção in- creches e em turmas de pré-escola – permitindo a identifica-
dividualizada nas atividades da vida autônoma e social, bem ção das necessidades educacionais especiais e a estimulação
como ajudas e apoios intensos e contínuos e flexibilizações do desenvolvimento integral do aluno, bem como a inter-
e adaptações curriculares tão significativas que a escola co- venção para atenuar possibilidades de atraso de desenvolvi-
mum não tenha conseguido prover – pode efetivar-se em mento, decorrentes ou não de fatores genéticos, orgânicos
escolas especiais, assegurando-se que o currículo escolar e/ou ambientais.
observe as diretrizes curriculares nacionais para as etapas e O atendimento educacional oferecido pela educação
modalidades da Educação Básica e que os alunos recebam infantil pode contribuir significativamente para o sucesso
os apoios de que necessitam. É importante que esse aten- escolar desses educandos. Para tanto, é importante prover a
dimento, sempre que necessário, seja complementado por escola que realiza esse etapa da educação básica de recur-
serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assistência Social. sos tecnológicos e humanos adequados à diversidade das
A partir do desenvolvimento apresentado pelo aluno, demandas.
a equipe pedagógica da escola especial e a família devem Do mesmo modo, é indispensável a integração dos ser-
decidir conjuntamente quanto à transferência do aluno para viços educacionais com os das áreas de Saúde e Assistên-
escola da rede regular de ensino, com base em avaliação pe- cia Social, garantindo a totalidade do processo formativo e
dagógica e na indicação, por parte do setor responsável pela o atendimento adequado ao desenvolvimento integral do
educação especial do sistema de ensino, de escolas regula- educando. É importante mencionar que o fato de uma crian-
res em condições de realizar seu atendimento educacional. ça necessitar de apoio especializado não deve constituir mo-
Para uma educação escolar de qualidade nas escolas tivo para dificultar seu acesso e frequência às creches e às
especiais, é fundamental prover e promover em sua orga- turmas de pré-escola da educação regular.
nização: Após a educação infantil – ou seja, a partir dos sete anos
I. matrícula e atendimento educacional especializado de idade – a escolarização do aluno que apresenta neces-
nas etapas e modalidades da Educação Básica previstas em sidades educacionais especiais deve processar-se nos mes-
lei e no seu regimento escolar; mos níveis, etapas e modalidades de educação e ensino que
II. encaminhamento de alunos para a educação regular, os demais educandos, ou seja, no ensino fundamental, no
inclusive para a educação de jovens e adultos; ensino médio, na educação profissional, na educação de
jovens e adultos e na educação superior. Essa educação é

99
LEGISLAÇÃO FEDERAL

suplementada e complementada quando se utilizam os ser- nhecimento, à cultura e às formas de trabalho valorizadas
viços de apoio pedagógico especializado. pela comunidade; e a inclusão do aluno na sociedade.

7 – Currículo 8 – Terminalidade específica

O currículo a ser desenvolvido é o das diretrizes curri- No atendimento a alunos cujas necessidades educacio-
culares nacionais para as diferentes etapas e modalidades nais especiais estão associadas a grave deficiência mental
da Educação Básica: educação infantil, educação fundamen- ou múltipla, a necessidade de apoios e ajudas intensos e
tal, ensino médio, educação de jovens e adultos e educação contínuos, bem como de adaptações curriculares significa-
profissional. tivas, não deve significar uma escolarização sem horizonte
A escolarização formal, principalmente na educação in- definido, seja em termos de tempo ou em termos de com-
fantil e/ou nos anos iniciais do ensino fundamental, transfor- petências e habilidades desenvolvidas. As escolas, portanto,
ma o currículo escolar em um processo constante de revisão devem adotar procedimentos de avaliação pedagógica, cer-
e adequação. Os métodos e técnicas, recursos educativos e tificação e encaminhamento para alternativas educacionais
organizações específicas da prática pedagógica, por sua vez, que concorram para ampliar as possibilidades de inclusão
tornam-se elementos que permeiam os conteúdos. social e produtiva dessa pessoa.
O currículo, em qualquer processo de escolarização, Quando os alunos com necessidades educacionais es-
transforma-se na síntese básica da educação. Isto nos possi- peciais, ainda que com os apoios e adaptações necessários,
bilita afirmar que a busca da construção curricular deve ser não alcançarem os resultados de escolarização previstos no
entendida como aquela garantida na própria LDBEN, com- Artigo 32, I da LDBEN: “o desenvolvimento da capacidade
plementada, quando necessário, com atividades que possi- de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio
bilitem ao aluno que apresenta necessidades educacionais da leitura, da escrita e do cálculo” – e uma vez esgotadas as
especiais ter acesso ao ensino, à cultura, ao exercício da ci- possibilidades apontadas nos Artigos 24, 26 e 32 da LDBEN –
dadania e à inserção social produtiva. as escolas devem fornecer-lhes uma certificação de conclu-
O Artigo 5o da LDBEN preceitua: “o acesso ao ensino são de escolaridade, denominada terminalidade específica.
fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer Terminalidade específica é uma certificação de con-
cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organi- clusão de escolaridade – fundamentada em avaliação pe-
zação sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons- dagógica – com histórico escolar que apresente, de forma
tituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público descritiva, as habilidades e competências atingidas pelos
para exigi-lo”. educandos com grave deficiência mental ou múltipla. É o
Os currículos devem ter uma base nacional comum, caso dos alunos cujas necessidades educacionais especiais
conforme determinam os Artigos 26, 27 e 32 da LDBEN, a não lhes posssibilitaram alcançar o nível de conhecimento
ser suplementada ou complementada por uma parte diver- exigido para a conclusão do ensino fundamental, respeitada
sificada, exigida, inclusive, pelas características dos alunos. a legislação existente, e de acordo com o regimento e o pro-
As dificuldades de aprendizagem na escola apresentam- jeto pedagógico da escola.
-se como um contínuo, compreendendo desde situações O teor da referida certificação de escolaridade deve pos-
mais simples e/ou transitórias – que podem ser resolvidas sibilitar novas alternativas educacionais, tais como o encami-
espontaneamente no curso do trabalho pedagógico – até si- nhamento para cursos de educação de jovens e
tuações mais complexas e/ou permanentes – que requerem adultos e de educação profissional, bem como a inser-
o uso de recursos ou técnicas especiais para que seja viabili- ção no mundo do trabalho, seja ele competitivo ou prote-
zado o acesso ao currículo por parte do educando. Atender gido.
a esse contínuo de dificuldades requer respostas educativas Cabe aos respectivos sistemas de ensino normatizar so-
adequadas, que abrangem graduais e progressivas adapta- bre a idade-limite para a conclusão do ensino fundamental.
ções de acesso ao currículo, bem como adaptações de seus
elementos. 9 – A educação profissional do aluno com necessida-
Em casos muito singulares, em que o educando com des educacionais especiais
graves comprometimentos mentais e/ou múltiplos não pos-
sa beneficiar-se do currículo da base nacional comum, deve- A educação profissional é um direito do aluno com ne-
rá ser proporcionado um currículo funcional para atender às cessidades educacionais especiais e visa à sua integração
necessidades práticas da vida. produtiva e cidadã na vida em sociedade. Deve efetivar-se
O currículo funcional, tanto na educação infantil como nos cursos oferecidos pelas redes regulares de ensino públi-
nos anos iniciais do ensino fundamental, distingue-se pelo cas ou pela rede regular de ensino privada, por meio de ade-
caráter pragmático das atividades previstas nos parágrafos quações e apoios em relação aos programas de educação
1o, 2o, 3o e 4o do Artigo 26 e no Artigo 32 da LDBEN e pelas profissional e preparação para o trabalho, de forma que seja
adaptações curriculares muito significativas. viabilizado o acesso das pessoas com necessidades educa-
Tanto o currículo como a avaliação devem ser funcio- cionais especiais aos cursos de nível básico, técnico e tecno-
nais, buscando meios úteis e práticos para favorecer: o de- lógico, bem como a transição para o mercado de trabalho.
senvolvimento das competências sociais; o acesso ao co-

100
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Essas adequações e apoios – que representam a colabo-


ração da educação especial para uma educação profissional RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 07 E
inclusiva – efetivam-se por meio de: PREZADO CANDIDATO, O TEMA ACIMA
a) flexibilizações e adaptações dos recursos instrucio- SUPRACITADO, JÁ FOI ABORDADO EM
nais: material pedagógico, equipamento, currículo e outros;
TÓPICOS ANTERIORES.
b) capacitação de recursos humanos: professores, ins-
PARECER CNE/CEB N° 11/2010 - DIRETRIZES
trutores e profissionais especializados;
c) eliminação de barreiras atitudinais, arquitetônicas, CURRICULARES NACIONAIS PARA O
curriculares e de comunicação e sinalização, entre outras; ENSINO FUNDAMENTAL DE 09 ANOS.
d) encaminhamento para o mundo do trabalho e acom- DISPONÍVEIS EM: HTTP://PORTAL.MEC.
panhamento de egressos. GOV.BR/INDEX.PHP?OPTION=COM_
As escolas das redes de educação profissional podem DOCMAN&VIEW=DOWNLOAD&ALIAS=7246-
realizar parcerias com escolas especiais, públicas ou priva- RCEB007-10&CATEGORY_SLUG=DEZEMBRO-
das, tanto para construir competências necessárias à inclu- 2010-PDF&ITEMID=30192 HTTP://PORTAL.
são de alunos em seus cursos quanto para prestar assistên- MEC.GOV.BR/INDEX.PHP?OPTION=COM_
cia técnica e convalidar cursos profissionalizantes realizados DOCMAN&VIEW=DOWNLOAD&ALIAS=6324-
por essas escolas especiais.
PCEB011-10&CATEGORY_SLUG=AGOSTO-2010-
Além disso, na perspectiva de contribuir para um pro-
PDF&ITEMID=30192
cesso de inclusão social, as escolas das redes de educação
profissional poderão avaliar e certificar competências labo-
rais de pessoas com necessidades especiais não matricula-
das em seus cursos, encaminhando-as, a partir desses pro- Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi
cedimentos, para o mundo do trabalho. abordado em tópicos anteriores.
A educação profissional do aluno com necessidades
educacionais especiais pode realizar-se em escolas espe-
ciais, públicas ou privadas, quando esgotados os recursos da EXERCÍCIOS
rede regular na provisão de resposta educativa adequada às
necessidades educacionais especiais e quando o aluno de-
1. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Procurador)
mandar apoios e ajudas intensos e contínuos para seu aces-
Nos termos do art. 226 da Constituição Federal, “a família,
so ao currículo. Nesse caso, podem ser oferecidos serviços
base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. En-
de oficinas pré-profissionais ou oficinas profissionalizantes,
tre os aspectos abrangidos pelo direito à proteção especial,
de caráter protegido ou não.
segundo o texto constitucional, encontram-se os seguintes:
Os Artigos 3o e 4o, do Decreto no 2.208/97, contem-
a) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
plam a inclusão de pessoas em cursos de educação profis-
obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e
sional de nível básico independentemente de escolaridade
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimen-
prévia, além dos cursos de nível técnico e tecnológico. As-
to, quando da aplicação de qualquer medida privativa da
sim, alunos com necessidades especiais também podem ser
liberdade.
beneficiados, qualificando-se para o exercício de funções
b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
demandadas pelo mundo do trabalho.
acesso universal à educação infantil, em creche e pré-escola,
às crianças até 5 (cinco) anos de idade.
II – VOTO DOS RELATORES
c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do Poder
Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
A organização da educação especial adquire, portanto,
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
seus contornos legítimos. O que passou faz parte do proces-
de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado.
so de amadurecimento da sociedade brasileira. Agora é pre-
d) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
ciso por em prática, corajosamente, a compreensão que foi
sexual da criança e do adolescente; e garantia às presidiárias
alcançada pela comunidade sobre a importância que deve
de condições para que possam permanecer com seus filhos
ser dada a este segmento da sociedade brasileira.
durante o período de amamentação.
Com a edição deste Parecer e das Diretrizes que o inte-
e) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
gram, este Colegiado está oferecendo ao Brasil e aos alunos
sexual da criança e do adolescente; e estímulo do Poder Pú-
que apresentam necessidades educacionais especiais um
blico, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e sub-
caminho e os meios legais necessários para a superação do
sídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de
grave problema educacional, social e humano que os en-
guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado.
volve.
R: A. O artigo 227, §3º, CF fixa os aspectos que abran-
Igualdade de oportunidades e valorização da diversida-
gem a proteção especial da criança e do adolescente: “I -
de no processo educativo e nas relações sociais são direitos
idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,
dessas crianças, jovens e adultos. Tornar a escola e a socie-
observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de di-
dade inclusivas é uma tarefa de todos.
reitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso

101
LEGISLAÇÃO FEDERAL

do trabalhador adolescente e jovem à escola; IV - garantia ge ou concubino do adotante e os respectivos parentes”.


de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infra- A alternativa “a” está errada porque o adotante deve ser,
cional, igualdade na relação processual e defesa técnica por pelo menos, 16 anos mais velho que o adotado e possuir
profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar pelo menos 18 anos (art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” está
específica; V - obediência aos princípios de brevidade, ex- incorreta porque é vedada a adoção por procuração, pois a
cepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em adoção é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a alternativa
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida “d” está incorreta porque é possível a adoção conjunta des-
privativa da liberdade; VI - estímulo do Poder Público, atra- de que preencha os requisitos de serem casados civilmente
vés de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da
termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de família (art. 42, § 1º, ECA); e a alternativa “e” está incorreta
criança ou adolescente órfão ou abandonado; VII - progra- porque pode ser dispensado o estágio de convivência quan-
mas de prevenção e atendimento especializado à criança, do o adotando já estiver sob a tutela ou guarda do adotante
ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e (art. 46, § 1º, ECA).
drogas afins”.
4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislativo)
2. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da Crian-
Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatuto ça e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a
da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, é proi- a) medida socioeducativa de internação pode ser de-
bido qualquer trabalho a menores: terminada por descumprimento reiterado e injustificável da
a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de medida anteriormente imposta.
aprendiz. b) internação, antes da sentença, poderá ser determina-
b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de da pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
aprendiz. c) medida socioeducativa de internação não poderá ex-
c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de ceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se com-
aprendiz. pulsoriamente o menor infrator aos vinte e um anos de ida-
d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de de.
aprendiz. d) medida socioeducativa de liberdade assistida será fi-
e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de xada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qualquer
aprendiz. tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra
R: B. Em que pese o teor do art. 64 do ECA, que poderia medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o de-
dar a entender que um menor de 14 anos pode trabalhar, fensor.
prevalece o que diz o texto da Constituição Federal: “Art. 7º e) remissão não implica necessariamente o reconheci-
São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de ou- mento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece
tros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXXIII para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente
- proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de a colocação em regime de semiliberdade e a internação.
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida socioe-
quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar em qualquer ducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º, ECA,
serviço, desde que não seja noturno, perigoso e insalubre, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual está
dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16 anos apenas pode traba- incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, § 1º, ECA;
lhar como aprendiz. a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA; a alternati-
va “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a alternativa
3. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislativo) “e” está prevista no art. 127 ECA.
Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente, 5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guarda
a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados pelo
que o adotando. direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimento, re-
b) é permitida a adoção por procuração. ceberam do direito positivo brasileiro, tutela especial atra-
c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm- vés da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhecida
-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo as
adotante e os respectivos parentes. diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto da
d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, sepa- Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa da
rados judicialmente e pelos ex-companheiros. absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais. Em
e) o estágio de convivência que precede a adoção não tal seara, foi determinado que as crianças e os adolescentes
poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela autori- têm direito,
dade judiciária. a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
R: C. Neste sentido, disciplina o art. 41, § 1º, ECA: “Se um ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, man- rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião e
têm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônju- de expressão; a liberdade de brincar e de praticar esportes,

102
LEGISLAÇÃO FEDERAL

a liberdade de participar da vida familiar e comunitária; a res. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data
liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, excetuadas de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado-
dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso e de par- lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de
ticipar da vida política. aniversário de 18 anos, passa a ser maior), conforme o artigo
b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua in- 2º do ECA.
tegridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação
da imagem, da identidade, da autonomia, de seus valores, 7. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) A
ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços e objetos intenção principal do Estatuto da Criança e do Adolescente
pessoais. (Lei nº 8.069/90) é
c) de serem educados e cuidados sem o uso de castigo a) prover uma boa escola para que crianças e adolescen-
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas tes possam trabalhar o mais cedo possível.
de correção, disciplina, educação ou a qualquer outro pre- b) questionar políticas sociais que venham a proteger
texto, por parte dos pais, de integrantes da família ampliada, quem não merece.
dos responsáveis, dos agentes públicos executores de medi- c) distribuir renda entre os mais empobrecidos da po-
das socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de pulação.
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. d) proteger integralmente crianças e adolescentes, ga-
d) de serem criados e educados no seio de sua família rantindo políticas públicas neste sentido.
biológica, não se admitindo a sua inserção em família subs- e) proteger crianças e adolescentes da prisão.
tituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em R: D. Conforme o artigo 1º do ECA, “esta Lei dispõe sobre
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. a proteção integral à criança e ao adolescente”. O princípio
R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA: da proteção integral se associa ao princípio da prioridade
“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA e no artigo 227,
e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento CF. De uma doutrina da situação irregular, o direito evoluiu
cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, e passou a contemplar uma noção de proteção mais ampla
educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos inte- da criança e do adolescente, que não apenas abordasse si-
grantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agen- tuações de irregularidade (embora ainda o fizesse), mas que
tes públicos executores de medidas socioeducativas ou por abrangesse todo o arcabouço jurídico protetivo da criança e
qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, edu- do adolescente, que é a doutrina da proteção integral.
cá-los ou protegê-los”. A alternativa “a” está errada porque
o artigo 16 do ECA fixa que o direito à liberdade envolve os 8. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desenvol-
seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar nos logradouros públi- vimento Infantil - Instituto Excelência/2016) O Estatuto
cos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; da Criança e do Adolescente em seu art. 4º, parágrafo único
II - opinião e expressão; III - crença e culto religioso; IV - fixa a garantia de prioridade. Assinale a alternativa CORRETA
brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da vida que compreende uma dessas prioridades:
familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qual-
vida política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e quer forma de negligência, descriminação e exploração.
orientação”. A alternativa “b” está errada porque o artigo 17 b) É assegurado atendimento integral á saúde da criança
do ECA prevê que “o direito ao respeito consiste na inviola- e do adolescente por intermédio do sistema único de saúde.
bilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e c) Precedência de atendimento, nos serviços públicos ou
do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da de relevância pública.
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos d) Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
espaços e objetos pessoais”. A alternativa “d” está errada nato a permanência junto á mãe.
porque o artigo 18 do ECA assegura que “é direito da criança R: C. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a
e do adolescente ser criado e educado no seio de sua famí- garantia de prioridade compreende: [...] b) precedência de
lia e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública”.
convivência familiar e comunitária, em ambiente que garan-
ta seu desenvolvimento integral”. 9. (FUNDAÇÃO CASA - Agente Administrativo - VU-
NESP/2010) Relativamente às Disposições Preliminares do
6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) Se- Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alternativa
gundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), correta.
é considerado criança a) Considera-se criança a pessoa com até doze anos
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade. completos, e adolescente aquela entre treze e dezoito anos
b) a pessoa até oito anos incompletos de idade. de idade incompletos.
c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade. b) Nos casos em que a lei determinar, deverá ser cons-
d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. tantemente aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescente
e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não te- às pessoas entre dezenove e vinte anos de idade.
nha cometido nenhum crime. c) A garantia de prioridade para o adolescente com-
R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por preende a primazia na formulação das políticas sociais pú-
categorizar separadamente estas duas categorias de meno- blicas para o lazer.

103
LEGISLAÇÃO FEDERAL

d) Na aplicação dessa Lei, deverão ser levados em conta 12. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto -
os fins políticos a que ela se destina. FCC/2016) A formação técnico-profissional do adolescente
e) Destinação privilegiada de recursos públicos nas NÃO deverá obedecer a
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. a) horário especial, estabelecido em lei.
R: E. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a b) horário especial, de acordo com a atividade.
garantia de prioridade compreende: [...] d) destinação pri- c) peculiaridades do seu desenvolvimento pessoal.
vilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a d) adequação ao mercado de trabalho.
proteção à infância e à juventude”. e) prevalência das atividades educativas sobre as pro-
dutivas.
10. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen- R: A. Dispõe o ECA: “Art. 63. A formação técnico-pro-
volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) Assinale fissional obedecerá aos seguintes princípios: [...] III - horário
a alternativa CORRETA conforme o artigo 15 do ECA: especial para o exercício das atividades”. Especificamente, o
a) na dignidade da criança e do adolescente, pondo-os horário deve ser fixado sem prejudicar a frequência à escola
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterro- (artigo 67, IV, ECA) e é proibido o trabalho noturno. Entre-
rizante, vexatório ou constrangedor. tanto, a lei não fixa com precisão o horário de trabalho per-
b) no direito de ser educados e cuidados sem o uso de mitido ao adolescente.
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro 13. (IDECAN/2016 - UFPB - Auxiliar em Assuntos
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, Educacionais) Considerando a prática de ato infracional por
pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de adolescentes e os direitos individuais assegurados, nessa
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre- situação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. assinale a alternativa correta.
c) no direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como a) Considera-se ato infracional a conduta descrita como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como crime e não a estabelecida como contravenção penal.
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na b) O adolescente não pode ser privado de sua liberdade
Constituição e nas leis. senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
d) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e fundamentada da autoridade judiciária competente.
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva- c) O adolescente que comete ato infracional perde o di-
ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, reito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão,
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. devendo, contudo, ser informado acerca de seus direitos.
R: D. Dispõe o ECA em seu artigo 15: “A criança e o ado- d) O adolescente civilmente identificado será submetido
lescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de prote-
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e ção e judiciais, independente se para efeito de confrontação
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos em caso de dúvida fundada.
na Constituição e nas leis”. R: B. Conforme preconiza o art. 106, “nenhum adoles-
cente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
11. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto - ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da au-
FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente, é toridade judiciária competente”.
correto afirmar:
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades
lúdicas.
b) É proibido para os menores de 16, salvo na condição
de aprendizes.
c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16 anos,
salvo na condição de aprendizes.
d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais,
salvo na condição de aprendizes de enfermagem.
e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais e
atividades cinematográficas.
R: B. Nos termos do artigo 60, ECA, “é proibido qualquer
trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na
condição de aprendiz”. Aceita-se o trabalho como aprendiz
entre 14 e 16 anos. A partir dos 16 anos, o adolescente pode
trabalhar, não necessariamente como aprendiz, embora a lei
fixe outras restrições.

104
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO - ARTIGOS 237 A 263. ................................................................................................. 01


LEI N° 10.261, DE 28/10/1968 - ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO DE SÃO PAULO. .......... 03
LEI COMPLEMENTAR N° 444, DE 27/12/1985 - ESTATUTO DO MAGISTÉRIO PAULISTA. ............................................................ 33
DECRETO N° 17.329 DE 14/07/1981 - DEFINE A ESTRUTURA E AS ATRIBUIÇÕES DE ÓRGÃOS E AS COMPETÊNCIAS
DAS AUTORIDADES DA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, EM RELAÇÃO AO SISTEMA DE ADMINISTRAÇÃO DE
PESSOAL, E DÁ PROVIDÊNCIAS CORRELATAS. ............................................................................................................................................ 51
LEI MUNICIPAL N° 190, DE 01 DE JULHO DE 2010 - ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE
SUZANO. ...................................................................................................................................................................................................................100
LEI MUNICIPAL N° 4.392, DE 08 DE JULHO DE 2010 - DISPÕE SOBRE A ESTRUTURAÇÃO DO PLANO DE CARGOS,
CARREIRAS E VENCIMENTOS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SUZANO. ......................................................................................146
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

- § 4º acrescentado pela Emenda Constitucional nº 39,


CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO de 27/01/2014.
PAULO - ARTIGOS 237 A 263. HTTP://WWW. Artigo 240 - Os Municípios responsabilizar-se-ão prio-
LEGISLACAO.SP.GOV.BR/LEGISLACAO/INDEX. ritariamente pelo ensino fundamental, inclusive para os que
a ele não tiveram acesso na idade própria, e pré-escolar, só
HTM
podendo atuar nos níveis mais elevados quando a demanda
naqueles níveis estiver plena e satisfatoriamente atendida,
do ponto de vista qualitativo e quantitativo.
CAPÍTULO III Artigo 241 - O Plano Estadual de Educação, estabeleci-
Da Educação, da Cultura e dos Esportes e Lazer do em lei, é de responsabilidade do Poder Público Estadual,
tendo sua elaboração coordenada pelo Executivo, consul-
SEÇÃO I tados os órgãos descentralizados do Sistema Estadual de
Da Educação Ensino, a comunidade educacional, e considerados os diag-
nósticos e necessidades apontados nos Planos Municipais
Artigo 237 - A educação, ministrada com base nos prin-
de Educação.
cípios estabelecidos no artigo 205 e seguintes da Constitui-
Artigo 242 - O Conselho Estadual de Educação é órgão
ção Federal e inspirada nos princípios de liberdade e solida-
normativo, consultivo e deliberativo do sistema de ensino
riedade humana, tem por fim:
do Estado de São Paulo, com suas atribuições, organização e
I - a compreensão dos direitos e deveres da pessoa hu-
composição definidas em lei.
mana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais gru-
Artigo 243 - Os critérios para criação de Conselhos Re-
pos que compõem a comunidade;
gionais e Municipais de Educação, sua composição e atribui-
II - o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais
ções, bem como as normas para seu funcionamento, serão
da pessoa humana;
estabelecidos e regulamentados por lei.
III - o fortalecimento da unidade nacional e da solidarie-
Artigo 244 - O ensino religioso, de matrícula facultativa,
dade internacional;
constituirá disciplina dos horários normais das escolas públi-
IV - o desenvolvimento integral da personalidade hu-
cas de ensino fundamental.
mana e a sua participação na obra do bem comum;
Artigo 245 - Nos três níveis de ensino, será estimulada
V - o preparo do indivíduo e da sociedade para o domí-
a prática de esportes individuais e coletivos, como comple-
nio dos conhecimentos científicos e tecnológicos que lhes
mento à formação integral do indivíduo.
permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades
Parágrafo Único - A prática referida no “caput”, sempre
do meio, preservando-o;
que possível, será levada em conta em face das necessida-
VI - a preservação, difusão e expansão do patrimônio
des dos portadores de deficiências.
cultural;
Artigo 246 - É vedada a cessão de uso de próprios pú-
VII - a condenação a qualquer tratamento desigual por
blicos estaduais, para o funcionamento de estabelecimentos
motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem
de ensino privado de qualquer natureza.
como a quaisquer preconceitos de classe, raça ou sexo;
Artigo 247 - A educação da criança de zero a seis anos,
VIII - o desenvolvimento da capacidade de elaboração e
integrada ao sistema de ensino, respeitará as características
reflexão crítica da realidade.
próprias dessa faixa etária.
Artigo 238 - A lei organizará o Sistema de Ensino do
Artigo 248 - O órgão próprio de educação do Estado
Estado de São Paulo, levando em conta o princípio da des-
será responsável pela definição de normas, autorização de
centralização.
funcionamento, supervisão e fiscalização das creches e pré-
Artigo 239 - O Poder Público organizará o Sistema Es-
-escolas públicas e privadas no Estado.
tadual de Ensino, abrangendo todos os níveis e modalida-
Parágrafo único - Aos Municípios, cujos sistemas de
des, incluindo a especial, estabelecendo normas gerais de
ensino estejam organizados, será delegada competência
funcionamento para as escolas públicas estaduais e munici-
para autorizar o funcionamento e supervisionar as institui-
pais, bem como para as particulares.
ções de educação das crianças de zero a seis anos de idade.
§1º - Os Municípios organizarão, igualmente, seus sis-
Artigo 249 - O ensino fundamental, com oito anos de
temas de ensino.
duração é obrigatório para todas as crianças, a partir dos
§2º - O Poder Público oferecerá atendimento especia-
sete anos de idade, visando a propiciar formação básica e
lizado aos portadores de deficiências, preferencialmente na
comum indispensável a todos.
rede regular de ensino.
§1º - É dever do Poder Público o provimento, em todo
§3º - As escolas particulares estarão sujeitas à fiscaliza-
o território paulista, de vagas em número suficiente para
ção, controle e avaliação, na forma da lei.
atender à demanda do ensino fundamental obrigatório e
§4° - O Poder Público adequará as escolas e tomará as
gratuito.
medidas necessárias quando da construção de novos pré-
§2º - A atuação da administração pública estadual no
dios, visando promover a acessibilidade das pessoas com
ensino público fundamental dar-se-á por meio de rede pró-
deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supres-
pria ou em cooperação técnica e financeira com os Municí-
são de barreiras e obstáculos nos espaços e mobiliários. (NR)
pios, nos termos do artigo 30, VI, da Constituição Federal,

1
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

assegurando a existência de escolas com corpo técnico qua- II - representação e participação de todos os segmentos
lificado e elevado padrão de qualidade, devendo ser defini- da comunidade interna nos órgãos decisórios e na escolha
das com os Municípios formas de colaboração, de modo a de dirigentes, na forma de seus estatutos.
assegurar a universalização do ensino obrigatório. (NR) §1º - A lei criará formas de participação da sociedade,
- § 2º com redação dada pela Emenda Constitucional nº por meio de instâncias públicas externas à universidade, na
21, de 14/02/2006. avaliação do desempenho da gestão dos recursos. (NR)
§3º - O ensino fundamental público e gratuito será tam- - Parágrafo único transformado em § 1º pela Emenda
bém garantido aos jovens e adultos que, na idade própria, Constitucional nº 21, de 14/02/2006.
a ele não tiveram acesso, e terá organização adequada às §2º - É facultado às universidades admitir professores,
características dos alunos. técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (NR)
§4º - Caberá ao Poder Público prover o ensino funda- §3º - O disposto neste artigo aplica-se às instituições de
mental diurno e noturno, regular e supletivo, adequado às pesquisa científica e tecnológica. (NR)
condições de vida do educando que já tenha ingressado no - §§ 2º e 3º acrescentados pela Emenda Constitucional nº
mercado de trabalho. 21, de 14/02/2006.
§5º - É permitida a matrícula no ensino fundamental, a Artigo 255 - O Estado aplicará, anualmente, na manu-
partir dos seis anos de idade, desde que plenamente atendi- tenção e no desenvolvimento do ensino público, no mínimo,
da a demanda das crianças de sete anos de idade. trinta por cento da receita resultante de impostos, incluindo
Artigo 250 - O Poder Público responsabilizar-se-á pela recursos provenientes de transferências.
manutenção e expansão do ensino médio, público e gratui- Parágrafo único - A lei definirá as despesas que se ca-
to, inclusive para os jovens e adultos que, na idade própria, racterizem como manutenção e desenvolvimento do ensino.
a ele não tiveram acesso, tomando providências para uni- Artigo 256 - O Estado e os Municípios publicarão, até
versalizá-lo. trinta dias após o encerramento de cada trimestre, informa-
§1º - O Estado proverá o atendimento do ensino médio ções completas sobre receitas arrecadadas e transferências
em curso diurno e noturno, regular e supletivo, aos jovens e de recursos destinados à educação, nesse período e discri-
adultos, especialmente trabalhadores, de forma compatível minadas por nível de ensino.
com suas condições de vida. Artigo 257 - A distribuição dos recursos públicos as-
§2º - Além de outras modalidades que a lei vier a es- segurará prioridade ao atendimento das necessidades do
tabelecer no ensino médio, fica assegurada a especificida- ensino fundamental.
de do curso de formação do magistério para a pré-escola e Parágrafo único - Parcela dos recursos públicos desti-
das quatro primeiras séries do ensino fundamental, inclusive nados à educação deverá ser utilizada em programas inte-
com formação de docentes para atuarem na educação de grados de aperfeiçoamento e atualização para os educado-
portadores de deficiências. res em exercício no ensino público.
Artigo 251 - A lei assegurará a valorização dos profis- Artigo 258 - O Poder Público poderá, mediante convê-
sionais de ensino, mediante fixação de planos de carreira nio, destinar parcela dos recursos de que trata o artigo 255
para o magistério público, com piso salarial profissional, car- a instituições filantrópicas, definidas em lei, para a manu-
ga horária compatível com o exercício das funções e ingres- tenção e o desenvolvimento de atendimento educacional,
so exclusivamente por concurso público de provas e títulos. especializado e gratuito a educandos portadores de neces-
Artigo 252 - O Estado manterá seu próprio sistema de sidades especiais. (NR)
ensino superior, articulado com os demais níveis. - Artigo 258 com redação dada pela Emenda Constitu-
Parágrafo único - O sistema de ensino superior do Es- cional nº 13, de 04/12/2001.
tado de São Paulo incluirá universidades e outros estabele-
cimentos. SEÇÃO II
Artigo 253 - A organização do sistema de ensino supe- Da Cultura
rior do Estado será orientada para a ampliação do número
de vagas oferecidas no ensino público diurno e noturno, res- Artigo 259 - O Estado garantirá a todos o pleno exer-
peitadas as condições para a manutenção da qualidade de cício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura, e
ensino e do desenvolvimento da pesquisa. apoiará e incentivará a valorização e a difusão de suas ma-
Parágrafo único - As universidades públicas estaduais nifestações.
deverão manter cursos noturnos que, no conjunto de suas Artigo 260 - Constituem patrimônio cultural estadual
unidades, correspondam a um terço pelo menos, do total os bens de natureza material e imaterial, tomados indi-
das vagas por elas oferecidas. vidualmente ou em conjunto, portadores de referências à
Artigo 254 - A autonomia da universidade será exer- identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos for-
cida, respeitando, nos termos do seu estatuto, a necessária madores da sociedade nos quais se incluem:
democratização do ensino e a responsabilidade pública da I - as formas de expressão;
instituição, observados os seguintes princípios: II - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
I - utilização dos recursos de forma a ampliar o atendi- III - as obras, objetos, documentos, edificações e demais
mento à demanda social, tanto mediante cursos regulares, espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
quanto atividades de extensão;

2
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

IV - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, pai-


sagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico LEI N° 10.261, DE 28/10/1968 - ESTATUTO
e científico. DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO
Artigo 261 - O Poder Público pesquisará, identificará, ESTADO DE SÃO PAULO. HTTP://WWW.
protegerá e valorizará o patrimônio cultural paulista, através
AL.SP.GOV.BR/REPOSITORIO/LEGISLACAO/
do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueoló-
LEI/1968/ALTERACAO-LEI-10261- 28.10.1968.
gico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo - CONDE-
PHAAT, na forma que a lei estabelecer. HTML
Artigo 262 - O Poder Público incentivará a livre mani-
festação cultural mediante:
I - criação, manutenção e abertura de espaços públicos LEI Nº 10.261, DE 28 DE OUTUBRO DE 1968
devidamente equipados e capazes de garantir a produção,
divulgação e apresentação das manifestações culturais e ar- Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis
tísticas; do Estado
II - desenvolvimento de intercâmbio cultural e artísti-
co com os Municípios, integração de programas culturais e O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
apoio à instalação de casas de cultura e de bibliotecas pú-
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu
blicas;
promulgo a seguinte lei:
III - acesso aos acervos das bibliotecas, museus, arqui-
vos e congêneres; ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS
IV - promoção do aperfeiçoamento e valorização dos DO ESTADO
profissionais da cultura;
V - planejamento e gestão do conjunto das ações, ga- TÍTULO I
rantida a participação de representantes da comunidade; Disposições Preliminares
VI - compromisso do Estado de resguardar e defender a
integridade, pluralidade, independência e autenticidade das Art. 1º Esta lei institui o regime jurídico dos funcioná-
culturas brasileiras, em seu território; rios públicos civis do Estado.
VII - cumprimento, por parte do Estado, de uma política Parágrafo único. As suas disposições, exceto no que coli-
cultural não intervencionista, visando à participação de to- direm com a legislação especial, aplicam-se aos funcionários
dos na vida cultural; dos 3 Poderes do Estado e aos do Tribunal de Contas do
VIII - preservação dos documentos, obras e demais re- Estado.
gistros de valor histórico ou científico.
Artigo 263 - A lei estimulará, mediante mecanismos Art. 2º As disposições desta lei não se aplicam aos em-
específicos, os empreendimentos privados que se voltem à pregados das autarquias, entidades paraestatais e servi-
preservação e à restauração do patrimônio cultural do Esta- ços públicos de natureza industrial, ressalvada a situação
do, bem como incentivará os proprietários de bens culturais daqueles que, por lei anterior, já tenham a qualidade de fun-
tombados, que atendam às recomendações de preservação cionário público.
do patrimônio cultural. Parágrafo único. Os direitos, vantagens e regalias dos
Artigo 263-A - É facultado ao Poder Público vincular a funcionários públicos só poderão ser estendidos aos empre-
fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por gados das entidades a que se refere este Art. na forma e con-
cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento dições que a lei estabelecer.
de programas e projetos culturais, vedada a aplicação des-
ses recursos no pagamento de: (NR) Art. 3º Funcionário público, para os fins deste Estatuto,
I - despesas com pessoal e encargos sociais; (NR) é a pessoa legalmente investida em cargo público.
II - serviço da dívida; (NR)
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada di- Art. 4º Cargo público é o conjunto de atribuições e
retamente aos investimentos ou ações apoiados. (NR) responsabilidades cometidas a um funcionário.
- Artigo 263-A acrescentado pela Emenda Constitucional
nº 21, de 14/02/2006. Art. 5º Os cargos públicos são isolados ou de carreira.

Art. 6º Aos cargos públicos serão atribuídos valores de-


terminados por referências numéricas, seguidas de letras
em ordem alfabética, indicadoras de graus.
Parágrafo único. O conjunto de referência e grau constitui
o padrão do cargo.

Art. 7º Classe é o conjunto de cargos da mesma deno-


minação.

3
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 8º Carreira é o conjunto de classes da mesma na- CAPÍTULO II


tureza de trabalho, escalonadas segundo o nível de complexi- Das Nomeações
dade e o grau de responsabilidade.
SEÇÃO I
Art. 9º Quadro é o conjunto de carreiras e de cargos Das Formas de Nomeação
isolados.
Art. 13. As nomeações serão feitas:
Art. 10. É vedado atribuir ao funcionário serviços diver- I - em caráter vitalício, nos casos expressamente previs-
sos dos inerentes ao seu cargo, exceto as funções de chefia tos na Constituição do Brasil; (Ministério Público e Magistra-
e direção e as comissões legais. tura)
II - em comissão, quando se tratar de cargo que em vir-
Aplica-se na esfera estadual paulista, tanto para a Admi- tude de lei assim deva ser provido; e
nistração direta quanto para a indireta, nos três poderes, res- III - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de pro-
salvado o afastamento para autarquias, entidades paraesta- vimento dessa natureza.
tais e serviços públicos de natureza industrial.
Considera-se funcionário público a pessoa investida em A lei criará o cargo público, que poderá ser efetivo, caso
cargo público, que corresponde a um conjunto de atribui- em que o ingresso se dará mediante concurso; em comissão,
ções e responsabilidades, podendo ser isolado ou de car- quando por uma relação de confiança o superior puder no-
reira (é possível que exista um plano de carreira escalonado, mear seus funcionários enquanto estiver ocupando aquela
permitindo a ascensão entre classes, ou não; a somatória de posição de chefia; vitalício, quando a Constituição Federal
cargos isolados e de carreira é denominada de quadro). prever, no caso, Ministério Público e Magistratura.
Todo serviço público será remunerado pelos cofres pú-
blicos. SEÇÃO II
Da Seleção de Pessoal

TÍTULO II SUBSEÇÃO I
DO PROVIMENTO, DO EXERCÍCIO E DA VACÂNCIA DOS Do Concurso
CARGOS PÚBLICOS
Art. 14. A nomeação para cargo público de provimento
CAPÍTULO I efetivo será precedida de concurso público de provas ou de
Do Provimento provas e títulos.
Parágrafo único. As provas serão avaliadas na escala de
0 (zero) a 100 (cem) pontos e aos títulos serão atribuídos,
Art. 11. Os cargos públicos serão providos por: no máximo, 50 (cinquenta) pontos.
I - nomeação;
II - transferência; Art. 15. A realização dos concursos será centralizada
III - reintegração; num só órgão.
IV - acesso;
V - reversão; Art. 16. As normas gerais para a realização dos concur-
VI - aproveitamento; e sos e para a convocação e indicação dos candidatos para o
VII - readmissão. provimento dos cargos serão estabelecidas em regulamento.

Art. 12. Não havendo candidato habilitado em con- Art. 17. Os concursos serão regidos por instruções espe-
curso, os cargos vagos, isolados ou de carreira, só poderão ciais, expedidas pelo órgão competente.
ser ocupados no regime da legislação trabalhista, até o pra-
zo máximo de 2 (dois) anos, considerando-se findo o contra- Art. 18. As instruções especiais determinarão, em função
to após esse período, vedada a recondução. da natureza do cargo:
I - se o concurso será:
Segundo Hely Lopes Meirelles1, provimento “é o ato 1 - de provas ou de provas e títulos; e
pelo qual se efetua o preenchimento do cargo público, 2 - por especializações ou por modalidades profissio-
com a designação de seu titular”, podendo ser originário nais, quando couber;
ou inicial se o agente não possui vinculação anterior com II - as condições para provimento do cargo referentes a:
a Administração Pública; ou derivado, que pressupõe a 1 - diplomas ou experiência de trabalho;
existência de um vínculo com a Administração, o qual 2 - capacidade física; e
pode ser horizontal, sem ascensão na carreira, ou verti- 3 - conduta;
cal, com ascensão na carreira. III - o tipo e conteúdo das provas e as categorias de tí-
tulos;
IV - a forma de julgamento das provas e dos títulos;
1  MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: V - os critérios de habilitação e de classificação; e
Malheiros, 1993.

4
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VI - o prazo de validade do concurso. que assumir as funções do cargo, o disposto nos §§ 1º e 2º do
art. 24.
Art. 19. As instruções especiais poderão determinar que a
execução do concurso, bem como a classificação dos habilita- A substituição não é uma forma de provimento de car-
dos, seja feita por regiões. go público, devido ao seu caráter temporário. Basicamente,
estando temporariamente impedido legalmente o ocupante
Art. 20. A nomeação obedecerá à ordem de classifica- regular (ex.: férias), outro funcionário irá substitui-lo.
ção no concurso.
CAPÍTULO IV
No concurso de provas o candidato é avaliado apenas Da Transferência
pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos concur-
sos de provas e títulos o seu currículo em toda sua atividade
profissional também é considerado. Art. 26. O funcionário poderá ser transferido de um
O edital delimita questões como valor da taxa de inscri- para outro cargo de provimento efetivo.
ção, casos de isenção, número de vagas e prazo de valida-
de, sem prejuízo de instruções especiais compatíveis com o Art. 27. As transferências serão feitas a pedido do funcio-
cargo. nário ou “ex-officio”, atendidos sempre a conveniência do
SUBSEÇÃO II serviço e os requisitos necessários ao provimento do cargo.
Das Provas de Habilitação
Art. 28. A transferência será feita para cargo do mesmo
Art. 21. As provas de habilitação serão realizadas pelo padrão de vencimento ou de igual remuneração, ressalva-
órgão encarregado dos concursos, para fins de transferên- dos os casos de transferência a pedido, em que o vencimento
cia e de outras formas de provimento que não impliquem em ou a remuneração poderá ser inferior.
critério competitivo.
Art. 29. A transferência por permuta se processará a re-
Art. 22. As normas gerais para realização das provas de querimento de ambos os interessados e de acordo com o
habilitação serão estabelecidas em regulamento, obedecen- prescrito neste capítulo.
do, no que couber, ao estabelecido para os concursos.
A transferência consiste na mudança do lugar de exer-
CAPÍTULO III cício do cargo.
Das Substituições
CAPÍTULO V
Art. 23. Haverá substituição no impedimento legal e Da Reintegração
temporário do ocupante de cargo de chefia ou de direção.
Parágrafo único. Ocorrendo a vacância, o substituto pas-
sará a responder pelo expediente da unidade ou órgão corres- Art. 30. A reintegração é o reingresso no serviço público,
pondente até o provimento do cargo. decorrente da decisão judicial passada em julgado, com
ressarcimento de prejuízos resultantes do afastamento.
Art. 24. A substituição, que recairá sempre em funcio-
nário público, quando não for automática, dependerá da ex- Art. 31. A reintegração será feita no cargo anteriormen-
pedição de ato de autoridade competente. te ocupado e, se este houver sido transformado, no cargo
§ 1º O substituto exercerá o cargo enquanto durar o im- resultante.
pedimento do respectivo ocupante. § 1º Se o cargo estiver preenchido, o seu ocupante será
§ 2º O substituto, durante todo o tempo em que exercer exonerado, ou, se ocupava outro cargo, a este será recondu-
a substituição terá direito a perceber o valor do padrão e as zido, sem direito a indenização.
vantagens pecuniárias inerentes ao cargo do substituído e § 2º Se o cargo houver sido extinto, a reintegração se fará
mais as vantagens pessoais a que fizer jus. em cargo equivalente, respeitada a habilitação profissional,
§ 3º O substituto perderá, durante o tempo da substitui- ou, não sendo possível, ficará o reintegrado em disponibilida-
ção, o vencimento ou a remuneração e demais vantagens pe- de no cargo que exercia.
cuniárias inerentes ao seu cargo, se pelo mesmo não optar.
Art. 32. Transitada em julgado a sentença, será expedido
Art. 25. Exclusivamente para atender à necessidade de o decreto de reintegração no prazo máximo de 30 (trinta)
serviço, os tesoureiros, caixas e outros funcionários que dias.
tenham valores sob sua guarda, em caso de impedimento, se-
rão substituídos por funcionários de sua confiança, que in- Se um servidor for injustamente demitido e a sua de-
dicarem, respondendo a sua fiança pela gestão do substituto. missão for invalidada, será reinvestido no cargo, sendo to-
Parágrafo único. Feita a indicação, por escrito, ao chefe talmente ressarcido (por exemplo, recebendo os salários do
da repartição ou do serviço, este proporá a expedição do ato período em que foi afastado). Caso o cargo esteja extinto,
de designação, aplicando-se ao substituto a partir da data em será posto em disponibilidade; caso o cargo exista e alguém

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

o estiver ocupando, este será retirado do cargo, devolven- Reversão é o retorno do servidor aposentado ao exer-
do-o ao seu legítimo titular. cício, seja por motivo de requerimento pessoal, seja por re-
conhecimento de vício em sua aposentadoria por invalidez.
CAPÍTULO VI Não cabe reversão se o aposentado possuir mais de 58 anos
Do Acesso de idade.

CAPÍTULO VIII
Art. 33. Acesso é a elevação do funcionário, dentro do Do Aproveitamento
respectivo quadro a cargo da mesma natureza de traba-
lho, de maior grau de responsabilidade e maior comple- Art. 37. Aproveitamento é o reingresso no serviço público
xidade de atribuições, obedecido o interstício na classe e as do funcionário em disponibilidade.
exigências a serem instituídas em regulamento.
§ 1º Serão reservados para acesso os cargos cujas atribui- Art. 38. O obrigatório aproveitamento do funcionário
ções exijam experiência prévia do exercício de outro cargo. em disponibilidade ocorrerá em vagas existentes ou que se
§ 2º O acesso será feito mediante aferição do mérito verificarem nos quadros do funcionalismo.
dentre titulares de cargos cujo exercício proporcione a expe- § 1º O aproveitamento dar-se-á, tanto quanto possível,
riência necessária ao desempenho das atribuições dos cargos em cargo de natureza e padrão de vencimentos corres-
referidos no parágrafo anterior. pondentes ao que ocupava, não podendo ser feito em cargo
de padrão superior.
Art. 34. Será de 3 (três) anos de efetivo exercício o in- § 2º Se o aproveitamento se der em cargo de padrão in-
terstício para concorrer ao acesso. ferior ao provento da disponibilidade, terá o funcionário di-
reito à diferença.
O acesso é basicamente uma promoção, pois o servidor § 3º Em nenhum caso poderá efetuar-se o aproveitamen-
é elevado de um cargo para o outro. Para concorrer a uma to sem que, mediante inspeção médica, fique provada a ca-
promoção, o servidor tem que estar em exercício há pelo pacidade para o exercício do cargo.
menos 3 anos. § 4º Se o laudo médico não for favorável, poderá ser
procedida nova inspeção de saúde, para o mesmo fim, de-
CAPÍTULO VII corridos no mínimo 90 (noventa) dias.
Da Reversão § 5º Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada
a disponibilidade do funcionário que, aproveitado, não tomar
posse e não entrar em exercício dentro do prazo legal.
Art. 35. Reversão é o ato pelo qual o aposentado rein- § 6º Será aposentado no cargo anteriormente ocupado,
gressa no serviço público a pedido ou ex-officio. o funcionário em disponibilidade que for julgado incapaz
§ 1º A reversão ex-officio será feita quando insubsis- para o serviço público, em inspeção médica.
tentes as razões que determinaram a aposentadoria por § 7º Se o aproveitamento se der em cargo de provimento
invalidez. em comissão, terá o aproveitado assegurado, no novo cargo,
§ 2º Não poderá reverter à atividade o aposentado que a condição de efetividade que tinha no cargo anteriormente
contar mais de 58 (cinquenta e oito) anos de idade. ocupado.
§ 3º No caso de reversão ex-officio, será permitido o
reingresso além do limite previsto no parágrafo anterior. Servidor posto em disponibilidade não é servidor apo-
§ 4º A reversão só poderá efetivar-se quando, em inspe- sentado. É apenas um servidor aguardando que surja um
ção médica, ficar comprovada a capacidade para o exercício posto adequado para que ocupe. Quando ele surgir, deve-
do cargo. rá entrar em exercício, mediante aproveitamento, sob pena
§ 5º Se o laudo médico não for favorável, poderá ser de ter revogada a disponibilidade, deixando de ser servidor
procedida nova inspeção de saúde, para o mesmo fim, decor- público.
ridos pelo menos 90 (noventa) dias.
§ 6º Será tornada sem efeito a reversão ex-officio e cas- CAPÍTULO IX
sada a aposentadoria do funcionário que reverter e não tomar Da Readmissão
posse ou não entrar em exercício dentro do prazo legal.

Art. 36. A reversão far-se-á no mesmo cargo. Art. 39. Readmissão é o ato pelo qual o ex-funcionário,
§ 1º Em casos especiais, a juízo do Governo, poderá o demitido ou exonerado, reingressa no serviço público,
aposentado reverter em outro cargo, de igual padrão de sem direito a ressarcimento de prejuízos, assegurada, ape-
vencimentos, respeitada a habilitação profissional. nas, a contagem de tempo de serviço em cargos anteriores,
§ 2º A reversão a pedido, que será feita a critério da para efeito de aposentadoria e disponibilidade.
Administração, dependerá também da existência de cargo § 1º  A readmissão do ex-funcionário demitido será obri-
vago, que deva ser provido mediante promoção por mere- gatoriamente precedida de reexame do respectivo processo
cimento. administrativo, em que fique demonstrado não haver incon-
veniente, para o serviço público, na decretação da medida.

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 2º  Observado o disposto no parágrafo anterior, se a Parágrafo único. Essa proibição vigorará no caso de elei-
demissão tiver sido a bem do serviço público, a readmissão ções federais, estaduais ou municipais, isolada ou simulta-
não poderá ser decretada antes de decorridos 5 (cinco) anos neamente realizadas.
do ato demissório.
Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de
Art. 40. A readmissão será feita no cargo anteriormente ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança
exercido pelo ex-funcionário ou, se transformado, no cargo de sede.
resultante da transformação.
CAPÍTULO XII
Readmissão é uma espécie de reintegração na qual o Da Posse
funcionário não retorna devido a decisão judicial, mas pelo
mero reexame do processo administrativo, não possuindo
aqui o direito a ressarcimento de prejuízos. Art. 46. Posse é o ato que investe o cidadão em cargo
público.
CAPÍTULO X
Da Readaptação Art. 47. São requisitos para a posse em cargo público:
I - ser brasileiro;
II - ter completado 18 (dezoito) anos de idade;
Art. 41. Readaptação é a investidura em cargo mais III - estar em dia com as obrigações militares;
compatível com a capacidade do funcionário e dependerá IV - estar no gozo dos direitos políticos;
sempre de inspeção médica. V - ter boa conduta;
VI - gozar de boa saúde, comprovada em inspeção rea-
Art. 42. A readaptação não acarretará diminuição, nem lizada por órgão médico registrado no Conselho Regional
aumento de vencimento ou remuneração e será feita me- correspondente, para provimento de cargo em comissão;
diante transferência. VII - possuir aptidão para o exercício do cargo; e
VIII - ter atendido às condições especiais prescritas para
Se o funcionário deixa de ter condições físicas ou psico- o cargo.
lógicas para ocupar seu cargo, deverá ser readaptado para Parágrafo único. A deficiência da capacidade física,
cargo semelhante que não exija tais aptidões. Ex.: funcionário comprovadamente estacionária, não será considerada im-
trabalhava como atendente numa repartição, se movimen- pedimento para a caracterização da capacidade psíquica
tando o tempo todo e sofre um acidente, ficando paraplé- e somática a que se refere o item VI deste artigo, desde que
gico. Sua capacidade mental não ficou prejudicada, embora tal deficiência não impeça o desempenho normal das fun-
seja inconveniente ele ter que fazer tantos movimentos no ções inerentes ao cargo de cujo provimento se trata.
exercício das funções. Por isso, pode ser reconduzido para
outro cargo técnico na repartição que seja mais burocrático Art. 48. São competentes para dar posse:
e exija menos movimentação física, como o de assistente de I - Os Secretários de Estado, aos diretores gerais, aos
um superior. diretores ou chefes das repartições e aos funcionários que
lhes são diretamente subordinados; e
CAPÍTULO XI II - Os diretores gerais e os diretores ou chefes de re-
Da Remoção partição ou serviço, nos demais casos, de acordo com o que
dispuser o regulamento.

Art. 43. A remoção, que se processará a pedido do fun- Art. 49. A posse verificar-se-á mediante a assinatura de
cionário ou “ex-officio”, só poderá ser feita: termo em que o funcionário prometa cumprir fielmente os
I - de uma para outra repartição, da mesma Secretaria; deveres do cargo.
e Parágrafo único. O termo será lavrado em livro próprio
II - de um para outro órgão da mesma repartição. e assinado pela autoridade que der posse.
Parágrafo único. A remoção só poderá ser feita respeita-
da a lotação de cada repartição. Art. 50. A posse poderá ser tomada por procuração
quando se tratar de funcionário ausente do Estado, em comis-
Art. 44. A remoção por permuta será processada a reque- são do Governo ou, em casos especiais, a critério da autori-
rimento de ambos os interessados, com anuência dos res- dade competente.
pectivos chefes e de acordo com o prescrito neste Capítulo.
Art. 51. A autoridade que der posse deverá verificar, sob
Art. 45. O funcionário não poderá ser removido ou trans- pena de responsabilidade, se foram satisfeitas as condições
ferido ex-officio para cargo que deva exercer fora da locali- estabelecidas, em lei ou regulamento, para a investidura no
dade de sua residência, no período de 6 (seis) meses antes e cargo.
até 3 (três) meses após a data das eleições.

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 52. A posse deverá verificar-se no prazo de 30 (trin- § 2º O início do exercício e as alterações que ocorre-
ta) dias, contados da data da publicação do ato de provimen- rem serão comunicados ao órgão competente, pelo chefe
to do cargo, no órgão oficial. da repartição ou serviço em que estiver lotado o funcionário.
§ 1º O prazo fixado neste artigo poderá ser prorrogado
por mais 30 (trinta) dias, a requerimento do interessado. Art. 58. Entende-se por lotação, o número de funcioná-
§ 2º O prazo inicial para a posse do funcionário em férias rios de carreira e de cargos isolados que devam ter exercício
ou licença, será contado da data em que voltar ao serviço. em cada repartição ou serviço.
§ 3º Se a posse não se der dentro do prazo, será tornado
sem efeito o ato de provimento. Art. 59. O chefe da repartição ou de serviço em que
for lotado o funcionário é a autoridade competente para
Art. 53. A contagem do prazo a que se refere o artigo dar-lhe exercício.
anterior poderá ser suspensa nas seguintes hipóteses: Parágrafo único. É competente para dar exercício ao fun-
I - por até 120 (cento e vinte) dias, a critério do órgão cionário, com sede no Interior do Estado, a autoridade a que o
médico oficial, a partir da data de apresentação do candidato mesmo estiver diretamente subordinado.
junto ao referido órgão para perícia de sanidade e capa-
cidade física, para fins de ingresso, sempre que a inspeção Art. 60. O exercício do cargo terá início dentro do prazo
médica exigir essa providência; de 30 (trinta) dias, contados:
II - por 30 (trinta) dias, mediante a interposição de re- I - da data da posse; e
curso pelo candidato contra a decisão do órgão médico II - da data da publicação oficial do ato, no caso de
oficial. remoção.
§ 1º O prazo a que se refere o inciso I deste artigo reco- § 1º Os prazos previstos neste artigo poderão ser prorro-
meçará a correr sempre que o candidato, sem motivo justifi- gados por 30 (trinta) dias, a requerimento do interessado e
cado, deixe de submeter-se aos exames médicos julgados a juízo da autoridade competente.
necessários. § 2º No caso de remoção, o prazo para exercício de fun-
§ 2º A interposição de recurso a que se refere o inciso II cionário em férias ou em licença, será contado da data em
deste artigo dar-se-á no prazo máximo de 5 (cinco) dias, a que voltar ao serviço.
contar da data de decisão do órgão médico oficial. § 3º No interesse do serviço público, os prazos previstos
neste artigo poderão ser reduzidos para determinados car-
Art. 54. O prazo a que se refere o artigo 52 para aquele gos.
que, antes de tomar posse, for incorporado às Forças Arma- § 4º O funcionário que não entrar em exercício dentro
das, será contado a partir da data da desincorporação. do prazo será exonerado.

Art. 55. O funcionário efetivo, nomeado para cargo em Art. 61. Em caso de mudança de sede, será concedido
comissão, fica dispensado, no ato da posse, da apresentação um período de trânsito, até 8 (oito) dias, a contar do desli-
do atestado de que trata o inciso VI do artigo 47 desta lei. gamento do funcionário.

O termo de posse é dotado de conteúdo específico. É Art. 62. O funcionário deverá apresentar ao órgão com-
possível tomar posse mediante procuração específica. Não petente, logo após ter tomado posse e assumido o exercício,
há posse nos cargos em comissão. A declaração de bens e os elementos necessários à abertura do assentamento
valores visa permitir a verificação da situação financeira do individual.
servidor, de forma a perceber se ele enriqueceu despropor-
cionalmente durante o exercício do cargo. Art. 63. Salvo os casos previstos nesta lei, o funcionário
que interromper o exercício por mais de 30 (trinta) dias
consecutivos, ficará sujeito à pena de demissão por aban-
CAPÍTULO XIII dono de cargo.
Da Fiança
Art. 64. O funcionário deverá ter exercício na repartição
em cuja lotação houver claro.
Art. 56. (Revogado).
Art. 65. Nenhum funcionário poderá ter exercício em ser-
CAPÍTULO XIV viço ou repartição diferente daquela em que estiver lotado,
Do Exercício
salvo nos casos previstos nesta lei, ou mediante autorização
do Governador.
Art. 57. O exercício é o ato pelo qual o funcionário assu-
Art. 66. Na hipótese de autorização do Governador, o
me as atribuições e responsabilidades do cargo.
afastamento só será permitido, com ou sem prejuízo de
§ 1º O início, a interrupção e o reinicio do exercício
vencimentos, para fim determinado e prazo certo.
serão registrados no assentamento individual do funcionário.
Parágrafo único. O afastamento sem prejuízo de venci-
mentos poderá ser condicionado ao reembolso das despe-

8
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

sas efetuadas pelo órgão de origem, na forma a ser estabele- o horário das sessões da Câmara coincida com o horário
cida em regulamento. normal de trabalho a que estiver sujeito o funcionário.
§ 1º Na hipótese prevista neste artigo, o afastamento se
Art. 67. O afastamento do funcionário para ter exercício dará sem prejuízo de vencimentos e vantagens, ainda que
em entidades com as quais o Estado mantenha convê- não incorporadas, do respectivo cargo.
nios, reger-se-á pelas normas nestes estabelecidas. § 2º É vedada a remoção ou transferência do funcioná-
rio durante o exercício do mandato.
Art. 68. O funcionário poderá ausentar-se do Estado ou
deslocar-se da respectiva sede de exercício, para missão Art. 75. O funcionário, devidamente autorizado pelo Go-
ou estudo de interesse do serviço público, mediante autoriza- vernador, poderá afastar-se do cargo para participar de pro-
ção expressa do Governador. vas de competições desportivas, dentro ou fora do Estado.
§ 1º O afastamento de que trata este artigo, será precedi-
Artigo 68-A. O funcionário poderá afastar-se do Estado do de requisição justificada do órgão competente.
para atuar em organismo internacional de que o Brasil § 2º O funcionário será afastado por prazo certo, nas
participe ou com o qual coopere, mediante autorização ex- seguintes condições:
pressa do Governador, com prejuízo dos vencimentos e I - sem prejuízo do vencimento ou remuneração, quando
demais vantagens do cargo. representar o Brasil, ou o Estado, em competições despor-
tivas oficiais; e
Art. 69. Os afastamentos de funcionários para participa- II - com prejuízo do vencimento ou remuneração, em
ção em congressos e outros certames culturais, técnicos quaisquer outros casos.
ou científicos, poderão ser autorizados pelo Governador,
na forma estabelecida em regulamento. CAPÍTULO XV
Da Contagem de Tempo de Serviço
Art. 70. O servidor preso em flagrante, preventiva ou tem-
porariamente ou pronunciado será considerado afastado
do exercício do cargo, com prejuízo da remuneração, até a Art. 76. O tempo de serviço público, assim considerado
condenação ou absolvição transitada em julgado. o exclusivamente prestado ao Estado e suas Autarquias,
§ 1º Estando o servidor licenciado, sem prejuízo de sua será contado singelamente para todos os fins.
remuneração, será considerada cessada a licença na data Parágrafo único. O tempo de serviço público prestado à
em que o servidor for recolhido à prisão.  União, outros Estados e Municípios, e suas autarquias, an-
§ 2º Se o servidor for, ao final do processo judicial, con- teriormente ao ingresso do funcionário no serviço público
denado, o afastamento sem remuneração perdurará até o estadual, será contado integralmente para os efeitos de
cumprimento total da pena, em regime fechado ou semia- aposentadoria e disponibilidade.
berto, salvo na hipótese em que a decisão condenatória de-
terminar a perda do cargo público. Art. 77. A apuração do tempo de serviço será feita em
dias.
Art. 71. As autoridades competentes determinarão o afas- § 1º Serão computados os dias de efetivo exercício, do
tamento imediato do trabalho, do funcionário que apresente registro de frequência ou da folha de pagamento.
indícios de lesões orgânicas ou funcionais causadas por § 2º O número de dias será convertido em anos, consi-
raios X ou substâncias radioativas, podendo atribuir-lhe derados sempre estes como de 365 (trezentos e sessenta e
conforme o  caso, tarefas sem risco de radiação ou conceder- cinco) dias.
-lhe licença “ex-officio” na forma do art. 194 e seguintes. § 3º Feita a conversão de que trata o parágrafo anterior,
os dias restantes, até 182 (cento e oitenta e dois), não serão
Art. 72. O funcionário, quando no desempenho do man- computados, arredondando-se para 1 (um) ano, na apo-
dato eletivo federal ou estadual, ficará afastado de seu sentadoria compulsória ou por invalidez, quando excederem
cargo, com prejuízo do vencimento ou remuneração. esse número.

Art. 73. O exercício do mandato de Prefeito, ou de Ve- Art. 78. Serão considerados de efetivo exercício, para
reador, quando remunerado, determinará o afastamento todos os efeitos legais, os dias em que o funcionário estiver
do funcionário, com a faculdade de opção entre os subsí- afastado do serviço em virtude de:
dios do mandato e os vencimentos ou a remuneração do I - férias;
cargo, inclusive vantagens pecuniárias, ainda que não incor- II - casamento, até 8 (oito) dias;
poradas. III - falecimento do cônjuge, filhos, pais e irmãos, até
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se igual- 8 (oito) dias;
mente à hipótese de nomeação de Prefeito. IV - falecimento dos avós, netos, sogros, do padrasto
ou madrasta, até 2 (dois) dias;
Art. 74. Quando não remunerada a vereança, o afasta- V - serviços obrigatórios por lei;
mento somente ocorrerá nos dias de sessão e desde que VI - licença quando acidentado no exercício de suas
atribuições ou atacado de doença profissional;

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VII - licença à funcionária gestante; Art. 84. É vedada a acumulação de tempo de servi-
VIII - licenciamento compulsório, nos termos do art. ço concorrente ou simultaneamente prestado, em dois ou
206; mais cargos ou funções, à União, Estados, Municípios ou Au-
IX - licença-prêmio; tarquias em geral.
X - faltas abonadas nos termos do parágrafo 1º do art. Parágrafo único. Em regime de acumulação é vedado
110, observados os limites ali fixados; contar tempo de um dos cargos para reconhecimento de di-
XI - missão ou estudo dentro do Estado, em outros pon- reito ou vantagens no outro.
tos do território nacional ou no estrangeiro, nos termos do
art. 68; Art. 85. Não será computado, para nenhum efeito, o
XII - nos casos previstos no art. 122; tempo de serviço gratuito.
XIII - afastamento por processo administrativo, se o
funcionário for declarado inocente ou se a pena imposta for CAPÍTULO XVI
de repreensão ou multa; e, ainda, os dias que excederem o Da Vacância
total da pena de suspensão efetivamente aplicada;
XIV - trânsito, em decorrência de mudança de sede de
exercício, desde que não exceda o prazo de 8 (oito) dias; e Art. 86. A vacância do cargo decorrerá de:
XV - provas de competições desportivas, nos termos do I - exoneração;
item I, do § 2º, do art. 75. II - demissão;
XVI - licença-paternidade, por 5 (cinco) dias. III - transferência;
IV - acesso;
Art. 79. Os dias em que o funcionário deixar de compa- V - aposentadoria; e
recer ao serviço em virtude de mandato legislativo muni- VI - falecimento.
cipal serão considerados de efetivo exercício para todos os § 1º Dar-se-á a exoneração:
efeitos legais. 1 - a pedido do funcionário;
Parágrafo único. No caso de vereança remunerada, os 2 - a critério do Governo, quando se tratar de ocupante
dias de afastamento não serão computados para fins de de cargo em comissão; e
vencimento ou remuneração, salvo se por eles tiver optado o 3 - quando o funcionário não entrar em exercício den-
funcionário. tro do prazo legal.
§ 2º A demissão será aplicada como penalidade nos ca-
Art. 80. Será contado para todos os efeitos, salvo para sos previstos nesta lei.
a percepção de vencimento ou remuneração:
I - o afastamento para provas de competições des- TÍTULO III
portivas nos termos do item II do § 2º do art. 75; e DA PROMOÇÃO
II - as licenças previstas nos arts. 200 e 201.
CAPÍTULO ÚNICO
Da Promoção
Art. 81. Os tempos adiante enunciados serão contados:
I - para efeito de concessão de adicional por tempo de
serviço, sexta-parte, aposentadoria e disponibilidade: Art. 87. Promoção é a passagem do funcionário de um
a) o de afastamento nos termos dos arts. 65 e 66, jun- grau a outro da mesma classe e se processará obedecidos,
to a outros poderes do Estado, a fundações instituídas alternadamente, os critérios de merecimento e de antigui-
pelo Estado ou empresas em que o Estado tenha partici- dade na forma que dispuser o regulamento.
pação majoritária pela sua Administração Centralizada ou
Descentralizada, bem como junto a órgãos da Administração Art. 88. O merecimento do funcionário será apurado em
Direta da União, de outros Estados e Municípios, e de suas pontos positivos e negativos.
autarquias; § 1º Os pontos positivos se referem a condições de efi-
b) o de afastamento nos termos do art. 67; ciência no cargo e ao aperfeiçoamento funcional resultan-
II - para efeito de disponibilidade e aposentadoria, o te do aprimoramento dos seus conhecimentos.
de licença para tratamento de saúde. § 2º Os pontos negativos resultam da falta de assidui-
dade e da indisciplina.
Art. 82. O tempo de mandato federal e estadual, bem
como o municipal, quando remunerados, será contado para Art. 89. Da apuração do merecimento será dada ciência
fins de aposentadoria e de promoção por antiguidade. ao funcionário.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se à hipó-
tese de nomeação de Prefeito. Art. 90. A antiguidade será determinada pelo tempo de
efetivo exercício no cargo e no serviço público, apurado em
Art. 83. Para efeito de aposentadoria será contado o tem- dias.
po em que o funcionário esteve em disponibilidade.

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 91. As promoções serão feitas em junho e dezembro Art. 99. Para promoção por merecimento é indispensável
de cada ano, dentro de limites percentuais a serem estabe- que o funcionário obtenha número de pontos não inferior à
lecidos em regulamento e corresponderão às condições exis- metade do máximo atribuível.
tentes até o último dia do semestre imediatamente anterior.
Art. 100. O merecimento do funcionário é adquirido na
Art. 92. Os direitos e vantagens que decorrerem da pro- classe.
moção serão contados a partir da publicação do ato, salvo
quando publicado fora do prazo legal, caso em que vigorará a Art. 101. (Revogado)
contar do último dia do semestre a que corresponder.
Parágrafo único. Ao funcionário que não estiver em efeti- Art. 102. O tempo no cargo será o efetivo exercício, con-
vo exercício, só se abonarão as vantagens a partir da data da tado na seguinte conformidade:
reassunção. I - a partir da data em que o funcionário assumir o exer-
cício do cargo, nos casos de nomeação, transferência a pe-
Art. 93. Será declarada sem efeito a promoção inde- dido, reversão e aproveitamento;
vida, não ficando o funcionário, nesse caso, obrigado a res- II - como se o funcionário estivesse em exercício, no caso
tituições, salvo na hipótese de declaração falsa ou omissão de reintegração;
intencional. III - a partir da data em que o funcionário assumir o exer-
cício do cargo do qual foi transferido, no caso de transferên-
Art. 94. Só poderão ser promovidos os servidores que tive- cia ex-officio; e
rem o interstício de efetivo exercício no grau. IV - a partir da data em que o funcionário assumir o exer-
Parágrafo único. O interstício a que se refere este artigo cício do cargo reclassificado ou transformado.
será estabelecido em regulamento.
Art. 103. Será contado como tempo no cargo o efetivo
Art. 95. Dentro de cada quadro, haverá para cada classe, exercício que o funcionário houver prestado no mesmo cargo,
nos respectivos graus, uma lista de classificação, para os sem solução de continuidade, desde que por prazo superior
critérios de merecimento e antiguidade. a 6 (seis) meses:
Parágrafo único. Ocorrendo empate terão preferência, I - como substituto; e
sucessivamente: II - no desempenho de função gratificada, em período
1 - na classificação por merecimento: anterior à criação do respectivo cargo.
a) os títulos e os comprovantes de conclusão de cur-
sos, relacionados com a função exercida; Art. 104. As promoções obedecerão à ordem de classi-
b) a assiduidade; ficação.
c) a antiguidade no cargo;
d) os encargos de família; e Art. 105. Haverá em cada Secretaria de Estado uma Co-
e) a idade; missão de Promoção que terá as seguintes atribuições:
2 - na classificação por antiguidade: I - eleger o respectivo presidente;
a) o tempo no cargo; II - decidir as reclamações contra a avaliação do méri-
b) o tempo de serviço prestado ao Estado; to, podendo alterar, fundamentalmente, os pontos atribuídos
c) o tempo de serviço público; ao reclamante ou a outros funcionários;
d) os encargos de família; e III - avaliar o mérito do funcionário quando houver di-
e) a idade. vergência igual ou superior a 20 (vinte) pontos entre os
totais atribuídos pelas autoridades avaliadoras;
Art. 96. O funcionário em exercício de mandato eletivo IV - propor à autoridade competente a penalidade que
federal ou estadual ou de mandato de prefeito, somente po- couber ao responsável pelo atraso na expedição e remessa do
derá ser promovido por antiguidade. Boletim de Promoção, pela falta de qualquer informação ou
de elementos solicitados, pelos fatos de que decorram irregu-
Art. 97. Não serão promovidos por merecimento, ainda laridade ou parcialidade no processamento das promoções;
que classificados dentro dos limites estabelecidos no regu- V - avaliar os títulos e os certificados de cursos apre-
lamento, os funcionários que tiverem sofrido qualquer pe- sentados pelos funcionários; e
nalidade nos dois anos anteriores à data de vigência da VI - dar conhecimento aos interessados mediante afixa-
promoção. ção na repartição:
1 - das alterações de pontos feitos nos Boletins de Pro-
Art. 98. O funcionário submetido a processo adminis- moção; e
trativo poderá ser promovido, ficando, porém, sem efeito a 2 - dos pontos atribuídos pelos títulos e certificados de
promoção por merecimento no caso de o processo resultar em cursos.
penalidade.
Art. 106. No processamento das promoções cabem as se-
guintes reclamações:
I - da avaliação do mérito; e

11
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

II - da classificação final. Art. 109. Remuneração é a retribuição paga ao funcio-


§ 1º Da avaliação do mérito podem ser interpostos pe- nário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente a 2/3
didos de reconsideração e recurso, e, da classificação final, (dois terços) do respectivo padrão, mais as quotas ou por-
apenas recurso. centagens que, por lei, lhe tenham sido atribuídas e as
§ 2º Terão efeito suspensivo as reclamações relativas à vantagens pecuniárias a ela incorporadas.
avaliação do mérito.
§ 3º Serão estabelecidos em regulamento as normas e os Art. 110. O funcionário perderá:
prazos para o processamento das reclamações de que trata I - o vencimento ou remuneração do dia quando não
este artigo. comparecer ao serviço, salvo no caso previsto no § 1º deste
artigo; e
Art. 107. A orientação das promoções do funcionalismo II - 1/3 (um terço) do vencimento ou remuneração diá-
público civil será centralizada, cabendo ao órgão a que for ria, quando comparecer ao serviço dentro da hora seguinte à
deferida tal competência: marcada para o início do expediente ou quando dele retirar-
I - expedir normas relativas ao processamento das pro- -se dentro da última hora.
moções e elaborar as respectivas escalas de avaliação, com a § 1º As faltas ao serviço, até o máximo de 6 (seis) por
aprovação do Governador; ano, não excedendo a uma por mês, em razão de moléstia
II - orientar as autoridades competentes quanto à avalia- ou outro motivo relevante, poderão ser abonadas pelo su-
ção das condições de promoção; perior imediato, a requerimento do funcionário no primeiro
III - realizar estudos e pesquisas no sentido de averiguar a dia útil subsequente ao da falta.
eficiência do sistema em vigor, propondo medidas tendentes § 2º No caso de faltas sucessivas, justificadas ou in-
ao seu aperfeiçoamento; e justificadas, os dias intercalados – domingos, feriados e
IV - opinar em processos sobre assuntos de promoção, aqueles em que não haja expediente – serão computados
sempre que solicitado. exclusivamente para efeito de desconto do vencimento ou
remuneração. (não como falta)
TÍTULO IV Somente não geram perda de remuneração as faltas
DOS DIREITOS E DAS VANTAGENS DE ORDEM justificadas e devidamente compensadas.
PECUNIÁRIA
Art. 111. As reposições devidas pelo funcionário e as
indenizações por prejuízos que causar à Fazenda Pública
Resume Carvalho Filho2: “os direitos sociais constitu- Estadual, serão descontadas em parcelas mensais não ex-
cionais são objeto da referência do art. 39, §3°, CF, o qual cedentes da décima parte do vencimento ou remuneração
determina que dezesseis dos direitos sociais outorgados ressalvados os casos especiais previstos neste Estatuto.
aos empregados sejam estendidos aos servidores públi-
cos. Dentre esses direitos estão o do salário mínimo (art. Art. 112. Só será admitida procuração para efeito de re-
7°, IV); o décimo terceiro salário (art. 7°, VIII); o repouso cebimento de quaisquer importâncias dos cofres estaduais,
semanal remunerado (art. 7°, XV); o salário-família (art. decorrentes do exercício do cargo, quando o funcionário se
7°, XII; o de férias anuais (art. 7°, XVII); o de licença à ges- encontrar fora da sede ou comprovadamente impossibili-
tante (art. 7°, XVIII) e outros mencionados no dispositivo tado de locomover-se.
constitucional. [...] Além disso, há vários direitos de na-
tureza social relacionados nos diversos estatutos funcio- Art. 113. O vencimento, remuneração ou qualquer van-
nais das pessoas federativas. É nas leis estatutárias que tagem pecuniária atribuídos ao funcionário, não poderão ser
se encontram tais direitos, como o direito às licenças, à objeto de arresto, sequestro ou penhora, salvo:
pensão, aos auxílios pecuniários, como o auxílio-funeral I - quando se tratar de prestação de alimentos, na forma
e o auxílio-reclusão, à assistência, à saúde etc.” da lei civil; e
II - nos casos previstos no Capítulo II do Título VI deste
CAPÍTULO I Estatuto.
Do Vencimento e da Remuneração
Art. 114. É proibido, fora dos casos expressamente con-
SEÇÃO I
signados neste Estatuto, ceder ou gravar vencimento, re-
Disposições Gerais
muneração ou qualquer vantagem decorrente do exercício
de cargo público.
Art. 108. Vencimento é a retribuição paga ao funcio-
nário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente ao Art. 115. O vencimento ou remuneração do funcionário
valor do respectivo padrão fixado em lei, mais as vantagens a não poderá sofrer outros descontos, exceto os obrigatórios
ele incorporadas para todos os efeitos legais. e os autorizados por lei.

Art. 116. As consignações em folha, para efeito de descon-


2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- to de vencimentos ou remuneração, serão disciplinadas em
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. regulamento.

12
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO II VII - quota-parte de multas e porcentagens fixadas


Do Horário e do Ponto em lei;
VIII - honorários, quando fora do período normal ou ex-
traordinário de trabalho a que estiver sujeito, for designado
Art. 117. O horário de trabalho nas repartições será fixado para realizar investigações ou pesquisas científicas, bem
pelo Governo de acordo com a natureza e as necessidades como para exercer as funções de auxiliar ou membro de
do serviço. bancas e comissões de concurso ou prova, ou de profes-
sor de cursos de seleção e aperfeiçoamento ou especia-
Art. 118. O período de trabalho, nos casos de comprova- lização de servidores, legalmente instituídos, observadas as
da necessidade, poderá ser antecipado ou prorrogado pelo proibições atinentes a regimes especiais de trabalho fixados
chefe da repartição ou serviço. em lei;
Parágrafo único. No caso de antecipação ou prorrogação, IX - honorários pela prestação de serviço peculiar à
será remunerado o trabalho extraordinário, na forma es- profissão que exercer e, em função dela, à Justiça, desde que
tabelecida no art. 136. não a execute dentro do período normal ou extraordiná-
rio de trabalho a que estiver sujeito e sejam respeitadas as
Art. 119. Nos dias úteis, só por determinação do Gover- restrições estabelecidas em lei pela subordinação a regimes
nador poderão deixar de funcionar as repartições públicas ou especiais de trabalho; e
ser suspenso o expediente. X - outras vantagens ou concessões pecuniárias previstas
em leis especiais ou neste Estatuto.
Art. 120. Ponto é o registro pelo qual se verificará, dia- § 1º Excetuados os casos expressamente previstos neste
riamente, a entrada e saída do funcionário em serviço. artigo, o funcionário não poderá receber, a qualquer título,
§ 1º Para registro do ponto serão usados, de preferência, seja qual for o motivo ou forma de pagamento, nenhuma ou-
meios mecânicos. tra vantagem pecuniária dos órgãos do serviço público, das
§ 2º É vedado dispensar o funcionário do registro do entidades autárquicas ou paraestatais ou outras organizações
ponto, salvo os casos expressamente previstos em lei. públicas, em razão de seu cargo ou função nos quais te-
§ 3º A infração do disposto no parágrafo anterior deter- nha sido mandado servir.
minará a responsabilidade da autoridade que tiver expedi- § 2º O não cumprimento do que preceitua este artigo im-
do a ordem, sem prejuízo da ação disciplinar cabível. portará na demissão do funcionário, por procedimento ir-
regular, e na imediata reposição, pela autoridade ordenadora
Art. 121. Para o funcionário estudante, conforme dispu- do pagamento, da importância indevidamente paga.
ser o regulamento, poderão ser estabelecidas normas espe- § 3º Nenhuma importância relativa às vantagens cons-
ciais quanto à frequência ao serviço. tantes deste artigo será paga ou devida ao funcionário, seja
qual for o seu fundamento, se não houver crédito próprio,
Art. 122. O funcionário que comprovar sua contribuição orçamentário ou adicional.
para banco de sangue mantido por órgão estatal ou paraes-
tatal, ou entidade com a qual o Estado mantenha convênio, Art. 125. As porcentagens ou quotas-partes, atribuídas
fica dispensado de comparecer ao serviço no dia da doação. em virtude de multas ou serviços de fiscalização e ins-
peção, só serão creditadas ao funcionário após a entrada
Art. 123. Apurar-se-á a frequência do seguinte modo: da importância respectiva, a título definitivo, para os cofres
I - pelo ponto; e públicos.
II - pela forma determinada, quanto aos funcionários
não sujeitos a ponto. Art. 126. O funcionário não fará jus à percepção de quais-
quer vantagens pecuniárias, nos casos em que deixar de
perceber o vencimento ou remuneração, ressalvado o disposto
CAPÍTULO II no parágrafo único do art. 160.
Das Vantagens de Ordem Pecuniária
De acordo com Hely Lopes Meirelles3, “o que ca-
SEÇÃO I
Disposições Gerais racteriza o adicional e o distingue da gratificação é ser
aquele que recompensa ao tempo de serviço do servi-
Art. 124. Além do valor do padrão do cargo, o funcionário dor, ou uma retribuição pelo desempenho de funções
só poderá receber as seguintes vantagens pecuniárias: especiais que fogem da rotina burocrática, e esta, uma
I - adicionais por tempo de serviço; compensação por serviços comuns executados em con-
II - gratificações; dições anormais para o servidor, ou uma ajuda pessoal
III - diárias; em face de certas situações que agravam o orçamento
IV - ajudas de custo; do servidor”.
V - salário-família e salário-esposa;
VI - (Revogado);
3 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo:
Malheiros, 1993.

13
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO Il ou antecipado, na mesma razão percebida pelo funcionário


Dos Adicionais por Tempo de Serviço em cada hora de período normal de trabalho a que estiver
sujeito.
Parágrafo único. A prestação de serviço extraordinário
Art. 127. O funcionário terá direito, após cada período de não poderá exceder a duas horas diárias de trabalho.
5 (cinco) anos, contínuos, ou não, à percepção de adicional
por tempo de serviço, calculado à razão de 5% (cinco por Art. 137. É vedado conceder gratificação por serviço
cento) sobre o vencimento ou remuneração, a que se in- extraordinário, com o objetivo de remunerar outros serviços
corpora para todos os efeitos. ou encargos.
Parágrafo único. Declarado Inconstitucional pelo Supre- § 1º O funcionário que receber importância relativa a
mo Tribunal Federal (ADIn nº 3.167) serviço extraordinário que não prestou, será obrigado a res-
tituí-la de uma só vez, ficando ainda sujeito à punição dis-
Art. 128. A apuração do quinquênio será feita em dias e o ciplinar.
total convertido em anos, considerados estes sempre como de § 2º Será responsabilizada a autoridade que infringir
365 (trezentos e sessenta e cinco) dias. o disposto no caput deste artigo.

Art. 129. (Vetado). Art. 138. Será punido com pena de suspensão e, na re-


incidência, com a de demissão, a bem do serviço público, o
Art. 130. O funcionário que completar 25 (vinte e cinco) funcionário:
anos de efetivo exercício perceberá mais a sexta-parte I - que atestar falsamente a prestação de serviço ex-
do vencimento ou remuneração, a estes incorporada para traordinário; e
todos os efeitos. II - que se recusar, sem justo motivo, à prestação de
serviço extraordinário.
Art. 131. O funcionário que exercer cumulativamente
cargos ou funções, terá direito aos adicionais de que trata Art. 139. O funcionário que exercer cargo de direção não
esta Seção, isoladamente, referentes a cada cargo ou a fun- poderá perceber gratificação por serviço extraordinário.
ção. § 1º O disposto neste artigo não se aplica durante o perío-
do em que subordinado de titular de cargo nele mencionado
Art. 132. O ocupante de cargo em comissão fará jus venha a perceber, em consequência do acréscimo da gratifi-
aos adicionais previstos nesta Seção, calculados sobre o ven- cação por serviço extraordinário, quantia que iguale ou ultra-
cimento que perceber no exercício desse cargo, enquanto nele passe o valor do padrão do cargo de direção.
permanecer. § 2º Aos titulares de cargos de direção, para efeito do pa-
rágrafo anterior, apenas será paga gratificação por serviço ex-
Art. 133. Ao funcionário no exercício de cargo em substi- traordinário correspondente à quantia a esse título percebida
tuição aplica-se o disposto no artigo anterior. pelo subordinado de padrão mais elevado.

Art. 134. Para efeito dos adicionais a que se refere esta Art. 140. A gratificação pela elaboração ou execução
Seção, será computado o tempo de serviço, na forma esta- de trabalho técnico ou científico, ou de utilidade para o
belecida nos arts. 76 e 78. serviço, será arbitrada pelo Governador, após sua conclu-
são.
SEÇÃO III Art. 141. A gratificação a título de representação, quan-
Das Gratificações do o funcionário for designado para serviço ou estudo fora do
Estado, será arbitrada pelo Governador, ou por autorida-
de que a lei determinar, podendo ser percebida cumulativa-
Art. 135. Poderá ser concedida gratificação ao funcioná-
mente com a diária.
rio: (Vide Lei Complementar nº 1.199/2013)
I - pela prestação de serviço extraordinário;
Art. 142. A gratificação relativa ao exercício em órgão
II - pela elaboração ou execução de trabalho técnico ou
legal de deliberação coletiva, será fixada pelo Governa-
científico ou de utilidade para o serviço público;
dor.
III - a título de representação, quando em função de ga-
binete, missão ou estudo fora do Estado ou designação para
Art. 143. A gratificação de representação de gabinete,
função de confiança do Governador;
fixada em regulamento, não poderá ser percebida cumulati-
IV - quando designado para fazer parte de órgão legal
vamente com a referida no inciso I do art. 135.
de deliberação coletiva; e
V - outras que forem previstas em lei.

Art. 136. A gratificação pela prestação de serviço ex-


traordinário será paga por hora de trabalho prorrogado

14
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO IV
Das Diárias Art. 151. Não será concedida ajuda de custo:
I - ao funcionário que se afastar da sede ou a ela voltar,
em virtude de mandato eletivo; e
Art. 144. Ao funcionário que se deslocar temporaria- II - ao que for afastado junto a outras Administrações.
mente da respectiva sede, no desempenho de suas atribui- Parágrafo único. O funcionário que recebeu ajuda de cus-
ções, ou em missão ou estudo, desde que relacionados to, se for obrigado a mudar de sede dentro do período de 2
com o cargo que exerce, poderá ser concedida, além do (dois) anos poderá receber, apenas, 2/3 (dois terços) do be-
transporte, uma diária a título de indenização das des- nefício que lhe caberia.
pesas de alimentação e pousada.
§ 1º Não será concedida diária ao funcionário removido Art. 152. Quando o funcionário for incumbido de serviço
ou transferido, durante o período de trânsito. que o obrigue a permanecer fora da sede por mais de 30
§ 2º Não caberá a concessão de diária quando o deslo- (trinta) dias, poderá receber ajuda de custo sem prejuízos
camento de funcionário constituir exigência permanente das diárias que lhe couberem.
do cargo ou função. Parágrafo único. A importância dessa ajuda de custo será
§ 3º Entende-se por sede o município onde o funcioná- fixada na forma do art. 150, não podendo exceder a quantia
rio tem exercício. relativa a 1 (uma) vez o valor do padrão do cargo.
§ 4º O disposto no “caput” deste artigo não se aplica aos
casos de missão ou estudo fora do País. Art. 153. Restituirá a ajuda de custo que tiver recebido:
§ 5º As diárias relativas aos deslocamentos de funcioná- I - o funcionário que não seguir para a nova sede den-
rios para outros Estados e Distrito Federal, serão fixadas por tro dos prazos fixados, salvo motivo independente de sua von-
decreto. tade, devidamente comprovado sem prejuízo da pena disci-
plinar cabível;
Art. 145. O valor das diárias será fixado em decreto. II - o funcionário que, antes de concluir o serviço que lhe
foi cometido, regressar da nova sede, pedir exoneração ou
Art. 146. A tabela de diárias, bem como as autoridades abandonar o cargo.
que as concederem, deverão constar de decreto. § 1º A restituição poderá ser feita parceladamente, a juí-
zo da autoridade que houver concedido a ajuda de custo, sal-
Art. 147. O funcionário que indevidamente receber diá- vo no caso de recebimento indevido, em que a importância
ria, será obrigado a restituí-la de uma só vez, ficando ainda por devolver será descontada integralmente do vencimento
sujeito à punição disciplinar. ou remuneração, sem prejuízo da pena disciplinar cabível.
§ 2º A responsabilidade pela restituição de que trata este
Art. 148. É vedado conceder diárias com o objetivo de artigo, atinge exclusivamente a pessoa do funcionário.
remunerar outros encargos ou serviços. § 3º Se o regresso do funcionário for determinado pela
Parágrafo único. Será responsabilizada a autoridade que autoridade competente ou por motivo de força maior de-
infringir o disposto neste artigo. vidamente comprovado, não ficará ele obrigado a restituir a
ajuda de custo.
SEÇÃO V
Das Ajudas de Custo Art. 154. Caberá também ajuda de custo ao funcionário
designado para serviço ou estudo no estrangeiro.
Parágrafo único. A ajuda de custo de que trata este artigo
Art. 149. A juízo da Administração, poderá ser concedida será arbitrada pelo Governador.
ajuda de custo ao funcionário que no interesse do serviço
passar a ter exercício em nova sede. SEÇÃO VI
§ 1º A ajuda de custo destina-se a indenizar o funcionário Do Salário-Família e do Salário-Esposa
das despesas de viagem e de nova instalação.
§ 2º O transporte do funcionário e de sua família com-
preende passagem e bagagem e correrá por conta do Go- Art. 155. O salário-família será concedido ao funcioná-
verno. rio ou ao inativo por:
I - filho menor de 18 (dezoito) anos; e
Art. 150. A ajuda de custo, desde que em território do País, II - filho inválido de qualquer idade.
será arbitrada pelos Secretários de Estado, não podendo Parágrafo único. Consideram-se dependentes, desde que
exceder importância correspondente a 3 (três) vezes o valor vivam total ou parcialmente às expensas do funcionário, os
do padrão do cargo. filhos de qualquer condição, os enteados e os adotivos,
Parágrafo único. O regulamento fixará o critério para equiparando-se a estes os tutelados sem meios próprios de
o arbitramento, tendo em vista o número de pessoas que subsistência.
acompanham o funcionário, as condições de vida na nova
sede, a distância a ser percorrida, o tempo de viagem e os Art. 156. A invalidez que caracteriza a dependência é a
recursos orçamentários disponíveis. incapacidade total e permanente para o trabalho.

15
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 1º A mesma concessão poderá ser feita à família do


Art. 157. Quando o pai e a mãe tiverem ambos a con- funcionário falecido fora do Estado.
dição de funcionário público ou de inativo e viverem em co- § 2º Só serão atendidos os pedidos de transporte formula-
mum, o salário-família será concedido a um deles. dos dentro do prazo de 1 (um) ano, a partir da data em que
Parágrafo único. Se não viverem em comum, será con- houver falecido o funcionário.
cedido ao que tiver os dependentes sob sua guarda, ou a am-
bos, de acordo com a distribuição de dependentes. Art. 166. (Revogado).

Art. 158. Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto e Art. 167. A concessão de que trata o artigo anterior só po-
a madrasta e, na falta destes, os representantes legais dos derá ser deferida ao funcionário que se encontre no exercício
incapazes. do cargo e mantenha contato com o público, pagando ou
recebendo em moeda corrente.
Art. 158-A. Fica assegurada nas mesmas bases e condi-
ções, ao cônjuge supérstite ou ao responsável legal pelos Art. 168. Ao cônjuge, ao companheiro ou companheira
filhos do casal, a percepção do salário-família a que tinha di- ou, na falta destes, à pessoa que provar ter feito despesas em
reito o funcionário ou inativo falecido. virtude do falecimento de funcionário ativo ou inativo será
concedido auxílio-funeral, a título de benefício assistencial,
Art. 159. A concessão e a supressão do salário-família se- de valor correspondente a 1 (um) mês da respectiva remu-
rão processadas na forma estabelecida em lei. neração.
§ 1º O pagamento será efetuado pelo órgão competente,
Art. 160. Não será pago o salário-família nos casos em mediante apresentação de atestado de óbito pelas pessoas
que o funcionário deixar de perceber o respectivo venci- indicadas no caput deste artigo, ou procurador legalmente
mento ou remuneração. habilitado, feita a prova de identidade.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos § 2º No caso de integrante da carreira de Agente de Se-
casos disciplinares e penais, nem aos de licença por motivo de gurança Penitenciária ou da classe de Agente de Escolta e
doença em pessoa da família. Vigilância Penitenciária, se ficar comprovado, por meio de
competente apuração, que o óbito decorreu de lesões recebi-
Art. 161. É vedada a percepção de salário-família por de- das no exercício de suas funções, o benefício será acrescido
pendente em relação ao qual já esteja sendo pago este benefí- do valor correspondente a mais 1 (um) mês da respectiva
cio por outra entidade pública federal, estadual ou municipal, remuneração, cujo pagamento será efetivado mediante apre-
ficando o infrator sujeito às penalidades da lei. sentação de alvará judicial.
§ 3º O pagamento do benefício previsto neste artigo, caso
Art. 162. O salário-esposa será concedido ao funcionário as despesas tenham sido custeadas por terceiros, em virtude
que não perceba vencimento ou remuneração de importância da contratação de planos funerários, somente será efetivado
superior a 2 (duas) vezes o valor do menor vencimento mediante apresentação de alvará judicial.
pago pelo Estado, desde que a mulher não exerça atividade
remunerada. Art. 169. O Governo do Estado poderá conceder prêmios
Parágrafo único. A concessão do benefício a que se refere em dinheiro, dentro das dotações orçamentárias próprias,
este artigo será objeto de regulamento. aos funcionários autores dos melhores trabalhos, classificados
em concursos de monografias de interesse para o serviço
público.
SEÇÃO VII
Outras Concessões Pecuniárias Art. 170. (Revogado).

Art. 163. O Estado assegurará ao funcionário o direito CAPÍTULO III


de pleno ressarcimento de danos ou prejuízos, decorren- Das Acumulações Remuneradas
tes de acidentes no trabalho, do exercício em determinadas
zonas ou locais e da execução de trabalho especial, com risco
de vida ou saúde. Art. 171. É vedada a acumulação remunerada, exceto:
I - a de um juiz e um cargo de professor;
Art. 164. Ao funcionário licenciado, para tratamento de II - a de dois cargos de professor;
saúde poderá ser concedido transporte, se decorrente do tra- III - a de um cargo de professor e outro técnico ou cien-
tamento, inclusive para pessoa de sua família. tífico; e
IV - a de dois cargos privativos de médico.
Art. 165. Poderá ser concedido transporte à família do § 1º Em qualquer dos casos, a acumulação somente é per-
funcionário, quando este falecer fora da sede de exercício, no mitida quando haja correlação de matérias e compatibili-
desempenho de serviço. dade de horários.

16
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 2º A proibição de acumular se estende a cargos, fun- dentes a faltas abonadas, justificadas e injustificadas ou às
ções ou empregos em autarquias, empresas públicas e socie- licenças previstas nos itens IV, VI e VII do art. 181.
dades de economia mista. § 4º Durante as férias, o funcionário terá direito a todas
§ 3º A proibição de acumular proventos não se aplica as vantagens, como se estivesse em exercício.
aos aposentados, quanto ao exercício de mandato eletivo,
cargo em comissão ou ao contrato para prestação de serviços Art. 177. Atendido o interesse do serviço, o funcionário
técnicos ou especializados. poderá gozar férias de uma só vez ou em dois períodos
iguais.
Art. 172. O funcionário ocupante de cargo efetivo, ou em
disponibilidade, poderá ser nomeado para cargo em comis- Art. 178. Somente depois do primeiro ano de exercício
são, perdendo, durante o exercício desse cargo, o vencimento no serviço público, adquirirá o funcionário direito a férias.
ou remuneração do cargo efetivo ou o provento, salvo se op- Parágrafo único. Será contado para efeito deste artigo o
tar pelo mesmo. tempo de serviço prestado em outro cargo público, desde
que entre a cessação do anterior e o início do subsequente
Art. 173. Não se compreende na proibição de acumular, exercício não haja interrupção superior a 10 (dez) dias.
desde que tenha correspondência com a função principal, a
percepção das vantagens enumeradas no art. 124. Art. 179. Caberá ao chefe da repartição ou do serviço, or-
ganizar, no mês de dezembro, a escala de férias para o ano
Art. 174. Verificado, mediante processo administrativo, seguinte, que poderá alterar de acordo com a conveniência
que o funcionário está acumulando, fora das condições do serviço.
previstas neste Capítulo, será ele demitido de todos os car-
gos e funções e obrigado a restituir o que indevidamente Art. 180. O funcionário transferido ou removido, quando
houver recebido. em gozo de férias, não será obrigado a apresentar-se antes
§ 1º Provada a boa-fé, o funcionário será mantido no de terminá-las.
cargo ou função que exercer há mais tempo.
§ 2º Em caso contrário, o funcionário demitido ficará ain- CAPÍTULO II
da inabilitado pelo prazo de 5 (cinco) anos, para o exer- Das Licenças
cício de função ou cargo público, inclusive em entidades que
exerçam função delegada do poder público ou são por este SEÇÃO I
mantidas ou administradas. Disposições Gerais

Art. 175. As autoridades civis e os chefes de serviço, bem


como os diretores ou responsáveis pelas entidades referidas no Art. 181. O funcionário efetivo poderá ser licenciado:
parágrafo 2º do artigo anterior e os fiscais ou representantes I - para tratamento de saúde;
dos poderes públicos junto às mesmas, que tiverem conhe- II - quando acidentado no exercício de suas atribuições
cimento de que qualquer dos seus subordinados ou qualquer ou acometido por doença profissional;
empregado da empresa sujeita à fiscalização está no exercício III - no caso previsto no art. 198;
de acumulação proibida, farão a devida comunicação ao IV - por motivo de doença em pessoa de sua família;
órgão competente, para os fins indicados no artigo anterior. V - para cumprir obrigações concernentes ao serviço mi-
Parágrafo único. Qualquer cidadão poderá denunciar a litar;
existência de acumulação ilegal. VI - para tratar de interesses particulares;
VII - no caso previsto no art. 205;
TÍTULO V VIII - compulsoriamente, como medida profilática;
DOS DIREITOS E VANTAGENS EM GERAL IX - como prêmio de assiduidade.
§ 1º Ao funcionário ocupante exclusivamente de cargo
CAPÍTULO I em comissão serão concedidas as licenças previstas neste ar-
Das Férias tigo, salvo as referidas nos incisos IV, VI e VII.
§ 2º As licenças previstas nos incisos I a III serão concedi-
das ao funcionário de que trata o § 1º deste artigo mediante
Art. 176. O funcionário terá direito ao gozo de 30 (trinta) regras estabelecidas pelo regime geral de previdência
dias de férias anuais, observada a escala que for aprovada. social.
§ 1º É proibido levar à conta de férias qualquer falta ao
trabalho. Art. 182. As licenças dependentes de inspeção médica
§ 2º É proibida a acumulação de férias, salvo por abso- serão concedidas pelo prazo indicado pelos órgãos oficiais
luta necessidade de serviço e pelo máximo de 2 (dois) anos competentes.
consecutivos.
§ 3º O período de férias será reduzido para 20 (vinte) dias, Art. 183. Finda a licença, o funcionário deverá reassu-
se o servidor, no exercício anterior, tiver, considerados em con- mir, imediatamente, o exercício do cargo.
junto, mais de 10 (dez) não comparecimentos correspon-

17
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica às li- Art. 193. A licença para tratamento de saúde dependerá
cenças previstas nos incisos V e VII do artigo 181, quando de inspeção médica oficial e poderá ser concedida:
em prorrogação. I - a pedido do funcionário;
§ 2º A infração do disposto no caput deste artigo impor- II - “ex officio”.
tará em perda total do vencimento ou remuneração cor- § 1º A inspeção médica de que trata o “caput” deste artigo
respondente ao período de ausência e, se esta exceder a 30 poderá ser dispensada, a critério do órgão oficial, quando a
(trinta) dias, ficará o funcionário sujeito à pena de demissão análise documental for suficiente para comprovar a inca-
por abandono de cargo. pacidade laboral, observado o estabelecido em decreto.
§ 2º A licença “ex officio” de que trata o inciso II deste
Art. 184. O funcionário licenciado nos termos dos itens I artigo será concedida por decisão do órgão oficial:
a IV do art. 181, é obrigado a reassumir o exercício, se for 1 - quando as condições de saúde do funcionário assim
considerado apto em inspeção médica realizada ex-offi- o determinarem;
cio ou se não subsistir a doença na pessoa de sua família. 2 - a pedido do órgão de origem do funcionário.
Parágrafo único. O funcionário poderá desistir da licen- § 3º O funcionário poderá ser dispensado da inspeção
ça, desde que em inspeção médica fique comprovada a médica de que trata o “caput” deste artigo em caso de licen-
cessação dos motivos determinantes da licença. ça para tratamento de saúde de curta duração, conforme
estabelecido em decreto.
Art. 185. As licenças previstas nos incisos I, II e IV do ar-
tigo 181 não serão concedidas em prorrogação, cabendo SEÇÃO III
ao funcionário ou à autoridade competente ingressar, quando Da Licença ao Funcionário Acidentado no Exercício de
for o caso, com um novo pedido. suas Atribuições ou Atacado de Doença Profissional

Art. 186. (Revogado).


