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Nominação e lógica do fantasma

De maneira geral, Lacan retoma por sua conta o conceito freudiano de fantasia, mas sublinha
desde muito cedo sua função defensiva. No seminário dos anos de 1956-1957, a fantasia é
assimilada ao que ele passa a denominar de “parada na imagem”, maneira de impedir o
surgimento de um episódio traumático. Imagem cristalizada, modo de defesa contra a
castração, a fantasia é inscrita por Lacan, entretanto — o que difere fundamentalmente da
perspectiva kleiniana —, no âmbito de uma estrutura significante, e, por conseguinte, não
pode ser reduzida ao registro do imaginário*. Além da diversidade das fantasias de cada
sujeito, Lacan postula a existência de uma estrutura teórica geral, a fantasia fundamental, cuja
“travessia” pelo paciente assinala a eficácia da análise, materializada num remanejamento das
defesas e numa modificação de sua relação com o gozo.

Desde a primeira formulação do grafo lacaniano do desejo, em 1957, Lacan elabora um


matema daquilo a que denomina lógica da fantasia. Trata-se de explicar a sujeição originária
do sujeito ao Outro, relação traduzida por esta pergunta eternamente sem resposta: “Que
queres?” (Che vuoi?). O matema ($◊a) exprime a relação genérica e de forma variável, porém
nunca simétrica, entre o sujeito do inconsciente, sujeito barrado, dividido pelo significante que
o constitui, e o objeto (pequeno) a, objeto inapreensível do desejo, que remete a uma falta, a
um vazio do lado do Outro. Foi em seu seminário dos anos de 1966-1967 que Lacan
desenvolveu essa lógica da fantasia, expressão última da lógica do desejo. Foi também nesse
momento que ele desviou decisivamente seu trabalho para uma formalização lógica e
matemática do inconsciente.

Desde a proposição do grafo lacaniano do desejo (1957), Lacan propõe uma formalização da
relação lógica que se encerra no fantasma, trata-se do matema da lógica do fantasma: ($◊a).
Este matema traduz a sujeição fundamental do sujeito (barrado) ao Outro, esta relação implica
a formalização de uma questão: “Que queres?” (Che vuoi?). A relação entre o sujeito e o
objeto a, como objeto que remete a falta do lado do Outro, é radicalmente dissimétrica. No
grafo, o circuito que liga o desejo ao fantasma passa pela demanda ($◊D), também descrita
como matema da pulsão, e pelo matema do significante da falta do Outro (S◊Ⱥ). O que se vê
formalizado são as vicissitudes pelas quais o desejo precisa passar para se fazer nominar no
fantasma. O desejo ao passar pela demanda faz desta o constituinte de sua expressão, ou seja,
o sujeito passa a tomar a demanda do Outro por ser próprio fantasma. Neste circuito, é
somente a experiência da inconsistência do Outro que possibilitará a passagem da demanda
($◊D) para o fantasma ($◊a), ou seja, de um desejo sem nome, para um desejo posto na cena
fantasmática. Pois o desejo demanda o fantasma para suportá-lo, já que o desejo seria,
enquanto tal, inominável. Contudo, ao ser nominado, o desejo já se desloca, já não é mais
aquele.

É o fantasma quem faz esta mediação, entre o desejo como pura negatividade e a proposição
de um objeto que lhe seria próprio. Tal como Zizek (1997) nos apresenta, o fantasma não
significaria simplesmente o fato de que quando desejo um bolo de morango e não posso
comê-lo, eu o fantasio. O fantasma é mais radical, neste sentido a questão seria: como sei o
que desejo o bolo de morango? O fantasma seria isso: a proposição de um nome, uma frase,
um enredo para o desejo, para algo que, por definição, não se representa senão a título de ser
fantasiado.

A fantasia faz a mediação entre a estrutura simbólica formal e a positividade dos objetos que
encontramos na realidade, fornece um “esquema” de acordo com o qual certos objetos
positivos podem funcionar como objetos do desejo, enchendo os lugares vazios abertos pela
estrutura simbólica formal. Para colocar de forma simplificada: a fantasia não significa que,
quando desejo um bolo de morango e não posso tê-lo, fantasio em comê-lo; Pelo contrário, o
problema é: como sei que desejo um bolo de morango em primeiro lugar? E é isto o que a
fantasia me diz.

(p. 17).41

este circuito implica considerar que para o desejo . Este matema traduz a sujeição
fundamental do sujeito (barrado) ao Outro, esta relação implica a formalização de uma
questão: “Que queres?” (Che vuoi?). A relação entre o sujeito e o objeto a, como objeto que
remete a falta do lado do Outro, é radicalmente dissimétrica.

quando o grafo do desejo é

“Há sujeito a partir do momento em que fazemos lógica, isto é, em que temos que manejar
significantes” (p. 14).

A teoria dos conjuntos como fundamentos da lógica (p.36):

“a saber, o que funda o funcionamento do aparelho dito teoria dos conjuntos, que hoje se
apresenta como totalmente original, certamente, em todo enunciado matemático é porque a
lógica não é nada mais do que isso que o simbolismo matemático pode apreender; essa
função dos conjuntos será também o princípio, e é isso que eu coloco em questão, de todo o
fundamento da logica”.

“Se for uma logica do fantasma, é que ela é mais principial ao olhar de toda lógica que se
introduz nos desfiladeiros formalizadores onde ela se revelou, eu o disse, na época moderna,
tão fecunda”

Lição X:
“Sobre uma lógica... uma ‘lógica’ que não é uma lógica, que é uma lógica totalmente inédita,
uma lógica, afinal de contas, a qual eu ainda não dei – eu não quis dar, antes que ela seja
instaurada – sua denominação. Eu tenho uma que me parece válida, segundo o meu ponto de
vista; ainda me pareceu conveniente esperar ter dado um desenvolvimento suficiente para então
lhe dar sua significação” (p. 171).

quero dizer que o que sugere de relação com a φαντασία [fantasia], com a imaginação, o termo
fantasma, não me agradaria, nem um só instante, marcar o contraste com o termo de lógica com
o qual penso em estruturá-lo.

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