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O prof. Diego Moreira é doutorando e mestre em Educação pela PUCSP.

É graduado em História e Pedagogia. Atua há mais de 20 anos na Educação, passando por


todos os segmentos do ensino. É professor universitário há 13 anos. Já coordenou cursos
graduação e pós-graduação. Atua também como analista e consultor no mercado editorial,
escolas, prefeituras e Institutos de Educação.

Dirige a Escola dos Saberes. Faz palestras e consultorias em todo o Brasil. É um dos autores no
livro: BNCC na prática e do livro de literatura infantil: Chico, o corajoso.

É pai da Ana Clara e da Carolina, esposo da Prof. Evelize Zamone. É apaixonado pela
Educação.

e-mail: professordiegomoreira@hotmail.com / Instagram: @profdiegomoreira

Até quando nossas crianças serão impedidas de sonhar?

Dia 30/01 assistimos atônitos a reportagem sobre o resgate do menino de 11 anos que
permanecia acorrentado, pelos próprios familiares, dentro de um barril na cidade de
Campinas. Pesando apenas 27 kilos o garoto estava num grave quadro de desnutrição.
Além da questão física, podemos imaginar o estrago psicológico e o terror a que essa
criança foi submetida.

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê em seu artigo 7º: “A criança e o


adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
em condições dignas de existência”.

Por muitos anos lecionei para crianças de 10 e 11 anos. É uma idade que eles são
cheios de energia, criatividade, alegria. Já possuem imaginação apurada, leem,
escrevem e são, sobretudo, carinhosos. As turmas de 4º, 5º e até 6 anos do ensino
fundamental agem de forma sapeca, viva, cheios de histórias e conversas. São comilões
e riem de tudo, o amor transborda.

Será que é muito acreditar que esse direito fundamental possa ser garantido para todas
as crianças? Independente da origem social, étnica, religiosa...

Diuturnamente a sociedade ignora o Estatuto da Criança e do Adolescente, e além de


ignorar, faz criticas rasas sem a compreensão mínima da importância da lei.
Naturalizamos a desigualdade e acostumamos com crianças pedindo no farol como
parte da paisagem urbana.

Perdemos a sensibilidade diante de casos como esse, simplesmente rolamos o dedo na


tela para ler a próxima notícia enquanto tomamos mais um gole de café.

Até quando nossa sociedade permitira casos como esses?


O caso do garoto é só um triste retrato de inúmeros que são maltratados e ainda não
tiveram chance de resgate. Não me refiro ao resgate da condição de acorrentado num
barril, digo do resgate da própria vida, da dignidade e dos sonhos.

De quantas crianças a nossa sociedade já tirou o direito de sonhar?

Os dados do PNAD apontam que no Brasil temos 1,9 milhões de crianças e


adolescentes estão fora da escola.

Os números brasileiros de descuido com as crianças são assustadores e envergonha


qualquer cidadão. Não conseguimos garantir vida, saúde, proteção e futuro de crianças
e adolescentes. Os mais vulneráveis são cada dia mais invisíveis para a sociedade e
para os gestores das politicas públicas de ensino e proteção.

Parece que perdemos a capacidade de se indignar com cenas como a do noticiário.

Finalizo parafraseando o velho e imortal poeta:

“A humanidade é desumana, mas ainda temos chance...

Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo

Quem roubou nossa coragem?”

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