Art. 194. O funcionário acidentado no exercício de suas
Art. 187. O funcionário licenciado nos termos dos itens I atribuições ou que tenha adquirido doença profissional terá
e II do artigo 181 não poderá dedicar-se a qualquer ati- direito à licença com vencimento ou remuneração.
vidade remunerada, sob pena de ser cassada a licença e de Parágrafo único. Considera-se também acidente:
ser demitido por abandono do cargo, caso não reassuma o seu 1 - a agressão sofrida e não provocada pelo funcio-
exercício dentro do prazo de 30 (trinta) dias. nário, no exercício de suas funções;
2 - a lesão sofrida pelo funcionário, quando em trân-
Art. 188. (Revogado) sito, no percurso usual para o trabalho.

Art. 189. (Revogado) Art. 195. A licença prevista no artigo anterior não poderá
exceder de 4 (quatro) anos.
Art. 190. O funcionário que se recusar a submeter-se Parágrafo único. No caso de acidente, verificada a in-
à inspeção médica, quando julgada necessária, será punido capacidade total para qualquer função pública, será desde
com pena de suspensão. logo concedida aposentadoria ao funcionário.
Parágrafo único. A suspensão cessará no dia em que se
realizar a inspeção. Art. 196. A comprovação do acidente, indispensável
para a concessão da licença, será feita em procedimento
SEÇÃO II próprio, que deverá iniciar-se no prazo de 10 (dez) dias, con-
Da Licença para Tratamento de Saúde tados da data do acidente.
§ 1º O funcionário deverá requerer a concessão da licença
de que trata o caput deste artigo junto ao órgão de origem.
Art. 191. Ao funcionário que, por motivo de saúde, estiver § 2º Concluído o procedimento de que trata o caput deste
impossibilitado para o exercício do cargo, será concedida artigo caberá ao órgão médico oficial a decisão.
licença até o máximo de 4 (quatro) anos, com vencimento § 3º O procedimento para a comprovação do acidente
ou remuneração. de que trata este artigo deverá ser cumprido pelo órgão de
§ 1º Findo o prazo, previsto neste artigo, o funcionário origem do funcionário, ainda que não venha a ser objeto
será submetido à inspeção médica e aposentado, desde de licença.
que verificada a sua invalidez, permitindo-se o licenciamento
além desse prazo, quando não se justificar a aposentadoria. Art. 197. Para a conceituação do acidente da doença
§ 2º Será obrigatória a reversão do aposentado, desde profissional, serão adotados os critérios da legislação fede-
que cessados os motivos determinantes da aposentadoria. ral de acidentes do trabalho.

Art. 192. O funcionário ocupante de cargo em comissão


poderá ser aposentado, nas condições do artigo anterior,
desde que preencha os requisitos do art. 227.

18
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO IV § 3º Quando a desincorporação se verificar em lugar


Da Licença à Funcionária Gestante diverso do da sede, os prazos para apresentação serão os
previstos no art. 60.

Art. 198. À funcionária gestante será concedida licença Art. 201. Ao funcionário que houver feito curso para ser
de 180 (cento e oitenta) dias com vencimento ou remune- admitido como oficial da reserva das Forças Armadas,
ração, observado o seguinte: será também concedida licença sem vencimento ou remu-
I - a licença poderá ser concedida a partir da 32ª (trigé- neração, durante os estágios prescritos pelos regulamentos
sima segunda) semana de gestação, mediante documenta- militares.
ção médica que comprove a gravidez e a respectiva idade
gestacional; SEÇÃO VII
II - ocorrido o parto, sem que tenha sido requerida a li- Da Licença para Tratar de Interesses Particulares
cença, será esta concedida mediante a apresentação da cer-
tidão de nascimento e vigorará a partir da data do evento,
podendo retroagir até 15 (quinze) dias; Art. 202. Depois de 5 (cinco) anos de exercício, o fun-
III - durante a licença, cometerá falta grave a servidora cionário poderá obter licença, sem vencimento ou remu-
que exercer qualquer atividade remunerada ou mantiver neração, para tratar de interesses particulares, pelo prazo
a criança em creche ou organização similar. máximo de 2 (dois) anos.
Parágrafo único. No caso de natimorto, será concedida § 1º Poderá ser negada a licença quando o afastamento
a licença para tratamento de saúde, a critério médico, na do funcionário for inconveniente ao interesse do serviço.
forma prevista no artigo 193. § 2º O funcionário deverá aguardar em exercício a con-
cessão da licença.
SEÇÃO V § 3º A licença poderá ser gozada parceladamente a juí-
Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da zo da Administração, desde que dentro do período de 3 (três)
Família anos.
§ 4º O funcionário poderá desistir da licença, a qualquer
tempo, reassumindo o exercício em seguida.
Art. 199. O funcionário poderá obter licença, por motivo
de doença do cônjuge e de parentes até segundo grau. Art. 203. Não será concedida licença para tratar de inte-
§ 1º Provar-se-á a doença em inspeção médica na for- resses particulares ao funcionário nomeado, removido ou
ma prevista no artigo 193. transferido, antes de assumir o exercício do cargo.
§ 2º A licença de que trata este artigo será concedida com
vencimentos ou remuneração até 1 (um) mês e com os Art. 204. Só poderá ser concedida nova licença depois de
seguintes descontos: decorridos 5 (cinco) anos do término da anterior.
1 - de 1/3 (um terço), quando exceder a 1 (um) mês até
3 (três); SEÇÃO VIII
2 - 2/3 (dois terços), quando exceder a 3 (três) até 6 (seis); Da Licença à Funcionária Casada com Funcionário ou
3 - sem vencimento ou remuneração do sétimo ao vigé- Militar
simo mês.
§ 3º Para os efeitos do § 2º deste artigo, serão somadas
as licenças concedidas durante o período de 20 (vinte) meses, Art. 205. A funcionária casada com funcionário esta-
contado da primeira concessão. dual ou com militar terá direito à licença, sem vencimento
ou remuneração, quando o marido for mandado servir, in-
SEÇÃO VI dependentemente de solicitação, em outro ponto do Estado
Da Licença para Atender a Obrigações Concernentes ao ou do território nacional ou no estrangeiro.
Serviço Militar Parágrafo único. A licença será concedida mediante pedi-
do devidamente instruído e vigorará pelo tempo que durar
a comissão ou a nova função do marido.
Art. 200. Ao funcionário que for convocado para o servi-
ço militar e outros encargos da segurança nacional, será SEÇÃO IX
concedida licença sem vencimento ou remuneração. Da Licença Compulsória
§ 1º A licença será concedida mediante comunicação do
funcionário ao chefe da repartição ou do serviço, acompa-  
nhada de documentação oficial que prove a incorporação. Art. 206. O funcionário, ao qual se possa atribuir a con-
§ 2º O funcionário desincorporado reassumirá imedia- dição de fonte de infecção de doença transmissível, po-
tamente o exercício, sob pena de demissão por abandono do derá ser licenciado, enquanto durar essa condição, a juízo
cargo, se a ausência exceder a 30 (trinta) dias. de autoridade sanitária competente, e na forma prevista no
regulamento.

19
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 207. Verificada a procedência da suspeita, o funcio- Parágrafo único. O gozo da licença-prêmio dependerá
nário será licenciado para tratamento de saúde na forma de novo requerimento, caso não se inicie em até 30 (trin-
prevista no art. 191, considerando-se incluídos no período da ta) dias contados da publicação do ato que o houver auto-
licença os dias de licenciamento compulsório. rizado.

Art. 208. Quando não positivada a moléstia, deverá o fun- Art. 215. (Revogado).
cionário retornar ao serviço, considerando-se como de efe-
tivo exercício para todos os efeitos legais, o período de licença Art. 216. (Revogado).
compulsória.
CAPÍTULO III
SEÇÃO X Da Estabilidade
Da licença-prêmio
Art. 217. É assegurada a estabilidade somente ao funcio-
nário que, nomeado por concurso, contar mais de 2 (dois)
Art. 209. O funcionário terá direito, como prêmio de anos de efetivo exercício.
assiduidade, à licença de 90 (noventa) dias em cada pe-
ríodo de 5 (cinco) anos de exercício ininterrupto, em que não Art. 218. O funcionário estável só poderá ser demitido
haja sofrido qualquer penalidade administrativa. em virtude de sentença judicial ou mediante processo
Parágrafo único. O período da licença será considerado administrativo, assegurada ampla defesa.
de efetivo exercício para todos os efeitos legais, e não acar- Parágrafo único. A estabilidade diz respeito ao serviço
retará desconto algum no vencimento ou remuneração. público e não ao cargo, ressalvando-se à Administração o
direito de aproveitar o funcionário em outro cargo de igual
Art. 210. Para fins da licença prevista nesta Seção, não se padrão, de acordo com as suas aptidões.
consideram interrupção de exercício:
I - os afastamentos enumerados no art. 78, excetuado o CAPÍTULO IV
previsto no item X; e Da Disponibilidade
II - as faltas abonadas, as justificadas e os dias de licença
a que se referem os itens I e IV do art. 181 desde que o total Art. 219. O funcionário poderá ser posto em disponibi-
de todas essas ausências não exceda o limite máximo de 30 lidade remunerada:
(trinta) dias, no período de 5 (cinco) anos. I - no caso previsto no § 2º do art. 31; e
II - quando, tendo adquirido estabilidade, o cargo for ex-
Art. 211. (Revogado). tinto por lei.
Parágrafo único. O funcionário ficará em disponibilidade
Art. 212. A licença-prêmio será concedida mediante cer- até o seu obrigatório aproveitamento em cargo equivalen-
tidão de tempo de serviço, independente de requerimento te.
do funcionário, e será publicada no Diário Oficial do Estado,
nos termos da legislação em vigor. Art. 220. O provento da disponibilidade não poderá ser
superior ao vencimento ou remuneração e vantagens
Art. 213. O funcionário poderá requerer o gozo da li- percebidos pelo funcionário.
cença-prêmio:
I - por inteiro ou em parcelas não inferiores a 15 Art. 221. Qualquer alteração do vencimento ou remune-
(quinze) dias; ração e vantagens percebidas pelo funcionário em virtude de
II - até o implemento das condições para a aposenta- medida geral, será extensiva ao provento do disponível, na
doria voluntária. mesma proporção.
§ 1º Caberá à autoridade competente:
1 - adotar, após manifestação do chefe imediato, sem CAPÍTULO V
prejuízo para o serviço, as medidas necessárias para que Da Aposentadoria
o funcionário possa gozar a licença-prêmio a que tenha
direito;
2 - decidir, após manifestação do chefe imediato, ob- Art. 222. O funcionário será aposentado:
servada a opção do funcionário e respeitado o interesse do I - por invalidez;
serviço, pelo gozo da licença-prêmio por inteiro ou par- II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos; e
celadamente. III - voluntariamente, após 35 (trinta e cinco) anos de
§ 2º A apresentação de pedido de passagem à inativi- serviço.
dade, sem a prévia e oportuna apresentação do requerimento § 1º No caso do item III, o prazo é reduzido a 30 (trinta)
de gozo, implicará perda do direito à licença-prêmio. anos para as mulheres.
§ 2º Os limites de idade e de tempo de serviço para a apo-
Art. 214. O funcionário deverá aguardar em exercício a sentadoria poderão ser reduzidos, nos termos do parágrafo
apreciação do requerimento de gozo da licença-prêmio. único do art. 94 da Constituição do Estado de São Paulo.

20
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Parágrafo único. Os equipamentos aprovados por órgão


Art. 223. A aposentadoria prevista no item I do artigo an- competente, serão de uso obrigatório dos funcionários, sob
terior, só será concedida, após a comprovação da invalidez pena de suspensão.
do funcionário, mediante inspeção de saúde realizada em
órgão médico oficial. Art. 234. Ao funcionário é assegurado o direito de remo-
ção para igual cargo no local de residência do cônjuge, se este
Art. 224. A aposentadoria compulsória prevista no item também for funcionário e houver vaga.
II do art. 222 é automática.
Parágrafo único. O funcionário se afastará no dia imedia- Art. 235. Havendo vaga na sede do exercício de ambos
to àquele em que atingir a idade limite, independentemente os cônjuges, a remoção poderá ser feita para o local indicado
da publicação do ato declaratório da aposentadoria. por qualquer deles, desde que não prejudique o serviço.

Art. 225. O funcionário em disponibilidade poderá ser Art. 236. Somente será concedida nova remoção por
aposentado nos termos do art. 222. união de cônjuges ao funcionário que for removido a pedido
para outro local, após transcorridos 5 (cinco) anos.
Art. 226. O provento da aposentadoria será:
I - igual ao vencimento ou remuneração e demais vanta- Art. 237. Considera-se local, para os fins dos arts. 234 a
gens pecuniárias incorporadas para esse efeito: 236, o município onde o cônjuge tem sua residência.
1 - quando o funcionário, do sexo masculino, contar 35
(trinta e cinco) anos de serviço e do sexo feminino, 30 (trin- Art. 238. O ato que remover ou transferir o funcionário
ta) anos; e estudante de uma para outra cidade ficará suspenso se, na
2 - quando ocorrer a invalidez. nova sede, não existir estabelecimento congênere, oficial,
II - proporcional ao tempo de serviço, nos demais ca- reconhecido ou equiparado àquele em que o interessado es-
sos. teja matriculado.
§ 1º Efetivar-se-á a transferência, se o funcionário con-
Art. 227. As disposições dos itens I e II do art. 222 apli- cluir o curso, deixar de cursá-lo ou for reprovado durante
cam-se ao funcionário ocupante de cargo em comissão, que 2 (dois) anos.
contar mais de 15 (quinze) anos de exercício ininterrupto § 2º Anualmente, o interessado deverá fazer prova, pe-
nesse cargo, seja ou não ocupante de cargo de provimento rante a repartição a que esteja subordinado, de que está fre-
efetivo. quentando regularmente o curso em que estiver matriculado.

Art. 228. A aposentadoria prevista no item III do art. 222 CAPÍTULO VII
produzirá efeito a partir da publicação do ato no “Diário Ofi- Do Direito de Petição
cial”.
Art. 239. É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurí-
Art. 229. O pagamento dos proventos a que tiver direito dica, independentemente de pagamento, o direito de petição
o aposentado deverá iniciar-se no mês seguinte ao em que contra ilegalidade ou abuso de poder e para defesa de
cessar a percepção do vencimento ou remuneração. direitos.
§ 1º Qualquer pessoa poderá reclamar sobre abuso,
Art. 230. O provento do aposentado só poderá sofrer erro, omissão ou conduta incompatível no serviço público.
descontos autorizados em lei. § 2º Em nenhuma hipótese, a Administração poderá re-
cusar-se a protocolar, encaminhar ou apreciar a petição,
Art. 231. O provento da aposentadoria não poderá ser sob pena de responsabilidade do agente.
superior ao vencimento ou remuneração e demais vantagens
percebidas pelo funcionário. Art. 240. Ao servidor é assegurado o direito de requerer
ou representar, bem como, nos termos desta lei complemen-
Art. 232. Qualquer alteração do vencimento ou remune- tar, pedir reconsideração e recorrer de decisões, no prazo de
ração e vantagens percebidas pelo funcionário em virtude de 30 (trinta) dias, salvo previsão legal específica.
medida geral, será extensiva ao provento do aposentado, na
mesma proporção. Estabelece a CF, no art. 5°, XXIV, a) o direito de petição,
assegurado a todos: “são a todos assegurados, independen-
CAPÍTULO VI temente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos
Da Assistência ao Funcionário Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder;”. Os artigos acima descrevem o direito
Art. 233. Nos trabalhos insalubres executados pelos de petição específico dos servidores públicos.
funcionários, o Estado é obrigado a fornecer-lhes gratuita- Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum-
mente equipamentos de proteção à saúde. pre observar que o direito de petição deve resultar em uma
manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol-
vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí-

21
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que CAPÍTULO I


regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta a Dos Deveres e das Proibições
apreciação de um pedido que um cidadão quer apresentar”
(muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça); “demo- SEÇÃO I
ra para responder aos pedidos formulados” (administrativa Dos Deveres
e, principalmente, judicialmente) ou “impõe restrições e/ou
condições para a formulação de petição”, traz a chamada Os deveres do servidor aqui previstos são em muito
insegurança jurídica, que traz desesperança e faz proliferar compatíveis com os previstos no Código de Ética profis-
as desigualdades e as injustiças. sional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por (Decreto n° 1.171/94) e na própria Lei nº 8.112/1990, que
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar fixa o regime jurídico dos servidores públicos civis federais.
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de- Descrevem algumas das condutas esperadas do servidor
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez público quando do desempenho de suas funções. Em resu-
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi- mo, o servidor público deve desempenhar suas funções com
cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que cuidado, rapidez e pontualidade, sendo leal à instituição
gera confusões conceituais no sentido do direito de obter que compõe, respeitando as ordens de seus superiores que
certidões ser dissociado do direito de petição. sejam adequadas às funções que desempenhe e buscando
conservar o patrimônio do Estado. No tratamento do públi-
TÍTULO VI co, deve ser prestativo e não negar o acesso a informações
DOS DEVERES, DAS PROIBIÇÕES E DAS que não sejam sigilosas. Caso presencie alguma ilegalidade
RESPONSABILIDADES ou abuso de poder, deve denunciar. Tomam-se como base
os ensinamentos de Lima6 a respeito destes deveres:
O regime disciplinar do servidor público civil está esta-
belecido basicamente de duas maneiras: deveres e proibi- Art. 241. São deveres do funcionário:
ções. Ontologicamente, são a mesma coisa: ambos deveres I - ser assíduo e pontual;
e proibições são normas protetivas da boa Administração. “Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assí-
Nas duas hipóteses, violado o preceito, cabível é uma pu- duo significa ser presente dentro do horário do expedien-
nição. Deve-se notar, porém, que os deveres constam da lei te. O oposto do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é
como ações, como conduta positiva; as proibições, ao con- aquele servidor que não atrasa seus compromissos. É o que
trário, são descritas como condutas vedadas ao servidor, de comparece no horário para as reuniões de trabalho e demais
modo que ele deve abster-se de praticá-las. Os deveres es- atividades relacionadas com o exercício do cargo que ocu-
tão inscritos não de modo exaustivo, porque o servidor deve pa. Embora sejam conceitos diferentes, aqui o dever violado,
obediência a todas as normas legais ou infralegais4. “Estes seja por impontualidade, seja por inassiduidade (que ainda
dispositivos preveem, basicamente, um conjunto de normas não aquela inassiduidade habitual de 60 dias ensejadora
de conduta e de proibições impostas pela lei aos servidores de demissão), merece reprimenda de advertência, com fins
por ela abrangidos, tendo em vista a prevenção, a apuração educativos e de correção do servidor”.
e a possível punição de atos e omissões que possam por em
risco o funcionamento adequado da administração pública, II - cumprir as ordens superiores, representando quando
do posto de vista ético, do ponto de vista da eficiência e do forem manifestamente ilegais;
ponto de vista da legalidade. Decorrem, estes dispositivos, “O servidor integra a estrutura organizacional do órgão
do denominado Poder Disciplinar que é aquele conferido à em que presta suas atribuições funcionais. O Estado se mo-
Administração com o objetivo de manter sua disciplina in- vimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro dos ór-
terna, na medida em que lhe atribui instrumentos para punir gãos públicos, há um escalonamento de cargos e funções
seus servidores (e também àqueles que estejam a ela vincu- que servem ao cumprimento da vontade do ente estatal.
lados por um instrumento jurídico determinado - particula- Este escalonamento, posto em movimento, é o que vimos
res contratados pela Administração). [...]”5. até agora chamando de hierarquia. A hierarquia existe para
que do alto escalão até a prática dos administrados as coi-
sas funcionem. Disso decorre que quando é emitida uma
ordem para o servidor subordinado, este deve dar cumpri-
mento ao comando. Porém quando a ordem é visivelmente
ilegal, arbitrária, inconstitucional ou absurda, o servidor não
é obrigado a dar seguimento ao que lhe é ordenado. Quan-
do a ordem é manifestamente ilegal? Há uma margem de
4 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar dos servi- interpretação, principalmente se o servidor subordinado não
dores federais. Disponível em: <http://www.sato.adm.br/artigos/o_re-
gime_disciplinar_dos_servidores_federais.htm>. Acesso em: 11 ago.
2013. 6 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar dos servi-
5 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos da dores federais. Disponível em: <http://www.sato.adm.br/artigos/o_re-
União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/artigos/ gime_disciplinar_dos_servidores_federais.htm>. Acesso em: 11 ago.
almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. 2013.

22
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

tiver nenhuma formação de ordem jurídica. Logo, é o bom Devem ficar circunscritos aos servidores designados para o
senso que irá margear o que é flagrantemente inconstitu- respectivo trabalho interno, não devendo sair da seção ou
cional”. setor de trabalho, sem o trâmite hierárquico do chefe ime-
diato. Se o assunto ou o trabalho, enfim, merecer divulgação
III - desempenhar com zelo e presteza os trabalhos de mais ampla, deve ser contatado o órgão de assessoria de
que for incumbido; comunicação social, que saberá proceder de forma oficial,
“O zelo diz respeito às atribuições funcionais e também obedecendo ao bom senso e às leis vigentes”.
ao cuidado com a economia do material, os bens da reparti-
ção e o patrimônio público. Sob o prisma da disciplina e da V - representar aos superiores sobre todas as irregulari-
conservação dos bens e materiais da repartição, o servidor dades de que tiver conhecimento no exercício de suas funções;
deve sempre agir com dedicação no desempenho das fun- “Todo servidor público é obrigado a dar conhecimen-
ções do cargo que ocupa, e que lhe foram atribuídas desde to ao chefe da repartição acerca das irregularidades de que
o termo de posse. O servidor não é o dono do cargo. Dono toma conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve
do cargo é o Estado que o remunera. Se o referido cargo levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sistema hie-
não lhe pertence, o servidor deve exercer suas funções com rárquico. Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões
o máximo de zelo que estiver ao seu alcance. Sua eventual detêm um conhecimento maior de como corrigir o erro ou
menor capacidade de desempenho, para não configurar de- comunicar aos órgãos de controle para a devida apuração.
sídia ou insuficiência de desempenho, deverá ser compen- De nada adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular,
sada com um maior esforço e dedicação de sua parte. Se um ir comunicar ao público ou a terceiros. Além do dever de
servidor altamente preparado e capaz, vem a praticar atos sigilo, há assuntos que exigem certas reservas, visando ao
que configurem desídia ou mesmo falta mais grave, poderá bem do serviço público, da segurança nacional e mesmo da
vir a ser punido. Porque o que se julgará não é a pessoa do sociedade”.
servidor, mas a conduta a ele imputável. O zelo não deve se
limitar apenas às atribuições específicas de sua atividade. O VI - tratar com urbanidade as pessoas;
servidor deve ter zelo não somente com os bens e interesses “No mundo moderno, e máxime em nossa civilização
imateriais (a imagem, os símbolos, a moralidade, a pontuali- ocidental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Ur-
dade, o sigilo, a hierarquia) como também para com os bens bano, nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo da
e interesses patrimoniais do Estado”. urbe (cidade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e que
não possa criar embaraços aos usuários dos serviços públi-
IV - guardar sigilo sobre os assuntos da repartição e, es- cos”.
pecialmente, sobre despachos, decisões ou providências;
“O agente público deve guardar sigilo sobre o que se VII - residir no local onde exerce o cargo ou, onde auto-
passa na repartição, principalmente quanto aos assuntos rizado;
oficiais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, O objetivo da disciplina é impor que o servidor sempre
hoje está regulamentado o acesso às informações. Porém, o seja acessível, não precise se locomover grandes distâncias
servidor deve ter cuidado, pois até mesmo o fornecimento quando solicitado, o que permite ainda que conheça a rea-
ou divulgação das informações exigem um procedimento. lidade local.
Maior cuidado há que se ter, quando a informação possa
expor a intimidade da pessoa humana. As informações pes- VIII - providenciar para que esteja sempre em ordem, no
soais dos administrados em geral devem ser tratadas forma assentamento individual, a sua declaração de família;
transparente e com respeito à intimidade, à vida privada, à Trata-se do dever de manter seus registros atualizados,
honra e à imagem das pessoas, bem como às liberdades e inclusive no que se refere aos membros de sua família.
garantias individuais, segundo o artigo 31, da Lei nº 21.527,
2011. A exceção para o sigilo existe, pois, não devemos IX - zelar pela economia do material do Estado e pela
tratar a questão em termos de cláusula jurídica de caráter conservação do que for confiado à sua guarda ou utilização;
absoluto, podendo ter autorizada a divulgação ou o acesso “Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela econo-
por terceiros quando haja previsão legal. Outra exceção é mia e pela conservação dos bens públicos presta um des-
quando há o consentimento expresso da pessoa a que elas serviço à nação que lhe remunera. E como se verá adiante
se referirem. No caso de cumprimento de ordem judicial, poderá ser causa inclusive de demissão, se não cumprir o
para a defesa de direitos humanos, e quando a proteção do presente dever, quando por descumprimento dele a gravi-
interesse público e geral preponderante o exigir, também dade do fato implicar a infração a normas mais graves”.
devem ser fornecidas as informações. Portanto, o servidor há
que ter reserva no seu comportamento e fala, esquivando- X - apresentar-se convenientemente trajado em serviço
-se de revelar o conteúdo do que se passa no seu trabalho. ou com uniforme determinado, quando for o caso;
Se o assunto pululante é uma irregularidade absurda, deve As roupas devem refletir o respeito à instituição e serem
então reduzir a escrito e representar para que se apure o compatíveis com a função desempenhada.
caso. Deveriam diminuir as conversas de corredor e se efeti-
var a apuração dos fatos através do processo administrativo XI - atender prontamente, com preferência sobre qual-
disciplinar. Os assuntos objeto do serviço merecem reserva. quer outro serviço, às requisições de papéis, documentos,

23
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

informações ou providências que lhe forem feitas pelas au- da reserva legal. O descumprimento dessas proibições po-
toridades judiciárias ou administrativas, para defesa do dem inclusive, ensejar o enquadramento penal do servidor,
Estado, em Juízo; pois muitas das condutas ali descritas, configuram prática de
“Este dever foi insculpido na lei para que o servidor delito penal”7.
público trabalhe diuturnamente no sentido de desfazer a
imagem desagradável que o mesmo possui perante a so- I - (Revogado).
ciedade. Exige-se que atue com presteza no atendimento II - retirar, sem prévia permissão da autoridade compe-
a informações solicitadas pela Fazenda Pública. Esta englo- tente, qualquer documento ou objeto existente na reparti-
ba o fisco federal, estadual, municipal e distrital. O servidor ção;
público tem que ser expedito, diligente, laborioso. Não há III - entreter-se, durante as horas de trabalho, em pales-
mais lugar para o burocrata que se afasta do administrado, tras, leituras ou outras atividades estranhas ao serviço;
dificultando a vida de quem necessita de atendimento rápi- IV - deixar de comparecer ao serviço sem causa justifi-
do e escorreito. Entretanto, há um longo caminho a ser per- cada;
corrido até que se atinja um mínimo ideal de atendimento e V - tratar de interesses particulares na repartição;
de funcionamento dos órgãos públicos, o que deve neces- VI - promover manifestações de apreço ou desapreço
sariamente passar por critérios de valorização dos servido- dentro da repartição, ou tornar-se solidário com elas;
res bons e de treinamento e qualificação permanente dos VII - exercer comércio entre os companheiros de serviço,
quadros de pessoal”. promover ou subscrever listas de donativos dentro da repar-
tição; e
XII - cooperar e manter espírito de solidariedade com os VIII - empregar material do serviço público em serviço
companheiros de trabalho, particular.
O ambiente de trabalho não deve ser um ambiente de
litígio, mas sim de cooperação. Art. 243. É proibido ainda, ao funcionário:
I - fazer contratos de natureza comercial e industrial
XIII - estar em dia com as leis, regulamentos, regimen- com o Governo, por si, ou como representante de outrem;
tos, instruções e ordens de serviço que digam respeito às suas II - participar da gerência ou administração de em-
funções; e presas bancárias ou industriais, ou de sociedades comerciais,
“A função desta norma é de não deixar sem resposta que mantenham relações comerciais ou administrativas com
qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a necessá- o Governo do Estado, sejam por este subvencionadas ou este-
ria correlação nesses casos que temos de fazer do art. 116, jam diretamente relacionadas com a finalidade da repartição
inciso III, com a norma violada, e já prevista em outra lei, ou serviço em que esteja lotado;
decreto, instrução, ordem de serviço ou portaria”. III - requerer ou promover a concessão de privilégios,
garantias de juros ou outros favores semelhantes, fede-
XIV - proceder na vida pública e privada na forma que rais, estaduais ou municipais, exceto privilégio de invenção
dignifique a função pública. própria;
O bom comportamento não deve se fazer presente so- IV - exercer, mesmo fora das horas de trabalho, empre-
mente no exercício das funções. Cabe ao funcionário se por- go ou função em empresas, estabelecimentos ou institui-
tar bem quando estiver em sua vida privada, na convivência ções que tenham relações com o Governo, em matéria que se
com seus amigos e familiares, bem como nos momentos de relacione com a finalidade da repartição ou serviço em que
lazer. Por melhor que seja como funcionário, não será aceito esteja lotado;
aquele que, por exemplo, for visto frequentemente embria- V - aceitar representação de Estado estrangeiro, sem
gado ou for sempre denunciado por violência doméstica. autorização do Presidente da República;
VI - comerciar ou ter parte em sociedades comerciais nas
condições mencionadas no item II deste artigo, podendo, em
SEÇÃO II qualquer caso, ser acionista, quotista ou comanditário;
Das Proibições VII - incitar greves ou a elas aderir, ou praticar atos de
sabotagem contra o serviço público; (INCONSTITUCIONAL)
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores
Art. 242. Ao funcionário é proibido: públicos possuem o direito de greve, devendo se atentar
Em contraposição aos deveres do servidor público, pela preservação da sociedade quando exercê-lo. Enquanto
existem diversas proibições, que também estão em boa não for elaborada uma legislação específica para os funcio-
parte abrangidas pelo Decreto n° 1.171/94 e pela Lei nº nários públicos, deverá ser obedecida a lei geral de greve
8.112/1990. A violação dos deveres ou a prática de alguma para os funcionários privados, qual seja a Lei n° 7.783/89
das violações abaixo descritas caracterizam infração admi- (Mandado de Injunção nº 20).
nistrativa disciplinar.
“Nas Proibições constata-se, desde logo, sua objetivi-
dade e taxatividade, o que veda sua ampliação e o uso de
7 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos da
interpretações analógicas ou sistemáticas visto serem con-
União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/artigos/
dutas restritivas de direitos, sujeitas, portanto, ao princípio
almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.

24
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VIII - praticar a usura; I - pela sonegação de valores e objetos confiados à sua


IX - constituir-se procurador de partes ou servir de guarda ou responsabilidade, ou por não prestar contas, ou por
intermediário perante qualquer repartição pública, exceto não as tomar, na forma e no prazo estabelecidos nas leis, re-
quando se tratar de interesse de cônjuge ou parente até se- gulamentos, regimentos, instruções e ordens de serviço;
gundo grau; II - pelas faltas, danos, avarias e quaisquer outros
X - receber estipêndios de firmas fornecedoras ou de prejuízos que sofrerem os bens e os materiais sob sua guarda,
entidades fiscalizadas, no País, ou no estrangeiro, mesmo ou sujeitos a seu exame ou fiscalização;
quando estiver em missão referente à compra de material ou III - pela falta ou inexatidão das necessárias averba-
fiscalização de qualquer natureza; ções nas notas de despacho, guias e outros documentos
XI - valer-se de sua qualidade de funcionário para de- da receita, ou que tenham com eles relação; e
sempenhar atividade estranha às funções ou para lograr, IV - por qualquer erro de cálculo ou redução contra a
direta ou indiretamente, qualquer proveito; e Fazenda Estadual.
XII - fundar sindicato de funcionários ou deles fazer
parte. (INCONSTITUCIONAL) Art. 246. O funcionário que adquirir materiais em de-
Os servidores públicos têm direito de fundar sindicatos, sacordo com disposições legais e regulamentares, será
o que é inerente ao direito fundamental à liberdade de as- responsabilizado pelo respectivo custo, sem prejuízo das pe-
sociação. nalidades disciplinares cabíveis, podendo-se proceder ao des-
conto no seu vencimento ou remuneração.
Parágrafo único. Não está compreendida na proibição
dos itens II e VI deste artigo, a participação do funcionário Art. 247. Nos casos de indenização à Fazenda Estadual, o
em sociedades em que o Estado seja acionista, bem assim funcionário será obrigado a repor, de uma só vez, a impor-
na direção ou gerência de cooperativas e associações de tância do prejuízo causado em virtude de alcance, desfalque,
classe, ou como seu sócio. remissão ou omissão em efetuar recolhimento ou entrada nos
prazos legais.
Art. 244. É vedado ao funcionário trabalhar sob as ordens
imediatas de parentes, até segundo grau, salvo quando se Art. 248. Fora dos casos incluídos no artigo anterior, a
tratar de função de confiança e livre escolha, não podendo importância da indenização poderá ser descontada do ven-
exceder a 2 (dois) o número de auxiliares nessas condições. cimento ou remuneração não excedendo o desconto à 10ª
É a chamada prática de nepotismo. Do latim nepos, (décima) parte do valor destes.
neto ou descendente, é o termo utilizado para designar o Parágrafo único. No caso do item IV do parágrafo único
favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detri- do art. 245, não tendo havido má-fé, será aplicada a pena de
mento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que repreensão e, na reincidência, a de suspensão.
diz respeito à nomeação ou elevação de cargos. Destaca-se
o teor da súmula vinculante nº 13 do STF: Art. 249. Será igualmente responsabilizado o funcionário
Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge, que, fora dos casos expressamente previstos nas leis, regula-
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por mentos ou regimentos, cometer a pessoas estranhas às re-
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade no- partições, o desempenho de encargos que lhe competirem ou
meante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido aos seus subordinados.
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exer-
cício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de Art. 250. A responsabilidade administrativa não exi-
função gratificada na Administração Pública direta e indireta, me o funcionário da responsabilidade civil ou criminal
em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito que no caso couber, nem o pagamento da indenização a que
Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante ficar obrigado, na forma dos arts. 247 e 248, o exame da pena
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.” Obs.: disciplinar em que incorrer.
se o concurso pedir pelo entendimento jurisprudencial, vá § 1º A responsabilidade administrativa é independente
pela súmula, mas se não mencionar nada se atenha ao texto da civil e da criminal.
da lei, visto que há pequenas variações entre o texto da sú- § 2º Será reintegrado ao serviço público, no cargo que
mula e o da lei. ocupava e com todos os direitos e vantagens devidas, o servi-
dor absolvido pela Justiça, mediante simples comprovação
CAPÍTULO II do trânsito em julgado de decisão que negue a existência de
Das Responsabilidades sua autoria ou do fato que deu origem à sua demissão.
§ 3º O processo administrativo só poderá ser sobrestado
para aguardar decisão judicial por despacho motivado da
Art. 245. O funcionário é responsável por todos os autoridade competente para aplicar a pena.
prejuízos que, nessa qualidade, causar à Fazenda Estadual, Segundo Carvalho Filho8, “a responsabilidade se origi-
por dolo ou culpa, devidamente apurados. na de uma conduta ilícita ou da ocorrência de determinada
Parágrafo único. Caracteriza-se especialmente a respon-
sabilidade: 8 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

situação fática prevista em lei e se caracteriza pela nature- Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
za do campo jurídico em que se consuma. Desse modo, a te causar aos membros da sociedade, mas se este agente
responsabilidade pode ser civil, penal e administrativa. Cada agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi
responsabilidade é, em princípio, independente da outra”. pago à vítima. O agente causará danos ao praticar condutas
É possível que o mesmo fato gere responsabilidade civil, incompatíveis com o comportamento ético dele esperado.10
penal e administrativa, mas também é possível que este gere A responsabilidade civil do servidor exige prévio proces-
apenas uma ou outra espécie de responsabilidade. Daí o so administrativo disciplinar no qual seja assegurado contra-
fato das responsabilidades serem independentes: o mesmo ditório e ampla defesa.
fato pode gerar a aplicação de qualquer uma delas, cumula- Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com
da ou isoladamente. culpa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor que
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante gere dano ao erário (Administração) ou a terceiro (adminis-
do direito obrigacional, uma vez que a principal consequên- trado), o servidor terá o dever de indenizar.
cia da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera para Já a responsabilidade penal do servidor decorre de uma
o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamento de conduta que a lei penal tipifique como infração penal, ou
indenização que se refere às perdas e danos. Afinal, quem seja, como crime ou contravenção penal.
pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano deve O servidor poderá ser responsabilizado apenas penal-
suportar as consequências jurídicas decorrentes, restauran- mente, uma vez que somente caberá responsabilização civil
do-se o equilíbrio social.9 se o ato tiver causado prejuízo ao erário (elemento dano).
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po- Os crimes contra a Administração Pública se encontram
dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os nos artigos 312 a 326 do Código Penal, mas existem outros
limites da herança, embora existam reflexos na ação que crimes espalhados pela legislação específica.
apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es- Por seu turno, quando o servidor pratica um ilícito admi-
fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de nistrativo, a ele é atribuída responsabilidade administrativa.
autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que O ilícito pode verificar-se por conduta comissiva ou omissiva
uma absolvição por falta de provas não o faz). e os fatos que o configuram são os previstos na legislação
Genericamente, os elementos da responsabilidade civil estatutária. Por exemplo, as sanções aplicadas pela Comis-
se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por são de Ética por violação ao Decreto n° 1.171/94 são admi-
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, nistrativas.
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva- Se as responsabilidades se cumularem, também as san-
mente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do ções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais responsabili-
instituto da responsabilidade civil, que tem como elementos: dades são independentes, ou seja, não dependem uma da
ação ou omissão voluntária (agir como não se deve ou dei- outra.
xar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente (dolo é a Determinadas decisões na esfera penal geram exclusão
vontade de cometer uma violação de direito e culpa é a falta da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, quais
de diligência), nexo causal (relação de causa e efeito entre a sejam: absolvição por inexistência do fato ou negativa de
ação/omissão e o dano causado) e dano (dano é o prejuí- autoria. A absolvição criminal por falta de provas não gera
zo sofrido pelo agente, que pode ser individual ou coletivo, exclusão da responsabilidade civil e administrativa.
moral ou material, econômico e não econômico). A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto,
conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos da- ato praticado em estado de necessidade, em legítima defe-
nos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, sa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos ca- regular de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art.
sos de dolo ou culpa. 66. não obstante a sentença absolutória no juízo criminal,
a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, ca-
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídi- tegoricamente, reconhecida a inexistência material do
ca autônoma entre o Estado e o agente público que causou fato”; “art. 386, IV –  estar provado que o réu não concorreu
o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a para a infração penal”.
responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Es- Entendem Fuller, Junqueira e Machado11: “a absolvição
tado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta
foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao
é justamente o direito de acionar o causador direto do dano CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi-
para obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada
a existência de uma relação obrigacional que se forma entre
10 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Mé-
a vítima e a instituição que o agente compõe. todo, 2011.
11 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Di-
9 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. niz; MACHADO, Angela C. Cangiano. Processo Penal. 9. ed. São Paulo:
9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. Revista dos Tribunais, 2010. (Coleção Elementos do Direito)

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil Art. 256. Será aplicada a pena de demissão nos casos de:
de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência do I - abandono de cargo;
direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cognição II - procedimento irregular, de natureza grave;
e convicção próprios da seara civil (na esfera penal, a deci- III - ineficiência no serviço;
são de condenação somente pode ser lastreada em juízo de IV - aplicação indevida de dinheiros públicos, e
certeza, tendo em vista o princípio constitucional do estado V - ausência ao serviço, sem causa justificável, por
de inocência)”. mais de 45 (quarenta e cinco) dias, interpoladamente,
durante 1 (um) ano.
TÍTULO VII § 1º Considerar-se-á abandono de cargo, o não compare-
DAS PENALIDADES, DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE cimento do funcionário por mais de (30) dias consecutivos
E DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES ex-vi do art. 63.
§ 2º A pena de demissão por ineficiência no serviço, só
CAPÍTULO I será aplicada quando verificada a impossibilidade de rea-
Das Penalidades e de sua Aplicação daptação.

Art. 257. Será aplicada a pena de demissão a bem do


Art. 251. São penas disciplinares:
serviço público ao funcionário que:
I - repreensão;
I - for convencido de incontinência pública e escanda-
II - suspensão;
losa e de vício de jogos proibidos;
III - multa; II - praticar ato definido como crime contra a admi-
IV - demissão; nistração pública, a fé pública e a Fazenda Estadual, ou
V - demissão a bem do serviço público; e previsto nas leis relativas à segurança e à defesa nacio-
VI - cassação de aposentadoria ou disponibilidade. nal;
A repreensão e a multa são as penas mais leves, a pri- III - revelar segredos de que tenha conhecimento em ra-
meira é um aviso de que o funcionário se portou de forma zão do cargo, desde que o faça dolosamente e com prejuízo
inadequada e de que isso não deve se repetir, a segunda para o Estado ou particulares;
interfere apenas no aspecto pecuniário. A multa pode ser IV - praticar insubordinação grave;
cumulada com outras penas. A suspensão é uma sanção V - praticar, em serviço, ofensas físicas contra funcioná-
intermediária, fazendo com que o funcionário deixe de rios ou particulares, salvo se em legítima defesa;
desempenhar o cargo por certo período. Na demissão, o VI - lesar o patrimônio ou os cofres públicos;
funcionário não mais exercerá o cargo, sendo assim sanção VII - receber ou solicitar propinas, comissões, presen-
mais grave. Outras sanções são cassação da aposentadoria tes ou vantagens de qualquer espécie, diretamente ou por
ou disponibilidade e a demissão a bem do serviço público, intermédio de outrem, ainda que fora de suas funções mas
que também se encaixam na modalidade mais severa. em razão delas;
VIII - pedir, por empréstimo, dinheiro ou quaisquer va-
Art. 252. Na aplicação das penas disciplinares serão con- lores a pessoas que tratem de interesses ou o tenham na
sideradas a natureza e a gravidade da infração e os danos repartição, ou estejam sujeitos à sua fiscalização;
que dela provierem para o serviço público. IX - exercer advocacia administrativa;
De forma fundamentada, justificada, se escolherá por X - apresentar com dolo declaração falsa em matéria
uma ou outra sanção, conforme a gravidade do ato prati- de salário-família, sem prejuízo da responsabilidade civil e
cado. de procedimento criminal, que no caso couber;
XI - praticar ato definido como crime hediondo, tortura,
Art. 253. A pena de repreensão será aplicada por escrito, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e terroris-
nos casos de indisciplina ou falta de cumprimento dos deveres. mo;
XII - praticar ato definido como crime contra o Sistema
Art. 254. A pena de suspensão, que não excederá de 90 Financeiro, ou de lavagem ou ocultação de bens, direitos
(noventa) dias, será aplicada em caso de falta grave ou de ou valores; e
reincidência. XIII - praticar ato definido em lei como de improbidade.
§ 1º O funcionário suspenso perderá todas as vanta-
gens e direitos decorrentes do exercício do cargo. Art. 258. O ato que demitir o funcionário mencionará
§ 2º A autoridade que aplicar a pena de suspensão pode- sempre a disposição legal em que se fundamenta.
rá converter essa penalidade em multa, na base de 50%
(cinquenta por cento) por dia de vencimento ou remuneração, Art. 259. Será aplicada a pena de cassação de aposen-
sendo o funcionário, nesse caso, obrigado a permanecer em tadoria ou disponibilidade, se ficar provado que o inativo:
serviço. I - praticou, quando em atividade, falta grave para a
qual é cominada nesta lei a pena de demissão ou de demissão
Art. 255. A pena de multa será aplicada na forma e nos a bem do serviço público;
casos expressamente previstos em lei ou regulamento. II - aceitou ilegalmente cargo ou função pública;

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

III - aceitou representação de Estado estrangeiro sem decisão final proferida por autoridade competente não corre
prévia autorização do Presidente da República; e a prescrição. Proferida a decisão, o prazo começa a contar
IV - praticou a usura em qualquer de suas formas. do zero. Passado o prazo, não caberá mais propor ação dis-
ciplinar.
Art. 260. Para aplicação das penalidades previstas no
art. 251, são competentes: Art. 262. O funcionário que, sem justa causa, deixar de
I - o Governador; atender a qualquer exigência para cujo cumprimento seja
II - os Secretários de Estado, o Procurador Geral do marcado prazo certo, terá suspenso o pagamento de seu
Estado e os Superintendentes de Autarquia; vencimento ou remuneração até que satisfaça essa exigên-
III - os Chefes de Gabinete, até a de suspensão; cia.
IV - os Coordenadores, até a de suspensão limitada a 60 Parágrafo único. Aplica-se aos aposentados ou em dispo-
(sessenta) dias; e nibilidade o disposto neste artigo.
V - os Diretores de Departamento e Divisão, até a de
suspensão limitada a 30 (trinta) dias. Art. 263. Deverão constar do assentamento individual do
Parágrafo único. Havendo mais de um infrator e diversi- funcionário todas as penas que lhe forem impostas.
dade de sanções, a competência será da autoridade responsá-
vel pela imposição da penalidade mais grave. CAPÍTULO II
Das Providências Preliminares
Art. 261. Extingue-se a punibilidade pela prescrição:
I - da falta sujeita à pena de repreensão, suspensão ou
multa, em 2 (dois) anos; Art. 264. A autoridade que, por qualquer meio, tiver co-
II - da falta sujeita à pena de demissão, de demissão a nhecimento de irregularidade praticada por servidor é
bem do serviço público e de cassação da aposentadoria ou obrigada a adotar providências visando à sua imediata
disponibilidade, em 5 (cinco) anos; apuração, sem prejuízo das medidas urgentes que o caso exi-
II - da falta prevista em lei como infração penal, no prazo gir.
de prescrição em abstrato da pena criminal, se for superior a
5 (cinco) anos. Art. 265. A autoridade realizará apuração preliminar,
§ 1º A prescrição começa a correr: de natureza simplesmente investigativa, quando a infração
1 - do dia em que a falta for cometida; não estiver suficientemente caracterizada ou definida autoria.
2 - do dia em que tenha cessado a continuação ou a § 1º A apuração preliminar deverá ser concluída no prazo
permanência, nas faltas continuadas ou permanentes. de 30 (trinta) dias.
§ 2º Interrompem a prescrição a portaria que instaura § 2º Não concluída no prazo a apuração, a autoridade
sindicância e a que instaura processo administrativo. deverá imediatamente encaminhar ao Chefe de Gabinete re-
§ 3º O lapso prescricional corresponde: latório das diligências realizadas e definir o tempo necessário
1 - na hipótese de desclassificação da infração, ao da para o término dos trabalhos.
pena efetivamente aplicada; § 3º Ao concluir a apuração preliminar, a autoridade de-
2 - na hipótese de mitigação ou atenuação, ao da pena verá opinar fundamentadamente pelo arquivamento ou pela
em tese cabível. instauração de sindicância ou de processo administrativo.
§ 4º A prescrição não corre:
1 - enquanto sobrestado o processo administrativo para Art. 266. Determinada a instauração de sindicância ou
aguardar decisão judicial, na forma do § 3º do artigo 250; processo administrativo, ou no seu curso, havendo conve-
2 - enquanto insubsistente o vínculo funcional que ve- niência para a instrução ou para o serviço, poderá o Chefe de
nha a ser restabelecido. Gabinete, por despacho fundamentado, ordenar as seguintes
§ 5º Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade providências:
julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos I - afastamento preventivo do servidor, quando o reco-
individuais do servidor. mendar a moralidade administrativa ou a apuração do fato,
§ 6º A decisão que reconhecer a existência de prescrição sem prejuízo de vencimentos ou vantagens, até 180 (cento e
deverá desde logo determinar, quando for o caso, as provi- oitenta) dias, prorrogáveis uma única vez por igual período;
dências necessárias à apuração da responsabilidade pela sua II - designação do servidor acusado para o exercício de
ocorrência. atividades exclusivamente burocráticas até decisão final do
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do procedimento;
direito de acionar judicialmente. III - recolhimento de carteira funcional, distintivo, armas
No caso, o prazo é de 5 anos para as infrações mais gra- e algemas;
ves, 2 para as de gravidade intermediária e leve (pena de IV - proibição do porte de armas;
suspensão e pena de advertência) - Contados da data em V - comparecimento obrigatório, em periodicidade a ser
que o fato se tornou conhecido pela administração pública. estabelecida, para tomar ciência dos atos do procedimento.
Interrupção da prescrição significa parar a contagem do § 1º A autoridade que determinar a instauração ou presi-
prazo para que, retornando, comece do zero. Da abertura dir sindicância ou processo administrativo poderá representar
da sindicância ou processo administrativo disciplinar até a

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

ao Chefe de Gabinete para propor a aplicação das medidas A sindicância é uma modalidade mais branda de apura-
previstas neste artigo, bem como sua cessação ou alteração. ção da infração administrativa porque ou gerará a aplicação
§ 2º O Chefe de Gabinete poderá, a qualquer momento, de uma sanção mais branda, ou apenas antecederá o pro-
por despacho fundamentado, fazer cessar ou alterar as medi- cesso administrativo disciplinar que aplique a sanção mais
das previstas neste artigo. grave, entendendo-se por sanções mais graves qualquer
uma pior do que suspensão (basicamente, as que geram
Art. 267. O período de afastamento preventivo compu- perda do cargo ou da aposentadoria).
ta-se como de efetivo exercício, não sendo descontado da
pena de suspensão eventualmente aplicada. CAPÍTULO III
A sindicância é uma modalidade mais branda de apura- Do Processo Administrativo
ção da infração administrativa porque ou gerará a aplicação
de uma sanção mais branda, ou apenas antecederá o pro-
cesso administrativo disciplinar que aplique a sanção mais Art. 274. São competentes para determinar a instau-
grave. ração de processo administrativo as autoridades enumera-
das no Art. 260, até o inciso IV, inclusive.
TÍTULO VIII
DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR Art. 275. Não poderá ser encarregado da apuração, nem
atuar como secretário, amigo íntimo ou inimigo, parente
CAPÍTULO I consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até
Das Disposições Gerais o terceiro grau inclusive, cônjuge, companheiro ou qual-
quer integrante do núcleo familiar do denunciante ou do
acusado, bem assim o subordinado deste.
Art. 268. A apuração das infrações será feita mediante
sindicância ou processo administrativo, assegurados o Art. 276. A autoridade ou o funcionário designado deve-
contraditório e a ampla defesa. rão comunicar, desde logo, à autoridade competente, o impe-
dimento que houver.
Art. 269. Será instaurada sindicância quando a falta
disciplinar, por sua natureza, possa determinar as penas de Art. 277. O processo administrativo deverá ser instaurado
repreensão, suspensão ou multa. por portaria, no prazo improrrogável de 8 (oito) dias do re-
cebimento da determinação, e concluído no de 90 (noventa)
Art. 270. Será obrigatório o processo administrativo dias da citação do acusado.
quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa de- § 1º Da portaria deverão constar o nome e a identifica-
terminar as penas de demissão, de demissão a bem do ção do acusado, a infração que lhe é atribuída, com descrição
serviço público e de cassação de aposentadoria ou dis- sucinta dos fatos, a indicação das normas infringidas e a pe-
ponibilidade. nalidade mais elevada em tese cabível.
§ 2º Vencido o prazo, caso não concluído o processo, o
Art. 271. Os procedimentos disciplinares punitivos serão Procurador do Estado que o presidir deverá imediatamente
realizados pela Procuradoria Geral do Estado e presididos por encaminhar ao seu superior hierárquico relatório indicando
Procurador do Estado confirmado na carreira. as providências faltantes e o tempo necessário para término
dos trabalhos.
CAPÍTULO II § 3º O superior hierárquico dará ciência dos fatos a que
Da Sindicância se refere o parágrafo anterior e das providências que houver
adotado à autoridade que determinou a instauração do pro-
cesso.
Art. 272. São competentes para determinar a instauração
de sindicância as autoridades enumeradas no artigo 260. Art. 278. Autuada a portaria e demais peças preexisten-
Parágrafo único. Instaurada a sindicância, o Procurador tes, designará o presidente dia e hora para audiência de
do Estado que a presidir comunicará o fato ao órgão setorial interrogatório, determinando a citação do acusado e a
de pessoal. notificação do denunciante, se houver.
§ 1º O mandado de citação deverá conter:
Art. 273. Aplicam-se à sindicância as regras previstas nes- 1 - cópia da portaria;
ta lei complementar para o processo administrativo, com as 2 - data, hora e local do interrogatório, que poderá ser
seguintes modificações: acompanhado pelo advogado do acusado;
I - a autoridade sindicante e cada acusado poderão arro- 3 - data, hora e local da oitiva do denunciante, se houver,
lar até 3 (três) testemunhas; que deverá ser acompanhada pelo advogado do acusado;
II - a sindicância deverá estar concluída no prazo de 60 4 - esclarecimento de que o acusado será defendido por
(sessenta) dias; advogado dativo, caso não constitua advogado próprio;
III - com o relatório, a sindicância será enviada à autori-
dade competente para a decisão.

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

5 - informação de que o acusado poderá arrolar testemu- Art. 284. Na audiência de instrução, serão ouvidas, pela
nhas e requerer provas, no prazo de 3 (três) dias após a data ordem, as testemunhas arroladas pelo presidente e pelo
designada para seu interrogatório; acusado.
6 - advertência de que o processo será extinto se o acu- Parágrafo único. Tratando-se de servidor público, seu
sado pedir exoneração até o interrogatório, quando se tratar comparecimento poderá ser solicitado ao respectivo superior
exclusivamente de abandono de cargo ou função, bem como imediato com as indicações necessárias.
inassiduidade.
§ 2º A citação do acusado será feita pessoalmente, no Art. 285. A testemunha não poderá eximir-se de de-
mínimo 2 (dois) dias antes do interrogatório, por intermé- por, salvo se for ascendente, descendente, cônjuge, ainda que
dio do respectivo superior hierárquico, ou diretamente, onde legalmente separado, companheiro, irmão, sogro e cunhado,
possa ser encontrado. pai, mãe ou filho adotivo do acusado, exceto quando não for
§ 3º Não sendo encontrado em seu local de trabalho ou possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do
no endereço constante de seu assentamento individual, fur- fato e de suas circunstâncias.
tando-se o acusado à citação ou ignorando-se seu paradeiro, § 1º Se o parentesco das pessoas referidas for com o de-
a citação far-se-á por edital, publicado uma vez no Diário nunciante, ficam elas proibidas de depor, observada a exce-
Oficial do Estado, no mínimo 10 (dez) dias antes do interro- ção deste artigo.
gatório. § 2º Ao servidor que se recusar a depor, sem justa causa,
será pela autoridade competente adotada a providência a
Art. 279. Havendo denunciante, este deverá prestar de- que se refere o artigo 262, mediante comunicação do presi-
clarações, no interregno entre a data da citação e a fixada dente.
para o interrogatório do acusado, sendo notificado para tal § 3º O servidor que tiver de depor como testemunha fora
fim. da sede de seu exercício, terá direito a transporte e diárias
§ 1º A oitiva do denunciante deverá ser acompanhada na forma da legislação em vigor, podendo ainda expedir-se
pelo advogado do acusado, próprio ou dativo. precatória para esse efeito à autoridade do domicílio do de-
§ 2º O acusado não assistirá à inquirição do denun- poente.
ciante; antes porém de ser interrogado, poderá ter ciência das § 4º São proibidas de depor as pessoas que, em razão de
declarações que aquele houver prestado. função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segre-
do, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem
Art. 280. Não comparecendo o acusado, será, por despa- dar o seu testemunho.
cho, decretada sua revelia, prosseguindo-se nos demais atos
e termos do processo. Art. 286. A testemunha que morar em comarca diversa
poderá ser inquirida pela autoridade do lugar de sua residên-
Art. 281. Ao acusado revel será nomeado advogado da- cia, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo
tivo. razoável, intimada a defesa.
§ 1º Deverá constar da precatória a síntese da imputa-
Art. 282. O acusado poderá constituir advogado que o ção e os esclarecimentos pretendidos, bem como a adver-
representará em todos os atos e termos do processo. tência sobre a necessidade da presença de advogado.
§ 1º É faculdade do acusado tomar ciência ou assistir aos § 2º A expedição da precatória não suspenderá a ins-
atos e termos do processo, não sendo obrigatória qualquer trução do procedimento.
notificação. § 3º Findo o prazo marcado, o procedimento poderá pros-
§ 2º O advogado será intimado por publicação no Diá- seguir até final decisão; a todo tempo, a precatória, uma vez
rio Oficial do Estado, de que conste seu nome e número de devolvida, será juntada aos autos.
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, bem como os
dados necessários à identificação do procedimento. Art. 287. As testemunhas arroladas pelo acusado com-
§ 3º Não tendo o acusado recursos financeiros ou negan- parecerão à audiência designada independente de notifi-
do-se a constituir advogado, o presidente nomeará advoga- cação.
do dativo. § 1º Deverá ser notificada a testemunha cujo depoimen-
§ 4º O acusado poderá, a qualquer tempo, constituir ad- to for relevante e que não comparecer espontaneamente.
vogado para prosseguir na sua defesa. § 2º Se a testemunha não for localizada, a defesa pode-
rá substituí-la, se quiser, levando na mesma data designada
Art. 283. Comparecendo ou não o acusado ao interro- para a audiência outra testemunha, independente de notifi-
gatório, inicia-se o prazo de 3 (três) dias para requerer a cação.
produção de provas, ou apresentá-las.
§ 1º O presidente e cada acusado poderão arrolar até 5 Art. 288. Em qualquer fase do processo, poderá o presi-
(cinco) testemunhas. dente, de ofício ou a requerimento da defesa, ordenar dili-
§ 2º A prova de antecedentes do acusado será feita ex- gências que entenda convenientes.
clusivamente por documentos, até as alegações finais. § 1º As informações necessárias à instrução do processo
§ 3º Até a data do interrogatório, será designada a au- serão solicitadas diretamente, sem observância de vinculação
diência de instrução.

30
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

hierárquica, mediante ofício, do qual cópia será juntada aos de 20 (vinte) dias, proferir o julgamento ou determinar a
autos. realização de diligência, sempre que necessária ao esclare-
§ 2º Sendo necessário o concurso de técnicos ou peritos cimento de fatos.
oficiais, o presidente os requisitará, observados os impedi-
mentos do artigo 275. Art. 296. Determinada a diligência, a autoridade encar-
regada do processo administrativo terá prazo de 15 (quinze)
Art. 289. Durante a instrução, os autos do procedimento dias para seu cumprimento, abrindo vista à defesa para ma-
administrativo permanecerão na repartição competente. nifestar-se em 5 (cinco) dias.
§ 1º Será concedida vista dos autos ao acusado, median-
te simples solicitação, sempre que não prejudicar o curso do Art. 297. Quando escaparem à sua alçada as penalida-
procedimento. des e providências que lhe parecerem cabíveis, a autorida-
§ 2º A concessão de vista será obrigatória, no prazo para de que determinou a instauração do processo administrativo
manifestação do acusado ou para apresentação de recursos, deverá propô-las, justificadamente, dentro do prazo para
mediante publicação no Diário Oficial do Estado. julgamento, à autoridade competente.
§ 3º Não corre o prazo senão depois da publicação a que
se refere o parágrafo anterior e desde que os autos estejam Art. 298. A autoridade que proferir decisão determinará
efetivamente disponíveis para vista. os atos dela decorrentes e as providências necessárias a
§ 4º Ao advogado é assegurado o direito de retirar os sua execução.
autos da repartição, mediante recibo, durante o prazo para
manifestação de seu representado, salvo na hipótese de pra- Art. 299. As decisões serão sempre publicadas no Diário
zo comum, de processo sob regime de segredo de justiça ou Oficial do Estado, dentro do prazo de 8 (oito) dias, bem
quando existirem nos autos documentos originais de difícil como averbadas no registro funcional do servidor.
restauração ou ocorrer circunstância relevante que justifique
a permanência dos autos na repartição, reconhecida pela au- Art. 300. Terão forma processual resumida, quando
toridade em despacho motivado. possível, todos os termos lavrados pelo secretário, quais
sejam: autuação, juntada, conclusão, intimação, data de rece-
Art. 290. Somente poderão ser indeferidos pelo presi- bimento, bem como certidões e compromissos.
dente, mediante decisão fundamentada, os requerimentos § 1º Toda e qualquer juntada aos autos se fará na ordem
de nenhum interesse para o esclarecimento do fato, bem cronológica da apresentação, rubricando o presidente as fo-
como as provas ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou lhas acrescidas.
protelatórias. § 2º Todos os atos ou decisões, cujo original não conste do
processo, nele deverão figurar por cópia.
Art. 291. Quando, no curso do procedimento, surgirem
fatos novos imputáveis ao acusado, poderá ser promovida Art. 301. Constará sempre dos autos da sindicância ou do
a instauração de novo procedimento para sua apuração, processo a folha de serviço do indiciado.
ou, caso conveniente, aditada a portaria, reabrindo-se opor-
tunidade de defesa. Art. 302. Quando ao funcionário se imputar crime, prati-
cado na esfera administrativa, a autoridade que determinou
Art. 292. Encerrada a fase probatória, dar-se-á vista dos a instauração do processo administrativo providenciará para
autos à defesa, que poderá apresentar alegações finais, no que se instaure, simultaneamente, o inquérito policial.
prazo de 7 (sete) dias. Parágrafo único. Quando se tratar de crime praticado
Parágrafo único. Não apresentadas no prazo as alega- fora da esfera administrativa, a autoridade policial dará ciên-
ções finais, o presidente designará advogado dativo, assinan- cia dele à autoridade administrativa.
do-lhe novo prazo.
Art. 303. As autoridades responsáveis pela condução do
Art. 293. O relatório deverá ser apresentado no prazo de processo administrativo e do inquérito policial se auxiliarão
10 (dez) dias, contados da apresentação das alegações finais. para que os mesmos se concluam dentro dos prazos respec-
§ 1º O relatório deverá descrever, em relação a cada acu- tivos.
sado, separadamente, as irregularidades imputadas, as provas
colhidas e as razões de defesa, propondo a absolvição ou pu- Art. 304. Quando o ato atribuído ao funcionário for con-
nição e indicando, nesse caso, a pena que entender cabível. siderado criminoso, serão remetidas à autoridade compe-
§ 2º O relatório deverá conter, também, a sugestão de tente cópias autenticadas das peças essenciais do processo.
quaisquer outras providências de interesse do serviço público.
Art. 305. Não será declarada a nulidade de nenhum ato
Art. 294. Relatado, o processo será encaminhado à au- processual que não houver influído na apuração da verdade
toridade que determinou sua instauração. substancial ou diretamente na decisão do processo ou sindi-
cância.
Art. 295. Recebendo o processo relatado, a autoridade
que houver determinado sua instauração deverá, no prazo

31
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 306. É defeso fornecer à imprensa ou a outros Art. 313. Caberá pedido de reconsideração, que não
meios de divulgação notas sobre os atos processuais, salvo no poderá ser renovado, de decisão tomada pelo Governador do
interesse da Administração, a juízo do Secretário de Estado ou Estado em única instância, no prazo de 30 (trinta) dias.
do Procurador Geral do Estado.
Art. 314. Os recursos de que trata esta lei complementar
Art. 307. Decorridos 5 (cinco) anos de efetivo exercício, não têm efeito suspensivo; os que forem providos darão lu-
contados do cumprimento da sanção disciplinar, sem cometi- gar às retificações necessárias, retroagindo seus efeitos à data
mento de nova infração, não mais poderá aquela ser con- do ato punitivo.
siderada em prejuízo do infrator, inclusive para efeito de
reincidência. CAPÍTULO VI
Parágrafo único. A demissão e a demissão a bem do ser- Da Revisão
viço público acarretam a incompatibilidade para nova inves-
tidura em cargo, função ou emprego público, pelo prazo de 5
(cinco) e 10 (dez) anos, respectivamente. Art. 315. Admitir-se-á, a qualquer tempo, a revisão de
punição disciplinar de que não caiba mais recurso, se sur-
CAPÍTULO IV girem fatos ou circunstâncias ainda não apreciados, ou
Do Processo por Abandono do Cargo ou Função e por vícios insanáveis de procedimento, que possam justificar
Inassiduidade redução ou anulação da pena aplicada.
§ 1º A simples alegação da injustiça da decisão não
constitui fundamento do pedido.
Art. 308. Verificada a ocorrência de faltas ao serviço que § 2º Não será admitida reiteração de pedido pelo mesmo
caracterizem abandono de cargo ou função, bem como fundamento.
inassiduidade, o superior imediato comunicará o fato à § 3º Os pedidos formulados em desacordo com este artigo
autoridade competente para determinar a instauração de serão indeferidos.
processo disciplinar, instruindo a representação com cópia da § 4º O ônus da prova cabe ao requerente.
ficha funcional do servidor e atestados de frequência.
Art. 316. A pena imposta não poderá ser agravada pela
Art. 309. Não será instaurado processo para apurar aban- revisão.
dono de cargo ou função, bem como inassiduidade, se o servi-
dor tiver pedido exoneração. Art. 317. A instauração de processo revisional poderá
ser requerida fundamentadamente pelo interessado ou,
Art. 310. Extingue-se o processo instaurado exclusiva- se falecido ou incapaz, por seu curador, cônjuge, com-
mente para apurar abandono de cargo ou função, bem como panheiro, ascendente, descendente ou irmão, sempre por
inassiduidade, se o indiciado pedir exoneração até a data de- intermédio de advogado.
signada para o interrogatório, ou por ocasião deste. Parágrafo único. O pedido será instruído com as provas
que o requerente possuir ou com indicação daquelas que pre-
Art. 311. A defesa só poderá versar sobre força maior, tenda produzir.
coação ilegal ou motivo legalmente justificável.
Art. 318. A autoridade que aplicou a penalidade, ou que a
CAPÍTULO V tiver confirmado em grau de recurso, será competente para
Dos Recursos o exame da admissibilidade do pedido de revisão, bem
como, caso deferido o processamento, para a sua decisão fi-
nal.
Art. 312. Caberá recurso, por uma única vez, da deci-
são que aplicar penalidade. Art. 319. Deferido o processamento da revisão, será
§ 1º O prazo para recorrer é de 30 (trinta) dias, contados este realizado por Procurador de Estado que não tenha
da publicação da decisão impugnada no Diário Oficial do Es- funcionado no procedimento disciplinar de que resultou a pu-
tado ou da intimação pessoal do servidor, quando for o caso. nição do requerente.
§ 2º Do recurso deverá constar, além do nome e quali-
ficação do recorrente, a exposição das razões de incon- Art. 320. Recebido o pedido, o presidente providenciará
formismo. o apensamento dos autos originais e notificará o requerente
§ 3º O recurso será apresentado à autoridade que aplicou para, no prazo de 8 (oito) dias, oferecer rol de testemunhas,
a pena, que terá o prazo de 10 (dez) dias para, motivada- ou requerer outras provas que pretenda produzir.
mente, manter sua decisão ou reformá-la. Parágrafo único. No processamento da revisão serão ob-
§ 4º Mantida a decisão, ou reformada parcialmente, será servadas as normas previstas nesta lei complementar para o
imediatamente encaminhada a reexame pelo superior processo administrativo.
hierárquico.
§ 5º O recurso será apreciado pela autoridade compe- Art. 321. A decisão que julgar procedente a revisão pode-
tente ainda que incorretamente denominado ou endereçado. rá alterar a classificação da infração, absolver o punido, modi-

32
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

ficar a pena ou anular o processo, restabelecendo os direitos termos da legislação ora revogada, do tempo de serviço pres-
atingidos pela decisão reformada. tado anteriormente ao presente Estatuto;
A revisão do processo consiste na possibilidade do ser- II - a Lei nº 1.309, de 29 de novembro de 1951 e as demais
vidor condenado requerer que sua condenação seja revista disposições atinentes aos extranumerários; e
se surgirem novos fatos ou circunstâncias que justifiquem III - a Lei nº 2.576, de 14 de janeiro de 1954.
sua absolvição ou a aplicação de uma pena mais leve. Po-
derá ser requerida ao ministro de Estado ou autoridade de Art. 330. (Vetado).
mesma hierarquia e será apensada ao processo administra-
tivo originário. O julgamento será feito pela mesma autori- Art. 331. Revogam-se as disposições em contrário.
dade que aplicou a pena. Se apurado que na verdade a pena
deveria ser maior, não cabe agravar a situação do servidor. Palácio dos Bandeirantes, aos 28 de outubro de 1968.

Disposições Finais

LEI COMPLEMENTAR N° 444, DE 27/12/1985


Art. 322. O dia 28 de outubro será consagrado ao “Fun- - ESTATUTO DO MAGISTÉRIO PAULISTA.
cionário Público Estadual”. HTTP://WWW.AL.SP.GOV.BR/REPOSITORIO/
LEGISLACAO/LEI.COMPLEMENTAR/1985/LEI.
Art. 323. Os prazos previstos neste Estatuto serão todos COMPLEMENTAR-444- 27.12.1985.HTML
contados por dias corridos.
Parágrafo único. Não se computará no prazo o dia ini-
cial, prorrogando-se o vencimento, que incidir em sábado,
domingo, feriado ou facultativo, para o primeiro dia útil se- LEI COMPLEMENTAR Nº 444, DE 27 DE DEZEMBRO DE
guinte. 1985

Art. 324. As disposições deste Estatuto se aplicam aos ex- Dispõe sobre o Estatuto do Magistério Paulista e dá
providências correlatas
tranumerários, exceto no que colidirem com a precariedade
de sua situação no Serviço Público. (Republicada por ter saído com incorreções no D.O. de 28-
12-85).
Disposições Transitórias O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu
promulgo a seguinte lei complementar:
Art. 325. Aplicam-se aos atuais funcionários interinos as
disposições deste Estatuto, salvo as que colidirem com a natu-
reza precária de sua investidura e, em especial, as relativas a CAPÍTULO I
acesso, promoção, afastamentos, aposentadoria voluntária e Das Disposições Preliminares
às licenças previstas nos itens VI, VII e IX do Art. 181.

Art. 326. Serão obrigatoriamente exonerados os ocu- SEÇÃO I


pantes interinos de cargos para cujo provimento for realizado Do Estatuto do Magistério e seus Objetivos
concurso.
Parágrafo único. As exonerações serão efetivadas dentro Artigo 1º - Esta lei complementar estrutura e organiza
de 30 (trinta) dias, após a homologação do concurso. o Magistério Público de 1º  e 2º Graus da Secretaria de Esta-
do da Educação de São Paulo, nos termos da Lei federal nº
Art. 327. (Revogado).  5.692, de 11 de agosto de 1971, e denominar-se-á Estatuto
do Magistério.
Art. 328. Dentro de 120 (cento e vinte) dias proceder- Artigo 2º - Para os efeitos deste Estatuto, estão abran-
-se-á ao levantamento geral das atuais funções gratifi- gidos os docentes e os especialistas de educação que de-
cadas, para efeito de implantação de novo sistema retribuitó- senvolvem atividades de ministrar, planejar, executar, avaliar,
rio dos encargos por elas atendidos. dirigir, orientar, coordenar e supervisionar o ensino.
Parágrafo único. Até a implantação do sistema de que
trata este artigo, continuarão em vigor as disposições legais
referentes à função gratificada. SEÇÃO II
Dos Conceitos Básicos
Art. 329. Ficam expressamente revogadas:
I - as disposições de leis gerais ou especiais que estabele- Artigo 3º - Para os fins desta lei complementar, consi-
çam contagem de tempo em divergência com o disposto no dera-se:
Capítulo XV do Título II, ressalvada, todavia, a contagem, nos I - Classe: conjunto de cargos e/ou de funções-ativida-
des de igual denominação;

33
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

II - Série de Classes: conjunto de classes da mesma na- II - Professor II: no ensino de 1º grau;
tureza, escalonadas de acordo com o grau de titulação mí- III - professor III:
nimo exigido; a) no ensino de 1º grau e no ensino de 2º grau;
III - Carreira do Magistério: conjunto de cargos de provi- b) como professor da educação especial, no ensino de
mento efetivo do Quadro do Magistério caracterizados pelo 1º e 2º graus e na pré-escola.
exercício de atividades de Magistério, no ensino de 1º e 2º Artigo 8º - Os ocupantes de cargos das classes de es-
graus e na pré-escola; pecialistas de educação atuarão, conforme suas respectivas
IV - Quadro do Magistério: conjunto de cargos e de fun- especialidades, em todo o ensino de 1º e 2º graus e na pré-
ções-atividades de docentes e de cargos de especialistas de -escola.
educação, privativos da Secretaria de Estado da Educação.
CAPÍTULO III
CAPÍTULO II Do Provimento
Do Quatro do Magistério
SEÇÃO I
SEÇÃO I Dos Requisitos
Da Composição
Artigo 9º - Os requisitos para o provimento dos cargos
Artigo 4º - O Quadro do Magistério é composto de da série de classes de docentes e das classes de especialistas
(dois) subquadros, a saber: de educação do Quadro do Magistério ficam estabelecidas
I - Subquadro de Cargos Públicos (SQC); em conformidade com Anexo I, que faz parte integrante
II - Subquadro de Funções-Atividades (SQF). desta lei complementar.
§ 1º - O Subquadro de Cargos Públicos (SQC) com- Parágrafo único - As habilitações específicas a que se
preende as seguintes Tabelas: refere o Anexo I serão definidas pelo Conselho Estadual de
1. Tabela I (SQC-I), constituída de cargos de provimento Educação.
em comissão;
2. Tabela II (SQC-II), constituída de cargos de provimen- SEÇÃO II
to efetivo que comportam substituição. Das Formas de Provimento
§ 2º - O Subquadro de Funções-Atividades é constituí-
do da Tabela I (SQF-I) que integra as funções-atividades que
Artigo 10 - São formas de provimento dos cargos da
comportam substituição.
série de classes de docentes e das classes de especialistas
Artigo 5º - O Quadro do Magistério é constituído de
de educação:
série de classes de docentes e classes de especialistas de
I - nomeação;
educação, integradas aos Subquadros do Quadro do Magis-
II - acesso.
tério, na seguinte conformidade:
Artigo 11 - A nomeação prevista no inciso I do artigo
I - série de classes de docentes:
anterior, será feita:
a) Professor I - SQC-II e SQF-I;
I - em comissão, quando se tratar de cargos, fixados no
b) Professor II - SQC-II e SQF-I;
Anexo I, desta lei complementar, que assim devam ser pro-
c) Professor III - SQC-II e SQF-I.
vidos;
II - classes de especialistas de educação:
II - em caráter efetivo, para os cargos da série de classes
a) Orientador Educacional - SQC-II;
de docentes e das classes de especialistas de educação da
b) Coordenador Pedagógico - SQC-II;
carreira do Magistério, conforme Anexo I, desta lei comple-
c) Assistente de Diretor de Escola - SQC-I;
mentar.
d) Diretor de Escola - SQC-II;
Artigo 12 - O acesso, previsto no inciso II do artigo 10,
e) Supervisor de Ensino - SQC-II;
desta lei complementar, para o provimento dos cargos da
f) Delegado de Ensino - SQC-I.
série de classes de docentes e das classes de especialistas de
Artigo 6º - Além dos cargos e funções-atividades do
educação, fixados no Anexo I, desta mesma lei, processar-
Quadro do Magistério a que alude o artigo anterior, poderá
-se-á mediante concurso de provas e títulos, na forma que
haver, na unidade escolar, posto de trabalho de Professor
for estabelecida em regulamento.
Coordenador.

SEÇÃO III
SEÇÃO II
Dos Concursos Públicos
Do Campo de Atuação

Artigo 13 - O provimento dos cargos da série de classes


Artigo 7º - Os ocupantes de cargo e de função-ativida-
de docentes e das classes de especialistas de educação da
de da série de classes de docentes atuarão:
carreira do Magistério far-se-á através de concurso público
I - professor I: no ensino de 1º Grau, da série inicial até a
de provas e títulos.
4.ª série, e na pré-escola;

34
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Artigo 14 - O prazo máximo de validade do concurso Artigo 20 - Os processos seletivos, de que trata o artigo
público será de 4 (quatro) anos, a contar da data de sua ho- anterior, serão realizados pela Secretaria de Estado da Edu-
mologação. cação, na forma a ser estabelecida em regulamento.
Artigo 15 - Os concursos públicos, de que trata o artigo
13, desta lei complementar, serão realizados pela Secretaria SEÇÃO IV
de Estado da Educação. Da Designação para Posto de Trabalho
Artigo 16 - Os concursos públicos reger-se-ão por ins-
truções especiais que estabelecerão:
Artigo 21 - A designação do Professor Coordenador, com
I - a modalidade do concurso; validade por um ano, será precedida de escolha entre os
II - as condições para o provimento do cargo; docentes da unidade escolar, pelos seus pares, à época
III - o tipo e conteúdo das provas e a natureza dos tí- do planejamento escolar, recaindo a preferência dentre
tulos: ocupantes de cargo de docente e suas funções serão
IV - os critérios de aprovação e classificação; exercidas sem prejuízo da docência.
V - o prazo de validade do concurso; § 1º - Para a designação prevista no “caput”, o docente
VI - a porcentagem de cargos a serem oferecidos para deverá ter 3 (três) anos de exercício no Magistério Público
provimento mediante acesso, se for o caso. Oficial de 1º e/ou 2º graus da Secretaria de Estado da
Parágrafo único - Vetado. Educação de São Paulo;
§ 2º - Poderá haver Professor Coordenador de matéria, de
CAPÍTULO IV matérias afins, de cursos e/ou de projetos, na forma a ser
Das Funções-Atividades e das Designações regulamentada.
§ 3º - Pelo desempenho das funções de coordenação de
que trata o “caput”, ao docente serão atribuídas até 16
SEÇÃO I (dezesseis) horas-aula, na forma a ser regulamentada.
Do Preenchimento de Funções-Atividades
CAPÍTULO V
Artigo 17 - O preenchimento de funções-atividades da Das Substituições
série de classes de docentes será efetuado mediante admis-
são:
Artigo 22 - Observados os requisitos legais, haverá
§ 1º - A admissão, de que trata este artigo, processar-se-
substituição durante o impedimento legal e temporário dos
-á nas seguintes hipóteses:
docentes e especialistas de educação do Quadro do Magis-
1.  para reger classes e/ou ministrar aula cujo número
tério.
reduzido, especificidade ou transitoriedade não justifiquem
§ 1º - A substituição poderá ser exercida, inclusive por
o provimento de cargo;
ocupante de cargo da mesma classe, classificado em área de
2. para reger classes e/ou ministrar aulas atribuídas a
jurisdição de qualquer Delegacia de Ensino.
ocupantes de cargos ou de funções-atividades, afastados a
§ 2º - O ocupante de cargo de Quadro do Magistério
qualquer título;
poderá, também, exercer cargo vago da mesma classe, nas
3. para reger classes e/ou ministrar aulas decorrentes de
mesmas condições do parágrafo anterior.
cargos vagos ou que ainda não tenham sido criados.
§ 3º - O exercício de cargos nas condições previstas nos
§ 2º - A admissão de que trata este artigo, far-se-á após
parágrafos anteriores será disciplinado em regulamento.
observada a ordem de preferência prevista no artigo 45 des-
Artigo 23 - Para os cargos de provimento em comissão,
ta lei complementar.
haverá substituição nas situações previstas no § 3º do artigo
7º da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978.
SEÇÃO II Parágrafo único - O cargo de Assistente de Diretor de
Dos Requisitos Escola, além das hipóteses previstas no “caput”, comportará,
também, substituição, durante o período de tempo em que
Artigo 18 - Os requisitos para o preenchimento das o titular do cargo estiver exercendo as funções de Diretor de
funções-atividades da série de classes de docentes serão os Escola, e nos termos da legislação aplicável para promoção
mesmos fixados no Anexo I, desta lei complementar, para de sua campanha eleitoral, bem como, com base no artigo
provimento dos cargos de Professor I, Professor II e Profes- 202 da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968.
sor III.
CAPÍTULO VI
SEÇÃO III Da Remoção
Do Processo Seletivo
Artigo 24 - A remoção dos integrantes da carreira do
Artigo 19 - O preenchimento de funções-atividades da Magistério processar-se-á por permuta, por concurso de tí-
série de classes de docentes do Quadro do Magistério far- tulos ou por união de cônjuges, na forma que dispuser o
-se-á mediante admissão, precedida de processo seletivo de regulamento.
tempo de serviço e títulos. § 1º - Vetado.

35
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 2º - O concurso de remoção sempre deverá preceder dar-se-ão para 1,0 (um) inteiro as iguais ou supervisores a 5
o de ingresso e de acesso para o provimento dos cargos de (cinco) décimos, desprezando-se as demais.
carreira do Magistério e somente poderão ser oferecidas em Artigo 30 - Aplicar-se-ão aos docentes as Tabelas da Es-
concurso de ingresso e acesso as vagas remanescentes do cala de Vencimentos 5, instituída pelo artigo 1º da Lei Com-
concurso de remoção. plementar nº 247, de 6 de abril de 1981, enquanto estiverem
§ 3º - Vetado. incluídos:
I - em Jornada Integral de Trabalho Docente: Tabela I;
CAPÍTULO VII II - em Jornada Completa de Trabalho Docente: Tabela II;
Da Vacância de Cargos e de Funções-atividades III - em Jornada Parcial de Trabalho Docente: Tabela III.
Artigo 31 - Os docentes, sujeitos a Jornada Parcial de
Trabalho Docente, poderão exercer o seu cargo em Jornada
Artigo 25 - A vacância de cargos e de funções-ativida-
Completa de Trabalho Docente ou em Jornada Integral de
des do Quadro do Magistério ocorrerá nas hipóteses previs-
Trabalho Docente, nas seguintes hipóteses:
tas, respectivamente, nos artigos 58 e 59 da Lei Complemen-
I - tratando-se de professor de componente curricular
tar nº 180, de 12 de maio de 1978.
que atua no ensino de 1º grau, de 5.ª a 8.ª série, e no ensino
Artigo 26 - Sem prejuízo do disposto no § 1º do artigo
de 2º grau quando o número de aulas de sua própria disci-
5º da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978,
plina, área de estudo ou atividade, ministradas na mesma
far-se-á  a dispensa do servidor:
ou em mais de uma unidade escolar, atingir, observada a
I - quando for provido o cargo correspondente e não
composição a que se refere o artigo 29, a carga horária cor-
houver possibilidade de designação do servidor para outro
respondente àquelas jornadas de trabalho;
posto de trabalho de natureza docente;
II - tratando-se de Professor I que atua na pré-escola, no
II - quando da reassunção do titular do cargo.
ensino de 1º grau, da série inicial até a 4.ª série, e de Profes-
sor III que atua na educação especial:
CAPÍTULO VIII a) quando houver possibilidade de regência de 2 (duas)
Das Jornadas de Trabalho classes, seja na mesma, seja em unidades escolares distintas;
b) quando houver conveniência e condições para am-
SEÇÃO I pliação do período de permanência dos alunos na unidade
Das Jornadas Integral, Completa e Parcial de Trabalho escolar, tendo em vista projetos educacionais específicos da
Docente Secretaria da Educação;
c) quando for necessário o desempenho de atribuições
Artigo 27 - Os ocupantes de cargo docente, para de- de caráter permanente, diretamente relacionadas com o
sempenhar as atividades previstas no artigo 2º desta lei processo educativo, e em outras situações que tornem in-
complementar, ficam sujeitos às jornadas de trabalho, a sa- dispensável a ampliação da jornada de trabalho.
ber: § 1º - O Professor III de Educação Especial poderá am-
I - Jornada Integral de Trabalho Docente; pliar sua Jornada de Trabalho Docente, mediante a atribui-
II - Jornada Completa de Trabalho Docente; ção de outra classe de educação especial.
III - Jornada Parcial de Trabalho Docente. § 2º - A aplicação do disposto neste artigo far-se-á de
Parágrafo único - Ao docente ocupante de função-a- acordo com critérios específicos a serem fixados em regu-
tividade aplicar-se-á a jornada de trabalho docente prevista lamento.
no inciso III, deste artigo. § 3º - O disposto neste artigo aplica-se nas mesmas ba-
Artigo 28 - As jornadas de trabalho, a que se refere o ses e condições ao docente que desempenha suas ativida-
artigo anterior, terão a seguinte duração semanal: des na zona rural.
I - Jornada Integral de Trabalho Docente: 40 horas; Artigo 32 - O funcionário que, acumulando dois car-
II - Jornada Completa de Trabalho Docente: 30 horas; gos docentes do Quadro do Magistério, por um deles vier a
III - Jornada Parcial de Trabalho Docente: 20 horas. ser incluído em Jornada Integral de Trabalho Docente ou em
Artigo 29 - A jornada semanal de trabalho do pessoal Jornada Completa de Trabalho Docente, deverá optar por
docente é constituída de horas-aula e horas-atividade. qualquer daqueles cargos, exonerando-se do outro.
§ 1º - O tempo destinado a horas-atividade correspon- § 1º - Para enquadramento do cargo pelo qual tiver op-
derá, no mínimo, a 20% (vinte por cento) e, no máximo, a tado o funcionário, prevalecerá o mais elevado dos padrões
33% (trinta e três por cento) da jornada semanal de trabalho em que se encontrarem enquadrados ambos os cargos.
docente, na forma a ser regulamentada. § 2º - Vetado.
1. (vetado) 20% (vinte por cento) de horas-atividade es- Artigo 33 - Ocorrendo redução da carga horária de
tabelecido neste parágrafo é um tempo remunerado de que determinada disciplinada, área de estudo ou atividade, em
disporá o docente, em horário e local de sua livre escolha. uma unidade escolar, em virtude de alteração da organi-
(vetado). zação curricular ou de diminuição do número de classes, o
2. Vetado. docente ocupante de cargo ou de função-atividade deverá
§ 2º - Das frações que resultarem dos cálculos neces- completar, na mesma ou em outras unidades escolares do
sários à obtenção do número de horas-atividade, arredon- Município, a jornada a que estiver sujeito, mediante exercí-
cio da docência da disciplina, área de estudo ou atividade

36
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

que lhe é própria ou, ainda, de disciplinas afins para as quais 1. 1/60 (um sessenta avos) do valor do padrão fixado na
estiver legalmente habilitado, observadas as seguintes re- Tabela I da Escala de Vencimentos 5, instituída pelo artigo
gras de preferência: 1º da Lei Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981, para
I - quanto à unidade escolar, em primeiro lugar aquela cada mês em que, no período mencionado neste parágrafo,
em que se encontre; esteve sujeito à Jornada Integral de Trabalho Docente;
II - quanto à disciplina, em primeiro lugar a que lhe é 2. 1/60 (um sessenta avos) do valor do padrão fixado na
própria. Tabela II da Escala de Vencimentos 5, instituída pelo artigo
§ 1º - Verificada a impossibilidade de se completar a jor- 1º da Lei Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981, para
nada nos termos deste artigo, o docente ministrará aulas de cada mês em que, no período mencionado neste parágrafo,
outras disciplinas para as quais estiver habilitado. esteve sujeito à Jornada Completa de Trabalho Docente;
§ 2º - O docente que se encontrar em Jornada Integral 3. 1/60 (um sessenta avos) do valor fixado na Tabela III
de Trabalho Docente ou em Jornada Completa de Trabalho da Escala de Vencimentos 5, instituída pelo artigo 1º da Lei
Docente poderá, em substituição ao cumprimento do dis- Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981, para cada mês
posto no “caput” e no parágrafo anterior, pleitear sua in- em que, no período mencionado neste parágrafo, esteve su-
clusão: jeito à Jornada Parcial de Trabalho Docente.
1.  em Jornada Completa de Trabalho Docente ou em § 3º - Para os fins do parágrafo anterior, se o docente
Jornada Parcial de Trabalho Docente, se funcionário; tiver exercido, no período correspondente aos 60 (sessenta)
2. em carga reduzida de trabalho, referida no artigo 42, meses imediatamente anteriores à aposentadoria, cargo ou
se servidor incluído em Jornada Parcial de Trabalho Docente. função-atividade de especialista de educação ou cargo ou
Artigo 34 - O docente incluído em qualquer das Jor- função-atividade ao qual tenha sido aplicada a Tabela I, II
nadas de Trabalho, previstas nos incisos I e II do artigo 27, das Escalas de Vencimentos 1, 2, 3 e 4  e as Tabelas I, II ou
anualmente, no momento da inscrição para atribuição de III das Escalas de Vencimentos 6 ou 7, instituídas pelo artigo
classes e/ou aulas, poderá optar pela ampliação ou redução 1º da lei Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981, com-
de sua Jornada de Trabalho Docente. putar-se-á:
Artigo 35 - Nos casos de remoção de que trata o artigo 1.  como se em Jornada Integral de Trabalho Docente
24 desta lei complementar, o docente, titular de cargo, po- fosse, o tempo em que, no período, esteve no exercício de
derá remover-se: cargo ou função-atividade em Jornada Completa de Traba-
I - pela Jornada de Trabalho Docente na qual estiver In- lho, ao qual tenha sido aplicada a Tabela I;
cluído; 2. como se em Jornada Completa de Trabalho Docente
II - por outra Jornada de Trabalho Docente (vetado) de fosse, o tempo em que, no período, esteve no exercício de
menor duração. cargo ou função-atividade em Jornada Comum de Trabalho,
ao qual tenha sido aplicada a Tabela II;
SEÇÃO II 3.  como se em Jornada Parcial de Trabalho Docente
Da Incorporação da Jornada de Trabalho Docente, fosse, o tempo em que, no período, esteve no exercício de
para fins de Aposentadoria cargo ou função-atividade em jornada inferior a 30 (trinta)
horas semanais de trabalho, ao qual tenha sido aplicada a
Tabela III.
Artigo 36 - O docente, titular de cargo, em Jornada
§ 4º - Aplicam-se as disposições deste artigo, no que
Integral de Trabalho Docente ou em Jornada Completa de
couber, ao docente ocupante de função-atividade em Jor-
Trabalho Docente ao passar à inatividade, terá seus pro-
nada Parcial de Trabalho Docente.
ventos calculados com base nos valores dos padrões de
Artigo 37 - É assegurado ao docente, titular de car-
vencimentos constantes da Tabela I ou II, conforme o caso,
go, incluído em Jornada Integral de Trabalho Docente ou
da Escala de Vencimentos 5, instituída pelo artigo 1º da Lei
em Jornada Completa de Trabalho Docente, e ao docente,
Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981, se, na data da
ocupante de função-atividade, incluído em Jornada Parcial
aposentadoria, houver prestado serviço contínuo, conforme
de Trabalho Docente, o direito de, por ocasião da aposen-
a respectiva jornada, pelo menos nos 60 (sessenta) meses
tadoria e em substituição à aplicação do disposto no artigo
imediatamente anteriores à referida data.
anterior, optar pela incorporação da jornada de trabalho nas
§ 1º - Na hipótese de aposentadoria por invalidez, qual-
seguintes condições:
quer que seja o tempo de serviço, será com vencimentos
I - quando o docente, titular de cargo, em Jornada In-
integrais;
tegral ou Completa de Trabalho Docente, ou o docente,
§ 2º - O docente, titular de cargo, que vier a se aposen-
ocupante de função-atividade, incluído em Jornada Parcial
tar voluntariamente ou por implemento de idade, sem que
de Trabalho Docente, prestará, serviços contínuos sujeitos à
haja completado 60 (sessenta) meses de Jornada Integral de
mesma jornada de trabalho, durante quaisquer 84 (oitenta
Trabalho Docente ou de Jornada Completa de Trabalho Do-
e quatro) meses ininterruptos, terão seus proventos calcu-
cente, terá seus proventos calculados em razão da Jornada
lados com base nos valores dos padrões de vencimentos
de Trabalho a que esteve sujeito no período correspondente
constantes da Tabela I, II ou III, conforme o caso, da Escala
aos 60 (sessenta) meses imediatamente anteriores à aposen-
de Vencimentos 5, instituída pelo artigo 1º da Lei Comple-
tadoria, na seguinte conformidade:
mentar nº 247, de 6 de abril de 1981,

37
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

II - quando o docente, titular de cargo, em Jornada Inte- Artigo 39 - É assegurado ao especialista de educação
gral ou Completa de Trabalho Docente, ou o docente, ocu- o direito de optar, por ocasião da aposentadoria, a pedido,
pante de função-atividade em Jornada Parcial de Trabalho ou por implemento de idade, em substituição à aplicação
Docente, prestaram serviços sujeitos à mesma jornada de do disposto no artigo anterior, por uma das seguintes hi-
trabalho docente, durante quaisquer 120 (cento e vinte) me- póteses:
ses intercalados e de sua opção, terão seus proventos cal- I - quando o especialista de educação prestou serviços
culados com base nos valores dos padrões de vencimentos sujeito à mesma Jornada de Trabalho ou à Jornada Integral
constantes da Tabela I, II ou III, conforme o caso, da Escala de de Trabalho Docente, durante quaisquer 84 (oitenta e qua-
Vencimentos 5, instituída pelo artigo 1º da Lei Complemen- tro) meses ininterruptos, em cargo ao qual tenha sido apli-
tar nº 247, de 6 de abril de 1981. cada a Tabela I da Escala de Vencimentos 5, instituída pelo
Parágrafo único - Para os fins do disposto nos incisos artigo 1º da Lei Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981,
I e II deste artigo, se o docente tiver exercido, no período terá seus proventos calculados de acordo com a Tabela da
correspondente aos 84 (oitenta e quatro) meses ininterrup- mesma Escala de Vencimentos;
tos ou, 120 (cento e vinte) meses intercalados, conforme o II - quando o especialista de educação prestou serviços
caso, cargo ou função-atividade ao qual tenha sido aplicada sujeito à mesma Jornada de Trabalho ou à Jornada Integral
a Tabela I, II ou III das Escalas de Vencimentos 1, 2, 3, 4, 6 ou de Trabalho Docente, durante quaisquer 120 (cento e vinte)
7, instituídas pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 247, de meses intercalados e de sua opção, terá seus proventos cal-
6 de abril de 1981, computar-se-á: culados com base nos valores dos padrões de vencimentos,
1.  como se em Jornada Integral de Trabalho Docente constantes da Tabela I da Escala de Vencimentos 5, instituída
fosse, o tempo em que, no período, esteve no exercício de pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 247, de 6 de abril de
cargo ou função-atividade em Jornada Completa de Traba- 1981.
lho ao qual tenha sido aplicada a Tabela I; Parágrafo único - Na hipótese de aposentadoria por
2. como se em Jornada Completa de Trabalho Docente invalidez, qualquer que seja o tempo de serviço, será com
fosse o tempo em que, no período, esteve no exercício de vencimentos integrais.
cargo ou função-atividade em Jornada Comum de Trabalho,
ao qual tenha sido aplicada a Tabela II; SEÇÃO IV
3. como se em Jornada Parcial de Trabalho Docente fos- Da Carga Suplementar de Trabalho e da Carga
se o tempo em que, no período, esteve no exercício de cargo Reduzida de Trabalho
ou função-atividade em jornada inferior a 30 (trinta) horas
semanais de trabalho, ao qual tenha sido aplicada a Tabela
Artigo 40 - Os docentes, sujeitos às jornadas de traba-
III.
lho previstas no artigo 27, poderão exercer carga suplemen-
tar de trabalho.
SEÇÃO III Artigo 41 - Entende-se por carga suplementar de traba-
Da Jornada de Trabalho do Especialista de Educação e lho o número de horas prestadas pelo docente, além daque-
a Incorporação para fins de Aposentadoria las fixadas para a jornada de trabalho a que estiver sujeito.
§ 1º - As horas prestadas a título de carga suplementar,
Artigo 38 - Os cargos de especialista de educação se- são constituídas de horas-aula e horas-atividades;
rão exercidos em Jornada Completa de Trabalho, prevista no § 2º - O número de horas semanais correspondentes à
inciso I do artigo 70 da Lei Complementar nº 180, de 12 de carga suplementar de trabalho não excederá à diferença en-
maio de 1978. tre 45 (quarenta e cinco) e o número de horas previstos para
Parágrafo único - para os fins do artigo 78 da Lei Com- a jornada de trabalho a que estiver sujeito o docente, exceto
plementar nº 180, de 12 de maio de 1978, alterado pelo ar- nos casos de docentes que atuam em escolas localizadas em
tigo 4º da Lei Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981, zonas rurais, cujo número poderá chegar a 50 (cinquenta) na
se o especialista de educação tiver exercido, no período cor- forma que dispuser o regulamento.
respondente aos 60 (sessenta) meses imediatamente ante- Artigo 42 - Nos casos em que o conjunto de horas-aula
riores à aposentadoria, cargo ou função-atividade docente e de horas-atividade, cumpridas pelo servidor admitido nos
do Quadro do Magistério, computar-se-á: termos do § 1º do artigo 17 desta lei complementar, for in-
1. como se em Jornada Completa de Trabalho fosse, o ferior ao fixado para a Jornada Parcial de Trabalho Docente,
tempo em que, no período, como docente, esteve em Jor- configurar-se-á carga reduzida de trabalho.
nada Integral de Trabalho Docente; ou em Jornada Parcial Artigo 43 - O tempo destinado a horas-atividade para a
de Trabalho Docente e mais 20 (vinte) horas-aula de carga carga suplementar ou reduzida de trabalho corresponderá,
suplementar de trabalho docente; ou em Jornada Completa no mínimo, a 20% (vinte por cento) e, no máximo, 33% (trin-
de Trabalho Docente e mais 10 (dez) horas-aula de carga ta e três por cento) do número de aulas semanais, prestadas
suplementar de trabalho docente. a esse título, na forma que for estabelecida em regulamento.
2.  como se em Jornada Comum de Trabalho, fosse, o Parágrafo único - Para o cálculo de que trata este arti-
tempo em que, no período, como docente, esteve em Jor- go, observar-se-á o disposto no artigo 29 desta lei comple-
nada Completa de Trabalho Docente e/ou Jornada Parcial de mentar.
Trabalho Docente.

