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Algumas Notas
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- a noção de objeto alucinado e a indistinção entre uma satisfação na realidade e
uma satisfação alucinada;
- a noção de reciprocidade imaginária sujeito-objeto, a identificação com o objeto
como suporte de toda relação com este.
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diferencia da realidade, ainda que se apresente o caráter de repetição. Pode-se, então,
relacionar as faltas a esses registros:
Miller adverte que não se deve seguir o quadro como se segue um mapa. É um
instrumento que ajuda a ordenar a experiência e orientar a clínica. Algumas questões
serão alteradas posteriormente por Lacan e mesmo no correr do próprio seminário 4, nem
tudo se encaixa completamente no modelo.
Lacan introduz a discussão a partir da frustração, destacando o interesse de
pensá-la como introduzindo um ou outro dos planos: castração ou privação. A Dialética da
Frustração demonstra que é impensável, para a psicanálise, a harmonia entre sujeito e
objeto. Freud é bastante explícito quanto ao caráter variável, não necessário do objeto. A
matriz desta dialética nós a encontramos no fort-da, o par presença-ausência que
constitui a mãe como agente simbólico da frustração: ela pode ou não atender o apelo da
criança pelo objeto real de sua satisfação.
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Aqui se articula a falta da criança, a frustração da “necessidade” de objetos reais
de satisfação, com a falta da mãe, sua frustração como mulher. É por isso que a
frustração se desdobra e se inverte, ou seja, a mãe pode não atender ao apelo que a
criança lhe faz e, então, ela se torna uma mãe caprichosa, uma potência real, não mais a
mãe simbólica, como tal submetida ao ordenamento simbólico do Nome do pai. O objeto
também muda de estatuto, passando a ser simbólico, na medida em que a mãe pode dá-
lo ou não, este se torna o símbolo de seu dom, de seu amor.
Têm-se aí as duas vertentes da frustração: frustração de gozo (a noção de gozo
nessa época ainda não está totalmente elaborada, é o equivalente da satisfação de uma
necessidade real) e a frustração de amor. A conseqüência lógica da ordem simbólica é a
desnaturalização do objeto e sua inclusão no registro da demanda. A partir do
desenvolvimento em detalhe dessas duas vertentes da frustração, se elabora o conceito
de demanda, que a torna utilizável na clínica. A importância da frustração de amor é a
constituição dos objetos como signos de amor, signos de dom, estabelecendo sua
equivalência simbólica. O deslizamento na série de objetos se faz possível através de sua
identificação ao falo.
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constituição do dom como forma simbólica do objeto. Isso depende da ordem da Lei, da
proibição do incesto e não de uma experiência empírica da realidade.
Uma palavra sobre a anorexia.1 No comentário que Miller fez do seminário 4, ele
diz que nessa dialética o mais importante é o fato de que a mãe responde e não a
natureza ou materialidade do objeto. Pedem-se coisas inúteis, porque o que importa é a
palavra de amor, os objetos reais se tornam signos de amor. “Em relação à alimentação,
se a alimentação que a mãe dá tem valor mais real que valor de signo de amor, a criança
pode responder com anorexia. Como diz Lacan, prefere comer o nada”. Na anorexia se
encarna o comer nada do amor. De tal forma que a relação de dependência se inverte.
“Graças a este nada, ela (a criança) faz a mãe depender dela”. É, pois em relação à
frustração de amor que se deve pensá-la. Está em jogo uma demanda incondicionada de
amor — ou tudo ou nada. 2
A potência do Outro é ferida, pois é, ao mesmo tempo marcada por uma dupla
falta. Por um lado, há a impossibilidade estrutural de responder à demanda, por outro, o
segredo que a presença-ausência revela: o desejo mais além da demanda, que a própria
falta fálica da mãe induz. É assim que chegamos ao exemplo paradigmático da privação:
a “castração feminina” e a importância dessa falta do Outro no real (“castração” materna)
para a ação da castração. O falo “objeto imaginário da dívida simbólica da castração”,
introduz o sujeito na dialética do dom e das trocas simbólicas, para além da frustração de
amor. Instaura a lei reguladora do poder materno, restringindo, assim, o seu capricho.
A questão sobre o objeto de desejo recai sobre o objeto de desejo do Outro. O falo
se torna a resposta a essa questão, sob as formas do ser ou do ter.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACAN J. O Seminário – livro 4 – A Relação de objeto, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1995
O Seminário – livro 5 – As Formações do Inconsciente, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1999.
1
Sobre esse tema ver no Seminário 4 – Capítulo XI – O falo e a mãe insaciável.
2
Conf. J.-A. Miller “A lógica na direção da cura”, p. 110
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*
Psicóloga, Mestre em Psicologia - Teoria Psicanalítica (Universidade Federal de Minas Gerais), técnica do
Programa de Liberdade Assistida da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte,
Analista Praticante, Aderente da EBP - Escola Brasileira de Psicanálise do Campo Freudiano.