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO V b)  diplomas de Mestre e Doutor, correspondentes ao


Da Hora-Atividade campo de atuação relativo às aulas e/ou classes a serem atri-
buídas.
Artigo 44 - A hora-atividade é um tempo remunerado § 1º - A primeira fase de atribuição, para os inscritos em
de que disporá o docente, prioritariamente, para participar cada faixa, dar-se-á na unidade escolar em que estão classi-
de reuniões pedagógicas e, ainda, para a preparação de au- ficados os cargos ou as funções-atividades.
las, correção de trabalhos e provas, pesquisa, atendimento a § 2º - Na segunda fase de atribuição, correspondente a
pais e alunos (vetado). cada faixa, a ser realizada a nível de município ou de Delega-
cia de Ensino, concorrerão os docentes que já participaram
da primeira fase, observado o disposto nos incisos I, II, III e
CAPÍTULO IX
IV deste artigo.
Da Classificação para Atribuição de Classes e/ou Aulas
§ 3º - Somente após esgotada a possibilidade de atri-
buição das aulas para as quais estiver prioritariamente clas-
Artigo 45 - Para fins de atribuição de classes ou aulas, sificado, poderá o docente pleitear aulas de outros compo-
os docentes do mesmo campo de atuação das classes ou nentes curriculares, observada sempre a habilitação exigida.
das aulas a serem atribuídas serão classificados, observada a § 4º - A Secretaria de Estado da Educação expedirá nor-
seguinte ordem de preferência: mas complementares necessárias ao cumprimento deste
I - quanto à situação funcional: artigo, estabelecendo, inclusive, as ponderações quanto ao
Faixa I: tempo de serviço e valores dos títulos.
a) os titulares de cargos, providos mediante concurso de
provas e títulos, correspondentes aos componentes curricu-
CAPÍTULO X
lares das aulas ou classes serem atribuídas;
Da Aplicação do Sistema de Pontos
b) os titulares de cargos destinados, na forma da legis-
lação específica, correspondentes aos componentes curri-
culares das aulas a serem atribuídas, desde que os cargos SEÇÃO I
das disciplinas suprimidas tenham sido providos mediante Da Promoção
concurso de provas e títulos;
c)  os demais titulares de cargos correspondentes aos Artigo 46 - Para fins desta lei complementar, a promo-
componentes curriculares das aulas ou classes a serem atri- ção consiste na passagem do funcionário ou servidor de um
buídas. grau para outro na mesma referência, quando efetuada por
Faixa 2 ( Vetado) antiguidade, e, na elevação de uma referência numérica,
a) vetado; quando efetuada por merecimento.
b) vetado. Artigo 47 - A promoção por antiguidade ocorrerá na
Faixa 3: seguinte conformidade:
Os servidores a que se refere o artigo 205 da Lei Com- I - 10 (dez) anos de serviço público estadual: Grau B;
plementar nº 180, de 12 de maio de 1978, ocupantes de II - 15 (quinze) anos de serviço público estadual: Grau C;
função-atividade, correspondente ao componente curricular III - 20 (vinte) anos de serviço público estadual: Grau D;
das aulas ou classes a serem atribuídas, em conformidade IV - 25 (vinte e cinco) anos de serviço público estadual:
com critérios a serem fixados em regulamento. Grau E.
II - quanto à habilitação: § 1º - Os critérios de contagem de tempo, para fins de
a) a específica do cargo ou função-atividade; obtenção dos benefícios previstos no “caput” serão idên-
b) a não específica. ticos àqueles utilizados para a concessão do adicional por
III - quanto ao tempo de serviço: tempo de serviço.
a) os que contarem maior tempo de serviço na unidade § 2º - A promoção, de que trata o “caput”, produzirá
escolar como docentes no campo de atuação referente a au- efeitos a partir de 1º de julho, considerado o período aquisi-
las e/ou classes a serem atribuídas; tório até 30 de junho.
b) os que contarem maior tempo de serviço no cargo ou Artigo 48 - A promoção por merecimento será feita
função-atividade com docentes no campo de atuação refe- mediante a apuração da assiduidade, na seguinte confor-
rente a aulas e/ou classes a serem atribuídas; midade:
c) os que contarem maior tempo de serviço no Magis- I - de 0 (zero) a 4 (quatro) ausências que não sejam con-
tério Público Oficial de 1º e/ou 2º Graus da Secretaria de sideradas como de efetivo exercício: 1,0 (um) ponto por ano;
Estado da Educação de São Paulo, em função docente, no II - de 5 (cinco) a 10 (dez) ausências que não sejam con-
campo de atuação referente às aulas e/ou classes a serem sideradas como de efetivo exercício: 0,5 (meio) ponto por
atribuídas. ano.
IV - quanto aos títulos: § 1º - Para fins de apuração da frequência, nos termos
a)  certificado de aprovação em concurso público de do “caput”, deve ser considerado como ano o período de 1º
provas e títulos, específico dos componentes curriculares de janeiro a 31 de dezembro.
correspondentes às aulas e/ou classes a serem atribuídas;

39
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 2º - Para fins de apuração da frequência, excluem-se vidos, a partir de 1986, pelos órgãos que compõem a es-
os afastamentos relacionados nos artigos 78 e 79  da Lei nº trutura básica da Secretaria de Estado da Educação ou, por
10.261, de 28 de outubro de 1968. entidade  de reconhecida idoneidade e capacidade com ela
§ 3º - Feita a apuração da frequência, os pontos atri- conveniadas.
buídos serão consignados sob a denominação de “pontos § 6º - Feita a apuração dos títulos, os pontos atribuídos
assiduidade”. serão consignados sob a denominação de “pontos-progres-
§ 4º - A cada 5 (cinco) pontos-assiduidade atribuídos, são”.
deverá ocorrer o enquadramento do funcionário ou do ser- § 7º - A cada 5 (cinco) pontos-progressão atribuídos,
vidor na referência numérica imediatamente superior àquela nos termos do disposto nos incisos I e II, deverá ocorrer o
em que os mesmos se encontrarem. enquadramento do funcionário ou do servidor na referência
§ 5º - Cessará a atribuição de pontos de que trata o numérica imediatamente superior àquela em que os mes-
“caput”, quando o integrante do Quadro do Magistério atin- mos se encontrarem.
gir a referência final da classe a que pertencer. § 8º - Na hipótese prevista no inciso III, respeitado o in-
terstício de 10 (dez) anos, a cada 5 (cinco) pontos - progres-
SEÇÃO II são atribuídos, deverá ocorrer o enquadramento do funcio-
Da Progressão Funcional nário ou do servidor na referência numérica imediatamente
superior àquela em que os mesmos se encontrarem.
§ 9º - Os cursos previstos no inciso II deste artigo de-
Artigo 49 - A progressão funcional é a passagem do
verão ser credenciados pelo Conselho Federal de Educação.
cargo ou da função-atividade a nível de retribuição mais
Artigo 50 - Cessarão os efeitos dos pontos atribuídos
elevado na classe a que pertence, em consequência da apre-
a título de progressão funcional, previstos nas alíneas a e
sentação, pelo funcionário ou pelo servidor, de documenta-
b do item 1 e no item 2, ambos do § 1º do artigo anterior,
ção relativa a:
conforme o caso, se o funcionário ou servidor, em virtude de
I - habilitação em cursos de licenciatura;
nomeação, admissão ou acesso, vierem a ocupar novo cargo
II - conclusão de curso de pós-graduação, a nível de
ou nova função-atividade do Quadro do Magistério.
mestrado ou de doutorado;
Artigo 51 - Suspender-se-ão os efeitos dos pontos atri-
III - conclusão de cursos de especialização, de aperfei-
buídos a título de progressão funcional previstos nos pará-
çoamento e de extensão cultural.
grafos 1º, 2º e 4º do artigo 49 desta lei complementar, se o
§ 1º - A atribuição de pontos, nos termos do inciso I,
funcionário ou servidor vierem a ocupar cargo ou a preen-
obedecerá aos seguintes critérios:
cher  função-atividade de outro Quadro da Secretaria de Es-
I - Professor I,
tado da Educação ou em Quadros de outras Secretarias de
a)  quando portador de habilitação específica de grau
Estado, bem como, nos casos de afastamento fora do âmbi-
superior correspondente à licenciatura de 1º grau: 10 (dez)
to da Secretaria de Estado da Educação, a atribuição prevista
pontos;
no inciso 3º do artigo 49 desta lei complementar.
b)  quando portador de habilitação específica de grau
Parágrafo único - O disposto no “caput” aplica-se, tam-
superior correspondente à licenciatura plena: 20 (vinte) pon-
bém, às hipóteses de que tratam o § 3º do artigo 7º e os
tos.
artigos 80 e 83, todos da Lei Complementar nº 180, de 12
II - Professor II,
de maio de 1978.
quando portador de licenciatura específica de grau su-
Artigo 52 - Para os efeitos do disposto no artigo 112
perior correspondente à licenciatura plena: 10 (dez) pontos.
da  Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978, re-
§ 2º - A atribuição de pontos, nos termos do inciso II,
lativamente ao docente ou especialista de educação que
obedecerá aos seguintes critérios:
tenham se beneficiado com a atribuição prevista no artigo
1 - ao integrante do Quadro do Magistério, quando por-
49 desta lei complementar, considerar-se-á deslocada a re-
tador de título de Mestre: 10 (dez) pontos;
ferência final da respectiva classe para tantas referências aci-
2 - ao integrante do Quadro do Magistério, quando
ma quanto for a parte inteira da divisão, por 5 (cinco), dos
portador de título de Doutor: 20 (vinte) pontos.
pontos atribuídos a título de progressão funcional.
§ 3º - Será vedada a atribuição cumulativa dos pontos a
que se referem as alíneas a e b do item I do § 1º, bem como,
a atribuição cumulativa de pontos a que se referem os itens SEÇÃO III
1 e 2 do § 2º. Do Adicional de Magistério
§ 4º - A atribuição de pontos, nos termos do inciso III,
obedecerá aos seguintes critérios: Artigo 53 - Para os funcionários e servidores do Qua-
1 - quando se tratar de curso de aperfeiçoamento e/ou dro do Magistério, fica instituído o adicional de Magistério,
especialização, com duração mínima de 180 (cento e oiten- em substituição à avaliação de desempenho de que trata o
ta) horas: 3 (três) pontos; capítulo IV do Título XI da Lei Complementar nº 180, de 12
2 - quando se tratar de cursos de extensão cultural, com de maio de 1978.
duração mínima de 30 (trinta) horas: 0,5 (meio) ponto. Artigo 54 - O adicional de Magistério consiste na atri-
§ 5º - Para fins de atribuição de pontos previstos no buição de 2,5 (dois e meio) pontos por ano de exercício em
parágrafo anterior, só serão considerados os cursos promo- atividade de Magistério, nos termos do disposto no artigo

40
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

2º desta lei complementar, a serem contados a partir da vi- IV - licenciados para tratamento de saúde por prazo su-
gência da mesma. perior a 6 (seis) meses, nas hipóteses previstas nos artigos
§ 1º -  Para efeito da atribuição de pontos de que trata 191 e 199 da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968 e nos
o “caput”, deve-se compreender como ano o período de 1º incisos I, II e III do artigo 25 da Lei nº 500, de 13 de novem-
de janeiro a 31 de dezembro. bro de 1974;
§ 2º -  No período a que se refere o parágrafo anterior, V - afastados junto aos órgãos que compõem a estru-
considerar-se-á tempo de exercício em atividades de Magis- tura básica da Secretaria de Estado da Educação, para o de-
tério, ainda que cumprido em diferentes cargos ou funções sempenho de atividades não correlatas às do Magistério;
do Quadro do Magistério. VI - afastados para frequentar cursos de pós-graduação,
§ 3º -  O disposto neste artigo aplicar-se-á ao funcio- aperfeiçoamento, especialização ou atualização, no País ou
nário ou servidor nomeados ou admitidos até 30 (trinta) de no exterior;
abril e ao funcionário afastado, que retorne ao exercício de VII - nomeados para ocupar cargo em comissão, exceto
seu cargo até aquela data. aqueles previstos no § 2º do artigo 55 desta lei complemen-
Artigo 55 - O titular de cargo do Quadro do Magisté- tar;
rio fará jus aos pontos de adicional de Magistério quando VIII - admitidos como estagiários ou para exercer, (veta-
afastado: do) funções com carga reduzida de trabalho.
I - para exercer atividades inerentes ou correlatas às de Artigo 57 - Os pontos atribuídos nos termos do dis-
Magistério em cargos ou funções previstas nas unidades e/ posto no artigo 54 desta lei complementar serão registrados
ou órgãos da Secretaria de Estado da Educação e no Conse- sob a denominação de “pontos de adicional de Magistério”.
lho Estadual de Educação; § 1º - A cada 5 (cinco) pontos de adicional de Magistério
II - para exercer a docência em outras modalidades de atribuídos, deverá ocorrer o enquadramento do funcionário
ensino de 1º e 2º graus, por tempo determinado a ser fixado ou do servidor na referência numérica imediatamente supe-
em regulamento, com ou sem prejuízo de vencimentos; rior àquela em que os mesmos se encontrarem.
III - junto à Prefeitura de Município do Estado de São § 2º -  Cessará a atribuição dos pontos a título de adicio-
Paulo, na qual o cônjuge estiver no exercício do cargo de nal de Magistério, quando o funcionário ou o servidor atin-
Prefeito, enquanto durar o mandato; girem a referência final da classe a que pertencerem.
IV - junto a entidades conveniadas com a Secretaria de
Estado da Educação, para, sem prejuízo de vencimentos e SEÇÃO IV
das demais vantagens do cargo, exercer atividades inerentes Nas Formas de Provimento de Cargo ou de
às do Magistério; Preenchimento de Função-Atividade
V - para o exercício de mandato eletivo federal, estadual
ou municipal;
Artigo 58 - Para fins de enquadramento do cargo ou
VI - para o exercício de mandato como dirigente de en-
função-atividade do funcionário ou do servidor do Quadro
tidades de classes;
do Magistério que venham a ocupar novo cargo ou função-
VII - para exercer funções de natureza docente ou cor-
-atividade do mesmo Quadro, proceder-se-á à apuração do
relatas junto aos presidiários vinculados à Secretaria de Es-
número de pontos consignados em seu prontuário, até a
tado da Justiça.
data do exercício do novo cargo ou função-atividade, em
§ 1º -  O disposto no “caput” aplicar-se-á, também, aos
decorrência de:
servidores, nas hipóteses previstas nos incisos V e VI deste
I - adicional por tempo de serviço;
artigo.
II - aplicação do artigo 24 ou 25 das Disposições Transi-
§ 2º -  O disposto no “caput” aplicar-se-á, ainda, aos
tórias da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978;
titulares de cargo do Quadro do Magistério, nomeados em
III - promoção por merecimento: pontos-assiduidade,
comissão ou designados mediante “pro-labore”, para exer-
na forma do § 4º do artigo 48 desta lei complementar;
cer cargo ou função diretiva dos órgãos centrais e regionais
IV - progressão funcional, na forma do § 7º e 8º do ar-
da Secretaria de Estado da Educação e do Conselho Estadual
tigo 49 desta lei complementar, ressalvado o disposto no
de Educação, bem como nomeados em comissão para car-
artigo 50 desta lei complementar;
gos de Assessor Técnico, de Assistente Técnico de Gabinete
V - adicional de Magistério, na forma do parágrafo 1º do
e de Assistente Técnico de Direção I, II ou III da Secretaria de
artigo 57 desta lei complementar.
Estado da Educação.
§ 1º -  Os pontos a que se refere o inciso III serão com-
Artigo 56 - O funcionário ou o servidor do Quadro do
putados somente quando totalizarem 5 (cinco) ou múltiplo
Magistério não farão jus aos pontos de adicional de Magis-
de 5 (cinco)
tério quando:
§ 2º -  O disposto no parágrafo anterior aplica-se, tam-
I - afastados para prestar serviços junto a empresas, fun-
bém, aos pontos de que tratam o inciso IV e o inciso V.
dações e autarquias bem como junto a órgãos da União, de
§ 3º - O novo cargo ou função-atividade será enquadra-
outros Estados e de Municípios;
do em referência numérica situada tantas referências acima
II - afastados para prestar serviços junto a órgãos de
da inicial da respectiva classe quanto for a parte inteira da
outros poderes do Estado;
divisão, por 5 (cinco), do total de pontos apurados na forma
III - afastados para prestar serviços junto a outras Secre-
dos incisos I a V e dos parágrafos anteriores.
tarias de Estado;

41
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 4º -  Aplicadas as disposições dos parágrafos 1º e 2º, VII - receber auxílio para a publicação de trabalhos e
os pontos excedentes a 5 (cinco) ou a múltiplo de 5 (cinco) livros didáticos ou técnico-científicos, quando solicitado e
produzirão efeitos em relação ao novo cargo ou função-a- aprovado pela Administração;
tividade. VIII - ter assegurada a igualdade de tratamento no pla-
Artigo 59 - Os pontos decorrentes de progressão fun- no técnico-pedagógico, independentemente do regime ju-
cional e de adicional de Magistério não serão considerados rídico a que estiver sujeito;
para efeito de enquadramento, quando o funcionário ou o IX - receber, através dos serviços especializados de edu-
servidor do Quadro do Magistério forem prover cargo ou cação, assistência ao exercício profissional;
forem admitidos para função-atividade não pertencentes ao X - participar, como integrante do Conselho de Escola,
Quadro do Magistério. dos estudos e deliberações que afetam o processo educa-
Parágrafo único - Os pontos decorrentes de adicional cional;
de Magistério, de que trata o “caput”, serão computados nas XI - participar do processo de planejamento, execução e
seguintes hipóteses: avaliação das atividades escolares;
1.  provimento de cargo em comissão ou designação XII - reunir-se na unidade escolar, para tratar de assun-
para o exercício de função retribuída  mediante “pro-labo- tos de interesse da categoria e da educação em geral, sem
re”, de que trata o artigo 28 da Lei nº 10.168, de 10 de julho prejuízo das atividades escolares.
de 1968, de natureza diretiva dos órgãos centrais e regionais XIII - Vetado.
da Secretaria de Estado da Educação e do Conselho Estadual Artigo 62 - Os docentes em exercício nas unidades es-
de Educação; colares gozarão férias de acordo com o Calendário Escolar.
2. provimento de cargo em comissão de Assessor Técni- Parágrafo único - Aplicar-se-ão as disposições do
co, de Assistente Técnico de Gabinete e de Assistente Técni- “caput” ao docente readaptado com exercício nas unidades
co de Direção I, II ou III da Secretaria de Estado da Educação. escolares.
Artigo 60 - Nos casos de substituição, de que tratam os
artigos 80 a 83 da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio SEÇÃO II
de 1978, e nos casos de retribuição mediante “pro-labore”, Dos Deveres
de que trata o artigo 28 da Lei nº 10.168, de 10 de julho de
1968, aplicar-se-á o disposto nos artigos 58 e 59 desta lei
Artigo 63 - O integrante do Quadro do Magistério tem
complementar.
o dever constante de considerar a relevância social de suas
atribuições mantendo conduta moral e funcional adequada
CAPÍTULO XI à dignidade profissional, em razão da qual, além das obriga-
Dos Direitos e dos Deveres ções previstas em outras normas, deverá:
I - conhecer e respeitar as leis;
SEÇÃO I II - preservar os princípios, os ideais e fins da Educação
Dos Direitos Brasileira, através de seu desempenho profissional;
III - empenhar-se em prol do desenvolvimento do alu-
Artigo 61 - Além dos previstos em outras normas, são no, utilizando processos que acompanhem o progresso
direitos do integrante do Quadro do Magistério: científico da educação
I - ter a seu alcance informações educacionais, biblio- IV - participar das atividades educacionais que lhe fo-
grafia, material didático e outros instrumentos bem como rem atribuídas por força de suas funções;
contar com assistência técnica que auxilie e estimule a me- V - comparecer ao local de trabalho com assiduidade e
lhoria de seu desempenho profissional e a ampliação de pontualidade, executando suas tarefas com eficiência, zelo
seus conhecimentos; e presteza;
II - ter assegurada a oportunidade de frequentar cursos VI - manter espírito de cooperação e solidariedade com
de formação, atualização e especialização profissional; a equipe escolar e a comunidade em geral;
III - dispor, no ambiente de trabalho, de instalações e VII - incentivar a participação, o diálogo e a cooperação
material técnico-pedagógico suficientes e adequados para entre educandos, demais educadores e a comunidade em
que possa exercer com eficiência e eficácia suas funções; geral, visando à construção de uma sociedade democrática;
IV - ter liberdade de escolha e de utilização de materiais, VIII - assegurar o desenvolvimento do senso crítico e da
de procedimentos didáticos e de instrumento de avaliação consciência política do educando;
do processo ensino-aprendizagem, dentro dos princípios IX - respeitar o aluno como sujeito do processo edu-
psico-pedagógicos, objetivando alicerçar o respeito à pes- cativo e comprometer-se com eficácia de seu aprendizado;
soa humana e, a construção do bem comum; X - comunicar à autoridade imediata as irregularidades
V - receber remuneração de acordo com a classe, nível de que tiver conhecimento, na sua área de atuação, ou, às
de habilitação, tempo de serviço e regime de trabalho, con- autoridades superiores, no caso de omissão por parte da
forme o estabelecido por esta lei. primeira;
VI - receber remuneração por serviço extraordinário, XI - zelar pela defesa  dos direitos profissionais e pela
desde que devidamente convocado para tal fim, indepen- reputação da categoria profissional;
dentemente da classe a que pertencer;

42
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

XII - fornecer elementos para a permanente atualização classificado em área de jurisdição de qualquer Delegacia de
de seus assentamentos, junto aos órgãos da Administração; Ensino.
XIII - considerar os princípios psico-pedagógicos, a rea- § 1º -  Os afastamentos referidos no inciso II serão con-
lidade sócio-econômica da clientela escolar e as diretrizes cedidos sem prejuízo de vencimentos e das demais vanta-
da Política Educacional da escolha e utilização de materiais, gens do cargo, devendo o especialista ou docente cumprir
procedimentos didáticos e instrumentos de avaliação do regime de trabalho semanal de 40 (quarenta) horas.
processo ensino-aprendizagem; § 2º - Consideram-se atribuições inerentes às do Magis-
XIV - participar do Conselho de Escola; tério aquelas que são próprias do cargo e da função-ativida-
XV - participar do processo de planejamento, execução de do Quadro do Magistério.
e avaliação das atividades escolares; § 3º -  Consideram-se atividades correlatas às de Ma-
Parágrafo único - Constitui falta grave do integrante gistério aquelas relacionadas com a docência em outras
do Quadro do Magistério impedir que o aluno participe das modalidades de ensino, bem como as de natureza técnica,
atividades escolares em razão de qualquer carência material. relativas ao desenvolvimento de estudos, planejamento,
pesquisas, supervisão e orientação em currículos, adminis-
CAPÍTULO XII tração escolar, orientação educacional, capacitação de do-
Dos Afastamentos centes, especialistas de educação, direção, assessoramento
e assistência técnica, exercidas em unidades e/ou órgãos da
Secretaria de Estado da Educação e do Conselho Estadual
Artigo 64 - O docente e/ou especialista de educação
de Educação.
poderão ser afastados do exercício de seu cargo, respeita-
Artigo 65 - Ao titular de cargo do Quadro do Magis-
do o interesse da Administração Estadual, para os seguintes
tério, quando o cônjuge estiver no exercício de cargo de
fins:
Prefeito de Município do Estado de São Paulo, poderá ser
I - prover cargo em comissão;
concedido afastamento, sem prejuízo de vencimentos e das
II - exercer atividades inerentes ou correlatas às de Ma-
demais vantagens do cargo, junto à Prefeitura respectiva,
gistério, em cargos ou funções previstos nas unidades e/ou
enquanto durar o mandato.
órgãos da Secretaria de Estado da Educação e no Conselho
Artigo 66 - Aplicar-se-ão ao pessoal do Quadro do
Estadual de Educação;
Magistério, no que couber, as disposições relativas a outros
III - exercer a docência em outras modalidades de ensi-
afastamentos previstos na legislação respectiva.
no de 1º e 2º graus, por tempo determinado, a ser fixado em
regulamento, com ou sem prejuízo de vencimentos e das
demais vantagens do cargo; CAPÍTULO XIII
IV - exercer, por tempo determinado, atividade em ór- Do Sistema Retribuitório
gãos ou entidades da União, de outros Estados, de Municí-
pios, em outras Secretarias de Estado de São Paulo, em Au- SEÇÃO I
tarquias, e em outros Poderes Públicos, com ou sem prejuízo Do Enquadramento das Classes
de vencimentos e das demais vantagens do cargo, mediante
sua anuência, não podendo ultrapassar o limite de um fun- Artigo 67 - O Enquadramento das Classes do Quadro
cionário para cada Estado da União e para cada Município do Magistério, constante do Anexo de Enquadramento das
do Estado de São Paulo; Classes - Escala de Vencimentos 5, a que se refere o artigo 3º
V - exercer, junto a entidades conveniadas com a Secre- da Lei Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981, mantidas
taria de Estado da Educação, sem prejuízo de vencimentos e a denominação, a tabela e a amplitude, fica com as referên-
das demais vantagens do cargo, atividades inerentes às do cias iniciais e finais fixadas em conformidade com os Anexos
Magistério; II e III que fazem parte integrante desta lei complementar:
VI - frequentar curso de pós-graduação, de aperfeiçoa- I - Anexo II, a partir de 1º de janeiro de 1986;
mento, especialização ou de atualização, no país ou no ex- II - Anexo III, a partir de 1º de janeiro de 1987;
terior, com ou sem prejuízo de vencimentos mas sem o das Artigo 68 - A Escala de Vencimentos 5, a que alude o
demais vantagens do cargo; item 5 do § 1º do artigo 1º da Lei Complementar nº 247, de
VII - desenvolver atividades junto às Entidades de Classe 6 de abril de 1981, passa a ser constituída de:
do Magistério Oficial de 1º e 2º graus do Estado de São Pau- I - 49 (quarenta e nove) referências, a partir de 1º de
lo, até o limite máximo de 10 (dez) dirigentes por Entidade, janeiro de 1986;
na forma a ser regulamentada; II - 52 (cinquenta e duas) referências, a partir de 1º de
VIII - exercer, por tempo determinado, a atividade do- janeiro de 1987.
cente ou correlata às de Magistério, no Sistema Carcerário Parágrafo único - O Poder Executivo baixará, por De-
do Estado, subordinado a Secretaria de Estado da Justiça, creto, os valores que resultarem da aplicação do disposto
sem prejuízo de vencimentos e das demais vantagens do neste artigo.
cargo.
IX - exercer cargo ou substituir ocupante de cargo,
quando este estiver afastado, desde que de mesma classe,

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO II Artigo 73 - Para determinação do limite máximo de


Das Vantagens Pecuniárias pela Carga Suplementar de horas, prestadas a título de carga suplementar e suscetíveis
Trabalho Docente de incorporação, nos termos do artigo 71 desta lei comple-
mentar ou do artigo anterior, observar-se-ão as seguintes
SUBSEÇÃO I disposições:
Da Carga Suplementar de Trabalho Docente I - tomar-se-á, alternativamente:
a) o valor do padrão do cargo ou da função-atividade,
Artigo 69 - A retribuição pecuniária por hora prestada na data da aposentadoria, se o funcionário ou o servidor ti-
a título de carga suplementar de trabalho de que trata o ar- verem estado sujeitos à mesma jornada de trabalho, duran-
tigo 41 desta lei complementar corresponderá a 1% (um por te os 60 (sessenta) meses imediatamente anteriores àquele
cento) do valor fixado na Tabela III da Escala de Vencimentos evento;
5, instituída pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 247, de b) o valor do padrão do cargo ou da função-atividade,
6 de abril de 1981, para o padrão do cargo ou função-ati- na data da aposentadoria, apurado em conformidade com
vidade em que se encontrarem enquadrados o funcionário o disposto no § 2º do artigo 36, desta lei complementar, se
ou servidor. o funcionário ou o servidor tiverem estado sujeitos a mais
Parágrafo único - O docente, titular de cargo de Pro- de uma jornada de trabalho, durante os 60 (sessenta) meses
fessor I, que  vier a ministrar aulas nos termos do disposto imediatamente anteriores àquele evento;
no artigo 41, desta lei complementar terá a retribuição pe- II - dividir-se-á um dos valores a que alude o inciso an-
cuniária de que trata este artigo, calculada sobre o valor do terior, conforme o caso, pelo valor unitário da hora prestada
padrão inicial da classe de Professor II ou Professor III, con- a título de carga suplementar de trabalho, apurado na  for-
forme o caso, se o padrão em que se encontrar for inferior ma do artigo 69 desta lei complementar;
àquele. III - deduzir-se-á de 225 (duzentos e vinte e cinco) ou
Artigo 70 - Para efeito de cálculo de retribuição, corres- de até 250 (duzentos e cinquenta), se for o caso, o número
pondente à carga suplementar mensal do docente, o mês de horas que for determinado pela operação a que se refere
será considerado como tendo 5 (cinco) semanas. o inciso anterior;
Artigo 71 - Para todos os efeitos legais, será incorpora- IV - constituir-se-á em limite máximo de horas suscetí-
da aos vencimentos ou salários do docente, titular de cargo veis de incorporação, a título de carga suplementar de tra-
ou ocupante de função-atividade, por ocasião da aposen- balho, o número que resultar do cálculo previsto no inciso
tadoria, a quantidade de horas, prestadas a título de carga anterior.
suplementar de trabalho, que resultar da soma das que, no Artigo 74 - O professor efetivo, que, acumulando dois
término de cada ano, forem apuradas mediante aplicação da cargos docentes, exonerar-se de um deles, poderá para os
fração 1/30 (um trinta avos) sobre a média mensal das horas fins previstos nos artigos 71, 72 e 73, todos desta lei com-
efetivamente prestadas àquele título, do mesmo ano. plementar, manifestar opção no sentido de que sejam con-
§ 1º -  Far-se-ão, até  a casa dos centésimos, as apura- sideradas como carga suplementar de trabalho, relativa ao
ções anuais relativas à média mensal e à fração de 1/30 (um cargo no qual permanecer como titular, as horas-aula e ho-
trinta avos), devendo-se arredondar para um inteiro a fração ras-atividade prestadas no cargo do qual se tiver exonerado.
que se verificar na soma final; Artigo 75 - O valor da hora incorporada nos termos do
§ 2º -  Os órgãos de pessoal procederão, anualmente, ao artigo 71 e 72, ambos desta lei complementar, corresponde-
registro das apurações feitas na forma deste artigo. rá a 1% (um por cento) do valor fixado na Tabela III da Escala
Artigo 72 - É assegurado ao docente, titular de cargo de Vencimentos 5, instituída pelo artigo 1º da Lei Comple-
ou ocupante de função-atividade, o direito de, por ocasião mentar nº 247, de 6 de abril de 1981, para o padrão do cargo
da aposentadoria e em substituição à aplicação do disposto ou função-atividade em que se encontrar o funcionário ou
no artigo anterior, optar pela incorporação aos seus venci- servidor na data da aposentadoria.
mentos e salários da quantidade de horas prestadas a título
de carga suplementar de trabalho, correspondente à média SUBSEÇÃO II
mensal das horas efetivamente prestadas àquele título: Da Carga Reduzida de Trabalho
I - nos 60 (sessenta) meses anteriores àquele em que
houver sido protocolado o pedido de aposentadoria; Artigo 76 - A retribuição pecuniária por hora prestada
II - durante quaisquer 84 (oitenta e quatro) meses inin- a título de carga reduzida de trabalho, a que se refere o arti-
terruptos, anteriores àquele em que houver sido protocola- go 42 desta lei complementar, corresponderá a 1% (um por
do o pedido de aposentadoria; cento) do valor fixado na Tabela III da Escala de Vencimentos
III - em quaisquer 120 (cento e vinte) meses intercala- 5, instituída pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 247, de 6
dos, anteriores àquele em que houver sido protocolado o de abril de 1981, para o padrão inicial da classe do Professor
pedido de aposentadoria. I, II e III conforme a licenciatura curta ou plena.
§ 1º -  Nos casos de aposentadoria por implemento de Parágrafo único - Para o cálculo de que trata este arti-
idade, aplicar-se-ão os incisos I, II e III deste artigo. go, observar-se-á o disposto no artigo 70 desta lei comple-
§ 2º -  Será arredondada para um inteiro a fração que mentar.
resultar-se de cálculo previsto neste artigo.

44
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Artigo 77 - Na hipótese de o docente admitido para a título de carga suplementar de trabalho, nos períodos ali
ministrar aulas a título de carga reduzida de trabalho, nos previstos, em qualquer das Jornadas de Trabalho Docente.
termos do artigo 42 desta lei complementar, ter tido ante- Artigo 81 - Para cálculo dos proventos nas hipóteses
riormente, quando em Jornada Parcial de Trabalho Docente, previstas nos artigos 78 e 79, ambos desta lei complementar,
pontos atribuídos em decorrência de adicional por tempo de o valor de cada hora corresponderá a 1% (um por cento):
serviço, promoção por merecimento, progressão funcional I - do valor fixado na Tabela III da Escala de Vencimentos
e adicional de Magistério, a retribuição pecuniária por hora 5, instituída pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 247, de 6
prestada a título de carga reduzida de trabalho será apurada de abril de 1981, para o padrão inicial da classe de Professor
mediante observância dos seguintes procedimentos: II ou Professor III, conforme a licenciatura curta ou plena.
I - verificar-se-á o número de pontos consignados no II - do valor do padrão, determinado nos termos do arti-
respectivo prontuário, em decorrência de adicional por go 78 desta lei complementar, na hipótese ali prevista.
tempo de serviço, promoção por merecimento, progressão
funcional e adicional de Magistério, até a data da admissão SEÇÃO III
para ministrar aulas a título de carga reduzida de trabalho, Do Pagamento Proporcional de Férias
observado o disposto no § 1º e no § 2º do artigo 58 desta lei
complementar.
Artigo 82 - Na hipótese da dispensa prevista nos incisos
II - a retribuição pecuniária por hora prestada corres-
I e II do artigo 26 desta lei complementar, o docente, ocu-
ponderá a 1% (um por cento) do valor fixado na Tabela III da
pante de função-atividade, fará jus ao pagamento relativo
Escala de Vencimentos 5, para a referência numérica que se
ao período de férias, na base de 1/12 (um doze avos) do
situar tantas referências acima da inicial da classe de Profes-
valor percebido por mês de serviço prestado.
sor II ou III, conforme o caso, quanto for a parte inteira da
Parágrafo único -  A Secretaria da Educação baixará nor-
divisão, por 5 (cinco), do total de pontos apurados, na forma
mas regulamentares para a operacionalização deste artigo.
prevista no inciso anterior, respeitado o grau em que se en-
contrava o docente na situação anterior.
Artigo 78 - O docente que, ao se aposentar, estiver CAPÍTULO XIV
exercendo carga  reduzida  de trabalho, terá os proventos Da Gratificação pelo Trabalho Noturno
calculados com base na média mensal do número de horas
prestadas, a esse título, que resultar da soma das que, no Artigo 83 - Os funcionários e servidores, integrantes da
término de cada ano, forem apuradas mediante aplicação da série de classes de docentes e das classes de especialistas de
fração 1/30 (um trinta avos) sobre a média mensal das horas educação, do Quadro do Magistério, enquanto atuarem no
efetivamente prestadas àquele título, no mesmo ano. ensino de 1º e 2º graus das unidades escolares da Secretaria
Parágrafo único - Far-se-ão, até a casa dos centésimos, da Educação, no período noturno, farão jus à Gratificação
as apurações anuais relativas à média mensal e à fração 1/30 por Trabalho Noturno nesse período.
(um trinta avos), devendo arredondar-se para um inteiro a Artigo 84 - Para os efeitos desta lei complementar, con-
fração que se obtiver na soma final. siderar-se-á trabalho noturno aquele que for realizado no
Artigo 79 - É assegurado ao docente, de que trata o período das 19 (dezenove) horas às 23 (vinte e três) horas.
artigo anterior, o direito de, por ocasião da aposentadoria e Artigo 85 - A Gratificação por Trabalho Noturno cor-
em substituição à aplicação do disposto no mesmo artigo, responderá a 10% (dez por cento) do valor percebido em
optar pelo cálculo dos proventos, com base na média men- decorrência das horas-aula ministradas no período de tra-
sal das horas prestadas a título de carga reduzida, a saber: balho noturno.
I - nos 60 (sessenta) meses anteriores àquele em que § 1º -  Tratando-se de especialista de educação, a gra-
houver sido protocolado o pedido de aposentadoria; tificação será calculada sobre o valor que corresponder às
II - durante quaisquer 84 (oitenta e quatro) meses inin- horas de serviço prestadas no período noturno.
terruptos, anteriores àquele em que houver sido protocola- § 2º -  Para o fim previsto no parágrafo anterior, o valor
do o pedido de aposentadoria; da hora será resultante da divisão, por 240 (duzentos e qua-
III - em quaisquer 120 (cento e vinte) meses intercalados renta) horas do valor do padrão, em que estiver enquadrado
anteriores àquele em que houver sido protocolado o pedido o cargo do funcionário.
de aposentadoria. Artigo 86 - O funcionário ou o servidor do Quadro do
§ 1º -  Nos casos de aposentadoria por implemento de Magistério não perderão o direito à Gratificação pelo Tra-
idade, aplicar-se-ão os incisos I, II e III deste artigo. balho Noturno, quando se afastarem em virtude de férias,
§ 2º -  Será arredondada para um inteiro a fração que licença-prêmio, gala, nojo, júri, licença para tratamento de
resultar do cálculo previsto neste artigo. saúde, faltas abonadas, serviços obrigatórios por lei e de ou-
§ 3º - Na hipótese de aposentadoria por invalidez, qual- tros afastamentos que a legislação considere como de efeti-
quer que seja o tempo de serviço, será com vencimentos vo exercício para todos os efeitos legais.
integrais. Parágrafo único - Para aplicação do disposto neste ar-
Artigo 80 - Será incluído para apuração da média tigo, observar-se-ão as seguintes regras:
mensal de que tratam os artigos 78 e 79, ambos desta lei 1. o valor percebido a título de Gratificação por Trabalho
complementar, o número de horas prestadas pelo docente Noturno, nos 6 (seis) meses anteriores ao do afastamento,

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

será dividido pela quantidade de dias em que o funcionário I - 40% (quarenta por cento) de docentes;
ou o servidor tiverem ministrado aulas no período noturno; II - 5% (cinco por cento) de especialistas de educação
2. durante o período de afastamento, o funcionário ou excetuando-se o Diretor de Escola;
o servidor farão jus à importância apurada na forma do item III - 5% (cinco por cento) dos demais funcionários;
anterior por dia em que, naquele período, ministrariam aulas IV - 25 % (vinte e cinco por cento) de pais de alunos;
se não estivessem afastados. V - 25% (vinte e cinco por cento) de alunos;
Artigo 87 - O valor da Gratificação por Trabalho No- § 2º - Os componentes do Conselho de Escola serão
turno de que trata o artigo 83 desta lei complementar será escolhidos entre os seus pares, mediante processo eletivo.
computado no cálculo da gratificação de Natal de que cuida § 3º - Cada segmento representado no Conselho de Es-
o título XII da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de cola elegerá também 2 (dois) suplentes, que substituirão os
1978, devendo, aplicar-se, para esse fim, o disposto no pa- membros efetivos em suas ausências e impedimentos.
rágrafo único do artigo 123 da mesma Lei Complementar. § 4º -  Os representantes dos alunos terão sempre direi-
Artigo 88 - A Gratificação pelo Trabalho Noturno não to a voz e voto, salvo nos assuntos que, por força legal, se-
se incorporará aos vencimentos ou salários para nenhum jam restritos ao que estiverem no gozo da capacidade civil.
efeito. § 5º - São atribuições do Conselho de Escola:
I - Deliberar sobre:
CAPÍTULO XV a) diretrizes e metas da unidade escolar;
Das Disposições Gerais e Finais b) alternativas de solução para os problemas de nature-
za administrativa e pedagógica;
c) projetos de atendimento psico-pedagógicos e mate-
Artigo 89 - As escolas agrupadas serão dirigidas por ti-
rial ao aluno;
tulares de cargo de Assistente de Diretor de Escola, do Qua-
d) programas especiais visando à integração escola-fa-
dro do Magistério.
mília-comunidade;
Artigo 90 - As funções de Diretor de Escola e de Dele-
e) criação e regulamentação das instituições auxiliares
gado de Ensino, enquanto não criados os cargos correspon-
da escola;
dentes, serão retribuídas mediante “pro-labore”, na forma e
f) prioridades para aplicação de recursos da Escola e das
condições previstas no artigo 28 da Lei nº 10.168, de 10 de
instituições auxiliares;
julho de 1968.
g) a indicação, a ser feita pelo respectivo Diretor de
Artigo 91 - Consideram-se efetivamente exercidas as
Escola, do Assistente de Diretor de Escola, quando este for
horas-aula e/ou horas-atividade que o docente deixar de
oriundo de outra unidade escolar;
prestar por motivo de férias escolares, suspensão de aulas
h) as penalidades disciplinares a que estiverem sujeitos
por determinação superior, recesso escolar, e de outras au-
os funcionários, servidores e alunos da unidade escolar;
sências que a legislação considere como de efetivo exercício
II - Elaborar o calendário e o regimento escolar, obser-
para todos os efeitos legais.
vadas as normas do Conselho Estadual de Educação e a le-
Parágrafo único - As horas-aula e horas-atividade que
gislação pertinente;
o docente deixar de prestar, em virtude de licença concedida
III - Apreciar os relatórios anuais da escola, analisando
para tratamento de saúde, considerar-se-ão  exercidas para
seus desempenho em face das diretrizes e metas estabele-
fins de pagamento e, para os efeitos de incorporação aos
cidas.
cálculos dos proventos.
§ 6º -  Nenhum dos membros do Conselho de Escola
Artigo 92 - O tempo de serviço dos docentes servidores
poderá acumular votos, não sendo também permitidos os
será contado em dias corridos para todos os fins e efeitos
votos por procuração.
legais.
§ 7º - O Conselho de Escola deverá reunir-se, ordinaria-
Artigo 93 - Os critérios, para fins de desconto da retri-
mente, 2 (duas) vezes por semestre e, extraordinariamente,
buição pecuniária pelo não comparecimento do docente à
por convocação do Diretor da Escola ou por proposta de, no
hora-aula ou à hora-atividade, serão estabelecidos em re-
mínimo, 1/3 (um terço) de seus membros.
gulamento.
§ 8º -  As deliberações do Conselho constarão de ata,
Artigo 94 - Além das férias regulamentares, os especia-
serão sempre tornadas públicas e adotadas por maioria sim-
listas de educação, com exercício na unidade escolar, serão
ples, presentes a maioria absoluta de seus membros.
dispensados do ponto por 10 (dez) dias, durante o período
Artigo 96 - Aplicam-se aos integrantes do Quadro do
de recesso escolar de julho, conforme calendário homologa-
Magistério, subsidiariamente, as disposições do Estatuto dos
do pelo Delegado de Ensino.
Funcionários Públicos Civis do Estado e as normas relativas
Artigo 95 - O Conselho de Escola, de natureza deli-
ao sistema de Administração de Pessoal, instituído pela Lei
berativa, eleito anualmente durante o primeiro mês letivo,
Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978, no que cou-
presidido pelo Diretor da Escola, terá um total mínimo de
ber.
20 (vinte) e máximo de 40 (quarenta) componentes, fixado
Parágrafo único - Aos integrantes do Quadro do Ma-
sempre proporcionalmente ao número de classes do esta-
gistério até o limite de 2 (dois) em cada caso, deixar-se-á
belecimento de ensino.
de aplicar a vedação a que se refere o artigo 244 da Lei nº
§ 1º -  A composição a que se refere o ”caput” obedece-
10.261, de 28 de outubro de 1968.
rá a seguinte proporcionalidade:

46
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Artigo 97 - No caso de alteração do currículo escolar Parágrafo único - Poderão ser admitidos como esta-
que implique supressão de determinada disciplina, área de giários os alunos das últimas séries dos cursos de formação
estudo ou atividade, o ocupante de cargo de professor de- correspondente.
verá exercer a docência de outra disciplina, área de estudo Artigo 104 - Os docentes admitidos em carga reduzida
ou atividade, para a qual estiver legalmente habilitado, fi- de trabalho são contribuintes obrigatórios do Instituto de
cando o cargo de que é titular destinado à disciplina, área Previdência do Estado de São Paulo - IPESP e do Instituto
de estudo ou atividade que vier a assumir, observado o dis- de Assistência Médica ao Serviço Público Estadual - IAMSPE
posto no artigo 33 desta lei complementar. Artigo 105 - As atribuições dos cargos, das funções-ati-
§ 1º -  O professor que, nos termos deste artigo, não vidades e dos postos de trabalho dos integrantes do Quadro
puder exercer a docência de outra disciplina, área de estudo do Magistério serão fixadas em regulamento.
ou atividade, por não estar legalmente habilitado, ficará em Artigo 106 - Ficam criados, no Quadro do Magistério,
disponibilidade remunerada, com vencimentos proporcio- os seguintes cargos:
nais ao tempo de serviço, nos termos do parágrafo único do I - no SQC-I:
artigo 100 da Constituição Federal (Emenda nº 1). 3 (três) de Delegado de Ensino.
§ 2º -  O aproveitamento do funcionário em disponibili- II - no SQC-II:
dade nos termos do artigo 36 da Lei Complementar nº 180, a) 600 (seiscentos) de supervisor de Ensino;
de 12 de maio de 1978, far-se-á, desde que venha a obter b) 250 (duzentos e cinquenta) de Diretor de Escola;
habilitação para a docência de disciplina, área de estudo ou c) 8.500 (oito mil e quinhentos) de Professor III;
atividade, constante do currículo escolar. Artigo 107 - Vetado.
Artigo 98 - O docente readaptado, que permanecer Artigo 108 - A Secretaria de Estado da Educação asse-
prestando serviços em unidades escolares, ficará sujeito à gurará a realização anual dos cursos a que se refere o inciso
Jornada de Trabalho Docente na qual estiver incluído, fazen- III do artigo 49 desta lei complementar, a serem oferecidos a
do jus, ainda, à carga suplementar de trabalho docente que todos os integrantes do Quadro do Magistério.
prestava no momento da readaptação, podendo também, Artigo 109 - Se, no prazo de 30 (trinta) dias não for pu-
optar pela média da carga horária dos últimos 60 (sessenta) blicada decisão sobre o pedido de sua aposentadoria, regu-
meses imediatamente anteriores a sua readaptação. larmente requerida, fica facultado ao funcionário ou servidor
Parágrafo único - O disposto neste artigo não exclui a afastar-se do exercício do seu cargo ou função (vetado).
aplicação do que estabelece o artigo 28 da Lei Complemen- Artigo 110 - O titular de cargo ou  o ocupante de fun-
tar nº 180, de 12 de maio de 1978. ção-atividade, da série de classes de docentes, poderão op-
Artigo 99 - O docente readaptado, desde que devida- tar pelos vencimentos de seu cargo ou pelo salário de sua 
mente habilitado, poderá ser nomeado ou designado para função-atividade, incluída, em ambos os casos, a respectiva
exercer, em Jornada Completa de Trabalho, o cargo ou as carga suplementar, quando vierem prover cargo em comis-
funções de Assistente de Diretor de Escola, de Diretor de são.
Escola, de Orientador Educacional, de Coordenador Peda- Artigo 111 - Vetado.
gógico ou, em Jornada Integral de Trabalho Docente, as de Parágrafo único - Vetado.
Professor Coordenador (vetado). Artigo 112 - Os cargos de Professor II serão extintos na
Parágrafo único - A nomeação ou designação de que vacância.
trata o “caput” deste artigo condiciona-se a parecer prévio Artigo 113 - Vetado.
do órgão próprio de readaptação, quanto à capacidade do Artigo 114 - As despesas resultantes da aplicação desta
funcionário ou servidor para o exercício das novas funções. lei complementar ocorrerão a conta das dotações próprias
Artigo 100 - O docente readaptado exercerá (vetado) consignadas no Orçamento Programa para 1986.
funções na mesma unidade onde se achava lotado por oca- Parágrafo único - Fica o Poder Executivo autorizado a
sião da readaptação, podendo indicar, a cada ano, nova sede promover, se necessário o remanejamento de dotações es-
de exercício. pecíficas ao atendimento de despesas com pessoal e refle-
Parágrafo único - A mudança de sede de exercício do xos.
professor readaptado condiciona-se à existência de vaga na Artigo 115 - Esta lei complementar e suas Disposições
unidade indicada. Transitórias entrarão em vigor a partir de 1º de janeiro de
Artigo 101 - A Jornada de Trabalho Docente e, quando 1986, ficando revogadas as disposições em contrário, e, em
for o caso, a carga suplementar a que estiver sujeito o pro- especial,  a Lei Complementar nº 201, de 9 de novembro
fessor readaptado serão cumpridas em horas-aula. de 1978, Lei Complementar nº 217, de 02 de julho de 1979,
Artigo 102 - Dentro de 90 (noventa) dias, contados da artigo 1º da Lei Complementar nº 245, de 08 de janeiro de
publicação desta lei complementar, o órgão próprio da Se- 1981, artigo 5º da Lei Complementar nº 247, de 6 de abril de
cretaria de Estado da Educação baixará normas regulamen- 1981, artigos 3º e 4º da Lei Complementar nº 260, de 30 de
tadoras da situação funcional do docente readaptado. junho de 1981, Lei Complementar nº 361, de 24 de novem-
Artigo 103 - O Poder Executivo fica autorizado, na for- bro de 1984, Lei Complementar nº 375, de 19 de dezembro
ma que for estabelecida em regulamento, a admitir, nas uni- de 1984, e Lei Complementar nº 407, de 19 de julho de 1985.
dades escolares oficiais do Estado, estagiários devidamente
habilitados, aos quais será proporcionada experiência pro-
fissional em atividades do Magistério.

47
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

CAPÍTULO XVI Artigo 5º - Fica assegurado ao titular de cargo docente,


Das Disposições Transitórias cuja disciplina foi extinta do currículo e que, consequente-
mente, foi declarado adido até 30 de setembro de 1985, o
Artigo 1º -  Para efeitos do Sistema de Pontos de que direito de, por ocasião da aposentadoria, se requerida até 30
cuida o Título XI da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de junho de 1988, e em substituição às regras estabelecidas
de 1978, os pontos consignados no prontuário do funcioná- nos artigos 71 e 72, ambos desta lei complementar, optar
rio ou servidor do Quadro do Magistério, até 31 de dezem- pela incorporação aos seus vencimentos da quantidade de
bro de 1985, passarão a ser consignados, a partir de 1º de horas prestadas a título de aulas excedentes ou carga suple-
janeiro de 1986, na seguinte conformidade: mentar de trabalho docente correspondente à média men-
I - sob o título de adicional por tempo de serviço, os sal das horas efetivamente prestadas àquele título em quais-
pontos atribuídos a esse título; quer 60 (sessenta) meses intercalados, anteriores àquele em
II - sob os títulos que lhes são próprios, os pontos atri- que houver sido protocolado o pedido.
buídos com fundamento nos artigos 24 e 25 das Disposições Parágrafo único - Para os fins do disposto no “caput”
Transitórias da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de deste artigo, se o docente tiver exercido, no período corres-
1978, alterados pelos incisos IV e V do artigo 1º das Dispo- pondente aos 60 (sessenta) meses intercalados, ou não, an-
sições Transitórias da Lei Complementar nº 209, de 17 de teriores àquele em que houver sido protocolado o pedido,
janeiro de 1979; cargo ou função de especialista de educação, computar-se-
III - sob o título de progressão funcional, os pontos atri- -á como se em Jornada Integral de Trabalho Docente fosse,
buídos a esse título com fundamento no artigo 47 da Lei o tempo em que exerceu o respectivo cargo ou a respectiva
Complementar nº 201, de 9 de novembro de 1978, obser- função.
vados os limites previstos no item 5 do § 1º do artigo 3º das Artigo 6º - Os proventos dos inativos serão revistos na
Disposições Transitórias da Lei Complementar nº 247, de 6 conformidade dos Anexos II e III que fazem parte integrante
de abril de 1981; desta lei complementar.
IV - sob o título de adicional de Magistério, a que se § 1º - O valor da aula excedente ou da carga suplemen-
refere o artigo 53 desta lei complementar, os pontos atribuí- tar de trabalho docente, incorporado aos proventos do ina-
dos a título de: tivo, será apurado na forma do artigo 69 desta lei comple-
a) evolução funcional, avaliação de desempenho, cor- mentar.
respondentes aos 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º e 8º processos ava- § 2º - Para os inativos, aos quais tenha sido concedida a
liatórios, relativos aos exercícios de 1978, 1979, 1980, 1981, gratificação a título de progressão funcional, nos termos do
1981, 1982, 1983, 1984 e 1985, desde que homologados; artigo 47 da Lei Complementar nº 201, de 9 de novembro
b) evolução funcional; de 1978, ficam atribuídos, em substituição à referida gratifi-
c)  evolução funcional, nos termos do artigo 7º da Lei cação, os pontos a que se  referem os itens 1 e 2 do § 1º do
Complementar nº 247, de 6 de abril de 1981. artigo 49 desta lei complementar.
Artigo 2º - Observado o Anexo II a que se refere o arti- Artigo 7º - Para os fins deste Estatuto, equipara-se a
go 67 desta lei complementar, o cargo ou função-atividade hora prestada a título de carga suplementar de trabalho do-
de funcionário ou servidor do Quadro do Magistério será cente, de que trata o artigo 41, à aula excedente ministrada,
enquadrado em referência numérica situada tantas referên- ou a esse título percebida, anteriormente à vigência desta lei
cias acima da inicial da classe a que pertencer, quanto for complementar.
a parte inteira da divisão, por 5 (cinco), do total de pontos Artigo 8º - Caberá ao órgão setorial de recursos huma-
consignados na forma estabelecida no artigo anterior. nos da Secretaria da Educação elaborar as propostas de re-
§ 1º - Em 1º de janeiro de 1987, proceder-se-á a novo gulamentação das disposições deste Estatuto dentro de 90
enquadramento do cargo ou função-atividade, nos termos (noventa) dias, devendo permanecer vigendo, enquanto não
do Anexo III de que cuida o dispositivo mencionado no forem regulamentadas as referidas disposições, a legislação
“caput”. específica que disciplina a Lei Complementar nº 201, de 9 de
§ 2º -  Caberá a  autoridade competente a lavra da res- novembro de 1978, naquilo que não colidir com o disposto
pectiva apostila e a publicação do ato. nesta lei complementar.
Artigo 3º - A contar de 1º de janeiro de 1986, conside- Artigo 9º - Fica o Poder Executivo autorizado a efetuar
rado o tempo de serviço até 31 de dezembro de 1985, nos o pagamento retroativo de férias proporcionais aos servido-
termos do disposto no artigo 47 desta lei complementar, res do Quadro do Magistério admitidos em caráter tempo-
proceder-se-á ao enquadramento de todos os funcionários rário, correspondente ao ano de 1985.
e servidores no respectivo grau. Artigo 10 - Fica facultado o retorno ao mesmo cargo
Parágrafo único - Na hipótese do funcionário ou o ser- do Quadro do Magistério, ao funcionário oriundo desse
vidor já estarem enquadrados em grau superior aos previs- Quadro, que teve seu cargo transformado com base em le-
tos nos incisos I, II e III do artigo 47 desta lei complementar, gislação anterior, mediante opção, através de requerimento
fica mantido o referido grau. formulado dentro de 60 (sessenta) dias, contados da data da
Artigo 4º -  Ficam os atuais cargos de Assistente de Pla- publicação desta lei complementar.
nejamento e Controle Educacional, SQC-I - referência inicial § 1º - O deferimento da opção de que trata este arti-
16 e final 31, do Quadro do Magistério, extintos na vacância. go implica na extinção do cargo atualmente ocupado e na

48
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

criação de cargo correspondente à situação anterior do fun-


cionário.
§ 2º - Para efeito de enquadramento do cargo, aplicar-
-se-á as mesmas regras previstas no artigo 1º das Disposi-
ções Transitórias desta lei complementar.
§ 3º - O funcionário que se valer da opção prevista neste
artigo deverá assumir o efetivo exercício das funções de seu
cargo, não podendo dele afastar-se pelo menos durante 1
(um) ano, na forma a ser regulamentada.
§ 4º - Serão consideradas atividades correlatas às de
Magistério as funções exercidas com outras denominações
pelo docente ou especialista de educação que se valeram da
opção prevista neste artigo.
§ 5º - O funcionário que retornar ao cargo de origem,
nos termos deste artigo, será incluído em Jornada de Traba-
lho Docente correspondente à que estiver sujeito, por oca-
sião da opção referida no “caput”.
§ 6º - O órgão central de recursos humanos fará publi-
car relação nominal dos funcionários abrangidos por este
artigo, indicando a denominação do cargo extinto e a do
cargo resultante do retorno.
§ 7º - Aplicam-se aos inativos as disposições deste arti-
go, exceto as normas previstas nos §§ 1º, 3º e 4º deste mes-
mo artigo.
Artigo 11 - Fica assegurado, para todos os efeitos le-
gais, a contagem do tempo de serviço prestado na regência
de classes dos cursos de Alfabetização de Adultos ou Suple-
tivos, previstos na Lei nº 76, de 23 de fevereiro de 1948, na
seguinte conformidade:
I - Dias corridos, inclusive férias, para os períodos não
concomitantes e não remunerados;
II - Dias corridos, inclusive férias, para os períodos con-
comitantes não remunerados, na base de 2/3 (dois terços).
Artigo 12 - Vetado.
Palácio dos Bandeirantes, aos 27 de dezembro de 1985
FRANCO MONTORO
Paulo Renato Costa Souza
Secretário da Educação
Luiz Carlos Bresser Pereira,
Secretário do Governo
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 27 de
dezembro de 1985.
 

49
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

50
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

LEI COMPLEMENTAR Nº 444, DE 27 DE DEZEMBRO DE


1985 DECRETO N° 17.329 DE 14/07/1981 -
DEFINE A ESTRUTURA E AS ATRIBUIÇÕES
DE ÓRGÃOS E AS COMPETÊNCIAS DAS
AUTORIDADES DA SECRETARIA DE ESTADO
DA EDUCAÇÃO, EM RELAÇÃO AO SISTEMA
DE ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL, E DÁ
PROVIDÊNCIAS CORRELATAS. HTTP://
GOVERNO- SP.JUSBRASIL.COM.BR/
LEGISLACAO/202963/DECRETO-17329-81

DECRETO N. 17.329, DE 14 DE JULHO DE 1981

Define a estrutura e as atribuições de órgãos e as


competências das autoridades da Secretaria de Estado da
Educação, em relação ao Sistema de Administração de
Pessoal, e dá providências correlatas
PAULO SALIM MALUF, GOVERNADOR DO ESTADO DE
SÃO PAULO, no uso de suas atribuições legais e com funda-
mento no Artigo 89 da Lei n. 9.717, de 30 de janeiro de 1987, 
Decreta: 

TÍTULO I 
Disposição Preliminar 

Artigo 1° - A estrutura e as atribuições dos órgãos se-


torial e subsetoriais, bem como as competências das auto-
ridades da Secretaria de Estado da Educação, em relação ao
Sistema de Administração de Pessoal, ficam estabelecidas
nos termos deste Decreto. 

TÍTULO II 
Das Modificações de Unidades Administrativas 

Artigo 2.° - As unidades administrativas do Departa-


mento de Recursos Humanos, a seguir relacionadas, ficam
transformadas na seguinte conformidade: 
I - de Divisão de Recrutamento, Seleção e Movimenta-
ção de Pessoal para Centro de Seleção e Movimentação de
Pessoal; 
II  - de Divisão de Aperfeiçoamento e Atualização de
Pessoal para Centro de Treinamento e Desenvolvimento de
Recursos Humanos; 
III  - de Serviço de Exames Supletivos para Centro de
Exames Supletivos; 
IV - de Serviço de Administração para Divisão de Admi-
nistração. 
Artigo 3.° - As unidades administrativas, a seguir rela-
cionadas, têm sua denominação alterada na seguinte con-
formidade; 
I - do Departamento de Recursos Humanos: 
a) de Seção de Expedição de Certificados para Seção de
Expedição de Certificados e Diplomas; 
b) de Divisão de Cadastro, Estudos e Lavratura de Atos
para Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal; 

51
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

c) de Seção de Cadastro - Quadro da Secretaria da Edu- I - órgão setorial: Departamento de Recursos Humanos; 
cação (QSE) para Seção de Cadastro, do Serviço de Cadastro II - órgãos subsetoriais: 
e Expediente de Pessoal;  a) no Departamento de Administração: a Seção de Pes-
d) de Seção de Lavratura de Atos para Seção de Expe- soal, que presta serviços aos órgãos da Administração Supe-
diente de Pessoal, do Serviço de Cadastro e Expediente de rior e da Sede: 
Pessoal;  b) na Coordenadoria de Ensino da Região Metropolita-
e) de Seção de Cadastro - Quadro do Magistério (QM) na da Grande São Paulo: 
para Seção de Cadastro, do Serviço de Cadastro - QM;  1 - a Secção de Pessoal da Divisão de Administração; 
f) de Seção de Material para Seção de Material e Patri- 2 - os Serviços de Recursos Humanos das Divisões Re-
mônio;  gionais de Ensino; 
g) de Seção de Finanças para Seção de Despesa;  c) na Coordenadoria de Ensino do Interior: 
II - da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira da 1 - a Seção de Pessoal da Divisão de Administração; 
Coordenadoria de Ensino do Interior: de Setor de Frequên- 2 - Serviços de Recursos Humanos das Divisões Regio-
cia, da Seção de Pessoal, para Setor de Frequência e Expe- nais de Ensino; 
diente de Pessoal.  3 - a Seção de Pessoal da Divisão Especial de Ensino do
Artigo 4.° - As Seções de Pessoal dos Serviços de Ad- Vale do Ribeira; 
ministração das Divisões Regionais de Ensino passam a su- d) na Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas:
bordinar-se aos respectivos Serviços de Recursos Humanos, a Seção de Pessoal da Divisão de Administração; 
tendo, cada uma, a denominação alterada para Seção de e) no Departamento de Recursos Humanos: a Seção de
Expediente de Pessoal.  Pessoal da Divisão de Administração; 
Artigo 5.° - Ficam extintas as seguintes unidades admi- f) no Departamento de Assistência ao Escolar: a Seção
nistrativas:  de Pessoal do Serviço de Administração; 
I - do Departamento de Recursos Humanos:  g) no Conselho Estadual de Educação, entidade vincula-
a) Comissão de Promoção - Quadro do Magistério (QM);  da, a Seção de Pessoas da Divisão de Administração. 
b) Comissão de Promoção - Quadro da Secretaria da
Educação (QSE);  CAPÍTULO II 
c) Equipe Técnica de Programação de Concursos de In- Da Estrutura 
gresso; 
d) Equipe Técnica de Programação de Concursos de Re- SEÇÃO I 
moção;  Do Departamento de Reeursos Humanos 
e) Seção de Execução de Concursos de Ingresso; 
f) Seção de Execução de Concursos de Remoção;  Artigo 7.° - O Departamento de Recursos Humanos
g) Equipe Técnica de Programação e Controle para Pes- tem a seguinte estrutura: 
soal Docente;  I - Diretoria; 
h) Equipe Técnica de Programação e Controle para Pes- II - Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal; 
soal Técnico Pedagógico e Administrativo;  III - Centro de Treinamento e Desenvolvimento de Re-
i) Seção de Execução de Programas;  cursos Humanos; 
j) Equipe Técnica de Programação e Controle;  IV - Centro de Estudos e Legislação de Pessoal; 
l) Seção de Estudos;  V - Centro de Exames Supletivos; 
m) Seção de Atividades Complementares;  VI - Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal; 
n) Setor de Comunicações Administrativas;  VII - Serviço de Promoção, Progressão e Evolução Fun-
II - das Divisões Regionais de Ensino:  cional; 
a) 17 (dezessete) Setores de Cadastro;  VIII - Serviço de Apoio Técnico; 
b) 17 (dezessete) Setores de Frequência. IX - Divisão de Administração. 
Parágrafo único - O acervo das Comissões de Promo- Parágrafo único - As unidades relacionadas nos incisos
ção será transferido para o Serviço de Promoção, Progressão n, III, IV e V tem nível de Divisão Técnica. 
e Evolução Funcional do Departamento de Recursos Huma- Artigo 8.° - A Diretoria compreende: 
nos.  I - Assistência Técnica, com 3 (três) Equipes de Assistên-
cia Técnica; 
TÍTULO III  II - Seção de Expediente. 
Da Definição e da Estrutura dos Órgãos do Sistema Artigo 9.° - O Centro de Seleção e Movimentação de
de Administração de Pessoal  Pessoal compreende : 
I - Diretoria; 
CAPÍTULO I  II - 4 (quatro) Grupos Técnicos; 
Da Definição dos Órgãos  III - Equipe Técnica de Readaptação 
IV - Seção de Expediente. 
Artigo 6.° - Os órgãos setorial e subsetoriais do Sistema Artigo 10 - O Centro de Treinamento e Desenvolvimen-
de Administração de Pessoal na Secretaria da Educação são to de Recursos Humanos compreende: 
os seguintes:  I - Diretoria; 

52
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

II - 3 (três) Grupos Técnicos;  SEÇÃO II 


III - Equipe Técnica de Instrumentação;  Dos Serviços de Recursos Humanos 
IV - Seção de Expediente. 
Artigo 11 - O Centro de Estudos e Legislação de Pessoal Artigo 18 - Cada um dos Serviços de Recursos Huma-
compreende:  nos das Divisões Regionais de Ensino compreende: 
I - Diretoria;  I - Diretoria; 
II - 2 (dois) Grupos Técnicos;  II - Assistência Técnica; 
III - Seção de Expediente.  III - Seção de Cadastro de Cargos e Funções; 
Artigo 12 - O Centro de Exames Supletivos compreen- IV - Seção de Cadastro Funcional; 
de:  V - Seção de Frequência; 
I - Diretoria;  VI - Seção de Expediente de Pessoal. 
II - 2 (dois) Grupos Técnicos: 
III - Seção de Expedição de Certificados e Diplomas;  SEÇÃO III 
IV - Seção de Expediente.  Da Seção de Pessoal da Divisão Especial de Ensino do
Artigo 13 - A Divisão de Cadastro e Informações de Vale do Ribeira 
Pessoal compreende: 
I - Diretoria;  Artigo 19 - A Seção de pessoal do Serviço de Admi-
II - Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal, com:  nistração da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira
a) Diretoria;  compreende: 
b) Equipe Técnica;  I - Setor de Cadastro; 
c) 2 (duas) Seções de Cadastro;  II - Setor de Frequência e Expediente de Pessoal 
d) Seção de Expediente de Pessoal; 
III - Serviço de Cadastro - QM, com:  TÍTULO IV 
a) Diretoria;  Das Atribuições 
b) Equipe Técnica; 
c) 3 (três) Seções de Cadastro;  CAPÍTULO I 
IV - Seção de Expediente.  Do Departamento de Recursos Humanos 
Artigo 14 - O Serviço de Promoção, Progressão e Evo-
lução Funcional compreende:  SEÇÃO I 
I - Diretoria;  Das Atribuições Gerais 
II - 2 (duas) Equipes Técnicas; 
III - Seção de Expediente  Artigo 20 - Ao Departamento de Recursos Humanos
Artigo 15 - O Serviço de Apoio Técnico compreende:  cabe: 
I - Diretoria;  I - assistir as autoridades da Secretaria da Educação, nos
I - Seção de Documentação e Biblioteca;  assuntos relacionados com o Sistema de Administração de
III - Seção de Difusão Técnica;  Pessoal; 
IV - Seção de Recursos Audiovisuais;  II - planejar a execução, no âmbito da Secretaria da Edu-
V - Seção de Gráfica.  cação, das políticas, diretrizes e normas emanadas do órgão
Artigo 16 - A Divisão de Administração compreende:  central do Sistema; 
I - Diretoria, com Setor de Expedience;  III  - elaborar propostas de diretrizes e normas para o
II - Seção de Pessoal;  atendimento de situações específicas, em complementação
III - Seção de Material e Patrimônio, com Setor de Al- aquelas emanadas do órgão central do Sistema; 
moxarifado  IV - coordenar, prestar orientação técnica, controlar e,
IV - Serviço de Finanças, com:  quando for o caso executar, em consonância com o disposto
a) Diretoria;  no inciso II deste artigo, as atividades de administração do
b) Seção de Orçamento e Custos;  pessoal civil da Secretaria da Educação, inclusive dos esta-
c) Seção de Despesa;  giários e do pessoal contratado para prestação de serviços; 
V - Seção de Comunicações Administrativas;  V - opinar, conclusivamente, sobre assuntos de recursos
VI - Serviço de Atividades Complementares, com:  humanos, no âmbito da Secretaria da Educação, observadas
a) Diretoria;  as políticas, diretrizes e normas emanadas do órgão central
b) Seção de Zeladoria;  do Sistema; 
c) Seção de Manutenção;  VI - zelar pela adequada instrução dos processos que
d) Setor de Copa;  devam ser submetidos a apreciação do órgão central do
e) Setor de Transportes;  Sistema, ou de outros órgãos da Administração Pública Es-
Artigo 17 - As unidades relacionadas nos incisos II dos tadual, inclusive dos Poderes Legislativo e Judiciário, provi-
Artigos 9.º, 10,11 e 12 têm nível de Serviço Técnico.  denciando, quando for o caso, a complementação de dados
pelos órgãos ou autoridades competentes; 
VII - atuar sempre em integração com o órgão central
do Sistema de Administração de Pessoal e com os demais

53
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

órgãos de planejamento da Secretaria da Educação, deven- 4 - a proposição de medidas necessárias à melhoria da
do, em sua área de atuação:  qualidade dos dados dos cadastros ou arquivos implanta-
a) colaborar com esses órgãos, quando solicitado ou dos mediante a utilização de processamento eletrônico de
apresentando, por sua própria iniciativa, estudos, sugestões dados; 
ou problemas no interesse da melhoria do Sistema;  5 - a proposição de medidas necessárias à adequação
b) observar e fazer observar as diretrizes e normas deles dos sistemas de processamento eletrônico de dados, relati-
emanadas;  vos ao sistema, às necessidades da Secretaria da Educação; 
c) atender ou providenciar o atendimento de suas soli- b) coordenar a identificação das necessidades de recur-
citações;  sos humanos e orientar os órgãos e autoridades com res-
d) mante-los permanentemente informados sobre a si- ponsabilidade nesse processo; 
tuação dos recursos humanos;  c) elaborar, anualmente, a proposta das necessidades
VIII - promover estudos, pesquisas e convênios com en- de recursos humanos, com base nos elementos fornecidos
tidades públicas  pelos órgãos e autoridades de que trata a alínea anterior e
e privadas na área de sua atuação;  observados o planejamento e a ação da Secretaria da Edu-
IX - promover a produção de informações de pessoal, cação; 
divulgando-as  d) efetuar a projeção das despesas com recursos huma-
periodicamente;  nos e encargos previdenciários para a elaboração do orça-
X - promover a realização dos exames supletivos.  mento de pessoal; 
Artigo 21 - As atribuições do Departamento de Recur- e) acompanhar e controlar a execução do orçamento de
sos Humanos compreendem:  pessoal e verificar as necessidades de alterações; 
I - planejamento e controle de recursos humanos;  f) analisar as variações mensais da folha de pagamento; 
II - política salarial;  g) observar a adequação da: 
III - seleção e movimentação de pessoal;  1 - composição do Quadro de Pessoal aos padrões de
IV - treinamento e desenvolvimento de recursos huma- lotação e aos postos de trabalho fixados; 
nos;  2 - distribuição dos recursos humanos aos programas
V - legislação de pessoal;  de trabalho em andamento; 
VI - promoção progressão e evolução funcional;  h) colaborar com o órgão central do Sistema no desem-
VII - cadastro e expediente de pessoal;  penho de suas atribuições, em especial na: 
VIII - exames supletivos. 1 - realização de estudos para subsidiar a política de su-
Parágrafo único - O disposto no inciso IV aplica-se ao primento de recursos humanos; 
pessoal técnico e administrativo dos Quadros da Secretaria 2 - elaboração de diretrizes, normas e manuais de pro-
de Estado da Educação, não abrangendo a programação, cedimentos: 
execução e avaliação do treinamento e desenvolvimento de 3 - elaboração de padrões de lotação para as unidades
recursos humanos objetivando a melhoria do processo ensi- de administração geral; 
no-aprendizagem, a serem executados pela Coordenadoria 4 - avaliação do desempenho do Sistema; 
de Estudos e Normas Pedagógicas.  III - em relação à política salarial: 
a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema
SEÇÃO II  em especial para a definição das exigências, requisitos, in-
Da Assistência Técnica  terstícios e demais procedimentos aplicáveis ao acesso; 
b) planejar, coordenar, orientar e controlar as atividades
Artigo 22 - A Assistência Técnica, além das atividades relacionadas com: 
de assistência direta ao Diretor do Departamento de Recur- 1 - a classificação, enquadramento e retribuição de car-
sos Humanos no desempenho de suas funções, tem, por gos e funções-atividades; 
meio de suas Equipes de Assistência Técnica, as seguintes 2 - a aplicação do instituto do acesso; 
atribuições:  c) colaborar com o órgão central do Sistema no desem-
I - coordenar a elaboração de normas e manuais de pro- penho de suas atribuições, em especial na: 
cedimentos, objetivando a sua coerência e padronização;  1 - realização de estudos para a permanente atualização
II - em relação ao planejamento e controle de recursos do plano de classificação e retribuição de cargos e funções-
humanos:  -atividades; 
a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema, 2 - realização de estudos sobre a jornada de trabalho
em especial para:  adequada a cada classe; 
1 - a elaboração de propostas de padrões de lotação 3 - realização de pesquisas sobre o mercado de traba-
para os diversos tipos de unidades administrativas, de acor- lho e estudos relacionados com a política salarial, fixação de
do com sua especificidade e com base nos elementos forne- gratificação ou quaisquer formas de retribuição de pessoal; 
cidos por seus dirigentes;  4 - avaliação do desempenho do Sistema; 
2 - a permanente adequação do Quadro de Pessoal aos IV - elaborar critérios para avaliação de títulos; 
programas de trabalho;  V - emitir pareceres, preparar despachos, realizar estu-
3 - a identificação das causas da rotatividade do pessoal dos, elaborar normas e desenvolver outras atividades que se
e a proposição de soluções;  caracterizem como assistência técnica à execução, controle

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

e avaliação das atividades do Departamento de Recursos 13 - encaminhar à autoridade competente os expedien-


Humanos.  tes necessários à preparação dos atos de nomeação ou ad-
missão e remoção; 
SEÇÃO III  f) em relação aos órgãos subsetoriais do Sistema, na Se-
Do Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal  cretaria da Educação: 
1 - coordenar, orientar e controlar os programas de re-
Artigo 23 - O Centro de Seleção e Movimentação de crutamento e seleção de pessoal, mediante concursos pú-
Pessoal tem as seguintes atribuições:  blicos ou processos seletivos, bem como os programas de
I - por meio dos Grupos Técnicos:  remoção, por eles executados; 
a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema, 2 - propor a intervenção no concurso público ou pro-
em especial para:  cesso seletivo de que trata o item anterior, caso seja verifica-
1 - a permanente atualização e o aperfeiçoamento dos da irregularidade de procedimento; 
métodos e técnicas de recrutamento, seleção e movimenta- g) garantir a adequação: 
ção de recursos humanos;  1 - do contéudo de cada programa de recrutamento,
2 - a aplicação do instituto da transposição;  seleção ou remoção às reais necessidades da organização e
3 - a adequada colocação do pessoal;  ao nível da clientela; 
b) verificar a possibilidade de aproveitamento de pes- 2 - dos recursos humanos e materiais alocados a cada
soal:  programa; 
1 - considerado disponível na Secretaria da Educação e h)  manter registros atualizados de fontes de recruta-
por outras Secretarias de Estado ou Autarquias;  mento de pessoal; 
2 - habilitado em, concurso público ou processo seletivo i) manter contato com instituições especializadas sem
realizado pelo órgão central ou por outros órgãos setoriais recrutamento e seleção de pessoal e com órgãos fiscaliza-
do Sistema;  dores do exercício profissional; 
c) programar as atividades de recrutamento e seleção j) promover a realização periódica de análises dos resul-
de pessoal mediante concurso público ou processo seleti- tados e dos custos dos programas executados; 
vo, inclusive os processos seletivos especiais para acesso e l) elaborar normas e manuais de procedimentos; 
transposição, bem como as atividades de movimentação de m)  colaborar com o órgão central do Sistema no de-
pessoal, em atendimento às prioridades definidas no plano sempenho de suas atribuições, em especial na: 
global da Secretaria da Educação;  1 - realização de estudos para sabsidiar as políticas de
d) elaborar modelos de concursos públicos ou de pro- recrutamento, seleção e remoção de recursos humanos: 
cessos seletivos, inclusive instruções especiais, a serem apli- 2 - elaboração de diretrizes, normas e manuais de pro-
cadas pela Secretaria da Educação,  cedimentos; 
e) executar os programas de recrutamento, seleção e 3 - avaliação do desempenho do Sistema; 
movimentação de pessoal, realizando, entre outras, as se- II - por meio da Equipe Técnica de Readaptação: 
guintes atividades:  a) manifestar-se nas propostas de readaptação de fun-
1 - divulgar as informações relativas aos concursos pú- cionários e servidores, no âmbito da Secretaria da Educação,
blicos ou processos seletivos;  a serem encaminhadas à Comissão de Assuntos de Assistên-
2 - providenciar a abertura e o encerramento de ins- cia à Saúde (CAAS), da Secretaria da Administração: 
crições de candidatos em concursos públicos ou processos b) orientar funcionários e servidores, bem como autori-
seletivos, bem como nos concursos de remoção;  dades da Secretaria da Educação, nos assuntos relacionados
3 - receber e analisar os pedidos de inscrição, examinan- com a readaptação; 
do a documentação apresentada pelos candidatos e mani- c) indicar o local de trabalho para o readaptado; 
festando-se conclusivamente quanto ao deferimento;  d) acompanhar o exercício dos funcionários e servidores
4 - elaborar ou orientar a elaboração de provas e testes;  durante o periodo de readaptação experimental, notificando
5 - acompanhar a montagem impressão, acabamento a CAAS quanto a qualquer ocorrência que interfira no cum-
e a distribuição de provas e testes, a fim de garanm o sigilo primento do rol de atribuições; 
dos mesmos;  e) manter registros referentes aos funcionários e servi-
6 - orientar o pessoal incumbido do recebimento de ins- dores readaptados ou em readaptação; 
crições e da aplicação de provas ou testes;  f) colaborar com a CAAS no desenvolvimento das ativi-
7 - tomar as providências necessárias à aplicação de dades correspondentes   à readaptação. 
provas ou testes; 
8 - proceder à avaliação de provas ou testes aplicados;  SEÇÃO IV 
9 - providenciar a divulgação dos resultados;  Do Centro de Treinamento e Desenvolvimento de
10 - propor a homologação dos resultados dos concur- Recursos Humanos 
sos públicos ou processos seletivos; 
11 - preparar e expedir certificados de habilitação em Artigo 24 - O Centro de Treinamento e Desenvolvimen-
concurso público ou processo seletivo;  to de Recursos Humanos tem as seguintes atribuições: 
12 - convocar candidatos classificados, para escolha de I - por meio dos Grupos Técnicos: 
vagas, quando for o caso; 

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema, e) colaborar com os Grupos Técnicos na identificação
em especial para:  dos custos dos programas de treinamento e desenvolvimen-
1 - a permanente atualização e o aperfeigoamento dos to previstos; 
metodos e tecnicas de treinamento e desenvolvimento de f) orientar os órgãos subsetoriais nas atividades de im-
recursos humanos;  plementação dos programas; 
2 - a adequada qualificação dos recursos humanos exis- g) colaborar com o órgão central do Sistema na divul-
tentes, as exigencias dos programas de trabalho;  gação, no âmbito da Secretaria da Educação, dos cursos por
b) identificar as necessidades de treinamento e desen- ele programados. 
volvimento de recursos humanos, considerando, entre ou-
tros fatores, as exigências dos programas de trabalho da SEÇÃO V 
Secretaria da Educação;  Do Centro de Estudos e Legislação de Pessoal 
c) analisar propostas de treinamento e desenvolvimento
de recursos humanos apresentadas por órgãos da estrutura Artigo 25 - O Centro de Estudos e Legislação de Pes-
basica da Secretaria da Educação;  soal tem, por meio de seus Grupos Técnicos, as seguintes
d) organizar os programas de treinamento e desenvolvi- atribuições: 
mento, compatibilizando-os em termos de cronograma;  I - coordenar, orientar, controlar e promover a correta
e) elaborar instruções especiais para execução dos pro- aplicação da legislação referente a pessoal, no âmbito da
gramas de treinamento e desenvolvimento;  Secretaria da Educação; 
f) em relação aos órgãos subsetoriais do Sistema, na II  - orientar a aplicação da legislação trabalhista, bem
Secretaria da Educação: coordenar, orientar e controlar os como programar e orientar a execução das atividades de
programas de treinamento e desenvolvimento de recursos registro e controle relativas a servidores regidos por esse
humanos, por eles executados;  regime; 
g) garantir a adequação:  III - representar ás, autoridades competentes nos casos
1 - do conteúdo de cada programa de treinamento as de inobservância da legislação referente a pessoal; 
reais necessidades da organização e ao nível da clientela;  IV - elaborar diretrizes, normas e manuais de procedi-
2 - dos recursos humanos e materiais alocados a cada mentos que visem uniformizar a aplicação da legislação e
programa;  simplificar os procedimentos referentes a pessoal; 
h) manter contatos com instituições especializadas em V - realizar estudos sobre legislação da área de pessoal
ensino e treinamento de pessoal e com órgãos fiscalizadores e sobre Jornadas de trabalho do pessoal docente; 
do exercício profissional;  VI - emitir pareceres conclusivos nos processos que ver-
i) promover a realização periódica de analises dos resul- sem sobre legislação de pessoal, especialmente sobre direi-
tados e dos custos dos programas executados;  tos e deveres; 
j) elaborar normas e manuais de procedimentos;  VII - colaborar com o órgão central do Sistema no de-
l) colaborar com o orgão central do Sistema no desem- sempenho de suas atribuições, em especial na realização de
penho de suas atribuições, em especial na:  estudos para a atualização e o aperfeiçoamento da legisla-
1 - realização de estudos para subsidiar as politicas de ção referente a pessoal. 
treinamento e desenvolvimento de recursos humanos; 
2 - elaboração de diretrizes, normas e manuais de pro- SEÇÃO VI 
cedimentos;  Do Centro de Exames Supletivos 
3 - elaboração e execução de programas de formação e
atualização de dirigentes e de pessoal para as atividades de Artigo 26 - O Centro de Exames Supletivos tem as se-
assistência e assessoramento;  guintes atribuições: 
4 - avaliação do desempenho do Sistema,  I - propor a orientação geral para a realização dos exa-
II - por meio da Equipe Técnica de Instrumentação:  mes supletivos de 1.° e 2.° graus, em suas diversas modali-
a) executar programas de treinamento e desenvolvi- dades; 
mento de recursos humanos, realizando, entre outras, as II - divulgar as informações relativas aos exames suple-
seguintes atividades:  tivos; 
1 - divulgar as condições para participação nos progra- III - por meio dos Grupos Técnicos: 
mas;  a) elaborar a programação para a realização dos exames
2 - receber e analisar os pedidos de inscrição, manifes- supletivos; 
tando-se conclusivamente quanto ao deferimento;  b) formular os programas mínimos para os exames su-
3 - providenciar o preparo de recursos didáticos;  pletivos; 
4 - controlar a frequência dos participantes;  c) elaborar normas e manuais de procedimentos; 
b) preparar, quando for o caso, e expedir certificados, d) elaborar provas e testes e acompanhaa- sua mon-
atestados ou certidães de participação nos programas;  tagem, impressão, acabamento e distribuição, adotando as
c) manter registros atualizados dos participantes de trei- medidas necessárias a fim de garantir o sigilo dos mesmos; 
namentos;  e) proceder a avaliação de provas e testes aplicados,
d) manter registros atualizados de instrutores colabora- bem como promover análises dos resultados; 
dores e instituições especializadas em ensino e treinamento; 

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

f) promover o treinamento do pessoal incumbido do re- 3 - o acervo de cargos vagos do Quadro de Pessoal; 
cebimento de Inscrições e da aplicação das provas;  4 - o atendimento dos requisitos fixados oara o provi-
g) realizar estudos e propor medidas para o aperfeiçoa- mento de cargos e o preenchimento de funções-atividades; 
mento das atividades relativas a área de atuação do Centro;  c) manter registros atualizados com relação: 
h) manter entrosamento com:  1 - aos funcionários e servidores que percebam gratifi-
1 - órgãos congêneres e afins objetivando aperfeiçoar cação de representação; 
a realização de exames supletivos e a adoção de medidas 2 - aos membros de órgãos colegiados; 
em comum;  3 - aos afastamentos e as licenças de funcionários e ser-
2 - instituições especializadas na realização de provas e vidores; 
concursos e em processamento eletrônico de dados;  4 - ao pessoal considerado excedente nas diversas uni-
3 - docentes e colaboradores para elaboração de pro- dades da Secretaria da Educação. 
gramas, questõese testes;  II - por meio da Seção de Expediente de Pessoal: 
IV - por meio da Seção de Expedição de Certificados e a) centralizar os Pedidos de Indicação de Candidatos
Diplomas:  (PIC) para fins de nomeação ou admissão de pessoal aprova-
a) preparar e expedir atestados, certificados, diplomas e do em concurso público ou processo seletivo realisado pelo
docurnentos afins referentes aos exames supletivos;  orgão central do Sistema; 
b) ratificar a validade e autenticidade de documentos b) preparar decretos de provimento de cargos, resolu-
expedidos;  ções de preenchimento de funções-atividades, portarias de
c) constatar a validade e autenticidade de documentos remoção e outros atos designatórios; 
apresentados pelos requerentes;  c) lavrar contratos individuais de trabalho e todos os
d) encaminhar ao órgão competente do Ministério da atos relativos à sua alteração, suspensão ou rescisão. 
Educação e Cultura (MEC), para registro, certificados de ha- Artigo 29 - O Serviço de Cadastro-QM tem, por meio
bilitação e diplomas;  de suas Seções de Cadastro, as seguintes atribuições: 
e)  orientar as atividades desenvolvidas nas Delegacias I - desempenhar as atribuições compreendidas no inciso
de Ensino e nas Escolas Estaduais relativas a documentos I do artigo anterior, em relação ao pessoal do Quadro do
referentes aos exames supletivos;  Magistério; 
f) manter controle dos documentos expedidos;  II - proceder, no cadastro de cargos e funções, as ano-
g) manter arquivo de resultados de exames.  tações decorrentes de remoção dos integrantes da carreira
do magistério; 
SEÇÃO VII  III - exercer controle sobre as vagas reservadas para re-
Da Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal  moção. 
Artigo 30 - As Equipes Técnicas têm, em suas respecti-
Artigo 27 - A Divisão de Cadastro e Informações de vas áreas de atuação, as seguintes atribuições: 
Pessoal cabe a organização e manutenção do cadastro de I - realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema,
cargos e funções, a realização de estudos. e a manifestação em especial para a identificação das necessidades de novos
em assuntos a ele relacionados, bem como o preparo do cadastros ou arquivos de dados em integração com os já
expediente de pessoal.  implantados; 
Artigo 28 - O Serviço de Cadastro e Expediente de Pes- II  - identificar as necessidades de fixação, extinção ou
soal tem as seguintes atribuições:  relotação de postos de trabalho, em função da proposta das
I - por meio das Seções de Cadastro:  necessidades de recursos humanos; 
a) manter atualizado o cadastro de cargos e funções-a- III - manifestar-se nos expedientes relativos à autoriza-
tividades, procedendo as anotações decorrentes de:  ção de: 
1 - fixação, extinção e relotação de postos de trabalho;  a) provimento de cargos com base no inciso III do Arti-
2 - criação, classificação, alteração ou extinção de cargos go 92 da Constituição do Estado; 
e funções-atividades;  b) admissão de servidor para o desempenho de função-
3 - provimento ou vacância de cargos;  -atividade de natureza técnica, por prazo certo e determi-
4 - preenchimento ou vacância de funções-atividades;  nado; 
5 - concessão de «pro labore» de que trata o artigo 28 O realização de concursos públicos, de processos sele-
da Lei n.° 10.168, de 10 de julho de 1968;  tivos para admissão de servidores e de processos seletivos
6 - transferência de cargos e funções-atividades;  especiais para transposição ou acesso; 
7 - alterações de dados funcionais, dos funcionários e IV - manifestar-se nas propostas relativas a: 
servidores, que afetem o cadastro;  a) fixação, extinção ou relotação de postos de trabalho; 
b) exercer controle sobre:  b) transferência de cargos ou funções-atividades que
1 - o limite para admissão de servidores, fixado pelo in- dependam da apreciação das autoridades superiores da Se-
ciso I do artigo 17 da Lei Complementar n.° 180, de 12 de cretaria da Educação; 
maio de 1978;  V - manifestar-se nos processos relativos a classificação
2 - as vagas reservadas para o provimento de cargos de funções de serviço público para efeito de atribuição do
ou preenchimento de funções-atividades, mediante trans- «pro labore» de que trata o Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 10
posição;  de julho de 1968; 

57
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VI - efetuar a analise dos dados coletados, produzindo SEÇÃO IX 


as informações necessárias;  Do Serviço de Apoio Técnico 
VII - colaborar com o órgão central do Sistema no de-
sempenho de suas atribuições, em especial na:  Artigo 32 - O Serviço de Apoio Tecnico tem as seguin-
a) implantação de novos cadastros ou de alterações nos tes atribuições: 
já implantados;  I - por meio da Seção de Documentação e Biblioteca: 
b) organização do Sistema de Informações de Pessoal;  a) organizar e manter atualizados os registros e fichá-
c) avaliação do desempenho do Sistema.  rios de referenda legislativa e de jurisprudência na area de
atuação do Departamento b) receber, registrar, classificar e
SECAO VIII  catalogar livros, periódicos e material similar; 
Do Serviço de Promoção, Progressão e Evolução c) organizar e manter atualizados os catálogos necessá-
Funcional  rios ao desenvolvimento dos serviços 
d) manter serviços de consultas e de pesquisas biblio-
Artigo 31 - O Serviço de Promoção, Progressão e Evo- graficas, de referência legislativa e de jurisprudência, bem
lução Funcional tem, por meio de suas Equipes Tecnicas, as como de intercâmbio com unidade de documentação e bi-
seguintes atribuições:  blioteca; 
I  - planejar, coordenar, orientar e controlar as ativida- e) elaborar catálogos bibliográficos e de referência le-
des relacionadas com a aplicação do instituto da promoção, gislativa, resumos e sumários para divulgação; 
bem como executar, em especial, as seguintes:  f) providenciar a produção de cópias de material do
a) receber, organizar e proceder aos registros e confe- acervo bibliográfico e legislativo; 
rências relativos aos processos e documentos de promoção;  g) orientar os interessados nas consultas e pesquisas; 
b) processar a contagem de pontos relativos a titulos, h) promover a aquisição de livros, coletâneas de legis-
certificados de cursos e outros considerados para fins de lação e assinaturas de periodicos de interesse das unidades
promoção;  do Departamento: 
c) examinar e instruir pedidos de inclusão de tempo de i) zelar pela guarda e conservação do acervo da unida-
serviço e de titulos;  de; 
d) providenciar as medidas necessarias nos casos de:  II - por meio da Seção de Difusão Tecnica: 
1 - atraso na expedição e remessa do Boletim de Me- a) promover a difusão interna e externa de trabalhos
recimento;  elaborados pelo pessoal tecnico do Departamento; 
2 - falta de qualquer informação ou de elementos soli- b) manter informado o pessoal técnico da Secretaria da
citados;  Educação acerca de reuniões, certames simpósios, conferên-
3 - fatos de que decorram irregularidades ou parcialida- cias, palestras e demais eventos relacionados com a área de
des no processo das promoções;  atuação do Departamento; 
e) providenciar para que seja dado conhecimento aos c) promover a preparação de originais, a impressão e a
interessados, mediante afixação na unidade administrativa, distribuição de trabalhos tecnicos em geral, bem como de
dos pontos atribuidos aos titulos e certificados de que trata instruções e manuais de procedimentos elaborados pelo
a alinea «b» deste inciso;  Departamento para as unidades da Secretaria da Educação; 
f) elaborar listas de classificação, para efeito de publi- d) providenciar a remessa de instruções e manuais de
cação;  procedimentos, bem como de suas folhas de atualização, a
g) analisar os recursos apresentados;  unidades da Secretaria da Educação; 
II - coordenar as atividades relacionadas com a aplica- e) manter registros relativos a distribuição de publica-
ção do instituto da progressão funcional de que tratam os ções, especiaimente de instruções e manuais de procedi-
Artigos 46 a 50 da Lei Complementar n. 201, de 09 de no- mentos; 
vembro de 1978 (Estatuto do Magistério);  III - por meio da Seção de Recursos Audiovisuais: 
III - planejar, coordenar. orientar e controlar as ativida- a) providenciar a confecção e ou aquisição de: 
des relacionadas com a aplicação do instituto da evolução 1 - desenhos, mapas, graficos, quadros demonstrativos
funcional, bem como executar, em especial, as seguintes:  e similares 
a) distribuir os impressos a serem utilizados no processo 2 - transparências, diapositivos, filmes e similares; 
avaliatório;  3 - gravações sonoras; 
b) conferir o levantamento de pessoal, bem como a dis- b)  organizar e manter atualizada a documentação de
tribuição e aplicação de conceitos avaliatórios em todos os material audiovisual; 
niveis hierarquicos;  e) promover a exibição de material audiovisual do acer-
c) elaborar relatório final referente ao processo avalia- vo ou de terceiros; 
tório, para fins de apreciação pelas autoridades superiores d) manter serviços de consultas e de intercâmbio de
da Secretaria da Educação, bem como do órgão central do material audiovisual; 
Sistema.  e) realizar estudos e pesquisas para o aprimoramento
dos recursos audiovisuais; 
f) zelar pela correta utilização e conservação do acervo
e do equipamento; 

58
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

IV - por meio da Seção de Gráfica:  b) organizar os documentos copiados, conforme soli-
a) executar serviços relativos a composição gráfica, pa- citação; 
ginação, montagem e impressão de textos, folhetos e im- c) zelar pela correta utilização do equipamento; 
pressos em geral;  d) arquivar as requisições de serviços executados. 
b) produzir fotolitos e gravar chapas;  Artigo 36 - A Seção de Material e Patrimônio tem as
c) executar serviços gerais de alceamento, grampeação, seguintes atribuições: 
blocagem e acabamento;  I - em relação a compras: 
d)  zelar pela correta utilização e pela manutenção do a) organizar e manter atualizado o cadastro de fornece-
equipamento e dos materiais aplicados;  dores de materiais e serviços; 
e) manter arquivo de modelos e exemplos de serviços b) colher informações de outros órgãos sobre a idonei-
gráficos executados;  dade das empresas, para fins de cadastramento; 
f) manter arquivo de autorizações de execução de ser- c) preparar expedientes referentes a aquisição de mate-
viços;  riais ou à prestação de serviços; 
g) efetuar o controle da produção e do material utili- d) analisar as propostas de fornecimento e as de pres-
zado;  tação de serviços; 
h) programar a manutenção de máquinas e equipamen- e) elaborar contratos relativos a compra de materiais ou
tos.  a prestação de serviços; 
Artigo 33 - As Seções de Documentação e Biblioteca, II - em relação a administração patrimonial: 
de Difusão Técnica e de Recursos Audiovisuais têm as se- a) cadastrar e chapear o material permanente e equipa-
guintes atribuições comuns:  mentos recebidos; 
I - executar atividades que se caracterizem como apoio b) registrar a movimentação dos bens móveis; 
técnico aos Centros e demais unidades técnicas do Depar- c) providenciar a baixa patrimonial e o seguro de bens
tamento;  móveis e imóveis; 
II - promover a realização de reuniões e palestras sobre d) proceder, periodicamente, ao inventário de todos os
metodologia de pesquisa bibliografica e legislativa, técnicas bens móveis constantes do cadastro; 
de redação e normas técnicas para elaboração de trabalhos e) providenciar e controlar as locações de imóveis que
pelo pessoal técnico do Departamento;  se fizerem necessárias; 
III - orientar as unidades do Departamento para confec- f) promover medidas administrativas necessárias a de-
ção de registros de trabalhos elaborados, que possibilitem a fesa dos bens patrimoniais; 
recuperação de informações;  III - por meio do Setor de Almoxarifado: 
IV - prestar assistência aos técnicos do Departamento a) analisar a composição dos estoques com o objetivo
na preparação de relatórios, material audiovisual e outros, de verificar sua oorrespondência as necessidades efetivas; 
para fins de publicação, bem como de exposição em even- b) fixar níveis de estoque minimo, máximo e ponto de
tos;  pedido de materiais; 
V - organizar a participação oficial do Departamento em c) elaborar pedidos de compra para formação ou repo-
eventos relacionados a sua área de atuação.  sição do estoque; 
d) controlar o atendimento pelos fornecedores, das en-
SEÇÃO X  comendas efetuadas, comunicando ao órgão responsável
Da Divisão de Administração  pela aquisição e ao órgão requisitante, quando for o caso,
os atrasos e outras irregularidades cometidas; 
Artigo 34 - A Divisão de Administração cabe prestar e) receber, conferir, guardar e distribuir mediante requi-
serviços, por meio das unidades que lhe são subordinadas, sição os materiais adquiridos; 
nas áreas de pessoal, material e patrimônio, finanças e or- f) controlar o estoque e a distribuição do material ar-
çamento, comunicações administrativas, serviços gerais e mazenado; 
transportes internos motorizados, propiciando, as unidades g) manter atualizados os registros de entrada e saida
atendidas, condições de desempenho adequado.  dos materiais em estoque; 
Artigo 35 - O Setor de Expediente tem as seguintes atri- h) realizar balancetes mensais e inventários, fisicos e de
buições:  valor do material estocado; 
I - receber, registrar, distribuir e expedir papéis e pro- i) realizar levantamento estatistico de consumo anual
cessos;  para orientar a elaboração do Orçamento-Programa; 
II - preparar o expediente da Diretoria da Divisão, de- j) elaborar relação de materiais considerados exceden-
sempenhando, entre outras, as seguintes atividades:  tes ou em desuso. 
a) executar e conferir serviços de datilografia;  Artigo 37 - O Serviço de Finanças, órgão setorial dos
b) providenciar cópias de textos;  Sistemas de Administração Financeira e Orçamentária, tem
c) requisitar papéis e processos;  as seguintes atribuições: 
d) manter arquivo das cópias dos textos datilografados;  I - por meio da Seção de Orçamento e Custos: 
III - em relação a reprografia:  a) propor normas para a elaboração e execução orça-
a) produzir cópias de documentos em geral;  mentária, atendendo àquelas baixadas pelos órgãos centrais; 
b) coordenar a apresentação da proposta orçamentária; 

59
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

c) processar a distribuição das dotações da unidade or- c) providenciar a confecção e a colocação de tapetes e
çamentária para a de despesa;  cortinas cuidando de sua conservação e substituição; 
d) manter registros necessários à apuração dos custos;  d) colocar e substituir os vidros; 
e) analisar os custos da unidade de despesa e atender a III - por meio do Setor de Copa: 
solicitações dos órgãos centrais sobre a matéria;  a) executar os serviços de copa; 
f) controlar a execução orçamentária segundo as nor- b) zelar pela correta utilização dos mantimentos, bem
mas estabelecidas;  como dos aparelhos e utensílios; 
II - por meio da Seção de Despesa:  c) executar os serviços de limpeza dos aparelhos e uten-
a) propor normas relativas a programação financeira, sílios bem como dos locais de trabalho; 
atendendo a orientação dos órgãos centrais;  IV - por meiio do Setor de Transportes, órgão setorial
b) elaborar a programação financeira da unidade de do Sistema de Administração dos Transportes Internos Mo-
despesa e da Unidade orçamentária;  torizados: 
c) analisar a execução financeira da unidade de despesa;  a) manter o registro de veículos, segundo a classificação
d) verificar se foram atendidas as exigências legais e re- em grupos previstos na legislação pertinente; 
gulamentares para que as despesas possam ser empenha- b) elaborar estudos sobre: 
das;  1 - alteração das quantidades fixadas; 
e) emitir empenhos e subempenhos;  2 - programações anuais de renovação: 
f) atender as requisições de recursos financeiros;  3 - conveniÊncia de aquisições para complementação
g) examinar os documentos comprobatórios da des- da frota ou substituição de veículos; 
pesa e providenciar os respectivos pagamentos, dentro dos 4 - conveniência da locação de veículos ou da utilização,
prazos estabelecidos segundo a programação financeira;  no serviço público, de veículos pertencentes a funcionários
h) emitir cheques, ordens de pagamento e de transfe- e servidores; 
rência de fundos e outros tipos de documentos adotados 5 - distribuição de veículos pelas subfrotas; 
para a realização de pagamentos;  6 - criação, extinção, instalação e fusão de postos de
i) manter registros necessários a demonstração das dis- serviços e 
ponibilidades e dos recursos financeiros utilizados;  7 - utilização adequada, guarda e conservação dos veí-
j) proceder a tomada de contas de adiantamentos con- culos oficiais e, se for o caso, dos em convênio; 
cedidos e de outras formas de entrega de recursos finan- 8 - conveniência do seguro geral; 
ceiros.  9 - conveniência do recebimento de veículos mediante
Artigo 38 - A Seção de Comunicações Administrativas convênio: 
tem as seguintes atribuições:  c) instruir processos relativos a autorização para funcio-
I - receber, registrar, classificar, autuar, controlar a distri- nário e servidor, legalmente habilitado, dirigir veículos ofi-
buição e expedir papéis e processos;  ciais, bem como para funcionário e servidor usar veículo de
II - informar sobre a localização de papéis e processos;  sua propriedade, em serviço público, mediante retribução
III - arquivar papéis e processos;  pecuniária; 
IV - preparar certidões de papéis e processos.  d) prestar os seguintes serviços de órgão subsetorial: 
Artigo 39 - O Serviço de Atividades Complementares 1 - manter cadastro dos veículos oficiais, dos veículos
tem as seguintes atribuições:  dos funcionários e servidores autorizados a prestar serviço
I - por meio da Seção de Zeladoria:  público, mediante retribuição pecuniária, dos veículos loca-
a) manter a vigilância dos edifícios e instalações;  dos em caráter não eventual e dos veículos em convênio; 
b) executar os serviços de telefonia;  2 - providenciar o seguro obrigatório de danos pessoais
c) atender e prestar informações ao público em geral;  causados por veículos automotores de vias terrestres e, se
d) receber e distribuir a oorrespondência de funcioná- autorizado, o seguro geral; 
rios e servidores;  3 - elaborar estudos sobre distribuição de veículos pelos
e) providenciar, diariamente, a execução dos serviços de órgãos detentores e alteração das quantidades distribuídas,
limpeza e de arrumação das dependências;  bem como sobre substituição de veículos oficiais; 
f) zelar pela correta utilização de equipamentos e ma- 4 - verificar, Periodicamente, o estado dos veículos ofi-
teriais de limpeza;  ciais, em convênio e locados; 
g) promover a guarda do material de limpeza e contro- 5 - efetuar ou providenciar a manutenção de veículos
lar seu consumo;  oficiais e, se for o caso, de veículos em convênio; 
II - por meio da Seção de Manutenção:  6 - zelar Pela manutenção dos equipamentos e ferra-
a) verificar, periódicamente, o estado dos prédios, insta- mentas utilizados na manutenção dos veículos; 
lações, elevadores, móveis, objetos, equipamentos, inclusive e) prestar os seguintes serviços de órgão detentor: 
os de escritório, aparelhos e das instalações hidráulicas e 1 - elaborar estudos sobre a distribuição de veículos, ofi-
elétricas, tomando as providências necessárias para sua ma- ciais e em convênio, pelos usuários; 
nutenção e conservação;  2 - guardar os veículos; 
b) providenciar a execução dos serviços de marcenaria, 3 - promover o licenciamento e o emplacamento: 
carpintaria, serralharia e pintura em geral;  4 - elaborar escalas de serviço; 
5 - executar os serviços de transporte interno; 

60
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

6 - realizar o controle do uso e das condições dos veí- Parágrafo único - As atividades de administração de
culos.  pessoal, a que se refere o inciso II, compreendem especial-
mente: 
SEÇÃO XI  1 - seleção e movimentação de pessoal; 
Das Seções de Expediente  2 - treinamento e desenvolvimento; 
3 - promoção, progressão e evolução funcional; 
Artigo 40 - As Seções de Expediente têm, em seus res- 4 - cadastro de cargos e funções; 
pectivos âmbitos de atuação, as seguintes atribuições:  5 - cadastro funcional; 
I - receber, registrar, distribuir e expedir papéis e pro- 6 - frequência; 
cessos;  7 - expediente de pessoal. 
II - preparar o expediente das autoridades a que se su-
bordinem e o das unidades técnicas que não contem com SEÇÃO II 
unidades de expediente próprias. desempenhando, entre Das Assistências Técnicas 
outras, as seguintes atividades: 
a) executar e conferir serviços de datilografia;  Artigo 42 - As Assistências Técnicas tem as seguintes
b) providenciar cópias de textos;  atribuições; 
c) requisitar papéis e processos;  I - subsidiar o planejamento das atividades de recruta-
d) manter arquivo das cópias dos textos datilografados. mento, seleção, remoção, movimentação de pessoal, treina-
Parágrafo único - A Seção de Expediente do Serviço mento e desenvolvimento de recursos humanos; 
de Promoção Progressão e Evolução Funcional tem, ainda, a II - participar da elaboração e executar, a critério do De-
atribuição de preparar os atos relativos a promoção.  partamento de Recursos Humanos, programas compreendi-
dos no planejamento de que trata o inciso anterior, exercen-
CAPÍTULO II  do as atividades a seguir relacionadas: 
Dos Serviços de Recursos Humanos  a) em relação aos programas de recrutamento, seleção
e movimentação de pessoal: 
SEÇÃO I  1 - divulgar as informações relativas a concursos públi-
Das Atribuições Gerais  cos, concursos de remoção e processos seletivos; 
2 - providenciar a abertura e o encerramento de ins-
Artigo 41 - Aos Serviços de Recursos Humanos cabe:  crições de candidatos em concursos públicos ou processos
I - assistir os dirigentes das unidades a que prestarem seletivos, bem como nos concursos de 
serviços, nos assuntos relacionados com o Sistema de Admi- 3 - receber e analisar os pedidos de inscrição, examinan-
nistração de Pessoal;  do a documentação apresentada pelos candidatos e mani-
II - programar e executar, em consonância com a orien- festando-se conclusivamente quanto 
tação emanada do Departamento de Recursos Humanos, as 4 - orientar o pessoal incumbido do recebimento de ins-
atividades de administração do pessoal civil das unidades a crições e da aplicação de provas ou testes; 
que prestarem serviços, inclusive dos estagiários e do pes- 5 - tomar as providências necessárias à aplicação de
soal contratado para prestação de serviços;  provas ou teste: 
III - atuar sempre em integração com o Departamento 6 - providenciar a divulgação dos resultados; 
de Recursos Humanos devendo, em suas respectivas áreas 7 - preparar e expedir certificados de habilitação em
de atuação:  concurso público ou processo seletivo; 
a) colaborar com esse órgão, quando solicitado ou 8 - convocar candidatos dassificados, para escolha de
apresentando, por sua própria iniciativa, estudos, sugestões vagas, quando for o caso; 
ou problemas, no interesse da melhoria do Sistema;  9 - encaminhar a autoridade competente os expedien-
b) observar e fazer observar as diretrizes e normas dele tes necessários à preparação dos atos de nomeação ou ad-
emanadas;  missão; 
c) atender ou providenciar o atendimento das solicita- b) em relação aos programas de treinamento e desen-
ções desse órgão;  volvimento de recursos humanos: 
d) mantê-lo permanentemente informado sobre a si- 1 - divulgar as condições para participação nos progra-
tuação dos recursos humanos;  mas; 
e) participar do levantamento das necessidades de re- 2 - receber e analisar os pedidos de inscrição, manifes-
cursos humanos;  tando-se conclusivamente quanto ao deferimento; 
IV - atender a consultas e manifestar-se conclusivamen- 3 - providenciar o preparo de recursos didáticos; . 
te nos processos que lhes forem encaminhados;  4 - controlar a frequência dos participantes; 
V  - zelar pela adequada instrução dos processos que 5 - preparar certificados, atestados ou certidões de par-
devam ser submetidos a apreciação de outros órgãos, provi- ticipação nos programas; 
denciando, quando for o caso, a complementação de dados 6 - manter registros atualizados dos participantes de
pelos órgãos ou autoridades competentes;  treinamentos; 
VI - manter os funcionários e servidores informados a
respeito de seus direitos e deveres.

61
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

7 - manter registros atualizados de instrutores, colabo- b) manter atualizados os prontuários de funcionários e


radores e instituições especializadas em ensino e treinamen- servidores. 
to; 
c) orientar e controlar as atividades relativas à aplicação SEÇÃO V 
do instituto da progressão funcional;  Das Seções de Frequência 
d) desenvolver as atividades relativas ao registro e con-
trole de pessoal regido pela legislação trabalhista, de acordo Artigo 45 - As Seções de Frequência têm as seguintes
com a orientação do Departamentode Recursos Humanos;  atribuições: 
e) providenciar a elaboração de relatorios previstos na I - preparar certidões relacionadas com a frequência dos
legislação relativa à readaptação;  funcionários e servidores; 
f)  desenvolver outras atividades que se caracterizem II - anotar os afastamentos e as licenças dos funcioná-
como apoio técnico ao planejamento controle, execução e rios e servidores; 
avaliação das atividades próprias do Sistema;  III  - apurar o tempo de serviço para todos os efeitos
g) promover a realização periódica de analise dos resul- legais e expedir as respectivas certidões de liquidação de
tados e aos custos dos programas executados.  tempo de serviço; 
IV - em relação ao pessoal da sede, além das constantes
SEÇÃO III  dos incisos anteriores: 
Das Seções de Cadastro de Cargos e Funções  a) registrar e controlar a frequência mensal; 
b) preparar atestados relacionados com a frequência
Artigo 43 - As Seções de Cadastro de Cargos e Funções dos funcionários e servidores. 
têm as seguintes atribuições: 
I  - manter atualizado o cadastro de cargos e funções, SEÇÃO VI 
procedendo às anotações decorrentes de:  Das Seções de Expediente de Pessoal 
a) fixação, extinção e relotação de postos de trabalho; 
b) criação, classificação, alteração ou extinção de cargos Artigo 46 - As Seções de Expediente de Pessoal têm as
e funções atividades;  seguintes atribuições: 
c) provimento ou vacância de cargos;  I - elaborar Pedidos de Indicação de Candidatos (PIC),
d) preenchimento ou vacância de funções-atividades;  para fins de nomeação ou admissão de pessoal aprovado
e) concessão do «pro labore» de que trata o Artigo 28 da em concurso público ou processo seletivo, realizado pelo
Lei n. 10.168, de 10 de julho de 1968;  órgão central do Sistema; 
f) transferência de cargos e funções-atividades;  II - lavrar contratos individuals de trabalho e todos os
g) remoção dos integrantes da carreira do Magistério;  atos relativos à sua alteração, suspensão ou rescisão; 
h)  alterações de dados funcionais, dos funcionários e III - centralizar, preparar, quando for o caso, e encami-
servidores, que afetem o cadastro;  nhar os expedientes relativos à promoção, acesso e evolu-
II - exercer controle sobre:  ção funcional de funcionários e servidores; 
a) as vagas reservadas para remoção; .  IV  - preparar atos relativos a vida funcional dos fun-
b)  o atendimento dos requisites fixados para o provi- cionários e servidores, inclusive os relativos a concessão de
mento de cargos e  preenchimento de funções-atividades vantagens pecuniárias; 
cadastrados;  V - elaborar apostilas sobre alteração de dados pessoais
III - manter registros atualizados com relação ao pes- e funcionais de funcionários e servidores; 
soal considerado excedente nas unidades a que prestarem VI  - preparar e expedir formulários as instituições de
serviços.  previdência social competentes, bem como outros exigidos
pela legislaão pertinente; 
SEÇÃO IV  VII - providenciar matriculas na instituição de previdên-
Das Seções de Cadastro Funcional  cia social competente, bem como emissão de documentos
de registro pertinente aos servidores e aos seus dependen-
Artigo 44 - As Seções de Cadastro Funcional têm as tes; 
seguintes atribuições:  VIII  - registrar na Carteira de Trabalho e Previdência
I - manter atualizados o cadastro funcional e os registros Social todas as anotações necessárias, relativas a vida pro-
decorrentes da aplicação do Sistema de Pontos aos funcio- fissional do servidor, admitido nos termos da legislação tra-
nários e servidores;  balhista; 
II - controlar a designação de funcionários e servidores IX - comunicar aos orgãos e entidades competentes o
para os respectivos postos de trabalho;  falecimento de funcionários e servidores; 
III - registrar os atos relativos à vida funcional dos fun- X - em relação ao pessoal da sede, além das constantes
cionários e servidores;  dos incisos anteriores: 
IV - em relação ao pessoal da sede, além das constantes a) preparar os expedientes relativos à posse; 
dos incisos anteriores:  b) expedir guias para exames de saúde. 
a) controlar os prazos para inicio de exercicio dos fun-
cionários e servidores; 

62
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

CAPITULO III  a) manter atualizados o cadastro funcional, o prontuário


Das Seções de Pessoal  e os registros decorrentes da aplicação do Sistema de Pon-
tos aos funcionários e servidores 
Artigo 47 - A Seção de Pessoal do Departamento de b) controlar a designação de funcionários e servidores
Administração, as Seções de Pessoal das Divisões de Admi- para os respectivos postos de trabalho; 
nistração das Coordenadorias, do Departamento de Recur- c) controlar os prazos para inicio de exercicio dos fun-
sos Humanos e do Conselho Estadual de Educação e a Seção cionários e servidores; 
de Pessoal do Serviço de Administração do Departamento d) registrar os atos relativos a vida funcional dos funcio-
de Assistência ao Escolar tem as seguintes atribuições:  nários e servidores; 
I - programar e executar, em consonância com a orien- VIII - em relação à frequência: 
tação emanada do Departamento de Recursos Humanos, as a) registra e controlar a frequência mensal; 
atividades de administração do pessoal civil das unidades a b) preparar atestados e certidões relacionados com a
que prestarem serviços, inclusive dos estagiários e do pes- frequência dos funcionários e servidores; 
soal contratado para prestação de serviços;  c) anotar os afastamentos e as licenças dos funcionários
II - atuar sempre em integração com o Departamento e servidores 
de Recursos Humanos, devendo, em suas respectivas áreas d) apurar o tempo de serviço para todos os efeitos le-
de atuação:  gais e expedir as respectivas certidões de liquidação de tem-
a)  colaborar com esse órgão, quando solicitado ou po de serviço; 
apresentando, por sua própria iniciativa, estudos, sugestões IX - em relação ao expediente de pessoal: 
ou problemas, no interesse da melhoria do Sistema;  a) elaborar Pedidos de Indicação de Candidatos (PIC),
b) observar e fazer observar as diretrizes e normas dele para fins de nomeação ou admissão de pessoal aprovado
emanadas;  em concurso público ou processo seletivo realizado pelo ór-
c) atender ou providenciar o atendimento das solicita- gão central do Sistema; 
ções desse órgão;  b) lavrar contratos individuals de trabalho e todos os
d)  mantê-lo permanentemente informado sobre a si- atos relativos a sua alteração, suspensão ou rescisão; 
tuação dos recursos humanos;  c) preparar os expedientes relativos à posse; 
e) participar do levantamento das necessidades de re- d) centralizar, preparar, quando for o caso, e encami-
cursos humanos;  nhar os expedientes relativos a promoção, acesso e evolu-
III - atender a consultas e manifestar-se conclusivamen- ção funcional de funcionários e servidores; 
te nos processos que lhes forem encaminhados;  e) preparar atos relativos à vida funcional dos funcioná-
IV - zelar pela adequada instrução dos processos que rios e servidores inclusive os relativos a concessão de vanta-
devam ser submetidos a apreciação de outros órgãos, provi- gens pecuniárias; 
denciando, quando for o caso, a complementação de dados f) elaborar apostilas sobre alteração de dados pessoais
pelos órgãos ou autoridades competentes;  e funcionais de funcionários e servidores; 
V  - manter os funcionários e servidores Informados a g) preparar e expedir formulários as instituições de pre-
respeito de seus direitos e deveres;  vidência social competentes, bem como outros exigidos
VI - em relação ao cadastro de cargos e funções:  pela legislação pertinente; 
a) manter atualizado o cadastro de cargos e funções, h) providenciar matriculas na instituição de previdencia
procedendo às anotações decorrentes de:  social competente bem como emissão de documentos de
1 - fixação, extinção e relotação de postos de trabalho;  registro pertinentes aos servidores e aos seus dependentes; 
2 - criação, classificação, alteração ou extinção de cargos i) registrar na Carteira de Trabalho e Previdência Social
e funçõesatividades;  todas as anotações necessárias, relativas a vida profissional
3 - provimento ou vacancia de cargos;  do servidor admitido nos termos da legislação trabalhista; 
4 - preenchimento ou vacancia de funções-atividades;  j) expedir guias para exames de saúde; 
5 - concessão do «pro labore» de que trata o Artigo 28 l) comunicar aos órgãos e entidades competentes o fa-
da Lei n. 10 168, de 10 de julho de 1968;  lecimento de funcionários e servidores. 
6 - transferência de cargos e funções-atividades;  Artigo 48 - A Seção de Pessoal do Serviço de Adminis-
7 - alterações de dados funcionais, dos funcionários e tração da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira tem
servidores, que afetem o cadastro;  as seguintes atribuições: 
b) exercer controle sobre o atendimento dos requisitos I - as previstas nos incisos II, III, IV, V e VI do Artigo 41
fixados para o provimento de cargos e o preenchimento de deste Decreto; 
funções-atividades cadastrados;  II - por meio do Setor de Cadastro, as previstas nos Ar-
c) manter registros atualizados com relação:  tigos 43 e 44 deste Decreto: 
1 - aos membros dos órgãos colegiados;  III - por meio do Setor de Frequência e Expediente de
2 - aos afastamentos e as licenças de funcionários e ser- Pessoal, as previstas nos Artigos 45 e 46 deste Decreto. 
vidores; 
3 - ao pessoal considerado excedente nas unidades a
que prestarem serviços; 
VII - em relação ao cadastro funcional: 

63
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

CAPITULO IV  TÍTULO V 
Das Demais Unidades  Das Competências 

Artigo 49 - As Seções de Administração das Delegacias CAPITULO I 


de Ensino, por meio dos respectivos Setores de Expediente Das Competências Relativas ao Sistema de Adminis-
e Pessoal, tem, na área de pessoal, as seguintes atribuições:  tração de Pessoal 
I - em relação ao pessoal da sede: 
a) manter atualizados os prontuários de funcionários e SEÇÃO I 
servidores;  Do Secretário da Educação 
b) preparar os expedientes relativos à posse; 
c) controlar os prazos para inicio de exercicio dos fun- Artigo 52 - Ao Secretário da Educação, no âmbito da
cionários e servidores;  Secretaria, além de outras competências que lhe forem con-
d) registrar a frequência mensal;  feridas por lei ou decreto, compete. 
e) preparar atestados relacionados com a frequência de I - sugerir medidas para aperfeiçoamento do Sistema; 
funcionários e servidores;  II - determinar o cumprimento: 
f) expedir guias para exames de saúde;  a) das diretrizes e normas emanadas do órgão central
g) anotar os afastamentos e as licenças de funcionários do Sistema; 
e servidores;  b) dos prazos para encaminhamento de dados, infor-
h) informar processos que versem sobre pessoal;  mações, relatórios e outros documentos ao orgão central do
i) comunicar aos órgãos e entidades competentes o fa- Sistema; 
lecimento de funcionários e servidores;  III - aprovar diretrizes e normas para atendimento de si-
II - em relação ao pessoal da área territorial de atuação tuações específicas, em complementação aquelas emanadas
da respectiva Delegacia de Ensino;  do órgão central do Sistema; 
a) preparar expedientes relativos à admissão e dispensa IV - aprovar as propostas apresentadas pelo Departa-
de pessoal docente e estagiários admitidos nos termos do mento de Recursos Humanos, encaminhando ao órgão cen-
inciso I do Artigo 1.° da Lei n. 500, de 13 de novembro de tral do Sistema aquelas que dependam de sua apreciação,
1974;  dentre elas as relativas a: 
b) elaborar a lista de classificação do pessoal docente a) fixação de padrões de lotação; 
abrangido pelo instituto da progressão funcional. b) criação, extinção ou modificação de cargos e fun-
§ 1.° - As unidades de que trata este artigo atuarão sem- ções-atividades; 
pre em integração com o órgão subsetorial do Sistema de c) constituição de séries de classes para fins de acesso; 
Administração de Pessoal, na Secretaria da Educação, a que d) necessidade de recursos humanos; 
estiverem jurisdicionados. e) fixação ou extinção de postos de trabalho; 
§ 2.° - As atribuições de que tratam as alíneas “b” e “c” f) projeção das despesas com recursos humanos e en-
do inciso I serão exercidas também em relação aos Diretores cargos previdenciários para a elaboração do orçamento de
de Escola. pessoal; 
Artigo 50 - As Secretarias de Escola têm, na área de V - encaminhar a aprovação ao Secretário de Estado dos
pessoal, as seguintes atribuições:  Negócios da Administração modelos de concursos públicos,
I - organizar e manter atualizados os prontuários de fun- processos seletivos para admissão de servidores e proces-
cionários e servidores;  sos seletivos especiais para transposição ou acesso, a serem
II - preparar os expedientes relativos à posse;  aplicados pelo Departamento de Recursos Humanos; 
III - controlar os prazos para início de exercício dos fun- VI - encaminhar a autorização do Secretário de Estado
cionários e servidores;  dos Negócios da Administração, ressalvados os casos de
IV - registrar a frequência mensal;  competência legal específica, as propostas do Departamen-
V  - preparar atestados relacionados com a frequência to de Recursos Humanos para a realização de concursos
de funcionários e servidores;  públicos, de processos seletivos para admissão de servido-
VI - expedir guias para exames de saúde;  res e de processos seletivos especiais para transposição ou
VII - anotar os afastamentos e as licenças de funcioná- acesso; 
rios e servidores;  VII  - autorizar a abertura de concursos públicos para
VIII - informar processos que versem sobre pessoal;  provimento de cargos e processos seletivos para preenchi-
IX - comunicar aos órgãos e entidades competentes o mento de funções-atividades do Quadro do Magistério; 
falecimento de funcionários e servidores.  VIII - nos concursos de remoção de integrantes da car-
Artigo 51 - A Assistência Técnica da Divisão Especial de reira do magistérios: 
Ensino do Vale do Ribeira tem as atribuições previstas no a) autorizar a sua abertura; 
Artigo 42 deste Decreto.  b) aprovar as Instruções Especiais; 
IX - nos concursos públicos e processos seletivos exe-
cutados direta ou Indiretamente pelo Departamento de Re-
cursos Humanos: 
a) aprovar as Instruções Especiais; 

64
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

b) designar os membros para comporem as bancas exa- XXVII - promover funcionários e servidores, bem como
minadoras;  homologar o processo avaliatório para fins de evolução fun-
X - aprovar o conteúdo, a duração e a metodologia a ser cional; 
adotada nos programas de treinamento e desenvolvimento XXVIII  - autorizar, cessar e prorrogar afastamento de
de recursos humanos a serem executados sob a responsa- funcionários e servidores, para dentro do Pais, nas seguintes
bilidade direta ou indireta do Departamento de Recursos hipóteses: 
Humanos;  a) para missão ou estudo de interesse do serviço pú-
XI - estabelecer, com base em proposta do Diretor do blico; 
Departamento de Recursos Humanos, normas que dispo- b) para participação em congressos e outros certames
nham sobre:  culturais tecnicos nicos ou cientificos; 
a) a orientação e os critérios de movimentação do pes- c) para participação em provas de competições despor-
soal docente, técnico e administrativo;  tivas, desde que haja requisição da autoridade competente; 
b) os critérios de avaliação de títulos;  XXIX - convocar ou designar funcionário e servidor para
XII - relotar postos de trabalho de uma para outra uni- prestação de serviços em unidade diversa daquela onde o
dade da Secretaria da Educação, respeitados os padroes de cargo ou função-atividade se encontrá classificado; 
lotação;  XXX - autorizar ou prorrogar a convocação de docentes
XIII  - solicitar a relotação de postos de trabalho ou a e especialistas em educação para prestação de serviços ex-
transferência de cargos ou funções-atividades, de outros ór- traordinários, nos termos da legislação pertinente; 
gãos para a Secretaria da Educação, observadas as restrições XXXI - requisitar passagens aéreas para funcionário ou
legais;  servidor a serviço da Secretaria da Educação, de acordo com
XIV - aprovar os pedidos de relotação de postos de tra- a legislação pertinente; 
balho ou de transferência de cargos e funções-atividades, da XXXII - conceder gratificação a título de representação,
Secretaria da Educação para outros órgãos, encaminhando a a funcionários e servidores de seu Gabinete, observada a le-
matéria a apreciação do órgão central do Sistema;  gislação pertinente; 
XV - indicar ao órgão central do Sistema os funcioná- XXXIII - autorizar o pagamento de transportes e de diá-
rios e servidores considerados excedentes na Secretária da rias a funcionários e servidores; 
Educação;  XXXIV - conceder e arbitrar ajuda de custo a funcioná-
XVI - admitir ou autorizar a admissão de servidores bem rios e servidores que, no interesse do serviço, passarem a
como dispensá-los. nos termos da legislação pertinente;  ter exercício em nova sede em território do Estado, ou que
XVII - convalidar atos de investidura no serviço público;  forem incumbidos de serviço que os obrigue a permanecer
XVIII - dar posse a funcionários que lhe sejam direta- fora da sede por mais de 30 (trinta) dias; 
mente subordinados;  XXXV - exonerar: 
XIX - proceder à classificação de cargos ou funções-a- a) a pedido, funcionário ocupante de cargo em comis-
tividades, bem como a sua transferência de uma para outra são; 
unidade subordinada, de acordo com os postos de trabalho;  b) titular de cargo provido nos termos do inciso III do
XX - proceder a colocação em disponibilidade de fun- Artigo 92 da Constituição do Estado, a pedido ou quando do
cionário ou servidor estável, nos termos da legislação perti- provimento do cargo mediante concurso: 
nente;  XXXVI - ordenar a prisão administrativa de funcionário
XXI - designar funcionários ou servidores para os postos ou servidor, até 90 (noventa) dias, e providenciar a realização
de trabalho das unidades subordinadas;  do processo de tomada de contas; 
XXII - fixar o horário de trabalho dos funcionários e ser- XXXVII - prorrogar, em até 90 (noventa) dias, a suspen-
vidores;  são preventiva de funcionário ou servidor; 
XXIII - designar funcionário ou servidor:  XXXVIII - determinar a instauração de processo admi-
a) para o exercicio de substituição remunerada;  nistrativo ou de sindicância, inclusive para apuração de res-
b) para funções de encarregatura, chefia e direção a se- ponsabilidade em acidentes com veiculos oficiais; 
rem retribuidas mediante «pro labore» previsto no Artigo 28 XXXIX - determinar providências para a instauração de
da Lei n. 10.168, de 10 de julho de 1968, e nos termos do inquérito policial; 
Artigo 196 da Lei Complementar n. 180, de 12 de maio de XL - aplicar pena de repreensão e suspensão até 90 (no-
1978;  venta) dias, a funcionário ou servidor, bem como converter
XXIV - atribuir a gratificação mencionada na alínea «b» em multa a suspensão aplicada. 
do inciso anterior, observada a legislação pertinente; 
XXV  - aprovar a indicação ou designar substitutos de SEÇÃO II 
cargos, funçõesatividades ou funções de serviço público de Do Chefe de Gabinete, dos Coordenadores e do Pre-
direção das unidades diretamente subordinadas;  sidente do Conselho Estadual de Educação 
XXVI - aprovar a indicação ou designar funcionários ou
servidores para resporderem pelo expediente das unidades Artigo 53 - Ao Chefe de Gabinete, aos Coordenadores
diretamente subordinadas;  e ao Presidente do Conselho Estadual de Educação, em suas
respectivas áreas de atuação, compete: 

65
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

I - admitir e dispensar servidores, nos termos da legis- em relação aos demais órgãos diretamente subordinados ao
lação pertinente;  Secretário da Educação.
II - dar posse a funcionários que lhes sejam diretamen- Parágrafo único - A aplicação deste artigo será disci-
te subordinados e aos nomeados para cargos em comissão, plinada pelo Secretário da Educação, mediante resolução
bem como de direção e chefia das unidades subordinadas;  específica.
III - designar funcionário ou servidor para o exercício de Artigo 55 - Aos Coordenadores de Ensino compete,
substituição remunerada;  ainda, a convocação de funcionário e servidor de unidade
IV - aprovar a indicação ou designar substitutos de car- subordinada, para prestação de serviços até no máximo de
gos, funções-atividades ou funções de serviço público de di- 120 (cento e vinte) dias, em unidade diversa daquela onde o
reção, chefia ou encarregatura das unidades subordinadas;  cargo ou função-atividade se encontra classificado. 
V  - aprovar a indicação ou designar funcionários ou
servidores para responderem pelo expediente das unidades SEÇÃO III 
subordinadas;  Dos Diretores de Departamento e Demais Dirigentes
VI - autorizar ou prorrogar a convocação de funcioná- de Órgãos 
rios e servidores para a prestação de serviços extraordiná-
rios;  Artigo 56 - Aos Diretores de Departamento, ao Dirigen-
VII - encaminhar ao Secretário da Educação propostas te da Assessoria Técnica de Planejamento e Controle Educa-
de designação de funcionários e servidores, nos termos do cional, aos Diretores das Divisões Regionais de Ensino e ao
Artigo 28 da Lei n. 10.168 de 10 de julho de 1968;  Diretor da Divisão Especial de Ensíno do Vale do Ribeira, em
VIII - autorizar, cessar ou prorrogar afastamento de fun- suas respectivas áreas de atuação, compete: 
cionários e servidores, para dentro do País e por prazo não I - dar posse a funcionários que lhes sejam diretamen-
superior a 30 (trinta) dias, nas seguintes hipóteses:  te subordinados e aos nomeados para cargos em comissão,
a) para missão ou estudo de interesse do serviço pú- bem como de direção e chefia de unidades subordinadas; 
blico;  II - autorizar horários especiais de trabalho; 
b) para participação em congressos ou outros certames III - convocar, quando cabível, funcionário ou servidor
culturais, técnicos ou científicos;  para prestação de serviços em Jornada Completa de Traba-
c) para participação em provas de competições despor- lho observada a legislação pertinente; 
tivas, desde que haja requisição de autoridade competente;  IV - designar funcionário ou servidor para o exercício de
IX - autorizar o pagamento de diárias a funcionários e substituição remunerada; 
servidores, até 30 (trinta) dias;  V - aprovar a indicação ou designar substitutos de car-
X - autorizar o pagamento de transportes a funcionários gos, funçõesatividades ou funções de serviço público de di-
e servidores, bem como ajuda de custo, na forma da legis- reção, chefia ou encarregatura de unidades subordinadas; 
lação pertinente;  VI  - aprovar a indicação ou designar funcionários ou
XI - requisitar passagens aéreas para funcionário ou ser- servidores para responderem pelo expediente de unidades
vidor a serviço dentro do País, até o limite máximo fixado na subordinadas; 
legislação pertinente;  VII  - autorizar ou prorrogar a convocação de funcio-
XII  - autorizar, por ato específico, as autoridades que nários ou servidores do Quadro da Secretaria da Educação
lhes são subordinadas, a requisitarem transporte de pessoal (QSE) para prestação de serviços extraordinários, até o máxi-
por conta do Estado, observadas as restrições legais vigen- mo de 120 (cento e vinte) dias; 
tes;  VIII  - decidir, nos casos de absoluta necessidade dos
XIII - determinar a instauração de processo administra- serviços, sobre a impossibilidade de gozo de férias regula-
tivo ou sindicância, inclusive para apuração de responsabili- mentares; 
dade em acidentes com veículos oficiais;  IX - autorizar o gozo de férias não usufruidas no exercí-
XIV - ordenar a prisão administrativa de funcionário ou cio correspondente; 
servidor, até 60 (sessenta) dias, e providenciar a realização X - conceder licença a funcionários para tratar de inte-
do processo de tomada de contas;  resses particulares; 
XV - ordenar ou prorrogar suspensão preventiva de fun- XI - autorizar o gozo de licença especial para funcioná-
cionário ou servidor, até 60 (sessenta) dias;  rio frequentar curso de graduação em Administração Públi-
XVI - determinar providências para a instauração de in- ca, da Fundação Getúlio Vargas ou da Universidade de São
quérito policial;  Paulo; 
XVII - aplicar penas de repreensão e de suspensão, limi- XII - exonerar funcionário efetivo ou dispensar servidor,
tada a 60 (sessenta) dias, bem como converter em multa a a pedido, observada a legislação pertinente; 
suspensão aplicada.  XIII - exonerar titular de cargo provido nos termos do
Parágrafo único - O Presidente do Conselho Estadual inciso III do Artigo 92 da Constituição do Estado, quando
de Educação exercerá a competência prevista no inciso XI vencido o prazo; 
também em relação aos Conselheiros. XIV - determinar a instauração de sindicância, inclusive
Artigo 54 - O Chefe de Gabinete poderá exercer as para apuração de responsabilidade em acidentes com veí-
competências previstas no artigo anterior e nos Artigos 56 e culos oficiais; 
57, partial ou integralmente, conforme for o caso, também

66
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

XV - ordenar prisão administrativa de funcionário e ser- Artigo 62 - Aos Dirigentes do Centro do Departamento
vidor, até 30 (trinta) dias, e providenciar a realização do pro- de Recursos Humanos compete, ainda, propor a contratação
cesso de tomada de contas;  de serviços de terceiros, em assuntos referentes à sua àrea
XVI  - ordenar suspensão preventiva de funcionário e de atuação. 
servidor, por prazo não superior a 30 (trinta) dias;  Artigo 63 - Aos Delegados de Ensino, em suas respecti-
XVII - aplicar penas de repreensão e de suspensão, li- vas áreas de atuação, compete, ainda: 
mitada a 30 (trinta) dias, bem como converter em multa a I - admitir pessoal docente, nos termos do inciso I do Ar-
suspensão aplicada.  tigo 1.° da Lei n. 500, de 13 de novembro de 1974 bem como
Artigo 57 - Aos Diretores de Departamento, ao Dirigen- dispensá-los nos termos da legislação pertinente; 
te da Assessoria Técnica de Planejamento e Controle Educa- II - propor a designação de titular de cargo de Assisten-
cional, aos Diretores das Divisões Regionais de Ensino e ao te de Ensino II e de Assistente de Diretor de Escola para a
Diretor da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira, en- assistência e direção de escola estadual comum ou agrupa-
quanto dirigentes de unidade de despesa, compete, ainda;  da, mediante prévia consulta ao respectivo Diretor, quando
I - admitir servidores, nos termos da legislação pertinen- for o caso; 
te;  III - em relação ao pessoal da sede: 
II - autorizar o pagamento de diárias a funcionários ou a) da posse a funcionários subordinados: 
servidores, até 15 (quinze) dias; ,  b) conceder prorrogação de prazo para posse; 
III - autorizar o pagamento de transporte a funcionários c) decidir, nos casos de absoluta necessidade dos servi-
ou servidores, bem como ajuda de custo, na forma da legis- ços, sobre a impossibilidade do gozo de férias regulamen-
lação pertinente;  tares; 
IV - autorizar a concessão e fixar o valor da gratificação d) autorizar o gozo de férias não usufruídas no exercício
«pro labore» a funcionário ou servidor que pagar ou receber correspondente.
em moeda corrente, observada a legislação pertinente;  Parágrafo único - As competências de que trata o in-
V - autorizar o parcelamento de débito de funcionários ciso III serão exercidas também em relação aos Diretores de
ou servidores, observada a legislação pertinente.  Escola.
Artigo 58 - Ao Diretor do Departamento de Assistência Artigo 64 - Aos Diretores de Escola, em suas respectivas
ao Escolar compete, ainda, convocar funcionário e servidor, áreas de atuação, compete, ainda: 
da área de assistência ao escolar, para prestação de serviços I - dar posse a funcionários subordinados; 
em unidade diversa daquela onde o cargo ou a funçãoativi- II - conceder prorrogação de prazo para posse; 
dade se encontra classificado.  III - convocar pessoal docente para optar por jornada de
Artigo 59 - Aos Diretores das Divisões Regionais de En- trabalho nos termos da legislação pertinente: 
sino e ao Diretor da Divisão Especial de Ensino do Vale do IV - decidir, nos casos de absoluta necessidade dos ser-
Ribeira, compete, ainda:  viços, sobre a impossibilidade de gozo de férias regulamen-
I - convocar funcionário e servidor de unidade subordi- tares; 
nada para prestação de serviços, por prazo não superior a V - autorizar o gozo de férias não usufruídas no exercído
60 (sessenta) dias, em unidade diversa daquela onde o cargo correspondente; 
ou a função-atividade se encontra classificado;  VI - indicar docente para o cargo de Assistente de Dire-
II - incluir pessoal docente em jornada de trabalho, nos tor de Escola; 
termos da legislação pertinente.  VII - designar docente da escola para Professor-Coor-
Artigo 60 - Aos Diretores das Divisões de Ensino que denador e para Professor Conselheiro de Classe; 
contem na respectiva área territorial de atuação com Unida- VIII - propor a designação de funcionário ou servidor: 
des Escolares de Ação Comunitária (UEACs) compete, ainda, a) para o exercício de substituição remunerada; 
convocar pessoal docente para inclusão em jornada de tra- b) para responder pelo expediente de unidade subor-
balho docente.  dinada; 
c) para o exercício de função de serviço público, nos ter-
SEÇÃO IV  mos do Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 10 de julho de 1968; 
Dos Diretores de Divisão, dos Diretores de Serviço e IX - Indicar ou designar funcionário ou servidor para a
dos Dirigentes de Unidades de Níveis Equivalentes  zeladoria da escola. 

Artigo 61 - Aos Diretores de Divisão, aos Dirigentes de SEÇÃO V 


Centro, aos Delegados de Ensino, aos Dirigentes de Grupo Dos Analistas Supervisores, dos Chefes de Seção e
Técnico, ao Dirigente da Assistência Técnica do Conselho Es- dos Secretários de Escola 
tadual de Educação, aos Diretores de Escola e aos Diretores
de Serviço, em suas respectivas áreas de atuação, compete:  Artigo 65 - Aos Analistas Supervisores, aos Chefes de
I - determinar a instauração de sindicância;  Seção e aos Secretários de Escola, em suas respectivas áreas
II - aplicar penas de repreensão e de suspensão, limitada de atuação, compete aplicar penas de repreensão e de sus-
a 15 (quinze) dias, bem como converter em multa a suspen- pensão, limitada a 8 (oito) dias, bem como converter em
são aplicada.  multa a suspensão aplicada. 

67
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO VI  III - expedir certificados de participação ou de aprovei-


Dos Dirigentes de Órgãos do Sistema  tamento, conforme o caso. 
Artigo 69 - Ao Diretor da Divisão de Cadastro e Infor-
Artigo 66 - Ao Diretor do Departamento de Recursos mações de Pessoal compete: 
Humanos, na qualidade de dirigente do órgão setorial do I  - encaminhar, ao órgão central do Sistema, Pedidos
Sistema, no âmbito da Secretaria da Educação, compete:  de Indicação de Candidatos (PIC), para fins de nomeação ou
I - em relação aos concursos públicos e processos sele- admissão de pessoal aprovado em concurso público ou pro-
tivos a serem executados pelo Departamento:  cesso seletivo; 
a) decidir recursos sobre indeferimento de inscrições;  II - assinar contratos de trabalho de servidores admiti-
b) decidir pedidos de revisão de notas atribuídas às pro- dos sob o regime da legislaçãotrabalhista; 
vas e|ou títulos, na forma da legislação pertinente;  III - declarar sem efeito a nomeação, a pedido, ou quan-
c) homologar seus resultados;  do o nomeado não houver tomado posse dentro do prazo
II - em relação aos concursos de remoção de integran- legal; 
tes da carreira do magistério:  IV - exonerar funcionário que não entrar em exercício
a) decidir recursos sobre indeferimento de inscrições e no prazo legal; 
classificação de candidatos;  V  - expedir títulos de provimento de cargo, preenchi-
b) proceder a remoção;  mento de funçãoatividade e outros relativos à situação fun-
III - decidir pedidos de remoção, por permuta, de inte- cional, com base em ato ou despacho superior; 
grantes da carreira do magistério;  VI - apostilar títulos: 
IV  - em relação aos programas de treinamento e de- a) de provimento de cargo, com base em lei ou delega-
senvolvimento de recursos humanos promovidos pelo De- ção de competência; 
partamento;  b) de provimento de cargo e preenchimento de função-
a) aprovar as Instruções Especiais;  -atividade, para especificar a origem da vaga; 
b) aprovar a indicação de monitores e a contratação de c) alterando a situação funcional de funcionário ou ser-
especialistas para ministrarem cursos;  vidor, em decorrência de decisão administrativa ou judicial; 
c) convocar pessoal para participar dos treinamentos;  VII - declarar a extinção de cargo vago, quando deter-
V - propor os critérios de avaliação de títulos;  minada em lei; 
VI - autorizar a expedição de Pedidos de Indicação de VIII - transferir cargo vago de uma tabela para outra dos
Candidatos (PIC), para fins de nomeação ou admissão de Quadros da Secretaria da Educação, bem como alterar sua
pessoal aprovado em concurso público ou processo seletivo;  denominação, quando determinado em lei. 
VII - designar local de trabalho para o readaptado;  Artigo 70 - Ao Diretor do Serviço de Promoção, Pro-
VIII  - transferir, na vacância, cargos para o acervo de gressão e Evolução Funcional compete expedir titulos de
cargos vagos dos Quadros da Secretaria da Educação;  promoção. 
IX - propor a distribuição de cargos existentes no acervo Artigo 71 - Ao Diretor do Departamento de Adminis-
de cargos vagos dos Quadros da Secretaria da Educação;  tração, aos Diretores das Divisões de Administração das
X  - proceder à exclusão da expressão que identifica a Coordenadorias, do Departamento de Recursos Humanos e
disciplina, na vacância do cargo de docente;  do Conselho Estadual de Educação, aos Diretores dos Servi-
XI - destinar cargo de docente de uma para outra dis- ços de Recursos Humanos das Divisões Regionais de Ensino
ciplina;  e aos Diretores dos Serviços de Administração do Depar-
XII - propor a orientação e os critérios de movimenta- tamento de Assistência ao Escolar e da Divisão Especial de
ção do pessoal docente, técnico e administrativo;  Ensino do Vale do Ribeira, na qualidade de dirigentes de ór-
XIII - estabelecer normas e instruções que visem unifor- gãos subsetoriais, compete: 
mizar a aplicação da legislação de pessoal.  I - assinar contratos de trabalho de servidores admitidos
Artigo 67 - Ao Dirigente do Centro de Seleção e Movi- sob o regime da legislação trabalhista; 
mentação de Pessoal compete:  II - conceder prorrogação de prazo para posse; 
I - em relação aos concursos públicos e processos se- III - apostilar títulos: 
letivos:  a) de provimento de cargo, nos casos de retificação ou
a) aprovar as inscrições recebidas;  mudança de nome; 
b) expedir certificados de habilitação;  b) de provimento de cargo, com base em lei ou delega-
II - atestar a frequência do readaptado, quando solicita- ção de competência; 
do pela Equipe Técnica de Readaptação, até a definição do c) de provimento de cargo ou preenchimento de fun-
rol de atribuições.  ção-atividade, para especificar a origem da vaga; 
Artigo 68 - Ao Dirigente do Centro de Treinamento e d) alterando a situação funcional de funcionários ou
Desenvolvimento de Recursos Humanos, em relação aos servidores, em decorrência de afastamento, bem como de
programas de treinamento e desenvolvimento, compete:  decisão administrativa ou judicial; 
I - aprovar as inscrições recebidas;  IV - expedir títulos de evolução funcional; 
II  - aprovar propostas de treinamento encaminhadas V  - dar posse a funcionários não abrangidos no inci-
pelos órgãos da Secretaria da Educação;  so XVIII do Artigo 52, no inciso II do Artigo 53, no inciso I do

68
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Artigo 56, na alínea «a» do inciso III do Artigo 63 e no inciso II - propor a nomeação ou admissão de pessoal; 
I do Artigo 64 deste Decreto;  III - solicitar a transferência de cargos ou funções-ati-
VI - declarar sem efeito a admissão, quando o servidor vidades de outras unidades para aquelas sob sua subordi-
não entrar em exercício no prazo legal;  nação; 
VII  - despachar, expedir ou apostilar títulos, observa- IV - indicar o pessoal considerado excedente nas unida-
dos os critérios firmados pela Administração quanto ao seu des subordinadas; 
cumprimento, referentes à situação. funcional de funcioná- V  - proceder à distribuição de cargos ou funções-ati-
rios ou servidores;  vidades bem como à sua transferência de uma para outra
VIII - assinar certidões de tempo de serviço e atestados unidade subordinada, de acordo com os postos de trabalho
de frequência;  e observada a legislação específica; 
IX  - conceder adicionais por tempo de serviço, sexta- VI - designar funcionários ou servidores para os postos
-parte e aposentadoria;  de trabalho das unidades subordinadas; 
X - conceder ou suprimir salário-família e salário-esposa VII - conceder prorrogação de prazo para exercício dos
a funcionários e servidores;  funcionários e servidores; 
XI - conceder licença-prêmio em pecúnia;  VIII - propor, quando for o caso, modificações nos horá-
XII - conceder licença a funcionária casada com funcio- rios de trabalho dos funcionários e servidores; 
nário estadual ou militar que for mandado servir, indepen- IX - aprovar a escala de férias dos funcionários e servi-
dente de solicitação, em outro ponto do Estado ou do terri- dores; 
tório nacional ou no estrangeiro;  X - autorizar o gozo de licença-prêmio; 
XIII - considerar afastado o funcionário ou servidor para XI - conceder licença, observada a legislação pertinente,
cumprir mandato legislativo federal, estadual ou municipal, nas seguintes hipóteses; 
bem como de prefeito, nos termos e limites previstos na le- a) a funcionário e servidor para tratamento de saúde; 
gislação pertinente;  b) a funcionário e servidor por motivo de doença em
XIV - considerar afastado o funcionário ou servidor para pessoa da família; 
atender às requisições das autoridades eleitorais competen- c) a funcionário e servidor quando acidentado no exer-
tes;  cício de suas atribuições ou atacado de doença profissional; 
XV - exonerar funcionário ou dispensar servidor, a pedi- d) a funcionário e servidor para atender às obrigações
do, em virtude de nomeação ou admissão para outro cargo relativas ao serviço militar; 
ou função-atividade;  e)  a funcionário e servidor, compulsoriamente, como
XVI - declarar a vacância de cargo em virtude de fale- medida profilática; 
cimento;  f) a funcionária e servidora gestante; 
XVII - declarar a extinção de cargo, quando determina- XII - solicitar a instauração de inquérito policial. 
da em lei.  Artigo 73 - São competências comuns às autoridades
Parágrafo único - Os Diretores dos Serviços de Recur- relacionadas no artigo anterior, bem como ao Presidente da
sos Humanos e o Diretor da Divisão Especial de Ensino do Comissão Estadual de Moral e Civismo, aos Analistas Super-
Vale do Ribeira poderão exercer, também, sob orientação do visores, aos Secretários de Escola e aos Chefes de Seção, em
Departamento de Recursos Humanos, as competéncias pre- suas respectivas áreas de atuação: 
vistas na alínea «c» do inciso IV do Artigo 66, na alínea «a» I - participar dos processos de: 
do inciso I e no inciso II do Artigo 67 e no inciso I do Artigo a) identificaçao das necessidades de recursos humanos; 
68 deste Decreto, relativamente aos programas executados b) identificação das necessidades de treinamento e de-
pelos órgãos que dirigem.  senvolvimento de recursos humanos; 
e) avaliação do desempenho do Sistema; 
SEÇÃO VII  II  - cumprir ou fazer cumprir os prazos para encami-
Das Competências Comuns  nhamento de dados, mformações, relatórios e outros do-
cumentos aos órgãos do Sistema e garantir a qualidade dos
Artigo 72 - São competências comuns ao Chefe de Ga- mesmos; 
binete aos Coordenadores, ao Presidente do Conselho Esta- III - dar exercício aos funcionários e servidores designa-
dual de Educação, ao Dirigente da Assessoria Técnica de Pla- dos para a unidade sob sua subordinação; 
nejamento e Controle Educacional, aos Diretores de Depar- IV - conceder período de trânsito; 
tamento, ao Dirigente do Grupo de Controle das Atividades V - controlar a frequencia diária dos funcionários e ser-
Administrativas e Pedagógicas, aos Diretores de Divisão, aos vidores diretamente subordinados e atestar a frequência
Dirigentes de Centro, aos Delegados de Ensino, ao Dirigen- mensal; 
te da Assistência Técnica do Conselho Estadual de Educa- VI - autorizar a retirada de funcionário e servidor duran-
ção, aos Supervisores de Equipe de Assistência Técnica, aos te o expediente; 
Dirigentes de Grupo Técnico, aos Diretores de Escola e aos VII - decidir sobre pedidos de abono ou justificação de
Diretores de Serviço em suas respectivas áreas de atuação:  faltas ao serviço; 
I - propor a fixação, extinção ou relotação de postos de VIII - conceder o gozo de férias relativas ao exercício em
trabalho, mediante solicitação dos dirigentes de unidades curso, aos subordinados; 
subordinadas:  IX - em relação ao instituto da evolução funcional: 

69
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

a) proceder ao dimensionamento total de funcionários 3 - exigir, quando conveniente a prestação de garantia; 


e servidores de cada grupo de classes sob sua subordina- 4 - homologar a adjudicação, 
ção imediata, para fins de aplicação do instituto da evolução 5 - anular ou revogar a licitação e decidir os recursos; 
funcional;  6 - autorizar a substituição, a liberação e a restituição
b) proceder a distribuição quantitativa dos conceitos da garantia; 
avaliatórios para as unidades subordinadas, com vistas à 7 - autorizar a alteração do contrato, inclusive a prorro-
avaliação do desempenho dos funcionários e servidores gação de prazos; 
para fins de evolução funcional;  8 - designar funcionário servidor ou comissão para rece-
c) dar conhecimento a funcionários e servidores do re- bimento do objeto do contrato; 
sultado da avaliação do desempenho, para fins de evolução 9 - autorizar a rescisão administrativa ou amigável do
funcional de acordo com a legislação pertinente,  contrato; 
X - avaliar o desempenho dos funcionários e servidores 10 - aplicar penalidade, exceto a de declaração de inido-
que lhes são mediata ou imediatamente subordinados.  neidade para licitar ou contratar; 
Parágrafo único - Os Encarregados de Setor, em suas c) autorizar, mediante ato específico, autoridades su-
respectivas áreas de atuação, têm as competências previstas bordinadas, a requisitarem transporte de material por conta
nos incisos II e X deste artigo.  do Estado. 

CAPÍTULO II  SEÇÃO II 
Das Demais Competências das Autoridades do De- Dos Demais Dirigentes de Unidades 
partamento e dos Serviços de Recursos Humanos 
Artigo 75 - Aos Dirigentes de Centro, Diretores de Di-
SEÇÃO I  visão e Diretores de Serviço, em suas respectivas áreas de
Do Diretor do Departamento de Recursos Humanos  atuação, compete orientar e acompanhar o andamento das
atividades das unidades subordinadas. 
Artigo 74 - Ao Diretor do Departamento de Recursos Artigo 76 - Ao Dirigente do Centro de Exames Supleti-
Humanos além de outras competências que lhe forem co- vos compete, ainda: 
meridas por lei ou decreto, em sua área de atuação, com- I - decidir recursos sobre indeferimento de inscrições; 
pete:  II - expedir certificados e diplomas, nos termos da legis-
I - em relação as atividades gerais:  lação pertinente. 
a) assistir o Secretário da Educação no desempenho de Artigo 77 - Aos Supervisores de Equipe de Assistência
suas funções;  Técnica e aos Dirigentes de Grupo Técnico compete coorde-
b) coordenar, orientar e acompanhar as atividades das nar, orientar e acompanhar as atividades dos funcionários
unidades subordinadas;  e servidores integrantes das respectivas Equipes e Grupos
c) determinar providências para assegurar a realização Técnicos. 
das atribuições do Departamento, dentro dos prazos previs- Artigo 78 - Aos Dirigentes de Grupo Técnico do Centro
tos, bem como responder pelos resultados alcançados;  de Exames Supletivos compete, ainda, aprovar inscrições de
d) baixar normas de funcionamento das unidades su- candidatos a exames supletivos profissionalizantes. 
bordinadas:  Artigo 79 - Ao Diretor da Divisão de Administração
e) responder, conclusivamente as consultas formuladas compete, ainda: 
pelos órgãos da administração pública, sobre assuntos de I - em relação a administração de material e patrimônio; 
sua área de competência;  a) aprovar a relação de materiais a serem mantidos em
f) solicitar informações a outros órgãos e entidades;  estoque e a de materiais a serem adquiridos; 
g) encaminhar papéis, processos, e expedientes direta- b) assinar convites e editais de tomada de preços; 
mente aos órgãos competentes para manifestação sobre os c) requisitar materiais e o órgão central; 
assuntos neles tratados;  d) autorizar a baixa de bens móveis no patrimônio; 
h) decidir sobre pedidos de certidões e «vista» de pro- II  - visar extratos para publicação no Diário Oficial do
cessos;  Estado 
II - em relação aos exames supletivos:  III - assinar certidões relativas a papéis, processos e ex-
a) estabelecer normas para a sua realização;  pedientes arquivados. 
b) homologar os seus resultados;  Artigo 80 - Os Diretores dos Serviços de Recursos Hu-
III - em relação a administração de material e patrimô- manos têm, amda, em suas respectivas áreas de atuação, a
nio:  competência prevista no inciso II do artigo anterior. 
a) assinar editais de concorrência; 
b) decidir sobre assuntos relativos a licitação, nas moda- SEÇÃO III 
lidades de tomada de preços e convite, podendo:  Dos Chefes de Seção e dos Encarregados de Setor 
1 - autorizar sua abertura ou dispensa; 
2 - designar a comissão julgadora ou responsável pelo Artigo 81 - Aos Chefes de Seção e aos Encarregados
convite de que trata o Artigo 38 da Lei n. 89, de 27 de de- de Setor em seus respectivos âmbitos de atuação, compete: 
zembro de 1972;  I - distribuir os serviços; 

70
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

II - orientar e acompanhar as atividades dos funcioná- n) indicar seu substituto, obedecidos os requisites de
rios e servidores subordinados.  qualificação inerentes ao cargo, função-atividade ou função
de serviço público; 
SEÇÃO IV  o) encaminhar papéis, à unidade competente, para au-
Das Competências Comuns  tuar e protocolar; 
p) apresentar relatórios sobre os serviços executados
Artigo 82 - Ao Diretor do Departamento de Recursos pelas unidades administrativas subordinadas; 
Humanos e aos demais responsáveis por unidades até o ní- q) praticar todo e qualquel ato ou exercer quaisquer das
vel de Diretor de Serviço, em suas respectivas áreas de atua- atribuições ou competências dos órgãos, funcionários ou
ção, compete:  servidores subordinados; 
I - encaminhar a autoridade superior o programa de tra- r) avocar, de modo geral ou em casos especiais, as atri-
balho e as alterações que se fizerem necessárias;  buições ou competências dos órgãos, funcionários ou servi-
II - corresponder-se diretamente com autoridades ad- dores subordinados; 
ministrativas de mesmo nível;  II - em relação à adrministração de material e patrimô-
III - determinar o arquivamento de processos, expedien- nio: 
tes e papéis em que não haja providências a tomar ou cujos a) requisitar material permanente e de consumo; 
pedidos careçam de fundamento legal.  b) autorizar a transferência de bens móveis entre as uni-
Artigo 83 - Ao Diretor do Departamento de Recursos dades administrativas subordinadas. 
Humanos e aos demais responsáveis por unidades até o ní- Parágrafo único - Os Encarregados de Setor, em suas
vel de Chefe de Seção, em suas respectivas áreas de atuação, respectivas áreas de atuação, têm as seguintes competên-
compete:  cias previstas neste artigo: 
I - em relação às atividades gerais:  1 - as do inciso I, exceto a da alínea “m”; 
a) supervisionar os serviços em sua área de atuação, de- 2 - a da alínea “a” do inciso II. 
terminando ou autorizando as providências necessárias; 
b) cumprir e fazer cumprir as leis, os decretos, os regu- SEÇÃO V 
lamentos, as decisões, os prazos para desenvolvimento dos Dos Dirigentes das Unidades e do Órgão dos Siste-
trabalhos e as ordens das autoridades superiores  mas de Administração Financeira e Orçamentária 
c) transmitar a seus subordinados as diretrizes a serem
adotadas no desenvolvimento dos trabalhos;  Artigo 84 - Ao Diretor do Departamento de Reeursos
d) dirimir ou providenciar a solução de dúvidas ou di- Humanos compete: 
vergências que, em matéria de serviço, surgirem em sua área I - na qualidade de dirigente de unidade orçamentária: 
de atuação;  a) submeter à aprovação do Secretário da Educação a
e) dar ciência imediata ao superior hierárquico das ir- proposta orçamentária do Departamento; 
regularidades administrativas de maior gravidade, mencio- b) propor ao Secretário da Educação a destinação das
nando as providências tomadas e propondo as que não lhes dotações orçamentárias para a unidade de despesa; 
são afetas;  c) baixar normas, no âmbito da unidade orçamentária,
f) manter seus superiores imediatos permanentemente relativas à administração financeira e orçamentária atenden-
informados sobre o andamento das atividades das unidades do a orientação emanada dos órgãos centrais; 
subordinadas;  d) manter contato com os órgãos centrais de adminis-
g) avaliar o desempenho das unidades subordinadas e tração financeira e orçamentária; 
responder pelos resultados alcançados bem como pela ade- II - na qualidade de dirigente de unidade de despesa: 
quação dos custos dos trabalhos executados;  a) autorizar despesas dentro dos limites impostos pelas
h) adotar ou sugerir, conforme tor o caso, medidas ob- dotações liberadas para a unidade de despesa, bem como
jetivando:  firmar contratos, quando for o caso; 
1 - o aprimoramento de suas áreas;  b) autorizar adiantamentos; 
2 - a simplificação de procedimentos e a agilização do c)  autorizar liberação, restituição ou substituição de
processo decisórios relativamente a assuntos que tramitem caução em geral e de fiança, quando dadas em garantia de
pelas unidades subordinadas;  execução de contrato. 
i) manter a regularidade dos serviços, expedindo as ne- Artigo 85 - Ao Diretor do Serviço de Finanças compete: 
cessárias determinações ou representando às autoridades I - autorizar pagamentos de conformidade com a pro-
superiores, conforme for o caso;  gramação financeira; 
j) manter ambiente propício ao desenvolvimento dos II - aprovar a prestação de contas referentes a adianta-
trabalhos;  mentos; 
l) providenciar a instrução de processos e expedientes III - assinar cheques, ordens de pagamento e de trans-
que devam ser submetidos à consideração superior, mani- ferência de fundos e outros tipos de documentos adotados
festando-se, conclusivamente, a respeito da matéria;  para a realização de pagamentos, em conjunto com o Che-
m) decidir sobre reeursos interpostos contra despacho fe da Seção de Despesa ou com o dirigente da unidade de
de autoridade imediatamente subordinada, desde que não despesa. 
esteja esgotada a instância administrativa;  Artigo 86 - Ao Chefe da Seção de Despesa compete: 

71
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

I - assinar cheques, ordens de pagamento e de trans- III - decidir sobre requisição de combustível, material de
ferência de fundos e outros tipos de documentos adotados limpeza acessórios e peças para pequenas reparações; 
para a realização de pagamentos, em conjunto com o Dire- IV - zelar pelo cumprimento das normas gerais e inter-
tor do Serviço de Finanças ou com o dirigente da unidade nas e fiscalizar a utilização adequada do veículo oficial, em
de despesa;  convênio e locado; 
II - assinar notas de empenho e subempenho.  V - determinar a apuração de irregularidades; 
VI - atestar, para fins de pagamento o uso de veículo
SEÇÃO VI  de funcionário ou servidor no serviço público e de veículo
Das Competências Relativas ao Sistema de Adminis- locado em caráter não eventual. 
tração dos Transportes Internos Motorizados 
Artigo 89 - As competências previstas neste Titulo,
Artigo 87 - Ao Diretor do Departamento de Recursos sempre que coincidentes, serão exercidas, de preferência,
Humanos compete:  pelas autoridades de menor nível hieráquico. 
I - na qualidade de dirigente de frota:  Artigo 90 - As autoridades abrangidas pelos Artigos 52
a) propor ao Secretário da Educação:  a 61 deste Decreto poderão exercer também, em relação ao
1 - a fixação, as alterações e o programa anual de reno- pessoal diretamente subordinado e sempre que a estrutura
vação da frota;  organizacional assim exigir, as competências conferidas a
2 - a criação, extinção, instalação e fusão de postos e autoridades de menor nível hierárquico. 
oficinas; 
b) encaminhar aos órgãos centrais:  TITULO VI 
1 - pedidos de acquisição de veículos;  Disposições Finais 
2 - correspondência pertinente; 
3 - pedido de registro do veículo de funcionário e ser- Artigo 91 - As atribuições das unidades e as compe-
vidor e de veículo locado para prestação de serviço público;  tências das autoridades de que trata este Decreto poderão
4 - uma via da ficha cadastro do veículo em convênio e ser complementadas mediante resolução do Secretário da
as variações ocorridas no grupo;  Educação. 
5 - Quadro Demonstrative da Frota - “QDF”;  Artigo 92 - As Equipes de Assistência Técnica, os Gru-
6 - dados e características dos veículos adquiridos;  pos Técnicos e as Equipes Técnicas do Departamento de
c) decidir sobre a conveniência da compra de veículos, Recursos Humanos, as Assistências Técnicas dos Serviços de
da locação em caráter não eventual ou da utilização do veí- Recursos Humanos e a Assistência Técnica da Divisão Espe-
culo de funciánário e servidor para prestação de serviço pú- cial de Ensino do Vale do Ribeira são unidades de natureza
blico;  interdisciplinar. 
d) decidir sobre a conveniência do seguro geral;  Artigo 93 - A designação para a direção do Serviço de
e) autorizar o usuário a dirigir veículo oficial, observada Recursos Humanos, de cada uma das Divisões Regionais
a legislação vigente;  de Ensino, recairá em funcionário ou servidor que possua
f) autorizar funcionário e servidor a usar veículo de sua formação de nível universitário e experiência profissional
propriedade no serviço público, mediante remuneração, ar- comprovada, minima de 1 (um) ano, em atividades de pla-
bitrando a quilometragem;  nejamento e/ou de direção de unidades da área de recursos
g) baixar normas, no âmbito da frota, sobre uso, guarda humanos. 
e conservação de veículos oficiais e, quando for o caso, de Artigo 94 - Para as atividades de seleção, movimenta-
veículos em convênio;  ção, treinamento e desenvolvimento de recursos humanos
II - na qualidade de dirigente de subfrota:  serão aproveitados funcionários e servidores com formação
a) decidir sobre:  profissional de nível universitário e experiência profissional
1 - conveniência de execução de reparos;  comprovada, minima de 1 (um) ano, em atividades próprias
2 - escalas de revisão geral e de inspeções penriódicas;  do Sistema de Administração de Pessoal. 
3 - pagamento relativo ao uso do veículo de funcionário Artigo 95 - A designação para a chefia da Seção de
ou servidor autorizado a prestar serviço público;  Difusão Técnica e da Seção de Recursos Audiovisuais do
b) aprovar o julgamento de licitações para a execução Serviço de Apoio Técnico do Departamento tamento de Re-
de serviços de separação;  cursos Humanos recairá em funcionários ou servidores que
c) zelar pela aplicação das normas gerais e internas so- possuam suam formação de nível universitário e experiência
bre uso guarda e conservação de veículos oficiais, em con- profissional comprovada em atividades relacionadas com as
vênio e, quando for o caso de veículos locados.  atribuições das Seções correspondentes. 
Artigo 88 - Ao Diretor do Serviço de Atividades Com- Artigo 96 - Para efeito de atribuição de “pro labore”de
plementares da Divisão de Administração do Departamento que trata o Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 10 de julho de
de Recursos Humanos, na qualidade de dirigente de órgão 1968, ficam classificadas, no Departamento de Recursos Hu-
detentor, compete:  manos, as funções de serviço público abaixo relacionadas e
I - distribuir os veículos pelos usuários e designar con- na seguinte conformidade: 
dutores; 
II - autorizar requisições de transportes; 

72
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

I - 1 (uma) de Diretor Técnico (Departamento Nível II), Cadastro do Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal e
referência 12, da Escala de Vencimentos 4, destinada a Dire- 3 (três) Seções de Cadastro do Serviço de Cadastro - QM; 
toria do Departamento de Recursos Humanos;  XI  - No Serviço de Promoção, Progressão e Evolução
II - 3 (três) de Supervisor de Equipe de Assistência Técni- Funcional: 
ca (Nível II), referência 10, da Escala de Vencimentos 4, desti- a) 2 (duas) de Analista Supervisor, referência 11, da Esca-
nada as 3 (três) Equipes de Assistência Técnica da Assistência la de Yencimentos 3, destinadas as 2 (duas) Equipes Técnicas. 
Técnica;  XII - No Serviço de Apoio Técnico: 
III - 5 (cinco) de Diretor Técnico (Divisão Móvel III), re- a) 3 (três) de Bibliotecário Chefe, referência «9», Escala
ferência da 11, da Escala de Vencimentos 4, destinadas ao de Vencimentos «3», destinadas a Seção de Documentação
“Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal; Centro de e Biblioteca, Seção de Difusão Técnica e Seção de Recursos
Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos; Audiovisuais; 
Centro de Estudos e Legislação de Pessoal; Centro de Exa- b) 1 (uma) de Chefe de Seção Gráfica, referência «11»,
mes Supletivos e Diretoria da Divisão de Cadastro e Informa- Eecala de Vencimentos «2», destinada a Seção de Gráfica. 
ções de Pessoal;  XIII - Na Divisão de Administração: 
IV - 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nível II), referên- a) 2 (duas) de Diretor (Serviço Nível I), referência 1, da
cia 9, da Escala de Vencimentos 4, destinadas as Diretorias Escala de Vencimentos 4, destinadas as Diretorias do Serviço
do Serviço de Promoção, Progressão e Evolução Funcional e de Finanças e Serviço de Atividades Complementares; 
Serviço de Apoio Técnico;  b) 1 (uma) de Encarregado de Setor (Administração Ge-
V - 1 (uma) de Diretor (Divisão Nível II), referência 8, da ral), referência 3, da Escala de Vencimentos 2, destinada ao
Escala de Vencimentos 4, destinada a Diretoria. da Divisão Setor de Almoxarifado; 
de Administração;  c) 1 (uma) de Chefe de Seção (Zeladoria), referência 11,
VI - No Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal:  da Escala de Vencimentos 2, destinada á Segão de Zeladoria
a) 4 (quatro) de Diretor Técnico (Serviço Nível II), refe- do Serviço de Atividades Complementares; 
rência 9, da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos (qua- d) 1 (uma) de Chefe de Seção (Manutenção), referência
tro) Grupos Técnicos;  11, da Escala de Vencimentos 2, destinada a Seção de Manu-
b) 1 (uma) de Analista Supervisor, referência 11, da Es- tenção do Serviço de Atividades Complementares; 
cala de Vencimentos 3, destinada a Equipe Técnica de Rea- e) 1 (uma) de Encarregado de Setor (Copa), referência 9,
daptação.  da Escala de Vencimentos 1, destinada ao Setor de Copa do
VII - No Centro de Treinamento e Desenvolvimento de Serviço de Atividades Complementares.
Recursos Humanos:  Parágrafo único - As referências inicial e final da função
a) 3 (três) de Diretor Técnico (Serviço Nível II), referência de serviço público de Supervisor de Equipe de Assistência
9,da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos 3 (três) Grupos Técnica (Nível II), classificada no inciso II deste artigo, corres-
Técnicos;  pondem, respectivamente, as referências 10 e 25, da Escala
b) 1 (uma) de Analista Supervisor, referência 11, da Es- de Vencimentos 4,fixada a amplitude da Classe em A-I e a
cala de Vencimentos 3, destinada a Equipe Técnica de Ins- Velocidade Evolutiva em VE-1.
trumentação.  Artigo 97 - Para efeito de atribuição de «pro labore»
VIII - No Centro de Estudos e Legislação de Pessoal:  de que trata o Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 20 de julho
a) 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nível II), referenda de 1968, ficam classificadas, na Coordenadoria de Ensino da
», da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos 2 (dois) Gru- Região Metropolitana da Grande São Paulo e Coordenadoria
pos Técnicos.  de Ensino do Interior, as funções de serviço público abaixo
IX - No Centro de Exames Supletivos:  relacionadas: 
a) 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nível II), referên- I  - 17 (dezessete) de Diretor Técnico (Serviço Nível II),
cia 9,da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos 2 (dois) referências 9, da Escala de Vencimentos 4, destinadas as Di-
Grupos Técnicos;  retorias do Serviço de Recursos Humanos das Divisões Re-
b) 1 (uma) de Chefe de Seção (Administração Geral), re- gionais; 
ferência 11, da Escala de vencimentos 2, destinada a Seção II - 17 (dezessete) de Chefe de Seção (Cadastro), refe-
de Expedição de Certificados Diplomas.  rência 11, da Escala de Vencimentos 2, destinadas as Seções
X - Na Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal:  de Cadastro de Cargos e Funções do Serviço de Recursos
a) 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nível I), referência Humanos; 
8, da Escala de Vencimentos 4, destinadas as Diretorias do III - 17 (dezessete) de Chefe de Seção (Cadastro), refe-
Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal e do Serviço de rência 11, da Escala de Vencimentos 2, destinadas as Seções
Cadastro - QM;  de Cadastro Funcional do Serviço de Recursos Humanos; 
b) 2 (duas) de Analista Supervisor, referência 11, da Es- IV - 15 (quinze) de Chefe de Seção (Administração Ge-
cala de Vencimentos 3, destinadas as Equipes Técnicas da ral), referência 11, da Escala de Vencimentos 2, destinadas
Diretoria do Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal e as Seções de Frequência do Serviço de Recursos Humanos.
do Serviço de Cadastro - QM;  Parágrafo único - As funções de serviço público clas-
c) 5 (cinco) de Chefe de Seção (Cadastro), referência 11, sificadas neste artigo ficam distribuidas uniformemente as
da Escala de Vencimentos 2, destinadas a 2 (duas) Seções de 7 (sete) Divisões Regionais de Ensino da Coordenadoria de
Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo e as

73
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

10 (dez) Divisões Regionais da Coordenadoria de Ensino do Artigo 100 - A implantação da estrutura constante des-
Interior, com exceção das funções de serviço público classi- te Decreto será feita gradativamente, mediante resoluções
ficadas no inciso IV, que não serão destinadas a DRECAP-1 do Secretário da Educação, de acordo com as disponibilida-
e DRE-Araçatuba. des orçamentárias e financeiras. 
Artigo 98 - Ficam extintas as funções de serviço público Artigo 101 - O Diretor do Departamento de Recursos
classifica das para efeito de atribuição de «pro labore» com Humanos e os Diretores das Divisões Regionais de Ensino,
fundamento no Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 10 de julho de em suas respectivas áreas de atuação, providenciarão, no
1968, na seguinte conformidade:  prazo de 10 (dez) dias a contar da data da publicação deste
I - do Artigo 1.° do Decreto n. 8.834. de 20 de outubro De creto,e transferência do pessoal em exercício nas unida-
de 1976:  des extintas pelo artigo 5.°, 
a) as constantes do inciso V;  Artigo 102 - Aos Diretores de Escola, em relação aos
b) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção exames supleti vos, compete: 
de Pessoal constante da alínea «b» do inciso VIII;  I - aprovar inscrições de candidatos a exames supletivos
c) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção de Suplen cia de 1.° e 2.° graus. 
de Pessoal constante da alínea «c» do inciso IX;  II - propor ao Centro de Exames Supletivos do Depar-
d) 1 -(uma) função de Encarregado de Setor destinado tamento de Re cursos Humanos o deferimento ou indefe-
ao Setor de Cadastro constante da alínea «d» do inciso IX;  rimento de inscrições de candidatos a exa mes supletivos
e) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinado profissionalizantes. 
ao Setor de Frequência constante da alínea «c» do inciso ‘X;  Artigo 103 - Os dispositivos do Decreto n. 7.510, de 29
f) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção de janeiro de 1976, a seguir relacionados, passam a vigorar
de Pessoal constante da alínea «c» do inciso ‘XI;  com a seguinte redação: 
g) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada à Seção I - o inciso VII do Artigo 54: 
de Pessoal constante da alínea «b» do inciso ‘XII;  “VII - elaborar proposta das necessidades de recursos
h) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinada materiais. orça mentárias e financeiros da Secretaria, inclusi-
ao Setor de Frequência constante da alínea «c» do inciso ‘XII;  ve para a expansão dos serviços edu cacionais e/ou reorga-
i) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada à Seção nização dos mesmos”; 
de Pessoal constante da alínea «b» do inciso ‘XIV;  II - a alínea “p” do inciso II do Artigo 78: 
j) 1 (uma) fun~çã de Chefe de Seção destinada à Seção “p) examinar e visar documentos de vida escolar do alu-
de Pessoal constante da alínea «c» do inciso ‘XVII;  no, bem como os livros de registro do estabelecimento de
l) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinada ao ensino”; 
Setor de Cadastro constante da alínea «d» do inciso ‘XVII;  III - o inciso V do Artigo 126: 
m) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção “V - Serviço de Finanças do Departamento de Recursos
de Pessoal constante da alínea «b» do inciso ‘XVIII;  Hu manos”; 
n) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinada IV - o inciso V do Artigo 128: 
ao Setor de Cadastro constante da alínea «c» do inciso ‘XVIII.  “V - Setor de Transportes do Serviço de Atividades Com-
II - do Artigo 1.° do Decreto n. 8.835, de 20 de outubro plemen tares do Departamento de Recursos Humanos”; 
de 1976:  V - a alínea “e” do inciso I do Artigo 135: 
a) as constantes do inciso IV;  e) as diretrizes dos programas de atualização e aperfei-
b) 5 (cinco) funções de Chefe de Seção destinadas as çoamento do pessoal docente, técnico- pedagógico e admi-
Seções de Pes soal constantes da alínea “d” do inciso VI;  nistrativo da área pedagógica. 
c) 14 (quatorze) funções de Encarregado de Setor desti- Artigo 104 - Ficam incluídos no Decreto n. 7.510, de 29
nadas aos Se tores de Cadastro e Frequência constantes da de janeiro de 1976, os seguintes dispositivos: 
alínea “e” do inciso VI;  I - no inciso II do Artigo 131 a alínea “p” com a seguinte
d) 3 (três) funções de Chefe de Seção destinadas as Se- redação: 
ções de Pessoal constantes da alínea “f” do inciso VII;  “p) autorizar a realização de exames supletivos, bem
e) 15 (quinze) funções de Encarregado de Setor desti- como anulá-los parcial ou totalmente constatada a ocorrên-
nadas aos Setores de Cadastro e Setores de Frequência das cia de irregularidades”; 
DREs de Aragatuba, Ribeirão Preto, Soro caba, Vale do Parai- II - no Artigo 140, o inciso XII com a seguinte redação: 
ba e Marília; aos Setores de Cadastro das DREs do Litoral e “XII - decidir os pedidos de certidões e de “vista” de pro-
Presidente Prudente e dos Setores de Frequência das DREs ces sos. 
de Bauru, São José do Rio Preto e Campinas constantes da Artigo 105 - Este decreto entrará em vigor na data de
alínea “h” do inciso VII.  sua publi cação, ficando revogadas as disposições em con-
Artigo 99 - O Secretário da Educação, por meio de ato trário, especialmente: 
específico, fi xará os valores dos «prd labore» a serem pagos I - do Decreto n. 7.510, de 29 de janeiro de 1976: 
aos funcionários ou servidores que estejam desempenhan- a) referente à estrutura: 
do ou vierem desempenhar funções de serviço público classi 1 - as alíneas “c” dos incisos IV dos Artigos 13 e 18; 
ficados nos artigos anteriores, apos verificação pelo Grupo 2 - os Artigos 28 a 33 
Executivo de Desenvol vimento Administrativo (GDA) da efe- b) referente as atribuições: 
tiva implantação e funcionamento das uni dades.  1 - o inciso II e o § 1.° do Artigo 74; 

74
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

2 - as alíneas “c”, “o” e “r’ do inciso II do Artigo 78;  SEÇÃO III - Da Seção de Pessoal da Divisão Especial de
3 - as alíneas “f” e “g” do inciso I do Artigo 79;  Ensino do Vale do Ribeira 19 
4 - os Artigos 45, 66, 99, 104 a 113 e 122;  TÍTULO IV - Das Atribuições 
5 - a alínea “g” do inciso II do Artigo 117;  CAPÍTULO I - Do Departamento de Recursos Humanos 
e) referente as competências:  SEÇÃO I - Das Atribuições Gerais     20 e 21 
1 - o inciso III do Artigo 131;  SEÇÃO II - Da Assistência Técnica   22 
2 - os incisos II dos Artigos 132 e 136;  SEÇÃO III - Do Centro de Seleção e Movimentação de
3 - os incisos II e III do Artigo 138;  Pessoal    23 
4 - os incisos II a XV do Artigo 139;  SEÇÃO IV - Do Centro de Treinamento e Desenvolvi-
5 - os incisos III, V e VI do Artigo 140;  mento de Recursos Humanos      24 
6 - o inciso II e o parágrafo único do Artigo 141;  SEÇÃO V - Do Centro de Estudos e Legislação de Pes-
7 - o inciso III do Artigo 143;  soal     25 
8 - o inciso XIV do Artigo 144;  SEÇÃO VI - Do Centro de Exames Supletivos     26 
9 - o inciso III do Artigo 145;  SEÇÃO VII - Da Divisão de Cadastro e Informações de
10 - o inciso II do Artigo 147; .  Pessoal    27 a 30 
11 - os Artigos 137, 142 e 146; “ j  SEÇÃO VIII - Do Serviço de Promoção, Progressão e Evo-
d) referente às Comissões de Promoção: os Artigos 170 lução Funcional    31 
a 172;  SEÇÃO IX - Do Serviço de Apoio Técnico    32 e 33 
II - do Decreto n. 9.887, de 14 de junho de 1977;  SEÇÃO ‘X - Da Divisão de Administração     34 a 39 
a) o inciso IV do Artigo 20;  SEÇÃO ‘XI - Das Seções de Expediente    40 
b) os incisos IV e V do Artigo 21;  CAPÍTULO II - Dos Serviços de Recursos Humanos 
c) os incisos III dos Artigos 22 e 23;  SEÇÃO I - Das Atribuições Gerais     41 
d) o inciso II do Artigo 25;  SEÇÃO II - Das Assistências Técnicas    42 
e) os Artigos 13 e 24.  SEÇÃO III - Das Seções de Cadastro de Cargos e Funções  
III - do Regimento Comum das Escolas Estaduais de l.° 43 
Grau, aprovado pelo Decreto n. 10.623, de 26 de outubro SEÇÃO IV - Das Seções de Cadastro Funcional     44 
de 1977:  SEÇÃO V - Das Seções de Frequência    45 
a) as alíneas “b”, “c”, “d”, “e” e “f” do inciso II do Artigo SEÇÃO VI - Das Seções de Expediente de Pessoal    46 
33;  CAPÍTULO III - Das Seções de Pessoal     47 e 48 
b) o inciso III do Artigo 48;  CAPÍTULO IV - Das Demais Unidades    49 a 51 
IV - do Regimento Comum das Escolas Estaduais de 2.° TÍTULO V - Das Competências 
Grau, aprovado pelo Decreto n. 11.625, de 23 de maio de CAPÍTULO I - Das Competências Relativas ao Sistema de
1978:  Administração de Pessoal 
a) as alíneas “b”, “c”, “d”, ‘e” e “l” do inciso II do Artigo 31;  SEÇÃO I - Do Secretário da Educação     52 
b) o inciso VI do Artigo 33;  SEÇÃO II - Do Chefe de Gabinete, dos Coordenadores e
c) o inciso III do Artigo 50; ‘  do Presidente do Conselho Estadual de Educação    53 a 55 
d) o inciso VII do Artigo 51;  SEÇÃO III - Dos Diretores do Departamento e Demais
V - o Decreto n. 14.158, de 31 de outubro de 1979.  Dirigentes de Orçãos 56 a 60 
Palácio dos Bandeirantes, 14 de julho de 1981.  SEÇÃO IV - Dos Diretores de Divisão, dos Diretores de
PAULO SALIM MALUF  Serviço e dos Dirigentes de Unidades de Niveis Equivalentes
Luiz Ferreira Martins, Secretário da Educação  61 a 64 
Calim Eid, Secretário de Estado-Chefe da Casa Civil  SEÇÃO V - Dos Analistas Supervisores, dos Chefes de
Publicado na Casa Civil, aos 14 de julho de 1981.  Seção e dos Secretários de Escola 65 
Maria Angélica Galiazzi, Diretora da Divisão de Atos Oficiais  SEÇÃO VI - Dos Dirigentes de Órçãos do Sistema 66 a 71 
SEÇÃO VII - Das Competências Comuns 72 e 73 
CAPITULO II - Das demais Competências das Autorida-
ÍNDICE       ARTIGOS  des do Departamento e dos Serviços de Recursos Humanos 
SEÇÃO I - Do Diretor do Departamento de Recursos Hu-
TÍTULO I - Disposição Preliminar 1.°  manos 74 
TÍTULO II - Das Modificações de Unidades Administra- SEÇÃO II - Dos demais Dirigentes de Unidades 75 a 80 
tivas 2.° a 5.°  SEÇÃO III - Dos Chefes de Seção e dos Encarregados de
TÍTULO III - Da Definição e da Estrutura dos Órgãos do Setor 81 
Sistema de Administração de Pessoal  SEÇÃO IV - Das Competencias Comuns 82 e 83 
CAPÍTULO I - Da Definição dos Órgãos 6.°  SEÇÃO V - Dos Dirigentes das Unidades e do Órgão dos
CAPÍTULO II - Da Estrutura  Sistemas temas de Administração Financeira e Orçamentária
SEÇÃO I - Do Departamento de Recursos Humanos 7.° 84 a 86 
a 17  SEÇÃO VI - Das Competências Relativas ao Sistema de
SEÇÃO II - Dos Serviços de Recursos Humanos 18  Administração dos Transportes - Internos Motorizados 87 e
88 

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CAPITULO III - Disposições Gerais 89 e 90  cia, da Seção de Pessoal, para Setor de Frequência e Expe-
TITULO VI - Disposições Finais 91 a 105 diente de Pessoal. 
Retificação Artigo 4.° - As Seções de Pessoal dos Serviços de Ad-
DECRETO N. 17.329, DE 14 DE JULHO DE 1981 ministração das Divisões Regionais de Ensino passam a su-
Define a estrutura e as atribuições de órgãos e as compe- bordinar-se aos respectivos Serviços de Recursos Humanos,
tências das autoridades da Secretaria de Estado da Educação,  tendo, cada uma, a denominação alterada para Seção de
em relação ao Sistema de Administração de Pessoal, e dá Expediente de Pessoal. 
providências correlatas Artigo 5.° - Ficam extintas as seguintes unidades admi-
PAULO SALIM MALUF, GOVERNADOR DO ESTADO DE nistrativas: 
SÃO PAULO, no uso de suas atribuições legais e com funda- I - do Departamento de Recursos Humanos: 
mento no Artigo 89 da Lei n. 9.717, de 30 de janeiro de 1987,  a) Comissão de Promoção - Quadro do Magistério (QM); 
Decreta:  b) Comissão de Promoção - Quadro da Secretaria da
Educação (QSE); 
TÍTULO I  c) Equipe Técnica de Programação de Concursos de In-
Disposição Preliminar  gresso; 
d) Equipe Técnica de Programação de Concursos de Re-
Artigo 1° - A estrutura e as atribuições dos órgãos se- moção; 
torial e subsetoriais, bem como as competências das auto- e) Seção de Execução de Concursos de Ingresso; 
ridades da Secretaria de Estado da Educação, em relação ao f) Seção de Execução de Concursos de Remoção; 
Sistema de Administração de Pessoal, ficam estabelecidas g) Equipe Técnica de Programação e Controle para Pes-
nos termos deste Decreto.  soal Docente; 
h) Equipe Técnica de Programação e Controle para Pes-
TÍTULO II  soal Técnico Pedagógico e Administrativo; 
Das Modificações de Unidades Administrativas  i) Seção de Execução de Programas; 
j) Equipe Técnica de Programação e Controle; 
Artigo 2.° - As unidades administrativas do Departa- l) Seção de Estudos; 
mento de Recursos Humanos, a seguir relacionadas, ficam m) Seção de Atividades Complementares; 
transformadas na seguinte conformidade:  n) Setor de Comunicações Administrativas; 
I - de Divisão de Recrutamento, Seleção e Movimenta- II - das Divisões Regionais de Ensino: 
ção de Pessoal para Centro de Seleção e Movimentação de a) 17 (dezessete) Setores de Cadastro; 
Pessoal;  b) 17 (dezessete) Setores de Frequência.
II  - de Divisão de Aperfeiçoamento e Atualização de Parágrafo único - O acervo das Comissões de Promo-
Pessoal para Centro de Treinamento e Desenvolvimento de ção será transferido para o Serviço de Promoção, Progressão
Recursos Humanos;  e Evolução Funcional do Departamento de Recursos Huma-
III  - de Serviço de Exames Supletivos para Centro de nos. 
Exames Supletivos; 
IV - de Serviço de Administração para Divisão de Admi- TÍTULO III 
nistração.  Da Definição e da Estrutura dos Órgãos do Sistema
Artigo 3.° - As unidades administrativas, a seguir rela- de Administração de Pessoal 
cionadas, têm sua denominação alterada na seguinte con-
formidade;  CAPÍTULO I 
I - do Departamento de Recursos Humanos:  Da Definição dos Órgãos 
a) de Seção de Expedição de Certificados para Seção de
Expedição de Certificados e Diplomas;  Artigo 6.° - Os órgãos setorial e subsetoriais do Sistema
b) de Divisão de Cadastro, Estudos e Lavratura de Atos de Administração de Pessoal na Secretaria da Educação são
para Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal;  os seguintes: 
c) de Seção de Cadastro - Quadro da Secretaria da Edu- I - órgão setorial: Departamento de Recursos Humanos; 
cação (QSE) para Seção de Cadastro, do Serviço de Cadastro II - órgãos subsetoriais: 
e Expediente de Pessoal;  a) no Departamento de Administração: a Seção de Pes-
d) de Seção de Lavratura de Atos para Seção de Expe- soal, que presta serviços aos órgãos da Administração Supe-
diente de Pessoal, do Serviço de Cadastro e Expediente de rior e da Sede: 
Pessoal;  b) na Coordenadoria de Ensino da Região Metropolita-
e) de Seção de Cadastro - Quadro do Magistério (QM) na da Grande São Paulo: 
para Seção de Cadastro, do Serviço de Cadastro - QM;  1 - a Secção de Pessoal da Divisão de Administração; 
f) de Seção de Material para Seção de Material e Patri- 2 - os Serviços de Recursos Humanos das Divisões Re-
mônio;  gionais de Ensino; 
g) de Seção de Finanças para Seção de Despesa;  c) na Coordenadoria de Ensino do Interior: 
II - da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira da 1 - a Seção de Pessoal da Divisão de Administração; 
Coordenadoria de Ensino do Interior: de Setor de Frequên-

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2 - Serviços de Recursos Humanos das Divisões Regio- II - 2 (dois) Grupos Técnicos: 
nais de Ensino;  III - Seção de Expedição de Certificados e Diplomas; 
3 - a Seção de Pessoal da Divisão Especial de Ensino do IV - Seção de Expediente. 
Vale do Ribeira;  Artigo 13 - A Divisão de Cadastro e Informações de
d) na Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas: Pessoal compreende: 
a Seção de Pessoal da Divisão de Administração;  I - Diretoria; 
e) no Departamento de Recursos Humanos: a Seção de II - Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal, com: 
Pessoal da Divisão de Administração;  a) Diretoria; 
f) no Departamento de Assistência ao Escolar: a Seção b) Equipe Técnica; 
de Pessoal do Serviço de Administração;  c) 2 (duas) Seções de Cadastro; 
g) no Conselho Estadual de Educação, entidade vincula- d) Seção de Expediente de Pessoal; 
da, a Seção de Pessoas da Divisão de Administração.  III - Serviço de Cadastro - QM, com: 
a) Diretoria; 
CAPÍTULO II  b) Equipe Técnica; 
Da Estrutura  c) 3 (três) Seções de Cadastro; 
IV - Seção de Expediente. 
SEÇÃO I  Artigo 14 - O Serviço de Promoção, Progressão e Evo-
Do Departamento de Reeursos Humanos  lução Funcional compreende: 
I - Diretoria; 
Artigo 7.° - O Departamento de Recursos Humanos II - 2 (duas) Equipes Técnicas; 
tem a seguinte  III - Seção de Expediente 
estrutura:  Artigo 15 - O Serviço de Apoio Técnico compreende: 
I - Diretoria;  I - Diretoria; 
II - Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal;  I - Seção de Documentação e Biblioteca; 
III - Centro de Treinamento e Desenvolvimento de Re- III - Seção de Difusão Técnica; 
cursos Humanos;  IV - Seção de Recursos Audiovisuais; 
IV - Centro de Estudos e Legislação de Pessoal;  V - Seção de Gráfica. 
V - Centro de Exames Supletivos;  Artigo 16 - A Divisão de Administração compreendem: 
VI - Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal;  I - Diretoria, com Setor de Expedience; 
VII - Serviço de Promoção, Progressão e Evolução Fun- II - Seção de Pessoal; 
cional;  III - Seção de Material e Patrimônio, com Setor de Al-
VIII - Serviço de Apoio Técnico;  moxarifado 
IX - Divisão de Administração.  IV - Serviço de Finanças, com: 
Parágrafo único - As unidades relacionadas nos incisos a) Diretoria; 
n, III, IV e V tem nível de Divisão Técnica.  b) Seção de Orçamento e Custos; 
Artigo 8.° - A Diretoria compreende:  c) Seção de Despesa; 
I - Assistência Técnica, com 3 (três) Equipes de Assistên- V - Seção de Comunicações Administrativas; 
cia Técnica;  VI - Serviço de Atividades Complementares, com: 
II - Seção de Expediente.  a) Diretoria; 
Artigo 9.° - O Centro de Seleção e Movimentação de b) Seção de Zeladoria; 
Pessoal compreende :  c) Seção de Manutenção; 
I - Diretoria;  d) Setor de Copa; 
II - 4 (quatro) Grupos Técnicos;  e) Setor de Transportes; 
III - Equipe Técnica de Readaptação  Artigo 17 - As unidades relacionadas nos incisos II dos
IV - Seção de Expediente.  Artigos 9.º, 10,11 e 12 têm nível de Serviço Técnico. 
Artigo 10 - O Centro de Treinamento e Desenvolvimen-
to de Recursos Humanos compreende:  SEÇÃO II 
I - Diretoria;  Dos Serviços de Recursos Humanos 
II - 3 (três) Grupos Técnicos; 
III - Equipe Técnica de Instrumentação;  Artigo 18 - Cada um dos Serviços de Recursos Huma-
IV - Seção de Expediente.  nos das Divisões Regionais de Ensino compreende: 
Artigo 11 - O Centro de Estudos e Legislação de Pessoal I - Diretoria; 
compreende:  II - Assistência Técnica; 
I - Diretoria;  III - Seção de Cadastro de Cargos e Funções; 
II - 2 (dois) Grupos Técnicos;  IV - Seção de Cadastro Funcional; 
III - Seção de Expediente.  V - Seção de Frequência; 
Artigo 12 - O Centro de Exames Supletivos compreen- VI - Seção de Expediente de Pessoal. 
de: 
I - Diretoria; 

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SEÇÃO III  VIII - promover estudos, pesquisas e convênios com en-


Da Seção de Pessoal da Divisão Especial de Ensino do tidades públicas e privadas na área de sua atuação; 
Vale do Ribeira  IX - promover a produção de informações de pessoal,
divulgando-as periodicamente; 
Artigo 19 - A Seção de pessoal do Serviço de Admi- X - promover a realização dos exames supletivos. 
nistração da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira Artigo 21 - As atribuições do Departamento de Recur-
compreende:  sos Humanos compreendem: 
I - Setor de Cadastro;  I - planejamento e controle de recursos humanos; 
II - Setor de Frequência e Expediente de Pessoal.  II - política salarial; 
III - seleção e movimentação de pessoal; 
TÍTULO IV  IV - treinamento e desenvolvimento de recursos huma-
Das Atribuições  nos; 
V - legislação de pessoal; 
CAPÍTULO I  VI - promoção progressão e evolução funcional; 
Do Departamento de Recursos Humanos  VII - cadastro e expediente de pessoal; 
VIII - exames supletivos.
SEÇÃO I  Parágrafo único - O disposto no inciso IV aplica-se ao
Das Atribuições Gerais  pessoal técnico e administrativo dos Quadros da Secretaria
de Estado da Educação, não abrangendo a programação,
Artigo 20 - Ao Departamento de Recursos Humanos execução e avaliação do treinamento e desenvolvimento de
cabe:  recursos humanos objetivando a melhoria do processo ensi-
I - assistir as autoridades da Secretaria da Educação, nos no-aprendizagem, a serem executados pela Coordenadoria
assuntos relacionados com o Sistema de Administração de de Estudos e Normas Pedagógicas. 
Pessoal; 
II - planejar a execução, no âmbito da Secretaria da Edu- SEÇÃO II 
cação, das políticas, diretrizes e normas emanadas do órgão Da Assistência Técnica 
central do Sistema; 
III  - elaborar propostas de diretrizes e normas para o Artigo 22 - A Assistência Técnica, além das atividades
atendimento de situações específicas, em complementação de assistência direta ao Diretor do Departamento de Recur-
aquelas emanadas do órgão central do Sistema;  sos Humanos no desempenho de suas funções, tem, por
IV - coordenar, prestar orientação técnica, controlar e, meio de suas Equipes de Assistência Técnica, as seguintes
quando for o caso executar, em consonância com o disposto atribuições: 
no inciso II deste artigo, as atividades de administração do I - coordenar a elaboração de normas e manuais de pro-
pessoal civil da Secretaria da Educação, inclusive dos esta- cedimentos, objetivando a sua coerência e padronização; 
giários e do pessoal contratado para prestação de serviços;  II - em relação ao planejamento e controle de recursos
V - opinar, conclusivamente, sobre assuntos de recursos humanos: 
humanos, no âmbito da Secretaria da Educação, observadas a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema,
as políticas, diretrizes e normas emanadas do órgão central em especial para: 
do Sistema;  1 - a elaboração de propostas de padrões de lotação
VI - zelar pela adequada instrução dos processos que para os diversos tipos de unidades administrativas, de acor-
devam ser submetidos a apreciação do órgão central do do com sua especificidade e com base nos elementos forne-
Sistema, ou de outros órgãos da Administração Pública Es- cidos por seus dirigentes; 
tadual, inclusive dos Poderes Legislativo e Judiciário, provi- 2 - a permanente adequação do Quadro de Pessoal aos
denciando, quando for o caso, a complementação de dados programas de trabalho; 
pelos órgãos ou autoridades competentes;  3 - a identificação das causas da rotatividade do pessoal
VII - atuar sempre em integração com o órgão central e a proposição de soluções; 
do Sistema de Administração de Pessoal e com os demais 4 - a proposição de medidas necessárias à melhoria da
órgãos de planejamento da Secretaria da Educação, deven- qualidade dos dados dos cadastros ou arquivos implanta-
do, em sua área de atuação:  dos mediante a utilização de processamento eletrônico de
a) colaborar com esses órgãos, quando solicitado ou dados; 
apresentando, por sua própria iniciativa, estudos, sugestões 5 - a proposição de medidas necessárias à adequação
ou problemas no interesse da melhoria do Sistema;  dos sistemas de processamento eletrônico de dados, relati-
b) observar e fazer observar as diretrizes e normas deles vos ao sistema, às necessidades da Secretaria da Educação; 
emanadas;  b) coordenar a identificação das necessidades de recur-
c) atender ou providenciar o atendimento de suas soli- sos humanos e orientar os órgãos e autoridades com res-
citações;  ponsabilidade nesse processo; 
d) mante-los permanentemente informados sobre a si- c) elaborar, anualmente, a proposta das necessidades
tuação dos recursos humanos;  de recursos humanos, com base nos elementos fornecidos
pelos órgãos e autoridades de que trata a alínea anterior e

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

observados o planejamento e a ação da Secretaria da Edu- 1 - a permanente atualização e o aperfeiçoamento dos
cação;  métodos e técnicas de recrutamento, seleção e movimenta-
d) efetuar a projeção das despesas com recursos huma- ção de recursos humanos; 
nos e encargos previdenciários para a elaboração do orça- 2 - a aplicação do instituto da transposição; 
mento de pessoal;  3 - a adequada colocação do pessoal; 
e) acompanhar e controlar a execução do orçamento de b) verificar a possibilidade de aproveitamento de pes-
pessoal e verificar as necessidades de alterações;  soal: 
f) analisar as variações mensais da folha de pagamento;  1 - considerado disponível na Secretaria da Educação e
g) observar a adequação da:  por outras Secretarias de Estado ou Autarquias; 
1 - composição do Quadro de Pessoal aos padrões de 2 - habilitado em, concurso público ou processo seletivo
lotação e aos postos de trabalho fixados;  realizado pelo órgão central ou por outros órgãos setoriais
2 - distribuição dos recursos humanos aos programas do Sistema; 
de trabalho em andamento;  c) programar as atividades de recrutamento e seleção
h) colaborar com o órgão central do Sistema no desem- de pessoal mediante concurso público ou processo seleti-
penho de suas atribuições, em especial na:  vo, inclusive os processos seletivos especiais para acesso e
1 - realização de estudos para subsidiar a política de su- transposição, bem como as atividades de movimentação de
primento de recursos humanos;  pessoal, em atendimento às prioridades definidas no plano
2 - elaboração de diretrizes, normas e manuais de pro- global da Secretaria da Educação; 
cedimentos:  d) elaborar modelos de concursos públicos ou de pro-
3 - elaboração de padrões de lotação para as unidades cessos seletivos, inclusive instruções especiais, a serem apli-
de administração geral;  cadas pela Secretaria da Educação, 
4 - avaliação do desempenho do Sistema;  e) executar os programas de recrutamento, seleção e
III - em relação à política salarial:  movimentação de pessoal, realizando, entre outras, as se-
a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema guintes atividades: 
em especial para a definição das exigências, requisitos, in- 1 - divulgar as informações relativas aos concursos pú-
terstícios e demais procedimentos aplicáveis ao acesso;  blicos ou processos seletivos; 
b) planejar, coordenar, orientar e controlar as atividades 2 - providenciar a abertura e o encerramento de ins-
relacionadas com:  crições de candidatos em concursos públicos ou processos
1 - a classificação, enquadramento e retribuição de car- seletivos, bem como nos concursos de remoção; 
gos e funções-atividades;  3 - receber e analisar os pedidos de inscrição, examinan-
2 - a aplicação do instituto do acesso;  do a documentação apresentada pelos candidatos e mani-
c) colaborar com o órgão central do Sistema no desem- festando-se conclusivamente quanto ao deferimento; 
penho de suas atribuições, em especial na:  4 - elaborar ou orientar a elaboração de provas e testes; 
1 - realização de estudos para a permanente atualização 5 - acompanhar a montagem impressão, acabamento
do plano de classificação e retribuição de cargos e funções- e a distribuição de provas e testes, a fim de garanm o sigilo
-atividades;  dos mesmos; 
2 - realização de estudos sobre a jornada de trabalho 6 - orientar o pessoal incumbido do recebimento de ins-
adequada a cada classe;  crições e da aplicação de provas ou testes; 
3 - realização de pesquisas sobre o mercado de traba- 7 - tomar as providências necessárias à aplicação de
lho e estudos relacionados com a política salarial, fixação de provas ou testes; 
gratificação ou quaisquer formas de retribuição de pessoal;  8 - proceder à avaliação de provas ou testes aplicados; 
4 - avaliação do desempenho do Sistema;  9 - providenciar a divulgação dos resultados; 
IV - elaborar critérios para avaliação de títulos;  10 - propor a homologação dos resultados dos concur-
V - emitir pareceres, preparar despachos, realizar estu- sos públicos ou processos seletivos; 
dos, elaborar normas e desenvolver outras atividades que se 11 - preparar e expedir certificados de habilitação em
caracterizem como assistência técnica à execução, controle concurso público ou processo seletivo; 
e avaliação das atividades do Departamento de Recursos 12 - convocar candidatos classificados, para escolha de
Humanos.  vagas, quando for o caso; 
13 - encaminhar à autoridade competente os expedien-
SEÇÃO III  tes necessários à preparação dos atos de nomeação ou ad-
Do Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal  missão e remoção; 
f) em relação aos órgãos subsetoriais do Sistema, na Se-
Artigo 23 - O Centro de Seleção e Movimentação de cretaria da Educação: 
Pessoal tem as seguintes atribuições:  1 - coordenar, orientar e controlar os programas de re-
I - por meio dos Grupos Técnicos:  crutamento e seleção de pessoal, mediante concursos pú-
a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema, blicos ou processos seletivos, bem como os programas de
em especial para:  remoção, por eles executados; 

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

2 - propor a intervenção no concurso público ou pro- tros fatores, as exigências dos programas de trabalho da
cesso seletivo de que trata o item anterior, caso seja verifica- Secretaria da Educação; 
da irregularidade de procedimento;  c) analisar propostas de treinamento e desenvolvimento
g) garantir a adequação:  de recursos humanos apresentadas por órgãos da estrutura
1 - do contéudo de cada programa de recrutamento, basica da Secretaria da Educação; 
seleção ou remoção às reais necessidades da organização e d) organizar os programas de treinamento e desenvolvi-
ao nível da clientela;  mento, compatibilizando-os em termos de cronograma; 
2 - dos recursos humanos e materiais alocados a cada e) elaborar instruções especiais para execução dos pro-
programa;  gramas de treinamento e desenvolvimento; 
h)  manter registros atualizados de fontes de recruta- f) em relação aos órgãos subsetoriais do Sistema, na
mento de pessoal;  Secretaria da Educação: coordenar, orientar e controlar os
i) manter contato com instituições especializadas sem programas de treinamento e desenvolvimento de recursos
recrutamento e seleção de pessoal e com órgãos fiscaliza- humanos, por eles executados; 
dores do exercício profissional;  g) garantir a adequação: 
j) promover a realização periódica de análises dos resul- 1 - do conteúdo de cada programa de treinamento as
tados e dos custos dos programas executados;  reais necessidades da organização e ao nível da clientela; 
l) elaborar normas e manuais de procedimentos;  2 - dos recursos humanos e materiais alocados a cada
m)  colaborar com o órgão central do Sistema no de- programa; 
sempenho de suas atribuições, em especial na:  h) manter contatos com instituições especializadas em
1 - realização de estudos para sabsidiar as políticas de ensino e treinamento de pessoal e com órgãos fiscalizadores
recrutamento, seleção e remoção de recursos humanos:  do exercício profissional; 
2 - elaboração de diretrizes, normas e manuais de pro- i) promover a realização periódica de analises dos resul-
cedimentos;  tados e dos custos dos programas executados; 
3 - avaliação do desempenho do Sistema;  j) elaborar normas e manuais de procedimentos; 
II - por meio da Equipe Técnica de Readaptação:  l) colaborar com o orgão central do Sistema no desem-
a) manifestar-se nas propostas de readaptação de fun- penho de suas atribuições, em especial na: 
cionários e servidores, no âmbito da Secretaria da Educação, 1 - realização de estudos para subsidiar as politicas de
a serem encaminhadas à Comissão de Assuntos de Assistên- treinamento e desenvolvimento de recursos humanos; 
cia à Saúde (CAAS), da Secretaria da Administração:  2 - elaboração de diretrizes, normas e manuais de pro-
b) orientar funcionários e servidores, bem como autori- cedimentos; 
dades da Secretaria da Educação, nos assuntos relacionados 3 - elaboração e execução de programas de formação e
com a readaptação;  atualização de dirigentes e de pessoal para as atividades de
c) indicar o local de trabalho para o readaptado;  assistência e assessoramento; 
d) acompanhar o exercício dos funcionários e servidores 4 - avaliação do desempenho do Sistema, 
durante o periodo de readaptação experimental, notificando II - por meio da Equipe Técnica de Instrumentação: 
a CAAS quanto a qualquer ocorrência que interfira no cum- a) executar programas de treinamento e desenvolvi-
primento do rol de atribuições;  mento de recursos humanos, realizando, entre outras, as
e) manter registros referentes aos funcionários e servi- seguintes atividades: 
dores readaptados ou em readaptação;  1 - divulgar as condições para participação nos progra-
f) colaborar com a CAAS no desenvolvimento das ativi- mas; 
dades correspondentes   à readaptação.  2 - receber e analisar os pedidos de inscrição, manifes-
tando-se conclusivamente quanto ao deferimento; 
SEÇÃO IV  3 - providenciar o preparo de recursos didáticos; 
Do Centro de Treinamento e Desenvolvimento de 4 - controlar a frequência dos participantes; 
Recursos Humanos  b) preparar, quando for o caso, e expedir certificados,
atestados ou certidães de participação nos programas; 
Artigo 24 - O Centro de Treinamento e Desenvolvimen- c) manter registros atualizados dos participantes de trei-
to de Recursos Humanos tem as seguintes atribuições:  namentos; 
I - por meio dos Grupos Técnicos:  d) manter registros atualizados de instrutores colabora-
a) realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema, dores e instituições especializadas em ensino e treinamento; 
em especial para:  e) colaborar com os Grupos Técnicos na identificação
1 - a permanente atualização e o aperfeigoamento dos dos custos dos programas de treinamento e desenvolvimen-
metodos e tecnicas de treinamento e desenvolvimento de to previstos; 
recursos humanos;  f) orientar os órgãos subsetoriais nas atividades de im-
2 - a adequada qualificação dos recursos humanos exis- plementação dos programas; 
tentes, as exigencias dos programas de trabalho;  g) colaborar com o órgão central do Sistema na divul-
b) identificar as necessidades de treinamento e desen- gação, no âmbito da Secretaria da Educação, dos cursos por
volvimento de recursos humanos, considerando, entre ou- ele programados. 

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO V  3 - docentes e colaboradores para elaboração de pro-


Do Centro de Estudos e Legislação de Pessoal  gramas, questõese testes; 
IV - por meio da Seção de Expedição de Certificados e
Artigo 25 - O Centro de Estudos e Legislação de Pes- Diplomas: 
soal tem, por meio de seus Grupos Técnicos, as seguintes a) preparar e expedir atestados, certificados, diplomas e
atribuições:  docurnentos afins referentes aos exames supletivos; 
I - coordenar, orientar, controlar e promover a correta b) ratificar a validade e autenticidade de documentos
aplicação da legislação referente a pessoal, no âmbito da expedidos; 
Secretaria da Educação;  c) constatar a validade e autenticidade de documentos
II  - orientar a aplicação da legislação trabalhista, bem apresentados pelos requerentes; 
como programar e orientar a execução das atividades de d) encaminhar ao órgão competente do Ministério da
registro e controle relativas a servidores regidos por esse Educação e Cultura (MEC), para registro, certificados de ha-
regime;  bilitação e diplomas; 
III - representar ás, autoridades competentes nos casos e)  orientar as atividades desenvolvidas nas Delegacias
de inobservância da legislação referente a pessoal;  de Ensino e nas Escolas Estaduais relativas a documentos
IV - elaborar diretrizes, normas e manuais de procedi- referentes aos exames supletivos; 
mentos que visem uniformizar a aplicação da legislação e f) manter controle dos documentos expedidos; 
simplificar os procedimentos referentes a pessoal;  g) manter arquivo de resultados de exames. 
V - realizar estudos sobre legislação da área de pessoal
e sobre Jornadas de trabalho do pessoal docente;  SEÇÃO VII 
VI - emitir pareceres conclusivos nos processos que ver- Da Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal 
sem sobre legislação de pessoal, especialmente sobre direi-
tos e deveres;  Artigo 27 - A Divisão de Cadastro e Informações de
VII - colaborar com o órgão central do Sistema no de- Pessoal cabe a organização e manutenção do cadastro de
sempenho de suas atribuições, em especial na realização de cargos e funções, a realização de estudos. e a manifestação
estudos para a atualização e o aperfeiçoamento da legisla- em assuntos a ele relacionados, bem como o preparo do
ção referente a pessoal.  expediente de pessoal. 
Artigo 28 - O Serviço de Cadastro e Expediente de Pes-
SEÇÃO VI  soal tem as seguintes atribuições: 
Do Centre de Exames Supletivos  I - por meio das Seções de Cadastro: 
a) manter atualizado o cadastro de cargos e funções-a-
Artigo 26 - O Centro de Exames Supletivos tem as se- tividades, procedendo as anotações decorrentes de: 
guintes atribuições:  1 - fixação, extinção e relotação de postos de trabalho; 
I - propor a orientação geral para a realização dos exa- 2 - criação, classificação, alteração ou extinção de cargos
mes supletivos de 1.° e 2.° graus, em suas diversas modali- e funções-atividades; 
dades;  3 - provimento ou vacância de cargos; 
II - divulgar as informações relativas aos exames suple- 4 - preenchimento ou vacância de funções-atividades; 
tivos;  5 - concessão de «pro labore» de que trata o Artigo 28
III - por meio dos Grupos Técnicos:  da Lei n. 10.168, de 10 de julho de 1968; 
a) elaborar a programação para a realização dos exames 6 - transferência de cargos e funções-atividades; 
supletivos;  7 - alterações de dados funcionais, dos funcionários e
b) formular os programas mínimos para os exames su- servidores, que afetem o cadastro; 
pletivos;  b) exercer controle sobre: 
c) elaborar normas e manuais de procedimentos;  1 - o limite para admissão de servidores, fixado pelo in-
d) elaborar provas e testes e acompanhaa- sua mon- ciso I do Artigo 17 da Lei Complementar n. 180, de 12 de
tagem, impressão, acabamento e distribuição, adotando as maio de 1978; 
medidas necessárias a fim de garantir o sigilo dos mesmos;  2 - as vagas reservadas para o provimento de cargos
e) proceder a avaliação de provas e testes aplicados, ou preenchimento de funções-atividades, mediante trans-
bem como promover análises dos resultados;  posição; 
f) promover o treinamento do pessoal incumbido do re- 3 - o acervo de cargos vagos do Quadro de Pessoal; 
cebimento de Inscrições e da aplicação das provas;  4 - o atendimento dos requisitos fixados oara o provi-
g) realizar estudos e propor medidas para o aperfeiçoa- mento de cargos e o preenchimento de funções-atividades; 
mento das atividades relativas a área de atuação do Centro;  c) manter registros atualizados com relação: 
h) manter entrosamento com:  1 - aos funcionários e servidores que percebam gratifi-
1 - órgãos congêneres e afins objetivando aperfeiçoar cação de representação; 
a realização de exames supletivos e a adoção de medidas 2 - aos membros de órgãos colegiados; 
em comum;  3 - aos afastamentos e as licenças de funcionários e ser-
2 - instituições especializadas na realização de provas e vidores; 
concursos e em processamento eletrônico de dados; 

81
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

4 - ao pessoal considerado excedente nas diversas uni- SECAO VIII 


dades da Secretaria da Educação.  Do Serviço de Promoção, Progressão e Evolução
II - por meio da Seção de Expediente de Pessoal:  Funcional 
a) centralizar os Pedidos de Indicação de Candidatos
(PIC) para fins de nomeação ou admissão de pessoal aprova- Artigo 31 - O Serviço de Promoção, Progressão e Evo-
do em concurso público ou processo seletivo realisado pelo lução Funcional tem, por meio de suas Equipes Tecnicas, as
orgão central do Sistema;  seguintes atribuições: 
b) preparar decretos de provimento de cargos, resolu- I  - planejar, coordenar, orientar e controlar as ativida-
ções de preenchimento de funções-atividades, portarias de des relacionadas com a aplicação do instituto da promoção,
remoção e outros atos designatórios;  bem como executar, em especial, as seguintes: 
c) lavrar contratos individuais de trabalho e todos os a) receber, organizar e proceder aos registros e confe-
atos relativos à sua alteração, suspensão ou rescisão.  rências relativos aos processos e documentos de promoção; 
Artigo 29 - O Serviço de Cadastro-QM tem, por meio b) processar a contagem de pontos relativos a titulos,
de suas Seções de Cadastro, as seguintes atribuições:  certificados de cursos e outros considerados para fins de
I - desempenhar as atribuições compreendidas no inci- promoção; 
so I do artigo anterior, em relação ao pessoal do Quadro do c) examinar e instruir pedidos de inclusão de tempo de
Magistério;  serviço e de titulos; 
II - proceder, no cadastro de cargos e funções, as ano- d) providenciar as medidas necessarias nos casos de: 
tações decorrentes de remoção dos integrantes da carreira 1 - atraso na expedição e remessa do Boletim de Me-
do magistério;  recimento; 
III - exercer controle sobre as vagas reservadas para re- 2 - falta de qualquer informação ou de elementos soli-
moção.  citados; 
Artigo 30 - As Equipes Técnicas têm, em suas respecti- 3 - fatos de que decorram irregularidades ou parcialida-
vas áreas de atuação, as seguintes atribuições:  des no processo das promoções; 
I - realizar estudos e pesquisas de interesse do Sistema, e) providenciar para que seja dado conhecimento aos
em especial para a identificação das necessidades de novos interessados, mediante afixação na unidade administrativa,
cadastros ou arquivos de dados em integração com os já dos pontos atribuidos aos titulos e certificados de que trata
implantados;  a alinea «b» deste inciso; 
II  - identificar as necessidades de fixação, extinção ou f) elaborar listas de classificação, para efeito de publi-
relotação de postos de trabalho, em função da proposta das cação; 
necessidades de recursos humanos;  g) analisar os recursos apresentados; 
III - manifestar-se nos expedientes relativos à autoriza- II - coordenar as atividades relacionadas com a aplica-
ção de:  ção do instituto da progressão funcional de que tratam os
a) provimento de cargos com base no inciso III do Arti- Artigos 46 a 50 da Lei Complementar n. 201, de 09 de no-
go 92 da Constituição do Estado;  vembro de 1978 (Estatuto do Magistério); 
b) admissão de servidor para o desempenho de função- III - planejar, coordenar. orientar e controlar as ativida-
-atividade de natureza técnica, por prazo certo e determi- des relacionadas com a aplicação do instituto da evolução
nado;  funcional, bem como executar, em especial, as seguintes: 
O realização de concursos públicos, de processos sele- a) distribuir os impressos a serem utilizados no processo
tivos para admissão de servidores e de processos seletivos avaliatório; 
especiais para transposição ou acesso;  b) conferir o levantamento de pessoal, bem como a dis-
IV - manifestar-se nas propostas relativas a:  tribuição e aplicação de conceitos avaliatórios em todos os
a) fixação, extinção ou relotação de postos de trabalho;  niveis hierarquicos; 
b) transferência de cargos ou funções-atividades que c) elaborar relatório final referente ao processo avalia-
dependam da apreciação das autoridades superiores da Se- tório, para fins de apreciação pelas autoridades superiores
cretaria da Educação;  da Secretaria da Educação, bem como do órgão central do
V - manifestar-se nos processos relativos a classificação Sistema. 
de funções de serviço público para efeito de atribuição do
«pro labore» de que trata o Artigo 28 da Lei n.o 10.168, de SEÇÃO IX 
10 de julho de 1968;  Do Serviço de Apoio Técnico 
VI - efetuar a analise dos dados coletados, produzindo
as informações necessárias;  Artigo 32 - O Serviço de Apoio Tecnico tem as seguin-
VII - colaborar com o órgão central do Sistema no de- tes atribuições: 
sempenho de suas atribuições, em especial na:  I - por meio da Seção de Documentação e Biblioteca: 
a) implantação de novos cadastros ou de alterações nos a) organizar e manter atualizados os registros e fichários
já implantados;  de referenda legislativa e de jurisprudência na area de atua-
b) organização do Sistema de Informações de Pessoal;  ção do Departamento;
c) avaliação do desempenho do Sistema.  b) receber, registrar, classificar e catalogar livros, perió-
dicos e material similar; 

82
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

c) organizar e manter atualizados os catálogos necessá- e) manter arquivo de modelos e exemplos de serviços
rios ao desenvolvimento dos serviços  gráficos executados; 
d) manter serviços de consultas e de pesquisas biblio- f) manter arquivo de autorizações de execução de ser-
graficas, de referência legislativa e de jurisprudência, bem viços; 
como de intercâmbio com unidade de documentação e bi- g) efetuar o controle da produção e do material utili-
blioteca;  zado; 
e) elaborar catálogos bibliográficos e de referência le- h) programar a manutenção de máquinas e equipamen-
gislativa, resumos e sumários para divulgação;  tos. 
f) providenciar a produção de cópias de material do Artigo 33 - As Seções de Documentação e Biblioteca,
acervo bibliográfico e legislativo;  de Difusão Técnica e de Recursos Audiovisuais têm as se-
g) orientar os interessados nas consultas e pesquisas;  guintes atribuições comuns: 
h) promover a aquisição de livros, coletâneas de legis- I - executar atividades que se caracterizem como apoio
lação e assinaturas de periodicos de interesse das unidades técnico aos Centros e demais unidades técnicas do Depar-
do Departamento:  tamento; 
i) zelar pela guarda e conservação do acervo da unida- II - promover a realização de reuniões e palestras sobre
de;  metodologia de pesquisa bibliografica e legislativa, técnicas
II - por meio da Seção de Difusão Tecnica:  de redação e normas técnicas para elaboração de trabalhos
a) promover a difusão interna e externa de trabalhos pelo pessoal técnico do Departamento; 
elaborados pelo pessoal tecnico do Departamento;  III - orientar as unidades do Departamento para confec-
b) manter informado o pessoal técnico da Secretaria da ção de registros de trabalhos elaborados, que possibilitem a
Educação acerca de reuniões, certames simpósios, conferên- recuperação de informações; 
cias, palestras e demais eventos relacionados com a área de IV - prestar assistência aos técnicos do Departamento
atuação do Departamento;  na preparação de relatórios, material audiovisual e outros,
c) promover a preparação de originais, a impressão e a para fins de publicação, bem como de exposição em even-
distribuição de trabalhos tecnicos em geral, bem como de tos; 
instruções e manuais de procedimentos elaborados pelo V - organizar a participação oficial do Departamento em
Departamento para as unidades da Secretaria da Educação;  eventos relacionados a sua área de atuação. 
d) providenciar a remessa de instruções e manuais de
procedimentos, bem como de suas folhas de atualização, a SEÇÃO X 
unidades da Secretaria da Educação;  Da Divisão de Administração 
e) manter registros relativos a distribuição de publica-
ções, especiaimente de instruções e manuais de procedi- Artigo 34 - A Divisão de Administração cabe prestar
mentos;  serviços, por meio das unidades que lhe são subordinadas,
III - por meio da Seção de Recursos Audiovisuais:  nas áreas de pessoal, material e patrimônio, finanças e or-
a) providenciar a confecção e ou aquisição de:  çamento, comunicações administrativas, serviços gerais e
1 - desenhos, mapas, graficos, quadros demonstrativos transportes internos motorizados, propiciando, as unidades
e similares  atendidas, condições de desempenho adequado. 
2 - transparências, diapositivos, filmes e similares;  Artigo 35 - O Setor de Expediente tem as seguintes atri-
3 - gravações sonoras;  buições: 
b)  organizar e manter atualizada a documentação de I - receber, registrar, distribuir e expedir papéis e pro-
material audiovisual;  cessos; 
e) promover a exibição de material audiovisual do acer- II - preparar o expediente da Diretoria da Divisão, de-
vo ou de terceiros;  sempenhando, entre outras, as seguintes atividades: 
d) manter serviços de consultas e de intercâmbio de a) executar e conferir serviços de datilografia; 
material audiovisual;  b) providenciar cópias de textos; 
e) realizar estudos e pesquisas para o aprimoramento c) requisitar papéis e processos; 
dos recursos audiovisuais;  d) manter arquivo das cópias dos textos datilografados; 
f) zelar pela correta utilização e conservação do acervo III - em relação a reprografia: 
e do equipamento;  a) produzir cópias de documentos em geral; 
IV - por meio da Seção de Gráfica:  b) organizar os documentos copiados, conforme soli-
a) executar serviços relativos a composição gráfica, pa- citação; 
ginação, montagem e impressão de textos, folhetos e im- c) zelar pela correta utilização do equipamento; 
pressos em geral;  d) arquivar as requisições de serviços executados. 
b) produzir fotolitos e gravar chapas;  Artigo 36 - A Seção de Material e Patrimônio tem as
c) executar serviços gerais de alceamento, grampeação, seguintes atribuições: 
blocagem e acabamento;  I - em relação a compras: 
d)  zelar pela correta utilização e pela manutenção do a) organizar e manter atualizado o cadastro de fornece-
equipamento e dos materiais aplicados;  dores de materiais e serviços; 

83
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

b) colher informações de outros órgãos sobre a idonei- a) propor normas relativas a programação financeira,
dade das empresas, para fins de cadastramento;  atendendo a orientação dos órgãos centrais; 
c) preparar expedientes referentes a aquisição de mate- b) elaborar a programação financeira da unidade de
riais ou à prestação de serviços;  despesa e da Unidade orçamentária; 
d) analisar as propostas de fornecimento e as de pres- c) analisar a execução financeira da unidade de despesa; 
tação de serviços;  d) verificar se foram atendidas as exigências legais e re-
e) elaborar contratos relativos a compra de materiais ou gulamentares para que as despesas possam ser empenha-
a prestação de serviços;  das; 
II - em relação a administração patrimonial:  e) emitir empenhos e subempenhos; 
a) cadastrar e chapear o material permanente e equipa- f) atender as requisições de recursos financeiros; 
mentos recebidos;  g) examinar os documentos comprobatórios da des-
b) registrar a movimentação dos bens móveis;  pesa e providenciar os respectivos pagamentos, dentro dos
c) providenciar a baixa patrimonial e o seguro de bens prazos estabelecidos segundo a programação financeira; 
móveis e imóveis;  h) emitir cheques, ordens de pagamento e de transfe-
d) proceder, periodicamente, ao inventário de todos os rência de fundos e outros tipos de documentos adotados
bens móveis constantes do cadastro;  para a realização de pagamentos; 
e) providenciar e controlar as locações de imóveis que i) manter registros necessários a demonstração das dis-
se fizerem necessárias;  ponibilidades e dos recursos financeiros utilizados; 
f) promover medidas administrativas necessárias a de- j) proceder a tomada de contas de adiantamentos con-
fesa dos bens patrimoniais;  cedidos e de outras formas de entrega de recursos finan-
III - por meio do Setor de Almoxarifado:  ceiros. 
a) analisar a composição dos estoques com o objetivo Artigo 38 - A Seção de Comunicações Administrativas
de verificar sua oorrespondência as necessidades efetivas;  tem as seguintes atribuições: 
b) fixar níveis de estoque minimo, máximo e ponto de I - receber, registrar, classificar, autuar, controlar a distri-
pedido de materiais;  buição e expedir papéis e processos; 
c) elaborar pedidos de compra para formação ou repo- II - informar sobre a localização de papéis e processos; 
sição do estoque;  III - arquivar papéis e processos; 
d) controlar o atendimento pelos fornecedores, das en- IV - preparar certidões de papéis e processos. 
comendas efetuadas, comunicando ao órgão responsável Artigo 39 - O Serviço de Atividades Complementares
pela aquisição e ao órgão requisitante, quando for o caso, tem as seguintes atribuições: 
os atrasos e outras irregularidades cometidas;  I - por meio da Seção de Zeladoria: 
e) receber, conferir, guardar e distribuir mediante requi- a) manter a vigilância dos edifícios e instalações; 
sição os materiais adquiridos;  b) executar os serviços de telefonia; 
f) controlar o estoque e a distribuição do material ar- c) atender e prestar informações ao público em geral; 
mazenado;  d) receber e distribuir a oorrespondência de funcioná-
g) manter atualizados os registros de entrada e saida rios e servidores; 
dos materiais em estoque;  e) providenciar, diariamente, a execução dos serviços de
h) realizar balancetes mensais e inventários, fisicos e de limpeza e de arrumação das dependências; 
valor do material estocado;  f) zelar pela correta utilização de equipamentos e ma-
i) realizar levantamento estatistico de consumo anual teriais de limpeza; 
para orientar a elaboração do Orçamento-Programa;  g) promover a guarda do material de limpeza e contro-
j) elaborar relação de materiais considerados exceden- lar seu consumo; 
tes ou em desuso.  II - por meio da Seção de Manutenção: 
Artigo 37 - O Serviço de Finanças, órgão setorial dos a) verificar, periódicamente, o estado dos prédios, insta-
Sistemas de Administração Financeira e Orçamentária, tem lações, elevadores, móveis, objetos, equipamentos, inclusive
as seguintes atribuições:  os de escritório, aparelhos e das instalações hidráulicas e
I - por meio da Seção de Orçamento e Custos:  elétricas, tomando as providências necessárias para sua ma-
a) propor normas para a elaboração e execução orça- nutenção e conservação; 
mentária, atendendo àquelas baixadas pelos órgãos centrais;  b) providenciar a execução dos serviços de marcenaria,
b) coordenar a apresentação da proposta orçamentária;  carpintaria, serralharia e pintura em geral; 
c) processar a distribuição das dotações da unidade or- c) providenciar a confecção e a colocação de tapetes e
çamentária para a de despesa;  cortinas cuidando de sua conservação e substituição; 
d) manter registros necessários à apuração dos custos;  d) colocar e substituir os vidros; 
e) analisar os custos da unidade de despesa e atender a III - por meio do Setor de Copa: 
solicitações dos órgãos centrais sobre a matéria;  a) executar os serviços de copa; 
f) controlar a execução orçamentária segundo as nor- b) zelar pela correta utilização dos mantimentos, bem
mas estabelecidas;  como dos aparelhos e utensílios; 
II - por meio da Seção de Despesa:  c) executar os serviços de limpeza dos aparelhos e uten-
sílios bem como dos locais de trabalho; 

84
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

IV - por meiio do Setor de Transportes, órgão setorial I - receber, registrar, distribuir e expedir papéis e pro-
do Sistema de Administração dos Transportes Internos Mo- cessos; 
torizados:  II - preparar o expediente das autoridades a que se su-
a) manter o registro de veículos, segundo a classificação bordinem e o das unidades técnicas que não contem com
em grupos previstos na legislação pertinente;  unidades de expediente próprias. desempenhando, entre
b) elaborar estudos sobre:  outras, as seguintes atividades: 
1 - alteração das quantidades fixadas;  a) executar e conferir serviços de datilografia; 
2 - programações anuais de renovação:  b) providenciar cópias de textos; 
3 - conveniÊncia de aquisições para complementação c) requisitar papéis e processos; 
da frota ou substituição de veículos;  d) manter arquivo das cópias dos textos datilografados 
4 - conveniência da locação de veículos ou da utilização, Parágrafo único - A Seção de Expediente do Serviço
no serviço público, de veículos pertencentes a funcionários de Promoção Progressão e Evolução Funcional tem, ainda, a
e servidores;  atribuição de preparar os atos relativos a promoção. 
5 - distribuição de veículos pelas subfrotas; 
6 - criação, extinção, instalação e fusão de postos de CAPÍTULO II 
serviços e  Dos Serviços de Recursos Humanos 
7 - utilização adequada, guarda e conservação dos veí-
culos oficiais e, se for o caso, dos em convênio;  SEÇÃO I 
8 - conveniência do seguro geral;  Das Atribuições Gerais 
9 - conveniência do recebimento de veículos mediante
convênio:  Artigo 41 - Aos Serviços de Recursos Humanos cabe: 
c) instruir processos relativos a autorização para funcio- I - assistir os dirigentes das unidades a que prestarem
nário e servidor, legalmente habilitado, dirigir veículos ofi- serviços, nos assuntos relacionados com o Sistema de Admi-
ciais, bem como para funcionário e servidor usar veículo de nistração de Pessoal; 
sua propriedade, em serviço público, mediante retribução II - programar e executar, em consonância com a orien-
pecuniária;  tação emanada do Departamento de Recursos Humanos, as
d) prestar os seguintes serviços de órgão subsetorial:  atividades de administração do pessoal civil das unidades a
1 - manter cadastro dos veículos oficiais, dos veículos que prestarem serviços, inclusive dos estagiários e do pes-
dos funcionários e servidores autorizados a prestar serviço soal contratado para prestação de serviços; 
público, mediante retribuição pecuniária, dos veículos loca- III - atuar sempre em integração com o Departamento
dos em caráter não eventual e dos veículos em convênio;  de Recursos Humanos devendo, em suas respectivas áreas
2 - providenciar o seguro obrigatório de danos pessoais de atuação: 
causados por veículos automotores de vias terrestres e, se a) colaborar com esse órgão, quando solicitado ou
autorizado, o seguro geral;  apresentando, por sua própria iniciativa, estudos, sugestões
3 - elaborar estudos sobre distribuição de veículos pelos ou problemas, no interesse da melhoria do Sistema; 
órgãos detentores e alteração das quantidades distribuídas, b) observar e fazer observar as diretrizes e normas dele
bem como sobre substituição de veículos oficiais;  emanadas; 
4 - verificar, Periodicamente, o estado dos veículos ofi- c) atender ou providenciar o atendimento das solicita-
ciais, em convênio e locados;  ções desse órgão; 
5 - efetuar ou providenciar a manutenção de veículos d) mantê-lo permanentemente informado sobre a si-
oficiais e, se for o caso, de veículos em convênio;  tuação dos recursos humanos; 
6 - zelar Pela manutenção dos equipamentos e ferra- e) participar do levantamento das necessidades de re-
mentas utilizados na manutenção dos veículos;  cursos humanos; 
e) prestar os seguintes serviços de órgão detentor:  IV - atender a consultas e manifestar-se conclusivamen-
1 - elaborar estudos sobre a distribuição de veículos, ofi- te nos processos que lhes forem encaminhados; 
ciais e em convênio, pelos usuários;  V  - zelar pela adequada instrução dos processos que
2 - guardar os veículos;  devam ser submetidos a apreciação de outros órgãos, provi-
3 - promover o licenciamento e o emplacamento:  denciando, quando for o caso, a complementação de dados
4 - elaborar escalas de serviço;  pelos órgãos ou autoridades competentes; 
5 - executar os serviços de transporte interno;  VI - manter os funcionários e servidores informados a
6 - realizar o controle do uso e das condições dos veí- respeito de seus direitos e deveres.
culos.  Parágrafo único - As atividades de administração de
pessoal, a que se refere o inciso II, compreendem especial-
SEÇÃO XI  mente: 
Das Seções de Expediente  1 - seleção e movimentação de pessoal; 
2 - treinamento e desenvolvimento; 
Artigo 40 - As Seções de Expediente têm, em seus res- 3 - promoção, progressão e evolução funcional; 
pectivos âmbitos de atuação, as seguintes atribuições:  4 - cadastro de cargos e funções; 
5 - cadastro funcional; 

85
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

6 - frequência;  f)  desenvolver outras atividades que se caracterizem


1 - expediente de pessoal.  como apoio técnico ao planejamento controle, execução e
avaliação das atividades próprias do Sistema; 
SEÇÃO II  g) promover a realização periódica de analise dos resul-
Das Assistências Técnicas  tados e aos custos dos programas executados. 

Artigo 42 - As Assistências Técnicas tem as seguintes SEÇÃO III 


atribuições;  Das Seções de Cadastro de Cargos e Funções 
I - subsidiar o planejamento das atividades de recruta-
mento, seleção, remoção, movimentação de pessoal, treina- Artigo 43 - As Seções de Cadastro de Cargos e Funções
mento e desenvolvimento de recursos humanos;  têm as seguintes atribuições: 
II - participar da elaboração e executar, a critério do De- I  - manter atualizado o cadastro de cargos e funções,
partamento de Recursos Humanos, programas compreendi- procedendo às anotações decorrentes de: 
dos no planejamento de que trata o inciso anterior, exercen- a) fixação, extinção e relotação de postos de trabalho; 
do as atividades a seguir relacionadas:  b) criação, classificação, alteração ou extinção de cargos
a) em relação aos programas de recrutamento, seleção e funções atividades; 
e movimentação de pessoal:  c) provimento ou vacância de cargos; 
1 - divulgar as informações relativas a concursos públi- d) preenchimento ou vacância de funções-atividades; 
cos, concursos de remoção e processos seletivos;  e) concessão do «pro labore» de que trata o Artigo 28 da
2 - providenciar a abertura e o encerramento de ins- Lei n. 10.168, de 10 de julho de 1968; 
crições de candidatos em concursos públicos ou processos f) transferência de cargos e funções-atividades; 
seletivos, bem como nos concursos de  g) remoção dos integrantes da carreira do Magistério; 
3 - receber e analisar os pedidos de inscrição, examinan- h)  alterações de dados funcionais, dos funcionários e
do a documentação apresentada pelos candidatos e mani- servidores, que afetem o cadastro; 
festando-se conclusivamente quanto  II - exercer controle sobre: 
4 - orientar o pessoal incumbido do recebimento de ins- a) as vagas reservadas para remoção; . 
crições e da aplicação de provas ou testes;  b)  o atendimento dos requisites fixados para o provi-
5 - tomar as providências necessárias à aplicação de mento de cargos e  preenchimento de funções-atividades
provas ou teste:  cadastrados; 
6 - providenciar a divulgação dos resultados;  III - manter registros atualizados com relação ao pes-
7 - preparar e expedir certificados de habilitação em soal considerado excedente nas unidades a que prestarem
concurso público ou processo seletivo;  serviços. 
8 - convocar candidatos dassificados, para escolha de
vagas, quando for o caso;  SEÇÃO IV 
9 - encaminhar a autoridade competente os expedien- Das Seções de Cadastro Funcional 
tes necessários à preparação dos atos de nomeação ou ad-
missão;  Artigo 44 - As Seções de Cadastro Funcional têm as
b) em relação aos programas de treinamento e desen- seguintes atribuições: 
volvimento de recursos humanos:  I - manter atualizados o cadastro funcional e os registros
1 - divulgar as condições para participação nos progra- decorrentes da aplicação do Sistema de Pontos aos funcio-
mas;  nários e servidores; 
2 - receber e analisar os pedidos de inscrição, manifes- II - controlar a designação de funcionários e servidores
tando-se conclusivamente quanto ao deferimento;  para os respectivos postos de trabalho; 
3 - providenciar o preparo de recursos didáticos; .  III - registrar os atos relativos à vida funcional dos fun-
4 - controlar a frequência dos participantes;  cionários e servidores; 
5 - preparar certificados, atestados ou certidões de par- IV - em relação ao pessoal da sede, além das constantes
ticipação nos programas;  dos incisos anteriores: 
6 - manter registros atualizados dos participantes de a) controlar os prazos para inicio de exercicio dos fun-
treinamentos;  cionários e servidores; 
7 - manter registros atualizados de instrutores, colabo- b) manter atualizados os prontuários de funcionários e
radores e instituições especializadas em ensino e treinamen- servidores. 
to; 
c) orientar e controlar as atividades relativas à aplicação SEÇÃO V 
do instituto da progressão funcional;  Das Seções de Frequência 
d) desenvolver as atividades relativas ao registro e con-
trole de pessoal regido pela legislação trabalhista, de acordo Artigo 45 - As Seções de Frequência têm as seguintes
com a orientação do Departamentode Recursos Humanos;  atribuições: 
e) providenciar a elaboração de relatorios previstos na I - preparar certidões relacionadas com a frequência dos
legislação relativa à readaptação;  funcionários e servidores; 

86
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

II - anotar os afastamentos e as licenças dos funcioná- atividades de administração do pessoal civil das unidades a
rios e servidores;  que prestarem serviços, inclusive dos estagiários e do pes-
III  - apurar o tempo de serviço para todos os efeitos soal contratado para prestação de serviços; 
legais e expedir as respectivas certidões de liquidação de II - atuar sempre em integração com o Departamento
tempo de serviço;  de Recursos Humanos, devendo, em suas respectivas áreas
IV - em relação ao pessoal da sede, além das constantes de atuação: 
dos incisos anteriores:  a)  colaborar com esse órgão, quando solicitado ou
a) registrar e controlar a frequência mensal;  apresentando, por sua própria iniciativa, estudos, sugestões
b) preparar atestados relacionados com a frequência ou problemas, no interesse da melhoria do Sistema; 
dos funcionários e servidores.  b) observar e fazer observar as diretrizes e normas dele
emanadas; 
SEÇÃO VI  c) atender ou providenciar o atendimento das solicita-
Das Seções de Expediente de Pessoal  ções desse órgão; 
d)  mantê-lo permanentemente informado sobre a si-
Artigo 46 - As Seções de Expediente de Pessoal têm as tuação dos recursos humanos; 
seguintes atribuições:  e) participar do levantamento das necessidades de re-
I - elaborar Pedidos de Indicação de Candidatos (PIC), cursos humanos; 
para fins de nomeação ou admissão de pessoal aprovado III - atender a consultas e manifestar-se conclusivamen-
em concurso público ou processo seletivo, realizado pelo te nos processos que lhes forem encaminhados; 
órgão central do Sistema;  IV - zelar pela adequada instrução dos processos que
II - lavrar contratos individuals de trabalho e todos os devam ser submetidos a apreciação de outros órgãos, provi-
atos relativos à sua alteração, suspensão ou rescisão;  denciando, quando for o caso, a complementação de dados
III - centralizar, preparar, quando for o caso, e encami- pelos órgãos ou autoridades competentes; 
nhar os expedientes relativos à promoção, acesso e evolu- V  - manter os funcionários e servidores Informados a
ção funcional de funcionários e servidores;  respeito de seus direitos e deveres; 
IV  - preparar atos relativos a vida funcional dos fun- VI - em relação ao cadastro de cargos e funções: 
cionários e servidores, inclusive os relativos a concessão de a) manter atualizado o cadastro de cargos e funções,
vantagens pecuniárias;  procedendo às anotações decorrentes de: 
V - elaborar apostilas sobre alteração de dados pessoais 1 - fixação, extinção e relotação de postos de trabalho; 
e funcionais de funcionários e servidores;  2 - criação, classificação, alteração ou extinção de cargos
VI  - preparar e expedir formulários as instituições de e funçõesatividades; 
previdência social competentes, bem como outros exigidos 3 - provimento ou vacancia de cargos; 
pela legislaão pertinente;  4 - preenchimento ou vacancia de funções-atividades; 
VII - providenciar matriculas na instituição de previdên- 5 - concessão do «pro labore» de que trata o Artigo 28
cia social competente, bem como emissão de documentos da Lei n. 10 168, de 10 de julho de 1968; 
de registro pertinente aos servidores e aos seus dependen- 6 - transferência de cargos e funções-atividades; 
tes;  7 - alterações de dados funcionais, dos funcionários e
VIII  - registrar na Carteira de Trabalho e Previdência servidores, que afetem o cadastro; 
Social todas as anotações necessárias, relativas a vida pro- b) exercer controle sobre o atendimento dos requisitos
fissional do servidor, admitido nos termos da legislação tra- fixados para o provimento de cargos e o preenchimento de
balhista;  funções-atividades cadastrados; 
IX - comunicar aos orgãos e entidades competentes o c) manter registros atualizados com relação: 
falecimento de funcionários e servidores;  1 - aos membros dos órgãos colegiados; 
X - em relação ao pessoal da sede, além das constantes 2 - aos afastamentos e as licenças de funcionários e ser-
dos incisos anteriores:  vidores; 
a) preparar os expedientes relativos à posse;  3 - ao pessoal considerado excedente nas unidades a
b) expedir guias para exames de saúde.  que prestarem serviços; 
VII - em relação ao cadastro funcional: 
CAPITULO III  a) manter atualizados o cadastro funcional, o prontuário
Das Seções de Pessoal  e os registros decorrentes da aplicação do Sistema de Pon-
tos aos funcionários e servidores 
Artigo 47 - A Seção de Pessoal do Departamento de b) controlar a designação de funcionários e servidores
Administração, as Seções de Pessoal das Divisões de Admi- para os respectivos postos de trabalho; 
nistração das Coordenadorias, do Departamento de Recur- c) controlar os prazos para inicio de exercicio dos fun-
sos Humanos e do Conselho Estadual de Educação e a Seção cionários e servidores; 
de Pessoal do Serviço de Administração do Departamento d) registrar os atos relativos a vida funcional dos funcio-
de Assistência ao Escolar tem as seguintes atribuições:  nários e servidores; 
I - programar e executar, em consonância com a orien- VIII - em relação à frequência: 
tação emanada do Departamento de Recursos Humanos, as a) registra e controlar a frequência mensal; 

87
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

b) preparar atestados e certidões relacionados com a e) preparar atestados relacionados com a frequência de
frequência dos funcionários e servidores;  funcionários e servidores; 
c) anotar os afastamentos e as licenças dos funcionários f) expedir guias para exames de saúde; 
e servidores  g) anotar os afastamentos e as licenças de funcionários
d) apurar o tempo de serviço para todos os efeitos le- e servidores; 
gais e expedir as respectivas certidões de liquidação de tem- h) informar processos que versem sobre pessoal; 
po de serviço;  i) comunicar aos órgãos e entidades competentes o fa-
IX - em relação ao expediente de pessoal:  lecimento de funcionários e servidores; 
a) elaborar Pedidos de Indicação de Candidatos (PIC), II - em relação ao pessoal da área territorial de atuação
para fins de nomeação ou admissão de pessoal aprovado da respectiva Delegacia de Ensino; 
em concurso público ou processo seletivo realizado pelo ór- a) preparar expedientes relativos à admissão e dispensa
gão central do Sistema;  de pessoal docente e estagiários admitidos nos termos do
b) lavrar contratos individuals de trabalho e todos os inciso I do Artigo 1.° da Lei n. 500, de 13 de novembro de
atos relativos a sua alteração, suspensão ou rescisão;  1974; 
c) preparar os expedientes relativos à posse;  b) elaborar a lista de classificação do pessoal docente
d) centralizar, preparar, quando for o caso, e encami- abrangido pelo instituto da progressão funcional.
nhar os expedientes relativos a promoção, acesso e evolu- § 1.° - As unidades de que trata este artigo atuarão sem-
ção funcional de funcionários e servidores;  pre em integração com o órgão subsetorial do Sistema de
e) preparar atos relativos à vida funcional dos funcioná- Administração de Pessoal, na Secretaria da Educação, a que
rios e servidores inclusive os relativos a concessão de vanta- estiverem jurisdicionados.
gens pecuniárias;  § 2.° - As atribuições de que tratam as alíneas “b” e “c”
f) elaborar apostilas sobre alteração de dados pessoais do inciso ‘I serão exercidas também em relação aos Direto-
e funcionais de funcionários e servidores;  res de Escola.
g) preparar e expedir formulários as instituições de pre- Artigo 50 - As Secretarias de Escola têm, na área de
vidência social competentes, bem como outros exigidos pessoal, as seguintes atribuições: 
pela legislação pertinente;  I - organizar e manter atualizados os prontuários de fun-
h) providenciar matriculas na instituição de previdencia cionários e servidores; 
social competente bem como emissão de documentos de II - preparar os expedientes relativos à posse; 
registro pertinentes aos servidores e aos seus dependentes;  III - controlar os prazos para início de exercício dos fun-
i) registrar na Carteira de Trabalho e Previdência Social cionários e servidores; 
todas as anotações necessárias, relativas a vida profissional IV - registrar a frequência mensal; 
do servidor admitido nos termos da legislação trabalhista;  V  - preparar atestados relacionados com a frequência
j) expedir guias para exames de saúde;  de funcionários e servidores; 
l) comunicar aos órgãos e entidades competentes o fa- VI - expedir guias para exames de saúde; 
lecimento de funcionários e servidores.  VII - anotar os afastamentos e as licenças de funcioná-
Artigo 48 - A Seção de Pessoal do Serviço de Adminis- rios e servidores; 
tração da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira tem VIII - informar processos que versem sobre pessoal; 
as seguintes atribuições:  IX - comunicar aos órgãos e entidades competentes o
I - as previstas nos incisos II, III, IV, V e VI do Artigo 41 falecimento de funcionários e servidores. 
deste Decreto;  Artigo 51 - A Assistência Técnica da Divisão Especial de
II - por meio do Setor de Cadastro, as previstas nos Ar- Ensino do Vale do Ribeira tem as atribuições previstas no
tigos 43 e 44 deste Decreto:  artigo 42 deste Decreto. 
III - por meio do Setor de Frequência e Expediente de
Pessoal, as previstas nos Artigos 45 e 46 deste Decreto.  TÍTULO V 
Das Competências 
CAPITULO IV 
Das Demais Unidades  CAPITULO I 
Das Competências Relativas ao Sistema de Adminis-
Artigo 49 - As Seções de Administração das Delegacias tração de Pessoal 
de Ensino, por meio dos respectivos Setores de Expediente
e Pessoal, tem, na área de pessoal, as seguintes atribuições:  SEÇÃO I 
I - em relação ao pessoal da sede:  do Secretário da Educação 
a) manter atualizados os prontuários de funcionários e
servidores;  Artigo 52 - Ao Secretário da Educação, no âmbito da
b) preparar os expedientes relativos à posse;  Secretaria, além de outras competências que lhe forem con-
c) controlar os prazos para inicio de exercicio dos fun- feridas por lei ou decreto, compete. 
cionários e servidores;  I - sugerir medidas para aperfeiçoamento do Sistema; 
d) registrar a frequência mensal;  II - determinar o cumprimento: 

88
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

a) das diretrizes e normas emanadas do órgão central XII - relotar postos de trabalho de uma para outra uni-
do Sistema;  dade da Secretaria da Educação, respeitados os padroes de
b) dos prazos para encaminhamento de dados, infor- lotação; 
mações, relatórios e outros documentos ao orgão central do XIII  - solicitar a relotação de postos de trabalho ou a
Sistema;  transferência de cargos ou funções-atividades, de outros ór-
III - aprovar diretrizes e normas para atendimento de si- gãos para a Secretaria da Educação, observadas as restrições
tuações específicas, em complementação aquelas emanadas legais; 
do órgão central do Sistema;  XIV - aprovar os pedidos de relotação de postos de tra-
IV - aprovar as propostas apresentadas pelo Departa- balho ou de transferência de cargos e funções-atividades, da
mento de Recursos Humanos, encaminhando ao órgão cen- Secretaria da Educação para outros órgãos, encaminhando a
tral do Sistema aquelas que dependam de sua apreciação, matéria a apreciação do órgão central do Sistema; 
dentre elas as relativas a:  XV - indicar ao órgão central do Sistema os funcioná-
a) fixação de padrões de lotação;  rios e servidores considerados excedentes na Secretária da
b) criação, extinção ou modificação de cargos e fun- Educação; 
ções-atividades;  XVI - admitir ou autorizar a admissão de servidores bem
c) constituição de séries de classes para fins de acesso;  como dispensá-los. nos termos da legislação pertinente; 
d) necessidade de recursos humanos;  XVII - convalidar atos de investidura no serviço público; 
e) fixação ou extinção de postos de trabalho;  XVIII - dar posse a funcionários que lhe sejam direta-
f) projeção das despesas com recursos humanos e en- mente subordinados; 
cargos previdenciários para a elaboração do orçamento de XIX - proceder à classificação de cargos ou funções-a-
pessoal;  tividades, bem como a sua transferência de uma para outra
V - encaminhar a aprovação ao Secretário de Estado dos unidade subordinada, de acordo com os postos de trabalho; 
Negócios da Administração modelos de concursos públicos, XX - proceder a colocação em disponibilidade de fun-
processos seletivos para admissão de servidores e proces- cionário ou servidor estável, nos termos da legislação perti-
sos seletivos especiais para transposição ou acesso, a serem nente; 
aplicados pelo Departamento de Recursos Humanos;  XXI - designar funcionários ou servidores para os postos
VI - encaminhar a autorização do Secretário de Estado de trabalho das unidades subordinadas; 
dos Negócios da Administração, ressalvados os casos de XXII - fixar o horário de trabalho dos funcionários e ser-
competência legal específica, as propostas do Departamen- vidores; 
to de Recursos Humanos para a realização de concursos XXIII - designar funcionário ou servidor: 
públicos, de processos seletivos para admissão de servido- a) para o exercicio de substituição remunerada; 
res e de processos seletivos especiais para transposição ou b) para funções de encarregatura, chefia e direção a se-
acesso;  rem retribuidas mediante «pro labore» previsto no Artigo 28
VII  - autorizar a abertura de concursos públicos para da Lei n. 10.168, de 10 de julho de 1968, e nos termos do
provimento de cargos e processos seletivos para preenchi- Artigo 196 da Lei Complementar n. 180. de 12 de maio de
mento de funções-atividades do Quadro do Magistério;  1978; 
VIII - nos concursos de remoção de integrantes da car- XXIV - atribuir a gratificação mencionada na alínea «b»
reira do magistérios:  do inciso anterior, observada a legislação pertinente; 
a) autorizar a sua abertura;  XXV  - aprovar a indicação ou designar substitutos de
b) aprovar as Instruções Especiais;  cargos, funçõesatividades ou funções de serviço público de
IX - nos concursos públicos e processos seletivos exe- direção das unidades diretamente subordinadas; 
cutados direta ou Indiretamente pelo Departamento de Re- XXVI - aprovar a indicação ou designar funcionários ou
cursos Humanos:  servidores para resporderem pelo expediente das unidades
a) aprovar as Instruções Especiais;  diretamente subordinadas; 
b) designar os membros para comporem as bancas exa- XXVII - promover funcionários e servidores, bem como
minadoras;  homologar o processo avaliatório para fins de evolução fun-
X - aprovar o conteúdo, a duração e a metodologia a ser cional; 
adotada nos programas de treinamento e desenvolvimento XXVIII  - autorizar, cessar e prorrogar afastamento de
de recursos humanos a serem executados sob a responsa- funcionários e servidores, para dentro do Pais, nas seguintes
bilidade direta ou indireta do Departamento de Recursos hipóteses: 
Humanos;  a) para missão ou estudo de interesse do serviço pú-
XI - estabelecer, com base em proposta do Diretor do blico; 
Departamento de Recursos Humanos, normas que dispo- b) para participação em congressos e outros certames
nham sobre:  culturais tecnicos nicos ou cientificos; 
a) a orientação e os critérios de movimentação do pes- c) para participação em provas de competições despor-
soal docente, técnico e administrativo;  tivas, desde que haja requisição da autoridade competente; 
b) os critérios de avaliação de títulos;  XXIX - convocar ou designar funcionário e servidor para
prestação de serviços em unidade diversa daquela onde o
cargo ou função-atividade se encontrá classificado; 

89
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

XXX - autorizar ou prorrogar a convocação de docentes VII - encaminhar ao Secretário da Educação propostas
e especialistas em educação para prestação de serviços ex- de designação de funcionários e servidores, nos termos do
traordinários, nos termos da legislação pertinente;  Artigo 28 da Lei n. 10.168 de 10 de julho de 1968; 
XXXI - requisitar passagens aéreas para funcionário ou VIII - autorizar, cessar ou prorrogar afastamento de fun-
servidor a serviço da Secretaria da Educação, de acordo com cionários e servidores, para dentro do País e por prazo não
a legislação pertinente;  superior a 30 (trinta) dias, nas seguintes hipóteses: 
XXXII - conceder gratificação a título de representação, a) para missão ou estudo de interesse do serviço pú-
a funcionários e servidores de seu Gabinete, observada a le- blico; 
gislação pertinente;  b) para participação em congressos ou outros certames
XXXIII - autorizar o pagamento de transportes e de diá- culturais, técnicos ou científicos; 
rias a funcionários e servidores;  c) para participação em provas de competições despor-
XXXIV - conceder e arbitrar ajuda de custo a funcioná- tivas, desde que haja requisição de autoridade competente; 
rios e servidores que, no interesse do serviço, passarem a IX - autorizar o pagamento de diárias a funcionários e
ter exercício em nova sede em território do Estado, ou que servidores, até 30 (trinta) dias; 
forem incumbidos de serviço que os obrigue a permanecer X - autorizar o pagamento de transportes a funcionários
fora da sede por mais de 30 (trinta) dias;  e servidores, bem como ajuda de custo, na forma da legis-
XXXV - exonerar:  lação pertinente; 
a) a pedido, funcionário ocupante de cargo em comis- XI - requisitar passagens aéreas para funcionário ou ser-
são;  vidor a serviço dentro do País, até o limite máximo fixado na
b) titular de cargo provido nos termos do inciso III do legislação pertinente; 
artigo 92 da Constituição do Estado, a pedido ou quando do XII  - autorizar, por ato específico, as autoridades que
provimento do cargo mediante concurso:  lhes são subordinadas, a requisitarem transporte de pessoal
XXXVI - ordenar a prisão administrativa de funcionário por conta do Estado, observadas as restrições legais vigen-
ou servidor, até 90 (noventa) dias, e providenciar a realização tes; 
do processo de tomada de contas;  XIII - determinar a instauração de processo administra-
XXXVII - prorrogar, em até 90 (noventa) dias, a suspen- tivo ou sindicância, inclusive para apuração de responsabili-
são preventiva de funcionário ou servidor;  dade em acidentes com veículos oficiais; 
XXXVIII - determinar a instauração de processo admi- XIV - ordenar a prisão administrativa de funcionário ou
nistrativo ou de sindicância, inclusive para apuração de res- servidor, até 60 (sessenta) dias, e providenciar a realização
ponsabilidade em acidentes com veiculos oficiais;  do processo de tomada de contas; 
XXXIX - determinar providências para a instauração de XV - ordenar ou prorrogar suspensão preventiva de fun-
inquérito policial;  cionário ou servidor, até 60 (sessenta) dias; 
XL - aplicar pena de repreensão e suspensão até 90 (no- XVI - determinar providências para a instauração de in-
venta) dias, a funcionário ou servidor, bem como converter quérito policial; 
em multa a suspensão aplicada.  XVII - aplicar penas de repreensão e de suspensão, limi-
tada a 60 (sessenta) dias, bem como converter em multa a
SEÇÃO II  suspensão aplicada. 
Do Chefe de Gabinete, dos Coordenadores e do Pre- Parágrafo único - O Presidente do Conselho Estadual
sidente do Conselho Estadual de Educação  de Educação exercerá a competência prevista no inciso XI
também em relação aos Conselheiros.
Artigo 53 - Ao Chefe de Gabinete, aos Coordenadores Artigo 54 - O Chefe de Gabinete poderá exercer as
e ao Presidente do Conselho Estadual de Educação, em suas competências previstas no artigo anterior e nos Artigos 56 e
respectivas áreas de atuação, compete:  57, partial ou integralmente, conforme for o caso, também
I - admitir e dispensar servidores, nos termos da legis- em relação aos demais órgãos diretamente subordinados ao
lação pertinente;  Secretário da Educação.
II - dar posse a funcionários que lhes sejam diretamen- Parágrafo único - A aplicação deste artigo será disci-
te subordinados e aos nomeados para cargos em comissão, plinada pelo Secretário da Educação, mediante resolução
bem como de direção e chefia das unidades subordinadas;  específica.
III - designar funcionário ou servidor para o exercício de Artigo 55 - Aos Coordenadores de Ensino compete,
substituição remunerada;  ainda, a convocação de funcionário e servidor de unidade
IV - aprovar a indicação ou designar substitutos de car- subordinada, para prestação de serviços até no máximo de
gos, funçõesatividades ou funções de serviço público de di- 120 (cento e vinte) dias, em unidade diversa daquela onde o
reção, chefia ou encarregatura das unidades subordinadas;  cargo ou função-atividade se encontra classificado. 
V  - aprovar a indicação ou designar funcionários ou
servidores para responderem pelo expediente das unidades
subordinadas; 
VI - autorizar ou prorrogar a convocação de funcioná-
rios e servidores para a prestação de serviços extraordiná-
rios; 

90
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO III  Diretor da Divisão Especial de Ensino do Vale do Ribeira, en-


Dos Diretores de Departamento e Demais Dirigentes quanto dirigentes de unidade de despesa, compete, ainda; 
de Órgãos  I - admitir servidores, nos termos da legislação pertinen-
te; 
Artigo 56 - Aos Diretores de Departamento, ao Dirigen- II - autorizar o pagamento de diárias a funcionários ou
te da Assessoria Técnica de Planejamento e Controle Educa- servidores, até 15 (quinze) dias; , 
cional, aos Diretores das Divisões Regionais de Ensino e ao III - autorizar o pagamento de transporte a funcionários
Diretor da Divisão Especial de Ensíno do Vale do Ribeira, em ou servidores, bem como ajuda de custo, na forma da legis-
suas respectivas áreas de atuação, compete:  lação pertinente; 
I - dar posse a funcionários que lhes sejam diretamen- IV - autorizar a concessão e fixar o valor da gratificação
te subordinados e aos nomeados para cargos em comissão, «pro labore» a funcionário ou servidor que pagar ou receber
bem como de direção e chefia de unidades subordinadas;  em moeda corrente, observada a legislação pertinente; 
II - autorizar horários especiais de trabalho;  V - autorizar o parcelamento de débito de funcionários
III - convocar, quando cabível, funcionário ou servidor ou servidores, observada a legislação pertinente. 
para prestação de serviços em Jornada Completa de Traba- Artigo 58 - Ao Diretor do Departamento de Assistência
lho observada a legislação pertinente;  ao Escolar compete, ainda, convocar funcionário e servidor,
IV - designar funcionário ou servidor para o exercício de da área de assistência ao escolar, para prestação de serviços
substituição remunerada;  em unidade diversa daquela onde o cargo ou a funçãoativi-
V - aprovar a indicação ou designar substitutos de car- dade se encontra classificado. 
gos, funçõesatividades ou funções de serviço público de di- Artigo 59 - Aos Diretores das Divisões Regionais de En-
reção, chefia ou encarregatura de unidades subordinadas;  sino e ao Diretor da Divisão Especial de Ensino do Vale do
VI  - aprovar a indicação ou designar funcionários ou Ribeira, compete, ainda: 
servidores para responderem pelo expediente de unidades I - convocar funcionário e servidor de unidade subordi-
subordinadas;  nada para prestação de serviços, por prazo não superior a
VII  - autorizar ou prorrogar a convocação de funcio- 60 (sessenta) dias, em unidade diversa daquela onde o cargo
nários ou servidores do Quadro da Secretaria da Educação ou a função-atividade se encontra classificado; 
(QSE) para prestação de serviços extraordinários, até o máxi- II - incluir pessoal docente em jornada de trabalho, nos
mo de 120 (cento e vinte) dias;  termos da legislação pertinente. 
VIII  - decidir, nos casos de absoluta necessidade dos Artigo 60 - Aos Diretores das Divisões de Ensino que
serviços, sobre a impossibilidade de gozo de férias regula- contem na respectiva área territorial de atuação com Unida-
mentares;  des Escolares de Ação Comunitária (UEACs) compete, ainda,
IX - autorizar o gozo de férias não usufruidas no exercí- convocar pessoal docente para inclusão em jornada de tra-
cio correspondente;  balho docente. 
X - conceder licença a funcionários para tratar de inte-
resses particulares;  SEÇÃO IV 
XI - autorizar o gozo de licença especial para funcioná- Dos Diretores de Divisão, dos Diretores de Serviço e
rio frequentar curso de graduação em Administração Públi- dos Dirigentes de Unidades de Níveis Equivalentes 
ca, da Fundação Getúlio Vargas ou da Universidade de São
Paulo;  Artigo 61 - Aos Diretores de Divisão, aos Dirigentes de
XII - exonerar funcionário efetivo ou dispensar servidor, Centro, aos Delegados de Ensino, aos Dirigentes de Grupo
a pedido, observada a legislação pertinente;  Técnico, ao Dirigente da Assistência Técnica do Conselho Es-
XIII - exonerar titular de cargo provido nos termos do tadual de Educação, aos Diretores de Escola e aos Diretores
inciso III do Artigo 92 da Constituição do Estado, quando de Serviço, em suas respectivas áreas de atuação, compete: 
vencido o prazo;  I - determinar a instauração de sindicância; 
XIV - determinar a instauração de sindicância, inclusive II - aplicar penas de repreensão e de suspensão, limitada
para apuração de responsabilidade em acidentes com veí- a 15 (quinze) dias, bem como converter em multa a suspen-
culos oficiais;  são aplicada. 
XV - ordenar prisão administrativa de funcionário e ser- Artigo 62 - Aos Dirigentes do Centro do Departamento
vidor, até 30 (trinta) dias, e providenciar a realização do pro- de Recursos Humanos compete, ainda, propor a contratação
cesso de tomada de contas;  de serviços de terceiros, em assuntos referentes à sua àrea
XVI  - ordenar suspensão preventiva de funcionário e de atuação. 
servidor, por prazo não superior a 30 (trinta) dias;  Artigo 63 - Aos Delegados de Ensino, em suas respecti-
XVII - aplicar penas de repreensão e de suspensão, li- vas áreas de atuação, compete, ainda: 
mitada a 30 (trinta) dias, bem como converter em multa a I - admitir pessoal docente, nos termos do inciso I do Ar-
suspensão aplicada.  tigo 1.° da Lei n. 500, de 13 de novembro de 1974 bem como
Artigo 57 - Aos Diretores de Departamento, ao Dirigen- dispensá-los nos termos da legislação pertinente; 
te da Assessoria Técnica de Planejamento e Controle Educa- II - propor a designação de titular de cargo de Assisten-
cional, aos Diretores das Divisões Regionais de Ensino e ao te de Ensino ‘II e de Assistente de Diretor de Escola para a
assistência e direção de escola estadual comum ou agrupa-

91
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

da, mediante prévia consulta ao respectivo Diretor, quando II - em relação aos concursos de remoção de integran-
for o caso;  tes da carreira do magistério: 
III - em relação ao pessoal da sede:  a) decidir recursos sobre indeferimento de inscrições e
a) da posse a funcionários subordinados:  classificação de candidatos; 
b) conceder prorrogação de prazo para posse;  b) proceder a remoção; 
c) decidir, nos casos de absoluta necessidade dos servi- III - decidir pedidos de remoção, por permuta, de inte-
ços, sobre a impossibilidade do gozo de férias regulamen- grantes da carreira do magistério; 
tares;  IV  - em relação aos programas de treinamento e de-
d) autorizar o gozo de férias não usufruídas no exercício senvolvimento de recursos humanos promovidos pelo De-
correspondente. partamento; 
Parágrafo único - As competências de que trata o in- a) aprovar as Instruções Especiais; 
ciso III serão exercidas também em relação aos Diretores de b) aprovar a indicação de monitores e a contratação de
Escola. especialistas para ministrarem cursos; 
Artigo 64 - Aos Diretores de Escola, em suas respectivas c) convocar pessoal para participar dos treinamentos; 
áreas de atuação, compete, ainda:  V - propor os critérios de avaliação de títulos; 
I - dar posse a funcionários subordinados;  VI - autorizar a expedição de Pedidos de Indicação de
II - conceder prorrogação de prazo para posse;  Candidatos (PIC), para fins de nomeação ou admissão de
III - convocar pessoal docente para optar por jornada de pessoal aprovado em concurso público ou processo seletivo; 
trabalho nos termos da legislação pertinente:  VII - designar local de trabalho para o readaptado; 
IV - decidir, nos casos de absoluta necessidade dos ser- VIII  - transferir, na vacância, cargos para o acervo de
viços, sobre a impossibilidade de gozo de férias regulamen- cargos vagos dos Quadros da Secretaria da Educação; 
tares;  IX - propor a distribuição de cargos existentes no acervo
V - autorizar o gozo de férias não usufruídas no exercído de cargos vagos dos Quadros da Secretaria da Educação; 
correspondente;  X  - proceder à exclusão da expressão que identifica a
VI - indicar docente para o cargo de Assistente de Dire- disciplina, na vacância do cargo de docente; 
tor de Escola;  XI - destinar cargo de docente de uma para outra dis-
VII - designar docente da escola para Professor-Coor- ciplina; 
denador e para Professor Conselheiro de Classe;  XII - propor a orientação e os critérios de movimenta-
VIII - propor a designação de funcionário ou servidor:  ção do pessoal docente, técnico e administrativo; 
a) para o exercício de substituição remunerada;  XIII - estabelecer normas e instruções que visem unifor-
b) para responder pelo expediente de unidade subor- mizar a aplicação da legislação de pessoal. 
dinada;  Artigo 67 - Ao Dirigente do Centro de Seleção e Movi-
c) para o exercício de função de serviço público, nos ter- mentação de Pessoal compete: 
mos do Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 10 de julho de 1968;  I - em relação aos concursos públicos e processos se-
IX - Indicar ou designar funcionário ou servidor para a letivos: 
zeladoria da escola.  a) aprovar as inscrições recebidas; 
b) expedir certificados de habilitação; 
SEÇÃO V  II - atestar a frequência do readaptado, quando solicita-
Dos Analistas Supervisores, dos Chefes de Seção e do pela Equipe Técnica de Readaptação, até a definição do
dos Secretários de Escola  rol de atribuições. 
Artigo 68 - Ao Dirigente do Centro de Treinamento e
Artigo 65 - Aos Analistas Supervisores, aos Chefes de Desenvolvimento de Recursos Humanos, em relação aos
Seção e aos Secretários de Escola, em suas respectivas áreas programas de treinamento e desenvolvimento, compete: 
de atuação, compete aplicar penas de repreensão e de sus- I - aprovar as inscrições recebidas; 
pensão, limitada a 8 (oito) dias, bem como converter em II  - aprovar propostas de treinamento encaminhadas
multa a suspensão aplicada.  pelos órgãos da Secretaria da Educação; 
III - expedir certificados de participação ou de aprovei-
SEÇÃO VI  tamento, conforme o caso. 
Dos Dirigentes de Órgãos do Sistema  Artigo 69 - Ao Diretor da Divisão de Cadastro e Infor-
mações de Pessoal compete: 
Artigo 66 - Ao Diretor do Departamento de Recursos I  - encaminhar, ao órgão central do Sistema, Pedidos
Humanos, na qualidade de dirigente do órgão setorial do de Indicação de Candidatos (PIC), para fins de nomeação ou
Sistema, no âmbito da Secretaria da Educação, compete:  admissão de pessoal aprovado em concurso público ou pro-
I - em relação aos concursos públicos e processos sele- cesso seletivo; 
tivos a serem executados pelo Departamento:  II - assinar contratos de trabalho de servidores admiti-
a) decidir recursos sobre indeferimento de inscrições;  dos sob o regime da legislaçãotrabalhista; 
b) decidir pedidos de revisão de notas atribuídas às pro- III - declarar sem efeito a nomeação, a pedido, ou quan-
vas e|ou títulos, na forma da legislação pertinente;  do o nomeado não houver tomado posse dentro do prazo
c) homologar seus resultados;  legal; 

92
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

IV - exonerar funcionário que não entrar em exercício XI - conceder licença-prêmio em pecúnia; 
no prazo legal;  XII - conceder licença a funcionária casada com funcio-
V  - expedir títulos de provimento de cargo, preenchi- nário estadual ou militar que for mandado servir, indepen-
mento de funçãoatividade e outros relativos à situação fun- dente de solicitação, em outro ponto do Estado ou do terri-
cional, com base em ato ou despacho superior;  tório nacional ou no estrangeiro; 
VI - apostilar títulos:  XIII - considerar afastado o funcionário ou servidor para
a) de provimento de cargo, com base em lei ou delega- cumprir mandato legislativo federal, estadual ou municipal,
ção de competência;  bem como de prefeito, nos termos e limites previstos na le-
b) de provimento de cargo e preenchimento de função- gislação pertinente; 
-atividade, para especificar a origem da vaga;  XIV - considerar afastado o funcionário ou servidor para
c) alterando a situação funcional de funcionário ou ser- atender às requisições das autoridades eleitorais competen-
vidor, em decorrência de decisão administrativa ou judicial;  tes; 
VII - declarar a extinção de cargo vago, quando deter- XV - exonerar funcionário ou dispensar servidor, a pedi-
minada em lei;  do, em virtude de nomeação ou admissão para outro cargo
VIII - transferir cargo vago de uma tabela para outra dos ou função-atividade; 
Quadros da Secretaria da Educação, bem como alterar sua XVI - declarar a vacância de cargo em virtude de fale-
denominação, quando determinado em lei.  cimento; 
Artigo 70 - Ao Diretor do Serviço de Promoção, Pro- XVII - declarar a extinção de cargo, quando determina-
gressão e Evolução Funcional compete expedir titulos de da em lei. 
promoção.  Parágrafo único - Os Diretores dos Serviços de Recur-
Artigo 71 - Ao Diretor do Departamento de Adminis- sos Humanos e o Diretor da Divisão Especial de Ensino do
tração, aos Diretores das Divisões de Administração das Vale do Ribeira poderão exercer, também, sob orientação do
Coordenadorias, do Departamento de Recursos Humanos e Departamento de Recursos Humanos, as competéncias pre-
do Conselho Estadual de Educação, aos Diretores dos Servi- vistas na alínea «c» do inciso IV do Artigo 66, na alínea «a»
ços de Recursos Humanos das Divisões Regionais de Ensino do inciso I e no inciso II do Artigo 67 e no inciso I do Artigo
e aos Diretores dos Serviços de Administração do Depar- 68 deste Decreto, relativamente aos programas executados
tamento de Assistência ao Escolar e da Divisão Especial de pelos órgãos que dirigem. 
Ensino do Vale do Ribeira, na qualidade de dirigentes de ór-
gãos subsetoriais, compete:  SEÇÃO VII 
I - assinar contratos de trabalho de servidores admitidos Das Competências Comuns 
sob o regime da legislação trabalhista; 
II - conceder prorrogação de prazo para posse;  Artigo 72 - São competências comuns ao Chefe de Ga-
III - apostilar títulos:  binete aos Coordenadores, ao Presidente do Conselho Esta-
a) de provimento de cargo, nos casos de retificação ou dual de Educação, ao Dirigente da Assessoria Técnica de Pla-
mudança de nome;  nejamento e Controle Educacional, aos Diretores de Depar-
b) de provimento de cargo, com base em lei ou delega- tamento, ao Dirigente do Grupo de Controle das Atividades
ção de competência;  Administrativas e Pedagógicas, aos Diretores de Divisão, aos
c) de provimento de cargo ou preenchimento de fun- Dirigentes de Centro, aos Delegados de Ensino, ao Dirigen-
ção-atividade, para especificar a origem da vaga;  te da Assistência Técnica do Conselho Estadual de Educa-
d) alterando a situação funcional de funcionários ou ção, aos Supervisores de Equipe de Assistência Técnica, aos
servidores, em decorrência de afastamento, bem como de Dirigentes de Grupo Técnico, aos Diretores de Escola e aos
decisão administrativa ou judicial;  Diretores de Serviço em suas respectivas áreas de atuação: 
IV - expedir títulos de evolução funcional;  I - propor a fixação, extinção ou relotação de postos de
V  - dar posse a funcionários não abrangidos no inci- trabalho, mediante solicitação dos dirigentes de unidades
so XVIII do Artigo 52, no inciso II do Artigo 53, no inciso I do subordinadas: 
Artigo 56, na alínea «a» do inciso III do Artigo 63 e no inciso I II - propor a nomeação ou admissão de pessoal; 
do Artigo 64 deste Decreto;  III - solicitar a transferência de cargos ou funções-ati-
VI - declarar sem efeito a admissão, quando o servidor vidades de outras unidades para aquelas sob sua subordi-
não entrar em exercício no prazo legal;  nação; 
VII  - despachar, expedir ou apostilar títulos, observa- IV - indicar o pessoal considerado excedente nas unida-
dos os critérios firmados pela Administração quanto ao seu des subordinadas; 
cumprimento, referentes à situação. funcional de funcioná- V  - proceder à distribuição de cargos ou funções-ati-
rios ou servidores;  vidades bem como à sua transferência de uma para outra
VIII - assinar certidões de tempo de serviço e atestados unidade subordinada, de acordo com os postos de trabalho
de frequência;  e observada a legislação específica; 
IX  - conceder adicionais por tempo de serviço, sexta- VI - designar funcionários ou servidores para os postos
-parte e aposentadoria;  de trabalho das unidades subordinadas; 
X - conceder ou suprimir salário-família e salário-esposa VII - conceder prorrogação de prazo para exercício dos
a funcionários e servidores;  funcionários e servidores; 

93
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VIII - propor, quando for o caso, modificações nos horá- Parágrafo único - Os Encarregados de Setor, em suas
rios de trabalho dos funcionários e servidores;  respectivas áreas de atuação, têm as competências previstas
IX - aprovar a escala de férias dos funcionários e servi- nos incisos II e X deste artigo. 
dores; 
X - autorizar o gozo de licença-prêmio;  CAPÍTULO II 
XI - conceder licença, observada a legislação pertinente, Das Demais Competências das Autoridades do De-
nas seguintes hipóteses;  partamento e dos Serviços de Recursos Humanos 
a) a funcionário e servidor para tratamento de saúde; 
b) a funcionário e servidor por motivo de doença em SEÇÃO I 
pessoa da família;  Do Diretor do Departamento de Recursos Humanos 
c) a funcionário e servidor quando acidentado no exer-
cício de suas atribuições ou atacado de doença profissional;  Artigo 74 - Ao Diretor do Departamento de Recursos
d) a funcionário e servidor para atender às obrigações Humanos além de outras competências que lhe forem co-
relativas ao serviço militar;  meridas por lei ou decreto, em sua área de atuação, com-
e)  a funcionário e servidor, compulsoriamente, como pete: 
medida profilática;  I - em relação as atividades gerais: 
f) a funcionária e servidora gestante;  a) assistir o Secretário da Educação no desempenho de
XII - solicitar a instauração de inquérito policial.  suas funções; 
Artigo 73 - São competências comuns às autoridades b) coordenar, orientar e acompanhar as atividades das
relacionadas no artigo anterior, bem como ao Presidente da unidades subordinadas; 
Comissão Estadual de Moral e Civismo, aos Analistas Super- c) determinar providências para assegurar a realização
visores, aos Secretários de Escola e aos Chefes de Seção, em das atribuições do Departamento, dentro dos prazos previs-
suas respectivas áreas de atuação:  tos, bem como responder pelos resultados alcançados; 
I - participar dos processos de:  d) baixar normas de funcionamento das unidades su-
a) identificaçao das necessidades de recursos humanos;  bordinadas: 
b) identificação das necessidades de treinamento e de- e) responder, conclusivamente as consultas formuladas
senvolvimento de recursos humanos;  pelos órgãos da administração pública, sobre assuntos de
e) avaliação do desempenho do Sistema;  sua área de competência; 
II  - cumprir ou fazer cumprir os prazos para encami- f) solicitar informações a outros órgãos e entidades; 
nhamento de dados, mformações, relatórios e outros do- g) encaminhar papéis, processos, e expedientes direta-
cumentos aos órgãos do Sistema e garantir a qualidade dos mente aos órgãos competentes para manifestação sobre os
mesmos;  assuntos neles tratados; 
III - dar exercício aos funcionários e servidores designa- h) decidir sobre pedidos de certidões e «vista» de pro-
dos para a unidade sob sua subordinação;  cessos; 
IV - conceder período de trânsito;  II - em relação aos exames supletivos: 
V - controlar a frequencia diária dos funcionários e ser- a) estabelecer normas para a sua realização; 
vidores diretamente subordinados e atestar a frequência b) homologar os seus resultados; 
mensal;  III - em relação a administração de material e patrimô-
VI - autorizar a retirada de funcionário e servidor duran- nio: 
te o expediente;  a) assinar editais de concorrência; 
VII - decidir sobre pedidos de abono ou justificação de b) decidir sobre assuntos relativos a licitação, nas moda-
faltas ao serviço;  lidades de tomada de preços e convite, podendo: 
VIII - conceder o gozo de férias relativas ao exercício em 1 - autorizar sua abertura ou dispensa; 
curso, aos subordinados;  2 - designar a comissão julgadora ou responsável pelo
IX - em relação ao instituto da evolução funcional:  convite de que trata o Artigo 38 da Lei n. 89, de 27 de de-
a) proceder ao dimensionamento total de funcionários zembro de 1972; 
e servidores de cada grupo de classes sob sua subordina- 3 - exigir, quando conveniente a prestação de garantia; 
ção imediata, para fins de aplicação do instituto da evolução 4 - homologar a adjudicação, 
funcional;  5 - anular ou revogar a licitação e decidir os recursos; 
b) proceder a distribuição quantitativa dos conceitos 6 - autorizar a substituição, a liberação e a restituição
avaliatórios para as unidades subordinadas, com vistas à da garantia; 
avaliação do desempenho dos funcionários e servidores 7 - autorizar a alteração do contrato, inclusive a prorro-
para fins de evolução funcional;  gação de prazos; 
c) dar conhecimento a funcionários e servidores do re- 8 - designar funcionário servidor ou comissão para rece-
sultado da avaliação do desempenho, para fins de evolução bimento do objeto do contrato; 
funcional de acordo com a legislação pertinente,  9 - autorizar a rescisão administrativa ou amigável do
X - avaliar o desempenho dos funcionários e servidores contrato; 
que lhes são mediata ou imediatamente subordinados.  10 - aplicar penalidade, exceto a de declaração de inido-
neidade para licitar ou contratar; 

94
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

c) autorizar, mediante ato específico, autoridades su- I - encaminhar a autoridade superior o programa de tra-
bordinadas, a requisitarem transporte de material por conta balho e as alterações que se fizerem necessárias; 
do Estado.  II - corresponder-se diretamente com autoridades ad-
ministrativas de mesmo nível; 
SEÇÃO II  III - determinar o arquivamento de processos, expedien-
Dos Demais Dirigentes de Unidades  tes e papéis em que não haja providências a tomar ou cujos
pedidos careçam de fundamento legal. 
Artigo 75 - Aos Dirigentes de Centro, Diretores de Di- Artigo 83 - Ao Diretor do Departamento de Recursos
visão e Diretores de Serviço, em suas respectivas áreas de Humanos e aos demais responsáveis por unidades até o ní-
atuação, compete orientar e acompanhar o andamento das vel de Chefe de Seção, em suas respectivas áreas de atuação,
atividades das unidades subordinadas.  compete: 
Artigo 76 - Ao Dirigente do Centro de Exames Supleti- I - em relação às atividades gerais: 
vos compete, ainda:  a) supervisionar os serviços em sua área de atuação, de-
I - decidir recursos sobre indeferimento de inscrições;  terminando ou autorizando as providências necessárias; 
II - expedir certificados e diplomas, nos termos da legis- b) cumprir e fazer cumprir as leis, os decretos, os regu-
lação pertinente.  lamentos, as decisões, os prazos para desenvolvimento dos
Artigo 77 - Aos Supervisores de Equipe de Assistência trabalhos e as ordens das autoridades superiores 
Técnica e aos Dirigentes de Grupo Técnico compete coorde- c) transmitar a seus subordinados as diretrizes a serem
nar, orientar e acompanhar as atividades dos funcionários adotadas no desenvolvimento dos trabalhos; 
e servidores integrantes das respectivas Equipes e Grupos d) dirimir ou providenciar a solução de dúvidas ou di-
Técnicos.  vergências que, em matéria de serviço, surgirem em sua área
Artigo 78 - Aos Dirigentes de Grupo Técnico do Centro de atuação; 
de Exames Supletivos compete, ainda, aprovar inscrições de e) dar ciência imediata ao superior hierárquico das ir-
candidatos a exames supletivos profissionalizantes.  regularidades administrativas de maior gravidade, mencio-
Artigo 79 - Ao Diretor da Divisão de Administração nando as providências tomadas e propondo as que não lhes
compete, ainda:  são afetas; 
I - em relação a administração de material e patrimônio;  f) manter seus superiores imediatos permanentemente
a) aprovar a relação de materiais a serem mantidos em informados sobre o andamento das atividades das unidades
estoque e a de materiais a serem adquiridos;  subordinadas; 
b) assinar convites e editais de tomada de preços;  g) avaliar o desempenho das unidades subordinadas e
c) requisitar materiais e o órgão central;  responder pelos resultados alcançados bem como pela ade-
d) autorizar a baixa de bens móveis no patrimônio;  quação dos custos dos trabalhos executados; 
II  - visar extratos para publicação no Diário Oficial do h) adotar ou sugerir, conforme tor o caso, medidas ob-
Estado  jetivando: 
III - assinar certidões relativas a papéis, processos e ex- 1 - o aprimoramento de suas áreas; 
pedientes arquivados.  2 - a simplificação de procedimentos e a agilização do
Artigo 80 - Os Diretores dos Serviços de Recursos Hu- processo decisórios relativamente a assuntos que tramitem
manos têm, amda, em suas respectivas áreas de atuação, a pelas unidades subordinadas; 
competência prevista no inciso ‘II do artigo anterior.  i) manter a regularidade dos serviços, expedindo as ne-
cessárias determinações ou representando às autoridades
SEÇÃO III  superiores, conforme for o caso; 
Dos Chefes de Seção e dos Encarregados de Setor  j) manter ambiente propício ao desenvolvimento dos
trabalhos; 
Artigo 81 - Aos Chefes de Seção e aos Encarregados l) providenciar a instrução de processos e expedientes
de Setor em seus respectivos âmbitos de atuação, compete:  que devam ser submetidos à consideração superior, mani-
I - distribuir os serviços;  festando-se, conclusivamente, a respeito da matéria; 
m) decidir sobre reeursos interpostos contra despacho
II - orientar e acompanhar as atividades dos funcionários e de autoridade imediatamente subordinada, desde que não
servidores subordinados.  esteja esgotada a instância administrativa; 
n) indicar seu substituto, obedecidos os requisites de
qualificação inerentes ao cargo, função-atividade ou função
SEÇÃO IV  de serviço público; 
Das Competências Comuns  o) encaminhar papéis, à unidade competente, para au-
tuar e protocolar; 
Artigo 82 - Ao Diretor do Departamento de Recursos p) apresentar relatórios sobre os serviços executados
Humanos e aos demais responsáveis por unidades até o ní- pelas unidades administrativas subordinadas; 
vel de Diretor de Serviço, em suas respectivas áreas de atua- q) praticar todo e qualquel ato ou exercer quaisquer das
ção, compete:  atribuições ou competências dos órgãos, funcionários ou
servidores subordinados; 

95
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

r) avocar, de modo geral ou em casos especiais, as atri- SEÇÃO VI 


buições ou competências dos órgãos, funcionários ou servi- Das Competências Relativas ao Sistema de Adminis-
dores subordinados;  tração dos Transportes Internos Motorizados 
II - em relação à adrministração de material e patrimô-
nio:  Artigo 87 - Ao Diretor do Departamento de Recursos
a) requisitar material permanente e de consumo;  Humanos compete: 
b) autorizar a transferência de bens móveis entre as uni- I - na qualidade de dirigente de frota: 
dades administrativas subordinadas.  a) propor ao Secretário da Educação: 
Parágrafo único - Os Encarregados de Setor, em suas 1 - a fixação, as alterações e o programa anual de reno-
respectivas áreas de atuação, têm as seguintes competên- vação da frota; 
cias previstas neste artigo:  2 - a criação, extinção, instalação e fusão de postos e
1 - as do inciso I, exceto a da alínea “m”;  oficinas; 
2 - a da alínea “a” do inciso II.  b) encaminhar aos órgãos centrais: 
1 - pedidos de acquisição de veículos; 
SEÇÃO V  2 - correspondência pertinente; 
Dos Dirigentes das Unidades e do Órgão dos Siste- 3 - pedido de registro do veículo de funcionário e ser-
mas de Administração Financeira e Orçamentária  vidor e de veículo locado para prestação de serviço público; 
4 - uma via da ficha cadastro do veículo em convênio e
Artigo 84 - Ao Diretor do Departamento de Reeursos as variações ocorridas no grupo; 
Humanos compete:  5 - Quadro Demonstrative da Frota - “QDF”; 
I - na qualidade de dirigente de unidade orçamentária:  6 - dados e características dos veículos adquiridos; 
a) submeter à aprovação do Secretário da Educação a c) decidir sobre a conveniência da compra de veículos,
proposta orçamentária do Departamento;  da locação em caráter não eventual ou da utilização do veí-
b) propor ao Secretário da Educação a destinação das culo de funcionário e servidor para prestação de serviço pú-
dotações orçamentárias para a unidade de despesa;  blico; 
c) baixar normas, no âmbito da unidade orçamentária, d) decidir sobre a conveniência do seguro geral; 
relativas à administração financeira e orçamentária atenden- e) autorizar o usuário a dirigir veículo oficial, observada
do a orientação emanada dos órgãos centrais;  a legislação vigente; 
d) manter contato com os órgãos centrais de adminis- f) autorizar funcionário e servidor a usar veículo de sua
tração financeira e orçamentária;  propriedade no serviço público, mediante remuneração, ar-
II - na qualidade de dirigente de unidade de despesa:  bitrando a quilometragem; 
a) autorizar despesas dentro dos limites impostos pelas g) baixar normas, no âmbito da frota, sobre uso, guarda
dotações liberadas para a unidade de despesa, bem como e conservação de veículos oficiais e, quando for o caso, de
firmar contratos, quando for o caso;  veículos em convênio; 
b) autorizar adiantamentos;  II - na qualidade de dirigente de subfrota: 
c)  autorizar liberação, restituição ou substituição de a) decidir sobre: 
caução em geral e de fiança, quando dadas em garantia de 1 - conveniência de execução de reparos; 
execução de contrato.  2 - escalas de revisão geral e de inspeções penriódicas; 
Artigo 85 - Ao Diretor do Serviço de Finanças compete:  3 - pagamento relativo ao uso do veículo de funcionário
I - autorizar pagamentos de conformidade com a pro- ou servidor autorizado a prestar serviço público; 
gramação financeira;  b) aprovar o julgamento de licitações para a execução
II - aprovar a prestação de contas referentes a adianta- de serviços de separação; 
mentos;  c) zelar pela aplicação das normas gerais e internas so-
III - assinar cheques, ordens de pagamento e de trans- bre uso guarda e conservação de veículos oficiais, em con-
ferência de fundos e outros tipos de documentos adotados vênio e, quando for o caso de veículos locados. 
para a realização de pagamentos, em conjunto com o Che- Artigo 88 - Ao Diretor do Serviço de Atividades Com-
fe da Seção de Despesa ou com o dirigente da unidade de plementares da Divisão de Administração do Departamento
despesa.  de Recursos Humanos, na qualidade de dirigente de órgão
Artigo 86 - Ao Chefe da Seção de Despesa compete:  detentor, compete: 
I - assinar cheques, ordens de pagamento e de trans- I - distribuir os veículos pelos usuários e designar con-
ferência de fundos e outros tipos de documentos adotados dutores; 
para a realização de pagamentos, em conjunto com o Dire- II - autorizar requisições de transportes; 
tor do Serviço de Finanças ou com o dirigente da unidade III - decidir sobre requisição de combustível, material de
de despesa;  limpeza acessórios e peças para pequenas reparações; 
II - assinar notas de empenho e subempenho.  IV - zelar pelo cumprimento das normas gerais e inter-
nas e fiscalizar a utilização adequada do veículo oficial, em
convênio e locado; 
V - determinar a apuração de irregularidades; 

96
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VI - atestar, para fins de pagamento o uso de veículo nada as 3 (três) Equipes de Assistência Técnica da Assistência
de funcionário ou servidor no serviço público e de veículo Técnica; 
locado em caráter não eventual.  III - 5 (cinco) de Diretor Técnico (Divisão Móvel III), re-
ferência da 11, da Escala de Vencimentos 4, destinadas ao
CAPITULO III  “Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal; Centro de
Disposições Gerais  Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos;
Centro de Estudos e Legislação de Pessoal; Centro de Exa-
Artigo 89 - As competências previstas neste Titulo, mes Supletivos e Diretoria da Divisão de Cadastro e Informa-
sempre que coincidentes, serão exercidas, de preferência, ções de Pessoal; 
pelas autoridades de menor nível hieráquico.  IV - 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nivel II), referên-
Artigo 90 - As autoridades abrangidas pelos Artigos 52 cia 9, da Escala de Vencimentos 4, destinadas as Diretorias
a 61 deste Decreto poderão exercer também, em relação ao do Serviço de Promoção, Progressão e Evolução Funcional e
pessoal diretamente subordinado e sempre que a estrutura Serviço de Apoio Técnico; 
organizacional assim exigir, as competências conferidas a V - 1 (uma) de Diretor (Divisão Nível II), referência 8, da
autoridades de menor nível hierárquico.  Escala de Vencimentos 4, destinada a Diretoria. da Divisão
de Administração; 
TITULO VI  VI - No Centro de Seleção e Movimentação de Pessoal: 
Disposições Finais  a) 4 (quatro) de Diretor Técnico (Serviço Nivel II), refe-
rência 9, da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos (qua-
Artigo 91 - As atribuições das unidades e as compe- tro) Grupos Técnicos; 
tências das autoridades de que trata este Decreto poderão b) 1 (uma) de Analista Supervisor, referência 11, da Es-
ser complementadas mediante resolução do Secretário da cala de Vencimentos 3, destinada a Equipe Técnica de Rea-
Educação.  daptação. 
Artigo 92 - As Equipes de Assistência Técnica, os Gru- VII - No Centro de Treinamento e Desenvolvimento de
pos Técnicos e as Equipes Técnicas do Departamento de Recursos Humanos: 
Recursos Humanos, as Assistências Técnicas dos Serviços de a) 3 (três) de Diretor Técnico (Serviço Nível II), referência
Recursos Humanos e a Assistência Técnica da Divisão Espe- 9,da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos 3 (três) Grupos
cial de Ensino do Vale do Ribeira são unidades de natureza Técnicos; 
interdisciplinar.  b) 1 (uma) de Analista Supervisor, referência 11, da Es-
Artigo 93 - A designação para a direção do Serviço de cala de Vencimentos 3, destinada a Equipe Técnica de Ins-
Recursos Humanos, de cada uma das Divisões Regionais trumentação. 
de Ensino, recairá em funcionário ou servidor que possua VIII - No Centro de Estudos e Legislação de Pessoal: 
formação de nível universitário e experiência profissional a) 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nivel II), referen-
comprovada, minima de 1 (um) ano, em atividades de pla- cia », da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos 2 (dois)
nejamento e/ou de direção de unidades da área de recursos Grupos Técnicos. 
humanos.  IX - No Centro de Exames Supletivos: 
Artigo 94 - Para as atividades de seleção, movimenta- a) 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nivel ‘II), refe-
ção, treinamento e desenvolvimento de recursos humanos rência 9,da Escala de Vencimentos 4, destinadas aos 2 (dois)
serão aproveitados funcionários e servidores com formação Grupos Técnicos; 
profissional de nível universitário e experiência profissional b) 1 (uma) de Chefe de Seção (Administração Geral), re-
comprovada, minima de 1 (um) ano, em atividades próprias ferência 11, da Escala de vencimentos 2, destinada a Seção
do Sistema de Administração de Pessoal.  de Expedição de Certificados Diplomas. 
Artigo 95 - A designação para a chefia da Seção de X - Na Divisão de Cadastro e Informações de Pessoal: 
Difusão Técnica e da Seção de Recursos Audiovisuais do a) 2 (duas) de Diretor Técnico (Serviço Nível I), referência
Serviço de Apoio Técnico do Departamento tamento de Re- 8, da Escala de Vencimentos 4, destinadas as Diretorias do
cursos Humanos recairá em funcionários ou servidores que Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal e do Serviço de
possuam suam formação de nível universitário e experiência Cadastro - QM; 
profissional comprovada em atividades relacionadas com as b) 2 (duas) de Analista Supervisor, referência 11, da Es-
atribuições das Seções correspondentes.  cala de Vencimentos 3, destinadas as Equipes Técnicas da
Artigo 96 - Para efeito de atribuição de “pro labore” de Diretoria do Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal e
que trata o Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 10 de julho de do Serviço de Cadastro - QM; 
1968, ficam classificadas, no Departamento de Recursos Hu- c) 5 (cinco) de Chefe de Seção (Cadastro), referência 11,
manos, as funções de serviço público abaixo relacionadas e da Escala de Vencimentos 2, destinadas a 2 (duas) Seções de
na seguinte conformidade.  Cadastro do Serviço de Cadastro e Expediente de Pessoal e
I - 1 (uma) de Diretor Técnico (Departamento Nível II), 3 (três) Seções de Cadastro do Serviço de Cadastro - QM; 
referência 12, da Escala de Vencimentos 4, destinada a Dire- XI  - No Serviço de Promoção, Progressão e Evolução
toria do Departamento de Recursos Humanos;  Funcional: 
II - 3 (três) de Supervisor de Equipe de Assistência Técni- a) 2 (duas) de Analista Supervisor, referência 11, da Esca-
ca (Nível II), referência 10, da Escala de Vencimentos 4, desti- la de Yencimentos 3, destinadas as 2 (duas) Equipes Técnicas. 

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LEGISLAÇÃO ESTADUAL

XII - No Serviço de Apoio Técnico:  fundamento no Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 10 de julho de


a) 3 (três) de Bibliotecário Chefe, referência «9», Escala 1968, na seguinte conformidade: 
de Vencimentos «3», destinadas a Seção de Documentação I - do Artigo 1.° do Decreto n. 8.834. de 20 de outubro
e Biblioteca, Seção de Difusão Técnica e Seção de Recursos de 1976: 
Audiovisuais;  a) as constantes do inciso V; 
b) 1 (uma) de Chefe de Seção Gráfica, referência «11», b) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção
Eecala de Vencimentos «2», destinada a Seção de Gráfica.  de Pessoal constante da alínea «b» do inciso VIII; 
XIII - Na Divisão de Administração:  c) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção
a) 2 (duas) de Diretor (Serviço Nível I), referência 1, da de Pessoal constante da alínea «c» do inciso IX; 
Escala de Vencimentos 4, destinadas as Diretorias do Serviço d) 1 -(uma) função de Encarregado de Setor destinado
de Finanças e Serviço de Atividades Complementares;  ao Setor de Cadastro constante da alínea «d» do inciso IX; 
b) 1 (uma) de Encarregado de Setor (Administração Ge- e) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinado
ral), referência 3, da Escala de Vencimentos 2, destinada ao ao Setor de Frequência constante da alínea «c» do inciso X; 
Setor de Almoxarifado;  f) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção
c) 1 (uma) de Chefe de Seção (Zeladoria), referência 11, de Pessoal constante da alínea «c» do inciso XI; 
da Escala de Vencimentos 2, destinada á Segão de Zeladoria g) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada à Seção
do Serviço de Atividades Complementares;  de Pessoal constante da alínea «b» do inciso XII; 
d) 1 (uma) de Chefe de Seção (Manutenção), referência h) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinada
11, da Escala de Vencimentos 2, destinada a Seção de Manu- ao Setor de Frequência constante da alínea «c» do inciso XII; 
tenção do Serviço de Atividades Complementares;  i) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada à Seção
e) 1 (uma) de Encarregado de Setor (Copa), referência 9, de Pessoal constante da alínea «b» do inciso XIV; 
da Escala de Vencimentos 1, destinada ao Setor de Copa do j) 1 (uma) fun~çã de Chefe de Seção destinada à Seção
Serviço de Atividades Complementares. de Pessoal constante da alínea «c» do inciso XVII; 
Parágrafo único - As referências inicial e final da função l) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinada
de serviço público de Supervisor de Equipe de Assistência ao Setor de Cadastro constante da alínea «d» do inciso XVII; 
Técnica (Nível ‘II), classificada no inciso ‘II deste artigo, cor- m) 1 (uma) função de Chefe de Seção destinada a Seção
respondem, respectivamente, as referências 10 e 25, da Es- de Pessoal constante da alínea «b» do inciso XVIII; 
cala de Vencimentos 4,fixada a amplitude da Classe em A-I e n) 1 (uma) função de Encarregado de Setor destinada
a Velocidade Evolutiva em VE-1. ao Setor de Cadastro constante da alínea «c» do inciso XVIII. 
Artigo 97 - Para efeito de atribuição de «pro labore» II - do Artigo 1.° do Decreto n. 8.835, de 20 de outubro
de que trata o Artigo 28 da Lei n. 10.168, de 20 de julho de 1976: 
de 1968, ficam classificadas, na Coordenadoria de Ensino da a) as constantes do inciso IV; 
Região Metropolitana da Grande São Paulo e Coordenadoria b) 5 (cinco) funções de Chefe de Seção destinadas as
de Ensino do Interior, as funções de serviço público abaixo Seções de Pes soal constantes da alínea “d” do inciso VI; 
relacionadas:  c) 14 (quatorze) funções de Encarregado de Setor desti-
I - 17 (dezessete) de Diretor Técnico (Serviço Nível ‘II), nadas aos Se tores de Cadastro e Frequência constantes da
referências 9, da Escala de Vencimentos 4, destinadas as Di- alínea “e” do inciso VI; 
retorias do Serviço de Recursos Humanos das Divisões Re- d) 3 (três) funções de Chefe de Seção destinadas as Se-
gionais;  ções de Pessoal constantes da alínea “f” do inciso VII; 
II - 17 (dezessete) de Chefe de Seção (Cadastro), refe- e) 15 (quinze) funções de Encarregado de Setor desti-
rência 11, da Escala de Vencimentos 2, destinadas as Seções nadas aos Setores de Cadastro e Setores de Frequência das
de Cadastro de Cargos e Funções do Serviço de Recursos DREs de Aragatuba, Ribeirão Preto, Soro caba, Vale do Parai-
Humanos;  ba e Marília; aos Setores de Cadastro das DREs do Litoral e
III - 17 (dezessete) de Chefe de Seção (Cadastro), refe- Presidente Prudente e dos Setores de Frequência das DREs
rência 11, da Escala de Vencimentos 2, destinadas as Seções de Bauru, São José do Rio Preto e Campinas constantes da
de Cadastro Funcional do Serviço de Recursos Humanos;  alínea “h” do inciso VII. 
IV - 15 (quinze) de Chefe de Seção (Administração Ge- Artigo 99 - O Secretário da Educação, por meio de ato
ral), referência 11, da Escala de Vencimentos 2, destinadas específico, fixará os valores dos «pro labore» a serem pagos
as Seções de Frequência do Serviço de Recursos Humanos. aos funcionários ou servidores que estejam desempenhan-
Parágrafo único - As funções de serviço público clas- do ou vierem desempenhar funções de serviço público classi
sificadas neste artigo ficam distribuidas uniformemente as ficados nos artigos anteriores, apos verificação pelo Grupo
7 (sete) Divisões Regionais de Ensino da Coordenadoria de Executivo de Desenvol vimento Administrativo (GDA) da efe-
Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo e as tiva implantação e funcionamento das uni dades. 
10 (dez) Divisões Regionais da Coordenadoria de Ensino do Artigo 100 - A implantação da estrutura constante des-
Interior, com exceção das funções de serviço público classi- te Decreto será feita gradativamente, mediante resoluções
ficadas no inciso ‘IV, que não serão destinadas a DRECAP-1 do Secretário da Educação, de acordo com as disponibilida-
e DRE-Araçatuba. des orçamentárias e financeiras. 
Artigo 98 - Ficam extintas as funções de serviço público Artigo 101 - O Diretor do Departamento de Recursos
classifica das para efeito de atribuição de «pro labore» com Humanos e os Diretores das Divisões Regionais de Ensino,

98
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

em suas respectivas áreas de atuação, providenciarão, no 2 - os incisos II dos Artigos 132 e 136; 
prazo de 10 (dez) dias a contar da data da publicação deste 3 - os incisos II e III do Artigo 138; 
De creto,e transferência do pessoal em exercício nas unida- 4 - os incisos II a XV do Artigo 139; 
des extintas pelo Artigo 5.°,  5 - os incisos III, V e VI do Artigo 140; 
Artigo 102 - Aos Diretores de Escola, em relação aos 6 - o inciso II e o parágrafo único do Artigo 141; 
exames supletivos, compete:  7 - o inciso III do Artigo 143; 
I - aprovar inscrições de candidatos a exames supletivos 8 - o inciso XIV do Artigo 144; 
de Suplencia de 1.° e 2.° graus.  9 - o inciso III do Artigo 145; 
II - propor ao Centro de Exames Supletivos do Depar- 10 - o inciso II do Artigo 147; . 
tamento de Re cursos Humanos o deferimento ou indefe- 11 - os Artigos 137, 142 e 146; 
rimento de inscrições de candidatos a exa mes supletivos d) referente às Comissões de Promoção: os Artigos 170
profissionalizantes.  a 172; 
Artigo 103 - Os dispositivos do Decreto n. 7.510, de 29 II - do Decreto n. 9.887, de 14 de junho de 1977; 
de janeiro de 1976, a seguir relacionados, passam a vigorar a) o inciso IV do Artigo 20; 
com a seguinte redação:  b) os incisos IV e V do Artigo 21; 
I - o inciso ‘VII do artigo 54:  c) os incisos III dos Artigos 22 e 23; 
“VII - elaborar proposta das necessidades de recursos d) o inciso II do Artigo 25; 
materiais, orçamentárias e financeiros da Secretaria, inclusi- e) os Artigos 13 e 24. 
ve para a expansão dos serviços educacionais e/ou reorga- III - do Regimento Comum das Escolas Estaduais de 1.°
nização dos mesmos”;  Grau, aprovado pelo Decreto n. 10.623, de 26 de outubro
II - a alínea “p” do inciso II do Artigo 78:  de 1977: 
“p) examinar e visar documentos de vida escolar do alu- a) as alíneas “b”, “c”, “d”, “e” e “f” do inciso II do Artigo
no, bem como os livros de registro do estabelecimento de 33; 
ensino”;  b) o inciso III do Artigo 48; 
III - o inciso V do Artigo 126:  IV - do Regimento Comum das Escolas Estaduais de 2.°
“V - Serviço de Finanças do Departamento de Recursos Grau, aprovado pelo Decreto n. 11.625, de 23 de maio de
Hu manos”;  1978: 
IV - o inciso V do Artigo 128:  a) as alíneas “b”, “c”, “d”, ‘e” e “l” do inciso II do Artigo 31; 
“V - Setor de Transportes do Serviço de Atividades Com- b) o inciso VI do Artigo 33; 
plementares do Departamento de Recursos Humanos”;  c) o inciso III do Artigo 50;
V - a alínea “e” do inciso I do Artigo 135:  d) o inciso VII do Artigo 51; 
e) as diretrizes dos programas de atualização e aperfei- V - o Decreto n. 14.158, de 31 de outubro de 1979. 
çoamento do pessoal docente, técnico- pedagógico e admi-
nistrativo da área pedagógica.  Palácio dos Bandeirantes, 14 de julho de 1981. 
Artigo 104 - Ficam incluídos no Decreto n. 7.510, de 29 PAULO SALIM MALUF 
de janeiro de 1976, os seguintes dispositivos:  Luiz Ferreira Martins, Secretário da Educação 
I - no inciso II do Artigo 131 a alínea “p” com a seguinte Calim Eid, Secretário de Estado-Chefe da Casa Civil 
redação:  Publicado na Casa Civil, aos 14 de julho de 1981. 
“p) autorizar a realização de exames supletivos, bem Maria Angélica Galiazzi, Diretora da Divisão de Atos
como anulá-los parcial ou totalmente constatada a ocorrên- Oficiais 
cia de irregularidades”; 
II - no Artigo 140, o inciso XII com a seguinte redação: 
“XII - decidir os pedidos de certidões e de “vista” de pro-
cessos.  ÍNDICE ARTIGOS 
Artigo 105 - Este decreto entrará em vigor na data de
sua publicação, ficando revogadas as disposições em con- TÍTULO ‘I - Disposição Preliminar 1.° 
trário, especialmente:  TÍTULO ‘II - Das Modificações de Unidades Administra-
I - do Decreto n.° 7.510, de 29 de janeiro de 1976:  tivas 2.° a 5.° 
a) referente à estrutura:  TÍTULO ‘III - Da Definição e da Estrutura dos Órgãos do
1 - as alíneas “c” dos incisos IV dos Artigos 13 e 18;  Sistema de Administração de Pessoal 
2 - os Artigos 28 a 33  CAPÍTULO ‘I - Da Definição dos Órgãos 6.° 
b) referente às atribuições:  CAPÍTULO ‘II - Da Estrutura 
1 - o inciso II e o § l.° do Artigo 74;  SEÇÃO ‘I - Do Departamento de Recursos Humanos 7.°
2 - as alíneas “c”, “o” e “r’ do inciso II do Artigo 78;  a 17 
3 - as alíneas “f” e “g” do inciso I do Artigo 79;  SEÇÃO ‘II - Dos Serviços de Recursos Humanos 18 
4 - os Artigos 45, 66, 99, 104 a 113 e 122;  SEÇÃO ‘III - Da Seção de Pessoal da Divisão Especial de
5 - a alínea “g” do inciso II do Artigo 117;  Ensino do Vale do Ribeira 19 
e) referente às competências:  TÍTULO ‘IV - Das Atribuições 
1 - o inciso III do Artigo 131;  CAPÍTULO ‘I - Do Departamento de Recursos Humanos 

99
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO ‘I - Das Atribuições Gerais     20 e 21 


SEÇÃO ‘II - Da Assistência Técnica   22  LEI MUNICIPAL N° 190, DE 01 DE JULHO
SEÇÃO ‘III - Do Centro de Seleção e Movimentação de DE 2010 - ESTATUTO DOS SERVIDORES
Pessoal    23  PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE SUZANO.
SEÇÃO ‘IV - Do Centro de Treinamento e Desenvolvi-
HTTP://WWW.SUZANO.SP.GOV.BR/WEB/
mento de Recursos Humanos      24 
WP-CONTENT/UPLOADS/2017/10/190-10-
SEÇÃO ‘V - Do Centro de Estudos e Legislação de Pes-
soal     25  III-ESTATUTO-DOS-SERVIDORES-
SEÇÃO ‘VI - Do Centro de Exames Supletivos     26  P%C3%BABLICOS-CONSOLIDADO-DOC.PDF
SEÇÃO ‘VII - Da Divisão de Cadastro e Informações de
Pessoal    27 a 30 
SEÇÃO ‘VIII - Do Serviço de Promoção, Progressão e LEI COMPLEMENTAR Nº 190, DE 08/07/2010
Evolução Funcional    31 
SEÇÃO ‘IX - Do Serviço de Apoio Técnico    32 e 33  (Vide Lei nº 4568/2012)
SEÇÃO ‘X - Da Divisão de Administração     34 a 39  DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
SEÇÃO ‘XI - Das Seções de Expediente    40  DO MUNICÍPIO DE SUZANO, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
CAPÍTULO ‘II - Dos Serviços de Recursos Humanos 
SEÇÃO ‘I - Das Atribuições Gerais     41  (Autoria: Executivo Municipal
SEÇÃO ‘II - Das Assistências Técnicas    42 
SEÇÃO ‘III - Das Seções de Cadastro de Cargos e Fun- Projeto de Lei Complementar nº 018/2010)
ções   43 
SEÇÃO ‘IV - Das Seções de Cadastro Funcional     44  O PREFEITO MUNICIPAL DE SUZANO, usando das
SEÇÃO ‘V - Das Seções de Frequência    45  atribuições legais que lhe são conferidas; FAZ SABER que
SEÇÃO ‘VI - Das Seções de Expediente de Pessoal    46  a Câmara Municipal de Suzano aprova e ele promulga a
CAPÍTULO ‘III - Das Seções de Pessoal     47 e 48  seguinte Lei:
CAPÍTULO ‘IV - Das Demais Unidades    49 a 51 
TÍTULO ‘V - Das Competências  PARTE GERAL
CAPÍTULO ‘I - Das Competências Relativas ao Sistema de
LIVRO ÚNICO
Administração de Pessoal 
DOS SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS EM GERAL
SEÇÃO ‘I - Do Secretário da Educação     52 
SEÇÃO ‘II - Do Chefe de Gabinete, dos Coordenadores e TÍTULO I
do Presidente do Conselho Estadual de Educação    53 a 55  DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
SEÇÃO ‘III - Dos Diretores do Departamento e Demais
Dirigentes de Orçãos 56 a 60  Art. 1º Esta Lei estabelece o provimento e a vacância dos
SEÇÃO ‘IV - Dos Diretores de Divisão, dos Diretores de cargos públicos municipais, os direitos, vantagens, deveres e
Serviço e dos Dirigentes de Unidades de Niveis Equivalentes responsabilidades dos Servidores Públicos do Município de
61 a 64  Suzano, incluindo os da área da Educação e os da Guarda
SEÇÃO ‘V - Dos Analistas Supervisores, dos Chefes de Civil Municipal.
Seção e dos Secretários de Escola 65  Art. 2º Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa le-
SEÇÃO ‘VI - Dos Dirigentes de Órçãos do Sistema 66 a galmente investida em cargo público, seja de provimento
71  efetivo ou de provimento em comissão.
SEÇÃO ‘VII - Das Competências Comuns 72 e 73  Art. 3º Cargo público é o conjunto de atribuições e res-
CAPITULO ‘II - Das demais Competências das Autorida- ponsabilidades previstas na estrutura organizacional que
des do Departamento e dos Serviços de Recursos Humanos  devem ser atribuídas a um servidor público.
SEÇÃO ‘I - Do Diretor do Departamento de Recursos Parágrafo Único. Os cargos públicos, acessíveis a todos
Humanos 74  os cidadãos, são criados por Lei, com denominação própria,
SEÇÃO ‘II - Dos demais Dirigentes de Unidades 75 a 80  número certo, atribuições, funções e responsabilidades es-
SEÇÃO ‘III - Dos Chefes de Seção e dos Encarregados pecíficas e vencimento pago pelos cofres públicos, para pro-
de Setor 81  vimento em caráter efetivo ou em comissão.
SEÇÃO ‘IV - Das Competencias Comuns 82 e 83  Art. 4º Os cargos públicos de provimento efetivo do
SEÇÃO ‘V - Dos Dirigentes das Unidades e do Órgão dos Município de Suzano serão os organizados em carreira e os
Sistemas temas de Administração Financeira e Orçamentária isolados.
84 a 86  Art. 5º As carreiras serão organizadas em grupos ocupa-
SEÇÃO ‘VI - Das Competências Relativas ao Sistema de cionais de cargos de provimento efetivo, observadas a esco-
Administração dos Transportes - Internos Motorizados 87 e laridade e a qualificação profissional exigidas, assim como a
88  natureza e complexidade das atribuições a serem exercidas
CAPITULO ‘III - Disposições Gerais 89 e 90  por seus ocupantes, na forma prevista em Lei.
TITULO ‘VI - Disposições Finais 91 a 105 

100
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 6º É vedado a qualquer agente público atribuir aos SEÇÃO III


ocupantes de cargos públicos atribuições ou responsabilida- DA POSSE
des diversas das descritas para o cargo que ocupa, conforme
previsto em Lei, ressalvadas as responsabilidades, encargos Art. 14 Posse é a aceitação expressa das atribuições, dos
e atribuições decorrentes do exercício de função de direção, deveres, das responsabilidades e dos direitos inerentes ao
chefia e assessoramento ou da prestação de serviços espe- cargo ocupado, que não poderão ser alterados unilateral-
ciais. mente, por qualquer das partes, ressalvados os atos de ofício
Art. 7º É proibido o exercício gratuito de cargos públi- previstos em Lei.
cos, salvo os casos previstos em Lei. § 1º A posse será efetivada pela assinatura do respectivo
termo pelo empossado e pela autoridade competente.
TÍTULO II § 2º A posse ocorrerá no prazo de 15 (quinze) dias,
DO INGRESSO NO SERVIÇO PÚBLICO contados da publicação do ato de nomeação, podendo ser
prorrogável por igual período mediante requerimento do in-
Capítulo Único teressado, devidamente justificado e fundamentado.
DO PROVIMENTO § 3º Em se tratando de servidor que esteja na data de
publicação do ato de provimento em licença ou afastado
SEÇÃO I por qualquer motivo legal, o prazo será contado do término
DISPOSIÇÕES GERAIS do impedimento.
§ 4º No ato da posse o servidor apresentará obrigato-
Art. 8º São requisitos básicos para investidura em cargo
riamente declaração de bens e valores que constituem o seu
público:
patrimônio e declaração quanto ao exercício ou não de ou-
I - a nacionalidade brasileira ou estrangeira, desde que
tro cargo, emprego ou função pública.
preenchidos os requisitos legais;
§ 5º Será tornado sem efeito o ato de provimento se a
II - o gozo dos direitos políticos;
posse não ocorrer no prazo previsto no parágrafo 2º, salvo a
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
hipótese elencada no parágrafo 3º.
IV - o nível de escolaridade e capacitação exigido para o
Art. 15 A posse em cargo público dependerá de prévia
exercício do cargo;
inspeção médica oficial, além do exame relativo à aptidão
V - a idade mínima de 18 (dezoito) anos;
psicológica e psiquiátrica, nos casos específicos.
VI - aptidão física e mental.
Parágrafo Único. As atribuições do cargo podem justi- SEÇÃO IV
ficar a exigência de outros requisitos estabelecidos em Lei DO EXERCÍCIO
especial.
Art. 9º O provimento dos cargos públicos será através Art. 16 Exercício é o efetivo desempenho das atribuições
de ato da autoridade competente de cada Poder. do cargo público.
Art. 10 A investidura em cargo público ocorrerá com a § 1º A autoridade competente do órgão ou entidade
posse. para onde for designado o servidor compete dar-lhe exer-
Art. 11 São formas de provimento de cargo público a: cício.
I - nomeação; § 2º É de 10 (dez) dias úteis, o prazo improrrogável para
II - progressão; o servidor empossado em cargo público entrar em exercício,
III - readaptação; contados da data da posse.
IV - reversão; § 3º O servidor será exonerado do cargo se não entrar
V - aproveitamento; em exercício no prazo previsto no parágrafo 2º.
VI - reintegração. Art. 17 O início, a suspensão, a interrupção e o reinício
do exercício serão registrados no assentamento individual
SEÇÃO II do servidor.
DA NOMEAÇÃO Parágrafo Único. Ao entrar em exercício o servidor apre-
sentará ao setor de recursos humanos a documentação ne-
Art. 12 A nomeação será:
cessária ao assentamento individual.
I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de car-
Art. 18 Os servidores cumprirão jornada de trabalho fi-
reira ou isolado;
xada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos
II - em comissão, para cargos de livre nomeação e exo-
cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal
neração.
de 40 (quarenta) horas.
Art. 13 A nomeação para cargo de provimento efetivo
Parágrafo Único. O disposto neste artigo não se aplica a
de carreira ou isolado depende de prévia aprovação em
duração de trabalho estabelecida para categorias profissio-
concurso público de provas ou de provas e títulos, obede-
nais com regulamentação específica, bem como aos cargos
cido em qualquer caso, a ordem de classificação e o prazo
de provimento em comissão.
de validade.

101
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO V Art. 23 Não poderá reverter o aposentado que já tiver


DA PROGRESSÃO completado 70 (setenta) anos de idade.
Art. 24 Em qualquer hipótese de reversão, deverá ser
Art. 19 O servidor público ocupante de cargo de pro- observada a legislação previdenciária vigente.
vimento efetivo deverá receber progressão na carreira nos
termos da Lei que fixar diretrizes do sistema de carreiras no SEÇÃO VIII
Serviço Público Municipal. DA REINTEGRAÇÃO

Art. 25 Reintegração é a reinvestidura do servidor no


SEÇÃO VI cargo anteriormente ocupado ou no cargo resultante de sua
DA READAPTAÇÃO transformação, quando invalidada a sua exoneração por de-
cisão administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas
Art. 20 (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011) as suas vantagens.
§ 1º (VETADO) Parágrafo Único. Na hipótese do cargo ter sido extinto,
§ 2º (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011) o servidor ficará em disponibilidade com remuneração pro-
§ 3º (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011) porcional ao tempo de serviço, observado o disposto nos
§ 4º (VETADO) arts. 27 a 29.
§ 5º (VETADO)
§ 6º (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011)
Art. 20 A - A readaptação é a colocação do servidor em SEÇÃO IX
cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO
limitação que tenha sofrido em sua capacidade física, senso-
rial ou mental. Art. 26 Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessida-
§ 1º A readaptação dependerá obrigatoriamente de lau- de, o servidor estável ficará em disponibilidade com remu-
do de perícia da Previdência Social e exame médico oficial neração total e que seu direito seja assegurado ao tempo de
que avalie sua condição, apontando as funções que o servi- serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo.
dor poderá executar. Art. 27 O retorno à atividade de servidor em disponibili-
§ 2º A readaptação será efetivada em cargo com atribui- dade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em fun-
ções e jornada de trabalho afins e respeitada em todo o caso ção de atribuições, requisitos, especificações e vencimento
a escolaridade e habilitação exigida. compatíveis com o anteriormente ocupado.
§ 3º A readaptação não acarretará aumento, reajuste ou Art. 28 O setor de recursos humanos determinará o ime-
diminuição da remuneração devida. diato aproveitamento de servidor em disponibilidade em
§ 4º Havendo o restabelecimento da capacidade física, vaga que vier a ocorrer nos órgãos de cada Poder, observa-
sensorial ou mental, constatado através de laudo de perí- do o disposto no art. 27.
cia da Previdência Social e exame médico oficial, o servidor Art. 29 O aproveitamento de servidor que se encontre
readaptado deverá retornar às atribuições de seu cargo de em disponibilidade dependerá de prévia comprovação de
provimento efetivo. sua capacidade física e mental, por junta médica oficial.
§ 5º O servidor readaptado deverá se submeter a exame Parágrafo Único. Se julgado apto, o servidor passará por
médico oficial nas periodicidades estipuladas pelo Poder Pú- treinamento e adaptação às suas novas funções e deverá as-
blico Municipal ou pela Previdência Social. sumir o exercício do cargo no prazo de 30 (trinta) dias con-
§ 6º Para a realização do exame tratado no parágrafo 5º, tados da publicação do ato de aproveitamento.
o servidor será convocado através de correspondência re- Art. 30 Será tornado sem efeito o aproveitamento e ex-
gistrada ou outro meio de comunicação. (Redação acrescida tinta a disponibilidade se o servidor não entrar em exercício
pela Lei Complementar nº 198/2011) no prazo estipulado pelo parágrafo único do art. 29, salvo
em caso de doença comprovada por junta médica oficial.
Parágrafo Único. A hipótese prevista neste artigo confi-
SEÇÃO VII gurará abandono de cargo apurado mediante processo ad-
DA REVERSÃO ministrativo, na forma desta Lei.
Art. 21 Reversão é o retorno à atividade do servidor apo-
sentado por invalidez, quando, por laudo de perícia da Pre- SEÇÃO X
vidência Social, forem declarados insubsistentes os motivos DO ESTÁGIO PROBATÓRIO
da aposentadoria.
Art. 22 A reversão será no mesmo cargo ou no cargo Art. 31 Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para
resultante de sua transformação ou redenominação. cargo público de provimento efetivo ficará sujeito a estágio
Parágrafo Único. Encontrando-se provido o cargo, o ser- probatório por período de 36 (trinta e seis) meses, durante
vidor exercerá suas funções como excedente, até a ocorrên- o qual sua aptidão e capacidade serão objeto obrigatório de
cia de vaga, preservado os seus direitos já adquiridos. avaliação de desempenho, observados os seguintes fatores:
I - interesse;

102
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

II - respeito às normas e regulamentos; Art. 37 O servidor estável somente perderá o cargo nos
III - responsabilidade; termos do parágrafo 1º do art. 41 e dos parágrafos 4º, 5º, 6º
IV - adaptação; e 7º do art. 169 da Constituição Federal.
V - cooperação e solidariedade com os colegas; Parágrafo Único. Aplicam-se aos servidores públicos
VI - respeito; municipais o disposto nos parágrafos 2º e 3º do art. 41 da
VII - qualidade e atenção; Constituição Federal.
VIII - produtividade;
IX - economia; TÍTULO III
X - flexibilidade; DOS DIREITOS E VANTAGENS
XI - iniciativa;
XII - pontualidade; Capítulo I
XIII - assiduidade; DO VENCIMENTO E DEMAIS VANTAGENS
XIV - disciplina.
Art. 32 Os servidores em estágio probatório serão sub- Art. 38 (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011)
metidos a 3 (três) avaliações de desempenho, sendo a pri- Parágrafo Único. (VETADO)
meira aos 6 (seis) meses, contados da entrada em efetivo Art. 38 A - Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
exercício; a segunda aos 18 (dezoito) meses e a terceira e exercício de cargo público, com valor fixado em Lei.
última aos 30 (trinta) meses. Parágrafo Único. O vencimento deverá ser revisado pe-
§ 1º As avaliações de desempenho serão realizadas pela riodicamente nos termos do inciso X do art. 37 da Consti-
chefia do setor em que o servidor estiver lotado e acompa- tuição Federal, notadamente no mês de março de cada ano,
nhadas pela Comissão de Avaliação de Desempenho do Es- conforme dispuser Lei Municipal. (Redação acrescida pela
tágio Probatório, que será composta por 3 (três) servidores Lei Complementar nº 198/2011)
obrigatoriamente efetivos e estáveis. Art. 39 Vencimentos expressa a retribuição pecuniária
§ 2º A Comissão de que trata o parágrafo 1º será de- pelo exercício de cargo público efetivo, acrescido das vanta-
signada por ato da autoridade máxima de cada Poder ou gens pecuniárias permanentes estabelecidas em Lei.
órgão, vinculada ao setor administrativo competente. Art. 40 O vencimento do cargo público de provimento
Art. 33 O servidor deverá cumprir todo o período de es- efetivo é irredutível, ressalvado o disposto nos incisos XI e
tágio probatório no cargo público de provimento efetivo em XIV do art. 37 da Constituição Federal.
que se deu a posse. § 1º É assegurada a isonomia de vencimento para car-
§ 1º Na hipótese de nomeação para cargo de provimen- gos de atribuições iguais ou assemelhadas dos Poderes, res-
to em comissão, a contagem do período do estágio proba- salvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à
tório será suspensa enquanto perdurar a referida situação. natureza ou ao local de trabalho.
§ 2º Sem prejuízo da contagem do tempo de efetivo § 2º A Lei que estabelecer o quadro geral de pessoal
exercício, o servidor efetivo nomeado para cargo de provi- deverá fixar o limite máximo e a relação entre o maior e o
mento em comissão conforme o parágrafo 1º, terá a avalia- menor vencimento dos servidores públicos municipais, nos
ção de desempenho suspensa nos mesmos termos. termos do § 5º do art. 39 da Constituição Federal.
Art. 34 O servidor em período de estágio probatório não Art. 41 Nenhum servidor público municipal poderá per-
poderá ser promovido. ceber, mensalmente, a título de vencimentos, importância
Art. 35 O servidor estável que, em virtude de concurso superior ao subsídio do Prefeito Municipal.
público de provas ou de provas e títulos, for nomeado para Parágrafo Único. Excluem-se do teto de vencimentos
outro cargo público, ficará obrigado a cumprir novo período estabelecido no “caput” as importâncias recebidas a título
de estágio probatório. de gratificação natalina, adicional pela prestação de serviço
extraordinário e adicional de férias previstos nos incisos VIII,
SEÇÃO XII XVI e XVII do art. 7º da Constituição Federal.
DA ESTABILIDADE
Capítulo II
Art. 36 São estáveis após 3 (três) anos de efetivo exercí- DAS FALTAS
cio, os servidores nomeados para cargo de provimento efe-
tivo em virtude de concurso público. SEÇÃO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 1º A estabilidade de que trata o “caput” terá como
condição para sua aquisição a obrigatoriedade de avaliação
Art. 42 Os critérios para fins de desconto da retribuição
especial de desempenho, nos termos do parágrafo 4º do art.
pecuniária pelo não comparecimento do servidor, serão os
41 da Constituição Federal e arts. 31 e 32 desta Lei.
que seguem:
§ 2º O servidor aprovado no estágio probatório será
I - ao servidor que não cumprir a totalidade de sua jor-
confirmado no cargo, mediante ato a ser expedido pela au-
nada diária de trabalho será consignada como “falta dia”;
toridade de cada Poder ou órgão no prazo máximo de 30
II - o descumprimento de parte da jornada diária de tra-
(trinta) dias.
balho será caracterizada como “falta hora”, as quais serão
§ 3º (VETADO)

103
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

ao longo do mês, somadas às demais para integralização da § 1º O servidor deverá encaminhar requerimento com
“falta dia”. no mínimo dois (02) dias de antecedência solicitando o abo-
§ 1º O desconto financeiro da “falta dia” será efetuado no das faltas a que se refere o “caput”, sendo ouvido o seu
à razão de 1/30 (um trinta avos) do valor da retribuição pe- superior hierárquico, cabendo a decisão final ao titular da
cuniária mensal. pasta imediatamente subordinado ao chefe de cada Poder
§ 2º Se no final do mês ocorrer o saldo de “faltas hora”, Público Municipal.
serão elas somadas às que vierem ocorrer no mês seguinte § 2º Não serão permitidas faltas abonadas em emendas
ou subsequentes, para fins do desconto previsto no pará- de feriado.
grafo anterior.
Capítulo III
SEÇÃO II DOS DESCONTOS
DAS FALTAS JUSTIFICADAS
Art. 47 Salvo por imposição legal ou mandado judicial,
Art. 43 Nenhum servidor público municipal poderá faltar nenhum desconto incidirá sobre os vencimentos do servidor
ao serviço, em período integral ou parcial, sem causa justi- público, com exceção da contribuição sindical fixada por Lei.
ficada. Parágrafo Único. Mediante autorização por escrito do
Parágrafo Único. Considera-se causa justificada o fato servidor, poderá haver consignação em folha de pagamento
que, por sua natureza ou circunstância, principalmente pela a favor de entidade sindical e de terceiros, na forma da Lei.
consequência no âmbito da família, possa constituir necessi- Art. 48 As reposições ao erário serão previamente co-
dade imperiosa ao não comparecimento ao serviço. municadas ao servidor e descontadas em parcelas mensais
Art. 44 O servidor que faltar ao trabalho ficará obrigado cujo valor não excederá 10% (dez por cento) de seus venci-
a declarar, por escrito, a justificação da falta, a seu superior mentos.
imediato, no primeiro dia em que a este comparecer, sob Parágrafo Único. A reposição será feita em uma (01) úni-
pena de sujeitar-se às consequências da falta injustificada. ca parcela quando constatado pagamento indevido no mês
§ 1º Não serão objeto de abono ou compensação as anterior ao do processamento da folha de pagamento.
faltas que excederem a 2 (duas) por mês. Art. 49 O servidor em débito decorrente da relação de
§ 2º O superior imediato do servidor decidirá sobre a trabalho com o Poder Público que for exonerado ou aposen-
justificação das faltas até o máximo de 5 (cinco) por ano. tado, terá o valor de seu débito descontado dos créditos que
§ 3º A justificação das faltas que excederem a 6 (seis) por porventura tenha para receber do respectivo Poder.
ano, até o limite de 12 (doze), será submetida, devidamente § 1º Caso não existam créditos a receber ou estes não
informada e formalizada pelo superior imediato, ao titular sejam suficientes para suportar o valor devido, o servidor
da pasta em que o servidor estiver lotado, no prazo máximo terá o prazo de até 90 (noventa) dias para quitar o débito.
de 3 (três) dias. § 2º O servidor cuja dívida relativa a reposição for su-
§ 4º Para a justificação de qualquer falta será exigida perior a cinco (05) vezes o valor de sua remuneração, terá o
prova material do motivo alegado pelo servidor. prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias para quitar o seu
§ 5º Decidido o pedido de justificação da falta, será o débito nos casos previstos no “caput”.
requerimento encaminhando imediatamente ao setor de re- § 3º Os valores percebidos pelo servidor, em razão de
cursos humanos para as devidas anotações no assentamen- decisão liminar, de qualquer medida de caráter antecipató-
to individual do servidor. rio ou de sentença, posteriormente cassada ou revista, de-
verão ser repostos ao erário no prazo máximo de 30 (trinta)
dias, contados da notificação para fazê-lo, sob pena de ins-
SEÇÃO III crição em dívida ativa.
DAS FALTAS INJUSTIFICADAS
Capítulo IV
Art. 45 Serão consideradas faltas injustificadas aquelas DAS VANTAGENS
em que o servidor ausentar-se do serviço sem um justo mo-
tivo. SEÇÃO I
Parágrafo Único. Na hipótese do “caput” deste artigo, o DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
servidor sofrerá o desconto em seu vencimento e não será
considerado como período de efetivo exercício para todos Art. 50 Além do vencimento, poderão ser pagas ao ser-
os efeitos. vidor as seguintes vantagens:
I - gratificações;
II - adicionais;
SEÇÃO IV III - auxílios.
DAS FALTAS ABONADAS Parágrafo Único. As gratificações e os adicionais incor-
poram-se aos vencimentos, apenas nos casos e condições
Art. 46 As faltas ao serviço, até o máximo de 6 (seis) por indicados em Lei.
ano, que não exceda a 1 (uma) por mês, serão abonadas Art. 51 As vantagens pecuniárias não serão computadas,
desde que não haja prejuízo à Administração. nem acumuladas, para efeito de concessão de quaisquer ou-

104
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

tros acréscimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título § 1º A percepção da gratificação de que trata o “caput”
ou idêntico fundamento. deste artigo não constitui cargo e será considerada como
vantagem acessória ao vencimento do servidor designado.
SEÇÃO II § 2º A denominação, qualificação, percentuais e demais
DAS GRATIFICAÇÕES E DOS ADICIONAIS requisitos para a percepção da gratificação de que trata o
“caput” deste artigo serão estabelecidos através de Lei.
Art. 52 Além do vencimento e das vantagens previstas § 3º A gratificação de que trata o “caput” deste artigo
nesta Lei, serão deferidos aos servidores as seguintes grati- apenas é devida ao servidor durante o período em que es-
ficações e adicionais: tiver exercendo efetivamente a função que foi designada,
I - gratificação por escolaridade; sendo indevido o seu recebimento no caso de revogação de
II - gratificação por trabalho em local de difícil lotação; sua designação.
III - gratificação pelo exercício de função de direção, Art. 56 Aos ocupantes dos cargos de provimento em co-
chefia e assessoramento; missão poderá ser concedida, por ato do Chefe de cada Po-
IV - gratificação natalina; der, gratificação a título de dedicação integral, pelo exercício
V - adicional pela prestação de serviço extraordinário; de função de direção e assessoramento, a qual não poderá
VI - adicional noturno; ultrapassar 50% (cinquenta por cento) do vencimento cor-
VII - adicional de férias; respondente.
VIII - adicional pelo exercício de atividades insalubres ou
periculosas; SUBSEÇÃO IV
IX - adicional por tempo de serviço.
DA GRATIFICAÇÃO NATALINA
Art. 53 Ao servidor público municipal ocupante de car-
go de provimento efetivo constante do grupo ocupacional Art. 57 A gratificação natalina será paga, anualmente, a
superior, que comprovarem a conclusão de curso superior, todo servidor municipal, independente da remuneração a
desde que não seja requisito de provimento de seu cargo, que fizer jus.
será pago, a título de Gratificação por Escolaridade, o per- § 1º A gratificação natalina corresponderá a 1/12 (um
centual de 20% (vinte por cento) sobre o valor de seu ven- doze avos) por mês de efetivo exercício no ano, da remune-
cimento. ração devida em dezembro do ano correspondente.
§ 2º A fração igual ou superior a 20 (vinte) dias de efetivo
SUBSEÇÃO II exercício será considerada como mês integral, para efeito do
DA GRATIFICAÇÃO POR TRABALHO EM LOCAL DE parágrafo anterior.
DIFÍCIL LOTAÇÃO § 3º A gratificação natalina será calculada sobre os ven-
cimentos do servidor, neles incluídos todas as vantagens de
Art. 54 Além do vencimento e das vantagens constan- natureza permanente, inclusive a média aritmética das horas
tes desta Lei, será concedida a Gratificação por Trabalho em extraordinárias efetivamente pagas durante o ano.
Local de Difícil Lotação, no percentual de 15% (quinze por § 4º A gratificação natalina será estendida aos inativos
cento) do valor de seu vencimento, especificamente aos ser- e pensionistas, tendo como base o valor dos proventos que
vidores ocupantes dos cargos de provimento efetivo de: perceberem no mês de dezembro de cada ano.
I - Profissionais da Saúde; § 5º A gratificação natalina será paga até o dia 20 (vinte)
II - Profissionais da Educação; do mês de dezembro de cada ano.
III - (VETADO) § 6º A primeira parcela correspondente a 50% (cinquen-
§ 1º A gratificação de que trata o “caput” não será incor- ta por cento) do valor da gratificação natalina será paga até
porada ao vencimento para nenhum fim. o último dia útil do mês de novembro de cada ano.
§ 2º Os servidores que percebem a gratificação nos ter- § 7º O servidor efetivo poderá requerer o adiantamento
mos do “caput” perderão o direito no momento em que ces- de parcela não superior a 50% (cinquenta por cento) do va-
sar sua atuação nos referidos locais. lor total da mesma, no período de fevereiro a novembro do
§ 3º O disposto neste artigo deverá ser regulamentado ano correspondente, no caso de:
através de ato próprio da autoridade do respectivo Poder. I - gozo do período de férias anuais;
II - nos casos de emergência por doença grave do pró-
SUBSEÇÃO III prio servidor ou do cônjuge, companheiro (a), pais, padrasto,
DA GRATIFICAÇÃO PELO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO DE madrasta, filhos, enteados, netos, menor sob guarda ou tu-
DIREÇÃO, CHEFIA E ASSESSORAMENTO tela, irmãos, sogro e sogra;
III - falecimento de pessoas da família dentre os relacio-
Art. 55 Ao servidor estável, ocupante de cargo de provi- nados no inciso II;
mento efetivo, que vier a ser designado para o desempenho IV - realização de despesas necessárias em virtude de
de função de direção, chefia ou assessoramento, será devida caso fortuito ou força maior, conforme previsto no Código
uma gratificação pelo seu exercício. Civil Brasileiro.
§ 8º O requerimento a que se refere o parágrafo 7º de-
verá ser encaminhado para o titular da pasta responsável

105
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

pelo setor de recursos humanos do respectivo Poder, que SUBSEÇÃO VII


deverá decidir sobre o seu deferimento, ou não, no prazo DO ADICIONAL DE FÉRIAS
máximo de 15 (quinze) dias.
§ 9º No caso previsto no inciso II do parágrafo 7º, deverá Art. 63 Independentemente de solicitação, será pago ao
ser anexado ao requerimento laudo comprovando a emer- servidor, nos termos do inciso XVII do art. 7º da Constituição
gência e necessidade, realizado por equipe médica oficial e Federal, por ocasião do gozo parcial ou total das férias, um
pelo serviço social. adicional correspondente a 1/3 (um terço) do vencimento
§ 10. No caso previsto no inciso III do parágrafo 7º, de- do período.
verá ser anexado ao requerimento certificado de óbito, com-
provante do parentesco e laudo do serviço social compro-
vando a necessidade. SUBSEÇÃO VIII
§ 11. No caso previsto no inciso IV do parágrafo 7º, de- DO ADICIONAL PELO EXERCÍCIO DE ATIVIDADES
verá ser anexado ao requerimento a comprovação do caso INSALUBRES OU PERICULOSAS
fortuito ou de força maior reconhecido oficialmente.
Art. 64 Os servidores que:
Art. 58 O servidor exonerado perceberá sua gratificação
I - trabalharem com habitualidade em locais insalubres,
natalina, proporcionalmente aos meses de efetivo exercício
identificados através de laudo emitido pelo órgão municipal
no ano, calculada sobre os vencimentos do mês da exone-
competente, farão jus a um adicional com percentuais variá-
ração.
veis de 10% (dez por cento), 20% (vinte por cento) ou 40%
Art. 59 A gratificação natalina não será considerada para
(quarenta por cento) sobre o menor vencimento pago pelo
cálculo de qualquer vantagem pecuniária.
erário municipal, conforme o grau da insalubridade;
II - estiverem expostos a contato permanente com subs-
SUBSEÇÃO V
DO ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO tâncias inflamáveis, explosivas, eletricidade de alta tensão,
em condições de risco acentuado, durante o período de tra-
Art. 60 O serviço extraordinário será remunerado: balho, farão jus ao adicional denominado de periculosidade
I - com acréscimo de 50% (cinquenta por cento), em re- de 30% (trinta por cento) sobre o valor do vencimento de
lação a hora normal de trabalho, de segunda-feira a sábado, seu cargo de provimento efetivo.
nos dias considerados ponto facultativo e nos dias objeto de § 1º O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubri-
compensação por ausência de expediente definidos em atos dade e de periculosidade deverá optar por apenas um deles,
do Chefe de cada Poder; não sendo acumuláveis estas vantagens.
II - com acréscimo de 100% (cem por cento), em relação § 2º O direito de adicional de insalubridade ou de pe-
à hora normal de trabalho, nos domingos e feriados. riculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos
Parágrafo Único. O serviço extraordinário realizado no riscos que deram causa a sua concessão.
período compreendido entre as 22 (vinte e duas) horas de § 3º (VETADO)
um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte, será acrescido Art. 65 Haverá permanente controle da atividade de
do percentual relativo ao adicional noturno, nos termos do servidores em operações ou locais considerados insalubres
art. 62 desta Lei. ou perigosos, através da Comissão Interna de Prevenção de
Art. 61 Somente será permitido o serviço extraordinário Acidentes - CIPA.
para atender a situações excepcionais, temporárias e de in- Parágrafo Único. A servidora gestante ou lactante será
teresse público. afastada, enquanto durar a gestação ou lactação, das opera-
Parágrafo Único. As normas para a autorização da reali- ções e locais previstos neste artigo, exercendo suas ativida-
zação de serviços extraordinários no âmbito do serviço pú- des em local salubre e em serviço não perigoso.
blico local serão definidas e regulamentadas através de ato Art. 66 Na concessão dos adicionais de que trata o art.
do Chefe de cada Poder. 64 serão observadas as situações estabelecidas em legisla-
ção específica, em especial as Normas Regulamentadoras do
Ministério do Trabalho e Emprego.
SUBSEÇÃO VI Art. 67 Os locais de trabalho e os servidores que operam
DO ADICIONAL NOTURNO com Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos sob
controle permanente, de modo que as doses de radiação
Art. 62 O serviço noturno, prestado em horário com- ionizante não ultrapassem o nível máximo previsto em le-
preendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) gislação própria.
horas do dia seguinte terá o valor-hora acrescido de mais Parágrafo Único. Os servidores a que se refere este arti-
25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada hora go serão submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) me-
como 52 (cinquenta e dois) minutos e 30 (trinta) segundos. ses, por parte da Secretaria Municipal de Saúde.
Parágrafo Único. Em se tratando de serviço extraordi-
nário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre os
valores previstos no art. 60.

106
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SUBSEÇÃO IX SUBSEÇÃO II
DO ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO DO VALE-ALIMENTAÇÃO

Art. 68 (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011)


§ 3º (VETADO) Art. 71 Será concedido aos servidores públicos do ser-
§ 4º (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011) viço público municipal o auxilio denominado “Vale-Alimen-
Art. 68 A - O adicional por tempo de serviço é devido tação”, através do fornecimento de cartão ou assemelhado,
aos servidores, na seguinte proporção: que deverá ser utilizado para a aquisição de gêneros alimen-
I - à razão de 2% (dois por cento) de seu vencimento a tícios nos estabelecimentos credenciados no Município de
cada período de 2 (dois) anos de efetivo exercício, contínuo Suzano.
ou não; Parágrafo Único. O valor total do “Vale-Alimentação”
II - à razão de 5% (cinco por cento) do seu vencimento a será definido através de legislação própria.
cada período de 5 (cinco) anos de efetivo exercício; Art. 72 O “Vale-Alimentação” não será concedido aos
III - a sexta-parte, à razão de 1/6 (um sexto) do seu ven- servidores:
cimento, após 20 (vinte) anos de efetivo exercício. I - afastados nos termos dos arts. 114 e 115;
§ 1º Na concessão do adicional por tempo de serviço
severa ser observado o disposto no inciso XIV do art. 37 da II - em gozo das licenças previstas nos incisos II, III, IV, V,
Constituição Federal. VII, IX, X e XI do art. 82.
§ 2º A fim de que se garanta a continuidade do adicional
já existente, previsto no inciso I, a contagem do prazo para
sua concessão iniciar-se-á na data de ingresso do servidor SUBSEÇÃO III
no serviço público. DO VALE-TRANSPORTE
§ 3º A contagem do prazo para concessão dos adicio-
nais previstos nos incisos II e III iniciar-se-á com a vigência Art. 73 Será concedido o auxílio Vale-Transporte aos ser-
desta Lei Complementar. vidores públicos do Município de Suzano, o qual deverá ser
§ 4º O adicional por tempo de serviço que trata este ar- utilizado exclusivamente para o deslocamento entre o local
tigo será incorporado ao vencimento para todos os efeitos. de moradia e o local de trabalho, sendo de uso estritamente
(Redação acrescida pela Lei Complementar nº 198/2011) pessoal.
§ 1º O deslocamento de que trata o “caput” compreen-
SEÇÃO III de a soma de todos os componentes da viagem por um ou
DOS AUXÍLIOS mais meios de transporte entre o seu local de moradia e o
local de trabalho.
Art. 69 Além do vencimento e das demais vantagens § 2º O Vale-Transporte é aplicável a todas as formas e
previstas, serão concedidos aos servidores os seguintes au- modalidades de transporte público coletivo urbano em li-
xílios: nhas municipais e intermunicipais regulares e com tarifas
I - cesta básica; fixadas pela autoridade competente, excluídos os serviços
II - vale-alimentação; seletivos e especiais.
III - vale-transporte. Art. 74 Cada um dos Poderes Municipais participará dos
gastos de deslocamento do servidor com a ajuda de custo
equivalente à parcela que exceder a 6% (seis por cento) de
SUBSEÇÃO I seu vencimento.
DA CESTA BÁSICA Art. 75 Para fazer jus a concessão do Vale-Transporte, o
servidor deverá requerer por escrito, em formulário próprio,
padronizado e distribuído pelo competente setor de recur-
Art. 70 Fica estabelecido que os servidores que perce- sos humanos, no qual constarão obrigatoriamente:
bem a título de vencimento o equivalente a 2 (duas) vezes o I - o endereço residencial do servidor;
menor vencimento farão jus a um auxílio, denominado “Ces- II - os serviços e meios de transporte necessários ao des-
ta-Básica”, que será concedido através de crédito em cartão locamento do local de moradia ao local de trabalho e vice
específico fornecido pelo Poder Público. e versa;
Parágrafo Único. O disposto no “caput” aplica-se, inclu- III - compromisso a ser firmado pelo servidor, sob res-
sive, aos: ponsabilidade, de que somente utilizará o Vale-Transporte
I - servidores aposentados e pensionistas do Município para o seu próprio e efetivo deslocamento do local de mo-
de Suzano; radia ao local de trabalho e vice e versa, sob as penas da Lei;
II - servidoras em gozo das licenças constantes do inciso IV - autorização do servidor para o desconto em folha
V do art. 82; de pagamento da parcela de custeio nos termos do art. 74.
III - servidores afastados nos termos do inciso X do art. Art. 76 O desconto da parcela de custeio nos termos do
82; art. 74 terá por base o período a que se refere o pagamento
IV - (VETADO) do vencimento e se processará na ocasião deste.

107
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Parágrafo Único. Nos casos em que a despesa se situe § 2º O servidor não poderá permanecer em licença da
aquém da parcela de custeio definida no art. 74, o desconto mesma espécie por período superior a 24 (vinte e quatro)
dar-se-á de acordo com o número de deslocamentos efeti- meses, salvo nos casos dos incisos II, III, VII, IX e X.
vamente concedidos.
Art. 77 O Vale-Transporte não será concedido durante os
períodos de férias, licenças, afastamentos e outras situações SEÇÃO II
em que o servidor não esteja obrigado a prestar serviços no DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PESSOA DA
local de trabalho previamente declarado nos termos do art. FAMÍLIA
74.
Art. 78 A distribuição ou a utilização indevida do Vale- Art. 83 Poderá ser concedida licença ao servidor ocu-
-Transporte caracteriza falta grave, sujeitando o responsável pante de cargo de provimento efetivo por motivo de doença
às penalidades previstas em Lei, assim como à suspensão ou do cônjuge ou companheiro (a), dos pais, dos filhos, do pa-
cassação definitiva do benefício, após a devida apuração em drasto ou madrasta e enteado ou de dependente que viva
processo administrativo a ser realizada pelo setor compe- às suas expensas e conste do seu assentamento funcional,
tente do respectivo Poder. mediante comprovação por junta médica oficial.
Parágrafo Único. A concessão será suspensa mediante § 1º A licença somente será deferida se a assistência di-
despacho fundamentado pelo titular da pasta responsável reta do servidor for indispensável e não puder ser prestada
pelo órgão de recursos humanos, nos casos em que se veri- simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante
ficar irregularidades na distribuição ou na utilização do Va- compensação de horário.
le-Transporte até a apuração dos fatos e responsabilidades. § 2º A licença poderá ser concedida sem prejuízo do
Art. 79 Não será concedido Vale-Transporte: respectivo vencimento do cargo de provimento efetivo, por
I - por expressa desistência do servidor; até 05 (cinco) dias, mediante comprovação por junta médica
II - pela exoneração, disponibilidade, aposentadoria, fa- oficial.
lecimento ou por qualquer outro ato que implique a exclu- § 3º Após o prazo máximo constante do parágrafo 2º
são do servidor do serviço público do Município de Suzano; deste artigo, a licença poderá ser concedida, com prejuízo
III - pela cassação nos termos do art. 78. da remuneração, até o limite máximo de 30 (trinta) dias.
Art. 80 O Vale-Transporte não possui natureza remune- § 4º Em qualquer situação, a licença prevista neste artigo
ratória e não se incorpora aos vencimentos do servidor para apenas será concedida se não houver prejuízo para o serviço
nenhum efeito. público, mediante análise do titular da pasta onde o servidor
Art. 81 Cada Poder definirá o órgão de sua estrutura ad- estiver lotado e regular autorização do Chefe de cada Poder.
ministrativa que ficará encarregado de distribuir, controlar e § 5º Somente poderá ser concedida nova licença de que
operacionalizar a entrega do Vale-Transporte. trata o “caput” deste artigo, depois de decorrido o dobro do
período da primeira licença concedida, ficando a concessão
Capítulo V desta limitada a 02 (duas) a cada ano.
DAS LICENÇAS § 6º Ao ocupante de cargo de provimento em comissão
não se concederá a licença de que trata este artigo.
SEÇÃO I Art. 84 Quando a pessoa da família do servidor estiver
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS em tratamento médico fora do Município de Suzano ou re-
sidir em outro Município, será admitida a comprovação por
Art. 82 Conceder-se-á ao servidor licença: junta médica oficial do outro Município.
I - por motivo de doença em pessoa da família; Art. 85 O servidor deverá requerer a licença com antece-
II - para o serviço militar; dência mínima de 5 (cinco) dias úteis antes do dia previsto
III - para atividade política; para o período de licença, salvo se comprovadamente em
IV - para tratar de interesses particulares; caso de situação emergencial.
V - a gestante e a adotante;
VI - paternidade;
VII - para desempenho de mandato em Sindicato da ca- SEÇÃO III
tegoria; DA LICENÇA PARA O SERVIÇO MILITAR
VIII - para capacitação;
IX - para tratamento da própria saúde; Art. 86 Ao servidor convocado para o serviço militar será
X - por motivo de acidente em serviço ou para trata- concedida licença, na forma e condições previstas na legis-
mento de doença profissional; lação específica.
XI - por motivo de afastamento do cônjuge ou compa-
nheiro (a);
SEÇÃO IV
XII - prêmio.
DA LICENÇA PARA ATIVIDADE POLÍTICA
1º É vedado o exercício de qualquer atividade remune-
rada durante o período das licenças previstas nos incisos I, Art. 87 A partir do registro de sua candidatura e até o dia
V, VII, VIII, IX, X e XII. seguinte ao da eleição, o servidor efetivo fará jus à licença

108
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

do serviço público, assegurados os vencimentos do cargo § 1º Salvo prescrição médica em contrário, a licença po-
efetivo. derá ser concedida a partir do 28º (vigésimo oitavo) dia an-
§ 1º O período de licença previsto no “caput” será con- tes do parto e a data de ocorrência deste.
siderado como de efetivo exercício para todos os efeitos. § 2º Ocorrido o parto sem que tenha sido concedida a
§ 2º Os servidores que exerçam cargos em comissão de- licença, esta será considerada a partir da data do evento me-
verão desincompatibilizar-se na forma prevista pela legisla- diante apresentação da certidão de nascimento da criança.
ção federal. § 3º Em caso de aborto não criminoso, comprovado
mediante atestado médico, a servidora terá direito a uma
licença correspondente a duas (02) semanas, sem prejuízo
SEÇÃO V de sua remuneração.
DA LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSES Art. 93 A servidora que adotar ou obtiver guarda judicial
PARTICULARES para fins de adoção de criança será concedida licença-ma-
ternidade nos seguintes termos:
I - no caso de adoção ou guarda judicial de criança até
Art. 88 Poderá ser concedida licença para tratar de inte- 2 (dois) meses de idade, o período de licença será de 180
resses particulares, pelo período de até 02 (dois) anos con- (cento e oitenta) dias;
secutivos, sem vencimentos, ao servidor que, ocupante de II - no caso de adoção ou guarda judicial de criança a
cargo de provimento efetivo, já não se encontre em período partir de 2 (dois) meses até 1 (um) ano de idade, o período
de estágio probatório. de licença será de 120 (cento e vinte) dias;
§ 1º O disposto no “caput” deste artigo dependerá de III - no caso de adoção ou guarda judicial de criança a
decisão conclusiva do titular do respectivo Poder, ouvido o partir de 1 (um) ano até 4 (quatro) anos de idade, o período
responsável pela pasta competente e a assistência prévia do de licença será de 60 (sessenta) dias;
Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Suzano. IV - no caso de adoção ou guarda judicial de criança a
§ 2º A licença de que trata o “caput” deste artigo poderá partir de 4 (quatro) anos até 8 (oito) anos de idade, o perío-
ser prorrogada, a pedido do servidor e a critério do Poder do de licença será de 30 (trinta) dias.
Público Municipal, por mais um período de, no máximo, até Parágrafo Único. A licença-maternidade só será conce-
1 (um) ano. dida mediante a apresentação do termo judicial de guarda a
§ 3º A licença poderá ser interrompida, a qualquer tem- adotante ou guardiã.
po, a pedido do servidor ou em decorrência do interesse
público.
§ 4º Não se concederá nova licença antes de decorridos SEÇÃO VII
2 (dois) anos do término da licença anterior ou de sua pror- DA LICENÇA PATERNIDADE
rogação.
§ 5º O servidor aguardará em exercício o despacho de-
cisório do seu pedido de licença. Art. 94 Pelo nascimento, adoção ou guarda judicial de
Art. 89 O período em que o servidor estiver usufruindo filho, o servidor terá direito a uma licença remunerada de 15
da licença de que trata o artigo anterior não será contado (quinze) dias consecutivos, a contar do nascimento, da data
como efetivo exercício para nenhum efeito e toda contagem de adoção ou da guarda judicial.
de tempo de serviço para a concessão de qualquer vanta- Parágrafo Único. Em caso de nascimento de mais de um
gem será suspensa. filho no mesmo dia, o período da licença de que trata este
Art. 90 Não retornando ao trabalho o servidor no perío- artigo não será cumulativo.
do máximo de até 30 (trinta) dias após o término da licença, Art. 95 O período da licença de que trata o artigo ante-
configurar-se-á o abandono de cargo, que deverá ser apu- rior será contado como de efetivo exercício para todos os
rado nos termos desta Lei. efeitos.
Art. 91 O respectivo setor de recursos humanos prestará
assistência ao servidor que optar por efetuar o recolhimento SEÇÃO VIII
da contribuição previdenciária durante o período da licença DA LICENÇA PARA O DESEMPENHO DE MANDATO EM
a que se refere o art. 88. SINDICATO DA CATEGORIA

SEÇÃO VI Art. 96 Fica assegurado aos servidor, eleito para ocupar


DA LICENÇA À GESTANTE E À ADOTANTE cargo na Diretoria Executiva em sindicato da categoria, o di-
reito de afastar-se de suas funções durante o tempo em que
durar o mandato, recebendo seus vencimentos e vantagens
Art. 92 A servidora gestante terá direito à licença-ma- nos termos da Lei.
ternidade de 180 (cento e oitenta) dias, sem prejuízo de sua Parágrafo Único. A licença de que trata este artigo terá
remuneração. duração igual à do mandato.
Art. 97 O servidor ocupante de cargo de provimento
em comissão ou designado para o exercício de função de

109
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

direção, chefia ou assessoramento deverá desincompatibi- SEÇÃO XI


lizar-se do cargo ou da função quando for empossado no DA LICENÇA POR MOTIVO DE ACIDENTE DO
mandato de que trata o artigo anterior. TRABALHO OU PARA TRATAMENTO DE DOENÇA
PROFISSIONAL
SEÇÃO IX
DA LICENÇA PARA CAPACITAÇÃO
Art. 103 Será licenciado, nos termos da legislação previ-
denciária vigente, o servidor acidentado no trabalho ou que
Art. 98 O servidor efetivo e estável poderá afastar-se do tenha adquirido doença profissional.
exercício do cargo de provimento efetivo que ocupa, asse- Art. 104 Quando expressamente constar na descrição
gurada a respectiva remuneração por até 90 (noventa) dias das atribuições de seu cargo que o servidor deverá participar
fracionáveis, para participar de curso de capacitação profis- de atividades físicas ou esportivas no decurso da jornada de
sional, ministrado por órgão oficial ou privado. trabalho, o infortúnio ocorrido durante estas atividades será
§ 1º A licença somente será concedida mediante anuên- considerado como acidente do trabalho.
cia do titular da pasta onde o servidor estiver lotado e auto- Art. 105 Será considerado como dia do acidente, no
rização do Chefe do respectivo Poder. caso de doença profissional ou em serviço, a data do início
§ 2º Os períodos de licença de que trata o “caput” deste da incapacidade laborativa para o exercício da atividade ha-
artigo não são acumuláveis. bitual ou o dia em que for realizado o diagnóstico, cabendo
para esse efeito o que ocorrer primeiro.
SEÇÃO X Art. 106 A prova do acidente em serviço será feita no
LICENÇA PARA TRATAMENTO DA PRÓPRIA SAÚDE prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, após o ocorrido,
com verificação obrigatória da Comissão Interna de Preven-
ção de Acidentes - CIPA.
Art. 99 Será concedida ao servidor licença remunerada
para tratamento de saúde, a pedido do médico assistente, SEÇÃO XII
com base em perícia médica oficial. DA LICENÇA POR MOTIVO DE AFASTAMENTO DO
Art. 100 Para licença até 15 (quinze) dias, a inspeção será CÔNJUGE OU COMPANHEIRO(A)
feita por médico da rede oficial, solicitada pelo setor de re-
cursos humanos do respectivo Poder ou órgão. Art. 107 O servidor poderá requerer licença não remu-
§ 1º Na impossibilidade de locomoção do servidor de- nerada pelo período de até 2 (dois) anos, prorrogável por
corrente da moléstia apresentada, a inspeção médica será igual período, a critério de cada um dos Poderes, quando o
realizada em sua residência ou no estabelecimento hospita- cônjuge ou companheiro(a) servir em outro local no territó-
lar onde se encontre internado. rio nacional, ou até, em outro país.
§ 2º Se o servidor estiver fora do Município, será admi- Parágrafo Único. A licença de que trata o “caput” será
tido atestado passado por médico que integre a rede do concedida mediante requerimento instruído através de do-
respectivo serviço público de saúde. cumentos comprobatórios da transferência.
§ 3º Findo o prazo da licença, o servidor será submetido
à nova inspeção médica, que concluirá pela volta ao serviço SEÇÃO XIII
ou para o encaminhamento do mesmo à previdência social. DA LICENÇA-PRÊMIO
Art. 101 A recusa do servidor em submeter-se à perícia
médica que trata o parágrafo 3º do artigo anterior interrom- Art. 108 Após cada 5 (cinco) anos de efetivo exercício
perá a licença e importará no imediato retorno do mesmo à contínuo, ao servidor será concedida licença especial a título
atividade, sob pena de caracterização de abandono de car- de licença-prêmio pelo período de 90 (noventa) dias, com
go, a partir do 30º (trigésimo) dia. todos os direitos e vantagens do cargo.
Art. 102 O atestado ou laudo da junta médica oficial não § 1º A licença-prêmio não será concedida, se o servidor,
se referirão ao nome ou natureza da doença, salvo quan- durante o período aquisitivo desta licença:
do se tratar de lesões produzidas por acidente em trabalho, I - faltar, injustificadamente, por 15 (quinze) dias ou
doença profissional ou qualquer das doenças especificadas mais, consecutivos ou alternados;
na legislação previdenciária. II - sofrido qualquer pena de suspensão;
§ 1º Somente serão aceitos atestados médicos em que III - gozado de licença:
conste o Código Internacional de Doenças - CID. a) para tratamento de saúde, por prazo superior a 90
§ 2º A entrega de atestado médico, com a ciência da (noventa) dias;
chefia imediata, deverá ser realizada no período máximo de b) por motivo de doença de pessoa da família, por prazo
24 (vinte e quatro) horas a partir da data de emissão do mes- superior a 30 (trinta) dias;
mo, ao setor de recursos humanos competente. c) para tratar de interesses particulares;
d) por motivo de afastamento do cônjuge ou compa-
nheiro(a).
IV - sofrido pena de advertência por mais de 3 (três) ve-
zes, a cada ano do período aquisitivo;

110
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

V - estiver respondendo processo administrativo disci- dade dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
plinar. e dos Municípios, nas seguintes hipóteses:
§ 2º A contagem para novo período aquisitivo da licen- I - para exercício de cargo de provimento em comissão
ça-prêmio, nos casos previstos nos incisos I e II, começará ou exercício de função de chefia, direção ou assessoramen-
a partir da data em que o servidor reassumir o exercício do to;
cargo ou no dia seguinte à falta injustificada. II - em casos previstos em Leis específicas.
§ 3º No caso de que trata o inciso IV, respeitar-se-á o li- § 1º Na hipótese do inciso I, sendo a cessão para órgãos
mite de 3 (três) meses, contados da aplicação da última pena ou entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal ou
de advertência, para se contar novo período aquisitivo. dos Municípios, o ônus da remuneração será do órgão ou
§ 4º Na hipótese do inciso V, a concessão da licença- da entidade cessionária, mantido o ônus para o cedente nas
-prêmio ficará suspensa até o julgamento final do processo hipóteses do inciso II.
administrativo disciplinar. § 2º Na hipótese de o servidor cedido à empresa pública
Art. 109 A licença-prêmio será usufruída dentro do pró- ou sociedade de economia mista, optar pela remuneração
ximo período aquisitivo até o limite de 01 (um) ano, esca- do cargo de provimento efetivo, a entidade cessionária efe-
lonada de acordo com a solicitação do servidor e atendido tuará o reembolso das despesas realizadas pelo órgão ou
o interesse de cada um dos Poderes, devendo o servidor entidade de origem.
aguardar em exercício a sua concessão. § 3º A cessão far-se-á mediante ato próprio do Chefe do
Parágrafo Único. A licença-prêmio prescreverá quando respectivo Poder, com a imprescindível publicidade.
o servidor não iniciar o seu gozo dentro de 30 (trinta) dias, § 4º O período do afastamento de que trata este artigo
contados da publicação do ato que a houver concedido. será contado como tempo de efetivo exercício para todos
Art. 110 A licença-prêmio será concedida por ato do os efeitos.
Chefe de cada Poder, mediante requerimento do servidor
interessado. SEÇÃO II
§ 1º A concessão da licença-prêmio será processada e DO AFASTAMENTO PARA O EXERCÍCIO DE MANDATO
formalizada após a verificação de todos os requisitos cons- ELETIVO
tantes do art. 108 desta Lei e após a manifestação favorável,
quanto a oportunidade e o período, do superior imediato e Art. 115 Ao servidor investido em mandato eletivo apli-
do titular da pasta onde o servidor estiver lotado. ca-se o disposto em legislação específica.
§ 2º A concessão da licença-prêmio será decidida no
prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados a partir do re- Parágrafo Único. O servidor investido em mandato ele-
cebimento do requerimento, podendo ser prorrogada me- tivo é inamovível de ofício pelo tempo de duração de seu
diante justificativa formal. mandato.
Art. 111 A licença-prêmio, no todo ou em parte, poderá
ser convertida em pecúnia, a critério de cada um dos Pode- SEÇÃO III
res, exceto nas situações previstas no art. 122. DO AFASTAMENTO PARA MISSÃO OFICIAL NO PAÍS
§ 1º Para efeito do cálculo da conversão da licença-prê- OU NO EXTERIOR
mio em pecúnia, será considerada a remuneração do mês
Art. 116 Em caso do servidor ser requisitado para acom-
da concessão.
panhar qualquer autoridade, de qualquer dos Poderes e de
§ 2º Não serão consideradas para o cálculo previsto no
qualquer esfera em missão oficial no País ou no Exterior, este
parágrafo 1º as vantagens percebidas pelo servidor em ca-
deverá ser afastado por ato autorizativo do Chefe do respec-
ráter eventual.
tivo Poder.
Art. 112 A critério de cada um dos Poderes, a licença-
Parágrafo Único. O afastamento de que trata o “caput”
-prêmio poderá ter seu gozo parcelado, sendo que cada pe-
deste artigo será sem prejuízo dos vencimentos do servidor,
ríodo não poderá ser inferior a 30 (trinta) dias.
e o respectivo tempo de serviço será contado como de efe-
Art. 113 Ao servidor investido em cargo de provimento
tivo exercício para todos os efeitos.
em comissão, salvo se servidor ocupante de cargo de provi-
mento efetivo, não será concedida licença-prêmio.
Capítulo VII
DAS CONCESSÕES
Capítulo VI
DOS AFASTAMENTOS
Art. 117 Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor au-
SEÇÃO I sentar-se do serviço:
DO AFASTAMENTO PARA SERVIR A OUTRO ÓRGÃO I - por 1 (um) dia por ano, para doação de sangue;
OU ENTIDADE II - por 1 (um) dia, para alistar-se como eleitor;
III - por 7 (sete) dias consecutivos em razão de:
Art. 114 O servidor ocupante de cargo de provimento a) casamento;
efetivo e que não esteja em período de estágio probatório, b) falecimento do cônjuge, companheiro(a), pais, pa-
poderá ser cedido para ter exercício em outro órgão ou enti- drasto, madrasta, filhos, enteados, menor sob guarda ou
tutela e irmãos.

111
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

IV - por 2 (dois) dias em razão de falecimento de avós prestadas anteriores ou posteriores a jornada normal de tra-
e netos; balho e as horas efetivamente trabalhadas nos feriados, sá-
V - por 1 (um) dia a cada trimestre para acompanhar bados e domingos, poderão, a critério do respectivo Poder,
filho menor de 17 (dezessete) anos e 11 (onze) meses e seus ser compensadas em sistema denominado Banco de Horas,
dependentes, comprovadamente, a atendimento médico e cuja data base deverá ser negociado com o representante
odontológico. da classe.
Parágrafo Único. Para a comprovação das situações des- § 1º Para efeito de operacionalização do disposto no
critas neste artigo, o servidor deverá apresentar atestado, “caput”, o período trabalhado como horas extraordinárias
declaração ou certidão, conforme o caso, no prazo máximo poderá ser acumulado até o limite de 40% (quarenta por
de 1 (um) dia útil após a ocorrência. cento) das horas efetivamente prestadas em um sistema de
banco de dados para posterior compensação.
Capítulo VIII § 2º A compensação deverá ser efetivada até o perío-
DO TEMPO DE SERVIÇO do de 03 (três) meses seguintes ao da realização das horas
extraordinárias, e não ocorrendo neste período, deverá ser
Art. 118 A apuração do tempo de serviço será feita em paga junto ao próximo vencimento do Servidor, nos termos
dias, que serão convertidos em anos, considerado o ano do art. 60 desta Lei.
como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias. § 3º A compensação referida no parágrafo anterior, den-
Art. 119 Além das ausências ao serviço previstas no art. tro do prazo de 3 (três) meses, será efetuada obedecendo o
117, são considerados como de efetivo exercício os afasta- critério estabelecido no art. 60 desta Lei.
mentos em virtude de: § 4º Na ocorrência das hipóteses previstas nos arts. 122
I - férias; a 124 sem que tenha ocorrido a compensação total das ho-
II - exercício de cargo de provimento em comissão ou ras, o servidor fará jus ao pagamento das horas não com-
equivalente em órgão ou entidade federal, estadual ou mu- pensadas, calculadas sobre o valor do vencimento do mês
nicipal, exceto para efeito de contagem para o estágio pro- da ocorrência e com os percentuais previstos no art. 60 des-
batório; ta Lei.
III - participação em programa de treinamento instituído
e autorizado pelo respectivo órgão ou repartição municipal;
IV - desempenho de mandato eletivo federal, estadual Capítulo X
ou municipal, exceto para as progressões funcionais e para DA VACÂNCIA
efeito de contagem para o estágio probatório;
V - júri e outros serviços obrigatórios por Lei; Art. 122 A vacância do cargo público decorrerá de:
VI - licença: I - exoneração;
a) para tratamento da própria saúde, até o limite de 24 II - aposentadoria;
(vinte e quatro) meses, cumulativo ao longo do tempo de III - falecimento.
serviço público prestado ao Município, em cargo de provi- § 1º No caso de aposentadoria, a vaga ocorrerá com a
mento efetivo; edição do ato que a conceder oficialmente ao servidor.
b) para o desempenho de mandato classista; § 2º No caso do servidor completar 70 (setenta) anos de
c) por motivo de acidente em serviço ou doença pro- idade, a vaga ocorrerá na data imediata ao aniversário, nos
fissional; termos do art. 40, inciso II, da Constituição Federal.
d) para capacitação, conforme dispuser regulamento Art. 123 A exoneração de cargo de provimento efetivo
específico; dar-se-á a pedido do servidor ou de ofício.
e) por convocação para o serviço militar; Parágrafo Único. A exoneração de ofício dar-se-á:
f) a gestante e a adotante; I - quando não satisfeitas as condições de desempenho
g) paternidade e adoção; do estágio probatório;
h) por motivo de doença em pessoa da família, até o II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar
limite de 90 (noventa) dias; em exercício no prazo estabelecido;
i) participação em competição desportiva ou evento cul- III - em decorrência de decisão irrecorrível de processo
tural ou educacional de caráter oficial. administrativo disciplinar.
VII - desempenho de mandato sindical. Art. 124 A exoneração de cargo de provimento em co-
Art. 120 É vedada a contagem cumulativa de tempo de missão dar-se-á:
serviço prestado concomitantemente em mais de um cargo I - a juízo da autoridade competente;
ou função de órgãos ou entidades dos Poderes da União, II - a pedido do próprio servidor.
Estados, Distrito Federal e Municípios.
Capítulo XI
Capítulo IX DA SUBSTITUIÇÃO
DO BANCO DE HORAS
Art. 125 Os servidores efetivos e estáveis designados
Art. 121 O servidor que prestar serviços a título de ho- para o desempenho de função de direção, chefia ou asses-
ras extraordinárias, assim definidas as horas efetivamente

112
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

soramento poderão ser substituídos por meio de ato oficial § 5º O abono pecuniário a que se refere o parágrafo
expedido pela autoridade máxima de cada Poder. anterior deverá ser solicitado até 30 (trinta) dias antes do
§ 1º O substituto assumirá o exercício das funções do início do período de gozo das férias, e seu pagamento ficará
cargo nos afastamentos, impedimentos legais ou regula- condicionado à decisão do Poder Público Municipal.
mentares do titular e na vacância do cargo, hipóteses em Art. 128 Perderá o direito a férias o servidor que, no pe-
que deverá optar pelo vencimento de um deles durante o ríodo aquisitivo, houver gozado licença a que se refere os
respectivo período. incisos III, IV e XI do art. 82 desta Lei.
§ 2º O substituto fará jus à retribuição pelo exercício do § 1º Perderá igualmente o direito a férias o servidor que
cargo, nos casos dos afastamentos, férias ou impedimentos tiver recebido benefícios previdenciários de acidente do tra-
legais do titular paga na proporção dos dias de efetiva subs- balho ou de auxílio doença por mais de 180 (cento e oitenta)
tituição. dias, mesmo descontínuos, no período aquisitivo.
§ 3º Em caso excepcional, atendida a conveniência e o § 2º Em qualquer caso, a contagem de novo período
interesse público, o titular de cargo de provimento em co- aquisitivo de férias será iniciada assim que o servidor retor-
missão ou função de direção ou chefia, poderá ser designa- nar ao serviço.
do, cumulativamente, como substituto para outro cargo ou Art. 129 O pagamento do adicional de que trata o art. 63
função da mesma natureza, até que se verifique a nomeação desta Lei será efetuado juntamente com as férias.
ou designação do titular, nesse caso, somente perceberá o Parágrafo Único. Além do pagamento da remuneração
vencimento correspondente a um dos cargos ou funções. total do servidor deverá ser acrescida a média aritmética das
horas extraordinárias efetivamente pagas durante o período
Capítulo XII aquisitivo das férias.
DAS FÉRIAS Art. 130 O servidor exonerado do cargo de provimento
efetivo ou de provimento em comissão, perceberá indeni-
Art. 126 Todo servidor terá direito ao gozo de 1 (um) zação relativa ao período das férias a que tiver direito e ao
período de férias anuais de 30 (trinta) dias, sem prejuízo de incompleto, na proporção de 1/12 (um doze avos) por mês
seus vencimentos. de efetivo exercício ou fração superior a 14 (quatorze) dias.
§ 1º O período de férias de que trata o “caput” deste Parágrafo Único. A indenização será calculada com base
artigo será concedido de acordo com escala organizada pela nos vencimentos do mês em que for publicado o ato de exo-
unidade que o servidor estiver lotado, com o adequado en- neração.
caminhamento ao setor de recursos humanos do respectivo Art. 131 As férias somente poderão ser interrompidas
Poder. por motivo de calamidade pública, comoção interna, convo-
§ 2º A escala de férias poderá ser alterada pela autorida- cação para júri, serviço militar ou eleitoral ou por necessida-
de competente, sempre que houver necessidade de serviço de imperiosa do serviço, declarada pela autoridade máxima
e atendido o interesse público, mediante prévia comunica- de cada Poder.
ção ao respectivo setor de recursos humanos. Parágrafo Único. O restante do período interrompido
Art. 127 Para a aquisição do direito ao gozo de férias se- será desfrutado de uma só vez.
rão exigidos 12 (doze) meses completos de efetivo exercício.
§ 1º As férias serão concedidas na seguinte proporção: TÍTULO IV
I - 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado DO REGIME DISCIPLINAR
sem justificativa ao serviço mais de 5 (cinco) vezes durante o
período aquisitivo; Capítulo I
II - 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver fal- DOS DEVERES
tado sem justificativa ao serviço mais de 6 (seis) vezes e até
14 (quatorze) vezes durante o período aquisitivo; Art. 132 São deveres do servidor:
III - 8 (dezoito) dias corridos, quando houver faltado sem I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
justificativa ao serviço mais de 15 (quinze) vezes e até 23 II - ser leal à instituição a que serve;
(vinte e três) vezes durante o período aquisitivo; III - observar as normas legais e regulamentares;
IV - 12 (doze) dias corridos, quando houver faltado in- IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando mani-
justificadamente ao serviço mais de 24 (vinte e quatro) vezes festamente ilegais;
e até 32 (trinta e duas) vezes durante o período aquisitivo. V - atender com presteza:
§ 2º Perderá o direito às férias anuais o servidor que a) às requisições para a defesa da Fazenda Pública;
houver faltado injustificadamente mais de 33 (trinta e três) b) à expedição de certidões requeridas para defesa de
vezes durante o período aquisitivo. direito ou esclarecimento de situações de interesse pessoal
§ 3º Para efeito da contagem das faltas ao serviço, nos que serão fornecidas no prazo máximo de até 15 (quinze)
termos dos parágrafos 1º e 2º deste artigo, serão considera- dias;
das apenas as faltas especificadas no art. 44 desta Lei. c) ao público em geral, prestando as informações reque-
§ 4º O servidor poderá solicitar a conversão de 1/3 (um ridas, ressalvadas as protegidas por sigilo;
terço) do período de férias a que tiver direito em abono pe- VI - levar ao conhecimento da autoridade superior as
cuniário, no valor da remuneração que lhe seria devida nos irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo;
dias correspondentes.

113
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VII - zelar pela economia do material e a conservação do Capítulo III


patrimônio público; DA ACUMULAÇÃO
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
IX - manter conduta compatível com a moralidade ad- Art. 134 Ressalvados os casos previstos no inciso XVI do
ministrativa; art. 37 da Constituição Federal, é vedada a acumulação re-
X - ser assíduo e pontual ao serviço; munerada de cargos públicos.
XI - tratar com urbanidade as pessoas; § 1º A proibição de acumular estende-se a cargos, em-
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em-
de poder. presas públicas, sociedades de economia mista, suas sub-
Parágrafo único - A representação de que trata o inciso sidiárias, e sociedades controladas direta ou indiretamente
XII será encaminhada através de via hierárquica e apreciada pelo Poder Público.
pela autoridade superior àquela contra a qual é formulada, § 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con-
assegurando-se ao representando o direito a ampla defesa. dicionada à:
I - comprovação da compatibilidade de horários, consi-
Capítulo II derando-se todos os seus componentes nos dois (02) car-
DAS PROIBIÇÕES gos;
II - comprovação da viabilidade de acesso aos locais de
Art. 133 Ao servidor é proibido: trabalho por meios normais de transporte;
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem III - existência de intervalo entre o término de uma jor-
prévia autorização do chefe imediato; nada e início da outra de, no mínimo, 1 (uma) hora.
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade compe- § 3º O intervalo constante do inciso III do parágrafo 2º
tente, qualquer documento ou objeto da repartição; poderá ser reduzido para, o mínimo de até 15 (quinze) mi-
III - recusar fé a documentos públicos; nutos quando os locais de trabalho forem situados próxi-
IV - opor resistência injustificada ao andamento de do- mos, ou no mesmo local, sempre a critério da autoridade
cumento e processo ou execução de serviço; competente e desde que não haja prejuízo para o serviço
V - promover manifestação de apreço ou desapreço no público municipal.
recinto da repartição; § 4º Além dos requisitos previstos no parágrafo 2º, ape-
VI - incumbir pessoa estranha à repartição, fora dos ca- nas será possível a acumulação de cargos cuja carga horária
sos previstos em Lei, o desempenho de atribuição que seja total máxima não exceda 70 (setenta) horas semanais, soma-
de sua responsabilidade ou de seu subordinado; das as duas (02) jornadas.
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filia- § 5º É vedada a percepção simultânea de proventos de
rem-se a associação profissional ou sindical ou a partido aposentadoria com a remuneração de cargo, emprego ou
político; função pública, ressalvados os cargos e empregos acumu-
VIII - manter, sob sua chefia imediata, em cargo de pro- láveis na forma do inciso XVI do art. 37 da Constituição Fe-
vimento em comissão ou exercício de função de direção, deral, os cargos eletivos e os cargos de provimento em co-
chefia ou assessoramento, cônjuge, companheiro (a), filhos missão declarados em Lei de livre nomeação e exoneração.
ou parentes até o segundo grau civil; Art. 135 É expressamente vedado o exercício de mais
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de um cargo de provimento em comissão junto ao serviço
de outrem, em detrimento da dignidade da função pública; público municipal.
X - participar de gerência ou administração de empresa Art. 136 O servidor vinculado ao regime desta Lei, que
privada, de sociedade civil, ou exercer o comércio, exceto na acumular licitamente 2 (dois) cargos de provimentos efeti-
qualidade de acionista, cotista ou comanditário, que mante- vos, quando investido em cargo de provimento em comis-
nha contratos com o Poder Público Municipal; são, ficará afastado de ambos os cargos efetivos.
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a Parágrafo Único. O servidor que se afastar dos cargos
repartições públicas municipais; de provimentos efetivo que ocupa poderá optar pela remu-
XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem neração de um deles ou pela do cargo de provimento em
de qualquer espécie, em razão de suas atribuições; comissão.
XIII - praticar usura sob qualquer de suas formas;
XIV - proceder de forma desidiosa; Capítulo IV
XV - utilizar pessoal ou recursos materiais do Poder Pú- DAS RESPONSABILIDADES
blico Municipal em serviços ou atividades particulares;
XVI - cometer a outro servidor atribuições estranhas Art. 137 O servidor responde civil, penal e administrati-
ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e vamente pelo exercício irregular de suas atribuições.
transitórias; Art. 138 A responsabilidade civil decorre de ato omissivo
XVII - exercer quaisquer atividades que sejam incompa- ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao
tíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário erário ou a terceiros.
de trabalho; § 1º A indenização de prejuízo dolosamente causado ao
XVIII - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quan- erário somente será liquidada na forma prevista no art. 48,
do solicitado.

114
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

na falta de outros bens que assegurem a execução do débito servidor não houver, nesse período, praticado nova infração
pela via judicial. disciplinar.
§ 2º Tratando-se de dano causado a terceiros, responde- Parágrafo Único. O cancelamento da penalidade não
rá o servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva. surtirá efeitos retroativos.
§ 3º A obrigação de reparar o dano estende-se aos su- Art. 148 A exoneração será aplicada nos seguintes casos:
cessores e contra eles será executada, até o limite do valor I - crime contra a administração pública;
da herança recebida. II - abandono de cargo;
Art. 139 A responsabilidade penal abrange os crimes e III - inassiduidade habitual;
contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade. IV - improbidade administrativa;
Art. 140 A responsabilidade civil-administrativa resulta V - incontinência pública e conduta escandalosa na re-
de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do partição;
cargo ou função. VI - insubordinação grave em serviço;
Art. 141 As sanções civis, penais e administrativas pode- VII - ofensa física, em serviço, a agente político, servidor
rão cumular-se, sendo independentes entre si. ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de ou-
Art. 142 A responsabilidade administrativa do servidor trem;
será afastada no caso de absolvição criminal que negue a VIII - aplicação irregular de dinheiro público;
existência do fato ou sua autoria. IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão
do cargo;
Capítulo V X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimô-
DAS PENALIDADES nio do Município;
XI - corrupção;
Art. 143 São penalidades disciplinares: XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções
I - advertência; públicas;
II - suspensão; XIII - transgressão dos incisos VIII, IX, X, XII e XIII do art.
III - exoneração; 133 desta Lei.
IV - cassação de disponibilidade; Art. 149 Detectada a qualquer tempo a acumulação ile-
V - destituição de cargo de provimento em comissão; gal de cargos, empregos e funções públicas, a autoridade
VI - destituição de exercício de função de direção, chefia competente notificará o servidor por intermédio de seu su-
ou assessoramento. perior imediato, para apresentar opção por um dos cargos
Art. 144 Na aplicação das penalidades serão considera- no prazo improrrogável de 10 (dez) dias, contados da data
das a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos da ciência.
que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias Parágrafo Único. Na hipótese de omissão do servidor,
agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais. o Poder Público Municipal adotará processo administrativo
Parágrafo Único. O ato de imposição da penalidade disciplinar para sua apuração.
mencionará sempre o fundamento legal e a causa da sanção Art. 150 Será cassada a disponibilidade do servidor que
disciplinar. houver praticado, na atividade, falta punível com a exone-
Art. 145 A advertência será aplicada por escrito, nos ca- ração.
sos de violação de proibição constante dos incisos I a VII e Art. 151 A destituição de ocupante de cargo de provi-
XVIII do art. 133 desta Lei e de inobservância de dever fun- mento em comissão exercido por não ocupante de cargo
cional previsto em Lei, regulamentação ou norma interna, efetivo será aplicada nos casos de infração sujeita às penali-
que não justifique imposição de penalidade mais grave. dades de exoneração.
Art. 146 A suspensão será aplicada sem vencimentos em Art. 152 A exoneração ou a destituição de ocupante de
caso de reincidência das faltas punidas com advertência por cargo de provimento em comissão, nos casos dos incisos
escrito e de violação das proibições constantes dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 148 desta Lei implica o ressarcimento
XI, XIV, XV, XVI e XVII do art. 133 desta Lei e de outras que ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível, bem como
não tipifiquem infração sujeita a penalidade de exoneração, da indisponibilidade dos bens determinada pela via judicial.
não podendo exceder, o período máximo de 30 (trinta) dias. Art. 153 Não poderá retornar ao serviço público munici-
§ 1º Será punido com suspensão de até 15 (quinze) dias pal o servidor que for exonerado ou destituído do cargo de
o servidor que, injustificadamente, recusar-se a ser submeti- provimento em comissão por infringência aos incisos I, IV,
do a inspeção médica, física, mental e psicológica, determi- VIII, X e XI do art. 148 desta Lei.
nada pela autoridade competente, cessando os efeitos da Art. 154 Configura abandono de cargo a ausência injus-
penalidade uma vez cumprida a determinação. tificada do servidor ao serviço por mais de 30 (trinta) dias
§ 2º Quando houver conveniência para o serviço, a pe- consecutivos.
nalidade de suspensão poderá ser convertida em multa, na Art. 155 Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao
base de 50% (cinquenta por cento) por dia da remuneração, serviço, sem causa justificada, por 60 (sessenta) dias, inter-
ficando o servidor obrigado a permanecer em serviço. poladamente, durante o período de 12 (doze) meses.
Art. 147 As penalidades de advertência e de suspensão Art. 156 Na apuração de abandono de cargo ou inassi-
terão seus registros cancelados após o decurso de 2 (dois) duidade habitual, também será adotado o processo admi-
e 4 (quatro) anos de efetivo exercício, respectivamente, se o nistrativo disciplinar previsto nesta Lei.

115
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 157 A competência para a aplicação das penalida- Capítulo VII


des disciplinares será estabelecida da seguinte forma: DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
I - de exoneração, cassação de disponibilidade ou sus- FUNCIONAL
pensão superior a 15 (quinze) dias, pela autoridade máxima
de cada Poder ou órgão; SEÇÃO I
II - de suspensão de até 15 (quinze) dias, ou advertência, DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
pelas autoridades administrativas de hierarquia imediata-
mente inferior àquelas mencionadas no inciso anterior e às SUBSEÇÃO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
quais o servidor esteja subordinado; e
III - de destituição de cargo em comissão, pela autorida-
Art. 160 A avaliação de desempenho será realizada pe-
de máxima de cada Poder ou órgão que o houver nomeado.
riodicamente, de acordo com os critérios constantes neste
Art. 158 São prescricionais os prazos para a instauração
Capítulo.
de processo administrativo disciplinar, da seguinte forma:
Art. 161 Os servidores ocupantes de cargos de provi-
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
mento efetivo submeter-se-ão a avaliação de desempenho
exoneração, cassação de disponibilidade e destituição de
funcional, obedecidos os princípios da legalidade, impes-
cargo de provimento em comissão;
soalidade, moralidade, publicidade, eficiência, do contradi-
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
tório, da ampla defesa e da supremacia do interesse público.
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.
Parágrafo Único. O setor competente do respectivo Po-
§ 1º O prazo de que trata o “caput” começa a correr da
der dará conhecimento prévio a seus servidores dos crité-
data em que o fato se tornou conhecido pela autoridade
rios, das normas e dos padrões a serem utilizados para a
competente para iniciar o processo administrativo discipli-
avaliação de desempenho de que trata esta Lei.
nar.
Art. 162 A avaliação de desempenho funcional será apli-
§ 2º Os prazos de prescrição previstos na legislação pe-
cada:
nal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também
I - para efeito de evolução funcional, nos termos desta
como crime.
Lei;
§ 3º A abertura de sindicância ou a instauração de pro-
II - indicador de necessidade de desenvolvimento e par-
cesso administrativo disciplinar interrompe a prescrição até
ticipação em programas de formação;
a decisão final proferida por autoridade competente.
III - para preservar a eficiência e a qualidade dos serviços
§ 4º Interrompido o curso da prescrição, o prazo come-
prestados pelo Poder Público.
çará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção.
Art. 163 O Sistema de Avaliação de Desempenho Fun-
cional proporciona a aferição do desempenho no exercício
Capítulo VI
do seu cargo de provimento efetivo, no seu ambiente de
DA CAPACITAÇÃO FUNCIONAL
trabalho durante um determinado período de tempo, me-
Art. 159 A capacitação funcional, objetivando o aprimo- diante a observação e mensuração de fatores disciplinares
ramento permanente e a progressão funcional, será asse- e de desempenho.
gurada através de cursos de formação, aperfeiçoamento ou Parágrafo Único. Cada fator terá seu padrão para efei-
especialização, em instituições credenciadas, de programas to de comparação e mensuração do desempenho, sendo
de aperfeiçoamento em serviço e de outras atividades de atribuídos pontos que somados identificarão a posição do
atualização profissional e de desenvolvimento funcional e servidor na avaliação.
pessoal, observados os programas prioritários. Art. 164 A coordenação geral do programa de avaliação
§ 1º Os cursos, programas e atividades que trata o de desempenho é de responsabilidade do órgão respon-
“caput” poderão ser desenvolvidos através de parcerias ou sável pelo setor de recursos humanos, que deverá fornecer
convênios com outras instituições de ensino e pesquisa. todo apoio material e técnico e programas de formação,
§ 2º Na elaboração de programa de capacitação funcio- necessários ao seu desenvolvimento, bem como dar o en-
nal, deverão ser levadas em consideração a situação funcio- caminhamento cabível às questões suscitadas a partir das
nal e a utilização de metodologias de ensino diversificadas, avaliações.
inclusive a educação à distância em suas diversas modali-
dades. SUBSEÇÃO II
DA AVALIAÇÃO DOS FATORES DISCIPLINARES

Art. 165 Na avaliação dos fatores disciplinares, o padrão


atribuído a cada servidor será de 100 (cem) pontos iniciais,
sendo descontado deste total o número de pontos, con-
forme a quantidade de ocorrências, correspondentes aos
apontamentos nos registros funcionais no período de ava-
liação, relativos aos seguintes fatores:
I - Pontualidade:
a) até 6 (seis) atrasos no período, 0 (zero) pontos;

116
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

b) de 7 (sete) a 12 (doze) atrasos no período, 6 (seis) c) responsabilidade;


pontos; d) cooperação;
c) de 13 (treze) a 18 (dezoito) atrasos no período, 8 (oito) e) interesse.
pontos; Art. 167 O conceito final de avaliação, conforme a soma
d) acima de 19 (dezenove) atrasos no período, 10 (dez) da pontuação obtida nos fatores disciplinares e de desem-
pontos. penho, será atribuída ao servidor na seguinte forma:
II - Assiduidade: I - Insatisfatório: de 100 (cem) a 300 (trezentos) pontos;
a) até 1 (uma) falta no período, 0 (zero) pontos; II - Regular: de 301 (trezentos e um) a 369 (trezentos e
b) de 2 (duas) a 3 (três) faltas no período, 4 (quatro) pon- sessenta e nove) pontos;
tos; III - Bom: de 370 (trezentos e setenta) a 430 (quatrocen-
c) de 4 (quatro) a 5 (cinco) faltas no período, 6 (seis) tos e trinta) pontos;
pontos; IV - Excelente: de 431 (quatrocentos e trinta e um) a 500
d) de 6 (seis) a 7 (sete) faltas no período, 8 (oito) pontos; (quinhentos) pontos.
e) acima de 8 (oito) faltas no período, 10 (dez) pontos. Art. 168 A soma das pontuações referentes aos fatores
III - Disciplina: disciplinares e de desempenho, referidos nos incisos I a IV
a) advertência, 50 (cinquenta) pontos por ocorrência no do artigo anterior, acrescidos da pontuação obtida pela par-
período; ticipação em cursos de formação, torna o servidor apto a
b) suspensão, 100 (cem) pontos por ocorrência no pe- concorrer à evolução funcional pela via não acadêmica, des-
ríodo. de que tenha conceito final “excelente” ou “bom”, sendo a
§ 1º Para efeito do inciso I do “caput”, considera-se atra- sua evolução dentro dos níveis referente ao seu cargo de
so a chegada ao local de trabalho após o período de 5 (cin- provimento efetivo constantes das tabelas de vencimento
co) minutos do horário previsto para o início da jornada de da legislação própria.
trabalho. § 1º Os fatores de avaliação a que se refere o “caput”
§ 2º Para efeito do inciso II do “caput”, considera-se falta serão aplicados e ponderados nos termos e fatores descri-
o não comparecimento ao local de trabalho e que enseje o tos nos arts. 165 e 166, com base em valores universais de
desconto pecuniário, nos termos dos arts. 42 e segs. desta produtividade, de qualidade, de urbanidade no trabalho e
Lei. especificamente em conformidade com as características
§ 3º Não serão consideradas como faltas para efeito do das atividades exercidas, com as competências do órgão a
inciso II do “caput”, as situações previstas no art. 46 desta Lei. que esteja vinculado.
§ 4º A pontuação final será o resultado da soma das § 2º Será considerado insuficiente o desempenho apu-
ocorrências subtraído do padrão atribuído, desprezando-se rado em avaliação que comprove o desatendimento, de for-
o resultado inferior a 0 (zero). ma habitual, de qualquer dos requisitos previstos naquele
dispositivo.
SUBSEÇÃO III Art. 169 A totalização dos pontos será de responsabili-
DA AVALIAÇÃO DOS FATORES DE DESEMPENHO dade da Comissão de Avaliação de Desempenho, devendo
ser obtida a partir da somatória após a multiplicação dos
Art. 166 A avaliação dos fatores de desempenho, me- graus pelos pesos.
diante a aplicação de questionários e atribuição pelo avalia-
dor de pontos que variam de 1 (um) a 4 (quatro) em respos- SUBSEÇÃO IV
ta às questões dirigidas, visa medir, em determinado perío- DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ANUAL DE
do de tempo, a conduta e o grau de comprometimento do DESEMPENHO
servidor no exercício do seu cargo de provimento efetivo.
Parágrafo Único. Na avaliação dos fatores de desempe- Art. 170 A avaliação dos critérios de desempenho, me-
nho, os pontos atribuídos para cada um dos fatores, serão diante a aplicação de questionários e atribuição pelo avalia-
multiplicados pelo seu peso, sendo que a soma dos pesos dor de graus que variam de 1 (um) a 4 (quatro), em resposta
não excederá a 100 (cem), conforme o grupo de cargos às questões dirigidas, visa medir, em determinado período
constantes da legislação própria, a saber: de tempo, a conduta e o grau de comprometimento do ser-
I - cumprimento das normas de procedimento e de con- vidor no exercício do seu cargo efetivo.
duta no desempenho das atribuições do cargo; § 1º Os graus dos fatores de cada critério subjetivo de
a) qualidade do trabalho; desempenho deverão obedecer a um padrão de classifica-
b) flexibilidade; ção dos comportamentos verificáveis e sua descrição será
c) iniciativa; adaptada para o respectivo fator.
d) produtividade; § 2º Todos os fatores de cada critério utilizados no pro-
e) economia. cesso de avaliação de desempenho, estarão graduados en-
II - produtividade no trabalho, com base em padrões tre o grau 1 (um) e o grau 4 (quatro), a saber:
previamente estabelecidos de qualidade e de economicida- I - Grau 1: o servidor neste fator apresenta desempenho
de; incompatível com as necessidades dos trabalhos;
a) disciplina no trabalho; II - Grau 2: o servidor neste fator apresenta um com-
b) respeito; portamento aceitável segundo às expectativas para o seu

117
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

desempenho, sendo-lhe necessárias algumas medidas de § 3º O membro indicado ou respaldado pelos servidores
aprimoramento; avaliados terá direito a voz e não a voto nas reuniões delibe-
III - Grau 3: o servidor neste fator atingiu o desempenho rativas da comissão a que se refere o “caput”.
esperado para o cargo; § 4º Caso a pasta a que o servidor esteja vinculado não
IV - Grau 4: o servidor neste fator excedeu ao desempe- possua servidores que preencham os requisitos estabeleci-
nho esperado para o cargo. dos no “caput” poderão ser nomeados servidores de outras
Art. 171 Os fatores dos critérios de desempenho serão unidades administrativas.
descritos nas fichas de avaliação de desempenho com o ob- Art. 175 Fica assegurado o direito ao servidor cujo de-
jetivo de indicar os vários tipos de comportamentos de cada sempenho será avaliado, o acompanhamento do preenchi-
agrupamento de cargos de servidores. mento de sua avaliação quanto aos critérios estabelecidos
Art. 172 Serão as fichas de avaliação de desempenho no art. 166.
constituídas por questões relacionadas aos fatores descritos § 1º O preenchimento da ficha de avaliação de desem-
no parágrafo único do art. 166, que deverão ser analisados penho, para apuração dos critérios previstos, será realizado
no desempenho de cada servidor. pela chefia imediata e, obrigatoriamente, assegurada a pre-
Parágrafo Único. Na avaliação dos fatores dos critérios sença do servidor cujo desempenho está sendo avaliado.
de desempenho, os graus atribuídos para cada um dos fa- § 2º No preenchimento da ficha de avaliação de desem-
tores, serão multiplicados pelo seu peso, sendo que a soma penho, o servidor avaliado poderá registrar as suas observa-
dos pesos não excederá a 100 (cem). ções em campo especifico.
Art. 173 Ato próprio de cada Poder instituirá a Ficha para § 3º Após o preenchimento, a ficha de avaliação de
Avaliação de Desempenho Funcional a que alude esta Seção. desempenho deverá ser encaminhada para a Comissão de
Avaliação de Desempenho para sua análise, validação e to-
SEÇÃO II talização.
DO PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
FUNCIONAL § 4º Após a totalização da avaliação, será intimado o in-
teressado para exercício do direito de recurso, no prazo de 5
Art. 174 A avaliação anual de desempenho será reali- (cinco) dias, dirigido ao Secretário Municipal de Administra-
zada por comissão, denominada Comissão de Avaliação de ção através da Comissão de Avaliação de Desempenho, que
Desempenho, composta por 5 (cinco) servidores: será decidido no prazo de 10 (dez) dias.
I - 3 (três) deles, ocupantes de cargos de provimento § 5º Homologada a avaliação pelo Chefe do respectivo
efetivo com, no mínimo, 03 (três) anos de exercício; Poder, os autos serão remetidos ao setor de recursos huma-
II - chefe imediato ao qual esteja o servidor vinculado; nos para o competente registro.
III - 1 (um) servidor cuja indicação será efetuada pelo § 6º Caberá representação ao Chefe do respectivo Poder
Sindicato dos Servidores Públicos Municipais ou respaldada acerca de qualquer matéria que não caiba recurso.
no prazo máximo de 5 (cinco) dias, por manifestação expres- § 7º O recurso que trata este artigo não trará prejuízo
sa dos servidores avaliados. aos prazos previstos nesta Lei.
§ 1º Qualquer servidor que atenda as exigências estabe- Art. 176 O resultado da avaliação de desempenho anual
lecidas no “caput” poderá ser nomeado. será motivado exclusivamente com base na aferição dos cri-
§ 2º A comissão de que trata este artigo tem como fun- térios previstos nesta Lei, sendo obrigatória a indicação dos
ções: fatos, das circunstâncias e dos demais elementos de convic-
I - validar as avaliações de desempenho realizadas pela ção no termo final de avaliação, inclusive, quando for o caso,
chefia imediata ou por servidor designado como avaliador; o relatório relativo ao colhimento de provas testemunhais e
II - recepcionar, protocolar, distribuir, se necessário, e documentais.
julgar os recursos administrativos dos servidores; Parágrafo Único. É assegurado ao servidor o direito de
III - revisar as fichas de avaliação de desempenho, ade- acompanhar todos os atos de instrução do procedimento
quando para melhor atender às necessidades do processo que tenha por objeto a avaliação de seu desempenho.
de avaliação; Art. 177 O resultado e os instrumentos de avaliação, a
IV - revisar o preenchimento das fichas de avaliação de indicação dos elementos de convicção e de prova dos fatos
desempenho, retornando-as ao avaliador, caso alguma dú- narrados na avaliação, os recursos interpostos, bem como
vida seja suscitada, com o objetivo de evitar erros ou enga- as metodologias e os critérios utilizados na avaliação serão
nos na avaliação; arquivados na pasta ou base de dados individual, permitida
V - emitir parecer sobre o resultado das avaliações de a consulta pelo servidor a qualquer tempo.
desempenho;
VI - indicar os programas de desenvolvimento, forma- SEÇÃO III
ção e de acompanhamento sócio-funcional, com o objetivo DA CAPACITAÇÃO FUNCIONAL DO SERVIDOR COM
de aprimorar o desempenho dos servidores, melhorando DESEMPENHO INSUFICIENTE
assim a eficiência e a produtividade do trabalho;
VII - participar do processo de acompanhamento dos
servidores considerados com baixo desempenho. Art. 178 O termo de avaliação anual indicará as medidas
de correção necessárias, em especial as destinadas a promo-

118
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

ver a capacitação funcional ou desenvolvimento do servidor Parágrafo Único. Quando o fato narrado não configurar
avaliado. evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será
Art. 179 O termo de avaliação obrigatoriamente relatará arquivada, por falta de objeto.
os pontos indicados para melhoria identificados no desem-
penho do servidor, considerados os critérios de avaliação
previstos. Capítulo II
Art. 180 As necessidades de capacitação funcional ou DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
desenvolvimento do servidor cujo desempenho tenha sido
considerado insuficiente serão priorizadas no planejamento Art. 187 (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011)
de programa de capacitação funcional do respectivo Poder. Parágrafo Único. (VETADO)
Art. 187 A - Como medida cautelar, no curso da apu-
SEÇÃO IV ração da irregularidade, a autoridade instauradora do pro-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS cesso administrativo disciplinar poderá determinar o afasta-
mento do servidor pelo prazo não superior a 60 (sessenta)
Art. 181 As pontuações obtidas serão divulgadas no pra- dias, caso tal ato se mostre conveniente à instrução do feito
zo máximo de 30 (trinta) dias após o término do procedi- ou à ordem do serviço público.
mento da avaliação de desempenho. Parágrafo Único. O servidor que venha a ser afastado
Parágrafo Único. As dúvidas suscitadas serão respon- preventivamente perderá 2/3 (dois terços) de seus ven-
didas pela Comissão de Avaliação de Desempenho e pelo cimento, que lhe serão restituídos em caso de reconheci-
setor de recursos humanos, cabendo recurso nos termos do mento de sua inocência ou de aplicação de penalidade que
parágrafo 4º do art. 175. seja inferior ao prazo pelo qual teve vigor a media. (Redação
Art. 182 Os servidores serão avaliados a cada período de acrescida pela Lei Complementar nº 198/2011)
12 (doze) meses e poderão obter a evolução funcional, nos
termos desta Lei. Capítulo III
Parágrafo Único. (VETADO) DA SINDICÂNCIA
Art. 183 Para um acompanhamento efetivo por parte
do avaliador e do servidor avaliado durante todo o período Art. 188 A sindicância é o instrumento administrativo
compreendido entre uma avaliação e a próxima, deverá ser voltado à averiguação de fatos que evidenciem conduta fun-
utilizado instrumento de acompanhamento que deverá indi- cional irregular, destinado à identificação de indícios quanto
car os problemas relacionados ao desempenho, as soluções à autoria e à materialidade da conduta faltosa.
adotadas e as medidas necessárias para o aprimoramento Parágrafo Único. A autoridade competente dispensará a
do desempenho do servidor avaliado, além de permitir ano- sindicância quando do expediente constar indícios suficien-
tações sobre eventuais ocorrências que possam interferir no tes quanto à autoria e materialidade da infração.
desempenho. Art. 189 A sindicância será processada por comissão
Art. 184 O servidor avaliado deverá realizar uma análise permanente, composta por no mínimo 03 (três) servidores
de sua participação no processo de avaliação de desempe- de ilibada reputação moral e funcional, designados pela au-
nho, onde serão apontados aspectos positivos e indicados toridade competente, sempre em número ímpar.
para melhoria em seu comportamento que afetem o desem- § 1º A autoridade designará os servidores suplentes que
penho e também os fatores externos que possam afetar o assumirão nos casos de impedimento dos titulares, observa-
desempenho, assim como a indicação das medidas de cor- do o disposto no “caput” e parágrafo 1º deste artigo.
reção necessárias. § 2º São impedidos de participar de comissão de sin-
dicância ou do processo administrativo disciplinar, cônju-
TÍTULO V ge, companheiro ou parente do acusado, consanguíneo ou
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau.
Art. 190 Da sindicância poderá resultar:
Capítulo I I - arquivamento do processo;
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS II - instauração de processo administrativo disciplinar.
Parágrafo Único. O prazo para conclusão da sindicân-
Art. 185 A autoridade que tiver ciência de irregularidade cia não excederá 60 (sessenta) dias, a contar da instauração,
no serviço público é obrigada a promover a sua apuração podendo ser prorrogado por até igual período, a critério da
imediata, mediante sindicância ou processo administrativo autoridade competente.
disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa. Art. 191 Na hipótese de o relatório da sindicância con-
Parágrafo Único. O setor competente de cada Poder de- cluir que a infração está capitulada como possível ilícito pe-
verá supervisionar e fiscalizar o cumprimento do disposto no nal, a autoridade competente encaminhará cópia dos autos
“caput” deste artigo. ao Ministério Público, independentemente da imediata ins-
Art. 186 As denúncias sobre irregularidades serão ob- tauração do processo administrativo disciplinar.
jeto de apuração, desde que contenham a identificação do Art. 192 Poderá a comissão sindicante concluir por in-
denunciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a fração diversa daquela definida no ato de instauração e/ou
autenticidade. imputar ao sindicado outras infrações, além da originária.

119
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Parágrafo Único. O disposto no “caput” deste artigo Art. 200 Os autos da sindicância integrarão o processo
aplica-se ao processo administrativo disciplinar, desde que, administrativo disciplinar, como peça informativa da instru-
para tanto, seja dada ao acusado a oportunidade do con- ção.
traditório e ampla defesa quanto ao fato novo, emergente Art. 201 Na fase de instrução, a comissão promoverá,
das provas. de ofício ou a requerimento do acusado, os seguintes atos:
I - tomada de depoimentos;
Capítulo IV II - acareações;
DO PROCEDIMENTO NO PROCESSO DISCIPLINAR III - investigações;
IV - perícia;
Art. 193 O processo administrativo disciplinar é o instru- V - demais diligências cabíveis, objetivando a coleta de
mento destinado a apurar responsabilidade de servidor por prova.
possível infração praticada no exercício de suas atribuições, Art. 202 É assegurado ao acusado o direito de acom-
ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que panhar o processo pessoalmente ou por intermédio de seu
se encontre investido. defensor, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e
Art. 194 Do ato que instaurar processo administrativo contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova
disciplinar necessariamente constarão os seguintes elemen- pericial.
tos: § 1º O presidente da comissão poderá denegar pedidos
I - qualificação do servidor-acusado; considerados impertinentes, meramente protelatórios, ou
II - descrição pormenorizada da conduta; de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
III - descrição das disposições legais infringidas, consig- § 2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quando
nando expressamente as agravantes que sejam imputadas a comprovação do fato independer de conhecimento espe-
ao acusado; cial de perito.
IV - pena máxima prevista para a infração. Art. 203 No ato do interrogatório, o acusado será nova-
Art. 195 O processo administrativo disciplinar será re- mente informado a respeito da acusação que lhe é formu-
metido a comissão permanente, composta por no mínimo lada.
03 (três) servidores de ilibada reputação moral e funcional, Art. 204 No caso de mais de um acusado, cada um deles
designados pela autoridade competente, sempre em núme- será ouvido separadamente, e sempre que divergirem em
ro ímpar. suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será promo-
Art. 196 A comissão permanente exercerá suas ativida- vida a acareação entre eles.
des com independência e imparcialidade, assegurado o sigi- Art. 205 Quando houver dúvida sobre a sanidade mental
lo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse do acusado, a comissão proporá à autoridade competente
do serviço público local. que ele seja submetido a exame por junta médica oficial, da
Parágrafo Único. As reuniões e as audiências da comis- qual participe pelo menos um (01) médico psiquiatra.
são permanente terão caráter reservado. Parágrafo Único. O incidente de sanidade mental será
Art. 197 O processo administrativo disciplinar se desen- processado em auto apartado e apenso ao processo princi-
volve nas seguintes fases: pal, após a expedição do laudo pericial.
I - instauração; Art. 206 O acusado que mudar de residência fica obri-
II - interrogatório do acusado, no qual este poderá apre- gado a comunicar à comissão o lugar onde poderá ser en-
sentar requerimento de produção de provas; contrado.
III - instrução; Art. 207 Achando-se o acusado em lugar incerto e não
IV - defesa; sabido, será citado por edital, publicado na forma da legisla-
V - relatório; ção vigente, para apresentar defesa.
VI - julgamento. Parágrafo Único. Na hipótese prevista no “caput” deste
Art 198 O prazo para a conclusão do processo admi- artigo, o prazo para defesa será de 15 (quinze) dias a contar
nistrativo disciplinar não excederá 90 (noventa) dias, conta- da data da publicação do edital.
dos da data de publicação do ato que instaurar o processo, Art. 208 Considerar-se-á revel o acusado que, regular-
admitida a sua prorrogação por igual prazo, quando as cir- mente citado, deixar de comparecer ao interrogatório ou de
cunstâncias o exigirem. apresentar defesa no prazo legal.
Parágrafo Único. As reuniões serão registradas em atas Parágrafo Único. A revelia será declarada, por termo, nos
que deverão detalhar as deliberações adotadas. autos do processo.
Art. 209 Interrogado o acusado ser-lhe-á concedido o
Capítulo V prazo de 5 (cinco) dias, a contar da data da intimação, para
DA INSTRUÇÃO NOS PROCEDIMENTOS apresentar defesa prévia e rol de testemunhas, que não ul-
DISCIPLINARES trapassará o número de 3 (três) e requerer diligências.
§ 1º A intimação será dispensada quando a defesa pré-
Art. 199 A instrução obedecerá ao princípio do contradi- via for oferecida logo após o término do interrogatório.
tório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a utilização § 2º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo do-
dos meios e recursos admitidos em direito. bro, para diligências reputadas indispensáveis.

120
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 3º No caso de recusa do acusado em apor o ciente na Art. 218 Após o relatório da comissão, o processo será
cópia da intimação, o prazo para defesa contar-se-á da data remetido à autoridade competente para o julgamento, que
declarada, em termo próprio, pelo servidor responsável pelo poderá solicitar a análise jurídica ao setor competente.
ato, com a assinatura de 2 (duas) testemunhas. Parágrafo Único. A atuação do setor jurídico limitar-se-á
Art. 210 O defensor do acusado poderá assistir ao inter- à apreciação das questões formais do processo.
rogatório, bem como à inquirição das testemunhas, sendo-
-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas, facultando- Capítulo VI
-se-lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio do presidente DO JULGAMENTO NOS PROCEDIMENTOS
da comissão. DISCIPLINARES
Art. 211 O acusado será intimado com antecedência
mínima de 2 (dois) dias para, querendo, acompanhar, em Art. 219 No prazo de 20 (vinte) dias, contados do rece-
audiência, a produção das provas. bimento do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua
Art. 212 Quando depositar o rol de suas testemunhas, decisão.
caberá ao acusado indicar sua qualificação completa, men- § 1º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da
cionando, ainda, em qual repartição o servidor público está autoridade instauradora do processo, este será encaminha-
lotado. do à autoridade competente, que decidirá em igual prazo.
Parágrafo Único. Se a testemunha for servidor público, § 2º Havendo mais de um acusado e diversidade de san-
será expedido ofício solicitando o seu comparecimento ao ções, o julgamento caberá à autoridade competente para a
chefe da repartição onde serve, com a indicação do local, dia imposição da pena mais grave.
e hora marcados para inquirição. § 3º Se a penalidade prevista for a exoneração ou cas-
Art. 213 As testemunhas arroladas serão chamadas a de- sação de disponibilidade, o julgamento caberá ao Chefe do
por mediante intimação expedida pelo presidente da comis- respectivo Poder, conforme o caso.
são, a ser encaminhada ao endereço fornecido pelo acusa- Art. 220 Quando o relatório da comissão permanente
do, devendo a segunda via, com o ciente da testemunha, ser contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora po-
anexado aos autos, podendo, ainda, comparecer à audiência derá, motivadamente, adotar conclusão diversa da apresen-
independentemente de intimação ou serem intimidas por tada.
carta, telegrama ou pessoalmente. Art. 221 Verificada a ocorrência de vício insanável, a au-
§ 1º Expedida a comunicação, nos termos do “caput” toridade que determinou a instauração do processo ou ou-
deste artigo, e ao endereço constante da indicação forne- tra de hierarquia superior declarará a sua nulidade, total ou
cida pelo acusado, o não comparecimento de testemunha parcial, e ordenará, no mesmo ato, a instauração de novo
não implicará adiamento de qualquer ato processual. processo.
§ 2º Cabe ao acusado ou seu defensor diligenciar junto § 1º O julgamento fora do prazo legal não implica nuli-
aos autos do processo administrativo e, verificando que não dade do processo.
produziu os efeitos a comunicação expedida a qualquer de § 2º Caso entenda a autoridade que servidor designado
suas testemunhas, providenciar sua substituição ou ainda a para a comissão permanente concorreu, de modo doloso
indicação de novo endereço para expedição de nova comu- ou culposo, para a ocorrência da nulidade, deverá designar
nicação, com prazo de no mínimo 05 (cinco) dias anteriores outros servidores para se responsabilizarem pelo processo,
à audiência, sob pena de preclusão. sem prejuízo das demais cominações legais.
Art. 214 Serão convidadas a depor, mediante ofício, com
a possibilidade de indicar dia, hora e local para a realização Capítulo VII
do ato, as seguintes autoridades: DA REVISÃO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
I - Vereador; DISCIPLINAR
II - Secretário;
Art. 222 O processo administrativo disciplinar poderá ser
III - Outras autoridades a quem, por determinação legal,
revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se
seja dispensado o mesmo tratamento.
aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justifi-
Art. 215 O depoimento será prestado oralmente e re-
car a inocência do punido ou a inadequação da penalidade
duzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por
aplicada.
escrito.
Parágrafo Único. Em caso de falecimento, ausência ou
§ 1º As testemunhas serão inquiridas separadamente.
desaparecimento do servidor, qualquer pessoa que tenha
§ 2º Na hipótese de depoimentos contraditórios ou que
interesse legítimo poderá requerer a revisão do processo.
se infirmem, proceder-se-á a acareação entre os depoentes.
Art. 223 A simples alegação de injustiça da penalidade
Art. 216 Finda a instrução, será ouvida a defesa em ale-
não constitui fundamento para a revisão, que requer ele-
gações finais, no prazo de 10 (dez) dias.
mentos novos expressamente consignados na petição.
Art. 217 Apreciada a defesa, a comissão permanente
§ 1º No processo revisional, o ônus da prova cabe ao
elaborará relatório minucioso, onde resumirá as peças prin-
requerente.
cipais dos autos e mencionará as provas em que se baseou
§ 2º Não será processado o requerimento de revisão
para formar a sua convicção.
que verse sobre fatos anteriormente apreciados em proces-
Parágrafo Único. O relatório será sempre conclusivo
so revisional.
quanto à inocência ou à responsabilidade do acusado.

121
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 224 A revisão correrá em apenso ao processo ori- § 2º Aplica-se o disposto nesta Lei, no que couber, aos
ginário. cargos públicos de provimento em comissão, ligados à car-
Art. 225 A revisão não será remetida aos mesmos servi- reira dos Profissionais da Educação.
dores que conduziram o processo originário, sendo desig- Art. 232 Os cargos de carreira dos Profissionais da Edu-
nada uma comissão revisora para cada caso, mediante ato cação são acessíveis a todos os brasileiros que preencham
do Chefe de cada Poder. os requisitos estabelecidos em Lei.
Art. 226 A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para Art. 233 O exercício dos cargos da carreira dos Profissio-
a conclusão dos trabalhos. nais da Educação exige não só conhecimentos específicos,
Art. 227 Aplica-se aos trabalhos da comissão revisora, adquiridos e mantidos por meio de estudos contínuos, mas
no que couber, as normas e procedimentos próprios da co- também responsabilidades pessoais e coletivas para com a
missão permanente. Educação e o bem-estar dos educandos e da comunidade.
Art. 228 O julgamento caberá à autoridade que aplicou Art. 234 Este estatuto tem como princípios o disposto
a pena ou à autoridade instauradora. no art. 206 da Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e
Parágrafo Único. O prazo para julgamento será de 30 Bases da Educação Nacional, e também ao seguinte:
(trinta) dias, contados do recebimento do processo, no curso I - a gestão democrática da educação;
do qual a autoridade julgadora poderá determinar diligên- II - o aprimoramento da qualidade do ensino público no
cias. Município de Suzano;
Art. 229 Julgada procedente a revisão, será declarada III - a valorização dos Profissionais da Educação;
sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos IV - a escola gratuita e de qualidade para todos.
os direitos do servidor. Art. 235 A gestão democrática da educação consistirá na
Parágrafo Único. Da revisão do processo não poderá re- participação das comunidades internas e externas, na forma
sultar agravamento de penalidade. colegiada e representativa, observada em qualquer caso a
legislação pertinente.
Art. 236 O ensino público municipal deverá garantir à
TÍTULO VI criança, ao adolescente, ao jovem e ao adulto:
DASEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR I - a aprendizagem integrada e abrangente objetivando:
a) superar a fragmentação das várias áreas do conheci-
Capítulo Único mento, observando as especificidades de cada modalidade
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
e nível de ensino;
b) propiciar ao educando o saber organizado, para que
Art. 230 Os servidores públicos municipais ocupantes
possa reconhecer-se como agente do processo de constru-
de cargo de provimento efetivo, regulados pelas disposi-
ção do conhecimento e transformação das relações huma-
ções contidas nesta Lei, serão segurados do RGPS, até a im-
nas.
plantação do Regime Próprio da Previdência do Servidor do
II - o preparo do educando para o exercício consciente
Município de Suzano, nos termos do art. 40 da Constituição
da cidadania e no seu processo de humanização;
Federal e legislação regulamentadora e complementar.
III - a garantia de igualdade de tratamento, sem discri-
Parágrafo Único. Os Servidores Públicos Municipais
minação de qualquer espécie;
ocupantes de cargo de provimento em comissão, regulados
IV - a garantia do direito de organização e representa-
pelas disposições contidas nesta Lei, são segurados obriga-
ção estudantil no âmbito do Município.
tórios do RGPS.
Art. 237 A valorização dos Profissionais da Educação
PARTE ESPECIAL será assegurada por meio de:
LIVRO I I - formação permanente e sistemática de todos os ser-
DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO vidores do Quadro de Pessoal dos Profissionais da Educa-
ção, promovida pela Secretaria Municipal de Educação;
TÍTULO I II - condições dignas de trabalho para os Profissionais
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES da Educação;
III - perspectivas de progressão na carreira de forma or-
Art. 231 Os Profissionais da Educação do Município de ganizada por meio de Plano de Carreira e Vencimento dos
Suzano, que ocupam cargos efetivos ou de comissão, além Profissionais da Educação;
das disposições contidas nesta Lei, ainda estão sujeitos a IV - realização periódica de concurso público;
disposições específicas da categoria. V - exercício de todos os direitos e vantagens compatí-
§ 1º Para efeitos da presente Lei, Profissionais da Edu- veis com as atribuições e responsabilidades dos Profissionais
cação são todos os servidores integrantes do Quadro de da Educação;
Pessoal da Secretaria Municipal de Educação nos termos da VI - apuração e punição dos envolvidos em casos de
legislação própria. assédio moral nos termos da legislação vigente;
VII - exercício do direito de greve, nos termos da Lei.

122
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Capítulo III
TÍTULO II DO PROVIMENTO
DOS ATOS PARA O INGRESSO NO SERVIÇO PÚBLICO
SEÇÃO I
Capítulo I DAS FORMAS DE PROVIMENTO
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 243 São formas de provimento de cargo da carreira
Art. 238 São requisitos básicos para investidura em car- dos Profissionais da Educação:
go da carreira dos Profissionais da Educação os constantes I - nomeação;
do art. 8º desta Lei e também: II - readaptação;
I - o nível de escolaridade, capacitação e, se for o caso, III - reversão;
habilitação profissional para o exercício das atribuições ine- IV - reintegração;
rentes do cargo exigidas em Lei; V - aproveitamento;
II - a aptidão física e mental, nos termos do art. 15 desta VI - remoção.
Lei;
III - o atendimento às condições específicas e especiais,
que porventura exista, estabelecidas em Lei. SUBSEÇÃO I
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência DA NOMEAÇÃO
de outros requisitos estabelecidos em Lei.
§ 2º Às pessoas com deficiência é assegurado o direi- Art. 244 A nomeação para os cargos da carreira dos Pro-
to de se inscrever em concurso público para investidura em fissionais da Educação será:
cargo público cujas atribuições sejam compatíveis, nos ter- I - em caráter efetivo;
mos da legislação própria. II - em comissão, para cargos de livre nomeação e exo-
§ 3º A investidura nos cargos da carreira dos (as) Profis- neração.
sionais da Educação ocorrerá com a posse. Art. 245 A nomeação para cargo de provimento efetivo
Art. 239 O provimento dos cargos da carreira dos Pro- da carreira dos Profissionais da Educação depende de prévia
fissionais da Educação será por meio de ato do Chefe do aprovação em concurso público de provas e títulos, obede-
Poder Executivo. cido em qualquer caso, a ordem de classificação e os termos
da legislação própria.
Parágrafo Único. Os demais requisitos para o ingresso e
Capítulo II o desenvolvimento do servidor na carreira, serão estabele-
DO CONCURSO PÚBLICO cidos pela Lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira e
vencimento dos Profissionais da Educação.
Art. 240 O concurso público para os cargos da carreira
dos Profissionais da Educação será de provas e títulos, po-
dendo ser realizado em duas (02) etapas, conforme dispuser SUBSEÇÃO II
a Lei que fixa as diretrizes do sistema de carreira e vencimen- DA LOTAÇÃO
to dos Profissionais da Educação do Município de Suzano.
Art. 241 Aplica-se aos concursos públicos para os cargos Art. 246 A lotação é o número de servidores que devem
da carreira dos Profissionais da Educação as normas gerais ter exercício em cada órgão ou unidade responsável pelo
de concursos públicos estabelecidas pela legislação perti- desempenho das atividades vinculadas à educação formal
nente. no Município.
Parágrafo Único. Os concursos públicos para os cargos Art. 247 O número de servidores lotados em cada uma
da carreira dos Profissionais da Educação serão realizados, das unidades escolares será o designado pela Secretaria
obrigatoriamente, quando: Municipal de Educação.
I - o percentual dos cargos vagos atingir 5% (cinco por Art. 248 Caberá aos Coordenadores Educacionais orga-
cento) do total de cargos; nizar e compatibilizar horários dos turnos de funcionamento,
II - não houver aprovados e classificados excedentes de visando ao cumprimento da proposta educacional da res-
concurso anterior para a carreira com prazo de validade em pectiva pasta, de acordo com o plano de lotação aprovado.
vigor. § 1º A atribuição de sedes aos servidores não docentes
Art. 242 O edital do concurso público estabelecerá os far-se-á de acordo com os seguintes critérios:
requisitos a serem cumpridos pelos candidatos com base no I - aferição do tempo de serviço, por meio da conversão
disposto no artigo anterior. em pontos do tempo de efetivo exercício na Rede Municipal
Pública de Ensino;
II - aferição da conclusão de graduação na área da edu-
cação, por meio da conversão em pontos da respectiva con-
clusão;
III - combinação das razões tempo e títulos descritas nos
incisos I e II deste artigo.

123
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 2º Havendo a necessidade excepcional de remaneja- SUBSEÇÃO VII


mento de servidores à outras unidades escolares, por moti- DA REMOÇÃO
vos emergenciais e de reorganização, à Secretaria Municipal
de Educação é reservado o direito de transferir temporaria- Art. 254 Remoção é o deslocamento do servidor da
mente o servidor, seguindo os seguintes critérios: carreira dos Profissionais da Educação de sua lotação para
I - servidor lotado em unidade escolar mais próxima da outra.
unidade escolar com necessidade; Art. 255 A remoção se faz anualmente, a pedido, obe-
II - menor tempo de serviço na Rede Municipal Pública decendo uma ordem de classificação, efetuada por meio do
de Ensino; exposto nos incisos I, II e III do § 1º do art. 248 e incisos I, II,
III - local de residência do servidor; III e IV do art. 305, durante o último trimestre de cada ano
IV - servidor não estudante; ou em outro período, nos casos excepcionais, a critério da
V - menor número de filhos; Secretaria Municipal de Educação.
VI - menor idade. Parágrafo Único. O processo de remoção precederá aos
concursos públicos para ingresso na carreira dos Profissio-
SUBSEÇÃO III nais da Educação em cargos equivalentes.
DA READAPTAÇÃO Art. 256 A remoção a pedido se processa por meio de
requerimento do interessado à Secretaria Municipal de Edu-
Art. 249 Readaptação é a investidura do servidor em cação, o qual será avaliado e deferido ou indeferido median-
cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a te a possibilidade e a necessidade da Rede Municipal Pública
limitação que tenha sofrido em sua capacidade física, senso- de Ensino.
rial ou mental e obedecerá ao disposto na legislação própria. Art. 257 A remoção por permuta se processa a pedido
Art. 250 O servidor da carreira dos Profissionais da Edu- de ambos os interessados precedendo o inicio do ano letivo
cação readaptado temporariamente, manterá sua lotação conforme o calendário escolar.
durante o período de vigência do laudo médico. § 1º Os permutadores devem ter a mesma categoria
§ 1º Havendo renovação do laudo médico temporário funcional e o mesmo regime de trabalho.
por período superior a 2 (dois) anos, contínuos ou interpola- § 2º Apenas poderá ser solicitada a remoção por permu-
dos, o servidor perderá sua lotação. ta após 1 (um) ano de lotação na unidade escolar.
§ 2º Haverá classificação e atribuição específicas para o § 3º Em situação excepcional devidamente justificada e
servidor readaptado. comprovada por meio de documentos, a remoção por per-
§ 3º Os laudos médicos de readaptação deverão ser rea- muta poderá ocorrer no mês de julho, desde que não ocorra
valiados por junta médica oficial a cada 1 (um) ano, contabi- prejuízo para o andamento das atividades escolares.
lizados a partir da data da readaptação. Art. 258 Não poderá solicitar a remoção por permuta, o
Profissional da Educação que:
I - esteja em processo de avaliação médica oficial para a
SUBSEÇÃO IV readaptação nos termos dos arts. 249 e 250;
DA REVERSÃO II - esteja na condição de readaptado com laudo médico
oficial temporário;
Art. 251 Reversão é o retorno à atividade do servidor III - esteja lotado em unidade escolar que possua Pro-
aposentado por invalidez, quando, por junta médica oficial, fissional da Educação em situação de excedente na mesma
forem declarados insubsistentes os motivos da aposentado- área de atuação.
ria, nos termos desta Lei. Art. 259 A remoção independerá de processo de sele-
ção:
SUBSEÇÃO V I - para o membro da carreira dos Profissionais da Edu-
DA REINTEGRAÇÃO cação que apresentar problema de saúde que impeça o
exercício em seu local de lotação, comprovado por órgão
Art. 252 Reintegração é a reinvestidura do servidor no médico oficial;
cargo anteriormente ocupado ou no cargo resultante de sua II - quando ocorrer extinção de escolas, alteração de
transformação, quando invalidada a sua exoneração por de- matrículas ou disciplinas, que importe em diminuição de lo-
cisão administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas tação.
as suas vantagens nos termos desta Lei. Art. 260 À Secretaria Municipal de Educação caberá veri-
ficar os casos omissos, não previstos nesta Lei.

SUBSEÇÃO VI SEÇÃO II
DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO DA POSSE E DO EXERCÍCIO

Art. 253 Extinto o cargo ou declarada a sua desneces- Art. 261 Posse é a aceitação expressa das atribuições,
sidade, o servidor estável ficará em disponibilidade com dos deveres, das responsabilidades e dos direitos inerentes
remuneração proporcional ao tempo de serviço até o seu ao cargo ocupado, que não poderão ser alterados unilate-
aproveitamento obrigatório conforme o disposto nesta Lei.

124
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

ralmente, por quaisquer das partes, ressalvados os atos de V - ter assegurada a igualdade de tratamento no plano
ofício previstos em Lei. técnico-pedagógico;
Art. 262 Exercício é o efetivo desempenho das atribui- VI - receber, por meio de serviços técnicos especializa-
ções do cargo da carreira dos Profissionais da Educação, dos em educação e apoio à educação, assistência ao exercí-
sendo que ao Secretário Municipal de Educação compete cio profissional;
atestar o início do exercício pelo servidor. VII - participar das deliberações que afetam a vida e as
Art. 263 A posse e o exercício do servidor da carreira dos atividades da unidade escolar e do desenvolvimento eficien-
Profissionais da Educação obedecerá ao disposto nesta Lei. te do processo pedagógico;
Art. 264 Os servidores cumprirão jornada de trabalho VIII - participar do processo de planejamento, execução
fixada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos e avaliação das atividades educativas, assim como de reu-
cargos. niões, comissões e conselhos escolares.
Parágrafo Único. O disposto no “caput” não se aplica a
duração de trabalho estabelecida para categorias de profis- Capítulo II
sionais com regulamentação específica. DO VENCIMENTO E DEMAIS VANTAGENS PESSOAIS

Art. 267 Vencimento é a retribuição pecuniária pelo


Capítulo IV exercício de cargo público, com valor fixado em Lei.
DO ESTÁGIO PROBATÓRIO E DA ESTABILIDADE Art. 268 Vencimentos expressa a retribuição pecuniária
pelo exercício de cargo público efetivo, acrescido das vanta-
SEÇÃO ÚNICA gens pecuniárias permanentes estabelecidas em Lei.
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 269 O disposto neste capítulo deverá ser aplicado
na forma desta Lei.
Art. 265 Ao entrar em exercício, o servidor nomeado
para cargo de provimento efetivo da carreira dos Profissio-
nais da Educação ficará sujeito a estágio probatório visando Capítulo III
a aquisição da estabilidade, por período de 36 (trinta e seis) DAS FALTAS
meses, durante o qual sua aptidão e capacidade serão obje-
to obrigatório de avaliação especial de desempenho. SEÇÃO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Parágrafo Único. O estágio probatório e a aquisição da
estabilidade do servidor da carreira dos Profissionais da Edu- Art. 270 O servidor da carreira dos Profissionais da Edu-
cação obedecerão ao disposto nesta Lei. cação perderá:
I - a remuneração do dia em que não comparecer ao
TÍTULO III serviço, sem motivo justificado;
DOS DIREITOS E VANTAGENS II - a parcela da remuneração diária, proporcional aos
atrasos, ausências justificadas, ressalvadas as concessões de
Capítulo I que trata o art. 292, e as saídas antecipadas, salvo na hipó-
DOS DIREITOS tese de compensação de horário, até o mês subsequente ao
da ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata, iguais
Art. 266 São direitos dos integrantes da carreira dos ou superiores a 60 (sessenta) minutos.
Profissionais da Educação do Município de Suzano, além de
outros: SEÇÃO II
I - ter ao seu alcance informações educacionais, biblio- DAS FALTAS JUSTIFICADAS
grafia, materiais didáticos e outros instrumentos inclusive in-
formatizados, bem como contar com assistência técnico-pe- Art. 271 O servidor da carreira dos Profissionais da Edu-
dagógica que auxilie e estimule a melhoria de sua atuação cação justificará ao superior imediato de até o máximo de 5
profissional e ampliação de seus conhecimentos; (cinco) faltas por ano nos termos desta Lei.
II - dispor no ambiente de trabalho, de instalações e
materiais técnico-pedagógicos suficientes e adequados para
que possa desenvolver suas atividades; SEÇÃO III
III - ter liberdade de escolha e de utilização de materiais, DAS FALTAS INJUSTIFICADAS
equipamentos e procedimentos didáticos, bem como dispor
de instrumentos de avaliação do processo de ensino-apren- Art. 272 Serão consideradas faltas injustificadas aquelas
dizagem, dentro dos princípios psicopedagógicos, em acor- em que o servidor da carreira dos Profissionais da Educação
do com o projeto político-pedagógico; ausentar-se do serviço sem um justo motivo.
IV - receber auxílio, se necessário, para a publicação de Parágrafo Único. O servidor sofrerá o desconto em seu
trabalhos técnico-científicos e livros didáticos ou técnico- vencimento e não será considerado como período de efeti-
-científicos, mediante solicitação e aprovação da Adminis- vo exercício para todos os efeitos.
tração, compreendendo conteúdos pertinentes à área da
educação;

125
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO IV pósios, palestras, fórum de debates, semanas de estudos,


DAS FALTAS ABONADAS acompanhamento e aconselhamento, além de outros pro-
cedimentos similares.
Art. 273 As faltas ao serviço dos servidores nomeados Art. 279 São objetivos da formação:
para cargo de provimento efetivo da carreira dos Profissio- I - propiciar a associação entre teoria e prática;
nais da Educação, até o máximo de 6 (seis) por ano, que não II - criar condições propícias à efetiva qualificação dos
exceda a 1 (uma) por mês, serão abonadas desde que não servidores, de acordo com suas atribuições, por meio de
haja prejuízo ao educando, à unidade escolar e a Rede Mu- cursos, seminários, conferências, oficinas de trabalho, imple-
nicipal Pública de Ensino. mentação de projetos e outros instrumentos para possibili-
§ 1º O servidor deverá encaminhar requerimento solici- tar a definição de novos programas, métodos e estratégias
tando com, no mínimo, 2 (dois) dias de antecedência o abo- de ensino, adequadas às transformações educacionais;
no das faltas a que se refere o “caput”, sempre a critério da III - promover a valorização do (a) Profissional da Edu-
autoridade competente ouvido o Coordenador Educacional cação.
da unidade escolar. Art. 280 Compete à Secretaria Municipal de Educação:
§ 2º A construção da política das faltas abonadas no in- I - identificar as áreas e servidores para programas de
terior das unidades escolares dar-se-á no Conselho de Esco- formação;
la em reunião específica durante o período de planejamento II - planejar a participação do servidor da carreira dos
no início de cada ano letivo, a qual referenciará a ação do Profissionais da Educação nos programas de formação e
Coordenador Educacional sempre considerando o previsto adotar as medidas necessárias para que os afastamentos
nesta Lei. que ocorrerem não causem prejuízo às atividades educacio-
§ 3º Não serão permitidas faltas abonadas em emendas nais;
de feriado. III - estabelecer a data de realização dos programas de
formação contínua, respeitados o turno de trabalho e a jor-
nada do profissional;
SEÇÃO V IV - incentivar o auto-desenvolvimento profissional.
DO BANCO DE HORAS Art. 281 Os programas de formação serão conduzidos:
I - sempre que possível, diretamente pela Secretaria Mu-
Art. 274 Os Profissionais da Educação com funções não
nicipal de Educação;
docentes que prestarem serviços a título de horas extraordi-
II - por meio de contratação de especialistas ou institui-
nárias poderão, a critério do Secretário Municipal de Educa-
ções especializadas, observada a legislação pertinente;
ção, compensarem as horas em sistema denominado banco
III - mediante encaminhamento do servidor à organiza-
de horas nos termos do art. 121 desta Lei.
ções especializadas, sediadas ou não no Município;
IV - por meio da realização de programas de diferen-
Capítulo IV tes formatos utilizados, também, os recursos da educação
DA EVOLUÇÃO E PROGRESSÃO FUNCIONAL à distância.
Art. 282 Os programas de formação serão elaborados e
Art. 275 O servidor ocupante de cargo de provimento organizados anualmente a tempo de se prever, na proposta
efetivo terá evolução e progressão funcional nos termos da orçamentária, os recursos para sua implementação.
Lei que fixa as diretrizes do sistema de carreira e vencimento
dos Profissionais da Educação do Município de Suzano. Capítulo VI
DAS VANTAGENS

Capítulo V Art. 283 Além do vencimento, serão pagas aos servido-


DA FORMAÇÃO res da carreira dos Profissionais da Educação as vantagens
constantes desta Lei, em especial:
Art. 276 O servidor da carreira dos Profissionais da Edu- I - gratificação por trabalho ou docência em escola com
cação deverá participar de processos de formação conti- difícil provimento;
nuada integrados às necessidades do serviço e do interesse II - adicional noturno.
público, na área de atuação do mesmo.
Art. 277 A Secretaria Municipal de Educação cuidará
permanentemente da formação dos servidores de carreira SEÇÃO I
dos Profissionais da Educação do Município. DA GRATIFICAÇÃO POR TRABALHO OU DOCÊNCIA EM
Art. 278 A formação é o conjunto de procedimentos que ESCOLA COM DIFÍCIL LOTAÇÃO
visam proporcionar aos integrantes da carreira dos Profis-
sionais da Educação a sua atualização profissional, com vis- Art. 284 Os servidores da carreira dos Profissionais da
tas à melhoria da qualidade de ensino e demais atividades Educação, enquanto atuarem em escolas consideradas de
educativas. difícil lotação, farão jus à gratificação neste período.
Parágrafo Único. A formação será desenvolvida por in-
termédio de cursos, congressos, seminários, encontros, sim-

126
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 285 Para efeitos desta Lei, considerar-se-á escola de o servidor e a unidade acadêmica não excedendo a 3 (três)
difícil lotação, as que serão definidas por meio de ato do anos para mestrado e 4 (quatro) anos para doutorado.
Chefe do Poder Executivo. § 4º Os servidores em afastamento remunerado de que
Art. 286 A gratificação por trabalho ou docência em es- trata o parágrafo 1º não poderão exceder a 5% (cinco por
cola de difícil lotação será concedida aos servidores da car- cento) do total do quadro de pessoal efetivo de cada cargo
reira dos Profissionais da Educação enquanto atuarem nas em atividade.
referidas unidades escolares e terá o valor do vencimento § 5º Os critérios para seleção dos candidatos e demais
acrescido o percentual de 15% (quinze por cento). normas para a concessão do afastamento serão fixados por
Art. 287 O servidor da carreira dos Profissionais da Edu- meio de ato do Chefe do Poder Executivo.
cação perderá o direito à gratificação por trabalho ou do-
cência em escola com difícil lotação, no momento em que
cessar sua atuação nas referidas escolas. Capítulo VIII
Art. 288 A gratificação por trabalho ou docência em es- DO TEMPO DE SERVIÇO
cola com difícil lotação não se incorporará ao vencimento
para nenhum efeito. Art. 294 A apuração do tempo de serviço será feita em
dias, que serão convertidos em anos, considerado o ano
SEÇÃO II como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias.
DO ADICIONAL NOTURNO Art. 295 O tempo de efetivo exercício deverá ser apura-
do nos termos da parte geral desta Lei.
Art. 289 O serviço noturno, prestado pelo servidor ocu-
pante de cargo de provimento efetivo com funções docen-
tes, em horário compreendido entre 19h00 (dezenove ho- Capítulo IX
ras) e 23h00 (vinte e três horas), terá o valor do vencimento DA VACÂNCIA
acrescido em 25% (vinte e cinco por cento).
Art. 296 A vacância do cargo público da carreira dos Pro-
Art. 290 O serviço noturno, prestado pelo servidor ocu-
fissionais da Educação decorrerá das situações previstas na
pante de cargo de provimento efetivo não docente, devido
parte geral desta Lei.
a natureza do seu trabalho na área da Educação, em horário
Art. 297 A exoneração do servidor ocupante de cargo de
compreendido entre 19h00 (dezenove horas) e 23h00 (vinte
provimento efetivo dar-se-á exclusivamente após processo
e três horas), terá o valor do vencimento acrescido em 25%
administrativo disciplinar nos termos da parte geral desta
(vinte e cinco por cento).
Lei.
Art. 291 O adicional de que trata os arts. 289 e 290 não
se incorporará a remuneração do servidor.
Capítulo X
DA SUBSTITUIÇÃO
Capítulo VII
DAS LICENÇAS, DOS AFASTAMENTOS E DAS
Art. 298 Os servidores da carreira dos Profissionais da
CONCESSÕES
Educação investidos em cargo de provimento em comissão
Art. 292 Conceder-se-á ao servidor da carreira dos Pro- ou função de direção ou chefia terão substitutos indicados
fissionais da Educação as licenças constantes da parte geral no regimento interno do órgão ou, no caso de omissão, pre-
desta Lei. viamente designados por meio de ato regular do Chefe do
Poder Executivo.
Art. 293 Fica garantido aos servidores ocupantes de § 1º O substituto assumirá automática e cumulativamen-
cargo de provimento efetivo da carreira dos Profissionais te, sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício do cargo
da Educação da Rede Municipal Pública de Ensino o afas- de provimento em comissão ou função de direção ou chefia,
tamento para fins de realização de curso de pós-graduação nos afastamentos, impedimentos legais ou regulamentares
presencial. do titular e na vacância do cargo, hipóteses em que deverá
§ 1º O afastamento será sem prejuízo da remuneração optar pela remuneração de um deles durante o respectivo
quando o curso de pós-graduação estiver vinculado a pes- período.
quisa acadêmica focada em estudo de caso da Rede Munici- § 2º O substituto fará jus à retribuição pelo exercício do
pal Pública de Ensino de Suzano e coerente com a atividade cargo de provimento em comissão ou função de direção ou
fim do cargo de provimento efetivo ocupado pelo servidor. chefia, nos casos dos afastamentos, férias ou impedimen-
§ 2º O afastamento será com prejuízo da remuneração tos legais do titular, superiores a 5 (cinco) dias consecutivos,
nas situações não previstas no parágrafo 1º, podendo, ser paga na proporção dos dias de efetiva substituição, que ex-
solicitada, neste caso, bolsa de estudo no valor de 30% (trin- cederem o referido período.
ta por cento) do vencimento do cargo de provimento efetivo § 3º No caso de substituição com base no parágrafo 2º,
ocupado pelo servidor. o substituto perceberá o vencimento do cargo de provimen-
§ 3º O período de afastamento nos termos do “caput” to em comissão ou função de direção ou chefia em que se
fica condicionado ao período de vínculo comprovado entre der a substituição, salvo se optar pelo vencimento de seu
cargo de provimento efetivo.

127
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 4º Em caso excepcional, atendida a conveniência da por motivo de superior interesse público devidamente jus-
Administração e o interesse público, o titular de cargo de tificado.
provimento em comissão ou função de direção ou chefia, § 6º O restante do período interrompido será gozado
poderá ser designado ou nomeado, cumulativamente, como de uma só vez.
substituto para outro cargo ou função da mesma natureza, Art. 302 Além do período de férias constante do artigo
até que se verifique a nomeação ou designação do titular, anterior, os Profissionais da Educação poderão gozar de re-
nesse caso, somente perceberá o vencimento correspon- cesso escolar, conforme calendário escolar.
dente a um dos cargos ou funções. Art. 303 Durante as férias e o recesso escolar, os Profis-
Art. 299 As substituições de professores por período in- sionais da Educação perceberão o mesmo vencimento rece-
ferior a 15 (quinze) dias, sempre que possível, deverão ser bido no mês anterior.
efetuadas por professores ocupantes de cargos de provi- Art. 304 Durante o recesso escolar, ressalvando o pe-
mento efetivo por meio da suplementação da jornada de ríodo de gozo de férias, o servidor poderá ser convocado a
trabalho ou por meio dos professores substitutos. prestar serviços educacionais.
§ 1º Na impossibilidade da substituição ser realizada nos
termos do “caput”, deverão ser admitidos professores em Capítulo XII
caráter temporário. DA ATRIBUIÇÃO DE TURMAS
§ 2º As substituições de que trata este artigo, não pode-
rão ultrapassar o ano letivo para a qual foi autorizada e serão Art. 305 Para fins de atribuição de turmas, os docentes
obrigatoriamente, por tempo determinado. serão classificados, observada a seguinte ordem de prefe-
§ 3º Os professores tratados no parágrafo 1º serão se- rência:
lecionados e admitidos mediante processo seletivo, nos ter- I - situação funcional:
mos de legislação específica. a) admitidos para cargos de provimento efetivo, me-
§ 4º Esses professores serão remunerados na mesma diante concurso público de provas e títulos, corresponden-
proporção do ocupante de cargo de provimento efetivo que tes aos componentes curriculares das classes a serem atri-
estão substituindo, considerando o seu vencimento. buídas;
Art. 300 As substituições de servidores por período igual b) professores com carga horária de 24 (vinte e quatro)
ou superior a 15 (quinze) dias, poderá ser realizada por ser- horas semanais.
vidores admitidos em caráter temporário. II - tempo de serviço no magistério público, na forma a
§ 1º As substituições de que trata este artigo, não pode- ser regulamentada;
rão ultrapassar o ano letivo para a qual foi autorizada e serão III - títulos computáveis obtidos pelo docente, por meio
obrigatoriamente, por tempo determinado. da conversão em pontos das cargas horárias dos respectivos
§ 2º Os servidores tratados no “caput” serão seleciona- títulos;
dos e admitidos mediante processo seletivo, nos termos de IV - combinação das razões tempo e títulos descritas
legislação específica. nos incisos II e III.
§ 3º Esses servidores serão remunerados na mesma pro- § 1º Aos docentes admitidos para cargo de provimento
porção do ocupante de cargo de provimento efetivo que efetivo na Rede Municipal Pública de Ensino, serão atribuí-
estão substituindo, considerando o seu vencimento. das simultaneamente as classes em substituição referente
aos docentes afastados.
Capítulo XI § 2º O docente, indicado e nomeado para as funções
DAS FÉRIAS E DO RECESSO de suporte pedagógico e que seja exonerado a pedido ou
a critério da Administração, não perde o direito de voltar às
Art. 301 Aos Profissionais da Educação em exercício de turmas das quais é titular, durante o ano letivo.
docência nas unidades escolares, são assegurados 30 (trinta) Art. 306 Compete à Secretaria Municipal de Educação
dias de férias anuais, durante o mês de janeiro. atribuir as classes aos docentes da Rede Municipal Pública
§ 1º O período de férias de que trata o “caput” será con- de Ensino, respeitada a ordem de classificação, conforme o
cedido nos termos do art. 125 desta Lei. artigo anterior.
§ 2º O pagamento da remuneração devida por ocasião Parágrafo Único. A Secretaria Municipal de Educação
das férias deverá ser efetuado em conformidade com o dis- expedirá as normas complementares necessárias ao cumpri-
posto no art. 130 desta Lei. mento do disposto neste artigo.
§ 3º O servidor exonerado do cargo de provimento efe-
tivo ou de provimento em comissão, perceberá indenização
relativa ao período das férias a que tiver direito e ao incom- Capítulo XIII
pleto, na proporção de 1/12 (um doze avos) por mês de efe- DO HORÁRIO DE TRABALHO PEDAGÓGICO COLETIVO
tivo exercício ou fração superior a 14 (quatorze) dias.
§ 4º A indenização será calculada com base na remune- Art. 307 Cabe à Coordenação Educacional da unidade
ração do mês em que for publicado o ato de exoneração. escolar garantir a participação de todos os Profissionais da
§ 5º O período de gozo de férias somente poderá ser Educação não docentes nos Horários de Trabalho Pedagógi-
interrompido por motivo de calamidade pública, comoção co Coletivo (HTPC), em sistema de rodízio.
interna, convocação para júri, serviços militar ou eleitoral ou

128
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 308 O Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo XIII - considerar os princípios psicopedagógicos, a rea-
(HTPC) do pessoal docente deverá ser sistematizado pela lidade sócio-econômica da clientela escolar e as diretrizes
Secretaria Municipal de Educação. da Política Educacional na escolha e utilização de materiais,
procedimentos didáticos e instrumentos de avaliação do
processo ensino-aprendizagem;
Capítulo XIV XIV - participar de conselhos referentes ao desenvolvi-
DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE mento da educação no Município de Suzano;
XV - participar do processo de planejamento, execução
Art. 309 A assistência a saúde do servidor da carreira e avaliação das atividades escolares;
dos Profissionais da Educação e de sua família compreende XVI - acatar as decisões do Conselho de escola, obser-
assistência médica ambulatorial, hospitalar, odontológica, vando a legislação vigente;
psicológica e farmacêutica prestada pelo Sistema Único de XVII - participar das atividades educacionais que forem
Saúde - SUS. próprias do cargo ou da função que ocupa;
XVIII - assegurar a efetivação dos direitos pertinentes à
criança e ao adolescente, nos termos do Estatuto da Criança
Capítulo XV
DO DIREITO DE PETIÇÃO e do Adolescente, comunicando às autoridades competen-
tes os casos de que tenham conhecimento, envolvendo sus-
Art. 310 É assegurado ao servidor da carreira dos Profis- peita ou confirmação de maus-tratos;
sionais da Educação o direito de requerer aos Poderes Públi- XIX - zelar pelo cumprimento dos horários e calendário
cos, em defesa de direito ou interesse legítimo, nos termos escolar;
desta Lei. XX - manter a Secretaria Municipal de Educação infor-
mada do desenvolvimento do processo educacional, expon-
do suas críticas e apresentando sugestões para a sua me-
TÍTULO IV lhoria;
DO REGIME DISCIPLINAR XXI - buscar o seu constante aperfeiçoamento profissio-
nal por meio de participação em cursos, reuniões, seminá-
Capítulo I rios, sem prejuízo de suas atribuições;
DOS DEVERES XXII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso
de poder.
Art. 311 São deveres do servidor ocupante de cargo da Parágrafo Único. A representação de que trata o inciso
carreira dos Profissionais da Educação: XXII será encaminhada, assegurando-se ao representando o
I - conhecer e respeitar as Leis; direito a ampla defesa.
II - preservar os princípios, os ideais e os fins da edu-
cação brasileira, por meio de seu desempenho profissional;
III - empenhar-se em prol do desenvolvimento do edu- Capítulo II
cando, utilizando processos que acompanhem o progresso DAS PROIBIÇÕES
científico da educação;
IV - participar das atividades educacionais que lhe forem Art. 312 Sem prejuízo das demais proibições constantes
atribuídas por força de suas funções; da parte geral desta Lei, ao servidor que integre o Quadro
V - comparecer ao local de trabalho com assiduidade e dos Profissionais da Educação ainda é vedada:
pontualidade, executando suas tarefas com eficiência, zelo I - a ação ou omissão que traga prejuízo físico, moral ou
e presteza; intelectual;
VI - manter o espírito de cooperação e solidariedade II - a imposição de castigo físico ou humilhante;
com a equipe escolar e a comunidade em geral; III - a prática de discriminação por motivo de raça, con-
VII - incentivar a participação, o diálogo e a cooperação dição social, intelectual, sexo, credo ou convicção política;
entre os educandos e demais educadores; IV - a alteração de qualquer resultado de avaliação, res-
VIII - contribuir para o desenvolvimento do senso crítico salvados os casos de erro manifesto, por ele considerado ou
e da consciência política do educando; reconhecido;
IX - respeitar o educando como sujeito do processo V - impedir que o educando participe das atividades
educativo e comprometer-se com a eficácia de seu apren- educativas em razão de qualquer carência material.
dizado;
X - comunicar ao superior imediato as irregularidades
de que tiver conhecimento, na sua área de atuação, ou às Capítulo III
entidades superiores, no caso de omissão por parte da pri- DA ACUMULAÇÃO
meira;
Art. 313 Ressalvados os casos previstos no inciso XVI do
XI - zelar pela defesa dos direitos profissionais e pela
art. 37 da Constituição Federal, é vedada a acumulação re-
reputação da categoria profissional;
munerada de cargos públicos.
XII - fornecer elementos para a permanente atualização
de seus assentamentos, junto a unidade de pessoal;

129
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 1º A proibição de acumular estende-se a cargos, em- IV - cassação de disponibilidade;


pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em- V - destituição de cargo de provimento em comissão;
presas públicas, sociedades de economia mista, suas sub- VI - destituição de exercício de função de direção, chefia
sidiárias, e sociedades controladas direta ou indiretamente ou assessoramento.
pelo Poder Público. Art. 318 Na aplicação das penalidades será aplicado o
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con- previsto na parte geral desta Lei.
dicionada à:
I - comprovação da compatibilidade de horários, consi- TÍTULO V
derando-se todos os seus componentes nos dois (02) car- DA SINDICÂNCIA E DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
gos; DISCIPLINAR
II - comprovação da viabilidade de acesso aos locais de
trabalho por meios normais de transporte; Art. 319 Para a apuração de infrações e aplicação das
III - existência de intervalo entre o término de uma jor- penalidades disciplinares aos servidores ocupantes dos car-
nada e início da outra de, no mínimo, 1 (uma) hora. gos da carreira dos Profissionais da Educação deverá ser ob-
§ 3º O intervalo constante do inciso III do parágrafo 2º servado o disposto no Capitulo específico desta Lei.
poderá ser reduzido para, o mínimo de até 15 (quinze) mi-
nutos quando os locais de trabalho forem situados próxi-
mos, ou no mesmo local, sempre a critério da autoridade TÍTULO VI
DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR
competente e desde que não haja prejuízo para o serviço
público municipal.
Art. 320 Os servidores públicos municipais ocupantes de
§ 4º Além dos requisitos previstos no parágrafo 2º, ape-
cargos de provimento efetivo da carreira dos Profissionais
nas será possível a acumulação de cargos que perfazerem
da Educação serão segurados do RGPS, até a implantação
uma carga horária total máxima de 70 (setenta) horas sema-
do Regime Próprio da Previdência do Servidor no Município
nais, somadas as 02 (duas) jornadas.
de Suzano, nos termos do art. 40 da Constituição Federal e
§ 5º É vedada a percepção simultânea de proventos de
legislação regulamentadora e complementar.
aposentadoria com a remuneração de cargo, emprego ou
função pública, ressalvados os cargos e empregos acumu-
láveis na forma do inciso XVI do art. 37 da Constituição Fe- TÍTULO VII
deral, os cargos eletivos e os cargos de provimento em co- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS, TRANSITÓRIAS E FINAIS
missão declarados em Lei de livre nomeação e exoneração.
Art. 314 O servidor não poderá exercer mais de um (01) Capítulo I
cargo de provimento em comissão. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 315 O servidor vinculado ao regime desta Lei, que
acumular licitamente 2 (dois) cargos de provimento efetivo Art. 321 O Dia do Professor será comemorado em 15
da Rede Municipal Pública de Ensino de Suzano, quando in- (quinze) de outubro de cada ano.
vestido em cargo de provimento em comissão, ficará afasta- Parágrafo Único. Esta data poderá ser declarada ponto
do de ambos os cargos efetivos. facultativo para os servidores ocupantes dos cargos da car-
Parágrafo Único. O servidor que se afastar dos cargos reira dos Profissionais da Educação do Município de Suzano.
de provimentos efetivo que ocupa poderá optar pela remu- Art. 322 Ao servidor da carreira dos Profissionais da Edu-
neração de um deles ou pela do cargo de provimento em cação é assegurado, nos termos da Constituição Federal, o
comissão. direito à livre associação sindical e os seguintes direitos, en-
tre outros, dela decorrentes:
Capítulo IV I - de ser representado pelo sindicato, inclusive como
DAS RESPONSABILIDADES substituto processual;
II - de inamovibilidade do dirigente sindical, até um ano
Art. 316 O servidor responde civil, penal e administrati- após o final do mandato, exceto se a pedido;
vamente pelo exercício irregular de suas atribuições obser- III - de descontar em folha, sem ônus para a entidade
vado o disposto na parte geral desta Lei. sindical a que for filiado, o valor das mensalidades e contri-
buições definidas em assembleia geral da categoria.
Art. 323 Consideram-se da família do servidor, além do
Capítulo V cônjuge e filhos, quaisquer pessoas que vivam às suas ex-
DAS PENALIDADES pensas e constem do seu assentamento individual e sejam
reconhecidos pela legislação civil.
Art. 317 São penalidades disciplinares a que estão sujei-
Parágrafo Único. Equipara-se ao cônjuge a companheira
tos os servidores ocupantes de cargos da carreira dos Profis- ou companheiro, que comprove união estável como entida-
sionais da Educação: de familiar.
I - advertência; Art. 324 Os instrumentos de procuração utilizados para
II - suspensão; o recebimento de direitos ou vantagens de servidores mu-
III - exoneração;

130
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

nicipais terão validade por 12 (doze) meses, devendo ser re- quando de modificações legais posteriores a sua primeira
novados após findo esse prazo. publicação.
Art. 325 Para todos os efeitos previstos nesta Lei, os exa-
mes de aptidão física e mental serão obrigatoriamente rea-
lizados por médicos do serviço público municipal, ou na sua LIVRO II
falta, por médicos credenciados pelo Poder Público. DOS SERVIDORES DA GUARDA CIVIL MUNICIPAL
§ 1º Em casos especiais, atendendo a natureza da enfer-
midade, a Administração poderá designar junta médica para TÍTULO I
proceder ao exame, dela fazendo parte, obrigatoriamente, DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
médicos do serviço público municipal ou médicos creden-
Art. 332 Esta Lei estabelece ainda as normas específicas
ciados pelo Poder Público.
sobre o regime jurídico e o regimento disciplinar dos servi-
§ 2º Os atestados médicos concedidos aos servidores
dores ocupantes de cargos do quadro de pessoal da Guarda
municipais, quando em tratamento fora do Município, terão
Civil Municipal de Suzano.
sua validade condicionada à ratificação posterior pelo médi-
§ 1º O pessoal admitido para os cargos de provimento
co do serviço público municipal.
efetivo do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal te-
Art. 326 São isentos de taxas, emolumentos ou custas
rão a sua relação de trabalho regida por esta Lei.
os requerimentos, certidões e outros papéis que, na esfera
§ 2º Aplica-se o disposto nesta Lei, no que couber, aos
administrativa, interessarem ao servidor municipal, ativo ou
cargos públicos de provimento em comissão ligados a Guar-
inativo, exclusivamente nos assuntos funcionais.
da Civil Municipal.
Art. 327 O servidor que apresentar-se ao serviço em es-
tado de embriaguez causada por bebida alcoólica, entorpe-
Capítulo I
centes ou quaisquer outras substâncias químicas ou naturais DA NOMEAÇÃO
deverá ser encaminhado ao serviço médico competente para
diagnóstico e, se necessário, inicio de tratamento específico. Art. 333 A nomeação no quadro de pessoal da Guarda
Parágrafo Único. A recusa ou o abandono do tratamen- Civil Municipal dar-se-á nos termos desta Lei para os cargos
to específico será considerado infração disciplinar ensejando de provimento efetivo de Guarda Civil Municipal na gradua-
a imediata abertura de processo administrativo disciplinar ção de 3ª Classe e na forma prevista por esta Lei.
nos termos desta Lei. Art. 334 O concurso público será realizado em 3 (três)
Art. 328 Os regulamentos necessários para a execução etapas:
do disposto nesta Lei serão editados por ato próprio do I - de provas e títulos;
Chefe do Poder Executivo. II - de teste de aptidão física, avaliação psicológica e in-
vestigação social;
SEÇÃO ÚNICA III - de curso de formação para ingresso no quadro de
DA CONTAGEM DOS PRAZOS pessoal da Guarda Civil Municipal.
§ 1º O teste de aptidão física apenas poderá ser reali-
Art. 329 Os prazos previstos nesta Lei começam a contar
zado com a apresentação de laudo médico que descreva as
a partir da data da notificação pessoal ou da publicação ofi-
condições físicas do candidato e o considere apto para a sua
cial, excluindo-se da contagem o dia do início e incluindo-se
realização.
o do vencimento.
§ 2º Serão de caráter eliminatório o teste de aptidão físi-
§ 1º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia
ca, a investigação social e o curso de formação para ingresso
útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não hou-
no quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal e de caráter
ver expediente ou se este for encerrado antes do horário
classificatório a avaliação psicológica.
normal.
§ 3º O laudo médico exigido no parágrafo 1º não substi-
§ 2º Os prazos previstos nesta Lei são contados em dias
tui o exame de aptidão para o exercício do cargo nos termos
corridos.
do Capítulo próprio desta Lei.
Art. 330 Salvo motivo de força maior devidamente com-
provado, os prazos previstos nesta Lei não serão prorroga-
Capítulo II
dos. DO ESTÁGIO PROBATÓRIO
Capítulo II Art. 335 O estágio probatório será realizado nos termos
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS da parte geral desta Lei.
Art. 336 Para fins da avaliação de desempenho de que
Art. 331 Será de responsabilidade da Administração
trata o art. 31 desta Lei, o servidor nomeado para o quadro
Pública do Município de Suzano dar ciência do teor desta
de pessoal da Guarda Civil Municipal será avaliado também
Lei no ato da transposição de regime jurídico a todos os
nos seguintes fatores:
servidores da carreira dos Profissionais da Educação, bem
I - subordinação;
como, no ato da posse de novos servidores e a totalidade
II - conduta moral compatível com as atribuições do car-
dos servidores lotados na Secretaria Municipal de Educação
go;

131
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

III - conduta profissional compatível com as atribuições VIII - executar o patrulhamento escolar, bem como au-
do cargo; xiliar estudantes na travessia de vias e logradouros públicos;
IV - não ter praticado infração disciplinar classificada IX - outros não previstos e que lhes venham a ser atri-
como de natureza média ou grave nos termos desta Lei; buídos por legislação especial ou, ainda, determinados pelo
V - não ter praticado ilícito penal doloso relacionado respectivo Comando, respeitadas as normas adequadas.
com as atribuições do cargo. Parágrafo Único. Incumbirá, ainda, à Guarda Civil Mu-
Parágrafo Único. A descrição dos fatores constantes dos nicipal:
incisos I, II e III do “caput” será realizada na Ficha de Avalia- a) coordenar suas atividades com as ações do Estado, no
ção de Desempenho da Guarda Civil Municipal e será insti- sentido de obter e oferecer auxílio recíproco; e,
tuída através de ato próprio do Chefe do respectivo Poder. b) colaborar com os órgãos federais e estaduais com-
petentes para a preservação da segurança interna, quando
solicitada, observada a legislação aplicável.
TÍTULO II
DAS COMPETÊNCIAS TÍTULO III
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 337 Compete à Guarda Civil Municipal de Suzano:
I - promover a proteção dos bens, instalações e serviços Capítulo I
municipais através da: DA HIERARQUIA E DA DISCIPLINA
a) vigilância interna e externa dos próprios públicos mu-
nicipais em geral; Art. 338 A hierarquia e a disciplina são a base institucio-
b) fiscalização da adequada utilização dos parques, jar- nal da Guarda Civil Municipal.
dins, praças, cemitérios, mercados, feiras-livres, museus, bi- Art. 339 São princípios norteadores da disciplina e da
bliotecas e outros bens de domínio público, evitando a sua hierarquia da Guarda Civil Municipal:
depredação. I - o respeito à dignidade humana;
II - atuar no auxílio ao público em geral junto aos pró- II - o respeito à cidadania;
prios públicos municipais; III - o respeito à justiça;
III - participar, de maneira ativa, nas comemorações cívi- IV - o respeito à legalidade democrática;
cas de feitos e fatos programados pelo Município, destina- V - o respeito à coisa pública.
dos à exaltação do patriotismo; Art. 340 As ordens legais devem ser prontamente exe-
IV - atender à população: cutadas, cabendo inteira responsabilidade à autoridade que
a) nas atividades de assistência social em geral, inclusive as determinar.
aquelas voltadas para a criança, o adolescente, o idoso e a Parágrafo Único. Em caso de dúvida, será assegurado
pessoa portadora de necessidades especiais; esclarecimento ao subordinado.
b) quando da ocorrência de quaisquer sinistros ou even- Art. 341 Todo servidor da Guarda Civil Municipal que se
tos danosos, em auxílio à Coordenadoria Municipal de Defe- deparar com ato contrário à disciplina da instituição ou do
sa Civil e demais autoridades competentes. serviço público local deverá adotar medida saneadora.
V - promover a vigilância: § 1º Se detentor de precedência hierárquica sobre o in-
a) de logradouros públicos, mediante o policiamento frator, o servidor da Guarda Civil Municipal deverá adotar as
diurno e noturno do Município, tanto na zona urbana quan- providências cabíveis pessoalmente e se subordinado, deve-
to na zona rural, em caráter supletivo; rá comunicar às autoridades competentes.
b) das áreas de preservação do patrimônio natural e cul- § 2º Ficará a critério do Comando Geral da Guarda Civil
tural do Município, bem como da preservação de manan- Municipal encaminhar o servidor reincidente em transgres-
ciais e da defesa da fauna e da flora. sões de natureza leve que não sofrer a penalidade disciplinar
VI - garantir a realização dos serviços de responsabilida- de suspensão ao Centro de Formação e Ensino para partici-
de do Município e sua ação fiscalizadora no desempenho de par de programa de requalificação profissional.
atividades de polícia administrativa, em especial nos serviços Art. 342 O servidor da Guarda Civil Municipal tem que
ligados às áreas de: observar todos os deveres enumerados nesta Lei.
a) educação;
b) saúde pública; Capítulo II
c) transporte coletivo; DO COMPORTAMENTO
d) arrecadação tributária;
e) meio ambiente; Art. 343 Ao ingressar no quadro de pessoal da Guarda
f) trânsito; Civil Municipal, o servidor será classificado no comporta-
g) urbanismo; e, mento estabelecido no inciso II do artigo subsequente.
h) demais órgãos oficiais. Parágrafo Único. Os atuais integrantes do quadro de
VII - colaborar com a fiscalização do serviço público lo- pessoal da Guarda Civil Municipal serão classificados no
cal na aplicação da legislação relativa ao exercício do poder comportamento correspondente a sua conduta transcrita
de polícia administrativa do Município; no seu assentamento individual.

132
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 344 Para fins disciplinares e para os demais efeitos TÍTULO IV


legais, o comportamento do servidor da Guarda Civil Muni- DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES DISCIPLINARES
cipal será considerado:
I - excelente, quando nos últimos 48 (quarenta e oito) Capítulo I
meses não tiver sofrido qualquer punição; DA DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES
II - bom, quando nos últimos 36 (trinta e seis) meses não DISCIPLINARES
tiver sofrido pena de suspensão;
III - regular, quando no período de 24 (vinte e quatro) Art. 347 Infração disciplinar é toda a violação aos deve-
meses tiver sofrido 1 (uma) suspensão; res funcionais previstos nesta Lei pelos servidores integran-
IV - insuficiente, quando no período de 24 (vinte e qua- tes do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal.
tro) meses tiver sofrido 2 (duas) suspensões; Art. 348 As infrações disciplinares, quanto à sua nature-
V - mau, quando no período de 12 (doze) meses tiver za, classificam-se em:
sofrido mais de 2 (duas) penas de suspensão, acima de 15 I - Leves;
(quinze) dias. II - Médias;
§ 1º Para reclassificação de comportamento, 2 (duas) III - Graves.
advertências equivalerão a 1 (uma) repreensão e 2 (duas) Art. 349 São infrações disciplinares de natureza leve:
repreensões a 1 (uma) suspensão. I - deixar de comunicar ao superior hierárquico, tão logo
§ 2º A reclassificação de comportamento dar-se á, possível, a execução de ordem legal recebida;
anualmente, ex-officio, por ato do Comandante Geral da II - chegar atrasado, sem justo motivo, a ato ou ao ser-
Guarda Civil Municipal, de acordo com os prazos e critérios viço;
estabelecidos. III - deixar de apresentar-se ao superior hierárquico, es-
§ 3º O conceito atribuído ao comportamento do servi- tando em serviço;
dor da Guarda Civil Municipal será considerado para: IV - deixar de verificar, com antecedência necessária, a
I - a finalidade estabelecida no inciso I do art. 368 e no escala de serviço;
inciso I do art. 369; V - permutar serviço sem comunicar e receber permis-
II - indicação para participação em cursos de aperfei- são da autoridade competente;
çoamento; VI - deixar de se apresentar na sede da Guarda Civil Mu-
III - submissão à participação em programa de requalifi- nicipal, estando de folga, quando houver iminência de per-
cação profissional no Centro de Formação e Ensino da Guar- turbação da ordem ou calamidade pública;
da Civil Municipal de Suzano, nas hipóteses dos incisos III e VII - demorar-se na apresentação ao superior hierárqui-
IV do “caput”, se a soma das penas de suspensão aplicadas co, quando convocado ao trabalho por justo motivo, ainda
for superior a 10 (dez) dias e nos incisos I e II a critério do que fora do horário de trabalho;
Comandante Geral. VIII - usar aparelho telefônico ou outro meio de comuni-
Art. 345 O Comandante Geral da Guarda Civil Municipal cação analógico ou digital de propriedade ou uso da Guar-
deverá elaborar relatório anual de avaliação disciplinar do da Civil Municipal para conversas particulares, sem a devida
seu efetivo a ser enviado ao Secretário de Defesa Social e autorização;
Prevenção à Violência. IX - permitir o uso de aparelho telefônico ou outro meio
§ 1º Os critérios de avaliação terão por base a aplicação de comunicação analógico ou digital de propriedade ou uso
do disposto nesta Lei. da Guarda Civil Municipal para conversas particulares, sem
§ 2º A avaliação deverá considerar a totalidade das infra- registrar o número do aparelho chamado e o nome de seus
ções cometidas e punidas, a tipificação e as sanções corres- usuários;
pondentes, o cargo ocupado pelo infrator e a localidade do X - usar termos de gíria ou palavras de baixo calão em
cometimento da falta disciplinar. comunicação, informação ou atos semelhantes;
Art. 346 O ato do Comandante Geral da Guarda Civil XI - revelar indiscrição em linguagem falada ou escrita;
Municipal que reclassificar os integrantes da corporação ca- XII - cantar, assobiar ou fazer ruído em local ou ocasião
berá recurso de reclassificação do comportamento dirigido em que seja exigido silêncio;
ao Corregedor Geral da Guarda Civil Municipal. XIII - portar-se inconvenientemente em solenidades ou
Parágrafo Único. O recurso previsto no caput deverá ser reuniões sociais;
interposto no prazo máximo de 5 (cinco) dias, contados da XIV - viajar sentado, estando uniformizado, em veículo
data da publicação oficial do ato impugnado e terá efeito de transporte coletivo, estando de pé grávidas ou pessoas
suspensivo. com crianças de colo, idosos, enfermos, pessoas portadoras
de necessidades especiais e autoridades;
XV - entrar, sem necessidade, em estabelecimentos co-
merciais estando de serviço;
XVI - tratar de assuntos particulares durante o serviço,
sem a devida autorização;
XVII - retirar-se da presença de superior hierárquico,
sem pedir a necessária licença;

133
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

XVIII - permitir a permanência de pessoas estranhas ao XXXVI - faltar com o devido respeito às autoridades ci-
serviço, nos locais em que isso seja vedado; vis, policiais, militares e eclesiásticas;
XIX - entreter-se ou preocupar-se com atividades estra- XXXVII - ponderar ordens ou orientações legais emana-
nhas ao serviço durante as horas de trabalho; das de superior hierárquico;
XX - representar ou requerer sem observar as prescri- XXXVIII - imiscuir-se em assuntos que embora sejam da
ções regulamentares, em especial as contidas nesta Lei; Guarda Civil Municipal, não são de sua competência;
XXI - sentar-se, estando de serviço, salvo quando pela XXXIX - interceder de qualquer forma pela liberdade de
sua natureza circunstancial e admissível; pessoa detida legalmente por membros da Guarda Civil Mu-
XXII - perambular ou permanecer uniformizado, quando nicipal ou das Polícias Civil ou Militar;
de folga, em logradouros públicos; XL - deixar de apresentar no tempo determinado:
XXIII - sobrepor os interesses particulares aos da Guarda a) para a autoridade competente, no caso de requisição
Civil Municipal e do serviço público local; para depor ou prestar declarações;
XXIV - deixar de manter em dia os seus assentamentos b) no local determinado por superior hierárquico, em
ou de sua família no setor de recursos humanos do respec- ordem manifestamente legal.
tivo Poder e no prontuário específico da Guarda Civil Muni- XLI - dirigir-se, verbalmente ou por escrito, a órgão su-
cipal; perior, sem ser por intermédio daquele a quem estiver direta
XXV - deixar de atender a reclamação justa de subordi- ou imediatamente subordinado;
nado, ou impedi-lo de recorrer à autoridade superior, sem- XLII - deixar de comunicar a transgressão da disciplina
pre que a intervenção desta se torne indispensável; por membro da Guarda Civil Municipal ou servidor público
XXVI - dar a superior, tratamento íntimo verbal ou por municipal;
escrito; XLIII - ler ou retirar sem permissão, documento, livro ou
XXVII - atrasar sem motivo justificável: objeto existente na repartição ou local de trabalho;
a) a entrega de objetos achados ou apreendidos; XLIV - ausentar-se de sua residência sem comunicar en-
b) a prestação de contas de pagamentos referentes a dereço onde possa ser encontrado, nos casos em que estiver
Guarda Civil Municipal ou outro órgão do serviço público escalado de sobreaviso;
local; XLV - discutir, estando uniformizado;
c) o encaminhamento de informações, comunicações e XLVI - deixar de fornecer os dados referentes à sua iden-
documentos; tidade funcional;
d) a entrega de armamento, equipamento e outros des- XLVII - utilizar-se de papel ou formulário oficial, em vi-
tinados ao serviço. gor, para rascunho, anotações ou qualquer fim inadequado;
XXVIII - trazer a mão no bolso quando uniformizado; XLVIII - deixar o subordinado de cumprimentar superior
XXIX - atender ao público demonstrando preferência hierárquico, uniformizado ou não, neste caso desde que o
pessoal; conheça ou de prestar-lhe homenagens ou sinais regula-
XXX - apresentar-se na formatura diária ou em público: mentares de consideração e respeito, bem como o superior
a) com costeletas, barbas ou cabelos crescidos, bigodes hierárquico, de responder ao cumprimento;
ou unhas desproporcionais ou adornos (brincos ou outro XLIX - usar uniforme incompleto, contrariando as nor-
enfeite); mas respectivas, ou vestuário incompatível com a função,
b) com uniforme em desalinho ou desasseado; ou, ainda, descurar-se do asseio pessoal ou coletivo;
c) com cestas, sacolas ou qualquer excesso de volume, L - conduzir veículo da Guarda Civil Municipal sem a de-
que não tenha correlação com as atividades desempenha- vida autorização;
das. LI - apresentar comunicação, representação ou queixas
XXXI - usar termos descorteses para com superiores, su- destituídas de fundamento ou provas.
bordinados, iguais, munícipes ou quaisquer outros cidadãos; Art. 350 São infrações disciplinares de natureza média:
XXXII - procurar resolver assunto referente à disciplina I - deixar de comunicar ao superior imediato ou em sua
ou ao serviço que escape da sua alçada; ausência, a outro superior hierárquico, informação sobre
XXXIII - alegar desconhecimento de ordens publicadas perturbação da ordem pública, logo que dela tenha conhe-
em boletim ou registradas em livro, bem como das Normas cimento;
Gerais de Ação; II - maltratar animais ou mantê-los em cativeiro sem ob-
XXXIV - deixar de trazer consigo a credencial de Guarda servar a legislação específica;
Civil Municipal e respectiva cédula de identidade; III - deixar de dar informações em processos, quando for
XXXV - deixar de comunicar ao superior imediato, em de sua competência;
termo oportuno: IV - encaminhar documento à superior hierárquico co-
a) as ordens que tiver recebido, sobre pessoal ou ma- municando infração disciplinar inexistente ou instaurar pro-
terial; cedimento administrativo disciplinar sem indícios de funda-
b) as ocorrências de qualquer natureza; mento fático;
c) estragos ou extravios de qualquer material da Guarda V - desempenhar inadequadamente suas funções, por
Civil Municipal que tenha sob sua responsabilidade; falta de atenção;
d) os recados telefônicos ou pessoais;
e) as partes de transgressões disciplinares.

134
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

VI - afastar-se, momentaneamente, sem justo motivo, XXVIII - tentar ou introduzir bebidas alcoólicas em de-
do local em que deveria encontrar-se por força de ordens pendência da Guarda Civil Municipal ou em repartição pú-
ou disposições legais; blica;
VII - representar a instituição em qualquer ato sem estar XXIX - concorrer para discórdia ou desavença entre os
autorizado; componentes da Guarda Civil Municipal;
VIII - assumir compromisso pela Guarda Civil Municipal XXX - fornecer notícias à imprensa sobre serviços que
que comanda ou em que serve, sem estar autorizado; atender ou de que tenha conhecimento, ou quando o caso
IX - sobrepor aos uniformes insígnias de sociedades exigir sigilo ou sem a devida autorização da Secretaria Muni-
particulares, entidades religiosas ou políticas ou, ainda, usar cipal de Comunicação ou de seu superior hierárquico;
indevidamente medalhas desportivas, distintivos ou conde- XXXI - provocar, tomar parte ou aceitar discussão acerca
corações; de política partidária, religião ou esporte, estando uniformi-
X - entrar ou sair de qualquer unidade da Guarda Civil zado;
Municipal ou tentar fazê-lo com arma não letal da corpora- XXXII - aconselhar para que não seja cumprida ordem
ção ou qualquer outro bem existente na unidade ou local de legal ou retardada a sua execução;
trabalho sem previa autorização da autoridade competente; XXXIII - ofender colegas de serviço com palavras ou ges-
XI - dirigir veículo do serviço público local, da Guarda tos;
Civil Municipal ou particular com negligência, imprudência XXXIV - perambular ou permanecer em logradouros pú-
ou imperícia; blicos, zona suspeita ou má frequência;
XII - ofender a moral e os bons costumes por meio de XXXV - apresentar-se uniformizado, quando proibido;
atos, palavras ou gestos durante o serviço ou uniformizado, XXXVI - dormir durante as horas de trabalho;
se fora dele; XXXVII - espalhar notícias falsas em prejuízo da ordem,
XIII - usar termos descorteses, inadequados ou desres- da disciplina ou do bom nome da Guarda Civil Municipal,
peitosos para com superiores, subordinados, iguais, muníci- do serviço público local, de qualquer servidor público ou ci-
pes ou quaisquer outros cidadãos; dadão;
XIV - deixar de zelar pela economia do material do ser- XXXVIII - apresentar-se publicamente em visível estado
viço público local e pela conservação do que for confiado à de embriaguez causado por bebidas alcoólicas, entorpe-
sua guarda ou utilização; centes ou qualquer substância química ou natural, trajado
XV - andar armado, com documento de porte legal, es- civilmente;
tando em trajes civis, sem o cuidado de ocultar a arma; XXXIX - manter relações de amizade com pessoas noto-
XVI - disparar arma não letal por descuido ou sem ne- riamente suspeitas, que venha o público fazer juízo temerá-
cessidade; rio da Guarda Civil Municipal;
XVII - resolver assunto referente ao serviço da Guarda XL - praticar, na vida privada, qualquer ato que provo-
Civil Municipal, à disciplina e ao serviço que escape de sua que escândalo público;
alçada; XLI - fazer propaganda político-partidária nas depen-
XVIII - deixar de prestar auxílio que estiver ao seu alcan- dências da Guarda Civil Municipal ou de qualquer outra re-
ce, para manutenção ou restabelecimento da ordem pública; partição pública;
XIX - apropriar-se de material da Guarda Civil Municipal XLII - entrar ou permanecer em comitê político ou comí-
ou do serviço público local para uso particular; cios durante o serviço ou uniformizado fora dele;
XX - induzir superior a erro ou engano, mediante infor- XLIII - recusar-se a auxiliar as autoridades públicas ou
mações inexatas; seus agentes, que estejam nos exercícios de suas funções e
XXI - negar-se a receber uniformes e/ou objetos que lhe que em virtude destas, necessitem de auxílio;
sejam destinados regularmente, ou que necessitam ficar em XLIV - deixar de atender pedido de socorro;
seu poder; XLV - omitir-se em atender ocorrência com alto grau de
XXII - divulgar decisão, despacho, ordem ou informação, risco dentro das competências da Guarda Civil Municipal;
antes de tornada publica; XLVI - pedir ou aceitar por empréstimo, dinheiro ou
XXIII - exercer atividades incompatíveis com a função de qualquer outro valor de pessoa que:
Guarda Civil Municipal; a) trate de interesse na repartição;
XXIV - usar linguagem ofensiva ou injuriosa em requeri- b) esteja sujeito a sua fiscalização;
mento, comunicação, informação ou ato semelhante; XLVII - evadir-se de escolta ou contra ela resistir de for-
XXV - deixar, por culpa, que se extravie, deteriore ou es- ma passiva ou agressiva;
trague material da Guarda Civil Municipal, sob sua guarda XLVIII - contrariar as regras de trânsito, deixar de contro-
ou responsabilidade direta; lar os limites de velocidade, salvo quando caracterizar dire-
XXVI - deixar a identidade funcional, credencial da Guar- ção emergencial para atendimento de ocorrência;
da Civil Municipal ou outros documentos que o qualifique XLIX - trafegar com bicicleta ou assemelhado, não res-
profissionalmente com pessoas estranhas à corporação; peitando a legislação do Código de Trânsito Brasileiro - CTB;
XXVII - entrar, permanecer ou frequentar, ainda que fora L - dirigir motocicleta ou assemelhado, sem os acessó-
do serviço, locais incompatíveis com a função e que contra- rios e demais exigências, bem como em desrespeito às re-
riem a legislação em vigor e os bons costumes; gras que lhe são pertinentes;

135
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

LI - dirigir veículo automotor sem estar devidamente VI - dificultar ao servidor da Guarda Civil Municipal em
habilitado; função subordinada a apresentação de recurso ou o exercí-
LII - solicitar interferência de pessoas estranhas a Guarda cio do direito de petição;
Civil Municipal, a fim de obter, para si ou outrem, quaisquer VII - abandonar o serviço ou posto para o qual tenha
vantagens ou benefícios; sido designado;
LIII - valer-se da sua qualidade de Guarda Civil Municipal VIII - fazer, com a Administração Pública Direta ou Indi-
para levar vantagem sobre coisas e pessoas; reta contratos ou negócios de naturezas comerciais, indus-
LIV - deixar de entregar à autoridade competente, den- triais ou de prestação de serviços com fins lucrativos, por si
tro do prazo máximo de 12 (doze) horas do ocorrido, objeto ou como representante de outrem;
achado ou que lhe venha às mãos em razão de suas funções; IX - usar armamento, munição ou equipamento, não au-
LV - procurar a parte interessada no caso de furto ou de torizado;
objeto achado, mantendo com a mesma, entendimento que X - fazer disparo de armas de fogo ou assemelhadas
ponha em dúvida a sua honestidade funcional; sem que haja necessidade ou por descuido, bem como por-
LVI - utilizar-se do anonimato; tar ou fazer uso durante o serviço de armamento que não
LVII - emprestar, dar, alugar, penhorar ou vender, peças seja regulamentar;
do uniforme ou de equipamento de propriedade da Guarda XI - praticar violência, em serviço ou em razão dele, con-
Civil Municipal, do serviço público local ou de terceiros, no- tra servidores ou particulares, salvo se em legitima defesa ou
vas ou usadas, sem a permissão necessária; de outrem;
LVIII - promover desordem; XII - maltratar pessoa detida, sob sua custódia, sua guar-
LIX - tomar parte em reunião preparatória de greve sem da, sua tutela ou responsabilidade;
a devida autorização ou observação da legislação pertinen- XIII - contribuir para que pessoas detidas ou presas con-
te; servem em seu poder objetos não permitidos;
LX - praticar atos obscenos em lugar público; XIV - abrir ou tentar abrir qualquer departamento da
LXI - tomar parte em reunião preparatória de agitação Guarda Civil Municipal ou do serviço público local sem au-
social; torização;
LXII - adulterar qualquer espécie de documento em pro- XV - ofender, provocar ou desafiar autoridade ou ser-
veito próprio ou alheio; vidores da Guarda Civil Municipal que exerça função supe-
LXIII - aliciar, ameaçar ou coagir parte, testemunha ou rior, igual ou subordinada, munícipes ou quaisquer outros
perito que funcione em processo administrativo ou judicial; cidadãos, com palavras, gestos ou ações, resguardando-se
LXIV - responder, inadequada ou inconvenientemente, ao servidor da Guarda Civil Municipal os princípios de liber-
na qualidade de parte, testemunha ou perito; dade de expressão previstos na Constituição Federal e dos
LXV - revelar, parcialmente, em processo que realize ou princípios norteadores de disciplina e hierarquia inscritos no
como membro de comissão de promoção, de ato apurató- art. 5º;
rio, de transgressão disciplinar, sindicância ou processo ad- XVI - retirar ou empregar, sem previa permissão da au-
ministrativo de que faça parte; toridade competente, qualquer documento, material, objeto
LXVI - publicar ou contribuir para que sejam publicados ou equipamento do serviço público municipal, salvo se com-
fatos ou documentos privativos do Comando da Guarda Ci- provada necessidade do serviço;
vil Municipal ou do serviço público local; XVII - retirar ou tentar retirar, de local sob a responsabi-
LXVII - valer-se da qualidade de Guarda Civil Municipal lidade da Guarda Civil Municipal objeto, viatura ou animal,
para lograr, direta ou indiretamente, qualquer proveito ilí- sem autorização dos respectivos responsáveis, salvo se com-
cito; provada necessidade do serviço;
LXVIII - fumar durante o serviço nos locais em que tal XVIII - extraviar ou danificar documentos ou objetos
seja vedado, de acordo com a legislação federal e estadual pertencentes ao serviço público local de forma dolosa;
vigorantes; XIX - deixar de cumprir ou retardar serviço ou ordem
LXIX - criticar ato legal praticado por superior hierárqui- legal;
co. XX - descumprir preceitos legais durante a prisão ou a
Art. 351 São infrações disciplinares de natureza grave; custódia de pessoa detida ou presa;
I - faltar com a verdade; XXI - referir-se à qualquer pessoa através de expressões
II - desempenhar inadequadamente suas funções, de jocosas ou pejorativas que atentem contra a raça, a religião,
modo intencional; o credo ou a orientação sexual;
III - simular doença para esquivar-se ao cumprimento XXII - aconselhar ou concorrer para o descumprimento
do dever ou para obter licença ou qualquer outra vantagem; de ordem legal de autoridade competente;
IV - suprimir a identificação do uniforme ou utilizar-se XXIII - dar ordem ilegal ou claramente inexequível;
de meios ilícitos para dificultar sua identificação; XXIV - participar da gerência ou administração de em-
V - deixar de comunicar, a quem de direito, transgressão presa privada de segurança;
disciplinar cometida por integrante da Guarda Civil Munici- XXV - referir-se depreciativamente em informações,
pal; parecer, despacho, pela imprensa ou por qualquer meio de
divulgação, às ordens legais, às autoridades, aos superiores,
iguais ou subordinados, ou atos do serviço público local;

136
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

XXVI - determinar a execução de serviços não previsto XLVIII - for cometido de incontinência pública e escan-
em Lei ou regulamento, salvo comprovada necessidade do dalosa ou de vícios de jogos proibidos;
serviço; XLIX - usar ou portar entorpecentes, estimulantes ou
XXVII - valer-se ou fazer uso do cargo ou função pública qualquer substância artificial ou natural de porte e uso ilegal
para praticar assédio sexual ou moral; durante o serviço;
XXVIII - violar, alterar ou deixar de preservar local de L - tentar ou introduzir, de qualquer forma, entorpecen-
suspeita ou de ocorrência de crime; tes, estimulantes ou qualquer substância artificial ou natural
XXIX - praticar usura sob qualquer de suas formas; de porte e uso ilegal em qualquer repartição pública ou fa-
XXX - procurar a parte interessada em ocorrência, para cilitar sua introdução;
obtenção de vantagem indevida; LI - passar declarações falsas, a fim de obter vantagem
XXXI - deixar de tomar providencias para garantir a inte- econômica para si ou para outrem;
gridade física de pessoa detida; LII - utilizar o cargo ou função para obter ou conceder
XXXII - liberar pessoa detida ou dispensar parte da ocor- vantagem ilícita para si ou para outrem;
rência sem atribuição legal; LIII - não ter o devido zelo com veículos, equipamentos
XXXIII - publicar ou contribuir para que sejam publica- e imóveis que lhe estejam confiados.
dos fatos ou documentos afetos à Guarda Civil Municipal
que possam concorrer para comprometer-se a segurança; Capítulo II
XXXIV - deixar de assumir a responsabilidade por seus DAS PENALIDADES DISCIPLINARES
atos ou pelos atos praticados por servidor da Guarda Civil
Municipal em função subordinada, que agir em cumprimen- Art. 352 As penalidades disciplinares aplicáveis aos ser-
to de sua ordem; vidores da Guarda Civil Municipal são:
XXXV - omitir, em qualquer documento, dados indis- I - advertências;
pensáveis ao esclarecimento de fatos; II - repreensão;
XXXVI - transportar na viatura que esteja sob seu co- III - suspensão;
mando ou responsabilidade, pessoal ou material, sem auto- IV - exoneração;
rização da autoridade competente; V - cassação de disponibilidade.
XXXVII - ameaçar, induzir ou instigar alguém a prestar Art. 353 As penalidades disciplinares definidas no artigo
declarações falsas em procedimento penal, civil ou adminis- anterior poderão ser abrandadas pela autoridade compe-
trativo; tente para sua aplicação, levada em consideração as circuns-
XXXVIII - participar de gerencia ou administração de em- tâncias da infração disciplinar e o histórico de comporta-
presas bancarias ou industriais ou de sociedades comerciais mento verificado em prontuário do servidor.
que mantenham relações comercias com a Administração Art. 354 Uma vez aberto o processo administrativo disci-
Pública Municipal, sejam por esta subvencionadas ou este- plinar, mesmo que em seu procedimento sumário, o servidor
jam diretamente relacionadas com a finalidade da unidade somente poderá ser exonerado a pedido, após a comprova-
ou serviço em que esteja lotado; ção de sua inocência ou após o cumprimento da penalidade
XXXIX - acumular ilicitamente cargos públicos, se pro- disciplinar que lhe houver sido imposta.
vada a má-fé;
XL - deixar de comunicar ato ou fato irregular de natu- SEÇÃO I
reza grave que presenciar, mesmo quando não lhe couber DA ADVERTÊNCIA
intervir;
XLI - faltar sem motivo justificado ao serviço; Art. 355 A advertência, forma mais branda das pena-
XLII - ingerir bebidas alcoólicas ou substâncias entorpe- lidades disciplinares, será aplicada por escrito às faltas de
centes ou estimulantes, sejam artificiais ou naturais, estando natureza leve, constará do prontuário individual do infrator
de serviço; e será levada em consideração para os efeitos do disposto
XLIII - apresentar-se ao serviço em visível estado de no art. 340.
embriaguez ou sob efeito de substâncias entorpecentes ou Parágrafo Único. Para a aplicação da advertência será
estimulantes, sejam artificiais ou naturais, ou fora do serviço utilizado o procedimento sumário, conforme previsto nesta
nos locais de trabalho e demais setores do serviço público Lei.
local;
XLIV - disparar qualquer tipo de arma de fogo, por des-
SEÇÃO II
cuido ou sem necessidade, quando do ato resultar morte ou DA REPREENSÃO
lesão à integridade física de outrem;
XLV - abandono de cargo ou função; Art. 356 A penalidade disciplinar de repreensão será
XLVI - ingressar na classificação de mau comportamento aplicada, por escrito, ao servidor quando reincidente na pra-
durante o período de estágio probatório; tica de infrações de natureza leve e terá publicidade nos ter-
XLVII - não melhorar a classificação de comportamento mos da legislação vigente e no Boletim Interno da Guarda
ou de conduta, no espaço de 2 (dois) anos, o Guarda Civil Civil Municipal, devendo igualmente, ser averbada no pron-
Municipal, fora do período de estágio probatório, enquadra-
do na classificação de mau comportamento;

137
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

tuário individual do servidor para os efeitos do disposto no SEÇÃO V


art. 340. DA CASSAÇÃO DE DISPONIBILIDADE

Parágrafo Único. Para a aplicação da repreensão será Art. 362 Será cassada a disponibilidade remunerada
utilizado o procedimento sumário nos termos desta Lei. prevista nos parágrafos 2º e 3º do art. 41 da Constituição
Federal, se ficar provado, através de processo administra-
SEÇÃO III tivo disciplinar, que o servidor em disponibilidade praticou,
DA SUSPENSÃO quando em atividade, falta grave para a qual seja cominada
a pena de exoneração.
Art. 357 A penalidade disciplinar de suspensão, que não
excederá, em nenhuma hipótese, a 120 (cento e vinte) dias,
será aplicada às infrações de natureza média, terá publicida- Capítulo III
de nos termos da legislação vigente e no Boletim Interno da DA REMOÇÃO TEMPORÁRIA
Guarda Civil Municipal, devendo ser averbado no prontuário
individual do infrator para os fins do disposto no art. 340. Art. 363 Nos casos de apuração de infração disciplinar
§ 1º A penalidade de suspensão superior a 10 (dez) dias de natureza grave e que possa ensejar a aplicação da pena
sujeitará o infrator, compulsoriamente, à participação em de exoneração, o Secretário Municipal de Defesa Social e
programa de requalificação profissional no Centro de For- Prevenção à Violência poderá determinar, cautelarmente, a
mação e Ensino da Guarda Civil Municipal, com a finalidade remoção temporária do servidor para que desenvolva suas
de resgatar e fixar os valores morais e sociais da corporação. funções em outro setor, local ou posto, até a conclusão do
§ 2º Ficará a critério do Comando Geral da Guarda Civil processo administrativo disciplinar instaurado.
Municipal encaminhar o servidor suspenso por menos de 10 Parágrafo Único. A remoção temporária não implicará
(dez) dias ao Centro de Formação e Ensino para participar de na perda das vantagens e direitos decorrentes do cargo de
programa de requalificação profissional. provimento efetivo e nem terá caráter punitivo, sendo cabí-
Art. 358 Durante o período de cumprimento da suspen- vel somente quando presentes indícios suficientes de auto-
são, o servidor perderá todas as vantagens e direitos de- ria e materialidade da infração.
correntes do exercício do cargo de provimento efetivo que
ocupa.
Capítulo IV
§ 1º Quando houver conveniência para o serviço, a pena
DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
de suspensão poderá ser convertida em multa, sendo o ser-
vidor, neste caso, obrigado a permanecer em exercício, sem Art. 364 O servidor poderá ser afastado preventivamen-
prejuízo do disposto nos parágrafos 1º e 2º do artigo ante- te, por até 120 (cento e vinte) dias, desde que o seu afasta-
rior. mento seja necessário para a apuração da infração a ele im-
§ 2º A multa não poderá exceder à metade do venci- putada ou para inibir a possibilidade de reiteração da prática
mento do servidor infrator e nem perdurar por mais de 120 de irregularidades.
(cento e vinte) dias. § 1º O afastamento preventivo poderá ser aplicado:
Art. 359 A penalidade disciplinar de suspensão apenas I - quando se tratar de sindicância, após a oitiva do ser-
poderá ser aplicada após a conclusão de processo adminis- vidor intimado para prestar esclarecimentos;
trativo disciplinar nos termos desta Lei. II - quando se tratar de procedimento de investigação
da Ouvidoria Geral do Município, após a oitiva do servidor
SEÇÃO IV a ser afastado;
DA EXONERAÇÃO III - quando se tratar de processo administrativo disci-
plinar de exercício da pretensão punitiva, após citação do
Art. 360 Será aplicada a penalidade disciplinar de exo- indiciado nos termos desta Lei.
neração nos casos de cometimento de infrações de natureza § 2º Se, após a realização dos procedimentos previstos
grave. nos incisos I e II do parágrafo 1º persistirem as condições
Parágrafo Único. A penalidade disciplinar de exoneração previstas no “caput” por ocasião da instauração de processo
por ineficiência no serviço somente será aplicada quando administrativo disciplinar de exercício da pretensão punitiva,
verificada a impossibilidade de readaptação. o afastamento preventivo poderá ser novamente aplicado,
Art. 361 A penalidade disciplinar de exoneração apenas respeitado o prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias.
poderá ser aplicada após a conclusão de processo adminis- § 3º Findo o prazo do afastamento, cessarão os seus
trativo disciplinar nos termos desta Lei. efeitos, ainda que o processo administrativo disciplinar não
esteja concluído.
Art. 365 Os processos administrativos disciplinares em
que ocorra o afastamento preventivo de servidores terão
tramitações urgentes e preferenciais, devendo ser concluí-
dos no prazo referente ao de afastamento preventivo dos
envolvidos, salvo justificativa fundamentada.

138
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Parágrafo Único. O Presidente da Comissão Processante Art. 371 O servidor responde civil, penal e administrati-
providenciará para que os autos dos processos administra- vamente pelo exercício irregular das atribuições, sendo res-
tivos disciplinares sejam submetidos à apreciação da auto- ponsável por todos os prejuízos que, nessa qualidade, cau-
ridade competente em até, pelo menos, 72 (setenta e duas) sar ao Poder Público local, por dolo ou culpa, devidamente
horas antes do término do período do afastamento preven- apurados.
tivo. Parágrafo Único. As cominações civis, penais e discipli-
Art. 366 (Revogado pela Lei Complementar nº 198/2011) nares poderão cumular-se, sendo independentes entre si,
Art. 366 A - Durante o período do afastamento preven- assim como as instâncias civil, penal e administrativa.
tivo, o servidor afastado perderá 1/3 (um terço) de seu ven- Art. 372 Na ocorrência de mais de uma infração, sem co-
cimento, exceto nas hipóteses previstas nos incisos I e II do nexão entre si, serão aplicadas as sanções correspondentes
parágrafo 1º do art. 364. isoladamente.
§ 1º O servidor terá direito:
I - à diferença do vencimento e à contagem do tempo Capítulo VI
de serviço relativo ao período do afastamento preventivo, DO CUMPRIMENTO DAS PENALIDADES
quando do processo não resultar punição ou esta se limitar DISCIPLINARES
à penalidade de advertência ou repreensão;
II - à diferença do vencimento e à contagem de tempo Art. 373 A autoridade responsável pela execução da san-
de serviço correspondente ao período do afastamento exce- ção imposta a subordinado que esteja a serviço ou à dispo-
dente ao prazo de suspensão efetivamente aplicada. sição de outra unidade fará a devida comunicação para que
§ 2º Na decisão final que aplicar pena de suspensão será a medida seja cumprida.
computado o período de suspensão preventiva, determi-
nando-se os acertos pecuniários cabíveis. (Redação acresci-
da pela Lei Complementar nº 198/2011) TÍTULO V
DA CORREGEDORIA GERAL DA GUARDA CIVIL
MUNICIPAL DE SUZANO
Capítulo V
DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES DISCIPLINARES
Art. 374 Fica criada, vinculada diretamente ao Gabinete
Art. 367 Na aplicação da penalidade disciplinar serão do Secretário Municipal de Defesa Social e Prevenção à Vio-
considerados os motivos, circunstâncias e consequências da lência, a Corregedoria Geral da Guarda Civil Municipal.
infração, os antecedentes e a personalidade do infrator, as- Art. 375 Compete à Corregedoria Geral da Guarda Civil
sim como a intensidade do dolo ou o grau da culpa. Municipal:
Art. 368 São circunstâncias atenuantes: I - apurar as infrações disciplinares atribuídas aos servi-
I - estar classificado, no mínimo, na categoria de bom dores integrantes do quadro de pessoal dos servidores da
comportamento, conforme disposição prevista no inciso II Guarda Civil Municipal, nos termos desta Lei;
do art. 340; II - realizar visitas de inspeção e correições extraordiná-
II - ter prestado relevantes serviços para a Guarda Civil rias em qualquer unidade ou posto da Guarda Civil Munici-
Municipal; pal;
III - ter cometido a infração para a preservação da or- III - apreciar as representações que lhe forem dirigidas
dem ou do interesse público. relativamente à atuação irregular de servidores integrantes
Art. 369 São circunstâncias agravantes: do quadro de pessoal dos servidores da Guarda Civil Muni-
I - mau comportamento, conforme disposição prevista cipal;
no inciso V do art. 340; IV - promover investigação sobre os comportamentos
II - prática simultânea ou conexão de 2 (duas) ou mais éticos, sociais e funcionais dos candidatos a cargos de pro-
infrações; vimento efetivo ou em comissão na Guarda Civil Municipal,
III - reincidência; bem como dos ocupantes desses cargos em estágio proba-
IV - conluio de 2 (duas) ou mais pessoas; tório e dos indicados para o exercício de cargos de provi-
V – falta praticada com abuso de autoridade; mento em comissão, observadas as normas legais e regula-
VI - falta praticada perante a presença de superior hie- mentares aplicáveis.
rárquico ou subordinado. Art. 376 Compete ao Corregedor Geral da Guarda Civil
Municipal:
§ 1º Verifica-se a reincidência quando o servidor come-
I - assistir o Secretário Municipal de Defesa Social e Pre-
ter nova infração depois de transitar em julgado decisão ad-
venção à Violência nos assuntos disciplinares relativos aos
ministrativa que o tenha condenado por infração anterior.
servidores da Guarda Civil Municipal ou diretamente vincu-
§ 2º Dá-se o transito em julgado administrativo quando
lados a ela;
a decisão não comportar mais recursos.
II - manifestar-se sobre assuntos que devem ser subme-
Art. 370 Em caso de reincidência, as faltas leves serão
tidos à apreciação do Secretário Municipal de Defesa Social
puníveis com repreensão e as médias com suspensão supe-
e Prevenção à Violência, bem como indicar a composição
rior a 15 (quinze) dias.
das comissões de processo administrativo disciplinar e de
Parágrafo Único. As punições canceladas ou anuladas
sindicância;
não serão consideradas para fins de reincidência.

139
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

III - dirigir, planejar, coordenar e supervisionar as ativida- às sindicâncias e aos processos administrativos disciplinares,
des, assim como distribuir os serviços da Corregedoria Geral; bem como os demais serviços relacionados ao andamento
IV - apreciar e encaminhar as representações que lhe fo- dos processos sob a responsabilidade deste órgão.
rem dirigidas relativamente à atuação irregular de servidores § 3º Compete aos chefes das Seções de Sindicâncias e
integrantes do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal de Processos Administrativos Disciplinares acompanhar as
propor ao Secretário Municipal de Defesa Social e Prevenção atividades dos Agentes Disciplinares, respectivamente no
à Violência a instauração de sindicância e processo adminis- que diz respeito às sindicâncias e processos administrativos
trativo disciplinar atribuídas aos referidos servidores; disciplinares, organizando e dirigindo as atividades que di-
V - avocar, excepcional e fundamentadamente, processo zem respeito ao suporte de suas atividades.
administrativo disciplinar e sindicância atribuído a servidores
integrantes do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal; TÍTULO VI
VI - responder as consultas formuladas pelos órgãos da DAS NORMAS GERAIS SOBRE OS PROCEDIMENTOS
Administração Pública sobre assuntos de sua competência; DISCIPLINARES
VII - determinar a realização de correições extraor-
dinárias nas unidades e postos da Guarda Civil Municipal, Capítulo I
remetendo, sempre, relatório reservado ao Comandante da DAS MODALIDADES DE PROCEDIMENTOS
Guarda; DISCIPLINARES
VIII - remeter ao Comandante da Guarda relatório cir-
Art. 379 São procedimentos disciplinares:
cunstanciado sobre a atuação pessoal e funcional dos ser-
I - de preparação e investigação:
vidores integrantes do quadro de pessoal dos servidores da
a) o relatório circunstanciado e conclusivo sobre os fa-
Guarda Civil Municipal em estágio probatório, propondo, se
tos;
for o caso, a instauração de procedimento especial, observa-
b) a sindicância.
da a legislação pertinente;
II - do exercício da pretensão punitiva:
IX - submeter ao Comandante da Guarda Civil Munici-
a) aplicação direta da penalidade;
pal, relatório circunstanciado e conclusivo sobre a atuação
b) processo sumário;
pessoal e funcional de servidor integrante do quadro de
c) inquérito administrativo.
pessoal dos servidores da Guarda Civil Municipal indicado
III - a exoneração em período probatório.
para o exercício de chefias e encarregaturas, observada a le-
gislação aplicável;
Capítulo II
X - praticar todo e qualquer ato ou exercer quaisquer DA PARTE E DE SEUS PROCURADORES
das atribuições e competências das unidades ou dos servi-
dores subordinados; Art. 380 São consideradas partes, nos procedimentos
XI - proceder, pessoalmente, às correições nas comis- disciplinares de exercício da pretensão punitiva, o servidor
sões de sindicância e de processo administrativo disciplinar integrante do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal
que lhe são subordinadas; ocupante de cargo de provimento efetivo e o titular de car-
XII - aplicar penalidades dentro de sua competência, na go de provimento em comissão.
forma prevista em Lei; Art. 381 Os servidores considerados incapazes tempo-
XIII - julgar os recursos de classificação ou reclassificação rária ou permanentemente, em razão de doença física ou
de comportamento dos servidores integrantes do quadro de mental, serão representados ou assistidos por seus pais, tu-
pessoal dos servidores da Guarda Civil Municipal. tores ou curadores, na forma de lei civil.
Art. 377 Ficam criadas, junto ao Gabinete do Secretá- Parágrafo Único. Inexistindo representantes legalmente
rio Municipal de Defesa Social e Prevenção à Violência, a investidos ou na impossibilidade comprovada de trazê-los
Comissão de Sindicância e a Comissão Permanente de Pro- ao procedimento disciplinar, ou ainda, se houver pendências
cesso Administrativo Disciplinar, ambas a serem compostas sobre a capacidade do servidor, serão convocados como
por três (03) membros, nomeados livremente pelo Chefe do seus representantes os pais, o cônjuge ou companheiro, os
Poder Executivo. filhos ou parentes até segundo grau, observada a ordem
Art. 378 A Comissão de Sindicância e a Comissão Per- aqui estabelecida.
manente de Processo Administrativo a que se refere o artigo Art. 382 A parte poderá constituir advogado legalmente
anterior serão assistidas por servidores denominados Agen- habilitado para acompanhar os termos dos procedimentos
tes Disciplinares, que comporão a estrutura da Corregedoria disciplinares de seu interesse.
Geral da Guarda Civil Municipal. § 1º Nos procedimentos de exercício da pretensão puni-
§ 1º Comporão a estrutura da Corregedoria Geral da tiva, se a parte não constituir advogado ou for declarada re-
Guarda Municipal: vel, ser-lhe-á dado defensor, na pessoa de Procurador Muni-
I - Divisão de Processos Disciplinares; cipal, que não terá poderes para receber citação e confessar.
II - Seção de Sindicâncias; § 2º A parte poderá, a qualquer tempo, constituir advo-
III - Seção de Processos Administrativos Disciplinares. gado, hipótese em que se encerrará imediatamente, a repre-
§ 2º Compete ao Chefe de Divisão de Processos Discipli- sentação do defensor dativo.
nares supervisionar as atividades administrativas do cartório
da Corregedoria Geral da Guarda Civil Municipal, referente

140
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

§ 3º Ser-lhe-á dado também defensor dativo quando, Art. 390 O servidor que, sem justa causa, deixar de aten-
notificada de que seu advogado constituído não praticou der à intimação com prazo marcado, terá, por decisão do
atos necessários e a parte não tomar qualquer providência Presidente da Comissão Processante, suspenso o pagamen-
no prazo de 3 (três) dias. to de seu vencimento, até que satisfaça a exigência.
Parágrafo Único. Igual penalidade poderá ser aplicada
à chefia do setor de pessoal que deixar de dar ciência da
Capítulo III publicação ao servidor intimado.
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS Art. 391 A intimação do defensor constituído ou dati-
vo será feita por intermédio de publicação nos termos da
SEÇÃO I legislação vigorante, através de jornal de grande circulação
DAS CITAÇÕES
na região durante 3 (três) edições consecutivas, em quadro
de avisos fixado na sede da Guarda Civil Municipal, sem pre-
Art. 383 Todo servidor que for parte em procedimen-
juízo de outras formas admissíveis, devendo dela constar o
to disciplinar de exercício da pretensão punitiva será citado,
número do processo, o nome dos advogados e da parte.
sob pena de nulidade do procedimento, para dele participar
§ 1º Dos atos realizados em audiência reputam-se inti-
e defender-se.
mados, desde logo, à parte, o advogado e o defensor dativo.
Parágrafo Único. O comparecimento espontâneo da
§ 2º Quando houver somente um defensor dativo de-
parte ou qualquer outro ato que implique ciência inequívoca
signado no processo, o cartório encaminhar-lhe-á os autos
a respeito da instauração do procedimento administrativo
por carga, diretamente, independentemente de intimação
suprem a necessidade de realização de citação.
ou publicação, devendo ser observado, na sua devolução, o
Art. 384 A citação far-se-á com, no mínimo, 48 (quarenta
prazo legal cominado para a prática do ato.
e oito) horas antes da data do interrogatório designado, da
seguinte forma:
Capítulo IV
I - por entrega pessoal do mandado ou por meio do DOS PRAZOS
órgão de Recursos Humanos;
II - por correspondência; Art. 392 Os prazos serão contados nos termos da parte
III - por edital. geral desta Lei.
Art. 385 A citação por entrega pessoal far-se-á sempre Art. 393 Decorrido o prazo, extingue-se para a parte,
que o servidor estiver em exercício. automaticamente, o direito de praticar o ato, salvo se esta
Art. 386 Far-se-á a citação por correspondência quando provar que não o realizou por evento imprevisto, alheio à
o servidor não estiver em exercício ou residir fora do Muni- sua vontade ou a de seu procurador, hipótese em que o Pre-
cípio, devendo o mandado ser encaminhado, com aviso de sidente da Comissão Processante permitirá a prática do ato,
recebimento, para o endereço residencial constante do seu assinalando prazo para tanto.
assentamento funcional. Art. 394 Não havendo disposição expressa nesta Lei e
Art. 387 Estando o servidor em local incerto e não sa- nem assinalação de prazo pelo Presidente da Comissão Pro-
bido ou não sendo encontrado, por duas vezes, no ende- cessante, o prazo para a prática dos atos no procedimento
reço residencial constante do seu assentamento funcional, disciplinar, a cargo da parte, será de 48 (quarenta e oito)
promover-se-á citação por editais, com prazo de 15 (quinze) horas.
dias, publicados nos termos da legislação vigorante, divul- Parágrafo Único. A parte poderá renunciar ao prazo es-
gado em jornal de grande circulação na região durante 3 tabelecido exclusivamente a seu favor.
(três) edições consecutivas, em quadro de avisos fixado na Art. 395 Quando, no mesmo procedimento disciplinar,
sede da Guarda Civil Municipal, sem prejuízo de outras for- houver mais de uma (01) parte, os prazos serão comuns, ex-
mas admissíveis. ceto para as razões finais, quando será contado em dobro,
Art. 388 O mandado de citação conterá a designação de se houver diferentes advogados.
dia, hora e local para interrogatório e será acompanhado da § 1º Havendo no processo até 2 (dois) defensores, cada
cópia da denuncia administrativa, que dele fará parte inte- um apresentará alegações finais, sucessivamente, no prazo
grante e complementar. de 10 (dez) dias cada um.
§ 2º Havendo mais de 2 (dois) defensores, caberá ao
SEÇÃO II Presidente da Comissão Processante conceder, mediante
DAS INTIMAÇÕES
despacho nos autos, prazo para vista fora da repartição, de-
signando data única para apresentação dos memoriais de
Art. 389 A intimação de servidor efetivo em exercício
defesa na repartição.
será feita nos termos da legislação vigorante, através de jor-
nal de grande circulação na região durante 3 (três) edições
consecutivas, em quadro de avisos fixado na sede da Guarda
Civil Municipal, sem prejuízo de outras formas admissíveis.
Parágrafo Único. O responsável pelo órgão de recursos
humanos deverá diligenciar para que o servidor tome ciên-
cia da publicação.

141
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Capítulo V Art. 405 As testemunhas serão ouvidas, de preferência,


DAS PROVAS primeiramente as da Comissão Processante e, após, as da
parte.
SEÇÃO I Art. 406 As testemunhas deporão em audiência peran-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS te o Presidente da Comissão Processante, os membros e o
defensor constituído e, na sua ausência, o defensor dativo.
Art. 396 Todos os meios de prova admitidos em direito § 1º Se a testemunha, por motivo relevante, estiver im-
e moralmente legítimos são hábeis para demonstrar a vera- possibilitada de comparecer à audiência, mas não de prestar
cidade dos fatos. depoimento, o Presidente da Comissão Processante poderá
Art. 397 O Presidente da Comissão Processante poderá designar dia, hora e local para inquiri-la.
limitar e excluir, mediante despacho fundamentado, as pro- § 2º Sendo necessária a oitiva de servidor que estiver
vas que considerar excessivas, impertinentes ou protelató- cumprindo pena privativa de liberdade, o Presidente da Co-
rias. missão Processante solicitará a autoridade competente que,
se possível, apresente o preso em dia e hora designados
SEÇÃO II para a realização da audiência.
DA PROVA FUNDAMENTAL
§ 3º O Presidente da Comissão Processante poderá, ao
invés de realizar a audiência mencionada no parágrafo 2º,
Art. 398 Fazem a mesma prova que o original, as certi-
fazer a inquirição por escrito, dirigindo correspondência à
dões de processos judiciais e as reproduções de documen-
autoridade competente, para que tome o depoimento, con-
tos autenticadas por oficial público ou conferidas e autenti-
forme as perguntas formuladas pela Comissão Processante
cadas por servidor público para tanto competente.
e, se for o caso, pelo defensor, constituído ou dativo.
Art. 399 Admitem-se como provas as declarações cons-
Art. 407 Incumbirá à parte levar à audiência, indepen-
tantes de documento particular, escrito e assinado pelo de-
dentemente de intimação, as testemunhas por ela indicadas
clarante, bem como depoimentos constantes de sindicân-
que não sejam servidores municipais, decaindo o direito de
cias, que não puderem, comprovadamente, ser reproduzido
ouvi-las, caso não compareçam.
verbalmente em audiência.
Parágrafo Único. As chefias imediatas diligenciarão para
Art. 400 Servem também à prova dos fatos o telegrama,
que sejam dispensados os servidores no momento das au-
o radiograma, a fotografia, a fonografia, a fita de vídeo e
diências, devendo para tanto ser informadas a respeito da
outros meios obtidos de maneira lícita e aceita pelas partes,
designação da audiência com, no mínimo, 48 (quarenta e
inclusive os eletrônicos.
oito) horas de antecedência.
Art. 401 Caberá à parte que impugnar a prova produzir a
Art. 408 Antes de depor, a testemunha será qualificada,
perícia necessária à comprovação do alegado.
indicando nome, idade, profissão, local e função de traba-
SEÇÃO III lho, número da cédula de identidade, residência, estado civil,
DA PROVA TESTEMUNHAL bem como se tem parentesco com a parte e, se for servidor
municipal, o número de seu registro funcional.
Art. 402 A prova testemunhal é sempre admissível, po- Art. 409 A parte cujo defensor não comparecer à au-
dendo ser indeferida pelo Presidente da Comissão Proces- diência de oitiva de testemunha será assistida por um de-
sante: fensor designado para o ato pelo Presidente da Comissão
I - se os fatos sobre os quais serão inquiridas as teste- Processante.
munhas já foram provados por documentos ou confissão da Art. 410 O Presidente da Comissão Processante interro-
parte; gará a testemunha, cabendo, primeiro aos membros e de-
II - quando os fatos só puderem ser provados por docu- pois à defesa, formular reperguntas tendentes a esclarecer
mentos ou perícia. ou complementar o depoimento.
Art. 403 Compete à parte entregar na repartição, no trí- Parágrafo Único. O Presidente da Comissão Processante
duo probatório, o rol das testemunhas de defesa, indicando poderá indeferir as reperguntas, mediante justificativa ex-
seu nome completo, endereço e respectivo código de ende- pressa no termo de audiência.
reçamento postal - CEP. Art. 411 O depoimento, depois de lavrado, será rubri-
§ 1º Se a testemunha for servidor municipal, deverá a cado e assinado pelos membros da Comissão Processante,
parte indicar o nome completo, unidade de lotação e o nú- pelo depoente e pelo defensor constituído ou dativo.
mero do registro funcional. Art. 412 O Presidente da Comissão Processante poderá
§ 2º Depois de apresentado o rol de testemunhas, a determinar, de oficio ou a requerimento:
parte poderá substituí-la até a data da audiência designada, I - a oitiva de testemunhas referidas nos depoimentos;
com a condição de ficar sob sua responsabilidade levá-las à II - a acareação de 2 (duas) ou mais testemunhas, ou
audiência. de alguma delas com a parte, quando houver divergência
§ 3º O não comparecimento da testemunha substituída essencial entre as declarações sobre fato que possa ser de-
implicará desistência de sua oitiva pela parte. terminante na conclusão do procedimento.
Art. 404 Cada parte poderá arrolar, no máximo, 4 (qua-
tro) testemunhas.

142
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO IV Art. 421 A revelia deixará de ser decretada ou, se decre-


DA PROVA PERICIAL tada, será revogada quando verificado, a qualquer tempo,
que, na data designada para o interrogatório:
Art. 413 A prova pericial consistirá em exames, vistorias I - a parte estava legalmente afastada de suas funções
e avaliações e terá indeferimento pelo Presidente da Comis- por motivos constantes nos incisos V, VI, IX e X do art. 82
são Processante, quando dela não depender a prova do fato. e nos incisos III e IV do art. 117, ou em gozo de férias nos
Art. 414 Se o exame tiver por objeto a autenticidade ou termos do art. 126, todos desta Lei, em prisão provisória ou
falsidade de documento ou for da natureza médico-legal, temporária ou em cumprimento de pena de privação de li-
a Comissão Processante requisitará, preferencialmente, ele- berdade.
mentos junto às autoridades policiais ou judiciais, quando II - a parte comprovar motivo de força maior que tenha
em curso investigação criminal ou processo judicial. impossibilitado seu comparecimento tempestivo.
Art. 415 Quando o exame tiver por objeto a autenticida- Parágrafo Único. Revogada a revelia, será realizado o
de de letra ou firma, o Presidente da Comissão Processante, interrogatório, reiniciando-se a instrução, com aproveita-
se necessário ou conveniente, poderá determinar à pessoa mento dos atos instrução, com aproveitamento dos atos de
à qual se atribui a autoria do documento, que copie ou es- instrução já realizados, desde que ratificados pela parte, por
creva, sob ditado, em folha de papel, dizeres diferentes, para termo lançado nos autos.
fins de comparação e posterior perícia. Art. 422 Decretada a revelia, dar-se-á prosseguimento
Art. 416 Ocorrendo necessidade de perícia médica do ao procedimento disciplinar, designando-se defensor dativo
servidor denunciado administrativamente, o órgão pericial para atuar em defesa da parte.
do Município dará à solicitação da Comissão Processante Parágrafo Único. É assegurado ao revel o direito de
caráter urgente e preferencial. constituir advogado em substituição ao defensor dativo que
Art. 417 Quando não houver possibilidade de obtenção lhe tenha sido designado.
de elementos junto às autoridades policiais ou judiciais e a Art. 423 A decretação da revelia acarretará a preclusão
perícia for indispensável para a conclusão do processo, o das provas que deveriam ser requeridas, especificadas e/ou
Presidente da Comissão Processante solicitará ao Secretário produzidas pela parte em seu interrogatório, assegurada a
Municipal de Defesa Social e Prevenção à Violência a contra- faculdade de juntada de documentos com as razões finais.
tação de perito para esse fim. Parágrafo Único. Ocorrendo a revelia, a defesa poderá
requerer provas no tríduo probatório.
Capítulo VI Art. 424 A parte revel não será intimada pela Comissão
DAS AUDIÊNCIAS E DO INTERROGATÓRIO DA PARTE Processante para a prática de qualquer ato, constituindo
ônus da defesa comunicar-se com o servidor, se assim en-
Art. 418 A parte será interrogada na forma prevista para tender necessário.
a inquirição de testemunhas, vedada a presença de terceiros, § 1º Desde que compareça perante a Comissão Proces-
exceto seu defensor constituído ou dativo. sante ou intervenha no processo, pessoalmente ou por meio
Art. 419 O termo de audiência será lavrado, rubricado de advogado com procuração nos autos, o revel passará a
e assinado pelos membros da Comissão Processante, pela ser intimado pela Comissão, para a prática de atos proces-
parte e, se for o caso, por seu defensor. suais.
§ 2º O disposto no parágrafo 1º não implica a revogação
da revelia nem elide os demais efeitos desta.
Capítulo VII
DA REVELIA E DE SUAS CONSEQUÊNCIAS
Capítulo VIII
Art. 420 O Presidente da Comissão Processante decreta- DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
rá a revelia da parte que, regularmente citada, não compare-
Art 425 É defeso aos membros da Comissão Processante
cer perante a Comissão no dia e hora designados.
exercer suas funções em procedimentos disciplinares:
§ 1º A regular citação será comprovada mediante aos
I - de que faça parte;
autos:
II - em que interveio como mandatário da parte, defen-
I - da contrafé do respectivo mandado, no caso de cita-
sor dativo ou testemunha;
ção pessoal;
III - quando a parte for seu cônjuge, companheiro(a),
II - das cópias dos 3 (três) editais publicados nos termos
parente consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até
da legislação vigente, através de jornal de grande circulação
segundo grau, amigo íntimo ou inimigo capital;
na região durante 3 (três) edições consecutivas, sem prejuízo
IV - quando em procedimento estiver postulando como
de outras formas admissíveis, no caso de citação por edital;
advogado da parte seu cônjuge, companheiro(a) ou paren-
III - do aviso de recebimento (AR), no caso de citação
tes consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até
por correspondência.
segundo grau;
§ 2º Não sendo possível realizar a citação, o intimador
V - quando houver atuado na sindicância que precedeu
certificará os motivos nos autos.
o procedimento de exercício de pretensão punitiva;
VI - na etapa da revisão, quando tenha atuado anterior-
mente.

143
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 426 A arguição de suspeição de parcialidade de al- lidades disciplinares de advertência, repreensão e suspensão
guns ou de todos os membros da Comissão Processante e até 15 (quinze) dias, observado o disposto nesta Lei.
do defensor dativo precederá qualquer outra, salvo quando Art. 432 Na ocorrência de infração disciplinar envolven-
fundada em motivo superveniente. do servidores de mais de uma unidade ou posto da Guarda
§ 1º A arguição deverá ser alegada pelos citados no Civil Municipal, caberá à chefia imediata com responsabili-
caput ou pela parte, em declarações escritas e motivadas, dade territorial sobre a área onde ocorreu o fato elaborar
que suspenderá o andamento do processo. relatório circunstanciado sobre a irregularidade e remetê-lo
§ 2º Sobre a suspeição arguida, o Corregedor Geral da à Corregedoria Geral da Guarda Civil Municipal para o res-
Guarda Civil Municipal: pectivo processamento.
I - se a acolher, tomará as medidas cabíveis, necessárias Art. 433 Quando duas autoridades de níveis hierárqui-
à substituição do(s) suspeito(s) ou à redistribuição do pro- cos diferentes, ambas com competência disciplinar sobre
cesso; o infrator, conhecerem da infração disciplinar, caberá à de
II - se a rejeitar, motivará a decisão e devolverá o pro- maior hierarquia instaurar e encaminhar à Corregedoria Ge-
cesso ao Presidente da Comissão Processante, para prosse- ral da Guarda Civil Municipal o relatório circunstanciado e
guimento. conclusivo sobre os fatos.

Capítulo IX Capítulo X
DA COMPETÊNCIA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE E DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
Art. 427 A decisão nos procedimentos disciplinares será
proferida por despacho devidamente fundamentado da au- Art. 434 Extingue-se a punibilidade:
toridade competente, no qual será mencionada a disposição I - pela morte da parte;
legal em que se baseia o ato. II - pela prescrição;
Art. 428 Compete ao Chefe do Poder Executivo a apli- III - pela anistia.
cação da pena de exoneração, na hipótese prevista nos arts. Art. 435 O processo administrativo disciplinar extingue-
360 e 361. -se com a publicação do despacho decisório pela autoridade
Art. 429 Compete ao Secretário Municipal de Defesa So- competente.
cial e Prevenção à Violência: Parágrafo Único. O processo, após sua extinção, será
I - determinar a instauração: enviado à unidade de lotação do servidor infrator, para as
a) das sindicâncias em geral; necessárias anotações no prontuário e arquivamento, se não
b) dos procedimentos de exoneração no período de es- interposto recurso.
tágio probatório; Art. 436 Extingue-se o processo sem julgamento de mé-
c) dos processos sumários. rito, quando a autoridade competente para proferir a deci-
II - aplicar o afastamento preventivo; são acolher proposta da comissão processante, nos seguin-
III - decidir, por despacho, o processo administrativo tes casos:
disciplinar, nos casos de: I - morte da parte;
a) absolvição; II - ilegitimidade da parte;
b) desclassificação da infração ou abrandamento de pe- III - quando a parte já tiver sido demitida, dispensada
nalidade de que resulte a imposição de pena de repreensão ou exonerada do serviço público, casos em que se farão as
ou de suspensão; necessárias anotações no prontuário para os fins de registro
c) aplicação de pena de suspensão por período superior de antecedentes;
a 15 (quinze) dias. IV - quando o processo administrativo disciplinar versar
IV - decidir as sindicâncias; sobre a mesma infração de outro em curso ou já decidido;
V - decidir os procedimentos de exoneração em estágio V - por anistia.
probatório; Art. 437 Extingue-se o processo com julgamento de mé-
VI - decidir os processos sumários; rito, quando a autoridade competente proferir decisão:
VII - deliberar sobre a remoção temporária de servidor I - pelo arquivamento da sindicância ou pela instaura-
integrante do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal. ção do subsequente processo administrativo disciplinar de
Parágrafo Único. A competência estabelecida neste arti- pretensão punitiva;
go abrange as atribuições para decidir os pedidos de recon- II - pelo reconhecimento da prescrição.
sideração, apreciar e encaminhar os recursos e os pedidos
de revisão de processo administrativo ao Chefe do Poder TÍTULO VII
Executivo. DOS PROCEDIMENTOS DISCIPLINARES
Art. 430 Compete ao Corregedor Geral da Guarda Ci-
vil Municipal, além das competências atribuídas no art. 376, Capítulo Único
também a de determinar o cancelamento da punição, con- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
forme o disposto no art. 186 desta Lei.
Art. 438 Aplica-se aos servidores integrantes do quadro
Art. 431 Compete somente ao Secretário Municipal de
de pessoal da Guarda Civil Municipal e aos ocupantes dos
Defesa Social e Prevenção à Violência a aplicação das pena-

144
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

cargos de provimento em comissão ligados a Guarda Civil Art. 444 Fica atribuída ao Corregedor Geral da Guarda
Municipal o processo administrativo disciplinar previsto nes- Civil Municipal competência para apreciar e decidir os pedi-
ta Lei. dos de certidões e fornecimento de copias reprográficas ou
Art. 439 Após o julgamento do processo administrativo qualquer outro meio de reprodução referente a sindicâncias
disciplinar é vedado à autoridade julgadora avocá-lo para ou processos administrativos disciplinares ou não, que es-
modificar a sanção aplicada ou agravá-la. teja em andamento na Corregedoria Geral da Guarda Civil
Art. 440 Durante a tramitação do processo administrati- Municipal.
vo disciplinar, fica vedada aos órgãos da Administração Mu- Art. 444-A (VETADO)
nicipal a requisição dos respectivos autos, para consulta ou
qualquer outro fim. LIVRO COMPLEMENTAR
Parágrafo Único. Excluem-se do disposto no “caput”
apenas os órgãos que possuem competência legal para esta
requisição. TÍTULO ÚNICO
Art. 441 Os procedimentos disciplinados nesta Lei terão DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS
sempre tramitação em autos próprios, sendo vedada sua
instauração ou processamento em expedientes que cuidem Art. 445 Os prazos previstos nesta Lei serão contados
de assuntos diversos da infração a ser apurada ou punida. em dias corridos, excluindo-se o dia do começo e incluindo-
-se o do vencimento, ficando prorrogado, para o primeiro
§ 1º Os processos acompanhantes ou requisitados para dia útil seguinte o prazo vencido em dia em que não haja
subsidiar a instrução de sindicância ou processos adminis- expediente.
trativos disciplinares serão devolvidos à unidade competen- Art. 446 Para todos os efeitos previstos nesta Lei, os exa-
te para prosseguimento, assim que extraídos os elementos mes de aptidão física e mental serão obrigatoriamente rea-
necessários, por determinação do Presidente da Comissão lizados por médicos da Rede Municipal, ou na sua falta, por
Processante. médicos credenciados pelas autoridades máximas de cada
§ 2º Quando o conteúdo do acompanhante for essencial Poder ou órgão.
para a formação de opinião e julgamento do processo ad- § 1º Em casos especiais, atendendo a natureza da en-
ministrativo disciplinar, os autos somente serão devolvidos à fermidade, a autoridade máxima de cada Poder ou Órgão
unidade após a decisão final. poderá designar junta médica para proceder ao exame, dela
Art. 442 O pedido de vista de autos em tramitação, por fazendo parte, obrigatoriamente, médicos da Rede Munici-
quem não seja parte ou defensor, dependerá de requeri- pal ou médicos credenciados pela mesma.
mento por escrito e será cabível para a defesa de direitos e § 2º Os atestados médicos concedidos aos servidores
esclarecimentos de situações de interesse pessoal. municipais, quando em tratamento fora do Município, terão
Parágrafo Único. Poderá ser vedada a vista dos autos até sua validade condicionada à ratificação posterior por médi-
a publicação da decisão final, inclusive para as partes e seus co da Rede Municipal.
defensores, quando o processo se encontrar relatado. Art. 447 São isentos de taxas, emolumentos ou custas
os requerimentos, certidões e outros papéis que, na esfera
TÍTULO VIII administrativa, interessarem ao servidor municipal, ativo ou
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS inativo, exclusivamente nos assuntos funcionais.
Art. 448 (VETADO)
Art. 443 A jornada de trabalho dos servidores integran- Art. 448 A - O Chefe de cada Poder expedirá os atos
tes do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal será de necessários à execução da presente Lei. (Redação acrescida
40 (quarenta) horas semanais, sendo estabelecido o horário pela Lei Complementar nº 198/2011)
de trabalho conforme a necessidade do serviço através de Art. 449 As jornadas de trabalho nas repartições públi-
escala mensal na proporção de 12 (doze) horas de trabalho cas municipais serão fixadas através de ato do Chefe de cada
com 36 (trinta e seis) horas de descanso. Poder, no âmbito de suas competências.
§ 1º Os integrantes do quadro efetivo de pessoal da Art. 450 As despesas decorrentes da execução da pre-
Guarda Civil Municipal que prestarem serviços a título de sente Lei Complementar correrão a conta de verbas próprias
horas extraordinárias poderão, a critério do Secretário Mu- do orçamento vigente e futuros, autorizadas desde já even-
nicipal de Defesa Social e Prevenção a Violência, compensa- tuais suplementações se necessárias.
rem as horas em sistema denominado banco de horas nos Art. 451 Esta Lei Complementar entra em vigor no pri-
termos do art. 121 desta Lei. meiro dia útil do mês subsequente a sua publicação e os
§ 2º A escala mensal de que trata o “caput” será instituí- Chefes de cada um dos Poderes expedirão os atos necessá-
da através de ato do Secretário Municipal de Defesa Social rios a sua execução.
e Prevenção à Violência até o dia 25 (vinte e cinco) do mês Paço Municipal “Prefeito Firmino José da Costa”, 08 de
anterior a sua vigência. julho de 2010, 61º da Emancipação Político-Administrativa.

145
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

IV - função gratificada é o conjunto de tarefas de direção,


LEI MUNICIPAL N° 4.392, DE 08 DE chefia, supervisão, coordenação e assessoramento que o servi-
JULHO DE 2010 - DISPÕE SOBRE A dor ocupante de cargo de provimento efetivo agrega através
de nomeação percebendo um complemento remuneratório;
ESTRUTURAÇÃO DO PLANO DE CARGOS,
V - grupo ocupacional é o agrupamento de cargos de na-
CARREIRAS E VENCIMENTOS DA tureza, requisitos, responsabilidades e grau de conhecimento
PREFEITURA MUNICIPAL DE SUZANO. semelhantes, exigidos para seu desempenho;
HTTP://WWW.SUZANO.SP.GOV.BR/WEB/ VI - referência é a designação numérica indicativa da po-
WP-CONTENT/UPLOADS/2018/06/4392- sição do cargo na hierarquia da tabela de vencimento;
10-ATUALIZADO-DISP%C3%B5E-SOBRE-A- VII - faixa de vencimento é a escala de padrões de venci-
ESTRUTURA%C3%A7%C3%A3O-DO-PLANO- mento atribuídos a uma determinada referência;
DE-CARGOS-CARREIRAS-L.PDF VIII - padrão de vencimento é a letra que identifica o ven-
cimento recebido pelo servidor dentro da sua faixa específica;
IX - interstício é o lapso de tempo estabelecido como o
mínimo necessário para que o servidor se habilite à progres-
LEI Nº 4392, DE 08/07/2010 são funcional;
X - progressão é a elevação do padrão de vencimento do
DISPÕE SOBRE A ESTRUTURAÇÃO DO PLANO DE CARGOS, servidor para o padrão imediatamente superior dentro da refe-
CARREIRAS E VENCIMENTOS DA PREFEITURA MUNICIPAL rência, nos termos estabelecidos para o cargo a que pertence;
DE SUZANO, DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, DO XI - evolução funcional é a mudança de referência dentro do
QUADRO DE PESSOAL DA GUARDA CIVIL MUNICIPAL DE padrão a que o servidor se encontra pelos critérios estabelecidos;
SUZANO, INSTITUI TABELAS DE VENCIMENTO, E DÁ OUTRAS XII - símbolo é a designação alfanumérica indicativa do
PROVIDÊNCIAS. vencimento do cargo de provimento em comissão na hierar-
quia da tabela de vencimento.
(Autoria: Executivo Municipal

Projeto de Lei nº 193/2010) TÍTULO II


DA ESTRUTURA DO PLANO DE CARGOS, CARREIRAS E
O PREFEITO MUNICIPAL DE SUZANO, usando das atribuições VENCIMENTOS
legais que lhe são conferidas; FAZ SABER que a Câmara
Municipal de Suzano aprova e ele promulga a seguinte Lei: Capítulo I
DOS CARGOS DA ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
PARTE GERAL
Art. 3º São cargos de provimento efetivo da administra-
LIVRO ÚNICO ção geral aqueles constantes do Quadro de Cargos de Provi-
DOS SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS EM GERAL mento Efetivo da Prefeitura Municipal de Suzano, previstos no
Anexo I desta Lei, divididos em grupos ocupacionais.
TÍTULO I Art. 4º Os cargos de provimento efetivo da administração
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES geral constantes do Anexo II desta Lei passam a receber as
novas denominações nele estabelecidas.
Capítulo I Art. 5º Ficam criados junto ao Quadro de Provimento Efeti-
DA ESTRUTURA DO PLANO DE CARGOS, CARREIRAS E vo da Prefeitura Municipal de Suzano, os cargos de provimento
VENCIMENTOS efetivo da administração geral constantes do Anexo III desta Lei.
Art. 6º Serão extintos na vacância os cargos de provimento
Art. 1º Esta Lei institui o Plano de Cargos, Carreiras e Ven- efetivo da administração geral constantes do Anexo IV desta Lei.
cimentos dos servidores públicos da Administração Geral, dos Art. 7º Ficam extintos os empregos públicos permanentes
Profissionais da Educação da Prefeitura Municipal de Suzano, da administração geral constantes do Anexo V desta Lei.
e da Guarda Civil Municipal de Suzano. Art. 8º São cargos de provimento em comissão da ad-
Art. 2º Para os efeitos desta Lei são adotadas as seguintes ministração geral, de livre nomeação e exoneração, aqueles
definições: constantes do Anexo VI desta Lei.
I - cargo público de provimento efetivo é o conjunto in- Art. 9º As descrições dos cargos de provimento efetivo
divisível de atribuições e responsabilidades assumidas pelo da administração geral, bem como os requisitos para o seu
servidor, admitido no serviço público por meio de concurso, preenchimento, são as constantes do Anexo XXV desta Lei.
nos termos da legislação vigente;
II - servidores públicos é o conjunto dos ocupantes de
Capítulo II
cargos públicos de provimento efetivo e em comissão da Pre- DA ADMISSÃO
feitura Municipal de Suzano;
III - cargo de provimento em comissão é o conjunto de Art. 10 A admissão de pessoal na Prefeitura Municipal
tarefas e encargos de direção, chefia ou assessoramento atri-
de Suzano se dará nos moldes estabelecidos pela Constitui-
buídos ao servidor público, podendo ser de livre nomeação
ção Federal, pelo Estatuto dos Servidores Públicos Munici-
e exoneração ou de nomeação restrita e de livre exoneração;
pais e demais normas vigentes.

146
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 11 É vedada, a partir da data de publicação desta Lei, IV - que tiveram 05 (cinco) ou mais faltas injustificadas, no
a admissão de pessoal para cargos que não integrem os Qua- interstício da evolução corrente;
dros de Provimento da Prefeitura Municipal de Suzano. V - que estiverem licenciados, por período superior a 180
Parágrafo Único - disposto no “caput” não se aplica para (cento e oitenta) dias, no interstício da evolução corrente, sal-
as contratações por tempo determinado, realizadas nos ter- vo em virtude de acidente de trabalho ou para tratamento de
mos da Lei Municipal nº 2.311, de 10 de março de 1989. doença profissional.
Art. 22 Será de competência e iniciativa do servidor re-
Capítulo III querer os benefícios da evolução funcional, mediante a apre-
DOS VENCIMENTOS sentação da documentação específica exigida.
Art. 23 O processo de evolução funcional por qualquer
Art. 12 Os cargos da administração geral integrantes do Quadro via sempre se dará com total observância da disponibilida-
de Cargos de Provimento Efetivo da Prefeitura Municipal de Suzano de financeira e orçamentária do Município e o limite legal de
estão dispostos conforme o grupo ocupacional a que pertencem. despesa com pessoal, nos termos da legislação em vigor.
Art. 13 Os vencimentos previstos no Anexo VIII desta Lei Art. 24 Como condição para a evolução funcional, o servidor
correspondem a contraprestação pecuniária ao cumprimen- deverá obter ao menos o conceito final “bom” no processo de
to, pelo servidor, da carga horária semanal de trabalho, con- avaliação de desempenho, executados, acompanhados e valida-
forme seu cargo. dos anualmente pela Comissão de Avaliação de Desempenho.
Art. 25 Para efeito de apuração, controle e acompanha-
Capítulo IV mento da evolução funcional, seja pela via acadêmica ou pela
DA EVOLUÇÃO E DA PROGRESSÃO FUNCIONAL via não acadêmica, a Administração deverá valer-se de apon-
tamentos apropriados, que obrigatoriamente deverão fazer
Art. 14 Evolução funcional é o acesso a um nível imediata- parte do prontuário individual do servidor.
mente superior ao atual na tabela de vencimentos, concedido Art. 26 A Secretaria Municipal de Administração elaborará
ao servidor ocupante de cargo de provimento efetivo da ad- lista contendo a classificação dos servidores aptos à evolu-
ministração geral, podendo se dar de duas formas: ção funcional, pela via acadêmica ou pela via não acadêmica,
I - pela via acadêmica, considerando-se o aumento da que deverá ser publicada na forma da legislação em vigor,
escolaridade do servidor, com base nos requisitos para provi- observando-se rigorosamente suas posições, para efeito da
mento do cargo efetivamente ocupado; concessão da vantagem a que fizer jus o servidor.
II - pela via não acadêmica, que terá por base os resul-
tados obtidos nos processos de avaliação de desempenho e SEÇÃO I
capacitação funcional, visando o reconhecimento do mérito DOS REQUISITOS E CONDIÇÕES PARA A EVOLUÇÃO
funcional e do potencial individual. FUNCIONAL PELA VIA ACADÊMICA
Art. 15 A evolução funcional para o nível imediatamente
superior ao que o servidor se encontrar se dará pela acumula- Art. 27 A evolução funcional pela via acadêmica tem por
ção de pontos, concedidos por critérios objetivos determina- objetivo reconhecer a formação do servidor como um dos fa-
dos pela Administração Municipal. tores relevantes para a melhoria de seu trabalho.
Art. 16 A cada 100 (cem) pontos acumulados o servidor Art. 28 A pontuação para a evolução funcional pela via
fará jus a evolução para o nível imediatamente superior ao acadêmica obedecerá ao seguinte critério:
seu atual, sendo-lhe garantida a manutenção do padrão e da I - 50 (cinquenta) pontos por ano de acréscimo na escola-
referência em que o mesmo se encontrar na tabela de venci- ridade do servidor ocupante de cargo de provimento efetivo;
mentos a que pertence. II - 100 (cem) pontos para cada conclusão de nível de es-
Art. 17 A contagem dos pontos referentes a evolução colaridade adicional ao exigido para o provimento do cargo
funcional dar-se-á a cada período de 2 (dois) anos, observa- efetivo ocupado;
dos os requisitos e condições estabelecidos. III - 200 (duzentos) pontos para a conclusão de curso su-
Art. 18 O servidor deverá apresentar junto à Diretoria de perior.
Recursos Humanos a documentação referente aos incisos I e II § 1º Os títulos previstos no “caput” serão pontuados uma
do art. 14 para análise no mês de agosto de cada ano. única vez, vedada sua acumulação.
Art. 19 A evolução funcional será processada e homolo- § 2º Caberá à Diretoria de Recursos Humanos a análise
gada até o mês de dezembro de cada ano e concedida a par- preliminar dos títulos apresentados.
tir do mês de fevereiro do ano seguinte.
Art. 20 A forma de entrega da documentação será regulamenta- SEÇÃO II
da através de ato normativo do Secretário Municipal de Administração. DOS REQUISITOS E CONDIÇÕES PARA A EVOLUÇÃO
Art. 21 Ficam impedidos de usufruir dos benefícios da FUNCIONAL PELA VIA NÃO ACADÊMICA
evolução funcional os servidores:
I - afastados para ocupar cargos de provimento em co- Art. 29 Somente poderá concorrer à evolução funcional
missão em outros órgãos ou em funções que não correlatas pela via não acadêmica, servidor que, cumulativamente:
às atribuições de seu cargo de provimento efetivo; I - tiver cumprido, no mínimo, 2 (dois) anos de efetivo
II - que sofreram pena de suspensão, após processo adminis- exercício no nível em que estiver enquadrado;
trativo transitado em julgado, no interstício da evolução corrente; II - perfazer um total mínimo de 50 (cinquenta) pontos
III - que tiveram apontamentos de 02 (duas) ou mais adver- em cursos de formação no respectivo campo de atuação, no
tências em seu prontuário, no interstício da evolução corrente; interstício da evolução corrente.

147
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 30 Consideram-se cursos de formação no respectivo Capítulo VII


campo de atuação, todos aqueles realizados por instituições DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
credenciadas, aos quais serão atribuídos pontos, de acordo
com a sua especificidade e a tabela constante do Anexo X. Art. 41 Aplica-se o disposto nesta Lei aos servidores que,
Art. 31 O período de efetivo exercício de que trata o inci- na data da sua publicação, estiverem ocupando os cargos
so I do Art. 29 será interrompido sempre que houver qualquer constantes do Anexo IV da mesma.
afastamento ou licença por prazo igual ou superior a 90 (no- Art. 42 Não farão jus a evolução e a progressão funcional
venta) dias, consecutivos ou não, exceto os afastamentos pre- prevista na legislação os servidores estabilizados pelo Art. 19 do
vistos para exercer atividades correlatas às atribuições de seu ADCT e também os servidores celetistas não estáveis contratados
cargo de provimento efetivo, excetuando-se os afastamentos anteriormente à promulgação da Constituição Federal de 1988.
previstos na Constituição Federal. Art. 43 Para o exercício de 2010, o valor do subsídio do Che-
fe de Gabinete, do Ouvidor Geral do Município e dos Secretários
SEÇÃO III Municipais será reajustado com base no menor índice aplicado
DA PROGRESSÃO FUNCIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO aos servidores da administração geral, em conformidade com o
art. 39 da Constituição Federal e legislação municipal em vigor.
Art. 32 Progressão funcional por tempo de serviço é o
acesso ao padrão imediatamente seguinte ao atual na tabela
de vencimentos, concedido ao servidor ocupante de cargo de PARTE ESPECIAL
provimento efetivo da administração geral.
Art. 33 A progressão funcional por tempo de serviço se LIVRO I
dará a cada período de 05 (cinco) anos. DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Art. 34 A progressão funcional será processada até o úl-
timo dia do mês subsequente em que o servidor completar o TÍTULO ÚNICO
período de efetivo exercício constante do Art. 33. DO PLANO DE CARGOS, CARREIRAS E VENCIMENTOS
Art. 35 Os direitos e vantagens decorrentes da progres- DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
são funcional por tempo de serviço serão percebidos a partir
Capítulo I
do primeiro dia do mês subsequente ao seu processamento.
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Capítulo V SEÇÃO I
DO ENQUADRAMENTO DOS ATUAIS SERVIDORES OS OBJETIVOS
Art. 36 Os atuais servidores públicos da Prefeitura Municipal Art. 44 A instituição, implantação e gestão do Plano de
de Suzano serão enquadrados na Tabela de Vencimento cons- Carreira e Vencimentos dos Profissionais da Educação do Mu-
tante do Anexo VIII desta Lei, considerando o seu tempo de ser- nicípio de Suzano passa a ser disposta por esta Lei.
viço no cargo de provimento efetivo e o seu vencimento atual. Art. 45 Para os efeitos desta Lei integram o Quadro de
§ 1º Aplica-se o disposto no “caput” aos servidores es- Pessoal dos Profissionais da Educação:
tabilizados pelo Art. 19 do ADCT, aos celetistas não estáveis I - os que exercem as atividades de docência nas unida-
admitidos anteriormente a 05 de outubro de 1988. des escolares;
§ 2º O disposto no “caput” não se aplica aos inativos, cujo enqua- II - os que oferecem suporte pedagógico, administrativo
dramento se dará no padrão inicial do cargo de origem ou equiparado. e operacional às atividades de ensino, incluídas as de direção,
Art. 37 O enquadramento será realizado pela Diretoria de coordenação, supervisão e orientação.
Recursos Humanos levando em consideração o tempo de ser-
viço, calculado como de efetivo exercício. SEÇÃO II
DOS CONCEITOS BÁSICOS
Capítulo VI
DA COMISSÃO DE GESTÃO DO PLANO DE CARGOS, Art. 46 Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
CARREIRAS E VENCIMENTOS I - Rede Municipal de Ensino, o conjunto de instituições e
órgãos que realiza atividades de educação formal sob a coor-
Art. 38 Fica instituída a Comissão de Gestão do Plano denação da Secretaria Municipal de Educação;
de Cargos, Carreiras e Vencimentos dos Servidores Públicos II - Profissionais da Educação, os titulares dos cargos pú-
Municipais, com a finalidade de orientar sua implantação e blicos de provimento efetivo de Professor de Educação Básica
operacionalização, bem como a análise dos requisitos e con- I e II, Professor de Educação Básica Adjunto e os que exercem
dições para a evolução funcional dos servidores. as funções de apoio administrativo e operacional às ativida-
Art. 39 A Comissão de Gestão será presidida pelo Secre- des pedagógicas e dos cargos de provimento em comissão
tário Municipal de Administraçãoe integrada por represen- vinculados à Secretaria Municipal de Educação;
tantes das Secretarias Municipais de Administração e Finan- III - Professor, o titular de cargo público de Professor de
ças e de entidade representativa dos servidores Públicos do Educação Básica I, II e Adjunto, da carreira dos Profissionais da
Município de Suzano ou comissão composta por servidores Educação, com funções de docência;
ocupantes de cargos de provimento efetivo da carreira. IV - Funções de Suporte Pedagógico, as atividades de su-
Art. 40 Ato próprio do Chefe do Poder Executivo regula- porte pedagógico direto à docência, incluídas as de direção,
mentará a atuação da Comissão de Gestão. coordenação, supervisão e orientação;

148
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

V - Funções de Apoio Indireto, as atividades de suporte adminis- I - Professor de Educação Básica I, com atuação na educa-
trativo e operacional às atividades pedagógicas exercidas por servidores ção de jovens e adultos, educação especial, educação infantil
lotados nas unidades escolares e na Secretaria Municipal de Educação. e nas séries iniciais (1º ao 5º ano) do ensino fundamental;
Capítulo II II - Professor de Educação Básica II, com atuação na edu-
DO QUADRO DE PESSOAL DOS PROFISSIONAIS DA cação de jovens e adultos, educação especial, educação infan-
EDUCAÇÃO til, nas disciplinas específicas de Arte e Educação Física, minis-
tradas por docentes devidamente habilitados em licenciatura
SEÇÃO I plena nas respectivas áreas, nas séries iniciais (1º ao 5º ano)
DA COMPOSIÇÃO do ensino fundamental I, e de 6º ao 9º ano Ensino Fundamen-
tal II, que vierem a ser criadas;
Art. 47 O Quadro de Pessoal dos Profissionais da Educa- III - Professor de Educação Básica Adjunto, com atuação
ção será constituído dos seguintes cargos públicos de provi- na substituição dos titulares do cargo de Professor de Educa-
mento efetivo e cargos de provimento em comissão: ção Básica I.
I - Agente Escolar; Art. 54 Serão definidas nos editais de concurso público
II - Cozinheiro Escolar; para a carreira dos Profissionais da Educação com funções
III - Auxiliar de Atividades Escolares; docentes as disciplinas específicas para o provimento do car-
IV - Auxiliar de Desenvolvimento Educacional; go de Professor de Educação Básica II.
V - Auxiliar de Secretaria; Art. 55 Os Profissionais da Educação com funções de
VI - Secretário de Escola; suporte pedagógico direto exercerão suas atividades nos di-
VII - Professor de Educação Básica I; ferentes níveis e modalidades de ensino da educação básica
VIII - Professor de Educação Básica II; que integram a Rede Municipal de Ensino.
IX - Professor de Educação Básica Adjunto; Art. 56 Os Profissionais da Educação ocupantes dos car-
X - Agente de Segurança Escolar; gos de Professor de Educação Básica I e II, poderão ministrar
XI - Motorista de Transporte Escolar; aulas, a título de suplementação de carga horária, desde que
XII - Coordenador Educacional; o número de professores não seja suficiente para atender a
XIII - Professor Coordenador; demanda conforme disposto nesta Lei.
XIV - Professor Assistente; Parágrafo Único - A suplementação tratada no “caput”
XV - Assistente Técnico de Área; dependerá de parecer favorável e autorização expressa do
XVI - Assistente Técnico de Educação Especial; Secretário Municipal de Educação com base em justificativa
XVII - Assistente Técnico de Educação Infantil; do Coordenador Educacional ou de seu substituto.
XVIII - Assistente Técnico de EJA e Ensino Fundamental; SEÇÃO III
XIX - Diretor de Planejamento Educacional; DA NOMEAÇÃO PARA AS FUNÇÕES DE SUPORTE
XX - Diretor de Suprimentos; PEDAGÓGICO
XXI - Diretor Geral de Ensino;
XXII - Chefe de Alimentação Escolar. Art. 57 A nomeação para as funções de suporte peda-
Art. 48 São de provimento efetivo os cargos do Quadro gógico será realizada utilizando os requisitos de nomeação
de Pessoal dos Profissionais da Educação os elencados nos previstos nesta Lei.
incisos I ao XI, do Art. 47.
Art. 49 São de provimento em comissão, de livre nomeação
e exoneração, os cargos do Quadro de Pessoal dos Profissionais SUBSEÇÃO ÚNICA
da Educação elencados nos incisos XII ao XXII, do Art. 47.
Art. 50 As descrições dos cargos de provimento efetivo e de DO PROCESSO ELETIVO
provimento em comissão, do Quadro de Pessoal dos Profissio-
nais da Educação, bem como os requisitos para o seu preenchi- Art. 58 A nomeação para o cargo de provimento em co-
mento, são as constantes dos Anexos XVII, XVIII e XIX desta Lei. missão de Coordenador Educacional será precedida de pro-
Art. 51 Os cargos de provimento em comissão constantes cesso eletivo dentro de cada unidade escolar.
dos incisos XII ao XXII do Art. 47 poderão ser ocupados por Art. 59 Somente os Professores da Rede Municipal de En-
servidores do quadro efetivo dos Profissionais da Educação sino poderão candidatar-se ao cargo de Coordenador Educa-
que se enquadrem no que estabelece o Anexo XXVIII desta Lei. cional previsto no Art. 58 desta Lei.
Art. 52 Os servidores ocupantes de cargo de provimento Art. 60 A candidatura ao cargo de Coordenador Educacio-
efetivo do Quadro de Pessoal dos Profissionais da Educação nal fica condicionada à apresentação, por parte do Professor
farão jus às gratificações constantes do Anexo XX desta Lei, interessado, de um Plano de Trabalho coerente com o Projeto
desde que preenchidos os requisitos legais exigidos. Político Pedagógico da unidade escolar, bem como com as
diretrizes educacionais da Secretaria Municipal de Educação.
SEÇÃO II Art. 61 Os registros das candidaturas serão analisados e
DO CAMPO DE ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA aprovados por uma comissão eleitoral, que deverá considerar a
EDUCAÇÃO coerência com o Projeto Político Pedagógico da unidade escolar,
as diretrizes educacionais da Secretaria Municipal de Educação.
Art. 53 O exercício das atividades dos Profissionais da Art. 62 A comissão eleitoral será composta pelo Conselho
Educação com funções de docência se dará obedecendo a de Escola da respectiva unidade escolar e por representantes
seguinte disposição: da Secretaria Municipal de Educação.

149
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 63 Após o registro das candidaturas, os candidatos apresen- a) 20 (vinte) horas em atividades com educandos ou pe-
tarão suas propostas de trabalho à comunidade escolar em assem- dagógicas de apoio;
bleia, a que competirá eleger, por meio do voto, o melhor projeto. b) (oito) horas de trabalho pedagógico coletivo - HTPC;
Art. 64 Será considerado eleito o candidato que somar a c) 2 (duas) horas de trabalho pedagógico em local de livre
maioria simples dos votos. escolha - HTPL.
Art. 65 Ocorrendo empate entre candidatos, será utiliza- II - jornada de 30 (trinta) horas semanais para o Professor
do como critério para a classificação o maior tempo de servi- de Educação Básica I, lecionando no ensino fundamental (2º
ço do mesmo na área da educação do Município de Suzano. ao 5º ano), composta por:
Art. 66 Terão direito a voto: a) 23 (vinte e três) horas em atividades com educandos
I - os profissionais da unidade escolar; ou pedagógicas de apoio;
II - o educando menor de 16 (dezesseis) anos devidamen- b) 5 (cinco) horas de trabalho pedagógico coletivo - HTPC;
te representado por seu legal; c) 2 (duas) horas de trabalho pedagógico em local de livre
III - o educando maior de 16 (dezesseis) anos, com idade escolha - HTPL.
comprovada nos termos da legislação civil em vigor. III - jornada de 30 (trinta) horas semanais para o Professor
Art. 67 Ficam impedidos de votar: de Educação Básica I, lecionando na educação infantil (cre-
I - os membros do Conselho de Escola e da Secretaria che), composta por:
Municipal de Educação componentes da Comissão Eleitoral; a) 25 (vinte e cinco) horas em atividades com educandos
II - os parentes do professor candidato, considerando-se ou pedagógicas de apoio;
o parentesco até o 3º grau colateral. b) 3 (três) horas de trabalho pedagógico coletivo - HTPC;
Art. 68 A eleição do Profissional da Educação será homo- c) 2 (duas) horas de trabalho pedagógico em local de livre
logada pelo Secretário Municipal de Educação que adotará as escolha - HTPL.
providências necessárias para o encaminhamento ao Prefeito IV - jornada de 24 (vinte e quatro) horas semanais para o
Municipal para a sua nomeação. Professor de Educação Básica I, lecionando na educação de jo-
Art. 69 A nomeação para o cargo de Coordenador Edu- vens e adultos e na educação infantil (G4 e G5), composta por:
cacional terá a duração de 4 (quatro) anos, sendo permitida a) 20 (vinte) horas em atividades com educandos ou pe-
uma única recondução por igual período. dagógicas de apoio;
Art. 70 Ao Professor da rede municipal de ensino é dado b) 2 (duas) horas de trabalho pedagógico coletivo - HTPC;
o direito de candidatar-se ilimitadamente ao cargo de Coor- c) 2 (duas) horas de trabalho pedagógico em local de livre
denador Educacional. escolha - HTPL.
Art. 71 O Profissional da Educação eleito para Coordena- V - jornada de 24 (vinte e quatro) horas semanais para o
dor Educacional poderá ter sua nomeação revogada: Professor de Educação Básica I, lecionando no ensino funda-
I - por renúncia expressa do próprio profissional da edu- mental (1º ano), composta por:
cação eleito; a) 18 (dezoito) horas em atividades com educandos ou
II - por proposta do Secretário Municipal de Educação, pedagógicas de apoio;
aprovada pelo Conselho Municipal de Educação, mediante b) 4 (quatro) horas de trabalho pedagógico coletivo -
processo onde sejam assegurados os direitos constitucionais HTPC;
da ampla defesa e do contraditório. c) 2 (duas) horas de trabalho pedagógico em local de livre
Art. 72 O Profissional da Educação que for afastado do escolha - HTPL.
cargo de Coordenador Educacional nos termos do inciso II VI - jornada de 30 (trinta) horas semanais para o Professor
do Art. 71 somente poderá candidatar-se novamente após 3 de Educação Básica II, composta por:
(três) anos, a contar da data do afastamento. a) 20 (vinte) horas em atividades com educandos ou pe-
Art. 73 Ato próprio do Chefe do Poder Executivo regulamen- dagógicas de apoio;
tará o processo eletivo para o cargo de Coordenador Educacio- b) 8 (oito) horas de trabalho pedagógico coletivo - HTPC;
nal em até 90 (noventa) dias contados da publicação desta Lei. c) 2 (duas) horas de trabalho pedagógico em local de livre
escolha - HTPL.
VII - jornada de 26 (vinte e seis) horas semanais para o
Capítulo III Professor de Educação Básica Adjunto, composta por:
DA JORNADA DE TRABALHO a) 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) horas em atividades com
educandos ou pedagógicas de apoio;
SEÇÃO I b) 6 (seis) horas ou 1 (uma) hora de trabalho pedagógico
DA CONSTITUIÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO DO coletivo - HTPC.
PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO COM FUNÇÕES DOCENTES

Art. 74 A jornada de trabalho do Profissional da Educação com SEÇÃO II


funções docentes é constituída de atividades com educandos, de tra- DA JORNADA DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DA
balho pedagógico coletivo - HTPC - na unidade escolar e de trabalho EDUCAÇÃO COM FUNÇÕES DE SUPORTE PEDAGÓGICO
pedagógico em local de livre escolha - HTPL - pelo docente, a saber:
I - jornada de 30 (trinta) horas semanais para o Professor Art. 75 Os Profissionais da Educação com funções de su-
de Educação Básica I, lecionando na educação de jovens e porte pedagógico ocupantes de cargos de provimento em
adultos, na educação infantil (G4 e G5) e no ensino funda- comissão exercerão suas atividades em regime de dedicação
mental (1º ano), composta por: integral, nos termos da legislação em vigor.

150
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

SEÇÃO III II - a valorização do desempenho, da formação e do co-


DA JORNADA DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE nhecimento;
APOIO INDIRETO III - a evolução por meio de progressões periódicas.

Art. 76 Os Profissionais da Educação de apoio indireto em SEÇÃO II


atividades administrativas e operacionais cumprirão jornada DA ESTRUTURA DA CARREIRA DOS PROFISSIONAIS DA
de 40 (quarenta) horas semanais destinadas às atividades es- EDUCAÇÃO
pecíficas na Rede Municipal de Ensino.
SUB SEÇÃO ÚNICA
SEÇÃO IV
DAS HORAS DE TRABALHO PEDAGÓGICO COLETIVO - HTPC DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 77 As horas de trabalho pedagógico coletivo - HTPC Art. 88 A carreira dos Profissionais da Educação fica dividi-
deverão ser utilizadas para reuniões e outras atividades pe- da em dois agrupamentos com regras específicas diferencia-
dagógicas e de estudo, organizadas pela unidade de ensino, das que levam em consideração suas características, a saber:
bem como para o aperfeiçoamento profissional. I - a carreira dos Profissionais da Educação integrada
Art. 78 As horas de trabalho pedagógico em local de livre pelos cargos de provimento efetivo de Professor de Educa-
escolha pelo docente, destinam-se ao planejamento de aulas ção Básica I, Professor de Educação Básica II e Professor de
e avaliação de trabalho dos educandos.
Educação Básica Adjunto está estruturada em 1 (uma) tabela
Art. 79 A Secretaria Municipal de Educação poderá con-
com 2 (duas) referências alfanuméricas, divididas em 6 (seis)
vocar os docentes para participar de reuniões, palestras, cur-
padrões designados pelos números de “1” até “6” e 25 (vinte
sos, estudos e outras atividades de interesse da educação,
e cinco) níveis designados pelas letras de “A” até “Y”.
nos horários de trabalho coletivo.
Art. 80 As ausências às atividades previstas no Art. 79 carac- II - a carreira dos Profissionais da Educação integrada pelos
terizarão faltas correspondentes ao período para o qual foram cargos de provimento efetivo de Agente Escolar, Cozinheiro Es-
convocados e as ausências injustificadas caracterizarão falta de colar, Auxiliar de Atividades Escolares, Auxiliar de Desenvolvimen-
interesse e participação para efeito de avaliação de desempenho. to Educacional, Auxiliar de Secretaria, Secretário de Escola, Agente
Art. 81 O docente afastado para exercer atividades de su- de Segurança Escolar, Motorista de Transporte Escolar está estru-
porte pedagógico não fará jus às horas de trabalho pedagógico. turada em 1 (uma) tabela com 6 (seis) referências alfanuméricas,
divididas em 6 (seis) padrões designados pelos números de “1”
SEÇÃO V até “6” e 10 (dez) níveis designados pelas letras de “A” até “J”.
DA JORNADA DE TRABALHO SUPLEMENTAR Art. 89 Constitui requisito para ingresso na carreira, a for-
mação mínima especificada nesta Lei, que dar-se-á sempre na
Art. 82 Os Profissionais da Educação com funções do- referência inicial de cada cargo da carreira.
centes sujeitos às jornadas de trabalho previstas nesta Lei Art. 90 O titular dos cargos de Professor de Educação Básica I e
poderão suplementar sua jornada de trabalho, observado o II e Professor de Educação Básica Adjunto poderá exercer, de forma
interesse público e da educação. alternada com a docência, outras atividades de suporte pedagógi-
Art. 83 Compreende-se por suplementação da jornada de co, atendidos os requisitos de provimento dos respectivos cargos
trabalho o número de horas prestadas pelo docente além da- de provimento efetivo ou cargos de provimento em comissão.
quelas fixadas para a jornada de trabalho a que estiver sujeito.
Art. 84 O número máximo de horas semanais de suple- SEÇÃO III
mentação da jornada de trabalho corresponderá à diferença DA EVOLUÇÃO FUNCIONAL DOS PROFISSIONAIS DA
entre o limite de 58 (cinquenta e oito) horas e o número de ho- EDUCAÇÃO COM FUNÇÕES DOCENTES
ras previsto nas jornadas de trabalho estabelecidas por esta Lei.
Art. 85 Poderão suplementar a jornada de trabalho so- Art. 91 Evolução funcional é o acesso a um nível imedia-
mente os docentes que não se encontram em situação de tamente superior ao atual na tabela de vencimentos, concedi-
acúmulo de cargos, empregos ou funções públicas. do ao servidor ocupante de cargo de provimento efetivo dos
Art. 86 A suplementação da jornada de trabalho do do- Profissionais da Educação com funções docentes, podendo se
cente será composta de atividades com educandos e em dar de duas formas:
substituições eventuais. I - pela via acadêmica, considerando-se as habilitações
acadêmicas obtidas em grau superior de ensino;
Capítulo IV II - pela via não acadêmica, que terá por base os resul-
DA CARREIRA DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO tados obtidos nos processos de avaliação de desempenho,
formação profissional, visando ao reconhecimento do mérito
SEÇÃO I funcional e a otimização do potencial individual.
DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS Art. 92 A contagem dos pontos referentes a evolução
funcional dar-se-á a cada período de 2 (dois) anos, observa-
Art. 87 A carreira dos Profissionais da Educação do Muni- dos os requisitos e condições estabelecidos.
cípio de Suzano tem como princípios básicos: Art. 93 O Profissional da Educação deverá apresentar jun-
I - a profissionalização, que pressupõe vocação e dedica- to a Secretaria Municipal de Educação a documentação refe-
ção à educação e qualificação profissional, com vencimentos rente aos incisos I e II do art. 91 para análise no mês de julho
condignos e condições adequadas de trabalho; de cada ano.

151
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 94 A evolução funcional será processada e homolo- Art. 106 A Secretaria Municipal de Educação elaborará
gada até o mês de novembro de cada ano e concedida a par- lista contendo a classificação dos Profissionais aptos à evo-
tir do mês de janeiro do ano seguinte. lução funcional, pela via acadêmica ou pela via não acadêmi-
Art. 95 A forma de entrega da documentação será regulamenta- ca, que deverá ser publicada na forma da Lei, observando-se
da por meio de ato normativo da Secretaria Municipal de Educação. rigorosamente suas posições, para efeito da concessão da
Art. 96 A cada 100 (cem) pontos o Profissional da Edu- vantagem a que fizer jus o docente.
cação terá a evolução para o nível imediatamente superior Art. 107 Ao servidor integrante do Quadro dos Profis-
garantido o padrão em que o mesmo se encontra dentro da sionais da Educação que, ao final do tempo exigido para
referência na tabela de vencimento a que pertence. concorrer à sua evolução funcional não atingir as condições
Art. 97 Consideram-se impedidos de usufruir dos bene- e requisitos necessários para sua evolução na carreira, será
fícios da evolução funcional prevista nesta Lei, os integrantes assegurado o direito de pleiteá-la nos exercícios seguintes.
do quadro dos Profissionais da Educação: Art. 108 Para efeito do enquadramento e da evolução
I - afastados para ocupar cargos de provimento em comissão
funcional constantes desta Lei, serão utilizadas as tabelas de
em outros órgãos ou funções fora da Rede Municipal de Ensino
vencimento constantes desta Lei.
ou na própria Secretaria Municipal de Educação em funções que
não correlatas à docência ou às funções de apoio pedagógico;
SUBSEÇÃO I
II - que sofreram pena de suspensão, após processo adminis-
DOS REQUISITOS E CONDIÇÕES PARA A EVOLUÇÃO
trativo transitado em julgado, no interstício da evolução corrente;
FUNCIONAL PELA VIA ACADÊMICA
III - que tiveram em seu prontuário apontamento de ad-
vertências acima de 2 (duas) ocorrências, no interstício da Art. 109 A evolução funcional pela via acadêmica tem por
evolução corrente; objetivo reconhecer a formação acadêmica do Profissional da
IV - que tiveram em seu prontuário o apontamento de 5 (cin- Educação, no respectivo campo de atuação, como um dos fa-
co) ou mais faltas injustificadas, no interstício da evolução corrente; tores relevantes para a melhoria de seu trabalho.
V - que estiveram licenciados, por período superior a Art. 110 Fica assegurada a evolução funcional pela via
180 (cento e oitenta) dias, no interstício da evolução cor- acadêmica por enquadramento no nível imediatamente su-
rente, salvo se em virtude de acidente em serviço ou para perior a que se encontra dentro do padrão na respectiva refe-
tratamento de doença profissional. rência das tabelas de vencimento constantes desta Lei.
Art. 98 O Profissional da Educação em regime de acumula- Art. 111 A pontuação para a evolução funcional pela via
ção, desde que atendidos os requisitos legais, poderá requerer acadêmica será:
os benefícios da evolução funcional para cada situação funcional I - por curso de graduação na área de atuação, caso o Pro-
mediante a apresentação da documentação específica exigida. fissional da Educação não possua ou não o tenha utilizado para
Art. 99 O processo de evolução funcional na carrei- o provimento do cargo serão contados 100 (cem) pontos;
ra tanto pela via acadêmica como pela via não acadêmica, II - para cada curso de pós-graduação “latu sensu” ou de
ocorrerá desde que observada a disponibilidade financeira e especialização, na área de atuação, com carga horária mínima de
orçamentária do Município e o limite legal de despesa com 360 (trezentas e sessenta) horas, contando 80 (oitenta) pontos;
pessoal, sendo privativo do Prefeito Municipal o ato de con- III - para a conclusão de curso de mestrado, na área de
cessão e o respectivo registro. atuação, contando 300 (trezentos) pontos;
Art. 100 A Secretaria Municipal de Educação deverá en- IV - para a conclusão de curso de doutorado, na área de
caminhar, após a análise, processamento e homologação, ao atuação, contando 500 (quinhentos) pontos.
Prefeito Municipal a relação dos servidores que fizerem jus Art. 112 Serão aceitos, para os efeitos previstos para a apre-
sentação de título de mestre ou de doutor, respectivamente,
aos benefícios da evolução.
certificados de conclusão de curso de pós-graduação “strictu
Art. 101 Em nenhuma hipótese, o integrante do quadro
sensu”, devidamente credenciados, desde que contenham da-
dos Profissionais da Educação que figurar como apto à evo-
dos referentes à aprovação da dissertação ou da defesa de tese.
lução poderá ser preterido em favor de outro. Parágrafo Único - Os títulos previstos no “caput” serão
Art. 102 A evolução funcional se dará a partir do enqua- considerados uma única vez, vedada sua acumulação.
dramento realizado após a vigência desta Lei. Art. 113 Para os fins previstos nesta Lei, somente serão
Art. 103 Como condição para a evolução funcional, o considerados os títulos que guardem estreito vínculo de or-
Profissional da Educação deverá estar aprovado no proces- dem programática com a natureza das disciplinas, objeto da
so de avaliação de desempenho, atingindo o conceito final área de atuação do Profissional da Educação.
“bom” nas avaliações de desempenho realizadas no período. Art. 114 Caberá a Secretaria Municipal de Educação a análise
Art. 104 Para a apuração do desempenho do servidor, serão uti- preliminar dos títulos apresentados pelos Profissionais da Educação.
lizadas as avaliações de desempenho executadas, acompanhadas e
validadas anualmente pela Comissão de Avaliação de Desempenho. SUBSEÇÃO II
Art. 105 Para efeito de apuração, controle e acompa- DOS REQUISITOS E CONDIÇÕES PARA A EVOLUÇÃO
nhamento da evolução funcional, seja pela via acadêmica ou FUNCIONAL PELA VIA NÃO ACADÊMICA
pela via não acadêmica, a Administração deverá valer-se de
apontamentos apropriados, que obrigatoriamente deverão Art. 115 Somente poderá concorrer à evolução funcio-
fazer parte do prontuário individual do servidor integrante nal pela via não acadêmica, o Profissional da Educação que,
do Quadro dos Profissionais da Educação. cumulativamente:

152
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

I - tiver cumprido, no mínimo, 2 (dois) anos de efetivo IV - que tiveram em seu prontuário o apontamento de 05 (cinco) ou
exercício no nível em que estiver enquadrado; mais faltas justificadas e injustificadas, no interstício da evolução corrente;
II - perfazer um total mínimo de 100 (cem) pontos em V - que estiver licenciado, por período superior a 180 (cento
cursos de formação no respectivo campo de atuação, no in- e oitenta) dias, no interstício da evolução corrente, excluída a
terstício da evolução corrente. licença à gestante, a licença à adotante e a licença em virtude de
Art. 116 Consideram-se cursos de formação no respectivo acidente em serviço ou para tratamento de doença profissional.
campo de atuação, todos aqueles realizados por instituições
credenciadas, aos quais serão atribuídos pontos, de acordo SUBSEÇÃO I
com a sua especificidade e a tabela anexa à presente Lei. DOS REQUISITOS E CONDIÇÕES PARA A EVOLUÇÃO
Art. 117 A pontuação de que trata o inciso II do Art. 115, FUNCIONAL PELA VIA ACADÊMICA
será distribuída da seguinte forma:
I - 60 (sessenta) pontos, referentes à participação em Art. 125 A evolução funcional pela via acadêmica tem por
cursos espontâneos de auto-desenvolvimento profissional; objetivo reconhecer a formação do Profissional da Educação
II - 40 (quarenta) pontos, referentes à participação em como um dos fatores relevantes para a melhoria de seu trabalho.
cursos promovidos pela Secretaria Municipal de Educação. Art. 126 Fica assegurada a evolução funcional pela via
Art. 118 O período de efetivo exercício será interrompi- acadêmica por enquadramento no nível imediatamente su-
do sempre que houver qualquer afastamento ou licença por perior a que se encontra dentro do padrão na respectiva refe-
prazo igual ou superior a 90 (noventa) dias, consecutivos ou rência das tabelas de vencimento constantes desta Lei.
não, exceto os afastamentos previstos para exercer ativida- Art. 127 A pontuação para a evolução funcional pela via
des correlatas às de docência ou de suporte pedagógico e os acadêmica será:
afastamentos previstos na Constituição Federal. I - para cada conclusão de nível de escolaridade adicional
ao exigido para o provimento do cargo efetivo ocupado, con-
SEÇÃO III tando 100 (cem) pontos;
DA EVOLUÇÃO FUNCIONAL DOS PROFISSIONAIS DA II - para a conclusão de curso superior, na área de atua-
EDUCAÇÃO DE APOIO INDIRETO ção, contando 100 (cem) pontos.
Art. 128 Os títulos previstos nesta Lei serão pontuados
Art. 119 A evolução funcional é a passagem do ocupante uma única vez, vedada sua acumulação.
de cargo de provimento efetivo da carreira dos Profissionais Art. 129 Caberá a Secretaria Municipal de Educação a
da Educação de apoio indireto do nível em que se encontra análise preliminar dos títulos apresentados.
para o nível imediatamente superior dentro da tabela de ven-
cimento, mediante avaliação de indicadores de crescimento SUBSEÇÃO II
da sua capacidade profissional pela: DOS REQUISITOS E CONDIÇÕES PARA A EVOLUÇÃO
I - via acadêmica, considerado o fator aumento da escolari- FUNCIONAL PELA VIA NÃO ACADÊMICA
dade com base nos requisitos de provimento do cargo de pro-
vimento efetivo ocupado e a escolaridade efetiva do servidor; Art. 130 Somente poderá concorrer à evolução funcio-
II - via não acadêmica, que terá por base os resultados nal pela via não acadêmica, o Profissional da Educação que,
obtidos nos processos de avaliação de desempenho e forma- cumulativamente:
ção profissional, visando o reconhecimento do mérito funcio- I - tiver cumprido, no mínimo, 2 (dois) anos de efetivo
nal e a otimização do potencial individual. exercício no nível em que estiver enquadrado;
Art. 120 A contagem dos pontos referentes a evolução II - perfazer um total mínimo de 50 (cinquenta) pontos
funcional dar-se-á a cada período de 2 (dois) anos, observa- em cursos de formação no respectivo campo de atuação, no
dos os requisitos e condições estabelecidos. interstício da evolução corrente.
Art. 121 O Profissional da Educação deverá apresentar junto a Art. 131 Consideram-se cursos de formação no respectivo
Secretaria Municipal de Educação a documentação referente aos campo de atuação, todos aqueles realizados por instituições
incisos I e II do Art. 119 para análise no mês de agosto de cada ano. credenciadas, aos quais serão atribuídos pontos, de acordo
Art. 122 A evolução funcional será processada e homo- com a sua especificidade e a tabela constante desta Lei.
logada até o mês de dezembro de cada ano e concedida a Art. 132 O período de efetivo exercício de que trata o in-
partir do mês de fevereiro do ano seguinte. ciso I do Art. 130 será interrompido sempre que houver qual-
Art. 123 A forma de entrega da documentação será regulamen- quer afastamento ou licença por prazo igual ou superior a 90
tada por meio de ato normativo da Secretaria Municipal de Educação. (noventa) dias, consecutivos ou não, exceto os afastamentos
Art. 124 Consideram-se impedidos de usufruir dos bene- previstos para exercer atividades correlatas às atribuições de
fícios da evolução funcional prevista nesta Seção, os integran- seu cargo de provimento efetivo, excetuando-se os afasta-
tes do quadro dos Profissionais da Educação: mentos previstos na Constituição Federal.
I - afastados para ocupar cargos de provimento em co-
missão em outros órgãos ou em funções que não correlatas SEÇÃO IV
às atribuições de seu cargo de provimento efetivo; DA PROGRESSÃO FUNCIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO
II - que sofreram pena de suspensão, após processo admi- DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
nistrativo transitado e julgado, no interstício da evolução corrente;
III - que tiveram em seu prontuário apontamento de ad- Art. 133 A progressão funcional por tempo de serviço dos
vertências acima de 2 (duas) ocorrências, no interstício da Profissionais da Educação, consistirá na passagem do padrão
evolução corrente; de vencimento em que se encontra para o padrão seguinte

153
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

dentro da referência na tabela de vencimento corresponden- Art. 144 O Professor de Educação Básica I e II e o Professor
te ao seu cargo de provimento efetivo e ocorrerá a cada pe- de Educação Básica Adjunto que venham a tomar posse após
ríodo de 05 (cinco) anos. a promulgação desta Lei deverão ser imediatamente enqua-
Art. 134 A progressão funcional será processada até o drados no nível B da tabela de vencimento a que pertence.
último dia do mês subsequente em que o servidor comple- Art. 145 A inclusão do Professor de Educação Básica II se
tar o período de efetivo exercício constante do Art. 133. dará, inicialmente, nas turmas de ensino fundamental e, pos-
Art. 135 Os direitos e vantagens decorrentes da progres- teriormente, permeará as outras modalidades de ensino.
são funcional serão percebidos a partir do primeiro dia do Art. 146 Os Professores somente alterarão o cumprimen-
mês subsequente a que foi processada. to de sua jornada de trabalho após o cumprimento dos pra-
zos previstos na presente Lei e com expressa autorização da
SEÇÃO V Secretaria Municipal de Educação.
DOS VENCIMENTOS Art. 147 Os Profissionais da Educação serão distribuídos inicial-
mente nos padrões correspondentes ao seu tempo de efetivo exercí-
Art. 136 Os vencimentos do ocupante de cargo de provi- cio calculado nos termos da legislação municipal específica em vigor.
mento efetivo da carreira dos Profissionais da Educação cor- Art. 148 Se o vencimento decorrente do enquadramento
respondem ao valor constante da tabela de vencimento a que no Plano de Carreira e Vencimento for inferior ao vencimento
pertence, acrescido das vantagens pecuniárias a que fizer jus. até então percebido pelo Profissional da Educação, ser-lhe-á
Capítulo VI assegurada a diferença, como vantagem pessoal, sobre a qual
DA FORMAÇÃO incidirão os reajustes futuros.
Art. 149 O enquadramento dos Profissionais da Educação
Art. 137 A formação dos Profissionais da Educação, ob- com base na titulação de cada servidor será realizado no pra-
jetivando o aprimoramento permanente do ensino e a evo- zo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contados a partir da
lução na carreira, será assegurada por meio de cursos de for- data de publicação desta Lei.
mação, aperfeiçoamento ou especialização, em instituições Art. 150 Para efeito de enquadramento dos Profissionais da
credenciadas, de programas de aperfeiçoamento em serviço Educação com funções docentes, serão aceitos, preliminarmen-
e de outras atividades de atualização profissional, observados te, certificados de conclusão de cursos de graduação correspon-
os programas prioritários. dente à licenciatura plena, desde que devidamente reconheci-
Art. 138 Os cursos e programas de que trata o Art. 137 pode- dos, devendo o interessado apresentar, no prazo de 12 (doze)
rão ser desenvolvidos por meio de parcerias ou convênios com meses o diploma devidamente registrado no órgão competente.
instituições de ensino e pesquisa que mantenham atividades nas Parágrafo Único - Na hipótese de inobservância do pra-
áreas da educação, inclusive administrativa e operacional. zo fixado no “caput” sem a apresentação de motivos devi-
Art. 139 Na elaboração da proposta de formação, de- damente comprovados e esgotadas todas as possibilidades,
verão ser levadas em consideração as prioridades das áreas o benefício concedido será anulado e a revogação de seus
curriculares carentes de docentes, a situação funcional e a uti- efeitos retroagirá à data de sua concessão.
lização de metodologias de ensino diversificadas. Art. 151 Fica instituída a Comissão de Gestão do Plano de
Art. 140 A licença para formação consiste no afastamento Carreira e Vencimento dos Profissionais da Educação, com a
de suas funções do servidor admitido para cargo de provimen- finalidade de orientar sua implantação e operacionalização,
to efetivo, computado o tempo de afastamento para todos os incluindo o enquadramento funcional.
fins de direito, com ou sem prejuízo de seus vencimentos. Art. 152 A Comissão de Gestão será presidida pelo Secretá-
Parágrafo Único - A licença de que trata o “caput” será rio Municipal de Educação e integrada por representantes das
concedida apenas uma vez, para frequência a cursos de mes- Secretarias Municipais de Administração, de Finanças e da Edu-
trado ou doutorado, em instituições credenciadas. cação e de entidade representativa dos Profissionais da Educa-
ção do Município de Suzano ou comissão composta por servi-
Capítulo VII dores ocupantes de cargos de provimento efetivo da carreira.
DA CONTAGEM DOS PRAZOS Art. 153 Ato próprio do Chefe do Poder Executivo regula-
mentará o disposto no Art. 151 desta Lei.
Art. 141 Os prazos previstos nesta Lei para os Profissio-
nais da Educação serão contados nos termos da legislação SEÇÃO II
federal em vigor. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Capítulo VIII
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 154 A proporcionalidade para contratação do Profes-
sor de Educação Básica Adjunto será de 1 (um) cargo por cada
SEÇÃO I grupo de 6 (seis) classes em funcionamento na unidade escolar.
DA IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE CARREIRA E Art. 155 O disposto nesta Lei em consonância com o
VENCIMENTO art. 13 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional determina que os
Art. 142 Os cargos de provimento efetivo dos Profissio- Profissionais da Educação com funções docentes incumbir-
nais da Educação são os constantes dos anexos desta Lei. -se-ão de ministrar os dias letivos e horas estabelecidos, além
Art. 143 O enquadramento inicial da carreira dar-se-á com de participar integralmente dos períodos dedicados ao pla-
os admitidos para cargos de provimento efetivo, atendidas as nejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional,
exigências mínimas constantes dos requisitos de provimento. ou seja, todo professor em qualquer modalidade de ensino,

154
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

deverá apresentar disponibilidade de horário específico para III - 5 (cinco) pontos para a conclusão de curso de mestrado;
formação continuada, a ser definida pela Secretaria Munici- IV - 7 (sete) pontos para a conclusão de curso de doutorado.
pal de Educação de Suzano. Art. 163 Os títulos previstos no Art. 162 serão considera-
Art. 156 As despesas decorrentes da execução desta Lei, dos uma única vez e deverão ter estreita correlação com as
correrão por conta das dotações próprias constantes no orça- atividades da Guarda Civil Municipal e da Defesa Civil.
mento vigente, suplementadas na forma da Lei, se necessário. Art. 164 Caberá à Secretaria Municipal de Defesa Social e Pre-
venção à Violência a análise preliminar dos títulos apresentados.
LIVRO II Art. 165 A classificação para a progressão se dará através
da somatória dos pontos obtidos e do cumprimento dos re-
DOS SERVIDORES DA GUARDA CIVIL MUNICIPAL quisitos estabelecidos nos incisos III, IV, V, VI e VII do Art. 160.
Art. 166 A pontuação obtida pelo Servidor da Guarda Civil
TÍTULO ÚNICO Municipal será reduzida na seguinte proporção:
DO PLANO DE CARGOS, CARREIRAS E VENCIMENTOS I - 0,5 (meio) ponto por cada advertência;
DOS SERVIDORES DA GUARDA CIVIL MUNICIPAL II - 1 (um) ponto por cada repreensão.
Art. 167 Para efeito do Art. 166 serão consideradas as pena-
Capítulo I lidades disciplinares aplicadas nos últimos 2 (dois) anos a contar
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES do dia anterior a contagem de pontos para a classificação.
Art. 168 Caso o servidor esteja classificado com compor-
Art. 157 A Guarda Civil Municipal de Suzano é formada por car- tamento “excelente” nos termos da legislação em vigor, fará
gos de provimento efetivo e por cargos de provimento em comis- jus a um acréscimo de 5 (cinco) pontos na classificação.
são, regidos em tudo o que couber, pela Lei Municipal que disciplina Art. 169 Nos casos em que os servidores classificados
o regime jurídico dos servidores públicos do Município de Suzano. atinjam a mesma pontuação serão adotados os seguintes cri-
térios para desempate:
I - maior tempo de efetivo exercício;
Capítulo II II - maior nível de escolaridade;
DOS CARGOS E DA ESCALA HIERÁRQUICA DA GUARDA III - maior idade;
CIVIL MUNICIPAL IV - maior número de dependentes.
Art. 170 A Secretaria Municipal de Defesa Social e Preven-
Art. 158 São cargos de provimento efetivo e cargos de ção à Violência em conjunto com a Diretoria de Recursos Hu-
provimento em comissão da Guarda Civil Municipal os rela- manos dará publicidade a relação dos servidores classificados
cionados nos Quadros 1 e 2 do Anexo XIII desta Lei. para a progressão na escala hierárquica.
Art. 159 A escala hierárquica da Guarda Civil Municipal,
bem como a quantidade de vagas em cada uma das gradua- Capítulo IV
ções fica estabelecida conforme Anexo XIV desta Lei. DOS CARGOS DA GUARDA CIVIL MUNICIPAL E DA FOR-
MA DE PROVIMENTO
Capítulo III Art. 171 É parte integrante desta Lei, o Anexo XXVI contendo
DA PROGRESSÃO FUNCIONAL a descrição das atividades de cada graduação hierárquica dos
cargos de provimento efetivo constantes do Quadro 1 do Anexo
Art. 160 A progressão de uma graduação hierárquica para ou- XIII, assim como os requisitos de provimento e os requisitos de
tra dar-se-á sempre que houver vagas disponíveis na graduação progressão na escala hierárquica da Guarda Civil Municipal.
superior entre os servidores que obedecerem os seguintes critérios: Art. 172 Os requisitos de nomeação dos cargos de provi-
I - tempo de efetivo exercício na graduação anterior; mento em comissão são os constantes do Anexo XXVII desta Lei.
II - possuir a escolaridade mínima exigida como requisito Art. 173 O cargo de Subcomandante da Guarda Civil Muni-
de progressão; cipal, de provimento em comissão, destina-se preferencialmen-
III - aprovação em curso de formação para progressão funcional; te a servidor ocupante do cargo de Inspetor Chefe Regional.
IV - aprovação nas avaliações de desempenho funcional § 1º Na ausência de servidores do quadro de pessoal da
realizadas no interstício de cada graduação; Guarda Civil Municipal na graduação Inspetor Chefe Regional,
V - estar classificado com no mínimo, comportamento o Prefeito Municipal poderá nomear servidor que esteja na
“bom” nos termos da legislação vigente; graduação Inspetor Regional para o cargo de provimento
VI - não estar respondendo a processo administrativo disciplinar; em comissão de Subcomandante da Guarda Civil Municipal.
VII - não ter sido condenado por crime doloso, relaciona- § 2º Inexistindo servidor na graduação de Inspetor Re-
do ou não com as atribuições do cargo ou por crime contra a
gional, poderá o Chefe do Poder Executivo nomear livre-
administração pública.
mente o ocupante do cargo de que trata o “caput”.
Art. 161 Para efeito do inciso I do Art. 160 será contado 1
Capítulo V
(um) ponto por cada ano de efetivo exercício na graduação atual.
DA DEFESA CIVIL
Art. 162 Para efeito do inciso II do Art. 160 serão contados:
I - 3 (três) pontos para curso superior completo desde Art. 174 As atividades da Defesa Civil serão exercidas por
que não exigido como requisito para a progressão; servidores do quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal sele-
II - 3 (três) pontos para cada curso de pós-graduação cionados através de curso de formação de agentes da defesa ci-
“latu sensu” ou de especialização com carga horária mínima vil, com carga horária de 80 (oitenta) horas, sem prejuízo de suas
de 360 (trezentos e sessenta) horas; atribuições e graduação, obedecendo ao disposto nesta Lei.

155
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Art. 175 As atividades da Defesa Civil de ordem técnica § 1º As cargas horárias dos cursos descritas no “caput”
específica poderão ser exercidas por servidores do quadro de são obrigatórias e mínimas, podendo ser ampliadas caso exis-
pessoal da Guarda Civil Municipal desde que possuam com- ta necessidade, a critério da Secretaria Municipal de Defesa
provada formação técnica ou superior na área de necessidade. Social e Prevenção à Violência.
Art. 176 Na ausência de servidor habilitado no quadro de § 2º Na carga horária do curso de formação para admis-
pessoal da Guarda Civil Municipal, poderá ser convocado ser- são está previsto estágio profissional com avaliação de caráter
vidor de outra área da Administração Municipal que possua a eliminatório, que consiste na avaliação do servidor no desem-
formação necessária. penho das atribuições do cargo de provimento efetivo.
Art. 177 Caso não seja possível a convocação conforme § 3º A avaliação de que trata o § 2º deverá ser relatada
o Art. 173, deverá a Secretaria Municipal de Defesa Social e em formulário específico elaborado pela Secretaria Munici-
Prevenção à Violência providenciar, nos moldes da legislação pal de Defesa Social e Prevenção à Violência com base em
em vigor, a contratação de profissional ou serviço conforme a critérios determinados pelo Comando Geral com base na
necessidade da Defesa Civil. situação-problema e o contexto a que cada participante for
Art. 178 Fica estabelecido em 10% (dez por cento) a submetido.
quantidade de servidores do quadro de pessoal da Guarda § 4º Os cursos de formação de que trata o “caput” terão
Civil Municipal para prestar serviço na Defesa Civil. validade de 12 (doze) meses contados a partir da data de pu-
Art. 179 O Coordenador Geral da Defesa Civil será esco- blicação dos aprovados.
lhido entre os servidores que ocupam a graduação de Guarda Art. 185 A grade curricular dos cursos de formação de
Civil Municipal Inspetor Regional. que trata o art. 184 serão elaboradas pela Secretaria Munici-
Parágrafo Único - Inexistindo servidores na graduação de pal de Defesa Social e Prevenção à Violência.
Guarda Civil Municipal Inspetor Regional, a coordenação de Parágrafo Único - A grade curricular do curso de forma-
que trata o “caput” será designada a servidor na graduação ção para admissão terá como base a Matriz Curricular Na-
imediatamente inferior, até que seja suprida a função. cional editada pelo Ministério da Justiça ou pela Secretaria
Art. 180 Os servidores do quadro de pessoal da Guarda Civil Nacional de Segurança Pública.
Municipal selecionados para as atividades da Defesa Civil cumpri- Art. 186 O participante do curso de formação para ad-
rão jornada de trabalho especial no regime de escala de 12 (doze) missão deverá:
horas trabalhadas com 36 (trinta e seis) horas de descanso. I - usar uniforme específico à graduação em que se en-
contra, fornecido pela Guarda Civil Municipal;
II - portar, permanentemente, crachá provisório emitido
Capítulo VI pelo Centro de Formação e Ensino da Guarda Civil Municipal
DA FORMAÇÃO e Defesa Civil.
Parágrafo Único - Durante o período o curso de forma-
Art. 181 Fica criado o Centro de Formação e Ensino da ção para admissão, o participante receberá a denominação de
Guarda Civil Municipal e Defesa Civil destinado a promover “ALUNO GCM”.
cursos de formação para admissão, para progressão funcio- Art. 187 Será considerado aprovado nos cursos de for-
nal, para especialização e de requalificação profissional. mação constantes do art. 181 o participante ou servidor que:
Art. 182 O Centro de Formação e Ensino da Guarda Civil I - apresentar nota final igual ou superior a 7 (sete);
Municipal e Defesa Civil deverá promover pesquisas e metodo- II - não apresentar nota igual a 0 (zero) em nenhuma das
logias para a formação educacional dos servidores da Guarda disciplinas curriculares;
Civil Municipal e da Defesa Civil e executará o controle e a ava- III - ter frequência presencial de 100% (cem por cento);
liação do processo e da metodologia pedagógica de formação. IV - ter conceito, no mínimo normal, na avaliação do está-
Art. 183 Para o cumprimento de seus objetivos educacio- gio profissional constante do § 2º e § 3º do art. 181.
nais, a Administração poderá firmar convênios de cooperação Art. 188 O participante ou servidor que ao final do curso
ou contratar instituições especializadas para o suporte técni- de formação apresentar nota final igual ou superior a 3 (três)
co-pedagógico e promoção de cursos, seminários e palestras e inferior a 7 (sete) e cumprir os requisitos constantes dos inci-
em conjunto com o Centro de Formação e Ensino da Guarda sos II, III e IV, do Art. 187, serão submetidos a curso de revisão
Civil Municipal e Defesa Civil. geral com grade curricular de todas as disciplinas cursadas
Art. 184 Os cursos de formação promovidos pelo Centro e avaliação final.
de Formação e Ensino da Guarda Civil Municipal e Defesa Art. 189 A nota final para aprovação no curso de revisão
Civil terão a seguinte carga horária: geral deverá ser igual ou superior a 7 (sete).
I - curso de formação para admissão, 640 (seiscentos e Art. 190 A carga horária do curso de revisão geral será de-
quarenta) horas; finida pela Secretaria Municipal de Defesa Social e Prevenção
II - curso de formação para progressão funcional para à Violência ouvido o Comando Geral e o Centro de Formação
Guarda Civil Municipal 2ª Classe, Guarda Civil Municipal 1ª Clas- e Ensino da Guarda Civil Municipal e Defesa Civil.
se e Guarda Civil Municipal Inspetor Regional, 100 (cem) horas; Art. 191 A frequência presencial de que trata o inciso III
III - curso de formação para progressão funcional para do Art. 181 será calculada levando em consideração o dispos-
Guarda Civil Municipal Classe Distinta, 250 (duzentos e cin- to na legislação correlata.
quenta) horas;
IV - curso de formação para progressão funcional para
Guarda Civil Municipal 2º Inspetor e Guarda Civil Municipal 1º
Inspetor, 150 (cento e cinquenta) horas.

156
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Capítulo VII Art. 198 Além do vencimento constante do anexo próprio


DA EVOLUÇÃO FUNCIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO desta Lei, o servidor do quadro de pessoal da Guarda Civil
Municipal poderá receber as vantagens e recompensas fun-
Art. 192 A evolução funcional por tempo de serviço será cionais, nos termos da legislação vigente.
aplicada a cada 3 (três) anos de efetivo exercício considerando- Art. 199 As recompensas funcionais constituem-se em re-
-se a graduação em que o servidor ocupante do cargo de pro- conhecimento aos bons serviços, atos meritórios e trabalhos
vimento efetivo de Guarda Civil Municipal estiver enquadrado. relevantes prestados pelo servidor do quadro de pessoal da
§ 1º Para efeito da aplicação do disposto no “caput”, con- Guarda Civil Municipal.
sidera-se evolução funcional a passagem do padrão de ven- Art. 200 São recompensas funcionais da Guarda Civil Municipal:
cimento em que o servidor se encontra para o subsequente I - condecorações por serviços prestados;
dentro da sua graduação. II - elogios.
§ 2º A contagem de tempo de efetivo exercício para efei- Art. 201 As condecorações constituem-se em referências
to da evolução funcional inicia-se após o enquadramento a honrosas e insígnias conferidas aos integrantes do quadro de
ser realizado nos termos desta Lei. pessoal da Guarda Civil Municipal por sua atuação em ocor-
Art. 193 Os servidores do quadro de pessoal da Guarda rências de relevo na preservação da vida, da integridade físi-
Civil Municipal que na data de publicação desta Lei apresentar: ca, da ordem pública, do bem-estar social e do patrimônio
I - de 5 (cinco) a 10 (dez) anos de efetivo exercício poderá municipal, podendo ser formalizadas independentemente da
disputar a progressão funcional para as graduações de Guar- classificação de comportamento, com a devida publicidade
da Civil Municipal 1ª Classe e Guarda Civil Municipal Classe nos termos da legislação vigente e registro em prontuário.
Distinta; Art. 202 Elogio é o reconhecimento formal da Administra-
II - mais de 11 (onze) anos de efetivo exercício poderá dis- ção às qualidades morais e profissionais do servidor do quadro
putar a progressão funcional para as graduações de Guarda de pessoal da Guarda Civil Municipal, com a devida publicida-
Civil Municipal 1ª Classe, Guarda Civil Municipal Classe Distin- de nos termos da legislação vigente e registro em prontuário.
ta e Guarda Civil Municipal 2º Inspetor. Art. 203 As recompensas funcionais previstas nesta Lei se-
Parágrafo Único - O servidor deverá utilizar a prerrogativa rão conferidas por orientação do Comandante Geral da Guar-
do “caput” no prazo improrrogável de até dois anos e meio a da Civil Municipal e determinação da autoridade competente.
contar da publicação desta Lei.
Capítulo X
Capítulo VIII DO EFETIVO DA GUARDA CIVIL MUNICIPAL
DO ENQUADRAMENTO DOS ATUAIS SERVIDORES DA
GUARDA CIVIL MUNICIPAL Art. 204 Para efeito da definição do efetivo da Guarda
Civil Municipal, poderão ser destinados até 30% (trinta por
Art. 194 Quando da publicação desta Lei, os servidores do cento) das vagas dos cargos de provimento efetivo para a for-
quadro de pessoal da Guarda Civil Municipal serão enquadra- mação de um batalhão feminino.
dos na graduação de Guarda Civil Municipal correspondente Parágrafo Único - A definição da quantidade de vagas
ao seu tempo de efetivo exercício. que serão destinadas ao batalhão feminino será através do
§ 1º O enquadramento de que trata o “caput” será limi- edital de concurso público.
tado a graduação Guarda Civil Municipal 1ª Classe e ao cum- Art. 205 Para o cálculo do pessoal efetivo da Guarda Civil Mu-
primento dos requisitos de progressão de cada graduação. nicipal de Suzano será considerado o índice equivalente a 0,1%
§ 2º Nos termos do “caput”, os servidores que ocupam o (um décimo por cento) da população total do Município conforme
emprego público de Guarda Inspetor serão enquadrados na apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
graduação de Guarda Civil Municipal 1º Inspetor.
§ 3º O servidor enquadrado nos termos do § 2º poderá dispu- Capítulo XI
tar a progressão funcional para a graduação de Guarda Civil Muni- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
cipal Inspetor Regional desde que preencha os requisitos de pro-
gressão no prazo de até 03 anos contados da vigência desta lei. Art. 206 Os servidores não estáveis e não efetivos ocu-
Art. 195 Além do enquadramento na graduação nos ter- pantes dos empregos constantes do Anexo XVI não farão jus
mos desta Lei, o servidor deverá ser enquadrado no padrão a progressão funcional na escala hierárquica, devendo seu
de vencimento dentro da graduação a que pertence consi- enquadramento se dar na referência da escala hierárquica
derando o seu tempo de serviço. correspondente a Guarda Civil Municipal 2ª Classe.
Art. 196 Para o cálculo do tempo de serviço considera-se
a permanência em cada um dos padrões de vencimento pelo Art. 207 As insígnias a serem utilizadas nos uniformes
período de 3 (três) anos de efetivo exercício na graduação. dos membros da Guarda Civil Municipal de Suzano serão ins-
Capítulo XIX tituídas através de ato próprio do Chefe do Poder Executivo.
DOS VENCIMENTOS E DAS RECOMPENSAS

Art. 197 Os vencimentos dos ocupantes dos cargos de


provimento efetivo e de provimento em comissão obedece-
rão ao disposto nas Tabelas 1 e 2 do Anexo XV, partes inte-
grantes desta Lei.

157
LEGISLAÇÃO ESTADUAL

LIVRO COMPLEMENTAR 03. Para que uma avaliação não seja autoritária e conser-
TÍTULO ÚNICO vadora, ela deverá se apresentar como:
a) Diagnóstica.
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS b) Deverá ser instrumento dialético do avanço.
c) Deverá ser instrumento de indicação de novos rumos.
Art. 208 Os prazos previstos nesta Lei serão contados em d) Todas as alternativas estão corretas.
dias corridos, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o
do vencimento, ficando prorrogado, para o primeiro dia útil 04. É consequência do fracasso escolar:
seguinte o prazo vencido em dia em que não haja expediente. a) O aumento de suicídios nas camadas mais baixas da
Art. 209 O Chefe do Poder Executivo expedirá os atos ne- população.
cessários à execução da presente Lei. b) O aprimoramento do ensino para aqueles que con-
Art. 210 Ficam revogadas expressamente as alíneas “b” e seguiram manter-se no processo de ensino – aprendizagem.
“c”, do inciso I, do Art. 3º, da Lei Municipal nº 4.174, de 27 de c) A formação de indivíduos sem auto estima e sem capa-
setembro de 2007. cidade de análise crítica.
Art. 211 As despesas decorrentes da execução da pre- d) A seleção natural dos mais capazes para a aprendiza-
sente Lei correrão a conta de verbas próprias do orçamento gem.
vigente e futuros, autorizadas desde já eventuais suplementa-
ções se necessárias. 05. A teoria que coloca o centro da produção intelectual
Art. 212 Esta Lei entra em vigor no primeiro dia útil do no próprio sujeito, afirmando que o conhecimento ou é pré-
mês subsequente a sua publicação. -formado nele ou é fruto primordialmente do seu pensamen-
Paço Municipal “Prefeito Firmino José da Costa”, 08 de to, é:
julho de 2010, 61º da Emancipação Político-Administrativa. a) Transformismo
b) Inatismo
QUESTÕES c) Positivismo
d) Empirismo
01. Analise as seguintes afirmativas concernentes ao pla-
nejamento e à organização do ensino. 06. As habilidades de relacionamento interpessoal e so-
I. O planejamento do ensino centrado em aulas exposi- cial são aprendidas e desenvolvidas na sala de aula:
tivas potencializa a criação de estratégias que favorecem a a) No viver junto.
interação dos alunos com os objetos do conhecimento (os b) Somente pela gerência feita pelo professor.
tópicos do currículo). c) Somente pela aplicação de técnicas pedagógicas.
II. Para exercer seu papel de mediador entre o livro didático d) Somente pela boa vontade dos alunos.
e os alunos, o professor deve realizar uma avaliação crítica do li- e) Pela imposição de direitos e deveres.
vro e definir o ritmo e as maneiras de seu uso segundo os conhe-
cimentos prévios de seus alunos e suas possibilidades cognitivas. 07. Sobre as situações de aprendizagem, analise as afir-
III. Um planejamento pedagógico cuidadoso deve come- mativas seguintes e marque a alternativa CORRETA:
çar pela clarificação dos objetivos educacionais passando pela a) Consistem em atividades lúdicas criadas pelos alunos.
seleção das ideias importantes do conteúdo e das habilidades b) Consistem em atividades planejadas pelo professor,
a serem desenvolvidas. sem um objetivo específico.
A partir dessa análise, pode-se concluir que estão CORRETAS c) Consistem em atividades dirigidas pelo professor, ten-
a) Apenas as afirmativas I e II. do em vista somente os alunos com dificuldades.
b) Apenas as afirmativas I e III. d) Consistem em atividades planejadas, propostas e diri-
c) Apenas as afirmativas II e III. gidas pelo professor para a aprendizagem dos alunos.
d) Todas as afirmativas. e) Consistem em atividades não programadas pelo pro-
fessor, que acontecem ocasionalmente em sala de aula.
02. A avaliação que se coloca a serviço da aprendizagem deve,
também, ter como objetivo a compreensão da realidade escolar, 08. O trabalho pedagógico resulta:
visando ao aprimoramento das ações educativas. Uma avaliação a) Da relação entre os professores.
nesse enfoque apresenta as seguintes características, EXCETO b) Exclusivamente do planejamento feito ao início de
a) Constata a situação de aprendizagem do educando cada ano letivo.
para subsidiar a atribuição de notas ou conceitos e a definição c) Da interação do professor com seus alunos, em sala de
da progressão/nãoprogressão e certificação do aluno. aula convencional e outros espaços.
b) É contínua, configurando-se como uma prática dinâ- d) Exclusivamente da interação do professor com a ges-
mica de investigação, de análise das observações realizadas tão da escola, por meio do planejamento e das reuniões pe-
ao longo do processo ensino-aprendizagem. dagógicas.
c) Incide sobre a atuação dos professores e outros pro- e) Exclusivamente da interação do professor com o seu
fissionais da escola, sobre os conteúdos, processos de ensi-
conteúdo programático e possibilidades metodológicas
no, recursos físicos e materiais disponíveis.
para desenvolvê-lo.
d) Possibilita ao aluno o desenvolvimento de sua capaci-
dade de autocrítica mediante exercícios de autoavaliação de
Gabarito: (1-C), (2-A), (3-D), (4-C), (5-B), (6-A), (7-D), (8-C).
sua participação no processo ensino-aprendizagem.

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